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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC-SP
Luízyana Magda Coêlho dos Santos
O COORDENADOR PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
NA PERSPECTIVA DE SEUS PROFESSORES
MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
São Paulo
2017
Luízyana Magda Coêlho dos Santos
O COORDENADOR PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
NA PERSPECTIVA DE SEUS PROFESSORES
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para
obtenção do título de MESTRE em Educação: Psicologia da
Educação, sob a orientação da Profa. Dra. Laurinda Ramalho de
Almeida.
São Paulo
2017
Banca Examinadora
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________________________________
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus, fonte da minha inspiração. ELE e eu, relação
pessoal em crescimento, regada a escolhas e superações, tudo envolvido em
sua Graça, que me motiva a ter fé, esperança e prosseguir.
Dedico este trabalho ao meu pai, que embora não esteja mais conosco sei
da sua alegria e de como gostaria de ter visto a materialização desse sonho,
e foi por todo o seu esforço que cheguei onde cheguei, na conclusão de um
curso de mestrado.
AGRADECIMENTOS
Agradeço especialmente ao meu pai – o pastor Luiz Antônio (in memorian) e à minha
mãe – a educadora Maria da Penha, que me conduziram na universidade da vida, sempre de
forma pró ativa e me educando para a vida, para viver em família e com amigos, contribuindo
na construção de princípios e valores que me fundamentam social e profissionalmente. Estações
e dias certamente passarão, mas nunca me esquecerei do cuidado e do amor para comigo, dia
após dia, nas madrugas que me levavam ou me esperavam no aeroporto, sempre contribuindo
com tudo, essa conquista é nossa e sou muito grata a vocês.
Aos meus irmãos Samuel e Thiago e aos meus sobrinhos Thársos e Thársila, pelo par de sorrisos
mais motivadores que uma tia pode ter; às minhas cunhadas, obrigada pelo carinho e por
acreditarem que era possível, mesmo quando eu mesma, muitas vezes, não acreditei.
Aos meus familiares, paternos e maternos, minha peralta avó Rita (meu Fênix preferido) e meu
tio Paulo que, incansavelmente, sempre me impulsionaram a continuar. Um agradecimento
especial também aos meus tios Manuel e Luciene, às primas Aline e Allanis. À querida prima
Ruth e seu esposo Daniel, que acreditaram em meu sonho quando eu mesma já não o concebia
como tal, e de forma meiga me ajudaram a torná-lo real. Essas duas famílias me ofereceram
estadia em São Paulo, porém mais do que isso, cuidaram, oraram, choraram e riram comigo
quando precisei de carinho, de atenção, de companhia e muitas outras ajudas. Foram muitas as
orações que se somaram com toda a ajuda de vocês. Sem a presença de vocês, eu não teria
conseguido. Sou muito grata, por tudo.
Aos meus educadores, professora da alfabetização Betinha (in memorian) e a Freira Frida que
em sua biblioteca foi me conduzindo, carinhosamente, no contato com os livros e novos
conhecimentos. Aos mestres da graduação em Pedagogia – professor Toninho e seus militantes
sonhos educacionais – e da graduação em Psicologia – professores Aluísio e Carla Brandão que
me conduziram a ampliar o olhar e os sentimentos para novas maneiras de perceber, de
compreender e de aceitar o outro, colaborando com minha formação e atuação profissional. Sou
especialmente grata.
A Assembleia Legislativa da Paraíba e aos seus digníssimos Presidentes e Esposas, por
participarem comigo desse período; ao Deputado Ricardo Marcelo e Crisneilde Rodrigues e o
Deputado Adriano Galdino e Eliane Moura, por acreditarem na Educação como um instrumento
de desenvolvimento social, me permitindo estudar e aplicar novos conhecimentos na Creche e
Pré-escola Ângela Maria Meira de Carvalho. Há 18 anos esse espaço educacional busca
promover uma Educação Infantil com qualidade e equidade.
Aos amigos e colegas de trabalho, à Diretora atual da Instituição – professora Neidenalva
Moura e às Secretárias Penha e Denise; à minha companheira e também Coordenadora
Pedagógica Juliana Maciel e à Psicóloga Thiênia Rêgo; e também toda equipe de assistência
pedagógica: Fátima, Júlia e Larissa, sempre muito criativas – por natureza – e comprometidas
com o trabalho.
O meu agradecimento também às Coordenações de Saúde e Administrativa, por todo o carinho
e incentivo; às equipes da nutrição, da cozinha, da limpeza, da lavanderia, da segurança, da
decoração e da manutenção, a vocês o meu obrigada pelas palavras e gestos carinhosos.
À equipe de professores e de assistentes de turma e dos corredores, que direta e indiretamente
me ajudaram a formular novos questionamentos educacionais resultando na proposta de
pesquisa deste trabalho, a minha eterna gratidão, afinal, sempre que eu voltava de viagem vocês
estavam lá para me acolher e eu sentia como se o tempo não tivesse passado. Embora não tenha
sido como eu planejei, que era fazer a pesquisa em nossa própria instituição, tenho colhido bons
frutos nascidos de nossas experiências docentes e que têm me ajudado a compor os resultados
desta pesquisa. Também preciso fazer referência às pessoas que trabalharam em nossa
Instituição e que viram esse sonho nascer e muito contribuíram. Sou muito grata a todos você!
Aos amigos de perto e de longe – Jaqueline, Iaskára, Yana, Martas, Maria, Lena, Cícera,
Cristina, Luciana, Luana, Modesto, Raquel e, especialmente a Call um instrumento de Deus em
minha vida. Saber que posso contar com vocês me fortalece, me alimenta de carinho e de
confiança para que tudo possa dar certo. Obrigada!
À querida Maria Marques, que me conduziu à consciência de mim mesma e ao
‘empoderamento’ emocional, social, educacional e espiritual. Você me ajudou a galgar esta
nova conquista, trago ecoando em minhas lembranças suas palavras e seu olhar verde e
carinhoso. A você sou muito grata.
Aos meus amigos paulistas – Fábio, Joyce e Jéssica, que me acompanharam carinhosamente
durante todo esse tempo, me apresentando a megalópole de São Paulo, suas cores, seus perigos,
o tempo, os paladares, a temperatura, os barulhos e os cheiros, me envolvendo em inúmeras
experiências. Às senhoras da Igreja Batista (localizada no bairro Perdizes/SP), obrigada pelas
orações e por me acompanharem diversas vezes quando precisei de conforto espiritual.
À instituição onde fiz a pesquisa e todos os seus funcionários, em especial à Coordenadora
Pedagógica que me recebeu e facilitou todo o processo da pesquisa; às professoras que
contribuíram com depoimentos de suas experiências; e às técnicas que atuam na Secretaria da
Educação do Município onde foi realizada esta pesquisa.
À professora que honrosamente posso chamar de minha Coordenadora do mestrado, Profa. Dra.
Ana Bock, que me aceitou e legitimou a chance de conseguir finalizar mais essa etapa na vida,
feliz por ter tido o prazer de conhecê-la, um ser humano generoso e com uma capacidade ímpar
de acolher e acreditar em outro ser humano. Obrigada pela confiança.
À Profa. Dra. Marli André por ter iniciado essa caminhada comigo, possibilitando a construção
desta pesquisa; à Banca Examinadora, professoras doutoras Regina Célia Almeida Rego
Prandini e Wanda Maria Junqueira de Aguiar, que carinhosamente qualificou e validou este
trabalho elaborado com tanto esforço, pelas valiosas contribuições.
À minha querida orientadora, Profa. Dra. Laurinda Ramalho de Almeida que me adotou e
ensinou, que corrigiu e fortaleceu-me emocional e intelectualmente. Ao seu lado, tudo começou
a parecer possível, de xícara em xícara de café, a nossa relação e as ideias para a construção
desta pesquisa se expandiram e, aos poucos, foram se estruturando, dando luz ao que precisava
nascer. Quando lembro de cada detalhe dessa relação e desse percurso, me sinto acolhida e
amada. Lhe serei eternamente grata por ter sido tão especial, por ter dedicado parte do seu
tempo, especialmente nos últimos dias que antecederam o depósito desta dissertação. És um
exemplo – de docência e empatia – a ser seguido. Obrigada por me conduzir!
A Educação pela Pedra
Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, frequentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra (de fora para dentro,
Cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.
JOAO CABRAL DE MELO NETO
RESUMO
SANTOS, Luízyana Magda Coêlho dos. O Coordenador Pedagógico da Educação Infantil
na perspectiva de seus professores. 2017. 80 fls. Dissertação (Mestrado em Educação:
Psicologia da Educação). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Esta dissertação tem como tema a Educação Infantil e foi desenvolvida com o objetivo de
analisar o profissional Coordenador Pedagógico da Educação Infantil, na perspectiva dos
professores que atuam em uma Creche e Pré-escola pública, em um município da Grande São
Paulo. A pesquisa, de abordagem qualitativa, utilizou como instrumento a entrevista, na
modalidade reflexiva, sendo realizada com seis professoras da Pré-escola. O referente teórico
discorre sobre a Educação Infantil especialmente com as contribuições de Campos (2006),
Kuhlmann (2000), Rosemberg (1994), Oliveira (2011), Rizzo (2003) e Kishimoto (1998), e
sobre atuação do Coordenador Pedagógico com as discussões propostas por Placco; Almeida;
Souza (2012) e Zumpano; Almeida (2012). As informações coletadas permitiram uma
compreensão tanto do perfil dos professores entrevistados quanto de sua visão sobre a atuação
da Coordenação Pedagógica de sua unidade. As falas das coordenadoras entrevistadas
revelaram entre outros: ao propiciar o desenvolvimento das crianças estão promovendo o seu
próprio desenvolvimento profissional; a formação continuada dos docentes deve ser uma
prioridade no trabalho do CP; e, os profissionais da creche e pré-escola precisam identificar as
informações e conhecimentos que as crianças já trazem ao chegar à Escola.
Palavras-chave: Educação Infantil. Coordenador Pedagógico. Perspectivas de professores.
ABSTRACT
SANTOS, Luízyana Magda Coêlho dos. The Early Childhood Education pedagogical
coordinator in their teachers’ perspective. 2017. 80 fls. Dissertation (Master’s Degree in
Education: Educational psychology). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
This dissertation has Early Childhood Education as its theme and aims to analyze the Nursery
Education Pedagogical Coordination professional, from the perspective of their teachers, who
are active in a public daycare and preschool in a county in São Paulo Metropolitan Area. The
research, from a qualitative approach, has used the interview in the reflective modality as a tool.
Six preschool teachers were interviewed. The theoretical referring was composed of Early
Childhood Education scholars such as Campos (2006), Kuhlmann (2000), Rosemberg (1994),
Oliveira (2011), Rizzo (2003), Kishimoto (1998), and, regarding Pedagogical
Coordination Placco, Almeida, Souza (2012) and Zumpano, Almeida (2012). The discussion
of produced information has enabled the comprehension not only of the interviewed teachers’
profile but also of their vision regarding Pedagogical Coordination performance in their units.
The speeches of the interviewed coordinators also revealed: providing the child development,
they promote their own professional development; the teacher’s continuing education must be
the Pedagogical Coordinator priority; and, that the daycare and preschool professional need to
identify the knowledge and informations which the children already possess when they reach
the School.
Key-words: Early Childhood Education, Pedagogical Coordinator and Teachers’ Perspectives.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Dados das entrevistadas ............................................................................... 38
TABELA 2 – A formação acadêmica das professoras ....................................................... 39
TABELA 3 – Atividades profissionais em áreas diferentes da docência ........................... 40
TABELA 4 – O percurso percorrido até ingressar em atividades Educacionais ................ 42
TABELA 5 – Condição de trabalho e horas trabalhadas .................................................... 43
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11
CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO INFANTIL .................................................................. 15
1.1 – A Educação Infantil: antiga na necessidade e recente na concretização .................... 15
1.2 – A Coordenação Pedagógica e a Educação Infantil ..................................................... 23
1.2.1 – Os estudos desenvolvidos sobre o Coordenador Pedagógico ................................. 24
1.2.2 – A Coordenação Pedagógica no Município lócus da pesquisa ................................. 27
1.2.3 – A atuação do Coordenador Pedagógico na Educação Infantil ................................ 29
CAPÍTULO II – O PERCURSO METODOLÓGICO .................................................. 32
2.1 – Os procedimentos para realização desta pesquisa ...................................................... 32
2.1.1 – A caracterização da Creche e Pré-Escola ................................................................ 32
2.1.2 – A escolha dos sujeitos da pesquisa .......................................................................... 34
2.1.3 – A coleta de dados: o instrumento e as observações da pesquisadora ..................... 34
2.1.4 – A organização dos dados para análise ..................................................................... 35
CAPÍTULO III – A ANÁLISE DA PESQUISA ............................................................. 37
3.1 – O que revela o perfil das Professoras ......................................................................... 37
3.2 – A visão das Professores sobre a atuação da Coordenadora Pedagógica..................... 44
3.2.1 – O depoimento de uma Professora entrevistada ....................................................... 44
3.2.2 – As atribuições da Coordenação Pedagógica ............................................................ 49
3.2.3 – Um projeto concretizado e uma atividade panejada e valorizada: a horta .............. 51
3.2.4 – O que eu faria de diferente se fosse Coordenadora Pedagógica? ............................ 52
3.2.5 – As palavras que podem definir a Coordenadora Pedagógica .................................. 56
3.2.6 – As metáforas relacionadas ao trabalho docente e da Coordenação Pedagógica ...... 58
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 66
APÊNDICES ...................................................................................................................... 68
Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Diretora)............... 68
Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Professoras) .......... 69
Apêndice C – Roteiro da entrevista ..................................................................................... 70
Apêndice D – Depoimento de uma professora entrevistada................................................ 71
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INTRODUÇÃO
Em tempos de pesquisas e inovações compartilhadas globalmente, as temáticas ligadas
ao cotidiano escolar passam a ser foco constante de debates e estudos e abarcam também as
implicações da globalização na Escola e as possibilidades de intervenções para a melhoria na
qualidade da Educação.
Esta pesquisa foi se constituindo com a proposta de estudar um recorte desse cenário – a
Educação Infantil, segmento no qual sempre estive inserida. Dos primeiros anos como estudante
na Educação Infantil, na cidade de João Pessoa (Paraíba), tenho lembranças especiais
principalmente das atividades da sala de jogos, que eram tão esperadas por todos os alunos.
Nessas lembranças, está a memória da minha alfabetização, época que estudei no Colégio Santa
Rita, no município de Areia, também na Paraíba. Era uma instituição particular, gestada por
freiras alemãs, sendo algumas refugiadas da Segunda Guerra Mundial.
Sem dúvidas, me recordo desse momento como um dos mais importantes em todo o meu
processo de escolarização, especialmente pelo encontro de saberes entre eu – a aluna em
processo de alfabetização, e a irmã Frida – a Freira que zelava cuidadosamente da Biblioteca
da Escola e que, carinhosamente, me apresentou o mundo dos livros. Sempre que eu chegava
procurando por um livro, ela me acompanhava atentamente com olhos, ouvidos e coração,
conduzindo-me ao contato com os livros, e assim ela era com todas as crianças, com a voz
serena e meiga confirmava as nossas escolhas. Essa experiência foi uma parte fundante em
minha formação educacional. Em continuidade, mas já em outra Escola (pública) e cursando o
5º ano, a professora de Linguagem e Expressão nos levou ao mundo das intepretações e das
criações de histórias.
Ao retornar para João Pessoa, ingressei na Educação como auxiliar de turma de crianças
pequenas, em uma escola particular no bairro em que eu morava. A escola era para alunos da
Educação Infantil até o atual 5º ano (antiga 4ª série). Nessa época, eu estava cursando o Ensino
Médio e optei por fazer o Curso Pedagógico de Nível Técnico, também conhecido como Curso
Normal. A partir dessa escolha, tive a oportunidade de assumir uma sala de aula como
professora titular.
Em 1998, ingressei como professora da Educação Básica na escola pública e fui
convidada a fazer parte da equipe de professores que iniciava o Projeto da Creche Ângela Maria
Meira de Carvalho, uma Instituição vinculada à Assembleia Legislativa da Paraíba, e na qual
12
trabalho até os dias atuais. O projeto foi iniciado com o número de 60 crianças e atualmente
conta com 170 crianças. Em 2002, comecei a cursar Pedagogia em decorrência da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/96) que estabelecia, à época, uma formação de
professores para atuar na Educação Básica por meio de um curso superior – licenciatura plena,
a ser realizado em Universidades ou Institutos Superiores de Educação, como previsto em seu
Art. 62.
Em continuidade aos estudos, iniciei a graduação em Psicologia no ano de 2008 e foi
nesse período que também ocorreu a minha transição da função de professora da Educação
Básica para Coordenadora Pedagógica, na mesma Instituição Escolar que atuo há 18 anos. Foi
uma mudança muito especial e importante na minha formação profissional e significou um novo
confronto com a realidade escolar, um novo olhar para um espaço que eu ‘já conhecia’ com o
olhar de professora. Consequentemente, essa nova fase me impulsionou a continuar com a
minha formação e realizar um curso de Pós-Graduação.
Nesse percurso formativo, as vivências e as experiências profissionais foram se
configurando em questionamentos que me conduziram ao desafio de refletir com maior
profundidade sobre as particularidades que cercam a Educação Infantil, especialmente na escola
pública que, ainda hoje, tem travada uma luta cultural para se desvencilhar, não apenas na teoria
mas na prática, da sua concepção assistencialista, bastante recorrente nesse segmento da
Educação. E com isso, promover o que a própria LDB estabelece em seu Art. 29: “A educação
infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da
criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade”.1
Há pouco mais de quatro anos, migrei da docência em sala de aula para atuar na
Coordenação Pedagógica, o que tem sido dia após dia um desafio, pois vejo-me na
responsabilidade de retomar antigos questionamentos sobre a formação inicial dos professores
que atuam com crianças pequenas. Iniciei as minhas atividades na Coordenação nos dia em que
fui convidada pela direção para assumir o que, carinhosamente, chamo de “desafio ampliado
da docência”, com a clareza das especificidades que esta função exige.
Entendo que ao docente cabe ensinar, enquanto que ao Coordenador Pedagógico
compete, como definem Almeida e Placco (2009): articular, formar e transformar.
1 LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L9394.htm. Acessado em outubro de 2016.
13
Como articulador, seu papel principal é oferecer condições para que os
professores trabalhem coletivamente as propostas curriculares, em função de
sua realidade, o que não é fácil, mas possível; Como formador, compete-lhe
oferecer condições ao professor para que se aprofunde em sua área específica
e trabalhe bem com ela; Como transformador, cabe-lhe o compromisso com o
questionamento, ou seja, ajudar o professor a ser reflexivo e crítico em sua
prática (p. 39).
Na reunião de planejamento com os professores, fui apresentada a todos como a mais
nova integrante da Coordenação Pedagógica, compondo uma dupla com outra colega de
trabalho que tinha sido minha Coordenadora por mais de oito anos. As lembranças daquele dia
ainda são bastante significativas para mim, lembro-me dos olhares e dos gestos dos(as)
professores(as), carregados de diversas emoções que, junto às minhas próprias, afloraram
emoções misturadas ao medo e à angústia pelo enfrentamento do novo. Mas, de imediato,
procurei minimizar esse sentimento no ‘labor pedagógico’ e nos novos anseios, embora as
emoções se repitam a cada novo passo e em cada experiência vivida.
Na função de CP, tenho procurado regar o exercício da minha atividade com o cuidado e
o discernimento que a responsabilidade assumida me exige, sempre buscando apoio nas
experiências vividas no contexto da Escola e por seus diferentes atores, e isso inclui um olhar
cuidado com gestores, funcionários, alunos e seus familiares. Mas é no desenrolar da minha
relação com os professores que vivo experiências riquíssimas, especialmente quando sou
confrontada por eles e então percebo que tais confrontos vão me constituindo como
Coordenadora Pedagógica dessa fase que vivo atualmente – a conclusão de um curso de
Mestrado em Educação.
A fase de elaboração/construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) da Instituição foi
um momento muito rico, vivido por mim, pelos professores e profissionais da Escola, além da
família dos alunos, da comunidade do entorno e, também, por alguns convidados. As reuniões
eram realizadas nos dias de quarta-feira e abarrotadas de discussões sobre a escolha das
temáticas ligadas à vida escolar, às metodologias empregadas na sala de aula, às caraterísticas
do nosso público (funcionários, alunos e seus familiares). Nessas reuniões, nós discutíamos
sobre nossa visão de mundo, Infância, Sociedade e Educação Infantil, e assim definíamos
gradativamente a nossa identidade institucional.
As recordações do meu ingresso na Coordenação Pedagógica são de superações,
aprendizagens e de uma atitude sempre aberta a mudanças que, aos poucos, se fundem e se
tornam elementos constituintes de minha atuação profissional, consolidando-se em interesse
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pelo Coordenador Pedagógico que atua na Educação Infantil, em Rede Pública de Ensino e que,
nesta pesquisa, se concretiza como objeto de investigação por meio de um estudo qualitativo.
Acredito que a caminhada do conhecimento foi impondo observações peculiares sobre o
ator social que é o Coordenador Pedagógico, especialmente quando este atua na Educação
Infantil. Motivações para a realização de novas pesquisas sobre a Educação Infantil no Ensino
Público não faltam, principalmente quando, no Brasil, ainda que tardiamente em relação a
outros países, a Educação Infantil passou a fazer parte da Educação Básica Brasileira,
promulgada pela LDB/96, como uma competência administrativa dos municípios.
Passados 20 anos da LDB, as diversas mudanças sociais, tecnológicas e econômicas que
produzem o surgimento das Leis e dos Decretos estão sempre em pauta, nascendo por
intermédio de debates que conectam e configuram o que Alarcão (2001, p. 16) define como:
“[...] uma compreensão estruturante das problemáticas e das potencialidades de intervenção”.
Assim, considerando as constantes mudanças na Educação e a partir de minha experiência
como aluna e profissional e do meu entendimento no que tange à importância da atuação do
Coordenador Pedagógico na Educação Infantil, esta pesquisa propôs o objetivo de analisar o
profissional Coordenador Pedagógico na perspectiva dos seus professores, no segmento da
Educação Infantil, que atuam em uma Creche e Pré-Escola da Rede Pública de um município
da Grande São Paulo. Para o estudo, de abordagem qualitativa, utilizamos como instrumento
para coleta de dados a entrevista, que foi realizada com seis Professoras da Pré-Escola, desta
Instituição pública, selecionadas em função da disponibilidade de horários para participação na
pesquisa.
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CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO INFANTIL
1.1 – A Educação Infantil: antiga na necessidade e recente na concretização
Falar da Educação Infantil é primariamente evocar a sua importância e a necessidade
social, no plano nacional e mundial. Na atualidade, a Educação Infantil faz parte da agenda de
várias nações, configurando-se como uma prioridade a ser revisitada, tendo em vista os avanços
tecnológicos.
Aqui no Brasil, tudo isso está ocorrendo diante de uma população que tem acesso às
informações teóricas da Legislação e também às políticas públicas voltadas à Educação e à
Infância, que buscam conferir qualidade e equidade. Porém, é notável a disparidade dos
discursos presentes nos púlpitos governamentais ao fazer uso das Leis e efetivação das mesmas,
tornando as reinvindicações pela ampliação, reformas e melhoras dos projetos educacionais em
nível federal, estadual e municipal.
Sabemos que os processos são lentos e, muitas vezes, vencidos pela burocracia, já que,
em grande parte, ainda não são prioridades do fazer político. Considerando a importância e a
contribuição da Educação Infantil no desenvolvimento humano, torna-se imperativo falar sobre
a Criança como um “humano, pequenino, mas exuberante de vida”, como define Didonet (2001,
p. 08). Para ampliar e aprofundar essa discussão faz-se necessário resgatar momentos históricos
que fundamentaram a importância da Educação Infantil no mundo e no Brasil, desde os seus
primórdios.
Oliveira (2011, p. 59) discorre sobre os pioneiros da educação infantil, datando-os no
século XV e XVI. Segundo o autor, foi a “expansão comercial e as atividades artísticas
ocorridas no período do Renascimento que estimularam o surgimento de novas visões sobre
crianças e sobre como ela deveria ser educada”. A família foi, inicialmente, o elemento basilar
configurando-se como importante e responsável no manejo dessa atividade, qual seja, educar.
Os adultos, durante séculos, foram os guias da Infância e por meio deles é que as crianças
entravam em contato com a cultura e as tradições, com as regras e as normas da comunidade
em que estavam inseridas. Contudo, com o aparecimento da indústria moderna, a vida social
passou por mudanças que refletiram e alteraram os hábitos e os costumes e, nesse processo, as
mulheres, que outrora cuidavam de seus filhos, ao se tornarem operárias precisaram deixar seus
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filhos com outras mães, sendo estas desempregadas e conhecidas, à época, como as
mercenárias.
O nascimento da indústria moderna alterou profundamente a estrutura social
vigente, modificando os hábitos e costumes das famílias. As mães operárias
que não tinham com quem deixar seus filhos utilizavam o trabalho das
conhecidas mães mercenárias. Essas, ao optarem pelo não trabalho nas
fábricas, vendiam seus serviços para abrigarem e cuidarem dos filhos de outras
mulheres (PASCHOAL; MACHADO, 2009, p. 80).
Com o passar dos anos, esse cuidado foi migrando para condições mais organizadas e
específicas, mesmo sem a existência, até então, de um atendimento especializado.
Historicamente, as “cuidadoras” foram incluindo, no dia a dia das crianças, as atividades ligadas
à memorização, as orações, a aquisição de bons hábitos comportamentais e também as regras
morais vigentes da época, tudo em torno de condições precárias de higiene e da escassez de
comida, como descreve Rizzo (2003).
Havia uma questão de sobrevivência e as mães pobres precisavam trabalhar para
galgarem uma melhor condição social e econômica para a família e, especialmente, para os
filhos. Além disso, essa mesma sociedade precisava de mão de obra, ou seja, do trabalho dessas
mulheres que não tinham com quem deixar os seus filhos. Apesar de todos os maus tratos e as
más condições a que as crianças eram submetidas enquanto suas mães trabalhavam, a sociedade
e a família fingiam não ver, e com isso muitas crianças permaneceram com as mães cuidadoras,
mas outras fugiram com destino às ruas.
Criou-se uma nova oferta de emprego para as mulheres, mas aumentaram os
riscos de maus tratos às crianças, reunidas em maior número, aos cuidados de
uma única, pobre e despreparada mulher. Tudo isso, aliado a pouca comida e
higiene, gerou um quadro caótico de confusão, que terminou no aumento de
castigos e muita pancadaria, a fim de tornar as crianças mais sossegadas e
passivas. Mais violência e mortalidade infantil (RIZZO, 2003, p. 31).
A partir desse momento, passou a predominar o processo higienista, no qual homens e
mulheres que acolhessem filantropicamente estas crianças estavam contribuindo socialmente –
não com as crianças – e sim com a opinião pública que de maneira explícita aclamou a ideia,
ao considerar que esse ato fazia com que a cidade e suas ruas se mantivessem limpas das sujeiras
provocadas pelos andarilhos infantis (PASCHOAL; MACHADO, 2009).
Pautadas nesses fatos, foram se formalizando as problemáticas da Infância, não podendo
ser perdidas no tempo, haja vista que muitas mudanças significativas ocorreram. Contudo, é
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preciso voltar sempre que possível às mesmas questões, porque ainda nos deparamos, nos dias
atuais, com situações semelhantes e, por isso, o pensamento de Kuhlmann (2000) é bastante
atual, como evidencia o trecho a seguir: “[...] entre um momento e outro, permanece o muito
por se realizar. A realidade nacional, e nela a situação da educação das crianças pequenas, não
permite fazer da data um convite ao esquecimento.” (p. 06).
A Infância da qual falamos, que habita nas Creches e Pré-Escolas de todo o país, passou
a ser descoberta no século XIII, porém, somente no final do século XVI e durante o século XVII
é que começou a sinalizar certo desenvolvimento (ARIÉS, 1981). Posteriormente, nos séculos
XVIII e XIX, os discursos começaram a se intensificar em vários países europeus dando ênfase
à Educação como uma ferramenta importante para o desenvolvimento da sociedade, logo, a
Criança passou a ser mais vista.
No entanto, esse olhar não era direcionado às crianças das camadas mais pobres, cujo
sofrimento era proporcionado pela própria elite europeia. Pois, com relação à Educação, cabia
a estas Crianças apenas uma aprendizagem que as mantivessem ocupadas e, como um ato de
piedade, lhes era oferecida a assistência básica. Nesse movimento:
[...] a criança passou a ser o centro do interesse educativo dos adultos:
começou a ser vista como sujeito de necessidades e objetivos de expectativas
e cuidados, situada em um período de preparação para o ingresso no mundo
dos adultos, o que tornava a escola (pelo menos para os que podiam frequentá-
la, um instrumento fundamental) (OLIVEIRA, 2011, p. 62).
Oliveira (2011) destaca que os reformadores protestantes se opuseram a essa prática por
entenderem que a Educação era um direito do homem. Outros autores também forneceram suas
contribuições, estabelecendo algumas ideias que foram base para um Sistema de Ensino mais
voltado à Criança, dentre estes destacamos: Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly,
Montessori e Froebel.
Desse modo, surgiu, no século XIX, a primeira Instituição Educacional voltada a trabalhar
com crianças pequenas na cidade de Blankenburgo, na Alemanha, em 1840, fruto das ideias e
da experiência de Friedrich Froebel. Primariamente, esta Instituição foi chamada de Instituto
para o Cuidado da Infância e da Juventude e, posteriormente, de Kindergarten, resultante da
junção de duas palavras alemãs kind (criança) e garten (jardim) – uma Pré-Escola de caráter
educativo (KISHIMOTO, 1988).
18
Conta-se que o educador Froebel foi constituindo-se em sua própria prática (BLOW,
1895, apud ARCE, 2002), haja vista nunca ter tido contato com nenhum livro de Pedagogia.
Portanto, ele usou para o desenvolvimento e o aprofundamento do seu trabalho as suas próprias
experiências como aluno, não muito agradáveis, e assim objetivando que as mesmas não fossem
repetidas com outras crianças (KOCH, 1985).
O fato de Froebel ter entendido a Criança como alguém dotada de liberdade, o que mais
tarde foi disseminado em vários movimentos europeus, resultou no fechamento dos Jardins de
Infância no país, isso devido ao autoritarismo governamental alemão. Mas outras tantas
instituições voltadas à Primeira Infância foram, paulatinamente, aparecendo e assumindo
características específicas, de acordo com o país onde estavam instaladas, como destaca
Oliveira (2011): em 1848 – o 1º Jardim de Infância na Inglaterra; em 1858 – o 1º Jardim de
Infância nos Estados Unidos (onde só se falava o idioma alemão); em 1860 – o 1º Jardim de
Infância de Língua Inglesa na Inglaterra; e, em 1894, a criação de um método voltado para
escolas mais pobres da Itália.
Os autores já citados – Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Montessori e Froebel –
foram a base de modelos Pedagógicos voltados para o atendimento da população de baixa renda
que, posteriormente, passaram a ser modelos também para as Escolas de classes média e alta.
Nesse panorama, ressaltam-se as diferenças na concepção de Creche e de Jardim de Infância
nos países europeus, nos Estados Unidos da América e no Brasil. Para os primeiros países, o
cerne de suas concepções educacionais voltou-se para o cuidado com o físico da Criança e
também ao trabalho Pedagógico, logo, as Crianças não apenas precisavam de cuidados
específicos, mas era preciso trabalhar junto com as famílias e, estas, por sua vez, deveriam ser
educadoras, para que tivessem melhores condições de cuidar dos seus próprios filhos
(PASCHOAL; MACHADO, 2009).
No Brasil, a proposta era assistencialista e ainda não se pensava em aliar a assistência ao
trabalho Pedagógico.
Os estudos que atribuem aos Jardins de Infância uma dimensão educacional e
não assistencial, como outras instituições de educação infantil, deixam de
levar em conta as evidências históricas que mostram uma estreita relação entre
ambos os aspectos: a que a assistência é que passou, no final do século XIX,
a privilegiar políticas de atendimento infantil em instituições educacionais e o
Jardim de Infância foi uma delas, assim como as creches e escolas maternais
(KUHLMANN JR., 2001, p. 26).
19
Nos países mais desenvolvidos, a Educação Infantil é levada a sério, é valorizada e
assume um papel de grande importância na sociedade, como enfatiza Campos (2006, p. 92):
“[...] o ensino das crianças pequenas, nos anos anteriores ao ingresso na escola primária,
também é considerado um assunto que deve ser cuidado”. Embora nessa marcha nem tudo é
Educação, contrapondo os objetivos da Creche e do Jardim de Infância de outros países, o
Brasil, até os dias atuais, ainda traz resquícios de uma Educação Infantil, outrora, apenas
assistencialista. Mas, que a partir de uma Legislação que aponta a importância da Educação e
dos direitos de qualquer cidadão brasileiro de recebê-la, percebemos que houve progresso na
compreensão sobre a Infância.
Ao tratar da temática, Oliveira (2011) contextualiza essa situação do Brasil e as suas
peculiaridades:
A história da educação infantil em nosso país tem, de certa forma,
acompanhado a história dessa área no mundo havendo, é claro, características
que lhe são próprias. Até meados do século XIX, o atendimento de crianças
pequenas longe da mãe em instituições como creche ou parques infantis
praticamente não existia no Brasil. No meio rural, onde residia a maior parte
da população do país na época, família de fazendeiros assumiram o cuidado
das inúmeras crianças órfãs ou abandonadas, geralmente frutos da exploração
sexual da mulher negra e índia pelo senhor branco. Já na zona urbana, bebês
abandonados pelas mães, por vezes filhos ilegítimos de moças pertencentes a
famílias com prestígio social, eram recolhidos nas “rodas de expostos”
existentes em algumas cidades desde o início do século XVIII (p. 91).
Ainda no período da Proclamação da República, apareceram iniciativas que visavam a
proteção à Infância, principalmente voltadas ao combate da mortalidade infantil. No Brasil, a
ideia importada do Jardim de Infância começou em meio a discussões e a pensamentos
diferenciados, que para alguns críticos nada mais era do que locais de guardar Criança,
inspirados nas salas de asilo francesas. Sobre o movimento escolanovista, Oliveira (2011, p.
92) explica que era uma forma de promover o desenvolvimento infantil, trazendo à tona a
seguinte argumentação: “[...] se os Jardins de Infância tinham objetivos de caridade e
destinavam-se aos mais pobres, não deveriam ser mantidos pelo poder público.”
Enquanto isso, foram criados, em 1875 no Rio de Janeiro e em 1877 em São Paulo, os
primeiros Jardins de Infância brasileiros, mas sob a tutela privada e passando, anos mais tarde,
a serem também configurados como públicos. Estes Jardins, ao contrário do que se pensa, eram
voltados para o público economicamente mais abastado, com o desenvolvimento de uma
Pedagogia inspirada em Froebel (OLIVEIRA, 2011). Em algumas cidades, somavam-se,
20
inicialmente, cerca de 15 Creches e, aos poucos, como alguns destes estabelecimentos tinham
profissionais da área educacional, foi sendo incorporado o atendimento das crianças de 4 a 6
anos, isso nos Jardins de Infância ou nas Escolas Maternais (KUHLMANN JR., 2000).
Entendendo esses temas como assuntos importantes na vanguarda do aparecimento do
Jardim de Infância no Brasil, saltamos agora para um momento que culminou em mudanças
significativas aos segmentos da Educação Infantil. Campos (2006), ao dissertar sobre o assunto,
relata que a Constituição de 1988 e a LDB/96 são marcos importantes ao promulgarem a
Educação Infantil como um direito da Criança de 0 a 6 anos de idade, destacando-a como parte
integrante do nosso Sistema de Educação. Assim, a Educação Infantil passou a ser “a primeira
etapa da educação básica composta também pelo ensino fundamental – obrigatório – e médio”
(p. 93).
Desde então, compreende-se o valor das inúmeras lutas travadas em prol da Educação
Infantil Pública, para que a mesma seja um instrumento social democrático e popular. Diante
disso. Assim, vale esclarecer que o direito de acesso a Creches públicas que era concedido à
mãe trabalhadora, passou a ser também das classes de baixa renda. Porém, o mesmo evoluiu e
passou a ser um direito da Criança, intitulado de ‘Direito Social para Crianças até 5 anos, 11
meses e 29 dias’, não fazendo distinção de gênero, situação socioeconômica, nacionalidade e
quaisquer que sejam, em suma, é direito da Criança vincular-se, por meio da sua família, a um
estabelecimento de Educação Infantil.
A Constituição de 1988 é o novo marco legal no qual desembocam todas essas
lutas e demandas: as que vêm da educação, formuladas de maneira a integrar
a creche e a pré-escola no sistema educacional; as que se originam do
movimento das mulheres, contempladas nessa proposta para a educação e na
ampliação do direito à creche no local de trabalho, também para os filhos dos
trabalhadores homens e para toda a faixa dos zero e seis anos; as trazidas dos
movimentos dos direitos humanos que dão origem ao Título 8, Capítulo 7 da
Constituição, “Da família, da criança, do adolescente e do idoso”. De forma
geral, a nova Constituição amplia consideravelmente essas definições legais,
tornando-se um marco na história da construção social desse novo sujeito de
direitos, a criança pequena (CAMPOS, 1999, p. 124).
A promulgação da Constituição de 1988, seguida do Estatuto da Criança e do Adolescente
(1990), da entrada em vigor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 e
das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009), emancipou a Educação
Infantil como parte constituinte da Educação Básica. Além disso, esta deveria ser oferecida em
Creches e Pré-Escolas ligadas a Órgãos do Sistema de Educação, passando a ser reconhecida
21
como Instituição não mais de cunho familiar ou doméstico, e sim estabelecimento que poderia
ser público ou privado, desde que com o objetivo de cuidar e educar as Crianças da Primeira
Infância.
A partir destes documentos, nota-se um grande impulso em toda a Educação, quando
comparados aos textos dos documentos históricos nacionais anteriores e que ainda não tinham
contemplado as Creches e Pré-Escolas como Instituições Educativas (FARIA, 2005). Os novos
textos recebem uma seção especial de destaque à Primeira Infância, estabelecendo que Crianças
de 0 aos 3 anos de idade sejam assistidas em Creche, e Crianças dos 4 aos 6 anos de idade na
Pré-Escola, buscando desenvolver a Criança de forma integral, englobando variados aspectos e
preparando-a para o período de escolarização.
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação
da família e da comunidade. [...]
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;
II – pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.
Art. 31. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento
e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para
o acesso ao ensino fundamental (LDB/96)
Ao tomar por base as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, a
Criança é considerada um sujeito com Direitos, quer seja quando se relaciona ou quando
interage em suas vivências diárias brincando, pesquisando, questionando ou experimentando.
Assim, A Criança vai formando, aos poucos, a sua identidade pessoal e coletiva, dando sentido
ao seu meio e contribuindo com a Cultura na qual está inserida. Os direitos são assegurados na
Lei, eles existem, mas a problemática reside em torná-los uma realidade, uma prática comum
às organizações governamentais ou não, devido a sua importância e urgência. E são as
articulações elaboradas por meio de pesquisas e políticas públicas e da própria Prática
Pedagógica que poderão conduzir os avanços na área.
A premissa de que qualquer Criança tem direito à Educação desde o seu nascimento, não
importando as suas condições sociais, torna imprescindível que ela esteja na Escola, direito
assegurado por Lei. Nesse painel de acontecimentos educacionais, encontra-se a
dicotomização2 – cuidar e educar – a base do serviço prestado pelas instituições educacionais
2 Em relação a esta dicotomização, Rosemberg (1994) explica que o termo educare é uma expressão divulgada
pela psicóloga norte-americana, Bettye Caldwell, ao juntar duas palavras: educar e cuidar.
22
de crianças pequenas. Campo (1999), em seus variados estudos, enfoca as diferenças
significativas entre Crianças pobres e Crianças de classe média: as primeiras frequentam um
serviço que promove mais o assistencialismo e é nesse ambiente em que elas se percebem mais
cuidadas. Às Crianças de classe média, o objetivo é outro – há um escopo educacional.
Todas essas mudanças surgiram na década de 90, quando as políticas que tratavam das
questões da Infância ganharam notoriedade (CAMPOS, 2008), e como isso os espaços que
recebem crianças, sobretudo na Primeira Infância, passam a ter “qualidade educativa”, e o
trabalho desenvolvido passou a ser encarado como um “ato consciente intencional”, como
explica Ferreira (2012).
Na prática, o pensamento ainda é, em sua maioria, somente assistencialista e se baseia no
suprimento das necessidades das Crianças e na garantia de que Creche e Pré-Escola são
ambientes seguros e limpos, não sendo estes caracterizados também como locais educativos.
Porém, o fato das educadoras, na sua maioria mulheres, não terem recebido uma formação
adequada para o desenvolvimento de suas atividades e terem sido mal remuneradas, pode ter
levado à baixa frequência em suas rotinas de trabalho.
Compreende-se, portanto que haverá a necessidade de um tempo de espera para elevar a
Educação Infantil ao patamar ocupado nos países desenvolvidos. Campos (2006) recomenda
que seja repensado o perfil dos profissionais que atuam nessa faixa etária para que seja
adequado às características e às necessidades dos alunos, além de haver um preparo
diferenciado para o ingresso no Ensino Fundamental, visto que o “modelo tradicional” do
professor, em dias atuais, não se ajusta mais ao contexto escolar.
A realidade educacional brasileira representa hoje um enorme desafio. Sem
enfrentá-lo de forma responsável, o país terá dificuldades em superar suas
inaceitáveis desigualdades sociais e consolidar sua democracia. A importância
da educação infantil nesse contexto não pode mais ser ignorada. Porém, o que
os anos recentes mostraram é que o cobertor continua pequeno para as
necessidades educacionais como um todo e as reformas introduzidas muitas
vezes levam a que esse mesmo cobertor seja puxado para lá e para cá, sempre
deixando descobertas partes importantes da educação (p. 98).
23
1.2 – A Coordenação Pedagógica e a Educação Infantil
Atualmente, há um consenso no Brasil sobre a importância da Coordenação Pedagógica
realizada no contexto escolar. O profissional Coordenador Pedagógico (CP) tem sido
considerado, tanto na literatura como em textos legais, um elemento importante para tornar
concretizáveis as metas educativas que visam uma melhoria na qualidade da Educação.
Nas duas últimas décadas, na maioria dos Estados, a Coordenação Pedagógica foi
instituída para a Instituição Escolar como um todo, e as atribuições propostas aos profissionais
que nela atuam foram incorporadas nas Redes Estadual e Municipais. As atribuições propostas
são muitas e envolvem funções estritamente pedagógicas, administrativas e, também, funções
de assessoramento à Direção da Unidade Escolar.
Diante disso, o exercício profissional do CP tem inspirado novas pesquisas e reflexões
sobre o seu papel, a função que deve desempenhar e a sua atuação profissional, que inclusive
se encontra em um momento histórico repleto de mudanças legais e sociais, que se entrelaçam
com inúmeras temáticas impostas pelas tecnologias e os novos conhecimentos.
Muitos são os estudos, os debates e as pesquisas recentes que tratam da presença do CP
nos estabelecimentos de Educação Infantil, tendo em vista o seu reconhecimento, há pouco
tempo, como elemento constituinte da Educação Básica, o que torna essa discussão em temática
promissora para ser pesquisada (ZUMPANO; ALMEIDA, 2012).
Ao discutir a trajetória do Coordenador Pedagógico que atua na Educação Infantil, as
autoras Zumpano e Almeida (2012) argumentam que as novas descobertas sobre o crescimento
e o desenvolvimento das crianças, a forma específica de aprender de cada indivíduo e a
concretização dos seus direitos, presentes na legislação brasileira, levaram à discussão de
conceitos vigentes na Educação Infantil. A forma como a Criança se relaciona com o meio onde
se encontra, bem como a sua relação com “[...] os costumes, linguagens, valores, relações
humanas e técnicas, [...] as crianças desde cedo tentam apreendê-lo, mediadas direta ou
indiretamente por parceiros mais experientes” (p.22), é que sinaliza para a importância do
professor em auxiliar todo esse processo, gradativamente, tornando viável a apropriação da
“cultura historicamente constituída”.
Apesar de intensas discussões sobre o papel e a importância da Educação Infantil, mesmo
no século XXI, ainda se observa que os direitos da Criança e o seu processo de desenvolvimento
não são respeitados, como explicam Zumpano e Almeida (2012, p. 23): “[...] cobertura de
24
atendimentos como a diversidade de elementos relacionados à qualidade das experiências
proporcionadas às crianças nas instituições de educação infantil – creches e pré-escolas”.
As autoras enfatizam que o papel pedagógico dos profissionais que trabalham na
Educação, em específico dos profissionais da Educação Infantil, está em constante mudança,
colaborando para isto as Leis já mencionadas, que asseguram a qualquer Criança o seu
desenvolvimento integral e pleno, auxiliado por Professores e Coordenadores Pedagógicos e
demais profissionais que atuam na Escola.
Em relação às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, ao nortear a
organização, o desenvolvimento e a avaliação das Propostas Pedagógicas, as autoras destacam
que:
A transformação pela qual deveriam passar as instituições de educação infantil
resumia-se ao reconhecimento da importância da identidade da criança, de sua
família, de professores, coordenadores pedagógicos e demais profissionais
que fazem parte do contexto sociocultural no qual estas instituições se
inserem; portanto, as propostas pedagógicas deveriam estar articuladas a essas
particularidades (ZUMPANO; ALMEIDA, 2012, p. 24).
As mudanças ocorridas pela Lei Federal nº 11.274, no ano de 2006, e que estabelece a
ampliação do Ensino Fundamental para nove anos e a obrigatoriedade da matrícula para
Crianças aos 6 anos, influenciaram toda a Organização Pedagógica e estimularam a formação
dos profissionais da Educação Infantil e a troca de saberes com os demais docentes da 1ª fase
do Ensino Fundamental. Por isso, foi uma mudança significativa e que afetou gestores e
professores da Pré-Escola.
1.2.1 – Os estudos desenvolvidos sobre o Coordenador Pedagógico
Para fundamentar a discussão acerca do CP que atua na Educação Infantil, a pesquisa
realizada por Placco, Almeida e Souza (2011), encomendada pela Fundação Victor Civita e de
abrangência nacional, é uma valiosa e inspiradora referência para discutir o trabalho do
Coordenador em relação à formação de professores, sinalizando intenções, tensões e, também,
as contradições enfrentadas. O objetivo foi identificar e analisar os processos de coordenação
pedagógica, em escolas de diferentes regiões brasileiras, buscando ampliar o conhecimento
sobre o CP, suas potencialidades e limitações, e com isso, subsidiar políticas públicas de
formação docente e para organização dos sistemas escolares.
25
Este estudo foi desenvolvido em duas etapas, sendo a primeira de abordagem quantitativa,
aplicada por telefone (Ibope Inteligência - antes conhecido como Instituto Brasileiro de Opinião
Pública e Estatística), e pretendeu apontar as características, as percepções e as opiniões de CPs,
de diferentes regionais do Brasil, além de prover um retrato profissional e uma investigação da
relação destes profissionais com a Educação (PLACCO; ALMEIDA; SOUZA, 2011).
Os dados foram coletados em cinco cidades e em Estados representantes das cinco regiões
brasileiras: São Paulo, Curitiba, Rio Branco, Goiânia e Natal, visando identificar e analisar os
“processos de coordenação em curso”, em duas escolas estaduais e duas municipais, de cada
capital. Como instrumento para a coleta de informações, as autoras optaram por questionários
e entrevistas executadas por colaboradores domiciliados na cidade examinada, escolhidos pelos
critérios de terem vivenciado experiência de pesquisa em Escolas e de terem conhecimento
sobre a Rede Pública de Ensino de seu Estado. Também foi considerada a disponibilidade para
envolver-se no trabalho, ficando sob a responsabilidade dos sujeitos da pesquisa gerar um
relatório preliminar com as informações colhidas em cada uma das cinco regiões.
O levantamento documental constou de textos legais e acadêmicos. O contato com esses
textos voltados à atuação do CP teve como finalidade buscar elementos delineadores de sua
função, na estrutura oficial da escola e no sentido atribuído por este coordenador, diante das
atribuições que lhes são dadas. Em cada uma das Escolas, a pesquisa envolveu um Diretor, um
CP e dois Professores.
As informações deram, às pesquisadoras responsáveis, condições para compreender
como os Coordenadores Pedagógicos assumiam seus papéis, considerando as “atribuições” e
as “expectativas” a eles designadas, tanto por seus pares como pelas Leis estabelecidas. Na
atualidade, todos os Estados brasileiros apresentam uma legislação que concebe a presença do
CP na Escola, contudo, há variações locais (prefeituras) que diferem quanto ao ingresso, à
função e às atribuições.
Um importante referencial da pesquisa foi Dubar (2005), que aponta a constituição das
formas identitárias como um processo de tensões entre o que se diz ao sujeito que ele é, e o que
o sujeito se apropria como seu, ou seja, entre os atos de atribuição (relacional – do outro para
si) e de pertença (biográfico – de si para o outro).
O levantamento bibliográfico nos permitiu algumas observações em relação ao CP. Os
textos estudados revelam que a função do CP não é definida, não há clareza sobre o
Coordenador Pedagógico e a formação continuada dos professores, falta projeto específico de
26
formação de professores baseado nas características locais de cada Escola, porém, foi possível
extrair os saberes e as competências deste profissional e verificar, com nitidez, a necessidade
de investimento no trabalho coletivo e nas relações interpessoais.
Outra Observação é que as teses e as dissertações pesquisam sobre temáticas que
abrangem os processos pedagógicos e educativos, as transformações das condições pedagógicas
e formação dos professores, concluindo ser o Coordenador Pedagógico um interlocutor
privilegiado ao oferecer condições para que os professores reflitam sobre suas práticas. A última
observação é que em todos os Estados e cidades pesquisadas já existe uma legislação que
explicita as atribuições do Coordenador Pedagógico, quer sejam formativas, potencialmente
formativas ou administrativas.
A segunda etapa da pesquisa, de cunho qualitativo, foi realizada com a finalidade de
compreender como se estruturavam e se articulavam as atribuições do Coordenador Pedagógico
em escolas de Ensino Fundamental e Médio, gerando uma análise sobre as características do
perfil outrora delineado, e as percepções de coordenadores, diretores e professores. De forma a
promover ações/reflexões sobre o Coordenador Pedagógico, questionando como se dão as
relações entre as atribuições e a pertença na identidade profissional e as representações do
trabalho do CP relacionadas à sua composição identitária.
Essa etapa me auxiliou no entendimento de como ocorre a constituição identitária desse
profissional no exercício da sua função e como ele próprio se relaciona com as atribuições do
seu cargo (história da profissão, suas vivências com outros coordenadores, por meio da
legislação e da literatura, das pesquisas e discursos e suas interações na Escola e com o Sistema
de Ensino. Com o estudo, também ficou evidente que fica ao encargo do CP aderir ou não às
atribuições, e com isso ele sofre uma tensão e um jogo de forças, permanentes, entre as
atribuições (o que querem dele) e a pertença (o que acredita que deve fazer).
Cumpre observar que a pesquisa partiu do pressuposto de que ao coordenador competem
dimensões articuladora, formadora e transformadora. A dimensão articuladora é a que prevalece
entre as três dimensões, conforme discorrem Placco, Almeida e Souza (2011). Em relação à
dimensão articuladora, toda a comunidade escolar espera que o Coordenador desenvolva
atividades. Diretores, professores, alunos e pais esperam que o CP os ajudem nas ocorrências e
nos problemas, o que leva este profissional a desenvolver funções que não são suas. Na
dimensão formativa, os coordenadores afirmam que são responsáveis pela formação dos
professores e que o melhor local para esse fazer é o espaço da Escola, baseada nas vivências da
docência do contexto escolar. Porém, a clareza sobre o significado de suas atividades é pouca
27
e ao relacionar as atividades típicas que realiza, a dimensão formativa não é priorizada. E sobre
a dimensão transformadora, há poucas informações na pesquisa.
Ao concluir o estudo, Placco, Almeida e Souza (2011) evidenciam três tipos de tensões
vividas pelos Coordenadores, sendo estas: internas à Escola, externas à Escola e as que se
originam de visões, necessidades e expectativas dele próprio. Em suma, foi possível observar
que propostas, projetos e formações não eram definidas pelo CP e seus professores, e sim
propostas por Órgãos centrais do Sistema de Ensino, recaindo à Escola o dever da formação
docente. Entre outras considerações, vale ressaltar que a maioria dos coordenadores tem longa
experiência em Educação e que sua constituição identitária se encontra relacionada ao exercício
da docência na Educação Básica.
1.2.2 – A Coordenação Pedagógica no Município lócus da pesquisa
Nessa trajetória histórica, tornou-se relevante a apresentação de documentos oficiais que
regulam a Educação e o cargo do Coordenador Pedagógico no Município da Grande São Paulo,
lócus desta pesquisa. A Lei Orgânica do município, datada de 07 de dezembro de 2011, assegura
em seu primeiro artigo, o direito à Educação para todos os habitantes.
§ 1º - É assegurado a todo habitante do Município, nos termos da Constituição
Federal, Estadual e desta Lei Orgânica, o direito à educação, à saúde, ao
trabalho, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção, à maternidade
e à infância, à assistência aos desamparados, ao transporte, à habitação e ao
meio ambiente equilibrado.
Uma das leis analisadas é do ano de 2009 e estabelece a organização administrativa direta
do poder do município e pontua o quantitativo de cargos e funções gratificadas. Também há a
presença de uma Coordenadoria específica para a Educação Infantil e, sob ela estão os
Departamentos de Gestão e Supervisão Educacional, Manutenção e Conservação Predial
Escolar e, ainda, a Coordenadoria de Licenciamento e Supervisão do Ensino Particular. Nela,
destacam-se informações importantes que contribuem com o estudo sobre o Coordenador
Pedagógico, que é denominado pela Secretaria de Educação do Município como o Professor
Coordenador Pedagógico. Porém, nesta pesquisa, iremos nos referir a este profissional como
Coordenador Pedagógico.
28
O documento estabelece que este profissional deve ser um funcionário gratificado, que
tem como campo de atuação as “atividades de coordenação pedagógica referentes à educação
básica, nos estabelecimentos municipais de ensino”. O cargo e/ou função se encontra
subordinada a normas constitucionais e infraconstitucionais, sendo que para o preenchimento
desses cargos/funções, é preciso ter habilitação e experiência específicas, tais como:
licenciatura plena em Pedagogia ou licenciatura plena específica, e ter, no mínimo, três anos de
efetivo exercício de Magistério público.
Quanto à evolução funcional, a legislação assegura um conjunto de possibilidades
proporcionadas pela Administração, mediante a aplicação de determinados princípios que
assegurem, ao docente titular de cargo efetivo e sob o sistema de contínuo treinamento, os
seguintes itens: aperfeiçoamento, habilitações acadêmicas obtidas em grau superior de ensino,
avaliação de desempenho individual e de reciclagem periódica, além de condições
indispensáveis a sua valorização profissional.
A promoção consiste na passagem de titular do cargo docente ao grau imediatamente
superior na mesma referência do cargo, no qual é titular, obedecendo ao critério de
merecimento, sendo este, a demonstração positiva do docente no exercício de suas funções,
com o desempenho de suas atribuições eficientes e eficazes. A promoção será atribuída dentro
dos seguintes parâmetros:
[...] I - o processo de avaliação se dará sempre no primeiro bimestre de cada
exercício;
II - só poderão concorrer à promoção, os docentes que tiverem o interstício
mínimo de 3 (três) anos de efetivo exercício no cargo, até 31 (trinta e um) de
dezembro do exercício anterior, no grau em que estiver enquadrado o cargo;
III - os direitos e vantagens decorrentes da promoção serão percebidos a partir
da expedição do ato devidamente publicado.
Parágrafo Único - Para efeito deste artigo computar-se-á, tão somente o tempo
de efetivo exercício, não se considerando as avaliações de docentes afastados
ou licenciados de seu cargo/função por período superior a 120 (cento e vinte)
dias, contínuos ou intercalados, mesmo que considerados de efetivo exercício,
exceto o afastamento previsto no artigo 23.
Das Legislações consultadas, uma delas apresenta o cargo do Professor Coordenador
Pedagógico, sendo necessário para exercer a função: ter como requisito básico a licenciatura
plena em Pedagogia ou em área específica; ser um profissional que mantém uma atualização
constante sobre as evoluções metodológicas e tecnológicas da sua área; ter atuado por mais de
três anos em cargo efetivo no exercício do Magistério público. Como descrição sumária, o
29
Decreto mencionou que este profissional deve coordenar e promover a organização e a
execução do trabalho pedagógico do professor na Unidade Escolar trazendo, assim, algumas
descrições genéricas, tais como:
• Subsidiar tecnicamente a direção da unidade escolar na sua aérea de competência,
quando se fizer necessário.
• Implementar a execução do Projeto Pedagógico por meio de ações de assessoramento
do trabalho docente; administração da progressão da aprendizagem; análise do processo
de trabalho em salas de aula; sugestão de mudanças no Projeto Pedagógico; fiscalização
do cumprimento da Legislação e do Projeto e a administração dos recursos de trabalho.
• Avaliar o desenvolvimento do Projeto Pedagógico por meio de ações de um
levantamento dos eventuais problemas educacionais com propostas de soluções;
garantir a viabilização e o desenvolvimento deste Projeto em sua Unidade Escolar; e
implementação de projetos educacionais.
• Coordenar a execução do Projeto Pedagógico por meio do levantamento das
necessidades educacionais e sociais; do fornecimento de subsídios para reflexão das
mudanças sociais, políticas, tecnológicas e culturais; do levantamento das necessidades
de recursos materiais, humano, financeiro; e da identificação dos principais norteadores
da escola. Além disso, por meio da articulação de ação conjunta da Escola com
Instituições de proteção à Criança e ao Adolescente; da participação na elaboração e na
reelaboração da legislação pertinente à área de atuação; do estabelecimento de
elementos que garantam a sintonia entre a modalidade de aprendizagem e a modalidade
de ensino; e, da criação de meios que promovam o estabelecimento de relações que
favoreçam a dignificação do docente, do discente, da instituição escolar e da família.
1.2.3 – A atuação do Coordenador Pedagógico na Educação Infantil
Tomamos como referência para este tópico o artigo de Zumpano e Almeida (2012), que
discorre sobre as mudanças que ocorreram na trajetória da Educação Infantil, bem como a
adaptação do papel do CP, sob o ponto de vista das atualizações que exigem da Educação
Infantil, no Brasil, uma nova postura de si e daqueles que a promovem.
30
Pensar a própria prática remete o coordenador pedagógico a buscar algo que
vai além de se adaptar às mudanças políticas, econômicas e sociais; ele deve
adequar essas mudanças juntamente com o grupo de professor com o qual
atua, encaixando-as no contexto do local onde trabalha. Pensar a prática
“melhor” implica que o coordenador pedagógico busque, por meio da
formação continuada em serviço, qualificar os profissionais que acompanha,
instigando-os a conhecer as concepções teóricas que vigoram no âmbito da
educação infantil atual, provocando movimentos de conscientização em
relação ao papel educativo que exercem de forma dinâmica permanente e
sistemática na construção do conhecimento (ZUMPANO; ALMEIDA, 2012,
p. 26).
As autoras buscaram enfatizar alguns pontos, como: coordenar o trabalho coletivo com
o seu grupo de professores; programar e executar processos formativos em serviço, isto é, levar
em consideração as necessidades e as demandas dos professores a partir de seu trabalho
cotidiano; e, promover intervenções que possibilitem movimentos reflexivos sobre suas
concepções de Educação, Criança e Educação Infantil.
Levar o Coordenador a refletir sobre o seu fazer pedagógico, contextualizado com as
inúmeras mudanças no meio político, social e econômico é possibilitar, a este profissional e
professores, um ajustamento às novas solicitações. Nessa trajetória, pensar sobre as melhorias
da atuação, significa sistematizar a prática da formação continuada em serviço, ou seja, torná-
la concebível e importante para toda a comunidade escolar, elevando a qualidade dos
conhecimentos dos docentes e, por conseguinte, a qualidade da própria Educação.
Deve haver, ainda, um esforço para estimular o professor da Educação Infantil a expandir
os seus conhecimentos teóricos, preparando-se com melhor propriedade para auxiliar na
formação de novos conhecimentos das Crianças. As autoras também apontam a formação como
um ponto forte na atuação do CP, em qualquer etapa do Ensino Básico e, essa formação deve
ocorrer no trabalho coletivo que, por sua vez, deve estar intimamente ligado com os
profissionais presentes na Escola, em especial com o professor.
[...] investindo na formação continuada do professor na própria escola,
estimulando-o a perceber que as propostas transformadoras resultantes do
processo de formação continuada fazem parte do projeto da escola,
estabelecendo uma parceria de trabalho com o professor que possibilite a
tomada de decisões por parte desses atores capaz de garantir o alcance de
metas em comum, bem como a efetividade para alcançá-las (ZUMPANO;
ALMEIDA, 2012, p. 26).
E para a realização dessa proposta, precisa haver a contrapartida do professor ao se
comprometer com a Educação das Crianças para as quais leciona, enquanto que o coordenador
31
vai recriando sua atuação e aprendendo em conjunto com o professor. A atuação do CP,
denominada de formadora, tem uma participação expressiva para a transformação da Educação
Infantil, principalmente quando a questão ainda é o olhar dicotômico do cuidar e do educar
Crianças pequenas, tendo que conviver lado a lado com a peculiaridade de que não é igual à
forma como se constitui o professor de Creche ou da Pré-Escola, embora, muitas vezes,
convivam no mesmo espaço.
O artigo cita o professor como um indivíduo dotado de cognição e afetos, sendo
necessário apreender sua história de vida, por meio de atitudes respeitosas e da promoção
constante do diálogo, e também os elementos que favorecem o processo de desenvolvimento
de ambos – professor e coordenador. O cuidado com as relações interpessoais é outro ponto
abordado pelas autoras. Não há como articular o Projeto Político Pedagógico da Escola, foco
principal de sua atuação, sem esse cuidado. Os professores trazem diferentes histórias de vida,
de parcerias já estabelecidas e de conceitos que precisam de ressignificações. Articular o
coletivo requer um cuidado muito especial com as relações interpessoais.
32
CAPÍTULO II – O PERCURSO METODOLÓGICO
Para a elaboração desta pesquisa foi realizada uma revisão de literatura com estudos
relevantes para o tema e, na sequência, foi escolhida uma pesquisa, de abrangência nacional,
relacionada ao Coordenador Pedagógico, na tentativa de compreender as expectativas dos
professores sobre a atuação do Coordenador Pedagógico na Educação Infantil.
Optou-se, para esta pesquisa, a abordagem qualitativa, baseada nas leituras de livros,
artigos acadêmicos, pesquisas on-line, buscando apropriar-se de componentes necessários que
proporcionassem uma reflexão sobre a temática. A coleta das informações analisadas foi no
período de novembro a dezembro de 2016.
2.1 – Os procedimentos para realização desta pesquisa
Para o desenvolvimento do estudo e coleta das informações a serem analisadas, tivemos
a autorização da Secretaria de Educação Municipal do município da Grande São Paulo, em
seguida, entrou-se em contato com a Creche e Pré-Escola para apresentar o objetivo da pesquisa
e também solicitar uma autorização. Para a formalização, solicitamos a assinatura da gestora da
Escola no Termo de Consentimento Livre Esclarecido (Apêndice A). Posteriormente,
contatados os professores que seriam entrevistados, que também assinaram documentos de
autorização para uso das informações por eles fornecidas (Apêndice B).
2.1.1 – A caracterização da Creche e Pré-Escola
As informações obtidas no acesso ao Projeto Político Pedagógico da Escola, permitiram
apresentar o seu contexto. Esta Unidade Escolar está localizada em um município da Grande
São Paulo que possui uma população de cerca de 450 mil habitantes e que conta, em média,
com 36 Escolas Municipais e 60 Escola do Estado. No município também estão instaladas
Instituições de nível superior, particulares e com a oferta de cursos superior de Tecnologia e,
também, na modalidade EaD.
O bairro em que está situada a Creche e Pré-Escola é bem urbanizado e seus moradores
têm padrões socioeconômicos muito diferentes. Nos arredores da Instituição, pode-se observar
33
uma quadra de esportes e uma praça, ambas visivelmente abandonadas pelo poder público,
embora poderiam ser um espaço pavimentado e servir de área de lazer para toda a comunidade
e aos alunos da Escola. Esses espaços se encontram sem utilização e abandonados, os muros
estão degradados, os brinquedos do parque infantil estão enferrujados, sem cuidados com a
grama, entre outras problemáticas.
Próximo à Instituição também são oferecidos alguns serviços, como de Acolhimento para
Crianças e Adolescentes, uma Escola de Ensino Fundamental e uma Igreja Católica. Tais
instituições são, segundo observações feitas, entidades parceiras da Creche e Pré-Escola. Além
da Unidade Básica de Saúde e do Distrito Policial, que são referências no município e prestam
assistência à comunidade do bairro vizinho.
A Creche e Pré-Escola atende 198 alunos, sendo 80 do sexo feminino e 118 do sexo
masculino. As crianças de zero aos três anos de idade são atendidas na Creche, em regime
integral e no horário das 7 às 17h30min. As crianças com idade entre quatro e cinco anos são
atendidas na Pré-Escola e em horário parcial, sendo no período matutino das 8 às 12h, e no
período da tarde, das 13 às 17h. Quanto à renda familiar dos responsáveis, 195 famílias têm
renda até sete salários mínimos (98,47%) e apenas três famílias têm renda superior a sete
salários, o que representa 1,5%.
A Unidade Escolar apresenta infraestrutura adequada, no entanto, carece de algumas
melhoras como, por exemplo, os espaços cobertos para atividades de movimentação e
expressão, salas adequadas para atendimento aos pais, sala de professores, sala de leitura e
brinquedoteca.
No período da coleta de dados, a Unidade funcionava com um total de 31 funcionários,
divididos em: 1 Diretor, 1 Assistente de Direção, 1 Coordenador Pedagógico, 1 Agente
Administrativo, 2 auxiliares de Apoio Operacional, 3 Merendeiras, 5 auxiliares de
Desenvolvimento Infantil, 12 Professores, 2 Professores readaptados, 1 funcionário
readaptado/restrição e 4 funcionários terceirizados na área da Limpeza.
Os 12 professores trabalham 20 horas semanais, possuem curso superior e o vínculo
empregatício é efetivo (concursado). Já os dois professores readaptados concluíram o Ensino
Médio e são contratados pelo regime CLT. A Coordenadora Pedagógica tem Ensino Superior,
é efetiva e trabalha 40 horas semanais.
Os funcionários, de forma geral, apresentam a expectativa por um plano de carreira. As
merendeiras almejam realizar cursos diferenciados para reciclagem profissional. Os professores
34
esperam cursos com certificação e que possam aprimorar o Conhecimento, e promovendo um
maior acesso à Cultura, desenvolver estratégias de aprendizagem que proporcionem novas
experiências práticas no cotidiano escolar.
A questão exposta pelos professores sobre o acesso à Cultura é que nem todos os
profissionais têm esse acesso, no entanto, para eles, a compreensão é de que todos os
funcionários devem possuir a mesma oportunidade de frequentar teatros, cinema e eventos
culturais.
2.1.2 – A escolha dos sujeitos da pesquisa
Para desenvolver este estudo, participaram das entrevistas as professoras do G4 (crianças
de 4 anos) e G5 (crianças de 5 anos), totalizando seis professoras. A escolha destas professoras
foi por conveniência, tendo em vista a disponibilidade de horários para agendar as entrevistas,
sendo o primeiro contato na própria Instituição. De acordo com o horário escolhido pelas
professoras, foi possível entrevistá-las em dois períodos, sendo três professoras entrevistadas
no horário da tarde e três professoras no dia seguinte e no horário da manhã.
Para garantir o sigilo e o anonimato das professoras entrevistadas, optou-se por usar
nomes fictícios, dentre eles escolhi: Fabiana, Diana, Jerusa, Dayse, Maria e Juliana. Em
complemento a esse procedimento, as professoras assinaram, como já mencionamos, uma
autorização para utilização das informações por elas fornecidas. Em seguida, por orientação da
Direção da Escola, foi efetivado um contato com a Secretaria de Educação do Município da
Grande São Paulo, visando retificar a autorização já fornecida pela Escola.
2.1.3 – A coleta de dados: o instrumento e as observações da pesquisadora
O instrumento de pesquisa utilizado foi a entrevista reflexiva, considerando o objetivo
proposto. A entrevista foi dividida em duas partes, sendo a primeira focada em questões de
caracterização das participantes – professoras da Pré-Escola, tais como: idade, sexo, formação
acadêmica, tempo de serviço docente, tempo de serviço docente na Educação Infantil e o
percurso até chegarem à docência.
35
Na segunda parte, as questões elaboradas foram voltadas à temática desta pesquisa: o
profissional CP. São elas: O que você espera do seu Coordenador Pedagógico e o que ele faz
que mais te ajuda? Quais são as atividades do Coordenador Pedagógico nesta Unidade Escolar?
Se você fosse Coordenador, o que você faria diferente?. Essas três questões foram consideradas
questões desencadeadoras da discussão, e a partir delas outras perguntas foram surgindo no
decorrer das entrevistas.
Durante todo o processo das entrevistas, incluindo o período que antecedeu o encontro
com as professoras, fui registrando algumas observações e que considero importantes para
compartilhar nesse capítulo. Entre elas destaco que: houve, da parte das professoras,
disponibilidade para fazer as entrevistas; a primeira entrevista serviu como um termômetro para
as demais; a pesquisadora observou que após a 1ª etapa da entrevista, a 2ª etapa não deixou a
primeira participante à vontade em relação às perguntas direcionadas para o profissional CP e,
por isso, foi preciso reformular o processo de início da entrevista com a seguinte pergunta:
conte-me um pouco sobre a sua trajetória de vida até chegar aqui, na docência.
Ao fazer esse ajuste na segunda pergunta, ficou claro que os demais temas foram falados
com maior tranquilidade, foram emergindo na discussão. Em duas entrevistas, nem mesmo a
chegada de um professor e de um funcionário da Secretaria da Escola gerou interrupção em
nossa conversa (entrevista). A Diretora e a Coordenadora Pedagógica, desde o primeiro
momento em que a pesquisadora esteve na Creche e Pré-Escola, colaboraram com todo o
processo, sempre muito disponíveis e atenciosas.
2.1.4 – A organização dos dados para análise
Depois da realização das entrevistas, as informações foram transcritas e na integra. Em
seguida, várias leituras foram realizadas para organização dessas informações e foi quando
percebemos que as respostas decorrentes do perfil das entrevistadas mereciam um destaque.
Para apresentar as informações sobre: idade, anos de carreira de trabalho, tempo de docência
na Educação Infantil e na Educação Pública, formação acadêmica, atividade não docente
exercida, e percurso até chegar à Educação, foram criadas tabelas.
Após a organização das tabelas, verificou-se que seria importante explorar uma entrevista
específica, realizada com a professora Diana, devido à riqueza das informações. Em sua fala, a
professora registra elementos que permitem delinear o perfil da sua Coordenadora Pedagógica.
36
As informações decorrentes das entrevistas foram agrupadas de maneira a contemplar a visão
das seis professoras sobre a Coordenadora em relação às atribuições do CP, em especial, sobre
o projeto horta; o que o professor faria de diferente se pudesse atuar no lugar de sua
Coordenadora; e, discussão de metáforas que surgiram nas verbalizações das docentes sobre a
temática.
37
CAPÍTULO III – A ANÁLISE DA PESQUISA
Neste terceiro capítulo, nos propomos a desenvolver a análise da pesquisa, de cunho
qualitativa. Os dados coletados nas entrevistas “são muito variados, mas todos têm em comum
o fato de que são exemplos da comunicação humana dotada de sentidos”, como explica Gibbs
(2009, p. 24). Nesta concepção, procuramos organizar a análise considerando as temáticas que
surgiram das diversas leituras reflexivas das informações/relatos das professoras.
A análise, que tem como objetivo compreender as expectativas atribuídas pelos sujeitos
da pesquisa em relação ao profissional CP, se apresenta sob os seguintes temas: o 1º se restringe
a analisar o que revela o perfil das Professoras entrevistas que, no período das leituras
reflexivas, se tornou um elemento promissor. O 2º explora a visão das professoras sobre a
atuação da Coordenação Pedagógica e subdivide-se em seis pontos: o depoimento de uma
Professora entrevistada; as atribuições da Coordenação Pedagógica; um projeto coletivo
concretizado; o que o professor faria de diferente se fosse Coordenadora Pedagógica; as
palavras que podem definir a Coordenadora Pedagógica; e, um último ponto, as metáforas
relacionadas ao trabalho docente e da Coordenação Pedagógica.
Cumpre observar que foi analisado o depoimento de uma das entrevistadas, que serviu de
eixo para a discussão do conjunto de professoras.
3.1 – O que revela o perfil das Professoras
As respostas contempladas neste ponto de análise foram coletadas na 1ª etapa da
entrevista e os dados são organizados em tabelas, identificando os sujeitos de pesquisa com
nomes fictícios: Fabiana, Diana, Jerusa, Dayse, Maria e Juliana. O objetivo é traçar o perfil
destas Professoras da Pré-Escola de uma Instituição de Educação Infantil de um município da
Grande São Paulo, por meio da abordagem de temas como: gênero, idade, tempo de carreira,
tempo de docência na Educação Infantil e o tempo de trabalhados na Educação pública, além
da formação acadêmica e das atividades ‘não docente’, exercidas durante o percurso até chegar
à Educação.
Ao ter acesso e conhecer o Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola foi possível obter
e analisar informações sobre o regime trabalhista das professoras e a carga horária
38
correspondente. A tabela 1 apresenta a idade das professoras, o tempo de carreira na docência,
o tempo de docência na Educação Infantil e o tempo de atuação na Educação pública.
Tabela 1 – Dados das entrevistadas
Entrevistada Idade Tempo de
carreira
Tempo de docência
na Educação Infantil
Tempo de atuação na
Educação pública
Fabiana 48 anos 6 anos 6 anos 6 anos
Diana 33 anos 8 anos 8 anos 6 anos
Jerusa 29 anos 1 ano e 10 meses 1 ano e 10 meses 1 ano e 10 meses
Dayse 29 anos 10 anos 7 anos 4 anos
Maria 49 anos 20 anos 16 anos 20 anos
Juliana Não
declarou
31 anos 31 anos 31 anos
Fonte: Elaboração da própria autora.
Os dados apresentados indicam que a totalidade das professoras entrevistadas é do gênero
feminino. Essa realidade corrobora com o autor Codo (1999, p. 61) ao afirmar que antigamente
havia o entendimento de que para cuidar de crianças ou de idosos era preciso atributos
femininos. Nos dias atuais, ainda se carrega parte dessa crença, acreditando-se que o
estabelecimento do vínculo afetivo é o instrumento de trabalho destes profissionais.
A idade das professoras varia entre 29 e 49 anos. Em relação ao tempo de serviço, a
profissional com maior tempo de experiência foi a Juliana, que já atua há 31 anos na Educação
Infantil e na Rede de Ensino pública. Ao declarar todo esse tempo de atuação, constata-se que
a professora já tem o tempo mínimo para se aposentar. Outro dado interessante foi em relação
à professora Jerusa, com apenas 1 ano e 10 meses de serviço, embora tenha um total de 9 anos
na docência, não contabilizados por ela ao achar que são experiências diferentes, como
evidencia o trecho a seguir:
[...] lá eu dou aula de instrumento, se fosse contabilizar mesmo 1 um ano [...].
[...] sempre foi voltado para a docência embora em reinos diferentes
(PROFESSORA JERUSA).
Essa experiência da docência, no caso de Jerusa, não é por ela considerada cumulativa
por ter sido vivida em ambientes diferentes. Mas uma fala complementar da professora mostra
a ambiguidade do seu pensamento em relação à própria trajetória profissional. Essa ideia é
confirmada por Wodlinger (1990 apud NÓVOA, 1999, p. 2) ao verbalizar sobre o impacto do
conhecimento pessoal no conhecimento profissional, “[...] conhecimento pessoal, originado nas
39
experiências de cada um e interpretado através de uma lente perceptual criada pela sociedade,
pela cultura e pelas experiências de vida, constitui a base para a produção do conhecimento
profissional [...]”. Ou seja, todas as experiências vivenciadas por esta professora, contrariando
o seu pensar, a constituem no que ela é hoje.
A fala da professora Jerusa remete à explicação de Nóvoa (2009, p. 15) ao abordar que
as dimensões pessoais e docentes não podem ser separadas – a pessoa do professor e do
professor-pessoa: “[...] ensinamos aquilo que somos e, naquilo que somos, se encontra muito
daquilo que ensinamos”. As autoras Placco e Souza (2006) entendem que o Coordenador
Pedagógico pode auxiliar o professor a explorar as suas experiências, transformando-as em
reflexões relevantes para o seu trabalho em sala de aula.
O Coordenador Pedagógico como interlocutor privilegiado, cujo papel é
oferecer condições para que os professores tomem suas experiências – cerne
de seu trabalho, como ponto de partida para a reflexão teórico-prática, em um
movimento que reoriente a experiência, que, por sua vez, enseja novas
reflexões (p. 22).
A formação acadêmica das professoras foi um elemento agregador na construção do
perfil, pois evidencia a trajetória formativa destas profissionais, como registramos na tabela 2.
Tabela 2 – A formação acadêmica das professoras
Professoras
Formação
Fabiana Pedagogia
Pós-graduação em Educação Infantil e Supervisão Escolar
Diana Magistério Superior e Pedagogia
Jerusa Pedagogia
Dayse Pedagogia
Maria Curso de Cabeleireira, Curso de Enfermagem, Magistério de Nível
Médio e Pedagogia
Juliana Magistério de Nível Médio
Serviço Social (curso não concluído)
História (curso não concluído)
Pedagogia (em andamento)
Pós-graduação: Especialização em Psicopedagogia Institucional
Fonte: Elaboração da própria autora.
A tabela 2 registra que cinco professoras da Pré-Escola têm Curso Superior em Pedagogia
e uma está cursando o seu terceiro curso de Licenciatura, que é a Pedagogia. O que nos chama
40
atenção é que Juliana, com 31 anos de atuação na Educação Infantil, tem o curso de Magistério
de Nível Médio e só atualmente está cursando Pedagogia e que, no percurso formativo cursou
diferentes graduações e até um curso de Especialização: Serviço Social, História e
Psicopedagogia Institucional. Uma possível justificativa, identificada na fala de Juliana, é que
a docência não foi um caminho planejado por ela, como apresentamos no trecho abaixo:
[...] comecei em 1987, parei e fui fazer outra graduação, porque houve uma
época ruim na educação, professor mal remunerado, pouco incentivo, daí eu
fui fazer outra faculdade, de história, interrompi, foi na época que teve a greve
de 1989, eu já trabalhava dois períodos e estudava a noite, estava cansada,
insatisfeita em todos os sentidos com a educação (PROFESSORA
JULIANA).
Nóvoa (2009) argumenta que a fase inicial de formação de professores é um momento
sensível e que a partir dela se formaliza, na prática, a integração do sujeito na Escola. Por isso,
professores iniciantes necessitam de acompanhamento para um melhor planejamento de sua
carreira e potencialização das suas competências, levando o profissional a um aprofundamento
científico na área educacional. Ainda sobre o perfil das professoras, seguem os principais
pontos comentados por elas em relação às atividades fora da docência, como apresentamos na
tabela 3.
Tabela 3 – Atividades profissionais em áreas diferentes da docência
Professoras Outras atividades profissionais
Fabiana Sim, trabalhei em muitos lugares, trabalhei em multinacional. Eu exerci o
papel de Pedagoga e o meu estágio foi na multinacional, atuando como
Coordenadora de Educação de Jovens e Adultos e depois dentro da área de
Treinamento, por dois anos e meio.
Diana Não relatou.
Jerusa [...] eu já dava aulas de Música por conta da minha Igreja. Lá nós temos as
meninas que tocam Órgão e, então, eu fui para dar aulas de Música, fiz
Conservatório e, a princípio, eu dava aula de música [...].
Dayse Com 18 anos o meu primeiro emprego registrado foi numa loja, fiquei
pouquíssimo tempo e não me adaptei, não gostava daquilo, não, não, não,
isso não é pra mim. Trabalhei com Telemarketing e aí trabalhei em
lanchonete.
Maria Ao concluir o curso de Magistério, a princípio não exerci, pois fui trabalhar
em uma Metalúrgica e lá fiquei por 10 anos. Sai e fiz o curso de Cabelereira
e logo comecei a trabalhar na área. Em seguida fiz Enfermagem e enquanto
fazia o curso de Enfermagem, comecei a trabalhar na Educação como
auxiliar de sala de aula durante a semana, pois final de semana exercia
Enfermagem, cuidando de uma senhora idosa.
Juliana [...] quando terminei a faculdade de Serviço Social, arrumei um emprego
na área [...].
Fonte: Elaboração da própria autora.
41
Em relação às questões sobre as atividades fora da docência, a professora Fabiana contou
que trabalhou em vários lugares e em uma multinacional exerceu o cargo de Coordenadora de
Educação de Jovens e Adultos (Telecurso 2º grau). Em decorrência desse relato, um novo
questionamento foi feito à entrevistada, para enfatizar se a professora percebeu diferença na
atuação pedagógica nos segmentos empresarial e na escolar.
Muito [...] bastante diferente, são situações totalmente diferentes, dentro de
uma empresa os funcionários, eles têm um interesse nos estudos, porque
também está ligada a uma condição de promoção, são adultos
(PROFESSORA FABIANA).
A resposta da professora demonstra a percepção da diferença nas atribuições da função
do Pedagogo e da função do Coordenador Pedagógico que atua em uma empresa, com um
público que tem seus próprios objetivos em relação ao estudo. Embora não tenha delineado a
diferença como o Coordenador Pedagógico atua na escola, a professora Fabiana deixa
subtendido que ela percebe a existência de diferenças marcantes.
Para a professora Jerusa, que há 9 anos dá aula de Música, não reconhece essa experiência
como exercício da docência, se comparado ao que vive hoje, na Escola. A professora Dayse
falou que não se adaptou em outras atividades, demonstrando clareza do que não queria. Ao
concluir o Magistério de Nível Médio, a professora Maria conta que não exerceu a docência de
imediato, pois tentou trabalhar em outras atividades. Essa mesma realidade foi registrada pela
professora Juliana, ao contar que mesmo depois de ter feito o Magistério, procurou exercer
atividades fora da área da Educação, que no caso dela foi em Serviço Social.
Observa-se, a partir dessas informações, que as professoras têm experiências bastante
diferenciadas, as quais podem ser otimizadas no espaço de formação na Escola. Canário (2005,
p.140) defende que os professores aprendem a ser professor em sua atuação na Escola “[...]
através de um processo de socialização profissional”. O autor acrescenta que a “[...] relação
interpares tem o papel mais relevante”, conduzindo os professores à cooperação e ao apoio
mútuo no crescimento profissional uns dos outros.
O autor enfatiza também que pensar na Escola como o ‘sítio’ onde os alunos aprendem e
os professores ensinam, “Trata-se, contudo, de uma ideia simplista, não apenas os professores
aprendem, como aprendem, aliás, aquilo que é verdadeiramente essencial: aprendem a sua
profissão” (CANÁRIO, 2005, p. 140).
A tabela 4 apresenta a trajetória das professoras até chegarem a Educação.
42
Tabela 4 – O percurso percorrido até ingressar em atividades Educacionais na Escola
Professoras Como chegou até a Educação
Fabiana
Sim, trabalhei em muitos lugares, trabalhei em multinacional. Eu exerci o
papel de Pedagoga e o meu estágio foi na multinacional, atuando como
Coordenadora de Educação de Jovens e Adultos e depois dentro da área de
Treinamento, por dois anos e meio.
Diana [...] eu na verdade entrei na educação meio que... Uma coisa assim... desejo
dos meus pais, não que eles me obrigaram, imagina! Mas, de tanto eles
falarem a gente acaba... [risos] enveredando por esse lado[...].
Jerusa
Como que eu vim parar na Educação Infantil? Eu tenho uma prima, que é
Pedagoga e ela um dia lá em casa disse: Jerusa, porque você não faz uma
faculdade? Não tem formação ainda e da aula de Música. Sabe aquela
indecisão que dá quando você ainda não sabe o que fazer?
Dayse
[...] eu trabalhava como... é... servindo em uma lanchonete e aquilo foi que
me ajudou a continuar, por que eu precisa pagar a faculdade né, então eu
fiquei ali por um bom tempo, até que em 2010 o meu pai faleceu, ai eu falei,
chega disso aqui, chega, chutei o balde, vou embora daqui, não quero mais
isso para mim e pedi as contas.
Maria Eu era de uma Igreja Cristã e lá cuidava das crianças na escolinha, gostava
muito e por isso decidi fazer o Magistério de Nível Médio.
Juliana
Não pretendia ser educadora, pretendia fazer Jornalismo, mas os caminhos
trilhados foram outros e de repente me tornei professora. Comecei a
despertar, eu gostava muito de criança e tive incentivo do namorado que falou
assim - você gosta muito de criança, acho que vai dar certo.
Fonte: Elaboração da própria autora.
Sobre os caminhos percorridos até chegarem à docência, percebeu-se variadas influências
que estas professoras sofreram na escolha da profissão. Três entrevistadas – Diana, Jerusa e
Juliana – expuseram que a família foi um agente influenciador nessa trajetória e na escolha da
docência como profissão. A professora Dayse é um caso de busca por um novo status
profissional e social, e exercer a docência lhe serviu como acréscimo. Ela desistiu de outras
atividades trabalhistas e fez a escolha pela docência, como conta durante a entrevista:
[...] chega disso aqui, chega, chutei o balde, vou embora daqui, não quero mais
isso para mim e pedi as contas (PROFESSORA DAYSE).
Para a professora Maria, a experiência da Igreja em atividades com características de uma
Escola Informal, a ajudou a perceber que ela gostava da docência e foi por isso que decidiu se
profissionalizar com o curso do Magistério em Nível Médio. Na escolha ou não escolha pela
profissão docente, observa-se a importância para o exercício profissional de uma formação de
professores articulada na dimensão organizacional com a dimensão individual.
43
O PPP da Escola forneceu duas informações que inicialmente não tinham sido
estabelecidas como elementos a serem pesquisados, mas que se mostraram importantes para
compor o perfil dos professores da Creche e Pré-Escola de um município da Grande São Paulo.
Tabela 5 – Condição de trabalho e horas trabalhadas
Professoras Condição de trabalho Horas trabalhadas
Fabiana Efetivo 20 horas
Diana Efetivo 20 horas
Jerusa Efetivo 20 horas
Dayse Contrato 20 horas
Maria Eventual 40 Horas
Juliana CLT 20 Horas
Fonte: Elaboração da própria autora.
Foi encontrada uma diversidade com relação à condição de trabalho das professoras,
sendo que 50% são contratadas de forma efetiva e têm jornada de 20 horas semanais de trabalho.
Para as outras professoras, que também correspondem a 50%, os contratos de trabalho se
dividem entre Contrato, Regime CLT e Eventual.
Ao organizar as informações para montar o perfil das professoras, senti necessidade de
expandir a análise sobre a Coordenadora Pedagógica, entendendo que conhecer melhor quem
era o profissional para o qual as perspectivas das professoras estavam direcionadas. E com esse
propósito é que ´delineamos o perfil da Coordenadora Pedagógica da Instituição. Aa
informações foram obtidas por e-mail, sendo enviado o mesmo roteiro de questões abordadas
com as professoras.
As informações da CP também foram organizadas de forma a contemplar os mesmos
pontos abordados no perfil das professoras. Para a CP também foi atribuído um nome fictício –
Paula – para preservar a sua identidade. Paula tem 35 anos e 15 anos de atuação na Educação
pública, sendo 10 anos trabalhando com docência na Educação Infantil. É graduada em
Pedagogia, com habilitação em Administração Escolar.
Para a CP Paula, a sua trajetória trabalhista na Educação iniciou-se com as atividades em
uma sala de aula na Escola Bíblica Dominical, em 1996, em uma Igreja Cristã por ela
frequentada. Em seu relato, a CP explica que essa experiência a conduziu para a escolha da
docência, incentivando a realização de um curso de Magistério, que foi concluído em 2001
44
(curso Normal Superior), e participou do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos
(MOVA), no período de 2001 até 2005. Também trabalhou com salas de reforço e na função
de professora eventual, de 2002 até 2006, no Ensino Fundamental – ciclo 1.
A CP ingressou na Rede Municipal em junho de 2006 e já foi atuar na Educação Infantil.
Posteriormente, apresentou sua proposta para Coordenação Pedagógica da Secretaria Municipal
de Educação e, em setembro de 2014, foi aceita para o cargo de Coordenadora Pedagógica, no
qual encontra-se até o período final de coleta de dados para esta pesquisa (dezembro de 2016).
3.2 – A visão das Professoras sobre a atuação da Coordenadora Pedagógica
Das leituras e releituras dos depoimentos das seis professoras entrevistadas e com o
objetivo de compreender, na perspectiva destas professoras da Educação Infantil, a atuação da
Coordenadora Pedagógica, emergiu uma variedade de informações que mereciam ser
contempladas nesta análise. Para tanto, esta categoria de análise está subdivida em seis
subcategorias, iniciando pelo depoimento da professora Diana, escolhida por ser a única que
apontou para o perfil do Coordenador Pedagógico, manifestando a compreensão que, para ser
Coordenador Pedagógico na Educação Infantil, é preciso um perfil distinto, como exploramos
no item a baixo.
3.2.1 – O depoimento de uma Professora entrevistada
Olha, pelo menos aqui na escola, depende muito, pois cada coordenador é de
um jeito, nós já tivemos uma coordenadora que cobrava mais o lado
burocrático, e agora a gente tem uma coordenadora que tem, eu acho que ela
tem mais a cara da educação infantil [...] (PROFESSORA DIANA).
O que seria a cara da Educação Infantil no entendimento da professora Diana?
[...] a gente acha que tem que ter essa direção é a nossa chefia direta, claro que
a gente tem a nossa diretora e a nossa vice, mas claro que quando a gente quer
falar alguma coisa, a gente chega logo e fala pra ela, porque ela é aquela pessoa
que está mais com a gente no dia-a-dia, mais próxima [...]. A coordenadora
conversou com ele (o aluno que apresentou problema) e me chamou e disse -
Diana eu percebi que ele não tem compreensão do que falou. Perguntei: você
brinca com ele? Brinco. Ele é seu amigo? É. Mas ele falou alguma coisa pra
você? Não. Aí você percebe que ele ainda tem aquela compreensão, então eu
dentro da sala fico pensando é ou não é? Mas aí já saiu um pouquinho com ela
45
e ela deu aquele olhar que eu não tinha visto ainda, [...]. Olha, talvez eu não
esteja aqui me lembrando, mas a nossa coordenadora tem muitas atividades
que ela faz com a gente. Nos espaços de formação, por exemplo, ela sempre
traz coisas novas pra gente [....] (PROFESSORA DIANA).
Essas falas revelam algumas atitudes da CP que nos induzem a definir uma ‘cara’ para
esta profissional que atua na Educação Infantil. Assim, apontamos algumas atribuições ao CP:
• É o parceiro que fica próximo diariamente e com quem o professor pode ficar à vontade
para falar das demandas próprias dos alunos e das famílias, falar dos acertos e erros.
• É o parceiro que clareia o olhar, porque o professor está tão próximo da situação que
não consegue apreendê-la na sua totalidade.
• É o parceiro que ajuda a refletir sobre acontecimentos que passaram despercebidos e
que dão ao professor condições para ressignificar o acontecido.
• É o parceiro que “tira das costas do professor” o insucesso em algumas circunstâncias.
• É o parceiro que ensina coisas novas para facilitar o trabalho de sala de aula.
No âmago desse discurso sobre o Coordenador Pedagógico que tem a ‘cara’ da Educação
Infantil é que as autoras Zumpano e Almeida (2012) discorrem sobre um elemento facilitador
na relação CP e professores, voltado para as demandas constantes pertinentes a esta etapa do
Ensino. Seja em processo individual ou coletivo ou comunicando-se para um professor ou para
o corpo docente, essa comunicação favorece positivamente as relações estabelecidas no espaço
da Creche e Pré-Escola. O fato de ser ouvido faz parte do ato de coordenar. O coordenador
ouvindo o professor, ouvindo a sua versão dos fatos e compreendendo sua atuação, deixa o
professor mais seguro em suas decisões dentro e fora de sala de aula.
Dialogar com o professor e ao mesmo tempo ouvi-lo altivamente, conversar
com as famílias dos alunos, ouvir seus anseios e repassá-los à equipe gestora,
adequando as ações pedagógicas às demandas da escola, das famílias, dos
educadores e alunos aponta para uma competência importante que deve fazer
parte da atuação do coordenador pedagógico: a comunicação: a arte de se
comunicar implica também ouvir ativamente, apreendendo o contexto de
forma sensível e multifacetada, o que pode gerar decisões mais seguras e
assertivas (ZUMPANO; ALMEIDA, 2012, pp. 28-29).
A partir da promulgação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN´s) para formação
de professores da Educação Básica, novas exigências passaram a ser incorporadas à Educação
Infantil, tantos posturais – dos seus profissionais, como das atribuições diante das demandas e
da logística organizacional das Creches e Pré-Escolas. Ainda nesse processo de transição,
alguns pontos precisar ser mencionados: a formação dos professores passou a ser uma exigência
46
para a atuação docente e a passagem da Educação Infantil da Assistência Social para a
responsabilidade da Educação atribuída aos municípios. Essas Diretrizes são estabelecidas pela
Resolução CNE/CEB 01/99 que prevê em seu Art. 3º, inciso IV:
As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil devem ser
criadas, coordenadas, supervisionadas e avaliadas por educadores, com, pelo
menos, o diploma de Curso de Formação de Professores, mesmo que da equipe
de Profissionais participem outros das áreas de Ciências Humanas, Sociais e
Exatas, assim como familiares das crianças. Da direção das instituições de
Educação Infantil deve participar, necessariamente, um educador com, no
mínimo, o Curso de Formação de Professores (MEC, 1999)3.
Surge então a figura do Coordenador Pedagógico que precisa ter a ‘cara’ da Educação
Infantil. Brites (1999), referindo-se à participação de Anísio Teixeira em uma Conferência
Nacional de Proteção à Infância, em 1933, revela um pensamento bastante atual sobre os
profissionais que atuam com crianças pequenas: a criança em idade pré-escolar precisa ser vista
não apenas sob o “ângulo da saúde física, pois seu crescimento, seu desenvolvimento e a
formação de seus hábitos envolveriam ‘facetas pedagógicas’ como habilidades mentais,
socialização e importância dos brinquedos” (BRITES, 1999, p. 81).
Ao tratar da questão sobre ter um preparo específico para trabalhar com Educação
Infantil, inevitavelmente surge a temática da Identidade Profissional, das pessoas que trabalham
com essa etapa do Ensino. Nesse contexto, retomamos à pesquisa de Placco, Almeida e Souza
(2011), na qual as pesquisadoras esclarecem que a Constituição Identitária do Coordenador
Pedagógico passa continuamente por um processo de tensão frente as suas atribuições, sendo
que ele pode ou não aceitar. As autoras argumentam que o CP recebe atribuições advindas da
legislação, dos agentes escolares, mas é o sentido que ele – Coordenador – dá às atribuições
que direcionam suas ações. Portanto, é no exercício da função que sua formação identitária vai
se constituindo.
Com isso, o Coordenador Pedagógico da Educação Infantil vai se posicionando em meio
às várias tendências impostas pelos movimentos das reformas educativas, pelas práticas
escolares, condições de trabalho e na formação docente, cabendo a ele – Coordenador – decidir
se adere ou não às atribuições. Contudo, a formação dos CPs que atuam com Crianças pequenas
é um assunto que precisa ser explorado, dadas as suas características bastante específicas:
3 http://portal.mec.gov.br/inicio/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/12992-diretrizes-para-
a-educacao-basica
47
[...] necessitam de um novo tipo de formação, baseada numa concepção
integrada de desenvolvimento e educação infantil, que não hierarquize
atividades de cuidado e educação e não as segmente em espaços, horários e
responsabilidades profissionais diferentes. Por outro lado, dadas as
características de nossa realidade e a evolução histórica que marcou a
identidade dupla dos serviços voltados para a criança pequena, é necessário
prever que esta formação poderá ser adquirida em diferentes níveis do sistema
educacional (CAMPOS, 1994, p. 37).
Interessante à observação da professora Diana sobre a sua própria formação. O fato de ter
feito o Curso Normal Superior lhe deu uma visão de Magistério (superior) e a habilitou para as
atividades de sala de aula, enquanto que no curso de Pedagogia teve mais contato com a parte
estrutural do Conhecimento Pedagógico, das Leis e, também, das políticas educacionais.
[...] graças a Deus fizemos pedagogia, na verdade fizemos normal superior e
depois a gente apostilou na própria faculdade, eu acho até que foi melhor
porque o normal superior me deu uma visão de magistério, coisa que eu não
tinha [...]. Então quando eu entrei para o normal superior ficou como sendo
um magistério superior, um nível a mais, mas eu vi a matéria do magistério
normal, tanto quando a gente foi apostilar a pedagogia sentimos essa
diferença, caíam muito mais leis, caía mais política, era outra visão”. Então eu
dou graças a Deus por ter feito, porque eu tenho essa visão boa de sala e tenho
essa visão também porque é necessária à Pedagogia (PROFESSORA
DIANA).
O relato da professora Diana é um alerta para o Currículo dos cursos de formação inicial
de professores, que precisam ser repensados e adequando às demandas atuais, bem como das
necessidades formativas nas mais variadas instâncias (graduações, pós-graduações ou
formações no local de trabalho).
[...] quando entrei lá eu aprendi muito porque entrei como estagiária, então eu
fiz tudo certinho [...] (PROFESSORA DIANA).
Ao mencionar o estágio e a importância que teve na sua inserção na docência, a
professora Diana reforça a tese de Canário (2005). O autor defende que a formação no próprio
local de trabalho torna-se uma aprendizagem significativa, pois o professor aprende sua
profissão no local de trabalho, de forma continua e significativa com suas experiências, e
identificando o que é necessário saber para o desenvolvimento de suas atividades profissionais.
Essa experiência significativa à formação da professora Diana, faz com que ela compare e,
ainda, exemplifique a diferença que percebe, hoje, ao observar situações profissionais que
revelam características da formação dos professores que chegam na Escola.
48
[...] porque algumas pessoas sentem essa falta, não é? Tipo ai eu terminei a
faculdade e passei em um concurso, mas chego aqui... Colegas que entraram
efetivadas, dizem - meu Deus o que eu faço! E muitas vezes essa pessoa
passou em 10º lugar no concurso, tipo tem muita… Ela é sábia naquela parte...
Política, da estrutura, mas quando ela entra na sala ela se depara com a
realidade. E eu fiz tudo como deveria ser mesmo, aos pouquinhos, galgando,
eu fiz estágio no colégio privado, aí saí e vim pra rede pública, trabalhei um
ano também na rede estadual, sempre trabalhando no regime de eventualidade
(PROFESSORA DIANA).
Uma boa formação em serviço capacita o professor a gerir as suas próprias ações,
inclusive quando a Instituição não oferece a formação devido à conscientização que o
profissional tem de si e do seu trabalho e que poderá levá-lo a desejar expandir os seus
conhecimentos, tendo a clareza que sua formação não é completa. Em reconhecimento a isso,
a professora Diana percebeu suas necessidades e manifestou o interesse em dar continuidade à
sua formação com a realização de um curso de Pós-Graduação, em nível de mestrado.
[...] se aquilo que eu faço eu acho que está bom, eu sempre digo - pode
melhorar todos os dias, eu estou bem no que eu tô fazendo, mas eu posso
melhorar sempre. Por isso até que eu te falei que eu estou querendo fazer um
mestrado, eu acho que é pelo menos um degrauzinho que for (PROFESSORA
DIANA).
Uma problemática que aparece no relato das professoras se refere ao regime de trabalho
‘eventual’, exposto pela professora Diana que passou dois anos trabalhando dessa forma, à
mercê dessas imposições do Sistema de Ensino que exige uma atuação diferenciada do
Coordenador Pedagógico. Segundo a professora, em virtude de estar sempre mudando de sala
de aula, ela não conseguia nem mesmo gravar o nome dos alunos, fato que dificultava construir
uma boa relação interpessoal com os alunos.
[...] porque você não conhece os alunos, você não gravou os nomes deles
ainda, quando eu dava sorte de pegar um mês, dois meses direto na mesma
sala, uma licença, eu adorava, porque eu ficava conhecendo os alunos, mas
isso me ajudou muito porque eu nunca me sentia aquela pessoa parada, porque
todo dia tinha que dar […] (PROFESSORA DIANA).
Esse aspecto, para as autoras Mahoney e Almeida (2005, p. 12) é extremamente
importante, pois “a relação interpessoal professor-aluno é fator determinante” no processo de
ensino-aprendizagem. As autoras expressam também que tanto o professor como o aluno são
elementos que trazem para a relação em sala de aula partes de quem são: histórica e
concretamente, favorecendo o desenvolvimento de ambos.
49
O processo ensino-aprendizagem só pode ser analisado como uma unidade,
pois ensino e aprendizagem são faces de uma mesma moeda; nessa unidade,
a relação interpessoal professor-aluno é um fator determinante. Esses atores
são concretos, históricos, trazendo a bagagem que o meio lhes ofereceu até
então; estão em desenvolvimento, processo que é aberto e permanente
(MAHONEY; ALMEIDA, 2005, p. 12).
3.2.2 – As atribuições da Coordenação Pedagógica
Nas duas últimas décadas, na maioria dos Estados brasileiros, a Coordenação Pedagógica
foi instituída e, em decorrência, surgiram atribuições destinadas ao profissional que a executa.
Registramos das falas das professoras, algumas atribuições definidas pela Legislação, pela
Escola onde atuam e o que estas pensam não ser atribuição do CP. Entende-se que as atribuições
pedagógicas do Coordenador estão diretamente ligadas à gestão do trabalho pedagógico
existente na Creche e Pré-Escola.
Inspirando-nos na pesquisa de Placco, Almeida e Souza (2011) que aborda, entre outros
aspectos o movimento dos atos de atribuição e de pertença na atuação do Coordenador
Pedagógico, procuramos identificar o que consideram atribuições adequadas ao exercício da
Coordenação Pedagógica, como atribuições que reconhecem não pertinentes ao seu trabalho.
Os relatos das seis professoras apontam, como atribuições da Coordenadora Pedagógica,
as seguintes atividades: apoiar o professor em sala de aula; planejar atividades com os
professores e acompanhar a execução; manter os professores com novidades sobre a Educação
Infantil: teóricas, estratégias pedagógicas, materiais e atividades voltadas para Crianças
pequenas; responsabilizar-se pela organização de projetos; coordenar as discussões no Horário
de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC); distribuir atividades relacionadas aos projetos e aos
eventos; promover embasamento para as atividades dos professores.
E também: trabalhar as relações interpessoais entre os professores; orientar
pedagogicamente os professores; fazer o acompanhamento do trabalho dos professores em sala
de aula; apoiar a formação dos docentes; atender ao administrativo; elaborar relatórios; assumir
a direção da escola quando o diretor estiver ausente; e, por fim, atender aos pais dos alunos.
Percebe-se, neste elenco de atividades, que a maioria delas, na perspectiva das
professoras, deve dirigir-se a elas próprias. São citadas estratégias pedagógicas e materiais com
uma especificidade: voltadas às Crianças pequenas. As atividades relacionadas aos projetos e
aos eventos também são incluídas, bem como, as questões teóricas em processos formativos.
50
As falas das professoras enfatizam, ainda, a importância do CP em mediar as relações que
ocorrem no cotidiano escolar para que relações interpessoais de qualidade aconteçam. Embora
em menor número em relação às atribuições administrativas: elaborar relatórios e gerir a Creche
e Pré-Escola na ausência do diretor.
As atribuições nomeadas pelas professoras relacionam-se com algumas das atribuições
conferidas ao Coordenador Pedagógico pela Legislação do município lócus da pesquisa, dentre
as quais destacamos: o assessoramento do trabalho docente, a análise do processo de trabalho
em salas de aula, a fiscalização do cumprimento do PPP e a implementação de projetos
educacionais. Embora as professoras não tenham sido consultadas sobre o que não seria
atribuição do Coordenador Pedagógico, foi possível identificar nas falas de duas entrevistadas,
Dayse e Jerusa, as percepções que têm em relação ao assunto:
Por exemplo, furar uma parede, pendurar um gancho, ficar trepando nas coisas
para trocar uma lâmpada [...]. [...] muitas coisas que não compete a ele e ele
resolve, às vezes os documentos não são responsabilidade dele, mas tem que
ser agora, ai ele vai lá e faz o documento, então assim, muitas coisas que não
é responsabilidade dele [...]. [...] muitos coordenadores vão para a cozinha por
que falta merendeira [...]. [...] faltou professor, não acha um cristo para ficar
na sala, ai ele vai para sala e é o coordenador e não o diretor, então assim, ele
carrega coisas que não é função dele, apaga muito incêndio que não é dele
(PROFESSORA DAYSE).
“Apagador de incêndio” ou “bombeiro” é um termo empregado pelas professoras
pesquisadas e é também muito empregado pelos coordenadores para definir a sua própria
atuação. No universo pesquisado pelas autoras Placco, Almeida e Souza (2011), ficou
evidenciado que, em nível nacional, são muitas e diversas as atribuições do CP e que este fato
confere uma condição de sobrecarga e impossibilidade de planejar atividades em médio e longo
prazo. É o atendimento às emergências e às urgências que ocorrem em grande parte em uma
escola de Educação Infantil, que acaba por ser a prioridade do Coordenador, não porque ele
deseja que seja assim, mas é algo imposto pelas situações.
No entanto, as professoras Dayse e Jerusa fazem observações que mostram a contradição
entre o que consideram inadequado na função do CP e o que repercute na qualidade de seu
trabalho. A mesma professora que em determinado momento da entrevista disse que precisou
da ajuda da Coordenadora para ficar com um dos seus alunos, é a mesma professora que admite
que essa situação não deveria ser uma atribuição do CP, mas entende que houve ali uma atitude
de ajuda e de auxílio ao seu trabalho.
51
3.2.3 – Um projeto concretizado e uma atividade planejada e valorizada: a horta
Uma atividade promovida pela Coordenação Pedagógica que apareceu na fala de quatro
professoras foi a implementação e a execução de um projeto há muito tempo desejado: a
existência de uma horta. A pesquisadora percebeu que o fato da Coordenadora ter trazido uma
professora externa, conhecedora do tema para promover uma formação com os professores,
tornou a atividade prazerosa não só às Crianças, mas também às professoras. Era evidente o
prazer e a segurança que as professoras demostravam ao falar do desenvolvimento do projeto:
preparar o terreno, criar o minhocário e escolher as sementes, culminaram em atividades nas
quais as Crianças puderam se alimentar dos alimentos que elas próprias plantaram.
As professoras Fabiana, Diana, Jerusa e Juliana, ao falar do projeto da Horta,
verbalizaram, foram enfáticas e gesticularam muito ao relatar todo o processo vivido. Ficou
visível a alegria pelo trabalho planejado que se concretizou. Na fala das professoras foi
perceptível também como foi formativa a experiência com a horta, uma vez que qualquer
projeto para ter sucesso precisa de um diagnóstico da situação, de um planejamento adequado,
de um expert que entenda do assunto e de um controle dos resultados.
[...] teve a horta orgânica que nós estamos trabalhando dentro da alimentação
saudável, ela (a coordenadora) contribuiu, auxiliou e nós fizemos a horta. Ela
comprou as sementes, nós fomos lá fora e ela estava presente [...]
(PROFESSORA FÁTIMA).
A palavra “presente” denuncia o quanto foi significativo, para a professora Fátima, a
participação da Coordenadora em todas as etapas do projeto. A professora Diana me indagou,
no período que estive na Escola para realização da entrevista, se eu tinha visto a horta no pátio.
Essa abordagem, aparentemente, registra que esse projeto é algo de valor para toda a Instituição,
que ganhou uma notoriedade entre crianças, funcionários e os pais.
[...] eu não sei se você viu a horta que nós temos lá fora. Nós recebemos uma
professora de meio ambiente, da cidade mesmo. Ela já está aqui há muitos
anos, veio aqui e ajudou a gente a fazer essa horta e tal, há muitos anos essa
horta era pra ter saído, mas nunca ninguém se prontificava. A coordenadora
tomou iniciativa de fazer o projeto acontecer com êxito. Porque não é só fazer
por fazer (PROFESSORA DIANA).
Em outras palavras, as professoras Dayse e Juliana também comentaram comigo sobre o
projeto da horta, como registrei nos trechos abaixo:
52
Agora não vou lembrar, só sei que ela é secretária do... Acho que do meio
ambiente se eu não me engane, e ela veio e ensinou a gente a fazer
compostagem, como se planta, como a gente faz uma horta orgânica, ensinou
a fazer um minhocário, construiu um minhocário com as crianças, enfim, ela
fez uma formação assim, a gente ficou nossa [...] (PROFESSORA DAYSE).
[...] ela (a coordenadora) encabeça todos os projetos, por exemplo, no projeto
da horta, ela ficou à frente de tudo, ajudou, orientou desde o início do plantio
até a colheita, em todos os projetos, em tudo (PROFESSORA JULIANA).
O que os depoimentos de Fátima, Diana, Dayse e Juliana deixaram evidente é que o
planejamento adequado, a promoção de formação para o desenvolvimento com qualidade da
atividade, o acompanhamento da experiência e a verificação dos resultados, são atribuições do
Coordenador Pedagógico e que as professoras demonstraram ter consciência do projeto e da
importância da participação da Coordenadora nessas atividades.
Essa consciência das professoras em relação ao envolvimento da CP, nos remete à
afirmação de Zumpano e Almeida (2012) sobre o que cabe ao Coordenador Pedagógico.
Pensar a própria prática remete o coordenador pedagógico a buscar algo que
vai além de se adaptar às mudanças políticas, econômicas e sociais; ele deve
adequar essas mudanças juntamente com o grupo de professor com o qual
atua, encaixando-as no contexto do local onde trabalha. Pensar a prática
“melhor” implica que o coordenador pedagógico busque, por meio da
formação continuada em serviço, qualificar os profissionais que acompanha,
instigando-os a conhecer as concepções teóricas que vigoram no âmbito da
educação infantil atual, provocando movimentos de conscientização em
relação ao papel educativo que exercem de forma dinâmica permanente e
sistemática na construção do conhecimento (p. 26).
3.2.4 – O que eu faria de diferente se fosse Coordenadora Pedagógica?
O questionamento lançado pela pesquisadora sobre a possibilidade dessas professoras em
assumir a Coordenação Pedagógica e fazer de forma diferente da atual, levou-as a verbalizarem
sobre melhoras, dificuldades e possibilidades de inovações. A pesquisadora observou que para
algumas das entrevistadas, no primeiro momento não foi fácil responder a essa pergunta, tendo
em vista, que elas estavam se projetando em uma função da qual elas já tinham falado bastante.
As declarações, em sua totalidade, vieram com espaços de silêncios na fala e de pensamento,
aparentemente estavam sendo cuidadosas em encontrar palavras que julgassem mais
apropriadas para responder à questão.
53
Também foi percebido o incômodo traduzido pelos gestos, risos frouxos, mão na boca,
mão no cabelo e desvio de olhar – não fitou mais a pesquisadora e buscando outra direção.
Colocar-se no lugar do outro, na função de que acabaram de falar – sobre vantagens e
desvantagens desta Coordenação, não foi tarefa fácil para as professoras, e por isso a pergunta
tornou-se, para esta pesquisa, de grande valor. As professoras estavam indicando a perspectiva
do que esperavam do seu Coordenador, no entanto as falas também revelaram medos e
percepções pessoais de incapacidade para exercer tal função.
A professora Fabiana apontou o que faria de diferente sendo uma Coordenadora
Pedagógica.
[...] algumas atividades fora da escola, eu sei que tem a questão da secretaria
de educação, mas proporcionaria ao grupo de professores um ambiente bem
gostoso, eu não digo familiar porque a escola não é familiar, porque se não
você mistura, e a gente tem que separar o profissional do familiar, então é
assim que eu acho (PROFESSORA FABIANA).
Na fala da professora, foi possível identificar a necessidade da promoção das relações
interpessoais e de momentos extras que fomentem essas relações. Esta fala nos remete a Matus
(apud PLACCO, 2012) quando discute o papel da: importância, rotinas, urgências e pausas, no
trabalho de um profissional, no caso o Coordenador Pedagógico. Para Placco (2012) o
Coordenador Pedagógico precisa ter a competência de avaliar suas ações diárias, identificando
os aspectos que podem melhor auxiliá-lo na organização do seu labor. É imprescindível dar
atenção às atividades de importância, àquelas elencadas no PPP e que têm metas a serem
cumpridas, as ações que visam o melhoramento do ensino e aprendizagem e da formação.
As atividades de rotina são aquelas características da Escola e que servem para manter o
funcionamento da Unidade Escolar. Existe também as atividades de urgência, que “são
atividades decorrentes da dinâmica da escola e de necessidades emergentes do cotidiano”,
explica Placco (2012, p. 49). E por último, as atividades de pausa que se relacionam com a
queixa da professora Fabiana, quando apontou a necessidade de momentos extraescolares para
os professores:
[...] momentos fundamentais de relacionamento e trocas que “afinem” sua
comunicação e seu entendimento sobre as pessoas, o que lhes possibilitará,
simultaneamente, comunicação e compreensão, parceria e solidariedades
entre os profissionais, no caminho de reflexões que gerem soluções mais
aprofundadas e criativas quanto aos obstáculos e problemas emergentes no
caminho do cotidiano, relações mais ricas e profícuas entre todos os
educadores e os educandos da escola (PLACCO, 2012 p. 52).
54
A professora Diana apontou o que faria de diferente sendo uma Coordenadora
Pedagógica, considerando dois pontos fundamentais: primeiro o fato de estar professora lhe
possibilita uma visão limitada, leva a perceber sua atividade de sala de aula como a mais
importante e não enxergar o contexto amplo da Escola. Em relação ao CP, enxerga como um
profissional que tem que trabalhar com a estrutura burocrática e ser o elemento mediador entre
os órgãos do sistema educacional.
É tão difícil falar, porque, enquanto o professor tem uma visão limitada sua, e
daí você não vê o que o coordenador está fazendo. Quando você vai pra
coordenação... Quando você está professor, você acha que o coordenador tem
que ser mais professor e quando o coordenador vai pra coordenação, lá dentro
ele deve ser também político, não político, mas trabalhar as estruturas
políticas, porque a estrutura burocrática passa por ela e depois passa por nós.
[...] ao mesmo tempo que a gente quer, a gente cobra inclusive dela isso, um
pouco de freio nessa área da estrutura, pra dar mais tempo pra a gente fazer as
nossas coisas, porque na verdade nós não temos tempo de fazer nada
(PROFESSORA DIANA).
O que fica evidente na afirmação da professora Diana é a sua percepção de que o professor
deseja egoisticamente um coordenador voltado para sua micro atividade de sala de aula e não
voltado para Escola toda. Mas entende que este Coordenador deve trabalhar também nas
estruturas políticas e burocráticas. O segundo ponto é que há uma cobrança sobre a aceitação
de tudo o que é exigido do sistema e, assim, a professora revela um entendimento das mil
exigências burocráticas feitas à Coordenadora. No entanto, não deixa de expor sua insatisfação
com tal fato. Se ela, a professora Diana, fosse Coordenadora faria um filtro nas exigências
administrativas para ter mais tempo para o pedagógico, como expôs no trecho acima.
A professora Jerusa apontou o que faria de diferente sendo uma Coordenadora
Pedagógica, especialmente em duas situações diferentes:
Se eu fosse coordenadora eu iria na secretaria de ensino cobrar, iria dividir os
alunos especiais, eu não ia deixar na mesma sala, não tem condições. [...].
Talvez esse abismo que tem com a comunidade em que se está inserida, não
só a coordenadora, mas também todos os gestores, diretores e assim por
diante. Às vezes a gente vê que existe uma distância entre gestor, professor e
pais. Eu acho que deveria ser mais unido. Para a gente ter um bom
desenvolvimento tem que se caminhar junto (PROFESSORA JERUSA).
A primeira fala faz referência a uma questão que ainda perturba os professores: o
atendimento aos alunos deficientes em salas regulares, que carece de uma inclusão mais
qualificada por parte do sistema e dos próprios professores que necessitam de formações
55
específicas, isso com a presença teórica e de questões práticas presentes na sala de aula
diariamente. No caso da professora Jerusa, essa perturbação é agravada pelo fato de que, sendo
nova na Escola, recebeu quatro alunos com deficiências e que vieram das outras salas da mesma
Unidade Escolar.
A segunda fala se refere às relações intra e extraescolares, para as quais a professora
Jerusa condiciona o bom desenvolvimento da Escola enquanto organização que deve garantir
aprendizagem de conteúdos cognitivos e sociais. Além da parceria que deve haver entre
gestores, professores e demais agentes educativos, bem como, entre a Escola e a Comunidade,
sendo que confere ao CP essa atribuição.
A professora Dayse apontou o que faria de diferente sendo uma Coordenadora
Pedagógica.
Difícil. Eu percebo assim, de modo geral, falta muita comunicação, então eu
acho que..., não sei como eu faria isso, mais eu teria que pensar, mas eu
gostaria que a comunicação fosse igual para todos, chegasse para todos da
mesma forma [...]. [...]. Digamos assim, o que eu mais gostaria de alcançar,
por que a falta de comunicação nas escolas é um problema muito grande, isso
é em todas. Uma professora sabe de uma informação e a outra não sabe, quem
te falou? Não sei. E aí vira fofoca e confusão (PROFESSORA DAYSE).
Dayse se refere basicamente à importância da comunicação e ao fato que esta deve ser
garantida para todos os integrantes da equipe escolar e argumenta que a falta de informações
gera fofoca e confusão. A isso, podemos acrescentar, inspirados em Canário (1999), que as
relações profissionais interferem sobremaneira no que ele chama de “jogo coletivo”: a jogada
de um interfere na jogada de outro.
As situações profissionais vividas pelos professores ocorrem no quadro de
sistemas coletivos de ação cujas regras são, ao mesmo tempo, produzidas e
aprendidas pelos atores sociais em presença. É nesta perspectiva que podemos
falar de um “jogo coletivo’, susceptível de múltiplas e contingentes
configurações, em função da singularidade dos contextos. É na medida em que
a dimensão organizacional atravessa a produção, em contexto, das práticas
profissionais que estas não são compreensíveis apenas em termos de efeitos
de disposição, mas, de um modo muito importante, também em termos de
efeitos de situação (os mesmos professores agem de formas diferenciadas, em
escolas diferentes) (CANÁRIO, 1999, p. 75).
Não há como deixar de relacionar o jogo coletivo entre os professores e o seu modo de
viver, pensar e agir dentro do sistema organizacional, por isto percebe-se a importância da
56
comunicação para a qualidade do jogo coletivo, estabelecendo condições benéficas para os
atores que compõem este cenário: professores, funcionários e gestores da Creche e Pré-Escola.
A professora Maria também revela a sua visão da Coordenadora como alguém que tem
uma tarefa hercúlea, que tem que resolver todos os problemas, ter muitas ideais, lidar com
pessoas e fatos e se julga incapaz de dar conta disso tudo. A sua visão é da Coordenadora que
tem a sua frente e não de uma Coordenadora que é revelada pela literatura e pela legislação.
Isto é, que seja articuladora, coordenadora e formadora, contando com a parceria dos seus
professores. Em relação ao que faria de diferente se estivesse na função de CP, relatou:
Não sei... Porque não teria condições de ser coordenadora [risos], eu acho que
é muita coisa, muitas pessoas, muitas ideias, e não sei se daria conta disso tudo
(PROFESSORA MARIA).
A professora Juliana apontou o que faria de diferente sendo uma Coordenadora
Pedagógica e apresenta a visão de uma coordenadora que aproveita as experiências de todos,
que sabe ajudar seus professores a trocar saberes, que dá condições para que os professores
elaborem propostas e que nos processos formativos de HTPC, se faça essa troca de experiências.
Aceita o que a coordenadora atual está fazendo, mas revela a falta de um espaço para a troca de
ideias e experiências. É possível acrescentar aqui uma alternativa de compreensão dessa fala
relacionando o tempo de serviço da professora, 31 anos de trabalho com HTPC e talvez ela se
sinta possuidora de uma experiência que poderia ser melhor aproveitada pelos colegas, caso a
Coordenadora oportunizasse condições para compartilhar experiências.
Sou tão ruim nisso... [...]. [...] eu daria espaço também para o professor fazer
alguma coisa no momento, aproveitar as vezes uma brecha do HTPC para
trocar mais experiência ou trocar mais figurinha ou trocar atividades, abrir o
espaço pra ele fazer alguma coisa ali entre eles, quando o HTPC é bem dirigido
a gente perde um pouquinho essa troca. Não descartar o que já fazemos, mas
um espaço assim para trocarmos atividades, trocar ideia, não que isso não
aconteça, mas que possa acontecer mais (PROFESSORA JULIANA).
3.2.5 – As palavras que podem definir a Coordenadora Pedagógica
Em complemento às colocações, a pesquisadora sugeriu, ao final da entrevista, que cada
professora indicasse uma palavra que definisse o profissional CP. A professora Diana, em
apenas uma frase, tentou resumir o seu pensamento sobre o coordenador pedagógico. A palavra
57
“apoio” foi sua primeira palavra para definir este profissional, apontando para o próprio
sentimento das professoras a respeito de si mesmas, que são profissionais que desenvolvem
atividades das quais precisam de alguém que as “apoie” e essa pessoa é o Coordenador
Pedagógico.
Junto à esta palavra, também foi possível extrair a expressão “trabalho”, que de acordo
com a professora, não é o que pensa, porém é o que é dito por outras pessoas presentes no
ambiente escolar sobre o Coordenador. Ou seja, este profissional é alguém que lida com algo
bastante trabalhoso.
[...] na minha mente [pensou um pouco]; apoio. É o que vem na minha [...].
Na cabeça de uns vem trabalho, na minha vem apoio (PROFESSORA
DIANA).
Seguindo esta forma de pensar, a professora Juliana utilizou a palavra “auxilia”, o
Coordenador é aquele que auxilia o professor nas suas necessidades, nesse ponto, compreende-
se a existência de uma consonância entre as duas professoras: Diana e Juliana, em relação à
definição do Coordenador Pedagógico. A professora Juliana ainda acrescentou a palavra
“orienta” se referindo aos trabalhos pedagógicos como uma proposta de definição desse
profissional.
Auxiliadora, orientadora, porque o papel dela ali é auxiliar e orientar a parte
pedagógica. Todas as necessidades que o professor tem. Todas as dúvidas,
antes de procurar à diretora a gente procura a coordenadora, então o papel dela
é muito importante, é grandioso o papel do coordenador, ele está ali todo
momento e a gente precisa dele (PROFESSORA JULIANA).
A professora Jerusa, ao pensar no Coordenador Pedagógico, manifestou que o que lhe
vem à mente como palavras de referência é: “organizar, coordena e direciona”. As professoras
Dayse e Maria usaram palavras que iremos classificar como genéricas, objetivando definir o
Coordenador Pedagógico como uma pessoa amiga e responsável.
Podemos interpretar que as palavras relatadas pelas professoras definiram o Coordenador
Pedagógico como aquele profissional que deve coordenar e organizar as atividades
pedagógicas, de modo a auxiliar, amigavelmente, no trabalho docente e que o mesmo deverá
se perceber como alguém responsável pela produção pedagógica, atendendo os professores e
suas demandas, que são específicas de um determinado segmento: Educação Infantil; mas deve
58
fazê-lo em parceria com os professores, ou seja, o Coordenador Pedagógico é alguém presente
e sempre disponível.
3.2.6 – As metáforas relacionadas ao trabalho docente e da Coordenação Pedagógica
Ao longo das seis entrevistas, percebemos metáforas verbalizadas pelas professoras e que
surgiram por ocasião de explicações sobre o trabalho docente, seus sentimentos ou mesmo sobre
o trabalho do CP. Para compreender as metáforas que foram apresentadas, utilizei-me do
trabalho de Almeida (2012) que, inspirada em Lakoff e Johnson (2002), explorou as metáforas
como um recurso para a compreensão do trabalho do Coordenador Pedagógico.
As metáforas têm implicações que iluminam e dão coerência a determinados
aspectos de nossa realidade. Talvez determinada metáfora seja a única forma
de iluminar e de organizar coerentemente esses aspectos de nossas
experiências. As metáforas podem criar realidades para nós, especialmente
realidades sociais. Uma metáfora pode assim ser um guia para ações futuras.
Essas Ações, é claro, irão adequar-se às metáforas. Isso, por sua vez, reforçará
o poder da metáfora de tornar a experiência coerente. Nesse sentido, as
metáforas podem ser profecias autossuficientes (ALMEIDA, 2012, p. 277).
Linguisticamente, a metáfora é considerada um adorno, porém Almeida (2012, p. 34)
reforça que por meio desse recurso é possível entender a realidade social na qual o indivíduo
encontra-se inserido. A metáfora tem um papel fundamental quando a realidade cotidiana é
difícil de ser explicada, de forma coerente.
Aqui a gente aprendeu a dar nó em pingo d’água, acho que o professor em si
ele aprende a dá nó em pingo d’água [...]. [...] tudo pra mim que criança faz
não é novidade, mas teve um aluno que semana passada ele me jogou meio
que uma bomba (PROFESSORA DIANA).
[...] eu falo que o coordenador é o bombeiro da escola, por que tudo o que
acontece [risos] chama o coordenador e ai vem o coordenador com a
mangueirinha, vem tudo ao mesmo tempo, vem tudo, as vezes não dá conta
de atender essa demanda, eu vejo assim [...] (PROFESSORA DAYSE).
Não [risos], muita coisa fica para a próxima, por exemplo, não deu tempo,
guarda aquilo na caixinha e na próxima terça continua (PROFESSORA
JERUSA).
[...] eu imagino a casa da Paula (coordenadora), sabe como? De três andares,
dois andares só de material pedagógico e um espaço pequeno para ela [risos].
Tudo ela tem. Nós tivemos uma atividade que foi a história dos contos e ela
trouxe de casa roupas para todos os professores [risos], não sei como ela
consegue, ela tem muitas fantasias diferentes (PROFESSORA MARIA).
59
[...] eu daria espaço também para o professor fazer alguma coisa no momento,
aproveitar as vezes uma brecha do HTPC para trocar mais experiência ou
trocar mais figurinha ou trocar atividades (PROFESSORA JULIANA).
Ao exibir as metáforas encontradas nas falas das professoras, percebe-se a tentativa delas
em esclarecer suas experiências do cotidiano escolar quando às palavras postas em uma
sequência lógica, que parecem não ser o suficiente para comunicar o que julga ser importante.
Agrupamos as metáforas da seguinte forma: voltadas para o trabalho docente e relacionadas ao
CP. As Metáforas relacionadas ao trabalho docente são: “dar nó em pingo d’água”; “jogou meio
que uma bomba”; “trocar mais figurinha”; e, “Guarda aquilo na caixinha e na próxima terça
continua”.
Para as professoras, o trabalho docente requer criatividade nas demandas diárias, tais
como fabricar materiais necessários e inexistentes na Escola, dar conta dos imprevistos – do
não planejado, do tradicional “dar nó em pingo d’água”, isso tudo para dar continuidade as suas
atividades mesmo que diante da ausência de materiais pedagógicos adequados, espaço
suficiente, segurança teórica na elaboração do planejamento, quantidade de alunos em sala,
entre tantas outras questões, e etc. Ou seja, do professor sempre é exigido que supere suas
dificuldades, sejam elas impostas pelo sistema educacional, pela gestão local, alunos, pais e
demais funcionários da Creche e Pré-Escola.
Outra metáfora utilizada foi sobre “Jogar meio que uma bomba”. Ao mencioná-la, a
professora não estava esperando determinado fato acontecer, é que para ela foi algo desafiador,
indicando um desconforto na situação vivida, fazendo da docência um campo de situações não
definidas e flexíveis a todo tempo, demandando sobre o professor um controle emocional diante
das novidades no ambiente de trabalho.
Outra expressão metafórica utilizada para tentar explicar a realidade foi “trocar
figurinhas”, que nos sinaliza a necessidade que a professora tem de compartilhar experiências
com as demais colegas de trabalho. E nesse aspecto, compreendemos que poderá ser,
possivelmente, a forma como a professora encontrou para nos dizer que tem
conhecimentos/experiências que ela poderia compartilhar e também o quanto está disposta a
ouvir, das demais professoras, relatos de vivências que podem contribuir com o trabalho do
professor, diante de tantos desafios que se apresentam diariamente no contexto escolar.
Em relação ao Coordenador Pedagógico, duas metáforas se destacam: “Bombeiro da
escola e sua mangueira” e “Casa de três andares, dois andares só de material pedagógico”. Na
primeira metáfora, dita pela professora Dayse, foi para expressar que o Coordenador
60
Pedagógico é como um bombeiro levando ao seguinte raciocínio: o CP é aquele que apaga o
fogo no ambiente escolar. O problema é que não há como prever, de forma ordenada, onde o
fogo irá começar, mas, por meio da qualidade das relações interpessoais do ambiente, a ser
coordenado pelo CP, é possível captar informações “alertas” que lhes darão condições de
trabalhar com a equipe e, de certa forma, se antecipar “ao fogo”, ao problema. Porém, em
virtude das demandas da Creche e Pré-Escola, que na sua maioria é com caráter de urgência ou
emergência, a visão profissional é desviada para outras questões e, assim, deixando resquícios
do fogo tornado as situações superficialmente resolvidas.
A última metáfora captada chamou bastante a atenção quando a professora projetou que
a casa da Coordenadora Pedagógica tem três andares e dos quais dois é uma guardaria de
materiais pedagógicos e apenas um cômodo na metáfora é para a vida cotidiana da
coordenadora. Entendemos por essa metáfora mencionada pela professora Maria, a visão que
ela tem da coordenadora é de alguém que dá à profissão um maior espaço do que em outras
áreas de sua vida.
Isto pode ser positivo se a professora entender que a coordenação tem sido uma atividade
profissional que gera prazer à coordenadora, e que por isso ela a desenvolve de forma tão
expansiva, mas poderá ser negativa caso a professora a vincule à cobrança. Se ela trabalha com
tanto afinco fará exigências no mesmo grau do seu comprometimento com a atividade
pedagógica, gerando no professor um certo receio em corresponder às expectativas da
Coordenadora Pedagógica.
Percebe-se que as professoras têm uma perspectiva proativa da sua Coordenadora
Pedagógica, vendo-a sempre pronta para auxiliar, ajudar e que o fato de tudo na Creche e Pré-
escola passar por ela, lhes dá segurança, que estarão sendo orientadas e coordenadas para o
desenvolvimento de suas atividades. Mas também foi possível apreender que as mesmas
professoras que reconhecem algumas atribuições da Coordenadora Pedagógica como não
próprias dela, também as aceitam com satisfação diante do fato que muita coisa feita por esta
coordenadora, que não lhe compete, tem ajuda as professoras diante das variadas demandas
internas e externas da Instituição, como por exemplo: ficar com crianças quando estas não
conseguem desenvolver suas atividades em sala de aula, com dificuldades de aprendizagem,
necessidade de averiguação de situações ocorridas no perímetro escolar e em outras situações
que elas não percebem como desvio das atribuições prioritárias.
As falas das professoras indicam o quanto necessitam de um Coordenador Pedagógico e
como este profissional se percebe responsável pelo atendimento das solicitadas, traduzindo que
61
há falta de conhecimento sobre as atribuições específicas do Coordenador Pedagógico e para
tanto se faz necessária uma reflexão sobre as atribuições de todos que fazem parte da Instituição,
resultando em mudanças voltadas à otimização e à qualidade das atividades, bem como à
valorização da identidade profissional de cada funcionário.
Nóvoa (1992, p. 28) propõe mudanças, porém, para que passem a pertencer à cultura
escolar local, a concretização delas necessita do comprometimento de todos os indivíduos
envolvidos: funcionários, pais, alunos, sociedade e o sistema governamental responsável: “[...]
ao afirmar que a mudança na prática educativa precisa ser pensada a partir de duas perspectivas:
as “escolas não podem mudar sem o empenhamento dos professores; e estes não podem mudar
sem uma transformação das instituições em que trabalham”.
62
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não esperes que o rigor de teu caminho
Que teimosamente se bifurca em outro,
Que obstinadamente se bifurca em outro,
Tenha fim.
Jorge Luís Borges
Tecer algumas considerações finais nesta pesquisa, que se propôs a compreender o
Coordenador Pedagógico da Educação Infantil de um município da Grande São Paulo, sob o
olhar de seus professores, representa, para mim, um grande desafio. Todo o processo para
execução da pesquisa de escrita do texto final, me fez perceber que o conhecimento sobre uma
determinada perspectiva da realidade, neste caso das seis professoras que atuam na Pré-Escola,
encontra-se em constante movimento, mostrando sempre uma faceta da realidade.
É possível que aspectos do estudo estejam incompletos e, exatamente por isso, abrem
margem para que novas pesquisas possam retomar a temática, dada a sua atualidade e
importância para as melhorias tão necessárias na Educação brasileira.
No processo de investigação, ter a oportunidade de conhecer as professoras entrevistadas
e o contexto escolar onde trabalham, resultou em um profundo respeito a elas, bem como ao
trabalho realizado por parte da Coordenadora Pedagógica e de todos os funcionários da Unidade
Escolar. Esse sentimento gerou a satisfação de apresentar à Instituição e à Sociedade, por meio
de um ‘recorte’ da vida cotidiana da Escola, uma possiblidade de torná-lo um meio potencial e
sugestivo para debater e refletir acerca de questões atuais da Educação Infantil.
No decorrer da pesquisa, variadas perspectivas sobre o Coordenador Pedagógico foram
sendo apreendidas e se tornaram fontes possíveis para a compreensão do tema escolhido. No
entanto, a realidade – com toda sua fluidez – valida as respostas apenas se atreladas ao contexto
histórico observado e pesquisado. E no percurso, muitas possibilidades de ocasionar produções,
individuais ou coletivas, que tenham significância social, fomentando a observação dos
indivíduos para interagir com a realidade em seu meio e suas possibilidades de intervenções.
O que predomina são duas sensações: alívio e perda, diante das ideias que generosamente
me foram oferecidas tanto pelas seis professoras entrevistadas como nas descobertas
acadêmicas dos últimos meses. Alívio ao encontrar respostas para o estudo e perda por perceber
que mais tempo e melhores condições pessoais promoveriam uma melhor compreensão das
63
informações e impregnação das ideias, para então aprofundar as análises e as discussões do
objeto pretendido.
Desde o início da pesquisa, eu tinha clareza da necessidade de uma Educação Infantil
cada vez mais intencional, com maior interação e avanços conquistados em âmbito legal,
científico, estrutural e social, ambos voltados para uma Criança reconhecida como “sujeito de
direitos”.
No âmbito Legal, temos uma legislação que determina a inclusão da Educação Infantil na
Educação Básica como um direito adquirido às Crianças pequenas; no âmbito Científico, dado
o conjunto de informações decorrentes de estudos e pesquisas, das mais variadas áreas de
conhecimento, para esclarecer quem é essa Criança; no âmbito Estrutural, com os
conhecimentos já adquiridos sob as formas mais adequadas de organização e funcionamento
das Instituições do segmento infantil; e, no âmbito Social, pela bonita história dos movimentos
de variados segmentos da sociedade, como as mães que reivindicaram melhores condições para
suas crianças, para que tivessem locais e metodologias adequadas ao seu desenvolvimento.
Porém, a pesquisa e as leituras feitas direcionaram-me ao entendimento que ainda há um
caminho longo a ser vencido, entre a concretização das Leis e a efetivação das Políticas Públicas
voltadas à Infância, em específico da Primeira Infância. A presença da Criança em um ambiente
que promova cuidados e o seu desenvolvimento educacional é, para o Brasil, uma realidade
relativamente nova. Os dois conceitos: cuidar e educar, apregoados em nosso Sistema
Educacional, têm exigido dos profissionais da Educação Infantil novas atitudes, decorrentes do
que entendem por tais conceitos. Ao entendê-los ganham a percepção de que, enquanto
contribuem com a Educação de outras pessoas, estão também construindo a sua própria.
Tendo em vista que o Currículo dos cursos de Pedagogia tem se mostrado deficitário, não
oferecendo uma formação inicial rica em recursos para que o professor e o CP rompam com a
forma como eles próprios foram ensinados, é que se vislumbra uma Educação construída pela
mediação e que o aluno seja o protagonista nesse processo. Para isso acontecer é necessário que
haja, no interior das Instituições de Educação Infantil, a formação continuada dos docentes
como uma atividade de prioridade no trabalho do CP, e que tenha como resultado uma melhor
qualidade da Educação oferecida para estas Crianças.
Os atores educacionais da Creche e Pré-Escola precisam rever suas práticas pedagógicas
e a concepção que carregam de ensino e de aprendizagem, e buscar, de forma continua,
aproveitar as informações e os conhecimentos que as Crianças já trazem ao chegar na Escola.
64
Para tanto, é importante e necessário que estes atores compreendam como identificar os
interesses pertinentes de cada faixa etária, quais as metodologias mais apropriadas para cada
idade e para cada uma das Criança e na sua individualidade. E nesse processo, a figura do
Coordenador Pedagógico tem uma atribuição importantíssima, que é a formação – em serviço
– dos seus professores.
Ser Coordenador Pedagógico em uma Creche e Pré-Escola é desafiante, em especial
porque o trabalho deverá ser voltado para o coletivo, realizando formações em serviço,
observação das demandas dos professores e das crianças, intervenções, reflexões das situações
diárias e dos conceitos e saberes que a Escola tem sobre a Criança e a Educação Infantil.
O instrumento que formaliza os conceitos e os saberes e que direciona as ações dos
profissionais da Escola é o Projeto Político Pedagógico (PPP), construído sob a
responsabilidade do Coordenador Pedagógico que deverá criar estratégias para sua elaboração,
envolvendo toda a comunidade escolar: funcionários, alunos, pais e sociedade. Essa proposta
curricular deve ser apropriada e contextualizada para o público que se destina, levando em conta
as novidades científicas sobre a área da Educação Infantil e da Criança.
A qualidade da Educação Infantil será refletida em uma Educação que tenha
intencionalidade claramente definida no PPP e que se beneficie dos conhecimentos relevantes
que são oferecidos por pesquisas e estudos, relacionando-os com o contexto escolar. A fala das
entrevistadas traz como exemplo de intencionalidade, a contextualização de uma atividade
aparentemente simples, mas que é cheia de significados na Escola – a horta. Essa atividade
representou na Escola, para todos, uma atividade de valor porque atendeu aos interesses da
comunidade escolar e extraescolar, e por ter permitido a participação da coletividade escolar
em todo o processo de planejamento e execução.
A visão das professoras sobre a Coordenadora Pedagógica traz elementos pontuais de
como elas a percebem, apontando que é uma profissional onde tudo da Escola depende dela,
sempre muito solícita, participa e acompanha ativamente os projetos e as atividades que na
interpretação das professoras, também são de responsabilidades da CP. Além disso, os relatos
das professoras endossam a sua liderança no Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo e
relatam a expectativa que têm em relação ao apoio para a formação docente e ao cuidado por
parte da CP nas relações interpessoais. Ao mesmo tempo, as professoras percebem que a CP
assumi, em alguns momentos, o papel da gestora, desempenhando atividades administrativas,
elaborando relatórios principalmente da Secretaria da Educação Municipal e fazendo
65
atendimento aos pais. Fica perceptível que elas têm consciência das demandas externas e
internas.
Por meio dos relatos, percebo a urgência de novas pesquisas sobre o Coordenador
Pedagógico que podem enfatizar questões relacionadas à influência da formação no trabalho
com o desempenho das atividades pedagógicas; à percepção dos profissionais de Educação
Infantil sobre as políticas públicas voltadas à Primeira Infância; à relação da produtividade
pedagógica do professor a partir da atuação do CP e, finalmente, questões que dizem respeito à
percepção que os professores de Educação Infantil têm da Creche e Pré-Escola em relação às
suas funções sociais.
Como pressuposto para futuras pesquisas, entendo ser necessário reconhecer que a
presença do Coordenador Pedagógico na Creche e Pré-Escola é importante e que, por meio
deste profissional, a formação docente em serviço – se objetivada e fundamentada – poderá ser
significativa para a prática docente, e assim, influenciar na qualidade da Educação promovida
pelas Instituições às Crianças pequenas. É inegável as variadas responsabilidades do CP,
ocorrendo-lhe carências de novos conhecimentos que o ajudem no seu trabalho, minimizando
também os desvios de função.
66
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possibilidades de atuação. São Paulo: Edições Loyola, 2012.
68
APÊNDICES
Apêndice A: Termo de Consentimentos Livre e Esclarecido (TCLE) (Diretora)
Eu, ______________________________________________________, portador do RG n°
____________________ declaro ter conhecimento da finalidade da pesquisa intitulada: O
COORDENADOR PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA PERSPECTIVA
DE SEUS PROFESSORES, a ser desenvolvida com o objetivo de analisar o profissional
Coordenador Pedagógico da Educação Infantil na perspectiva de seus professores, que está
sendo realizada pela aluna do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia
da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Luizyana Magda
Coêlho dos Santos. Assim, autorizo a realização das entrevistas, nas dependências da
Instituição Escolar, bem como a divulgação das informações coletadas, desde que seja garantido
o sigilo da fonte. Tenho conhecimento de que os professores, ao serem entrevistados, serão
esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa e sobre o direito de interromper a participação, em
qualquer momento, sem que isto represente, para eles, qualquer prejuízo. Os professores
também assinarão um Termo de Consentimento.
_____/______/______
Nome e assinatura do Diretor (a) da escola
__________________________________________________________
Luizyana Magda Coelho dos Santos (Pesquisadora)
• Pesquisadora – Luizyana Magda Coelho dos Santos
• Orientadora – Dra. Laurinda Ramalho de Almeida
69
Apêndice B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Professoras)
Eu, ______________________________________________________, portador do RG n°
____________________ declaro ter conhecimento da finalidade da pesquisa intitulada: O
COORDENADOR PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA PERSPECTIVA
DE SEUS PROFESSORES, a ser desenvolvida com o objetivo de analisar o profissional
Coordenador Pedagógico da Educação Infantil na perspectiva de seus professores, que está
sendo realizada pela aluna do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia
da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Luizyana Magda
Coêlho dos Santos. Portanto, eu serei entrevistado (a) e responderei às perguntas, no entanto
poderei interromper a entrevista em qualquer momento que eu considerar necessário. Entendi
também que, mesmo a entrevista sendo gravada, a minha identidade será preservada, não sendo
divulgados o meu nome ou dados que venham facilitar a minha identificação. Dessa forma,
concordo com a realização da entrevista.
_____/______/______
_________________________________________________________
Nome e assinatura do Entrevistado (a)
__________________________________________________________
Nome e assinatura do Diretor (a) da escola
__________________________________________________________
Luizyana Magda Coêlho dos Santos (Pesquisadora)
• Pesquisadora – Luizyana Magda Coêlho dos Santos
• Orientadora – Dra. Laurinda Ramalho de Almeida
70
Apêndice C: Roteiro da entrevista
Caro (a) Professor (a),
Desenvolvemos uma pesquisa com o tema: O COORDENADOR PEDAGÓGICO DA
EDUCAÇÃO INFANTIL NA PERSPECTIVA DE SEUS PROFESSORES que tem como
objetivo analisar o profissional Coordenador Pedagógico na perspectiva de professores da
Educação Infantil, de autoria da aluna do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação:
Psicologia da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Luizyana Magda
Coêlho dos Santos.
Esta pesquisa encontra-se sob a orientação da professora Dra. Laurinda Ramalho de Almeida.
Por favor, colabore com a pesquisa respondendo o solicitado a seguir, sabendo que, todo o
conteúdo abordado é absolutamente confidencial e que qualquer informação que possa vir a
identificar o respondente não será divulgada sob quaisquer circunstâncias.
Obrigada por sua colaboração.
Data de aplicação do questionário: ___/___/___
1ª – parte
a) Sua idade:
b) Sua escolaridade:
c) Seu tempo de serviço docente:
d) Seu tempo de serviço docente na Educação Infantil:
e) Seu tempo de serviço em outras funções: Quais?
2ª - parte
1. O que você espera de sua Coordenadora Pedagógica e o que ela faz que mais te ajuda?
2. Quais são as atividades do Coordenador Pedagógico aqui nessa creche e pré-escola?
3. Se você fosse coordenadora o que você faria diferente?
71
Apêndice D: Depoimento de uma professora entrevistada
Pesquisadora: Você poderia me contar um pouco sobre você e sua trajetória trabalhista até
chegar na educação.
Entrevistada: Meu nome é xxx, eu na verdade entrei na educação meio que... Uma coisa
assim... Desejo dos meus pais, não que eles me obrigaram, imagina! Mas, de tanto eles falarem
a gente acaba é... [risos] enveredando por esse lado, como eles são do xxx, eles não tiveram
tanto acesso à educação quando moravam lá, eram do interior e quando vieram para cá
trabalharam muito, migraram do interior pra cá, da roça para indústria, então eles viram a
necessidade de que, quando tivessem filhos eles não teriam aquela vida, então meu pai sempre
falava - meninos quando vocês crescerem, estudem, trabalhem e tenham o que é de vocês, não
fiquem esperando por nada que caia do céu e meu pai sempre dizia que a educação é uma das
áreas... Ele sempre falava - o professor vai ter sempre metade que o odeia e metade que o ama,
é como Jesus, você não vai agradar a todos, mas tem gente que vai te amar e tem gente que vai
odiar, porém, ele falava aquilo com tanta força que acabou se cumprindo. Então quando eu me
formei aos 17, eu ainda estava um pouco perdida e não sabia o que fazer. Eu nasci aqui em xxx,
fiquei dois anos trabalhando e fazendo bico, uma coisa assim, mas ainda estava naquele limbo,
eu não sabia o que eu queria e aí graças a Deus, Deus me deu aquele estalo, quer saber de uma
coisa, em vez de ficar aqui, procura de lá e procura de cá, e nunca acha nada que te agrade então
vou entrar pra educação. A minha irmã trabalhava em uma escola de xxx, eu tenho xxx, minha
irmã tem xxx, ela é mais velha que eu três anos. Ela trabalhava nessa escola e lá essa modalidade
de ensino a distância estava chegando, isso foi em xxx para xxx e a minha irmã viu que seria
uma forma, porque eu já tinha tentado algumas bolsas também e não tinha conseguido e aí eu
meio que me frustrei. Então quando veio essa modalidade e minha irmã falou – olha xxx eu
acho que é o momento da gente aproveitar, né? No início, claro que as pessoas falavam, olha
eu não sei se isso é uma boa, até porque tudo que é novo assusta, não sei esse método aí, talvez
isso aí não dê em nada e talvez vocês não consigam nem o diploma de vocês. Aí a minha irmã
estava estudando lá e chegou essa faculdade a distância e ela disse – xxx só que eu não quero
fazer aqui eu quero fazer em outro lugar, porque eu já trabalho aqui, se não eu vou ficar aqui o
dia inteiro [risos], aí nós fomos para outra instituição na cidade vizinha xxx e a gente se formou,
graças a Deus fizemos pedagogia, na verdade fizemos normal superior e depois a gente
apostilou na própria faculdade, eu acho até que foi melhor porque o normal superior me deu
uma visão de magistério, coisa que eu não tinha, pois quando eu era mais nova até poderia ter
feito o magistério, mas também as últimas turmas já estavam acabando e praticamente ficou
extinto. Então quando eu entrei para o normal superior ficou como sendo um magistério
superior, um nível a mais, mas eu vi a matéria do magistério normal, tanto quando a gente foi
apostilar a pedagogia sentimos essa diferença, caíam muito mais leis, caía mais política, era
outra visão. Então eu dou graças a Deus por ter feito, porque eu tenho essa visão boa de sala e
tenho essa visão também porque é necessária a pedagogia. Tem que ter essa estrutura, não é?
E eu fui desenvolvendo em mim, no início não era algo que eu fazia... Logicamente, tudo que
a gente vai fazer eu aprendi que deve fazer bem feito não é? Você vai varrer o chão, varra da
melhor forma possível, você vai varrer então varra pra deixar brilhando, mesmo que você não
queira, mas varra para deixar brilhando. No início eu ficava meio triste, eu entrei primeiro em
um colégio particular, consegui um estágio até remunerado, que é difícil não é? Consegui um
estágio remunerado e trabalhei dois anos e depois consegui entrar aqui na prefeitura, contrato
eventual, até você conseguir se efetivar demora. Então eu entrei na educação em xxx...
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Pesquisadora: Em xxx, você foi direto para uma escola privada, certo? Ai você ficou lá quanto
tempo?
Entrevistada: Fiquei lá dois anos – xxx a xxx, em xxx eu fui fazer um estágio em uma
escolinha, essas creches menores, mas aí ela era muito pequena também, eu fui cobrir as férias
de uma menina e acabou que não fiquei porque a escola era muito pequena e não tinha condição
de pagar tantos funcionários, mas tudo bem, isso foi no final de xxx, na transição para xxx
praticamente eu já tinha um trabalho certo, nesse colégio, era um colégio grande de todas as
fases,
Pesquisadora: Aqui em xxx?
Entrevistada: Sim aqui em xxx, ela se chamava xxx e quando entrei lá eu aprendi muito porque
entrei como estagiária, então eu fiz tudo certinho porque algumas pessoas sentem essa falta,
não é? Tipo ai eu terminei a faculdade e passei em um concurso, mas chego aqui... Colegas que
entraram efetivadas, dizem - meu Deus o que eu faço! E muitas vezes essa pessoa passou em
10º lugar no concurso, tipo tem muita… Ela é sábia naquela parte... Política, da estrutura, mas
quando ela entra na sala ela se depara com a realidade. E eu fiz tudo como deveria ser mesmo,
aos pouquinhos, galgando, eu fiz estágio no colégio privado, aí saí e vim pra rede pública,
trabalhei um ano também na rede estadual, sempre trabalhando no regime de eventualidade.
Pesquisadora: Então você entrou para a educação pública em xxx?
Entrevistada: Em xxx eu entrei, na verdade no finalzinho de xxx eu já estava, porque eu
trabalhava em colégio privado e à tarde estava livre, porque eu só tenho um período, então à
tarde o pessoal me ligava e já ia... Então quando eu saí de lá começou uma baixa de... Como
agora, uma baixa de empregos, no final de xxx, e a escola tinha muitos alunos que os pais
trabalhavam em xxx: xxx, xxx... E aí perderam muitos alunos. Muitos foram pra escola pública,
e eu era a mais nova da casa fui mandada embora, mas eu já estava também é... Digamos assim,
eu aprendi muito nesse regime, porque eu trabalhava muito e era constante. Todo dia era uma
sala nova, todo dia era um recomeço. Hoje eu tenho a minha sala o grupo cinco está lá, todos
os dias eu conheço os alunos e fico até a vontade dentro da minha sala. Tem horas que eu mudo
de roupa no meio do dia, alguém fica aqui e aí eu vou trocar de roupa, às vezes ponho um
chinelinho pra ficar mais à vontade, pra brincar com eles, pra fazer as atividades, mas quando
você não tem uma sala sua, que você não coordena, porque cada professor acaba sendo seu
próprio coordenador de sala, quando você não coordena sua sala então você recomeça todo dia,
porque você não conhece os alunos, você não gravou os nomes deles ainda, quando eu dava
sorte de pegar um mês, dois meses direto na mesma sala, uma licença, eu adorava, porque eu
ficava conhecendo os alunos, mas isso me ajudou muito porque eu nunca me sentia aquela
pessoa parada, porque todo dia tinha que dar… Meu Deus o que é que eu vou fazer com essas
crianças? Brincar por brincar? Elas têm que evoluir, elas tem que fazer alguma coisa também.
Porque na verdade até com os meus eu passo por isso, porque na verdade a gente tem um
programa diário de aula, mas se eu falar pra você que eu consigo seguir o meu programa diário,
eu não consigo. Porque às vezes, hoje, por exemplo, à sexta feira aqui na escola um dia de
socialização, é dia de brinquedo, porém ás vezes a visão externa é que a criança vem na sexta
só para brincar, mas não é. Ela vai ter um momento, digamos uma meia hora, ou quarenta
minutos a mais para brincar, do que na semana. Na semana a gente já tem uns quarenta minutos
e é o tempo da criança também, porque criança é assim, ela está ali, está brincando e
concentrada, quando ela começou a desconcentrar e começou a jogar o brinquedo é porque ela
já não está mais a fim daquilo, aí você parti para outra situação, abaixa aquela adrenalina das
crianças, faz uma atividade dirigida e depois pode voltar para o brinquedo de novo, mas se
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continuar ali você não consegue. Então pra mim foi uma coisa muito boa à visão de sala que o
normal superior me deu, aprendi muito a lidar em sala, a pedagogia me ajudou muito, me
ensinou muito, mas o normal superior ele me deu essa base de magistério, que falta às vezes.
Pesquisadora: Quando você fala apostilar seria o quê? Seria mais um ano?
Entrevistada: É a gente faz mais um ano pela própria faculdade, porque o curso de normal na
rede estadual de São Paulo ele ainda é válido, mas com o tempo muitas instituições já não
creditam mais. Então eles exigem a pedagogia, por exemplo: xxx que é uma cidade vizinha,
você só pode entrar lá se você for pedagogo formado, só como normalista você não consegue.
Eu fiz três anos e meio de faculdade e apostilei oito meses, daí consegui pegar meu diploma de
pedagoga.
Pesquisadora: Então o total, juntando o magistério superior com a pedagogia foi o quê? Três
anos e oito meses, é isso?
Entrevistada: Foram três anos e oito meses, quase quatro anos, seria o mesmo curso de
pedagogia.
Pesquisadora: Teus anos na prática docente, como professora, são quantos anos que você
contabiliza?
Entrevistada: Olha... Em xxx foi à entradinha, vai xxx, fez xxx anos.
Pesquisadora: Na educação infantil?
Entrevistada: xxx anos. Eu cheguei a trabalhar paralelo com o fundamental, mas muito pouco.
Pesquisadora: Na educação pública?
Entrevistada: xxx anos
Pesquisadora: Ok. Como você ver o trabalho do coordenador pedagógico e em que momento
esse trabalho dessa coordenação pedagógica te ajuda no dia a dia, te auxilia?
Entrevistada: Olha, pelo menos aqui na escola, depende muito, pois cada coordenador é de
um jeito, nós já tivemos uma coordenadora que cobrava mais o lado burocrático, e agora a gente
tem uma coordenadora que tem, eu acho que ela tem mais a cara da educação infantil, porque
a Educação infantil, por exemplo, a burocracia ela existe, a papelada tem que preencher do
mesmo jeito, porém a gente não tem tempo hábil pra isso e vai tudo pra casa ou nos momentos
de HTPC. Muitas vezes no momento de HTPC eu estou preenchendo as minhas coisas na minha
casa. Então eu sinto assim o coordenador... Ele dando uma força para o professor nessa parte,
tem que fazer isso, isso e isso, porque às vezes chega muita informação externa, da rede, da
rede da prefeitura, mas aí a gente não tem aquele… Tá, mas como é que eu faço com isso?
Precisa ter um esclarecimento...
Pesquisadora: Por onde eu começo?
Entrevistada: Isso. E nisso ela é muito boa, ela vai e mostrar pra gente, ela praticamente faz
um e dá o modelo, gente é assim que é pra ser feito e quando erra ela diz – não, vamos fazer de
novo, não tem problema... Esse ano eu senti assim, essa parte externa mais aflorada, por
exemplo, ela gosta muito dessa parte de decoração, de trabalhos manuais. Ela que decorou a
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escola, eu não sei se você viu a horta que nós temos lá fora? Nós recebemos uma professora de
meio ambiente, da cidade mesmo. Ela já está aqui há muitos anos, veio aqui e ajudou a gente a
fazer essa horta e tal, há muitos anos essa horta era pra ter saído, mas nunca ninguém se
prontificava. Porque não é só fazer por fazer. Tem que ter um respaldo. Ela vai lá e faz, e diz –
tal pessoa vai cuidar disso, tal pessoa vai cuidar daquilo, e aqueles que não cuidam, mesmo
assim, ela vai lá e cuida, e a gente faz o nosso papel de regar com as crianças e tudo. Então ela
foi ajudou as crianças, mexeu na terra junto com as crianças, a gente falava - aluno tal vai
plantar a sementinha e então ela que ia, então sabe foi uma coisa direta, a gente acha que tem
que ter essa direção é a nossa chefia direta, claro que a gente tem a nossa diretora e a nossa vice,
mas claro que quando a gente quer falar alguma coisa, a gente chega logo e fala pra ela, porque
ela é aquela pessoa que está mais com a gente no dia-a-dia, mais próxima, numa conversa com
o aluno, porque isso dá muito problema, a criança pequena ela não tem percepção das coisas
que ela fala. Claro que com cinco anos, a última fase aqui é cinco anos, depois vai pra rede
estadual, não é que ela… Pelo menos os pais... Eu sinto assim, na reunião de pais eles acham
que os filhos deles sabem tudo, porque em casa sabe configurar o celular, configurar o tablet,
sabe mexer na tv a cabo, sabe fazer ligação, ele sabe fazer tudo, porém na hora de dividir um
brinquedo ele não sabe. Então, essa geraçãozinha ela já nasceu com aquela coisa assim…
Antigamente, na minha época era assim - pedi desculpa pro seu amiguinho, eu chorava se meu
amiguinho não brincasse comigo, mas ia lá e pegava na mão, então voltava a ser meu amigo,
então é meu amigo e pronto, hoje em dia não. Não quer seu meu amigo tudo bem, então fica aí
que eu fico aqui, então a gente sente isso que a criança de cinco anos hoje, ela não é mais infantil
ela é imatura, é o que percebo muito. Tá é criança, mas a criança... Tem a criança infantil e tem
a criança imatura. Aquela imaturidade que vem da família não é nem da criança,
Pesquisadora: É do meio social?
Entrevistada: Isso do meio social em que ela está inserida. Então eu vejo muito isso, ela ajuda
muito a gente nesse sentido. Esses dias eu passei por uma situação que eu achei até assim... No
fim do ano você fica até chateada, por quê? Porque eu tenho um aluno, eu nunca fiz distinção,
nem quando eu entrei na educação, da questão de raças, nunca fiz isso, o aluno que é xxx... Pra
mim isso nem existe, mas como eu trabalho com criança, tudo pra mim que criança faz não é
novidade, mas teve um aluno que semana passada ele me jogou meio que uma bomba. Ele falou
assim pra mãe dele que um xxx de pele xxx falou que não queria brincar com ele porque tinha
medo da cor da pele dele, no outro dia logicamente a mãe ficou chateada e disse que chorou
bastante. Eu falei - bem mãe, eu vou investigar o que aconteceu, porque ele falou como se estive
o ano todo [gesto com as mãos], lógico que a mãe fica chateada e a professora fica chateada por
quê? Meu Deus será que eu não vi isso? Meu Deus será que é possível em uma sala de cinco
anos eu não vi essa situação, isso deixa a gente chateada, aí a gente vai investigando…
Pesquisadora: E aí acaba se cobrando não é?
Entrevistada: Eu comecei a me cobrar, aí conversei bastante com ele, conversei bastante com
o menino e eu vi que o menino não tinha nem a compreensão do que ele falou. Na verdade
aconteceu foi que ele brigou com o menino na semana passada e o menino disse - eu não quero
mais brincar com você, aí ele ficou com raiva e falou pra mãe dele, ele falou que não quer mais
brincar comigo porque eu sou xxx. E aí eu percebi essa situação, tudo é uma questão de olhar.
A coordenadora conversou com ele e me chamou e disse - xxx eu percebi que ele não tem
compreensão do que falou. Você brinca com ele? Brinco. Ele é seu amigo? É. Mas ele falou
alguma coisa pra você? Não. Aí você percebe que ele ainda tem aquela compreensão, então eu
dentro da sala fico pensando é ou não é? Mas aí já saiu um pouquinho com ela e ela deu aquele
olhar que eu não tinha visto ainda, tá vendo ele não tem essa compreensão.
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Pesquisadora: Então você está me falando agora, é de uma situação bem prática que você
percebeu que ela te auxiliou?
Entrevistada: Ela me auxiliou, com certeza, o simples fato de ela ter chamado – olha leva ele
pra minha sala vou ver o que dá pra fazer e não é só isso, é chato você às vezes mandar aluno,
pessoal acha que não, mas na educação infantil acontece muito, o aluno apronta, apronta e a
gente tem que tirar da sala, de repente colocar na sala de outra professora um pouquinho pra
ver outras crianças, porque vendo as mesmas carinhas o tempo todo realmente ele não aguenta
mais, aí ele vai pra outra sala, mas não vai pra levar bronca, vai pra outra sala e a professora
dar uma outra atividade diferente da que eu estou acostumada dar pra ele e as vezes vai até pra
sala da coordenadora e quando chega lá vai bater papo e conversar com ele, dá uma outra
atividade, até para desestressar, relaxar a criança. Às vezes os pais chegam pra mim e dizem -
professora o que está acontecendo com meu filho, que não quer mais vir pra escola, alguém tá
batendo nele? E às vezes eu olho pra aquela criança e vejo um aluno tranquilo, que não briga
com ninguém. Aí a criança chega pra mim e fala – professora eu estou cansada, chego pra mãe
e falo - você cansa do seu trabalho? Canso. Você tira férias, não tira? Tiro. Mesma coisa é seu
filho, ele chega ao final do ano, estuda o ano inteiro, estuda, estuda e vai chegar o período de
férias, mas por ele ser criança ele tem mais... É engraçado, ele tem mais momento de desgastes
do que nós adultos... Não vejo a hora de chegar as minhas férias! Mas você sabe que a suas
férias só vão vir em dezembro, final de dezembro para janeiro e ele não tem essa compreensão
de quando vai vão chegar as férias se você não falar pra ele.
Observação: Nesse momento, no local da entrevista surgiu um funcionário da instituição, mas
a entrevistada não parou de falar.
Entrevistada: Então às vezes a criança não tem essa compreensão, eu dei aula para um casal
filhos de um xxx, e o pai deles era um amor de pessoa, não é porque é xxx que é uma pessoa
grossa, ele era um amor de pessoa, ele dava mais atenção do que a mãe. Dizem que a mulher
dele não saía do serviço para ver os filhos de jeito nenhum, mas ele vinha de xxx , vomitou,
passou mal, diarreia e ele vinha, ele chegou pra mim e disse professora eu não sei o que eu faço,
eu acho que está acontecendo alguma coisa com meu filho ele não está querendo vir pra escola,
fica estressado, nervoso, ou ele está apanhando aqui ou ele está apanhando em casa da babá.
Não, olha pra seu filho, olha o semblante de cansado dele, à tarde eles já vêm com a corda toda,
de manhã aquela criança acorda todo dia de 5h20, vinha de perua e a perua passava de 6h20,
essa criança está cansada? Tenta deixar pelo menos... Não é porque eu sou professora não, ele
é o fruto do meu trabalho, ele é o meu ganha pão, eu não quero que ele fique em casa quero que
ele venha pra escola, mas tente deixar ele um dia em casa, deixa ele dormir. Então ele faltou
dois dias, o menino, mas quando veio sabe assim... Tinha até cor no rosto, está vendo seu filho
estava com sono! Gente é cada situação que eu já vi aqui!
Pesquisadora: Se nós tivéssemos que definir ou apontar quais são as atividade de um
coordenador pedagógico, quais seriam as atividades deste coordenador pedagógico aqui na
escola?
Entrevistada: Olha, talvez eu não esteja aqui me lembrando, mas a nossa coordenadora tem
muitas atividades que ela faz com a gente. Nos espaços de formação, por exemplo, ela sempre
traz coisas novas pra gente.
Pesquisadora: Esse espaço de formação ocorre quando?
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Entrevistada: No momento de HTPC – horário de trabalho pedagógico coletivo, que é na terça-
feira das 6h00 às 8h00 da noite, aqui só tem um dia, porque aqui foi feito um combinado, a
professora tem vários horários, cada uma fazia em um horário, mas não chegavam às
informações, ficava aquela coisa fracionada aí à diretora sentou com a gente, dois anos atrás e
disse – vamos fazer todos juntos? Claro que é um pouco desgastante, tem gente que mora em
outra cidade, trabalha de manhã, tem que vir à noite, mas já faz parte da nossa rotina de trabalho,
isso acabou sendo primordial para o trabalho, porque tá todo mundo junto, não tem aquela a de
manhã vem de manhã e a da tarde só faz na quinta, a da noite…
Pesquisadora: E é tanto para o pessoal da tarde como da manhã?
Entrevistada: Pra todo mundo, para o pessoal da creche, tem as meninas que são de contrato
e daí junta todo mundo, não fica aquela coisa fulano é isso, fulano é assado, faz todo mundo
junto e é assim o que é informação pra um é pra todos. E aí você não precisa ficar repetindo.
Pesquisadora: Isso está ocorrendo há quanto tempo?
Entrevistada: Olha, aqui na escola isso tem... Nós estamos em 2016, então desde 2014. Eram
fracionados os horários, mas a partir de 2014 unificou e aí ficou todo mundo junto no mesmo
período.
Pesquisadora: Você teria outra coisa pra citar de outra atividade que ela faz?
Entrevistada: Você fala assim, atividades práticas com crianças ou com a gente?
Pesquisadora: Com tudo, onde você ver a coordenadora?
Entrevistada: Olha aqui na escola praticamente tudo tem a mão dela, porque assim… Essa
escola é muito cobrada em festas. A comunidade se acostumou com as festas e essas coisas,
tudo o que você está vendo, a escola nunca tá arrumada, porque esse ano a gente teve seis festas
no calendário, tivemos muitos feriados e vai ter o nosso encerramento agora que é do grupo
cinco, minha turma, então assim... Desde o convite ela já vê como vamos fazer, vamos fazer
assim... A gente já está na sala de aula e às vezes não tem nem aquela compreensão do que vai
fazer, uma das coisas que eu achei maravilhosa, pelo menos pra mim e pra muitas pessoas daqui,
é a reutilizar as coisas, as escolas pelo menos quando eu entrei tinha material com fartura e que
não era reciclável, por exemplo, o E.V.A [folha de borracha] não é um material reciclado, mas
desde que o professor conheceu, acabou pronto. Ele nunca mais quis uma borboleta com folha
de sulfite [risos], eu quero EVA e não tem mais. Já a maquete, é comum fazer uma maquete
numa escola e fazer uma maquete de isopor, mas não é um material reciclado, então ela ensinou
a usar caixas de papelão, ela tem criatividade! Ela já vem de outra escola e era conhecida lá
por essa criatividade, e aí ela falou - gente vamos usar caixa. Tudo que a gente tem, coisas que
temos, aqui na escola, se gasta um material absurdo. Gente eu não acredito que a gente usava
aquele material pra fazer isso. Tem uma professora que fez uma árvore de natal, aqui na sala da
frente, linda, depois se você quiser eu passo lá pra você ver, ela usou papelão e então está uma
coisa linda. Arcos de papelão. Maquete hoje em dia só faz com a base de papelão, por exemplo:
folha de Sulfite, a gente está em uma época de transição de governo e também está numa época
financeiramente ruim, então não tem mais aquela fatura que era antes, a quatro ou cinco anos
atrás, tudo agora vem fracionado e o professor tem que saber trabalhar com isso.
Pesquisadora: Então você percebe o auxílio dela em relação a isso?
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Entrevistada: Eu percebo. Por exemplo: a gente estava com problema com folha sulfite, para
trabalhar com as crianças, porque a Secretaria precisa do material, a gente só recebe se a gente
tiver o nosso cadastro impresso. Se não tem folha para assinar a folha de ponto, então a gente
não recebe. Então às vezes criança vai gastando o material e quando você ver, já deu 500 folhas
de sulfite no mês, e não tem necessidade disso. Ela fez um convite lindo, eu estava vendo, ela
disse - gente tem tanta folha de papel dobradura. Então ela pegou e imprimiu o escrito na parte
de fora e aí a gente dobra a parte de fora que já está colorida, feito isso aí ela disse - vamos colar
um lápis aqui? Aí ela pegou essas pontinhas de lápis que sobram e que vão para o lixo e pronto...
Está bonitinho, cola e é uma coisa linda, tipo, essas coisas ela faz, sai tudo da cabeça dela, então
isso é uma coisa que eu vejo muito nela.
Pesquisadora: Agora vamos imaginar que você será daqui algum tempo coordenadora
pedagógica.
Entrevistada: Quem sabe né... Sabe que eu nunca pensei nisso [risos]!
Pesquisadora: Não?
Entrevistada: Nunca pensei.
Pesquisadora: Pois é, mas vamos imaginar e dentro desse nosso pensamento o que você faria
de diferente? O que você percebe que teria que ser diferente. O que você faria diferente?
Entrevistada: Sabe, essa é uma questão que a gente até já falou aqui na escola, inclusive foi
tema de reuniões, o que a gente faria se estivesse no lugar. É tão difícil falar, porque, enquanto
o professor tem uma visão limitada sua, e daí você não vê o que o coordenador está fazendo.
Quando você vai pra coordenação... Quando você está professor, você acha que o coordenador
tem que ser mais professor e quando o coordenador vai pra coordenação, lá dentro ele deve ser
também político, não político, mas trabalhar as estruturas políticas, porque a estrutura
burocrática passa por ela e depois passa por nós. Então é uma coisa muito estranha e quando a
gente está aqui e o coordenador está aqui [gesto que as duas mãos] tipo assim... Mas é tanta
coisa que a gente tem que fazer... Preencher documento disso e disso, e quando ela está lá é
necessário fazer aquilo. Então é por isso que eu nunca pensei em ser a coordenadora porque eu
fico pensando assim... Tem horas que dá vontade, vem àquela vontade de criticar, mas eu falo
assim - também não deve ser fácil gerir um monte de professor e ainda gerir a comunidade,
porque até quando o pai vem falar com a gente pra não dar aquela confusão, às vezes o pai não
sabe nem o que está acontecendo e já quer vir afrontando para brigar, e então passa pela
coordenadora pra não ter aquela batida de frente. Pelo menos da minha parte eu posso dizer que
foi várias vezes assim esse ano, e depois ela dava a devolutiva, vamos marcar uma entrevista
eu, você e a professora e a pessoa... Às vezes não é nada, basta uma conversa e já resolveu isso
até foi bom, mas o que fazer diferente é algo tão assim…
Pesquisadora: Quais seriam as necessidades que os docentes têm atualmente e que de repente
essa coordenação pedagógica teria que fazer ou refazer, melhorar, fazer de novo, porque a cada
ano a gente percebe que a responsabilidade do professor só vem aumentando? E se elas estão
aumentando a lógica seria... Como trabalhar com esse professor? O que a coordenação
pedagógica precisaria fazer de diferente para trabalhar com esse professor diante das demandas
atuais? O que você na condição de coordenadora faria diferente?
Entrevistada: Sabe de uma coisa difícil, ao mesmo tempo que a gente quer, a gente cobra
inclusive dela isso, um pouco de freio nessa área da estrutura, pra dar mais tempo pra a gente
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fazer as nossas coisas, porque na verdade nós não temos tempo de fazer nada, olha tal dia vamos
fazer isso, mas a gente não tem um tempo mesmo pra estruturar nada e é muito difícil hein,
então é eu acho que seria um pouco mais de freio com essa parte que vem de fora, de estrutura.
Por exemplo, esse ano a gente teve que mudar todo o nosso plano de trabalho, era feito de um
jeito, mas a gente sabe que vem da secretaria de educação, era feito de um jeito e foi passado
para ela que agora vai ter que ser feito assim... E aí nós tivemos que mudar tudo de novo, até
assim sabe você testa várias coisas até saber o que vai acontecer, mas aí acaba voltando ao
passado. Coisas que se faziam antigamente nós paramos de fazer porque não era bom e aí volta
tudo novamente, agora que a gente voltou... Essa gestão está mudando, a gestão da cidade, a
gente sabe que a parte de educação, da secretaria muda tudo e se mudar novamente - a não,
agora vamos fazer tudo assim.
Pesquisadora: Então existe a possibilidade de vocês mudarem novamente?
Entrevistada: Existe a possibilidade, nós levamos uns quatro ou cinco meses para nos adequar.
Pesquisadora: Você falou que isso foi uma questão que vocês foram até ela falar desse
desconforto, dessas questões que vem de fora, das demandas?
Entrevistada: Sim, é muita demanda de fora, já aconteceu da gente está trabalhando algo aqui
na escola e a gente comer broa, sabe não consegui fazer os temas, por exemplo, o tema da
questão racial, por exemplo, pelo menos o grupo XXX, estamos tão focados que a gente acaba
esquecendo de trabalhar a questão, então dia 20 de novembro foi o dia da Consciência Negra e
praticamente esse ano passou batido, então ano passado eu consegui trabalhar legal e esse ano
eu senti que não.
Pesquisadora: Quer dizer que se você fosse uma coordenadora você ia filtrar mais as
informações que vem de fora, seria isso?
Entrevistada: Sim, seria isso. Filtrar mais, mas aí a gente fala filtrar de que forma [risos] se
vem de fora! Não tem o que você fazer não é? Mas aí a gente teve até uma mudança, os nossos
supervisores eles eram cargos de supervisão, agora não, eles são funcionários efetivos, isso
também nos ajuda porque mudando uma gestão política ou não, eles continuam lá, então tá
bom, a visão do professor é assim, da coordenação é assim e a visão da supervisão é assim, a
supervisão tem que estar andando em conjunto com a coordenação e com a equipe de
professores, então vai chegando até lá, a secretaria quer que faça assim, mas a visão dos
professores é essa, então isso já meio que nos ajuda, é uma caminhada longa e a gente sabe
que... Outro dia até esse pessoa que entrou aqui perguntou pra mim - você gosta do que você
faz? Porque às vezes a gente vê que vocês estão vermelhas, esbaforidas, descabeladas, eu falei,
eu pensando assim na minha vida que no início eu queria trabalhar com arte com outras coisas,
mas eu fui entrando na educação e é um bichinho né, uma vez que te morde você vai ficando
vai ficando, na educação é assim. E aí eu fui vendo que realmente eu gosto do que eu faço, pois
talvez eu não saiba se eu desempenharia o mesmo papel numa área administrativa, tão bem,
quando eu falo na área de coordenação ou fora, administrativo mesmo, fora, fora do campo da
educação; eu não sei se eu conseguiria ter esse jogo de cintura que eu tenho. Aqui a gente
aprendeu a dar nó em pingo d’água, acho que o professor em si ele aprende a dá nó em pingo
d’água, então uma das coisas que me entristece um pouco é a baixa remuneração, a gente não
pode reclamar claro... A questão atual que a gente está; o financeiro de todos está muito abalado,
então a gente tem que agradecer a Deus por ter um trabalho, mas pelo suor e pelo trabalho, o
esforço mental que a gente tem e até o psicológico, eu já passei por um momento de ter que me
afastar da sala, xxx em casa por problema de saúde mesmo, de tanta estafa, cansaço mental,
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mas eu fiz de tudo pra voltar, porque eu não quis ficar afastada eu quis voltar, trabalhei em mim
eu tenho que voltar pra sala, na época eu tinha xxx anos, não posso ficar eu não aguento mais
criança, não é assim, o mundo não é segregado a nossa cabeça que pensa que é. Então uma
coisa que eu gostaria era de ser melhor remunerada pelo que eu faço, só isso, então a gente
vendo que não é, o que a gente faz? A gente tentar progredir.
Pesquisadora: Com relação ao coordenador pedagógico você acha que ele teria condição de
lutar por isso? Essa melhoria da remuneração existe essa possibilidade?
Entrevistada: Olha depende muito da pessoa, depende muito do perfil da pessoa. Eu acho que
poderia, mas teria que ser muito uma pessoa com perfil pra isso, nem todo mundo tem todos os
perfis, por exemplo, o perfil da nossa é um perfil bem pedagógico, de auxilio, de ajuda criativa,
de apoio. Então esse perfil mais, digamos assim, me fugiu a palavra agora, seria um perfil de
sindicalista digamos, tem que ser uma pessoa específica para esse perfil, mas eu acho que é um
pouco difícil, porque o coordenador eu acho que é o cargo mais bombardeado, mais que a
direção, mais que o professor, eu acredito que sim.
Pesquisadora: Bombardeado por quem?
Entrevistada: Porque assim... O professor quando ele vai falar algo ele fala para o coordenador,
quando alguma coisa não dá certo quem ouve é o coordenador [risos], então eu acho que ele é
o mais bombardeado. Ele está ali recebendo todas as influências - porque não deu certo, o
porquê que você está pedindo isso da gente? E ela fica assim tadinha... Ela não sabe pra que
lado ir, isso está ficando tão pessoal sabe, pelo menos é o que eu vejo, assim... Se aquilo que eu
faço eu acho que está bom, eu sempre digo - pode melhorar todos os dias, eu estou bem no que
eu tô fazendo, mas eu posso melhorar sempre. Por isso até que eu te falei que eu estou querendo
fazer um mestrado, eu acho que é pelo menos um degrauzinho que for.
Pesquisadora: Você percebe que é um processo de acréscimo, é um acréscimo da tua docência,
no teu lado profissional?
Entrevistada: Uma vez professor... o professor não se aperfeiçoa ele é igual ao médico ele não
evolui e ele fica das mesmas técnicas.
Pesquisadora: Deixa eu te perguntar uma coisa bem rápida, quando você pensa em
coordenação pedagógica qual a palavra que vem na tua mente?
Entrevistada: Na minha mente [pensou um pouco]; apoio. É o que vem na minha... Na cabeça
de uns vem trabalho, na minha vem apoio.
Pesquisadora: Você teria alguma coisa para acrescentar? Qualquer coisa que você queira falar
sobre coordenação pedagógica, sobre docência, sobre você, você teria alguma coisa?
Entrevistada: Não, é assim é como estava te dizendo, a área é difícil, cada dia que passa ela
suga mais, porque também as crianças estão vindo com muito mais energia, tem professores
aqui da rede que já se aposentaram e tem outras que continuam e falam - nossa vinte anos atrás
a sala era mais cheia e não era desse jeito! Antigamente eram trinta e hoje tem quinze e os
quinze tão dando um baile nos trinta, à energia é muito maior.
Pesquisadora: Você tem quantos alunos?
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Entrevistada: Eu tenho xxx, mas tem sala que tem xxx, xxx, foi uma exigência até que a
diretora conseguiu, a gestão conseguiu dá uma diminuída, porque o ano passado a mesma sala
que eu estou tinha xxx, esse ano ela tem xxx.