pontal do paranapanema

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REPORTAGEM Mais de 20 mil títulos de propriedade da terra HISTÓRIA Franco Montoro: grande impulso à reforma agrária paulista PERFIL A assentada Terezinha Araújo dá uma preciosa lição de vida ANO 6 Nº 19 2007 Pontal do Paranapanema novos investimentos buscam o desenvolvimento da região ENTREVISTA Luiz Antonio Marrey: é preciso garantir a paz no campo

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Page 1: Pontal do Paranapanema

REPORTAGEM Mais de 20 mil títulos de propriedade da terra

HISTÓRIA Franco Montoro: grande impulso à reforma agrária paulista

PERFIL A assentada Terezinha Araújo dá uma preciosa lição de vida

ANO 6 Nº 19 2007

Pontal do Paranapanemanovos investimentos buscam

o desenvolvimento da região

ENTREVISTA Luiz Antonio Marrey: é preciso garantir a paz no campo

Page 2: Pontal do Paranapanema

Produção

POLÍTICAS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL EM TODO O ESTADO

em defesa da agricultura familiar

de alimentos

FUNDAÇÃO INSTITUTO DE TERRAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Sede - São PauloAv. Brigadeiro Luís Antônio, 554, Bela VistaCEP: 01318-000Fone (11) 3293-3300e-mail: [email protected]

LesteARARASRua Cristovão Colombo, 727 - CentroFone (19) 3551-1508 / 3551-1542

OesteEUCLIDES DA CUNHARua Francisco Frutuoso Evangelista, 1906 - CentroFone (18) 3283-1119

MARTINÓPOLISRua Carolina de Freitas Martins, 51 - CentroFone (18) 3275-5151

MIRANTE DO PARANAPANEMARua Comendador Zenji Hida, 718 - CentroFone (18) 3991-1121 / 3991-1122Av. Joaquim Juca de Goes, 555 - CentroFone (18) 3991-1766

PRESIDENTE BERNARDESRua Fortunato Milhorança, 67Fone (18) 3262-1196 / 3262-1310

PRESIDENTE EPITÁCIORua Florianópolis, 10-34, Santa RosaFone (18) 3281-3900

PRESIDENTE PRUDENTEAv. José Bongiovani - 1385 - Jardim EsplanadaFone (18) 3908-3700 / 3908-3701

3908-3709 / 3908-3727

PRESIDENTE VENCESLAUAv. João Pessoa, 750 - Vila SumaréFone (18) 3271 5999 / 3271 5800

ROSANARua dos Carpinteiros, Qd 53-A - lote 5, RosanaFone (18) 3284-3507 / 3284-3429

TEODORO SAMPAIORua Ricardo Fogarolli, 421 e 439 - Vila São PauloFone (18) 3282-1046 / 3282-1178

NorteARARAQUARAAv. Paraná, 114 - Jd. BrasilFone (16) 3337-4159 / 3337-4367

BEBEDOUROAvenida Raul Furquim, 633 - CentroFone (17) - 3343-9851 / 3343-9547

NoroesteANDRADINARua Doutor Orensy Rodrigues da Silva, 408 - CentroFone (18) 3722-6770

PROMISSÃOAvenida Bandeirantes, 955 - CentroFone (14) 3541-6527 / 3541-1100

SudesteTAUBATÉRua Capitão Geraldo, 20 - CentroFone (12) 3629-7770 / 3629-2444 / 3621-2300

UBATUBARua Maria Alves, CentroFone: (12) 3832-4446

www.itesp.sp.gov.br

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

www.justica.sp.gov.br

www.sp.gov.brSECRETARIA DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA CIDADANIA

SudoesteCAPÃO BONITORua Quintino Bocaiúva, 661 - CentroFone (15) 3542-2908 / 3542 - 6177

IARASPraça Monção, 643 - CentroFone: (14) 3764-1185

ITAPEVARua João Rios Carneiro, 372 - Jd. MaringáFone (15) 3521-3864 / 3521-5106

SOROCABARua Coronel José Prestes, 113 - Vila AméliaFone (15) 3232-0860 / 3232-9742

SulELDORADOAv. Marechal Castelo Branco, 150 - CentroFone (13) 3871-1875

PARIQUERA AÇURua Santo Saletti, 262Fone (13) 3856-1741 /3856-1317

Page 3: Pontal do Paranapanema

Assentados,

SÃO MAIS DE DEZ MIL FAMÍLIAS ASSISTIDAS EM TODO O ESTADO

É para essas pessoas que trabalha o

quilombolas epequenos posseiros

Page 4: Pontal do Paranapanema

fale conosco

editorial entrevista 2

direto do campo 5

reportagem 6

ponto de vista 9

perfil 10

capa12

opinião 19

especial 20

parceria 24

história 26

debate 32

curtas 35

anote 36

Todos almejam a paz no campo – a começar pelo secretário daJustiça e da Defesa da Cidadania, Luiz Antonio Marrey, perso-nalidade da entrevista desta edição. À frente do Itesp, GustavoUngaro, que assina artigo na página 9, busca a mesma paz aolevar adiante a missão de promover a democratização do aces-so à terra.

Alterar a estrutura agrária de forma a torná-la mais justa é umesforço que muitos governantes empreenderam, com destaquepara Franco Montoro, que inaugura a nova seção História.

Por que, então, os conflitos persistem? A resposta está no arti-go do desembargador José Renato Nalini, no ensaio do acadê-mico Antonio Márcio Buainain, no mergulho sobre a estruturafundiária do Pontal do Paranapanema, símbolo da questão daterra em território paulista.

A reforma agrária passa pela regularização fundiária, que en-frenta um emaranhado de papéis forjados ao longo de séculos,que exigem ações discriminatórias que somam milhares de pá-ginas e duram décadas.

O resultado compensa. Basta ver o perfil de Terezinha RosaGuimarães de Araújo, que encontrou seu lugar no mundo exata-mente no Pontal.

Vera ArtaxoEditora

Governador: José SerraSecretário da Justiça e da Defesa da Cidadania: Luiz Antonio MarreyDiretor Executivo do Itesp: Gustavo Ungaro

Diretoria do Itesp: Alexandre Ribeiro Mustafa, Fernando HenriqueEduardo Guarnieri, João Carlos Corsini, Gabriel Veiga, Pedro FernandoGouveia.

Fatos da Terra é a revista da Fundação Instituto de Terras do Estado deSão Paulo “José Gomes da Silva” - Itesp, vinculada à Secretaria daJustiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo.

Jornalista Responsável: Vera Artaxo - Mtb 10.676Diagramação e Editoração Eletrônica: Patrícia Leite

Redação:Telefone: (11) 3293-3300 / 3393 / 3399E-mail: [email protected]

Ctp, Impressão e Acabamento:Imprensa Oficial do Estado de São PauloTiragem: 5.000 exemplares

É permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

Ouvidoria: 0800 77 33 [email protected]

home page: www.itesp.sp.gov.br

e-mail: [email protected]

Page 5: Pontal do Paranapanema

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entrevista

2 Fatos da Terra setembro / 2007

Fatos da Terra: Qual será o perfilda sua gestão na Secretaria daJustiça e da Defesa da Cidadania?

Luiz Antonio Marrey - Eu creioque a Secretaria da Justiça vaiter uma atuação dinâmica na de-fesa dos direitos humanos e tam-bém procurar, no diálogo institu-cional com o Poder Judiciário, oMinistério Público, a DefensoriaPública, a OAB e o Tribunal deContas do Estado, propiciar con-dições, sem ferir as autonomiasinstitucionais, para que o siste-ma de Justiça do Estado tenhapossibilidade de atender à socie-dade com uma prestação rápidae segura, e atuar nas diversasáreas da sua atribuição, inclusi-ve com as entidades vinculadas àpasta, ou seja, Fundação Casa[antiga Febem], Fundação Insti-tuto de Terras do Estado de SãoPaulo (Itesp), Fundação Procon-SP, Instituto de Pesos e Medidas(Ipem) e Instituto de MedicinaSocial e de Criminologia (Imesc).Outra importante iniciativa é arevisão do plano estadual de di-reitos humanos, que está comple-tando dez anos. A revisão abran-ge diversas atividades da vida dasociedade e queremos que essadiscussão seja realizada tanto noâmbito do Executivo como coma própria sociedade. É necessá-rio ressaltar ainda a prioridadeque se está dando à reforma e à

construção de novos fóruns no in-terior do Estado. Em março,anunciamos a liberação de recur-sos para a construção do Fórumde São José do Rio Preto e a re-tomada das obras da nova unida-de de São José dos Campos. Jus-tiça é artigo de primeira necessi-dade. É fundamental a sua impor-tância na manutenção da paz, nagarantia dos direitos fundamen-tais da pessoa humana e na segu-rança jurídica indispensável ao de-senvolvimento econômico e soci-al. A verba alocada pelo governonessa área e anunciada pelo go-vernador José Serra será superi-or aos últimos cinco orçamentos.Isso é uma prova da importânciaque se dá à questão.

Fatos da Terra: Em menos detrês meses de governo o Sr. man-teve um diálogo com os prefei-tos da região do Pontal doParanapanema, representantesda OAB do interior, movimentossociais e representantes de enti-dades ruralistas. Que balanço fazdos encontros?

Marrey – O diálogo que a Secre-taria da Justiça tem mantido comos diversos atores da região é es-sencial, uma vez que, em primeirolugar, queremos garantir a paz so-cial e isso significa paz no campo.Nós temos convicção que a inde-finição fundiária do Pontal do

Paranapanema é ruim para toda aregião. Ela acaba afugentando in-vestimentos e o progresso. Por isso,queremos dar mais celeridade nasolução desta questão e garantirque os assentamentos existentes eos novos assentamentos venham serbem assistidos. As reuniões foramprodutivas, mas nós temos queconstruir um consenso no sentidode que a situação atual de inde-finição não pode perdurar.

Fatos da Terra: Os assentadosreivindicam mais assistência nocampo. Do outro lado, os prefei-tos cobram algumas compensa-ções pelos assentamentos. Comoo Governo do Estado pretendetrabalhar e articular essas de-mandas?

Marrey - Primeiro em relaçãoaos assentamentos, o Itesp temtrabalhado da melhor forma pos-sível e contará também com aparceria da Coordenadoria de As-sistência Técnica Integral (Cati),da Secretaria Estadual de Agri-cultura e Abastecimento. O Es-tado é um só, ainda que tenha es-pecializações, e os recursos de-vem ser somados. Há sensibilida-de do Governo do Estado em re-lação à região do Pontal, quemerece uma especial atenção, ecreio que irão se verificar impac-tos significativos em relação aosmunicípios.

É preciso garantir

O secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania, Luiz Antonio Marrey, tem uma idéia fixana cabeça: convencer a sociedade que Justiça

é artigo de primeira necessidade. “É fundamental asua importância na manutenção da paz, na garantiados direitos fundamentais da pessoa humana e na se-gurança jurídica indispensável ao desenvolvimentoeconômico e social”, defende. O ponto de partida destamissão está na ampla revisão do plano estadual dedireitos humanos, que completou 10 anos, e na con-dução da reforma, ampliação e construção de novosfóruns pelo interior do Estado. “Em março, anunci-amos a liberação de recursos para a construção doFórum de São José do Rio Preto e a retomada dasobras da nova unidade de São José dos Campos”.

Outra meta de sua gestão é formular uma alternativapara agilizar a regularização fundiária no Estado. Oprocesso já foi deflagrado. Em menos de 100 dias nocargo (a entrevista foi concedida em março), o secre-tário estabeleceu um canal de diálogo com prefeitosda região do Pontal do Paranapanema, representan-tes da OAB do interior, movimentos sociais e entida-des ruralistas. “Queremos garantir a paz social e issosignifica paz no campo”, enfatiza, destacando quepretende aprimorar a assistência aos assentados.

Antes de se tornar o 75º secretário da Justiça de SãoPaulo, Marrey foi procurador-geral de Justiça do Es-tado por três mandatos (1996/1998, 1998/2000 e2002/2004), membro do Conselho Superior do Mi-nistério Público (1994/1995) e secretário de Negó-cios Jurídicos da Prefeitura de São Paulo (2005/2006). Também presidiu o Conselho Nacional dos Pro-curadores Gerais de Justiça (1997) e foi membro doConselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá-ria (1989). Confira os principais trechos da entrevis-ta concedida à equipe da revista Fatos da Terra.

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LUIZ ANTONIO MARREY

a paz no campoO secretário Marrey em visita ao quilombo de Morro Seco, em Iguape, ao lado do diretor do Itesp, Gustavo Ungaro.

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direto do campo

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entrevista

Fatos da Terra setembro / 2007 5

Quilombolas de Mandira, em Cananéia, Vale do Ribeira,produzem ostras deliciosas sob o cuidado do manejoecológico e em sistema de cooperativa.Tel. 13 3851-8339, com Francisco de Sales Coutinho.

Vem do Sudoeste paulista, da região de Sorocaba,o café produzido em sistema convencionalnos assentamentos de Porto Feliz e Ipanema.Tel. 15 3232-8939, com Maria Izabel Dorizzotto.

As mulheres do assentamentoReunidas, agrovila Penápolis,em Promissão, noroeste paulista,organizaram uma agroindústria – a Bemacla – que produzdoce de leite em várias versões.Tel. 14 3541-1100, comBernadete Silva Callegare.

Frutas orgânicas, como o limão, estão na pautadas famílias de agricultores do assentamento Tremembé, em Tremembé, no Vale do Paraíba.Tel. 12 3629-2444, com Benedito Antonio Gomes.

A bucha vegetal é a matéria-prima de váriosprodutos - como tapetes - processados peloassentamento Che Guevara, lote 40, emTeodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema. Destaque para as buchas em váriosformatos lúdicos, com poder esfoliante.Tel. 18 3981-6255, com Valentim Messias Degasperi.

Pesquisa e fotos: Dodora TeixeiraFatos da Terra: A Lei 11.600,que dispõe sobre regularizaçãofundiária até 500 hectares, éuma lei, segundo os agentes docampo, que não pegou. O quesaiu errado e como reverter essasituação?

Marrey - Nós estudamos essa si-tuação e formulamos uma alter-nativa, o Projeto de Lei 578, en-viado à Assembléia Legislativa.O que precisa ficar claro é que senós aguardásemos a decisão finalem última instância do Poder Ju-diciário esse assunto não teria de-finição nos próximos dez anos. Ecreio que a sociedade da regiãonão merece as conseqüências des-sa demora. O governo do Estadodiscutiu o novo Projeto sobre a re-gião do Pontal e, para isso, ouviutodos os interessados. De qualquerforma, eu espero que nenhum dosatores nesse processo aja com in-tenção de não chegar a lugar ne-nhum. É essencial para a popula-ção que vive nessa região que nóspossamos caminhar para resolvero problema da indefinição fundiá-ria no menor prazo possível. En-quanto isso, vamos continuar em-penhados em agilizar os processosde assentamentos.

Fatos da Terra::::: Qual a importân-cia do Itesp na reforma agráriano Estado de São Paulo?

Marrey - O Itesp tem uma fun-ção muito importante, não só nareforma agrária. Na verdade, areforma agrária é competênciaconstitucional da União. No en-tanto, o Itesp é um instituto decidadania rural que envolve a im-plantação de assentamentos emterras devolutas e provê assistên-cia a esses assentamentos, pro-curando gerar condições para suasobrevivência e desenvolvimento.

O Itesp também trabalha na re-gularização fundiária, seja rural,que é a sua principal finalidade,seja urbana, em cooperação comos municípios. Quando se faz umatitulação de uma área, além degerar condições para que uma fa-mília tenha a segurança da suacasa, do seu lar, há toda uma ca-deia produtiva que se desenvolvea partir da propriedade regulari-zada. Portanto, o Itesp tem umafunção social importante, temquadros técnicos de excelentequalidade e deverá continuarcumprindo o seu papel.

Fatos da Terra: Existe uma tesebastante disseminada na socieda-de de que o etanol é o futuro. Re-centemente, o senhor esteve emSão José do Rio Preto e vistoriouuma fazenda de cana de açúcarque agia em claro desrespeito àsleis ambientais. O crescimentosustentado é uma das preocupa-ções do governo do Estado?

Marrey – A produção de etanol éuma atividade econômica impor-tante para a qual o Brasil, em es-pecial o Estado de São Paulo, temtecnologia e condições de compe-tição. É, sem dúvida, uma ativi-dade que deve ser prestigiada, masnão ao custo da destruição do meioambiente. O mundo como um todoestá sofrendo conseqüências gra-ves com o desequilíbrio ambiental.Um dos problemas mais aponta-dos é a questão do aquecimentoglobal, que tem causa direta daprática das queimadas. Portan-to, nós devemos agir para extir-par as queimadas no prazo maiscurto possível como método deprodução e garantir que as prá-ticas rurais sejam feitas com res-peito às normas ambientais. OGoverno do Estado não vai abrirmão desse respeito à lei.

Fatos da Terra: A pasta que osenhor ocupa carrega no nome apalavra cidadania. Na sua ges-tão, como pretende trabalhar achamada cidadania rural?

Marrey - Eu creio que, em pri-meiro lugar, precisamos garantir,por intermédio do Itesp, assistên-cia a todos da sua órbita de atua-ção, para que as pessoas tenhamcondições de vida digna, possamdesenvolver aquilo que há de me-lhor em cada um e possam auferiros benefícios de uma sociedadedemocrática, que tem hoje a pos-sibilidade de grande rapidez detransmissão de informações, epossibilitar a cada pessoa o seudesenvolvimento integral. Cidada-nia significa dar essa assistênciae levar a todas as pessoas, inde-pendentemente de onde viva, nocampo ou na cidade, o melhor queo Estado pode oferecer.

Fatos da Terra: Como o senhorpretende trabalhar a questão dosquilombos em todo o Estado deSão Paulo?

Marrey - Nós temos que garan-tir a titulação dos quilombos e asua regularização, quando elesexistirem. E trabalhar para for-necer alternativas adequadas desobrevivência a essas comunida-des, respeitando as leis ambien-tais. Isso envolve apoiar projetos,não só na área agrícola, mas tam-bém em regiões que permitam de-senvolver projetos na área do tu-rismo, em conjunto com outrosorganismos. O Estado de SãoPaulo possui diversas comunida-des quilombolas identificadas,sendo que 24 já foram reconhe-cidas. Enfim, é preciso garantira sobrevivência da cultura e daspessoas e procurar dar condiçõesda sua autonomia.

Produtos de assentamentos e quilombos

Page 7: Pontal do Paranapanema

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reportagem

6 Fatos da Terra setembro / 2007

Em todo o país, a demanda por regularizaçãofundiária é da ordem de dois terços do total deimóveis urbanos e rurais, segundo o Instituto deRegistro Imobiliário do Brasil (Irib). São cerca de4,8 milhões de imóveis rurais brasileiros; mais de80% devem se adequar à lei que criou e regula-mentou o Cadastro Nacional de Imóveis Rurais,georreferenciando as escrituras, isto é, elas devemdiscriminar as medidas exatas de cartografia, to-pografia e agrimensura.

Nas duas principais capitais e maiores concentraçõesurbanas – São Paulo e Rio de Janeiro – mais de 50%da população vive em moradias irregulares, comoloteamentos clandestinos, mananciais, áreas à mar-gem de rios e favelas, segundo dados do Irib, de 2003.

A atuação do Itesp, entretanto, está concentradano Estado de São Paulo, na regularização de áre-as urbanas e rurais em parceria com municípiosde baixo IDH, das nas regiões do Vale do Ribeira,Vale do Paraíba, Pontal do Paranapanema e Soro-caba. A questão do domínio apresenta diferentesorigens em cada região.

A ocupação do Vale do Ribeira foi motivada pelaprocura de metais preciosos e, posteriormente, pe-

los núcleos de colonização. Ali as ações de especula-dores de terras e de madeireiros contribuíram parao surgimento de conflitos fundiários. No Pontal doParanapanema os conflitos perduram até hoje. Aregião teve o ordenamento territorial assentado em“grilos”, terrenos cujos títulos de propriedade fo-ram falsificados.

Já no Vale do Paraíba, os problemas fundiáriosdecorrem de uma particularidade: grande parte desuas terras está inserida em Unidades de Conserva-ção Ambiental. Posseiros, muitas vezes ancoradosem falsos documentos, costumavam requerer vulto-sas indenizações ao Estado em ações judiciais. Aregião de Sorocaba, por sua vez, apresenta confli-tos pelo uso e posse da terra por causa da ação deespeculadores imobiliários interessados em sua pro-ximidade com a capital e em seu alto índice de de-senvolvimento industrial.

Foi para solucionar essas pendências que o Itespcriou, em 2004, o programa Minha Terra. O obje-tivo era otimizar os trabalhos, por isso buscamos oapoio de outras instuições, como a ProcuradoriaGeral do Estado, prefeituras, Ministério PúblicoEstadual e Secretarias de Estado. A instuição jáfazia esse trabalho desde 1995, antes mesmo de setornar Fundação (em 1999). Porém, com a insti-tuição do programa, dos 16,5 mil imóveis regula-rizados no período de 1995 a 2004, quase um ter-ço (4.633) aconteceu em 2004, englobando 16muncípios distribuídos nas regiões priorizadas.

de pequenos posseiros

Municípios paulistasbeneficiados pelo

programa Minha Terra. Fonte: Itesp

OEstado de São Paulo, o mais desenvolvido do Brasil, respon-de por cerca de um terço da economia nacional; além de umadas maiores cidades do mundo – São Paulo –, abriga os mu-

nicípios com as maiores taxas de renda per capita e índices dedesenvolvimento humano (IDH). Entretanto, padece de pendênciasfundiárias, ainda esperando regularização.

Foi com o olhar para essa demanda que o governador José Serraparticipou, no final de março, da entrega de 969 títulos de proprieda-de a quase três mil moradores das Vilas Nova e Dom Bosco, em Itapeva,região sudoeste de São Paulo. “É com alegria que venho para essasolenidade, para anunciar que o problema (da indefinição dominial)começou a ser solucionado”, disse Serra. Ele tem razão: o problemaao qual se referiu vem se arrastando por mais de 40 anos.

As famílias cresceram, filhos casaram, netos surgiram e o proble-ma persistia. Essa é a história de muitos que naquele momentorecebiam o título que os tornava, enfim, proprietários dos imóveisque ocupavam por décadas. Jamil Rodrigues Castilho e sua espo-sa, Maria Carvalho Lopes, fazem parte dessa cena. “Minha mãefoi uma das fundadoras da Vila Dom Bosco. Lá casei e tive meufilho, que hoje tem 40 anos”, conta Jamil, mostrando o título rece-bido. “É uma conquista”, complementa. Outro morador da VilaDom Bosco, João Pedroso de Pontes, 63 anos, nascido emItaberaba, na Bahia, acha que após receber a escritura “virá mui-ta coisa boa, porque a Prefeitura deve trazer melhorias”. Ele vivecom a esposa, um filho, a nora e o neto Natan.

Mais de 20 mil títulos de propriedade expedidos:eis a marca do Instituto de Terras de São Paulodesde 1995. Este ano, mais de 80% dos imóveis deItapirapuã Paulista foram regularizados (867 títulos)e Itapeva também teve sua cota (969 títulos).Em Pirapozinho, foram 465 títulos e em Mirantedo Paranapanema, 124 . O plano agora é atuar naregião Sudoeste e superar novas 5 mil regularizaçõesem 2007. Conheça o programa Minha Terra.

Reportagem: Regina Bonomo

MINHA TERRA

Realizando sonhos

Cré

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Page 8: Pontal do Paranapanema

ponto de vista

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reportagem

8 Fatos da Terra setembro / 2007

A regularização fundiária proposta pelo programaMinha Terra engloba uma série de trabalhos técni-cos e jurídicos, feitos por uma equipe multidisci-plinar do Itesp. As formas de regularização podemser a expedição de títulos de domínio ou de propri-edade, que devem ser registrados pelo morador noCartório de Registro de Imóveis; permissões de usoa pequenos posseiros de áreas rurais que ocupamterras devolutas mas não atendem aos requisitospara a titulação; e cadastro urbano.

“A regularização de uma área, seja ela urbana ourural, traz segurança dominial não só ao posseiro,mas também à prefeitura, que pode planejar me-lhor os investimentos e a extensão dos serviçospúblicos e terá um melhor atrativo para a implan-tação de novos investimentos e de novas empre-sas”, explica Gustavo Ungaro, diretor executivoda Fundação Itesp.

A Fundação Itesp, responsável por planejar e exe-cutar as políticas públicas agrária e fundiária doEstado de São Paulo, tem se empenhado de tal modoa contablizar já mais de 20 mil títulos. Desde o iní-cio de sua atuação na regularização das pendênciasfundiárias, estabeleceu contatos, muitas vezes re-sultando em parcerias, com aproximadamente 10%dos municípios paulistas, dos 654 existentes.

Além de priorizar as áreas com conflito e indefi-nição dominial, o Itesp prioriza também os muni-cípios com baixo IDH, por acreditar que a regula-rização traz o desenvolvimento local.

Este foi o caso de Itapirapuã Paulista, que no Cen-so Demográfico de 2000 detinha o menor IDH doEstado de São Paulo e não tinha nenhum imóvelregularizado. Com o trabalho do Itesp em parceriacom a prefeitura municipal, foi possível regulari-zar mais de 80% dos imóveis, possibilitando aosocupantes a segurança jurídica de sua proprieda-de. Dos 1.053 imóveis ali identificados e cadas-trados, já foram expedidos 867 títulos de proprie-dade. Com a regularização, os munícipes podemfazer melhorias em seus imóveis, assim como opróprio município poderá obter recursos das esfe-ras estadual e federal para implantação demelhorias à comunidade.

Na região sudoeste, dentro do programa Minha Ter-ra e por meio de convênios com as prefeituras, oItesp deverá atuar neste ano nos seguintes municí-pios: Apiaí, Bom Sucesso de Itararé, Buri, Cam-pina do Monte Alegre, Capão Bonito, Guapiara,Itaberá, Itapeva, Itapirapuã Paulista, Itaporanga,Itararé, Nova Campina e Taquarivaí, objetivando aregularização fundiária de mais de 5 mil imóveis.

Fonte: Itesp / * Até junho de 2007

Perde-se na noite dos tempos a ori-gem da propriedade. Quando foique os homens se apropriaram dosolo e pretenderam exercer sobreele posse exclusiva? Qual o primei-ro título a legitimar a apropriaçãoe a repulsa a quantos outros qui-sessem partilhar dessa fruição?

Já não se pensa nesses termos apósconsistente edificação do conceitode propriedade. Direito de uso,gozo e disposição da coisa. Direitoque já foi absoluto e que, por im-pregnar a cultura ocidental, custaa ser relativizado. Seja como for,a Constituição do Brasil de 5.X.1988consagrou a função social da pro-priedade. Reconheceu a validade epermanência da mensagem cristãa declarar a injustiça de uma pos-se irracional. Pois insensato pos-suir por possuir, como se a terrafosse um capital, à espera de valo-rização, quando ela significa a pos-sibilidade de vida digna para tan-tos excluídos.

Recai sobre toda propriedade umahipoteca social. Se não tivessemabandonado a filosofia, os homensreconheceriam com maior facilida-de a sua finitude. Aceitariam a ver-dade incontornável de que a vida éfrágil e efêmera. Bastam algumasdécadas – e o que são algumas dé-cadas frente à eternidade – e a maisdemocrática das circunstâncias viráchamar a cada qual. Ninguém estáimune à morte. Essa brevidade daaventura terrena deveria inspirar osseres ditos racionais para que pro-movessem mais adequado uso deseus pertences.

Por mais poderoso seja alguém,por mais eficiente na consecuçãode seus objetivos, tudo aquilo queamealhará não o acompanhará na

última viagem. Restará aqui. Paraos herdeiros se digladiarem, parao Estado se apoderar de boa par-cela, para incitar os ânimos, se-mear inimizades, alimentar o flu-xo dos Tribunais.

Se isso estivesse presente na cons-ciência de tantos possuidores, elespoderiam conferir um destino maisconseqüente às suas propriedades.Elas existem para servir às boascausas. Uma propriedade ruraldeve conciliar os interesses do meioambiente e de servir como fonte desustento para os seus moradores.Não é impossível ajustar os objeti-vos da preservação – sem a qual omundo abreviará o seu destino –com o da vida digna a ser garanti-da a todas as pessoas.

Num país em que a infância e a mo-cidade não encontram perspectivas– isso explica, para certos estamen-tos, a ilusão da droga e o aumentoda criminalidade – é urgente mos-trar que a terra pode propiciar pra-zeres indizíveis. A conurbação é umfenômeno cruel. Todos aqueles quedeixaram sua origem e tomaram orumo da megalópole, atraídos poremprego e sobrevivência facilitada,viram que as periferias não são oideal sonhado. Periferia no sentidomais abrangente: periferia econô-mica, social, política e de fruiçãodos bens da vida.

Aqueles que têm o domínio das for-ças capazes de mudar a sociedade– os poderosos na economia, na po-lítica e na mídia – têm condiçõesde acenar com um novo projetopara a população excluída. Criarescolas rurais destinadas a disse-minar uma cultura de amor à ter-ra é essencial. O Brasil precisa demuitos viveiros de mudas para fa-

A função social da terraJosé Renato Nalini *

zer frente à necessidade imprescin-dível de combater a destruição dasflorestas. É mais do que urgente arecomposição das matas ciliares.A cobertura vegetal destruída eque a lei fixa em pelo menos 1/5 –ou 20% - de cada propriedade ru-ral, precisa de mão-de-obra espe-cializada e, mais do que isso, deoperadores amantes da terra.

É totalmente insano verificar queainda existem propriedades guar-dadas como estoque de terra, semdestinação específica, sem cultivo,sem preservação em convívio comos sem terra. O país não é uma ilhavulcânica e não padece de insufi-ciência territorial. Ao contrário, háespaço para a acomodação dignade todos aqueles que pretendamtrabalhar com a terra.

A questão das terras não é jurídi-ca, mas cultural. Enquanto nãohouver assimilação plena de quefunção social significa golpe demorte na visão absolutista, egoís-ta, materialista, de proprietáriosantigos, não se avançará nessetema tão superado. Superado por-que, em países do primeiro mun-do, a questão da terra foi resolvi-da no século XVIII e o Brasil – emmais um de seus inúmeros para-doxos – encontra-se a discutir aconquista do mercado de etanol emtodo o globo e não consegue solu-cionar os seus problemas de divi-são, de assentamento e de refor-ma agrária de seu território.

* Desembargador do Órgão Espe-cial do Tribunal de Justiça do Esta-do de São Paulo. Doutor em Direitopela USP, é presidente da Acade-mia Paulista de Letras e ex-presi-dente do Tribunal de Alçada Crimi-nal do Estado de São Paulo.

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perfil

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Quando cansei de trabalhar para os outros,decidi entrar nessa reforma agrária. Fiqueina beira de estrada, em barraca, um ano,

depois nós mudamos para aqui. No primeiro sor-teio de lotes, fui premiada. Estamos levando avida assim, na enxada. Acabei com a criação degalinha porque não tinha milho. Não saio de den-tro de casa, fazendo meus bicos. Estive doente,quase vendi o lote, mas como já sofri muito e nãoia achar lugar melhor, fiquei. Voltei a trabalhardevagarinho, medicada. A idade chegando, voupassar para os filhos tomarem conta. Nossa casi-nha é a de Marabá, onde morei por sete anos;desmontamos e trouxemos para cá.

Logo, se Deus quiser, vai melhorar, e se o governotiver dó de nós e mandar algum dinheirinho paraquem paga suas dívidas e tem o nome limpo. Nãoposso pagar um tratorista, um braçal para ajudar.Senão, eu tenho que continuar no sofrimento, naenxada. Eu tenho garra, sabe? Tenho garra! Eunão sei ficar parada. Não fico na cama até as 7horas de jeito nenhum! Pode estar chovendo, eunão tenho paciência de ficar parada. Acostumei nalida de roça. Meu marido está sempre internadocom problema de coluna, então eu toco o lote pra-ticamente sozinha.

Quando a gente veio para aqui, saiu uma parcelade dois mil reais, aí eu tombei um alqueire de ter-ra. Plantei um pouco de feijão, mas não deu nada,deu um sol forte e nós perdemos o feijão, que esta-va bonito que só vendo! Só tirei sete sacos... e ven-di. Também plantei um alqueire de milho, mas nãoestava dando preço... e troquei por um casal de

bezerros. Hoje tenho 12 cabeças, seis pequenas eseis grandes. As vacas dão leite, mas só dá pratirar uns 10 litros por dia.

Fora esses problemas de falta de condição paraproduzir direito, a gente vai levando a vida. Os téc-nicos do Itesp vêm aqui, orientam sobre a época deplantação. Mas nem sempre a gente tem condiçõesde plantar, não tem dinheiro. A situação é difícilpara nós, assentados, mas a vida aqui é melhor doque na cidade. Não troco isso aqui pela cidade dejeito nenhum, porque aqui é meu, mas se a gentetivesse mais ajuda do governo para produzir seriamelhor. A vida aqui é boa, tranqüila.

Quando acordo e vejo tudo isso aqui, essa terrinhaque é minha, me dá uma felicidade! Aqui eu tenhode tudo, fome a gente não passa porque eu tenhosaúde, graças a Deus, para plantar o que comer. Agente tem abóbora, couve, milho, mandioca, la-ranja, limão, abacaxi, mamão, tenho várias ervas– hortelã, manjericão, poejo, cânfora. Tem gali-nha, coelho, tem as vaquinhas. Nossa Senhora! Nacidade a gente tem que comprar tudo, e aqui não,a gente pode plantar e colher!

Sou uma pessoa de muita fé.Graças a Deus, tenho fé!Se a gente trabalhar sem fé em Deus,a gente merece até castigo, porque se a gente trabalhaé porque tem saúde e saúde é o mais importante.Sou católica, mas a igreja aqui está abandonada,nem vem padre. Sinto falta.Às vezes, converso sozinha com Deus.

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Lições aprendidas

Terezinha Rosa Guimarães de Araújo, 56, nascida em Caculé,na Bahia, veio com a mãe e dois irmãos para aregião do Pontal aos 6 anos de idade.Viviam de plantar capim em terra arrendada, a meninana enxada desde sempre.Alguns anos depois, a mãe rumou para o Norte comum filho e Terezinha ficou, com uma irmã.Virou doméstica, em Venceslau, onde viveu por 40 anos.Aos 18, casou com Senevau, com quem teve10 filhos, e foi trabalhar na roça – além de fazerfaxina e lavar roupa pra fora, criar porco e galinha no quintal,fazer colcha de retalho e tapete para vender.Encontrou seu lugar no mundo junto a 66 moradores no pequenoassentamento Santa Rita, implantado oficialmente em 1977, em Piquerobi.Veja o depoimento dela.

com a enxada

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12 Fatos da Terra setembro / 2007

deve aplicar R$ 24 milhões nos próximos doisanos, beneficiando 16 cidades, num total de 376mil moradores. Os recursos permitirão a constru-ção de sistemas de abastecimento de água e tra-tamento de esgoto.

Na saúde, foi dobrada a verba para o ProgramaDose Certa – distribuição gratuita de medicamen-tos –, passando para R$ 680 mil mensais. OutrosR$ 211 mil mensais se destinam à ampliação donúmero de equipes do Programa da Saúde da Fa-mília. E a região também ganhará 15 novas am-bulâncias. No campo da educação, reformas eampliações de escolas, cobertura de quadras, com-putadores para 126 salas de professores e cons-trução de 14 brinquedotecas equipadas com tele-visor e DVD player exigem R$ 7,7 milhões.

Projetos de implantação da gestão do agronegócio,convênios com associações de produtores rurais,capacitação de agricultores, doação de 140 mil mu-das para recuperação de mata ciliar, entre outrositens, são aplicações na área de agricultura, paraa qual foram reservados R$ 2,6 milhões.

Para o devido escoamento da produção, o progra-ma de recuperação de estradas rurais Melhor Ca-

Em dois momentos, o governador José Serra no Pontal do Paranapanema: mais desenvolvimento para a região.

Fotos: Daniel Guimarães

Solução à vista para o Pontal

Em junho, o Governo do Estado lançou umimportante conjunto de investimentos

para a região do Pontal do Paranapanema epropôs a regularização das terras ocupadas com

mais de 500 hectares no extremo oeste paulista.Recursos da ordem de R$ 160 milhões e a soluçãofundiária para cerca de 200 fazendas que ocupam

área próxima de 300 mil hectares são vitais à região, marcada pela grilagem de terras públicas.

Edição: Vera Artaxo

conjunto de ações – anúncio dos investimen-tos feito por José Serra no município de Ál-vares Machado a 15 de junho, no mesmo dia

mentes e filhotes de pequenos animais. Os quaseR$ 2 milhões para o programa de regularizaçãofundiária beneficiarão cerca de três mil imóveisrurais e urbanos. Há, ainda, atividades decapacitação e formação de assentados e técnicos.

“Participamos ativamente da nova etapa de desen-volvimento do Pontal, contribuindo com melhoriasnos assentamentos e fazendo parcerias com as pre-feituras para ações de regularização fundiária”, atestaGustavo Ungaro, diretor executivo do órgão vincula-do à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.Empenhado na promoção do desenvolvimento das fa-mílias de pequenos produtores rurais, Ungaro lem-bra que, dos 168 assentamentos assistidos pelo Itesp,103 estão na região do Pontal, englobando 5.513famílias, em 13 municípios. Mirante do Paranapa-nema e Pirapozinho acabam de receber 589 novostítulos. “A regularização de uma área traz segurançadominial ao posseiro e ao Poder Público, que podeplanejar melhor os investimentos e a extensão dosserviços aos cidadãos, propiciando novas condiçõespara o desenvolvimento”, afirma.

Várias frentes de ação contribuem para otimizaros avanços na área legal. A Sabesp (Companhiade Saneamento Básico do Estado de São Paulo)

minho colabora com quase R$ 20 milhões entre osinvestimentos em transportes.

O projeto de lei encaminhado à AssembléiaLegislativa do Estado de São Paulo exigiu diver-sas reuniões com os atores da região nos primeirosseis meses de governo e resulta de amplo estudoenvolvendo secretarias do executivo paulista, es-pecialistas e representantes de entidades da região.

A regularização das áreas devolutas estaduais até100 hectares está contemplada na Lei nº 3.962/1957, regulamentada pelo Decreto nº 28.389/1988. Quanto às áreas não superiores a 500 hec-tares, foi editada a Lei nº 11.600/ 2003, regula-mentada pelo Decreto nº 48.539/ 2004.

Pelo novo projeto, para a regularização das terrasocupadas com mais de 500 hectares, os fazendei-ros deverão devolver parte das áreas ocupadas aoEstado. Parte delas poderá ser regularizada e ou-tra parte arrecadada para a implantação de as-sentamentos de trabalhadores rurais, nos termosprevistos na Lei nº 4.957/ 1985.

Isso vai permitir resolver o problema fundiário, datitulação e, por dar mais sustentabilidade ao cres-

Oem que o governador assinou o projeto de lei pararegularização de posse em áreas de terras devolutas– visa incrementar o desenvolvimento econômico dos32 municípios do Pontal do Paranapanema, benefi-ciando direta ou indiretamente uma população su-perior a 500 mil habitantes.

“Queremos ver o Pontal se desenvolver, oferecer maisemprego, educação e saúde”, disse o governador,que convocou seis secretarias estaduais para elabo-rar o plano. Fazem parte dessa força-tarefa as se-cretarias de Agricultura e Abastecimento, Sanea-mento e Energia, Saúde, Educação, Justiça e Defe-sa da Cidadania e Transportes – esta concentra R$100 milhões do total anunciado, sobretudo para amelhoria das estradas vicinais que cortam a região.

O Itesp previu investimentos que ultrapassam R$5,2 milhões. São mais de R$ 3 milhões para oprograma de infra-estrutura nos assentamentos –perfuração de poços artesianos, abertura de estra-das, construção de redes de distribuição de água,construção de galpões comunitários, pontes, con-servação e preparo de solo entregas de mudas, se-

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cimento, estimula investimentos na agricultura e,portanto, a geração de trabalho e renda. Ou seja, évital para a pacificação social da região do Pontal.

Grilos marcam os documentos do Pontal

Grandes dimensões de terras com documentaçãofalsificada – pretensamente antiga, submetida pordécadas à ação dos grilos estrategicamente colo-cados entre papéis forjados em gavetas hermetica-mente fechadas – caracterizam parte das áreas doPontal do Paranapanema.

Incapazes de legitimar essas escrituras, portado-res de registros paroquiais iniciaram um longo pro-cesso de especulação imobiliária. Eram feitos pelovigário de cada paróquia. Foi exigência do gover-no, na tentativa de criar estatísticas de terras pú-blicas e privadas. Porém, sem valor de títulodominial, nem de cadastro de terras, os registrosdos vigários trazem um problema adicional: as in-formações eram cobradas por letra, o que acabouestabelecendo descrições absolutamente suscintas.

De todo modo, para coibir a exploração predató-ria, visando à conservação da flora e da fauna,foram criadas as reservas florestais do Morro doDiabo – hoje Parque Estadual, um dos últimos ves-tígios de Mata Atlântica no Estado de São Paulo –da Lagoa São Paulo e do Porto Primavera, quesobrevivem bravamente.

Situado na fronteira com o Mato Grosso do Sul e oParaná, o Pontal tem extensão de 1,2 milhão dehectares divididos por 30 municípios, apresentan-do um dos menores índices de desenvolvimento,baixa concentração demográfica e inexpressivocrescimento industrial e comercial.

A efetiva povoação da região deu-se com a implan-tação da Estrada de Ferro Sorocabana. A mono-cultura cafeeira foi substituída, em 1940, pelaprodução de algodão. Hoje planta-se milho, alémde algodão. Também a pecuária se desenvolveu –predominam na região grandes fazendas de gadode corte. Os grandes arrendatários, que contrata-vam pequenos posseiros como mão-de-obra, nãotiveram qualquer preocupação ambiental, intensi-

ficando um cenário árido fruto dos danos causadospelo desmatamento agressivo da ocupação preda-tória, no ínício do século XX.

Outras marcas da história fundiária da região: ín-dios Caiuá e Caigangues foram expulsos de suasterras pelos invasores em busca de riquezas e pos-seiros foram caçados. Atualmente, pequenos pos-seiros, bóias-frias, arrendatários menores, meeirose empregados rurais organizam-se em movimen-tos sociais e lutam pela posse e uso da terra.

Conhecido nacionalmente pelos conflitos fundiários,o Pontal tem, portanto, características que o dis-tingue das demais regiões de atuação dos movi-mentos de luta pela reforma agrária.

A análise da história e da legislação que disciplinaa questão da discriminação de terras devolutas, suaarrecadação e destinação, o registro público de ter-ras e o reflexo direto destes na efetiva realizaçãoda reforma agrária no Estado de São Paulo mos-tra como é essencial, no Pontal do Paranapanema,a regularização fundiária.

Um país com vastíssimo território, como o Brasil,nascido sob a égide da monarquia portuguesa, nãoteria condições de amoldar títulos de transferênciadominial, como as sesmarias, criadas em Portu-gal: os sesmeiros eram nomeados pelo próprio rei.O sistema foi abolido em 1822 e então acabouvigorando o princípio da ocupação efetiva do solo– ou seja, posse sem título.

O espírito latifundiário, a partir da extinção dassesmarias, impregnou-se na cultura brasileira. Noinício cultivando apenas as terras para sua sobrevi-vência, os posseiros passaram a ampliar seus terri-tórios, fazendo demarcações até onde bem enten-dessem, sem qualquer controle governamental.

O estigma das terras devolutas

Preocupado com os graves conflitos fundiáriosali existentes, o governo do Estado tem se empe-nhado em intervir na malha fundiária da regiãopara democratizar o acesso à terra. Empreen-deu também um plano que inclui propor ações

reivindicatórias com pedido de tutela antecipa-da, com o apoio do Instituto Nacional de Coloni-zação e Reforma Agrária (Incra), o que possibi-litou a arrecadação de áreas para os assenta-mentos realizados.

O Incra atua em parceria, repassando recursos parao pagamento de indenizações na arrecadação dasáreas devolutas. Por convênio com validade atédezembro, está prevista a liberação de R$ 28 mi-lhões, dos quais R$ 21,6 milhões já foram repas-sados ao Itesp.

O Estado percebeu a necessidade de regulamen-tar suas concessões de terras, restringindo-lhes otamanho, o que melhorou o caos então reinante.Ainda assim, com a ocupação desordenada, amon-toaram-se títulos sobre títulos em muitos recan-tos do solo pátrio.

Nas últimas décadas, o governo do Estado tem ques-tionado judicialmente a titularidade de grande par-te das terras do extremo oeste paulista. Com ori-gem nos chamados grilos, essas áreas foram consi-deradas devolutas, ou seja, públicas. A Justiça vemconcedendo ganho de causa ao Estado na maioriadas ações discriminatórias, aceitando que essas ter-ras são mesmo devolutas – bens do Estado, excetoas que são bens da União. A Constituição tambémestabelece que a destinação das terras públicas edevolutas deve ser compatibilizada com a políticaagrícola e com o plano nacional de reforma agrá-ria. Os ocupantes das áreas julgadas devolutas sótêm direito à indenização das benfeitorias, já que aterra não lhes pertence, mas sim ao Estado.

Como o Estado vem impetrando ações no Pontaldesde a década de 30, hoje há 46 discriminatóriasem andamento. Uma delas, processo 068, datadode 1972, sobre o 15° Perímetro de PresidenteWenceslau, comarca de Mirante do Paranapanema,soma quase 8.500 páginas e contabiliza perto deuma centena de réus.

Há mais de dez anos, em dezembro de 1996, o juizVito José Guglielmi, hoje no Tribunal de Justiça,numa decisão histórica, deu sentença favorável aoEstado: julgou procedente a ação discriminatória

para declarar devoluta toda a área que compõe o15º Perímetro de Presidente Wenceslau, exceto emrelação a áreas anteriormente acordadas. O pro-cesso, ainda em andamento, já inspirou outros tan-tos que deverão permitir arrecadação de terras parafins de reforma agrária.

A definição de terras devolutas, ainda aceita hoje,fala em sesmarias: foi estabelecida pela coloniza-ção portuguesa com a pioneira Lei de Terras (n.º601, de 1850), que se refere a terras desocupadas.Segundo a Constituição Federal vigente, de 1988,são terras devolutas da União as indispensáveis àdefesa das fronteiras, das fortificações e constru-ções militares, das vias federais de comunicação e àpreservação ambiental, definidas em lei.

De maneira geral, as terras devolutas estaduais sãodefinidas pelo critério da exclusão, ou seja, estãosituadas nos respectivos territórios, sem que cons-tituam reserva federal, próprios estaduais ou bensmunicipais e nem pertençam a particulares por le-gítimo direito titular. Quanto às municipais, dei-xaram de existir com a Constituição Federal de1967 e a Lei n.º 6383, de 1976, se refere apenasa devolutas estaduais.

O estigma das terras devolutas que recai ainda so-bre o Estado de São Paulo tem constituído um en-trave para o desenvolvimento social e econômicosobre tudo na região do Pontal do Paranapanema.

Urge uma vigorosa intervenção na estruturafundiária, seja para arrecadar as terras públicasdevolutas que se encontrarem indevidamente nasmãos de particulares, seja para transferi-las àque-les que legalmente fazem jus, seja para repartilharáreas que não cumprem a função social impostacomo condicionante do direito de propriedade, pelaConstituição Federal de 1988.

O projeto que está tramitando na AssembléiaLegislativa Paulista, é bom repetir, já é um grandeavanço para sair da inércia e solucionar o proble-ma fundiário do Estado de São Paulo. Aliás, o se-cretário Luiz Antonio Marrey empreendeu um de-bate, em setembro, ouvindo os setores da socieda-de local. O objetivo é um só: a paz no campo.

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16 Fatos da Terra

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17setembro / 2007

Nas últimas décadas, no Estado de São Paulo hou-ve clara preocupação com a problemática fundiária.A própria Constituição do Estado de São Paulo ga-rante a identificação prévia de áreas e ajuizamentode ações discriminatórias, visando a separar as ter-ras devolutas das particulares, e a mantutenção decadastro atualizado de seus recursos fundiários. OPrograma Estadual de Direitos Humanos tambémtem compromisso expresso com a questão.

A regularização fundiária do solo brasileiro é, ain-da hoje, uma necessidade premente, sob pena de nãose poder, com bom senso e espírito de justiça, con-cluir-se qualquer projeto de reforma agrária, umavez que não se reforma o que não existe.

Sem regularidade fundiária não há como implemen-tar um programa de reforma agrária capaz de re-solver a situação daqueles que, sem acesso à terra,querem nela trabalhar, sonhando em jogar a se-mente que lhes proporcionará o progresso social eeconômico.

Uma modalidade jurídica que só existe no Brasil –a ação discriminatória que define o domínio da terra– é um instrumento importante para avançar naquestão. Ou seja, as ações discriminatórias são pro-postas pelo Estado com o objetivo de identificar oque são terras públicas e o que são terras particu-lares. Já as reivindicatórias são ajuizadas, parareaver a terra pública indevidamente em posse deum particular.

Cabe ao Estado arrecadar as terras públicas ocupa-das irregularmente e destiná-las, como manda aConstituição, ao assentamento de trabalhadores ru-

Instrumentos em prol da regularização fundiária

rais sem terra (em São Paulo, de acordo com a LeiEstadual 4.957, de 1985). É preciso identificar asterras devolutas para que possam ser destinadas.

O processo judicial da ação discriminatória é dacompetência da Justiça Federal, quando o autorfor a União, e das varas da Fazenda Pública, quan-do o autor for o Estado. No caso da União (Decre-to-Lei n.º 9.760, de 1946), o reconhecimento dasposses legítimas é garantido, desde que não sejacaracterizado latifúndio e dependendo do efetivoaproveitamento e morada do possuidor. A discri-minação das terras devolutas no Estado de SãoPaulo é disciplinada pelo Decreto n. 14.916, de1945, em consonância com a legislação federalulterior (Lei n. 6.383/1976).

É a Procuradoria Geral do Estado (PGE), que atuana identificação e arrecadação das terras devolutasestaduais para dar-lhes o fim legalmente previsto -o que inclui entregá-las a particulares, legitimandoa posse de ocupantes que preencham os requisitoslegais e fiscalizar o uso dessas terras públicas, notocante aos assentamentos fundiários agrícolas. Otrabalho é feito em parceria com o Itesp.

A importância da ação discriminatória

O procedimento discriminatório é extenso. Num pri-meiro momento, envolve, além da instauração doprocesso, memorial descritivo, edital para apresen-tação de documentos, autuação dos documentos, de-clarações dos interessados, vistorias, diligência.

Após o pronunciamento dos interessados, e conse-qüente julgamento, entra-se na fase do levantamen-

Francisco de Sales Vieira de Carvalho *

Fonte: Itesp

Situação jurídica das terras do Pontal do Paranapanema

to geodésico e demarcação das terras devolutas e sóentão começa o processo de registro das terras devo-lutas, com a instauração de processo de legitimaçãode posse ou arrecadação de áreas para implantaçãode Projetos de Assentamento pelo Itesp.

Com foco na região do Pontal, analisemos a legisla-ção estadual pertinente a procedimentos para a dis-criminação de terras devolutas e regularizaçãofundiária: é evidente o problema surgido com a ado-ção da discriminatória judicial – e não administra-tiva – morosa e de elevado custo financeiro e social.

Embora pioneiro na tarefa da discriminação de ter-ras, com farta legislação, São Paulo patina no as-sunto, pois imprimiu, também de forma pioneira, ocaráter judicial à discriminatória; as ações discrimi-natórias, na sua grande maioria datadas da décadade 40, foram homologadas apenas na década de 90,

gerando grandes problemas fundiários sobretudo naregião oeste do Estado, no Pontal.

Ali, apenas as terras do 13º Perímetro de Mirantedo Paranapanema e do 20º Perímetro de SantoAnastácio tiveram ações discriminatórias julgadase reconhecidas como particulares. As demais foramjulgadas devolutas há décadas – ou nem foram do-cumentadas. Então, o Estado não aceitou os títulosfalsos, mas tampouco coibiu a prática abusiva rei-nante ou cuidou das terras que lhe pertenciam.

Grande parte de seu território é composto por ter-ras devolutas ou ainda não discriminadas –provávelmente, devolutas. Grandes latifúndios es-tão nas mãos de poucas pessoas, que geram poucoemprego. O contraste entre latifundiários impro-dutivos ou com baixíssima produtividade e os tra-balhadores em desamparo é muito grande.

A regularização fundiária, a rigor, não é um instituto jurídico, mas uma política pública que tem porescopo legalizar a posse e a propriedade do solo.

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opinião

1918 Fatos da Terra

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setembro / 2007

* Graduado em Engenharia de Agrimensura pela Uni-versidade Federal do Piauí, com mestrado em Engenha-ria Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina, éAnalista de Desenvolvimento Agrário do Itesp.

O Pontal do Paranapanema, re-gião situada no extremo oeste doEstado de São Paulo, tema cen-tral da presente edição da revis-ta Fatos da Terra, é foco priori-tário da atuação da FundaçãoItesp que, por meio da Regionalde Presidente Prudente, contacom 176 servidores em 10 escri-tórios, realiza investimentos naprodução e fornece assistênciatécnica a 103 assentamentos si-tuados em 13 municípios, alémde desenvolver trabalhos de re-gularização fundiária em parce-ria com sete prefeituras.

Serão expedidos, até dezembro,mais de 3 mil títulos de proprie-dade, para regularizar a situa-ção de pequenos posseiros emáreas urbanas e rurais, a fim deassegurar a conquista formal daprópria residência familiar,viabilizando a captação de finan-ciamentos e contribuindo para oordenamento territorial.

A partir do ano de 2007, novasfamílias poderão ter acesso à ter-ra para dela extrair seu sustentoe participar do desenvolvimentoeconômico regional, em áreas pú-blicas que já estão submetidas alicenciamento ambiental e em ou-tras que se encontram em proces-so de arrecadação.

As mais de 5,5 mil famílias as-sentadas, por sua vez, terão no-vos incentivos para a ampliaçãoe diversificação da produção e oaumento da renda, através decursos de capacitação, participa-ção em eventos e feiras, distri-buição de filhotes de animais,

mudas e sementes, calcário, kitspara irrigação por gotejamentoe pastejo rotacionado, melhoriade solos, reformas e construçõesde equipamentos comunitários,conservação de estradas, perfu-ração de poços e novas redes dedistribuição de água.

São 5,3 milhões de reais do or-çamento da Fundação Itesp quepossibilitarão tais ações, inte-grantes do Plano de Investimen-tos Estaduais no Pontal do Para-napanema, anunciado pelo Go-vernador José Serra durante re-cente visita à região, em junho.

Contudo, há um problema histó-rico que não pode ser olvidado –a grave e complexa questãofundiária, calcada na inseguran-ça dominial sobre vastas áreas,caracterizadas como terras devo-lutas estaduais mas utilizadas porparticulares que delas se consi-deram donos, situação que se re-flete na tramitação, a consumirdécadas, de dezenas de ações ju-diciais, propostas pela Procura-doria Geral do Estado a partirde levantamentos muitas vezesfornecidos pela Fundação Itesp.

Completa o quadro de instabilida-de a mobilização dos trabalhado-res rurais sem terra, organizadosem movimentos sociais e sindicais,a despertar a atenção da opiniãopública para a demanda pela de-mocratização do acesso à terra.

Assim, o desenvolvimento plenoda região passa pelo cabal equa-cionamento da querela fundiária,cujo enfrentamento iniciou-se no

Governo de Franco Montoro,principalmente por meio da Lei4.957/85, avançou no período deMario Covas, que editou o Decre-to 42.041/97, e teve uma novapossibilidade aberta pela Lei11.600/03, ao tempo de GeraldoAlckmin, tudo resultando noaproveitamento atual de 100 milhectares de terras devolutas comoassentamentos rurais.

Mas falta muito, ainda, para asolução definitiva, e por isso ébem vinda a iniciativa do atualmandatário maior paulista, queremeteu à Assembléia LegislativaProjeto de Lei que estipula a ar-recadação de novas áreas, ou opagamento ao Fundo de Desen-volvimento do Pontal do Parana-panema, como modo de viabilizara regularização de grandes fra-ções territoriais.

A recente proposta é resultantede estudos, reuniões e discussõescoordenadas pelo Secretário daJustiça e da Defesa da Cidada-nia, Luiz Antonio Marrey, quecontou com a colaboração daFundação Itesp.

Renova-se, portanto, a esperan-ça em novos horizontes que se re-velam possíveis, rumo à socieda-de justa, fraterna e solidáriaapregoada pela Constituição esonhada também pelos brasilei-ros do Oeste Paulista.

Desenvolvimento e cidadaniaGustavo Ungaro *

* Diretor Executivo da FundaçãoItesp. Mestre em Direito pela USP,é membro da Comissão de Justiçae Paz de São Paulo.

O desemprego torna-se cada vez maior, com a cres-cente mecanização nas operações de colheita, em-bora a construção das hidrelétricas nos riosParanapanema e Paraná tenha mantido inúmerostrabalhadores na região.

Desde o início de 1995, enormes acampamentossurgem à beira das rodovias. O noticiário vive re-gistrando: os trabalhadores rurais sem-terra inva-dem fazendas improdutivas ou de baixa produtivi-dade, na sua maioria julgadas devolutas.

Nesse mesmo ano, o Governo do Estado propôs umplano de ação para o Pontal, com os seguintes ob-jetivos: reintrodução de formas mais eficientes esustentáveis de produção agropecuária, por meiode assentamentos; reinserção do Pontal como re-gião de importância econômica, por meio de regu-larização fundiária e dinamização por ser merca-do local e regional.

Objetiva também recuperação ambiental, recompo-sição florestal de áreas de preservação permanente,distensão social, gerando clima propício a um novociclo de desenvolvimento na região e promovendoconvivência harmoniosa das terras regularizadas.

A eficiência da ação reinvindicatória

O Plano previa três fases: Arrecadação de ÁreasDevolutas e Assentamento, com diversas ações;Acordo nas Áreas Não Discriminadas (Decreto n.º42.041/1997), em que o latifundiário faz acordocom o Estado cedendo parte da área para ter orestante regularizado em seu nome; Edição de Leide Terras propõe ampla discussão com agentes so-ciais e políticos sobre o tema.

Sobre a questão do acordo (indenização) reguladopelo decreto citado, pleiteou-se 30% da área decada imóvel – que foi concedida, na maioria doscasos, pela via jurídica. Instalaram-se assentamen-tos provisórios. Após exaustiva negociação, houveacordo entre o Estado e os ocupantes.

A ação reivindicatória, ajuizada pela Procurado-ria Geral do Estado, revelou-se instrumento aptopara a regularização fundiária, pois, por meio dela,terras devolutas ocupadas irregularmente terãodestinação econômica e social: assentamento detrabalhadores rurais sem-terra ou com terras in-suficientes para subsistência. No Pontal, essas áreasarrecadadas atendem a esses trabalhadores. Paraa propositura da ação reivindicatória, a Procura-doria Geral do Estado conta com o Itesp, que pro-videncia os documentos que comprovam a nature-za da origem das terras, além de realizar os traba-lhos técnicos necessários.

Um estudo do Itesp levantou e analisou, em outubrode 2003, os processos de ações discriminatórias ajui-zadas em cada uma das regiões do Estado; muitosestão sem andamento por falta de demarcação dasterras (execução da sentença); outros aguardam ma-nifestação das partes e decisão judicial.

Precisamos lutar pela efetividade da discrimi-natória administrativa e o desembaraço judicial háinúmeros recursos dos latifundiários. Com a mo-rosidade da via judicial, todos perdem: o poderpúblico, que investe recursos financeiros; o Esta-do, que não consegue viabilizar seus projetos agrá-rios e fundiários e tem sua arrecadação prejudica-da; o contribuinte; os trabalhadores rurais.

Apesar da sensibilidade de alguns governantes, doslegisladores e de entidades civis, a morosidade ju-diciária persiste, dificultando projetos agrários efundiários do governo estadual. A indefinição so-bre a propriedade da terra exige, por parte do go-verno, ação que aponte definitivamente para a re-gularização fundiária em nosso Estado. É precisorever a legislação federal e estadual para o surgi-mento de um projeto de lei.

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especial

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do em dosagem baixa. Para outros, o problemanão está na dose, mas no próprio remédio, que nãoé o mais adequado para enfrentar a questão agrá-ria — superada nos países desenvolvidos nos sécu-los XIX e XX — em pleno século XXI.

Nossa hipótese é que o conflitotem sido o combustível, não ape-nas da reforma agrária, mas dopróprio conflito, e que a respos-ta do governo — moldada peloconflito, pelas restrições insti-tucionais e pela sua (in)capacidade operacional —vem contribuindo para alimentar o conflito, criandoum círculo vicioso que vai ficando cada vez maisdifícil interromper sem produzir algum tipo de rup-tura. Vejamos cada um destes elementos.

O conflito, em particular as ocupações ou ameaçasde ocupações de terras, vem determinando não ape-

nas o ritmo, mas também a localização, o modelo eos resultados, infelizmente precários, da reformaagrária. O Estado transformou-se em bombeiro agrá-rio, correndo sempre atrás de incêndios, mas semqualquer possibilidade de planejar ações que pode-riam inclusive evitar o fogo dos conflitos.

Os assentamentos têm sido im-plantados em terras escolhidaspelo movimento social — nãonecessariamente as mais ade-quadas e em conformidade

com a legislação; as terras são distribuídas paraos integrantes dos movimentos — e não necessari-amente para as famílias mais qualificadas.

Os projetos são implantados em escala incompatí-vel com a disponibilidade de recursos necessáriospara viabilizar os assentamentos — o que explica ochamado passivo da reforma agrária. Os minifún-

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A política agrária tornou-se refémdos conflitos, e a principal viti-ma foi a própria reforma agrária,na qual hoje a quantidade valemais do que a qualidade

A difícil reforma agrária

Uma rápida análise da economia política dareforma agrária mostra que ela é movidapelo conflito. Foi a pressão dos movimen-

tos de trabalhadores sem terra e a intensidade dosconflitos — agrários com todas as conseqüênciasem termos de violência e mortes — que transfor-mou a prioridade de papel e os discursos vaziossobre a má distribuição de terras e a pobreza ruralem orçamento e ações em uma área que envolvemudanças compulsórias em uma das instituiçõespilares das democracias contemporâneas: a pro-priedade privada.

Como resposta, desde 1993 os governos assenta-ram em torno de 1 milhão de famílias em terrasdesapropriadas ou adquiridas para fins de reformaagrária. Ainda que para muitos esse número sejatímido, trata-se da mais abrangente operação de

A reforma agrária é movida pelo conflito,já que envolve mudanças na propriedade privada.Nos últimos anos foram assentadas um milhãode famílias, numa abrangente redistribuição de terra,sem qualquer ruptura institucional.Mas o conflito persiste: questão agrária foi superadanos países desenvolvidos nos séculos XIX e XXe talvez a receita utilizada não se aplique ao século XXI.Combustível não apenas da reforma agrária, oconflito alimenta o próprio conflito, num círculo viciosoque, para ser quebrado, talvez exija algum tipo de ruptura.O conflito impede o planejamento participativodo setor público e desperdiça escassos recursos públicos,um luxo que o Brasil não pode continuar suportando.

Antônio Márcio Buainain *

redistribuição de propriedade da terra feita por umpaís em tempo de paz e sem ruptura institucional.

Apesar do esforço, o conflito não parece dar sinaisde arrefecimento. Ao contrário, à exceção do cur-to período 1999-2002, que registrou queda, o nú-mero de conflitos tem crescido junto com a expan-são dos assentamentos e a ampliação de benefíciosde um conjunto de políticas públicas.

A simples constatação de que o remédio não estáproduzindo o efeito esperado — seja em termos deredução de conflitos, seja em termos de reduçãoda pobreza — seria suficiente para pelo menos sus-citar dúvidas sobre a validade da prescrição. Parauns, a pequena eficácia se deve à timidez da dose enão ao remédio; seria como um antibiótico que nãotem força para combater a infecção por ser aplica-

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especial

22 Fatos da Terra setembro / 2007

ral atribui esta função aos Estados da Federação,e o processo é caro e lento. O instrumento é a açãodiscriminatória, que exige a identificação da ca-deia dominial da área em questão a partir de 1850,data da publicação da Lei de Terras. Enfrenta-setodo tipo de problema: registros falsos, certidõesilegíveis, documentos perdidos, cartórios incendi-ados etc., situação que permite incontáveis contes-tações em cada etapa do processo, perícias técni-cas e outras artimanhas processualísticas para pro-longar no tempo a situação de indefinição.

A experiência do Estado de São Paulo ilustra adificuldade envolvida no litígio judicial relaciona-do a ações discriminatórias. Aanálise do processo de aquisi-ção de terras devolutas de 31assentamentos no Pontal deParanapanema revela que 18ações foram iniciadas no anode 1972. Destas, 7 foram con-cluídas em 1997, ou seja, o Es-tado só pode tomar posse da área 25 anos após oinício da ação. Os demais processos foram encer-rados, também mediante acordo entre o Estado eos ocupantes, em 1998, 1999, 2000 e 2002.

Na ausência de acordo, uma vez concluída a ação dis-crimina-tória que identifica a área como devoluta etransfere sua propriedade para o Estado, é necessárioimpetrar uma ação reivindicatória pela qual o Estadoreivindica a posse de sua propriedade ocupada por ter-ceiro. O processo também é demorado, pois envolveavaliação de benfeitorias incorporadas ao imóvel peloocupante anterior (desde que ocupante de boa fé).

A análise de 42 assentamentos na Zona do Pontalque envolveram ações reivindicatórias confirma alentidão do procedimento judicial. A ação referen-te às terras do assentamento Santa, no Mirante deParanapanema, foi impetrada em 1995, e prolon-gou-se até 2002, quando foi concluída por acordo.Outras quatro ações tiveram início em 1994, e sóforam encerradas a partir de 1996, quando o Es-tado, enfrentando o agravamento dos conflitos deterras, decidiu reorientar sua estratégia do litígiojudicial para acordos entre as partes, posteriormen-

* Bacharel em Direito e Economia. Em Economia, épós-graduado no Birkbeck College, Universidade de Lon-dres e doutor pelo Instituto de Economia da Unicamp. Éprofessor do Departamente de História e Política Econô-mica do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisadordo Núcleo de Economia Agricola e Ambiental (NEA) domesmo Instituto.

te confirmados pela Justiça. O acordo é sem dúvi-da a melhor opção para ganhar tempo, mas exigerecursos para o Estado pagar as indenizações de-vidas e cobrir o custo da desistência do litígio.

Tanto no caso da desapropriação como da aquisi-ção de terras devolutas e ilegitimamente ocupadaspor terceiros — ainda que de boa fé — ilustram asdificuldades enfrentadas pelo Estado para respon-der aos conflitos com assentamentos. E aqui nãose mencionou todos os demais aspectos igualmenterelevantes, desde o financeiro até a capacitaçãodos assentados para competir de forma sustentá-vel no ambiente da economia contemporânea.

Para concluir, é preciso indicara fragilidade dos mecanismos degestão de conflitos agrários àdisposição do Estado brasileiro.Ao que tudo indica não interes-sa ao movimento social negoci-ar, para valer, um pacto viável

para a reforma agrária; na lógica do pagamentoda herança histórica de exclusão e pobreza, só cabeao Estado aceitar as reivindicações, independentedas restrições institucionais, fiscais e operacionaisque enfrenta.

De outra parte, o negociadores do Estado têm poucoa oferecer no processo de negociação com os movi-mentos, em especial no tempo e condições exigidas.E por isto oferecem cestas de alimentos, permissãopara desrespeitar a lei e poder aos líderes para distri-buir as terras arrecadadas entre seus seguidores. Oresultado não poderia ser outro: cada vez um númeromaior de sem terras exigindo seus direitos. E como oEstado não tem poder de árbitro, cabe ao conflitofazer valer os direitos, de um lado ou do outro.

Para dar fim à exclusão e à po-breza no campo, seria precisonegociação, entre governos emovimentos sociais, um pactoviável para a reforma agrária

dios, verdadeira fábrica de pobreza rural, são recri-ados nos projetos de assentamentos para permitir aacomodação de um maior número de famílias e des-ta forma alcançar as metas irrealistas acertadas coma liderança dos movimentos.

O fato é que o conflito impede o planejamentoparticipativo da ação do setor público, e produzum uso ineficiente e ineficaz de recursos públicosescassos, um luxo que um país como o Brasil, su-focado por tanta necessidade e demanda legítima,não pode continuar suportando.

Apesar dos discursos sobre a importância da “qua-lidade da reforma agrária”, oque de fato vem importando,para ambos os lados, é o núme-ro de famílias assentadas, e nãoas condições do assentamento.Cada nova família assentada éum troféu usado pelos governospara comprovar seu compromis-so com a prioridade.

É também um troféu usado pelos movimentos paraarregimentar novos sem terra, atraí-los para a cau-sa, e funciona como estímulo para aqueles que jáestão engajados, na fila de espera por um lote; umapromessa de que mais dia menos dia a hora delesvai chegar, e que o importante é manter-se firme ecerrar fileiras com o movimento.

Outro aspecto relevante é que a situação de confli-to é enfrentada por um Estado Democrático fraco,emergindo de um regime autoritário, e que em mui-tos campos ainda não aprendeu a exercer a autori-dade, seja pelo medo de parecer ou de ser autoritá-rio, seja pela falta de instrumentos adequados paraexercê-la de forma justa e equilibrada. Essa debi-lidade do Estado Democrático tem dois lados.

Um diz respeito à mais antiga e inegável fonte deconflito e violência no campo: é a incapacidade deassegurar o respeito às leis agrárias, o que favore-ce a ocupação ilegal de terras pelos fazendeiros; agrilagem e a aquisição fraudulenta — não rara-mente violenta — de terras; a expulsão de legíti-

mos ocupantes; o abuso do trabalho dos mais fra-cos e desorganizados; a exploração predatória ecriminosa dos recursos florestais, a invasão de re-servas ambientais e indígenas.

Outro, a cautela no trato do problema agrário, quese degenerou, em muitos casos, para uma situaçãode aberta ilegalidade. As ocupações são hoje “qua-se” permitidas e até mesmo alimentadas pelo po-der público; os mandados judiciais de desocupaçãode propriedades não são respeitados em tempo; ospedidos de intervenção ignorados. A incapacidaderevelada pelo Estado para fazer respeitar as insti-tuições democráticas contribui para estimular no-

vos conflitos que se manifestamtanto na aceleração das ocupa-ções de terras como pela açãoilegal de proprietários e grileiros.

É preciso considerar a inade-quação do marco legal, institu-cional para lidar com os confli-tos agrários. A desapropriação

de propriedades improdutivas, principal meio deaquisição de terras para fins de reforma agrária,é, por sua própria natureza, um processo confli-tivo, pois contrapõe interesses e direitos dos pro-prietários privados aos interesses e direitos de gru-pos sociais.

O processo “legal” de desapropriação contemplavárias etapas: seleção da propriedade, inspeção peloIncra, notificação do proprietário, elaboração do lau-do técnico que determina se a propriedade é ou nãoimprodutiva, contestação pelo proprietário, períciajudicial, preparação do decreto presidencial de de-sapropriação, ação de emissão de posse, laudo deavaliação do valor da propriedade, depósito da in-denização, emissão dos títulos da dívida agrária e... tudo correndo bem, imissão da posse em favor doIncra. Mesmo após a aprovação da Lei Complemen-tar no. 77-93 que define o Rito Sumário para adesapropriação, o processo pode levar anos.

A arrecadação de áreas devolutas pelo estado éoutro meio de aquisição de terras para assenta-mentos de reforma agrária. A Constituição Fede-

O conflito é inerente à desa-propriação, pois contrapõeinteresses; e a aquisição deterras devolutas, por meiode ações, é demorada

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Apesar de executar intensamente o trabalhoagropecuário, a mulher não participa dasdecisões sobre o destino do dinheiro ganho

com a comercialização dos produtos. Para reverteresse quadro e propiciar condições para que a mu-lher do campo possa buscar a garantia de seus di-reitos na sociedade e na própria família, como le-gítima agente produtiva, o Itesp instituiu um pro-grama específico.

Em parceria com o Ministério de DesenvolvimentoAgrário (MDA), a Caixa econômica Federal e o Pro-grama de Fortalecimento da Agricultura Familiar(Pronaf), foram viabilizados recursos para a reali-zação do Programa de Formação e Capacitaçãoem Gênero e Liderança, voltado exclusivamentepara a comunidade feminina de assentamentos ede quilombos.

As atividades estão sendo desenvolvidas desde 2006,no Vale do Ribeira e no Pontal de Paranapanema; aregião de Presidente Prudente foi incluída este ano.O projeto envolve duas diretorias – de Formação ede Políticas de Desenvolvimento – e é coordenadopor Marta Maria Beserra Silveira, analista de de-senvolvimento agrário e de Formação. “A previsão éde que até o final de 2007, possamos concluir, nototal, 176 atividades e 1.416 horas/aulas, com aparticipação de 2.915 mulheres”, afirma Marta.

Trabalho evolui em módulosAs atividades se desenvolvem em nove etapas, comoficinas diferentes e consecutivas. Políticas públicase conselhos municipais também são abordados notrabalho executado por grupos técnicos tanto da sedequanto do campo ao final da série. No ano passado,foram realizadas seis etapas do programa, centradasno desenvolvimento da sensibilização da equipe dosgrupos técnicos de campo e a motivação da comuni-dade. Paralelamente, aconteceram oficinas de gêne-ro e auto-estima e ainda de formação de liderança.

O conceito utilizado segue uma concepção dialógicapara o processo de formação. Por exemplo, no casodas quilombolas, respeitando seu conhecimento esuas características próprias, em liguagem acessí-vel e diferenciada, próxima à realidade das mulhe-res. As oficinas são dinâmicas, com recursos visu-ais e conteúdo fácil de reproduzir. O ponto de parti-da é a vivência do cotidiano e as discussões e ativi-dades já realizadas sobre os vários temas são con-sideradas a cada nova etapa.

As três etapas restantes vão tratar de elaboraçãoparticipativa em pequenos projetos, entre outros as-suntos. As atividades deverão oferecer subsídiospara que os participantes possam, de forma autô-noma, formular e encaminhar seus próprios proje-tos, bem como buscar parcerias e financiadores,reforçando a capacidade de organização para apermanência e o crescimento nos assentamentos.

Em alguns assentamentos, as mulheres poderãodesenvolver trabalhos de planejamento e gestãoprodutiva. “São noções básicas de planejamentoe gerenciamento das atividades agropecuárias ounão da propriedade rural, visando o aumento daprodutividade e melhorando as chances de inser-ção nos mercados locais e regionais”, acrescentaMarta. A última atividade será umseminário elaborado como umaretrospectiva do programa, aber-to para debates e sugestões – oque garante a permanentemelhoria do trabalho.

Por meio do Programa de Formação e CapacitaçãoGênero e Liderança, comunidade femininaconquista direitos como agente produtiva no campo

Reportagem: Nara Godoy

A caminho doreconhecimento social

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A era digital chega

A tecnologia da informação é mais um recurso de que o Itesp lança mão para promovera cidadania em seu universo e possibilitar

novos horizontes aos jovens assentados. Em parce-ria com a organização não-governamental CDI (Co-mitê de Democratização da Informática) e as as-sociações das comunidades assentadas, o Itesp de-senvolve um programa para proporcionar capaci-tação profissional e desenvolvimento social pelomeio digital. O projeto possibilitou a criação deseis Escolas de Informática e Cidadania (EIC’s).

O CDI adaptou sua metodologia e construiu umaespecial para o ensino da informática para os as-sentados, aparelhando salas de aula com compu-tadores e material didático. “É importante tra-zer esse novo viés, o da tecnologia, aos assenta-mentos. Isso faz com que o jovem fique atento àsnecessidades do local”, enfatiza Fátima Oliveira,coordenadora pedagógica do CDl. Para ela, o pro-jeto, além de gerar oportunidades para o jovemassentado, “mexe com a imagem de que só exis-tem recursos na cidade”.

Conhecimentos técnicos podem permitir o me-lhor aproveitamento das inúmeras informaçõesdisponíveis no mundo atual, e o domínio de no-vas ferramentas de comunicação pode facilitara sistematização da prática cotidiana. O desen-volvimento integral das populações assentadasdepende da capacidade de garantir o acesso aosdiversos direitos sociais, como a educação. Ojovem assentado carrega consigo uma bagagemdiversificada, com inúmeras questões peculiarese situações específicas, daí sua eleição prioritáriapara participação no projeto.

O potencial da informática aplicado à agriculturapoderá garantir aumento da produtividade e gerarganhos tecnológicos que permitirão aos assenta-dos maior competitividade, além contextualizar aprodução mais tecnificada. Os jovens do campo po-derão, em síntese, se igualar aos da cidade, emmatéria de capacitação, ganhando condições de dis-putar as mesmas oportunidades.

O programa teve início em 2004 nos assentamen-tos Haroldina, no município de Mirante doParanapanema; Santa Zélia e Ribeirão Bonito, emTeodoro Sampaio; Gleba XV de Novembro, emRosana; Tucano, em Euclides da Cunha; e BomPastor, em Sandovalina único dos locais que per-mite acesso à internet. Cada escola está atenden-do, em média, 60 alunos, que compartilham 10computadores, duas impressoras e dois scanners.

Cada instituição tem sua atribuição definida no ter-mo de cooperação técnica. Ao CDI cabe formar oscoordenadores e educadores de cada EIC, empre-gando uma proposta pedagógica construída combase em sua ampla atuação na área de inclusãodigital. O Itesp disponibiliza transporte e estadiaaos formadores e espaço para a instalação das es-colas – constituídas em parceria com as prefeitu-ras. A comunidade arca com a manutenção dosequipamentos e remuneração dos monitores.

Ainda se busca parceiros para a compra dos com-putadores e materiais didáticos. Além disso, emmuitos locais falta acesso à conexão de internet, oque ampliaria imensamente os conhecimentos dosalunos. Estamos nos mobilizando para atingir esseobjetivo”, revela Fátima.

O desenvolvimento das populações assentadas dependedo acesso a direitos sociais como o conhecimento: o domíniode novas ferramentas, como a informática, entra em pauta.

Reportagem: Nara Godoy

aos assentamentos

24 Fatos da Terra

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26 Fatos da Terra26 setembro / 2007

A partir daí, criou-se uma comissão para estudar amelhor utilização das terras do estado. Entre os jo-vens recém formados que participaram, José Gomesda Silva, patrono da Fundação Instituto de Terras doEstado de São Paulo. Foi essa comissão que elabo-rou a proposta de Lei de Revisão Agrária, aprovadaem 30 de dezembro de 1960. Grande parte da equi-pe que elaborou a lei foi depois convidada pelo gover-no federal para estruturar o Estatuto da Terra.

A titulação – não uma Lei de Reforma Agrária –demonstrou a estratégia de adotar uma posturamais ligada à idéia de desenvolvimento do que detransformação social. Afinal, a discussão da re-forma agrária apareceu nessa época justamentecomo uma forma de conter as ações dos movimen-

tos sociais no campo e uma possível expansão docomunismo no território paulista.

Como era de se esperar, houve uma gigantesca opo-sição de setores conservadores à lei de 1959. Sur-giu uma emenda à Constituição de 1946, transfe-rindo o recurso do Imposto Territorial Rural daesfera estadual para a gestão municipal, o queinviabilizou a execução da lei. Mesmo assim, o es-tado de São Paulo conseguiu adquirir cinco áreaspara a implantação dos projetos.

Apenas duas delas concretizadas no governo Car-valho Pinto: as fazendas Santa Helena, em Marília,e Capivari, em Campinas, que ganharam infraes-trutura com casas, galpões, cooperativas, escola e

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Uma das primeiras discussões governamentais envolvendo a redistribuição deterras e alteração da estrutura agrária no

Estado de São Paulo se deu pela Lei de RevisãoAgrária, aprovada na década de 60 pelo GovernoCarvalho Pinto. A Lei nº 5994, de 30 de dezem-bro de 1960, teve uma repercussão nacional e setornou parâmetro para a criação do Estatuto daTerra, em 1964.

Trata-se de um dos projetos de reforma agráriamais antigos do estado de São Paulo; deveriam serassentadas de 500 a 1000 famílias de agriculto-res sem terra por ano, em terra pública ou privadasubutilizada, arrecadada por recolhimento do Im-posto Territorial Rural.

A inspiração foi a necessidade de superação dosudesenvolvimento, num momento histórico pau-tado por dois fatores importantes: primeiro, o con-texto geopolítico mundial – no auge da Guerra Fria;segundo, a forte ação dos movimentos sociais nocampo – como as Ligas Camponesas.

Em 1959, eleito governador de São Paulo, Carva-lho Pinto montou um grupo para a elaboração deum Plano de Ação Governamental, inclusive no âm-bito do campo – responsabilidade do Secretário daAgricultura, José Bonifácio Coutinho Nogueira. OPlano de Ação privilegiou investimento em três se-tores: Infraestrutura (42% dos recursos), Melhoriasdas Condições do Homem no Campo (31%) e Ex-pansão Agrícola e Industrialização (27%).

André Franco Montoro, amigo do homem do campoA luta pelo acesso à terra vem marcando

a história paulista há décadas.O entendimento desse processo é crucial

para a formulação de novas políticascapazes de criar condições de trabalho,

geração de renda e, sobretudo,o desenvolvimento pleno da cidadania no campo.

O conhecimento das políticas públicasvoltadas para a questão da terra

é essencial não só para a compreensãoda nossa realidade, mas também

para a elaboração de projetos planejadospara vencer os desafios atuais.

No início dessa história, um nome se destaca:o do governador André Franco Montoro.

Carlos Alberto Feliciano *

Franco Montoro avançou vigorosamentenas questões relativas à terra.

Aqui, entrega títulos para Araraquara.

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de Revisão Agrária. Com José Gomes da Silva comoSecretário da Agricultura, foram criados mecanis-mos essenciais para o processo, com destaque parao IAF, Instituto de Assuntos Fundiários, embriãodo Itesp. Desse modo, foi realizado um inventáriodos imóveis rurais do Estado.

Paralelamente, criou-se o aparato jurídico. A Leinº 4.925/1985, sobre alienação de terras públicasa rurícolas que as ocupem e as explorem, se desti-nava a regularizar e titular todo agricultor que es-tivesse cultivando há mais de três anos em lote in-ferior a três módulos rurais (tamanho de uma áreanecessária para reprodução de uma família), vi-sando assim amenizar os conflitos existentes pelaposse, principalmente no Vale do Ribeira e noPontal do Paranapanema. Já a Lei 4.957/85 dis-pôs sobre planos públicos de valorização e apro-veitamento dos recursos fundiários do Estado, pro-piciando uma política de assentamentos rurais.

Assim, havia as condições necessárias que permi-tiriam ao governo desenvolver sua política fundiáriabaseada em duas diretrizes principais: o assenta-mento de trabalhadores rurais; e o processo de re-gularização fundiária.

O governo iniciou a regularização de posse da ter-ra de cerca de 500 famílias, beneficiadas por anti-gos projetos de colonização em áreas do Vale doRibeira, do litoral e do interior do Estado. Com aação da SUDELPA (Superintendência de Desen-volvimento do Litoral Paulista), foram favorecidasainda 5.500 famílias no Vale do Ribeira – 1.295atendidas por agilização nas ações discrimina-tórias, demarcação das terras devolutas, identifi-cação de posse e titulação dos posseiros.

A política de assentamentos rurais estava orien-tada para promover a efetiva exploração agrope-cuária ou florestal de terras ociosas, sub-apro-veitadas ou aproveitadas inadequadamente (so-mente imóveis rurais de propriedade ou adminis-

Cenas do Projeto de Assentamentona Fazenda Pirituba, em Itapeva, em 1983,

hoje referência nacional de organização.

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centro comunitário. Em Jaú (Pouso Alegre), o pro-jeto não vingou. Em Meridiano (Jacilândia), de-morou décadas, como em Itapeva (fazenda Pirituba,hoje dividida em seis áreas), com a resistência doscamponeses em ocupar as terras. A FazendaPirituba, aliás, foi um espaço marcado por confli-tos, tanto que nessa região se configurou uma dasorigens do Movimento dos Trabalhadores RuraisSem Terra (MST) no Estado de São Paulo.

Depois dessa experiência com Carvalho Pinto, JoséGomes da Silva, agrônomo e fazendeiro que levoua bandeira da reforma agrária até as últimas con-seqüências, mergulhou profundamente no estudoda questão. Após o golpe de 1964, coordenou umaproposta a partir da qual surgiu a Lei 4.504/64: oEstatuto da Terra, ainda em vigor. Mas como a leinão saiu do papel na época do regime militar, eleprocurou o caminho da sociedade civil – foi criadaa ABRA, Associação Brasileira de Reforma Agrá-ria, que manteve acesa a chama da reforma agrá-ria até o processo de redemocratização do Brasil,nos anos 80.

A política fundiária de MontoroAtento ao novo contexto político, o governadorAndré Franco Montoro soube identificar o poten-cial dos movimentos sociais no campo. A herançaera pesada: limitadas possibilidades de interven-ção do governo estadual na reformulação da es-trutura fundiária; legislação agrária estadualdesatualizada; falta de estrutura administrativa einstrumentos operacionais para qualquer interven-ção no campo fundiário.

No entanto, Montoro tinha a consciência de que ogoverno democrático de São Paulo deveria dar oexemplo na questão da Reforma Agrária, com a uti-lização das terras ociosas, ou indevidamente apro-veitadas, para o assentamento de trabalhadores ru-rais. Após anos de repressão política, foi o primeirogoverno estadual que, atendendo aos anseios dosmovimentos sociais, implantou 21 projetos de as-sentamentos rurais no estado de São Paulo.

Para isso foi necessário atualizar a legislação agrá-ria estadual, que não sofria alterações desde a Lei

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30 Fatos da Terra30 setembro / 2007

campo paulista, principalmente o MST. Hoje, sãoreferências nacionais na forma de organização, pro-dução e desenvolvimento. Apesar do projeto dereassentamento Lagoa São Paulo (devido à cons-trução da barragem Sérgio Motta) ter iniciado em1979, na gestão Paulo Egídio, o governo Montororetomou o projeto – então coordenado pela CESP(Cia. Energética de São Paulo) – numa área de 2.834hectares, onde foram reassentadas 218 famílias.

A lista de projetos de assentamento (incluindo reas-sentamento) na gestão do Governo Franco Montoroabarca vários municípios: Presidente Epitácio, Ara-ras, Motuca, Promissão, Castilho, Sumaré Rosana,Itapeva, Itaberá, Pereira Barreto, Casa Branca,Araraquara, Andradina, Porto Feliz.

Em Ilha Solteira e Angatuba, num total de 239hectares e 466 famílias envolvidas em projeto su-pervisionado pela CESP, houve, ainda, implanta-ção de roças familiares em lotes econômicos – emmédia, de 0,51 hectare por família – de terras ex-ploradas por desempregados ou sub-empregadosnas periferias das cidades onde os trabalhadoresnão residiam na área. Isso mostra como o governoestadual buscava compreender o surgimento de no-vos personagens, enfrentando novos desafios naimplantação de políticas públicas visando o bemestar da população rural.

Conduzido por Franco Montoro num momento deabertura política, o governo do estado de São Pau-lo reabriu novas frentes na elaboração de referên-cias sobre a legislação agrária brasileira e, sobre-tudo, abriu a possibilidade de diálogo para as di-versas frentes de lutas sociais – entre elas, o movi-

As experiências e metodologias adotadaspelo IAF, precursor do Itesp, subordinadoao SEAF, se tornaram referências tantopara outros estados como para o própriogoverno federal, que na época elaborava oprimeiro Plano Nacional de Reforma Agrá-ria, com a participação de Jose Gomes daSilva – presidente do Incra no governo JoséSarney e introdutor, em 1990, do conceitode segurança alimentar.

A metodologia para a implantação dos as-sentamentos deveria ser desenvolvida ao lon-go de quatro anos de experiência no campoe englobava: elaboração do projeto de as-sentamento; seleção dos assentados; admi-nistração da implantação da infraestrutura;e organização da produção durante o perí-odo aproximado de 5 anos, considerado deamadurecimento. Essa metodologia estavabaseada no objetivo básico do assentamen-to, para o governo do Estado: a produçãode alimentos com justiça social.

Metodologia exemplar

*Ouvidor da Fundação Fundação Instituto de Terras doEstado de São Paulo, mestre e doutorando em Geogra-fia Humana pela USP.

luta pela posse da terra e outras 2.900 em acampa-mento rurais. Para acompanhar esses conflitos, prin-cipalmente no Vale do Ribeira e no litoral, foi cria-do, por meio da SUDELPA, o Grupo da Terra.

No final do governo Montoro, foram implantados21 assentamentos rurais em mais de 37 mil hecta-res de terras públicas, somando 2.214 famílias detrabalhadores sem terra. De acordo com a SEAF,produziram, até a safra de 1985/1986, em 20 milhectares arrecadados, mais de 25 mil toneladas dearroz, feijão, mandioca, milho, algodão, amendo-im, mamona, sorgo e soja, além de hortigranjeirose pequenos animais de pequeno porte.

Os projetos de assentamento (PA) rurais mais anti-gos do Estado de São Paulo – a Lagoa São Paulo,em Presidente Epitácio; a Gleba XV, em Rosana; oPA Sumaré, os PAs Pirituba II, nas áreas I, II eIII, municípios de Itapeva e Itaberá – foram cená-rio da luta e formação dos movimentos sociais no

tração do estado). O grande objetivo: criar oportu-nidade de trabalho e de progresso social e econô-mico de trabalhadores rurais sem terra ou com ter-ras insuficientes para a garantia da subsistência.É patente a mudança de postura com relação àslutas sociais organizadas pelos movimentos no cam-po, pois o governo passou a atuar mais como ummediador dos conflitos. “A importância da ação doEstado está não apenas no fato dos assentamentosse realizarem em terras públicas utilizadas inade-quadamente, mas em dar solução a problemas pú-blicos, agindo como elemento organizador, media-dor e incentivador, permitindo que estes assentamen-tos resultem em benefícios sociais e econômicos paratoda a população”, reza um documento da época.

Na época havia, segundo dados da SEAF (Secreta-ria Executiva de Assuntos Fundiários), aproxima-damente 100 pontos de conflitos pela posse da ter-ra e também acampamentos rurais no territóriopaulista. Calcula-se em torno de 1.700 famílias em

Com missa celebrada pelo Padre Maurício, depois bispo de Assis, deu-se início ao assentamento da Gleba XV, em 1984.

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mento dos trabalhadores sem-terra e os posseiros.Enfim, um governo de reabertura, baseado em li-berdade, justiça e cidadania.

Hoje, o cenário na região é bem diferente: os assentados dispõem de recursos para o êxito da agricultura familiar.

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debate

32 Fatos da Terra setembro / 2007

engloba a ação educativa de caráter libertador, envol-vendo o agricultor como protagonista do processo – oeducador surge como aprendiz, numa postura capaz deconstruir um novo conhecimento.

A política de extensão rural do Itesp é centrada naparticipação para preparar, capacitar e adaptar tra-balhadores rurais para a exploração racional e econô-mica da terra e evolui no processo de ensino-aprendi-zagem para uma formulação de desenvolvimento sus-tentável e incorporação da questão agroecológica. Aprática extensionista, naturalmente, exige a formaçãode profissionais com enfoque baseado em processoseducativos – um dos grandes focos do Itesp.

Ensino, nesse contexto, engloba as experiências neces-sárias para que se produzam as modificações deseja-das; e aprendizagem implica numa modificação perma-nente do homem. Os autores examinam três opções pe-dagógicas, sem descartar nenhuma delas.

A primeira, pedagogia de transmissão, parte da premis-sa de que o aluno, uma “página em branco”, tem comoobjetivos receber informações; gera passividade no alu-no e falta de problematização da realidade. A segunda,pedagogia do condicionamento, enfatiza os resultadoscomportamentais em detrimento de idéias e conhecimen-tos; além da falta de problematização, gera tendênciaao individualismo e competitividade.

Já a terceira opção, pedagogia da problematização,considera que, em um mundo de mudanças rápidas, oimportante não são os conhecimentos ou idéias nem oscomportamentos corretos e fáceis que se espera, massim o aumento da capacidade do aluno, que age e parti-cipa da transformação social, em detectar os problemasreais e buscar soluções originais e criativas. O grandemérito dessa pedagogia está no fato de que o aluno usaa realidade para aprender com ela, ao mesmo tempo emque se prepara para transformá-la.

A demanda pela criação de um curso técnico de agricul-tura partiu dos filhos de assentados e comunidades vizi-nhas da Fazenda Pirituba, localizada entre os municípi-os de Itaberá e Itapeva, no sudoeste paulista. Os jovensqueriam um curso técnico diferente. Foi criado o curso“Habilitação Técnica em Agricultura Familiar”, em trêsmódulos: processamento de produtos agropecuários, pro-dução vegetal e produção animal. Na formatação estáincluída a questão agroecológica e da extensão rural jáque estes jovens poderão ter um papel importante juntoàs comunidades para o diagnóstico e encaminhamentode soluções para os seus problemas. Assim, não se trataapenas de capacitação técnica.

Como criar oportunidade de formação profissional queseja reconhecido técnica e socialmente e ao mesmotempo esteja ligado à realidade local? Como estabele-cer uma nova forma de atuação de extensão rural que

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Em sua terceira edição, a Jornada, que contoucom parceria com a L’École des Hautes Etudesem Sciences Sociales, de Paris, é reconhecida

como um espaço relevante para reflexões sobre a rea-lidade dos assentamentos rurais. As conferências abor-daram temas emergentes do momento atual, como aexpansão da cultura canavieira no Estado de São Pau-lo, as estratégias de políticas públicas de segurançaalimentar e a questão de gênero e cultura, que discuteos papéis diferenciados de homens e mulheres na dinâ-mica da reforma agrária brasileira.

Acadêmicos renomados de todo o Brasil, além do pes-quisador Jacques Chonchol, da Unviersidad Arcis, doChile, e representantes das principais instituições pú-blicas responsáveis por política agrária e fundiária,insistem na necessidade de articulações das políticaspúblicas para o desenvolvimento pleno e sustentáveldeste importante segmento social do campo – os agri-cultores familiares dos assentamentos rurais.

A intensa participação do Itesp no seminário expressao compromisso dos profissionais da entidade com osagricultores assentados, no sentido de buscar alterna-tivas para a sustentabilidade econômica, social e cul-tural dessas famílias: seus trabalhos sintetizam resul-tados de pesquisas e relatos de experiências que refle-tem o esforço pelo desenvolvimento sustentável juntoàs comunidades dos assentamentos rurais.

Abordando as áreas temáticas de Educação do Campoe Estratégias e Alternativas de Produção e de Geraçãode Renda os profissionais que compõem os quadros doItesp contribuiram com experiências concretas. Outrapresença marcante, dessa vez em mesa redonda, foi a

do geógrafo Fábio Nogueira; ao discutir Assentamen-tos Rurais e Soberania Alimentar, apresentou um estu-do importante sobre o impacto da produção de alimen-tos para o autoconsumo, discutindo a segurança ali-mentar das famílias assentadas.

Da realidade de 2004 às experiênciais atuais

Marcia Regina de Andrade e Maria Clara Di Pieroanalisaram o perfil das escolas dos assentamentospaulistas, apresentando um exame preliminar dos da-dos da Pesquisa Nacional de Educação na ReformaAgrária, de 2004: havia escolas em apenas 30% dosassentamentos, reflexo das políticas que privilegiam otransporte para escolas urbanas, e essas escolas dispu-nham de poucos recursos – naturalmente, a culturaurbana como referência dominante. Um quadro queprecisa mudar.

E está mudando, como mostra o tema escolhido por Fran-cisco Feitosa Alves Sobrinho e Maria Angela Fagnani, aETAF - Escola Técnica de Agricultura Familiar . Trata-se de um espaço alternativo de prática extensionistaeducativa, de acordo com a ótica de Paulo Freire, consi-derando os aspectos da nova política nacional de ATER –Assistência Técnica e Extensão Rural.

A proposta de habilitação técnica em agricultura fami-liar em desenvolvimento pelo Itesp e pelo Centro PaulaSouza – a partir dos assentamentos da Fazenda Pirituba– é uma nova forma de extensão rural e assistência téc-nica. O projeto encerra, ao mesmo tempo, um grandedesafio e um leque de oportunidades para o desenvolvi-mento sustentável a partir do trabalho de extensão ru-ral. A palavra “extensão”, aqui como em Paulo Freire,

Pela educação do campo

A III Jornada de Estudos em Assentamentos Rurais,realizada por iniciativa da Feagri - Faculdade de EngenhariaAgrícola da Unicamp, reuniu especialistas durantetrês dias em Campinas, São Paulo, em junho. Entre eles,vários nomes da Fundação Itesp. Aqui, o foco estános três trabalhos apresentados na área da educação do campo.

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curtas

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sirva como paradigma do desenvolvimento sustentá-vel, com base nos princípios da agroecologia? Comorealizar um trabalho de extensão rural com as novasgerações dentro dos assentamentos e contornar as li-mitações do Estado? O projeto ETAF – Escola Técnicade Agricultura Familiar, que visa incialmente à habili-tação técnica em Agricultura Familiar, pensar em daressas respostas.

A criação das ETAFs pressupõe um trabalho anteriorde mobilização e sensibilização da comunidade que seprepara para ela, ajudando a definir a sua formatação.Por esta razão é um mecanismo de que se irá fugir docurso agrícola oferecido de forma tradicional, passivo.Por outro lado, é uma oportunidade para os técnicospraticarem uma extensão educativa, que fuja dos limi-tes que a ação estatal possa apresentar em seus cami-nhos e descaminhos. A ETAF será um território para odebate e a reflexão dos problemas da comunidade, ten-do como referência a pedagogia da problematização.Essa escola pode exercer um papel de mediadora entreos agricultores e as políticas públicas nas diferentesesferas do poder executivo. O técnico professor e alunoagricultor estarão levantando as necessidades de in-vestimentos sociais face às realidades locais.

A fixação do jovem no campo

A importância da mulher nas decisões sobre a educaçãodesejável para o campo é inegável. O trabalho apresen-tado por Rosilva Brito Rodrigues na Jornada da Feagriestá centrado nas lutas e conquistas do grupo de mulhe-res do assentamento Timboré, localizado entre os muni-cípios de Andradina e Castilho, na região Noroeste doEstado de São Paulo, com 3.393 hectares divididos em176 lotes de Agricultura Familiar. Procura detectar ainfluência dessas mulheres para a construção de umaeducação do e no campo, na perspectiva do desenvolvi-mento sustentável. O exame do modelo educativo rei-vindicado pelas mulheres encerra a perspectiva da im-plantação ali de um Projeto Político Pedagógico e exi-giu analisar o pensar feminino sobre a luta por umaeducação de qualidade no campo.

Milhões de brasileiros e brasileiras trabalham e vivemdireta e indiretamente do campo, onde há grande índicede anafalbetismo. No Timboré, 51,5% das crianças de4 a 6 anos e 50,5% das que estão entre 7 a 10 anosfreqüentam a escola do assentamento; entre 11 a 14anos, o índice fica em 29,8%; entre 15 a 17 anos, caipara 17,9%. Em todas as faixas, restante estuda no en-

torno e na cidade, demorando duas horas por dia parapercorrer 100 quilômetros para ir e vir. Se o ensino éconectado à realidade é outra questão...

Mas o Itesp promove justamente assistência técnica eextensão rural com enfoque na metodologia do plane-jamento participativo e a construção de conhecimen-to. Daí a pesquisa entre as mulheres para buscar ummodelo de educação coerente com o desenvolvimentolocal sustentável do Timboré, onde há 200 famílias,numa população aproximada de 800 pessoas. Afinal,para que a educação se realize como instrumento departicipação democrática, de luta pela justiça social eemancipação humana, é necessário que se produzamna escola subjetividades adequadas, voltadas para aindependência, a autonomia, de modo a criar indivídu-os auto-referenciados, cujo autoconhecimento habilitao indivíduo a se autogovernar.

A Educação deve ser considerada em seus vários pris-mas, compreendendo os modos de instrução não-for-mais que se adquire no lar, na comunidade e não podeser tratada independente das condições histórico-so-ciais de um grupo social, mas antes de tudo, deverefletir o próprio modo de vida de uma classe socialque se vai adquirindo no processo da aprendizagemem que o saber se efetiva no pensar e fazer para supe-ração do obedecer.

A luta das mulheres trabalhadoras rurais se estendeu alémda posse comunitária da Terra: para uma melhor quali-dade de vida e por uma educação do campo voltada parao desenvolvimento sustentável em que se leve em conta àeducação ambiental incorporando aspectos vinculados àsaúde, economia e ao desenvolvimento social humano.Elas querem que a educação valorize as raízes dos alunose ajude a fixar o jovem no campo.

Mais: elas querem uma escola onde seus filhos possamse sentir felizes. Uma escola capaz de ensinar a produ-zir sem agredir o ambiente, de promover a inclusão so-cial, de estimular a participação de seus filhos no desen-volvimento do país. O resultado das entrevistas demons-trou a necessidade de um projeto educativo de qualida-de específico para o campo, efetivo na superação domodelo agrícola excludente. O modelo de educação aque as mulheres do Projeto Timboré aspiram estáconsubstanciado na Educação para um futuro sustentá-vel e de fixação das famílias ao campo, política e peda-gogicamente vinculado à cultura, às causas sociais ehumanas dos sujeitos do campo.

Fernanda Pannunzio

Vale do Ribeira em pauta

Para superar a precariedade his-tórica do registro de imóveis emtodo o Brasil, o governo federalpromulgou a Lei 10.267, em2001, que torna obrigatóriosmemorial descritivo e plantageorreferenciada – obtida pormeio de aparelhos de Sistema dePosicionamento Global (GPS) ecriou o Programa de Cadastro deTerras e Regularização Fundiá-ria, projeto da Secretaria deReordenamento Agrário do Mi-nistério do DesenvolvimentoAgrário (SRA/ MDA), para cons-tituir um Cadastro Nacional deImóveis Rurais georreferenciado.

O Itesp está participando do pro-grama, que pretende garantir amelhoria da segurança jurídicae o saneamento do Sistema deRegistro Público – isso possibili-tará a regularização fundiáriadas posses dos agricultores fami-liares passíveis de legitimação. Aregião de abrangência em SãoPaulo será o Vale do Ribeira,onde se localizam as cidades com

os menores Índices de Desenvol-vimento Humano (IDH) – um doscritérios de escolha para aplica-ção do programa no estado.

Os recursos são do Banco Intera-mericano de Desenvolvimento(BID). O acordo com SRA/MDAirá beneficiar diretamente osagricultores familiares brasilei-ros, garantindo acesso às princi-pais políticas públicas, como cré-dito e seguro agrícola. O emprés-timo prevê o repasse ao progra-ma de US$ 10,8 milhões peloBID e a contrapartida do Gover-no Federal de US$ 7,2 milhões,totalizando US$ 18 milhões. Osrecursos são destinados à execu-ção do programa em 83 municí-pios de 5 estados: Bahia, Ceará,Maranhão, Minas Gerais e SãoPaulo, com previsão de amplia-ção, em uma segunda etapa, paratodo o país.

Extensão rural em foco

O Itesp representa os 26 órgãosestaduais de terra – ou seja, aAssociação Nacional dos Órgãos

Até março de 2008 será possível saber em que ponto chegou a ocupaçãohumana em cerca de 340 mil hectares de áreas protegidas da Serra do Mar,no Estado de São Paulo. Equipes da Fundação Instituto de Terras do Estadode São Paulo (Itesp) estão em campo, fazendo o levantamento das áreas ocu-padas e o cadastramento dos moradores. Contratado pelo Instituto Florestal,o Itesp também fez um levantamento completo sobre as ocupações humanasnos limites do Parque Estadual de Jacupiranga, entregue no início do ano.Trabalhos como esses demandam a mobilização de pelo menos 50 profissio-nais, técnicos especializados. Em Jacupiranga, foram feitos laudos de identi-

Mapeamento da Serra do Mar

ficação fundiária das áreas ocupadas com a coordenada geográfica de cada edificação, fotografia dasprincipais benfeitorias e mapa em escala contendo limites de municípios e dos perímetros (discrimina-dos, em discriminação ou pendentes de ajuizamento da ação discriminatória).

Estaduais de Terras (Anoter) –no Comitê Nacional de Assistên-cia Técnica e Extensão Rural, doConselho Nacional de Desen-volvimento Rural Sustentável(CONDRAF). Em setembro, o di-retor executivo, Gustavo Unga-ro, foi confirmado pela plenáriada Anoter como membro titulardo Comitê.

Na reunião, Ungaro falou sobreo seminário de Assistência Téc-nica e Extensão Rural (Ater),que envolveu 200 profissionaisdo Itesp, em Bauru, juntamentecom representantes de outrosórgãos públicos, universidades,prefeituras e movimentos soci-ais, com múltiplo objetivo: aper-feiçoamento da política públicadesenvolvida no Estado de SãoPaulo, aprimoramento técnicoda equipe, promoção da cidada-nia e da qualidade de vida nocampo. A política paulista deAter está relacionada à vida de50 mil pessoas diretamenteatendidas pelo Itesp. A idéia épromover a cidadania e melhorqualidade de vida no campo.

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anote

cartas

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Regina Bonomo

Mapa preciosoCom o intuito de promover melhoria na produção e produtividadedos assentamentos paulistas, o Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária (Incra), em parceria com a Faculdade de CiênciasAgronômicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Funda-ção de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais (Fepaf) lançou oatlas Mapa de Fertilidade dos Solos de Assentamentos Rurais doEstado de São Paulo. Foram coletadas amostras do solo em 55 as-sentamentos de 38 municípios. Cada família assentada receberá umresumo com os dados da fertilidade do solo de seu lote, com a reco-mendação dos cultivos mais apropriados. Afinal, o programa foiimplementado para desenvolvimento e capacitação no uso de técni-cas para correção do solo.

Novos QuilombosO Itesp está trabalhando para oreconhecimento de mais três co-munidades de quilombos em SãoPaulo: Fazenda, em Ubatuba;Poça, entre Jacupiranga e Eldo-rado; e Ribeirão Grande/ TerraSeca, em Jacupiranga. Os rela-tórios antropológicos que com-provam a existência da comuni-dade já estão prontos. As etapasseguintes são o georeferen-ciamento e a pesquisa de docu-mentos das áreas inseridas noquilombo. Finalizado o relatóriotécnico científico, o Estado podereconhecer a comunidade, quepassa a receber assistência doItesp e a ter o direito à titulaçãoda área que ocupa.

Agricultura familiarA exemplo do que ocorreu naAgrishow, grande mostra reali-zada em Ribeirão Preto, o Itespsempre expõe produtos de seusassentamentos e quilombos emfeiras de agricultura. A partici-pação na Agrifam – Feira daAgricultura Familiar e do Traba-lhador Rural, no início de agos-to, anima os produtores das re-giões próximas a Agudos, comoPromissão, onde está o maiorassentamento do Estado, Reuni-das. O evento será no InstitutoTécnico e Educacional para Tra-balhadores Rurais do Estado deSão Paulo, com espaço garanti-do para os produtores ruraisatendidos pelo Itesp.

Investimento recordeO governo federal anunciou inves-timento recorde de R$ 12 bilhõespara o Plano Safra da Agricul-tura Familiar de 2006/07, des-tinado ao crédito de financiamen-to a agricultores familiares e as-sentados da reforma agrária. Ovalor é 20% maior do que o libe-rado para a safra anterior e man-tém o crescimento verificado des-de 2003/04. Técnicos do Itespcomeçam a escrever os projetosde obtenção de crédito do Pro-grama Nacional de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar(Pronaf) para as mais de 10 milfamílias assentadas no Estado. Ogoverno federal vai avaliar osprojetos a partir de julho.

Sou estudante universitário e pen-so em desenvolver um tema refe-rente no meu Trabalho de Conclu-são de Curso. Para começar a pen-sar no assunto, queria saber: comofoi criado e o que faz o Itesp?Renan Lima, Presidente Prudente

Renan, você pode navegar no nossosite para se inteirar melhor: acessewww.itesp.sp.gov.br. Em resumo,cabe ao Itesp planejar e executaras políticas agrária e fundiária no

âmbito estadual, arrecadando ter-ras públicas para projetos de assen-tamentos, promovendo assistênciatécnica e melhorando as condiçõesde produção, viabilizando o reco-nhecimento e a titulação das comu-nidades quilombolas, mediando con-flitos no campo. O Itesp dá assis-tência técnica a mais de 10 mil fa-mílias em 168 assentamentos, abreestradas, perfura poços, distribuicalcáreo, adubo, sementes e mudas,entrega títulos de domínio em áre-

as rurais e urbanas, subsidia açõesjudiciais, fornece kits de irrigação,promove o reflorestamento, implan-ta hortas, promove cursos de capaci-tação, elabora publicações especia-lizadas, constrói equipamentos co-munitários e presta serviços de en-genharia. Você pode conhecer umassentamento na sua região paradefinir os caminhos do seu tema.Tente conhecer o Pé de Galinha, noPontal do Paranapanema; contatenosso escritório na sua cidade.

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