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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PUC/GO INSTITUTO DE TREINAMENTO E PESQUISA EM GESTALT-TERAPIA DE GOIÂNIA - ITGT A VIVÊNCIA DA INTERNAÇÃO INVOLUNTÁRIA PARA DEPENDENTES QUÍMICOS: UMA COMPREENSÃO GESTÁLTICA Jarine Kauana Teixeira Leal GOIÂNIA 2020

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS – PUC/GO

INSTITUTO DE TREINAMENTO E PESQUISA EM GESTALT-TERAPIA DE

GOIÂNIA - ITGT

A VIVÊNCIA DA INTERNAÇÃO INVOLUNTÁRIA PARA DEPENDENTES

QUÍMICOS: UMA COMPREENSÃO GESTÁLTICA

Jarine Kauana Teixeira Leal

GOIÂNIA

2020

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS – PUC/GO

INSTITUTO DE TREINAMENTO E PESQUISA EM GESTALT-TERAPIA DE

GOIÂNIA - ITGT

A VIVÊNCIA DA INTERNAÇÃO INVOLUNTÁRIA PARA DEPENDENTES

QUÍMICOS: UMA COMPREENSÃO GESTÁLTICA

Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso pelo

Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-

terapia de Goiânia (ITGT) como requisito parcial

à conclusão do curso de Pós-Graduação Latu-

Senso em Gestalt-terapia chancelado pela

Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Orientadora: Esp. Denise Borella de Sousa Costa

GOIÂNIA

2020

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EU e TU

“E tem sentido existir?

Existir para ter?

Existir para ser?

Existir para doar?

O sentido é que não há como

EU existir sem TU

Nem TU existir sem EU

Seja lá quem for TU

Seja lá quem for EU”.

Jarine Leal

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A vivência da internação involuntária para dependentes químicos: uma compreensão

gestáltica

The experience of involuntary hospitalization for drug addicts: a gestalt understanding

La experiencia de la hospitalización involuntaria para drogadictos: una comprensión gestalt

Resumo

O presente estudo configura uma pesquisa fenomenológica de cunho qualitativo fundamentada no método de

Giorgi (2010). O objetivo foi compreender a vivência de três pessoas que passaram por internação involuntária

para o tratamento de dependência química. Levou-se em consideração, como fundamentação teórica: a Lei

Federal nº 13.840 de 5 de junho de 2019 - que trata do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas

(SISNAD), define as condições de atenção aos usuários ou dependentes e regulamenta o financiamento das

políticas sobre drogas; também o arcabouço teórico da Gestalt-terapia, como um encorajamento para ir ao

encontro do significado particular de cada indivíduo para a experiência do tratamento. Foram realizadas

entrevistas semiestruturadas que resultaram em duas unidades de sentido: o outro como limite e como

possibilidade; e a consciência que transcende. A partir da análise de dados, observou-se que os colaboradores

consideram a internação involuntária como uma medida necessária, deixando claro em suas falas as nuances

positivas e negativas que envolvem essa modalidade de tratamento.

Palavras-chave: Internação Involuntária, Dependência Química, Pesquisa Fenomenológica, Gestalt-Terapia.

Abstract

The present study is a qualitative phenomenological research based on the method of Giorgi (2010). The objective

was to understand the experience of three people who underwent involuntary hospitalization for the treatment of

chemical dependency. The theoretical basis was taken into account: Federal Law No. 13,840 of June 5, 2019 -

which deals with the National System of Public Policies on Drugs (SISNAD), defines the conditions of care for

users or dependents and regulates the financing of drug policies; also the theoretical framework of Gestalt-therapy,

as an encouragement to meet the particular meaning of each individual for the treatment experience. Semi-

structured interviews were conducted that resulted in two units of meaning: the other as a limit and as a possibility;

and the awareness that transcends. From the data analysis, it was observed that the employees consider involuntary

hospitalization as a necessary measure, making clear in their speeches the positive and negative nuances that

involve this type of treatment.

Keywords: Involuntary Internment, Chemical Dependency, Phenomenological Research, Gestalt-Therapy.

Resumen

El presente estudio es una investigación fenomenológica cualitativa basada en el método de Giorgi (2010).

El objetivo era comprender la experiencia de tres personas que se sometieron a hospitalización involuntaria para

el tratamiento de la dependencia química. Se tuvo en cuenta la base teórica: la Ley Federal N ° 13.840 del 5 de

junio de 2019, que se ocupa del Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), define las

condiciones de atención para los usuarios o dependientes y regula la financiación de políticas de drogas; También

el marco teórico de la terapia Gestalt, como un estímulo para cumplir con el significado particular de cada

individuo para la experiencia del tratamiento. Se realizaron entrevistas semiestructuradas que dieron como

resultado dos unidades de significado: la otra como límite y como posibilidad; y la conciencia que trasciende. A

partir del análisis de datos, se observó que los empleados consideran la hospitalización involuntaria como una

medida necesaria, dejando en claro en sus discursos los matices positivos y negativos que implican este tipo de

tratamiento.

Palabras-clave: Hospitalización involuntaria, dependencia química, investigación fenomenológica, terapia

gestáltica.

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Introdução

O abuso de substâncias é tido como um problema de saúde pública visto que prejudica

o sujeito em diversas dimensões, incluindo suas relações familiares e sociais (Vasconcelos et

al, 2015). A escolha pelo uso de drogas e os prejuízos ocasionados por elas, não são definidos

por uma explicação única que englobe todas as pessoas. No entanto, percebe-se a existência de

alguns fatores que são pertinentes nesta reflexão, a saber: a curiosidade por algo novo e

proibido, a necessidade de se sentir pertencente a um determinado grupo, a tentativa de reduzir

sensações desagradáveis, entre outros (Dalgalarrondo, 2019). Conforme o Relatório Mundial

sobre Drogas de 2019, compilado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime

(United Nations Office on Drugs and Crime - UNODC), cerca de 35 milhões de pessoas sofrem

com dependência química em todo o mundo e somente uma em cada 7 recebem algum tipo de

tratamento (UNODC, 2019).

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em consonância com a Secretaria Nacional de

Políticas sobre Drogas (Senad) do Ministério da Justiça e Segurança Pública, realizou no quarto

trimestre de 2015, o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População

Brasileira. O estudo mostrou que aproximadamente 15 milhões de pessoas com faixa etária

entre 12 e 65 anos fizeram uso de alguma substância ilícita na vida. Constatou também que,

aproximadamente 1,6 milhões (1,1% da população geral e 1,4% dos indivíduos que reportaram

o uso de tabaco, álcool ou outros na vida) receberam algum tratamento (Fiocruz, 2017). Acerca

do tipo de serviço utilizado pela população, destaca-se na seguinte tabela:

Porcentagem

Atendida

Comunidades Terapêuticas 0,61%

Unidades de acolhimento/Albergues/Casa Viva 0,31%

Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS-AD) 0,24%

Grupos de autoajuda, clínica particular, consultório de rua, CAPS geral,

internação em hospital geral ou psiquiátrico e hospital de emergência

0,24%

FONTE: Fiocruz – Levantamento Nacional Sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, 2017.

Uma construção diagnóstica, essencial na escolha de tratamentos assertivos, deve

observar grupos de critérios que seguem padrões de comportamentos patológicos específicos

descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª Edição (DSM-5),

publicado pela American Psychiatry Association (APA, 2014). O primeiro retrata o baixo

controle sobre o uso da substância: além de consumir em maior quantidade ou em um tempo

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maior do que o pretendido, a pessoa pode manifestar vontade e até tentar reduzir ou regular a

utilização.

Quando as tentativas não são bem-sucedidas e, requerem um empenho maior para

conseguir a substância, a necessidade não respeita horários ou lugares, o que se concebe como

fissura. O segundo engloba os prejuízos sociais: o uso recorrente de drogas, pode trazer consigo

a dificuldade de cumprir atividades no trabalho, na família, nos círculos de amizade – ocupando

o lugar de importância, bem como a atenção que se gastaria com essas relações. O terceiro

critérioé o consumo arriscado: o indivíduo pode reconhecer o risco ou a existência de um

problema físico e/ou psicológico, mas pode fracassar na tentativa de descontinuá-lo apesar de

toda a dificuldade (APA, 2014).

O grupo final é constituído pelos fatores farmacológicos: quando a dose habitual não

causa o mesmo efeito e uma maior ou algo mais forte começa a ser necessário, pode-se dizer

que o organismo desenvolveu a tolerância (cujo grau varia de pessoa para pessoa). E quando a

concentração da substância em um indivíduo que manteve um uso prolongado diminui,

caracterizam uma privação que, para ser amenizada, pode resultar na ingestão subsequente.

Faz-se importante tomar nota de que a tolerância e a abstinência, fazem parte dos fundamentos

citados, mas não são imprescindíveis para o fechamento do diagnóstico. Os especificadores

para os transtornos por uso de drogas vão de leve até grave, levando em consideração a

quantidade de critérios e sintomas confirmados (APA, 2014).

A dependência pode ser categorizada tanto fisiológica como psicologicamente: a

primeira, configura uma necessidade física pela droga de preferência, marcada por um notável

incômodo abstinente; a segunda, é caracterizada pela tentativa de aliviar emoções negativas.

Os dois conceitos culminam no postulado que define adicção: o desejo e consumo compulsivo

de qualquer substância em detrimento de possíveis consequências adversas (Myers, 2012).

Os modelos de tratamentos às pessoas que sofrem com transtornos aditivos, mostram-

se concentrados na internação (Tassaro & Ratto, 2017). No que se refere à regulamentação das

modalidades de cuidados aos usuários ou dependentes de drogas, a Lei Federal nº 13.840 de 5

de junho de 2019 – que trata do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)

–, no Art. 23-A, determina que: “o tratamento deve ser ordenado em uma rede de atenção à

saúde com prioridade para a modalidade ambulatorial, incluindo excepcionalmente formas de

internação em unidades de saúde e hospitais gerais ”. Tais instituições devem estar dotadas de

equipes multidisciplinares que garantam a atenção necessária aos internos.

Em continuidade, o § 6º do mesmo artigo, garante que a internação, em qualquer de

suas modalidades seja voluntária ou involuntária, só será indicada quando os recursos extra-

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hospitalares se mostrarem insuficientes e deve ser atestada por um médico que esteja

regularizado profissionalmente. A discriminação da forma de internação tratada nesta pesquisa

está disposta no § 3º inciso II do mesmo artigo, como: “aquela que se dá, sem o consentimento

do dependente, a pedido familiar ou do responsável legal ou, na absoluta falta deste, de servidor

público da área da saúde, da assistência social ou dos órgãos públicos integrantes do SISNAD”.

O supracitado coaduna com a Nota Técnica da Organização Pan-Americana da Saúde

(OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre internação involuntária e compulsória

de pessoas que usam drogas, que defende o direito à autonomia do indivíduo em qualquer

estratégia de tratamento para dependência química e considera essa intervenção uma medida

extrema, a ser aplicada apenas em situações excepcionais (OPAS/OMS, 2013). Quando

empregadas, estas disposições devem observar o que está no § 5º incisos III e IV do artigo 23-

A: “perdurará apenas pelo tempo necessário à desintoxicação, no prazo de 90 (noventa) dias,

tendo seu término determinado pelo médico responsável; a família ou o representante legal

poderá, a qualquer tempo, requerer ao médico a interrupção do tratamento ”.

Tendo exposto os transtornos ocasionados por uso de substâncias através de manuais

psiquiátricos e artigos de lei que regulamentam seu tratamento, concorda-se que estas são

medidas que buscam reduzir os sintomas e outros aspectos disfuncionais no indivíduo. Quando

tais modelos não se mostram eficientes, há a possibilidade de culpabilização – por parte de

familiares e dos profissionais de saúde – às drogas como símbolo de prejuízo físico e

psicológico, bem como aos usuários pelos problemas que causam a si mesmos e aos outros em

razão dos vícios (Tassaro & Ratto, 2017).

Consumir drogas, como ressalta Malgor (2019, p. 157), “ainda que de maneira aditiva,

pode ser uma estratégia para manter uma vida cujo passado dilacerou [...] as pessoas sempre

fazem o que podem com o que tem”. Tal pensamento é correlato ao conceito gestáltico de

ajustamento criativo, acerca do qual Perls, Hefferline & Goodman (1997) declaram que quando

se está em contato com uma necessidade, percebe-se que a realidade não é algo imutável e pode

ser manipulada de várias maneiras de acordo com a orientação que se tem de si e do mundo.

Portanto, a proposta de correlacionar a vivência do dependente químico com a visão de

homem da Gestalt-terapia, proporciona a possibilidade de lhe compreender em seu processo

singular de existir. Esta abordagem da psicologia foi oficialmente fundada em 1951 com a

publicação do livro Gestalt-Therapy: excitement and growth in the human personality de Fritz

Perls, Ralph Hefferline e Paul Goodman. Este livro foi resultado dos debates realizados no

grupo dos sete, constituído por: Isadore Fromm, Paul Goodman, Paul Weisz, Sylvester

Eastman, Eliot Shapiro, Laura Perls e Fritz Perls (Frazão, 2013). Trata-se de uma forma de

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psicoterapia que utiliza o método fenomenológico de awareness no qual, em detrimento da

interpretação, postula-se o sentir e perceber como caminhos para a ampliação da consciência

de si no mundo (Yontef, 1998).

As bases epistemológicas nas quais se ampara a abordagem gestáltica são: o

Humanismo, o Existencialismo e a Fenomenologia, bem como a Teoria de Campo, a Teoria

Organísmica e a Psicologia da Gestalt. Partindo desse arcabouço teórico concebe-se o homem

como único em sua individualidade, um todo indivisível no seu modo de ser e de agir, que afeta

e é afetado por seus semelhantes e pelo ambiente em que vive. Não é determinado, não é pronto

e acabado, está sempre se fazendo, se movimentando de acordo com suas necessidades, se

ajustando criativamente, se autorregulando. É capaz de escolher e ser responsável pelas

consequências de suas escolhas (Ribeiro, 2012).

Na filosofia contemporânea, Heidegger postula o ser-aí como o ser do homem para

além de si mesmo no mundo em posse de todas as suas possibilidades (Abbagnano, 2007). Para

fazer esta definição Heidegger (2005) utiliza o termo pre-sença, cuja essência não é algo

simplesmente dado e configurado, mas remete a todos os modos da existência. Isto é, como se

comporta e se relaciona enquanto unidade indissolúvel (ser-no-mundo).

Outra fonte de conhecimento na qual a Gestalt-terapia se baseia é a Filosofia do

Diálogo, postulada por Martin Buber, que contempla a compreensão da natureza relacional do

homem, na concepção de duas palavras princípio: Eu-Tu e Eu-Isso. A primeira refere-se ao

interesse genuíno na pessoa a quem se dirige; a segunda, define um caráter de finalidade, o

outro se torna um meio para um fim (Hycner, 1995).

Referindo-se ao questionamento de como dependentes químicos vivenciam o

tratamento involuntário, objetivou-se com este estudo, sob a ótica da Gestalt-terapia:

compreender como o participante se sentiu com o fato de ter sido internado contra a sua

vontade; a experiência nas intervenções propostas pela instituição; também de que modo

significou o processo ao final do tempo de reclusão.

Metodologia

O presente estudo é de caráter qualitativo e foi submetido à apreciação do Comitê de

Ética da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – Na Plataforma Brasil com o CAAE:

31061220.7.0000.0037. Colaboraram, três pessoas do sexo masculino, com os seguintes

critérios de inclusão e exclusão: idade mínima de 18 anos, ter passado por internação

involuntária para o tratamento de dependência química ao menos uma vez na vida e ter

completado o tempo obrigatório de 90 dias, que não tivessem comorbidades relacionadas à

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transtornos psicóticos, que não fizessem o uso atual de drogas ilícitas e que não estivessem

vivenciando luto por uma perda recente.

Os materiais utilizados foram: um notebook; papel A4; lápis, borracha e caneta; uma

impressora; gravador de voz do celular; cópias do termo de consentimento livre e esclarecido

para cada colaborador. Os instrumentos utilizados para a construção da pesquisa foram:

encontros presenciais e por videoconferência, questionário sociodemográfico e entrevista

semiestruturada.

A divulgação da pesquisa se deu a partir do contato da pesquisadora com instituições

que realizassem internações involuntárias de pacientes com transtornos por uso de substâncias,

buscando a indicação de potenciais colaboradores que pudessem atender aos critérios do

estudo. Feito isso, entrou em contato com as pessoas indicadas através de mensagens no

aplicativo Whatsapp e as convidou para participar.

Confirmado o interesse dos colaboradores, a pesquisadora enviou os links do

questionário sociodemográfico e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE –

produzidos no Google Forms – a fim de averiguar os critérios de inclusão e exclusão e

esclarecer todos os procedimentos éticos-legais dispostos na Resolução CNS 510/16. Após esta

validação, as entrevistas foram realizadas em data marcada e gravada em áudio, com o seguinte

questionamento disparador: Descreva a sua experiência de ter sido internado,

involuntariamente, para o tratamento de transtornos causados por uso de substância.

Após a transcrição das entrevistas, o Método Fenomenológico aplicado à Psicologia foi

utilizado no procedimento de análise dos dados que foi norteada por quatro passos

imprescindíveis e indissociáveis, como postula Giorgi (2010): o primeiro consistiu em

estabelecer o sentido geral do que foi declarado nas entrevistas, na perspectiva da redução

fenomenológica; o segundo, foi a divisão das unidades de significado com a intenção de dividir

em partes menores, possibilitando uma compreensão psicológica sem deturpar o sentido dado

pelo colaborador; o terceiro foi o ato de transformar a compreensão em expressões de caráter

técnico, sem dar ao pesquisador o direito de incluir seu juízo de valor ao que fora dito; e no

quarto, após todo o processo de refinamento, estabeleceu-se a união das unidades de significado

de forma que se obteve uma inter-relação entre todas as outras contemplando a totalidade da

experiência compartilhada. Os colaboradores foram identificados neste trabalho por nomes

fictícios, com o intuito de preservação do sigilo.

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Colaboradores

Márcio, tem trinta e oito anos de idade, solteiro, cursa o ensino superior na área de

Humanas, foi internado involuntariamente uma única vez pelo tempo de nove meses, saiu da

internação há quase oito anos, trabalha como terapeuta em dependência química. A entrevista

foi realizada no consultório da pesquisadora.

Ronie, tem vinte e oito anos de idade, atualmente em uma união estável, possui o ensino

fundamental completo, foi internado involuntariamente uma única vez pelo tempo de doze

meses, saiu da internação há sete anos, trabalha como terapeuta em dependência química. A

entrevista foi realizada por videoconferência no aplicativo Zoom (escolhido por ele).

Danilo, tem vinte e dois anos de idade, solteiro, cursa o ensino superior, ministra aulas

particulares de disciplinas de exatas, foi internado involuntariamente uma única vez pelo tempo

de quatro meses, saiu da internação há pouco mais de um ano, declarou que faz uso atual de

drogas lícitas e ilícitas. A entrevista foi realizada por videoconferência no aplicativo Zoom

(escolhido por ele).

A captação das pessoas acima apresentadas foi uma tarefa desafiadora, visto que a

maioria dos contatados não manifestaram interesse em participar e, uma minoria que se

prontificou, não atendia a todos os critérios de inclusão e exclusão. É com a justificativa do

curto prazo para a confecção da pesquisa, que se menciona a aceitação do colaborador Danilo

para completar a amostra de três pessoas, ainda que não tenha cumprido a observação de não

fazer uso atual de drogas ilícitas na atualidade.

Outro apontamento necessário, que também afetou o desenvolvimento da pesquisa, é a

respeito da pandemia da COVID-19, classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS),

em 11 de março de 2020. Trata-se de uma nova doença respiratória com alta velocidade de

contágio identificada inicialmente em Wuhan, na China, e que vem se espalhando por todo o

planeta causando centenas de milhares de mortes. O decreto da pandemia trouxe a orientação

de uma série de precauções que devem ser seguidas por toda a população mundial: isolamento

social, cuidado com higiene pessoal e comunitária, entre outros (OPAS/OMS, 2020).

Em respeito à esta declaração, o Governo do Estado de Goiás em parceria jurídica com

a Secretária de Estados da Casa Civil (SECC) e a Procuradoria Geral do Estado (PGE),

submetidos às orientações técnicas do Ministério da Saúde (MS) e da Secretaria Estadual de

Saúde (SES-GO), instituiu o decreto nº 9.633 de 13 de março de 2020 que dispõe sobre a

situação de emergência na saúde pública do Estado (SECC-GO, 2020). Em consonância, a

Prefeitura Municipal de Anápolis publicou no Diário Oficial, o Decreto nº 44.691 de 15 de

março de 2020, a fim de evitar a disseminação da doença no município (Anápolis, 2020).

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Outros decretos foram lançados após estes supracitados, norteados pelos efeitos e pelo curso

da doença.

Resultados e Discussão

Aos dados colhidos nas entrevistas, foi aplicado o Método Fenomenológico de Giogi,

culminando na compreensão de duas unidades de sentido que ressaltam a essência do que foi

apreendido e que será discutido nesse estudo, a saber: o outro como limite e como

possibilidade; e a consciência que transcende (Giorgi & Sousa, 2010).

Conceitua-se o homem como uma totalidade indissolúvel que tem a habilidade de

sentir, pensar e agir; é um ser capaz de se relacionar (Ribeiro, 2011). Tal caráter relacional

infere-lhe o conceito de ser-no-mundo que significa: a pessoa em sua individualidade (mundo

próprio), sempre afeta e é afetado pelo mundo onde é e está (mundo circundante) e por seus

semelhantes (mundo humano). Também é inerente ao ser-no-mundo as maneiras preocupada,

sintonizada e racional de existir: a primeira, é permeada por sentimentos de preocupação e

intranquilidade; na segunda, predomina tranquilidade e harmonia; a terceira, engloba uma

necessidade de analisar toda e qualquer vivência cotidiana (Forghieri, 2013). Como exemplo,

evidenciando os efeitos da dependência química, os três colaboradores contribuíram com as

seguintes falas no que tange ao processo inicial da internação involuntária:

“Eu soube que ia ser internado [...] tava sóbrio nessa hora. Aquilo veio como se… cara...

eu tava vendo revólver todo dia… cara… só o coração batendo, porque eu não tinha mais

fôlego de vida. Era por isso que eu precisava viver drogado, pra conviver comigo. De

olhar pra minha família e ver aquilo. De olhar pra minha filha e ela nem olhar na minha

cara. De olhar pra minha irmã e onde eu chego ela sai. De o pessoal me olhar na rua

como um nóiado, mendigando dinheiro. Onde eu passava o povo apontava o dedo.”

(Márcio)

“Primeiro foi um susto. Muito apavorado porque chegaram na minha casa, ninguém me

avisou nada. A minha família tinha feito isso. Eu acho que já vinham pedindo, que eu

fizesse a internação, que procurasse ajuda e eu sempre falava que conseguiria parar

quando quisesse, que não tinha nenhum problema.” (Ronie)

“Quem fez a minha internação foi o meu avô e a minha mãe. Quando percebi [...] não

fiquei relutante, não fui agressivo, acabei aceitando... fui de bom grado. Acabou que não

foi voluntária porque não fui eu que tomei a iniciativa de ir [...]. Cheguei lá tranquilo,

mas no começo não entendia o que que era uma internação por dependência química, que

aquele seria o quadro que estava lidando, achei mais que seria por tratamento

psicológico.” (Danilo)

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O outro como limite e como possibilidade

Martin Buber, filósofo fundador do pensamento dialógico afirma que: “No começo é a

relação” (Buber, 2001, p. 61). É na esfera do inter-humano que a pessoa tem a oportunidade de

encontrar seu semelhante sem qualquer intenção que não seja unicamente ver-lhe como um

parceiro para uma conversação genuína em um momento da vida (Buber, 2014). Corroborando

com este pensamento, Forghieri (2013) declara que diferentemente da interação com os animais

e as coisas, a semelhança fundamental que há entre seres humanos lhes permite compreender-

se e influenciar-se mutualmente. Afirma ainda que quando, nesse convívio, há predominância

de sentimentos como preocupação, intranquilidade e angústia, em situações presentes, passadas

e no anseio das que podem vir, diz-se que o indivíduo está vivenciando uma maneira

preocupada de existir.

Em geral, isto acontece quando há um choque entre as polaridades das partes envolvidas

em uma relação, ou seja, quando a individualidade das pessoas sofre alguma ameaça, percebe-

se uma perturbação no equilíbrio que se espera de uma interação (Zinker, 2007). Referindo o

que foi explanado à internação em instituições nomeadas como totais – aquelas de caráter

fechado que colocam barreiras à interação social com o meio externo – a convivência é

geralmente organizada em forma grupal, rigorosamente estabelecida em um cronograma e

supervisionadas pelo grupo de funcionários (Goffman, 1974). As seguintes falas corroboram o

explanado:

“A clínica tinha todo um cronograma diário: o despertar 7 horas da manhã, o café da

manhã, a espiritualidade que é um momento voltado pra cada paciente tá lendo um pouco

sobre a bíblia, voltado pra Deus. E a atividade mais frequente foi as reuniões terapêuticas,

que era feita por um dependente químico também em recuperação, não era um terapeuta

profissional, era um terapeuta que tinha feito um curso, e passava a experiência vivida.”

(Ronie)

“As regras eram bem rígidas. De participação dos grupos. Eles tinham listas de presença

pra todos os grupos, tinha que assinar, se abstivesse de alguma forma e não respeitasse

as regras de participar pelo menos de um grupo de psiquiatria na parte da manhã, era

penalizado.” (Danilo)

A sociedade constrói doutrinas que enquadram e ditam os modos em que as relações

devem ser estabelecidas. O indivíduo é visto apenas como um objeto e o inter-humano fica

comprometido, afastando – não extinguindo – a possiblidade do encontro genuíno (Buber,

2014). Dessa forma, os valores e concepções particulares da pessoa podem ficar ameaçados

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diante de um sistema imposto, o que a leva à opção de se adaptar tirando do sistema o que

necessita para sobreviver (Polster & Polster, 2001). Acerca do exposto Ronie relatou como se

sentiu e a posição que tomou diante de situações de maus-tratos:

“a clínica onde eu cheguei acontecia muito a questão de maus-tratos, abuso, mesmo! [...]

Coordenadores despreparados [...]. Eu fiquei muito ressentido com a minha família [...]

achava que eles não tinham direito de fazer isso, não entendia o motivo pelo qual eles

tavam fazendo. Mas eu tive que me adaptar àquele lugar como uma forma de sobreviver”.

Márcio também declarou suas percepções no que diz respeito a este tema: “essa

situação de ver os maus tratos, na época, eu sei cuidar muito de mim. Deixava passar. [...]

Admiti impotência perante aquilo lá, não podia fazer nada”.

Em consonância Goffman (1974) ressalta que a equipe dirigente de uma instituição total

tende a se sentir superior e os internos acabam por sentir-se fracos e censurados. Tal postura

favorece o nascimento de uma angústia, que acontece quando o indivíduo não enxerga algo ou

alguém em que se apoiar para buscar a superação e já não consegue amparo em si; é a negação

das possibilidades expressa em forma de medo (Forghieri, 2013). A fala de Danilo exemplifica

o afirmado:

Poderia perder acesso as suas coisas, até voltar pra ACE. A punição maior, lá dentro

todo mundo tem medo de voltar pra aquele lugar, onde tem menos liberdade, era um

tipo de ameaça que eles faziam [...]ACE é o lugar de menos autonomia dentro da

clínica, ala de cuidados especiais.

Márcio, por sua vez, contribuiu com uma fala acerca de como se sentiu ao presenciar

um episódio de violência no período de internação: “eu vi muita coisa ali dentro. O Jonas

(nome fictício) perdeu o movimento da mão, ficou amarrado com fio, no dia que ele chegou no

pátio lá, [...] Ele foi embora. Conviver com isso foi ruim, mas foi aprendizado, me ensinou a

não ser como eles”.

Quando um conflito acontece, surge uma oportunidade para a diferenciação dos limites

de cada uma das partes e, nesse processo, os indivíduos podem tornar-se mais conscientes de

suas polaridades culminando na possibilidade de estabelecer um desacordo construtivo

(Zinker, 2007). A esse respeito, Márcio descreveu: “mas Deus também me usou de muitas

formas, porque quando eu fui pra monitoria, eu comecei a ter voz lá dentro. Então, eu podia

debater com aquele determinado tipo de castigo”.

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A consciência que transcende

De acordo com Buber (2014) cada sujeito está preso em uma couraça que configura a

infinidade de signos que lhes é dirigido, dificultando a entrega de tudo o que lhe é próprio. São

poucos os instantes que permitem que essa armadura seja traspassada. Pode-se correlacionar

com esta afirmação o que Cardella (2009) expõe quando ressalta que as máscaras sociais

absorvem a pessoa de forma que não consiga estar disponível para espontaneamente sentir-se

mobilizada pelas situações inerentes à existência.

Quando o homem se percebe e vive conforme o seu ser, e consegue olhar para o outro

de maneira autêntica sem ser tomado por qualquer interrogação de qual imagem vai causar, as

barreiras que impedem a conversação genuína caem e o indivíduo se torna atento ao que tocou

sua alma (Buber, 2014). Um conceito correlato ao que foi descrito, é postulado na Gestalt-

terapia como awareness, sobre o qual se discorre: a vivência da disponibilidade mútua nas

relações promove uma ampliação da consciência da própria existência (Yontef, 1998). Acerca

disto, pode-se verificar na fala do colaborador Ronie:

“Através das experiências das outras pessoas que tavam lá passando pela internação.

Alguns que já tavam avançados no tratamento, vendo a internação de uma maneira

positiva, e isso de alguma forma foi me... despertando pra essa nova realidade. Então,

foi aonde eu descobri que eu tinha realmente um problema e que, a internação que era

involuntária, já tinha se tornado voluntária, por mais que eu não concordasse, pelos

profissionais que tavam lá despreparados.”

O movimento de voltar-se-para-o-outro não é algo banal que acontece a todo instante,

tampouco privilegia uma atividade meramente intelectual, pois é possível que se esteja rodeado

de pessoas e com elas se troque uma série de palavras, mas não se consiga uma conversação

genuína. Esta última refere-se ao encontrar, ainda que não se profira som algum, com

consciência de quem se é, sem qualquer expectativa, àquele em sua frente (Buber, 2014). Pode-

se perceber esta afirmação, na postura de um terapeuta em dependência química descrita na

experiência de Márcio:

“E ele sentou do meu lado, viu que eu era recém-chegado. [...]E eu esperando um murro,

um tapa, ele falou: “tamo junto, cara! ”.[...] Me abraçou. [...] A experiência de amor que

eu tive, de afeto, foi com ele [...]. Um terapeuta espetacular. [...] E durante esse período

[...] trabalhei muita coisa: os meus sentimentos, culpas, as vergonhas”.

O homem que compreende que a conversação genuína não pode ser segregada, pois é

uma unidade que integra ao mesmo tempo toda a multiplicidade que cabe a si e ao outro,

demonstra uma responsabilidade no comprometer-se verdadeiramente com a relação (Buber,

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2014). Colaborando com este postulado, Cardella (2009) declara que a maturidade nas relações

envolve perceber que se tem participação na ordem dos acontecimentos da vida. A fala de

Danilo exemplifica o discorrido:

“Entrei com a visão de... não tô aqui por culpa minha... tô aqui porque minha família tem

algum tipo de preconceito. Depois de muito tempo na clínica e, principalmente depois de

ter feito o inventário... consegui perceber que... quem me botou lá dentro fui eu... não foi

culpa de ninguém. Porque tomei umas decisões na vida que me fizeram chegar àquele

ponto.”

Ronie, por conseguinte, compartilhou algumas percepções acerca da experiência nos

grupos de autoajuda: “pra fazer a pós- internação, a pessoa precisa tá consciente que tem um

problema [...] Quando eu cheguei nos grupos de autoajuda, foi uma forma de me re-socializar

[...] percebi que tinha dificuldade de socializar”.

No momento em que toda e qualquer reserva é retirada, cada um em sua alma volta-se-

para-o-outro de maneira que a presença seja sentida verdadeiramente, tudo é novo e só é

contemplado por aquele que está consigo (Buber, 2014). Em consonância, Cardella (2009)

destaca que o cultivo da profundidade nas relações é possível quando se promove o resgate da

espontaneidade. A fala de Márcio exemplifica o que foi explicado:

“Cuido de mim hoje pra poder cuidar da minha atual namorada, da minha mãe, da minha

filha. Depois desse tempo, eu cresci muito em recuperação… como pai. Eu quebrei

algumas barreiras que eu mesmo colocava [...] e não conseguia chegar nela. Achava que

não tinha o direito. Nossa, quando eu fiz, [...] era isso que ela queria [...]. Hoje eu tenho

uma relação maravilhosa com a minha filha”.

A postura representada na fala, não é um mero saber racional, mas uma integração do

indivíduo no sentido de aceitar-se e agir sobre a sua realidade. Só se pode demonstrar o que se

tem através de acontecimentos que culminem em uma transformação verdadeira em

concordância com a palavra dialógica (Buber, 2014). Em convergência com este pensamento,

Yontef (1998) menciona que a integração das dimensões cognitiva, sensorial e afetiva, do

homem, favorece que o problema seja significado criativamente, de forma que a pessoa consiga

agir em sua própria realidade (Yontef, 1998). Percebe-se o que foi exposto na fala de Danilo:

“Hoje em dia eu não sou melhor só com a adicção, sou melhor como uma pessoa mais

humilde, mais focada, que consegue pensar mais a frente [...], planejar minha vida e ver

o que seria melhor pra mim.... consigo mirar numa coisa distante... e focar nela. Uma boa

palavra pra isso seja... ter mais fé... em mim mesmo. É uma visão que eu não tinha antes”.

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Considerações Finais

Inicialmente, a internação involuntária trouxe aos participantes um emaranhado de

conflitos no que diz respeito à intervenção familiar. Por conseguinte, refletiram no sentimento

de perda de autonomia diante da adaptação às das regras impostas pelas instituições.

Pode-se constatar que durante o tratamento, no que se refere à interação com alguns

monitores de disciplina (funcionários das instituições), foi relatado a falta de empatia e a

presença de maus-tratos verbais. Nas demais relações, visitas de familiares e amigos,

acolhimento psicoterapêutico, troca de experiências com os internos, as atividades propostas

pelos grupos de Narcóticos Anônimos (NA), foram mencionadas como fonte nutritiva e

facilitadora do tratamento.

A internação involuntária é vista pelos colaboradores como uma medida necessária que,

ao final do processo, optaram por continuar a recuperação participando de grupos de NA. O

presente estudo traz como novidade a contemplação da experiência particular dos indivíduos

dentro e fora das instituições.

Entende-se, a partir do que foi exposto, que os objetivos do presente estudo foram

alcançados. Entretanto, existe um caminho aberto e vasto para que o tema da internação

involuntária continue sendo considerado para estudos não apenas sob a ótica da Gestalt-terapia,

mas de todas as áreas do conhecimento, visto que as legislações acerca desse tipo de tratamento

mudaram recentemente e as adequações ainda estão em processo. Por essa razão, indica-se que

novas pesquisas sejam propostas, inclusive com a disponibilidade para compreender a vivência

de pessoas do sexo feminino.

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