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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP CÍCERA VANESSA MAIA ESCOLA DE PALCO MÉTODO EM ARTES CÊNICAS DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2016

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP

CÍCERA VANESSA MAIA

ESCOLA DE PALCO

MÉTODO EM ARTES CÊNICAS

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

SÃO PAULO

2016

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CÍCERA VANESSA MAIA

ESCOLA DE PALCO

MÉTODO EM ARTES CÊNICAS

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, como exigência parcial do Programa de

Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais,

para obtenção do título de Doutora em

Ciências Sociais, sob a orientação da Profª.

Dra. Maria Helena Villas Bôas Concone.

SÃO PAULO

2016

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BANCA EXAMINADORA

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Ao meu pai que eu amo, e que caminhou junto comigo, na maior parte

desse projeto, e apontou direções que nem sempre eu segui.

A minha mãe que comigo está,

mesmo sem saber para onde vai; muito obrigada.

A minha filha que, atravessando o caminho,

me guia e está sempre ao meu lado. Te amo!

Aos irmãos de sangue e de escolha,

que nessa trajetória seguram minhas mãos.

Aos meus alunos que brilhavam iluminando minhas escolhas.

A minha orientadora, que peço perdão, por estar sempre ao meu lado,

apesar de eu, nem sempre estar ao seu.

Aos amigos que entraram e saíram,

obedecendo aos meus reclames.

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AGRADECIMENTO

Agradeço aos que souberam compreender minhas ausências, e aos amigos que

compartilharam cada momento dessa caminhada.

À banca de qualificação quando sugeriram possibilidades para efetivar a pesquisa e

demonstraram carinho.

À Isadora e Sara na força com as línguas.

À Direção do CEFET-MG por ter proporcionado essa oportunidade e aos colegas pelo

apoio.

Às coordenações do Doutorado da PUC-SP e do CEFET-MG, especialmente à Prof.ª

Vera Chaia e ao Prof. Milney Chasin, pelo empenho na realização do curso.

Aos amigos do DINTER, pela cumplicidade da nossa escolha.

A Andréia que com sua capacidade e dedicação me amparou nos momentos de

angústia.

E, principalmente a minha orientadora Prof.ª Dra. Maria Helena Villas Bôas Concone

que concedeu espaço na sua vida e distribuiu amor e alegria.

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RESUMO

A pesquisa partiu dos fenômenos observados em sala de aula e na busca do entendimento dos

processos que ocorriam nas aulas de Artes Cênicas a partir das vivências dos alunos frente aos

espelhos. Buscamos teorias que pudessem ampliar meus conhecimentos. Foi então que o

método Fenomenológico, de Goethe, amparou a intensificação na observação da pesquisadora

aos fenômenos. Primeiramente, durante quinze anos a função do espelho no Grupo de Teatro

do Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET-MG), são analisados os aspectos do

contexto da cena como a ferramenta utilizada pelos atores do grupo. Nesse percurso, os autores

de teatro Boal, Brecht, Koudela e Spolin, como fontes de conhecimento e técnicas teatrais,

estabeleceram a trajetória do grupo. Na segunda parte, a Fenomenologia e sua Epistemologia

foram incorporadas como base para a compreensão dos passos, na sistematização do processo

observado e a intuição como experimentação da pesquisadora. Outros autores, Ricœu, Sartre,

Ponty e Ostrower, foram visitados para auxiliar a compreensão da subjetividade, interpretar os

processos, descrever o objeto da pesquisa e aprofundar o conceito de imagem, na ação dos

alunos quando eles se veem nos espelhos na sala. Na ação do experimento, as adaptações ao

processo iam sendo aferidas e a ferramenta espelho, descrita nas etapas das aulas, formatando

um método. A metodologia escolhida foi a etnografia que, junto a narrativa autobiográfica pode

descrever os fenômenos e seus processos e sub processos em uma pesquisa empírica. As

análises de dados vão sendo apresentadas no estudo, em paralelo as adaptações do processo

fenomenológico, até chegar à sistematização de sete passos, etapas do método quando da

utilização dos espelhos. Duvignaud e Morin são autores que fizeram o diálogo das linguagens

dos processos e os fenômenos. Na fenomenologia, as sete etapas têm princípios bem claros que

foram vivenciados, primeiramente, pela pesquisadora para depois sistematizar as etapas de

fruição dos alunos com os espelhos e, posteriormente, as fases do método. O autor que sustentou

esse estudo foi Bach Jr., quando apresenta, de forma clara, as fases da fenomenológica de

Goethe. A pesquisa, após apresentar o método e sua aplicabilidade conferida nestes dez anos,

apresenta um formato que possa vir a ser uma ementa de disciplina em Artes Cênicas.

PALAVRAS-CHAVE: Espelhos; Processo; Método; Fenomenologia.

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ABSTRACT

The research initiated when observing a phenomenon in the classroom and when searching for

understanding this processes that was taking place during classes of Performing Arts, through

experiences of students in front of the mirrors. Therefore, there was the need to find scholars

who could support such knowledge. It was then that the phenomenological method, from

Goethe, expanded research offering students freedom in the process and intensifying the

observation of the phenomena. Firstly, throughout a period of fifteen years the role of the mirror

in the Theatre Group of Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET-MG) is reported by

analyzing aspects of the context of each scene and the tool used by the group of actors.

Supportive sources of knowledge and theatrical techniques that established the trajectory of the

group during this first part, were theater’s authors, such as Boal, Brechet, Koudela, Spolin.

Other authors being, Sartre, Ponty, Ostrower were examined to assist in the understanding of

subjective interpretation processes, as well as to describe the object of research, to deepen in

the concept of image and in the action of the students when seeing themselves in mirrors in the

room. During the experiment, the adaptations to the process were taken note and the mirror tool

described throughout the steps of formatting the class method. To this point, the methodology

chosen was ethnography based on the autobiographical narrative that can take the phenomenon

and its processes to an empirical research. Duvignaud, Morin, are authors who have made the

languages of dialogue processes and phenomena. In phenomenology, the seven steps are very

clear principles that have been experienced, first, by the researcher and then systematized into

steps of enjoyment between students and mirrors, and, only later, to systematize the phases of

method. The author that supported this study was Bach Jr., when clearly presenting, the phases

of Goethe's phenomenological. The research, after presenting the method and its applicability

proven in the past ten years, presents a format that might be a menu for the discipline of

Performing Arts.

KEYWORDS: Mirrors; Process; Method; Phenomenological.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ……………………………………………………………… 11

CAPÍTULO I – EXPERIMENTAÇÕES ANTERIORES ÀS PRÁTICAS

DE ARTES CÊNICAS …................................................................................

15

1.1 Apresentação do Grupo de Teatro do CEFET-MG ..............………........... 15

1.2 Trajetória do Grupo de Teatro e análise de suas produções......................... 15

1.3 Apresentação das aulas de Artes................................................................... 28

CAPÍTULO II – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA PRÁXIS DAS

ARTES CÊNICAS COMO PROCESSO: O OLHAR DA

OBSERVADORA ...............................................................................………

30

2.1 Utilização dos espelhos ................................................................……….. 30

2.2 Variações em frente ao espelho ...........................................…………....... 35

2.3 Trajetória das aulas de Artes Cênicas e análise de suas produções ……… 40

2.4 A práxis das aulas de Artes Cênicas – Práticas individuais para a escolha

da palavra ...................................................................………………………..

45

2.4.1 Aquecimento .................................................................................…….. 45

2.4.2 Escolha da Palavra .......................................................................……... 46

2.5 A práxis das aulas de Artes Cênicas – Práticas em grupo para apresentação

da personagem ............................................................…………........................

47

2.5.1 Compondo as Duplas ...................................................................……...... 47

2.5.1.1 Apresentação da “Palavra” pelas duplas....................................……......

2.5.2 Compondo os quartetos ...............................................................……......

2.5.2.1 Apresentação da “Palavra” pelos quartetos..............................………...

48

48

49

2.5.3 Compondo grupos de Oito...........................................................………... 49

2.5.3.1 Apresentação da “Palavra” pelos grupos de oito.......................…….......

2.5.4 Compondo o Todo .......................................................................……......

49

50

2.5.4.1 Produção de cena e apresentação...........................................………......

2.5.5 Produzindo o roteiro do esquete ...............................................………......

50

51

2.5.5.1 Adaptações do texto ..................................................................……...... 51

2.5.6 Proposta do professor para apresentação externa ...................………........ 51

2.5.7 Apresentação final .....................................................................……….... 51

3 Auto avaliação do aluno ..............................................…………………......... 52

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4 Avaliação do processo ...............................................................…………...... 52

5 Variações de exercícios na Escola de Palco ..............................…………....... 52

5.1 Exercícios de aquecimento ...........................................................……........ 53

5.2 Exercícios de imaginação .............................................................……........ 54

5.3 Exercícios de relaxamento ...........................................................……......... 55

6 Compilação e análise de dados - Respostas dos questionários de avaliação do

processo ..........................................……………………………………............

56

6.1 Análise de respostas para a pergunta: Qual a importância da disciplina

Artes na grade curricular? .....................................................……………..........

59

6.2 Análise de respostas para a pergunta: Qual a palavra que você escolheu

para sua imagem? Comente ………………………………………………........

60

6.3 Análise de respostas para o questionamento: Faça um paralelo entre a

palavra/imagem e o perfil psicológico da sua personagem na cena ….................

61

6.4 Análise de respostas para a pergunta: Qual a moral da história da cena

escrita pela turma? .......................................................................………….......

62

CAPÍTULO III – DESCRIÇÃO DE UM MÉTODO PROPOSTO PARA

AULAS DE ARTES CÊNICAS .......................................................................

77

7 A fenomenologia goetheana como fundamento na proposição de um método

para aulas de Artes Cênicas no CEFET-MG ...........………………....................

77

7.1 Identificação do observador, do fenômeno e seus elementos .....……........... 78

7.2 O processo das aulas de Artes Cênicas visto pela fenomenologia goetheana 80

7.2.1 Sistematização do subprocesso individual: a escolha da palavra …........... 81

7.2.2 Sistematização do subprocesso grupal: apresentando as personagens........ 82

7.3 Considerações sobre o processo implantado para desenvolvimento das

aulas de Artes Cênicas ..................................……………………………..........

84

7.4 Considerações sobre o olhar da observadora ...........................……….......... 88

7.4.1 Sistematizando os momentos ..................................................................... 89

CONCLUSÃO...................................................................................................

REFERÊNCIAS..............………………….......……………………………..

ANEXOS ……………………………………….....…………………………..

95

97

100

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1 INTRODUÇÃO

Após descrever cronologicamente as montagens do Grupo de Teatro do Centro Federal

de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), enquanto diretora responsável,

apresentar o nome das peças escolhidas e contabilizar o número de atores que integravam o

grupo em cada época, venho então nesta pesquisa descrever o novo caminho percorrido pela

linguagem cênica quanto ao uso do espelho como recurso do fazer teatral.

No CEFET-MG, a disciplina de Artes é realizada em salas ambientes – chamadas de

laboratório –, pois, ela tem o mesmo caráter das aulas práticas das disciplinas técnicas. Para a

realização da aula, a turma de quarenta alunos é dividida em dois grupos de vinte. Cada grupo

fica em um laboratório sob a responsabilidade de uma professora. Esse formato consta nos

diários de classe e na distribuição dos encargos acadêmicos dos professores da respectiva

disciplina.

Após a interrupção das atividades do Grupo de Teatro em 2004 e, consequentemente, o

meu desligamento como diretora, passei a acrescentar nas atribuições dos encargos acadêmicos

a apresentação da linguagem cênica para os alunos das aulas curriculares de Artes. A propósito,

a sala de teatro, espaço usado anteriormente pelo grupo, será utilizada para laboratório cênico.

Apresento, portanto, o processo observado nas aulas de Artes Cênicas, a partir do meu

conhecimento sobre a linguagem decorrente de minha formação e experiência no curso Oficina

de Teatro, em Belo Horizonte, em 1984 e da minha docência em artes, anteriormente, no

CEFET-MG.

Durante as atividades nas aulas, observei a recorrência de comportamentos dos alunos

frente ao uso do espelho e pude constatar bons resultados na relação ensino-aprendizagem. Os

alunos faziam constantemente relatos positivos no encerramento da disciplina.

A partir de então eu me perguntava se a linguagem cênica poderia tomar a dimensão de

disciplina regular, tal como as artes plásticas. Ao mesmo tempo, compreendia que para esta

possibilidade se concretizar, far-se-ia necessária a constatação de que o processo desenvolvido

junto aos alunos constituía-se capaz de atender ao Plano de Desenvolvimento Institucional

(PDI) do CEFET-MG e, por conseguinte, às premissas da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), no

que se refere ao Ensino Médio. Sabe-se que o PDI da instituição preconiza o desenvolvimento

do aluno por meio da educação técnica/tecnológica e a LDB define sobre o saber aprender, o

saber fazer e o saber ser em múltiplas dimensões.

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O que me levou a assumir a hipótese de que o processo observado nas aulas de artes

cênicas configura-se como um método didático capaz de despertar a percepção do aluno para

qualidades próprias e sustentá-lo na representação de sua autoimagem.

Para tal, pretendo abordar o método ao descrever a nova abordagem da linguagem

cênica, após analisar os depoimentos dos alunos sobre suas vivências no decorrer das aulas,

bem como apresentar os resultados obtidos a partir da experimentação. Assim, o processo como

uma alternativa didática poderá ser validado nesse ensaio e descrito a partir dos fenômenos

observados.

Após analisar os depoimentos dos alunos sobre suas vivências no decorrer das aulas,

bem como apresentar os resultados obtidos a partir da experimentação, propiciando assim o

processo como alternativa didática para o docente da linguagem cênica. Propõe-se, portanto,

um caminho pioneiro e singular.

O presente estudo aborda a descrição cronológica de diversos fenômenos recorrentes

com os alunos do 1º ano do ensino médio técnico-tecnológico do CEFET-MG, no período

compreendido entre os anos 2004 até 2013, durante as aulas de artes cênicas. Essa descrição

consolida-se como etapa do desenvolvimento da linguagem cênica, sendo tomada, nesta tese,

como parâmetro para sua apresentação como um método didático.

Após a apresentação da dissertação defendida em 2010, compreendi que criei um

caminho intuitivamente a partir do duplo lugar de pesquisadora e professora. Para transcrever

esse ensaio, o caminho escolhido partiu da narração das etapas após observar cada movimento

das turmas frente ao espelho, que propõe o rompimento de conceitos padronizados no ato de se

ver e, consequentemente, na redução de julgamentos. As representações que ocorriam davam

direção ao experimento. Assim, analisamos e julgamos para então apontar aos experimentos

outra visão de forma natural e objetiva.

Pretendo apresentar questões próprias desse ensaio, como a intuição frente às

observações dos fenômenos recorrentes que puderam ser recolocados como proposta de uma

metodologia e tecer juntos uma etnografia. A interpretação das imagens e da memória, é

realizada e transformada em nova imagem a partir das lembranças que serão as cenas e as

representações. Ao inserir os relatos dos alunos e os textos produzidos neste período, os

diálogos da cena atravessam tempos que a narrativa revela de forma única.

Assim, como metodologia de investigação a respeito do decorrer do processo e seus

procedimentos foram adotadas, primeiramente, a pesquisa exploratória em fontes secundárias,

bibliográfica, consulta aos teóricos, em obras de Lakatos e Marconi (2003). Em seguida, a

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pesquisa qualitativa, à medida que a pesquisadora coloca o seu olhar sobre o processo e seus

significados, sobre o comportamento dos que participam do processo e, também, sobre a

maneira de aferir os resultados decorrentes de cada etapa de tal processo. Para apresentar a

pesquisa, usarei a narrativa autobiográfica, visto que a autora também participa do processo

como professora “estimuladora” dos alunos e como observadora.

O presente estudo recorre a diversos autores na grande área do fazer teatral. Todos eles

se envolveram com encenação em palco, seja criando peças, promovendo didáticas, exercícios

em artes dramáticas e laboratórios para o teatro que devem ser destacados, a saber: Bezerra,

Rosenfeld, Artaud, Boal, Brecht, Rugna, Stanislavski, Borba, Koudela, Bornheim, Spolin,

Reverbel, Venâncio, Brook, Magaldi, Duvignaud. Muitos desses autores fazem discussão do

espaço da linguagem cênica fora do palco e dentro da escola.

A partir da proposta da fenomenologia da natureza, de Johann Wolfgang Goethe,

identifica-se uma metodologia proposta por este autor, capaz de explicar o desenvolvimento

das atividades nas aulas de Artes. Por meio desta metodologia – a observação fenomenológica

–, pode-se relatar a dinâmica das aulas, perceber os fatos ocorridos em sala e apontar um

caminho sistematizado para a descrição dos dados. No método goetheano, não há dicotomia

entre sujeito e objeto, o sujeito não é mero espectador passivo do fenômeno. Na percepção

fenomenológica há uma participação do objeto com suas características e propriedades,

entretanto, no procedimento metodológico o sujeito participa também (BACH JR., 2013, p.

142).

Na pesquisa em fonte primária – documental, visto que os resultados do processo

também são externados pelos alunos em seus depoimentos manuscritos e questionários não

estruturados, os quais são rica “matéria-prima” para a análise de dados. Explicada por Marconi

e Lakatos (2010, p. 174), a característica da pesquisa documental está restrita a documentos

escritos ou não (...). Estas (pesquisas) podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno

ocorre ou depois.

De 1989 a 2002 foram 15 peças apresentadas pelo Grupo de Teatro, variando em média

o número de 15 alunos/atores, perfazendo total de 222 atores/alunos nestes 14 anos. A partir de

2004, foram 27 textos produzidos em sala de aula, sendo que a composição dos integrantes

pertence às aulas curriculares de vários cursos na Coordenação de Artes. Dentre as produções

para análise da pesquisa, 14 textos estão identificados, ou seja, por turma, ano, curso, a época

e o título da cena escrita pela turma. Iniciaremos a descrição cronologicamente para

acompanhar a utilização dos espelhos e as modificações ocorridas no método até 2013.

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Essa tese apresenta-se em três capítulos. Capítulo I – Descreve a trajetória do Grupo de

Teatro (GT) do CEFET-MG, formado por alunos – os atores – do ensino médio. O grupo foi

reativado em 1989 pela autora, então professora de Artes, e sua diretora, desde a reativação até

2003. Ainda na Parte I, descreve-se uma nova abordagem da linguagem cênica, acrescentada

no conteúdo da disciplina de Artes, após desligamento da diretora do GT, a partir de 2004, até

o momento atual. Capítulo II - Apresentação da pesquisa realizada via análise dos textos

produzidos em sala, destacando-se os fenômenos que ocorreram no processo. Os autores

escolhidos como suporte teórico da pesquisa corroboram na forma de apresentar os resultados

consolidados nesses anos da pesquisa. Capítulo III – Descrição da proposta de um método para

as Artes Cênicas, apresentando a sistematização do processo, narrada por experimentação dos

alunos junto aos fenômenos. Nas considerações finais é apresentado o esboço de uma emenda

para as Artes Cênicas, sistematizando toda a produção realizada pela pesquisa.

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CAPITULO I - EXPERIMENTAÇÕES ANTERIORES ÀS PRÁTICAS DE ARTES

CÊNICAS

1.1 Apresentação do Grupo de Teatro do CEFET-MG

Como professora responsável pelo Grupo de Teatro (GT) convidava a comunidade com

cartazes, divulgando horário e data para o primeiro encontro dos interessados em participar da

atividade teatral no CEFET-MG. Assim foi escolhido para a realização da primeira reunião o

auditório da instituição, que passou a ser o local de encontros, ensaios e apresentações do Grupo

de Teatro. Muitos alunos eram das segundas e terceiras séries, ou seja, nem estavam mais

cursando as aulas curriculares da disciplina para usufruírem da dispensa das aulas.

A todos que manifestaram interesse em integrar o Grupo de Teatro do CEFET-MG, ou

seja, atores amadores de uma escola técnica/tecnológica foram solicitados comprometimentos

para acatar as decisões tomadas a partir do encontro inicial. Esclarecíamos ainda, que os

horários poderiam ser maiores que os das aulas curriculares e que muitas vezes as atividades

poderiam acontecer fora da instituição, para só então, após esclarecimentos, os alunos/atores

tomarem as decisões de participarem ou não das aulas/ensaios.

Assim, já de posse da disponibilidade dos interessados, ajustávamos o horário e os dias

escolhidos pela maioria. Geralmente as aulas/ensaios aconteciam duas vezes por semana e aos

sábados. Assim, estabelecemos o início do processo dos ensaios. Vale ressaltar que os horários

eram ampliados quando se aproximava a estreia da peça.

1.2 Trajetória do Grupo de Teatro e análise de suas produções

As apresentações feitas pelo grupo, acrescidas do contexto das peças escolhidas para a

encenação, e a escolha do texto teatral para encenarmos, tudo isso ficava a cargo da diretora do

grupo. Na tentativa de compreender o percurso da linguagem cênica das peças, salientaremos

os temas abordados nos textos representados e como o espelho, ferramenta do método em

processo construído pela diretora/professora/pesquisadora, é utilizado.

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As montagens cênicas realizadas pelo Grupo de Teatro do CEFET-MG serão narradas.

Serão também apresentados o conteúdo dos textos do grupo e a descrição da utilização do

“espelho”1 pelos alunos/atores.

Em 1989 o grupo de teatro iniciou com treze atores. A primeira peça escolhida

apresentava elementos cênicos que não dificultassem a sua encenação. Para tanto foi escolhida

a peça “A aurora da minha vida”, de Naum Alves de Souza (1981), que abordava dilemas

existenciais de treze personagens da mesma instituição. As cenas se passavam no interior da

escola, ou seja, em ambiente escolar. Isto garantia os cenários e os figurinos para a estreia da

primeira montagem do GT do CEFET-MG

Em 1990, foi a estreia da peça “Bailei da Curva”, adaptação do texto "Grupo do Jeito

que Dá", do Rio Grande do Sul. O texto retratava três décadas que se iniciavam nos anos 60,

passando pelos atos institucionais até chegar aos anos 80. Na peça eram expostas as influências

políticas que marcaram as personagens na época.

O Grupo de Teatro do CEFET-MG tinha no elenco e na montagem, alunos da primeira

peça e outros novatos perfazendo um total de 28 (vinte e oito) atores. Contávamos ainda, para

a montagem, com operador de som, iluminador e contrarregra, além de diretor e assistente de

direção, o que dava um total de 33 (trinta e três) integrantes.

A peça foi apresentada no Teatro Municipal de Sabará (MG), cidade próxima a Belo

Horizonte. Vale ressaltar que a montagem foi criação do grupo e o cenário foi executado na

carpintaria do CEFET-MG. O envolvimento com outros setores da instituição e com outras

linguagens artísticas demonstrava no palco a integração na composição do cenário e na

capitação dos figurinos e adereços pelos atores/alunos.

Na primeira montagem escolhemos, propositadamente, um texto que não demandava

muita preocupação com o cenário e o figurino. Na segunda, escolhemos um texto que

apresentava várias personagens para acolher um maior número de interessados em participar

do Grupo de Teatro, naquele momento.

Após sermos contatados pelo Programa de Qualidade Total, a partir do interesse da

Diretoria de Recursos Humanos da Instituição em 1991, o Grupo de Teatro do CEFET-MG

escreveu e apresentou uma peça que contava como o serviço público poderia ser

desburocratizado, utilizando-se para isso os princípios da qualidade total do governo.

1 Ferramenta utilizada no processo, portanto, ferramenta principal do método em consolidação aqui apresentado.

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Víamos no convite, a possibilidade de apresentarmos à Diretoria Geral questões

inerentes ao Grupo de Teatro do CEFET-MG percebidas até aquele momento. Assim, iniciamos

a parceria e nos encontros com os responsáveis do programa e a direção geral, mostrávamos

como se efetivava uma produção teatral.

As peças ”Quem tem Qualidade” e “A Arca de Noé”, escritas pelo Grupo de Teatro do

CEFET-MG e apresentadas em 1992, narravam os acontecimentos do dia a dia de uma

comunidade e os trâmites burocráticos entre ofícios e memorandos para atender às solicitações

da comunidade, portanto elas faziam referência direta ao serviço público. As peças foram

reapresentadas em 1994 na calourada da instituição como atividade de recepção dos alunos que

entraram para o CEFET-MG, naquele ano.

O grupo experimentou o que foi criar e concretizar um espetáculo, pois para o evento

ser concluído as solicitações tinham que ser acatadas pela direção imediatamente. Possibilitou-

se ao grupo vislumbrar o que acarretariam as parcerias, ou seja, como deveria ser a parceria

com os departamentos e as coordenações da instituição.

Várias questões permeavam as discussões internas no Grupo, a saber: (1) Que formato

deveríamos construir ou que pretendíamos construir para o futuro do grupo teatral? (2) Haveria

financiamento por parte da instituição, via direção da escola ou com órgãos e/ou leis de fomento

do governo? (3) A aplicação da linguagem cênica e várias linguagens artísticas; (4) É possível

ampliar/construir um diálogo com os professores de artes na busca de oficializar a linguagem

cênica no âmbito da coordenação? e (5) Que textos devem ser escolhidos para as montagens

teatrais?

O Grupo de Teatro, no seu terceiro ano, contava com atores desde seu início, ou seja, a

linguagem teatral já não era novidade para esses alunos. Assim, aproveitamos o conhecimento

deles, no seu último ano escolar, para uma produção mais ousada.

Mesmo sem recursos financeiros, o Grupo de Teatro ainda sem o esclarecimento quanto

aos encargos acadêmicos da professora/diretora ou de como poderíamos solucionar a produção

do espetáculo, fez a montagem do texto escolhido. Assim, a diretora/professora administrava

seus encargos acadêmicos entre a Sessão de Atividades Cultural e Cívica (SACC)2 e as aulas

na Coordenação de Artes.

A peça “No Natal a Gente Vem te Buscar”, de Naum Alves de Souza, foi encenada em

1993. O texto contava a trajetória de uma família de classe média, retratando valores sociais e

2 Hoje denominada Seção de Atividade Cultural (SAC)

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políticos. Uma tia solteirona, personagem central, após ser conduzida ao asilo, apresentava

críticas ao sistema familiar.

Para a montagem, o Grupo de Teatro do CEFET-MG contava com 11 (onze) atores, 2

(dois) contrarregras e 1 (um) operador de som, ou seja, 16 (dezesseis) participantes contando

com a produtora/professora e o diretor/estagiário do espetáculo. Experimentávamos outro

formato de direção teatral. O apoio aos trâmites de infraestrutura e a parte burocrática junto à

direção da escola e a outros setores, dentro e fora da instituição, ficaram a cargo da

professora/diretora. Portanto, havia uma duplicidade de função, pois a professora/diretora

também conduzia os trabalhos cênicos diretamente com o Grupo nos ensaios e o estagiário da

SACC que era aluno do Curso de Engenharia ligado ao Grupo de Teatro do CEFET-MG.

Esta última montagem teatral consolidou a reflexão quanto às várias atividades inerentes

ao Grupo, pois a responsabilidade de direção do Grupo e a responsabilidade por solucionar os

problemas de iluminação do Auditório do Campus I, onde aconteciam as apresentações,

elaborar os memorandos para reservar o espaço para os ensaios, contatar o afinador dos

refletores para iluminação, além da produção do espetáculo, material de divulgação (cartazes,

folders e convites) passou para a professora. Por isso, havia a necessidade de acompanhar a

escolha e a confecção de figurinos ou até mesmo o aluguel deles, acompanhar a confecção do

cenário, verificar a adequação de espaços para acomodar os figurinos e adereços captados pelos

atores e pela comunidade.

Assim, apostando em soluções para minimizar conflitos no Grupo, deparava-me com o

envolvimento dos atores quando se dispunham a acatar qualquer solicitação feita pela diretora,

ou seja, quando eram solicitados mais tempo, mais dedicação e pesquisas para ajudar nas

interpretações das personagens, consequentemente mais tempo, mais dedicação e mais

pesquisas trilhavam o caminho da diretora. Sabendo que o Coral, a Banda e o Grupo de Teatro

do CEFET-MG, eram atividades extracurriculares e que aconteciam em outro formato, como

abordar o envolvimento da diretora/professora junto ao grupo de teatro, sabendo que a Banda e

o Coral já contavam com regente para cada uma das linguagens, respectivamente? Seria o

momento de solicitar mais tempo nos encargos acadêmicos para a professora/diretora?

Constatávamos o envolvimento de todos os integrantes do Grupo de Teatro,

principalmente próximo à estreia, quando os horários de ensaio aumentam naturalmente, e com

isso a tensão do grupo também aumentava. Cabe ressaltar que o fato ocorre também no Coral e

na Banda. Cabe lembrar a problemática aqui levantada. Havia uma dificuldade em construir

encargos acadêmicos para quantificar as horas de trabalho realizadas. Sabia-se que as horas não

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estavam incluídas em tabela ou mesmo em relatório institucional, o que impossibilita o cálculo

acadêmico das horas trabalhadas para consolidar as apresentações. Em consequência disso,

havia corte no salário.

A Coordenação de Artes foi consolidada com a ampliação das salas ambiente para

adequar todas as linguagens artísticas. A sala de artes cênicas possuía um “espelho” à direita da

porta de entrada. Os atores poderiam ver sua imagem e, assim, construir o perfil psicológico

das personagens, experimentando no próprio corpo as possíveis modificações referentes à

personagem do texto.

A utilização do espelho facilitava o processo do ator a se ver, e observar detalhes no

próprio corpo, ao invés de imaginar, deixando o imaginário3 para a construção do perfil

psicológico das personagens. O ator tinha a possibilidade de experimentar o que pensou da

personagem e, assim, verificar seu corpo refletido no espelho.

Em 1994, foi feita a adaptação do texto de Rodrigo Robleño, “O Poema do Concreto

Armado” (1989), peça dirigida por Yuri Simon4. O texto escolhido acontecia com uma cena no

lixo, instalada num futuro não muito distante. O texto abordava, portanto, questões relacionadas

ao consumismo, à cultura, à economia e à política. As neuroses e os complexos da sociedade

contemporânea se externavam quando havia tentativas de manipulação. Contávamos naquele

momento com 9 (nove) atores.

A partir dessa montagem, vários atores/alunos, ao finalizar a trajetória acadêmica na

instituição, desvincularam-se do Grupo de Teatro do CEFET-MG. Vale ressaltar a perda do

colaborador que foi importante na construção e efetivação do Grupo na instituição.

Passando por um período delicado, marcado pela saída de alunos antigos e pela perda

do colaborador, tentávamos resolver as tarefas de produção e direção do Grupo de Teatro.

3 Sartre. O imaginário. 1996.

4 Yuri Simon da Silveira, aluno do Curso de Engenharia Elétrica, estagiário da SACC, Sessão de Atividades Culturais e Cívicas-DAE. Esteve junto ao grupo e dirigiu as peças "No Natal a Gente Vem te Buscar" e "Poema do Concreto Armado". Ao sair da instituição, formou a "Trupe Teatro de Pesquisa" com vários alunos integrantes do Grupo de Teatro do CEFET-MG, em 1994.

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Neste momento então, após a efetivação da mudança das linguagens artísticas e ao final

do mandado na SACC, solicitei formalmente o pedido de mudança de regime de trabalho para

Dedicação Exclusiva5, pois assim poderia dedicar-me exclusivamente ao CEFET-MG.

A articulação, os laboratórios cênicos e a utilização dos espelhos começavam a serem

ações construídas com atores/alunos do Grupo. Em 1995, o jogral “Operário em Construção”,

de Chico Buarque de Holanda (1966), adaptação da letra da música de Pedro Pedreiro, foi

apresentado nos intervalos das aulas da manhã, da tarde e da noite no hall da cantina da

instituição. O texto “O Índio”, no mesmo ano, criação coletiva do Grupo, foi encenado no

espaço de convivência da instituição, denominado “Bosquinho”.

A fim de obter o equilíbrio entre as tarefas da professora e o cuidado em lidar com a

complexidade, a multiplicidade estética e as experiências observadas no Grupo de Teatro,

fizemos com que outros autores fossem procurados.

Nos laboratórios teatrais, os espelhos são utilizados pelos alunos/atores para se

enxergarem e observar a postura e, assim, a partir dessa consciência corporal foi possibilitado

não só a construção do perfil psicológico da personagem, como dito anteriormente, mas também

o autoconhecimento do corpo refletido no espelho.

Ao notar o que acontecia com os alunos quando eles procuravam compreender a

personagem, seu contexto sócio histórico e, também, cultural para depois investigar e

experimentar nos gestos e nas expressões faciais no próprio corpo, o ator representava questões

do seu dia a dia. Em paralelo, o momento político em que estavam inseridos ampliava as

discussões sobre as práticas acerca do Grupo de Teatro.

O Grupo de Teatro do CEFET-MG também adaptou em 1995, o texto “Milagre na

Cela”, de Jorge de Andrade (1977). A peça foi apresentada no Auditório do CEFET-MG, no

Campus I. O texto descreve a história de uma freira brutalmente torturada após ser presa

indevidamente por agentes da repressão, ao prestar trabalhos sociais. Sob tortura a personagem

deveria confessar um crime que não cometeu. O grupo contava com 13 (treze) integrantes, a

saber: 8 (oito) atores, 1 (um) operador de luz, outro do som, 2 (dois) contrarregras, e ainda uma

assistente de direção junto a diretora/professora.

5 Decreto n. 94.664, de 23 de julho de 1987: Fica proibido ao docente em regime de Dedicação

Exclusiva (DE) o exercício de qualquer outro cargo. Assim, protocolei o pedido para alteração do regime de Trabalho para 40horas/DE, solicitando, assim o pedido de exoneração da Secretaria de Educação de Minas Gerais, pois trabalhava como professora na Escola Estadual "Professora Amélia de Castro Monteiro", em Belo Horizonte, paralelamente ao CEFET-MG.

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Outra apresentação realizada pelo grupo no mesmo ano foi “O Caso do Vestido”,

adaptação de Aderbal Júnior (1983), do poema de Carlos Drummond de Andrade, do mesmo

ano. O texto apresenta a tensão entre a convenção social, a estrutura familiar patriarcal e a

complexidade do amor simbolizado no vestido como signo na cena, destacado com foco de luz.

Uma montagem teatral, em parceria com a Coordenação de Português6, apresentou a

peça "O Caso do Vestido" nas comemorações do 85º aniversário do CEFET-MG. O Grupo de

Teatro abriu a programação do 4º Mostra Minas de Teatro, evento ocorrido em outubro de 1994

em Ipatinga (MG). Ao participar das oficinas do evento, os alunos ampliaram o conhecimento

da linguagem cênica. O Grupo de Teatro do CEFET-MG contava com 13 (treze) integrantes,

naquele momento.

Mesmo com um número grande de integrantes, o grupo de teatro se fazia presente fora

e dentro da instituição. O crescimento cênico, ou seja, o crescimento do ator/aluno quando

reflete sobre o conhecimento e nas práticas já desenvolvidas, indica que deveríamos fazer uma

nova orientação à medida que prosseguia o trabalho. Novos fatos acumulavam-se, isto,

consequentemente, qualificava mais ainda minhas investigações.

Os espelhos, quando são utilizados por alunos/atores, isto é, quando ele amplia o fluxo

entre o enxergar nas representações sociais ora dos próprios alunos ora das personagens,

representa a capacidade criativa de romper e introduzir outro tipo de caminho. A relação da

realidade em si, mas, com consciência que compreende esta realidade ao produzir significações

nos laboratórios cênicos, é uma possibilidade, confirmam isto Duvignaud (1970), Benjamin

(2008), Boal (2002) e Merleau-Ponty (2012). Além disso, o diálogo com a ferramenta utilizada

e a dinâmica ia tomando outro formato nos laboratórios cênicos quando as imagens pessoais

dialogavam com as personagens refletidas nos espelhos, fenômeno que produz

indiscutivelmente efeitos de ordem simbólica. Como diz Sartre (2012, p. 44), “O corpo age

como instrumento de seleção; graças a ele a imagem torna-se percepção; a percepção é a

imagem 'relacionada à ação possível de certa imagem determinada'7 que é justamente o corpo”.

O Grupo de Teatro do CEFET-MG estreou, em 1996, a peça “Murro em Ponta de Faca”,

adaptação do texto de Augusto Boal (1978). O texto conta a história de três casais diferentes

que no exílio dividiam o mesmo espaço até serem anistiados. O grupo era formado por 6 (seis)

atores, e 1 (uma) operadora de iluminação. O projeto dos cartazes e folders primou por uma

6 Hoje denominado Departamento de Linguagem e Tecnologia.

7 Grifo do autor.

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mensagem expressiva, destacando a cor vermelha, mas, não conseguimos a impressão colorida,

pois o custo em cores era maio.

Nos laboratórios cênicos, fazíamos uma pesquisa sobre o Teatro do Oprimido (TO)8, do

dramaturgo Augusto Boal (2000)9, que tinha a proposta do “fazer teatral” como possibilidade

de socialização e democratização da linguagem cênica.

Após deixar a chefia da SACC10, continuávamos acatando a demanda da instituição

junto ao Grupo de Teatro do CEFET-MG. As questões administrativas e pedagógicas

consolidaram-se após as discussões sobre o lugar das linguagens artísticas, ou seja, se deveriam

estar na Coordenação de Artes/DE-II11 ou na Seção de Atividade Cultural e Cívica/DAAE12

(MAIA, 2010).

Então, ao final de 1994 o Teatro, a Banda e o Coral passaram a fazer parte, como

linguagem artística, da Coordenação de Artes e não mais como atividades de extensão junto a

SACC.

A imagem do grupo de teatro que acreditávamos – como linguagem cênica – propiciava

a democratização e a socialização da linguagem artística. Essa forma estava contemplada em

Boal (2000), quando o autor vê dificuldades em ser compreendido na sua viagem ao Peru e

como palestrante, convida a plateia para participar do laboratório pedindo que fizessem uma

imagem com o corpo para depois convidar para passar da imagem do real para o desejo. Depois,

ainda, do real ao ideal. Afirma o autor que das imagens dessa oficina nasceram as técnicas do

"Teatro do Oprimido" (2000, p. 298).

O teatro-imagem proposto por Boal trouxe para a professora/diretora o entendimento do

que estava se construindo. Do ideal para o real íamos construindo e refletindo com as imagens

observadas no espelho os reflexos da comunidade escolar. O autor, ao utilizar o próprio corpo

e os gestos para se comunicar, funda o Teatro Imagem desencadeando, em seguida, no Teatro

do Oprimido.

8 BOAL, Augusto. Teatro do oprimido. Teatro a partir de exercícios e jogos para atores e não atores, 1982.

9 BOAL, Augusto. Hamlet e o filho padeiro: memorias imaginadas, 2000.

10 Hoje, Coordenação Geral de Atividades Culturais, vinculada ao Diretoria de Extensão e Desenvolvimento Comunitário.

11 DEII, Departamento de Ensino do 2º Grau, hoje Departamento de Educação Profissional e Tecnológica (DEPT)

12Departamento de Apoio as Atividade de Ensino, hoje Diretoria de Extensão e Desenvolvimento

Comunitário.

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Contar a história e narrar estabelecem relações e dão significado aos próprios fatos

revelando uma subjetividade na tentativa de construção da realidade. As expressões corporais,

as expressões faciais e os gestos formados no corpo do ator surgiam como imagem no espelho

da personagem em construção. O estudo do perfil psicológico da personagem era observado e

os fenômenos ali apresentados balizavam a construção do método.

A linguagem cênica, como observam Mendes (1999), Pimentel (1999) e Barbosa

(1995), ao afirmarem que a prática pedagógica passa da imaginação e da intuição creditada ao

processo de criação, ou seja, ela não se configura apenas como auto expressão do aluno. Assim,

como é citado no Parâmetro Curricular Nacional (PCN) (BRASIL, 1997, p. 88), “O jogo teatral

é um jogo de construção em que a consciência do 'como se' é gradativamente trabalhada, em

direção à articulação de uma linguagem artística – o teatro"13.

Em 1996, ocorreu a estreia da peça “Apenas Quatro”, escrita e encenada pelo Grupo de

Teatro do CEFET-MG em parceria com o Grêmio Livre Estudantil do CEFET-MG e a Diretoria

Geral. O texto apresentava o drama de 4 (quatro) alunos no momento de suas escolhas

profissionais e pessoais e, paralelamente, a visão da instituição representada no subconsciente

das personagens na cena quando dialogavam com as questões de um ideal. Faziam parte do

elenco 13 (treze) atores em cena e 1 (uma) operadora de luz.

Ao participar do Grupo de Teatro, os atores tomavam conhecimento do texto e ao

estudar o contexto das personagens desenvolviam no espaço do palco questões do dia a dia

inseridas como diálogo do social, ou seja, cabe ao ator se reconhecer nas transformações sociais

e políticas das personagens para, então, refletir no ambiente escolar do aluno e assim, para além

da escola, ir dialogando com a sua vida pessoal. Como afirma Duvignaud (1972, p. 228),

O ator e seu público, em um mesmo movimento de conquista, realizam na

história a imagem da pessoa humana através da representação dramática. E é

assim somente que se pode compreender a significação de ideologias que

evocam o valor pedagógico e civilizador do teatro.

O autor acrescenta que o ato de dramatizar personagens já é um ato de criação coletiva. Assim,

a proposta de representar o texto escolhido pela diretora, parte do momento político e reflete a

forma como expressar a liberdade de atuar junto ao grupo. Os fenômenos observados formam

imagens que representam para o ator a personagem refletida no espelho. Ao experimentar no

13 BRASIL. Ministério da Educação.

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próprio corpo as transformações para levar ao palco, o aluno desdobra-se na personagem

encenada pelo ator.

No início do Grupo, para montar uma peça, partíamos da escolha do texto conforme o

número de atores em relação às personagens e tínhamos a preocupação em viabilizar figurinos,

cenários etc. Após verificar o crescimento crítico-político dos integrantes do grupo quando

passaram a pertencer ao Grêmio Livre da instituição e a participar junto com os professores dos

movimentos das ações da Seção Sindical, os textos escolhidos passaram a refletir essas

questões.

Assim, ao observar a ação desses alunos, mobilizei novo olhar na trajetória do Grupo

de Teatro. Sabendo que, na adolescência, o conhecimento de si parece ser uma necessidade e a

forma de pensar, as semelhanças e as diferenças ampliam as possibilidades de construir a

imagem de si mesmo, busquei observar mais detalhadamente todo o processo que ocorria nos

atores do Grupo.

Em 1996, apresentamos “Viúva Porém Honesta”, de Nelson Rodrigues (1957), com 15

(quinze) atores em cena e 4 (quatro) nos bastidores. A peça falava de forma onírica da perda do

marido, de gravidez forjada, de três farsantes, de vários médicos e do diabo que fazia a ligação

entre as personagens.

Neste momento, conforme relata Maia (2010, p. 25),

A reflexão nos levou a perceber que até então a linguagem cênica ainda não

conseguira se efetivar na coordenação, posto que sequer ao professor

responsável era conferida carga horária compatível com a montagem de um

espetáculo.

Como representante da Coordenação de Artes no Conselho de Professor (CP)14 ouvia

dos colegas, representantes de várias áreas técnicas, questionamentos como: qual a importância

e o por quê das aulas de Artes no currículo? Seria possível solicitar o horário das aulas de Artes

para mais aulas da área técnica?

A proposta de separar o Ensino Médio do Ensino Técnico, era uma das discussões

internas entre o núcleo comum e as outras áreas existentes no CEFET-MG, visivelmente em

14 Atualmente Conselho de Educação Profissional e Tecnológica (CEPT)

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seus colegiados. Essas questões sempre fizeram parte da nossa comunidade, mas, de forma

conciliadora (MAIA, 2010, p. 26).

A Coordenação de Artes defendia nos colegiados a linguagem artística, pois,

compreendia sua importância em desenvolver o potencial criativo ligando a vida cultural e

possibilitando a formação de cidadão crítico.

A autora ressalta ainda as discussões sobre a importância das Artes como disciplina

básica do Ensino Médio na Federação de Arte Educadores do Brasil (FAEB) (1996) e ainda a

discussão interna na instituição quanto às definições das políticas de controle e financiamento,

seguindo as orientações do Banco Mundial (1995/1996) através do Projeto de Lei 1603/96.

Em 199715, os PCN para Artes, da Secretaria do Ensino Fundamental do MEC (SEF),

passaram a identificar a linguagem da Arte e não mais Educação Artística. Retomaram as

reivindicações de valores estéticos, contextualização histórica, bem como as novas tecnologias

a que a lei se refere.

Nessa reforma do ensino, vislumbrou-se dar maior importância ao teatro. No entanto, o

teatro não é ainda considerado como disciplina autônoma, mas uma possível parte do conteúdo

da disciplina Artes, que deve suprir as chamadas quatro grandes áreas artísticas: Música, Artes

Plásticas, Dança e Teatro. Nesse discurso da multidisciplinaridade, a educação artística vem,

na verdade, separar as linguagens. Caberia aos professores compreender suas concepções e

praticá-las em sala de aula.

Assim, vale ressaltar que nas práticas para se efetivar uma montagem teatral, os atores

experimentavam várias linguagens artísticas, a multidisciplinaridade, a criação de figurinos e

adereços, a confecção do cenário, a escolha das músicas e dos efeitos especiais para gravação

da trilha sonora, bem como, a concepção, criação e elaboração de projeto e, ainda, a sua

execução. Caso o Grupo tenha idealizado percussão no desenrolar da apresentação, cabe a ele

escolher qual o posicionamento dos atores no palco e o instrumento a ser utilizado, ou seja, vai-

se da criação à prática, e na execução vai-se permeando as adaptações do imaginário do Grupo

até a sua materialização final.

15 Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, a Arte é apresentada como área de conhecimento que requer espaço e constância, como todas as áreas do currículo escolar. O aluno aprende com mais sentido para si mesmo quando estabelece relações entre seus trabalhos artísticos individuais, em grupos, e a produção social de arte, assimilando e percebendo correlações entre o que faz na escola e o que é e foi realizado pelos artistas na sociedade no âmbito local, regional, nacional e internacional. Aprender Arte envolve, além do desenvolvimento das atividades artísticas e estéticas, apreciar arte e situar a produção social da arte de todas as épocas nas diversas culturas (BRASIL, 1997, p. 36-37).

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Tínhamos sempre que pensar o lugar das apresentações, para então pensar na forma de

iluminação para fazer as marcações dos focos no palco, escolher o operador de luz e do som

para a cabine do Auditório do Campus I. Tínhamos que pensar ainda, para a divulgação do

evento, a elaboração do material de propaganda, tal como os folders, convites e cartazes e a

distribuição pela instituição e em outros espaços.

Os atores que integram o Grupo de Teatro buscam na montagem teatral uma forma de

se expressar. O texto propicia ao aluno entrar no universo da personagem, indo além do pensar

em “como fazer”, para, na prática, experimentar uma forma conciliadora do sentir e, também,

realizar a montagem da peça escolhida. Será que nos laboratórios cênicos os alunos/atores

experimentam o perfil psicológico da personagem encenada no diálogo com o sentir e o fazer?

Esta seria uma ação direta que pode desenvolver o aprendizado sucessivo e envolver, portanto,

explorações cada vez mais detalhadas de elementos e conceitos teatrais para a vida pessoal.

O laboratório cênico – o teatro – como ressaltam Reverbel (2007), Duvignaud (1972) e

Venâncio (2007), é um processo de experimentação de caráter individual e também coletivo, e

que não há um só momento em que a imaginação não seja convocada para criar

espontaneamente a atitude, os gestos, os acessórios cênicos, necessários ao desenvolvimento da

ação. Esse fazer envolve a criatividade simbólica, posta à prova a todo o momento pelo corpo

inteiro. Ou seja, pelo corpo e pela alma.

Os alunos ao se entregarem na montagem cênica partem do coletivo, que busca

relacionar com o texto, colocado no caminho do ator como possibilidade de superação ao

atuarem. A atividade desse ritual propõe processos e etapas como a escolha do texto, a leitura

e a sua possível adaptação. Nos laboratórios cênicos são feitos exercícios com o corpo,

alongamentos, melhorias na agilidade, concentração e respiração. Por isso as ideias relacionam

diretamente com o fazer artístico, paralelamente interagindo com os aspectos administrativos,

como a captação de recursos, criação de ofícios e memorandos, bem como, as parcerias com

setores da instituição, como por exemplo, a Marcenaria, Coordenação de Áreas e

Departamentos e até mesmo, a Direção Geral.

O Grupo de Teatro, em 1999, escolheu a peça “O Inimigo do Povo”, de Henrik Ibsen

(1882), cujo texto retrata a trajetória de um cidadão que descobre irregularidades nas condições

de uso das térmicas medicinais da cidade, o que provoca a desestruturação de valores

econômicos, sociais e éticos. O elenco era composto de 17 (dezessete) atores e 3 (três) da equipe

de sonoplastia/trilha sonora e iluminação/projeção. O cenário e o figurino sugeriam ausência

de lugar e época, específicos para contemporizar a falta de recursos e viabilizar a

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atemporalidade do tema. O espetáculo tinha duração de 1h20min. O texto, mesmo sendo de

1882, continuava atual. A falta de astúcia do Dr. Stockmann, personagem do texto que retrata

o porquê não adianta só possuir a verdade, pois é necessário ter o conhecimento da verdade.

Mais do que ter conhecimento da causa, é preciso fazer com que ele seja socializado, para que

seja entendido.

O diálogo das personagens do texto foi essencial e vital, no contexto representado, pois,

mostrou o quanto é importante a capacidade de discutir o que se vê e assim poder reconhecer o

momento histórico, social e político do grupo, bem como o que estava acontecendo com a

instituição e o que acontecia internamente em cada um dos alunos/atores. Refletir e buscar o

entendimento foram o caminho.

Estudávamos, em 2000, Brecht (2008, p.81). O autor diz que “O teatro épico se dirige a

indivíduos interessados, que 'não pensam sem motivo'16. Mas essa é uma atitude que partilham

com as massas”. Ainda completa que “para seu público, o palco não se apresenta sob forma de

tábuas que significam o mundo”17 (2008, p. 79)18, assim, o grupo se empenhou no significado

de atuar.

Os estudos de Brecht foram fundamentais para experimentar o distanciamento e

repensar nosso fazer artístico. O autor propõe repensar o fazer humano e a capacidade de

realizar não só com o coração. Propõe ainda que pensemos e analisemos o que se forma na

mente, a forma como realizamos o que pensamos e compartilhamos nossos caminhos, e ainda

quando paramos para pensar o que queríamos no fazer teatral – nosso mundo no palco? Ou o

palco para o nosso mundo?

Em 2000, apresentamos uma adaptação da peça “Liberdade, Liberdade”, de Flávio

Rangel e Millôr Fernandes (1994), com o título adaptado “Liberdade ainda que Reticências!”.

A peça foi apresentada no Auditório do Campus I. A montagem foi reapresentada no evento

“De Cabral a FHC: outros 500: ciclo de debates”, realizado de 10 a 13 de abril. O grupo

apresentou sua concepção teatral com cenário ficcional sugerindo aterro sanitário ou até outro

planeta. A trilha sonora foi feita com percussão e executada no palco pelos atores e figurino de

trapos em tons neutros, e só um manto vermelho, em destaque, com foco de luz.

16 Grifo do autor.

17 Benjamin, Walter. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. Que é o teatro épico? Um estudo sobre Brecht. 2008.

18 Grifo do autor.

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O texto aborda a resistência ao regime militar e faz paralelo na montagem com a

trajetória da linguagem cênica na instituição. Extrapolamos em gestos as possibilidades de dizer

o que representava a liberdade de um homem em construção.

Em 2001, o Grupo de Teatro ensaiou a peça “Tá na Merda, Mas Tá Quentin”, texto

escrito pelo Grupo a partir das discussões políticas que aconteciam na instituição e que

demonstravam a dualidade entre o bem e o mal. Esta mesma dualidade se apresentava no grupo

naquele momento. Perguntávamos sempre: de que forma gostaríamos de continuar nossa

pesquisa como grupo de teatro? Infelizmente a peça não foi encenada. Um ofício enviado pela

Diretoria de Ensino da escola foi encaminhado à diretora responsável pelo grupo, deixando

claro que as discussões inerentes ao teatro e as questões da forma que estávamos atuando não

eram prioridades como as aulas curriculares de folclore, disciplina do Curso de Turismo

(MAIA, 2010, p. 29).

Mesmo sendo entendido como “atividade extracurricular”, portanto passível de

suspensão, as tarefas que, por sinal, não cabem em relatórios de pontuações como garantia de

direitos e respectivamente no salário, bem como todos os momentos extraescolares, portanto,

extra produção acadêmica não foram suficientes para manter o Grupo de Teatro para os

alunos/atores. Assim, acatamos o ofício recebido e refletimos.

Mas a trajetória junto ao Grupo de Teatro do CEFET-MG confirmou a importância da

linguagem teatral e, então, propusemos inserir na grade curricular como uma das opções de

linguagem artística na Coordenação de Artes. As práticas contribuem, sobremaneira, para a

continuidade das observações e a pesquisa acerca do teatro como um todo, ou seja, as práticas

são transdisciplinares por permitirem aos envolvidos nelas uma nova visão de si e do mundo ao

redor.

1.3 Apresentação das aulas de Artes

Em 2004, com a publicação do Decreto n. 5.154, de 23 de julho de 2004, que

regulamentava a possibilidade de oferta do Ensino Médio da Educação Básica integrado ao

Técnico, e presente na Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a Instituição iniciou a

construção do Projeto Político-Pedagógico da Educação Profissional e Tecnológica, visando

novamente a essa integração.

O ano de 2005 foi um marco para a Instituição com a implantação da Educação

Profissional Técnica de Nível Médio (EPTNM) na modalidade Integrada. Nossa luta de rever

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a reforma como perda social para a instituição se consolidou com o restabelecimento do

CEFET-MG com ensino integrado novamente nos exames de vestibular para a comunidade em

geral.

A trajetória do Grupo de Teatro do CEFET-MG possibilitou a constatação de como a

linguagem cênica transforma o aluno a partir do ritual de uma montagem cênica. Será que o

espelho utilizado pelos alunos desperta nos atores/alunos possibilidades de irem além do perfil

psicológico da personagem? Nos espelhos utilizados nos laboratórios os atores/alunos se

comprometem a descobrir quem são os alunos/atores que se postam frente a este espelho. Nesse

diálogo com o corpo reflete o ator que transpassa o mero fato de se ver e no processo do pensar,

o aluno pode ir para dentro dele mesmo.

Os alunos são jovens de diversos cursos técnicos de nível médio do CEFET-MG e que

em sua maioria questionam, no início das atividades, a relevância das aulas de Artes para os

cursos técnicos escolhidos. Assim cabe a nós, professores da área, apresentar o conteúdo a ser

trabalhado em sala de aula, convidando os alunos para conhecer a linguagem cênica.

O processo observado durante as aulas teve formato sequencial, construído como uma

proposta de rever e analisar os experimentos anteriores, no Grupo de Teatro. Dessa forma a

professora questionou se a imagem confere seu reflexo como verdadeiro. Isto seria possível?

Para tal se fez necessário que a forma habitual de se ver, este ato autônomo e aleatório, quase

sempre de julgamento, deveria ser apreendida do ponto de vista fenomenológico. Como diz

Ricœuer (2014, 180), "o recurso da história ao testemunhar não é fortuito. Está fundado na

própria definição do objeto da história: não é o passado, não é o tempo, são 'os homens no

tempo'".

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CAPÍTULO II – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DA PRÁXIS DAS ARTES CÊNICAS

COMO PROCESSO: O OLHAR DA OBSERVADORA

2.1 Utilização dos espelhos

Contaremos a seguir como os espelhos usados pelo Grupo de Teatro passaram a fazer

parte das aulas de artes e o que ocorre com os alunos quando chegam à sala de aula e se deparam

com sua imagem logo na entrada do recinto. E ainda, no caminho para dentro do espaço é

acompanhado pela imagem que o leva a uma intimidade, a uma fruição ou a um desconforto.

A utilização de espelhos como ferramenta nos laboratórios cênicos usada pelo Grupo de

Teatro ajudava na construção do perfil psicológico das personagens. Conforme o texto

escolhido para a representação, cada ator que precisasse conhecer as características da

personagem utilizava seu reflexo no espelho para experimentar possibilidades no próprio corpo

para, assim, reconhecer e poder se adaptar ao perfil da personagem da personagem.

Nas práticas do teatro, o espelho é utilizado para observar a postura, a respiração e as

expressões faciais e corporais. Na sala ambiente do teatro, o espelho era fixado na parede ao

fundo. Quando o espelho quebrou, solicitamos a troca. Portanto, houve a possibilidade de

aumentar o tamanho dos espelhos na sala sem onerar o custo. Então, conseguimos trocar o

espelho de 1,50m X 1,50m por dois espelhos de 2,20m X 2,20m. Eles foram afixados em duas

paredes contíguas, um à esquerda, logo na entrada da sala, e o outro ao fundo da entrada da

porta.

Assim, os alunos poderiam experimentar a postura ao se deslocar pelo ambiente.

Teríamos desta forma a visão do próprio corpo sem desconcentrar atores/alunos.

Vale ressaltar que após observar os alunos nas aulas de artes quando chegavam à porta

da sala de artes cênicas e se deparavam com o espelho à sua frente, de alguma forma esses

alunos, em sua maioria, mudavam de direção tentando sair de perto do espelho. Contudo, ao

acabar de entrar na sala, outro espelho tomava conta do seu caminhar.

Nesse deslocamento dos alunos, observei que os meninos, em sua maioria, buscavam

um lugar longe dessa experimentação de se ver. Já as alunas, em sua maioria, deleitavam-se

com a possibilidade de usar o espelho e poder mexer nos cabelos, fazer "caras e bocas" e

observar detalhes do rosto.

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Na observação desse fenômeno recorrente: a empatia19. A capacidade de buscar e tentar

compreender a imagem pessoal refletida no espelho, nos laboratórios foi fundamental e

exercitada gradativamente nas aulas de artes cênicas. Portanto, apresentar a linguagem cênica

como possibilidade nas aulas curriculares passou a fazer parte das práticas das aulas de

educação artística. Iniciei com o conteúdo de artes plásticas, propondo uma colagem com tema

variado, até finalizar na confecção individual de uma máscara.

Nessa busca por atividade cênica, iniciávamos com as máscaras, ora feitas de

papel/colagem, ora feitas de gaze/gessada, criando as personagens que seriam incorporadas às

aulas de artes.

Após apresentar à turma elementos dos laboratórios cênicos, a saber: exercícios de

respiração, consciência corporal e jogos dramáticos, os alunos que concluíram as máscaras

criadas nas aulas de Artes Plásticas eram solicitados a elaborar uma frase para a máscara. Foi

assim, aos poucos, que a linguagem cênica nas práticas das aulas de educação artística foi sendo

introduzida.

Paulatinamente, o impacto do aluno com o espelho conquistou minhas observações,

determinando etapas no processo iniciado apenas para a consciência corporal. Os aspectos do

fenômeno e a qualidade da percepção dos sujeitos determinaram os procedimentos para se

chegar a outros níveis de percepção dos alunos. Segundo Bach Jr. (2013, p. 142),

no método goetheano não há dicotomia entre sujeito e objeto, o

sujeito não é mero espectador passivo do fenômeno. Na

percepção fenomenológica há uma participação do objeto com

suas características e propriedades, entretanto, no procedimento

metodológico o sujeito participa também.

A diversidade da experiência e a repetição quando o sujeito observa o que ocorre, a

maneira que acontece e vivencia em sua empiria as manifestações da essência do objeto são

relevantes. O modo de fantasiar é elaborado pelo aluno/ator no momento exato de se ver.

O fenômeno que ocorre quando o aluno enxerga a sua imagem, momento entre a

realidade do que está experimentando e o mundo percebido a partir do reflexo enxergado no

espelho e que tem, em relação ao que se viu, necessita da imagem refletida para representar no

palco a palavra escolhida como signo da sua personagem.

19 Segundo o dicionário Michaelis: “Projeção imaginaria ou mental de um estado subjetivo, quer afetivo

ou cognitivo, nos elementos de uma obra de arte ou de um objeto natural, de modo que estes parecem imbuídos dele. Na psicanálise, estado de espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que está sentindo” (p. 786).

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Nos laboratórios cênicos, os alunos ao se verem no espelho, dimensionam o corpo

visualizado observando a coluna, os pés e a projeção do quadril e/ou da cabeça, ou seja, eles

observam seu corpo como um todo. A aula de consciência corporal inicia-se com o alongamento

em frente ao espelho para depois os alunos deslocarem pelo espaço da sala ambiente.

No deslocamento consciente pelo espaço físico da sala, o observar-se penetra no

pensamento para medir o peso do corpo nos pés, a inclinação do tronco e até no balanço dos

braços ao se deslocar. Focar no peso da cabeça em relação ao pescoço, na força do corpo em

relação à base que o sustenta, ou seja, ater-se aos pés e em contrapartida observar, como

proposta de exercício, que a leveza de nossa cabeça baila rumo ao céu.

Na primeira aula de artes cênicas, é proposto aos alunos que experimentem o palco durante três

minutos. O restante da turma assiste como plateia.

<arquivo pessoal fev/2016>

O espelho-palco – foto 1 – arquivo pessoal

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Sala do espelho da Coordenação de Artes do CEFET-MG

<arquivo pessoal fev/2016>

O palco – plateia – foto 2 – arquivo pessoal

Sala do espelho da Coordenação de Artes do CEFET-MG

<arquivo pessoal fev/2016>

Plateia-espelho – foto 3 – arquivo pessoal

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“A imitação torna-se aqui criação, elaboração de um mundo que, pela sua irrealidade, serve de

instrumento para compreender e explorar o mundo real na sua confusão.” (Duvignaud, 1972

p.74)

<arquivo pessoal fev 2016>

Experiência de palco-plateia – foto 4 – arquivo pessoal fev/2016

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2.2 Variações em frente ao espelho

Muitos jogos cênicos só podem ser realizados quando temos espaço e espelhos. Os

exercícios de teatro, as práticas de Tai Chi Chuam20 e a Yoga21, bem como minha vivência

como atriz nas montagens teatrais em 1984 e 1985, em Belo Horizonte, como foi dito

anteriormente, fazem parte do meu repertório cênico, ou seja, da minha aprendizagem.

A percepção do peso do corpo e o sentir a força que o puxa para baixo e o que leva o

sujeito para cima, como um fio divino, faz com que os alunos observem conscientemente os

movimentos no tronco à transferência de peso para, assim, ficarem mais presentes nos

exercícios.

Na consciência corporal, as recomendações são as mesmas das práticas do teatro, a

saber: caminhar na sala ocupando todo o espaço, focar no horizonte, manter a cabeça ereta,

deixar os ombros relaxados, manter o tronco ereto para observar o deslocamento no espaço.

Outra recomendação é ir modificando os comandos para pôr peso nos calcanhares, na ponta dos

pés ou distribuir pelo pé por inteiro. Depois em um pé só, depois mudar para o outro e depois

alinhar, voltar a coluna e distribuir o peso do corpo no pé por inteiro. Estas são práticas no teatro

descritas por Rugna (2009), Reverbel (1989, 2007) e outros, mas estes autores não utilizam os

espelhos como são utilizados neste método.

Os jogos com bolas e bastões são práticos, de aquecimento físico que trabalham, além

do corpo, a concentração para o teatro. Levei para a sala de aula bolas de pano, uma maior, do

tamanho de uma bola de futebol de salão, mais pesada, e outra menor, do tamanho de bola de

tênis, mais leve. Em um círculo, jogávamos uma bola para o outro dizendo o nome pessoal,

depois jogávamos para o outro dizendo o nome do colega. Assim, íamos ampliando o exercício,

20 O Tai Chi Chuam – a suprema unidade – é o princípio da união e o equilíbrio das duas energias opostas e complementares – Yin/Yang – representadas por céu e terra, homem e mulher, corpo e espírito, cuja interação gera e mantém a vida. Através da serenidade treina-se o coração e através do movimento desenvolve-se a flexibilidade do corpo. É uma forma de automassagem interna e externa que atua em todos os sistemas orgânicos, promovendo a circulação do sangue e da energia. Revitaliza o corpo e serena a mente, despertando a espiritualidade. Disponível em <http://www.institutomineirodetaichi.com.br/images/logoimt2.gif>. Acesso em: 9 jul. 2015.

21 Ioga. A elevação da vitalidade e a construção da habilidade de relaxar endereçam aspectos estruturais, fisiológicos, emocionais e energéticos da recuperação dessas condições. Disponível em: <https://centroyogibhajan.files.wordpress.com/2013/03/cropped-head2.png>. Acesso em: 9 de jul. 2015.

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colocando mais elementos para se jogar a bola. O mesmo fazíamos com os bastões/cabos de

vassoura.

Outra variação desse exercício era feita andando pela sala. A atividade exigia muita

concentração para que as bolas não caíssem no chão, caso contrário, deveríamos começar o

exercício novamente. Depois voltávamos a caminhar pelo espaço. Aos poucos, mais

rapidamente até correr ocupando o espaço da sala, para depois parar. Após parar, devíamos

olhar para um determinado colega.

Neste momento, o contato visual era solicitado aos alunos que só trocavam de parceiro

após ver e serem vistos por todos. O espelho poderia ser usado caso a posição não desse para

fazer contato com todo o grupo. Novamente o deslocamento pelo espaço da sala em câmera

lenta, normal, correndo e olhando pelo espelho os detalhes do caminhar. Observávamos o

deslocamento e sugeríamos mudança de sentido ao andar e de espaços, assim, íamos

observando o crescimento da intimidade do grupo.

Algumas questões iam sendo formalizadas no processo das aulas. Perguntava-me: se

Artes Plásticas já é uma disciplina regular na Coordenação de Artes porque não utilizar outra

linguagem artística? A arte cênica poderia vir a ser uma disciplina dentro da grade curricular?

Iniciei esse caminho administrando as aulas de Artes Plásticas sob minha

responsabilidade, pois, a carga horária da disciplina é distribuída semestralmente para que possa

haver troca nas áreas de conhecimento para o aluno experimentar mais de uma linguagem

artística no ano letivo.

Segundo Maia, quando o jovem ingressante numa escola técnica chega para as aulas de

artes, ele vem com resistências, mas com curiosidade para conhecer as linguagens artísticas

apresentadas pela Coordenação de Artes. Ele, então, sente necessidade de ultrapassar seus

próprios limites. “Redirecionar o olhar desse aluno demanda propor a eles, ultrapassar seus

próprios limites” (Maia, 2010, p. 34).

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Primeiro contato com a turma em 2016 – sala dos espelhos

<arquivo pessoal fev/2016>

Apresentação 1 – foto 5 – arquivo pessoal fev/2016

Sala dos Espelhos – Coordenação de Artes do CEFET-MG

<arquivo pessoal fev/2016>

Apresentação 2 – foto 6 – arquivo pessoal fev/2016

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A plateia observa o ator.

<arquivo pessoal fev/2016>

Apresentação 3 – foto 7 – arquivo Pessoal fev/2016

Experimentar o espaço para apresentar-se.

Apresentação 4 – Sala do espelho – Foto 8 – arquivo pessoal fev/2016

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Cada aluno usa seu tempo para dizer algo à plateia.

Apresentação 5 – Sala do espelho – Foto 9 – arquivo pessoal fev/2016

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2.3 Trajetória das aulas de Artes Cênicas e análise de suas produções

No segundo semestre de 2004, acrescentei alguns exercícios de teatro nas minhas aulas

de Artes Plásticas. Os exercícios cênicos eram feitos na sala do teatro e constavam de jogos de

percepção corporal. Utilizávamos os espelhos para consciência corporal.

Primeiramente nas aulas, acrescentei na proposta de colagem um formato de máscara.

Elas, então, eram experimentadas pelos alunos ao escrever uma fala, uma frase para a

personagem criada a partir da máscara.

Os jogos cênicos oportunizavam aos alunos se verem nos espelhos. Eram exercícios que

possibilitavam aos alunos enxergarem seu corpo e, a partir dele, deslocar no espaço da sala

ambiente. Os exercícios são variações de laboratórios cênicos usados no teatro.

Nessa variação de experimentos, a partir da observação do aluno frente aos espelhos,

fui acrescentando mais tempo ao espelho. Percebi que para alguns alunos estar à frente dos

espelhos desencadeava extremo incômodo. Por quê, perguntava-me? Seria pelo fato do aluno

não ter escolhido a linguagem cênica como os alunos do Grupo de Teatro escolheram?

As atividades variavam. Dentre elas, os alunos formam um círculo e nesse primeiro

momento falam o nome ao se deslocar para o centro do círculo e voltar ao lugar, até que todos

se apresentem. Outra possibilidade, ainda na roda e com outros comandos, pede-se ao aluno

para falar o nome do colega e este se desloca ao centro ou ao contrário, para fora do círculo etc.

São várias as possiblidades para o mesmo fim, ou seja, entrosamento do grupo e,

consequentemente, desinibição.

Assim, fui aumentando os exercícios no laboratório cênico, observando a interação da

turma com os espelhos da sala de artes cênicas. Os espelhos eram utilizados para tomar

consciência do corpo e essa consciência levaria à melhora na performance como "atores".

Em 2005, já dividia o semestre em duas áreas de conhecimento, a saber: Artes Plásticas

e Artes Cênicas. A partir da máscara produzida nas aulas de Artes Plástica no conteúdo da

atividade de colagem, acrescentei outra forma de fazer as máscaras. A técnica de gaze gessada

é usada no teatro para confecção de bonecos. Então era solicitada a formação de duplas e em

cada momento um aluno moldava o rosto do colega com a gaze e depois trocava a dupla.

Assim, a linguagem cênica foi sendo experimentada nos diálogos produzidos pelas

duplas que confeccionaram a máscara a partir da moldagem do rosto. A partir do uso da

máscara, uma história seria contada sem que houvesse necessariamente uma encenação.

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Em outro momento, essa encenação passou a fazer parte do cronograma das atividades

das aulas. Para tanto, um bimestre apenas para artes cênicas se tornou insuficiente. Então,

disponibilizei no ano seguinte a disciplina para todo o semestre. Na trajetória descrita, fica o

caminho percorrido entre as linguagens artísticas escolhidas pela pesquisadora junto aos

encargos acadêmicos na instituição.

Vale ressaltar que a parceria com a professora do mesmo horário foi fundamental.

Quando o aluno não queria participar da disciplina de Artes Cênicas, a ele era oferecida a troca

com a professora de Artes Plásticas. Da mesma forma, o aluno de Artes Plásticas que gostaria

de participar da linguagem cênica, a ele possibilitava-se a troca, também. Anotávamos, à parte

nos diários, para depois disponibilizarmos a frequência e as avaliações dos alunos trocados.

Em 2006, a sala do teatro passou a ser chamada de sala de Artes Cênicas. A sala

constituía-se em um espaço diferenciado ao que os alunos estavam acostumados, pois não havia

carteiras, banquinhos e, tampouco, bancadas. Além disso, havia espelhos nas paredes na metade

da sala. Os espelhos distribuídos nas duas paredes e a partir das observações do comportamento

do aluno na sala de espelhos, dos anos anteriores, apontavam questões que despertavam mais

observações e pesquisas.

No percurso das minhas observações também pude notar que desde meu afastamento do

Grupo de Teatro ainda não havia um responsável pela linguagem cênica. Quando tinha a

necessidade de contratação de professores para a coordenação de artes, observávamos se um

dos profissionais poderia atender as duas áreas de conhecimento – Artes Plásticas e Artes

Cênicas – para então solicitar a contratação do professor substituto. Analisar o estranhamento

do aluno e propor uma encenação seria possibilitar a linguagem cênica no processo para

viabilizar a ementa da disciplina e ocupar o espaço do teatro.

Assim, o professor substituto contratado deveria distribuir suas atribuições acadêmicas

entre as Artes Plásticas e a direção do Grupo de Teatro. Mesmo sabendo que o professor

substituto administrava seus encargos acadêmicos da melhor forma, o número de horas para a

direção do GT ainda era insuficiente.

Em 2006, acontecia nossa primeira montagem cênica. Para tal se fazia necessário o

palco e a plateia. Iniciamos nas aulas de Artes Cênicas contato com a linguagem cênica já na

primeira aula. Os alunos já experimentavam o que seria palco e plateia. Então, era solicitado

que todos se apresentassem e que ao fazê-lo poderiam falar de si, contar uma história, declamar

um poema e até contar uma piada ou mesmo ficar em silêncio.

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Ficávamos sentados no chão de frente e distante do aluno para estimular a imaginação

do que seriam a plateia e o palco. Naquele espaço, o aluno/ator estaria em foco, ou seja, em

destaque com seus colegas/plateia por cerca de 3 (três) minutos para cada um, dependendo do

número de alunos. Então pedia a um colega para marcar o tempo. O aluno que se

disponibilizava, iniciava a cronometragem. Solicitava-se silêncio para os colegas que

formavam a plateia. Mesmo depois do pedido de silêncio, os colegas começavam a fazer

perguntas quando o silêncio se destacava no espaço. O momento era muito interessante, porque

as perguntas eram de interesse individual, pois tratavam de assuntos variados.

Por exemplo: perguntavam onde morava, qual o time preferido e se estava namorando

ou mesmo porque escolheu aquele curso. Neste momento, lembro-os dos combinados

anteriores, dentre eles o silêncio na plateia para não desconcentrar o colega no palco. Desta

forma inseríamos conceitos do teatro.

Ao final da apresentação, o aluno que marcava o tempo avisava ao ator/aluno, então

esse aluno escolhia o próximo ator para ir para frente/palco. Assim sucessivamente até o último

aluno. Por fim, ia para o palco e tentava administrar meus minutos para falar das artes cênicas,

destacando o que ocorreu nas apresentações.

Se havia um pouco mais de tempo e se fosse necessário comentar, falava daquele lugar

experimentado por todos e como o tempo no palco é enorme. Perguntava se foram os três

minutos mais longos possivelmente já vividos até agora por eles. Ainda perguntava a respeito

das ideias que sumiram e só apareceram depois do exercício ao voltarem para a plateia.

No momento da minha apresentação, que acontecia fechando a atividade, falava um

pouco do que é representar e o poder do palco e da plateia. Esclarecendo que as técnicas teatrais

poderiam ajudá-los a lidar com essa possível dificuldade em encarar o público e de estar em

algum momento da vida em destaque com uma plateia. Por último, apresentava a proposta das

aulas de Artes Cênicas para a turma, ou seja, sem entrar em detalhes como as aulas chegariam

ao palco.

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O aluno visto pela plateia.

Sala do espelho – Coordenação de Artes do CEFET-MG – Foto 10 - arquivo pessoal fev/2016

A interação da plateia com o ator.

Sala do espelho – Coordenação de Artes do CEFET-MG – Foto 11 - arquivo pessoal fev/2016

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O foco – a fala.

Sala do espelho – Coordenação de Artes do CEFET-MG – Foto 12 - arquivo pessoal fev/2016

A expressão – a ação.

Sala do espelho – Coordenação de Artes do CEFET-MG – Foto 13 - arquivo pessoal fev/2016

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2.4 A práxis das aulas de Artes Cênicas – Práticas individuais para a escolha da palavra

2.4.1 Aquecimento

O aquecimento físico é constituído de jogos, nos quais utilizamos bolas, bastões e o

corpo. Em roda, são lançadas bolas de diversos tamanhos e texturas, sincronizado com o andar

e o falar. Isto possibilita usar o corpo e o instrumento da vez.

Exemplo: o aluno 1 diz seu nome, o 2 diz o nome do aluno 1, o aluno 3 diz do 2, e assim

por diante. Ou é feito com bola, o aluno 1 joga e diz o nome de quem recebe a bola;

aluno 2 fala o nome de quem recebeu a bola do aluno 1 e assim sucessivamente.

Exemplo: Na sala de aula, deslocamento no espaço experimentando no andar ritmos

diferentes como devagar, rápido, correndo e em câmera lenta. Sincronizando o

deslocamento com o plano inferior, rastejar baixo, ou pontas dos pés, plano mais alto e

até pulando, para frente para trás etc.

Outra variação ocorre sincronizando o deslocamento quando são usadas palavras de

ordem. Falar o nome ao arremessar a bola ou o bastão, ou o nome do colega, de frutas, de cores

e muito mais. Nesses exercícios de laboratórios dinâmicos é estimulada a participação de todos

à medida que vai se trabalhando a timidez, a solidariedade e a colaboração entre os colegas.

Observação na frente do espelho. Tornar o corpo visível e assim experimentar outra

memória: a lembrança22. São os exercícios propriamente ditos em frente aos espelhos.

É observado nesse momento, possível incômodo experimentado pela turma, e, caso seja

necessário o exercício é repetido. O exercício do espelho foi sendo intercalado com outros

laboratórios até chegar neste formato apresentado na pesquisa.

Observei nos exercícios do espelho que muitos alunos, no momento de se olharem,

ficavam atentos apenas aos detalhes que ressaltavam aos olhos, a saber: espinhas, marcas de

roupas e o cabelo, que era "ajeitado" para dar outra forma ao seu perfil. Foi a partir dessa

observação que pedi para observarem fixando a intensão na imagem a sua frente sem se ater

aos detalhes que poderiam tirá-los do exercício. O comando era assim: “Observem os detalhes

do seu rosto (tempo), a forma desse rosto. Oval (tempo)? Quadrada (tempo)? Triangular

22 Lembrança: segundo o dicionário Michaelis (2002, p. 1240): coisa própria para ajudar a memória.

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(tempo)? Observem os olhos. São pequenos? Grandes? Profundos? Saltitantes? (tempo) São

mais amendoados ou mais retilíneos (tempo)? As sobrancelhas. Grandes ou pequenas? Muito

cabelo ou pouco cabelo? Maiores ou menores (tempo)? A boca é pequena? Grande? (tempo)

As orelhas são pequenas ou grandes? o pescoço é comprido? É curto? Ombros largos? Etc."

Não fico muito tempo nos detalhes para não entrarem no julgamento de beleza, que não

é o nosso propósito. Observo se algum aluno ficou nos detalhes estéticos do rosto e não

caminhou no exercício. Daí volto a dizer: "Não se apeguem a questões estéticas reforçadas na

nossa vida pela mídia, apenas observem seu rosto, você e seu detalhes únicos." Continuo a

propor a observação da imagem refletida.

Com as observações do que acontecia em sala, notei que os alunos ao se verem se

perdiam nos detalhes da imagem do rosto. Esses detalhes eram quase sempre algo que

incomodava, pois a fisionomia refletida no espelho era modificada instantaneamente. Ao

reparar, por exemplo, na espinha, seu rosto franzia e os comentários eram imediatamente

acrescidos de uma fala depreciativa.

Ao voltar ao exercício, falava das várias possibilidades quanto à descrição do rosto para

a atenção do aluno fixar na audição e, assim, fixar a imagem refletida e não nos pensamentos

que pudessem estar ocorrendo. Lembrava-os dos discursos durante o exercício e que esses

possíveis pensamentos muitas vezes estabeleciam padrões impostos por uma mídia reprodutora

de valores para, assim, continuar a dinâmica.

2.4.2 Escolha da Palavra

A parte seguinte do exercício, após os alunos se fixarem na imagem, é solicitar que

fechem os olhos. Dá-se um tempo. Peço que remontem a imagem retida na memória a sua frente

e que se lembrem dos detalhes da sua fisionomia. Dá-se novo tempo.

Então, peço que abram os olhos e verifiquem que a imagem lembrada é a mesma à sua

frente e que observem os detalhes entre a imagem e a lembrança da imagem. Dá-se outro tempo.

Peço que escolham uma única palavra para representar a imagem experimentada. Tempo.

Lembro ainda, que a palavra deve significar a imagem refletida no espelho. Tempo.

Neste momento, observo se os alunos estão saindo da postura frente aos espelhos, e

então continuo dizendo "vou contar de 3 até 1, e ao falar o 1, vocês deverão abrir os olhos e

sussurrar a palavra escolhida para vocês na frente do espelho. Então começo a contar falando

firme, 3, depois diminuo o tom da voz no número 2, e falo firmemente o 1.

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É muito interessante este momento. A maioria dos alunos não fala nada. Então,

imediatamente peço para fecharem os olhos novamente para não estabelecer possível incômodo

e dou outro comando. Volto ao exercício e peço que observem a sensação que estão sentindo e

voltem para a palavra escolhida, lembrando-se da imagem do rosto. E continuo: "agora vou

contar de 3 até 1 e no 1, vocês vão dizer a palavra escolhida para que seus colegas da sala

possam ouvi-la." Dá-se um tempo.

Então início a contagem, com voz firme digo o numeral 3, e depois o 2, dizendo-o forte,

e no 1 falo bem alto como na proposta do exercício e aguardo eles abrirem os olhos e falar,

também firmemente para o espelho, a palavra escolhida. Tempo. Antes que percam a

concentração e façam julgamentos peço para fecharem os olhos novamente e observar os

sentimentos. Tempo.

Os alunos retornam as atenções para o exercício que estão fazendo e a calma volta a

surgir na sala. Após a calma estabelecida em sala, falo com bastante vigor: "eu vou contar de 3

até 1 e no 1, vocês vão gritar para que os colegas da sala ao lado possam ouvi-los." Outra

variação que digo é que a palavra tem que ser ouvida na portaria da escola. Então digo forte o

número 3, logo em seguida o 2, e grito 1. Eles abrem os olhos e gritam todos juntos as palavras.

Dá-se um tempo.

Não é possível entender quais são as palavras ditas, pois desde o início do exercício os

alunos falam as palavras em conjunto, desde um sussurro até o mais alto grito. Esse momento

é desafiador, uma vez que é iniciado um tumulto. Todos se olhando tentando identificar o som

das palavras proferidas. É exatamente neste momento, quando começam a conversar entre os

colegas, que passo para a sequência do exercício.

2.5 A práxis das aulas de Artes Cênicas - Práticas em grupo para apresentação da

personagem

2.5.1 Compondo as Duplas

Antes de iniciar conversa sem intenção, formo duplas aleatoriamente. Vou juntando

normalmente os alunos que estão mais próximos para não demorar nessa etapa. Nesse

momento, eles conversam sobre a palavra que escolheram para dar significado a imagem do

espelho. Dá-se um tempo.

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O tempo deve ser suficiente para que os alunos montem uma cena com as duas palavras.

Sem se preocuparem com diálogos consistentes, a dupla pode fazer uma expressão corporal

para contemplar o sentido das duas palavras.

Ao final da formação das duplas, peço para pensarem em uma forma de exposição do

que estão construindo para os colegas, pois, em seguida cada dupla fará sua apresentação ao

grupo. É um momento de conversas e movimentações pela sala. Vou sugerindo e sensibilizando

a turma dizendo que não devem se ocupar e/ou preocupar com detalhes.

2.5.1.1 Apresentação da “Palavra” pelas duplas

Assim que observo que a turma está pronta, ou seja, algumas duplas prontas para

apresentar e outras conversando ainda, pergunto: "Qual dupla gostaria de se apresentar

primeiro?" Então, dirijo-me para o espaço delimitado como plateia no início do ano e sento no

chão. A dupla que ficou em evidência no palco estabelece seu espaço e o restante do grupo se

senta no espaço da plateia. Neste momento, peço silêncio para observarmos a apresentação dos

colegas e compreender quais foram as palavras escolhidas pela dupla.

Ao final da apresentação, a dupla continua no palco para podermos esclarecer

rapidamente as possíveis palavras apresentadas. Sem estabelecer diálogos entre a dupla que

apresentou e a vontade da plateia de saber exatamente qual foi a palavra apresentada, peço então

que escolham outra dupla para experimentar o palco. Assim, sucessivamente, até que todos se

apresentem.

Cabe reforçar que o tempo das apresentações é curto. Em muitas cenas não há diálogos,

apenas expressão corporal. É necessário administrar o tempo das apresentações para não passar

para a aula seguinte, pois na sequência do método será pedido às duplas que se juntem para

apresentarem as quatro palavras.

2.5.2 Compondo os Quartetos

Na aula seguinte, junto as duplas de forma aleatória, compondo quartetos. É pedido que

nesse momento, os diálogos possam existir para dar consistência à cena. Aos poucos, vou

acrescentando elementos cênicos para serem trabalhados. Os alunos perguntam como é para ser

feito e de que forma. Ficam muito envolvidos na proposta do laboratório, então continuo

insistindo na construção da cena, como vão juntar as palavras em uma única cena naquele

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momento do exercício. Contudo, vou alertando para a falta de tempo. Vou percorrendo os

grupos e perguntando se a cena está pronta, falando de forma incisiva na proposta do exercício.

Apresentar.

2.5.2.1 Apresentação da “palavra” pelos quartetos

Assim ao observar que alguns grupos começam a desenhar ensaios e outros ainda

escolhendo como juntar as palavras, peço para um dos grupos fazer a apresentação. O restante

corre para a plateia, deixando o grupo, que já estava no processo de ensaio, no palco delimitado

pelo próprio grupo que vai apresentar. Ao final da apresentação, a turma continua no palco.

Peço para a plateia observar se conseguimos delimitar o tema da cena e se houve no processo

da apresentação início, meio e fim. Dá-se um tempo.

Comentamos sucintamente a etapa da encenação. Nesta parte do processo, é necessário

observar como ocorreram as junções das duplas e se o tema ficou claro nas apresentações. Faz-

se necessário compreender como deverá ser feita a próxima amarração, ou seja, juntar dois

grupos de quatro para formar um grupo de oito, mantendo-se as questões em um único tema.

Pretende-se juntar palavras/personagens ou juntar cenas ao tema. Essa questão faz parte do

processo quando propõe autonomia aos participantes e com esforço do grupo alcançar o mais

rápido possível a próxima etapa.

2.5.3 Compondo grupos de oito

Para juntar os quatro grupos, observo o tema que foi apresentado, pensando

necessariamente no próximo passo. Nesse momento os próprios alunos contribuem para

estabelecer critérios facilitadores na produção da cena. Continuo insistindo para mantermos o

mesmo princípio, ou seja, o tema central, com início, meio e final da cena. Rapidamente esta

etapa do laboratório se efetiva, pois o tema central já está desenhado nas etapas anteriores.

2.5.3.1 Apresentação da “palavra” pelos grupos de oito

Os diálogos criam o perfil psicológico das palavras/personagens. Os alunos

euforicamente lidam com as questões pertinentes à apresentação. Outros se destacam na direção

e no comando junto aos colegas. Dá-se um tempo.

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Depois desse tempo de ensaio, formam-se o palco e a plateia novamente. A plateia

assiste e comenta cada equipe que se apresenta conforme os critérios já estabelecidos. Depois

que todas as equipes se apresentarem, passamos para outra etapa, ou seja, a final.

2.5.4 Compondo o todo

Vale esclarecer que neste momento a professora/diretora, após observar todo o processo,

pode facilitar o laboratório juntando grupos mais tímidos com os mais extrovertidos. Caso não

haja desequilíbrio pontual neste aspecto, podemos juntar as equipes por temas apresentados. O

grupo agora mais entrosado já fica atento quanto à próxima etapa. Então proponho juntar todo

o grupo.

2.5.4.1 Produção de cena e apresentação

Nessa etapa do método, os alunos terão que sintetizar em uma única peça todas as cenas

apresentadas e as palavras/personagens vão se integrar observando-se o tema central e os

passos divididos com o princípio, meio e fim. Então, retiro-me da sala para facilitar o

entrosamento dos alunos/atores e os alunos/diretores para que possam participar cada um com

a sua competência. Depois de 15 minutos, retorno à sala e pergunto se já estão prontos para se

apresentarem. Os alunos respondem que não. Então digo que deveriam acelerar o processo.

Observo que a movimentação dos ensaios está acontecendo e digo que voltarei em 5 ou 10

minutos. Ao final do tempo, retorno e me posiciono na plateia.

Alguns alunos transeuntes se convidam para assistir e então pergunto aos alunos

salientando a importância de mais pessoas para assistir a cena preparada pelo grupo. Caso

afirmativo, os colegas são convidados a compor a plateia. As apresentações duram em média 5

a 10 minutos. Ao final da encenação, pergunto aos colegas que assistiram se gostaram e se

entenderam o tema. Após os comentários dos convidados e sem deixar entrarem em detalhes,

agradeço a participação dos colegas convidados e aguardo a saída de todos para fazer minhas

considerações.

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2.5.5 Produzindo o roteiro do esquete

Início a aula afirmando que, caso fosse dirigir aquele espetáculo, faria alguns ajustes.

Pondero sobre a forma como escolheram ao usar o espaço cênico e então, como

diretora/professora, destaco alguns itens, a saber: a clareza do tema, os diálogos das

personagens e a expressão corporal se estavam sendo usadas conscientemente, o tom da voz e

forma de falar, o deslocamento no palco e o cenário, como poderia ser se houvesse iluminação,

trilha sonora, figurinos e adereços. Por fim e de forma imediata, convido-os para ensaiarmos a

cena escrita por eles e, quem sabe, apresentá-la.

2.5.5.1 Adaptações do texto

Nesse momento, o tom de voz aumenta, pois muitos perguntam como seria possível para

ensaiar etc. Então, pergunto quem gostaria de digitar os diálogos sistematizando as falas

segundo a entrada cronológica das personagens na cena. Para o aluno que se dispõe a fazer a

tarefa, sugiro a participação de mais um ou dois colegas para ajudá-lo. Estes alunos

coordenariam o recebimento das falas e a entrega para a digitação. Marcamos, então, a

apreciação do texto para a próxima aula.

2.5.6 Proposta do professor para apresentação externa

Na aula seguinte, o aluno que digitou faz a leitura do texto e ao final abrimos para

destaques, ou seja, caso algum aluno discorde ou queira modificar o texto, sua apreciação é

colocada para o grupo. Caso as modificações sejam pequenos detalhes, eles são acrescidos à

mão. Após as adaptações, são feitas cópias para toda turma.

2.5.7 Apresentação final

Após o consenso da turma quanto ao texto final, proponho uma apresentação para os

colegas assistirem. Pondero sobre o processo das aulas e na beleza do texto produzido. Convido

para apresentar para a comunidade, explicando a importância da representação como

fechamento do processo e avaliação das aulas de artes cênicas.

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3 Auto avaliação do aluno

São considerados como ferramentas para avaliação do desempenho dos alunos a

apresentação final para a comunidade – plateia – e os depoimentos avaliativos, conforme

descritos a seguir. Ao serem cerradas as cortinas, cada aluno é convidado a manifestar sua

opinião sobre todo processo experimentado por ele, constituindo-se assim, uma auto avaliação.

Observa-se neste momento uma variedade de sensações expressas pelos alunos, em sua maioria.

Após a conclusão das auto avaliações, a professora comunica aos alunos que serão formalizados

esses depoimentos por meio documental.

4 Avaliação do processo

Após a auto avaliação a professora entrega aos alunos questionários não estruturados, a

fim de registrar, de forma sistematizada, tais informações, conforme acordo anterior. Esses

registros são feitos pelos próprios alunos, individualmente, presencial ou no ambiente virtual.

A entrega do registro à professora é obrigatória, pois constitui-se como um documento de

avaliação do desempenho do aluno na disciplina.

5 Variações de exercícios na Escola de Palco

Apresentação “A Viagem

Auditório do CEFET-MG – Foto 14 – arquivo pessoal/2012

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“A Viagem” – final do ato - agradecimento

Auditório do CEFET-MG – Foto 15 – arquivo pessoal/2012

5.1 Exercícios de aquecimento

É pedido ao aluno que fique em frente ao espelho, observe o corpo e, sem forçar os pés

e a coluna, fixar os olhos na imagem pessoal refletida no espelho. Dá-se um tempo23. Em

seguida, é observada a distribuição do peso do corpo do aluno na base, nos pés, ou seja, se o

corpo está projetado para frente ou para um dos lados, ou mesmo se a cabeça está deslocada à

frente forçando o pescoço. Pede-se que conserte. Dá-se novo tempo.

Para Ricœur (1994, p. 35), a percepção do antes e do depois existe em um único

momento quando se refere ao tempo e diz: “o tempo só é percebido como diferente do

movimento quando nós o 'determinamos'24, isto é, quando podemos distinguir dois instantes,

um como anterior, o outro como posterior”.

23 Palavra usada para determinar uma pausa nos exercícios. Segundo o dicionário Michaelis (2002, p. 1573) pausa, ou seja, interrupção temporária de uma ação.

24 Grifo do autor.

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O instante como limite dos intervalos nos exercícios, tem nos exercícios dramáticos ou

narrativos, como tempo inseparável do mundo imaginário, projetado, acompanhando imagem

e reflexo. Em contrapartida, o tempo histórico representa as formas de vida e podemos dividi-

lo em intervalos que se ajustam a acontecimentos singulares, datados e mensurados. O tempo

psicológico é variável e descontínuo, subjetivo e qualitativo, decompõe-se de momentos

imprecisos, que se aproximam ou tendem a fundir-se, o passado indistinto do presente,

abrangendo, ao sabor de sentimentos e lembranças, intervalos heterogêneos incomparáveis, no

qual a percepção do presente se faz ora em função do passado, ora em função dos projetos

futuros. Para o exercício, o facilitador-professor vai dimensionar o exato momento observando

o processo em curso.

5.2 Exercícios de imaginação

A partir do que foi experimentado, passamos para exercícios de imaginação, lembrança,

memória e confiança. Eles são exercícios para estimular vários sentidos.

Exercício 1: em círculo, de olhos fechados com as palmas das mãos livres, coloco um

objeto na mão de alguns alunos e peço para passar o objeto para o colega da sua direita até

chegar o objeto em suas mãos novamente.

Cabe ressaltar que os objetos selecionados para o laboratório foram escolhidos para

estimular o tato e o olfato. Os objetos apresentam variação de peso, textura e temperatura, por

exemplo, pedra lisa e grande, pedra fria e pesada; bonequinha de pelúcia, pequena, macia e

cheirosa; bolinha de pingue-pongue frágil, pequena maleável; vaso de flor de cerâmica, grande,

frio, pesado etc. Ao final do exercício, todos querem saber o que passou pelas suas mãos. O

espanto dos alunos ao verem os objetos que passaram pelas suas mãos é surpreendente muitas

vezes. Pode-se observar, na hora do laboratório, o incômodo de alguns alunos com o tempo do

exercício, o tempo consigo mesmo ao experimentar os objetos, o toque rápido e o passar o

objeto para frente e/ou com o tempo do outro colega observado na mudança de respiração e na

inquietação dos membros e do tronco.

Exercício 2: Variação. Andando pela sala de olhos fechados, guiado pelo colega. O

colega entrega para outro até chegar ao lugar combinado. Nesse deslocamento, outros colegas

interferem falando alto, tocando um instrumento ou mudando a direção.

Exercício 3: Em círculo. Um aluno vai ao centro da roda. Peço para fechar os olhos e

fixar os pés no chão, cruzar as mãos no peito, tentar relaxar o corpo e deixar o corpo pender. A

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equipe que está ao redor observa para qual direção que o corpo do colega pende e quem está

posicionado a frente pega o colega e devolve ao eixo no centro do círculo. O colega da vez ao

voltar ao centro continua no jogo sendo acolhido pelo grupo em várias direções. O grupo que

acolhe observa o peso e a dificuldade dos colegas para então fechar o círculo ou abrir

dependendo da confiança de cada aluno.

Muitos alunos não querem participar dessa dinâmica. O grupo pede para que todos

participem e a professora/facilitadora interfere para não ultrapassar a liberdade de cada um.

No momento do exercício, fico fora do círculo para acompanhar a atividade. Quando o

aluno vai ao centro já demonstra confiança nos outros do grupo, pois vai entregar seu corpo.

Então tem que sentir segurança na escolha. Para isso, quando o aluno está receoso, peço para

fechar mais o círculo para que o colega possa sentir o calor dos parceiros na roda. Essas

atividades são variações de exercícios para o grupo de teatro.

5.3 Exercícios de relaxamento

Exercício: relaxamento. Primeiramente, os alunos se posicionam deitados de costas,

observando o espaço da sala para que não encostem uns nos outros. Depois, peço para sentir o

peso do corpo em contato com o chão. O peso dos pés, das pernas, lembro-os da perna esquerda

e depois a direita. Em seguida, digo que caso os pés pendam para os lados, não ofereçam

resistência e deixem relaxar. Vou subindo e falo das pernas, da panturrilha, de seu peso e seu

relaxamento. As coxas, sem toque no chão e imediatamente falo do quadril, do glúteo e peço

para relaxar, destravar os glúteos. Continuo dizendo: observem a coluna, o peso do tronco no

chão, os braços direito e esquerdo. Relaxem os pulsos, não ofereçam resistência. Passo para o

pescoço, e peço para observarem a cabeça e caso tombe para um dos lados, deixe pender sem

oferecer resistência. Dá-se um tempo menor.

O passo seguinte desse relaxamento é propor que visualizem um lugar quente. Cheguei

nesse lugar para viabilizar o exercício mudando o foco dos alunos do contato com o chão frio

da sala, pois não possuímos colchonetes. A partir desse momento, peço para observarem os

detalhes do lugar, a vegetação, a flora e os animais. Observar todos os detalhes do ambiente

relacionados aos sons, ao cheiro e às cores, além da temperatura e da umidade. Logo na

sequência, peço para visualizarem um rio e se dirigir para lá. Dá-se um tempo.

Peço para observarem as características do rio com os mesmos critérios do lugar, ou

seja, temperatura, flora, cor, cheiro e ainda pergunto: qual a característica do seu rio? Observem

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a correnteza, a profundidade, a largura e imediatamente falo para atravessar o rio. Dá-se novo

tempo.

Nesse momento, peço para olharem o lugar da outra margem, as características

conforme os critérios anteriores. Dá-se um tempo menor. Só então, peço para observarem o rio

que ficou para trás e o sentimento que está sendo percebido naquele momento. Dá-se novo

tempo menor.

Depois desse processo, peço para observarem o corpo no chão e aos poucos voltarem

para a sala a fim de alongar o corpo até o total espreguiçamento. Após o exercício é feita uma

roda para quem quiser contar como foi realizá-lo. Vale ressaltar que os lugares quentes são os

mais diversos desde a cama, no seu próprio quarto, até o deserto do Saara. Quando pede para ir

ao rio quem estava no deserto desenvolve critérios inimagináveis para ver seu rio. E os rios são

cada um de uma forma. Atravessar o rio – a proposta do laboratório – acontece de várias

maneiras, desde um pulo, um voo, até uma ponte que apareceu do nada. Há aqueles que não

conseguiram atravessar. Este laboratório foi apresentado no evento de arte-terapia e adaptações

e foi feito para o espaço pedagógico.

6 Compilação e análise de dados – Respostas dos questionários de avaliação do

processo

Para compilação de dados foram selecionados dois processos, representados pelos textos

dos esquetes apresentados pelas turmas, a saber: “A Viagem”, “No Busão” e “O Carvalho e a

Plantinha”. Os dois primeiros esquetes foram filmados e, portanto, encontram-se gravados em

meio digital, além de fotografados. O terceiro esquete apresenta documentos impressos. Todos

estes registros encontram-se anexados ao presente estudo.

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Apresentação “No Busão”

Auditório do CEFET-MG – Foto 16 – arquivo pessoal/2012

O processo que deu origem ao esquete "A Viagem", realizado em dezembro de 2012,

contou com 28 alunos de uma mesma turma, de ambos os gêneros, ou seja, participantes com

perfil similar quanto à sua condição de aluno regular, matriculado e frequente no Centro Federal

de Educação Tecnológica – CEFET- MG

Nas mesmas condições encontra-se o processo que deu origem aos esquetes “No

Busão”, contando 19 alunos participantes e "O Carvalho e a Plantinha", contando 9 alunos,

realizados em dezembro de 2012 e dezembro de 2011, respectivamente.

As turmas cursaram a disciplina de Artes, na modalidade Artes Cênicas, de forma não

obrigatória, uma vez que poderiam optar pela disciplina de Artes Plásticas.

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O dia a dia no imaginário desse aluno

Auditório do CEFET-MG – Foto 17 – arquivo pessoal/2012

Os processos se desenvolveram sistematicamente, segundo as práxis descritas neste

capítulo.

Os modelos de questionários aplicados nas turmas diferem na ordenação das perguntas,

o que se justifica pela não intencionalidade, ou mesmo, pela não previsão, por parte da

pesquisadora, de geração de amostras para pesquisa.

Utilizou-se da metodologia qualitativa para a análise de dados visto que o presente

estudo não tem como objetivo a quantificação de variáveis, mas sim a compreensão da

percepção e atitudes dos alunos envolvidos nos processos de ensino aprendizado, na disciplina

de Artes.

Dessa forma foram selecionadas perguntas relevantes a este estudo, tomando-se como

referência seus objetivos e sua hipótese, sendo estas:

Qual a importância da disciplina Artes na grade curricular?

Qual a palavra que você escolheu para sua imagem? Comente.

Faça um paralelo entre a palavra/imagem e o perfil psicológico da sua personagem na

cena.

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Qual a moral da história da cena escrita pela turma?

6.1 Análise de respostas para a pergunta: Qual a importância da disciplina Artes

na grade curricular?

De maneira geral, os alunos se manifestaram favoráveis à disciplina na grade curricular

apresentando argumentos relacionados à visão de si mesmos, e de seu comportamento em grupo

à medida que a prática da disciplina facilita sua auto percepção e contribui para seu

desenvolvimento em diversas esferas de sua vida. Percebe-se uma convergência de opiniões

para a facilitação da comunicação e da desinibição, que podem ser consideradas como pontos

fortes da disciplina. Tomando-se as diversas considerações dos autores recorridos nesse estudo,

percebe-se que para o jovem aluno, em busca de identificação com símbolos, arquétipos, heróis

ou mesmo anti-heróis. Ressalta-se, aqui, uma afinidade entre os benefícios apresentados pelos

alunos ao cursarem a disciplina e descrição das finalidades, dos níveis e das modalidades de

ensino, conforme já citado neste estudo, referindo-se à LDB (BRASIL, p. 12).

Algumas citações dos alunos respondentes:

“... valores como personalidade, espírito e ego são descobertos através da arte.”

“... a maioria dos exercícios realizados nos ajudou a reconhecer nossos problemas e

também a ficar mais calmos”.

"... ajuda a conhecer a nós mesmos tão profundamente que somos capazes de, em um

palco, até representar algo que não somos.”

"... nos ajuda a ter uma maior interação entre nós alunos e pode também facilitar o

desenvolvimento em outras matérias.”

“... desenvoltura frente às pessoas e a perder um pouco de vergonha, preparando para o

mercado de trabalho.”

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O reflexo do dia a dia do aluno

Auditório do CEFET-MG – Foto 18 – arquivo pessoal/2012

6.2 Análise de respostas para a pergunta: Qual a palavra que você escolheu para

sua imagem? Comente.

Observa-se uma predominância expressiva de palavras relacionadas a qualidades de

imagem pessoal. Aqui não são classificadas como negativas ou positivas, boas ou ruins. Nesta

classificação, ela é expressa pelo próprio aluno respondente. Tais qualidades não foram

comentadas por parte dos respondentes que simplesmente citaram unicamente a palavra

escolhida. Outros comentaram sua escolha, justificando-a ou associando-a a seu estado físico

e/ou emocional em que se encontravam no momento de escolha da palavra. Ou seja, quando do

exercício do processo descrito neste estudo como “Exercício do Espelho”.

Palavras tais como Desânimo, Bravo, Sono, Serenidade, Superação demonstram, como

já dito, um estado do ser. Devido à relação previamente estabelecida no questionário entre essa

pergunta e a que solicita ao respondente um paralelo entre suas respostas, segue-se a próxima

análise, a fim de cumprir esta sequência.

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6.3 Análise de respostas para o questionamento: Faça um paralelo entre a

palavra/imagem e o perfil psicológico da sua personagem na cena

Nessa questão, a maior parte dos alunos assumiu que o seu personagem identificava-se

com a sua palavra escolhida. Alguns negaram tal identificação, e outros afirmaram que o

personagem não se relacionava com a palavra. Para justificar sua resposta é interessante

ressaltar que os alunos criam uma personalidade para seus personagens e chegam a extrapolar

o texto anteriormente produzido, no momento da resposta. Seguem algumas citações que

exemplificam esta percepção.

Algumas citações dos alunos respondentes:

Palavra: Eu

“A minha personagem assumiu um papel tangente à peça central, porém a palavra

continuou no meu papel”.

Palavra: Diferente

“Na cena a personagem fica desapontada, pois, foi traída, essa é a ligação entre a

personagem e o sentimento. Essa personagem retrata meu estado atual por causa de

notas e etc.”.

Palavra: Vontade

“A palavra/imagem e o perfil psicológico da personagem não se relacionam

inteiramente, pois, o sentido da palavra escolhida era de realização e felicidade com a

vida, vontade de viver e a personagem já não tinha essa essência de realização, mas,

continha a essência de aproveitar a vida. Ao aceitar e gostar a cantada, concluímos isso”.

Palavra: Confiante

“Meu personagem não possui fala, mas, por dentro ele sabe o que é certo ou errado e

por isso se torna confiante como eu”.

Palavra: Pitanga

“Na peça serei Deus e como Deus é bom, meu personagem se identifica com a pitanga,

por ser um bom fruto”.

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6.4 Análise de respostas para a pergunta: Qual a moral da história da cena escrita

pela turma?

Observa-se que os respondentes mantêm uma visão sobre a moral da história, bem

equilibrada sob os aspectos da consciência e sobre o uso de drogas. É nesse contexto que tecem

opiniões firmes sobre o poder destrutivo para quem as utiliza. Falam de família, de profissão,

de situações cotidianas que envolvem usuários e drogas.

Algumas citações dos alunos respondentes:

“As drogas podem acabar com sua vida, relações, família e te fazer 'viajar', alucinar.

Destrói sua mente, te faz ver coisas, imagens do que nunca aconteceu".

“No meu ponto de vista, a moral da história está em o quão importante são determinadas

coisas, às vezes, pequenas coisas e não damos valor, e um simples ato pode mudar tudo

e as consequências de certas atitudes, que podem ser irreversíveis".

“Uso de drogas pode ocasionar agravamento de situações de risco”.

“A moral é uma crítica sobre o uso das drogas entre os jovens, a perda de autoridade

dos pais e o sofrimento que causa, pois…”.

Sabe-se que o aluno que chega à Coordenação de Artes já sabe que a disciplina está

inserida na grade curricular do curso, diferentemente dos atores/alunos quando buscavam o

Grupo de Teatro (GT) para acrescentar em seus encargos acadêmicos. Portanto se faz necessário

ter outro olhar para o aluno quando ele ingressa em uma escola técnica-tecnológica como a

nossa.

Como foi dito anteriormente, a relação desse jovem quando chega às aulas de Artes e

não conhece o fazer artístico como possibilidade da linguagem artística, pode trazer benefícios

para o seu autoconhecimento. Fora isso, há a dimensão social das manifestações artísticas que

constitui uma das funções importantes do ensino de Artes, como é descrito nos Parâmetros

Curriculares Nacional (PCNs).

Maia (2010, p. 46) diz que “os exercícios das aulas de artes cênicas podem levar os

alunos a experimentar imagens do seu eu, passando a representar outro eu na cena final”.

Acrescenta ainda que a concepção de homem é a transformação das experimentações via

personagens que "muitas vezes com poderes além da forma humana, os chamados 'heróis'".

No que se refere à concepção dessa criação, os fenômenos vividos são experiências que

o sujeito toma para si e tenta compreender o fato ocorrido estabelecendo uma nova atitude ao

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seu olhar. A fenomenologia é um processo cognitivo para percebermos com os sentidos,

(movimentos e transformações daquilo que se observa), sendo que para isto, rompem-se

conceitos anteriores e formam-se novos conceitos.

No PCN (BRASIL, p. 57), o teatro, como arte, é o instrumento fundamental de educação

no qual o homem é exigido em sua forma completa – corpo, gesto e fala – que manifesta,

sobremaneira, a necessidade de expressão e comunicação.

O aluno poderia experimentar na sua imagem uma forma de fazer teatro? De se

comunicar de forma autônoma e, de verdade, falar de si? Continua o texto do PCN (BRASIL,

p. 57), “O ato de dramatizar está potencialmente contido em cada um, como uma necessidade

de compreender e representar uma realidade”. Como, então, fazer essa passagem? O processo

das aulas acontecia de forma a respeitar os alunos nas suas limitações e propor ultrapassá-las.

A subjetividade que aparece nas qualidades do processo em construção, o fazer teatral,

inicia-se na experiência junto ao Grupo de Teatro, é observada no amadurecimento do aluno,

quando ele é acompanhado pela professora, desde sua entrada na escola por volta dos 14

(quatorze) anos e verificada no decorrer da sua biografia, enquanto aluno, ator das suas

escolhas. Ou seja, assistimos o salto qualitativo das vivências realizadas na escola que é também

uma universidade quanto à responsabilidade dos horários e a sua disciplina nas condutas do

espaço público da instituição. Assim, requer-se que este aluno experimente a carga das escolhas

do processo que está em construção no seu imaginário e na construção da moral individual do

seu eu.

Como está descrito na LDB (BRASIL, p. 12), título V dos níveis e modalidades de

ensino, na seção IV, do ensino médio, artigo 35, que para esse aluno terá como finalidades:

"1. a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino

fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

2. a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar

aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas

condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

3. o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação

ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

4. a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos

produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina."

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A partir da observação do que ocorre quando a aproximação da sua imagem traz

conforto ou desconforto para os alunos que chegam às aulas de artes, pude questionar; quem

são esses sujeitos? Baseando-me na observação, fui experimentando formas de incorporar os

espelhos, como ferramenta, para serem utilizados na linguagem cênica, quando se faz

necessário observar o corpo e verificar como este corpo se apresenta em seu reflexo. Isto é uma

maneira de usar o corpo para dizer o que está sentindo e o que quer representar.

Nesse novo processo de criação e representação, iniciado com a ferramenta espelho, o

aluno dá forma a sua fala comunicando alguma coisa, ele ordena e configura uma mensagem a

partir da imagem pessoal para além da imitação se tornando autor. A imaginação é acionada

pelo reflexo e com a visão da imagem; aprende que é mais do que apenas um reflexo; reconhece-

se enquanto imagem de si mesmo, qualificando-se.

Assim, a criação do processo das aulas de Artes Cênicas partiu das observações de

atitudes dos alunos ao se depararem com o espelho. Houve então uma intenção de compreender

o novo contexto, pois o espelho, como ferramenta, proporcionava novas ações dos alunos.

Acatando a autora quando fala do processo de criação, Ostrower (1977, p. 35) diz que

“Imaginar o imaginar, imaginar as formas específicas em que se imagina. Lidamos com todo

um sistema de signos que são referidos a uma matéria especifica”. Qual a ideia do processo de

criação e como ocorre e de que forma é reforçado o caráter simbólico? A autora continua e

afirma que “Criar é basicamente, formar. É poder dar forma a algo novo” (p. 9).

Se a ação é simbólica e criar é dar forma a algo novo, procurei ordenar em etapas e pude

constatar que as manifestações corporais e/ou psíquicas fazem parte da ação imaginativa de

cada aluno. O processo é mágico e o símbolo como veículo de comunicação da linguagem

cênica propicia explicar na cena a função mágica que representa a força da imagem/personagem

como princípio vital dos atos pessoais e a representação no palco.

Assim, o poder mágico de muitas personagens não pertence a eles, pertence em princípio

aos que representam. “O criar só pode ser visto num sentido global, como um agir integrado

em viver humano. De fato, criar e viver se interligam” (OSTROWER, 1997, p. 5). Ao se formar

uma nova ideia da palavra, o significado descreve uma história que constitui a expressão da

realidade que revela ao homem o sentido interligado ao mito.

Considerando a criatividade um potencial inerente ao homem e a realização desse

potencial uma de suas necessidades, a imaginação necessita identificar-se com uma

materialidade ou algo paupável.

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A afinidade e a empatia com os espelhos despertaram a observação do aluno e a visão

global que ele tem sobre o momento da sua vida, seu humanismo. Ostrower (1997, p. 40)

salienta que “São seus valores de vida que dão medida para seu pensar e fazer”. Nessa fase da

vida, o aluno é um jovem buscando referência e modelos na reflexão de valores e nos

espelhamentos da ação. A confiança no grupo a partir da experiência com sua imagem no

espaço da sala de aula possibilita o desenvolvimento da consciência e sua relação com o mundo.

Com olhar inquietante, analisei que a Artes Cênicas, como disciplina, poderia trazer os

fenômenos observados para o método e os detalhes da relação do aluno/ator com a sua imagem

e do ator/aluno com a personagem criada.

O espelho, ferramenta usada tanto para se olhar e poder conhecer a imagem no momento

em que representa algo de si e para si mesmo, possibilita outro olhar para a humanização

intersubjetiva e amplia a referência que temos da nossa autoimagem. A palavra "imagem"

colabora neste estudo quando, em sua proposição, Sartre (1996, p.19) diz que: “A palavra

imagem25 não poderá, pois, designar nada mais que a relação de consciência ao objeto; dito de

outra forma, (...) se preferirmos, um certo modo que a consciência tem de se dar um objeto”.

Por acreditar que a linguagem cênica está fortemente imbricada com a imagem e a

consciência corporal, apresentar a proposta sobre o caminho metodológico que pode estimular

o desenvolvimento desta consciência e possibilitar aos alunos/atores seu posicionamento

perante aos diversos contextos cotidianos.

Assim o caminho metodológico percorrido possibilitou aos atores/alunos, adaptações

em seus diálogos com a nova forma de falar a linguagem cênica, bem como com a criação

elaborada do esquete para a apresentação final.

Descreve-se, a seguir, os esquetes apresentados pelas turmas da disciplina Artes Cênicas

após confirmadas as etapas do novo processo do fazer teatral, de forma aleatória, a partir de

2005.

Esquete: Na Escola (2005)

Na história – o Poeta – uma personagem que narra as cenas e conversa com a plateia

inicia diálogos sobre o atraso no calendário escolar, devido à greve de 2005. Assuntos como

emprego e heranças são tratados em outra cena, com o pai e as duas filhas conversando sobre o

futuro, as prioridades e o casamento. Na cena seguinte, o ambiente se passa na rua, quando as

personagens combinam de se encontrar para ir ao teatro. Então, aproxima-se a empregada, com

25 Grifo do autor.

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uma de suas amigas, quando a conversa é interrompida, pois ela vai defender o patrão que está

sendo difamado por outras colegas. Entra o Poeta em cena, chega perto da personagem que está

falando sem parar e lhe dá um beijo bem romântico, aliviando a tensão do momento. Nisso as

personagens vão saindo da sessão do teatro, comentando a apresentação, a parte do casamento.

A freira, outra personagem pega um cigarro, acende e tira da bolsa uma revista de sacanagem.

As meninas assustam a freira, que desce para a plateia mostrando a revista. As meninas

começam a chorar. As luzes vão diminuindo e antes de se apagarem totalmente, o Poeta reclama

do final da cena. Revela seu amor pelo pai das meninas. Em seguida, transforma-se em um

ninja, mata todos os atores em cena, que caem no palco. Neste momento, ele começa a cantar

“I will survive”. Todos se levantam e dançam a coreografia em cena. Apaga-se a luz.

Esquete: Uma Sala de Aula (2006)

Era uma escola com personagens bem estereotipadas com alunos do fundão – os

bagunceiros –, os CDFs – estudiosos –, os populares – meio a meio –, os homossexuais, os

usuários de drogas – irresponsáveis –, os crentes e os ateus. Os professores foram distribuídos

em legal – conivente –, taradão – sonolento –, homossexual – bacana –, fumante – carrasco – e

o sem educação – disciplinado. Nas aulas, as personagens vão aparecendo nos diálogos até que

desencadeia uma discussão que termina em briga. A cena congela e entram o Bem e o Mal

fazendo críticas e sugerindo modificações das personagens. Ao descongelar as mudanças

aparecem em outro momento de grande tumulto. Então, o Bem e Mal se dirigem para a plateia

e perguntam: Será que vale a pena mudar?

Esquete: Como enlouquecer em 5 dias (2009)

Narra a semana dos alunos na instituição. Questões sobre valores éticos e morais dos

professores na convivência com os alunos referentes a facilitar a nota, a não dar matéria etc. As

cenas vão se apresentando desde a segunda-feira – dia de preguiça – até a sexta-feira – dia de

alegria e euforia –, sabendo-se que o formato das cenas foi separado em 5 grupos com o narrador

fazendo a integração dos grupos em cena. A turma da Rotina apresenta sem vigor o dia a dia da

escola e suas tarefas. A turma da Alegria descreve de forma relaxada as atribulações das

matérias e afazeres da escola. Já a turma da Confusão atrapalha, pois não compreendem o que

foi solicitado, sugerindo loucura com as drogas. Outro grupo apresenta o Carinho, sempre

presente e disponível para com os colegas e professores, mais que Nerd, e por último a Timidez,

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turma calada e passiva. As cenas têm personagens estereotipadas correspondentes às palavras

escolhidas e os sentimentos do grupo.

Esquete: Um natal muito louco (2009)

Narra a história de um triângulo amoroso entre o marido meio desligado, sua esposa

interesseira Vanessa e o amante médico que se acha o tal. Vanessa fica grávida do amante, mas

não revela ao marido. O amante não assume, mas quer destruir a união contatando para o colega

"corno". Na cena do hospício, são revelados usuários de drogas, namoros libidinosos, relações

homossexuais e amor platônico da empregada pelo patrão. O amante aproveita a festa de Natal

para contar sobre o filho. Começa uma discussão que se desenrola em briga e causa um

incêndio. Com medo de morrer, a empregada declara ao chefe seu amor, a esposa desmaia ao

saber da relação do marido com a empregada. Na confusão, uma parede cai e algumas pessoas

fogem. A cena final é destacada pela mesa posta como em uma festa de final do ano e a

declaração pelos presentes ao se lembrarem do fato ocorrido há um ano. Declamam: “Família

que come unida permanece comida”.

Esquete: Está no ar (2009)

Oito cenas relatavam a desigualdade social, futilidades dos relacionamentos, uso de

bebidas nas baladas, inseguranças nas práticas de assalto, fanatismo pelo time de futebol

arriscando a vida, a confiança de que ser rico estaria garantido até na delegacia. A moral da

cena é relatada por uma repórter quando vai entrevistar o assaltante rico e comenta com a plateia

sobre as incertezas das escolhas da humanidade.

Esquete: Na edição (2009)

As personagens narram a diferença social e menosprezam assim as classes menos

favorecidas; narram a relação autoritária que há entre patrão e empregado referente à hierarquia

de serviço e de gênero; além disso há referência ao homossexualismo, ao assédio moral e ao

abuso do cargo, poder. A peça trata de questões sobre a legalização da maconha e também a

subserviência do gênero feminino, até que no final a personagem que foi assediada, arma um

flagrante que garante sua causa e põe em risco a estabilidade do patrão.

Esquete: As Forças do Universo (2009)

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Texto que aborda a rigidez das pessoas em seus relacionamentos afetivos. O abuso de

poder e as discussões levianas do dia a dia são representados por duas personagens: o Carvalho

na sua grandiosidade e firmeza, e a Plantinha na sua generosidade e flexibilidade. A moral da

história coloca a rigidez representada pela árvore tombando com o vento e matando todos os

representantes da maldade da cena, estabelecendo assim que a flexibilidade e o bem sempre

vencem.

Esquete: A ficha (2009)

Narra o dia numa sala de aula. Mostra-se como os alunos tumultuam a aula de português

conversando sobre quem pegaria a primeira ficha do bandejão até que bate o sinal para o

intervalo. Os alunos andam em direção ao refeitório para a disputa da ficha número 1. Os alunos

descobrem um sistema de fraude na distribuição dos tickets do almoço e tentam conseguir a

ficha número 1. Só que não perceberam que foi a colega que contou sobre o possível esquema

para ficar com o lugar deles na fila. Quando percebem e voltam, ficam bravos com a colega. O

professor de Filosofia, que estava passando, questionou as ações dos alunos citando Descartes.

A aluna reconhece que não foi honesta, pede desculpa e devolve o dinheiro da aposta.

Esquete: Vagas (2009)

Refere-se à seleção para cargo de professor. Há diálogos que falam sobre as experiências

e expectativas do candidato na instituição. Na conversa vai-se delineando o perfil dos

candidatos ao comentarem sobre a importância de sua matéria em relação a outras. Nas

argumentações, as disciplinas de Artes e Filosofia são consideradas menos importantes. Mas os

alunos defendem as matérias.

Esquete: Preparando para o dia de futebol (2009)

No texto são levantadas questões de gênero, quando os maridos comentam sobre o lugar

da mulher. As esposas é que pegam as cervejas na geladeira enquanto as namoradas comentam

a atitude numa tentativa de facilitar o entendimento. São diálogos que apresentam uma visão

machista. Na cena final, todos estão alcoolizados adormecendo os possíveis problemas.

Esquete: Quem tem razão? (2010)

Apresentação de programa televisivo de auditório que tem vários quadros. No início da

cena, pergunta-se ao auditório se alguém deixaria de amar a filha porque ela engravidou. Inicia-

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se a fala da filha dizendo que a mãe era ausente e que nem percebeu quando parou de comer

carne, dando seu recado de apelo vegetariano. Mas quando a mãe vai responder é interrompida

pelos comerciais. Assim são todas as cenas: a outra com tema sobre gravidez na adolescência

sem chegar a questão quando são chamados os comerciais. A última cena levanta as questões

de educação dos filhos. Uma psicóloga é convidada a falar, mas não consegue ajudar as três

famílias. Entra a faxineira do programa e fala muito bem de limites e futuro deixando seu

contato para o auditório e dizendo: “Quem tem Razão”.

Esquete: Os personagens da minha vida (2010)

Numa escola, cenas com droga, características de fisionomia dos professores, deboche,

conversas sobre times de futebol, machismo vão sendo apresentados, até que o time marca um

gol e a felicidade do momento toma conta do palco encerrando a apresentação.

Esquete: Atendente (2010)

A peça critica o setor de telemarketing quando uma cliente tenta o cancelamento do

serviço e o atendente aparece resolvendo questões pessoais enquanto conversa ao telefone,

fazendo, assim, o elo entre os temas. No primeiro momento, estão conversando com a esposa

quando ela dá falta do filho. Na segunda parte, num setor de telemarketing a cliente liga para

cancelar o serviço. Toda cena é permeada pela atendente que faz o elo com os demais temas. A

questão da família é abordada quando o pai descobre a falta do filho no lar e desencadeia a

discussão sobre atribuições de cada um na família. Retorna na cena do telemarketing com as

tentativas dos clientes de cancelamento do plano. São cenas curtas e engraçadas desse tipo de

serviço que é apresentado estereotipado em falas com desdém aos clientes enquanto aguardam

ao telefone. Volta nas questões familiares e fica nesse vai e volta até que uma das funcionárias

é promovida por sua educação ao se reportar ao cliente. A funcionária eficiente que não deixa

ninguém esperando na linha um sonho. Retorna na cena do telemarketing e as tentativas de

cancelamento. Voltam as questões familiares e fica nesse "pula-pula", até o final quando a

cliente desiste da ação.

Esquete: A festa (2010)

Aborda cenas de um baile funk e as questões de ostentação. Os quadros vão descrevendo

os convidados e as discussões entre ir ou não aparecer na festa com os valores do lugar de

origem. Droga, ciúmes e briga evidenciam as questões sociais até que uma pessoa cai no chão.

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Nesse momento, os convidados ficam preocupados, mas a personagem vai mexendo e se

transforma numa pokebola26 terminando a cena.

Esquete: Bota para quebrar - na festa (2011)

Aborda o deboche referente às características das personagens, sua atuação social, a

traição, o desdém em um crescente até desencadear numa técnica em que todos correm atrás de

uma pessoa e se jogam por cima dela, fazendo o que chamamos de "montinho".

Esquete: Lotação Vinte Onze (2011)

Estabelece-se uma relação afetiva entre as pessoas que utilizam o ônibus. Compra e

venda de drogas e guloseimas, assuntos de patroas, descaso e persistência com a vida são

apresentados nos diálogos entre as personagens no trajeto da linha do ônibus.

Esquete: A Escolha foi sua! (2011)

São sete cenas distribuídas em interna – casa e restaurante e externa – rua e praça. Os temas

tratavam de amor proibido, traição, paixão, dramas familiares, fuga e suicídio. No final, em

clima de delírio, a personagem com a faca na mão pergunta: a escolha foi sua? Depois afirma

para a plateia: a escolha foi sua. Apagam-se as luzes e ela grita.

Esquete: No Busão (2011)

Aborda a desilusão do amor na adolescência durante o itinerário do ônibus. As críticas

aos meninos do curso de Mecânica e as cantadas e desrespeitos dirigidas às alunas de química.

No momento final, quando todos vão ao show de Cláudia Leitte, ela se transforma em Pikachu

e mata todos os presentes.

Esquete: A Viagem (2012)

A Viagem é apresentada em 10 etapas e representa de forma onírica as situações do dia

a dia nos diálogos, iniciando com questões do tráfico de animais de reservas, ida a shows,

comentários sobre possíveis suspeitos na parte de trás do avião, casamento e relacionamentos,

escolha musical, uso de drogas, seus familiares e a escola. No final, os suspeitos roubam o avião

e todos entram em pânico. Só que essa cena é uma viagem dos alunos que se drogaram e que

26 Embalagem de brinquedo no formato de bola. Nele era colocado o bonequinho “Pokemon”.

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foi revelada pela mãe do aluno que foi buscá-lo na escola. Ela xinga todo mundo e puxa o filho

para fora da cena que termina.

Esquete: E não viveram felizes para sempre (2012)

Narra a história da filha do rei que não quer se casar sem amor. O rei não aceita a opinião

da princesa e manda executá-la. A rainha ficou apavorada com a atitude do marido. Mas logo

a princesa conhece um pretendente que morre em batalha para soltá-la. Desesperada, a princesa

é morta pelo carrasco em cumprimento as ordens do pai.

Esquete: Novela Mexicana (2014)

Narra a história de um relacionamento extraconjugal que acontece em três ambientes

distintos – restaurante, motel e escritório – a amante tinha tramite nos três ambientes e

desfrutava de toda riqueza do amante até que o casal termina na prisão.

Após o processo ser apresentado nas cenas descritas anteriormente, alguns autores,

descritos abaixo, foram selecionados para se juntarem ao fenômeno e com as cenas aqui

apresentadas:

Para Eliade (1991, p. 129), quando fala de imaginação e criatividade diz que “o

‘sucesso’27 de tais visões dependia dos esquemas já existentes: uma visão que contrastasse

radicalmente com as imagens e os enredos tradicionais” poderia estabelecer aprofundamento

ou não do que foi solicitado pela facilitadora do processo. Nesse sentido, os arquétipos

considerados como verdade iam aos poucos sendo revistos na pura observação da imagem.

Ao aceitar observar, tratando do tempo como seu aliado, o aluno supera os incômodos

da postura física e emerge para seu reflexo. Esse tempo, como disse o autor acima, declara que

mergulhar no tempo histórico a partir do tempo pessoal é mergulhar “num tempo estranho, seja

ele extático ou imaginário, será jamais extirpado. Enquanto subsistir esse anseio, pode-se dizer

que o homem moderno ainda conserva um ‘comportamento mitológico28’” (1991, p.165).

Para tal se fez necessário ultrapassar e buscar sua individuação, como explica Campbell

(2008, 102), ao falar de Jung que “ver as pessoas e a si mesmo conforme a realidade, não de

acordo com os arquétipos que o indivíduo projeta e são projetados nele”.

27 Grifo do Autor.

28 Grifo do Autor.

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Ao perceber os fenômenos recorrentes quanto à imagem pessoal, essa individuação,

desenvolvimento psicológico do adolescente quando em transformação do ser e que

experimenta unir aspectos conscientes e inconscientes da personalidade dessa individuação.

Para Jung, conforme Stein (2014, 157) quando explica o processo da individuação, “A

finalidade desse momento para a separação é criar uma situação psicológica que possa mais

tarde avançar para novas etapas de consciência… A individuação é um fim em si”.

Não vamos entrar no mérito psicológico, pois seria outra pesquisa, mas que no processo

o olhar vislumbra o aprofundamento para o dentro de si foi observado. E que muitos desses

conhecimentos perpassam outros autores, que na educação ou na filosofia ou na antropologia,

quando o tempo, o espaço a memória como fenômenos são abordados. Stein (2014, p. 189) diz

que, baseado nos estudos de Jung, quando se propõe uma descrição completa da realidade em

que deva incluir “a presença da psique humana – o observador – é o elemento de significação”,

baseado na nossa capacidade reflexiva para dar expressão ao fenômeno que percebemos.

Jung (2011, p. 379) ao se referir as imagens como arquétipo, do latim uma qualidade

oculta, qualitas oculta29, propõe, se possível, olhar “o inconsciente em seu estado puro,

naturalmente também não poderíamos perceber nada de todas as imagens, ideias, etc.”.

Ele continua explicando que somos incapazes de conceber a fenomenologia a partir de

um nada e que o inconsciente é que dá origem a certas imagens que apenas o ser humano é

capaz de tomar consciência desse conteúdo, “o si mesmo, ou seja, suas imagens” (2011, p.380-

381).

Foi na tentativa de compreender o universo em que meu olhar se fixou. Procurei autores

que pudessem qualificar os fenômenos que observava. Ponty (2012) instaurou o lugar do grupo

nas minhas ressalvas. Para o autor, somos invisíveis para nós mesmos e os outros é que trazem

essa percepção do nosso olhar. Na sala os espelhos já apresentavam nossa imagem para nós

mesmos, mas também para os outros. No momento em que participamos dos laboratórios, temos

que estabelecer uma relação entre o meu olhar no mesmo momento em que o outro se olha

também, pois é uma simultaneidade de visões. O autor fala que é próprio do “visível ser a

superfície de uma profundidade inesgotável: é o que torna possível sua abertura a outras visões

além da minha” (2012, p. 139). O autor acrescenta que “o sentido é a totalidade do que se diz,

a integral de todas as diferenciações de cada cadeia verbal, é dado com as palavras aos que

possuem ouvidos para ouvir” (Idem, p.149).

29 Grifo do Autor.

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Assim, o fenômeno observado enquanto grupo desencadeia várias ideias e pensamentos.

Tomando os exercícios do espelho como reflexão e a relação etnográfica na construção de

conhecimento antropológico, alguns recursos conceituais entre o experimentar aqui e escrever

lá foram usados na concepção dessa pesquisa.

O conhecimento poderia facilitar a invenção de um modelo onde os símbolos e suas

relações adquirissem sentido a partir do relacionar a imagem e o reflexo entre si. Notamos que

a abordagem da invenção parece mais uma linguagem artística do que uma construção social

calcada em estruturas camufladas que só a pesquisadora pode desvelar. Para Eliade (1996, p.

77), quando fala sobre revelação e diz que “o pensamento aprende imediatamente a forma do

objeto sem ajuda de categorias e de imaginação; estado no qual o objeto se revela ‘em si

mesmo’30 no que ele tem de mais essencial”. Para desvelar o fenômeno, foi preciso não se

curvar as teorizações e apenas observar os fatos, os processos que ocorriam a minha frente.

Esse mundo transformado em objeto não mais se apresenta a consciência que o

delimitam e o definem como fenômeno, mas como se estivesse vazio de si mesmo. Nessa

mediação entre o objeto e o fenômeno, o pensamento liberta-se da presença da imagem refletida

porque o ato cognitivo já não se produz, o pensamento passa a ser objeto.

Ao pensar as características da imagem pessoal, o aluno identifica qualidades e percebe

que nem todas fazem parte do momento reflexivo do processo. Ou seja, alguns detalhes da

imagem refletem o estado físico ou emocional em que se encontram no momento da atividade.

O que foi observado no processo é que ao escolher a palavra, a imagem do momento estabelece

um vínculo que dura todo tempo e vai ser apresentada para o restante da turma em outro

momento. Caso a palavra-imagem não corresponda mais em outro momento da atividade, o

aluno-palavra não criará vínculo fazendo com que nas adaptações da cena a palavra se perca

em prol do grupo. Isto fica claro nos questionários respondidos.

O pensamento como objeto passa do ato cognitivo proposto no início do processo e

assiste à passagem do conhecimento a partir dos sentidos de percepção mental vinculado a

imagem, quando se percebe que os sentimentos, quase sempre de qualificação do juízo da

imagem pessoal, são baseados em valores e padrões de mercado, que são aos poucos

desvencilhados, quando assim se consegue, são trocados, sem que disso resulte sofrimento.

Quando é solicitado ao aluno que verifique em seu universo refletido o que mais

identifica com sua imagem, o elemento que liga o ato de olhar ao pensamento que está para

realizar é conectado com nosso valor interno utilizando a mente para realizar a ação. Como

30 Grifo do Autor.

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disse Dilthey (2010, 511), a mente “contem em si o elemento sintético que serve de elo entre a

vontade e o mundo dos valores, na medida em que esse vínculo é de natureza moral."

Na escolha do vínculo entre a palavra e a imagem, esse mundo moral que requer juízos

de valores, foi observado na tentativa de não comprometer as etapas do processo. Encontramos

determinadas dificuldades psicológicas que foram capazes de constatar a relação interior de

prazer ou dor no vínculo escolhido ou não aos valores sociais. O autor citado fala que “no ideal,

a imagem de um procedimento atua sobre uma alma, fazendo com que a pessoa exija algo de si

mesma” (Idem, 512).

Para esse aluno, adolescente, que chega querendo tudo e se depara com espelhos

estabelecendo inclusões excepcionais ao pedir que observem seus reflexos além da imagem, é

propor um “mergulho num tempo fabuloso, trans-histórico”. Para Eliade (1991, p.164), essa

saída do tempo histórico e pessoal é confrontado com o imaginário

Sabendo que os fenômenos estavam sendo observados e atestando etapas do processo,

foi preciso buscar entendimento quanto a imaginação. Procurei em Sartre (2012) respostas para

categorizar a pesquisa. Livro de bolso que de pequeno nada tinha. Logo no início do livro o

autor abre uma descrição que agora tentarei realizar com vocês.

Peço ao aluno que olhe para o espelho e que fixe o olhar na imagem refletida a sua

frente. Aguardo uns segundos antes de dar o próximo comando. Observo se o tempo não está

excedendo e proponho que fechem os olhos. Neste momento, para eles a imagem a frente sumiu.

Para mim, que continuo de olhos aberto, o espelho continua lá, mas a imagem, eu não sei. Peço

então que abram os olhos. Eles verificam que o espelho voltou, melhor nem saiu da sua frente.

Mas peço que observem se algo ocorreu com a imagem anterior. Muitos ficam agitados e

solicito novamente que olhem atentamente ao reflexo da sua imagem. Peço que escolham uma

palavra para significar a imagem pessoal. Em pouco tempo, o exercício é executado.

Retomando Sartre (2012) quando afirma que a presença de um objeto é o objeto e na

sua ausência o objeto só existe em imagem, pois de fato não existe. Para o espelho presente na

sala, o aluno ao usá-lo viu sua imagem refletida, mas ao fechar os olhos, passando a não o usar

mais sua imagem só ficou na lembrança. Mesmo sabendo que foi só um abrir e fechar de olhos

que fez o espelho ficar ausente, ao mesmo tempo em que a imagem foi para a lembrança junto

com os espelhos. Mas os espelhos, ao abrir os olhos, reaparecem imediatamente, mas a imagem

só quando lhe é solicitada.

O autor fala da essência entre a imagem e o objeto numa relação de existência e a

imagem como pensamento, onde fui buscar maior compreensão. Sartre (2012, p. 19) fala que

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“A imagem não se distinguirá da sensação; ou melhor, a distinção que se estabelecer entre elas

terá, sobretudo, um valor prático”. A imagem seria apenas uma sensação que renasce, um

pensamento vivo, não a imaginação. Ou apenas um signo. A formação de um conceito seria

uma combinação de imagens. “A realidade dispõe o corpo a ação e ela se deposita no espírito

como lembrança”. (Idem p.47).

Ao escolher a palavra para representar a imagem se faz necessário acalmar a mente com

suas sensações para não se formar juízos de valores. O lugar da imagem é compreendido quando

o reflexo já faz parte dos espelhos enquanto real e imaginário do mesmo universo. Então,

solicitar aos alunos se olhar pela segunda vez, pressupõe quebrar as sensações e os julgamentos,

pois teríamos naquele instante uma “imagem que tem um conteúdo sensível, e será talvez

possível pensar sobre31 ela, mas não se poderia pensar com32 ela” (Ibidem, p. 99).

Para tanto procurei ainda compreender como ocorria a compreensão das relações entre

dois tipos de objetos, os objetos-coisas e os objetos-imagens, pelo pensamento na ação do

exercício. (Ibidem, p.100). Essa lei ontológica que rege os dois lados da existência quando

apresenta como coisa e como consciência (Ibidem, p.108) O modo de ser da imagem é

exatamente seu parecer.

O autor esclarece que para um trabalho sobre imagem deve realizar a ideia da imagem

numa intuição reflexiva que determinaria as condições psíquicas para com a imagem, passando

do ponto certo para o provável numa observação fenomenológica. E ainda "perceber a

intencionalidade da imagem que passa do estado de conteúdo inerte de consciência ao de

consciência uma e sintética” (p.126). O autor, ao concluir a obra, declara que se faz necessário

uma descrição fenomenológica da estrutura da imagem.

Passando para os reflexos, a relação entre o dentro e o fora do espelho apresenta relação

do subjetivo e objetivo, indivíduo e todo, quando pode ser descrita como processo da

autolibertação do homem.

Sartre (2012) fala da essência da imagem e se atem nesse aprofundamento passando pela

psicologia e outras áreas de conhecimento, sem deixar de manter o foco na questão: a imagem.

O autor destaca no processo características que distribuiu, primeiramente, da consciência do

lugar dessa imagem. A segunda seria aprofundamento na questão da consciência desse lugar

aonde reside a imagem acrescentando a percepção como mais um elemento junto com a

formação do conceito do que seria a imagem enquanto pensamos. Na terceira característica, a

31 Grifo do Autor.

32 Grifo do Autor.

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consciência imaginante ocupa o lugar do objeto percebido como uma parte do que foi pensado

da imagem. Depois, a espontaneidade como quarta etapa, considera que é parte do todo como

imagem, objeto funcional identificado no reflexo da imagem a partir de sua atitude funcional

ao ver o objeto real, a imagem, imagem-retrato (2012, p.42).

Do objeto-imagem como signo do real, além da imagem o reflexo poderia ser a

impressão do ausente, uma consciência reflexiva em contrapartida da consciência

fenomenológica.

Na imagem signo e imagem real, os sentimentos provocam movimentos e a imagem

passa por símbolo na forma imaginante e depois o pensamento toma posse da imagem, a

percepção realiza a passagem da imagem para outro lugar. “O imaginário representa a cada

instante o sentido implícito do real” (Idem, p. 243).

A imaginação é um dos pontos abordados nos quesitos balizadores do PCN. Aqui uma

das perguntas para direcionar a construção das atividades do teatro junto ao professor como

possibilidade da área de conhecimento: Se a imaginação é ponto abordado no parâmetro da

educação como balizador da nossa escola, o método apresentado poderia trabalhar com a

imaginação nas aulas de Artes Cênicas?

O entendimento de si é um processo, como disse Ostrower (1984), e não um estado de

ser. E que “ser livre é ocupar o seu espaço de vida” (Idem, p.165). “A criação é um perene

desdobramento e uma perene reestruturação. É uma intensificação da vida”. (Ibidem, p.164).

Nessa colocação, a autora nos faz pensar como ocupamos nossos pensamentos abrindo mão de

nossa vida. Seria importante intensificar o entendimento de si mesmo, como sugeriu a autora,

para poder efetivar o desdobramento como princípio do movimento.

A “ideia” como princípio foi o que impulsionou a verificação do processo como já foi

dito anteriormente. Para tanto, o processo observado quando o aluno entra na sala ambiente do

teatro e se depara com os espelhos constitui-se em um fenômeno que proponho utilizar como

ferramenta do método, daí se constituir em um processo inovador.

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CAPÍTULO III DESCRIÇÃO DE UM MÉTODO PROPOSTO PARA AULAS DE

ARTES CÊNICAS

7 A fenomenologia goetheana como fundamento na proposição de um método, para aulas

de Artes Cênicas no CEFET-MG

7.1 Identificação do observador, do fenômeno e seus elementos

A observadora, em sua atuação como professora de Artes Cênicas no CEFET-MG, ao

longo de XX anos, desenvolveu uma didática para aplicação das técnicas de artes cênicas em

turmas de jovens alunos, ingressantes no primeiro ano do ensino médio/técnico.

A partir dessa sua experiência profissional e da guarda de documentos gerados pelos

seus alunos, em cada turma – depoimento sobre as aulas de Artes Cênicas – tornou-se possível

a realização dessa pesquisa. Depoimentos dos alunos, obtidos por meio de questionários não

estruturados, bem como suas produções em forma de esquetes (*), formaram um verdadeiro

acervo para essa pesquisa, contendo as impressões dos alunos das turmas de Artes Cênicas

sobre sua experiência no fazer teatral. Pode-se considerar esse acervo, como uma matéria prima

de alta qualidade para a construção dessa pesquisa e, ainda, com potencial para novas produções

acadêmicas.

Sob a validade epistemológica e sendo este estudo realizado a posteriori, buscou-se

primeiramente, para a decisão de realizar essa pesquisa, uma análise da percepção da autora,

em seu papel de observadora dos grupos de seus alunos, no fazer teatral. Essa análise foi

realizada pela mesma, uma vez que, ao atuar como professora de Artes Cênicas no CEFET-

MG, acumulou sua percepção sobre a dinâmica dos diversos grupos de alunos, ao serem

“estimulados” para o fazer teatral. Ainda buscou analisar os documentos aqui citados, a fim de

validá-los, como dados para análise e geração de resultados para essa pesquisa.

O que se propõe neste estudo, portanto, é a validação da didática desenvolvida nas aulas

de Artes Cênicas do CEFET-MG, como um método a ser utilizado por professores de jovens

alunos do ensino médio, capazes de desenvolver nos alunos, sua percepção de si, expressa em

características pessoais, observadas a partir de produções teatrais, em grupo.

Para cumprir a finalidade dessa pesquisa, a autora estabelece para a compreensão dos

fatos e da realidade em seu entorno, referentes às dinâmicas dos grupos de alunos, uma

metodologia capaz de explicar suas observações.

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A partir do entendimento de que essa pesquisa é de cunho naturalista, tem-se que o

observador é integrante dos fatos e da realidade em questão. Destaca-se que, além de se tratar

da observação de elementos integrantes de um todo, e também da observação desse todo, em

sua dinâmica, a então pesquisadora encontrou apropriadamente em Goethe, o método

fenomenológico, capaz de amparar argumentos que confirmem sua proposta, a partir da

experiência já realizada. É importante ressaltar que, como um método fenomenológico, a

hipótese dessa pesquisa não se refere ao fenômeno grupo de alunos. Até porque, segundo o

método goetheano, não se justifica a formulação de hipótese a ser confirmada pela recorrência

do fenômeno observado (Goethe, 1976, p. 11). Ela se relaciona à proposta de um método que

se desenha a partir das experiências da autora, como observadora dos referidos fenômenos.

Dessa forma, os grupos de alunos, em sua trajetória na disciplina de Artes Cênicas são

considerados aqui, como os fenômenos, como o todo dinâmico.

A autora desse trabalho, tendo atuado como professora das turmas/grupos de alunos,

passa a ser considerada como o observador. A esta participação, Goethe apresenta a palavra

Anschauung entendida como “intuição participativa” (Goethe, 1976). Ainda, como observador,

a professora estabelece diálogo com o fenômeno, visto que, para o método fenomenológico, a

observação não se limita a uma mera visão de relevos do fenômeno, mas, também de forças em

seu interior, que promovem a sua dinâmica.

Essa visão intuitiva difere da visão tradicional, ou analítica, própria de outros métodos

da ciência. Justifica-se então, o entendimento de que os grupos de alunos e elementos presentes

na dinâmica das aulas não se resumem em si mesmos, mas, sofrem influência do ambiente,

fazendo com que o próprio fenômeno esteja sempre relacionado a outros fenômenos do mesmo

tipo.

Transpondo-se essa premissa do método fenomenológico para a presente pesquisa,

percebe-se esta relação entre as dinâmicas dos grupos, ou fenômenos, vista pelo observador e

dialogada entre os elementos; o observador do fenômeno aguarda, a cada experimento a

constatação da recorrência de elementos comuns entre suas observações (Goethe, 1976, p. 200).

Para Goethe o observador, como pesquisador, deve ser desprovido de expectativas em

relação a resultados pré-determinados, atuando por meio de “delicada empiria” à medida que,

desta conduta, confirme-se então o método fenomenológico. Essa expressão, “delicada

empiria”, Zarte Empirie (Goethe, 1976, p. 114) traduz-se no método fenomenológico, como

uma relação independente entre observador e observado, de maneira que o objeto se mantenha

íntegro, em sua identidade, ao longo do fenômeno.

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A visão de Goethe para um observador ressalta a importância da observação de detalhes

no objeto observado, de maneira intuitiva, desde que esse observador esteja destituído de pré-

conceitos daquilo que vê, porém alerta às mudanças apresentadas pelo sistema, ao longo da

observação.

Nesta ótica, a professora, observadora dos fenômenos, confirma que seu trabalho junto

a tantos grupos, a fez concluir que os elementos presentes em um fenômeno, ou, em uma turma

de Artes Cênicas em processo de aprendizagem, estiveram presentes em todos os fenômenos,

ou seja, em todas as turmas de Artes Cênicas concluídas, desde a implantação da didática desta

disciplina, descrita nessa pesquisa.

Embora a professora observadora tenha atuado e atue junto aos grupos, aplicando nesses

seus conhecimentos de Artes Cênicas e respectivas técnicas, os alunos frequentam as aulas por

vontade própria. No início do período letivo, essa opção de escolha é colocada claramente para

todos, sem prejuízo àqueles que não aderirem a tal opção.

É práxis das aulas que cada grupo formado por alunos se constitua de maneira própria

quanto aos papéis a serem representados e, segundo a voluntariedade dos participantes, quanto

à aceitação de seu papel – posição – no grupo. Sendo assim, está posta a condição não indutiva

da pesquisa, para resultados relacionados ao desenvolvimento dos alunos quanto à percepção

de si mesmos, por meio da exteriorização de impressões próprias, sobre seu comportamento no

grupo, e sobre a sua capacidade de melhor se conhecer e/ou se descobrir.

Segundo o método fenomenológico, o grupo de alunos representa o todo e cada aluno

representa uma parte desse todo. Nessa perspectiva, o grupo, percebido ao longo do fenômeno

como uma unidade viva, não pode ser analisado separando-se as suas partes, pois o

comportamento das partes se dá dentro da dinâmica do todo. Ainda, o todo é uma estrutura

viva, ou seja, um sistema vivo.

Como se tratou acima do aspecto “recorrência do fenômeno”, referente aos grupos de

alunos formados em cada período letivo, afirma-se também, conforme condição do método

goetheano, a presença dos mesmos elementos em todos os fenômenos, ressaltando-se a

similaridade entre os mesmos e, portanto, categorizados como de um mesmo tipo.

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7.2 O processo das aulas de Artes Cênicas visto pela fenomenologia goetheana

O decorrer das aulas de Artes Cênicas, lecionadas pela professora, a partir de sua

percepção do desenvolvimento das turmas, pode ser sistematizado por meio da visão de

processo, onde o fenômeno é compreendido por resultados consecutivos e não simultâneos.

Nesse sentido, confirma-se a importância da percepção e intuição do observador, à medida que

esse estabelece o diálogo com os elementos do fenômeno, compreendendo sua interação (de

observador) com o todo.

Nessa perspectiva, o observador estabelece, por dentro do fenômeno, o que se pode

chamar de fases, considerando-se para tal, não um início e um fim, mas, um conjunto de

resultados, a partir de um estado dos elementos observados.

Ao se fazer o paralelo entre a metodologia fenomenológica e a trajetória das turmas de

Artes Cênicas, tem-se claramente o marco do início do curso e seu término. Todavia, é fato que

todos os elementos presentes no processo trazem em si, cada um, o seu conhecimento. Todos,

alunos e professor, ou seja, elementos e observador “entregam” algo próprio ao processo. Isto

ocorre em todo seu decurso, porém, ao se integrarem em um sistema vivo, passam também a

receber as diversas “entregas” dos demais elementos. Assim, constituem-se como um grupo do

fazer teatral, uma estrutura única, um todo vivo, que tem suas características próprias.

É nessa visão fenomenológica, onde o todo é distinto da soma das partes, que a

pesquisadora, descreve nesse estudo uma configuração da trajetória das turmas de Artes

Cênicas, numa abordagem de processo não linear, mas holístico. E é por meio do seu próprio

olhar que são captados os elementos pertinentes ao fenômeno, o que caracteriza o observador

como “compreensivo e intuitivo”. No desempenho deste papel, o observador, ao vivenciar o

fenômeno constrói o processo empiricamente, recorrendo à sua capacidade imaginativa ou

Einbildungskraft, pois lhe cabe o “ajuntamento” de fases, à medida que “acumula”

conhecimento sobre o processo.

Segundo Goethe, 2003, para o observador vivenciar o fenômeno ele visualiza, em sua

mente intuitiva as fases, os resultados, como em um processo. Isto não lhe permite descrições

irreais sobre o que é observado. Mas, ao observar vários fenômenos recorrentes, o observador,

inevitavelmente terá internalizado a visão de todo o processo (Goethe, 2003, p.114). Com isso,

torna-se possível ao observador apreender o fenômeno em seu desenvolvimento, além de

descrever suas características e seu(s) resultado(s).

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Assim, a pesquisadora descreve o processo de desenvolvimento das Aulas de Artes

Cênicas no CEFET-MG, entendendo que tal processo representa um fenômeno de

transformação dos alunos. Esse processo se constitui pela descrição da experiência vivenciada

nas aulas, em fases, com suas características e resultados. Apresenta dinâmica própria, a partir

dos elementos que o constituem e de sua finalidade ou, vontade/energia da ação, embora não

declarada pela professora no início do processo.

Passaremos para a seguinte etapa, demonstrando os detalhes desses movimentos,

apresentando a metodologia goetheana sistematizada por Bach (2013, p. 143) em sete fases. O

autor diz que os processos do fenômeno não se limitam somente ao aspecto sensorial da

experiência, mas, em desenvolver a “simultaneidade de atividades da consciência que,

dirigindo-se a percepção sensorial, procura conectar aos dados percebidos a ideia subjacente ao

fenômeno vital”.

Da observação fenomenológica, pode-se relatar a dinâmica das aulas, perceber os fatos

ocorridos em sala e enxergar mais detalhes do fenômeno e apontar um caminho sistematizado

para a descrição dos dados.

O método aborda o conceito de intensificação participativa da dinâmica dialógica entre

o sujeito que observa o pesquisador e o sujeito observado – o aluno, o fenômeno que está

subentendido ao olhar e ao ver – Anschauung – ou seja, com o que ocorre junto ao espelho na

construção do método.

Os sete passos do processo analisado no segundo capítulo condizem com as etapas do

método de Goethe, que encontram reflexos nos estudos de Bach Jr. (2013) para as análises do

fenômeno observado nas práxis durante o período de desenvolvimento da disciplina de Artes

Cênicas. Portanto, são estabelecidas sete etapas para descrição e análise, conforme contribuição

deste autor, a saber: (1ª) rompimento com representações habituais; (2ª) redução de

julgamentos; (3ª) geração de ideias; (4ª) utilização de conceitos direcionais; (5ª) experimento

de julgamentos; (6ª) diversificação da experiência; e (7ª) coexecução mental do fenômeno

natural.

7.2.1 Sistematização do subprocesso individual: a escolha da palavra

Apresenta-se a seguir, o quadro de correlação entre a proposição de Bach Jr. (2014) e

os passos do subprocesso “A Palavra”.

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Correlação entre os passos observados no subprocesso

“A Escolha da Palavra” e as fases do método goetheano

As sete fases do processo, segundo Bach

Jr. (2014 apud SHIEREN, 2008, p. 77-79)

Os sete passos do subprocesso

“A Escolha da Palavra”

1ª - Rompimento com representações

habituais

1º - Observar a imagem do corpo, rompendo

o medo

2ª - Redução de julgamentos 2º - Observar a imagem do rosto, reduzindo

os julgamentos

3ª - Geração de ideias 3º - Observar os detalhes da imagem do

rosto e escolher uma palavra

4ª - Utilização de conceitos direcionais 4º - Fechar os olhos e lembrar a imagem

observada, utilizar a palavra

5ª - Experimento de julgamentos 5º - Abrir os olhos e verificar a imagem com

a lembrança, perceber o diálogo da palavra

com imagem e a lembrança com a palavra

6ª - Diversificação da experiência 6º - Observar a imagem refletida e a imagem

lembrada, confirmar a escolha

7ª - Coexecução mental do fenômeno natural

7º - Se necessário repita o processo caso a

imagem lembrada não se reconheça com a

refletida

Fonte: Elaborada pela autora. fev. 2016

Fig.: 1

7.2.2 Sistematização do subprocesso grupal: apresentando as personagens

Após o resultado do subprocesso “A Escolha da Palavra” – de caráter individual, visto

que cada aluno já escolheu sua palavra – inicia-se novo subprocesso: “Apresentando as

Personagens”. Esse, de caráter grupal, rompe com o anterior, individual e inicia-se, portanto, a

integração dos alunos em novo subprocesso.

Assim, a observadora imagina a possibilidade de correlação entre as fases, descritas por

Bach Jr.(2013) e os passos desse experimento. As fases são distribuídas no rompimento com a

ação anterior, na redução de julgamentos, o que possibilita novas ideias, para então, a partir

destas, construir uma nova forma de utilizar as opiniões dos grupos.

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Portanto, aqui também, organizamos este subprocesso em sete passos, a saber:

Correlação entre os passos observados no subprocesso

Apresentando as personagens e as fases do método goetheano

As sete fases do processo, segundo

Bach Jr. (2014 apud SHIEREN, 2008,

pp.77-79)

Os sete passos do subprocesso observados na

práxis de Artes Cênicas

1ª - Rompimento com representações

habituais

1- 1º - Imediatamente juntar os alunos em duplas

para apresentar as palavras ao grupo. Assim,

sucessivamente, juntar as duplas em grupos em

quatro e apresentar. Na aula seguinte, juntar as

quadras em grupos de oito e apresentar.

2ª - Redução de julgamentos 2º - Juntar novamente até formar um único

grupo com todas as palavras escolhidas para

apresentar para a professora e convidados com a

permissão da turma.

3ª - Geração de ideias 3º - Só após a apresentação que é proposta uma

aparição para a comunidade. Então, a turma

escolhe quem irá receber os diálogos e digitar o

texto para fazer a leitura na aula seguinte. Ao

terminar a apresentação do texto, são feitas

adaptações e, caso haja diferenças no contexto

ou nas falas, é feito outro e apresentado na aula

seguinte.

4ª - Utilização de conceitos direcionais 4º - Combinamos a entrega do material antes da

aula para xerografar e distribuir para toda a

turma na aula seguinte.

5ª - Experimento de julgamentos 5º - De posse dos textos, iniciamos a leitura e

ensaios. Prontos para estreia, pergunto se a

turma gostaria de apresentar nos espaços da

instituição. Caso afirmativo, marcamos a data da

estreia.

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6ª - Diversificação da experiência 6º - Apresentação para a comunidade, no

auditório, bosquinho, cantina, hall de entrada da

cantina, biblioteca ou em ambientes externos à

Instituição, etc.

7ª - Coexecução mental do fenômeno

natural

7º - Após a estreia, avaliamos o processo das

aulas e a apresentação final reconhecendo “A

Palavra” e “A Personagem” da sua imagem. O

espaço é livre para os depoimentos.

Fonte: Elaborada pela autora. Fev. 2016

Fig.: 2

7.3 Considerações sobre o processo implantado para desenvolvimento das aulas de

Artes Cênicas

Pelo fato do elemento espelho tomar uma dimensão física muito significativa na sala,

essa circunstância também se observa como de muita importância para os alunos em sua

experimentação. Isto ampliou, consideravelmente, as possibilidades para os alunos sobre o

fazer teatral.

Para Ostrower, (1984, p. 160), “Trata-se de poder aceitar as delimitações não como mero

exercício mental – tudo tem seus limites –, e assim por diante enquanto no íntimo se continua

como se nada importasse”. Para realizar as aulas, meninas e meninos utilizavam os espelhos de

maneira diferente. Esse fato também ocorria conforme os cursos e as áreas. Observou-se que as

meninas apresentavam mais afinidade com a ferramenta espelho, enquanto a maioria dos

meninos apresentava repulsa imediata. Entretanto, os espelhos, neste processo, não são

aferidores de afinidades, mas, uma ferramenta que sugere possibilidades de atuação.

Assim, sendo estabelecido o tempo necessário para cada etapa do processo das aulas,

obtinha-se maior aprofundamento do olhar do observador.

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Sala de Artes Cênicas – Foto 21 – arquivo pessoal – fev. 2016

A percepção ampliou e moveu meu olhar para dentro dos reflexos quando os alunos se

distanciam da própria imagem. Nesse ponto, os fenômenos percebidos não eram dados pelo

espelho, mas, criados pelos atores da ação criativa na manifestação do fenômeno. Segundo

Ostrower (1984, p. 165), “a criação é perene desdobramento e uma perene reestruturação. É

uma intensificação da vida".

Maia (2010, p. 41) aponta que “a construção das personagens, o que assistimos

acontecer é que os alunos passam a ser os pesquisadores/atores e como tais, optam por temas

que lhe interessam diretamente”. Baseado nas cenas, as questões escolhidas para as

apresentações já direcionam o olhar. Já Duvignaud (1972, p.72) afirma que "A imitação torna-

se aqui criação, elaboração de um mundo que, pela sua irrealidade, serve de instrumento para

compreender e explorar o mundo real na sua confusão".

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Realizamos nesse tempo momentos indescritíveis junto aos alunos. A descoberta do

caminho trilhado aquece as escolhas. Na descrição sistematizada dos passos que vêm sendo

desenhados, surgiu o esboço do método e este viés iluminou o caminho a seguir. Ao ser aceita

no Programa de Ciências Sociais da PUC-SP, em 2012, o olhar mudou, pois agora teríamos que

apresentar uma tese.

No nosso experimento, a escola serviu de palco para balizar a pesquisa, já que foi por

meio da sala de espelhos que os reflexos dos alunos consolidaram as personagens. Esta

circunstância inspirou-me a compreender as fragmentações da imagem ao aparecer, desaparecer

e reaparecer. Seguindo este caminho, objetivou-se buscar elementos que nos incorporasse na

experiência do fenômeno, fazendo-nos parte dele, durante toda a pesquisa, sabendo-se que o

fenômeno se revela por meio dos envolvidos no processo.

Trabalhou-se com narrativas, como técnica para a construção do texto final – o esquete.

O esquete é a representação da desconstrução e reconstrução das experiências, tanto do

observador, como dos sujeitos participantes do processo. Pois, a narrativa dos sujeitos e a

interpretação do observador exigem que a relação dialógica se instale criando uma

cumplicidade de dupla descoberta.

Como possibilidade de exercitar a autoconsciência e auto formação, a perspectiva

narrativa coloca o sujeito como produtor de um conhecimento sobre si, sobre os outros e sobre

sua prática no cotidiano escolar – fenômeno que se revela mediante a subjetividade, a

singularidade, as experiências e os saberes que foram se construindo no percurso espaço-

temporal de sua vida pessoal e profissional. A subjetividade na escrita narrativa configura-se

como elemento constitutivo das representações sobre o vivido no cotidiano escolar.

Seguimos em paralelos na busca de categorização do inexistente, o indescritível do

inesperado, por isso tentamos ilustrar como ocorreu o processo. Muitos autores acompanharam

esse momento na tentativa de descrever os fenômenos. A partir de minha experiência como

arte-educadora, pude perceber que conciliar diversas técnicas teatrais, cria para o educador um

desafio que é apropriar-se de outros mecanismos para trabalhar a linguagem teatral. Porém, na

prática, o educador se depara com algumas frustrações, pois há alunos que não se envolvem

com o processo e, ao olhar do educador, isto representa uma perda de oportunidade de

vivenciarem a linguagem cênica e seu ritual por parte deles.

Assim, ao conseguir identificar as etapas do método fenomenológico de Goethe

distribuído do foco do olhar da pesquisadora, posso também propor a validação do esboço de

método para uma proposta de ementa de disciplina para a linguagem cênica na Coordenação de

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Artes do CEFET-MG, local onde realizo minhas atividades acadêmicas e que ainda não foi

resolvido o lugar desse profissional e nem da linguagem cênica.

Após apresentar as etapas devidas nessa pesquisa, iniciada com o grupo de teatro,

enquanto provedor da linguagem cênica no âmbito da instituição e aferidas as práxis das aulas

descritas e analisadas enquanto área de conhecimento.

A escola, como palco dessa travessia acadêmica, apresenta o fruto da pesquisa que levou

e buscou personagens a viajar para os limites do enxergar e ao infinito de se ver e representar

os reflexos de todas as personagens criadas durante estes anos.

As personagens são o fruto do processo, fenômeno que confere aos experimentos

verdades que nem sempre conseguimos reconhecer, pois é sutil. Nossos alunos são jovens,

muito imaturos, o que é próprio da idade, mas que conseguem, quando se oferecem uma

passagem de lugares.

A questão da proposta de um método em Artes Cênicas que percorreu essa pesquisa e

minhas atenções nestes últimos 10 anos veio desafiar a estrutura já concebida quando propôs

interpretar fenômenos que não fazem parte do nosso dia a dia. Sem querer atribuir ao psiquismo,

mas passando por lá também, essa teoria tem como base o conhecer em um auto se ver, pois se

trata do olhar para dentro de si mesmo junto com os outros que estão solidários na mesma busca.

Os fenômenos observados só tiveram alento quando reconheci na fenomenologia de

Goethe os passos que estruturaram o ensaio. E só foi viável a partir dos conhecimentos do prof.

Dr. Bach Jr. enquanto responsável pela disciplina que cursei no segundo semestre de 2015 na

UNICAMPI-SP. De forma simples e sábia, dessecou as etapas do método fazendo com que me

lançasse em seus estudos. Compreender como acontecia o momento em que o aluno rompe a

imagem a partir das representações, a ideia e os fatos que ocorrem nos laboratórios cênicos,

reforçou o desenvolvimento da intuição cognitiva.

Esse aluno que transfere seu olhar autômato para entrar em outro nível de percepção

requer um ato de coragem consigo mesmo e com o outro. Na relação se faz necessário ter

respeito pelo momento que está a fruir, o exato momento revelado na dinâmica humanizada e

intuitiva. Perceber no diálogo solidário a ação gerada em você e com o outro. A amarração entre

a realidade prática e os conceitos requerem se auto examinar que, muitas vezes, é apreendido

pela força da imaginação. O próprio aluno, como ser humano, vivifica a realidade que refletiu

das suas capacidades ativas criando intuitivamente o que viu e o que se vive no momento da

aula.

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7.4 Considerações do olhar da observadora:

Correlação entre os passos observados

As sete fases do processo, segundo Bach

Jr. (2014 apud SHIEREN, 2008, pp.77-79)

Os sete passos do olhar da pesquisadora

1ª. Rompimento com representações

habituais

1º. Ao perceber os fenômenos recorrentes

quanto ao uso dos espelhos, procurei ampliar

o olhar.

2ª. Redução de julgamentos 2º.. Ao observar, verifiquei atitudes

recorrentes no uso do espelho como

ferramenta do espaço da sala ambiente do

teatro.

3ª. Geração de ideias 3º. Passei a utilizar os espelhos aos poucos

nas aulas de artes com algumas turmas. Fui

ampliando em outras turmas e observando os

fatos.

4ª. Utilização de conceitos direcionais 4º. Ao observar os fenômenos, busquei

compreender o que ocorria com os alunos ao

se depararem com os espelhos em vários

autores.

5ª. Experimento de julgamentos 5º. Passei a incrementar com mais objetos os

laboratórios cênicos para intensificar o

envolvimento do aluno com os espelhos.

6ª. Diversificação da experiência 6º. A partir do envolvimento do grupo,

experimentei construir cenas com as

personagens criadas dos reflexos do espelho.

7ª. Coexecução mental do fenômeno natural

7º. Após a defesa do mestrado, em 2010,

quando tomei conhecimento que criara um

método em Artes Cênicas, passei a observar

de que forma esse esboço de método poderia

ser formatado.

Fonte: Elaborada pela autora. fev. 2016

Fig.: 3

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Assim, fui trazendo os conhecimentos adquiridos no diálogo da linguagem cênica e

outras áreas de conhecimento, para então apresentar de forma sistematizada o processo em

curso, no "Palco da Escola", onde se iniciou toda minha trajetória aqui nesse ensaio. Na

descrição, a sistematização dos passos, aqui chamados de momentos, vem sendo desenhado sob

a iluminação das cenas assistidas em sala pelos personagens/atores da minha vida acadêmica.

O rompimento com representações habituais, primeiro passo do método

fenomenológico de Goethe, deveria ser o primeiro passo de compreensão de viver do homem

no seu caminho. Nesse caso, o processo de auto examinar principia como uma vontade e não

mais se ver cristalizado na imagem pessoal.

7.4.1 Sistematizando os momentos

O processo das aulas completa os 7 passos dados em etapas adaptadas a partir da

proposta feita pela pesquisadora. As condições, capacidades e aptidões dos alunos foram

administradas de forma a viabilizar o experimento nas aulas.

Nesse ensaio, as adaptações e as situações conseguidas entre as fases e com auxílio do

espelho propuseram verificar o que se passava no instante em que os alunos se viam ao espelho

e quando estava sendo observado como fenômeno.

Imersa no procedimento da análise assistida nas aulas quando a imagem ao se tornar

uma personagem dividida e separada poderia vir a ser ficção a partir da junção do material e o

imaterial, do aparente e da ilusão de uma realidade significante que consiste tanto no reflexo da

imagem quanto da palavra quando representa uma ideia.

A forma de expressar essa ideia contém no registro da memória passos que muitas vezes

o conteúdo pode bloquear o que está se vendo, um conteúdo da verdade para ir além da

descrição da linguagem. Com uma exposição detalhada de episódios que constituíram a história,

a cena descreve a verdadeira existência do grupo que a realizou.

Aos fenômenos empíricos que oscilam nas definições científicas, poderíamos distribuir

em categorias. Explicar o pensamento de cada aluno ao se olhar e escolher a palavra, ou mesmo

em momento exato isso ocorre e ainda, com diferentes alunos, sujeito na ação poderia aceitar e

acatar a forma que a linguagem, com todo o seu conjunto de regras e maneiras, não consegue

responder.

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A decisão relaciona-se ao aprimoramento técnico quando os dados já podem estabelecer

princípios científicos de uma teoria, nesse caso, um ensaio, desenvolvendo uma disposição a

análise de seu comportamento que o permite ver o fenômeno na ação.

A parte da pesquisa que constitui na geração de ideias, experimenta na natureza dos

fenômenos como conflitos entre a realidade e o ideal, de maneira que possa levar a alma do

homem a um devaneio mental. A arte como linguagem pode ir além da natureza junto aos

fenômenos e aprofundar a realidade para encontrar em sua constante transformação que se põe

diante do indivíduo, para nele contemplar o arquétipo.

Portanto, o passo seguinte foi direcionar os conceitos já adquiridos e utilizá-los nos

experimentos a partir das observações dos fenômenos assistidos para então verificar se os

julgamentos e as aferições de cada fase pudessem ser vistos como nova proposta.

A última fase – a sétima – e de posse dos fatos e dados anteriores, tenta-se buscar em

outros experimentos variações desses subsídios numa execução mental, coordenada às ideias

providas dos exercícios teatrais, que são acessíveis quando romper o invólucro da realidade,

transformando-a de forma a experimentar algo supras sensório no momento do exercício do

espelho.

Como já disse anteriormente, procurei observar os detalhes dos fenômenos recorrentes

quando o olhar ao conhecer completamente e apropriar da reflexão que acompanhou todos esses

anos na tentativa de facilitar a compreensão em todas as suas partes. Assim, o particular

conduziu ao comum e esse comum levou ao universal. Então, os exercícios em frente aos

espelhos aumentaram em seu tempo de exposição, oferecendo mais intimidade para aqueles

que não possuíam poder aprofundar quem já se propôs envolver na experimentação.

Assim, a configuração foi gerada a partir dos fenômenos observados e das informações

dos experimentos que representavam o esboço de metodologia. Em uma ação de equilíbrio entre

a contemplação do fenômeno e a implementação para as condições experimentais, busquei

adaptar a ideia por ser parte do saber-aprender, saber-fazer e saber-ser, que são as premissas

da LDB aqui apresentadas a seguir.

Para tal, é necessário o uso do empirismo associado aos estudos para a segurança e

autoconfiança, pois são fatores importantes para a pesquisa do fenômeno sob estudo. Nesse

esboço, o rigor em relação a subjetividade dilui a metodologia criteriosa da experimentação ao

propor uma autocritica na pesquisadora.

Enquanto os alunos em sua pesquisa pessoal frente aos espelhos revelam as diversas

áreas da subjetividade com a troca da imagem do corpo passando para as vivências e a

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verificação do desconhecido enquanto imagem afunilada no rosto observando detalhes que em

nosso olhar viciado busca conhecer e romper o instante do que está se vendo, para ir além do

conhecido. O fenômeno como ele é observado e trazido à lembrança, ou seja, a imagem da

memória vem ao fechar os olhos. Esse processo de pura atividade, contrapõe-se aos conceitos

já adquiridos em uma (re)forma que seu próprio vir-a-ser constrói. Fechar os olhos, ligar a

lembrança e a imagem lembrada podem não ser a mesma imagem que estava agonizando na

memória.

Nesse sentido, para justificar as percepções do fenômeno principia-se na observação e

na intuição que muitas vezes são tão complexas para o rigor científico quando separa as partes

do todo perdendo a unidade. Nessa visão de reduzir as expectativas e as preconcepções para ver

as partes no todo e no todo as partes, os exercícios do espelho experimentaram a visão

trabalhada dos sentidos corrigindo possíveis distorções do pesquisador.

Na pesquisa em grupo com os espelhos, os sete passos têm que estar mais alinhavados

para balizar o processo. Ao verificar a intimidade ou não dos alunos em relação aos espelhos

dá-se o início ao processo para facilitar o diálogo entre a imagem e o reflexo. Esse tempo, até

se chegar ao exercício com espelho, requer olhar crítico e amoroso para com o experimento.

Após efetivar o olhar e ver, o passo seguinte seria a escolha da palavra para então poder

gritar para o grupo sua escolha. Passando para outro passo quando incide na formação das

duplas para apresentarem as palavras para o colega da dupla e apresentar para o restante da

turma.

Assim sucessivamente até o grupo estar composto por todas as palavras. Ao dividir em

número de horas/aulas as etapas do esboço do método, ressaltando que os 7 passos têm de ser

sequenciais, o bimestre com 16 a 22 aulas por bimestre, ou seja, para iniciar a descrição dos

passos se faz necessário compreender que as atividades teatrais já foram apresentadas e que

para apresentar nesse formato adaptações foram realizadas anteriormente para não haver

interrupção do processo apresentado a seguir:

- Primeiro momento: a escolha da palavra. A imagem concebe a escolha do aluno para

representar sua imagem refletida no espelho. Após escolher a palavra e verbalizá-la em tom

mais baixo, depois em tom médio e depois gritar rompendo o silêncio da sala. Logo após, juntar

em duplas para apresentar para o restante da sala, ou seja, são 10 duplas para apresentarem uma

de cada vez. Nesse momento, as duplas pedem para ir para outro lugar fora da sala. Como a

sala se torna pequena, eles se distribuem pelos espaços próximos da coordenação e voltam

conforme o tempo combinado, ou seja, de 2h/a.

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& Rompimento com representações habituais. Os sentidos intensificados para propor

novas experiências. A ideia que se tinha da imagem foi repensada muitas vezes pelo incômodo

da proposta do exercício. A atividade é intensa, ativa sem lançar julgamentos do processo, e

desconstruída as reproduções habituais.

- Segundo momento: Caso as apresentações tenham ocorrido de forma tranquila e por

toda turma passo adiante. Juntar as duas duplas aleatoriamente para sistematizar as palavras do

início do processo formando quatro atores. São 5 grupos para apresentarem observando o início,

o meio e o fim da cena e, também, o tema central da história. Toda turma deve apresentar em

uma única aula. O tempo é curto, o processo ágil, não oferecendo detalhes que possam surgir

julgamentos, mais automático, pura ação. 2h/a.

& Redução de julgamentos. As informações vão sendo solicitadas aos alunos de forma

ágil e vigorosa numa postura de observação do diálogo entre os sujeitos na ação em que o

processo naturalmente é usufruído junto aos fenômenos preparando num contínuo para o

próximo passo.

- Terceiro momento: Após as apresentações dos oito alunos formados pelas duas

quadras, faço novamente a junção formando neste momento um único grupo. Peço que

apresentem todas as palavras em uma única cena, pode ser juntando por tema, por palavras ou

da forma que quiserem. Nesse momento, os alunos pedem ajuda para solucionar dúvidas. Mas,

lembro que o tempo é curto e saio da sala. Dou um tempo de 5 minutos e volto para ver como

estão indo sem que percebam que estava por lá. Retiro-me e volto em 5 minutos já apressando

para a apresentação. Eles assustam e pedem mais um tempinho e volto em cinco minutos já

pronta para assistir. Convido alguns alunos que circulam por perto para assistirem a cena

também. Chegando à sala, peço permissão para turma e reafirmo o convite. Se a turma

concordar já vamos tomando assento na plateia enquanto o grupo se posiciona. Essa atividade

pode ser distribuída em dois momentos. A turma ainda não sabe, mas, já está familiarizando

com o processo teatral. Ao final da apresentação pergunto se a plateia compreendeu o tema

representado e abro para possível diálogo. Caso a turma não queira dividir, convido para sair a

plateia, agradeço e continuo com a turma as observações. São elas o tema central do texto. Se

o princípio, meio e fim da cena ficou claro. E ainda, após as considerações da equipe proponho

reapresentar para os colegas da instituição ou mesmo em outro local da cidade. Antes de acabar

a aula, peço para quem puder receber os diálogos falados na apresentação e dois colegas se

responsabilizam para receber os diálogos e montar o texto teatral para ser lido na aula seguinte.

Esse processo pode ser feito por e-mail e ou pessoalmente. 2 + 2h/a

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& Geração de ideias. Outra forma de fazer teatro. Outra forma de escrever uma cena.

Outra forma de apresentar. Os conceitos foram trabalhados em todas as aulas. Quando ocorre a

passagem da palavra-imagem para a cena final o fenômeno não é assistido. Sei o que ocorreu,

pois não distancio do processo hora nenhuma. Só neste momento específico do fenômeno que

estou distanciada. Intuitivamente foi construída neste formato, pois sabia que caso ficasse junto,

a turma nesse momento acabaria por direcionar num formato cenicamente mais limpo, ou seja,

uma preocupação estética com o resultado final da cena, mudando o foco do processo e

automaticamente inviabilizando a transformação dos alunos sujeito em transformação.

- Quarto momento: Na aula anterior, após a apresentação pergunto se a turma gostaria

de escrever o texto da cena apresentada e escolhemos quem serão os alunos responsáveis para

receber os diálogos e digitar para impressão e distribuição. De posse do texto, normalmente em

quatro folhas e com duas a três cópias em mãos. É lida pelos colegas escolhidos no grupo. Logo

após a leitura, pergunto para a turma se aquela história lida foi a mesma apresentada na aula

passada. Caso haja alguma desavença, o aluno que criticou refaz e se compromete a enviar por

e-mail para a coordenação, em tempo para fazer a reprodução para toda turma. Se as

observações são poucas, fazemos na cópia existente para ser encaminhado para reprodução para

aula seguinte. Resolvido o texto combinamos aonde vamos apresentar e marcamos datas e

horários. Caso ainda dê tempo, fazemos pequenas dinâmicas de integração teatral para apropriar

da essência do grupo. 2h/a

& Utilização de conceitos direcionais. A atenção ao fenômeno nos permite olhar para

dentro e ver os demais do grupo. Uma reconstrução cotidiana em diferente revelação dos

potenciais do grupo e do indivíduo, sujeito que percebe e vivifica a complexidade do seu

aprofundamento. É apresentada nova forma de ideias que direcionam o olhar para outra forma

de experimentar a linguagem cênica, experimentos dos conceitos identificados no texto escrito.

- Quinto momento: Com os textos em mãos, o grupo faz a leitura, cada aluno com sua

personagem. Terminando, faço as considerações como diretora do grupo. Falo o que é

necessário para uma estreia e apresento as outras linguagens artísticas que compõe a cena, a

saber: cenário, figurino, iluminação, trilha sonora, etc. E proponho uma apresentação para a

comunidade ou mesmo só para os colegas da turma. Assim, combinamos nossas aulas para

finalizar a etapa e combino um ensaio geral numa praça na cidade. Fechamos essa aula com

divisão de tarefas e marcação da estreia da peça. 2 + 2= 4h/a

& Experimento de julgamentos. Nessa apresentação, o julgar alcançou a essência do

fenômeno. As etapas realizaram o diálogo entre os sujeitos do grupo e a história de cada um.

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As adaptações entre palavras, sujeitos dono da imagem e o texto, síntese objeto da ação do

fenômeno propiciaram novo pensamento.

- Sexto momento: Ao final dos ensaios, em média 2 a 3 aulas, apresentamos nos espaços

da escola ou mesmo em praças, outros lugares fora da instituição. Logo após a estreia,

avaliamos o processo no calor da encenação. São perguntados como foi o processo das aulas e

a experiência do palco. Esse momento é muito interessante também. Quando ficam sabendo da

proposta de apresentar. É quase igual ao espelho no início do ano. 2h/a.

& Diversificação da experiência. A síntese da representação reúne partes do fenômeno.

Aos alunos que efetivamente permearam o fenômeno assistem a dicotomia do eu em relação ao

mundo. Possibilitar as relações cordiais entre o fenômeno percorrido e da intuição sensorial

trabalhada. A verificação em outra forma de ver o fenômeno está posta ao grupo. Cabe a eles

sintonizar.

- Sétimo momento: Nessa última etapa, considero os depoimentos e formalizo com

questionário presencial ou virtual. São essas aferições que sistematizarão a avaliação na

disciplina. O processo desenvolvido em sala até a estreia da peça, os questionários entregues e

a frequência. 2h/a

& Coexecução mental do fenômeno natural. Na descrição do processo, esta etapa é o

ápice, pois ao finalizar as apresentações, guardar os figurinos, retirar a maquiagem etc., os

elementos que orientaram o fenômeno observado geram novos interlocutores e novos conceitos.

Muitas vezes é só nesse momento da análise do processo que os alunos compreendem o

caminho percorrido.

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CONCLUSÃO

A questão da proposta de um método em artes cênicas que percorreu essa pesquisa e

minhas atenções nestes últimos 10 anos veio desafiar a estrutura já concebida quando propôs

interpretar fenômenos que não fazem parte do nosso dia a dia. Sem querer atribuir ao psiquismo,

mas, passando por lá também, esse método tem como base o conhecer, o reconhecer, pois, trata-

se do olhar para dentro de si mesmo, junto com os outros que estão solidários no mesmo

momento do exercício.

Os fenômenos observados só tiveram alento quando reconheci na fenomenologia de

Goethe os passos que estruturaram o ensaio. Só foi viável a partir dos conhecimentos do prof.

Dr. Bach Jr, enquanto responsável pela disciplina que cursei no segundo semestre de 2015 na

UNICAMPI-SP. De forma simples e sábia, ele dessecou as etapas do método fazendo com que

me lançasse em seus estudos. Compreender como acontecia o momento em que esse aluno

rompe a imagem a partir das representações, a ideia e os fatos que ocorrem nos laboratórios

cênicos, reforçou ao desenvolvimento da intuição cognitiva.

Ao propor uma ementa de disciplina, ela tem que corresponder a algo que possa trazer

para os PCNs e a LDB questões que, acredito, devem fazer parte do método didático de

desenvolvimento de potencialidades nos alunos do Ensino Médio. Os PCNEM destacam “seu

caráter criativo, contraditório, pluridimensional, múltiplo e singular, a um só tempo” (p. 125).

Conhecer a complexidade da arte é essencial para que os alunos participem criticamente das

manifestações culturais – aqui analisadas, sobretudo, em seu recorte estético. É necessário, para

tanto, que o ensino de Arte articule conceitos, procedimentos e valores, no exercício das

competências que levarão os estudantes ao fazer, ao fruir e ao refletir sobre arte, respeitando a

natureza intrínseca desse campo do conhecimento.

O aluno que transfere seu olhar autômato para entrar em outro nível de percepção requer

um ato de coragem consigo mesmo e com o outro. Na relação se faz necessário ter respeito pelo

momento que estão a fruir, o exato momento revelado na dinâmica humanizada e intuitiva.

Perceber no diálogo solidário a ação gerada em você e com o outro. A amarração entre a

realidade prática e os conceitos requer auto examinar, apreendido pela força da imaginação. O

próprio aluno como ser humano vivifica a realidade que refletiu das suas capacidades ativas

criando intuitivamente o que viu e o que se vive no momento da aula. Nessa descrição, a

sistematização em passos vem sendo desenhada no ensaio de um método. Distribuídas no

bimestre, mais ou menos 18 a 22 horas/aula, o professor poderá administrar os jogos cênicos

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antes dos laboratórios do espelho ou distribuir durante o processo. Vale a pena ressaltar que os

7 passos têm que ser seguidos. As montagens realizadas atende e constitui as premissas da LDB

que apresentamos aqui, podendo então propiciar como proposta de linguagem artística na

Coordenação de Artes do CEFET-MG.

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ANEXO A – Termo de autorização para cessão de imagem e de voz

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Coordenação de Artes

TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA CESSÃO DE IMAGEM E DE VOZ

Prezados Pais e/ou Responsáveis,

Solicito autorização para filmar as aulas de Artes Cênicas, na Coordenação de Artes, Campus

I, frequentadas por seu filho(a). Esclareço que a filmagem faz parte de um dos procedimentos

de pesquisa que compõem o acervo investigativo da tese « ... » da Prof. Msc. Cícera Vanessa ,

docente dessa coordenação. Informo que o material produzido, tanto vídeo quanto áudio,

somente será utilizado em ambiente acadêmico e que imagens, nomes e demais referências

relacionadas aos alunos(as) serão preservados. Fragmentos da filmagem serão transcritos para

evidenciar dados de interesse da pesquisa, sempre de maneira a preservar o anomimato dos

participantes.

Os arquivos produzidos jamais serão utilizados publicamente sem a devida autorização dos

participantes e responsáveis.

Estou à disposição para maiores esclarecimentos.

Atenciosamente,

Profª. Cícera Vanessa Maia

Coordenação de Artes/ CEFET-MG/ Campus I Contatos : 3319-7114/7115

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ANEXO B – Termo de autorização de filmagens das aulas de Artes Cênicas

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Coordenação de Artes

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE FILMAGENS DAS AULAS DE ARTES CÊNICAS

Autorizo, por este instrumento, a Profª. Msc. Cícera Vanessa Maia, doutoranda pelo Programa

de Estudos Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, com sede à Rua Ministro de Godoy, 969, 4º andar, CEP. 05015-901, Bairro Perdizes, na

Cidade de São Paulo - SP, Brasil, orientada pela Profª Drª. Maria Helena Villas Boas Concone,

a filmar as aulas de Artes Cênicas exclusivamente para fins acadêmicos e científicos.

E por ser expressão de minha livre vontade, firmo o presente termo.

Belo Horizonte, de de 2016.

Nome do aluno(a): Nº de matrícula do aluno(a):

Nome do pai, mãe ou responsável: CPF:

Assinatura: Email/ telefone:

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ANEXO C- Questionários aplicados aos alunos no final do processo

QUESTIONÁRIO 1

1. Como você enxerga a disciplina na grade curricular do seu curso?

2. Você sabe de que se trata a disciplina de Educação Artística, Artes Plásticas, Artes

Cênicas? Explique detalhadamente cada item das perguntas.

3. Você já foi ao teatro? Justifique, comente a peça, descreva.

4. Qual a sua concepção de jovem, juventude? Diga o que compreende desses conceitos.

5. Qual o seu entendimento sobre o que é ser herói?

6. Como compreende a relação dos heróis dos textos lidos e das cenas assistidas?

7. Tente fazer o paralelo desses heróis com exemplos do nosso dia a dia.

QUESTIONÁRIO 2

1. Descreva o ritual de uma montagem cênica.

2. Qual a palavra que você escolheu para sua imagem? Comente.

3. Qual a moral da história da cena escrita pela turma?

4. Faça um paralelo entre a palavra/imagem e o perfil psicológico da sua personagem na

cena.

5. No contexto da cena, sua personagem era o herói ou anti-herói?

QUESTIONÁRIO 3

1. Qual a importância da disciplina na grade curricular?

2. O que você entende por Artes Cênicas/teatro?

3. Qual a sua experiência de palco?

4. Como você compreende herói/anti-herói?

5. Defina homem.

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ANEXO D – Peças apresentadas em 2014

Peça: Novela Mexicana

Cena 1 - Restaurante

Marcos e Cristianne saem para almoçar juntos.

Marcos: Oi minha linda. Tudo bem com você?

Cristianne: Tudo bem. Só um pouco preocupada.

Marcos: Mesa para dois.

Sílvia: Já vou providenciar senhor; me acompanhe.

Dentro do restaurante; o casal já sentado.

Marcos: Mas por que você está preocupada?

Cristianne: Porque você até hoje não resolveu se separar da burra da sua mulher.

Marcos: Não se preocupe. Já tenho um plano para me separar e daqui um tempo estaremos

juntos.

Cristianne: Assim espero…

Paula: Posso ajudá-los a fazer o pedido?

Marcos: Nós vamos querer o prato do dia que a gerente nos indicou e um vinho para

acompanhar.

Paula: Ok senhor. Com licença.

Cena 2 - Casa do deputado

Clara e suas amigas, Nayara e Júlia estão no quarto conversando, enquanto Monique

permanece sozinha em seu quarto.

Clara: Gente, minha família é completamente doida, minha mãe só fica em casa, meu pai fica

o dia inteiro no trabalho e minha irmã problemática só fica trancada no quarto. Dá pra entender?

Júlia: Com certeza não, mas praticamente todas as famílias são doidas.

Nayara: Isso é verdade. Acho melhor a gente parar com papo e ir estudar, não é meninas?

Clara e Júlia: É mesmo…

Clara: Então vamos lá porque biologia é melhor que isso....

Monique: Minha irmã deve ter problema mental. Só sabe falar dos outros com as amiguinhas.

Oh saco! Vou aumentar o volume do som para não ouvir essas bobajadas. Ninguém merece…

Cena 3 - Casa do deputado

Lívia e Paola estão sentadas na sala conversando, quando a campainha toca.

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Lívia: Acho que o Marcos ta aprontando alguma coisa

Paola: Mas porque você está pensando nisso?

Lívia: Ele ta estranho.

Paola: Ele sempre foi estranho; admite, vai…

Lívia: É… Se bem que é mesmo…

Dim dom… Dim dom…

Lívia: Quem será, hein?!

Lívia abre a porta e dá de cara com Bárbara, secretária do seu marido.

Lívia: Que isso Bárbara?! Quê quê você veio fazer aqui?

Bárbara: Vim te contar uma coisa muito grave.

Lívia: Sobre o quê?

Bárbara: Sobre o seu marido. Ele está te traindo.

Lívia: O quê??? Não pode ser…

Bárbara: Pode sim, e com uma das mulheres que trabalham para ele, você sabe né, prostitutas

e talz, afinal ele além de ser deputado e infiel, é um cafetão.

Lívia: Ai meu Deus…

Paola: Calma amiga, não fique nervosa…

Lívia: Mas você tem como provar o que está falando?

Bárbara: Mas é claro! Neste momento ele esta com a amante num restaurante aqui perto e

daqui a pouco deve encontrar com o bando de putas.

Paola: Então é isso amiga. Chama suas filhas e vamos pra lá agora!

Lívia: É… é… é melhor mesmo. Clara!! Monique!! Venham já aqui!

Monique: Quê quê aconteceu agora?

Clara: O que foi mãe? Fala!

Lívia: O seu pai está me traindo e ainda é… um cafetão!!! Nós vamos atrás dele nesse momento.

Monique: Era só oque me faltava…

Nayara: Vem que você disse que sua família é doida Clara.

Clara: Não era bem nesse sentido.

Júlia: Com certeza as coisas vão esquentar e eu não quero perder essa!

Clara: Você é mais doida que toda a minha família junta Júlia. Mas fazer o quÊ… vamos ter

que ir com a traída vingativa atrás do papai.

Monique: Ah… cala a boca sua patricinha meia tigela! Quem é você pra falar alguma coisa

aqui dentro dessa casa?

Lívia: Não comecem a brigar, temos algo mais importante a fazer…

Antes de sair, Lívia vai a cozinha e pega uma faca só para se prevenir contra a cachorra

e o cafajeste.

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Cena 4 - Rua do restaurante

As três garotas se encontram no locar marcado.

Alexia: Ele está atrasado. Será que ele ta achando que a gente ta por conta de babaca?

Camila: Sei lá… só quero saber do meu dinheiro.

Núbia: Concordo, mas vamos ter que bater um papo com ele pra não ter mais nenhuma

confusão.

Na porta do restaurante…

Camila: Queridinha, pode me fazer um favor? Chama o deputado Marcos aí dentro e fala que

tem três meninas querendo bater um papinho com ele.

Silvia: Peraí “queridinha”... Isso aqui não é restaurante de quinta e nem agência dos correios

pra mandar recados pra alguém… Vai ter que dar licença..

Núbia: Licença o caramba!!! Vai logo chamar ele, antes que eu faça um escândalo na frente do

seu restaurante…

Silvia: Não! Isso não! Vou chamá-lo… só um minuto.

Alexia: Assim que eu gosto. Botou respeito Núbia.

Silvia: Paula, chama aquele deputado antes que endoide…

Paula: Já estou indo.

Paula: Com licença senhor deputado, mas é que três senhoritas desejam falar com o senhor lá

fora.

Marcos: Ah ta… Você traz a conta por favor?

Paula: Claro. Com licença…

Alexia: Ai está você… demorou hem? Não temos o dia todo…

Marcos: Desculpe a demora, mas vamos resolver logo isso…

Camila: Acho bom mesmo! Queremos a grana da semana, porque afinal nós trabalhamos muito

para não conseguí-la no final.

Marcos: Vocês estão ficando muito impertinentes.

Núbia: Não reclama não e passa a nossa parte…

De repente Marcos vê sua mulher se aproximando.

Marcos: Não pode ser… é uma visão… é apenas minha imaginação…

Lívia: Marcos!! Seu canalha!!

Lívia da um tapa na cara de Marcos.

Lívia: Quem é a vagabunda? Afinal são tantas, não é mesmo?

Cristianne: Ou… mais respeito!

Lívia: Ah! Então é você?!

Marcos: Calma Lívia… não vamos fazer uma confusão no meio da rua…

Lívia: Cale a boca! Faço o que eu quiser, onde eu quiser!

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Júlia: Que barraco, hein meninas?!

Clara: Fica quieta Júlia!

Monique: Essas patricinhas… O pior que uma é minha irmã…

Lívia num ato de fúria tira a faca da bolsa e vai atrás da amante do seu marido.

Lívia: Vou te matar sua vagabunda!

Cristianne: Socorro!!

Silvia: Parem com isso ou senão terei que chamar a polícia. Larga essa faca moça, não faça

isso…

Clara: Mãe larga isso…

Paola: Lívia, não cometa um assassinato… As coisas vão complicar para o seu lado…

SIlvia liga para os policiais que chegam rapidamente ao local.

Sérgio: Parem com isso agora!

Cláudio: Ou senão vai todo mundo preso!

Nayara: Que coisa não? A polícia chegou rapidinho.. isso não acontece todos os dias.

Sérgio: Afinal o que está acontecendo aqui?

Lívia: Nada policial. mas ainda vai acontecer! Espera só eu pegar a cagabunda ali…

Cláudio: Acalme-se senhora! Pare já com essas ameaças.

Cristianne: Obrigada policia… Quero distância dessa louca…

Lívia: Louca?? Louca? Você vai ver a louca!

Bárbara: Eu posso explicar senhor polícia. Esse senhor aqui é um deputado que trai sua mulher

com uma prostituta, além de ser cafetão daquelas três ali…

Cláudio: Com certeza alguém sera preso hoje…

Cristianne: Cale a boca secretária burra! Sua invejosa! Só porque não conseguiu conquistar o

deputado fica enchendo nosso saco agora!

Sérgio: Ai que confusão!

Paola: As coisas só estão piorando… Sabe o que eu acho policiais, vocês devem prender essas

quatro prostitutas e levar junto seu cafetão também.

Cláudio: Concordo, pelo menos acaba a briga e esse trabalho empreendido por esse deputado.

Sérgio: Então… Vocês estão presos!

Marcos: Lá se vai meu emprego…

Monique: Lá se vai minha reputação…

Cristianne: Veja o lado bom meu querido, pelo menos ficaremos juntos na prisão.

Marcos: Não minha querida… Com certeza não… As celas com certeza serão separadas.

Cena 5- Casa do deputado

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Lívia: To com um baita de um chifre na cabeça, mas pelo menos me livrei daqueles dois e do

resto.

Paola: E isso é ótimo…

Lívia: Ótimo para você que não está sozinha.. mas minha intenção já era de me separar mesmo;

já havia um tempo que estava pensando no assunto…

Paola: E por que então você causou toda aquela confusão se já desejava ficar sozinha?

Lívia: Ah… sei lá! Deixa pra lá… Vamos ao shopping fazer umas comprinhas para acalmar?

Paola: Já que é assim vamos… Sua doida!

Lívia: Doida é você! Já falei pra deixar pra lá e vamos rápido antes que as meninas inventem

de ir também.

FIM

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ANEXO E – Peças apresentadas em 2013

Peça: … E não viveram felizes para sempre

Cena 1

A princesa está passeando com sua ama.

Princesa: Pobre destino o meu. Meu pai quer casar-me com o príncipe da Germânia. Porém eu

não o amo. Desejo encontrar meu amor verdadeiro, a pessoa certa para mim.

Ama: Alteza, sabes muito bem que seu pai jamais permitiria que se casasse com outro homem.

Você está prometida ao príncipe germano desde que nasceu. Seu casamento trará a união dos

dois reinos.

Princesa: Sei disso, cara amiga. Porém, não vejo por que tem de ser assim. Eu não serei feliz

ao lado de Drachen. EU quero casar-me com alguém que me ame verdadeiramente.

Ama: Princesa, sabe muito vem que seu casamento faz parte de um acordo com os germanos.

Esses acordos garantem boa parte da riqueza que entra em nosso reino. Se esses acordos forem

desfeitos, seu pai seria capaz de qualquer coisa.

Princesa: É isso que temo. Ele não mediria esforços para punir-me se eu não me casar com

Drachen. Creio que não tenho outra escolha.

As duas continuam cochichando, enquanto o cabaleiro e seu escudeiro entram.

Cavaleiro: Nossa estada nesse reino deve ser breve. Não há nada de tão interessante aqui…

Espere um momento. Veja aquilo, meu fiel escudeiro. Aquela jovem. Está vendo?

Escudeiro: Onde? Ah, sim. Estou vendo. O que tem ela?

Cavaleiro: É a mulher mais bela e graciosa que meus olhos já avistaram. Acabei de encontrar

um bom motivo para ficar neste reino. Tenho que conquista-la Preciso conversar com ela.

O cavaleiro pega um pedaço de papel e escreve um bilhete.

Cavaleiro: Leve isto até ela. Tenho esperanças de poder declarar todo o meu amor por

tãoformosa donzela.

Escudeiro: Como ordenas, mestre.

O escudeiro entrega o bilhete a princesa.

Escudeiro: Desculpe-me, jovem donzela, mas meu senhor mandou-me entregar-lhe este

bilhete. Ele se encantou com a senhorita.

A princesa pega o bilhete e olha em direção ao cavaleiro, em seguida o abre. (Enquanto

ela lê o bilhete, com os olhos, ao fundo será colocada a voz do cavaleiro lendo o bilhete)

“Nobre dama, nunca vi tamanha formosura num só ser. És a mulher mais bela que já

vi. Meu coração quase pulou para fora de meu peito naquele instante. Apaixonei-me

perdidamente por ti. Permitas que eu converse contigo. Ao menos deixe-me dizer pessoalmente

o quanto eu a amo. Humildemente, seu admirador”

Assim que ela o termina.

Ama: O que diz o bilhete?

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Princesa: É um bilhete de amor. ELe quer se declarar para mim. VOu até ele. Quero conhece-

lo.

Ama: Não é uma boa idéia, alteza. Seu pai não iria gostar…

Princesa: Ele não precisa saber. E só ficará sabendo se você contar. Espere-me aqui. Já volto.

Ama: Sim alteza. Seu pai não saberá de nada.

A princesa se aproxima do cavaleiro para poderem conversar.

Princesa: Olá, nobre cavaleiro. Recebi seu recado. O que desejas comigo?

Cavalheiro: Gostaria de saber o nome da mulher que roubou meu coração.

Princesa: Chamo-me Elen, sou filha do Rei Aran, do Reino da Gália. E tu, cavaleiro, como se

chamas?

Cavalheiro: Sou Elric, cavaleiro do Reino Franco. Apaixonei-me por Vossa Alteza no

momento em que a vi. Desejo ter-lhe como espeosa e viver ao teu lado pelo resto dos meus

dias.

Princesa: Pare! Não me faças juras de amor. Estou prometida a outro homem. Jamais poderei

ser sua. Minha festa de noivado será amanhã à noite. Nosso amor é impossível.

Ela se vai, correndo.

Cena 2

A festa está para ter início. O rei está sentado em seu trono, a rainha à sua direita, a

princesa à sua esquerda e o mago em pé, entre o rei e a rainha um pouco, um pouco mais ao

fundo. A nobreza está presente.

Arauto: Anuncio a chegada dos Trovadores contratados por Vossa Majestade.

Os três entram e se curvam para o rei.

Trovador 03: Grupo Calima à sua disposição, Majestade.

Rei: Esta festa deve ser perfeita.Façam a melhor apresentação de suas vidas. Caso contrário não

tocarão outra música nunca mais.

Trovador 02: Faremos o melhor que pudermos, majestade.

Rei: Assim espero.

Os três se posicionam no cenro do salão.

Trovador 01: Mas que ser insuportável é o rei.

Os nobres se posicionam no centro do salão.

Rei: Está gostando da festa, minha filha? Fiz o melhor possível para te agradar.

Princesa: A festa está ótima, papai. Mas o senhor sabe o que penso sobre este casamento.

Rei: Você está se precipitando muito, Elen. Drachen é um bom rapaz. Ele a fará muito feliz.

Princesa: O senhor sabe que eu preferia não me casar…

Rei: Não diga uma coisa dessas. Os acordos com a Germânia incluíam que minha herdeira

deveria se casar com o herdeiro germano. Se vocês não se casarem, os acordos serão desfeitos

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e nosso reino pode entrar em crise. Toda a estabilidade econômica de nosso reino está

dependendo desse casamento.

Princesa: Para você só o que importa são esses acordos, não é papai?

Rainha: Parem de discutir. Está uma festa tão bela. Não estraguem tudo com esta discussão

tola.

Eles se calam.

Nobre 02: O rei está bastante mau-humorado. O que será que aconteceu?

Nobre 01: Tudo culpa da princesa.

Nobre 03: Por que da princesa?

Nobre 01: Eu consegui arrancar daquela criadinha fofoqueira, alguns segredos da princesa.

Nobre 02: Que segredos são esses?

Nobre 01: Ela me disse que a princesa não está querendo se casar, e que há uns dois dias ela se

encontrou com outro homem.

Nobre 03: Será que ela teria coragem de desobedecer ao pai?

Nobre 02: Ela não ousaria desafiar o rei Aran. Ele jamais permitiria que ela se casasse com

outro.

Nobre 01: Você tem toda razão.

Após alguns minutos, o arauto entra e bate palmas. A música para.

Arauto: Anuncio a chegada de Vossa Alteza Real Drachen, o príncipe da Germânia.

O príncipe entra junto de seus dois guardas. Ele está bastante avinhado.

Príncipe: Se não fosse pelo aumento de minhas terras, eu nunca teria vindo parar aqui. Aquela

festa estava tão boa. Agora estou aqui. Tenho que participar desse noivado idiota. Tudo que me

importa são os benefícios que vou receber. Mas, chega de reclamar. Eu já estou aqui. Deixe-me

ir ver minha noiva. Esperem-me aqui.

Cavalheiro 02: Sim senhor.

Ele se aproxima do trono do rei e se curva, quase caindo.

Príncipe: Vossa Majestade tem uma belíssima esposa (ele tenta acariciar o rosto da rainha.

Ela o detêm).

Rei: Andou bebendo Drachen?

Príncipe: Só algumas taças de vinho. Agora com lucença. Desejo dançar com minha noiva.

Ele puxa a princesa, tentando tira-la para dançar.

Príncipe: Venha. Quero dançar com você.

Princesa: Solte-me Drachen. Eu não quero dançar.

Príncipe: Apenas uma dança. É nosso noivado temos de comemorar juntos. Ande logo, dance

comigo.

Ele puxa-a de uma vez e arrasta para o centro do salão. Enquanto o príncipe e a

princesa dançam...

Rainha: Será que este casamento é mesmo a melhor coisa para nossa filha?

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Rei: E por que não seria? Ela se casará com um homem rico e poderoso. Herdará as terras da

Gália e da Germânia. O que deixaria Elen mais feliz?

Rainha: Não sei. Mas do jeito que ela fala de Drachen, crio que ela está se casando contra a

vontade.

Rei: Acalme-se. COm o tempo ela verá que esta é a melhor escolha para a vida dela. Agora

deixe-me desfrutar um pouco mais dessa música. Os trovadores são bons, não acha.

Rainha (um pouco preocupada): Sim… São sim.

Os cavaleiros do príncipe conversam entre si.

Cavaleiro 02: O príncipe teve muita sorte. COm esse casamento ele se tornará muito mais

poderoso.

Cavaleiro 01: Não se esqueça que ele também arrumou uma bela esposa. A princesa é uma

mulher muito formosa.

Cavalheiro 02: Você tem razão. Drachen tem muita sorte. Será rei de um vasto reino e terá

uma bela rainha ao seu lado.

Cavaleiro 01: Só será difícil doma-la. Veja como ela olha com desprezo para ele.

Príncipe: Estou ansioso para o nosso casamento, Elen. Farei-te muito feliz.

Princesa: Jamais serei feliz ao seu lado. Sabe muito bem que não o amo. Estou me casando por

vontade de meu pai.

Príncipe: Deixe de falar asneiras. O amor pouco importa. O que me interessa é os benefícios

que irei receber casando-me com você. Por que acha que estou aqui?

Princesa: Casa-se comigo apenas por interesse?

Príncipe: O real motivo é este. Mas já que vamos nos casar, por que não desfrutar também de

teu corpo?

Ele tenta agarra-la.

Um forte estrondo é ouvido. A porta tomba. A música para. As pessoas se encolhem

num canto. O cavalheiro entra e desembainha sua espada.

Cavalheiro: Tire suas mãos fétidas de minha amada ou perderá tua vida, seu porco maldito.

Os cavalheiros do Príncipe se adiantam, de espadas em punhos.

Cavaleiro 01: Nunca ofendas o Príncipe Drachen, cavaleiro maldito.

Cavaleiro 02: Tua ousadia te custará a vida. Morrerás pelo aço de nossa espada.

Príncipe: Esperem! EU mato esse desgraçado. Quem ousou me insultar, merece morrer pelas

minhas próprias mãos.

Cavaleiro 01: Mas alteza o senhor está embriagado…

Príncipe: Cale-se. Eu disse que cuido dele.

O príncipe desembainha sua espada e se aproxima do cavaleiro. A princesa se

aproxima do trono de seu pai.

Príncipe: Morrerá agora, seu maldito miserável. Nunca mais usará sua boca imunda para se

referir a minha pessoa, cavalheiro estúpido.

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Ele desfere o golpe, mas erra o cavalheiro e acaba desmaiando ao tombar de cara no

chão. Seus cavalheiros vão socorre-lo.

O cavalheiro se aproxima dos tronos.

Rei: Como ousas invadir meu castelo?

Cavalheiro: Me chamo Elric, majestade. Venho do Reino dos Francos. Estou apaixonado por

sua filha. Quero casar-me com ela. Sei que ela também me ama. Permitas nosso amor.

Rei: Basta! Isto é uma afronta ao Reino da Gália. Guardas prendam-no.

A princesa tenta impedir a prisão, mas é detida por um cavaleiro.

Cavaleiro 03: Por favor, princesa, não interrompa nosso trabalho.

Os cavaleiros do rei prendem o cavaleiro.

Cavaleiro 03: Vamos joga-lo nas masmorras.

Os cavaleiros do rei levam o cavaleiro embora.

Princesa: Papai, por favor, solte-o. Eu amo Elric. Desejo ser esposa dele e não de Drachen.

Rei: Não acredito no que estou ouvindo. Saia da frente, sua traidora. Conversarei com você

depois. A festa acabou. Todos para fora!

Todos abandonam o salão.

Rainha: Vamos filha. Venha comigo. Não irrite ainda mais seu pai.

O rei e o mago ficam sozinhos no salão.

Rei: Merlim, meu fiel conselheiro, fui desonrado pela minha filha, minha querida filha. O que

devo fazer?

Merlim:a Senhor, respeite a felicidade de sua filha.

Rei: Mas, Merlim, e a honra de meu reino?

Merlim: Pense, meu bom rei, o que é mais importante? A felicidade de sua filha ou a honra de

nosso reino?

Rei: Minha filha está prometida a Drachen desde que nasceu. Não posso mudar minha palavra

agora.

Merlim: Então, senhor, você sabe o que fazer.

O rei fica pensativo e Merlim começa a abandonar a sala. Quando ele estava para sair

o rei o chama.

Rei: Merlim, você bem sabe que amo muito minha filha. Sabe também que minha obrigaçao

com a Gália está acima deste amor. Porém, pela primeira vez farei algo que vai contra este

princípio. Creio que encontrei uma solução. Chame Elen.

Merlim: Como desejas, meu bom rei.

Enquanto isso…

Rainha: Filha, desista deste amor impossível. Case-se com Drachen. Faça a vontade de seu pai.

Princesa: E ter uma vida infeliz até meu último dia (uma pausa)? Não amo Drachen mamãe. É

por Elric que me apaixonei. SOmente ao lado dele serei feliz.

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Rainha: Minha filha. Você fará qualquer coisa por este cavaleiro não é? (A princesa responde

que sim com a cabeça) Então temo pelo pior. Seu pai não te deixará descumprir a palavra dele.

Não sei o que ele é capaz de fazer a você se não casar-se com Drachen.

Merlim entra.

Merlim: Perdoe-me interrompe-la , rainha Vanya, mas o rei quer conversar com a princesa

Elen.

Rainha: Vá filha. Boa sorte. E pense bem no que irá fazer.

A princesa vai até o rei.

Rei: Já mudou de ideia? Vai casar-se com Drachen?

Princesa: Jamais. O único homem que desejo é Elric.

Rei: Eu já esperava isto. Pois bem. Se é isso o que desejas, se desejas tanto este tal cavaleiro,

podes ir embora com ele.

Princesa: Falas a verdade papai?

Rei: Porém, nunca mais deverá posar no solo de nosso reino. A partir deste momento deixas de

ser minha filha. Se voltares aqui tratarei-te como uma criminosa qualquer.

Princesa: Farei isto majestade. Prefiro deixar de ser princesa a casar-me com Drachen. Vou

embora e nunca mais voltarei.

Rei: Que assim seja!

Cena 3

Já do lado de fora do castelo a Princesa se despede de sa mãe. O cavaleiro apenas

observa.

Rainha: Cuide-se filha. Quando estabelecer uma moradia, envie-me um mensageiro que irei

mandar-lhe algumas coisas.

Princesa: Fique tranquila mamãe, assim que eu encontrar uma casa avisarei à senhora.

Rainha: Cuide bem dela, cavaleiro.

Cavaleiro: Com minha própria vida, Majestade. Vamos Elen?

Princesa: Adeus mãe.

Rainha: Cuide-se minha filha. E jamais se esqueça de mim.

As duas se abraçam.

Eles partem. Porém no meio do caminho encontram o príncipe.

Príncipe: Agora que estou sóbrio, não terá a mesma sorte. Irá morrer, seu maldito.

Os dois duelam por algum tempo. O cavaleiro vence. O príncipe está caído e a espada

do cavaleiro está apontada para o peito dele.

Cavaleiro: Você é um pobre coitado. Está atrás de Elen apenas para que ganhe as terras da

Gália após a morte do rei. Não irei te matar. Você não merece morrer. Você já perdeu o que

mais queria. Volte para seu reino. E nunca mais cruze nosso caminho ou se arrependerá

amargamente.

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O cavaleiro dá as costas para o príncipe e caminha em direçao à princesa. O príncipe

retira um punhal de suas vestes e acerta o cavaleiro pelas costas.

Príncipe: Você tem razão, eu não mereço morrer. É você quem merece. Nunca mais atrapalhará

minha vida.

A princesa abraça o corpo de seu amado.

Princesa: Diga algo, meu amor. Por favor Elric. Não morra, minha vida não terá sentido sem

você . Não me deixe só. ELRIC!!!

O cavaleiro morre.

Príncipe: Largue este cadáver. O maldito cavaleiro finalmente nos deixou paz. Case-se comigo.

Recupere seu trono.

Princesa: Jamais casarei-me com você. Prefiro a morte.

Príncipe: É você quem sabe. Vou levar-te até seu pai. Ele decidirá seu destino.

Cena 4

A princesa retorna ao Reino da Gália. Sua mãe corre ao seu encontro.

Rainha: Filha, você está bem? Por que voltou?

Princesa: Ele está morto mamãe. Está morto. Minha vida não tem mais sentido. Ele era a a

única coisa que me importava no mundo.

Rainha: Não diga isso. Você tem a mim.Eu te amo minha filha.

A rainha abraça a princesa. Ela nem se move.

Rei: Vanya, afaste-se dessa… traidora. Ela não é nossa filha.

Rainha: Como podes falar assim. Não a ama?

Rei: Ela desonrou a Gália. Pagará com a vida esta afronta.

Rainha: Mandará matar nossa filha?

Rei: Nossa filha morreu no dia em que abandonou este reino com aquele cavaleiro. Levem-na

para o carrasco.

Cena 5

O carrasco prepara o local onde a princesa irá ser morta. O rei chega. Um cavaleiro

acompanha a princesa, que está acorrentada. A rainha está acompanhando-os. O príncipe está

esperando-os no local da execução.

Rainha: Desista de mata-la, Aran. Ela é nossa filha.

Rei: Cale-se. Esta mulher será executada. Ela deve pagar por ter traído a Gália.

Príncipe: Concordo rei Aran. Sua filha trocou-me pelo primeiro vagabundo que avistou. Este

crime deve ser pago com a vida.

Rainha: Cale-se Drachen. Você não tem direito de opinar sobre decisões como esta. Aliás, você

nem deveria estar aqui.

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Príncipe: E eu perderia a morte dessa vagabunda. Quero vê-la perder a vida por ter me traído

com aquele bastardo.

A rainha apenas observa o príncipe, com desprezo.

O cavaleiro posiciona a princesa para ser decapitada. O carrasco se aproxima do rei

e da rainha.

Carrasco: Vai se despedir de sua filha, majestade?

Rei: Quero ver esta traidora pela última vez.

O rei vai até a princesa.

Rei: Disse para você não voltar. Nossos acordos com a Germânia foram desfeitos. Terá o fim

que merece.

Enquanto isso o carrasco se dirige à rainha.

Carrasco: Não aconselho que fiques aqui Rainha Vanya. Não aguentarias vê-la morrer.

Rainha: Ela sofrerá muito?

Carrasco: Nem saberá o que a atingiu. Mandei trazer meu machado de estimação. Guardo ele

para ocasiões especiais. Está é uma. Agora se me der licença, tenho que cumprir meu trabalho.

A rainha olha uma última vez para sua filha. O carrasco afia o machado. A rainha se

vira, com lágrimas nos olhos, e começa a correr.

O rei se aproxima do carrasco.

Príncipe: Adeus Elen. Vá se juntar a seu querido cavaleiro no outro mundo, sua vagabunda

maldita.

Rei: Faça seu serviço.

Carrasco: Terei prazer em cumpri-lo majestade.

O rei se vira. O carrasco se aproxima de Elen. Ergue o machado e o abaixa

rapidamente. As luzes se apagam.

FIM

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ANEXO F – Peças apresentadas em 2012

As Peças “A Viagem” e “No Busão” que geraram imagens utilizadas na pesquisa.

Peça: A viagem

Cena 1 (Jassinto e Carlos)

Jassinto: Ah meu deus! Com esse salário, vou acabar entrando em greve, filho para alimentar,

casa… e meu...

Cena 2 (Dener e Roberto)

Dener: Pô, e aí Roberto!? Tá indo pra BH, fazer o quê?

Roberto: Ah mano, vou visitar umas tribos indígenas no interior de Minas.

Dener: Mas o que você quer com essas aldeias?

Roberto: Ah! Eu estou querendo arranjar uma índia para mim.

Dener: Se liga então nesses novos cortes que estão aqui na revista, acho que algum pode te

ajudar, hein?! Olha com atenção, que tal esse parecido com o do Neymar, é bem exótico, vai

que rola.

Roberto: Sei não, vou pensar direitinho e te falo. Mas mesmo assim, obrigado cara!

Cena 3 (Fábio e Joaquim)

Fábio: Joaquim, você reparou aquele cara ali atrás?

Joaquim Reparei sim. Nó, ele parece um traficante!

Fábio: Claro… Ele é corintiano! (Risos)

Joaquim (Risos) Pior que é verdade Fábio.

Fábio: Porque será que ele está olhando tanto para a cabine?

Joaquim Aí tem treta!

Fábio: Se tem.

Cena 4 (Renata e Juliana)

Juliana: E aí, Renata? Animada para o show do Simple Plan?

Renata: Demais! Nossa, eu estou esperando por esse show há muito tempo.

Juliana: Eu também! Você já foi a algum outro show deles?

Renata: Fui sim, é ótimo. E você?

Juliana: Não, esse vai ser o primeiro.

Renata: Você vai adorar!

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Cena 5 (Fabinho e Albert)

Albert: Oi!

Fabinho: Oi mano, qual o seu nome?

Albert: Albert, e o seu?

Fabinho: Fabinho.

Albert: Tudo bem? Você está indo a BH para fazer o quê?

Fabinho: Estou meio preocupado! Vou fazer uma prova na PUC e não sei se estudei o

suficiente. Mas e você? O que vai fazer?

Albert: Nó eu vou fazer o vestibular também. Mas eu estou mais “eu”, quer que eu te ajude?

Fabinho: Claro!

Cena 6 (Débora e Paola)

Paola: Amiga, eu estou tão bem!

Débora: Por quê? Fiquei sabendo que você se separou.

Paola: Por isso mesmo! Até que enfim consegui me livrar daquele TRASTE do Augusto.

Débora (Risos): Ok, mas o que foi que você conseguiu arrancar dele?

Paola: Só a metade da fortuna!

Débora: Ah, entendi a viagem. Você está só na vida de madame agora né?!

Paola: Faço o que posso.

Cena 7 (Lúcio, Rafael, Manu, José e Pedrogas)

Rafael: Mano, você já arranjou a treta aí, né?

Lúcio: Arranjei cara, tá aqui, toma.

Rafael: Anda logo, cê tá demorando demais. Pode chegar alguém ai!

Manu: Ih, Rafa. Relaxa que aqui é deibous.

Rafael: Vai logo, passa aí, passa aí!

José: Toca aquela música… Qual o nome?... Aquela do carro amarelo e do caramelo…

Pedrogas: Não mano, essa é bad, tem que tocar algo mais pesado.

José: Ah, tanto faz, mas tá quente hoje, né cara, será que vai chover?

Pedrogas: Tenho cara de meteorologista? A única coisa que sei é que de boa na lagoa é passado

a moda, agora é “tô de deibous”...

Manu: Deibous? Que que isso, deibous?

Pedrogas: Não sei, mas é legal.

José: Ahh, a mãe dele está no bosque! (risos)

Cena 8 (Lúcio e Soraia)

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Lúcio: Passa a bola aí cara!

Soraia: Lúcio, o que você está fazendo aqui?! Pensei que estivesse estudando.

Lúcio: Mãee?! O que vocêêê está fazendo aqui?

Soraia: Eu vim trazer o livro que você esqueceu em casa. Ah, mas eu não acredito, o que é isso

que você está fumando? Dá-me isso aqui menino!

Lúcio: Você não deveria estar aqui mãe!

Soraia: Mas eu já estou, seu irresponsável. Responda-me agora, o que é isso?

Lúcio: É maconha mãe, fumo há dois anos, e não é só por você ter descoberto isso que eu vou

parar! Eu sou assim e você vai ter que me aceitar.

Soraia: Seu moleque maconheiro, vamos embora, agora!! Você nunca mais vai pisar aqui. Vou

te mudar de escolar, hoje mesmo.

Cena 9 (Wellynson e Carlos)

Wellynson: Bom dia!

Carlos: Bom dia, o senhor não pode ficar aqui não.

Wellynson: Eu já estou de saída… mas antes…

Carlos: O quê?

Wellynson: Passa o avião, moto, se não a parada vai ficar feia cara!

Carlos: Ahhhh!

(Avião cai)

Cena 10 (Soraia e Carlos)

Soraia: Que barulho é esse?

Carlos: Moça, moça, pelo amor de Deus houve um assalto. Tem muita gente morta, ferida. Por

favor!!! Nós caímos.

Soraia: Ah então quer dizer que você é um sobrevivente? Fica quieto, você é outro

irresponsável, maconheiro, mentiroso. Não existe vítima nenhuma, muito menos avião, isso

aqui é um bosque, só isso.

Soraia: E Lúcio, você ainda está aqui? Vamos embora porque esse lugar só tem gente doida!

Carlos: Mas senhora, é tudo verdade…

Cena 11 (Manu e Carlos)

Manu: Nossa, que viagem!

Carlos: Nossa, que viagem!

FIM

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Peça: No Busão

.

Felipe: Browner não fique assim…

Teobaldo: A vida é triste assim mesmo, depois você encontra alguém melhor…

Browner: É verdade eu vou esquecer aquela vadia e seguir minha vida.

Luciano: Isso mesmo, a vida segue em frente.

A caminho do corredor eles encontram Dinho.

Felipe: Que milagre galera! O Dinho estudando!

Dinho: Claro tem prova…

Browner: Prova de quê?!

Dinho: De filosofia.

Browner: Que droga! Nada dá certo na minha vida!

Luciano: Vamos todos nos ferrar!

Teobaldo: Tinha esquecido totalmente, véi. Bora estudar.

Felipe: Não dá mais tempo, o intercamp ta saindo, borá.

Luciano: Vamo bora então.

Eles saem e entram no intercamp. Entram duas meninas de química (Tamara e

Marcela). Os meninos de mecânica (Arlindo, Lindosvaldo e Soliniuton) que estão escutando

funk no ônibus se levantam para as meninas se sentarem.

Lindosvaldo: Opa, gatinha! Podem sentar aqui.

Elas se sentam.

Arlindo: Não sabia que boneca andava, mas agora tenho certeza.

Soliniuton: E aí, qual o nome das beldade?

Tamara: Eu sou Tamara.

Marcela: Eu sou Marcela.

Arlindo: Prazer, Arlindo, mas pode me chamar de Lindo porque o ar eu perdi quando te vi.

Soliniuton: Eu sou Soliniuton. Me chama de Sol que eu ilumino a sua vida.

Lindosvaldo: Eu sou Lindosvaldo, lindo como o nome diz.

Elas ficaram assustadas.

Tamara: Vocês são de MEC?

Arlindo: Somos sim, gata. E vocês devem ser de qui, né?

Marcela: Ah, entendi. Somos.

Soliniuton: ata, você é tão linda que até o raio GAMA! Mandei bem, né mano? (risos).

Arlindo: Com certeza, ganhou!

Lindosvaldo: Sua boca é linda, o único problema é que ta muito longe da minha…

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Tamara: É questão de higiene.

Arlindo: Pô gata, assim magoa! Vão borá manos.

Soliniuton: Essas gatinhas tão muito esnobes, bora.

Eles saem e se dirigem a outras 4 meninas (Anna, Camila, Gabriela e Fernanda).

Lindosvaldo: E ai princesas?

Soliniuton: Qual é o nome das beldades?

Anna: Eu sou a Anna.

Camila: Eu sou a Camila.

Gabriela: Eu sou a Gabi.

Fernanda: Eu sou a Nanda.

Arlindo: Gata, você não é periódica, mas você “tá bela”! (As garotas fazem cara de confusas)

ih, vocês não são de química né?

Camila: Er, não.

Lindosvaldo: Não faz mal princesa. Você tem um garfo?

Anna: Não, por que?

Lindosvaldo: Porque eu to dando sopa.

Anna: Não seria colher?

Lindo: E porque eu sou difícil.

Anna se interessa pelo Lindosvaldo. E eles entram numa conversa em segundo plano.

Os outros incentivam com o olhar.

Arlindo: Comigo é assim gata, do jeito que você preferir! (risos)

Eles entram numa conversa secundária e Sol começa a cantar as outras duas.

Sol: Gata você gosta de água?

Nanda fica assustada e não responde.

Gabi: Gosto.

Sol: Então você gosta de 70% do meu corpo.

Gabi ri.

Sol: A gatinha perdeu a língua foi?

Nanda: É que eu to guardando a voz pro show de hoje a noite.

Sol: Tendi. Então vamos conversar nós dois, gata.

Nesse momento a Nanda liga o som do seu celular e começa a ouvir Cláudia Leite.

Tião liga para um amigo.

Tião: E ai Zé, descolou os ingressos? Ah, então formou, a gente se encotnra lá.

Tião chega perto de Nanda.

Tião: Você vai ao show hoje a noite?

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Nanda: Com certeza. Adoro ela!

Tião: E você já tem companhia?

Ela olha para as amigas.

Nanda: Bom, tinha. Mas agora acho que não.

Tião: Então vamos juntos?

De repente uma passageira (Sheila) se levanta e começa a reclamar sobre o

congestionamento com o motorista.

Sheila: Pô, motô, por que a demora?

Passos: Ah! Eu desisto! Que se dane! Estou aderindo a greve de ônibus!

Ele levanta e sai.

Tião levanta, vai a frente do ônibus.

Tião: Bora todo mundo pro show da Claudinha?

Todos se animam e o seguem.

Eles chegam ao show.

A Cláudia Leita aparece.

Cláudia: Ò gente, é um prazer estar aqui com vocês.

Todos: Êeeee!

Cláudia: Tira o pé do chão e vai lêlelelelelelelelele vamo simbora…

A Ester entra e corre atrás da Cláudia. E os seguranças (Tales, Dinho) seguram ela.

Tales: Vem com a gente!

Ester: Nããão!

Tales: Fica quieto!

Os manos de MEC começam a fumar e a fumaça toma conta. A Cláudia se transforma

em Pikachu. Todos coçam os olhos e o Pikachu começa a cantar.

Pikachu: Pica, pica Chu.

Todos (reverenciando): Pica, pica Chu.

Tales: Pikachu é o rei!

Ester chega e começa a perseguir o Pikachu. Pikachu seu chato, bobo, feio.

Pikachu: Pica.

Os dois começam a brigar e dinho fala.

Dinho: Ae galera, agora que a gente tá pronto, borá fazer a prova de filosofia.

A palavra prova fica ecoando. Todos saem de cena e ficam só os manos de MEC.

Eles começam a acordar assustados.

Arlindo: Nossa mano, quê que aconteceu?

Soliniuton: Não lembro de nada mano!

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Lindosvaldo: Eu só lembro que a gente veio pro bosque se inspirar pra prova de filosofia!

Soliniuton (Olha pro relógio): A prova véy! A gente acabou perdendo ela nessa viagem!

Arlindo: É, o jeito é estudar de verdade pra próxima prova!

Lindosvaldo: Isso ae!

Eles saem de cena.

FIM

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ANEXO G – Peças apresentadas em 2011

Peça: A Escolha foi sua!

Cena 1- Quarto

As meninas conversam:

Gabi: Ai gente, eu tô achando esse orfanato muito parado.

Joana: Ué, por que?

Gabi: Ah, sei lá, o orfanato que eu tava antes de ser transferida pra cá era muito melhor, muito

mais animado.

Catiane: Mas nós moramos aqui há muito tempo, já estamos acostumadas com esse lugar, que

é um saco.

Renata: Por isso mesmo que eu não vejo a hora de sair daqui pra eu poder estudar, ser alguém

na vida.

Dalila: Ai, eu quero tanto que uma família venha me adotar logo pra eu poder ver como é a

vida lá fora.

Joana: É, eu também, e de preferência uma família bem rica, pra me dar tudo que eu mereço.

Renata: Gabi, conta pra gente como era a vida no outro orfanato.

Catiane: É conta pra gente.

Gabi: Bom, pra começar era muito diferente porque tinha meninos.

Joana: Quê?

Catiane: Tinha meninos?

Gabi: É, tinha um que eu tava ficando.

Dalila: Ficando, como assim?

Gabi: Ficar gente, beijar na boca.

TODAS: Hã… beijar na boca?

Renata: E como é?

Catiane: É bom?

Dalila: O menino era bonito?

Gabi: Nossa é ótimo, por que vocês tão perguntando? Nunca beijaram na boca?

Renata: Ah, não!

Joana: Claro que não! Nós somos meninas direitas e também a diretora não ia gostar de saber

disso.

Catiane: Lógico, qual homem ia querer beijar na boca daquela bruxa?

Joana: Tá louca, não fala assim da diretora.

Catiane: Mas é mesmo Joana, e para de ficar puxando o saco dela.

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Joana: Isso não é puxação de saco, é inteligência.

Renata: Ah gente, tudo bem que nós não podemos fazer isso, mas deve ser ótimo né?

Dalila: É, não vejo a hora de encontrar o meu príncipe encantado pra gente viver feliz para

sempre.

Joana: Maria, por que você tá tão calada? Só fica olhando pra esse relógio.

Maria: Hã? Nada não, é que eu tenho que ir ali no banheiro.

Joana: Ué, e agora você tem horário pra ir ao banheiro?

Maria: É… Quer dizer, não. É porque eu tô testando quanto tempo eu aguento sem ir ao

banheiro… E o meu tempo acabou de terminar, espera aí que eu vou lá rapidinho.

Maria vai ao banheiro seguida por Joana.

Cena 2- Banheiro

Edu: Maria meu amor, por que você demorou tanto?

Maria: As meninas começaram a fazer um monte de perguntas, mas o importante é que eu

estou aqui Edu.

Edu: Eu tava com tanta vontade de te dar um abraço.

Joana: O que é isso?

Maria: Joana! O que você está fazendo aqui?

Joana: Isso é eu que pergunto, o que esse garoto está fazendo aqui?

Edu: Calma, eu posso explicar.

Joana: É claro, é claro que pode explicar, mas pra diretora.

Maria: Não, não, por favor Joana, não conta pra diretora não.

Joana: Ah é? Quero ver quem vai me segurar.

Joana sai de cena.

Edu: E agora Maria, o que nós vamos fazer?

Maria: Você com certeza ela vai mandar sumir daqui, agora eu tô frita. Talvez ela me ponha

de castigo, me mude de orfanato, talvez ela me mude até de país e a gente nunca mais vai poder

se ver.

Edu: Então vamos fazer o seguinte, hoje à noite você me espera lá fora.

Maria: O quê? Você tem certeza?

Edu: É claro Maria, é a única maneira da gente ficar junto.

A diretora chega.

Diretora: O que significa isso?

Edu: Calma, eu posso explicar.

Joana: Tá vendo diretora, eu não queria dar uma de fofoqueira, mas tinha que te mostrar isso.

Diretora: Maria, quem te deu permissão para trazer um menino pro orfanato.

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Maria: Diretora, não é nada o que a senhora está pensando.

Diretora: Não quero explicações mocinha, você sabe muito bem que é proibido meninos aqui

e você seu malandro, vá embora e nunca mais ponha os pés no meu orfanato.

Edu: Maria, hoje à noite, hein. Não se esqueça.

Diretora: E quanto a você Maria, amanhã iremos conversar sério. Agora vão todas já pra cama.

Rápido, rápido.

As garotas vão para o quarto dormir.

Cena 3 - Quarto

Maria tenta levantar sem que ninguém acorde para arrumar suas malas.

Maria: Aqui nesse orfanato eu não fico mais nem um minuto. Amanhã quando todas acordarem

eu já vou estar longe.

Depois de um tempo.

Renata: Maria, Maria. Eu tô com medo. Você tá acordada?

Maria: Miaaauuuu…

Renata: Ai ainda bem, é só um gatinho. Acho que vai dar pra fugir sem ninguém perceber.

Elas vão se aproximando.

Renata: Estranho ter um gatinho aqui no quarto.

Elas se trombam.

Renata e Maria: Ai.

Maria: Silêncio, se não as meninas vão acordar.

Renata: Ué? Você também vai fugir?

Maria: Aqui, não conta pra ninguém, mas eu vou fugir com o Edu, e você?

Renata: Eu também.

Maria: Você também vai fugir com o Edu?

Renata: Não, tá maluca? Eu tô fugindo pra poder estudar, trabalhar, eu não nasci pra ficar

trancafiada aqui dentro desse orfanato.

Maria: Então vamos embora, antes que alguém acorde.

As duas vão para o lado de fora do orfanato.

Cena 4 - Fora do orfanato

Renata: Você vaiu ficar ai?

Maria: Vou sim, eu tenho que esperar o Edu.

Renata: Você ta doida Maria, fugir com o namorado. Quem você pensa que vai ser fugindo

com ele? Vai acabar pilotando um fogão o dia inteiro ou então esfregando roupa no tanque e

olhando uma penca de filho.

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Maria: Deixa de ser complexada Renata. Ele vai trabalhar para me sustentar. A gente vai sair,

aproveitar a vida. E além disso, se você acha que eu estou tão errada o problema é seu, não vou

te dar ouvidos e desistir de ser feliz com o meu amor. E por falar em meu amor, olha ele ali. Ei

Edu!

Edu: Oi meu amor, você tá pronta?

Maria: Tô sim, pronta pra poder conhecer o mundo.

Edu: Então vamos pro ponto de ônibus.

Maria: Tá bom. Tchau Renata, boa sorte nos seus estudos.

Edu: Vamos correr Maria, o ônibus já deve estar passando.

Maria: Tchau!

Maria e Edu saem correndo.

Renata: Tchau! Boa sorte pra você também Maria e se acha que essa é a melhor maneira de

ser feliz, se esse é o seu destino, vá em frente, a escolha é sua.

Cena 5 - Ônibus

Edu: Valeu por parar pra gente motô!

Bruno A: Valeu nada, sobe rápido ai que eu ainda tenho muito chão pra andar.

Edu: Beleza.

Bruno A: Ei muleque, você e a garota não vão pagar não?

Edu: Ah. é claro, pera aí, deixa eu pegar o dinheiro. Calma deve tá nesse bolso.

Bárbara: Depressa aí, nós tamo querendo entrar.

Edu: Calma, calma, tá aqui.

Bruno A: Tão faltando… oito centavos.

Edu: Oito centavos! Mas eu não tenho mais nenhum dinheiro chegado.

Bruno A: Então pode ir descendo do meu ônibus jovem, andar a pé é mais barato.

Maria: Nossa! Pode deixar Edu, eu acho que tenho dez centavos aqui.

Edu: Ufa! Ainda bem meu amor.

Maria: E pode ficar com os dois centavos viu motorista!

Edu: Vamo Maria, tem um lugar ali.

Atrás deles entra Bárbara.

Bárbara: Toma o dinheiro motô e vê se anda rápido com essa geringonça que eu tô morrendo

de fome.

Bruno A: Entra depressa e não reclama garota estressada.

Bárbara: Ai meu Deus! Ônibus lotado de novo, eu não acredito!

César: Boa noite.

Bárbara: Só me faltava essa! Mais um pobretão querendo me vender porcaria.

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César: Hoje eu poderia estar roubando, poderia estar matando, fazendo coisas que desagradam

a Deus, mas não, estou apenas vendendo minhas balinhas por cinquenta centavos cada.

Bárbara: Poxa vida! Eu morrendo de vontade de comer uma coxinha e me aparece um

vendedor de bala 24 horas, porque não é possível, onze da noite um indivíduo vendendo bala,

só comigo mesmo!

Maria: Olha amor, que bonitinho, ele tá vendendo balinha, é tão gostoso.

Edu: É Maria, é…

César (para Bárbara): Aceita uma balinha dona?

Bárbara: Primeiro, eu acho que não tenho cara de dona, segundo, eu não tenho dinheiro pra

ficar comprando bala, se tivesse até compraria.

César: Ah vai, só uma, tem de morango, banana, abacaxi…

Bárbara: Não, meu amorzinho, eu não quero, obrigada.

César: É baratinho, só cinquenta centavos.

Bárbara: Já te falei não moço.

César: Te faço a quarenta centavos.

Bárbara: Não.

César: Trinta.

Bárbara: Não.

César: Vinte e cinco, metade do preço!

Bárbara: Ai meu Deus, não!

César: Promoção, dez centavos.

Bárbara: Que coisa, já disse que não, que saco, vai oferecer pra outro idiota.

César (para maria): Aceita moça?

Maria: Ai que delícia! Edu compra uma pra mim?

Edu: Maria, eu tô sem grana.

Maria: Ah Edu, compra pra mim vai, só uma, é baratinha, tadinho, ele tá precisando, compra.

Edu: Tá bom, eu acho que tenho um dinheirinho reserva aqui.

César: São cinquenta centavos.

Edu: Você não tinha feito a dez pra moça ali?

César: Tudo bem, eu faço a dez pra você também.

Edu: Toma aqui. Me dá três.

César: Vai querer qual?

Edu: Tem de que?

César: Morango, banana, abacaxi e maçã.

Edu: Vai querer de que Maria?

Maria: Pode ser de uva.

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César: De uva não tem moça, tem só de morango, banana, abacaxi e maçã.

Maria: Então pode me dar duas de morango e uma de uva.

César: Dona, eu já disse que não tem de uva.

Maria: Então pode me dar uma de abacaxi, uma de banana e… uma de uva.

César: Oh senhorita, quantas vezes vou ter que dizer que não tem de uva!

Maria: Tudo bem! Não precisa ficar nervoso, pode me dar tudo de uva que tá bom.

César: Oh meu Deus!

Edu (pegando as balas na bandeja): Pode me dar qualquer uma. Toma Maria. Obrigado garoto.

César: De nada. Deus te abençoe.

O ônibus para em outro ponto, entra um velho e sai César.

Bruno A: Identidade, por favor.

Daniel: O quê?

Bruno A: Ah pode passar, tá na cara que o senhor tem mais de 65 anos.

Daniel: Olha aqui seu porco fedorento, eu só tenho 35 anos ouviu. 35,35.

Bruno A: Então, 35 mais 35 é 70, mais que 65, pode passar, antes que eu me arrependa e te

jogue pela janela.

Daniel: Não se fazem mais choferes como antigamente.

Bárbara: Ei vovô, calma, não precisa empurrar.

Daniel: Do que você me chamou?

Bárbara: Ué! Vovô! Algum problema?

Daniel: Pro seu governo menina eu não sou vovô nem seu, nem de ninguém por que eu não

tenho netos, sou muito novo para isso.

Bárbara: Ah é?

Daniel: É sim, eu tenho só 35 anos.

Bárbara: Pelo amor de Deus! 35 anos? Se toca, que cabeleira branca é essa então?

Daniel: Que cabelo branco? Isso é tinta sua sonsa, eu sempre tive vontade de ter cabelo branco.

Você nunca reparou como os grisalhos ficam mais bacanas?

Bárbara: Bacana? É claro, que nem minha bisavó dizia.

Daniel: Olha aqui garotinha, mesmo que a nossa diferença de idade seja pouca, eu ainda sou

mais velho que você, então me respeite.

Maria (se levanta): Ah não gente! Vamo parar com essa briga vão? Você moço, (falando com

Daniel) pode se sentar aqui no meu lugar.

Daniel: Você não está me chamando de velho, está?

Maria: Não, não, de maneira alguma, é que eu tô precisando dar uma esticadinha nas pernas

sabe? Além disso eu não gosto muito de ir sentada no ônibus e ir em pé é tão bom não é mesmo?

Daniel: Ah tá! Muito obrigado viu! E você menina ( fala para Bárbara) precisa observar

melhor as coisas.

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Maria: Por nada moço, por nada.

Bárbara (para maria): Desculpa pelo barraco, é que eu ando meio estressada ultimamente.

Maria: Não, beleza, não tem problema não.

Bárbara: Você sempre pega esse ônibus?

Maria: Não, não.

Bárbara: Então pelo amor de Deus, me diz qual que você pega, fala que é mais vazio que esse!

Maria: Eu não ando de ônibus.

Bárbara: Sorte a sua viu, porque eu chego cansada da escola, morta de fome e ainda tenho que

pegar esse ônibus lotado com esse motorista ignorante.

Maria: A sua escola cansa muito?

Bárbara: Nossa e como! Por que?

Maria: É porque eu tenho uma amiga que fugiu de onde ela morava pra poder estudar coitada,

tenho pena dela, vai sofrer tanto.

Bárbara: É, mas nesse mundo de hoje, se a gente não correr atrás, não tem como vencer na

vida.

Maria: Como assim esse mundo de hoje?

Bárbara: Esse mundo cheio de violência, corrupção, injustiça, é desse mundo que tô falando,

do mundo que nós vivemos.

Maria (pensativa): Nossa.

Um pagodeira que está sentado no banco em frente à Bárbara começa a cantar.

Bruno B: Lereree, lereeere, lerererereeee. Lerereeee, lerereee, lerererereeee.

Maria: Que isso? O rapaz tá maluco?

Bruno B: Lereree, lereeere, lerererereeee. Lerereeee, lerereee, lerererereeee.

Bárbara (cutuca Bruno): Ei, dá pra parar de cantar, por favor?

Bruno B: O quê? Quer que eu segure o seu fichário? Está bem.

Bárbara: Me devolve meu fichário e tira essa porcaria do ouvido, (ela puxa os fones do

ouvido de Bruno) ônibus não é lugar disso.

Bruno B: Ônibus não é lugar de cantar, mas também não é lugar de fazer showzinho não.

Bárbara (gritando): Showzinho? Quem tá falazendo showzinho? Eu tô fazendo showzinho?

Olha aqui garoto, presta atenção no que você fala!

Maria (cutucando Bárbara): Calma, calma.

Bárbara (respira fundo): Olha aqui meu bem, se eu fosse você desligava esse radinho, porque

hoje eu não tô com vontade de brigar.

Bruno B: Desligar não! Eu posso abaixar, tá bom?

Bárbara: Tá. Eu só não quero nada me perturbando, só isso.

Maria: Nossa menina é assim todo dia?

Bárbara: Você não viu nada, tem dia que é pior. Como é seu nome mesmo?

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Maria: Maria. Maria do Socorro.

Bárbara: Prazer Maria, meu nome é Barbara.

Maria: Muito prazer.

Bárbara: Mas como eu ia te falando, tem dia que é pior, ontem mesmo esse ônibus foi

assaltado, os ladrões levaram o dinheiro de todo mundo.

Maria: Poxa, eu não sabia que a vida aqui fora era assim.

Bárbara: Como assim, a vida aqui fora?

Maria: É que eu morava em um orfanato, essa é a primeira vez que eu saio de lá sem a diretora

me vigiando.

Bárbara: E você tá sozinha?

Maria: Não, eu tô com o meu namorado, deixa eu te apresentar(olha para Edu). Edu olha só a

amiga que eu fiz.

Edu (levanta e fala cochichando): Maria você não pode sair conversando com estranhos assim.

Maria (responde no mesmo tom): Ai Edu, ela não é mais estranha, já se apresentou, seu nome

é Bárbara.

Edu: Prazer, Eduardo.

Bárbara: Como vai Eduardo?

Maria: Nós estamos fugindo juntos.

Bárbara: Fugindo?

Edu: Maria, não precisa ficar espalhando!

Maria: Tá Edu, tá (vira para Bárbara): Mas como eu ia dizendo, nó vamos nos casar sabe?

Enquanto isso, um tarado (Diego) entra e fica só observando Bárbara.

Bárbara: Ah tá! Eu não tenho coragem de fazer isso não, mas torço por vocês viu! Hoje em

dia, encontrar um homem que presta é muito difícil.

Bárbara começa a sentir um cheiro desagradável.

Diego: Hum que delícia! Acabei de comer um churrasco e já achei a sobremesa pra adoçar

minha boca.

Bárbara: Era só o que me faltava. Olha aqui amigo, será que dava pra você abaixar o braço

porque aparace que esse seu desodorante venceu já faz tempo.

Diego: Ih gata! Para de se fazer de difícil! Você não quer ser o ovo da minha marmita?

Bárbara: Olha aqui cara, se você não calar a boca, o ovo que eu vou acertar vai ser outro!

Diego: Não disfarça. Eu sei que você também quer. Gostosa!

Bárbara (grita para o motorista): Oh motô, anda rápido ai! Meu ponto não chega mais não?!

Diego (agarrando Bárbara): Vem minha tchutchuca vem, dá um beijinho aqui no papai.

Bárbara (gritando): Ai, ai para, socorro, tarado, tarado, socorro!

Bruno B: Vão parar com essa gritaria. Eu quero ouvi meu pagode.

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Daniel: Esses jovens hoje em dia, o ônibus não é lugar de ficar se agarrando não viu? Que

pouca vergonha!

Bárbara: Oh vovô, o senhor não ta vendo que é ele que tá me agarrando. Ai Meu Deus, ainda

bem que meu ponto chegou. Tchau Maria!

Maria: Tchau!

Bárbara desce e Diego vai atrás.

Maria: Coitada né amor?

Edu: Oh Maria, eu não gostei dessa amiga que você arrumou não, garota barraqueira, fica

gritando no ônibus! Eu detesto isso!

Maria: Oh Edu, tadinha, não fala assim dela não.

Edu: Mas é mesmo. Maria vamos descer que o nosso ponto é o próximo.

Maria: Ah tá bom. Péra ai, deixa eu me despedir daquele moço .(fala com Daniel) Tchau viu?

Daniel: Tchau minha filha! Você é uma cocotinha mesmo!

Edu: O quê? Do que você chamou a minha namorada?

Daniel: Ué! Cocotinha!

Edu: Repete se você for homem!

Daniel: Cocotinha! Olha pra ela, é uma cocotinha, sem dúvidas.

Edu: Ah velhoto, é você que ta pedindo.

Daniel: Calma, calma, cocotinha quer dizer bonitinha, engraçadinha, seu moleque sem cultura

e velhote é uma ova.

Edu: Ah tá desculpa!

Maria: Ué? Não era você que disse que não fazia barraco Edu?

Edu: Vamo descer logo Maria, vamo.

Eles descem do ônibus e os anos se passam.

Cena 6 - Casa

Na casa do casal, Edu conversa com a amante.

Evelyn: Ai Dudu, nós vamos nos casar, não vamos?

Edu: É claro!

Evelyn: Mas e se meus pais não deixarem?

Edu: Nós fugimos.

Maria bate na porta.

Edu: Quem será a essa hora?

Edu olha no relógio, Maria bate novamente.

Edu: Meu Deus, já tá na hora da Maria chegar. Se esconde no banheiro Evelyn, rápido, rápido!

Evelyn: Tá bom, tá bom, calma!

Maria esmurra a porta.

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Edu: Calma, calma, já vai, não precisa quebrar a porta.

Maria: Ei amor, tá jóia?

Edu: Tô, e você, conseguiu encontrar emprego?

Maria: Que nada. Trabalho tá difícil ! Todo lugar que eu vou eles pedem segundo grau

completo, experiência e você sabe, como eu não estudei, não tenho nada disso.

Edu: É a situação tá difícil.

Maria: Pra você ver. Até pra malabarista de sinal de trânsito eles devem tá pedindo experiência,

isso é um absurdo!

Maria vai em direção ao banheiro.

Edu: É… péra ai Maria, aonde você vai?

Maria: Ué, no banheiro.

Edu: Não, não pode.

Maria: Por quê?

Edu: Por que eu acabei de usar o banheiro e o cheira não tá muito bom, se eu fosse você

esperava passar.

Maria: Ai Edu, que bobeira, me dá licença que eu tô apertada.

Edu: Maria, você não pode abrir a porta!

Maria: Então como eu vou entrar Edu? Por que eu não posso abrir a porta?

Edu: É porque… tem um sapo ai dentro, você tem que ver que bicho horroroso.

Maria: E qual é o problema? O que um sapinho inocente pode me fazer?

Edu: Pode te matar, sabia que tem sapos muito venenosos no sudeste da África?

Maria: Ah é? Mas não vou pra África, vou pro meu banheiro. E sai da frente que eu não tô

mais aguentando segurar.

Edu: Toma faz aqui no pinico!

Maria: Sai fora Edu (abre a porta). Quem é essa vadia?

Evelyn: Quem é ela Dudu?

Maria: Dudu? Que Dudu o que minha filha, o garotão ali tem dona viu? Ele é meu marido,

meu marido!

Evelyn: Marido? Você não me disse que era casado Dudu.

Edu: Pois é, me esqueci desse detalhe.

Maria: Ai seu cretino. E você sua vagabunda, sai rápido, anda a porta está aberta!

Evelyn: Vou mesmo porque de chifre eu tô correndo!

Maria: Volta aqui, volta! Você vai ver o chifre que vai nascer na sua testa com o murro que eu

vou te dar (vira para Edu). Seu pilantra, safado, por que você fez isso, por que?

Edu: Calma, eu posso explicar.

Maria: Explicar, explicar como seu cachorro, por que você me traiu?

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Edu: Por sua culpa, você não é mais a mesma daquela época que eu te conheci, olha só essa

barriga, esse cabelo, você está um verdadeiro trapo Maria, eu precisava de carne nova.

Maria: Animal! É isso que você é, um animal. Eu não sou carne pra ser trocada, não acredito

que fugi com você do roganato pra viver essa vida!

Edu: Eu não te obriguei a nada Maria, você fugiu porque você quis! Além disso, naquela época

eu te amava, mas tudo acaba um dia!

Maria (com tom de novela mexicana): Sua traição foi como um punhal em meu peito Eduardo

Frederico!

Edu (com tom de novela mexicana): Irei embora Maria do Socorro, e fique tranquila, nunca

mais irá ver meu rosto… adeus!

Maria: Não Eduardo, não!

Alguém bate na porta.

Maria: Sabia que ele ia voltar.

Maria abre a porta.

Maria (com tom de novela mexicana): Tudo que me fizeste sofrer foi como se sangrasse minha

alma. Mas se é para o bem do nosso relacionamento, eu te perdôo Eduardo Frederico.

Breno: Sai pra lá! Que Eduardo Frederico o que, sou eu Maria, o Breno.

Maria: Ah, desculpa Breno, entra ai. Foi mal, é que eu e o Edu brigamos, ele me traiu você

acredita?

Breno: De novo?

Maria: Que?

Breno: Nada não. Eu vim aqui porque queria te chamar pra uma festa.

Maria: Festa?

Breno: É… vamo lá, você tá meio triste, quem sabe não se anima?

Maria: Ah, tá bom.

Breno: Então eu já vou, tô te esperando lá em casa viu?

Maria: Beleza, eu não vou demorar muito, agora mesmo eu tô chegando lá.

Breno: Então tá, tchau!

Maria: Tchau! Ai, ainda bem que ele já foi embora, nessa confusão toda até esqueci de ir ao

banheiro.

Maria vai ao banheiro e depois sai de casa.

Cena 7 - Festa

Breno: Entra aí, pode entrar, quem tá aqui, tá em casa!

Maria: Tá bom, obrigada.

Breno: Senta ai e toma um drink.

Maria: Beleza. Nossa, tá bom esse drink hein, me dá mais um!

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Maria começa a se embebedar.

Maria: Me dá um garrafa ai.

Breno: Hoje a chapa vai esquentar.

Maria (bêbada): Vai mesmo! (com a garrafa na mão bebendo). Edu, olha só seu cachorro,

me traiu agora vai ficar com remorso porque eu vou me matar.

Maria começa a ter alucinações com personagens do passado.

Renata: A escolha foi sua!

Joana: Eu te avisei!

Maria: O quê? De onde vocês saíram?

Diretora: Você no devia ter fugido.

Maria: Não, sai, eu vou me matar (pega uma faca). Edu olha, você destruiu minha vida,

agora eu vou me matar!

Renata: A escolha foi sua!

Maria: Sai.

Todos: A escolha foi sua!

Maria: Não, sai! Edu!

Todos: A escolha foi sua!

Maria: Não!

Edu (gritando): A escolha foi sua!

Maria: Nãããããããããooooooo!

Maria finca a faca em seu peito, as alucinações desaparecem e ela fica sozinha

em cena agonizado, até que cai no chão, morta.

FIM

Peça: Bota pra Quebrar

(em uma festa o deboche quanto as características das personagens e sua situação social, a

traição, o desdém até acabar fazendo montinho)

Juliana: A festa está tão linda! Veja os detalhes na decoração.

Beth: Ajudei a organização de tudo, assim pude ajudar essa orfã tão sofrida!

Juliana: Não sei se sairia essa festa sem você!

Beth: Nem eu… Agora é só aguardar os convidados. Aliás, você viu a Ema?

Judith: A Ema está a caminho com a turma dela. Vocês conhecem, não?! (chegando perto das

duas).

Beth: Claro que conheço. Boce está insinuando alguma coisa?

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Judith: Não, de jeito nenhum, quer que eu vá procurar pela DONA DA FESTA? Porque Eu

sou a melhor amiga dela.

Juliana: É boa idéia, vai, vai, vai…

Judith: Tá faltando só um som na caixa.

Beth: Que menina oferecida não ? (Chamando e fazendo sinal para a filha) Drica, vem cá!

Drica: O que foi mãe? Não vê que eu to brincando com a turma?!

Beth: Você já comeu alguma coisa?

Drica: Se tivesse ia ser ótimo, to com uma fome!

Lekinha: Vem, vamos procurar comida, eu também estou com fome!

Beth: Vai filha com ela; por acaso vocês viram a Ema?

Drica e Lekinha respondem com a mão/negativo e saem andando.

Geh (falando com Lekinha): Aonde você comprou esse vestido tãão brega? No Brechó?

Lekinha: Olha que eu respondo! Vamos dar uma voltinha?(Saem pelo salão).

Drica: Já chegou brigando.

Geh: Você é mesmo caretinha heim? Não sei como eu te aguento!

Drica: Por que você me ama!

Geh: Ah amo…

Beth: Vocês viram a Ema, já está ficando tarde!

Roberta (olhando ao redor): Isso aqui que é a festa?... Mas, vocês viram o meu filhote?

Geh (rindo): Deve estar por ai, num cantinho, ouvindo “música eletrônica”.

Beth: E a Ema gente, cadê ela?

Drica: Preocupa não. Etá por ai!

Geh: Ela está ali com a turma dos meninos, olha! Aqueles ali (aponta).

Roberta: Aonde? Reginaldo está lá também?

Lekinha: Não achei a Ema não!

Beth: A meu Deus, aonde é que essa menina está?

Juliana: Não preocupa não, ta faltando tanta gente ainda!

Beth: Elá é especial, coitadinha, já sofreu taaanto!

Drica: Eu vou dar mais uma andada ta? Vamo gente?

Saem todas; entram os meninos…

Silvão: Nunca vi tanto bagulho junto num só lugar; credo!

Manuel (com os salgados da festa - aflito/atrasado): Por favor, meninos, aonde é a cozinha?

Silvão: Opa, pode deixar que isso eu entrego pessoalmente!

Manuel: De jeito nenhum, estes salgados são para minha linda anfitriã (suspira).

Biruleibe: Vê só, o cara piro u cabeção! Tem pra aplica os mano?

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Manuel: Por favor, se afaste, a Beth me aguarda (suspira de novo).

Biruleibe: Ai Wood, “ce” aguenta?

Wood: Ele até que é bonitão!

Biruleibe: Ce num dá mole, heim! Aqui também?

Wood: Eu sou um só tá! Magoei…

Joselito: Oh! Professor, chega mais, como é que estão as minhas notas?

Wood: Você?! (dando uma olhada de cima a baixo) Você, você ta bem, bem na média! Ta na

média!

Silvão: Sai pra lá doida!

Biruleibe: Ces sabem quem ta fazendo ponto aqui?

Joselito: Ali é o ponto, olha só aquela mulherada!

Biruleibe: V1ô chegando pra vê!

Silvão: Ce tá ficando doido?

Joselito: Vô também, tchau fessor.

Wood: Tchau lindão.

Joezim (entrando): Onde vocês estão indo?

Biruleibe: Passar uns bagulho ali!

Joezim: Cuidado mano, nas parada aí oh!

Biruleibe: To ligado, ligadão!!

Maria Pequena: Quem ta ligadão?

Biruleibe: Por quê? Ta afim?

Maria Pequena: Não, só queria saber! Alguém viu a Ema?

Joezim: Tava lá fora, não ta querendo entra não!

Maria Pequena: No, porque a festa vai ficar é boa!

Silvão: Por quê? Ela vai trazer alguém especial?

Maria Pequena e Joezim: Oh seu burro!

Joezim: Vai virar um barraco a festa! Isso sim! Entendeu agora?

Biruleibe: Vai ter concorrente nu ponto é?

Beth junto com Manuel: Venham, venham!

Beth: Tenho um problema! A Ema não quer entrar, vamos lá chamá-la!

Manuel: Afinal, a festa é dela!

Biruleibe: E minha também pô!

Silvão: Vai ter porrada mesmo?

Beth: Por favor gente calma!!

Bagunça geral, entram Ema e seu cachorro…

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Ema: Oh vida! Oh céus! Oh azar!

Cachorro: Eu sou o único cachorro nessa festa. Oh que solidão. Precisamos trabalhar isso

em nós..

Ema: Sábias palavras do meu cachorro, meu companheiro, na alegria e na tristeza, na saúde e

na doença, até que a morte nos separe!

Todos: AMÉM!

Entra Ed…

Ema: Amorzuxo!!! Finalmente você chegou!

Ed: Bombonzinho!! Onde você estava?

Ema: Tava lá fora, vendo se eu conseguia acabar com a merda dessa minha vida!

Ed (cochichando): E por que não acabou???

Ema: Que foi que você disse amor?

Ed: Disse que te amo minha lindozuxa!

Ema: Eu também te a…

Entra Judith.

Judith: Amigaaaa!!! Que saudade (smack, smack, smack) ! Que bom que você chegou!

Ema: Amiguxa! Tá tudo bem? Como andam as coisas…

Judith: Como andam… (olhando para Ed)... Ahh olha, seu cachorrinho quer andar com você

vai lá leva ele vai!...

Ema: Tá, tá bom…

Judith se amassa com Ed. Volta Ema.

Ema: Mas o que está acontecendo aqui??

Judith: É, é, é… nada…

Ema: Como nada, eu vi tudo, porque você fez isso comigo?

Judith: Ah, você quer saber? Eu nunca gostei de você menina… Eu só queria comer seu

namorado (riso irônico) !

Ed: Comeerr??

Ema: O que?? Pega poly!!

Montinho geral!

FIM

Peça: Lotação Vinte Onze

.

Amanda entra no ônibus, cumprimenta Uésllei e pergunta:

Amanda: Quanto que é a passagem U?

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Uésllei simplesmente aponta para a placa exposta com o valor. Massa entra no

ônibus e cumprimenta sem graça o motorista (Juraci).

Massa: Bom dia motorista.

Juraci (com um gesto com a cabeça): Bom dia.

Massa caminha pelo ônibus procurando um lugar para se sentar e acha um

lugar perto de Amanda, sua colega de escola.

Amanda: Ei Massa beleza? Você fez o dever de português?

Massa (rindo ironicamente): Eu fiz, mas não vou emprestar.

Amanda: Eu esqueci, aquela professora é tão lerda que nem vai ligar. Será que a Carla fez?

Massa: Sei lá, pergunta pra ela, ela ta fazendo fotossíntese ali na frente.

O diálogo é interrompido. Dani entra no ônibus e demora a pagar a trocadora

(Uésllei).

Dani: Nossa cadê o dinheiro da passagem? Eu coloquei aqui.

Uésllei está tranquilo escutando musica no fone de ouvido e batucando no

caixa do ônibus.

Uésllei: Menina, tem dinheiro pra passagem?

Dani: Eu me lembro de ter colocado aqui.

Christian: Oh minha filha não vê que tem gente atrás de você não? Se liga e sai dessa roleta!

Dani nesse momento acha o dinheiro.

Dani: Pronto! Achei.

Dani e Christian passam na roleta.

Dani caminha pelo ônibus e encontra lugar perto de seus colegas de trabalho, Manu e

Agnaldo.

Agnaldo: Dani, o que aconteceu ali na roleta?

Dani: O nervosinho ali perdeu a paciência com a minha demora, mas não é ele que vai

atrapalhar meu dia. Estou muito bem hoje.

Manu: Mas e como vão às coisas Dani, tem muito tempo que nos não conversamos.

Dani: Ah, estou muito sem tempo, mas está tudo bem (o diálogo é interrompido).

James esta dentro do ônibus escutando música sem fone de ouvido e dançando

(James usa um cabelo Black Power todo estiloso).

Júlia e Maria entram no ônibus juntas e passam tranquilamente pela roleta.

Júlia: Nossa Maria, olha só aquele menino lá no fundo do ônibus.

Maria (rindo): Meu Deus! Que peça rara e essa?

Júlia e Maria caminham pelo ônibus cumprimentam Jurandira e Cecilia e sentam-

se próximas. O diálogo é interrompido.

Carla que já estava dentro do ônibus dormindo acorda espreguiça e

cumprimenta Amanda e Massa.

Carla: Ei gente tudo bem com vocês? Nossa que preguiça.

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Amanda: Bom dia Carla eu to bem e você? Aqui você fez o dever de português?

Carla: Eu estou ótima! Fiz sim o dever de português, quer emprestado?

Amanda: Nossa Carla valeu! Quero sim.

O diálogo é interrompido.

Izabella e Kate Lyne entram no ônibus . Izabella estava lendo um livro de

poesias e senta-se ao lado de James já que era o único lugar sobrando. KateLyne, como não

tinha lugar, fica em pé ao lado de Izabella.

Izabella: Moço você pode baixar a musica?

James: O que?

Izabella: Eu estou tentando ler minhas poesias e o som do seu celular está me atrapalhando.

Izabella (falando baixinho para si mesma): Devia ter entrado na comunidade do Orkut : Doe

um fone de ouvido a um “funkeiro” (diz isso com cara de deboche).

James: A musica está boa nessa altura para mim.

Izabella ignora-o e continua tentando ler.

James toda hora esbarra em Izabella e isso a incomoda.

Toca o celular de Kate Lyne e ela começa a falar muito alto no

telefone.

Kate Lyne: Alô… que? É Kate Lyne! Oi amiga, tudo bem?... Ah o pagode? Fui sim, é logico,

tava muito bom como sempre. Quê? A calcinha que você me pediu? Comprei sim, aquela com

a borda florescente mesmo, está lá em casa pode ir buscar… então tá depois a gente se fala…

beijo… tchau.

O diálogo é interrompido.

Cecilia e Jurandira que já estavam dentro do ônibus.

Cecília: Ai minha velha amiga Jurandira, não sei mais o que é essa juventude.

Jurandira: Ai nem me fale. Já viu as roupas que essas meninas andam usando? Olha só aquelas

ali (aponta para Júlia e Maria), coitadas das mães, mal sabem o que as filhas andam fazendo.

Jurandira: É, não sabem. Se a minha época voltasse elas não usariam mais estas roupas. Estou

inseguro com minha netinha a Manu, ela está namorando aquele rapaz ali, e eu não vou com a

cara dele. Mas fazer o que, tratar mal a gente não pode “né”.

Jurandira: Cecília, confia na sua neta, é uma boa menina.

Cecília: Ai Jurandira, você é muito tranquila.

O diálogo é interrompido.

João entra no ônibus vendendo suas humildes guloseimas.

João: Bom dia, estou oferecendo bala aos passageiros honestamente recuperando dos meus

quartoze anos de reclusão, vendendo minhas balinhas, peço ajuda de vocês.

Massa: Ai Deus, povo pobre é uma desgraça!

Amanda: Nem me fala Massa!

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Christian aperta o sinal para descer do ônibus. Andando dentro do ônibus, ele tromba

em Kate Lyne, e essa o xinga. Na hora de descer Christian passa perto do casal Manu e

Agnaldo, e viu que Manu namorava Agnaldo.

Christian: Nossa, que isso “héin”? Sou o Tarzan. Quer ser minha macaca, digo, Jane?

Agnaldo(furioso): Qual é a sua Mane! Sai daqui (empurra Christian). Só está fazendo confusão

dentro desse ônibus!

Christian: Qual é o que, viaja “ni mim não”, a menina ai com você está desprotegida! E não

estou fazendo confusão nenhuma!

Agnaldo parte pra cima de Christiam e o empurra.

Francielle, que já estava no ônibus tenta apartar a briga junto com João.

Francielle: Calma gente sem briga! Tranquilidade, paz e amor, conversando tudo se ajeita.

Kate Lyne fica muito assustada e pula no colo da trocadora (Uésllei).

Uésllei se levanta e diz:

Uésllei: É tiro é tiro!

Juraci, o motorista, vira para olhar a confusão, bate o ônibus e todos morrem!

FIM

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ANEXO H – Peças apresentadas em 2010

Peça: Atendente!

Telefone tocando.

Christi (Atendente e mãe de Gabriel): Ei senhora! Bom dia, o que gostaria?

Paulinha (Cliente): Gostaria de cancelar o meu plano!

Christi: Mas você não gostaria de conhecer nossos planos? Tenho certeza que você irá mudar

de idéia (preguiçosa enquanto lixa as unhas).

Paulinha: Não só quero CANCELAR!

Christi: Um minutinho por favor senhora.

Henry (Pai): Meu filho, você está jogando vídeo game, eu num falei que era pra você estudar,

que futuro os jogos não irão te dar?

Gabriel (Filho): Pai estou doente, não estou conseguindo estudar, minha cabeça esta doendo

muito! (ironia).

Henry: Sua cabeça não está doendo pra jogar vídeo game não? Mas vou ali buscar um remédio

e você vai estudar (bravo).

Gabriel: Tudo bem pai, eu vou estudar (ironia).

Felipe e Danilo (Amigos de Gabriel): GAAAAAAAAAABRIEEL chega ai zé.

Gabriel atende a porta.

Felipe e Danilo: Bora lá no jogo do Cruzeiro no Mineirão, nos vamos zuar demais! Mas seu

pai vai xingar não? (sentido)

Gabriel: Vamos então. Meu pai deixa ( ironia).

Christi: Obrigada por esperar.

Paulinha: Mas quanta demora, estou querendo só cancelar e vocês ficam me enrolando!

Christi: Mas você não gostou deste plano, posso apresentar outro! Temos um plano que você

coloca 10 reais de créditos e…

Paulinha: Eu não quero saber de nenhum plano! Quero CANCELAR (raiva).

Pai chega no quarto.

Henry: Ué cadê meu filho? Fui buscar o remédio e ele não está mais aqui, minha mulher precisa

saber disso.

Christi: Mas a senhora está muito irritada, calma iremos arrumar outra solução para seu

problema (o telefone de Christi toca, tanananan tanananan).

Paulinha: A solução para o meu problema é só CANCELAR a conta!

Christi: Só um minuto (som de espera).

Christi atende o telefone.

Christi: Alô.

Henry: Nosso filho sumiu!

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Christi: Eu deixo nosso filho com você e é isso que acontece, enquanto eu dou duro aqui você

só fica no bar, a única obrigação é cuidar dele e você o deixa fugir, se vira!

Desliga o telefone na cara de Henry.

Christi: OBRIGADA por aguardar (raiva).

Paulinha: Agora você vai poder cancelar o meu plano?!

Christi: Mas você acha que só você tem problemas? Estou lotada de problemas e você vem

reclamar comigo sobre o plano de sua conta, quer saber de uma coisa vai reclamar com outra

pessoa!

Paulinha: Que absurdo sua grossa ! (desliga o telefone).

Enquanto isso o subgerente (Adilton) escuta toda a conversa entre a atendente e a

cliente fica assustado.

Adilton: Christi você esta xingando o cliente? Qual a norma da nossa empresa? O cliente

sempre tem razão, e ainda depois fala ao telefone coisas pessoas, vou ter que falar com o gerente

Bruno.

Adilton (para Bruno): Chefe a funcionária Christi está procedendo de maneira inadequada,

estava falando no telefone coisas pessoais e chincando a cliente temos que tomar providências.

Bruno: Então chame ela que teremos uma conversa séria!

Adilton: ATENDENTE CHRISTI venha aqui agora, o chefe está chamando!

Bruno: Porque você estava mal tratando os clientes? E ainda por cima conversando coisas

pessoais, você está desṕedida.

Christi: Não chefe, por favor me desculpe não farei isso mais!

Bruno: Não, foi uma coisa muito séria, é contra as regras da empresa, pegue suas coisas e vá

embora!

Christi sai chorando e falando no telefone com a amiga Cristiany

que a convidou para ir ao bar do Alemão.

Christi: Alô amiga.

Bya (Garçonete): Senhoras vocês gostariam de tomar alguma coisa? Temos sucos variados,

refrigerantes, água o que preferir.

Christi e Cristiany: Um suco de maracujá por favor.

Bya: Olá senhores bom dia! Gostariam de algo?

Bruno: Sim uma porção de fritas com filé e dois refrigerantes.

Ana: Não amor não posso tomar refrigerante, você não tem algo menos calórico e bom para a

saúde não?

Bya: Temos água.

Alemão sai do escritório e encontra Flávia ( sua esposa).

Flávia: Oi amor o restaurante está cheio né?! Que bom!

Alemão: Sim as coisas estão indo bem amor.

Gangue entra no restaurante.

Dafiny (assaltante): Todo mundo com a mão na cabeça que isso é um assalto!

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Felipe (assaltante): É isso mesmo todo mundo caladinho e passando as coisas.

Arthur (assaltante): Vai passando a grana do caixa alemão!

Bya: Ah vou ligar pra polícia agora.

Policia chega e prende a gangue.

Gustavo (Policial): Calados, polícia, polícia, seus vagabundos, marginais roubando os gringos,

vocês vão ver uma coisa (batendo).

Daniel (Policial): Vão levar esses marginais pra delegacia agora.

George (Policial): Não pense bem, vamos negociar com esses caras eles nos passa tudo que

conseguiram e a gente libera eles, depois a gente prende.

Gustavo e Daniel: Ótima idéia vamos fazer isso!

Fora do bar.

George: É o seguinte a gente libera vocês se passarem tudo que roubaram!

Dáfiny: Ah demoro ai zé, tem celular, relógio…

Felipe: Pega ai mano.

Arthur: Vamo embora rápido.

Daniel: Circulando circulando!

Gustavo: Não quero mais ve vocês por essas bandas não!

Alemão: Todo mundo esta bem? Alguém se machucou (preocupado)?

Bruno: Amor, você está bem? Meu deus, Meu deus como isso foi acontecer!

Ana: Sim estou bem amor.

Christi encontra Bruno que a despediu.

Christi: Foi aquele desgraçado que me despediu amiga!

Cristiany: Olha só, ele frequenta o bar do alemão, roubaram muita coisa de você?

Christi: Não, não tinha coisa de valor.

Cristiany: Ah que bom!

Christi: Como você pode me despedir, agora como vou cuidar do meu filho?

Bruno: Agora estou arrependido de ter feito isso com você, esse assalto me fez perceber que é

melhor as pessoas estarem trabalhando do que nas ruas roubando. Se você quiser posso te dar

mais uma chance!

Christi: Muito obrigada senhor, eu fico muito grata!

Henry e Gabriel chegam e veem Christi.

Henry: Mulher o que você está fazendo aqui? Vamos pra casa agora.

Christi: Filho porque você fugiu de casa? Lá em casa resolvemos este assunto, vamos home

meu dia foi muito grande tenho que te contar tudo o que aconteceu! Tchau Cristiany, depois a

gente se vê. Tchau chefe e muito obrigada pela chance!

Policiais vêem os ladrões nas ruas.

George: Eu não avisei que se visse vocês por aqui de novo ia prender vocês!

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Gustavo: Vocês estão presos.

Alemão: Querida que violência desse Brasil, mas ainda bem que não aconeceu nada, ninguém

se machucou, você está bem.

Bya vê aquela cena e fica brava.

Bya: Não vou mais trabalhar aqui! Estou com medo, vou pra bem longe…

Christi: Bom dia senhora o que gostaria?

Cliente: A minha conta veio muito cara gostaria de ver o que aconteceu.

Christi: Claro, espera só um minutinho que já vou resolver pra você. Pronto vi aqui que a

senhora mandou muitos torpedos e por isso a conta esta vindo cara.

Adilton: Muito bom senhora, Christi agora esta se tornando uma das melhores funcionárias,

parabéns.

FIM

Peça: Os personagens da minha vida

Mariza, amiga de Cam e David, conversam na rua.

Mariza: Nossa, que bom Cam que você conseguiu passar no Cefet eim! Agora não são amigos

só de time, mas também de escola. Que bom!

Cam: É Mariza, a escolha da escola eu não sei não, mas de uma coisa eu sei; o GALO é a razão

do meu viver, disto eu não duvido. Sou GALO DOIDO!

David: Claro, já nasceu atleticano, aliás, atleticano doente!

Mariza: Existe outro tipo de atleticano?

Cam: Você vai ver, o GALO vai ser campeão do Brasileirão, da libertadores e do mundial! Os

cruzeirenses vão babar!

David: Vamos esperar o campeonato chegar viu? Depois ele leva ferro!

Cam: Ah! Com o galo é só alegria!

Mariza: Aí galera, falou! Tenho que ajudar minha mãe.

Cam: Tchau, até amanhã.

Um ano depois…

David: E aí cara, vamos pro primeiro jogo do timão?

Cam: Claro! Perder o primeiro jogo do timão? Vai ser mole pro GALO!

David: Ei, você sabia que a Samanta fez a prova pra cá? Ela vai ser nossa caloura principal!

Cam: Ela é meio esquisita, você não acha?

David: Por isso mesmo. Vamos dar uma força pra ela, sabe, protegê-la.

David(suspiro): Ai, ai. Vamos lá chegar nela…

Cam: Ei, por que essa cara de bosta?

David: Tava lembrando da Samanta.

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Cam: Credo, aquele bagulho? O que você tava lembrando ein?

David: Nem sei mais cara.

Cena 2

No bandejão… David dormia quando Cam gritou e disse:

Cam: David! Ta na hora do almoço, vamos nessa? Peguei ficha pra gente.

David e Cam entram na fila quando Fredie chega.

Fredie: E aí cara, vai um tônico pra abrir o apetite?

Cam: Sai dessa cara, tô fora!

David: Pode passa colega!

Samanta: E aí Fredie, tem um do bom aí ou é chuchu? Vê la ein?

David: Samanta, tudo bem?

Fredie: Ai, você conhece do meu produto, quer agora? Só pra abri o apetite?

Samanta: Vai anotando, depois te pago.

David: Vem pra cá, fica na minha frente

Todos reclamam: “Sai dai!”

Cam: Ei! Ela ta com a gente. Sai fora!

David: Ah, que saco Samanta, pára com essas drogas? Pra que usá-las?

Samanta: Ahhh véi, você não sabe o que é viver sem os pais que te apoam todo o dia!

O professor Zé Esponja chega e fala.

Zé Esponja: Não arruma desculpas filha! E se seu pai adotivo tivesse abusado de você? O

que você teria feito? Imagina? Estou aqui trabalhando honestamente, e… Só tenho uma triste

lembrança…

Samanta: Eu não tenho nenhuma triste lembrança. O que você acha disso?

Zé Esponja: Vou chamar as meninas da SAE.

Fredie: Vai chama! Escutei sua estorinha triste. Gostou do papai?

Zé Esponja: Pode ir para o final da fila moleque! Eu mando aqui!

Fredie: Olha que eu te mato, para de me encher.

Zé Esponja: Vamos ver colega!

Zé esponja sai de cena.

Fredie: Espera só você me paga! BOIOLA!

David: Calma gente, calma! Vai lá na moral, pega leve aí.

Samanta: Ah, to cansada de ser o capacho desse professor! Ele vai ver.

David: Calma Samanta!

Cam: Vamos entrar, eu to com fome.

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Cam: Ei, vamos combinar um jogão do GALO?

David: É! Que tal lá em casa? Tomar umas, curtir um som…

Fredie: Que dia vai ser cara?

David: Bem, só tem jogo quarta.

O professor Zé Esponja passa perto da fila e Fredie fala:

Fredie: Olha, não vai ficar assim não?

Cam: Cara, você é doidão!

Fredie: Ele ta ferrado.

Samanta: Calma Fredie, ele é meu.

Saída direita.

Cena 3

Os professores Natanael e Fred conversam.

Natanael: E ai Fred, você sumiu cara?

Fred: Sumi não, eu to na área. Ei, vamos dar um passeio?

Natanael: Que tal uma cachoeira, fazer uma rapel?

Fred: Que isso cara?

Natanael: Descer de cordas pelas cachoeiras. Que tal?

Fred: Nossa, deve ser a maior viagem, to nessa cara!

Natanael: Eu tenho todo o equipamento, vai ser legal!

Fred: Que horas vai ser essa parada?

Natanael: A gente sai cedo tipo, umas seis horas.

Fred: Não é cedo não?

Natanael: Até arranjar o equipamento demora. Vamos? Eu te levo.

Cena 4

Pink conversa com seus amigos.

Espeto: Nem tenho dinheiro mesmo. Me arruma aí?

Pink: Folgado!

Espeto: Pink: Está quase na minha vez. To morrendo de fome.

Espeto: Eu também mané, mas para de reclamar!

Pink: Ei, fala baixo, senão a gente perde o lugar no bandejão.

Olha lá, vem vindo aquele povo estranho.

Pink: Aqueles atleticanos doente?

Espeto: Ooou! Esta blusa é feia demais. Cadê o seu uniforme (provocando).

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Cam: Ué virou disciplinaria? (desmunhecando)

Espeto: É virei, por que? Vai encarar?

Cam: Pergunta não ofende.

Espeto: Boiolou rapozinha?

Cam: Eu vô te mostrar o tamanho da rapozinha “Porco Espinho”!

Espeto: Calma véi, eu tava brincando!

Pink: Que brincadeira hein?

Cam: Eu vô almoçar cara, não vou ficar atoa aqui não.

Pink: Vão embora espeto.

Cam: Vai queridinha.

Espeto: Você gosta viu?

No bandejão, o professor Soares passa.

Pink: Credo, esse professor tem um bigode feio demais!

Samanta: Eu acho legal.

Pink: Por quê? Seu pai tinha bigode?

Samanta: Eu não conheci meu pai.

Pink: Desculpa, eu só queria saber.

Samanta: Beleza.

Pink: Credo Cam, esta Samanta é doidona! (fala com todos)

Cam: Ela tinha um bigode horrível? Lembra David?

David: Como não, dava em cima de você o tempo todo.

Samanta: Você são nojentos (sai da fila nervosa).

Cam: Menina enjoada!

Cena 5

Samanta segue Soares até sua sala.

Soares: Samanta, que bom te ver. Seus trabalhos estão bons. Você é bem aplicada!

Samanta: Só nas suas aulas.

Soares: Você tem facilidade em história?

Samanta: Todos os tipos de História?

Soares: Como assim, moderna ou antiga?

Samanta: Todas.

Soares: Samanta, se você não parar com isso vou te suspender.

Samanta fica nervosa, o professor Zé Esponja entra em cena dizendo:

Zé Esponja: Eu concordo, esta aluna é muito mal educa!

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Samanta nervosa tira uma arma e diz:

Samanta: Esta foi a gota d’água! (ela mata os dois e sai correndo)

Cena 6

Samanta encontra com David no bosque.

Samanta: David eu gostava de você.

David: Como assim Samanta?

Samanta: Você era o único que se importava comigo.

David: O que está dizendo Samanta, eu gosto de você.

Samanta: Não! Não do jeito que eu quero. (Chorando, ela tira uma arma)

David: O que é isso Samanta?

Samanta: Adeus David.

Cena 7

Depois do tiro… David acorda no bosque.

David: Ahhhh!!!! SOCORRO!!!

Cam: Credo cara que pesadelo hein?

David: Este sonho parecia real cara! Vamos para a aula de artes, vamos.

Cam: AUMENTA O RÁDIO, É GOOOOOL!!

David: Gol de quem?

Cam: Danilinho, do GALO véi!

David: Beleza, agora sim eu acordei.

FIM

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Peça: Quem tem razão

Aplausos.

Apresentadora: Você! É, você. Você deixaria de amar sua filha por que ela engravidou? Ou

por que ela bebe? Ou por que você acha que ela é um caso perdido? É o que vamos saber no

nosso programa agora: “Minha filha me decepcionou” é o nosso tema de hoje. Vamos começar

com nosso primeiro caso: A Eliane é mãe da Ana Paula, que agora é Natasha. Eliane diz que

sua família é bastante conservadora, e suas outras três filhas não seguiram o mesmo caminho

de Natasha. Vem pra cá, Eliane (aplausos).

Eliane (senta): Boa tarde.

Apresentadora: Boa tarde Eliane. Quer dizer então que a Ana Paula, que agora é Natasha, não

corresponde mais com os padrões da família?

Eliane: É isso mesmo, quando voltou para casa depois da graduação no exterior, a Ana Paula

mudou. Eu não sei o que mais faço com aquela menina que acho que é minha filha, porque

antes dela ir pro exterior, aquela sim era minha filha. Agora que voltou, não parece mais minha

filha!

Apresentadora: Vamos convidar então a Ana Paula, que agora é Natasha, para entrar (entra

Ana Paula, aplausos) Boa tarde!.

Natasha (senta): Hum.

Apresentadora: Dona Eliane, o que mudou na Ana Paula agora é Natasha, usa salto 15 saia de

borracha, depois que ela voltou de viagem?

Eliane: Ah, ela não come mais carne, virou vegetariana! Não quer saber de estudar mais nada.

Só lê livros estranhos, não reza, não vai à igreja, só escuta rock, não quer mais saber de boa

música . Não sai mais com a família. Só quer saber dos amigos. Não penteia os cabelos, não

passa um blush, um brilho, uma maquiagem. Só esse lápis preto! E tem esses piercings

também… Essas tatuagens…

Plateia: Ohh!!

Eliane: Só posso ter jogado pedra na cruz! Acho que vou procurar um padre pra me confessar…

O problema deve ser meu, eu devo ter errado em alguma coisa e agora Deus deve estar me

castigando!

Apresentadora (pasma): Você tem algo a dizer, Ana Paula? (Ana Paula fecha a cara) Quer

dizer… Natasha?

Natasha: Não.

Apresentadora: Você não se preocupa com sua mãe?

Natasha (respira fundo, silêncio): Não (como se estivesse arrependida).

Apresentadora: Você só sabe dizer não?

Natasha: Não é isso ( um pouco nervosa, falando um pouco mais baixo)...

Plateia (indignada e interrompendo a fala de Natasha): Menina, o gato comeu sua língua?

Você não vê o tanto de problema que tem dado a sua mãe não?

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Natasha: O que vocês querem que eu diga? Já cansei de me explicar para minha mãe, mas não

adianta! Se nem ela me entende, vocês entenderiam?

Eliane: Quem disse que não te entendo?

Natasha: Entende mãe? Você não me apoia, me crítica o tempo todo, parece que faço tudo

errado sempre!!!

Eliane: ANA PAULA! Para com isso. Me diga que dia isso aconteceu?

Natasha: AHHH! O que você sabe da minha vida? Você procurou saber por que parei de comer

carne? Sabe o quanto a carne é prejudicial à saúde? Procurou saber por que parei de ir a igreja?

Você acha que para acreditar em Deus ou ser uma boa pessoa, tenho que ir a sua igreja? Sua

religião é melhor do que todas? Seu deus é melhor que o meu deus? São todos um só? Você diz

que minhas músicas e livros são ruins e ate mesmo estranhos, mas eles só são diferentes dos

seus. Mãe, eu não estou em um desfile de moda, não tenho que seguir seus padrões de beleza.

Você não me entende… e nem ao menos tenta! Mãe, eu não sou você!!! Cansei… pra mim

chega!

Apresentadora: Agora a gente vai ouvir um recadinho que o Felipe e a Ana têm pra dar pra

você ai de casa.

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Felipe: Chegou a nova câmera inovadora sensacional líder no mercado que é 7 em 1! câmera

fotográfica, câmera filmadora, web cam, celular, óculos escuros, trocador de fraldas e patinho

de borracha (repete rápido; repete lentamente)!

Quer que eu repita de novo? E a oferta é imperdível! Para os 14 milhões primeiros ligadores

vai um super selo brilhante! Você vai perder? UM SUPER SELO BRILHANTE! E, juntamente

com o super selo brilhante vai o manual de edição de fotos portátil; levinho, só 2 folhas mais a

capa. Você pode levar pra qualquer lugar! E para um número sorteado vai um mágico tripé de

10 cm! Ligue e ganhei, não dá pra perder, não é Ana?

Ana: É isso ai, Felipe!

Felipe: Ligue agora porque são só 121 parcelas de 25,98 $. Exatamente isso! 25,98 $ por uma

câmera 13.1mp com 7 funções!

Ana: Ligue já!

Brake.

Apresentadora: Vamos passar para o próximo caso: a Dona Lineide Claudiane da Silva mora

com a filha Karoláine e seus outros 6 filhos. Há três meses descobriu que sua filha, Karoláine,

de 15 anos, engravidou de Lindomiro. Entre, Lineide! (entra; aplausos) Boa tarde!

Lineide: Boa tarde…

Apresentadora: Dona Lineide, quer dizer então que… (interrompe)

Lineide: É! A Karoláine, uma menina, gente, de 15 anos, engravida de um pirralho, que não

trabalha, não tem condição, vive na barra da saia da mãe! Ah se eu encosto a mão naquele

moleque!

Apresentadora (toma o microfone): Bom, se acalme, Lineide, vamos chamar aqui a Karoláine.

Enter Karoláine! (entra; aplausos) Boa tarde…

Karoláine (senta): Boa tarde!

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Apresentadora: Vamos, antes de qualquer coisa, ouvir a plateia: boa tarde, seu nome e seu

bairro!

Maria de Lourdes: Boa tarde, meu nome é Maria de Lourdes, moro no istiviuonder, e tô aqui

pra falar pra Karoláine: Karoláine, minha filha, como você tem coragem de fazer isso com sua

mãe??

Karoláine: Sabe, a culpa não é minha… eu nem sabia o que é que eu tava fazendo… não deu

tempo nem de respirar na hora, foi tao corrido!!! Mas ah, sabe, a gente assiste novela, ai vem

um fogo assim, e a gente quer ser artista, nê, ai vem o fogo assim, ai... puff, já era!

Apresentadora: E você aprendeu algo com isso, Karoláine?

Karoláine: Claro, eu to na TV, num to?

Plateia: Ooh!

Lineide: Ainda tenho que ouvir isso…! Eu dei a minha vida por minha filha! Trabalhei, chegava

tarde em casa com seis filhos me esperando, o pai deles me largou… eu suei tanto a camisa, pra

isso! Pra ela ficar grávida nessa idade!

Karoláine? Mas a culpa não foi só minha! Eu não fiz o filho sozinha… e eu… sabe… eu não

tinha noção do que eu tava fazendo! Eu fui na melhor das intenções…

Maria de Lourdes (grita, sem microfone): De boa intenção o inferno ta cheio minha filha!

Lineide: Mas minha filha! Você mesmo falou.. na tv todo dia passa essas coisas! Se você fosse

esperta ia saber que a gente aprende é com o erro dos outros!

Karoláine: Mas mãe! Eu não tive culpa!

Lineide: A culpa foi minha então né (“caralho” é substituído por um beep)? Espera menina,

espera pra quando chegar em casa!

Apresentadora: Dona Lineide, a gente tem uma opinião da plateia. Qual seu nome?

Celma: Celma.

Apresentadora: À vontade Celma.

Celma: Olha, eu queria falar o que eu acho… Bom, pra mim, sua filha e uma safada pagando

de inocente! E você é uma mãe ausente, que agora que a bomba estourou, quer cobrar o que

não pode. Vocês não acham que as duas tem uma porcentagem de erro nessa história? Agora é

olhar pra frente e pensar nessa vida nova que esta a caminho!...

Lineide (interrompendo Celma): Olha… eu posso falar? Ta. Escuta aqui minha filha, quem

você pensa que é pra dar lição de moral na minha vida? Cuida da sua! Eu sei muito bem o que

eu faço com minha filha, eu criei ela muito bem criada ta? Eu não sou madame. NÃO SOU

MADAME! E saio pra trabalhar é cedo pra po comida dentro de casa! Você não sabe das coisas,

então não intromete não, fazendo favor viu7 minha filha?! Se a Karoláine não tem juízo, a culpa

não é minha não! A culpa é dela mesmo! E desse safado sem vergonha, filho da (beep) desse

Lindomiro! Você não sabe de nada! Deixa que meus problemas eu resolvo sozinha ta, dona

Celma? Ah… a gente trabalha feito louco...

Apresentadora: Dona Lineide a senhora devia se acalmar. Enquanto isso nós vamos pros

intervalos e voltamos já com mais Quem Tem Razão!

Comercial 2

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Livia: Uma rapidinha aqui no seu intervalo, com mais um teste com nosso detector de mentiras

Pro66! Vocês sabem, né? Nosso alvo de hoje é o escritor revelação do momento, que escreveu

os livros “Teatro pra Quê? Eu quero é TV” e “Como fazer idiotices - digo - sucesso no Brasil”!

Abelardo Gusmão, aqui pra você agora! Porque vocês já conhecem? Quem sabe faz ao vivo!

Abelardo: Olá!

Livia: Abelardo, vamos colocar aqui o nosso detector de mentiras (colocando) e você já estará

sujeito aos testes. Lembre-se de que não temos muito tempo! Está preparado?

Abelardo: Eu sempre estou preparado (soa o apito negativamente)!

Livia: Ok, vamos às regras: se você conseguir permanecer na máquina por mais tempo que o

nosso participante da semana passa, nosso querido Marcão do Macarrão, você concorrera ao

prêmio de 15 tirinhas coloridas. Tem sempre que falar a verdade, entendido?

Abelardo: Entendido (apita negativamente)!

Livia: Abelardo, detectamos uma mentira, seu saldo de mentiras está acabando. Vamos às

perguntas: Você está satisfeito com seu sucesso, com sua vida?

Abelardo: Claro que estou! (apita negativamente) Esse negócio tá de sacanagem (espera o

apito)! Viu? Não apitou (apita negativamente) Carambola!

Livia: Bom detectamos outra mentira. Seu saldo não está muito bom.

Abelardo: Oras, não sou covarde (apita negativamente), vou até o fim (exaltado).

Livia: Estamos notando uma exaltação, Abelardo, você está se sentindo bem?

Abelardo: É claro que estou me sentindo bem (apita negativamente)! (explode) CHEGA!

CHEGA! Claro que não estou satisfeito! Tenho um metro quadrado, um olho vidrado na

televisão! Tenho um sorriso comprado a prestação! Tenho uma pressa danada, não paro pra

nada, não presto atenção! Sou um típico homem do século XXI!

Cansei de ser o homem que ficava sentado sozinha na rua por teimosia não encontrava

companhia! Mas para casa eu não ia de jeito nenhum! Porque em casa a roda já mudou, que a

moda muda, a roda é triste, a roda é muda em volta lá da televisão!!!!! O que dizer a nossos

jovens que “colam” os olhos na televisão? Como convencê-los a desligar o aparelho

responsável por exibir um mundo maravilhoso que não passa, na verdade, de uma mera ilusão

que jamais podemos presenciar? De nada adianta pedir, acalmar, implorar para que eles

desliguem a “caixa das maravilhas”, eles não desligam e, ainda pior, sequer darão ouvidos ao

que foi dito, afinal, estão “vidrados” na programação. Claro que eu também quero esse mundo

maravilhoso!

Livia: Bom, o seu tempo ta esgotado. Voltamos agora para Quem Tem Razão! É com você

Márcia!

Apresentadora: Obrigada, Livia. Bom, agora nós vamos conversar com a Melissa Heiderich,

mãe da Clarice que diz “Minha filha não é mais a mesma. EU pago os melhores colégios, as

melhores roupas, e ela joga tudo pro alto com festas, bebedeiras e subúrbios”. Pode entrar

Regina (entra). Então, a Clarice não da valor para o que você deu pra ela?

Melissa: É isso mesmo. Eu e meu marido somo advogados, queríamos que a Clarice seguisse

nosso caminho, investimos nela. Sempre soubemos que ela tinha uma inteligência

fora do comum. AH! O meu bebezinho não saía sem avisar, estudava direitinho… Mas agora?

Sai, bebe, se droga… e ainda está dormindo com um cara por noite! Eu não sei o que eu faço…

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Apresentadora: Bom, é uma situação complicada mesmo… Vamos chamar a Clarice, filha da

Melissa, que diz “Ninguém respeita minhas decisões, o meu jeito de ser”.

Clarice (bêbada, entra): Boa tarde!

Apresentadora: Clarice, o que sua mãe disse é verdade?

Clarice: Oi? Verdade? (perdida)

Apresentadora: É, você sempre faz isso?

Clarice: Não, não… eu só sei que eu cai da espaçonave! E olha aqui, eu tenho um batidão pra

ir agora, se você me dá licença, eu vou indo…! (levantando)

Melissa: Se você der um passo eu corto a sua mesada! (Clarice senta)

Clarice: Pô cara, eu to mal! Minha vida é uma merda! Eu quero morrer! Ninguém gosta de

mim… só querem me usar, me mostrar “olha a bonequinha da mamãe”, “olha, ela faz curso

disso disso e daquilo…”. (arrota) Meus pais nem se importam comigo cara… (soluça) Ow…

o bagulho tava da hora! (rindo) Eu to passando maaaaal… (vomita, contra-regra) Eu quero

vodka! (baixando o tom de voz) Atirei o pau no gato to to… (senta puxada discretamente pela

mãe. Cabeça Baixa )

Silêncio curto.

Apresentadora: Bom, temos uma pergunta da plateia…

Edhite: Oi, meu nome é Edhite, e eu tenho uma pergunta pra Melissa. Melissa! Você ainda dá

mesada pra sua filha? É isso aí! É você quem financia o desvio de conduta da sua filha! Toma

vergonha na cara! Você tem é que amarrar sua filha dentro de casa, no pé da cama! Ela tem que

levar um corretivo, isso sim!

Bruno: Nada disso! Que espécie de seres humanos são vocês? Nunca passaram pela nossa fase

não? Nunca precisaram de aceitação ou de aparecer? Vocês nunca tiveram 16 anos? Vocês não

tem coração ?(Clarice chora)

Clarice: É isso aí, tudo o que eu queria era ser aceita! Essa vida de ser mimadinha cansa!

(chorando) porque todo bêbado chora? (abraça a apresentadora) desculpa, eu não queria dar

vexame (abraça o câmera) aaaah, eu sou uma aberração, eu te amo, cara! (abraça Bruno) eu

amo vocês!!

Melissa (chorando): Ô meu bebê! Não chora, mamãe tá aqui! Você quer fazer compras?

Bruno: Melissa, eu acredito que fazer compras não seja a solução mais adequada para os

problemas. Talvez sua filha precise de mais afeto, e não de dinheiro.

Melissa: Ah!

Apresentadora: Bom, vamos falar com a nossa psicóloga, a Dra. Bárbara Brant, e ouvir o que

ela tem a dizer: Dra., qual seria o seu conselho para cada uma das famílias?

Bárbara: Primeiramente, boa tarde Márcia, boa tarde plateia, boa tarde mães, boa tarde Clarice,

Karoláine e Ana P… Natasha. Bom… a primeira família, eu acho que grande parte da culpa do

problema é da mãe, mas, a filha também está errada. Só um minuto… uhn… Ficar criticando a

filha não adianta, tem que tomar uma providência, tentando entende-la um pouco. Ahn… A

segunda família… bom, a filha e uma criança criando outra criança e a mãe deveria apoiá-la,

porque agora não adianta mais ficar acusando-a… só que… ah, só um segundo… bem, eu não

to conseguindo achar uma conclusão… (ri, sem graça). Já a terceira família… ah… a mãe mima

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muito a menina, mas ela é mãe, então… é… tipo, tirando uma conclusão geral, as três famílias

tem assim, tipo, um SUPER PROBLEMA…

A faxineira aparece por trás do estúdio, desliga todos os microfones, deixando só o dela

ligado. Câmera se vira para ela.

Faxineira: Oxé, meu rei, não quero ser atirada, mas já que estou sendo, vamos arriar o balaio,

né?

Beinho, todo mundo tem sua fase, não é? Porque quando acaba a gente carece de viver pra

aprender. Não adianta a gente botar gosto ruim na vida dos outros sem saber do que se passa.

Mas todo mundo tá boiando de saber que a gente tem que ter consciência e limite, né?

Repare só vocês , moças bonitas, eu não tive mãe, sabe? Ela largou meu pai e eu lá na Bahia, e

a gente passou dificuldade como um corno! Anda vira e volta tava lá eu vendendo coco na

rua… a gente passou muita dificuldade. Mas vencemos, meu rei! Não tínhamos tempo pra

cozinhar o galo não!

Hoje tenho duas criaturinhas, sabe, dois bacuri, que são meus amorzinho. Essas coisinhas foram

criadas com amor e também limite. Mas anda vira e volta tão lá os banana-mole se metendo

em encrenca. E você s acham que a criação basta pra que esses meninos saibam o quanto eles

tem sorte de ter a vida que tem? Claro que não… já falei, rapaz, a gente carece de viver pra

aprender. O que eu coloco neles é limite.

Fico curiando eles sim senhora. Dê cá um motivo pra não frear os meninos!

Agora repare a vida que você tem, menina Clarice, tudo na mão e joga pelo ralo. Você não pode

achar que a vida é uma festa. Deixe de miolo de pote.

Você Natasha, mudou até de nome, menina? Aproveita que você teve chance de estudar, usa

isso a favor de você. Faz um esforço… ninguém é perfeito… e todo mundo precisa de um

adjuntório… sua mãe também precisa, beinho, cuida dela também.

Agora você, Karoláine, eu não sei não… esse bacuri tá ai e você não vai tirar… agora e esperar

ate que ele cresça e tratar ele com amor e limite, e botar mais juízo na cabeça dele do que sua

mãe botou na sua, né, beinho?

Bom gente, não vô amarrar o programa com corda não. Meu rei, vou dar o lute, vocês são

famílias lindas, conversem, se entendam e se compreendam. Tenham limite. De caju em caju a

gente erra, mas vamos pensar em corrigir isso, pra acabar a consumição. Quando acaba, meu

rei, todo mundo cresce e aprende. Rapaz você nunca passou por um problema de família e não

soube quem tinha razão?

Enfim, meu nome é Maria José, e carecendo de faxina, o telefone de contato é 0034456!

FIM

Peça: A Festa

1º Ato: O Encontro:

Lorena (para Ruth, Alfredo e Charlenne): Gente! Hoje tem balada de noite, vocês vem?

Ruth: Ah, eu vou! Estou muito animada hoje! Vou ver se o Pierre anima ir comigo…

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Alfredo: Vamos! Vou humilhar todo mundo dançando lindamente como eu sempre faço!

Charlenne: Tá bom Alfredo, todo mundo sabe do seu “dom” pra dança. Eu vou também. Vai

ser de funk?

Lorena: Eu sei que quem vai cantar é a dupla Cláudio e Abraão. Vou ver se consigo autografar

meu cd!

Alfredo: Cláudio e Abraão? Nossa, que decadência! Mas eu vou dançar do mesmo jeito!

Lorena: Então tá fechado! Nós vamos pra casa do João do Santo Cristo dar uma descansada e

depois a gente vai pra festa!

Ruth: Encontro com vocês na casa do João de Santo Cristo então!

2º Ato: Quarto:

Na casa de João de Santo Cristo, todos dormem. João do Santo

Cristo cumprimenta Augustus.

Augustus: Colé?!

João de Santo Cristo: Colé! (Toque Malaco)

Augustus: Bora acordar os mano?

João de Santo Cristo: Vamo lá, daqui a pouco tem festa lá em cima, na casa das prima…

(toca aquela buzina que enche o raio do saco!)

Augustus e João acordam as pessoas e fazem toques malacos com todo mundo.

João (para Maria, falando mais baixo): Acorda, hoje tem festa!

Maria: Não, sai daqui, quero dormir!

Alfredo(para Madalena e Maria, um pouco mais alto): Vamos… vai ser legal! Acorda. A gente

vai dançar!

Madalena: SOME DAQUI! Não quero dançar.

Augustus (quase gritando): Vocês duas vão SIM. A gente só vai sair daqui se todo mundo for.

Maria: Só vou se você for Madalena!

Madalena (impaciente): TÁ BOM, já que é assim…

Todos animados (menos Madalena e Maria) acordam e vão para a festa.

3º Ato: Festa

Todos na festa ao som de Cláudio e Abraão, Alfredo dançando.

Ruth (para Pierre): Vamos dançar… A festa tá animada e você querendo dançar música lenta?

Pierre: Ah, não tem uma valsa não? Por que tem que ser funk?

Janete: Pierre deixa ela aí, vamos comigo pegar uma bebida, o bar-man tá logo ali! (O bar man

Rogério junto de Valéria bêbada) )

Pierre: Vamos lá…

Rogério: Vocês vão de que?

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Janete: Ice. Ou batida? Ou tequila? Ah, me vem uma pinga mesmo!

Rogério: Vai com calma aí, viu?

Janete: Não preciso disso não… Eu viro um copo sem dó!

Rogério: Então tá bom! E você?

Pierre: Você tem água com gás?

Rogério: Ah por favor, NÉ?! Só pode ser um tipo de brincadeira!

Pierre: ÁGUA COM GÁS, POR FAVOR?!

Rogério: Você que manda, chefe! Tem doido pra tudo…

Janete puxa Pierre pro povão.

Madalena (Para Maria e Polly): Não to curtindo a festa. Quero ir embora… Só toca funk, que

horror!

Maria: Nem eu. Podia tocar Engenheiros… Ia ser tão melhor!

Polly: Vamos sair daqui? Não aguento mais!

Lorena: GENTE, ANIMAÇÃO! A festa tá bombando!

De repente Steven entra na festa e chama a atenção de todos.

Steven: Ai galera! Nossa, que música horrível. Dj, não dá pra por um Rock pra mim ai?

Qualquer coisa que seja mais pesada…

Todos cochicham sobre a chegada do cara que ninguém gosta.

Paulão: Hey, seu otário, ninguém te chamou aqui. Você entra assim na festa e já ta querendo

mandar nisso aqui?

Haroldo: Vou te mostrar quem manda aqui! Vamos Paulão.

Paulão e Haroldo batem no Steven. Julios entra na briga pra separar os três.

Julius: Parem de brigar aí!

Alguns comemoram a derrota do Steven.

Madalena: CALA A BOCA!

Maria: Gente, silêncio!

Polly: Olha o que vocês fizeram.

Maria: Vocês não têm coração. O menino não fez nada de mal, e vocês batem nele?

Madalena: Pra que essa comemoração toda? Vocês só conseguiram acabar com a festa que já

tava ruim…

Polly: OLHA! ELE TA MEXENDO…

Steven levanta.

Valéria: Olha, um Pokémon! Qual será esse? Pode deixar comigo! Eu sempre ando com minha

Pokebola. Vou capturar ele de primeira, quem duvida?

Valéria joga a pokebola, mas não consegue capturar Steven.

Valéria: Nossa! Isso sempre deu certo. Justo hoje que poderia ser meu dia de sorte eu erro ele!

VAI EMBORA DAQUI!

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Steven sai da festa. Cláudio e Abraão continuam cantando.

FIM

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ANEXO I – Peças apresentadas em 2009

Peça: As Forças do Universo

Cena 1

(Entram Flávia e Bruna)

Carvalho (confiante): Sou um carvalho grande e robusto, e você apenas uma plantinha frágil,

qualquer sopro do vento te leva.

Plantinha (gaguejando, insegura): Você não sabe se isso é sempre o mais importante.

Carvalho: Sempre foi o mais importante, você está apenas com inveja.

Cena 2

(Entram Júlia e Luiz)

Vevê (feliz): Ai gata, a noite foi ótima...!

Cristina (intensa): Foi mesmo! Mas não fala nada pra ela, hein?

Vevê: Chegamos, falou gata!

Cris: Tchau, me liga, tá?

Vevê se despede de Cristina e volta para o carro.

Cena 3

(Entram Júlia e Carol D.)

Cris (no telefone com Marcela): Marcela, onde você está?

Marcela (determinada): Tô chegando ao parque.

As duas se encontram.

Marcela: Oi Cris, tudo bem?

Cris: Tudo ótimo, e você?

Marcela: Também… mas e ai, me conta como foi o encontro com o Everaldo!

Cris: Ai amiga, foi lindo….

Marcela: Sério?! Olha, aquela não e a Denise?

Marcela e Cristina saem andando e encontram com Denise.

Marcela e Cris: Oi Denise!

Denise (triste e com seriedade): Ah! Oi Cris, oi Marcela! Tudo bem?

Marcela: Tudo ótimo e com você?

Denise: Ah, que bom! Também to ótima.

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Marcela: Nossa Cris, conta pra ela do encontro, ela não vai acreditar…

Cris: Ai Denise, eu fiquei com o Everaldo. Foi perfeito.

Denise: Sério Cris? Nossa, ele e muito lindo! Mas ele não tem namorada?

Cris: Shii…!

Marcela: Tem sim, mas não comenta nada com ninguém! Deixa baixo…

Denise: Aaaah, pode deixar! Meninas, tenho que ir ali, depois a gente conversa mais. Beijos.

Cris e Marcela: Vai lá, beijos.

Denise continua andando, enquanto Cris e Marcela continuam sentadas

e conversando.

Cena 4

(Entram Tainá, Jennifer, Gustavo, Carol S. e Danielli)

Viviane está sentada e vê Tainá passando.

Viviane (coim seriedade): Oi amiga! Quanto tempo… Tudo bem?

Cecília ( com estranheza): Oi, tudo ótimo! E com você?

Viviane: Tudo bem também! E ai, me conta das novidades…

Cecília: Nossa! Você não sabe do que aconteceu: O Vevê traiu a Débora com a Cris!

Patrícia passa, para e ouve a conversa.

Viviane: Sério? Que cachorro! Mas o que você acha disso, hein?

Cecília: Ah, mas a Cris e bem safada também…! Ela era amiga da Débora, ou pelo menos

parecia ser....

Entram André e Bruna, tentando se enturmar.

André (tímido): Olá.

Bruna ( tímida e confusa): Tudo bom gente?

São ignorados por Viviane e Cecilia e saem da cena.

Viviane: Mas então, voltando ao assunto (ironicamente)... Eu sempre achei aquela Cris uma

falsa! Coitadinha da Débora…

Cecília: Mas eu acho que a Débora não vai deixar barato!

Viviane: Também não! Mas e aqueles meninos hein (Olhando para Gustavo e Bruna) ? Que

povo intrometido

As duas saem andando.

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Cena 5

(Érika, Danielli, Carol S, Adriano, Gustavo, Andressa, Carol M.)

Patrícia chega para contar o que ouviu da conversa para o grupo.

Patrícia (com seriedade): Luísa! Você não sabe… Sabe o Everaldo, aquele meu amigo?

Então… ele ficou com a Cristina!

Luísa (tímida): Meu Deus! Não acredito! E eu que achava que a Cris era uma santinha…

Chegam Bruna e Gustavo.

André (tímido): Oi, galera!

Bruna: Nossa gente, do que vocês estão falando?

Luísa: E isso é da sua conta? Eu nem te conheço, sai fora…

Danilo (distante): Você fazia algum esporta na sua escola?

André: Não.

Danilo: Então o que você fazia?

André: Nada.

Danilo: Então você nada? (Risos).

André: Não, eu gosto de xadrez.

Fernanda: Por que a gente não pode conversar com eles?

Melissa: Vocês nem conhecem eles ainda!

Patrícia: Por favor, olha com quem vocês estão querendo se misturar!

Luísa: Se vocês quiserem conversar com eles podem ir! Mas no nosso grupo eles não ficam!

Saem Danilo Luísa e Patricia.

Cena 6

(Carol S, Gustavo, Carol M. e Andressa)

Bruna: Valeu por conversarem com a gente!

André: É, nós dois ficamos bem de lado por aqui…

Fernanda (feliz): Ah gente, não esquenta com isso!

Melissa: Mas, apesar disso, vocês estão gostando da escola?

André: Sim. Aqui tem aula de xadrez. (André sorri).

Bruna: Da escola sim, mas até agora conversar com alguém era um problema… Valeu

mesmo.

Fernanda: Ah, vocês vão se adaptar rápido.

Melissa: Vão mesmo, que tal nos sairmos juntos agora?

Bruna: Ah, claro, vamos sim. (Bruna sorri).

Os quatro saem de cena.

Cena 7

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(Jady e Isabela se encontram)

Débora encontra com Denise ao acaso.

Denise: Ei Débora, tudo bem?

Débora: Oi Denise! Tudo e com você?

Denise: Tudo ótimo também… E aí, como vai o seu namoro?

Débora: Vai muito bem! Acabei de encontrar com ele.

Denise: Vai beeem??!

Débora: É, por que?

Denise: Nossa! Você não sabe o que aconteceu! A Cris ficou com o Vevê!

Débora: A Cris? O Vevê? Não acredito! Ela era minha amiga e sabia que ele era meu

namorado. Onde é que ela está?

Denise: Encontrei com ela e com a Marcela agorinha! Elas foram ali, naquela direção.

Cena 8

(Jady se encontra com Júlia)

Débora: Sua vaca!

Cristina: O quê?

Débora: Não acredito que você ficou com o Vevê! Como você foi capaz?

Cris: Queeem?

Débora: Um moreno, alto, bonito e sensual! O MEU Vevê!

Cris: Ah, ele era seu? Foi mal, não sabia…

Débora: Sua cínica! Você sabia!

Débora dá um tapa no rosto de Cristina.

Débora: Galinha! Vocês se merecem! É um pior que o outro!

Marcela: Que isso Débora?

Denise: Calma gente!

Marcela: Corre Cris, liga pra ele e avisa que ela descobriu tudo!

Cena 9

(Adriano e Luiz no bar, Cris liga)

Danilo: E ai mano, colé!

Vevê: Colé velho! Como é que cê tá?

Danilo: Beleza! Pegador hein… fiquei sabendo que você catou a Cris…

Vevê: Ela é um filé, não e não?

O telefone toca, é Cristina.

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Vevê: Oi gata! Fala aí!

Cris: Vevê, ela descobriu tudo! Corre aqui pra me buscar!

Desligam o telefone.

Vevê: Cara, ela descobriu!

Danilo: Sinto muito velho…

Vevê bebe mais cerveja.

Patricia: Calma sô! A gente tá aqui pro que der e vier… Fica calmo, vai ver a Débora nem

está tão nervosa assim…

Vevê: Ah, foda-se! Eu nunca gostei da Débora mesmo… Vou encher a cara e aproveitar!

Depois de beber mais um copo de cerveja, ele decide ir embora.

Vevê: Valeu galera! Vou nessa!

Danilo: Cara, pega um táxi, você não tem condições de dirigir.

Patrícia: Verdade Vevê! Se quiser, eu te deixo em casa…

Vevê: Me solta! Deixa de ser careta, não tem nada a ver… Tá achando que eu tô bêbado? Não

to nada cara…!

Pega o carro e encontra com a Cris.

Cena 10

(Todos participam)

Débora Vê Everaldo e Cristina no carro.

Débora: Cansei de tanta falsidade!

Sai e vai para o lado dos “bonzinhos”.

Everaldo perde o controle do carro, por estar embriagado e atropela o

carvalho! O carvalho cai sobre as personagens “más”.

Plantinha: De que adianta você ser mais forte e arrogante sendo que eu sou mais maleável,

mas tenho as raízes mais profundas e consigo me reerguer?

FIM

Peça: A ficha

Elaboração: Vinicius e Gleika

Aula de português, começo da aula, o professor de português entra na sala.

Professor: Alunos, hoje iremos estudar a história de Camões e o Arcadismo. Por favor silêncio.

Os alunos continuam falando sem parar e o professor se irrita após várias tentativas

de iniciar a aula.

Professor: Elt 1b… Elt 1b… ELT 1B. É IMPOSSÍVEL DAR AULA AQUI, SERÁ QUE

PODEMOS COMEÇAR?

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Silêncio momentâneo, o professor começa a aula. Durante a

explicação dois alunos começam uma discussão não tão silenciosa.

Gleika: Hummmm, nossa, que fome!

Danilo: Nossa! Também to!

Gleika: Preciso da primeira ficha do “Bandejão”, se não vou perde meu tempo na fila, HRM.

Danilo: Só se for a primeira depois de mim.

Gleika: Hm, nem vem, vou pegar a primeira e pronto!

Danilo: Então vamos fazer uma aposta. Vamos ver quem pega a ficha primeiro?

Gleika: Demoro, R$10,00?

Danilo: Fexo!

O sinal bate e o professor anuncia irritadamente o final da aula e sai mal

humorado. A aluna se gaba para a turma.

Gleika: HA HA HA! Fiz uma aposto com o otário aqui, trouxa, vai perder!

Danilo: Ah! Falou viu? Vamos ver quem vai ganhar essa parada.

Alunos começam a se retirar para ir ao restaurante do colégio. Gleika ,

maligna, arquiteta seu plano na fila do “bandejão” com Jayne.

Gleika: Jay, vem cá vem!

Jayne: Fala que eu te escuto pequena.

Gleika (na frente do palco): Preciso da sua ajuda, tenho que ganhar aquela aposta! Me ajude a

enganar o trouxa do Danilo. Fala assim, fala que o Fernando ta vendendo uma ficha do

bandejão… Não, fala que ele ta vendendo A FICHA Nº 1.(Olhinhos de vaga-lume brilhante)

Jayne: Ah! Aquela aposta que você fez n? Pode deixar comigo, ajudo sim.

Jayne aproximasse do Danilo que chega apressado ao restaurante.

Jayne: DANILO, DANILO, DANILO! Você não sabe o que eu descobri!? Você também ta

querendo a primeira ficha do bandeja?

Danilo: Sim Jay, porque?

Jayne: Por que eu descobri que o LALAU ta vendendo ela cara, vai lá, compra na mão dele.

Danilo: Noooooooh, brigadão Jay, vou lá agora!

Danilo corre pra onde esta o lalau

Freguês: Quanto é o pirulito de chocolate Lalau?

Lalau: Oh freguês, final de horário, terminando aqui, quero ir almoçar também, vou até fazer

um preço camarada pra ti.

Freguês: Qual é esse preço especial ai cara?

Lalau: Pra você, um cara boa pinta assim… só… 5 reais. (Fala abafado).

Freguês: POXA, 5 conto? Ta caro, ajusta o preço ai pra mim cara.

Lalau: Cara, final de horário, 5 reais.

Freguês: To com 3 reais aqui, faz pra mim?

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Lalau: Pô cara, assim você me aperta, faço por 4 pra ti mas não acostuma não viu?

Freguês: Pode ser né. (Pega no pirulito e vai embora satisfeito).

Danilo chega correndo.

Danilo: E ai Lalau, fiquei sabendo que tas vendendo a ficha número um do bandeja, sério?

Lalau: To sabendo disso não cara, te passaram a perna viu…

Na fila, Lariane chega com um olhar sensual, pede para Bernoli

deixar ela furar fila na frente dele.

Lariane: Posso entrar na sua frente?

Bernoli: Claro, pode entrar.

Lariane: Obrigada.

Danilo volta correndo para pegar a ficha. O tio gordinho da ficha

chega e começa a distribuir as fichas. Gleika pega a ficha número um e sai contente

comemorando e se exibindo.

Gleika: Olha a ficha! OLHA A FICHA!!

Danilo chega puto da vida.

Gleika: Peguei a primeira ficha! Lalalalala… GANHEI, ganhei a aposta. Ha ha ha. Pode ir

passando meus dez reais seu troxa.

Danilo: R$10,00 bosta nenhuma! Você me enganou, mandou a Jay falar merda comigo só pra

me sacanear! Tudo bem. Toma os dez reais mas você vai se arrepender disso! Pode ficar com

essa ficha.

Milney, ao ver a confusão no bandejão.

Milney: Que vergonha, não acredito no que vejo. Dirá Descartes: “Meus sentidos me enganam”

Aristóteles, na ética, disse que se deve procurar o equilíbrio, o justo-meio. Pensem nisso,

procurem ser catastemáticos.

Gleika: Danilo, eu meio que te enganei mesmo, então pode ficar com a ficha… e toma seus dez

reais.

Danilo: Ah, valeo. A gente se vê.

FIM

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Peça: Está no Ar

Cena 1

Johnny: E aí cara, a gente vai fazer aquele assalto? Tô precisando de grana (da uma cheirada

no pó)!

Goiaba: Claro que vamu, mano, preciso comprar o leite pras criança, truta.

Johnny: Pô Goiaba, tô com medo de fazê esse assalto, vai que os homi pega a gente!

Goiaba: Deixa de ser frouxo parcero, noís precisamos do dinheiro, é só ficar esperto que não

pega nada não.

Johnny: Tá bom. Aquela boate vai funcionar hoje. Vamu entrar lá e passar o rato naqueles

playboys. Porque é assim né: rico é playboy e pobre é motoboy.

Goiaba: Falou sussa. Demorou. Mais tarde te dou um toque e a gente se encontra lá na porta.

Johnny: Tranquilo. Aqui, tem certeza que nóis vamu sair limpo do assalto né?

Goiaba: Confia em mim, mano. Eu sei o que to fazendo.

Cena 2

Danielle: Nó Pati! Que festa da hora que você descolou pra gente hein?!

Patrícia: Eu sempre arrumo festinhas boas né gente! Nunca convido vocês pra furada, só festa

top.

Danielle: É, fazia moh tempo que não rolava uma festinha 0800 pra mim. Tô adorando...hehehe.

Cristiane: Ou isso aqui ta bombando! Pra ficar melhor só falta mesmo um carinha se soltar

né??! O Caio não tira o olho de você Pati…

Patricia: Nossa já faz um tempão que eu to dando mole pra ele também. Espero que ele chegue

em mim hoje de uma vez!

Danielle: Ué Pati, você não ta namorando mais não?

Patrícia: Eu não. Terminei já vai fazer duas semanas. Não aguentava mais aquele pé rapado!

Kkkk.

Cristiane: Acho que ela tem razão. Além do mais aposto que hoje rola a Pati e o Caio.

(Ri e vira-se para o Heitor).

Vem aqui curtir a festa com a gente, Heitor!

Heitor: To indo. Antes quero pegar um copo de vodka e um Red Bull pra animar mais um

pouquinho as coisas.(rsrsrs) Borá lá?!!

Direcionam-se ao bar e pegam as bebidas.

Caio: Nossa essa festa ta muito doida! Se pah, rola até de virar a noite aqui.

Daniel: Ta mesmo. Por mim fico aqui durante dias… Zueira. Mas que ta boa, ta!

Lucas: Eu nem queria vir. Ia perder essa festa, ainda bem que eu mudei de ideia Hahahaha.

Caio: O gente ta cheio de gatinha aqui. Bora lá falar com elas?

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Daniel: Espera todo mundo se soltar. Tá cedo ainda…

Lucas: O Caio ta de olho é na Patricia né?!! Hahahaha

Caio: É, vou lá conversar com ela pra ver se rola alguma coisa.

Daniel: Duvido que ela te dê mole.

Daniel e Lucas ficam rindo.

Caio: Vocês vão ver…

Caio conversa com Patrícia e os dois saem para um cantinho, na volta ele diz:

Caio: Falei pra vocês! Foi fácil, fácil. Kkkkkk

Cena 3

Ouriço: Nossa que festa chata! Preferia estar em casa lendo meus livros.

Lagosta: Deixa de viadagem, vei. Tá chato porque você fica ai parado perdendo o bom da festa!

Ouriço: Ah! Não to aguentando mais esse lugar. Acho que já vou vazar! Não sei o que eu vim

fazer aqui.

Lagosta: Relaxa, não vai agora não. Daqui a pouco eu também vou aí eu te dou uma carona.

Kat Line: Para de resmungar e vamos pra pista dançar! Animação gente!

Ouriço: Ta bom então, mas só um pouco.

Lagosta: Kat Line você viu o Caio ali atrás com a Patrícia!! Maior pegação… Kkkk.

Kat Line: Sério?? Não vi. Pensei que ela tava namorando aquele doidão ainda, mas pelo visto

partiu pra outra né?!

Ouriço: Ou vocês ao ficar ai fofocando ou vão dançar?

Lagosta: Já estamos indo seu mala.

Na pista:

Erick: Nóoooooooo que festa louca (pula sozinho e começa a gritar)!!!

Igor (pensando alto): Ah cansei.

Cena 4

Goiaba liga para Johnny.

Goiaba: Mano, já to aqui na porta da boate, pode vir e não esquece de trazer as pistolas pro

nosso trampo falou?

Harry: Aqui é da Delegacia de Polícia. Quem é que ta falando?

Goiaba: Ah senhor, me desculpa. Diquei para o número errado, era pra eu ter ligado pro meu

namorado, o Jooohny, to esperando ele aqui na porta da boate gay e as pistolas são…

Harry: Para, para! Não quero saber das suas intimidades, me poupe.

Goiaba: Me desculpaaaaaaaaa.

Harry desliga o telefone e pensa alto:

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Harry: Esse mundo está perdido mesmo!

Goiaba (na porta da boate): Nó mano fui ligar pra você e quase fiz cagada! Acabei ligando

pros homi. Quase entreguei o assalto.

Johnny: Ta vendo cara, eu tava com medo de tu fazer cagada desde o início!

Goiaba: Relaxa mano disfarcei direitinho, o policial não vai suspeitar de nada.

Johnny: De boa. Vamo lá então que a gente não tem muito tempo. Eu fiquei sabendo que o

seguranã que ta lá é mó lerdo. Vamo tirar vantagem disso! EU entro e rendo ele.

Goiaba: Beleza. Enquanto você rende ele eu entro e anuncio o assalto. Mas vamos logo porque

mais tarde tem jogo do mengão.

Johnny: É mesmo! Vão borá!

Cena 5

Goiaba dentro da boate.

Goiaba: Todo mundo pro chão! Anda porra pro chão! E vão passando tudo que vocês tiverem

ai, anda caralho.

Johnny (para o segurança): Fica ai de boa ai viu mano, que nada vai acontecer com você.

Igor: Ah você é o ex-namorado da minha irmã não é? Jhonny não é isso?

Johnny: Não!! Meu nome não é Johnny! Você deve estar me confundindo.

Igor: É você sim seu filho da puta! Me lembro bem de você (toma a arma de Johnny).

Goiaba aponta sua arma para o Igor.

Goiaba: Solta ele agora senão eu atiro!

Danilo (grita histericamente): NOOOOOSSA, VAI TER UM TIROTEIO GENTEEE!! Ah nós

vamos morrer!! Socorroooooooo!

Kat Line sussura para Daniel.

Kat Line: Segura ele que eu tento pegar a arma.

Daniel: Caio! Solta a Paty e me ajuda a segurar esse cara aqui né?!

Johnny: Olha Goiaba, a Paty já ta com outro!

Goiaba: Claro né mano! Por acaso você achou que ela te amava?

Ket Line: Peguei a arma! Vamos prender esses dois aqui nesse armário até a polícia chegar.

Caio: Há! Pegamos eles.

Johnny: Viu Goiaba, nós fomo pegos, tava com medo disso desde o início. E o foda é que vamo

perder o jogo do mengão caralho!

Goiaba: A culpa é sua que ficou olhando pra Paty. Pelo menos agora não vou ter que me

preocupar com meu minino mais, eles vão receber ajuda por eu ta preso.

Johnny: É mesmo hein?! Agora vamo poder comer e durmir de graça, sem

preocupação nenhuma. Vidinha boa a nossa né não mano?!

Goiaba: Ou vai ser muito bom. Vou rever um tanto de amigo meu de infância tudo lá na

penitenciária!

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Harry: Cala a boca vocês dois e vão entrando no camburão, seus vagabundos!

Erick: Seus idiotas, não sabem nem cometer um assalto. Vão ser presos… Hahaha.

Ket Line: Graças a Deus tudo acabou bem. Bora gente, vamos voltar para a festa. Hehehe.

Cena 6

Na delegacia.

Jéssica (repórter da band): O que vocês dois larápios tem a dizer?

Goiaba: O meu direito é de ficar calado, além disso não falo com bandeirantes não , o meu

negócio é a câmara, o microfone pra mim é tudo! Morre diabo.

Jéssica: E você Jhonny, tem algo a dizer?

Johnny: Espero poder me dar bem com meus colegas de cela e também que ela seja bem

limpinha, com sabonete límpido e tudo mais, quase igual hotel. E que ninguém coloque a gente

no paredão, porque no final é muito ruim ver o bilau.

Jéssica: Como vocês podem perceber é crítica a situação de boa parte da nossa população.

Muitas pessoas perderam o bom senso e a decência. Aqui quem fala é a repórter Jéssica, da

delegacia José Pinto Ari.

FIM

Peça: Na Edição

Cena 1

Início da cena com as meninas voltando de férias e tomando um café:(sentido).

Bianca: Oi amigas!

Isabelle: Que saudades!

Logo após chegam Cris, Érica e Creide.

Isabelle: e ai Cris, como foi as férias?

Cris: Foi MARA!

Creide: Foi pra roça!?

Érica: Você acha que minha amiga vai pra roça?

Bianca: Minha amiga foi é pra Milão! Conta pra elas Cris!

Cris: Tive que ir NE! Apareceu uns desfiles de ultima hora! A Vitor Hugo insistiu tanto que

não tive como recusar.

Érica: E você Creide, onde passou as férias?

Isabelle: Aposto que foi pra lage! Tem outro lugar?!? (risos)

Bianca: Coitada! Pobre é foda!

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Creide: Peguei o maior bronzeado! Fiz um churrasco com os mano da favela. Férias melhor

não existe!

Isabelle e Bianca: Claro que existe!

Isabelle: Já nós, fomos fazer compras em Bervely Hills.

Bianca: Foi Maravilhoso! Vimos muitos gatinhos! O chefinho vai adorar o relatório sobre as

novas tendências que eu fiz.

Érica: Eu fui para a Grécia! Tirei muitas fotos ao lado daqueles monumentos incriveis.

Cris: Meu Relatório tem as ultimas tendências da Vitor Hugo.

Creide: No meu não tem dessa frescuragem de vocês ai não, o meu e a moda do povão mesmo!

Isabelle: Tinha que ser!

Cris: Então vamos trabalhar.

Cena 2

Os chefes conversando na sala da presidência.

A vice presidente (Lívia) chega com o presidente (Alef) e joga a bolsa na sua secretária.

Edite: Bom dia!

A secretária não ouve por estar no telefone e então

Edite tira o telefone da mão dela e grita:

Edite: EU DISSE BOM DIA.

Cristina: Bom dia senhora!

Edite: Cadê o trabalho das minhas filhas?

Cristina: Ta…

Edite: Quero na minha mesa em cinco minutos!

Cristina: Mas…

Edite: Não quero saber, CINCO MINUTOS!

Ricardo: Coitada amor, pega leve né.

Edite: CALA BOCA VOCÊ TAMBÉM!

Ricardo: Tá bom, não ta mais aqui quem falou!

Entram na sala da presidência e todos olham para eles.

Edite: Ai, nesse trânsito, meu motorista também é uma moleza. Já não se fazem empregados

como antigamente!

Ronaldo: Não tem desculpa, vocês sabiam que hoje é dia de montar a revista, ainda mais você

Ricardo, como chefe…

Edite: Cala boca seu energúmeno! Você é apenas um empregado!

Alef: Calma amor! (Se virando para Ronaldo) Você não tem nenhum direito de falar assim

comigo, como você mesmo disse eu sou o CHEFE! Fica quieto no seu canto, as regras sou eu

quem faço, eu sou a LEI AQUI!

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Aldrin: A chefia brigando como se fossem meros empregados, vamos trabalhar porque

o tempo é curto e você mesmo diz Ricardo, tempo é Dinheiro!

Eles saem para ver o trabalho dos empregados.

Cena 3

Os chefes passando em cada núcleo para ver o trabalho.

Equipe do sexo

Agnes: Tudo o que eu quero é dinheiro!

Bruna: Como foi a noite ontem?

Davidson: Foi ooooooootima amor!

Jessica: Onde você passou a noite Davidson?

Davidson: Fui no motel “Queima Rosquê”.

Bruna: Queima Rosquê? Não entendi? Lá serve rosquinha queimada?

Agnes: Queima a rosca sua burra! Dá ré no quibe! Descabelar o palhaço!

Jessica: Ha! tinha que ser burra! Ops! Quer dizer.. A Bruna!

Davidson conta a piada do relógio.

Jessica: Gente, silêncio, temos que trabalhar!

Agnes: Gente, vamos pensar, como vai ser o sexo nesse verão?

Bruna: O sexo desse verão vai ser quente! Ahaaaa!

Jessica: Bem quente!

Davidson: Very Hot! De frente, de ladinho, de costas! (abana a mão por causa do calor).

A chefia chega.

Ricardo: Minhas meninas...e… meninos… hehe, como vai o trabalho, preciso do relatório nas

minhas mãos agora!

Agnes: Calma chefinho, depois a gente conversa (maliciosamente).

Edite: Você se interessa tanto pelo trabalho…

Ricardo: Tem que ser né amor!

Os chefes saem.

Agnes: Eu ainda caso com ele.

Davidson: Que lindo o amor…

Agnes: Quem falou em amor? Vou casa com ele, matá-lo e tomar conta dessa empresa! Vou

mandar em todos e ser muito rica!

Davidson: Espertinha…

Moda

Meninas conversando sobre trabalho.

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Paulyne: Suas férias foram ótimas! Eu fiquei em casa mesmo.

Ronaldo: Suas incompetentes! Vão trabalhar!

Érica: Incompetente é a senhora sua mãe! Vai cuidar desse povinha que não faz nada na

empresa! Nós estamos trabalhando.

Ronaldo: Você está louca? Está demitida!

Ricardo: Quem manda nessa porra sou eu! Ninguém ta demitida não, só que quero esse

relatório em três segundos na minha mesa!

Ricardo: 3,2… CALA BOCA RONALDO! 2.

Bianca: Quer o relatório agora chefe?

Ricardo (fala com tom zombador para Ronaldo): Assim que se faz!

O chefe sai.

Creide (que observava tudo aquilo em silencio): Eles vão pagar, nos tratam como animais!

Celebridades

Sara: Antônia, olha só o que meu olhinho mágico me contou de primeira mão: Férias da família

Pitt no Havaí, será capa da nossa sessão de celebridades!

Antônia: Meu Deus, isso deve ser mesmo um sonho né? Imagina euzinha, no Havaí do lado do

gatão do Brad Pitt, uauuu… O lá em casa!

Sara: Aqui, quem pode, pode, quem não pode fica onde está mesmo! Garota, se liga! Isso é

uma coisa impossível, você é uma mera jornalista e não uma Angelina Jolie!

Antônia: Há… que isso! Eu sou quase ela, e olha que me falta pouco pra alcançar ela. A boca

eu já tenho , olha (fazendo bico).

Sara: (rindo) Vamos voltar com o serviço que estamos atrasadas e o chefe já está chegando.

Antônia nem percebe pois estava sonhando acordada.

Ricardo: Sonhar é tão bom né Antônia, trabalhar também sabia?

Antônia: Ah! Chefe, eu to trabalhando…

Ricardo: To vendo! E suas partes?

Sara: Eu tinha que entrevistar alguns famosos mas já que não da tempo, essa matéria do Brad

Ptt serve… toma (entrega a matéria).

Ricardo: Isso que é uma BOA empregada!

Drogas

Flávia: Gente, gente acabei de ficar sabendo que o projeto da legalização da maconha está no

ministério para ser aprovado.

Maneco: Mas se legalizar, ,muito mano da favela vai perder a renda.

Amanda: Mas gente, pra que legalizar? Usar drogas é tão ruim!

Josefa: Você nem devia tá aqui menina, você devia estar é no sexo!

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Amanda: Eu não, isso vai contra os meus princípios.

Flávia: Mas a gente não ta aqui para discutir o que vai ou não contra os seus princípios, nem o

que é bom ou ruim.

Maneco: E o que é ruim pra uns é bom para nós. A gente precisa de problema para ter trabalho.

Se o povo parar de questionar, a revista fecha essa bagaça.

Josefa: Cala boca todo mundo porque o chefe ta chegando.

Chefia chega.

Ricardo: Como anda a matéria por aqui?

Amanda: Chefinho, já está quase tudo ok (baixa o tom de voz) e se você quiser pode ficar tudo

ok entre nós também.

Maneco fala baixo: Piriguetagem aqui é mato.

Josefa: Essa ai se acha!

Edite: Que putaria é essa aqui? Que isso Ricardo? O que esta rapariga ta cochichando no seu

ouvido?

Ricardo: Nada amor, nada.

Josefa: A verdade dona Edite, é que essa dai vive tentando conquistar o chefe. Mas nunca vai

conseguir!

Ricardo (rindo): Nunca mesmo.

Edite: Rá, então é assim? Você vai encarar? Me chama de piscina e cai dentro minha filha!

Amanda: Eu não, isso vai contra os meus princípios!

Ricardo: Calma , CALMA gente!

Aldrin: Chega disso, parem com isso seu barraqueiros, me entregue esse relatório aqui, vamos

fechar a edição, Josefa, avise a todos que quero os representantes na reunião para fechar a

edição, AGORA!

Cena 4

Reunião

Ricardo: Bem, aqui estamos nós, lemos as matérias e eu achei satisfatório;

Aldrim: Eu não, mas não tem como né.

Davidson: A nossa matéria ficou ótima!

Ricardo: Alias, Davidson, venha comigo no banheiro, quero ter um particular com você! Tome

conta da reunião Ronaldo!

Ronaldo: Ok.

Os dois saem.

Edite: O que será? Vou la ver.

Edite se levanta e vai até o banheiro e pega os dois no flagra.

Edite: Aaaaaaa não… Além de tudo viado também! TUDO MENOS ISSO!

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Davidson: Eu amo ele!

Edite: Cala boca sua bicha!

Davidson: Biiiiiiicha não!

Todos na sala ouvem e vão ver o que é.

Ronaldo: hahahahah… Sabia que ele não tinha potencial para comandar essa empresa!

Todos ficam assustados com a situação, até que chega Creide entrando na

sala bruscamente e apontando uma arma para o chefe.

Creide: Seu viado, vem aqui agora, quero todo seu dinheiro.

Ricardo: Mas oque?

Creide: Cala a boca e passa, você sempre me tratou mal, como um animal, agora é a minha

vez!

Ricardo: Não faça isso comigo!

Creide: Passa o dinheiro agora!

Ricardo vai até o cofre e retira o dinheiro e entrega a ela.

Creide: Quem está por cima agora? E foge.

FIM

Peça: Preparação para o futebol

Gabriela arrumando a cozinha e Henrique estudando.

Henrique: Mãe, você pode me ajudar aqui?

Gabriela: Deixa eu ver, iii é matemática. Não sei nada disso não filho, é melhor perguntar ao

seu pai.

Chega o marido.

Manoel: Amor, esta tudo bem pode aqui?

Gabriela: Está sim. O Henrique está precisando de uma ajuda no dever, olha lá pra ver se vocês

consegue ajudá-lo.

Manoel: E ai filhão. Qual o problema?

Henrique: Ah pai, eu não consigo resolver estas questões de jeito nenhum.

Manoel: Meu filho, eu também não sei.

Henrique: É melhor eu ir estudar no quarto,né?

Manoel: Amor, a comida vai demorar?

Gabriela: Vai, hoje eu tive que ir ao mercado e só comecei a fazer o almoço agora a pouco.

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Manoel (um pouco nervoso): Mas os meus amigos vêm para o futebol, não tem nada pra

beliscar?

Gabriela (também começando a ficar nervosa):Como eu ia adivinhar que hoje tem futebol,

você deveria ter me avisado.

Manoel: Tá, desculpa. Mas como vamos resolver?

Gabriela: Que tal pedirmos pizza?

Manoel: Ótimo, vou ligar. De que sabor?

Toca a campainha.

Manoel: Amor atende lá.

Graziela: Oi mana, tudo bem?

Gabriela: Ei Grazi. Tudo jóia, e você?

Graziela: Como sempre.

Gabriela: Entra. Nossa, você não podia ter chegado em melhor hora. O Henrique ta precisando

de ajuda no dever. Você pode ajudar ele com seus dons matemáticos (risos)?

Graziela: Claro! Onde ele esta?

Gabriela: No quarto, pode subir.

De volta para a cozinha.

Gabriela: Já pediu sua pizza?

Manoel: Já sim tudo certo, sabores variados!

Toca a campainha.

Gabriela: Sua vez de atender.

Chegam os casais Isabella e Marcelo, João e Aline.

Manoel: Oi gente, pode ir entrando.

Gabriela: Eu pessoal. Bella, quanto tempo. Como você está amiga?

Isabella: Eu to ótima. Onde está o Henrique?

Gabriela: Está lá em cima com a Grazi. Ela o está ajudando com o dever.

Marcelo: E ai, quais são as expectativas para o jogo de hoje?

João: Vai ser um jogão, e estamos em vantagem já que o artilheiro do time deles está com dores

no ombro.

Aline: Amor, não fala assim, e se for algo grave. Se ele teve febre, inchaço algum sintoma

grave?

João: Na verdade, ao que tudo indica, deve ser uma tendinite sem complicações e que pode ser

tratada com a medicação correta.

Toca a acampainha novamente.

Gabriela: Já volto amiga. Já vai.

Chegam os casais Laura e André, Lucas e Carol.

Laura (com um tom de nojo): Ei amiga!

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Gabriela: Oi.Ei querida vai entrando.

Todos terminam de se comprimentar.

Manoel: Pessoal, ocorreu um pequeno problema e nós vamos ter que comer pizza. Alguma

coisa contra?

Laura: Eca, pizza engorda!

Aline: E só tem carboidrato. Mas por mim tudo bem, é bom extrapolar de vez em quando.

Toca a campainha (de novo).

Manoel: Deve ser a pizza.

É o entregador de pizza, e junto dele chega o casal Karen e Artur.

Artur: Humm, PIZZA!

Manoel: E aí Artur, oi Karen. Será que vocês podem me ajudar?

Karen: Pode ser. Oi gente.

Lucas: OPA, isso sim é entregar pizza.

Manoel: Agora que a comida japa chegou fiquem a vontade, tem cerveja na geladeira.

André: Agora sim vocês esta falando a minha língua.

Mulheres vão para a cozinha.

Marcelo: Amor, você se importa se eu ficar aqui na sala?

Isabella: Imagina amorzinho. Pode se juntar aos seus amigos, eu vou ficar lá na cozinha.

Marcelo: Qualquer coisa que você precisar é só me chamar. Tá bem?

Isabella: Pode deixar.

Na cozinha.

Gabriela: Nossa, ele é tão carinhoso.

Karen: É mesmo, quem me dera se meu marido fosse assim, pra ele é Deus no céu e Ronaldo

Esporte Clube na terra.

Aline: E o meu, só vive enfiado naquela faculdade desenvolvendo a tese sobre os efeitos do

álcool no cérebro.

Carol: OO meu é pior, ele se acha o garanhão! Nossa, isso me irrita.

Laura: Calma, isso é fase.

Carol: Quem me dera, ele é assim desde que a gente se conheceu.

Na sala.

Arthur: Alguém ficou sabendo se aquele zagueiro cabalo do outro time vai jogar. No último

jogo deles o cara quase quebrou a perna do armador numa rasteira por trás, e o veado do juiz

não deu nada.

João: É eu vi a reportagem, o cara teve que tomar 20 pontos na perna. Parece que eles nem

ligam para as complicações de uma jogada como essa.

André: Alguém quer mais uma (mostra a latinha de cerveja)?

Lucas: Pega uma pra mim.

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Manoel: E uma pra mim também.

O telefone do André começa a tocar.

André: Amor, é a Juzinha…

Laura: Moh, você tem que dar mais atenção pra sua filha e esquyecer o futebol de vez em

quando.

André: Tá, ta, ta, ta, ta, depois do jogo a gente conversa.

Laura: Oi filhota. Como vão as compras?

Júlia: Bem. Mami, por que o papai não quis me atender?

Laura: O futebol né, como sempre. Mas e ai, comprou algo interessante?

Júlia: Nossa, comprei aqueles sapatos da Le Soulier que eu queria e mais outros que eu gostei,

e uma bolsa da Prada simplesmente “perfect”. Só que ocorreu um probleminha, meu carro não

liigou. Será que tem como você pedir o papi pra vir me buscar?

Laura: Ah amor, seu pai tá preparando pro jogo e você sabe como ele é. Será que não tem

como você voltar pra casa de taxi? Deixa o carro ai.

Karen: Se você quiser eu busco, eu não estava querendo estragar a minha unha ajudando na

cozinha mesmo!

Laura: Se não for incomodo.

Karen: Imagina amiga. É até bom que eu compro uns vestidos novos.

Laura: Você ouviu Jujuh, a Karen vai te buscar ai. Pode ser? Ela quer ir às compras

Júlia: Claro mami. Beijinhos! Estou esperando!

Laura: Beijos! Que orgulho… Moh, a Jujutinha comprou, comprou… Sapatos da Le Soulier e

uma bolsa da Prada. Não é tudo de bom?

André: Ai minha carteira. Foi embora!

Na sala.

Lucas: Vamo aquecer pessoal! Aqui mesmo!

André: Só se for agora. Animo gente!

Artur: Concentração em gente, concentração.

Marcelo: Temos que vencer esse jogo, todo mundo preparado. Cabeça no jogo!

Manoel: Hora do hino.

Todos cantam o hino de forma desconexa. Enquanto isso na cozinha.

Gabriela: No mesmo lugar de sempre! Estou ansiosa pra te ver!

Gilson: Vou estar lá ou eu não me chamo Pinto, Gilson Pinto!

Na sala.

João: É agora ou nunca, vamos! E ficar ligado no jogo!

Manoel liga a TV.

Lucas: Tira da novela e coloca no jogo, rápido. Are Baba!

Todas as mulheres: Esses Homens!

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Blecaute. Aparece a Gabriela com o Gilson.

Gabriela: É por isso que eu também amo futebol!

Gilson: E eu amo mulheres!

FIM

Peça: Como Enlouquecer em 5 Dias

Narrador: Segunda feira às 7 horas.

(Todos os grupos entram, demonstrando suas emoções, e sentam-se, em fileiras. Em total

silencio).

Narrador: 12:20.

(Todos saem, ainda com suas emoções e continuando com o silencio).

Narrador: Terça-feira, professora de história faltou. Boa parte da turma sai de sala e um

pequeno grupo permanece para aproveitar melhor o tempo livre.

(Grupo Tranquilidade 1 entra, com expressões calmas e relaxadas).

Alice: Uai gente, cadê a professora?

Logan: Ela mandou no e-mail ontem, falando que não viria hoje. Vai ter reposição de aula

semana que vem! (Expressão de ¬¬’)

Luana: Nossa, só de pensar em repor essa aula já dá um desanimo…

Tales: Ah gente, já que a professora faltou, vamos ficar aqui na sala.

Alice: É mesmo, pra que sair agora?!

Luana: Vamos aproveitar pra adiantar os exercícios.

Logan: Vamos relaxar.

Tales: Eu fico com a ideia da Carol, eu não quero acumular dever e endoidar.

Logan: Tá, então podemos relaxar depois.

Luana: Tudo bem. Tanto faz. Alguém liga o ventilador, por favor?

Alice: Ah, eu vou dormir um pouquinho, porque eu já fiz esses exercícios.

(O grupo relaxa por alguns intentes, e logo saem de cena).

Narrador: Depois de uma aula relaxaste… 12:20.

Narrador: Quarta-feira, matando aula de inglês no bosquinho.

(Grupo Confuso entra, olhando para os lados, preocupados).

Bruna: Ai, será que a gente deveria ter matado aula mesmo?

Prytiney: Ah não sei. Acho que sim…

Leyla: Será que a professora vai dar alguma coisa importante hoje?

Iara: Ai, acho que não…

Bruna: Será que a gente não deveria, sei lá, voltar pra aula?

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Prytiney: Ah não sei. Acho que sim…

Leyla: Mas gente! Acham que a professora vai deixar entrar assim?

Iara: Sei lá… Talvez ela esteja de bom humor…

Prytiney: Ou talvez não!

Leyla: Nossa, isso tá me confundindo mais ainda.

Bruna: Pois é. A mim também. Vamos parar com isso.

Iara: O que vocês acham de adiantar e já comprar o lanche?

Prytiney: Ah, acho que não sei. Iara: Mas nem rola, tá muito cedo ainda.

Leyla: Ah gente! Que tal irmos pro campinho tomar um sol cedinho?

Bruna: Ah será?

Leyla: Vamos, vai ser bom…

Bruna: Ah será?

Iara: Ah, acho que pode ser.

Leyla: Ah vei, vamos ficar aqui no bosquinho mesmo.

Prytiney: Eh, pode ser, acho que aqui tá bom.

Bruna: Mas… é pode ser.

(Pequena pausa entra os confusos que se olham de maneira vaga e pensativa).

Iara: Do que a gente taba falando mesmo?

Leyla: Nem sei…

Prytiney: Será que alguém sentiu nossa falta?

Todos os confusos: Tanto faz.

(O grupo sai de cena, ainda parecendo perdidos e deslocados).

Narrador: Ainda não sei se eles se resolveram… 12:20.

Narrador: Quinta-feira na fila do bandejão, morrendo de fome e enfrentando uma tremenda

fila.

(Grupo Tranquilidade 1, Alegria, Carinho e Timidez entram em cena).

(Grupos formam uma fila).

Ordem da fila: Alegria, Tranquilidade1, Carinho e Timidez.

(Tranquilidade 2 entra em cena, caminhando em direção a fila).

Miguel: Nossa, a prova de química tava muito difícil… E tinha umas 15 questões.

Leticia: Ah, não preocupa não. Tem muito ponto para distribuir ainda, essa foi só a primeira

prova.

Thais: (chega e diz, animada): Nossa! Eu fui muito bem na prova!

Tiago: Ah, eu nem sei se eu fui bem ou mal nessa prova…

Maria: Vocês estão lembrando do trabalho de história e aquela lista gigantesca de química pra

semana que vem?

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Miguel: É mesmo… Eu nem tava lembrando! Mas preocupa com isso agora não… A gente tá

na quinta ainda.

Maria: E ainda tem dever de matemática pra amanhã…

Thais: Que tal a gente marcar de ir pra biblioteca fazer o trabalho? Dá pra ir amanhã depois da

aula! Ou segunda!

Leticia: Precisa não… Tem tempo de sobra pra fazer no fim de semana.

Tiago: Eu vou deixar pra fazer tudo na segunda, a gente só tem que entregar na terça…

Leticia: Veeeei, olha essa fila…

Miguel: Relaxa, nossa aula é só 13:50.

Tiago: Pois é, a fila nem tá dando volta no prédio hoje…

(Lívia fura fila encontrando-se com o grupo Alegria).

Thais: Vem gente, dá uma furadinha aqui também.

Maria: Precisa não. Nossa vez vai chegar…

Paty: Vamos lá nos nossos migos! Essa fila tá gigantesca!

Naomi: Por que não ficamos por aqui mesmo?

Paty: Só pra ver eles! Sem intenção de furar fila, naaao.

Naomi: Até parece…

(Carinho puxa a Timidez pela mão até chegarem no grupo Alegria).

Paty: Oi geeeeeente! Seus lindos. Amo vocês!

Naomi: Ah não, Paty, isso é muito cara-de-pau.

(Carinho puxa a Timidez pela mão e abraça todos do grupo Alegria. Timidez acena um pouco

de longe. Ambas entram na fila).

Narrador: Depois que conseguiram almoçar, foram para aula e só saíram as 17:30.

Narrador: E, finalmente, sexta-feira.

(Todos os grupos entram, demonstrando suas emoções, e sentam-se, em fileiras. Em total

silencio).

Narrador: 12:20.

(Todos os grupos - exceto Alegria- saem da sala demonstrando suas emoções e animação).

Camila: Ah, finalmente sexta feira, não aguentava estudar mais!

Davi: Né! Ainda bem que hoje nem teve exercício nenhum pra casa, vai dar pra curtir bem o

fim de semana.

Tess: E aí, gente, já tem programação pro fim de semana?

Tete: Ow, eu iria aproveitar pra dormir bastante, mas já que tá todo mundo aunando pra sair,

vou com vocês…

Davi: Só sei de uma coisa, ficar em casa é que não vou!

Camila, Tess: Também não fico não!

Davi: Isso aí, nem que seja tomar um sorvetinho ali na tia japonesa…

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Camila: Ah não, vamos comer lá no Pátio. Depois a gente aproveita e vê um filme, e amanhã,

festa na piscina, quem topa?

Tess: Nossa, e eu não tinha nada programado pra esses dias! (risos) Agora já nem sei se vou

ter tempo de descansar.

Tete: Ah, e domingo tem festival de sorvete, com uma apresentação de música japonesa e tudo

mais… Vamos lá assistir?

Tess: Combinado então! Vamos chamar a galera lá da sala, né?

(O grupo sai falando "Isso aí! É nóis!'' Coisas do gênero e rindo).

Narrador: Depois do fim de semana? Começa tudo de novo.

Grupos:

Alegria: Daniela, Fernanda Rocha, Flavia, Henrique e Lívia.

Carinho: Cristiane.

Confuso: Fernanda Sant'Ana, Iara, Layana e Lídia.

Rotina: Bruno (narrador).

Timidez: Claudia.

Tranquilidade1: Carolina Costa, Carolina Villela, Gabriel Ângelo e Gabriel Corrêa.

Tranquilidade 2: Danielle, Larissa, Guilherme Eugênio e Guilherme Santana.

FIM

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ANEXO J – Peças apresentadas em 2008

Um Natal Muito Louco

Ato 1

Cena 1

Rua pouco movimentada, noite. Perto de um supermercado. Leopoldo com sacolas na

mão, e de mãos dadas com Vanessa, indo ruma a casa. Marcão, no canto, assovia. Vanessa

olha (vira o rosto).

Marcão: Ih, gostosa, tá me devendo uma cueca!

Vanessa (para Leopoldo): Querido, vamos ali fazer umas comprinhas?

Leopoldo: Mas acabamos de sair do supermercado! Olha isso! Tem tanta sacola que eu já não

aguento mais carregar!

Vanessa: É...é… Amor, é que … eu esqueci de comprar umas coisinhas!

Leopoldo: Ah… Tudo bem, pode ir lá comprando que eu levo essas sacolas pra casa e te espero

lá.

Leopoldo sai de cena, para o lado esquerdo, com as sacolas. Vanessa vai ao encontro

de Marcão.

Vanessa: Por que estou te devendo uma cueca, Marco?

Marcão: Porque a minha estourou quando eu te vi! Tá desocupada?

Vanessa: Pra você? Sempre! Enrolei meu marido direitinho, ele nem te viu!

Marcão: Adoro esse meu amigo! Então, vamos?

Vanessa e Marcão saem de cena, pelo lado direito se pegando.

Cena 2

Nove meses depois, num shopping. Vanessa com barriga de grávida, em frente à placa

das Lojas Americanas, no lado esquerdo do palco. Pego o celular, digita alguns números.

Vanessa (Ao telefone): Alô? Cadê você? Já to aqui em frente às Lojas Americanas há meia

hora!

Marcão entra em cena pelo lado direito, falando ao celular.

Marcão: Tô chegando, tô chegando! Aqui eu! Que saudade! Quanto tempo a gente não se vê!

Nove meses!

Vanessa: Estou Grávida.

Marcão: Não! (olha para a barriga de Vanessa).

Vanessa: Sim! ( Olha para o rosto de Vanessa).

Marcão:Não! (olha para a barriga de Vanessa).

Vanessa: Sim! ( Olha para o rosto de Vanessa).

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Marcão: Não!

Vanessa (Segurando o rosto de Marcão para que ele não olhe mais para sua barriga): Sim!

Marcão: Parabéns! Você sempre quis ser mãe! (pausa). Peraí. Nove meses… nove meses! Esse

filho é meu?

Vanessa: Claro que é! Que tipo de mulher, você pensa que eu sou? Só casei com meu marido

por causa do dinheiro dele!

Marcão (desesperado) : Mas não pode! Não posso assumir este filho! Vou dizer pro Leopoldo

que o filho é meu!

Vanessa: Não! Não vai não! Meu marido acha que o filho é dele. Ele nem desconfia de nós

dois! Por favor! Não conta pra ele! Pelo amor de Deus! Você sabe, Meu marido é rico! Se ele

souber, ele se separa de mim e eu perco toda a grana! Faço qualquer coisa pra você calar a boca.

Marcão: Não, não! Vou contar! (pausa) Mas… não tenho condições de assumir o filho!

Vanessa: Por favor, não faça isso!

Marcão: Então já sei. Como sou médico, você abre uma clínica pra mim, uma clínica para

doentes mentais, um hospício! Aí eu vou ter dinheiro para manter esse filho!

Vanessa: Tudo bem, dinheiro não é problema. Desde que você não conte pro meu marido! Aí

a gente aproveita, interna ele e fica com o dinheiro dele.

Marcão: Isso! É só manter ele sempre com drogas.

Vanessa (interrompendo Marcão) : Ai meu deus! A bolsa! Estourou! estou tendo contrações!

Acho que vai nascer!

Marcão: Vem aqui! Vou fazer o parto!

Vanessa: Mas não é melhor ir para um hospital?!

Marcão: Não, não! Sou médico e sei muito bem como se faz um parto!

Marcão faz o parto de Vanessa, e Matheus nasce. Os três saem de cena, Matheus

carregado por Marcão ou Vanessa.

Cena 3

No hospício, Emília e Isabel chegam, Cláudia atrás da bancada.

Cláudia: Em que posso ajudar?

Isabel: Gostaria de falar com o Dr. Marco Rodrigues.

Cláudia: Ele não está. Gostaria…

Marcão (interrompendo Cláudia): Boa tarde, minha senhora! O que deseja?

Isabel: Boa tarde, doutor. Meu marido está internado aqui, e minha filha gostaria de passar o

natal com ele… Será que o senhor não podia dar alta provisória, só para ele passar o natal em

casa?

Marcão: Infelizmente não, carríssima. Ele está em tratamento, e não pode ser interrompido…

Emília faz sinais para isabel.

Isabel: Mas doutor, minha filha quer tanto…

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Marcão: Olha, nós vamos fazer uma festinha de natal aqui mesmo, se você quiser vocês duas

podem vir…

Isabel: Nossa, muito obrigada doutor! Vou avisar a família inteira!

Marcão: Mas vocês não querem ver ele agora?

Isabel: Ah, não! Pra ver cachorro? No natal eu vejo!

Emília e isabel saem, felizes, sem nem mesmo Marcão falar nada.

Cena 4

Festa de Natal no hospício. Decoração predominantemente verde e vermelha, de natal.

Uma mesa com toalha de natal. Árvore de natal, um sofá. Alfredo, Rachel, Paola e Leopoldo

(os loucos), Vanessa, Matheus e Marcão em cena.

Vanessa: E aí, arranjou algum trouxa para vestir de papai noel?

Marcão: Sim, vai ser o seu marido!

Vanessa: Então vai aprontar ele logo, que senão dá meia noite e ele não ta pronto!

Marcão: É mesmo! Leopoldo, vamos aprontar! Cláudia, me ajuda.

Marcão e Cláudia levam Leopoldo para fora de cena.

A campainha toca.

Vanessa (gritando): Devem ser os convidados! Podem entrar!

Entram Emília, Isabel, Haydée, Rafael, Carlota, Creuza, Bento e Jamal. Haydée,

Creuza, Bento e Jamal trazendo decorações bregas de natal. Carlota trazendo o peru na mão.

Emília e Isabel se dirigem rumo a Alfredo. Jamal se isola em um canto, perto do sofá.

Creuza fica com Carlota, e Rafael com Bento e Haydée.

Toca a campainha de novo. Dessa vez, Haydée vai atender. São Janice e Saori.

Janice: Oi mãe! Essa aqui é minha amiga Saori!

Haydée: Oi! Tudo bem? Vocês são amigas… Da faculdade?

Saori: É! De lá mesmo!

Haydée (para Saori): Mas, e o curso, tá gostando?

Saori: É… As aulas que eu assisto até que são legais. (olha na direção de Jamal). Dá licença…

Saori vai andando em direção a Jamal e diz a ele.

Saori: E aí, tem hoje?

Jamal: Tem sim. Pouco e caro. Cê sabe comé que é né… Estoque de natal, sempre no fim…

Saori: Mas, dá pra gente negociar?

Jamal: Dá sim. (olhando o corpo de Saori, de cima a baixo) O que você tem em troca?

E começaram a se pegar, e vão para trás do sofa, créu.

Carlota percebe e comenta com Isabel.

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Carlota: Dona Isabel: Olha aquilo! O Jamal e a amiga da Janice, os dois lá se pegando atrás do

sofá! E acabaram de se conhecer!

( Isabel vai em direção ao sofá, e Carlota acompanha).

Isabel (gritando): Mas que pouca vergonha! Numa festa de natal!

Carlota:Nossa, na minha terra isso não acontece não!

Creuza se aproxima, e aponta o crucifixo pra Jamal e Saori.

Janice (interrompendo): Saori! Como você pode me trair? E ainda por cima com o meu irmão!

Saori (desconcertada): Seu irmão? Esse maconheiro?

Janice: Maconheiro?

Jamal: Namoradas?

Haydée (desmaiando): Óh!

Janice e Jamal correm para acudir Haydée, que desmaiou.

Janice: Mãe! Mãe! Acorda

Jamal: Mãe! Mãe!

Creuza se afasta e se aproxima de Bento.

Creuza: Que confusão, não é?

Bento: Pois é, né…

Creuza: E aí, você é primo? Sobrinho da Haydée?

Bento: É. Sou sim…

Creuza: Vai ficar com a família até quando?

Bento: Amanhã volto pra roça…

Creuza (levantando um pouco da saia): Sabia que você é um gatinho?

Bento (espantado): Quê?

Creuza leva Bento para trás do sofá e créu.

Vanessa: Cadê o papai noel? Meu filho não aguenta mais brincar com esses loucos!

Leopoldo chega discretamente.

Marcão: Quê isso! Olha lá como ele tá se divertindo com a Rachel e a Paola!

Meu filho deu certo com eles! Ele pode voltar mais vezes, se quiser!

Leopoldo escuta, fica com raiva e chega perto.

Leopoldo: Seu filho? Tá ficando doido? Esse menino é MEU filho!

Marcão: É isso mesmo, seu louco! Sou pai do seu filho! Não! Sou filho do seu pai! Não. Sou

pai do MEU FILHO, o Matheus!

Vanessa: Eu pedi para você nunca contar isso pro meu marido!

Leopoldo (pega uma seringa que se encontra por perto): Nãooooo! Você vai morrer!

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Leopoldo ataca Marcão e enfia a seringa em seu olho. Marcão fica cambaleando,

tropeça na decoração brega de natal. Uma vela cai no chão e a decoração começa a pegar

fogo. Emília olha de longe e fica desesperada. Tão desesperada que esquece que é muda e fala.

Emília (embolado): FOGO!

Isabel: Minha filha! Você falou?

Emília começa a fazer sinais e emitir grunhidos.

Isabel: Ah, tá!

Carlota salta do meio da confusão, e vai para a frente do palco.

Carlota: Não! Antes de morrer tenho que contar uma coisa! Rafael Augusto! Eu te amo! Você

sempre foi o meu amor platônico! Meu amor impossível! Meu amado! Minha vida! Meu tudo!

Foi por causa de você que eu aguentei trabalhar nessa família de loucos por todos esses anos!

Eu te amo!

Todos param o que estão fazendo, assustados para prestar atenção.

Isabel: Você tá brincando, né!

Carlota (para Rafael, ignorando Isabel): Rafael Augsto, larga a Haydée! Vamos morrer

juntos! Vamos pro paraíso juntos!

Haydée vai pro meio do palco.

Haydée: Minha empregada! Meu Marido! Oh!

Haydée desmaia novamente, e Janice vai socorrer novamente. Paola começa a bater a

cabeça na parede de isopor e vai engatinhando até perto do sofá. Creuza e Bento esbarram em

Paola, que bate a cabeça forte na parede, e a parede se quebra.

Paola : Saída, saída!

Rachel, Cláudia, Matheus , Alfredo, Paola e Emília saem pelo buraco da parede. Os

outros não saem porque estão muito ocupados e nem percebem que Paola achou uma saída.

Haydée está desmaiada, com Janice acudindo-a. Isabel, Carlota e Rafael estão brigando.

Marcão, Vanessa e Leopoldo também. Saori está com Jamal e Bento com Creuza.

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Cena 5

Uma mesa no centro do palco, agora sem decoração de natal. Cláudia na cabeceira,

Matheus, Alfredo, Rachel, Emília e Paola sentados nos outros lugares. Cláudia bate com um

garfo no copo para chamar a atenção de todos.

Cláudia: Infelizmente, a exatamente um ano, perdemos alguns de nossos entes mais queridos…

Mas vamos continuar sempre juntos. Pois família que come unida permanece comida.

Peça: Teatro de Artes

Cena 1

Rafa: Quem são vocês?

Rute: Somo biólogas…

Rafa: O que é bióloga?

Rute: Bióloga é…

Bella: Viemos para estudar a natureza e cuidar dos animais… E você quem é?

Rafa: Eu sou a índia Potira, mim cuida dos animais da ilha…

Rute: Mas tem algo de errado acontecendo por aqui? Fomos enviadas porque alguém

denunciou um problema com os animais.

Rafa: Haver problemas sim! Os bichinhos estão sumindo… Vocês vão me ajudar a descobrir

o que faz bichos sumir?

Bella: Claro! Nós viemos para ajudar você e os animais!

Rute: A gente também vai ficar de olho, qualquer coisa estranha pode chamar a gente!

Rafa: Salvar os animais! Vocês ajudar mim!

Rute: Olha que animais lindos…

Rafa: Com esse desaparecimento de animais todo, agora eles são praticamente a minha única

companhia… Gostar muito deles…

Bella: Não se preocupe… nós vamos mesmo descobrir quem está fazendo isso e porquê…

Cena 2

Guilherme: Que onda radical! Parada maneira aee! Onda do mal…. Perae, tem alguma coisa

errada… Isso aqui ta ficando grande demais! Mamãe? Ah…

Bella: Aiii o que aconteceu?

Willian: Ei, você está bem? Está Machucada? Consegue andar?

Bella: Estou bem sim obrigada… Só me lembro que estava na praia fazendo pequisas com uma

amiga e de repente aconteceu algo, me sinto esquisita… mas quem são vocês?

Matheus: Somos, de certa forma, caçadores de recompensa…

Willian: Na verdade estamos pesquisando animais… Animais raros…

Bella: Que legal! Eu também pesquiso animais em extinção…

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Willian: Não do jeito que nós…

Bella: Como assim? Eu já vi espécies raras aqui na ilha… Sei onde encontrá-los.

Matheus: Bom… Digamos que se você nos ajudar podemos fazer alguns acordos

interessantes…

Bella: Envolvendo dinheiro?

Willian: Isso mesmo… Garota esperta você… Mas antes de fechar o acordo temos que ver os

animais…

Bella: Tudo bem, mas vocês não vão fazer nada por enquanto… acabei de chegar e não é bom

levantar suspeitas assim logo no início…

Cena 3

Rafa: Tenho que esconder logo esses animais…

Rute: Potira você tem que me ajudar aconteceu um acidente… tem um homem desmaiado na

praia…

Rafa: Amiga tramando algo contra os animais… tem dois homens que eu nunca vi…

Guilherme: Ai minha cabeça…

Rute: Ele está acordando… Ei, o que aconteceu com você?

Guilherme: Não me lembro.. Onde estou? Quem sou eu? Caraca meo… Não me lembro de

nada!

Rafa: Ele perdeu as lembranças…

Guilherme: Preciso me deitar…

Rute: Onde podemos colocar ele?

Rafa: Achar que o chefe da aldeia pode ajudar… Vamos levar ele pra lá!

Rute: Boa ideia, vamos logo antes que ele piore...

Guilherme: Ai… Tá doendo aqui!

Cena 4

Bella: Oi amigaaa… Tudo bem? Como você está?

Miriam: Oi… tudo bem? Que saudade querida… Conhece a Dengosa? Dá oi pra minha amiga

Dengosa…

Bella: Ai que linda… que roupe é essa amiga? Tá bem de vida hein?

Miriam: Pois é menina eu…

Rute: Patty? Tudo bem? Que saudades! Nossa mas não fique ai não vem pra cá… Vamos

conversar…

Bella: Ai da licença Angélica, eu tenho…

Rute: Ai você me queimou…

Bella: Eu tenho que ir gente… Desculpa!

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Cena 5

Miriam: Nuss… Que homem! Meu deus!

Guilherme: Oi gatinha tudo bem?

Miriam: Tudo e você?

Guilherme: Melhor agora que você caiu do céu…

Miriam: Você é daqui?

Guilherme: Um acidente na usina nuclear da ilha vizinha… Eu e duas biólogas fomos

atingidos…

Miriam: Ah… Elas são minhas amigas!

Guilherme: Que lega… Ei vamos dar uma voltinha?

Miriam: Claro!

Cena 6

Bella: Agora além de ganhar uma boa graninha com os animais também vou faturar com a

patty… Está tudo errado, era pra eu ser rica e…

Rute: Ah se depender de mim você vai ficar é atrás das grades sua golpista!

Bella: Há há há… você não pode fazer nada contra mim… Firee… Ganhei poderes com o

acidente nuclear meu bem… Agora com licença que eu tenho que fazer algumas coisinhas…

Cena 7

Bella: Querida você tem que me ajudar rápido… Fizeram uma emboscada e prenderam os

animaizinhos de Potira…

Miriam: Temos que fazer alguma coisa.. Onde é?

Bella: Por aqui…

Miriam: Empurra com força a porta está travada…

Bella: Aqui… Achei uma pequena entrada… vamos rápido…

Miriam: Mas… O que é isso?

Bella: Você vai me render ótimos préstimos baby… Agora com licença vou começar a fazer as

negociações pra te soltar… E à propósito, quando aqueles idiotas chegarem tome conta dos

animais… aqueles brutos devem estar machucando eles.

Miriam: Socorro ! Alguém me tire daqui!

Cena 8

Rafa: Meu Deus o que aconteceu com você?

Rute: Rápido nós temos que ir salvar Patty e os animais…

Guilherme: Chuchuzinho? Vocês viram a Patty? Combinamos que eu iria ensiná-la a surfar…

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Rute: A Patty foi sequestrada e os animais também estão correndo perigo… temos que unir

nossas forças para resgatá-los…

Rafa: Salvar animais… Vocês ajudar… Vocês bons… Por aqui!

Cena 9

Rute: Geloooo…

Guilherme: Deixa comigo agora…

Rafa: Olhem ela está ali…

Miriam: Ufa… já estava desistindo de ser salva, ainda bem que vocês chegaram….

Rute: Eles estão vindo ai com os animais… Se escondam…

Bella: Finamente eu vou ter tudo o que eu sempre sonhei depois desses golpes… Mal posso

esperar…

Willian: Epaa… Já que você terá parte nos nosso assuntos também teremos do seu….

Matheus: Ô gente… Desculpa interromper as negociações, mas… Cadê a mulher?

Guilherme: Sintam o poder da minha prancha!

Rafa: Flechinhas ativar…

Rute: Gelooooooo

Bella: Nãooo… Como isso pôde acontecer? Não consigo me controlar….

Rute: Vamos todos sair daqui, chamaremos o cacique e ele dará um jeito nesses aí…

Matheus: Vocês não podem fazer isso… Eu posso devolver alguns animais se vocês me

soltarem…

Willian: Traidor… Não confiem nele… Ele irá fugir com os animais na primeira

oportunidade…

Miriam: Vamos logo… Não me sinto bem aqui…

Cena 10

Bella: Seus inúteis… vocês vão virar geléia! Fogoooo.

Matheus: Sua anta, você colocou fogo na cabana…

Willian: Precisamos sair daqui…

Bella: Quente, quente demais…

William: Não consigo respirar…

Matheus: EU também não… Estou sem forças…

Cena 11

Rafa: Muito obrigada por me ajudar a descobrir o que estava acontecendo e a preservar a vida

de meus amiguinhos…

Rute: Você é muito legal Potira espero que nos vejamos de novo… apesar de todos esses

acontecimentos trágicos…

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Miriam: E vocês está convidada à passar uma semana em minha casa de campo viu?

Guilherme: Obrigado pela hospedagem e pela dedicação…

Rafa: está muito grata com todos… Voltem quando quiserem… devemos muito a

vocês.

FIM

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ANEXO K – Peças apresentadas em 2007

Peça: Escolas

Ato 1º

Cenário: 1º dia de aula. No fundo uma porta.

Personagens da cena: Petrúquio e o Poeta.

Poeta: Como vai meu amigo? Faz tempos que não te vejo!

Petrúquio: Muito bem, e não faz tanto tempo assim que não nos vemos.

Poeta: Como não? Saímos de férias da escola em dezembro do ano passado e agora já estamos

em fevereiro e no 3º ano!

Petrúquio: Você continua como sempre!- com ar de deboche-, mas hoje não vou brigar com

você. Consegui mostrar para o meu pai que consigo cuidar do meu império de doces.

Poeta: Não se esqueça que a loja é do seu pai.

Petrúquio: Detalhes… O velho ta quase morrendo.

Poeta: Seu pai só tem 50 anos!

Petrúquio: Já te falei que detalhes não me interessam, e eu como filho único vou ficar com

tudo.

Poeta: Vamos mudar de assunto antes que você mate seu pai, como a Suzane Rich.

Petrúquio: Richtoffen, seu burro, Suzane Richtoffen. Mas em fim, agora eu quero me casar,

construir família e ampliar os meus bens, é claro.

Poeta: E a faculdade?

Petrúquio: Faculdade é coisa de menino idiota que não tem negócio próprio.

Poeta: E você tem?

Petrúquio: Mas é claro, eu já não te falei que assim que o meu pai morrer…

-A cena fica congelada, somente o poeta se move-

Poeta: Mas como não pensei nisso antes? Bem que este trouxa poderia namorar a chata da

Catarina, ela é tão paty… já a irmã dela… Ah! A Tamires é linda… O Que importa se ela é do

primeiro ano? O pai dela com certeza me deixaria namorá-la se a outra se casar.

-A cena descongela-

Poeta: Petrúquio, você concorda comigo que para se casar é preciso ter uma noiva?

Petrúquio: Mas como você é inteligente! É claro que eu sei mas isso é detalhe. Você acha que

ninguém quer o gostosão aqui?

Poeta: Deixe disso e me diga: Você tem uma noiva?

Petrúquio: Não.

Poeta: Eu tenho!

Petrúquio: O que uma noiva?

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Poeta: É.

Petrúquio: Ah! Você também vai se casar?

Poeta: Não sua anta, uma noiva para você!

Petrúquio: Como ela é?

Poeta: Tem seu charme, mas é claro que não se compara com a irmã.

Petrúquio: Pois então ficarei com a irmã!

Poeta: Não!

Petrúquio: Porque?

Poeta: Porque, porque ela é mais velha por isso vai ficar com a maior parte da herança!

Petrúquio: E qual seria a graça da minha sogra?

Poeta: O que da mãe dela?

Petrúquio: O nome débil mental, o nome.

Poeta: Você é louco? Eu lhe falo da menina e você quer saber o nome da mãe dela? Por um

acaso você gosta de velhas?

Petrúquio: Não é nada disso! Só quero saber o nome do próximo capeta da minha vida!

Poeta: Não seja por isso! O pai dela é viúvo…

Petrúquio: Estou começando a gostar dela…

-Os dois se retiram-

Ato 2º

Cenário: Casa de Catarina

Personagens da cena: Catarina, Tamires, Pai.

Pai: Minhas filhas vocês estão atrasadas, logo no primeiro dia!

Tamires: Calma papai! Tenho que estar linda, quem sabe hoje conheço meu príncipe

encantado?

Catarina: Pois eu também tenho de estar linda, para todos babarem e eu dizer coisas do tipo:

“pode olhar, mas não pode levar”, “isto aqui é muita areia para o seu caminhão” e outras 1365

frases que ensaiei diariamente nas férias e repassei ontem à noite.

Pai: Minha filha, assim você nunca vai arranjar um namorado!

Catarina: Meu namorado, pai, o senhor vai conhecer nos seu sonho. Homem é uma raça

miserável que só quer meu dinheiro e da cabeça oca da minha irma. Sabe, Tamires, se eu fosse

você faria igual sua irmã.

Tamires: Mas eu quero me casa - com voz de choro- papaie!

Catarina: Tamires, poe os seus lindos cabelos louros amarrados pra dar mais espaço ao seu

cérebro, quem sabe assim você pensa melhor: Por enquanto você é linda e jovem. Ah! E tem

muito dinheiro. O homem que se casar com você vai esgotar sua juventude, te deixar uma

gorda horrorosa e de quebra fugir com uma mulher que tenha a metade da sua idade e com o

seu dinheiro.

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Tamires: Ai Catarina, você só pensa em dinheiro!

Pai: Tamires me escute, em partes sua irmã está certa!

Tamires: Papai?!

Pai: é só uma questão de interpretação. O que a sua irmã quis dizer é que você ainda é muito

nova para se casar ou namorar. E também tem a questão que eu quero que sua irmã se case

primeiro.

Tamires: Já vi que o meu destino é ficar sozinha!

Pai: Vamos, que vocês duas estão muito atrasadas.

Ato 3º

Cenário: Meio do teatro, sem nada, para dar a impressão de que as personagens estão na rua.

Personagens da cena: Ritinha, Catarina, Tamires, Empregada, Petrúquio e o Poeta.

-Entram Catarina e Tamires, parando no meio do teatro-

Tamires: Ai Catarina eu te falei que íamos chegar atrasadas.

Catarina: Não exagera songa monga, o pessoal nem começou a entrar ainda.

Tamires: E gora como eu vou achar nossa amiga Ritinha nessa muvuca?

Catarina: Te vira, você não é quadrada, e alias, ultimamente você está é muito redonda!

Tamires: OH! - com cara de espanto-

-Entra a empregada e a Ritinha, indo ao encontro de Tamires

Ritinha: Tamires!

Tamires: Ritinha!

Catarina: Chegou a retardada que estava faltando.

Ritinha: Ai, Tamires, você é que não sabe, o Petrúquio está mais lindo do que nunca! Ah! Essa

é a Francisca, empregada do Petrúquio. O pai dele cismou de colocá-la na escola. Espero que

ela me ajude a conquistá-lo.

Catarina: Tem mulher que gosta de apanhar!

Francisca: Oia! Num fala assim não do patraozin não que ele é bom por demais, quem se casar

com ele há de ter uma sorte miserarve!

Catarina: Burra e roceira!

Francisca: Oia! Ce num me ofendi não.

-Entram Petrúquio e o Poeta-

Poeta: Olá garotas! Como vocês estão lindas!

Catarina: O retardado e o bobo da corte.

Francisca: Ce num fala assi do meu patraozin!

Petrúquio: Pode deixar comigo Francisca.

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Ritinha: É Francisca, deixe que ele se defenda! Como um cara, lindo tesudo e gostosão, não

vai saber se defender?

Petrúquio: Obrigado pela parte que me toca. - vira-se para Catarina - Você deve ser a adorável

Catarina.

Catarina: Sai pra lá urubu, que isso aqui não é carniça. Sou muito pra você será que não notou?

Sou muito eu, fica com a oferecida ali oh! Ela tá quase pulando no seu colo.

Tamires: Catarina!

Poeta (Romântico): Deixe a sua irmã, vamos conversar.

-O poeta e a Tamires deixam a cena de mãos dadas -

Ritinha: Você não quer se casar comigo Petrúquio?

Catarina: Num falei

Francisca: Oia oia em patraozin!

Petrúquio: Na verdade meu coração é de outroa.

Ritinha: Oh. - Começa a chorar e sai de cena -

Francisca: Oh mia fia num chora não vai aparece coisa mió. - Sai correndo atrás de Ritinha.

-

Catarina: Sempre odiei homem convencido.

Petrúquio (Segura Catarina nos braços, e a joga): Pois este você vai amar!

Catarina (Desconcertada): Oh! Meu deus você tem mau hálito.

Petrúquio: Acho que muita água vai rolar…

Catarina sai de cena e Petrúquio atrás dela

Ato 4º

Cenário: Novamente o teatro vazio e as personagens no meio.

Personagens da cena: A freira, Cataria, A menina peste e o Pai da Menina.

Catarina: Nossa, o casamento foi lindo, eu nunca pensei que pudesse ficar tao feliz casada.

Freira: É mais o mundo dá voltas, seu casamento ainda vai piorar. Você vai atolar na merda.

-Maria das Graças correndo, enchendo, falando, torrando o papo dos outros

Catarina: Nossa que menina atentada, parece um menino.

Freira: Isso aí é o mapa do inferno virado ao avesso, isso aí mais parece um animal.

Catarina: Nossa, uma freira falando esse tipo de coisa?

Freira: Que isso menina! Eu como uma enviada de deus só falo a verdade… desgraça.]

- O pai da menina chega -

Joaquim: Oi, vim buscar minha anjinha.

Freira: Aquela capeta ali?

Joaquim: Não fale assim da minha filha!

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Freira: Perdoai senhor, meu deus, ele não sabe o que diz.

Freira: Como é o nome do senhor?

Joaquim: Joaquim.

Freira: Ok, dito cujo, aquilo ali, tá mais para uma seguidora do capeta!

Joaquim: Mas minha filha é uma pessoa ma-ra-vi-lho-sa - cantando -, olha que coisa mais

linda mais cheia de graça…

Freira: Como diz a Madre Superiora, Puta que o paril, ce tá fodido com essa filha.

- O pai sai xingando de mão dada com sua filha -

Freira: Tal pai tal filha… Todos filhotes de cruz credo…

Catarina: Mas freira, como estávamos conversando…

Freira: Agora não, agora é hora de relaxar… - tira o cigarro da perna esquerda e uma revista

de homem pelado da direita -, Olha que coisa maravilhosa, nossa que homem perfeito…

- Catarina sai de cena pasma -

- A freira desce do palco e começa a mostrar a revista ao público, dizendo olha isso, vai me

dizer que você não largava a batina… Sobe de novo no palco e sai de cena -

Ato 5º

Cenário: Idem ao Ato 4º

Personagens: Catarina, Tamires.

Catarina: Homem é tudo da mesma raça miserável. Me iludi pelo amor de Petrúquio. - voz de

choro. - Me trocou pela empregada, baranga, horrorosa, sirigaita, roceira, retardada! E o pior

de tudo é poooobre. Ai que desilusão. Oh! Mundo cruel. Eu quero morrer… o que? Eu tenho

que viver. Fazer os outros sofrerem. Pisar em todos, Ai me sinto tão melhor. Papaie, vamos dar

uma volta no shopping?

Tamires: Irmã, estamos na pior! - Abraça Catarina -.

Catarina: Que to na pior o que, eu to é na melhor!

Tamires: Você teve o que mereceu mas eu não merecia ficar sozinha!! -

As duas começam a chorar e a luz vai diminuindo - de repente todas as luzes se

ascendem e o poeta aparece -.

Poeta: Não gostei deste final, não gostei, não gostei, não gostei - batendo o pé no chão - eu

deveria ter ficado com o pai da Catarina, ele é o meu verdadeiro amor… Acho que chegou a

hora de revelar minha verdadeira identidade… sou um ninja disfarçado, chamo agora todas as

personagens -

Todas as personagens aparecem, ele começa a dar golpes e matar um por um. Na

hora que todos estiverem caídos no chão, toca: I will survive, todos levantam e começam a

dançar, seguindo os passos do poeta -.

FIM

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ANEXO L – Peças apresentadas em 2006

Peça: Casa de Saúde Intensiva -Não muito longe daqui!

Mialle: Tem praga, jurada e sacramentada neste lugar!

Etta: Me dá arrepio só de pensar?!

Mialle: Pensar em que?

Etta: Falta de respeito entre os seres vivos, veja aquelas duas ali?!...

Mialle: Como assim? Me explique melhor, com detalhes! Que qui tem as duas?

Etta: Você se lembra quando me encontrou perdida, há 18 anos?

Mialle: Você estava tão assustada, falando esquisita, com uma roupa engraçada perdidinha…

Etta: Lembra minha preocupação com a explosão do meu planeta de origem?! Como tinha

pesadelos?!

Mialle: Você se parecia com estas pessoas daqui!

Etta: Isto mesmo, a preocupação continua! Pessoas sem se entender, brigando por qualquer

coisa!

Passa o zelador pisando forte no chão.

Zelador: Vocês duas, vão parando com o papo; separa, afasta; cada uma pro seu quarto,

quero dizer, sua sala!

Mialle: Te cuida, cuidado com ele (apontando para o zelador). Ele existe para acabar com a

gente!

Etta: Ah (sai correndo gritando)!

Zelador: Sai, sai, você não tem medo de mim não (Mialle corre também)?

Elina: Sou PhD em cálculo estrutural, conheço o mercado de ações da bolsa em São Paulo e

Nova York! Olha como você vai falar comigo hein?!

Zelador: Você é outro ET e chifruda! Olha este galo na sua cabeça?!

Gabar: Galooo! Galooo! (ritmo de torcida.)

Zelador: Você também pode parar com esta torcida!

Elina (narrando como num pregão da bolsa): Cai em 10 pontos a nota de todos que estão

assistindo este espetáculo!

Zelador: Espetáculo? Credo!

Gabar continua com a torcida e a Elina com o pregão.

Elina: Sobe a bolsa daquela ali (entra a bailarina).

Zelador: Tem dinheiro aqui? (pegando a bolsa.)

Bailarina: Tira a mão da minha bolsa, seu, seu…

Gabar: Se tem, é meu, passa pra cá (puxando a bolsa da bailarina).

Bailarina: Para, para tudinho!

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Zelador: Isto mesmo, me entregue seus pertences…

Gabar: Vamu meiá a fortuna, falô?!

Bailarina: Minha, minha sapatilha importada, meu tiu-tiu…

Gabar: Vale grana, o maninha?...

Bailarina: Tem muito valor pra mim!

Gabar: E para mim, queridinha?!

Bailarina: Para você, troglo, sei não…

Zelador: Vamos parar de papo! Andando, andando, vamos…

Gabar: Tem um docinho na sua bolsa?!

Bailarina: Só chicletes de canela…

Cambella: Quem falou em canela? Arroz, mingau de milho verde, chá de…

Gabar: De que que tem? Tem do bom ai? Chá?

Cambella: Gabar, presta atenção na vida, existe outras coisas boas na vida, pare com isso!

Gabar: O que por exemplo minha queridinha?!

Cambella: O laguinho do Campus II, o bosquinho do Campus I…

Brelan: O bosquim é bom mesmo! Se não fosse o zelador, eu já estaria rico jogando baralho.

Cambella: O bosque é minha vida!

Brelan: A minha também!

Gabar: Poderia ser um ponto, aí seria a minha vida também!

Zelador: Pros quartos, podem para com esse papo furado!

Mialle: Me chamou, Sr?

Cambella: Este zelador não deixa a gente nem falar um pouco (todos começam a falar,

falar...).

Eddie (gritando): Aqui não tem nada útil para minha invenção…

Passando na frente da bagunça de todos, tropa no pé da Muda e pede desculpas com

a cabeça.

Muda olha para ele com raiva e fica brava.

Eddie: Já pedi desculpas, não viu?

Muda mexe os ombros e faz sinal com os braços que não ouve.

Eddie: Ah! Uma mudinha, posso fazer experiências com ela. (Falando com a platéia) Vamos

pro meu laboratório, vamos?! (Puxa a muda pelo braço.)

Elina: Estabiliza a bagunça no Campus I. Acho que vou voltar pra roça, meu chifre está

dando!

Zelador: Todos parados.

Congela a cena. Entra a Bia.

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Bia: Não era assim, acho que entrei na peça errada (descongela a cena). Por favor, aonde fica

o puteiro mais proximo?!

John: Cadê? Estamos perdendo dinheiro, temos uma oferta; produto raro no mercado!

Elina: Volta a subir a bolsa de “raridades” no mercado.

Gabar: “Raridade”, do bom? Tem no mercado?

John: É, hoje em dia, cada vez mais raro, em qualquer lugar…

Elina: Atinge o auge do pregão em São Paulo, a bolsa explode! Bum!

Zelador: Gente, cuidado, se protejam. BOMBA.

Lagrega (Gaguejando): Só-cor-ro, me-a-ju-da, to-com-me-do! Me-ajudem!

John: Vai ganhar uns trocados, vem cá, eu te ajudo, aonde é sua sala?!

Zelador: Todos pra enfermaria! Já disse!

Lagrega: Não, agulha não! De novo não!

John: Essa é da boa? Deixa que eu finjo que eu sou você! A enfermeira aplica em mim.

Lagrega: Bri-brigado!

John: Brigado nada, pode passar, cinquentinha!

Bia (Bagunça total, todo mundo desesperado.): Agora sim, cheguei aonde eu queria,

DINDIN.

John: Vem cá queriada, vamos tirar uns trocados destes manes!

Cambrelha: Você me chama?

John: Chamei todas pra perto de mim, vamos vender uns produtos, pra estes otários aqui!

Elina: Mercado em alta. Bolsa aquece os investidores.

Etta: No meu planeta começou assim, tudo tinha um preço!

Maille: Você acha que estão errados?!

Etta: Desta maneira, sim! Alguns produtos não têm preço!

Elina: Investidores aguardam o produto entrar no mercado.

Zelador: Vamos, já disse. Todos para a enfermaria.

John e Bia (cantando): E vai rolar a festa, vai rolar.

Gabar: Posso organizar a festa, cobro 10% do lucro!

John: Eu estou esperando por este momento a tanto tempo e você que participação no lucro?

Bia: E com o meu produto??

Elina: Bolsa estável, produto no mercado está garantido!

Lagrega: Já acabou a festa? Che-guei!

Bia: Outro produto no mercado?!

Elina: Mercado em alta!

Zelador: Última chamada, quem perder o ônibus vai apé. Façam a fila!

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Todos cantando a música: Vai rolar a festa no Campus II (e saem de cena).

Etta: Eh! Este país é muito engraçado! Talvez não acabe igual ao meu não. Vamos pra festa!

(entra na fila).

Peça: Uma sala de aula

Cena 1

Começo de aula e os alunos estão chegando. Turma do fundão chega e se

cumprimentam, ficam parados à frente da sala. Cdf já está em seu lugar, estudando. Caladão

observa tudo.

Paty e Boy entram na sala de aula e ficam conversando um pouco afastados da turma

do fundão. Popular chega, cumprimenta a todos e vai conversar com a turma do fundão.

Ateu e Crente chegam. Casal Gls entra na sala de aula sob olhares e cochichos da

turma à porta. Paty e Boy fazem comentário pejorativo e popular os censura. Toca o sinal e

todos vão para seus lugares. O professor legal entra em sala e todos o recebem calorosamente.

Há somente um lugar vago. O professor começa a dar sua aula quando o revoltado e o drogado

entram na sala. O Revoltado fecha a cara e se assenta a um canto. O drogado termina

calmamente de fumar um cigarro e vai se assentar. O professor continua sua aula.

Carol: Bom dia… Sai cumprimentando um a um.

Ateu entra e se junta ao grupo. Crente chega.

Carol: Bom dia.

Flávio: Com a paz do senhor…

Casal Gls entra.

Diogo: Eles deveriam ter vergonha na cara.

Julia: É mesmo! Olha o de cá, tão bonitinho e com aquele namorado!

Carol: Ah! Não tem nada demais! Se eles se gostam, o que nós temos a ver com isso?

André: Desde que eles estejam a bons metros de distância de mim…

Flávio: Mensageiros do Demo…!

Carol faz cara de decepção e vai conversar com Jeaninne.

Guilherme C. (com impaciência) : Demônios e Deuses não existem! e sai.

Flávio faz o sinal da cruz.

Christian: Talvez ela tenha um pouco de razão.

Eymard: Vai começar a defender as bichinhas é?

Todos o zoam mas nesse momento Camilo entra em cena.

Camilo: Bom dia turma. Creio que todos tenham feito seus deveres. Podemos começar a aula

então? Vamos lá.

Todos se assentam. Caio e Diego S. entram em cena. Caio chuta a lixeira ao passar.

Professor observa a cena.

Camilo: Licença concebida senhores. Podem se assentar.

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Diego S. olha pra ele calmamente enquanto fuma seu cigarro. Caio se assenta em seu

canto.

Camilo: Bom, não posso obrigar ninguém a fazer o que eu digo, mas então façamos o seguinte:

eu continuo a minha aula e você faça o que quiser desde que não me interrompa. Vamos lá.

Todos os livros abertos na página 262 para começarmos a nossa aula…

Diego S. termina seu cigarro e vai se assentar. O sinal toca.

Cena 2

Bate o sinal do recreio. Turma do fundão deixa a sala. Drogado dorme. Caladão ainda

observa tudo. Cdf estuda. Popular se aproxima do casal gls.

Carol: E aí, como estão?

Alberto: Muito bem!

Carol: Aquele filme lá em casa, hoje à tarde, ainda está de pé ein?!

Bráulio: A gente almoça e vai então…

Carol: Que nada, almocem lá!

Bráulio: Seus pais podem não gostar da gente…

Alberto: É. Não são todas as pessoas que entendem que a gente se ama…

Carol: Quem tem que gostar de vocês sou eu, e não eles. Espero vocês lá hein?!

Cena 3

Bate o sinal e o professor tarado entra em sala. Começa a aula. Ele cobra o trabalho

em grupo. Turma do fundão faz bagunça. Cdf perguntar ao revoltado onde está a sua parte do

trabalho. Revoltado não fez e os dois brigam.

Diego J: Vou lembrar disso no fim do ano, moleque!

Observação: Posicionamento dos figurantes durante a cena: Turma do fundão, como

sempre bagunçando. Bolinhas de papel e cochichos. Paty lixa as unhas e penteia o cabelo, se

olhando no espelho. GLS’s conversam entre si, de vez enquanto trocam caricias. Drogado

dorme até ser chamado à cena. Popular conversa com o Boy e Ateu. Crente com sua bíblia. E

o caladão continua na sua, sozinho e calado.

Cena 4

Começo da terceira aula. Turma do fundão faz hora com a cara do estudante cdf, a

caladona o defende e acaba caindo na gozação também. O professor gls entra em sala e da

piti. Todos vão para seus lugares e um dos estudantes da turma do fundão intimida as vítimas.

Discussão desta cena envolve todos os personagens.

Deivisson está estudando. Christian passa e toma o livro dele.

Christian: Não estamos em aula, pra quê estudar?

Deivisson: Ao contrário de você eu penso no meu futuro!

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André: Acha que um otário cdf como você tem futuro?

Deivisson: Bom, eu estudo desde já para o vestibular. Tenho inúmeras chances a mais que

vocês de passar no mesmo e…

Jeannie: Porque não o deixam estudar em paz?

Ivan s: A mudinha aprendeu a falar é?!

Eymard: (Toma os óculos da caladona e os atira para Ivan.) Vamos ver se ela consegue

pegar isso. o mesmo é feito com o livro de Daivisson.

Fernando: O que está acontecendo aqui?

Turma do fundão fecha a cara e rapidamente esconde os objetos.

Deivisson: Esses cara estavam… Christian dá um pisão no pé dele.

André: Não está acontecendo nada, professor.

Fernando: Bom mesmo! Dá as costas e vai colocar seu material na mesa.

Christian: Bicha maldito! (Murmura enquanto Ivan S. pega Daivisson pela gola)

Ivan s: Se abrir o bico ce ta fudido!

Todos se assentam em seus lugares.

Carol: Não é legal isso que vocês fazem.

André: É divertido.

Julia: Aquela garota não tem culpa de ser feinha e calada.

Ivan s: Nós também não temos culpa de sermos foda!

Fernando: Será que dá pra começarmos a aula?

Todos consentem. Carol e Julia viram pra frente.

Fernando: Hoje vamos falar de poesia. Algum voluntário para ler a poesia da pagina 9?

Deivisson ergue a mão.

Fernando: Pode ler, querido.

Deivisson lê o poema.

Fernando: Suspira Oh! A surreal poesia de…...ahhhhhhhhhh!

Caio: E achei um tanto quanto depressivo…

Sem diálogos só ação. Professor separa a briga e os expulsa de sala. Cdf sai

reclamando por perder aquela aula. O professor assedia o drogado que o agride verbalmente.

O professor ameaça de dar bomba.

Diego J: Bom dia turma.

E para diante de Julia e mexe no cabelo dela que faz cara de nojo.

Diego J: Hoje concluiremos o nosso trabalho. Espero que todos o tenham feito.

Professor caminha até sua mesa e se assenta.

Diego J: Lembrando que não permito alunos fora de sala. Não admito dúvidas e repudio

conversas paralelas!

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202

Deivisson vira para trás, ele e Caio estão assentados nas cadeiras mais próximas da

frente do palco. Caio está ouvindo música.

Deivisson: A minha parte está pronta. Digitada, revisada, ilustrada e pronta para ser

encadernada. Cadê a sua?

Caio não responde.

Deivisson: Dá pra me escutar? Cadê sua parte no trabalho?

Caio ainda o ignora. Deivisson arranca os fones de ouvido.

Deivisson: CADÊ SUA PARTE DO TRABALHO?

Caio (com desdém e calma): Eu não fiz.

Deivisson: Como não fez?

Caio: Deixando de fazer, oras!

Deivisson: Mas este trabalho é o de maior peso do bimestre. Como assim você não o fez? Eu

mandei você fazer…

Caio (de pé): Primeiro Eu não gosto de receber ordens, principalmente vindas de um metidinho

a enciclopédia como você.

Deivisson se levanta também. Caio começa a arregaçar as mangas.

Caio: Segundo que comigo é assim: quem me incomoda acaba no hospital.

Deivisson: Eu posso até ir pro hospital, seu burrinho, mas você vai ter que fazer a sua parte do

trabalho primeiro.

Caio parte pra cima dele. Professor tarado, que antes cochilava, corre e separa a briga.

Diego J (Gritando):Os dois! Fora!

Caio olha de cara feia para Deivisson e sai da sala.

Deivisson: Mas professor, foi ele quem provocou…

Diego J: Eu mandei sair!

Deivisson: Mas professor, o trabalho….

Diego J: Fora!

Deivisson deixa a sala. Alunos do fundão, que antes faziam bagunça, se calam perante

a cena.

Diego J: Andem! Quero todos trabalhando.

Diego S. dorme. Professor olha pra ele.

Diego J: Cutucando Diego S. Quero todos trabalhando.

-DIEGO S (Preguiçosamente): Não to afim.

Diego J: Essa resistência à ordens pode te render uma reprovação.

-DIEGO S (Distraidamente): Fodas…

Diego J: Nada que não possa ser resolvido depois… (Professor se debruça sobre a mesa do

outro) A sós.

-DIEGO S: Vai se f****!

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Professor fica sério e volta para a frente da sala.

Christian: E professor… Essa coisa de poesia é coisa pra bicha.

O restante da turma do fundão dá risinhos.

Fernando: Não são todas as pessoas que possuem a sensibilidade suficiente para apreciar um

bom poema…

Cortina fechando.

Cena 5

Mães aparecem para conversar sobre a briga. O professor tarado dá em cima das duas;

Mãe do revoltado assume a culpa.

Diego J: As senhoras sabem porque estão aqui, não?

-FERNANDA: Professor, eu soube do ocorrido, mas eu realmente não acredito que meu filho

tenha tido alguma culpa. Ele não é e nunca foi de fazer esse tipo de coisa…

Josilaine: Eu concordo com ela. O filho dela não faria isso, professor.

Diego J: O que está dizendo?

Josilaine: Tenho certeza que a culpa foi do meu filho. Pode trazer a ocorrência ou seja lá o que

for pra que eu assine. Mas ande logo, tenho que ir trabalhar.

Diego J. busca o papel para ela assinar.

Diego J: A senhora devia olhar mais para as companhias do seu filho. Ele tem andado com um

rapazinho delinquente que vai inclusive tomar bomba na minha matéria…

Josilaine: Eu já desisti daquele muleque…

Cena 6

Diálogo entre pai e filha. Pai da popular a repreende por andar com Gays.

Douglas: Não gostei daqueles dois rapazes que foram lá em casa ontem.

Carol: Não há nada de errado neles, pai.

Douglas (Rindo): Acha que eu não percebi que eles…

Carol: Que eles…?

Douglas gesticula.

Carol: (Faz cara de dúvida) Que eles…?

Douglas: (Diminui o tom de voz)São gays!

Carol dá ombros.

Carol: E se forem? Algum problema?

Douglas: Não quero você andando com esse tipo de gente! Pode vir a ficar falada…

Carol (rindo): Não há como ficar falada. Mesmo porque eles nunca falariam nada para que eu

ficasse falada…

Douglas: As pessoas podem pensar que você também é…

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Carol: E se fosse, papai?

Douglas: Imagine a vergonha que seria para mim?! As pessoas comentando de você… não!

Exijo que se afaste desse tipo de companhia!

Carol: O senhor se preocupa de mais com o que as pessoas falam ou deixam de falar, papai.

Em seguida ela dá as costas para ele e vai se assentar com Alberto e Bráulio.

Douglas sai de cena fazendo sinais negativos com a cabeça.

Cena 7

Aula do professor tarado. A cena congela e surgem o bem e o mal.

Diego J: Bom dia (Entra como de costume e mexe no cabelo de Julia que faz cara de nojo).

A cena congela e Ivan B. e Guilherme S. entram em cena.

Ivan B: Esse cara me dá nojo.

Guilherme S: Você acha que ele algum dia conseguirá alguma coisa com um de seus alunos?

Ivan B: Espero que não. Mas eu me pergunto, Mal, se ela o acha tão nojento, porque não muda

de lugar?

Guilherme S: (Olha a cena, pensa e fala) . Acho que ela é interessada naquele dali. (Aponta

pro Boy, ao lado dela e diz) ) Mas ela devia se decidir.

A cena descongela e continua, porém muda, em sua rotina normal

Ivan B: Existe tanta coisa a ser mudada.

Guilherme S: Ô se existe!

Ivan B: Por exemplo, aqueles garotos ali, aponta para o fundão. Todos têm suas notas ruins,

porque não levar as coisas um pouco mais a sério?

Guilherme S: É mesmo. Olha aquele cara ali (Aponta para o professor). Já que ele não dá aula

direito mesmo, porque não vai embora de uma vez?

Professor tarado sai e os alunos seguem para o intervalo. Flávio entrega um

“panfleto”para Jeannie.

Flávio: A palavra do senhor!

Entrega outro para Deivisson.

Deivisson: Recusando. Sou católico. Das as costas e se afasta.

Flávio olha pra ele e faz o sinal da cruz.

Guilherme S: Estes, por exemplo, poderiam ser menos intolerantes.

Guilherme S: Olha aquela dali ( Aponta para julia que, conversando com o Boy, se mira em

um espelho). Poderia ser menos metida.

Guilherme S. concorda com a cabeça.

Guilherme S: Deveria, quem sabe, andar como uma mendiga!

Ivan B: Não seja tão radical!

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Guilherme S: E aquele dali (Aponta para o professor legal que vem entrando na sala de aula).

Deveria ser mais firme com seus alunos.

Ivan B: Você já está exagerando…

Guilherme S: (Dá risadinha maliciosa.) E aquela dali (Aponta para Diogo que caminha em

direção de seu lugar). Deveria esborrachar com esse topete no chão!

Diogo cai.

Ivan B: Chega! (Faz sinal para que as cortinhas se fechem)

Cena 8

A cortina se fecha deixando os dois para fora.

Ivan B: Não se deve ser tão radical. É preciso mudar, mas não tão radicalmente.

Guilherme S: Você deveria começar a mudança por si mesmo!

Ivan B (Sem entender): Eu?

Guilherme S: É! Deixando de ser o bonzinho e concordando que um pouco de radicalismo faz

bem!

Ivan B: Mas eu não acho que seja preciso…

Guilherme S: ... quebrar a rotina!

Ivan B: É, não crio que seja tão preciso!

Guilherme S: Pois eu te proponho um desafio!

Ivan B: Desafios, hum. Desafios são sempre interessantes.

Guilherme S: Você diz que eu sou radical e tudo mais. Pois eu digo que você esta errado.

Ivan B: Mas isto não é novidade: Você sempre diz que estou errado…

Guilherme S: Mas você sempre está! Façamos o seguinte… Eu vou te mostrar como seriam as

coisas ao meu jeito. Você vai ver como ficara tudo melhor.

Ivan B: Pensativo. Parece interessante… E o que acontecerá se você me convencer?

Guilherme S: Eu vou ter lhe convencido oras!

Ivan B: Desafio aceito.

Os dois apertam as mãos e entram para dentro da cortina

Cena 9

Todos mudam de comportamento.

Todos mudam de figurino. A turma do fundão se veste de nerd e se assenta á frente.

Paty e Boy chegam na sala de aula totalmente desarrumados, boy de cor de rosa. Poular vira

a revoltada. Caladona chega e cumprimenta a todos. Ateu aparece com uma camiseta religiosa.

Crente chega todo vestido de preto. O calsal GLS vira hetero e se estranham. Drogado vira

hippie. Cdf vira fundão. Ateu vira crente. Crente vira “metaleiro”. Revoltada entra trazendo

o material do professor tarado.

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Todos se assentam em seus lugares. O professor para diante da Paty e mexe com ela.

Ela corresponde. Ele faz sinal de depois da aula e ela concorda.

Diego J: Só queria avisar que por motivos que não interessam eu hoje não darei matéria alguma.

Façam o que quiserem. Conversem ou vão passear. Só não estou disposto a esclarecer dúvidas.

Professor deixa a sala depois de dar um tchauzinho para Paty.

Christian: Pô! Que cara folgado! Eu quero ter aula! Esta matéria pode ser importante para o

vestibular.

Flávio: O diabo é o pai do rock… o diabo é o pai do rock…

André (para Daivisson): Manda esse cara calar a boca!

Deivisson: Pra que?

André: Preciso estudar, oras!

Deivisson: Estudar pra quê? Isso não é vida não!

Diego passa vestido de hippie com um incenso queimando na mão.

Alberto (com a voz grossa): Em outros tempos aquela dali iria reclamar.

Bráulio: Ela e aquele gayzão! aponta para Diogo.

Toca o sinal, professor legal entra na sala.

Camilo: Todos em seus lugares.

Guilherme C. ergue a mão.

Camilo: Fala logo.

Guilherme C: Será que a gente poderia fazer uma oração pelo senhor antes de começar a aula?

Flávio: Que senhor o que ou?!

Camilo: Não. Vocês dois podem é calar a boca e tratar de ficarem quietos.

Bem e mal caminham até o centro do palco. Bem observa tudo incrédulo. Bate o sinal,

os dois voltam para o canto. Carol, Daivisson e Jeannie tomam o livro de André e começam a

jogar de um para o outro. Fernando entra na sala e ignora o incidente.

Fernando: Abram o livro na página 98.

Christian: Mas professor, não vamos mais estudar poesia?

Fernando: A partir de agora só estudaremos matéria de homem!

Caio: Poesias são tão legais…

Fernando: Gramática sim é importante! Não quero reclamações;

Cena 10

Guilherme S: E então? Convencido?

Ivan B: Olha à volta incrédulo. O que foi que você fez aqui?

A cortina vai fechando e sobra novamente os dois.

Guilherme S: Fiz o que deveria ser feito! Elevei tudo aos extremos!

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Ivan B: Acho que você não fez mais que uma bagunça só!

Guilherme S: Não seja dramático! Era preciso sair da rotina e foi isso que eu fiz. Era preciso

mudar.

Ivan B (Olha para platéia.): Será? Será que vale mesmo a pena mudar?

FIM