pontes que fazem história - gecorpa.pt · ficha técnica 48 associados gecorpa 51 perspectivas a...

52
Revista do Grémio das Empresas de Conservação e Restauro do Património Arquitectónico REPORTAGEM As Pontes de Lisboa num percurso milenar CASO DE ESTUDO Reabilitação e reforço da ponte de Tavira ENTREVISTA General Eng.º Gonçalo Sanches da Gama PONTES que fazem história que fazem história Ano IV – N.º 14 Abril/Maio/Junho 2002 – Publicação trimestral – Preço e 4,48 (IVA incluído)

Upload: vungoc

Post on 19-Sep-2018

251 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Revista do Grémio das Empresas de Conservação e Restauro do Património Arquitectónico

REPORTAGEMAs Pontes de Lisboa num percurso milenar

CASO DE ESTUDOReabilitação e reforço da ponte de Tavira

ENTREVISTAGeneral Eng.º Gonçalo Sanches da Gama

PONTESque fazem históriaque fazem história

Ano

IV –

N.º

14 A

bril/

Mai

o/Ju

nho

2002

– P

ublic

ação

trim

estr

al –

Pre

ço e

4,48

(IV

A in

cluí

do)

Page 2: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002 1

Tema de Capa:Pontes que fazem história

Reconhecida pelo Ministério daCultura como “publicação de ma-nifesto interesse cultural”, ao abri-go da Lei do Mecenato.

Nº14 - Abril/Maio/Junho 2002

Propriedade e edição: GECoRPA – Grémio das Empresas deConservação e Restauro do PatrimónioArquitectónicoRua Pedro Nunes, nº27, 1º Esqº1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503980820Director: Vítor Cóias e SilvaCoordenação: Alexandra Antunes e Adrião e Leonor SilvaConselho redactorial: João Appleton, JoãoMascarenhas Mateus, José Aguiar, TeresaCampos Coelho Secretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número: A. Jaime Martins, Alexandra Antunes e AdriãoAníbal Aurélio Pinto Santos Ribeiro,Clementino Amaro, J. L. Câncio Martins, João Nunes da Silva, José Maria Lobo de Carvalho, Júlio Appleton, Luciano Lobo,Maria Teresa Rapoula, Nuno Moreira, Nuno Teotónio Pereira, Paula Oliveira Ramos, Vítor Cóias e SilvaDesign gráfico e produção:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected]:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected] Impressão: MLD Marketing Logística e DistribuiçãoDistribuição: Distribuidora Bertrand

Depósito legal: 128444/98Registo na DGCS: 122548Tiragem: 2000 exemplaresPeriodicidade: TrimestralOs textos assinados são da exclusiva responsabili-dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres-sas podem não coincidir com as do GECoRPA.

1

Ficha Técnica

48ASSOCIADOS GECoRPA

51PERSPECTIVASA tutela do património construídoDGEMN/IPPAR – Ambos necessários.Ambos insubstituíveis(Nuno Teotónio Pereira)

45LIVRARIA

24OPINIÃO

Pontes antigas(Aníbal Aurélio Pinto Soares Ribeiro)

26

34AS LEIS DO PATRIMÓNIODesburocratização e Simplificação(A. Jaime Martins)

41AGENDA

42VIDA ASSOCIATIVA

44ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIOGastronomia é oficialmente reconhecidacomo património, desde 2000(Maria Teresa Rapoula)

2EDITORIAL

4REPORTAGEM

Reabilitação de pontes de alvenaria(Luciano Lobo)

12CASO DE ESTUDO

Reabilitação e reforço da ponte deTavira

15CASO DE ESTUDO

Metodologia de inspecção e monitoragem de pontes de alvenaria:

pontes romanas no Alentejo

18CASO DE ESTUDO

Reforço da ponte rodo-ferroviária de Viana do Castelo

(J. L. Câncio Martins)

20ENTREVISTA

Entrevista a General EngenheiroGonçalo Sanches da Gama(por Alexandra Antunes e Adrião)

Ponte D. Luiz I, PortoFoto

de Te

lmo M

iller

Capa

7REPORTAGEM

As pontes de Lisboa num percurso milenar

(Clementino Amaro)

33E-PEDRA E CALQuantos euros vale uma ponte?Sites sobre pontes na Internet(José Maria Lobo de Carvalho)

32PROJECTOS E ESTALEIROSUma vida nova para a velha ponte D. Luiz, no Porto

36TECNOLOGIAAlgumas medidas na construção para a conservação preventiva de colecções museológicas(Nuno Moreira)

40NOTÍCIAS

38DIVULGAÇÃOA Sociedade de Geografia de Lisboasegundo o professor Luís Aires-Barros(por Alexandra Antunes e Adrião)

OPINIÃORevelações de um manuscrito

anónimo francês: A Obra de Eiffel em Portugal (1875 –1890)

(Paulo Oliveira Ramos)

Page 3: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

EDITORIAL

Pedra & Cal Nº 14 Abril . Maio . Junho 20022

As novíssimas notas de euro exibem, todas elas, gravuras de pontes e isso tem um significa-do: vencer um obstáculo, transpor uma barreira, comunicar, ligar, progredir, alcançar, che-gar. Ou então voar sobre, passar sem pisar, sem perturbar:

Tu que tens saber profundo,Que és engenheiro e vês bem,Ergue uma ponte onde o mundoPasse sem ‘smagar ninguém(1).

Há uma mística nas pontes (Pontífice: o construtor de pontes). Há uma grande nobreza nes-tas construções e nos engenheiros que as concebem e executam.

Em Portugal, há uma história escrita nas pontes: desde os romanos ao Estado Novo, passan-do pelos mouros e filipes; desde a pedra ao betão pré-esforçado, passando pela madeira e pe-lo aço. Há um nobre património, há uma ténue mensagem que nos chega do passado. Patri-mónio que tantas vezes malbaratamos e mensagem que tantas vezes ignoramos. A ponto deoutros, "lá fora", os valorizarem mais que nós próprios: A ASCE (American Society of CivilEngineers), por exemplo, tem uma ponte portuguesa na lista dos 28 Marcos da História Inter-nacional da Engenharia Civil, ao lado de obras como a Iron Bridge, o Farol de Eddystone ou aTorre Eiffel(2). Quantos portugueses, mesmo entre engenheiros e arquitectos, sabem disso?

Conservemos, portanto, as nossa pontes. Se o não fizermos, são vidas humanas que são pos-tas em risco, como os trágicos acontecimentos de Entre-os-Rios demonstraram; mas é tam-bém o nosso património e a nossa identidade que se vão perdendo.

Lisboa, Maio de 2002

Pontes que vencem o tempo

V. Cóias e Silva

(1) António Aleixo – Dedicado ao estudante de engenharia Laginha Serafim. "Este livro que vos deixo…" Vol. I – Notícias Editorial.(2) Rogers, et al. – Civil Engineering History. Engineers Make History. ASCE.

A P&C agradece ao eng.º Câncio Martins o ter aceite coordenar este número, e a todos aqueles que se prontificaram a colaborar.

Ponte Maria Pia, PortoProjecto de Gustave Eiffel.

Com os seus 160 metros, era omaior arco do mundo, quando

foi inaugurada, em 1877.

Page 4: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

GECoRPA

3

a sua empresa

a sua empresa

Do número apreciável de empresas que têm manifestado inte-resse na conservação do património arquitectónico português enas actividades do GECoRPA, foi seleccionado um grupo res-trito de patrocinadores da revista Pedra & Cal.Para distinguir essas empresas, particularmente empenhadasno sucesso da revista, foi criado o presente “Quadro de Honra”.

A Direcção do GECoRPA

Gabinete técnico de Engenharia, Lda.

Conservação e restauro doPatrimónio Arquitectónico, Lda

A representatividade e a actuação do GECoRPA assenta nos seus associados.Não basta que sejamos bons, é preciso que sejamos muitos!O GECoRPA pretende agregar empresas de conservação, restauro e reabilitação do património construído. Não só da construção,mas também do projecto, consultoria, instalações especiais. Associe-se ao GECoRPA ou, no caso de já pertencer ao nosso Grémio,traga um novo associado e contribua para o fortalecimento desta associação empresarial.

Contacte-nos! • Tel: 213 542 336 • Fax: 213 157 996 •E-mail: [email protected]

Para distinguir as empresas empenhadas no suces-so da revista Pedra & Cal, dentre as que reconhe-cem a importância da reabilitação do edificado e,em particular, da conservação e restauro do patri-mónio arquitectónico, o GECoRPA criou o Quadrode Honra Pedra & Cal.Pretende-se que passe a ser publicado em todos osnúmeros da revista, ocupando uma página, com oobjectivo de pôr em evidência as empresas apoian-tes, através da inserção do seu nome e logótipo. Se-rão seleccionadas, por ordem cronológica, um má-ximo de oito empresas das interessadas em aderir.O encargo anual para cada empresa é de e 5000. Ascontrapartidas são uma página de publicidade aolongo do ano e inserção, em cada número, de umanotícia, até meia página, divulgando a actividadeda empresa.

A Direcção do GECoRPA

Page 5: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

REPORTAGEM

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Tema de Capa

4

1• INTRODUÇÃOAs pontes de alvenaria são estruturalmenteconstituídas por abóbadas, muros de tímpa-no e pegões na maioria dotados de talha-ma-res a montante e por vezes também a jusante.As que ainda se encontram em serviço, re-montam a várias épocas desde as romanasaté aos séculos mais recentes. Há assim asclassificadas como "monumento nacional",de "interesse público" e com a maioria daépoca mais recente mas também algumascom vários séculos, sem qualquer classifica-ção. Salvo raras excepções, as pontes aindanão objecto de trabalhos de beneficiação, so-bretudo as que se encontram integradas narede rodoviária, encontram-se em mau esta-do, exigindo a sua premente reabilitação,através de reparação, reforço e consolidação. Este estado precário é motivado por di-versas causas:1.1• Falta de manutenção regular adequada,com proliferação de vegetação nociva, ac-tuando como por "cunha" entre as pedras,originando o seu desmonte e deslocamento;1.2• Deficientes condições de drenagem, porfalta ou obstrução de goteiras(desaguadoiros)com a consequente infiltração das águas plu-

viais no material de enchimento dos tímpanose desaprumo (empolamento) dos muros;1.3•Elevada fendilhação, originando a saídade inertes, arrastados pelas águas infiltradas;1.4• Infra-escavações nos pegões provoca-das pelas correntes de água das cheias e tam-bém pelo efeito corrosivo provocado nas ar-gamassas, pelas águas contaminadas com odesenvolvimento poluente;1.5• Efeitos altamente negativos consequen-tes do tráfego rodoviário, mormente o pesa-do, conduzindo através da sua acção dinâmi-ca, à deformação do pavimento, abóbadas edaqui à fendilhação, assentamento das fun-dações, deslocamento de talha-mares, etc.1.6• Traçados de acesso às pontes bem defi-cientes para o tráfego rodoviário actual, ori-ginando com os reduzidos raios de curvatu-ra nas entradas das pontes o derrube dos seusacrotérios ou muretes.1.7• Largura entre guardas, bastante estreitapara o tráfego actual incluindo o ligeiro, im-pedindo na maior parte dos casos o cruza-mento dos veículos. 2• METODOLOGIA SEGUIDA NA REBI-LITAÇÃO DE PONTES DE ALVENARIA2.1• A metodologia seguida pelo autor de-

pende da utilização que vem sendo feita daponte, isto é‚ se integrada ou não na rede ro-doviária. Se a utilização é de natureza pedo-nal ou de tráfego muito ligeiro como os deservidão rural, não haverá necessidade doalargamento da faixa de rodagem, manten-do-se como tal as características geométricasactuais quanto aos muros das guardas e lar-gura entre elas. Tal é a situação mais desejá-vel para as pontes classificadas ou mesmosem o serem, de interesse histórico. Porém,em pontes integradas na rede rodoviária,mormente quanto ao tráfego pesado, a exi-guidade da largura entre muretes de guar-das, vem obrigando ao alargamento da faixade rodagem e quando viável à alteração emplanta do traçado rectilíneo para o curvilíneo.2.2• No entanto, tanto para uma situação co-mo para a outra, a metodologia seguida peloautor, tendo em conta as causas para a degra-dação apontadas de 1.1 a 1.4, assenta em:a) Monitorização das fendas (aplicação detestemunhos) sempre que se disponha detempo para confirmação do seu estado evo-lutivo; b) reconhecimento geológico-geotéc-nico através de sondagem rotativa nos perfisdos pegões, para reconhecimento das carac-

Reabilitaçãode pontes de alvenaria

Ponte de Idanha-a-Velha. Alçado parcial de montante. Pavimento da ponte e muros de guarda.

Page 6: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

REPORTAGEMTema de Capa

5Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

terísticas do material de enchimento dos tím-panos, das fundações e respectivos terrenosde fundação; c) verificação das condições deestabilidade dos elementos existentes; d)con-cepção estrutural e respectivo dimensiona-mento, para os novos elementos estruturais;e) recalçamento de fundações, se necessário;f)consolidação das alvenarias das abóbadas,pegões e muros de tímpano, através de injec-ções de caldas de cimento ou de resinas, pre-gagens e atirantamento bem como o refecha-mento de juntas e fendas; g) consolidaçãointerior do material de enchimento dos tím-panos com injecções de caldas apropriadas,para garantia de uma maior estabilidade nafaixa de rodagem, tendo em vista o seu re-perfilamento ou suporte de um novo tabulei-ro que obedeça às condições do tráfego rodo-viário, que se quer satisfazer; h) através daaplicação de camada (ou membrana) imper-meabilizante subjacente ao pavimento e deinclinação longitudinal e transversal apro-priada do pavimento, provido de goteiras(desaguadoiros);3• EXEMPLOS DE ESTADO PRECÁRIOComo exemplo do estado precário existentena grande maioria das pontes de alvenaria

não intervencionadas, apresentam-se os ca-sos das pontes de Idanha-a-Velha (ponte deorigem romana) sobre o rio Pônsul, classifi-cada de "interesse público" e da ponte de Pe-drinhas sobre o rio Zézere, no concelho daCovilhã, admitida como remontando ao sé-culo XVI mas sem se saber, ainda, da razão deser da sua não classificação.4• PONTES INTERVENCIONADAS PE-LO AUTORDas pontes intervencionadas pelo autor,destaca ele as seguintes:•Ponte velha de Mirandela sobre o rio Tua(EN 15); ponte de Mação sobre a ribeira dasEiras (EN 3); ponte de Cheleiros sobre a ribei-ra de Cheleiros (EN 9); ponte de Unhais daSerra sobre a ribeira de Unhais (EN 230); pon-te dos Costas na Covilhã sobre a ribeira dosCostas (EN 18); ponte da Flandres na Covilhãsobre a ribeira de Flandres (EN 18); Sobre estes trabalhos tecem-se os seguin-tes comentários:4.1•PONTE VELHA DE MIRANDELAEm 1972, após a entrada em serviço da novaponte urbana de Mirandela (projecto do au-tor) foi-lhe solicitado pela JAE a sua inter-venção, na reabilitação da ponte velha (mo-

numento nacional) que passaria a ser, de fu-turo, reservada apenas ao trânsito pedonal.Encontrava-se esta ponte num estado de de-gradação extrema, com assentamento de fun-dações, fendas ou brechas ao longo de váriasabóbadas, desaprumo (empolamento) dosmuros de tímpano, deslocamento de canta-rias em vários talha-mares, etc.Face ao novo destino da ponte foi feito eaprovado o projecto da sua reabilitação queprevia para além dos trabalhos de consoli-dação, o restabelecimento do perfil trans-versal anterior, com a reposição dos murosde guarda em cantaria de granito e a reposi-ção do pavimento em lajedo de granito.No entanto, tais trabalhos, que em muito va-lorizariam a ponte e a própria cidade, nuncase realizaram, com a agravante da degrada-ção progressiva do estado da ponte.Esta situação, porém, veio a ser em termosestruturais alterada com a realização de tra-balhos de consolidação das articulações pro-visórias da ponte nova, previstos desde o iní-cio e que forçavam ao desvio do tráfegorodoviário da ponte. Tinha, pois, para se evi-tarem longos desvios, sobretudo para o trá-fego pesado, que se voltar a utilizar a ponte

Ponte de Pedrinhas. Pavimento revestido da ponte nascente e muros de guarda.

Ponte-velha de Mirandela. Fendilhação extremamente pronunciada numa das abóbadas.

Ponte de Mação. Alçado da ponte. Ponte de Mação. Largura existente da faixa de rodagem.

Ponte-velha de Mirandela, (ao fundo à direita.)Alçado visto da ponte nova.

Ponte de Pedrinhas. Talha-mar de jusante e nascença de uma abóbada.

Page 7: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

REPORTAGEM

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Tema de Capa

6

velha, o que impunha a sua prévia consoli-dação. Assim se salvou a velha ponte de maisproblemas, a acrescer aos tantos já sofridosao longo dos séculos da sua existência.4.2• PONTE DE MAÇÃO SOBRE A RI-BEIRA DAS EIRAS (EN 3)A documentação fotográfica que se seguepatenteia as escassas condições de traçado eda largura entre guardas (3,30 m) e os danosprovocados nas entradas, consequentes dosexíguos raios de curvatura, mormente parao tráfego pesado. Independentemente daconsolidação e reforço da ponte (fundações,pegões e muros de tímpano) haveria quemelhorar o traçado nos acessos à ponte e nopróprio traçado do tabuleiro alargado, quepara tal fim haveria que passar de rectilíneopara curvilíneo. Tal obrigou à execução du-ma estrutura de betão armado no interiorda ponte existente, consistindo numa vigade grande rigidez torsional, dando apoio àlaje do tabuleiro, com consolas de vão mui-to variável, de forma a dar o traçado curvilí-neo ao eixo. Esta viga apoiava em encontrosalargados e tinha um apoio fixo articulado,no pilar de betão armado, executado sobre otopo do pegão, o qual garantia através du-ma sapata, devidamente ancorada ao be-drock rochoso, por meio de ancoragens acti-vas e passivas, a absorção dos esforçostransmitidos pelo tabuleiro. Tal como con-cebido, assim foram os trabalhos realizados,com os resultados que se apresentam:4.3• PONTE DE CHELEIROS (EN 9) CER-CA DE MAFRATratava-se duma ponte com um desenvolvi-mento apreciável de cerca de 198 metros, pos-

suindo uma largura entre guardas de 5,53metros, insuficiente para o grande movimen-to de tráfego em especial o pesado. Esta si-tuação era agravada com a falta de visibilida-de de arruamentos transversais na margemdireita, originando vários acidentes graves.Tudo isto independentemente do estado dedegradação da ponte, exigindo trabalhos deconsolidação urgentes. A largura da ponte, oseu traçado rectilíneo e o razoável raio de cur-vatura no acesso da margem esquerda, per-mitindo a execução dum tabuleiro de betãoarmado dotado de consolas simétricas de vãouniforme e a aplicação da metodologia segui-da, não resolviam por si só, a falta de visibili-dade no encontro da margem direita. Por talfacto, o projecto aprovado e a empreitada ad-judicada, previa ali a demolição do piso supe-rior do imóvel extremamente degradado eque se encontra desabitado à excepção de umtalho alugado e em sua substituição a cons-trução de um terraço que permitisse desblo-quear aos peões o acesso ao arruamento con-finante, e ao mesmo tempo garantir ao tráfegoum mínimo de condições de visibilidade, co-mo se pode verificar da perspectiva constan-te do projecto e dos trabalhos adjudicados.Foram os trabalhos da ponte realizados emconformidade com o projecto e afim de nãoretardar a abertura da ponte ao tráfego rodo-viário; foi resolvido aguardar a expropriaçãodo imóvel (ou só a do piso necessário) para oprosseguimento da empreitada, o que nãodevia retardar, já que a peritagem quanto aomontante a liquidar, para efeitos do anda-mento judicial, já se encontrava feita. Com grande surpresa do autor, dez anos de-

corridos sobre essa data, ainda os trabalhosse encontram por concluir, como se vê dos re-centes elementos fotográficos.4.4• PONTES DE UNHAIS DA SERRA(EN 230), DOS COSTAS E DA FLANDRES(EN 18) NO CONCELHO DA COVILHÃDestas três pontes intervencionadas entre1992 e 94 ao abrigo da metodologia exposta,tendo em vista a sua reabilitação e alarga-mento da faixa de rodagem, a que maioresproblemas apresentou foi a da ponte dosCostas. Na realidade, a exiguidade da largu-ra entre guardas, os raios de acesso ao tabu-leiro de ambos os lados e a confinação numdos lados com um edifício fabril, obrigou àconcepção de um alargamento assimétrico,que impôs a execução num dos lados de umanova estrutura de apoios de suporte da lajede tabuleiro ali alargada substancialmente.5• CONCLUSÕESOs trabalhos de reabilitação das pontes de al-venaria não poderão ser considerados comotrabalhos de rotina. Eles exigem uma grandesensibilidade pelos mais diversos elementoscondicionantes (com especial ênfase nos histó-ricos e ambientais) e nos objectivos pretendi-dos para o alargamento, quando imprescindí-vel, da faixa de rodagem. Haverá ainda atomar em consideração o disposto na Carta deVeneza, diferenciando bem os novos elemen-tos estruturais acrescentados em alteração dosjá existentes à época da intervenção.

LUCIANO LOBO, engenheiro civil(Instituto Superior Técnico). Membroconselheiro da Ordem dos Engenheiros

Ponte de Mação.Trabalhos de alargamentode um encontro.

Ponte de Mação.Montagem de armaduras na laje do tabuleiro.

Ponte de Mação.Vista do paramento de montante.

Page 8: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

REPORTAGEMTema de Capa

7

As pontes de Lisboa num percurso milenar

O desenvolvimento do comércio terá sidoum dos principais impulsionadores para agradual instalação de uma rede viária ter-restre, em articulação com as vias fluviais eas grandes rotas marítimas que, no âmbitodo Mediterrâneo, foram implementadaspelos Fenícios, Gregos e Cartagineses.Os regulares contactos comerciais inicia-dos pelos primeiros, a partir do século VIIIaC na procura de minérios extraídos na pe-nínsula Ibérica, irá, necessariamente, pro-mover a consolidação de caminhos quepermitam escoar os minérios até às zonascosteiras e, em troca, receber produtos decariz orientalizante.O estuário do Tejo, com as suas condiçõesexcepcionais tanto naturais, económicascomo de porto seguro e de controle de umvasto território, estimula, desde logo, in-tensos contactos comerciais com o exterior,de que resulta o desenvolvimento promis-sor do povoado que virá a designar-se Oli-sipo (Lisboa) ainda antes do século II aC.A ocupação romana e as campanhas de pa-cificação dos povos indígenas vão dar umanova função e incremento à rede viária, ouseja, uma rápida deslocação dos exércitospara um mais eficaz domínio e gestão doterritório. É neste contexto que, após a con-quista de Olisipo, em 138 aC, pelo procon-sul Décimo Junio Bruto, este fortifica a ci-dade para base de apoio às suas operaçõesmilitares, a norte, seguindo pela estrada pa-ra Bracara (Braga).Com a afirmação dum comércio local e re-gional, estrutura-se um sistema radial devias principais e secundárias, com a sua ori-gem em Olisipo, promovendo a edificaçãode pontes. Apesar dos vários condicionalis-mos que ainda se apresentam ao estudo viá-rio romano, Vasco Gil Mantas avançou comuma proposta de interpretação das vias ro-

manas com origem em Olisipo, em 1996, on-de se evidenciam já quatro ligações que ain-da hoje são dominantes: a via marginal pa-ra Cascais; a antiga estrada de Sintra; assaídas por Loures e Sacavém. Nada, até aomomento, permite avançar que algumasdas pontes de que há memória sejam de ori-gem romana, ou que tenham sofrido re-construções na Idade Média ou Moderna.No entanto, o posicionamento geo-estraté-gico de algumas delas permite-nos aceitaressa hipótese de continuidade.A área do município de Lisboa é altamenteampliada pelo Decreto-Lei de 18 de Julhode 1885, com rectificações posteriores, pas-sando a ter como limites a circunvalaçãofiscal desde Algés até Benfica e daqui atéSacavém pela estrada militar. São integra-das as freguesias da periferia, com vastosterritórios agrícolas, quintas, azinhagas,atravessados por várias ribeiras. Como su-porte geográfico e temporal, utilizou-se o

Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, sob adirecção de Filipe Folque: 1856-1858. Tra-ta-se, provavelmente, do último levanta-mento onde foi registado, com rigor, várioscursos de água, no concelho de Lisboa, eque a partir de finais do século XIX desapa-recem paulatinamente, com a expansão dacidade até meados do século XX, de acordocom o plano geral da cidade desenvolvidopor Ressano Carcia (Fig. 1).Nesta abordagem às pontes do territóriode Lisboa apenas se referencia, por limita-ções de espaço e de tempo, os cursos deágua e suas ligações dos quais nos chega-ram mais evidências ou foram mais mar-cantes no quotidiano da cidade.O sistema orográfico da região de Lisboa éparticularmente diverso, com as suas coli-nas, vales encaixados, a serra de Monsanto eo planalto. Esta realidade proporcionouuma rede hidrográfica fantástica, como sepode constatar, a título de exemplo, na Car-

Figura 1 – Segundo Vasco Gil Mantas, 1996.

Legenda• Vias principais

Vias secundárias••••• Trajectos prová-

Page 9: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

REPORTAGEM

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Tema de Capa

8

ta Topographica da Linha de Defesa da Ci-dade de Lisboa, levantada em 1835. Nestapode observar-se, por exemplo, no sítio deSete Rios, topónimo em si altamente suges-tivo, um afluente da ribeira de Alcântara, eque a montante, perto de Palma de Baixo,subsiste o registo de Ponte Velha, local ondehoje se percorre a Estrada da Luz. Uma daslinhas de água que vai marcar para sempre

a estrutura urbana da cidade, desde, pelomenos, o século V aC é o esteiro da Baixa.Neste confluem duas ribeiras por alturas daPraça da Figueira – Rossio, uma vinda pelovale de Arroios e outra de S. Sebastião da Pe-dreira, ambas bordejadas por duas antigasvias. Até ao século XII este braço de rio deli-mita, em linhas gerais, a área urbana, a poen-te, e integra a estrutura portuária e de cons-trução e reparação navais. No século XIV háreferências à ponte da Galonha ou de Mor-raz para transpor o que não passa já de umsimples caneiro. A ponte de madeira faz a li-gação entre a Rua da Calcetaria, vinda de S.Francisco e a Rua Nova dos Ferros, por altu-ras do actual cruzamento da rua do Ourocom a Rua do Comércio. José de Vasconcel-los e Menezes, no seu estudo sobre as Terce-nas de Lisboa, deixou-nos uma reconstitui-

ção da dita ponte sobre o caneiro, ondeigualmente figuram as Tercenas de D. Dinise as casas das galés, numa zona exterior aomuro de defesa da Baixa.O caneiro vai dar lugar ao cano real, no sécu-lo XV, sobre o qual vai ser aberta a Rua Novade El Rei, em 1466. Seguindo para montantea ribeira vinda de Arroios, há referências aobras de reconstrução de uma ponte no sé-

culo XVI, na actual zona do Martim Moniz.A toponímia local regista, em meados do sé-culo XIX, a Rua dos Canos, coincidindo como troço final da antiga ribeira.Ao longo da Rua Direita dos Anjos existia,na segunda metade do século XIX, um vas-to troço da ribeira a céu aberto, conhecidopor Regueirão dos Anjos, onde se referen-cia uma ponte dando acesso ao Beco de Ma-ria Luísa, a partir do Campo de Santa Bár-bara. O regueirão encontra-se canalizadojunto à primitiva localização da Igreja dosAnjos. No âmbito das obras de abertura daAvenida D. Amélia (actual AlmiranteReis), na primeira década de 900, desapare-ce este último vestígio.O topónimo Arroios, imediatamente amontante dos Anjos, – cujo significado serefere a pequena corrente de água – , pode-

rá resultar de, no local, confluírem simpleslinhas de água que, a partir daí, dão expres-são à ribeira. Viajando agora até à zona nas-cente da cidade medieval, constitui-se, en-tre outras, a freguesia de S. Miguel(Alfama), em 1180. Fica compreendida en-tre a praia, a sul, a Cerca Moura, a poente, osítio de Alfungera (mais tarde o Salvador),a norte, e a regueira, a nascente. Actual-

mente a Rua da Regueira delimita em gran-de parte as actuais freguesias do bairro deAlfama, – S. Miguel e S. Estevão (Fig. 3).A regueira viria até ao Tejo algures entre oLargo do Chafariz de Dentro e a Ermida dosRemédios. No entroncamento das Ruas dosRemédios e da Regueira teria eventualmen-te existido uma pequena ponte integrada navia romana que grosso modo coincide coma primeira daquelas vias (Fig. 3).A estrada teria o seu ponto de partida por al-turas do Bairro da Sé, num local assinaladopor um marco miliário do imperador MarcoAurélio Probo (276-282), e dirigia-se a Méri-da por Santarém e Ponte de Sôr.Por alturas de Chelas, a via romana atraves-saria o vale onde corria uma ribeira, com asua foz no início da antiga Rua Direita de Xa-bregas. A linha do caminho-de-ferro do

Figura 2

Figura 2 (à esquerda): Planta de Lisboa.

Lado direito – Figura 3 (à esquerda): - Rua da

Regueira, no seu troço final, junto à Ermida dos Re-

médios. Figura 4 (à direita): Litografia do Aque-

duto das Águas Livres no Vale de Alcântara, 1809,

I. Clark, M.C.L..

Page 10: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

REPORTAGEMTema de Capa

Norte transpõe a estrada e a ribeira atravésde dois viadutos em ferro, afortunadamen-te ainda preservados.A ribeira corria um pouco a nascente doConvento de Chelas. Foi encontrado no sé-culo XVII um fragmento de um provávelmarco miliário (milha III) no interior da igre-ja. É plausível ter existido uma ponte nestetraçado da via. Um pouco mais a nordeste

corria outra linha de água, vinda do planal-to, freguesia da Charneca, e contornava, asul, Olivais Velho, já perto da foz.De entre os cursos de água mais significati-vos, a poente da cidade, destaca-se a ribeirade Alcântara, já que é a melhor documenta-da e retratada. Nascendo a noroeste da ci-dade, entra no actual concelho junto às Por-tas de Benfica (antiga alfândega). Nestebairro ficou a memória da existência de umaponte romana, na Estrada das Garridas, acerca de 50 metros do chafariz erguido em1788, na Estrada de Benfica. Ainda conheciesta ponte nos anos 60, antes da segunda fa-se de canalização da ribeira. Para além des-ta, e num percurso de 500 metros, existiammais três pontes: na Travessa do Rio, Ave-nida Grão Vasco e Avenida Gomes Pereira.O sítio da ribeira era designado pela popu-

lação local por "caniço", ou seja, local comcanas delgadas que vivem nas margens dosrios. Não deixou boas recordações, dadosos cheiros intensos no Verão, por falta decaudal! Com a abertura do caminho-de-fer-ro de Sintra, nos anos 80 do século XIX, foiedificada uma ponte em ferro sobre a ribei-ra imediatamente a norte do desaparecidoapeadeiro da Cruz da Pedra, em S.Domin-

gos de Benfica. Mas é o troço final da ribei-ra, a partir de Campolide, tendo como panode fundo o Aqueduto das Águas Livres,que artistas nacionais e estrangeiros nos le-garam sugestivas vistas da ribeira, com suaspontes, passagem a vau bem como a vidarural que aqui se desenrolava nos séculosXVIII e XIX (Fig. 4). A ponte de dois arcos,junto a uma azenha e a outras instalaçõesrurais, estava numa das vias que ligavaCampolide a Benfica, sensivelmente no lo-cal onde hoje passa o Eixo Norte-Sul. Exis-tiam mais duas pontes nestre troço da ri-beira, uma delas imediatamente a sul doaqueduto, fazendo igualmente a ligação aBenfica, pelo sopé da serra de Monsanto.Continuando a caminhada ao longo do rioficava a ponte que fazia a ligação da Rua daFábrica da Pólvora com a Rua dos Terramo-

tos, dando a segunda acesso à Estrada daCircunvalação (hoje Rua Maria Pia), por al-turas do Arco do Carvalhão. Esta ligação se-ria de construção recente já que o troço derua sobre a ponte era designado por Rua daPonte Nova. Neste local confluia uma ra-zoável ribeira vinda de Monsanto e que pas-sa ainda hoje junto à Quinta da Pimenteira.Um pouco mais a juzante ficava outra pon-

te fazendo a ligação da Rua da Fábrica daPólvora agora com o caminho da Rua dasQuintas do Loureiro, seguindo um percur-so tortuoso até alcançar a Circunvalação,junto ao Cemitério dos Prazeres, ou seja,através do Casal Ventoso. Estas duas pon-tes não figuram nos mapas da cidade atéaos anos 40 do século XIX, pelo que a suaconstrução está associada à industrializa-ção deste troço do vale.Na sequência do percurso ribeirinho, quede Lisboa se dirigia a Cascais, surge natural-mente a ponte de Alcântara, acabando pordar nome ao sítio que aí cresceu. Em registosdo século XVII, a ribeira bifurcava junto àfoz, abraçando uma caldeira que alimenta-va um moinho de maré.Com o crescimento urbanístico da zona,construção de casas religiosas, a edificação

9

Figura 3 Figura 4

Page 11: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

REPORTAGEM

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Tema de Capa

da Tapada da Ajuda, por D. João IV, a aqui-sição de quintas, por D. João V, estes e ou-tros factos contribuíram para se proceder àmelhoria da circulação na ponte, com o seualargamento, em 1743, sendo, pouco tempodepois, colocada a estátua de S. João Nepo-

muceno, protector dos navegantes.Esta ponte é, de facto, a mais paradigmáticade todas as registadas no concelho, já quevencia um rio ainda de razoável dimensão enavegável até ao século XIX, e porque guar-da algumas memórias da história da cidade.Foi junto a si que as tropas de D. António,Prior do Crato, tentaram, em vão, evitar aentrada triunfante em Lisboa das tropas deFilipe II, em 25 de Agosto de 1580. Em ho-menagem à figura de D. António, a antigaRua Direita do Livramento, imediatamentea nascente da ponte, designa-se actualmen-te por Rua Prior do Crato. Após um longoperíodo de história protoindustrial, com ofuncionamento de várias azenhas, ao longodo século XIX, vão-se instalando indústrias,utilizando a corrente de água, como a doscurtumes, estamparia, chitas e a fábrica da

pólvora, contribuindo para uma irrecuperá-vel qualidade da água.Com a chegada do caminho de ferro a Al-cântara-Terra, em 1887, é construída umaponte metálica sobre a ribeira, a sul doAqueduto das Águas Livres, passando ago-

ra sobre o mesmo "distraídos" condutores!Outra consequência imediata desta obra fer-roviária foi o aterro da centenária ponte, pa-ra construção da estação e da ligação à linhado Estoril. Procede-se à salvaguarda da es-cultura de S. João Nepomuceno, em 1888,com a sua entrada no Museu do Carmo, ho-je, Associação dos Arqueólogos Portugue-ses. Dá-se, assim, início à cobertura do ago-ra designado caneiro, de emanaçõespútridas, obra que será concluída nos anosquarenta do século XX, dando lugar à actualAvenida de Ceuta.Nascendo na serra de Monsanto, o rio Secoé a única linha de água da cidade onde se po-de ainda contemplar duas pontes – hoje afuncionarem como viadutos –, e reconstituirgrande parte do percurso da ribeira.O fio de água que ainda corria em meados

do século XX, levou a população local a de-signá-la por regueira, de acordo com o tes-temunho de uma senhora de 72 anos, nasci-da no local e a viver na Rua do Cruzeiro,curiosamente no troço que em meados doséculo XIX era designada por Calçada daPonte Nova. A regueira é canalizada na se-gunda metade do século XX, dando lugarao prolongamento da Rua D. João de Cas-tro. A segunda ponte dá ainda hoje passa-gem à Calçada da Boa Hora, embora actual-mente o troço da via a sudeste da ponte sejadesignado por Aliança Operária. A sul dasegunda ponte, a rua, construída no troçodo rio, designa-se por Diogo Cão, ou seja,dois prestigiados navegadores de alto mar,agora toponimicamente associados a umleito de rio seco…De entre os vários fios de água que nascemna Serra de Monsanto, refira-se agora umapequena ribeira que delimitava, a nascente,a Quinta do Palácio de Belém, depois de pas-sar pelo Pátio das Vacas. Em meados do sé-culo XIX é conhecida por Regueira da Ajudae tinha a sua foz imediatamente a nascenteda Praça de Dom Fernando (hoje Afonso deAlbuquerque) já em troço canalizado.Um pouco mais a poente há registo de maisuma ribeira e que veio a delimitar, a nascen-te, o território do Mosteiro dos Jerónimos,vindo a herdar deste a sua última designa-ção. Também aqui existiu o topónimo Re-gueira, agora associado a um beco, paraleloà linha de água.A iconografia dos Jerónimos revela-nosuma interessante ponte de um arco, bemcomo um elegante chafariz, (Fig. 5).Em meados do século XIX a ribeira ainda seapresenta a céu aberto ao longo da Rua deSan Jerónimo e mais a montante, ao longoda estrada para a Portela. Na ligação dasduas vias existia uma ponte que fazia a pas-sagem para a Azinhaga de Domingos Ten-

10

Figura 5 – Mosteiro dos Jerónimos. Óleo sobre tela de Filipe Lobo, séc. XVII.

A iconografia dos Jerónimos revela-nos uma interessante ponte de um arco bem como um elegante chafariz

Page 12: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

REPORTAGEMTema de Capa

deiro que levava a Alcolena de Baixo, antigaaldeia, a poente da Igreja da Memória. A ju-sante, o troço final da ribeira já está canaliza-do, mantendo-se como referência até aosanos 40 do século XX o Largo do Chafariz deBelém, que peripécias dos tempos levouaquele chafariz até ao Largo do Mastro. A ribeira de Algés delimita grosso modo oconcelho de Lisboa, a poente. Encontra-secoberta apenas no seu percurso final, e rece-be ainda caudal de pequenas ribeiras vindasde Monsanto e de Carnaxide.Das três pontes referenciadas ao longo des-ta linha de água destaca-se a que se encon-trava junto à foz e onde se veio a situar o edi-fício da alfândega. A construção da ponteaconteceu em 1608, integrada numa cam-panha de melhoramentos que incluiuigualmente a construção das pontes daCruz Quebrada e de Caxias, desempenhan-do estas ainda, de forma "sofrida", a sua fun-ção primitiva.Mais uma vez o progresso trazido ao longodo século XX levou à canalização da ribeira,na zona urbana, e ao inevitável desapareci-mento da ponte. Desta rápida viagem pelas pontes do conce-lho, ficou evidente o papel de "fronteira" queas linhas de águas sempre oferecem, mas desimultânea doçura na oferta de água e depassagem… até que as mais frágeis não re-sistem a uma leitura de progresso. As me-mórias de regueiras, de pontes, de sonhos,estão ainda muito vivas na população local,pelo que urge fazer um trabalho sistemáticode recolha, até que a idade o permita!

Bibliografia

– Atlas da Carta Topográfica de Lisboa sob adirecção de Filipe Folque: 1856-1858, Lisboa,Câmara Municipal.– Atlas de Lisboa, A Cidade no Espaço e noTempo, Lisboa, Contexto, Editora, Lda., 1993.

– CALADO, Maria, FERREIRA, Vitor Matias,Lisboa, freguesia de S. Miguel (Alfama), Lis-boa, Guias Contexto, 1992.– CONSIGLIERI, Carlos e outros, Pelas Fre-guesias de Lisboa, O Termo de Lisboa, Lisboa,Pelouro da Educação, Câmara Municipal deLisboa, 1993.– DIAS, Marina Tavares, Lisboa Desapareci-da, Lisboa, Quimera, 1988 e 1990, Vol. 1 e 2.– FIGUEIRA, Padre Francisco da Silva, OsPrimeiros Trabalhos Literários, Lisboa, Im-prensa Nacional, 1865.– MANTAS, Vasco Gil, A Rede Viária Romanada Faixa Atlântica Entre Lisboa e Braga, tesede Doutoramento apresentada na Universida-de de Coimbra, Coimbra, 1996.

– MENEZES, José de Vasconcellos e, "Tercenasde Lisboa - I", Revista Municipal, nº. 16, Lis-boa, Câmara Municipal, 1986.– RIBEIRO, Isabel, CUSTÓDIO, Jorge, SAN-TOS Luísa, Arqueologia Industrial do Bairrode Alcântara, Lisboa, Companhia Carris deFerro, 1981.

11

PUB

CLEMENTINO AMARO, Arqueólogoda Direcção Regional de Lisboa do IP-PAR; com a colaboração de AlexandraAntunes e Adrião

pub BreraVAI EM

FOTOLITO

Page 13: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

1•DESCRIÇÃO DA PONTE E ANTE-CEDENTESA ponte romana de Tavira sobre o Rio Gi-lão é constituída por uma estrutura de al-venaria de pedra que inclui sete arcos decantaria. Tem um desenvolvimento de 86m e uma largura total de 6,45 m, confor-me se apresenta na Fig. 1.Distinguem-se duas partes na ponte: umaconstituída por três arcos provavelmenteda época romana e outra constituída porquatro arcos e talha-mares salientes queresultaram da reconstrução da ponte rea-lizada em 1656, conforme consta do con-trato assinado e registado em Lisboa em22 de Julho de 1655 (1). A reconstrução daponte resultou, já nessa época, do efeitodas cheias do rio Gilão.Em 3 de Dezembro de 1989, uma grandecheia atingiu a cidade de Tavira e a pontefoi sujeita aos efeitos da infra-escavação efluxo das águas transportando objectosde grandes dimensões, os quais emba-tiam na estrutura da ponte. Um dos talha-

-mares, a montante, ficou praticamentedestruído e os arcos 4 e 5 (Fig. 2) muito da-nificados. As infra-escavações foram tam-bém significativas nas nascenças destesarcos (2).Em Fevereiro de 1991 foi realizada umaprotecção provisória da zona afectada epreenchidas com betão as zonas infra-es-cavadas que eram visíveis.Em Março de 1992 foi solicitado ao gabi-nete A2P a realização do projecto de rea-bilitação e reforço da ponte, o qual viria aser executado pela empresa TeixeiraDuarte, SA.

2•DIAGNÓSTICO E MEDIDAS DEINTERVENÇÃOTendo a causa da destruição parcial daponte sido a referida cheia, a interven-ção na ponte de Tavira teve como objec-tivo dotá-la de capacidade para supor-tar estas acções pelo que, para além dareconstrução da ponte, a sua estruturafoi reforçada.

Para avaliar globalmente a situação pro-cedeu-se ao estudo hidraúlico com o ob-jectivo de avaliar os níveis e caudais decheia e a um estudo geotécnico por for-ma a avaliar as condições de fundação.

A destruição parcial da ponte e a sua de-terioração, ilustradas na Fig. 2, são devi-das aos seguintes aspectos:– Acção da infra-escavação das funda-ções resultando do efeitos das marés edo escoamento da água do rio Gilão,agravado quando em situação de cheia;– Deficientes condições do terreno defundação e fundações pouco profundase incoerentes ou mal consolidadas;– Deterioração da alvenaria ao longo dotempo.

Considerando a avaliação global da si-tuação e a aceitação de que actualmen-te não é possível evitar a ocorrência decheias em Tavira, propôs-se um con-junto de intervenções por forma a anu-

12

CASO DE ESTUDOTema de Capa

Reabilitação e reforçoda ponte de Tavira

Figura 1 – Localização, Planta e Alçado.

Zona reconstruída no séc. XVII

Page 14: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

CASO DE ESTUDOTema de Capa

lar ou reduzir os seus efeitos na pontede Tavira:– fixação do leito do rio a montante e a ju-sante da ponte através da realização deum tapete de enrocamento aplicado so-bre geotêxtil e filtro de areia;– consolidação das fundações através deinjecção da alvenaria e enrocamento dasfundações actuais e através da introdu-ção de microestacas;– consolidação e reforço da estrutura dealvenaria da Ponte;– reconstrução do talha-mar destruído;– beneficiação geral e reabilitação da pon-te, envolvendo refechamento de juntas,substituição de blocos de cantaria, rebocoe pintura da alvenaria e realização de no-vo pavimento sobre a ponte.

Com estas medidas pretendeu-se garan-tir a solidez da ponte em situação decheias para além de assegurar a sua ca-pacidade resistente para o trânsito deveículos ligeiros, mantendo o aspecto

exterior e a própria função resistente daestrutura de alvenaria.A solução adoptada consistiu na execu-ção de uma estrutura de betão armadono interior da ponte e talha-mares, for-rando a estrutura de alvenaria e canta-ria, estrutura que se interligou às mi-croestacas através de maciços de betãoarmado.Por forma a fundamentar o dimensiona-mento do reforço procedeu-se a uma mo-delação da nova estrutura de betão armado e da estrutura de alvenaria, in-cluindo-se a simulação da interacção so-lo-estrutura.No que se refere às fundações conside-rou-se que as novas microestacas deve-riam ser dimensionadas para as acçõesverticais correspondentes à nova estru-tura interna, enchimento e sobrecargas,garantindo a fundação existente e conso-lidada a resistência para o peso próprioda estrutura de cantaria e alvenaria (ex-terior) da ponte.

A consolidação das fundações envolveunuma 1ª fase a injecção com calda de ci-mento, ou calda de cimento e areia domaciço de fundações, realizada por fa-ses, e numa 2ª fase a execução de mi-croestacas injectadas de pequeno diâ-metro (diâmetro nominal de 92 mm). NaFig. 3 apresentam-se pormenores deexecução das microestacas.

A realização da estrutura interna da pon-te envolveu os seguintes trabalhos:– remoção do pavimento e enchimentodo interior da ponte e realização de umanova estrutura de betão armado beto-nada contra a alvenaria-cantaria e inter-ligada às microestacas através de maci-ços de encabeçamento realizados aonível das nascenças dos arcos. Na Fig. 4vistas do interior da ponte com o betãojá protegido por pintura asfáltica;– enchimento do interior da estrutura debetão armado com um betão leve (betãocelular 14 kN/m3).

13

Figura 2

Figura 2 – Vista da destruição de um talhamar e dedois arcos. Pode ver-se a protecção provisória

realizada em Fev. 1991.

Figura 3 – Execução de uma microestaca e visualização da sua selagem após escavação

para realização do maciço de fundação e ligação às microestacas.

Figura 4 – Vistas interiores da ponte, vendo-se a estrutura de reforço em betão armado.

Figuras 5a e 5b – Talha-mar com infra-escavação eperda de forro de cantaria e respectiva reposição.

Figura 3

Figura 5a Figura 5b

Figura 4

Page 15: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

CASO DE ESTUDO

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Tema de Capa

Nas zonas dos encontros, para além domaciço de encabeçamento das estacas,foi realizada uma pregagem com barrasde aço inox Ø 25, por forma a melhorar aligação e consolidação do muro testa.

A beneficiação geral da ponte envolveuos seguintes trabalhos:– impermeabilização do betão armado daponte com uma emulsão betuminosaaplicada a frio;– refechamento de juntas, preenchimentode vazios na alvenaria e reposição de blo-cos de cantaria com argamassa de ligantehidráulico de base inorgânica especial-mente concebido para restauro de alve-narias e cantarias;– reboco das alvenarias com argamassade cal e areia e posterior caiação;– reabilitação do guarda-corpos envol-vendo decapagem, primário à base decromato de zinco e óxido de ferro e pin-

tura à base de resinas de borracha clora-da modificada;– reposicionamento de tubagens parapassagem de cabos eléctricos e de teleco-municações;– realização de novo pavimento em calçada

Nas Fig. 5a e 5b apresentam-se fotogra-fias que ilustram a reposição de blocos decantaria e preenchimento de vazios na ba-se de um talha-mar.Na Fig. 6 apresentam-se vistas gerais daobra após a reabilitação.Em conclusão, importa referir que a con-cepção adoptada e a cuidadosa realizaçãodos trabalhos consolidaram a obra paramais alguns séculos.

3•REFERÊNCIAS(1) A. C. Anica – Leitura Paleográfica da Es-critura do Contrato para a Reedificação

da Ponte realizado em 1656, Tavira, 1985(2) Câmara Municipal de Tavira, 1990 – In-tervenção após as Cheias de 1989.

14

Figura 6a, 6b e 6c –Vistasgerais da ponte de Tavira

após a reabilitação.

JÚLIO APPLETON – Engenheiro Civil,IST. Professor Catedrático, IST. C,JOÃO NUNES DA SILVA, ENG. CI-VIS, A2P CONSULT LDA

Figura 6a

Figura 6b

Figura 6c

Page 16: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

CASO DE ESTUDOTema de Capa

A Oz procedeu recentemente à inspec-ção de três pontes de origem romana,tendo em vista o levantamento de ano-malias e caracterização do seu estadode conservação. Foram observadas aspontes de Brenhas (Moura), Vila Ruiva(Alvito), Monforte e Vila Formosa (Al-ter do Chão).Tratam-se de monumentos classifica-dos cuja sua construção remonta à épo-ca romana, contudo verifica-se presen-temente heterogeneidade nalgumasdestas obras devido às sucessivas inter-venções que foram sofrendo ao longodos tempos. A ponte de Vila formosa ea ponte de Vila Ruiva são consideradasduas das mais importantes obras do gé-nero no país.As inspecções em análise enquadram--se em acções de manutenção promovi-das pelo IPPAR. A metodologia destasinspecções consistiu numa inspecção

preliminar, baseada no exame visualdas estruturas, registando fotografica-mente anomalias e outros aspectos re-levantes.Durante estas inspecções constatou-se

que todas as pontes beneficiaram deobras de conservação, como selagemde fissuras e refechamento de juntas

nos arcos e nos paramentos. Verificou--se que todas as directrizes dos arcosse apresentam estáveis, denotando ainexistência de anomalias importan-tes acima do nível das águas. Foram,ainda, detectadas algumas fissurasque, mesmo depois de seladas, vierama reabrir. Na sequência desta inspecção prelimi-nar,foi aconselhada a monitoragem defissuras seleccionadas como represen-tativas das anomalias detectadas, aqual decorre presentemente, tendo emvista a caracterização do seu estadoevolutivo e a definição de uma estra-tégia de intervenção. Para tal, foraminstaladas pares de bases de mediçãonas fissuras seleccionadas (pequenosdiscos metálicos protegidos contra acorrosão), para medição da sua aber-tura com um alongâmetro mecânico.

Os resultados obtidos da monitora-gem das fissuras seleccionadas, nãoindiciam movimentos significativos

15

Metodologia de inspecção e monitoragem de pontes de alvenaria

Pontes romanas no Alentejo

Ponte de Brenhas. Paramento de jusante.

Ponte de Vila Ruiva. Vista de montante. Ponte de Monforte. Paramento de jusante.

Page 17: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

CASO DE ESTUDO

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Tema de Capa

das estruturas, podendo-se concluirque, em geral, as fissuras se encon-tram estabilizadas, com excepção daponte de Vila Formosa onde se registaevolução, embora pouco significativanuma das fissuras.Em construções de alvenaria de pedracomo as pontes em apreço, pode ser ne-cessária a recolha de informação adi-cional. Esta necessidade pode surgirpor duas razões principais: quando sedetectem anomalias durante as inspec-ções preliminares ou de manutenção;ou quando se preveja uma mudançanas solicitações actuantes que introdu-za esforços superiores aos previstos naconcepção original da ponte. Quando for necessário proceder auma análise estrutural, visando o es-tudo do equilíbrio da estrutura, háque aferir e validar o modelo estrutu-ral adoptado. Para tal, pode recorrer--se à caracterização das propriedadesmecânicas da alvenaria, através da

realização de ensaios com macacosplanos. Trata-se de um ensaio in situnão destrutivo que permite medir oestado de tensão, estimar o módulo deelasticidade e a resistência à compres-

são da alvenaria. Com o objectivo de avaliar em porme-nor a integridade das secções dos ele-

mentos estruturais, pode recorrer-se aensaios de observação assistida de fu-ros ou cavidades, através de técnicasde observação boroscópica ou assisti-da por vídeo, permitindo avaliar a es-

pessura das secções, caracterizar osseus elementos constituintes e detectareventuais descontinuidades.Outra técnica que permite detectar de-feitos em elementos de alvenaria con-siste na medição da velocidade dosimpulsos mecânicos. Neste ensaio, osimpulsos, ondas de tensão, são indu-zidos percutindo a alvenaria com ummartelo instrumentado. Medindo otempo de propagação da onda é possí-vel, conhecida a espessura do ele-mento, determinar velocidade de pro-pagação, que permite aferir as carac-terísticas dos materiais constituintesda secção. Para caracterização da qualidade da ar-gamassa de preenchimento de juntasda alvenaria pode recorrer-se ao ensaiode arrancamento de uma hélice.Este ensaio consiste na cravação deuma hélice num furo previamente

16

Ponte de Vila Ruiva. Medição da abertura de uma fissura com alongâmetro.

Macaco plano semicircular introduzido num entalhe previamente executado numa abobada.

Medição das deformações da alvenaria durante a determinação do estado de tensão.

Page 18: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

CASO DE ESTUDOTema de Capa

executado, procedendo-se de segui-da ao seu arrancamento até se atingira rotura que ocorre por corte, regis-

tando-se a força respectiva. Os ensaios geotécnicos são recomen-dados sempre que, sendo desconhe-cida informação geotécnica do localda obra, se prevejam alterações nas

cargas consideradas na sua concep-ção original ou quando ocorram ano-malias relacionadas com assenta-

mentos de fundação como fissuras oujuntas abertas na ligação dos pilaresaos arcos.Neste caso é possível recorrer-se a po-ços para inspecção das fundações, per-

mitindo conhecer o nível de profundi-dade a que encontra a fundação dospilares, avaliar o seu estado de conser-vação e caracterizar geologicamenteos terrenos de fundação. Em comple-mento deve realizar-se uma campa-nha de sondagens de reconhecimento,junto às fundações dos pilares com oobjectivo de avaliar a capacidade decarga dos terrenos de fundação.Para reconhecimento dos materiais deenchimento dos pilares pode recorrer--se a sondagens verticais, efectuadas apartir do tabuleiro, atravessando ospilares e sua fundação, permitindo ca-racterizar o material de enchimento eavaliar a estratigrafia do terreno defundação, em termos de composição eresistência.

17

Mapa com a localização das pontes.

Óptica de haste boroscópica. Observação do interior de um pilar com haste boroscópica.

Ponte de Vila Formosa

Ponte de Monforte

Ponte de vila Ruiva

TAGO RIBEIRO – Engenheiro da OZ

Page 19: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 200218

CASO DE ESTUDOTema de Capa

Reforço da ponte rodo-ferroviária de Viana do Castelo

A ponte de Viana do Castelo sobre orio Lima foi inaugurada em 30 de Ju-nho de 1878. Projectada, construída emontada pela casa Eiffel, a ponte detráfego misto é formada por um tabu-leiro treliçado de ferro, contínuo, comdez tramos totalizando um vão total de562,44 m. Como referido na imprensada época "a via inferior é destinada àpassagem dos comboios e a superiorao serviço de pé e viação" (Fig. 1 – As-pecto da ponte após o reforço.)O aumento do tráfego ferroviário naLinha do Minho levou a CP, na se-quência de trabalhos de beneficiação ereforço efectuados anteriormente notabuleiro inferior e nas fundações, aproceder ao reforço das vigas princi-pais para assim remover as restriçõesque ainda persistiam e que prejudica-vam o crescente tráfego de mercado-rias que se verificava.Considerada como um dos ex-libris da

cidade de Viana do Castelo, a inter-venção que viesse a ser feita para au-mentar a resistência das vigas princi-pais da ponte teria não só que permitira manutenção do tráfego ferroviáriodurante a execução dos trabalhos, co-mo atender à decisão do IPPC de nãopermitir soluções que desvirtuassem oaspecto geral da ponte.A solução que propusemos para o re-forço das vigas principais e que veio aser adoptada, consistiu essencialmen-te na compensação de uma parte mui-to significativa das cargas permanen-tes mediante a introdução em cada umdos dez tramos de cargas verticais di-rigidas de baixo para cima, em númerode oito por tramo, cargas estas que fo-ram conseguidas através de barras deaço de alta resistência pré-esforçadascom um traçado poligonal.Trata-se de uma solução que o prof.Edgar Cardoso utilizou com sucesso

na ponte D. Luís em Santarém nosanos 50, mas enquanto na sua soluçãoa componente horizontal da força depré-esforço é equilibrada pelo tabu-leiro de betão que substituiu o primi-tivo, funcionando de escora, em Via-na do Castelo não dispúnhamos detal elemento nem a estrutura da pon-te tinha disponibilidade para supor-tar o esforço de compressão necessá-rio ao equilíbrio das forças. A soluçãoque adoptámos consistiu em encami-nhar as forças directamente para oterreno recorrendo a ancoragens pré--esforçadas fazendo-se a transmissãodas forças através de maciços de be-tão armado dispostos o mais próximopossível do eixo das vigas. As forçasverticais que se desenvolvem nosdesviadores são transmitidas às vi-gas principais através de quadros deaço que repartem por igual a forçavertical por dois nós da triangulação

Page 20: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

CASO DE ESTUDOTema de Capa

da viga principal (Fig. 2 e 3).Nos pilares, os desviadores estão colo-cados no topo dos montantes que fo-ram reforçados com novos perfis o quepermitiu manter inalteradas as cargasnos aparelhos de apoio da ponte devi-das às cargas permanentes.Embora o pré-esforço introduzido equi-libre uma parte significativa das car-gas permanentes da ponte libertandoassim capacidade resistente que vaipossibilitar o aumento das sobrecar-gas, as maiores cargas por eixos quepodem actuar no tabuleiro rodoviárioe no tabuleiro ferroviário e as cargasdo pré-esforço, dão origem a esforçosimportantes nas diagonais que obri-garam ao reforço de algumas delas oque foi feito substituindo as diagonaisdeficientes por perfis semelhantesmas com maior secção mantendo-seassim praticamente inalterado o as-pecto geral da ponte.

O tabuleiro superior da ponte encon-tra-se em mau estado, existindo desde1995 um projecto por nós elaboradoque prevê a substituição do actual ta-buleiro por um tabuleiro em laje orto-trópica de aço que à custa de um pe-queno aumento da largura da faixa derodagem permitirá que os veículos demaiores dimensões possam cruzar-sesem terem que galgar os passeios comoagora acontece. Consta haver a inten-ção de avançar brevemente com a obra.O reforço das vigas principais da pon-te decorreu de Novembro de 1992 a Fe-vereiro de 1994 tendo custado 370 000contos a preços da época.A intervenção realizada permitiu como dispêndio de uma verba relativa-mente pequena criar as condições pa-ra a ponte continuar a desempenhar asua função suportando cargas bastan-te superiores àquelas para que foi di-mensionada e simultaneamente con-

tribuir para a salvaguarda de uma pe-ça que é um marco maior do nosso pa-trimónio industrial.

19

Figura 2 –Barras pré-esforçadas e desviadores.

Figura 3 –Barras pré-esforçadas e desviadores – pormenor.

J. L. Câncio Martins – Engenheiro Ci-vil, IST. Professor catedrático convida-do da Faculdade de Ciências e Tecnolo-gia da Universidade de Coimbra

Page 21: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

ENTREVISTA

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Tema de Capa

A Pedra & Cal entrevistou o General Enge-nheiro Gonçalo Sanches da Gama, profis-sional que ao longo de 35 anos trabalhoucom o professor Edgar Cardoso.

Pedra & Cal:Quantos anos trabalhou com oprofessor Edgar Cardoso?Gonçalo Sanches da Gama: A minha cola-boração com o Mestre (era assim que todosos colaboradores, e não só, o tratavam) ini-ciou-se em 1957 e terminou em 1992. Esteperíodo foi interrompido duas vezes, porforça de duas comissões militares que fiz aoentão designado Ultramar, respectivamen-te de 1965 a 1967 na Guiné e de 1971 a 1973em Angola. Enquanto que na primeira co-missão interrompi totalmente a colaboraçãopor não haver na Guiné trabalho de pontes a

cargo do professor, já na segunda comissãocontinuei a prestar colaboração dando apoioà construção das pontes rodoviárias na bar-ra do rio Quanza e sobre o rio Panguila.De notar que a colaboração que prestei até1986 era em tempo parcial e que só daqueleano em diante é que passou a ser a tempo in-teiro. Presumo portanto concluir que estacolaboração se manteve durante 35 anos,embora interrompida por dois anos.P&C: Quais os principais projectos em quecolaborou com o professor Edgar Cardoso?G.S.G.: O Mestre normalmente, depois deter estudado a obra, entregava-a a um oumais colaboradores para verificarem pelocálculo o que havia concebido. Assim houve projectos em que eu ou outroscolaboradores executávamos os cálculos e

outros projectos em que estes cálculos foramexecutados por mais do que um colaborador.Tenho contudo dificuldade em eleger os"principais projectos". Se houve uns que pe-la sua dimensão e custo foram grandesobras, outros houve que pela inovação, ar-rojo ou processo construtivo foram, a des-peito do seu baixo custo, grandes obras. Vou portanto enumerar aquelas obras queentendo terem sido importantes. Começo por duas obras executadas em An-gola e que são as pontes rodoviárias na bar-ra do rio Quanza e a ponte rodoviária sobreo rio Panguila. A primeira é uma ponte sus-pensa metálica, de tirantes e com um vãocentral de 260 m e a segunda é um bow stringcom cerca de 60 m de vão e que tem a parti-cularidade de não ter contraventamento noseu banzo superior que, para suportar os es-forços horizontais transversais que a passa-gem das sobrecargas na ponte provocam,tem secção variável, crescente dos apoiospara o meio do vão.Como já disse, acompanhei a parte final daconstrução desta última ponte e, quando re-gressei a Portugal em finais de 1973 estava aponte da barra do rio Quanza em bom an-damento. Após a independência de Ango-la, quando se iniciou a guerra civil e uma co-luna vinda do Sul marchava para a capital,o MPLA mandou rapidamente executar alaje do tabuleiro em betão armado para queo seu material pudesse transpor o rio Quan-za. Com a pressa da execução a laje ficoubastante mais espessa na zona do meio vãodo tramo central de 260 m onde, por estefacto, passou a suportar uma carga a maisde peso superior a 100 toneladas. A acres-centar a este aumento, passaram colunascerradas de viaturas pesadas e de blinda-dos, tendo daí resultado que houve escorre-

20

Entrevista aGeneral Engenheiro Gonçalo Sanches da Gama

Page 22: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

ENTREVISTA Tema de Capa

gamento dos cabos e deformação do tabu-leiro. Posteriormente executaram-se uns re-forços provisórios ao momento, com pro-jecto do Eng. Armando Rito, procede-se àrecuperação da ponte.P&C:E em Moçambique, que trabalhos rea-lizaram juntos?G.S.G.: Em Moçambique colaborei no cál-culo da ponte rodoviária do rio Limpopo noXai-Xai, uma ponte de tirantes com estrutu-ra mista de aço-betão tendo um vão centralde 120 m e vãos marginais de 35 m bem co-mo uma ponte sobre o rio Chicumbane e vá-rios viadutos na baixa do mesmo rio.P&C: Colaborou no projecto da ponte Ma-cau-Taipa?G.S.G.:Sim, a ponte Macau-Taipa, com cer-ca de 3 km de comprimento total foi conce-

bida e executada em elementos pré-fabrica-dos, desde as estacas de secção quadradacom 0,36 x 0,36 m, até aos pilares e tabulei-ro, elementos que foram colados com resi-nas epóxicas. Como particularidades é deevidenciar que a ponte tem um viaduto empeça monolítica única com mais de 1 km deextensão.P&C: Em Portugal houve certamente umconjunto muito vasto de projectos em quecolaborou com o professor Edgar Cardoso.G.S.G.: Nos vários projectos em que colabo-rei no continente destaco em primeiro lugar,tanto pela sua grandeza como ainda pelasinovações consideradas a ponte ferroviáriade via dupla sobre o rio Douro – ponte de S.João – e seus acessos. Trata-se dum conjuntode obras entre as estações de Devezas e de

Campanhã em que sobressai a ponte pro-priamente dita e seus viadutos de acesso quese desenvolve numa peça única em estruturacontínua com cerca de 1100 m de extensão,com um vão central de 250 m, em betão alta-mente armado pré-esforçado. Na verificaçãoda estabilidade de elementos estruturais daponte e viaduto de acesso recorreram-se aensaios modelos reduzidos (executaram-sedois modelos, um com a ponte a alguns tra-mos do viaduto e outro, numa escala maior,dum pilar e um troço do tabuleiro a ele liga-do). Nesta obra, o Mestre introduziu inova-ções, particularmente na fase construtiva, co-mo foram as ensecadeiras dos pilares junto àsmargens do rio, a pregagem desses mesmospilares no firme, a substituição das clássicasbainhas para cabos de pré-esforço por tubos

21

Page 23: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

ENTREVISTA

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Tema de Capa

de aço, a construção em verdadeira grandezade um trecho do tabuleiro da ponte com cer-ca de 21 m de comprimento, altura variandoentre 7,60 m e 8,00 m e com secção idêntica àdo tabuleiro. Este elemento permitiu ensaiaros processos construtivos mais adequados,nomeadamente a montagem dos carrinhospara a betonagem das aduelas do tabuleiro ea sua movimentação. Destes ensaios resulta-ram aperfeiçoamentos nos carrinhos, nassuas cofragens e competentes suspensões eainda no sistema da sua movimentação.Outra obra em que colaborei foi no projectodo Viaduto Ferroviário de via dupla entre asAvenidas da República e 5 de Outubro. Parao seu cálculo recorreu-se novamente a en-saios em modelo reduzido, tendo-se traçadocom o auto-influenciógrafo mecânico-elec-trónico várias linhas de influência das ten-sões-extensões em fibra de secções notáveisda estrutura. Esta é constituída por dois "U"contínuos, paralelos, independentes, em be-tão armado pré-esforçado em curva com 300m de raio e com 250 m de extensão. Estes ta-buleiros encontram-se monolíticamente li-gadas a pilares muito esbeltos com o fuste em"Y" na direcção transversal. Posteriormente eem virtude da remodelação do Apeadeiro deEntrecampos foram construídas mais duasestruturas paralelas, iguais às existentes, pa-ra se instalarem cais de passageiros. Mais re-centemente estas estruturas foram envolvi-das por estrutura metálica.Prestei também colaboração no projecto daPonte Rodoviária sobre o rio Mondego naFigueira da Foz e obras anexas, sendo a pon-te propriamente dita suspensa, de tirantes,metálica, com um vão central de 220 m e osviadutos laterais em estruturas contínuas debetão armado pré-esforçado. Nas ligaçõesem obra entre elementos metálicos, o Mestre

utilizou parafusos toscos e furos folgadosexcêntricos, com ajuste por resinas epóxicasque garantem o monolitismo sem qualquerescorregamento ou perda de resistência. Es-ta ligação é de sua invenção.Outra curiosidade desta obra foi o ensaio quese realizou num dos quatro poços da funda-ção do pilar da ponte da margem esquerdatendo-se deixado cair de certa altura um anelcom cerca de 20 toneladas sobre o poço, ana-lisando-se o comportamento deste.Outra obra onde colaborei é uma das maisbelas pontes que o Mestre projectou. Trata-seda Ponte de Mosteirô sobre o rio Douro, quesubstituiu a existente que a Barragem do Car-rapatelo inundou. Trata-se de uma estruturacontínua com três tramos de betão armadopré-esforçado, de rótula aberta, losangular,tendo um vão central de 110 m. A ponte apro-veitou os dois melhores pilares da velha pon-te que ia substituir. O cálculo do tabuleiro foitodo efectuado em modelo reduzido.Quando da construção da barragem daAguieira a rede viária por ela interferida im-plicou a construção de várias pontes, umasde pequeno porte mas outras, como porexemplo a da foz do Dão, Criz, Oliveira doMondego e Ribeira de Mortágua, já de gran-de porte, tendo todas pilares de grande altu-ra (na foz do Dão chega a cerca de 80 m), emsecção losangular oca (paredes de 0,20 m deespessura) e tabuleiro contínuo de betão ar-mado pré-esforçado com vãos de 45 m.Para além destes projectos colaborei nalgunsoutros tais como a ponte de Serpa sobre o rioGuadiana que substitui a velha ponte existen-te que a barragem do Alqueva está a inundare que se trata de uma estrutura contínua debetão armado pré-esforçado de secção em cai-xão bicelular com vãos de 60 m, apoiados empilares em "H"; ponte de Lanheses sobre o rio

Lima com cerca de 1100 metros de compri-mento e uma só junta de dilatação no apoiodo tabuleiro no encontro da margem direita;pontes rodoviárias de Casais e Pereira sobre orio Mondego; viadutos da Lage. Barcarena eVinhas na A5; viadutos da baixa do Mondegoe estacadas nesta mesma zona da A1 e no rioVouga também na A1.P&C:E nas regiões autónomas? Sei que cola-borou no projecto da pista de Santa Catarina.G.S.G.: No projecto do prolongamento até200 m da pista de Santa Catarina na Madeiraexecutei os cálculos do prolongamento dapista em aterro com muro de contenção nacabeceira 06 e em estrutura na cabeceira 24,esta em estrutura contínua de betão armadopré-esforçado sobre pilares redondos de 60m de altura e 3 m de diâmetro. Para a verifi-cação da sua estabilidade recorreu-se a en-saios em modelo reduzido. Após a execuçãodeste prolongamento entregou-se um novoprojecto em que esta última cabeceira eraprolongada por forma a que a pista passassea ter 2781 m de comprimento.P&C: Que recuperações de pontes realizaram?G.S.G.: Em Moçambique, muito emboranão tenha trabalhado no projecto das pontessuspensas sobre os rios Save e Zambeze, co-laborei no trabalho de beneficiação da pontesobre este último rio que, em virtude dasgrandes cheias de 1983, descalçou-se a fun-dação de uma das torres que desaprumou.Após reforço das fundações com recurso amicroestacas, corrigiu-se a posição do tabu-leiro por ripagem e elevação da torre, fazen-do-a deslocar no seu coroamento cerca de 1metro. Todas estas operações foram execu- tadas sem interromper o trânsito na ponte.No continente colaborei no projecto de bene-ficiação, reforço e alargamento da ponte deAbrantes sobre o rio Tejo utilizando-se solu-

22

O professor Edgar Cardoso marcou uma geração de engenheiros e foi e deve continuar a ser uma figura

de referência na história da engenharia civil em Portugal.

Page 24: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

ENTREVISTA Tema de Capa

ção idêntica à já executada na ponte sobre omesmo rio em Santarém. Esta ponte, em es-trutura contínua metálica, com vãos extre-mos de 42 m e intermédios de 51 m, tinha fai-xa de rodagem em barrotes de madeira comcerca de 4,70 m de largura e passeios sobrele-vados também em madeira de muito peque-na largura – 0,75 m – que foram alargadospara um tabuleiro de betão armado com fai-xa de rodagem de 6,60 m e passeios de 0,75m. Este tabuleiro era executado à noite emtroços com a largura total e 2,00 m de com-primento, eram colocados em carris ligadosaos banzos superiores das vigas principais,metálicas, existentes. Uma vez executado otabuleiro de betão de um tramo da ponteaplicava-se um pré-esforço que introduziacargas verticais, de baixo para cima, aos ter-ços dos vãos das vigas metálicas, que anula-vam a carga permanente instalada, sendo acomponente da compressão provocada pelopré-esforço suportado pela laje do tabuleiroque, como se disse, estava apoiada mas des-ligada do banzo superior das vigas metálicasexistentes que, após a aplicação do pré-esfor-ço, passavam a suportar somente as sobre-

cargas que solicitam o novo tabuleiro.Ainda no continente, passo a descrever a be-neficiação da ponte de Penacova sobre o rioMondego. Aconteceu que o pilar central daponte ficou descalço e desaprumou, deixan-do de dar apoio à estrutura metálica contí-nua do tabuleiro que se deformou sem con-tudo ter colapsado. Para resolver oproblema beneficiaram-se os pilares contí-guos a este por encamisamento e reforço dafundações e suprimiu-se o pilar desapru-mado por um apoio constituído por um ati-rantamento com cabos de pré-esforço amar-rados aos encontros da ponte e passandosobre torres metálicas colocadas nos dois pi-lares beneficiados. A ponte passou assim ater três tramos em vez dos quatro que tinhaantes do colapso do pilar central.Finalmente prestei a minha colaboração noprojecto de reforço e beneficiação-substitui-ção de 17 pontes e viadutos metálicos na via-férrea Belo Horizonte-Divinópolis no Brasil.Refiro-me à solução adoptada para as trêsmaiores pontes metálicas. Pretendia-se au-mentar a capacidade de carga das obras dearte desta linha-férrea o que se conseguiu

com uma solução engenhosa. O tabuleirodas pontes em causa é uma viga de rótulamúltipla tendo o Mestre introduzido umanova estrutura constituída por dois arcosmetálicos exteriores às vigas existentes, do-tados de pendurais que suspendem novastravessas que atacam pelo banzo inferior aslongarinas onde se apoiam as travessas doscarris da via-férrea. Aplicando um pré-esfor-ço nas nascenças dos arcos, os seus tirantestransversais através das travessas, cargasverticais de baixo para cima nas longarinas,passando a estrutura a ter maior capacidadede carga.P&C: Como definiria a personalidade doProfessor Edgar Cardoso? Quais os seuspontos fortes e quais os seus pontos fracos?G.S.G.: Um vencedor. Nasceu para ser gran-de, arrojado e inovador. Foi-o como enge-nheiro civil estruturalista mas se porventurativesse optado pela Engenharia Electrotéc-nica, curso que frequentou em simultâneocom a Engenharia Civil até ao 5.º ano, certa-mente que também teria triunfado.Como estruturalista tinha uma enorme facili-dade em criar beleza, em apresentar concei-tos e concepções inovadores, em encontrarsoluções engenhosas para resolver proble-mas de beneficiação e ou reparação de estru-turas existentes, particularmente metálicas.Perguntou-me quais os pontos fracos doMestre. Julgo que são alguns daqueles quequalquer vencedor tem.O professor Edgar Cardoso marcou umageração de engenheiros e foi e deve conti-nuar a ser uma figura de referência na his-tória da engenharia civil em Portugal.

23

Entrevista realizada porALEXANDRA ANTUNES E ADRIÃO

Page 25: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

OPINIÃO

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Ao abordar o tema "Pontes antigas"pretende-se chamar a atenção paraaquelas pontes que têm resistido me-lhor ou pior à acção do tempo e que

fazem parte do nosso património histórico,cultural e artístico e dum modo especial aque-las que mereceram ser protegidas e classifica-das pelos organismos oficiais, ou que estãoem vias de o ser.Verdadeiras obras de arte que chegaram aosnossos dias, algumas com mais de 20 séculosde existência, encontram-se espalhadas pelopaís quer em bom estado de conservaçãoquer em progressiva e lenta degradação eque a nós e às gerações vindouras competemanter e beneficiar.A sua classificação e protecção que diz respei-to aos organismos responsáveis pelas obraspúblicas que zelam pelo nosso património ar-tístico e cultural, tem sido levada a cabo des-de os princípios do século passado. Este pro-cesso de classificação de pontes antigas,insere-se num processo mais vasto que en-globa as mais diversas obras de arquitecturacivil pública, religiosa e militar desde épocasanteriores ao domínio romano na península.Nesta classificação estão incluídas pontes depedra do tempo dos romanos, pontes medie-vais e pontes mais recentes a que são atribuí-das pelos organismos oficiais as classificaçõesde "monumento nacional", "imóvel de interes-se público" e "imóvel de interesse concelhio".

A história das pontes revela-nosque desde tempos imemoriais, ospovos primitivos viviam isoladosem cavernas sem possibilidade de

comunicações fáceis com outras comunida-des humanas. Os rios e os vales profundos nãoeram facilmente transponíveis.

Mas o Homem foi progredindo e, com o re-curso aos materiais que a natureza lhe ofere-cia foi descobrindo meios para transpor essesobstáculos. Com a madeira o Homem foiconstruindo pontes rudimentares com tron-cos de árvore ligados entre si. A técnica deconstrução destas pontes foi-se aperfeiçoan-do e o Homem foi alargando os seus conheci-mentos no contacto com outros povos de ou-tras comunidades. Todavia, as pontes demadeira cedo se revelaram inseguras e, oueram levas pelas cheias ou eram consumidaspelo fogo e o Homem precisava de pontes se-guras e duradouras.Entretanto nas civilizações orientais e dummodo especial na Grécia Antiga aparecem be-las construções em pedra que os gregos edifi-cavam em honra dos seus deuses, mas no ca-pítulo de pontes, pouco ou nada se fazia.

No início do Império Ro-mano, mesmo para as cam-panhas militares, as pontesde madeira apoiadas em

pilares de pedra, associadas ou não a pontesde barcos foram muito usadas, mas a brevetrecho e talvez na sequência das construçõesde pedra gregas e tirando partido do arcoperfeito, apareceram as "pontes de pedra"que atingiram um grande desenvolvimentonas regiões dominadas pelos romanos. Asprincipais pontes de pedra construídas naPenínsula pelos romanos tiveram lugar já noinício da era cristã ou finais da época anterior(século I aC).Fazendo agora um pequeno parentesis, é jus-to recordar que antes do domínio romano naPenínsula os celtas vindos do Norte da Euro-pa, construíram também pontes de pedra emque o elemento resistente não era um arco

perfeito, mas um "V" invertido; são as deno-minadas pontes celtas, segundo alguns histo-riadores, que eram utilizadas em zonas altasde montanha na travessia de pequenas linhasde água. Encontrámos há poucos anos umaponte celta na região de Castro Laboreiro.Voltando agora às pontes de pedra que os ro-manos construiram com uma técnica apura-da nos países ou regiões que íam ocupando,pode afirmar-se que elas em muito contribui-ram para tornar eficaz a utilização da extensarede de estradas do império estabelecendouma comunicação rápida e segura de todasas províncias com a capital do império, Ro-ma. E de tal modo se impuseram nos territó-rios ocupados que se podia afirmar que os ro-manos vinham para ficar.Ao aplicarem o arco e a abóbada na técnica daconstrução de pontes para ultrapassar obstá-culos considerados difíceis, os romanos con-tribuiram para a execução de pontes válidas eseguras que deixaram uma marca indelévelna história das pontes de pedra. De tal formaesta designação de pontes de pedra se tornoufamiliar nos povos dominados, que nas po-voações ou lugares onde há uma ponte anti-ga, essa ponte ainda mantém na toponímia

24

Pontes antigas

II

III

I

Ponte celta na região de Castro Laboreiro, distrito de Viana do Castelo.

Page 26: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

OPINIÃO

local esse nome. É o caso de algumas das nos-sas pontes antigas, como a Ponte de Pedra so-bre o rio Tuela (Bragança), a Ponte de Pedrasobre a ribeira da Venda (Portalegre), a PontePedrinha sobre o rio Beça (Vila Real), a Pontede Pedra sobre a a ribeira da Isna (CasteloBranco) e outras.A recomendação estética da utilização de umnúmero ímpar de vãos nas pontes de pedra éatribuída aos romanos. Todavia nem semprefoi possível respeitar essa recomendação porrazões de topografia local. É o caso da Pontede Vila Formosa (Portalegre) e da Ponte deAlcântara sobre o Tejo (Espanha) com seisvãos cada uma.Outra particularidade que tinham as pontesromanas em arco perfeito refere-se à ausência

de argamassa de interposição nas pedras dossilhares dos arcos (aduelas) e este modo deexecução só era possível devido à perfeição erigor com que os romanos talhavam a pedra.

Com a queda do império ro-mano do Ocidente e o ad-vento da Idade Média emmeados do século V dC, dei-

xou de ter sentido o rigor e a perfeição do ar-co romano de volta inteira e as invasões bár-baras trouxeram consigo um retrocessosignificativo na construção de pontes de pe-dra. Sobreveio o estilo românico com a utili-zação de arcos de pequenos vãos. Recente-mente visítamos em Roma o velho Panteão

que acabava de sofrer obras de beneficiação.Que perfeição a execução daquela cúpula de42 metros de altura e igual diâmetro, se noslembramos que tinha sido construida 8 sécu-los antes das primeiras pontes românicas doinício da Idade Média!…Nas pontes medievais, os arco são em geral detrês centros levemente apontados (ogivais) e asaduelas são mais estreitas. Já não há tanto apreocupação pela simetria e as pontes são tam-

bém em geral mais estreitas. Em certos locais aspontes eram fortificadas, isto é, dotadas de tor-res de defesa militar. É o caso da ponte de Uca-nha sobre o rio Varosa em Tarouca, onde a tor-re se mantém intacta, ao contrário de outraspontes como a de ponte de Lima, a de Sequei-ros e a da Ajuda onde se notam alguns vestí-gios.A preocupação pela construção de pontes naIdade Média era a sua implantação em pe-quenos itinerários favorecendo a ligação en-tre as cidades e o campo, entre os locais de pe-regrinação e as cidades e aldeias.Na Idade Média, a cultura ficou como queencerrada nos mosteiros e a construção e ma-nutenção de estradas e pontes era quasi de

exclusiva competência das ordens religio-sas. Exemplo típico desta situação era o casoda Ponte de Ucanha e do Mosteiro de Salce-

te que lhe fica próximo.

Num trabalho elaborado peloautor e publicado em 1997, aspontes antigas classificadas no

nosso país distribuíam-se do modo seguinte:26 como monumento nacional, 59 como imó-vel de interesse público e 9 como imóvel devalor concelhio.Sabemos que este número foi aumentadonestes últimos cinco anos, trabalho este quevem sendo feito pela Direcção-Geral de Edi-fícios e Monumentos Nacionais.O maior número de pontes antigas ou me-dievais situa-se no norte de Portugal e já noséculo XVI, conforme o historiador João deBarros refere na sua Géographie d’EntreDouro-e-Minho e Trás-os-Montes (Porto,1919):"As pontes mais principais desta comarcasão as seguintes: a de Ponte do Lima, a dePrado, a do Porto que está assima desta doPrado, a ponte de Barcelos, a de Chaves, ade Cavez, a de Mondim, a de Canavezes, ade Lagoncinha, a do Ave, e de Cervas, a deDonim, a dos Arcos e outras muitas que al-guns estimarão em duzentas(…)".Do que acaba de referir-se resulta que aindaé grande o nosso património cultural e artís-tico no que se refere a pontes antigas classifi-cadas ou ainda por classificar, patrimónioque há que preservar, mantendo o que aindaestá em bom estado de conservação e benefi-ciando ou recuperando o que se está degra-dando. São verdadeiros marcos históricos eculturais do nosso passado que a história noslegou e que devemos saber transmitir às ge-rações vindouras.

25

IV

V

Ponte de Vila Formosa, concelho de Alter do Chão, distrito de Portalegre.

Ponte de Ucanha, concelho de Tarouca, distrito de Viseu.

ANÍBAL AURÉLIO PINTO SOARESRIBEIRO – Engenheiro civil

Page 27: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

OPINIÃO

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Em memória de José A. Fernández Ordóñez (1)

Mais, je sais que ce n’est pas exact. Lepoint imaginé par Eiffel est plus loin, à en-viron deux kilomètres en amont du Dou-ro, la rivière qui sépare Porto, la "ville an-cienne", de Gaia, "la nouvelle", sa rivale,[…] Non, ce pont-là est de Seyrig, le colla-borateur d’Eiffel."Triplamente interessante esta frase deMichel Bonnette (2), expressa na cidadedo Porto aquando de um encontro inter-nacional sobre reabilitação urbana, e orarecuperada de um site na web (3). Em pri-meiro lugar, pela convivência dos patri-mónios, com a talha de S. Francisco a en-fileirar com um monumento industrial,neste caso uma ponte. Em segundo lu-gar, por evocar a costumada confusãoque atribui a Gustave Eiffel "tout ce quiressemble à une charpente métalique"(4), como seja o Elevador de Santa Justa, aAuto-Palace (5) e a Sala Portugal da So-ciedade de Geografia, em Lisboa; ou anora gigante em ferro em Almada e qua-se todas as nossas pontes metálicas do

último quartel do século XIX, entre asquais a própria Ponte Luiz I (6). Por fim, euma vez mais, Théophile Seyrig apare-cer referido como um simples "colabo-rador" de Eiffel. Não sendo o propósito deste texto envol-ver-se na questão da pluralidade do(s) pa-trimónio(s), nem na da repetida injustiçasobre o papel desempenhado pelo enge-nheiro T. Seyrig no âmbito da G. Eiffel &Cie., ingénieurs-constructeurs à Levallois-Perret, près Paris (7), propomo-nos, tão-só,divulgar um documento – inédito, ao quesabemos, entre nós – que procura respon-der ao segundo ponto acima referido: aobra de Eiffel. O texto em apreço é, formal-mente, uma listagem cronológica dasobras da Casa Eiffel, manuscrita em fran-cês e anónima quanto à autoria, admitindoos seus actuais detentores que tenha saídoda pena do próprio Gustave Eiffel. Tive-mos a ventura de contactar com o originalem Paris em Dezembro de 1997 e, mais re-centemente, em Setembro de 2001(8). Porrazões várias – sobretudo por julgarmos

importante pesquisar outra documenta-ção conexa existente em França e entrenós, bem como realizar um substancialtrabalho de campo – temos protelado a di-vulgação da parte deste manuscrito res-peitante a Portugal. Aproveitando a te-mática deste número da Pedra & Cal, eleaqui fica, não só enquanto o rol (talvez)mais exaustivo da obra de Eiffel em Por-tugal, mas, sobretudo, como um (precio-so) documento de uma investigação a quepensamos voltar em breve.Intitulado Registre Officiel des Comman-des de la Maison Eiffel enumera, como o seu nome indica, as encomendas – num total de 709 (9) – feitas à(s) empresa(s)Eiffel; mas onde, por vezes, uma obra é re-ferida sob diversos números (é o caso doviaduto de Viana) ou, um único número,abarca várias obras de arte (por exemplo en-comenda nº 330 que diz respeito aos viadu-tos de Varzeas, Milijoso, Trezoi, Breda, Crise sobre o Rio Dão). Na sua totalidade tem,como datas extremas das encomendas, 1863("Halles de Toulouse et d’Agen") (10) e 1890("Hausses du caisson 16 Port-Villez") (11). Ainformação original encontra-se organiza-da em quatro pontos: Número da enco-menda, Data da encomenda, Designaçãoda encomenda e Observações, sendo quenem todas as entradas preenchem os qua-tro campos, nomeadamente a data e ou asobservações.A informação que recolhemos referente aPortugal espraia-se por 15 anos, entre1875 e 1890, abarcando sete dezenas deencomendas – lembro o escrito no pará-grafo anterior – que se referem, em gran-de parte, a pontes e viadutos metálicos de-vidos à expansão dos transportes porcaminho-de-ferro. As datas referidas no

26

A obra de Eiffel em Revelações de um manuscrito anónimo francês

"Le chauffeur qui connaît un peu le

français me fait une leçon d’histoire:

"Là, il faut voir, c’est l’église San

Francisco: de l’or, de l’or partout!

C’est très beau. Et là, c’est le Ponte de

Luis, construit par Eiffel."

Page 28: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

OPINIÃO

27

Portugal (1875-1890)QUADRO I – REGISTRE OFFICIEL DES COMMANDES DE LA MAISON EIFFEL

Commande 195, [1875], Pont sur le Douro

Commande 196, Chantier du Pont sur le Douro

Commande 197, Frais à Paris & à Porto, sur l'ensemble des travaux du Pont du Douro

Commande 210, Pont-biais de 10.m00 pour la Rua da Bendera

Commande 211, Pont-biais de 8.m75, sur la Rua-Freixo

Commande 213, Pont de Vianna

Commande 214, Ponts du Cavado & de la Neva (13)

Commande 215, Grues des piles du Douro

Commande 216, Caissons du Pont de Vianna

Commande 228, Frais sur l'ensemble des travaux des Ponts de Vianna, Cavado & Néva

Commande 232, Chantier de Vianna (Compte de fabrication)

Commande 234, Chantier de Vianna (Compte de fabrication)

Commande 239, Pont sur le Taméga (14)

Commande 240, Pont de Villa-Méa (15)

Commande 245, Viaduc de Vianna – rive droite

Commande 246, Viaduc de Vianna – rive gauche

Commande 248, Chantier du Cavado (Fabrication)

Commande 254, Pont d' Ancora

Commande 257, Petits ponts de la Ligne du Douro

Commande 330, 11 Juin [1879], Viaduc de Varzéas

Commande 330, dº de Milijoso

Commande 330, dº de Trezoï

Commande 330, dº de Bréda

Commande 330, dº de Rio Cris

Commande 334, dº de Rio Dao (16)

Commande 330, 11 Juin [1879], Viaduc du Rio Coa

Commande 330, 11 Juin [1879], Pont de 41m d'ouverture (Mortagoa)

Commande 340, 18 Set. [18]79, Frais d'Ensemble, Viaducs de Beira Alta

Commande 367, 16 Janv. [1880], Chantier de la Beira Alta

Commande 371,16 Février [1880], Ponts du Canedo et du Pego Ligne de la Beira Alta

Commande 374, 31 mars [1880], Chantier du Rio Dao

Commande 391, 12 août [1880], Travée indépendante de Varzéas – Beira Alta

Commande 39, 12 aout [1880], Pont de Gouveïa K. 81+530 – Beira Alta

Commande 393, 12 aout [1880], Pont de Celorico K. 102+430 – Beira Alta

Commande 399, 22 8.bre [1880],Pont Biais a 45° s.[ur] le Rio Noemy

Commande 451, [1882], Liquidation des Ponts de la Beira-Alta

Commande 496, 9 Juillet [1884], Comprenant les ouvrages ci-aprés: 1° Viaduc de Ponte nova 2° Viaduc de Santa anna Baixo & 1 pont de 8m 3° 3 Ponts sur le Ruisseau d' Alcantara 4° 1 Pont à Double voie dans la Gare

Commande 497, 9 Juillet [1884], Charpentes pour: Quai couvert à Marchandise PV Quai couvert – id – G. V. Remise à Voitures Rotunde por 10 Locomotives , Halle a Voyageurs Marquise du Bâtiment des Voyageurs

Commande 500, 27 Aout [1884], 2 Ponts sur le ramal de Coimbra (C.ie Royale Portugaise) 1 de 5m & 1 de 6m

Commande 521, 4 aôut [1885], 15 Ponts (N.os 8 à 22) Ligne de Lisbonne à Cintra et Torres Vedras & Ramal de Merciana

Commande 523, 18 [août 1885], Fers et Fontes pour La Gare de Lisbonne Alcantara Commande 527, 31 [août 1885], Chantier de Portugal

Commande 529, 26 7bre [1885], Frais d'Ensemble Ligne de Cintra à Torres Vedras

Commande 533, 26 Xbre [1885], Marquises & Barrières – Ligne de Cintra à Torres Védras

Page 29: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

manuscrito são, quase sempre, as da ad-judicação, não as do início dos trabalhos,conclusão ou, mesmo, inauguração des-tes (12). Apresentamos de seguida esses da-dos, secamente como no original, inclusi-

ve na ortografia, mas tecendo alguns(poucos) comentários mais à frente.Esta listagem (Quadro I) não deixa de sero que efectivamente é pelo facto de lhe jun-tarmos agora umas notas mais ou menos

longas. Por isso, duas palavras apenas.Por um lado, sabemos que número signi-ficativo de pontes e viadutos aqui lista-dos foram já substituídos – assim aconte-ceu com os viadutos da encomenda

OPINIÃO

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 200228

QUADRO I ( cont.)

Commande 538, 11 février [1886], Reconstruction de la travée centra1e du Pont s/le Sever/Portugal

Commande 541, 3 Mars [1886], Couverture en tôles ondu1ées ga1vanisées d'une rotonde de Locomotives p.r la C.ie de Lisbonne à Cintra & Torres Vedras

Commande 546, 23 avril [1886], Marquise du restaurant de la Gare de Cintra Cie Royale (Portugal)

Commande 557, 9 aôut [1886], Couverture en tôle ondulée Galvaniséede la Hall des Voyageurs de la Gare d'alcantara à Lisbonne

Commande 559, 15 7.bre [1886], Couverture des Marquises de la Ligne de Lisbonne á Cintra & Torres Vedras

Commande 575, 22 janvier[1887] Pont sur le Tage, à Praia (Portugal)

Commande 577, 31 janvier [1887], Marquise du Batiment des Voyageurs pour la Gare de Cintra

Commande 582, 23 Mars [1887], Caissons du Pont du Tage

Commande 583, 2 Avril [1887], Rotonde por locomotives d'Entroncamento

Commande 584, 16 Avril [1887], Pont de 15m à Voie Normale (Génie M.re portugais)

Commande 590, 6 Juin [1887], Chantier du Pont du Tage

Commande 59, [6 Juin 1887], Chantier de la Rotonde d 'Entroncamento

Commande 606, 15 9.bre [1887], Liquidation, travaux Ligne de Lisbonne à Cintra

Commande 640, 11 aout [1888], Travée Indépendante du Pont du Tage

Commande 643,13 9bre [1888], Remise à Machines de Pombal (Portugal)

Commande 646, 1 [?] Xbre [1888], Ponts de la Ligne de Poco do Bispo (17) à Carregado

Commande 651, 12 Mars [18]89, Remise à Machines de Lisbonne

Commande 661, 2 Juillet [1889], Magasin et remise de Villa Nova de Gaïa

Commande 662, [2 Juillet 1889], Remise de Villa Nova de Gaïa

Commande 663, [2 Juillet 1889], Plateforme amovible pour ascenseur Otis

Commande 665, 18 Juillet [1889], Ponts de la Ligne de Vendas Novas, à Santarém (Portugal)

Commande 672, 21 août [1889], Pont de Ribeiro (C.ie R.le des chemins de fer Portugais)

Commande 679, 27 7bre [1889], Ponts de la seconde voie entre Carregado et Entroncamento

Commande 680, 27 [7bre 1889], Magasin des wagons et ateliers de peinture de la Gare de Lisbonne

Commande 681,1 8bre [1889], Pont de Cocuminho (Portugal)

Commande 688, 18 Nov [1889], 3 Ponts pour la ligne de Cascaës (Portugal) C.ie Royale

Commande 690, 23 [Nov 1889], Ponts de la Route de Vendas Novas à Santarém

Commande 691, ? Xbre [1889], Magasin et remise de Villa-Nova de Gaia

Commande 692, ? [Xbre 1889], Pont d'Asseca

Commande 692, 16 [Xbre 1889], Agrandissement des Magasins de Villa Nova de Gaïa

Commande 693, 16 [Xbre 1889], Pont d'Almonda

Commande 699, 11 Jan [18]90, Pont d'Alviella

Commande 702, 14 février [18]90, Caissons pour le pont d’Alviella

Commande 707, 17 Mars [1890], Renforcement p.r le Lançage du Pont d'Oeiras (Ligne de Cascaës)

Page 30: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

OPINIÃO

nº 330, na linha da Beira Alta, que O Occi-dente, numa bela gravura de Alberto, re-produziu em página inteira em 1882 (18);mas também com a ponte de Canavesessobre o Tâmega e a de Vila Meã, na linhado Douro; as pontes de Neiva e Cávadona linha do Minho ou, Caxias e Oeiras nalinha de Cascais (19). Por outro, realce-se a necessidade de in-dagarmos no terreno as sobrevivênciasda obra "eiffeliana" entre nós – o quê, on-de, qual o estado de conservação… – semo qual é difícil qualquer balanço. A ponteda engenharia militar (encomenda nº 584)ainda sobreviverá, passados mais de cemlongos anos? Das quinze pontes da linhade Lisboa a Sintra e Torres Vedras (enco-menda n.os 521) quantas restarão? Gaiaguardará os vestígios das encomendas661, 662, 663 e 691? O viaduto de 8,75 me-tros, referido na encomenda nº 211, aindapassará sobre a Rua do Freixo? Em Pom-bal (encomenda nº 643), no Entroncamen-to (encomendas nºs 583 e 591), entre o Po-ço do Bispo e o Carregado (encomenda nº646) assegurar-se-á, com diligência, o le-gado de Eiffel? Tudo isto, porém, não significa – afigu-ra-se-nos – que não se mencionem algu-mas surpresas. Entrevemos pelo menosdois casos. Se era sabido (20) que a CasaEiffel fora a responsável pelo viaduto deSant’Anna, "assim como a dos demais dalinha" de Lisboa a Sintra, saliente-se oseu grande envolvimento (21) – não se leia,de momento, autoria – na estação de Al-cântara-Terra – cujas plantas se encon-tram perdidas… – nomeadamente nasua cobertura metálica (22) (encomenda n.º497), essa "longa marquise envidraçada,que descança de um lado no edifício depassageiros, e do outro em columnas

n’um passeio de egual comprimento" (23).Mas também, sigo de novo O Occidente, a"cocheira para 24 carruagens […] o gran-de caes coberto de mercadorias, de 90 mde extensão, coberto em metade […] umarotunda para 6 [ou serão 10 ?] machinas,com officina de reparação annexa", tudoobra da Maison Eiffel (24). E a estação deSintra – "que é, depois da de Lisboa, amais completa da linha" – e cujos mate-riais das coberturas metálicas, tanto do"Batiment des Voyageurs" (encomendanº 577), como do "caes coberto para mer-cadorias" e do restaurante (encomendanº 546) se devem, eles também, à empre-sa Eiffel, trinta anos depois de Hercula-no escrever: " Nenhum descobrimentocontribuiu tanto para o aumento da civi-lização como o vapor e os caminhos-de--ferro" (25).

(1)Notável estudioso espanhol do património dasobras públicas em geral e das pontes em particu-lar. O professor José António Fernández Ordó-

ñez (Madrid, 1933-2000) ocupou a cátedra deEstética de la Ingeniería na Universidade Poli-técnica de Madrid, tendo exercido, entre outroscargos, a presidência do Colegio de Ingenieros deCaminos e da comissão de renovação do Museudo Prado. A ele se devem várias pontes, como apedonal sobre a Castellana, em Madrid, ou a delCentenario, em Sevilha. Foi o grande animadordo Colóquio que, em 1986, se realizou em Ma-drid, com o patrocínio do Conselho da Europa,sobre o Património das Obras Públicas. Autor deuma vasta bibliografia, entre a qual o "Catálogode noventa presas y azudes españoles anterioresa 1900" e o "Inventario de los puentes de la pro-vincia de León anteriores a 1936".(2)Presidente do Comité do ICOMOS-Canadasur les villes et villages historiques.(3)http://canada.icomos.org/bulletin/vol6_no2_bonnettel_f.html(4)Bertrand Lemoine, "Eiffel: un ingénieur, uneenterprise, une tour" in De la Toscane à l’Euro-pe de Gustave Eiffel. La Tour Eiffel au bord del’Arno, 1999, p. 16.(5)A edificação desta belíssima garagem está, cro-nologicamente, para além do terminus ad quemdeste manuscrito, ao ter sido erguida em 1906.Se na vasta bibliografia sobre Eiffel não lhe en-

29

Ponte de Viana do Castelo sobre Rio Lima.

Page 31: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

OPINIÃO

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Tema de Capa

contramos referência, no site dos seus actuaisproprietários podemos ler que é um edifício "fa-moso pela sua estrutura metálica, projectada porGustave Eiffel" (www.grupoautoindustrial.pt/corporate/historia.asp).(6)Se há uns anos estes erros se encontravam emlivros e em revistas, fundamentalmente de carác-ter turístico, agora polulam também nas páginaswww. Ver, por exemplo, http://multimania.com/jyotis/ponteluisbr.html que mostra "The DomLouis bridge […] built by the famoous [sic] En-gineer Eiffel" ou o site http://people.netscape.com/tcrowe/europe/porto.htm que nos dá conta que"the bridge […] Dom Luis I designed by the sa-me man who designed the Eiffel Tower" e aindahttp://gospain.about.com/travel/gospain/li-brary/weekly/aa021001b.htm que refere "the ele-vator de Santa Justa, designed by Eiffel…".(7)Sobre a "colaboração" de Seyrig com Eiffel vero n.º 398 de Arts et Manufactures (Junho de1988, p. 56), orgão da Association des Centra-liens, onde se pode ler: "Le viaduc Maria Pia áPorto sur le Douro. Ing.: Th. Seyrig. Ent.: Eif-fel & Cie, 1876-1877. Eiffel gagne ce concoursinternational sur le projet dessiné par son asso-cié, Th. Seyrig, Centralien comme lui, mais dixans son cadet." Ver, também, Bertrand Lemoi-ne, Eiffel, Editorial Stylos, 1986 (trad. esp.),pp: 36-37, 42, 46-47, 52, 56 e 66 e "Eiffel: un in-génieur, une enterprise, une tour" in De la Tos-cane à l’Europe de Gustave Eiffel. La Tour Eif-fel au bord de l’Arno, 1999, p. 18. Ainda, José

Manuel Lopes Cordeiro, "Ponte Maria Pia: ummarco histórico na evolução da Engenharia por-tuguesa", in Encontro Nacional de ConstruçãoMetálica e Mista, Porto, 1997, pp. 239-245 e apágina web de Manuel de Azeredo quando serefere à Ponte Luís I (http: //www.fe.up.pt/~azr/pontes/eiffel.htm) eo espaço dedicado ao próprio Seyrig com biogra-fia e bibliografia (http://www.fe.up.pt/~azr/pon-tes/seyrig.htm). (8)Agradeço ao Sr. Stéphane Dieu, responsávelpela Documentação e Exposições da SNTE, oacesso a este espólio.(9)Não existe, por exemplo, a encomenda n.º 708,sendo assim portuguesa a penúltima encomendalistada neste documento.(10)Antes dos vestíbulos das estações de Agen eToulouse, pode fazer-se recuar a obra de Eiffel a1856. Ver, por todos, Bertrand Lemoine, Eiffel,pp. 124 e 126.(11)Depois de 1890-1893 o seu nome ficou sobre-tudo ligado a estudos sobre aerodinâmica.(12)Tomemos como exemplo a cronologia da PonteD. Maria: adjudicação (22.6.1875), início daconstrução (5.1.1876), conclusão (30.10.1877) einauguração (4.11.1877). A título de curiosida-de, indica-se a data de inauguração de outras pon-tes ferroviárias de Eiffel: Cávado (21.10.1877),Neiva (24.2.1878), Ancora (1.7.1878), Vila Meã(15.9.1878) e Tâmega (15.9.1878). Não encon-trámos neste manuscrito referência à ponte ferro-viária sobre o Coura, em Caminha (ao km 104,9)

da linha do Minho, que sabemos inaugurada em 15.1.1879.(13)Neiva.(14)Tâmega.(15)Vila-Meã.(16)Dão.(17)Poço do Bispo.(18)O Occidente, 5º anno, vol. V, n.º 134, 11 deSetembro de 1882, p. 204.(19)Cf. a caixa "Memória enferrujada", no artigode Fernando Gaspar "Eiffel: a idade do ferro",publicado n’a revista do Expresso, 1 de Abril de1989, pp. 6-R e 7-R.(20)O Occidente, 10º anno, vol. X, n.º 301, 1 deMaio de 1887, p. 99 e p. 109 do n.º seguinte.(21)Já chamáramos a atenção para esta hipótese emAntónio J. Nabais e Paulo Oliveira Ramos, Eiffelem Portugal, Institut Franco-Portugais de Lis-bonne, Março de 1987, p.1.(22)Que formalmente faz lembrar a "marquesina"da gare de San Sebastian, de 1880, projectada pe-lo engenheiro francês A. Biarez, mas erguida pe-la empresa G. Eiffel & Cie. Cf. Inmaculada Agui-lar Civera, La Estación de Ferrocarril Puerta dela Ciudad, Valencia, Generalitat ValencianaConselleria de Cultura, Educación y Ciencia,1988, tomo II, p. 392.(23)O Occidente, 10º anno, vol. X, n.º 301, 1 deMaio de 1887, p. 99.(24)A estação de Alcântara-Terra (referida nas"commandes" 496, 497, 523, 541, 557, 680) nãodeveria ser transformada, mesmo que parcial-mente, em secção museológica da CP dedicada aonosso (importante) quinhão no que Bertrand Le-moine designou como o "mythe Eiffel" ou, ditopor outras palavras, à memória da obra de Eiffelem Portugal?(25)Alexandre Herculano, Opúsculos, t. IV, ed. de1901, p. 10.

30

PAULO OLIVEIRA RAMOS – Histo-riador e arqueólogo industrial. Assis-tente da Universidade Aberta.([email protected])

Ponte D. Maria no Porto.

Page 32: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

PROJECTOS E ESTALEIROS

A OZ tem vindo a ser solicitada, nos últi-mos anos, para levar a cabo trabalhos delevantamento e diagnóstico em diversaspontes, em todo o território nacional. Comvista ao levantamento estrutural e de ano-malias da Ponte D. Luiz I, no Porto, foi-lherecentemente solicitada a colaboração pe-la GRID – Consultas Estudos e Projectosde Engenharia Lda. Estes trabalhos desti-nam-se a preparar uma intervenção dereabilitação e reforço estrutural, que temem vista permitir a passagem das compo-sições do Metro do Porto.

LEVANTAMENTO ESTRUTURALA OZ efectuou um levantamento exausti-

vo in situ da geometria e das secções trans-versais de todos os elementos da ponte (pi-lares, arco e encontros), incluindo o levan-tamento de ligações e aparelhos de apoio.Para a medição dos elementos metálicos fo-ram utilizados paquímetros, fitas métricasmetálicas, esquadros e réguas metálicas.Para maior rigor das medições, removeu-se, em zonas localizadas, a pintura existen-te, procedendo-se, depois das medições, àaplicação de uma protecção anti-corrosivaprovisória, também por pintura.

LEVANTAMENTO DAS ANOMALIASForam, igualmente, levantadas as ano-malias existentes na ponte, designada-mente, as relacionadas com a corrosãodos elementos metálicos e com a existên-cia de deformações, por exemplo, nos

aparelhos de apoio e nas juntas.Todo o levantamento foi acompanhadopor um registo fotográfico, tanto dos ele-mentos estruturais medidos como dasanomalias detectadas.A Oz orgulha-se de poder dar o seu con-tributo para a reabilitação desta notávelestrutura, e espera que seja possível man-tê-la em uso ainda durante muitos anos,dado o seu inegável valor como patrimó-nio histórico da cidade do Porto.A OZ é uma empresa, fundada em 1988,que se dedica à execução de levantamen-tos de construções e estruturas e diag-nóstico das suas anomalias, recorrendo,para tal a técnicas não destrutivas. Dis-põe de um sistema de garantia da quali-dade, concebido segundo as normas ISO9000, certificado.

Uma vida nova

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 200232

Figura 1 – Vista da Ponte D. Luiz I no Porto.

Figura 3 – Medições no gousset superior .

Figura 2 – Corrosão na base do aparelho de apoio no pilar.

para a velha Ponte D. Luiz I, no Porto

Page 33: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

e-pedra e cal

Entre 5 e 500 euros, acha pouco? Passo a expli-car. No dia 1 de Janeiro de 2002, o espaço eu-ropeu conheceu uma nova moeda comum, oEuro. Para a concepção artística da série de se-te notas foi escolhido um motivo comum a to-dos os países da Comunidade Europeia, a ar-quitectura, representada por pórticos e janelasnuma face e pontes na outra. Para além de umaconsulta atenta à sua carteira, aconselho umavisita ao site da Comissão Nacional do Euro,em www.infoeuro.pt, onde poderá conhecermelhor as notas (e as pontes), símbolos do nos-so património comum.

1•Outro símbolo de referência é a Ironbridge,a primeira ponte metálica do mundo, que atra-vessa o rio Severn, a sul de Telford, no Shrops-hire, Inglaterra. Construída em 1779, repre-senta o avanço tecnológico da arquitectura doferro que dominaria o século XIX, no local uni-versalmente reconhecido como o Silicon Val-ley da Revolução Industrial, devido ao suces-so na produção de ferro derretido com carvãoem 1709. Dada a sua importância singular, foicriado o Ironbridge Gorge Museum Trust, afim de salvaguardar a memória deste local,com mais de 750 000 visitantes por ano. O Iron-bridge Gorge (Garganta de Ironbridge) estáinscrito na lista do Património Mundial daUNESCO desde Novembro de 1986 (ver rela-tório em www.unesco.org/whc/sites), in-cluindo a ponte, as minas de Coalbrookdale ea envolvente paisagística.

Para conhecer melhor a história deste em-preendimento, aconselho o site www.iron-bridge.org.uk e em www.bbc.co.uk/his-tory/3d/ironbridge.shtmlpoderá conhecer asvárias etapas da construção desta ponte comilustrações ou optar pela visualização 3D. Acronologia deste local está disponível emw w w . c o a l p o r t . d e m o n . c o . u k /Timewatch.htm, e no site institucional da ci-dade de Telford, em www.telford.gov.uk/heritage, poderá inteirar-sesobre as questões e intervenientes da Iron-bridge Gorge Initiative no processo de conser-vação e valorização deste património. Por fim,se estiver curioso, pode ainda fazer uma visitavirtual ao pitoresco cenário do vale de Iron-bridge, através do site www.virtual-shrops-hire.co.uk/ironbridge-tour/map.htm.

2•O International Association for Bridge andStructural Engineering (IABSE) é um organis-mo associativo sedeado em Zurique, na Suíça,desde 1929, empenhado na promoção da en-genharia de estruturas, através de conferên-cias, publicações e grupos de trabalho. Emwww.iabse.ethz.chpoderá consultar notícias,lista de publicações e um calendário de confe-rências previstas para o biénio 2002/03, ondedestaco o IABMAS’02 – Conference on BridgeMaintenance, Safety and Management (Bar-celona, 14-17 Julho 2002). Não será um site mui-to "excitante", numa perspectiva de multimé-dia, dada a formalidade da sua estrutura e

conteúdo, mas penso que é de visita obrigató-ria para quem procura conteúdo técnico e querestar informado do que se passa lá fora.

3•O Civilium.net é um portal dedicado à cons-trução civil, promovido pela Construção&Li-mitada e com ligações à Faculdade de Enge-nharia da Universidade do Porto, que secaracteriza por um espaço de notícias e artigossobre as grandes obras e empreendimentosconcluídos ou a decorrer. Tratando-se, na suamaioria de transcrições de jornais, não deixade ser merecedor de uma visita a www.civi-lium/infocil/dmaria.shtml, pelo conjunto deinformação, aliado a boas ilustrações e dina-mismo da comunidade, nomeadamente estu-dantes de Engenharia, que encontram aquium espaço de troca de informações, software eemprego. A destacar, um artigo sobre o co-nhecido engenheiro "de pontes", Edgar Car-doso, textos sobre a Ponte Vasco da Gama, aPonte D.Maria, bem como a futura travessiado Douro, a Ponte do Infante D. Henrique.

33

Sites sobre Pontes na InternetQuantos euros vale uma ponte?

JOSÉ MARIA LOBO DE CARVALHO– Arquitecto, Mestre em Conservaçãodo Património pela Universidade deYork, Inglaterra. Colabora actualmentena DGEMN, nos projectos da Carta deRisco do Património Arquitectónico eInventário dos Conjuntos Urbanos. [email protected]

Page 34: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

AS LEIS DO PATRIMÓNIO

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

Em especial, nos últimos dois anos,assistiu-se à entrada em vigor de umconjunto de diplomas cujo objectivose traduziu na desburocratização esimplificação do sistema de notaria-do, reduzindo o número de actos su-jeitos a escritura pública bem comodos que carecem de certificação, pro-curando simplificar a vida a todos osparticulares e empresas que diaria-mente, se têm que debater com exces-so de formalismos e burocracias per-feitamente inúteis, que consomemenergias e dinheiros que doutro mo-do melhor poderiam ser empregues.Sendo certo que, muito, ainda, haverápara fazer, atenta a particular impor-tância desta paulatina, mas ao que tu-do incida, efectiva tendência para a"desformalização" de determinadosactos com claras implicações na esfe-ra de acção das empresas, importa fa-zer uma referência específica aosprincipais diplomas nesta matéria, in-dicando as mudanças mais importan-tes, entretanto, verificadas.O Decreto-Lei nº 36/2000, de 14 deMarço, marcou o início deste proces-so de simplificação ao dispensar deescritura pública um conjunto de ac-

tos, entre os quais se inclui a dissolu-ção de sociedades, a constituição desociedades unipessoais por quotas, aconstituição do estabelecimento indi-vidual de responsabilidade limitadae a constituição do agrupamento com-plementar de empresas. No que se refere à dissolução, esta nãocarece de ser consignada em escritura

pública caso tenha sido deliberadapela assembleia geral e a acta da deli-beração tenha sido lavrada por notá-rio ou pelo secretário da sociedade.Quanto à constituição de sociedadeunipessoal por quotas, estabeleci-mento individual de responsabilida-de limitada e agrupamento comple-mentar de empresas passa a podercelebrar-se mediante documento par-ticular, desde que não sejam efectua-das entradas em bens diferentes de dinheiro para cuja transmissão seja

necessária escritura pública. O Decreto-Lei nº 64-A/2000, de 22 deAbril, veio, por seu turno, consagrar adispensa de escritura pública relati-vamente aos arrendamentos sujeitosa registo (celebrados por prazo supe-rior a 6 anos), aos arrendamentos pa-ra comércio, indústria e exercício deprofissão liberal bem como quanto ao

trespasse e cessão de exploração deestabelecimento comercial e indus-trial e quanto à cessão da posição dearrendatário no arrendamento para oexercício de profissão liberal, bastan-do a mera celebração através de docu-mento escrito.As referidas preocupações de simpli-ficação formal foram, por sua vez, ex-tendidas às empresas cooperativas,por forma a acompanhar a evoluçãooperada quanto às sociedades comer-ciais. Neste sentido, o Decreto-Lei nº

34

Desburocratização

O Decreto-Lei nº 36/2000, de 14 de Março, marcou o início deste processo de simplificação ao dispensar de escritura pública um conjunto de actos

Page 35: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

e Simplificação

AS LEIS DO PATRIMÓNIO

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002 35

108/2001, de 6 de Abril, veio determi-nar que as alterações aos estatutos decooperativas para cuja constituiçãoseja exigida escritura pública apenastêm de revestir essa forma caso res-peitem a alterações do montante docapital social mínimo ou do objecto dacooperativa e, nestes casos, quando aacta da deliberação não tenha sido la-vrada por notário bem como estipularque a dissolução de cooperativas de-liberada em assembleia geral não ca-rece de ser consignada em escriturapública.Neste contexto, e agora tendo especi-ficamente em vista introduzir formasalternativas de atribuição de valorprobatório a documentos, refira-se oDecreto-Lei nº 28/2000, de 13 de Mar-ço, que veio conferir competência pa-ra a certificação da conformidade defotocópias com os documentos origi-nais às juntas de freguesia, aos CTT –Correios de Portugal, S A , às câmarasde comércio e indústria, estas desdeque, reconhecidas nos termos do De-creto-Lei nº 244/92, de 29 de Dezem-bro bem como aos advogados e aos so-licitadores. As fotocópias conferidasnestes termos têm o valor probatório

dos originais.No seguimento deste diploma, foiigualmente aprovado o Decreto-Leinº 237/2001, de 30 de Agosto, o qualveio atribuir também às já referidascâmaras de comércio e indústria e aosadvogados e solicitadores, competên-cia para fazer reconhecimentos commenções especiais, por semelhança,bem como certificar ou fazer e certifi-car, traduções de documentos. Estesactos efectuados por estas entidadesconferem ao documento a mesma for-ça probatória que teria se tais actos ti-vessem sido realizados com interven-ção notarial.Para além disso, o mesmo diploma,entre outras alterações prevê que,aquando da celebração do contrato desociedade, o depósito das entradasem dinheiro já realizadas possa tam-bém ser comprovado por declaraçãodos sócios, prestada sob sua respon-sabilidade.

Por último, embora já no âmbito dosistema de registos, justifica-se, ain-da, fazer uma referência ao Decreto--Lei nº 12/2001, de 25 de Janeiro, oqual vem permitir o pedido de certi-ficados de admissibilidade de firmaou denominação e de certidões do re-gisto civil, predial e comercial atravésda transmissão electrónica de dados.Na medida em que o conhecimentopor parte dos interessados é factoressencial para a prossecução destesobjectivos, fizemos questão de dei-xar aqui o nosso modesto contribu-to para tal, o qual é meramente ex-positivo.

A. JAIME MARTINS– Advogado de Alcides Martins & As-sociados, Sociedade de Advogados– Docente universitário

O mesmo diploma prevê o depósito das entradas em dinheiro já realizadas possa também ser comprovado por declaração dos sócios, prestada sob sua responsabilidade

Page 36: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

TECNOLOGIA

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

INTRODUÇÃOA conservação preventiva é uma área deintervenção da conservação e restauroque actua sobre as causas de degradaçãodos bens culturais, minimizando o seuefeito ou mesmo eliminando-as.Em Portugal esta actividade tem encon-trado alguma resistência à sua implanta-ção nos museus. Os motivos são vários,nomeadamente a falta de profissionaisdevidamente qualificados, a falta de pla-nos de formação, a escassa bibliografia so-bre o assunto em português e de caráctermenos técnico e a ideia pré-concebida dadificuldade de implantação de medidasde conservação preventiva, quer do pon-to de vista técnico quer financeiro – pro-vavelmente a razão mais forte, mas tam-bém a mais errada.

TERMO-HIGROMETRIAUma forma de intervir ao nível da preser-vação de colecções é o controlo dos níveistermo-higrométricos nos vários espaçosinteriores de um museu. Essa intervençãopode conjugar um ou mais aspectos dosque se referem mais à frente neste texto.Contudo, há que saber, à partida, quais ascondicionantes a considerar, tendo emconta que cada colecção de artefactos ne-cessita de condições próprias. O levanta-mento das características materiais e o es-tado de conservação da colecção sãoponto chave para a definição das suascondições adequadas. O conhecimento dos efeitos que diversascondições higrométricas têm sobre os ma-

teriais constituintes dos objectos e o seucontrolo é também uma das chaves parauma boa preservação. Os dados de Mi-chalsky (1993) sobre deterioração pelahumidade sintetizam esses efeitos da se-guinte forma:

• deterioração por humidade relativa ex-cessiva;• deterioração por valores incorrectos dehumidade relativa;• deterioração por flutuações de humida-de relativa;• deterioração por valores de humidade re-lativa acima ou abaixo de valores críticos;

METODOLOGIAS NA CONSTRUÇÃOTomando como base o trabalho de Pad-field (1998) e alguns exemplos reais, im-porta considerar a forma e a ordem comoalguns materiais de construção são e oupoderão ser empregues nos museus. Nãose pretende dar uma panacéia, mas antesum contributo que é o resultado de umaconvergência de informações transdisci-plinares, considerando dados de ensaioslaboratoriais e resultados práticos emmuseus portugueses.

Das fundações à cobertura, o isolamen-to é de importância vital para garantir aestanquecidade do edifício. Indepen-dentemente do seu tipo (soluções de si-loxanos, tintas e outros líquidos imper-meabilizantes, subtelhas, etc.), esteisolamento deve ser essencialmente ex-terior. As paredes interiores devem serde materiais que tenham níveis de hi-groscopicidade elevados, por forma aque estes tenham um efeito tampão (buf-fer) na moderação dos níveis de humi-dade relativa e da temperatura.Outro aspecto importante para a obten-ção de estabilidade interna de um mu-seu é a calafetagem de portas e janelas,aumentando-se assim a estanquecidadedo edifício.

SISTEMAS DE CONTROLOA utilização de sistemas de AVAC revela-se, muitas vezes, dispendiosa para as insti-tuições museológicas, para além do efeitointrusivo da instalação destes equipamen-tos em edifícios históricos. Um dos siste-mas eficazes no controlo das condições ter-mohigrométricas consiste na pressuri-zação. Sem elevar em demasia o nível demercúrio do barómetro, é possível contro-lar a entrada de humidade relativa no edi-fício por capilaridade e adsorção atravésdas paredes e aberturas. Para além disso,promove-se uma ventilação controladaque tenderá a diminuir os níveis de COV’sbem como a presença de pó.Muitas vezes, o comportamento dinâmicodo edifício, aliado à sua construção e aos vo-

36

Algumas medidas na construção para a conservação

Figura 1 – Gráfico 1.

Page 37: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

TECNOLOGIA

lumes que contém é suficiente para efectivarum equilíbrio das condições termohigromé-tricas, bastando apenas recorrer a desumidi-ficador(es) (em detrimento dos aquecedo-res) para obter uma estabilização eficaz.

CASOS PORTUGUESESNo Alentejo, num edifício histórico semsistema de AVAC, um museu com váriassalas e pisos estabeleceu a monitorizaçãodas suas condições higrométricas. Os da-

dos apresentados mostram uma sala(Gráfico 1) virada a Sul, no piso intermé-dio, mas com janelas mal calafetadas, emque a humidade relativa variou entre 40 e80% num mês, claramente excessivo e acorrigir. Noutra sala (Gráfico 2) com vo-lume semelhante mas no piso inferior,com paredes exteriores a N e NW (apenascom exposição solar ao final do dia) e ja-nelas pequenas mas bem calafetadas, autilização de um desumidificador permi-te um controlo adequado das condições(humidade relativa média de 65%), salvouma manutenção pouco eficaz deste, ve-rificável nos picos do gráfico.Próximo de Lisboa, num edifício deconstrução recente, com paredes exterio-

res simples de tijolo cerâmico e rebocoareado fino, pintado e sem hidrofobação,uma reserva de materiais arqueológicos(Gráfico 3) consegue manter-se estávelgraças a alguns factores:

• o efeito tampão das caixas de cartão ca-nelado em que se encerra o material;• o facto da sala só ser aberta quando exis-te alguém no interior e pelo tempo estrita-mente necessário;• a existência de um desumidificador li-gado em permanência (refira-se que oaparelho de ar condicionado instalado es-tá desligado visto não prover o controloadequado)

NOTA FINALA conservação preventiva não se encerrasó na termo-higrometria. É fundamentalreter que envolve outros aspectos de im-portância igual ou maior a estes. Mas épreciso que se comece por algum lado e

que se passe das palavras aos actos, apli-cando metodologias adequadas e parti-lhando experiências e conhecimentos porforma a obter as melhores condições paraa preservação dos bens culturais.

Bibliografia

Michalsky, S., "Relative humidity: a discussionof correct/incorrect values", preprints of ICOMCommitee for Conservation 10th Triennial Mee-ting held in Washington (1993), p. 624-629.Padfield, T., "The role of absorbent building ma-terials in moderating changes of relative humi-dity", PhD thesis for the Technical University ofDenmark (1998), unpublished.

37

NUNO MOREIRA– Conservador restaurador do Museu Municipal de Arqueologia da Amadora– Consultor da Rede Portuguesa de Museus

preventiva de colecções museológicas

Figura 2 – Gráfico 2. Figura 3 – Gráfico 3.

Page 38: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

DIVULGAÇÃO

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

A Sociedade de Geografia de Lisboaé uma entidade privada fundada em1875 e considerada de Interesse Pú-blico desde 1924. Com base nos ac-tuais estatutos, que datam de 1895,tem como objectivos: • o desenvolvimento do estudo dasCiências Geográficas e afins; • o estudo dos meios para melhorar,aproveitar e desenvolver as forças erecursos naturais de Portugal; • a cooperação com os países de lín-gua oficial portuguesa com vista àpreservação do seu conhecimentocientífico e cultural; • a cooperação com as comunidadesportuguesas existentes em países es-trangeiros no intuito de nelas conser-var e desenvolver o sentimento e osinteresses da nacionalidade portu-guesa e o culto da lusofonia; • a cooperação com o Estado e a con-sulta aos poderes públicos e ao país,na esfera da cultura e da ciência. A sua actividade científica e culturaldesenvolve-se em comissões e sec-ções profissionais e na promoção deconferências, simpósios e outros ac-tos públicos. O seu património histó-rico e cultural único está expresso noMuseu Histórico e Etnográfico e nabiblioteca com um acervo de cerca de

230 000 títulos. Sócio da Sociedade de Geografia des-de há 38 anos, o professor catedráticoLuís Aires-Barros, é seu presidentedesde o ano 2000.

P&C: Sendo o actual presidente daSociedade de Geografia de Lisboa, àqual está ligado há quase quatro dé-cadas, qual tem sido o papel destaSociedade?LAB: A Sociedade de Geografia deLisboa, foi fundada em 1875, no augedos problemas que o país tinha comos territórios ultramarinos, especial-mente com os territórios de África.Tem funcionado como uma academia,sendo actualmente composta por 20 secções, onde se debatem e estu-dam vários domínios da cultura e dasciências.Grandes decisões sobre os territóriosultramarinos foram estudadas e pro-postas aos governos, aqui. Os grandeshomens que governaram esses terri-tórios foram sócios, e até presidentesdesta Sociedade. O homem mais notá-vel foi Luciano Cordeiro, um dos fun-dadores.Nesta sociedade, nos primeiros anosdo séc. XX, eram recebidas as perso-nalidades de relevo que visitavam

Lisboa. Foram aqui recebidos, na SalaPortugal – uma das mais belas salasdo país –, o rei Eduardo VII, o KaiserGuilherme da Alemanha, o impera-dor do Brasil D. Pedro II e o presiden-te francês Émile Loubet.A Sociedade de Geografia é uma so-ciedade privada, no entanto, foi nelacriada a Escola Superior Colonial, queaqui funcionou durante 37 anos. Opresidente da Sociedade de Geografiaera o director da Escola Superior Co-lonial, que formava os quadros da ad-ministração das colónias. Só depoisfoi integrada na Universidade Técni-ca de Lisboa. Foi também aqui criadoo INEF, Instituto Nacional de EucaçãoFísica, depois integrado na mesmaUniversidade.A Sociedade de Geografia tem tidouma vasta acção político-cultural aolongo da História.

P&C: Quais as actuais prioridades daSociedade de Geografia de Lisboa?LAB: Actualmente pretendemos, fun-damentalmente, estudar o nosso espó-lio e torná-lo conhecido, publicandocatálogos e estudos sobre eles. Temosuma valiosa cartoteca, uma bibliotecacom cerca de 6200 obras, inúmeras re-vistas e cerca de 6000 manuscritos in-

38

A Sociedade de Geografia de Lisboa segundo o

Page 39: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

DIVULGAÇÃO

cluindo o espólio de Silva Porto, Ser-pa Pinto e Gago Coutinho. Temostambém uma fototeca com mais de 50000 espécies fotográficas, desde 1870até à actualidade, e um museu etno-gráfico e histórico. Temos aqui os pa-drões que Diogo Cão foi pondo ao lon-go da costa de Angola. Talvez estassejam as peças mais ricas do museu,onde há um larguíssimo acervo de pe-ças de arte africana e asiática.Por outro lado, como a sociedade fun-ciona como uma academia, com sec-ções, preocupamo-nos em estudar oureestudar os problemas actuais, nãosó do país como aqueles ligados aospaíses de expressão portuguesa. Foiaqui que o bispo Carlos Belo lançou asua fundação com o dinheiro recebi-do pelo Prémio Nobel. Esteve cá no fi-nal do mês de Outubro último o actualprimeiro-ministro de Timor – MariAlkatiri. Mantemos relações estreitascom países como o Brasil, a Indonésia,a Índia, o Paquistão, a China, o Irão,etc. Editamos, desde 1876, um bole-tim, revista cultural e científica.

39

professor Luís Aires-Barros

Rua das Portas de Stº Antão, n.º1001150-269 LisboaTel.: 213 425 068 Horário: Segunda, quarta e sexta das 11 às 13h00 e das 15 às 18h00.Encerra à terça, quinta e fim-de-semana.Entrada grátis.Biblioteca de Etnologia e História, em especial espécies re-lativas às antigas possessões de África e de Ásia.

SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA

MUSEU ETNOLÓGICO DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA

Rua das Portas de Stº Antão, n.º100 1150-269 LisboaTel.: 213 425 401 - 213 425 068Fax: 213 464 553

ALEXANDRA ANTUNES E ADRIÃO

Page 40: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

NOTÍCIAS

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

O Colóquio RECICLAR O PATRIMÓNIOdecorreu com um assinalável sucesso, nopassado dia 28 de Fevereiro no Auditóriodo Laboratório Nacional de Engenharia Ci-vil, em Lisboa.Nele participaram dirigentes do InstitutoPortuguês do Património Arquitectónico(IPPAR), da Direcção-Geral dos Edifícios eMonumentos Nacionais (DGEMN) bem co-mo arquitectos, historiadores, e outrosagentes ligados à defesa e salvaguarda dopatrimónio edificado.O repto de pensar o património, a propósitoda metáfora da RECICLAGEM, foi lançadopela ModusOperandi, Consultores Cultu-rais, e forneceu matéria polémica para as vá-rias intervenções, vivamente correspondi-da pelas questões e intervenções daassistência.O tom geral foi lançado por Paulo Garcia Pe-reira – vice-presidente do IPPAR, na confe-rência inaugural intitulada RETOMAR OCICLO, na qual foram dissecadas, nas suasvárias vertentes, as políticas patrimoniais.O inventário do património em curso pelaDGEMN, as questões ligadas à reconstru-

ção e reabilitação dos centros históricos deGuimarães e do Porto, os problemas do pa-trimónio industrial, e a relação com as práti-cas arquitectónicas contemporâneas, foramoutras das temáticas abordadas, com inter-venções de Eduardo Souto Moura, WalterRossa, Rui Loza, Alexandra Gesta, Margari-da Alçada, Henrique Cayatte, DeolindaDelgado, e João Luís Carrilho da Graça. O colóquio encerrou com a conferência Re-ciclar o Património: [O CICLO DO MISTÉ-RIO] proferida por Manuel da Graça Dias,que de uma forma sintética, mas arrojada, li-gou a questão da reutilização do patrimó-nio à mudança do mundo e das cidades con-temporâneas.Este colóquio marca um novo ciclo de acti-vidade da ModusOperandi que, a par dasua intervenção na área de consultadoriacultural e curadoria de eventos na área daarte contemporânea, prosseguirá a sua acti-vidade de organização de colóquios, Works-hops e acções de formação em torno dasquestões da paisagem, da arte e cultura dosnossos dias, no âmbito da actualização eaperfeiçoamento de competências.

40

Reciclar o Património

O GECoRPA tomou a iniciativa de pro-mover o Congresso Internacional sobrePatologia, Durabilidade e Reabilitaçãodos Edifícios, a ter lugar no LNEC, Lis-boa, no último trimestre de 2003.De acordo com o GECoRPA pretende-se,com este congresso tirar o máximo partidodos erros que se cometem na concepção,construção, manutenção e reabilitação deedifícios correntes, no sentido de se apren-

der a evitar as opções que a eles conduzem.Esta iniciativa surge no quadro da colabora-ção do presidente do GECoRPA com o CIB,International Council for Research and In-novation in Building and Construction, con-cretamente com o seu grupo de trabalhoW086 – Building Pathology. Este grupo detrabalho reúne um conjunto de investigado-res e profissionais, de vários países, que sededicam à patologia dos edifícios.

A organização estará a cargo de uma parce-ria do GECoRPA com o LNEC. A iniciativa conta, desde já, com o patrocínio doIGAPHE, esperando-se que outras entidadesvenham a juntar-se ao grupo de apoiantes.

Aprendendo com os erros e defeitos da construção

Page 41: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

AGENDA

41

COLLOQUE INTERNATIONAL –PATRIMOINE MONDIAL– PATRIMOINE INDUSTRIELS19 – 21 Setembro 2002, ARC-ET-SENANS (FRANCE) Org: Royal Saltworks of Arc-et-Senans/France Info: Franck Gautré Tel: +33-03 81 54 45 36 Fax: +33-03 81 57 45 01 Website: http://patrimoine.saline.free.frE-mail: [email protected]

S E M I N Á -RIO A INTERVENÇÃO

NO PATRIMÓNIO; PRÁTICASDE CONSERVAÇÃO E REABILI-TAÇÃOO Departamento de Engenharia Civilda Faculdade de Engenharia da Uni-versidade do Porto (FEUP) está a pro-mover a realização dum seminário so-bre A intervenção no património.práticas de conservação e reabilita-ção, a decorrer nos dias 2, 3 e 4 de Ou-tubro de 2002, nas instalações daFEUP. O seminário surge na sequên-cia do trabalho desenvolvido por estedepartamento em parceria e ao abri-go de um protocolo de colaboraçãocom a Direcção-Geral dos Edifícios eMonumentos Nacionais. Tal activida-de tem consistido no apoio a obras deconservação e reabilitação estruturalde edifícios classificados na área deintervenção da Direcção Regional deEdifícios e Monumentos do Norte.A degradação da resistência e dascondições de salubridade do patrimó-

nio edificado é factor de perdas cultu-rais, económicas e sociais, importan-tes, tornando-se urgente intervir emedificações com valor patrimonial re-conhecido, permitindo a sua reutili-zação e impedindo a sua degradaçãoe ruína. A realização do semináriopretende, por isso, criar um espaço dedebate sobre a conservação e a reabi-litação do património construído,confrontando diferentes abordagense técnicas, enquadradas pela apresen-tação de casos práticos de aplicação.O evento contará com a presença decerca de três dezenas de oradores en-tre os quais especialistas estrangeirose nacionais de reconhecido méritonesta área. Estas e outras informaçõesencontram-se disponíveis no site:www.fe.up.pt/patrimonio.

Informações:D. Clotilde BentoFEUP – DECivilRua Dr. Roberto Frias, s/n4200-465 PORTO – PORTUGALTel: +351 225 081 887Fax: +351 225 081 835Email: patrimó[email protected]/patrimonio

III CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE PATRIMONIO GEOLÓGICOY MINERO – "DEFENSA DEL PATRIMONIO Y DESARROLLO REGIO-NAL" 24 – 26 Outubro 2002, CARTAGENA (SPAIN)Org: Sociedad Española para la Defensa del Patrimonio Geológico y Minero (SEDPGYM) Info: Mercedes martinez Escudero – Departamento de Ingeniería Minera, Geológica y Cartográfica – Universidad Politécnica de Cartagena– Pº Alfonso XIII, n.º 52 – 30203 Cartagena (Murcia) – SPAIN Tel: +968 325 489 Fax: +968 325 435 Website: http://www.inicia.es/de/sedpgym

3th TRIENNIAL MEETING OFTHE ICOM (INTERNATIONALCOUNCIL OF MUSEUMS) –COMMITTEE FOR CONSER-VATION22 – 28 Setembro 2002, RIO DE JANEIRO (BRAZIL) Org: ICOM – Committee for Conservation Info: Isabelle Verger – c/o ICCROM– 13 Via di San Michelle– 00153 Roma – ITALIA Website: http://www.icom-cc.org E-mail: [email protected]

Page 42: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

VIDA ASSOCIATIVA

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 200242

Teve lugar no passado dia 27 de Mar-ço, no Palácio da Bolsa do Porto, o IVjantar GECoRPA, que reuniu cerca de65 convidados, entre associados doGrémio, presidentes e representantesde várias câmaras municipais do Nor-te do país, representantes de outrasempresas ligadas à construção, con-servação e reabilitação do edificado, eainda, de outras associações e univer-sidades. Como convidados de honra estiverampresentes o director regional do IPPAR– Porto, dr. Lino Augusto Tavares Dias,que fez uma intervenção sobre o IIIQuadro Comunitário de Apoio e a rea-bilitação das cidades, e o director re-gional dos Edifícios e Monumentos doNorte, arq.º Augusto Marques da Cos-ta, que abordou o tema da formaçãodos agentes intervenientes na conser-vação e restauro do património arqui-tectónico. Seguiram-se algumas perguntas dosconvidados, respondidas pelos orado-res, o que deu lugar a uma interessantediscussão de vários assuntos como oproblema da recuperação dos edifícosnas zonas históricas das cidades, ou ojá citado tema da formação na área daconservação e reabilitação do patrimó-

nio construído.Os jantares GECoRPA visam reunir de-cisores das empresas e das instituiçõesmais vocacionadas para actividade daconservação do património arquitectó-

nico e da reabilitação das construçõesantigas ou, por outras razões, interes-sadas neste importante mercado, como objectivo de promover o debate dasgrandes questões desta área.

GECoRPA debate

Em cima, dr. Lino Tavares Dias, director regional do IPPAR Porto, e um dos convidadosde honra deste jantar, fez uma exposição sobre o III Quadro Comunitário de Apoio e a rea-bilitação das cidades.Em baixo, o arq.º Marques da Costa, director regional dos Edifícios e Monumentos doNorte, na altura da sua comunicação, que focou, entre outras coisas, a formação dos inter-venientes na conservação e restauro do património arquitectónico.

conservação do património arquitectónico

Page 43: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

VIDA ASSOCIATIVA

43

Decorreu no passado dia 28 de Fevereiro,em Lisboa, uma acção de formação organi-zada pelo GECoRPA – GT5 (Grupo de Tra-balho 5 – Novas tecnologias e materiais),com a colaboração do Departamento de Ma-teriais de Construção do LNEC e do Depar-tamento de Engenharia Civil do IST, tendoem vista o lançamento em regime experi-mental do MatTec – Sistema de InformaçãoSobre Patologia e Técnicas de Reabilitaçãodo Património Construído. O MatTec (Materiais e Tecnologias), tem vin-do a ser desenvolvido por aquelas entidades,no âmbito de um projecto cofinanciado pelaFundação para a Ciência e Tecnologia. Estesistema pretende ser uma ferramenta multi-média de apoio à decisão na área da reabilita-ção, envolvendo os principais agentes e asprincipais áreas de actividade. Reconhecen-do a importância da divulgação dos conheci-mentos, experiências e recursos disponíveisque auxiliem as decisões dos engenheiros earquitectos em intervenções de reabilitação, osistema MatTec está estruturado de forma apoder orientar ou auxiliar nessas decisões. A acção de formação foi dirigida pelo eng.º Jo-sé Manuel Rosado Catarino do LNEC, e reu-niu cerca de 30 participantes, representantesdas empresas associadas do GECoRPA.A acção iniciou-se com uma apresentaçãoda ferramenta MatTec, continuando com os

seus objectivos e funcionamento, entre ou-tras informações relevantes, tendo finaliza-do com exemplos de como carregar a basede dados, simulações da sua utilização evantagens decorrentes.Durante a acção foi distribuído um CD--ROM com a base de dados MatTec pronta autilizar, com o qual os participantes, munidosde PCs portáteis, puderam experimentar in-

teractivamente as vantagens deste sistema. Antes de se dar por encerrada a acção de for-mação, o eng.º José Manuel Catarino e o eng.ºVítor Cóias e Silva, presidente do GECoRPA,sublinharam a importância da participaçãoactiva dos utentes na construção da base dedados MatTec, sendo aberto um período ex-perimental de algumas semanas para os inte-ressados poderem iniciar o carregamentocom informações decorrentes da sua expe-riência prática em patologia de edifícios, usode materias, etc. Esta informação será, depois,transferida para a base de dados principal, eserá feita, em data a anunciar, uma nova acçãode formação, utilizando já o conjunto de in-formação recolhida.

Sistema MatTecAcção de formação

Em cima, apresentação do sistema MatTec peloeng.º Catarino, durante a acção de formação decor-rida em Lisboa.Ao lado, apresentação de casos práticos na utiliza-ção do sistema MatTec.

Page 44: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 200244

Gastronomia é oficialmente reconhecidacomo património, desde 2000

A gastronomia já é, desde 2000, oficial-mente reconhecida como "património"estando prevista a criação de uma base dedados. Assim, apresentamos o diploma.

Portaria n.º 312/2002de 22 de Março

Pela Resolução do Conselho de Ministrosn.º 96/2000, de 26 de Julho, a gastronomiafoi considerada valor integrante do patri-mónio cultural português. No seguimento da aplicação da resoluçãocitada foi criada, através da Resolução doConselho de Ministros n.º 169/2001, de 19de Dezembro, a Comissão Nacional daGastronomia, à qual compete, designada-mente, coordenar a criação, desenvolvi-mento e utilização de uma base de dadosde receitas e produtos tradicionais portu-gueses.

Assim: ao abrigo do disposto na alínea b) do n.º 3da Resolução do Conselho de Ministros n.º169/2001, de 19 de Dezembro, manda oGoverno, pelos ministros da Economia, daAgricultura, do Desenvolvimento Rural edas Pescas e da Cultura, o seguinte: 1.º – É criada uma base de dados, desig-nada Gastronomia, Património Cultural,a qual incluirá os seguintes elementos deinformação: a) receituário classificado; b) produtos agrícolas e agro-alimentaresqualificados. 2.º – A base de dados Gastronomia, Pa-trimónio Cultural é coordenada e desen-volvida pela Comissão Nacional de Gas-tronomia, com o apoio logístico daDirecção-Geral do Turismo, a qual deveproporcionar os meios técnicos necessá-rios para o efeito. 3.º – A descrição dos produtos agrícolas eagro-alimentares qualificados, a constarda base de dados, deve respeitar os nor-mativos legais que os regulamentam. 4.º – A base de dados Gastronomia, Patri-mónio Cultural, sem prejuízo do dispostono número anterior, inclui-se no patrimó-nio da Direcção-Geral do Turismo. 5.º – A base de dados Gastronomia, Patri-mónio Cultural é disponibilizada com ba-se em regulamentação adequada, paraacesso geral aos respectivos dados, me-diante despacho conjunto dos ministrosda Economia, da Agricultura, do Desen-volvimento Rural e das Pescas e da Cultu-ra, por proposta da Comissão Nacional de

Gastronomia, quando estiverem criadasas condições técnicas para o efeito. 6.º – O financiamento necessário à criação,desenvolvimento e disponibilização dabase de dados Gastronomia, PatrimónioCultural deve ser assegurado: a) pelas comparticipações financeirasprovenientes do Programa Operacionaldo Ministério da Economia, no âmbito doIII Quadro Comunitário de Apoio; b) pelas comparticipações, dotações,transferências e subsídios provenientesdo Instituto de Financiamento e Apoio aoTurismo, das entidades representadas naComissão Nacional de Gastronomia oude quaisquer outras entidades públicasou privadas. 7.º – A competência para a gestão das ver-bas provenientes das comparticipações,dotações, transferências e subsídios pre-vistos no número anterior é da responsabi-lidade da Direcção-Geral do Turismo emarticulação com a Comissão Nacional deGastronomia. 8.º – A presente portaria entra em vigor nodia imediatamente a seguir ao da sua pu-blicação. Em 8 de Fevereiro de 2002. O ministro da Economia, Luís Garcia Bra-ga da Cruz – O Ministro da Agricultura,do Desenvolvimento Rural e das Pescas,Luís Manuel Capoulas Santos – o ministroda Cultura, Augusto Ernesto Santos Silva.

MARIA TERESA RAPOULA– Jurista

Telm

o Mill

er

Page 45: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

LIVRARIA

45

Edgar Cardoso 1913/2000

Edição: Fundação Edgar Cardoso e De-partamento de Engenharia Civil e Arqui-tectura.De entre as obras de Engenharia Civil, aspontes ocupam um lugar à parte no ima-ginário colectivo: elas vencem os abis-mos e o efeito da gravidade que é um dosmais básicos que o ser vivo reconhece e,simultaneamente, são infra-estruturasde grande utilidade pública ao facilita-rem a circulação de bens e pessoas.Este livro é um tributo a Edgar Cardoso,considerado o nosso "Engenheiro dasPontes" e ao seu trabalho. Preço: 28,50 euros – Código: ISTE.2

O CD-ROM Património Metropolitano

Inventário Geo-referenciado do Patrimó-nio da Área Metropolitana de Lisboa pro-põe um registo do património edificadoe arqueológico, para a sua divulgaçãojunto dos municípios, das escolas, dos vi-sitantes e do cidadão em geral.Peça o seu CD-ROM Património Metropo-litano à Área Metropolitana de Lisboa,sem qualquer custo, para:Rua Carlos Mayer, nº 2 – R/C 1700-102 Lisboa

Historical Constructions 2001Coordenação e Edição: Paulo B. Lourenço e Pere RocaGuimarães, 2001, pp.1200, edição integralmente em inglês.Reúnem-se as comunicações do IIIº Seminário sobre Construções Históricas, realizado em Guimarães, emNovembro de 2001. Inclui dez comunicações de oradores convidados, com o estado de conhecimento actual,e mais de 100 comunicações nacionais e internacionais sobre os temas: Aspectos Históricos e MetodologiaGeral; Materiais de Construção; Técnicas de Inspecção e de Experimentação; Técnicas de Análise; EstruturasHistóricas de Madeira; Comportamento e Reforço Sísmico; Técnicas de Consolidação e Reforço; Casos deEstudo. A obra é dirigida a engenheiros, arquitectos e outros técnicos interessados na conservação, reabili-tação e restauro de construções antigas, representando uma contribuição valiosa para a resolução dos desa-fios associados às intervenções no património construído. Preço: 70 euros - Código: PL.A.1

Património: Balanço e Perspectivas (2000-2006)Coordenação: Luís Ferreira Calado, Paulo Pereira e Joaquim Passos LeiteLisboa, Ippar, 2000, pp. 331.Na sequência de um outro estudo previamente realizado pelo Ippar, em 1997, intitulado, Intervenções noPatrimónio. 1995-2000. Nova Política, surge este novo estudo que pretende fazer o balanço dos trabalhos rea-lizados entre 1996 e 1999, dando conta das metas atingidas. Também nos é apresentado o plano de trabalhospara o período compreendido entre 2000 e 2006, conjugando o que se fez, como se fez e por que se fez com asperspectivas para os próximos anos.Preço: 12,47 euros - Código: IP.E.1

Mapa de Arquitectura do PortoLisboa, ARGUMENTUM, 2001, 25x10 cm. Edição trilingue Português/Inglês/Espanhol.Mapa desdobrável contendo 136 obras (edifícios, conjuntos, sítios) e dez espaços urbanos localizados sobre aplanta geral da cidade, ou sobre enfoque do centro histórico, com uma numeração cronológica e um códigode cor indicador da época de construção, apoiada por 50 fotografias originais.Na lista das obras referem-se os autores, a data de projecto e de construção, a sua morada, transformaçõesposteriores e uso actual.Preço: 5,99 euros - Código: AR.M.1

As Pontes do Porto

Editora Civilização com o apoio da Porto 2001Paulo Jorge de Sousa Cruz e José ManuelLopes Cordeiro são os autores do LivroAs Pontes do Porto.O título diz tudo. Ao longo das várias pá-ginas que constituem esta publicação asPontes do Porto são analisadas por doisespecialistas, com o Porto no coração.Preço: 44,99 euros – Código: CIV.E.1

Paredes de Edifícios Antigos em PortugalFernando F. S. PinhoLisboa, LNEC, 2000, pp. 317.A presente publicação, dividida em quatro partes, aborda as técnicas construtivas da generalidade das pare-des de edifícios antigos de habitação em Portugal, a partir de meados do século XVIII, tendo-se, para o efei-to, procedido a pesquisa bibliográfica e à visita a diversos edifícios com a correspondente recolha de imagens.Tendo em vista o enquadramento legal do tema, referem-se alguns dos principais diplomas regulamentaresaplicáveis à actividade construtiva em Portugal desde o final do século XIX. O estudo é finalizado com a aná-lise de 340 processos de obras consultados em três câmaras municipais.Preço: 47,39 euros - Código: LN.E.5

As rochas dos monumentos portugueses. Tipologias e patologias.Luís Aires-BarrosLisboa, IPPAR, 2001, 2 vol., pp. 535.A obra organiza-se em dois volumes. No primeiro é feita uma abordagem dos princípios da mineralogia e dapetrografia. É estudada a alteração das rochas sistematizando-se as suas patologias - de forma profusamen-te ilustrada com exemplos de monumentos portugueses. São abordadas as técnicas físico-químicas de análi-se. No segundo volume são apresentados alguns "estudos de casos" que tiveram lugar no Lampist(Laboratório de Mineralogia e Petrologia do Instituto Superior Técnico), tais como o Mosteiro dos Jerónimos,a Basílica da Estrela, a Torre de Belém, entre muitos outros.Preço: 52,37 euros - Código: IP.E.5

Page 46: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

LIVRARIA

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 200246

Nº 0, Out/Nov/Dez 1998Tema de Capa:

Prática da Conservação eRestauro do Património

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.0 – esgotado

Nº3, Jul/Ago/Set 1999Tema de Capa:

Património e EconomiaPreço: 3,74 eurosCódigo: P&C.3

Nº4, Out/Nov/Dez 1999Tema de Capa:

Património Arquitectónico Industrial

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.4

Nº5, Jan/Fev/Mar 2000Tema de Capa:

Qualificação Profissional ePatrimónio Arquitectónico

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.5 - esgotado

Nº6, Abr/Mai/Jun 2000Tema de Capa:

Arqueologia UrbanaPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.6

Nº7, Jul/Ago/Set 2000Tema de Capa:

Património Cultural e NaturalPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.7

Nº8, Out/Nov/Dez 2000Tema de Capa:

Sismos e PatrimónioArquitectónico

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.8

Nº1, Jan/Fev/Mar 1999Tema de Capa:

Centros Históricos -Recuperar e Revitalizar

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.1 – esgotado

Nº2, Abr/Mai/Jun 1999Tema de Capa:

Reabilitação Urbana.Lisboa é um laboratório.

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.2 – esgotado

Page 47: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

LIVRARIA

47

Nº9, Jan/Fev/Mar 2001Tema de Capa:

Salvaguarda de RevestimentosArquitectónicosPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.9

Nº10, Abr/Mai/Jun 2001Tema de Capa:

Património de BetãoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.10

Nº11, Jul/Ago/Set 2001Tema de Capa:

Baixa Pombalina: Que Futuro?Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.11

Nº12, Out/Nov/Dez 2001Tema de Capa:

Intervenções em MuseusPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.12

Nº13, Jan/Fev/Mar2002Tema de Capa:

Intervenções em Munumentosde Pedra

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.13

Nota de EncomendaNome Endereço

Código Postal Localidade Telefone Fax

Total: eurosJunto cheque nº sobre o banco no valor de ____________________ euros, à ordem do GECoRPA

Data Assinatura

Nº Contribuinte e-mail

Código Título Preço Unitário Desconto (*) Quantidade Valor (**)

(*) Os associados do GECoRPA ou assinantes da Revista têm direito a 10% de desconto sobre o valor de cada obra encomendada. Os descontos não são acumuláveis, nem aplicáveis aos números da Pedra&Cal já publicados.(**) Ao valor de cada livro deverão ser acrescentados 2,49 euros para portes de correio. Quando a encomenda ultrapasse as duas obras, os portes de correio fixam-se nos 4,99 euros.Quanto aos números da Pedra&Cal já publicados, são acrescidos de 0,90 euros por exemplar, para portes de correio.FORMA DE PAGAMENTO: o pagamento deverá ser efectuado através de cheque à ordem de GECoRPA, enviado juntamente com a nota de encomenda para Rua Pedro Nunes , 27, 1.º Esqº. 1050-170 Lisboa.

Associado do GECoRPA (10% de desconto)Assinante da “Pedra&Cal” (10% de desconto)

Actividade / Profissão

Con

sulte

a L

ivra

ria

Vir

tual

do G

ECoR

PAem

ww

w.g

ecor

pa.p

ton

de p

oder

á en

cont

rar e

stes

e o

utro

s liv

ros

Page 48: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

LISTA DE SÓCIOS

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 200248

Actividade: Fiscalização de obras e projectos, ges-tão e coordenação de empreendimentos.

MC Arquitectos, Ld.ªPraça Príncipe Real, n.º 25 - 3º1250-184 LisboaTel.: 213 219 950 Fax: 213 467 995E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Gastão da Cunha FerreiraActividade: Projectos de arquitectura, levantamentos, estudos e diagnóstico.

Consulmar Açores - Projectistas e Consultores, Ld.ªAvenida Infante D. Henrique, Bloco 1-5ºE9500-150 Ponta DelgadaTel.: 296 62 95 90Fax: 296 62 96 68E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Jorge Kol de CarvalhoActividade: Projecto, consultoria e fiscalização.

Enge-Consult - Consultores de Engenharia Civil, Ld.ªAvenida de Berna, n.º 5 - 2º1050-036 LisboaTel.: 217 999 910Fax: 217 999 917E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Maria Luísa Ribeiro GomesActividade: Elaboração de projectos de estruturas e fundações, na área do património construído.

J.L. Câncio Martins - Projectos de Estruturas, Ld.ªRua General Ferreira Martins, n.º 10 - 3ºA1495-137 AlgésTel.: 214 123 010 Fax: 214 123 011E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Luís CâncioActividade: Projectos de edifícios e pontes e reabilitação estrutural.

José Lamas e Associados, Estudos de Planeamento e Arquitectura, Ld.ªLargo de Santos, n.º 1-1º Dto.1200-808 LisboaTel: 213 968 484Fax: 213 974 946E-mail: [email protected]

Grupo I Projecto, fiscalização e consultoria

A. da Costa Lima, Fernando Ho, Francisco Lobo e Pedro Araújo- Arquitectos Associados, Ld.ªR. de S. Paulo, n.º 202 – 2º1200 – 429 LisboaTel.: 213 432 868Fax.: 213 259 553E-mail: [email protected]ável: Arq.º Francisco Lobo Actividade: Projectos de conservação e restauro do património arquitectónico, projectos de reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas, estudos especiais.

Desarcon, Ld.ªR. Borda D'Água da Asseca, n.º 9 8800 - 325 Tavira Tel. : 281 322 404 Fax: 281 322 336 E-mail: [email protected]ável: Arq.º Miguel MertensActividade: Projectos de conservação e restauro do património arquitectónico projectos de reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas fornecedores de levantamentos, inspecções e ensaios em P.A. e C.A..

Cariátides – Produçaõ de Projectos e Eventos Culturais, Ld.ªR. das Flores, n.º 69, sala 4 4050 - 265 Porto Tel. : 223 326 105 Fax: 223 393 537 Responsável: Drª Gabriela Casella, Drª Maria Providência Actividade: Produção e projectos de eventos cul-turais, projectos de reabilitação, conservação e restauro do património arquitectónico e construções antigas.

ETECLDA – Escritório Técnico de Engenharia Civil, Ld.ªRua Júlio Dinis, n.º 911 - 6º E4050-327 PortoTel.: 226 007 107Fax: 226 095 553E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Manuel Batista Barros

Responsável: Arq.º José LamasActividade: Projecto de arquitectura e engenharia e estudos de planeamento.

Humberto Vieira Arquitecto, Ld.ªRua Joaquim Kopke, n.º 113, r/c Dto.4200-346 PortoTeL: 225 021 105Fax: 225 089 022E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Humberto VieiraActividade: Projectos e consultoria na área da conservação e restauro do património construído.

LEB – Consultoria em Betões e Estruturas, Ld.ªRotunda das Palmeiras Edifício Cascais Office, 1º piso, sala I2645-091 AlcabidecheTel.: 210 331 125/6Fax: 210 331 127E-mail: [email protected]ável: Eng.º Thomaz RipperActividade: Projecto, consultoria e fiscalização na área da reabilitação do património construído.

João Castro – Arquitecto Rua Godinho de Faria, n.º 165 - 2º E/T4465 S. Mamede de InfestaTel: 229 028 255Fax: 229 028 255Responsável: Arq.º João CastroActividade: Projectos de conservação e reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas. Estudos especiais.

Grupo II Levantamentos, inspecções e ensaios

OZ – Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 45 - 1º E 1050-170 LisboaTel.: 213 563 371Fax: 213 153 550E-mail: [email protected] Site: www.oz-diagnostico.ptResponsável: Eng.º Carlos Garrido MesquitaActividade: Levantamentos, inspecções e ensaios não destrutivos, estudo e diagnóstico.

Page 49: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

LISTA DE SÓCIOS

49

Tel.: 219 533 230Fax: 219 533 239E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Álvaro Reis PereiraActividade: Conservação de rebocos e estuques, consolidação estrutural, carpintarias, reparação de coberturas.

L.N. Ribeiro Construções, Ld.ªRua Paulo Renato, 3 r/c C/D2795-147 Linda-a-VelhaTel.: 214 153 520Fax: 214 153 528Responsável: Eng.º Luís RibeiroActividade: Construção e reabilitação de edifícios, consolidação de fundações.

José Neto & Filhos, Ld.ªRua Industrial de Loulé – Lote 278100-272 LouléTel.: 289 41 09 60Fax: 289 41 0979E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Carlos NetoActividade: Construção de edifícios, conservação e restauro de rebocos e estuques, carpintarias.

Monumenta - Conservação e Restauro do Património Arquitectónico, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 27 – 1ºD1050-170 LisboaTel.: 213 593 361Fax: 213 153 659E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º João VarandasActividade: Conservação e reabilitaçãode edifícios, consolidação estrutural, conservação de cantarias e alvenarias.

Lourenço, Simões & Reis, Ld.ªRua Luciano Cordeiro, n.º 49 - 1º1169-135 LisboaTel.: 213 542 137Fax: 213 570 001E-mail: [email protected]ável: Eng. Carlos Manuel GranateActividade: Consolidação estrutural.

Brera - Sociedade de Construções e Representações, Ld.ªRua Miguel Torga, 2C – escritório 4.6 – Alfragide2720-292 Amadora

ERA - Arqueologia - Conservação e Gestão do Património, S.A. Calçada da Picheleira, n.º 46-E1900-372 LisboaTel.: 218 461 175Fax: 218 461 342Responsáveis: Dr. Pedro Simões Braga, Dr. Miguel LagoActividade: Conservação e restauro de estruturasarqueológicas e do património arquitectónico,inspecções e ensaios, levantamentos.

Grupo III Execução dos trabalhos

Empreiteiros e Subempreiteiros

STAP - Reparação, Consolidação e Modificaçãode Estruturas, S.A.Rua Marquês de Fronteira, n.º 8 - 3º D1070-296 LisboaTel.: 213 712 580Fax:213 854 980E-mail: [email protected] Site: www.stap.pt Responsável: Eng.º José Paulo CostaActividade: Reabilitação de estruturas de betão, consolidação de fundações, consolidação estrutural.

Edicon - Construções Civis e Obras Públicas, Ld.ªRua do Poder Local, 2 s/l Dtª1675-156 PontinhaTel.: 214 782 417Fax: 214 782 468Responsável: Sr. Carlos BatistaActividade: Consolidação estrutural, reparações de coberturas, impermeabilizações.

Quinagre, Construções, S.A.Rua Hermano Neves, n.º 22 - 4º A1600-477 LisboaTel.: 217 567 570Fax: 217 567 579E-mail: [email protected]ável: Eng.º Joaquim Quintas Actividade: Construção de edifícios, reabilitação, consolidação estrutural.

CVF - Construtora de Vila Franca, Ld.ªEstrada Nacional n.º 10, k/ 137,522695 STª. Iria de Azóia

Tel.: 214 725 470Fax: 214 725 471E-mail: [email protected] Responsáveis: Eng.º Amílcar Beringuilho e Sr. Paulo RaimundoActividade: Construção, conservação reabilitação de edifícios.

Arnaldo Moisão – Dourador, Pinturas e Decorações, Ld.ªRua Borges Carneiro, n.º 42 c/v1200-016 LisboaTel.: 219 834 893Fax: 213 979 049Responsável: Sr. Rui MoisãoActividade: Conservação e restauro de talha dourada e pintura mural.

Poliobra – Construções Civis, Ldª.Rua Afonso de Albuquerque, n.º 8 BSerra do Casal de Cambra2605-192 BelasTel.: 219 809 770Fax: 219 809 779E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Vítor António FarinhaActividade: Construção e reabilitação de edifícios, serralharias e pinturas.

Junqueira 220 - Sociedade de Conservação, Restauro e Arte, Ld.ªRua da Junqueira, n.º 2201300-346 LisboaTel.: 213 639 163Fax: 213 633 803 ou 213 627 840Responsável: Sr. Luís Figueira Actividade: Conservação e restauro de pinturas e talha dourada.

A. Ludgero Castro, Ld.ªRua Recarei, n.º 8604465-727 Leça do BalioTel.: 229 511 116Fax: 229 517 517E-mail: [email protected] Responsável: Dr. Paulo Ludgero CastroActividade: Consolidação estrutural, construção e reabilitação de edifícios, conservação e restauro de pintura mural.

Listorres - Sociedade de Construção Civil e Comércio, Ld.ªRua Brigadeiro Lino Dias Valente, n.º 8

Page 50: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

LISTA DE SÓCIOS

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 200250

Pintanova – Pinturas na Contrução Civil, Ld.ªRua Amílcar Cabral, n.º 21 B1750-018 LisboaTel.: 217 572 856Fax: 217 577 4 72E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Vasco Paulino Actividade: Conservação e restauro de rebocos, estuques e cantarias, pinturas.

Rodrigues, Cardoso & Sousa, SA.Portela do Gove - Gove4640 BaiãoTel.: 255 55 13 15Fax: 255 55 17 23E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Joaquim da Silva SousaActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

Somafre - Construções, Ld.ªRua Manuel Rodrigues da Silva, n.º 7C-esc.61600-503 LisboaTel.: 217 112 370Fax: 217 112 389 E-mail: [email protected]ável: Eng.º Carlos FreireActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios, serralharias, carpintarias, pinturas.

Cruzeta – Escultura e Cantarias, Restauro, Ld.ªRua da República da Bolívia, n.º 97 - 4º Dto1500-545 LisboaTel.: 217 150 370Fax: 219 824 188E-mail: [email protected]ável: Sr. Eduardo Roberto Morezo Telemóvel: 967 094 130Actividade: Conservação e reabilitação de construções antigas, limpeza e restauro de cantarias, alvenarias e estruturas.

Gilberto Ferreira "Arte Sacra"Rua do Amorim, n.º 479500-020 Ponta DelgadaTel.: 296 65 29 49Fax: 296 65 42 04E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Gilberto FerreiraActividade: Conservação e restauro de talha dourada, pintura mural, rebocos e estuques.

2330-103 EntroncamentoTel.: 249 72 00 30Fax: 249 72 00 39E-mail: [email protected] Responsável: Prof. Vasco DuarteActividade: Construção e reabilitação de edifícios.

Certar - Sociedade de Construções, S.A.Rua Filipe Folque, n.º 7-1ºD1050-110 LisboaTel.: 213 522 849Fax: 213 523 177E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Fernando Llach CorreiaActividade: Conservação e reabilitação de edifícios.

MIU – Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ªRua do Vale de Santo António, n.º 46 - 2º Dto1170-381 LisboaTel.: 218 161 620Fax: 218 161 629E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Artur Correia da SilvaActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios, conservação de rebocos e estuques, pinturas.

Ocre – Sociedade Comercial de Arte e Restauro, Ld.ªTravessa da Pereira, n.º 16 A, letra F-C1170-313 LisboaTel.: 218 881 108Fax: 218 881 087E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Nazaré TojalActividade: Conservação e restauro de pintura de cavalete, pintura mural, talha dourada e escultura policromada, levantamentos e diagnóstico.

Augusto de Oliveira Ferreira & Cª., Ld.ªLargo João Penha, n.º 356 - 1º D4710-245 BragaTel.: 253 26 36 14Fax: 253 61 86 16E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Maria José CarrilhoActividade: Conservação reabilitação de edifícios, cantarias e alvenarias. Pinturas, carpintarias.

Ensul – Empreendimentos Norte Sul, SARua do Facho, n.º 262829-509 Monte da CaparicaTel.: 212 558 900Fax: 212 558 976E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Pedro AraújoActividade: Construção de edifícios, conservação e reabilitação de construções antigas, carpintarias.

DST – Domingos da Silva Teixeira, SALugar de Pitancinhos Palmeira4703-767 BragaTel.: 253 307 200/1Telemóvel: 965 989 300Fax: 253 307 210E-mail: [email protected] Responsável: Eng.ºJosé TeixeiraActividade: Construção e conservação de edifícios, infraestruturas, arranjos exteriores.

COPC - Construção Civil, Ld.ªRua Cidade de Bafatá, n.º 181800-060 LisboaTel.: 218 537 122Fax: 218 537 162E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Carlos OliveiraActividade: Construção de edifícios, conservação e reabilitação de construções antigas, recuperação e consolidação estrutural.

AMADOR, Ld.ªAvenida das Escolas, n.º 292520-204 PenicheTel.: 262 78 29 64Fax: 262 78 18 73E-mail: [email protected]: www.amadorlda.pt Responsável: Eng.ª Catarina Amador RêgoActividade: Conservação , restauro e reabilitaçãodo património construído e instalações especiais.

Sociedade de Construções José Moreira, Ld.ªAvenida Manuel Alpedrinha, nº 15Reboleira2720-352 AmadoraTel: 214 998 650Fax: 214 959 780E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Moreira dos SantosActividade: Execução de trabalhos

Page 51: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 2002

LISTA DE SÓCIOS

51

especializados na área do património construído e instalações especiais.

Azularte, Ld.ªRua José Santos Pereira, n.º 12 A1500-380 LisboaTel.: 217 741 016Fax: 217 789 973Responsável: Sr. José Lúcio AntunesActividade: Conservação e restauro de azulejos.

Alvenobra – Sociedade de Construções, Ld.ªRua Professor Orlando Ribeiro, n.º 3 - loja A1600 - 796 LisboaTel: 217 584 734Fax: 217 584 738E-mail: [email protected]ável: Eng.º Jorge Rodrigues TeixeiraActividade: Reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas.

ENGIBUILT – Construções, Ld.ª Rua Diamantino Freitas Brás, n.º 24 r/c Dto.2615 - 070 Alverca do RibatejoTel.: 219 582 582Fax: 219 577 627E-mail: [email protected]áveis: Eng.º José A. Martins e Eng. Mário CunhaActividade: Reabilitação, recuperaçãoe renovação de construções antigas.

GALERIA N.E.T., Ld.ª Rua Cândido de Oliveira, n.º 13 -A, Brandoa2700 AmadoraTel: 214 760 267Fax: 214 760 267Responsável: Sr. Eduardo da Silva RamosActividade: Conservação e restauro de douradosem obras de arte, mobiliário antigo, molduras, etc.

MELIOBRA – Construção Civil e Obras Públicas, Ld.ª Rua das Fontainhas, n.º 33-C 2700-391 AmadoraTel.: 214 759 000Fax: 214 753 010E-mail: [email protected]ável: Sr. José Pedro Pires CoelhoActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

GECOLIX – Gabinete de Estudos e Construções, Lda.Estrada Nacional, n.º 13Casal Prioste2070 – 624 CartaxoTel.: 243 770 045Fax: 243 770 098 E-mail: [email protected]ável : Carlos Abel Silva DamasActividade: Conservação e restauro do património arquitectónico, reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas, instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

Coala – Comércio de Produtos de Isolamento e Revestimento para a Construção Civil, S.A.Rua Padre Joaquim das Neves, n.º 12214435 – 374 Rio TintoTel.: 224 809 867Fax: 224 809 869 E-mail: [email protected]ável : Eng.º Nuno GuimarãesActividade: Reabilitação de edifícios, impermeabilizações, isolamentos e restauros.

Grupo IVFabrico e/ou distribuição de

produtos e materiais

BLEU LINE – Conservação e Restauro de Obras de Arte, Ld.ªRua do Alecrim, n.º 111 - 1º Esq1200-016 LisboaTel.: 213 224 461Fax: 213 224 469E-mail: [email protected] Responsável: Dr. José Luís Marques PereiraActividade: Materiais para intervenções de conservação e restauro em construções antigas, conservação de cantarias.

Optiroc Portugal, Cimentos e Argamassas, Ld.ªZona Industrial de Ourém2435-661 SeiçaTel: 249 540 190Fax: 249 540 199E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Rui VieiraActividade: Produção e comercialização de argamassas de colagem e revestimento.

Tecnocrete – Materiais e Tecnologias deReabilitação Estrutural, Ld.ªRua 25 de Abril, n.º 4 – 2º2795-580 CarnaxideTel.: 214 246 160Fax: 214 161 198Responsável: Eng.º Brazão FarinhaActividade: Produção e comercialização de materiais para construção.

Para mais informações acerca dos associadosGECoRPA, e as suas actividades, visite a rubrica "associados" no nosso site em www.gecorpa.pt

Page 52: PONTES que fazem história - gecorpa.pt · Ficha Técnica 48 ASSOCIADOS GECoRPA 51 PERSPECTIVAS A tutela do património construído DGEMN/IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

PERSPECTIVA

Pedra & Cal n.º 14 Abril . Maio . Junho 200252

A questão das competências da DGEMNe do IPPAR nas intervenções do patrimó-nio construído tem conhecido de temposa tempos alguma turbulência pública, apropósito de acções ou intervenções pon-do em causa a actual situação. Uma delasfoi quando do debate sobre o projecto daLei de Bases do Património, há algunsanos atrás, apresentado pelo então recen-te governo do PS. Outra foi durante a últi-ma campanha eleitoral, a propósito doprograma do PSD para a área da cultura,no qual se propunha a atribuição ao IP-PAR de poderes reforçados nos planosnormativo, programático e fiscalizador,reservando em exclusivo para a DGEMNas obras de preservação e conservação dopatrimónio arquitectónico. Nesta últimaocasião circulou um manifesto questio-nando esta opção e propondo uma solu-ção inversa – a concentração de todas asintervenções no Ministério da Cultura(leia-se IPPAR). Artigos saídos na im-prensa apareceram a sustentar estas e ou-tras opiniões.O argumento das posições antagónicasdefendidas é o mesmo: acabar com a so-breposição de competências e a duplica-ção de meios humanos e organizacionais,evitando gastos desnecessários – aindapor cima sob a tutela de ministérios dife-rentes, "só articuláveis a nível de Conse-lho de Ministros", como salienta AntónioLamas, ex-presidente do IPPC. Ora, comodefende Walter Rossa "a já velha e penosaquestão do IPPAR versus DGEMN, ouCultura contra Obras Públicas… é uma

falsa questão". Foi esta a opinião que ma-nifestei há anos num artigo no Público, eque continuo a sustentar.Efectivamente, as concepções antagóni-cas e extremadas que têm sido discutidasrelevam de um esquematismo organiza-tivo geométrico e abstracto, que não temem conta as realidades humanas e umaprática cultural sedimentada – quandosão estas que devem prevalecer quandose trata de abordar problemas complexose sensíveis onde a experiência crítica dosaber fazer, a existência de uma culturaprópria e o espírito de equipa são condi-ções para se atingirem bons resultados,atestados aliás pela obra feita por cada umdos organismos em causa.O esvaziamento de competências de in-tervenção do IPPAR proposto no progra-ma do PSD tornaria o Instituto numa su-perestrutura teórica e burocráticadesprovida do alicerce fundamental du-ma prática no terreno. Ao mesmo tempo,a exclusividade das intervenções no patri-mónio a atribuir à DGEMN agigantaria es-te serviço, tornando-o presa fácil de con-ceitos tecnocráticos e de soluçõesestereotipadas, tão contrários uns e outrasao vasto e multiforme universo do patri-mónio arquitectónico. E a solução inversa,de transferir para o IPPAR as actuais com-petências da DGEMN em matéria de mo-numentos, produziria resultados de sinalcontrário, mas em tudo idênticos.Uma experiência anterior, que acompa-nhei de perto, invocando também a con-centração de competências e a racionali-

zação de meios, faz-me duvidar das solu-ções que são propostas. Foi no já remotoconsulado marcelista, abrangendo a ha-bitação social. Nessa ocasião foram dis-solvidas várias instituições que opera-vam no sector e que dispunham de umacultura específica de intervenção, concen-trando a actividade num único organis-mo: o Fundo de Fomento da Habitação. Ecom resultados nefastos.A solução necessária terá pois que ser ou-tra, mantendo os dois serviços, para queas respectivas potencialidades sejam op-timizadas, no respeito pela experiência epela cultura de cada qual. Ao deixar cair a controversa propostaeleitoral do PSD, o programa de governo,agora apresentado pelo ministro PedroRoseta, parece estar no bom caminho, evi-tando rupturas que poderiam revelar-sedesastrosas. E para ultrapassar a actualsituação de costas voltadas seria útil clari-ficar algumas competências e sobretudocoordenar as actividades, o que poderiaser concretizado através de programasplurianuais de intervenção, a cargo de ca-da um dos organismos.Todos ficarão a ganhar, e em particular opatrimónio construído, através dumaemulação saudável em que a DGEMN e oIPPAR poderão continuar a dar o melhorde si próprios, como tem comprovada-mente acontecido até agora.

A tutela do património construído DGEMN / IPPAR – Ambos necessários. Ambos insubstituíveis

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA– Arquitecto