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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO CAROLINA MARIUCCI RODRIGUES CUIDAR E EDUCAR DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO PAPEL DE EDUCADOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL SÃO PAULO 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE

SÃO PAULO

CAROLINA MARIUCCI RODRIGUES

CUIDAR E EDUCAR – DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO PAPEL DE EDUCADOR NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

SÃO PAULO 2013

LISTA DE QUADROS

Quadro A.1 Influencias para ser professor ........................................................ 35

Quadro A.2 Satisfação na educação infantil ...................................................... 36

Quadro A.3 Realização na profissão .................................................................37

Quadro A.4 Estar em sala de aula ....................................................................38

Quadro B.1 Relação de dependência ............................................................... 39

Quadro B.2 “O colo” .......................................................................................... 43

Quadro B.3 “O ajudante” .................................................................................. 45

Quadro B.4 Vida pessoal e profissional ............................................................ 46

Quadro B.5 A chegada do outro ....................................................................... 48

Quadro B.6 Partidas e chegadas ...................................................................... 49

Quadro B.7 Concepção: educar e cuidar ......................................................... 51

LISTA DE TABELAS

Tabela – dados dos sujeitos ............................................................................ 61

RESUMO

RODRIGUES, Carolina Mariucci. Cuidar e educar – Desafios para o

desenvolvimento do papel de educador na educação infantil. 2013. ___ f.

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à Faculdade de Educação,

curso de Pedagogia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –

PUC/SP. 2013.

Constata-se muitas vezes que na educação infantil ao invés de cuidar e educar

o professor se torna assistencialista e adestrador, mesmo professando outros

objetivos educacionais. O risco para a criança é torna-la dependente, insegura,

com dificuldades para que desenvolva as habilidades esperadas nas diversas

etapas de desenvolvimento e o risco para o educador é afastar-se do que

acredita, vivendo incoerências e comprometendo sua saúde pessoal-social. Este

trabalho visa compreender o(s) sentido(s) de cuidar e educar como interfaces do

ato educativo na educação infantil, explicitando sua importância para o trabalho

do educador. Na fundamentação teórica partiu-se do pressuposto que é

fundamental favorecer ao educador na relação ensino-aprendizagem na

educação infantil, o desenvolvimento de seu papel visto como aquele que educa

e cuida. Trabalhamos então com autores expressivos na área da educação e da

psicologia que endossam essa perspectiva. O caminho percorrido envolveu um

estudo piloto realizado com professores que foram solicitados a responder a um

questionário. O tratamento dos dados baseou-se em princípios da pesquisa

qualitativa trazendo também a implicação da autora diante da temática. Os

resultados apontam para o compromisso dos sujeitos frente à articulação entre

o cuidar (dar continência à criança) e o educar (favorecer o encontro com os

saberes), no entanto expressam a necessidade de investir na formação do

professor da Educação Infantil principalmente no que diz respeito aos impactos

vividos nas relações - situação em que o desempenho do papel profissional é

atravessado pelas contingências emocionais de nossa condição humana,

chamando à importância de se cuidar do cuidador-educador.

PALAVRAS-CHAVE: Cuidar- Educar- Educação -Educação Infantil

ABSTRACT

RODRIGUES, Carolina Mariucci. Educating and Caring – The challenges in

developing the role of na educator in early childhood education.2013. ___ f.

Coursework in Pedagogy presented to the Faculty of Education from Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP for the Bachelor of Education

degree. 2013.

Many times in early childhood, it is noticed that the teacher ends up becoming an

instructor and an excessive caretaker instead of teaching and caring under

educational reasons. This can lead to turning the child into a dependent and

insecure individual, incapable of having progress in the abilities expected

throughout his/her development stages and in the meantime, it also causes the

teacher to deviate from his/her beliefs leading to inconsistency of actions as well

as health and social problems.

The research carried out and here presented aims to comprehend what caring

and teaching mean as parts of the educational process, eliciting their importance

in the role of an educator. Relying on theory, we assumed that it is fundamental

to favor educators in the teaching-learning relationships in early childhood

education and to have the role of a teacher perceived as the one who educates

and cares for students. We then turned to expressive authors in the areas of

education and psychology who provide such perception. The path taken involves

a pilot study carried out by having teachers fill in a questionnaire.

The way in which data was handled is based on the principles of qualitative

research, which also brings the implication on the matter inferred by the author

of this work. The highlighted results show the individuals’ commitment when

facing articulation between caring (providing the child with continence care) and

teaching (favoring contact with knowledge). Nonetheless, they also express the

need for investments in the early childhood teachers’ education, especially

concerning the impacts on experiences the teacher has gone through - situations

in which the professional role is pierced by emotional eventualities of the human

condition - and draw attention to the importance of caring for the caring teacher.

KEY WORDS: Caring-Teaching-Education-Early Childhood Education

SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO: Da minha trajetória pessoal profissional à arquitetura do

trabalho....................................................................................................... 12

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................. 17

1. Considerações de ordem geral ..................................................................... 17

2. O cuidar e o educar ....................................................................................... 21

III. METODOLOGIA ......................................................................................... 30

1.Natureza da Investigação .............................................................................. 30

2. Contexto e Sujeitos ....................................................................................... 30

2.1 Contexto ...................................................................................................... 30

2.2 Sujeitos ....................................................................................................... 32

2.3 Instrumento e Procedimentos ..................................................................... 33

3. Cuidados Éticos ............................................................................................ 34

IV. DADOS DE CAMPO ................................................................................... 35

1. Série A – Aproximação ao sujeito................................................................. 36

Considerações de ordem geral ................................................................... 41

2. Série B – Desafios, concepção e pratica do professor .................................. 42

V. DISCUSSÃO ARTICULANDO TEORIA E PRATICA ................................. 52

VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 55

VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ........................................................... 57

VIII. ANEXOS ..................................................................................................... 59

Anexo 1 – TCLE ................................................................................................ 59

Anexo 2 – Questionário ..................................................................................... 60

Anexo 3 – Tabela – dados dos sujeitos ............................................................ 61

7

8

I. INTRODUÇÃO: Da minha trajetória pessoal-profissional à arquitetura

do trabalho

Minha história de vida se iniciou abrindo portas. A primeira delas foi a da

escola quando iniciei meus estudos em um colégio particular da zona norte de

São Paulo, uma escola grande, porém acolhedora, onde obtive todo meu

aprendizado escolar, da pré-escola até o terceiro ano do ensino médio.

Minha segunda porta, aberta na infância, foi a do ballet clássico. Iniciei

meus estudos de dança com seis anos de idade e os deixei aos vinte, quando a

vida me fez priorizar a graduação e o trabalho.

Outra porta importante que abri e que deixei aberta, sem entrar

profundamente, é a do teatro, uma paixão que me proporcionou e que me

proporciona sempre, momentos únicos e inesquecíveis.

Estas portas levaram-me para a porta principal: A PEDAGOGIA.

Dentro da escola tive um modelo de ensino mais “leve e didático”,

diferente do modelo de ensino do ballet. O modo de ensino no ballet clássico era

repleto de autoridade e cobrança. Ainda que a dança represente liberdade e

expressão, o ballet representa antes de qualquer coisa a técnica, o domínio do

corpo e da música.

No Ballet encontrei uma professora tão querida e diferente que modificou

toda minha percepção do ensinar, pois mostrou-me que para que seu aluno

acredite em algo, você precisa mostrar que você também acredita no que diz. A

partir desse momento senti muita vontade de ensinar e de ser como ela, escolhi,

então, cursar pedagogia na PUC-SP.

Simultaneamente à graduação comecei a dar aulas de ballet em um

colégio pequeno, onde tive uma percepção importante relacionada ao ensinar:

as professoras, muitas vezes, mais do que se importarem com os alunos estão

preocupadas consigo mesmas, pois estar em sala de aula é como estar em um

palco, com uma grande plateia – ou você a conquista e a mesma segue seus

passos, ou você a domina e está sente medo de você. Muitas vezes a sensação

(para alguns) de estar no comando é tão prazerosa quanto a sensação de se

9

receber aplausos. Ainda que haja o ensino tradicional, onde de fato o professor

é o centro do saber, há também o ensino construtivista onde o aluno está em

parceria na criação do conhecimento, porém o professor ainda pode confundir

seu papel.

Deixei a escola, mudei de emprego e de função, passando a atuar

diretamente em sala, onde pude comprovar o que disse acima sobre a

importância de se ter uma plateia.

Neste período iniciei uma unidade temática dentro da pedagogia - com

ênfase na psicologia, “Cuidar e Educar” - tive aulas que falaram exatamente

deste assunto, trazendo como referência essencial os estudos de Luís Cláudio

Figueiredo (2007). Pude observar o professor que se coloca no lugar de

familiares, procurando suprir suas carências e tomando os alunos como sua

solução afetiva; o professor que acua os alunos, que supre sua necessidade de

“mandar” e ser obedecido, ser temido e, por fim, o professor que ama a profissão,

que gosta de estar no palco, mas tem consciência que sua missão é preparar o

palco para a ação dos educandos e supre suas necessidades sem descuidar do

foco do ensino-aprendizagem. O cuidar e o educar guardam interfaces entre si

e abrem outros olhares para a educação infantil. O olhar volta-se aqui para o

cuidador, mais do que para o “objeto” do cuidar. Para isso, olharmos as demais

relações de cuidador e do sujeito do cuidado, será imprescindível, como nas

relações familiares.

Descobri então o Psicodrama, com a Professora Dra. Marilia J. Marino ao

fazer parte do projeto de pesquisa “O curso de formação em Psicodrama do

Convênio SOPSP-PUCSP- prospectivas para a construção de uma estado da

arte do psicodrama”. O projeto integra duas iniciações cientificas, uma delas a

minha, finalizada em agosto de 2013. Tive assim, a oportunidade de pesquisar

a produção acadêmica do curso para estudar o “estado da arte” e também de

participar de encontros psicodramáticos. Para a fundamentação desta iniciação

li textos de Moreno, onde tive contato com a teoria de papeis, outro ponto

essencial para este trabalho de conclusão de curso. Muitas vezes durante os

atos de psicodrama por mais que estivéssemos todos em um mesmo universo e

tema, a questão de chamar a atenção sobre si, a necessidade de ser o centro

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da ação, me remetia novamente à ideia do ser humano que precisa de plateia,

precisa estar em evidencia para suprir suas “carências”, apesar de no

Psicodrama sermos mobilizados para que surjam “emergentes grupais e

possíveis protagonistas...” Colocar-se no foco de luz, seria participar

construtivamente, cuidar de si, ou suprir carências?

A partir destas preocupações que envolvem a saúde pessoal - social do

educador, que precisa investir em sua educação continuada, toda uma

problemática se desenha. O que ocorre na relação professor-aluno na educação

infantil, em que o cuidar e o educar podem desvirtuar-se em assistencialismo e

adestramento? Seria excesso de zelo? O professor se torna assistencialista em

benefício próprio? Que ser humano este professor pretende formar? Há uma

busca no sentido de explicitar a importância da coerência entre o que o professor

“professa” e o que faz.

Busco estudar esta problemática a partir das contribuições de Luís

Cláudio Figueiredo e de outros autores importantes para o papel de educador,

abrindo espaço para um trabalho de campo que envolve análise de respostas de

professores, dadas em diversas situações, assim como analisando minha

própria atividade profissional.

A relevância deste estudo está em trazer um horizonte em que os

educadores se percebam enquanto seres humanos, buscando a melhoria de

suas ações educacionais sem esquecer-se de cuidar de si próprios. Pretendo

chamá-los à vida e ao autoconhecimento.

A formulação do problema de pesquisa fica assim posto:

Constata-se muitas vezes que na educação infantil ao invés de cuidar e

educar o professor se torna assistencialista e adestrador, mesmo professando

outros objetivos educacionais. O risco para a criança é torná-la dependente,

insegura, com dificuldades para que desenvolva as habilidades esperadas nas

diversas etapas de desenvolvimento e o risco para o educador é afastar-se do

que acredita, vivendo incoerências e comprometendo sua saúde pessoal-social.

11

Parte-se do pressuposto que é fundamental favorecer ao educador, na relação

ensino-aprendizagem na educação infantil, o desenvolvimento de seu papel visto

como aquele que educa e cuida. Desse modo, são objetivos do trabalho:

Objetivo Geral:

Compreender o(s) sentido(s) de cuidar e educar como interfaces do ato

educativo na educação infantil, explicitando sua importância para o trabalho do

educador, diante do impacto sobre o desenvolvimento da criança que advém da

coerência ou incoerência entre o que diz e o que faz.

Objetivos Específicos:

- Estudar a literatura que aborda a temática sobre o cuidar e o educar e a saúde

relacional nas interações de ensino-aprendizagem na educação infantil;

- Investigar atitudes do professor(a) de educação infantil que influenciam o

desenvolvimento da criança, buscando revelar a coerência e a incoerência entre

o que diz e o que faz;

- Contribuir para que educadores, gestores, pais e funcionários do âmbito escolar

percebam-se em atuação e possam verificar em si e nos colegas posturas a

serem aprimoradas, em função da saúde e da educação de si e da criança.

O caminho percorrido tendo em vista nossos objetivos, envolveu estudos

teóricos e também uma investigação de campo que caracterizamos como estudo

piloto, abrindo possibilidades para futuras pesquisas sobre o tema.

Como investigação qualitativa pautamo-nos em estudar o(s) que

professores atribuem a sua experiência e como compreendem a temática.

A estrutura do trabalho está assim concebida:

Capitulo I, Introdução: este que acabamos de finalizar que busca explicitar de

onde partimos e para onde queremos caminhar.

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Capitulo II, Fundamentação teórica: trazemos aqui os teóricos que subsidiam o

estudo, que contribuem com suas ideias no campo da educação e da psicologia.

O foco maior é em FIGUEIREDO, que traz uma visão mais patológica do cuidar,

algo que nos leva a questionar que tipo de cuidado aparece na ação educacional.

Capitulo III, Metodologia: clareamos aqui a natureza da investigação, o contexto

e os sujeitos que a integram, assim como os instrumentos utilizados para que

conseguíssemos extrair material para leitura dentro desta temática.

Capitulo IV, Dados de campo: o que recebemos dos sujeitos contando com uma

breve leitura do material e contribuições da autora em sua vivência no papel de

educadora.

Capitulo V, Discussão articulando teoria e prática: articulação do que recebemos

dos sujeitos com o que tínhamos de teoria base; dá-se aqui o confronto entre o

que é dito e o que é realizado. A compatibilidade entre ideia e ação.

Capitulo VI, Considerações finais: retoma o caminho do que foi construído.

Capitulo VII e VIII, são os materiais de acessibilidade para consulta do que

consta no trabalho.

Espero que seja uma leitura reveladora e encantadora como é a

Psicologia, Arte e a Educação para mim.

13

II - Fundamentação teórica

1. Considerações de ordem geral

Consideramos de fundamental importância trazer nesse capitulo as

concepções que dão sustentação a este trabalho e que se referem à visão de:

Ser Humano, Ética, Educação, Cuidar, Educar, Escolha e Postura Profissional

no papel de Educador.

O ser humano

Trazer a concepção de ser humano é uma das tarefas mais difíceis por ser

algo tão amplo e ao mesmo tempo tão singular. O ser humano é um ser

biopsicossocial. Diferencia-se dos demais seres da natureza, por ser “presença

inteligente” e comunicativa e assim, Moreno (1984) nos mostra que é um ser que

está sempre em contato, em movimento, é ser em relação. O ser humano

constrói sua condição humana ao interagir com o outro, pois só assim aprende,

cria e modifica. Há necessidade de ser visto e ser percebido existindo quando o

enxergam como semelhante. No dizer de Martin Heidegger, sua ex-sistência

(presença) é sempre co-existência, um “ser –com”:

MORIN (2002) compartilha essa perspectiva falando do homo sapiens,

como se refere ao ser humano, fruto da vida natural e da cultura.

Este mesmo ser humano é submetido ao âmbito social na ânsia de estar

em relação, no convívio, exposto ao conhecimento produzido e à cultura como

modo de vida, para ser assim formado em toda sua complexidade, podendo

tornar-se cidadão do mundo.

Ética

Ser-com é sempre uma determinação da própria

presença; ser co-presente caracteriza a presença

de outros na medida em que, pelo mundo da

presença, libera-se a possibilidade para um ser-

com. A própria presença só é na medida em que

possui a estrutura essencial do ser-com, enquanto

co-presença que vem ao encontro de outros.

(HEIDEGGER, M. apud MARINO, M.J. 1992.p.80)

14

Procuramos a partir da concepção de ser humano, apontar nossa

compreensão sobre “ética” (reflexão pautada em valores), diferenciando-a de

“moral” (conjunto de normas e regras sociais). Para isso trazemos considerações

de alguns pensadores.

Para CORTELLA(2007) ética se resume ao conjunto de valores que

norteiam a reflexão na hora de decidir o que pode ser feito, o que se quer fazer

e o que se deve fazer, atingindo então a harmonia quando se faz aquilo que se

quer, pode e deve. É importante considerar que o ser humano se depara com

escolhas a todo momento e essas escolhas geram decisões que sem ética se

tornam danosas ao movimento social de convivência.

Dentro da escola busca-se transmitir noções de “certo e errado”

(conforme as normas sociais), considerando a formação de uma consciência

moral para que o aluno crie seu repertório, e quando fora do âmbito escolar ainda

seja capaz de agir de maneira consciente. Esta consciência se desenvolve à luz

de valores internalizados que assegurem a ética em suas ações.

É importante lembrarmos que a criança nasce em condições de anomia

(sem normas ou regras) e é junto à família primeiro, e em seguida junto à escola

que se dá seu processo de socialização. Neste processo acontece a

aprendizagem dos costumes e normas sociais fundadas em valores nem sempre

explícitos. Como um ser “amoral”, ou seja, que ainda não pode decidir, escolher

e julgar, faz-se necessária a existência de modelos. A criança encontra em “seu

outro significativo” o espelho, ou referência para seu comportamento. (MARINO,

1995).

A ética assume assim, uma dimensão de extrema seriedade e entramos

nas considerações sobre o profissional que educa. Este assim como todo

cidadão pauta-se em uma ética que se traduz em um comportamento moral

(nenhum adulto é amoral, ou seja todos nos comportamos segundo uma moral,

avaliada de diferentes formas). Dessa forma o educador é capaz de sensibilizar

o educando e possibilitar aos mesmos, a internalização de valores. Esta ética do

educador precisa ser vista em sua prática e em suas ações, muito mais do que

em seu discurso.

15

Por toda uma série de razões, a ideia de uma moral

com obediência a um código de regras está

presentemente em um processo de

desaparecimento já desapareceu. E à essa

ausência de moral responde, deve se responder,

uma busca de uma estética da existência.

(FOUCAULT, M, 1994b: 732)

Com o olhar de Foucault a moral está ligada ao poder e suas relações de

liberdade e aprisionamento, relação que vem salientar-se dentro da sala de aula

e nas redes de relação dentro da escola.

O que é Educação?

Através dos tempos a palavra educação vem sofrendo alterações em seu

significado e em seu modo de ser colocada em prática, pois traz consigo uma

concepção de ser humano que se deseja formar, acompanhada da questão: para

que sociedade?

Lançar um olhar sobre o histórico da educação infantil, auxilia-nos em

nossas reflexões, seguindo a linha de reflexão de FOREST (2009). As

instituições de educação infantil surgem na França, no século XVIII, para vir

contra a corrente da fome e dos maus tratos contra as crianças pequenas. Os

pais destas trabalhavam em fábricas e minas durante a revolução industrial,

sendo assim as crianças ficavam “abandonadas” e expostas a situações que não

são de acordo com a formação e cuidado do menor.

Porém com a educação que surge acima podemos perceber um caráter

cuidador, algo mais assistencialista que visa de certa forma garantir uma melhor

infância deste público.

Este molde assistencialista e higienista aconteceu por anos dentro da

educação infantil; no Brasil também. As rotinas eram montadas de acordo a

assessorar esse molde de atuação. Em 1980 começou um movimento de

reflexão sobre esta prática, tendo em pauta o que é papel de uma instituição de

ensino e o que é papel dos pais e responsáveis pelo menor.

16

Em 1988 a Constituição (art. 208, incisivo IV), definiu como direito das

crianças de zero a seis anos de idade e dever do Estado o atendimento à

infância.

As mudanças sociais, as mulheres trabalhando, o meio urbano,

reinvindicações populares e até mesmo a concepção de infância foram

essenciais para a análise da educação infantil.

A educação infantil era confundida com as creches destinadas ao público

mais pobre onde as características de atuação eram de fato assistencialistas.

Mais tarde é que se começou a ter a visão, de que a criança deveria ter toda sua

dimensão trabalhada na escola, ou seja, deveria se ter um olhar para o

desenvolvimento físico, emocional, afetivo, cognitivo e social desta criança.

Consideramos, ser neste momento, que a sociedade preocupada com a

educação, percebe que deve haver a troca de babás por professoras.

Concluindo assim esse breve histórico da educação infantil, podemos

perceber que ainda hoje é comum que haja uma relutância de encarar educação

infantil com sua devida importância. Seu histórico é recheado de pensamentos

assistencialistas e recreativos muito mais do que educacionais no sentido amplo

de educação.

Quando nós educadores nos perguntamos “que ser humano queremos

formar”, “para que sociedade”? percebemos que é uma preocupação que

sempre cabe atualizar! Ao contrário de uma educação infantil, que esteve

ocupada em moldar e dar assistência ao educando, muito mais do que em formá-

lo enquanto cidadão, concebemos a educação hoje, como a educação que

busca-se atingir dentro de uma prática: há necessidade de se manter a criança

em busca constante do saber, possibilitar que ela seja participante essencial do

processo de aprendizagem. Educação é a união de conteúdo (como herança

construída pela humanidade) e formação (como o desenvolvimento de

habilidades e competências que envolvem as dimensões cognitivas, afetivas,

sociais, motoras), a união de ambas as perspectivas é o que fará com que a

escola não perca sua função e nem assuma aquilo que não seja seu papel.

17

2. O cuidar e o educar

Seguindo a reflexão acima vamos para a dimensão do cuidar. O cuidar é

parte integrante da educação, embora o cuidar dentro da educação demande

ações pedagógicas além da formação do educador, exigindo assim a influência

de outros profissionais como pais, médicos, agentes de segurança e afins.

O mais importante, no cuidado humano, é compreender como ajudar o outro

a se desenvolver como ser humano. Cuidar, significa valorizar e ajudar a

desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio,

que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos

(SIGNORETTE, 2002).

Trazendo um olhar da filosofia, quando falamos do “cuidar,” Heidegger em

sua obra Ser e Tempo (2001) pergunta pelo sentido de ser e desenvolve uma

analítica da existência, situa o cuidar como essência da condição humana, em

inautenticidade (pré-ocupação - besorge) ou em autenticidade (cuidado –zelo,

solicitude - sorge), a partir da palavra latina “cura”. Alerta-nos assim, sobre

modos diferentes de cuidar em nosso ser-no-mundo.

18

Contribui com a antiga fábula de Higino trazendo a essência da pré-ocupação:

Certa vez, atravessando um rio. “cura” viu um pedaço de

terra argilosa: cogitando, tomou um pedaço e começou a

lhe dar forma. Enquanto refletia sobre o que criara,

interveio Júpiter. A cura pediu-lhe que desse espirito à

forma de argila, o que ele fez de bom grado. Como a cura

quis então dar seu nome ao que tinha dado forma, Júpiter

a proibiu e exigiu que fosse dado seu nome. Enquanto

“cura” e Júpiter disputavam sobre o nome, surgiu também

a terra (tellus) querendo dar o seu nome, uma vez que

havia fornecido um pedaço de seu corpo. Os disputantes

tomaram Saturno como árbitro. Saturno pronunciou a

seguinte decisão aparentemente equitativa: “Tu, Júpiter,

por teres dado o espírito, deves receber na morte o espírito

e tu, terra, por teres dado o corpo, deves receber o corpo.

Como porém, foi “cura” quem primeiro o formou, ele deve

pertencer à “cura” enquanto viver. Como, no entanto sobre

o nome há disputa, ele deve se chamar “homo”, pois foi

feito de húmus. (Terra). HEIDEGGER, M. apud MARINO,

M.J. 1992, p.85 e 86.

Esta fábula contribuí com o sentido primordial do cuidar, o que forma e

informa, que dá referências e modelos, que não corresponde ao egoísmo do

cuidador assim como o cuidar que se segue no ato de educar.

HEIDEGGER (apud Marino,M, 1992) ao abordar a questão da

coexistência, aponta que para além da “indiferença” do impessoal nas relações

( o “a gente”) ocorrem dois modos básicos sobre como pode se dar o cuidar:

-o substitutivo dominador, em que roubamos o cuidado do outro, o

tornamos dependente, e o antecipativo liberador, em que nos projetamos no

futuro, mas deixamos o outro livre para assumir o seu cuidado. Há implicações

para quem queremos formar.

O cuidado (assumido em autenticidade na Educação) é um ato em relação

ao outro e a si próprio, que possui uma dimensão expressiva e implica em

procedimentos específicos. (SIGNORETTE, 2002)

19

O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseadas em conhecimentos específicos sobre desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em conta diferentes realidades

socioculturais. (Brasil. Referencial curricular nacional para a educação infantil /Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental 1998, p. 25.).

O cuidar tem dimensões de saúde e de crença, quando falamos de cuidar

devemos levar em conta todas as suas dimensões. FOREST (2009) diz que para

cuidar deve se ter comprometimento, acreditar nas capacidades de quem está

sendo cuidado, identificar suas necessidades e entender cada um dos sujeitos

cuidados como ser único e singular.

É a partir da fala acima que iniciamos a fala de FIGUEIREDO (2007). Este

traz o cuidado com grande influência ótica da psicologia. Quando dissemos que

o ser que cuida precisa levar em conta toda a dimensão singular do “objeto de

cuidado” e acreditar na sua capacidade, buscamos auxilio neste autor para

elaborarmos o tema deste trabalho, pois o mesmo constrói categorias científicas

que auxiliam a compreensão do que acontece na ação de cuidar. Remete-nos

assim, ao alerta heideggeriano sobre perdermo-nos na pré-ocupação inautêntica

com o outro, ou desenvolvermos modos de ser em que o zelo e cuidado não

roube o cuidado do ser em desenvolvimento.

No cuidar maníaco, este cuidar, embora o nome seja assustador, é o

cuidar em excesso. Quando pensamos na mãe ou no pai superprotetores que

detém nas mãos todas as atitudes dos filhos, privando-os de fazer suas escolhas

e de seguir seus próprios passos, estamos falando do cuidar maníaco. Este

impede que o ser cuidado cresça e seja capaz de ser autônomo e independente,

podendo fazer assim com que se torne uma pessoa com dificuldades de tomar

decisões, com baixa autoestima e que se sinta sempre em observação.

20

Quando a intersubjetividade transubjetiva domina em excesso, ocorre o

cuidar totalitário e claustrofóbico. O cuidador que não dá sossego; sufoca. E

também o reconhecimento ilimitado que produz uma peculiaridade narcisista em

quem é cuidado, que instala a dependência diante da atenção e a aprovação.

Quando em excesso, o sujeito se vê reduzido, dependente, sua autocritica é

arrasadora, tem compulsão pra se adequar a qualquer meio, tornando-se dono

de um falso self enrijecido e dominante.

Todos os exageros de presença implicada1, contudo, comportam modos de

aprisionamento psíquico, de imobilidade e de incapacitação.

Gera assim uma solidão imensa, daquele ser que é olhado a todo instante,

mas se sente sozinho, pois não há parceria na escolha de decisões, não há

divisão de suas experiências e gostos, este se confunde com o que é seu de fato

e o que lhe foi imposto.

É este cuidar que me causa inquietação, pois é comum que ocorra dentro

de escolas. Quando os pais agem assim, atrapalham o desenvolvimento dos

filhos, quando um educador age assim, interrompe pelo tempo de sua ação o

desenvolvimento de toda uma classe, gerando danos na aprendizagem e na

formação do aluno. Veremos mais a frente os possíveis motivos para tal atitude,

mas seguimos agora com o cuidar.

FIGUEIREDO(2007) ainda nos traz os tipos de cuidado:

Sustentar e conter: podemos chamar de ética, aquela que o outro ensina

para que mantenhamos nossa integridade. Só existimos quando alguém nos vê.

Quem exerce este papel de “segurar a barra” são as instituições mais próximas,

família, amigos. Porém de outro lado é preciso crescer e expandir-se. Podemos

observar que para isso a criança ou pessoa cuidada pode transpor suas

angustias, duvidas, etc.... A poesia, a música e todas as formas de arte farão

também parte do sustentar e conter do indivíduo.

1 Presença implicada é o cuidar ativo, permanente que está sempre presente e operante, antecipativo do dominador. (rouba o cuidado do outro).

21

Precisamos de pessoas e métodos que nos ensinem a sonhar, a fantasiar tanto

para nossa continuidade quanto para a nossa transformação. É imprescindível

que o ser seja “segurado”, hospedado, agasalhado, alimentado e ensinado a

sonhar das maneiras mais diversas, da mais concreta até a mais sutil e espiritual.

Reconhecer: Winnicott (1971) e Kohut (1978) são autores de referência

nesta função. Este é desdobrado em duas frentes a testemunhar e refletir/

espelhar; aqui o cuidador tem a tarefa de observar e transferir a imagem vista

para o sujeito, possibilitando que este perceba o que foi visto, ou apenas

observando para si.

Esta modalidade não é muito considerada, passa despercebida, mas quando

não ocorre, causa danos profundos, pois como já afirmamos: a confirmação do

outro assegura nossa existencia.

Interpelar e reclamar: Esta figura de alteridade entra na

intersubjetividade “traumática”. Nesta condição o cuidador introduz e desperta a

pulsionalidade, um movimento somato-psiquico e uma exigência para que

alguém venha a ser.

Funções necessárias aqui, chamar à vida, chamar à fala e chamar à ordem, são

estas as posturas do professor que chama o aluno à lousa, da mãe que fala com

o bebe sem ele responder e o chama à fala seduzindo- o com gestos, a do

médico que faz com que seu paciente explique suas dores, etc...

FIGUEIREDO(2007) nos mostra então a posição de reserva. Esta se dá

quando o cuidador exerce a renuncia à própria onipotência e à aceitação de sua

própria dependência. Trata-se, enfim, de renunciar às fantasias reparadoras

maníacas: é preciso saber cuidar do outro, mas também cuidar de si, deixar-se

cuidar pelos outros traz a mutualidade nos cuidados, este é um dos mais

fundamentais princípios éticos a ser exercido e transmitido.

Até mesmo o cuidador deve ser cuidado e se deixar cuidar, assim como a mãe

é cuidadora do bebê e deixa ser cuidada pelo pai, ou pelos amigos, médico e

afins.

22

Importante também é que o cuidador dívida suas vivências, e escute

outros cuidadores para que se perceba na situação e perceba a diferença ou

igualdade dos “objetos cuidados”.

O cuidador precisa se perceber como facilitador e não como peça fundamental,

assim não vai despotencializar, desqualificar e aprisionar o seu “objeto de

cuidado”. (Aluno, criança, paciente).

O essencial do cuidar é o espaço e o vazio que o cuidador deixa para o sujeito,

este deve ser capaz de brincar, fantasiar, sonhar, se arriscar e de fato viver por

si, tendo a certeza de que tem alguém por ele.

Cabe ao cuidador garantir condições para expressão da sua espontaneidade,

criatividade e capacidade de autonomia, do sujeito cuidado.

Quando pensamos no cuidar de forma saudável, este que buscamos ter

na escola, vemos que as metas dos cuidadores é possibilitar a educandos e

educadores o desenvolvimento de suas capacidades cuidadoras. As funções

precisam ser introjetadas e um exemplo muito claro é o paciente que não vai se

tornar médico, mas vai se tornar capaz de aprender a não adquirir a mesma

doença novamente.

Quando poder e domínio passam a predominar dois efeitos ocorrem.

- gera-se profunda ambivalência no sujeito que se sente muito cuidado e ao

mesmo tempo descuidado, maltratado e aprisionado.

- olhará o cuidar como algo ruim, ira repelir o ato vindo de onde for.

Quem não desenvolve o cuidar saudável, sempre criativo, acaba por

reproduzir modelos e não faltam pessoas assim na sociedade. O bom professor

ensina o aluno a aprender e a ensinar, os bons pais ensinam os filhos a serem

também bons pais, etc...

Retomamos agora o que entendemos por educar. Para FOREST (2011)

a educação não deve ser dissociada do cuidar, na da educação infantil. Ao

educar cabe também possibilitar condições para a construção da autonomia.

Educar significa propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens

orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento

23

das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros

em uma atitude básica de aceitação de respeito e confiança, no encontro com a

realidade social e cultural.

Após estas considerações vamos à escolha profissional do educador.

Todo ser humano escolhe sua profissão a fim de realizar-se dentro de sua

carreira.

Com o educador não é diferente, o que leva o professor a querer ser

professor?

PUTTINI (1997), inspirada na pedagogia moreniana diz que o professor

procura ser:

Alguém que deixou de lado suas conservas culturais

Observa e que participa das relações humanas

Estimula e promove relação entre os alunos

Preocupa-se com todo o grupo

Usa jogos dramáticos

Confia em suas ações pedagógicas espontâneas

Sabe que o psicodrama resgata a aprendizagem

Percebe que o aluno tem sentimentos

A postura desse professor é horizontal ao lado dos alunos nunca abaixo

ou a cima

Cuida das ações psicodramáticas, interfere e favorece a participação do

grupo

Tem o espaço cênico como lugar de reflexão

Acredita na mudança social que ocorre a partir da conscientização de

cada um do grupo

Crê no que faz e em seus alunos, não se importa se alguém diz que seu

ensino é uma utopia.

A partir da contribuição do pensamento de Moreno, fundador da abordagem

sociopsicodramática vemos o educador como alguém que tem uma grande

24

potencialidade e pode encontrar no teatro espontâneo, um lugar que possibilite

a expressão criativa de educandos e educadores, afinal as necessidades que

surgem em sua prática fazem do educador um grande artista.

Ainda temos mais uma questão, a postura profissional, e é quando entramos

novamente no tema raiz deste trabalho, ainda que saibamos exatamente o que

fazer e como agir ainda caímos no erro por conta da postura equivocada em

classe.

A resposta para o erro é simples e óbvia: o educador é ser humano.

Minha tese vai de encontro com este pensamento, quando o educador traz

seus desejos e carências afetivas para dentro de sala ele adota outro tipo de

postura, esta não condiz com a de educador que cuida de si e do outro.

A prática deixa de ser focada na formação integral do aluno e passa a atender

às necessidades do professor. O professor se torna o cuidador de

FIGUEIREDO(2007), que sufoca e quer que seu objeto de cuidado se torne

dependente para que esse assuma a situação e se torne necessário.

Este cuidar maníaco causa ao cuidador um prazer e um preenchimento de

sua carência afetiva a partir da necessidade que seus alunos tem da presença

do professor.

Podemos ainda levantar mais uma imagem, este professor que se vê como

ator em cena, recebendo atenção total de seus alunos e sendo centro de

referência e parâmetro de ação. Aqui ele se esquece que ocupa o palco, apenas

para prepará-lo. Os protagonistas educandos é que o ocupam para criar e se re-

criarem...

O professor que age nesses moldes provavelmente não se dá conta dos

problemas que acarreta aos seus alunos a curto e longo prazo, fazendo com que

estes percam sua autonomia, seu senso crítico e sua capacidade de serem

pesquisadores e curiosos do saber, da cultura e da sociedade.

25

Finalizamos assim o marco teórico e damos início ao próximo capitulo que irá

abordar os fundamentos metodológicos deste trabalho.

Resgatamos nosso objetivo geral e pergunta disparadora: Muitas vezes na

educação infantil ao invés de cuidar e educar o professor se torna assistencialista

e adestrador. O risco para a criança é torna-la dependente, insegura, com

dificuldades para que desenvolva as habilidades esperadas nas diversas etapas

de desenvolvimento. Como favorecer ao educador na relação ensino-

aprendizagem na educação infantil o desenvolvimento de seu papel visto como

aquele que educa e cuida?

26

III – Metodologia

1 . Natureza da Investigação

Os estudos aqui desenvolvidos se voltam para o universo da educação no

âmbito especifico do cuidar e educar na sala de aula.

A pesquisa é de natureza qualitativa e como estudo piloto visa estudar os

depoimentos de professores envolvidos e também trazer as vivências da autora,

assumindo que na pesquisa qualitativa há uma implicação do pesquisador que

se expõe ao abordar o fenômeno.

Independentemente do número de respostas obtidas o que é de extrema

valia é o sentido que os sujeitos atribuem a sua experiência de agir e pensar.

Fundamentamo-nos em uma ótica descritiva-interpretativa buscando unidades

de significado nos discursos dos sujeitos. (MARTINS, J. e BICUDO, M.A. V.,

1989)

2. Contexto e Sujeitos

2.1 Contexto

A pesquisa foi realizada em uma instituição de ensino particular de São

Paulo, que conta com três unidades, todas oferecem ensino infantil, fundamental

e médio. Privilegiamos uma unidade localizada na região Oeste com 260 alunos.

Esta rede atende famílias de classe média e classe média alta.

As informações fornecidas no site do colégio nos remetem a uma

abordagem humanista, cujo objetivo é conferir a liberdade de manifestação do

pensamento, da crítica, da emoção e da imaginação, elementos fundamentais

para que o indivíduo seja protagonista do seu próprio destino e proporcionar aos

alunos conhecimentos acadêmicos sólidos. “Da Educação Infantil ao Ensino

Médio, os valores éticos, as questões da atualidade global e conteúdo do

cotidiano dos alunos estão presentes no dia a dia escolar, assim como nas

atividades extraclasses e ações de caráter socioambiental.”

O colégio disponibiliza no site seus objetivos com relação a visão de

educador que pretende formar sendo eles:

27

o Persistente - na realização das atividades o Autoconfiante - para arriscar-se nas propostas o Investigador - para perguntar e buscar soluções o Concentrado - para mobilizar seus conhecimentos e os articular o Compromissado - com as tarefas o Resiliente - para aceitar os conflitos e buscar novas soluções o Autônomo - para vivenciar o prazer de “poder fazer sozinho” o Responsável - ser responsável e envolvido com a sua missão de lidar

com a diversidade de professores e disciplinas o Cidadão consciente - para lutar por seus direitos, saber seus deveres,

lidar com as diferenças, respeitar diversas culturas e interferir na sociedade buscando a paz e o entendimento

É relevante a pesquisa dos tópicos acima pois, a partir do que se busca no

colégio podemos ver se a ação de seus profissionais é coerente.

Na Educação Infantil, a criança é recebida na escola de maneira acolhedora,

com cuidados que permitem a construção de vínculos de confiança, afeto e

segurança. O ato de aprender dá-se na brincadeira, no convívio com o outro, no

relacionamento com a natureza, nas rodas de conversa, nos momentos de leitura

e faz-de-conta e nas múltiplas atividades artísticas promovidas pela escola.

Com foco na educação infantil os sujeitos investigados são professores de

G2 e G3 (crianças de 2 e 3 anos). A escolha se deu pelo fato de que com

crianças menores a linha do cuidar e educar é tênue.

No que diz respeito ao espaço, as salas contem no máximo 20 alunos

sendo estes sendo regidos por uma professora e uma auxiliar. Contam também

com a equipe de apoio, funcionárias da limpeza e uma babá responsável pelas

trocas de roupa. Estes profissionais de apoio receberam recomendações para o

cuidado com a criança, trato e higiene no contato corporal com as crianças.

As salas de g3 são espaçosas e com portas de vidro, dado importante

pois quem passa pelo corredor pode “assistir” o caminhar da aula, a sala de g2

é menor e fechada com porta de madeira, nesta sala não podemos “assistir” o

andamento da aula, sua localização é imediatamente ao lado da coordenação.

As aulas dos especialistas como ateliê, educação física e música contam

com a presença da professora especialista, auxiliar de classe e auxiliar da

especialista, este se torna o momento de intervalo da professora de sala.

Outra informação importante são as ferramentas de comunicação entre

escola e família. A primeira é a agenda que serve como meio comunicação diária

28

entre professora e pais; todo recado e ocorrência é documentada na agenda. Há

também o caderno de notícia, a professora escreve uma notícia sobre o que

anda mobilizando o interesse das crianças e ilustra com fotos; os pais recebem

este caderno e escrevem suas impressões, sugestões e recados para a turma.

Uma vez por semestre ocorre o atendimento individual com os pais, em que cada

um recebe o relatório sobre seu filho e tem a chance de saber mais sobre seu

desenvolvimento tirando suas dúvidas.

Na estrutura administrativa cabe a coordenadora pedagógica toda a

observação do trabalho das professoras e o andamento da sala. A escola no

começo do ano ofereceu uma reunião de formação para os funcionários de

apoio. O tema do cuidar foi muito enfatizado com as babás, funcionárias da

limpeza e funcionários de troca de roupa (natação). Estes funcionários fazem

parte de momentos íntimos das crianças, momentos que merecem atenção,

cabe a eles dialogar com as crianças, brincar, se envolverem para que haja

estimulo também nesses momentos e que a criança se sinta acolhida em ações

de até então eram executadas pelos familiares. Para os professores essa

formação não ocorreu, a escola não cobra esse olhar dos professores por conta

de não oferecerem formação nesse sentido. Neste ano a formação se deu em

disciplinas específicas artes e matemática. Cabe então a cada professor “se

assistir”.

2.2 Sujeitos

Informações sobre os sujeitos estão no Anexo 3 – Tabela – Dados dos sujeitos

(p.61). Os sujeitos escolhidos diferem-se na idade, sendo o mais velho com 38

e a mais nova com 21. Em relação ao tempo de atuação em sala como

professora também vemos diferença o que está a mais tempo com 13 anos e a

mais nova com menos de um ano.

Refletiremos algumas características diferenciadas dos sujeitos, o sujeito

A possui também o magistério, o sujeito B é o que possui o maior número de

cursos na área da educação, o sujeito C tem formação também em educação

física e o D não possui nenhum outro curso além da graduação.

29

O acesso aos sujeitos e sua colaboração se deu pelo fato de pesquisador

e sujeitos ocuparem o mesmo contexto de trabalho.

2.3 Instrumento e Procedimentos

A escolha do questionário com questões cotidianas foi uma forma de

propor que não há certo ou errado nas respostas e por exigirem reflexões

maiores poderiam ajudar na observação dos professores de forma mais sincera.

Foi construído um questionário contando com três blocos. (Vide anexo 2.

Questionário p. 61)

No primeiro bloco constam os dados de identificação do sujeito (embora

garantindo seu anonimato). Os itens solicitados possibilitam reconhecer cada

sujeito quanto a: Idade, Graduação, Tempo de docência e local onde trabalha.

No segundo bloco apresentamos questões de ordem geral que

possibilitam tomar contato com o sentido de ser professor para cada sujeito.

Parte-se do pressuposto que estas questões aquecem o professor para enfrentar

as situações problema, propostas no terceiro bloco. Neste são propostas seis (6)

situações problema que abordam desafios presentes na relação professor e

aluno envolvendo o cuidar e o educar.

Finalizamos com uma questão síntese que aborda a visão do educador

sobre o cuidar e o educar (vide Quadro B. Concepção: educar e cuidar). Esta

possibilitará uma apreciação mais refinada sobre os desafios propostos

anteriormente.

Os questionários foram disponibilizados em mãos para os educadores

com a solicitação de devolutiva em quinze (15) dias. Após o recebimento dos

questionários foram montados quadros com as falas dos sujeitos para cada item

solicitado, considerando o posicionamento de cada sujeito, gerando uma leitura

para cada item.

Para essa leitura buscamos a confluência das falas dos sujeitos e no que

se diferenciam pontuando as implicações das mesmas para nosso estudo sobre

cuidar e o educar.

30

3 Cuidados Éticos

Tendo em vista os cuidados éticos com a pesquisa que envolve seres

humanos, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) Anexo 1,

Pág.59; foi encaminhado aos sujeitos junto com o questionário solicitado e estão

de posse da pesquisadora.

Na análise de dados não será colocado informações de caráter particular

como nome do sujeito e da instituição ao qual pertence, visando garantir o sigilo.

31

IV DADOS DE CAMPO

Neste capítulo entraremos em contato com o material de pesquisa: a fala

dos professores. Estas estão organizadas por questão; a tabulação foi feita por

blocos.

Sendo as do primeiro bloco questões mais amplas, de caráter mais

pessoal, focando conhecer quem é este professor.

As questões do bloco seguinte, são compostas por situações problema,

onde cabe ao professor sair do discurso e pensar de forma pratica como resolver

a situação apresentada.

Os quadros reproduzem as falas dos entrevistados de forma integral.

Em seguida aos quadros trazemos uma breve leitura do que encontramos,

seguido de um “confronto” teórico com o que tínhamos por base e por fim uma

pequena contribuição da autora.

Neste capitulo devemos ficar atentos percebendo onde a fala deixa de ser

discurso e se torna ação. Coerente ou não, com o que o sujeito se propõe a

fazer.

32

Série A. Questões de ordem geral visando a aproximação aos sujeitos

Quadro A.1 Influencias para ser professor

1. Quais fatores influenciaram na sua escolha para ser professor (a)?

A. Primeiramente porque minha mãe era professora e eu comecei a gostar

e me identifiquei com a profissão.

B. Acredito que a base do ser humano é a educação. Desta maneira

escolhi essa profissão por querer fazer parte desta linda tarefa de

educar.

C. Vocação e paixão

D. Desde criança queria ser professora.

Leitura: Esta questão lidera as seguintes deste bloco. A intenção aqui é

conhecer um pouco mais dos sujeitos pesquisados, quem são os educadores

surgem neste trabalho. Podemos observar que todos estão na profissão por

questões motivadoras, por livre e espontânea vontade. Ser professor aqui é algo

que mobiliza. Os sujeitos A e D colocam a profissão como ligação com a família

e infância mas realizaram uma escolha. Enquanto que o sujeito B coloca o ser

professora com uma preocupação em formar o ser humano, a “linda tarefa de

educar”. E o sujeito C fala sobre vocação e o sentimento da paixão.

33

Quadro A.2 Satisfação na educação infantil

2. O que mais gosta na educação infantil?

A. Primeiramente o amor em trabalhar com as crianças e poder contribuir com a sua formação desde pequenos preparando para o futuro.

B. Adoro trabalhar com educação infantil, pois as crianças estão no início de suas aprendizagens e nos trazem questões espontâneas para que possamos trabalhar junto ao grupo construindo aprendizagens significativas. Outro fator de grande valia são os projetos que podemos desenvolver a partir do interesse das crianças.

C. Sou apaixonada pela ed. I Acompanhar o desenvolvimento de cada aluno nos primeiros anos da escola é gratificante.

D. Gosto do meu envolvimento com as crianças, ensinar e construir conhecimentos neste momento da vida deles é muito prazeroso.

Leitura: Observamos que em todas as respostas há uma preocupação com a

formação da criança, seu desenvolvimento e aprendizagem. O sujeito B ainda

nos leva a uma reflexão teórica metodológica envolvendo o trabalho com

projetos e a preocupação com o interesse das crianças, mostra que a criança é

o sujeito que se tem em vista. Estar em sala aqui se mostra como atividade

prazerosa a todos.

Depoimento da autora: Gosto das questões que acompanham a gestão, a

articulação do diálogo família – escola – criança – professor, é uma trama cheia

de questões envolventes e desafiadoras o que gosto muito, mas aliado a esse

prazer macro, vem o prazer micro de me deliciar com as pequenas conquistas

das crianças, que se tornam descobridores “de tesouros” a cada pequena

novidade no caminho.

34

Quadro A.3 Realização na profissão

3. Você se sente realizado (a)?

A. Muito

B. Me sinto realizada com o trabalho que venho realizando com a minha turma.

C. Sim, Estou satisfeita com a minha profissão e realizada.

D. Sim, mas ainda falta muito para me sentir valorizada na profissão.

Leitura: Todas se mostram realizadas e felizes com a profissão. Este dado nos

ajuda na leitura das situações problema e também ajuda-nos a traçar o perfil de

educadores que estamos analisando. Cabe pontuar que o sujeito D apesar de

expressar realização, ainda aponta necessidade de se sentir valorizado na

profissão.

Depoimento da autora: Sempre que abordamos uma questão tão pessoal, nos

questionamos. Sinto-me feliz com o trabalho que desempenho, estar trabalhado

com as crianças e com o valor de ensinar faz com que eu me sinta feliz. Porém

ainda faltam muitas questões de cunho político para que eu me sinta realizada,

ser professor nos dias de hoje é um desafio.

35

Quadro A.4 Estar em sala de aula

4. Qual a sensação de estar em sala?

A. Gratificante

B. Estar em sala de aula é ter o prazer de vivenciar situações novas a cada dia, pois as crianças nos trazem o olhar da curiosidade, a descoberta de um novo conteúdo. Enfim nos dá a certeza que estamos no caminho certo.

C. A sensação é maravilhosa! Pois estamos em sala para ensinar nossos alunos a pensar, questionar e que possam construir suas opiniões.

D. Muito boa, quando estou em sala meu único foco são os laços que nos cercam, os “problemas” de fora não tem espaço.

Leitura: Quanto a sensação podemos ver que reforçam a questão anterior de

se sentirem felizes e satisfeitas com o que fazem. O sujeito B e C trazem

questões da formação da criança, o olhar de encantamento, novas descobertas

e reforçam a formação do cidadão, como diz o sujeito C, “questionador e

construtor de suas opiniões”. O sujeito D coloca o foco para o laço que nos

cercam e deixa sinalizado que problemas de outra ordem não entram no foco da

sua atenção.

Depoimento da autora: Estar em sala é muito prazeroso, sinto-me portadora de

uma imensa responsabilidade que alegra e me desafia todos os dias.

36

Quadro A.5 O carinho das crianças

5. Você acredita que o carinho das crianças é motivador? Desenvolva sua ideia

A. Com certeza. Receber o carinho das crianças motiva o professor a se comprometer cada vez mais em desempenhar um bom trabalho.

B. As crianças são espontâneas e o carinho é consequência do rico trabalho que você desenvolve com os alunos. O corpo da criança fala e qualquer gesto de carinho, de atenção traduz o prazer que tenho de educar e proporcionar para eles momentos que eles possam transmitir não só ao professor mas aos amigos também o carinho e prazer de estar na escola.

C. Sim, qualquer coisa que se faça na vida é necessário motivação, se não nada acontece. O carinho dos alunos é o resultado do aprendizado. O que nos deixa motivado a amar o que se faz e ter orgulho dessa profissão.

D. Sim, mas o carinho é conquistado, enquanto professora tenho de estar sempre motivada.

Leitura: Aqui percebemos dois tipos de resposta, uma que mostra a reação da

criança como impulsionador do trabalho e outra que mostra que o trabalho

desencadeia as reações das crianças. As situações são inversas. Sujeito A parte

da ideia da criança como mobilizadora. Enquanto que B, C e D o professor é

razão do carinho a partir de um trabalho bem feito. O sujeito D ainda traz a ideia

de que o professor deve estar motivado sempre para motivar e essa troca que

gera o carinho.

Depoimento da autora: Assim como os sujeitos B, C e D, para mim o carinho

das crianças é resultado da minha motivação para com elas independente de

estímulo, mas a partir do momento que sou alvo de carinho, sinto-me ainda mais

motivada a continuar.

37

Considerações de ordem geral

Antes de entrarmos no próximo bloco podemos perceber que neste

movimento de aproximação com os sujeitos pudemos dimensionar de forma

mais direcionada as pessoas com as quais estamos trabalhando.

Os sujeitos são pessoas realizadas com a profissão que escolheram, as

escolhas em sua maioria vem a partir de relações familiares e de uma vontade

de estarem nesse campo de trabalho.

Estar em sala de aula é algo que os satisfaz, mostram que se interessam

em fazer o “certo”.

O sujeito C e D ressaltam como estar em sala é importante para eles a

ponto de tomar-lhes toda a atenção, “esquecendo o mundo lá fora”.

Voltamos agora a nossa problemática, os professores agem de acordo

com seus discursos? Até agora todos se mostram coerentes, com as situações

apresentadas; a seguir poderemos ver como os professores dizem agir na

prática.

38

Série B. Questões que trazem desafios à compreensão e pratica do professor

Quadro B.1 Relação de dependência

1. Uma criança tem cinco anos e tem problemas de relacionamento, recorrendo sempre a você, quais atitudes você poderia tomar para ajudá-la?

A. Propor brincadeiras e atividades em grupo para tentar aproximar de outras crianças; criando vínculos.

B. Primeiramente escuto o que a criança tem a dizer e quais são seus conflitos. Dessa maneira, você realizando intervenções para que a criança interaja com o grupo fazendo com que suas brincadeiras e preferencias apareçam no grupo. E se tem algum conflito que ela não possa resolver aos poucos vou trabalhando sua autonomia para que chegue no amigo e fale sobre seus sentimentos.

C. Precisamos ajudar essa aluna a estreitar laços com para um melhor convívio. Uma simples conversa estreitara relações, criando vinculo de confiança e amizade. O que vai deixar o “clima” em sala melhor.

D. Propicio momentos onde a criança exponha mais o que sente ao grupo.

Leitura: A primeira situação apresentada como disparador é apenas para

aquecer, tratamos aqui de uma criança de cinco anos, que já se relaciona através

de falas concretas. Quero ver aqui as relações de dependência entre criança e

professor. No sujeito A, vemos que espera socializar a criança e assim ela criara

seus próprios vínculos. No sujeito B, a professora é mediadora das ações, da

criação de amizades, resolução dos conflitos e a preocupação em dar voz a

criança. No sujeito C, por conta de ser uma criança mais velha a solução poderia

ser através de uma conversa, colocando à vontade e a par do clima da sala, o

sujeito D não especifica como, mas também coloca a criança como agente de

sua transformação perante ao grupo.

Minha vivência: Quando me deparei com essa situação com crianças de cinco

anos, pedi para que a criança fosse conversar com o amigo, mas sempre me

mantive atenta para ver como a conversa ocorria.

Implicações: Os sujeitos se colocam dentro do RECONHECER de Winnicott

(1971) e Kohut (1978), buscam mostrar que estão a par da situação, dando

amparo a criança e proporcionando momentos de integração com o grupo,

mostram de longe o que ocorre e devolvem a autonomia para que o aluno reaja

39

da melhor forma para ele naquele momento. Não roubar o seu cuidar, e sim

estimular a liberdade.

40

Quadro B.2 “O colo”

2. Julinha está em adaptação (2 anos) sempre chora, só para de chorar quando você está com ela no colo, como se sente?

A. Me sinto tranquila porque ela confia em mim, sente confiança na professora e aos pouquinhos vou estimulando a se aproximar de outras crianças, a fim de criar vínculos.

B. Sinto que tenho que acolher essa criança, mas sem esquecer que temos o papel de integra-lo ao grupo de maneira que ela sinta-se segura para seguir a diante sem necessitar constantemente do meu colo.

C. Na adaptação a professora tem um papel fundamental. Nesse caso é bom saber que a criança se sente acolhida.

D. Me sinto feliz por saber que sou ponto de referência desta criança e possivelmente dos pais.

Leitura: Aqui tratamos de um terreno mais sensível, o ego do professor. A e B

ressaltam a confiança e o acolhimento apontando a importância da aproximação

de outras crianças, ressaltando “o criar vínculos” (A); B ainda é mais enfático

trazendo “o papel de integra-lo ao grupo”.

C e D focam a relação consigo próprio. C destaca a acolhida e traz o papel

fundamental do professor a adaptação; D se mostra mais envaidecido sendo

ponto de referência da criança e dos pais.

Todos se mostram felizes com a confiança da criança em um membro da escola.

Implicações: As respostas aqui se dividem em dois grupos, um que busca

socializar a criança e propor que ela interaja de forma saudável e outro que tende

a cair no cuidar de FIGUEIREDO, onde o cuidar tende a satisfazer o educador e

não o ser cuidado. Aqui ter a criança sobre seu “domínio, sendo para ela

referência” é algo prazeroso que atende sua carência. Aqui o professor é ator

em cena, com todas as atenções para ele.

Minha vivência: Quando vivenciei a adaptação das crianças menores, pude

perceber de forma clara os profissionais que ficavam envaidecidos e os que

estavam propiciando de fato o acolhimento. Essa é uma questão que mexe com

o profissional, eu me vi pendendo entre ser uma boa profissional e entre ser vista

como uma boa profissional. A diferença entre os dois vem de encontro com a

ética e com a vaidade que nem sempre se aliam.

41

Quadro B.3 “O ajudante”

3. Pedro é uma criança encantadora, esperto e busca sempre estar ao seu lado te ajudando nas tarefas, diz sempre o quanto gosta de você, mas ele não se relaciona muito com os amigos. O que você observa aqui?

A. Uma criança insegura e sem autonomia

B. Observo que essa criança precisa do nosso olhar sensível e que precisa interagir com as crianças de sua idade. Ressalto a ela o quanto ela me deixa feliz com suas ajudas, mas que somos um grupo e que todos também podem participar e me ajudar, por isso trabalhamos com o ajudante do dia.

C. Precisamos ajudar Pedro a se relacionar com o grupo.

D. Pedro tem uma relação forte comigo e devo ajudá-lo a criar isso com todo o grupo.

Leitura: A questão três vem como apêndice da questão anterior, afunilando a

relação professor, aluno. Na fala do sujeito A, vemos uma constatação sobre

características da criança, mas sem resoluções para o problema. O sujeito B visa

a interação dessa criança e prioriza que todos do grupo podem e devem se

envolver nas tarefas de ajuda, ressaltando o ajudante do dia para que todos

participem. O sujeito C, não relata como, mas evidencia que Pedro precisa se

relacionar e que cabe ao professor ajuda-lo, e esta é a fala também do sujeito D.

Implicações: Consideramos que a fala do sujeito A traz o risco de se construir

um estereótipo, comprometendo o cuidar e o educar. Em relação aos outros

sujeitos. Apenas por uma narração o sujeito rotula a criança.

Os sujeitos mostram-se aqui interpelando as crianças, mesmo que de forma

muito menos impactante como o “interpelar e reclamar” de FIGUEIREDO (2007).

Os sujeitos chamam a criança à vida, interpelam para que ela seja capaz de

fazer uma alternância de papeis.

Minha vivência: Essa é uma situação comum, mas proponho a convidar as

crianças a me ajudar, para não cair nessa mesmice, todos do grupo tem direito

e obrigação de zelar pelo caminhar do trabalho.

42

Quadro B.4 Vida pessoal e profissional

4. Em sua casa as coisas não estão nada bem, já na escola não poderia estar melhor você acredita que seu trabalho é sua felicidade e te supre?

A. Não. Ambos tem que estar bem para que eu possa desenvolver um bom trabalho

B. Para você estar bem por completo você tem que ter uma base familiar e de que te apoie em suas necessidades e não vejo que somente o trabalho supra a felicidade do ser humano de uma forma completa.

C. Sim, já passei por essa situação neste ano e quando estava em sala de aula esquecia dos problemas.

D. Não me supre, mas é determinante para minha felicidade.

Leitura: Aqui podemos ver o equilíbrio da vida profissional e pessoal, para os

sujeitos A e B; estar bem em ambos os locais é o que dá a plenitude de um bom

trabalho, não veem no trabalho a fonte única de sua felicidade e sim como parte

da mesma.

Para o sujeito C, o trabalho é capaz de mascarar os problemas de casa - durante

o trabalho é capaz de esquecer da vida particular e encontra refúgio em sala.

Para o sujeito D é ponto essencial de sua felicidade, porém não é a única fonte.

Implicações: Lembramos aqui que na série A no quadro A.4 o sujeito D trouxe

que “os problemas de fora não tem espaço” o que nos levou a considerar a

importância de no papel de professor, valorizar o foco profissional.

A preocupação que se coloca aqui é a possibilidade de C. ver nessa situação a

sala como “refúgio”, mascaramento.

Minha vivência: Como dito em determinado momento do trabalho o educador

erra por ser humano. Entrar em sala em um momento de fragilidade e receber o

carinho das crianças nos preenche e faz com que nos sentimos mais acolhidos

entramos aqui no cuidar saudável onde o cuidador cuida e é cuidado de maneira

espontânea. O grande marco ocorre quando nos permitimos que a sala seja

nossa fonte única de prazer, quando o carinho das crianças se torna nossa meta

e não sua aprendizagem. Em sala procuro me manter dentro da ética profissional

43

focando antes de tudo no saber e no desenvolvimento, mas as relações também

fazem parte desse caminhar.

44

Quadro B.5 A chegada do outro

5. As crianças adoram você, porém chegou uma auxiliar nova que está chamando muita a atenção deles, eles adoram ela, como você se sente?

A. Ficaria triste, pois se eles gostam mais dela é porque alguma coisa não está certa. Então tentaria observar o que ela tem de tão especial e tentar mudar meu jeito de ensinar, ou seja minha pratica pedagógica.

B. Fico feliz em saber que tenho uma auxiliar carinhosa, competente para que juntas possamos trabalhar de maneira positiva no desenvolvimento das crianças.

C. Feliz. É muito bom ter a aceitação dos alunos com uma nova funcionaria da escola.

D. Procuro entender os motivos pelos quais as crianças se envolvem tanto com ela, fico triste ao perceber que a sala está menos envolvida comigo.

Leitura: Aqui o foco é a vaidade que envolve as relações. O sujeito A deixa claro

o descontentamento com a auxiliar e busca formas de reassumir seu posto de

foco na sala de aula, assim como D que também fica incomodado com a

presença da novata, não admitem que as crianças gostem de algo novo, tomam

como algo pessoal, ambas mencionam “tristezas” mas A. se coloca no caminho

de se rever em sua postura.

Enquanto que B e C, em seus discursos revelam-se felizes apoiando o trabalho

da nova funcionaria e buscando a evolução do trabalho através da nova parceria.

Chegaram a entrar em contato com ciúme?

Implicações: O ciúme é um dos sentimentos mais devastadores, ele aparece

quando nos sentimos donos de algo. Quando algo é meu eu zelo por ele de

forma “maníaca”. Em sala de aula a situação é a mesma. Além do jogo de

vaidade o ciúme se mostra de forma evidente nos sujeitos A e D que repelem a

nova presença.

O cuidar aqui vem interpelar e reclamar, onde a professora tenta voltar a ser o

foco seduzindo o aluno; aqui retomar o seu lugar é essencial.

Minha vivência: Uma situação dessa é extremamente desconfortável, porem

cabe a nós educadores, elaborarmos esses sentimentos assim como o sujeito

B, que vê no novo uma nova possibilidade de trabalho.

45

Quadro B.6 Partidas e chegadas

6. Seus alunos do ano passado estão adorando a nova professora e não falam mais com você, como você se sente?

A. Muito mal e ficaria interessada em saber quais são os seus métodos de atividades que chamam tanto a atenção dos alunos.

B. Trabalhar com a faixa etária de três anos, isso já é mais do que costume, pois as crianças acham que somos professoras somente de “bebês” e que eles já não mais e passaram de ano.

C. No início da carreira confesso que ficava, triste e magoada por não ser mais “referencia” dos alunos como antes. Hoje em dia entendo que meu papel é de educadora, que é preciso ter senso e entender que meu papel foi feito com carinho.

D. Triste, não tem motivos para eles não falarem comigo.

Leitura: A sensação de perda e ciúme fica evidenciada com o sujeito A; há uma

competição por estas crianças, assim como o sujeito D, que mais uma vez se

coloca como foco da atitude das crianças, achando que eles não falam mais com

ela por conta de alguma atitude sua. O sujeito B, trata com naturalidade a

situação por entender que não é nada pessoal e sim o momento e os papeis que

as crianças estão ocupando agora. O sujeito C, traz como consequência do

amadurecimento a compreensão dessa perda e se sente tranquila com seu

trabalho.

Implicações: É um desafio lidar com o não amado, se o cuidar extremo é uma

um baque. O trauma está evidente. Quando se cuida para si mais uma vez

voltamos à ideia de posse. Uma das ideias trazidas no capitulo teórico é que o

essencial do cuidado é o espaço e o vazio que o cuidador é capaz de fornecer

ao objeto de cuidado, este deve ter espaço para se desenvolver, potencializar-

se, arriscar e se desenvolver de forma autônoma. O cuidador maníaco não

possibilita essa autonomia e este afastamento o que nos intriga, nos sentimento

de tristeza dos sujeitos.

Ainda que sejam sentimentos normais descritos no quadro dentro do profissional

cabe questionar se é certa essa postura.

Minha vivência: Deparei-me com essa situação no meu primeiro estágio, com

as crianças passando de ano e tendo como referência as novas professoras o

46

sentimento de perda. Que após longas conversas com a minha professora

regente foram capaz de elaborar a relação de idas e vindas, assim como tudo na

vida. Na profissão não é diferente, o trabalho ocorre em determinado espaço de

tempo e se busca fazer o melhor possível, a partir daí a relação foge do meu

alcance, aceitar isso como um relacionamento “normal” é difícil no começo ainda

que se seja profissional.

47

Quadro B.7 Concepção: educar e cuidar

7. Conte o que é educar e o que é cuidar pra você.

A. Educar: é propiciar situações de aprendizagens que as crianças vão levar para suas vidas. É contribuir para seu desenvolvimento. Cuidar: é dar segurança, afeto, carinho e auxiliar as crianças naquilo que elas precisam. Mas na educação o cuidar e o educar devem caminhar juntos, pois um complementa o outro.

B. Educar e cuidar na Ed. Infantil são conceitos que caminham juntos, pois ser professor é ter a oportunidade de passar valores as nossas crianças sem deixar de ter o olhar de “cuidadora” proporcionando a eles todos o carinho e atenção.

C. Educar: engloba ensinar e aprender Cuidar: zelo pela criança, não deixa que lhe faltem cuidados básicos.

D. Educar é a fala mais teórica e o cuidar é o carinho e atenção que o processo de ensinar necessita.

Leitura: Finalizando as questões propomos uma síntese conceitual do que cada

sujeito entende por cuidar e educar. Com essa leitura propomos a reflexão das

questões anteriores a partir do olhar de quem as respondeu. Todos ressaltam o

educar como algo mais acadêmico, ligado à aprendizagem formal, conceitual, a

relação ensinar e aprender, enquanto que cuidar vem a cerca de algo mais

afetuoso e seus cuidados básicos. Todos dizem que esta relação entre o cuidar

e o educar devem andar juntos e que nesta faixa etária é essencial a interação

dos dois. O sujeito B ressalta uma questão importante que é o olhar cuidador,

que relacionamos com aquele cuidar onde não há interferência apenas

direcionamento.

Implicações: Cada sujeito se posiciona dentro do que entende por cuidar e

educar, nem sempre o que se fala e o que se faz competem como pudemos

perceber nas respostas dos sujeitos. Porem quando o assunto é a definição de

ambos os conceitos todos são capazes de se posicionar de forma bastante

confiante e satisfatória. O cuidar e o educar estão atrelados e se completam

dentro da ação educativa.

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DISCUSSÃO ARTICULANDO TEORIA E PRATICA

Diante da leitura das respostas fornecidas pelos educadores damos início

a análise do que encontramos. Vale lembrar de onde partimos: Compreender

o(s) sentido(s) de cuidar e educar como interfaces do ato educativo na educação

infantil, explicitando sua importância para o trabalho do educador, diante do

impacto sobre o desenvolvimento da criança que advém da coerência ou

incoerência entre o que diz e o que faz.

Os sujeitos entrevistados se mantem com falas coerentes, nenhuma das

respostas dadas soa como algo impossível de se priorizar, pelo contrário soam

como respostas francas, repletas de dúvidas e aflições que competem ao ser

humano.

Na hora de analisar mantivemos a postura de levar em conta que todos

estão sujeitos a erros e que não há uma resposta certa para as questões.

Devemos fazer uma leitura dosando a inclinação das respostas que levam em

conta ou a formação da criança ou as particularidades do educador.

Em suma percebemos nos sujeitos B e C posturas sempre mais voltadas

ao ato de educar, com relevâncias mais teóricas e com amadurecimentos que

são relatados a partir do tempo de profissão.

Enquanto que A e D mantem posturas de caráter mais pessoais, levando

em conta o desenvolvimento das crianças, porém sem conseguir desvencilhar-

se de sentimentos como ciúme, vaidade, posse e abandono.

A ética da qual falamos se apresenta quando vemos a seriedade com que

os sujeitos se colocam, trazem valores principalmente nas questões iniciais

quando começamos a conhecê-los. A família, a vocação, a vontade de ensinar

e construir são valores que fazem parte deste educador.

Quando entramos no cuidar e educar na última questão vemos como os

sujeitos sintetizam estes conceitos. O cuidar se associa ao relacionar-se com o

outro e consigo próprio, enquanto que dentro da filosofia o cuidar vem como a

essência da condição humana. Os sujeitos se mostram bastante coerentes com

49

ambas as falas pois acreditam ser algo interiorizado porém algo também que é

pensado e analisado antes de ser apenas feito.

Este é o ganho maior da nossa pesquisa, vemos que quando se trata da

educação formal, o ato de educar em uma ótica mais formal e mais cognitiva os

sujeitos se colocam de forma segura e consciente de suas ações.

No quesito de cuidados eles têm a mesma consciência, porém seus

sentimentos se envolvem e muitas vezes se confundem com o trabalho.

Antes preocupava-nos o cuidar maníaco, onde o cuidador sufoca e

atrapalha o desenvolvimento do ser cuidado, acarretando neste, diversos

traumas e dificuldades na formação. Pudemos ver que este cuidar está

descartado dentre os sujeitos postos, eles não tem essa postura e nem se

contradizem a ponto de que tenhamos esta classificação para algum deles.

Assim como FIGUEIREDO (2007) revela este é um cuidar que tende a ser mais

visto nos pais, o amor que é tão imenso que sufoca. Na dimensão profissional

este amor não ocorre com esta intensidade e nem da mesma forma que nas

relações primárias. Há uma tendência de se caminhar para o modo antecipativo

–liberador, do cuidar, como aprendemos com HEIDEGGER (apud. MARINO

1992)

Porém um cuidar não saudável nos é apresentado: cuidar totalitário e

claustrofóbico, o exagero da presença implicada. Vimos nuances desse cuidar

no sujeito A e D em mais respostas, onde dizem que tentariam ver outra forma

de a criança voltar a ter os mesmos como referência, quando se sentem

envaidecidos com o carinho dos mesmos. Este tipo de desconforto gera formas

de compensação para que a criança volte a ser “deles”, sendo assim o professor

acompanha sempre a criança voltando para si mesma para que haja a

reconquista com riscos de que ocorra a perda da autonomia da criança. Claro,

que esta não é uma regra, porém de acordo com o estudo teórico anterior podem

ser desencadeadoras de interferências na liberdade do outro roubando o próprio

cuidar, gerando dependência e não o aprender sobre o cuidar.

Os conceitos de “sustentar e conter” são dos mais importantes dentro do

cuidar e estes sim aparecem com bastante frequência entre todos os sujeitos,

50

que se mostram em posição de reserva, dando segurança e base para que a

criança se desenvolva. É importante lembrar que só somos alguém, quando

alguém nos vê. Sendo assim, quando os sujeitos dizem que propiciam momentos

para a criança se colocar, brincar, mas que também acalentam e seguram, se

mostram observando esta criança. Mostram que estão presentes, ainda que não

devam resolver todos os conflitos, estão ali para ajudar na resolução. Estão

observando e dando segurança.

O conceito de “reclamar e interpelar” também é vista em especial no

sujeito C, que se mostra na questão um (1), com uma postura de chamar a

criança à vida a fim de que ela se resolva sozinha, que se sinta capaz de

administrar seus conflitos. Este é um tipo de cuidar difícil de se viver por caminhar

em uma linha tênue, pode ser traumático ou ser um chamado para o mundo, um

desenvolvimento da autonomia.

Embora pensemos que os professores são presenças implicadas, eles

não são, ou pelo menos não se mostram assim, a maioria dos sujeitos quando

colocados em situação confortável se mostram na presença reservada dando

subsidio às ações, orientando as realizações sem atuarem de forma autoritária.

Enquanto que se o ciúme e o abandono surgem, o desconforto gera uma

presença mais implicada no ímpeto de retomar os seus papéis dentro de sala.

As leituras dos depoimentos levam-nos a acreditar que o cuidar e educar

para os sujeitos são de extrema importância, nenhum abandona uma outra

dimensão para desenvolver seu trabalho, porém a proporção em que os dois

aparecem é diferenciada.

51

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com tudo que vimos, a tese inicial do cuidado exagerado trazendo

consequências para a criança, ainda fica em aberto, porém quanto à postura do

professor conseguimos desenhar, por meio dos exemplos coletados, uma

perspectiva.

Nenhum professor traz em si a fórmula mágica de como ser educador,

ainda que com intensa formação; as questões de caráter pessoal sempre estarão

envolvidas, afinal somos humanos. O que diferenciará um bom professor será

como ele lida com isso, se consegue ser flexível frente a estas questões para

sua melhor atuação.

Em momento algum vemos o professor com outro proposito que não seja

a formação de qualidade do seu aluno. Por essa questão a pesquisa já nos vale

para sabermos que o educador se mantém motivado e feliz dentro de sua

profissão.

Não nos alienamos diante de nenhum dos percalços que encontramos na

profissão, as qualidades dos materiais fornecidos, os baixos salários, a grande

demanda de trabalho e nem ao preconceito que sofremos com quem ainda nos

chama de “tia” no pejorativo de quem cuida.

Com esse trabalho a relação estreita entre o cuidar e o educar se mostra

como única fonte do educar bem estruturado. A criança pequena tem uma

demanda de atenção, interação e formação de sua personalidade que apenas

conteúdos matemáticos, gramáticos e afins não são capazes de suprir.

Enquanto crianças, experimentar, sentir, provar, ter na pele o cuidado,

atenção é também educar, é formar corações de bem para que assim os adultos

que virão também sejam capazes de transpor essa atenção e cuidado.

Aos professores de cuidados extremos fica nossa solidariedade, o tempo

e as vivencias trarão o amadurecimento que a relação professor, aluno

necessita.

Aos professores em geral o parabéns pelo empenho no trabalho.

52

Às crianças a certeza de que quando são assistidas por profissionais

envolvidos podem aprender a ser e a coexistir. Todos temos um professor que é

agente transformador de nossas vidas, e essas crianças também terão.

Sinto-me orgulhosa com a nossa produção, digo “nossa” por conta dos

sujeitos e pelas leituras enriquecedoras dos autores. Que as transformações

ocorram sempre a cada nova fase.

Educo quando te ensino que ensinar é o cuidar do ser humano para

que o amanhã seja ainda mais colorido que o hoje.

53

Referências Bibliográficas

Brasil. Referencial curricular nacional para a educação infantil /Ministério da

Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília:

MEC/SEF, 1998. 3v.: il.

CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre ética, liderança e gestão: Vozes, SãoPaulo, 2007.

ESPÓSITO, Vitória Helena Cunha. Fazendo educação continuada. Buscando o

sentido das palavras: construindo as bases para um trabalho participativo na

escola, pp.35- 48. Editora Avercamp, São Paulo, 2005.

FIGUEIREDO, Luís Claudio. A metapsicologia do cuidado. Psychè. Vol. XI. Núm,

21, Julio-diciembre, 2007, pp.13-30 Universidade São Marcos.

PUTTINI, Escolástica Fornari. Psicodrama pedagógico: considerações sobre a

produção do conhecimento na escola. In: PUTTINI, Escolástica Fornari e LIMA,

Luiza Mara Silva (org.). Ações Educativas: vivências com Psicodrama na

prática pedagógica. São Paulo: Agora, 1997.

MORENO, Jacob Levy – Psicodrama. São Paulo, Edit. Cultrix Ltda., 1984.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 9.ed. São

Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2004

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,

2002.

MARTINS, Joel. e BICUDO, Maria Aparecida Vigiani – A pesquisa qualitativa em

psicologia – fundamentos e recursos básicos. São Paulo. EDUC/Moraes, 1989.

MARINO, Marilia J. O acontecimento educativo psicodramático- encontro entre

Heidegger, Moreno e uma psicodramatista Educanda/Educadora. PUC-SP. 1992

MACHADO, Roberto. Ciência e saber. A trajetória da Arqueologia de Foucault.

Editora Graal.Brasil.1982

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas uma arqueologia das ciências

humanas. Editora Martins Fontes. Edição Brasileira, 1981.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Editora Graal. Brasil. 1981.

SIGNORETTE, A. E. R. S. et al. Educação e cuidado: dimensões afetiva e biológica constituem o binômio de atendimento. Revista do Professor. Porto Alegre, n. 72, p. 5-8,out./dez. 2002.

54

FOREST, Nilza Aparecida; WEISS, Silvio Luiz Indrusiak. Cuidar e educar: perspectivas para a prática pedagógica na educação infantil. 2009. Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG). Disponível em: <http://www.sst.sc.gov.br/arquivos/eca20/seminario1/Cuidar_e_Educar_Icpg[1].pdf>. Acesso em: 10. jul. 2013.

55

Anexo 1 – TCLE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

1. Você está sendo convidado para participar da pesquisa: O CUIDAR E O EDUCAR

- desafios para o desenvolvimento do papel de educador na educação infantil.

2. A sua participação não é obrigatória e a qualquer momento você pode desistir de participar e

retirar seu consentimento.

3. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição.

4. O Objetivo Geral deste estudo nesta etapa é: Compreender o(s) sentido(s) de cuidar

e educar como interfaces do ato educativo na educação infantil, explicitando sua

importância para o trabalho do educador, diante do impacto sobre o desenvolvimento

da criança que advém da coerência ou incoerência entre o que diz e o que faz.

5. Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder ao questionário.

6. As informações obtidas por meio desta pesquisa serão confidenciais e asseguramos o sigilo

sobre sua participação.

7. Os dados não serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação.

8. Você receberá uma cópia deste termo onde constam os dados do pesquisador, e seu

orientador podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer

momento.

Pesquisadora de T.C.C. Orientadora

Nome: Carolina Mariucci Rodrigues Profa. Dra. Marilia Josefina Marino

Telefone: 9 6433 0367

e-mail:[email protected] Assinatura:............................................................

Telefone: (11) 3864 9785 / 9 9272 3665

e-mail: [email protected]

Declaro que entendi o objetivo geral da minha participação na pesquisa e concordo em

participar.

_______________________, de _______________________de 2013_________

Sujeito da pesquisa

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Anexo 2 – Questionário

Nome:____________________________________Idade:_________________Graduação:_________________ Instituição onde é formado:_______________ Outros cursos: ___________________________________________________ Tempo de docência: ______________________________________________ Local onde trabalha: ______________________________________________

1. Quais fatores influenciaram na sua escolha para ser professor (a)?

2. O que mais gosta na educação infantil?

3. Você se sente realizado (a)?

4. Qual a sensação de estar em sala?

5. Você acredita que o carinho das crianças é motivador? Desenvolva sua

ideia.

Situações problema, conte-me como você se sente nas situações abaixo:

1. Uma criança tem cinco anos e tem problemas de relacionamento,

recorrendo sempre a você, quais atitudes você poderia tomar para ajudá-

la?

2. Julinha está em adaptação (2 anos) sempre chora, só para de chorar

quando você está com ela no colo, como se sente?

3. Pedro é uma criança encantadora, esperto e busca sempre estar ao seu

lado te ajudando nas tarefas, diz sempre o quanto gosta de você, mas ele

não se relaciona muito com os amigos. O que você observa aqui?

4. Em sua casa as coisas não estão nada bem, já na escola não poderia

estar melhor você acredita que seu trabalho é sua felicidade e te supre?

5. As crianças adoram você, porém chegou uma auxiliar nova que está

chamando muita a atenção deles, eles adoram ela, como você se sente?

6. Seus alunos do ano passado estão adorando a nova professora e não

falam mais com você, como você se sente?

7. Conte o que é educar e o que é cuidar pra você.

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Anexo 3 – Tabela – Dados dos sujeitos

A B C D

Idade 38 29 29 21

Graduação Letras e

pedagogia

Pedagogia Pedagogia

e Ed.

Fisica

Pedagogia

Instituição

onde é

formado

Puc-Sp Mackenzie FMU e

UNIP

Puc-SP

Outros

cursos

Ed.

Infantil/magistério/

psicomotricidade

Pós graduação

em

Psicopedagogia/

curso de

alfabetização/

inclusão e

projetos na ed

infantil

Educação

Física

_

Tempo de

docência

13 anos 11 anos 9 anos Menos de

um ano