pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo ......regina célia rocha visita de animal de...
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Regina Célia Rocha
Visita de Animal de Estimação: proposta de atividade terapêutica
assistida por animais a pacientes internados em hospital oncológico
MESTRADO EM PSICOLOGIA
São Paulo
2015
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Regina Célia Rocha
Visita de Animal de Estimação: proposta de atividade terapêutica
assistida por animais a pacientes internados em hospital oncológico
MESTRADO EM PSICOLOGIA
São Paulo
2015
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
de Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção do título
de MESTRE em Psicologia Clínica – Núcleo de
Psicossomática e Psicologia Hospitalar, sob a
orientação da Prof.(a) Dr.(a) Denise Gimenez
Ramos
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Banca Examinadora
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Dedico este trabalho...
Aos meus PAIS Zilah e Raul (in memoriam), por serem exemplos de caráter e dignidade em minha vida. Com eles aprendi e compreendi os verdadeiros valores do ser humano. Mãe, eu agradeço por me ensinar a arte de AMAR e de DIVIDIR. Pai, obrigada por me ensinar a honestidade, a lealdade e a ser uma mulher forte. Os Senhores estarão sempre em meu coração. Deus, como sinto a falta dos dois!
Às minhas IRMÃS Alexandra, Débora, Márcia, minha diva Rafaela, meu
cunhado Éder, minha pequena, tão esperada e querida sobrinha Isabela, minhas queridas Tias Júlia e Célia (in memoriam) e Tias Zé e Cuca, bem como meus primos em especial ao primogênito da família Luís e a pedra mais preciosa da minha vida, Jade, pelo amor, carinho e apoio incondicional no momento das escolhas em minha vida.
À Professora Heloísa B. de C. Chiattone, com quem aprendi e aprenderei a
instigante área que é a Psicologia Hospitalar, a ética profissional em nossa atuação diária no Hospital, a doçura durante os atendimentos realizados aos pacientes em minha formação de Psicóloga Hospitalar, pelo incentivo de sempre e por nunca desistir de mim. E para minha pequena Kika que sempre expressou seu amor por mim e como a mãe ama e venera os animais.
Aos meus queridos e amados animais que fizeram parte de minha vida: Nikita,
Kala, Barão, Yrrana, Brown, Tobby, Lupa, Sharon, Tupi e Laláa. Muitas saudades! Aos meus ANIMAIS que estão comigo nesta jornada diária, a quem tanto amo:
Nininha, Kiara, Leão, Happy, Zé e Nina. Aos meus AMIGOS Tunica, Thelma, Jade, Salsa, Mario Sergio, André, Irene,
Thabata, Lucilene, Karine e Sergio Ricardo pela presença e paciência constante em meio às tempestades e turbulências. Vocês não me deixaram desistir e estiveram do meu lado nos dois piores momentos de minha vida, a perda de meus pais.
Aos pacientes e familiares do ICESP e a todos os outros que atendi ao longo
de minha carreira, cuja coragem e sabedoria me estimulam a ser uma profissional e pessoa melhor.
Obrigado por existirem... Amo Vocês!!!
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AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer primeiramente a DEUS pela saúde, superação, força, sabedoria
e resiliência construídas e proporcionadas durante esses anos com os quais percebi e compreendi que não basta sonhar, mas, sim, que é preciso lutar e se dedicar não apenas teoricamente, mas a entender a vida com os ganhos e perdas que ela traz consigo, bem como os pacientes e familiares como um todo, em sua constante fragilidade e, assim, realizar esta conquista há muito sonhada.
Aos pacientes com quem apreendi a dor frente a uma doença tão complexa e difícil,
que os deixam vulneráveis diante à possibilidade de morte. A toda minha família pela enorme paciência, dedicação e carinho nas horas mais
difíceis de minha vida. Amo vocês! A Prof.(a) Heloisa Benevides de Carvalho Chiattone pelas oportunidades
concedidas ao longo desses anos, por iniciar-me no campo da Psicologia Hospitalar com tanto amor e carinho. Pela dedicação a mim durante esse trabalho. Pelo amor, infindável paciência, compreensão e acolhimento que tivera ao longo desses 20 anos de convivência, cumplicidade e aprendizado. Obrigada minha eterna Mestra!!!
Á Prof.(a) Dr.(a) Denise Gimenez Ramos pela dedicação para que esse estudo
pudesse se realizar. Querida professora que me compreendeu, apoiou e incentivou durante esses três anos, os quais foram de muitas perdas e lutas, e que, mesmo em momentos difíceis, acreditou em mim e no meu potencial. Muito obrigado de coração!!!
Aos meus grandes amigos: Viviana, Thelma, Juliana/Harry/Rafaela, Yasmin, Jade,
Tunica, Daniela, Cristina, Mario Sergio, André, Lucilene, Irene, Therezina, Claudia, Juliana, Ana Maria, Karine, Thabata, Fátima, Luciana, Isabella, Elaine, Renan, Sergio Ricardo e Renata que muito me apoiaram no decorrer desse trabalho. E não poderia deixar de lembrar os meus queridos parceiros do GL420 Everton, Ivan, Vitor, Plínio, Roberto, Lucão, Lukt, Gary, Cauê, João e Piri que muito me divertiram e me apoiaram. Muito Obrigado!!!
Ao psicólogo Mario Sergio Balaboi Correia, meu irmão, meu terapeuta, meu amigo,
meu companheiro, meu tudo!!!! Se não fosse você junto de mim, principalmente nesses últimos seis meses, esse trabalho não teria concluído e minha saúde mental não estaria preservada.
Em especial ao meu grande amigo e chefe, Lorgio Henrique Diaz Rodriguez, que
muito contribuiu, apoiou e que, com sua competência como gestor, paciência, generosidade, compaixão, me incentivou durante o decorrer desse trabalho.
Á Equipe de Psicologia do Hospital São Luiz – Unidade Anália Franco em especial
às minhas queridas filhas Andrea, Helenice, Ana Paula e Nara, bem como meus pupilos Carol e Felipe, minha querida amiga Rachel e as plantonistas Jana, Malu, Thais C e Thais L, que sempre estiveram ao meu lado e representaram o serviço na minha ausência e prestaram assistência de excelência. Vocês são meus orgulhos!!!!
Ao Ariston dos Santos Pereira, meu amigo, meu irmão e namorado. Ficou tanto tempo
longe, mas que não poderia ter voltado em um momento e em um tempo melhor!!! Trouxe consigo o amor, a alegria e a esperança de uma vida melhor a partir do nosso reencontro. Com isso ganhei o Davi, o garotinho mais lindo e apaixonante que conheci.
Um grande beijo e abraço a todos!
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“O amor em sua essência rompe fronteiras... E, não há amor, dedicação e lealdade
maior do que do animal para com o seu dono - ou seria o seu humano de estimação?...
Ele nunca nos abandonará diante de uma dificuldade... Estará ao nosso lado, mesmo
sem comida ou no frio... E mesmo que nós o expulsemos, ele continuará alí por perto, no
aguardo de uma pequena possibilidade para regressar... Ele estará conosco sem
cobrança pelo nosso amor, carinho, atenção ou dedicação... receberá aquilo que lhe
oferecermos... Porque ele nos ama como somos e nos aceita com nossas imperfeições...
Sempre... Incondicionalmente!... Em seu companheirismo... Pronto para brincar e para
nos alegrar... Como uma aliança ou um diamante que não se desfaz nem mesmo com
uma queda... Diamante que escolhemos para a nossas vidas... E, se um dia morrermos,
ele ficará triste em seu luto pela nossa falta...”
Mario Sergio Balaboi Correia
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“Os que confiam no Senhor recebem sempre novas forças, voam nas alturas como
águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam.”
Isaias 40:31
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 01
1.1. A ESCOLHA DO TEMA...................................................................................... 01
1.2 BREVE HISTÓRICO............................................................................................ 03
1.3 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 07
1.3.1 Interação homem e animal...................................................................... 08
1.3.2 Definições de ATAA e sua implantação.................................................. 09
1.3.3 ATAA em saúde mental.......................................................................... 11
1.3.4 ATAA em crianças.................................................................................. 15
1.3.5 ATAA em idosos..................................................................................... 19
1.3.6 ATAA em doenças orgânicas................................................................. 21
1.4 PSICOSSOMÁTICA E PSICO-ONCOLOGIA................................................... 23
1.5 ATAA EM ONCOLOGIA..................................................................................... 31
02. OBJETIVOS......................................................................................................................... 35
03. MÉTODO.............................................................................................................................. 35
3.1 PARTICIPANTES..................................................................................................... 35
3.2 INSTRUMENTOS PARA A COLETA DE DADOS................................................. 36
3.3 LOCAL DE OBSERVAÇÃO E DURAÇÃO............................................................. 37
3.4 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA..................................................................... 37
3.5 PROCEDIMENTO.................................................................................................... 38
3.6 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS........................................................ 40
04. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................... 41
05. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 87
06. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 90
ANEXOS:
ANEXO 1: Histórico do ICESP – Missão, Visão, Valores e Compromisso .............................. 103
ANEXO 2: Escala de Estresse EVA.......................................................................................... 104
ANEXO 3: Escala de Dor EVA ................................................................................................. 105
ANEXO 4: Questionário – Relação Paciente x Animal de Estimação ...................................... 106
ANEXO 5: Entrevista Semiestruturada ..................................................................................... 107
ANEXO 6: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ............................................ 108
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Resumo
A Visita de Animal de Estimação acontece nessa instituição desde 2011, sendo
coordenada pelos profissionais da Equipe de Psicologia Hospitalar com Especialização
em ATAA. Nessa atividade, o animal é parte integrante do tratamento psicológico do
paciente, como referência de cuidado e conforto, condições primordiais para o
enfrentamento do câncer. O animal pode ser a referência para melhorar a qualidade de
vida durante o tratamento e a hospitalização, traduzindo o forte vínculo existente nessa
relação em medidas de cuidado. Ter a oportunidade de ver seu animal de estimação –
mesmo que pela última vez – traz um sentido, oportunizando a ressignificação do
adoecer e da vida – com efeitos terapêuticos reparadores e renovadores. Este trabalho
teve como objetivo observar os efeitos da ATAA, aqui caracterizada como ‘Programa
de Visita de Animais de Estimação’, em um grupo de três pacientes com doenças
oncológicas, internados no ICESP – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo –
Otávio Frias de Oliveira, comparando-os com a literatura sobre a ATAA. Em
concordância com a literatura (Brickel, 1984; Struckus,1989; Wall, 1994;
McVarisch,1995; Panzer-Koplow, 2000; Sorrell, 2006; Souter & Miller, 2007),
constatamos a eficácia do Programa Visita de Animais de Estimação do ICESP na
melhora e equilíbrio do estado psicológico de pacientes oncológicos e familiares,
realçando seus recursos de enfrentamento, melhora da qualidade de vida de seus
pacientes e familiares, incremento de resiliência, a minimização de manifestações
psíquicas e comportamentais que interferem no tratamento e hospitalização, redução
do estresse, da dor e isolamento inerentes ao processo (DIEFENBECK, BOUFFAR,
MATUKAITIS, HASTINGS, E COBLE, 2010; HOROWITZ, 2010). Dessa forma, o
Programa Visita de Animais de Estimação ao ICESP vem comprovar a teoria que, sem
dúvida, há uma grande necessidade de se re-humanizar as práticas em saúde,
desenvolvendo-se e fornecendo-se recursos humanísticos para o cuidado. E isso não
apenas por uma questão ética mas sim pela urgente necessidade na área de saúde de
passar do paradigma da conquista ao paradigma do cuidado.
Palavras Chaves: Oncologia, Psicologia, Terapia Assistida por animais, dor e estresse
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Abstract
The pets visit has been coming in this institution since 2011 and professionals in
Health Psychology Team with specialization in ATAA coordinate it. The animal is part
into the psychological treatment of patients, such as care and comfort references, basic
conditions to cope with cancer. The animal may be a reference to improve the quality of
life during treatment and hospitalization, reflecting the strong bond that exists in the
relationship, in care measures. Have the opportunity to see the pet, even if for the last
time brings a sense, providing opportunities on reframing illness and life - through
mendering and renewing therapeutic effects. This study aimed to observe the effects of
ATAA, here characterized as 'Pets for Business Programme', in a group of three
patients with oncological diseases, admitted to ICESP - Institute of São Paulo State
Cancer - Frias Octavius Oliveira, comparing them to the literature on the ATAA.
According to literature (Brickell, 1984; Struckus, 1989; Wall, 1994; McVarisch, 1995;
Panzer-Koplow, 2000; Sorrell, 2006; Souter & Miller, 2007), the effectiveness of
Animals Visit Program ICESP improves and balances the psychological state of cancer
patients and their families, enhancing their coping resources on life quality improvement
both patients and their families, increasing resilience which minimizes psychologic and
behavioral symptoms that interfere into treatment and hospitalization, reducing stress,
pain and isolation inherent in the process (DIEFENBECK, BOUFFAR, MATUKAITIS,
HASTINGS, and COBLE, 2010; HOROWITZ, 2010). Thus, the Animals Visit Program to
ICESP confirms the theory there is a great need to re-humanize health practices,
developing and providing up humanistic resources for care. It is not just an ethical issue
but also rather an urgent need in healthcare paradigm.
Key words: oncology, psychology, animal assisted therapy, pain and stress.
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01. INTRODUÇÃO
1.1. A ESCOLHA DO TEMA
Ao cursar o quinto ano de graduação, em 1996, escolhi a disciplina
Estratégias de Intervenção Psicológica - Psicologia Hospitalar na UNIP –
Universidade Paulista. A partir daquele ano iniciei minha atuação hospitalar, mais
especificamente na área da onco-hematologia, especialidade médica voltada ao
tratamento de doenças do sangue, tais como leucemias, linfomas e mielomas
múltiplos. Concluída a faculdade, cursei especialização em Psicologia da Saúde e
Hospitalar no Hospital Brigadeiro pelo Nêmeton (Centro de Estudos e Pesquisas em
Psicologia e Saúde). Desde então venho atuando nessa área, mais especificamente
em Psico-Oncologia.
Durante estes 19 anos de atuação na área, minha paixão por animais
(especialmente cães) e pela Psicologia me levaram a cursar também a
Especialização em Atividade/Terapia Assistida por Animais (ATAA). Atualmente
trabalho como psicóloga de referência em Hematologia no Instituto do Câncer do
Estado de São Paulo (ICESP) Octavio Frias de Oliveira (ANEXO 1)1. Meu projeto de
pesquisa envolve as áreas de Psico-Oncologia e ATAA, a partir de atividade que já
desenvolvo no ICESP: a atividade terapêutica assistida por animais – Visita de
Animal de Estimação.
A Visita de Animal de Estimação acontece nessa instituição desde 2011,
sendo coordenada pelos profissionais da Equipe de Psicologia Hospitalar com
Especialização em ATAA. Dela participam profissionais das áreas Médica, Serviço
Social, Enfermagem, Farmácia, Nutrição, Fisioterapia, Segurança, Bombeiros e
Zeladoria.
Nessa atividade, o animal é parte integrante do tratamento psicológico do
paciente, como referência de cuidado e conforto, condições primordiais para o
1 Disponível em: .
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enfrentamento do câncer. O animal pode ser a referência para melhorar a qualidade
de vida durante o tratamento e a hospitalização, traduzindo o forte vínculo existente
nessa relação em medidas de cuidado. Ter a oportunidade de ver seu animal de
estimação – mesmo que pela última vez – traz um sentido, oportunizando a
ressignificação do adoecer e da vida – com efeitos terapêuticos reparadores e
renovadores.
No desenvolver deste estudo será apresentado um breve histórico sobre a
utilização de animais com objetivos terapêuticos, seguido de pesquisas envolvendo
a ATAA e da fundamentação teórica que embasa essa modalidade de atuação. Será
também abordada a Psicossomática e a Psico-Oncologia como uma área específica
da mesma, pesquisas envolvendo a ATAA e a Oncologia.
Os capítulos seguintes tratam de um breve histórico sobre a ATAA e uma
revisão de literatura e as pesquisas sobre a ATAA.
1.2 BREVE HISTÓRICO
A ATAA é definida como uma forma de terapia que envolve o uso de um
animal como parte fundamental do tratamento do paciente. Dentre os animais mais
utilizados está o cachorro, seguido pelo gato. Recorre-se também a outros animais
de pequeno porte (coelhos, pássaros, peixes, gerbil2), mas os de grande porte
também são usados, principalmente os cavalos – como na ecoterapia; além de
animais exóticos tais como elefantes, golfinhos e lagartos (FINE, 2010).
Esse tipo de atividade baseia-se na existência do vínculo amoroso entre o
homem e o animal. Tuner (2007, apud FINE; BECK, 2010, p. 5) pontua que o vínculo
homem/animal é um fenômeno bem documentado que teve início com a
domesticação dos animais pelo homem. Com essa aproximação, a força de ligação
entre ambos acabou permitindo que os animais de estimação se tornassem
membros da família.
2 Esquilo da Mongólia: para maiores informações, ver site .
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O Comitê de Vínculo Homem/Animal da Associação Americana de Medicina
Veterinária (FINE; BECK, 2010) definiu esse vínculo como “uma relação de benefício
mútuo entre pessoas e animais, que é influenciada por comportamentos os quais
são essenciais para a saúde e bem-estar de ambos. Isto inclui, mas não pode
limitar-se a isso, a interação psicológica e física com outras pessoas outros animais
e o meio ambiente”.
Podemos encontrar vários relatos sobre a importância dos animais na
socialização e na mudança de comportamento dos humanos. A ligação entre
homens e animais teve início na pré-história, quando os lobos costumavam
aproximar-se dos acampamentos pré-históricos para se alimentarem dos restos de
comidas e carcaças provenientes das caçadas empreendidas pelos homens, em
contrapartida alertando-os sobre a presença de animais selvagens (outros lobos e
grandes felinos) nos arredores dos acampamentos.
Inicialmente o homem trouxe os animais da fazenda para os seus quintais, e
os poucos eles foram sendo admitidos dentro das casas. A seguir incluímos um
breve histórico dessa interação homem/animal no que se refere aos benefícios da
utilização de animais em reabilitação, socialização e melhora clinica de pacientes
acometidos por alguma comorbidade:
Em 1699, já havia relatos de contatos com animais, especialmente com
crianças, para fins de socialização. Nesse aprendizado, os pequenos
refletiam e exercitavam o senso de responsabilidade para com os outros
seres vivos;
No século XVIII, teorias sobre a influência positiva dos animais de
estimação também começaram a ser aplicadas a doenças mentais. Isto
ocorreu na Inglaterra, em um centro denominado Retiro de York, que
recorria à utilização de vários animais domésticos para encorajar pacientes
a escreverem, lerem e se vestirem. Nesse mesmo centro, em 1792, William
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Tuke3 fez uso de animais da fazenda para o tratamento de pessoas
doentes;
Em 1830, no hospital inglês Betheen, programas de caridade já apontavam
os animais como precursores de uma atmosfera mais leve para os
pacientes com doenças mentais;
No ano de 1867 em Bethel–Bielefeld, na Alemanha Ocidental, animais
foram utilizados para o tratamento de epiléticos;
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Cruz Vermelha da cidade de Nova
Iorque fez uso de animais na reabilitação de soldados. O programa
utilizava cães, cavalos e animais da fazenda para entretenimento durante
os programas terapêuticos (DOTTI, 2005).
Nos anos 50, no Rio de Janeiro (RJ), Nise da Silveira, psiquiatra e aluna de
Cal Gustav Jung, implementou a utilização de animais em um hospital psiquiátrico. A
médica era radicalmente contra as formas agressivas de tratamento de sua época,
tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, o eletrochoque, a
insulinoterapia e a lobotomia. Ao discordar dos tratamentos tradicionais empregados
no hospital em que trabalhava, acabou sendo transferida para a Seção de Terapia
Ocupacional, cujas atividades se resumiam a tarefas de limpeza e manutenção do
hospital. Locada nesta área hospitalar, Nise revolucionou o tratamento clínico dos
pacientes ao criar ateliês de pintura e modelagem. Inovou assim a maneira de tratar
os doentes mentais, utilizava técnicas artísticas – pintura e desenho – como terapia.
As obras criadas por seus “clientes” colaboram para comprovar as teorias de Jung
sobre o inconsciente coletivo (FERREIRA, 1996).
3 William Tuke (1732-1822), negociante e filantropo inglês, autor do projeto do York Retreat,
instituição famosa pelas tentativas corajosas de manter os doentes mentais sem restrições excessivas, que na época eram entendidas como essenciais. Disponível em: .
http://pt.wikipedia.org/wiki/%20William_Tuke
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Nise da Silveira foi pioneira na pesquisa das relações emocionais entre
pacientes e animais, qualificando estes últimos como co-terapeutas. Ao recorrer a
animais na terapia de pacientes internos em um hospital psiquiátrico, percebeu a
facilidade com que esquizofrênicos se vinculavam aos cães. A médica destacou a
importância de o paciente contar com a presença não invasiva de um co-terapeuta,
tendo-o ao seu lado como um ponto de apoio seguro e organizando-se
psiquicamente a partir dele. Ela enfatizou o papel dos animais como excelentes
catalisadores, pois reúnem qualidades que os torna aptos a se tornarem pontos de
referência estáveis no mundo externo, facilitando-lhes a retomada de contato com a
realidade (CÂMARA, 2002).
Boris Levinson (1969), considerado por muitos como o pai da terapia assistida
por animais, foi o primeiro psicoterapeuta infantil a estudar, pesquisar e publicar
dados sobre o poder benéfico dos animais na reabilitação da saúde mental de
crianças (KRUGER; SERPELL, 2010).
Em um certo dia, por acaso, Levinson levou seu cão da raça labrador ao
consultório; entre os pacientes programados para atendimento estava um autista.
Para grande surpresa do médico, o cão Jinglers obteve o que Levinson vinha
tentando há várias sessões: contato com a paciente, que quase imediatamente
passou a se expressar na presença do co-terapeuta. Dali para adiante Levinson
adotou a utilização permanente do seu pet em consultas, principalmente com
pacientes autistas (KRUGER; SERPELL, 2010).
Sobre o termo designado para essa modalidade de atuação com animais, o
autor La Joile apresenta em sua revisão uma multiplicidade de termos e definições
que tendem a gerar confusão dentro e fora do seu campo de atuação. Com a
intenção de padronizar essa terminologia, a Delta Society, uma grande organização
responsável pela certificação da terapia com animais no EUA, instituiu e publicou a
terminologia utilizada até os nossos dias: ATAA (Atividade/Terapia Assistida por
Animais (LA JOILE, 2003, apud KRUGER; SERPELL, 2010).
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1.3 REVISÃO DE LITERATURA
Desde o seu início, a ATAA foi marcada pela falta de pesquisas relacionadas
à comprovação de sua eficácia, além de uma observação direta da atividade.
Este capítulo objetiva revisar 50 produções científicas referentes a essa
prática nos últimos dez anos, dividida em dois eixos temáticos:
a) artigos relacionados à teoria da ATAA;
b) artigos pertinentes à relação homem-animal e sua eficácia no tratamento
de crianças, idosos, saúde mental e pacientes com câncer, além da revisão
das obras de Fine (2010) e Chandler (2012).
Foi pesquisado no Google Acadêmico os periódicos indexados nas bases de
dados Pubmed e Medline, entre os anos 2000 e 2014, e algumas pesquisas
relevantes nas décadas de 80 e 90. Utilizamos como base de pesquisa as seguintes
palavras-chave: human-pet attachment, pet-facilitated therapy, animal-assisted
therapy e canine visitation therapy.
Pudemos observar que, a partir de 2005, houve um significativo aumento no
número de publicações, com o objetivo de construir, conceituar e validar essa
atividade, além de uma preocupação com a eficácia dessa abordagem terapêutica.
Os fundamentos terapêuticos dessa nova prática encontram-se relatados
nesses artigos, realçando a relevância da relação homem-animal.
Em todos os textos levantados, é nítido o cuidado em estabelecer critérios
científicos, formais e coerentes com o ambiente de visitação e implantação da
ATAA, normatizando o processo em patamar com rigor e cuidado adequados.
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1.3.1 Interação homem e animal
Pesquisas foram realizadas com o intuito de verificar os efeitos
advindos da interação entre homem e animal na ATAA. Odendaal (2000)
mensurou alterações significativas nos níveis de vários marcadores
neuroquímicos presentes no sangue após uma interação positiva e agradável
com um cachorro não familiar. Marcadores neuroquímicos foram associados à
baixa de pressão arterial quando esta se revelava elevada, tendo ocorrido um
aumento significante nos níveis de endorfina, ocitocina, prolactina e dopamina
tanto nos humanos quanto nos cachorros. O cortisol, hormônio associado
com o aumento dos níveis de estresse, registrou significativa baixa em
humanos, ao passo que não ocorreu alteração expressiva nos cachorros.
Shore, Douglas & Riley (2005) ressaltaram que a investigação sobre a
ligação entre homem e animal tem focado principalmente nas vantagens
auferidas pelo ser humano. Os autores investigaram comportamentos de
cuidadores (proprietários) de animais de companhia e examinaram a relação
entre tais comportamentos e bem-estar. Participaram desse estudo 501
pessoas, em grande parte mais velhas, casadas e empregadas em tempo
integral, e estudantes universitários, todos convivendo com um cão ou um
gato. Quase todos os sujeitos da pesquisa relataram envolvimento em
comportamentos de cuidados essenciais como alimentação, higiene e
passeio. Os resultados sugerem que, além de benéficos aos animais de
estimação, esses cuidados favorecem especialmente os seres humanos, pois
na maioria das vezes tais comportamentos estão associados a hábitos
saudáveis, como por exemplo a caminhada.
Nagasawa et al. (2009) desenvolveram pesquisa relacionada ao
hormônio oxitocina (OT) e à interação cão-dono. Neste estudo foi mensurada
a quantidade de OT presente na urina dos proprietários. Quando estes
mantinham mais tempo o olhar fixo em seu cão durante a interação, maior era
a presença de ocitocina em sua urina. Os autores relataram que esse olhar é
a representação do apego social dos proprietários com seus cães, tendo
concluído que as interações com os cães podem contribuir para o aumento
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das concentrações urinárias OT dos proprietários, como uma manifestação do
comportamento de apego.
Nesse sentido, Zilcha-Mano, Mikulincer & Shaver (2011) propuseram
um modelo de terapia assistida por animais (ATAA) com base na teoria do
apego e nas características únicas que se baseiam no relacionamento
humano-animal de estimação. Os autores sugerem que essa modalidade de
intervenção pode desenvolver padrões mais adaptativos de apego e modos
mais saudáveis de se relacionar com os outros, além de tornar mais salutares
os recursos de enfrentamento.
1.3.2 Definições de ATAA e sua implantação
Em relação à conceituação da ATAA, Machado et al. (2008) a definiram
como uma prática com critérios específicos, na qual o animal é parte principal
do tratamento e objetiva promover a melhora social, emocional, física e/ou
cognitiva dos beneficiados por essa terapêutica. Os autores partiram do
princípio de que o amor e a amizade que podem surgir entre seres humanos e
animais podem gerar inúmeros benefícios, pois esse vínculo pode servir como
auxílio no tratamento e na reabilitação de diversas patologias como
síndromes genéticas, hiperatividade, depressão, mal de Alzheimer e lesão
cerebral, entre outras.
Kobayashi et al. (2009) apresentaram um de seus projetos de
humanização hospitalar – o Projeto Amicão – com base nos resultados em
um trabalho desenvolvido pela Diretoria de Enfermagem do Hospital São
Paulo, da Universidade Federal de São Paulo, com vistas ao desenvolvimento
e à implantação da Terapia Assistida por Animais. Com o objetivo de
proporcionar aos pacientes uma experiência positiva que diferisse da rotina
do ambiente hospitalar, algumas unidades do Hospital São Paulo receberam
a visita de um animal nas sessões de ATAA. Em dois anos de funcionamento
do projeto, seus resultados puderam ser auferidos através dos relatos de
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pacientes e profissionais. Anotações em registros de enfermagem,
prontuários médicos e avaliações de estágio forneceram efeitos expressivos
em relação à presença de Joe (cão de trabalho) nas unidades visitadas e sua
importância no processo de humanização da assistência. Todos os pacientes
relataram a alegria e a expectativa com que aguardavam a chegada de Joe:
durante as visitas na pediatria, as crianças paravam de chorar e os adultos
ficavam enternecidos e entusiasmados. Na maioria dos relatos a presença de
Joe alegrava e quebrava a rotina do dia a dia dos pacientes e da unidade.
O Projeto Amicão é hoje referência no processo de humanização da
assistência no Hospital São Paulo. Todavia, é fundamental a realização de
mais estudos sobre a Terapia Assistida com Animais e seus benefícios para a
saúde dos pacientes. Para tanto, faz-se necessário estudar e verificar a
diminuição dos sinais e sintomas de pacientes assistidos por essa terapia, tais
como a diminuição da pressão arterial e da dor, a melhoria na adesão ao
tratamento e o alívio dos sintomas de ansiedade e depressão.
Como o Projeto Amicão, existem várias ONGs (organização não
governamental) envolvidas e que promovem a ATAA, uma delas é a “Delta
Society”, estabelecida nos EUA, que tem como missão melhorar a saúde de
uma pessoa por meio de interações positivas com os animais, aproveitando o
vínculo existente entre ambos, e se utilizando da ATAA (Delta Society, 2011).
A ATAA se caracteriza por ser um modelo que envolve um paciente, um
animal altamente treinado, um terapeuta, com objetivo de alcançar resultados
terapêuticos específicos. Os animais de estimação são considerados os "co-
terapeutas", ou facilitadores de terapia (ZILCHA-MANO, MIKULINCER, E
SHAVER, 2011).
A proposta mais completa da sistematização da ATAA está
contemplada em Silveira, Santos & Linhares (2011), ao afirmarem que, para
evitar acidentes e zoonoses, a permissão para que os animais visitem uma
instituição exige um protocolo contendo normas e rotinas de segurança. Os
autores ressaltaram que é fundamental que a entrada dos animais em uma
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unidade hospitalar seja realizada sob normas e critérios de segurança, e que
tais critérios sejam claros e realizáveis por todos os participantes. Em nosso
entender, os riscos clínicos podem ser minimizados com a adoção de um
protocolo, pois permitem o controle de infecções e reduzem os acidentes
potencialmente. A inclusão de novos conceitos na assistência aos pacientes
foi, e continua sendo, um desafio não só para a Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar das instituições hospitalares, mas também para seus
profissionais e administradores.
1.3.3 ATAA em saúde mental
Segundo McCulloch (1981), os animais ajudam os indivíduos a
enfrentar e conviver com depressão e doenças físicas, oferecendo amizade,
uma sensação de segurança, e melhora no sentimento de solidão,
promovendo bem-estar.
Akiyama, Holtzman e Britz (1996) entrevistaram mulheres que tinham
ficado viúvas recentemente, e aquelas que possuíam animais de estimação
apresentaram um menor índice de uso de drogas e menos sintomas
psiquiátricos do que aqueles que não possuíam animais de estimação.
Baker & Dawson (1998) relataram o uso bem sucedido de uma única
sessão de ATAA na redução da ansiedade em pacientes psiquiátricos
internados com distúrbios psicóticos, transtornos do humor e outros
distúrbios. No grupo de controle foi realizada uma única sessão de recreação
terapêutica, sendo apontada uma diminuição de ansiedade somente nos
pacientes com transtornos do humor. Como resultado, os autores concluíram
que a ATAA é eficaz na redução dos níveis de ansiedade em pacientes com
uma variedade de diagnósticos psiquiátricos.
Os animais trazem um sensação de familiaridade para os paciente
hospitalizados ou para os que vivem em instituições de cuidados de saúde.
-
12
Souter & Miller (2007) conduziram meta-análise para determinar a eficácia da
ATAA na redução de sintomas depressivos em seres humanos. Critérios de
inclusão foram estabelecidos, pelos quais o estudo deveria: (a) ser
necessariamente randomizado, incluindo comparações ou grupos de controle;
(b) utilizar a ATAA; e (c) adotar como medida o autorrelato da depressão.
Cinco estudos foram identificados para a análise: Brickel (1984), McVarisch
(1995), Panzer-Koplow (2000), Struckus (1989) e Wall (1994). Como
resultado, os pesquisadores concluíram que a extensão dos efeitos
agregados nesses estudos foi de magnitude média, estatisticamente
significativa, indicando que ATAA está associada à diminuição dos sintomas
depressivos.
Em outro estudo, Windom e cols (2009) entrevistaram 177 adultos com
uma doença mental grave e descobriram que a convivência com animais de
estimação cooperava na recuperação desses pacientes através do
fornecimento de empatia com algo vivo e faziam conexões que aumentaram
as redes sociais, serviam como companhia quando a família estava ausente,
e era um importante o apoio da auto-eficácia e um senso de posse, o que
fortalecia as relações e conseqüentemente o estado emocional desses
pacientes.
Segundo Smith (2009) existem também pesquisas sobre a relação
entre ter um animal de estimação e bem-estar mental de forma mais geral.
Um estudo sobre o impacto da ATAA em pacientes psiquiátricos demonstrou
reduções significativas na ansiedade segundo Barker, S.; Dawson, K (1998),
a ATAA diminuiu o comportamento violento, e aumento da linguagem e
habilidades sociais em crianças com TDAH na pesquisa de Nagengast e cols
(1997). No entanto, segundo Windom e cols (2009) a responsabilidade pelo
cuidado do animal de estimação pode agravar problemas de saúde mental.
As instalações que incluem ATAA em seus programas de assistência,
melhoram a qualidade de vida, a motivação e reduzem o isolamento
(Diefenbeck, Bouffar, Matukaitis, Hastings, e Coble, 2010; Horowitz, 2010).
Além dos benefícios físicos e emocionais para os pacientes, e as equipes
-
13
envolvidas, ATAA traz também um benefício custo-efetivo, ou seja, uma
proposta eficaz com baixo custo e modificando positivamente o ambiente do
tratamento. É fato que a presença de animais de estimação em ambientes
hospitalares melhoram a relação paciente-equipe, pois fornecem também á
equipe uma forma diferente de apoio e conforto, o que e torna suas jornadas
de trabalho um pouco menos estressantes (BANKS & BANKS, 2002;
CHINNER, 1991; REED, FERRER, E VILLEGAS, 2012) .
Na investigação de terapias com a utilização de cães, Barker et al.
(2010) obtiveram como padrão de resposta o amortecimento do estresse no
comportamento dos pacientes. Para tanto, os autores se valeram dos
seguintes instrumentos: questionário de estresse, observação da interação
paciente-cachorro, marcação da pressão e dos batimentos cardíacos, além da
medição de cortisol e amilase alpha na saliva e do autorretrato do paciente
em relação ao encontro com o cachorro. Os resultados revelaram um
aumento moderado com o estressor e a redução do valor basal de cortisol na
saliva, da pressão arterial, dos batimentos cardíacos e da ansiedade auto-
referida.
Cirulli et al. (2011) analisaram a influência da interação homem-animal
para a saúde humana. Embora sejam encontrados alguns estudos com
deficiências metodológicas, pesquisas começam a abordar os mecanismos
por trás do vínculo humano-animal. Os autores constataram que os animais
domésticos absorvem a atenção das pessoas e exercem uma influência
calmante ou excitante, além de serem capazes de responder a
demonstrações de afeto, provocando assim um comportamento pró-social e
seus consequentes efeitos positivos; desse modo, funcionam como uma
ponte para mediar interações emocionais em contextos terapêuticos. O
mesmo estudo apontou a necessidade de uma maior compreensão das
técnicas que melhor se coadunam com o tratamento de cada paciente; da
importância de se promover uma formação adequada e específica de todos
profissionais envolvidos; e da importância das pesquisas em ATAA, a fim de
se estabelecer metodologias padronizadas visando reunir dados significativos
-
14
que confirmem a ATAA como uma ferramenta em potencial para utilização no
tratamento de pacientes de saúde mental.
Em um estudo com pacientes psiquiátricos, Berget & Braastad (2011)
ressaltaram como a terapia assistida por animais pode afetar os resultados de
enfrentamento de pessoas com transtornos psiquiátricos, principalmente
ansiedade e depressão, assim como melhorar o apoio social e a qualidade de
vida destas. Diversos estudos da área apontam uma redução nos níveis de
depressão quando esse tipo de intervenção é utilizado.
Aguiar & Silva (2011) relataram trabalho desenvolvido pela Faculdade
de Odontologia de Araçatuba, juntamente com o Curso de Medicina
Veterinária, ambos da UNESP. Trata-se do Projeto de Extensão Cão Cidadão
UNESP, implementado em algumas entidades de Araçatuba, incluindo o
Centro de Assistência Odontológica à Pessoa com Deficiência (CAOE-
UNESP), popularmente conhecido como Centrinho, em um trabalho
multidisciplinar que envolve profissionais e alunos da área da saúde.
O projeto Cão Cidadão UNESP visa o desenvolvimento de atividades
em prol da amenização do estresse, do medo e da ansiedade que costumam
acometer pacientes com deficiência nos momentos que antecedem o
atendimento odontológico. A equipe realiza procedimentos tais como passeios
com os cães juntamente com os pacientes, escovações dentais nos cães para
que os pacientes possam visualizar, aprender e se motivar em relação aos
procedimentos odontológicos, e o ato de vestir os animais com alguns
acessórios – como roupa branca, gorro e máscara –, visando a associação
com a imagem do dentista de modo a tornar essa relação mais amena e
acolhedora.
Com base em suas observações das reações positivas e do
comportamento dos pacientes, Aguiar & Silva (2011) puderam afirmar que,
após participação nesse projeto, houve uma melhora significativa com relação
à interação social e à socialização, com aumento da autoestima e até mesmo
da comunicação verbal, pois os pacientes tendem a se soltar e a melhor
-
15
interagir com as demais pessoas, além de aceitarem com maior naturalidade
o tratamento odontológico no Centrinho.
Ainda em relação aos estudos da relevância terapêutica em saúde
mental, Fike, Najera & Dougherty (2012) descreveram um trabalho com a
utilização de cães na ATAA, desenvolvido por um período de cinco anos pelo
Exército dos EUA nas unidades de combate de controle de estresse, junto
aos soldados norte-americanos que serviam no Iraque. Em seu artigo, os
autores relataram a experiência de três terapeutas ocupacionais do Exército.
Um dos aspectos mais difíceis para a implantação de qualquer atividade em
uma zona de guerra é o fato de que os membros do serviço estão longe da
família e entes queridos durante tempos difíceis e altamente estressantes. A
presença de um cão de terapia nessa situação ofereceu aos membros do
serviço a capacidade de se expressarem e receberem afeto de uma forma
adequada. Os benefícios foram constatados através de expressões tais como:
"Eu só precisava de um abraço do cão de terapia", ou "É exatamente isso que
eu precisava" (paciente ao receber o beijo de um cão). A atividade
terapêutica de jogar, buscar ou acariciar um cão de terapia oferece aos
membros do serviço um simples prazer típico da vida familiar. Às vezes, o
pequeno gesto de amor incondicional de um cão pode, literalmente, fazer toda
a diferença no mundo, principalmente para soldados que se encontram tão
longe de casa. A troca de afeto com o animal tende a fazê-los lembrar de
momentos agradáveis e relaxantes.
1.3.4 ATAA em crianças
Nos trabalhos realizados com crianças, Kawakami & Nakano (2001)
relataram os benefícios conseguidos por meio da ATAA em quatro instituições
de saúde da cidade de São Paulo. As visitas foram feitas a uma casa
especializada em educação especial para crianças com diversas síndromes; a
uma instituição que abriga idosos abandonados ou sem família; a outra
instituição que oferece suporte para crianças com câncer; e, por último, a uma
casa que abriga e dá assistência a crianças aidéticas. Na observação da
-
16
visita de animais aos pacientes, os autores perceberam que estes ficavam
mais alegres e dispostos, conversando mais entre si e com os voluntários; e
que a ATAA poderia ser também utilizada como um recurso de aproximação
entre o enfermeiro e o paciente.
O sorriso do paciente é o sinal mais frequente e constante ao se
realizar uma terapia com animais – é a senha para se perceber que o
paciente aceita ser visitado por animais. Conclui-se que a ATAA é mais uma
opção à disposição do enfermeiro para facilitar sua interação com o paciente
de um modo agradável para ambos, pois muitas vezes – mais do que o medo
ou a inibição de abordar outra pessoa – há também a insegurança; nesse
momento, o animal pode se tornar o nosso maior aliado. Apesar disso, a
ATAA, mesmo recomendada pelos especialistas, ainda encontra barreiras
para chegar a muitos hospitais brasileiros que não permitem a entrada de
animais.
A eficácia da experiência de contato e relação com o animal está
presente em um estudo de caso desenvolvido por Bussotti et al. (2005) com o
objetivo de conhecer a percepção de uma adolescente (CK) portadora de
leucemia linfocítica aguda recidivada e de sua mãe em relação à visita do seu
cão de estimação durante a hospitalização, bem como de descrever a
experiência enquanto intervenção de enfermagem. Os dados foram obtidos e
organizados mediante relato de experiência. Alguns dias depois da visita
canina CK encerrou seu ciclo vital, o que – para as autoras desse trabalho –
reforçou o quão importante foi terem realizado um cuidado que proporcionou
um momento de alegria à paciente, marcado pelo seu sorriso e descontração.
Este caso demonstra que cabe a nós, profissionais de saúde, tomarmos a
decisão de desenvolver um plano de cuidados, tendo em mente que trabalhar
com o paradigma da saúde e não da doença pode fazer uma grande
diferença se objetivarmos uma assistência humanizada e de qualidade.
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17
Sobo et al. (2006) relataram pesquisa com o objetivo de explorar a
eficácia da terapia/visitação canina (CVT4) no manejo da dor pediátrica em um
hospital infantil de cuidados terciários. Foi feito um estudo piloto descritivo
com 25 sujietos de 5 a 18 anos, as quais haviam sido submetidas à cirurgia e
sentiam dor aguda pós-operatória, quando foi realizada a visita canina. Cada
criança respondeu a uma pesquisa pré-pós e a uma entrevista pós-
intervenção, com os seguintes resultados: (1) quantitativo: a CVT reduziu
significativamente a dor percebida; (2) qualitativo: a sugestão de que este
mecanismo distrai as crianças de forma cognitivamente ativa, por meio de
pensamentos reconfortantes sobre companheirismo ou lembranças de casa.
Conclui-se que a CVT pode ser um complemento útil para o manejo da dor
para crianças em fase pós-operatória.
Vaccari & Almeida (2007), em artigo sobre a importância da visita de
animais de estimação na recuperação de crianças hospitalizadas, mostraram
que esta é uma experiência bastante prazerosa para elas, que melhoram a
interação destas com a equipe multidisciplinar e com os demais internos. O
contato com os animais também contribuiu para que as crianças se
tornassem mais cooperativas nos procedimentos hospitalares, provavelmente
pelo fato de se sentirem mais relaxadas e de conseguirem confiar em um
ambiente no qual não acontecem somente situações desagradáveis, mas que
também lhes pode proporcionar momentos de prazer e diversão.
O alívio da dor e do desconforto foi outro benefício constatado nesse
estudo, seja pelo fato de os animais atuarem como estratégia de distração
para a criança, fazendo-a esquecer da dor momentaneamente, ou
simplesmente por trazerem descontração ao ambiente e alívio da tensão e da
ansiedade. Por fim, a terapia com animais evidenciou-se como uma atividade
extremamente prazerosa não só para as crianças, mas também para os
adultos à sua volta, que sorriam com mais frequência e, no caso dos
funcionários, pareciam trabalhar com mais disposição.
4 Canine Visitation Therapy.
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18
Parich-Plass (2008) escreveu um breve histórico da conexão entre
apego inseguro e transmissão de abuso e negligência entre gerações, bem
como um resumo dos princípios da AAT em um ambiente de terapia. A autora
constatou que crianças que sofrem de apego inseguro devido a abuso grave
e/ou negligência apresentam comportamentos inadequados e mal adaptados
em outros relacionamentos e situações. Comparadas com a população em
geral, estas crianças têm maior probabilidade de se tornarem abusadores e
pais negligentes. A terapia desenvolvida com tais crianças costuma ser
complicada por sua desconfiança em adultos, assim como as dificuldades de
simbolização devido a traumas ocorridos durante a fase pré-verbal. A ATAA
proporciona caminhos para contornar essas dificuldades, bem como fornece
ferramentas adicionais para alcançar o mundo interno dessas crianças,
constituindo-se em um canal eficaz na redução significativa dos sintomas
traumáticos.
Outro trabalho, desenvolvido por Dietz et al. (2012), relata que a terapia
da ATAA desenvolvida com crianças vítimas de abuso pode bloquear a
tendência de se tornarem abusadores em relação às gerações futuras.
Voltando ao tratamento de crianças autistas, Martin & Farnum (2002)
apontam um aumento no sentimento de felicidade e melhoria na comunicação
da criança autista quando em terapia na presença de um cão de verdade, ao
invés do contato com um cachorro de pelúcia ou com outros brinquedos
inanimados. Nota-se também uma maior agitação das mãos da criança
autista no momento da interação com o cão, sendo esta agitação um provável
sinal de excitação.
Em estudo prospectivo à terapia assistida por animais com a utilização
de equinos, Kern et al. (2011) apontaram uma redução na escala de
classificação dos sintomas autistas. Na mesma direção, Salgueiro et al.
(2012) confirmaram que o uso de golfinhos no tratamento de transtornos
complexos como o autismo, em uma abordagem emergente, necessita de
uma maior exploração.
-
19
Grandgeorge et al. (2012) ressaltaram que em crianças autistas o
contato com animais, especialmente cachorros, leva a uma maior atenção em
realizar tarefas com as mãos e em manter contato com as pessoas.
Observações similares quanto a alterações em outros comportamentos
sociais têm sido relatadas em recentes estudos controlados que envolvem o
uso de animais de estimação e crianças com autismo.
1.3.5 ATAA em idosos
Os resultados terapêuticos em idosos institucionalizados foram
observados em Oliva et al. (2010), que destacaram a contribuição da ATAA
na socialização de pessoas, na psicoterapia, no tratamento de idosos e de
pacientes com necessidades especiais, e na diminuição da ansiedade de
várias causas. Os autores também identificaram as alterações físicas,
psicológicas e sociais geradas pela instalação da AAA em uma instituição de
atendimento assistencial a idosos. A pesquisa envolveu 36 idosos, de ambos
os sexos, com idades entre 58 e 101 anos, em uma instituição de assistência
ao idoso da cidade de Araçatuba, SP.
Durante o período avaliado, os autores verificaram a possibilidade de
incremento da qualidade de vida física e emocional dos idosos
institucionalizados através da prática de AAA constante e sistematizada.
Ficou comprovado o papel dos cães como objetos motivacionais e como
catalisadores das emoções humanas, com reflexos evidentes na saúde física
e mental dos internos. Dentre as alterações sociais e comportamentais mais
observadas podem ser citadas: a redução da ansiedade, o incremento do
convívio social entre os internos, a melhora do humor e da capacidade de
expressão, e o estímulo à memória. Com base nesse estudo pode-se concluir
que esse tipo de terapia estimula os idosos à prática de exercícios físicos
leves e facilita as sessões de fisioterapia.
-
20
Carvalho et al. (2011) estudaram a relevância da relação cão-idoso
para o aprimoramento da qualidade de vida em instituição de longa
permanência para idosos. A pesquisa foi implementada em duas instituições
de longa permanência para idosos na cidade de Uberlândia (MG), envolvendo
23 idosos e dois cães de serviço. As atividades com os animais
proporcionaram aos idosos um aumento na capacidade de comunicação, na
interação e na socialização dos pacientes tanto com os cães quanto com a
equipe, com os funcionários das instituições e com outras pessoas.
Concomitantemente, foram constatadas diminuição da ansiedade e da
irritabilidade, aumento da autoestima, incremento das manifestações de afeto,
interesse pelo animal e melhora da memória, além de uma descontração do
ambiente e da amenização dos sentimentos de abandono, depressão e
solidão. Os cães se tornaram figuras de companheirismo e símbolo de
amizade para os idosos. Outro aspecto observado foi a multidisciplinariedade
alcançada de maneira dinâmica e criativa nessa atividade terapêutica.
Krause-Parello (2012) apontou que animais de estimação podem
desempenhar um papel positivo na saúde tanto física quanto psicológica de
adultos mais velhos. Este estudo transversal investigou as relações entre
solidão, fixação no animal de estimação, apoio social humano e humor
deprimido, em uma amostra com 159 mulheres que possuíam animais de
estimação e residiam na comunidade. Os resultados revelaram uma relação
significativa entre solidão, apoio social e humor deprimido. Não foi encontrada
relação entre apoio social e humor deprimido. Concluiu-se a importância do
apego ao animal de estimação como uma forma maior de apoio.
Nordgren & Engstrom (2012) relataram em seu artigo o interesse e o
aumento de intervenções não farmacêuticas nos cuidados da demência. A
terapia assistida por animais tem se caracterizado como uma intervenção
promissora, mas é necessário que se tenha domínio desta. Os autores
descreveram um estudo piloto envolvendo uma mulher de 84 anos com
demência, que foi sistematicamente assistida por uma equipe que incluía um
cão terapeuta durante oito semanas. Estatísticas descritivas foram utilizadas
para a análise dos dados. Dentre os resultados pode-se perceber efeitos
-
21
positivos sobre a capacidade da paciente de andar e se movimentar, além de
alguns reflexos em seu estado cognitivo. Concluiu-se que a formação física,
psicológica e social, com equipes de cães certificados em terapia assistida
por animais, pode ter eficácia sobre os sintomas comportamentais e
psicológicos em pessoas vivendo com demência. Nesse sentido, um maior
número de pesquisas se faz necessário.
1.3.6 ATAA em doenças orgânicas
A adoção da ATAA pode ser também direcionada a pessoas com
diagnóstico de doenças físicas, conforme apontaram Stanley-Hermanns &
Miller (2002) em pesquisa sobre os estudos já realizados na área de terapia
assistida por animais. A maioria desses trabalhos aponta os benefícios
fisiológicos desse tipo de terapia, indicando um aumento no relaxamento
evidenciado pela redução da pressão arterial e da frequência cardíaca. Os
autores destacaram três estudos:
a) Em pesquisa de 1992, incluindo 5.741 pacientes em uma clínica gratuita
em Melbourne, na Austrália, foi constatado que os donos de animais de
estimação tinham pressão arterial sistólica e níveis de triglicérides
significativamente mais baixos quando comparados aos que não eram
proprietários de animais (ANDERSON; REID; JENNINGS, 1992);
b) Em tentativa de estabelecer uma base científica para a ATAA, um estudo
de 1999 com 18 cães e 18 humanos mensurou as substâncias
neuroquímicas e a pressão arterial nos dois grupos. O estudo, uma tese de
doutorado inédita para a Universidade da África do Sul, investigou a
eficiência da leitura silenciosa e da interação homem-cão no alívio do
estresse humano, confirmando que ambas as atividades foram quase
igualmente eficazes (tal como medido pelo aumento da oxitocina, prolactina
-
22
e β-endorfinas). No entanto, o pequeno tamanho da amostra torna difícil a
generalização. Relatos de casos de animais utilizados em programas de
reabilitação demonstram outros benefícios físicos, como por exemplo, o
caso de um paciente que havia sofrido um AVC e que ganhou força e
condicionamento muscular com a prática de escovar um animal
diariamente. Evidentemente, mais estudos serão necessários para
confirmar os benefícios da terapia assistida por animais no ambiente de
reabilitação (COLLINS, 1996).
c) Em 2001, estudo com 30 homens e 30 mulheres detectou uma correlação
entre a posse do cão e o controle da hipertensão borderline. Foram
comparados dois grupos distintos: os que adotaram um cão de um abrigo e
as pessoas envolvidas em um programa de meditação transcendental.
Testes de estresse psicológico foram administrados e a pressão arterial e a
frequência cardíaca dos participantes foram mensuradas em dois
momentos: no início do estudo e ao final de três meses. Ambos os grupos
apresentaram altas de pressão arterial sistólica na primeira medição. Após
três meses, os donos de cães evidenciaram reduções significativas na
pressão arterial em repouso e na pressão arterial ambulatorial. Em
contrapartida, aqueles que praticavam meditação transcendental não
apresentaram alterações expressivas. Os pesquisadores também
mencionaram que todos os participantes do grupo que adquiriram um
animal os mantiveram após o término de vigência do estudo (ALLEN,
2002);
Não se pode, contudo, desconsiderar a realidade institucional na qual está
inserida a atividade com animais. A relevância da supervisão e do acompanhamento
multiprofissional é ressaltada por diversos autores (CIRULLI et al., 2011;
GAMMONLEY; YATES, 1991; MACHADO et al., 2008; SILVEIRA et al., 2011).
Um número expressivo de trabalhos que vem sendo realizado com o suporte
da ATAA tem demonstrado bons resultados, como por exemplo: a socialização de
crianças autistas, a melhoria dos sintomas depressivos em idosos, a diminuição do
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Gammonley%20J%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=1899683http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Gammonley%20J%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=1899683
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23
estresse de soldados em atividades de campo, o aumento dos níveis de marcadores
essenciais para a vida de seres humanos, como pressão, hormônio, entre outros.
Ao longo da revisão de pesquisas na área de ATTA, pode-se perceber que a
maioria dos artigos demonstra uma nítida preocupação em estabelecer critérios
científicos, formais e coerentes com o ambiente de visitação e implantação dessa
atividade, além do objetivo de normatizar o processo em patamares com rigor e
cuidado adequados.
A questão proposta no presente estudo busca observar se em um grupo de
pacientes brasileiros os resultados obtidos pelos pesquisadores acima são
semelhantes.
Assim, o objetivo geral deste projeto foi observar os efeitos da ATAA em um
grupo de pacientes com doenças oncológicas internados no Instituto do Câncer do
Estado de São Paulo – Otavio Frias de Oliveira.
A seguir abordaremos a Psicossomática e a Psico-Oncologia como uma área
específica desta primeira, pois os sujeitos dessa pesquisa foram pacientes
oncológicos.
1.4. PSICOSSOMÁTICA E PSICO-ONCOLOGIA
A Psicossomática é uma área que transita entre a Medicina e Psicologia,
através da qual se estuda as relações mente-corpo, bem como a influência dos
fatores psíquicos nos distúrbios físicos. Segundo Ramos (2006.p47) o termo
psicossomática:
(...) deriva do reconhecimento de uma interdependência fundamental
entre mente e corpo em todos os estágios de doença e saúde. Seria
um reducionismo considerar que há doenças de causas puramente
psicológicas ou puramente orgânicas. Há sempre um pluralismo na
-
24
observação de qualquer fenômeno. Existe uma tendência a considerar
todas as doenças como psicossomáticas, na medida em que elas
envolvem a inter-relação contínua entre corpo e mente na sua origem,
em seu desenvolvimento e sua cura (RAMOS, 2006:47).
A Psicossomática desenvolveu-se a partir dos estudos de vários autores com
diferentes modos de pensar como: Heiroth (1808), Deustsch (1922), Dunbar (1935),
Alexander e French (1938), Lipowiski (1984), Marty (1990), influenciados pelas
teorias e pesquisas de Jung, Freud, Pavlov, Kohlere, Selye entre outros.
Segundo Mello Filho (1992) a psicossomática se desenvolveu em três fases:
inicial ou psicanalítica, com predomínio dos estudos sobre a gênese das
enfermidades, sobre as teorias da regressão e sobre os benefícios secundários do
adoecer, entre outros; a intermediária ou behaviorista, caracterizada pelo estímulo
ás pesquisas em homens e animais, tentando enquadrar os achados à luz das
ciências exatas e dando um grande estímulo aos estudos sobre estresse; e a fase
atual ou multidisciplinar, em que vem emergindo a importância social e da visão da
psicossomática como uma atividade essencial de interação, de interconexão entre
vários profissionais de saúde.
Esses profissionais da saúde (Medicina/Psicologia) recorrem à
psicossomática para entender a origem de determinadas doenças, as quais não
estão incluídas as hereditárias, genéticas e as causadas por fatores do meio
ambiente, mas os danos podem ser aumentados e até originados em decorrência da
tensão psíquica, onde o estado emocional freqüentemente pode determinar o curso
da doença.
Atualmente temos a integração do termo holístico no conceito de
psicossomática, o qual já foi usado muito nas culturas tradicionais antigas, mente-
corpo como uma unidade significativa (Ramos, 2006). Mas ainda temos um
problema muito freqüente na área da saúde, onde se busca entender apenas a
doença e não a pessoa como um todo, desprezando completamente o ser humano
em sua totalidade. Partindo desse pressuposto temos a seguinte definição abaixo:
-
25
Psicossomática é um termo que se refere à inseparabilidade e
interdependência dos aspectos psicológicos e biológicos da
humanidade. Essa conotação pode ser chamada de holística, na
medida em que ela implica uma visão do ser humano como uma
totalidade, um complexo mente-corpo imerso num ambiente social
(LIPOWISKI, 1984:167)
Dentro desta área chamada de Psicossomática temos a Psico-oncologia, uma
área específica voltada para as questões mente e corpo envolvidas na vivência de
doença oncologica, bem como seu tratamento, efeitos colaterais e reabilitação.
O inicio formal do Psico-Oncologia se deu em meados de 1970, quando o
estigma da palavra "câncer", que antes não podia ser dita, foi diminuindo a tal ponto
que o diagnóstico poderia ser revelado e os sentimentos do paciente sobre sua
doença poderiam ser explorados pela primeira vez. No entanto, um segundo estigma
tem contribuído para o desenvolvimento tardio do interessse nas dimensões
psicológicas do câncer: atitudes negativas ligadas a doenças mentais e problemas
psicológicos, mesmo no contexto de doença médica (HOLLAND, 2002).
Porém os conceitos que envolvem a Psico-Oncologia já eram debatidos na
Antiguidade por Hipócrates que segundo Campos (2010:23) “propunha uma
Medicina que visse o homem com uma totalidade onde mente e corpo funcionassem
harmonicamente propiciando o bem-estar e a saúde. O rompimento dessa harmonia
era o que trazia a doença. Os estados de humor poderiam ser responsabilizados por
essa quebra de equilíbtio entre corpo e mente”.
Sobre o tema, Lipowski (1984) aponta que “desde os tempos de Hipócrates
os médicos postulavam que as emoções influenciam funções do corpo, e podiam
causar doenças. O próprio Hipócrates costumava dizer “medo, culpa, prazer, paixão
.... a cada um destes ocorpo responde por sua ação. Exemplos são os suores, as
palpitações do coração”. Uma afirmação similar pode ser encontrada em Aristóteles.
Por séculos após Hipócrates, as emoções foram vistas são somente como tendo
efeito mnas funções do corpo, mas também como fatores patogêncicos. Galeno,
sec. II d.C., um dos mais inflentes médicos de toda a história, incluía as paixões
-
26
entre as causas de doença somática que citava o sofrimento psíquico, a raiva, a
luxúria e o medo como “doenças da alma”, e deveriam ser diagnposticadas. Muito
em função da influência deste autor a medicina eurtiopeia anterior ao século XIX
devotava muito atenção à causa psicológica eda doença em especial ao papel das
emoções como fatores etiológicos em muitas doenças, incluindo doenças
contagiosas e as epidemias” (p.153).
A relação entre mente e corpo, emoções e doenças, fatores externos
correlacionados ao aparecimento de doenças; são questões que iniciaram na
Antiguidade, mas que continuam em discussão até os dias atuais.
Holland (1990) definiu a Psico-Oncologia como uma subespecialidade da
Oncologia, que procura estudar as duas dimensões psicológicas presentes no
diagnóstico do cãncer: 1) o impacto do câncer no funcionamento emocional do
paciente, sua família e profissionais da saúde envolvidos em seu tratamento; 2) o
papel das variáveis psicológicas e comportamentais na incidência e na
sobrevivência ao cãncer (p.11). Essa definição foi oficializada pela Associação
Internacional de Psico-Oncologia.
A versão brasileira da definição da Psico-Oncologia foi formulada por
Gimenes (1994) com a fundação da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, sendo
que essa área “representa a área de interface entre a Psicologia e Oncologia e
utiliza o conhecimento educacional, profissional e metodológico proviniente da
Psicologia da Saúde para aplicá-lo: 1) na assistência ao paciente oncológico, sua
família e profissionais de Saúde envolvidos com a prevenção, tratamento, a
reabilitação e a fase terminal da doença; 2) na pesquisa e no estudo de variáveis
psicológicas e sociais relevantes para a compreensão da incidência, da recuperação
e do tempo de sobrevida após o diagnóstico de câncer; 3) na organização de
serviços oncológicos que visem o atendimento integral do paciente. Enfatizando de
modo especial a formação e o apriomoramento dos profissionai da saúde envolvidos
nas diferentes etapas do tratamento (p.46).
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A Psico-Oncologia nasceu dando enfaze aos fatores psicologicos, biológicos
e sociais na assistencia ao paciente oncológico, buscando uma compreensão maior
dos processos de adoecimento e desenvolvimento da doença, bem como a
adaptação do paciente a nova condição de ser doente, e também as implicações na
vida familiar, social e profissionais após diagnóstico de câncer (CAMPOS, 2010).
É imprescindível que o paciente receba uma assistência integrada
multiprofissional, Holland (2002) lembra a importância das contribuições das
enfermeiras e assistentes sociais, que foram das primeiras pessoas a identificar a
complexidade das respostas psicológicas ao câncer, seu desenvolvimento e seus
sintomas. Especificamente no controle da dor e no provimento de suporte social dos
pacientes, essas profissionais tiveram papel importantíssimo no início da Psico-
Oncologia.
Outro fator importante que contribuiu para o surgimento dessa especialidade,
foi a importância de distúrbiios psiquiátricos como a ansiedade e depressão
influenciando do desenvolvimento da doença. De acordo com Holland(2002), o
atendimento psiquiátrico a partir dos pedidos de interconsulta vieram contribuir
significativamente para o bem-estar do paciente.
A vivência do diagnóstico e tratamento da doença oncológica podem implicar
no aparecimento de numerosos e importantes estressores físicos e psicológicos. O
impacto do tratamento na qualidade de vida do paciente e de seus familiares é um
fenômeno que tem sido estudado desde a antiguidade, como citado anteriormente.
O adoecer é de fato, uma experiência intensa e desorganizadora em nível
psicológico, pois ao adoecer, o ser humano se dá conta de sua condição de ser
mortal porque é humano (Franco, 2005). Segundo Pessini (2006), o cuidado da dor
e do sofrimento é a chave para o resgate da dignidade do ser humano neste
contexto crítico, como a morte. A problemática da dor e do sofrimento não é pura e
simplesmente uma questão técnica, mas sim de uma das questões éticas
contemporâneas de primeira grandeza.
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Dessa forma, além da dor física, o paciente e também seus familiares se vêm
enredados pela dor psíquica – a dor da perda da saúde. E a dor sentida com mais
intensidade, não é a dor que a doença traz, mas a dor de saber-se doente, de perder
a condição de sadio segundo O adoecer transforma a pessoa de sujeito de
intenções em sujeito de atenção A dor do adoecer em oncologia envolve, portanto,
um processo de enlutamento pela perda do eu sadio. Em toda perda importante que
acontece na vida, é necessário um processo elaborativo, que também é
acompanhado por um processo de enlutamento, ou seja, o luto pela perda da saúde
(COELHO, 2001).
Os pacientes oncológicos enfrentam enormes desafios, perdas e adaptações
ao cotidiano de doença e tratamento, fato este que geralmente provoca estresse e
alterações em todo o espectro da experiência física, emocional e existencial da
pessoa bem como de dua família. Entre os problemas mais comuns estão a
ansiedade e depressão (Massie, 2004), causados principalmente pela procura de
explicações para causa da doença, o isolamento e impotência, além da falta de
apoio (Helgeson & Cohen, 1996), convivendo com o peridgo demorte iminente, além
das limitações físicas (FAWZY, FAWZY, ARNDT, & PASNAU, 1995).
O estigma de morte em torno do câncer ainda continua mesmo com o avanço
nos tratamentos, as questões de saúde mental e morte podem ainda desafiar o
pessoa com câncer, inibindo a sua adaptação ou utilização de serviços psicossociais
existentes para a melhoria do bem-estar. (HOLLAND, 2004).
Além do luto pela perda da saúde, segundo Chiattone (2002) os estados de
ansiedade determinados por temores, dúvidas, fantasias e apreensões frente a
vivência da doença e tratamento são freqüentes. Apesar de esperados, devem
manter-se controlados para que não evoluam para estados de pânico,
caracterizados por perda de controle, confusão, desespero, regressão e súplicas. A
ansiedade situacional é freqüente e a maioria dos pacientes mostra-se bastante
ansiosa diante da expectativa do diagnóstico ou após o recebimento deste, antes de
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submeter-se a condutas terapêuticas (aspiração de medula óssea, administração de
quimioterapia ou de radioterapia), diante da expectativa de alta hospitalar, frente a
sintomas que possam indicar recidiva da doença, etc. Dificuldades diagnósticas,
piora do quadro clínico e necessidade de internação em UTI, sangramentos,
intercorrências, vivências traumáticas durante o tratamento quimioterápico ou morte
de amigos e companheiros de tratamento, com o mesmo diagnóstico, podem
também resultar em quadros de ansiedade.
A mesma autora afirma que os transtornos depressivos em pacientes
oncológicos são freqüentes e bem conhecidos, embora se assemelhem, em
porcentagem, à incidência de depressão em pacientes com outras doenças
orgânicas graves. Esta relação sugere que o determinante primário para o
desencadeamento de um quadro depressivo interliga-se ao nível de gravidade da
doença e não somente ao seu diagnóstico específico. De qualquer forma, alguns
fatores sugerem estar intimamente vinculados ao desencadeamento de depressão:
estado físico agravado, dor, história prévia de depressão e intercorrências orgânicas.
Os transtornos depressivos definem-se por reações de desesperança, apatia,
isolamento, astenia e impotência frente ao diagnóstico, à evolução da doença e ao
próprio tratamento. O diagnóstico de depressão aponta a presença de insônia,
anorexia, fadiga, perda de peso e transtornos somáticos. Acrescem-se sentimentos
de desamparo, diminuição da autoestima e autoconceito, culpa, retraimento social,
intensa angústia de morte, redução do nível de energia, dificuldades de
concentração, perda do interesse, dificuldade de iniciar atividades e colaborar no
tratamento, lentificação do pensamento e movimentos, dificuldades em tomar
decisões e crises de choro.
Além de esses estados psicológicos acompanharem o paciente desde o
diagnóstico, segundo Carvalho (2002) acredita-se também na possibilidade de
contribuições psicológicas no crescimento do câncer. Inúmeros pesquisadores vêm
estudando possíveis efeitos dos estados emocionais na modificação hormonal e na
alteração do sistema imunológico (BOVBJERG, 1990). A relação entre o estresse e
a depressão com o enfraquecimento do sistema imunológico favorecendo o
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desenvolvimento de formações tumorais foram amplamente analisadas por Le Shan
(1992); Simonton, Simonton e Creighton (1987) entre outros.
Os profissionais da saúde em Psico-Oncologia devem pautar seu trabalho
visando minimizar o sofrimento inerente ao processo de doença e hospitalização.
Segundo Campos (2010) uma das áreas mais enfatizadas na pesquisa em Psico-
Oncologia nos últimos anos é a Qualidade de Vida do paciente, sendo que a
interferência da psiquiatria muito colaborou para isso. Na verdade, a qualidade de
vida tem sido mais importante do que a sobrevida propriamente dita.
Campos (2010) afirma que a Psico-Oncologia procura dar aos profissionais
de saúde em geral, às famílias envolvidas e à comunidade como um todo uma nova
visão sobre o câncer, uma possibilidade de compreensão do processo de adoecer,
como conseqüência de fatores biopsicossociais, e propõe ainda a possibilidade de
uma maior compreensão das respostas psicológicas ao adoecimento, aos
tratamentos e, posteriormente, à reabilitação e a à sobrevivência.
Entre os profissionais da saúde, cabe aos psicólogos realizar um trabalho
através de atendimento psicológico imediato e eficiente (modelo de ligação,
presença constante); buscando promover a humanização e a excelência no
atendimento favorecendo a relação equipe de saúde-paciente-família-instituição;
atuando de forma integrada (interprofissional) com os demais profissionais de saúde
e por fim criando estratégias novas e criativas para alívio de angustia e melhorias
na qualidade de vida do paciente, mesmo na hospitalização.
Dentro desta visão holística que desenvolvemos este trabalho, sendo sua
proposta trazer os animais de estimação do próprio paciente na internação. O
capitulo seguinte trata de algumas pesquisas de ATTA especificamente em
Oncologia.
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1.5 ATAA EM ONCOLOGIA
Nesse capítulo serão abordados alguns trabalhos sobre ATAA realizados com
pacientes oncológicos. A necessidade de assistência em saúde mental no
tratamento do câncer é bastante evidente, apoiada e aprovada tanto pelo paciente
quanto pelo profissional (BOTTOMLEY, 2002; HOLLAND, 2004). E utilizar animais
como facilitador dessa assistência emocional aos pacientes tem sido amplamente
utilizada e estudado seus beneficios.
Katcher (1982) afirma que o convívio com animais de estimação ajuda na
redução do nível de estresse, sendo também uma forma de terapia complementar.
Em relação a esse tema, pesquisas sugerem que os cães são eficazes auxiliares
aos pacientes com câncer em estado terminal.
Dr. Creagan (2002) através de sua experiência como médico, oncologista e
professor da Clinica Médica Mayo em Atlanta-GA, relata em seu artigo denominado
“Animais, Pílulas não: A cura através dos pelos, barbatanas e penas” que não se
pode negar que os dono de animais de estimação têm uma ligação muito forte com
seus animais, e que mesmo em péssimas condições físicas, os pacientes ficam
determinados a chegar em casa e ver seu animal de estimação, o que resulta em
uma motivação importante na reabilitação após uma lesão ou doença.
O mesmo autor relata que teve um paciente que estava em fase terminal, mas
que estava determinado a morrer em casa, pois queria estar com "Max", o
oncologista pensou que o paciente estava falando sobre seu filho, Max, ou Maxine,
sua esposa, mas na verdade ele estava falando sobre o seu cão, Max. Dr. Creagan
afirma que não se pode mais ignorar o significado e o vínculo que as pessoas têm
para com seus animais de estimação, pois criam um equilíbrio entre a mente e corpo
das pessoas os têm, e estar com um diagnóstico de câncer e manter o equilíbrio
emocional, é uma grande busca de todos, no meio de tanto estresse com
tratamentos invasivos, internações e perdas significativas.
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,
Caprilli e Messeri (2006) examinaram os efeitos da ATAA em crianças com
doença terminal em um hospital infantil na Itália. O objetivo da pesquisa era verificar
a taxa de infecção antes e depois do contato delas com os animais através ATAA.
Para isso, foi necessário certificar-se de que não havia uma alta taxa de infecção
dentro do hospital, em função da contra indicação de contato de animais com
crianças com sistema imunológico baixo. Cento e trinta e oito participaram do estudo
durante um ano e quatro cães foram introduzidas gradualmente para dentro do
hospital. Os resultados indicaram que a presença de cães não aumentou incidência
de infecções no hospital neste período. Todos os pais concordaram que os cães de
terapia foram eficazes na criação de uma experiência positiva anti-stress para os
seus filhos. Os autores concluiram que os cães foram eficazes no trabalho com
pacientes em fase terminal e que as taxas de infecção podem ser mantidas sob
controle com uma ameaça mínima.
Segundo Johnson, Meadows, Haubner, & Sevedge (2008) a vivência do
câncer e seu tratamento, permeados pelo estresse associado à morte e o morrer,
exigem dos profissionais da saúde o uso de terapias complementares.
Estudos indicam que tanto o indivíduo como animal experienciam um
momento de relaxamento e calma durante o encontro entre os dois. Quando há
troca de carícia entre homem e animal de estimação e este ultimo consegue deter
atenção do outro, evindencia-se a diminuição da pressão arterial e aumento dos
níveis de oxitocina no ser humano (MILLER, KENNEDY, DE VOE, HICKEY,
NELSON & KOGAN, 2009; WALSH, 2009)
Engleman (2013) estudou os benefícios do uso de ATAA utilizando cães, em
pacientes que faziam parte de um ambulatorio de cuidados paliativos. Dezenove
pacientes participaram do estudo ao longo de um ano. Concluiu que todos os
pacientes ficavam alegres na presença do cão, que também ficavam mais relaxados,
sentiam menos desconforto fisico, e que ao terem contato com os cães memórias
boas de casa vinham a mente. Dor e emoções negativas também foram reduzidas.
Em pelo menos cinco situações, o cão utilizado na atividade, descansou sua cabeça
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onde estava localizada a dor do paciente, sendo interpretado pelos mesmos como
uma forma do cão confortá-los na dor. Estes resultados sugerem que a ATAA tem:
um efeito na redução da dor tanto as físicas como as emocionais, influência na
melhora da qualidade de vida do paciente principalmente em função da redução do
estresse pessoal, baixo custo com maior eficiencia e diminuição do uso de
medicação para a dor.
Turnbach (2014) realizou uma pesquisa com o objetivo de examinar os efeitos
da terapia assistida por cães na qualidade de vida de pacientes oncológicos em
cuidados paliativos. Participaram do estudo aproximadamente 200 doentes de
câncer em cuidados paliativos, sendo critério de inclusão estar psiquicamente e
mentalmente capaz de responder as questões aplicadas. Nesta pesquisa foi
utilizado instrumento QUAL-E 2004, com objetivo de medir a qualidade de vida dos
pacientes antes e depois da participação na atividade assistida por cães. Após
responder o instrumento composto de 18 questões entre 10 a 20 minutos, os
sujeitos receberam a visita de um cão terapeuta durante duas horas todo domingo,
3ªf, 5ªf e sábado, durante 03 semanas seguidas. Essas visitas aconteceram em
casa, no hospital e em centros de cuidados paliativos. Após a última visita, os
participantes, responderam novamente o instrumento QUAL-E 2004, além de 06
questões relacionadas aos cães e o nível de satisfação com a presença dos
mesmos. Os resultados mais significantes foram: a sociedade vai se beneficiar por
saber que seus entes queridos, enfermos na terminalidade, terão o direito garantido,
receberão autorização a ter um companheiro canino a seu lado. Os cães da terapia
tem um impacto positivo sobre os pacientes e as pessoas ao redor. Esta última
análise, irá aumentar a qualidade de vida de muitos pacientes, diminuindo o seu
próprio estresse, o estresse da equipe e dos membros da família.
Nitkin (2014) realizou uma pesquisa com 13 mulheres portadoras de doença
oncologicas, com objetivo de examinar o papel dos animais de companhia como
potenciais fontes de apoio sócio-emocional na vida dos pacientes e sobreviventes de
câncer. Como resultado da pesquisa o autor constatou que todos os participantes
foram muito afetados positivamente por seus animais de estimação enquanto eles
passaram por câncer. Em apoio das descobertas em oncologia psicossocial, animais
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de estimação são considerados e apresentados em quatro de cinco das
necessidades psicológicas como estabelecido em Helgeson e Cohen (1996) em uma
meta-análise: 1) aumento da auto-estima; 2) restabelecimento do controlo percebido;
3) dar sentido a experiência; e 4) o processamento emocional. A pesquisa oferece
novos insights para a teoria e prática clínica. Animais podem ser capazes de
intuir e responder às necessidades do seu companheiro humano de formas que não
foram exploradas. As pessoas se conectam com seus animais de estimação em
níveis espirituais que são de benefício para eles quando estão
doentes. Eles são fontes de intimidade, significado e tratamento da dor. Além disso,
é evidente que muitas pessoas com câncer confiam em seus animais de estimação
o apoio social e emocional necessário para lidar com a doença grave. É também
significativo que pacientes com câncer podem necessitar de assistência financeira e
/ou prática para as necessidades de c