pontifícia universidade católica de são paulo puc-sp...2.1 o primeiro elucidário para a ficha de...
TRANSCRIPT
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC-SP
Ricardo Tomasiello Pedro
História da equiparação do Colégio Marista
Arquidiocesano de São Paulo ao Colégio Pedro II
(1900-1940)
Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade
SÃO PAULO
2014
Ricardo Tomasiello Pedro
História da equiparação do Colégio Marista
Arquidiocesano de São Paulo ao Colégio Pedro II
(1900-1940)
Dissertação de mestrado apresentada à
Banca Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção do
título de MESTRE em Educação:
História, Política, Sociedade, sob
orientação da Professora Doutora Katya
Mitsuko Zuquim Braghini
SÃO PAULO
2014
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
___________________________________________
___________________________________________
AGRADECIMENTOS
À professora Dra. Katya Mitsuko Zuquim Braghini pelo incentivo e orientação,
mas principalmente pela amizade, cuidado e carinho ao longo de todo o processo;
Ao prof. Dr. Kazumi Munakata pelas orientações e puxadas de orelha dos
primeiros passos;
Às professoras Circe Bittencourt e Miriam Jorge Warde pela importantíssima
colaboração na qualificação e pelo estímulo;
Aos meus professores do EHPS pelas ricas discussões e trocas e a Elisabete
Adania, por sua eficiência e acima de tudo carinho nos momentos de insegurança;
À Raquel Quirino Piñas por escutar durante horas explanações sobre cada uma
das “descobertas” ocorridas ao longo da pesquisa e principalmente pelo ombro amigo
nos muitos momentos em que me senti tão incapaz e inseguro;
A Celeste, Alexandre e Ana Clara por entenderem a ausência constante durante
dois anos de um filho, irmão e tio e também ao Tiago Pedro por ter estado sempre ao
meu lado;
À diretoria do Arquidiocesano, Ascânio João Sedrez e Marisa Ester A. Rosseto
pelos incentivos ao longo de todo o processo;
À Leonir Dario Buzzanello, antiga secretária escolar do Arquidiocesano, pela
perseverança em guardar os documentos da equiparação e à Maria Célia da Silva
Teixeira pelo precioso livro de Provisões de 1908;
À Capes por viabilizar os recursos financeiros necessários para a realização
dessa pesquisa;
Ao Fred Lane (in memoriam) pelas muitas histórias e por tão gentilmente ter
oferecido as encadernações como presente, mas infelizmente o tempo não permitiu que
elas fossem executadas;
À Rosana Telles ajuda na tradução dos standards e pelo apoio durante o
processo;
À equipe da Biblioteca Santo Tomás de Aquino por pacientemente escutarem os
debates sobre a História da Educação e por sempre terem uma palavra de ânimo e
conforto;
Aos amigos do EHPS pelas trocas, risadas, e apoio constante, em especial ao
querido Bento Pequim;
Articular o passado historicamente não significa conhecê-lo, “tal como ele
propriamente foi”. Significa apoderar-se de uma lembrança tal qual ela cintilou no
instante de um perigo. (...) O perigo ameaça, tanto o conteúdo dado da tradição como
aqueles que a receberam. Para ambos é um só e mesmo perigo: deixar-se transformar
em instrumento da classe dominante. (...) Ora, dominantes do momento são os
herdeiros de todos aqueles que uma vez venceram.
Walter Benjamin
RESUMO
O Colégio Arquidiocesano foi fundado em 1858, sendo considerado um dos mais
antigos da cidade de São Paulo. Por conta de sua forte ligação com o ensino secundário
o Arquidiocesano buscou equiparar-se ao Colégio Pedro II. Tal procedimento
significava, dentre outras coisas, garantia de acesso ao nível superior dos alunos do
Colégio sem que houvesse a necessidade de novas provas ou exames. Para a obtenção
desse privilégio era necessário, no aspecto curricular, igualar-se à instituição modelo
desse nível educacional. Sob a administração dos Irmãos Maristas, o colégio obteve a
equiparação “definitiva” em 1934, dentro da vigência da Reforma Francisco Campos
(Decreto nº 19.890/1931). Este trabalho pretende historicizar o processo de equiparação
do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, sob a administração dessa
congregação religiosa, buscando compreender a montagem de tal processo. Foram
identificadas as estratégias utilizadas por um colégio privado, confessional para adaptar-
se às demandas educacionais de caráter laico, de modo a flagrar como foram atendidas
as diretrizes dadas pelo Departamento Nacional do Ensino. Para a pesquisa foram
analisados, primordialmente, os documentos sobre a equiparação do Arquivo Nacional
(RJ) e o próprio processo disponível no acervo do Memorial do Colégio Marista
Arquidiocesano de São Paulo.
Palavras-chave: processo de equiparação, ensino secundário, Colégio Marista
Arquidiocesano
ABSTRACT
The Archdiocesan School was founded in 1858, and it is considered one of the oldest
schools of São Paulo city. Due to its strong connection to secondary education, the
school tried to equate to Pedro II School. Such an attempt meant, among other things, to
guarantee that the school’s students had access to higher education without having to
apply for new tests or exams. In order to obtain this privilege it was necessary, in the
curriculum organization, that the school should be equated to the role model institution
in this educational level. Under the Marist Brothers’ management, the school obtained
the “definitive” equivalence in 1934, during the term of Francisco Campos’s Reform
(Decree no. 19.890/1931). This dissertation intends to historicize the equivalence
process of the Marist Archdiocesan School of São Paulo, under the management of this
religious congregation, attempting to understand the construction of such process. The
strategies used by a private school were identified – a confessional approach to adapt to
the educational demands of a secular view – in order to verify how the guidelines
provided by the Education National Department were followed. For this research, the
analysis was primarily of the documents on the equivalence belonging to the National
Archives (RJ) and of the case itself available in the Memorial’s collection of the Marist
Archdiocesan School of São Paulo.
Keywords: equivalence process, secondary education, Marist Archdiocesan School
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1
CAPÍTULO 1 – A EQUIPARAÇÃO DE 1900 DO COLÉGIO DIOCESANO E A
SUA REVOGAÇÃO PELA REFORMA RIVADÁVIA CORREA EM 1911 ............. 27
1.1 A supressão da Equiparação (1911) e a repercussão deste evento no Colégio ....... 42
CAPÍTULO 2 – OS ANOS 1930 E O INÍCIO DA MONTAGEM DE NOVO
PROCESSO NA SEDE DA AVENIDA TIRADENTES ................................................ 50
2.1 O primeiro elucidário para a ficha de classificação e a sede da Avenida
Tiradentes ........................................................................................................................... 56
2.1.1 Os espaços do Arquidiocesano no primeiro elucidário .............................................. 60
2.2 A ficha classificação ..................................................................................................... 74
2.2.1 A primeira ficha de classificação do Colégio Arquidiocesano................................... 85
2.3 A reconquista da equiparação .................................................................................... 87
CAPÍTULO 3 - A EQUIPARAÇÃO NA SEDE DA VILA MARIANA E A
MANUTENÇÃO DA PRERROGATIVA ....................................................................... 89
3.1 A segunda e a terceira ficha de classificação e os elucidários: o Colégio na sede
da Vila Mariana ................................................................................................................. 96
3.2 Os inspetores federais .................................................................................................. 103
3.3 As salas de aula ............................................................................................................ 109
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 112
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 117
FONTES ............................................................................................................................. 125
ANEXOS ............................................................................................................................ 126
1
INTRODUÇÃO
O Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo (CMASP) é uma instituição
confessional católica fundada em 1858, a partir de um desdobramento do Seminário
Episcopal de São Paulo, o Seminário Menor. Funcionou em regime de internato até
1968, embora também oferecesse semi-internato1 e externato. Durante 112 anos atendeu
exclusivamente ao público masculino, pois as primeiras meninas só seriam admitidas
em 1970.
Em 2006 a diretoria do Colégio decidiu iniciar o processo de organização de seu
acervo documental motivado pelas comemorações do sesquicentenário da instituição em
2008. Seriam celebrados com ênfase os 100 anos da administração pelos Irmãos
Maristas e num outro grau de relevância os 150 anos de funcionamento. A instituição
fora anteriormente administrada pelos freis Capuchinhos de Sabóia, e num outro
momento pelos padres seculares, sendo então conhecido como Colégio Diocesano de
São Paulo, pois a diocese seria somente elevada para arquidiocese em 1908 e por conta
disso o nome da instituição seria alterado para Arquidiocesano.
As ações foram inicialmente voltadas para a organização de um conhecido e
pouco acessível acervo composto em essência por fotografias que remontavam ao final
do século XIX. A equipe de historiadores da primeira fase de trabalhos foi surpreendida
ao ver-se mergulhada numa relevante massa documental composta por diversos
materiais, tais como: livros de ata de congregações religiosas, cadernos de consumo dos
internos, livros de matrícula, publicações periódicas institucionais, fanzines elaborados
por alunos, uniformes, instrumentos de laboratório, troféus, medalhas, moedas, etc.2
Essas primeiras ações junto ao acervo constituíram o núcleo para a criação de um centro
responsável pela preservação da documentação histórica, o Memorial, que a partir de
2007 seria vinculado à Biblioteca do Colégio.
Demora algum tempo para que o trabalho desenvolvido pela equipe do
Memorial adquira credibilidade junto à comunidade docente e discente, que acreditava
no final de suas atividades logo após as comemorações. Por isso já com boa parte do
acervo organizado, higienizado e armazenado em espaço de guarda (reserva técnica)
1Modalidade inaugurada no Colégio pelos Irmãos Maristas em 1909.
2Para maiores informações sobre o acervo do Memorial do Colégio Marista Arquidiocesan o de São Paulo
consultar BRAGHINI, Katya Mitsuko Zuquim; PEDRO, Ricardo Tomasiello Pedro; PINAS, Raquel
Quirino. O Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo: In: VI Congresso Brasileiro de
História da Educação, 2011. Vitória (ES). Anais: livro de resumos. Vitória: UFES, 2011.
2
chegariam novos itens, até então desconhecidos, e que estavam sob a proteção de
antigos funcionários.
Em 2009 durante os trabalhos descritos acima a mais antiga funcionária do
Colégio, a secretária escolar Leonir Dario Buzzanelo, profissional ligada à instituição há
mais de 35 anos transferiria para o Memorial uma coleção de documentos de caráter
jurídico-educacional identificado inicialmente como o Processo de equiparação do
Colégio Arquidiocesano ao Colégio Pedro II (RJ), e cujo item mais antigo remonta ao
ano de 1931. Dois anos mais tarde, em 2011, o Memorial receberia em caráter de guarda
provisória, por conta das atividades de preservação e organização desenvolvidas junto
ao acervo histórico do Arquidiocesano, a equiparação do Gymnasio Nossa Senhora do
Carmo ocorrida em 1933. Este colégio pertenceu à Venerável Ordem Terceira de Nossa
Senhora do Carmo (VOT)3 e foi dirigido pelos Irmãos Maristas entre 1899 e 1971.
Após as devidas intervenções de higienização, encadernação (respeitando-se a
disposição tal qual como recebida) e restauro, estes documentos seriam consultados
com frequência por pesquisadores, seja por conta das fotos que o compõem, pelos dados
que traz sobre o colégio Arquidiocesano, ou também por sua relação com a atuação dos
Irmãos Maristas em São Paulo. A chegada da documentação do Carmo, similar ao
Processo de equiparação do Colégio Arquidiocesano, impulsionaria a necessidade de
busca de subsídios teóricos e metodológicos para compreender tais itens, a partir de
curiosidades básicas: O que eram, afinal, esses documentos reunidos, com
requerimentos para equiparação a outro colégio, fichas de classificação e fotografias de
todos os espaços escolares, apontando para seus usos e para os materiais contidos neles?
Como teria ocorrido a reunião desses documentos em um processo? Como foram
idealizados os itens que constituem tal documentação e quem foram as pessoas
articuladas para montá-lo?
Em outras palavras, a presença e a possibilidade de manipulação dessa
documentação estimulou uma pergunta básica, sobre o que seria um processo de
equiparação. À época, não havia pretensão em constituir qualquer tipo de investigação,
mas sim compreender a natureza dos documentos transferidos em 2009 para o acervo do
Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo (MCMA), pois existia uma
necessidade operacional gerada por conta da demanda de pesquisadores que utilizavam
esses documentos como fonte em produções acadêmicas.
3Grupo religioso formado por leigos católicos vinculados à Ordem do Carmo.
3
Por conta do meu trabalho, e por ser o responsável chefe pelo acervo do
Memorial, acompanhei de perto a integração desses itens ao acervo, pois desde 2008
coordeno as atividades desse centro de memória. Esses documentos haviam chamado a
atenção de tal forma que me senti tocado pela curiosidade e, por isso mesmo, fui
motivado a ingressar no programa de estudos pós-graduados Educação: História,
Política, Sociedade (EHPS), de modo a compreender o que significava aquela
documentação que apontava para o trabalho dos Irmãos Maristas na sua busca em
marcar o nome do Colégio Arquidiocesano com um crivo de qualidade escolar a partir
de sua equiparação ao Colégio Pedro II4.
Sobre o ensino secundário e o processo de equiparação
Haidar (1972) fala especificamente sobre o ensino secundário no período do
Império brasileiro (1822-1889). Inicia seu trabalho discutindo os desdobramentos do
Ato Adicional de 18345 que, apesar de ter permitido às Províncias a criação de institutos
de ensino secundário, funda uma verdadeira “tradição” que vincularia essa modalidade
educacional ao Poder Geral6.
A autora ao apresentar os debates parlamentares ocorridos a partir de 1843
demonstraria que já estava em discussão a possibilidade de serem considerados válidos
para acesso ao ensino superior também os certificados e títulos emitidos pelos liceus
provinciais7, privilégio esse exclusivo do Imperial Colégio de Pedro II, por isso se
constata uma recorrência ao tema da “equiparação” entre os políticos desde o Império e,
graças a esses embates é possível entender os antecedentes que acabam por influenciar a
legislação educacional dos primeiros anos do período republicano.
4No primeiro ano da República, o Imperial Colégio de Pedro Segundo teria seu nome mudado para
Instituto Nacional de Instrução Secundária, porém a nova denominação duraria pouco tempo sendo logo
substituída por Ginásio Nacional, e utilizada entre 1890 e 1910. Somente em 1911 retornaria a antiga
referência ao imperador ao se alterar novamente a designação deste para Colégio Pedro II. 5O Ato Adicional foi publicado em 12 de agosto de 1834 e seria responsável por reformar a Constituição
de 1824, outorgada por D. Pedro I. Dentre as novidades trazidas pelo a to estava a criação das
Assembleias Legislativas Provinciais, ação essa que proporcionaria maior autonomia às Províncias uma
vez que estas poderiam legislar sobre questões consideradas de cunho local/regional, como por exemplo
àquelas relacionadas à instrução pública. 6
Termo equivalente a Poder Imperial. 7Após a publicação do Ato Adicional de 1834 algumas Províncias fundaram instituições de ensino
secundário que, a exemplo do modelo educacional francês, foram chamados de liceus. Haidar (1972,
p.31) diz que o fato destes não terem os seus diplomas reconhecidos como válidos para o acesso ao nível
superior acabou por causar o desprestigio dessas instituições (p.31).
4
Por meio deste estudo também se constatou que durante o período imperial a
equiparação não seria colocada em prática e o controle governamental sobre o ensino
secundário seria estabelecido de forma indireta graças à proeminência do poder central
nas questões relativas ao nível superior. As disciplinas definidas pelo governo para o
ingresso nas Academias eram absorvidas pelos colégios secundários de todo o país, pois
este nível de ensino se dedicaria ao preparo dos candidatos para as escolas superiores
(HAIDAR, 1972, p.19).
Essa autora destacaria a posição dos colégios privados como alternativa ao
ensino público, este apresentado no texto como fraco e pouco eficiente, se comparado
com as ações desenvolvidas pelos particulares com relação à ampliação da oferta de
vagas na educação secundária (HAIDAR, 1972, pp.178-182).
Dodsworth (1968) realizou uma compilação de discussões parlamentares
ocorridas entre 1826 e 1926, cujo principal foco era ensino secundário. É uma obra
relevante para entender o caminho percorrido para a aprovação (ou não) de projetos de
leis e decretos que visavam a organização desse nível de escolarização.
Em sua obra a questão da equiparação é apresentada esparsamente por meio de
leis, decretos e outros dispositivos, exceção feita às divisões Autorização para rever o
código de 1892 e Equiparação a institutos oficiais. Esses dois textos são de 1903, sendo
a primeira uma exposição de motivos na qual os membros da Comissão de Instrução
Pública, apresentam os problemas relacionados à concessão da equiparação aos colégios
privados, pois de acordo com suas argumentações, tal privilégio colocaria em risco todo
o ensino secundário brasileiro e o futuro da nação, pois graças a essa prerrogativa teria
sido iniciado o comércio de títulos que garantiria a entrada de candidatos
desqualificados nas Academias.
Na Equiparação a institutos oficias temos uma proposta de alteração da
Reforma Epitácio Pessoa (1901) por conta dos problemas identificados pelos mesmos
legisladores e estes que acabam por elaborar uma nova regulamentação para as
equiparações, por meio da qual se pretendia revogar o título II daquela legislação
educacional8, proposta essa que não foi implementada.
Silva (1969) procura constituir uma história geral do secundário, abordando a
função seletiva desse nível de ensino, incluindo informações sobre as suas origens
clássicas desse, bem como, o seu desenvolvimento na França e na Inglaterra, dedicando
8No título II da Reforma Epitácio Pessoa estavam as condições necessárias para o requerimento da
equiparação.
5
parte de seu livro às discussões sobre o conceito de cultura geral. Esse livro foi
publicado pela Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário
(Cades), situando o autor entre os intelectuais que atuaram como especialistas dentro de
órgãos de governo dedicados ao planejamento da educação estatal, tais como o Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep)9.
O livro apresenta a história do ensino secundário num continuum evolutivo
abordando as contribuições do regime monárquico e republicano para a constituição,
organização e reorganização do ensino secundário brasileiro, mas considerando que o
ensino secundário até os anos 1950 estaria, segundo o autor, ainda em fase de
constituição e por isso é apresentado como algo “postiço”, já que o Brasil não estaria
preparado para a consolidação de um ensino secundário nos moldes da França e da
Inglaterra. Isso demonstra a posição do autor diante dos próprios interesses de seu
ambiente de produção intelectual, já que se trata de uma ideia que apresenta o ensino
secundário como algo que não havia se desenvolvido porque houve uma “ineficiência”
na ação federal antes dos anos 1950.
Ao falar sobre as discussões entre os parlamentares nos últimos anos do Império
o pesquisador apresentaria as cinco ideias surgidas para tentar resolver um problema
constantemente mencionado até 1889, o “emprego de recursos do governo geral para
difusão do ensino secundário, fora da capital do país” (SILVA, 1969, p.216). Destas,
somente duas10 diziam respeito à equiparação, “o reconhecimento dos exames
realizados nos Liceus provinciais e a equiparação destes ao Colégio Pedro II” e
“reconhecimento ou equiparação ao Pedro II, não somente dos estabelecimentos
provinciais, mas também dos colégios particulares” (SILVA, 1969, p.216), nenhuma
delas efetivada naquele período.
Em seu trabalho, a equiparação apareceria nos primeiros anos da República
como uma possibilidade somente para os colégios públicos, logo extendida à iniciativa
privada, e esta se encontrava vinculada ao exame de madureza11. Adquiriria, no entanto,
9Geraldo Bastos e Silva foi um dos principais articuladores para a reforma do ensino secundário nos anos
1950. Foi signatário do documento “Manifesto dos Pioneiros mais uma vez convocados” e funcionário do
Ministério de Educação e Cultura (MEC). 10
As outras três mencionadas por Silva eram: “A realização de exames gerais de preparatórios na s
Províncias, mesmo naquelas onde não existissem cursos superiores; ação direta do Governo geral em prol
da difusão do ensino secundário nas Províncias, mediante a criação e manutenção nelas, de liceus gerais;
ação indireta do Governo geral, para o mesmo fim, pela concessão de auxílios aos estabelecimentos
situados nas Províncias” (SILVA, 1969, p.217). 11
Para Silva (1969, p.206), esse exame era “um exame geral de admissão aos cursos superiores, no qual se
averiguasse o grau de maturidade intelectual alcançado pelo adolescente”.
6
gradativamente um caráter uniformizador do ensino secundário, embora também tenha
demonstrado ser um importante instrumento para ampliar as oportunidades de acesso a
esse tipo de escolarização.
Em Antunha (1980) temos elementos relacionados à organização legal do ensino
secundário, dentre os quais se destacam as informações referentes às reformas
educacionais empreendidas pelo regime republicano nos primeiros anos de existência.
Com relação à equiparação Antunha (1980, p.255) afirmaria que esta “foi,
originariamente, concebida como um instrumento de oficialização e de ingerência do
poder federal na área do ensino secundário e do superior”, e que o governo federal
relutaria muito em regulamentar e estender os benefícios desse dispositivo para o ensino
privado que, interessado em obter as vantagens da equiparação, começaria a pressioná-
lo principalmente após o reconhecimento do Instituto Kopke em 1895.
Ao falar sobre a legislação do ensino secundário brasileiro durante o período da
República Velha este afirmaria que seriam mantidos dois regimes que garantiriam
acesso ao nível superior: um organizado a partir da concepção de ensino ginasial
instaurada no modelar Colégio Pedro II, na qual havia uma sequência de estudos e um
longo período para a sua conclusão, e outro que se constituía como uma permanência do
período imperial, os cursos preparatórios e os exames parcelados, por meio dos quais o
acesso às Academias ocorria de forma mais rápida. Com relação a esse segundo seriam
realizadas diversas tentativas no sentido de sua extinção, no entanto, estes somente
seriam revogados pela Reforma Francisco Campos.
Antunha (1980, p.6) chama a atenção para o fato de que com relação à
prorrogação da validade dos preparatórios e parcelados, o Congresso nunca tenha aberto
mão de sua responsabilidade de legislar, ao contrário do que aconteceria com outras
questões educacionais nas quais se vê exclusivamente o envolvimento do Executivo,
por isso muitas das reformas receberiam como homenagem, o nome de membros dessa
esfera governamental (Rocha Vaz, Epitácio Pessoa, etc). Esse autor sinaliza a Reforma
Benjamin Constant12 como uma das mais importantes, pois ela teria se tornado um
ponto referencial para as posteriores e destaca também a Reforma Rivadávia Correa à
qual qualifica como radical e ortodoxa, por conta de seu vínculo com o positivismo.
Nagle (1976) aponta para as inúmeras alterações na legislação educacional
brasileira e apresenta a equiparação como um instrumento utilizado pelo regime
12
Decreto nº 981 de 8 de novembro de 1890.
7
republicano para controlar o ensino secundário e demarca como início efetivo da
aplicação desse dispositivo a Reforma Epitácio Pessoa (1901), pois com esta se abriria a
possibilidade para o reconhecimento dos colégios estaduais, municipais e privados,
sendo inclusas neste último grupo as instituições católicas.
Durante a Primeira República (1889-1930) o secundário seria marcado por
constantes reformas que, dentre outras questões, pretendiam contribuir para que esse
ensino deixasse de ser a “antessala” das escolas superiores assumindo uma função
realmente educacional e formativa, algo que não seria realizado com êxito por nenhum
dos “reformadores” desse período segundo a bibliografia apontada, que se dispõe a
apresentar o ensino secundário como algo um tanto indefinido que nem se apresenta
como grau, nem como tipo de ensino, mas sobre o qual é jogada uma grande
expectativa, como local de formação de uma futura elite política. Essa é uma ideia que
marca a história do ensino secundário como local privilegiado para a formação de um
grupo restrito de pessoas ao ingresso no ensino superior.
A bibliografia também apresenta a ideia de que o Estado deveria ser o
organizador de um modelo de ensino coeso e assumir a condução desse tipo de
formação, mas que esse plano, no entanto, ao longo do período imperial, e durante as
primeiras décadas do período republicano não se concretizaria, destacando que a
história do ensino secundário seria a história de faltas: com um Estado ineficiente, com
escolas despreparadas, “mercenárias” diante de um mercado dominado pelos exames
preparatórios.
Gasparello (2003) analisa as discussões parlamentares ocorridas no Congresso
Nacional em 1907 a respeito das características do colégio modelar. Os discursos
explicitavam as duas vertentes ideológicas que marcariam o ensino secundário no
século XX, pois uma preocupava-se com a preservação de uma formação ligada à
cultura clássica, enquanto outra pretendia que essa fosse pautada por uma visão
humanista moderna (GASPARELLO, 2003, p.3). A equiparação é apresentada como
uma forma indireta de administração do secundário que teria sido instituída no período
Imperial graças à elevação do Colégio de Pedro II à condição de modelo para que os
demais pudessem solicitá-la.
O artigo de Rocha e Oliveira (2010) aborda o impacto das reformas educacionais
na educação brasileira e como se processou a implantação do ensino secundário no
estado de Mato Grosso a partir da história do Ginásio Osvaldo Cruz entre 1927 a 1940.
Por também estudar aspectos da legislação educacional citaria a equiparação e as
8
condições exigidas por lei para que as escolas pudessem requerê-la, mas apesar disso
não apresenta como isso ocorria formalmente, ou seja, como era estruturada ou se
organizava a documentação relacionada a ela.
Cury (2009) dedicou-se à análise dos impactos da Reforma Rivadávia Correa
(1911-1915), que dentre outras mudanças revogaria as prerrogativas das equiparações
em todo o território brasileiro. No texto, o autor demonstra que nas discussões
parlamentares ocorridas por ocasião da Constituinte de 1890-1891 foram colocadas em
análise as origens do ensino oficial disponível até aquele momento, e se faria a opção
por não impedir o ensino oferecido pelo setor privado, incluindo nesse grupo as escolas
católicas. Apesar dessa aparente liberdade de ensino o Governo ainda manteria sob seu
controle a validação dos certificados e diplomas, que só poderiam ser emitidos por
instituições criadas e mantidas por ele ou por aquelas reconhecidas como oficiais, por
meio da equiparação.
Os problemas de corrupção relacionados à equiparação são apresentados como
generalizados e que todos seriam revogadas pelo então ministro da Justiça e dos
Negócios Interiores, Dr. Rivadávia Correa (1866-1920), membro do governo de Hermes
da Fonseca, presidente do Brasil entre 1910 e 1914.
O pesquisador também aponta o que ocorreu no período pós-Rivadávia, marcado
por uma nova reforma que reorganizaria o ensino secundário e superior com o decreto
n° 11.530, de 18 de março de 1915, conhecido como Reforma Carlos Maximiliano, em
homenagem ao então Ministro da Justiça e Negócios Interiores. Dentro do contexto
desta reforma, verifica-se que o termo “oficial” se fixaria especificamente aos colégios
mantidos pela União; seria restaurado o registro de diplomas, estabelecer-se-ia a
inspeção federal sobre as instituições de ensino; a permissão para efeito de
“equiparação” às instituições particulares que a solicitarem, exceto as que tiverem
“intento de lucro ou de propaganda filosófica ou religiosa”, ou seja, a iniciativa privada
não perdia a liberdade de atuação junto ao ensino, no entanto, como a grande maioria
dos colégios se enquadrava nas restrições da reforma no que diz respeito às
equiparações, essa somente seria possível aos particulares nos anos 1930.
Kulesza (2011, p.86) apresenta o relacionamento entre a Igreja Católica e os
quadros burocráticos ligados à educação brasileira, a partir da análise do processo de
equiparação do Colégio Diocesano da Paraíba conseguido em 1908, apresentando um
foco que posiciona um colégio particular católico nas discussões sobre a equiparação.
Ao analisar a equiparação desse colégio comenta preocupação da Igreja Católica, mais
9
precisamente da diocese da Paraíba, em obter as prerrogativas da equiparação de modo
a garantir sua influência junto às elites (KULESZA, 2011, p.85). É válido destacar que
o autor não especifica o perfil do que chama de “elite”, a exemplo de outros autores
também vagos nesse sentido.
O autor destaca as manobras políticas realizadas por Dom Adauto Aurélio de
Miranda Henriques (1855-1935)13, para que esse colégio obtivesse tal privilégio
(KULESZA, 2011, pp.90-94). O bispo possuía relações pessoais com diversos políticos
locais e tentaria influenciar um parecer favorável à equiparação a nível federal, por meio
não somente da bancada parlamentar paraibana, mas também por sua proximidade com
o presidente Afonso Pena (1906-1909).
As produções acima permitem que tenhamos um panorama sobre a equiparação
da seguinte ordem: os trabalhos de modo geral apresentam o estatuto da equiparação
como procedimento legal, obrigatório, para que uma escola secundária tivesse
determinados privilégios, conforme termo utilizado na legislação, como, por exemplo,
possibilitar aos seus alunos acesso às Academias sem a necessidade de outras
avaliações, sendo que essa última se tornaria a base privilegiada da equiparação e
passando a ser vista como moeda valiosa para instituições não oficiais de ensino, um
diferencial perante a concorrência. Diante da posição ocupada pelos preparatórios, os
colégios que conseguiam ser equiparados à instituição modelar pareciam se destacar dos
demais e apregoavam sua superioridade perante outros cursos não reconhecidos
oficialmente.
Na literatura analisada há uma naturalização do termo equiparação, como se este
já fosse uma questão dada na história do ensino secundário. Com relação ao primeiro
período no qual a equiparação seria facultada às instituições de ensino livre14, entre
1895 e 191115, são recorrentes os relatos de problemas envolvendo os Colégios
beneficiados com as concessões, chamando à atenção a quantidade de registros que
apontavam para a ineficiência da fiscalização. No entanto, com relação a esse tema, nos
anos 1930, não foram detectadas tantas reclamações, o que nos leva a pensar que talvez
ela tenha sido mais eficiente.
13
Dom Adauto foi o primeiro bispo da Paraíba, cargo que assumiu em 1894. 14
Termo utilizado para designar o ensino secundário oferecido por particulares, ou seja, ensino privado. 15
Optou-se nesse trabalho considerar como “início” do uso efetivo da equiparação a data de concessão da
equiparação ao Instituto Henrique Kopke, em 22 de abril de 1895, e “fim” a revogação das equiparações
em nível nacional pela Reforma Rivadávia Correa (1911), embora Nagle (1976, p.144) aponte como data
efetiva da aplicação desse dispositivo o ano de 1901.
10
Foi possível perceber que o processo de equiparação é apresentado dentro de
textos que buscam historicizar o ensino secundário, mas que não é um tema exatamente
destacado nessas produções. Tal processo é percebido como uma estratégia oficial que
dentre outros objetivos pretendia estimular a difusão, e simultaneamente controlar o
funcionamento das instituições secundaristas que em sua maioria eram administradas
pela iniciativa privada, dentre os quais um expressivo número de colégios católicos.
Somente o trabalho de Kulesza (2011) descreve o histórico de equiparação de
um colégio católico, privado, durante o período da Primeira República (1889-1930)
centrando suas análises nas discussões políticas e nos trâmites necessários para
consegui-la, sem necessariamente se ocupar com os trabalhos que a instituição
interessada na equiparação tinha que fazer para recebê-lo, dentre eles os alinhamentos
curriculares, as comprovações de patrimônio, elaboração de relatórios semestrais, visitas
de fiscalização, etc.
Embora os processos apareçam nessa literatura, os trabalhos não estão dedicados
especificamente à análise da organização dos documentos da equiparação, nem dão
conta de uma série de procedimentos burocráticos e das adequações institucionais que
eram prescritas, e tinham que ser moduladas pela instituição sob análise. O
levantamento bibliográfico demonstrou, inclusive, ser tímida a produção relacionada
aos procedimentos utilizados pelo governo para a concessão e fiscalização da
equiparação.
Esse trabalho apresenta a história do processo de equiparação “definitiva” do
Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo sob a administração dos Irmãos Maristas:
escola católica, confessional, masculina, sob o gerenciamento de uma congregação
francesa, na cidade de São Paulo. Visa apresentar a equiparação como movimento ao
mesmo tempo político e pedagógico de uma instituição católica que busca ganhar
relevância no cenário escolar da cidade, e destaque pedagógico apresentando
paulatinamente, espaços pedagógicos especialmente criados a partir das diretrizes
legais. Aproveita-se de uma brecha aberta em relação aos poucos trabalhos produzidos
sobre este assunto, bem como da atuação dos colégios, privados, católicos secundários
em funcionamento no período apontado em relação à montagem de tal processo.
11
O Colégio Arquidiocesano de São Paulo sob a administração dos Irmãos Maristas.
A formação educativa do clero paulista fora realizada durante muito tempo na
antiga Sé, e posteriormente no Palácio Episcopal, mas era considerada fragmentada e
deficiente, por isso a construção de um local especialmente dedicado à instrução do
clero fez parte dos anseios de muitos bispos da Diocese de São Paulo. Dom Antonio
Joaquim de Mello (1791-1861)16 foi o articulador responsável para que tal local fosse
finalmente construído.
Em 9 de novembro de 1856, um Seminário seria inaugurado no bairro da Luz,
apesar de todas as dificuldades, e desempenharia um papel central nas mudanças
empreendidas pelo bispo que desejava reformar o clero dentro de uma perspectiva
ultramontana17 o que significava também um gradativo alinhamento da Diocese de São
Paulo com Roma.
Segundo Martins (2006, p.16), o “Seminário configurava-se como um modelo
para as demais escolas católicas fundadas para atender às necessidades de instrução,
colaborando para a definição de novas práticas e representações católicas”, ou seja, a
formação dos religiosos constituía-se como essencial para a realização de mudanças na
Igreja paulista e ao mesmo tempo uma forma de constituir uma nova imagem do clero.
A construção do prédio foi considerada difícil, pois havia escassez de recursos
financeiros e de operários capacitados para erguer um edifício de tão grandes
proporções. Além disso, a carência de materiais construtivos como, por exemplo, tijolos
aumentaria a complexidade da obra que precisou ser erguida em taipa de pilão18
(POLYANTHEA, 1906, p.128).
16
Dom Antônio Joaquim de Melo nasceu em Itu e é o primeiro bispo paulista de São Paulo. Assumiu a
Diocese em 5 maio de 1851, com referendo do imperador D. Pedro II. 17
Assis (2013, pp.44-45) explica que o “movimento ultramontano se restringe às questões de ordem
interna, não admitindo o diálogo com a modernidade e em um período restrito, ou seja, o
ultramontanismo marca a disputa entre o clero Romano e o Francês e só tem sen tido até o momento em
que, no Concílio Vaticano I, foi proclamada a encíclica da Infalibilidade Papal, Pastor aeternus, e esta é
aceita por toda a Igreja inclusive pelo grupo opositor. Dessa maneira, é desfeita a batalha entre
ultramontanos e galicanos. Contudo, o termo passou a designar todos os atos de censura e repressão
vindos de Roma” 18
“As taipas eram feitas da seguinte maneira: duas tábuas, uma de cada lado, espaço no meio suficiente
para encherem de terra que era socada, pondo-se às vezes água, pedaços de pedra ou sapé para firmar. Os
indígenas e escravos faziam a pilagem em toda a extensão das tábuas, que, quando retiradas deixavam o
taipal solidificado. Era esse o sistema usado para todo o edifício, tornando -o uma fortaleza. Se o telhado
não era bem feito e as águas penetravam pouco a pouco nos taipais, ruía tudo, porque as paredes se
desfaziam com a infiltração prolongada das águas” (SOUZA, 2005, p.116)
12
A escolha pelo bairro da Luz não foi aleatória, pois aquela região era
considerada no século XIX como “o coração da cidade de São Paulo” e Martins
indicaria ainda que a fundação do Seminário naquele local
(...) seria estratégica para o seu desenvolvimento, considerando as relações de comércio da Luz que atraíam fazendeiros das diferentes localidades da Província e até de outras províncias. A presença da instituição educativa no trajeto comercial dos fazendeiros e comerciantes poderia atraí-los no que tange à educação dos seus filhos, considerando-se que a educação apresentava-se cada vez mais eficaz às garantias de atuação política, simbolizando para os pais a posição privilegiada do filho na sociedade em expansão (MARTINS, 2006, p.165),
A escolha desse local apresenta-se como de vital importância para dar
visibilidade às ações do Seminário não somente por causa de sua relação com a reforma
do clero, como também pelas possibilidades de se constituir ali uma obra dedicada à
formação dos leigos católicos, facilitada pela futura proximidade com a estação
ferroviária.
Com relação ao corpo docente do futuro Seminário, Wernet (1987, p.106),
registraria que
Para conseguir diretores e professores, “moralmente dignos e culturalmente capacitados” para o Seminário, D. Antonio Joaquim de Melo dirigiu-se, em primeiro lugar, aos padres da Companhia de Jesus que se haviam estabelecido no Rio Grande do Sul, pedindo a colaboração do padre Mariano Berdrago, superior dos padres jesuítas daquela Província. Já que este pedido do prelado paulista estava fora da esfera de competência do padre superior do Rio Grande do Sul, dirigiu-se D. Antonio Joaquim ao Superior Geral dos Jesuítas em Roma. Não sendo atendido no seu pedido, pensava na colaboração dos padres lazaristas, estabelecidos em Minas Gerais. Também deles não conseguiu os colaboradores desejados.
A peregrinação de Dom Antonio pelas diversas ordens religiosas demonstraria a
sua preocupação em entregar o Seminário aos cuidados de religiosos que estivessem
alinhados ao ultramontanismo. No entanto, por conta de sua busca infrutífera este
pediria ajuda ao papa Pio IX (1835-1914) que em atendimento à súplica do bispo
encaminharia dois freis capuchinhos de Sabóia19.
19
Congregação católica que tem sua origem na Ordem Franciscana. Segundo Martins (2006, p.171) “os
capuchinhos de Savóia – região de onde vieram os freis que assumiram o Seminário de São Paulo – assim
como os que surgiram nas demais localidades da França, foram organizados de forma a atender às
13
O primeiro reitor20 da instituição foi Frei Eugênio de Rumilly sendo sucedido
pelo espanhol Frei Firmino de Centelhas, que havia sido vice-reitor, e o corpo docente
era formado exclusivamente por religiosos21.
Em 1858 com a fundação de uma divisão especificamente dedicada à educação
dos leigos católicos, chamada de Colégio Diocesano, seriam esses mesmos religiosos os
administradores e mestres da nova obra à qual estariam vinculados de 1858 a 1879. Por
conta dessa proximidade entre Seminário e Colégio acredita-se que muito dos princípios
do catolicismo ultramontano difundidos pelo Seminário de São Paulo permeariam a
ação educativa do novo ginásio.
Após 21 anos de atuação junto ao Seminário-Colégio os capuchinhos deixariam
a instituição o que, segundo Martins, não ocorreu de forma tranquila, pois
Tratou-se de um afastamento forçado efetivado sob várias justificativas que envolveram: levantamento de provas sobre a má conduta dos freis por pressão dos clérigos paulistas contrários à linha de pensamento do Vaticano; as estratégias de conciliação efetivadas no bispado de dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho (1873-1894); a intervenção dos superiores da ordem dos capuchinhos da França; a morte de Pio IX e a ascensão do papa Leão XIII; por último a decisiva participação de Dom Pedro II, decretando que se abrissem novos concursos para se eleger um novo corpo docente para o Seminário (MARTINS, 2006, p.209)
Conclui-se que, por conta de uma nova configuração política da própria Igreja
católica, a atuação dos freis foi considerada desnecessária. Além disso, D. Antonio
havia registrado seu desejo de que os capuchinhos fossem substituídos tão logo se
formassem religiosos capazes de dar continuidade à missão da instituição (MARTINS,
2006, p.155).
necessidades das monarquias católicas perante a ascensão do calvinismo. Em 1576, o parlamento de
Paris, sob o reinado de Charles IX, atribui plenos poderes aos capuchinhos para se espalharem por todo o
reino, se tornando na França um elemento responsável pela unidade moral. As ordens parlamentares e
liberdade de atuação dos capuchinhos foram cumpridas até meados do século XVIII. Os capucinhos de
Sabóia, sob a autoridade do príncipe de Geneve e direção de São Francisco de Sales – preboste no
Chablais -, tornaram-se soldados do catolicismo na guerra contra o protestantismo calvinista, estimados
pelos inúmeros trabalhos destinados à Corte francesa”. 20
Título utilizado pelo diretor do Seminário e do Colégio. 21
As fontes não permitem especificar exatamente quem era professor no Seminário e no Colégio, no
entanto sabe-se que o primeiro corpo docente era formado pelos freis Generoso de Rumilly (Inglês,
Retórica e Música), Theodoro de Moie (Filosofia), Justo de Moie (Latim e História Universal), Germano
de Annecy (Álgebra, Geometria e Física) e também pelos padres seculares Henrique Schoffer
(Aritmética), Francisco Raggy (História da Idade Média e Alemão), Avelino Marcondes de Araujo e
Silva (Latim e Geografia), José Benedicto Marcondes Homem de Mello (Francês e Latim) e Julio Ribeiro
(Língua Portuguesa) (POLYANTHEA, 1906, pp.7-12).
14
Os padres diocesanos assumiram o Colégio em 1879 e ficaram à frente da
instituição até 1907. Foram reitores os Monsenhores22 João Soares do Amaral,
Monsenhor Camilo Passalacqua (1858-1974), João Evangelista Pereira Barros, Manoel
Ribas D´Ávila e José M. de A. Marcondes. Religiosos que enfrentaram durante 28 anos
que desafios relacionados à manutenção financeira da obra, mas a despeito das
dificuldades mesmo assim empreenderiam esforços para a ampliação e melhoria das
instalações do Seminário-Colégio.
Em 1906, antes mesmo da saída dos padres seculares, a Diocese de São Paulo já
havia tentado estabelecer negociações com os Irmãos Maristas para que estes
assumissem algumas funções junto ao Diocesano, no entanto, o pequeno número dos
religiosos dessa congregação no Brasil, em relação aos colégios que já administravam,
impediria que fosse atendido tal pedido. Seria somente em 1908 após uma série
considerações dos superiores Maristas, e uma forte pressão política realizada pelo
próprio bispo, que estes acabariam assumindo a direção do Colégio ao qual até hoje
estão vinculados.
Fundada na França pelo padre José Bento Marcelino Champagnat (1789-1840) o
Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria, ou Irmãos Maristas, nome pelo qual são
conhecidos é uma congregação católica que desde os primórdios teriam sua missão
religiosa associada à Educação sem, no entanto, que isso signifique prescindir do
processo de evangelização e difusão dos valores do catolicismo.
Os primeiros membros vieram para o Brasil em 1897 para assumir a direção do
Colégio Bom Jesus (Congonhas do Campo, MG), por conta de um pedido feito por
Dom Silvério Gomes Pimenta (1840-1922), bispo de Mariana. Os Maristas chegariam à
cidade São Paulo em 1898 e logo seriam responsáveis pela fundação e administração de
três obras educativas, o Colégio do Carmo (1899), o Colégio Nossa Senhora da Glória
(1902) e por último o Colégio Diocesano de São Paulo (1908). Seria a primeira vez que
uma congregação vinculada ao carisma da Educação administraria o Diocesano e a
atuação de seus membros obedecia desde 1853 às prescrições do Guide des Écoles, que
segundo Assis (2013) se constituiria como
(...) a síntese do que os católicos esperavam de um instituto de educação. Nele é possível observar as correntes teóricas que predominaram na sua elaboração. O pensamento tomista, o liberalismo católico, a importância da educação dos sentidos,
22
Forma de tratamento utilizada para referir-se aos bispos e outros representantes da Igreja.
15
da educação moralizante católica cristã. A mescla de todas essas variáveis trouxe a novidade de um método moderno dentro da educação católica, opondo-se ao método baseado na memorização e repetição (ASSIS, 2013, p.87)
Nesse trecho identificamos alguns dos elementos que faziam parte das diretrizes
educacionais dos Irmãos e mais do que isso é possível perceber que a congregação tinha
experiência em dirigir obras educacionais, também no que dizia respeito a seus aspectos
“pedagógicos”.
Azzi (1997) foca sua pesquisa na história e expansão da obra dos Irmãos
Maristas no Brasil entre 1897 e 1997 e sua obra encontra-se dividida em 4 volumes.23
Em seu trabalho encontramos detalhes sobre a chegada desses religiosos ao Diocesano,
os problemas enfrentados com os alunos que se apresentaram resistentes aos métodos
dos novos diretores, pois os consideravam mais rígidos do que aqueles aplicados pelos
antigos mestres, da rejeição demonstrada pela sociedade paulistana com relação à
entrada dos estrangeiros, e também por conta da dissolução de uma tradição, o fim da
direção dos padres seculares. Além disso, falaria sobre a construção da nova sede da
Vila Mariana, as dificuldades dessa construção e apresentaria como ocorria a formação
dos irmãos-professores.
O livro de Adorátor (2005) é uma memorabilia24, e para os Irmãos Maristas
trata-se de uma obra emblemática quando se deseja falar sobre a atuação desses
religiosos no Brasil.
Por ter sido elaborado dentro do período da República Velha neste livro há
informações sobre a Reforma Rivadávia Correa (1911) e o impacto dela sobre os
colégios católicos, relatos sobre a transferência do Diocesano para os Maristas, e as
primeiras medidas desses à frente do Colégio, incluindo o cuidado que estes
dispensavam às questões legais e às concepções da congregação com relação ao ensino,
à disciplina e principalmente à Fé. Especificamente com relação a Rivadávia os
apontamentos de Adorátor indicam que se acreditava num colapso da educação católica
23
Riolando Azzi é um grande especialista da história do catolicismo no Brasil e conforme informação de
Assis (2013, p.16), é “um historiador muito requisitado das Congregações Católicas para a produção de
livros sobre a atuação destas no Brasil” 24
Foi elaborada para atender a um pedido feito pelo Superior-Geral a todos os provinciais do mundo, este
queria que se comemorasse condignamente o centenário da Congregação em 2 de janeiro de 1917. A
Província do Brasil-Central, à qual o Arquidiocesano estava vinculado, optou pelo registro histórico de
seus primeiros 20 anos, ou seja, entre 1897 e 1917 e desse movimento nasceria essa obra atribuída ao Ir.
Adorátor e traduzida para o português somente em 2005.
16
no Brasil por conta do fim das equiparações, ou seja, esta é apresentada como vital para
a manutenção dos colégios católicos.
Minhoto (2007) se debruçou sobre o perfil socioeconômico de alunos que
prestaram o exame de admissão25 em cinco colégios situados na cidade de São Paulo, e
tal estratégia foi utilizada para compreender criticamente a ideia de que o ensino
secundário voltava-se à formação de uma elite26. Graças à análise da formação dos pais
dos alunos e o vínculo destes com atividades profissionais foi possível para a
pesquisadora identificar como se caracterizava socialmente o corpo discente do colégio
dentro do período delimitado, e esta concluiria que o corpo social do Arquidiocesano
era “heterogêneo, apesar da grande concentração de empresários”. Além disso, com
relação à moradia da clientela, a autora diagnosticaria ser essa a instituição que atendia
o maior número de alunos do interior do Estado, e que 73% dos alunos provinha de
famílias brasileiras (MINHOTO, 2007, p.90).
Carvalho (2003) ao estudar os intelectuais vinculados à política educacional dos
anos 1920 e 1930 dedica especial atenção às ações da Associação Brasileira de
Educação (ABE), e dentro desta aos pontos dissonantes entre os católicos e os
“pioneiros”, apresentando, inclusive a atuação de “pioneiros católicos” na instituição.
Ao fazer isso apresenta a ideia de que não havia uma polarização absoluta entre
católicos e escolanovistas, demonstrando as tensões desses grupos perante a sua atuação
política com relação às questões relacionadas à Educação. Não se tratava de apontar os
“pioneiros” como “comunistas” e, em contrapartida, ver nos católicos o grupo
responsável por uma educação ultrapassada e conservadora. Apresenta-se que tanto o
grupo de liberais, quanto os católicos tinham seus projetos particulares para a
modelação da nação brasileira, e destaca-se a atuação de liberais católicos que, além de
religiosos, contribuiriam para a renovação das práticas pedagógicas.
A Revolução de 30 abriria espaço para uma série incertezas e mudanças
políticas, e nesse contexto de indefinições o espaço escolar seria visto como um local
privilegiado no qual seria possível realizar uma verdadeira difusão ideológica e, por
esse motivo este acabaria se constituindo como local de disputa onde entrariam em
choque o grupo dos “pioneiros” e o laicato católico, ambos interessados em instituir
25
Exame para ingresso no primeiro ano do Ginásio e instituído em 1931 pelo ministro Francisco Campos. 26
Formação das elites foi utilizado de forma “genérica”, pois existe uma grande quantidade de expressões
utilizadas pelos autores, tais como: formação dos quadros mandatários, formação das elites sociais,
preparação das elites, formação das elites diretoras, formação das elites nacionais, elite intelectual,
econômica e religiosa brasileira, formação dos condutores da Pátria, etc. O Colégio Arquidiocesano, é
identificado na pesquisa como “instituição A” e foi estudado entre 1931 e 1945.
17
oficialmente sua concepção sobre a Educação, e também como uma estratégia para
estender a sua influência no cenário político brasileiro, algo almejado pelos católicos
desde a separação ocorrida entre o Estado e a Igreja com o advento da República em
1889.
São inúmeros os pontos divergentes entre os dois grupos, no entanto, o item que
parece ser central nas discussões refere-se ao caráter laico e não metafísico da educação
proposta pelos “pioneiros”, algo que contrariava veementemente a postura católica que
acreditava ter a Fé um papel essencial para que fosse possível a formação plena do
indivíduo.
De acordo com Assis (2013, pp.80-81) os Irmãos Maristas, sendo proprietários
de escolas, representariam uma parcela interessante dentre os católicos que se
dedicavam à Educação, pois contradiziam a ideia de que havia uma homogeneidade
entre o grupo de católicos que no início do século XX estavam totalmente afeitos à
tradição e ao conservadorismo. Ressalta que, como católicos, tinham especial interesse
em educar novas lideranças distanciando-as do ateísmo, das tendências anticlericais, e
de quaisquer doutrinas que pregassem a não existência de Deus. Eram conservadores se
pensarmos na ideologia que defendiam, mas com relação à sua ação pedagógica,
estavam mais próximos de tendências ditas modernizadoras, voltando os seus trabalhos
a uma educação dos sentidos, levando em conta a aquisição de materiais pedagógicos
inovadores, estando apegados às tendências pedagógicas que pregavam um ensino
“prático”, fosse ele entendido pelo ponto de vista do método intuitivo, fosse, mais tarde,
compreendido pelo viés dado pelo pensamento escolanovista.
Ao assumirem o Colégio em 1908 este já havia sido equiparado e esse privilégio
foi perdido em 1911, por conta da reforma Rivadávia Correia. Posteriormente haveria
um novo movimento para a recuperação desse privilégio. Parte dessa preocupação em
torno da equiparação pode ser vista indiretamente pela progressiva aquisição de
materiais científicos e o aumento dos espaços voltados ao ensino das Ciências, ações
essas destacadas pelos inspetores de ensino como itens essenciais para uma boa
educação e modelo para outras instituições (BOCCHI, 2013, pp.75-81).
Levando em conta que o estatuto à equiparação se mostrou importante para a
instituição, pergunta-se: Como foi organizado o processo de equiparação do Colégio
Marista Arquidiocesano de São Paulo sob a direção dessa congregação?
Para tentar responder a primeira questão acrescentaram-se outras consideradas
subsidiárias: Como ocorria o diálogo entre os representantes do colégio e os delegados
18
fiscais/inspetores federais? Os documentos da equiparação trazem um panorama sobre
os procedimentos que eram realizados para a sua obtenção, e também como era
realizada a sua manutenção, no entanto, como se realizava a fiscalização no dia-a-dia? 27
Como esses documentos eram apresentados? Quais eram os documentos mais
importantes e como eram organizados? Como os membros do colégio lidavam com as
prescrições oficiais, laicas levando em conta o seu direcionamento católico?
Especificamente com relação aos documentos da equiparação dos anos 1930-
1940 do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo a intenção é contar a história
que esses itens desvelam e apresentá-los em relação à materialidade: suas partes
constitutivas, os parâmetros utilizados pelos responsáveis pela fiscalização dos colégios
(inspetores federais), considerando tal documentação como testemunha de uma
estratégia desenvolvida com o intuito de uniformização do ensino secundário no Brasil,
dando ênfase a como essas concepções influenciaram a organização do espaço escolar
de uma das mais antigas instituições secundárias da cidade de São Paulo.
Como recorte histórico definiu-se entre a equiparação conseguida em 1900,
antes mesmo da administração dos Irmãos Maristas, pois foi percebido que a sua
herança simbólica desencadeia parte do movimento histórico que estimula a busca por
uma equiparação definitiva, até a segunda avaliação do prédio da Vila Mariana,
realizada em 1940 quando essa sede já estava concluída e em pleno funcionamento.
Investigação dos processos de equiparação do Colégio Marista Arquidiocesano de
São Paulo e a busca por outras documentações
O grupo de documentos28 relacionados diretamente à obtenção e manutenção da
equiparação do Arquidiocesano, e arquivados no MCMA, será a fonte principal com
relação à equiparação dos anos 1930 devendo ser amplamente analisada, descrita e
explorada, pois foi a partir dela que se originaram as demandas dessa pesquisa, dentre as
quais a visita a arquivos, bibliotecas e a montagem de um levantamento bibliográfico
que pode ser verificado em Referências bibliográficas.
27
Fundado em 1837, como Imperial Colégio de Pedro II, teria seu nome alterado em 1889, com a
Proclamação da República, para Instituto Nacional de Instrução Secundária, mas este logo seria
substituído por Ginásio Nacional o qual permaneceria até 1911, quando foi novamente alterado para
Colégio Pedro II. Todos os documentos da equiparação obtida pelo Colégio em 1900 fazem referência ao
Ginásio Nacional, enquanto os itens relacionados aos anos 1930/1940 citam o Colégio Pedro II, por isso
optou-se em manter as nomenclaturas específicas de cada período. 28
Para maiores informações sobre esses itens verificar o Anexo 1, no qual os documentos foram descritos
19
Os itens da equiparação do Arquidiocesano, anos 1930/1940, se encontram da
seguinte forma:
Processo de equiparação do Colégio Arquidiocesano de São Paulo (de
1931 a 1967): dividido em quatro volumes e com itens relativos às duas
sedes (Avenida Tiradentes e atual Rua Domingos de Moraes). Fazem parte
desse grupo de documentos: fotos dos ambientes (fachadas, salas de aula,
cozinha, laboratórios de Física/Química/História Natural, biblioteca, pátios,
secretaria, refeitórios, instalações sanitárias e dormitórios); fotos de
atividades/eventos (solenidades, práticas escolares e atividades físicas),
reprodução das plantas do edifício; descrição da organização do ensino e da
estrutura administrativa, escrituração financeira e corpo docente; relação de
professores por disciplina e informações sobre a formação e experiência de
cada um destes; contrato de trabalho de professores (Educação Física e
História do Brasil/Física); ficha de classificação com informações sobre
meios de transporte disponíveis, salubridade, ausência de ruídos, ausência de
perigos, perturbação da atenção, permeabilidade do terreno, área coberta,
área livre, extintores de incêndio, iluminação, caixas d´água, bebedouros,
lavatórios, tamanhos das salas de aula, pintura utilizada, etc.; horário
semanal de ensino; listas de alunos matriculados; solicitação de transferência
de prédio; listagem de recursos didáticos; relações de instrumentos de
laboratório; telegramas e correspondência com órgãos reguladores da
Educação; fragmentos de publicações institucionais e relatórios de inspeção
federal.
Buscou-se quais eram as esferas governamentais vinculadas à equiparação, e
consequentemente ao ensino secundário na década de 1930, e com isso localizou-se os
seguintes órgãos públicos: Departamento Nacional de Ensino, Superintendência do
Ensino Secundário, Divisão de Ensino Secundário, Diretoria de Ensino Secundário e
Inspetoria Geral do Ensino Secundário. Como todos estes eram relacionados à esfera
federal sentiu-se premente necessidade de realizar incursões junto ao acervo do Arquivo
Nacional (AN).
20
A consulta ao Sistema de Informações do Arquivo Nacional – SIAN29, que
disponibiliza base de dados com acesso à descrição da documentação armazenada no
AN, permitiu localizar 11 itens, compostos por fundos e documentos que se acreditou
poderiam auxiliar na compreensão da equiparação, mas que não se mostraram
diretamente relacionados aos itens do Arquidiocesano, no entanto, acreditou-se que
poderiam ser relevantes ao menos para ampliar a compreensão sobre a equiparação
(Anexo 2).
Uma contribuição desses levantamentos iniciais junto ao banco de dados do AN
foi ter reforçado a necessidade de uma pesquisa in loco naquela instituição e também
por terem surgido outras lacunas ao serem esquadrinhadas de forma mais detalhada as
documentações da equiparação do Arquidiocesano.
Junto ao AN seriam verificados os materiais arquivados na série Educação30,
sendo essa composta especificamente por documentos que versavam sobre questões
educacionais e nos quais um levantamento acurado só poderia ser realizado no próprio
AN, uma vez que as descrições desses materiais ainda não se encontram detalhadas na
base de dados on-line.
Uma análise preliminar permitiu verificar ser a grande maioria dos registros da
série Educação relacionada à questão da equiparação no período da Primeira República
(1889-1930). As gavetas são organizadas alfabeticamente e levam em consideração os
estados brasileiros, e dentro de cada um destes o nome dos colégios equiparados, e no
corpo da ficha uma descrição sucinta sobre o documento arquivado, dados suficientes
para uma primeira seleção. Ao serem verificados os estados disponíveis surgem os
nomes de instituições como Mackenzie (SP), Ginásio N. S. do Carmo (SP), Colégio
Pedro II (RJ), Ginásio Carneiro Ribeiro (BA), Ginásio de São Paulo (SP) dentre outros.
Entre as inúmeras instituições figuram dois itens associados ao Colégio
Diocesano, nome utilizado pelo Arquidiocesano até 1908. Após a seleção dos materiais
foram separados três grupos para leitura, um deles relacionado ao Ginásio Nossa
29
O SIAN pode ser acessado por meio do endereço eletrônico www.an.gov.br/sian/inicial.asp. 30
“Os documentos dessa série foram coletados em 1962 pelo Ministério da Educação e Cultura.
Consultando a base SIAN obtivemos a seguinte informação com relação à organização desses fundos:
“Na década de 1960, o Arquivo Nacional contou com a colaboração técnica do professor francês Henri
Boullier de Branche, diretor dos arquivos de Sarthe (Le Mans), que dirigiu um grupo de trabalho
encarregado de estabelecer um quadro de arranjo do acervo textual. Surgiram, assim, as séries funcionais,
que classificam parte da documentação da administração central dos ministérios , e de órgãos a eles
pertencentes de acordo com a função ou atividade ministerial principal, subdivid indo-a, ainda, em atividades secundárias, específicas de determinado serviço. Assim, Ensino secundário, por exemplo,
corresponde a uma subsérie da atividade principal, representada na SÉRIE EDUCAÇÃO” (Fonte:
Sistema de Informações do Arquivo Nacional – SIAN).
21
Senhora do Carmo, pois a equiparação deste, em 1933, encontra-se disponível no
MCMA e talvez houvesse algo que auxiliasse na compreensão da documentação do
próprio Arquidiocesano.
A primeira pasta analisada dizia respeito ao Ginásio N. S. do Carmo.31
Composta por documentos da equiparação obtida em 9 de outubro de 1905, encontram-
se ali relatórios de delegados fiscais, cartas, bilhete do Partido Republicano Paulista e
apólices de seguro.32 Documentos estes que retratam as dificuldades, e também o jogo
de influências, realizados para a equiparação desta instituição ao Ginásio Nacional. Por
não ser esta instituição o objeto deste trabalho não foi realizada uma análise
aprofundada desses itens.
O segundo grupo dizia respeito ao Colégio Arquidiocesano (período 1925 a
1931), e apesar das 419 páginas, era composto por mapas gerais dos exames, atas de
exames de admissão, atas de exames finais, boletins do julgamento dos exames de
promoção e quadros gerais dos boletins das provas parciais33 (respectivamente Anexos
3 a 7). Estes quadros trazem informações sobre os resultados obtidos pelos alunos nas
provas oficiais do ensino secundário e enviados pelos ginásios aos departamentos
responsáveis por seu acompanhamento e fiscalização34.
O terceiro pacote exibia como primeiro item um pequeno papel manuscrito que
apontava estarem ali os Requerimentos de equiparação ao Gymnasio Nacional dos
Collegio Diocesano de S. Paulo e Collegio de S. Jose. Ao explorá-lo verificou-se serem
os documentos da primeira equiparação do Colégio Diocesano ao Ginásio Nacional,
obtida oficialmente em 4 de agosto de 1900. As únicas informações sobre ele foram
encontradas na revista Ecos35, com especial destaque para as constantes observações
entre 1908 a 1924 na capa, que o colégio era Equiparado ao Ginásio Nacional, e após
1911, temos Antes das reformas, equiparado ao Gymnasio Nacional, mas estes
31
Itens do conjunto documental IE4 193 (Arquivo Nacional).
32O decreto nº 5.708, de 9 de outubro de 1905, concedeu ao Ginásio Nossa Senhora do Carmo, na cidade
de São Paulo, as mesmas vantagens que possuía o Ginásio Nacional. 33
Todos esses itens fazem parte do conjunto documental IE4
589 (Arquivo Nacional). 34
Existem referências nesse sentido no livro de ata intitulado Secretaria – Occorrencias diárias (1932-
1936). 35
Padronizou-se o nome da revista para a grafia Ecos, pois esta também aparece grafada como Echos,
Échos, e Échos do Collegio Archidiocesano. A revista Ecos foi publicada entre 1908 e 1963 e possuía
periodicidade anual. Durante todo esse período de existência foi veículo oficial de comunicação da
instituição com pais, autoridades políticas e também religiosas aos quais eram remetidos números pelo
correio. Para maiores informações ler artigo PINAS, Raquel Quirino; PEDRO, Ricardo Tomasiello.
Revista Echos do Collégio Archidiocesano de São Paulo (1908 -1963): possibilidades para estudos em
História da Educação apresentado em 2012 no VII Congresso Brasileiro de História da Educação
(Cuiabá).
22
elementos eram insuficientes para a reconstrução daqueles documentos, embora
indicassem que ser colégio equiparado era socialmente percebido como algo relevante e
diferencial com relação aos não equiparados.
O conjunto encontrado no AN é composto por aproximadamente 40 itens entre
procurações, um exemplar do Diário Oficial, relatórios, autos de avaliação, bilhete,
carta, prospecto do Colégio, descritivo sobre a estrutura administrativa e coleções
didáticas, solicitações de mudança nas datas do ano letivo, informações sobre alunos,
comprovantes de patrimônio, declarações sobre quitação de impostos, apólices de
seguro, dentre outros.
Com relação à documentação do MCMA verificou-se a inexistência de uma
paginação específica, ou uma organização extremamente formal dentro do conjunto
(essencialmente organizado cronologicamente), por isso para possibilitar a localização e
a referência aos documentos dentro de cada volume optou-se por utilizar o termo
Processo de Equiparação, pois atualmente encontra-se grafado na lombada dos
volumes encadernados Processo de Equiparação do Colégio Arquidiocesano de São
Paulo, e a este foi acrescentado o respectivo volume e parte.
O primeiro volume é o único a possuir paginação impressa, no entanto, a partir
do segundo essa é irregular e foi refeita, de forma manuscrita, pelo menos três vezes e
na ausência de qualquer uma dessas anotações foi atribuído um número sequencial a
partir da última página numerada, mas este aparecerá grafado entre colchetes para
indicar numeração atribuída. É relevante destacar que nem sempre o ano apresentado na
lombada diz respeito à data de elaboração do documento.
O acesso aos documentos do MCMA e AN permitiu averiguar a legislação
educacional seguida pelos institutos equiparados, pois estes indicam em seu texto os
dispositivos legais por meio dos quais são constituídos. O mapeamento dessas leis e
decretos permitiu entender os procedimentos para a obtenção e manutenção dessa
prerrogativa, pois independentemente do período esta não era concedida de forma
irrevogável o que, por exemplo, garantia o controle do ensino secundário pelo governo
federal.
A análise da legislação educacional do período republicano com relação ao
ensino secundário mostrou-se relevante, pois auxiliou a identificar os caminhos formais
da equiparação, mas isso não isentou uma busca por fontes que analisavam e faziam
considerações sobre esses mesmos aspectos, por isso foram utilizadas as obras abaixo
relacionadas percebidas nesse contexto como fontes primárias, por serem estas
23
publicações contemporâneas à documentação da equiparação do Arquidiocesano, dos
anos 1930, são elas:
Serviço de inspeção dos estabelecimentos de ensino secundário (1932) -
Material produzido pelo Departamento Nacional do Ensino órgão vinculado
ao Ministério de Estado de Educação e Saúde Pública. Exibe grande
quantidade de anotações;
Leis do ensino secundário e seus comentários (1939) – Dr. Alysson de
Abreu (Inspetor federal) – esta obra qualifica-se como “manual do inspetor
do ensino secundário”;
Legislação Brasileira do Ensino secundário (1939) – Adalberto Corrêa
Sena (Técnico de Educação da Divisão de Ensino Secundário);
Para esclarecer sobre o cotidiano do Colégio e o constante processo de
manutenção relacionado à equiparação foram utilizadas seis fontes primárias, sendo a
primeira referente ao processo de 1900 e as demais aos anos 1930/1940:
Provisões (1908) – livro de atas composto por 200 páginas, e destas
somente 50 possuem algum tipo de registro entre 1905 e 1910. Composto
quase inteiramente por relatórios encaminhados ao delegado fiscal
(autoridade fiscalizatória);
Livro de visitas do inspetor federal (1931 a 1967) – possui registros
elaborados pelos inspetores federais (autoridade fiscalizatória) e é composto
por 200 páginas manuscritas;
Livro de ocorrências – Inspetoria Seccional de São Paulo (1938 a 1960)
– possui 52 páginas e também registra observações dos inspetores federais;
Termos de visitas dos inspetores federais (1937 a 1938) – livro de atas
composto por 100 páginas das quais somente 10 foram utilizadas pelos
inspetores;
Secretaria – Occorrencias diárias (1932-1936) – livro com anotações
sobre o cotidiano da secretaria escolar disposta ao longo de 200 páginas;
Diário da Secretaria – Registro das ocorrências diarias (1936-1940) –
128 páginas sobre preenchidas;
24
Especificamente com relação ao levantamento da legislação dos períodos
analisados nesta dissertação foi utilizado o Portal de Legislação do Senado Federal36.
Para a análise das informações sobre a administração dos Irmãos Maristas à
frente do Colégio lançou-se mão de obras publicadas pela instituição, dentre as quais
exemplares vinculados à comemoração de alguma efeméride e biografias de antigos
diretores. Tais referências foram utilizadas de modo parcimonioso, pois se considera
que essas valorizam a versão “oficial” daquilo que se quer dar a conhecer.
Com relação à história do próprio Colégio destaca-se a revista Ecos, editada
entre 1908 e 1963, que se mostrou particularmente profícua, pois por meio de suas
matérias e notas temos informações sobre a questão da equiparação e a relação dessa
prerrogativa com o público ao qual o Colégio estava vinculado (pais, autoridades civis,
membros do clero, políticos, etc). Outro aspecto pertinente com relação a essa
publicação diz respeito a estarem ali registrados os posicionamentos e as omissões de
uma instituição católica com relação às mudanças na política educacional brasileira.
Pretende-se utilizar o patrimônio edificado da sede da Vila Mariana, construída
entre 1929 e 1939, como fonte para essa dissertação por considerar que este é o
resultado final das articulações retratadas no histórico do processo, cotejando-o com
outro item do acervo do MCMA conhecido como Álbum da construção, sendo este
composto por 69 fotos (três desaparecidas) em preto e branco, nas quais foram
registradas algumas fases da construção do edifício, especificamente entre 1929 e 1933.
Esse material é relevante, pois a estrutura física era muito considerada quando uma
instituição era avaliada para fins de equiparação e manutenção, e também por perceber
nesse material um registro relevante com relação à construção de um prédio num
período fortemente marcado pelas prescrições do Ministério da Educação e Saúde
Pública (MESP), em especial àquelas relacionadas à Reforma Francisco Campos.
Procedimentos de análise
Por conta do manuseio constante das fontes e estimulado pelo desafio de
construir uma narrativa que relatasse a experiência do Arquidiocesano com a
equiparação buscou-se na historiografia referências e metodologias que auxiliassem
nessa tarefa.
36
Disponível para acesso no endereço eletrônico www.senado.gov.br/legislacao/ ou
legis.senado.leg.br/sicon/
25
Mostraram-se imprescindíveis as observações de Ginzburg (2002, pp.143-179)
com relação ao “método Morelli”, vinculado à análise de obras de Arte, e o quanto este
apresenta possibilidades investigativas em História ao também se utilizarem os indícios
como elementos dignos de consideração quando outras fontes “se calam” sobre aspectos
daquilo que se deseja perscrutar, pois no caso das documentações estudadas foi
necessário dar visibilidade aos pequenos sinais encontrados.
Especialmente com relação aos documentos dos anos 1930/1940 há uma
considerável quantidade de material fotográfico que retrata uma instituição que se
“demonstra” e a análise destas fotos levaram em consideração aspectos indicados por
Kossoy quando este afirmava que
Toda fotografia tem atrás de si uma história. Olhar para uma fotografia do passado e refletir sobre a trajetória por ela percorrida é situá-la em pelo menos três estágios bem definidos que marcaram sua existência. Em primeiro lugar houve uma intenção para que ela existisse; esta pode ter partido do próprio fotógrafo que se viu motivado a registrar determinado tema do real ou de um terceiro que incumbiu para a tarefa. Em decorrência desta intenção teve lugar o segundo estágio: o ato do registro que deu origem à materialização da fotografia. Finalmente, o terceiro estágio: os caminhos percorridos por esta fotografia, as vicissitudes por que passou, as mãos que a dedicaram, os olhos que a viram, as emoções que despertou, os porta-retratos que a emolduraram, os álbuns que a guardaram, os porões e sótãos que a enterraram, as mãos que a salvaram. (KOSSOY, 1989, p.29)
A descrição e a análise das cenas registradas mostraram-se essenciais para que
se pudesse de alguma maneira identificar as intencionalidades apresentadas pelas
imagens, especialmente por terem sido elas constituídas para uso nos procedimentos da
equiparação.
Por conta de toda a documentação aferida definiu-se como recorte histórico entre
1899, ano da publicação do decreto n° 3.491 graças ao qual o Colégio obtém a primeira
equiparação em 1900, e 1940 quando seguem para o Rio de Janeiro informações sobre a
recém-concluída sede da Vila Mariana. É pertinente esclarecer que a equiparação é
citada em legislação anterior a 1899, mas levou-se em consideração somente aquela
utilizada pelo Arquidiocesano.
26
Divisão dos capítulos
No capítulo 1 é contada a história da primeira equiparação recebida em 1900,
revogada em 1911 e os lamentos dos responsáveis do colégio em torno de tal evento.
Leva-se em conta o histórico anterior à administração dos Irmãos Maristas, quando a
instituição esteve nas mãos dos padres diocesanos, identificando nela as reformas
educacionais do ensino secundário a partir de 1899, como uma estratégia para situar a
posição da administração Marista mediante o recebimento de um colégio já equiparado.
No capítulo 2 são analisados o impacto da supressão da equiparação do
Arquidiocesano em 1911 por conta da Reforma Rivadávia Correa, o posicionamento do
Colégio perante as discussões educacionais dos anos 1920 e 1930, além de incluir nesta
última década a mobilização dos Irmãos Maristas em prol da recuperação do
reconhecimento perdido, além disso, são apresentados instrumentos por meio dos quais
o governo federal estruturou as estratégias de fiscalização.
Com a conquista da equiparação achou-se pertinente identificar e analisar no
capítulo 3 como eram acompanhados os institutos equiparados e como o Colégio lidou
com essas questões na sede localizada na Vila Mariana. Por isso percebeu-se como
estratégia relevante a análise da relação da instituição com os inspetores federais. Neste
capítulo pretende-se fazer o estudo do patrimônio edificado, bem como tentar identificar
os acréscimos realizados pelos Irmãos Maristas ao modelo de escola secundária imposta
pelo Estado.
27
CAPÍTULO 1 – A EQUIPARAÇÃO DE 1900 DO COLÉGIO DIOCESANO E A
SUA REVOGAÇÃO PELA REFORMA RIVADÁVIA CORREA EM 1911
A entrada dos padres diocesanos ocorreria logo após a saída dos “saboianos” em
1879, sendo naquele momento bispo de São Paulo Dom Lino Deodato Rodrigues de
Carvalho (1826-1894) que ficaria à frente da Diocese entre 1871 e 1894. A entrada dos
padres, no entanto, não alteraria a direcionamento ideológico de seus antecessores, pois
muitos desses foram alunos no Seminário e formados dentro da perspectiva
ultramontana (MARTINS, 2006, p.18).
Foram cinco os reitores-padres responsáveis pela instituição, sendo o primeiro
Monsenhor João Alves37, que esteve à frente do Seminário-Colégio entre 1879 e 1889.
Sobre ele e sua administração a Polyanthea38 falaria
Reitor, ecônomo, soube consagrar todo o seu tempo e toda a sua atividade em múltiplos serviços, ora dirigindo e fazendo-se architecto nos trabalhos de reconstrucção e de novas construcções alargando e engrandecendo o estabelecimento para acolher maior número de alunos, que ahi pudessem vir a receber instrucção solida e educação christã (POLYANTHEA, 1906, p.580).
Apesar da aparente prosperidade descrita acima, alguns pesquisadores afirmam,
que a situação financeira na qual se encontrava o Seminário era tão delicada,
especialmente com a mudança no regime político brasileiro por conta do fim da
Monarquia e a chegada da República, que ele quase seria fechado (MARTINS, 2006,
p.230).
O que é possível perceber em relação aos sucessores do Monsenhor João Alves é
que estes constantemente buscam estratégias para garantir a manutenção financeira do
Seminário-Colégio e como exemplo dessas tentativas tem-se a construção de armazéns
na Rua São Caetano entre 1890-1891 e a edificação de imóveis próximos à Rua 25 de
Março, todos estes alugados e os recursos revertidos para a instituição (MARTINS,
2006, pp.237-238). Em Martins, também encontramos o relato sobre as melhorias
estruturais realizadas como, no seguinte trecho
37
Monsenhor João Alves Coelho Guimarães nasceu em Taubaté em 1834. Iniciaria seus estudos no
Seminário Episcopal em 7 de março de 1857 e teria uma longa trajetória eclesiástica. 38
Edição comemorativa dos 50 anos do Seminário Episcopal de São Paulo publicada em 1906.
28
As reformas no prédio do Seminário foram iniciadas nas férias que separaram o ano letivo de 1890 e 1891. Dentro do projeto, foram iniciadas as construções de um novo refeitório, aumento no salão de estudos, das salas de aulas, reconstrução da enfermaria e outros cômodos necessários às novas exigências educacionais (MARTINS, 2006, p.236)
Apesar das constantes benfeitorias realizadas no prédio da Luz próximo ao
período do pedido da primeira equiparação seria registrada pela instituição uma queda
significativa no número de alunos mais precisamente entre 1898 e 1900, pois de 262 no
primeiro ano estes passariam a ser 131 jovens39. Essa queda indica que o Colégio
passava por um período de pouco prestígio causado, também pela existência de outras
formas de acesso ao nível superior que atuariam como “concorrentes” ao modelo de
ensino ginasial oferecido pela instituição, e uma forma de reverter esse quadro foi
pleitear a equiparação do Diocesano ao Ginásio Nacional, algo conseguido pelo padre
José Pedro de Araújo Marcondes (1864-1916), último reitor-padre.
Segundo Silva (1969, p.252) a palavra “equiparação” seria utilizada pela
primeira vez no decreto que aprovou o regulamento das instituições de ensino jurídico
(1.232-H, de 2 de janeiro de 1891), mais especificamente o artigo 43140, pois esse termo
não aparecia na Reforma Benjamin Constant (1890). Antunha (1980, p.89) e Silva
(1969, p.252) concordam ter sido essa a primeira abertura jurídica para que institutos
privados de ensino secundário pudessem pleitear junto ao governo federal os mesmos
privilégios do Ginásio Nacional, o que significava permitir aos ginásios privados que se
responsabilizassem pela aplicação e verificação dos exames parcelados41 dos alunos
vinculados à sua instituição (ANTUNHA, 1980, p.119).
Antunha (1980, p.90) acredita que a pressão feita pelos colégios privados sobre
Benjamin Constant, ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, com relação à
equiparação fora tanta que esse optaria pela “inclusão, quase clandestina e em decreto
que se não referia especificamente ao ensino secundário, da expressão ginásios
particulares equiparados”.
39
Equiparação de 1900 (Arquivo Nacional IE4 – 134) 40
Art. 431 A datar de 1891 os exames dos referidos preparatórios serão feitos no Gymnasio Nacional ou
nos gymnasios particulares a este equiparados por decreto ´pelo Governo ou nos cursos anexos às
Faculdades do Direito que para esse fim serão reorganizados segundo as disposições adiante
mencionadas. 41
Dentro da historiografia do ensino secundário brasileiro existe uma série de discussões n as quais
figuram os exames parcelados, no entanto, aqui mostra-se suficiente a definição dada por Cunha (2011,
p.155), quando os apresenta como as provas que permitiam aos alunos a eliminação gradativa das
matérias exigidas para ingresso no ensino superior, sendo facultado aos alunos a possibilidade de
escolherem onde e quando prestariam essas provas.
29
Em 1892 seriam equiparadas duas primeiras instituições, ambas mantidas pelo
poder público, uma em Minas Gerais e a outra no Pará (SILVA, 1959, p.277). Três anos
depois receberia esse reconhecimento o Instituto Henrique Kopke e, em 1899, o Colégio
Abílio, ambas mantidas por particulares. O espaço entre essas últimas concessões
ocorreria por conta da resistência do governo em conceder as equiparações
(ANTUNHA, 1980 apud ABRANCHES, 1918, p.37-38).
Silva (1969, p.252) afirmaria também, com relação ao artigo 431, que ele “teria
sido ainda o primeiro passo no sentido da uniformização do ensino secundário particular
de todo o país, se a equiparação nele prevista, não tivesse permanecido irrealizada pelo
menos até 1899”, no entanto, entre 1901 e 1911 a situação era muito diferente, pois
seriam reconhecidas oficialmente 50 instituições espalhadas pelo Brasil (ANTUNHA,
1980, p.147).
A elaboração de uma regulamentação mais específica com relação à equiparação
somente seria publicada em 1899 com os decretos nº 3.285 e 3.481 (Anexo 8),
dispositivos esses que seriam em 1901 integrados à Reforma Epitácio Pessoa42 (SILVA,
1969, p.256).
Utilizando as disposições do decreto nº 3.481, o então diretor do Colégio
Diocesano, padre José Pedro de Araújo Marcondes, por meio de seu procurador o
Cônego Dr. João Evangelista Pereira Barros solicitaria em 16 de julho de 1900, ao
Ministério da Justiça e Negócios Interiores a equiparação do Colégio Diocesano ao
Ginásio Nacional, pois foram satisfeitas “todas as exigências da lei, como demonstram
os documentos juntos”43. Para o Rio de Janeiro seguiram todos os comprovantes que
atestavam o cumprimento dos itens relacionados no 4º artigo do decreto 3.491, que
eram
Constituir um patrimonio de 50 contos de réis pelo menos, representado por apolices da divida publica federal e pelo edificio em que funccionar o instituto ou por qualquer desses valores; II. Provar uma frequencia nunca inferior a 30 alumnos pelo espaço de 2 annos; III. Observar o regimen e os programmas de ensino adoptados para o Gymnasio Nacional.
Seguiram para apreciação do ministério um exemplar do Diário Oficial de 24 de
maio de 1900, no qual constava a publicação do estatuto do Colégio Diocesano e uma
42
Decreto nº 3.890 de 1 de janeiro de 1901. 43
Equiparação 1900 (Arquivo Nacional IE4 – 134).
30
declaração da Caixa de Amortização44 atestando terem sido adquiridas apólices da
dívida pública45. Após o encaminhamento dessa documentação era nomeado um
comissário fiscal sendo este responsável por realizar uma visita ao colégio solicitante e
depois disso elaborar um relatório no qual registrava suas impressões.
O comissário faria a visita ao Colégio e o relatório elaborado em 31 de julho de
1900 seria protocolado junto ao Ministério em menos de três dias. No relatório o
representante do governo seria extremamente elogioso e anexaria às suas impressões um
descritivo e dentre suas observações registraria
(...) visitei o Collegio Diocesano, cujo diretor e corpo docente
pessoalmente conheço, podendo por isso atestar sua idoneidade
moral e habilitação technica, aliás bem conhecida pelo publico
deste Estado 46
.
A estrutura física e o mobiliário recebem menções igualmente positivas, pois
Alem das excellentes condições higiênicas dessa instituição de ensino a qual funciona em edifício construído especialmente para o fim de educar avultado número de alumnos, verifiquei que se acha munido de mobilia escolar em tudo conforme com as prescrições da Pedagogia Moderna, como também de Laboratorios, gabinete e apparelhos necessários para o ensino das Sciencias Physicas e Naturaes (...)
47
Nesse trecho fica clara a necessidade de destacar que o Colégio estava
sintonizado com as mudanças no campo educacional e como escola católica havia a
inserção dos saberes científicos na formação de seus alunos. Com relação ao descritivo
pôde-se perceber ser ele bastante simples, sendo composto pelos nomes dos membros
do corpo administrativo, dos docentes, das disciplinas ministradas, pela quantidade de
alunos matriculados nos últimos três anos, pela relação com 52 instrumentos do
gabinete de Física, uma descrição pouco precisa de sete itens do laboratório de Química,
e uma relação geral de uma coleção identificada como Museo.
44
Criada por Lei de 15 de novembro de 1827 e regulamentada por decreto de 8 de outubro de 1828, a
Caixa de Amortização tinha por destinação "pagar os capitais e juros de qualquer dívida pú blica fundada
por Lei, pagando por semestre os juros das apólices de fundos, resgatando anualmente tantas apólices do
capital fundado quantas equivalerem à soma de 1% do mesmo capital, e inspecionando as transferências
das mesmas apólices de uns para outros possuidores. (Fonte:
http://www.bcb.gov.br/pre/Historia/HistoriaBC/caixa_amortizacao.asp?idpai=HISTORIABC) . 45
Equiparação 1900 (Arquivo Nacional IE4 – 134).
46Equiparação 1900 (Arquivo Nacional IE
4 – 134).
47Equiparação 1900 (Arquivo Nacional IE
4 – 134).
31
A escolha do comissário fiscal era definida no artigo 5º, do decreto nº
3.491/1899, por meio do qual se orientava que esse papel deveria ser
(...) confiado a pessoa de provada competencia pedagogica, quando no districto em que tiver a sua séde o novo instituto não existir outro estabelecimento já officialmente reconhecido, caso em que será dada aquella incumbencia ao delegado fiscal do Governo junto deste ultimo. O resultado do processo deverá ser communicado ao Governo em minucioso relatório.
Embora a documentação localizada no AN não forneça detalhes sobre como era
realizada a seleção do comissário fiscal, bem como a dos delegados fiscais48, não se
descarta a possibilidade de serem estas suscetíveis às manobras políticas realizadas por
pessoas, ou grupos, vinculados aos ginásios que desejavam ser equiparados. Com
relação à esfera política não há indicações nesse sentido na documentação do Colégio
Diocesano, no entanto, algo diferente foi encontrado entre os itens do Ginásio N. S. do
Carmo49 e ao qual se recorre a título de exemplificação. Em carta de 14 de setembro de
1903, a Comissão Central do Partido Republicano de S. Paulo solicitava ao presidente
Rodrigues Alves a interferência na nomeação do delegado fiscal que atuaria junto ao
Carmo e nela encontramos o seguinte trecho:
(...) tomo a liberdade de solicitar a V. Exa. com o máximo empenho a nomeação do nosso amigo Dr. Horácio Gonçalves Pereira para o cargo de delegado fiscal do Governo Federal ante o Gymnasio do Carmo desta Capital, cuja equiparação já foi pedida. Contando com mais este obséquio prestado ao nosso Partido, desde já manifestamos-lhe os nossos agradecimentos e com muita estima (...)
50
Dr. Horário Gonçalves de fato seria nomeado delegado fiscal e graças à
preservação de seus relatórios verifica-se que este demonstraria estar a favor do Colégio
ao qual deveria fiscalizar.
48
Os delegados fiscais eram nomeados pelo governo central e realizavam a fiscalização dos colégios
equiparados, papel que era desempenhado, com aproximações e distanciamentos nos anos 1930 pelos
inspetores federais. 49
No Arquivo Nacional esse e outros itens referentes à primeira equiparação do Colégio do Carmo podem
ser consultados no IE4
193, que faz parte da série Educação. 50
Arquivo Nacional, s/n, IE4 – 193.
32
Não existe algo que indique explicitamente ter o Diocesano realizado algum tipo
de estratégia para obter a equiparação, no entanto, dois detalhes chamam a atenção com
relação ao comissário fiscal: nome e titulação.
O cônego Dr. Francisco de Paula Rodrigues era membro do clero paulistano e
por isso mesmo possuía estreitos laços com a Diocese de São Paulo – desse vínculo se
originava também a sua titulação “cônego” que o distinguia de um padre secular comum
e o dotava de autoridade religiosa – a proprietária do Colégio naquele período e grande
interessada na obtenção da equiparação. Além disso, demonstraria em seu relatório
“conhecer pessoalmente a diretoria e o corpo docente”, mas, além disso, ele fora o
primeiro aspirante ao sacerdócio registrado no Seminário, conforme anotação do Livro
de Matrícula (1856)51. Citado em diversos momentos pela publicação Ecos, o padre
Chico, como também era conhecido, havia sido professor de Latim, Retórica e História
no Seminário-Colégio (POLYANTHEA, 1906, p.41). Sobre ele esta mesma publicação,
sempre muito elogiosa em relação aos “grandes vultos” vinculados à história do
Seminário diria:
(...) o Arcediago52
Francisco de Paula Rodrigues pertence a uma alta gerarchia de cultores da palavra, que tanto tem abrilhantado o clero brasileiro, desde epocha bem distante e que na propaganda em pról da Igreja tantos adeptos têm conquistado, pelo poderoso influxo do verbo sagrado á grey Romana (POLYANTHEA, 1906, p.41)
Outro indicativo desse tipo de movimentação pôde ser percebido na carta
enviada em 10 de fevereiro de 1911 pelo bispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e
Silva (1867-1938), ao solicitar a Rivadávia Correa, então Ministro da Justiça e
Negócios Interiores, a equiparação do futuro Colégio Diocesano de São Carlos. No
trecho abaixo é possível verificar qual era a proposta do bispo.
(...) pede a V. Excia que se digne de conceder o privilégio da equiparação ao Gymnasio Nacional, que já possue o Collegio Diocesano de São Paulo, ao sucursal [grifo nosso] do mesmo
51
O MCMA possui aproximadamente 23 livros de matrícula que englobam os anos de 1856 a 1963. O
exemplar de 1856 é o mais antigo item do acervo institucional e está relacionado à administração dos
Capuchinhos de Sabóia. São livros manuscritos em grandes dimensões, em torno de 32 X 46 cm, e
geralmente possuem 151 páginas. Nele temos sete colunas como os dados dos alunos, tais como: número
de matrícula, nome, pátria, filiação, entrada/saída e observações. Em observações muitas vezes constam
inscrições sobre expulsões, fugas, falecimentos e também em qual área o aluno se formou ou qual foi o
posto eclesiástico assumido. 52
Arcediago é considerado o representante direto do bispo diocesano.
33
que vae ser installado na cidade de São Carlos do Pinhal, como o nome de Collegio Diocesano de São Carlos. Como garantia para tal equiparação, pede mais, que sejam conservados os mesmos bens que constituem a garantia do Collegio Diocesano de São Paulo
53.
O pedido de dom Duarte seria encaminhando ao Rio de Janeiro por meio do
delegado fiscal responsável pelo Diocesano, novamente a figura do cônego Dr.
Francisco de Paula Rodrigues, que também elaboraria uma carta ao ministro e em
determinado trecho relataria: “(...) cumpre-me informar a V. Sa. ser de grande vantagem
para a instrução secundária a concessão da licença pedida, havendo já, segundo me
consta, mais de um precedente de igual concessão [grifo nosso] por parte do Governo
Federal” 54.
Juntamente com as missivas do bispo de São Paulo e do delegado fiscal somou-
se outra, esta elaborada por Pedro Manoel de Toledo (1873-1935) 55, na época ministro
da Agricultura, Indústria e Comércio, e que recomendaria ao “Colega e amigo Dr.
Rivadávia Correa” que houvesse, com relação ao pedido feito pelo “Collégio Diocesano
(...) o máximo empenho, de acordo com os desejos dos amigos de S. Paulo”56.
A proximidade do cônego com a instituição à qual deveria fiscalizar, a
mobilização de políticos em prol do Carmo e o pedido pessoal de Dom Duarte para o
Dr. Rivadávia são indicadores de que havia interesse da Igreja Católica em obter a
equiparação, pois esta garantiria a influência dos católicos no ensino secundário. Além
disso, conseguir de um governo laico o reconhecimento de que uma instituição religiosa
estava à altura de seu modelo de excelência, o Ginásio Nacional, soava como uma
vitória moral sobre o regime que havia rompido com a Igreja logo nos primeiros anos de
existência, e não se pode negar que esta prerrogativa, ao aumentar o prestígio das
instituições católicas, acabaria ampliando suas chances de sobrevivência num espaço
tão disputado como aos poucos se tornava a escola.
Segundo Kulesza (2011, p.85) nesse mesmo período havia uma movimentação
do bispado brasileiro em torno do ensino secundário, por isso muitas dioceses lutaram
pela abertura e continuidade de obras vinculadas ao ensino ginasial como uma forma de
53
Equiparação 1900 (Arquivo Nacional – IE4 – 134).
54Equiparação 1900 (Arquivo Nacional – IE
4 – 134).
55“Pedro Manoel de Toledo foi ministro da Agricultura, Indústria e Comércio no p eríodo de 16 de
novembro de 1910 a 18 de novembro de 1913. Delegado, chefe da polícia de São Paulo, comandante
(interino) da Guarda Nacional e deputado, fundou a Academia Paulista de Letras. Foi comandante civil da
Revolução Constitucionalista de 1932. Nasceu em 1873, em São Paulo, e faleceu em 1935, no Rio de
Janeiro” (Fonte: http://www.agricultura.gov.br/ministerio/historia/galeria-de-min istros). 56
Equiparação 1900 (Arquivo Nacional – IE4 – 134).
34
garantir sua posição junto aos quadros mandatários, posição ameaçada quando a
República elegeu o ensino laico em vez do religioso.
Após o envio do relatório elaborado pelo comissário fiscal, e recebido no
ministério em 2 de agosto de 1900, o Colégio Diocesano seria equiparado ao Ginásio
Nacional com a publicação do decreto nº 3.730, de 4 de agosto de 1900, que informava
Attendendo ás informações prestadas pelo Commissario Fiscal do Governo sobre os programmas de ensino e o modo por que são executados no Collegio Diocesano de S. Paulo, resolve conceder a este estabelecimento de instrucção, à vista do disposto nos arts. 38 paragrapho unico do decreto n. 981, de 8 de novembro de 1890 e 431 do de n. 1232 H, de 2 de janeiro de 1891 o conforme requereu, as vantagens de que gosa o Gymnasio Nacional. Capital Federal, 4 de agosto de 1900, 12º da Republica.
Conquistar o status de “equiparado” não significava ficar livre das interferências
do governo federal, pois era necessária a realização de uma série de procedimentos
destinados à manutenção dos privilégios obtidos pelo Colégio e exigiria atenção dos
administradores com relação às novas exigências legais. Neste período, a exemplo de
legislações posteriores, ser equiparado não era uma condição concedida
irrevogavelmente, pois já no artigo 9º do decreto 3.285, de 20 de maio de 1899,
afirmava-se que
O Governo retirará as prerrogativas e vantagens da equiparação ao Gymnasio Nacional aos institutos que se afastarem do regimen official de ensino, ou em que se praticarem abusos quanto à identidade dos alumnos nos exames, ou na collação de gráos, e bem assim àquelles em que forem tolerados actos de immoralidade e incivismo ou que acarretem o abatimento moral do ensino (...)
O Colégio era obrigado a seguir o regulamento do Ginásio Nacional, submeter-
se às visitas periódicas do delegado fiscal ao qual competia registrar em seus relatórios
“(...) a marcha do estabelecimento e execução dos programmas, propondo as
providencias e censuras que lhes dictarem as irregularidades ou abusos verificados”57.
Independente de quaisquer considerações com relação à lisura ou à sensação de
que o processo para a obtenção da equiparação nem sempre ocorria de forma tão
“protocolar” ainda permanece a percepção de que conquistá-la não deveria ser algo tão
57
Artigo 11, decreto n° 3.285, de 20 de mais de 1899.
35
simples, pois havia exigências financeiras e estruturais (comprovação de patrimônio,
seguros, pagamento das custas da fiscalização realizada pelo delegado fiscal58, dentre
outros itens) responsáveis por criar, a seu modo, empecilhos para que os ginásios menos
estruturados conseguissem o reconhecimento governamental.
No caso do Diocesano, tratava-se de uma instituição privada, e que existia há
quase 50 anos, tempo suficiente para que houvesse sido constituída uma certa estrutura
física, além disso, havia o amparo simbólico e financeiro da Diocese de São Paulo, a
proprietária do Colégio.
Os padres diocesanos, sucessores dos Capuchinhos na direção do Colégio,
seriam desvinculados do Diocesano em 1907 e sobre essa transição, bem como sobre a
administração desses religiosos, o Ir. Adorátor registraria o seguinte:
Não temos de pesquisar os motivos da mudança de direção. Não chegaremos, talvez, à verdade. Seja o que for, os capuchinhos deixaram o estabelecimento muito bem montado e com algum renome provincial e nacional, acadêmico e teológico, havendo entregado à sociedade nacional tanto homens prestantes, quanto sacerdotes preparados e zelosos. A nova direção teve também a sua era de prosperidade, de permeio com problemas e desafios. Quando, às vezes, encontramos algum padre que foi professor e, sobretudo, vigilante, as suas recordações mostram que as dificuldades não faltaram. (ADORÁTOR, 2005, p.486)
Graças a Adorátor (2005) e ao estudo de Martins (2006) foi possível entender
que a administração das duas primeiras congregações responsáveis pela direção do
Seminário-Colégio foram marcadas pelas dificuldades financeiras e, também, pelos
embates políticos, inclusive com relação às questões relativas à formação dos religiosos,
pois a Igreja paulista durante a gestão desses religiosos ainda passava pelo processo de
reestruturação iniciado por Dom Antonio Joaquim de Melo sendo estratégica a posição
ocupada pela instituição.
Com relação à ligação entre o Diocesano e o cônego Dr. Francisco de Paula
percebe-se que esta ultrapassaria muito a gestão dos padres seculares e adentraria no
período da administração dos Irmãos Maristas, o terceiro e último grupo a dirigir o
Colégio.
58
O artigo 7º, decreto n. 3491 de 11 de novembro de 1899, definia que o pagamento dos honorá rios do
delegado fiscal deveria ser realizado pela própria instituição à qual esse estava vinculado. Antunha (1980,
pp.204-205), ao falar sobre esse pagamento apontaria que alguns delegados por dependerem dos valores
pagos pelos Colégios acabavam por não criar problemas para eles, pois do contrário corriam o risco de
perder o seu sustento.
36
A vinda dos Irmãos para a cidade de São Paulo aconteceu em 1898 e foi
motivada pelo convite do padre Camilo Passalacqua (1898-1974), que por estar
preocupado com a difusão da educação leiga e a protestante entre os paulistanos
convidaria os Maristas para dirigirem o futuro Colégio do Carmo, fundado com recursos
cedidos pela Venerável Ordem Terceira (VOT) sendo instalado no prédio dessa mesma
congregação que se localizava próximo à Igreja do Carmo no centro da cidade de São
Paulo (AZZI, 1997a, p.115).
Um dos primeiros relatos dos Irmãos Maristas relacionados ao Colégio
Diocesano seria escrito pelo Irmão Adorátor e este registraria que ao assumir a diocese
de São Paulo o bispo Dom José de Camargo Barros (1858-1906)59
(...) quis ter à sua mesa representantes dos diversos institutos religiosos, estabelecidos na cidade episcopal. Os Pequenos Irmãos de Maria não ficaram esquecidos. O Ir. Isidoro Régis e eu tivemos a honra de comparecer, com mais de duzentos convidados, a um jantar de cerimônia no grande e bonito refeitório do Colégio Diocesano. Foi a primeira vez que entramos no célebre estabelecimento. Recordo-me ainda das impressões a propósito de tudo e do nosso contato com alguns ilustres professores, como A. Thiré, matemático de valor. Fomos reunidos num quarto que, mais tarde se tornaria meu. Se naquele momento, em que a timidez revestia tudo com selo de grandeza e de algo extraordinário, me dissessem: ‘Este Colégio, que hoje o impressiona e lhe parece estabelecimento de primeira ordem, será seu dentro em breve’, ter-me ia parecido inverossímil, e apenas o riso descrente teria sido a minha resposta (ADORÁTOR, 2005, p.485)
A opção pelo espaço do Seminário-Colégio para a realização de tal celebração
parece indicar não somente a importância de um lugar de “tradições”, ou o papel que
havia desempenhado na formação do novo bispo (ex-aluno e antigo professor), mas
indica a estratégia por meio da qual a Diocese apresentava uma instituição que
planejava transferir para os cuidados de outro grupo religioso. A fala do Ir. Adoratór
demonstraria que o colégio pode ter tido problemas, mas ele parecia grande e bem
montado.
Destacam-se, além do registro em relação à forte impressão causada pela
suntuosidade do Colégio sobre os dois Irmãos60, e de como esta os intimidava, os dados
sobre a ida para um aposento menor. Esse deslocamento abre possibilidade para
59
Dom José de Camargo Barros esteve à frente da Diocese entre 1903 e 1906. 60
Foram à celebração os Irmãos Adorátor e Isidoro Régis.
37
inferirmos ter havido a necessidade de um espaço onde pudesse ocorrer uma conversa
mais reservada, possivelmente algo relacionado à transferência do Diocesano para os
Maristas.
Em 1904, alguns meses após essa celebração, Dom José solicitaria ao Ir.
Adorátor61, então superior da Província do Brasil Central62, o envio de três de seus
religiosos para atuarem como vigilantes no Diocesano, pois o bispo tinha a intenção
ainda não revelada de reorganizar o Seminário Episcopal separando definitivamente
aquela obra do “Ginásio equiparado”, e por isso precisava dispensar os seminaristas
responsáveis por essa atividade.
O Superior argumentaria não ser possível ceder nenhum religioso, pois ainda
não havia um número suficiente de membros para dar conta dos colégios assumidos
pela Congregação e ao mesmo tempo atender ao pedido, que apesar da insistência seria
aparentemente convencido pelos argumentos do provincial. No entanto, tal negativa não
impediria a separação das duas obras em 1904.
Antes mesmo de assumir a diocese Dom Duarte Leopoldo e Silva (1867-1938),
sucessor de Dom José, falecido em 1906, retomaria as negociações com Irmãos
Maristas, mas dessa vez a proposta diferenciava-se muito da anterior, pois se ofereceria
a esses religiosos a responsabilidade por toda a administração do Colégio, considerado
pelo novo bispo uma “fonte de aborrecimentos” para a Diocese. Segundo o Ir. Adorátor,
ao descrever um dos encontros com o novo bispo,
Sua Excelência retomou, um a um, todos os seus argumentos, em tom de súplica que me humilhava profundamente. Queria chorar. Dizia-me com muitos pormenores que os Irmãos Maristas gozavam em São Paulo de grande estima, que o Ir. Isidoro Regis era homem muito apreciado e que a opinião dos padres nos era favorável. “Excelência, sinto-me profundamente comovido pela confiança que lhe inspiramos. A sua insistência é para nós grande honra. Verei com os membros do Conselho, se fechando o Colégio de Mendes, chegaremos a constituir um corpo docente adequado para as primeiras necessidades do Colégio Diocesano” (ADORÁTOR, 2005, p.419)
Dom Duarte foi muito persuasivo, e sua proposta deixaria os Irmãos inseguros e
preocupados, pois consideravam grande demais a responsabilidade de assumir tão 61
Irmão Adorátor (1855-1918), nome civil Benedito Gautheron nasceu em Beauberí (França) e foi o
primeiro provincial dos Irmãos Maristas no Brasil-Central, cargo que ocupou entre 1897 e 1911. 62
A Província do Brasil-Central foi fundada em 1897 e compreendia os estados de Minas Gerais, São
Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Além dessa, existiam as Províncias Meridional (1900) e
Setentrional (1903), sendo cada uma delas dirigida por um “provincial”.
38
renomada instituição. O Ir. Adorátor aproveitaria sua ida para a França, por conta
falecimento do Superior Geral do Instituto Marista63, para consultar diretamente os
líderes da congregação e estes por sua vez o aconselhariam a assumir a obra caso se
sentisse apto para arcar com as dificuldades de tal empreendimento (ESCORÇO, s.d.,
p.91).
Por fim, a resposta ao novo bispo seria positiva, no entanto, o provincial
indicaria em suas memórias que essa afirmativa só foi possível graças ao apoio dado
pelo Irmão Isidoro Regis (1874-1941)64, apresentado por ele como uma das maiores
graças que Deus poderia ter concedido à Província (ADORÁTOR, 2005, p.178).
Os Irmãos Maristas assumiram o Diocesano em 1908, que naquele período já era
equiparado. Em 1917 ao relembrar a entrada dos Irmãos no Colégio, o Ir. Adorátor
contaria
A nossa instalação nesse grande Colégio parecia-nos um sonho; contudo ninguém nos podia chamar de ambiciosos nem de usurpadores. Foi a contragosto que cedêramos às instâncias do bispo. Podíamos contar com a proteção do céu. Nos últimos meses do ano de 1907, o boato do nosso ingresso no estabelecimento tornou-se público. Professores e alunos falavam disso. Inevitavelmente, não fomos sempre tratados com caridade, de maneira que quase todos os alunos não davam garantia quando ao seu regresso (ADORÁTOR, 2005, p.488)
A mudança realizada por Dom Duarte em tão tradicional estabelecimento seria
controversa, inclusive sendo criticada por meio da imprensa (ADORÁTOR, 2005,
p.488).
Afirma-se com frequência que a Diocese teria transferido para os Irmãos
Maristas a direção do Colégio, no entanto, no contrato firmado em 21 de janeiro de
1908 (Anexo 9), entre Dom Duarte e o Irmão Isidoro Dumont, vice-provincial desses
religiosos no Brasil, há informação de que este fora arrendado para a congregação por
um período de cinco anos.
O edifício e os móveis foram colocados à disposição dos novos diretores desde
que estes os mantivessem em bom estado de conservação, mas não ficariam sob a
responsabilidade destes os valores referentes a impostos, seguros, e para as construções
novas e reformas de maior envergadura seria necessária a autorização do próprio bispo.
63
Superior-Geral é o cargo mais alto dentro da hierarquia dos Maristas e o religioso assim designado é
considerado um sucessor direto de Champagnat. 64
Também conhecido como Ir. Isidoro Dumont, cujo nome civil era Tiago Dumont (1874-1941).
39
Há certa controvérsia sobre qual a data demarcaria exatamente o início da
administração dos Irmãos Maristas no Arquidiocesano. Sabe-se que em 11 de janeiro de
1908, o Irmão Isidoro Dumont, primeiro irmão-reitor65 do Arquidiocesano comunicaria
oficialmente ao Governo Federal sua entrada no Colégio, pois lavraria no livro de
Provisões66 os seguintes termos: “Tenho a honra de levar ao vosso conhecimento que
hoje tomei posse do cargo de reitor deste estabelecimento sob a vossa fiscalização”67.
A opção pelo Irmão Isidoro não fora feita de forma incauta, pois ele era
considerado uma pessoa enérgica e dotada de inúmeras habilidades que o capacitavam
para tal incumbência. Além disso, ele possuía experiência nessa função, pois dirigira o
Colégio do Carmo, entre 1903 e 1908, e à frente do qual “conseguiu dar um grande
dinamismo ao estabelecimento” (AZZI, 1997a, p.119). Ainda sobre ele registraria o Ir.
Adorátor
O Ir. Isidoro é homem forte. De fora e na adequada indiferença ou distância, considera as pequenas perturbações que agitam o coração sob ação de certas apreensões. Ri-se dos próprios receios. Apoiado em Fé robusta, em confiança ilimitada, segue o caminho que o dever lhe traça. Por vezes cumpre destruir preconceitos e mudar velhos hábitos. Isso parece duro. O Ir. Diretor mostra-se indiferente aos pequenos clamores que se produzem; parece desabrido em face da inércia, que busca vida cômoda e sensual. O tempo cumpre a sua obra. Os bons resultados são visíveis. É unânime a voz para aclamar a energia, e a competência do Ir. Diretor do Arquidiocesano. (ADORÁTOR, 2005, p.491)
O Ir. Isidoro Régis era também considerado um hábil administrador. Logo nos
primeiros dias à frente do Colégio se preocuparia, dentre outras coisas, com as questões
relativas à manutenção da equiparação e por não ter experiência em relação a esse
assunto solicitaria ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, em 11 de janeiro de
1908, o envio de exemplares do regulamento do Ginásio Nacional e também algumas
cópias da legislação de ensino em vigor68.
65
Título utilizado para o diretor do Colégio. 66
Não foi localizada na legislação vinculada ao período da primeira equiparação, especificamente entre
1890 a 1901, orientações com relação à necessidade de ser criado um livro de Provisões, mas este traz os
relatórios, ou cópias destes , semestralmente elaborados pelo Colégio e encaminhados para apreciação do
Delegado fiscal, embora tenhamos como termo de abertura a seguinte informação: “Servirá este livro para
nelle se transcreverem as provisões de nomeação dos professores do corpo doce nte do Collegio
Diocesano de S. Paulo” (Provisões, 1908, p.1). 67
Provisões, 1908, p.2. 68
Provisões, 1908, p.2.
40
A publicação da Ecos foi uma das novidades trazidas pelos Irmãos. Com edições
anuais esta era composta por uma grande diversidade de informações, de registros sobre
o cotidiano do Colégio (excursões, exames, primeira comunhão, etc) a artigos nos quais
a instituição se posicionava em relação a questões políticas e educacionais, mas em
alguns períodos essa ocorreria de forma muito sutil.
A primeira edição foi impressa em 1909, embora todo o conteúdo diga respeito a
1908, e logo na capa além do título Échos do Collegio Archidiocesano de São Paulo
figuraria a informação que este era Equiparado ao Gymnasio Nacional, decreto n. 3730
de 4 de agosto de 1900, no entanto, esse não seria o único número a possuir tal destaque
em posição privilegiada, pois isso seria recorrente até 1911, o que permite afirmar que a
equiparação era um elemento de distinção para o público com o qual o Colégio
mantinha relações, ou seja, pais, políticos, autoridades eclesiásticas, etc.
Ainda nessa primeira edição haveria outra menção à equiparação, só que esta
apareceria na forma de uma nota explicativa,
Equiparação. – Alguns Snrs. nos pediram informações si o Collegio continuava equiparado como outrora: não ha dúvida e todos os diplomas do Collegio têm o mesmo valor que os correspondentes do Gymansio Nacional (Ecos, 1909, p.33)
A diretoria explicava, por conta do questionamento da comunidade escolar, que
os diplomas do Colégio ainda possuíam a mesma validade dos emitidos pelo Ginásio
Nacional, o que significava que eles garantiam acesso ao nível superior.
Outro indício de que realmente era relevante para um ginásio possuir o status de
instituto equiparado, pois socialmente isso era algo esperado. Ao mesmo tempo a opção
por esse tipo de esclarecimento aponta também que deve ter havido insegurança com
relação às alterações realizadas no Arquidiocesano pelos novos mestres e sobre isso
encontramos algo em Azzi (1997a, p.151) que aponta ter sido a mudança
(...) bastante sentida pelos antigos alunos do colégio, habituados a um regime escolar de maior liberdade. Com a vinda dos maristas, foi implementada uma disciplina bastante rígida, e os alunos obrigados a um ritmo mais intenso de estudos. Por isso, não faltaram reações de inconformismo nos primeiros anos por parte dos veteranos. Mas a firmeza dos religiosos franceses tornou-os rapidamente senhores da situação, e os jovens acabaram amoldando-se ao novo padrão educacional, sobretudo após a expulsão de alguns mais rebeldes.
41
A preocupação dos Irmãos Maristas com relação à equiparação não estava
obviamente circunscrita à publicação Ecos, pois seriam encontrados elementos nesse
sentido no livro de Provisões. Nele foram registrados solicitações dos mais variados
tipos, tais como: mudanças nas datas de início e fim do ano letivo, entrada de novos
alunos, relatórios semestrais, dentre outros. Quase todos os registros possuem partes
onde verifica-se a intenção de destacar que “este” ou “aquele” procedimento teria sido
realizado em estrita concordância com o Regulamento do Ginásio Nacional, por
exemplo, como no trecho transcrito abaixo, o que indica estarem esses religiosos muito
atentos às questões relativas à manutenção da equiparação.
Antes de tudo ensina-se o programma completo do Gymnásio Nacional como foi publicado há 5 annos e ainda não modificado. Cada professor deve ensinar este programma até três vezes durante o período do anno letivo. Na primeira vez, que occupa todo o primeiro semestre e às vezes algumas semanas do segundo conforme a extensão e a difficuldade da matéria
69
Com relação aos oito relatórios, transcritos no livro de Provisões, estes
geralmente continham dados sobre o número de alunos por ano, frequência às aulas,
quantidade de alunos expulsos pelo colégio e respectivas justificações, alunos que
abandonaram os estudos e maiores explicações sobre essas saídas, descrição dos exames
de 2ª época e de madureza, duração do ano letivo, horário das aulas, frequência dos
lentes70, emissão das guias de transferência, alunos gratuitos71, alterações no corpo
docente, feição do ensino (relativo às disciplinas escolares que observavam a
configuração do Ginásio Nacional) e por fim, num mesmo item, estavam reunidas
descrições sobre o edifício, as práticas de higiene, alimentação oferecida aos alunos,
relação de valores cobrados para provas e emissão de requerimentos e em alguns
encontram-se relatos sobre a colação de grau.
Não são raras as passagens dos relatórios que permitem conhecer um pouco
sobre o dia a dia do Colégio como, por exemplo, na transcrita abaixo onde foram
registradas ações com relação ao bem estar físico dos alunos.
69
Provisões, 1908, p.7. 70
Título do professor responsável por uma cadeira, “lente” do saber da (s) disciplina(s), catedrático da
congregação que dita as orientações sobre determinada área. 71
Com a publicação do Decreto nº 3890 em 1 de janeiro de 1901, especificamente no artigo 382 item VII,
se tornaria obrigatória a aceitação de pelos menos 10 alunos gratuitos (2 internos e 8 externos) nos
institutos equiparados.
42
O maior asseio e a mais completa limpeza reina por toda a parte no edifício escolar; os exercícios physicos, os banhos de
chuva72
e de imersão tomados regularmente favorecem o estado de saúde e o desenvolvimento physico dos corpos (...)
73
Em 11 de dezembro de 1909 o Colégio informaria ao governo sobre outros
cuidados tomados para garantir a saúde dos alunos, pois
Toda a água da mesa é filtrada. A comida é feita com o maior cuidado de modo a ser de primeira qualidade. Saborosa e abundante. Os banhos de chuva foram tomados regularmente 2 vezes por semana e hão de ser diários em breve si o numero de chuveiros o permitir
74.
1.1 A supressão da Equiparação (1911) e a repercussão deste evento no Colégio
A Reforma Rivadávia Correa, decreto nº 8.659, em 5 de abril de 1911 (Anexo
10), foi instrumento por meio do qual o Ministério da Justiça e Negócios Interiores
aboliu todas as equiparações em território nacional. Além do fim das equiparações essa
reforma também reduziria a duração do ensino secundário (ANTUNHA, 1980, p.241),
medida que também impactaria financeiramente a instituição.
Ao analisar a relação dos examinandos entre 1912 e 1920, e publicadas na
revista Ecos, nota-se uma considerável diminuição no número de alunos de um ano para
outro e por isso acredita-se que a perda da equiparação e a criação/permanência de
outras possibilidades de acesso ao ensino superior acabariam novamente
desprestigiando o ensino secundário nos moldes daquele oferecido pelo Colégio.
Outras indicações dos problemas financeiros enfrentados são a abertura do curso
comercial, a partir de 1917, a presença de propagandas na revista institucional após
1911 (muitas das quais relacionadas aos fornecedores da instituição), destaques para o
curso primário com a intenção de atrair alunos também para esse nível de escolarização
e uma sensível diminuição na qualidade do papel da revista Ecos75.
72
Termo equivalente a banho de chuveiro. 73
Provisões, 1908, p.8. 74
Provisões, 1908, p.23 [verso]. 75
A partir de 1912, esta passaria a ser confeccionada em papel jornal, exceção feita às páginas com
fotografias.
43
Kulesza (2001, p.98), aponta que a Igreja não se posicionaria contrária às
propostas de “desoficiliazação” do decreto de 1911, pois para ela isso significava um
afastamento do governo republicano das questões relativas ao ensino abrindo mão da
imposição de uma educação laica, no entanto, sobre isso o Ir. Adorátor registraria que
O ano de 1911 deveria ter sido ano terrível. Nada menos que o enterro, dizia-se, dos Colégios secundários católicos no Brasil. Com efeito, no começo de abril, por simples canetada, o Ministro Rivadávia Correa suprimia o privilégio da equiparação. Esse ato perturba profundamente os Colégios equiparados. Receia-se diminuição de alunos. Que vai sair da nova lei, que faz tabula rasa de toda a regulamentação? (ADORÁTOR, 2005, p.402)
As palavras do religioso apresentam o “desconforto” sentido pelos católicos em
relação à reforma e também indicam ser a equiparação um estímulo para que se
mantivesse a clientela de um colégio e consequentemente o seu funcionamento.
Muitos sinais indicariam que os diretores do Arquidiocesano não tiveram a
mesma percepção da revogação conforme indicado por Kulesza (2001), e por conta do
incômodo causado pela nova medida, explicitariam descontentamento por meio da
revista Ecos, e utilizariam para isso as mais diversas “vozes”, como por exemplo, a dos
alunos e de autoridades religiosas.
“Outra notícia inesperada: Suprimiram a equiparação! – Quem fez isso? – O
Rivadávia... Um silencio attonito... Que desgraça...” (Ecos, 1912, p.29). Esse parágrafo
retirado de uma notícia da revista Ecos expressaria um pouco da surpresa com a qual o
Colégio recebera a notícia sobre o fim das equiparações. Todavia, num outro momento
deste mesmo registro ficaria evidente ser de conhecimento público a existência de
problemas relacionados aos procedimentos da equiparação, conforme trecho que
relatava
(...) nos principios de Abril os estudos no Archidiocesano iam indo, bons, serios, como sempre. De certo tempo a esta parte, jornaes vinham levantando grita medonha contra os abusos praticados em diversos collegios equiparados. Suas reclamações encontraram echo na Camara Federal. Projectos de reforma foram discutidos sem que, no assumpto, ficasse cousa alguma resolvida. No emtanto, apareciam a lume mais e mais escandalos: actas falsas, venda de títulos e outras trapaças. (Ecos, 1912, p.29).
44
A documentação do Colégio Diocesano, e também a do Carmo, trazem
elementos que possibilitam entender alguns dos problemas apontados acima, pois nelas
há a existência de uma série de movimentações políticas para garantir a obtenção das
equiparações, seja pela indicação de uma determinada pessoa para o cargo de delegado
fiscal, ou até mesmo o pedido de um bispo para equiparar um colégio às custas das
garantias oferecidas por outra instituição, mesmo que esta estivesse a quilômetros de
distância.
Em 1903 membros da Comissão de Instrução Pública se reuniram para propor
alterações da Reforma Epitácio Pessoa, em especial com relação à equiparação
considerada um verdadeiro “embaraço à marcha do ensino público” e com relação à
qual se propunha a revogação (DODSWORTH, 1968, pp.77).
Dentre os argumentos apresentados pelos legisladores da comissão eram
apontados como problemas relacionados à equiparação: a venda de certificados que
teriam instituído um verdadeiro mercado de títulos, o reconhecimento fraudulento de
institutos secundaristas, mercantilização do ensino, concorrência acirrada entre ginásios,
falta de idoneidade e competência dos professores, habilitação de alunos em menor
tempo do que o previsto pela legislação, fiscalização ineficiente, dentre outros
(DODSWORTH, 1968, pp.77-79).
Nos jornais encontramos reiteradas críticas à equiparação ao Ginásio Nacional
concedida a particulares, dentre estes as escolas católicas, como no trecho
(...) a equiparação (entre as escandalosas equiparações de estabelecimentos escolares que tanto têm desmoralizado o ensino secundário) de vários colégios, onde o ensino religioso é obrigatório, ao Gymnasio Nacional, leigo por força da lei (OESP, 19 abr. 1908)
76
Nota-se além da crítica à equiparação, a estranheza causada pelo reconhecimento
de colégios católicos por um estado laico. Situação similar a essa seria apontada por
Kulesza (2011, p.96) quando fala sobre os argumentos utilizados pelos legisladores
federais para recusar a pedido feito em prol do Colégio Diocesano da Paraíba.
Na revista Ecos encontramos a descrição de alguns dos problemas dos
procedimentos da equiparação na perspectiva da antiga legislação educacional e o
próprio Diocesano concordaria com muitas das críticas, em especial com relação a dois
76
Disponível em http://acervo.estadao.com.br/.
45
aspectos: “(...) falta de fiscalisação idonea intransigente e sobrecarga nos programmas”
(Ecos, 1912, p.30). No entanto, como a instituição ainda se beneficiava da fiscalização
realizada pelo “amigo” Dr. Francisco de Paula Rodrigues, não teria esta também sido
beneficiada pelas brechas das reformas anteriores?
Os alunos também se posicionaram sobre a reforma de 1911. Num discurso
atribuído ao bacharelando José Pedro de Carvalho, e elaborado para ser lido durante a
recepção ao cônego Domingues Joaquim de Oliveira, ele concluiria que
(...) maior desgraça deste anno, não são as guerras; ainda não a mencionei. Ella veiu repercutir dolorosamente, collegio a dentro, deixando-nos tontos, de cabeça quebrada, a nós que pedíamos apenas nos deixassem estudar em paz, conscienciosamente. Eis que nos tiram os exames, tiram a equiparação, e entregam-nos á sorte, á terrível incerteza da sorte..... (Ecos, 1912, p.35)
Esse fragmento trazia a decepção dos alunos com relação à perda da equiparação
e consequentemente às prerrogativas que facultavam acesso direto ao nível superior. A
incerteza deve-se também ao fato da Reforma Rivadávia Correa ter deixado definido um
exame para entrada nas Academias que prescindia da comprovação de escolaridade
anterior, como por exemplo, a que era oferecida pelas escolas “oficializadas”, ou seja,
os institutos equiparados (CURY, 2009, p.729).
Em outro momento, numa saudação ao bispo Dom Sebastião Leme (1882-
1942)77, o aluno Arnaldo Campos diria:
(...) O último espinho muito acerbo e muito pungente que atravessou o sonho dourado dos estudantes: é esta <<Reforma do ensino>>. Eu quizera chamal-a de <<maldita>> si não fosse prohibido amaldiçoar cousa nenhuma, fora o pecado! Supprime doutores, suprime bacharéis, e põe soldados, de lança em riste, á porta das Academias! E quem sabe seremos nós os primeiros feridos, os primeiros baleados?! (Ecos, 1912, p.33)
Registrava-se ali outro lamento dos alunos, mediado pela instituição, por conta
dos novos procedimentos para o acesso ao ensino superior, percebidos como
“dificuldades”, sendo que este em outros tempos era facilitado graças ao
77
Dom Sebastião Leme era uma importante liderança religiosa e elaboraria em 1916 uma carta pastoral na
qual conclamaria “os católicos a sair do ostracismo em busca de uma posição que correspondesse ao fato
de o Brasil ser um país de maioria católica” (CUNHA, 1981, p.81).
46
reconhecimento da validade das provas do Colégio por conta da equiparação, e também
explicitaria grande decepção por conta da revogação de títulos, dentre os quais o de
bacharel recebido por aqueles que concluíam o secundário.
Por mais de 20 anos o Colégio ainda faria referências à equiparação nas capas da
Ecos, algo recorrente até 1923. Na mesma posição onde outrora figurava Equiparado ao
Gymnasio Nacional seria registrado Antigamente equiparado ao Gymnasio Nacional,
uma forma encontrada pelos Irmãos Maristas para demonstrarem sua inconformidade
com tal perda, mas ao mesmo tempo um modo de evocar o fato de que um dia houvera
reconhecimento oficial com relação à excelência do Colégio dirigido por eles.
A instituição acompanharia atentamente os desdobramentos da “Reforma
Rivadávia Correa” e mesmo após três anos num artigo da Ecos, num tom
“imparcialidade”, relataria que o decreto de 1911 enfrentava resistências e
(...) mais inimigos ou opponentes conta, parece, do que amigos e defensores. Nós não lhe temos amor nem desamor. Entretanto, apraz-nos, sem ofensa de ninguém, conservar essa denominação de Bacharelandos que tão grata sôa aos ouvidos dos jovens. (Ecos, 1914, p.48)
Apesar da aparente submissão do Colégio à reforma, ele demonstraria na
realidade frontal resistência uma vez que optaria por manter o título de bacharel, por ser
esse símbolo de prestígio social, conforme pode ser percebido nos relatos das colações
de grau e dentre os quais o trecho abaixo chamaria a atenção por ser o narrador
apontado como um aluno.
Ergueu-se o panno. A primeira cousa que feria a vista eram os oito diplomas que, enrolados em canudo, numa meza ao lado, provocavam a inveja da gente e faziam talvez palpitar o coração de seus donos felizes. Disse que deixavam a gente com inveja. Não sei si errei; o certo é que, cá por dentro, não deixava de cubiçar aquelles rolos de papel. Porém, ao mesmo tempo consolava-me. Dizia: falta só um ano para receber o meu, anno bem longo, não há dúvida, mas um só. (Ecos, 1919, p.27)
Essa descrição da solenidade de colação de grau nos remeteria ao relato feito por
Gasparello (2004, pp.31-33) quando esta apresenta a formatura dos bacharelandos do
Colégio de Pedro II, evento este prestigiado pelo imperador e composto por uma série
de rituais que consagravam publicamente essa importante conquista. Apesar de seguir
um protocolo bem mais simples, a entrega dos diplomas no Arquidiocesano era o
47
acontecimento mais relevante da instituição, momento em que as portas do Colégio se
abriam para a sociedade, e por meio do qual se atestava a inserção daqueles alunos, não
somente como um ritual de passagem para o mundo dos adultos, mas a entrada desses
no seleto grupo dos bacharéis sobre os quais repousava o futuro da nação e, no caso dos
alunos do Colégio, a defesa da Fé católica.
Num outro artigo intitulado Na festa de encerramento temos um alinhavo de
críticas à Rivadávia, informações de que esta possivelmente seria alterada pelo Dr.
Carlos Maximiliano (1873-1960)78 com novas reclamações com relação ao fato do título
de bacharel, outrora carregado de significados e honras, não ter validade alguma, e que
por isso alunos os foram prejudicados (Ecos, 1915, p.41).
Com a publicação do decreto 11.530 em 18 de março de 1915, conhecido como
Reforma Carlos Maximiliano, seriam revogadas as prescrições da Reforma Rivadávia
Correa. Dentre as novas medidas estava o restabelecimento das equiparações, no
entanto, a essas o Ministério da Justiça e Negócios Interiores vedaria o acesso às
instituições mantidas por particulares, e obrigaria os alunos desses colégios a prestarem
exames num ginásio oficial. Na cidade de São Paulo essas provas eram realizadas no
Ginásio do Estado79.
Entre a revogação da Rivadávia Correa e a promulgação da Reforma Francisco
Campos (1930), a equiparação não seria viabilizada para as instituições particulares,
sendo esta concedida exclusivamente aos ginásios mantidos pelo poder público, por
esse motivo uma nova tentativa pelo Arquidiocesano somente seria possível a partir de
1931.
Por quais tipos de dificuldades passou o Arquidiocesano num cenário “sem
equiparação”? A leitura da Ecos permitiu identificar que a partir de 1912 o Colégio
apresentaria com veemência as dificuldades pelas quais seus alunos passavam para
ingressarem nas faculdades, os sofrimentos durante os exames, a importância de um
estudo dedicado e constante, etc. Mas, via de regra, esses apareceriam representados
coroados de êxito, obviamente, graças à qualidade do ensino oferecido pelo
78
Nasceu em São Jerônimo (RS) e era formando em Ciências Jurídicas e Sociais pela Escola de Direito de
Belo Horizonte, da qual receberia o título de bacharel em 1898. Desempenhou atividades jurídicas em
diversas comarcas no Rio Grande do Sul e durante 36 anos atuaria junto ao Supremo Tribunal. Seria
escolhido por Wenceslau Bráz, presidente do Brasil de 1914 a 1918, para assumir o Ministério da Justiça
e Negócios Interiores (GODOY, 2010, p.15), e à frente desse órgão seria responsável p ela reforma
educacional que levaria o seu nome. 79
Ginásio do Estado é o nome utilizado pelo Arquidiocesano em todas as suas publicações, no entanto,
essa instituição também é conhecida como o Primeiro Gymnasio da Capital. Segundo Cabral (2008, p.54)
esse colégio foi criado por lei em 1892, mas só passaria a existir de fato em 1894.
48
Arquidiocesano. Além disso, começariam a ser ofertadas atividades “extras” durante as
férias para aqueles que almejavam acesso ao nível superior, conforme registrado num
lembrete publicado em 1916
Em data opportunamente comunicada aos interessados haverá durante as Férias, neste Collegio Archidiocesano, cursos e estudos, com regimen de internato, e somente aos nossos alunos, que desejarem prestar nesta época exames de alguma materia para admissão nas escolas superiores (Ecos, 1916, p.[1])
O oferecimento desse tipo de registro de atividade aponta uma diversificação nas
formas de atuação junto aos alunos, ou supõe-se ser uma estratégia para garantir
rendimentos extras ao Colégio, mas independentemente de qualquer uma dessas
possibilidades era uma forma de aumentar a chance de bons resultados nos exames das
escolas superiores, algo que refletiria positivamente sobre a instituição num período em
que esta não contava mais com o diferencial da equiparação.
A Fé também aparece como grande amparo para os alunos que passavam pelas
tão “dificultosas” e “aflitivas” provas impostas pelo governo, entretanto, ela também
seria apontada como vital para o sucesso perante outros desafios
Collocado na sala de visitas, um pobre cofresinho recolhe modestos obulos que servem para alegrar os desprotegidos da fortuna; no período dos exames officiaes no gymnasio estadual, varios candidatos, antes de ir affrontar alguma prova, depositam sua oferta naquele cofre, pedindo interiormente a proteção divina durante o exame; varias vezes, o efeito foi notável tanto é certo que aquelles que dão aos pobres atrahem seguramente as bençams de Deus em todas as suas empresas (Ecos, 1917, pp. 17-18)
A combinação entre uma rotina rígida de estudos e a Fé seria frequentemente
indicada como a combinação perfeita para o enfrentamento das mudanças constantes na
política educacional brasileira.
Em 1918 por conta do surto de gripe espanhola, as aulas no Colégio seriam
interrompidas e o prédio requisitado pelo governo estadual para a montagem de um
hospital provisório, e nem mesmo na nota sobre o fechamento temporário da instituição
seria esquecido um lembrete sobre os exames parcelados a serem prestados pelos
terceiros, quartos e quinto anistas no Gymnasio do Estado (Ecos, 1918, p.44).
49
O tom do Colégio em alguns momentos deixaria o limiar da submissão ao
governo e adquiriria mais vigor como, por exemplo, num “retrospecto” de 1916 no qual
o Arquidiocesano faria severas críticas com relação às alterações da legislação
educacional brasileira nos últimos 15 anos e as qualificaria como funestas por terem
prejudicado a educação e o próprio futuro dos jovens.
Aproveitaria esse artigo para demonstrar indiretamente que houve um aumento
na concorrência por causa da abertura de novas escolas e se detém a apresentar
longamente quais tipos de colégios particulares teriam sido abertos nos últimos anos, a
saber: com finalidades exclusivamente financeiras, aqueles que não seguiam uma
perspectiva cristã e os que se preocupam com uma formação integral e moral (os
católicos) (Ecos, 1916, pp.14-15).
50
CAPÍTULO 2 – OS ANOS 1930 E O INÍCIO DA MONTAGEM DE NOVO
PROCESSO NA SEDE DA AVENIDA TIRADENTES
O Arquidiocesano perdeu equiparação em 1911, e por esta não ter sido
restabelecida para as instituições privadas com as Reforma Carlos Maximiliano80 e
Reforma Rocha Vaz81, o Colégio só recuperaria esses privilégios com a publicação do
decreto nº 19.890, Reforma Francisco Campos, de 18 de abril de 1931, que dentre
outras deliberações abriria a possibilidade da concessão da equiparação aos
“estabelecimentos de ensino secundário mantidos por governo estadual, municipalidade,
associação ou particular”, conforme indicado em seu artigo 44.
A reforma de 1931 seria realizada pelo ministro Francisco Campos (1891-
1968)82 quando esteve à frente do MESP e esta não somente viabilizaria às instituições
privadas os benefícios da equiparação como também ampliaria e refinaria,
significativamente, o número de exigências para a sua obtenção; além disso, seriam
instituídas estratégias para a fiscalização dos institutos de ensino secundário, pois não se
oferecia com o novo decreto a equiparação em caráter permanente podendo esta ser
revogada, caso não fossem atendidas as determinações governamentais.
Uma das novidades da nova reforma era a transformação do ensino secundário
em nível escolar obrigatório, seriado, para aqueles que desejavam acesso às escolas
superiores, ou seja, foram eliminadas as outras formas legais de acesso ao nível
superior, era o fim dos exames parcelados e o regime de preparatórios, cuja extinção
não fora conseguida pelos outros "reformadores" (DALLABRIDA, 2009, pp.185-186).
Em relação ao currículo esta reforma se voltaria mais para as disciplinas
científicas, o que conforme apontado por Minhoto (2007, p.141), representava uma
forma de romper com a estrutura educacional da Primeira República que era
considerada ultrapassada, e a nova composição curricular ia ao encontro das
necessidades de um mundo no qual as mudanças ocorriam de modo cada vez mais
acelerado; o progresso exigia a presença da Ciência.
80
Decreto nº 11.530, de 18 de março de 1915. 81
Decreto nº 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925. 82
Formado em Direito pela Faculdade Livre de Direito de Belo Horizonte seria o primeiro ministro do
Ministério da Educação e Saúde Pública, criado por Getúlio Vargas em 1930, cargo este que ocuparia em
dois momentos distintos, de 6 de dezembro de 1930 a 31 agosto 1931 e depois de 2 de dezembro de 1931
a 15 de setembro de 1932.
51
O decreto de 1931 atenderia aos desejos do Colégio que, há mais de 15 anos,
parecia aguardar algum movimento legal que pudesse destacá-lo, dentro do que era
possível pela equiparação. Essa chance não seria desperdiçada, pois ser alinhado ao
modelo de prestígio representado pelo Colégio Pedro II era um grande diferencial para
uma instituição que frequentemente refere-se a si quase sempre de forma exacerbada,
algo também identificado por Sedrez (1998, p.72)
Numa análise atenta percebe-se o tom ufanista presente em toda a narrativa que o colégio veicula sobre sua história: “participou de momentos marcantes da história da cidade e do país, tem ex-presidentes da república entre seus ex-alunos, destaca a capacidade de dar conta das novas demandas, fala de “ampla reforma estrutural”.
A leitura dos documentos, vinculados à equiparação dos anos 193083, traria
informações sobre os procedimentos realizados pelo Colégio e graças a esses foi
possível averiguar quais eram as esferas governamentais envolvidas com o
cumprimento do decreto.
Em 15 de junho de 1931 seria registrado um primeiro requerimento (protocolo nº
4569), junto ao MESP. Esse documento foi assinado pelo Irmão José Borges84, naquele
período reitor da instituição, e por meio dele o Colégio solicitava a fiscalização
preliminar e informava que tal pedido embasava-se nos artigos 44 e 45 do decreto
19.890, de 18 de abril de 1931 (Anexo 12). Essa modalidade de fiscalização era a
primeira fase no sentido da obtenção da equiparação e durava em geral um período
83
A experiência com o atendimento aos pesquisadores tem demonstrado serem as fotos o primeiro
chamariz dos volumes relacionados à equiparação, mas após essa primeira percepção o que salta aos
olhos é um emaranhado de nomes, datas, órgãos, selos, carimbos, rubricas e outro s pequenos indícios que
se mostraram imprescindíveis para contar a história de todo o esforço empreendido para que a chancela
da equiparação pudesse ser novamente utilizada pelo Colégio. Esses pormenores aparecem nos relatórios,
despachos, fotografias, plantas, fragmentos de publicações institucionais, cartas, ofícios, telegramas,
formulários, tabelas, que pode ser verificada com maior detalhamento no Anexo 1.Os volumes 2, 3 (este
subdividido em parte 1 e 2) possuem uma espécie de capa em papel cartonado qu e exibe o logotipo do
Ministério da Educação e Saúde Pública, logo abaixo aparece o nome do Departamento Nacional de
Educação, e em seguida Divisão de Ensino Secundário, demonstrando algumas das subdivisões da
estrutura responsável pelo acompanhamento do ensino secundário nos anos 1930 e 1940. Vê-se também
as palavras Assunto e Anexos (ambas sem preenchimento), entretanto o item Interessado foi preenchido
com o nome Colégio Arquidiocesano São Paulo, e na parte inferior há uma tabela com o título
Movimentação do processo que possui informações manuscritas que indicam as pessoas do MESP que
tiveram acesso à documentação (Anexo 11). 84
Nascido na França o Ir. José Borges (1879-1934), nome civil Bergeal Germain, era formado pela Escola
Normal de Notre-Dame de Lacabane (França). Era um educador com mais de 32 anos de experiência
quando assumiu a direção do Colégio Arquidiocesano, o que fez durante dois momentos de 1921 a 1927 e
novamente de 1931 a 1934. Foi um dos responsáveis por acompanhar a equiparação junto ao g overno
federal e também participou ativamente da construção do prédio da Vila Mariana o qual não chegou a ver
concluído.
52
mínimo de dois anos, durante os quais a instituição começava a ser fiscalizada pelos
inspetores federais, cuja presença não era uma novidade.
No requerimento de 1931 também foi informado que o ensino observava o
programa do Colégio Pedro II, a data de fundação da instituição (aproveitando este
detalhe para destacar que o Arquidiocesano era o mais antigo colégio da cidade de São
Paulo), ter sido entre 1900 e 1911 equiparado ao Ginásio Nacional, e destacava ter
sediado entre 1925 e 1930 juntas de examinadores e inspetores de exames, sendo estes
últimos nomeados pelo Departamento Nacional de Ensino.
A instituição garantia possuir toda a estrutura para um “ensino completo e
prático das sciencias physicas, chimicas e naturaes, como é fácil verificar pelo
inventario dos gabinetes de sciencias”85. O inventário era uma listagem na qual constava
o nome dos itens que compunham o acervo dos “gabinetes” sem que houvesse maiores
considerações sobre tamanho, marca, procedência, função, etc.
Eram observadas as orientações com relação às questões de higiene escolar e
fazia uma descrição geral sobre a formação dos professores (num total de 22 havia 16
irmãos) e os leigos eram detentores de certificações obtidas em escolas superiores
federais, conforme apontado pelo mesmo documento.
Esse requerimento foi acompanhado por uma lista com os nomes dos membros
do corpo administrativo (reitor, vice-reitor, 1º secretário, 2º secretário, médico e
dentista) e também dos docentes e suas respectivas disciplinas, sendo alguns
responsáveis por mais de uma matéria (Anexo 13). Graças a esse requerimento sabe-se
ter sido encaminhado também um inventário dos gabinetes de Ciências, que não está
junto com esse material, embora a existência de outros inventários dentro do conjunto
permitiu ter uma ideia sobre o seu nível de detalhamento.
Depois de três dias o Colégio encaminharia outro requerimento, protocolado em
18 de junho de 193186, com o mesmo texto, exceto por informar que juntamente com
aquele foram enviados os seguintes documentos: uma cópia dos estatutos do Colégio,
um exemplar do regime interno, o horário geral (com carga horária de cada disciplina),
o quadro do corpo docente (nome civil e religioso), disciplina e também a lista dos
alunos matriculados em 193187
85
Processo de Equiparação, 1940, v.2, p.3. 86
Processo de Equiparação, 1940, v.2, pp.7-8. 87
Processo de Equiparação, 1940, v.2, pp.9-10.
53
Seguiria também um relato de três a quatro linhas sobre a experiência em ensino
de cada um dos professores. Dentre os irmãos-professores 13 eram formados na Escola
Normal Especial de Mendes88, localizada na cidade do Rio de Janeiro e administrada
pelos próprios Maristas. Com relação à formação dos futuros Irmãos esta era
considerada rígida e austera e, além dos estudos, eles eram responsáveis pela
manutenção da obra, pois realizavam trabalhos de jardinagem, construíam cercas,
cuidavam de hortas e pomares, dentre outras atividades de caráter manual (AZZI,
1997a, p.207).
Com relação à presença de dois requerimentos com textos e datas muito
próximos acredita-se que houve necessidade de complementar ou esclarecer itens da
primeira documentação encaminhada ao MESP.
Graças às informações com relação à composição do corpo docente foi possível
identificar que ainda nos anos 1930 muitos desses eram religiosos formados pela
própria congregação89 e, por isso, orientados a partir das concepções educativas
preconizadas pelo Guia das Escolas.
Elaborado durante o 2º Capítulo Geral do Instituto dos Irmãos Maristas o Guia
foi a primeira obra a reunir sistematicamente o ideário educacional dos Irmãos Maristas.
Segundo Assis (2013, p.85)
o Guia é um elemento uniformizador do método que será aplicado em todas as escolas da Congregação, fazendo com que o “como” ensinar seja igual em todas as escolas onde o método seja adotado; em outras palavras, existe um único modelo pedagógico em qualquer estabelecimento mantido pela congregação, independentemente do espaço geográfico ou da condição social de seus alunos.
Esses religiosos, conforme indicado por Assis (2013), já possuíam diretrizes que
os auxiliavam no direcionamento da prática pedagógica, inclusive no Guia havia
orientações com relação às condições ambientais das salas de aula, tais como controlar a
circulação do ar, cuidados com a iluminação e formas para manter uma temperatura
constante.
88
O Colégio de Mendes foi fundado em 1903 e funcionou como internato entre 1904 e 1906 oferecendo
ensino primário e secundário. Segundo Azzi (1997a, p.206), em 1906 possuía aproximadamente 60
alunos. É esse mesmo autor que indica ter sido esse colégio fechado , e o de Franca (SP), em 1907 para
que pudessem ser formados os Irmãos que atuariam como professores no Arquidiocesano conforme o
desejo do Conselho da Província (AZZI, 1997a, p.207). 89
De modo geral classifica-se como Congregação o grupo religioso cujos membros realizam os votos
simples, tais como: pobreza, castidade e obediência. (NOVA, 1969, p.1135).
54
Em 1932 o inspetor Padre Heliodoro Pires designado pelo governo federal para
fiscalizar os exames oficiais realizados no Colégio registraria que os métodos de ensino
utilizados pelos Maristas e presentes no Guia, "merecem [ser] conhecidos e praticados
por todos os educadores nacionaes” e que os conhecimentos daqueles religiosos
“acham-se resumidos no soberbo 'Guia das Escolas', livro este gabado por summidades
pedagogicas em quasi todos os paizes civilisados" (Ecos, 1932, p.[61]). Esse registro,
apesar de ter sido realizado por outro religioso, aponta que os métodos de ensino
utilizados pelos Irmãos eram entendidos como alinhados às modernas prescrições
escolares.
Os educadores leigos provinham das mais diversas áreas, tais como Medicina,
Direito e Engenharia. Os professores Hygino Mancini, de Música, e Paulo Muller,
responsável pelas aulas de Educação Física eram os únicos com formações específicas,
sendo o primeiro formado no Conservatório de Roma e o outro na Escola de Educação
Física de São Paulo 90.
Apesar da mudança na fachada da sede da Avenida Tiradentes encontra-se entre
os documentos encaminhados ao MESP um fragmento da capa da revista Ecos (1928)
no qual o prédio ainda mantinha seu imponente e “afrancesado” aspecto exterior,
embora houvesse um destaque manuscrito apontando que naquela imagem um
determinado trecho correspondia à parte demolida91. A opção por uma imagem antiga
do Colégio indica possivelmente que uma foto mais atual daquele edifício não seria
benéfica para a imagem da instituição. Supõe-se que as obras da Vila Mariana, iniciadas
em 1929, já consumiam também os recursos destinados à manutenção da antiga sede.
Nas capas da revista Ecos entre 1908 e 1933, onde o edifício seria a única
imagem, a perda de parte do prédio jamais seria assumida visualmente pela instituição,
talvez uma forma de perpetuar o Colégio como algo perene, intocável e por isso
símbolo de uma tradição.
90
Processo de Equiparação, 1940, v.2, parte 1, p.[18]. A listagem com informações sobre os professores
foi elaborada por volta de 1931, no entanto, encontra-se encadernada num volume no qual foi grafado o
ano de 1940, sendo que esse não necessariamente se refere à data de elaboração dos documentos que
estão ali reunidos. 91
O Arquidiocesano ainda ocupava o prédio da Avenida Tiradentes no período em que a document ação do
processo dos anos 1930 foi entregue, no entanto, a demolição de um pedaço do edifício havia ocorrido em
1925 para a abertura da Rua 25 de Janeiro.
55
Na margem do requerimento de 18 de junho de 1931, em anotação manuscrita,
consta que o pedido do Colégio é deferido “devendo o estabelecimento efetuar o
depósito legal para a fiscalização”92.
Por ter sido a documentação aprovada, o funcionário do governo Cirillo Maciel
Prates, solicitaria em 7 de agosto de 1931, conforme orientação do ministro Francisco
Campos, que fosse realizada a inspeção conforme artigo 45 do decreto 19.890/1931 e
por isso seriam preenchidos dois formulários nos quais se anotaram informações gerais
sobre o Arquidiocesano (Anexo 14), tais como: nome, endereço, número de pavimentos,
quantidade de salas de aula, se havia salas ambientes, dentre outras informações. Estas
folhas parecem uma versão rudimentar do que viria a ser a ficha de classificação e sobre
a qual se falará com detalhamento no item 2.2.
No artigo 45 estavam prescritas as condições essenciais para que um instituto
obtivesse a inspeção preliminar: possuir espaço físico e materiais didáticos mínimos
(conforme recomendações do Departamento Nacional do Ensino), docentes
matriculados no Registro de Professores, ter regulamento aprovado previamente pelo
Departamento Nacional do Ensino, e apresentar documentação atestando condições para
a manutenção do Colégio por no mínimo dois anos.
A garantia do funcionamento realizava-se por meio de uma declaração formal da
do capital da instituição e o Colégio afirmaria possuir um montante de 2.800:000$000
(dois mil e oitocentos contos), além disso, era também obrigatório comprovar se
possuía, ou não, instalações próprias embora não houvesse restrição ao fato destas
serem alugadas.
A leitura dessas primeiras páginas permite recuperar uma dimensão perdida do
Colégio quando este ainda ficava na Avenida Tiradentes. Graças a elas foi possível
saber que nos bancos escolares havia 262 alunos, as 15 salas daquele edifício tinham em
média 6 m x 7,5 m e exibiam condições de iluminação e arejamento apontadas como
boas. Os laboratórios já faziam parte da estrutura de ensino do Arquidiocesano e neles
ministrava-se o ensino da Física, Química e História Natural, espaços esses que
possibilitavam o desenvolvimento de atividades de caráter científico e nos quais se
indicava a presença de materiais em abundância.
92
Processo de Equiparação, 1940, v.2, parte 1, p.7. Encontramos informações a esse respeito no artigo 50
da lei 19.890/1931. O termo na lei é quota anual de inspeção, e esta consistia no pagamento realizado
pelos colégios interessados na equiparação, sendo recolhida duas vezes ao ano de instituições com até 200
alunos, e em caso de quantidades acima desse número os institutos pagavam por indivíduo excedente.
56
As aulas de Educação Física poderiam, ao gosto do professor, acontecer em
espaços diferenciados, uma vez que o Colégio dispunha de um galpão, amplo pátio e
sala com aparelhos sobre os quais não há maiores descrições, no entanto, por meio de
fotografias presentes na documentação da equiparação acredita-se estarem estes
relacionados à prática da “ginástica sueca”.
Na Biblioteca armazenavam-se os acervos destinados a professores e alunos e
estes eram respectivamente compostos por 4.300 e 2.600 volumes93.
2.1 O primeiro elucidário para a ficha de classificação e a sede da Avenida
Tiradentes
No requerimento encaminhado em 4 de setembro de 1933, aos cuidados da
Superintendência do Ensino Secundário, uma divisão do MESP, o diretor do Colégio,
Irmão José Borges, solicitaria a mudança do status da instituição.
(...) de acordo com as instruções emanadas da Superintendência do Ensino Secundário, em vista de ser este Colégio Arquidiocesano de São Paulo sob inspeção preliminar desde 7 de agosto de 1931 mui respeitosamente, venho solicitar a V. Excia. a concessão da “Equiparação permanente”
94 ao mesmo
como “Estabelecimento livre de Ensino Secundário” de acordo com a vigente legislação”
95
Juntamente com esse pedido seguiria o primeiro relatório, composto por 100
páginas, no qual foram registrados aspectos estruturais e organizacionais da instituição.
Esse volume é chamado pela carta de 1933 de Memorial, embora logo na
primeira página tenhamos a informação de ser ele o Relatório enviado ao Departamento
Nacional de Ensino para Revisão da Ficha de Classificação para obter a Equiparação
Permanente – 1º de setembro de 1933.
O texto da Reforma Francisco Campos não traz maiores esclarecimentos sobre
esse relatório e seria por meio do artigo de Abreu (2010, p.295) que se encontrariam as
primeiras informações sobre tal documento, pois em seu trabalho a pesquisadora citava
93
Não foi localizada até o momento nenhuma fonte como, por exemplo, livros de tombo onde constem
informações sobre esses materiais. 94
A expressão equiparação permanente está incorreta, pois o termo utilizado pela legislação era
fiscalização permanente. Esse pedido indica que o Colégio solicitava a equiparação em caráter
“definitivo”, por já terem sido cumpridas todos os procedimentos legais da “primeira fase”. 95
Processo de Equiparação, 1940, v.2, parte 1, p.104.
57
uma portaria de 15 de abril de 193296, na qual se encontram as orientações com relação
à formatação desse item, cujo nome oficial era elucidário para a ficha de classificação.
Por meio desse decreto também foram definidas uma série de questões relacionadas aos
procedimentos da equiparação, dentre os quais padrões relativos à adequação dos
edifícios escolares.
Essa portaria possui uma característica sui generis, dentre toda a legislação
utilizada nessa pesquisa, é a única que não possui uma numeração específica, a exemplo
daquilo que normalmente se vê em leis, decretos, etc e o motivo dessa particularidade
ainda constitui-se em uma incógnita...
Com relação aos padrões também foi encontrado no acervo do MCMA um
material em forma de “livreto” intitulado Serviço de Inspeção dos Estabelecimentos de
Ensino Secundário (1932)97. Essa publicação difere-se um pouco98 da portaria citada
por Abreu (2010), pois além dos dados do decreto de 1932 possui três circulares com
orientações para os inspetores federais, no entanto, o que particulariza esse item é o fato
dela possuir anotações que indicam seu uso no estudo das extensas orientações
governamentais.
No relatório não há informações ou marcas que indiquem quem realmente
compilava a documentação do elucidário e a organizava à luz das diretrizes da portaria
“sem número”, mas pode-se afirmar que esse material passava pelas mãos do inspetor
federal, pois ele era responsável por assinar as páginas do relatório. É possível deduzir
que a maior parte dos itens fosse confeccionada por membros do próprio colégio, dentre
estes o secretário escolar. Espaços foram medidos, fotografias providenciadas com a
ajuda de um fotógrafo, os espaços a serem retratados precisaram ser limpos,
organizados e em algumas situações até mesmo decorados, no entanto, os nomes de
todas as pessoas envolvidas em tais providências continuam envoltos pelo anonimato.
No ofício encaminhado com o relatório de 1933 temos a observação de que este
havia sido “devidamente rubricado pelo Exmo. Inspetor Federal”99 e no segundo
volume encontramos nove páginas do relatório recebido pelo MESP no qual consta o
visto do inspetor federal, o Sr. Dr. Manuel do Carmo que assumiu a fiscalização do
96
O decreto seria publicado no Diário Oficial em 25 de abril de 1932. 97
Editado pela Imprensa Nacional a pedido do Departamento Nacional do Ensino. 98
Publicado pela Imprensa Nacional esse livreto está dividido em cinco partes: critério para a
classificação dos estabelecimentos de ensino secundário, ficha de classificação, normas para o uso da
ficha, instruções para a inspeção e circulares . 99
Processo de Equiparação 1933, v.1, p.3.
58
Colégio em 30 de junho de 1933, indícios esses que confirmam o envolvimento do
representante do MESP com o elucidário.
O primeiro volume do conjunto Processo de Equiparação100 possui duas
divisões principais: dados gerais e elucidário para a ficha de classificação.
Em dados gerais temos informações apresentadas de forma sucinta, divididas
em 10 itens, e até com número de palavras pré-definidas: nome oficial, histórico do
estabelecimento, organização administrativa, número de matrículas apresentadas em
tabela de forma que se tivesse um panorama geral sobre as modalidades de ensino
oferecidas, e também com relação à quantidade geral de alunos matriculados (Figura 1).
Horários de entrada e saída, organização da escrita financeira, garantias de
funcionamento, cópia do regulamento (dividido em organização do ensino, educação
religiosa, Educação Física, educação intelectual, condições de admissão, documentos
para matrícula, matrícula no curso secundário, regime escolar, diretoria e corpo docente,
deveres dos professores, horário, enxoval, contribuições, fornecimentos, dinheiro para
uso pessoal dos alunos, disciplina, ordem interna, emulação, penas disciplinares e
exclusão, caderneta escolar, saídas e visitas), descrição das instalações disponíveis para
o internato (mobiliário, dimensão dos quartos, dentre outros) e uma lista do corpo
docente e número de registro destes junto ao Departamento Nacional de Ensino.
O registro de professores era definido pelo artigo 69, da Reforma Francisco
Campos, por meio do qual se prescrevia serem estes obrigados a solicitar uma inscrição
junto ao Departamento Nacional de Ensino, por isso precisavam preencher um
requerimento e encaminhar os seguintes documentos: prova de identidade, prova de
idoneidade moral, certidão de idade, certidão de aprovação em instituto oficial de ensino
secundário ou superior (nacionais ou estrangeiras) nas disciplinas que pretendiam
lecionar, quaisquer títulos ou diplomas científicos que possuíssem, bem como
exemplares de trabalhos publicados e comprovantes que atestassem o exercício regular
no magistério por um período mínimo de dois anos.
Nesse relatório há uma reprodução da ficha de classificação que aparentemente
foi utilizada para simular a tabulação dos dados fornecidos pelo Colégio e também
100
O primeiro volume do conjunto Processo de Equiparação é composto por páginas datilografadas com
caracteres nas cores azul e preta “pálido” e tal coloração, bem como a ausência de assinaturas,
reconhecimentos de firma, selos fiscais dentre outros indicadores de “oficialidade”, verificados em outros
itens que compõem o conjunto e obrigatórios em procedimentos que exigem chancela de Fé pública100
,
reforçam a ideia de ser ele uma cópia executada com uso de papel carbono do material encaminhado para
apreciação da Superintendência do Ensino Secundário.
59
foram anexados os contratos de trabalho dos professores Sr. Paulo Mulli, de Educação
Física, e Sr. Luiz Duarte Ventura, de História do Brasil e Física.
Figura 1
Reprodução da tabela para o registro do número de matrículas
Fonte: BRASIL, 1932 (MCMA)
O elucidário para a ficha de classificação divide-se em cinco grandes grupos -
local, edifício, instalações, salas de aula e salas especiais – e estes se subdividem
perfazendo um total de 46 itens, e são os mesmos encontrados na ficha de classificação
(ver item 2.2).
Nesta parte do relatório concentram-se as observações, feitas a partir de uma
visita in loco pelo Sr. Dr. Manuel do Carmo, e graças a isso foi possível verificar como
foram quantificados e registrados os dados utilizados no preenchimento da ficha de
classificação. Havia espaço para o registro de observações elogiosas e subjetivas, no
entanto, ao chegarem ao MESP eram extraídos somente os dados quantitativos e
estatísticos. Como exemplo do caráter subjetivo de certos registros destaca-se o trecho
abaixo
O gabinete de química acha-se localisado no 2º pavimento em ponto regularmente afastado das salas de aula. Foi montado com esmero. A Diretoria do Estabelecimento nada poupou para que os alunos pudessem estudar praticamente e com o maximo proveito a química. Em sala ampla, muito bem iluminada, foi armada grande meza de experiencias, providas de todos os aparelhos e objetos
60
necessarios, com gavetões e armarios, torneiras para agua corrente, pias (ha três), tomadas de corrente eletrica, tomadas de gaz
101.
Nesse trecho verifica-se a preocupação do Dr. Manuel do Carmo em destacar o
empenho do Colégio ao ter equipado o Gabinete de Química com cuidado e atenção,
além disso, ao apontar a existência de quantidade de pias, superior ao número ao
solicitado pelo Governo, apresenta subliminarmente uma instituição que pretende
atingir um maior grau perfeição. O fato de ter destacado o caráter prático do ensino
indica que foram observados os modos pelos quais o ensino da instituição era realizado.
Eram utilizados gráficos para representar e qualificar itens relativos à estrutura
física, essencialmente salas de aula, áreas cobertas e livres. Dos seis gráficos
encontrados três fazem alusão a aspectos da sala de aula (quantidade de janelas, área de
assoalho e área de iluminação) tidos como imprescindíveis para o bom desenvolvimento
das atividades escolares. Com relação a esses aspectos encontram-se descrições
floreadas e justificativas do gênero “baseadas nos melhores conceitos de higiene
escolar”, conforme apontado no corpo do próprio documento.
2.1.1 Os espaços do Arquidiocesano no primeiro elucidário
Ao longo do primeiro elucidário há uma significativa quantidade de material
fotográfico, no total são 38 fotografias que estão assim distribuídas: 2 das plantas do
edifício da Avenida Tiradentes (escala 1:250), 2 panorâmicas da fachada do prédio em
períodos diferentes, 1 da cozinha, 1do refeitório, 4 das salas de visitas, 1 da secretaria, 1
da sala de estudos, 5 relacionadas aos materiais didáticos (Física, Química e História
Natural), 1 do pátio, 1 da sala de ginástica, 1 do laboratório de química em “aula”, 1 do
armário de substâncias químicas (mais de 150 recipientes), 2 das salas de aula com
materiais didáticos, 1 da biblioteca, 3 da colação de grau dos bacharelandos102, 2 da aula
de ginástica, 1 desconhecida (foi retirada do documento) e 8 do novo edifício da Vila
Mariana (ainda em construção).
A maior quantidade de fotos referentes à sede da Avenida Tiradentes deve-se ao
fato de que a instituição pleiteava naquele momento reconhecimento daquele edifício,
embora já fosse de conhecimento público que dentro de alguns anos esta seria
101
Processo de Equiparação, 1933, v.1, p.74. 102
Bacharel em Letras e Ciências era o título obtido pelos alunos que completavam o ensino secundário.
61
transferida para a Vila Mariana. A construção do novo prédio, geralmente apontado
como moderno e suntuoso já era um grande diferencial, no entanto, se os diretores do
Colégio conseguissem reconquistar a equiparação haveria um aumento considerável do
prestígio da instituição em relação aos demais.
Nem sempre há sincronia entre fotografia e texto, por isso acredita-se que essas
não possuíam somente uma função ilustrativa, ou somente comprovavam a existência
daquilo que era descrito no elucidário, mas sim eram utilizadas como uma forma de
propaganda para o ginásio que pleiteava a equiparação. Além disso, é pertinente
destacar que as prescrições governamentais não definiam quais ambientes deviam ser
retratados e nem explicitava a necessidade de que essas imagens fossem as mais
recentes, o que parece indicar que se depositava confiança na verificação realizada pelos
inspetores federais.
Apesar de algumas opções em destacar um ou outro ambiente houve cuidado em
representar por meio das fotografias cada um dos cinco grupos principais que compõem
o elucidário para a ficha de classificação.
Existia uma orientação para que a instituição fornecesse “abundante
documentação fotográfica” (BRASIL, 1932, p.23), mas essa estava especificamente
vinculada ao item Salas especiais e material didático, e dentro da quantidade descrita
acima somente 15 estão nesse contexto. O uso de outras imagens demonstra a intenção
de certificar ao governo federal nuances de uma instituição que constantemente referia-
se a si como a mais antiga escola de São Paulo e por isso, dotada de tradição e poder
simbólico, que a qualificava como excelente candidata para a equiparação tendo nas
fotos as testemunhas “fiéis” de toda uma estrutura edificada para o bem ensinar, por
esse motivo acreditou-se ser pertinente analisar algumas das imagens utilizadas na
documentação com a qual o Colégio conseguiu a equiparação.
As fotos da sala de visitas, ou portaria como é chamada em alguns documentos,
lembram a descrição do Panteão103 e nele se destacavam os quadros dos
bacharelandos104, que eram o testemunho de ter o Colégio contribuído para a educação
103
Pode ser uma permanência dentro do espaço escolar, pois o decreto nº 981 de 8 de novembro de 1890
(Reforma Benjamin Constant) em seu artigo 46, institui a criação do Pantheon dentro das escolas. (...)
Além disto, em uma sala de honra do externato e outra do internato, denominada Pantheon, serão
collocados os retratos dos alumnos, que se houverem tornado credores desta alta e excepcional distinc ção
pelo seu talento, amor ao trabalho, procedimento exemplar e mais virtudes. A congregação será o juiz
soberano nesta escolha. 104
Quadros de madeira entalhada de grandes dimensões e com fotos dos alunos que concluíam o
secundário, bem como de todas as autoridades vinculadas à turma (paraninfo, diretor, etc). O Colégio
62
de muitos alunos, não somente da cidade de São Paulo. Educação essa alinhada a uma
confissão religiosa católica explicitada nesse espaço por meio da presença de diversos
elementos de iconografia religiosa (Figura 2), e sobre essa sala encontramos o registro
abaixo que reforça a ideia de ser ali um local onde se reverenciava a memória.
Na portaria não nos demoramos. É a salla das lembranças. Muitas gerações ali deixaram seu retrato. Há frades regulares, muitos sacerdotes seculares, leigos, maristas, presidindo as turmas de bacharéis nos seus quadros artísticos. (Ecos, 1912, pp.21-23)
Figura 2
Fotografia da sala de visitas do Colégio - sede da Avenida Tiradentes
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
A imagem da Secretaria (Figura 3) nos remete a Kossoy (1989, p.31) quando
este afirma que “toda fotografia foi produzida com uma certa finalidade”. Ao olhar essa
imagem tem-se a clara impressão de que ali todas as atividades poderiam ser realizadas
em perfeita ordem e eficiência.
ainda possui alguns, entretanto a maior parte desses quadros foi perdida nos anos 1980 e em 2013
restavam somente 17, entre 1928 e 1950 apresentando os mais diversos estados de conservação
63
Figura 3
Fotografia da secretaria do Colégio - sede da Avenida Tiradentes
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
Um armário envidraçado possui divisões para a guarda de impressos, diários
oficiais e livros de ata, nos quais se registram informações sobre provas, alunos
matriculados, práticas relacionadas ao tiro de guerra105 e etc.
A escrivaninha do secretário, situada à esquerda da foto, exibe os materiais do
dia-a-dia, por isso vê-se “perfuradores” para folhas de papel, mata borrão, etc,
entretanto marcas no assoalho de madeira, um risco forte da porta para o centro da sala,
parece indicar que talvez o cenário no qual o secretário trabalhasse não fosse
exatamente da forma como foi retratado, pois os móveis encontravam-se posicionados
de tal modo a demonstrar as boas condições para o desenvolvimento das atividades
naquele local. A máquina de escrever explicitaria a existência de recursos para o
preenchimento de relatórios e outros documentos de caráter oficial.
Muitos procedimentos legais, tais como emissão de certificados, guias de
transferência, registros em atas, eram realizados na Secretaria por isso a importância em
destacar os aspectos organizacionais desse ambiente. Além disso, era ali onde acontecia
o atendimento às solicitações e observação das orientações dos inspetores federais, pois
o secretário era o representante da Diretoria do Colégio e no caso do Arquidiocesano
essa função foi desempenhada durante muito tempo pelos próprios Irmãos, e quanto
105
Aulas realizadas dentro do próprio Colégio e cujo principal objetivo era oferecer uma formação militar
aos alunos do sexo masculino, composta dentre outras atividades, por exercícios de tiro que utilizavam
armamento real.
64
mais eficiente fosse esse profissional mais simples era o trabalho do representante do
governo.
O Dr. Manuel do Carmo considerava a Secretaria um modelo, pois ali
(...) tudo vae disposto de tal maneira que pode ser fornecida qualquer informação a respeito de qualquer aluno com a máxima brevidade. O que aqui se afirma, vem largamente comprovado pela vinda de Srs. Diretores, secretários e até de inspetores para colherem dados com que se possam orientar na organização da secretaria e respetivo [sic] arquivo dos seus estabelecimentos
106.
Numa outra página vemos um espaço onde estão pendurados mapas físicos da
Ásia, Europa, e ao centro do Brasil, trata-se da Sala de estudos. Esta era composta por
carteiras dispostas como se estivessem dentro de uma sala de aula e ao fundo localizava-
se o tablado sobre o qual ficava a cátedra do professor. Por conta da presença de um
palco é possível supor que esse espaço seria utilizado para outras atividades como, por
exemplo, apresentações musicais, saraus, proclamações de notas107 (Figura 4).
Figura 4
Foto da sala de estudos do colégio - sede da Avenida Tiradentes
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
106
Processo de Equiparação, 1933, v.1, p.87. 107
De acordo com a publicação Ecos as proclamações das notas aconteciam, no caso das notas semanais
às segundas-feiras (após as sabatinas) e também da mesma forma eram divulgadas as notas mensais.
65
Algo na imagem acima chama a atenção, pois o espaço da Sala de Estudos é o
mesmo que aparece retratado na colação de grau dos bacharelandos, embora seja
perceptível uma “omissão” nas imagens da solenidade, naquele local havia duas salas de
aula e estas diminuíram boa parte do espaço do Auditório.
Essa situação não foi apontada pelo inspetor federal e as imagens seguiram
incólumes (Figura 5 e 6) demonstrando um Auditório amplo, bem iluminado e onde se
encontravam pessoas distintas, dentre os quais religiosos. Essas fotos em particular
oferecem duas percepções: a primeira delas explicita o Arquidiocesano como uma
instituição conceituada, cujas solenidades são prestigiadas pela sociedade e, além disso,
ao mesmo tempo pode-se demonstrar estar aquele espaço dentro dos padrões
estipulados pelo governo federal.
Figura 5
Foto da solenidade de colação de grau - sede da Avenida Tiradentes
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
66
Figura 6
Foto da solenidade de colação de grau - sede da Avenida Tiradentes
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
Uma reprodução da planta, que também fez parte da documentação da
equiparação enviada ao Rio de Janeiro em 1933, registraria uma configuração espacial
diferente do espaço do Auditorium, pois nela as salas de aula que aparecem como
paralelas àquele local quando na realidade localizam-se dentro dele (Figura 7),
conforme pode ser visto na imagem da Sala de Estudos (Figura 4) que é exatamente o
mesmo local, ou seja, possivelmente o espaço estava abaixo dos 50m2 exigidos pelo
governo federal.
67
Figura 7
Fragmento da planta enviada ao governo federal
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
Das cinco fotos relativas aos materiais didáticos foram selecionadas três nas
quais aparecem melhor representadas a grande e diversificada quantidade de itens108 do
acervo do Colégio.
Na Figura 8 vemos retratada uma estante do laboratório de Química onde se
armazenavam mais de 200 frascos com elementos químicos, sendo estes identificados
por etiquetas onde foram escritas suas fórmulas. O espaço explicitava não somente a
quantidade de materiais disponíveis, muitos dos quais aparentemente pouco utilizados
devido à grande quantidade de frascos cheios, e também por perceber que grande
número destes exibia uma camada de pó, mas a foto acabaria por demonstrar um
ambiente arejado, organizado e um espaço idealizado para a realização das aulas.
108
Para maiores informações sobre o museu escolar, laboratórios e gabinetes do Arquidiocesano
recomenda-se a leitura da dissertação A configuração de novos locais e práticas pedagógicas na escola: o
museu escolar, os laboratórios e gabinetes de ensino do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo
(1908-1940) elaborada por Luna Abramo Bocchi (PUC-SP/EHPS 2013).
68
Figura 8
Fotografia estante do laboratório de Química - sede da Avenida Tiradentes
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
Em armários iluminados por meio da utilização de lâmpadas incandescentes
encontrava-se armazenada a coleção de História Natural (Figura 9)109. Na imagem
foram retratados animais empalhados, crânios, amostras de madeira, minerais,
invertebrados, peles de animais, peças indígenas (flechas, lanças, etc), e em pequena
quantidade itens relacionados ao ensino de Física. Um espaço mal cuidado no qual
deixavam a desejar as condições de limpeza e organização. Mesmo quando se leva em
consideração que houve a necessidade de registrá-lo para a documentação da
equiparação, a precariedade desse ambiente indicaria que esse espaço não era utilizado
para as aulas, e na planta anexada ao elucidário para a ficha de classificação, temos a
indicação de que ali era uma das duas salas conhecidas como Museu e cada uma delas
possuía 18 m2.
109
Sobre a coleção de animais empalhados do Arquidiocesano destaca-se o trabalho de José Maurício
Ismael Madi Filho, Animais taxidermizados como materiais de ensino em fins do século XIX e começo do
século XX (PUC-SP/EHPS 2013).
69
Figura 9
Fotografia com parte da coleção de História Natural - sede da Avenida Tiradentes
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
Temos com isso outra ausência nos registros do Dr. Manuel do Carmo, pois não
havia um espaço exclusivo para História Natural, conforme apontado por ele, mas sim
espaços compartilhados onde ficavam objetos de outros ramos do conhecimento.
No gabinete de Física (Figura 10) seria cuidadosamente disposta em mesas e
armários uma série de instrumentos científicos. Houve uma opção por aparelhos que
possuíam um tamanho mais significativo e no canto esquerdo é possível ver uma
pequena parte da coleção de História Natural, o que é outro indicador de que os espaços
não se apresentavam especializados como exigiam as prescrições relacionadas à
Reforma Francisco Campos.
70
Figura 10
Fotografia parte da coleção física - sede da Avenida Tiradentes
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
As imagens relativas às salas especiais, além de apresentarem supressões
realizadas pelo inspetor federal também apontam outras ausências que indicam o
envolvimento pessoal do Dr. Manuel do Carmo com os administradores do Colégio.
Este não escreveria no elucidário nada com relação à existência de quaisquer problemas,
pois se pode verificar pela análise da documentação que elas existiam e deveriam ter
sido registradas por alguém, cuja função tinha um caráter eminentemente fiscalizatório.
Não há fotos das Salas de Desenho e Geografia. Isto representa outro “silêncio”
do inspetor federal, pois ele nos faz entender que esses dois ambientes existiam de fato.
Eles são descritos, sem informações espaciais, pois os dados relacionados a eles trazem
somente a relação dos materiais disponíveis. Na “Sala de Geografia” existiam globos,
plantas, mapas de parede, lunetas, atlas, etc e sobre eles o inspetor registrou que “para o
ensino da Geografia, dispõe o Colégio Arquidiocesano de material adequado e
moderno”110.
Com relação à “Sala de Desenho”, além da relação de materiais disponíveis para
uso, ele observa que “para as [sic] diferentes series, existem diversas coleções de
desenhos assim como numerosos livros especializados para cada espécie de desenho e o
material necessário para os alunos estudarem com facilidade” 111.
110
Processo de Equiparação 1933, v.1, p.57. 111
Processo de Equiparação 1933, v.1, p.86.
71
O espaço do Colégio é rico em imagens de santos, bem como também é possível
encontrar as pequenas placas com a frase Deus me vê (Anexo 15), um lembrete de que
corpos e consciências são constantemente vigiados, entretanto, tais representações
religiosas convivem com os conhecimentos seculares, pois é constante a presença de
quadros parietais.
Em todas as fotos onde temos a presença dos alunos, sempre os mesmos
indivíduos, ficaria clara a intenção em destacar práticas escolares relacionadas aos
conhecimentos científicos e que eram muito valorizados pela Reforma Francisco
Campos, e ao mesmo tempo uma forma de expressar que o ensino católico não ignorava
a importância desses saberes, embora não se admitisse que fossem posicionados acima
ou independentes da Fé. Segundo Moura (1990), desde o final do século XIX a Igreja
Católica estava em desacordo com as mudanças do mundo moderno, oriundas da
Revolução Industrial e acabaria por se comportar muitas vezes
(...) como se ainda estivesse numa sociedade aristocrática rural. As teses do Liberalismo, afastando a Igreja de suas posições-chave tradicionais (assistência aos doentes, aos pobres e ensino), encaminhavam cada vez mais para a autonomia leiga. Enquanto isso o cientificismo difundia a ideia de que, no conflito que opunha a ciência à Fé isto é, o progresso, este seria inevitavelmente o vencedor" (MOURA, 1990, p.333)
Associava-se com relação a esse "desajuste" a perspectiva de que ensino católico
era essencialmente “conservador” e, por isso, pouco afeito à transmissão dos
conhecimentos científicos.
Na Figura 11 temos a demonstração de uma experiência química, que após ter
sido desenhada no quadro-negro seria montada no balcão utilizando-se os aparatos
disponíveis no laboratório.
Apesar do aparente envolvimento dos alunos com o experimento, na verdade
estes apenas manuseavam tubos de ensaio que não faziam parte do experimento que
estava sobre o balcão.
72
Figura 11 Fotografia de simulação de aula de Química - sede Avenida Tiradentes
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
Na revista Ecos quando abordadas as relações entre Ciência e Fé percebe-se que
os conhecimentos científicos de modo geral são apresentados como “efêmeros”, caso
fosse desconsiderada a presença de Deus como, por exemplo, na edição de 1925 onde o
paraninfo da turma de bacharelandos, o Dr. Celestino Bourroul (1880-1958), diria:
Ora, com o desenvolvimento incessante das sciencias, o orgulho humano julgou que se pudesse guindar a sciencia ao altar, para ser adorada pela humanidade como deusa dadivosa da verdade. É a religião da Sciencia proposta por Renan, Vogt, Buchner, Haeckel, como si nella achássemos lugar para a moral. Conhecemos o curso dos astros e ignoramos o mecanismo da emoção que experimentamos a cada passo. (Ecos, 1925, p.25)
É recorrente o hábito de utilizar a fala dos paraninfos para reforçar e justificar o
posicionamento do próprio pensamento institucional. No entanto, com relação às
relações entre Ciência e Fé há considerações nesse sentido em publicações da própria
congregação, em especial num trecho do Bulletim de l´Institut des Petits Frères de
73
Marie (1910)112, no qual se orientaria aos Irmãos Maristas que estes não dessem
motivos para que os inimigos do ensino confessional o qualificassem como "contrário à
ciência ou sistematicamente refratário a qualquer progresso verdadeiro" (SEDREZ,
1998, p.229).
No elucidário de 1933, que considerou a estrutura da Avenida Tiradentes, foram
encaminhadas pelo menos oito fotografias que simbolizavam o futuro do mais antigo
colégio da cidade, a construção do edifício da Vila Mariana (Figura 12). Essa grande
quantidade de fotos com relação a um único tema demonstra a clara intenção de
impressionar, e houve sucesso nesse sentido.
Possivelmente a promessa de um prédio aparentemente tão alinhado aos padrões
definidos pelo governo federal, talvez tenha sido usado como um forte argumento para
convencer o Dr. Manuel do Carmo a eximir-se com relação a quaisquer problemas
encontrados na deficiente e exaurida sede da Avenida Tiradentes, pois esta contava com
espaços muitas vezes improvisados e outros inadequados quando confrontados com
aquilo que o governo preconizava.
Figura 12 Registro construção da nova sede - Vila Mariana
Fonte: Processo de Equiparação, 1933 (MCMA)
112
Esse bulletim, também chamado de Bulletin de l´Institut, foi publicado de 1909 a 1984, e se constitui
como "um arquivo histórico marista de conteúdo muito variado. Suas páginas contêm dados históricos do
mundo marista, das províncias e das casas. Constitui-se um arquivo que cobre três quartos de século da
vida marista. Juntamente com os dados históricos que registrou, também conservou em suas páginas um
abundante pensamento marista, especialmente sobre pedagogia e espiritualidade" (Fonte:
www.champagnat.org/000.php?p=120). Essa publicação encontra-se totalmente digitalizada e disponível
para consulta on-line.
74
Por meio das fotos encaminhadas no elucidário em 1933 o Arquidiocesano
assumiria seu longo período de existência, sua tradição, e até mesmo suas paredes em
taipa de pilão, no entanto, como contraponto apresentaria que dentro de tão
"conservadoras" perspectivas edificava uma estrutura modelar com recursos
educacionais modernos, e que seus alunos seriam ensinados de tal forma que se
superaria o verbalismo e a memorização, aspectos aos quais se associava a educação
católica e formas de ensinar às quais os Maristas eram opositores há muito tempo.
Deixar para trás o prédio no qual se formaram ilustres e honrados cidadãos
católicos, e sendo este mesmo local símbolo da própria constituição da Igreja paulista,
demonstraria que uma parcela desses católicos estavam atentos às necessidades
educacionais dos novos tempos, no entanto, a preocupação dos Maristas com o "novo"
traz elementos do receio expressado pelos educadores católicos de que não se poderia
abrir mão da proeminência da Igreja sobre o ensino secundário brasileiro.
2.2 A ficha classificação
Dentre as estratégias e recursos elaborados para garantir o cumprimento, bem
como a eficiência da sistemática de fiscalização instituída pela Reforma Francisco
Campos, destaca-se o uso de um formulário padrão chamado ficha de classificação
(Anexo 16).
O uso das fichas foi instituído por uma portaria já referida como “sem
número”, em 15 de abril de 1932, responsável por definir os “critérios para a
classificação dos estabelecimentos de ensino secundário” documento este desenvolvido
dentro do Departamento Nacional do Ensino.
De acordo com Abreu (2010, p.295) essa portaria foi elaborada “por Anísio
Teixeira, Paulo de Assis Ribeiro e Otávio Martins, dentre outros, que foram buscar nos
standards de Strayer e Engelhardt as normas que julgavam necessárias adotar e adaptar
para o Brasil”, sendo esses dois últimos respectivamente da área de Engenharia e
Arquitetura. Os americanos, citados por Abreu (2010), também contavam em seu grupo
de estudos com o auxílio de profissionais dessas áreas como parceiros de pesquisa.
Essa autora ao analisar especificamente o caso do Ginásio Belmiro César
(Curitiba, PR) apresenta diversos pontos relacionados à obtenção da equiparação ao
Colégio Pedro II que compreendem: dispor de materiais didáticos, contar com
professores devidamente registrados nos órgãos competentes, dispor corretamente o
75
mobiliário em sala de aula, dentre outros. Indica, por fim, que a presença constante dos
inspetores federais dentro desse Colégio faz parte de uma estratégia para a manutenção
da qualidade de ensino oferecido pelas instituições equiparadas.
O envolvimento de Anísio Teixeira com a elaboração dessa portaria deve-se ao
fato dele ter sido convidado, em 1931, pelo ministro Francisco Campos para assumir o
cargo de superintendente do Serviço-Geral de Inspeção do Ensino Secundário. Segundo
Nunes (2000a, p.228), a principal intenção desse tipo de nomeação era integrar
profissionais especializados à estrutura burocrática do governo federal, estratégia essa
por meio da qual se pretendia também, num perspectiva política, "resolver as
dificuldades do Estado num momento conjuntural em que não se conseguia impor seus
pontos de vista nos campos de atividade, em que sua intervenção se pretendia incisiva e
abrir espaços maleáveis à negociação de interesses".
George Drayton Strayer (1876-1962) e Nikolaus Louis Engelhardt (1876-1962)
eram professores da Columbia University, e faziam parte do Teacher´s College, uma
instituição de formação de professores fundada em 1899, e ainda hoje em
funcionamento, e à qual Anísio Teixeira se vincularia como aluno entre 1928 e 1929, e
onde possivelmente teria tido contato com o trabalho desses pesquisadores. O objeto de
estudo de Strayer e Engelhardt, em especial entre anos 1920 e 1930, eram os prédios
escolares americanos.
Como ferramentas de pesquisa Strayer e Engelhardt desenvolveriam score
cards e standards. Os primeiros eram essencialmente formulários nos quais era possível
atribuir um rol de pontuações aos aspectos estruturais dos edifícios que se pretendia
avaliar, tendo por finalidade específica garantir um mapeamento seguro e minucioso de
aspectos considerados importantes para garantir o adequado funcionamento de uma
escola, seja esta um jardim de infância ou um instituto de ensino secundário.
Um score card é composto por uma tabela geralmente dividida em quatro
colunas: a primeira possui um termo descritivo simples que identifica o item em análise,
bem como suas respectivas subdivisões, a segunda composta por uma pontuação
máxima já pré-definida e impressa tendo logo ao seu lado um espaço para atribuição de
uma nota, na terceira tem-se o máximo de pontos a ser obtidos na seção “principal”
(representada sempre por uma letra maiúscula), sendo esta também impressa, e por
último a coluna com o geral das grandes divisões identificadas em algarismos romanos
e um campo ao seu lado para o preenchimento do resultado obtido (Figura 13).
76
Figura 13
Score Card
Fonte: ENGELHARDT, 1932 (p.10)
Para orientar o preenchimento do score card foram elaborados standards, ou
seja, padrões, e estes foram desenvolvidos por meio de três procedimentos: um
levantamento bibliográfico sobre aquilo que se produziu de conhecimento com relação à
constituição de edificações escolares (quase a totalidade das produções localizadas
foram produzidas nos Estados Unidos113), contribuição de profissionais especialistas em
diversas áreas do conhecimento (arquitetos, administradores escolares, etc), e por fim
foram consultadas pessoas que trabalhavam diretamente em escolas, tais como diretores,
professores, funcionários escolares, supervisores, etc (ENGELHARDT, 1932, p.1).
113
Conforme pôde ser verificado por meio da bibliografia disponível na obra Standards for Junior High
Schools (pp.151-155).
77
Os objetivos de Strayer e Engelhardt ao elaborarem essas ferramentas era
avaliar as edificações escolares existentes, de tal forma que se percebesse seguramente
se estas precisariam ser reconstruídas ou mesmo abandonadas, e principalmente
oferecer diretrizes para a avaliação das plantas das novas escolas antes que estas fossem
construídas, pois se otimizaria com isso o uso dos recursos financeiros destinados à
Educação (STRAYER; ENGELHARDT, 1920, p.3).
Dentre as obras analisadas não se percebeu uma associação desse tipo de
metodologia com uma função fiscalizatória, e nem se identificou terem sido estas
utilizadas como pré-requisito para a conquista de quaisquer tipos de benefícios legais
como, por exemplo, se enquadra a equiparação.
É dos score cards, elaborados por Strayer e Engelhardt, que se originam os
princípios da ficha de classificação, conforme apontado por Abreu (2010, p.295), sendo
que todos os procedimentos relativos ao seu preenchimento também são definidos pelo
decreto “sem número”.
Na adaptação brasileira eram analisados 46 itens relacionados à estrutura física
do Colégio, e estes por sua vez eram divididos em cinco grandes áreas (I. Situação, II.
Edifício, III. Instalações, IV. Salas de aula e V. Salas especiais e material didático) que
também se subdividiam, sendo que a soma dos itens menores constituiria o conceito do
grupo maior numa perspectiva do específico para o geral, um modo de identificar
pontos adequados e deficientes. Por isso era importante atingir uma boa pontuação em
cada um dos 46 aspectos analisados.
A partir dos resultados obtidos com a soma das cinco grandes divisões a
instituição era enquadrada em quatro categorias: sofrível (6.000 a 6.500), regular (6.501
a 8.000), bom (8.001 a 9.500) e excelente (9.501 a 10.000). Para a obtenção desse
resultado realizavam-se diversos cálculos, cujos totais eram registrados na coluna 8,
sendo o formulário composto por 11 no total, conforme descrito no Quadro 1.
Quando era seguido o estritamente necessário num determinado aspecto a
pontuação obtida pelo ginásio era “relativamente” baixa, pois se atribuía a nota 7 numa
escala de 1 a 10.
78
Quadro 1 Apresentação das colunas da ficha de classificação
Fonte: BRASIL, 1932 (MCMA)
Esse formulário demonstra, a exemplo de seu similar americano, a preocupação
em esquadrinhar a parte estrutural dos Colégios, pois os aspectos analisados levavam
em consideração informações sobre a localização, os espaços edificados e a adequação
desses locais para usos específicos (laboratórios, sala de geografia, etc). Percebeu-se
que as relações de instrumentos científicos, substâncias químicas e acervos da área de
História Natural constam somente na prescrição brasileira.
Por meio dos itens elencados é possível inferir sobre aquilo que se considerava
importante para o desenvolvimento das atividades educacionais com um desejável grau
de excelência, algo também sinalizado por conta do alinhamento do ensino secundário
do país ao Colégio Pedro II, no entanto, todos esses “cuidados” demonstrariam a
existência de um amplo espectro de controle e equalização do ensino secundário
brasileiro, inclusive com relação àquele que era ministrado nas instituições
confessionais.
Apesar da objetividade com relação a alguns aspectos há a utilização de termos
pouco definidos como, por exemplo, “grave impureza no ar”, “distribuição adequada”,
“quantidade suficiente”, “convenientemente orientado” dentre outros. Ao falar sobre
como seria a mesa apropriada ao trabalho do professor encontramos a informação de
que essa deveria ter “1 metro por 1,5 no mínimo”, no entanto, essas orientações
1 Nº - Atribuição de números a cada um dos aspectos analisados (46 no total);
2 Elementos para classificação – Descrição curta do item avaliado
(extintores de incêndio, quadros negros, carteiras, etc)
3 Coluna onde eram registradas notas de 1 a 10
4 Valor individual do item (impresso) que era multiplicado pela nota da coluna 3
5 Total da multiplicação colunas 3 e 4
6 Total atingido pela instituição dentro de cada uma das subdivisões
das grandes áreas;
7 Valor máximo (impresso) que um Colégio poderia conseguir em cada uma das subdivisões das grandes áreas;
8 Coluna em branco;
9 Valor obtido pelo Colégio nas grandes áreas após a soma de cada
uma de suas subdivisões
10 Valor máximo (impresso) que poderia ser obtido nas grandes áreas
11 Porcentagem atribuída a cada grande área
79
apontam uma necessidade de formatar e enquadrar os Colégios a partir de uma
determinada visão com relação ao espaço escolar.
O preenchimento da ficha de classificação era executado por auxiliares técnicos
do MESP que utilizavam os dados numéricos fornecidos pelos inspetores federais
mediante o encaminhando do elucidário para a ficha de classificação, como exemplo
Existem nos pateos e dependências sanitárias 32 W.C. em perfeito estado de conservação com caixas de descarga. O quociente tirado pela tabela W.C. vale 14. A nota a ser atribuída é, para W.C. NOTA (10) (DEZ)
114
É valido destacar que a elaboração de um elucidário e a transcrição dos dados
pelos técnicos são duas significativas diferenças com relação à metodologia aplicada
por Strayer e Engelhardt, pois estes realizavam um treinamento dos avaliadores à luz
dos Standards, para que somente depois fossem considerados habilitados para o
preenchimento do score card, e, além disso, para garantir a confiabilidade dos dados
obtidos eram feitas três avaliações por pessoas diferentes, e somente a média dessas era
utilizada na composição da pontuação final, cujo máximo era 1.000 pontos (STRAYER;
ENGELHARDT, 1920, pp.3-4).
Por conta da análise da ficha de classificação foi possível perceber que a sala de
aula era o espaço mais valorizado na avaliação, pois sozinha respondia por um total de
3.000 pontos, algo significativo levando-se em consideração que o máximo a ser
conseguido por um ginásio era 10.000.
As salas eram avaliadas individualmente, mas somente a média obtida era
transportada para a ficha (ABREU, 1939, p.296). Observava-se o seu formato, se
possuíam isolamento acústico entre si, e também com relação aos sons externos, os
quadros negros deveriam ser confeccionados com materiais específicos e dispostos de
modo a garantir a leitura pelos alunos, a pintura certa das paredes proporcionaria a
adequada difusão da luz. Também exigia-se área livre de iluminação (esta definida por
meio de um cálculo que considerava a área do assoalho dividido pela quantidade de
iluminação), ter janelas dispostas de modo que as carteiras recebessem luz pela
esquerda, e por fim a acústica adequada era aquela que permitia ao professor realizar a
aula sem que houvesse a necessidade de elevar a voz (ABREU, 1939, p.297), abaixo
exemplos de cálculos feitos com relação às salas de aula.
114
Processo de Equiparação 1933, v.1, p.49.
80
Sala da 5ª série : 8,5 x 8,4 = 71,40 c/46 alunos NOTA 8 Sala da 4ª série : 8,5 x 5,6 = 47,60 c/31 alunos NOTA 8 Sala da 4ª série B : 7,1 x 5,0 = 35,50 c/29 alunos NOTA 6 Sala da 2ª série A : 8,5 x 5,6 = 47,60 c/34 alunos NOTA 7 Sala da 3ª série : 10,5 x 5,6 = 58,80 c/46 alunos NOTA 7 Sala da 1ª série A : 7,1 x 5,0 = 35,50 c/33 alunos NOTA 5 Sala da 1ª serie B : 8,3 x 7,0 = 58,10 c/45 alunos NOTA 7 Sala da 2ª série B : 11,5 x 7,6 = 87,40 c/48 alunos NOTA 9
115
As notas das salas de aula eram atribuídas a partir do preenchimento de um
gráfico padrão, recurso utilizado nos procedimentos definidos pelo MESP sempre que
havia necessidade de serem analisadas áreas em m2, e dentro dele foram distribuídas as
notas de 1 a 10 (Figura 14).
Figura 14 Representação gráfica do espaço das salas de aula
(área em m2 por número de lugares)
Fonte: BRASIL, 1932 (MCMA)
As salas de aula eram o espaço com relação ao qual se exigia a maior quantidade
de levantamento de dados, pois durante o processo de avaliação destas era preciso
preencher tabelas, gráficos e a realização de uma série de cálculos (área de iluminação,
área livre de iluminação, quantidade de alunos x lugares, etc).
Em segundo lugar ficavam as salas especiais e de material didático que
respondiam por 2.500 pontos. As primeiras compostas por auditório, ou salão,
115
Processo de Equiparação 1933, v.1, p.49.
81
biblioteca, ginásio, sala de geografia, salas de ciências físicas e naturais, sala de
desenho, sala dos professores e da administração. Com relação ao mobiliário geralmente
solicitava-se que os ambientes fossem compostos por “mobiliário conveniente”.
O auditório deveria “comportar pelo menos dois terços dos alunos matriculados
no estabelecimento, na razão de 0,90 m2 por aluno, não tendo, entretanto, área inferior a
50 m2” (BRASIL, 1932, p.8).
Na biblioteca o acervo deveria ter livros e periódicos adequados ao ensino
secundário tendo em vista temas de cultura geral. Com relação às tipologias indicava-se
que houvesse livros didáticos, pelo menos 2 exemplares de cada disciplina, e, além
disso, havia necessidade de ser disponibilizada uma revista especializada em Educação,
não importando se em português ou qualquer outro idioma.
Com relação ao espaço do ginásio havia uma única recomendação, este não
podia ter uma área menor que 60 m2.
Para a sala de geografia e a de desenho constavam listagens dos materiais
considerados relevantes. Para a primeira sala foram escolhidos 12 itens e estes muitas
vezes se subdividiam, tal como acontece com o termo coleções de mapas que
impossibilita uma contagem acurada e além destes são indicados materiais em
diferentes formatos, de amostras dos principais produtos brasileiros (café, cacau,
borracha, etc) a cartões postais. Na sala de desenho seriam relacionados sete itens,
muitos ligados ao estudo da Geometria, tais como transferidores, compassos, esquadros,
entre outros.
Para os espaços relacionados às Ciências Físicas e Naturais, além das instalações
físicas, havia uma listagem com 94 objetos, entre minerais, substâncias químicas e
modelos anatômicos.
Na sala especial de Física foram relacionados 141 aparelhos e instrumentos, bem
como toda a estrutura física, e para Química foram solicitados 258 itens.
Em relação aos materiais de História Natural existem diversas coleções e
generalizações como, por exemplo, “um pequeno herbário com os exemplares mais
comuns das famílias vegetais mais importantes do Brasil” (BRASIL, 1932, p.19) que
impossibilitam delimitar com maior precisão a quantidade dos exemplares aos quais
estes se referiam, mas a priori puderam ser identificados um total de 86, apesar do
“acanhado” número indicado pelo MESP ainda existia a possibilidade da instituição
escolher outros, indicando ser possível ir além das exigências.
82
As instalações contabilizavam 2.000 pontos. Por instalações entendia-se
“extintores de incêndio, iluminação, caixa d´água, asseio e instalações higiênicas”116.
Não era definida a quantidade de extintores portáteis que um colégio deveria possuir,
nem onde colocá-los, exceto o prescrito para os laboratórios, mas informava-se que
precisavam ser em quantidade suficiente, embora não fosse especificado quantos e
distribuídos de forma conveniente, mas também não indicavam onde.
A iluminação natural deveria ser suficiente conforme prescrito pela higiene
escolar, e a artificial usada preferencialmente de forma indireta ou semi-indireta. No
caso da iluminação das salas de aula essa era calculada individualmente e a média
registrada na ficha.
A caixa d´água precisaria ter no mínimo uma capacidade para armazenamento
de 500 litros e era necessário um acréscimo de 20 litros por cada aluno matriculado.
Com relação ao asseio e instalações higiênicas as prescrições eram exigentes.
Orientava-se a utilização de aparelhos elétricos, como aspiradores de pó para se evitar
“agitar a poeira”, por essa razão condenava-se a varredura feita a seco. Para a
aparelhagem sanitária existia um cálculo, quantidade de aparelhos divida pelo número
de alunos, e o resultado obtido transcrito na ficha nos itens 21 a 25. A condição de
conservação exigida para esses equipamentos era perfeita.
Os dados da Situação diziam respeito às condições do terreno no qual estava
localizado o Colégio, a partir do qual eram avaliadas a existência (ou não) de ruídos, a
segurança deste (se possuía buracos, aclives, declives) e salubridade (ausência de poeira
excessiva).
A pontuação relativa ao quesito Edifício era o penúltimo critério e contabilizava
1.500 pontos. As salas deveriam ser dispostas de tal modo que fosse possível controlar
facilmente os alunos, por isso sugeria-se como adequadas para o prédio as disposições
em H, E, U, L e T.
Na ausência de elevadores o ideal seria um prédio com no máximo dois andares
e toda a estrutura deste constituída com materiais não inflamáveis. Algumas saídas da
construção deveriam ser amplas de forma a garantir a rápida movimentação de grandes
quantidades de alunos, embora se admitissem outras menores.
As escadarias nunca poderiam ter menos de 1,5 m de largura, e com relação a
essas as orientações eram, como em outros casos, repletas de parâmetros pouco
116
Processo de Equiparação 1940, v. 2, p.106.
83
objetivos, pois se esperava que estas fossem amplas (não se explicava o quanto),
convenientemente localizadas (não era fornecida nenhuma informação sobre onde),
construídas com materiais não combustíveis, a inclinação e a resistência deveriam
garantir segurança, serem bem iluminadas e com relação a essa última exigência
também não havia maiores especificações.
Os últimos 1.000 pontos eram obtidos com a Situação. Nela eram descritos os
aspectos relativos à localização do Colégio, a proximidade dele com fábricas, condições
das ruas próximas, se era um local urbanizado ou rural e outras informações sobre as
quais se solicitava uma representação gráfica, que consistia no envio de croquis
(BRASIL, 1932, p.21).
O contato com as fichas de classificação permitiria inferir algumas
possibilidades de uso, a primeira diz respeito dessas se constituírem como um “resumo”
sobre a instituição equiparada, pois o elucidário era muito grande para um levantamento
mais imediato, e com o aumento no número de instituições equiparadas, um instrumento
dessa natureza era muito interessante. Além dessa utilização não se pode negar ser a
ficha uma fonte de dados estatísticos por conta do uso exclusivo de números em seu
preenchimento. Engelhardt (1932, p.9) recomendaria que os dados dos score cards
fossem representados graficamente como, inclusive, uma forma para facilitar o uso
desses dados pelos responsáveis pela elaboração dos projetos das novas unidades
escolares e apresenta como sugestão a disposição abaixo (Figura 15)
84
Figura 15 Apresentação gráfica dos dados levantados por meio dos score cards
Fonte: ENGELHARDT (1932, p.8)
Na parte superior do gráfico eram indicados os aspectos analisados, como por
exemplo, as condições sanitárias, salas de aulas, salas especiais de um conjunto de
escolas, cujos nomes seriam colocados à esquerda. Como cada um dos itens dos score
cards possui uma pontuação individualizada era possível, por meio de uma proporção
entre quociente obtido x padrão definido, observar a adequação, ou não, de um
determinado aspecto nas quatro qualificações que aparecem na parte inferior do gráfico
85
(unsatisfactory, poor, pair e good), e que são similares àquelas utilizadas pelo MESP. O
uso dos procedimentos para a avaliação das edificações viabilizava a elaboração de
diversos tipos de diagnósticos e análises, inclusive para que se pudesse garantir um
mesmo patamar de qualidade de determinado grupo de escolas.
2.2.1 A primeira ficha de classificação do Colégio Arquidiocesano
Dentro do conjunto de itens relativos à equiparação existem vários tipos de
documentos (telegramas, fotografias, protocolos, cópias de regulamentos, declarações
de vínculo empregatício, capa de revista, etc) e também se encontram algumas fichas de
classificação. No período delimitado para este trabalho verificou-se a existência de três
fichas, e estas estão relacionadas a acontecimentos específicos da história institucional,
a saber: 1933 (data de envio do primeiro relatório pelo inspetor federal); 1934 (pouco
antes da mudança para a sede da Vila Mariana); e 1940 (ano em que todas as obras
relacionadas à edificação da Vila Mariana já estavam concluídas e o Colégio
apresentava-se em pleno funcionamento).
A primeira ficha do Arquidiocesano117 diz respeito à sede da Avenida
Tiradentes, e para seu preenchimento foram utilizados os dados do elucidário enviado
pelo Dr. Manuel do Carmo em 1933. Após a análise e transcrição dos dados do Colégio,
este seria classificado como bom conforme parecer118 emitido pelo Conselho Nacional
de Educação, pois foram mal avaliadas as salas de aula e o edifício.
A análise desse formulário permitiu realizar algumas inferências sobre como a
instituição fora vista pelos examinadores, a partir dos dados enviados pelo inspetor
federal, não esquecendo que havia uma relação cordial entre este e a instituição.
Construído entre 1854 e 1856 o prédio da Avenida Tiradentes, idealizado
inicialmente para abrigar o Seminário, aos olhos de avaliadores externos apresentava
problemas estruturais que deveriam ser resolvidos tendo em vista as deliberações da
Reforma Francisco Campos.
Nas salas de aula a relação entre número de lugares e os metros quadrados foram
considerados deficientes, pois estavam abaixo daquilo que se considerava adequado.
Outro ponto fraco foram as carteiras e os mobiliários diversos, que incluíam entre
117
Processo de Equiparação 1940, v.2, p.105. 118
Parecer nº 132, de 13 nov. de 1933, emitido pelo Conselho Nacional de Educação (Processo de
Equiparação 1940, v.2, p.111). O Colégio obteria 8.601 pontos.
86
outros itens a mesa do professor e a área livre de iluminação estava estritamente dentro
das orientações do Departamento Nacional de Ensino, por isso dos 3.000 possíveis
nesse quesito o Arquidiocesano alcançaria 2.292 pontos (Figura 16).
Figura 16 Trecho referente à avaliação das salas de aula
(primeira Ficha de Classificação - 1933)
Fonte: Processo de Equiparação 1940 (MCMA)
Com relação à conservação do prédio ela seria considerada dentro do padrão
mínimo o que lhe valeu uma nota 7, sendo os demais itens119 relacionados a este aspecto
agraciados com a nota 8, exceto a quantidade de pavimentos apontada como ideal, pois
neste último ponto eram bem avaliados os prédios com até dois pavimentos.
A localização do Colégio na Avenida Tiradentes não seria percebida como
problemática, no entanto, fora considerada perigosa sua proximidade com lugares de
grande circulação de veículos, pois as prescrições recomendavam um “local afastado do
cruzamento de linhas férreas, de bondes ou de outros veículos” (BRASIL, 1932, p.5), e
todos esses faziam parte do cotidiano da instituição.
Apesar dos poucos itens indicados como deficientes para que estes pudessem ser
resolvidos seria necessário que os Irmãos Maristas fizessem uma ampla reforma na sede
da Avenida Tiradentes, algo que reforçasse o empenho desses com relação à finalização
das obras na Vila Mariana, sede para a qual deveriam transferir o Colégio o mais rápido
possível.
119
Os demais itens diziam respeito às entradas, escadas, localização e também os materiais utilizados na
construção.
87
2.3 A reconquista da equiparação
Dentro do MESP os dados referentes ao Colégio circulariam na forma de um
despacho elaborado por um dos auxiliares técnicos do ministério que descreveria
sucintamente as informações sobre a fundação do Arquidiocesano, equiparações
anteriores, matrículas registradas nos últimos três anos, patrimônio avaliado,
composição do corpo docente, dados referentes às cinco divisões principais da ficha de
classificação, bem como a classificação obtida por meio dessa.
Esse documento seria enviado para análise de Agrícola Bethlem120,
Superintendente do ensino secundário que observaria ser o Colégio Arquidiocesano
(...) um bom estabelecimento de ensino, o que se evidencia pela respectiva ficha de classificação, onde todos os elementos se apresentam com satisfatórias notas. Os dos únicos professores estranhos à congregação que dirige e mantém o estabelecimento são amparados por contrato. Opino, assim, pela concessão ao mesmo das regalias do art. 55 do decreto n. 21.241, de 4 de abril de 1932
121.
A análise do superintendente seria encaminhada ao ministro Washington Pereira
Pires122 que solicitaria um parecer ao Conselho Nacional de Educação, mais
especificamente a uma subdivisão deste, a Comissão de Ensino Secundário, e esta daria
um posicionamento favorável ao pleito do Colégio. Não deixaria, entretanto, de apontar
que, apesar da fraca pontuação com relação ao prédio e às salas de aulas, "as obras
consideráveis, ora em andamento, substituirão, com toda a certeza, estas porcentagens
por máximas"123, observação que aponta a boa impressão causada pelas imagens da
construção da Vila Mariana encaminhadas no elucidário de 1933.
Após o parecer da Comissão o ministro devolveria a solicitação do
Arquidiocesano para a superintendência e esta cuidaria dos procedimentos finais para a
formalização, dentre os quais a publicação do decreto n° 23.742 em 15 de janeiro de
120
Oficial do Exército, teve praça em 1 de maio de 1907, sendo promovido a segundo tenente em 23 de
outubro de 1913 e a 1º tenente em 6 de setembro de 1918. Tem o curso de infantaria e cavalaria pelo
regulamento de 1905 e de engenharia pelo regulamento de 1913. Bacharel em Matemáticas e Ciências
Físicas (SOBRINHO, 1937, p.114). 121
Processo de Equiparação 1940, v.2, p.109. 122
Responsável pelo Ministério da Educação e Saúde Pública entre 16 de setembro de 1932 e 23 de julho
de 1934. 123
Processo de Equiparação 1940, v.2, p.111.
88
1934 que concederia "ao Colégio Arquidiocesano de São Paulo, inspeção permanente e
as prerrogativas de estabelecimento livre de ensino secundário"124.
O Colégio finalmente conseguiria recuperar a equiparação ao Colégio Pedro II.
124
Processo de Equiparação 1940, v.2, p.112.
89
CAPITULO 3 - A EQUIPARAÇÃO NA SEDE DA VILA MARIANA E A
MANUTENÇÃO DA PRERROGATIVA
O que levaria os Irmãos Maristas a optarem pela construção de uma nova sede?
É recorrente a afirmação de que essa decisão foi tomada devido à invasão do Colégio
pelos tenentistas em sua passagem por São Paulo durante a Revolução de 1924 e sobre
esse acontecimento Nadai (2007, p.14) registraria que
Foi somente em 7 de agosto que a instituição retomou suas atividades. Ficou, porém, o alerta: a região da Luz, extremamente central e estratégica, já não servia mais aos propósitos do Colégio. Era preciso buscar outro lugar para o Arquidiocesano. Além do abalo provocado pelo levante tenentista, outros fatores pesaram nessa decisão: o crescimento vertiginoso do bairro por sua proximidade à estação ferroviária e a precariedade do prédio, que já começava a dar mostras de esgotamento [grifo nosso]
O trecho destacado apresenta na realidade um conjunto de fatores, e não uma
situação pontual ou isolada, que acabariam estimulando esses religiosos com relação à
transferência do Colégio para outra região.
Segundo Campos (2005, pp.11-12), a Luz foi “o primeiro bairro de elite da
cidade de São Paulo”, no entanto, nos últimos anos de 1800 com a ampliação das
atividades da estação ferroviária, aos poucos inúmeros transtornos foram trazidos à
pacata vida de seus habitantes, principalmente com relação à emissão ruídos, odores e
aumento e geração de tráfego (CAMPOS, 2005, p.50). Tais fatores de desconforto
causariam a migração da elite local para outras regiões da cidade como, por exemplo,
Higienópolis, Campos Elíseos e Avenida Paulista. Acredita-se que as alterações
provocadas pela estação também acabariam impactando sobre o Arquidiocesano, cujos
diretores passaram a desejar a mudança da instituição para um local menos conturbado
no qual pudessem viver e desenvolver suas atividades educacionais sem maiores
problemas ou agitações.
Conforme apresentado por Sedrez (1998, p.234)125 os Maristas já tinham, em
1920, percebido ser imprescindível a mudança para outro lugar e apresentariam como
motivos dessa urgência
125
Os dados apresentados por Sedrez (1998) foram obtidos graças à tradução de uma das Circulaires des
Supérieurs Généraux.
90
Os 20.000 veículos que diariamente passam diante da porta do velho colégio, os bondes que de noite roncam sob as janelas dos dormitórios, o ar intoxicado pelos motores a explosão, as usinas, as estações, os quarteis vizinhos, tudo tornava difícil a vida do internato neste imóvel outrora tão elogiado pela tranquilidade de que gozava. Acrescente-se a isso, a disposição da parte interna de uma casa concebida no tempo em que os dados pedagógicos e higiênicos atuais eram menos exigentes, e que improvisações não conseguiam corrigir, enfim a perspectiva da próxima venda do terreno já dividido em lotes, tudo urgia uma solução que se entrevia inevitável mas que era adiada por falta de recursos. Depois de muita procura, um terreno de 30.000 metros quadrados foi adquirido em 1922, no bairro de Vila Mariana, a seis quilômetros do centro da cidade. Tendo os planos, longamente preparados e estudados, recebida a aprovação do Conselho Geral, começaram a ser executados em 1928.
Muitos dos pontos destacados por esses religiosos referem-se a questões de
ordem higiênica, bem como a uma concepção de que a escola deveria ser isolada de
influências exteriores para que o processo de formação não fosse prejudicado e, além
disso, levando-se em consideração que o regime de internato atraía alunos de regiões
ainda pouco urbanizadas, os sons e a agitação da Avenida Tiradentes realmente se
constituíam como fontes de problemas e reclamações.
Todas as adversidades presentes no texto acima dialogam com o que foi
percebido por Viñao Frago (2001, p.83) ao analisar os manuais educacionais espanhóis,
pois segundo ele uma série destes já prescrevia no início do século XX as condições a
se considerar para a escolha do local onde se pretendia instalar uma escola,
Em primeiro lugar, a higiene: um local elevado, seco, bem arejado e com sol constitui o ideal. O que se deve evitar são, pois, os lugares úmidos sombrios e não arejados (terrenos pantanosos, ruas estreitas). Mas a higiene é tanto física quanto moral. A relação dos lugares de proximidade perniciosa constitui, por isso, todo um repertório onde se misturam moralidade e saúde: tabernas, cemitérios, hospitais, quarteis, depósitos de esterco, casas de espetáculos, cloacas, prisões, praças de touros, casas de jogos, bordéis, etc
Possivelmente muitos desses ambientes faziam parte do cotidiano da Luz que
gradativamente começava a ser circundado por bairros operários como, por exemplo, o
Bom Retiro e logo à frente do Colégio localizava-se a Casa de Correção, um presídio
inaugurado em 1852.
91
A documentação da equiparação traz elementos similares, pois o cruzamento dos
espaços fotografados, as plantas do prédio da Avenida Tiradentes e os parâmetros
governamentais apontam uma instituição sufocada e limitada de tal maneira que era
inviável idealizar uma ampliação da estrutura do Colégio, pois dentre outros problemas
observa-se ter ocorrido a venda gradativa das terras do entorno do Arquidiocesano,
processo esse iniciado na administração dos padres diocesanos que com isso pretendiam
conseguir recursos para manter o Seminário-Colégio em funcionamento.
Um discurso melancólico com relação à necessidade da mudança para um novo
local também ganharia as páginas da Ecos como num artigo de 1929
O tempo que tudo devora, anniquila e transforma, roubou tambem ao vetusto Collegio Archidiocesano os privilegios que outrora o tornavam um estabelecimento sem par entre todos os outros da Pauliceia: a tranquilidade dos estudos, a vasta extensão do parque, o ar puro dos seus bosques. O progresso asphyxiou a obra de D. Antonio Joaquim de Mello. Tornou-se necessario transportar o Collegio para outro ponto da cidade mais favoravel aos estudos e á vida tranquilla do internato (Ecos, 1929, p.56)
Lamentava-se aí a perda do caráter campestre, e implícita nesta a ideia de vida
saudável do grande Colégio que iria para uma região com características parecidas às
dos tempos gloriosos, sem deixar de ser ao mesmo tempo próximo às áreas mais
povoadas.
Nesse mesmo artigo, obviamente aproveitando-se do saudosismo com relação
àquelas "sólidas paredes de taipa", seria feito um pedido aos antigos alunos: a doação de
recursos para a construção da Capela idealizada, conforme palavras da Ecos, com a
simplicidade característica da Congregação dos Irmãos Maristas, sendo esta composta
por "treze vitrais representando scenas suggestivas religiosas ou effigies de Santos
predilectos, embellezarão a nave do templo, atestando ao mesmo tempo a perfeição da
arte moderna" (Ecos, 1929, p.57).
As omissões feitas pelo inspetor federal Dr. Manoel do Carmo, quando elaborou
o elucidário de 1933, não indicavam somente "flexibilização" em relação à estrutura
exigida pelo governo federal. Estas apontariam outra coisa, já se sabia que o Colégio
necessitava adequar a sua estrutura às novas demandas educacionais, por isso as fotos
da construção do novo edifício seguiram implicitamente como itens de barganha na qual
os Irmãos se comprometiam a atender plenamente as exigências do MESP, sendo para
92
isso imprescindível obter a equiparação, cuja concessão interessava ao público atendido
pelo Arquidiocesano, à congregação e mostrava-se como diferencial perante outros
ginásios em atividade na cidade de São Paulo.
Em vez de reestruturar o edifício da Avenida Tiradentes, ainda de propriedade
da Arquidiocese de São Paulo, realmente teria sido mais interessante a construção de
um novo local onde fossem utilizados os conhecimentos e as experiências educacionais
da própria congregação, cuja existência ultrapassara os 100 anos, e nos anos 1920 e
1930 possuíam colégios em diversas regiões do Brasil e também em outros países.
Com relação aos Maristas estes realizavam um intercâmbio constante de
informações sobre Educação como por exemplo, nos relatos registrados nas Circulaires
des Supérieurs Générauxe126 e no Bulletin de L´ Institut, onde este se comprometeria
entre 1909 e 1910 a "publicar em cada um de seus números um pequeno artigo de
Pedagogia, feliz, se com isso, puder contribuir em alguma medida a promover, entre
vocês, um estudo tão essencial a nosso estado e do qual depende, em grande parte, o
sucesso de nossa missão de educadores" (SEDREZ, 1998, p.229). Apesar da
preocupação dos Maristas com as questões relacionadas à Fé estes possuíam a
percepção de que era necessário conhecer o que se produzia em termos de
conhecimentos pedagógicos, pois existiam questões práticas a serem consideradas
quando se pretende manter uma obra educacional aberta e competitiva. Por conta dessa
circulação acredita-se que o tipo de conhecimento presente na portaria “sem número”
não fosse desconhecida dos membros da congregação e possivelmente de outros
educadores.
O projeto da Vila Mariana seria entregue aos cuidados do escritório do
engenheiro Álvaro Salles de Oliveira. Apesar de não sabermos exatamente quais foram
as necessidades apresentadas pelos proprietários do Colégio para o construtor, temos
indícios suficientes para afirmar que a congregação realmente não pretendia erigir um
prédio qualquer, mas sim uma obra singular na qual seria colocado à disposição dos
alunos aquilo que se considerava importante e moderno para a aprendizagem sem, no
entanto, esquecer a centralidade da Fé e o caráter evangelizador ao quais os Maristas
estavam vinculados.
Utilizando o primeiro desenho da fachada do prédio da Vila Mariana (Figura 17)
é possível perceber que os Irmãos tinham como objetivo erigir uma construção de
126
As circulares possuem periodicidade irregular sendo a primeira datada de 1828.
93
grandes dimensões de tal forma que ela se transformasse num verdadeiro "monumento"
à educação católica, e num primeiro olhar com relação ao traçado desse estudo
identifica-se um diálogo com as linhas arquitetônicas do Colégio Pedro II, a mais
importante referência educacional para o ensino secundário brasileiro.
Essa proximidade apresenta a intenção em fazer do novo edifício do
Arquidiocesano algo tal qual, ou até mesmo superior à instituição modelo do governo
federal, ou ainda, constituir-se como uma referência para os demais institutos católicos.
No entanto, não se pode esquecer a possibilidade de ser também uma questão da própria
congregação, os Irmãos talvez desejassem um local onde se pudesse colocar em prática
de modo integral a sua forma de educar.
Figura 17
Primeiro estudo de fachada da sede Vila Mariana
Fonte: MCMA
Apesar do complicado quadro econômico mundial e brasileiro, por conta da
quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929, que afetaria principalmente as
vendas do café, as obras seriam iniciadas naquele mesmo ano. Em 1928, como uma
forma de divulgar a nova obra, seria publicada na Ecos uma planta na qual se observaria
que o desenho definitivo do novo prédio seria mais modesto que a primeira proposta
sem, no entanto, perder seu caráter monumental (Anexo 17).
O documento apresentado por Sedrez (1998, p.234) indicava que a Congregação
realizava, juntamente com a obra do Arquidiocesano, a construção de mais outros dois
94
colégios, e que "a Província teve que se arranjar para levar a bom termo esta série de
construções de três grandes colégios, obras tão importantes e indispensáveis". A
concretização do projeto da Vila Mariana certamente exigiria um grande investimento
da parte dos Maristas, pois se optou pela utilização de materiais de excelente qualidade,
uma parte dos quais era importado.
Segundo Azzi (1997b, p.204), "as portas e janelas eram de cabreúva, os móveis
de madeira de palissandra127. Os ladrilhos vieram da Alemanha, e os vitrais para a
capela, de Grenoble, na França", os materiais utilizados eram incombustíveis, por isso
toda a estrutura seria feita em cimento armado. Todos esses cuidados indicam a
preocupação em construir realmente algo imponente, duradouro e ao mesmo tempo
adequado àquilo que se acreditava atender às novas demandas educacionais, talvez uma
maneira de romper com o passado colonial e monárquico evocado pelo antigo prédio e
uma forma de posicionar-se contrariamente à qualificação da educação católica como
"retrógrada", "conservadora" e "tradicional", tão recorrente desde os primeiros anos da
República e reforçada sobremaneira nos anos 1930 por conta do conflito entre os
"pioneiros" e os católicos.
Olhar a planta definitiva do novo edifício permitiria identificar elementos
descritos por Viñao Frago (2001, p.91), quando ao falar sobre construções escolares
afirmaria que "em geral, a arquitetura escolar combinou a clausura ou o encerramento
com a acentuada ostentação de um edifício sólido cujas paredes constituíam a fronteira
com o exterior, ou com o que se achava separado desse exterior por uma zona mais ou
menos ampla do campo escolar, e um muro ou grade que assinalava os limites do
espaço reservado", pois a ampla fachada desenhada por Álvaro de Salles Oliveira
permitiria um isolamento do Colégio do mundo exterior.
O edifício seria composto pelo térreo e mais 3 andares interligados por quatro
grandes escadas laterais. A estrutura foi montada para que cada uma das divisões de
alunos, constituídas por meio da separação por faixas etárias (menores, sub-médios,
médios e maiores128), possuíssem suas próprias dependências, o que criava condições
para que um determinado grupo pudesse até ignorar a presença do outro, e a disposição
dos andares facilitaria a vigilância e a manutenção da disciplina (SEDREZ, 1998,
p.235). A opção por um terreno elevado garantiria a circulação abundante de ar, bem
como uma insolação constante dos diversos ambientes da escola e por conta do uso de
127
Sinônimo para Jacarandá. 128
Menores (7 a10 anos), sub-médios (10 a 12 anos), médios (12 a 14 anos) e maiores (14 ou mais anos).
95
um grande número de vigas e colunas haveria possibilidade de redimensionar os
espaços internos sempre que necessário.
Exatamente no centro do terreno seria edificada uma capela em homenagem a
Nossa Senhora da Glória, sendo essa uma forma simbólica de demonstrar o
posicionamento da Fé dentro do processo educativo desenvolvido pela instituição, além
disso a posição daquele lugar sagrado permitiria à
1
a vista que se depara a quem entra no Arquidiocesano. - o
campanário da Capela, convite para as alturas da ciência e da Fé, meta do estabelecimento. - o relógio, mestre inflexível. - o Coração de Jesus, centro de tudo, dono do tempo e da eternidade. - Maria Santíssima, na Gruta de Lourdes, alicerce da casa marista. - as arcadas que falam de arte, estudo e silêncio (COMEMORAÇÃO, 1947, p.70).
O Arquidiocesano reforçaria cada vez mais o caráter excepcional e modelar de
seu ensino, e a construção de uma sede de tão grandes dimensões o tornaria uma vitrine
para o ensino católico na cidade de São Paulo.
Em 1929 foram feitas as fundações, as colunas, lajes, bem como as fundações
das paredes internas do térreo. Durante 1930 adiantaram-se sobremaneira as obras da
capela e simultaneamente ocorria o levantamento das paredes externas. Em junho de
1931 seria abençoada a cruz do campanário confeccionada pelo Liceu de Artes e
Ofícios, e entre maio e junho de 1932 o prédio já contava com os quatro pavimentos
prontos129, pelo menos exteriormente. Por conta desse adiantamento das obras foi
possível perceber que prescrições do decreto “sem número” não poderiam ter sido
integralmente observadas durante a construção da nova sede, no entanto, acredita-se que
ainda tenha havido tempo suficiente para adequar internamente os espaços, pois o
fechamento do prédio estava sendo realizado de fora para dentro, o que possibilitou
posicionar as paredes de tal forma que se conseguisse atender às prescrições legais, em
especial no que dizia respeito às salas especiais e salas de aula.
A adequação do prédio, apontada nos relatórios dos inspetores federais, indicaria
estar a construção edificada pelos Irmãos adequada aos parâmetros do governo federal,
o que demonstra que estes religiosos possuíam um repertório sobre a adequação dos
espaços escolares.
O prédio seria finalizado em 1939, no entanto, em 1934 já haviam sido
terminadas as instalações que garantiriam o início das atividades educacionais, por isso 129
Álbum da Construção (1929-1933).
96
a inauguração da Vila Mariana seria realizada em 25 de janeiro de 1935, dia do
aniversário da cidade e data definida por Dom Duarte Leopoldo e Silva, ainda arcebispo
de São Paulo.
A nova construção seria visitada por engenheiros, padres, bispos, políticos,
intelectuais, no entanto, uma visita destaca-se entre essas. No dia 17 de julho de 1935 o
Colégio receberia o inspetor geral do ensino secundário o Sr. Nóbrega da Cunha (1897-
1974), responsável pelo órgão que fiscalizava os colégios, e ao qual eram remetidas as
fichas, os elucidários e os relatórios mensais elaborados pelos inspetores federais.
De acordo com a Ecos este visitaria todos os recintos do Arquidiocesano,
mostrando-se encantado com aquilo que viu. Apesar das homenagens prestadas pelo
Colégio, o inspetor num discurso improvisado registraria um certo desconforto, pois
afirmaria que "todas as demonstrações de apreço deviam ser dirigidas, não a elle, mas à
autoridade que ele representa..."(Ecos, 1935, p.[12]).
3.1 A segunda e a terceira ficha de classificação e os elucidários: o Colégio na sede
da Vila Mariana
Somente o primeiro elucidário, e a sua respectiva ficha de classificação, levam
em conta a antiga sede do Colégio, pois para os efeitos de manutenção da equiparação
seria considerado exclusivamente o prédio da Vila Mariana. O Arquidiocesano deixava
para trás o lugar das “tradições” e se alinharia, agora também visualmente, às novas
concepções educacionais sem, no entanto, prescindir de sua vinculação com aquilo que
havia de mais conservador no catolicismo.
A segunda ficha de classificação foi preenchida em 15 de janeiro de 1934, um
ano antes da mudança para a sede da Vila Mariana, e todos os seus dados dizem respeito
a ela. O elucidário desta ficha é composto por apenas nove páginas e bem mais simples
se tomarmos como referência aquele elaborado em 1933, pois o inspetor federal o Sr.
Egberto de Assis Silveira optou por realizar descrições sintéticas, e anexaria itens que
comprovavam a existência do novo prédio, tais como algumas páginas da revista Ecos e
três plantas.
Para que pudesse ir para a Vila Mariana o Colégio registrou um pedido formal
junto ao MESP, cuja aprovação somente seria recebida em janeiro de 1935, no entanto,
o prosseguimento das obras aponta que a diretoria do instituto não tinha a menor dúvida
sobre esta concessão. Acredita-se que faça parte dos procedimentos de autorização para
97
uma mudança de localização a elaboração de um elucidário como o de 1934, que
inclusive foi elaborado por um inspetor federal estranho à instituição, pois ainda estava
vinculado ao Arquidiocesano o Dr. Manuel do Carmo.
A construção da nova sede também levaria em consideração as prescrições
relacionadas à Reforma Francisco Campos, no entanto, apesar da melhoria na pontuação
obtida pelo Colégio, esse ainda seria considerado bom, embora de 8.601, esta subiria
para 9.193 pontos, um aumento interessante. Supõe-se que tal resultado não tenha
agradado aos Irmãos, pois o investimento feito na construção fora muito alto.
Apesar de sucinto em todo o elucidário o Sr. Egberto não deixaria de registrar
seu contentamento
Não posso esconder a V. Excia, a admirável impressão resultante dessa inspeção. É uma obra notável e representa um esforço digno de todos os encomios a realizada pelos Irmãos Maristas. Inverteu esta congregação cerca de 4.000 contos na consecução do que se havia proposto. Numa área de 31.600m
2 empregaram sua longa experiência
como factor coadjutor de uma engenharia moderna e sobria [grifo nosso]. Como consequencia nos seus minimos detalhes o collegio Archidiocesano alcança pontos difficeis de serem superados
130.
O relato do inspetor confirmaria a forte impressão causada pela nova sede, no
entanto, apontaria ter sido essa erguida a partir da combinação entre conhecimentos
construtivos atuais e a experiência que os Irmãos possuíam com relação a edifícios
escolares.
O elucidário de 1940 se mostraria muito completo, pois além das descrições era
composto por 31 fotografias que registravam perante o governo federal a existência de
uma estrutura que em muito superava os itens exigidos pelo MESP. Optou-se por
destacar aqui algumas imagens consideradas emblemáticas e também aquelas que dizem
respeito às Salas especiais, que se apresentavam inadequadas no antigo edifício.
A primeira foto do relatório (Figura 18) destacaria a monumentalidade do
edifício da Vila Mariana, e ao mesmo tempo se demonstraria a tranquilidade do local
escolhido para a instalação do novo Colégio.
130
Processo de Equiparação 1940, v.2, p.[41].
98
Figura 18 Fachada para a Rua Domingos de Moraes - Vila Mariana
Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)
Se por um lado a imagem acima remete ao grande investimento financeiro feito
pela congregação, a fotografia abaixo nos levaria por outro caminho, temos informações
sobre as vinculações políticas com as quais a instituição dialogava. Como paraninfo da
turma de 1939 seria escolhido o interventor federal131 Adhemar de Barros (1901-1969),
nomeado por Getúlio Vargas, e que se encontrava ao centro da imagem (Figura 19).
O envio dessa foto para o ministério é uma clara demonstração simbólica de
poder, e na qual se registra a proximidade da instituição aos quadros políticos paulistas,
e não somente com esses, mas também com importantes personalidades do laicato
católico como, por exemplo, Alceu de Amoroso Lima (1893-1983), um dos mais
importantes intelectuais católicos dos anos 1930, forte opositor dos “escolanovistas” e
paraninfo da turma de 1937.
131
Cargo equivalente a governador do estado, só que o acesso a esse ocorria de forma indireta, a partir da
indicação do presidente da República.
99
Figura 19 Festa dos diplomandos
Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)
A ausência percebida em 1933 com relação à Sala de geografia não se repetiria
em 1940, pois agora a instituição realmente possuía esse espaço (Figura 20). Nela
seriam disponibilizados mapas físicos, políticos, quadros com mapas em alto relevo,
globos terrestres, quadros parietais, amostras de madeiras, minerais, representação do
sistema solar, etc e, além disso, fora idealizada uma estrutura que facilitava a fixação
dos mapas nas paredes.
100
Figura 20 Sala de Geografia
Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)
No decreto “sem número” há poucas orientações com relação ao mobiliário e à
disposição interna das salas especiais, e muitas no que diz respeito aos recursos que
estas deveriam possuir, por isso se abria para os Colégios a possibilidade de adaptarem
esses espaços de acordo com aquilo que acreditavam ser o mais adequado ou, o mais
viável economicamente, pois a compra de instrumentos e demais itens exigia um
investimento significativo.
Minhoto (2007) e Dallabrida (2009) apontam que o currículo prescrito pela
Francisco Campos privilegiaria os conhecimentos científicos. A opção pelas Ciências
Físicas e Naturais estava também atrelada à necessidade de um rompimento radical com
a tradição humanista do ensino secundário brasileiro, e ao mesmo tempo existia a
preocupação em preparar indivíduos que conseguissem lidar com as “novas
necessidades do mundo que se modernizava rapidamente” (MINHOTO, 2007, p.141).
Esse panorama explica porque os espaços dedicados a esses ramos do saber
receberiam uma atenção especial nas prescrições do decreto “sem número”, e com
relação aos quais não se localizou similaridades com os referenciais americanos.
Na Figura 21 temos uma parte do acervo do Gabinete de Física, que outrora era
armazenado em estantes abertas e dispostas ao redor das paredes de uma das salas de
aula da Avenida Tiradentes. Na nova sede este ganharia um espaço fechado no qual se
101
evitaria o contato direto desses objetos com os alunos. A opção pela guarda dos
instrumentos em vitrines garantia visualidade sem, entretanto, facultar fácil acesso aos
itens, pois este ficava numa parte do gabinete, cujo acesso era restrito.
Figura 21
Gabinete de Física (parte do acervo)
Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)
O laboratório de Química possuía as duas divisões principais, no entanto,
naquele espaço optou-se pela disposição das cadeiras em níveis diferentes, tal qual num
auditório, e a mesa de demonstrações posicionada à frente da plateia (Figura 22).
102
Figura 22 Laboratório de Química
Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)
O antigo espaço onde se encontrava armazenada a coleção de História Natural, e
com ares de depósito, seria bem diferente na Vila Mariana, pois o Colégio optaria por
uma disposição mais "museológica", sendo que esse passaria a ser conhecido como
Museu de História Natural (Figura 23).
As estantes desse espaço eram compostas por prateleiras divididas ao meio e que
por isso possibilitavam o armazenamento de objetos de tamanhos diferentes dentro dos
armários, de uma pedra a um esqueleto humano, além disso, possuíam laterais
envidraçadas que possibilitavam aos alunos a observação de um determinado item a
partir múltiplos ângulos, sem que houvesse a necessidade de manipular diretamente o
acervo e as persianas internas garantiam uma entrada moderada de luz.
103
Figura 23 Museu de História Natural
Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)
No elucidário de 1940 ao serem apresentados as fotos dos ambientes do Colégio
e o cuidado com que estes foram constituídos e organizados tem-se uma clara
demonstração daquilo que foi percebido por Abreu (2010, p.294), quando esta afirmaria
ter sido uma das pretensões dos padrões vinculados à Reforma Francisco Campos
colocar fim ao improviso das estruturas dos ginásios, que antes se preocupavam
somente em ajustar mais ou menos os edifícios para as atividades escolares.
3.2 Os inspetores federais
Em 1926 registrou-se pela primeira vez a presença de um inspetor federal no
Arquidiocesano. O Dr. José Alberto Granadeiro Guimarães Junior foi nomeado pelo
Departamento Nacional do Ensino para organizar as juntas examinadoras dos exames
oficiais e seu relatório seria publicado, acredita-se que integralmente, na revista Ecos.
Esse relatório fora enviado para o então diretor do Departamento Nacional de
Ensino, o Dr. Rocha Vaz, e era composto por um histórico, uma descrição da estrutura
física. Além disso, nele o inspetor faria considerações sobre o método de ensino
baseado na “Intuição e na Educação dos Sentidos”, destacando também o museu de
História Natural e o laboratório de Física, além afirmar que os Irmãos Maristas seguiam
à risca as prescrições do Governo (Ecos, 1927, pp.13-22).
104
Os Irmãos não acompanhavam somente as orientações legais, mas também
observavam e divulgavam regularmente, informações sobre as mudanças nos quadros
políticos dos órgãos relacionados à Educação, como num determinado excerto onde se
destaca ter sido “(...) nomeado Delegado Geral para o estado de São Paulo o muito
estimado Dr. Almeirindo M. Gonçalves” (Ecos, 1930, p.35). O Colégio possuía
proximidade com o delegado geral, uma vez ter esse atuado junto ao Colégio como
inspetor federal e retornaria num outro momento à instituição, em 2 de outubro de 1930,
acompanhado por Carlos Braga, pois ambos foram encarregados pelo Departamento
Nacional de Ensino de vistoriar os gabinetes de Física, Química e História Natural dos
colégios, pois se havia solicitado Juntas Examinadoras132, e conforme registro os dois
ficaram impressionados com relação aos espaços visitados (Ecos, 1930, p.80).
Os registros na Ecos até 1928 geralmente retratam os inspetores federais como
estreitamente vinculados à organização e á aplicação das provas dos exames oficiais,
talvez outro modo de fiscalizar os colégios, pois com o fim das equiparações também
cessaria o envio dos relatórios semestrais e a presença “constante” dos delegados
fiscais.
O Colégio eventualmente recebia, além dos inspetores, a visita de pessoas
ligadas ao Departamento Nacional Ensino, como em setembro de 1929, ano em que os
Irmãos iniciaram as obras da sede na Vila Mariana. O Dr. Pedro Carlos da Silva, era
chefe de seção133 no Departamento e estava participando de um congresso em São
Paulo, mas não há informações sobre como ele chegou até o Colégio, no entanto, sabe-
se que ele ficaria impressionado com os Gabinetes de Física, Química e História
Natural, principalmente por ter encontrado ali uma grande quantidade de itens (Ecos,
1929, p.46).
Na Reforma Francisco Campos se instituiu a criação de um serviço de inspeção,
subordinado ao Departamento Nacional do Ensino, sendo os inspetores nomeados por
132
O decreto nº 16.782 de 13 de janeiro de 1925, “Reforma Rocha Vaz”, permitia a realização de exames
oficiais dentro do próprio Colégio, por isso eram montadas juntas examinadoras sendo es tas compostas
por “três membros de reconhecida competência didática nas matérias que tiverem de examinar”. Para
conseguir autorização para a organização das juntas era observado o artigo 270 que fixava como
exigências “ser a concessão proposta pelo diretor geral do Departamento Nacional do Ensino e deferida
pelo Ministro da Justiça e Negócios Interiores, provar que o estabelecimento dispõe de corpo docente
idôneo e observar nos seus cursos programa igual ao do Colégio Pedro II, depositar a quantia necessária
para a remuneração dos membros das juntas examinadores e do respectivo fiscal, observar as prescrições
constantes do regimento interno do Departamento Nacional do Ensino”. 133
A revista Ecos não especifica a qual seção estava vinculado esse funcionário do Departamento
Nacional de Ensino.
105
concurso, entretanto, estes só poderiam fiscalizar um mesmo colégio durante três anos,
findo os quais eram obrigatoriamente designados para outra escola.
Nos artigos de 55 a 57 do decreto 19.890 de 18 de abril de 1931, foram definidas
quais as atividades a ser desenvolvidas pelos inspetores: relatórios mensais, dois
relatórios anuais com considerações sobre métodos, assiduidade de alunos e
professores, e sugestões de melhorias; assistir às atividades escolares (aulas, exercícios
práticos, demonstrações); definir os temas das arguições, acompanhar e coordenar a
realização das provas, bem como a atribuição das notas. Apesar de não sinalizado no
decreto de 1931, sabe-se também que os inspetores seriam os responsáveis pela
elaboração periódica dos elucidários.
As funções dos inspetores determinadas por meio da reforma indicariam a
preocupação do governo em acompanhar também a ação pedagógica dos colégios, o
outro lado da moeda, uma vez que por meio do decreto “sem número” de 1932 ficaria
explícita sua atenção com relação à adequação física dos edifícios escolares, no entanto,
para que se pudessem avaliar criteriosamente todas as áreas do conhecimento esse
profissional deveria ser um profundo conhecedor de todos os ramos do ensino
secundário (SILVA, 1969, p.291).
Os diretores de um colégio, e seu representante direto, o secretário escolar,
sabiam muito bem o que significava manter boas relações com um inspetor, e esses por
sua vez tinham pleno conhecimento de seu poder e influência junto ao instituto sobre
sua fiscalização, no entanto, havia uma questão delicada entre ambos, o pagamento dos
honorários era realizado pelo colégio. No entanto, tais valores eram depositados aos
cuidados do MESP que somente pagava o inspetor após o envio dos relatórios mensais,
cuja composição era variada, e para a montagem desses havia dependência das
informações fornecidas pelo Colégio, ou seja, a Secretaria poderia facilitar muito o
trabalho do representante do ministério e com isso se criava uma relação de
interdependência que beneficiaria todos os envolvidos, caso se mantivesse de forma
harmoniosa.
No Arquidiocesano, inspetores federais e secretários tinham seus livros de ata e
neles registravam o andamento dos trabalhos burocráticos (emissão de certificados,
transferências, entregas de documentações, organização de provas, etc), e por meio
desse tipo de documentação é que se identifica como realmente eram realizadas as
atividades de fiscalização, sendo importante destacar que os registros feitos pela
Secretaria também eram alvo de verificação.
106
De um modo geral os relatórios eram quase sempre confeccionados pelo
secretário, e ao inspetor cabia somente verificar se todos os itens estavam em ordem, e
se procederia ao encaminhamento pelo correio das informações solicitadas pelo
ministério, envio esse também feito pelo Colégio. A presença “constante” dos
inspetores também não parece tão ostensiva assim, pois é significativo o número de
lacunas ou registros genéricos, algo diverso quando se analisa a diligência desses
quando eram aplicados provas e exames sob os quais tinham responsabilidade direta.
Dr. Manuel do Carmo, Padre Antonio Luis Florêncio Ráo, Dr. Augusto Leal
Barros, Padre Heliodoro Pires, Dr. Helio Cyrino da Silva, Dr. Ubaldo da Costa Leite,
foram os inspetores que acompanharam o Colégio entre 1931 e 1940, e a passagem
deles pela instituição nem sempre se mostraria tranquila.
Dr. Manuel do Carmo acompanharia o requerimento da equiparação junto ao
MESP, e por suas boas relações com o Arquidiocesano redigiria o elucidário graças ao
qual seriam reconquistados os benefícios da equiparação.
Na Ecos temos referências sempre elogiosas à atuação do Dr. Manuel do Carmo,
este seria chamado de "amigo sincero", "guia seguro", "judicioso", "criterioso",
"competente" e era considerada uma pessoa de trato ameno. Chama a atenção o
destaque que esse receberia nas situações mais diversas, como por exemplo, no enterro
do Ir. José Borges, reitor do Arquidiocesano, ou com relação à leitura de poesias de sua
"própria lavra" durante a recepção de políticos, no entanto, essa postura do Colégio com
relação aos seus sucessores seria bem mais tímida, um indicativo de que talvez esses
não tenham sido tão afáveis.
E seria justamente o Dr. Manuel do Carmo quem registraria uma situação
delicada entre o Colégio e o governo federal.
Em 1932, ano da Revolução Constitucionalista, seria convidado como paraninfo
da turma de bacharelandos o Dr. Morais de Andrade, ilustre cidadão paulistano e que
esteve vinculado ao movimento revolucionário. Conforme a praxe da colação de grau
este falaria sobre a excelente educação oferecida pelos Maristas, a importância do
catolicismo enquanto religião de unidade nacional, a esperança nos jovens e sua
obrigação para com a sociedade, no entanto, ao finalizar seu discurso acabaria
resvalando em questões políticas, em especial no que dizia respeito ao dever de todos os
paulistas em "defender, dar a vida se for preciso, para o bem do nosso São Paulo, dentro
do Brasil" (Ecos, 1932, p.[34]). Por conta desse convite feito aos jovens para que esses
lutassem pelo estado de São Paulo contra o governo federal, caso isso fosse preciso, o
107
Dr. Manuel do Carmo se sentiria profundamente ofendido e registraria em seu livro de
visitas134:
Deixo aqui [registrado] o meu protesto pela maneira pouco gentil com que foi tratado o representante do Sr. Ministro da Educação na pessoa do seu representante, o Inspetor Federal junto ao Colégio Arquidiocesano. Lanço também o meu protesto relativamente ao discurso do Paraninfo, o meu particular amigo, Dr. Moraes de Andrade que aproveitou a solenidade para se extender em explorações políticas no final do seu discurso procurando desvirtuar a ação do Governo Federal para com S. Paulo, e buscando indispor a mocidade paulista com o resto do Brasil. A atitude da Diretoria do Colégio, não tratando com a cortesia que é devida ao representante do Governo Federal merece censuras, o que deixo aqui expresso neste termo. Estranhei a atitude da direção tanto mais quanto, em particular, sempre houve grande e mútua cordialidade entre o Inspetor e a Direção do Colégio. Nunca poderia supor que houvesse falta de sinceridade nas manifestações de gentileza com que era recebido o Inspetor em particular e a sós. Em frente ao grande público que enchia o salão de festas o que se quis foi fazer parecer que o Colégio não tinha ligações com o governo federal!
135
A fala do inspetor traz muitos elementos com relação ao poderio com os quais
estes estavam imbuídos pelo governo federal, ao qual o Colégio devia reverência e
submissão. Um inspetor federal colocava-se como um representante direto da mais alta
autoridade do MESP, ou seja, um braço direto do próprio ministro. Essa é uma das
poucas situações onde se perceberia mais claramente um posicionamento político da
instituição, que alinhada à Arquidiocese de São Paulo se mostrava favorável à
Revolução de 1932, pois nada era publicado na revista Ecos sem o consentimento de
seus diretores.
Os registros das visitas dos inspetores permitiram identificar que durante algum
tempo estes se fizeram presentes dentro das salas de aulas e fariam referências aos
métodos utilizados pelos professores para o ensino. Essa postura, entretanto, vai aos
poucos desaparecendo e esses profissionais se dedicariam, quase exclusivamente, a
cuidar dos aspectos administrativos relativos à fiscalização que incluíam a definição de
calendários para as provas, organização da aplicação dos exames, assinaturas de
134
Livro no qual os inspetores federais anotavam suas atividades, quase diárias, junto ao Arquidiocesano. 135
Livro de visitas do inspetor federal (pp.52-53)
108
documentos, preenchimentos de relatórios, encaminhamento de orientações recebidas
do MESP, definições de comemorações cívicas, etc.
Alguns inspetores são descritos como extremamente severos e enérgicos, como
foi o caso do Sr. Dr. Helio Cyrino que teria vida breve junto ao Colégio, pois
fiscalizaria a instituição entre 1938 e 1939. Esse curto período de vinculação de um
inspetor ao Colégio, nos remete, ao que foi percebido por Minhoto (2007, p.149) com
relação aos inspetores que observavam rigidamente as prescrições legais e acabavam
por isso mesmo sendo mal vistos pela diretoria do Colégio, e pressionados a solicitarem
transferência para outra escola. Apesar de não citar nomes, sabe-se que esta
pesquisadora deparou-se com registros do conflito ocorrido entre o inspetor Padre
Antonio Luis Florêncio Ráo e a diretoria do Arquidiocesano.
O Padre Antonio, faria no livro de visitas uma série de queixas com relação a
não observância dos procedimentos legais da parte do Colégio, reclamaria diversas
vezes ter sido impedido de desempenhar condignamente suas atividades, e se indisporia
com a instituição causando com isso choque entre as esferas políticas e religiosas, pois
na relação entre inspetor e Arquidiocesano estavam envolvidos indivíduos que faziam
parte do corpo da Igreja Católica. Numa anotação de 1937 esse inspetor registaria que
Ao terminar este termo de visita, lanço meu enérgico protesto na qualidade de Inspector Federal e portanto na qualidade de representante do Governo da União junto a este conceituado collegio, pelo modo insólito que foi tratado o Inspector Federal, durante este anno lectivo, quer notando-se nos programmas das festas nenhuma mensão ao representante do governo federal, que pelo modo indelicado de convidar uma autoridade mandando entregar convite para formatura por intermédio do porteiro da casa não tendo comparecido á mesma em signal de protesto. Repito ainda meu protesto pelo facto grave de, no quadro de formatura, o representante do Governo, o Inspector Federal, ser colocado em ultimo logar no lado de honra demonstrando mais
uma vez publicamente o descaso pelas autoridades136.
Levando-se em considerações os argumentos do inspetor federal, é possível
identificar que a diretoria do Arquidiocesano, geralmente diplomática, decidiu indispor-
se deliberadamente com o Padre Antonio, possivelmente uma estratégia para que esse se
desligasse do Colégio.
136
Livro de Visitas do Inspector Federal (pp.190-191).
109
A direção não falaria abertamente sobre o alívio causado pela saída do Padre
Antonio em 1938, no entanto, ao receber o sucessor deste indicaria ter sido
"agradavelmente surpreendida com o auspicioso acontecimento" (Ecos, 1938, p.12).
Outro instrumento utilizado pelo ministério para manter em funcionamento a
estrutura de fiscalização foram as circulares e os telegramas, e estas eram responsáveis
por orientar a ação dos inspetores em questões pontuais. Essas indicações tratariam de
diversos temas, como por exemplo, valores das taxas dos certificados, atenção com
relação ao envio dos relatórios mensais, determinações sobre quais os trajes deveriam
ser utilizados durante as aulas de Educação Física, etc.
Ao confiar a fiscalização nas mãos de uma única pessoa durante um período que
poderia chegar a três anos, o governo federal criava condições para que os inspetores
pudessem ser influenciados e pressionados por um colégio equiparado. De acordo com
Silva (1969, p.262), a estrutura idealizada por Francisco Campos não conseguiria ser
instituída plenamente, por conta de alguns fatores tais como: caráter centralizador do
processo em detrimento da dimensão do território brasileiro, ter constituída uma mesma
estrutura para acompanhar colégios privados e públicos, falta de pessoal qualificado
para uma verificação criteriosa dos ginásios e a ampliação no aumento das escolas de
ensino secundário. No caso do Arquidiocesano, foi possível identificar que a estrutura
da reforma aparentemente se mostrou bastante concreta pelos menos até 1940, no
entanto, a eficácia e a qualidade da fiscalização oscilariam muito de inspetor para
inspetor.
3.3 As salas de aula
O prédio da Vila Mariana encontra-se no mesmo local onde começara a ser
erigido em 1929, no entanto, se no início de seu funcionamento a intenção era atender
no máximo 400 alunos atualmente este número mostra-se bem mais significativo. Para
conseguir dar conta de uma demanda cada vez maior de estudantes foram necessárias
sucessivas readequações de um prédio idealizado para um número pequeno de alunos e
focado no regime de internato.
Quem entra em 2013 no prédio do Arquidiocesano ainda consegue perceber
muitos dos elementos dos anos 1930, como por exemplo, a forma do prédio que auxilia
na dispersão do som e ao mesmo tempo garante uma constante circulação de ar, também
110
estão ali os grandes arcos e colunas, o pórtico neoclássico da entrada principal, as
pesadas portas entalhadas e a própria amplitude do edifício.
Nem todos os espaços foram remodelados, a capela permanece até hoje com os
mesmos vitrais, a portaria central ainda exibe os mesmos móveis desde 1937 e também,
graças às plantas enviadas para o MESP nos anos 1940 foi possível identificar que as
salas de aula constituem um espaço remanescente, pois muitas mantiveram desde o
início das atividades na nova sede a mesma disposição e por esse motivo, optou-se por
analisá-las.
Como se pode supor os mobiliários não são mais compostos pela carteira de
madeira e ferro dos anos 1930/1940 (Figura 24), pois estas foram gradativamente
substituídas por móveis que permitem o ajuste à altura dos alunos de diversas faixas
etárias, que dividem em horários alternados os mesmos locais, algo diverso daquilo que
se pretendia quando o prédio foi construído, pois a estrutura foi desenhada de tal forma
que grupos de diferentes idades tivessem o mínimo de contato.
Figura 24 Sala de aula
Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)
Tomando como referência as prescrições do decreto “sem número” e com
relação ao que encontramos em anotações manuscritas no livreto encontrado no acervo
do MCMA, Serviço de inspeção dos estabelecimentos de ensino secundário (1932),
111
podemos perceber quais itens foram considerados relevantes para o Colégio,
lembrando-se que quando essas prescrições foram publicadas uma boa parte do edifício
novo já havia sido construída, incluindo as paredes externas e aquelas que dão para o
pátio localizado no centro do edifício.
As salas de aulas "originais" ainda possuem forma retangular, as janelas
localizam-se na parte mais comprida, e essas não excedem muito 3 metros de altura, o
suficiente para garantir iluminação natural e circulação de ar. Essas salas são as que
apresentam o melhor isolamento acústico, seja com relação aos sons exteriores ou
àqueles vindos das salas vizinhas, além disso, a profundidade é suficiente para que o
professor seja ouvido igualmente por todos os alunos sem a necessidade de aumentar o
tom de voz.
Por meio das anotações realizadas, possivelmente pelo secretário escolar, no
livreto de 1932 é possível perceber os aspectos que exigiram maior atenção do Colégio:
forma, largura e profundidade das salas de aula, tamanho dos quadros negros,
posicionamento dos quadros negros de tal forma a se evitar reflexo e altura do parapeito
das salas de aula (deveria ser alto). A altura do peitoril não era clara nas prescrições de
1932, e essa dúvida foi registrada no livreto. No entanto, como havia a necessidade de
definir esse item, a escola optaria por uma altura 1,10m que, segundo o inspetor federal
Dr. Ubaldo da Costa Leite, responsável pela elaboração do elucidário de 1940, era a
“média entre a altura usada na Bélgica: 1,40m e Suíça 1,00m137, frase essa que indica a
existência e a circulação de informações com relação a parâmetros para edifícios
escolares”.
O único grande problema encontrado em 1940 pelo Dr. Ubaldo com relação às
salas de aula foi um grande número de alunos por m2, pois a nota mais alta obtida pelo
Colégio foi 8 (oito).
137
Processo de Equiparação 1940, v.2, p.51.
112
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As percepções presentes nesse trabalho levaram em consideração
especificamente as informações obtidas por meio dos documentos relativos à
equiparação do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, por isso não se pode
afirmar que todos os colégios secundários brasileiros, sejam estes católicos ou não, se
interessaram por essas questões, tentaram obter tais prerrogativas legais, ou seja, há uma
série de desdobramentos possíveis em relação aos quais a presente pesquisa pode não
trazer elementos suficientes.
No entanto, percebeu-se ser válido debruçar-se sobre a experiência dessa
instituição em particular devido ao seu posicionamento na história da educação católica
na cidade de São Paulo, e por acreditar que sua trajetória auxiliaria de alguma maneira
na ampliação do entendimento sobre como os administradores do Colégio, em especial
os Irmãos Maristas, lidaram com os ditos "novos" tempos da educação, bem como seu
posicionamento com relação às legislações educacionais que atingiram o ensino
secundário brasileiro.
Apesar de muito diferentes com relação à sua organização e nível de exigência,
quando, por exemplo, comparamos as orientações com relação aos aspectos estruturais
dos edifícios escolares, a feição da fiscalização e a presença das coleções didáticas, as
equiparações de 1900 e 1934 teriam como traço comum a necessidade do
reconhecimento oficial de qualidade de ensino, sendo este entendido como símbolo de
distinção social e também de privilégio com relação ao acesso à educação de nível
superior.
Para o Colégio era imprescindível diferenciar-se de seus concorrentes para além
de questões de ordem financeira ou religiosa. Muito embora os Irmãos Maristas, quando
a lei possibilitou, oferecessem cursos preparatórios para os exames parcelados, fizeram
do estatuto da equiparação um objeto de desejo, mesmo nos momentos quando a
legislação não permitia tal possibilidade aos colégios particulares. É possível inferir que
a equiparação era um diferencial para quem se dispunha a permanecer dentro de um
colégio interno. A escolha deste tipo de ensino leva em conta não apenas o caráter
propedêutico do curso, amplamente divulgado como característica do ensino
secundário, mas também a vivência escolar, reclusa pela sequência dos anos, o que
torna pertinente a permanência no ensino secundário em uma escola com reconhecida
qualidade.
113
O processo de equiparação empreendido pelos Irmãos Maristas nos anos 1930
contou, num primeiro momento, com a ajuda e amizade do inspetor federal que atuou
como facilitador dos procedimentos governamentais, inclusive apontando e utilizando
as brechas dos decretos relacionados à Reforma Francisco Campos para que o pleito do
Colégio fosse bem sucedido, indicando os meandros que contornavam os procedimentos
oficiais. Identificou-se que a relação entre os dirigentes do colégio e os inspetores nem
sempre eram amistosas, mas que inspetores tidos como inconvenientes poderiam ser
substituídos, levando-se em conta, as relações sociais entre os responsáveis pelo
Colégio e os quadros mandatários, tais como: a hierarquia eclesiástica, autoridades na
esfera pública federal e políticos.
No dia a dia do Colégio percebeu-se que a interferência direta do inspetor
federal foi se alterando. Primeiro, tinha uma presença mais ostensiva em sala de aula,
pois acompanhava as explanações dos professores e os recursos utilizados no
desenvolvimento dessas atividades, depois, ela seria cada vez mais rara e este se
dedicaria à resolução de questões burocráticas, tais como organização da aplicação de
provas e exames, a emissão de certificados, assinatura de guias de transferência,
organização de relatórios, etc.
A influência do governo federal se fazia sentir mais explicitamente na sala de
aula, por meio da imposição do currículo da instituição modelar, o Colégio Pedro II,
pelas orientações com relação aos atos em homenagem ao falecimento de
personalidades ilustres, comemorações de datas de nascimento (ou morte) de autores da
literatura nacional, destaques para a vida dos grandes vultos da história do Brasil,
celebrações de datas cívicas, atividades essas que chegavam aos colégios por meio de
telegramas com sugestões de ações. Essa correspondência era geralmente transcrita
pelos inspetores federais do Arquidiocesano em seus respectivos livro de atas.
A diversidade de itens que integram a documentação da equiparação, composta
por requerimentos, fichas de classificação, relatórios, fotografias dos espaços escolares,
descrição com relação aos usos dos ambientes, inventários dos materiais didáticos etc.,
foi organizada no colégio levando em conta o desenvolvimento da legislação, cuja
principal intenção era garantir o controle do governo federal sobre a qualidade do
ensino secundário. Esta qualidade está representada em grande parte pelas condições
estruturais ideais para a aprendizagem. Percebeu-se uma grande ênfase às diretrizes
voltadas às edificações escolares. Foi possível identificar a circulação de ideias no
campo educacional graças à criação das fichas de classificação que foram adaptadas a
114
partir das pesquisas desenvolvidas pelos americanos Strayer e Engelhardt, membros do
Teacher´s College (Columbia University).
Um dos mais importantes e trabalhosos procedimentos relacionados à
fiscalização do governo federal, o elucidário para a ficha de classificação, e sua
relevância, deve-se ao fato deste ser a única ferramenta por meio da qual se avaliava e
classificava a estrutura dos colégios equiparados. Se por um lado esse elucidário
oferecia informações sobre as condições dos prédios escolares e suas questões
organizacionais, seria por meio dos relatórios mensais que os órgãos responsáveis pela
fiscalização do ensino secundário acompanhariam o andamento das atividades
educacionais, bem como o desempenho dos alunos. Por conta do atrelamento do
pagamento dos honorários dos inspetores ao envio deste documento, percebeu-se que
ele ocorria quase que invariavelmente dentro do prazo prescrito pelo governo. Portanto,
além de relações amistosas entre os responsáveis pelo Colégio e os inspetores federais,
havia questões de ordem financeira, já que para manter-se “equiparado” era necessário
um constante repasse de verbas para o MESP para que fossem mantidas as atividades de
inspeção.
Após a obtenção da equiparação um instituto de ensino secundário deveria
preocupar-se essencialmente em continuar atento às diretrizes emanadas do MESP.
Grande parte do sucesso da manutenção estava atrelada à constituição de uma relação
cordial e próxima com o inspetor federal, algo nem sempre possível, mas certamente
desejável.
A construção da sede da Vila Mariana demonstraria que o conhecimento dos
Irmãos Maristas com relação à construção e adequação de prédios escolares dialogava
com os padrões definidos pelos MESP sendo estes os representantes de “modernas”
concepções de espaços escolares. Verificou-se que essas concepções também estavam
descritas nos documentos da própria congregação, o que demonstra que a ideia de
construções especialmente arquitetadas para o ensino circulou em vários segmentos
sociais preocupados com o ensino.
É possível afirmar que a valorização dos espaços para o ensino das ciências
naturais, bem como a aquisição de material escolar específico às disciplinas de Física,
Química e História Natural eram elementos importantes para o processo de equiparação.
A Reforma Francisco Campos acabou por estabelecer uma estruturação muito bem
arquitetada de gabinetes, laboratórios e museus escolares.
115
Os administradores do Arquidiocesano nos anos 1930 se mostrariam cautelosos
com relação às questões políticas de ordem nacional, isso se levarmos em consideração
os posicionamentos críticos da diretoria da instituição com relação às reformas
educacionais encontradas nas edições da Ecos, em especial entre 1911 e 1928, feitos
sempre de maneira indireta. Apesar desse “silêncio” ganhariam espaço na revista
institucional notícias que falavam sobre as grandes manifestações organizadas pelos
católicos, tais como o Congresso Eucarístico (1934), realizado em Buenos Aires, e
apontado como um evento de forte caráter missionário, informações sobre a expansão
do catolicismo no mundo em especial Ásia e África, dentre outros. Acontecimentos
"contestadores" como, por exemplo, a Revolta da Chibata (1910), as greves operárias
(1917), a Semana de Arte Moderna (1922), o Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova (1932), sequer ganhariam espaço nas páginas da revista Ecos.
Para os Irmãos Maristas o colégio Arquidiocesano configurou-se como um grande
argumento e o veículo por meio do qual seria construído todo um imaginário de glórias, honra,
prestígio e era uma instituição na qual a forma “própria” de educar estava alinhada àquilo em
que se acreditava como o mais contemporâneo na área educacional, acompanhado por preceitos
católicos e uma garantia para a inserção de seus antigos alunos nos mais altos cargos
mandatários.
Nas publicações institucionais cada vez mais se destacaria o sucesso e a
ascensão social dos antigos alunos e muito desse êxito vincula-se ao fato deles terem
sido formados numa instituição católica, e que sempre fez questão de manter o crivo de
equiparada, mesmo que a legislação já não mais permitisse tal coisa. Além dos
conhecimentos acadêmicos preocupava-se também com a formação moral, vinculada à
religião, sem a qual a moral era considerada esvaziada de sentido.
Esses educadores católicos, geralmente representados como excepcionais, destemidos,
virtuosos, modernos, “eleitos”, abnegados e ardorosos defensores da educação da juventude,
podem ser enxergados como pragmáticos dentro da documentação da equiparação, no sentido
de que planejam com rigor os seus atos, buscando soluções objetivas. Eles buscaram atingir as
diretrizes da lei com relativa austeridade. No aspecto formal voltado à estruturação do colégio,
seguiram as normas com quase exatidão, mas não foram puristas no sentido político, já que se
utilizaram do compadrio para formalizar um caminho seguro, pelas sinuosidades da lei para a
desejada equiparação definitiva.
Não seriam localizados na Ecos grandes textos nos quais os imãos-professores se
posicionariam de forma explícita com relação aos acirrados debates pedagógicos dos anos 1930,
período do dito conflito ideológico entre católicos e "pioneiros". Os paraninfos, antigos alunos e
116
autoridades eclesiásticas davam o tom político da revista, ou seja, a instituição se utilizava do
posicionamento dessas personalidades para indiretamente apresentar o posicionamento oficial
do Colégio. Dentro da perspectiva de um Estado laico, entendido aqui como posicionamento
neutro em relação à condução religiosa, a postura do Colégio era a de destacar a importância do
catolicismo como elemento de união nacional, sua posição como Fé verdadeira, doutrina voltada
à verdadeira “formação integral”, preparação dos indivíduos para o civismo e com submissão à
ordem jurídica estabelecida.
O Arquidiocesano optou pela defesa dos valores católicos como diferenciais para a
educação dos jovens, mas não abriu mão de estabelecer-se como colégio preocupado com os
aspectos modernizadores apresentados pela legislação. Dentro da instituição ficaria clara a
preocupação em formar alunos católicos exemplares capazes de atender às exigências
acadêmicas, e ao mesmo tempo estar engajados com as demandas da Igreja Católica. A
instituição somente se posicionaria contrária às orientações governamentais quando houvesse
algum tipo de ameaça aos seus privilégios ou à diminuição de prestígio, mas de qualquer
maneira manteria junto aos alunos um processo constante de confirmação da identidade
confessional graças às inúmeras atividades de caráter religioso que ocorriam em paralelo às
orientações governamentais.
Ao final, pode-se dizer que o estatuto da equiparação valeu ao Arquidiocesano como
elemento de poder. Tratava-se de um colégio interno, confessional, católico, masculino, que
passou a se anunciar como um dos mais modernos e bem equipados da cidade, e com
reconhecimento do governo para funcionar como tal.
117
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Alysson de. Leis do ensino secundário e seus comentários. Belo Horizonte:
Queiroz Brener, 1939.
ABREU, Geysa Spitz Alcoforado de. A homogeneização do ensino secundário na
década de 1930: estratégias de eficiência, racionalidade e controle. Educar em
Revista, Curitiba, n. especial 2, pp.291-302, 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
40602010000500018&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 17 out. 2012.
ADORÁTOR, Irmão. Vinte anos de Brasil. Curitiba: Editora do autor, 2005 [1917].
AKSENEN, Elisângela Zarpelon; MIGUEL, Maria Elisabeth Blanck. Desvelando os
exames de admissão ao Ginásio na educação paranaense. Disponível em:
<http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe7/pdf/01-
%20ESTADO%20E%20POLITICAS%20EDUCACIONAIS%20NA%20HISTO
RIA%20DA%20EDUCACAO%20BRASILEIRA/DESVELANDO%20OS%20E
XAMES%20DE%20ADMISSAO%20AO%20GINASIO%20NA%20EDUCACA
O%20PARANAENSE.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2014.
ANTUNHA, Heládio Cesar Gonçalves. A Instrução na Primeira República. Tese
(Concurso), Faculdade de Educação - Universidade de São Paulo, São Paulo,
1980.
AQUINO, Maurício de. Modernidade republicana e diocesanização do catolicismo no
Brasil: as relações entre Estado e Igreja na Primeira República (1889-1930).
Revista Brasileira de História, São Paulo, v.32, n.63, pp.143-170. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbh/v32n63/07.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2014.
ASSIS, Paula Maria de Assis. A Educação dos Sentidos nas Escolas Maristas: o Guide
des Écoles. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, São Paulo, 2013.
AZZI, Riolando. História da Educação Católica no Brasil: contribuição dos Irmãos
Maristas. São Paulo: Secretariado Interprovincial Marista, 1997a. v.1: Os
primórdios da obra de Champagnat no Brasil (1897-1922)
_____________. História da Educação Católica no Brasil: contribuição dos Irmãos
Maristas. São Paulo: Secretariado Interprovincial Marista, 1997b. v.2: A
consolidação da obra de Champagnat no Brasil (1922-1947)
_____________. Presença da Igreja Católica na sociedade brasileira. Rio de Janeiro:
Tempo e Presença, 1981. (Cadernos ISER, nº 13)
118
_____________. Entre o trono e o altar: a Igreja Católica em São Paulo como poder
espiritual. In: VILHENA, Maria Angela; PASSOS, João Décio (orgs.). A Igreja
de São Paulo: presença católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005.
pp.395-430.
BICUDO, Joaquim de Campos. O ensino secundário e sua atual legislação: (de 1931 a
1941 inclusive). São Paulo: Ministério da Educação e Saúde, 1942.
BITTENCOURT, Circe Maria. Os problemas educacionais na Assembléia Nacional
Constituinte de 1934. Revista Faculdade de Educação, São Paulo, v.12, n. 1-2,
jan./dez. 1986, pp.235-260.
BOCCHI, Luna Abramo. A configuração de novos locais e práticas pedagógicas na
escola: o museu escolar, os laboratórios e gabinetes de ensino do Colégio Marista
Arquidiocesano de São Paulo (1908-1940). Dissertação (Mestrado em Educação)
– Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013.
BRASIL. Ministério da Educação e Saúde Pública. Departamento Nacional de Ensino.
Serviço de Inspeção dos estabelecimentos de ensino secundário. Rio de Janeiro:
Imprensa Oficial, 1932.
CABRAL, Maria Aparecida da Silva. O curso de bacharelado em Sciencias e Letras do
Primeiro Gymnasio da Capital, em São Paulo: um estudo sobre o currículo da
escola secundária (1894-1913). Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2008.
CAMPOS, Eudes. Nos caminhos da Luz, antigos palacetes da elite paulistana. Anais do
Museu Paulista, São Paulo, v. 13, n. 1, pp.11-57, jun. 2005. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/anaismp/v13n1/a02v13n1.pdf>. Acesso em 10 maio
2014.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. A escola, a república e outros ensaios.
Bragança Paulista, SP: EDUSF, 2003.
CASTANHO, Sérgio. Institucionalização das instituições escolares: final do Império e
Primeira República no Brasil. In: NASCIMENTO, Maria Isabel Moura et al.
Instituições escolares no Brasil: conceito e reconstrução histórica. Campinas, SP:
Autores Associados; Ponta Grossa, PR: UEPG, 2007. pp.39-57.
CAVALCANTI, Pedro. Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo: 150 anos de
fundação – 100 anos de Gestão Marista 2008. São Paulo: FTD, 2008.
119
CAVALIERE, Ana Maria Anísio Teixeira e a educação integral. Paidéia, Ribeirão
Preto, SP, v.20, n.46, pp.249-259, maio-ago. 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/paideia/v20n46/11.pdf>. Acesso em: 6 maio 2014.
COMEMORAÇÃO do cinquentenário dos Irmãos Maristas no Brasil Central (1897-
1947). São Paulo: Gráfica Siqueira ; Salles Oliveira e Cia., 1947.
CUNHA, Célio da. Educação e autoritarismo no estado novo. São Paulo: Cortez,
Autores Associados, 1981.
CUNHA, Luiz Antonio. Ensino superior e universidade no Brasil. In: LOPES, Eliane
Marta Teixeira, FARIA FILHO, Luciano Mendes, VEIGA, Cinthia Greive. 500
anos de Educação no Brasil. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. pp.151-204
CURY, Carlos Roberto Jamil. A desoficialização do ensino no Brasil: a Reforma
Rivadávia. Educação & Sociedade, Campinas, v.30, n.108, pp.717-738, out. 2009.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
73302009000300005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 19 set. 2012.
_____________________. Jamil. Ideologia e educação brasileira: católicos e liberais.
3.ed. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1986.
DALLABRIDA, Norberto. A fabricação das elites: o Ginásio Catarinense na primeira
república. Florianópolis: Cidade Futura, 2001.
_____________________. A reforma Francisco Campos e a modernização
nacionalizada do ensino secundário. Educação, Porto Alegre, v.32, n.2, pp.188-
191, maio/ago. 2009.
DODSWORTH, H. Cem anos de ensino secundário no Brasil (1826-1926). Rio de
Janeiro: MEC/INEP, 1968.
DÓRIA, Escragnolle. Memória histórica do Colégio de Pedro Segundo: 1838-1937.
Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1997.
ENCICLÍCA DIVINI ILLIUS MAGISTRI: Educação cristã da Juventude, 31 de
dezembro de 1929 - PAPA PIO XI. Disponível em:
<http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/documents/hf_p-
xi_enc_31121929_divini- illius-magistri_po.html>. Acesso em: 5 maio 2014.
ENGELHARDT, N. L. Standards for junior High Schools. New York: Teachers
College, 1932.
ESCORÇO biográfico do primeiro provincial dos Irmãos Maristas no Brasil Central:
Irmão Adorátor. Rio de Janeiro: Francisco Alves, s.d.
120
EVANGELISTA, Olinda. Ação católica e formação docente na década de 1930.
Educação e Filosofia, Uberlândia, MG, v.16, n.31, pp.9-28, jan./jun.2002.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de (org.). Educação, Modernidade e Civilização. Belo
Horizonte: Autêntica, 1998.
FERREIRA, António Gomes Alves; Vechia, Ariclê. Um olhar sobre instituições de
ensino secundário no século XIX: o Liceu de Coimbra e o Imperial Collegio de
Pedro II Cadernos de História da Educação, Uberlândia, MG, n. 3, pp.5-16,
jan./dez. 2004. Disponível em:
<http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/291/274>. Acesso em: 8 maio
2014.
GASPARELLO, Arlette Medeiros. Construtores de identidade: a pedagogia da nação
nos livros didáticos da escola secundária brasileira. São Paulo: Iglu, 2004.
_____________________. O paradoxo republicano: um modelo secundário nacional
nos limites da descentralização. pp.1-12. In: Reunião Anual da ANPEd, 26, 2003,
Poços de Caldas. Anais... Disponível em: <
http://26reuniao.anped.org.br/trabalhos/arlettemedeirosgasparello.rtf>. Acesso
em: 19 set. 2012.
GINZBURG, Carlo. 2002. Mitos, emblemas, sinais. 2.ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002.
GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Memória jurisprudencial: Ministro Carlos
Maximiliano. Brasília: Supremo Tribunal Federal, 2010.
GONÇALVES, Mauro Castilho. Cidade, cultura e educação: o projeto de
modernização conservadora da Igreja Católica, em Taubaté, em meados do
século XX. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, São Paulo, 2003.
HAIDAR, M. L. M. O ensino secundário no império brasileiro. São Paulo: EDUSP,
Grijalbo, 1972.
HILSDORF, Maria Lucia Spedo. História da Educação Brasileira: leituras. São Paulo:
Cengage Learning, 2011.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de
Mello. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
121
KOSSOY, Boris. Fotografia e história. São Paulo: Ática, 1989.
KULESZA, Wojciech Andrze. O processo de equiparação ao Ginásio Nacional na
Primeira República: o caso do Colégio Diocesano da Paraíba. Revista Brasileira
de História da Educação, Campinas, SP, v.11, n.2, pp.81-102, maio/ago. 2011.
Disponível em: <http://www.rbhe.sbhe.org.br/index.php/rbhe/article/view/4/4>.
Acesso em: 11 nov. 2011.
MARTINS, Patrícia Carla de. Seminário Episcopal de São Paulo e o paradigma
conservador do século XIX. Tese (Doutorado em Ciências da Religião) -
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2006.
MEDEIROS, Jarbas. Ideologia autoritária no Brasil (1930-1945). Rio de Janeiro: Ed.
Fundação Getúlio Vargas, 1978.
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. A cultura material no estudo das sociedades
antigas. Revista de História, São Paulo, n. 115, pp.103-117, 1983. Disponível em:
< http://leiaufsc.files.wordpress.com/2013/04/meneses-u-a-cultura-material-no-
estudo-das-sociedades-antigas.pdf>. Acesso em 10 abr. 2013.
MEUBLES pour Écoles et Laboratoires pour Salles de cours et Laboratoires de
Physique, de Chimie et de Biologie. Chemnitz, Al: Max Kohl, s.d.
MINHOTO, Maria Angélica Pedra. Da progressão do ensino elementar ao ensino
secundário (1931-1945): crítica do exame de admissão do ginásio. Tese
(Doutorado em Educação) - Pontíficia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo, 2007.
MOURA, Sérgio Logo de; ALMEIDA, José Maria Gouvêa de. A igreja na primeira
república. In: FAUSTO, Boris. O Brasil republicano, 2: sociedade e instituições.
4.ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990. pp.323-342.
NADAI, Elvira. História do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo. São Paulo:
s.n., 2007. Disponível em: <www.marista.org.br/memorialarqui>. Acesso em: 20
nov. 2013.
NAGLE, Jorge. Educação e sociedade na Primeira República. São Paulo: EPC, 1976.
_____________________. A educação na primeira república. In: FAUSTO, Boris. O
Brasil republicano, 2: sociedade e instituições. 4.ed. Rio de Janeiro: Bertrand,
1990. pp.261-291.
122
NASCIMENTO, Maria Isabel de Moura et al. (org.). Instituições escolares no Brasil:
conceito e reconstrução histórica. Campinas, SP: Autores Associados: Histedbr;
Sorocaba, SP: UNISO; Ponta Grossa, PR: UEPG, 2007.
NOVA Enciclopédia Católica. Rio de Janeiro: Renes, 1969.
NUNES, Clarice. O "velho" e "bom" ensino secundário: momentos decisivos. Revista
Brasileira de Educação, n.14, pp.35-59, maio/ago. 2000a. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n14/n14a04.pdf>. Acesso em 17 out. 2012.
_____________________. Anísio Teixeira: a poesia da ação. Bragança Paulista, SP:
Universidade São Francisco, 2000b.
PINHEIRO FILHO, Fernando Antonio. A invenção da ordem: intelectuais católicos no
Brasil. Tempo Social, São Paulo, v. 19, n.1, pp.33-49, jun. 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ts/v19n1/a03v19n1>. Acesso em: 17 abr. 2014.
POLYANTHEA: publicação comemorativa do 1º quinquagenário da fundação do
Seminário Episcopal de São Paulo. São Paulo: s.n, 1906.
RANZI, Serlei Maria Fischer. O espaço compartilhado do Ginásio Paranaense e a
construção da ideia da escola como “um lugar”. In: NASCIMENTO, Maria Isabel
Moura et al. Instituições escolares no Brasil: conceito e reconstrução histórica.
Campinas, SP: Autores Associados; Ponta Grossa, PR: UEPG, 2007. pp.193-207.
REDE, Marcelo. História a partir das coisas: tendências recentes nos estudos de cultura
material. Anais do Museu Paulista, São Paulo, n.115, pp.103-117.
RIBEIRO, Renato Ventura; TESCAROLO, Ricardo. Colégio Arquidiocesano de São
Paulo. São Paulo: Loyola, 1985.
ROCHA, Marcelo Pereira; OLIVEIRA, Regina Tereza. O processo de implantação do
ensino secundário no sul do estado de Mato Grosso: iniciativa particular (1920-
1940). Disponível em<
http://www.rededesaberes.org/3seminario/anais/textos/ARTIGOS%20PDF/artigo
%20GT%208A-03%20-
%20Marcelo%20Pereira%20Rocha%20e%20Regina%20Tereza%20Cestari.pdf>.
Acesso em: 10 maio 2013.
ROCHA, Marlos Bessa Mendes da. Educação Conformada: a política pública de
educação no Brasil: 1930-1945. Juiz de Fora: Ed. UFJF; Brasília:
MEC/Inep/Comped, 2000.
123
SANTOS, Suenilde da. Academia de Direito de São Paulo (1827-1854) e constituição
de uma elite nacional: o lugar da língua portuguesa. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005.
SEDREZ, Ascânio João. A presença dos Irmãos Maristas em São Paulo: educação
evangelizadora? Um estudo de caso: Colégio Nossa Senhora da Glória, Colégio
Arquidiocesano de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) -
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1998.
SILVA, De Plácido.Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1978.
SILVA, Geraldo Bastos. Introdução crítica ao ensino secundário. Rio de Janeiro:
MEC/Cades, 1959.
_____________________.A Educação Secundária. São Paulo: Comp. Ed. Nacional,
1969.
SOBRINHO, J. F. Velho. Dicionário bio-bibliográfico brasileiro. Rio de Janeiro:
Irmãos Pongetti, 1937.
SOUZA, Ney de. Catolicismo e padroado na São Paulo colonial. In: VILHENA, Maria
Angela; Passos, João Décio (orgs.). A igreja de São Paulo: presença católica na
história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. pp.101-128.
_____________________ (org.). Catolicismo em São Paulo: 450 anos de presença da
igreja católica em São Paulo (1554-2004). São Paulo: Paulinas, 2004.
SOUZA, Rosa Fátima de. História da Organização do Trabalho Escolar e do Currículo
no Século XX: ensino primário e secundário no Brasil. São Paulo: Cortez, 2008.
STRAYER, G. D.; ENGELHARDT, N. L. Score cards for city school buildings.
Teachers College Bulletin, New York, n.10, January 17, pp.1-45, 1920.
TEIXEIRA, Anísio. A crise educacional brasileira. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, Rio de Janeiro, v.19, n.50, pp.20-43, abr./jun. 1953. Disponível em:
<www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/crise.html>. Acesso em: 1 abr. 2014.
TOLEDO, Benedito Lima de. 4.ed. São Paulo: três cidades em um século. São Paulo:
Duas Cidades; Cosac & Naify, 2007.
VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário do Brasil colonial (1500-1808). Rio de Janeiro:
Objetiva, 2000.
124
VALLE, Edênio. As ordens religiosas no contexto do catolicismo tridentino. In:
VILHENA, Maria Angela; PASSOS, João Décio (orgs.). A Igreja de São Paulo:
presença católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. pp.195-220.
VECHIA, Ariclê, LORENZ, Karl. Programas de ensino da escola secundária no
Brasil: 1850- 1951. Curitiba: Editora do Autor, 1998.
_____________________. O ensino secundário no século XIX: instruindo as elites. In:
STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena Camara (orgs.). Histórias e
memórias da Educação no Brasil, v.1 - século XIX. São Paulo: Vozes, 2011.
pp.78-90.
_____________________, CAVAZOTTI, Maria Auxiliadora (orgs.). A escola
secundária: modelos e planos (Brasil, séculos XIX e XX). São Paulo: Annablume,
2003.
VIÑAO FRAGO, Antonio. Do espaço escolar e da escola como lugar: propostas e
questões. In: FRAGO VIÑAO, Antonio; ESCOLANO, Agustin. Currículo,
espaço e subjetividade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. pp.59-139.
WERNET, Augustin. A Igreja paulista no século XIX: a reforma de D. Antonio
Joaquim de Melo (1851-1861). São Paulo: Ática, 1987.
_____________________. A Igreja paulistana no século XIX. In: VILHENA, Maria
Angela; PASSOS, João Décio (orgs.). A Igreja de São Paulo: presença católica na
história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. pp.129-144.
_____________________. São Paulo: os religiosos na Colônia. In: VILHENA, Maria
Angela; PASSOS, João Décio (orgs.). A Igreja de São Paulo: presença católica na
história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. pp.175-194.
125
FONTES
Memorial do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo
Processo de Equiparação do Colégio Arquidiocesano de São Paulo (1933-1940)
Serviço de inspeção dos estabelecimentos de ensino secundário (1932)
Leis do ensino secundário e seus comentários (1939) – Dr. Alysson de Abreu
Legislação Brasileira do Ensino secundário (1939) – Adalberto Corrêa Sena
(Técnico de Educação da Divisão de Ensino Secundário);
Livro de visitas do inspetor federal (1931 a 1967);
Livros de ocorrências – Inspetoria Seccional de São Paulo (1938 a 1960)
Termos de visitas dos inspetores federais (1937 a 1938)
Secretaria – Occorrencias diárias (1932-1936)
Diário da Secretaria – Registro das ocorrências diarias (1936-1940)
Ecos (1908-1940)
Provisões (1908)
Arquivo Nacional
Conjunto Documental – Série Educação IE4 – 134
Conjunto Documental – Série Educação IE4 – 193
Conjunto Documental – Série Educação IE4 – 589
ANEXOS
ANEXO 1 – QUADRO DESCRITIVO DOCUMENTOS DA EQUIPARAÇÃO DO
COLÉGIO ARQUIDIOCESANO DE SÃO PAULO
Descrição dos documentos obedece a ordem da disposição destes dentro do volume
encadernado.
Ano Qtde. Descrição Observação
Volume
1
(1933)
- -
Apesar de reunidos
em 1933, não se pode
afirmar ser essa a data
de todos os itens que compõem o conjunto.
c1933 1
Folha de apresentação do relatório:
Colégio Arquidiocesano de São Paulo
Relatório enviado ao Departamento Nacional do
Ensino para revisão da “Ficha de classificação” para
obter a “Equiparação Permanente” – 1º de setembro de
1933
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia da fachada do prédio da Avenida
Tiradentes
Omitido o trecho demolido.
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Carta ao Ministro da Educação e Saúde Pública
formalizando pedido de “equiparação permanente”
c1932 1 Foto sala de vista da sede da Avenida
Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Carta endereçada Exmo. Sr. Major Agricola
Bethlem solicitando “revisão da ficha de classificação”
c1932 1 Gráfico resumindo os resultados obtidos nas
cinco divisões principais (I Local, II Edificio, III
Instalações, IV Salas de aula e V Salas especiais
Gráficos não foram
preenchidos
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Foto sala de visita da sede da Avenida
Tiradentes
Ângulo diferente da
primeira imagem
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Ficha de classificação datilografada
Preenchida com
simulação de dados
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Foto sala de visita da sede da Avenida
Tiradentes
Ângulo diferente das
outras imagens do
mesmo ambiente. Elucidário para a ficha
de classificação
c1932 1 Foto sala de visita da sede da Avenida
Tiradentes
Ângulo diferente das
outras imagens do mesmo ambiente
Elucidário para a ficha
de classificação
c1932 1 Dados do Colégio (1. Nome oficial, 2.
Histórico, 3. Organização administrativa)
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Foto de um dos pátios Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Quadro geral da matrícula
Informações sobre
ensino primário e
secundário e da 1ª a 5ª série.
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia da planta de situação, escala 1/250,
da sede da Avenida Tiradentes (executado pelo escritório
de Alvaro de Salles Oliveira)
Informações sobre a
disposição espacial do
prédio e ruas
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Continuação dos dados do Colégio (5. Horários,
6 Organização da escrita financeira, 7 Garantia de
funcionamento 8 Corpo docente
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Foto com a antiga fachada do prédio da Avenida
Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Contrato de trabalho firmado entre o Ir. José
Borges e o Sr. Paulo Mulli, professor de Educação Física
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1 Contrato de trabalho firmado entre o Ir. José
Borges e o Sr. Luiz Duarte Ventura, professor de
História do Brasil e Física
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1 Fotografia da planta do 1º andar superior, escala
1/100, da sede da Avenida Tiradentes (executado pelo
escritório de Alvaro de Salles Oliveira)
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 9 Regulamento do Colégio (a. Organização do
Ensino, b. Educação religiosa, c. Educação Física, d.
Educação intelectual e. Condições de admissão
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio
(f. Documentos para matrícula, g. Matrícula no curso
secundário, h. Do regime escolar
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio
(i. Diretoria e corpo docente)
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio
(j. Deveres dos srs. Professores, k. Horário)
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio
(l. Enxoval, m. Contribuições)
Item contribuições traz
informações sobre os valores pagos pelos
alunos (modalidades
internos, semi internos
e externos)
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio
(n. Fornecimentos, o.Dinheiro para uso especial dos
alunos p. Da disciplina q. Da ordem interna r. Emulação)
Item Fornecimentos diz
respeito a pagamentos de serviçioes extras
pagos pelos alunos
(sapataria, compra de
materiais escolares, etc)
Elucidário para a ficha de classificação
c1932 1 Continuação do item 9 Regulamento do Colégio
(s. Penas disciplinares e exclusão, t.caderneta escolar, u.
Saidas, v. Visitas
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Continuação dos dados do Colégio (10.
Instalações para internato)
Descrição dos dormitórios. Alunos
divididos em 3 grupos:
Menores – 7 a 12 anos,
Médios – 12 a 16 anos,
Maiores – 16 ou mais. Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1
Continuação dos dados do Colégio (10.
Instalações para internato) – Gabinete médico, Gabinete
dentário, Pequenos serviços, Correspondência com a
família
Descrição dos ambientes e com
relação à
correspondência
informa que essa era
fiscalizada. Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia da Secretaria da sede da Avenida
Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia Sala de Estudos da sede da Avenida
Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia coleção de História Natural na sede
da Avenida Tiradentes
Em destaque animais
taxidermizados,
esqueleto e um corpo
“esfolado”. Depósito. Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia coleção de História Natural na sede
da Avenida Tiradentes
Possivelmente um espaço de guarda.
Animais taxidermizados
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia coleção de História Natural na sede
da Avenida Tiradentes
Outro ângulo da
coleção. Possivelmente
um espaço de guarda.
Animais taxidermizados.
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia coleção de quadros parietais e
modelo anatômicos seres vivos da sede da Avenida
Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia sala de aula 5ª série / Coleção dos
instrumentos de Física da sede da Avenida Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1
Ficha de classificação datilografada com as
seguintes informações: nome, endereço, regimes
(internato, externato e semi internato), esgoto,
fornecimento de água, rede elétrica, canalização de gás,
meios de transportes disponíveis
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Elucidário para a ficha de classificação - I.
Situação (Local: salubridade, ausência de ruídos,
ausência de perigos)
c1932 1
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - I. Situação (Local: perturbação da
atenção; Terreno: natureza, permeabilidade do terreno,
regularidade, )
c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de
classificação (Áreas para recreios e abrigos: área livre,
área coberta)
c1932 1 Gráficos referentes à área livre e coberta da sede
da Avenida Tiradentes
Metros por número de
alunos.
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia do refeitório da sede da Avenida
Tiradentes
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1 Fotografia da cozinha com quatro funcionários
uniformizados da sede da Avenida Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação
c1932 1
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - II. Edifício (Disposição: interna, locação;
Condições gerais: número de pavimentos, material,
entradas )
Locação termo que refere-se à localização e
ao endereço da
instituição
Descrição de cada um
dos itens.
c1932 1
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - II. Edifício (continuação Condições
gerais: escadas, conservação). III. Instalações (extintores
de incêndio, iluminação, caixas d´água)
c1932 1 Fotografia de Simulação aula de química na
sede da Avenida Tiradentes
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1 Fotografia de armário com elementos químicos
(Laboratório de Química) na antiga sede da Avenida
Tiradentes
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - III. Instalações (Asseio e instalações
higiênicas: Asseio geral do prédio, bebedouros,
lavatórios)
Descrição de cada um
dos itens.
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - III. Instalações (Asseio e instalações
higiênicas: mictórios, W.C.), IV. Salas de aulas
(Construção e acabamento: área, forma, isolamento,)
Descrição de cada um
dos itens.
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia com simulação de aula de História
Natural na antiga sede da Avenida Tiradentes
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1 Fotografia de sala de aula com instrumentos de
Física na antiga sede da Avenida Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - IV. Salas de aulas (Construção e
acabamento: quadros negros, pintura, área de
iluminação)
c1932 1
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - IV. Salas de aulas (Construção e
acabamento: disposições das janelas, acústica,
mobiliário, diversos)
c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático
(auditório ou salão)
c1932 1 Página com gráficos referente a quatro salas de
aulas
Número de alunos X
metragem da sala.
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia solenidade de colação de grau na
sede da Avenida Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Página com gráficos referente a outras quatro
salas de aulas
Número de alunos X metragem da sala
Elucidário para a ficha
de classificação
c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático
(biblioteca, ginásio, sala de geografia)
c1932 1 Fotografia da Biblioteca na sede da Avenida
Tiradentes
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1 Fotografia do Ginásio na sede da Avenida
Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático.
Descrição dos materiais da sala de geografia
c1932 1
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático.
Descrição dos materiais da sala de geografia (2ª parte) e
Sala de Ciências Físicas e Naturais (com relação dos
materiais didáticos)
c1932 1 Fotografia solenidade de colação de grau na
sede da Avenida Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia de sala de aula com instrumentos de
Física na antiga sede da Avenida Tiradentes
Elucidário para a ficha de classificação.
c1932 1
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático.
Sala de Ciências Físicas e Naturais (continuação da
relação de materiais didáticos)
c1932 1 Fotografia solenidade de colação de grau na Elucidário para a ficha
de classificação.
sede da Avenida Tiradentes (registro do público presente
à solenidade)
c1932 9
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático.
Laboratório de Física (com relação dos materiais
didáticos)
c1932 4
Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático.
Química (com relação dos equipamentos e elementos
químicos)
c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático.
História Natural (com relação dos materiais didáticos)
c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático.
História Natural (com relação dos materiais didáticos)
c1932 1 Fotografia de aula de Ginástica
Não foi possível
identificar o local.
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 6 Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático.
História Natural (com relação dos materiais didáticos)
c1932 1 Fotografia da ala esquerda do prédio da antiga
sede da Avenida Tiradentes
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático.
Sala de desenho (com relação dos materiais didáticos)
Ausência da descrição
física do espaço
c1932 1 Continuação Elucidário para a ficha de
classificação - V. Salas especiais e material didático.
Sala dos professores e Sala da administração
c1932 1 Fotografia da construção do prédio da Vila
Mariana (Pátio Central)
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia de aula de Ginástica
Não foi possível identificar o local.
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia da construção do prédio da Vila
Mariana (detalhe torre da Capela)
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 1 Fotografia da construção do prédio da Vila
Mariana (Pátio Central)
Elucidário para a ficha
de classificação.
c1932 3 Alguns dados sobre o que será o novo Colégio
Arquidiocesano de São Paulo
Observação elaborado
pelo inspetor federal
Dr. Manuel do Carmo
c1932 1 Fotografia retratando 10 pessoas visitando as
obras da sede do Colégio na Vila Mariana
Dentre elas o Irmão
José Borges (reitor do
Arquidiocesano), Sr.
Luiz Duarte Ventura (prof. História e Física),
membros da Venerável
Ordem Terceira do
Carmo e Irmão Não
identificado
c1932 4 Fotografia da construção do prédio da Vila
Mariana (Pátio Central)
Foto panorâmica.
Elucidário para a ficha
de classificação.
Volume
2
(1940)
- A partir desse volume encontra-se a
documentação devolvida ao Colégio Arquidiocesano
de São Paulo pelo diz respeito aos arquivos dos
Apesar de reunidos
em 1940, não se pode
afirmar ser essa a data
de todos os itens que compõem o conjunto.
c1942 1 Capa com logotipo do Ministério da Educação e
Saúde (registro de movimentação do processo)
1931 1 Carta da diretoria solicitando fiscalização
preliminar, e as justificativas para a obtenção dessa
Protocolada em 15 de
junho de 1931
1931 2 Relação com o nome do corpo administrativo e
docente
Encaminhada
juntamente com a solicitação da
fiscalização preliminar
1931 1
Carta da diretoria solicitando fiscalização
preliminar (continuação). Consta nessa anotação
manuscrita dando deferimento ao pedido em 15 junho de
1931.
Protocolada em 15 de junho de 1931
1931 1 Carta da diretoria solicitando a equiparação, e
justificativas, para a obtenção dela (nota manuscrita
prescreve o depósito legal referente fiscalização)
Protocolada em 18 de
junho de 1931
1931 2 Relação com o nome do corpo administrativo e
docente/disciplina
Encaminhada
juntamente com a
solicitação de
equiparação
1931 4 Relações com o nome dos alunos matriculados
em 1931
(de 1ª a 5ª série)
Encaminhada
juntamente com a
solicitação de
equiparação
1931 2
Ficha dos dados do Colégio (nome, endereço,
histórico, total de alunos, informações sobre a
administração, contabilidade, garantias de
funcionamento, propriedade, nome do diretor, dados
sobre o edifício, salas de aulas, laboratórios, educação
física, biblioteca)
Formulário que
antecede o uso da ficha
de classificação
c1931 1 Fragmento da capa da revista Echos de 1928
Configuração do prédio com indicação de parte
demolida
c1931 2 Relação do corpo docente, formação e
experiência profissional -
c1935 1 Capa Diretoria Geral de Educação
Superintendência do Ensino Secundário
Com registro da
circulação da
documentação
c1935 13
Elucidário para a ficha de classificação
(composto por descrições das instalações, 6 páginas
revista Ecos, 2 plantas (térreo, escala 1:300 e outra dos
espaços dos recreios, escala 1:500)
Elaborado pelo inspetor
federal Egberto de
Assis Silveira
1934 1 Ficha de classificação preenchida no MESP Frente e verso em
páginas separadas
1935 1 Despacho nº3.686 -
1935 1
Telegrama enviado pelo Director da Divisão do
Ensino Secundário para o director do Colegio
Archidiocesano comunicando aprovação transferência
para sede da Vila Mariana
-
1937 1 Carta do Inspetor Federal Padre Antonio Luiz
Florêncio Ráo encaminhando uma planta do Colégio (3º
pavimento – escala 1:300)
-
c1933 9 Fragmento do regulamento do Colégio
Arquidiocesano
Vistado pelo inspetor federal Dr. Manuel do
Carmo
1933 1 Carta do Colégio solicitando a equiparação
permanente
Na realidade fiscalização
permanente, pois já
havia acabado o período
de dois anos da
fiscalização preliminar.
c1933 1 Ficha da classificação (sede da Avenida
Tiradentes) -
1933 1 Parecer de Agrícola Bethlem, superintendente -
do ensino secundário, referente contrato de trabalho dos
professores da instituição
1933 1 Despacho nº 7829 composto por dados retirados
do elucidário para a ficha de classificação da Avenida
Tiradentes
Documento traz
informações sobre a circulação desses dados
dentro do MESP
1933 1 Parecer nº 132 emitido pela Comissão de Ensino
Secundário aprovando a solicitação do Colégio
Solicitação de mudança do status do Colégio
para “inspeção
permanente”
1934 1 Cópia do Decreto nº 23.742, de 15 de janeiro de
1934
Concessão da
equiparação.
1940 1 Cópia do telegrama enviado para o Colégio pela
Divisão de Ensino Secundário comunicando a aprovação
da revisão da ficha de classificação (9.572 pontos)
1940 1 Capa “Ficha de classificação – Maio de 1940”
c1940 1 Fotografia do Colégio, bem como parte do
bairro da Vila Mariana
Elucidário para a ficha de classificação
1940 1 Reprodução datilografada do Gráfico resumindo
os resultados obtidos nas cinco divisões principais (em
branco)
Elucidário para a ficha de classificação
c1940 1 Fotografia da fachada principal Elucidário para a ficha
de classificação
1940 2 Reprodução datilografada da Ficha de
classificação
Elucidário para a ficha
de classificação
1939 1 Fotografia do Salão Nobre por ocasião da Festa
de Diplomandos – dezembro de 1939
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 2 Dados do Colégio (1. Nome oficial, 2.
Histórico, 3. Organização administrativa)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Sala de visita Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Dados do Colégio (5. Horário, 6. Organização
da Escrita Financeira)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia de uma das salas de visita Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 2
Dados do Colégio (7. Garantias de
funcionamento, 8. Corpo docente), relação do corpo
docente/nº do certificado de registro junto ao MESP,
relação professores de educação física e música,
continuação dados do Colégio (9. Regulamento)
Elucidário para a ficha de classificação
c1939 1 Fotografia sobre Uma festa de ginástica no
Colégio Arquidiocesano
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 2 Dados do Colégio (9. Regulamento -
continuação)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia sobre Uma demonstração de
ginástica
Elucidário para a ficha de classificação
c1939 7 Dados do Colégio (9. Regulamento -
continuação)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Foto retirada (ref. Fachadas internas e Páteo de
Honra)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Dados do Colégio (10. Instalações para
internato)
Elucidário para a ficha de classificação
c1939 1 Fotografia Um dos quatro dormitórios Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Dados do Colégio (10. Instalações para
internato - continuação)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Gabinete do dentista Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Dados do Colégio (10. Instalações para
internato - continuação)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Sala da Enfermaria Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Salão de cabeleireiro Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Dados do Colégio (10. Instalações para
internato - continuação)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Uma das varandas Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Dados do Colégio (Instalações – extintores de
incêndio, iluminação, caixa d´água)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Cosinha Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Dados do Colégio (Instalações – asseio geral do
prédio, bebedouros, lavatórios)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia dos lavatórios dos dormitórios Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Dados do Colégio (Instalações – mictórios,
W.C., salas de aula)
Elucidário para a ficha de classificação
c1939 1 Fotografia Uma sala de aula Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Gráficos área das salas de aula (alunos x m2)
Elucidário para a ficha de classificação
c1939 7 Plantas do Colégio (Escala 1:300, sede Vila
Mariana)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Gráficos área das salas de aula (alunos x m2)
Elucidário para a ficha
de classificação
1940 1 Quadro geral de matrículas Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Gráfico área da sala de aula (alunos x m2)
Elucidário para a ficha de classificação
c1939 1 Dados do Colégio (Instalações – salas de aula,
isolamento salas de aula, quadros negros, pintura, área de
iluminação)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Foto retirada (ref. Fachadas internas e Páteo de
Honra)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Dados do Colégio (Instalações – salas de aula,
disposição das janelas, acústica, mobiliário)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Local, ausência de
ruídos, ausência de perigos)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Um dos quatro pateos de recreio Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Continuação –
perturbação da atenção, terreno, permeabilidade do
terreno, regularidade, áreas para recreio e abrigo)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Batalhão escolar Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – área livre,
área coberta, edifício)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Gráfico área livre x quantidade de alunos Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Gráfico área coberta x quantidade de alunos Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Um dos alpendres Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – locação) Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Capela Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – auditório
ou salão nobre, biblioteca)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Biblioteca dos alunos Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Salão de estudos dos professores Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – ginásio e
sala de Geografia)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Gymnasium Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – sala de
Geografia)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Sala de Geografia Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Continuação – sala de
Geografia)
Elucidário para a ficha de classificação
c1939 1 Fotografia Um dos cinco salões de estudo Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 2 Ficha de classificação (Continuação – sala de
Ciência Físicas e Naturais)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Parte do Gabinete de Física Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 11 Ficha de classificação (Continuação –
Laboratório de Física)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Continuação –
Laboratório de Química)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Laboratório de Química Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 2 Ficha de classificação (Continuação –
Laboratório de Química)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Sala de História Natural Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 3 Ficha de classificação (História Natural) Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Parte do Museu de História Natural Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 2 Ficha de classificação (Continuação - História
Natural)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Uma Parte do Museu de História
Natural
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 5 Ficha de classificação (Continuação - História
Natural)
Elucidário para a ficha de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Sala de Desenho) Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Diretoria Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Ficha de classificação (Sala dos Professores e
Sala da Administração)
Elucidário para a ficha
de classificação
c1939 1 Fotografia Secretaria Elucidário para a ficha
de classificação
Volume
3
Parte 1
(1940)
- -
Apesar de reunidos
em 1940, não se pode
afirmar ser essa a data de todos os itens que
compõem o conjunto.
c1940 1 Capa Ministério da Educação e Saúde
(Departamento Nacional de Educação / Divisão de
Ensino Secundário)
-
1940 2 Ficha de classificação
1940 1 Encaminhamento para avaliação dos superiores
da pontuação obtida por meio da Ficha de Classificação
Colégio receberia 9.572
pontos e seria enquadrado como
“excelente”
ANEXO 2 - RESULTADOS INICIAIS DOS LEVANTAMENTOS NO ARQUIVO
NACIONAL
Localização Título Obs.:
BR AN,RIO
2H.0.0.201 Arquivo Nacional. Índice de instrução pública
Fundo 94, I E4 149 (Ministério da
Educação)
Documentação oficial do processo de equiparação
BR AN, RIO 94 Série Educação – Ensino Secundário (IE 4) Data de produção
1852-1944
BR AN, RIO 35.0.PRO.17652
Telegrama de Irmã \maria da Neves\, Aracajú,
Pedindo equiparação Primeiro Ciclo Ginasial #educand rio Imaculada conceição# de Capela.
1944
BR AN, RIO
35.0.PRO.11324
Telegrama do Bispo do Espírito Santo, Vitória, Pedindo solução favorável a Equiparação do
Ginásio Salesiano
1944
BR AN, RIO
35.0.PRO.2929
Carta de irmã Maria A. Lopes, Fortaleza, solicitando a equiparação permanente do
Ginásio Juvenal Carvalho e licença para funcionamento no mesmo do 2º Ciclo do Curso Secundario.
1944
BR AN, RIO 35.0.PRO.6926
Telegrama do Padre Alber de Freitas Santos, Teresinha, pedindo Andamento de Processo de Equiparação Permanente Do gin sio São
Francisco de Sales.
1945
BR AN, RIO RR.0.MSP
Ministério da Educação e Saúde Pública -
BR AN, RIO 35.0.PRO.3662
Carta de Rosilda Mendonça Penha e Outras, São
Luís, solicitando Sejam Afastadas as Dificuldades Criadas Pelo ministério da Educação para o Ginásio Santa Teresa.
1944
BR AN,RIO 50 Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos
1869-1892
BR AN,RIO RR.0.MSP
Ministério da Educação e Saúde Pública -
Fonte: Base de dados do Arquivo Nacional (www.arquivonacional.gov.br)
ANEXO 3 – MAPA GERAL DOS EXAMES – 1935 (ARQUIVO NACIONAL)
Fonte: IE4 –589 (Arquivo Nacional)
ANEXO 4 – ATA DE EXAMES DE ADMISSÃO – 1926 (ARQUIVO NACIONAL)
Fonte: IE4 –589 (Arquivo Nacional)
ANEXO 5 – ATAS DE EXAMES FINAIS (ARQUIVO NACIONAL)
Fonte: IE4 –589 (Arquivo Nacional)
ANEXO 6 – BOLETINS DO JULGAMENTO DOS EXAMES DE PROMOÇÃO –
1927 (ARQUIVO NACIONAL)
Fonte: IE4 –589 (Arquivo Nacional)
ANEXO 7 – QUADROS GERAIS DOS BOLETINS DAS PROVAS PARCIAIS
Fonte: IE4 –589 (Arquivo Nacional)
ANEXO 8 - DECRETO N. 3491 DE 11 DE NOVEMBRO DE 1899
Altera as instrucções
dadas pelo decreto n. 3285, de 20
de maio ultimo, para
reconhecimento dos institutos de
ensino secundario fundados
pelos Estados, associações ou
particulares.
O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil resolve, alterando as
instrucções approvadas pelo decreto n. 3285, de 20 de maio ultimo, para o
reconhecimento dos institutos de ensino secundario fundados pelos Estados, associações
ou particulares, mandar que sejam observadas as que a este acompanham, assignadas
pelo Ministro de Estado da Justiça e Negocios Interiores.
Capital Federal, 11 de novembro de 1899, 11º da Republica.
M. FERRAZ DE
CAMPOS SALLES.
Epitacio da Silva
Pessôa.
Instrucções para o reconhecimento dos institutos de ensino secundario fundados
pelos Estados, associações ou particulares, a que se refere o decreto desta data
Art. 1º Os institutos de ensino secundario que tiverem sido ou venham a ser
equiparados ao Gymnasio Nacional, para o fim de poderem passar certificados de
conclusão de estudos e conferir gráos, ou sómente para a obtenção da primeira destas
regalias, deverão satisfazer as seguintes condições:
I. Constituir um patrimonio de 50 contos de réis, pelo menos, representado por
apolices da divida publica federal e pelo edificio em que funccionar o instituto ou por
qualquer desses valores.
II. Provar uma frequencia nunca inferior a 30 alumnos pelo espaço de dous
annos.
III. Observar o regimen e os programmas de ensino adoptados para o Gymnasio
Nacional.
Paragrapho unico. Nenhuma collectividade particular será admittida a requerer a
equiparação do instituto de instrucção secundaria que houver fundado ou mantiver, sem
que mostre ter adquirido individualidade propria, constituindo-se como sociedade civil
na forma da lei n. 173, de 10 de setembro de 1893.
Art. 2º As apolices constitutivas do fundo patrimonial do instituto serão
averbadas na Caixa de Amortização, em nome do mesmo instituto, com a clausula de
inalienabilidade.
Art. 3º O predio em que tiver a sua séde o estabelecimento e que constituir, no
todo ou em parte, o patrimonio do instituto, deverá estar seguro em companhia abonada
e desembaraçado de onus cujo valor abranja total ou parcialmente o do patrimonio
fixado em lei, o que provará com certidão do registro geral de hypothecas.
Art. 4º Os institutos particulares de ensino secundario, para obterem a
equiparação ao Gymnasio Nacional, declararão a denominação, séde e fins do
estabelecimento, o nome e a naturalidade dos administradores e da pessoa a cujo cargo
estiver a direcção technica do estabelecimento, e instruirão o pedido com os seguintes
documentos:
I. Certidão do archivamento no registro civil dos estatutos, compromisso ou
contracto social, quando se tratar de associação.
Il. Um exemplar da folha official em que houverem sido publicados por extenso
os estatutos do estabelecimento.
III. Certidão da Caixa de Amortização e do registro geral que provem o
cumprimento da exigencia do art. 2º e ultima do art. 3º destas instrucções.
IV. Laudo judicial de avaliação do edificio escolar.
V. Apolice de seguro do predio escolar ou minuta devidamente authenticada.
Art. 5º Si, á vista dos documentos apresentados, achar-se que a organisação
scientifica do instituto está de accordo com a lei, o Governo designará pessoa de
reconhecida competencia afim de verificar a idoneidade moral e technica do director e
do corpo docente, a existencia de laboratorios, gabinetes e apparelhos necessarios ao
ensino das sciencias physicas e naturaes e a frequencia do estabelecimento não inferior
a 30 alumnos nos dous annos immediatamente anteriores.
Para este fim, os interessados deverão franquear não só os livros e documentos
de matricula, como fornecer as provas de frequencia que forem exigidas. O resultado do
processo deverá ser communicado no Governo, em minucioso relatorio.
Art. 6º Reconhecido o instituto, o Governo nomeará um delegado fiscal de
provada idoneidade, o qual, em relatorios semestraes, exporá quanto houver observado
sobre os programmas o merecimento do ensino, marcha do processo de exames,
natureza das provas exhibidas e finalmente sobre a observancia do regulamento do
Gymnasio Nacional, no que tiver applicação ao instituto equiparado.
Paragrapho unico. A estes delegados incumbe a fiscalização dos exames de
madureza, de que tratam os arts. 20 a 28 do regulamento approvado pelo decreto n.
3251, de 8 de abril de 1899.
Art. 7º Os delegados fiscaes perceberão a gratificação annual de 2:400$, paga
pelo respectivo instituto, que a recolherá em prestações semestraes á repartição federal
pelo Governo designada.
Art. 8º O Governo retirará as prerogativas e vantagens da equiparação ao
Gymnasio Nacional aos institutos que se afastarem do regimen official de ensino, ou em
que se praticarem abusos quanto á identidade dos alumnos nos exames, ou na colocação
de gráos, e bem assim áquelles em que forem tolerados actos de immoralidade e
incivismo ou que acarretem o abatimento moral do ensino.
a) A concessão será tambem cassada:
I. Quando for dissolvida a sociedade mantenedora do estabelecimento de ensino
ou o proprietario declarar extincto o respectivo estabelecimento.
Il. Quando por dous annos successivos a frequencia não chegar ao minimo legal.
b) Será suspenso o gozo das prerogativas da equiparação.
I. Deixando o proprietario do estabelecimento ou a sociedade de sujeitar ao
exame do delegado fiscal e á approvação do Governo as alterações que fizer nos seus
estatutos ou compromisso, até que satisfaça essa obrigação.
Il. Baixando a frequencia a menos de 30 alumnos durante mais de um semestre.
III. Deixando de renovar o seguro do predio em que estiver a séde do
estabelecimento, quando elle constituir no todo ou em parte o fundo patrimonial da
sociedade.
IV. Deixando de apresentar ao delegado fiscal annualmente as certidões de que
trata o art. 4º n. 111 destas instrucções.
Paragrapho unico. Só por decreto, e depois de audiencia dos interessados em
inquerito regular, poderá ser cassada a equiparação. O Ministro poderá, porém, por
simples portaria resolver a suspensão, em vista da representação do delegado fiscal, por
tempo não excedente a um anno. Si, dentro do periodo da suspensão, o instituto não
provar ter satisfeito as obrigações que lhe são impostas, ser-lhe-ha cassada a concessão.
Art. 9º Aos institutos creados e custeados pelos Governos estadoaes não se
estendem as obrigações constantes dos ns. l e II do art. 1º, para que possam gozar das
prerogativas do Gymnasio Nacional. Taes prerogativas, porém, só lhes serão
reconhecidas e mantidas, si observarem o regimen e programmas de ensino do mesmo
Gymnasio.
Capital Federal, 11 de novembro de 1899. – Epitacio Pessôa.
Fonte: legis.senado.leg.br/sicon/
ANEXO 9 – CONTRATO FIRMADO ENTRE A DIOCESE DE SÃO PAULO E
OS IRMÃOS MARISTAS REFERENTE À TRANSFERÊNCIA DO COLÉGIO
DIOCESANO
Fonte: MCMA
ANEXO 10 – DECRETO Nº 8.659, DE 5 DE ABRIL DE 1911 (REFORMA
RIVADÁVIA CORRÊA)
Approva a lei Organica do Ensino Superior e do
Fundamental na Republica
O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil, usando da autorização
concedida pelo art. 3º, n. II, da lei n. 2.356, de 31 de dezembro de 1910, resolve approvar, para os institutos de ensino creados pela União e actualmente dependentes do Ministerio da Justiça e Negocios Interiores, a Lei Organica do Ensino Superior e do
Fundamental na Republica, que a este acompanha, assignada pelo ministro de Estado da Justiça e Negocios Interiores.
Rio de Janeiro, 5 de abril de 1911, 90º da Independencia e 23º da Republica.
HERMES R. DA FONSECA.
Rivadavia da Cunha Corrêa.
Lei Organica Superior e do Ensino Fundamental na Republica a que se refere o decreto n. 8.659, desta data
Organização do ensino - Autonomia didactica e administrativa - Institutos de
ensino superior e fundamental - O Conselho Superior do Ensino - O patrimonio, sua constituição e applicação.
Art. 1º A instrucção superior e fundamental, diffundidas pelos institutos creados
pela união, não gosarão de privilegio de qualquer especie.
Art. 2º Os institutos, até agora subordinados ao Ministerio do Interior, serão, de ora em diante, considerados corporações autonomas, tanto do ponto de vista didactico, como do administrativo.
Art. 3º Aos institutos federaes de ensino superior e fundamental é attribuida,
como ás corporações de mão morta, personalidade juridica, para receberem doações, legados o outros bens e administrarem seus patrimonios, não podendo, comtudo, sem
autorização do Governo, alienal-os.
(...)
Art. 5º O Conselho Superior do Ensino, creado pela presente lei, substituirá a funcção fiscal do Estado; estabelecerá as ligações necessarias e imprescindiveis no
regimen de transição que vae da officialização completa do ensino, ora vigente, á sua total independencia futura, entre a União e os estabelecimentos de ensino.
Art. 6º Pela completa autonomia didactica que lhes é conferida, cabe aos
institutos a organização dos programmas de seus cursos, devendo os do Collegio Pedro II revestir-se de caracter pratico e libertar-se da condição subalterna de meio
preparatorio para as academias.
(...)
COMO SE CONSTITUE O CONSELHO SUPERIOR DO ENSINO - SUAS ATTRIBUIÇÕES - FUNCÇÕES E DEVERES DO PRESIDENTE DO CONSELHO -
DA SECRETARIA DO CONSELHO
Art. 11. Os institutos a que se refere esta lei ficarão sob a fiscalização de um Conselho deliberativo e consultivo, com sede na Capital da Republica e funccionando no edificio de um delles.
Art. 12. O Conselho Superior de Ensino compor-se-ha dos directores das faculdades de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, de direito de S. Paulo e de Pernambuco, da Escola Polytechnica do Rio de Janeiro, do director do Collegio Pedro II
e de um docente de cada um dos estabelecimentos citados.
Paragrapho unico. O presidente do Conselho Superior será nomeado livremente pelo Governo. Os docentes serão indicados por eleição das Congregações e o mandato
delles será biennal.
Art. 13. Ao Conselho Superior de Ensino compete:
a) autorizar as despezas extraodinarias, não previstas no orçamento actual;
b) tomar conhecimento e julgar em grau de recurso as resoluções das Congregações ou dos directores;
c) providenciar acerca dos factos e occurrencias levados ao seu conhecimento
por intermedio das directorias;
d) suspender um ou mais cursos, desde que o exigirem a ordem e a disciplina;
e) impôr as penas disciplinares de sua competencia, enumeradas no capitulo desta lei, concernente ao assumpto;
f) informar ao Governo sobre a conveniencia da creação, transformação ou
suppressão de cadeiras;
g) representar ao Governo sobre a conveniencia da demissão do presidente, quando este se mostrar incompativel com o exercicio de suas funcções. Em tal caso, o seu substituto occupará a presidencia do Conselho, até que o Governo resolva o
incidente;
h) responder a todas as consultas e prestar todas as informações pedidas pelo Ministerio do Interior;
i) determinar a inspecção sanitaria do docente que lhe pareça estar invalido para
o serviço;
j) promover a reforma e melhoramentos necessarios ao ensino, submettendo-os á approvação do Governo, desde que exijam augmento de despeza;
k) resolver, finalmente, com plena autonomia, todas as questões de interesse
para os institutos de ensino, nos casos não previstos pela presente lei.
(...)
DIRECTORES - PROCESSO DE SUA ESCOLHA, SUAS ATTRIBUIÇÕES, SUAS
RELAÇÕES COM A CONGREGAÇÃO, SEUS DEVERES - DURAÇÃO DO SEU MANDATO
Art. 21. Cada instituto de ensino será dirigido por um director eleito pela
Congregação para um periodo de dous annos.
Art. 22. Em seus impedimentos o director será substituido pelo vice-director, que será sempre o director do periodo anterior.
Paragrapho unico. No Collegio Pedro II, além do vice-director, que será como
nos institutos de ensino superior, o director do ultimo biennio, cujas funções se limitarão a substituir o director nos impedimentos e faltas, haverá um chefe de disciplina para cada secção, de livre escolha e nomeação do director.
Art. 23. O substituto do vice-director será o professor mais antigo.
Art. 24. A eleição se realizará na ultima sessão da Congregação do segundo
periodo lectivo do anno em que se tiver de prover o cargo, obedecendo ao seguinte processo:
a) a eleição se fará por escrutinio, com cedula assignada ou não;
b) cada um dos professores lançará a cedula em uma urna fechada, cuja abertura
será feita depois pelo secretario, com a fiscalização do director em exercicio;
c) retiradas as cedulas e contadas, si o numero dellas corresponder ao dos votantes, proceder-se-ha á leitura dos nomes nellas contidos;
d) proclamado o computo dos votos, si não houver maioria absoluta no primeiro
escrutinio, os tres nomes mais votados serão submettidos a novo escrutinio, sendo proclamado director o mais votado; no caso de empate, a sorte decidirá;
e) si o eleito tiver razões para não acceitar o cargo, as manifestará á
Congregação, que procederá a nova escolha.
Art. 25. Só são elegiveis para o cargo de director os professores ordinarios.
Paragrapho unico. O director do periodo immediatamente anterior é inelegivel.
Art. 26. O director eleito tomará posse de seu cargo no primeiro dia util de janeiro, passando-lhe o antecessor a administração do estabelecimento e os respectivos sellos.
Art. 27. A posse será dada ao novo director em sessão solemne da Congregação,
especialmente convocada para tal fim pelo director em exercicio. Lida pelo secretario a acta da sessão da eleição, lavrar-se-ha o termo de posse, que será assignado pelo novo
director e pelos membros presentes á sessão, enviando-se cópia do acto ao presidente do Conselho Superior do Ensino.
§ 1º Todos os professores, mestres e demais funccionarios se apresentarão ao novo director dentro de um prazo maximo de tres dias.
§ 2º Após a posse, o novo director examinará a contabilidade e tomará conhecimento do estado da caixa do estabelecimento em presença do thesoureiro, lavrando-se um termo do que for encontrado. Tres cópias serão tiradas desse termo; uma
ficará em poder do thesoureiro e as outras duas serão entregues, respectivamente, ao director, cujo mandato termina, e áquelle que inicia a gestão.
Art. 28. Toda a parte administrativa ficará a cargo do director, havendo recurso
das suas deliberações para o Conselho Superior de Ensino.
Paragrapho unico. Ficando a parte didactica entregue á competencia exclusiva das Congregações, o director poderá, entretanto, appellar de qualquer resolução, quando a julgar prejudicial ao ensino, para o Conselho Superior, que dirimirá o conflicto,
mantendo a medida impugnada pelo director ou rejeitando-a.
Art. 29. Aos directores dos institutos compete:
a) convocar as sessões das Congregações, ás quaes presidirão; adiar ou resolver, usando do voto de qualidade, as questões em caso de empate;
b) administrar o patrimonio do instituto, de accôrdo com a Congregação e com
o Conselho Superior de Ensino;
c) velar pela exacta observancia das prescripções regulamentares concernentes á matricula, cursos, exames, etc.;
d) conceder licença a docentes e funccionarios administrativos até 15 dias;
e) impôr as penas disciplinares de sua competência e fiscalizar a execução das
penas que forem infligidas a discentes e docentes pelas outras autoridades;
f) designar, nas faculdades de direito e no Collegio Pedro II, um professor ordinario para as substituições temporarias;
g) resolver as duvidas acerca de requerimentos e representações que, por seu
intermedio, devam ser encaminhados;
h) assignar e carimbar, com o sello do instituto, os certificados, certidões e
attestados;
i) propôr ao Governo a nomeação do secretario, sub-secretario, thesoureiro, almoxarife, bibliothecario, sub-bliothecario e amanuenses;
j) nomear, licenciar e demittir, na fórma da presente lei, todos os demais
funccionarios do estabelecimento sob sua guarda;
k) assignar os titulos expedidos aos livres docentes;
l) visitar e fiscalizar aulas e laboratorios;
m) pedir á Congregação licença para contractar profissionaes estrangeiros para o ensino e solicitar do Governo, por intermédio do presidente do Conselho, a respectiva
autorização;
n) fixar e autorizar as despezas, fiscalizando as quantias pagas;
o) receber dos cofres da União, em notas bi-mensaes, as subvenções votadas para o custeio do estabelecimento que dirige.
Art. 30. No dia 31 de dezembro de cada anno, o director remetterá ao presidente
do Conselho Superior do Ensino um relatorio circumstanciado referente ao anno, no qual se saliente a marcha do ensino.
(...)
DO REGIMEN ESCOLAR - PERIODOS LECTIVOS, FÉRIAS, MATRICULA
E INSCRIPÇÃO NOS CURSOS DOS INSTITUTOS, NOS CURSOS LIVRES E NO COLLEGIO PEDRO II - FORMALIDADES A PREENCHER - TAXAS A PAGAR -
ÉPOCAS DE EXAMES
Art. 62. O anno escolar será dividido em dous periodos, a saber:
1º periodo: de 1 de abril, abertura dos cursos, a 31 de julho, seguido de 15 dias de Férias;
2º periodo: de 15 de agosto a 31 de dezembro, encerrando-se os cursos a 30 de novembro.
Paragrapho unico. Os exames se realizarão no ultimo mez do segundo periodo escolar, isto é, de 1 a 31 de dezembro, seguindo-se tres mezes de Férias.
Art. 63. A matricula terá logar nos 15 dias que antecedem á abertura dos cursos.
Art. 64. Para requerer matricula nos institutos de ensino superior os candidatos deverão provar:
a) idade minima de 16 annos;
b) idoneidade moral.
Art. 65. Para concessão da matricula, o candidato passará por exame que habilite a um juizo de conjuncto sobre o seu desenvolvimento intellectual e capacidade para emprehender efficazmente o estudo das materias que constituem o ensino da
faculdade.
§ I. O exame de admissão a que se refere este artigo constará de prova escripta em vernaculo, que revele a cultura mental que se quer verificar e de uma prova oral
sobre línguas e sciencias;
§ II. A commissão examinadora será composta, a juízo da Congregação, de professores do proprio instituto ou de pessoas estranhas, escolhidas pela Congregação, sob a presidencia de um daquelles professores, com a fiscalização, em ambos os casos,
do director e de um representante do Conselho Superior;
§ III. O exame de admissão se realizará de 1 a 25 de março;
§ IV. Taxas especiaes de exame de admissão serão cobradas, sendo do seu producto pagas as diárias dos examinadores.
Art. 66. Logo após matriculado, o alumno receberá um cartão de identidade
com as indicações e dizeres necessarios para que seja reconhecido como estudante.
Art. 67. No começo de cada periodo lectivo serão affixados, em logar apropriado, no recinto da faculdade, os programmas dos cursos de toda a corporação
docente.
Art. 68. O docente depositará na secretaria tantas listas quantos os cursos por elle projectados, indicando a materia delles e a taxa de sua frequencia, para que nellas se
inscrevam os alumnos que pretenderem frequental-os.
Art. 69. Para matricular-se, o alumno terá de contribuir com as seguintes taxas:
1ª, taxa de matricula;
2ª, taxa de frequencia dos cursos, por anno escolar.
Paragrapho unico. Os cursos privados serão remunerados, de accôrdo com as condições estabelecidas pelos professores e livres docentes.
Art. 70. No fim de cada periodo lectivo os alumnos apresentarão aos professores
e livres docentes, a cujos cursos assistiram, suas cadernetas, para que nellas attestem a frequencia.
Art. 71. A qualquer alumno é permittido transferir, no fim de cada periodo
lectivo, a matricula para qualquer faculdade do paiz, mediante requerimento ao director, que autorizar a transferência na respectiva caderneta.
Art. 72. O alumno deverá communicar á secretaria a sua residência e mudanças.
Art. 73. Para requerer matricula no Collegio Pedro II os Paes ou tutores dos
menores provarão:
a) que o candidado tem 12 annos de idade, no mínimo, e, para a secção do Internato, 14 annos, no maximo;
b) que se acha habilitado a emprehender o estudo das materias do curso
fundamental. Para isto o candidado se sujeitará a um exame de admissão, que constará de prova escripta em que revele conhecimento da lingua vernacula (dictado, analyses,
lexicologica e syntactiva) e prova oral, que versará sobre leitura com interpretação do texto, rudimentos da lingua franceza, de chorographia e de historia do Brazil, e toda a parte pratica da arithmetica elementar.
§ I. Os candidatos pagarão taxa de matricula e taxa de curso, que serão fixadas
no regulamento do Collegio.
§ II. O regulamento determinará o numero de alumnos gratuitos de cada secção do estabelecimento.
DISTRIBUIÇÃO DAS MATERIAS DOS CURSOS - PROCESSO DE
EXAMES - NATUREZA DAS PROVAS - MESAS JULGADORAS - DOCUMENTOS NECESSARIOS
Art. 74. As materias dos institutos serão distribuidas e leccionadas por series,
obedecendo a sua reunião e gradação ao nexo scientifico que ligarem, indo do mais simples ao mais complexo.
Art. 75. As materias serão professadas em conferencias, aulas theoricas e
praticas, de accôrdo com as necessidades pedagógicas. As Congregações, na ultima sessão que preceder á abertura dos cursos, organizarão os horarios.
Art. 76. Para effeito dos exames, ellas serão grupadas de fórma que o alumno só passe por tres provas: preliminar, basica e final.
Paragrapho unico. No Collegio Pedro II os alumnos passarão de uma serie para
outra por simples promoção e por exames finaes.
Art. 77. Nos institutos superiores as provas serão oraes e praticas, e no Collegio Pedro II, nos exames finaes, haverá, além dessas duas provas, a escripta.
Art. 78. As mesas examinadoras serão constituidas, nos institutos superiores,
pelos professores ordinarios e extraordinarios effectivos e pelos livres docentes que leccionarem, sob a presidência do mais antigo; no Collegio Pedro II as mesas dos
exames finaes, que se realizarão no Externato, serão formadas pelos dous professores da disciplina nas duas secções, sob a presidencia do director ou do vice-director ou de um professor; caso a disciplina só tenha um professor no estabelecimento, a Congregação
designará um outro para completar a commissão julgadora.
Art. 79. Para requerer inscripção de exame, o candidato apresentará:
a) caderneta de frequencia provando ter assistido a 30 lições por periodo lectivo,
no minimo;
b) taxa de exame.
Art. 80. No Collegio Pedro II não poderá fazer exames finaes e ser promovido o estudante que tiver 20 faltas em cada periodo lectivo.
Paragrapho unico. As médias bimensaes de aproveitamento e as notas de
conducta garantirão a promoção e concorrerão para o julgamento nos exames finaes.
Art. 81. Os profissionaes estrangeiros que queiram obter certificados de curso nas faculdades brazileiras se sujeitarão ás disposições regulamentares.
(...)
DOS CERTIFICADOS CONFERIDOS PELOS INSTITUTOS
Art. 124. O estudante que terminar as provas escolares receberá, mediante o
pagamento da taxa respectiva, o certificado que lhe competir, de accôrdo com os regulamentos especiaes.
(...)
Rio de Janeiro, 5 de abril de 1911. - Rivadavia da Cunha Corrêa.
Fonte: http://legis.senado.leg.br/sicon/
ANEXO 11 – UMA DAS CAPAS DA EQUIPARAÇÃO DOS ANOS 1930 COM
INFORMAÇÕES SOBRE A CIRCULAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO DENTRO
DO MESP
Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)
ANEXO 12 - DECRETO Nº 19.890, DE 18 DE ABRIL DE 1931 (REFORMA
FRANCISCO CAMPOS) – EXCERTOS EQUIPARAÇÃO
Dispõe sobre a organização do ensino
secundário
O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil,
DECRETA:
TÍTULO I
ENSINO SECUNDÁRIO
CAPÍTULO I
Dos cursos
Art. 1º O ensino secundário oficialmente reconhecido, será ministrado no Colégio Pedro II e em estabelecimentos sob regime de inspeção oficial.
Art. 2º O ensino secundário compreenderá dois cursos seriados: fundamental e
complementar.
(...)
Art. 4º O curso complementar, obrigatório para os candidatos à matrícula em determinados institutos de ensino superior, será feito em dois anos de estudo intensivo,
com exercícios e trabalhos práticos individuais, e compreenderá as seguintes matérias: Alemão ou Inglês. Latim, Literatura, Geografia, Geofísica o Cosmografia, História da Civilização, Matemática, Física, Química, História natural, Biologia geral, Higiene,
Psicologia e Lógica, Sociologia, Noções de Economia e Estatística, História da Filosofia e Desenho.
(...)
Art. 10. Os programas do ensino secundário, bem como as instruções sobre os
métodos de ensino serão expedidos pelo Ministério da Educação e Saude Pública e revistos, de três em três anos, por uma comissão designada pelo ministro e à qual serão submetidas as propostas elaboradas pela Congregação do Colégio Pedro II.
Art. 12. O ensino do curso complementar poderá ser ministrado nos
estabelecimentos oficiais de ensino secundário e nos estabelecimentos sob o regime de inspeção.
§ 1º Enquanto não houver número suficiente de licenciados pela Faculdade de
Educação, Ciências e Letras, com exercício no magistério em estabelecimentos de ensino secundário sob inspeção oficial, serão mantidos, anexos aos institutos superiores
oficiais ou equiparados, os cursos complementares respectivos.
§ 2º Os programas de ensino destes cursos, organizados e expedidos nos termos do art. 10, serão idênticos aos do Colégio Pedro II.
(...)
TÍTULO II
INSPEÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO
CAPÍTULO I
Dos estabelecimentos equiparados de ensino secundário
Art. 44. Serão oficialmente equiparados para o efeito de expedir certificados de
habilitação, válidos para os fins legais, aos alunos nele regularmente matriculados, os estabelecimentos de ensino secundário mantidos por governo estadual, municipalidade, associação ou particular, observadas as condições abaixo prescritas.
Art. 45. A concessão, de que trata o artigo anterior, será requerida ao Ministro da Educação e Saude Pública, que fará verificar pelo Departamento Nacional do Ensino se o estabelecimento satisfaz as condições essenciais de:
I, dispor de instalações, de edifícios e material didático, que preencham os
requisitos mínimos prescritos pelo Departamento Nacional do Ensino; II, ter corpo docente inscrito no Registo de Professores;
III, ter regulamento que haja sido aprovado, previamente, pelo Departamento Nacional do Ensino; IV, oferecer garantias bastantes de funcionamento normal pelo período mínimo de dois
anos.
Art. 46. Satisfeitas as condições do artigo anterior e paga a quota anual mínima de inspeção, ficará o estabelecimento em regime de inspeção preliminar por prazo não
inferior a dois anos.
Art. 47. O período de inspeção preliminar poderá ser prorrogado, a juizo do Conselho Nacional de Educação e por intermédio do Departamento Nacional do Ensino,
se o relatório referente ao período inicial de inspeção não for favoravel à sucessão imediata da equiparação.
Art. 48. A concessão da equiparação ou inspeção permanente se fará por decreto do Governo Federal, mediante proposta do Conselho Nacional de Educação, aprovada
por dois terços da totalidade dos seus membros.
Parágrafo único. A equiparação poderá ser requerida e concedida só para o curso fundamental ou para ambos os cursos, fundamental e complementar.
Art. 49. O Departamento Nacional do Ensino imporá ao estabelecimento de
ensino a penalidade de suspensão dos favores conferidos pela inspeção sempre que dos relatórios dos inspetores se tornar evidente a inobservância de qualquer das exigências
deste decreto.
§ 1º Da deliberação do Departamento Nacional do Ensino caberá recurso para o Ministro da Educação e Saude Pública dentro do prazo de 60 dias.
§ 2º Verificada a procedência dos motivos determinantes da penalidade imposta
cessará a inspeção preliminar ou permanente ou por decreto do Governo Federal, será cassada a equiparação se o estabelecimento estiver sob esse regime.
Art. 50. A quota anual de inspeção será de 12:000$0 para os estabelecimentos de ensino cujo número de matrículas não exceder de 200.
§ 1º O pagamento da quota, a que se refere este artigo será feito em duas prestações semestrais.
§ 2º Por matrícula excedente ao número indicado nesse artigo será paga, por quotas semestrais a taxa anual de 60$0.
CAPÍTULO II
Do serviço de inspeção
Art. 51 Subordinado ao Departamento Nacional do Ensino, é criado o serviço da inspeção aos estabelecimentos de ensino secundário, sendo seus orgãos, junto àqueles, os inspetores e os inspetores gerais.
Art. 52. Para os fins da inspeção os estabelecimentos de ensino secundário serão
grupados de acordo com o número de matrículas e com as distâncias e facilidades de comunicação entre eles constituindo distritos de inspeção.
Parágrafo único. O Ministro da Educação e Saude Pública, por proposta no
Departamento Nacional do Ensino, criará novos distritos, ou fará nova distribuição dos estabelecimentos de ensino por distrito, sempre que o aconselharem as exigências da inspeção.
(...)
Art. 54. Incumbe à inspeção velar pela fiel observância das disposições deste Decreto, que forem aplicaveis aos estabelecimentos de ensino sob o regime de inspeção preliminar ou permanente bem como das disposições dos respectivos regulamentos.
Art. 55 O inspetor remeterá mensalmente ao Departamento Nacional do Ensino,
em duas vias datilografadas, um relatório minucioso e de caráter confidencial, a respeito dos trabalhos de cada século e cada disciplina da sua secção nos estabelecimentos do
distrito.
§ 1º Duas vezes por ano deverá constar do relatório uma apreciação sucinta
sobre a qualidade do ensino ministrado, por disciplina em cada série, métodos adotados, assiduidade de professores e alunos, bem como sugestões sobre providências que devam
ser tomadas, caso se torne necessária a intervenção do Departamento Nacional do Ensino.
§ 2º O pagamento dos vencimento aos inspetores só será autorizado depois de
recebido o relatório do mês anterior.
Art. 56. Incumbe ao inspetor inteirar-se, por meio de visita frequentes, da marcha dos trabalhos de sua secção, devendo para isso, por série e disciplina:
a) assistir a lições de exposição e demonstração pelo menos uma vez por mês; b) assistir, igualmente, pelo menos uma vez por mês, a aulas de exercícios escolares ou
de trabalhos práticos dos alunos, cabendo-lhe designar quais destes devam ser arguidos e apreciar o critério de atribuição das notas;
c) acompanhar a realização das provas parciais, que só poderão ser efetuadas sob sua imediata fiscalização, cabendo-lhe ainda aprovar ou modificar as questões a serem propostas;
d) assistir às provas finais, sendo-lhe facultado arguir e atribuir nota ao examinando.
(...)
Art. 57. Aos inspetores da secção C compete ainda fiscalizar os exercícios de
educação física e as aulas de música, bem como verificar as condições das instalações materiais e didáticos do estabelecimento.
CAPÍTULO III
Dos inspetores
Art. 58. - Os inspetores são nomeados por concursos e, dentre estes, por acesso,
os inspetores gerais.
Art. 59. Para os efeitos da inspeção as disciplinas do ensino secundário serão distribuídas nas seguintes secções:
Secção A (Letras": Línguas (português, francês, inglês, alemão e latim) e
literatura.
Secção B (Ciências matemáticas, físicas e químicas): Matemática, Química, Geografia e Cosmografia e Desenho.
Secção C (Ciências biológicas e sociais): Geografia (política e econômica),
História da civilização História natural, Biologia geral e Higiene, Psicologia e Lógica, Sociologia e Noções de Economia e Estatística.
Art. 60. Os concursos, a que se refere o art. 58, versará sobre todas as disciplinas
da secção em que se inscrever o candidato a inspetor e, ainda, sobre Pedagogia geral e Metodologia das mesmas disciplinas.
§ 1º Para os candidatos à secção C haverá ainda prova sobre Higiene escolar e
educação física.
§ 2º Será também exigida prática de datilografia, devendo para isso ser datilografadas pelo candidato as provas escritas do concurso.
Art. 61. Para inscrever-se no concurso de inspetor deverá o candidato reunir os
requisitos:
a) ser brasileiro, nato ou naturalizado; b) ser maior de 22 anos e menor de 35;
c) apresentar atestado de idoneidade moral e de sanidade; d) apresentar certificado de aprovação entre todas as disciplinas do curso secundário.
Parágrafo único. A exigência da letra d) será substituída, oportunamente, por um certificado especial de estudos na Faculdade de Educação, Ciências e Letras.
Art. 62. O regimento interno do Departamento Nacional do Ensino disporá sobre a constituição das comissões examinadoras, natureza das provas, seu julgamento, bem
como o dos títulos exibidos e, ainda, sobre todo o processo do concurso.
§ 1º A natureza e o número das provas bem como o processo do concurso, serão modificados pelo Conselho Nacional de Educação, um ano após concluído o curso dos
primeiros diplomado pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras com habilitação para o exercício das funções de inspetor.
§ 2º Para inscrição em concurso, depois de modificação o processo a que se refere este artigo, será substituido o certificado da letra d) do art. 61 pelo do seu
parágrafo único.
(...)
Art. 65. O inspetor terá exercício, em cada distrito, pelo prazo de três anos consecutivo.
§ 1º A transferência de inspetores se fará anualmente, no período de Férias,
abrangendo de cada vez todos os da mesma secção didática.
§ 2º A designação do distrito, em que passará a servir o inspetor, será feita mediante sorteio.
§ 3º Para o inspetor que for designado o mesmo distrito em que vinha exercendo
suas funções, proceder-se -á novo sorteio.
Art. 66. É obrigatória, para o inspetor, a residência na sede do distrito em que
esteja em exercício
Fonte: http://legis.senado.leg.br/sicon/
ANEXO 13 – LISTAGEM DOS PROFESSORES COM EXPERIÊNCIA
PROFISSIONAL E DISCIPLINAS MINISTRADAS
Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)
ANEXO 14 – FORMULÁRIO PRÉ-FICHA CLASSIFICAÇÃO
Fonte: Processo de Equiparação, 1940 (MCMA)
ANEXO 15 – PLACA “DEUS ME VÊ”
Fonte: MCMA
ANEXO 16 – FICHA DE CLASSIFICAÇÃO
Fonte: BRASIL,1932 ( MCMA)
ANEXO 17 - PRIMEIRA IMAGEM DIVULGADA SOBRE O PROJETO DO
PRÉDIO DA VILA MARIANA
Fonte: Ecos 1928 (MCMA)