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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP Ricardo Tomasiello Pedro História da equiparação do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo ao Colégio Pedro II (1900-1940) Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade SÃO PAULO 2014

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC-SP

Ricardo Tomasiello Pedro

História da equiparação do Colégio Marista

Arquidiocesano de São Paulo ao Colégio Pedro II

(1900-1940)

Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade

SÃO PAULO

2014

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Ricardo Tomasiello Pedro

História da equiparação do Colégio Marista

Arquidiocesano de São Paulo ao Colégio Pedro II

(1900-1940)

Dissertação de mestrado apresentada à

Banca Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção do

título de MESTRE em Educação:

História, Política, Sociedade, sob

orientação da Professora Doutora Katya

Mitsuko Zuquim Braghini

SÃO PAULO

2014

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BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

___________________________________________

___________________________________________

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AGRADECIMENTOS

À professora Dra. Katya Mitsuko Zuquim Braghini pelo incentivo e orientação,

mas principalmente pela amizade, cuidado e carinho ao longo de todo o processo;

Ao prof. Dr. Kazumi Munakata pelas orientações e puxadas de orelha dos

primeiros passos;

Às professoras Circe Bittencourt e Miriam Jorge Warde pela importantíssima

colaboração na qualificação e pelo estímulo;

Aos meus professores do EHPS pelas ricas discussões e trocas e a Elisabete

Adania, por sua eficiência e acima de tudo carinho nos momentos de insegurança;

À Raquel Quirino Piñas por escutar durante horas explanações sobre cada uma

das “descobertas” ocorridas ao longo da pesquisa e principalmente pelo ombro amigo

nos muitos momentos em que me senti tão incapaz e inseguro;

A Celeste, Alexandre e Ana Clara por entenderem a ausência constante durante

dois anos de um filho, irmão e tio e também ao Tiago Pedro por ter estado sempre ao

meu lado;

À diretoria do Arquidiocesano, Ascânio João Sedrez e Marisa Ester A. Rosseto

pelos incentivos ao longo de todo o processo;

À Leonir Dario Buzzanello, antiga secretária escolar do Arquidiocesano, pela

perseverança em guardar os documentos da equiparação e à Maria Célia da Silva

Teixeira pelo precioso livro de Provisões de 1908;

À Capes por viabilizar os recursos financeiros necessários para a realização

dessa pesquisa;

Ao Fred Lane (in memoriam) pelas muitas histórias e por tão gentilmente ter

oferecido as encadernações como presente, mas infelizmente o tempo não permitiu que

elas fossem executadas;

À Rosana Telles ajuda na tradução dos standards e pelo apoio durante o

processo;

À equipe da Biblioteca Santo Tomás de Aquino por pacientemente escutarem os

debates sobre a História da Educação e por sempre terem uma palavra de ânimo e

conforto;

Aos amigos do EHPS pelas trocas, risadas, e apoio constante, em especial ao

querido Bento Pequim;

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Articular o passado historicamente não significa conhecê-lo, “tal como ele

propriamente foi”. Significa apoderar-se de uma lembrança tal qual ela cintilou no

instante de um perigo. (...) O perigo ameaça, tanto o conteúdo dado da tradição como

aqueles que a receberam. Para ambos é um só e mesmo perigo: deixar-se transformar

em instrumento da classe dominante. (...) Ora, dominantes do momento são os

herdeiros de todos aqueles que uma vez venceram.

Walter Benjamin

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RESUMO

O Colégio Arquidiocesano foi fundado em 1858, sendo considerado um dos mais

antigos da cidade de São Paulo. Por conta de sua forte ligação com o ensino secundário

o Arquidiocesano buscou equiparar-se ao Colégio Pedro II. Tal procedimento

significava, dentre outras coisas, garantia de acesso ao nível superior dos alunos do

Colégio sem que houvesse a necessidade de novas provas ou exames. Para a obtenção

desse privilégio era necessário, no aspecto curricular, igualar-se à instituição modelo

desse nível educacional. Sob a administração dos Irmãos Maristas, o colégio obteve a

equiparação “definitiva” em 1934, dentro da vigência da Reforma Francisco Campos

(Decreto nº 19.890/1931). Este trabalho pretende historicizar o processo de equiparação

do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, sob a administração dessa

congregação religiosa, buscando compreender a montagem de tal processo. Foram

identificadas as estratégias utilizadas por um colégio privado, confessional para adaptar-

se às demandas educacionais de caráter laico, de modo a flagrar como foram atendidas

as diretrizes dadas pelo Departamento Nacional do Ensino. Para a pesquisa foram

analisados, primordialmente, os documentos sobre a equiparação do Arquivo Nacional

(RJ) e o próprio processo disponível no acervo do Memorial do Colégio Marista

Arquidiocesano de São Paulo.

Palavras-chave: processo de equiparação, ensino secundário, Colégio Marista

Arquidiocesano

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ABSTRACT

The Archdiocesan School was founded in 1858, and it is considered one of the oldest

schools of São Paulo city. Due to its strong connection to secondary education, the

school tried to equate to Pedro II School. Such an attempt meant, among other things, to

guarantee that the school’s students had access to higher education without having to

apply for new tests or exams. In order to obtain this privilege it was necessary, in the

curriculum organization, that the school should be equated to the role model institution

in this educational level. Under the Marist Brothers’ management, the school obtained

the “definitive” equivalence in 1934, during the term of Francisco Campos’s Reform

(Decree no. 19.890/1931). This dissertation intends to historicize the equivalence

process of the Marist Archdiocesan School of São Paulo, under the management of this

religious congregation, attempting to understand the construction of such process. The

strategies used by a private school were identified – a confessional approach to adapt to

the educational demands of a secular view – in order to verify how the guidelines

provided by the Education National Department were followed. For this research, the

analysis was primarily of the documents on the equivalence belonging to the National

Archives (RJ) and of the case itself available in the Memorial’s collection of the Marist

Archdiocesan School of São Paulo.

Keywords: equivalence process, secondary education, Marist Archdiocesan School

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1

CAPÍTULO 1 – A EQUIPARAÇÃO DE 1900 DO COLÉGIO DIOCESANO E A

SUA REVOGAÇÃO PELA REFORMA RIVADÁVIA CORREA EM 1911 ............. 27

1.1 A supressão da Equiparação (1911) e a repercussão deste evento no Colégio ....... 42

CAPÍTULO 2 – OS ANOS 1930 E O INÍCIO DA MONTAGEM DE NOVO

PROCESSO NA SEDE DA AVENIDA TIRADENTES ................................................ 50

2.1 O primeiro elucidário para a ficha de classificação e a sede da Avenida

Tiradentes ........................................................................................................................... 56

2.1.1 Os espaços do Arquidiocesano no primeiro elucidário .............................................. 60

2.2 A ficha classificação ..................................................................................................... 74

2.2.1 A primeira ficha de classificação do Colégio Arquidiocesano................................... 85

2.3 A reconquista da equiparação .................................................................................... 87

CAPÍTULO 3 - A EQUIPARAÇÃO NA SEDE DA VILA MARIANA E A

MANUTENÇÃO DA PRERROGATIVA ....................................................................... 89

3.1 A segunda e a terceira ficha de classificação e os elucidários: o Colégio na sede

da Vila Mariana ................................................................................................................. 96

3.2 Os inspetores federais .................................................................................................. 103

3.3 As salas de aula ............................................................................................................ 109

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 112

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 117

FONTES ............................................................................................................................. 125

ANEXOS ............................................................................................................................ 126

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1

INTRODUÇÃO

O Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo (CMASP) é uma instituição

confessional católica fundada em 1858, a partir de um desdobramento do Seminário

Episcopal de São Paulo, o Seminário Menor. Funcionou em regime de internato até

1968, embora também oferecesse semi-internato1 e externato. Durante 112 anos atendeu

exclusivamente ao público masculino, pois as primeiras meninas só seriam admitidas

em 1970.

Em 2006 a diretoria do Colégio decidiu iniciar o processo de organização de seu

acervo documental motivado pelas comemorações do sesquicentenário da instituição em

2008. Seriam celebrados com ênfase os 100 anos da administração pelos Irmãos

Maristas e num outro grau de relevância os 150 anos de funcionamento. A instituição

fora anteriormente administrada pelos freis Capuchinhos de Sabóia, e num outro

momento pelos padres seculares, sendo então conhecido como Colégio Diocesano de

São Paulo, pois a diocese seria somente elevada para arquidiocese em 1908 e por conta

disso o nome da instituição seria alterado para Arquidiocesano.

As ações foram inicialmente voltadas para a organização de um conhecido e

pouco acessível acervo composto em essência por fotografias que remontavam ao final

do século XIX. A equipe de historiadores da primeira fase de trabalhos foi surpreendida

ao ver-se mergulhada numa relevante massa documental composta por diversos

materiais, tais como: livros de ata de congregações religiosas, cadernos de consumo dos

internos, livros de matrícula, publicações periódicas institucionais, fanzines elaborados

por alunos, uniformes, instrumentos de laboratório, troféus, medalhas, moedas, etc.2

Essas primeiras ações junto ao acervo constituíram o núcleo para a criação de um centro

responsável pela preservação da documentação histórica, o Memorial, que a partir de

2007 seria vinculado à Biblioteca do Colégio.

Demora algum tempo para que o trabalho desenvolvido pela equipe do

Memorial adquira credibilidade junto à comunidade docente e discente, que acreditava

no final de suas atividades logo após as comemorações. Por isso já com boa parte do

acervo organizado, higienizado e armazenado em espaço de guarda (reserva técnica)

1Modalidade inaugurada no Colégio pelos Irmãos Maristas em 1909.

2Para maiores informações sobre o acervo do Memorial do Colégio Marista Arquidiocesan o de São Paulo

consultar BRAGHINI, Katya Mitsuko Zuquim; PEDRO, Ricardo Tomasiello Pedro; PINAS, Raquel

Quirino. O Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo: In: VI Congresso Brasileiro de

História da Educação, 2011. Vitória (ES). Anais: livro de resumos. Vitória: UFES, 2011.

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chegariam novos itens, até então desconhecidos, e que estavam sob a proteção de

antigos funcionários.

Em 2009 durante os trabalhos descritos acima a mais antiga funcionária do

Colégio, a secretária escolar Leonir Dario Buzzanelo, profissional ligada à instituição há

mais de 35 anos transferiria para o Memorial uma coleção de documentos de caráter

jurídico-educacional identificado inicialmente como o Processo de equiparação do

Colégio Arquidiocesano ao Colégio Pedro II (RJ), e cujo item mais antigo remonta ao

ano de 1931. Dois anos mais tarde, em 2011, o Memorial receberia em caráter de guarda

provisória, por conta das atividades de preservação e organização desenvolvidas junto

ao acervo histórico do Arquidiocesano, a equiparação do Gymnasio Nossa Senhora do

Carmo ocorrida em 1933. Este colégio pertenceu à Venerável Ordem Terceira de Nossa

Senhora do Carmo (VOT)3 e foi dirigido pelos Irmãos Maristas entre 1899 e 1971.

Após as devidas intervenções de higienização, encadernação (respeitando-se a

disposição tal qual como recebida) e restauro, estes documentos seriam consultados

com frequência por pesquisadores, seja por conta das fotos que o compõem, pelos dados

que traz sobre o colégio Arquidiocesano, ou também por sua relação com a atuação dos

Irmãos Maristas em São Paulo. A chegada da documentação do Carmo, similar ao

Processo de equiparação do Colégio Arquidiocesano, impulsionaria a necessidade de

busca de subsídios teóricos e metodológicos para compreender tais itens, a partir de

curiosidades básicas: O que eram, afinal, esses documentos reunidos, com

requerimentos para equiparação a outro colégio, fichas de classificação e fotografias de

todos os espaços escolares, apontando para seus usos e para os materiais contidos neles?

Como teria ocorrido a reunião desses documentos em um processo? Como foram

idealizados os itens que constituem tal documentação e quem foram as pessoas

articuladas para montá-lo?

Em outras palavras, a presença e a possibilidade de manipulação dessa

documentação estimulou uma pergunta básica, sobre o que seria um processo de

equiparação. À época, não havia pretensão em constituir qualquer tipo de investigação,

mas sim compreender a natureza dos documentos transferidos em 2009 para o acervo do

Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo (MCMA), pois existia uma

necessidade operacional gerada por conta da demanda de pesquisadores que utilizavam

esses documentos como fonte em produções acadêmicas.

3Grupo religioso formado por leigos católicos vinculados à Ordem do Carmo.

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Por conta do meu trabalho, e por ser o responsável chefe pelo acervo do

Memorial, acompanhei de perto a integração desses itens ao acervo, pois desde 2008

coordeno as atividades desse centro de memória. Esses documentos haviam chamado a

atenção de tal forma que me senti tocado pela curiosidade e, por isso mesmo, fui

motivado a ingressar no programa de estudos pós-graduados Educação: História,

Política, Sociedade (EHPS), de modo a compreender o que significava aquela

documentação que apontava para o trabalho dos Irmãos Maristas na sua busca em

marcar o nome do Colégio Arquidiocesano com um crivo de qualidade escolar a partir

de sua equiparação ao Colégio Pedro II4.

Sobre o ensino secundário e o processo de equiparação

Haidar (1972) fala especificamente sobre o ensino secundário no período do

Império brasileiro (1822-1889). Inicia seu trabalho discutindo os desdobramentos do

Ato Adicional de 18345 que, apesar de ter permitido às Províncias a criação de institutos

de ensino secundário, funda uma verdadeira “tradição” que vincularia essa modalidade

educacional ao Poder Geral6.

A autora ao apresentar os debates parlamentares ocorridos a partir de 1843

demonstraria que já estava em discussão a possibilidade de serem considerados válidos

para acesso ao ensino superior também os certificados e títulos emitidos pelos liceus

provinciais7, privilégio esse exclusivo do Imperial Colégio de Pedro II, por isso se

constata uma recorrência ao tema da “equiparação” entre os políticos desde o Império e,

graças a esses embates é possível entender os antecedentes que acabam por influenciar a

legislação educacional dos primeiros anos do período republicano.

4No primeiro ano da República, o Imperial Colégio de Pedro Segundo teria seu nome mudado para

Instituto Nacional de Instrução Secundária, porém a nova denominação duraria pouco tempo sendo logo

substituída por Ginásio Nacional, e utilizada entre 1890 e 1910. Somente em 1911 retornaria a antiga

referência ao imperador ao se alterar novamente a designação deste para Colégio Pedro II. 5O Ato Adicional foi publicado em 12 de agosto de 1834 e seria responsável por reformar a Constituição

de 1824, outorgada por D. Pedro I. Dentre as novidades trazidas pelo a to estava a criação das

Assembleias Legislativas Provinciais, ação essa que proporcionaria maior autonomia às Províncias uma

vez que estas poderiam legislar sobre questões consideradas de cunho local/regional, como por exemplo

àquelas relacionadas à instrução pública. 6

Termo equivalente a Poder Imperial. 7Após a publicação do Ato Adicional de 1834 algumas Províncias fundaram instituições de ensino

secundário que, a exemplo do modelo educacional francês, foram chamados de liceus. Haidar (1972,

p.31) diz que o fato destes não terem os seus diplomas reconhecidos como válidos para o acesso ao nível

superior acabou por causar o desprestigio dessas instituições (p.31).

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Por meio deste estudo também se constatou que durante o período imperial a

equiparação não seria colocada em prática e o controle governamental sobre o ensino

secundário seria estabelecido de forma indireta graças à proeminência do poder central

nas questões relativas ao nível superior. As disciplinas definidas pelo governo para o

ingresso nas Academias eram absorvidas pelos colégios secundários de todo o país, pois

este nível de ensino se dedicaria ao preparo dos candidatos para as escolas superiores

(HAIDAR, 1972, p.19).

Essa autora destacaria a posição dos colégios privados como alternativa ao

ensino público, este apresentado no texto como fraco e pouco eficiente, se comparado

com as ações desenvolvidas pelos particulares com relação à ampliação da oferta de

vagas na educação secundária (HAIDAR, 1972, pp.178-182).

Dodsworth (1968) realizou uma compilação de discussões parlamentares

ocorridas entre 1826 e 1926, cujo principal foco era ensino secundário. É uma obra

relevante para entender o caminho percorrido para a aprovação (ou não) de projetos de

leis e decretos que visavam a organização desse nível de escolarização.

Em sua obra a questão da equiparação é apresentada esparsamente por meio de

leis, decretos e outros dispositivos, exceção feita às divisões Autorização para rever o

código de 1892 e Equiparação a institutos oficiais. Esses dois textos são de 1903, sendo

a primeira uma exposição de motivos na qual os membros da Comissão de Instrução

Pública, apresentam os problemas relacionados à concessão da equiparação aos colégios

privados, pois de acordo com suas argumentações, tal privilégio colocaria em risco todo

o ensino secundário brasileiro e o futuro da nação, pois graças a essa prerrogativa teria

sido iniciado o comércio de títulos que garantiria a entrada de candidatos

desqualificados nas Academias.

Na Equiparação a institutos oficias temos uma proposta de alteração da

Reforma Epitácio Pessoa (1901) por conta dos problemas identificados pelos mesmos

legisladores e estes que acabam por elaborar uma nova regulamentação para as

equiparações, por meio da qual se pretendia revogar o título II daquela legislação

educacional8, proposta essa que não foi implementada.

Silva (1969) procura constituir uma história geral do secundário, abordando a

função seletiva desse nível de ensino, incluindo informações sobre as suas origens

clássicas desse, bem como, o seu desenvolvimento na França e na Inglaterra, dedicando

8No título II da Reforma Epitácio Pessoa estavam as condições necessárias para o requerimento da

equiparação.

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parte de seu livro às discussões sobre o conceito de cultura geral. Esse livro foi

publicado pela Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário

(Cades), situando o autor entre os intelectuais que atuaram como especialistas dentro de

órgãos de governo dedicados ao planejamento da educação estatal, tais como o Instituto

Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep)9.

O livro apresenta a história do ensino secundário num continuum evolutivo

abordando as contribuições do regime monárquico e republicano para a constituição,

organização e reorganização do ensino secundário brasileiro, mas considerando que o

ensino secundário até os anos 1950 estaria, segundo o autor, ainda em fase de

constituição e por isso é apresentado como algo “postiço”, já que o Brasil não estaria

preparado para a consolidação de um ensino secundário nos moldes da França e da

Inglaterra. Isso demonstra a posição do autor diante dos próprios interesses de seu

ambiente de produção intelectual, já que se trata de uma ideia que apresenta o ensino

secundário como algo que não havia se desenvolvido porque houve uma “ineficiência”

na ação federal antes dos anos 1950.

Ao falar sobre as discussões entre os parlamentares nos últimos anos do Império

o pesquisador apresentaria as cinco ideias surgidas para tentar resolver um problema

constantemente mencionado até 1889, o “emprego de recursos do governo geral para

difusão do ensino secundário, fora da capital do país” (SILVA, 1969, p.216). Destas,

somente duas10 diziam respeito à equiparação, “o reconhecimento dos exames

realizados nos Liceus provinciais e a equiparação destes ao Colégio Pedro II” e

“reconhecimento ou equiparação ao Pedro II, não somente dos estabelecimentos

provinciais, mas também dos colégios particulares” (SILVA, 1969, p.216), nenhuma

delas efetivada naquele período.

Em seu trabalho, a equiparação apareceria nos primeiros anos da República

como uma possibilidade somente para os colégios públicos, logo extendida à iniciativa

privada, e esta se encontrava vinculada ao exame de madureza11. Adquiriria, no entanto,

9Geraldo Bastos e Silva foi um dos principais articuladores para a reforma do ensino secundário nos anos

1950. Foi signatário do documento “Manifesto dos Pioneiros mais uma vez convocados” e funcionário do

Ministério de Educação e Cultura (MEC). 10

As outras três mencionadas por Silva eram: “A realização de exames gerais de preparatórios na s

Províncias, mesmo naquelas onde não existissem cursos superiores; ação direta do Governo geral em prol

da difusão do ensino secundário nas Províncias, mediante a criação e manutenção nelas, de liceus gerais;

ação indireta do Governo geral, para o mesmo fim, pela concessão de auxílios aos estabelecimentos

situados nas Províncias” (SILVA, 1969, p.217). 11

Para Silva (1969, p.206), esse exame era “um exame geral de admissão aos cursos superiores, no qual se

averiguasse o grau de maturidade intelectual alcançado pelo adolescente”.

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gradativamente um caráter uniformizador do ensino secundário, embora também tenha

demonstrado ser um importante instrumento para ampliar as oportunidades de acesso a

esse tipo de escolarização.

Em Antunha (1980) temos elementos relacionados à organização legal do ensino

secundário, dentre os quais se destacam as informações referentes às reformas

educacionais empreendidas pelo regime republicano nos primeiros anos de existência.

Com relação à equiparação Antunha (1980, p.255) afirmaria que esta “foi,

originariamente, concebida como um instrumento de oficialização e de ingerência do

poder federal na área do ensino secundário e do superior”, e que o governo federal

relutaria muito em regulamentar e estender os benefícios desse dispositivo para o ensino

privado que, interessado em obter as vantagens da equiparação, começaria a pressioná-

lo principalmente após o reconhecimento do Instituto Kopke em 1895.

Ao falar sobre a legislação do ensino secundário brasileiro durante o período da

República Velha este afirmaria que seriam mantidos dois regimes que garantiriam

acesso ao nível superior: um organizado a partir da concepção de ensino ginasial

instaurada no modelar Colégio Pedro II, na qual havia uma sequência de estudos e um

longo período para a sua conclusão, e outro que se constituía como uma permanência do

período imperial, os cursos preparatórios e os exames parcelados, por meio dos quais o

acesso às Academias ocorria de forma mais rápida. Com relação a esse segundo seriam

realizadas diversas tentativas no sentido de sua extinção, no entanto, estes somente

seriam revogados pela Reforma Francisco Campos.

Antunha (1980, p.6) chama a atenção para o fato de que com relação à

prorrogação da validade dos preparatórios e parcelados, o Congresso nunca tenha aberto

mão de sua responsabilidade de legislar, ao contrário do que aconteceria com outras

questões educacionais nas quais se vê exclusivamente o envolvimento do Executivo,

por isso muitas das reformas receberiam como homenagem, o nome de membros dessa

esfera governamental (Rocha Vaz, Epitácio Pessoa, etc). Esse autor sinaliza a Reforma

Benjamin Constant12 como uma das mais importantes, pois ela teria se tornado um

ponto referencial para as posteriores e destaca também a Reforma Rivadávia Correa à

qual qualifica como radical e ortodoxa, por conta de seu vínculo com o positivismo.

Nagle (1976) aponta para as inúmeras alterações na legislação educacional

brasileira e apresenta a equiparação como um instrumento utilizado pelo regime

12

Decreto nº 981 de 8 de novembro de 1890.

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republicano para controlar o ensino secundário e demarca como início efetivo da

aplicação desse dispositivo a Reforma Epitácio Pessoa (1901), pois com esta se abriria a

possibilidade para o reconhecimento dos colégios estaduais, municipais e privados,

sendo inclusas neste último grupo as instituições católicas.

Durante a Primeira República (1889-1930) o secundário seria marcado por

constantes reformas que, dentre outras questões, pretendiam contribuir para que esse

ensino deixasse de ser a “antessala” das escolas superiores assumindo uma função

realmente educacional e formativa, algo que não seria realizado com êxito por nenhum

dos “reformadores” desse período segundo a bibliografia apontada, que se dispõe a

apresentar o ensino secundário como algo um tanto indefinido que nem se apresenta

como grau, nem como tipo de ensino, mas sobre o qual é jogada uma grande

expectativa, como local de formação de uma futura elite política. Essa é uma ideia que

marca a história do ensino secundário como local privilegiado para a formação de um

grupo restrito de pessoas ao ingresso no ensino superior.

A bibliografia também apresenta a ideia de que o Estado deveria ser o

organizador de um modelo de ensino coeso e assumir a condução desse tipo de

formação, mas que esse plano, no entanto, ao longo do período imperial, e durante as

primeiras décadas do período republicano não se concretizaria, destacando que a

história do ensino secundário seria a história de faltas: com um Estado ineficiente, com

escolas despreparadas, “mercenárias” diante de um mercado dominado pelos exames

preparatórios.

Gasparello (2003) analisa as discussões parlamentares ocorridas no Congresso

Nacional em 1907 a respeito das características do colégio modelar. Os discursos

explicitavam as duas vertentes ideológicas que marcariam o ensino secundário no

século XX, pois uma preocupava-se com a preservação de uma formação ligada à

cultura clássica, enquanto outra pretendia que essa fosse pautada por uma visão

humanista moderna (GASPARELLO, 2003, p.3). A equiparação é apresentada como

uma forma indireta de administração do secundário que teria sido instituída no período

Imperial graças à elevação do Colégio de Pedro II à condição de modelo para que os

demais pudessem solicitá-la.

O artigo de Rocha e Oliveira (2010) aborda o impacto das reformas educacionais

na educação brasileira e como se processou a implantação do ensino secundário no

estado de Mato Grosso a partir da história do Ginásio Osvaldo Cruz entre 1927 a 1940.

Por também estudar aspectos da legislação educacional citaria a equiparação e as

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condições exigidas por lei para que as escolas pudessem requerê-la, mas apesar disso

não apresenta como isso ocorria formalmente, ou seja, como era estruturada ou se

organizava a documentação relacionada a ela.

Cury (2009) dedicou-se à análise dos impactos da Reforma Rivadávia Correa

(1911-1915), que dentre outras mudanças revogaria as prerrogativas das equiparações

em todo o território brasileiro. No texto, o autor demonstra que nas discussões

parlamentares ocorridas por ocasião da Constituinte de 1890-1891 foram colocadas em

análise as origens do ensino oficial disponível até aquele momento, e se faria a opção

por não impedir o ensino oferecido pelo setor privado, incluindo nesse grupo as escolas

católicas. Apesar dessa aparente liberdade de ensino o Governo ainda manteria sob seu

controle a validação dos certificados e diplomas, que só poderiam ser emitidos por

instituições criadas e mantidas por ele ou por aquelas reconhecidas como oficiais, por

meio da equiparação.

Os problemas de corrupção relacionados à equiparação são apresentados como

generalizados e que todos seriam revogadas pelo então ministro da Justiça e dos

Negócios Interiores, Dr. Rivadávia Correa (1866-1920), membro do governo de Hermes

da Fonseca, presidente do Brasil entre 1910 e 1914.

O pesquisador também aponta o que ocorreu no período pós-Rivadávia, marcado

por uma nova reforma que reorganizaria o ensino secundário e superior com o decreto

n° 11.530, de 18 de março de 1915, conhecido como Reforma Carlos Maximiliano, em

homenagem ao então Ministro da Justiça e Negócios Interiores. Dentro do contexto

desta reforma, verifica-se que o termo “oficial” se fixaria especificamente aos colégios

mantidos pela União; seria restaurado o registro de diplomas, estabelecer-se-ia a

inspeção federal sobre as instituições de ensino; a permissão para efeito de

“equiparação” às instituições particulares que a solicitarem, exceto as que tiverem

“intento de lucro ou de propaganda filosófica ou religiosa”, ou seja, a iniciativa privada

não perdia a liberdade de atuação junto ao ensino, no entanto, como a grande maioria

dos colégios se enquadrava nas restrições da reforma no que diz respeito às

equiparações, essa somente seria possível aos particulares nos anos 1930.

Kulesza (2011, p.86) apresenta o relacionamento entre a Igreja Católica e os

quadros burocráticos ligados à educação brasileira, a partir da análise do processo de

equiparação do Colégio Diocesano da Paraíba conseguido em 1908, apresentando um

foco que posiciona um colégio particular católico nas discussões sobre a equiparação.

Ao analisar a equiparação desse colégio comenta preocupação da Igreja Católica, mais

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precisamente da diocese da Paraíba, em obter as prerrogativas da equiparação de modo

a garantir sua influência junto às elites (KULESZA, 2011, p.85). É válido destacar que

o autor não especifica o perfil do que chama de “elite”, a exemplo de outros autores

também vagos nesse sentido.

O autor destaca as manobras políticas realizadas por Dom Adauto Aurélio de

Miranda Henriques (1855-1935)13, para que esse colégio obtivesse tal privilégio

(KULESZA, 2011, pp.90-94). O bispo possuía relações pessoais com diversos políticos

locais e tentaria influenciar um parecer favorável à equiparação a nível federal, por meio

não somente da bancada parlamentar paraibana, mas também por sua proximidade com

o presidente Afonso Pena (1906-1909).

As produções acima permitem que tenhamos um panorama sobre a equiparação

da seguinte ordem: os trabalhos de modo geral apresentam o estatuto da equiparação

como procedimento legal, obrigatório, para que uma escola secundária tivesse

determinados privilégios, conforme termo utilizado na legislação, como, por exemplo,

possibilitar aos seus alunos acesso às Academias sem a necessidade de outras

avaliações, sendo que essa última se tornaria a base privilegiada da equiparação e

passando a ser vista como moeda valiosa para instituições não oficiais de ensino, um

diferencial perante a concorrência. Diante da posição ocupada pelos preparatórios, os

colégios que conseguiam ser equiparados à instituição modelar pareciam se destacar dos

demais e apregoavam sua superioridade perante outros cursos não reconhecidos

oficialmente.

Na literatura analisada há uma naturalização do termo equiparação, como se este

já fosse uma questão dada na história do ensino secundário. Com relação ao primeiro

período no qual a equiparação seria facultada às instituições de ensino livre14, entre

1895 e 191115, são recorrentes os relatos de problemas envolvendo os Colégios

beneficiados com as concessões, chamando à atenção a quantidade de registros que

apontavam para a ineficiência da fiscalização. No entanto, com relação a esse tema, nos

anos 1930, não foram detectadas tantas reclamações, o que nos leva a pensar que talvez

ela tenha sido mais eficiente.

13

Dom Adauto foi o primeiro bispo da Paraíba, cargo que assumiu em 1894. 14

Termo utilizado para designar o ensino secundário oferecido por particulares, ou seja, ensino privado. 15

Optou-se nesse trabalho considerar como “início” do uso efetivo da equiparação a data de concessão da

equiparação ao Instituto Henrique Kopke, em 22 de abril de 1895, e “fim” a revogação das equiparações

em nível nacional pela Reforma Rivadávia Correa (1911), embora Nagle (1976, p.144) aponte como data

efetiva da aplicação desse dispositivo o ano de 1901.

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Foi possível perceber que o processo de equiparação é apresentado dentro de

textos que buscam historicizar o ensino secundário, mas que não é um tema exatamente

destacado nessas produções. Tal processo é percebido como uma estratégia oficial que

dentre outros objetivos pretendia estimular a difusão, e simultaneamente controlar o

funcionamento das instituições secundaristas que em sua maioria eram administradas

pela iniciativa privada, dentre os quais um expressivo número de colégios católicos.

Somente o trabalho de Kulesza (2011) descreve o histórico de equiparação de

um colégio católico, privado, durante o período da Primeira República (1889-1930)

centrando suas análises nas discussões políticas e nos trâmites necessários para

consegui-la, sem necessariamente se ocupar com os trabalhos que a instituição

interessada na equiparação tinha que fazer para recebê-lo, dentre eles os alinhamentos

curriculares, as comprovações de patrimônio, elaboração de relatórios semestrais, visitas

de fiscalização, etc.

Embora os processos apareçam nessa literatura, os trabalhos não estão dedicados

especificamente à análise da organização dos documentos da equiparação, nem dão

conta de uma série de procedimentos burocráticos e das adequações institucionais que

eram prescritas, e tinham que ser moduladas pela instituição sob análise. O

levantamento bibliográfico demonstrou, inclusive, ser tímida a produção relacionada

aos procedimentos utilizados pelo governo para a concessão e fiscalização da

equiparação.

Esse trabalho apresenta a história do processo de equiparação “definitiva” do

Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo sob a administração dos Irmãos Maristas:

escola católica, confessional, masculina, sob o gerenciamento de uma congregação

francesa, na cidade de São Paulo. Visa apresentar a equiparação como movimento ao

mesmo tempo político e pedagógico de uma instituição católica que busca ganhar

relevância no cenário escolar da cidade, e destaque pedagógico apresentando

paulatinamente, espaços pedagógicos especialmente criados a partir das diretrizes

legais. Aproveita-se de uma brecha aberta em relação aos poucos trabalhos produzidos

sobre este assunto, bem como da atuação dos colégios, privados, católicos secundários

em funcionamento no período apontado em relação à montagem de tal processo.

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O Colégio Arquidiocesano de São Paulo sob a administração dos Irmãos Maristas.

A formação educativa do clero paulista fora realizada durante muito tempo na

antiga Sé, e posteriormente no Palácio Episcopal, mas era considerada fragmentada e

deficiente, por isso a construção de um local especialmente dedicado à instrução do

clero fez parte dos anseios de muitos bispos da Diocese de São Paulo. Dom Antonio

Joaquim de Mello (1791-1861)16 foi o articulador responsável para que tal local fosse

finalmente construído.

Em 9 de novembro de 1856, um Seminário seria inaugurado no bairro da Luz,

apesar de todas as dificuldades, e desempenharia um papel central nas mudanças

empreendidas pelo bispo que desejava reformar o clero dentro de uma perspectiva

ultramontana17 o que significava também um gradativo alinhamento da Diocese de São

Paulo com Roma.

Segundo Martins (2006, p.16), o “Seminário configurava-se como um modelo

para as demais escolas católicas fundadas para atender às necessidades de instrução,

colaborando para a definição de novas práticas e representações católicas”, ou seja, a

formação dos religiosos constituía-se como essencial para a realização de mudanças na

Igreja paulista e ao mesmo tempo uma forma de constituir uma nova imagem do clero.

A construção do prédio foi considerada difícil, pois havia escassez de recursos

financeiros e de operários capacitados para erguer um edifício de tão grandes

proporções. Além disso, a carência de materiais construtivos como, por exemplo, tijolos

aumentaria a complexidade da obra que precisou ser erguida em taipa de pilão18

(POLYANTHEA, 1906, p.128).

16

Dom Antônio Joaquim de Melo nasceu em Itu e é o primeiro bispo paulista de São Paulo. Assumiu a

Diocese em 5 maio de 1851, com referendo do imperador D. Pedro II. 17

Assis (2013, pp.44-45) explica que o “movimento ultramontano se restringe às questões de ordem

interna, não admitindo o diálogo com a modernidade e em um período restrito, ou seja, o

ultramontanismo marca a disputa entre o clero Romano e o Francês e só tem sen tido até o momento em

que, no Concílio Vaticano I, foi proclamada a encíclica da Infalibilidade Papal, Pastor aeternus, e esta é

aceita por toda a Igreja inclusive pelo grupo opositor. Dessa maneira, é desfeita a batalha entre

ultramontanos e galicanos. Contudo, o termo passou a designar todos os atos de censura e repressão

vindos de Roma” 18

“As taipas eram feitas da seguinte maneira: duas tábuas, uma de cada lado, espaço no meio suficiente

para encherem de terra que era socada, pondo-se às vezes água, pedaços de pedra ou sapé para firmar. Os

indígenas e escravos faziam a pilagem em toda a extensão das tábuas, que, quando retiradas deixavam o

taipal solidificado. Era esse o sistema usado para todo o edifício, tornando -o uma fortaleza. Se o telhado

não era bem feito e as águas penetravam pouco a pouco nos taipais, ruía tudo, porque as paredes se

desfaziam com a infiltração prolongada das águas” (SOUZA, 2005, p.116)

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A escolha pelo bairro da Luz não foi aleatória, pois aquela região era

considerada no século XIX como “o coração da cidade de São Paulo” e Martins

indicaria ainda que a fundação do Seminário naquele local

(...) seria estratégica para o seu desenvolvimento, considerando as relações de comércio da Luz que atraíam fazendeiros das diferentes localidades da Província e até de outras províncias. A presença da instituição educativa no trajeto comercial dos fazendeiros e comerciantes poderia atraí-los no que tange à educação dos seus filhos, considerando-se que a educação apresentava-se cada vez mais eficaz às garantias de atuação política, simbolizando para os pais a posição privilegiada do filho na sociedade em expansão (MARTINS, 2006, p.165),

A escolha desse local apresenta-se como de vital importância para dar

visibilidade às ações do Seminário não somente por causa de sua relação com a reforma

do clero, como também pelas possibilidades de se constituir ali uma obra dedicada à

formação dos leigos católicos, facilitada pela futura proximidade com a estação

ferroviária.

Com relação ao corpo docente do futuro Seminário, Wernet (1987, p.106),

registraria que

Para conseguir diretores e professores, “moralmente dignos e culturalmente capacitados” para o Seminário, D. Antonio Joaquim de Melo dirigiu-se, em primeiro lugar, aos padres da Companhia de Jesus que se haviam estabelecido no Rio Grande do Sul, pedindo a colaboração do padre Mariano Berdrago, superior dos padres jesuítas daquela Província. Já que este pedido do prelado paulista estava fora da esfera de competência do padre superior do Rio Grande do Sul, dirigiu-se D. Antonio Joaquim ao Superior Geral dos Jesuítas em Roma. Não sendo atendido no seu pedido, pensava na colaboração dos padres lazaristas, estabelecidos em Minas Gerais. Também deles não conseguiu os colaboradores desejados.

A peregrinação de Dom Antonio pelas diversas ordens religiosas demonstraria a

sua preocupação em entregar o Seminário aos cuidados de religiosos que estivessem

alinhados ao ultramontanismo. No entanto, por conta de sua busca infrutífera este

pediria ajuda ao papa Pio IX (1835-1914) que em atendimento à súplica do bispo

encaminharia dois freis capuchinhos de Sabóia19.

19

Congregação católica que tem sua origem na Ordem Franciscana. Segundo Martins (2006, p.171) “os

capuchinhos de Savóia – região de onde vieram os freis que assumiram o Seminário de São Paulo – assim

como os que surgiram nas demais localidades da França, foram organizados de forma a atender às

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O primeiro reitor20 da instituição foi Frei Eugênio de Rumilly sendo sucedido

pelo espanhol Frei Firmino de Centelhas, que havia sido vice-reitor, e o corpo docente

era formado exclusivamente por religiosos21.

Em 1858 com a fundação de uma divisão especificamente dedicada à educação

dos leigos católicos, chamada de Colégio Diocesano, seriam esses mesmos religiosos os

administradores e mestres da nova obra à qual estariam vinculados de 1858 a 1879. Por

conta dessa proximidade entre Seminário e Colégio acredita-se que muito dos princípios

do catolicismo ultramontano difundidos pelo Seminário de São Paulo permeariam a

ação educativa do novo ginásio.

Após 21 anos de atuação junto ao Seminário-Colégio os capuchinhos deixariam

a instituição o que, segundo Martins, não ocorreu de forma tranquila, pois

Tratou-se de um afastamento forçado efetivado sob várias justificativas que envolveram: levantamento de provas sobre a má conduta dos freis por pressão dos clérigos paulistas contrários à linha de pensamento do Vaticano; as estratégias de conciliação efetivadas no bispado de dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho (1873-1894); a intervenção dos superiores da ordem dos capuchinhos da França; a morte de Pio IX e a ascensão do papa Leão XIII; por último a decisiva participação de Dom Pedro II, decretando que se abrissem novos concursos para se eleger um novo corpo docente para o Seminário (MARTINS, 2006, p.209)

Conclui-se que, por conta de uma nova configuração política da própria Igreja

católica, a atuação dos freis foi considerada desnecessária. Além disso, D. Antonio

havia registrado seu desejo de que os capuchinhos fossem substituídos tão logo se

formassem religiosos capazes de dar continuidade à missão da instituição (MARTINS,

2006, p.155).

necessidades das monarquias católicas perante a ascensão do calvinismo. Em 1576, o parlamento de

Paris, sob o reinado de Charles IX, atribui plenos poderes aos capuchinhos para se espalharem por todo o

reino, se tornando na França um elemento responsável pela unidade moral. As ordens parlamentares e

liberdade de atuação dos capuchinhos foram cumpridas até meados do século XVIII. Os capucinhos de

Sabóia, sob a autoridade do príncipe de Geneve e direção de São Francisco de Sales – preboste no

Chablais -, tornaram-se soldados do catolicismo na guerra contra o protestantismo calvinista, estimados

pelos inúmeros trabalhos destinados à Corte francesa”. 20

Título utilizado pelo diretor do Seminário e do Colégio. 21

As fontes não permitem especificar exatamente quem era professor no Seminário e no Colégio, no

entanto sabe-se que o primeiro corpo docente era formado pelos freis Generoso de Rumilly (Inglês,

Retórica e Música), Theodoro de Moie (Filosofia), Justo de Moie (Latim e História Universal), Germano

de Annecy (Álgebra, Geometria e Física) e também pelos padres seculares Henrique Schoffer

(Aritmética), Francisco Raggy (História da Idade Média e Alemão), Avelino Marcondes de Araujo e

Silva (Latim e Geografia), José Benedicto Marcondes Homem de Mello (Francês e Latim) e Julio Ribeiro

(Língua Portuguesa) (POLYANTHEA, 1906, pp.7-12).

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Os padres diocesanos assumiram o Colégio em 1879 e ficaram à frente da

instituição até 1907. Foram reitores os Monsenhores22 João Soares do Amaral,

Monsenhor Camilo Passalacqua (1858-1974), João Evangelista Pereira Barros, Manoel

Ribas D´Ávila e José M. de A. Marcondes. Religiosos que enfrentaram durante 28 anos

que desafios relacionados à manutenção financeira da obra, mas a despeito das

dificuldades mesmo assim empreenderiam esforços para a ampliação e melhoria das

instalações do Seminário-Colégio.

Em 1906, antes mesmo da saída dos padres seculares, a Diocese de São Paulo já

havia tentado estabelecer negociações com os Irmãos Maristas para que estes

assumissem algumas funções junto ao Diocesano, no entanto, o pequeno número dos

religiosos dessa congregação no Brasil, em relação aos colégios que já administravam,

impediria que fosse atendido tal pedido. Seria somente em 1908 após uma série

considerações dos superiores Maristas, e uma forte pressão política realizada pelo

próprio bispo, que estes acabariam assumindo a direção do Colégio ao qual até hoje

estão vinculados.

Fundada na França pelo padre José Bento Marcelino Champagnat (1789-1840) o

Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria, ou Irmãos Maristas, nome pelo qual são

conhecidos é uma congregação católica que desde os primórdios teriam sua missão

religiosa associada à Educação sem, no entanto, que isso signifique prescindir do

processo de evangelização e difusão dos valores do catolicismo.

Os primeiros membros vieram para o Brasil em 1897 para assumir a direção do

Colégio Bom Jesus (Congonhas do Campo, MG), por conta de um pedido feito por

Dom Silvério Gomes Pimenta (1840-1922), bispo de Mariana. Os Maristas chegariam à

cidade São Paulo em 1898 e logo seriam responsáveis pela fundação e administração de

três obras educativas, o Colégio do Carmo (1899), o Colégio Nossa Senhora da Glória

(1902) e por último o Colégio Diocesano de São Paulo (1908). Seria a primeira vez que

uma congregação vinculada ao carisma da Educação administraria o Diocesano e a

atuação de seus membros obedecia desde 1853 às prescrições do Guide des Écoles, que

segundo Assis (2013) se constituiria como

(...) a síntese do que os católicos esperavam de um instituto de educação. Nele é possível observar as correntes teóricas que predominaram na sua elaboração. O pensamento tomista, o liberalismo católico, a importância da educação dos sentidos,

22

Forma de tratamento utilizada para referir-se aos bispos e outros representantes da Igreja.

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da educação moralizante católica cristã. A mescla de todas essas variáveis trouxe a novidade de um método moderno dentro da educação católica, opondo-se ao método baseado na memorização e repetição (ASSIS, 2013, p.87)

Nesse trecho identificamos alguns dos elementos que faziam parte das diretrizes

educacionais dos Irmãos e mais do que isso é possível perceber que a congregação tinha

experiência em dirigir obras educacionais, também no que dizia respeito a seus aspectos

“pedagógicos”.

Azzi (1997) foca sua pesquisa na história e expansão da obra dos Irmãos

Maristas no Brasil entre 1897 e 1997 e sua obra encontra-se dividida em 4 volumes.23

Em seu trabalho encontramos detalhes sobre a chegada desses religiosos ao Diocesano,

os problemas enfrentados com os alunos que se apresentaram resistentes aos métodos

dos novos diretores, pois os consideravam mais rígidos do que aqueles aplicados pelos

antigos mestres, da rejeição demonstrada pela sociedade paulistana com relação à

entrada dos estrangeiros, e também por conta da dissolução de uma tradição, o fim da

direção dos padres seculares. Além disso, falaria sobre a construção da nova sede da

Vila Mariana, as dificuldades dessa construção e apresentaria como ocorria a formação

dos irmãos-professores.

O livro de Adorátor (2005) é uma memorabilia24, e para os Irmãos Maristas

trata-se de uma obra emblemática quando se deseja falar sobre a atuação desses

religiosos no Brasil.

Por ter sido elaborado dentro do período da República Velha neste livro há

informações sobre a Reforma Rivadávia Correa (1911) e o impacto dela sobre os

colégios católicos, relatos sobre a transferência do Diocesano para os Maristas, e as

primeiras medidas desses à frente do Colégio, incluindo o cuidado que estes

dispensavam às questões legais e às concepções da congregação com relação ao ensino,

à disciplina e principalmente à Fé. Especificamente com relação a Rivadávia os

apontamentos de Adorátor indicam que se acreditava num colapso da educação católica

23

Riolando Azzi é um grande especialista da história do catolicismo no Brasil e conforme informação de

Assis (2013, p.16), é “um historiador muito requisitado das Congregações Católicas para a produção de

livros sobre a atuação destas no Brasil” 24

Foi elaborada para atender a um pedido feito pelo Superior-Geral a todos os provinciais do mundo, este

queria que se comemorasse condignamente o centenário da Congregação em 2 de janeiro de 1917. A

Província do Brasil-Central, à qual o Arquidiocesano estava vinculado, optou pelo registro histórico de

seus primeiros 20 anos, ou seja, entre 1897 e 1917 e desse movimento nasceria essa obra atribuída ao Ir.

Adorátor e traduzida para o português somente em 2005.

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no Brasil por conta do fim das equiparações, ou seja, esta é apresentada como vital para

a manutenção dos colégios católicos.

Minhoto (2007) se debruçou sobre o perfil socioeconômico de alunos que

prestaram o exame de admissão25 em cinco colégios situados na cidade de São Paulo, e

tal estratégia foi utilizada para compreender criticamente a ideia de que o ensino

secundário voltava-se à formação de uma elite26. Graças à análise da formação dos pais

dos alunos e o vínculo destes com atividades profissionais foi possível para a

pesquisadora identificar como se caracterizava socialmente o corpo discente do colégio

dentro do período delimitado, e esta concluiria que o corpo social do Arquidiocesano

era “heterogêneo, apesar da grande concentração de empresários”. Além disso, com

relação à moradia da clientela, a autora diagnosticaria ser essa a instituição que atendia

o maior número de alunos do interior do Estado, e que 73% dos alunos provinha de

famílias brasileiras (MINHOTO, 2007, p.90).

Carvalho (2003) ao estudar os intelectuais vinculados à política educacional dos

anos 1920 e 1930 dedica especial atenção às ações da Associação Brasileira de

Educação (ABE), e dentro desta aos pontos dissonantes entre os católicos e os

“pioneiros”, apresentando, inclusive a atuação de “pioneiros católicos” na instituição.

Ao fazer isso apresenta a ideia de que não havia uma polarização absoluta entre

católicos e escolanovistas, demonstrando as tensões desses grupos perante a sua atuação

política com relação às questões relacionadas à Educação. Não se tratava de apontar os

“pioneiros” como “comunistas” e, em contrapartida, ver nos católicos o grupo

responsável por uma educação ultrapassada e conservadora. Apresenta-se que tanto o

grupo de liberais, quanto os católicos tinham seus projetos particulares para a

modelação da nação brasileira, e destaca-se a atuação de liberais católicos que, além de

religiosos, contribuiriam para a renovação das práticas pedagógicas.

A Revolução de 30 abriria espaço para uma série incertezas e mudanças

políticas, e nesse contexto de indefinições o espaço escolar seria visto como um local

privilegiado no qual seria possível realizar uma verdadeira difusão ideológica e, por

esse motivo este acabaria se constituindo como local de disputa onde entrariam em

choque o grupo dos “pioneiros” e o laicato católico, ambos interessados em instituir

25

Exame para ingresso no primeiro ano do Ginásio e instituído em 1931 pelo ministro Francisco Campos. 26

Formação das elites foi utilizado de forma “genérica”, pois existe uma grande quantidade de expressões

utilizadas pelos autores, tais como: formação dos quadros mandatários, formação das elites sociais,

preparação das elites, formação das elites diretoras, formação das elites nacionais, elite intelectual,

econômica e religiosa brasileira, formação dos condutores da Pátria, etc. O Colégio Arquidiocesano, é

identificado na pesquisa como “instituição A” e foi estudado entre 1931 e 1945.

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oficialmente sua concepção sobre a Educação, e também como uma estratégia para

estender a sua influência no cenário político brasileiro, algo almejado pelos católicos

desde a separação ocorrida entre o Estado e a Igreja com o advento da República em

1889.

São inúmeros os pontos divergentes entre os dois grupos, no entanto, o item que

parece ser central nas discussões refere-se ao caráter laico e não metafísico da educação

proposta pelos “pioneiros”, algo que contrariava veementemente a postura católica que

acreditava ter a Fé um papel essencial para que fosse possível a formação plena do

indivíduo.

De acordo com Assis (2013, pp.80-81) os Irmãos Maristas, sendo proprietários

de escolas, representariam uma parcela interessante dentre os católicos que se

dedicavam à Educação, pois contradiziam a ideia de que havia uma homogeneidade

entre o grupo de católicos que no início do século XX estavam totalmente afeitos à

tradição e ao conservadorismo. Ressalta que, como católicos, tinham especial interesse

em educar novas lideranças distanciando-as do ateísmo, das tendências anticlericais, e

de quaisquer doutrinas que pregassem a não existência de Deus. Eram conservadores se

pensarmos na ideologia que defendiam, mas com relação à sua ação pedagógica,

estavam mais próximos de tendências ditas modernizadoras, voltando os seus trabalhos

a uma educação dos sentidos, levando em conta a aquisição de materiais pedagógicos

inovadores, estando apegados às tendências pedagógicas que pregavam um ensino

“prático”, fosse ele entendido pelo ponto de vista do método intuitivo, fosse, mais tarde,

compreendido pelo viés dado pelo pensamento escolanovista.

Ao assumirem o Colégio em 1908 este já havia sido equiparado e esse privilégio

foi perdido em 1911, por conta da reforma Rivadávia Correia. Posteriormente haveria

um novo movimento para a recuperação desse privilégio. Parte dessa preocupação em

torno da equiparação pode ser vista indiretamente pela progressiva aquisição de

materiais científicos e o aumento dos espaços voltados ao ensino das Ciências, ações

essas destacadas pelos inspetores de ensino como itens essenciais para uma boa

educação e modelo para outras instituições (BOCCHI, 2013, pp.75-81).

Levando em conta que o estatuto à equiparação se mostrou importante para a

instituição, pergunta-se: Como foi organizado o processo de equiparação do Colégio

Marista Arquidiocesano de São Paulo sob a direção dessa congregação?

Para tentar responder a primeira questão acrescentaram-se outras consideradas

subsidiárias: Como ocorria o diálogo entre os representantes do colégio e os delegados

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fiscais/inspetores federais? Os documentos da equiparação trazem um panorama sobre

os procedimentos que eram realizados para a sua obtenção, e também como era

realizada a sua manutenção, no entanto, como se realizava a fiscalização no dia-a-dia? 27

Como esses documentos eram apresentados? Quais eram os documentos mais

importantes e como eram organizados? Como os membros do colégio lidavam com as

prescrições oficiais, laicas levando em conta o seu direcionamento católico?

Especificamente com relação aos documentos da equiparação dos anos 1930-

1940 do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo a intenção é contar a história

que esses itens desvelam e apresentá-los em relação à materialidade: suas partes

constitutivas, os parâmetros utilizados pelos responsáveis pela fiscalização dos colégios

(inspetores federais), considerando tal documentação como testemunha de uma

estratégia desenvolvida com o intuito de uniformização do ensino secundário no Brasil,

dando ênfase a como essas concepções influenciaram a organização do espaço escolar

de uma das mais antigas instituições secundárias da cidade de São Paulo.

Como recorte histórico definiu-se entre a equiparação conseguida em 1900,

antes mesmo da administração dos Irmãos Maristas, pois foi percebido que a sua

herança simbólica desencadeia parte do movimento histórico que estimula a busca por

uma equiparação definitiva, até a segunda avaliação do prédio da Vila Mariana,

realizada em 1940 quando essa sede já estava concluída e em pleno funcionamento.

Investigação dos processos de equiparação do Colégio Marista Arquidiocesano de

São Paulo e a busca por outras documentações

O grupo de documentos28 relacionados diretamente à obtenção e manutenção da

equiparação do Arquidiocesano, e arquivados no MCMA, será a fonte principal com

relação à equiparação dos anos 1930 devendo ser amplamente analisada, descrita e

explorada, pois foi a partir dela que se originaram as demandas dessa pesquisa, dentre as

quais a visita a arquivos, bibliotecas e a montagem de um levantamento bibliográfico

que pode ser verificado em Referências bibliográficas.

27

Fundado em 1837, como Imperial Colégio de Pedro II, teria seu nome alterado em 1889, com a

Proclamação da República, para Instituto Nacional de Instrução Secundária, mas este logo seria

substituído por Ginásio Nacional o qual permaneceria até 1911, quando foi novamente alterado para

Colégio Pedro II. Todos os documentos da equiparação obtida pelo Colégio em 1900 fazem referência ao

Ginásio Nacional, enquanto os itens relacionados aos anos 1930/1940 citam o Colégio Pedro II, por isso

optou-se em manter as nomenclaturas específicas de cada período. 28

Para maiores informações sobre esses itens verificar o Anexo 1, no qual os documentos foram descritos

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19

Os itens da equiparação do Arquidiocesano, anos 1930/1940, se encontram da

seguinte forma:

Processo de equiparação do Colégio Arquidiocesano de São Paulo (de

1931 a 1967): dividido em quatro volumes e com itens relativos às duas

sedes (Avenida Tiradentes e atual Rua Domingos de Moraes). Fazem parte

desse grupo de documentos: fotos dos ambientes (fachadas, salas de aula,

cozinha, laboratórios de Física/Química/História Natural, biblioteca, pátios,

secretaria, refeitórios, instalações sanitárias e dormitórios); fotos de

atividades/eventos (solenidades, práticas escolares e atividades físicas),

reprodução das plantas do edifício; descrição da organização do ensino e da

estrutura administrativa, escrituração financeira e corpo docente; relação de

professores por disciplina e informações sobre a formação e experiência de

cada um destes; contrato de trabalho de professores (Educação Física e

História do Brasil/Física); ficha de classificação com informações sobre

meios de transporte disponíveis, salubridade, ausência de ruídos, ausência de

perigos, perturbação da atenção, permeabilidade do terreno, área coberta,

área livre, extintores de incêndio, iluminação, caixas d´água, bebedouros,

lavatórios, tamanhos das salas de aula, pintura utilizada, etc.; horário

semanal de ensino; listas de alunos matriculados; solicitação de transferência

de prédio; listagem de recursos didáticos; relações de instrumentos de

laboratório; telegramas e correspondência com órgãos reguladores da

Educação; fragmentos de publicações institucionais e relatórios de inspeção

federal.

Buscou-se quais eram as esferas governamentais vinculadas à equiparação, e

consequentemente ao ensino secundário na década de 1930, e com isso localizou-se os

seguintes órgãos públicos: Departamento Nacional de Ensino, Superintendência do

Ensino Secundário, Divisão de Ensino Secundário, Diretoria de Ensino Secundário e

Inspetoria Geral do Ensino Secundário. Como todos estes eram relacionados à esfera

federal sentiu-se premente necessidade de realizar incursões junto ao acervo do Arquivo

Nacional (AN).

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20

A consulta ao Sistema de Informações do Arquivo Nacional – SIAN29, que

disponibiliza base de dados com acesso à descrição da documentação armazenada no

AN, permitiu localizar 11 itens, compostos por fundos e documentos que se acreditou

poderiam auxiliar na compreensão da equiparação, mas que não se mostraram

diretamente relacionados aos itens do Arquidiocesano, no entanto, acreditou-se que

poderiam ser relevantes ao menos para ampliar a compreensão sobre a equiparação

(Anexo 2).

Uma contribuição desses levantamentos iniciais junto ao banco de dados do AN

foi ter reforçado a necessidade de uma pesquisa in loco naquela instituição e também

por terem surgido outras lacunas ao serem esquadrinhadas de forma mais detalhada as

documentações da equiparação do Arquidiocesano.

Junto ao AN seriam verificados os materiais arquivados na série Educação30,

sendo essa composta especificamente por documentos que versavam sobre questões

educacionais e nos quais um levantamento acurado só poderia ser realizado no próprio

AN, uma vez que as descrições desses materiais ainda não se encontram detalhadas na

base de dados on-line.

Uma análise preliminar permitiu verificar ser a grande maioria dos registros da

série Educação relacionada à questão da equiparação no período da Primeira República

(1889-1930). As gavetas são organizadas alfabeticamente e levam em consideração os

estados brasileiros, e dentro de cada um destes o nome dos colégios equiparados, e no

corpo da ficha uma descrição sucinta sobre o documento arquivado, dados suficientes

para uma primeira seleção. Ao serem verificados os estados disponíveis surgem os

nomes de instituições como Mackenzie (SP), Ginásio N. S. do Carmo (SP), Colégio

Pedro II (RJ), Ginásio Carneiro Ribeiro (BA), Ginásio de São Paulo (SP) dentre outros.

Entre as inúmeras instituições figuram dois itens associados ao Colégio

Diocesano, nome utilizado pelo Arquidiocesano até 1908. Após a seleção dos materiais

foram separados três grupos para leitura, um deles relacionado ao Ginásio Nossa

29

O SIAN pode ser acessado por meio do endereço eletrônico www.an.gov.br/sian/inicial.asp. 30

“Os documentos dessa série foram coletados em 1962 pelo Ministério da Educação e Cultura.

Consultando a base SIAN obtivemos a seguinte informação com relação à organização desses fundos:

“Na década de 1960, o Arquivo Nacional contou com a colaboração técnica do professor francês Henri

Boullier de Branche, diretor dos arquivos de Sarthe (Le Mans), que dirigiu um grupo de trabalho

encarregado de estabelecer um quadro de arranjo do acervo textual. Surgiram, assim, as séries funcionais,

que classificam parte da documentação da administração central dos ministérios , e de órgãos a eles

pertencentes de acordo com a função ou atividade ministerial principal, subdivid indo-a, ainda, em atividades secundárias, específicas de determinado serviço. Assim, Ensino secundário, por exemplo,

corresponde a uma subsérie da atividade principal, representada na SÉRIE EDUCAÇÃO” (Fonte:

Sistema de Informações do Arquivo Nacional – SIAN).

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Senhora do Carmo, pois a equiparação deste, em 1933, encontra-se disponível no

MCMA e talvez houvesse algo que auxiliasse na compreensão da documentação do

próprio Arquidiocesano.

A primeira pasta analisada dizia respeito ao Ginásio N. S. do Carmo.31

Composta por documentos da equiparação obtida em 9 de outubro de 1905, encontram-

se ali relatórios de delegados fiscais, cartas, bilhete do Partido Republicano Paulista e

apólices de seguro.32 Documentos estes que retratam as dificuldades, e também o jogo

de influências, realizados para a equiparação desta instituição ao Ginásio Nacional. Por

não ser esta instituição o objeto deste trabalho não foi realizada uma análise

aprofundada desses itens.

O segundo grupo dizia respeito ao Colégio Arquidiocesano (período 1925 a

1931), e apesar das 419 páginas, era composto por mapas gerais dos exames, atas de

exames de admissão, atas de exames finais, boletins do julgamento dos exames de

promoção e quadros gerais dos boletins das provas parciais33 (respectivamente Anexos

3 a 7). Estes quadros trazem informações sobre os resultados obtidos pelos alunos nas

provas oficiais do ensino secundário e enviados pelos ginásios aos departamentos

responsáveis por seu acompanhamento e fiscalização34.

O terceiro pacote exibia como primeiro item um pequeno papel manuscrito que

apontava estarem ali os Requerimentos de equiparação ao Gymnasio Nacional dos

Collegio Diocesano de S. Paulo e Collegio de S. Jose. Ao explorá-lo verificou-se serem

os documentos da primeira equiparação do Colégio Diocesano ao Ginásio Nacional,

obtida oficialmente em 4 de agosto de 1900. As únicas informações sobre ele foram

encontradas na revista Ecos35, com especial destaque para as constantes observações

entre 1908 a 1924 na capa, que o colégio era Equiparado ao Ginásio Nacional, e após

1911, temos Antes das reformas, equiparado ao Gymnasio Nacional, mas estes

31

Itens do conjunto documental IE4 193 (Arquivo Nacional).

32O decreto nº 5.708, de 9 de outubro de 1905, concedeu ao Ginásio Nossa Senhora do Carmo, na cidade

de São Paulo, as mesmas vantagens que possuía o Ginásio Nacional. 33

Todos esses itens fazem parte do conjunto documental IE4

589 (Arquivo Nacional). 34

Existem referências nesse sentido no livro de ata intitulado Secretaria – Occorrencias diárias (1932-

1936). 35

Padronizou-se o nome da revista para a grafia Ecos, pois esta também aparece grafada como Echos,

Échos, e Échos do Collegio Archidiocesano. A revista Ecos foi publicada entre 1908 e 1963 e possuía

periodicidade anual. Durante todo esse período de existência foi veículo oficial de comunicação da

instituição com pais, autoridades políticas e também religiosas aos quais eram remetidos números pelo

correio. Para maiores informações ler artigo PINAS, Raquel Quirino; PEDRO, Ricardo Tomasiello.

Revista Echos do Collégio Archidiocesano de São Paulo (1908 -1963): possibilidades para estudos em

História da Educação apresentado em 2012 no VII Congresso Brasileiro de História da Educação

(Cuiabá).

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elementos eram insuficientes para a reconstrução daqueles documentos, embora

indicassem que ser colégio equiparado era socialmente percebido como algo relevante e

diferencial com relação aos não equiparados.

O conjunto encontrado no AN é composto por aproximadamente 40 itens entre

procurações, um exemplar do Diário Oficial, relatórios, autos de avaliação, bilhete,

carta, prospecto do Colégio, descritivo sobre a estrutura administrativa e coleções

didáticas, solicitações de mudança nas datas do ano letivo, informações sobre alunos,

comprovantes de patrimônio, declarações sobre quitação de impostos, apólices de

seguro, dentre outros.

Com relação à documentação do MCMA verificou-se a inexistência de uma

paginação específica, ou uma organização extremamente formal dentro do conjunto

(essencialmente organizado cronologicamente), por isso para possibilitar a localização e

a referência aos documentos dentro de cada volume optou-se por utilizar o termo

Processo de Equiparação, pois atualmente encontra-se grafado na lombada dos

volumes encadernados Processo de Equiparação do Colégio Arquidiocesano de São

Paulo, e a este foi acrescentado o respectivo volume e parte.

O primeiro volume é o único a possuir paginação impressa, no entanto, a partir

do segundo essa é irregular e foi refeita, de forma manuscrita, pelo menos três vezes e

na ausência de qualquer uma dessas anotações foi atribuído um número sequencial a

partir da última página numerada, mas este aparecerá grafado entre colchetes para

indicar numeração atribuída. É relevante destacar que nem sempre o ano apresentado na

lombada diz respeito à data de elaboração do documento.

O acesso aos documentos do MCMA e AN permitiu averiguar a legislação

educacional seguida pelos institutos equiparados, pois estes indicam em seu texto os

dispositivos legais por meio dos quais são constituídos. O mapeamento dessas leis e

decretos permitiu entender os procedimentos para a obtenção e manutenção dessa

prerrogativa, pois independentemente do período esta não era concedida de forma

irrevogável o que, por exemplo, garantia o controle do ensino secundário pelo governo

federal.

A análise da legislação educacional do período republicano com relação ao

ensino secundário mostrou-se relevante, pois auxiliou a identificar os caminhos formais

da equiparação, mas isso não isentou uma busca por fontes que analisavam e faziam

considerações sobre esses mesmos aspectos, por isso foram utilizadas as obras abaixo

relacionadas percebidas nesse contexto como fontes primárias, por serem estas

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publicações contemporâneas à documentação da equiparação do Arquidiocesano, dos

anos 1930, são elas:

Serviço de inspeção dos estabelecimentos de ensino secundário (1932) -

Material produzido pelo Departamento Nacional do Ensino órgão vinculado

ao Ministério de Estado de Educação e Saúde Pública. Exibe grande

quantidade de anotações;

Leis do ensino secundário e seus comentários (1939) – Dr. Alysson de

Abreu (Inspetor federal) – esta obra qualifica-se como “manual do inspetor

do ensino secundário”;

Legislação Brasileira do Ensino secundário (1939) – Adalberto Corrêa

Sena (Técnico de Educação da Divisão de Ensino Secundário);

Para esclarecer sobre o cotidiano do Colégio e o constante processo de

manutenção relacionado à equiparação foram utilizadas seis fontes primárias, sendo a

primeira referente ao processo de 1900 e as demais aos anos 1930/1940:

Provisões (1908) – livro de atas composto por 200 páginas, e destas

somente 50 possuem algum tipo de registro entre 1905 e 1910. Composto

quase inteiramente por relatórios encaminhados ao delegado fiscal

(autoridade fiscalizatória);

Livro de visitas do inspetor federal (1931 a 1967) – possui registros

elaborados pelos inspetores federais (autoridade fiscalizatória) e é composto

por 200 páginas manuscritas;

Livro de ocorrências – Inspetoria Seccional de São Paulo (1938 a 1960)

– possui 52 páginas e também registra observações dos inspetores federais;

Termos de visitas dos inspetores federais (1937 a 1938) – livro de atas

composto por 100 páginas das quais somente 10 foram utilizadas pelos

inspetores;

Secretaria – Occorrencias diárias (1932-1936) – livro com anotações

sobre o cotidiano da secretaria escolar disposta ao longo de 200 páginas;

Diário da Secretaria – Registro das ocorrências diarias (1936-1940) –

128 páginas sobre preenchidas;

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24

Especificamente com relação ao levantamento da legislação dos períodos

analisados nesta dissertação foi utilizado o Portal de Legislação do Senado Federal36.

Para a análise das informações sobre a administração dos Irmãos Maristas à

frente do Colégio lançou-se mão de obras publicadas pela instituição, dentre as quais

exemplares vinculados à comemoração de alguma efeméride e biografias de antigos

diretores. Tais referências foram utilizadas de modo parcimonioso, pois se considera

que essas valorizam a versão “oficial” daquilo que se quer dar a conhecer.

Com relação à história do próprio Colégio destaca-se a revista Ecos, editada

entre 1908 e 1963, que se mostrou particularmente profícua, pois por meio de suas

matérias e notas temos informações sobre a questão da equiparação e a relação dessa

prerrogativa com o público ao qual o Colégio estava vinculado (pais, autoridades civis,

membros do clero, políticos, etc). Outro aspecto pertinente com relação a essa

publicação diz respeito a estarem ali registrados os posicionamentos e as omissões de

uma instituição católica com relação às mudanças na política educacional brasileira.

Pretende-se utilizar o patrimônio edificado da sede da Vila Mariana, construída

entre 1929 e 1939, como fonte para essa dissertação por considerar que este é o

resultado final das articulações retratadas no histórico do processo, cotejando-o com

outro item do acervo do MCMA conhecido como Álbum da construção, sendo este

composto por 69 fotos (três desaparecidas) em preto e branco, nas quais foram

registradas algumas fases da construção do edifício, especificamente entre 1929 e 1933.

Esse material é relevante, pois a estrutura física era muito considerada quando uma

instituição era avaliada para fins de equiparação e manutenção, e também por perceber

nesse material um registro relevante com relação à construção de um prédio num

período fortemente marcado pelas prescrições do Ministério da Educação e Saúde

Pública (MESP), em especial àquelas relacionadas à Reforma Francisco Campos.

Procedimentos de análise

Por conta do manuseio constante das fontes e estimulado pelo desafio de

construir uma narrativa que relatasse a experiência do Arquidiocesano com a

equiparação buscou-se na historiografia referências e metodologias que auxiliassem

nessa tarefa.

36

Disponível para acesso no endereço eletrônico www.senado.gov.br/legislacao/ ou

legis.senado.leg.br/sicon/

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Mostraram-se imprescindíveis as observações de Ginzburg (2002, pp.143-179)

com relação ao “método Morelli”, vinculado à análise de obras de Arte, e o quanto este

apresenta possibilidades investigativas em História ao também se utilizarem os indícios

como elementos dignos de consideração quando outras fontes “se calam” sobre aspectos

daquilo que se deseja perscrutar, pois no caso das documentações estudadas foi

necessário dar visibilidade aos pequenos sinais encontrados.

Especialmente com relação aos documentos dos anos 1930/1940 há uma

considerável quantidade de material fotográfico que retrata uma instituição que se

“demonstra” e a análise destas fotos levaram em consideração aspectos indicados por

Kossoy quando este afirmava que

Toda fotografia tem atrás de si uma história. Olhar para uma fotografia do passado e refletir sobre a trajetória por ela percorrida é situá-la em pelo menos três estágios bem definidos que marcaram sua existência. Em primeiro lugar houve uma intenção para que ela existisse; esta pode ter partido do próprio fotógrafo que se viu motivado a registrar determinado tema do real ou de um terceiro que incumbiu para a tarefa. Em decorrência desta intenção teve lugar o segundo estágio: o ato do registro que deu origem à materialização da fotografia. Finalmente, o terceiro estágio: os caminhos percorridos por esta fotografia, as vicissitudes por que passou, as mãos que a dedicaram, os olhos que a viram, as emoções que despertou, os porta-retratos que a emolduraram, os álbuns que a guardaram, os porões e sótãos que a enterraram, as mãos que a salvaram. (KOSSOY, 1989, p.29)

A descrição e a análise das cenas registradas mostraram-se essenciais para que

se pudesse de alguma maneira identificar as intencionalidades apresentadas pelas

imagens, especialmente por terem sido elas constituídas para uso nos procedimentos da

equiparação.

Por conta de toda a documentação aferida definiu-se como recorte histórico entre

1899, ano da publicação do decreto n° 3.491 graças ao qual o Colégio obtém a primeira

equiparação em 1900, e 1940 quando seguem para o Rio de Janeiro informações sobre a

recém-concluída sede da Vila Mariana. É pertinente esclarecer que a equiparação é

citada em legislação anterior a 1899, mas levou-se em consideração somente aquela

utilizada pelo Arquidiocesano.

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Divisão dos capítulos

No capítulo 1 é contada a história da primeira equiparação recebida em 1900,

revogada em 1911 e os lamentos dos responsáveis do colégio em torno de tal evento.

Leva-se em conta o histórico anterior à administração dos Irmãos Maristas, quando a

instituição esteve nas mãos dos padres diocesanos, identificando nela as reformas

educacionais do ensino secundário a partir de 1899, como uma estratégia para situar a

posição da administração Marista mediante o recebimento de um colégio já equiparado.

No capítulo 2 são analisados o impacto da supressão da equiparação do

Arquidiocesano em 1911 por conta da Reforma Rivadávia Correa, o posicionamento do

Colégio perante as discussões educacionais dos anos 1920 e 1930, além de incluir nesta

última década a mobilização dos Irmãos Maristas em prol da recuperação do

reconhecimento perdido, além disso, são apresentados instrumentos por meio dos quais

o governo federal estruturou as estratégias de fiscalização.

Com a conquista da equiparação achou-se pertinente identificar e analisar no

capítulo 3 como eram acompanhados os institutos equiparados e como o Colégio lidou

com essas questões na sede localizada na Vila Mariana. Por isso percebeu-se como

estratégia relevante a análise da relação da instituição com os inspetores federais. Neste

capítulo pretende-se fazer o estudo do patrimônio edificado, bem como tentar identificar

os acréscimos realizados pelos Irmãos Maristas ao modelo de escola secundária imposta

pelo Estado.

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CAPÍTULO 1 – A EQUIPARAÇÃO DE 1900 DO COLÉGIO DIOCESANO E A

SUA REVOGAÇÃO PELA REFORMA RIVADÁVIA CORREA EM 1911

A entrada dos padres diocesanos ocorreria logo após a saída dos “saboianos” em

1879, sendo naquele momento bispo de São Paulo Dom Lino Deodato Rodrigues de

Carvalho (1826-1894) que ficaria à frente da Diocese entre 1871 e 1894. A entrada dos

padres, no entanto, não alteraria a direcionamento ideológico de seus antecessores, pois

muitos desses foram alunos no Seminário e formados dentro da perspectiva

ultramontana (MARTINS, 2006, p.18).

Foram cinco os reitores-padres responsáveis pela instituição, sendo o primeiro

Monsenhor João Alves37, que esteve à frente do Seminário-Colégio entre 1879 e 1889.

Sobre ele e sua administração a Polyanthea38 falaria

Reitor, ecônomo, soube consagrar todo o seu tempo e toda a sua atividade em múltiplos serviços, ora dirigindo e fazendo-se architecto nos trabalhos de reconstrucção e de novas construcções alargando e engrandecendo o estabelecimento para acolher maior número de alunos, que ahi pudessem vir a receber instrucção solida e educação christã (POLYANTHEA, 1906, p.580).

Apesar da aparente prosperidade descrita acima, alguns pesquisadores afirmam,

que a situação financeira na qual se encontrava o Seminário era tão delicada,

especialmente com a mudança no regime político brasileiro por conta do fim da

Monarquia e a chegada da República, que ele quase seria fechado (MARTINS, 2006,

p.230).

O que é possível perceber em relação aos sucessores do Monsenhor João Alves é

que estes constantemente buscam estratégias para garantir a manutenção financeira do

Seminário-Colégio e como exemplo dessas tentativas tem-se a construção de armazéns

na Rua São Caetano entre 1890-1891 e a edificação de imóveis próximos à Rua 25 de

Março, todos estes alugados e os recursos revertidos para a instituição (MARTINS,

2006, pp.237-238). Em Martins, também encontramos o relato sobre as melhorias

estruturais realizadas como, no seguinte trecho

37

Monsenhor João Alves Coelho Guimarães nasceu em Taubaté em 1834. Iniciaria seus estudos no

Seminário Episcopal em 7 de março de 1857 e teria uma longa trajetória eclesiástica. 38

Edição comemorativa dos 50 anos do Seminário Episcopal de São Paulo publicada em 1906.

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As reformas no prédio do Seminário foram iniciadas nas férias que separaram o ano letivo de 1890 e 1891. Dentro do projeto, foram iniciadas as construções de um novo refeitório, aumento no salão de estudos, das salas de aulas, reconstrução da enfermaria e outros cômodos necessários às novas exigências educacionais (MARTINS, 2006, p.236)

Apesar das constantes benfeitorias realizadas no prédio da Luz próximo ao

período do pedido da primeira equiparação seria registrada pela instituição uma queda

significativa no número de alunos mais precisamente entre 1898 e 1900, pois de 262 no

primeiro ano estes passariam a ser 131 jovens39. Essa queda indica que o Colégio

passava por um período de pouco prestígio causado, também pela existência de outras

formas de acesso ao nível superior que atuariam como “concorrentes” ao modelo de

ensino ginasial oferecido pela instituição, e uma forma de reverter esse quadro foi

pleitear a equiparação do Diocesano ao Ginásio Nacional, algo conseguido pelo padre

José Pedro de Araújo Marcondes (1864-1916), último reitor-padre.

Segundo Silva (1969, p.252) a palavra “equiparação” seria utilizada pela

primeira vez no decreto que aprovou o regulamento das instituições de ensino jurídico

(1.232-H, de 2 de janeiro de 1891), mais especificamente o artigo 43140, pois esse termo

não aparecia na Reforma Benjamin Constant (1890). Antunha (1980, p.89) e Silva

(1969, p.252) concordam ter sido essa a primeira abertura jurídica para que institutos

privados de ensino secundário pudessem pleitear junto ao governo federal os mesmos

privilégios do Ginásio Nacional, o que significava permitir aos ginásios privados que se

responsabilizassem pela aplicação e verificação dos exames parcelados41 dos alunos

vinculados à sua instituição (ANTUNHA, 1980, p.119).

Antunha (1980, p.90) acredita que a pressão feita pelos colégios privados sobre

Benjamin Constant, ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, com relação à

equiparação fora tanta que esse optaria pela “inclusão, quase clandestina e em decreto

que se não referia especificamente ao ensino secundário, da expressão ginásios

particulares equiparados”.

39

Equiparação de 1900 (Arquivo Nacional IE4 – 134) 40

Art. 431 A datar de 1891 os exames dos referidos preparatórios serão feitos no Gymnasio Nacional ou

nos gymnasios particulares a este equiparados por decreto ´pelo Governo ou nos cursos anexos às

Faculdades do Direito que para esse fim serão reorganizados segundo as disposições adiante

mencionadas. 41

Dentro da historiografia do ensino secundário brasileiro existe uma série de discussões n as quais

figuram os exames parcelados, no entanto, aqui mostra-se suficiente a definição dada por Cunha (2011,

p.155), quando os apresenta como as provas que permitiam aos alunos a eliminação gradativa das

matérias exigidas para ingresso no ensino superior, sendo facultado aos alunos a possibilidade de

escolherem onde e quando prestariam essas provas.

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29

Em 1892 seriam equiparadas duas primeiras instituições, ambas mantidas pelo

poder público, uma em Minas Gerais e a outra no Pará (SILVA, 1959, p.277). Três anos

depois receberia esse reconhecimento o Instituto Henrique Kopke e, em 1899, o Colégio

Abílio, ambas mantidas por particulares. O espaço entre essas últimas concessões

ocorreria por conta da resistência do governo em conceder as equiparações

(ANTUNHA, 1980 apud ABRANCHES, 1918, p.37-38).

Silva (1969, p.252) afirmaria também, com relação ao artigo 431, que ele “teria

sido ainda o primeiro passo no sentido da uniformização do ensino secundário particular

de todo o país, se a equiparação nele prevista, não tivesse permanecido irrealizada pelo

menos até 1899”, no entanto, entre 1901 e 1911 a situação era muito diferente, pois

seriam reconhecidas oficialmente 50 instituições espalhadas pelo Brasil (ANTUNHA,

1980, p.147).

A elaboração de uma regulamentação mais específica com relação à equiparação

somente seria publicada em 1899 com os decretos nº 3.285 e 3.481 (Anexo 8),

dispositivos esses que seriam em 1901 integrados à Reforma Epitácio Pessoa42 (SILVA,

1969, p.256).

Utilizando as disposições do decreto nº 3.481, o então diretor do Colégio

Diocesano, padre José Pedro de Araújo Marcondes, por meio de seu procurador o

Cônego Dr. João Evangelista Pereira Barros solicitaria em 16 de julho de 1900, ao

Ministério da Justiça e Negócios Interiores a equiparação do Colégio Diocesano ao

Ginásio Nacional, pois foram satisfeitas “todas as exigências da lei, como demonstram

os documentos juntos”43. Para o Rio de Janeiro seguiram todos os comprovantes que

atestavam o cumprimento dos itens relacionados no 4º artigo do decreto 3.491, que

eram

Constituir um patrimonio de 50 contos de réis pelo menos, representado por apolices da divida publica federal e pelo edificio em que funccionar o instituto ou por qualquer desses valores; II. Provar uma frequencia nunca inferior a 30 alumnos pelo espaço de 2 annos; III. Observar o regimen e os programmas de ensino adoptados para o Gymnasio Nacional.

Seguiram para apreciação do ministério um exemplar do Diário Oficial de 24 de

maio de 1900, no qual constava a publicação do estatuto do Colégio Diocesano e uma

42

Decreto nº 3.890 de 1 de janeiro de 1901. 43

Equiparação 1900 (Arquivo Nacional IE4 – 134).

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30

declaração da Caixa de Amortização44 atestando terem sido adquiridas apólices da

dívida pública45. Após o encaminhamento dessa documentação era nomeado um

comissário fiscal sendo este responsável por realizar uma visita ao colégio solicitante e

depois disso elaborar um relatório no qual registrava suas impressões.

O comissário faria a visita ao Colégio e o relatório elaborado em 31 de julho de

1900 seria protocolado junto ao Ministério em menos de três dias. No relatório o

representante do governo seria extremamente elogioso e anexaria às suas impressões um

descritivo e dentre suas observações registraria

(...) visitei o Collegio Diocesano, cujo diretor e corpo docente

pessoalmente conheço, podendo por isso atestar sua idoneidade

moral e habilitação technica, aliás bem conhecida pelo publico

deste Estado 46

.

A estrutura física e o mobiliário recebem menções igualmente positivas, pois

Alem das excellentes condições higiênicas dessa instituição de ensino a qual funciona em edifício construído especialmente para o fim de educar avultado número de alumnos, verifiquei que se acha munido de mobilia escolar em tudo conforme com as prescrições da Pedagogia Moderna, como também de Laboratorios, gabinete e apparelhos necessários para o ensino das Sciencias Physicas e Naturaes (...)

47

Nesse trecho fica clara a necessidade de destacar que o Colégio estava

sintonizado com as mudanças no campo educacional e como escola católica havia a

inserção dos saberes científicos na formação de seus alunos. Com relação ao descritivo

pôde-se perceber ser ele bastante simples, sendo composto pelos nomes dos membros

do corpo administrativo, dos docentes, das disciplinas ministradas, pela quantidade de

alunos matriculados nos últimos três anos, pela relação com 52 instrumentos do

gabinete de Física, uma descrição pouco precisa de sete itens do laboratório de Química,

e uma relação geral de uma coleção identificada como Museo.

44

Criada por Lei de 15 de novembro de 1827 e regulamentada por decreto de 8 de outubro de 1828, a

Caixa de Amortização tinha por destinação "pagar os capitais e juros de qualquer dívida pú blica fundada

por Lei, pagando por semestre os juros das apólices de fundos, resgatando anualmente tantas apólices do

capital fundado quantas equivalerem à soma de 1% do mesmo capital, e inspecionando as transferências

das mesmas apólices de uns para outros possuidores. (Fonte:

http://www.bcb.gov.br/pre/Historia/HistoriaBC/caixa_amortizacao.asp?idpai=HISTORIABC) . 45

Equiparação 1900 (Arquivo Nacional IE4 – 134).

46Equiparação 1900 (Arquivo Nacional IE

4 – 134).

47Equiparação 1900 (Arquivo Nacional IE

4 – 134).

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31

A escolha do comissário fiscal era definida no artigo 5º, do decreto nº

3.491/1899, por meio do qual se orientava que esse papel deveria ser

(...) confiado a pessoa de provada competencia pedagogica, quando no districto em que tiver a sua séde o novo instituto não existir outro estabelecimento já officialmente reconhecido, caso em que será dada aquella incumbencia ao delegado fiscal do Governo junto deste ultimo. O resultado do processo deverá ser communicado ao Governo em minucioso relatório.

Embora a documentação localizada no AN não forneça detalhes sobre como era

realizada a seleção do comissário fiscal, bem como a dos delegados fiscais48, não se

descarta a possibilidade de serem estas suscetíveis às manobras políticas realizadas por

pessoas, ou grupos, vinculados aos ginásios que desejavam ser equiparados. Com

relação à esfera política não há indicações nesse sentido na documentação do Colégio

Diocesano, no entanto, algo diferente foi encontrado entre os itens do Ginásio N. S. do

Carmo49 e ao qual se recorre a título de exemplificação. Em carta de 14 de setembro de

1903, a Comissão Central do Partido Republicano de S. Paulo solicitava ao presidente

Rodrigues Alves a interferência na nomeação do delegado fiscal que atuaria junto ao

Carmo e nela encontramos o seguinte trecho:

(...) tomo a liberdade de solicitar a V. Exa. com o máximo empenho a nomeação do nosso amigo Dr. Horácio Gonçalves Pereira para o cargo de delegado fiscal do Governo Federal ante o Gymnasio do Carmo desta Capital, cuja equiparação já foi pedida. Contando com mais este obséquio prestado ao nosso Partido, desde já manifestamos-lhe os nossos agradecimentos e com muita estima (...)

50

Dr. Horário Gonçalves de fato seria nomeado delegado fiscal e graças à

preservação de seus relatórios verifica-se que este demonstraria estar a favor do Colégio

ao qual deveria fiscalizar.

48

Os delegados fiscais eram nomeados pelo governo central e realizavam a fiscalização dos colégios

equiparados, papel que era desempenhado, com aproximações e distanciamentos nos anos 1930 pelos

inspetores federais. 49

No Arquivo Nacional esse e outros itens referentes à primeira equiparação do Colégio do Carmo podem

ser consultados no IE4

193, que faz parte da série Educação. 50

Arquivo Nacional, s/n, IE4 – 193.

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32

Não existe algo que indique explicitamente ter o Diocesano realizado algum tipo

de estratégia para obter a equiparação, no entanto, dois detalhes chamam a atenção com

relação ao comissário fiscal: nome e titulação.

O cônego Dr. Francisco de Paula Rodrigues era membro do clero paulistano e

por isso mesmo possuía estreitos laços com a Diocese de São Paulo – desse vínculo se

originava também a sua titulação “cônego” que o distinguia de um padre secular comum

e o dotava de autoridade religiosa – a proprietária do Colégio naquele período e grande

interessada na obtenção da equiparação. Além disso, demonstraria em seu relatório

“conhecer pessoalmente a diretoria e o corpo docente”, mas, além disso, ele fora o

primeiro aspirante ao sacerdócio registrado no Seminário, conforme anotação do Livro

de Matrícula (1856)51. Citado em diversos momentos pela publicação Ecos, o padre

Chico, como também era conhecido, havia sido professor de Latim, Retórica e História

no Seminário-Colégio (POLYANTHEA, 1906, p.41). Sobre ele esta mesma publicação,

sempre muito elogiosa em relação aos “grandes vultos” vinculados à história do

Seminário diria:

(...) o Arcediago52

Francisco de Paula Rodrigues pertence a uma alta gerarchia de cultores da palavra, que tanto tem abrilhantado o clero brasileiro, desde epocha bem distante e que na propaganda em pról da Igreja tantos adeptos têm conquistado, pelo poderoso influxo do verbo sagrado á grey Romana (POLYANTHEA, 1906, p.41)

Outro indicativo desse tipo de movimentação pôde ser percebido na carta

enviada em 10 de fevereiro de 1911 pelo bispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e

Silva (1867-1938), ao solicitar a Rivadávia Correa, então Ministro da Justiça e

Negócios Interiores, a equiparação do futuro Colégio Diocesano de São Carlos. No

trecho abaixo é possível verificar qual era a proposta do bispo.

(...) pede a V. Excia que se digne de conceder o privilégio da equiparação ao Gymnasio Nacional, que já possue o Collegio Diocesano de São Paulo, ao sucursal [grifo nosso] do mesmo

51

O MCMA possui aproximadamente 23 livros de matrícula que englobam os anos de 1856 a 1963. O

exemplar de 1856 é o mais antigo item do acervo institucional e está relacionado à administração dos

Capuchinhos de Sabóia. São livros manuscritos em grandes dimensões, em torno de 32 X 46 cm, e

geralmente possuem 151 páginas. Nele temos sete colunas como os dados dos alunos, tais como: número

de matrícula, nome, pátria, filiação, entrada/saída e observações. Em observações muitas vezes constam

inscrições sobre expulsões, fugas, falecimentos e também em qual área o aluno se formou ou qual foi o

posto eclesiástico assumido. 52

Arcediago é considerado o representante direto do bispo diocesano.

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que vae ser installado na cidade de São Carlos do Pinhal, como o nome de Collegio Diocesano de São Carlos. Como garantia para tal equiparação, pede mais, que sejam conservados os mesmos bens que constituem a garantia do Collegio Diocesano de São Paulo

53.

O pedido de dom Duarte seria encaminhando ao Rio de Janeiro por meio do

delegado fiscal responsável pelo Diocesano, novamente a figura do cônego Dr.

Francisco de Paula Rodrigues, que também elaboraria uma carta ao ministro e em

determinado trecho relataria: “(...) cumpre-me informar a V. Sa. ser de grande vantagem

para a instrução secundária a concessão da licença pedida, havendo já, segundo me

consta, mais de um precedente de igual concessão [grifo nosso] por parte do Governo

Federal” 54.

Juntamente com as missivas do bispo de São Paulo e do delegado fiscal somou-

se outra, esta elaborada por Pedro Manoel de Toledo (1873-1935) 55, na época ministro

da Agricultura, Indústria e Comércio, e que recomendaria ao “Colega e amigo Dr.

Rivadávia Correa” que houvesse, com relação ao pedido feito pelo “Collégio Diocesano

(...) o máximo empenho, de acordo com os desejos dos amigos de S. Paulo”56.

A proximidade do cônego com a instituição à qual deveria fiscalizar, a

mobilização de políticos em prol do Carmo e o pedido pessoal de Dom Duarte para o

Dr. Rivadávia são indicadores de que havia interesse da Igreja Católica em obter a

equiparação, pois esta garantiria a influência dos católicos no ensino secundário. Além

disso, conseguir de um governo laico o reconhecimento de que uma instituição religiosa

estava à altura de seu modelo de excelência, o Ginásio Nacional, soava como uma

vitória moral sobre o regime que havia rompido com a Igreja logo nos primeiros anos de

existência, e não se pode negar que esta prerrogativa, ao aumentar o prestígio das

instituições católicas, acabaria ampliando suas chances de sobrevivência num espaço

tão disputado como aos poucos se tornava a escola.

Segundo Kulesza (2011, p.85) nesse mesmo período havia uma movimentação

do bispado brasileiro em torno do ensino secundário, por isso muitas dioceses lutaram

pela abertura e continuidade de obras vinculadas ao ensino ginasial como uma forma de

53

Equiparação 1900 (Arquivo Nacional – IE4 – 134).

54Equiparação 1900 (Arquivo Nacional – IE

4 – 134).

55“Pedro Manoel de Toledo foi ministro da Agricultura, Indústria e Comércio no p eríodo de 16 de

novembro de 1910 a 18 de novembro de 1913. Delegado, chefe da polícia de São Paulo, comandante

(interino) da Guarda Nacional e deputado, fundou a Academia Paulista de Letras. Foi comandante civil da

Revolução Constitucionalista de 1932. Nasceu em 1873, em São Paulo, e faleceu em 1935, no Rio de

Janeiro” (Fonte: http://www.agricultura.gov.br/ministerio/historia/galeria-de-min istros). 56

Equiparação 1900 (Arquivo Nacional – IE4 – 134).

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garantir sua posição junto aos quadros mandatários, posição ameaçada quando a

República elegeu o ensino laico em vez do religioso.

Após o envio do relatório elaborado pelo comissário fiscal, e recebido no

ministério em 2 de agosto de 1900, o Colégio Diocesano seria equiparado ao Ginásio

Nacional com a publicação do decreto nº 3.730, de 4 de agosto de 1900, que informava

Attendendo ás informações prestadas pelo Commissario Fiscal do Governo sobre os programmas de ensino e o modo por que são executados no Collegio Diocesano de S. Paulo, resolve conceder a este estabelecimento de instrucção, à vista do disposto nos arts. 38 paragrapho unico do decreto n. 981, de 8 de novembro de 1890 e 431 do de n. 1232 H, de 2 de janeiro de 1891 o conforme requereu, as vantagens de que gosa o Gymnasio Nacional. Capital Federal, 4 de agosto de 1900, 12º da Republica.

Conquistar o status de “equiparado” não significava ficar livre das interferências

do governo federal, pois era necessária a realização de uma série de procedimentos

destinados à manutenção dos privilégios obtidos pelo Colégio e exigiria atenção dos

administradores com relação às novas exigências legais. Neste período, a exemplo de

legislações posteriores, ser equiparado não era uma condição concedida

irrevogavelmente, pois já no artigo 9º do decreto 3.285, de 20 de maio de 1899,

afirmava-se que

O Governo retirará as prerrogativas e vantagens da equiparação ao Gymnasio Nacional aos institutos que se afastarem do regimen official de ensino, ou em que se praticarem abusos quanto à identidade dos alumnos nos exames, ou na collação de gráos, e bem assim àquelles em que forem tolerados actos de immoralidade e incivismo ou que acarretem o abatimento moral do ensino (...)

O Colégio era obrigado a seguir o regulamento do Ginásio Nacional, submeter-

se às visitas periódicas do delegado fiscal ao qual competia registrar em seus relatórios

“(...) a marcha do estabelecimento e execução dos programmas, propondo as

providencias e censuras que lhes dictarem as irregularidades ou abusos verificados”57.

Independente de quaisquer considerações com relação à lisura ou à sensação de

que o processo para a obtenção da equiparação nem sempre ocorria de forma tão

“protocolar” ainda permanece a percepção de que conquistá-la não deveria ser algo tão

57

Artigo 11, decreto n° 3.285, de 20 de mais de 1899.

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simples, pois havia exigências financeiras e estruturais (comprovação de patrimônio,

seguros, pagamento das custas da fiscalização realizada pelo delegado fiscal58, dentre

outros itens) responsáveis por criar, a seu modo, empecilhos para que os ginásios menos

estruturados conseguissem o reconhecimento governamental.

No caso do Diocesano, tratava-se de uma instituição privada, e que existia há

quase 50 anos, tempo suficiente para que houvesse sido constituída uma certa estrutura

física, além disso, havia o amparo simbólico e financeiro da Diocese de São Paulo, a

proprietária do Colégio.

Os padres diocesanos, sucessores dos Capuchinhos na direção do Colégio,

seriam desvinculados do Diocesano em 1907 e sobre essa transição, bem como sobre a

administração desses religiosos, o Ir. Adorátor registraria o seguinte:

Não temos de pesquisar os motivos da mudança de direção. Não chegaremos, talvez, à verdade. Seja o que for, os capuchinhos deixaram o estabelecimento muito bem montado e com algum renome provincial e nacional, acadêmico e teológico, havendo entregado à sociedade nacional tanto homens prestantes, quanto sacerdotes preparados e zelosos. A nova direção teve também a sua era de prosperidade, de permeio com problemas e desafios. Quando, às vezes, encontramos algum padre que foi professor e, sobretudo, vigilante, as suas recordações mostram que as dificuldades não faltaram. (ADORÁTOR, 2005, p.486)

Graças a Adorátor (2005) e ao estudo de Martins (2006) foi possível entender

que a administração das duas primeiras congregações responsáveis pela direção do

Seminário-Colégio foram marcadas pelas dificuldades financeiras e, também, pelos

embates políticos, inclusive com relação às questões relativas à formação dos religiosos,

pois a Igreja paulista durante a gestão desses religiosos ainda passava pelo processo de

reestruturação iniciado por Dom Antonio Joaquim de Melo sendo estratégica a posição

ocupada pela instituição.

Com relação à ligação entre o Diocesano e o cônego Dr. Francisco de Paula

percebe-se que esta ultrapassaria muito a gestão dos padres seculares e adentraria no

período da administração dos Irmãos Maristas, o terceiro e último grupo a dirigir o

Colégio.

58

O artigo 7º, decreto n. 3491 de 11 de novembro de 1899, definia que o pagamento dos honorá rios do

delegado fiscal deveria ser realizado pela própria instituição à qual esse estava vinculado. Antunha (1980,

pp.204-205), ao falar sobre esse pagamento apontaria que alguns delegados por dependerem dos valores

pagos pelos Colégios acabavam por não criar problemas para eles, pois do contrário corriam o risco de

perder o seu sustento.

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A vinda dos Irmãos para a cidade de São Paulo aconteceu em 1898 e foi

motivada pelo convite do padre Camilo Passalacqua (1898-1974), que por estar

preocupado com a difusão da educação leiga e a protestante entre os paulistanos

convidaria os Maristas para dirigirem o futuro Colégio do Carmo, fundado com recursos

cedidos pela Venerável Ordem Terceira (VOT) sendo instalado no prédio dessa mesma

congregação que se localizava próximo à Igreja do Carmo no centro da cidade de São

Paulo (AZZI, 1997a, p.115).

Um dos primeiros relatos dos Irmãos Maristas relacionados ao Colégio

Diocesano seria escrito pelo Irmão Adorátor e este registraria que ao assumir a diocese

de São Paulo o bispo Dom José de Camargo Barros (1858-1906)59

(...) quis ter à sua mesa representantes dos diversos institutos religiosos, estabelecidos na cidade episcopal. Os Pequenos Irmãos de Maria não ficaram esquecidos. O Ir. Isidoro Régis e eu tivemos a honra de comparecer, com mais de duzentos convidados, a um jantar de cerimônia no grande e bonito refeitório do Colégio Diocesano. Foi a primeira vez que entramos no célebre estabelecimento. Recordo-me ainda das impressões a propósito de tudo e do nosso contato com alguns ilustres professores, como A. Thiré, matemático de valor. Fomos reunidos num quarto que, mais tarde se tornaria meu. Se naquele momento, em que a timidez revestia tudo com selo de grandeza e de algo extraordinário, me dissessem: ‘Este Colégio, que hoje o impressiona e lhe parece estabelecimento de primeira ordem, será seu dentro em breve’, ter-me ia parecido inverossímil, e apenas o riso descrente teria sido a minha resposta (ADORÁTOR, 2005, p.485)

A opção pelo espaço do Seminário-Colégio para a realização de tal celebração

parece indicar não somente a importância de um lugar de “tradições”, ou o papel que

havia desempenhado na formação do novo bispo (ex-aluno e antigo professor), mas

indica a estratégia por meio da qual a Diocese apresentava uma instituição que

planejava transferir para os cuidados de outro grupo religioso. A fala do Ir. Adoratór

demonstraria que o colégio pode ter tido problemas, mas ele parecia grande e bem

montado.

Destacam-se, além do registro em relação à forte impressão causada pela

suntuosidade do Colégio sobre os dois Irmãos60, e de como esta os intimidava, os dados

sobre a ida para um aposento menor. Esse deslocamento abre possibilidade para

59

Dom José de Camargo Barros esteve à frente da Diocese entre 1903 e 1906. 60

Foram à celebração os Irmãos Adorátor e Isidoro Régis.

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inferirmos ter havido a necessidade de um espaço onde pudesse ocorrer uma conversa

mais reservada, possivelmente algo relacionado à transferência do Diocesano para os

Maristas.

Em 1904, alguns meses após essa celebração, Dom José solicitaria ao Ir.

Adorátor61, então superior da Província do Brasil Central62, o envio de três de seus

religiosos para atuarem como vigilantes no Diocesano, pois o bispo tinha a intenção

ainda não revelada de reorganizar o Seminário Episcopal separando definitivamente

aquela obra do “Ginásio equiparado”, e por isso precisava dispensar os seminaristas

responsáveis por essa atividade.

O Superior argumentaria não ser possível ceder nenhum religioso, pois ainda

não havia um número suficiente de membros para dar conta dos colégios assumidos

pela Congregação e ao mesmo tempo atender ao pedido, que apesar da insistência seria

aparentemente convencido pelos argumentos do provincial. No entanto, tal negativa não

impediria a separação das duas obras em 1904.

Antes mesmo de assumir a diocese Dom Duarte Leopoldo e Silva (1867-1938),

sucessor de Dom José, falecido em 1906, retomaria as negociações com Irmãos

Maristas, mas dessa vez a proposta diferenciava-se muito da anterior, pois se ofereceria

a esses religiosos a responsabilidade por toda a administração do Colégio, considerado

pelo novo bispo uma “fonte de aborrecimentos” para a Diocese. Segundo o Ir. Adorátor,

ao descrever um dos encontros com o novo bispo,

Sua Excelência retomou, um a um, todos os seus argumentos, em tom de súplica que me humilhava profundamente. Queria chorar. Dizia-me com muitos pormenores que os Irmãos Maristas gozavam em São Paulo de grande estima, que o Ir. Isidoro Regis era homem muito apreciado e que a opinião dos padres nos era favorável. “Excelência, sinto-me profundamente comovido pela confiança que lhe inspiramos. A sua insistência é para nós grande honra. Verei com os membros do Conselho, se fechando o Colégio de Mendes, chegaremos a constituir um corpo docente adequado para as primeiras necessidades do Colégio Diocesano” (ADORÁTOR, 2005, p.419)

Dom Duarte foi muito persuasivo, e sua proposta deixaria os Irmãos inseguros e

preocupados, pois consideravam grande demais a responsabilidade de assumir tão 61

Irmão Adorátor (1855-1918), nome civil Benedito Gautheron nasceu em Beauberí (França) e foi o

primeiro provincial dos Irmãos Maristas no Brasil-Central, cargo que ocupou entre 1897 e 1911. 62

A Província do Brasil-Central foi fundada em 1897 e compreendia os estados de Minas Gerais, São

Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Além dessa, existiam as Províncias Meridional (1900) e

Setentrional (1903), sendo cada uma delas dirigida por um “provincial”.

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renomada instituição. O Ir. Adorátor aproveitaria sua ida para a França, por conta

falecimento do Superior Geral do Instituto Marista63, para consultar diretamente os

líderes da congregação e estes por sua vez o aconselhariam a assumir a obra caso se

sentisse apto para arcar com as dificuldades de tal empreendimento (ESCORÇO, s.d.,

p.91).

Por fim, a resposta ao novo bispo seria positiva, no entanto, o provincial

indicaria em suas memórias que essa afirmativa só foi possível graças ao apoio dado

pelo Irmão Isidoro Regis (1874-1941)64, apresentado por ele como uma das maiores

graças que Deus poderia ter concedido à Província (ADORÁTOR, 2005, p.178).

Os Irmãos Maristas assumiram o Diocesano em 1908, que naquele período já era

equiparado. Em 1917 ao relembrar a entrada dos Irmãos no Colégio, o Ir. Adorátor

contaria

A nossa instalação nesse grande Colégio parecia-nos um sonho; contudo ninguém nos podia chamar de ambiciosos nem de usurpadores. Foi a contragosto que cedêramos às instâncias do bispo. Podíamos contar com a proteção do céu. Nos últimos meses do ano de 1907, o boato do nosso ingresso no estabelecimento tornou-se público. Professores e alunos falavam disso. Inevitavelmente, não fomos sempre tratados com caridade, de maneira que quase todos os alunos não davam garantia quando ao seu regresso (ADORÁTOR, 2005, p.488)

A mudança realizada por Dom Duarte em tão tradicional estabelecimento seria

controversa, inclusive sendo criticada por meio da imprensa (ADORÁTOR, 2005,

p.488).

Afirma-se com frequência que a Diocese teria transferido para os Irmãos

Maristas a direção do Colégio, no entanto, no contrato firmado em 21 de janeiro de

1908 (Anexo 9), entre Dom Duarte e o Irmão Isidoro Dumont, vice-provincial desses

religiosos no Brasil, há informação de que este fora arrendado para a congregação por

um período de cinco anos.

O edifício e os móveis foram colocados à disposição dos novos diretores desde

que estes os mantivessem em bom estado de conservação, mas não ficariam sob a

responsabilidade destes os valores referentes a impostos, seguros, e para as construções

novas e reformas de maior envergadura seria necessária a autorização do próprio bispo.

63

Superior-Geral é o cargo mais alto dentro da hierarquia dos Maristas e o religioso assim designado é

considerado um sucessor direto de Champagnat. 64

Também conhecido como Ir. Isidoro Dumont, cujo nome civil era Tiago Dumont (1874-1941).

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Há certa controvérsia sobre qual a data demarcaria exatamente o início da

administração dos Irmãos Maristas no Arquidiocesano. Sabe-se que em 11 de janeiro de

1908, o Irmão Isidoro Dumont, primeiro irmão-reitor65 do Arquidiocesano comunicaria

oficialmente ao Governo Federal sua entrada no Colégio, pois lavraria no livro de

Provisões66 os seguintes termos: “Tenho a honra de levar ao vosso conhecimento que

hoje tomei posse do cargo de reitor deste estabelecimento sob a vossa fiscalização”67.

A opção pelo Irmão Isidoro não fora feita de forma incauta, pois ele era

considerado uma pessoa enérgica e dotada de inúmeras habilidades que o capacitavam

para tal incumbência. Além disso, ele possuía experiência nessa função, pois dirigira o

Colégio do Carmo, entre 1903 e 1908, e à frente do qual “conseguiu dar um grande

dinamismo ao estabelecimento” (AZZI, 1997a, p.119). Ainda sobre ele registraria o Ir.

Adorátor

O Ir. Isidoro é homem forte. De fora e na adequada indiferença ou distância, considera as pequenas perturbações que agitam o coração sob ação de certas apreensões. Ri-se dos próprios receios. Apoiado em Fé robusta, em confiança ilimitada, segue o caminho que o dever lhe traça. Por vezes cumpre destruir preconceitos e mudar velhos hábitos. Isso parece duro. O Ir. Diretor mostra-se indiferente aos pequenos clamores que se produzem; parece desabrido em face da inércia, que busca vida cômoda e sensual. O tempo cumpre a sua obra. Os bons resultados são visíveis. É unânime a voz para aclamar a energia, e a competência do Ir. Diretor do Arquidiocesano. (ADORÁTOR, 2005, p.491)

O Ir. Isidoro Régis era também considerado um hábil administrador. Logo nos

primeiros dias à frente do Colégio se preocuparia, dentre outras coisas, com as questões

relativas à manutenção da equiparação e por não ter experiência em relação a esse

assunto solicitaria ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, em 11 de janeiro de

1908, o envio de exemplares do regulamento do Ginásio Nacional e também algumas

cópias da legislação de ensino em vigor68.

65

Título utilizado para o diretor do Colégio. 66

Não foi localizada na legislação vinculada ao período da primeira equiparação, especificamente entre

1890 a 1901, orientações com relação à necessidade de ser criado um livro de Provisões, mas este traz os

relatórios, ou cópias destes , semestralmente elaborados pelo Colégio e encaminhados para apreciação do

Delegado fiscal, embora tenhamos como termo de abertura a seguinte informação: “Servirá este livro para

nelle se transcreverem as provisões de nomeação dos professores do corpo doce nte do Collegio

Diocesano de S. Paulo” (Provisões, 1908, p.1). 67

Provisões, 1908, p.2. 68

Provisões, 1908, p.2.

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A publicação da Ecos foi uma das novidades trazidas pelos Irmãos. Com edições

anuais esta era composta por uma grande diversidade de informações, de registros sobre

o cotidiano do Colégio (excursões, exames, primeira comunhão, etc) a artigos nos quais

a instituição se posicionava em relação a questões políticas e educacionais, mas em

alguns períodos essa ocorreria de forma muito sutil.

A primeira edição foi impressa em 1909, embora todo o conteúdo diga respeito a

1908, e logo na capa além do título Échos do Collegio Archidiocesano de São Paulo

figuraria a informação que este era Equiparado ao Gymnasio Nacional, decreto n. 3730

de 4 de agosto de 1900, no entanto, esse não seria o único número a possuir tal destaque

em posição privilegiada, pois isso seria recorrente até 1911, o que permite afirmar que a

equiparação era um elemento de distinção para o público com o qual o Colégio

mantinha relações, ou seja, pais, políticos, autoridades eclesiásticas, etc.

Ainda nessa primeira edição haveria outra menção à equiparação, só que esta

apareceria na forma de uma nota explicativa,

Equiparação. – Alguns Snrs. nos pediram informações si o Collegio continuava equiparado como outrora: não ha dúvida e todos os diplomas do Collegio têm o mesmo valor que os correspondentes do Gymansio Nacional (Ecos, 1909, p.33)

A diretoria explicava, por conta do questionamento da comunidade escolar, que

os diplomas do Colégio ainda possuíam a mesma validade dos emitidos pelo Ginásio

Nacional, o que significava que eles garantiam acesso ao nível superior.

Outro indício de que realmente era relevante para um ginásio possuir o status de

instituto equiparado, pois socialmente isso era algo esperado. Ao mesmo tempo a opção

por esse tipo de esclarecimento aponta também que deve ter havido insegurança com

relação às alterações realizadas no Arquidiocesano pelos novos mestres e sobre isso

encontramos algo em Azzi (1997a, p.151) que aponta ter sido a mudança

(...) bastante sentida pelos antigos alunos do colégio, habituados a um regime escolar de maior liberdade. Com a vinda dos maristas, foi implementada uma disciplina bastante rígida, e os alunos obrigados a um ritmo mais intenso de estudos. Por isso, não faltaram reações de inconformismo nos primeiros anos por parte dos veteranos. Mas a firmeza dos religiosos franceses tornou-os rapidamente senhores da situação, e os jovens acabaram amoldando-se ao novo padrão educacional, sobretudo após a expulsão de alguns mais rebeldes.

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A preocupação dos Irmãos Maristas com relação à equiparação não estava

obviamente circunscrita à publicação Ecos, pois seriam encontrados elementos nesse

sentido no livro de Provisões. Nele foram registrados solicitações dos mais variados

tipos, tais como: mudanças nas datas de início e fim do ano letivo, entrada de novos

alunos, relatórios semestrais, dentre outros. Quase todos os registros possuem partes

onde verifica-se a intenção de destacar que “este” ou “aquele” procedimento teria sido

realizado em estrita concordância com o Regulamento do Ginásio Nacional, por

exemplo, como no trecho transcrito abaixo, o que indica estarem esses religiosos muito

atentos às questões relativas à manutenção da equiparação.

Antes de tudo ensina-se o programma completo do Gymnásio Nacional como foi publicado há 5 annos e ainda não modificado. Cada professor deve ensinar este programma até três vezes durante o período do anno letivo. Na primeira vez, que occupa todo o primeiro semestre e às vezes algumas semanas do segundo conforme a extensão e a difficuldade da matéria

69

Com relação aos oito relatórios, transcritos no livro de Provisões, estes

geralmente continham dados sobre o número de alunos por ano, frequência às aulas,

quantidade de alunos expulsos pelo colégio e respectivas justificações, alunos que

abandonaram os estudos e maiores explicações sobre essas saídas, descrição dos exames

de 2ª época e de madureza, duração do ano letivo, horário das aulas, frequência dos

lentes70, emissão das guias de transferência, alunos gratuitos71, alterações no corpo

docente, feição do ensino (relativo às disciplinas escolares que observavam a

configuração do Ginásio Nacional) e por fim, num mesmo item, estavam reunidas

descrições sobre o edifício, as práticas de higiene, alimentação oferecida aos alunos,

relação de valores cobrados para provas e emissão de requerimentos e em alguns

encontram-se relatos sobre a colação de grau.

Não são raras as passagens dos relatórios que permitem conhecer um pouco

sobre o dia a dia do Colégio como, por exemplo, na transcrita abaixo onde foram

registradas ações com relação ao bem estar físico dos alunos.

69

Provisões, 1908, p.7. 70

Título do professor responsável por uma cadeira, “lente” do saber da (s) disciplina(s), catedrático da

congregação que dita as orientações sobre determinada área. 71

Com a publicação do Decreto nº 3890 em 1 de janeiro de 1901, especificamente no artigo 382 item VII,

se tornaria obrigatória a aceitação de pelos menos 10 alunos gratuitos (2 internos e 8 externos) nos

institutos equiparados.

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42

O maior asseio e a mais completa limpeza reina por toda a parte no edifício escolar; os exercícios physicos, os banhos de

chuva72

e de imersão tomados regularmente favorecem o estado de saúde e o desenvolvimento physico dos corpos (...)

73

Em 11 de dezembro de 1909 o Colégio informaria ao governo sobre outros

cuidados tomados para garantir a saúde dos alunos, pois

Toda a água da mesa é filtrada. A comida é feita com o maior cuidado de modo a ser de primeira qualidade. Saborosa e abundante. Os banhos de chuva foram tomados regularmente 2 vezes por semana e hão de ser diários em breve si o numero de chuveiros o permitir

74.

1.1 A supressão da Equiparação (1911) e a repercussão deste evento no Colégio

A Reforma Rivadávia Correa, decreto nº 8.659, em 5 de abril de 1911 (Anexo

10), foi instrumento por meio do qual o Ministério da Justiça e Negócios Interiores

aboliu todas as equiparações em território nacional. Além do fim das equiparações essa

reforma também reduziria a duração do ensino secundário (ANTUNHA, 1980, p.241),

medida que também impactaria financeiramente a instituição.

Ao analisar a relação dos examinandos entre 1912 e 1920, e publicadas na

revista Ecos, nota-se uma considerável diminuição no número de alunos de um ano para

outro e por isso acredita-se que a perda da equiparação e a criação/permanência de

outras possibilidades de acesso ao ensino superior acabariam novamente

desprestigiando o ensino secundário nos moldes daquele oferecido pelo Colégio.

Outras indicações dos problemas financeiros enfrentados são a abertura do curso

comercial, a partir de 1917, a presença de propagandas na revista institucional após

1911 (muitas das quais relacionadas aos fornecedores da instituição), destaques para o

curso primário com a intenção de atrair alunos também para esse nível de escolarização

e uma sensível diminuição na qualidade do papel da revista Ecos75.

72

Termo equivalente a banho de chuveiro. 73

Provisões, 1908, p.8. 74

Provisões, 1908, p.23 [verso]. 75

A partir de 1912, esta passaria a ser confeccionada em papel jornal, exceção feita às páginas com

fotografias.

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43

Kulesza (2001, p.98), aponta que a Igreja não se posicionaria contrária às

propostas de “desoficiliazação” do decreto de 1911, pois para ela isso significava um

afastamento do governo republicano das questões relativas ao ensino abrindo mão da

imposição de uma educação laica, no entanto, sobre isso o Ir. Adorátor registraria que

O ano de 1911 deveria ter sido ano terrível. Nada menos que o enterro, dizia-se, dos Colégios secundários católicos no Brasil. Com efeito, no começo de abril, por simples canetada, o Ministro Rivadávia Correa suprimia o privilégio da equiparação. Esse ato perturba profundamente os Colégios equiparados. Receia-se diminuição de alunos. Que vai sair da nova lei, que faz tabula rasa de toda a regulamentação? (ADORÁTOR, 2005, p.402)

As palavras do religioso apresentam o “desconforto” sentido pelos católicos em

relação à reforma e também indicam ser a equiparação um estímulo para que se

mantivesse a clientela de um colégio e consequentemente o seu funcionamento.

Muitos sinais indicariam que os diretores do Arquidiocesano não tiveram a

mesma percepção da revogação conforme indicado por Kulesza (2001), e por conta do

incômodo causado pela nova medida, explicitariam descontentamento por meio da

revista Ecos, e utilizariam para isso as mais diversas “vozes”, como por exemplo, a dos

alunos e de autoridades religiosas.

“Outra notícia inesperada: Suprimiram a equiparação! – Quem fez isso? – O

Rivadávia... Um silencio attonito... Que desgraça...” (Ecos, 1912, p.29). Esse parágrafo

retirado de uma notícia da revista Ecos expressaria um pouco da surpresa com a qual o

Colégio recebera a notícia sobre o fim das equiparações. Todavia, num outro momento

deste mesmo registro ficaria evidente ser de conhecimento público a existência de

problemas relacionados aos procedimentos da equiparação, conforme trecho que

relatava

(...) nos principios de Abril os estudos no Archidiocesano iam indo, bons, serios, como sempre. De certo tempo a esta parte, jornaes vinham levantando grita medonha contra os abusos praticados em diversos collegios equiparados. Suas reclamações encontraram echo na Camara Federal. Projectos de reforma foram discutidos sem que, no assumpto, ficasse cousa alguma resolvida. No emtanto, apareciam a lume mais e mais escandalos: actas falsas, venda de títulos e outras trapaças. (Ecos, 1912, p.29).

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44

A documentação do Colégio Diocesano, e também a do Carmo, trazem

elementos que possibilitam entender alguns dos problemas apontados acima, pois nelas

há a existência de uma série de movimentações políticas para garantir a obtenção das

equiparações, seja pela indicação de uma determinada pessoa para o cargo de delegado

fiscal, ou até mesmo o pedido de um bispo para equiparar um colégio às custas das

garantias oferecidas por outra instituição, mesmo que esta estivesse a quilômetros de

distância.

Em 1903 membros da Comissão de Instrução Pública se reuniram para propor

alterações da Reforma Epitácio Pessoa, em especial com relação à equiparação

considerada um verdadeiro “embaraço à marcha do ensino público” e com relação à

qual se propunha a revogação (DODSWORTH, 1968, pp.77).

Dentre os argumentos apresentados pelos legisladores da comissão eram

apontados como problemas relacionados à equiparação: a venda de certificados que

teriam instituído um verdadeiro mercado de títulos, o reconhecimento fraudulento de

institutos secundaristas, mercantilização do ensino, concorrência acirrada entre ginásios,

falta de idoneidade e competência dos professores, habilitação de alunos em menor

tempo do que o previsto pela legislação, fiscalização ineficiente, dentre outros

(DODSWORTH, 1968, pp.77-79).

Nos jornais encontramos reiteradas críticas à equiparação ao Ginásio Nacional

concedida a particulares, dentre estes as escolas católicas, como no trecho

(...) a equiparação (entre as escandalosas equiparações de estabelecimentos escolares que tanto têm desmoralizado o ensino secundário) de vários colégios, onde o ensino religioso é obrigatório, ao Gymnasio Nacional, leigo por força da lei (OESP, 19 abr. 1908)

76

Nota-se além da crítica à equiparação, a estranheza causada pelo reconhecimento

de colégios católicos por um estado laico. Situação similar a essa seria apontada por

Kulesza (2011, p.96) quando fala sobre os argumentos utilizados pelos legisladores

federais para recusar a pedido feito em prol do Colégio Diocesano da Paraíba.

Na revista Ecos encontramos a descrição de alguns dos problemas dos

procedimentos da equiparação na perspectiva da antiga legislação educacional e o

próprio Diocesano concordaria com muitas das críticas, em especial com relação a dois

76

Disponível em http://acervo.estadao.com.br/.

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45

aspectos: “(...) falta de fiscalisação idonea intransigente e sobrecarga nos programmas”

(Ecos, 1912, p.30). No entanto, como a instituição ainda se beneficiava da fiscalização

realizada pelo “amigo” Dr. Francisco de Paula Rodrigues, não teria esta também sido

beneficiada pelas brechas das reformas anteriores?

Os alunos também se posicionaram sobre a reforma de 1911. Num discurso

atribuído ao bacharelando José Pedro de Carvalho, e elaborado para ser lido durante a

recepção ao cônego Domingues Joaquim de Oliveira, ele concluiria que

(...) maior desgraça deste anno, não são as guerras; ainda não a mencionei. Ella veiu repercutir dolorosamente, collegio a dentro, deixando-nos tontos, de cabeça quebrada, a nós que pedíamos apenas nos deixassem estudar em paz, conscienciosamente. Eis que nos tiram os exames, tiram a equiparação, e entregam-nos á sorte, á terrível incerteza da sorte..... (Ecos, 1912, p.35)

Esse fragmento trazia a decepção dos alunos com relação à perda da equiparação

e consequentemente às prerrogativas que facultavam acesso direto ao nível superior. A

incerteza deve-se também ao fato da Reforma Rivadávia Correa ter deixado definido um

exame para entrada nas Academias que prescindia da comprovação de escolaridade

anterior, como por exemplo, a que era oferecida pelas escolas “oficializadas”, ou seja,

os institutos equiparados (CURY, 2009, p.729).

Em outro momento, numa saudação ao bispo Dom Sebastião Leme (1882-

1942)77, o aluno Arnaldo Campos diria:

(...) O último espinho muito acerbo e muito pungente que atravessou o sonho dourado dos estudantes: é esta <<Reforma do ensino>>. Eu quizera chamal-a de <<maldita>> si não fosse prohibido amaldiçoar cousa nenhuma, fora o pecado! Supprime doutores, suprime bacharéis, e põe soldados, de lança em riste, á porta das Academias! E quem sabe seremos nós os primeiros feridos, os primeiros baleados?! (Ecos, 1912, p.33)

Registrava-se ali outro lamento dos alunos, mediado pela instituição, por conta

dos novos procedimentos para o acesso ao ensino superior, percebidos como

“dificuldades”, sendo que este em outros tempos era facilitado graças ao

77

Dom Sebastião Leme era uma importante liderança religiosa e elaboraria em 1916 uma carta pastoral na

qual conclamaria “os católicos a sair do ostracismo em busca de uma posição que correspondesse ao fato

de o Brasil ser um país de maioria católica” (CUNHA, 1981, p.81).

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reconhecimento da validade das provas do Colégio por conta da equiparação, e também

explicitaria grande decepção por conta da revogação de títulos, dentre os quais o de

bacharel recebido por aqueles que concluíam o secundário.

Por mais de 20 anos o Colégio ainda faria referências à equiparação nas capas da

Ecos, algo recorrente até 1923. Na mesma posição onde outrora figurava Equiparado ao

Gymnasio Nacional seria registrado Antigamente equiparado ao Gymnasio Nacional,

uma forma encontrada pelos Irmãos Maristas para demonstrarem sua inconformidade

com tal perda, mas ao mesmo tempo um modo de evocar o fato de que um dia houvera

reconhecimento oficial com relação à excelência do Colégio dirigido por eles.

A instituição acompanharia atentamente os desdobramentos da “Reforma

Rivadávia Correa” e mesmo após três anos num artigo da Ecos, num tom

“imparcialidade”, relataria que o decreto de 1911 enfrentava resistências e

(...) mais inimigos ou opponentes conta, parece, do que amigos e defensores. Nós não lhe temos amor nem desamor. Entretanto, apraz-nos, sem ofensa de ninguém, conservar essa denominação de Bacharelandos que tão grata sôa aos ouvidos dos jovens. (Ecos, 1914, p.48)

Apesar da aparente submissão do Colégio à reforma, ele demonstraria na

realidade frontal resistência uma vez que optaria por manter o título de bacharel, por ser

esse símbolo de prestígio social, conforme pode ser percebido nos relatos das colações

de grau e dentre os quais o trecho abaixo chamaria a atenção por ser o narrador

apontado como um aluno.

Ergueu-se o panno. A primeira cousa que feria a vista eram os oito diplomas que, enrolados em canudo, numa meza ao lado, provocavam a inveja da gente e faziam talvez palpitar o coração de seus donos felizes. Disse que deixavam a gente com inveja. Não sei si errei; o certo é que, cá por dentro, não deixava de cubiçar aquelles rolos de papel. Porém, ao mesmo tempo consolava-me. Dizia: falta só um ano para receber o meu, anno bem longo, não há dúvida, mas um só. (Ecos, 1919, p.27)

Essa descrição da solenidade de colação de grau nos remeteria ao relato feito por

Gasparello (2004, pp.31-33) quando esta apresenta a formatura dos bacharelandos do

Colégio de Pedro II, evento este prestigiado pelo imperador e composto por uma série

de rituais que consagravam publicamente essa importante conquista. Apesar de seguir

um protocolo bem mais simples, a entrega dos diplomas no Arquidiocesano era o

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acontecimento mais relevante da instituição, momento em que as portas do Colégio se

abriam para a sociedade, e por meio do qual se atestava a inserção daqueles alunos, não

somente como um ritual de passagem para o mundo dos adultos, mas a entrada desses

no seleto grupo dos bacharéis sobre os quais repousava o futuro da nação e, no caso dos

alunos do Colégio, a defesa da Fé católica.

Num outro artigo intitulado Na festa de encerramento temos um alinhavo de

críticas à Rivadávia, informações de que esta possivelmente seria alterada pelo Dr.

Carlos Maximiliano (1873-1960)78 com novas reclamações com relação ao fato do título

de bacharel, outrora carregado de significados e honras, não ter validade alguma, e que

por isso alunos os foram prejudicados (Ecos, 1915, p.41).

Com a publicação do decreto 11.530 em 18 de março de 1915, conhecido como

Reforma Carlos Maximiliano, seriam revogadas as prescrições da Reforma Rivadávia

Correa. Dentre as novas medidas estava o restabelecimento das equiparações, no

entanto, a essas o Ministério da Justiça e Negócios Interiores vedaria o acesso às

instituições mantidas por particulares, e obrigaria os alunos desses colégios a prestarem

exames num ginásio oficial. Na cidade de São Paulo essas provas eram realizadas no

Ginásio do Estado79.

Entre a revogação da Rivadávia Correa e a promulgação da Reforma Francisco

Campos (1930), a equiparação não seria viabilizada para as instituições particulares,

sendo esta concedida exclusivamente aos ginásios mantidos pelo poder público, por

esse motivo uma nova tentativa pelo Arquidiocesano somente seria possível a partir de

1931.

Por quais tipos de dificuldades passou o Arquidiocesano num cenário “sem

equiparação”? A leitura da Ecos permitiu identificar que a partir de 1912 o Colégio

apresentaria com veemência as dificuldades pelas quais seus alunos passavam para

ingressarem nas faculdades, os sofrimentos durante os exames, a importância de um

estudo dedicado e constante, etc. Mas, via de regra, esses apareceriam representados

coroados de êxito, obviamente, graças à qualidade do ensino oferecido pelo

78

Nasceu em São Jerônimo (RS) e era formando em Ciências Jurídicas e Sociais pela Escola de Direito de

Belo Horizonte, da qual receberia o título de bacharel em 1898. Desempenhou atividades jurídicas em

diversas comarcas no Rio Grande do Sul e durante 36 anos atuaria junto ao Supremo Tribunal. Seria

escolhido por Wenceslau Bráz, presidente do Brasil de 1914 a 1918, para assumir o Ministério da Justiça

e Negócios Interiores (GODOY, 2010, p.15), e à frente desse órgão seria responsável p ela reforma

educacional que levaria o seu nome. 79

Ginásio do Estado é o nome utilizado pelo Arquidiocesano em todas as suas publicações, no entanto,

essa instituição também é conhecida como o Primeiro Gymnasio da Capital. Segundo Cabral (2008, p.54)

esse colégio foi criado por lei em 1892, mas só passaria a existir de fato em 1894.

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Arquidiocesano. Além disso, começariam a ser ofertadas atividades “extras” durante as

férias para aqueles que almejavam acesso ao nível superior, conforme registrado num

lembrete publicado em 1916

Em data opportunamente comunicada aos interessados haverá durante as Férias, neste Collegio Archidiocesano, cursos e estudos, com regimen de internato, e somente aos nossos alunos, que desejarem prestar nesta época exames de alguma materia para admissão nas escolas superiores (Ecos, 1916, p.[1])

O oferecimento desse tipo de registro de atividade aponta uma diversificação nas

formas de atuação junto aos alunos, ou supõe-se ser uma estratégia para garantir

rendimentos extras ao Colégio, mas independentemente de qualquer uma dessas

possibilidades era uma forma de aumentar a chance de bons resultados nos exames das

escolas superiores, algo que refletiria positivamente sobre a instituição num período em

que esta não contava mais com o diferencial da equiparação.

A Fé também aparece como grande amparo para os alunos que passavam pelas

tão “dificultosas” e “aflitivas” provas impostas pelo governo, entretanto, ela também

seria apontada como vital para o sucesso perante outros desafios

Collocado na sala de visitas, um pobre cofresinho recolhe modestos obulos que servem para alegrar os desprotegidos da fortuna; no período dos exames officiaes no gymnasio estadual, varios candidatos, antes de ir affrontar alguma prova, depositam sua oferta naquele cofre, pedindo interiormente a proteção divina durante o exame; varias vezes, o efeito foi notável tanto é certo que aquelles que dão aos pobres atrahem seguramente as bençams de Deus em todas as suas empresas (Ecos, 1917, pp. 17-18)

A combinação entre uma rotina rígida de estudos e a Fé seria frequentemente

indicada como a combinação perfeita para o enfrentamento das mudanças constantes na

política educacional brasileira.

Em 1918 por conta do surto de gripe espanhola, as aulas no Colégio seriam

interrompidas e o prédio requisitado pelo governo estadual para a montagem de um

hospital provisório, e nem mesmo na nota sobre o fechamento temporário da instituição

seria esquecido um lembrete sobre os exames parcelados a serem prestados pelos

terceiros, quartos e quinto anistas no Gymnasio do Estado (Ecos, 1918, p.44).

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O tom do Colégio em alguns momentos deixaria o limiar da submissão ao

governo e adquiriria mais vigor como, por exemplo, num “retrospecto” de 1916 no qual

o Arquidiocesano faria severas críticas com relação às alterações da legislação

educacional brasileira nos últimos 15 anos e as qualificaria como funestas por terem

prejudicado a educação e o próprio futuro dos jovens.

Aproveitaria esse artigo para demonstrar indiretamente que houve um aumento

na concorrência por causa da abertura de novas escolas e se detém a apresentar

longamente quais tipos de colégios particulares teriam sido abertos nos últimos anos, a

saber: com finalidades exclusivamente financeiras, aqueles que não seguiam uma

perspectiva cristã e os que se preocupam com uma formação integral e moral (os

católicos) (Ecos, 1916, pp.14-15).

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CAPÍTULO 2 – OS ANOS 1930 E O INÍCIO DA MONTAGEM DE NOVO

PROCESSO NA SEDE DA AVENIDA TIRADENTES

O Arquidiocesano perdeu equiparação em 1911, e por esta não ter sido

restabelecida para as instituições privadas com as Reforma Carlos Maximiliano80 e

Reforma Rocha Vaz81, o Colégio só recuperaria esses privilégios com a publicação do

decreto nº 19.890, Reforma Francisco Campos, de 18 de abril de 1931, que dentre

outras deliberações abriria a possibilidade da concessão da equiparação aos

“estabelecimentos de ensino secundário mantidos por governo estadual, municipalidade,

associação ou particular”, conforme indicado em seu artigo 44.

A reforma de 1931 seria realizada pelo ministro Francisco Campos (1891-

1968)82 quando esteve à frente do MESP e esta não somente viabilizaria às instituições

privadas os benefícios da equiparação como também ampliaria e refinaria,

significativamente, o número de exigências para a sua obtenção; além disso, seriam

instituídas estratégias para a fiscalização dos institutos de ensino secundário, pois não se

oferecia com o novo decreto a equiparação em caráter permanente podendo esta ser

revogada, caso não fossem atendidas as determinações governamentais.

Uma das novidades da nova reforma era a transformação do ensino secundário

em nível escolar obrigatório, seriado, para aqueles que desejavam acesso às escolas

superiores, ou seja, foram eliminadas as outras formas legais de acesso ao nível

superior, era o fim dos exames parcelados e o regime de preparatórios, cuja extinção

não fora conseguida pelos outros "reformadores" (DALLABRIDA, 2009, pp.185-186).

Em relação ao currículo esta reforma se voltaria mais para as disciplinas

científicas, o que conforme apontado por Minhoto (2007, p.141), representava uma

forma de romper com a estrutura educacional da Primeira República que era

considerada ultrapassada, e a nova composição curricular ia ao encontro das

necessidades de um mundo no qual as mudanças ocorriam de modo cada vez mais

acelerado; o progresso exigia a presença da Ciência.

80

Decreto nº 11.530, de 18 de março de 1915. 81

Decreto nº 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925. 82

Formado em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Belo Horizonte seria o primeiro ministro do

Ministério da Educação e Saúde Pública, criado por Getúlio Vargas em 1930, cargo este que ocuparia em

dois momentos distintos, de 6 de dezembro de 1930 a 31 agosto 1931 e depois de 2 de dezembro de 1931

a 15 de setembro de 1932.

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O decreto de 1931 atenderia aos desejos do Colégio que, há mais de 15 anos,

parecia aguardar algum movimento legal que pudesse destacá-lo, dentro do que era

possível pela equiparação. Essa chance não seria desperdiçada, pois ser alinhado ao

modelo de prestígio representado pelo Colégio Pedro II era um grande diferencial para

uma instituição que frequentemente refere-se a si quase sempre de forma exacerbada,

algo também identificado por Sedrez (1998, p.72)

Numa análise atenta percebe-se o tom ufanista presente em toda a narrativa que o colégio veicula sobre sua história: “participou de momentos marcantes da história da cidade e do país, tem ex-presidentes da república entre seus ex-alunos, destaca a capacidade de dar conta das novas demandas, fala de “ampla reforma estrutural”.

A leitura dos documentos, vinculados à equiparação dos anos 193083, traria

informações sobre os procedimentos realizados pelo Colégio e graças a esses foi

possível averiguar quais eram as esferas governamentais envolvidas com o

cumprimento do decreto.

Em 15 de junho de 1931 seria registrado um primeiro requerimento (protocolo nº

4569), junto ao MESP. Esse documento foi assinado pelo Irmão José Borges84, naquele

período reitor da instituição, e por meio dele o Colégio solicitava a fiscalização

preliminar e informava que tal pedido embasava-se nos artigos 44 e 45 do decreto

19.890, de 18 de abril de 1931 (Anexo 12). Essa modalidade de fiscalização era a

primeira fase no sentido da obtenção da equiparação e durava em geral um período

83

A experiência com o atendimento aos pesquisadores tem demonstrado serem as fotos o primeiro

chamariz dos volumes relacionados à equiparação, mas após essa primeira percepção o que salta aos

olhos é um emaranhado de nomes, datas, órgãos, selos, carimbos, rubricas e outro s pequenos indícios que

se mostraram imprescindíveis para contar a história de todo o esforço empreendido para que a chancela

da equiparação pudesse ser novamente utilizada pelo Colégio. Esses pormenores aparecem nos relatórios,

despachos, fotografias, plantas, fragmentos de publicações institucionais, cartas, ofícios, telegramas,

formulários, tabelas, que pode ser verificada com maior detalhamento no Anexo 1.Os volumes 2, 3 (este

subdividido em parte 1 e 2) possuem uma espécie de capa em papel cartonado qu e exibe o logotipo do

Ministério da Educação e Saúde Pública, logo abaixo aparece o nome do Departamento Nacional de

Educação, e em seguida Divisão de Ensino Secundário, demonstrando algumas das subdivisões da

estrutura responsável pelo acompanhamento do ensino secundário nos anos 1930 e 1940. Vê-se também

as palavras Assunto e Anexos (ambas sem preenchimento), entretanto o item Interessado foi preenchido

com o nome Colégio Arquidiocesano São Paulo, e na parte inferior há uma tabela com o título

Movimentação do processo que possui informações manuscritas que indicam as pessoas do MESP que

tiveram acesso à documentação (Anexo 11). 84

Nascido na França o Ir. José Borges (1879-1934), nome civil Bergeal Germain, era formado pela Escola

Normal de Notre-Dame de Lacabane (França). Era um educador com mais de 32 anos de experiência

quando assumiu a direção do Colégio Arquidiocesano, o que fez durante dois momentos de 1921 a 1927 e

novamente de 1931 a 1934. Foi um dos responsáveis por acompanhar a equiparação junto ao g overno

federal e também participou ativamente da construção do prédio da Vila Mariana o qual não chegou a ver

concluído.

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mínimo de dois anos, durante os quais a instituição começava a ser fiscalizada pelos

inspetores federais, cuja presença não era uma novidade.

No requerimento de 1931 também foi informado que o ensino observava o

programa do Colégio Pedro II, a data de fundação da instituição (aproveitando este

detalhe para destacar que o Arquidiocesano era o mais antigo colégio da cidade de São

Paulo), ter sido entre 1900 e 1911 equiparado ao Ginásio Nacional, e destacava ter

sediado entre 1925 e 1930 juntas de examinadores e inspetores de exames, sendo estes

últimos nomeados pelo Departamento Nacional de Ensino.

A instituição garantia possuir toda a estrutura para um “ensino completo e

prático das sciencias physicas, chimicas e naturaes, como é fácil verificar pelo

inventario dos gabinetes de sciencias”85. O inventário era uma listagem na qual constava

o nome dos itens que compunham o acervo dos “gabinetes” sem que houvesse maiores

considerações sobre tamanho, marca, procedência, função, etc.

Eram observadas as orientações com relação às questões de higiene escolar e

fazia uma descrição geral sobre a formação dos professores (num total de 22 havia 16

irmãos) e os leigos eram detentores de certificações obtidas em escolas superiores

federais, conforme apontado pelo mesmo documento.

Esse requerimento foi acompanhado por uma lista com os nomes dos membros

do corpo administrativo (reitor, vice-reitor, 1º secretário, 2º secretário, médico e

dentista) e também dos docentes e suas respectivas disciplinas, sendo alguns

responsáveis por mais de uma matéria (Anexo 13). Graças a esse requerimento sabe-se

ter sido encaminhado também um inventário dos gabinetes de Ciências, que não está

junto com esse material, embora a existência de outros inventários dentro do conjunto

permitiu ter uma ideia sobre o seu nível de detalhamento.

Depois de três dias o Colégio encaminharia outro requerimento, protocolado em

18 de junho de 193186, com o mesmo texto, exceto por informar que juntamente com

aquele foram enviados os seguintes documentos: uma cópia dos estatutos do Colégio,

um exemplar do regime interno, o horário geral (com carga horária de cada disciplina),

o quadro do corpo docente (nome civil e religioso), disciplina e também a lista dos

alunos matriculados em 193187

85

Processo de Equiparação, 1940, v.2, p.3. 86

Processo de Equiparação, 1940, v.2, pp.7-8. 87

Processo de Equiparação, 1940, v.2, pp.9-10.

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53

Seguiria também um relato de três a quatro linhas sobre a experiência em ensino

de cada um dos professores. Dentre os irmãos-professores 13 eram formados na Escola

Normal Especial de Mendes88, localizada na cidade do Rio de Janeiro e administrada

pelos próprios Maristas. Com relação à formação dos futuros Irmãos esta era

considerada rígida e austera e, além dos estudos, eles eram responsáveis pela

manutenção da obra, pois realizavam trabalhos de jardinagem, construíam cercas,

cuidavam de hortas e pomares, dentre outras atividades de caráter manual (AZZI,

1997a, p.207).

Com relação à presença de dois requerimentos com textos e datas muito

próximos acredita-se que houve necessidade de complementar ou esclarecer itens da

primeira documentação encaminhada ao MESP.

Graças às informações com relação à composição do corpo docente foi possível

identificar que ainda nos anos 1930 muitos desses eram religiosos formados pela

própria congregação89 e, por isso, orientados a partir das concepções educativas

preconizadas pelo Guia das Escolas.

Elaborado durante o 2º Capítulo Geral do Instituto dos Irmãos Maristas o Guia

foi a primeira obra a reunir sistematicamente o ideário educacional dos Irmãos Maristas.

Segundo Assis (2013, p.85)

o Guia é um elemento uniformizador do método que será aplicado em todas as escolas da Congregação, fazendo com que o “como” ensinar seja igual em todas as escolas onde o método seja adotado; em outras palavras, existe um único modelo pedagógico em qualquer estabelecimento mantido pela congregação, independentemente do espaço geográfico ou da condição social de seus alunos.

Esses religiosos, conforme indicado por Assis (2013), já possuíam diretrizes que

os auxiliavam no direcionamento da prática pedagógica, inclusive no Guia havia

orientações com relação às condições ambientais das salas de aula, tais como controlar a

circulação do ar, cuidados com a iluminação e formas para manter uma temperatura

constante.

88

O Colégio de Mendes foi fundado em 1903 e funcionou como internato entre 1904 e 1906 oferecendo

ensino primário e secundário. Segundo Azzi (1997a, p.206), em 1906 possuía aproximadamente 60

alunos. É esse mesmo autor que indica ter sido esse colégio fechado , e o de Franca (SP), em 1907 para

que pudessem ser formados os Irmãos que atuariam como professores no Arquidiocesano conforme o

desejo do Conselho da Província (AZZI, 1997a, p.207). 89

De modo geral classifica-se como Congregação o grupo religioso cujos membros realizam os votos

simples, tais como: pobreza, castidade e obediência. (NOVA, 1969, p.1135).

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54

Em 1932 o inspetor Padre Heliodoro Pires designado pelo governo federal para

fiscalizar os exames oficiais realizados no Colégio registraria que os métodos de ensino

utilizados pelos Maristas e presentes no Guia, "merecem [ser] conhecidos e praticados

por todos os educadores nacionaes” e que os conhecimentos daqueles religiosos

“acham-se resumidos no soberbo 'Guia das Escolas', livro este gabado por summidades

pedagogicas em quasi todos os paizes civilisados" (Ecos, 1932, p.[61]). Esse registro,

apesar de ter sido realizado por outro religioso, aponta que os métodos de ensino

utilizados pelos Irmãos eram entendidos como alinhados às modernas prescrições

escolares.

Os educadores leigos provinham das mais diversas áreas, tais como Medicina,

Direito e Engenharia. Os professores Hygino Mancini, de Música, e Paulo Muller,

responsável pelas aulas de Educação Física eram os únicos com formações específicas,

sendo o primeiro formado no Conservatório de Roma e o outro na Escola de Educação

Física de São Paulo 90.

Apesar da mudança na fachada da sede da Avenida Tiradentes encontra-se entre

os documentos encaminhados ao MESP um fragmento da capa da revista Ecos (1928)

no qual o prédio ainda mantinha seu imponente e “afrancesado” aspecto exterior,

embora houvesse um destaque manuscrito apontando que naquela imagem um

determinado trecho correspondia à parte demolida91. A opção por uma imagem antiga

do Colégio indica possivelmente que uma foto mais atual daquele edifício não seria

benéfica para a imagem da instituição. Supõe-se que as obras da Vila Mariana, iniciadas

em 1929, já consumiam também os recursos destinados à manutenção da antiga sede.

Nas capas da revista Ecos entre 1908 e 1933, onde o edifício seria a única

imagem, a perda de parte do prédio jamais seria assumida visualmente pela instituição,

talvez uma forma de perpetuar o Colégio como algo perene, intocável e por isso

símbolo de uma tradição.

90

Processo de Equiparação, 1940, v.2, parte 1, p.[18]. A listagem com informações sobre os professores

foi elaborada por volta de 1931, no entanto, encontra-se encadernada num volume no qual foi grafado o

ano de 1940, sendo que esse não necessariamente se refere à data de elaboração dos documentos que

estão ali reunidos. 91

O Arquidiocesano ainda ocupava o prédio da Avenida Tiradentes no período em que a document ação do

processo dos anos 1930 foi entregue, no entanto, a demolição de um pedaço do edifício havia ocorrido em

1925 para a abertura da Rua 25 de Janeiro.

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55

Na margem do requerimento de 18 de junho de 1931, em anotação manuscrita,

consta que o pedido do Colégio é deferido “devendo o estabelecimento efetuar o

depósito legal para a fiscalização”92.

Por ter sido a documentação aprovada, o funcionário do governo Cirillo Maciel

Prates, solicitaria em 7 de agosto de 1931, conforme orientação do ministro Francisco

Campos, que fosse realizada a inspeção conforme artigo 45 do decreto 19.890/1931 e

por isso seriam preenchidos dois formulários nos quais se anotaram informações gerais

sobre o Arquidiocesano (Anexo 14), tais como: nome, endereço, número de pavimentos,

quantidade de salas de aula, se havia salas ambientes, dentre outras informações. Estas

folhas parecem uma versão rudimentar do que viria a ser a ficha de classificação e sobre

a qual se falará com detalhamento no item 2.2.

No artigo 45 estavam prescritas as condições essenciais para que um instituto

obtivesse a inspeção preliminar: possuir espaço físico e materiais didáticos mínimos

(conforme recomendações do Departamento Nacional do Ensino), docentes

matriculados no Registro de Professores, ter regulamento aprovado previamente pelo

Departamento Nacional do Ensino, e apresentar documentação atestando condições para

a manutenção do Colégio por no mínimo dois anos.

A garantia do funcionamento realizava-se por meio de uma declaração formal da

do capital da instituição e o Colégio afirmaria possuir um montante de 2.800:000$000

(dois mil e oitocentos contos), além disso, era também obrigatório comprovar se

possuía, ou não, instalações próprias embora não houvesse restrição ao fato destas

serem alugadas.

A leitura dessas primeiras páginas permite recuperar uma dimensão perdida do

Colégio quando este ainda ficava na Avenida Tiradentes. Graças a elas foi possível

saber que nos bancos escolares havia 262 alunos, as 15 salas daquele edifício tinham em

média 6 m x 7,5 m e exibiam condições de iluminação e arejamento apontadas como

boas. Os laboratórios já faziam parte da estrutura de ensino do Arquidiocesano e neles

ministrava-se o ensino da Física, Química e História Natural, espaços esses que

possibilitavam o desenvolvimento de atividades de caráter científico e nos quais se

indicava a presença de materiais em abundância.

92

Processo de Equiparação, 1940, v.2, parte 1, p.7. Encontramos informações a esse respeito no artigo 50

da lei 19.890/1931. O termo na lei é quota anual de inspeção, e esta consistia no pagamento realizado

pelos colégios interessados na equiparação, sendo recolhida duas vezes ao ano de instituições com até 200

alunos, e em caso de quantidades acima desse número os institutos pagavam por indivíduo excedente.

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56

As aulas de Educação Física poderiam, ao gosto do professor, acontecer em

espaços diferenciados, uma vez que o Colégio dispunha de um galpão, amplo pátio e

sala com aparelhos sobre os quais não há maiores descrições, no entanto, por meio de

fotografias presentes na documentação da equiparação acredita-se estarem estes

relacionados à prática da “ginástica sueca”.

Na Biblioteca armazenavam-se os acervos destinados a professores e alunos e

estes eram respectivamente compostos por 4.300 e 2.600 volumes93.

2.1 O primeiro elucidário para a ficha de classificação e a sede da Avenida

Tiradentes

No requerimento encaminhado em 4 de setembro de 1933, aos cuidados da

Superintendência do Ensino Secundário, uma divisão do MESP, o diretor do Colégio,

Irmão José Borges, solicitaria a mudança do status da instituição.

(...) de acordo com as instruções emanadas da Superintendência do Ensino Secundário, em vista de ser este Colégio Arquidiocesano de São Paulo sob inspeção preliminar desde 7 de agosto de 1931 mui respeitosamente, venho solicitar a V. Excia. a concessão da “Equiparação permanente”

94 ao mesmo

como “Estabelecimento livre de Ensino Secundário” de acordo com a vigente legislação”

95

Juntamente com esse pedido seguiria o primeiro relatório, composto por 100

páginas, no qual foram registrados aspectos estruturais e organizacionais da instituição.

Esse volume é chamado pela carta de 1933 de Memorial, embora logo na

primeira página tenhamos a informação de ser ele o Relatório enviado ao Departamento

Nacional de Ensino para Revisão da Ficha de Classificação para obter a Equiparação

Permanente – 1º de setembro de 1933.

O texto da Reforma Francisco Campos não traz maiores esclarecimentos sobre

esse relatório e seria por meio do artigo de Abreu (2010, p.295) que se encontrariam as

primeiras informações sobre tal documento, pois em seu trabalho a pesquisadora citava

93

Não foi localizada até o momento nenhuma fonte como, por exemplo, livros de tombo onde constem

informações sobre esses materiais. 94

A expressão equiparação permanente está incorreta, pois o termo utilizado pela legislação era

fiscalização permanente. Esse pedido indica que o Colégio solicitava a equiparação em caráter

“definitivo”, por já terem sido cumpridas todos os procedimentos legais da “primeira fase”. 95

Processo de Equiparação, 1940, v.2, parte 1, p.104.

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uma portaria de 15 de abril de 193296, na qual se encontram as orientações com relação

à formatação desse item, cujo nome oficial era elucidário para a ficha de classificação.

Por meio desse decreto também foram definidas uma série de questões relacionadas aos

procedimentos da equiparação, dentre os quais padrões relativos à adequação dos

edifícios escolares.

Essa portaria possui uma característica sui generis, dentre toda a legislação

utilizada nessa pesquisa, é a única que não possui uma numeração específica, a exemplo

daquilo que normalmente se vê em leis, decretos, etc e o motivo dessa particularidade

ainda constitui-se em uma incógnita...

Com relação aos padrões também foi encontrado no acervo do MCMA um

material em forma de “livreto” intitulado Serviço de Inspeção dos Estabelecimentos de

Ensino Secundário (1932)97. Essa publicação difere-se um pouco98 da portaria citada

por Abreu (2010), pois além dos dados do decreto de 1932 possui três circulares com

orientações para os inspetores federais, no entanto, o que particulariza esse item é o fato

dela possuir anotações que indicam seu uso no estudo das extensas orientações

governamentais.

No relatório não há informações ou marcas que indiquem quem realmente

compilava a documentação do elucidário e a organizava à luz das diretrizes da portaria

“sem número”, mas pode-se afirmar que esse material passava pelas mãos do inspetor

federal, pois ele era responsável por assinar as páginas do relatório. É possível deduzir

que a maior parte dos itens fosse confeccionada por membros do próprio colégio, dentre

estes o secretário escolar. Espaços foram medidos, fotografias providenciadas com a

ajuda de um fotógrafo, os espaços a serem retratados precisaram ser limpos,

organizados e em algumas situações até mesmo decorados, no entanto, os nomes de

todas as pessoas envolvidas em tais providências continuam envoltos pelo anonimato.

No ofício encaminhado com o relatório de 1933 temos a observação de que este

havia sido “devidamente rubricado pelo Exmo. Inspetor Federal”99 e no segundo

volume encontramos nove páginas do relatório recebido pelo MESP no qual consta o

visto do inspetor federal, o Sr. Dr. Manuel do Carmo que assumiu a fiscalização do

96

O decreto seria publicado no Diário Oficial em 25 de abril de 1932. 97

Editado pela Imprensa Nacional a pedido do Departamento Nacional do Ensino. 98

Publicado pela Imprensa Nacional esse livreto está dividido em cinco partes: critério para a

classificação dos estabelecimentos de ensino secundário, ficha de classificação, normas para o uso da

ficha, instruções para a inspeção e circulares . 99

Processo de Equiparação 1933, v.1, p.3.

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Colégio em 30 de junho de 1933, indícios esses que confirmam o envolvimento do

representante do MESP com o elucidário.

O primeiro volume do conjunto Processo de Equiparação100 possui duas

divisões principais: dados gerais e elucidário para a ficha de classificação.

Em dados gerais temos informações apresentadas de forma sucinta, divididas

em 10 itens, e até com número de palavras pré-definidas: nome oficial, histórico do

estabelecimento, organização administrativa, número de matrículas apresentadas em

tabela de forma que se tivesse um panorama geral sobre as modalidades de ensino

oferecidas, e também com relação à quantidade geral de alunos matriculados (Figura 1).

Horários de entrada e saída, organização da escrita financeira, garantias de

funcionamento, cópia do regulamento (dividido em organização do ensino, educação

religiosa, Educação Física, educação intelectual, condições de admissão, documentos

para matrícula, matrícula no curso secundário, regime escolar, diretoria e corpo docente,

deveres dos professores, horário, enxoval, contribuições, fornecimentos, dinheiro para

uso pessoal dos alunos, disciplina, ordem interna, emulação, penas disciplinares e

exclusão, caderneta escolar, saídas e visitas), descrição das instalações disponíveis para

o internato (mobiliário, dimensão dos quartos, dentre outros) e uma lista do corpo

docente e número de registro destes junto ao Departamento Nacional de Ensino.

O registro de professores era definido pelo artigo 69, da Reforma Francisco

Campos, por meio do qual se prescrevia serem estes obrigados a solicitar uma inscrição

junto ao Departamento Nacional de Ensino, por isso precisavam preencher um

requerimento e encaminhar os seguintes documentos: prova de identidade, prova de

idoneidade moral, certidão de idade, certidão de aprovação em instituto oficial de ensino

secundário ou superior (nacionais ou estrangeiras) nas disciplinas que pretendiam

lecionar, quaisquer títulos ou diplomas científicos que possuíssem, bem como

exemplares de trabalhos publicados e comprovantes que atestassem o exercício regular

no magistério por um período mínimo de dois anos.

Nesse relatório há uma reprodução da ficha de classificação que aparentemente

foi utilizada para simular a tabulação dos dados fornecidos pelo Colégio e também

100

O primeiro volume do conjunto Processo de Equiparação é composto por páginas datilografadas com

caracteres nas cores azul e preta “pálido” e tal coloração, bem como a ausência de assinaturas,

reconhecimentos de firma, selos fiscais dentre outros indicadores de “oficialidade”, verificados em outros

itens que compõem o conjunto e obrigatórios em procedimentos que exigem chancela de Fé pública100

,

reforçam a ideia de ser ele uma cópia executada com uso de papel carbono do material encaminhado para

apreciação da Superintendência do Ensino Secundário.

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59

foram anexados os contratos de trabalho dos professores Sr. Paulo Mulli, de Educação

Física, e Sr. Luiz Duarte Ventura, de História do Brasil e Física.

Figura 1

Reprodução da tabela para o registro do número de matrículas

Fonte: BRASIL, 1932 (MCMA)

O elucidário para a ficha de classificação divide-se em cinco grandes grupos -

local, edifício, instalações, salas de aula e salas especiais – e estes se subdividem

perfazendo um total de 46 itens, e são os mesmos encontrados na ficha de classificação

(ver item 2.2).

Nesta parte do relatório concentram-se as observações, feitas a partir de uma

visita in loco pelo Sr. Dr. Manuel do Carmo, e graças a isso foi possível verificar como

foram quantificados e registrados os dados utilizados no preenchimento da ficha de

classificação. Havia espaço para o registro de observações elogiosas e subjetivas, no

entanto, ao chegarem ao MESP eram extraídos somente os dados quantitativos e

estatísticos. Como exemplo do caráter subjetivo de certos registros destaca-se o trecho

abaixo

O gabinete de química acha-se localisado no 2º pavimento em ponto regularmente afastado das salas de aula. Foi montado com esmero. A Diretoria do Estabelecimento nada poupou para que os alunos pudessem estudar praticamente e com o maximo proveito a química. Em sala ampla, muito bem iluminada, foi armada grande meza de experiencias, providas de todos os aparelhos e objetos

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60

necessarios, com gavetões e armarios, torneiras para agua corrente, pias (ha três), tomadas de corrente eletrica, tomadas de gaz

101.

Nesse trecho verifica-se a preocupação do Dr. Manuel do Carmo em destacar o

empenho do Colégio ao ter equipado o Gabinete de Química com cuidado e atenção,

além disso, ao apontar a existência de quantidade de pias, superior ao número ao

solicitado pelo Governo, apresenta subliminarmente uma instituição que pretende

atingir um maior grau perfeição. O fato de ter destacado o caráter prático do ensino

indica que foram observados os modos pelos quais o ensino da instituição era realizado.

Eram utilizados gráficos para representar e qualificar itens relativos à estrutura

física, essencialmente salas de aula, áreas cobertas e livres. Dos seis gráficos

encontrados três fazem alusão a aspectos da sala de aula (quantidade de janelas, área de

assoalho e área de iluminação) tidos como imprescindíveis para o bom desenvolvimento

das atividades escolares. Com relação a esses aspectos encontram-se descrições

floreadas e justificativas do gênero “baseadas nos melhores conceitos de higiene

escolar”, conforme apontado no corpo do próprio documento.

2.1.1 Os espaços do Arquidiocesano no primeiro elucidário

Ao longo do primeiro elucidário há uma significativa quantidade de material

fotográfico, no total são 38 fotografias que estão assim distribuídas: 2 das plantas do

edifício da Avenida Tiradentes (escala 1:250), 2 panorâmicas da fachada do prédio em

períodos diferentes, 1 da cozinha, 1do refeitório, 4 das salas de visitas, 1 da secretaria, 1

da sala de estudos, 5 relacionadas aos materiais didáticos (Física, Química e História

Natural), 1 do pátio, 1 da sala de ginástica, 1 do laboratório de química em “aula”, 1 do

armário de substâncias químicas (mais de 150 recipientes), 2 das salas de aula com

materiais didáticos, 1 da biblioteca, 3 da colação de grau dos bacharelandos102, 2 da aula

de ginástica, 1 desconhecida (foi retirada do documento) e 8 do novo edifício da Vila

Mariana (ainda em construção).

A maior quantidade de fotos referentes à sede da Avenida Tiradentes deve-se ao

fato de que a instituição pleiteava naquele momento reconhecimento daquele edifício,

embora já fosse de conhecimento público que dentro de alguns anos esta seria

101

Processo de Equiparação, 1933, v.1, p.74. 102

Bacharel em Letras e Ciências era o título obtido pelos alunos que completavam o ensino secundário.

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transferida para a Vila Mariana. A construção do novo prédio, geralmente apontado

como moderno e suntuoso já era um grande diferencial, no entanto, se os diretores do

Colégio conseguissem reconquistar a equiparação haveria um aumento considerável do

prestígio da instituição em relação aos demais.

Nem sempre há sincronia entre fotografia e texto, por isso acredita-se que essas

não possuíam somente uma função ilustrativa, ou somente comprovavam a existência

daquilo que era descrito no elucidário, mas sim eram utilizadas como uma forma de

propaganda para o ginásio que pleiteava a equiparação. Além disso, é pertinente

destacar que as prescrições governamentais não definiam quais ambientes deviam ser

retratados e nem explicitava a necessidade de que essas imagens fossem as mais

recentes, o que parece indicar que se depositava confiança na verificação realizada pelos

inspetores federais.

Apesar de algumas opções em destacar um ou outro ambiente houve cuidado em

representar por meio das fotografias cada um dos cinco grupos principais que compõem

o elucidário para a ficha de classificação.

Existia uma orientação para que a instituição fornecesse “abundante

documentação fotográfica” (BRASIL, 1932, p.23), mas essa estava especificamente

vinculada ao item Salas especiais e material didático, e dentro da quantidade descrita

acima somente 15 estão nesse contexto. O uso de outras imagens demonstra a intenção

de certificar ao governo federal nuances de uma instituição que constantemente referia-

se a si como a mais antiga escola de São Paulo e por isso, dotada de tradição e poder

simbólico, que a qualificava como excelente candidata para a equiparação tendo nas

fotos as testemunhas “fiéis” de toda uma estrutura edificada para o bem ensinar, por

esse motivo acreditou-se ser pertinente analisar algumas das imagens utilizadas na

documentação com a qual o Colégio conseguiu a equiparação.

As fotos da sala de visitas, ou portaria como é chamada em alguns documentos,

lembram a descrição do Panteão103 e nele se destacavam os quadros dos

bacharelandos104, que eram o testemunho de ter o Colégio contribuído para a educação

103

Pode ser uma permanência dentro do espaço escolar, pois o decreto nº 981 de 8 de novembro de 1890

(Reforma Benjamin Constant) em seu artigo 46, institui a criação do Pantheon dentro das escolas. (...)

Além disto, em uma sala de honra do externato e outra do internato, denominada Pantheon, serão

collocados os retratos dos alumnos, que se houverem tornado credores desta alta e excepcional distinc ção

pelo seu talento, amor ao trabalho, procedimento exemplar e mais virtudes. A congregação será o juiz

soberano nesta escolha. 104

Quadros de madeira entalhada de grandes dimensões e com fotos dos alunos que concluíam o

secundário, bem como de todas as autoridades vinculadas à turma (paraninfo, diretor, etc). O Colégio

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de muitos alunos, não somente da cidade de São Paulo. Educação essa alinhada a uma

confissão religiosa católica explicitada nesse espaço por meio da presença de diversos

elementos de iconografia religiosa (Figura 2), e sobre essa sala encontramos o registro

abaixo que reforça a ideia de ser ali um local onde se reverenciava a memória.

Na portaria não nos demoramos. É a salla das lembranças. Muitas gerações ali deixaram seu retrato. Há frades regulares, muitos sacerdotes seculares, leigos, maristas, presidindo as turmas de bacharéis nos seus quadros artísticos. (Ecos, 1912, pp.21-23)

Figura 2

Fotografia da sala de visitas do Colégio - sede da Avenida Tiradentes

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

A imagem da Secretaria (Figura 3) nos remete a Kossoy (1989, p.31) quando

este afirma que “toda fotografia foi produzida com uma certa finalidade”. Ao olhar essa

imagem tem-se a clara impressão de que ali todas as atividades poderiam ser realizadas

em perfeita ordem e eficiência.

ainda possui alguns, entretanto a maior parte desses quadros foi perdida nos anos 1980 e em 2013

restavam somente 17, entre 1928 e 1950 apresentando os mais diversos estados de conservação

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Figura 3

Fotografia da secretaria do Colégio - sede da Avenida Tiradentes

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

Um armário envidraçado possui divisões para a guarda de impressos, diários

oficiais e livros de ata, nos quais se registram informações sobre provas, alunos

matriculados, práticas relacionadas ao tiro de guerra105 e etc.

A escrivaninha do secretário, situada à esquerda da foto, exibe os materiais do

dia-a-dia, por isso vê-se “perfuradores” para folhas de papel, mata borrão, etc,

entretanto marcas no assoalho de madeira, um risco forte da porta para o centro da sala,

parece indicar que talvez o cenário no qual o secretário trabalhasse não fosse

exatamente da forma como foi retratado, pois os móveis encontravam-se posicionados

de tal modo a demonstrar as boas condições para o desenvolvimento das atividades

naquele local. A máquina de escrever explicitaria a existência de recursos para o

preenchimento de relatórios e outros documentos de caráter oficial.

Muitos procedimentos legais, tais como emissão de certificados, guias de

transferência, registros em atas, eram realizados na Secretaria por isso a importância em

destacar os aspectos organizacionais desse ambiente. Além disso, era ali onde acontecia

o atendimento às solicitações e observação das orientações dos inspetores federais, pois

o secretário era o representante da Diretoria do Colégio e no caso do Arquidiocesano

essa função foi desempenhada durante muito tempo pelos próprios Irmãos, e quanto

105

Aulas realizadas dentro do próprio Colégio e cujo principal objetivo era oferecer uma formação militar

aos alunos do sexo masculino, composta dentre outras atividades, por exercícios de tiro que utilizavam

armamento real.

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mais eficiente fosse esse profissional mais simples era o trabalho do representante do

governo.

O Dr. Manuel do Carmo considerava a Secretaria um modelo, pois ali

(...) tudo vae disposto de tal maneira que pode ser fornecida qualquer informação a respeito de qualquer aluno com a máxima brevidade. O que aqui se afirma, vem largamente comprovado pela vinda de Srs. Diretores, secretários e até de inspetores para colherem dados com que se possam orientar na organização da secretaria e respetivo [sic] arquivo dos seus estabelecimentos

106.

Numa outra página vemos um espaço onde estão pendurados mapas físicos da

Ásia, Europa, e ao centro do Brasil, trata-se da Sala de estudos. Esta era composta por

carteiras dispostas como se estivessem dentro de uma sala de aula e ao fundo localizava-

se o tablado sobre o qual ficava a cátedra do professor. Por conta da presença de um

palco é possível supor que esse espaço seria utilizado para outras atividades como, por

exemplo, apresentações musicais, saraus, proclamações de notas107 (Figura 4).

Figura 4

Foto da sala de estudos do colégio - sede da Avenida Tiradentes

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

106

Processo de Equiparação, 1933, v.1, p.87. 107

De acordo com a publicação Ecos as proclamações das notas aconteciam, no caso das notas semanais

às segundas-feiras (após as sabatinas) e também da mesma forma eram divulgadas as notas mensais.

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65

Algo na imagem acima chama a atenção, pois o espaço da Sala de Estudos é o

mesmo que aparece retratado na colação de grau dos bacharelandos, embora seja

perceptível uma “omissão” nas imagens da solenidade, naquele local havia duas salas de

aula e estas diminuíram boa parte do espaço do Auditório.

Essa situação não foi apontada pelo inspetor federal e as imagens seguiram

incólumes (Figura 5 e 6) demonstrando um Auditório amplo, bem iluminado e onde se

encontravam pessoas distintas, dentre os quais religiosos. Essas fotos em particular

oferecem duas percepções: a primeira delas explicita o Arquidiocesano como uma

instituição conceituada, cujas solenidades são prestigiadas pela sociedade e, além disso,

ao mesmo tempo pode-se demonstrar estar aquele espaço dentro dos padrões

estipulados pelo governo federal.

Figura 5

Foto da solenidade de colação de grau - sede da Avenida Tiradentes

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

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Figura 6

Foto da solenidade de colação de grau - sede da Avenida Tiradentes

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

Uma reprodução da planta, que também fez parte da documentação da

equiparação enviada ao Rio de Janeiro em 1933, registraria uma configuração espacial

diferente do espaço do Auditorium, pois nela as salas de aula que aparecem como

paralelas àquele local quando na realidade localizam-se dentro dele (Figura 7),

conforme pode ser visto na imagem da Sala de Estudos (Figura 4) que é exatamente o

mesmo local, ou seja, possivelmente o espaço estava abaixo dos 50m2 exigidos pelo

governo federal.

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Figura 7

Fragmento da planta enviada ao governo federal

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

Das cinco fotos relativas aos materiais didáticos foram selecionadas três nas

quais aparecem melhor representadas a grande e diversificada quantidade de itens108 do

acervo do Colégio.

Na Figura 8 vemos retratada uma estante do laboratório de Química onde se

armazenavam mais de 200 frascos com elementos químicos, sendo estes identificados

por etiquetas onde foram escritas suas fórmulas. O espaço explicitava não somente a

quantidade de materiais disponíveis, muitos dos quais aparentemente pouco utilizados

devido à grande quantidade de frascos cheios, e também por perceber que grande

número destes exibia uma camada de pó, mas a foto acabaria por demonstrar um

ambiente arejado, organizado e um espaço idealizado para a realização das aulas.

108

Para maiores informações sobre o museu escolar, laboratórios e gabinetes do Arquidiocesano

recomenda-se a leitura da dissertação A configuração de novos locais e práticas pedagógicas na escola: o

museu escolar, os laboratórios e gabinetes de ensino do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo

(1908-1940) elaborada por Luna Abramo Bocchi (PUC-SP/EHPS 2013).

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68

Figura 8

Fotografia estante do laboratório de Química - sede da Avenida Tiradentes

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

Em armários iluminados por meio da utilização de lâmpadas incandescentes

encontrava-se armazenada a coleção de História Natural (Figura 9)109. Na imagem

foram retratados animais empalhados, crânios, amostras de madeira, minerais,

invertebrados, peles de animais, peças indígenas (flechas, lanças, etc), e em pequena

quantidade itens relacionados ao ensino de Física. Um espaço mal cuidado no qual

deixavam a desejar as condições de limpeza e organização. Mesmo quando se leva em

consideração que houve a necessidade de registrá-lo para a documentação da

equiparação, a precariedade desse ambiente indicaria que esse espaço não era utilizado

para as aulas, e na planta anexada ao elucidário para a ficha de classificação, temos a

indicação de que ali era uma das duas salas conhecidas como Museu e cada uma delas

possuía 18 m2.

109

Sobre a coleção de animais empalhados do Arquidiocesano destaca-se o trabalho de José Maurício

Ismael Madi Filho, Animais taxidermizados como materiais de ensino em fins do século XIX e começo do

século XX (PUC-SP/EHPS 2013).

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Figura 9

Fotografia com parte da coleção de História Natural - sede da Avenida Tiradentes

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

Temos com isso outra ausência nos registros do Dr. Manuel do Carmo, pois não

havia um espaço exclusivo para História Natural, conforme apontado por ele, mas sim

espaços compartilhados onde ficavam objetos de outros ramos do conhecimento.

No gabinete de Física (Figura 10) seria cuidadosamente disposta em mesas e

armários uma série de instrumentos científicos. Houve uma opção por aparelhos que

possuíam um tamanho mais significativo e no canto esquerdo é possível ver uma

pequena parte da coleção de História Natural, o que é outro indicador de que os espaços

não se apresentavam especializados como exigiam as prescrições relacionadas à

Reforma Francisco Campos.

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Figura 10

Fotografia parte da coleção física - sede da Avenida Tiradentes

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

As imagens relativas às salas especiais, além de apresentarem supressões

realizadas pelo inspetor federal também apontam outras ausências que indicam o

envolvimento pessoal do Dr. Manuel do Carmo com os administradores do Colégio.

Este não escreveria no elucidário nada com relação à existência de quaisquer problemas,

pois se pode verificar pela análise da documentação que elas existiam e deveriam ter

sido registradas por alguém, cuja função tinha um caráter eminentemente fiscalizatório.

Não há fotos das Salas de Desenho e Geografia. Isto representa outro “silêncio”

do inspetor federal, pois ele nos faz entender que esses dois ambientes existiam de fato.

Eles são descritos, sem informações espaciais, pois os dados relacionados a eles trazem

somente a relação dos materiais disponíveis. Na “Sala de Geografia” existiam globos,

plantas, mapas de parede, lunetas, atlas, etc e sobre eles o inspetor registrou que “para o

ensino da Geografia, dispõe o Colégio Arquidiocesano de material adequado e

moderno”110.

Com relação à “Sala de Desenho”, além da relação de materiais disponíveis para

uso, ele observa que “para as [sic] diferentes series, existem diversas coleções de

desenhos assim como numerosos livros especializados para cada espécie de desenho e o

material necessário para os alunos estudarem com facilidade” 111.

110

Processo de Equiparação 1933, v.1, p.57. 111

Processo de Equiparação 1933, v.1, p.86.

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O espaço do Colégio é rico em imagens de santos, bem como também é possível

encontrar as pequenas placas com a frase Deus me vê (Anexo 15), um lembrete de que

corpos e consciências são constantemente vigiados, entretanto, tais representações

religiosas convivem com os conhecimentos seculares, pois é constante a presença de

quadros parietais.

Em todas as fotos onde temos a presença dos alunos, sempre os mesmos

indivíduos, ficaria clara a intenção em destacar práticas escolares relacionadas aos

conhecimentos científicos e que eram muito valorizados pela Reforma Francisco

Campos, e ao mesmo tempo uma forma de expressar que o ensino católico não ignorava

a importância desses saberes, embora não se admitisse que fossem posicionados acima

ou independentes da Fé. Segundo Moura (1990), desde o final do século XIX a Igreja

Católica estava em desacordo com as mudanças do mundo moderno, oriundas da

Revolução Industrial e acabaria por se comportar muitas vezes

(...) como se ainda estivesse numa sociedade aristocrática rural. As teses do Liberalismo, afastando a Igreja de suas posições-chave tradicionais (assistência aos doentes, aos pobres e ensino), encaminhavam cada vez mais para a autonomia leiga. Enquanto isso o cientificismo difundia a ideia de que, no conflito que opunha a ciência à Fé isto é, o progresso, este seria inevitavelmente o vencedor" (MOURA, 1990, p.333)

Associava-se com relação a esse "desajuste" a perspectiva de que ensino católico

era essencialmente “conservador” e, por isso, pouco afeito à transmissão dos

conhecimentos científicos.

Na Figura 11 temos a demonstração de uma experiência química, que após ter

sido desenhada no quadro-negro seria montada no balcão utilizando-se os aparatos

disponíveis no laboratório.

Apesar do aparente envolvimento dos alunos com o experimento, na verdade

estes apenas manuseavam tubos de ensaio que não faziam parte do experimento que

estava sobre o balcão.

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Figura 11 Fotografia de simulação de aula de Química - sede Avenida Tiradentes

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

Na revista Ecos quando abordadas as relações entre Ciência e Fé percebe-se que

os conhecimentos científicos de modo geral são apresentados como “efêmeros”, caso

fosse desconsiderada a presença de Deus como, por exemplo, na edição de 1925 onde o

paraninfo da turma de bacharelandos, o Dr. Celestino Bourroul (1880-1958), diria:

Ora, com o desenvolvimento incessante das sciencias, o orgulho humano julgou que se pudesse guindar a sciencia ao altar, para ser adorada pela humanidade como deusa dadivosa da verdade. É a religião da Sciencia proposta por Renan, Vogt, Buchner, Haeckel, como si nella achássemos lugar para a moral. Conhecemos o curso dos astros e ignoramos o mecanismo da emoção que experimentamos a cada passo. (Ecos, 1925, p.25)

É recorrente o hábito de utilizar a fala dos paraninfos para reforçar e justificar o

posicionamento do próprio pensamento institucional. No entanto, com relação às

relações entre Ciência e Fé há considerações nesse sentido em publicações da própria

congregação, em especial num trecho do Bulletim de l´Institut des Petits Frères de

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Marie (1910)112, no qual se orientaria aos Irmãos Maristas que estes não dessem

motivos para que os inimigos do ensino confessional o qualificassem como "contrário à

ciência ou sistematicamente refratário a qualquer progresso verdadeiro" (SEDREZ,

1998, p.229).

No elucidário de 1933, que considerou a estrutura da Avenida Tiradentes, foram

encaminhadas pelo menos oito fotografias que simbolizavam o futuro do mais antigo

colégio da cidade, a construção do edifício da Vila Mariana (Figura 12). Essa grande

quantidade de fotos com relação a um único tema demonstra a clara intenção de

impressionar, e houve sucesso nesse sentido.

Possivelmente a promessa de um prédio aparentemente tão alinhado aos padrões

definidos pelo governo federal, talvez tenha sido usado como um forte argumento para

convencer o Dr. Manuel do Carmo a eximir-se com relação a quaisquer problemas

encontrados na deficiente e exaurida sede da Avenida Tiradentes, pois esta contava com

espaços muitas vezes improvisados e outros inadequados quando confrontados com

aquilo que o governo preconizava.

Figura 12 Registro construção da nova sede - Vila Mariana

Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)

112

Esse bulletim, também chamado de Bulletin de l´Institut, foi publicado de 1909 a 1984, e se constitui

como "um arquivo histórico marista de conteúdo muito variado. Suas páginas contêm dados históricos do

mundo marista, das províncias e das casas. Constitui-se um arquivo que cobre três quartos de século da

vida marista. Juntamente com os dados históricos que registrou, também conservou em suas páginas um

abundante pensamento marista, especialmente sobre pedagogia e espiritualidade" (Fonte:

www.champagnat.org/000.php?p=120). Essa publicação encontra-se totalmente digitalizada e disponível

para consulta on-line.

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Por meio das fotos encaminhadas no elucidário em 1933 o Arquidiocesano

assumiria seu longo período de existência, sua tradição, e até mesmo suas paredes em

taipa de pilão, no entanto, como contraponto apresentaria que dentro de tão

"conservadoras" perspectivas edificava uma estrutura modelar com recursos

educacionais modernos, e que seus alunos seriam ensinados de tal forma que se

superaria o verbalismo e a memorização, aspectos aos quais se associava a educação

católica e formas de ensinar às quais os Maristas eram opositores há muito tempo.

Deixar para trás o prédio no qual se formaram ilustres e honrados cidadãos

católicos, e sendo este mesmo local símbolo da própria constituição da Igreja paulista,

demonstraria que uma parcela desses católicos estavam atentos às necessidades

educacionais dos novos tempos, no entanto, a preocupação dos Maristas com o "novo"

traz elementos do receio expressado pelos educadores católicos de que não se poderia

abrir mão da proeminência da Igreja sobre o ensino secundário brasileiro.

2.2 A ficha classificação

Dentre as estratégias e recursos elaborados para garantir o cumprimento, bem

como a eficiência da sistemática de fiscalização instituída pela Reforma Francisco

Campos, destaca-se o uso de um formulário padrão chamado ficha de classificação

(Anexo 16).

O uso das fichas foi instituído por uma portaria já referida como “sem

número”, em 15 de abril de 1932, responsável por definir os “critérios para a

classificação dos estabelecimentos de ensino secundário” documento este desenvolvido

dentro do Departamento Nacional do Ensino.

De acordo com Abreu (2010, p.295) essa portaria foi elaborada “por Anísio

Teixeira, Paulo de Assis Ribeiro e Otávio Martins, dentre outros, que foram buscar nos

standards de Strayer e Engelhardt as normas que julgavam necessárias adotar e adaptar

para o Brasil”, sendo esses dois últimos respectivamente da área de Engenharia e

Arquitetura. Os americanos, citados por Abreu (2010), também contavam em seu grupo

de estudos com o auxílio de profissionais dessas áreas como parceiros de pesquisa.

Essa autora ao analisar especificamente o caso do Ginásio Belmiro César

(Curitiba, PR) apresenta diversos pontos relacionados à obtenção da equiparação ao

Colégio Pedro II que compreendem: dispor de materiais didáticos, contar com

professores devidamente registrados nos órgãos competentes, dispor corretamente o

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mobiliário em sala de aula, dentre outros. Indica, por fim, que a presença constante dos

inspetores federais dentro desse Colégio faz parte de uma estratégia para a manutenção

da qualidade de ensino oferecido pelas instituições equiparadas.

O envolvimento de Anísio Teixeira com a elaboração dessa portaria deve-se ao

fato dele ter sido convidado, em 1931, pelo ministro Francisco Campos para assumir o

cargo de superintendente do Serviço-Geral de Inspeção do Ensino Secundário. Segundo

Nunes (2000a, p.228), a principal intenção desse tipo de nomeação era integrar

profissionais especializados à estrutura burocrática do governo federal, estratégia essa

por meio da qual se pretendia também, num perspectiva política, "resolver as

dificuldades do Estado num momento conjuntural em que não se conseguia impor seus

pontos de vista nos campos de atividade, em que sua intervenção se pretendia incisiva e

abrir espaços maleáveis à negociação de interesses".

George Drayton Strayer (1876-1962) e Nikolaus Louis Engelhardt (1876-1962)

eram professores da Columbia University, e faziam parte do Teacher´s College, uma

instituição de formação de professores fundada em 1899, e ainda hoje em

funcionamento, e à qual Anísio Teixeira se vincularia como aluno entre 1928 e 1929, e

onde possivelmente teria tido contato com o trabalho desses pesquisadores. O objeto de

estudo de Strayer e Engelhardt, em especial entre anos 1920 e 1930, eram os prédios

escolares americanos.

Como ferramentas de pesquisa Strayer e Engelhardt desenvolveriam score

cards e standards. Os primeiros eram essencialmente formulários nos quais era possível

atribuir um rol de pontuações aos aspectos estruturais dos edifícios que se pretendia

avaliar, tendo por finalidade específica garantir um mapeamento seguro e minucioso de

aspectos considerados importantes para garantir o adequado funcionamento de uma

escola, seja esta um jardim de infância ou um instituto de ensino secundário.

Um score card é composto por uma tabela geralmente dividida em quatro

colunas: a primeira possui um termo descritivo simples que identifica o item em análise,

bem como suas respectivas subdivisões, a segunda composta por uma pontuação

máxima já pré-definida e impressa tendo logo ao seu lado um espaço para atribuição de

uma nota, na terceira tem-se o máximo de pontos a ser obtidos na seção “principal”

(representada sempre por uma letra maiúscula), sendo esta também impressa, e por

último a coluna com o geral das grandes divisões identificadas em algarismos romanos

e um campo ao seu lado para o preenchimento do resultado obtido (Figura 13).

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Figura 13

Score Card

Fonte: ENGELHARDT, 1932 (p.10)

Para orientar o preenchimento do score card foram elaborados standards, ou

seja, padrões, e estes foram desenvolvidos por meio de três procedimentos: um

levantamento bibliográfico sobre aquilo que se produziu de conhecimento com relação à

constituição de edificações escolares (quase a totalidade das produções localizadas

foram produzidas nos Estados Unidos113), contribuição de profissionais especialistas em

diversas áreas do conhecimento (arquitetos, administradores escolares, etc), e por fim

foram consultadas pessoas que trabalhavam diretamente em escolas, tais como diretores,

professores, funcionários escolares, supervisores, etc (ENGELHARDT, 1932, p.1).

113

Conforme pôde ser verificado por meio da bibliografia disponível na obra Standards for Junior High

Schools (pp.151-155).

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77

Os objetivos de Strayer e Engelhardt ao elaborarem essas ferramentas era

avaliar as edificações escolares existentes, de tal forma que se percebesse seguramente

se estas precisariam ser reconstruídas ou mesmo abandonadas, e principalmente

oferecer diretrizes para a avaliação das plantas das novas escolas antes que estas fossem

construídas, pois se otimizaria com isso o uso dos recursos financeiros destinados à

Educação (STRAYER; ENGELHARDT, 1920, p.3).

Dentre as obras analisadas não se percebeu uma associação desse tipo de

metodologia com uma função fiscalizatória, e nem se identificou terem sido estas

utilizadas como pré-requisito para a conquista de quaisquer tipos de benefícios legais

como, por exemplo, se enquadra a equiparação.

É dos score cards, elaborados por Strayer e Engelhardt, que se originam os

princípios da ficha de classificação, conforme apontado por Abreu (2010, p.295), sendo

que todos os procedimentos relativos ao seu preenchimento também são definidos pelo

decreto “sem número”.

Na adaptação brasileira eram analisados 46 itens relacionados à estrutura física

do Colégio, e estes por sua vez eram divididos em cinco grandes áreas (I. Situação, II.

Edifício, III. Instalações, IV. Salas de aula e V. Salas especiais e material didático) que

também se subdividiam, sendo que a soma dos itens menores constituiria o conceito do

grupo maior numa perspectiva do específico para o geral, um modo de identificar

pontos adequados e deficientes. Por isso era importante atingir uma boa pontuação em

cada um dos 46 aspectos analisados.

A partir dos resultados obtidos com a soma das cinco grandes divisões a

instituição era enquadrada em quatro categorias: sofrível (6.000 a 6.500), regular (6.501

a 8.000), bom (8.001 a 9.500) e excelente (9.501 a 10.000). Para a obtenção desse

resultado realizavam-se diversos cálculos, cujos totais eram registrados na coluna 8,

sendo o formulário composto por 11 no total, conforme descrito no Quadro 1.

Quando era seguido o estritamente necessário num determinado aspecto a

pontuação obtida pelo ginásio era “relativamente” baixa, pois se atribuía a nota 7 numa

escala de 1 a 10.

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Quadro 1 Apresentação das colunas da ficha de classificação

Fonte: BRASIL, 1932 (MCMA)

Esse formulário demonstra, a exemplo de seu similar americano, a preocupação

em esquadrinhar a parte estrutural dos Colégios, pois os aspectos analisados levavam

em consideração informações sobre a localização, os espaços edificados e a adequação

desses locais para usos específicos (laboratórios, sala de geografia, etc). Percebeu-se

que as relações de instrumentos científicos, substâncias químicas e acervos da área de

História Natural constam somente na prescrição brasileira.

Por meio dos itens elencados é possível inferir sobre aquilo que se considerava

importante para o desenvolvimento das atividades educacionais com um desejável grau

de excelência, algo também sinalizado por conta do alinhamento do ensino secundário

do país ao Colégio Pedro II, no entanto, todos esses “cuidados” demonstrariam a

existência de um amplo espectro de controle e equalização do ensino secundário

brasileiro, inclusive com relação àquele que era ministrado nas instituições

confessionais.

Apesar da objetividade com relação a alguns aspectos há a utilização de termos

pouco definidos como, por exemplo, “grave impureza no ar”, “distribuição adequada”,

“quantidade suficiente”, “convenientemente orientado” dentre outros. Ao falar sobre

como seria a mesa apropriada ao trabalho do professor encontramos a informação de

que essa deveria ter “1 metro por 1,5 no mínimo”, no entanto, essas orientações

1 Nº - Atribuição de números a cada um dos aspectos analisados (46 no total);

2 Elementos para classificação – Descrição curta do item avaliado

(extintores de incêndio, quadros negros, carteiras, etc)

3 Coluna onde eram registradas notas de 1 a 10

4 Valor individual do item (impresso) que era multiplicado pela nota da coluna 3

5 Total da multiplicação colunas 3 e 4

6 Total atingido pela instituição dentro de cada uma das subdivisões

das grandes áreas;

7 Valor máximo (impresso) que um Colégio poderia conseguir em cada uma das subdivisões das grandes áreas;

8 Coluna em branco;

9 Valor obtido pelo Colégio nas grandes áreas após a soma de cada

uma de suas subdivisões

10 Valor máximo (impresso) que poderia ser obtido nas grandes áreas

11 Porcentagem atribuída a cada grande área

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apontam uma necessidade de formatar e enquadrar os Colégios a partir de uma

determinada visão com relação ao espaço escolar.

O preenchimento da ficha de classificação era executado por auxiliares técnicos

do MESP que utilizavam os dados numéricos fornecidos pelos inspetores federais

mediante o encaminhando do elucidário para a ficha de classificação, como exemplo

Existem nos pateos e dependências sanitárias 32 W.C. em perfeito estado de conservação com caixas de descarga. O quociente tirado pela tabela W.C. vale 14. A nota a ser atribuída é, para W.C. NOTA (10) (DEZ)

114

É valido destacar que a elaboração de um elucidário e a transcrição dos dados

pelos técnicos são duas significativas diferenças com relação à metodologia aplicada

por Strayer e Engelhardt, pois estes realizavam um treinamento dos avaliadores à luz

dos Standards, para que somente depois fossem considerados habilitados para o

preenchimento do score card, e, além disso, para garantir a confiabilidade dos dados

obtidos eram feitas três avaliações por pessoas diferentes, e somente a média dessas era

utilizada na composição da pontuação final, cujo máximo era 1.000 pontos (STRAYER;

ENGELHARDT, 1920, pp.3-4).

Por conta da análise da ficha de classificação foi possível perceber que a sala de

aula era o espaço mais valorizado na avaliação, pois sozinha respondia por um total de

3.000 pontos, algo significativo levando-se em consideração que o máximo a ser

conseguido por um ginásio era 10.000.

As salas eram avaliadas individualmente, mas somente a média obtida era

transportada para a ficha (ABREU, 1939, p.296). Observava-se o seu formato, se

possuíam isolamento acústico entre si, e também com relação aos sons externos, os

quadros negros deveriam ser confeccionados com materiais específicos e dispostos de

modo a garantir a leitura pelos alunos, a pintura certa das paredes proporcionaria a

adequada difusão da luz. Também exigia-se área livre de iluminação (esta definida por

meio de um cálculo que considerava a área do assoalho dividido pela quantidade de

iluminação), ter janelas dispostas de modo que as carteiras recebessem luz pela

esquerda, e por fim a acústica adequada era aquela que permitia ao professor realizar a

aula sem que houvesse a necessidade de elevar a voz (ABREU, 1939, p.297), abaixo

exemplos de cálculos feitos com relação às salas de aula.

114

Processo de Equiparação 1933, v.1, p.49.

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Sala da 5ª série : 8,5 x 8,4 = 71,40 c/46 alunos NOTA 8 Sala da 4ª série : 8,5 x 5,6 = 47,60 c/31 alunos NOTA 8 Sala da 4ª série B : 7,1 x 5,0 = 35,50 c/29 alunos NOTA 6 Sala da 2ª série A : 8,5 x 5,6 = 47,60 c/34 alunos NOTA 7 Sala da 3ª série : 10,5 x 5,6 = 58,80 c/46 alunos NOTA 7 Sala da 1ª série A : 7,1 x 5,0 = 35,50 c/33 alunos NOTA 5 Sala da 1ª serie B : 8,3 x 7,0 = 58,10 c/45 alunos NOTA 7 Sala da 2ª série B : 11,5 x 7,6 = 87,40 c/48 alunos NOTA 9

115

As notas das salas de aula eram atribuídas a partir do preenchimento de um

gráfico padrão, recurso utilizado nos procedimentos definidos pelo MESP sempre que

havia necessidade de serem analisadas áreas em m2, e dentro dele foram distribuídas as

notas de 1 a 10 (Figura 14).

Figura 14 Representação gráfica do espaço das salas de aula

(área em m2 por número de lugares)

Fonte: BRASIL, 1932 (MCMA)

As salas de aula eram o espaço com relação ao qual se exigia a maior quantidade

de levantamento de dados, pois durante o processo de avaliação destas era preciso

preencher tabelas, gráficos e a realização de uma série de cálculos (área de iluminação,

área livre de iluminação, quantidade de alunos x lugares, etc).

Em segundo lugar ficavam as salas especiais e de material didático que

respondiam por 2.500 pontos. As primeiras compostas por auditório, ou salão,

115

Processo de Equiparação 1933, v.1, p.49.

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81

biblioteca, ginásio, sala de geografia, salas de ciências físicas e naturais, sala de

desenho, sala dos professores e da administração. Com relação ao mobiliário geralmente

solicitava-se que os ambientes fossem compostos por “mobiliário conveniente”.

O auditório deveria “comportar pelo menos dois terços dos alunos matriculados

no estabelecimento, na razão de 0,90 m2 por aluno, não tendo, entretanto, área inferior a

50 m2” (BRASIL, 1932, p.8).

Na biblioteca o acervo deveria ter livros e periódicos adequados ao ensino

secundário tendo em vista temas de cultura geral. Com relação às tipologias indicava-se

que houvesse livros didáticos, pelo menos 2 exemplares de cada disciplina, e, além

disso, havia necessidade de ser disponibilizada uma revista especializada em Educação,

não importando se em português ou qualquer outro idioma.

Com relação ao espaço do ginásio havia uma única recomendação, este não

podia ter uma área menor que 60 m2.

Para a sala de geografia e a de desenho constavam listagens dos materiais

considerados relevantes. Para a primeira sala foram escolhidos 12 itens e estes muitas

vezes se subdividiam, tal como acontece com o termo coleções de mapas que

impossibilita uma contagem acurada e além destes são indicados materiais em

diferentes formatos, de amostras dos principais produtos brasileiros (café, cacau,

borracha, etc) a cartões postais. Na sala de desenho seriam relacionados sete itens,

muitos ligados ao estudo da Geometria, tais como transferidores, compassos, esquadros,

entre outros.

Para os espaços relacionados às Ciências Físicas e Naturais, além das instalações

físicas, havia uma listagem com 94 objetos, entre minerais, substâncias químicas e

modelos anatômicos.

Na sala especial de Física foram relacionados 141 aparelhos e instrumentos, bem

como toda a estrutura física, e para Química foram solicitados 258 itens.

Em relação aos materiais de História Natural existem diversas coleções e

generalizações como, por exemplo, “um pequeno herbário com os exemplares mais

comuns das famílias vegetais mais importantes do Brasil” (BRASIL, 1932, p.19) que

impossibilitam delimitar com maior precisão a quantidade dos exemplares aos quais

estes se referiam, mas a priori puderam ser identificados um total de 86, apesar do

“acanhado” número indicado pelo MESP ainda existia a possibilidade da instituição

escolher outros, indicando ser possível ir além das exigências.

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82

As instalações contabilizavam 2.000 pontos. Por instalações entendia-se

“extintores de incêndio, iluminação, caixa d´água, asseio e instalações higiênicas”116.

Não era definida a quantidade de extintores portáteis que um colégio deveria possuir,

nem onde colocá-los, exceto o prescrito para os laboratórios, mas informava-se que

precisavam ser em quantidade suficiente, embora não fosse especificado quantos e

distribuídos de forma conveniente, mas também não indicavam onde.

A iluminação natural deveria ser suficiente conforme prescrito pela higiene

escolar, e a artificial usada preferencialmente de forma indireta ou semi-indireta. No

caso da iluminação das salas de aula essa era calculada individualmente e a média

registrada na ficha.

A caixa d´água precisaria ter no mínimo uma capacidade para armazenamento

de 500 litros e era necessário um acréscimo de 20 litros por cada aluno matriculado.

Com relação ao asseio e instalações higiênicas as prescrições eram exigentes.

Orientava-se a utilização de aparelhos elétricos, como aspiradores de pó para se evitar

“agitar a poeira”, por essa razão condenava-se a varredura feita a seco. Para a

aparelhagem sanitária existia um cálculo, quantidade de aparelhos divida pelo número

de alunos, e o resultado obtido transcrito na ficha nos itens 21 a 25. A condição de

conservação exigida para esses equipamentos era perfeita.

Os dados da Situação diziam respeito às condições do terreno no qual estava

localizado o Colégio, a partir do qual eram avaliadas a existência (ou não) de ruídos, a

segurança deste (se possuía buracos, aclives, declives) e salubridade (ausência de poeira

excessiva).

A pontuação relativa ao quesito Edifício era o penúltimo critério e contabilizava

1.500 pontos. As salas deveriam ser dispostas de tal modo que fosse possível controlar

facilmente os alunos, por isso sugeria-se como adequadas para o prédio as disposições

em H, E, U, L e T.

Na ausência de elevadores o ideal seria um prédio com no máximo dois andares

e toda a estrutura deste constituída com materiais não inflamáveis. Algumas saídas da

construção deveriam ser amplas de forma a garantir a rápida movimentação de grandes

quantidades de alunos, embora se admitissem outras menores.

As escadarias nunca poderiam ter menos de 1,5 m de largura, e com relação a

essas as orientações eram, como em outros casos, repletas de parâmetros pouco

116

Processo de Equiparação 1940, v. 2, p.106.

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objetivos, pois se esperava que estas fossem amplas (não se explicava o quanto),

convenientemente localizadas (não era fornecida nenhuma informação sobre onde),

construídas com materiais não combustíveis, a inclinação e a resistência deveriam

garantir segurança, serem bem iluminadas e com relação a essa última exigência

também não havia maiores especificações.

Os últimos 1.000 pontos eram obtidos com a Situação. Nela eram descritos os

aspectos relativos à localização do Colégio, a proximidade dele com fábricas, condições

das ruas próximas, se era um local urbanizado ou rural e outras informações sobre as

quais se solicitava uma representação gráfica, que consistia no envio de croquis

(BRASIL, 1932, p.21).

O contato com as fichas de classificação permitiria inferir algumas

possibilidades de uso, a primeira diz respeito dessas se constituírem como um “resumo”

sobre a instituição equiparada, pois o elucidário era muito grande para um levantamento

mais imediato, e com o aumento no número de instituições equiparadas, um instrumento

dessa natureza era muito interessante. Além dessa utilização não se pode negar ser a

ficha uma fonte de dados estatísticos por conta do uso exclusivo de números em seu

preenchimento. Engelhardt (1932, p.9) recomendaria que os dados dos score cards

fossem representados graficamente como, inclusive, uma forma para facilitar o uso

desses dados pelos responsáveis pela elaboração dos projetos das novas unidades

escolares e apresenta como sugestão a disposição abaixo (Figura 15)

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Figura 15 Apresentação gráfica dos dados levantados por meio dos score cards

Fonte: ENGELHARDT (1932, p.8)

Na parte superior do gráfico eram indicados os aspectos analisados, como por

exemplo, as condições sanitárias, salas de aulas, salas especiais de um conjunto de

escolas, cujos nomes seriam colocados à esquerda. Como cada um dos itens dos score

cards possui uma pontuação individualizada era possível, por meio de uma proporção

entre quociente obtido x padrão definido, observar a adequação, ou não, de um

determinado aspecto nas quatro qualificações que aparecem na parte inferior do gráfico

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(unsatisfactory, poor, pair e good), e que são similares àquelas utilizadas pelo MESP. O

uso dos procedimentos para a avaliação das edificações viabilizava a elaboração de

diversos tipos de diagnósticos e análises, inclusive para que se pudesse garantir um

mesmo patamar de qualidade de determinado grupo de escolas.

2.2.1 A primeira ficha de classificação do Colégio Arquidiocesano

Dentro do conjunto de itens relativos à equiparação existem vários tipos de

documentos (telegramas, fotografias, protocolos, cópias de regulamentos, declarações

de vínculo empregatício, capa de revista, etc) e também se encontram algumas fichas de

classificação. No período delimitado para este trabalho verificou-se a existência de três

fichas, e estas estão relacionadas a acontecimentos específicos da história institucional,

a saber: 1933 (data de envio do primeiro relatório pelo inspetor federal); 1934 (pouco

antes da mudança para a sede da Vila Mariana); e 1940 (ano em que todas as obras

relacionadas à edificação da Vila Mariana já estavam concluídas e o Colégio

apresentava-se em pleno funcionamento).

A primeira ficha do Arquidiocesano117 diz respeito à sede da Avenida

Tiradentes, e para seu preenchimento foram utilizados os dados do elucidário enviado

pelo Dr. Manuel do Carmo em 1933. Após a análise e transcrição dos dados do Colégio,

este seria classificado como bom conforme parecer118 emitido pelo Conselho Nacional

de Educação, pois foram mal avaliadas as salas de aula e o edifício.

A análise desse formulário permitiu realizar algumas inferências sobre como a

instituição fora vista pelos examinadores, a partir dos dados enviados pelo inspetor

federal, não esquecendo que havia uma relação cordial entre este e a instituição.

Construído entre 1854 e 1856 o prédio da Avenida Tiradentes, idealizado

inicialmente para abrigar o Seminário, aos olhos de avaliadores externos apresentava

problemas estruturais que deveriam ser resolvidos tendo em vista as deliberações da

Reforma Francisco Campos.

Nas salas de aula a relação entre número de lugares e os metros quadrados foram

considerados deficientes, pois estavam abaixo daquilo que se considerava adequado.

Outro ponto fraco foram as carteiras e os mobiliários diversos, que incluíam entre

117

Processo de Equiparação 1940, v.2, p.105. 118

Parecer nº 132, de 13 nov. de 1933, emitido pelo Conselho Nacional de Educação (Processo de

Equiparação 1940, v.2, p.111). O Colégio obteria 8.601 pontos.

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outros itens a mesa do professor e a área livre de iluminação estava estritamente dentro

das orientações do Departamento Nacional de Ensino, por isso dos 3.000 possíveis

nesse quesito o Arquidiocesano alcançaria 2.292 pontos (Figura 16).

Figura 16 Trecho referente à avaliação das salas de aula

(primeira Ficha de Classificação - 1933)

Fonte: Processo de Equiparação 1940 (MCMA)

Com relação à conservação do prédio ela seria considerada dentro do padrão

mínimo o que lhe valeu uma nota 7, sendo os demais itens119 relacionados a este aspecto

agraciados com a nota 8, exceto a quantidade de pavimentos apontada como ideal, pois

neste último ponto eram bem avaliados os prédios com até dois pavimentos.

A localização do Colégio na Avenida Tiradentes não seria percebida como

problemática, no entanto, fora considerada perigosa sua proximidade com lugares de

grande circulação de veículos, pois as prescrições recomendavam um “local afastado do

cruzamento de linhas férreas, de bondes ou de outros veículos” (BRASIL, 1932, p.5), e

todos esses faziam parte do cotidiano da instituição.

Apesar dos poucos itens indicados como deficientes para que estes pudessem ser

resolvidos seria necessário que os Irmãos Maristas fizessem uma ampla reforma na sede

da Avenida Tiradentes, algo que reforçasse o empenho desses com relação à finalização

das obras na Vila Mariana, sede para a qual deveriam transferir o Colégio o mais rápido

possível.

119

Os demais itens diziam respeito às entradas, escadas, localização e também os materiais utilizados na

construção.

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87

2.3 A reconquista da equiparação

Dentro do MESP os dados referentes ao Colégio circulariam na forma de um

despacho elaborado por um dos auxiliares técnicos do ministério que descreveria

sucintamente as informações sobre a fundação do Arquidiocesano, equiparações

anteriores, matrículas registradas nos últimos três anos, patrimônio avaliado,

composição do corpo docente, dados referentes às cinco divisões principais da ficha de

classificação, bem como a classificação obtida por meio dessa.

Esse documento seria enviado para análise de Agrícola Bethlem120,

Superintendente do ensino secundário que observaria ser o Colégio Arquidiocesano

(...) um bom estabelecimento de ensino, o que se evidencia pela respectiva ficha de classificação, onde todos os elementos se apresentam com satisfatórias notas. Os dos únicos professores estranhos à congregação que dirige e mantém o estabelecimento são amparados por contrato. Opino, assim, pela concessão ao mesmo das regalias do art. 55 do decreto n. 21.241, de 4 de abril de 1932

121.

A análise do superintendente seria encaminhada ao ministro Washington Pereira

Pires122 que solicitaria um parecer ao Conselho Nacional de Educação, mais

especificamente a uma subdivisão deste, a Comissão de Ensino Secundário, e esta daria

um posicionamento favorável ao pleito do Colégio. Não deixaria, entretanto, de apontar

que, apesar da fraca pontuação com relação ao prédio e às salas de aulas, "as obras

consideráveis, ora em andamento, substituirão, com toda a certeza, estas porcentagens

por máximas"123, observação que aponta a boa impressão causada pelas imagens da

construção da Vila Mariana encaminhadas no elucidário de 1933.

Após o parecer da Comissão o ministro devolveria a solicitação do

Arquidiocesano para a superintendência e esta cuidaria dos procedimentos finais para a

formalização, dentre os quais a publicação do decreto n° 23.742 em 15 de janeiro de

120

Oficial do Exército, teve praça em 1 de maio de 1907, sendo promovido a segundo tenente em 23 de

outubro de 1913 e a 1º tenente em 6 de setembro de 1918. Tem o curso de infantaria e cavalaria pelo

regulamento de 1905 e de engenharia pelo regulamento de 1913. Bacharel em Matemáticas e Ciências

Físicas (SOBRINHO, 1937, p.114). 121

Processo de Equiparação 1940, v.2, p.109. 122

Responsável pelo Ministério da Educação e Saúde Pública entre 16 de setembro de 1932 e 23 de julho

de 1934. 123

Processo de Equiparação 1940, v.2, p.111.

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1934 que concederia "ao Colégio Arquidiocesano de São Paulo, inspeção permanente e

as prerrogativas de estabelecimento livre de ensino secundário"124.

O Colégio finalmente conseguiria recuperar a equiparação ao Colégio Pedro II.

124

Processo de Equiparação 1940, v.2, p.112.

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CAPITULO 3 - A EQUIPARAÇÃO NA SEDE DA VILA MARIANA E A

MANUTENÇÃO DA PRERROGATIVA

O que levaria os Irmãos Maristas a optarem pela construção de uma nova sede?

É recorrente a afirmação de que essa decisão foi tomada devido à invasão do Colégio

pelos tenentistas em sua passagem por São Paulo durante a Revolução de 1924 e sobre

esse acontecimento Nadai (2007, p.14) registraria que

Foi somente em 7 de agosto que a instituição retomou suas atividades. Ficou, porém, o alerta: a região da Luz, extremamente central e estratégica, já não servia mais aos propósitos do Colégio. Era preciso buscar outro lugar para o Arquidiocesano. Além do abalo provocado pelo levante tenentista, outros fatores pesaram nessa decisão: o crescimento vertiginoso do bairro por sua proximidade à estação ferroviária e a precariedade do prédio, que já começava a dar mostras de esgotamento [grifo nosso]

O trecho destacado apresenta na realidade um conjunto de fatores, e não uma

situação pontual ou isolada, que acabariam estimulando esses religiosos com relação à

transferência do Colégio para outra região.

Segundo Campos (2005, pp.11-12), a Luz foi “o primeiro bairro de elite da

cidade de São Paulo”, no entanto, nos últimos anos de 1800 com a ampliação das

atividades da estação ferroviária, aos poucos inúmeros transtornos foram trazidos à

pacata vida de seus habitantes, principalmente com relação à emissão ruídos, odores e

aumento e geração de tráfego (CAMPOS, 2005, p.50). Tais fatores de desconforto

causariam a migração da elite local para outras regiões da cidade como, por exemplo,

Higienópolis, Campos Elíseos e Avenida Paulista. Acredita-se que as alterações

provocadas pela estação também acabariam impactando sobre o Arquidiocesano, cujos

diretores passaram a desejar a mudança da instituição para um local menos conturbado

no qual pudessem viver e desenvolver suas atividades educacionais sem maiores

problemas ou agitações.

Conforme apresentado por Sedrez (1998, p.234)125 os Maristas já tinham, em

1920, percebido ser imprescindível a mudança para outro lugar e apresentariam como

motivos dessa urgência

125

Os dados apresentados por Sedrez (1998) foram obtidos graças à tradução de uma das Circulaires des

Supérieurs Généraux.

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Os 20.000 veículos que diariamente passam diante da porta do velho colégio, os bondes que de noite roncam sob as janelas dos dormitórios, o ar intoxicado pelos motores a explosão, as usinas, as estações, os quarteis vizinhos, tudo tornava difícil a vida do internato neste imóvel outrora tão elogiado pela tranquilidade de que gozava. Acrescente-se a isso, a disposição da parte interna de uma casa concebida no tempo em que os dados pedagógicos e higiênicos atuais eram menos exigentes, e que improvisações não conseguiam corrigir, enfim a perspectiva da próxima venda do terreno já dividido em lotes, tudo urgia uma solução que se entrevia inevitável mas que era adiada por falta de recursos. Depois de muita procura, um terreno de 30.000 metros quadrados foi adquirido em 1922, no bairro de Vila Mariana, a seis quilômetros do centro da cidade. Tendo os planos, longamente preparados e estudados, recebida a aprovação do Conselho Geral, começaram a ser executados em 1928.

Muitos dos pontos destacados por esses religiosos referem-se a questões de

ordem higiênica, bem como a uma concepção de que a escola deveria ser isolada de

influências exteriores para que o processo de formação não fosse prejudicado e, além

disso, levando-se em consideração que o regime de internato atraía alunos de regiões

ainda pouco urbanizadas, os sons e a agitação da Avenida Tiradentes realmente se

constituíam como fontes de problemas e reclamações.

Todas as adversidades presentes no texto acima dialogam com o que foi

percebido por Viñao Frago (2001, p.83) ao analisar os manuais educacionais espanhóis,

pois segundo ele uma série destes já prescrevia no início do século XX as condições a

se considerar para a escolha do local onde se pretendia instalar uma escola,

Em primeiro lugar, a higiene: um local elevado, seco, bem arejado e com sol constitui o ideal. O que se deve evitar são, pois, os lugares úmidos sombrios e não arejados (terrenos pantanosos, ruas estreitas). Mas a higiene é tanto física quanto moral. A relação dos lugares de proximidade perniciosa constitui, por isso, todo um repertório onde se misturam moralidade e saúde: tabernas, cemitérios, hospitais, quarteis, depósitos de esterco, casas de espetáculos, cloacas, prisões, praças de touros, casas de jogos, bordéis, etc

Possivelmente muitos desses ambientes faziam parte do cotidiano da Luz que

gradativamente começava a ser circundado por bairros operários como, por exemplo, o

Bom Retiro e logo à frente do Colégio localizava-se a Casa de Correção, um presídio

inaugurado em 1852.

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A documentação da equiparação traz elementos similares, pois o cruzamento dos

espaços fotografados, as plantas do prédio da Avenida Tiradentes e os parâmetros

governamentais apontam uma instituição sufocada e limitada de tal maneira que era

inviável idealizar uma ampliação da estrutura do Colégio, pois dentre outros problemas

observa-se ter ocorrido a venda gradativa das terras do entorno do Arquidiocesano,

processo esse iniciado na administração dos padres diocesanos que com isso pretendiam

conseguir recursos para manter o Seminário-Colégio em funcionamento.

Um discurso melancólico com relação à necessidade da mudança para um novo

local também ganharia as páginas da Ecos como num artigo de 1929

O tempo que tudo devora, anniquila e transforma, roubou tambem ao vetusto Collegio Archidiocesano os privilegios que outrora o tornavam um estabelecimento sem par entre todos os outros da Pauliceia: a tranquilidade dos estudos, a vasta extensão do parque, o ar puro dos seus bosques. O progresso asphyxiou a obra de D. Antonio Joaquim de Mello. Tornou-se necessario transportar o Collegio para outro ponto da cidade mais favoravel aos estudos e á vida tranquilla do internato (Ecos, 1929, p.56)

Lamentava-se aí a perda do caráter campestre, e implícita nesta a ideia de vida

saudável do grande Colégio que iria para uma região com características parecidas às

dos tempos gloriosos, sem deixar de ser ao mesmo tempo próximo às áreas mais

povoadas.

Nesse mesmo artigo, obviamente aproveitando-se do saudosismo com relação

àquelas "sólidas paredes de taipa", seria feito um pedido aos antigos alunos: a doação de

recursos para a construção da Capela idealizada, conforme palavras da Ecos, com a

simplicidade característica da Congregação dos Irmãos Maristas, sendo esta composta

por "treze vitrais representando scenas suggestivas religiosas ou effigies de Santos

predilectos, embellezarão a nave do templo, atestando ao mesmo tempo a perfeição da

arte moderna" (Ecos, 1929, p.57).

As omissões feitas pelo inspetor federal Dr. Manoel do Carmo, quando elaborou

o elucidário de 1933, não indicavam somente "flexibilização" em relação à estrutura

exigida pelo governo federal. Estas apontariam outra coisa, já se sabia que o Colégio

necessitava adequar a sua estrutura às novas demandas educacionais, por isso as fotos

da construção do novo edifício seguiram implicitamente como itens de barganha na qual

os Irmãos se comprometiam a atender plenamente as exigências do MESP, sendo para

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isso imprescindível obter a equiparação, cuja concessão interessava ao público atendido

pelo Arquidiocesano, à congregação e mostrava-se como diferencial perante outros

ginásios em atividade na cidade de São Paulo.

Em vez de reestruturar o edifício da Avenida Tiradentes, ainda de propriedade

da Arquidiocese de São Paulo, realmente teria sido mais interessante a construção de

um novo local onde fossem utilizados os conhecimentos e as experiências educacionais

da própria congregação, cuja existência ultrapassara os 100 anos, e nos anos 1920 e

1930 possuíam colégios em diversas regiões do Brasil e também em outros países.

Com relação aos Maristas estes realizavam um intercâmbio constante de

informações sobre Educação como por exemplo, nos relatos registrados nas Circulaires

des Supérieurs Générauxe126 e no Bulletin de L´ Institut, onde este se comprometeria

entre 1909 e 1910 a "publicar em cada um de seus números um pequeno artigo de

Pedagogia, feliz, se com isso, puder contribuir em alguma medida a promover, entre

vocês, um estudo tão essencial a nosso estado e do qual depende, em grande parte, o

sucesso de nossa missão de educadores" (SEDREZ, 1998, p.229). Apesar da

preocupação dos Maristas com as questões relacionadas à Fé estes possuíam a

percepção de que era necessário conhecer o que se produzia em termos de

conhecimentos pedagógicos, pois existiam questões práticas a serem consideradas

quando se pretende manter uma obra educacional aberta e competitiva. Por conta dessa

circulação acredita-se que o tipo de conhecimento presente na portaria “sem número”

não fosse desconhecida dos membros da congregação e possivelmente de outros

educadores.

O projeto da Vila Mariana seria entregue aos cuidados do escritório do

engenheiro Álvaro Salles de Oliveira. Apesar de não sabermos exatamente quais foram

as necessidades apresentadas pelos proprietários do Colégio para o construtor, temos

indícios suficientes para afirmar que a congregação realmente não pretendia erigir um

prédio qualquer, mas sim uma obra singular na qual seria colocado à disposição dos

alunos aquilo que se considerava importante e moderno para a aprendizagem sem, no

entanto, esquecer a centralidade da Fé e o caráter evangelizador ao quais os Maristas

estavam vinculados.

Utilizando o primeiro desenho da fachada do prédio da Vila Mariana (Figura 17)

é possível perceber que os Irmãos tinham como objetivo erigir uma construção de

126

As circulares possuem periodicidade irregular sendo a primeira datada de 1828.

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grandes dimensões de tal forma que ela se transformasse num verdadeiro "monumento"

à educação católica, e num primeiro olhar com relação ao traçado desse estudo

identifica-se um diálogo com as linhas arquitetônicas do Colégio Pedro II, a mais

importante referência educacional para o ensino secundário brasileiro.

Essa proximidade apresenta a intenção em fazer do novo edifício do

Arquidiocesano algo tal qual, ou até mesmo superior à instituição modelo do governo

federal, ou ainda, constituir-se como uma referência para os demais institutos católicos.

No entanto, não se pode esquecer a possibilidade de ser também uma questão da própria

congregação, os Irmãos talvez desejassem um local onde se pudesse colocar em prática

de modo integral a sua forma de educar.

Figura 17

Primeiro estudo de fachada da sede Vila Mariana

Fonte: MCMA

Apesar do complicado quadro econômico mundial e brasileiro, por conta da

quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929, que afetaria principalmente as

vendas do café, as obras seriam iniciadas naquele mesmo ano. Em 1928, como uma

forma de divulgar a nova obra, seria publicada na Ecos uma planta na qual se observaria

que o desenho definitivo do novo prédio seria mais modesto que a primeira proposta

sem, no entanto, perder seu caráter monumental (Anexo 17).

O documento apresentado por Sedrez (1998, p.234) indicava que a Congregação

realizava, juntamente com a obra do Arquidiocesano, a construção de mais outros dois

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colégios, e que "a Província teve que se arranjar para levar a bom termo esta série de

construções de três grandes colégios, obras tão importantes e indispensáveis". A

concretização do projeto da Vila Mariana certamente exigiria um grande investimento

da parte dos Maristas, pois se optou pela utilização de materiais de excelente qualidade,

uma parte dos quais era importado.

Segundo Azzi (1997b, p.204), "as portas e janelas eram de cabreúva, os móveis

de madeira de palissandra127. Os ladrilhos vieram da Alemanha, e os vitrais para a

capela, de Grenoble, na França", os materiais utilizados eram incombustíveis, por isso

toda a estrutura seria feita em cimento armado. Todos esses cuidados indicam a

preocupação em construir realmente algo imponente, duradouro e ao mesmo tempo

adequado àquilo que se acreditava atender às novas demandas educacionais, talvez uma

maneira de romper com o passado colonial e monárquico evocado pelo antigo prédio e

uma forma de posicionar-se contrariamente à qualificação da educação católica como

"retrógrada", "conservadora" e "tradicional", tão recorrente desde os primeiros anos da

República e reforçada sobremaneira nos anos 1930 por conta do conflito entre os

"pioneiros" e os católicos.

Olhar a planta definitiva do novo edifício permitiria identificar elementos

descritos por Viñao Frago (2001, p.91), quando ao falar sobre construções escolares

afirmaria que "em geral, a arquitetura escolar combinou a clausura ou o encerramento

com a acentuada ostentação de um edifício sólido cujas paredes constituíam a fronteira

com o exterior, ou com o que se achava separado desse exterior por uma zona mais ou

menos ampla do campo escolar, e um muro ou grade que assinalava os limites do

espaço reservado", pois a ampla fachada desenhada por Álvaro de Salles Oliveira

permitiria um isolamento do Colégio do mundo exterior.

O edifício seria composto pelo térreo e mais 3 andares interligados por quatro

grandes escadas laterais. A estrutura foi montada para que cada uma das divisões de

alunos, constituídas por meio da separação por faixas etárias (menores, sub-médios,

médios e maiores128), possuíssem suas próprias dependências, o que criava condições

para que um determinado grupo pudesse até ignorar a presença do outro, e a disposição

dos andares facilitaria a vigilância e a manutenção da disciplina (SEDREZ, 1998,

p.235). A opção por um terreno elevado garantiria a circulação abundante de ar, bem

como uma insolação constante dos diversos ambientes da escola e por conta do uso de

127

Sinônimo para Jacarandá. 128

Menores (7 a10 anos), sub-médios (10 a 12 anos), médios (12 a 14 anos) e maiores (14 ou mais anos).

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um grande número de vigas e colunas haveria possibilidade de redimensionar os

espaços internos sempre que necessário.

Exatamente no centro do terreno seria edificada uma capela em homenagem a

Nossa Senhora da Glória, sendo essa uma forma simbólica de demonstrar o

posicionamento da Fé dentro do processo educativo desenvolvido pela instituição, além

disso a posição daquele lugar sagrado permitiria à

1

a vista que se depara a quem entra no Arquidiocesano. - o

campanário da Capela, convite para as alturas da ciência e da Fé, meta do estabelecimento. - o relógio, mestre inflexível. - o Coração de Jesus, centro de tudo, dono do tempo e da eternidade. - Maria Santíssima, na Gruta de Lourdes, alicerce da casa marista. - as arcadas que falam de arte, estudo e silêncio (COMEMORAÇÃO, 1947, p.70).

O Arquidiocesano reforçaria cada vez mais o caráter excepcional e modelar de

seu ensino, e a construção de uma sede de tão grandes dimensões o tornaria uma vitrine

para o ensino católico na cidade de São Paulo.

Em 1929 foram feitas as fundações, as colunas, lajes, bem como as fundações

das paredes internas do térreo. Durante 1930 adiantaram-se sobremaneira as obras da

capela e simultaneamente ocorria o levantamento das paredes externas. Em junho de

1931 seria abençoada a cruz do campanário confeccionada pelo Liceu de Artes e

Ofícios, e entre maio e junho de 1932 o prédio já contava com os quatro pavimentos

prontos129, pelo menos exteriormente. Por conta desse adiantamento das obras foi

possível perceber que prescrições do decreto “sem número” não poderiam ter sido

integralmente observadas durante a construção da nova sede, no entanto, acredita-se que

ainda tenha havido tempo suficiente para adequar internamente os espaços, pois o

fechamento do prédio estava sendo realizado de fora para dentro, o que possibilitou

posicionar as paredes de tal forma que se conseguisse atender às prescrições legais, em

especial no que dizia respeito às salas especiais e salas de aula.

A adequação do prédio, apontada nos relatórios dos inspetores federais, indicaria

estar a construção edificada pelos Irmãos adequada aos parâmetros do governo federal,

o que demonstra que estes religiosos possuíam um repertório sobre a adequação dos

espaços escolares.

O prédio seria finalizado em 1939, no entanto, em 1934 já haviam sido

terminadas as instalações que garantiriam o início das atividades educacionais, por isso 129

Álbum da Construção (1929-1933).

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a inauguração da Vila Mariana seria realizada em 25 de janeiro de 1935, dia do

aniversário da cidade e data definida por Dom Duarte Leopoldo e Silva, ainda arcebispo

de São Paulo.

A nova construção seria visitada por engenheiros, padres, bispos, políticos,

intelectuais, no entanto, uma visita destaca-se entre essas. No dia 17 de julho de 1935 o

Colégio receberia o inspetor geral do ensino secundário o Sr. Nóbrega da Cunha (1897-

1974), responsável pelo órgão que fiscalizava os colégios, e ao qual eram remetidas as

fichas, os elucidários e os relatórios mensais elaborados pelos inspetores federais.

De acordo com a Ecos este visitaria todos os recintos do Arquidiocesano,

mostrando-se encantado com aquilo que viu. Apesar das homenagens prestadas pelo

Colégio, o inspetor num discurso improvisado registraria um certo desconforto, pois

afirmaria que "todas as demonstrações de apreço deviam ser dirigidas, não a elle, mas à

autoridade que ele representa..."(Ecos, 1935, p.[12]).

3.1 A segunda e a terceira ficha de classificação e os elucidários: o Colégio na sede

da Vila Mariana

Somente o primeiro elucidário, e a sua respectiva ficha de classificação, levam

em conta a antiga sede do Colégio, pois para os efeitos de manutenção da equiparação

seria considerado exclusivamente o prédio da Vila Mariana. O Arquidiocesano deixava

para trás o lugar das “tradições” e se alinharia, agora também visualmente, às novas

concepções educacionais sem, no entanto, prescindir de sua vinculação com aquilo que

havia de mais conservador no catolicismo.

A segunda ficha de classificação foi preenchida em 15 de janeiro de 1934, um

ano antes da mudança para a sede da Vila Mariana, e todos os seus dados dizem respeito

a ela. O elucidário desta ficha é composto por apenas nove páginas e bem mais simples

se tomarmos como referência aquele elaborado em 1933, pois o inspetor federal o Sr.

Egberto de Assis Silveira optou por realizar descrições sintéticas, e anexaria itens que

comprovavam a existência do novo prédio, tais como algumas páginas da revista Ecos e

três plantas.

Para que pudesse ir para a Vila Mariana o Colégio registrou um pedido formal

junto ao MESP, cuja aprovação somente seria recebida em janeiro de 1935, no entanto,

o prosseguimento das obras aponta que a diretoria do instituto não tinha a menor dúvida

sobre esta concessão. Acredita-se que faça parte dos procedimentos de autorização para

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97

uma mudança de localização a elaboração de um elucidário como o de 1934, que

inclusive foi elaborado por um inspetor federal estranho à instituição, pois ainda estava

vinculado ao Arquidiocesano o Dr. Manuel do Carmo.

A construção da nova sede também levaria em consideração as prescrições

relacionadas à Reforma Francisco Campos, no entanto, apesar da melhoria na pontuação

obtida pelo Colégio, esse ainda seria considerado bom, embora de 8.601, esta subiria

para 9.193 pontos, um aumento interessante. Supõe-se que tal resultado não tenha

agradado aos Irmãos, pois o investimento feito na construção fora muito alto.

Apesar de sucinto em todo o elucidário o Sr. Egberto não deixaria de registrar

seu contentamento

Não posso esconder a V. Excia, a admirável impressão resultante dessa inspeção. É uma obra notável e representa um esforço digno de todos os encomios a realizada pelos Irmãos Maristas. Inverteu esta congregação cerca de 4.000 contos na consecução do que se havia proposto. Numa área de 31.600m

2 empregaram sua longa experiência

como factor coadjutor de uma engenharia moderna e sobria [grifo nosso]. Como consequencia nos seus minimos detalhes o collegio Archidiocesano alcança pontos difficeis de serem superados

130.

O relato do inspetor confirmaria a forte impressão causada pela nova sede, no

entanto, apontaria ter sido essa erguida a partir da combinação entre conhecimentos

construtivos atuais e a experiência que os Irmãos possuíam com relação a edifícios

escolares.

O elucidário de 1940 se mostraria muito completo, pois além das descrições era

composto por 31 fotografias que registravam perante o governo federal a existência de

uma estrutura que em muito superava os itens exigidos pelo MESP. Optou-se por

destacar aqui algumas imagens consideradas emblemáticas e também aquelas que dizem

respeito às Salas especiais, que se apresentavam inadequadas no antigo edifício.

A primeira foto do relatório (Figura 18) destacaria a monumentalidade do

edifício da Vila Mariana, e ao mesmo tempo se demonstraria a tranquilidade do local

escolhido para a instalação do novo Colégio.

130

Processo de Equiparação 1940, v.2, p.[41].

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98

Figura 18 Fachada para a Rua Domingos de Moraes - Vila Mariana

Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)

Se por um lado a imagem acima remete ao grande investimento financeiro feito

pela congregação, a fotografia abaixo nos levaria por outro caminho, temos informações

sobre as vinculações políticas com as quais a instituição dialogava. Como paraninfo da

turma de 1939 seria escolhido o interventor federal131 Adhemar de Barros (1901-1969),

nomeado por Getúlio Vargas, e que se encontrava ao centro da imagem (Figura 19).

O envio dessa foto para o ministério é uma clara demonstração simbólica de

poder, e na qual se registra a proximidade da instituição aos quadros políticos paulistas,

e não somente com esses, mas também com importantes personalidades do laicato

católico como, por exemplo, Alceu de Amoroso Lima (1893-1983), um dos mais

importantes intelectuais católicos dos anos 1930, forte opositor dos “escolanovistas” e

paraninfo da turma de 1937.

131

Cargo equivalente a governador do estado, só que o acesso a esse ocorria de forma indireta, a partir da

indicação do presidente da República.

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Figura 19 Festa dos diplomandos

Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)

A ausência percebida em 1933 com relação à Sala de geografia não se repetiria

em 1940, pois agora a instituição realmente possuía esse espaço (Figura 20). Nela

seriam disponibilizados mapas físicos, políticos, quadros com mapas em alto relevo,

globos terrestres, quadros parietais, amostras de madeiras, minerais, representação do

sistema solar, etc e, além disso, fora idealizada uma estrutura que facilitava a fixação

dos mapas nas paredes.

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100

Figura 20 Sala de Geografia

Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)

No decreto “sem número” há poucas orientações com relação ao mobiliário e à

disposição interna das salas especiais, e muitas no que diz respeito aos recursos que

estas deveriam possuir, por isso se abria para os Colégios a possibilidade de adaptarem

esses espaços de acordo com aquilo que acreditavam ser o mais adequado ou, o mais

viável economicamente, pois a compra de instrumentos e demais itens exigia um

investimento significativo.

Minhoto (2007) e Dallabrida (2009) apontam que o currículo prescrito pela

Francisco Campos privilegiaria os conhecimentos científicos. A opção pelas Ciências

Físicas e Naturais estava também atrelada à necessidade de um rompimento radical com

a tradição humanista do ensino secundário brasileiro, e ao mesmo tempo existia a

preocupação em preparar indivíduos que conseguissem lidar com as “novas

necessidades do mundo que se modernizava rapidamente” (MINHOTO, 2007, p.141).

Esse panorama explica porque os espaços dedicados a esses ramos do saber

receberiam uma atenção especial nas prescrições do decreto “sem número”, e com

relação aos quais não se localizou similaridades com os referenciais americanos.

Na Figura 21 temos uma parte do acervo do Gabinete de Física, que outrora era

armazenado em estantes abertas e dispostas ao redor das paredes de uma das salas de

aula da Avenida Tiradentes. Na nova sede este ganharia um espaço fechado no qual se

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evitaria o contato direto desses objetos com os alunos. A opção pela guarda dos

instrumentos em vitrines garantia visualidade sem, entretanto, facultar fácil acesso aos

itens, pois este ficava numa parte do gabinete, cujo acesso era restrito.

Figura 21

Gabinete de Física (parte do acervo)

Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)

O laboratório de Química possuía as duas divisões principais, no entanto,

naquele espaço optou-se pela disposição das cadeiras em níveis diferentes, tal qual num

auditório, e a mesa de demonstrações posicionada à frente da plateia (Figura 22).

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102

Figura 22 Laboratório de Química

Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)

O antigo espaço onde se encontrava armazenada a coleção de História Natural, e

com ares de depósito, seria bem diferente na Vila Mariana, pois o Colégio optaria por

uma disposição mais "museológica", sendo que esse passaria a ser conhecido como

Museu de História Natural (Figura 23).

As estantes desse espaço eram compostas por prateleiras divididas ao meio e que

por isso possibilitavam o armazenamento de objetos de tamanhos diferentes dentro dos

armários, de uma pedra a um esqueleto humano, além disso, possuíam laterais

envidraçadas que possibilitavam aos alunos a observação de um determinado item a

partir múltiplos ângulos, sem que houvesse a necessidade de manipular diretamente o

acervo e as persianas internas garantiam uma entrada moderada de luz.

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103

Figura 23 Museu de História Natural

Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)

No elucidário de 1940 ao serem apresentados as fotos dos ambientes do Colégio

e o cuidado com que estes foram constituídos e organizados tem-se uma clara

demonstração daquilo que foi percebido por Abreu (2010, p.294), quando esta afirmaria

ter sido uma das pretensões dos padrões vinculados à Reforma Francisco Campos

colocar fim ao improviso das estruturas dos ginásios, que antes se preocupavam

somente em ajustar mais ou menos os edifícios para as atividades escolares.

3.2 Os inspetores federais

Em 1926 registrou-se pela primeira vez a presença de um inspetor federal no

Arquidiocesano. O Dr. José Alberto Granadeiro Guimarães Junior foi nomeado pelo

Departamento Nacional do Ensino para organizar as juntas examinadoras dos exames

oficiais e seu relatório seria publicado, acredita-se que integralmente, na revista Ecos.

Esse relatório fora enviado para o então diretor do Departamento Nacional de

Ensino, o Dr. Rocha Vaz, e era composto por um histórico, uma descrição da estrutura

física. Além disso, nele o inspetor faria considerações sobre o método de ensino

baseado na “Intuição e na Educação dos Sentidos”, destacando também o museu de

História Natural e o laboratório de Física, além afirmar que os Irmãos Maristas seguiam

à risca as prescrições do Governo (Ecos, 1927, pp.13-22).

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Os Irmãos não acompanhavam somente as orientações legais, mas também

observavam e divulgavam regularmente, informações sobre as mudanças nos quadros

políticos dos órgãos relacionados à Educação, como num determinado excerto onde se

destaca ter sido “(...) nomeado Delegado Geral para o estado de São Paulo o muito

estimado Dr. Almeirindo M. Gonçalves” (Ecos, 1930, p.35). O Colégio possuía

proximidade com o delegado geral, uma vez ter esse atuado junto ao Colégio como

inspetor federal e retornaria num outro momento à instituição, em 2 de outubro de 1930,

acompanhado por Carlos Braga, pois ambos foram encarregados pelo Departamento

Nacional de Ensino de vistoriar os gabinetes de Física, Química e História Natural dos

colégios, pois se havia solicitado Juntas Examinadoras132, e conforme registro os dois

ficaram impressionados com relação aos espaços visitados (Ecos, 1930, p.80).

Os registros na Ecos até 1928 geralmente retratam os inspetores federais como

estreitamente vinculados à organização e á aplicação das provas dos exames oficiais,

talvez outro modo de fiscalizar os colégios, pois com o fim das equiparações também

cessaria o envio dos relatórios semestrais e a presença “constante” dos delegados

fiscais.

O Colégio eventualmente recebia, além dos inspetores, a visita de pessoas

ligadas ao Departamento Nacional Ensino, como em setembro de 1929, ano em que os

Irmãos iniciaram as obras da sede na Vila Mariana. O Dr. Pedro Carlos da Silva, era

chefe de seção133 no Departamento e estava participando de um congresso em São

Paulo, mas não há informações sobre como ele chegou até o Colégio, no entanto, sabe-

se que ele ficaria impressionado com os Gabinetes de Física, Química e História

Natural, principalmente por ter encontrado ali uma grande quantidade de itens (Ecos,

1929, p.46).

Na Reforma Francisco Campos se instituiu a criação de um serviço de inspeção,

subordinado ao Departamento Nacional do Ensino, sendo os inspetores nomeados por

132

O decreto nº 16.782 de 13 de janeiro de 1925, “Reforma Rocha Vaz”, permitia a realização de exames

oficiais dentro do próprio Colégio, por isso eram montadas juntas examinadoras sendo es tas compostas

por “três membros de reconhecida competência didática nas matérias que tiverem de examinar”. Para

conseguir autorização para a organização das juntas era observado o artigo 270 que fixava como

exigências “ser a concessão proposta pelo diretor geral do Departamento Nacional do Ensino e deferida

pelo Ministro da Justiça e Negócios Interiores, provar que o estabelecimento dispõe de corpo docente

idôneo e observar nos seus cursos programa igual ao do Colégio Pedro II, depositar a quantia necessária

para a remuneração dos membros das juntas examinadores e do respectivo fiscal, observar as prescrições

constantes do regimento interno do Departamento Nacional do Ensino”. 133

A revista Ecos não especifica a qual seção estava vinculado esse funcionário do Departamento

Nacional de Ensino.

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105

concurso, entretanto, estes só poderiam fiscalizar um mesmo colégio durante três anos,

findo os quais eram obrigatoriamente designados para outra escola.

Nos artigos de 55 a 57 do decreto 19.890 de 18 de abril de 1931, foram definidas

quais as atividades a ser desenvolvidas pelos inspetores: relatórios mensais, dois

relatórios anuais com considerações sobre métodos, assiduidade de alunos e

professores, e sugestões de melhorias; assistir às atividades escolares (aulas, exercícios

práticos, demonstrações); definir os temas das arguições, acompanhar e coordenar a

realização das provas, bem como a atribuição das notas. Apesar de não sinalizado no

decreto de 1931, sabe-se também que os inspetores seriam os responsáveis pela

elaboração periódica dos elucidários.

As funções dos inspetores determinadas por meio da reforma indicariam a

preocupação do governo em acompanhar também a ação pedagógica dos colégios, o

outro lado da moeda, uma vez que por meio do decreto “sem número” de 1932 ficaria

explícita sua atenção com relação à adequação física dos edifícios escolares, no entanto,

para que se pudessem avaliar criteriosamente todas as áreas do conhecimento esse

profissional deveria ser um profundo conhecedor de todos os ramos do ensino

secundário (SILVA, 1969, p.291).

Os diretores de um colégio, e seu representante direto, o secretário escolar,

sabiam muito bem o que significava manter boas relações com um inspetor, e esses por

sua vez tinham pleno conhecimento de seu poder e influência junto ao instituto sobre

sua fiscalização, no entanto, havia uma questão delicada entre ambos, o pagamento dos

honorários era realizado pelo colégio. No entanto, tais valores eram depositados aos

cuidados do MESP que somente pagava o inspetor após o envio dos relatórios mensais,

cuja composição era variada, e para a montagem desses havia dependência das

informações fornecidas pelo Colégio, ou seja, a Secretaria poderia facilitar muito o

trabalho do representante do ministério e com isso se criava uma relação de

interdependência que beneficiaria todos os envolvidos, caso se mantivesse de forma

harmoniosa.

No Arquidiocesano, inspetores federais e secretários tinham seus livros de ata e

neles registravam o andamento dos trabalhos burocráticos (emissão de certificados,

transferências, entregas de documentações, organização de provas, etc), e por meio

desse tipo de documentação é que se identifica como realmente eram realizadas as

atividades de fiscalização, sendo importante destacar que os registros feitos pela

Secretaria também eram alvo de verificação.

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De um modo geral os relatórios eram quase sempre confeccionados pelo

secretário, e ao inspetor cabia somente verificar se todos os itens estavam em ordem, e

se procederia ao encaminhamento pelo correio das informações solicitadas pelo

ministério, envio esse também feito pelo Colégio. A presença “constante” dos

inspetores também não parece tão ostensiva assim, pois é significativo o número de

lacunas ou registros genéricos, algo diverso quando se analisa a diligência desses

quando eram aplicados provas e exames sob os quais tinham responsabilidade direta.

Dr. Manuel do Carmo, Padre Antonio Luis Florêncio Ráo, Dr. Augusto Leal

Barros, Padre Heliodoro Pires, Dr. Helio Cyrino da Silva, Dr. Ubaldo da Costa Leite,

foram os inspetores que acompanharam o Colégio entre 1931 e 1940, e a passagem

deles pela instituição nem sempre se mostraria tranquila.

Dr. Manuel do Carmo acompanharia o requerimento da equiparação junto ao

MESP, e por suas boas relações com o Arquidiocesano redigiria o elucidário graças ao

qual seriam reconquistados os benefícios da equiparação.

Na Ecos temos referências sempre elogiosas à atuação do Dr. Manuel do Carmo,

este seria chamado de "amigo sincero", "guia seguro", "judicioso", "criterioso",

"competente" e era considerada uma pessoa de trato ameno. Chama a atenção o

destaque que esse receberia nas situações mais diversas, como por exemplo, no enterro

do Ir. José Borges, reitor do Arquidiocesano, ou com relação à leitura de poesias de sua

"própria lavra" durante a recepção de políticos, no entanto, essa postura do Colégio com

relação aos seus sucessores seria bem mais tímida, um indicativo de que talvez esses

não tenham sido tão afáveis.

E seria justamente o Dr. Manuel do Carmo quem registraria uma situação

delicada entre o Colégio e o governo federal.

Em 1932, ano da Revolução Constitucionalista, seria convidado como paraninfo

da turma de bacharelandos o Dr. Morais de Andrade, ilustre cidadão paulistano e que

esteve vinculado ao movimento revolucionário. Conforme a praxe da colação de grau

este falaria sobre a excelente educação oferecida pelos Maristas, a importância do

catolicismo enquanto religião de unidade nacional, a esperança nos jovens e sua

obrigação para com a sociedade, no entanto, ao finalizar seu discurso acabaria

resvalando em questões políticas, em especial no que dizia respeito ao dever de todos os

paulistas em "defender, dar a vida se for preciso, para o bem do nosso São Paulo, dentro

do Brasil" (Ecos, 1932, p.[34]). Por conta desse convite feito aos jovens para que esses

lutassem pelo estado de São Paulo contra o governo federal, caso isso fosse preciso, o

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107

Dr. Manuel do Carmo se sentiria profundamente ofendido e registraria em seu livro de

visitas134:

Deixo aqui [registrado] o meu protesto pela maneira pouco gentil com que foi tratado o representante do Sr. Ministro da Educação na pessoa do seu representante, o Inspetor Federal junto ao Colégio Arquidiocesano. Lanço também o meu protesto relativamente ao discurso do Paraninfo, o meu particular amigo, Dr. Moraes de Andrade que aproveitou a solenidade para se extender em explorações políticas no final do seu discurso procurando desvirtuar a ação do Governo Federal para com S. Paulo, e buscando indispor a mocidade paulista com o resto do Brasil. A atitude da Diretoria do Colégio, não tratando com a cortesia que é devida ao representante do Governo Federal merece censuras, o que deixo aqui expresso neste termo. Estranhei a atitude da direção tanto mais quanto, em particular, sempre houve grande e mútua cordialidade entre o Inspetor e a Direção do Colégio. Nunca poderia supor que houvesse falta de sinceridade nas manifestações de gentileza com que era recebido o Inspetor em particular e a sós. Em frente ao grande público que enchia o salão de festas o que se quis foi fazer parecer que o Colégio não tinha ligações com o governo federal!

135

A fala do inspetor traz muitos elementos com relação ao poderio com os quais

estes estavam imbuídos pelo governo federal, ao qual o Colégio devia reverência e

submissão. Um inspetor federal colocava-se como um representante direto da mais alta

autoridade do MESP, ou seja, um braço direto do próprio ministro. Essa é uma das

poucas situações onde se perceberia mais claramente um posicionamento político da

instituição, que alinhada à Arquidiocese de São Paulo se mostrava favorável à

Revolução de 1932, pois nada era publicado na revista Ecos sem o consentimento de

seus diretores.

Os registros das visitas dos inspetores permitiram identificar que durante algum

tempo estes se fizeram presentes dentro das salas de aulas e fariam referências aos

métodos utilizados pelos professores para o ensino. Essa postura, entretanto, vai aos

poucos desaparecendo e esses profissionais se dedicariam, quase exclusivamente, a

cuidar dos aspectos administrativos relativos à fiscalização que incluíam a definição de

calendários para as provas, organização da aplicação dos exames, assinaturas de

134

Livro no qual os inspetores federais anotavam suas atividades, quase diárias, junto ao Arquidiocesano. 135

Livro de visitas do inspetor federal (pp.52-53)

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documentos, preenchimentos de relatórios, encaminhamento de orientações recebidas

do MESP, definições de comemorações cívicas, etc.

Alguns inspetores são descritos como extremamente severos e enérgicos, como

foi o caso do Sr. Dr. Helio Cyrino que teria vida breve junto ao Colégio, pois

fiscalizaria a instituição entre 1938 e 1939. Esse curto período de vinculação de um

inspetor ao Colégio, nos remete, ao que foi percebido por Minhoto (2007, p.149) com

relação aos inspetores que observavam rigidamente as prescrições legais e acabavam

por isso mesmo sendo mal vistos pela diretoria do Colégio, e pressionados a solicitarem

transferência para outra escola. Apesar de não citar nomes, sabe-se que esta

pesquisadora deparou-se com registros do conflito ocorrido entre o inspetor Padre

Antonio Luis Florêncio Ráo e a diretoria do Arquidiocesano.

O Padre Antonio, faria no livro de visitas uma série de queixas com relação a

não observância dos procedimentos legais da parte do Colégio, reclamaria diversas

vezes ter sido impedido de desempenhar condignamente suas atividades, e se indisporia

com a instituição causando com isso choque entre as esferas políticas e religiosas, pois

na relação entre inspetor e Arquidiocesano estavam envolvidos indivíduos que faziam

parte do corpo da Igreja Católica. Numa anotação de 1937 esse inspetor registaria que

Ao terminar este termo de visita, lanço meu enérgico protesto na qualidade de Inspector Federal e portanto na qualidade de representante do Governo da União junto a este conceituado collegio, pelo modo insólito que foi tratado o Inspector Federal, durante este anno lectivo, quer notando-se nos programmas das festas nenhuma mensão ao representante do governo federal, que pelo modo indelicado de convidar uma autoridade mandando entregar convite para formatura por intermédio do porteiro da casa não tendo comparecido á mesma em signal de protesto. Repito ainda meu protesto pelo facto grave de, no quadro de formatura, o representante do Governo, o Inspector Federal, ser colocado em ultimo logar no lado de honra demonstrando mais

uma vez publicamente o descaso pelas autoridades136.

Levando-se em considerações os argumentos do inspetor federal, é possível

identificar que a diretoria do Arquidiocesano, geralmente diplomática, decidiu indispor-

se deliberadamente com o Padre Antonio, possivelmente uma estratégia para que esse se

desligasse do Colégio.

136

Livro de Visitas do Inspector Federal (pp.190-191).

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A direção não falaria abertamente sobre o alívio causado pela saída do Padre

Antonio em 1938, no entanto, ao receber o sucessor deste indicaria ter sido

"agradavelmente surpreendida com o auspicioso acontecimento" (Ecos, 1938, p.12).

Outro instrumento utilizado pelo ministério para manter em funcionamento a

estrutura de fiscalização foram as circulares e os telegramas, e estas eram responsáveis

por orientar a ação dos inspetores em questões pontuais. Essas indicações tratariam de

diversos temas, como por exemplo, valores das taxas dos certificados, atenção com

relação ao envio dos relatórios mensais, determinações sobre quais os trajes deveriam

ser utilizados durante as aulas de Educação Física, etc.

Ao confiar a fiscalização nas mãos de uma única pessoa durante um período que

poderia chegar a três anos, o governo federal criava condições para que os inspetores

pudessem ser influenciados e pressionados por um colégio equiparado. De acordo com

Silva (1969, p.262), a estrutura idealizada por Francisco Campos não conseguiria ser

instituída plenamente, por conta de alguns fatores tais como: caráter centralizador do

processo em detrimento da dimensão do território brasileiro, ter constituída uma mesma

estrutura para acompanhar colégios privados e públicos, falta de pessoal qualificado

para uma verificação criteriosa dos ginásios e a ampliação no aumento das escolas de

ensino secundário. No caso do Arquidiocesano, foi possível identificar que a estrutura

da reforma aparentemente se mostrou bastante concreta pelos menos até 1940, no

entanto, a eficácia e a qualidade da fiscalização oscilariam muito de inspetor para

inspetor.

3.3 As salas de aula

O prédio da Vila Mariana encontra-se no mesmo local onde começara a ser

erigido em 1929, no entanto, se no início de seu funcionamento a intenção era atender

no máximo 400 alunos atualmente este número mostra-se bem mais significativo. Para

conseguir dar conta de uma demanda cada vez maior de estudantes foram necessárias

sucessivas readequações de um prédio idealizado para um número pequeno de alunos e

focado no regime de internato.

Quem entra em 2013 no prédio do Arquidiocesano ainda consegue perceber

muitos dos elementos dos anos 1930, como por exemplo, a forma do prédio que auxilia

na dispersão do som e ao mesmo tempo garante uma constante circulação de ar, também

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110

estão ali os grandes arcos e colunas, o pórtico neoclássico da entrada principal, as

pesadas portas entalhadas e a própria amplitude do edifício.

Nem todos os espaços foram remodelados, a capela permanece até hoje com os

mesmos vitrais, a portaria central ainda exibe os mesmos móveis desde 1937 e também,

graças às plantas enviadas para o MESP nos anos 1940 foi possível identificar que as

salas de aula constituem um espaço remanescente, pois muitas mantiveram desde o

início das atividades na nova sede a mesma disposição e por esse motivo, optou-se por

analisá-las.

Como se pode supor os mobiliários não são mais compostos pela carteira de

madeira e ferro dos anos 1930/1940 (Figura 24), pois estas foram gradativamente

substituídas por móveis que permitem o ajuste à altura dos alunos de diversas faixas

etárias, que dividem em horários alternados os mesmos locais, algo diverso daquilo que

se pretendia quando o prédio foi construído, pois a estrutura foi desenhada de tal forma

que grupos de diferentes idades tivessem o mínimo de contato.

Figura 24 Sala de aula

Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)

Tomando como referência as prescrições do decreto “sem número” e com

relação ao que encontramos em anotações manuscritas no livreto encontrado no acervo

do MCMA, Serviço de inspeção dos estabelecimentos de ensino secundário (1932),

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111

podemos perceber quais itens foram considerados relevantes para o Colégio,

lembrando-se que quando essas prescrições foram publicadas uma boa parte do edifício

novo já havia sido construída, incluindo as paredes externas e aquelas que dão para o

pátio localizado no centro do edifício.

As salas de aulas "originais" ainda possuem forma retangular, as janelas

localizam-se na parte mais comprida, e essas não excedem muito 3 metros de altura, o

suficiente para garantir iluminação natural e circulação de ar. Essas salas são as que

apresentam o melhor isolamento acústico, seja com relação aos sons exteriores ou

àqueles vindos das salas vizinhas, além disso, a profundidade é suficiente para que o

professor seja ouvido igualmente por todos os alunos sem a necessidade de aumentar o

tom de voz.

Por meio das anotações realizadas, possivelmente pelo secretário escolar, no

livreto de 1932 é possível perceber os aspectos que exigiram maior atenção do Colégio:

forma, largura e profundidade das salas de aula, tamanho dos quadros negros,

posicionamento dos quadros negros de tal forma a se evitar reflexo e altura do parapeito

das salas de aula (deveria ser alto). A altura do peitoril não era clara nas prescrições de

1932, e essa dúvida foi registrada no livreto. No entanto, como havia a necessidade de

definir esse item, a escola optaria por uma altura 1,10m que, segundo o inspetor federal

Dr. Ubaldo da Costa Leite, responsável pela elaboração do elucidário de 1940, era a

“média entre a altura usada na Bélgica: 1,40m e Suíça 1,00m137, frase essa que indica a

existência e a circulação de informações com relação a parâmetros para edifícios

escolares”.

O único grande problema encontrado em 1940 pelo Dr. Ubaldo com relação às

salas de aula foi um grande número de alunos por m2, pois a nota mais alta obtida pelo

Colégio foi 8 (oito).

137

Processo de Equiparação 1940, v.2, p.51.

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112

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As percepções presentes nesse trabalho levaram em consideração

especificamente as informações obtidas por meio dos documentos relativos à

equiparação do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, por isso não se pode

afirmar que todos os colégios secundários brasileiros, sejam estes católicos ou não, se

interessaram por essas questões, tentaram obter tais prerrogativas legais, ou seja, há uma

série de desdobramentos possíveis em relação aos quais a presente pesquisa pode não

trazer elementos suficientes.

No entanto, percebeu-se ser válido debruçar-se sobre a experiência dessa

instituição em particular devido ao seu posicionamento na história da educação católica

na cidade de São Paulo, e por acreditar que sua trajetória auxiliaria de alguma maneira

na ampliação do entendimento sobre como os administradores do Colégio, em especial

os Irmãos Maristas, lidaram com os ditos "novos" tempos da educação, bem como seu

posicionamento com relação às legislações educacionais que atingiram o ensino

secundário brasileiro.

Apesar de muito diferentes com relação à sua organização e nível de exigência,

quando, por exemplo, comparamos as orientações com relação aos aspectos estruturais

dos edifícios escolares, a feição da fiscalização e a presença das coleções didáticas, as

equiparações de 1900 e 1934 teriam como traço comum a necessidade do

reconhecimento oficial de qualidade de ensino, sendo este entendido como símbolo de

distinção social e também de privilégio com relação ao acesso à educação de nível

superior.

Para o Colégio era imprescindível diferenciar-se de seus concorrentes para além

de questões de ordem financeira ou religiosa. Muito embora os Irmãos Maristas, quando

a lei possibilitou, oferecessem cursos preparatórios para os exames parcelados, fizeram

do estatuto da equiparação um objeto de desejo, mesmo nos momentos quando a

legislação não permitia tal possibilidade aos colégios particulares. É possível inferir que

a equiparação era um diferencial para quem se dispunha a permanecer dentro de um

colégio interno. A escolha deste tipo de ensino leva em conta não apenas o caráter

propedêutico do curso, amplamente divulgado como característica do ensino

secundário, mas também a vivência escolar, reclusa pela sequência dos anos, o que

torna pertinente a permanência no ensino secundário em uma escola com reconhecida

qualidade.

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113

O processo de equiparação empreendido pelos Irmãos Maristas nos anos 1930

contou, num primeiro momento, com a ajuda e amizade do inspetor federal que atuou

como facilitador dos procedimentos governamentais, inclusive apontando e utilizando

as brechas dos decretos relacionados à Reforma Francisco Campos para que o pleito do

Colégio fosse bem sucedido, indicando os meandros que contornavam os procedimentos

oficiais. Identificou-se que a relação entre os dirigentes do colégio e os inspetores nem

sempre eram amistosas, mas que inspetores tidos como inconvenientes poderiam ser

substituídos, levando-se em conta, as relações sociais entre os responsáveis pelo

Colégio e os quadros mandatários, tais como: a hierarquia eclesiástica, autoridades na

esfera pública federal e políticos.

No dia a dia do Colégio percebeu-se que a interferência direta do inspetor

federal foi se alterando. Primeiro, tinha uma presença mais ostensiva em sala de aula,

pois acompanhava as explanações dos professores e os recursos utilizados no

desenvolvimento dessas atividades, depois, ela seria cada vez mais rara e este se

dedicaria à resolução de questões burocráticas, tais como organização da aplicação de

provas e exames, a emissão de certificados, assinatura de guias de transferência,

organização de relatórios, etc.

A influência do governo federal se fazia sentir mais explicitamente na sala de

aula, por meio da imposição do currículo da instituição modelar, o Colégio Pedro II,

pelas orientações com relação aos atos em homenagem ao falecimento de

personalidades ilustres, comemorações de datas de nascimento (ou morte) de autores da

literatura nacional, destaques para a vida dos grandes vultos da história do Brasil,

celebrações de datas cívicas, atividades essas que chegavam aos colégios por meio de

telegramas com sugestões de ações. Essa correspondência era geralmente transcrita

pelos inspetores federais do Arquidiocesano em seus respectivos livro de atas.

A diversidade de itens que integram a documentação da equiparação, composta

por requerimentos, fichas de classificação, relatórios, fotografias dos espaços escolares,

descrição com relação aos usos dos ambientes, inventários dos materiais didáticos etc.,

foi organizada no colégio levando em conta o desenvolvimento da legislação, cuja

principal intenção era garantir o controle do governo federal sobre a qualidade do

ensino secundário. Esta qualidade está representada em grande parte pelas condições

estruturais ideais para a aprendizagem. Percebeu-se uma grande ênfase às diretrizes

voltadas às edificações escolares. Foi possível identificar a circulação de ideias no

campo educacional graças à criação das fichas de classificação que foram adaptadas a

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partir das pesquisas desenvolvidas pelos americanos Strayer e Engelhardt, membros do

Teacher´s College (Columbia University).

Um dos mais importantes e trabalhosos procedimentos relacionados à

fiscalização do governo federal, o elucidário para a ficha de classificação, e sua

relevância, deve-se ao fato deste ser a única ferramenta por meio da qual se avaliava e

classificava a estrutura dos colégios equiparados. Se por um lado esse elucidário

oferecia informações sobre as condições dos prédios escolares e suas questões

organizacionais, seria por meio dos relatórios mensais que os órgãos responsáveis pela

fiscalização do ensino secundário acompanhariam o andamento das atividades

educacionais, bem como o desempenho dos alunos. Por conta do atrelamento do

pagamento dos honorários dos inspetores ao envio deste documento, percebeu-se que

ele ocorria quase que invariavelmente dentro do prazo prescrito pelo governo. Portanto,

além de relações amistosas entre os responsáveis pelo Colégio e os inspetores federais,

havia questões de ordem financeira, já que para manter-se “equiparado” era necessário

um constante repasse de verbas para o MESP para que fossem mantidas as atividades de

inspeção.

Após a obtenção da equiparação um instituto de ensino secundário deveria

preocupar-se essencialmente em continuar atento às diretrizes emanadas do MESP.

Grande parte do sucesso da manutenção estava atrelada à constituição de uma relação

cordial e próxima com o inspetor federal, algo nem sempre possível, mas certamente

desejável.

A construção da sede da Vila Mariana demonstraria que o conhecimento dos

Irmãos Maristas com relação à construção e adequação de prédios escolares dialogava

com os padrões definidos pelos MESP sendo estes os representantes de “modernas”

concepções de espaços escolares. Verificou-se que essas concepções também estavam

descritas nos documentos da própria congregação, o que demonstra que a ideia de

construções especialmente arquitetadas para o ensino circulou em vários segmentos

sociais preocupados com o ensino.

É possível afirmar que a valorização dos espaços para o ensino das ciências

naturais, bem como a aquisição de material escolar específico às disciplinas de Física,

Química e História Natural eram elementos importantes para o processo de equiparação.

A Reforma Francisco Campos acabou por estabelecer uma estruturação muito bem

arquitetada de gabinetes, laboratórios e museus escolares.

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Os administradores do Arquidiocesano nos anos 1930 se mostrariam cautelosos

com relação às questões políticas de ordem nacional, isso se levarmos em consideração

os posicionamentos críticos da diretoria da instituição com relação às reformas

educacionais encontradas nas edições da Ecos, em especial entre 1911 e 1928, feitos

sempre de maneira indireta. Apesar desse “silêncio” ganhariam espaço na revista

institucional notícias que falavam sobre as grandes manifestações organizadas pelos

católicos, tais como o Congresso Eucarístico (1934), realizado em Buenos Aires, e

apontado como um evento de forte caráter missionário, informações sobre a expansão

do catolicismo no mundo em especial Ásia e África, dentre outros. Acontecimentos

"contestadores" como, por exemplo, a Revolta da Chibata (1910), as greves operárias

(1917), a Semana de Arte Moderna (1922), o Manifesto dos Pioneiros da Educação

Nova (1932), sequer ganhariam espaço nas páginas da revista Ecos.

Para os Irmãos Maristas o colégio Arquidiocesano configurou-se como um grande

argumento e o veículo por meio do qual seria construído todo um imaginário de glórias, honra,

prestígio e era uma instituição na qual a forma “própria” de educar estava alinhada àquilo em

que se acreditava como o mais contemporâneo na área educacional, acompanhado por preceitos

católicos e uma garantia para a inserção de seus antigos alunos nos mais altos cargos

mandatários.

Nas publicações institucionais cada vez mais se destacaria o sucesso e a

ascensão social dos antigos alunos e muito desse êxito vincula-se ao fato deles terem

sido formados numa instituição católica, e que sempre fez questão de manter o crivo de

equiparada, mesmo que a legislação já não mais permitisse tal coisa. Além dos

conhecimentos acadêmicos preocupava-se também com a formação moral, vinculada à

religião, sem a qual a moral era considerada esvaziada de sentido.

Esses educadores católicos, geralmente representados como excepcionais, destemidos,

virtuosos, modernos, “eleitos”, abnegados e ardorosos defensores da educação da juventude,

podem ser enxergados como pragmáticos dentro da documentação da equiparação, no sentido

de que planejam com rigor os seus atos, buscando soluções objetivas. Eles buscaram atingir as

diretrizes da lei com relativa austeridade. No aspecto formal voltado à estruturação do colégio,

seguiram as normas com quase exatidão, mas não foram puristas no sentido político, já que se

utilizaram do compadrio para formalizar um caminho seguro, pelas sinuosidades da lei para a

desejada equiparação definitiva.

Não seriam localizados na Ecos grandes textos nos quais os imãos-professores se

posicionariam de forma explícita com relação aos acirrados debates pedagógicos dos anos 1930,

período do dito conflito ideológico entre católicos e "pioneiros". Os paraninfos, antigos alunos e

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116

autoridades eclesiásticas davam o tom político da revista, ou seja, a instituição se utilizava do

posicionamento dessas personalidades para indiretamente apresentar o posicionamento oficial

do Colégio. Dentro da perspectiva de um Estado laico, entendido aqui como posicionamento

neutro em relação à condução religiosa, a postura do Colégio era a de destacar a importância do

catolicismo como elemento de união nacional, sua posição como Fé verdadeira, doutrina voltada

à verdadeira “formação integral”, preparação dos indivíduos para o civismo e com submissão à

ordem jurídica estabelecida.

O Arquidiocesano optou pela defesa dos valores católicos como diferenciais para a

educação dos jovens, mas não abriu mão de estabelecer-se como colégio preocupado com os

aspectos modernizadores apresentados pela legislação. Dentro da instituição ficaria clara a

preocupação em formar alunos católicos exemplares capazes de atender às exigências

acadêmicas, e ao mesmo tempo estar engajados com as demandas da Igreja Católica. A

instituição somente se posicionaria contrária às orientações governamentais quando houvesse

algum tipo de ameaça aos seus privilégios ou à diminuição de prestígio, mas de qualquer

maneira manteria junto aos alunos um processo constante de confirmação da identidade

confessional graças às inúmeras atividades de caráter religioso que ocorriam em paralelo às

orientações governamentais.

Ao final, pode-se dizer que o estatuto da equiparação valeu ao Arquidiocesano como

elemento de poder. Tratava-se de um colégio interno, confessional, católico, masculino, que

passou a se anunciar como um dos mais modernos e bem equipados da cidade, e com

reconhecimento do governo para funcionar como tal.

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125

FONTES

Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo

Processo de Equiparação do Colégio Arquidiocesano de São Paulo (1933-1940)

Serviço de inspeção dos estabelecimentos de ensino secundário (1932)

Leis do ensino secundário e seus comentários (1939) – Dr. Alysson de Abreu

Legislação Brasileira do Ensino secundário (1939) – Adalberto Corrêa Sena

(Técnico de Educação da Divisão de Ensino Secundário);

Livro de visitas do inspetor federal (1931 a 1967);

Livros de ocorrências – Inspetoria Seccional de São Paulo (1938 a 1960)

Termos de visitas dos inspetores federais (1937 a 1938)

Secretaria – Occorrencias diárias (1932-1936)

Diário da Secretaria – Registro das ocorrências diarias (1936-1940)

Ecos (1908-1940)

Provisões (1908)

Arquivo Nacional

Conjunto Documental – Série Educação IE4 – 134

Conjunto Documental – Série Educação IE4 – 193

Conjunto Documental – Série Educação IE4 – 589

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ANEXOS

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ANEXO 1 – QUADRO DESCRITIVO DOCUMENTOS DA EQUIPARAÇÃO DO

COLÉGIO ARQUIDIOCESANO DE SÃO PAULO

Descrição dos documentos obedece a ordem da disposição destes dentro do volume

encadernado.

Ano Qtde. Descrição Observação

Volume

1

(1933)

- -

Apesar de reunidos

em 1933, não se pode

afirmar ser essa a data

de todos os itens que compõem o conjunto.

c1933 1

Folha de apresentação do relatório:

Colégio Arquidiocesano de São Paulo

Relatório enviado ao Departamento Nacional do

Ensino para revisão da “Ficha de classificação” para

obter a “Equiparação Permanente” – 1º de setembro de

1933

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia da fachada do prédio da Avenida

Tiradentes

Omitido o trecho demolido.

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Carta ao Ministro da Educação e Saúde Pública

formalizando pedido de “equiparação permanente”

c1932 1 Foto sala de vista da sede da Avenida

Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Carta endereçada Exmo. Sr. Major Agricola

Bethlem solicitando “revisão da ficha de classificação”

c1932 1 Gráfico resumindo os resultados obtidos nas

cinco divisões principais (I Local, II Edificio, III

Instalações, IV Salas de aula e V Salas especiais

Gráficos não foram

preenchidos

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Foto sala de visita da sede da Avenida

Tiradentes

Ângulo diferente da

primeira imagem

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Ficha de classificação datilografada

Preenchida com

simulação de dados

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Foto sala de visita da sede da Avenida

Tiradentes

Ângulo diferente das

outras imagens do

mesmo ambiente. Elucidário para a ficha

de classificação

c1932 1 Foto sala de visita da sede da Avenida

Tiradentes

Ângulo diferente das

outras imagens do mesmo ambiente

Elucidário para a ficha

de classificação

c1932 1 Dados do Colégio (1. Nome oficial, 2.

Histórico, 3. Organização administrativa)

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Foto de um dos pátios Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Quadro geral da matrícula

Informações sobre

ensino primário e

secundário e da 1ª a 5ª série.

Elucidário para a ficha

de classificação.

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c1932 1 Fotografia da planta de situação, escala 1/250,

da sede da Avenida Tiradentes (executado pelo escritório

de Alvaro de Salles Oliveira)

Informações sobre a

disposição espacial do

prédio e ruas

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Continuação dos dados do Colégio (5. Horários,

6 Organização da escrita financeira, 7 Garantia de

funcionamento 8 Corpo docente

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Foto com a antiga fachada do prédio da Avenida

Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Contrato de trabalho firmado entre o Ir. José

Borges e o Sr. Paulo Mulli, professor de Educação Física

Elucidário para a ficha de classificação.

c1932 1 Contrato de trabalho firmado entre o Ir. José

Borges e o Sr. Luiz Duarte Ventura, professor de

História do Brasil e Física

Elucidário para a ficha de classificação.

c1932 1 Fotografia da planta do 1º andar superior, escala

1/100, da sede da Avenida Tiradentes (executado pelo

escritório de Alvaro de Salles Oliveira)

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 9 Regulamento do Colégio (a. Organização do

Ensino, b. Educação religiosa, c. Educação Física, d.

Educação intelectual e. Condições de admissão

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio

(f. Documentos para matrícula, g. Matrícula no curso

secundário, h. Do regime escolar

Elucidário para a ficha de classificação.

c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio

(i. Diretoria e corpo docente)

Elucidário para a ficha de classificação.

c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio

(j. Deveres dos srs. Professores, k. Horário)

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio

(l. Enxoval, m. Contribuições)

Item contribuições traz

informações sobre os valores pagos pelos

alunos (modalidades

internos, semi internos

e externos)

Elucidário para a ficha de classificação.

c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio

(n. Fornecimentos, o.Dinheiro para uso especial dos

alunos p. Da disciplina q. Da ordem interna r. Emulação)

Item Fornecimentos diz

respeito a pagamentos de serviçioes extras

pagos pelos alunos

(sapataria, compra de

materiais escolares, etc)

Elucidário para a ficha de classificação

c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio

(s. Penas disciplinares e exclusão, t.caderneta escolar, u.

Saidas, v. Visitas

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Continuação dos dados do Colégio (10.

Instalações para internato)

Descrição dos dormitórios. Alunos

divididos em 3 grupos:

Menores – 7 a 12 anos,

Médios – 12 a 16 anos,

Maiores – 16 ou mais. Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1

Continuação dos dados do Colégio (10.

Instalações para internato) – Gabinete médico, Gabinete

dentário, Pequenos serviços, Correspondência com a

família

Descrição dos ambientes e com

relação à

correspondência

informa que essa era

fiscalizada. Elucidário para a ficha

de classificação.

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c1932 1 Fotografia da Secretaria da sede da Avenida

Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia Sala de Estudos da sede da Avenida

Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia coleção de História Natural na sede

da Avenida Tiradentes

Em destaque animais

taxidermizados,

esqueleto e um corpo

“esfolado”. Depósito. Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia coleção de História Natural na sede

da Avenida Tiradentes

Possivelmente um espaço de guarda.

Animais taxidermizados

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia coleção de História Natural na sede

da Avenida Tiradentes

Outro ângulo da

coleção. Possivelmente

um espaço de guarda.

Animais taxidermizados.

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia coleção de quadros parietais e

modelo anatômicos seres vivos da sede da Avenida

Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia sala de aula 5ª série / Coleção dos

instrumentos de Física da sede da Avenida Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1

Ficha de classificação datilografada com as

seguintes informações: nome, endereço, regimes

(internato, externato e semi internato), esgoto,

fornecimento de água, rede elétrica, canalização de gás,

meios de transportes disponíveis

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Elucidário para a ficha de classificação - I.

Situação (Local: salubridade, ausência de ruídos,

ausência de perigos)

c1932 1

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - I. Situação (Local: perturbação da

atenção; Terreno: natureza, permeabilidade do terreno,

regularidade, )

c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de

classificação (Áreas para recreios e abrigos: área livre,

área coberta)

c1932 1 Gráficos referentes à área livre e coberta da sede

da Avenida Tiradentes

Metros por número de

alunos.

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia do refeitório da sede da Avenida

Tiradentes

Elucidário para a ficha de classificação.

c1932 1 Fotografia da cozinha com quatro funcionários

uniformizados da sede da Avenida Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação

c1932 1

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - II. Edifício (Disposição: interna, locação;

Condições gerais: número de pavimentos, material,

entradas )

Locação termo que refere-se à localização e

ao endereço da

instituição

Descrição de cada um

dos itens.

c1932 1

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - II. Edifício (continuação Condições

gerais: escadas, conservação). III. Instalações (extintores

de incêndio, iluminação, caixas d´água)

c1932 1 Fotografia de Simulação aula de química na

sede da Avenida Tiradentes

Elucidário para a ficha de classificação.

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c1932 1 Fotografia de armário com elementos químicos

(Laboratório de Química) na antiga sede da Avenida

Tiradentes

Elucidário para a ficha de classificação.

c1932 1

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - III. Instalações (Asseio e instalações

higiênicas: Asseio geral do prédio, bebedouros,

lavatórios)

Descrição de cada um

dos itens.

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - III. Instalações (Asseio e instalações

higiênicas: mictórios, W.C.), IV. Salas de aulas

(Construção e acabamento: área, forma, isolamento,)

Descrição de cada um

dos itens.

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia com simulação de aula de História

Natural na antiga sede da Avenida Tiradentes

Elucidário para a ficha de classificação.

c1932 1 Fotografia de sala de aula com instrumentos de

Física na antiga sede da Avenida Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - IV. Salas de aulas (Construção e

acabamento: quadros negros, pintura, área de

iluminação)

c1932 1

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - IV. Salas de aulas (Construção e

acabamento: disposições das janelas, acústica,

mobiliário, diversos)

c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático

(auditório ou salão)

c1932 1 Página com gráficos referente a quatro salas de

aulas

Número de alunos X

metragem da sala.

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia solenidade de colação de grau na

sede da Avenida Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Página com gráficos referente a outras quatro

salas de aulas

Número de alunos X metragem da sala

Elucidário para a ficha

de classificação

c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático

(biblioteca, ginásio, sala de geografia)

c1932 1 Fotografia da Biblioteca na sede da Avenida

Tiradentes

Elucidário para a ficha de classificação.

c1932 1 Fotografia do Ginásio na sede da Avenida

Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático.

Descrição dos materiais da sala de geografia

c1932 1

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático.

Descrição dos materiais da sala de geografia (2ª parte) e

Sala de Ciências Físicas e Naturais (com relação dos

materiais didáticos)

c1932 1 Fotografia solenidade de colação de grau na

sede da Avenida Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia de sala de aula com instrumentos de

Física na antiga sede da Avenida Tiradentes

Elucidário para a ficha de classificação.

c1932 1

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático.

Sala de Ciências Físicas e Naturais (continuação da

relação de materiais didáticos)

c1932 1 Fotografia solenidade de colação de grau na Elucidário para a ficha

de classificação.

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sede da Avenida Tiradentes (registro do público presente

à solenidade)

c1932 9

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático.

Laboratório de Física (com relação dos materiais

didáticos)

c1932 4

Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático.

Química (com relação dos equipamentos e elementos

químicos)

c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático.

História Natural (com relação dos materiais didáticos)

c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático.

História Natural (com relação dos materiais didáticos)

c1932 1 Fotografia de aula de Ginástica

Não foi possível

identificar o local.

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 6 Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático.

História Natural (com relação dos materiais didáticos)

c1932 1 Fotografia da ala esquerda do prédio da antiga

sede da Avenida Tiradentes

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático.

Sala de desenho (com relação dos materiais didáticos)

Ausência da descrição

física do espaço

c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de

classificação - V. Salas especiais e material didático.

Sala dos professores e Sala da administração

c1932 1 Fotografia da construção do prédio da Vila

Mariana (Pátio Central)

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia de aula de Ginástica

Não foi possível identificar o local.

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia da construção do prédio da Vila

Mariana (detalhe torre da Capela)

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 1 Fotografia da construção do prédio da Vila

Mariana (Pátio Central)

Elucidário para a ficha

de classificação.

c1932 3 Alguns dados sobre o que será o novo Colégio

Arquidiocesano de São Paulo

Observação elaborado

pelo inspetor federal

Dr. Manuel do Carmo

c1932 1 Fotografia retratando 10 pessoas visitando as

obras da sede do Colégio na Vila Mariana

Dentre elas o Irmão

José Borges (reitor do

Arquidiocesano), Sr.

Luiz Duarte Ventura (prof. História e Física),

membros da Venerável

Ordem Terceira do

Carmo e Irmão Não

identificado

c1932 4 Fotografia da construção do prédio da Vila

Mariana (Pátio Central)

Foto panorâmica.

Elucidário para a ficha

de classificação.

Volume

2

(1940)

- A partir desse volume encontra-se a

documentação devolvida ao Colégio Arquidiocesano

de São Paulo pelo diz respeito aos arquivos dos

Apesar de reunidos

em 1940, não se pode

afirmar ser essa a data

de todos os itens que compõem o conjunto.

c1942 1 Capa com logotipo do Ministério da Educação e

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Saúde (registro de movimentação do processo)

1931 1 Carta da diretoria solicitando fiscalização

preliminar, e as justificativas para a obtenção dessa

Protocolada em 15 de

junho de 1931

1931 2 Relação com o nome do corpo administrativo e

docente

Encaminhada

juntamente com a solicitação da

fiscalização preliminar

1931 1

Carta da diretoria solicitando fiscalização

preliminar (continuação). Consta nessa anotação

manuscrita dando deferimento ao pedido em 15 junho de

1931.

Protocolada em 15 de junho de 1931

1931 1 Carta da diretoria solicitando a equiparação, e

justificativas, para a obtenção dela (nota manuscrita

prescreve o depósito legal referente fiscalização)

Protocolada em 18 de

junho de 1931

1931 2 Relação com o nome do corpo administrativo e

docente/disciplina

Encaminhada

juntamente com a

solicitação de

equiparação

1931 4 Relações com o nome dos alunos matriculados

em 1931

(de 1ª a 5ª série)

Encaminhada

juntamente com a

solicitação de

equiparação

1931 2

Ficha dos dados do Colégio (nome, endereço,

histórico, total de alunos, informações sobre a

administração, contabilidade, garantias de

funcionamento, propriedade, nome do diretor, dados

sobre o edifício, salas de aulas, laboratórios, educação

física, biblioteca)

Formulário que

antecede o uso da ficha

de classificação

c1931 1 Fragmento da capa da revista Echos de 1928

Configuração do prédio com indicação de parte

demolida

c1931 2 Relação do corpo docente, formação e

experiência profissional -

c1935 1 Capa Diretoria Geral de Educação

Superintendência do Ensino Secundário

Com registro da

circulação da

documentação

c1935 13

Elucidário para a ficha de classificação

(composto por descrições das instalações, 6 páginas

revista Ecos, 2 plantas (térreo, escala 1:300 e outra dos

espaços dos recreios, escala 1:500)

Elaborado pelo inspetor

federal Egberto de

Assis Silveira

1934 1 Ficha de classificação preenchida no MESP Frente e verso em

páginas separadas

1935 1 Despacho nº3.686 -

1935 1

Telegrama enviado pelo Director da Divisão do

Ensino Secundário para o director do Colegio

Archidiocesano comunicando aprovação transferência

para sede da Vila Mariana

-

1937 1 Carta do Inspetor Federal Padre Antonio Luiz

Florêncio Ráo encaminhando uma planta do Colégio (3º

pavimento – escala 1:300)

-

c1933 9 Fragmento do regulamento do Colégio

Arquidiocesano

Vistado pelo inspetor federal Dr. Manuel do

Carmo

1933 1 Carta do Colégio solicitando a equiparação

permanente

Na realidade fiscalização

permanente, pois já

havia acabado o período

de dois anos da

fiscalização preliminar.

c1933 1 Ficha da classificação (sede da Avenida

Tiradentes) -

1933 1 Parecer de Agrícola Bethlem, superintendente -

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do ensino secundário, referente contrato de trabalho dos

professores da instituição

1933 1 Despacho nº 7829 composto por dados retirados

do elucidário para a ficha de classificação da Avenida

Tiradentes

Documento traz

informações sobre a circulação desses dados

dentro do MESP

1933 1 Parecer nº 132 emitido pela Comissão de Ensino

Secundário aprovando a solicitação do Colégio

Solicitação de mudança do status do Colégio

para “inspeção

permanente”

1934 1 Cópia do Decreto nº 23.742, de 15 de janeiro de

1934

Concessão da

equiparação.

1940 1 Cópia do telegrama enviado para o Colégio pela

Divisão de Ensino Secundário comunicando a aprovação

da revisão da ficha de classificação (9.572 pontos)

1940 1 Capa “Ficha de classificação – Maio de 1940”

c1940 1 Fotografia do Colégio, bem como parte do

bairro da Vila Mariana

Elucidário para a ficha de classificação

1940 1 Reprodução datilografada do Gráfico resumindo

os resultados obtidos nas cinco divisões principais (em

branco)

Elucidário para a ficha de classificação

c1940 1 Fotografia da fachada principal Elucidário para a ficha

de classificação

1940 2 Reprodução datilografada da Ficha de

classificação

Elucidário para a ficha

de classificação

1939 1 Fotografia do Salão Nobre por ocasião da Festa

de Diplomandos – dezembro de 1939

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 2 Dados do Colégio (1. Nome oficial, 2.

Histórico, 3. Organização administrativa)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Sala de visita Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Dados do Colégio (5. Horário, 6. Organização

da Escrita Financeira)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia de uma das salas de visita Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 2

Dados do Colégio (7. Garantias de

funcionamento, 8. Corpo docente), relação do corpo

docente/nº do certificado de registro junto ao MESP,

relação professores de educação física e música,

continuação dados do Colégio (9. Regulamento)

Elucidário para a ficha de classificação

c1939 1 Fotografia sobre Uma festa de ginástica no

Colégio Arquidiocesano

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 2 Dados do Colégio (9. Regulamento -

continuação)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia sobre Uma demonstração de

ginástica

Elucidário para a ficha de classificação

c1939 7 Dados do Colégio (9. Regulamento -

continuação)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Foto retirada (ref. Fachadas internas e Páteo de

Honra)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Dados do Colégio (10. Instalações para

internato)

Elucidário para a ficha de classificação

c1939 1 Fotografia Um dos quatro dormitórios Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Dados do Colégio (10. Instalações para

internato - continuação)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Gabinete do dentista Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Dados do Colégio (10. Instalações para

internato - continuação)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Sala da Enfermaria Elucidário para a ficha

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de classificação

c1939 1 Fotografia Salão de cabeleireiro Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Dados do Colégio (10. Instalações para

internato - continuação)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Uma das varandas Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Dados do Colégio (Instalações – extintores de

incêndio, iluminação, caixa d´água)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Cosinha Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Dados do Colégio (Instalações – asseio geral do

prédio, bebedouros, lavatórios)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia dos lavatórios dos dormitórios Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Dados do Colégio (Instalações – mictórios,

W.C., salas de aula)

Elucidário para a ficha de classificação

c1939 1 Fotografia Uma sala de aula Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Gráficos área das salas de aula (alunos x m2)

Elucidário para a ficha de classificação

c1939 7 Plantas do Colégio (Escala 1:300, sede Vila

Mariana)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Gráficos área das salas de aula (alunos x m2)

Elucidário para a ficha

de classificação

1940 1 Quadro geral de matrículas Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Gráfico área da sala de aula (alunos x m2)

Elucidário para a ficha de classificação

c1939 1 Dados do Colégio (Instalações – salas de aula,

isolamento salas de aula, quadros negros, pintura, área de

iluminação)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Foto retirada (ref. Fachadas internas e Páteo de

Honra)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Dados do Colégio (Instalações – salas de aula,

disposição das janelas, acústica, mobiliário)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Ficha de classificação (Local, ausência de

ruídos, ausência de perigos)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Um dos quatro pateos de recreio Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Ficha de classificação (Continuação –

perturbação da atenção, terreno, permeabilidade do

terreno, regularidade, áreas para recreio e abrigo)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Batalhão escolar Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – área livre,

área coberta, edifício)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Gráfico área livre x quantidade de alunos Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Gráfico área coberta x quantidade de alunos Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Um dos alpendres Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – locação) Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Capela Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – auditório

ou salão nobre, biblioteca)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Biblioteca dos alunos Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Salão de estudos dos professores Elucidário para a ficha

de classificação

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c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – ginásio e

sala de Geografia)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Gymnasium Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – sala de

Geografia)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Sala de Geografia Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – sala de

Geografia)

Elucidário para a ficha de classificação

c1939 1 Fotografia Um dos cinco salões de estudo Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 2 Ficha de classificação (Continuação – sala de

Ciência Físicas e Naturais)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Parte do Gabinete de Física Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 11 Ficha de classificação (Continuação –

Laboratório de Física)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Ficha de classificação (Continuação –

Laboratório de Química)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Laboratório de Química Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 2 Ficha de classificação (Continuação –

Laboratório de Química)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Sala de História Natural Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 3 Ficha de classificação (História Natural) Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Parte do Museu de História Natural Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 2 Ficha de classificação (Continuação - História

Natural)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Uma Parte do Museu de História

Natural

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 5 Ficha de classificação (Continuação - História

Natural)

Elucidário para a ficha de classificação

c1939 1 Ficha de classificação (Sala de Desenho) Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Diretoria Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Ficha de classificação (Sala dos Professores e

Sala da Administração)

Elucidário para a ficha

de classificação

c1939 1 Fotografia Secretaria Elucidário para a ficha

de classificação

Volume

3

Parte 1

(1940)

- -

Apesar de reunidos

em 1940, não se pode

afirmar ser essa a data de todos os itens que

compõem o conjunto.

c1940 1 Capa Ministério da Educação e Saúde

(Departamento Nacional de Educação / Divisão de

Ensino Secundário)

-

1940 2 Ficha de classificação

1940 1 Encaminhamento para avaliação dos superiores

da pontuação obtida por meio da Ficha de Classificação

Colégio receberia 9.572

pontos e seria enquadrado como

“excelente”

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ANEXO 2 - RESULTADOS INICIAIS DOS LEVANTAMENTOS NO ARQUIVO

NACIONAL

Localização Título Obs.:

BR AN,RIO

2H.0.0.201 Arquivo Nacional. Índice de instrução pública

Fundo 94, I E4 149 (Ministério da

Educação)

Documentação oficial do processo de equiparação

BR AN, RIO 94 Série Educação – Ensino Secundário (IE 4) Data de produção

1852-1944

BR AN, RIO 35.0.PRO.17652

Telegrama de Irmã \maria da Neves\, Aracajú,

Pedindo equiparação Primeiro Ciclo Ginasial #educand rio Imaculada conceição# de Capela.

1944

BR AN, RIO

35.0.PRO.11324

Telegrama do Bispo do Espírito Santo, Vitória, Pedindo solução favorável a Equiparação do

Ginásio Salesiano

1944

BR AN, RIO

35.0.PRO.2929

Carta de irmã Maria A. Lopes, Fortaleza, solicitando a equiparação permanente do

Ginásio Juvenal Carvalho e licença para funcionamento no mesmo do 2º Ciclo do Curso Secundario.

1944

BR AN, RIO 35.0.PRO.6926

Telegrama do Padre Alber de Freitas Santos, Teresinha, pedindo Andamento de Processo de Equiparação Permanente Do gin sio São

Francisco de Sales.

1945

BR AN, RIO RR.0.MSP

Ministério da Educação e Saúde Pública -

BR AN, RIO 35.0.PRO.3662

Carta de Rosilda Mendonça Penha e Outras, São

Luís, solicitando Sejam Afastadas as Dificuldades Criadas Pelo ministério da Educação para o Ginásio Santa Teresa.

1944

BR AN,RIO 50 Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos

1869-1892

BR AN,RIO RR.0.MSP

Ministério da Educação e Saúde Pública -

Fonte: Base de dados do Arquivo Nacional (www.arquivonacional.gov.br)

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ANEXO 3 – MAPA GERAL DOS EXAMES – 1935 (ARQUIVO NACIONAL)

Fonte: IE4 –589 (Arquivo Nacional)

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ANEXO 4 – ATA DE EXAMES DE ADMISSÃO – 1926 (ARQUIVO NACIONAL)

Fonte: IE4 –589 (Arquivo Nacional)

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ANEXO 5 – ATAS DE EXAMES FINAIS (ARQUIVO NACIONAL)

Fonte: IE4 –589 (Arquivo Nacional)

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ANEXO 6 – BOLETINS DO JULGAMENTO DOS EXAMES DE PROMOÇÃO –

1927 (ARQUIVO NACIONAL)

Fonte: IE4 –589 (Arquivo Nacional)

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ANEXO 7 – QUADROS GERAIS DOS BOLETINS DAS PROVAS PARCIAIS

Fonte: IE4 –589 (Arquivo Nacional)

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ANEXO 8 - DECRETO N. 3491 DE 11 DE NOVEMBRO DE 1899

Altera as instrucções

dadas pelo decreto n. 3285, de 20

de maio ultimo, para

reconhecimento dos institutos de

ensino secundario fundados

pelos Estados, associações ou

particulares.

O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil resolve, alterando as

instrucções approvadas pelo decreto n. 3285, de 20 de maio ultimo, para o

reconhecimento dos institutos de ensino secundario fundados pelos Estados, associações

ou particulares, mandar que sejam observadas as que a este acompanham, assignadas

pelo Ministro de Estado da Justiça e Negocios Interiores.

Capital Federal, 11 de novembro de 1899, 11º da Republica.

M. FERRAZ DE

CAMPOS SALLES.

Epitacio da Silva

Pessôa.

Instrucções para o reconhecimento dos institutos de ensino secundario fundados

pelos Estados, associações ou particulares, a que se refere o decreto desta data

Art. 1º Os institutos de ensino secundario que tiverem sido ou venham a ser

equiparados ao Gymnasio Nacional, para o fim de poderem passar certificados de

conclusão de estudos e conferir gráos, ou sómente para a obtenção da primeira destas

regalias, deverão satisfazer as seguintes condições:

I. Constituir um patrimonio de 50 contos de réis, pelo menos, representado por

apolices da divida publica federal e pelo edificio em que funccionar o instituto ou por

qualquer desses valores.

II. Provar uma frequencia nunca inferior a 30 alumnos pelo espaço de dous

annos.

III. Observar o regimen e os programmas de ensino adoptados para o Gymnasio

Nacional.

Paragrapho unico. Nenhuma collectividade particular será admittida a requerer a

equiparação do instituto de instrucção secundaria que houver fundado ou mantiver, sem

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que mostre ter adquirido individualidade propria, constituindo-se como sociedade civil

na forma da lei n. 173, de 10 de setembro de 1893.

Art. 2º As apolices constitutivas do fundo patrimonial do instituto serão

averbadas na Caixa de Amortização, em nome do mesmo instituto, com a clausula de

inalienabilidade.

Art. 3º O predio em que tiver a sua séde o estabelecimento e que constituir, no

todo ou em parte, o patrimonio do instituto, deverá estar seguro em companhia abonada

e desembaraçado de onus cujo valor abranja total ou parcialmente o do patrimonio

fixado em lei, o que provará com certidão do registro geral de hypothecas.

Art. 4º Os institutos particulares de ensino secundario, para obterem a

equiparação ao Gymnasio Nacional, declararão a denominação, séde e fins do

estabelecimento, o nome e a naturalidade dos administradores e da pessoa a cujo cargo

estiver a direcção technica do estabelecimento, e instruirão o pedido com os seguintes

documentos:

I. Certidão do archivamento no registro civil dos estatutos, compromisso ou

contracto social, quando se tratar de associação.

Il. Um exemplar da folha official em que houverem sido publicados por extenso

os estatutos do estabelecimento.

III. Certidão da Caixa de Amortização e do registro geral que provem o

cumprimento da exigencia do art. 2º e ultima do art. 3º destas instrucções.

IV. Laudo judicial de avaliação do edificio escolar.

V. Apolice de seguro do predio escolar ou minuta devidamente authenticada.

Art. 5º Si, á vista dos documentos apresentados, achar-se que a organisação

scientifica do instituto está de accordo com a lei, o Governo designará pessoa de

reconhecida competencia afim de verificar a idoneidade moral e technica do director e

do corpo docente, a existencia de laboratorios, gabinetes e apparelhos necessarios ao

ensino das sciencias physicas e naturaes e a frequencia do estabelecimento não inferior

a 30 alumnos nos dous annos immediatamente anteriores.

Para este fim, os interessados deverão franquear não só os livros e documentos

de matricula, como fornecer as provas de frequencia que forem exigidas. O resultado do

processo deverá ser communicado no Governo, em minucioso relatorio.

Art. 6º Reconhecido o instituto, o Governo nomeará um delegado fiscal de

provada idoneidade, o qual, em relatorios semestraes, exporá quanto houver observado

sobre os programmas o merecimento do ensino, marcha do processo de exames,

natureza das provas exhibidas e finalmente sobre a observancia do regulamento do

Gymnasio Nacional, no que tiver applicação ao instituto equiparado.

Paragrapho unico. A estes delegados incumbe a fiscalização dos exames de

madureza, de que tratam os arts. 20 a 28 do regulamento approvado pelo decreto n.

3251, de 8 de abril de 1899.

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Art. 7º Os delegados fiscaes perceberão a gratificação annual de 2:400$, paga

pelo respectivo instituto, que a recolherá em prestações semestraes á repartição federal

pelo Governo designada.

Art. 8º O Governo retirará as prerogativas e vantagens da equiparação ao

Gymnasio Nacional aos institutos que se afastarem do regimen official de ensino, ou em

que se praticarem abusos quanto á identidade dos alumnos nos exames, ou na colocação

de gráos, e bem assim áquelles em que forem tolerados actos de immoralidade e

incivismo ou que acarretem o abatimento moral do ensino.

a) A concessão será tambem cassada:

I. Quando for dissolvida a sociedade mantenedora do estabelecimento de ensino

ou o proprietario declarar extincto o respectivo estabelecimento.

Il. Quando por dous annos successivos a frequencia não chegar ao minimo legal.

b) Será suspenso o gozo das prerogativas da equiparação.

I. Deixando o proprietario do estabelecimento ou a sociedade de sujeitar ao

exame do delegado fiscal e á approvação do Governo as alterações que fizer nos seus

estatutos ou compromisso, até que satisfaça essa obrigação.

Il. Baixando a frequencia a menos de 30 alumnos durante mais de um semestre.

III. Deixando de renovar o seguro do predio em que estiver a séde do

estabelecimento, quando elle constituir no todo ou em parte o fundo patrimonial da

sociedade.

IV. Deixando de apresentar ao delegado fiscal annualmente as certidões de que

trata o art. 4º n. 111 destas instrucções.

Paragrapho unico. Só por decreto, e depois de audiencia dos interessados em

inquerito regular, poderá ser cassada a equiparação. O Ministro poderá, porém, por

simples portaria resolver a suspensão, em vista da representação do delegado fiscal, por

tempo não excedente a um anno. Si, dentro do periodo da suspensão, o instituto não

provar ter satisfeito as obrigações que lhe são impostas, ser-lhe-ha cassada a concessão.

Art. 9º Aos institutos creados e custeados pelos Governos estadoaes não se

estendem as obrigações constantes dos ns. l e II do art. 1º, para que possam gozar das

prerogativas do Gymnasio Nacional. Taes prerogativas, porém, só lhes serão

reconhecidas e mantidas, si observarem o regimen e programmas de ensino do mesmo

Gymnasio.

Capital Federal, 11 de novembro de 1899. – Epitacio Pessôa.

Fonte: legis.senado.leg.br/sicon/

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ANEXO 9 – CONTRATO FIRMADO ENTRE A DIOCESE DE SÃO PAULO E

OS IRMÃOS MARISTAS REFERENTE À TRANSFERÊNCIA DO COLÉGIO

DIOCESANO

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Fonte: MCMA

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ANEXO 10 – DECRETO Nº 8.659, DE 5 DE ABRIL DE 1911 (REFORMA

RIVADÁVIA CORRÊA)

Approva a lei Organica do Ensino Superior e do

Fundamental na Republica

O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil, usando da autorização

concedida pelo art. 3º, n. II, da lei n. 2.356, de 31 de dezembro de 1910, resolve approvar, para os institutos de ensino creados pela União e actualmente dependentes do Ministerio da Justiça e Negocios Interiores, a Lei Organica do Ensino Superior e do

Fundamental na Republica, que a este acompanha, assignada pelo ministro de Estado da Justiça e Negocios Interiores.

Rio de Janeiro, 5 de abril de 1911, 90º da Independencia e 23º da Republica.

HERMES R. DA FONSECA.

Rivadavia da Cunha Corrêa.

Lei Organica Superior e do Ensino Fundamental na Republica a que se refere o decreto n. 8.659, desta data

Organização do ensino - Autonomia didactica e administrativa - Institutos de

ensino superior e fundamental - O Conselho Superior do Ensino - O patrimonio, sua constituição e applicação.

Art. 1º A instrucção superior e fundamental, diffundidas pelos institutos creados

pela união, não gosarão de privilegio de qualquer especie.

Art. 2º Os institutos, até agora subordinados ao Ministerio do Interior, serão, de ora em diante, considerados corporações autonomas, tanto do ponto de vista didactico, como do administrativo.

Art. 3º Aos institutos federaes de ensino superior e fundamental é attribuida,

como ás corporações de mão morta, personalidade juridica, para receberem doações, legados o outros bens e administrarem seus patrimonios, não podendo, comtudo, sem

autorização do Governo, alienal-os.

(...)

Art. 5º O Conselho Superior do Ensino, creado pela presente lei, substituirá a funcção fiscal do Estado; estabelecerá as ligações necessarias e imprescindiveis no

regimen de transição que vae da officialização completa do ensino, ora vigente, á sua total independencia futura, entre a União e os estabelecimentos de ensino.

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Art. 6º Pela completa autonomia didactica que lhes é conferida, cabe aos

institutos a organização dos programmas de seus cursos, devendo os do Collegio Pedro II revestir-se de caracter pratico e libertar-se da condição subalterna de meio

preparatorio para as academias.

(...)

COMO SE CONSTITUE O CONSELHO SUPERIOR DO ENSINO - SUAS ATTRIBUIÇÕES - FUNCÇÕES E DEVERES DO PRESIDENTE DO CONSELHO -

DA SECRETARIA DO CONSELHO

Art. 11. Os institutos a que se refere esta lei ficarão sob a fiscalização de um Conselho deliberativo e consultivo, com sede na Capital da Republica e funccionando no edificio de um delles.

Art. 12. O Conselho Superior de Ensino compor-se-ha dos directores das faculdades de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, de direito de S. Paulo e de Pernambuco, da Escola Polytechnica do Rio de Janeiro, do director do Collegio Pedro II

e de um docente de cada um dos estabelecimentos citados.

Paragrapho unico. O presidente do Conselho Superior será nomeado livremente pelo Governo. Os docentes serão indicados por eleição das Congregações e o mandato

delles será biennal.

Art. 13. Ao Conselho Superior de Ensino compete:

a) autorizar as despezas extraodinarias, não previstas no orçamento actual;

b) tomar conhecimento e julgar em grau de recurso as resoluções das Congregações ou dos directores;

c) providenciar acerca dos factos e occurrencias levados ao seu conhecimento

por intermedio das directorias;

d) suspender um ou mais cursos, desde que o exigirem a ordem e a disciplina;

e) impôr as penas disciplinares de sua competencia, enumeradas no capitulo desta lei, concernente ao assumpto;

f) informar ao Governo sobre a conveniencia da creação, transformação ou

suppressão de cadeiras;

g) representar ao Governo sobre a conveniencia da demissão do presidente, quando este se mostrar incompativel com o exercicio de suas funcções. Em tal caso, o seu substituto occupará a presidencia do Conselho, até que o Governo resolva o

incidente;

h) responder a todas as consultas e prestar todas as informações pedidas pelo Ministerio do Interior;

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i) determinar a inspecção sanitaria do docente que lhe pareça estar invalido para

o serviço;

j) promover a reforma e melhoramentos necessarios ao ensino, submettendo-os á approvação do Governo, desde que exijam augmento de despeza;

k) resolver, finalmente, com plena autonomia, todas as questões de interesse

para os institutos de ensino, nos casos não previstos pela presente lei.

(...)

DIRECTORES - PROCESSO DE SUA ESCOLHA, SUAS ATTRIBUIÇÕES, SUAS

RELAÇÕES COM A CONGREGAÇÃO, SEUS DEVERES - DURAÇÃO DO SEU MANDATO

Art. 21. Cada instituto de ensino será dirigido por um director eleito pela

Congregação para um periodo de dous annos.

Art. 22. Em seus impedimentos o director será substituido pelo vice-director, que será sempre o director do periodo anterior.

Paragrapho unico. No Collegio Pedro II, além do vice-director, que será como

nos institutos de ensino superior, o director do ultimo biennio, cujas funções se limitarão a substituir o director nos impedimentos e faltas, haverá um chefe de disciplina para cada secção, de livre escolha e nomeação do director.

Art. 23. O substituto do vice-director será o professor mais antigo.

Art. 24. A eleição se realizará na ultima sessão da Congregação do segundo

periodo lectivo do anno em que se tiver de prover o cargo, obedecendo ao seguinte processo:

a) a eleição se fará por escrutinio, com cedula assignada ou não;

b) cada um dos professores lançará a cedula em uma urna fechada, cuja abertura

será feita depois pelo secretario, com a fiscalização do director em exercicio;

c) retiradas as cedulas e contadas, si o numero dellas corresponder ao dos votantes, proceder-se-ha á leitura dos nomes nellas contidos;

d) proclamado o computo dos votos, si não houver maioria absoluta no primeiro

escrutinio, os tres nomes mais votados serão submettidos a novo escrutinio, sendo proclamado director o mais votado; no caso de empate, a sorte decidirá;

e) si o eleito tiver razões para não acceitar o cargo, as manifestará á

Congregação, que procederá a nova escolha.

Art. 25. Só são elegiveis para o cargo de director os professores ordinarios.

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Paragrapho unico. O director do periodo immediatamente anterior é inelegivel.

Art. 26. O director eleito tomará posse de seu cargo no primeiro dia util de janeiro, passando-lhe o antecessor a administração do estabelecimento e os respectivos sellos.

Art. 27. A posse será dada ao novo director em sessão solemne da Congregação,

especialmente convocada para tal fim pelo director em exercicio. Lida pelo secretario a acta da sessão da eleição, lavrar-se-ha o termo de posse, que será assignado pelo novo

director e pelos membros presentes á sessão, enviando-se cópia do acto ao presidente do Conselho Superior do Ensino.

§ 1º Todos os professores, mestres e demais funccionarios se apresentarão ao novo director dentro de um prazo maximo de tres dias.

§ 2º Após a posse, o novo director examinará a contabilidade e tomará conhecimento do estado da caixa do estabelecimento em presença do thesoureiro, lavrando-se um termo do que for encontrado. Tres cópias serão tiradas desse termo; uma

ficará em poder do thesoureiro e as outras duas serão entregues, respectivamente, ao director, cujo mandato termina, e áquelle que inicia a gestão.

Art. 28. Toda a parte administrativa ficará a cargo do director, havendo recurso

das suas deliberações para o Conselho Superior de Ensino.

Paragrapho unico. Ficando a parte didactica entregue á competencia exclusiva das Congregações, o director poderá, entretanto, appellar de qualquer resolução, quando a julgar prejudicial ao ensino, para o Conselho Superior, que dirimirá o conflicto,

mantendo a medida impugnada pelo director ou rejeitando-a.

Art. 29. Aos directores dos institutos compete:

a) convocar as sessões das Congregações, ás quaes presidirão; adiar ou resolver, usando do voto de qualidade, as questões em caso de empate;

b) administrar o patrimonio do instituto, de accôrdo com a Congregação e com

o Conselho Superior de Ensino;

c) velar pela exacta observancia das prescripções regulamentares concernentes á matricula, cursos, exames, etc.;

d) conceder licença a docentes e funccionarios administrativos até 15 dias;

e) impôr as penas disciplinares de sua competência e fiscalizar a execução das

penas que forem infligidas a discentes e docentes pelas outras autoridades;

f) designar, nas faculdades de direito e no Collegio Pedro II, um professor ordinario para as substituições temporarias;

g) resolver as duvidas acerca de requerimentos e representações que, por seu

intermedio, devam ser encaminhados;

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h) assignar e carimbar, com o sello do instituto, os certificados, certidões e

attestados;

i) propôr ao Governo a nomeação do secretario, sub-secretario, thesoureiro, almoxarife, bibliothecario, sub-bliothecario e amanuenses;

j) nomear, licenciar e demittir, na fórma da presente lei, todos os demais

funccionarios do estabelecimento sob sua guarda;

k) assignar os titulos expedidos aos livres docentes;

l) visitar e fiscalizar aulas e laboratorios;

m) pedir á Congregação licença para contractar profissionaes estrangeiros para o ensino e solicitar do Governo, por intermédio do presidente do Conselho, a respectiva

autorização;

n) fixar e autorizar as despezas, fiscalizando as quantias pagas;

o) receber dos cofres da União, em notas bi-mensaes, as subvenções votadas para o custeio do estabelecimento que dirige.

Art. 30. No dia 31 de dezembro de cada anno, o director remetterá ao presidente

do Conselho Superior do Ensino um relatorio circumstanciado referente ao anno, no qual se saliente a marcha do ensino.

(...)

DO REGIMEN ESCOLAR - PERIODOS LECTIVOS, FÉRIAS, MATRICULA

E INSCRIPÇÃO NOS CURSOS DOS INSTITUTOS, NOS CURSOS LIVRES E NO COLLEGIO PEDRO II - FORMALIDADES A PREENCHER - TAXAS A PAGAR -

ÉPOCAS DE EXAMES

Art. 62. O anno escolar será dividido em dous periodos, a saber:

1º periodo: de 1 de abril, abertura dos cursos, a 31 de julho, seguido de 15 dias de Férias;

2º periodo: de 15 de agosto a 31 de dezembro, encerrando-se os cursos a 30 de novembro.

Paragrapho unico. Os exames se realizarão no ultimo mez do segundo periodo escolar, isto é, de 1 a 31 de dezembro, seguindo-se tres mezes de Férias.

Art. 63. A matricula terá logar nos 15 dias que antecedem á abertura dos cursos.

Art. 64. Para requerer matricula nos institutos de ensino superior os candidatos deverão provar:

a) idade minima de 16 annos;

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b) idoneidade moral.

Art. 65. Para concessão da matricula, o candidato passará por exame que habilite a um juizo de conjuncto sobre o seu desenvolvimento intellectual e capacidade para emprehender efficazmente o estudo das materias que constituem o ensino da

faculdade.

§ I. O exame de admissão a que se refere este artigo constará de prova escripta em vernaculo, que revele a cultura mental que se quer verificar e de uma prova oral

sobre línguas e sciencias;

§ II. A commissão examinadora será composta, a juízo da Congregação, de professores do proprio instituto ou de pessoas estranhas, escolhidas pela Congregação, sob a presidencia de um daquelles professores, com a fiscalização, em ambos os casos,

do director e de um representante do Conselho Superior;

§ III. O exame de admissão se realizará de 1 a 25 de março;

§ IV. Taxas especiaes de exame de admissão serão cobradas, sendo do seu producto pagas as diárias dos examinadores.

Art. 66. Logo após matriculado, o alumno receberá um cartão de identidade

com as indicações e dizeres necessarios para que seja reconhecido como estudante.

Art. 67. No começo de cada periodo lectivo serão affixados, em logar apropriado, no recinto da faculdade, os programmas dos cursos de toda a corporação

docente.

Art. 68. O docente depositará na secretaria tantas listas quantos os cursos por elle projectados, indicando a materia delles e a taxa de sua frequencia, para que nellas se

inscrevam os alumnos que pretenderem frequental-os.

Art. 69. Para matricular-se, o alumno terá de contribuir com as seguintes taxas:

1ª, taxa de matricula;

2ª, taxa de frequencia dos cursos, por anno escolar.

Paragrapho unico. Os cursos privados serão remunerados, de accôrdo com as condições estabelecidas pelos professores e livres docentes.

Art. 70. No fim de cada periodo lectivo os alumnos apresentarão aos professores

e livres docentes, a cujos cursos assistiram, suas cadernetas, para que nellas attestem a frequencia.

Art. 71. A qualquer alumno é permittido transferir, no fim de cada periodo

lectivo, a matricula para qualquer faculdade do paiz, mediante requerimento ao director, que autorizar a transferência na respectiva caderneta.

Art. 72. O alumno deverá communicar á secretaria a sua residência e mudanças.

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Art. 73. Para requerer matricula no Collegio Pedro II os Paes ou tutores dos

menores provarão:

a) que o candidado tem 12 annos de idade, no mínimo, e, para a secção do Internato, 14 annos, no maximo;

b) que se acha habilitado a emprehender o estudo das materias do curso

fundamental. Para isto o candidado se sujeitará a um exame de admissão, que constará de prova escripta em que revele conhecimento da lingua vernacula (dictado, analyses,

lexicologica e syntactiva) e prova oral, que versará sobre leitura com interpretação do texto, rudimentos da lingua franceza, de chorographia e de historia do Brazil, e toda a parte pratica da arithmetica elementar.

§ I. Os candidatos pagarão taxa de matricula e taxa de curso, que serão fixadas

no regulamento do Collegio.

§ II. O regulamento determinará o numero de alumnos gratuitos de cada secção do estabelecimento.

DISTRIBUIÇÃO DAS MATERIAS DOS CURSOS - PROCESSO DE

EXAMES - NATUREZA DAS PROVAS - MESAS JULGADORAS - DOCUMENTOS NECESSARIOS

Art. 74. As materias dos institutos serão distribuidas e leccionadas por series,

obedecendo a sua reunião e gradação ao nexo scientifico que ligarem, indo do mais simples ao mais complexo.

Art. 75. As materias serão professadas em conferencias, aulas theoricas e

praticas, de accôrdo com as necessidades pedagógicas. As Congregações, na ultima sessão que preceder á abertura dos cursos, organizarão os horarios.

Art. 76. Para effeito dos exames, ellas serão grupadas de fórma que o alumno só passe por tres provas: preliminar, basica e final.

Paragrapho unico. No Collegio Pedro II os alumnos passarão de uma serie para

outra por simples promoção e por exames finaes.

Art. 77. Nos institutos superiores as provas serão oraes e praticas, e no Collegio Pedro II, nos exames finaes, haverá, além dessas duas provas, a escripta.

Art. 78. As mesas examinadoras serão constituidas, nos institutos superiores,

pelos professores ordinarios e extraordinarios effectivos e pelos livres docentes que leccionarem, sob a presidência do mais antigo; no Collegio Pedro II as mesas dos

exames finaes, que se realizarão no Externato, serão formadas pelos dous professores da disciplina nas duas secções, sob a presidencia do director ou do vice-director ou de um professor; caso a disciplina só tenha um professor no estabelecimento, a Congregação

designará um outro para completar a commissão julgadora.

Art. 79. Para requerer inscripção de exame, o candidato apresentará:

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a) caderneta de frequencia provando ter assistido a 30 lições por periodo lectivo,

no minimo;

b) taxa de exame.

Art. 80. No Collegio Pedro II não poderá fazer exames finaes e ser promovido o estudante que tiver 20 faltas em cada periodo lectivo.

Paragrapho unico. As médias bimensaes de aproveitamento e as notas de

conducta garantirão a promoção e concorrerão para o julgamento nos exames finaes.

Art. 81. Os profissionaes estrangeiros que queiram obter certificados de curso nas faculdades brazileiras se sujeitarão ás disposições regulamentares.

(...)

DOS CERTIFICADOS CONFERIDOS PELOS INSTITUTOS

Art. 124. O estudante que terminar as provas escolares receberá, mediante o

pagamento da taxa respectiva, o certificado que lhe competir, de accôrdo com os regulamentos especiaes.

(...)

Rio de Janeiro, 5 de abril de 1911. - Rivadavia da Cunha Corrêa.

Fonte: http://legis.senado.leg.br/sicon/

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ANEXO 11 – UMA DAS CAPAS DA EQUIPARAÇÃO DOS ANOS 1930 COM

INFORMAÇÕES SOBRE A CIRCULAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO DENTRO

DO MESP

Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)

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ANEXO 12 - DECRETO Nº 19.890, DE 18 DE ABRIL DE 1931 (REFORMA

FRANCISCO CAMPOS) – EXCERTOS EQUIPARAÇÃO

Dispõe sobre a organização do ensino

secundário

O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil,

DECRETA:

TÍTULO I

ENSINO SECUNDÁRIO

CAPÍTULO I

Dos cursos

Art. 1º O ensino secundário oficialmente reconhecido, será ministrado no Colégio Pedro II e em estabelecimentos sob regime de inspeção oficial.

Art. 2º O ensino secundário compreenderá dois cursos seriados: fundamental e

complementar.

(...)

Art. 4º O curso complementar, obrigatório para os candidatos à matrícula em determinados institutos de ensino superior, será feito em dois anos de estudo intensivo,

com exercícios e trabalhos práticos individuais, e compreenderá as seguintes matérias: Alemão ou Inglês. Latim, Literatura, Geografia, Geofísica o Cosmografia, História da Civilização, Matemática, Física, Química, História natural, Biologia geral, Higiene,

Psicologia e Lógica, Sociologia, Noções de Economia e Estatística, História da Filosofia e Desenho.

(...)

Art. 10. Os programas do ensino secundário, bem como as instruções sobre os

métodos de ensino serão expedidos pelo Ministério da Educação e Saude Pública e revistos, de três em três anos, por uma comissão designada pelo ministro e à qual serão submetidas as propostas elaboradas pela Congregação do Colégio Pedro II.

Art. 12. O ensino do curso complementar poderá ser ministrado nos

estabelecimentos oficiais de ensino secundário e nos estabelecimentos sob o regime de inspeção.

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§ 1º Enquanto não houver número suficiente de licenciados pela Faculdade de

Educação, Ciências e Letras, com exercício no magistério em estabelecimentos de ensino secundário sob inspeção oficial, serão mantidos, anexos aos institutos superiores

oficiais ou equiparados, os cursos complementares respectivos.

§ 2º Os programas de ensino destes cursos, organizados e expedidos nos termos do art. 10, serão idênticos aos do Colégio Pedro II.

(...)

TÍTULO II

INSPEÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO

CAPÍTULO I

Dos estabelecimentos equiparados de ensino secundário

Art. 44. Serão oficialmente equiparados para o efeito de expedir certificados de

habilitação, válidos para os fins legais, aos alunos nele regularmente matriculados, os estabelecimentos de ensino secundário mantidos por governo estadual, municipalidade, associação ou particular, observadas as condições abaixo prescritas.

Art. 45. A concessão, de que trata o artigo anterior, será requerida ao Ministro da Educação e Saude Pública, que fará verificar pelo Departamento Nacional do Ensino se o estabelecimento satisfaz as condições essenciais de:

I, dispor de instalações, de edifícios e material didático, que preencham os

requisitos mínimos prescritos pelo Departamento Nacional do Ensino; II, ter corpo docente inscrito no Registo de Professores;

III, ter regulamento que haja sido aprovado, previamente, pelo Departamento Nacional do Ensino; IV, oferecer garantias bastantes de funcionamento normal pelo período mínimo de dois

anos.

Art. 46. Satisfeitas as condições do artigo anterior e paga a quota anual mínima de inspeção, ficará o estabelecimento em regime de inspeção preliminar por prazo não

inferior a dois anos.

Art. 47. O período de inspeção preliminar poderá ser prorrogado, a juizo do Conselho Nacional de Educação e por intermédio do Departamento Nacional do Ensino,

se o relatório referente ao período inicial de inspeção não for favoravel à sucessão imediata da equiparação.

Art. 48. A concessão da equiparação ou inspeção permanente se fará por decreto do Governo Federal, mediante proposta do Conselho Nacional de Educação, aprovada

por dois terços da totalidade dos seus membros.

Parágrafo único. A equiparação poderá ser requerida e concedida só para o curso fundamental ou para ambos os cursos, fundamental e complementar.

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Art. 49. O Departamento Nacional do Ensino imporá ao estabelecimento de

ensino a penalidade de suspensão dos favores conferidos pela inspeção sempre que dos relatórios dos inspetores se tornar evidente a inobservância de qualquer das exigências

deste decreto.

§ 1º Da deliberação do Departamento Nacional do Ensino caberá recurso para o Ministro da Educação e Saude Pública dentro do prazo de 60 dias.

§ 2º Verificada a procedência dos motivos determinantes da penalidade imposta

cessará a inspeção preliminar ou permanente ou por decreto do Governo Federal, será cassada a equiparação se o estabelecimento estiver sob esse regime.

Art. 50. A quota anual de inspeção será de 12:000$0 para os estabelecimentos de ensino cujo número de matrículas não exceder de 200.

§ 1º O pagamento da quota, a que se refere este artigo será feito em duas prestações semestrais.

§ 2º Por matrícula excedente ao número indicado nesse artigo será paga, por quotas semestrais a taxa anual de 60$0.

CAPÍTULO II

Do serviço de inspeção

Art. 51 Subordinado ao Departamento Nacional do Ensino, é criado o serviço da inspeção aos estabelecimentos de ensino secundário, sendo seus orgãos, junto àqueles, os inspetores e os inspetores gerais.

Art. 52. Para os fins da inspeção os estabelecimentos de ensino secundário serão

grupados de acordo com o número de matrículas e com as distâncias e facilidades de comunicação entre eles constituindo distritos de inspeção.

Parágrafo único. O Ministro da Educação e Saude Pública, por proposta no

Departamento Nacional do Ensino, criará novos distritos, ou fará nova distribuição dos estabelecimentos de ensino por distrito, sempre que o aconselharem as exigências da inspeção.

(...)

Art. 54. Incumbe à inspeção velar pela fiel observância das disposições deste Decreto, que forem aplicaveis aos estabelecimentos de ensino sob o regime de inspeção preliminar ou permanente bem como das disposições dos respectivos regulamentos.

Art. 55 O inspetor remeterá mensalmente ao Departamento Nacional do Ensino,

em duas vias datilografadas, um relatório minucioso e de caráter confidencial, a respeito dos trabalhos de cada século e cada disciplina da sua secção nos estabelecimentos do

distrito.

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§ 1º Duas vezes por ano deverá constar do relatório uma apreciação sucinta

sobre a qualidade do ensino ministrado, por disciplina em cada série, métodos adotados, assiduidade de professores e alunos, bem como sugestões sobre providências que devam

ser tomadas, caso se torne necessária a intervenção do Departamento Nacional do Ensino.

§ 2º O pagamento dos vencimento aos inspetores só será autorizado depois de

recebido o relatório do mês anterior.

Art. 56. Incumbe ao inspetor inteirar-se, por meio de visita frequentes, da marcha dos trabalhos de sua secção, devendo para isso, por série e disciplina:

a) assistir a lições de exposição e demonstração pelo menos uma vez por mês; b) assistir, igualmente, pelo menos uma vez por mês, a aulas de exercícios escolares ou

de trabalhos práticos dos alunos, cabendo-lhe designar quais destes devam ser arguidos e apreciar o critério de atribuição das notas;

c) acompanhar a realização das provas parciais, que só poderão ser efetuadas sob sua imediata fiscalização, cabendo-lhe ainda aprovar ou modificar as questões a serem propostas;

d) assistir às provas finais, sendo-lhe facultado arguir e atribuir nota ao examinando.

(...)

Art. 57. Aos inspetores da secção C compete ainda fiscalizar os exercícios de

educação física e as aulas de música, bem como verificar as condições das instalações materiais e didáticos do estabelecimento.

CAPÍTULO III

Dos inspetores

Art. 58. - Os inspetores são nomeados por concursos e, dentre estes, por acesso,

os inspetores gerais.

Art. 59. Para os efeitos da inspeção as disciplinas do ensino secundário serão distribuídas nas seguintes secções:

Secção A (Letras": Línguas (português, francês, inglês, alemão e latim) e

literatura.

Secção B (Ciências matemáticas, físicas e químicas): Matemática, Química, Geografia e Cosmografia e Desenho.

Secção C (Ciências biológicas e sociais): Geografia (política e econômica),

História da civilização História natural, Biologia geral e Higiene, Psicologia e Lógica, Sociologia e Noções de Economia e Estatística.

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Art. 60. Os concursos, a que se refere o art. 58, versará sobre todas as disciplinas

da secção em que se inscrever o candidato a inspetor e, ainda, sobre Pedagogia geral e Metodologia das mesmas disciplinas.

§ 1º Para os candidatos à secção C haverá ainda prova sobre Higiene escolar e

educação física.

§ 2º Será também exigida prática de datilografia, devendo para isso ser datilografadas pelo candidato as provas escritas do concurso.

Art. 61. Para inscrever-se no concurso de inspetor deverá o candidato reunir os

requisitos:

a) ser brasileiro, nato ou naturalizado; b) ser maior de 22 anos e menor de 35;

c) apresentar atestado de idoneidade moral e de sanidade; d) apresentar certificado de aprovação entre todas as disciplinas do curso secundário.

Parágrafo único. A exigência da letra d) será substituída, oportunamente, por um certificado especial de estudos na Faculdade de Educação, Ciências e Letras.

Art. 62. O regimento interno do Departamento Nacional do Ensino disporá sobre a constituição das comissões examinadoras, natureza das provas, seu julgamento, bem

como o dos títulos exibidos e, ainda, sobre todo o processo do concurso.

§ 1º A natureza e o número das provas bem como o processo do concurso, serão modificados pelo Conselho Nacional de Educação, um ano após concluído o curso dos

primeiros diplomado pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras com habilitação para o exercício das funções de inspetor.

§ 2º Para inscrição em concurso, depois de modificação o processo a que se refere este artigo, será substituido o certificado da letra d) do art. 61 pelo do seu

parágrafo único.

(...)

Art. 65. O inspetor terá exercício, em cada distrito, pelo prazo de três anos consecutivo.

§ 1º A transferência de inspetores se fará anualmente, no período de Férias,

abrangendo de cada vez todos os da mesma secção didática.

§ 2º A designação do distrito, em que passará a servir o inspetor, será feita mediante sorteio.

§ 3º Para o inspetor que for designado o mesmo distrito em que vinha exercendo

suas funções, proceder-se -á novo sorteio.

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Art. 66. É obrigatória, para o inspetor, a residência na sede do distrito em que

esteja em exercício

Fonte: http://legis.senado.leg.br/sicon/

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ANEXO 13 – LISTAGEM DOS PROFESSORES COM EXPERIÊNCIA

PROFISSIONAL E DISCIPLINAS MINISTRADAS

Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)

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ANEXO 14 – FORMULÁRIO PRÉ-FICHA CLASSIFICAÇÃO

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Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)

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ANEXO 15 – PLACA “DEUS ME VÊ”

Fonte: MCMA

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ANEXO 16 – FICHA DE CLASSIFICAÇÃO

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Fonte: BRASIL,1932 ( MCMA)

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ANEXO 17 - PRIMEIRA IMAGEM DIVULGADA SOBRE O PROJETO DO

PRÉDIO DA VILA MARIANA

Fonte: Ecos 1928 (MCMA)