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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Regina Célia Rocha Visita de Animal de Estimação: proposta de atividade terapêutica assistida por animais a pacientes internados em hospital oncológico MESTRADO EM PSICOLOGIA São Paulo 2015

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  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

    PUC-SP

    Regina Célia Rocha

    Visita de Animal de Estimação: proposta de atividade terapêutica

    assistida por animais a pacientes internados em hospital oncológico

    MESTRADO EM PSICOLOGIA

    São Paulo

    2015

  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

    PUC-SP

    Regina Célia Rocha

    Visita de Animal de Estimação: proposta de atividade terapêutica

    assistida por animais a pacientes internados em hospital oncológico

    MESTRADO EM PSICOLOGIA

    São Paulo

    2015

    Dissertação apresentada à Banca Examinadora

    de Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

    como exigência parcial para obtenção do título

    de MESTRE em Psicologia Clínica – Núcleo de

    Psicossomática e Psicologia Hospitalar, sob a

    orientação da Prof.(a) Dr.(a) Denise Gimenez

    Ramos

  • Banca Examinadora

    ____________________________

    ____________________________

    ____________________________

    ____________________________

  • Dedico este trabalho...

    Aos meus PAIS Zilah e Raul (in memoriam), por serem exemplos de caráter e dignidade em minha vida. Com eles aprendi e compreendi os verdadeiros valores do ser humano. Mãe, eu agradeço por me ensinar a arte de AMAR e de DIVIDIR. Pai, obrigada por me ensinar a honestidade, a lealdade e a ser uma mulher forte. Os Senhores estarão sempre em meu coração. Deus, como sinto a falta dos dois!

    Às minhas IRMÃS Alexandra, Débora, Márcia, minha diva Rafaela, meu

    cunhado Éder, minha pequena, tão esperada e querida sobrinha Isabela, minhas queridas Tias Júlia e Célia (in memoriam) e Tias Zé e Cuca, bem como meus primos em especial ao primogênito da família Luís e a pedra mais preciosa da minha vida, Jade, pelo amor, carinho e apoio incondicional no momento das escolhas em minha vida.

    À Professora Heloísa B. de C. Chiattone, com quem aprendi e aprenderei a

    instigante área que é a Psicologia Hospitalar, a ética profissional em nossa atuação diária no Hospital, a doçura durante os atendimentos realizados aos pacientes em minha formação de Psicóloga Hospitalar, pelo incentivo de sempre e por nunca desistir de mim. E para minha pequena Kika que sempre expressou seu amor por mim e como a mãe ama e venera os animais.

    Aos meus queridos e amados animais que fizeram parte de minha vida: Nikita,

    Kala, Barão, Yrrana, Brown, Tobby, Lupa, Sharon, Tupi e Laláa. Muitas saudades! Aos meus ANIMAIS que estão comigo nesta jornada diária, a quem tanto amo:

    Nininha, Kiara, Leão, Happy, Zé e Nina. Aos meus AMIGOS Tunica, Thelma, Jade, Salsa, Mario Sergio, André, Irene,

    Thabata, Lucilene, Karine e Sergio Ricardo pela presença e paciência constante em meio às tempestades e turbulências. Vocês não me deixaram desistir e estiveram do meu lado nos dois piores momentos de minha vida, a perda de meus pais.

    Aos pacientes e familiares do ICESP e a todos os outros que atendi ao longo

    de minha carreira, cuja coragem e sabedoria me estimulam a ser uma profissional e pessoa melhor.

    Obrigado por existirem... Amo Vocês!!!

  • AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer primeiramente a DEUS pela saúde, superação, força, sabedoria

    e resiliência construídas e proporcionadas durante esses anos com os quais percebi e compreendi que não basta sonhar, mas, sim, que é preciso lutar e se dedicar não apenas teoricamente, mas a entender a vida com os ganhos e perdas que ela traz consigo, bem como os pacientes e familiares como um todo, em sua constante fragilidade e, assim, realizar esta conquista há muito sonhada.

    Aos pacientes com quem apreendi a dor frente a uma doença tão complexa e difícil,

    que os deixam vulneráveis diante à possibilidade de morte. A toda minha família pela enorme paciência, dedicação e carinho nas horas mais

    difíceis de minha vida. Amo vocês! A Prof.(a) Heloisa Benevides de Carvalho Chiattone pelas oportunidades

    concedidas ao longo desses anos, por iniciar-me no campo da Psicologia Hospitalar com tanto amor e carinho. Pela dedicação a mim durante esse trabalho. Pelo amor, infindável paciência, compreensão e acolhimento que tivera ao longo desses 20 anos de convivência, cumplicidade e aprendizado. Obrigada minha eterna Mestra!!!

    Á Prof.(a) Dr.(a) Denise Gimenez Ramos pela dedicação para que esse estudo

    pudesse se realizar. Querida professora que me compreendeu, apoiou e incentivou durante esses três anos, os quais foram de muitas perdas e lutas, e que, mesmo em momentos difíceis, acreditou em mim e no meu potencial. Muito obrigado de coração!!!

    Aos meus grandes amigos: Viviana, Thelma, Juliana/Harry/Rafaela, Yasmin, Jade,

    Tunica, Daniela, Cristina, Mario Sergio, André, Lucilene, Irene, Therezina, Claudia, Juliana, Ana Maria, Karine, Thabata, Fátima, Luciana, Isabella, Elaine, Renan, Sergio Ricardo e Renata que muito me apoiaram no decorrer desse trabalho. E não poderia deixar de lembrar os meus queridos parceiros do GL420 Everton, Ivan, Vitor, Plínio, Roberto, Lucão, Lukt, Gary, Cauê, João e Piri que muito me divertiram e me apoiaram. Muito Obrigado!!!

    Ao psicólogo Mario Sergio Balaboi Correia, meu irmão, meu terapeuta, meu amigo,

    meu companheiro, meu tudo!!!! Se não fosse você junto de mim, principalmente nesses últimos seis meses, esse trabalho não teria concluído e minha saúde mental não estaria preservada.

    Em especial ao meu grande amigo e chefe, Lorgio Henrique Diaz Rodriguez, que

    muito contribuiu, apoiou e que, com sua competência como gestor, paciência, generosidade, compaixão, me incentivou durante o decorrer desse trabalho.

    Á Equipe de Psicologia do Hospital São Luiz – Unidade Anália Franco em especial

    às minhas queridas filhas Andrea, Helenice, Ana Paula e Nara, bem como meus pupilos Carol e Felipe, minha querida amiga Rachel e as plantonistas Jana, Malu, Thais C e Thais L, que sempre estiveram ao meu lado e representaram o serviço na minha ausência e prestaram assistência de excelência. Vocês são meus orgulhos!!!!

    Ao Ariston dos Santos Pereira, meu amigo, meu irmão e namorado. Ficou tanto tempo

    longe, mas que não poderia ter voltado em um momento e em um tempo melhor!!! Trouxe consigo o amor, a alegria e a esperança de uma vida melhor a partir do nosso reencontro. Com isso ganhei o Davi, o garotinho mais lindo e apaixonante que conheci.

    Um grande beijo e abraço a todos!

  • “O amor em sua essência rompe fronteiras... E, não há amor, dedicação e lealdade

    maior do que do animal para com o seu dono - ou seria o seu humano de estimação?...

    Ele nunca nos abandonará diante de uma dificuldade... Estará ao nosso lado, mesmo

    sem comida ou no frio... E mesmo que nós o expulsemos, ele continuará alí por perto, no

    aguardo de uma pequena possibilidade para regressar... Ele estará conosco sem

    cobrança pelo nosso amor, carinho, atenção ou dedicação... receberá aquilo que lhe

    oferecermos... Porque ele nos ama como somos e nos aceita com nossas imperfeições...

    Sempre... Incondicionalmente!... Em seu companheirismo... Pronto para brincar e para

    nos alegrar... Como uma aliança ou um diamante que não se desfaz nem mesmo com

    uma queda... Diamante que escolhemos para a nossas vidas... E, se um dia morrermos,

    ele ficará triste em seu luto pela nossa falta...”

    Mario Sergio Balaboi Correia

  • “Os que confiam no Senhor recebem sempre novas forças, voam nas alturas como

    águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam.”

    Isaias 40:31

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 01

    1.1. A ESCOLHA DO TEMA...................................................................................... 01

    1.2 BREVE HISTÓRICO............................................................................................ 03

    1.3 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 07

    1.3.1 Interação homem e animal...................................................................... 08

    1.3.2 Definições de ATAA e sua implantação.................................................. 09

    1.3.3 ATAA em saúde mental.......................................................................... 11

    1.3.4 ATAA em crianças.................................................................................. 15

    1.3.5 ATAA em idosos..................................................................................... 19

    1.3.6 ATAA em doenças orgânicas................................................................. 21

    1.4 PSICOSSOMÁTICA E PSICO-ONCOLOGIA................................................... 23

    1.5 ATAA EM ONCOLOGIA..................................................................................... 31

    02. OBJETIVOS......................................................................................................................... 35

    03. MÉTODO.............................................................................................................................. 35

    3.1 PARTICIPANTES..................................................................................................... 35

    3.2 INSTRUMENTOS PARA A COLETA DE DADOS................................................. 36

    3.3 LOCAL DE OBSERVAÇÃO E DURAÇÃO............................................................. 37

    3.4 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA..................................................................... 37

    3.5 PROCEDIMENTO.................................................................................................... 38

    3.6 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS........................................................ 40

    04. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................... 41

    05. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 87

    06. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 90

    ANEXOS:

    ANEXO 1: Histórico do ICESP – Missão, Visão, Valores e Compromisso .............................. 103

    ANEXO 2: Escala de Estresse EVA.......................................................................................... 104

    ANEXO 3: Escala de Dor EVA ................................................................................................. 105

    ANEXO 4: Questionário – Relação Paciente x Animal de Estimação ...................................... 106

    ANEXO 5: Entrevista Semiestruturada ..................................................................................... 107

    ANEXO 6: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ............................................ 108

  • Resumo

    A Visita de Animal de Estimação acontece nessa instituição desde 2011, sendo

    coordenada pelos profissionais da Equipe de Psicologia Hospitalar com Especialização

    em ATAA. Nessa atividade, o animal é parte integrante do tratamento psicológico do

    paciente, como referência de cuidado e conforto, condições primordiais para o

    enfrentamento do câncer. O animal pode ser a referência para melhorar a qualidade de

    vida durante o tratamento e a hospitalização, traduzindo o forte vínculo existente nessa

    relação em medidas de cuidado. Ter a oportunidade de ver seu animal de estimação –

    mesmo que pela última vez – traz um sentido, oportunizando a ressignificação do

    adoecer e da vida – com efeitos terapêuticos reparadores e renovadores. Este trabalho

    teve como objetivo observar os efeitos da ATAA, aqui caracterizada como ‘Programa

    de Visita de Animais de Estimação’, em um grupo de três pacientes com doenças

    oncológicas, internados no ICESP – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo –

    Otávio Frias de Oliveira, comparando-os com a literatura sobre a ATAA. Em

    concordância com a literatura (Brickel, 1984; Struckus,1989; Wall, 1994;

    McVarisch,1995; Panzer-Koplow, 2000; Sorrell, 2006; Souter & Miller, 2007),

    constatamos a eficácia do Programa Visita de Animais de Estimação do ICESP na

    melhora e equilíbrio do estado psicológico de pacientes oncológicos e familiares,

    realçando seus recursos de enfrentamento, melhora da qualidade de vida de seus

    pacientes e familiares, incremento de resiliência, a minimização de manifestações

    psíquicas e comportamentais que interferem no tratamento e hospitalização, redução

    do estresse, da dor e isolamento inerentes ao processo (DIEFENBECK, BOUFFAR,

    MATUKAITIS, HASTINGS, E COBLE, 2010; HOROWITZ, 2010). Dessa forma, o

    Programa Visita de Animais de Estimação ao ICESP vem comprovar a teoria que, sem

    dúvida, há uma grande necessidade de se re-humanizar as práticas em saúde,

    desenvolvendo-se e fornecendo-se recursos humanísticos para o cuidado. E isso não

    apenas por uma questão ética mas sim pela urgente necessidade na área de saúde de

    passar do paradigma da conquista ao paradigma do cuidado.

    Palavras Chaves: Oncologia, Psicologia, Terapia Assistida por animais, dor e estresse

  • Abstract

    The pets visit has been coming in this institution since 2011 and professionals in

    Health Psychology Team with specialization in ATAA coordinate it. The animal is part

    into the psychological treatment of patients, such as care and comfort references, basic

    conditions to cope with cancer. The animal may be a reference to improve the quality of

    life during treatment and hospitalization, reflecting the strong bond that exists in the

    relationship, in care measures. Have the opportunity to see the pet, even if for the last

    time brings a sense, providing opportunities on reframing illness and life - through

    mendering and renewing therapeutic effects. This study aimed to observe the effects of

    ATAA, here characterized as 'Pets for Business Programme', in a group of three

    patients with oncological diseases, admitted to ICESP - Institute of São Paulo State

    Cancer - Frias Octavius Oliveira, comparing them to the literature on the ATAA.

    According to literature (Brickell, 1984; Struckus, 1989; Wall, 1994; McVarisch, 1995;

    Panzer-Koplow, 2000; Sorrell, 2006; Souter & Miller, 2007), the effectiveness of

    Animals Visit Program ICESP improves and balances the psychological state of cancer

    patients and their families, enhancing their coping resources on life quality improvement

    both patients and their families, increasing resilience which minimizes psychologic and

    behavioral symptoms that interfere into treatment and hospitalization, reducing stress,

    pain and isolation inherent in the process (DIEFENBECK, BOUFFAR, MATUKAITIS,

    HASTINGS, and COBLE, 2010; HOROWITZ, 2010). Thus, the Animals Visit Program to

    ICESP confirms the theory there is a great need to re-humanize health practices,

    developing and providing up humanistic resources for care. It is not just an ethical issue

    but also rather an urgent need in healthcare paradigm.

    Key words: oncology, psychology, animal assisted therapy, pain and stress.

  • 01. INTRODUÇÃO

    1.1. A ESCOLHA DO TEMA

    Ao cursar o quinto ano de graduação, em 1996, escolhi a disciplina

    Estratégias de Intervenção Psicológica - Psicologia Hospitalar na UNIP –

    Universidade Paulista. A partir daquele ano iniciei minha atuação hospitalar, mais

    especificamente na área da onco-hematologia, especialidade médica voltada ao

    tratamento de doenças do sangue, tais como leucemias, linfomas e mielomas

    múltiplos. Concluída a faculdade, cursei especialização em Psicologia da Saúde e

    Hospitalar no Hospital Brigadeiro pelo Nêmeton (Centro de Estudos e Pesquisas em

    Psicologia e Saúde). Desde então venho atuando nessa área, mais especificamente

    em Psico-Oncologia.

    Durante estes 19 anos de atuação na área, minha paixão por animais

    (especialmente cães) e pela Psicologia me levaram a cursar também a

    Especialização em Atividade/Terapia Assistida por Animais (ATAA). Atualmente

    trabalho como psicóloga de referência em Hematologia no Instituto do Câncer do

    Estado de São Paulo (ICESP) Octavio Frias de Oliveira (ANEXO 1)1. Meu projeto de

    pesquisa envolve as áreas de Psico-Oncologia e ATAA, a partir de atividade que já

    desenvolvo no ICESP: a atividade terapêutica assistida por animais – Visita de

    Animal de Estimação.

    A Visita de Animal de Estimação acontece nessa instituição desde 2011,

    sendo coordenada pelos profissionais da Equipe de Psicologia Hospitalar com

    Especialização em ATAA. Dela participam profissionais das áreas Médica, Serviço

    Social, Enfermagem, Farmácia, Nutrição, Fisioterapia, Segurança, Bombeiros e

    Zeladoria.

    Nessa atividade, o animal é parte integrante do tratamento psicológico do

    paciente, como referência de cuidado e conforto, condições primordiais para o

    1 Disponível em: .

  • 3

    enfrentamento do câncer. O animal pode ser a referência para melhorar a qualidade

    de vida durante o tratamento e a hospitalização, traduzindo o forte vínculo existente

    nessa relação em medidas de cuidado. Ter a oportunidade de ver seu animal de

    estimação – mesmo que pela última vez – traz um sentido, oportunizando a

    ressignificação do adoecer e da vida – com efeitos terapêuticos reparadores e

    renovadores.

    No desenvolver deste estudo será apresentado um breve histórico sobre a

    utilização de animais com objetivos terapêuticos, seguido de pesquisas envolvendo

    a ATAA e da fundamentação teórica que embasa essa modalidade de atuação. Será

    também abordada a Psicossomática e a Psico-Oncologia como uma área específica

    da mesma, pesquisas envolvendo a ATAA e a Oncologia.

    Os capítulos seguintes tratam de um breve histórico sobre a ATAA e uma

    revisão de literatura e as pesquisas sobre a ATAA.

    1.2 BREVE HISTÓRICO

    A ATAA é definida como uma forma de terapia que envolve o uso de um

    animal como parte fundamental do tratamento do paciente. Dentre os animais mais

    utilizados está o cachorro, seguido pelo gato. Recorre-se também a outros animais

    de pequeno porte (coelhos, pássaros, peixes, gerbil2), mas os de grande porte

    também são usados, principalmente os cavalos – como na ecoterapia; além de

    animais exóticos tais como elefantes, golfinhos e lagartos (FINE, 2010).

    Esse tipo de atividade baseia-se na existência do vínculo amoroso entre o

    homem e o animal. Tuner (2007, apud FINE; BECK, 2010, p. 5) pontua que o vínculo

    homem/animal é um fenômeno bem documentado que teve início com a

    domesticação dos animais pelo homem. Com essa aproximação, a força de ligação

    entre ambos acabou permitindo que os animais de estimação se tornassem

    membros da família.

    2 Esquilo da Mongólia: para maiores informações, ver site .

  • 4

    O Comitê de Vínculo Homem/Animal da Associação Americana de Medicina

    Veterinária (FINE; BECK, 2010) definiu esse vínculo como “uma relação de benefício

    mútuo entre pessoas e animais, que é influenciada por comportamentos os quais

    são essenciais para a saúde e bem-estar de ambos. Isto inclui, mas não pode

    limitar-se a isso, a interação psicológica e física com outras pessoas outros animais

    e o meio ambiente”.

    Podemos encontrar vários relatos sobre a importância dos animais na

    socialização e na mudança de comportamento dos humanos. A ligação entre

    homens e animais teve início na pré-história, quando os lobos costumavam

    aproximar-se dos acampamentos pré-históricos para se alimentarem dos restos de

    comidas e carcaças provenientes das caçadas empreendidas pelos homens, em

    contrapartida alertando-os sobre a presença de animais selvagens (outros lobos e

    grandes felinos) nos arredores dos acampamentos.

    Inicialmente o homem trouxe os animais da fazenda para os seus quintais, e

    os poucos eles foram sendo admitidos dentro das casas. A seguir incluímos um

    breve histórico dessa interação homem/animal no que se refere aos benefícios da

    utilização de animais em reabilitação, socialização e melhora clinica de pacientes

    acometidos por alguma comorbidade:

    Em 1699, já havia relatos de contatos com animais, especialmente com

    crianças, para fins de socialização. Nesse aprendizado, os pequenos

    refletiam e exercitavam o senso de responsabilidade para com os outros

    seres vivos;

    No século XVIII, teorias sobre a influência positiva dos animais de

    estimação também começaram a ser aplicadas a doenças mentais. Isto

    ocorreu na Inglaterra, em um centro denominado Retiro de York, que

    recorria à utilização de vários animais domésticos para encorajar pacientes

    a escreverem, lerem e se vestirem. Nesse mesmo centro, em 1792, William

  • 5

    Tuke3 fez uso de animais da fazenda para o tratamento de pessoas

    doentes;

    Em 1830, no hospital inglês Betheen, programas de caridade já apontavam

    os animais como precursores de uma atmosfera mais leve para os

    pacientes com doenças mentais;

    No ano de 1867 em Bethel–Bielefeld, na Alemanha Ocidental, animais

    foram utilizados para o tratamento de epiléticos;

    Durante a Segunda Guerra Mundial, a Cruz Vermelha da cidade de Nova

    Iorque fez uso de animais na reabilitação de soldados. O programa

    utilizava cães, cavalos e animais da fazenda para entretenimento durante

    os programas terapêuticos (DOTTI, 2005).

    Nos anos 50, no Rio de Janeiro (RJ), Nise da Silveira, psiquiatra e aluna de

    Cal Gustav Jung, implementou a utilização de animais em um hospital psiquiátrico. A

    médica era radicalmente contra as formas agressivas de tratamento de sua época,

    tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, o eletrochoque, a

    insulinoterapia e a lobotomia. Ao discordar dos tratamentos tradicionais empregados

    no hospital em que trabalhava, acabou sendo transferida para a Seção de Terapia

    Ocupacional, cujas atividades se resumiam a tarefas de limpeza e manutenção do

    hospital. Locada nesta área hospitalar, Nise revolucionou o tratamento clínico dos

    pacientes ao criar ateliês de pintura e modelagem. Inovou assim a maneira de tratar

    os doentes mentais, utilizava técnicas artísticas – pintura e desenho – como terapia.

    As obras criadas por seus “clientes” colaboram para comprovar as teorias de Jung

    sobre o inconsciente coletivo (FERREIRA, 1996).

    3 William Tuke (1732-1822), negociante e filantropo inglês, autor do projeto do York Retreat,

    instituição famosa pelas tentativas corajosas de manter os doentes mentais sem restrições excessivas, que na época eram entendidas como essenciais. Disponível em: .

    http://pt.wikipedia.org/wiki/%20William_Tuke

  • 6

    Nise da Silveira foi pioneira na pesquisa das relações emocionais entre

    pacientes e animais, qualificando estes últimos como co-terapeutas. Ao recorrer a

    animais na terapia de pacientes internos em um hospital psiquiátrico, percebeu a

    facilidade com que esquizofrênicos se vinculavam aos cães. A médica destacou a

    importância de o paciente contar com a presença não invasiva de um co-terapeuta,

    tendo-o ao seu lado como um ponto de apoio seguro e organizando-se

    psiquicamente a partir dele. Ela enfatizou o papel dos animais como excelentes

    catalisadores, pois reúnem qualidades que os torna aptos a se tornarem pontos de

    referência estáveis no mundo externo, facilitando-lhes a retomada de contato com a

    realidade (CÂMARA, 2002).

    Boris Levinson (1969), considerado por muitos como o pai da terapia assistida

    por animais, foi o primeiro psicoterapeuta infantil a estudar, pesquisar e publicar

    dados sobre o poder benéfico dos animais na reabilitação da saúde mental de

    crianças (KRUGER; SERPELL, 2010).

    Em um certo dia, por acaso, Levinson levou seu cão da raça labrador ao

    consultório; entre os pacientes programados para atendimento estava um autista.

    Para grande surpresa do médico, o cão Jinglers obteve o que Levinson vinha

    tentando há várias sessões: contato com a paciente, que quase imediatamente

    passou a se expressar na presença do co-terapeuta. Dali para adiante Levinson

    adotou a utilização permanente do seu pet em consultas, principalmente com

    pacientes autistas (KRUGER; SERPELL, 2010).

    Sobre o termo designado para essa modalidade de atuação com animais, o

    autor La Joile apresenta em sua revisão uma multiplicidade de termos e definições

    que tendem a gerar confusão dentro e fora do seu campo de atuação. Com a

    intenção de padronizar essa terminologia, a Delta Society, uma grande organização

    responsável pela certificação da terapia com animais no EUA, instituiu e publicou a

    terminologia utilizada até os nossos dias: ATAA (Atividade/Terapia Assistida por

    Animais (LA JOILE, 2003, apud KRUGER; SERPELL, 2010).

  • 7

    1.3 REVISÃO DE LITERATURA

    Desde o seu início, a ATAA foi marcada pela falta de pesquisas relacionadas

    à comprovação de sua eficácia, além de uma observação direta da atividade.

    Este capítulo objetiva revisar 50 produções científicas referentes a essa

    prática nos últimos dez anos, dividida em dois eixos temáticos:

    a) artigos relacionados à teoria da ATAA;

    b) artigos pertinentes à relação homem-animal e sua eficácia no tratamento

    de crianças, idosos, saúde mental e pacientes com câncer, além da revisão

    das obras de Fine (2010) e Chandler (2012).

    Foi pesquisado no Google Acadêmico os periódicos indexados nas bases de

    dados Pubmed e Medline, entre os anos 2000 e 2014, e algumas pesquisas

    relevantes nas décadas de 80 e 90. Utilizamos como base de pesquisa as seguintes

    palavras-chave: human-pet attachment, pet-facilitated therapy, animal-assisted

    therapy e canine visitation therapy.

    Pudemos observar que, a partir de 2005, houve um significativo aumento no

    número de publicações, com o objetivo de construir, conceituar e validar essa

    atividade, além de uma preocupação com a eficácia dessa abordagem terapêutica.

    Os fundamentos terapêuticos dessa nova prática encontram-se relatados

    nesses artigos, realçando a relevância da relação homem-animal.

    Em todos os textos levantados, é nítido o cuidado em estabelecer critérios

    científicos, formais e coerentes com o ambiente de visitação e implantação da

    ATAA, normatizando o processo em patamar com rigor e cuidado adequados.

  • 8

    1.3.1 Interação homem e animal

    Pesquisas foram realizadas com o intuito de verificar os efeitos

    advindos da interação entre homem e animal na ATAA. Odendaal (2000)

    mensurou alterações significativas nos níveis de vários marcadores

    neuroquímicos presentes no sangue após uma interação positiva e agradável

    com um cachorro não familiar. Marcadores neuroquímicos foram associados à

    baixa de pressão arterial quando esta se revelava elevada, tendo ocorrido um

    aumento significante nos níveis de endorfina, ocitocina, prolactina e dopamina

    tanto nos humanos quanto nos cachorros. O cortisol, hormônio associado

    com o aumento dos níveis de estresse, registrou significativa baixa em

    humanos, ao passo que não ocorreu alteração expressiva nos cachorros.

    Shore, Douglas & Riley (2005) ressaltaram que a investigação sobre a

    ligação entre homem e animal tem focado principalmente nas vantagens

    auferidas pelo ser humano. Os autores investigaram comportamentos de

    cuidadores (proprietários) de animais de companhia e examinaram a relação

    entre tais comportamentos e bem-estar. Participaram desse estudo 501

    pessoas, em grande parte mais velhas, casadas e empregadas em tempo

    integral, e estudantes universitários, todos convivendo com um cão ou um

    gato. Quase todos os sujeitos da pesquisa relataram envolvimento em

    comportamentos de cuidados essenciais como alimentação, higiene e

    passeio. Os resultados sugerem que, além de benéficos aos animais de

    estimação, esses cuidados favorecem especialmente os seres humanos, pois

    na maioria das vezes tais comportamentos estão associados a hábitos

    saudáveis, como por exemplo a caminhada.

    Nagasawa et al. (2009) desenvolveram pesquisa relacionada ao

    hormônio oxitocina (OT) e à interação cão-dono. Neste estudo foi mensurada

    a quantidade de OT presente na urina dos proprietários. Quando estes

    mantinham mais tempo o olhar fixo em seu cão durante a interação, maior era

    a presença de ocitocina em sua urina. Os autores relataram que esse olhar é

    a representação do apego social dos proprietários com seus cães, tendo

    concluído que as interações com os cães podem contribuir para o aumento

  • 9

    das concentrações urinárias OT dos proprietários, como uma manifestação do

    comportamento de apego.

    Nesse sentido, Zilcha-Mano, Mikulincer & Shaver (2011) propuseram

    um modelo de terapia assistida por animais (ATAA) com base na teoria do

    apego e nas características únicas que se baseiam no relacionamento

    humano-animal de estimação. Os autores sugerem que essa modalidade de

    intervenção pode desenvolver padrões mais adaptativos de apego e modos

    mais saudáveis de se relacionar com os outros, além de tornar mais salutares

    os recursos de enfrentamento.

    1.3.2 Definições de ATAA e sua implantação

    Em relação à conceituação da ATAA, Machado et al. (2008) a definiram

    como uma prática com critérios específicos, na qual o animal é parte principal

    do tratamento e objetiva promover a melhora social, emocional, física e/ou

    cognitiva dos beneficiados por essa terapêutica. Os autores partiram do

    princípio de que o amor e a amizade que podem surgir entre seres humanos e

    animais podem gerar inúmeros benefícios, pois esse vínculo pode servir como

    auxílio no tratamento e na reabilitação de diversas patologias como

    síndromes genéticas, hiperatividade, depressão, mal de Alzheimer e lesão

    cerebral, entre outras.

    Kobayashi et al. (2009) apresentaram um de seus projetos de

    humanização hospitalar – o Projeto Amicão – com base nos resultados em

    um trabalho desenvolvido pela Diretoria de Enfermagem do Hospital São

    Paulo, da Universidade Federal de São Paulo, com vistas ao desenvolvimento

    e à implantação da Terapia Assistida por Animais. Com o objetivo de

    proporcionar aos pacientes uma experiência positiva que diferisse da rotina

    do ambiente hospitalar, algumas unidades do Hospital São Paulo receberam

    a visita de um animal nas sessões de ATAA. Em dois anos de funcionamento

    do projeto, seus resultados puderam ser auferidos através dos relatos de

  • 10

    pacientes e profissionais. Anotações em registros de enfermagem,

    prontuários médicos e avaliações de estágio forneceram efeitos expressivos

    em relação à presença de Joe (cão de trabalho) nas unidades visitadas e sua

    importância no processo de humanização da assistência. Todos os pacientes

    relataram a alegria e a expectativa com que aguardavam a chegada de Joe:

    durante as visitas na pediatria, as crianças paravam de chorar e os adultos

    ficavam enternecidos e entusiasmados. Na maioria dos relatos a presença de

    Joe alegrava e quebrava a rotina do dia a dia dos pacientes e da unidade.

    O Projeto Amicão é hoje referência no processo de humanização da

    assistência no Hospital São Paulo. Todavia, é fundamental a realização de

    mais estudos sobre a Terapia Assistida com Animais e seus benefícios para a

    saúde dos pacientes. Para tanto, faz-se necessário estudar e verificar a

    diminuição dos sinais e sintomas de pacientes assistidos por essa terapia, tais

    como a diminuição da pressão arterial e da dor, a melhoria na adesão ao

    tratamento e o alívio dos sintomas de ansiedade e depressão.

    Como o Projeto Amicão, existem várias ONGs (organização não

    governamental) envolvidas e que promovem a ATAA, uma delas é a “Delta

    Society”, estabelecida nos EUA, que tem como missão melhorar a saúde de

    uma pessoa por meio de interações positivas com os animais, aproveitando o

    vínculo existente entre ambos, e se utilizando da ATAA (Delta Society, 2011).

    A ATAA se caracteriza por ser um modelo que envolve um paciente, um

    animal altamente treinado, um terapeuta, com objetivo de alcançar resultados

    terapêuticos específicos. Os animais de estimação são considerados os "co-

    terapeutas", ou facilitadores de terapia (ZILCHA-MANO, MIKULINCER, E

    SHAVER, 2011).

    A proposta mais completa da sistematização da ATAA está

    contemplada em Silveira, Santos & Linhares (2011), ao afirmarem que, para

    evitar acidentes e zoonoses, a permissão para que os animais visitem uma

    instituição exige um protocolo contendo normas e rotinas de segurança. Os

    autores ressaltaram que é fundamental que a entrada dos animais em uma

  • 11

    unidade hospitalar seja realizada sob normas e critérios de segurança, e que

    tais critérios sejam claros e realizáveis por todos os participantes. Em nosso

    entender, os riscos clínicos podem ser minimizados com a adoção de um

    protocolo, pois permitem o controle de infecções e reduzem os acidentes

    potencialmente. A inclusão de novos conceitos na assistência aos pacientes

    foi, e continua sendo, um desafio não só para a Comissão de Controle de

    Infecção Hospitalar das instituições hospitalares, mas também para seus

    profissionais e administradores.

    1.3.3 ATAA em saúde mental

    Segundo McCulloch (1981), os animais ajudam os indivíduos a

    enfrentar e conviver com depressão e doenças físicas, oferecendo amizade,

    uma sensação de segurança, e melhora no sentimento de solidão,

    promovendo bem-estar.

    Akiyama, Holtzman e Britz (1996) entrevistaram mulheres que tinham

    ficado viúvas recentemente, e aquelas que possuíam animais de estimação

    apresentaram um menor índice de uso de drogas e menos sintomas

    psiquiátricos do que aqueles que não possuíam animais de estimação.

    Baker & Dawson (1998) relataram o uso bem sucedido de uma única

    sessão de ATAA na redução da ansiedade em pacientes psiquiátricos

    internados com distúrbios psicóticos, transtornos do humor e outros

    distúrbios. No grupo de controle foi realizada uma única sessão de recreação

    terapêutica, sendo apontada uma diminuição de ansiedade somente nos

    pacientes com transtornos do humor. Como resultado, os autores concluíram

    que a ATAA é eficaz na redução dos níveis de ansiedade em pacientes com

    uma variedade de diagnósticos psiquiátricos.

    Os animais trazem um sensação de familiaridade para os paciente

    hospitalizados ou para os que vivem em instituições de cuidados de saúde.

  • 12

    Souter & Miller (2007) conduziram meta-análise para determinar a eficácia da

    ATAA na redução de sintomas depressivos em seres humanos. Critérios de

    inclusão foram estabelecidos, pelos quais o estudo deveria: (a) ser

    necessariamente randomizado, incluindo comparações ou grupos de controle;

    (b) utilizar a ATAA; e (c) adotar como medida o autorrelato da depressão.

    Cinco estudos foram identificados para a análise: Brickel (1984), McVarisch

    (1995), Panzer-Koplow (2000), Struckus (1989) e Wall (1994). Como

    resultado, os pesquisadores concluíram que a extensão dos efeitos

    agregados nesses estudos foi de magnitude média, estatisticamente

    significativa, indicando que ATAA está associada à diminuição dos sintomas

    depressivos.

    Em outro estudo, Windom e cols (2009) entrevistaram 177 adultos com

    uma doença mental grave e descobriram que a convivência com animais de

    estimação cooperava na recuperação desses pacientes através do

    fornecimento de empatia com algo vivo e faziam conexões que aumentaram

    as redes sociais, serviam como companhia quando a família estava ausente,

    e era um importante o apoio da auto-eficácia e um senso de posse, o que

    fortalecia as relações e conseqüentemente o estado emocional desses

    pacientes.

    Segundo Smith (2009) existem também pesquisas sobre a relação

    entre ter um animal de estimação e bem-estar mental de forma mais geral.

    Um estudo sobre o impacto da ATAA em pacientes psiquiátricos demonstrou

    reduções significativas na ansiedade segundo Barker, S.; Dawson, K (1998),

    a ATAA diminuiu o comportamento violento, e aumento da linguagem e

    habilidades sociais em crianças com TDAH na pesquisa de Nagengast e cols

    (1997). No entanto, segundo Windom e cols (2009) a responsabilidade pelo

    cuidado do animal de estimação pode agravar problemas de saúde mental.

    As instalações que incluem ATAA em seus programas de assistência,

    melhoram a qualidade de vida, a motivação e reduzem o isolamento

    (Diefenbeck, Bouffar, Matukaitis, Hastings, e Coble, 2010; Horowitz, 2010).

    Além dos benefícios físicos e emocionais para os pacientes, e as equipes

  • 13

    envolvidas, ATAA traz também um benefício custo-efetivo, ou seja, uma

    proposta eficaz com baixo custo e modificando positivamente o ambiente do

    tratamento. É fato que a presença de animais de estimação em ambientes

    hospitalares melhoram a relação paciente-equipe, pois fornecem também á

    equipe uma forma diferente de apoio e conforto, o que e torna suas jornadas

    de trabalho um pouco menos estressantes (BANKS & BANKS, 2002;

    CHINNER, 1991; REED, FERRER, E VILLEGAS, 2012) .

    Na investigação de terapias com a utilização de cães, Barker et al.

    (2010) obtiveram como padrão de resposta o amortecimento do estresse no

    comportamento dos pacientes. Para tanto, os autores se valeram dos

    seguintes instrumentos: questionário de estresse, observação da interação

    paciente-cachorro, marcação da pressão e dos batimentos cardíacos, além da

    medição de cortisol e amilase alpha na saliva e do autorretrato do paciente

    em relação ao encontro com o cachorro. Os resultados revelaram um

    aumento moderado com o estressor e a redução do valor basal de cortisol na

    saliva, da pressão arterial, dos batimentos cardíacos e da ansiedade auto-

    referida.

    Cirulli et al. (2011) analisaram a influência da interação homem-animal

    para a saúde humana. Embora sejam encontrados alguns estudos com

    deficiências metodológicas, pesquisas começam a abordar os mecanismos

    por trás do vínculo humano-animal. Os autores constataram que os animais

    domésticos absorvem a atenção das pessoas e exercem uma influência

    calmante ou excitante, além de serem capazes de responder a

    demonstrações de afeto, provocando assim um comportamento pró-social e

    seus consequentes efeitos positivos; desse modo, funcionam como uma

    ponte para mediar interações emocionais em contextos terapêuticos. O

    mesmo estudo apontou a necessidade de uma maior compreensão das

    técnicas que melhor se coadunam com o tratamento de cada paciente; da

    importância de se promover uma formação adequada e específica de todos

    profissionais envolvidos; e da importância das pesquisas em ATAA, a fim de

    se estabelecer metodologias padronizadas visando reunir dados significativos

  • 14

    que confirmem a ATAA como uma ferramenta em potencial para utilização no

    tratamento de pacientes de saúde mental.

    Em um estudo com pacientes psiquiátricos, Berget & Braastad (2011)

    ressaltaram como a terapia assistida por animais pode afetar os resultados de

    enfrentamento de pessoas com transtornos psiquiátricos, principalmente

    ansiedade e depressão, assim como melhorar o apoio social e a qualidade de

    vida destas. Diversos estudos da área apontam uma redução nos níveis de

    depressão quando esse tipo de intervenção é utilizado.

    Aguiar & Silva (2011) relataram trabalho desenvolvido pela Faculdade

    de Odontologia de Araçatuba, juntamente com o Curso de Medicina

    Veterinária, ambos da UNESP. Trata-se do Projeto de Extensão Cão Cidadão

    UNESP, implementado em algumas entidades de Araçatuba, incluindo o

    Centro de Assistência Odontológica à Pessoa com Deficiência (CAOE-

    UNESP), popularmente conhecido como Centrinho, em um trabalho

    multidisciplinar que envolve profissionais e alunos da área da saúde.

    O projeto Cão Cidadão UNESP visa o desenvolvimento de atividades

    em prol da amenização do estresse, do medo e da ansiedade que costumam

    acometer pacientes com deficiência nos momentos que antecedem o

    atendimento odontológico. A equipe realiza procedimentos tais como passeios

    com os cães juntamente com os pacientes, escovações dentais nos cães para

    que os pacientes possam visualizar, aprender e se motivar em relação aos

    procedimentos odontológicos, e o ato de vestir os animais com alguns

    acessórios – como roupa branca, gorro e máscara –, visando a associação

    com a imagem do dentista de modo a tornar essa relação mais amena e

    acolhedora.

    Com base em suas observações das reações positivas e do

    comportamento dos pacientes, Aguiar & Silva (2011) puderam afirmar que,

    após participação nesse projeto, houve uma melhora significativa com relação

    à interação social e à socialização, com aumento da autoestima e até mesmo

    da comunicação verbal, pois os pacientes tendem a se soltar e a melhor

  • 15

    interagir com as demais pessoas, além de aceitarem com maior naturalidade

    o tratamento odontológico no Centrinho.

    Ainda em relação aos estudos da relevância terapêutica em saúde

    mental, Fike, Najera & Dougherty (2012) descreveram um trabalho com a

    utilização de cães na ATAA, desenvolvido por um período de cinco anos pelo

    Exército dos EUA nas unidades de combate de controle de estresse, junto

    aos soldados norte-americanos que serviam no Iraque. Em seu artigo, os

    autores relataram a experiência de três terapeutas ocupacionais do Exército.

    Um dos aspectos mais difíceis para a implantação de qualquer atividade em

    uma zona de guerra é o fato de que os membros do serviço estão longe da

    família e entes queridos durante tempos difíceis e altamente estressantes. A

    presença de um cão de terapia nessa situação ofereceu aos membros do

    serviço a capacidade de se expressarem e receberem afeto de uma forma

    adequada. Os benefícios foram constatados através de expressões tais como:

    "Eu só precisava de um abraço do cão de terapia", ou "É exatamente isso que

    eu precisava" (paciente ao receber o beijo de um cão). A atividade

    terapêutica de jogar, buscar ou acariciar um cão de terapia oferece aos

    membros do serviço um simples prazer típico da vida familiar. Às vezes, o

    pequeno gesto de amor incondicional de um cão pode, literalmente, fazer toda

    a diferença no mundo, principalmente para soldados que se encontram tão

    longe de casa. A troca de afeto com o animal tende a fazê-los lembrar de

    momentos agradáveis e relaxantes.

    1.3.4 ATAA em crianças

    Nos trabalhos realizados com crianças, Kawakami & Nakano (2001)

    relataram os benefícios conseguidos por meio da ATAA em quatro instituições

    de saúde da cidade de São Paulo. As visitas foram feitas a uma casa

    especializada em educação especial para crianças com diversas síndromes; a

    uma instituição que abriga idosos abandonados ou sem família; a outra

    instituição que oferece suporte para crianças com câncer; e, por último, a uma

    casa que abriga e dá assistência a crianças aidéticas. Na observação da

  • 16

    visita de animais aos pacientes, os autores perceberam que estes ficavam

    mais alegres e dispostos, conversando mais entre si e com os voluntários; e

    que a ATAA poderia ser também utilizada como um recurso de aproximação

    entre o enfermeiro e o paciente.

    O sorriso do paciente é o sinal mais frequente e constante ao se

    realizar uma terapia com animais – é a senha para se perceber que o

    paciente aceita ser visitado por animais. Conclui-se que a ATAA é mais uma

    opção à disposição do enfermeiro para facilitar sua interação com o paciente

    de um modo agradável para ambos, pois muitas vezes – mais do que o medo

    ou a inibição de abordar outra pessoa – há também a insegurança; nesse

    momento, o animal pode se tornar o nosso maior aliado. Apesar disso, a

    ATAA, mesmo recomendada pelos especialistas, ainda encontra barreiras

    para chegar a muitos hospitais brasileiros que não permitem a entrada de

    animais.

    A eficácia da experiência de contato e relação com o animal está

    presente em um estudo de caso desenvolvido por Bussotti et al. (2005) com o

    objetivo de conhecer a percepção de uma adolescente (CK) portadora de

    leucemia linfocítica aguda recidivada e de sua mãe em relação à visita do seu

    cão de estimação durante a hospitalização, bem como de descrever a

    experiência enquanto intervenção de enfermagem. Os dados foram obtidos e

    organizados mediante relato de experiência. Alguns dias depois da visita

    canina CK encerrou seu ciclo vital, o que – para as autoras desse trabalho –

    reforçou o quão importante foi terem realizado um cuidado que proporcionou

    um momento de alegria à paciente, marcado pelo seu sorriso e descontração.

    Este caso demonstra que cabe a nós, profissionais de saúde, tomarmos a

    decisão de desenvolver um plano de cuidados, tendo em mente que trabalhar

    com o paradigma da saúde e não da doença pode fazer uma grande

    diferença se objetivarmos uma assistência humanizada e de qualidade.

  • 17

    Sobo et al. (2006) relataram pesquisa com o objetivo de explorar a

    eficácia da terapia/visitação canina (CVT4) no manejo da dor pediátrica em um

    hospital infantil de cuidados terciários. Foi feito um estudo piloto descritivo

    com 25 sujietos de 5 a 18 anos, as quais haviam sido submetidas à cirurgia e

    sentiam dor aguda pós-operatória, quando foi realizada a visita canina. Cada

    criança respondeu a uma pesquisa pré-pós e a uma entrevista pós-

    intervenção, com os seguintes resultados: (1) quantitativo: a CVT reduziu

    significativamente a dor percebida; (2) qualitativo: a sugestão de que este

    mecanismo distrai as crianças de forma cognitivamente ativa, por meio de

    pensamentos reconfortantes sobre companheirismo ou lembranças de casa.

    Conclui-se que a CVT pode ser um complemento útil para o manejo da dor

    para crianças em fase pós-operatória.

    Vaccari & Almeida (2007), em artigo sobre a importância da visita de

    animais de estimação na recuperação de crianças hospitalizadas, mostraram

    que esta é uma experiência bastante prazerosa para elas, que melhoram a

    interação destas com a equipe multidisciplinar e com os demais internos. O

    contato com os animais também contribuiu para que as crianças se

    tornassem mais cooperativas nos procedimentos hospitalares, provavelmente

    pelo fato de se sentirem mais relaxadas e de conseguirem confiar em um

    ambiente no qual não acontecem somente situações desagradáveis, mas que

    também lhes pode proporcionar momentos de prazer e diversão.

    O alívio da dor e do desconforto foi outro benefício constatado nesse

    estudo, seja pelo fato de os animais atuarem como estratégia de distração

    para a criança, fazendo-a esquecer da dor momentaneamente, ou

    simplesmente por trazerem descontração ao ambiente e alívio da tensão e da

    ansiedade. Por fim, a terapia com animais evidenciou-se como uma atividade

    extremamente prazerosa não só para as crianças, mas também para os

    adultos à sua volta, que sorriam com mais frequência e, no caso dos

    funcionários, pareciam trabalhar com mais disposição.

    4 Canine Visitation Therapy.

  • 18

    Parich-Plass (2008) escreveu um breve histórico da conexão entre

    apego inseguro e transmissão de abuso e negligência entre gerações, bem

    como um resumo dos princípios da AAT em um ambiente de terapia. A autora

    constatou que crianças que sofrem de apego inseguro devido a abuso grave

    e/ou negligência apresentam comportamentos inadequados e mal adaptados

    em outros relacionamentos e situações. Comparadas com a população em

    geral, estas crianças têm maior probabilidade de se tornarem abusadores e

    pais negligentes. A terapia desenvolvida com tais crianças costuma ser

    complicada por sua desconfiança em adultos, assim como as dificuldades de

    simbolização devido a traumas ocorridos durante a fase pré-verbal. A ATAA

    proporciona caminhos para contornar essas dificuldades, bem como fornece

    ferramentas adicionais para alcançar o mundo interno dessas crianças,

    constituindo-se em um canal eficaz na redução significativa dos sintomas

    traumáticos.

    Outro trabalho, desenvolvido por Dietz et al. (2012), relata que a terapia

    da ATAA desenvolvida com crianças vítimas de abuso pode bloquear a

    tendência de se tornarem abusadores em relação às gerações futuras.

    Voltando ao tratamento de crianças autistas, Martin & Farnum (2002)

    apontam um aumento no sentimento de felicidade e melhoria na comunicação

    da criança autista quando em terapia na presença de um cão de verdade, ao

    invés do contato com um cachorro de pelúcia ou com outros brinquedos

    inanimados. Nota-se também uma maior agitação das mãos da criança

    autista no momento da interação com o cão, sendo esta agitação um provável

    sinal de excitação.

    Em estudo prospectivo à terapia assistida por animais com a utilização

    de equinos, Kern et al. (2011) apontaram uma redução na escala de

    classificação dos sintomas autistas. Na mesma direção, Salgueiro et al.

    (2012) confirmaram que o uso de golfinhos no tratamento de transtornos

    complexos como o autismo, em uma abordagem emergente, necessita de

    uma maior exploração.

  • 19

    Grandgeorge et al. (2012) ressaltaram que em crianças autistas o

    contato com animais, especialmente cachorros, leva a uma maior atenção em

    realizar tarefas com as mãos e em manter contato com as pessoas.

    Observações similares quanto a alterações em outros comportamentos

    sociais têm sido relatadas em recentes estudos controlados que envolvem o

    uso de animais de estimação e crianças com autismo.

    1.3.5 ATAA em idosos

    Os resultados terapêuticos em idosos institucionalizados foram

    observados em Oliva et al. (2010), que destacaram a contribuição da ATAA

    na socialização de pessoas, na psicoterapia, no tratamento de idosos e de

    pacientes com necessidades especiais, e na diminuição da ansiedade de

    várias causas. Os autores também identificaram as alterações físicas,

    psicológicas e sociais geradas pela instalação da AAA em uma instituição de

    atendimento assistencial a idosos. A pesquisa envolveu 36 idosos, de ambos

    os sexos, com idades entre 58 e 101 anos, em uma instituição de assistência

    ao idoso da cidade de Araçatuba, SP.

    Durante o período avaliado, os autores verificaram a possibilidade de

    incremento da qualidade de vida física e emocional dos idosos

    institucionalizados através da prática de AAA constante e sistematizada.

    Ficou comprovado o papel dos cães como objetos motivacionais e como

    catalisadores das emoções humanas, com reflexos evidentes na saúde física

    e mental dos internos. Dentre as alterações sociais e comportamentais mais

    observadas podem ser citadas: a redução da ansiedade, o incremento do

    convívio social entre os internos, a melhora do humor e da capacidade de

    expressão, e o estímulo à memória. Com base nesse estudo pode-se concluir

    que esse tipo de terapia estimula os idosos à prática de exercícios físicos

    leves e facilita as sessões de fisioterapia.

  • 20

    Carvalho et al. (2011) estudaram a relevância da relação cão-idoso

    para o aprimoramento da qualidade de vida em instituição de longa

    permanência para idosos. A pesquisa foi implementada em duas instituições

    de longa permanência para idosos na cidade de Uberlândia (MG), envolvendo

    23 idosos e dois cães de serviço. As atividades com os animais

    proporcionaram aos idosos um aumento na capacidade de comunicação, na

    interação e na socialização dos pacientes tanto com os cães quanto com a

    equipe, com os funcionários das instituições e com outras pessoas.

    Concomitantemente, foram constatadas diminuição da ansiedade e da

    irritabilidade, aumento da autoestima, incremento das manifestações de afeto,

    interesse pelo animal e melhora da memória, além de uma descontração do

    ambiente e da amenização dos sentimentos de abandono, depressão e

    solidão. Os cães se tornaram figuras de companheirismo e símbolo de

    amizade para os idosos. Outro aspecto observado foi a multidisciplinariedade

    alcançada de maneira dinâmica e criativa nessa atividade terapêutica.

    Krause-Parello (2012) apontou que animais de estimação podem

    desempenhar um papel positivo na saúde tanto física quanto psicológica de

    adultos mais velhos. Este estudo transversal investigou as relações entre

    solidão, fixação no animal de estimação, apoio social humano e humor

    deprimido, em uma amostra com 159 mulheres que possuíam animais de

    estimação e residiam na comunidade. Os resultados revelaram uma relação

    significativa entre solidão, apoio social e humor deprimido. Não foi encontrada

    relação entre apoio social e humor deprimido. Concluiu-se a importância do

    apego ao animal de estimação como uma forma maior de apoio.

    Nordgren & Engstrom (2012) relataram em seu artigo o interesse e o

    aumento de intervenções não farmacêuticas nos cuidados da demência. A

    terapia assistida por animais tem se caracterizado como uma intervenção

    promissora, mas é necessário que se tenha domínio desta. Os autores

    descreveram um estudo piloto envolvendo uma mulher de 84 anos com

    demência, que foi sistematicamente assistida por uma equipe que incluía um

    cão terapeuta durante oito semanas. Estatísticas descritivas foram utilizadas

    para a análise dos dados. Dentre os resultados pode-se perceber efeitos

  • 21

    positivos sobre a capacidade da paciente de andar e se movimentar, além de

    alguns reflexos em seu estado cognitivo. Concluiu-se que a formação física,

    psicológica e social, com equipes de cães certificados em terapia assistida

    por animais, pode ter eficácia sobre os sintomas comportamentais e

    psicológicos em pessoas vivendo com demência. Nesse sentido, um maior

    número de pesquisas se faz necessário.

    1.3.6 ATAA em doenças orgânicas

    A adoção da ATAA pode ser também direcionada a pessoas com

    diagnóstico de doenças físicas, conforme apontaram Stanley-Hermanns &

    Miller (2002) em pesquisa sobre os estudos já realizados na área de terapia

    assistida por animais. A maioria desses trabalhos aponta os benefícios

    fisiológicos desse tipo de terapia, indicando um aumento no relaxamento

    evidenciado pela redução da pressão arterial e da frequência cardíaca. Os

    autores destacaram três estudos:

    a) Em pesquisa de 1992, incluindo 5.741 pacientes em uma clínica gratuita

    em Melbourne, na Austrália, foi constatado que os donos de animais de

    estimação tinham pressão arterial sistólica e níveis de triglicérides

    significativamente mais baixos quando comparados aos que não eram

    proprietários de animais (ANDERSON; REID; JENNINGS, 1992);

    b) Em tentativa de estabelecer uma base científica para a ATAA, um estudo

    de 1999 com 18 cães e 18 humanos mensurou as substâncias

    neuroquímicas e a pressão arterial nos dois grupos. O estudo, uma tese de

    doutorado inédita para a Universidade da África do Sul, investigou a

    eficiência da leitura silenciosa e da interação homem-cão no alívio do

    estresse humano, confirmando que ambas as atividades foram quase

    igualmente eficazes (tal como medido pelo aumento da oxitocina, prolactina

  • 22

    e β-endorfinas). No entanto, o pequeno tamanho da amostra torna difícil a

    generalização. Relatos de casos de animais utilizados em programas de

    reabilitação demonstram outros benefícios físicos, como por exemplo, o

    caso de um paciente que havia sofrido um AVC e que ganhou força e

    condicionamento muscular com a prática de escovar um animal

    diariamente. Evidentemente, mais estudos serão necessários para

    confirmar os benefícios da terapia assistida por animais no ambiente de

    reabilitação (COLLINS, 1996).

    c) Em 2001, estudo com 30 homens e 30 mulheres detectou uma correlação

    entre a posse do cão e o controle da hipertensão borderline. Foram

    comparados dois grupos distintos: os que adotaram um cão de um abrigo e

    as pessoas envolvidas em um programa de meditação transcendental.

    Testes de estresse psicológico foram administrados e a pressão arterial e a

    frequência cardíaca dos participantes foram mensuradas em dois

    momentos: no início do estudo e ao final de três meses. Ambos os grupos

    apresentaram altas de pressão arterial sistólica na primeira medição. Após

    três meses, os donos de cães evidenciaram reduções significativas na

    pressão arterial em repouso e na pressão arterial ambulatorial. Em

    contrapartida, aqueles que praticavam meditação transcendental não

    apresentaram alterações expressivas. Os pesquisadores também

    mencionaram que todos os participantes do grupo que adquiriram um

    animal os mantiveram após o término de vigência do estudo (ALLEN,

    2002);

    Não se pode, contudo, desconsiderar a realidade institucional na qual está

    inserida a atividade com animais. A relevância da supervisão e do acompanhamento

    multiprofissional é ressaltada por diversos autores (CIRULLI et al., 2011;

    GAMMONLEY; YATES, 1991; MACHADO et al., 2008; SILVEIRA et al., 2011).

    Um número expressivo de trabalhos que vem sendo realizado com o suporte

    da ATAA tem demonstrado bons resultados, como por exemplo: a socialização de

    crianças autistas, a melhoria dos sintomas depressivos em idosos, a diminuição do

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Gammonley%20J%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=1899683http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Gammonley%20J%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=1899683

  • 23

    estresse de soldados em atividades de campo, o aumento dos níveis de marcadores

    essenciais para a vida de seres humanos, como pressão, hormônio, entre outros.

    Ao longo da revisão de pesquisas na área de ATTA, pode-se perceber que a

    maioria dos artigos demonstra uma nítida preocupação em estabelecer critérios

    científicos, formais e coerentes com o ambiente de visitação e implantação dessa

    atividade, além do objetivo de normatizar o processo em patamares com rigor e

    cuidado adequados.

    A questão proposta no presente estudo busca observar se em um grupo de

    pacientes brasileiros os resultados obtidos pelos pesquisadores acima são

    semelhantes.

    Assim, o objetivo geral deste projeto foi observar os efeitos da ATAA em um

    grupo de pacientes com doenças oncológicas internados no Instituto do Câncer do

    Estado de São Paulo – Otavio Frias de Oliveira.

    A seguir abordaremos a Psicossomática e a Psico-Oncologia como uma área

    específica desta primeira, pois os sujeitos dessa pesquisa foram pacientes

    oncológicos.

    1.4. PSICOSSOMÁTICA E PSICO-ONCOLOGIA

    A Psicossomática é uma área que transita entre a Medicina e Psicologia,

    através da qual se estuda as relações mente-corpo, bem como a influência dos

    fatores psíquicos nos distúrbios físicos. Segundo Ramos (2006.p47) o termo

    psicossomática:

    (...) deriva do reconhecimento de uma interdependência fundamental

    entre mente e corpo em todos os estágios de doença e saúde. Seria

    um reducionismo considerar que há doenças de causas puramente

    psicológicas ou puramente orgânicas. Há sempre um pluralismo na

  • 24

    observação de qualquer fenômeno. Existe uma tendência a considerar

    todas as doenças como psicossomáticas, na medida em que elas

    envolvem a inter-relação contínua entre corpo e mente na sua origem,

    em seu desenvolvimento e sua cura (RAMOS, 2006:47).

    A Psicossomática desenvolveu-se a partir dos estudos de vários autores com

    diferentes modos de pensar como: Heiroth (1808), Deustsch (1922), Dunbar (1935),

    Alexander e French (1938), Lipowiski (1984), Marty (1990), influenciados pelas

    teorias e pesquisas de Jung, Freud, Pavlov, Kohlere, Selye entre outros.

    Segundo Mello Filho (1992) a psicossomática se desenvolveu em três fases:

    inicial ou psicanalítica, com predomínio dos estudos sobre a gênese das

    enfermidades, sobre as teorias da regressão e sobre os benefícios secundários do

    adoecer, entre outros; a intermediária ou behaviorista, caracterizada pelo estímulo

    ás pesquisas em homens e animais, tentando enquadrar os achados à luz das

    ciências exatas e dando um grande estímulo aos estudos sobre estresse; e a fase

    atual ou multidisciplinar, em que vem emergindo a importância social e da visão da

    psicossomática como uma atividade essencial de interação, de interconexão entre

    vários profissionais de saúde.

    Esses profissionais da saúde (Medicina/Psicologia) recorrem à

    psicossomática para entender a origem de determinadas doenças, as quais não

    estão incluídas as hereditárias, genéticas e as causadas por fatores do meio

    ambiente, mas os danos podem ser aumentados e até originados em decorrência da

    tensão psíquica, onde o estado emocional freqüentemente pode determinar o curso

    da doença.

    Atualmente temos a integração do termo holístico no conceito de

    psicossomática, o qual já foi usado muito nas culturas tradicionais antigas, mente-

    corpo como uma unidade significativa (Ramos, 2006). Mas ainda temos um

    problema muito freqüente na área da saúde, onde se busca entender apenas a

    doença e não a pessoa como um todo, desprezando completamente o ser humano

    em sua totalidade. Partindo desse pressuposto temos a seguinte definição abaixo:

  • 25

    Psicossomática é um termo que se refere à inseparabilidade e

    interdependência dos aspectos psicológicos e biológicos da

    humanidade. Essa conotação pode ser chamada de holística, na

    medida em que ela implica uma visão do ser humano como uma

    totalidade, um complexo mente-corpo imerso num ambiente social

    (LIPOWISKI, 1984:167)

    Dentro desta área chamada de Psicossomática temos a Psico-oncologia, uma

    área específica voltada para as questões mente e corpo envolvidas na vivência de

    doença oncologica, bem como seu tratamento, efeitos colaterais e reabilitação.

    O inicio formal do Psico-Oncologia se deu em meados de 1970, quando o

    estigma da palavra "câncer", que antes não podia ser dita, foi diminuindo a tal ponto

    que o diagnóstico poderia ser revelado e os sentimentos do paciente sobre sua

    doença poderiam ser explorados pela primeira vez. No entanto, um segundo estigma

    tem contribuído para o desenvolvimento tardio do interessse nas dimensões

    psicológicas do câncer: atitudes negativas ligadas a doenças mentais e problemas

    psicológicos, mesmo no contexto de doença médica (HOLLAND, 2002).

    Porém os conceitos que envolvem a Psico-Oncologia já eram debatidos na

    Antiguidade por Hipócrates que segundo Campos (2010:23) “propunha uma

    Medicina que visse o homem com uma totalidade onde mente e corpo funcionassem

    harmonicamente propiciando o bem-estar e a saúde. O rompimento dessa harmonia

    era o que trazia a doença. Os estados de humor poderiam ser responsabilizados por

    essa quebra de equilíbtio entre corpo e mente”.

    Sobre o tema, Lipowski (1984) aponta que “desde os tempos de Hipócrates

    os médicos postulavam que as emoções influenciam funções do corpo, e podiam

    causar doenças. O próprio Hipócrates costumava dizer “medo, culpa, prazer, paixão

    .... a cada um destes ocorpo responde por sua ação. Exemplos são os suores, as

    palpitações do coração”. Uma afirmação similar pode ser encontrada em Aristóteles.

    Por séculos após Hipócrates, as emoções foram vistas são somente como tendo

    efeito mnas funções do corpo, mas também como fatores patogêncicos. Galeno,

    sec. II d.C., um dos mais inflentes médicos de toda a história, incluía as paixões

  • 26

    entre as causas de doença somática que citava o sofrimento psíquico, a raiva, a

    luxúria e o medo como “doenças da alma”, e deveriam ser diagnposticadas. Muito

    em função da influência deste autor a medicina eurtiopeia anterior ao século XIX

    devotava muito atenção à causa psicológica eda doença em especial ao papel das

    emoções como fatores etiológicos em muitas doenças, incluindo doenças

    contagiosas e as epidemias” (p.153).

    A relação entre mente e corpo, emoções e doenças, fatores externos

    correlacionados ao aparecimento de doenças; são questões que iniciaram na

    Antiguidade, mas que continuam em discussão até os dias atuais.

    Holland (1990) definiu a Psico-Oncologia como uma subespecialidade da

    Oncologia, que procura estudar as duas dimensões psicológicas presentes no

    diagnóstico do cãncer: 1) o impacto do câncer no funcionamento emocional do

    paciente, sua família e profissionais da saúde envolvidos em seu tratamento; 2) o

    papel das variáveis psicológicas e comportamentais na incidência e na

    sobrevivência ao cãncer (p.11). Essa definição foi oficializada pela Associação

    Internacional de Psico-Oncologia.

    A versão brasileira da definição da Psico-Oncologia foi formulada por

    Gimenes (1994) com a fundação da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, sendo

    que essa área “representa a área de interface entre a Psicologia e Oncologia e

    utiliza o conhecimento educacional, profissional e metodológico proviniente da

    Psicologia da Saúde para aplicá-lo: 1) na assistência ao paciente oncológico, sua

    família e profissionais de Saúde envolvidos com a prevenção, tratamento, a

    reabilitação e a fase terminal da doença; 2) na pesquisa e no estudo de variáveis

    psicológicas e sociais relevantes para a compreensão da incidência, da recuperação

    e do tempo de sobrevida após o diagnóstico de câncer; 3) na organização de

    serviços oncológicos que visem o atendimento integral do paciente. Enfatizando de

    modo especial a formação e o apriomoramento dos profissionai da saúde envolvidos

    nas diferentes etapas do tratamento (p.46).

  • 27

    A Psico-Oncologia nasceu dando enfaze aos fatores psicologicos, biológicos

    e sociais na assistencia ao paciente oncológico, buscando uma compreensão maior

    dos processos de adoecimento e desenvolvimento da doença, bem como a

    adaptação do paciente a nova condição de ser doente, e também as implicações na

    vida familiar, social e profissionais após diagnóstico de câncer (CAMPOS, 2010).

    É imprescindível que o paciente receba uma assistência integrada

    multiprofissional, Holland (2002) lembra a importância das contribuições das

    enfermeiras e assistentes sociais, que foram das primeiras pessoas a identificar a

    complexidade das respostas psicológicas ao câncer, seu desenvolvimento e seus

    sintomas. Especificamente no controle da dor e no provimento de suporte social dos

    pacientes, essas profissionais tiveram papel importantíssimo no início da Psico-

    Oncologia.

    Outro fator importante que contribuiu para o surgimento dessa especialidade,

    foi a importância de distúrbiios psiquiátricos como a ansiedade e depressão

    influenciando do desenvolvimento da doença. De acordo com Holland(2002), o

    atendimento psiquiátrico a partir dos pedidos de interconsulta vieram contribuir

    significativamente para o bem-estar do paciente.

    A vivência do diagnóstico e tratamento da doença oncológica podem implicar

    no aparecimento de numerosos e importantes estressores físicos e psicológicos. O

    impacto do tratamento na qualidade de vida do paciente e de seus familiares é um

    fenômeno que tem sido estudado desde a antiguidade, como citado anteriormente.

    O adoecer é de fato, uma experiência intensa e desorganizadora em nível

    psicológico, pois ao adoecer, o ser humano se dá conta de sua condição de ser

    mortal porque é humano (Franco, 2005). Segundo Pessini (2006), o cuidado da dor

    e do sofrimento é a chave para o resgate da dignidade do ser humano neste

    contexto crítico, como a morte. A problemática da dor e do sofrimento não é pura e

    simplesmente uma questão técnica, mas sim de uma das questões éticas

    contemporâneas de primeira grandeza.

  • 28

    Dessa forma, além da dor física, o paciente e também seus familiares se vêm

    enredados pela dor psíquica – a dor da perda da saúde. E a dor sentida com mais

    intensidade, não é a dor que a doença traz, mas a dor de saber-se doente, de perder

    a condição de sadio segundo O adoecer transforma a pessoa de sujeito de

    intenções em sujeito de atenção A dor do adoecer em oncologia envolve, portanto,

    um processo de enlutamento pela perda do eu sadio. Em toda perda importante que

    acontece na vida, é necessário um processo elaborativo, que também é

    acompanhado por um processo de enlutamento, ou seja, o luto pela perda da saúde

    (COELHO, 2001).

    Os pacientes oncológicos enfrentam enormes desafios, perdas e adaptações

    ao cotidiano de doença e tratamento, fato este que geralmente provoca estresse e

    alterações em todo o espectro da experiência física, emocional e existencial da

    pessoa bem como de dua família. Entre os problemas mais comuns estão a

    ansiedade e depressão (Massie, 2004), causados principalmente pela procura de

    explicações para causa da doença, o isolamento e impotência, além da falta de

    apoio (Helgeson & Cohen, 1996), convivendo com o peridgo demorte iminente, além

    das limitações físicas (FAWZY, FAWZY, ARNDT, & PASNAU, 1995).

    O estigma de morte em torno do câncer ainda continua mesmo com o avanço

    nos tratamentos, as questões de saúde mental e morte podem ainda desafiar o

    pessoa com câncer, inibindo a sua adaptação ou utilização de serviços psicossociais

    existentes para a melhoria do bem-estar. (HOLLAND, 2004).

    Além do luto pela perda da saúde, segundo Chiattone (2002) os estados de

    ansiedade determinados por temores, dúvidas, fantasias e apreensões frente a

    vivência da doença e tratamento são freqüentes. Apesar de esperados, devem

    manter-se controlados para que não evoluam para estados de pânico,

    caracterizados por perda de controle, confusão, desespero, regressão e súplicas. A

    ansiedade situacional é freqüente e a maioria dos pacientes mostra-se bastante

    ansiosa diante da expectativa do diagnóstico ou após o recebimento deste, antes de

  • 29

    submeter-se a condutas terapêuticas (aspiração de medula óssea, administração de

    quimioterapia ou de radioterapia), diante da expectativa de alta hospitalar, frente a

    sintomas que possam indicar recidiva da doença, etc. Dificuldades diagnósticas,

    piora do quadro clínico e necessidade de internação em UTI, sangramentos,

    intercorrências, vivências traumáticas durante o tratamento quimioterápico ou morte

    de amigos e companheiros de tratamento, com o mesmo diagnóstico, podem

    também resultar em quadros de ansiedade.

    A mesma autora afirma que os transtornos depressivos em pacientes

    oncológicos são freqüentes e bem conhecidos, embora se assemelhem, em

    porcentagem, à incidência de depressão em pacientes com outras doenças

    orgânicas graves. Esta relação sugere que o determinante primário para o

    desencadeamento de um quadro depressivo interliga-se ao nível de gravidade da

    doença e não somente ao seu diagnóstico específico. De qualquer forma, alguns

    fatores sugerem estar intimamente vinculados ao desencadeamento de depressão:

    estado físico agravado, dor, história prévia de depressão e intercorrências orgânicas.

    Os transtornos depressivos definem-se por reações de desesperança, apatia,

    isolamento, astenia e impotência frente ao diagnóstico, à evolução da doença e ao

    próprio tratamento. O diagnóstico de depressão aponta a presença de insônia,

    anorexia, fadiga, perda de peso e transtornos somáticos. Acrescem-se sentimentos

    de desamparo, diminuição da autoestima e autoconceito, culpa, retraimento social,

    intensa angústia de morte, redução do nível de energia, dificuldades de

    concentração, perda do interesse, dificuldade de iniciar atividades e colaborar no

    tratamento, lentificação do pensamento e movimentos, dificuldades em tomar

    decisões e crises de choro.

    Além de esses estados psicológicos acompanharem o paciente desde o

    diagnóstico, segundo Carvalho (2002) acredita-se também na possibilidade de

    contribuições psicológicas no crescimento do câncer. Inúmeros pesquisadores vêm

    estudando possíveis efeitos dos estados emocionais na modificação hormonal e na

    alteração do sistema imunológico (BOVBJERG, 1990). A relação entre o estresse e

    a depressão com o enfraquecimento do sistema imunológico favorecendo o

  • 30

    desenvolvimento de formações tumorais foram amplamente analisadas por Le Shan

    (1992); Simonton, Simonton e Creighton (1987) entre outros.

    Os profissionais da saúde em Psico-Oncologia devem pautar seu trabalho

    visando minimizar o sofrimento inerente ao processo de doença e hospitalização.

    Segundo Campos (2010) uma das áreas mais enfatizadas na pesquisa em Psico-

    Oncologia nos últimos anos é a Qualidade de Vida do paciente, sendo que a

    interferência da psiquiatria muito colaborou para isso. Na verdade, a qualidade de

    vida tem sido mais importante do que a sobrevida propriamente dita.

    Campos (2010) afirma que a Psico-Oncologia procura dar aos profissionais

    de saúde em geral, às famílias envolvidas e à comunidade como um todo uma nova

    visão sobre o câncer, uma possibilidade de compreensão do processo de adoecer,

    como conseqüência de fatores biopsicossociais, e propõe ainda a possibilidade de

    uma maior compreensão das respostas psicológicas ao adoecimento, aos

    tratamentos e, posteriormente, à reabilitação e a à sobrevivência.

    Entre os profissionais da saúde, cabe aos psicólogos realizar um trabalho

    através de atendimento psicológico imediato e eficiente (modelo de ligação,

    presença constante); buscando promover a humanização e a excelência no

    atendimento favorecendo a relação equipe de saúde-paciente-família-instituição;

    atuando de forma integrada (interprofissional) com os demais profissionais de saúde

    e por fim criando estratégias novas e criativas para alívio de angustia e melhorias

    na qualidade de vida do paciente, mesmo na hospitalização.

    Dentro desta visão holística que desenvolvemos este trabalho, sendo sua

    proposta trazer os animais de estimação do próprio paciente na internação. O

    capitulo seguinte trata de algumas pesquisas de ATTA especificamente em

    Oncologia.

  • 31

    1.5 ATAA EM ONCOLOGIA

    Nesse capítulo serão abordados alguns trabalhos sobre ATAA realizados com

    pacientes oncológicos. A necessidade de assistência em saúde mental no

    tratamento do câncer é bastante evidente, apoiada e aprovada tanto pelo paciente

    quanto pelo profissional (BOTTOMLEY, 2002; HOLLAND, 2004). E utilizar animais

    como facilitador dessa assistência emocional aos pacientes tem sido amplamente

    utilizada e estudado seus beneficios.

    Katcher (1982) afirma que o convívio com animais de estimação ajuda na

    redução do nível de estresse, sendo também uma forma de terapia complementar.

    Em relação a esse tema, pesquisas sugerem que os cães são eficazes auxiliares

    aos pacientes com câncer em estado terminal.

    Dr. Creagan (2002) através de sua experiência como médico, oncologista e

    professor da Clinica Médica Mayo em Atlanta-GA, relata em seu artigo denominado

    “Animais, Pílulas não: A cura através dos pelos, barbatanas e penas” que não se

    pode negar que os dono de animais de estimação têm uma ligação muito forte com

    seus animais, e que mesmo em péssimas condições físicas, os pacientes ficam

    determinados a chegar em casa e ver seu animal de estimação, o que resulta em

    uma motivação importante na reabilitação após uma lesão ou doença.

    O mesmo autor relata que teve um paciente que estava em fase terminal, mas

    que estava determinado a morrer em casa, pois queria estar com "Max", o

    oncologista pensou que o paciente estava falando sobre seu filho, Max, ou Maxine,

    sua esposa, mas na verdade ele estava falando sobre o seu cão, Max. Dr. Creagan

    afirma que não se pode mais ignorar o significado e o vínculo que as pessoas têm

    para com seus animais de estimação, pois criam um equilíbrio entre a mente e corpo

    das pessoas os têm, e estar com um diagnóstico de câncer e manter o equilíbrio

    emocional, é uma grande busca de todos, no meio de tanto estresse com

    tratamentos invasivos, internações e perdas significativas.

  • 32

    ,

    Caprilli e Messeri (2006) examinaram os efeitos da ATAA em crianças com

    doença terminal em um hospital infantil na Itália. O objetivo da pesquisa era verificar

    a taxa de infecção antes e depois do contato delas com os animais através ATAA.

    Para isso, foi necessário certificar-se de que não havia uma alta taxa de infecção

    dentro do hospital, em função da contra indicação de contato de animais com

    crianças com sistema imunológico baixo. Cento e trinta e oito participaram do estudo

    durante um ano e quatro cães foram introduzidas gradualmente para dentro do

    hospital. Os resultados indicaram que a presença de cães não aumentou incidência

    de infecções no hospital neste período. Todos os pais concordaram que os cães de

    terapia foram eficazes na criação de uma experiência positiva anti-stress para os

    seus filhos. Os autores concluiram que os cães foram eficazes no trabalho com

    pacientes em fase terminal e que as taxas de infecção podem ser mantidas sob

    controle com uma ameaça mínima.

    Segundo Johnson, Meadows, Haubner, & Sevedge (2008) a vivência do

    câncer e seu tratamento, permeados pelo estresse associado à morte e o morrer,

    exigem dos profissionais da saúde o uso de terapias complementares.

    Estudos indicam que tanto o indivíduo como animal experienciam um

    momento de relaxamento e calma durante o encontro entre os dois. Quando há

    troca de carícia entre homem e animal de estimação e este ultimo consegue deter

    atenção do outro, evindencia-se a diminuição da pressão arterial e aumento dos

    níveis de oxitocina no ser humano (MILLER, KENNEDY, DE VOE, HICKEY,

    NELSON & KOGAN, 2009; WALSH, 2009)

    Engleman (2013) estudou os benefícios do uso de ATAA utilizando cães, em

    pacientes que faziam parte de um ambulatorio de cuidados paliativos. Dezenove

    pacientes participaram do estudo ao longo de um ano. Concluiu que todos os

    pacientes ficavam alegres na presença do cão, que também ficavam mais relaxados,

    sentiam menos desconforto fisico, e que ao terem contato com os cães memórias

    boas de casa vinham a mente. Dor e emoções negativas também foram reduzidas.

    Em pelo menos cinco situações, o cão utilizado na atividade, descansou sua cabeça

  • 33

    onde estava localizada a dor do paciente, sendo interpretado pelos mesmos como

    uma forma do cão confortá-los na dor. Estes resultados sugerem que a ATAA tem:

    um efeito na redução da dor tanto as físicas como as emocionais, influência na

    melhora da qualidade de vida do paciente principalmente em função da redução do

    estresse pessoal, baixo custo com maior eficiencia e diminuição do uso de

    medicação para a dor.

    Turnbach (2014) realizou uma pesquisa com o objetivo de examinar os efeitos

    da terapia assistida por cães na qualidade de vida de pacientes oncológicos em

    cuidados paliativos. Participaram do estudo aproximadamente 200 doentes de

    câncer em cuidados paliativos, sendo critério de inclusão estar psiquicamente e

    mentalmente capaz de responder as questões aplicadas. Nesta pesquisa foi

    utilizado instrumento QUAL-E 2004, com objetivo de medir a qualidade de vida dos

    pacientes antes e depois da participação na atividade assistida por cães. Após

    responder o instrumento composto de 18 questões entre 10 a 20 minutos, os

    sujeitos receberam a visita de um cão terapeuta durante duas horas todo domingo,

    3ªf, 5ªf e sábado, durante 03 semanas seguidas. Essas visitas aconteceram em

    casa, no hospital e em centros de cuidados paliativos. Após a última visita, os

    participantes, responderam novamente o instrumento QUAL-E 2004, além de 06

    questões relacionadas aos cães e o nível de satisfação com a presença dos

    mesmos. Os resultados mais significantes foram: a sociedade vai se beneficiar por

    saber que seus entes queridos, enfermos na terminalidade, terão o direito garantido,

    receberão autorização a ter um companheiro canino a seu lado. Os cães da terapia

    tem um impacto positivo sobre os pacientes e as pessoas ao redor. Esta última

    análise, irá aumentar a qualidade de vida de muitos pacientes, diminuindo o seu

    próprio estresse, o estresse da equipe e dos membros da família.

    Nitkin (2014) realizou uma pesquisa com 13 mulheres portadoras de doença

    oncologicas, com objetivo de examinar o papel dos animais de companhia como

    potenciais fontes de apoio sócio-emocional na vida dos pacientes e sobreviventes de

    câncer. Como resultado da pesquisa o autor constatou que todos os participantes

    foram muito afetados positivamente por seus animais de estimação enquanto eles

    passaram por câncer. Em apoio das descobertas em oncologia psicossocial, animais

  • 34

    de estimação são considerados e apresentados em quatro de cinco das

    necessidades psicológicas como estabelecido em Helgeson e Cohen (1996) em uma

    meta-análise: 1) aumento da auto-estima; 2) restabelecimento do controlo percebido;

    3) dar sentido a experiência; e 4) o processamento emocional. A pesquisa oferece

    novos insights para a teoria e prática clínica. Animais podem ser capazes de

    intuir e responder às necessidades do seu companheiro humano de formas que não

    foram exploradas. As pessoas se conectam com seus animais de estimação em

    níveis espirituais que são de benefício para eles quando estão

    doentes. Eles são fontes de intimidade, significado e tratamento da dor. Além disso,

    é evidente que muitas pessoas com câncer confiam em seus animais de estimação

    o apoio social e emocional necessário para lidar com a doença grave. É também

    significativo que pacientes com câncer podem necessitar de assistência financeira e

    /ou prática para as necessidades de c