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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Mabile Francine Ferreira Silva CONTEÚDOS PSÍQUICOS E EFEITOS SOCIAIS ASSOCIADOS À PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA: ABORDAGEM FONOAUDIOLÓGICA MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA SÃO PAULO 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Mabile Francine Ferreira Silva

CONTEÚDOS PSÍQUICOS E EFEITOS SOCIAIS ASSOCIADOS À

PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA: ABORDAGEM

FONOAUDIOLÓGICA

MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA

SÃO PAULO

2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Mabile Francine Ferreira Silva

CONTEÚDOS PSÍQUICOS E EFEITOS SOCIAIS ASSOCIADOS À

PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA: ABORDAGEM

FONOAUDIOLÓGICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção do título de

MESTRE em Fonoaudiologia, sob a orientação

da Profa. Dra. Maria Claudia Cunha.

SÃO PAULO 2010

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Silva, Mabile Francine Ferreira Silva.

Conteúdos psíquicos e efeitos sociais associados à paralisia facial periférica:

abordagem fonoaudiológica / Mabile Francine Ferreira Silva. – São Paulo, 2010.

159f.

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Programa de de Estudos Pós-Graduados em Fonoaudiologia. Área de

Concentração: Clínica Fonoaudiológica. Linha de Pesquisa: Linguagem, corpo e

Psiquismo. Orientadora: Profa. Dra. Maria Claudia Cunha.

Psychic contents and social effects associated with the peripheral facial paralysis: speech therapy approach

1. Paralisia Facial 2. Estudo de Casos 3. Impacto Psicossocial

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução parcial ou total desta dissertação através de fotocópias ou meios

eletrônicos

_______________________________________ Mabile Francine Ferreira Silva

São Paulo, dezembro de 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Programa de Estudos Pós-Graduados em Fonoaudiologia

Coordenadora do Curso de Pós-Graduação Profa. Dra. Léslie Piccolotto Ferreira

Vice-coordenadora do Curso de Pós-Graduação Profa. Dra. Dóris Ruth Lewis

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Mabile Francine Ferreira Silva

CONTEÚDOS PSÍQUICOS E EFEITOS SOCIAIS ASSOCIADOS À PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA: ABORDAGEM FONOAUDIOLÓGICA

Banca examinadora:

_______________________________________ Profa. Dra. Maria Claudia Cunha

_______________________________________ Prof. Dr. Paulo Roberto Lazarini

_______________________________________ Prof. Dr. Luiz Augusto de Paula Souza

_______________________________________ Profa. Dra. Zelita Caldeira Ferreira Guedes

_______________________________________ Profa. Dra. Dóris Ruth Lewis

Aprovada em: ___/___/___

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I

DEDICO À:

Manoela, minha irmã querida, sempre presente tanto

nos momentos de lágrimas quanto nos momentos de

muitos sorrisos.

E aos meus pais que quando me sinto perdida, ajudam

a me reencontrar.

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II

AGRADECIMENTOS

Reflexo de descobertas e desafios, este trabalho faz parte de um importante

momento de minha vida. Meus sinceros agradecimentos aos que estiveram

ao meu lado:

A Deus por me acompanhar no caminho trilhado.

A Profª. Drª. Maria Claudia Cunha por sua presença transformadora em

minha trajetória. Agradeço pelo acolhimento e por acreditar junto comigo na

realização deste trabalho.

Aos meus pais, Manoel e Penha, pelo amor, carinho, incentivo e presença.

Levarei seus ensinamentos sempre comigo.

A minha irmã e amiga Manoela, tão importante em minha vida e por

entender a importância de cada palavra contida neste trabalho.

Ao Prof. Dr. Paulo Roberto Lazarini pela preciosa participação e colaboração

oferecidas durante importantes etapas deste trabalho.

Ao Prof. Dr. Luiz Augusto de Paula Souza (Tuto) por afetar e possibilitar

novas ordens em suas aulas. Obrigada pelas contribuições oferecidas no

Exame de Qualificação.

A Profª. Drª. Zelita Caldeira Ferreira Guedes pelo carinho, cuidado e

disponibilidade e pontuações significativas que aprimoraram a construção

deste trabalho.

A Profª. Drª. Dóris Ruth Lewis pelo acolhimento, aprendizado, inquietações e

questionamentos importantes realizados durante suas aulas.

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III

À Glícia grande companheira e amiga, que tive a honra de compartilhar

momentos de carinho, cumplicidade e disponibilidade de escuta.

À Cristiane Marangom e Nadja Souza pela amizade construída no Mestrado.

Sempre guardarei nossos momentos de ricas trocas de informações e os

outros momentos de muitas risadas.

À Thaís Inocêncio por sua sensibilidade e irreverência. Suas palavras foram

muito especiais e reconfortantes.

À Tatiane Alencar, Natally Ribeiro e Tiago Araujo pelo apoio, carinho, papos

divertidos e companhia nesse trajeto gratificante do Mestrado.

À Karina Yumi que considero grande irmã e amiga, muito presente e

especial. Agradeço pelo carinho incondicional.

À Vanessa Ieto pelo acolhimento oferecido de maneira tão especial desde a

Graduação. Você me ajudou a trilhar um encontro com a minha identidade

que passou pela timidez ao desafio.

Aos meus familiares que acompanharam e me incentivaram durante este

período de estudos.

A Profª. Drª. Suzana Maia pela serenidade e carinho com que conduziu suas

aulas.

A Profª Drª Denise Bernuzzi de Sant’Anna por fascinar e apresentar de

forma tão apaixonante suas aulas. Obrigada pela contribuição durante a

construção deste trabalho.

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IV

A Profª. Ms. Marina Fouquet por oferecer apoio, aprofundamentos e

contribuições tão próximas para a concretização deste trabalho.

À Ilen Abbud, Andressa Ruiz e os alunos de especialização em Voz e

Cabeça e Pescoço da Irmandade da Santa Casa de Misercórdia de SP, pela

ajuda na organização da coleta de dados e amizades conquistadas.

Aos participantes da pesquisa pela contribuição, disponibilidade e pelos

importantes depoimentos.

As turmas de Graduação em Fonoaudiologia que me acolheram com grande

carinho e me proporcionaram momentos de aprendizagem nos grupos de

Supervisão em Avaliação de Linguagem.

Ao João, Graça e Virgínia pelo auxílio, eficiência, gentileza e carinho.

À Carmen Saldiva pela análise estatística.

A todos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, por

possibilitar e permitir a realização desta pesquisa.

Ao CNPq pelo apoio à pesquisa e à bolsa concedida.

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V

Certa palavra dorme na sombra

de um livro raro.

Como desencantá-la?

É a senha da vida

a senha do mundo.

Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira

no mundo todo.

Se tarda o encontro, se não a encontro,

não desanimo,

procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura

ficará sendo

minha palavra

(Carlos Drummond de Andrade, A palavra Mágica)

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VI

RESUMO SILVA, M.F.F. Conteúdos psíquicos e efeitos sociais associados à paralisia facial periférica: abordagem fonoaudiológica Introdução: A paralisia facial periférica (PFP) decorre da redução ou interrupção do transporte axonal ao sétimo nervo craniano resultando em paralisia completa ou parcial da mímica facial. A deformidade facial e a limitação de movimentos, mais do que prejudicar a estética e a funcionalidade, podem interferir significativamente na comunicação interpessoal (VALENÇA e cols., 1999; ADAMS, 1998). Essa privação em expressar facialmente as emoções pode acarretar uma variedade de problemas psíquicos e sociais, como depressão, ansiedade e isolamento. (FOUQUET, 2000; DIELS e COMBS, 1997). Objetivo: Investigar os conteúdos psíquicos e os efeitos sociais associados à PFP em sujeitos adultos, realizando uma análise comparativa em três grupos de sujeitos com PFP: nas fases flácida, de recuperação e sequelar. Os resultados obtidos foram utilizados para a elaboração de um roteiro de avaliação fonoaudiológica desses aspectos. Método: Pesquisa de natureza clínica quanti-qualitativa. Casuística: Situação 1 - 16 sujeitos adultos, ambos os sexos, na faixa etária de 43 a 88 anos, com PFP. Situação 2 - Estudo de caso clínico de uma paciente do sexo feminino, 52 anos, com instalação da PFP há 18 anos, com diagnóstico desconhecido e que atualmente apresenta sequelas. Procedimento: Situação 1 - Entrevistas abertas com os sujeitos, a partir da seguinte questão disparadora: “Quais foram as consequências da paralisia facial periférica na sua vida social e emocional?”. O material foi gravado em áudio e vídeo, transcrito literalmente, sistematizado de acordo com a Análise Categorial proposta por Bardin (2002) e submetidos as frequências estatística descritiva e porcentagens de ocorrência de cada conteúdo psíquico e efeitos sociais. Alguns sujeitos responderam para mais de uma categoria. Situação 2 – Terapia fonoaudiológica no período de março de 2010 à julho de 2010 com a descrição dos procedimentos, como Avaliação da Condição Facial, terapêutica miofuncional e conteúdos psíquicos e sociais implicados nessa condição. Resultados e Discussão: Os resultados indicaram que, comparativamente, os sujeitos portadores de sequelas apresentam maior significância estatística de conteúdos psíquicos e efeitos sociais associados à PFP. Seguidos, respectivamente, dos que se encontram nas fases flácida e de recuperação. Os resultados sugerem que o fonoaudiólogo, além de realizar a reabilitação funcional e estética do sujeito acometido pela PFP, precisa ter escuta para aspectos psíquicos e sociais envolvidos nesse quadro clínico, de maneira a avaliar e buscar diminuir o grau de sofrimento psíquico e favorecer a adaptação social desses pacientes. A elaboração de um roteiro com indicadores dos aspectos psíquicos e sociais facilita o acesso dos profissionais a esses conteúdos. Conclusão: A abordagem biopsicosocial dos pacientes acometidos pela PFP revelou vasta, e significativa, gama de conteúdos subjetivos que justificam novos estudos que possam contribuir para a eficácia do método clínico fonoaudiológico na abordagem desse quadro clínico. Palavras-chave: 1. Paralisia Facial 2. Estudo de Casos 3. Impacto Psicossocial

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VII

ABSTRACT SILVA, M.F.F. Psychological contents and social effects associated with the peripheral facial paralysis: speech therapy approach Introduction: The peripheral facial paralysis (PFP) is due to reduction or interruption of axonal transport of the seventh cranial nerve resulting in complete or partial paralysis of the facial movements. The facial deformity and limitation of movement, rather than harming the aesthetics and functionality, may significantly interfere in interpersonal communication (VALENÇA et al., 1999; ADAMS, 1998). This deprivation in facially express emotions can cause a variety of psychological and social problems such as depression, anxiety and isolation. (FOUQUET, 2000; DIELS and COMBS, 1997). Purpose: To investigate the psychic contents and social effects associated with the PFP in adult subjects, performing a comparative analysis on three groups of subjects with PFP: flaccid phases, of recovery and latent. The results were used to prepare a roadmap for speech therapy evaluation of these aspects. Method: Clinical researche quantitative and qualitative. Casuistic: Sitiuation 1 – 16 adult subjects, of both sexes, aged from 43 to 88 years, with the PFP. Situation 2 - Clinical case study of a female patient 52 years, with the PFP facility for 18 years, diagnosed with unknown and currently has sequels. Procedure: Situation 1 - Open interviews with the subjects from the trigger question was: “What were the consequences of the peripheral facial paralysis in your social and emotional life?” The material was recorded on audio and video, literally transcribed, organized according to categorical analysis proposed by Bardin (2002) and submitted the frequency descriptive statistics and percentages of occurrence of each psychic content and social effects. Some subjects answered to more than one category. Situation 2 – Speech therapy from March 2010 to July 2010 with the description of the procedures such as Facial Condition Assessment, treatment and content myofunctional psychological and social effects involved in this condition. Results and Discussion: The results indicated that compared the subjects with sequels have higher statistical significance of psychic contents and social effects associated with the PFP. Followed, respectively, which are flaccid phases and the recovery. The results suggest that the speech therapist, in addition to performing functional and esthetic of the subject affected by the PFP, listener need for psychological and social aspects involved in this clinical picture in order to assess and seek to reduce the degree of psychological distress and promote social adaptation for these patients. The development of a roadmap with psychological and social’s indicators aspects facilitate the access of professionals to these contents. Conclusion: The biopsychosocial approach of patients affected by the PFP revealed broad and significant range of subjective contents that justify further studies that may contribute to the effectiveness of the clinical method in speech therapy of this clinical approach. Key-words: 1. Facial Paralysis 2. Case Study 3. Psychosocial Impact

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VIII

SUMÁRIO

Lista de abreviaturas, símbolos e siglas X

Lista de figuras XI

Lista de tabelas XII

Lista de Anexos XIII

INTRODUÇÃO 14

CAPÍTULO 1 – ASPECTOS DA ANATOMOFISIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DA PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA 19

1.1. Anatomia do Nervo Facial 19

1.2. Músculos Faciais 22

1.3. Degeneração e Regeneração Neural 23

1.4. Paralisia Facial Periférica 24

1.5. Reabilitação Funcional na Paralisia Facial Periférica: pesquisas

recentes 26

CAPÍTULO 2 – O ROSTO E SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E CONTEMPORÂNEA 29

CAPÍTULO 3 – PSICANÁLISE E SUAS CORRELAÇÕES COM A PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA 40

3.1. Corpo e psiquismo 40

3.2. Histeria e Doenças psicossomáticas : aspectos gerais 45

3.3. Aspectos psicológicos da PFP 53

CAPÍTULO 4 – ESTIGMA: ASPECTOS SOCIAIS DA PARALISIA FACIAL

PERIFÉRICA 55

CAPÍTULO 5 – ASPECTOS PSICOSSOCIAIS EM OUTRAS PATOLOGIAS E NA PFP 63

5.1. Aspectos psicossociais nas diversas patologias 63

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IX

5.2. Aspectos psicossociais na PFP 77

CAPÍTULO 6 - MÉTODO 81

6.1. Natureza da pesquisa 81

6.2. Casuística 81

6.3 Procedimento 82

6.4 Análise de resultados 85

6.5 Roteiro de avaliação 86

6.6 Ética 86

CAPÍTULO 7 - RESULTADOS 87

7.1. Caracterização da amostra 87

7.2. Conteúdos psíquicos 90

7.3. Efeitos sociais 94

CAPÍTULO 8 - DISCUSSÃO 97

8.1. Caracterização da amostra 97

8.2. Conteúdos psíquicos 98

8.3. Efeitos sociais 105

8.4. Estudo de Caso Clínico 111

CAPÍTULO 9 - ROTEIRO DE AVALIAÇÃO DE CONTEÚDOS PSÍQUICOS E EFEITOS SOCIAIS ASSOCIADOS À PFP 124

CONSIDERAÇÕES FINAIS 126

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 127

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 138

ANEXOS 139

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X

Lista de abreviaturas, símbolos e siglas

PFP Paralisia Facial Periférica

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

M. Músculo

mm Milímetros

RM Reabilitação Miofuncional

ACL Ângulo da Comissura Labial

GP Grupo Pesquisa

GC Grupo Controle

SBCP Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica

IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

ISAPS International Society of Aesthetic Plastic Surgery

C.I.D. 10 Classificação Internacional de Doenças

OMS Organização Mundial da Saúde

DSM Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

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XI

Lista de figuras

Figura 1- Desenho de Charles Le Brun – Expressions des passions de

l’Ame (1727) 31

Figura 2- Valores individuais e médios do Número de conteúdos psíquicos por paciente em cada categoria de Sexo, Faixa etária, Hemiface

e Fase 93

Figura 3- Valores individuais e médios do Número de efeitos sociais por paciente em cada categoria de Sexo, Faixa etária, Hemiface e Fase 96

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XII

Lista de tabelas Tabela 1- Estatísticas descritivas para a Idade (anos) 87

Tabela 2- Distribuição de frequências e porcentagens da Escolaridade 87

Tabela 3- Distribuição de frequências e porcentagens da Profissão 88

Tabela 4- Distribuição de frequências e porcentagens do Estado civil 88

Tabela 5- Distribuição de frequências e porcentagens da Fase da PFP 89

Tabela 6- Estatísticas descritivas para o Tempo de duração (meses) 89

Tabela 7- Frequências e porcentagens dos conteúdos psíquicos: geral 91

Tabela 8- Estatísticas descritivas para o Número de conteúdos psíquicos por paciente em cada categoria de Sexo, Faixa etária, Hemiface e Fase 92

Tabela 9- Frequências e porcentagens dos efeitos sociais: geral 95

Tabela 10- Estatísticas descritivas para o Número de efeitos sociais por paciente em cada categoria de Sexo, Faixa etária, Hemiface e Fase 95

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XIII

Lista de Anexos ANEXO 1 – Protocolo de Avaliação 139

ANEXO 2 – Aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Irmandade da

Santa Casa de Misericórdia de São Paulo 142

ANEXO 3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 143

3a. TCLE (Entrevistados) 143

3b. TCLE (Autorização para divulgação do diário) 145

ANEXO 4: Tabela 11- Caracterização no total da amostra 147

ANEXO 5: Tabela 12- Conteúdos Psíquicos no total da amostra 148

ANEXO 6: Tabela 13-Efeitos Sociais no total da amostra 149

ANEXO 7: Diário 150

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14

INTRODUÇÃO

“[…] emoção se revela um componente indissolúvel do que está vivendo”

(ÁVILA, 2004, p. 14)

O interesse em dar continuidade ao estudo de paralisia facial periférica

(PFP) surgiu dos resultados de pesquisa de Iniciação Científica1, realizada no -

curso de graduação em Fonoaudiologia da PUC-SP e concluída em 2008.

Naquele estudo foram discutidos três casos, de sujeitos da mesma

família e com diagnóstico inicial de PFP de natureza idiopática. Durante a

pesquisa, os mesmos foram submetidos a avaliação otorrinolaringológica e

investigação de possível causa genética, partindo-se da hipótese de ocorrência

da Síndrome de Melkersson-Rosenthal2; cujos resultados foram inconclusivos.

Nas entrevistas realizadas com esses sujeitos, a possibilidade de

recidiva do quadro de PFP e a não identificação de uma causa específica e

comprovada para a PFP foi ressaltada como algo frustrante e mobilizador de

ansiedade. A propósito, cabe citar Ávila (1996, p.36): “Na doença, o corpo

passa a demandar consideração, obrigando a mente a dirigir sua atenção para

suas funções, às vezes até de forma exclusiva”.

Também constatou-se que, principalmente nos dois sujeitos que ainda

apresentavam sequelas da PFP, as mesmas foram associadas a problemas de

relacionamento social, sobretudo em situações registradas por meio de fotos

e/ou que envolviam rituais de alimentação.

Nessa direção, os resultados da pesquisa citada revelaram que esses

sujeitos manifestaram conteúdos psíquicos e sociais importantes, associados a

essa condição orgânica particular. 1 SILVA, M. F. F.; BOÉCHAT, E. M.; LACERDA, E. T. Paralisia facial periférica: estudo de três casos de história familiar. Pesquisa de Iniciação Científica – PIBIC – CEPE, PUC-SP, 2008. 2 Síndrome com etiologia desconhecida, descrita em 1928 por Melkersson e a seguir por Rosenthal em 1931. O quadro completo caracteriza-se por PFP de instalação súbita e recidivante, acompanhada de edema na hemiface paralisada ou nos lábios. Observa-se língua plicata ou fissurada e recorrência de casos em membros da mesma família. A manifestação de todas as características do quadro é rara (DUTT e cols, 2000).

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15

A propósito destaca-se que a comunicação não-verbal, frequentemente,

é expressa pela face, tendo importante função subjetiva, pois os movimentos

faciais podem denotar vasta gama de sentimentos: alegria, surpresa,

ansiedade, tristeza, espanto, raiva, nojo, entre outros. Portanto, a face tem um

papel fundamental na mediação dos sentimentos (FOUQUET, 2000).

Segundo Courtine e Haroche (1988) a expressão é um elemento

essencial para o desenvolvimento do indivíduo ocidental, e para tal destacam a

importância do rosto. Ao mesmo tempo em que os traços e expressões faciais

estão envolvidos no processo comunicativo e de socialização, eles são

essenciais para a individualização, revelando a interioridade e os sentimentos

de cada sujeito.

Partindo dessas considerações, o aprofundamento nesse tema adquiriu

relevância, agora no curso de Mestrado com foco no caminho que os sujeitos

portadores de PFP percorreram desde o diagnóstico até a fase de instalação de

possíveis sequelas.

Em termos orgânicos, a PFP decorre da redução ou interrupção do

transporte axonal ao sétimo nervo craniano resultando em paralisia completa ou

parcial da mímica facial. Além disso, podem ocorrer alterações na gustação,

salivação e lacrimejamento, hiperacusia e hipoestesia no canal auditivo externo

(ADAMS, 1998; VALENÇA e cols., 1999; VASCONCELOS e cols., 2001).

Portanto, esse acometimento causa distúrbios funcionais e estéticos

importantes para o indivíduo (ZEMLIN, 2000).

Funcionalmente, também observam-se distúrbios na fala, mastigação,

deglutição, oclusão palpebral e audição, que tanto podem ser sutis como

graves, sendo que, em alguns casos, são irreversíveis (COLLI e cols., 1994).

Esteticamente, a desarmonia entre a mímica facial e a fala é constrangedora,

não só para os sujeitos acometidos como para aqueles que os cercam

(FOUQUET, 2000).

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O tempo de recuperação da PFP é indeterminado, podendo haver uma

regeneração total ou parcial dos movimentos faciais, dependendo do grau da

lesão do nervo facial, de suas diversas etiologias, da idade do paciente e de

como o caso foi conduzido pelos profissionais da saúde envolvidos

(IRINTCHEV e WERNIG, 1994).

Em sua fase inicial, quando há ausência de impulso neural, a PFP é

denominada como flácida, sendo observadas flacidez da musculatura facial em

repouso e hipofunção dos movimentos faciais, com incapacidade parcial ou

total para realizar movimentos mímicos e esfincterianos da face (FOUQUET,

SERRANO e ABBUD, 2006).

Com a regeneração do nervo facial há possibilidade de recuperação dos

movimentos faciais (GOFFI-GOMEZ e BERNARDES, 2006). Inicialmente, há

uma volta parcial dos movimentos, podendo evoluir progressivamente até a

recuperação total da movimentação e da mímica facial, sem a presença de

sequelas (FOUQUET, SERRANO e ABBUD, 2006).

Porém, quando essa regeneração é parcial, podem ser constatadas

sequelas, tais como: espasmo hemifacial pós-paralítico e/ou persistência do

déficit motor com contraturas musculares (VALENÇA, VALENÇA e LIMA, 2001).

As sincinesias também fazem parte das possíveis sequelas da PFP e

geram incômodos, pois distorcem os movimentos e as expressões faciais, além

de promover contraturas e comprometimento da simetria facial em repouso

(FREITAS e GOFFI-GÓMEZ, 2008). Outra característica das sequelas pode ser

o permanecimento da hipofunção da muscultaura facial afetada, típica da fase

flácida da PFP (VANSWEARINGEN e BRACH, 2003).

Neste contexto, gestos comuns como piscar, comer, falar e sorrir podem

implicar em um movimento de massa desconfortável, com drástica redução da

qualidade de vida do paciente que, percebendo esses movimentos anormais,

seguidos de desaprovação do seu interlocutor, tende a criar estratégias

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17

involuntárias para prevenir essas distorções, caracterizadas pela fixação da

face em uma aparência “congelada” (VANSWEARINGEN e BRACH, 2003).

A esse respeito, Diels e Combs (1997) afirmam que a deformidade facial

e os movimentos involuntários e indesejáveis, comuns após o estabelecimento

das sequelas, mais do que prejudicar a estética e a funcionalidade, podem

interferir significativamente na comunicação interpessoal. Tal condição limita a

expressividade do indivíduo, acarretando uma variedade de problemas

psicossociais, como depressão, ansiedade, rejeição e paranóia.

Nessas condições, constata-se a diminuição da qualidade de vida de

sujeitos com sequelas de PFP, que se consideram não efetivos na expressão

de emoções, e acabam evitando participar de eventos sociais (COULSON,

O’DWYER, ADAMS, CROXSON, 2004).

Na reabilitação dos casos de PFP, tradicionalmente, o fonoaudiólogo

desenvolve um trabalho focado no sistema estomatognático, a partir da

investigação dos prejuízos causados na musculatura facial pela lesão do nervo

facial. Nessa abordagem avalia as funções relacionadas a essa musculatura,

intervindo com o objetivo de promover a recuperação dos aspectos funcional e

estético. Contudo, é desejável que os aspectos psíquico e social associados a

esse quadro clínico não sejam negligenciados (GOFFI-GOMEZ e

BERNARDES, 2006).

Segundo as mesmas autoras, tanto as técnicas como os profissionais

envolvidos na reabilitação da PFP são diversos: fonoaudiólogos, mímicos,

fisioterapeutas, acupunturistas e terapeutas ocupacionais. E nessa diversidade

estabelecem-se conexões terapêuticas entre esses campos clínicos, as quais

devem objetivar tanto o restabelecimento da simetria facial, quanto o equilíbrio

psicossocial dos pacientes.

Sendo assim, além de considerar as peculiaridades dos casos de PFP –

adequando as abordagens e estratégias no trabalho miofuncional e atentando-

se à condição pessoal, de saúde e ao pontencial nervoso e muscular de cada

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paciente (GOFFI-GOMEZ e BERNARDES, 2006) – precisa, a meu ver,

considerar que reabilitar os movimentos faciais é condição fundamental para

que esse sujeito se recupere social e emocionalmente.

A propósito, Byrne (2004) salientou a importância da expressão facial

para os seres humanos em pesquisa sobre a reabilitação do nervo facial,

afirmando que esses movimentos expressivos são universais e essenciais

como meio de comunicação primária e, portanto, quando ocorre uma disfunção

nesse nervo, os sujeitos sofrem, podendo apresentar um quadro depressivo.

Também para Har-Shai e cols (2007) a PFP acarreta uma série de

prejuízos para as funções orofaciais mas, acima de tudo, priva o sujeito de

expressar suas emoções como imitar e sorrir, sendo a última considerada pelo

autor como a sequela mais grave.

Nessa direção, Byrne (2004) constatou sintomas depressivos em 65%

dos pacientes com PFP estudados, que de maneira geral manifestaram maior

tendência à depressão quando comparados com os que não apresentam PFP.

Feitas essas considerações observa-se, em síntese, que dificuldades em

usar a mímica facial, além das alterações na fala, causam sofrimento ao

indivíduo; provocando, muitas vezes, distúrbios físicos, psíquicos e sociais

associados (DEVRIESE, 1998).

A partir do exposto, esse trabalho foca-se na PFP sob o ponto de vista

dos sujeitos que sofrem com suas consequências e, nessa perspectiva,

pretende contribuir para a efetividade do método clínico fonoaudiológico.

Sendo assim, o objetivo geral foi investigar os conteúdos psíquicos e os

efeitos sociais associados à PFP em sujeitos adultos.

E o objetivo específico foi analisar, comparativamente, os conteúdos

psíquicos e os efeitos sociais em três grupos de sujeitos com PFP: nas fases

flácida, de recuperação e sequelar.

Os resultados obtidos foram utilizados para a elaboração de um roteiro

de avaliação fonoaudiológica desses aspectos.

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CAPÍTULO 1 – ASPECTOS DA ANATOMOFISIOLOGIA E

FISIOPATOLOGIA DA PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA

“[...] sempre acreditei que não existe separação entre o orgânico e o

funcional. A mente e personalidade são entidades tão eficientes quanto

o organismo”

(P. Schilder, 1923)

1.1. Anatomia do Nervo Facial Conhecer o trajeto anatômico do nervo facial é muito importante para a

localização de suas lesões e para a compreensão das consequências que elas

podem causar.

O nervo facial, também denominado com nervo intermédio-facial, é

frequentemente o mais afetado do corpo humano (FERNANDES e LAZARINI,

2006), porque esse nervo percorre um longo trajeto circular, atravessando a

região do ângulo pontocerebelar e dirigindo-se ao meato acústico interno, onde

penetra em um estreito canal ósseo, conhecido como canal de Falópio

(BENTO, 1998).

Segundo Brodal (1984), o nervo facial contém aproximadamente 10.000

fibras. Destas, 7.000 fibras mielinizadas inervam os músculos da expressão

facial, do músculo estapédio, dos músculos retroauriculares, o ventre posterior

do digástrico e o platisma. As outras 3.000 fibras constituem o nervo

intermediário, secretomotoras e sensitivas.

O nervo facial percorre um trajeto complexo, dividido em vários

segmentos, desde sua origem no córtex até sua chegada a musculatura facial.

Esses segmentos são supranuclear, nuclear e infranuclear (COLLI, e cols.,

1994) (FERNANDES e LAZARINI, 2006).

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O segmento supranuclear fica localizado na região lateral e inferior do

córtex cerebral motor, posicionado no giro pré-frontal do lobo frontal. Nesta

região os impulsos elétricos são responsáveis pela motricidade da musculatura

facial (MACHADO, 1986).

A geração de informações no córtex motor transita pelo trato

corticonuclear, juntamente com o trato corticoespinal, seguindo em direção ao

tronco cerebral. Estas fibras passam pelo joelho da cápsula interna, seguem

pelo pedúnculo cerebral médio e, ao chegar à porção média da ponte, as fibras

do trato corticonuclear se separam do trato corticoespinal e atingem o núcleo

facial. Uma parte do feixe de fibras corticonuclear cruza a linha média e se

dirige ao núcleo facial contralateral, enquanto a outra parte termina no núcleo

facial do mesmo lado (FERNANDES e LAZARINI, 2006).

As fibras responsáveis pelos músculos da porção superior da face (m.

frontal, m. corrugador do supercílio, m. orbicular dos olhos) são derivados tanto

do hemisfério cerebral ipsilateral como do contralateral. As fibras que inervam a

porção inferior da face (m. orbicular da boca, m. bucinador e m. platisma)

também recebem inervação de ambos os hemisférios, porém as fibras do

hemisfério contralateral são fisiológica e numericamente mais representativas

do que o hemisfério ipsilateral (FERNANDES e LAZARINI, 2006).

Estímulos relacionados com controle motor emocional, com a deglutição

e com os reflexos ligados a estímulos táteis, sonoros e visuais possuem outras

regiões cerebrais envolvidas, além do córtex motor (ZEMLIN, 1998).

As estruturas envolvidas, descritas por Fernandes e Lazarini (2006) são:

O núcleo sensitivo principal do trigêmio que envia fibras ao núcleo

facial e responde ao reflexo trigêmio-palpebral (fechamento palpebral após

estímulo doloroso na face ou globo ocular), trigêmio-facial (contração dos

músculos orbiculares das pálpebras após a percussão da região entre as

sobrancelhas) e córneo-palpebral (contração dos músculos orbiculares das

pálpebras após estímulos provocados na córnea).

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O núcleo espinal do trigêmio que levam informações da sensibilidade

cutânea do meato acústico interno, do pavilhão auricular e da membrana

timpânica.

O núcleo do trato solitário que recebe informações relacionadas aos

estímulos gustativos vindos do nervo corda do tímpano, caminhando pelo nervo

intermédio.

O corpo estriado e substância negra que recebem sinais do córtex

motor por vias extrapiramidais e modificam estes estímulos para que possam

ser executados de maneira harmônica e precisa.

O globo pálido que age no refinamento dos movimentos, o hipotálamo

que é uma estrutura constituída por diversos núcleos e tem a capacidade de

produzir modificações com relação ao estado emotivo e o tálamo responsável

por receber estímulos sensoriais de diversas regiões do corpo, integrando-as e

reenviando-as para outras estruturas cerebrais. “Estas estruturas parecem

desempenhar papel importante no controle motor relacionado com a

emotividade, programando e ativando músculos para que haja conformidade

com os sentimentos” (FERNANDES e LAZARINI, 2006, p. 3).

O núcleo rubro e formação reticular mesencefálica que estão

envolvidos com as vias de controle do sistema motor emocional, produzindo

contrações espontâneas na musculatura facial relacionada com a emotividade.

O colículo superior que desencadeia reflexos com a contração dos

músculos faciais, em especial o músculo orbicular dos olhos, durante a

exposição a estímulos luminosos.

O complexo olivar superior emergido na localização do som,

principalmente de baixa frequência, que desencadeia o reflexo de contração do

músculo do estribo diante de estímulos sonoros intensos.

O núcleo lacrimal e núcleo salivatório superior que envolvem a intensa

estimulação da glândula lacrimal ante estímulos táteis ou presença de corpos

estranhos nos olhos.

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Agora com relação ao segmento segmentar, este apresenta o núcleo

facial como o mais desenvolvido entre os núcleos motores do tronco cerebral,

sendo justificados no alto desempenho da flexibilidade da movimentação dos

músculos mímicos, permitindo movimentos delicados e precisos (FERNANDES

e LAZARINI, 2006).

O segmento infranuclear surge na porção ventrolateral do sulco

bulbopontino, na saída das raízes nervosas do VII par. A partir de sua

emergência do tronco cerebral é dividido anatomicamente em segmentos

pontino, meatal, labiríntico, timpânico, mastóideo e extracraniano (BRODAL,

1984).

1.2. Músculos Faciais

Uma das funções mais importantes dos músculos da face relaciona-se

com a expressão e mímica facial evidenciando ao outro emoções e

sentimentos, que dependem de uma movimentação harmônica e resulta na

simetria estética (MADEIRA, 1995).

Com relação as funções fisiológicas a musculatura facial promove

coberturas da cavidade oral, protegem os globos oculares e abrem e fecham a

cavidade oral e as pálpebras (DIELS e COMBS, 1997).

Conhecer a origem, inserção e principalmente a função dos músculos

faciais é extremamente importante na clínica fonoaudiológica.

Segundo Zemlin (2000), os músculos da face situam-se logo abaixo da

pele e constituem, no todo uma camada quase única. Os feixes de fibras de um

músculo são muitas vezes unidos aos de outro e nos locais de inserção é

comum estarem entrelaçados. Quando são bem desenvolvidos, o

entrelaçamento é maior.

Ainda segundo o autor, compõe o grupo de músculos mais delicados e

fracos do corpo. Nem mesmo fáscia possuem. Por se inserirem na pele ou cútis

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(e também na mucosa), são chamados de cuticulares (ZEMLIM, 2000). A

contração deles movimenta a área da pele à qual estão fixados, produzindo

depressões em forma de linha (de fossa também) perpendiculares à direção

das fibras dos músculos, que com o tempo se transformam em pregas ou rugas

conhecidas como linhas de Langer (RUBIN, 1974).

“A força relativa, o comprimento e a direção das fibras musculares desde

a sua origem até sua inserção variam de indivíduo para indivíduo. Músculos

envolvidos pela fascia superficial, que age como transmissora e mescla a

contração de variados músculos permitindo ampla gama de variações sutis nas

expressões humanas” (RUBIN, 1977, p. 3).

1.3. Degeneração e Regeneração Neural

Percorrendo por volta de 35 mm em trajeto ósseo, o nervo facial está

sujeito à ação de processos compressivos e infecciosos de natureza variada

que podem interromper seu influxo nervoso, levando ao bloqueio total de suas

funções (BENTO, 1998).

De acordo com Lazarini e cols. (2006), a agressão do nervo facial

desenvolve-se a partir de um processo de edema local, reação característica de

processos inflamatórios, ocorrendo um extravasamento de líquido rico em

proteínas no interior do endoneuro. “A presença destas proteínas aumenta a

resistência elétrica local e leva ao bloqueio na condução elétrica saltatória.”

(LAZARINI e cols., 2006, p. 27). A compressão do nervo facial e dos seus vasos

sanguíneos contra a parede do canal ósseo ocorre devido a intensificação do

edema, comprometendo a vascularização do nervo.

“O processo degenerativo, conhecido como degeneração walleriana,

inicia-se nas primeiras cinco horas, sendo evidente após doze horas e

progressivo por trinta e seis a quarenta e oito horas.” (LAZARINI e cols., 2006,

pp. 27 e 28).

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A transmissão sináptica é interrompida após a lesão, de forma que

quanto mais próxima for a lesão da sinapse, mais rapidamente a falência

sináptica instalará. (WONG e CRUMLEY, 1995).

O processo regenerativo inicia-se logo após a degeneração. Em

situações em que houve apenas edema no local lesado, há uma gradual

reabsorção deste líquido pelas bainhas de perineuro (LAZARINI e cols., 2006).

Cerca de 95% dos casos de PFP tem boa evolução, ocorrendo recuperação

total da mímica facial no período de 02 meses (BENTO, 1998).

Nos casos em que há um intenso desarranjo nas fibras axonais, os

segmentos proximais dos axônios podem seguir caminhos diferentes daqueles

que possuíam. Assim, durante a regeneração, os axônios podem atingir um

outro grupo de fibras musculares ou os gânglios responsáveis pela produção

lacrimal e salivar. Esta situação é chamada sincinesia e pode ativar fibras

musculares não relacionadas ao movimento desejado ou ainda, a produção

lacrimal e/ou salivar (LAZARINI e cols., 2006).

As sincinesias, descritas na literatura como as sequelas mais frequentes,

são caracterizadas pelo movimento involuntário que aparece em associação a

um movimento voluntário de grupos musculares independentes. Dentre os tipos

de sincinesia pode-se citar o fechamento involuntário dos olhos com o sorriso e

a sincinesia oral, que origina movimentação da região da boca acompanhada

de movimento voluntário de testa ou olhos (VANSWEARINGEN e BRACH,

1997).

1.4. Paralisia Facial Periférica

As lesões que acometem a função motora facial podem ocorrer desde

níveis mais superiores, no córtex cerebral, até as porções terminais, em contato

com a musculatura da mímica. Além da clássica divisão das paralisias faciais

em periféricas ou centrais, ainda podem classificá-las segundo a posição da

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lesão em relação ao núcleo facial, separando-as em supranucleares, nucleares

e infranucleares (BLAUSTEIN & GURWOOD, 1997).

A PFP é uma síndrome que representa a manifestação de muitas

enfermidades, com mais de 1000 causas conhecidas (MAY, 1986). Elas podem

ser divididas em congênitas, traumáticas, neurológicas, infecciosas,

metabólicas, neoplásicas, tóxicas, iatrogênicas e idiopáticas. Podem também

ser classificadas conforme a altura da lesão no nervo, em três grupos: central

ou intracraniana, intratemporal e extratemporal (BLAUSTEIN & GURWOOD,

1997).

O prognóstico da paralisia de Bell geralmente é bom, visto que 80 a 90%

dos pacientes se curam em um mês. Os outros 15% podem evoluir para

completa degeneração e, geralmente, não mostram sinais de recuperação entre

03 e 06 meses. Um longo período de tempo de recuperação, gera sequelas em

95% desses casos (PORTINHO, 2002).

Com relação à etiologia, diversos estudos demonstram que a Paralisia de

Bell ou idiopática é o diagnóstico mais frequente, atingindo mais da metade dos

casos (LAZARINI e ALMEIDA, 2006; PORTINHO, 2002).

Na pesquisa de Hyden e cols. (1993), a paralisia de Bell foi o diagnóstico

de 67% dos pacientes investigados, baseado na ausência de prova sorológica

para infecções, traumatismos, tumores e/ou herpes zoster. A propósito, Lunan e

Nagarajan (2008) afirmam que a Paralisia de Bell é um diagnóstico por

exclusão.

Porém, estudos recentes evidenciaram a positividade para o DNA viral

de herpes simplex 1 e 2 em 29% dos casos de PFP. Explicitando: quando esse

vírus fica latente no gânglio geniculado, possibilita a identificação do DNA viral

na saliva dos pacientes. Esse resultado foi estatisticamente significante se

comparado ao grupo que não apresentava o quadro de PFP, pois não houve

nenhum caso de positividade do DNA viral no último grupo (LAZARINI e cols.

2006).

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Quanto ao sexo, um estudo sobre a incidência de Paralisia de Bell

revelou o predomínio de casos no sexo feminino (66,7%). Quanto à faixa etária,

as mais acometidas foram, respectivamente, terceira, quarta e sexta décadas

de vida. E o acometimento do lado esquerdo foi ligeiramente superior (55,6%)

(VALENÇA e cols., 2001).

Destaca-se que a terapia miofuncional em pacientes com PFP ainda é

negligenciada por diversos sistemas de saúde, havendo assim, necessidade da

divulgação dos benefícios funcionais deste tratamento na qualidade de vida dos

sujeitos afetados (DIELS, 2000).

1.5. Reabilitação Funcional da Paralisia Facial Periférica: pesquisas recentes

O levantamento bibliográfico das publicações dos últimos anos relativos

à questão que concerne à presente pesquisa evidenciou que existem

publicações importantes de diversas áreas da saúde. Dentre elas destacam-se

três publicações:

Pesquisa desenvolvida na área de Fisioterapia destaca a importância da

avaliação do processo de evolução do quadro clínico de PFP (GARANHANI,

CAPELLI e RIBEIRO, 2007). O objetivo deste estudo foi descrever e analisar,

retrospectivamente, os resultados do tratamento por meio da cinesioterapia de

indivíduos com PFP, por meio do levantamento de dados clínicos de 23

prontuários, no período de janeiro de 1999 a junho de 2003.

Na casuística foi identificado o predomínio do sexo feminino (14 casos),

média de idade de 32,3 anos, paralisia facial unilateral (22) e envolvimento da

hemiface direita (12). Quanto à etiologia da PFP constatou-se: causa idiopática

(14), traumatismo (05), tumor (03) e quadro inflamatório (01).

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Este estudo demonstrou que 12 pacientes apresentaram melhora do

quadro inicial após tratamento com recursos de cinesioterapia, sugeridos pela

prática clínica e literatura científica.

Já o trabalho de Bernardes, Gomez, Pirana e Bento (2004), na área da

Fonoaudiologia, teve como objetivo delinear as contribuições dos exercícios

miofuncionais durante a fase flácida da PFP.

Para tal, foram analisados 147 prontuários de pacientes portadores de

PFP dividindo-os em 04 grupos, de acordo com a época do início da

reabilitação miofuncional (RM): no primeiro os que iniciaram a RM até 30 dias

da instalação da PFP, no segundo os que começaram a RM de 31 até 60 dias

após a instalação da PFP, no terceiro os pacientes que iniciaram a RM de 61

até 90 dias após a instalação da PFP e no quarto os que iniciaram a RM após

91 dias da instalação da PFP.

Os autores concluiram que a RM revelou-se mais eficaz na recuperação

do primeiro grupo de pacientes, que tiveram melhor resposta dos movimentos

mímicos faciais após a reinervação na PFP do que aqueles que iniciaram o

atendimento fonoaudiológico a partir de 30 dias após a instalação do quadro.

Em outra pesquisa na área da Fonoaudiologia de Tessitore e cols. (2009)

foi avaliado a efetividade do uso de um protocolo para a reabilitação orofacial

na PFP. O tonus muscular foi usado como marcador de resultados, sendo que a

modificação do tonus ao longo dos atendimentos foi aferida mediante o ângulo

da comissura labial (ACL).

Estudou-se 20 pacientes de ambos os sexos, na fase flácida da PFP de

grau IV, segundo a classificação House & Brackman (grupo pesquisa/GP). Os

atendimentos foram realizados uma vez por semana, durante um ano e, ao final

do processo, os resultados das medições de ACL foram comparados com as do

grupo controle (GC); composto por 09 pacientes já com sequelas da PFP

igualmente de grau IV.

Os resultados indicaram que o GP apresentou resultados mais

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significativos na medição do ACL em relação ao GC. Assim, os pesquisadores

sugerem que a criação de protocolos e marcadores de resultados clínicos,

validados cientificamente, deve subsidiar as práticas fonoaudiológicas com essa

população.

A bibliografia apresentada ilustra o predomínio de pesquisas focadas em

medidas quantitativas para avaliar a efetividade dos procedimentos clínicos

utilizados no atendimento dos portadores de PFP, com destaque para o período

do início da reabilitação e peculiaridades do quadro clínico.

Contudo, vale ressaltar a articulação de dois critérios importantes para a

avaliação desses processos terapêuticos: a regeneração neural não pode ser

descartada como fator que contribui para a recuperação, visto que 95% dos

casos de PFP tem bom prognóstico (BENTO, 1998). Porém, é inegável que a

reabilitação miofuncional promove o favorecimento/otimização dos resultados

físicos, o que contribui significativa e positivamente para os aspectos psíquicos

e sociais.

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CAPÍTULO 2 – O ROSTO E SUA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E

CONTEMPORÂNEA

“Nosso rosto será o nosso mais atraente enigma pessoal.”

(TRINTA, 1999, p. 120)

Esse capítulo tem o intuito de evidenciar a importância do rosto como

objeto de estudo da interioridade do ser humano. Nesse sentido, a abordagem

histórica e social evidencia o grande valor atribuído à face como marca

subjetiva, mas sobretudo salienta o caráter devastador que uma ineficiência

funcional da musculatura facial pode causar ao indivíduo.

Segundo Cureau de la Chambre (1659 apud COURTINE e HAROCHE,

1988), o rosto seduz mais sutilmente que as palavras. Assim, o autor afirma que

não é apenas a voz e a língua que servem ao propósito de interpretar o

pensamento do homem, mas também nele falam “a testa e os olhos” (CUREAU

DE LA CHAMBRE, 1659 apud COURTINE e HAROCHE, 1988).

Nesse sentido, Maluf-Souza (2009), em estudo sobre a história do rosto,

rememora que, entre os séculos XVI a XVIII, os manuais de retórica, as obras

de fisiognomonia, os livros de civismo e da arte da conversação apontam o

rosto como espaço da percepção de si. “Em todas essas obras o que se

anunciava era a certeza de que o rosto fala, ou seja, que o sujeito exprime-se

pelo rosto” (MALUF-SOUZA, 2009, p. 1).

Fisiognomonia, palavra orignária do grego (physis = “natureza” e

gnomon = “conhecer”), é uma arte que permite a dedução de características

subjetivas do indivíduo por meio da observação criteriosa dos traços

fisionômicos (TRINTA, 1999). Como já dito anteriormente, o rosto denota uma

comunicação não-verbal (FOUQUET, 2000) pois, devido a sua maleabilidade

muscular, é possível deduzir os sentimentos de um indivíduo somente se

atentando às feições do rosto (MALUF-SOUZA, 2009).

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Por isso, a fisiognomonia, campo de estudo aperfeiçoado por Johann

Kaspar Lavater no século XVIII (TRINTA, 1999), era uma ciência que buscava

conhecer o caráter das pessoas por meio do semblante e traços fisionômicos. E

propunha que a partir da análise das relações entre os movimentos aparentes

do rosto poderia-se deduzir os pensamentos do sujeito (MALUF-SOUZA, 2009).

Nessa direção, surge a famosa expressão de Cícero De Oratore “o rosto é a

expressão da alma” (TRINTA, 1999).

Assim, a fisiognomonia sugeria uma interpretação judicial ao rosto,

afirmando que ele revela o caráter (bom ou ruim) de um indivíduo (MALUF-

SOUZA, 2009).

Na Idade Média, também com essa intenção judicial, a metoposcopia

propunha-se como forma de ler a alma materializada no rosto, a partir do

argumento de que os planetas imprimiam as marcas do destino de cada homem

em sua face, cabendo à metoposcopia decifrar essa escrita poderosa, ligada a

Deus, aos astros ou a natureza. (MALUF-SOUZA, 2009).

Voltando ao estudo da fisiognomonia, ela também foi utilizada por

Aristóteles para designar o que definiu como uma “arte prática”, que permitia a

dedução de caracteres espirituais dos indivíduos por meio da observação

criteriosa dos traços evidentes de suas fisionomias (TRINTA, 1999).

No Renascimento, Leonardo da Vinci estudou a fisiognomonia com o

intuito de descobrir se, por meio dela, poderia desvendar os mistérios mais

íntimos do homem (TRINTA, 1999).

Outra área que se pautou no estudo da fisiognomonia no século XVIII foi

a Medicina, considerada “como determinante, no corpo, das paixões da alma”

(MALUF-SOUZA, 2009, p. 6).

Os desenhos do pintor francês Charles Le Brun, ilustram essas “paixões

da alma” expressas pela fisionomia:

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Um temperamento quente, por exemplo, torna a alma audaciosa e

violenta e um frio a torna medrosa e pusilânime. A alma pode, então,

modificar o corpo, pois o rosto é efeito das paixões que o espírito

suscita, desenhando-lhe os traços, moldando-lhe a forma (LE BRUN,

1727 apud MALUF-SOUZA, 2009, p. 6).

Figura 1: Desenho de Charles Le Brun – Expressions des passions de l’Ame (1727) (Extraído da comunicação de MALUF-SOUZA, 2009)

Em síntese, a fisiognomonia se define, então, como a “ciência das

paixões naturais da alma e dos acidentes do corpo” (COCLÈS, 1.504 apud

COURTINE e HAROCHE, 1988).

Assim, considerando-se que “o rosto é a expressão da alma”, o indivíduo

então:

[...] é visto por uma dualidade que o toma como visível e invisível, como

interior e exterior. Mas, existe um laço entre sua interioridade oculta e

sua exterioridade manifesta, ou seja, os movimentos das paixões, que

habitam o interior do homem, se revelam na superfície de seu corpo.

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Dessa forma, a fisiognomonia faz uma relação entre a alma e o corpo,

entre o superficial e o profundo, o oculto e o manifesto, o moral e o

físico, o conteúdo e o contido, a paixão e a carne, a causa e o efeito. Ou

seja, o homem possui duas faces: uma visível e outra que escapa ao

olhar, e é da última que se ocupa a fisiognomonia (MALUF-SOUZA,

2009, p. 7).

Nessa perspectiva, as técnicas de decifração da aparência humana

defendiam que ela podia revelar as intenções de cada sujeito, incluindo os seus

defeitos e qualidades. Assim, as partes do rosto, como olho, boca, nariz, por

exemplo, serviam “[...] como uma espécie de mapa daquilo que hoje chamamos

de subjetividade” (SANT’ANNA, 2004, p. 114).

Em paralelo aos estudos da fisiognomonia, a descrição do rosto nas

obras de Gustave Flaubert, escritor francês e importante representante do

romance realista, assinalava que o rosto era o “reflexo da alma” (TRINTA, 1999,

p. 117), revelando ao leitor a situação social e moral de um personagem, assim

como sua maior ou menor complexidade psíquica (TRINTA, 1999).

Voltando ao contexto histórico do rosto, também no século XVIII, surge a

chamada “sociedade da máscara”, onde a vantagem política e o poder eram

adquiridos a partir do que o sujeito aparentava ser, e não pelo que era

realmente. (COURTINE e HAROCHE, 1988).

Maquiavel há séculos atrás havia previnido a sociedade de que: “Toda a

gente vê bem o que pareces, mas bem poucos têm o sentimento do que tu és”

(MACHIAVEL, 1516 apud COURTINE e HAROCHE, 1988).

Fazendo uma crítica a essa civilização, Rosseau afirmou que a origem

do mal vem do olhar (ROSSEAU, 1750 apud COURTINE e HAROCHE, 1988).

Foi dessa maneira que o rosto perdeu-se, ficando condensado sob

máscara por meio do olhar público (COURTINE e HAROCHE, 1988). “As

aparências tornaram-se opacas, as virtudes enganosas; as qualidades

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desvaneceram-se e os vícios dissimularam-se. Cada indivíduo se tornou outro,

estranho a si mesmo” (COURTINE e HAROCHE, 1988, p. 195).

A denúncia de Rosseau de que a sociedade da corte era dominada pela

máscara teve consequências consideráveis quanto à formação do sentimento e

da consciência do eu do indivíduo moderno, aquele que demonstra seus

sentimentos íntimos de maneira autêntica e sincera (COURTINE e HAROCHE,

1988).

No século XIX há o estabelecimento de novas proximidades do eu, feitas

de escuta do homem singular e sensível. Ao mesmo tempo porém, o homem

afastou-se de si mesmo quando passou a controlar seus sentimentos reais.

Bichat (1801 apud COURTINE e HAROCHE, 1988) complementa que o

indivíduo sente e experimenta essa separação sob a forma de “conflito entre os

movimentos “simpáticos” e os movimentos “voluntários”, uma luta das vísceras

e do cérebro, um corpo a corpo entre paixões e vontade” (COURTINE e

HAROCHE, 1988, p. 219).

Há pois dois pólos essenciais na expressividade individual, dois limites

expressivos no espaço dos quais as representações e as práticas do

rosto adquirem todo o seu sentido. Por um lado, o de uma

expressividade súbita, brutal, incontrolada, quando o rosto manifesta

que o indivíduo está fora de si mesmo; por outro, o da impassibilidade

de um rosto impenetrável. Trata-se evidentemente de duas

possibilidades extremas que se podem encarnar em figuras opostas: as

da paixão, do arrebatamento, da privação da posse do eu, da

“perturbação” de que falava Courtin; e, pelo contrário, as da temperança,

da moderação, do comedimento e da posse do eu (COURTINE e

HAROCHE, 1988, p. 226).

Nestas figuras opostas há uma necessidade psíquica que subentende as

possibilidades expressivas. Assim, a história do rosto contribui para pensar a

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historicidade de estruturas fundamentais da personalidade moderna, como a

histeria e a obsessão (COURTINE e HAROCHE, 1988).

Passando para a atualidade, o recente trabalho do fotógrafo e videasta

Arthur Omar, na obra Antropologia da face gloriosa, se empenha em captar

“momentos de êxtase” indicativos de “uma ordem de existência” nas

celebrações de Carnaval. “Tirar um retrato equivale a extrair um rosto. Um

retrato é um “retraçado” da fisionomia, sua fixação numa pose ou sua fugidia

mobilidade num instantâneo. (…) São faces gloriosas, movendo-se, em transe e

êxtase, entre o entusiasmo e o recolhimento, a comoção e o delírio, a verdade e

a mentira, o sagrado e o profano. A arte trans-figura rostos maquiados”

(TRINTA, 1999, p. 118).

No campo da cosmética, constata-se um aumento significativo na oferta

de produtos que garantem o rejuvenescimento facial, por meio do apagamento

de traços que acompanhavam o indivíduo durante anos (TRINTA, 1999). As

exigências contemporâneas de rostos cada vez mais harmônicos e

esteticamente padronizados, promove a intensificação das cirurgias plásticas

faciais, visando um ideal de beleza (TRINTA, 1999).

Vale ressaltar que essa exigência de adequações estéticas é muito maior

em relação ao rosto feminino, pois o rosto masculino, sempre mais “forte” ou

mais “incisivo” em seu modo próprio de comunicar, é menos “sorridente”,

“luminoso” ou “sedutor”, denotando menor expressividade facial (TRINTA, 1999,

p. 118).

Com relação aos procedimentos cirúrgicos estéticos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)3, nos últimos cinco anos cresceu de 5% para 30% o número de homens que buscam cirurgias plásticas. E pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

3 Extraído do site: http://www2.cirurgiaplastica.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=248:busca-por-cirurgias-plasticas-cresce-30-nos-ultimos-anos&catid=42:ultimas-noticias&Itemid=87 (Acessado em 30/09/2010)

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(IBOPE) aponta que das 650 mil cirurgias feitas no ano de 2009, 119 mil foram em homens.

"O mundo competitivo, a mídia impondo padrões e a busca da

autoestima são os principais fatores que fazem homens realizarem cirurgias",

disse o presidente da (SBCP) Sebastião Nelson Edy Guerra (2010).

Outra pesquisa, encomendada pela International Society of Aesthetic

Plastic Surgery (ISAPS)4, indica que o número de procedimentos não cirúrgicos

estéticos aumentou em relação aos procedimentos cirúrgicos estéticos no ano

de 2009, devido as inovações na cosmética e a busca de tratamento menos

onerosos.

Os principais procedimentos não cirúrgicos estéticos são: injeções de

neuromoduladores e toxinas (Botox, Dysport) (32,7%), injeções de ácido

hialurônico (20,1%), remoção de pelos com a utilização de raios laser (13,1%),

injeções de gordura autóloga; isto é, retirada da gordura de uma parte do corpo

do paciente e transferência para outra parte do corpo do mesmo paciente

(5,9%) e tratamento de luz pulsada intensa (4,4%).

A porcentagem ainda é mais significativa em pesquisa da SBCP

encomendada pelo Instituto de Pesquisa DATAFOLHA. O objetivo foi

caracterizar por meio de análise estatística a situação de procedimentos

cirúrgicos estéticos, procedimentos cirúrgicos reparadores e procedimentos não

cirúrgicos estéticos realizados no Brasil, do segundo semestre de 2007 ao de

2008.

Os resultados mostraram que os procedimentos cirúrgicos estéticos são

utilizados em 73% dos casos, enquanto que os procedimentos cirúrgicos

reparadores atingem 27%. Portanto, a média de procedimentos cirúrgicos

estéticos realizados é quase três vezes maior (132 por ano) em relação às

cirurgias reparadoras (58 por ano).

Com relação ao quadro comparativo dos procedimentos cirúrgicos

4 Extraído do site: www.isaps.org (Acessado em 24/09/2010)

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estéticos e procedimentos não cirúrgicos estéticos, chegou-se a um resultado

diferente da pesquisa do ISAPS referida acima. Na pesquisa da SBCP a

maioria dos procedimentos é de caráter cirúrgico (86%) e os procedimentos não

cirúrgicos estéticos atingem 14%, sendo que os mais realizados foram o

preenchimento (92%) e a aplicação de toxina botulínica (91%).

Nesse contexto, é importante ressaltar que o Brasil está entre os cinco

primeiros países que mais realizam procedimentos estéticos cirúrgicos e não

cirúrgicos no mundo (ISAPS, 2009).

Reportagem realizada pelo Correio do Estado (Campo Grande/MS)5

evidenciou que os brasileiros estão entre os sujeitos mais vaidosos do mundo, o

que se deve pelo fato de se tratar de um país tropical, onde ocorre maior

exposição do corpo, com primazia da valorização da estética corporal.

No artigo de Poli Neto e Caponi (2007), o objetivo foi analisar o discurso

médico em estudos publicados nas principais revistas de cirurgia plástica

estética e relacioná-lo à idéia de medicalização, no sentido de incorporação de

um novo tema pela racionalidade biomédica, que significa a organização de

uma nova nosologia médica, a criação de padrões de normalidade e a

legitimação da intervenção médica terapêutica.

Os pesquisadores encontraram uma mesma lógica nos artigos

públicados: a denoninada “patologia da beleza”. Nos artigos pesquisados as

alterações anatômicas que surgem ao longo do tempo e do envelhecimento

facial, aparecem como estruturas responsáveis pela aparência externa

indesejável e a base da beleza facial é simetria, equilíbrio e proporção.

Afirmação que exemplifica essa denominação é encontrada na

publicação de Dayan e Clark (2004) destacada pelos autores:

Parece que determinadas características faciais, como simetria,

juventude, e averageness, são universalmente aceitas como favoráveis.

5 Extraído do site: http://www2.cirurgiaplastica.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=93:brasileiras-estao-entre-as-mais-vaidosas-do-mundo&catid=42:ultimas-noticias&Itemid=87 (Acessado em 30/09/2010)

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Biólogos evolucionários argumentam que determinadas características

faciais são sinais físicos que indicam saúde e adaptação, que leva a

uma vantagem seletiva para encontrar parceiros e na propagação da

espécie. Indivíduos com essas características (...) provavelmente

manejam as forças da seleção natural mais favoravelmente. Biólogos

evolucionários também apontam modelos animais para demonstrar que

simetria e características medianas são comumente encontradas nas

espécies melhor adaptadas (DAYAN e CLARK, 2004, p. 304).

No exemplo acima, trata-se de justificar uma “medicina da beleza” com

base em uma necessidade essencial ou natural: a de que há características nos

seres humanos que são valorizadas em todas as culturas, e que seriam uma

herança da luta pela sobrevivência e pela reprodução. Porém, normas sociais

de beleza, ou seja, a influência ou a determinação da cultura na valorização da

aparência física, raramente, são abordadas nesses artigos (POLI NETO e

CAPONI, 2007).

Da mesma forma, alguns artigos trazem os resultados de satisfação ou

de benefícios daqueles que se submeteram às intervenções sem levar em

conta essas normas sociais, como se os resultados não dependessem de uma

necessidade previamente criada, muitas vezes pela própria tecnicização. Como

apontaram Dayan e Clark (2004):

As primeiras impressões estão muito baseadas nas características

faciais, e a psicologia tem nos ensinado que um indivíduo mais atraente

tem mais chance de receber um melhor julgamento e tratamento. Nós

apresentamos evidências de que aqueles que se submetem à cirurgia

plástica facial melhoram sua primeira impressão com base somente na

sua aparência fotográfica (DAYAN e CLARK, 2004, p. 306).

Segundo Poli Neto e Caponi (2007) o sofrimento que resulta do processo

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de envelhecimento é inevitável, em algum grau, com as assimetrias e o

escurecimento da pele que ocorrem com o passar dos anos. Dessa forma,

quando se leva em conta as normas sociais que influenciam ou determinam

padrões de beleza e se experiencia a diferença entre um ideal de beleza e a

imagem do próprio corpo, pode ocorrer a gênese da baixa autoestima, do mal-

estar e do sofrimento psíquico (POLI NETO e CAPONI, 2007). Vale ressaltar

que esse aspecto está particularmente associado ao acometimento pela PFP.

Especificamente em relação a normas de beleza, Costa (2004) detaca

que a imagem corporal substituiu os sentimentos. Sendo assim, para um sujeito

que supervaloriza a aparência a sensação de defeito corporal leva ao

sofrimento psíquico. Diz ele:

Hoje, é na “exterioridade” do corpo, no semblante da esfera corporal

egóica, que o abjeto e o refratário ameaçam irromper. É neste novo

lugar, o lugar das rugas; manchas; estrias; flacidez; barrigas; obesidade;

textura indesejável da pele, tensão muscular; conformação óssea

viciosa; “pneus”; pelos e cabelos a mais ou a menos etc., que o abjeto e

o recalcitrante são exaustiva e implacavelmente vigiados,

esquadrinhados e temidos de maneira fóbica, obsessiva, histérica ou

persecutória (COSTA, 2004, p.78-79).

Nesse sentido, os pesquisadores chegam à conclusão de que a

hipervalorização da beleza reforça a relação entre felicidade/satisfação e um

corpo belo, porém o que a “medicina da beleza” não explica é por qual motivo

as pessoas buscam a felicidade por meio do corpo. Os autores acreditam então

que, as normas ditadas pela sociedade – principalmente pelos veículos de

massa – são as responsáveis por essa incessante busca pela beleza. (POLI

NETO e CAPONI, 2007).

Assim, no cenário contemporâneo de verdadeiro culto às aparências,

vale refletir sobre como é visto e como se sente o sujeito acometido pela PFP,

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admitindo-se que as linhas do rosto são tomadas como signos e, portanto, a

fisionomia humana constitui-se numa espécie de escrita da personalidade do

indivíduo (TRINTA, 1999).

Nas palavras do autor:

Traços facilmente observáveis de uma fisionomia sublinham a diferença,

dão contornos precisos à identidade, circunscrevem com rigor uma

particularidade. Em seu conjunto, acentuam a presença formal da

pessoa, imprimindo a personalidade no rosto, quer ela provenha do

caráter adquirido, quer da experiência social suposta. O envoltório do

corpo, pela superfície privilegiada que o rosto constitui, tornaria

disponível à visão exterior a conformação da mente, as predisposições

do caráter e a vida do espírito (TRINTA, 1999, p. 120).

Considerando essa interpretação subjetiva endereçada ao rosto,

destaca-se o impacto psicossocial causado pela PFP, que inibe de maneira

drástica a expressão facial e em consequência disso, impossibilita que o sujeito

expresse seus sentimentos por meio da face de maneira efetiva.

Em síntese, podemos observar que, ao longo da história, onde antes

havia a proposta de caracterizar-se a personalidade do indivíduo por meio de

suas diferenças de traços e formas, agora há a idealização de um tipo facial

com perfeição estética. E tal ideal, inacessível nos casos de PFP, implica em

consequências psíquicas e sociais desfavoráveis para esses sujeitos.

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CAPÍTULO 3 – PSICANÁLISE E SUAS CORRELAÇÕES COM A

PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA

E a causa interna foi completamente esquecida! Por quê?

Porque é muito desagradável olhar para dentro de si mesmo – e

é apenas em si mesmo, […] que encontramos as poucas

fagulhas que iluminam as trevas da causa interna, a disposição.

(G. Groddeck, 1923)

Inicialmente, é necessário explicitar que não se trata de sugerir uma

etiologia psíquica para a PFP, mas de articular as manifestações clínicas do

quadro com conteúdos relativos à subjetividade dos indivíduos; considerando-

se a importância do rosto humano como mediador de emoções.

3.1. Corpo e psiquismo

Damásio (1996) defende que razão e emoções encontram-se “enredados

nas suas teias”, havendo sobredeterminações em que ambos se afetam. O

pensamento do autor se opõe o cógito cartesiano, no qual acredita-se que há

regiões no cérebro não acessíveis às emoções, perspectiva reducionista e

dualista assumida por alguns setores na área das ciências da saúde (ÁVILA,

2004).

Para Descartes (apud Ávila, 2004), o corpo humano obedece às leis

físicas do movimento e seria regido por forças passíveis de serem expressas

por meio de fórmulas matemáticas. De seu sistema filosófico nasceu a tradição

fisicalista e mecanicista que orienta a medicina até os tempos atuais. Embora o

filósofo predissesse um local orgânico onde se daria a passagem e a interação

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dos fenômenos físicos e mentais, situado na glândula pineal, suas concepções

instauraram um abismo entre a materia física e os aspectos mentais.

Além disso, as ordens de nível neurológico mais baixo da razão fazem

parte do mesmo circuito que assegura o seu nível mais alto, fazendo com que

mantenham relações diretas e mútuas com praticamente todos os órgãos do

corpo, e que também se encontrem com os processos de emoções e

sentimentos. Assim, esses processos constituem uma cadeia de operações que

dá origem aos desempenhos de mais alto nível da razão (a tomada de decisão)

e, por extensão, do comportamento social e da capacidade criadora do sujeito.

Portanto, “todos esses aspectos, emoção, sentimento e regulação biológica,

desempenham um papel na razão humana” (DAMÁSIO, 1996, p. 15).

Nas palavras do autor:

Nessa perspectiva, emoções e sentimentos são os sensores para o

encontro, ou falta dele, entre a natureza e as circunstâncias. E por

natureza refiro-me tanto à natureza que herdamos enquanto conjunto de

adaptações geneticamente estabelecidas, como à natureza que

adquirimos por via do desenvolvimento individual através de interações

com o nosso ambiente social, quer de forma consciente e voluntária,

quer de forma incosciente e involuntária. Os sentimentos, juntamente

com as emoções que os originam, não são um luxo. Servem de guias

internos e ajudam-nos a comunicar aos outros sinais que também os

podem guiar. E os sentimentos não são nem intangíveis nem ilusórios.

Ao contrário da opinião científica tradicional, são precisamente tão

cognitivos como qualquer outra percepção. São o resultado de uma

curiosa organização fisiológica que transformou o cérebro no público

cativo das atividades teatrais do corpo (DAMÁSIO, 1996, p. 15).

Com os sentimentos há a possibilidade de se entrever os estados do

corpo em sua agitação biológica, vislumbrar alguns mecanismos da própria vida

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no desempenho das suas tarefas. A partir desse funcionamento é possível

haver sofrimento ou felicidade, desejo ou misericórdia, trajédia ou glória na

condição humana. Então, o organismo é utilizado como referência de base para

as interpretações que o ser humano faz do mundo e para a construção do

sentido de subjetividade, que é permanente e essencial para o acúmulo de

experiências. (DAMÁSIO, 1996).

Ou seja, “de acordo com essa perspectiva, os nossos mais refinados

pensamentos e as nossas melhores ações, as nossas maiores alegrias e as

nossas mais profundas mágoas usam o corpo como instrumento de aferição”

(DAMÁSIO, 1996, p. 17).

Nesse contexto, e para introduzir os conceitos psicanalíticos, foi

necessário resgatar os conceitos de imagem corporal e esquema corporal de

Francoise Dolto (2002), importantes para este trabalho.

Para iniciar, a imagem do corpo é a “síntese viva” (DOLTO, 2002, p. 14)

das experiências emocionais do ser humano: “inter-humanas, repetitivamente

vividas através das sensações erógenas, arcaicas ou atuais. Ela pode ser

considerada como a encarnação simbólica inconsciente do sujeito desejante e,

isto, antes mesmo que o indivíduo em questão seja capaz de designar-se a si

mesmo pelo pronome pessoal Eu e saiba dizer Eu” (DOLTO, 2002, p. 14).

Partindo dessa concepção, deve-se entender que o sujeito do inconsciente é

desejante em relação ao corpo desde a concepção. A imagem do corpo é, a

cada momento, memória inconsciente de todo o relacionamento vivido e

experenciado “e, ao mesmo tempo, ela é atual, viva, em situação dinâmica e,

simultaneamente, narcísica e inter-relacional” (DOLTO, 2002, p. 15).

Já o esquema corporal é a abstração de uma vivência do corpo nas três

dimensões da realidade (inconsciente, pré consciente e consciente),

estruturando-se pela aprendizagem e pela experiência (DOLTO, 2002).

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A estruturação da imagem corporal se dá pela comunicação entre

sujeitos e o vestígio, no dia a dia, memorizado do gozar frustrado, reprimido ou

proibido. (DOLTO, 2002).

Então, o esquema corporal reporta o corpo atual no espaço à experiência

imediata, podendo ser independente da linguagem entendida como história

relacional do sujeito com os outros, evoluindo no tempo e no espaço. Por sua

vez, a imagem corporal refere-se exclusivamente ao imaginário, marcado no ser

humano pela dimensão simbólica (DOLTO, 2002). Isto é:

A imagem do corpo reporta o sujeito do desejo a seu gozar, mediatizado

pela linguagem memorizada da comunicação entre sujeitos. Ela pode

tornar-se independente do esquema corporal. Ela se articula com ele

pelo narcisismo, originado na carnalização do sujeito na concepção. A

imagem do corpo é sempre inconsciente sendo constituída pela

articulação dinâmica de uma imagem de base, de uma imagem

funcional e de uma imagem das zonas erógenas onde se expressa a

tensão das pulsões (DOLTO, 2002, pp. 15 e 16).

O esquema corporal especifica o indivíduo enquanto representante da

espécie, sendo o intérprete ativo ou passivo da imagem corporal, no sentido de

que permite a objetivação de uma intersubjetividade. A imagem corporal

permite então, a comunicação com o outro: “todo o contato com o outro, quer o

contato seja de comunicação ou para evitá-la, é subentendido pela imagem do

corpo; pois é na imagem do corpo, suporte do narcisismo, que o tempo se cruza

com o espaço, e que o passado inconsciente ressoa na relação presente”

(DOLTO, 2002, p. 15).

Utilizando-se de outro referencial teórico, Chebabi (1999) buscou

sintetizar e atualizar as concepções do corpo na Psicanáise, agregando a idéia,

proposta por Sartre, de que o corpo tem três maneiras de ser vivido: “1) com a

minha existência e nela o corpo é o transcendido, estou sempre sendo além

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dele, embora ele possa obstaculizar-me pela sua precariedade; 2) como objeto

da percepção do outro que é um sujeito e finalmente 3) como eu me concebo a

partir do que o outro conhece ao ter meu corpo como objeto do seu

conhecimento” (CHEBABI, 1999, p. 78 e 79).

Pensando no corpo simbolicamente marcado por registros, o autor

destaca que não há possibilidade de estabelecer-se uma dualidade entre “meu

corpo” e “minha subjetividade”, já que quando um ponto (mesmo que mínimo)

da área corporal está lesado o psiquismo também é afetado. E recorre ao

seguinte exemplo para sustentar seu argumento: “Quando a mãe ao lado do

seu filho acamado acaricia-lhe o braço, não é sua superfície que é tocada, mas

seu ser em si mesmo. O contato da mão com o braço da criança é o contato de

dois seres humanos. Os movimentos executados pelo corpo são meus

movimentos” (CHEBABI, 1999, p. 79).

Por isso o corpo em que é inserido o mistério:

é justamento o corpo que alberga fantasmas. O acesso ao outro como

parceiro íntimo só se dá pelo desvelamento das fantasias que acendem

os diversos segmentos corporais e seus gestos. E as fantasias se

constituiram e se acionam pela palavra. Não há palavra que não seja

corporal, pois o corpo humano é animado pelo sentido. A questão

fundamental no acesso ao corpo e às suas manifestações reside tanto

no amor quanto nas diversas tentativas terapêuticas, na utilização da via

da palavra ou do toque e manipulação físicas e esses acessos afetam

profundamente o funcionamento do corpo. E o uso do contato físico,

mesmo em silêncio, não exclui o verbal pois todo gesto está prenhe de

significações (CHEBABI, 1999, pp. 82 e 83).

Até o momento o corpo, a linguagem e o psiquismo foram tomados em

seus funcionamentos normais. A seguir, será destacado o corpo doente e suas

articulações com o psiquismo.

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3.2. Histeria e Doenças psicossomáticas: aspectos gerais

No século VI a. C., os filósofos pré-socráticos já buscavam um princípio

que explicasse a unidade da natureza, tentando situar o corpo e suas doenças

na trama de forças do Universo. Mais do que novos modos de tratar as

doenças, eles lançaram as bases de uma nova forma de compreendê-las,

considerando-as como fenômenos naturais (VOLICH, 2010).

Hipócrates considerava o homem como uma unidade organizada,

passível de desorganizar-se e, essa desorganização propiciaria a emergência

de uma doença. Destacava assim, a importância da dimensão histórica que

coloca em perspectiva o passado, o presente e o futuro do doente,

concentrando sua atenção na singularidade dos casos, dos lugares e dos

tempos. Hipócrates ainda afirmava ser possível induzir categorias, mais ou

menos gerais, mas nunca universais, na compreensão do sofrimento do

paciente e aliava uma visão humanista ao rigor do procedimento científico

(VOLICH, 2010).

Então, para se compreender o sofrimento do paciente, no sentido amplo,

todos os indícios relativos ao seu modo de vida, suas relações familiares,

conjugais, profissionais, com o passado e as expectativas quanto ao futuro, nos

ajudam a elucidar o processo patológico e contribuem para o tratamento das

manifestações orgânicas. As emoções, o pensamento, as atitudes corporais, a

vida psíquica em geral e os sonhos são elementos preciosos desse processo

(VOLICH, 2010).

Segundo o mesmo autor, o processo de sofrimento enfraquece as

funções psíquicas e físicas do homem. E exemplifica: angústia e/ou tristeza

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podem levar a perda do apetite e, se este estado persiste, a pessoa pode

adoecer.

A propósito: “[…] o “corpo” que a psicanálise descreve quando estuda os

sintomas “funcionais” ou conversivos é um corpo trabalhado, cujas

manifestações não podem mais ser reduzidas às ações físicas e químicas do

ambiente ou do organismo, mas que deve ser entendido como um corpo

pulsional. Transtornos aparentemente somáticos só podem ser compreendidos

em sua relação com um corpo que é erogenizado, não apenas em

determinadas zonas, mas em seu todo” (ÁVILA, 1996, p. 76).

A histeria se caracteriza por comportamentos que tinham,

inconscientemente, o objetivo de manipular o outro. Então, o que entra em jogo

é o andamento das relações afetivas com os outros (DOLTO, 2002).

As pertubações psicossomáticas, por sua vez, são alterações funcionais

no corpo, mas que não são devidas a causas orgâncias: “[…] não há infecção,

não há perturbações neurológicas, e, no entanto, o indivíduo tem sua saúde

desregrada, ele sofre. Seu corpo está doente, mas a origem de seu

desregramento funcional fisiológico é uma desordem inconscientemente

psicológica” (DOLTO, 2002, p. 295).

Nesses dois casos, para a autora, o indivíduo se encontra perturbado em

sua atividade psicossocial.

Na histeria é importante complementar que:

Uma paralisia histérica incomoda ou faz sofrer o indivíduo, incosciente

do fato de que foi ele mesmo que a provocou; seu objetivo inconsciente

era o de manipular um outro por quem ele se sente frustrado, mas,

finalmente, ele se torna prisioneiro de um dizer em seu corpo, o qual ele

acredita ser atacado por um agente externo, microbiano, por exemplo,

ou por um acidente devido à sua falta de jeito, que o impede de se

mexer. Ele se sente vítima de uma causa que lhe é estranha, enquanto

que de fato, sem o saber, é ele que se autovitima, em função de um

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objetivo inconsciente, que é o de agir sobre seu meio ambiente ou de se

impedir, a ele próprio, de agir (DOLTO, 2002, p. 296).

Enquanto que no caso da psicossomática, há um entravamento de luta

incosciente, a ser decodificada entre as instâncias da psique, em contradição

com o próprio interior do indivíduo; há um outro que ele deseja ou não sabe

dominar de outra forma (DOLTO, 2002).

Foi por meio do atendimento das histerias que Freud inaugurou o

tratamento das pertubação psicossociais, isto é, pela mediação da transferência

que o paciente faz sobre quem o escuta e o assiste (DOLTO, 2002).

Essa relação estabelecida entre dois participantes é que se torna a

ocasião de experiências ou de revivescências do passado, ou, ainda, novas,

para o paciente, que se acha ao mesmo tempo confrontado com uma margem

de apreciação, diferente entre o analista e ele, quanto ao imaginário e à

realidade do material trazido nas sessões (DOLTO, 2002).

Ávila (1996) faz um resgate histórico da histeria e diz que ela é descrita

há mais de 4.000 anos, mas ainda continua a intrigar e frustrar os médicos, pois

seus sintomas imitam os de inúmeras doenças, sua evolução contraria as

estabelecidas para quadros similares, seus portadores comportam-se de forma

inesperada e bizarra, seus sintomas confundem o observador e a pessoa que

os padece demanda atenções e cuidados de uma forma muito particular

(ÁVILA, 1996).

Em História da histeria, Trillat (1996) relata o longo percurso que

conduziu de uma representação do fenômeno histérico como expressão de uma

alma animal, passando pelas representações medievais que a assimilavam à

possessão demoníaca, chegando aos séculos XVIII e XIX como quadro

impreciso e enigmático, impossível de ser fixado e irredutível à ação médica.

Em um estudo comparativo das paralisias motoras orgânicas e

histéricas, escrito por sugestão de Charcot, Freud, em 1897, pode constatar a

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singularidade da manifestação sintomática histérica, e pode questionar os

pressupostos médicos que recusavam legitimidade, ou até mesmo realidade,

para os padecimentos histéricos.

Freud (1894/1996) afirmou que nas paralisias histéricas, como nas

anestesias, é a concepção vulgar, popular, dos órgãos e do corpo em geral que

entra em jogo. Esta concepção não se funda em um conhecimento profundo da

anatomia nervosa, mas em percepções táteis do indivíduo e, sobretudo, visuais.

Se tal concepção é a que determina as características da paralisia histérica,

esta deverá mostrar-se ignorante de toda noção de anatomia do sistema

nervoso e independente dela.

Portanto, o corpo que sofre o sintoma histérico já não é o mesmo corpo

que o médico quer tratar. Coloca-se, a partir daqui, a possibilidade de

representar a mediação da mente na produção do sintoma, e Freud fará, então,

uma descrição pormenorizada de como uma paralisia histérica corresponde a

uma alteração, nos processos associativos da mente do indivíduo, da idéia ou

concepção do órgão ou função afetados (FREUD, 1894/1996).

Freud (1894/1996), então, já antecipa que o seu método de investigação

partirá não do exame do corpo, mas dos conteúdos da mente, fazendo da

análise do Eu, “do qual o corpo do indivíduo forma uma parte importante” (p.

235), o seu objeto. O fenômeno aparentemente somático da paralisia residiria,

então, numa falta de representação devida a um trauma carregado de afeto

que, por este motivo, fica excluído de conexões associativas com o restante do

ser.

Complementando: a histeria ocorre quando há um confronto entre a

representação do eu com alguma experiência aflitiva, que o sujeito esquece por

não confiar em sua capacidade de resolver a contradição por meio do

pensamento consciente (Freud, 1894/1996).

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Dessa forma, buscando eliminar o desprazer, o psiquismo pode

desenvolver diferentes mecanismos (inclusive de defesa), de forma a afastar ou

eliminar a totalidade ou partes do conflito. (VOLICH, 2010).

A histeria, atualmente, foi oficialmente excluída da Classificação de

Transtornos Mentais e de Comportamento (Classificação Internacional de

Doenças) – C.I.D. 10), da Organização Mundial de Saúde (OMS) (1993) em

função de suas múltiplas causas e variados graus de manifestação. O quadro,

antes assim denominado, passou a ser incluído nos quadros de transtornos

dissociativos e conversivos (ÁVILA, 1996).

Definindo o conceito de somatização, trabalhado na medicina por

Lipowski (1988): “[…] é a tendência para experimentar e comunicar desconforto

(distress) somático e sintomas que não correspondem aos achados patológicos,

e atribuí-los a doenças físicas, procurando ajuda médica para os mesmos.

Considera-se geralmente que esta tendência se manifesta em resposta ao

estresse psicossocial causado por eventos de vida e situações pessoalmente

estressantes para o indivíduo” (LIPOWSKI, 1988, p. 1359).

Geralmente, esses pacientes têm sintomas múltiplos, envolvendo

diversos sistemas orgânicos na forma de aparentes doenças físicas, na

ausência de patologias orgânicas constatáveis, muito embora sua presença não

seja descartada (LIPOWSKI, 1988).

Os quadros psiquiátricos de depressão e ansiedade estão

frequentemente associados à somatização e seus sintomas apresentam-se,

predominantemente, na forma de queixas somáticas e não psicológicas. Os

pacientes depressivos somatizadores podem apresentar múltiplas queixas de

sintomas físicos, tipicamente vagos. Dor e queixas hipocondríacas são comuns.

A queixa somática destes pacientes pode tomar a forma de sintomas

vegetativos, ou aparecer como “metáforas corporais”, através das quais o

sujeito comunica seu sofrimento (ÁVILA, 2004).

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Outro quadro sintomático extremamente frequente é a ansiedade e ela

também se correlaciona com a depressão. Esses pacientes normalmente se

apresentam com várias queixas somáticas tais como dores no peito,

palpitações, dores de cabeça, tontura, desmaios e distúrbios digestivos

(LIPOWSKI, 1988).

Os pacientes com transtornos de somatização comumente têm

depressão coexistente (até 60%), transtornos ansiosos, como o transtorno do

pânico ou transtorno obsessivo-compulsivo (até 50%), transtornos de

personalidade (até 60%) ou transtorno por abuso de substância psicoativa

(ÁVILA, 2004).

Fatores precipitantes incluem eventos vitais e situações pessoalmente

estressantes devido a seu significado subjetivo de perda ou ameaça para o

indivíduo. “O luto, doença física ou acidente, quebra de um relacionamento e

presenciar uma morte parecem ser precipitantes comuns” (LIPOWSKI, 1988, p.

1365).

Um importante aspecto da personalidade dos pacientes é o denominado

traço de “neuroticismo” e a vulnerabilidade ao estresse (ÁVILA, 2004). Lipowski

(1988) salienta também a tendência desses pacientes em lidar com as

dificuldades da vida, em sua multiplicidade de conflitos, através da adoção de

um “papel de doente”, com o qual eles tentam conseguir apoio e atenção de

seus familiares, bem como evitam obrigações sociais e familiares.

“Se a somatização tiver início recente, o médico deve procurar os

eventos antecedentes que podem ter sido estressantes para o paciente e

devido a isso apresentarem importância causal. Por que os sintomas

apareceram nesta época? Respostas a esta questão abrem o caminho para o

inquérito psicossocial” (LIPOWSKI, 1988, p. 1366).

Os sintomas não devem ser minimizados ou desprezados. É necessário

que o profissional de saúde busque explorar os aspectos psicossoais

envolvidos na situação do doente e que investigue as questões ambientais, os

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sentimentos do doente frente a seus sintomas e seus modos próprios de lidar

com a situação (ÁVILA, 2004).

Não diferente do conceito de somatização, a psicossomática é entendida

por Ávila (2004), como um campo interdisciplinar de investigação, onde

múltiplas perspectivas são necessárias, e onde as contribuições médicas, os

enfoques biológicos, e as abordagens de diferentes áreas das ciências sociais e

humanas, dado que na doença e na saúde, a experiência global do ser humano

(antropológica, biológica, psicológica, histórica, econômica e ecológica) se

materializa. O autor acredita que a psicossomática seja uma área

transdisciplinar por excelência, e seus fenômenos só podem ser compreendidos

a partir do pleno reconhecimento da complexidade de seu objeto, que torna

necessária a simultaneidade de muitos pontos de vista.

Ávila (2004) discute que uma afecção deve ser entendida como uma

expressão do modo do paciente de lidar com a realidade. Então, o processo de

adoecimento precisa ser compreendido pelo doente como um desencontro de

tendências dentro de si. Dotando os seus órgãos de linguagem e

intencionalidade, o ser adoecido evidencia o seu subjetivismo.

O psicossomático parece apresentar a seguinte especificidade: ao invés

de se relacionar com o conjunto todos das representações do indivíduo,

ligando-se portanto como parte indissolúvel à personalidade total, é algo

mais localizado, uma configuração mais restrita de representações.

Proponho que se tome o sintoma psicossomático como um capítulo da

história do sujeito que não pôde ser escrito psiquicamente, e que tomou

a forma de um hieróglifo inscrito no corpo. Visto desta forma, sua

dissolução equivale a transcrevê-lo: dar-lhe linguagem verbal e

representacional na esfera psíquica. Por isso, sua dissolução

eventualmente é rápida, bastando um único “ato psicanalítico” para

interromper sua expressão somática e iniciar seu registro como produto

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psíquico intercambiável, ou seja, representação ao invés de

apresentação (ÁVILA, 1996, pp. 38 e 39).

Para a psicossomática faz-se necessária a investigação da vida pessoal

do doente toda vez que a etiologia de uma determinada moléstia apresentar-se

confusa ou incompleta. “Revelar-se-ia, então, a existência da emoção

recalcada, responsável pelos sintomas” (ÁVILA, 1996, p. 82).

“Psicanaliticamente considerando, o tratamento consiste em fazer com

que o indivíduo vença a alienação que o mantém desconhecido de si mesmo,

acompanhando-o em um processo de exploração de sua mente e de sua vida,

cujo fim é o alargamento de suas possibilidades de compreensão de si e de

auto-determinação” (ÁVILA, 1996, p. 18).

Todo o processo exige que o indivíduo se assuma como sujeito, não

havendo possibilidade alguma de análise se o indivíduo mantiver-se alienado,

em uma relação de subordinação e dependência (ÁVILA, 1996).

Porém, Ávila (2004) destaca que a grande maioria das doenças

estudadas e tratadas na atualidade pelas áreas da saúde, enfatizam o aspecto

físico e biológico. Os aspectos mentais ficaram quase que em sua totalidade

restritos às patologias psiquiátricas e a algumas poucas “condições médicas

gerais”, onde era inevitável reconhecer a participação dos componentes

psicológicos e culturais. “Estas ‘doenças’, ou transtornos foram agrupados

principalmente sob o rótulo de “Transtornos somatoformes”, tanto na

Classificação Internacional das Doenças (CID) quanto no Manual Diagnóstico e

Estatístico de Transtornos Mentais (DSM)” (ÁVILA, 2004, p. 32).

Vale ressaltar que no caso do paciente somatizador, o conceito objetivo

do profissional da área da saúde pode ir de encontro com a visão subjetiva do

paciente. Devido a estes pontos de vista contraditórios, a relação com o

profissional da saúde e do paciente costuma ser muito conflitiva. Se há uma

tendência do profissional da saúde em diminuir a importância destes sintomas e

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ignorá-lo ou descartá-lo, com frases do tipo: “Isto é coisa da sua cabeça”, a

tendência é que essa relação fique abalada e até o processo previsto de

melhora, retarde (ÁVILA, 2004).

Neste sentido, no caso da PFP todos os aspectos envolvidos no

processo de adoecimento precisam ser investigados, como os sentimentos do

doente frente a seus sintomas e seus modos próprios de lidar com a situação;

em síntese: os conteúdos subjetivos do paciente.

Ressalta-se que tomar a teoria psicanalítica como uma referência não

equivale a priorizar os processos psíquicos em relação aos orgânicos. A

proposta é integrar ambas as dimensões dialeticamente, considerando a

pertinência da Psicanálise como operador teórico e clínico para essa

abordagem (VOLICH, 2010).

3.3. Aspectos psicológicos da PFP

Para finalizar, ressalta-se que somente um texto foi encontrada na

literatura brasileira, que aborda os aspectos psicológicos da PFP, sendo

mencionado a seguir e com a complementação de outros autores/psicólogos

que tratam de aspectos mais gerais do processo de adoecimento.

Santos (2006) destaca que a doença marca uma ruptura no

planejamento e continuidade da vida: “Alguns não conseguem encontrar sentido

e vivem de forma quase automatizada, como se a vida estivesse passando em

‘preto-e-branco’” (SANTOS, 2006, p. 181). Segundo a autora, as

transformações drásticas e abruptas causadas pela PFP, geram forte impacto

no indivíduo que sofre com essa afecção.

Ainda a respeito do adoecimento, Botega (2002) afirma que o impacto da

doença imobiliza e congela a existência do sujeito e, consequentemente, a sua

relação com o mundo.

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Assim, essa pessoa fragilizada precisa cuidar-se e também buscar

mecanismos adaptativos a essa condição, e a PFP torna-se o ponto central da

sua existência, na qual prevalece o desejo de encontrar soluções que lhe

devolvam a expressão facial anterior à doença (SANTOS, 2006). Nas palavras

da autora: “A história se torna mais restrita, outros aspectos de sua vida se

tornam meros coadjuvantes, levando um certo tempo para que se apropriem da

realidade com a qual são defrontados” (SANTOS, 2006, p. 181).

Uma reação comumente observada é a negação, configurando um

mecanismo de defesa. O indivíduo age como se a recuperação pudesse

acontecer a qualquer momento e quando isso não ocorre, atitudes como

abandonar o tratamento, desconfiar dos resultados dos exames e/ou minimizar

o problema são frequentemente observadas. (BOTEGA, 2002)

A autora complementa que, o acolhimento por parte de pessoas

próximas, como familiares e profissionais da saúde, é de extrema importância

para que o inidivíduo consiga superar esse momento de grande sofrimento

psíquico.

Contudo, a elaboração dessa nova condição pode oscilar entre uma

ressignificação da vida e impotência diante do estado físico (SANTOS, 2006).

Benedetti (2003) complementa que isso se configura não somente pelas

alterações estética e funcional, mas também pela dificuldade do indivíduo

reconhecer-se, mostrando que o enfrentamento também não se refere apenas a

uma mudança de estrutura corporal, mas do modo como o indivíduo se

relaciona com o mundo.

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CAPÍTULO 4 – ESTIGMA: ASPECTOS SOCIAIS DA PARALISIA

FACIAL PERIFÉRICA

“A sociedade civil é bem esta sociedade de silêncio e de linguagem, de

dissimulação e de sinceridade, de recolhimento em si e bem assim de

compaixão é deste modo que as formas na vida civil aproximam os

indivíduos e os põem à distância; é assim que elas os constrangem,

mas é também assim que os protegem”

(Courtine e Haroche, História do Rosto, 1988)

Uma nota de rodapé de Freud, em Psicologia das massas e análise do

eu (1921), lembrada por Brunner (2000), cita Schopenhauer numa ilustração às

dificuldades vividas nas relações sociais:

a imagem de um bando de porcos-espinhos que chegam bem perto um

dos outros, num dia frio de inverno, para se aquecer. Ao se aproximarem

o bastante para sentir o calor uns dos outros, eles também se espetam

com seus espinhos e tornam a se afastar. O frio volta a aproximá-los,

porém seus espinhos mais uma vez os incitam a se separar. E assim,

diz Schopenhauer, ficam indo e vindo até descobrirem “uma distância

média em que possam viver da maneira mais tolerável” (BRUNNER,

2000, p. 76).

Brunner (2000) argumenta que as relações sociais são necessárias para

a sobrevivência física e afetiva do indivíduo mas, simultaneamente, geram

sentimentos conflitantes. Ou seja, ao mesmo tempo em que proporcionam a

cooperação, a proteção, a satisfação e o amor, podem constituir uma ameaça

ou um fardo, impondo exigências e cerceando a liberdade individual.

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Tais considerações são oportunas para introduzir a noção de estigma,

para os gregos o fruto de sinais corporais com os quais se procurava evidenciar

algo extraordinário ou negativo sobre o status moral de quem os apresentava:

“uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada,

especialmente em lugares públicos” (GOFFMAN, 1988, p. 11).

Para Goffman (1988), o estigma é uma referência depreciativa a uma

identidade deteriorada pela ação social. São indivíduos com deformações

físicas, psíquicas ou de caráter, ou com qualquer outra característica que os

torne, perante aos outros, diferentes (e até inferiores) e que lutam, diária e

constantemente, para fortalecer e até construir uma identidade social.

O autor, a propósito, analisa os sentimentos da pessoa estigmatizada

sobre si própria e a sua relação com os outros ditos “normais”, ou seja, os

contatos mistos. Explora a variedade de estratégias que os estigmatizados

empregam para lidar com a rejeição alheia e a complexidade de tipos de

informação sobre si próprios que projetam nos outros.

“O normal e o estigmatizado não são pessoas, e sim perspectivas que

são geradas em situações sociais durante os contatos mistos, em virtude de

normas não cumpridas que provavelmente atuam sobre o encontro.”

(GOFFMAN, 1988, p. 149).

Um indivíduo que é categorizado com atributos incomuns ou que o torna

diferente dos outros pode ser despontencializado por um determinado grupo

social que não consegue lidar com o diferente, deixando de considerá-lo em

sua totalidade e reduzindo-o a uma pessoa “estragada e diminuída”, como nas

próprias palavras do autor (GOFFMAN, 1988).

Com relação especificamente as pessoas que sofrem com PFP, observa-

se que há um grande impacto nas atividades sociais, no comportamento em

público, na performance profissional e na comunicação (NEELY e NEWFELD,

1996).

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Benedetti (2003) afirma que o fato de se não atender aos padrões de

normalidade estética favorece a rejeição social. E, nessas circunstâncias, o

indivíduo sofre duplamente: por não ter uma expressão apreciada pelo meio

social, mas, sobretudo, por atribuir um caráter extremamente doloroso às suas

limitações, o que fragiliza sua identidade.

O estigma é um atributo que produz amplo descrédito na vida do sujeito,

principalmente quando o efeito é extremamente depreciativo, quando, por

exemplo, considerado como um defeito, uma fraqueza ou uma desvantagem,

constituindo assim, uma discrepância entre a identidade social virtual e a

identidade social real.

Quando é imputado uma identidade a um indivíduo, com base em uma

categoria pré-determinada e os aspectos potenciais que a ela se ligam,

Goffman (1988) chama de identidade social virtual. A identidade social real é a

categoria de atributos que a pessoa na realidade prova possuir.

Ainda há uma dupla perspectiva sobre o termo estigma: quando o

indivíduo apresenta aos outros uma discrepância visível entre a sua identidade

social real e a sua identidade virtual é estabelecido a condição do

desacreditado. Por sua vez, quando essa característica distintiva não é

conhecida e nem imediatamente perceptível, ela é considerada desacreditável.

“Está é uma diferença importante, mesmo que um indivíduo estigmatizado em

particular tenha, provavelmente, experimentado ambas as situações”

(GOFFMAN, 1988, p. 14).

Quando o defeito da pessoa estigmatizada pode ser percebido

visualmente, ou seja, é uma pessoa desacreditada, “é provável que ela sinta

que estar presente entre normais a expõe cruamente a invasões de

privacidade, mais agudamente experimentadas, talvez, quando crianças a

observam fixamente” (GOFFMAN, 1988, p. 25). Também é possível que o

indivíduo não reconheça logo aquilo que o torna desacreditado e enquanto se

mantém essa atitude de cuidadosa indiferença a situação pode-se tornar tenaz,

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incerta e ambígua para todos os participantes, sobretudo a pessoa

estigmatizada.

Essa situação desconfortável pode se intensificar quando estranhos que

se sentem livres para entabular conversas nas quais expressam o que ela

considera uma curiosidade mórbida sobre a sua condição, ou quando eles

oferecem uma ajuda que não é necessário ou não é desejada. “Por isso se

infere que o indivíduo estigmatizado pode ser abordado à vontade por

estranhos, desde que eles sejam simpáticos à sua situação” (GOFFMAN, 1988,

p. 26).

Assim, “oferecimentos não solicitados de interesse, simpatia e ajuda,

embora quase sempre percebidos pelo estigmatizado como uma intromissão

em sua intimidade são demonstrações de presunção e devem ser aceitos no

contato” (GOFFMAN, 1988, p. 130).

Essas situações sociais podem gerar interações angustiadas, tanto do

indivíduo estigmatizado quanto do “normal”. As pessoas podem tirar conclusões

errôneas, supondo que o indivíduo estigmatizado ou é muito agressivo ou é

muito tímido. Complementando, as pessoas “normais” podem sentir que, se

mostrar sensibilidade e interesse diretos pela situação do outro, está

excedendo, ou que se esquecer que o outro tem um defeito, será falha

(GOFFMAN, 1988).

O indivíduo estigmatizado então, pode se defender antecipadamente por

meio de uma “capa defensiva”, como por exemplo, andar de cabeça baixa nas

ruas se o seu estigma é marcado por uma alteração facial, evitar certos locais e

contatos sociais (GOFFMAN, 1988).

Para os estigmatizados, a sociedade reduz oportunidade, esforços e

movimentos, não atribui valor, impõe a perda da identidade social e determina

uma imagem deteriorada, de acordo com o modelo que convém a sociedade. O

social anula a individualidade e determina o modelo que interessa para manter

o padrão, anulando todos os que rompem ou tentam romper com esse modelo.

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O diferente passa a assumir a categoria de “nocivo”, “incapaz”, fora do

parâmetro que a sociedade toma como padrão. Ele fica à margem e passa a ter

que dar a resposta que a sociedade determina. Assim, a dimensão social tenta

conservar a imagem deteriorada com um esforço constante por manter a

eficácia do simbólico e ocultar o que interessa, que é a manutenção do sistema

de controle social (GOFFMAN, 1988).

Santos (2006) em contato com grupos de pacientes com PFP constatou

que muitos referem evitar eventos sociais como festas, temendo inclusive as

cenas alimentares, onde o escape involuntário de alimentos pela boca, pode

causar repulsa ou piedade nos outros.

A não-aceitação da condição patológica associada à baixa autoestima e

a dificuldade de elaboração subjetiva, acentuam os sentimentos de

inferioridade, os comportamentos de isolamento social e inclusive, familiar

levando o sujeito a restringir suas atividades e, por consequência, favorecendo

que a doença ocupe grande espaço no seu cotidiano (SANTOS, 2006).

“Embora um defeito como a desfiguração facial possa repelir um

estranho, as pessoas íntimas presumivelmente não seriam afastadas por tal

motivo. A área de manipulação do estigma, então, pode ser considerada com

algo que pertence fundamentalmente à vida pública, ao contato entre estranhos

ou simples conhecidos, colocando-se no extremo de um continuum cujo pólo

oposto é a intimidade” (GOFFMAN, 1988, pp. 61 e 62).

Os indivíduos, incapazes de se confinarem aos padrões normalizados da

sociedade, tomam a vergonha como uma possibilidade central. A presença

próxima de “normais” provavelmente reforçara a revisão entre autoexigências e

ego, “mas na verdade o auto-ódio e a auto depreciação podem ocorrer quando

somente ele e um espelho estão frente a frente” (GOFFMAN, 1988, p. 17).

“Faltando o feedback saudável do intercâmbio social cotidiano com os

outros, a pessoa que se isola possivelmente torna-se desconfiada, deprimida,

ansiosa e confusa” (GOFFMAN, 1988, p. 22).

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A isegurança pode ser um fator crucial se o indivíduo estigmatizado

relevar extrema importância a maneira como os normais o identificarão e o

receberão.

A sensação de não saber aquilo que os outros estão “realmente

pensando”, vem com a incerteza de qual categoria ele será colocado, tanto de

forma positiva como negativa. Ao mesmo tempo, erros menores ou enganos

incidentais podem ser interpretados como uma expressão direta de seu atributo

diferencial estigmatizado (GOFFMAN, 1988).

Ainda, o indivíduo estigmatizado provavelmente utilizará sua identidade

virtual como “ganhos secundários”, como por exemplo, pode se tornar uma

desculpa pelo fracasso a que chegou por outras razões. Ou também, o

estigmatizado pode analisar as privações que sofreu como uma benção

secreta, principalmente se crer que o sofrimento muito pode ensinar a uma

pessoa sobre a vida e sobre as outras pessoas.

Quando se é compartilhado do mesmo estigma, há pessoas, sabendo de

sua própria experiência o que sentem, tomam por atitude instruir o indivíduo

que sofre, quanto aos artifícios da relação social e fornecimento de conforto,

refugiando no apoio moral, sentindo-se aceito e igual dentro daquele círculo

social (GOFFMAN, 1988).

No caso do indivíduo cuja desvantagem física é recente, as pessoas que

tem sofrimento semelhante e mais experiência, tendem a acolhê-lo e instruí-lo

sobre o modo de adaptar-se física e psiquicamente (GOFFMANN, 1988).

Agora, em outra situação, quando o indivíduo estigmatizado é

desacreditável, a diferença não está imediatamente aparente e não se tem dela

um conhecimento prévio. A questão que se coloca não é da manipulação da

tensão gerada durante os contatos sociais, como no caso do indivíduo

desacreditado e, sim, da manipulação de informação sobre o seu defeito. “Exibi-

lo ou ocultá-lo; contá-lo ou não contá-lo; revelá-lo ou escondê-lo, mentir ou não

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mentir; e, em cada caso, para quem, como, quando e onde” (GOFFMAN, 1988,

p. 51).

Esse fato pode se complicar mais quando a posse de um defeito secreto

desacreditável adquire um significado mais profundo e quando as pessoas para

quem o indivíduo ainda não se revelou são muito próximas, como por exemplo,

amigos e/ou familiares. Se esse fato é descoberto, não só há prejuízo da

situação social corrente, como também das relações sociais estabelecidas; não

só prejudicando sua imagem no decorrer do tempo, mas também sua

reputação. (GOFFMANN, 1988)

Vale ressaltar que as pessoas íntimas não só ajudam a pessoa

desacreditável em sua simulação, mas também levam essa função além do que

suspeita o indivíduo afetado; elas podem, de fato, servir como um círculo

protetor que lhe permite pensar que é mais amplamente aceito como uma

pessoa normal do que ocorre na realidade (GOFFMAN, 1988).

Agora com relação as técnicas de controle de informação, Goffman faz a

seguinte acertiva:

Sugeriu-se que a identidade social de um indivíduo divide o seu mundo

de pessoas e lugares, o que o faz também a sua identidade pessoal,

embora de maneira diferente. São esses quadros de referência que

devem ser aplicados ao estudo da rotina diária de uma pessoa

estigmatizada em particular, como quando ela vai e volta de seu

trabalho, de sua casa, das compras e de lugares de diversão. Um

conceito-chave aqui é o de rotina diária porque é ela que o vincula às

diversas situações sociais de que ela participa. E estuda-se a rotina

diária tendo-se em mente uma perspectiva especial: se o indivíduo é

uma pessoa desacreditada, procuramos o ciclo cotidiano de restrições

que ele enfrenta quanto à aceitação social; se ele é uma pessoa

desacreditável, buscamos as contigências com que se depara na

manipulação da informação sobre sua pessoa. Por exemplo, um

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indivíduo que tem uma deformação no rosto pode esperar, como foi

sugerido, que pouco a pouco deixe de ser uma surpresa chocante para

os seus vizinhos e que possa obter entre eles alguma aceitação; ao

mesmo tempo, as indumentárias usadas para esconder parte de sua

deformidade terão, na sua vizinhança, menos efeito do que em partes

da cidade em que ele é desconhecido e, portanto, menos bem tratado

(GOFFMAN, 1988, pp. 102 e 103)

Com relação ao acobertamento Goffman (1988) afirma que as pessoas

estão prontas a admitir que têm um estigma podem, não obstante, fazer

grandes esforços para que ele não apareça muito. O objetivo do indivíduo é

reduzir a tensão, ou seja, tornar mais fácil para si mesmo e para os outros uma

redução dissimulada ao estigma, e manter um envolvimento espontâneo no

conteúdo público da interação.

Para finalizar a apresentação desse referencial teórico, Goffman discorre

sobre os modos de adaptação para diminuir o impacto da estigmatização,

principalmente quando o estigma é adquirido de repente. Quando essa situação

é evidenciada o indivíduo pode experimentar relativamente rápido uma

mudança na personalidade aparente.

“Muitos meios de ajudar os outros a terem tato com ele são também

recomendados, como, no caso dos desfiguramentos faciais, fazer uma pausa

no limiar de um encontro para que os participantes tenham tempo para elaborar

suas respostas” (GOFFMAN, 1988, p. 129).

Essas mudanças percebidas parecem ser o resultado do fato de o

indivíduo estar colocado numa nova relação com as contigências da aceitação

na interação face-a-face, com uma utilização consequente de novas estratégias

de adaptação (GOFFMAN, 1988).

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CAPÍTULO 5 – ASPECTOS PSICOSSOCIAIS EM DIVERSAS

PATOLOGIAS E NA PFP

“A dor física nos põe em oposição com nosso corpo, que se

mostra inteiramente estranho ao que está em nós”

(Paul Valéry, 1931)

Os aspectos psicossociais abrangem simultaneamente os conteúdos

psíquicos e os aspectos sociais envolvidos no processo de adoecimento.

O intuito desse capítulo é apresentar a literatura que aborda os aspectos

psicossociais relacionados à PFP. Contudo, diante da escassez de estudos

sobre esse tema específico, fez-se necessário reforçar esse conteúdo com

trabalhos que discutem outras patologias, mas tem como ponto de partida

investigar a qualidade de vida e as implicações psicossociais para os sujeitos

que sofrem com determinada afecção.

Na primeira parte, serão destacadas as pesquisas que abordam os

aspectos psicossociais em patologias diversas. E na segunda, aquelas sobre

PFP, nas quais constatou-se a restrição à investigação na fase de sequelar.

5.1. Aspectos psicossociais nas diversas patologias

Na categoria de doenças congênitas, o estudo de Soares e cols. (2008)

investigou a qualidade de vida de jovens portadores de espinha bífida de

grupos brasileiros e americanos, embasada em uma perspectiva qualitativa,

adotando como referencial teórico a Teoria do Estigma de Goffman (1988) e a

discussão conceitual das dimensões de qualidade de vida no campo da

sociologia da saúde e da medicina.

A pesquisa se preocupou em formar categorias mais englobantes,

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desenvolvendo um roteiro de entrevista que abordou as seguintes dimensões

da vida: social; emocional; intelectual; financeira e de direitos; médica;

independência física e inserção vocacional; ambiental; oportunidades

recreativas e de esporte; e estratégias de enfrentamento do estigma. Além

dessas categorias pré-estabelecidas, foram elaboradas categorias após a

finalização das entrevistas, sendo estas: experiências no ambiente familiar, no

ambiente escolar, inserção social, autonomia e sexualidade (SOARES e cols.,

2008).

Nos resultados constatou-se que a noção da "não-pessoa", que define o

indivíduo apenas em virtude do estigma que seu corpo demonstra, esteve

presente em ambos os grupos (SOARES e cols., 2008).

Outro dado relevante foi que devido aos exigentes padrões de beleza da

atualidade, a imperfeição estética do portador de deficiência se torna ainda

mais visível e menos aceitável pela sociedade. Em consequência, a dinâmica

de padrões e cobranças do corpo gera uma imagem de corpo doente e incapaz,

não apenas de se enquadrar na sociedade, mas também de engajar-se em um

relacionamento amoroso (SOARES e cols., 2008).

No caso das doenças degenerativas, Silva e Pais-Ribeiro (2006)

realizaram uma revisão de literatura em que foi discutido o impacto psicossocial

do portador de degenerência macular.

A degenerência macular é uma doença crônica para a qual ainda não

existe um tratamento absolutamente satisfatório e que pode conduzir a um

estado de cegueira parcial altamente incapacitante, que acontece

principalmente com pessoas idosas (SILVA e PAIS-RIBEIRO, 2006).

Nos resultados dessa revisão foi evidenciado que os doentes estavam

insatisfeitos com a atitude do especialista quanto ao diagnóstico, que tende a

anunciá-lo de maneira brusca, insensível e desinteressada, ou seja, havia uma

tendência de subestimação por parte do profissional da saúde com relação a

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doença. Além disso, houve insatisfação pela falta de informação ou conselhos

dados sobre a doença, prognóstico, adaptação, instrumentos de ajuda, grupos

de autoajuda e/ou aconselhamento (SILVA e PAIS-RIBEIRO, 2006).

Os portadores de degenerência macular consideram que as equipes de

oftalmologia podiam fazer mais no sentido de preparar os indivíduos para as

consequências práticas e emocionais da perda de visão em idade mais

avançada (SILVA e PAIS-RIBEIRO, 2006).

Quando analisada a relação entre o distress vivido pelos indivíduos com

degenerência macular e a duração das dificuldades visuais, concluiu-se que

estas duas variáveis se encontram negativamente correlacionadas, pelo que,

quanto mais tempo decorreu desde o início do problema, menor parece ser o

distress apresentado, o que sugere a ocorrência de um processo de adaptação

em alguns destes doentes (SILVA e PAIS-RIBEIRO, 2006).

Os autores referem que a maioria das pessoas com início recente de

dificuldades visuais revela maior depressão, maior ansiedade e baixa

autoestima, revelando menor satisfação com diferentes aspectos das suas

vidas quando comparados com pessoas da mesma idade, mas sem problemas

visuais (SILVA e PAIS-RIBEIRO, 2006).

Silva e Pais-Ribeiro (2006) concluem em sua revisão de literatura que o

impacto psicossocial, na qualidade de vida e na capacidade para realizar as

tarefas do dia a dia é extremamente significativo, tornando-se fundamental

aprofundar o conhecimento sobre as reações psicossociais relacionadas a esse

diagnóstico e enfatizando a necessidade de investigar a eficácia da

implementação de programas de reabilitação para indivíduos com perda de

visão devida à degenerência macular.

Quanto às doenças crônicas, Castanha e cols., (2007) avaliaram a

percepção da AIDS e da qualidade de vida por pessoas soropositivas para o

HIV, subsidiada pela teoria das representações sociais, “que permite apreender

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uma riqueza de elementos figurativos, tais como: cognitivos, ideológicos,

normativos, crenças, valores, atitudes, opiniões, imagens, entre outros”

(CASTANHA e cols., 2007, p. 24).

Apesar de a terapêutica atual ter prolongado a vida dos pacientes

infectados e melhorado bastante sua qualidade de vida, viver com AIDS impõe

várias limitações: profissionais, de relações afetivas, dificuldade de manter

relacionamentos sexuais, decisão de ter ou não ter filhos. A autoestima diminui

e o indivíduo fica sem crenças ou planos futuros, tomado pela tristeza e

depressão (CASTANHA e cols., 2007).

No que diz respeito ao preconceito, a AIDS se constituiu como um

fenômeno de natureza social, acompanhado de processos de segregação

social baseados em estigmas socialmente construídos e intimamente ligados às

representações sociais da doença (CASTANHA e cols., 2007).

Nos resultados dessa pesquisa encontraram-se respostas diferentes nos

dois gêneros. As mulheres representaram a AIDS como uma doença que

carrega com ela o preconceito, buscando então, esperança e suporte na

religiosidade. A AIDS também é vista por elas como um recomeço, porque após

o impacto sofrido pelo diagnóstico, vem a necessidade da reestruturar a vida de

outra maneira (CASTANHA e cols., 2007).

Já os homens, ao mesmo tempo em que representaram a AIDS em

medo, e limitação social, profissional e amorosa, representaram a qualidade de

vida em apoio, amigos e trabalho (CASTANHA e cols., 2007).

Para finalizar, a AIDS foi representada como uma doença que pode

ocasionar inúmeras consequências psicossociais, profissionais, familiares e

orgânicas, atingindo assim o ser humano em sua globalidade e repercutindo em

vários aspectos da vida, como na produtividade, na capacitação social e na

qualidade de vida (CASTANHA e cols., 2007).

Martins e cols., (2008) verificaram o impacto na qualidade de vida em

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pacientes com hanseníase.

Sua maior morbidade associa-se aos estados reacionais e ao

acometimento neural que podem causar incapacidades físicas e deformidades

permanentes, comprometendo significativamente a qualidade de vida dos

pacientes, com autoestigmatização e vergonha. Esse problema se agrava pelo

fato de a enfermidade estar historicamente associada a estigmas, o que

mantém na representação social a idéia de doença mutilante e incurável,

provocando atitudes de rejeição e discriminação ao doente, com sua eventual

exclusão da sociedade (MARTINS e cols., 2008).

A interpretação dos dados reitera o importante impacto da hanseníase na

qualidade de vida de seus portadores, comparáveis aos de doenças crônicas,

como a psoríase, dermatite atópica e acne.

A hanseníase então, causa grande prejuízo para a vida diária e as

relações interpessoais, provocando sofrimento que ultrapassa a dor e o mal-

estar estritamente vinculados ao prejuízo físico, com grande impacto social e

psíquico. (MARTINS e cols., 2008).

Foram diversos os artigos encontrados que avaliavam a qualidade de

vida e os aspectos psicossocias de mulheres que sofriam com o câncer de mama. Dentre eles, destacam-se os artigos abaixo:

O trabalho de Rebelo e cols., (2007) avaliaram a qualidade de vida de 60

mulheres com câncer da mama, já submetidas a cirurgia (mastectomia/

tumorectomia) e em tratamento quimioterapêutico.

Os autores lembram que o diagnóstico de câncer de mama provoca

reações e respostas psicológicas específicas, geralmente associadas a

mudanças na identidade da mulher, em concreto nos aspectos íntimos da

feminilidade, sexualidade, maternidade e imagem corporal, mas também ao

medo quanto aos tratamentos, à dúvida e à ansiedade. E destacam que este

diagnóstico é um fator gerador de stress que pode afetar, profundamente,

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múltiplos aspectos da vida de uma mulher, em particular o seu bem-estar

(REBELO e cols., 2007).

A pessoa inicia um percurso de sofrimento íntimo, incluindo emoções e

sentimentos de profundo mal-estar e tristeza, evoluindo, normalmente, para a

consciencialização da perda como um fato irreversível, até à sua aceitação

(REBELO e cols., 2007).

Eles constataram que após a realização da mastectomia, as mulheres

que não possuíam apoio familiar, apresentavam mais problemas a nível

biopsicossocial. O apoio social e familiar tem sido identificado portanto, como

um importante fator de adaptação emocional à doença e bem-estar,

contribuindo, consequentemente, para uma melhor qualidade de vida (REBELO

e cols., 2007).

Já Talhaferro e cols (2007), fizeram uma pesquisa cuja o objetivo foi

identificar os problemas enfrentados pela mulher mastectomizadas no seu

contexto de vida.

Os autores destacam que a perda da mama faz a mulher sentir

dificuldades em expressar sua intimidade e em selecionar roupas, evitando

praticar esportes e atividades que envolvam roupas leves que evidenciam as

formas do corpo (TALHAFERRO e cols., 2007).

Nos depoimentos obtidos, para algumas mulheres, a preocupação se dá

pela percepção da assimetria do corpo e pela visibilidade da cirurgia, “já que a

mama é um símbolo importante de feminilidade, sexualidade, erotismo e

maternidade” (TALHAFERRO e cols., 2007, p. 20).

As mulheres relataram poucas dificuldades encontradas na retomada da

vida social após a mastectomia, alegando não ter sofrido nenhum tipo de

preconceito (TALHAFERRO e cols., 2007).

A compreensão do parceiro e seu apoio nesse momento vivenciado pela

mulher mastectomizada foi de fundamental importância nas diferentes fases do

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tratamento, sendo igualmente imprescindível a interação entre paciente e seu

companheiro durante a reestruturação de sua integridade (TALHAFERRO e

cols., 2007).

Alguns depoimentos apontavam dificuldades de manter um

relacionamento amoroso, devido a insegurança em evidenciar ao parceiro o fato

de ter sofrido uma mastectomia (TALHAFERRO e cols., 2007).

Dentre todos os aspectos analisados, chega-se a conclusão que a

mulher que sofre este tipo de mudança corporal precisa reestruturar sua relação

familiar, conjugal e social para se estabilizar psiquicamente e aceitar sua nova

condição corporal, mesmo dentro de uma sociedade que exige e valoriza um

padrão de estética (TALHAFERRO e cols., 2007).

Hoffmann; Muller e Frasson (2006) buscaram verificar as repercussões

psicossociais do diagnóstico de câncer de mama e o tratamento médico bem

como identificar o Apoio Social e o Bem-Estar Espiritual percebido por mulheres

com câncer de mama e estabelecer associações entre essas variáveis.

Frente ao diagnóstico, as 75 mulheres entrevistadas manifestaram

diversas reações emocionais, tanto de sentimentos negativos, como tristeza,

raiva, medo (82,7%), quanto de sentimentos positivos, como esperança,

tranquilidade, confiança (10,7%); 5,3% apresentaram ambos os sentimentos

(HOFFMANN; MULLER e FRASSON, 2006).

Questionadas sobre o que sentiram e pensaram durante o período entre

diagnóstico e início do tratamento médico, as entrevistadas apresentaram as

seguintes categorias de respostas: sentiu muito medo e tristeza (42,6%),

preocupação com a família (37,3%), pensou que iria morrer (32%), ficou

tranquila e confiante (22,6%), preocupação com os efeitos do tratamento

(13,3%) e sentiu-se injustiçada e com raiva (9,3%). (HOFFMANN; MULLER e

FRASSON, 2006).

As entrevistadas manifestaram as seguintes expectativas sobre o

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atendimento médico: desejo de escutar mais dos médicos, ou seja, que eles

falassem mais sobre o diagnóstico e tratamentos (60%); desejo de falar mais

sobre o que sente para o médico (34,6%); desejo de uma comunicação mais

acessível com os médicos; que eles utilizassem menos terminologias médicas

(29,3%); e desejo de um atendimento mais humanizado (9,3%) (HOFFMANN;

MULLER e FRASSON, 2006).

Considerando a possibilidade de uma fonte de apoio, os parentes

próximos (pais, filhos e irmãos) foram citados por 100% da amostra, seguidos

pelo companheiro (64%), amigos (52%), vizinho (32%), equipe médica (22,7%),

conselheiro religioso (padre, pastor, mestre) (16%), patrão (9,3%), psicólogo/

psiquiatra (5,3%) e colega de trabalho (2,6%) (HOFFMANN; MULLER e

FRASSON, 2006).

Os dados levantados e analisados fornecem subsídios para se afirmar

que as mulheres passaram por sérias dificuldades nas fases de obtenção do

diagnóstico e de tratamento para câncer de mama. O Apoio Social foi percebido

pelas entrevistadas como provindo, principalmente, de familiares próximos e

amigos (HOFFMANN; MULLER e FRASSON, 2006).

O nível de Bem-Estar Espiritual, por sua vez, mostrou-se um aspecto

importante na amostra pesquisada, sendo o Bem-Estar Espiritual religioso a

subescala mais pontuada. Percebe-se que a religião é procurada de maneira a

complementar o apoio recebido, o que vem reforçar a importância desse

aspecto para as pacientes. A equipe de saúde, mostrando-se indiferente a esta

dimensão, perde muito no vínculo e no entendimento destas mulheres,

permitindo, em muitos casos, que se forme uma lacuna na relação médico-

paciente (HOFFMANN; MULLER e FRASSON, 2006).

Os autores complementam que o diagnóstico e o tratamento do câncer

de mama, muitas vezes, afastam a paciente de suas relações sociais. Além do

desânimo de sair de casa, a mulher ocupa grande parte de seu dia nos

hospitais, durante o período do tratamento. E, justamente, por estar tão

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presente na vida da paciente, é que a equipe de saúde deve estar ciente de sua

função de apoio (HOFFMANN; MULLER e FRASSON, 2006).

“Se o espaço de acolhimento à paciente com câncer de mama, por parte

das equipes de saúde, não for adequado e continente, essa mulher pode

também buscar outros recursos, o que pode fragilizar a relação e a confiança

na equipe de saúde. Assim, cabe ressaltar que as formas de tratamento

complementar para os problemas de saúde, representadas pela busca do Apoio

Social e de espaços religiosos, funcionam como atenuantes do sofrimento físico

e emocional provocado pela doença” (HOFFMANN; MULLER e FRASSON, p.

252, 2006).

Na categoria de doenças de pele, Silva e cols. (2006) afirmaram que a

psoríase é uma das doenças de pele que causa mais restrições aos pacientes,

sendo considerada em um contexto em que os prejuízos físicos, psíquicos e

sociais possuem igual relevância.

Dos vários aspectos que interferem no aparecimento dessa dermatose, o

estresse emocional é citado na bibliografia em geral como um fator importante

que influencia tanto o aparecimento como o agravamento da lesão, sendo a

psoríase classificada como uma psicodermatose. Além disso, a estigmatização

e o tratamento difícil contribuem para altos níveis de frustração e baixa

autoestima do paciente (SILVA e cols., 2006).

Considerando que o processo de desenvolvimento da identidade do

indivíduo passa também pelo reconhecimento do externo, nesse aspecto a pele

desempenha papel fundamental, pois uma de suas funções é representar o

indivíduo como ser único. O descontentamento pessoal em não cumprir as

exigências externas pode-se refletir em dificuldades nos relacionamentos

interpessoais e em elevado nível de estresse (SILVA e cols., 2006).

Pessoas com psoríase acreditam que a doença tem um profundo

impacto emocional, físico e social em sua qualidade de vida. Muitos pacientes,

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especialmente aqueles com psoríase grave, relatam estar frustrados com o

manejo da doença e com a inefetividade dos tratamentos. Sentem também que

o impacto da doença ainda é subestimado pelos profissionais de saúde (SILVA

e cols., 2006).

Com relação às respostas obtidas, 68% dos sujeitos passaram por

alguma situação estressante na época do surgimento da doença, sendo 30%

dos problemas relacionados a conflitos e doenças na família (SILVA e cols.,

2006).

Dentre as estratégias, a menos ou não utilizada foi a de confronto. A

mais utilizada foi o auto controle (55%), praticamente equivalente a de fuga e

esquiva (54%) (SILVA e cols., 2006).

Destaca-se que o indivíduo com psoríase pode utilizar a estratégia de

auto controle e de fuga e esquiva para evitar o confronto com a situação

estressante. Esse recurso pode servir para refrear a expressão de sentimentos

agressivos ou de qualquer outra emoção, assim como a estratégia de fuga e

esquiva, que não permite o contato interno com essas emoções, procurando

então, um meio de fuga para não se confrontar com o fator estressante (SILVA

e cols., 2006).

Por último, a estratégia menos utilizada foi a de busca de suporte social,

no qual pode-se considerar o fato de que a psoríase é uma doença que por si

só já dificulta a busca de contato, pelo constrangimento tanto do portador que

apresenta uma alteração de sua aparência física, quanto do sujeito ao qual é

remetido o apoio (SILVA e cols., 2006).

O estudo de Ludwig e cols. (2009) teve como objetivo avaliar e relacionar

a qualidade de vida com a localização da lesão em pacientes portadores de

dermatoses.

Foi analisado um total 205 sujeitos, sendo distribuídos em dois grupos:

Grupo 1, constituído de 141 sujeitos com localização de lesão mais exposta em

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face ou mãos, e Grupo 2, constiuído de 64 sujeitos com lesões em outras

regiões do corpo (LUDWIG e cols., 2009).

Do total de 141 sujeitos com lesões na face ou nas mãos, 29,8%

apresentavam diagnóstico de vitiligo ou psoríase e 70,2% de outras

dermatoses. No grupo de pacientes com lesões em outras regiões do corpo, 64

sujeitos, 34,4% tinham diagnóstico de vitiligo ou psoríase e 65,6% de outras

dermatoses (LUDWIG e cols., 2009).

Quanto aos resultados relacionados à qualidade de vida geral, o domínio

social é o que apresenta o maior prejuízo, nos dois grupos estudados (LUDWIG

e cols., 2009).

O grupo com lesões em face e/ou mãos apresentou um número maior de

correlações, chamando a atenção àquelas entre sintomas e sentimentos em

relação à doença e saúde mental, relações interpessoais e aspectos

emocionais (LUDWIG e cols., 2009).

Relações interpessoais em geral, bem como relações mais íntimas,

amorosas, são situações que implicam a exposição ao outro, sendo difícil

esconder as lesões, implicando os dois grupos de maneira semelhante

(LUDWIG e cols., 2009).

Os resultados permitem inferir que, independente da localização da lesão

no corpo, o sentimento de exposição e os prejuízos a que fica submetido o

paciente dermatológico são semelhantes, mas que as correlações psicossoais

feitas pelo grupo de lesões de face e/ou mãos são maiores (LUDWIG e cols.,

2009).

Em outra pesquisa, Silva e Müller (2007) defendem a possibilidade da

compreensão mais ampla do ser que adoece e a maior contribuição é a

abordagem da medicina psicossomática. Essa abordagem atualmente possui

um entendimento abrangente do fenômeno do processo saúde e doença,

considerando o ser humano na sua integralidade, na dimensão biopsicossocial.

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As autoras salientam que a sociedade atual possui padrões de estética e

beleza bem delimitados, e a maioria das pessoas esforça-se, de certo modo,

para alcançá-los. Então, no caso dos pacientes com problemas dermatológicos,

o sentimento de inadequação e o estigma vivenciado são evidentes diante de

tais exigências externas de um padrão estético. A sensação de ser discriminado

em função da aparência física acompanha o portador constantemente, gerando

grande insatisfação consigo mesmo. O processo de adaptação à doença de

pele pode tornar-se, dessa maneira, um foco causador de stress, assim como

também pode ser consequência do enfrentamento de fatores estressantes

(SILVA e MÜLLER, 2007).

Em sua revisão bibliográfica, Silva e Müller (2007) resgatam o trabalho

de Mingnorance, Loureiro e Okino (2002) para dizer que o processo de

desenvolvimento da identidade também passa pelo reconhecimento do externo,

e a pele desempenha um papel fundamental, pois uma das suas funções é

representar o indivíduo como ser único. O descontentamento pessoal em não

cumprir as exigências externas se reflete também em dificuldades nos

relacionamentos interpessoais (MINGNORANCE, LOUREIRO e OKINO et al.,

2002).

O processo de conscientização do indivíduo sobre o que o leva a

adoecer no plano físico, psicológico e social pode proporcionar a mudança dos

aspectos negativos que contribuem para esse estado de desarmonia. A

descoberta dos fatores estressantes que influenciam na doença é fundamental

para que ocorram mudanças que também se referem à conscientização de

padrões de comportamento prejudiciais à pessoa, tanto físicos como

emocionais (SILVA e MÜLLER, 2007).

Dentre os vários fatores que provocam o aparecimento das dermatoses,

o aspecto emocional é citado na bibliografia em geral como um fator importante

que influencia tanto o surgimento como o agravamento da lesão. Além disso, a

estigmatização e o tratamento difícil dessa dermatose contribuem para um alto

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nível de frustração e baixa autoestima do paciente (SILVA e MÜLLER, 2007).

O vitiligo, outra psicodermatose que também é foco de muitas pesquisas.

Destaca-se que os pacientes que buscam ajuda médica referem eventos

estressantes significativos. Os resultados apontaram também que, quanto maior

a área corporal afetada pela despigmentação, maior era o nível de stress,

depressão e tensão emocional (SILVA e MÜLLER, 2007).

A afetação na vida cotidiana também é apontada como fator agravante,

pois para continuar suas atividades, na melhor das hipóteses, o paciente se

utiliza de camuflagem para esconder as manchas, mas comumente evitam as

atividades de rotina, por perceber a reação negativa por parte dos outros, o que

provoca o sentimento de vergonha (SILVA e MÜLLER, 2007).

Para concluir, Silva e Müller (2007) destacam a importância de um

atendimento mais abrangente, interdisciplinar para os pacientes que

desenvolveram uma doença crônica, em especial as psicodermatoses,

destacando como essencial, a promoção de saúde dentro de um modelo

integrativo.

Em um último estudo de psicodermatose destacado nesse capítulo,

Nogueira; Zancanaro e Azambuja (2009) enfatizam que o vitiligo é uma das

dermatoses mais intrigantes. Em termos físicos, ele pouco representa na pele,

uma vez que é caracterizado por pobreza de sintomas e não ameaça a

integridade do paciente. E talvez por isso, muitos médicos o consideram

somente uma alteração estética, negligenciando ou desqualificando o profundo

efeito psíquico provocado.

Nessa investigação foi verificado o efeito do vitiligo nas emoções dos

pacientes, explicitando de que forma cada um vivencia a dermatose

(NOGUEIRA; ZANCANARO e AZAMBUJA, 2009).

No conjunto dos pacientes avaliados, as categorais mais citadas foram:

medo especificamente, de que as manchas se espalhassem (71%), vergonha

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(57%), inseguranca (55%), tristeza (55%), inibição (53%), desgosto (50%),

impaciência (43%), irritação (36%), infelicidade (35%), imagem negativa perante

os outros (35%), raiva (26%), amargura (25%), falta de autoconfiança (25%),

nojo de si mesmo (18%) e outras (16%). Nenhum paciente citou nenhum

sentimento positivo em relação à doença, embora tivessem possibilidade de

fazê-lo (NOGUEIRA; ZANCANARO e AZAMBUJA, 2009).

Outro dado valioso observado foi que 85% dos pacientes apresentaram a

doença na faixa etária entre 20 aos 59 anos, o que pode, inclusive, provocar

limitações sociais, sexuais e profissionais graves (NOGUEIRA; ZANCANARO e

AZAMBUJA, 2009).

Por último, Vargas e Paixão (2005) investigaram por meio de entrevista,

a qualidade de vida 20 de pacientes com perda dentária que frequentavam o

serviço público de saúde bucal.

Nos resultados, os problemas na vida diária relacionados com a perda

dentária foram de natureza funcional como comer, mastigar ou falar; e social

como mudanças no comportamento, insatisfação com a aparência, prejuízo na

aceitação social, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho (VARGAS e

PAIXÃO, 2005).

Alguns pacientes relataram ter problemas para falar por causa das falhas

dentárias, supondo o transtorno para uma pessoa que não consegue se fazer

entender por não conseguir pronunciar corretamente as palavras (VARGAS e

PAIXÃO, 2005).

Surgem estratégias para esconder a boca, então falar, comer e rir

passaram a ser comportamentos evitados na frente de pessoas estranhas

(VARGAS e PAIXÃO, 2005).

Os sentimentos relatados com a perda dentária foram bastante

negativos, deixando claro que esses sentimentos não são decorrentes apenas

dos problemas estéticos ou funcionais que a perda dentária traz, mas também

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porque os dentes e a boca têm um significado importante na formação do

psiquismo humano (VARGAS e PAIXÃO, 2005).

Para concluir, os pacientes que possuem prótese e não tem a

possibilidade de fazer a manutenção desta, já que a rede pública não oferece

esse serviço, revelaram ter dificuldades de adaptação e desconforto, mas

continuavam usando-a em função somente da aparência (VARGAS e PAIXÃO,

2005).

5.2. Aspectos psicossociais na PFP

No campo da PFP, é importante destacar as pesquisas de Coulson e

cols. (2004); Byrne (2004) e Heymans e Beurskens (2002) que dizem respeito

aos pacientes com sequela de PFP e que, geralmente referem problemas de

comunicação não-verbal. Segundo esses autores, os pacientes mostram uma

face ambígua ou com tendência a má interpretação do estado emocional.

Então, a proposta de Coulson e cols. (2004) foi avaliar o impacto que a

nova condição facial tem na qualidade de vida desses indivíduos, por meio de

questionários abertos, encontrando que quanto maior o prejuízo dos

movimentos da expressão facial há diminuição considerável da função social.

Ainda, foi comprovado que os pacientes que apresentaram menores

prejuízos funcionais na avaliação fonoaudiológica se autoclassificaram efetivos

para comunicar seus estados emocionais, embora esta correlação observada

não tenha sido estatísticamente significante.

Nesse estudo, ao avaliarem as sincinesias na expressão de felicidade,

surpresa e tristeza, notaram concordância entre o baixo desempenho no teste e

a autoclassificação do paciente como não efetiva para expressar emoções. As

sincinesias foram apontadas como sendo o maior problema durante a

felicidade, uma vez que os músculos zigomático e orbicular dos olhos,

relacionados a essa expressão, também são os mais envolvidos durante a

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sincinesia.

Com isso, os indivíduos que se classificaram não efetivos mostraram

maiores graus de sincinesia, além de um menor movimento voluntário no

sorriso e na expressão de surpresa e tristeza, além disso esses dados foram

associados a uma menor qualidade de vida.

Esse dado está de acordo com os achados do estudo de Byrne (2004)

no que se refere ao maior impacto social em pacientes que se autoclassificam

como ineficazes para expressar sentimentos por meio da face. Byrne, ainda

constatou que os pacientes que sofrem de PFP mostram maior tendência para

apresentar sintomas depressivos, ou seja, 65% dos casos que ele apresentou.

Na condição sequelar da PFP, os pacientes apresentam dificuldades

para perceber as sincineias. Geralmente, percebem que há algo errado com

seus movimentos faciais apenas quando observam uma reação desaprovadora

do interlocutor ao realizarem movimentos anormais durante a expressão facial,

e acabam involuntariamente criando providências para prevenir distorções,

diminuindo ou cessando a movimentação facial. Por conta disso, piscar, comer,

falar e sorrir pode resultar em um movimento desconfortável que afeta

drasticamente a qualidade de vida. (VANSWEARINGEN e BRACH, 1997)

A pesquisa de Cross e cols. (2005) utilizou-se dos testes Derriford

Appea-rance Scale, COPE Questionnaire, Personal Report Questionnaire e

Facial Paralysis Questionnaire para medir o grau de impacto na qualidade de

vida de pacientes após a cirurgia para remoção do neurinoma do acústico.

Foi constatado que as mulheres apresentaram maior impacto na

qualidade de vida, assim como encontrou uma relação negativa significante

entre a idade e o nível de impacto. Então, quanto mais jovem a mulher, maior

sua insatisfação com a sua condição facial.

Os pesquisadores concluiram que é necessário considerar a opinião do

paciente antes e depois da cirurgia e criar medidas para melhorar a autoestima

e diminuir o impacto negativo na qualidade de vida desses indivíduos (CROSS

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e cols., 2005).

Na pesquisa de Freitas e Goffi-Gomez (2008) foi comparada a

autoavaliação da condição facial do paciente com a avaliação clínica

fonoaudiológica. Então, por meio de entrevista com perguntas fechadas se

correlacionou a opinião do indivíduo com relação a sua face e o impacto

causado nas atividades sociais e profissionais, juntamente com a avaliação

clínica fonaudiológica.

Nos resultados houve uma correlação estatisticamente significante entre

a autoavaliação total do paciente e a avaliação geral fonoaudiológica, o que

sugere uma concordância entre a visão do paciente e do profissional quanto ao

grau de comprometimento da face.

Ao relacionar o grau de incômodo quanto à sincinesia com o grau da

sincinesia na avaliação fonoaudiológica, não se estabeleceu uma correlação

com significância estatística (FREITAS e GOFFI-GOMEZ, 2008). Isso pode

estar relacionado ao dado obtido na pesquisa anterior de VanSwearingen e

Brach (1997), em que pode se constatar que os pacientes têm dificuldades para

descrever a sincinesia, mas percebem que há algo diferente nos movimentos

faciais.

As pesquisadoras sugeriram então que não há um tipo específico de

sequela que causa um maior impacto na qualidade de vida, mas ressaltam que

há a existência de uma variação individual, na qual, por exemplo, um indivíduo

com menores sequelas pode referir um impacto maior de prejuízo na expressão

de seus sentimentos por meio da face.

Analisando os indivíduos com menor tempo de fonoterapia, não se

constatou essa correlação entre a autoavaliação realizada pelo paciente e a

avaliação fonoaudiológica. No entanto, na análise dos pacientes com número

maior de sessões fonoterápicas, foi confirmada uma correlação forte e

estatisticamente significante. Deste modo, deduz-se que os pacientes com

menos sessões têm mais dificuldade para perceber suas alterações faciais

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(FREITAS e GOFFI-GOMEZ, 2008).

Para finalizar, o prejuízo em atividades diárias não foi relacionado a

condição facial graduada na avaliação fonoaudiológica. Porém, observou-se

uma tendência de os pacientes com comprometimento maior da condição facial

apresentarem maior nota para o prejuízo em suas atividades sociais e

profissionais (FREITAS e GOFFI-GOMEZ, 2008).

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CAPÍTULO 6 – MÉTODO

6.1. Natureza da pesquisa Pesquisa clínica quanti-qualitativa, desenvolvida por meio de estudo de

casos.

6.2. Casuística 6.2.1. Situação 1

04 sujeitos adultos com PFP na fase flácida.

06 sujeitos adultos com PFP na fase de recuperação.

06 sujeitos adultos com PFP na fase sequelar.

6.2.1.1. Critérios de inclusão: ♦ Seleção randômica de sujeitos na fase flácida, de recuperação e sequelar.

♦ Primeiro foram selecionados os sujeitos em atendimento no setor de

Fonoaudiologia na Instituição em que foi realizada a pesquisa.

♦ Devido a dificuldade em completar o número de sujeitos, o contato foi feito

com sujeitos que já passaram por tratamento fonoaudiólogico e desistiram.

♦ Adultos, de ambos os sexos, acima de 18 anos; já que a ocorrência de PFP

na população pediátrica (1-15 anos) é três vezes menor do que o

encontrado na população adulta (ROWLANDS e cols., 2002).

♦ A PFP teve origem desconhecida ou idiopática, já que na grande maioria

dos casos não ocorrem outras doenças associadas, sendo também, a que

atinge a maior parte dos casos (PORTINHO, 2002).

♦ A fase da PFP foi determinada a partir da realização de avaliação

otorrinolaringológica e avaliação fonoaudiológica. Além disso, foi

considerado o tempo de instalação da PFP e a observação de sinais clínicos

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que indicassem a estagnação, a evolução ou a instalação de sequelas,

concluindo dessa maneira, em que fase da PFP os sujeitos da pesquisa

estavam: flácida, de recuperação ou sequelar.

♦ Esses sujeitos manifestaram deformidade moderada (III), disfunção

moderada grave (IV) e disfunção grave (V), de acordo com a escala de

avaliação de House & Brackmann (1985) que inicia em grau I indo até o

grau VI.

♦ A avaliação dos movimentos faciais foi baseada no protocolo utilizado no

Setor de Reabilitação Fonoaudiológica a Pacientes Oncológicos de Cabeça

e Pescoço da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ANEXO

1) (CHEVALIER et al. 1987 adaptado FOUQUET, 2006).

6.2.1.2. Critério de exclusão ♦ A PFP não deve estar associada a outras doenças ou lesões traumáticas,

para que não se configure como sintoma secundário.

6.2.2. Situação 2 Estudo de caso clínico relativo ao atendimento de uma paciente do sexo

feminino, 52 anos de idade no período de atendimento, com instalação da PFP

há 18 anos, com diagnóstico desconhecido e que atualmente apresenta

sequelas.

6.3. Procedimento

6.3.1. Situação 1 Etapa 1: Contato com a Instituição e seleção dos sujeitos O contato foi realizado na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de

São Paulo, para que a pesquisa pudesse se efetivar no setor de

Otorrinolaringologia e recebeu o parecer do Comitê de Ética dessa Instituição

(ANEXO 2).

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Assim, os sujeitos selecionados para a pesquisa foram os que já

frequentavam o serviço de fonoterapia da Instituição.

Os dados pessoais (idade, sexo, profissão e queixas), assim como a

história clínica, instalação da PFP, exames realizados, diagnóstico e condução

terapêutica, foram levantados nos prontuários dos pacientes em atendimento.

Na sequência foi realizada a seleção dos sujeitos que participaram da pesquisa,

a partir dos critérios de inclusão/exclusão acima citados.

Etapa 2: Avaliações fonoaudiológicas:

A condição funcional da face foi classificada na fase flácida, de

recuperação e sequelar, seguindo o protocolo utilizado pela Instituição e

descrito na casuística, para que assim, comprove-se o quadro de PFP dos

sujeitos (ANEXO 1).

Na fase flácida, de recuperação e sequelar, a face foi avaliada em

repouso, observando sinais que indicavam a PFP e classificando-os como

normal, alteração parcial ou total (FOUQUET, SERRANO e ABBUD, 2006).

Na avaliação da mobilidade da musculatura facial foi pedido que cada

movimento fosse executado 5 vezes, para uma melhor precisão da cotação em

um dos cinco graus (0 - contração não visível nem a olho nu nem à luz rasante

à 4 - o movimento é efetuado de maneira ampla, sincrônica e simétrica, em

relação ao lado são).

Na fase sequelar foram caracterizadas presença de contraturas e/ou

sincinesias e classificada em um dos quatro graus (0 – ausência de sincinesia à

+3 sincinesia incontrolável) (FOUQUET, SERRANO e ABBUD, 2006).

Etapa 3: Entrevistas abertas com os sujeitos

As entrevistas foram agendadas, preferencialmente, após o atendimento

e na própria Instituição, em uma sala com a presença apenas de entrevistado e

pesquisadora, em 01 encontro, com duração média de 50 minutos.

As entrevistas foram abertas, com o intuito de deixar que os sujeitos

pesquisados expressassem livremente, particularmente quanto aos aspectos

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subjetivos relacionados à PFP, a partir da seguinte questão: Quais foram as

consequências da PFP na sua vida social e emocional?

Quando necessário, a pesquisadora fez intervenções durante a

entrevista, focando o objetivo da pesquisa. Também buscou, como é proposto

por Volich (2010), encorajar o relato espontâneo do paciente, sem dirigi-lo,

visando detectar as manifestações do funcionamento mental em suas

dimensões verbais e não verbais.

6.3.1.1. Registro e armazenagem dos dados

A avaliação da condição funcional dos sujeitos foi fotografada e filmada,

para que houvesse registro e comprovação.

As entrevistas foram registradas em áudio e vídeo e armazenadas em

DVD-ROM, para que fossem posteriormente, transcritas na íntegra em

ortografia regular e analisadas com maior rigor. O DVD-ROM foi assistido

somente pela pesquisadora e pelos membros autorizados do grupo de

pesquisa.

Os resultados deste estudo poderão ser publicados em jornais

profissionais ou apresentados em congressos profissionais, mas as gravações

não serão reveladas a menos que a lei as requisite.

6.3.2. Situação 2 Estudo de caso clínico com registros do atendimento fonoaudiológico do

período de março de 2010 à julho de 2010. Foram descritos os procedimentos

realizados durante esse período, como Avaliação da Condição Facial,

terapêutica miofuncional e conteúdos psíquicos e sociais implicados nessa

condição.

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6.4. Análise de resultados 6.4.1. Situação 1

Fase 1: A interpretação do material coletado nas entrevistas foi pautado

na análise categorial, conforme descrita por Bardin (2002), que se constitui

numa das técnicas mais eficazes na análise de conteúdo. Tal procedimento

propõe a reorganização do discurso pela investigação dos seus temas, visando

uma análise temática por reagrupamento, segundo as características comuns

dos elementos constituídos de um conjunto.

A partir da investigação do que cada um dos elementos tem em comum

com os outros, as categorias foram organizadas e agrupadas. A estruturação

desse processo depende do isolamento dos elementos (inventário) e da

organização das mensagens (classificação).

Foi realizado o procedimento por “acervo” (BARDIN, 2002), que consistiu

na classificação analógica e progressiva dos elementos após a coleta de todos

os dados das entrevistas, para que cada categoria fosse definida no final da

operação.

Fase 2: Descrição das categorias convergentes e divergentes entre os

discursos de todos os sujeitos, por estatística simples.

Fase 3: Comparação entre as categorias presentes no grupo de

pacientes na fase flácida, de recuperação e sequelar, por estatística simples.

Fase 4: O material levantado nas entrevistas foi analisado a partir de

referenciais teóricos da psicanálise (conteúdos psíquicos), da psicologia social

(Teoria do Estigma) e da fonoaudiologia (acervo sintomatológico), na

perspectiva da articulação entre linguagem, corpo e psiquismo.

6.4.2. Situação 2 O material levantado durante o processo terapêutico foi analisado a partir

de referenciais teóricos da psicanálise (conteúdos psíquicos), da psicologia

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social (Teoria do Estigma) e da fonoaudiologia (acervo sintomatológico), na

perspectiva da articulação entre linguagem, corpo e psiquismo.

6.5. Roteiro de avaliação A partir do levantamento, definição de categorias e análise do material

coletado nesta pesquisa foi elaborado um roteiro de avaliação que poderá ser

utilizado como instrumento de coleta de dados em futuras pesquisas e como

procedimento de coleta de material clínico nas entrevistas com sujeitos

afetados pela PFP.

O roteiro é apresentado no capítulo 9.

6.6. Ética De acordo com as normas éticas preconizadas para pesquisas utilizando

seres humanos, só participaram da pesquisa os sujeitos que concordaram em

assinar o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” (TCLE) (ANEXO 3a).

A identidade dos sujeitos foi preservada, portanto, seus nomes foram

substituídos por numeração.

Esse projeto foi encaminhado para parecer e aprovado no Comitê de

Ética da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ANEXO 2).

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CAPÍTULO 7 – RESULTADOS

7.1. Caracterização da amostra

A amostra consistiu de 16 pacientes que tiveram PFP: 11 (68,8%) são do

sexo feminino, e 5 (31,3%) do sexo masculino.

Na tabela 1 são apresentados os valores observados de estatísticas

descritivas para a idade dos pacientes.

Tabela 1- Estatísticas descritivas para a Idade (anos)

Média Desvio padrão Mínimo Mediana Máximo

60,1 13,7 43 56,5 88

Quando os pacientes são divididos nas faixas etárias “menor que 60

anos” (não idosos) e “60 anos ou mais” (idosos), observou-se que 9 (56,3%)

pacientes são não idosos e 7 (43,8%) são idosos.

As distribuições de frequências e porcentagens da Escolaridade são

apresentadas na tabela 2. Observa-se que metade dos pacientes tem ensino

fundamental completo, e apenas 1 (6,3%) tem superior completo.

Tabela 2- Distribuição de frequências e porcentagens da Escolaridade

Escolaridade N % Alfabetizado em casa 1 6,3 Ensino fund. incompleto – 1º ciclo 5 31,2 Ensino fund. incompleto - 2º ciclo 3 18,8 Ensino fundamental completo 3 18,8 Ensino médio completo 2 12,5 Ensino médio/ Magistério 1 6,3 Superior completo 1 6,3 Total 16 100

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As distribuições de frequências e porcentagens da Profissão são

apresentadas na tabela 3. Observa-se que a categoria mais frequente é

aposentado.

Tabela 3- Distribuição de frequências e porcentagens da Profissão

Profissão N %

Aposentado 6 37,5

Comerciante 2 12,5

Costureira – Afastada pelo INSS 1 6,3

Desempregado 2 12,5

Dona de casa 2 12,5

Religiosa 1 6,3

Terapeuta corporal 1 6,3

Voluntária em ONG 1 6,3

Total 16 100

A maioria dos pacientes é casado (tabela 4)

Tabela 4- Distribuição de frequências e porcentagens do Estado civil

Estado civil N %

Casado 9 56,3

Divorciado 3 18,8

Solteiro 1 6,3

Viúvo 3 18,8

Total 16 100

Quanto à PFP, em 11 (68,8%) a hemiface afetada foi a direita, e em 5

(31,3%) a esquerda.

Na tabela 5 observa-se que a fase menos frequente é a flácida.

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Tabela 5- Distribuição de frequências e porcentagens da Fase da PFP

fase da PFP N %

Em recuperação 6 37,5

Flácida 4 25

Sequela 6 37,5

Total 16 100

Pode se observar na tabela 6 que os pacientes são bastante

heterogêneos quanto ao tempo de duração da PFP.

Tabela 6- Estatísticas descritivas para o Tempo de duração (meses)

Média Desvio padrão Mínimo Mediana Máximo

14,8 19,4 2 8,5 81

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7.2. Conteúdos Psíquicos

Na tabela 7 são apresentadas as frequências e porcentagens gerais e de

cada fase da PFP com relação a ocorrência de cada conteúdo psíquico.

Observa-se que os fatores que ocorreram com maior frequência no total da

amostra, foram susto no momento da PFP e desânimo após a PFP, cada um

deles relatado por 12 (75%) pacientes.

Os fatores que ocorreram com maior frequência na fase flácida foram

ansiedade, desânimo após a PFP, cada um deles relatado por 4 (100%)

pacientes.

Na fase de recuperação observou-se uma frequência menor, atingindo a

porcentagem de 50% (3 pacientes) para os conteúdos: calma e susto no

momento da PFP; desânimo, tristeza e nada de relevante após a PFP.

A fase sequelar foi a que apresentou maior frequência de respostas,

sendo o susto no momento da PFP e a tristeza após a PFP relatados por 6 os

pacientes (100%) e o estresse antes da PFP, o desânimo referido por 5 (83,3%)

pacientes.

Para cada paciente foi calculado o número de conteúdos psíquicos. Na

tabela 8 encontram-se os valores observados de estatísticas descritivas para o

número de conteúdos psíquicos por paciente, por sexo, faixa etária, fase e

hemiface. Os valores do número de conteúdos psíquicos observados em cada

paciente estão representados na figura 2.

Observa-se comportamento semelhante nos dois sexos, isto é, pessoas

dos dois sexos tendem a apresentar, em média, o mesmo número de

conteúdos psíquicos; os idosos apresentam, em média, menor número de

conteúdos que os mais jovens, os em recuperação apresentam menor média do

número de conteúdos que os nas demais fases, e os que têm hemiface direita

afetada apresentam menor média de número de conteúdos do que os que têm

a face esquerda afetada.

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Tabela 7- Frequências e porcentagens dos conteúdos psíquicos Fase flácida Fase

recuperação

Fase

sequelar

Total da

amostra

Oca

sião

Conteúdo

N % N % N % N %

Tristeza sem motivo fatual 1 25 1 16,7 0 - 2 13

Tristeza por motivo fatual 0 - 1 16,7 4 66,7 5 31

Revolta por motivo fatual 0 - 0 - 2 33,3 2 13

Estresse 1 25 2 33,3 5 83,3 8 50 Ant

es

Nada relevante 2 50 3 50 1 16,7 6 38

Calma 1 25 3 50 0 - 4 25

Susto 3 75 3 50 6 100 12 75

Desespero 0 - 1 16,7 2 33,3 3 19 No

mom

ento

Confundiu com AVC 1 25 0 - 3 50 4 25

Irritabilidade 3 75 1 16,7 1 16,7 5 31

Dispersão 1 25 1 16,7 1 16,7 3 19

Ansiedade 4 100 1 16,7 2 33,3 7 44

Desânimo 4 100 3 50 5 83,3 12 75

Vergonha 2 50 2 33,3 4 66,7 8 50

Medo da repetição do sintoma 0 - 0 - 1 16,7 1 6

Frustração pela ausência de

etiologia definida

2 50 0 - 0 - 2 13

Impaciência 3 75 1 16,7 0 - 4 25

Horror diante da condição facial 1 25 1 16,7 3 50 5 31

Revolta 1 25 2 33,3 0 - 3 19

Tristeza 2 50 2 33,3 6 100 10 63

Gratidão aos cuidados de familiares,

amigos e/ou profissionais da saúde

0 - 3 50 4 66,7 7 44

Desamparo de familiares, amigos

e/ou profissionais da saúde

1 25 1 16,7 0 - 2 13

Incômodo, impressão que todos

estão olhando para o rosto

1 25 2 33,3 2 33,3 5 31

Dep

ois

Nada Relevante 0 - 3 50 0 - 3 19

Total 4 25 6 37,5 6 37,5 16 100

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Tabela 8- Estatísticas descritivas para o Número de conteúdos psíquicos por paciente em cada categoria de Sexo, Faixa etária, Hemiface e Fase N Média Desvio padrão Mínimo Mediana Máximo

Sexo feminino 11 7,9 3,6 4 7 16

masculino 5 7,2 3,0 3 7 11

Faixa etária menor que 60 9 8,9 3,6 4 9 16

60 ou mais 7 6,1 2,6 3 6 11

Hemiface Direita 11 7,1 2,3 4 7 11

Esquerda 5 9,0 5,1 3 10 16

Fase Flácida 4 8,5 2,4 6 8,5 11

Em recuperação 6 6,0 3,2 3 4,5 11

Sequela 6 8,8 3,9 5 7,5 16

Total 16 7,7 3,4 3 7 16

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Figura 2- Valores individuais e médios do Número de conteúdos psíquicos por paciente em cada categoria de Sexo, Faixa etária, Hemiface e Fase

⊕: média

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7.3. Efeitos sociais

Na análise dos efeitos sociais foram adotados os mesmo procedimentos

utilizados na análise dos conteúdos psíquicos.

As frequências e porcentagens de ocorrência gerais e de cada fase da

PFF de efeitos sociais são apresentadas na tabela 9. Observa-se que os efeitos

que ocorreram com maior frequência estão relacionados ao isolamento.

Na fase flácida a categoria isolamento: evita encontrar as pessoas foi

relatado por 3 pacientes, ou seja, 75% da amostra. A fase de recuperação

apresentou frequências de respostas abaixo de 40%, sendo destacado somente

o isolamento: evita sair de casa, relatado por 2 (33,3%) dos pacientes.

A fase sequelar destaca-se por apresentar em sua maioria, frequências

de respostas acima de 50% para as categorias estabelecidas, evidenciando-se

que as categorias de isolamento: evita falar e encontrar as pessoas, foram

relatados por 5 (83,3%) pacientes.

Para cada paciente foi calculado o número de efeitos sociais relatados.

Na tabela 10 encontram-se os valores observados de estatísticas descritivas

para o número de efeitos por paciente, por sexo, faixa etária, fase e hemiface.

Os valores do número de efeitos sociais observados em cada paciente estão

representados na figura 3.

Observa-se que o número de efeitos sociais por paciente não depende

do sexo, é, em média, menor nos com 60 anos ou mais, tem média maior nos

com hemiface esquerda afetada, e é maior, em média, nos com sequela.

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Tabela 9- Frequências e porcentagens dos efeitos sociais

Fase flácida

Fase recuperação

Fase sequelar

Total da amostra Sujeitos/ Ambientes

estabelecidos N % N % N % N %

Evita sair de casa 2 50 2 33,3 4 66,7 8 50

Tenta sair, mas não consegue

1 25 1 16,7 3 50 5 31

Evita encontrar as pessoas

3 75 1 16,7 5 83,3 9 56

Isol

amen

to

Evita falar com as pessoas

2 50 1 16,7 5 83,3 8 50

Evita tirar fotos 2 50 1 16,7 3 50 6 38

Evita participar de cenas alimentares

2 50 1 16,7 4 66,7 7 44

Evita participar de festas 2 50 0 - 3 50 5 31

Rec

usas

Evita os rituais religiosos 1 25 0 - 1 16,7 2 13

Dificuldades Profissionais 1 25 0 - 1 16,7 2 13

Dificuldades Conjugais 1 25 0 - 3 50 4 25

Total 4 25 6 37,5 6 37,5 16 100

Tabela 10- Estatísticas descritivas para o Número de efeitos sociais por

paciente em cada categoria de Sexo, Faixa etária, Hemiface e Fase

N Média Desvio padrão Mínimo Mediana Máximo

Sexo Feminino 11 3,4 3,3 0 4 10 Masculino 5 3,8 4,1 0 3 9 Faixa etária menor que 60 9 4,2 3,5 0 4 10 60 ou mais 7 2,6 3,4 0 0 7 Hemiface Direita 11 3,2 3,3 0 3 9 Esquerda 5 4,2 4,0 0 4 10 Fase Em recuperação 6 1,2 1,8 0 0 4 Flácida 4 4,3 4,4 0 4 9 Sequela 6 5,3 3,1 1 5 10

Total 16 3,5 3,4 0 3,5 10

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Figura 3- Valores individuais e médios do Número de efeitos sociais por paciente em cada categoria de Sexo, Faixa etária, Hemiface e Fase

⊕: média

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97

CAPÍTULO 8 – DISCUSSÃO

Na discussão foi resgatado o referencial teórico que permeou os

capítulos anteriores, articulando-o com os resultados obtidos e trechos

transcritos das entrevistas realizadas com os sujeitos e pelo estudo de caso

clínico.

No ANEXO 7, são apresentados trechos do Trabalho de Conclusão de

Curso (TCC) de Roberta Látaro Moreira - “O que há por trás de sua escrita?”

(2003) - em que a então estudante de fonoaudiologia, relatou por meio de diário

suas reflexões a respeito da experiência de ser acometida pela PFP. A autora

autorizou a divulgação do diário e da sua identidade por meio do TCLE (ANEXO

3b).

A exposição do diário justificou-se porque esse material evidenciou

vários dos resultados obtidos neste trabalho.

8.1. Caracterização da amostra

Com relação ao levantamento da caracterização dos sujeitos, pode se

observar um predomínio do sexo feminino (68,8%) com relação ao masculino

(31,3%). Valença e cols., (2001) já haviam revelado a predominância de

mulheres em seu estudo, chegando a uma porcentagem semelhante, 66,7% da

amostra. No estudo de Garanhani, Capelli e Ribeiro (2007), também havia o

predomínio de mulheres com PFP (60,8%).

Na distribuição da faixa etária a amostra consisitu de sujeitos a partir da

quarta década de vida, pois não haviam sujeitos atendidos no Ambulatório

abaixo da quarta década de vida que correspondessem a todos os critérios de

inclusão para a pesquisa. O predomínio de sujeitos a partir da quarta década de

vida também foi referido nos resultados da pesquisa de Valença e cols. (2001).

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A média de idade nesta pesquisa ficou em 56,5 anos, diferente do estudo de

Garanhani, Capelli e Ribeiro (2007), em que a média de idade ficou em 32,3

anos.

Por último, quanto a hemiface acometida houve o predomínio do lado

direito (68,8%), assim como no estudo de Garanhani, Capelli e Ribeiro (2007)

com 52,1% do total da amostra.

8.2. Conteúdos Psíquicos Na ocasião anterior a PFP, 13% dos entrevistados referiram tristeza

sem motivo fatual. Abaixo um exemplo extraído da entrevista do sujeito 1:

“sabe o que eu percebi, não é do meu íntimo, mas aconteceu. Eu fiquei muito triste…

assim uns dois… assim engraçado que assisti filmes tristes, chorei muito dois dias

antes… eu senti, né”. (Sujeito 1 – Fase flácida)

De acordo com a perspectiva de Damásio (1996), o nosso corpo é usado

como instrumento de aferição, onde nossas emoções ficam registradas. Então,

fatores precipitantes que incluem eventos vitais e situações pessoalmente

estressantes, como aponta Lipowski (1988), podem ter um significado subjetivo

de perda ou ameaça para o indivíduo imprimindo marcas no corpo.

Com relação a categoria tristeza por motivo fatual a porcentagem de

respostas foi maior, 31%. Sendo que estas, em todos os casos, foram

reveladas porque os sujeitos sentiram e anunciaram que o momento da

entrevista foi estabelecido como local de exposição e acolhimento desses

sofrimentos, como exposto por Ávila (2004) nas afetações psicossomáticas.

“Eu tive um problema emocional muito grande. Eu tinha uma cachorrinha e essa

cachorra morreu. Ela morreu em 18 de outubro, aí eu fiquei muito triste. Eu chorava

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muito, muito, muito. Eu não sei se foi, mas eu passei no médico e ele achou que meu

problema foi emocional.” (Sujeito 2 – Fase sequelar)

“Aí pra única pessoa que eu tô falando assim o que aconteceu é nessa entrevista, que

a minha cachorra... É pra você. E... se eu fosse falar pro médico que tinha acontecido

isso, talvez ele não ia acreditar né?” (Sujeito 2 – Fase sequelar)

“Então, porque assim, o meu problema veio de um outro problema. Porque oh, eu

tenho um filho que ele é… que ele começou a usar drogas. Quando foi no dia mesmo

meu filho resolveu me contar, aí quando ele me contou, eu paralisei.”

“Depois de dois anos que eu tive problema, mas tudo isso, eu acho que juntou com

tudo isso. Problema do marido que bebia, problema em seguida que meu pai morreu,

em seguida o problema do meu filho, aí eu juntei tudo isso, quando eu pensei que não

eu tava toda torta. Aí pronto, até hoje, até hoje que eu tô… eu peço a Deus todos os

dias que me dê paciência, força e coragem pra eu continuar.” (Sujeito 14 – Fase

sequelar)

Como enfatizado por Ávila (2004), os sintomas não devem ser

minimizados ou desprezados, é necessário a investigação da vida pessoal do

doente toda vez que a etiologia de uma determinada moléstia apresentar-se

confusa ou incompleta. Além disso, deve-se considerar que o tratamento

consiste em fazer com que o indivíduo vença a alienação que o mantém

desconhecido de si mesmo, que ele se assuma como sujeito, sem se

estabelecer uma relação entre paciente e profissional de saúde de

subordinação e dependência (ÁVILA, 1996).

Em relação ao fator Estresse, metade dos sujeitos (50%) responderam

que ele ocorreu anterior a PFP.

“Passei muito nervoso. Mas assim, não foi entre o casal, foi uma inquilina. Passamos

um nervoso meio forte”. (...) eu reclamava dentro de casa pro meu filho, pro meu

esposo, pra minha filha, mas pra ela não. Que eu tinha um pouquinho de medo dela.

(…) e aquilo foi me fechando, me fechando por dentro até, de repente… eu, pra mim

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foi do nervoso que eu passava. (…) e eu fiquei muito, com aquilo muito dentro de mim

né”. (Sujeito 13 – Fase sequelar)

Lipowski (1988) ressaltou que na somatização fatores precipitantes

incluem eventos vitais e situações pessoalmente estressantes, devido a seu

significado subjetivo de perda ou ameaça para o indivíduo.

Um importante aspecto da personalidade dos pacientes é o denominado

traço de “neuroticismo” e a vulnerabilidade ao estresse (ÁVILA, 2004). Lipowski

(1988) salienta também a tendência desses pacientes em lidar com as

dificuldades da vida, em sua multiplicidade de conflitos, através da adoção de

um “papel de doente”, com o qual eles tentam conseguir apoio e atenção de

seus familiares, bem como evitam obrigações sociais e familiares.

No momento da PFP doze (12) sujeitos responderam que ficaram

assustados com a condição física (75%) e três (3) entraram em desespero (19%).

“eu me assustei, eu assustei e falei, ué, mas o que é isso? Daí fui lá na cozinha,

mostrei pra ele, falei, “meu bem olha como tá meu rosto”, eu não tô bem não, né? Ele

olhou pra mim, falou, não, isso não é nada não. Ele falou que não era nada, que não

era nele né (risos). Não era nele, ele sabia que não era nada né.” (Sujeito 13 – Fase

sequelar)

“Quando eu cheguei dentro do terminal, a gente fica curiosa né. De ver, porque todo

mundo lá na firma se assustou. Aí eu fui lá e procurei um lugar que tinha um vidro

assim, (...) e tinha no pátio do terminal. Aí eu olhei e entrei em desespero. Fechava um

olho e o outro tava parado, parado.” (Sujeito 2 - Fase sequelar)

“quando eu cheguei no médico e me olhei no espelho, porque a minha boca tava aqui

(desviada para o lado direito), aí aquilo, eu já entrei em parafuso.” (Sujeito 5 – Em

recuperação)

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É necessário nesse momento lembrar, que o paciente, nessa condição

frágil, precisa ser acolhido e escutado (DOLTO, 2002), levando-se em

consideração os aspectos que ele associou a seu processo de adoecimento

(Ávila, 2004).

A seguir há trechos de entrevistas em que os sujeitos relataram

ansiedade (44%) e impaciência (25%).

“Eu perdi um pouco a paciência comigo, eu queria melhorar, eu não conseguia parar

num lugar. Uma das coisas, que eu achava era que não era ansiosa, depois eu passei

a pensar que era ansiosa, comigo né, porque com os outros eu acho que sou tão

paciente. Por isso que eu acho que eu tenho que esperar um pouco mais de mim, né,

porque eu perdia muita a paciência comigo.” (Sujeito 1 – Fase flácida)

“Quando eu tô muito nervoso dá impressão que nada tá melhor em mim, nada

melhorou, eu sinto esse lado muito pesado (aponta para o lado direito), o lado que tá

afetado muito pesado. Então o olho tá pesado, ao conversar você percebe que a sua

boca tá puxando mais pra um lado, né, você não tem coordenação nenhuma desse

lado direito.” (Sujeito 9 – Fase flácida)

A pesquisa de Rebelo e cols. (2007) relembra que a pessoa inicia um

percurso de sofrimento íntimo quando está doente, incluindo emoções e

sentimentos de profundo mal-estar, ansiedade, impaciência e tristeza.

Destaca-se que 75% (doze sujeitos) dos entrevistados alegaram que

após a PFP sentiram desânimo: “É um cansaço assim, um cansaço no rosto, no corpo, eu comecei a sentir fraqueza, aí

eu achava, minha cunhada dizia: “você não está se alimentando direito”. Eu emagreci

muito, muito. Desde o começo, depois que me deu paralisia. Emagreci três quilos e

tava me sentindo péssima.” (Sujeito 1 – Fase flácida)

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“Eu chorava muito, eu não dormia. Mexeu com o meu apetite, mexeu com o meu sono,

eu chorava porque, independente da gente se sentir horrível, ridícula, horrorosa, mexe

mesmo com o sistema nervoso, comigo mexeu muito, muito, muito.”

“preguiça também e perdi a vontade de muitas coisas, porque a gente no começo

perde a vontade de tudo, eu não tenho vontade de nada, sabe, entende. Olha pra você

ter uma idéia eu perdi, pelo menos eu, eu não sei se as outras foram a mesma coisa,

eu perdi toda a minha autoestima, eu perdi. Sabe o meu chão, eu me vi completamente

arrasada, eu me senti, pelo amor de Deus.” (Sujeito 5 – Em recuperação)

“Que nem hoje mesmo, meu, “eu não vou mais fazer” (dúvidas se continuava no

atendimento multidisciplinar)… falei para minha esposa né, eu não vou mais. Agora

que tamo na chuva vamo se molhar! Foi isso que aconteceu, que aqui eu faço com

prazer (setor de Fonoaudiologia), eu procuro melhorar, eu me esforço para isso.”

(Sujeito 7 – Fase flácida)

Esse dado está de acordo com o estudo de Byrne (2004) que aponta a

tendência do sintoma depressivo (65%) nos sujeitos acometidos pela PFP.

Diante desses trechos é interessante ressaltar que o processo de

conscientização do indivíduo sobre o que o leva a adoecer no plano físico,

psíquico e social pode proporcionar a mudança dos aspectos negativos que

contribuem para esse estado de desarmonia. A descoberta dos fatores

estressantes que influenciam na doença é fundamental para que ocorram

mudanças que também se referem à conscientização de padrões de

comportamento prejudiciais à pessoa, tanto físicos como emocionais (SILVA e

MÜLLER, 2007).

Em relação ao sentimento de Vergonha (50%) é interessante lembrar o

trabalho de Silva e Müller (2007) a respeito de doenças de pele, onde o

indivíduo se utiliza de camuflagem para esconder os problemas de pele ou

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evitam as atividades de rotina, por perceber a reação negativa por parte dos

outros, o que provaca o sentimento de vergonha.

“É, tipo assim, você tá acostumado com a sua fisionomia e de repente você se vê torta,

o rosto deformado, entendeu. Você dá uma risada e parece que alguém rasgou a sua

boca e colocou pra cima. Sabe, é devastador, devastador. Isso acaba com a

autoestima da gente, de ficar com o ego lá embaixo, eu fiquei. Eu me senti

terrivelmente mal, eu não tinha vontade de olhar no espelho, entendeu. Eu tinha

vergonha de comer na vista dos outros e sorri então, sem chance.” (Sujeito 5 – Em

recuperação)

O fato da PFP idiopática não ser uma afecção organicamente grave,

ocasiona uma subestimação do quadro, podendo ser semelhante ao relatado

por Silva e Pais-Ribeiro (2006) no quadro de degenerescência macular,

podendo distanciar a relação entre paciente e profissional da saúde (SILVA e

PAIS-RIBEIRO, 2006).

“se olha pra uma pessoa com paralisia facial, você não imagina que seja grande coisa,

mas mexe. Eu nunca que ia imaginar que isso mexesse tanto com o meu eu,

entendeu, porque de todos os problemas que eu tive de saúde foi o que mais mexeu

comigo, interiormente.” (Sujeito 5 – Em recuperação)

“mexe com aparência da gente. É engraçado, parece que te vira pelo avesso assim

sabe, é como se alguém tivesse me pegado e virado do avesso, de repente eu me

senti sem chão, sem o meu chão, sem… sei lá, o meu porto seguro sumiu, eu me senti

assim, eu me senti terrivelmente abatida, me abalou terrivelmente, me abalou.”

(Sujeito 5 – Em recuperação)

“Meu Deus eu não posso me abater, eu não posso abaixar a cabeça, eu tenho que me

erguer, erguer minha cabeça e viver a vida, né. Tem hora que eu me animo, mas tem

hora que dá aquela caida, sabe, porque demoro a falar com alguém, até mesmo com a

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minha família no quintal, não gosto de tá conversando, só saio mesmo quando eu vou

no Mercado, fazer as compras, que eu preciso que não tem quem faça pra mim, né e

aqui pros médicos.” (Sujeito 8 – Fase sequelar)

Um dos sujeitos alegou que evita olhar seu rosto no espelho e vale

enfatizar que faz seis (6) anos que a PFP se instalou.

“Então, muitas vezes eu nem me olho no espelho, porque cada vez que eu me olho eu

me sinto muito triste.”

“Aí em seguida, eu as vezes me olho sem querer, eu tô penteando o cabelo e me olho,

mas eu olho só na cabeça (aponta para o cabelo), aí eu me vejo assim, isso aqui torto.”

(aponta para o queixo)

“Eu fico triste. Que a gente é feio em seguida fica torto, é difícil né. Ah, eu fico triste.

Me deixou muito… me deixou muito assim, qualquer coisinha eu tô chorando. Eu fiquei

com essa sequela também de chorar, qualquer coisa eu já tô chorando.” (Sujeito 14 –

Fase sequelar)

Analisando o que Sant’Anna (2004) afirmou sobre as intenções

subjetivas reveladas por meio do estudo do rosto, é importante destacar o

impacto psíquico causado por uma alteração facial tão drástica como no quadro

de PFP. A dificuldade em se reconhecer e se expressar por meio da face,

trouxeram a impossibilidade do sujeito 14 se olhar no espelho.

É interessante destacar também que o fato de relembrar a história da

PFP por meio da entrevista foi meio de organização dos eventos ocorridos até o

momento:

“Porque em casa eu fico em casa e acho que eu não tô boa, não sei o que, não sei

que. Mas aí você fez eu abri... tipo assim, minha cabeça, vem tudinho assim a

lembrança, que não dá pra gente falar com todos esses detalhes, né, como é que foi,

não sei o que, não dá pra falar assim, mas lembrando assim tudo que eu já passei de

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novembro até setembro uma diferença muito grande mesmo.” (Sujeito 2 – Fase

sequelar)

Finalizando esse item, pode se observar que a discussão foi permeada

por referenciais de pesquisas e da literatura que levantavam aspectos

subjetivos da história do rosto e aspectos psicossomáticos envolvidos em

diversas patologias. Por sua vez, constatou-se a escassez de referências

específicas de pesquisas quanto à PFP, e os trabalhos específicos sobre o

tema apresentavam dados gerais relativos a mudanças comportamentais (item

5.2., p.77) sem explicitá-las após a instalação da PFP.

8.3. Efeitos sociais

Nesse item foram expostos a variedade de estratégias que os sujeitos

estigmatizados empregam para lidar com a rejeição alheia e a complexidade de

tipos de informação sobre si próprios que projetam nos outros, como foi

estabelecido por Goffman (1988).

“não que eu me escondi, que eu... lógico, eu fiquei preocupada, né, fiquei preocupada

porque as pessoas merecem esse carinho, esse respeito do nosso falar, do nosso

rosto. Nosso rosto é tudo. É imagem que vai pra todo o lugar.” (Sujeito 16 – Em

recuperação)

“Olha, a paralisia facial, pra mim, realmente que tenho uma vida social bastante

agitada. A gente vai na igreja, a gente participa com as filhas, a gente participa na rua,

a gente tem bastante amigo, a gente conversa com os amigos, então quer queira quer

não o complexo obviamente aparece, né.” (Sujeito 7 – Fase flácida)

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Evitar sair de casa (50%), em locais especificamente estabelecidos e se

utilizar recursos para não ser visto foi um acontecimento muito comentado ao

longo das entrevistas:

“Porque eu moro (…) quase trinta e cinco anos, então a gente conhece todo mundo, os

vizinhos, todo mundo, até para ir na rua é meio complexado, chega tem que por uma

roupa escura, parece bandido, parece que tá fugindo da… e assim, porque é, vamos

supor, é lógico, você é uma pessoa muito educada, a pessoa vai perguntar e você vai

parar e responder né.” (Sujeito 7 – Fase flácida)

“Você vai tomar café na padaria, num bar, vai comer um lanche, vai tomar um suco,

então você fica olhando se alguém tá conversando e olhando pra você devido a sua

situação. É… você procura evitar esses lugares assim, muito movimento.” (Sujeito 9 –

Fase flácida)

Nesse caso, o indivíduo que sofre com o seu estigma se sente

despontencializado a frequentar determinados locais, pois pressupõe que o

outro, mesmo que o desconheça, reparará em sua diferença, reduzindo, como

dito por Goffman (1988), a uma pessoa “estragada e diminuída.”

Existe o incentivo principalmente de familiares para que o sujeito

estigmatizado consiga sair de seu isolamento, e este é fundamental para que

esse sujeito consiga se fortalecer e retomar as suas atividades de costume,

porém, nem sempre ele se faz eficaz (GOFFMAN, 1988).

Coulson e cols. (2004) avaliaram o impacto que a PFP tem na qualidade

de vida desses indivíduos por meio de questionários abertos, encontrando que

quanto maior o prejuízo dos movimentos da expressão facial ocorre diminuição

considerável da função social, o que é compatível com os resultados levantados

nessa pesquisa.

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“meus filhos falam que eu preciso andar, parar com essa moleira dentro de casa, mas

eu não saio não, aí eu fico em casa, eu não gosto de andar não.”

“Eu tenho que fazer caminhada e eu não consigo fazer, porque eu só vivo em casa.

Tem um campo lá que tem bastante gente fazendo caminhada, eu fui um dia e eu ia

voltar, mas eu não vou nada, chego lá tem gente que quer conversar comigo.” (Sujeito

14 – Fase sequelar)

“… tomava minha cervejinha, ouvia música ao vivo, dançava ali no… fora, onde tem os

barzinhos ficava fora. Eu gostava muito de ir, de ouvir as músicas e me divertia e agora

eu não vou mais.” (Sujeito 8 – Fase sequelar)

“Eu antigamente tava todo dia na rua, hoje raramente eu vou na rua, justamente por

conta disso, né, que sabendo do jeito que eu sou, comunicativo com todo mundo e aí

se começa a falar, você começa a sentir, as pessoas começam a perceber e você nota

que as pessoas te olham de uma forma diferente.” (Sujeito 10 – Em recuperação)

“Eu vou chegar na casa dos outros assim? Não dá nem pra falar direito. Dá licença,

não é verdade? poxa vida.” (Sujeito 7 – Fase flácida)

38% dos sujeitos entrevistados evitam tirar fotos:

“Chegou na hora certa (pausa). Eu tenho que tirar… tirar…” (pega o RG) “Não, eu tirei.

Eu precisei tirar a nova (foto) para… eu tive que resolver negócio de banco, eu tive

que tirar a nova, eu tive que tirar. Eu dei uma melhoradinha assim, assim, coisa e tal

(coloca a mão na face), tirei, horrível, eu voltei para fazer outra… esperar né, eu creio

que vai melhorar, se Deus quiser né. Mas depois eu vou tirar outra identidade.”

(Sujeito 7 – Fase flácida)

“Não tiro. Já não tirava antes porque eu tinha muita timidez, mas tirava e tudo mais,

agora não. Nunca mais tirei. Vai, se hoje eu precisar tirar um documento pra uma foto,

eu não vou tirar.” (Sujeito 9 – Fase flácida)

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Com essa condição quase que totalmente incapacitante de se expressar

por meio da face, mesmo que a condição seja de menor expressão dos

sentimentos, como no caso da foto 3X4 para o RG, o sujeito se sente

desconfortável para registrar sua face por meio de fotos. Com a maleabilidade

muscular, é possível deduzir os sentimentos de um indivíduo somente se

atentando as feições do rosto (MALUF-SOUZA, 2009). Com a condição de PFP

fica difícil ocorrer essa maleabilidade.

44% dos sujeito evitam participar de cenas alimentares:

“a comida cair da boca na vista de todo mundo, até a fome tira. O apetite acaba, você

não sente vontade de comer. Eu emagreci mais de três quilos em quatro meses e

acabou comigo, quer dizer, claro que eu tava precisando de emagrecer mesmo (risos),

mas foi devastador. Água você não consegue tomar mais, você toma a água, a água

vai caindo em sua roupa e isso é terrível.” (Sujeito 5 – Em recuperação)

“… um churrasco, me chamaram eu falei, não, não vou não, eu vou esperar eu

melhorar, meus amigos lá da igreja me convidaram para outro lugar, ah! Eu não vou

não. O complexo é terrível, quer queira quer não ele aparece, é uma coisa que… não

adianta… não é no braço, coloca uma camisa de manga comprida e esconde né, é

uma coisa que tá na cara né, se vê o olho, nariz.” (Sujeito 7 – Fase flácida)

Vale lembrar que Santos (2006), em contato com grupos de pacientes

com PFP constatou que muitos referiram evitar eventos sociais como festas,

temendo inclusive as cenas alimentares, onde o escape involuntário de

alimentos pela boca, pode causar repulsa ou piedade nos outros.

Com menor expressão estatística, mas não menos importante serão

apresentados, por meio de trechos das entrevistas, as categorias de recusas

em participar de rituais religiosos (13%), dificuldades profissionais (13%) e

dificuldades conjugais (25%), respectivamente.

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Com relação a dificuldade de retomar os rituais religiosos habituais,

destaca-se o seguinte trecho:

“Ultimamente, perto da onde eu moro tem uma igreja né, é só descer e já tá na igreja.

Eu fui na missa no mês de março. Aí o pessoal fica falando, vai na missa, aí eu fico

chorando na janela. Aí fico pensando, meu Deus do céu, eu vou? Eu vou. Depois eu

digo, não vou não, não dá tempo. Aí eu vou mais longe, outro dia, no domingo passado

eu fui na igreja mais longe. Eu fui até de ônibus porque é longe.” (Sujeito 14 – Fase

sequelar)

E a respeito da dificuldade de arranjar emprego, foi evidenciado o trecho

abaixo:

“O nervoso seria o econômico, né, que você tá desempregado… e assim, pra você

procurar emprego e for na rua, em agência, você não consegue porque você tem um

problema, então você não vai conseguir emprego e isso te incomoda muito, eu sei que

quando você tem um problema você realmente não vai conseguir, mas assim, alguma

coisa informal, uma coisa que você possa fazer, se movimentar, mas você tem

dificuldade.” (Sujeito 9 – Fase flácida)

Nas considerações de Goffman (1988), para os estigmatizados, a

sociedade reduz as oportunidades, esforços e movimentos, não atribui valor,

impõe a perda da identidade social e determina uma imagem deteriorada, de

acordo com o modelo que convém a sociedade. O diferente passa a assumir a

categoria de “nocivo”, “incapaz”, fora do parâmetro que a sociedade toma como

padrão. Ele fica à margem e passa a ter que dar a resposta que a sociedade

determina. O social tenta conservar a imagem deteriorada com um esforço

constante por manter a eficácia do simbólico e ocultar o que interessa, que é a

manutenção do sistema de controle social.

Com relação as dificuldades no relacionamento conjugal:

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“eu tô passando por um problema sério com a separação, entendeu, então eu tenho

filhos. Então você tem aquele problema de não querer voltar pra casa dos pais.”

(Sujeito 9 – Fase flácida)

Considerando a possibilidade de que uma importante fonte de apoio,

evidenciada por Hoffmann, Müller e Frasson (2006) seja o companheiro,

quando há um abalo no relacionamento conjugal, como no caso exposto acima,

superar o processo de adoecimento fica mais difícil.

O estudo de caso clínico, que virá a seguir, traz material relativo ao

processo terapêutico de uma paciente cujo atendimento foi iniciado por mim

simultaneamente à realização dessa dissertação.

Na medida em que analisava os dados coletados nas entrevistas, e sob

efeito dessas reflexões, constatava o caráter exemplar desse caso em relação

aos resultados da pesquisa. Essa é a justificativa para a sua inclusão, não

prevista na primeira versão do método, como parte do trabalho.

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111

8.4. Estudo de Caso Clínico

Nome fictício: Teresa

Idade: 52 anos

Instalação da paralisia facial periférica do lado esquerdo da face aos 34 anos

8.4.1. Histórico do caso

Entrevista Piloto (03/08/2009) Teresa foi a primeira pessoa que entrevistei. O intuito foi verificar se o

procedimento formatado no projeto estava adequado, ou se havia necessidade

de ajustes antes de começar as entrevistas na Irmandade Santa Casa de

Misericórdia de São Paulo.

Conhecemos-nos por acaso. Poucos dias antes, havia contado a uma

amiga sobre minha pesquisa no Mestrado. Dois dias depois, recebo seu

telefonema relatando a seguinte situação: havia perdido sua carteira e uma

senhora que morava muito próximo de sua casa a havia encontrado.

Combinaram um encontro no qual ela percebeu que a tal senhora tinha uma

assimetria facial e perguntou-lhe se ela havia sofrido PFP. A resposta foi

positiva e seguida do relato sobre os longos anos de tentativas de superação

das sequelas.

Diante da sua sugestão de que participasse de minha pesquisa, a

senhora aceitou prontamente que eu entrasse em contato com ela, o que fiz.

Encontrei-me com Teresa, expliquei-lhe o objetivo do trabalho e ela

consentiu em ser sujeito do estudo. A única condição que colocou foi a de que

sua face não seria fotografada e nem a entrevista filmada, mas somente

gravada em áudio, o que ocorreu.

Na sequência, me falou sobre as dificuldades enfrentadas na vida

profissional (é cabeleireira), já que as insistentes perguntas das clientes sobre a

aparência de seu rosto a incomodavam profundamente. Mas, que sempre lhes

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respondia que, apesar do problema, “agradecia a Deus” por ter boa saúde e

conseguir sustentar a família com seu trabalho.

Disse-me que o problema não é “um empecilho” de maneira geral, mas

gera incômodo quando precisa tirar fotos ou explicar aos outros sobre o que lhe

aconteceu.

Terminada essa conversa inicial, expliquei a Teresa que começaria com

uma avaliação (conforme ANEXO 1). Os resultados indicaram: que a PFP

ocorreu no lado esquerdo da face, com sequelas moderadas, sincinesia

importante de olho e boca, assimetria facial considerável, inibição de

movimentos e linhas de expressão com menor evidência do lado esquerdo e

sulco nasogeniano bastante acentuado nesse mesmo lado da face.

Após a avaliação, começamos a entrevista, e Teresa optou por iniciar

relatando os aspectos psíquicos. Disse que logo após a PFP sentiu-se muito

triste, ao ponto de tomar a decisão de ficar em casa, sem trabalhar por volta de

um mês. Temia pela reação das pessoas, principalmente a de seu marido, pois

acreditava que sua aparência pudesse fazer com que ele não a amasse mais e,

consequentemente, abandoná-la. Mas, ao contrário, ele tornou-se mais

amoroso e acolhedor.

Esse dado é significativo pois, de acordo com Goffman (1988) o apoio

familiar é (e foi para Teresa) um elemento essencial para que o sujeito possa

ter condições de enfrentar a marca de seu estigma.

Como o diagnóstico da PFP permanece desconhecido, Teresa fez

algumas hipóteses causais: uma forte dor de dente sentida e a dor de ouvido

(após o início de aulas de natação) que surgiu alguns dias antes da instalação

da PFP.

Essas informações não devem ser descartadas nesse caso,

considerando que o nervo facial passa por um longo trajeto ósseo e, portanto,

fica sujeito a processos compressivos e infecciosos de variadas naturezas, que

podem interromper o influxo nervoso (BENTO, 1998).

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Partindo dessas impressões, descreveu como foi o dia que antecedeu a

PFP. Estava no clube, entrou na piscina com seus filhos, e ao sair para fazer

um lanche, percebeu que estava falando a palavra “pão” de maneira

“engraçada”. Nesse momento, lamentou o seu desconhecimento a respeito da

PFP, pois “se tivesse tomado uma injeção” como havia feito uma vizinha, o

processo de adoecimento seria interrompido.

Retomou o relato: na volta para casa, continuou estranhando (ainda

mais) a própria fala. Foi dormir e quando acordou, por volta das 3 horas da

madrugada, viu que “estava torta”, comentando: “então eu entortei dormindo”.

Disse também que antes da PFP estava sobrecarregada de trabalho,

portanto muito cansada.

Após a PFP não queria que as pessoas a vissem naquele estado e

resolveu parar de trabalhar. Ficou em casa, evitando contatos com a vizinhança

e a família por volta de um mês, saindo somente para ir a igreja e fazer o

tratamento médico.

A sensação de não saber o que os outros pensam a nosso respeito, é

acompanhada pela incerteza sobre a forma – positiva ou negativa – com que

somos avaliados (GOFFMAN, 1988). Esse aspecto parece estar presente

nesse caso, implicando que Teresa se recusasse a circular socialmente.

Chorava muito durante esse período, mas nunca na frente de alguém.

Sofria com o estado de sua face mas, considerava que o que havia acontecido

“não era tão grave” revelando, assim, sentimentos conflitantes: sentia-se

culpada pela própria tristeza.

Algumas pessoas, estranhando a sua ausência, começaram a ir procurá-

la em casa e “descobrir” o que havia acontecido. Teresa detestava aquela

situação, porque tinha que falar sobre o problema, o que sempre fazia

minimizando-o, para que os outros não ficassem “muito impressionados e

preocupados”. Mesmo assim, não conseguia evitar essas reações diante das

quais ficava muito irritada e pensando que, afinal, “não estava morrendo”.

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E afirma que até hoje, passados quase vinte anos, continua evitando

falar sobre o assunto e, ao mesmo tempo, lamentando o episódio. Quando está

sozinha pensa muito no que aconteceu com sua face, se olha no espelho e se

pergunta por qual razão isso ocorreu. Mas, logo “muda o pensamento”: poderia

ter ocorrido algo pior, apesar de tudo é feliz por ter saúde e crer em Deus.

Por volta de um mês após a instalação da PFP, Teresa resolveu que

voltaria a trabalhar e “enfrentaria o público”, o que “não foi fácil” mas, resolveu

seguir em frente, “tomando muito chá para se acalmar”.

Um dos fatores que contribuíram para a tomada dessa decisão foi o

apoio do marido, que não a deixou desamparada em nenhum momento,

tratando-a com carinho mesmo estando “toda torta”.

Passou, então, a participar de cultos espíritas e sentiu “grande alívio na

alma”. Mas, abandonou a religião em pouco tempo porque não sentia melhoras

de seu estado físico.

Resolveu se dedicar somente ao tratamento médico, investindo

financeiramente “mais do que podia” na busca de especialistas.

Referiu que o tratamento foi “muito dolorido”, especialmente as sessões

de fisioterapia com eletro estimulação que realizou por três meses. Em seguida,

foi encaminhada para fazer uma tomografia, que a deixou muito apreensiva e

pedindo “a presença de Jesus ao seu lado”. Quando foi buscar o resultado do

exame, recebeu a notícia que este apresentou erros e que deveria ser repetido.

Diante do fato, decidiu que não faria o exame novamente.

Nesse momento, perguntei por que ela havia tomado essa decisão e

Teresa respondeu “se o exame não deu certo de primeira foi porque não era

para dar”, e que resolveu que “deixaria tudo nas mãos de Deus”. Continuou o

tratamento no setor público, fazendo tudo que era requisitado pelos médicos,

“menos a tomografia”.

Com relação a sua fala, as distorções articulatórias faziam com que

evitasse de falar com os outros, até com seus filhos, pois para se fazer

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entender tinha que repetir os enunciados por diversas vezes, o que evidenciava

ainda mais a assimetria do rosto.

A esse respeito, refere que atualmente, isso “não a incomoda tanto”, nem

a impede de conversar com as pessoas. Observei, contudo, que as distorções

na fala são quase imperceptíveis.

Quanto à alimentação, afirma que inicialmente “a comida escapava” (pela

comissura labial), e por isso evitava se alimentar na frente dos outros. Quando

a situação era inevitável, comia com cautela para evitar que o alimento “caísse

da boca”. Atualmente, não tem dificuldade de se alimentar na frente das

pessoas e diz que a única dificuldade que persistiu foi o lacrimejamento do olho

esquerdo no momento da alimentação. E quando as pessoas percebem o fato,

diz que “é emoção, ri e muda de assunto”.

Por sua vez, quando tira fotos opta por ficar séria, mas tenta “sorrir com

os olhos”, pois não gosta de seu sorriso. Faz isso para não “estragar as fotos

dos outros”, especialmente “as fotos de casamento, que ficam em álbuns para

todo mundo ver”.

Seus filhos falam para ela deixar de ficar tão séria nas fotos, e depois

que sua filha comprou uma câmera digital (por volta de 3 anos), ensinou-lhe

“um macete” para que o sorriso não fique “tão torto”, virando o rosto levemente

para o lado direito. Então, só sorri nas fotos tiradas pela filha.

Prossegue que somente os filhos comentam as fotos, mas acha que “os

outros não falam para não tocar em um assunto desagradável”, embora

perceba que as pessoas estranham as fotos, mesmo “não falando nada”.

Avalia que os profissionais de saúde não tem conhecimento suficiente a

respeito da PFP, e que “esse assunto parece um tabu na sociedade”, sugerindo

que se houvesse a divulgação de informações sobre os problemas implicados

“as pessoas saberiam como fazer para se tratar”.

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Complementa afirmando que antes de ter a PFP não conhecia ninguém

que havia sofrido isso, ficou desorientada e achava “que os próprios médicos

não sabiam o que estavam fazendo”.

Depois, soube de outras pessoas que tiveram PFP: vizinhos e “pessoas

da televisão” (Chico Anysio e Ayrton Senna), insistindo na carência de

informações sobre a doença que afeta “tantas pessoas” argumentando que,

recentemente, ao perceber os primeiros sintomas da PFP em um conhecido,

deu-lhe orientações que contribuiram para a sua rápida recuperação.

Acrescentou que se não fosse sua ajuda, ele ficaria perdido assim como ela “há

17 anos atrás”.

Outro momento enfatizado por Teresa foi quando sentiu sintomas

semelhantes aos da PFP há três anos atrás, quando teve uma “sensação

terrível, horrível”, parecida com as dores que sentiu nas sessões de eletro

estimulação. Começou “a ver fleches de luz e a sentir dor de cabeça” e foi

imediatamente ao médico, temendo que a PFP se instalasse novamente. Foi ao

médico e este falou que ela “estava fraca” e receitou polivitamínico do

Complexo B.

O que a deixou mais preocupada foi o (chamado sinal chamado de Bell)

o desvio do globo ocular para cima e para fora, na tentativa de fechamento

palpebral. Até hoje Teresa toma cuidado ao coçar o olho, executando

movimentos “com carinho, porque se eu coçar demais pode virar”, e que “o

medo de voltar a PFP” ainda a atormenta, pois teme “ficar torta novamente”.

A propósito, Ávila (1996) refere que na doença o corpo passa a

demandar que a mente se ocupe de suas funções de forma, muitas vezes,

exclusiva.

Outro aspecto bastante enfatizado por Teresa foi “a revolta por não

descobrir a causa da PFP”, criticando o desconhecimento médico sobre o

assunto, e citando a não comprovação das possíveis etiologias. Afirma que

gostaria de “ter uma resposta concreta”, inclusive por temer que familiares e

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amigos venham a sofrer como ela. E é taxativa ao concluir: “se a pessoa for

fraca, ela pira”.

Em seguida, ironiza, dizendo que a PFP “reduziu suas rugas” e não a

impediu de doar um órgão para que a filha não morresse.

Ao final da entrevista, avaliei que a escuta oferecida a Teresa havia lhe

trazido alivio, possivelmente por ter tido a oportunidade de falar sobre

conteúdos até então aprisionados intra psiquicamente e, muitas vezes

mascarados em suas interações sociais.

Acredito que proporcionar um espaço para o contato com a própria

subjetividade, simultaneamente aos cuidados com o aspecto orgânico, é

fundamental no atendimento dos pacientes que sofrem pelo acometimento da

PFP.

Terminada a entrevista, Teresa anunciou que gostaria de receber

informações sobre o andamento do estudo e os seus resultados. Combinamos

que manteriamos o contato.

Passemos, então, aos desdobramentos desse encontro que,

originalmente, limitava-se à realização da entrevista para coleta de dados de

pesquisa.

8.4.2. Processo Terapêutico

Início: 15/03/2010 Término: 26/07/2010 Em 10/03/2010, após 7 meses da realização da entrevista, Teresa me

telefonou e disse: “tem vezes que eu esqueço a paralisia facial, nem lembro,

mas nessa semana passei pelo médico e ele me perguntou se eu tive um

derrame, fiquei nervosa”.

Diante dessa situação, identifiquei uma queixa direcionada a mim, o que

convocou a minha disponibilidade para encontrá-la novamente. Ofereci-me para

tal e ela prontamente aceitou.

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Fui à casa de Teresa e a encontrei ansiosa e muito agitada. Disse-me

que gostaria de saber o que poderia fazer para “melhorar seu rosto”.

Já havia se informado sobre a aplicação de toxina botulínica, mas o valor

do tratamento era inacessível para ela. Além disso, estava receiosa, pois não

sabia exatamente como era o procedimento.

Expliquei-lhe o procedimento, cuja função é inibir os movimentos da

hemiface não afetada para buscar a simetria facial. Teresa preocupou-se com a

possibilidade de redução da movimentação facial no lado direito e questionou

se não haveria alguma possibilidade alternativa de tratamento.

Sugeri a reabilitação miofuncional, isto é, manipulações manuais na

musculatura da face, sempre seguindo o sentido do desenho das fibras

musculares associados ao uso dos exercícios miofuncionais, e das funções

orais e/ou estomatognáticas como facilitadoras do processo de recuperação

(TESSITORE e cols., 2009) (FOUQUET e cols., 2006).

Na reabilitação das funções orais, a manutenção do tônus muscular e a

otimização da capacidade contrátil muscular residual são cruciais. Além disso,

também se busca suavizar o impacto gerado pela simetria facial comprometida

em repouso e em movimento (TESSITORE e cols., 2009) (FOUQUET e cols.,

2006). Porém, também a informei sobre a impossibilidade de recuperação total

devido ao tempo transcorrido de instalação da PFP (18 anos).

Evidentemente, adequei essas informações técnicas à sua compreensão

leiga.

Teresa aceitou a proposta e combinamos que o processo terapêutico

seria iniciado, com atendimentos semanais. Antes de ir-me, atendendo a sua

solicitação, ensinei-lhe um exercício que consistiu em massagear a musculatura

orofacial no sentido da fibra muscular na frente do espelho, com intuito de

diminuir a tensão da musculatura da face.

No encontro seguinte, percebi que Teresa estava com um tom de voz

mais baixo que o habitual e, aparentemente, calma. Comentei o fato e ela

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respondeu que “estava tentando resolver um problema”: o carro do marido

havia sido roubado, e ela precisava acalmá-lo e resolver a situação, tarefa que

sempre lhe cabia diante de problemas familiares inesperados. Parecia estar

“anestesiada”.

Disse-me que havia feito o exercício, mas tinha desanimado logo,

temendo não obter bons resultados.

Nesse momento, pontuei que era importante que ela relatasse seus

sentimentos e que, talvez, o desanimo estivesse associado à descrença em sua

recuperação. Teresa concordou com minha interpretação e disse que tentaria

fazer os exercícios para “ver no que dava”.

Quando foi realizada a Avaliação Miofuncional diante do espelho,

observei certo incomodo por parte de Teresa durante alguns movimentos, como

o sorriso, pois notou o fechamento de olho. Em outros momentos ficou

surpresa, como na elevação de testa que fez com uma assimetria menos

acentuada que a habitual. Comentou que “fazia muito tempo que não parava

para se olhar no espelho”.

Terminada a avaliação voltou a falar do roubo do carro do marido,

dizendo que só consegue ajudar as pessoas quando fica mais calma, mas que

dessa vez estava “paralisada”. Questionei se essa sensação era semelhante

aquela da instalação da PFP, ao que respondeu afirmativamente, parecia

novamente “não acreditar no que estava acontecendo”, como no episódio da

doença.

Com relação aos exercícios, sugeri a complementação com aqueles que

objetivam a diminuição das sincinesias dos músculos esficterianos da boca e

olho. Para isso, trabalha-se a dissociação dos movimentos com exercícios que

visam a utilização independente dos grupos musculares envolvidos (FOUQUET,

2000).

Logo no início da sessão seguinte, disse que saiu de casa naquele dia

para resolver pendências e mostrou-me a fotografia tirada para refazer o RG

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antigo, comentando que não gostava de fotos no tamanho 3x4 pois as

assimetrias na face se acentuavam.

Com relação aos exercícios disse que os havia feito, mas teve medo de

“mexer no rosto e acontecer algo de ruim”. Por precaução, sempre tomava

Complexo B quando percebia algum tremor ou movimento indesejado na face.

Disse-lhe que, em relação a semana anterior, sua expressão facial

estava menos tensa e que esse temor em fazer algo que piorasse sua face

desencadeava ansiedade. E pedi que ficasse atenta a isso, evitando também

auto medicar-se.

No decorrer das sessões, falava a respeito da família, dos cuidados com

a mãe idosa e a criação de seus filhos. Convivia regularmente com os

familiares, e não faltava aos casamentos e festas de aniversário, nos quais

sempre eram tiradas muitas fotografias.

Certa vez, levou-me até uma gaveta onde guardava as fotos familiares.

Começou a mostra-las, sempre discriminando as que tinham sido tiradas antes

e depois da PFP: “viu, antes eu sorria, depois eu deixei de sorrir nas fotos, saia

séria, sempre séria”.

Mas, ressaltou que havia se arrependido demais por ter ficado séria na

última foto ao lado do pai, antes da sua morte, que ocorreu pouco tempo

depois. Lembra-se que estava feliz e “gargalhando” mas, diante da câmera

mudou de expressão e “não passou aquilo que realmente estava sentindo”.

Outra foto destacada foi a de um casamento. Comentou que “há três

anos tinha começado a treinar para sorrir nas fotos do (futuro) casamento da

filha”.

Mais uma foto: a que o filho havia tirado num momento em que ela

estava distraida, “gargalhando numa festa”. Comentou: “olho pequeno, boca

torta, um horror!”. Diante da foto, observei que a sua assimetria estava quase

imperceptível, e que ali parecia estar, de fato, demonstrando seus sentimentos,

diferentemente daquela ao lado do pai. Isso não seria mais importante do que

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as imperfeições faciais? Teresa pareceu concordar, acrescentando que a filha

“adorava aquela foto”.

No início do processo terapêutico, a tensão muscular facial era

significativa e a minha impressão, por vezes, era a de que ela estivesse brava

mesmo. Contudo, com a realização dos exercícios, sua expressão foi ficando

mais suave e a tonicidade muscular foi aumentando (por exemplo, no músculo

orbicular). E Teresa referiu que não sentia mais os tremores, principalmente os

mais frequentes, que ocorriam na região do olho.

No decorrer das sessões os exercícios passaram a ser direcionados para

os aspectos que ela mais demandava: o sorriso e o olho esquerdo.

Teresa ironizava, dizendo que “um peso de meia tonelada”

impossibilitava que mostrasse os dentes inferiores ao sorrir. Muitas vezes,

tocava essa região dos lábios com certa agressividade, dizendo: “viu, não

desce!”.

Certa vez, num desses episódios pontuei, que ao contrário, para que

essa região fosse suavizada também era necessário toca-la suavemente.

Respondeu que a sua ansiedade e impaciência não permitiam que ela fosse

suave nos movimentos da face. Pedi, então que tentasse e me relatasse suas

impressões.

Os exercícios, aliados a intervenções dessa natureza, isto é, as que

mobilizavam a subjetividade de Teresa, propiciaram a diminuição da tensão no

músculo abaixador do lábio inferior e melhora significativa da simetria em

relação ao lado não afetado da face.

Teresa preocupava-se em saber se as pessoas perceberiam essa sua

melhora, pois as mudanças eram sutis durante os movimentos. Contudo, o fato

delas tornarem-se muito perceptíveis no repouso facial a deixava feliz,

“satisfeita consigo mesma”.

A evolução do quadro prosseguia e, cada vez mais, Teresa narrava

acontecimentos marcantes de sua história durante as sessões, dentre eles a

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morte de dois irmãos na infância: “minha mãe teve dificuldade de vingar uma

criança”.

Algumas sessões depois, referiu a morte do irmão mais velho, mas disse

que ainda não conseguia falar sobre o assunto, pois tinha sido “uma morte

muito triste”. Voltou ao assunto, mais adiante: viciado em drogas, tinha sido

assassinado por um traficante. Antes, ela havia tentado esconder dos pais o

processo que o irmão estava vivendo, e emendou: “o rosto dele não negava a

história, e os meus pais descobriram”.

Intervi, questionando: “e qual é a história que o seu rosto conta?”. Sua

resposta: um rosto que havia sofrido demais com a PFP, mas que estava

aprendendo a lidar com isso para poder superar as dificuldades.

Teresa apresentou uma melhora significativa na musculatura orbicular do

olho esquerdo, referindo não sentir mais tremores desde que havia iniciado

exercícios, emendando que havia suspendido a medicação (Complexo B).

Porém, a musculatura da região da boca, no lado esquerdo, apresentou

melhoras menos significativas, considerando-se as condições apresentadas

pela paciente no início da reablitação miofuncional. Contudo, houve melhor

evolução quanto a tensão muscular do que em quanto à mobilidade dessa

região.

Apontei o fato para Teresa, e enfatizei suas melhoras físicas, de maneira

geral, ao longo das sessões. Ela concordou e disse que sua persistência estava

associada ao meu estímulo.

Nessa mesma sessão anunciou que pretendia entrar no grupo de

“Vigilantes do Peso”, pois estava muito motivada para emegrecer. E que

buscaria um curso de aperfeiçoamento profissional. Devido a dificuldade em

compatibilizar os novos horários com os da terapia, estabelecemos um prazo

para a finalização do trabalho.

Na última sessão, disse-me que recentemente havia feito o novo RG,

utilizando uma segunda foto, pois não tinha gostado da primeira (a que fez após

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a segunda sessão) e concluiu que já poderia tirar uma melhor. Perguntei se

poderia ficar com a última, mas ela me presenteou com as duas.

Seus comentários finais foram relevantes, considerando-se a abordagem

assumida nessa pesquisa. Não estava mais preocupada com a avaliação que

as pessoas faziam do seu rosto, embora tivesse ficado satisfeita quando o

marido e os filhos elogiaram seus progressos. E concluiu afirmando que o rosto

havia melhorado, mas que também se sentia melhor “por inteiro”.

A busca de uma abordagem que englobou aspectos subjetivos permitiu o

acesso aos conteúdos psíquicos e os aspectos sociais implicados no quadro de

PFP nesse caso, sendo que a literatura a respeito da história do rosto,

psicanálise e teoria do estigma foram fundamentais para subsidiar atendimento

fonoaudiológico de Teresa.

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CAPÍTULO 9 – ROTEIRO DE AVALIAÇÃO DE CONTEÚDOS

PSÍQUICOS E EFEITOS SOCIAIS ASSOCIADOS À PFP

O roteiro de avaliação de conteúdos psíquicos e efeitos sociais

associados à PFP foi elaborado a partir dos resultados obtidos nessa pesquisa

e está estruturado em blocos temáticos, baseados na análise categorial (Bardin,

2002) dos conteúdos das entrevistas com os sujeitos estudados.

BLOCO I - IDENTIFICAÇÃO Nome:

Data de Nascimento: Idade: Estado Civil: Profissão:

BLOCO II – Fase da PFP [ ] flácida [ ] de recuperação [ ] sequelar BLOCO III – Histórico da PFP 1. Quando ocorreu a PFP? 2. Quais as sensações e sinais percebidos antes da instalação da PFP?

3. Quais foram as providências tomadas? BLOCO IV – Conteúdos psíquicos 4. Ocorreram alterações no seu estado emocional antes da instalação da PFP?

Relate.

5. Qual foi a sua reação emocional durante a instalação da PFP? Relate.

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6. Quais foram as suas reações emocionais após a instalação da PFP? Relate.

BLOCO V – Efeitos sociais 4. Ocorreram dificuldades em sua vida social após a instalação da PFP?

Relate

5. Você se isolou do convívio social devido às conseqüências físicas da PFP?

Relate

6. Você se recusou a realizar atividades, antes praticadas rotineiramente, após

a PFP? Relate

7. Ocorreram dificuldades na área profissional após a PFP? Relate

8. Ocorreram problemas no relacionamento conjugal após a PFP? Relate

BLOCO VI – Observações complementares

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados indicaram que, comparativamente, os sujeitos portadores

de sequelas apresentam maior significância estatística de conteúdos psíquicos

e efeitos sociais associados à PFP. Seguidos, respectivamente, dos que se

encontram nas fases flácida e de recuperação.

Contudo, de maneira geral, os relatos dos sujeitos estudados revelou

vasta, e significativa, gama de conteúdos subjetivos que devem ser

investigados e incorporados pelos fonoaudiólogos no tratamento da PFP, de

maneira a promover maior efetividade do método clínico fonoaudiológico.

Sugere-se a continuidade de pesquisas sobre o tema com casuística

ampliada e foco nas seguintes vertentes: a escuta terapêutica dos pacientes e

as implicações clínicas da abordagem biopsicosocial da PFP.

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ANEXOS

ANEXO 1 – PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO

Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

Setor de Reabilitação Fonoaudiológica a Pacientes Oncológicos de Cabeça e Pescoço

ANAMNESE E AVALIAÇÃO DE PARALISIA FACIAL

Avaliação baseada no livro de Lacôte M, Chevalier AM, Miranda A, Bleton JP, Stevenin P.

Avaliação Clínica da Função Muscular. São Paulo: Manole, 1987.

Identificação

Data:__________________

1. Nome

2. RG do hospital

3. D/N:___/___/____ Idade atual:

4. Estado Civil:

5. Profissão:

6. Escolaridade:

7. Endereço:

8. Telefone:

História da Queixa

1. Quando começou o problema?

2. Quais foram os sintomas?

3. Quais foram as providências tomadas?

4. Realizou alguma cirurgia? Sentiu alguma dificuldade após a cirurgia?

5. A perda dos movimentos foi gradual ou súbita? Se fez cirurgia, foi antes ou após esta?

6. Apresentou alguma melhora desde então?

7. Consegue fechar os olhos? Está realizando acompanhamento oftalmológico? Quais os

cuidados com os olhos?

8. Tem alguma dificuldade para alimentação? Se fez cirurgia, antes ou após esta? Com

que tipo de alimento?

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9. Observou perda ou modificação do paladar?

10. Dados complementares?

11. Dados médicos (tipo de paralisia, escala House, realização de cirurgia e tratamentos

complementares).

AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA

Em repouso

Paralisia Facial Flácida Total Parcial Normal

Abolição das rugas frontais

Rebaixamento da ponta da sobrancelha

Olho mais aberto/pálpebra inferior caída

Nariz desviado em vírgula para o lado são

Abolição do sulco nasolabial

Desvio e depressão da comissura labial

Lábio superior “desabado”

Lábio inferior “desabado”

Bochecha flácida pendendo em saco

AVALIAÇÃO COM MOVIMENTAÇÃO

Comando Músculo Avaliado Data

Mob/e Tônus Sincinesia

“Cara de assustado” M. occipitofrontal

“Cara de bravo” M. corrugador do supercílio

“Cara de cheiro ruim” M. piramidal do nariz/ transverso do

nariz e MLLSAN

“Raspar bigode” M. mitiforme

“Fechar os olhos

suavemente”

M. orbicular dos olhos (porção

palpebral)

Medir GAP

“Fechar os olhos com

força”

M. orbicular dos olhos (porção

orbital)

Medir GAP

“Sorriso aberto” Mm. Levantador do lábio superior;

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mm. Zigomático maior e menor

“Sorriso fechado” M. risório

Comprimir a bochecha M. bucinador

Fio dental na arcada

inferior

M. abaixador do lábio inferior

Empurrar o queixo

para cima

M. mentoniano

Comissura labial para

fora e para baixo

M. platisma e m. abaixador do

ângulo da boca

“Fazer bico” M. orbicular dos lábios

Medida paquímetro Comissura direita versus filtro

Medida paquímetro Comissura esquerda versus filtro

Medida paquímetro Ponta do nariz versus filtro

Legenda para avaliação com movimentação.

Cotação: 0 = contração não visível nem a olho nu nem à luz rasante

1 = pequena mobilidade de pele

2 = a pele move-se mais. Percebem-se levemente as rugas.

3 = a pele move-se mais claramente. O número de rugas aumenta, assim como

sua profundidade.

4 = o movimento é efetuado de maneira ampla, sincrônica e simétrica, em

relação ao lado são.

Avaliação do tônus: hiper, hipo e normal.

Sincinesias: boca/olho, olho/boca, outras. 0 = ausência de sincinesia

+ 1 = inibição voluntária da sincinesia

+ 2 = inibição da sincinesia por pressão digital (pressão digital no sentido

contrário ao patológico)

+ 3 = sincinesia incontrolável

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ANEXO 2 – Aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

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ANEXO 3 – Termo de Consentimo Livre e Esclarecido 3a. TCLE (Entrevistados)

Nome do participante: .................................................................. Data: ..............

Título do estudo: Conteúdos psíquicos e efeitos sociais associados à paralisia facial periférica: abordagem fonoaudiológica

O propósito desta pesquisa científica é investigar os efeitos psíquicos e

sociais da paralisia facial periférica sob o ponto de vista dos sujeitos que sofrem

com suas conseqüências e, assim, contribuir para a eficácia do método clínico

fonoaudiológico.

Para tanto, serão realizadas avaliação da função facial, seguindo o

protocolo utilizado pelo Setor de Reabilitação Fonoaudiológica da Irmandade

Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Entrevistas abertas, consistindo em

1 encontro de 45 minutos, onde a pesquisadora fará intervenções durante a

entrevista para se alcançar os objetivos da pesquisa.

De forma a registrar exatamente o que ocorreu nas avaliações e

entrevistas, serão tiradas fotos para comprovação da condição facial dos

sujeitos e gravação das entrevistas. Todos os dados serão armazenadas em

DVD-ROM. O DVD será visto e escutado somente pela pesquisadora e pelos

membros autorizados do grupo de pesquisa. Será preservada a identidade dos

sujeitos, sendo que todos os nomes serão substituídos por fictícios.

Poderá não haver benefícios diretos ou imediatos para você enquanto

entrevistado deste estudo, mas poderá haver mudanças nos cuidados dados

aos pacientes após os profissionais de saúde tomarem conhecimento das

conclusões.

Este projeto passará pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade

Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

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Este TERMO, em duas vias, é para certificar que eu,

_______________________________________________________________,

concordo em participar na qualidade de voluntário do projeto científico acima

mencionado. Por meio deste, dou permissão para serem tiradas fotos, para

comprovação da condição facial e gravação digital das entrevistas.

Estou ciente que, ao término da pesquisa, as fitas serão armazenadas

em um Banco de Dados no Programa de Estudos Pós-Graduados em

Fonoaudiologia na PUC-SP. Além disso, os resultados serão divulgados, porém

sem que meu nome apareça associado à pesquisa.

Estou ciente que serão feitas transcrições da fala gravada para um texto

em computador e que os membros da pesquisa poderão conhecer o conteúdo,

tal como foi falado, para discutir os resultados, mas estas pessoas estarão

sempre submetidas às normas do sigilo profissional.

Estou ciente de que não haverá riscos para minha saúde resultantes da

participação na pesquisa.

Estou ciente de que sou livre para recusar a dar resposta a determinadas

questões durante as entrevistas, bem como para retirar meu consentimento e

terminar minha participação a qualquer tempo sem penalidades e sem prejuízo

aos atendimentos e tratamentos que recebo.

Por fim, sei que terei a oportunidade para perguntar sobre qualquer

questão referente a pesquisa, e que todas deverão ser respondidas a meu

contento.

Eu compreendo meus direitos como um sujeito de pesquisa e

voluntariamente consinto em participar deste estudo. Compreendo sobre o que,

como e porque este estudo está se realizando. Receberei uma cópia assinada

deste formulário de consentimento.

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145

3b. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Autorização para divulgação do diário)

Nome do participante: Data: ___/____/____

Título do estudo: Conteúdos psíquicos e efeitos sociais associados à paralisia facial periférica: abordagem fonoaudiológica

O propósito desta pesquisa científica é investigar os conteúdos psíquicos

e efeitos sociais associados à paralisia facial periférica sob o ponto de vista dos

sujeitos que sofrem com suas consequências e, assim, contribuir para a eficácia

do método clínico fonoaudiológico.

Para tanto, peço autorização para usar seu depoimento, em formato de

diário, a respeito do período que foi acometida pela paralisia facial periférica.

Esse depoimento foi publicado em 2003 como Trabalho de Conclusão de

Curso, com o título: “TCC: O que há por trás de sua escrita?”.

Poderá não haver benefícios diretos ou imediatos para você com sua

contribuição nesse estudo, mas poderá haver mudanças nos cuidados dados

aos pacientes após os profissionais de saúde tomarem conhecimento das

conclusões.

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Este TERMO, em duas vias, é para certificar que eu,

_____________________________________________________________,

concordo em participar na qualidade de voluntário do projeto científico acima

mencionado.

Autonomia: Considero preservada minha participação como voluntária,

sem coerção pessoal ou institucional, dando minha permissão para utilização

de meu depoimento para essa pesquisa de Mestrado e revelando minha

identidade. Estou ciente de que sou livre para recusar durante o processo,

retirar meu consentimento e terminar minha participação a qualquer tempo, bem

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146

como terei a oportunidade para perguntar sobre qualquer questão a respeito da

pesquisa e que todas deverão ser respondidas pela pesquisadora a meu

contento.

Beneficência: Estou ciente de que poderá não haver benefícios diretos

ou imediatos para mim enquanto colaboradora deste estudo, além de eventuais

ganhos altruísticos e emocionais de poder contribuir, por meio do material já

publicado sobre o assunto em pauta, mas sei que poderá haver alguma

mudança positiva na abordagem desse problema de saúde após outros

profissionais e outras instituições tomarem conhecimento das conclusões desta

pesquisa.

Não-maleficência: Estou ciente de que autorizei a revelação de minha

identidade com a publicação de meu material, porém estarão garantidas a não

invasão de minha privacidade. Sei que o material coletado será publicado em

trechos na Dissertação de Mestrado da pesquisadora e que será feita referência

ao meu TCC, fazendo assim, referência a minha identidade. O relatório final

estará disponível para todos quando estiver concluído o estudo, inclusive para

apresentação em encontros científicos e publicações em revistas

especializadas, podendo conter citações literais do depoimento escrito com o

meu consentimento.

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147

Profissão

Terapeuta corporal

Costureira – afast. INSS

Aposentado

Comerciante

Dona de casa

Religiosa

Aposentado

Aposentada

Desempregado

Aposentado

Aposentada

Comerciante

Aposentada

Desempregada

Dona de casa

Voluntária em ONG

Estado civil

Viúva

Casada

Casado

Casada

Casada

Solteira

Casado

Viúva

Divorciado

Casado

Viúva

Divorciado

Casada

Casada

Divorciada

Casada

Escolaridade

Superior completo

Ensino Fund. incompleto – 2º ciclo

Ensino Fund. incompleto – 1º ciclo

Ensino fundamental completo

Ensino fundamental completo

Ensino médido/Magistério

Ensino médio completo

Ensino fundamental completo

Ensino médio completo

Ensino Fund. incompleto – 2º ciclo

Ensino Fund. incompleto – 1º ciclo

Alfabetizado em casa

Ensino Fund. incompleto – 2º ciclo

Ensino Fund. incompleto – 1º ciclo

Ensino Fund. incompleto – 1º ciclo

Ensino Fund. incompleto – 1º ciclo

Duração da PFP

4 meses

10 meses

3 meses

32 meses

7 meses

17 meses

2 meses

19 meses

4 meses

5 meses

20 meses

7 meses

10 meses

81 meses

5 meses

11 meses

Início da PFP

Junho/2009

Novembro/2008

Junho/2009

Fevereiro/2007•

Março/2009

Maio/2008

Agosto/2009

Março/2008

Julho/2009

Maio/2009

Março/2008

Abril/2009

Janeiro/ 2009

Fevereiro/2003

julho/2009∗

Janeiro/2009

Hemiface Afetada

Direita

Esquerda

Direita

Direita

Esquerda

Direita

Direita

Direita

Direita

Direita

Direita

Esquerda

Direita

Esquerda

Esquerda

Direita

Fase da PFP

Flácida

Sequela

Flácida

Sequela

Em recuperação

Em recuperação

Flácida

Sequela

Flácida

Em recuperação

Em recuperação

Em recuperação

Sequela

Sequela

Sequela

Em recuperação

idade

52

43

88

50

55

49

67

67

46

43

76

77

72

58

51

68

sexo

feminino

feminino

masculino

feminino

feminino

feminino

masculino

feminino

masculino

masculino

feminino

masculino

feminino

feminino

feminino

feminino

ANEXO 4: Tabela 11- Caracterização no total da amostra

sujs

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

• S

ujeito 4 apresentou dois episódios anteriores de PFP: 1º e

m 1995 e 2º e

m 2006

∗ Sujeito 15 apresentou 1 episódio de PFP há 26 anos, quando engravidou de seu filh

o

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148

T

02

05

02

08

06

04

12

03

04

05

03

07

12

08

01

02

04

05

03

10

07

02

05

03

16

X

X

X

X

X

15

X

X

X

X

X

14

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

13

X

X

X

X

X

X

X

12

X

X

X

11

X

X

X

X

10

X

X

X

X

X

X

X

X

X

09

X

X

X

X

X

X

X

08

X

X

X

X

X

X

X

07

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

06

X

X

X

X

05

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

04

X

X

X

X

X

X

X

X

03

X

X

X

X

X

X

02

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

01

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

Sujeitos

Tristeza sem motivo fatual

Tristeza por motivo fatual

Revolta por motivo fatual

Estresse

Nada relevante

Calma

Susto

Desespero

Confundiu com AVC

Irritabilidade

Dispersão

Ansiedade

Desânimo

Vergonha

Medo da repetição do sintoma

Frustração pela ausência de etiologia definida

Impaciência

Horror diante da condição facial

Revolta

Tristeza

Gratidão aos cuidados de familiares, amigos e/ou profissionais da saúde

Desamparo de familiares, amigos e/ou profissionais da saúde

Incômodo - Impressão que todos estão olhando para o rosto

Nada Relevante

ANEXO 5: Tabela 12- Conteúdos Psíquicos no total da amostra

Antes

No m

omento

Depois

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T

08

05

09

08

06

07

05

02

02

04

16

15

X

14

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

13

X

X

X

X

12

11

10

X

X

X

09

X

X

X

X

X

X

X

X

X

08

X

X

X

X

X

X

X

07

X

X

X

X

X

X

X

06

05

X

X

X

X

04

X

X

X

X

03

02

X

X

X

X

X

X

01

X

Sujeitos/

Ambientes estabelecidos

Evita sair de casa

Tenta sair, mas não consegue

Evita encontrar as pessoas

Evita falar com as pessoas

Evita tirar fotos

Evita participar de cenas alimentares

Evita participar de festas

Evita os rituais religiosos

ANEXO 6: Tabela 13- Efeitos Sociais no total da amostra

Isolam

ento

R

ecusas

Dificuldades Profissionais

Dificuldades Conjugais

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ANEXO 7: DIÁRIO de Roberta Látaro Moreira, com destaque para os

trechos mais pertinentes aos resultados da pesquisa

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