polÍtica marÍtima europeia · portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia...

124
João Miguel Aleixo Zamith POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA Uma política à medida de Portugal ? Faculdade de Letras Universidade de Coimbra 2011

Upload: others

Post on 27-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à

Joatildeo Miguel Aleixo Zamith

POLIacuteTICA MARIacuteTIMA EUROPEIA

Uma poliacutetica agrave medida de Portugal

Faculdade de Letras

Universidade de Coimbra

2011

II

Joatildeo Miguel Aleixo Zamith

POLIacuteTICA MARIacuteTIMA EUROPEIA

Uma poliacutetica agrave medida de Portugal

Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Estudos Sobre a

Europa Europa ndash As Visotildees do ldquoOutrordquo aacuterea de

especializaccedilatildeo em Estudos Europeus apresentada agrave

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra sob a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Maria Manuela de

Bastos Tavares Ribeiro e do Dr Tiago de Pitta e Cunha

Faculdade de Letras

Universidade de Coimbra

2011

III

ldquoQue improacuteprio chamar Terra a este planeta de oceanosrdquo

Sir Arthur C Clarke cit no Livro Verde ndash ldquoPara uma futura poliacutetica

mariacutetima da Uniatildeo uma visatildeo europeia para os oceanos e os maresrdquo

(2006)

ldquoPortugal encontra-se na periferia da Europa mas estaacute

no centro do mundordquo (hellip) ldquoPossuiacutemos uma vasta linha de

costa beneficiamos da maior zona econoacutemica exclusiva

da Uniatildeo Europeia Poderemos ser uma porta por onde a

Europa se abre ao Atlacircntico se soubermos aproveitar as

potencialidades desse imenso mar que se estende diante

dos nossos olhos mas que teimamos em natildeo verrdquo (hellip)

Cit no discurso de Sua Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica

Portuguesa Professor Doutor Aniacutebal Cavaco Silva durante a 36ordf

Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010 na Assembleia da

Repuacuteblica

IV

in memoriam

Professor Doutor Ernacircni Rodrigues Lopes

(1942 ndash 2010)

V

Resumo

Sabemos que dois terccedilos do planeta Terra satildeo ocupados pelos Oceanos Logo eacute

premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentaacutevel possiacutevel

E os ldquomaresrdquo foram desde sempre a seiva da Europa Os europeus desde haacute muito

tempo tiveram propensatildeo para se libertarem do mare incognitum Essa ousadia trouxe

retorno econoacutemico cultural e cientiacutefico notaacuteveis para a Humanidade

Os espaccedilos mariacutetimos e o litoral europeu satildeo essenciais para o bem-estar e

prosperidade ligam continentes atraveacutes de rotas comerciais regulam o clima satildeo fonte

de alimento de energia e de inuacutemeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e satildeo

tambeacutem locais privilegiados de residecircncia e lazer para os cidadatildeos

A Europa preconiza actualmente uma Poliacutetica Mariacutetima Integrada reflectindo e

projectando a nossa relaccedilatildeo com os oceanos e mares Esta abordagem inovadora e

holiacutestica reforccedila a capacidade da Europa face aos desafios da globalizaccedilatildeo e da

competitividade agraves alteraccedilotildees climaacuteticas agrave autonomia energeacutetica agrave seguranccedila mariacutetima

entre outras O leme da Poliacutetica Mariacutetima Europeia Integrada foi tomado em 2005 pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso e estaacute ancorada na Agenda de Lisboa

(apela ao crescimento econoacutemico e emprego) e na Agenda de Gotemburgo (apela ao

desenvolvimento sustentaacutevel ndash ambiental econoacutemico e social)

A nossa longa histoacuterica mariacutetima a liacutengua e cultura portuguesa e o facto de existir

uma Estrateacutegia Nacional para o Mar em consonacircncia com a Poliacutetica Mariacutetima Europeia

Integrada podem ser os factores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores

desiacutegnios para o seacuteculo XXI ndash o Mar Importa referir que eacute iminente o alargamento da

zona econoacutemica exclusiva (equivalente a 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental) e

caso seja aceite teremos seguramente uma nova oportunidade de estar no centro do

mundo

Esta investigaccedilatildeo tem portanto como objectivo analisar a poliacutetica mariacutetima

europeia e os seus desenvolvimentos em Portugal

PALAVRAS-CHAVE

EUROPA MAR POLIacuteTICA PORTUGAL SUSTENTAacuteVEL

VI

Lista de abreviaturas

BEI ndash Banco Europeu de Investimento

BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China

CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte

CdR ndash Comiteacute das Regiotildees

CE ndash Comissatildeo Europeia

CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos

CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval

CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar

CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors

CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental

CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono

COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade

CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa

DEM ndash Dia Europeu do Mar

EBA ndash European Boating Association

EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio

EM ndash Estados Membros

EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho

EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima

ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus

EuDA ndash European Dredging Association

EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group

VII

FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

FSE ndash Fundo Social Europeu

GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento

IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo

IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo

OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers

ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2

PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum

PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca

PIB ndash Produto Interno Bruto

PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas

PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal

POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva

VIII

Nota preacutevia

A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de

diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos

A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora

Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a

tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e

em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e

internacional

A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na

qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia

nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro

do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a

uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos

procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige

O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo

conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor

Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal

Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo

Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em

Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam

O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em

2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias

europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em

representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em

Estudos Europeus

Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos

amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre

me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e

carinho

Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho

IX

Iacutendice

Resumo V

Lista de abreviaturas VI

Nota preacutevia VIII

Introduccedilatildeo 1

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9

13 Siglo de oro espanhol 13

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27

24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43

X

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51

332 Fundos estruturais 53

333 Outras fontes de financiamento 55

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58

41 Breve balanccedilo 58

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59

43 Instrumentos transectoriais 62

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68

51 Princiacutepios e objectivos 73

52 Pilares estrateacutegicos 73

53 Acccedilotildees e medidas 75

54 O Hypercluster da economia do mar 81

55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99

Conclusotildees 101

Fontes e bibliografia 105

1

Introduccedilatildeo

A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito

Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e

a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a

conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz

parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia

para a vida

Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-

me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de

Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e

institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que

ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais

Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no

acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se

espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar

Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma

poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo

sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como

todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para

Portugal

Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que

procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material

e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e

desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas

italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes

para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de

Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa

Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia

europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas

2

No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica

Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades

da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os

mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a

consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no

processo de construccedilatildeo da PMIE

Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo

de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares

como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma

iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a

Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi

apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em

2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-

Comissaacuterio Europeu)

No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das

instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico

concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees

econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade

poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final

deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave

PMIE

Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis

agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves

actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees

estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste

capiacutetulo

No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)

resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de

aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos

Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores

da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da

3

Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente

em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo

No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para

aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades

latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a

plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de

desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo

Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a

ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo

entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de

inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto

ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas

4

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica

Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da

Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes

protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores

potecircncias de entatildeo

Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e

Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e

terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma

abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das

actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo

Industrial

Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos

Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV

aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar

Negro)

Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida

como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano

(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare

Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que

teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula

Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo

ateacute ao momento da chegada dos portugueses

Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como

Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)

Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)

Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do

seacuteculo VIII)

5

Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental

contiacutegua

No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo

as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede

litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes

casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma

talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade

continental

Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees

mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza

e na monarquia dual catalo-aragonesa

Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias

europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela

Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a

civilizaccedilatildeo mediterracircnica

A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia

Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado

predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e

banqueiros

Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos

A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas

libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca

Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e

o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash

assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-

senhorial dominante na Europa medieval

1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a

todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo

naval 2 AIRALDI 2007 9

3 AIRALDI ibidem 99

6

Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o

historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees

Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento

mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)

Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam

verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em

Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e

economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num

ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do

inicio do seacuteculo XV5

Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da

revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se

inscreveu na Histoacuteria universal

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas

Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque

para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a

partir do final do seacuteculo XIII

Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave

entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a

lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica

Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e

criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional

Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a

4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na

Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na

Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381

7

Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a

chama empreendedora pioneira

A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti

aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que

mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da

bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil

mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias

poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde

sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel

Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No

entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de

ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos

A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida

As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota

mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de

Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa

portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes

armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para

circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias

lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como

objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro

da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de

ldquoIacutendiardquo8

Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes

asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio

que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o

Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo

do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro

6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700

membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo

hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148

8

Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua

expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as

Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem

como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma

potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais

importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da

famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram

a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees

tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e

em diversos pontos do Magrebe

Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e

secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar

atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo

(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades

mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como

Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que

negociavam

A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie

sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia

da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude

comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla

Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees

de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000

pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros

A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por

ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel

Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas

desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de

onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as

Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo

fora um deles

9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um

dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique

9

Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade

Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a

haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em

conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que

cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra

dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao

hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10

Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas

surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a

uma escala global pelos portugueses

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo

O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos

portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o

centro econoacutemico do mundo

Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os

chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em

direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi

seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a

navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de

expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward

Dreyer na sua obra Zheng He11

O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de

diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser

excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente

necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo

primaacuteriardquo diz Dreyer

As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada

por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma

10

RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11

DREYER 2007 3

10

crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente

espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a

seguir chegassem ao Iacutendico12

Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de

Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto

de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia

hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem

aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as

potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de

commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo

dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista

Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em

particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash

e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)

idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o

arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria

principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza

negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora

procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado

Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence

ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a

Iacutendia)

A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante

longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais

entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos

sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde

entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo

mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo

no comeacutercio internacional

12

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61

11

O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a

inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo

do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room

de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das

primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um

modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare

Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de

influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e

longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13

Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash

baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do

planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as

bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como

globalizaccedilatildeo

Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como

um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto

gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a

visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um

conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu

a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14

Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico

e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a

gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou

um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos

deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de

publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo

naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar

A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de

aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos

infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador

13

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185

12

mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil

China e Japatildeo

Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de

projecccedilatildeo mundial foi tripla

Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e

Iacutendico

Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo

Campanha de marketing internacional junto do papado (poder

transnacional reconhecido pelos europeus)

Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico

(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um

projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo

messiacircnica

A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode

afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou

uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para

segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno

das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15

Segundo Daniel Boorstin16

ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo

prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as

largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo

15

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16

BOORSTIN 1986 83

Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e

bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria

e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria

Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que

destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos

13

13 Siglo de oro espanhol

O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do

seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave

abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute

a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681

Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro

com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don

Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro

Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado

politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados

por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau

Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado

pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em

1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de

Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras

notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan

de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro

de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica

muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais

ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III

Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves

ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17

o gesto mais

extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de

Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi

assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre

o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por

descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da

Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes

17

Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da

Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea

14

chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O

tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494

Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio

internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha

foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano

As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a

arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades

de Salamanca e Alcalaacute de Henares

As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos

comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de

Toledo Valecircncia e Saragoccedila

Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos

Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo

XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18

Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera

inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais

preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de

Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo

de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao

disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro

O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519

No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da

Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica

mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574

exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as

Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia

portuguesa20

Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel

I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de

seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a

18

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349

15

Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um

monarca um impeacuterio e uma espada

Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol

no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves

Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia

mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-

Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol

y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de

hoje)

Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os

acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo

Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees

espanholas das Ameacutericas

O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como

ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da

armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra

A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em

159021

Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional

apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don

Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute

provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo

reinado do filho e neto de Felipe II22

Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia

comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar

e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo

coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque

de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de

Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade

com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos

e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado

21

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373

16

pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos

recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)

desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e

passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento

em 1645

Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-

1648) de que passo a citar os mais importantes

As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da

Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis

como o momento de perda da hegemonia naval

Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp

Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses

A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640

A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs

A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa

Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional

foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele

tirar proveito efectivo

Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses

foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por

outrosrdquo23

Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os

ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24

ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os

23

BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24

RODRIGUES 1997 280 (volume I)

O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de

700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para

1770 contra 811 ingleses e 155 franceses

17

barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o

lugarrdquo dizia Leo Huberman25

Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista

justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica

desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do

seacuteculo XVII

A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos

chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso

apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como

arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26

O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27

A

doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O

holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28

(1604) e Mare Liberum (1609)

a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria

um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei

consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda

a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso

natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare

Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no

iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas

inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses

O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que

criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em

que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a

dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas

companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia

dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares

desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras

25

HUBERMAN 1970 45 26

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27

O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm

Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000

Berlim e Nova York 28

Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da

companhia holandesa VOC

18

cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29

) Esta deu origem mais tarde ao

aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India

Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias

Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que

agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van

Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594

Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso

Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a

infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-

ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o

hardpower)30

Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com

dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees

de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de

vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua

projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade

na projecccedilatildeo oceacircnica

Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de

Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais

ceacutelebre31

e em 1694 surgiu o Bank of England32

De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a

que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira

metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de

velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento

da artilharia a bordo dos navios33

29

HUBERMAM ibidem nt 12 30

HUTTON 2006 70 31

SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402

19

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial

O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente

chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens

era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para

cobrir os custos totais da frota)

As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas

mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram

ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo

ndash a Burguesia

Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo

protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo

niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido

ostracizados pela nobreza

Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial

disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta

O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de

capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte

financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial

A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34

com

profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento

econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado

Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a

partir do seacuteculo XIX

Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do

motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e

simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este

momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela

A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com

34

James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente

que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor

20

maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a

influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial

eclodiu em geral mais tarde

O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia

mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e

conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-

1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste

seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente

produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias

industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que

culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)

Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35

35

Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres

21

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que

daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36

No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as

principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da

Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para

Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus

De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses

costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto

europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a

apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de

descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de

culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua

maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um

planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a

elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes

desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o

astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do

horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a

vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)

A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar

encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e

prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas

36

Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794

22

presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas

tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio

permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer

A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas

ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos

(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de

milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como

os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais

de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob

jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres

Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute

igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por

estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo

A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre

teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no

desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria

Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura

veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico

da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu

eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de

mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias

representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia

Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da

importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem

crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva

ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre

sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de

comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da

rede logiacutestica que o torna possiacutevel37

37

COM (2006) 275 final vol II 3

23

O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na

agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo

muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente

Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do

desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre

estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos

larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte

empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38

A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de

2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro

europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute

exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de

outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia

A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que

diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro

agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro

segundo um estudo do Irish Marine Institute39

os sectores com maior potencial de

crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias

renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha

O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois

90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute

efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute

incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de

toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos

europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados

38

COM (2006) 275 final vol II 4 39

Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie

24

que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees

de euros40

Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do

transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas

para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador

para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-

portuaacuterios

Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a

classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua

lideranccedila

Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que

o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72

mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar

da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a

sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para

a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se

encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das

zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da

construccedilatildeo naval

O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos

anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro

satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o

desenvolvimento das zonas costeiras e insulares

O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos

uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a

641

Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades

interesses e locais42

O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento

sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem

40

Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41

Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde

Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de

motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42

Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde

25

objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43

e pelos Chefes de Estado

e de Governo44

O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia

Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45

Os mares em torno da

Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em

que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande

parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa

Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma

vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de

energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em

muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico

e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro

As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas

natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos

recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo

oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia

costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do

sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de

exportaccedilatildeo

Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

(FAO)46

indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado

de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de

uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode

tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura

poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e

desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47

A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o

maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de

pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das

43

COM (2006) 105 final 44

Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45

Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46

O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47

COM (2002) 511 final

26

pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48

Satildeo proporcionados

numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da

transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos

estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas

actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas

pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo

Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a

uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos

segmentos do sector das pescas49

Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por

sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa

No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-

me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos

mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o

reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos

Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a

PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa

poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de

direitos e com valores50

dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro

48

Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49

COM (2006) 275 final volume II 7-9 50

A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos

direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa

Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os

respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os

objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos

como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees

27

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo

ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente

orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a

plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma

sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo

cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da

Comissatildeo Europeia para 2005-2009

A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os

diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a

identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num

periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das

actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a

formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para

aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre

uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem

holiacutestica dos oceanos e dos mares

Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por

pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude

de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar

dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha

devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca

eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar

Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e

insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio

entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental

Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova

consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do

potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades

econoacutemicas

28

A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-

se em dois pilares fundamentais

Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o

crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no

conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e

garantir empregos de qualidade

Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam

todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito

Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa

parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do

meio marinho

A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees

entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as

actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute

necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e

de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica

Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos

oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos

O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente

ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes

Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de

poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de

agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados

para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um

niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute

devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor

acrescentado agraves actividades de outros51

51

COM (2006) 275 final volume II 5-6

29

24 Aacutereas-chave no Livro Verde

Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar

Meio marinho

O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo

acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da

ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)

alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo

com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas

descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)

Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-

se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na

elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de

lastro52

Investigaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com

conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus

programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e

racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas

tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia

Inovaccedilatildeo

A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo

como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem

tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento

sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia

52

Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade

do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar

ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de

transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de

lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os

registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro

30

eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo

dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia

Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo

As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No

entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53

o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero

de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos

mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo

O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem

formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo

assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa

O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos

potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas

perspectivas profissionais

A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para

o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que

importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e

mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os

europeus se habituaram com toda a legitimidade

Formaccedilatildeo de clusters54

O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os

diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e

produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem

todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio

mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de

53

Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and

related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54

Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de

empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais

precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo

de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees

associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo

31

transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters

regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima

atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55

Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou

grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos

comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no

ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo

de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns

nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade

A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em

sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e

tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da

construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo

resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e

serviccedilos56

Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e

transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores

mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos

Qualidade de vida nas regiotildees costeiras

O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca

Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se

construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida

agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente

A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que

a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute

igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de

abrandamento57

Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral

enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias

55

BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56

Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o

Livro Verde 57

Contributo da CRPM para o Livro Verde

32

A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo

e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma

maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de

transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo

abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das

aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas

costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e

remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar

no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet

actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58

Ao planear o

desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter

um resultado sustentaacutevel

As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do

turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel

mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel

pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a

competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o

patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero

crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade

constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais

compatiacuteveis com o ambiente

Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da

qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e

desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo

A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos

os destinos turiacutesticos costeiros

A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a

competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute

oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural

situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de

58

Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma

questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo

33

atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia

subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta

inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas

de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas

actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local

No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve

tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte

tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus

em dias sol por ano)

Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica

gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a

tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto

ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no

litoral portuguecircs

Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima

Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios

estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de

competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e

autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59

eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais

Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a

criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia

mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio

marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve

proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma

abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste

59

O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a

comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo

possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos

domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio

nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo

proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm

34

contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma

importacircncia cada vez maior

Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas

sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial

sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260

e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61

Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor

compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees

O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois

ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado

promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as

partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e

directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais

Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala

dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia

da Seguranccedila Mariacutetima62

(EMSA) com sede em Lisboa

Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos

ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63

Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que

aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas

sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos

recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados

de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e

agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo

Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico

60

ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61

Contributo da EuDA para o Livro Verde 62

A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de

acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no

mar 63

ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire

(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute

considerado um marco da poesia moderna

35

Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que

obviar a estas lacunas

A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de

observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a

melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e

o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da

comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise

integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados

provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos

serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de

dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de

monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas

O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem

criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector

mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo

dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso

contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema

oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas

sazonais64

Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os

continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos

de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave

rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias

ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a

navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver

documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns

trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros

por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira

64

COM (2006) 275 final volume II 34-35

36

Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos

teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar

pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde

Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e

das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma

convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos

estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender

as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da

avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As

organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se

associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro

que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar

de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades

mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a

Humanidade65

Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um

papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano

estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e

por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente

orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e

ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas

Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos

atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer

Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995

sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66

satildeo um evento

desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas

diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os

desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste

quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas

(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos

65

COM (2006) 275 final volume II 51 66

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)

37

culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma

para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa

Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as

Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider

Foundation Europe67

Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico

para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas

Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268

ldquoNautisme Espace

Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da

fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria

comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos

temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em

cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns

transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por

cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um

periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo

Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como

tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este

projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique

(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11

parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo

O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo

da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar

67

Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o

litoral 68

Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)

38

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE

O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo

Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado

mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam

devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo

do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda

A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o

lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses

Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia

O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa

de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas

as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais

apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro

Verde69

As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor

informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima

Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem

integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade

da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia

mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e

respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala

comunitaacuteria)

As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o

papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar

proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as

actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do

envolvimento dos governos dos Estados-Membros

69

COM (2007) 574 final 2

39

Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos

mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio

privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas

economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que

funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas

Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute

mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou

locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o

ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os

governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais

(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do

espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos

ecossistemas

O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o

interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos

mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e

do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias

mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho

cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos

Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global

dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de

boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os

pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais

ou turistas

Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de

ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado

na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute

veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como

abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70

No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230

eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados

70

COM (2007) 574 final 9-10

40

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo

Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se

com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os

Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano

de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da

subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma

ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas

para o mar

A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de

2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia

em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente

com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de

trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo

tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar

rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as

oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo

De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no

segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem

integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos

eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a

Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a

divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores

prioritaacuterios a seguir

Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa

pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos

assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes

europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre

41

Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias

envolvidas

Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave

proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia

aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de

uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez

o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave

Iacutendia em 1498

A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo

Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos

oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados

todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada

O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto

grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-

Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso

Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a

abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e

transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os

resultados das acccedilotildees preparatoacuterias

A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute

analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo

entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e

pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais

Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que

desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam

conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima

42

Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez

instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais

ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos

que se seguem satildeo especialmente importantes

Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima

A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo

segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e

optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade

ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e

ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei

e agrave seguranccedila em geral71

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras

(GIZC)

Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre

e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e

vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees

concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e

outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas

actividades de lazer72

Dados e informaccedilotildees

A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos

factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de

decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de

dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema

importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e

informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73

71

COM (2007) 575 final 5 72

COM (2007) 575 final 6 73

COM (2007) 575 final 6

43

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo

As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na

prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo

principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber

1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares

O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar

as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o

desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi

superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da

logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a

partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas

noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica

offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios

deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias

marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver

produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos

mercados mundiais

Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento

sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as

actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do

ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o

desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores

conexos

O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e

continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a

prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel

elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para

proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de

concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional

44

Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de

dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente

em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a

necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas

da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de

transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis

A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da

construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de

ponta incorporada

O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental

para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses

investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras

do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer

o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave

medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e

promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e

o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas

A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas

pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74

bem como de energias renovaacuteveis e

tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de

transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento

A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente

potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais

que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as

suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima

europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos

produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo

da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para

criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua

globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector

privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par

74

Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em

offshore

45

da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia

mariacutetima

Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo

que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e

privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para

compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e

sectores75

Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-

Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76

que estabelece um quadro de acccedilatildeo

comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos

ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando

especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida

no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do

ambiente marinho77

Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu

foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no

domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as

medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho

ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista

a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando

exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as

ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e

assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas

sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)

O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final

de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa

75

COM (2007) 575 final 7-9 76

Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77

Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final

46

um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio

marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia

2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima

A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o

desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas

Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades

humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a

chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a

degradaccedilatildeo do ambiente

O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo

portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este

reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os

efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode

permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute

necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a

niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os

esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o

diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a

investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais

eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78

3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras

Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi

duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As

comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo

que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do

ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade

As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a

desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees

78

COM (2007) 575 final 12

47

(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no

quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia

estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu

hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das

aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve

ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees

costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo

dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas

regiotildees

O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante

catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias

Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram

que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se

por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos

vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos

econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)

A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores

mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade

em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional

no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo

Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o

desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade

e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar

plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento

mariacutetimo inter-regional

As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas

consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades

mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem

serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A

48

Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a

sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79

A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os

esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do

bem-estar social dos trabalhadores activos no sector

A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica

tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das

condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das

comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras

Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do

desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees

residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica

pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo

para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si

valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na

conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em

agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade

4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais

A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma

governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o

direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos

pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas

principais instacircncias internacionais

O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais

a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da

biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do

transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos

navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as

prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees

79

COM (2007) 575 final 13-14

49

externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees

climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)

Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os

parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem

mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os

Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e

China (agora denominados BRIC)

A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada

relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo

Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que

concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao

niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em

desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de

cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave

poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80

5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente

os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos

barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir

agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos

barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo

interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa

mariacutetima81

Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em

resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de

consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da

Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa

80

COM (2007) 575 final 14-15 81

Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os

oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade

mariacutetima da Europa p 51

50

mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e

integrada

Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo

de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia

puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles

o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns

Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da

Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao

mar

A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as

comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais

os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre

elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade

A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais

destaco o Dia Europeu do Mar82

(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e

2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o

Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar

da Europa

O Atlas Europeu dos Mares83

jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados

do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo

puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico

fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados

como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o

transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e

as ldquoauto-estradas do marrdquo

Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84

como o website85

contribuem para ajudar a melhor

compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores

de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a

comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de

82

Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83

Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84

Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85

Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs

51

alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho

e as comunidades costeiras

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE

As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos

financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra

Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave

forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos

instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de

exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam

todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos

financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de

Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas

no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado

programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia

A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a

niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa

que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia

instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB

meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por

finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos

domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute

sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro

52

beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica

Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra

vez sob controlo

A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se

ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo

O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de

coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem

deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel

As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013

centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos

Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito

empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e

melhores empregos

Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a

crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar

para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer

grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho

Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os

intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local

A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos

difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o

conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo

um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo

(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e

luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim

reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as

disparidades seriam maiores

Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada

atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas

estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio

comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas

A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma

dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para

53

27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a

superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute

aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as

disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente

60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros

que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de

gravidade da poliacutetica regional para Leste

Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional

aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais

e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento

comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica

Agriacutecola Comum (PAC)

Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo

e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem

projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE

332 Fundos Estruturais

Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

O FEDER86

apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos

produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas

O FSE87

instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das

categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de

formaccedilatildeo

86

Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao

desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87

Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999

relativo ao Fundo Social Europeu

54

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)

O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia

atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia

Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas

designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar

emprego duradouro

Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves

telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes

Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de

desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local

e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees

Medidas de assistecircncia teacutecnica

O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a

competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia

Fundo Social Europeu (FSE)

O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na

Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade

regional e emprego

O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes

Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem

ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho

inovadoras

Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das

pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes

Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a

discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho

Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e

colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino

55

333 Outras fontes de financiamento

A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr

outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88

que

serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo

verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89

contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo

transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em

bacias mariacutetimas

O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um

importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais

destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de

desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as

ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis

Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo

Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro

Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo

multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades

mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente

ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de

2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares

integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e

ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O

prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de

Janeiro de 2011

Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios

financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a

Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE

88

Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a

ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho

relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm

56

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE

pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante

o periacuteodo remanescente (2010-2013)

Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um

programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a

implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE

e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu

das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo

desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e

Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica

mariacutetima integrada

No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros

actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-

Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e

das zonas costeiras

Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os

objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro

modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes

interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute

iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar

ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE

A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da

PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31

de Dezembro de 2013

O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90

Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo

integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as

bacias mariacutetimas

90

COM (2010) 494 final 11

57

Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as

poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras

Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos

recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo

e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com

as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais

Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas

com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia

Marinha

Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que

respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada

Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se

traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91

Estudos e programas de cooperaccedilatildeo

Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do

puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo

campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo

de siacutetios Web

Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes

interessadas

Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de

informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais

financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico

nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado

instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos

Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto

91

COM (2010) 494 final 12-13

58

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE

41 Breve balanccedilo

A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem

destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades

relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios

muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas

aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as

regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas

deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as

relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse

consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-

se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base

para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral

nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da

induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior

integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a

PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos

reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees

costeiras do continente92

O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a

fazecirc-lo) quatro objectivos93

Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais

abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo

Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais

necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas

92

COM (2009) 540 final 2 93

COM 2009) 540 final 3

59

Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de

sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial

No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em

consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e

encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso

A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees

incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos

da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas

em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham

sido ainda adoptados

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas

O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e

nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva

passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a

compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo

das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os

progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem

pelos stakeholders

Instituiccedilotildees da UE94

A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo

de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de

Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano

de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees

94

COM (2009) 540 final 3-4

60

regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e

eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas

A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato

da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a

coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais

tendo em conta as especificidades regionais

O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece

a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e

Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895

ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior

importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o

valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia

integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em

conta as especificidades regionais (hellip)rdquo

Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-

Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos

de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se

utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees

nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros

e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia

e impacto

A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito

positivos96

Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes

comissotildees e estruturas

O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A

Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem

elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote

mariacutetimo e costeirordquo97

constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses

divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica

95

16503108 REV 1 96

Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi

Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97

CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009

61

O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um

parecer98

particularmente favoraacutevel agrave PMIE

Estados-Membros99

Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-

Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos

informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas

mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma

estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais

Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas

praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo

inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em

Junho de 2008100

e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de

estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel

dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer

francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima

coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima

britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido

A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e

a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo

um total de 14 Estados membros

Regiotildees101

As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu

iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para

executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram

igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as

regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas

para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas

98

JO 2008C 21107 99

COM (2009) 540 final 4-5 100

COM (2008) 395 final de 2662008 101

COM (2009) 540 final 5

62

(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do

plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho

Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional

Partes interessadas102

As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma

PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a

advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e

regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos

e instrumentos inovadores

A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os

vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A

Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero

de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a

voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado

em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais

para a PMIE

43 Instrumentos transectoriais

Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de

existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a

poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute

possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos

102

COM (2009) 540 final 5-6

63

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira

(GIZC)103

O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a

competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute

um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo

sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem

ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes

interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos

concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho

A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o

ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104

O roteiro

estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros

de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE

Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105

as partes

interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez

princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante

para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou

igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria

para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o

desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um

estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os

benefiacutecios econoacutemicos do OEM

No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de

um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada

da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar

o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106

No final de

2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de

Barcelona107

103

Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104

COM(2008) 791 final 105

httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107

COM (2009) 540 final 6-7

64

Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima

A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no

mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo

significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar

e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos

detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente

Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas

de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108

empreendidas a niacutevel nacional regional e

europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo

da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de

Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109

A

Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante

total de 57 milhotildees de euros110

para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com

vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no

Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111

Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima

Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos

adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho

permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e

de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como

objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos

utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas

de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem

como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes

e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112

Destaque para o

lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico

para as questotildees marinhas

108

SEC (2008) 2337 109

COSDP 949 PESC 1366 110

Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111

COM (2009) 540 final 7 112

COM (2009) 540 final 7-8

65

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE

Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e

que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a

sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de

recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas

mariacutetimas e costeiras

Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para

dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a

protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das

alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no

mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor

da globalizaccedilatildeo e da prosperidade

Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa

mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as

sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade

ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute

avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas

Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos

alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees

costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a

montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos

contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma

isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve

igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo

resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e

as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais

necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo

seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes

interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113

113

COM (2009) 540 final 11

66

Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o

desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da

legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar

investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como

gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois

converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e

contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum

sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode

contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos

essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e

a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar

a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos

possam alcanccedilar os resultados previstos114

A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um

impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro

ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o

desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos

cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um

objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre

todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a

poliacutetica para o meio marinho115

As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da

PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos

geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um

elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os

Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta

cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros

que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem

igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116

114

COM (2009) 540 final 11 115

COM (2009) 540 final 12 116

COM (2009) 540 final 12

67

Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A

Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala

mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A

Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais

parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e

processos informais117

No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se

no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no

futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE

promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia

renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes

submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica

comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma

estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com

vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute

importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no

debate em curso sobre a coesatildeo territorial

A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de

favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e

melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito

do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas

seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o

investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente

no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a

favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute

a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo

naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute

proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de

navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo

e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das

costas da Europa118

117

COM (2009) 540 final 12 118

COM (2009) 540 final 12

68

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico

fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o

oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de

Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)

Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial

relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do

processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute

resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram

definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste

capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas

mariacutetimas nacionais

Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas

(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a

sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos

sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE

Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal

para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta

portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente

apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)

da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de

Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a

entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a

decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015

Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma

aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira

ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos

Estados Unidos da Ameacuterica

69

As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de

destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou

jurisdiccedilatildeo nacional

Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas

oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas

sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes

insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos

submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119

os campos de fontes hidrotermais as

riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de

afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que

importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos

culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos

energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam

um dos principais activos nacionais

Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de

governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio

da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional

para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o

Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel

sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma

missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque

permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos

Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco

objectivos que passo a enumerar

1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade

2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano

3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas

4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano

5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano

119

A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende

sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave

latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas

70

Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos

de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo

cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc

resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu

em particular120

rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de

modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima

Integrada Europeia

De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com

ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos

oceanos

Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje

que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante

intangiacutevel e invisiacutevel121

No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal

foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais

significativos destaco

Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada

por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares

aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)

O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na

sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia

Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial

de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o

futurordquo

Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros

8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente

- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a

capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e

120

Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a

cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121

ENM 2006-2016 p 2

71

tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que

permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando

o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis

- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o

objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela

requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar

- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma

Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da

plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela

Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar

Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do

Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar

os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta

comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250

recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas

Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma

Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)

com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental

de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo

de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-

Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental

Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto

com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de

preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas

para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos

do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas

aacutereas ligadas ao mar

Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de

Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere

aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos

domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha

72

Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu

procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica

Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia

A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de

Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009

junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU

A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma

continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU

em Nova Iorque

Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram

dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde

Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve

desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos

Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente

americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades

nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave

poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba

tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo

entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional

A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para

tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que

pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos

da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade

civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar

como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e

preservando este valioso patrimoacutenio

O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento

econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na

concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados

tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso

73

uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios

humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento

51 Princiacutepios e objectivos

A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade

nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a

existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente

Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos

agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas

ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento

econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122

A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a

educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros

internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do

oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos

transparentes rigorosos e crediacuteveis

52 Pilares estrateacutegicos

As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um

enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber

- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de

percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real

impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil

avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo

122

ENM 2006-2016 p 10

74

- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela

gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave

interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses

jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo

- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel

mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos

avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar

obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses

nacionais

Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades

as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos

Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel

assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento

diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de

desenvolvimento do Paiacutes

A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida

e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes

pilares estrateacutegicos123

O conhecimento

O planeamento e o ordenamento espaciais

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais

No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute

atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no

desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute

possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de

desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a

educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o

uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais

satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento

puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar

123

ENM 2006-2016 p 12

75

O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo

promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de

conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da

abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as

utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente

integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento

das actividades associadas

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo

envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e

multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-

activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser

suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional

nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica

tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a

identidade nacionais

O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs

pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de

qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes

econoacutemica social e ambiental

53 Acccedilotildees e medidas

O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs

pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades

econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em

desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do

crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124

124

ENM 2006-2016 p 17

76

Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos

preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas

Transportes

Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte

mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa

promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte

acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo

de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela

uacutenica portuaacuteria125

Energia

Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia

energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos

existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e

atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam

responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma

induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as

exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por

exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor

conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins

energeacuteticos com origem foacutessil

Aquicultura e pescas

Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que

tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as

actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas

protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes

125

A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto

atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar

desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma

ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado

dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias

importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o

que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por

naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo

77

artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura

offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental

Defesa nacional e seguranccedila

Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do

Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na

seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito

dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na

mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de

Protecccedilatildeo Civil

Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo

Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de

ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes

fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e

participando activamente nas redes internacionais

Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza

Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e

costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha

recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a

conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo

de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da

poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre

o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e

assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho

Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo

Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees

promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando

nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e

fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e

a educaccedilatildeo ambiental

78

Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio

Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as

actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o

desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo

o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas

internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o

remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o

turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais

classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees

Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza

promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes

Poliacutetica externa

Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros

continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da

comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e

defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes

Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126

que tendo em consideraccedilatildeo a

exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto

prazo

Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a

implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos

do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as

competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela

Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas

aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central

para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus

interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos

assuntos do mar

Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da

discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do

126

ENM 2006-2016 p18

79

processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de

forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos

assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida

eficaz e abrangente

Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de

acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar

condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A

implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais

permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando

valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir

o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo

Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127

a saber

A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar

A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao

mar

A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo

das ciecircncias do mar da Europa

O planeamento e ordenamento espacial das actividades

A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

O fomento da economia do mar

A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas

A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos

mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional

A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em

Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar

assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das

suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no

periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base

num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica

127

ENM 2006-2016 pp 22-23

80

Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na

inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias

instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo

obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que

cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos

objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador

Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da

Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste

novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no

Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a

acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo

No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua

Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do

mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128

na

Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010

(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como

exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar

eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa

geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as

estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na

proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir

em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e

incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam

economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios

que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute

certamente um delesrdquo (hellip)

128

Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445

81

54 O Hypercluster da economia do mar

ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia

portuguesardquo

Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de

economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de

avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129

sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa

da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura

considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e

sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes

diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero

O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a

fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de

conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo

O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia

portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos

seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz

a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um

cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal

O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um

catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado

potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e

investimentos de qualidade nomeadamente externos

Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera

cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a

comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de

28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-

129

Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf

82

se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor

que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos

Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um

novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global

na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130

O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas

diferentes de planos e acccedilotildees a saber

1) Planos prioritaacuterios

Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e

competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores

sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp

turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo

amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)

2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata

Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da

frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)

3) Planos de alimentaccedilatildeo

Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo

prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo

amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp

conservaccedilatildeo da natureza)

4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)

O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho

criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131

(FEM)

130

Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do

Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes

httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce

41366a4bbe8a49b02a028 131

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt

83

O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento

com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute

organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster

apresentado

Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo

principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo

assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente

fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais

55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132

The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as

a whole 133

O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE

Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo

respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento

econoacutemico do meio marinho134

No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm

1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre

outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o

desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e

actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a

132

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133

ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados

como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)

Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da

UE satildeo Partes na UNCLOS 134

COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios

comuns na EUrdquo p 2

84

gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no

quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia

econoacutemica ambiental e social do mar

Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional

tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente

mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a

coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular

esta mateacuteria de forma coerente e articulada

Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e

considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de

Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi

determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os

objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando

as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute

acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a

qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos

O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a

Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do

espaccedilo mariacutetimordquo

Visatildeo

ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e

seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no

conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo

Missatildeo

ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na

promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e

potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem

no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o

85

normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento

sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo

Discussatildeo Puacuteblica

A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo

Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva

Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099

de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do

POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo

ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo

Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia

estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais

A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos

erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de

biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no

acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e

interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o

desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo

No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo

Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de

Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de

zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de

intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral

86

Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes

medidas

Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a

promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a

reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e

paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel

Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais

Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos

espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural

Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes

da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e

associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais

De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do

Norte135

litoral da Ria de Aveiro136

litoral da Ria Formosa137

e o litoral da Costa

Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes

lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com

recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros

135

wwwpolislitoralnortept 136

wwwpolisriadeaveiropt 137

wwwpolislitoralriaformosapt

87

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo

A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte

ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na

eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo

participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens

para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e

o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da

Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a

saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a

pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em

termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo

No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte

ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer

A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura

do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)

e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os

municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do

Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A

regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo

cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138

em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139

na Poacutevoa

de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140

em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio

Minho141

em Vila Nova de Cerveira entre outros

138

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139

Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140

Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141

AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt

88

O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional

do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada

por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem

vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias

constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e

relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo

ldquoMarrdquo

A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral

ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de

produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a

internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento

e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de

forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da

Regiatildeo142

Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de

razotildees das quais destaco as seguintes

A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a

maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela

existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e

econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade

Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes

que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de

complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao

desenvolvimento da regiatildeo

Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no

sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda

de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas

ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de

142

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52

89

riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do

reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo

Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com

outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM

favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades

indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional

Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no

plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa

estrateacutegia europeia

Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-

financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo

relevante em ambos os programas

Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente

dos jovens para a temaacutetica mar

Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo

entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para

o desenvolvimento no domiacutenio do mar

Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num

processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e

nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano

constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter

em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do

Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e

POCTEA143

)

Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada

a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades

puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal

143

POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal

POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

90

Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa

que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar

Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de

cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo

Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de

complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste

peninsular no domiacutenio do mar

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144

Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para

consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu

objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas

para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo

1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e

das bacias hidrograacuteficas

O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e

desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e

ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de

sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees

estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo

2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao

meio marinho

Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar

e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo

certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que

144

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54

91

visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos

marinhos nomeadamente

Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de

diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo

monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das

pescas e da aquacultura

Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a

induacutestria

3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e

a seguranccedila alimentar

Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do

conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que

contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees

de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade

de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do

consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior

aos produtos regionais

4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras

espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura

O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma

aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute

largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo

evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a

espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a

temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de

elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir

92

5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo

O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo

para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias

mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de

cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)

orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de

valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que

promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam

para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional

6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e

fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar

Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu

desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster

regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos

de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do

empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o

desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo

Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes

formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao

desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento

de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo

das demais componentes

7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias

A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu

constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-

oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping

representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas

vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste

contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O

apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas

articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias

93

internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila

constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos

transportes

Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros

do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial

importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade

do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de

incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica

8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo

naacuteutico

Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas

existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e

das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e

desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede

de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave

naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos

de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave

valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha

estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo

e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas

de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a

criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego

9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias

marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do

sector e a empregabilidade

O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores

chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima

94

A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as

outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a

qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas

ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a

oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro

de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da

formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do

turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de

desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio

10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar

A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito

do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do

POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando

o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas

No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a

iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo

actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145

e do CIIMAR146

Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo

oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-

Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos

sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e

naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)

145

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg

95

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar

A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder

coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da

governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico

dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no

domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como

plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes

actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees

Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a

existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do

mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees

A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de

pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees

puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas

com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em

presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de

coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos

que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e

a respectiva regulaccedilatildeo existente

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo

Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela

plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que

tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo

Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de

Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de

96

Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a

importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo

para as regiotildees Centro e Norte de Portugal

Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster

consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de

actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o

emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da

formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees

de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147

rdquo

Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de

entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais

pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de

Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional

criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de

mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da

produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto

diversificado de sectores e de actividades

bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca

bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica

bull Induacutestrias mariacutetimas

bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio

plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)

bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo

bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)

bull Roboacutetica submarina

bull Biotecnologia marinha

bull Energias renovaacuteveis

147

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

97

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro

linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148

que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos

clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)

Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das

Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades

emergentes no domiacutenio da economia do mar

Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca

da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar

Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias

mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica

Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no

apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza

No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto

totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos

anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes

Ecomare

Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo

de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro

Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto

Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo

de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar

permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os

seus protoacutetipos em meio marinho

148

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

98

Consupesca

Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca

costeira e de arrasto

Panthalassa

Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da

transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas

integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do

processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de

seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos

Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos

Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da

implementaccedilatildeo dos seguintes projectos

Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a

posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua

localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre

as Caraiacutebas e a Europa

Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da

naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo

como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico

Turismo Mariacutetimo de Natureza

Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)

99

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional

Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o

sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado

mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem

desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas

(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego

de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees

Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso

tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente

com o tempo de uma vidardquo (hellip)149

Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde

cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade

permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao

mar

A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela

INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica

como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150

Este estudo estrateacutegico foi apoiado

pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER

Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector

que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos

Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de

animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees

a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos

O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual

a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico

que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte

Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem

futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e

consequentemente no QREN (2007-2013)

149

Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010

(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150

Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

100

Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que

datildeo estrutura a cinco eixos

Rede de infra-estruturas naacuteuticas

Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da

actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na

qualificaccedilatildeo de serviccedilos

Dinamizaccedilatildeo turiacutestica

Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de

empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica

Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica

Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias

hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos

agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo

Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica

acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de

espaccedilos museoloacutegicos

Governacircncia

Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no

estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao

puacuteblico

Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos

que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem

econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um

desenvolvimento sustentaacutevel

O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua

interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso

de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para

as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas

101

Conclusotildees

No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os

tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a

transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas

europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo

pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto

de partida para posteriores aprofundamentos

Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais

Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta

constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de

atingir o seu potencial sisteacutemico

A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua

natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o

interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e

lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma

inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas

civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se

iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso

contributo deram agrave Humanidade

Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante

provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa

natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo

pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as

adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a

construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute

assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI

Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra

de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum

aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania

e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias

102

Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente

da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do

seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada

numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e

participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos

melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as

sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental

tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios

prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico

emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees

Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser

decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem

que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda

subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais

Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo

foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma

incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval

que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da

demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos

histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos

Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)

Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo

Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr

nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo

menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo

chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do

seacuteculo XX

103

Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem

Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector

mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades

mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por

excelecircncia e da Franccedila com a PAC

Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos

europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo

e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos

A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores

do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o

sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua

propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas

a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal

focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral

ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando

como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde

sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado

ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute

O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam

a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce

tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora

da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito

tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151

Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo

mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para

implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi

reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia

Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da

poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar

151

Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia

p186

104

com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao

mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma

Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e

laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica

ao mar

Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um

novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para

desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros

atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o

sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas

podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas

jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar

e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as

potencialidades do mar

Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus

verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como

a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a

ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking

mundial de paiacuteses mariacutetimos

Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste

devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal

atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico

um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias

Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave

medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de

poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que

afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes

Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades

105

Fontes e bibliografia

Fontes

Documentos COM (Comunicaccedilotildees da Comissatildeo Europeia)

COM (2010) 494 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Proposta de Regulamento do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um programa de apoio ao

aprofundamento da poliacutetica mariacutetima integrada Comissatildeo Europeia 2010

COM (2009) 540 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 538 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing

environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 536 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo

Europeia Comissatildeo Europeia 2009

106

COM (2009) 8 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte

mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009

COM (2008) 791 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento

do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008

COM (2008) 395 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores

praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas

Comissatildeo Europeia 2008

COM (2007) 575 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007

COM (2007) 574 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia

2007

COM (2006) 275 final Volume I

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento

Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma

futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares

Comissatildeo Europeia 2006

107

COM (2006) 275 final Volume II

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica

mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo

Europeia 2006

COM (2006) 105 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma

energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006

COM (2005) 658 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel

Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005

COM (2005) 505 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do

Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da

poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo

Europeia 2005

COM (2005) 504 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio

marinho Comissatildeo Europeia 2004

COM (2002) 511 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao

Conselho e ao Parlamento Europeu Estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel da

aquicultura europeia Comissatildeo Europeia 2002

108

Outras fontes

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 (2009) Porto CCDR-

NMinisteacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do Desenvolvimento

Regional

Encontro Porto Cidade Regiatildeo Para uma Regiatildeo do Conhecimento (2008) Porto

Reitoria Universidade do Porto

Estrateacutegia Nacional para o Mar (2006) Lisboa EMAMMinisteacuterio da Defesa

Nacional

Genuinely Sustainable Marine Ecotourism in the EU Atlantic Area a Blueprint for

Responsible Marketing (2006) Bristol University of West of England

ldquoOs clusters mariacutetimos na encruzilhada da inovaccedilatildeo e do desenvolvimento regionalrdquo

Inforegio panorama nordm 23 (2007) Bruxelas Comissatildeo Europeia DG Poliacutetica Regional

Plano de Acccedilatildeo para o Desenvolvimento Turiacutestico do Norte de Portugal (2008) Porto

CCDR-N Ministeacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do

Desenvolvimento Regional

109

Internet

Agecircncia Europeia de Seguranccedila Mariacutetima

wwwemsaeuropaeu (acedido 5 de Marccedilo de 2010)

AquaMuseu do rio Minho

httpaquamuseucm-vncerveirapt (acedido 13 de Setembro de 2010)

Atlas Europeu dos Mares

httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas (acedido 22 de Outubro de 2010)

Instituto Nacional da Aacutegua

wwwinagpt (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Instituto Hidrograacutefico

wwwhidrografico (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

wwwcimarorg (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR

httpwwwcetmarorg (acedido 8 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Agecircncia Europeia do Ambiente

wwweeaeuropaeu (acedido 4 de Janeiro de 2011)

Comissatildeo Europeia ndash Assuntos Mariacutetimos

httpeceuropaeumaritimeaffairsindex_enhtml (acedido 12 de Janeiro 2011)

Comissaacuterio Europeu Joe Borg

httpeceuropaeucommission_barrosoborgindex_enhtml (acedido 20 Dezembro de 2009)

Comissatildeo Europeia ndash O nosso Planeta Oceano

httpeceuropaeuresearchrtdinfsupptindex_pthtml (acedido 15 de Junho de 2010)

110

Comissatildeo Europeia ndash Pesca

httpeceuropaeufisheriesindex_pthtml (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Sea Search

wwwsea-seachnet (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comiteacute das Regiotildees

httpwwwcoreuropaeu (acedido 13 de Setembro de 2010)

Dia Europeu do Mar

httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday (acedido 10 de Novembro de 2010)

European Sea Ports Organization

wwwespobe (acedido 30 de Outubro de 2010)

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda

httpwwwfundacao-elapt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

wwwemamcompt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

FAO ndash Fisheries Department

httpfaoorgfidefaultesp (acedido 22 Novembro 2010)

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

httpwwwfempt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Foacuterum Europeu Mariacutetimo

httpswebgateeceuropaeumaritimeforum (acedido 10 de Novembro de 2010)

Fundaccedilatildeo Gil Eannes

wwwfundacaogileannespt (acedido 12 de Setembro de 2010)

Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm (acedido 5 de Janeiro de 2011)

111

International Maritime Organization

httpimoorg (acedido 14 de Novembro de 2010)

Irish Marine Institute

httpwwwmarineie (acedido 6 de Maio de 2010)

Instituto Portuaacuterio e dos Transportes Mariacutetimos

wwwimarporpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm (acedido 18 de Outubro de 2010)

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos

wwwjnieaeu (acedido 20 Agosto de 2010)

Lancha Poveira

httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp (acedido 30 de Outubro de 2010)

Museu da Marinha

wwwmuseumarinhamuseusiteptpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Nautisme Espace Atlantique 2

wwwnea2eu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

ONU ndash Department of Economic and Social Affairs

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm (acedido 30

de Setembro de 2010)

Oceanaacuterio de Lisboa

wwwoceanariopt (acedido 20 Agosto de 2010)

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar

httpwwwoceano21org (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Parlamento Europeu

httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)

112

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

httppoeminagpt (acedido 29 de Dezembro de 2010)

Polis Litoral Norte

wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria de Aveiro

wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria Formosa

wwwpolislitoralriaformosapt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciapt (acedido 10 de Janeiro de 2011)

Projecto Naacuteutica

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

(acedido 14 de Janeiro de 2011)

Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)

wwwqrenpt (acedido 14 de Janeiro de 2011)

SaeR ndash Sociedade de Avaliaccedilatildeo Estrateacutegica e Risco Lda

wwwsaerpr (acedido 12 Dezembro de 2010)

Surfrider Foundation Europe

wwwsurfridereu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

113

Bibliografia

AIRALDI Gabriela (2007) DallacuteEurosia al Nuovo Mondo Una Storia italiana secc

XI-VVI Geacutenova Itaacutelia Fratelli Frilli Editori

ALBUQUERQUE Luiacutes (2001) Introduccedilatildeo agrave Histoacuteria dos Descobridores Portugueses

Lisboa Publicaccedilatildeo Europa-Ameacuterica

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627

(2010) Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Aacutereas-chave nordm 20 (2006)

Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Perspectivas e linhas

estrateacutegicas nordm 19 (2006) Lisboa CIEJDPrincipia

FERNANDEZ-ARNESTO Felipe (2001) Civilizations Culture Ambition and the

Transformation of Nature Nova Iorque EUA Simom amp Shuster

BOORSTIN Daniel (1986) The Discovers Nova Iorque EUA Vintage Press

BOXER Charles R (2001) O Impeacuterio Mariacutetimo Portuguecircs 1415-1825 Lisboa

Ediccedilotildees 70

CARVALHO Virgiacutelio (1995) A Importacircncia do Mar para Portugal Venda Nova

Bertrand

COSTA Joatildeo Paulo O (2009) Henrique o Infante Lisboa A Esfera dos Livros

DREYER Edward L (2007) Zheng He - China and the Oceans in the early Ming

Dynasty ndash 14051433 Nova Iorque EUA Pearson Education

114

HUBERMAN Leo (1970) Histoacuteria da Riqueza do Homem Rio de Janeiro Brasil

Zahar Editores

HUTTON Will (2006) The Writing on the Wall - Why We Must Embrace China as a

Partner or Face It as an Enemy Nova Iorque EUA Free Press

LEITAtildeO Augusto R (2006) Organizaccedilotildees Europeias Coimbra FEUC

PERES Damiatildeo (1982) Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses Trofa Vertente

MATIAS Nuno V MARQUES Viriato S FALCATO Joatildeo LEITAtildeO Aristides G

(2010) Poliacuteticas Puacuteblicas do Mar Lisboa Esfera do Caos

SILVA Antoacutenio M (2005) Portugal e a Europa ndash distanciamento e reencontro Viseu

CHSCPalimage Editores

RIBEIRO Maria Manuela T (Coord) (2007) Mare Oceanus ndash Atlacircntico espaccedilo de

diaacutelogos Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm6 Coimbra Almedina

RIBEIRO Maria Manuela T (2003) A ideia de Europa uma perspectiva histoacuterica

Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm 3 Coimbra CEIS 20Quarteto Editora

RODRIGUES Jorge amp DEVEZAS Tessaleno (2009) Portugal ndash O Pioneiro da

Globalizaccedilatildeo A Heranccedila das Descobertas VN Famalicatildeo Centro Atlacircntico

RODRIGUES Antoacutenio S (1997) Histoacuteria Comparada - Portugal Europa e o Mundo

Cronologia Lisboa Tema amp Debates

SMITH Adam (1976) Inquiry into the Nature and Causes of Wealth of Nations

Chicago EUA The University of Chicago Press

Page 2: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à

II

Joatildeo Miguel Aleixo Zamith

POLIacuteTICA MARIacuteTIMA EUROPEIA

Uma poliacutetica agrave medida de Portugal

Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Estudos Sobre a

Europa Europa ndash As Visotildees do ldquoOutrordquo aacuterea de

especializaccedilatildeo em Estudos Europeus apresentada agrave

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra sob a

orientaccedilatildeo da Professora Doutora Maria Manuela de

Bastos Tavares Ribeiro e do Dr Tiago de Pitta e Cunha

Faculdade de Letras

Universidade de Coimbra

2011

III

ldquoQue improacuteprio chamar Terra a este planeta de oceanosrdquo

Sir Arthur C Clarke cit no Livro Verde ndash ldquoPara uma futura poliacutetica

mariacutetima da Uniatildeo uma visatildeo europeia para os oceanos e os maresrdquo

(2006)

ldquoPortugal encontra-se na periferia da Europa mas estaacute

no centro do mundordquo (hellip) ldquoPossuiacutemos uma vasta linha de

costa beneficiamos da maior zona econoacutemica exclusiva

da Uniatildeo Europeia Poderemos ser uma porta por onde a

Europa se abre ao Atlacircntico se soubermos aproveitar as

potencialidades desse imenso mar que se estende diante

dos nossos olhos mas que teimamos em natildeo verrdquo (hellip)

Cit no discurso de Sua Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica

Portuguesa Professor Doutor Aniacutebal Cavaco Silva durante a 36ordf

Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010 na Assembleia da

Repuacuteblica

IV

in memoriam

Professor Doutor Ernacircni Rodrigues Lopes

(1942 ndash 2010)

V

Resumo

Sabemos que dois terccedilos do planeta Terra satildeo ocupados pelos Oceanos Logo eacute

premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentaacutevel possiacutevel

E os ldquomaresrdquo foram desde sempre a seiva da Europa Os europeus desde haacute muito

tempo tiveram propensatildeo para se libertarem do mare incognitum Essa ousadia trouxe

retorno econoacutemico cultural e cientiacutefico notaacuteveis para a Humanidade

Os espaccedilos mariacutetimos e o litoral europeu satildeo essenciais para o bem-estar e

prosperidade ligam continentes atraveacutes de rotas comerciais regulam o clima satildeo fonte

de alimento de energia e de inuacutemeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e satildeo

tambeacutem locais privilegiados de residecircncia e lazer para os cidadatildeos

A Europa preconiza actualmente uma Poliacutetica Mariacutetima Integrada reflectindo e

projectando a nossa relaccedilatildeo com os oceanos e mares Esta abordagem inovadora e

holiacutestica reforccedila a capacidade da Europa face aos desafios da globalizaccedilatildeo e da

competitividade agraves alteraccedilotildees climaacuteticas agrave autonomia energeacutetica agrave seguranccedila mariacutetima

entre outras O leme da Poliacutetica Mariacutetima Europeia Integrada foi tomado em 2005 pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso e estaacute ancorada na Agenda de Lisboa

(apela ao crescimento econoacutemico e emprego) e na Agenda de Gotemburgo (apela ao

desenvolvimento sustentaacutevel ndash ambiental econoacutemico e social)

A nossa longa histoacuterica mariacutetima a liacutengua e cultura portuguesa e o facto de existir

uma Estrateacutegia Nacional para o Mar em consonacircncia com a Poliacutetica Mariacutetima Europeia

Integrada podem ser os factores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores

desiacutegnios para o seacuteculo XXI ndash o Mar Importa referir que eacute iminente o alargamento da

zona econoacutemica exclusiva (equivalente a 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental) e

caso seja aceite teremos seguramente uma nova oportunidade de estar no centro do

mundo

Esta investigaccedilatildeo tem portanto como objectivo analisar a poliacutetica mariacutetima

europeia e os seus desenvolvimentos em Portugal

PALAVRAS-CHAVE

EUROPA MAR POLIacuteTICA PORTUGAL SUSTENTAacuteVEL

VI

Lista de abreviaturas

BEI ndash Banco Europeu de Investimento

BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China

CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte

CdR ndash Comiteacute das Regiotildees

CE ndash Comissatildeo Europeia

CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos

CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval

CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar

CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors

CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental

CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono

COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade

CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa

DEM ndash Dia Europeu do Mar

EBA ndash European Boating Association

EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio

EM ndash Estados Membros

EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho

EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima

ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus

EuDA ndash European Dredging Association

EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group

VII

FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

FSE ndash Fundo Social Europeu

GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento

IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo

IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo

OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers

ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2

PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum

PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca

PIB ndash Produto Interno Bruto

PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas

PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal

POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva

VIII

Nota preacutevia

A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de

diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos

A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora

Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a

tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e

em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e

internacional

A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na

qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia

nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro

do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a

uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos

procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige

O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo

conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor

Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal

Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo

Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em

Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam

O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em

2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias

europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em

representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em

Estudos Europeus

Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos

amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre

me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e

carinho

Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho

IX

Iacutendice

Resumo V

Lista de abreviaturas VI

Nota preacutevia VIII

Introduccedilatildeo 1

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9

13 Siglo de oro espanhol 13

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27

24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43

X

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51

332 Fundos estruturais 53

333 Outras fontes de financiamento 55

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58

41 Breve balanccedilo 58

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59

43 Instrumentos transectoriais 62

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68

51 Princiacutepios e objectivos 73

52 Pilares estrateacutegicos 73

53 Acccedilotildees e medidas 75

54 O Hypercluster da economia do mar 81

55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99

Conclusotildees 101

Fontes e bibliografia 105

1

Introduccedilatildeo

A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito

Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e

a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a

conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz

parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia

para a vida

Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-

me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de

Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e

institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que

ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais

Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no

acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se

espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar

Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma

poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo

sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como

todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para

Portugal

Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que

procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material

e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e

desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas

italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes

para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de

Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa

Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia

europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas

2

No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica

Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades

da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os

mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a

consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no

processo de construccedilatildeo da PMIE

Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo

de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares

como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma

iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a

Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi

apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em

2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-

Comissaacuterio Europeu)

No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das

instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico

concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees

econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade

poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final

deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave

PMIE

Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis

agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves

actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees

estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste

capiacutetulo

No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)

resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de

aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos

Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores

da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da

3

Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente

em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo

No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para

aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades

latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a

plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de

desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo

Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a

ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo

entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de

inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto

ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas

4

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica

Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da

Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes

protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores

potecircncias de entatildeo

Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e

Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e

terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma

abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das

actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo

Industrial

Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos

Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV

aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar

Negro)

Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida

como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano

(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare

Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que

teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula

Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo

ateacute ao momento da chegada dos portugueses

Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como

Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)

Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)

Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do

seacuteculo VIII)

5

Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental

contiacutegua

No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo

as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede

litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes

casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma

talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade

continental

Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees

mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza

e na monarquia dual catalo-aragonesa

Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias

europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela

Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a

civilizaccedilatildeo mediterracircnica

A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia

Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado

predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e

banqueiros

Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos

A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas

libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca

Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e

o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash

assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-

senhorial dominante na Europa medieval

1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a

todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo

naval 2 AIRALDI 2007 9

3 AIRALDI ibidem 99

6

Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o

historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees

Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento

mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)

Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam

verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em

Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e

economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num

ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do

inicio do seacuteculo XV5

Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da

revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se

inscreveu na Histoacuteria universal

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas

Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque

para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a

partir do final do seacuteculo XIII

Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave

entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a

lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica

Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e

criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional

Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a

4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na

Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na

Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381

7

Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a

chama empreendedora pioneira

A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti

aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que

mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da

bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil

mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias

poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde

sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel

Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No

entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de

ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos

A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida

As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota

mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de

Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa

portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes

armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para

circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias

lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como

objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro

da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de

ldquoIacutendiardquo8

Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes

asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio

que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o

Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo

do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro

6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700

membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo

hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148

8

Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua

expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as

Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem

como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma

potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais

importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da

famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram

a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees

tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e

em diversos pontos do Magrebe

Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e

secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar

atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo

(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades

mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como

Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que

negociavam

A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie

sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia

da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude

comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla

Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees

de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000

pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros

A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por

ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel

Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas

desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de

onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as

Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo

fora um deles

9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um

dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique

9

Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade

Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a

haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em

conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que

cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra

dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao

hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10

Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas

surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a

uma escala global pelos portugueses

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo

O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos

portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o

centro econoacutemico do mundo

Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os

chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em

direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi

seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a

navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de

expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward

Dreyer na sua obra Zheng He11

O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de

diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser

excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente

necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo

primaacuteriardquo diz Dreyer

As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada

por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma

10

RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11

DREYER 2007 3

10

crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente

espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a

seguir chegassem ao Iacutendico12

Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de

Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto

de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia

hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem

aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as

potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de

commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo

dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista

Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em

particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash

e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)

idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o

arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria

principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza

negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora

procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado

Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence

ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a

Iacutendia)

A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante

longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais

entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos

sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde

entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo

mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo

no comeacutercio internacional

12

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61

11

O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a

inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo

do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room

de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das

primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um

modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare

Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de

influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e

longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13

Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash

baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do

planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as

bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como

globalizaccedilatildeo

Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como

um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto

gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a

visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um

conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu

a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14

Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico

e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a

gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou

um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos

deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de

publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo

naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar

A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de

aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos

infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador

13

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185

12

mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil

China e Japatildeo

Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de

projecccedilatildeo mundial foi tripla

Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e

Iacutendico

Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo

Campanha de marketing internacional junto do papado (poder

transnacional reconhecido pelos europeus)

Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico

(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um

projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo

messiacircnica

A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode

afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou

uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para

segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno

das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15

Segundo Daniel Boorstin16

ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo

prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as

largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo

15

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16

BOORSTIN 1986 83

Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e

bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria

e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria

Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que

destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos

13

13 Siglo de oro espanhol

O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do

seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave

abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute

a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681

Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro

com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don

Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro

Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado

politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados

por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau

Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado

pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em

1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de

Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras

notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan

de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro

de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica

muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais

ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III

Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves

ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17

o gesto mais

extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de

Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi

assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre

o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por

descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da

Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes

17

Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da

Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea

14

chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O

tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494

Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio

internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha

foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano

As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a

arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades

de Salamanca e Alcalaacute de Henares

As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos

comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de

Toledo Valecircncia e Saragoccedila

Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos

Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo

XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18

Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera

inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais

preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de

Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo

de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao

disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro

O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519

No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da

Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica

mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574

exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as

Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia

portuguesa20

Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel

I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de

seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a

18

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349

15

Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um

monarca um impeacuterio e uma espada

Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol

no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves

Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia

mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-

Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol

y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de

hoje)

Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os

acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo

Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees

espanholas das Ameacutericas

O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como

ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da

armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra

A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em

159021

Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional

apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don

Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute

provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo

reinado do filho e neto de Felipe II22

Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia

comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar

e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo

coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque

de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de

Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade

com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos

e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado

21

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373

16

pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos

recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)

desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e

passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento

em 1645

Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-

1648) de que passo a citar os mais importantes

As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da

Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis

como o momento de perda da hegemonia naval

Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp

Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses

A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640

A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs

A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa

Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional

foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele

tirar proveito efectivo

Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses

foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por

outrosrdquo23

Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os

ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24

ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os

23

BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24

RODRIGUES 1997 280 (volume I)

O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de

700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para

1770 contra 811 ingleses e 155 franceses

17

barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o

lugarrdquo dizia Leo Huberman25

Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista

justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica

desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do

seacuteculo XVII

A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos

chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso

apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como

arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26

O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27

A

doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O

holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28

(1604) e Mare Liberum (1609)

a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria

um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei

consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda

a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso

natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare

Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no

iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas

inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses

O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que

criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em

que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a

dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas

companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia

dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares

desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras

25

HUBERMAN 1970 45 26

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27

O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm

Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000

Berlim e Nova York 28

Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da

companhia holandesa VOC

18

cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29

) Esta deu origem mais tarde ao

aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India

Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias

Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que

agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van

Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594

Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso

Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a

infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-

ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o

hardpower)30

Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com

dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees

de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de

vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua

projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade

na projecccedilatildeo oceacircnica

Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de

Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais

ceacutelebre31

e em 1694 surgiu o Bank of England32

De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a

que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira

metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de

velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento

da artilharia a bordo dos navios33

29

HUBERMAM ibidem nt 12 30

HUTTON 2006 70 31

SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402

19

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial

O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente

chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens

era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para

cobrir os custos totais da frota)

As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas

mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram

ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo

ndash a Burguesia

Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo

protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo

niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido

ostracizados pela nobreza

Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial

disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta

O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de

capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte

financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial

A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34

com

profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento

econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado

Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a

partir do seacuteculo XIX

Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do

motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e

simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este

momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela

A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com

34

James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente

que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor

20

maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a

influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial

eclodiu em geral mais tarde

O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia

mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e

conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-

1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste

seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente

produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias

industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que

culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)

Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35

35

Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres

21

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que

daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36

No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as

principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da

Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para

Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus

De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses

costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto

europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a

apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de

descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de

culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua

maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um

planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a

elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes

desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o

astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do

horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a

vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)

A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar

encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e

prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas

36

Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794

22

presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas

tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio

permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer

A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas

ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos

(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de

milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como

os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais

de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob

jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres

Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute

igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por

estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo

A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre

teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no

desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria

Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura

veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico

da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu

eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de

mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias

representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia

Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da

importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem

crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva

ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre

sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de

comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da

rede logiacutestica que o torna possiacutevel37

37

COM (2006) 275 final vol II 3

23

O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na

agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo

muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente

Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do

desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre

estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos

larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte

empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38

A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de

2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro

europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute

exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de

outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia

A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que

diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro

agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro

segundo um estudo do Irish Marine Institute39

os sectores com maior potencial de

crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias

renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha

O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois

90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute

efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute

incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de

toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos

europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados

38

COM (2006) 275 final vol II 4 39

Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie

24

que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees

de euros40

Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do

transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas

para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador

para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-

portuaacuterios

Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a

classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua

lideranccedila

Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que

o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72

mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar

da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a

sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para

a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se

encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das

zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da

construccedilatildeo naval

O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos

anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro

satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o

desenvolvimento das zonas costeiras e insulares

O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos

uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a

641

Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades

interesses e locais42

O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento

sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem

40

Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41

Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde

Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de

motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42

Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde

25

objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43

e pelos Chefes de Estado

e de Governo44

O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia

Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45

Os mares em torno da

Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em

que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande

parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa

Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma

vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de

energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em

muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico

e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro

As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas

natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos

recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo

oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia

costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do

sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de

exportaccedilatildeo

Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

(FAO)46

indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado

de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de

uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode

tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura

poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e

desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47

A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o

maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de

pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das

43

COM (2006) 105 final 44

Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45

Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46

O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47

COM (2002) 511 final

26

pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48

Satildeo proporcionados

numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da

transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos

estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas

actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas

pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo

Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a

uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos

segmentos do sector das pescas49

Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por

sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa

No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-

me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos

mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o

reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos

Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a

PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa

poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de

direitos e com valores50

dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro

48

Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49

COM (2006) 275 final volume II 7-9 50

A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos

direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa

Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os

respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os

objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos

como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees

27

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo

ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente

orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a

plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma

sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo

cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da

Comissatildeo Europeia para 2005-2009

A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os

diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a

identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num

periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das

actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a

formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para

aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre

uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem

holiacutestica dos oceanos e dos mares

Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por

pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude

de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar

dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha

devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca

eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar

Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e

insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio

entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental

Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova

consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do

potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades

econoacutemicas

28

A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-

se em dois pilares fundamentais

Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o

crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no

conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e

garantir empregos de qualidade

Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam

todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito

Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa

parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do

meio marinho

A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees

entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as

actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute

necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e

de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica

Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos

oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos

O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente

ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes

Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de

poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de

agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados

para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um

niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute

devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor

acrescentado agraves actividades de outros51

51

COM (2006) 275 final volume II 5-6

29

24 Aacutereas-chave no Livro Verde

Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar

Meio marinho

O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo

acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da

ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)

alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo

com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas

descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)

Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-

se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na

elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de

lastro52

Investigaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com

conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus

programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e

racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas

tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia

Inovaccedilatildeo

A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo

como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem

tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento

sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia

52

Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade

do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar

ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de

transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de

lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os

registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro

30

eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo

dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia

Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo

As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No

entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53

o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero

de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos

mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo

O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem

formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo

assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa

O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos

potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas

perspectivas profissionais

A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para

o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que

importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e

mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os

europeus se habituaram com toda a legitimidade

Formaccedilatildeo de clusters54

O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os

diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e

produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem

todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio

mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de

53

Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and

related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54

Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de

empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais

precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo

de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees

associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo

31

transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters

regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima

atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55

Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou

grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos

comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no

ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo

de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns

nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade

A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em

sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e

tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da

construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo

resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e

serviccedilos56

Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e

transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores

mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos

Qualidade de vida nas regiotildees costeiras

O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca

Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se

construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida

agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente

A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que

a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute

igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de

abrandamento57

Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral

enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias

55

BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56

Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o

Livro Verde 57

Contributo da CRPM para o Livro Verde

32

A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo

e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma

maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de

transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo

abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das

aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas

costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e

remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar

no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet

actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58

Ao planear o

desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter

um resultado sustentaacutevel

As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do

turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel

mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel

pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a

competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o

patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero

crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade

constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais

compatiacuteveis com o ambiente

Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da

qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e

desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo

A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos

os destinos turiacutesticos costeiros

A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a

competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute

oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural

situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de

58

Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma

questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo

33

atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia

subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta

inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas

de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas

actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local

No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve

tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte

tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus

em dias sol por ano)

Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica

gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a

tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto

ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no

litoral portuguecircs

Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima

Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios

estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de

competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e

autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59

eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais

Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a

criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia

mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio

marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve

proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma

abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste

59

O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a

comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo

possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos

domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio

nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo

proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm

34

contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma

importacircncia cada vez maior

Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas

sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial

sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260

e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61

Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor

compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees

O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois

ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado

promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as

partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e

directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais

Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala

dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia

da Seguranccedila Mariacutetima62

(EMSA) com sede em Lisboa

Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos

ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63

Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que

aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas

sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos

recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados

de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e

agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo

Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico

60

ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61

Contributo da EuDA para o Livro Verde 62

A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de

acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no

mar 63

ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire

(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute

considerado um marco da poesia moderna

35

Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que

obviar a estas lacunas

A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de

observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a

melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e

o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da

comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise

integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados

provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos

serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de

dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de

monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas

O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem

criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector

mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo

dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso

contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema

oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas

sazonais64

Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os

continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos

de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave

rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias

ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a

navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver

documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns

trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros

por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira

64

COM (2006) 275 final volume II 34-35

36

Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos

teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar

pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde

Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e

das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma

convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos

estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender

as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da

avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As

organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se

associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro

que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar

de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades

mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a

Humanidade65

Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um

papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano

estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e

por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente

orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e

ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas

Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos

atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer

Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995

sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66

satildeo um evento

desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas

diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os

desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste

quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas

(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos

65

COM (2006) 275 final volume II 51 66

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)

37

culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma

para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa

Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as

Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider

Foundation Europe67

Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico

para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas

Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268

ldquoNautisme Espace

Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da

fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria

comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos

temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em

cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns

transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por

cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um

periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo

Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como

tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este

projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique

(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11

parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo

O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo

da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar

67

Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o

litoral 68

Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)

38

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE

O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo

Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado

mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam

devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo

do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda

A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o

lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses

Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia

O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa

de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas

as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais

apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro

Verde69

As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor

informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima

Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem

integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade

da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia

mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e

respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala

comunitaacuteria)

As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o

papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar

proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as

actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do

envolvimento dos governos dos Estados-Membros

69

COM (2007) 574 final 2

39

Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos

mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio

privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas

economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que

funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas

Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute

mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou

locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o

ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os

governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais

(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do

espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos

ecossistemas

O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o

interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos

mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e

do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias

mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho

cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos

Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global

dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de

boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os

pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais

ou turistas

Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de

ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado

na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute

veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como

abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70

No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230

eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados

70

COM (2007) 574 final 9-10

40

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo

Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se

com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os

Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano

de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da

subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma

ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas

para o mar

A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de

2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia

em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente

com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de

trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo

tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar

rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as

oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo

De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no

segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem

integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos

eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a

Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a

divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores

prioritaacuterios a seguir

Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa

pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos

assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes

europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre

41

Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias

envolvidas

Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave

proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia

aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de

uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez

o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave

Iacutendia em 1498

A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo

Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos

oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados

todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada

O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto

grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-

Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso

Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a

abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e

transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os

resultados das acccedilotildees preparatoacuterias

A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute

analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo

entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e

pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais

Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que

desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam

conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima

42

Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez

instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais

ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos

que se seguem satildeo especialmente importantes

Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima

A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo

segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e

optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade

ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e

ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei

e agrave seguranccedila em geral71

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras

(GIZC)

Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre

e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e

vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees

concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e

outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas

actividades de lazer72

Dados e informaccedilotildees

A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos

factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de

decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de

dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema

importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e

informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73

71

COM (2007) 575 final 5 72

COM (2007) 575 final 6 73

COM (2007) 575 final 6

43

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo

As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na

prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo

principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber

1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares

O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar

as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o

desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi

superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da

logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a

partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas

noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica

offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios

deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias

marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver

produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos

mercados mundiais

Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento

sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as

actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do

ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o

desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores

conexos

O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e

continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a

prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel

elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para

proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de

concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional

44

Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de

dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente

em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a

necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas

da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de

transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis

A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da

construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de

ponta incorporada

O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental

para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses

investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras

do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer

o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave

medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e

promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e

o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas

A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas

pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74

bem como de energias renovaacuteveis e

tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de

transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento

A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente

potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais

que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as

suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima

europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos

produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo

da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para

criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua

globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector

privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par

74

Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em

offshore

45

da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia

mariacutetima

Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo

que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e

privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para

compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e

sectores75

Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-

Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76

que estabelece um quadro de acccedilatildeo

comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos

ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando

especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida

no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do

ambiente marinho77

Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu

foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no

domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as

medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho

ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista

a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando

exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as

ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e

assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas

sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)

O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final

de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa

75

COM (2007) 575 final 7-9 76

Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77

Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final

46

um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio

marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia

2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima

A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o

desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas

Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades

humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a

chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a

degradaccedilatildeo do ambiente

O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo

portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este

reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os

efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode

permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute

necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a

niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os

esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o

diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a

investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais

eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78

3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras

Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi

duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As

comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo

que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do

ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade

As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a

desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees

78

COM (2007) 575 final 12

47

(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no

quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia

estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu

hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das

aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve

ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees

costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo

dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas

regiotildees

O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante

catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias

Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram

que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se

por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos

vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos

econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)

A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores

mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade

em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional

no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo

Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o

desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade

e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar

plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento

mariacutetimo inter-regional

As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas

consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades

mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem

serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A

48

Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a

sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79

A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os

esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do

bem-estar social dos trabalhadores activos no sector

A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica

tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das

condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das

comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras

Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do

desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees

residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica

pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo

para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si

valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na

conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em

agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade

4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais

A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma

governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o

direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos

pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas

principais instacircncias internacionais

O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais

a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da

biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do

transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos

navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as

prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees

79

COM (2007) 575 final 13-14

49

externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees

climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)

Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os

parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem

mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os

Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e

China (agora denominados BRIC)

A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada

relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo

Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que

concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao

niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em

desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de

cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave

poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80

5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente

os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos

barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir

agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos

barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo

interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa

mariacutetima81

Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em

resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de

consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da

Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa

80

COM (2007) 575 final 14-15 81

Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os

oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade

mariacutetima da Europa p 51

50

mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e

integrada

Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo

de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia

puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles

o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns

Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da

Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao

mar

A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as

comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais

os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre

elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade

A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais

destaco o Dia Europeu do Mar82

(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e

2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o

Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar

da Europa

O Atlas Europeu dos Mares83

jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados

do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo

puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico

fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados

como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o

transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e

as ldquoauto-estradas do marrdquo

Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84

como o website85

contribuem para ajudar a melhor

compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores

de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a

comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de

82

Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83

Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84

Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85

Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs

51

alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho

e as comunidades costeiras

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE

As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos

financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra

Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave

forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos

instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de

exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam

todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos

financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de

Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas

no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado

programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia

A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a

niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa

que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia

instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB

meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por

finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos

domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute

sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro

52

beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica

Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra

vez sob controlo

A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se

ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo

O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de

coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem

deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel

As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013

centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos

Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito

empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e

melhores empregos

Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a

crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar

para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer

grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho

Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os

intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local

A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos

difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o

conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo

um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo

(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e

luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim

reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as

disparidades seriam maiores

Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada

atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas

estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio

comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas

A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma

dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para

53

27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a

superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute

aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as

disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente

60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros

que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de

gravidade da poliacutetica regional para Leste

Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional

aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais

e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento

comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica

Agriacutecola Comum (PAC)

Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo

e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem

projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE

332 Fundos Estruturais

Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

O FEDER86

apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos

produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas

O FSE87

instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das

categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de

formaccedilatildeo

86

Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao

desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87

Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999

relativo ao Fundo Social Europeu

54

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)

O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia

atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia

Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas

designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar

emprego duradouro

Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves

telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes

Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de

desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local

e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees

Medidas de assistecircncia teacutecnica

O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a

competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia

Fundo Social Europeu (FSE)

O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na

Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade

regional e emprego

O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes

Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem

ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho

inovadoras

Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das

pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes

Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a

discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho

Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e

colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino

55

333 Outras fontes de financiamento

A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr

outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88

que

serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo

verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89

contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo

transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em

bacias mariacutetimas

O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um

importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais

destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de

desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as

ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis

Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo

Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro

Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo

multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades

mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente

ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de

2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares

integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e

ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O

prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de

Janeiro de 2011

Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios

financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a

Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE

88

Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a

ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho

relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm

56

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE

pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante

o periacuteodo remanescente (2010-2013)

Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um

programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a

implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE

e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu

das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo

desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e

Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica

mariacutetima integrada

No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros

actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-

Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e

das zonas costeiras

Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os

objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro

modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes

interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute

iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar

ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE

A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da

PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31

de Dezembro de 2013

O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90

Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo

integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as

bacias mariacutetimas

90

COM (2010) 494 final 11

57

Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as

poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras

Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos

recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo

e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com

as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais

Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas

com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia

Marinha

Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que

respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada

Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se

traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91

Estudos e programas de cooperaccedilatildeo

Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do

puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo

campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo

de siacutetios Web

Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes

interessadas

Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de

informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais

financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico

nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado

instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos

Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto

91

COM (2010) 494 final 12-13

58

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE

41 Breve balanccedilo

A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem

destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades

relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios

muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas

aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as

regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas

deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as

relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse

consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-

se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base

para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral

nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da

induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior

integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a

PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos

reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees

costeiras do continente92

O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a

fazecirc-lo) quatro objectivos93

Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais

abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo

Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais

necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas

92

COM (2009) 540 final 2 93

COM 2009) 540 final 3

59

Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de

sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial

No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em

consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e

encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso

A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees

incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos

da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas

em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham

sido ainda adoptados

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas

O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e

nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva

passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a

compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo

das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os

progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem

pelos stakeholders

Instituiccedilotildees da UE94

A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo

de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de

Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano

de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees

94

COM (2009) 540 final 3-4

60

regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e

eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas

A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato

da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a

coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais

tendo em conta as especificidades regionais

O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece

a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e

Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895

ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior

importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o

valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia

integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em

conta as especificidades regionais (hellip)rdquo

Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-

Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos

de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se

utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees

nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros

e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia

e impacto

A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito

positivos96

Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes

comissotildees e estruturas

O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A

Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem

elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote

mariacutetimo e costeirordquo97

constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses

divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica

95

16503108 REV 1 96

Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi

Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97

CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009

61

O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um

parecer98

particularmente favoraacutevel agrave PMIE

Estados-Membros99

Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-

Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos

informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas

mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma

estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais

Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas

praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo

inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em

Junho de 2008100

e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de

estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel

dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer

francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima

coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima

britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido

A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e

a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo

um total de 14 Estados membros

Regiotildees101

As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu

iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para

executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram

igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as

regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas

para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas

98

JO 2008C 21107 99

COM (2009) 540 final 4-5 100

COM (2008) 395 final de 2662008 101

COM (2009) 540 final 5

62

(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do

plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho

Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional

Partes interessadas102

As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma

PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a

advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e

regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos

e instrumentos inovadores

A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os

vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A

Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero

de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a

voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado

em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais

para a PMIE

43 Instrumentos transectoriais

Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de

existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a

poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute

possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos

102

COM (2009) 540 final 5-6

63

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira

(GIZC)103

O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a

competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute

um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo

sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem

ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes

interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos

concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho

A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o

ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104

O roteiro

estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros

de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE

Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105

as partes

interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez

princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante

para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou

igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria

para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o

desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um

estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os

benefiacutecios econoacutemicos do OEM

No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de

um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada

da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar

o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106

No final de

2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de

Barcelona107

103

Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104

COM(2008) 791 final 105

httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107

COM (2009) 540 final 6-7

64

Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima

A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no

mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo

significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar

e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos

detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente

Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas

de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108

empreendidas a niacutevel nacional regional e

europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo

da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de

Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109

A

Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante

total de 57 milhotildees de euros110

para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com

vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no

Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111

Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima

Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos

adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho

permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e

de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como

objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos

utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas

de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem

como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes

e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112

Destaque para o

lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico

para as questotildees marinhas

108

SEC (2008) 2337 109

COSDP 949 PESC 1366 110

Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111

COM (2009) 540 final 7 112

COM (2009) 540 final 7-8

65

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE

Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e

que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a

sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de

recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas

mariacutetimas e costeiras

Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para

dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a

protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das

alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no

mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor

da globalizaccedilatildeo e da prosperidade

Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa

mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as

sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade

ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute

avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas

Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos

alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees

costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a

montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos

contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma

isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve

igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo

resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e

as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais

necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo

seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes

interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113

113

COM (2009) 540 final 11

66

Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o

desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da

legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar

investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como

gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois

converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e

contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum

sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode

contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos

essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e

a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar

a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos

possam alcanccedilar os resultados previstos114

A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um

impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro

ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o

desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos

cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um

objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre

todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a

poliacutetica para o meio marinho115

As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da

PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos

geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um

elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os

Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta

cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros

que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem

igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116

114

COM (2009) 540 final 11 115

COM (2009) 540 final 12 116

COM (2009) 540 final 12

67

Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A

Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala

mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A

Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais

parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e

processos informais117

No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se

no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no

futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE

promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia

renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes

submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica

comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma

estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com

vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute

importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no

debate em curso sobre a coesatildeo territorial

A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de

favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e

melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito

do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas

seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o

investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente

no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a

favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute

a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo

naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute

proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de

navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo

e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das

costas da Europa118

117

COM (2009) 540 final 12 118

COM (2009) 540 final 12

68

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico

fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o

oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de

Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)

Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial

relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do

processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute

resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram

definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste

capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas

mariacutetimas nacionais

Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas

(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a

sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos

sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE

Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal

para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta

portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente

apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)

da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de

Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a

entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a

decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015

Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma

aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira

ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos

Estados Unidos da Ameacuterica

69

As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de

destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou

jurisdiccedilatildeo nacional

Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas

oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas

sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes

insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos

submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119

os campos de fontes hidrotermais as

riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de

afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que

importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos

culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos

energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam

um dos principais activos nacionais

Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de

governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio

da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional

para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o

Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel

sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma

missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque

permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos

Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco

objectivos que passo a enumerar

1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade

2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano

3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas

4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano

5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano

119

A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende

sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave

latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas

70

Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos

de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo

cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc

resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu

em particular120

rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de

modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima

Integrada Europeia

De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com

ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos

oceanos

Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje

que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante

intangiacutevel e invisiacutevel121

No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal

foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais

significativos destaco

Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada

por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares

aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)

O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na

sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia

Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial

de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o

futurordquo

Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros

8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente

- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a

capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e

120

Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a

cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121

ENM 2006-2016 p 2

71

tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que

permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando

o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis

- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o

objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela

requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar

- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma

Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da

plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela

Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar

Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do

Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar

os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta

comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250

recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas

Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma

Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)

com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental

de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo

de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-

Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental

Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto

com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de

preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas

para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos

do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas

aacutereas ligadas ao mar

Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de

Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere

aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos

domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha

72

Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu

procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica

Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia

A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de

Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009

junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU

A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma

continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU

em Nova Iorque

Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram

dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde

Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve

desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos

Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente

americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades

nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave

poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba

tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo

entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional

A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para

tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que

pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos

da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade

civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar

como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e

preservando este valioso patrimoacutenio

O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento

econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na

concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados

tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso

73

uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios

humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento

51 Princiacutepios e objectivos

A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade

nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a

existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente

Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos

agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas

ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento

econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122

A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a

educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros

internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do

oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos

transparentes rigorosos e crediacuteveis

52 Pilares estrateacutegicos

As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um

enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber

- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de

percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real

impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil

avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo

122

ENM 2006-2016 p 10

74

- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela

gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave

interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses

jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo

- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel

mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos

avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar

obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses

nacionais

Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades

as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos

Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel

assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento

diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de

desenvolvimento do Paiacutes

A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida

e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes

pilares estrateacutegicos123

O conhecimento

O planeamento e o ordenamento espaciais

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais

No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute

atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no

desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute

possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de

desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a

educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o

uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais

satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento

puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar

123

ENM 2006-2016 p 12

75

O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo

promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de

conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da

abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as

utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente

integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento

das actividades associadas

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo

envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e

multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-

activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser

suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional

nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica

tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a

identidade nacionais

O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs

pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de

qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes

econoacutemica social e ambiental

53 Acccedilotildees e medidas

O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs

pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades

econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em

desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do

crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124

124

ENM 2006-2016 p 17

76

Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos

preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas

Transportes

Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte

mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa

promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte

acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo

de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela

uacutenica portuaacuteria125

Energia

Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia

energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos

existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e

atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam

responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma

induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as

exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por

exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor

conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins

energeacuteticos com origem foacutessil

Aquicultura e pescas

Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que

tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as

actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas

protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes

125

A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto

atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar

desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma

ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado

dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias

importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o

que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por

naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo

77

artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura

offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental

Defesa nacional e seguranccedila

Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do

Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na

seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito

dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na

mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de

Protecccedilatildeo Civil

Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo

Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de

ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes

fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e

participando activamente nas redes internacionais

Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza

Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e

costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha

recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a

conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo

de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da

poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre

o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e

assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho

Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo

Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees

promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando

nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e

fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e

a educaccedilatildeo ambiental

78

Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio

Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as

actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o

desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo

o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas

internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o

remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o

turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais

classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees

Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza

promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes

Poliacutetica externa

Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros

continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da

comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e

defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes

Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126

que tendo em consideraccedilatildeo a

exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto

prazo

Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a

implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos

do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as

competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela

Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas

aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central

para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus

interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos

assuntos do mar

Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da

discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do

126

ENM 2006-2016 p18

79

processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de

forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos

assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida

eficaz e abrangente

Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de

acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar

condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A

implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais

permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando

valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir

o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo

Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127

a saber

A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar

A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao

mar

A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo

das ciecircncias do mar da Europa

O planeamento e ordenamento espacial das actividades

A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

O fomento da economia do mar

A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas

A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos

mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional

A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em

Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar

assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das

suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no

periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base

num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica

127

ENM 2006-2016 pp 22-23

80

Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na

inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias

instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo

obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que

cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos

objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador

Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da

Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste

novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no

Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a

acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo

No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua

Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do

mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128

na

Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010

(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como

exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar

eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa

geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as

estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na

proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir

em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e

incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam

economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios

que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute

certamente um delesrdquo (hellip)

128

Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445

81

54 O Hypercluster da economia do mar

ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia

portuguesardquo

Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de

economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de

avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129

sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa

da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura

considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e

sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes

diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero

O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a

fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de

conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo

O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia

portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos

seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz

a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um

cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal

O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um

catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado

potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e

investimentos de qualidade nomeadamente externos

Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera

cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a

comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de

28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-

129

Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf

82

se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor

que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos

Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um

novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global

na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130

O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas

diferentes de planos e acccedilotildees a saber

1) Planos prioritaacuterios

Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e

competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores

sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp

turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo

amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)

2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata

Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da

frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)

3) Planos de alimentaccedilatildeo

Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo

prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo

amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp

conservaccedilatildeo da natureza)

4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)

O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho

criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131

(FEM)

130

Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do

Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes

httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce

41366a4bbe8a49b02a028 131

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt

83

O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento

com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute

organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster

apresentado

Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo

principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo

assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente

fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais

55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132

The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as

a whole 133

O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE

Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo

respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento

econoacutemico do meio marinho134

No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm

1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre

outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o

desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e

actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a

132

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133

ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados

como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)

Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da

UE satildeo Partes na UNCLOS 134

COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios

comuns na EUrdquo p 2

84

gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no

quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia

econoacutemica ambiental e social do mar

Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional

tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente

mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a

coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular

esta mateacuteria de forma coerente e articulada

Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e

considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de

Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi

determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os

objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando

as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute

acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a

qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos

O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a

Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do

espaccedilo mariacutetimordquo

Visatildeo

ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e

seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no

conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo

Missatildeo

ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na

promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e

potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem

no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o

85

normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento

sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo

Discussatildeo Puacuteblica

A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo

Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva

Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099

de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do

POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo

ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo

Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia

estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais

A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos

erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de

biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no

acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e

interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o

desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo

No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo

Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de

Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de

zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de

intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral

86

Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes

medidas

Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a

promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a

reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e

paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel

Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais

Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos

espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural

Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes

da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e

associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais

De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do

Norte135

litoral da Ria de Aveiro136

litoral da Ria Formosa137

e o litoral da Costa

Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes

lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com

recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros

135

wwwpolislitoralnortept 136

wwwpolisriadeaveiropt 137

wwwpolislitoralriaformosapt

87

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo

A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte

ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na

eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo

participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens

para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e

o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da

Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a

saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a

pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em

termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo

No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte

ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer

A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura

do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)

e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os

municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do

Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A

regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo

cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138

em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139

na Poacutevoa

de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140

em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio

Minho141

em Vila Nova de Cerveira entre outros

138

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139

Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140

Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141

AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt

88

O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional

do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada

por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem

vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias

constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e

relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo

ldquoMarrdquo

A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral

ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de

produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a

internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento

e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de

forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da

Regiatildeo142

Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de

razotildees das quais destaco as seguintes

A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a

maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela

existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e

econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade

Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes

que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de

complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao

desenvolvimento da regiatildeo

Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no

sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda

de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas

ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de

142

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52

89

riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do

reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo

Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com

outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM

favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades

indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional

Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no

plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa

estrateacutegia europeia

Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-

financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo

relevante em ambos os programas

Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente

dos jovens para a temaacutetica mar

Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo

entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para

o desenvolvimento no domiacutenio do mar

Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num

processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e

nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano

constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter

em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do

Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e

POCTEA143

)

Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada

a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades

puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal

143

POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal

POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

90

Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa

que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar

Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de

cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo

Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de

complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste

peninsular no domiacutenio do mar

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144

Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para

consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu

objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas

para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo

1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e

das bacias hidrograacuteficas

O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e

desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e

ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de

sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees

estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo

2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao

meio marinho

Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar

e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo

certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que

144

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54

91

visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos

marinhos nomeadamente

Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de

diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo

monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das

pescas e da aquacultura

Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a

induacutestria

3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e

a seguranccedila alimentar

Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do

conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que

contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees

de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade

de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do

consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior

aos produtos regionais

4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras

espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura

O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma

aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute

largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo

evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a

espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a

temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de

elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir

92

5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo

O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo

para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias

mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de

cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)

orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de

valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que

promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam

para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional

6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e

fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar

Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu

desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster

regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos

de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do

empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o

desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo

Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes

formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao

desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento

de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo

das demais componentes

7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias

A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu

constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-

oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping

representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas

vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste

contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O

apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas

articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias

93

internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila

constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos

transportes

Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros

do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial

importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade

do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de

incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica

8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo

naacuteutico

Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas

existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e

das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e

desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede

de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave

naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos

de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave

valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha

estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo

e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas

de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a

criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego

9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias

marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do

sector e a empregabilidade

O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores

chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima

94

A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as

outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a

qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas

ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a

oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro

de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da

formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do

turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de

desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio

10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar

A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito

do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do

POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando

o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas

No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a

iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo

actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145

e do CIIMAR146

Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo

oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-

Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos

sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e

naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)

145

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg

95

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar

A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder

coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da

governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico

dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no

domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como

plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes

actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees

Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a

existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do

mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees

A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de

pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees

puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas

com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em

presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de

coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos

que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e

a respectiva regulaccedilatildeo existente

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo

Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela

plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que

tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo

Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de

Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de

96

Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a

importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo

para as regiotildees Centro e Norte de Portugal

Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster

consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de

actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o

emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da

formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees

de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147

rdquo

Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de

entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais

pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de

Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional

criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de

mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da

produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto

diversificado de sectores e de actividades

bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca

bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica

bull Induacutestrias mariacutetimas

bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio

plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)

bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo

bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)

bull Roboacutetica submarina

bull Biotecnologia marinha

bull Energias renovaacuteveis

147

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

97

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro

linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148

que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos

clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)

Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das

Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades

emergentes no domiacutenio da economia do mar

Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca

da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar

Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias

mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica

Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no

apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza

No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto

totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos

anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes

Ecomare

Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo

de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro

Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto

Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo

de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar

permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os

seus protoacutetipos em meio marinho

148

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

98

Consupesca

Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca

costeira e de arrasto

Panthalassa

Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da

transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas

integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do

processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de

seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos

Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos

Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da

implementaccedilatildeo dos seguintes projectos

Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a

posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua

localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre

as Caraiacutebas e a Europa

Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da

naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo

como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico

Turismo Mariacutetimo de Natureza

Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)

99

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional

Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o

sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado

mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem

desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas

(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego

de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees

Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso

tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente

com o tempo de uma vidardquo (hellip)149

Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde

cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade

permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao

mar

A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela

INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica

como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150

Este estudo estrateacutegico foi apoiado

pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER

Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector

que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos

Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de

animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees

a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos

O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual

a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico

que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte

Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem

futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e

consequentemente no QREN (2007-2013)

149

Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010

(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150

Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

100

Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que

datildeo estrutura a cinco eixos

Rede de infra-estruturas naacuteuticas

Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da

actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na

qualificaccedilatildeo de serviccedilos

Dinamizaccedilatildeo turiacutestica

Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de

empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica

Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica

Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias

hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos

agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo

Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica

acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de

espaccedilos museoloacutegicos

Governacircncia

Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no

estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao

puacuteblico

Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos

que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem

econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um

desenvolvimento sustentaacutevel

O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua

interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso

de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para

as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas

101

Conclusotildees

No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os

tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a

transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas

europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo

pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto

de partida para posteriores aprofundamentos

Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais

Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta

constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de

atingir o seu potencial sisteacutemico

A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua

natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o

interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e

lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma

inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas

civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se

iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso

contributo deram agrave Humanidade

Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante

provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa

natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo

pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as

adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a

construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute

assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI

Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra

de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum

aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania

e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias

102

Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente

da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do

seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada

numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e

participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos

melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as

sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental

tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios

prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico

emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees

Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser

decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem

que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda

subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais

Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo

foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma

incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval

que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da

demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos

histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos

Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)

Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo

Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr

nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo

menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo

chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do

seacuteculo XX

103

Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem

Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector

mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades

mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por

excelecircncia e da Franccedila com a PAC

Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos

europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo

e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos

A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores

do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o

sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua

propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas

a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal

focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral

ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando

como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde

sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado

ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute

O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam

a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce

tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora

da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito

tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151

Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo

mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para

implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi

reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia

Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da

poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar

151

Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia

p186

104

com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao

mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma

Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e

laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica

ao mar

Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um

novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para

desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros

atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o

sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas

podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas

jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar

e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as

potencialidades do mar

Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus

verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como

a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a

ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking

mundial de paiacuteses mariacutetimos

Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste

devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal

atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico

um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias

Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave

medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de

poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que

afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes

Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades

105

Fontes e bibliografia

Fontes

Documentos COM (Comunicaccedilotildees da Comissatildeo Europeia)

COM (2010) 494 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Proposta de Regulamento do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um programa de apoio ao

aprofundamento da poliacutetica mariacutetima integrada Comissatildeo Europeia 2010

COM (2009) 540 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 538 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing

environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 536 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo

Europeia Comissatildeo Europeia 2009

106

COM (2009) 8 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte

mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009

COM (2008) 791 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento

do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008

COM (2008) 395 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores

praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas

Comissatildeo Europeia 2008

COM (2007) 575 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007

COM (2007) 574 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia

2007

COM (2006) 275 final Volume I

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento

Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma

futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares

Comissatildeo Europeia 2006

107

COM (2006) 275 final Volume II

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica

mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo

Europeia 2006

COM (2006) 105 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma

energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006

COM (2005) 658 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel

Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005

COM (2005) 505 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do

Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da

poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo

Europeia 2005

COM (2005) 504 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio

marinho Comissatildeo Europeia 2004

COM (2002) 511 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao

Conselho e ao Parlamento Europeu Estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel da

aquicultura europeia Comissatildeo Europeia 2002

108

Outras fontes

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 (2009) Porto CCDR-

NMinisteacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do Desenvolvimento

Regional

Encontro Porto Cidade Regiatildeo Para uma Regiatildeo do Conhecimento (2008) Porto

Reitoria Universidade do Porto

Estrateacutegia Nacional para o Mar (2006) Lisboa EMAMMinisteacuterio da Defesa

Nacional

Genuinely Sustainable Marine Ecotourism in the EU Atlantic Area a Blueprint for

Responsible Marketing (2006) Bristol University of West of England

ldquoOs clusters mariacutetimos na encruzilhada da inovaccedilatildeo e do desenvolvimento regionalrdquo

Inforegio panorama nordm 23 (2007) Bruxelas Comissatildeo Europeia DG Poliacutetica Regional

Plano de Acccedilatildeo para o Desenvolvimento Turiacutestico do Norte de Portugal (2008) Porto

CCDR-N Ministeacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do

Desenvolvimento Regional

109

Internet

Agecircncia Europeia de Seguranccedila Mariacutetima

wwwemsaeuropaeu (acedido 5 de Marccedilo de 2010)

AquaMuseu do rio Minho

httpaquamuseucm-vncerveirapt (acedido 13 de Setembro de 2010)

Atlas Europeu dos Mares

httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas (acedido 22 de Outubro de 2010)

Instituto Nacional da Aacutegua

wwwinagpt (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Instituto Hidrograacutefico

wwwhidrografico (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

wwwcimarorg (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR

httpwwwcetmarorg (acedido 8 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Agecircncia Europeia do Ambiente

wwweeaeuropaeu (acedido 4 de Janeiro de 2011)

Comissatildeo Europeia ndash Assuntos Mariacutetimos

httpeceuropaeumaritimeaffairsindex_enhtml (acedido 12 de Janeiro 2011)

Comissaacuterio Europeu Joe Borg

httpeceuropaeucommission_barrosoborgindex_enhtml (acedido 20 Dezembro de 2009)

Comissatildeo Europeia ndash O nosso Planeta Oceano

httpeceuropaeuresearchrtdinfsupptindex_pthtml (acedido 15 de Junho de 2010)

110

Comissatildeo Europeia ndash Pesca

httpeceuropaeufisheriesindex_pthtml (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Sea Search

wwwsea-seachnet (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comiteacute das Regiotildees

httpwwwcoreuropaeu (acedido 13 de Setembro de 2010)

Dia Europeu do Mar

httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday (acedido 10 de Novembro de 2010)

European Sea Ports Organization

wwwespobe (acedido 30 de Outubro de 2010)

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda

httpwwwfundacao-elapt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

wwwemamcompt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

FAO ndash Fisheries Department

httpfaoorgfidefaultesp (acedido 22 Novembro 2010)

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

httpwwwfempt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Foacuterum Europeu Mariacutetimo

httpswebgateeceuropaeumaritimeforum (acedido 10 de Novembro de 2010)

Fundaccedilatildeo Gil Eannes

wwwfundacaogileannespt (acedido 12 de Setembro de 2010)

Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm (acedido 5 de Janeiro de 2011)

111

International Maritime Organization

httpimoorg (acedido 14 de Novembro de 2010)

Irish Marine Institute

httpwwwmarineie (acedido 6 de Maio de 2010)

Instituto Portuaacuterio e dos Transportes Mariacutetimos

wwwimarporpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm (acedido 18 de Outubro de 2010)

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos

wwwjnieaeu (acedido 20 Agosto de 2010)

Lancha Poveira

httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp (acedido 30 de Outubro de 2010)

Museu da Marinha

wwwmuseumarinhamuseusiteptpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Nautisme Espace Atlantique 2

wwwnea2eu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

ONU ndash Department of Economic and Social Affairs

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm (acedido 30

de Setembro de 2010)

Oceanaacuterio de Lisboa

wwwoceanariopt (acedido 20 Agosto de 2010)

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar

httpwwwoceano21org (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Parlamento Europeu

httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)

112

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

httppoeminagpt (acedido 29 de Dezembro de 2010)

Polis Litoral Norte

wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria de Aveiro

wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria Formosa

wwwpolislitoralriaformosapt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciapt (acedido 10 de Janeiro de 2011)

Projecto Naacuteutica

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

(acedido 14 de Janeiro de 2011)

Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)

wwwqrenpt (acedido 14 de Janeiro de 2011)

SaeR ndash Sociedade de Avaliaccedilatildeo Estrateacutegica e Risco Lda

wwwsaerpr (acedido 12 Dezembro de 2010)

Surfrider Foundation Europe

wwwsurfridereu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

113

Bibliografia

AIRALDI Gabriela (2007) DallacuteEurosia al Nuovo Mondo Una Storia italiana secc

XI-VVI Geacutenova Itaacutelia Fratelli Frilli Editori

ALBUQUERQUE Luiacutes (2001) Introduccedilatildeo agrave Histoacuteria dos Descobridores Portugueses

Lisboa Publicaccedilatildeo Europa-Ameacuterica

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627

(2010) Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Aacutereas-chave nordm 20 (2006)

Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Perspectivas e linhas

estrateacutegicas nordm 19 (2006) Lisboa CIEJDPrincipia

FERNANDEZ-ARNESTO Felipe (2001) Civilizations Culture Ambition and the

Transformation of Nature Nova Iorque EUA Simom amp Shuster

BOORSTIN Daniel (1986) The Discovers Nova Iorque EUA Vintage Press

BOXER Charles R (2001) O Impeacuterio Mariacutetimo Portuguecircs 1415-1825 Lisboa

Ediccedilotildees 70

CARVALHO Virgiacutelio (1995) A Importacircncia do Mar para Portugal Venda Nova

Bertrand

COSTA Joatildeo Paulo O (2009) Henrique o Infante Lisboa A Esfera dos Livros

DREYER Edward L (2007) Zheng He - China and the Oceans in the early Ming

Dynasty ndash 14051433 Nova Iorque EUA Pearson Education

114

HUBERMAN Leo (1970) Histoacuteria da Riqueza do Homem Rio de Janeiro Brasil

Zahar Editores

HUTTON Will (2006) The Writing on the Wall - Why We Must Embrace China as a

Partner or Face It as an Enemy Nova Iorque EUA Free Press

LEITAtildeO Augusto R (2006) Organizaccedilotildees Europeias Coimbra FEUC

PERES Damiatildeo (1982) Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses Trofa Vertente

MATIAS Nuno V MARQUES Viriato S FALCATO Joatildeo LEITAtildeO Aristides G

(2010) Poliacuteticas Puacuteblicas do Mar Lisboa Esfera do Caos

SILVA Antoacutenio M (2005) Portugal e a Europa ndash distanciamento e reencontro Viseu

CHSCPalimage Editores

RIBEIRO Maria Manuela T (Coord) (2007) Mare Oceanus ndash Atlacircntico espaccedilo de

diaacutelogos Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm6 Coimbra Almedina

RIBEIRO Maria Manuela T (2003) A ideia de Europa uma perspectiva histoacuterica

Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm 3 Coimbra CEIS 20Quarteto Editora

RODRIGUES Jorge amp DEVEZAS Tessaleno (2009) Portugal ndash O Pioneiro da

Globalizaccedilatildeo A Heranccedila das Descobertas VN Famalicatildeo Centro Atlacircntico

RODRIGUES Antoacutenio S (1997) Histoacuteria Comparada - Portugal Europa e o Mundo

Cronologia Lisboa Tema amp Debates

SMITH Adam (1976) Inquiry into the Nature and Causes of Wealth of Nations

Chicago EUA The University of Chicago Press

Page 3: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à

III

ldquoQue improacuteprio chamar Terra a este planeta de oceanosrdquo

Sir Arthur C Clarke cit no Livro Verde ndash ldquoPara uma futura poliacutetica

mariacutetima da Uniatildeo uma visatildeo europeia para os oceanos e os maresrdquo

(2006)

ldquoPortugal encontra-se na periferia da Europa mas estaacute

no centro do mundordquo (hellip) ldquoPossuiacutemos uma vasta linha de

costa beneficiamos da maior zona econoacutemica exclusiva

da Uniatildeo Europeia Poderemos ser uma porta por onde a

Europa se abre ao Atlacircntico se soubermos aproveitar as

potencialidades desse imenso mar que se estende diante

dos nossos olhos mas que teimamos em natildeo verrdquo (hellip)

Cit no discurso de Sua Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica

Portuguesa Professor Doutor Aniacutebal Cavaco Silva durante a 36ordf

Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010 na Assembleia da

Repuacuteblica

IV

in memoriam

Professor Doutor Ernacircni Rodrigues Lopes

(1942 ndash 2010)

V

Resumo

Sabemos que dois terccedilos do planeta Terra satildeo ocupados pelos Oceanos Logo eacute

premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentaacutevel possiacutevel

E os ldquomaresrdquo foram desde sempre a seiva da Europa Os europeus desde haacute muito

tempo tiveram propensatildeo para se libertarem do mare incognitum Essa ousadia trouxe

retorno econoacutemico cultural e cientiacutefico notaacuteveis para a Humanidade

Os espaccedilos mariacutetimos e o litoral europeu satildeo essenciais para o bem-estar e

prosperidade ligam continentes atraveacutes de rotas comerciais regulam o clima satildeo fonte

de alimento de energia e de inuacutemeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e satildeo

tambeacutem locais privilegiados de residecircncia e lazer para os cidadatildeos

A Europa preconiza actualmente uma Poliacutetica Mariacutetima Integrada reflectindo e

projectando a nossa relaccedilatildeo com os oceanos e mares Esta abordagem inovadora e

holiacutestica reforccedila a capacidade da Europa face aos desafios da globalizaccedilatildeo e da

competitividade agraves alteraccedilotildees climaacuteticas agrave autonomia energeacutetica agrave seguranccedila mariacutetima

entre outras O leme da Poliacutetica Mariacutetima Europeia Integrada foi tomado em 2005 pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso e estaacute ancorada na Agenda de Lisboa

(apela ao crescimento econoacutemico e emprego) e na Agenda de Gotemburgo (apela ao

desenvolvimento sustentaacutevel ndash ambiental econoacutemico e social)

A nossa longa histoacuterica mariacutetima a liacutengua e cultura portuguesa e o facto de existir

uma Estrateacutegia Nacional para o Mar em consonacircncia com a Poliacutetica Mariacutetima Europeia

Integrada podem ser os factores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores

desiacutegnios para o seacuteculo XXI ndash o Mar Importa referir que eacute iminente o alargamento da

zona econoacutemica exclusiva (equivalente a 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental) e

caso seja aceite teremos seguramente uma nova oportunidade de estar no centro do

mundo

Esta investigaccedilatildeo tem portanto como objectivo analisar a poliacutetica mariacutetima

europeia e os seus desenvolvimentos em Portugal

PALAVRAS-CHAVE

EUROPA MAR POLIacuteTICA PORTUGAL SUSTENTAacuteVEL

VI

Lista de abreviaturas

BEI ndash Banco Europeu de Investimento

BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China

CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte

CdR ndash Comiteacute das Regiotildees

CE ndash Comissatildeo Europeia

CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos

CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval

CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar

CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors

CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental

CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono

COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade

CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa

DEM ndash Dia Europeu do Mar

EBA ndash European Boating Association

EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio

EM ndash Estados Membros

EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho

EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima

ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus

EuDA ndash European Dredging Association

EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group

VII

FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

FSE ndash Fundo Social Europeu

GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento

IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo

IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo

OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers

ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2

PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum

PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca

PIB ndash Produto Interno Bruto

PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas

PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal

POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva

VIII

Nota preacutevia

A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de

diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos

A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora

Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a

tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e

em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e

internacional

A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na

qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia

nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro

do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a

uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos

procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige

O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo

conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor

Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal

Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo

Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em

Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam

O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em

2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias

europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em

representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em

Estudos Europeus

Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos

amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre

me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e

carinho

Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho

IX

Iacutendice

Resumo V

Lista de abreviaturas VI

Nota preacutevia VIII

Introduccedilatildeo 1

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9

13 Siglo de oro espanhol 13

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27

24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43

X

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51

332 Fundos estruturais 53

333 Outras fontes de financiamento 55

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58

41 Breve balanccedilo 58

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59

43 Instrumentos transectoriais 62

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68

51 Princiacutepios e objectivos 73

52 Pilares estrateacutegicos 73

53 Acccedilotildees e medidas 75

54 O Hypercluster da economia do mar 81

55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99

Conclusotildees 101

Fontes e bibliografia 105

1

Introduccedilatildeo

A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito

Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e

a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a

conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz

parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia

para a vida

Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-

me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de

Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e

institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que

ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais

Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no

acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se

espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar

Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma

poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo

sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como

todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para

Portugal

Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que

procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material

e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e

desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas

italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes

para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de

Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa

Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia

europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas

2

No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica

Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades

da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os

mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a

consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no

processo de construccedilatildeo da PMIE

Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo

de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares

como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma

iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a

Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi

apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em

2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-

Comissaacuterio Europeu)

No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das

instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico

concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees

econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade

poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final

deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave

PMIE

Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis

agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves

actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees

estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste

capiacutetulo

No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)

resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de

aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos

Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores

da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da

3

Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente

em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo

No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para

aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades

latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a

plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de

desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo

Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a

ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo

entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de

inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto

ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas

4

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica

Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da

Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes

protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores

potecircncias de entatildeo

Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e

Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e

terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma

abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das

actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo

Industrial

Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos

Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV

aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar

Negro)

Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida

como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano

(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare

Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que

teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula

Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo

ateacute ao momento da chegada dos portugueses

Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como

Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)

Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)

Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do

seacuteculo VIII)

5

Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental

contiacutegua

No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo

as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede

litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes

casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma

talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade

continental

Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees

mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza

e na monarquia dual catalo-aragonesa

Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias

europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela

Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a

civilizaccedilatildeo mediterracircnica

A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia

Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado

predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e

banqueiros

Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos

A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas

libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca

Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e

o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash

assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-

senhorial dominante na Europa medieval

1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a

todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo

naval 2 AIRALDI 2007 9

3 AIRALDI ibidem 99

6

Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o

historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees

Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento

mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)

Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam

verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em

Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e

economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num

ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do

inicio do seacuteculo XV5

Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da

revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se

inscreveu na Histoacuteria universal

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas

Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque

para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a

partir do final do seacuteculo XIII

Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave

entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a

lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica

Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e

criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional

Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a

4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na

Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na

Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381

7

Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a

chama empreendedora pioneira

A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti

aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que

mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da

bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil

mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias

poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde

sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel

Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No

entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de

ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos

A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida

As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota

mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de

Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa

portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes

armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para

circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias

lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como

objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro

da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de

ldquoIacutendiardquo8

Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes

asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio

que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o

Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo

do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro

6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700

membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo

hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148

8

Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua

expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as

Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem

como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma

potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais

importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da

famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram

a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees

tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e

em diversos pontos do Magrebe

Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e

secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar

atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo

(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades

mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como

Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que

negociavam

A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie

sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia

da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude

comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla

Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees

de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000

pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros

A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por

ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel

Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas

desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de

onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as

Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo

fora um deles

9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um

dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique

9

Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade

Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a

haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em

conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que

cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra

dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao

hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10

Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas

surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a

uma escala global pelos portugueses

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo

O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos

portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o

centro econoacutemico do mundo

Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os

chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em

direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi

seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a

navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de

expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward

Dreyer na sua obra Zheng He11

O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de

diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser

excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente

necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo

primaacuteriardquo diz Dreyer

As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada

por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma

10

RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11

DREYER 2007 3

10

crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente

espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a

seguir chegassem ao Iacutendico12

Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de

Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto

de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia

hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem

aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as

potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de

commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo

dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista

Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em

particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash

e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)

idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o

arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria

principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza

negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora

procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado

Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence

ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a

Iacutendia)

A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante

longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais

entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos

sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde

entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo

mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo

no comeacutercio internacional

12

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61

11

O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a

inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo

do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room

de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das

primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um

modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare

Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de

influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e

longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13

Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash

baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do

planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as

bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como

globalizaccedilatildeo

Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como

um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto

gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a

visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um

conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu

a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14

Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico

e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a

gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou

um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos

deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de

publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo

naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar

A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de

aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos

infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador

13

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185

12

mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil

China e Japatildeo

Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de

projecccedilatildeo mundial foi tripla

Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e

Iacutendico

Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo

Campanha de marketing internacional junto do papado (poder

transnacional reconhecido pelos europeus)

Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico

(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um

projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo

messiacircnica

A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode

afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou

uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para

segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno

das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15

Segundo Daniel Boorstin16

ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo

prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as

largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo

15

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16

BOORSTIN 1986 83

Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e

bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria

e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria

Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que

destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos

13

13 Siglo de oro espanhol

O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do

seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave

abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute

a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681

Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro

com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don

Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro

Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado

politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados

por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau

Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado

pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em

1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de

Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras

notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan

de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro

de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica

muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais

ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III

Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves

ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17

o gesto mais

extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de

Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi

assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre

o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por

descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da

Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes

17

Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da

Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea

14

chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O

tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494

Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio

internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha

foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano

As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a

arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades

de Salamanca e Alcalaacute de Henares

As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos

comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de

Toledo Valecircncia e Saragoccedila

Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos

Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo

XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18

Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera

inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais

preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de

Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo

de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao

disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro

O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519

No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da

Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica

mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574

exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as

Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia

portuguesa20

Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel

I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de

seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a

18

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349

15

Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um

monarca um impeacuterio e uma espada

Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol

no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves

Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia

mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-

Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol

y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de

hoje)

Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os

acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo

Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees

espanholas das Ameacutericas

O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como

ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da

armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra

A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em

159021

Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional

apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don

Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute

provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo

reinado do filho e neto de Felipe II22

Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia

comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar

e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo

coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque

de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de

Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade

com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos

e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado

21

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373

16

pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos

recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)

desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e

passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento

em 1645

Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-

1648) de que passo a citar os mais importantes

As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da

Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis

como o momento de perda da hegemonia naval

Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp

Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses

A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640

A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs

A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa

Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional

foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele

tirar proveito efectivo

Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses

foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por

outrosrdquo23

Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os

ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24

ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os

23

BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24

RODRIGUES 1997 280 (volume I)

O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de

700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para

1770 contra 811 ingleses e 155 franceses

17

barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o

lugarrdquo dizia Leo Huberman25

Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista

justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica

desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do

seacuteculo XVII

A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos

chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso

apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como

arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26

O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27

A

doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O

holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28

(1604) e Mare Liberum (1609)

a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria

um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei

consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda

a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso

natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare

Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no

iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas

inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses

O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que

criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em

que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a

dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas

companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia

dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares

desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras

25

HUBERMAN 1970 45 26

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27

O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm

Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000

Berlim e Nova York 28

Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da

companhia holandesa VOC

18

cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29

) Esta deu origem mais tarde ao

aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India

Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias

Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que

agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van

Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594

Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso

Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a

infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-

ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o

hardpower)30

Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com

dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees

de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de

vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua

projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade

na projecccedilatildeo oceacircnica

Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de

Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais

ceacutelebre31

e em 1694 surgiu o Bank of England32

De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a

que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira

metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de

velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento

da artilharia a bordo dos navios33

29

HUBERMAM ibidem nt 12 30

HUTTON 2006 70 31

SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402

19

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial

O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente

chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens

era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para

cobrir os custos totais da frota)

As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas

mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram

ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo

ndash a Burguesia

Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo

protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo

niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido

ostracizados pela nobreza

Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial

disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta

O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de

capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte

financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial

A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34

com

profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento

econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado

Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a

partir do seacuteculo XIX

Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do

motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e

simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este

momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela

A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com

34

James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente

que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor

20

maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a

influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial

eclodiu em geral mais tarde

O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia

mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e

conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-

1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste

seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente

produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias

industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que

culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)

Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35

35

Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres

21

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que

daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36

No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as

principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da

Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para

Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus

De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses

costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto

europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a

apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de

descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de

culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua

maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um

planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a

elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes

desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o

astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do

horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a

vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)

A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar

encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e

prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas

36

Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794

22

presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas

tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio

permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer

A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas

ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos

(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de

milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como

os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais

de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob

jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres

Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute

igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por

estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo

A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre

teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no

desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria

Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura

veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico

da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu

eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de

mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias

representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia

Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da

importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem

crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva

ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre

sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de

comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da

rede logiacutestica que o torna possiacutevel37

37

COM (2006) 275 final vol II 3

23

O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na

agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo

muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente

Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do

desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre

estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos

larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte

empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38

A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de

2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro

europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute

exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de

outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia

A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que

diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro

agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro

segundo um estudo do Irish Marine Institute39

os sectores com maior potencial de

crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias

renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha

O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois

90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute

efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute

incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de

toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos

europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados

38

COM (2006) 275 final vol II 4 39

Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie

24

que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees

de euros40

Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do

transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas

para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador

para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-

portuaacuterios

Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a

classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua

lideranccedila

Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que

o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72

mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar

da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a

sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para

a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se

encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das

zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da

construccedilatildeo naval

O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos

anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro

satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o

desenvolvimento das zonas costeiras e insulares

O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos

uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a

641

Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades

interesses e locais42

O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento

sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem

40

Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41

Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde

Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de

motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42

Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde

25

objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43

e pelos Chefes de Estado

e de Governo44

O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia

Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45

Os mares em torno da

Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em

que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande

parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa

Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma

vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de

energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em

muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico

e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro

As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas

natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos

recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo

oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia

costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do

sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de

exportaccedilatildeo

Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

(FAO)46

indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado

de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de

uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode

tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura

poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e

desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47

A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o

maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de

pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das

43

COM (2006) 105 final 44

Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45

Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46

O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47

COM (2002) 511 final

26

pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48

Satildeo proporcionados

numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da

transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos

estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas

actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas

pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo

Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a

uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos

segmentos do sector das pescas49

Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por

sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa

No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-

me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos

mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o

reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos

Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a

PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa

poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de

direitos e com valores50

dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro

48

Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49

COM (2006) 275 final volume II 7-9 50

A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos

direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa

Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os

respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os

objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos

como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees

27

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo

ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente

orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a

plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma

sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo

cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da

Comissatildeo Europeia para 2005-2009

A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os

diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a

identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num

periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das

actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a

formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para

aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre

uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem

holiacutestica dos oceanos e dos mares

Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por

pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude

de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar

dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha

devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca

eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar

Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e

insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio

entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental

Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova

consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do

potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades

econoacutemicas

28

A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-

se em dois pilares fundamentais

Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o

crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no

conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e

garantir empregos de qualidade

Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam

todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito

Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa

parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do

meio marinho

A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees

entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as

actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute

necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e

de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica

Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos

oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos

O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente

ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes

Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de

poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de

agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados

para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um

niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute

devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor

acrescentado agraves actividades de outros51

51

COM (2006) 275 final volume II 5-6

29

24 Aacutereas-chave no Livro Verde

Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar

Meio marinho

O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo

acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da

ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)

alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo

com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas

descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)

Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-

se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na

elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de

lastro52

Investigaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com

conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus

programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e

racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas

tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia

Inovaccedilatildeo

A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo

como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem

tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento

sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia

52

Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade

do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar

ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de

transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de

lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os

registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro

30

eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo

dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia

Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo

As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No

entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53

o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero

de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos

mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo

O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem

formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo

assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa

O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos

potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas

perspectivas profissionais

A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para

o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que

importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e

mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os

europeus se habituaram com toda a legitimidade

Formaccedilatildeo de clusters54

O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os

diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e

produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem

todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio

mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de

53

Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and

related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54

Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de

empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais

precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo

de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees

associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo

31

transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters

regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima

atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55

Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou

grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos

comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no

ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo

de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns

nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade

A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em

sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e

tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da

construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo

resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e

serviccedilos56

Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e

transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores

mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos

Qualidade de vida nas regiotildees costeiras

O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca

Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se

construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida

agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente

A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que

a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute

igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de

abrandamento57

Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral

enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias

55

BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56

Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o

Livro Verde 57

Contributo da CRPM para o Livro Verde

32

A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo

e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma

maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de

transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo

abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das

aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas

costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e

remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar

no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet

actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58

Ao planear o

desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter

um resultado sustentaacutevel

As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do

turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel

mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel

pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a

competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o

patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero

crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade

constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais

compatiacuteveis com o ambiente

Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da

qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e

desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo

A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos

os destinos turiacutesticos costeiros

A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a

competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute

oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural

situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de

58

Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma

questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo

33

atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia

subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta

inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas

de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas

actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local

No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve

tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte

tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus

em dias sol por ano)

Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica

gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a

tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto

ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no

litoral portuguecircs

Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima

Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios

estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de

competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e

autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59

eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais

Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a

criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia

mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio

marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve

proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma

abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste

59

O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a

comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo

possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos

domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio

nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo

proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm

34

contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma

importacircncia cada vez maior

Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas

sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial

sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260

e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61

Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor

compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees

O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois

ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado

promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as

partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e

directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais

Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala

dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia

da Seguranccedila Mariacutetima62

(EMSA) com sede em Lisboa

Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos

ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63

Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que

aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas

sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos

recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados

de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e

agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo

Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico

60

ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61

Contributo da EuDA para o Livro Verde 62

A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de

acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no

mar 63

ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire

(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute

considerado um marco da poesia moderna

35

Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que

obviar a estas lacunas

A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de

observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a

melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e

o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da

comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise

integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados

provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos

serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de

dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de

monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas

O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem

criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector

mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo

dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso

contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema

oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas

sazonais64

Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os

continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos

de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave

rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias

ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a

navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver

documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns

trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros

por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira

64

COM (2006) 275 final volume II 34-35

36

Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos

teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar

pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde

Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e

das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma

convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos

estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender

as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da

avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As

organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se

associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro

que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar

de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades

mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a

Humanidade65

Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um

papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano

estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e

por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente

orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e

ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas

Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos

atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer

Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995

sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66

satildeo um evento

desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas

diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os

desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste

quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas

(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos

65

COM (2006) 275 final volume II 51 66

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)

37

culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma

para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa

Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as

Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider

Foundation Europe67

Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico

para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas

Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268

ldquoNautisme Espace

Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da

fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria

comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos

temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em

cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns

transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por

cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um

periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo

Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como

tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este

projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique

(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11

parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo

O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo

da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar

67

Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o

litoral 68

Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)

38

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE

O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo

Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado

mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam

devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo

do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda

A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o

lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses

Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia

O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa

de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas

as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais

apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro

Verde69

As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor

informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima

Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem

integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade

da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia

mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e

respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala

comunitaacuteria)

As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o

papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar

proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as

actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do

envolvimento dos governos dos Estados-Membros

69

COM (2007) 574 final 2

39

Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos

mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio

privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas

economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que

funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas

Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute

mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou

locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o

ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os

governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais

(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do

espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos

ecossistemas

O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o

interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos

mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e

do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias

mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho

cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos

Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global

dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de

boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os

pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais

ou turistas

Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de

ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado

na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute

veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como

abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70

No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230

eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados

70

COM (2007) 574 final 9-10

40

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo

Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se

com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os

Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano

de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da

subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma

ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas

para o mar

A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de

2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia

em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente

com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de

trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo

tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar

rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as

oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo

De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no

segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem

integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos

eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a

Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a

divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores

prioritaacuterios a seguir

Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa

pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos

assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes

europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre

41

Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias

envolvidas

Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave

proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia

aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de

uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez

o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave

Iacutendia em 1498

A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo

Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos

oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados

todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada

O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto

grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-

Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso

Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a

abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e

transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os

resultados das acccedilotildees preparatoacuterias

A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute

analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo

entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e

pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais

Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que

desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam

conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima

42

Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez

instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais

ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos

que se seguem satildeo especialmente importantes

Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima

A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo

segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e

optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade

ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e

ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei

e agrave seguranccedila em geral71

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras

(GIZC)

Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre

e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e

vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees

concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e

outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas

actividades de lazer72

Dados e informaccedilotildees

A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos

factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de

decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de

dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema

importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e

informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73

71

COM (2007) 575 final 5 72

COM (2007) 575 final 6 73

COM (2007) 575 final 6

43

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo

As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na

prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo

principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber

1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares

O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar

as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o

desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi

superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da

logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a

partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas

noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica

offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios

deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias

marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver

produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos

mercados mundiais

Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento

sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as

actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do

ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o

desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores

conexos

O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e

continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a

prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel

elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para

proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de

concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional

44

Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de

dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente

em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a

necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas

da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de

transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis

A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da

construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de

ponta incorporada

O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental

para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses

investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras

do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer

o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave

medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e

promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e

o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas

A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas

pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74

bem como de energias renovaacuteveis e

tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de

transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento

A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente

potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais

que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as

suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima

europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos

produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo

da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para

criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua

globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector

privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par

74

Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em

offshore

45

da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia

mariacutetima

Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo

que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e

privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para

compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e

sectores75

Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-

Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76

que estabelece um quadro de acccedilatildeo

comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos

ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando

especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida

no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do

ambiente marinho77

Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu

foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no

domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as

medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho

ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista

a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando

exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as

ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e

assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas

sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)

O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final

de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa

75

COM (2007) 575 final 7-9 76

Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77

Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final

46

um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio

marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia

2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima

A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o

desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas

Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades

humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a

chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a

degradaccedilatildeo do ambiente

O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo

portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este

reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os

efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode

permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute

necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a

niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os

esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o

diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a

investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais

eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78

3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras

Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi

duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As

comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo

que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do

ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade

As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a

desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees

78

COM (2007) 575 final 12

47

(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no

quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia

estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu

hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das

aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve

ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees

costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo

dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas

regiotildees

O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante

catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias

Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram

que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se

por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos

vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos

econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)

A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores

mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade

em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional

no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo

Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o

desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade

e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar

plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento

mariacutetimo inter-regional

As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas

consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades

mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem

serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A

48

Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a

sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79

A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os

esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do

bem-estar social dos trabalhadores activos no sector

A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica

tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das

condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das

comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras

Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do

desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees

residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica

pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo

para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si

valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na

conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em

agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade

4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais

A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma

governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o

direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos

pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas

principais instacircncias internacionais

O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais

a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da

biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do

transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos

navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as

prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees

79

COM (2007) 575 final 13-14

49

externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees

climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)

Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os

parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem

mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os

Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e

China (agora denominados BRIC)

A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada

relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo

Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que

concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao

niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em

desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de

cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave

poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80

5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente

os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos

barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir

agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos

barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo

interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa

mariacutetima81

Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em

resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de

consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da

Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa

80

COM (2007) 575 final 14-15 81

Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os

oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade

mariacutetima da Europa p 51

50

mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e

integrada

Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo

de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia

puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles

o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns

Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da

Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao

mar

A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as

comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais

os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre

elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade

A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais

destaco o Dia Europeu do Mar82

(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e

2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o

Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar

da Europa

O Atlas Europeu dos Mares83

jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados

do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo

puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico

fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados

como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o

transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e

as ldquoauto-estradas do marrdquo

Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84

como o website85

contribuem para ajudar a melhor

compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores

de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a

comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de

82

Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83

Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84

Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85

Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs

51

alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho

e as comunidades costeiras

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE

As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos

financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra

Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave

forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos

instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de

exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam

todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos

financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de

Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas

no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado

programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia

A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a

niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa

que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia

instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB

meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por

finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos

domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute

sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro

52

beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica

Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra

vez sob controlo

A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se

ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo

O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de

coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem

deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel

As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013

centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos

Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito

empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e

melhores empregos

Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a

crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar

para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer

grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho

Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os

intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local

A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos

difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o

conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo

um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo

(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e

luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim

reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as

disparidades seriam maiores

Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada

atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas

estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio

comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas

A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma

dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para

53

27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a

superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute

aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as

disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente

60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros

que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de

gravidade da poliacutetica regional para Leste

Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional

aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais

e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento

comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica

Agriacutecola Comum (PAC)

Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo

e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem

projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE

332 Fundos Estruturais

Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

O FEDER86

apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos

produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas

O FSE87

instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das

categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de

formaccedilatildeo

86

Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao

desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87

Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999

relativo ao Fundo Social Europeu

54

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)

O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia

atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia

Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas

designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar

emprego duradouro

Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves

telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes

Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de

desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local

e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees

Medidas de assistecircncia teacutecnica

O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a

competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia

Fundo Social Europeu (FSE)

O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na

Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade

regional e emprego

O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes

Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem

ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho

inovadoras

Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das

pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes

Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a

discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho

Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e

colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino

55

333 Outras fontes de financiamento

A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr

outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88

que

serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo

verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89

contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo

transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em

bacias mariacutetimas

O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um

importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais

destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de

desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as

ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis

Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo

Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro

Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo

multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades

mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente

ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de

2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares

integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e

ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O

prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de

Janeiro de 2011

Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios

financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a

Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE

88

Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a

ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho

relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm

56

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE

pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante

o periacuteodo remanescente (2010-2013)

Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um

programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a

implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE

e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu

das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo

desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e

Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica

mariacutetima integrada

No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros

actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-

Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e

das zonas costeiras

Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os

objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro

modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes

interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute

iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar

ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE

A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da

PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31

de Dezembro de 2013

O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90

Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo

integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as

bacias mariacutetimas

90

COM (2010) 494 final 11

57

Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as

poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras

Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos

recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo

e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com

as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais

Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas

com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia

Marinha

Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que

respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada

Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se

traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91

Estudos e programas de cooperaccedilatildeo

Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do

puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo

campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo

de siacutetios Web

Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes

interessadas

Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de

informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais

financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico

nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado

instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos

Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto

91

COM (2010) 494 final 12-13

58

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE

41 Breve balanccedilo

A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem

destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades

relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios

muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas

aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as

regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas

deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as

relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse

consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-

se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base

para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral

nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da

induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior

integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a

PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos

reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees

costeiras do continente92

O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a

fazecirc-lo) quatro objectivos93

Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais

abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo

Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais

necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas

92

COM (2009) 540 final 2 93

COM 2009) 540 final 3

59

Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de

sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial

No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em

consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e

encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso

A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees

incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos

da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas

em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham

sido ainda adoptados

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas

O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e

nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva

passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a

compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo

das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os

progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem

pelos stakeholders

Instituiccedilotildees da UE94

A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo

de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de

Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano

de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees

94

COM (2009) 540 final 3-4

60

regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e

eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas

A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato

da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a

coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais

tendo em conta as especificidades regionais

O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece

a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e

Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895

ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior

importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o

valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia

integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em

conta as especificidades regionais (hellip)rdquo

Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-

Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos

de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se

utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees

nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros

e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia

e impacto

A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito

positivos96

Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes

comissotildees e estruturas

O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A

Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem

elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote

mariacutetimo e costeirordquo97

constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses

divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica

95

16503108 REV 1 96

Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi

Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97

CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009

61

O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um

parecer98

particularmente favoraacutevel agrave PMIE

Estados-Membros99

Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-

Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos

informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas

mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma

estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais

Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas

praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo

inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em

Junho de 2008100

e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de

estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel

dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer

francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima

coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima

britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido

A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e

a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo

um total de 14 Estados membros

Regiotildees101

As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu

iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para

executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram

igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as

regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas

para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas

98

JO 2008C 21107 99

COM (2009) 540 final 4-5 100

COM (2008) 395 final de 2662008 101

COM (2009) 540 final 5

62

(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do

plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho

Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional

Partes interessadas102

As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma

PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a

advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e

regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos

e instrumentos inovadores

A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os

vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A

Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero

de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a

voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado

em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais

para a PMIE

43 Instrumentos transectoriais

Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de

existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a

poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute

possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos

102

COM (2009) 540 final 5-6

63

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira

(GIZC)103

O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a

competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute

um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo

sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem

ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes

interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos

concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho

A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o

ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104

O roteiro

estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros

de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE

Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105

as partes

interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez

princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante

para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou

igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria

para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o

desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um

estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os

benefiacutecios econoacutemicos do OEM

No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de

um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada

da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar

o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106

No final de

2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de

Barcelona107

103

Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104

COM(2008) 791 final 105

httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107

COM (2009) 540 final 6-7

64

Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima

A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no

mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo

significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar

e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos

detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente

Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas

de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108

empreendidas a niacutevel nacional regional e

europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo

da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de

Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109

A

Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante

total de 57 milhotildees de euros110

para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com

vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no

Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111

Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima

Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos

adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho

permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e

de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como

objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos

utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas

de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem

como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes

e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112

Destaque para o

lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico

para as questotildees marinhas

108

SEC (2008) 2337 109

COSDP 949 PESC 1366 110

Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111

COM (2009) 540 final 7 112

COM (2009) 540 final 7-8

65

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE

Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e

que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a

sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de

recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas

mariacutetimas e costeiras

Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para

dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a

protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das

alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no

mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor

da globalizaccedilatildeo e da prosperidade

Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa

mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as

sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade

ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute

avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas

Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos

alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees

costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a

montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos

contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma

isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve

igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo

resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e

as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais

necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo

seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes

interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113

113

COM (2009) 540 final 11

66

Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o

desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da

legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar

investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como

gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois

converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e

contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum

sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode

contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos

essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e

a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar

a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos

possam alcanccedilar os resultados previstos114

A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um

impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro

ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o

desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos

cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um

objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre

todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a

poliacutetica para o meio marinho115

As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da

PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos

geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um

elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os

Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta

cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros

que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem

igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116

114

COM (2009) 540 final 11 115

COM (2009) 540 final 12 116

COM (2009) 540 final 12

67

Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A

Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala

mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A

Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais

parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e

processos informais117

No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se

no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no

futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE

promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia

renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes

submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica

comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma

estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com

vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute

importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no

debate em curso sobre a coesatildeo territorial

A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de

favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e

melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito

do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas

seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o

investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente

no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a

favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute

a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo

naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute

proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de

navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo

e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das

costas da Europa118

117

COM (2009) 540 final 12 118

COM (2009) 540 final 12

68

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico

fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o

oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de

Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)

Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial

relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do

processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute

resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram

definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste

capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas

mariacutetimas nacionais

Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas

(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a

sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos

sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE

Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal

para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta

portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente

apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)

da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de

Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a

entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a

decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015

Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma

aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira

ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos

Estados Unidos da Ameacuterica

69

As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de

destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou

jurisdiccedilatildeo nacional

Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas

oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas

sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes

insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos

submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119

os campos de fontes hidrotermais as

riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de

afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que

importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos

culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos

energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam

um dos principais activos nacionais

Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de

governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio

da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional

para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o

Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel

sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma

missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque

permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos

Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco

objectivos que passo a enumerar

1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade

2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano

3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas

4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano

5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano

119

A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende

sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave

latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas

70

Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos

de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo

cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc

resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu

em particular120

rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de

modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima

Integrada Europeia

De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com

ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos

oceanos

Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje

que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante

intangiacutevel e invisiacutevel121

No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal

foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais

significativos destaco

Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada

por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares

aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)

O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na

sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia

Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial

de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o

futurordquo

Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros

8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente

- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a

capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e

120

Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a

cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121

ENM 2006-2016 p 2

71

tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que

permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando

o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis

- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o

objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela

requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar

- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma

Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da

plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela

Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar

Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do

Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar

os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta

comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250

recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas

Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma

Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)

com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental

de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo

de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-

Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental

Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto

com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de

preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas

para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos

do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas

aacutereas ligadas ao mar

Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de

Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere

aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos

domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha

72

Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu

procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica

Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia

A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de

Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009

junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU

A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma

continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU

em Nova Iorque

Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram

dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde

Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve

desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos

Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente

americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades

nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave

poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba

tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo

entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional

A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para

tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que

pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos

da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade

civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar

como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e

preservando este valioso patrimoacutenio

O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento

econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na

concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados

tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso

73

uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios

humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento

51 Princiacutepios e objectivos

A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade

nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a

existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente

Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos

agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas

ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento

econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122

A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a

educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros

internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do

oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos

transparentes rigorosos e crediacuteveis

52 Pilares estrateacutegicos

As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um

enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber

- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de

percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real

impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil

avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo

122

ENM 2006-2016 p 10

74

- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela

gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave

interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses

jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo

- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel

mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos

avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar

obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses

nacionais

Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades

as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos

Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel

assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento

diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de

desenvolvimento do Paiacutes

A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida

e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes

pilares estrateacutegicos123

O conhecimento

O planeamento e o ordenamento espaciais

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais

No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute

atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no

desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute

possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de

desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a

educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o

uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais

satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento

puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar

123

ENM 2006-2016 p 12

75

O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo

promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de

conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da

abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as

utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente

integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento

das actividades associadas

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo

envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e

multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-

activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser

suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional

nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica

tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a

identidade nacionais

O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs

pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de

qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes

econoacutemica social e ambiental

53 Acccedilotildees e medidas

O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs

pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades

econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em

desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do

crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124

124

ENM 2006-2016 p 17

76

Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos

preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas

Transportes

Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte

mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa

promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte

acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo

de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela

uacutenica portuaacuteria125

Energia

Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia

energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos

existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e

atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam

responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma

induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as

exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por

exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor

conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins

energeacuteticos com origem foacutessil

Aquicultura e pescas

Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que

tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as

actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas

protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes

125

A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto

atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar

desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma

ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado

dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias

importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o

que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por

naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo

77

artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura

offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental

Defesa nacional e seguranccedila

Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do

Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na

seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito

dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na

mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de

Protecccedilatildeo Civil

Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo

Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de

ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes

fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e

participando activamente nas redes internacionais

Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza

Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e

costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha

recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a

conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo

de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da

poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre

o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e

assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho

Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo

Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees

promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando

nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e

fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e

a educaccedilatildeo ambiental

78

Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio

Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as

actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o

desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo

o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas

internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o

remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o

turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais

classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees

Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza

promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes

Poliacutetica externa

Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros

continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da

comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e

defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes

Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126

que tendo em consideraccedilatildeo a

exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto

prazo

Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a

implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos

do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as

competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela

Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas

aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central

para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus

interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos

assuntos do mar

Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da

discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do

126

ENM 2006-2016 p18

79

processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de

forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos

assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida

eficaz e abrangente

Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de

acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar

condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A

implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais

permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando

valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir

o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo

Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127

a saber

A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar

A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao

mar

A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo

das ciecircncias do mar da Europa

O planeamento e ordenamento espacial das actividades

A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

O fomento da economia do mar

A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas

A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos

mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional

A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em

Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar

assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das

suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no

periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base

num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica

127

ENM 2006-2016 pp 22-23

80

Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na

inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias

instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo

obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que

cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos

objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador

Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da

Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste

novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no

Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a

acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo

No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua

Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do

mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128

na

Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010

(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como

exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar

eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa

geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as

estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na

proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir

em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e

incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam

economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios

que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute

certamente um delesrdquo (hellip)

128

Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445

81

54 O Hypercluster da economia do mar

ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia

portuguesardquo

Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de

economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de

avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129

sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa

da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura

considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e

sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes

diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero

O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a

fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de

conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo

O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia

portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos

seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz

a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um

cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal

O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um

catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado

potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e

investimentos de qualidade nomeadamente externos

Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera

cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a

comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de

28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-

129

Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf

82

se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor

que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos

Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um

novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global

na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130

O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas

diferentes de planos e acccedilotildees a saber

1) Planos prioritaacuterios

Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e

competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores

sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp

turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo

amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)

2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata

Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da

frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)

3) Planos de alimentaccedilatildeo

Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo

prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo

amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp

conservaccedilatildeo da natureza)

4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)

O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho

criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131

(FEM)

130

Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do

Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes

httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce

41366a4bbe8a49b02a028 131

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt

83

O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento

com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute

organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster

apresentado

Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo

principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo

assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente

fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais

55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132

The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as

a whole 133

O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE

Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo

respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento

econoacutemico do meio marinho134

No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm

1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre

outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o

desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e

actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a

132

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133

ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados

como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)

Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da

UE satildeo Partes na UNCLOS 134

COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios

comuns na EUrdquo p 2

84

gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no

quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia

econoacutemica ambiental e social do mar

Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional

tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente

mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a

coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular

esta mateacuteria de forma coerente e articulada

Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e

considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de

Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi

determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os

objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando

as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute

acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a

qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos

O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a

Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do

espaccedilo mariacutetimordquo

Visatildeo

ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e

seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no

conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo

Missatildeo

ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na

promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e

potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem

no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o

85

normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento

sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo

Discussatildeo Puacuteblica

A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo

Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva

Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099

de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do

POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo

ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo

Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia

estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais

A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos

erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de

biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no

acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e

interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o

desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo

No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo

Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de

Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de

zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de

intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral

86

Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes

medidas

Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a

promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a

reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e

paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel

Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais

Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos

espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural

Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes

da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e

associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais

De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do

Norte135

litoral da Ria de Aveiro136

litoral da Ria Formosa137

e o litoral da Costa

Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes

lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com

recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros

135

wwwpolislitoralnortept 136

wwwpolisriadeaveiropt 137

wwwpolislitoralriaformosapt

87

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo

A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte

ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na

eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo

participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens

para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e

o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da

Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a

saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a

pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em

termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo

No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte

ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer

A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura

do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)

e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os

municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do

Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A

regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo

cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138

em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139

na Poacutevoa

de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140

em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio

Minho141

em Vila Nova de Cerveira entre outros

138

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139

Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140

Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141

AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt

88

O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional

do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada

por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem

vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias

constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e

relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo

ldquoMarrdquo

A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral

ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de

produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a

internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento

e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de

forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da

Regiatildeo142

Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de

razotildees das quais destaco as seguintes

A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a

maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela

existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e

econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade

Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes

que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de

complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao

desenvolvimento da regiatildeo

Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no

sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda

de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas

ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de

142

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52

89

riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do

reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo

Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com

outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM

favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades

indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional

Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no

plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa

estrateacutegia europeia

Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-

financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo

relevante em ambos os programas

Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente

dos jovens para a temaacutetica mar

Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo

entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para

o desenvolvimento no domiacutenio do mar

Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num

processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e

nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano

constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter

em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do

Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e

POCTEA143

)

Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada

a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades

puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal

143

POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal

POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

90

Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa

que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar

Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de

cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo

Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de

complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste

peninsular no domiacutenio do mar

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144

Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para

consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu

objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas

para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo

1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e

das bacias hidrograacuteficas

O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e

desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e

ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de

sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees

estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo

2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao

meio marinho

Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar

e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo

certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que

144

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54

91

visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos

marinhos nomeadamente

Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de

diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo

monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das

pescas e da aquacultura

Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a

induacutestria

3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e

a seguranccedila alimentar

Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do

conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que

contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees

de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade

de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do

consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior

aos produtos regionais

4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras

espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura

O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma

aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute

largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo

evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a

espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a

temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de

elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir

92

5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo

O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo

para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias

mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de

cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)

orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de

valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que

promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam

para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional

6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e

fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar

Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu

desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster

regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos

de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do

empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o

desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo

Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes

formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao

desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento

de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo

das demais componentes

7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias

A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu

constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-

oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping

representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas

vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste

contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O

apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas

articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias

93

internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila

constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos

transportes

Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros

do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial

importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade

do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de

incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica

8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo

naacuteutico

Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas

existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e

das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e

desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede

de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave

naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos

de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave

valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha

estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo

e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas

de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a

criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego

9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias

marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do

sector e a empregabilidade

O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores

chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima

94

A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as

outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a

qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas

ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a

oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro

de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da

formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do

turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de

desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio

10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar

A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito

do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do

POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando

o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas

No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a

iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo

actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145

e do CIIMAR146

Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo

oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-

Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos

sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e

naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)

145

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg

95

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar

A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder

coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da

governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico

dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no

domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como

plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes

actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees

Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a

existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do

mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees

A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de

pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees

puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas

com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em

presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de

coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos

que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e

a respectiva regulaccedilatildeo existente

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo

Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela

plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que

tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo

Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de

Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de

96

Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a

importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo

para as regiotildees Centro e Norte de Portugal

Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster

consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de

actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o

emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da

formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees

de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147

rdquo

Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de

entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais

pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de

Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional

criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de

mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da

produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto

diversificado de sectores e de actividades

bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca

bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica

bull Induacutestrias mariacutetimas

bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio

plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)

bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo

bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)

bull Roboacutetica submarina

bull Biotecnologia marinha

bull Energias renovaacuteveis

147

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

97

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro

linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148

que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos

clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)

Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das

Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades

emergentes no domiacutenio da economia do mar

Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca

da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar

Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias

mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica

Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no

apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza

No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto

totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos

anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes

Ecomare

Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo

de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro

Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto

Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo

de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar

permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os

seus protoacutetipos em meio marinho

148

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

98

Consupesca

Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca

costeira e de arrasto

Panthalassa

Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da

transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas

integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do

processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de

seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos

Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos

Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da

implementaccedilatildeo dos seguintes projectos

Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a

posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua

localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre

as Caraiacutebas e a Europa

Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da

naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo

como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico

Turismo Mariacutetimo de Natureza

Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)

99

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional

Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o

sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado

mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem

desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas

(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego

de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees

Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso

tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente

com o tempo de uma vidardquo (hellip)149

Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde

cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade

permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao

mar

A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela

INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica

como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150

Este estudo estrateacutegico foi apoiado

pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER

Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector

que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos

Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de

animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees

a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos

O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual

a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico

que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte

Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem

futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e

consequentemente no QREN (2007-2013)

149

Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010

(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150

Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

100

Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que

datildeo estrutura a cinco eixos

Rede de infra-estruturas naacuteuticas

Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da

actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na

qualificaccedilatildeo de serviccedilos

Dinamizaccedilatildeo turiacutestica

Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de

empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica

Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica

Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias

hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos

agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo

Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica

acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de

espaccedilos museoloacutegicos

Governacircncia

Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no

estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao

puacuteblico

Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos

que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem

econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um

desenvolvimento sustentaacutevel

O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua

interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso

de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para

as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas

101

Conclusotildees

No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os

tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a

transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas

europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo

pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto

de partida para posteriores aprofundamentos

Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais

Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta

constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de

atingir o seu potencial sisteacutemico

A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua

natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o

interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e

lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma

inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas

civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se

iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso

contributo deram agrave Humanidade

Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante

provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa

natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo

pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as

adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a

construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute

assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI

Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra

de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum

aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania

e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias

102

Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente

da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do

seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada

numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e

participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos

melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as

sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental

tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios

prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico

emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees

Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser

decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem

que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda

subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais

Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo

foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma

incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval

que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da

demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos

histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos

Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)

Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo

Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr

nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo

menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo

chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do

seacuteculo XX

103

Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem

Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector

mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades

mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por

excelecircncia e da Franccedila com a PAC

Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos

europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo

e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos

A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores

do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o

sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua

propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas

a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal

focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral

ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando

como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde

sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado

ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute

O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam

a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce

tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora

da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito

tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151

Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo

mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para

implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi

reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia

Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da

poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar

151

Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia

p186

104

com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao

mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma

Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e

laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica

ao mar

Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um

novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para

desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros

atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o

sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas

podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas

jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar

e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as

potencialidades do mar

Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus

verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como

a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a

ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking

mundial de paiacuteses mariacutetimos

Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste

devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal

atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico

um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias

Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave

medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de

poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que

afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes

Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades

105

Fontes e bibliografia

Fontes

Documentos COM (Comunicaccedilotildees da Comissatildeo Europeia)

COM (2010) 494 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Proposta de Regulamento do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um programa de apoio ao

aprofundamento da poliacutetica mariacutetima integrada Comissatildeo Europeia 2010

COM (2009) 540 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 538 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing

environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 536 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo

Europeia Comissatildeo Europeia 2009

106

COM (2009) 8 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte

mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009

COM (2008) 791 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento

do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008

COM (2008) 395 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores

praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas

Comissatildeo Europeia 2008

COM (2007) 575 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007

COM (2007) 574 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia

2007

COM (2006) 275 final Volume I

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento

Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma

futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares

Comissatildeo Europeia 2006

107

COM (2006) 275 final Volume II

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica

mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo

Europeia 2006

COM (2006) 105 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma

energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006

COM (2005) 658 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel

Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005

COM (2005) 505 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do

Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da

poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo

Europeia 2005

COM (2005) 504 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio

marinho Comissatildeo Europeia 2004

COM (2002) 511 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao

Conselho e ao Parlamento Europeu Estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel da

aquicultura europeia Comissatildeo Europeia 2002

108

Outras fontes

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 (2009) Porto CCDR-

NMinisteacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do Desenvolvimento

Regional

Encontro Porto Cidade Regiatildeo Para uma Regiatildeo do Conhecimento (2008) Porto

Reitoria Universidade do Porto

Estrateacutegia Nacional para o Mar (2006) Lisboa EMAMMinisteacuterio da Defesa

Nacional

Genuinely Sustainable Marine Ecotourism in the EU Atlantic Area a Blueprint for

Responsible Marketing (2006) Bristol University of West of England

ldquoOs clusters mariacutetimos na encruzilhada da inovaccedilatildeo e do desenvolvimento regionalrdquo

Inforegio panorama nordm 23 (2007) Bruxelas Comissatildeo Europeia DG Poliacutetica Regional

Plano de Acccedilatildeo para o Desenvolvimento Turiacutestico do Norte de Portugal (2008) Porto

CCDR-N Ministeacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do

Desenvolvimento Regional

109

Internet

Agecircncia Europeia de Seguranccedila Mariacutetima

wwwemsaeuropaeu (acedido 5 de Marccedilo de 2010)

AquaMuseu do rio Minho

httpaquamuseucm-vncerveirapt (acedido 13 de Setembro de 2010)

Atlas Europeu dos Mares

httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas (acedido 22 de Outubro de 2010)

Instituto Nacional da Aacutegua

wwwinagpt (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Instituto Hidrograacutefico

wwwhidrografico (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

wwwcimarorg (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR

httpwwwcetmarorg (acedido 8 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Agecircncia Europeia do Ambiente

wwweeaeuropaeu (acedido 4 de Janeiro de 2011)

Comissatildeo Europeia ndash Assuntos Mariacutetimos

httpeceuropaeumaritimeaffairsindex_enhtml (acedido 12 de Janeiro 2011)

Comissaacuterio Europeu Joe Borg

httpeceuropaeucommission_barrosoborgindex_enhtml (acedido 20 Dezembro de 2009)

Comissatildeo Europeia ndash O nosso Planeta Oceano

httpeceuropaeuresearchrtdinfsupptindex_pthtml (acedido 15 de Junho de 2010)

110

Comissatildeo Europeia ndash Pesca

httpeceuropaeufisheriesindex_pthtml (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Sea Search

wwwsea-seachnet (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comiteacute das Regiotildees

httpwwwcoreuropaeu (acedido 13 de Setembro de 2010)

Dia Europeu do Mar

httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday (acedido 10 de Novembro de 2010)

European Sea Ports Organization

wwwespobe (acedido 30 de Outubro de 2010)

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda

httpwwwfundacao-elapt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

wwwemamcompt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

FAO ndash Fisheries Department

httpfaoorgfidefaultesp (acedido 22 Novembro 2010)

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

httpwwwfempt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Foacuterum Europeu Mariacutetimo

httpswebgateeceuropaeumaritimeforum (acedido 10 de Novembro de 2010)

Fundaccedilatildeo Gil Eannes

wwwfundacaogileannespt (acedido 12 de Setembro de 2010)

Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm (acedido 5 de Janeiro de 2011)

111

International Maritime Organization

httpimoorg (acedido 14 de Novembro de 2010)

Irish Marine Institute

httpwwwmarineie (acedido 6 de Maio de 2010)

Instituto Portuaacuterio e dos Transportes Mariacutetimos

wwwimarporpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm (acedido 18 de Outubro de 2010)

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos

wwwjnieaeu (acedido 20 Agosto de 2010)

Lancha Poveira

httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp (acedido 30 de Outubro de 2010)

Museu da Marinha

wwwmuseumarinhamuseusiteptpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Nautisme Espace Atlantique 2

wwwnea2eu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

ONU ndash Department of Economic and Social Affairs

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm (acedido 30

de Setembro de 2010)

Oceanaacuterio de Lisboa

wwwoceanariopt (acedido 20 Agosto de 2010)

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar

httpwwwoceano21org (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Parlamento Europeu

httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)

112

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

httppoeminagpt (acedido 29 de Dezembro de 2010)

Polis Litoral Norte

wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria de Aveiro

wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria Formosa

wwwpolislitoralriaformosapt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciapt (acedido 10 de Janeiro de 2011)

Projecto Naacuteutica

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

(acedido 14 de Janeiro de 2011)

Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)

wwwqrenpt (acedido 14 de Janeiro de 2011)

SaeR ndash Sociedade de Avaliaccedilatildeo Estrateacutegica e Risco Lda

wwwsaerpr (acedido 12 Dezembro de 2010)

Surfrider Foundation Europe

wwwsurfridereu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

113

Bibliografia

AIRALDI Gabriela (2007) DallacuteEurosia al Nuovo Mondo Una Storia italiana secc

XI-VVI Geacutenova Itaacutelia Fratelli Frilli Editori

ALBUQUERQUE Luiacutes (2001) Introduccedilatildeo agrave Histoacuteria dos Descobridores Portugueses

Lisboa Publicaccedilatildeo Europa-Ameacuterica

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627

(2010) Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Aacutereas-chave nordm 20 (2006)

Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Perspectivas e linhas

estrateacutegicas nordm 19 (2006) Lisboa CIEJDPrincipia

FERNANDEZ-ARNESTO Felipe (2001) Civilizations Culture Ambition and the

Transformation of Nature Nova Iorque EUA Simom amp Shuster

BOORSTIN Daniel (1986) The Discovers Nova Iorque EUA Vintage Press

BOXER Charles R (2001) O Impeacuterio Mariacutetimo Portuguecircs 1415-1825 Lisboa

Ediccedilotildees 70

CARVALHO Virgiacutelio (1995) A Importacircncia do Mar para Portugal Venda Nova

Bertrand

COSTA Joatildeo Paulo O (2009) Henrique o Infante Lisboa A Esfera dos Livros

DREYER Edward L (2007) Zheng He - China and the Oceans in the early Ming

Dynasty ndash 14051433 Nova Iorque EUA Pearson Education

114

HUBERMAN Leo (1970) Histoacuteria da Riqueza do Homem Rio de Janeiro Brasil

Zahar Editores

HUTTON Will (2006) The Writing on the Wall - Why We Must Embrace China as a

Partner or Face It as an Enemy Nova Iorque EUA Free Press

LEITAtildeO Augusto R (2006) Organizaccedilotildees Europeias Coimbra FEUC

PERES Damiatildeo (1982) Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses Trofa Vertente

MATIAS Nuno V MARQUES Viriato S FALCATO Joatildeo LEITAtildeO Aristides G

(2010) Poliacuteticas Puacuteblicas do Mar Lisboa Esfera do Caos

SILVA Antoacutenio M (2005) Portugal e a Europa ndash distanciamento e reencontro Viseu

CHSCPalimage Editores

RIBEIRO Maria Manuela T (Coord) (2007) Mare Oceanus ndash Atlacircntico espaccedilo de

diaacutelogos Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm6 Coimbra Almedina

RIBEIRO Maria Manuela T (2003) A ideia de Europa uma perspectiva histoacuterica

Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm 3 Coimbra CEIS 20Quarteto Editora

RODRIGUES Jorge amp DEVEZAS Tessaleno (2009) Portugal ndash O Pioneiro da

Globalizaccedilatildeo A Heranccedila das Descobertas VN Famalicatildeo Centro Atlacircntico

RODRIGUES Antoacutenio S (1997) Histoacuteria Comparada - Portugal Europa e o Mundo

Cronologia Lisboa Tema amp Debates

SMITH Adam (1976) Inquiry into the Nature and Causes of Wealth of Nations

Chicago EUA The University of Chicago Press

Page 4: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à

IV

in memoriam

Professor Doutor Ernacircni Rodrigues Lopes

(1942 ndash 2010)

V

Resumo

Sabemos que dois terccedilos do planeta Terra satildeo ocupados pelos Oceanos Logo eacute

premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentaacutevel possiacutevel

E os ldquomaresrdquo foram desde sempre a seiva da Europa Os europeus desde haacute muito

tempo tiveram propensatildeo para se libertarem do mare incognitum Essa ousadia trouxe

retorno econoacutemico cultural e cientiacutefico notaacuteveis para a Humanidade

Os espaccedilos mariacutetimos e o litoral europeu satildeo essenciais para o bem-estar e

prosperidade ligam continentes atraveacutes de rotas comerciais regulam o clima satildeo fonte

de alimento de energia e de inuacutemeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e satildeo

tambeacutem locais privilegiados de residecircncia e lazer para os cidadatildeos

A Europa preconiza actualmente uma Poliacutetica Mariacutetima Integrada reflectindo e

projectando a nossa relaccedilatildeo com os oceanos e mares Esta abordagem inovadora e

holiacutestica reforccedila a capacidade da Europa face aos desafios da globalizaccedilatildeo e da

competitividade agraves alteraccedilotildees climaacuteticas agrave autonomia energeacutetica agrave seguranccedila mariacutetima

entre outras O leme da Poliacutetica Mariacutetima Europeia Integrada foi tomado em 2005 pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso e estaacute ancorada na Agenda de Lisboa

(apela ao crescimento econoacutemico e emprego) e na Agenda de Gotemburgo (apela ao

desenvolvimento sustentaacutevel ndash ambiental econoacutemico e social)

A nossa longa histoacuterica mariacutetima a liacutengua e cultura portuguesa e o facto de existir

uma Estrateacutegia Nacional para o Mar em consonacircncia com a Poliacutetica Mariacutetima Europeia

Integrada podem ser os factores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores

desiacutegnios para o seacuteculo XXI ndash o Mar Importa referir que eacute iminente o alargamento da

zona econoacutemica exclusiva (equivalente a 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental) e

caso seja aceite teremos seguramente uma nova oportunidade de estar no centro do

mundo

Esta investigaccedilatildeo tem portanto como objectivo analisar a poliacutetica mariacutetima

europeia e os seus desenvolvimentos em Portugal

PALAVRAS-CHAVE

EUROPA MAR POLIacuteTICA PORTUGAL SUSTENTAacuteVEL

VI

Lista de abreviaturas

BEI ndash Banco Europeu de Investimento

BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China

CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte

CdR ndash Comiteacute das Regiotildees

CE ndash Comissatildeo Europeia

CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos

CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval

CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar

CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors

CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental

CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono

COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade

CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa

DEM ndash Dia Europeu do Mar

EBA ndash European Boating Association

EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio

EM ndash Estados Membros

EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho

EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima

ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus

EuDA ndash European Dredging Association

EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group

VII

FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

FSE ndash Fundo Social Europeu

GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento

IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo

IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo

OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers

ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2

PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum

PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca

PIB ndash Produto Interno Bruto

PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas

PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal

POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva

VIII

Nota preacutevia

A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de

diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos

A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora

Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a

tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e

em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e

internacional

A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na

qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia

nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro

do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a

uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos

procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige

O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo

conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor

Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal

Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo

Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em

Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam

O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em

2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias

europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em

representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em

Estudos Europeus

Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos

amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre

me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e

carinho

Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho

IX

Iacutendice

Resumo V

Lista de abreviaturas VI

Nota preacutevia VIII

Introduccedilatildeo 1

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9

13 Siglo de oro espanhol 13

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27

24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43

X

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51

332 Fundos estruturais 53

333 Outras fontes de financiamento 55

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58

41 Breve balanccedilo 58

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59

43 Instrumentos transectoriais 62

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68

51 Princiacutepios e objectivos 73

52 Pilares estrateacutegicos 73

53 Acccedilotildees e medidas 75

54 O Hypercluster da economia do mar 81

55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99

Conclusotildees 101

Fontes e bibliografia 105

1

Introduccedilatildeo

A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito

Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e

a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a

conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz

parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia

para a vida

Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-

me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de

Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e

institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que

ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais

Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no

acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se

espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar

Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma

poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo

sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como

todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para

Portugal

Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que

procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material

e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e

desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas

italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes

para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de

Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa

Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia

europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas

2

No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica

Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades

da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os

mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a

consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no

processo de construccedilatildeo da PMIE

Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo

de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares

como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma

iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a

Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi

apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em

2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-

Comissaacuterio Europeu)

No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das

instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico

concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees

econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade

poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final

deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave

PMIE

Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis

agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves

actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees

estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste

capiacutetulo

No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)

resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de

aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos

Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores

da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da

3

Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente

em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo

No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para

aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades

latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a

plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de

desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo

Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a

ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo

entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de

inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto

ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas

4

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica

Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da

Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes

protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores

potecircncias de entatildeo

Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e

Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e

terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma

abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das

actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo

Industrial

Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos

Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV

aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar

Negro)

Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida

como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano

(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare

Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que

teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula

Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo

ateacute ao momento da chegada dos portugueses

Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como

Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)

Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)

Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do

seacuteculo VIII)

5

Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental

contiacutegua

No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo

as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede

litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes

casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma

talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade

continental

Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees

mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza

e na monarquia dual catalo-aragonesa

Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias

europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela

Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a

civilizaccedilatildeo mediterracircnica

A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia

Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado

predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e

banqueiros

Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos

A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas

libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca

Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e

o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash

assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-

senhorial dominante na Europa medieval

1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a

todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo

naval 2 AIRALDI 2007 9

3 AIRALDI ibidem 99

6

Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o

historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees

Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento

mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)

Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam

verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em

Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e

economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num

ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do

inicio do seacuteculo XV5

Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da

revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se

inscreveu na Histoacuteria universal

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas

Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque

para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a

partir do final do seacuteculo XIII

Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave

entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a

lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica

Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e

criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional

Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a

4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na

Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na

Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381

7

Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a

chama empreendedora pioneira

A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti

aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que

mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da

bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil

mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias

poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde

sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel

Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No

entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de

ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos

A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida

As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota

mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de

Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa

portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes

armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para

circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias

lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como

objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro

da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de

ldquoIacutendiardquo8

Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes

asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio

que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o

Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo

do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro

6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700

membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo

hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148

8

Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua

expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as

Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem

como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma

potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais

importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da

famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram

a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees

tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e

em diversos pontos do Magrebe

Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e

secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar

atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo

(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades

mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como

Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que

negociavam

A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie

sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia

da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude

comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla

Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees

de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000

pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros

A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por

ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel

Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas

desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de

onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as

Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo

fora um deles

9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um

dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique

9

Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade

Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a

haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em

conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que

cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra

dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao

hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10

Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas

surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a

uma escala global pelos portugueses

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo

O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos

portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o

centro econoacutemico do mundo

Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os

chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em

direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi

seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a

navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de

expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward

Dreyer na sua obra Zheng He11

O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de

diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser

excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente

necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo

primaacuteriardquo diz Dreyer

As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada

por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma

10

RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11

DREYER 2007 3

10

crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente

espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a

seguir chegassem ao Iacutendico12

Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de

Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto

de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia

hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem

aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as

potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de

commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo

dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista

Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em

particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash

e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)

idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o

arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria

principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza

negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora

procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado

Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence

ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a

Iacutendia)

A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante

longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais

entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos

sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde

entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo

mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo

no comeacutercio internacional

12

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61

11

O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a

inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo

do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room

de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das

primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um

modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare

Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de

influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e

longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13

Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash

baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do

planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as

bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como

globalizaccedilatildeo

Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como

um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto

gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a

visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um

conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu

a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14

Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico

e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a

gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou

um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos

deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de

publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo

naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar

A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de

aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos

infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador

13

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185

12

mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil

China e Japatildeo

Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de

projecccedilatildeo mundial foi tripla

Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e

Iacutendico

Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo

Campanha de marketing internacional junto do papado (poder

transnacional reconhecido pelos europeus)

Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico

(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um

projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo

messiacircnica

A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode

afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou

uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para

segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno

das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15

Segundo Daniel Boorstin16

ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo

prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as

largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo

15

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16

BOORSTIN 1986 83

Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e

bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria

e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria

Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que

destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos

13

13 Siglo de oro espanhol

O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do

seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave

abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute

a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681

Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro

com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don

Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro

Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado

politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados

por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau

Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado

pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em

1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de

Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras

notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan

de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro

de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica

muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais

ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III

Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves

ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17

o gesto mais

extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de

Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi

assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre

o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por

descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da

Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes

17

Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da

Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea

14

chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O

tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494

Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio

internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha

foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano

As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a

arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades

de Salamanca e Alcalaacute de Henares

As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos

comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de

Toledo Valecircncia e Saragoccedila

Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos

Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo

XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18

Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera

inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais

preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de

Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo

de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao

disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro

O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519

No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da

Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica

mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574

exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as

Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia

portuguesa20

Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel

I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de

seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a

18

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349

15

Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um

monarca um impeacuterio e uma espada

Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol

no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves

Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia

mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-

Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol

y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de

hoje)

Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os

acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo

Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees

espanholas das Ameacutericas

O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como

ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da

armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra

A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em

159021

Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional

apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don

Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute

provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo

reinado do filho e neto de Felipe II22

Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia

comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar

e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo

coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque

de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de

Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade

com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos

e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado

21

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373

16

pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos

recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)

desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e

passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento

em 1645

Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-

1648) de que passo a citar os mais importantes

As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da

Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis

como o momento de perda da hegemonia naval

Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp

Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses

A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640

A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs

A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa

Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional

foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele

tirar proveito efectivo

Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses

foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por

outrosrdquo23

Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os

ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24

ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os

23

BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24

RODRIGUES 1997 280 (volume I)

O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de

700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para

1770 contra 811 ingleses e 155 franceses

17

barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o

lugarrdquo dizia Leo Huberman25

Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista

justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica

desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do

seacuteculo XVII

A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos

chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso

apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como

arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26

O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27

A

doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O

holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28

(1604) e Mare Liberum (1609)

a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria

um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei

consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda

a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso

natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare

Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no

iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas

inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses

O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que

criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em

que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a

dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas

companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia

dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares

desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras

25

HUBERMAN 1970 45 26

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27

O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm

Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000

Berlim e Nova York 28

Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da

companhia holandesa VOC

18

cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29

) Esta deu origem mais tarde ao

aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India

Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias

Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que

agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van

Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594

Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso

Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a

infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-

ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o

hardpower)30

Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com

dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees

de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de

vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua

projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade

na projecccedilatildeo oceacircnica

Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de

Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais

ceacutelebre31

e em 1694 surgiu o Bank of England32

De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a

que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira

metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de

velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento

da artilharia a bordo dos navios33

29

HUBERMAM ibidem nt 12 30

HUTTON 2006 70 31

SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402

19

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial

O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente

chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens

era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para

cobrir os custos totais da frota)

As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas

mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram

ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo

ndash a Burguesia

Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo

protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo

niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido

ostracizados pela nobreza

Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial

disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta

O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de

capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte

financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial

A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34

com

profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento

econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado

Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a

partir do seacuteculo XIX

Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do

motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e

simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este

momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela

A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com

34

James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente

que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor

20

maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a

influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial

eclodiu em geral mais tarde

O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia

mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e

conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-

1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste

seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente

produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias

industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que

culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)

Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35

35

Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres

21

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que

daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36

No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as

principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da

Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para

Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus

De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses

costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto

europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a

apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de

descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de

culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua

maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um

planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a

elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes

desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o

astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do

horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a

vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)

A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar

encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e

prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas

36

Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794

22

presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas

tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio

permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer

A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas

ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos

(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de

milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como

os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais

de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob

jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres

Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute

igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por

estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo

A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre

teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no

desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria

Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura

veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico

da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu

eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de

mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias

representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia

Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da

importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem

crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva

ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre

sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de

comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da

rede logiacutestica que o torna possiacutevel37

37

COM (2006) 275 final vol II 3

23

O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na

agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo

muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente

Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do

desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre

estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos

larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte

empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38

A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de

2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro

europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute

exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de

outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia

A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que

diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro

agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro

segundo um estudo do Irish Marine Institute39

os sectores com maior potencial de

crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias

renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha

O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois

90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute

efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute

incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de

toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos

europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados

38

COM (2006) 275 final vol II 4 39

Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie

24

que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees

de euros40

Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do

transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas

para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador

para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-

portuaacuterios

Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a

classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua

lideranccedila

Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que

o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72

mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar

da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a

sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para

a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se

encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das

zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da

construccedilatildeo naval

O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos

anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro

satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o

desenvolvimento das zonas costeiras e insulares

O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos

uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a

641

Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades

interesses e locais42

O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento

sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem

40

Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41

Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde

Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de

motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42

Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde

25

objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43

e pelos Chefes de Estado

e de Governo44

O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia

Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45

Os mares em torno da

Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em

que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande

parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa

Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma

vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de

energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em

muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico

e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro

As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas

natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos

recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo

oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia

costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do

sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de

exportaccedilatildeo

Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

(FAO)46

indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado

de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de

uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode

tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura

poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e

desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47

A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o

maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de

pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das

43

COM (2006) 105 final 44

Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45

Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46

O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47

COM (2002) 511 final

26

pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48

Satildeo proporcionados

numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da

transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos

estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas

actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas

pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo

Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a

uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos

segmentos do sector das pescas49

Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por

sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa

No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-

me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos

mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o

reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos

Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a

PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa

poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de

direitos e com valores50

dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro

48

Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49

COM (2006) 275 final volume II 7-9 50

A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos

direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa

Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os

respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os

objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos

como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees

27

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo

ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente

orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a

plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma

sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo

cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da

Comissatildeo Europeia para 2005-2009

A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os

diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a

identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num

periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das

actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a

formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para

aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre

uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem

holiacutestica dos oceanos e dos mares

Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por

pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude

de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar

dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha

devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca

eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar

Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e

insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio

entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental

Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova

consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do

potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades

econoacutemicas

28

A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-

se em dois pilares fundamentais

Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o

crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no

conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e

garantir empregos de qualidade

Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam

todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito

Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa

parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do

meio marinho

A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees

entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as

actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute

necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e

de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica

Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos

oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos

O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente

ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes

Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de

poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de

agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados

para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um

niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute

devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor

acrescentado agraves actividades de outros51

51

COM (2006) 275 final volume II 5-6

29

24 Aacutereas-chave no Livro Verde

Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar

Meio marinho

O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo

acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da

ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)

alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo

com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas

descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)

Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-

se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na

elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de

lastro52

Investigaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com

conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus

programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e

racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas

tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia

Inovaccedilatildeo

A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo

como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem

tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento

sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia

52

Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade

do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar

ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de

transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de

lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os

registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro

30

eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo

dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia

Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo

As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No

entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53

o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero

de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos

mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo

O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem

formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo

assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa

O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos

potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas

perspectivas profissionais

A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para

o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que

importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e

mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os

europeus se habituaram com toda a legitimidade

Formaccedilatildeo de clusters54

O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os

diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e

produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem

todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio

mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de

53

Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and

related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54

Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de

empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais

precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo

de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees

associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo

31

transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters

regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima

atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55

Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou

grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos

comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no

ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo

de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns

nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade

A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em

sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e

tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da

construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo

resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e

serviccedilos56

Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e

transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores

mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos

Qualidade de vida nas regiotildees costeiras

O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca

Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se

construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida

agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente

A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que

a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute

igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de

abrandamento57

Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral

enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias

55

BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56

Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o

Livro Verde 57

Contributo da CRPM para o Livro Verde

32

A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo

e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma

maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de

transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo

abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das

aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas

costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e

remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar

no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet

actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58

Ao planear o

desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter

um resultado sustentaacutevel

As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do

turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel

mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel

pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a

competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o

patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero

crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade

constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais

compatiacuteveis com o ambiente

Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da

qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e

desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo

A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos

os destinos turiacutesticos costeiros

A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a

competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute

oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural

situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de

58

Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma

questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo

33

atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia

subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta

inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas

de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas

actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local

No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve

tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte

tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus

em dias sol por ano)

Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica

gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a

tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto

ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no

litoral portuguecircs

Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima

Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios

estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de

competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e

autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59

eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais

Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a

criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia

mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio

marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve

proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma

abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste

59

O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a

comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo

possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos

domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio

nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo

proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm

34

contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma

importacircncia cada vez maior

Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas

sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial

sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260

e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61

Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor

compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees

O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois

ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado

promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as

partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e

directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais

Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala

dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia

da Seguranccedila Mariacutetima62

(EMSA) com sede em Lisboa

Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos

ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63

Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que

aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas

sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos

recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados

de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e

agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo

Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico

60

ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61

Contributo da EuDA para o Livro Verde 62

A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de

acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no

mar 63

ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire

(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute

considerado um marco da poesia moderna

35

Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que

obviar a estas lacunas

A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de

observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a

melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e

o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da

comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise

integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados

provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos

serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de

dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de

monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas

O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem

criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector

mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo

dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso

contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema

oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas

sazonais64

Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os

continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos

de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave

rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias

ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a

navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver

documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns

trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros

por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira

64

COM (2006) 275 final volume II 34-35

36

Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos

teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar

pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde

Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e

das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma

convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos

estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender

as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da

avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As

organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se

associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro

que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar

de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades

mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a

Humanidade65

Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um

papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano

estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e

por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente

orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e

ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas

Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos

atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer

Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995

sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66

satildeo um evento

desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas

diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os

desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste

quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas

(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos

65

COM (2006) 275 final volume II 51 66

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)

37

culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma

para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa

Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as

Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider

Foundation Europe67

Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico

para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas

Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268

ldquoNautisme Espace

Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da

fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria

comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos

temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em

cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns

transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por

cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um

periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo

Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como

tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este

projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique

(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11

parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo

O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo

da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar

67

Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o

litoral 68

Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)

38

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE

O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo

Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado

mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam

devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo

do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda

A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o

lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses

Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia

O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa

de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas

as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais

apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro

Verde69

As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor

informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima

Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem

integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade

da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia

mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e

respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala

comunitaacuteria)

As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o

papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar

proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as

actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do

envolvimento dos governos dos Estados-Membros

69

COM (2007) 574 final 2

39

Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos

mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio

privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas

economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que

funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas

Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute

mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou

locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o

ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os

governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais

(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do

espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos

ecossistemas

O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o

interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos

mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e

do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias

mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho

cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos

Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global

dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de

boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os

pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais

ou turistas

Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de

ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado

na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute

veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como

abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70

No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230

eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados

70

COM (2007) 574 final 9-10

40

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo

Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se

com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os

Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano

de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da

subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma

ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas

para o mar

A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de

2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia

em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente

com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de

trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo

tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar

rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as

oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo

De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no

segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem

integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos

eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a

Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a

divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores

prioritaacuterios a seguir

Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa

pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos

assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes

europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre

41

Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias

envolvidas

Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave

proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia

aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de

uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez

o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave

Iacutendia em 1498

A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo

Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos

oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados

todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada

O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto

grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-

Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso

Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a

abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e

transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os

resultados das acccedilotildees preparatoacuterias

A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute

analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo

entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e

pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais

Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que

desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam

conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima

42

Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez

instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais

ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos

que se seguem satildeo especialmente importantes

Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima

A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo

segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e

optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade

ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e

ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei

e agrave seguranccedila em geral71

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras

(GIZC)

Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre

e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e

vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees

concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e

outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas

actividades de lazer72

Dados e informaccedilotildees

A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos

factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de

decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de

dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema

importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e

informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73

71

COM (2007) 575 final 5 72

COM (2007) 575 final 6 73

COM (2007) 575 final 6

43

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo

As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na

prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo

principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber

1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares

O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar

as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o

desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi

superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da

logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a

partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas

noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica

offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios

deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias

marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver

produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos

mercados mundiais

Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento

sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as

actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do

ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o

desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores

conexos

O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e

continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a

prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel

elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para

proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de

concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional

44

Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de

dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente

em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a

necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas

da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de

transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis

A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da

construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de

ponta incorporada

O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental

para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses

investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras

do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer

o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave

medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e

promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e

o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas

A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas

pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74

bem como de energias renovaacuteveis e

tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de

transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento

A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente

potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais

que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as

suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima

europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos

produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo

da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para

criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua

globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector

privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par

74

Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em

offshore

45

da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia

mariacutetima

Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo

que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e

privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para

compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e

sectores75

Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-

Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76

que estabelece um quadro de acccedilatildeo

comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos

ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando

especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida

no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do

ambiente marinho77

Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu

foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no

domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as

medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho

ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista

a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando

exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as

ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e

assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas

sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)

O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final

de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa

75

COM (2007) 575 final 7-9 76

Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77

Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final

46

um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio

marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia

2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima

A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o

desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas

Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades

humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a

chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a

degradaccedilatildeo do ambiente

O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo

portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este

reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os

efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode

permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute

necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a

niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os

esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o

diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a

investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais

eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78

3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras

Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi

duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As

comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo

que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do

ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade

As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a

desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees

78

COM (2007) 575 final 12

47

(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no

quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia

estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu

hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das

aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve

ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees

costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo

dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas

regiotildees

O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante

catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias

Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram

que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se

por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos

vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos

econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)

A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores

mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade

em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional

no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo

Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o

desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade

e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar

plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento

mariacutetimo inter-regional

As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas

consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades

mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem

serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A

48

Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a

sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79

A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os

esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do

bem-estar social dos trabalhadores activos no sector

A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica

tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das

condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das

comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras

Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do

desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees

residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica

pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo

para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si

valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na

conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em

agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade

4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais

A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma

governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o

direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos

pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas

principais instacircncias internacionais

O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais

a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da

biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do

transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos

navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as

prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees

79

COM (2007) 575 final 13-14

49

externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees

climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)

Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os

parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem

mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os

Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e

China (agora denominados BRIC)

A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada

relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo

Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que

concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao

niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em

desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de

cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave

poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80

5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente

os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos

barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir

agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos

barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo

interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa

mariacutetima81

Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em

resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de

consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da

Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa

80

COM (2007) 575 final 14-15 81

Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os

oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade

mariacutetima da Europa p 51

50

mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e

integrada

Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo

de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia

puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles

o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns

Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da

Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao

mar

A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as

comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais

os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre

elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade

A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais

destaco o Dia Europeu do Mar82

(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e

2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o

Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar

da Europa

O Atlas Europeu dos Mares83

jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados

do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo

puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico

fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados

como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o

transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e

as ldquoauto-estradas do marrdquo

Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84

como o website85

contribuem para ajudar a melhor

compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores

de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a

comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de

82

Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83

Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84

Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85

Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs

51

alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho

e as comunidades costeiras

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE

As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos

financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra

Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave

forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos

instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de

exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam

todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos

financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de

Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas

no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado

programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia

A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a

niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa

que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia

instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB

meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por

finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos

domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute

sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro

52

beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica

Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra

vez sob controlo

A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se

ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo

O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de

coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem

deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel

As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013

centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos

Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito

empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e

melhores empregos

Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a

crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar

para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer

grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho

Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os

intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local

A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos

difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o

conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo

um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo

(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e

luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim

reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as

disparidades seriam maiores

Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada

atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas

estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio

comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas

A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma

dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para

53

27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a

superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute

aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as

disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente

60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros

que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de

gravidade da poliacutetica regional para Leste

Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional

aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais

e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento

comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica

Agriacutecola Comum (PAC)

Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo

e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem

projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE

332 Fundos Estruturais

Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

O FEDER86

apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos

produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas

O FSE87

instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das

categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de

formaccedilatildeo

86

Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao

desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87

Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999

relativo ao Fundo Social Europeu

54

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)

O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia

atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia

Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas

designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar

emprego duradouro

Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves

telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes

Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de

desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local

e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees

Medidas de assistecircncia teacutecnica

O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a

competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia

Fundo Social Europeu (FSE)

O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na

Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade

regional e emprego

O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes

Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem

ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho

inovadoras

Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das

pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes

Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a

discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho

Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e

colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino

55

333 Outras fontes de financiamento

A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr

outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88

que

serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo

verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89

contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo

transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em

bacias mariacutetimas

O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um

importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais

destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de

desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as

ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis

Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo

Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro

Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo

multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades

mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente

ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de

2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares

integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e

ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O

prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de

Janeiro de 2011

Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios

financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a

Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE

88

Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a

ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho

relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm

56

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE

pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante

o periacuteodo remanescente (2010-2013)

Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um

programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a

implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE

e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu

das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo

desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e

Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica

mariacutetima integrada

No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros

actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-

Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e

das zonas costeiras

Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os

objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro

modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes

interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute

iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar

ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE

A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da

PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31

de Dezembro de 2013

O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90

Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo

integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as

bacias mariacutetimas

90

COM (2010) 494 final 11

57

Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as

poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras

Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos

recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo

e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com

as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais

Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas

com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia

Marinha

Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que

respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada

Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se

traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91

Estudos e programas de cooperaccedilatildeo

Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do

puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo

campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo

de siacutetios Web

Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes

interessadas

Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de

informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais

financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico

nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado

instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos

Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto

91

COM (2010) 494 final 12-13

58

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE

41 Breve balanccedilo

A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem

destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades

relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios

muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas

aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as

regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas

deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as

relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse

consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-

se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base

para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral

nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da

induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior

integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a

PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos

reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees

costeiras do continente92

O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a

fazecirc-lo) quatro objectivos93

Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais

abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo

Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais

necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas

92

COM (2009) 540 final 2 93

COM 2009) 540 final 3

59

Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de

sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial

No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em

consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e

encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso

A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees

incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos

da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas

em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham

sido ainda adoptados

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas

O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e

nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva

passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a

compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo

das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os

progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem

pelos stakeholders

Instituiccedilotildees da UE94

A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo

de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de

Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano

de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees

94

COM (2009) 540 final 3-4

60

regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e

eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas

A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato

da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a

coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais

tendo em conta as especificidades regionais

O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece

a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e

Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895

ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior

importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o

valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia

integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em

conta as especificidades regionais (hellip)rdquo

Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-

Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos

de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se

utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees

nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros

e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia

e impacto

A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito

positivos96

Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes

comissotildees e estruturas

O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A

Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem

elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote

mariacutetimo e costeirordquo97

constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses

divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica

95

16503108 REV 1 96

Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi

Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97

CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009

61

O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um

parecer98

particularmente favoraacutevel agrave PMIE

Estados-Membros99

Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-

Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos

informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas

mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma

estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais

Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas

praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo

inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em

Junho de 2008100

e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de

estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel

dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer

francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima

coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima

britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido

A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e

a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo

um total de 14 Estados membros

Regiotildees101

As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu

iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para

executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram

igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as

regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas

para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas

98

JO 2008C 21107 99

COM (2009) 540 final 4-5 100

COM (2008) 395 final de 2662008 101

COM (2009) 540 final 5

62

(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do

plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho

Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional

Partes interessadas102

As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma

PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a

advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e

regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos

e instrumentos inovadores

A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os

vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A

Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero

de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a

voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado

em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais

para a PMIE

43 Instrumentos transectoriais

Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de

existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a

poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute

possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos

102

COM (2009) 540 final 5-6

63

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira

(GIZC)103

O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a

competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute

um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo

sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem

ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes

interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos

concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho

A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o

ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104

O roteiro

estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros

de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE

Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105

as partes

interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez

princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante

para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou

igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria

para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o

desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um

estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os

benefiacutecios econoacutemicos do OEM

No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de

um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada

da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar

o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106

No final de

2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de

Barcelona107

103

Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104

COM(2008) 791 final 105

httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107

COM (2009) 540 final 6-7

64

Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima

A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no

mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo

significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar

e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos

detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente

Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas

de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108

empreendidas a niacutevel nacional regional e

europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo

da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de

Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109

A

Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante

total de 57 milhotildees de euros110

para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com

vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no

Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111

Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima

Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos

adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho

permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e

de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como

objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos

utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas

de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem

como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes

e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112

Destaque para o

lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico

para as questotildees marinhas

108

SEC (2008) 2337 109

COSDP 949 PESC 1366 110

Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111

COM (2009) 540 final 7 112

COM (2009) 540 final 7-8

65

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE

Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e

que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a

sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de

recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas

mariacutetimas e costeiras

Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para

dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a

protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das

alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no

mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor

da globalizaccedilatildeo e da prosperidade

Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa

mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as

sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade

ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute

avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas

Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos

alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees

costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a

montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos

contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma

isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve

igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo

resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e

as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais

necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo

seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes

interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113

113

COM (2009) 540 final 11

66

Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o

desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da

legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar

investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como

gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois

converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e

contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum

sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode

contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos

essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e

a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar

a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos

possam alcanccedilar os resultados previstos114

A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um

impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro

ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o

desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos

cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um

objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre

todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a

poliacutetica para o meio marinho115

As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da

PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos

geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um

elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os

Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta

cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros

que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem

igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116

114

COM (2009) 540 final 11 115

COM (2009) 540 final 12 116

COM (2009) 540 final 12

67

Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A

Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala

mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A

Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais

parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e

processos informais117

No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se

no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no

futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE

promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia

renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes

submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica

comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma

estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com

vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute

importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no

debate em curso sobre a coesatildeo territorial

A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de

favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e

melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito

do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas

seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o

investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente

no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a

favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute

a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo

naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute

proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de

navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo

e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das

costas da Europa118

117

COM (2009) 540 final 12 118

COM (2009) 540 final 12

68

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico

fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o

oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de

Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)

Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial

relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do

processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute

resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram

definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste

capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas

mariacutetimas nacionais

Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas

(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a

sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos

sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE

Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal

para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta

portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente

apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)

da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de

Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a

entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a

decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015

Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma

aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira

ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos

Estados Unidos da Ameacuterica

69

As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de

destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou

jurisdiccedilatildeo nacional

Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas

oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas

sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes

insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos

submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119

os campos de fontes hidrotermais as

riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de

afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que

importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos

culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos

energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam

um dos principais activos nacionais

Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de

governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio

da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional

para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o

Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel

sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma

missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque

permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos

Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco

objectivos que passo a enumerar

1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade

2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano

3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas

4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano

5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano

119

A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende

sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave

latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas

70

Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos

de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo

cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc

resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu

em particular120

rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de

modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima

Integrada Europeia

De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com

ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos

oceanos

Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje

que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante

intangiacutevel e invisiacutevel121

No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal

foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais

significativos destaco

Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada

por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares

aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)

O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na

sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia

Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial

de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o

futurordquo

Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros

8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente

- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a

capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e

120

Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a

cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121

ENM 2006-2016 p 2

71

tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que

permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando

o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis

- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o

objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela

requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar

- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma

Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da

plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela

Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar

Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do

Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar

os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta

comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250

recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas

Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma

Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)

com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental

de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo

de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-

Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental

Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto

com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de

preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas

para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos

do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas

aacutereas ligadas ao mar

Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de

Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere

aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos

domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha

72

Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu

procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica

Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia

A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de

Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009

junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU

A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma

continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU

em Nova Iorque

Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram

dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde

Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve

desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos

Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente

americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades

nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave

poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba

tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo

entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional

A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para

tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que

pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos

da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade

civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar

como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e

preservando este valioso patrimoacutenio

O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento

econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na

concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados

tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso

73

uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios

humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento

51 Princiacutepios e objectivos

A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade

nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a

existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente

Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos

agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas

ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento

econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122

A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a

educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros

internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do

oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos

transparentes rigorosos e crediacuteveis

52 Pilares estrateacutegicos

As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um

enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber

- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de

percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real

impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil

avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo

122

ENM 2006-2016 p 10

74

- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela

gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave

interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses

jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo

- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel

mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos

avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar

obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses

nacionais

Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades

as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos

Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel

assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento

diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de

desenvolvimento do Paiacutes

A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida

e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes

pilares estrateacutegicos123

O conhecimento

O planeamento e o ordenamento espaciais

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais

No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute

atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no

desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute

possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de

desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a

educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o

uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais

satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento

puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar

123

ENM 2006-2016 p 12

75

O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo

promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de

conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da

abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as

utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente

integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento

das actividades associadas

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo

envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e

multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-

activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser

suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional

nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica

tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a

identidade nacionais

O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs

pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de

qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes

econoacutemica social e ambiental

53 Acccedilotildees e medidas

O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs

pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades

econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em

desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do

crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124

124

ENM 2006-2016 p 17

76

Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos

preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas

Transportes

Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte

mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa

promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte

acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo

de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela

uacutenica portuaacuteria125

Energia

Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia

energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos

existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e

atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam

responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma

induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as

exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por

exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor

conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins

energeacuteticos com origem foacutessil

Aquicultura e pescas

Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que

tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as

actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas

protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes

125

A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto

atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar

desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma

ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado

dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias

importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o

que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por

naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo

77

artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura

offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental

Defesa nacional e seguranccedila

Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do

Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na

seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito

dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na

mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de

Protecccedilatildeo Civil

Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo

Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de

ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes

fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e

participando activamente nas redes internacionais

Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza

Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e

costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha

recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a

conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo

de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da

poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre

o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e

assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho

Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo

Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees

promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando

nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e

fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e

a educaccedilatildeo ambiental

78

Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio

Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as

actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o

desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo

o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas

internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o

remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o

turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais

classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees

Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza

promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes

Poliacutetica externa

Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros

continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da

comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e

defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes

Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126

que tendo em consideraccedilatildeo a

exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto

prazo

Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a

implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos

do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as

competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela

Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas

aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central

para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus

interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos

assuntos do mar

Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da

discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do

126

ENM 2006-2016 p18

79

processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de

forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos

assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida

eficaz e abrangente

Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de

acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar

condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A

implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais

permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando

valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir

o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo

Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127

a saber

A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar

A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao

mar

A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo

das ciecircncias do mar da Europa

O planeamento e ordenamento espacial das actividades

A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

O fomento da economia do mar

A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas

A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos

mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional

A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em

Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar

assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das

suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no

periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base

num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica

127

ENM 2006-2016 pp 22-23

80

Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na

inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias

instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo

obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que

cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos

objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador

Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da

Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste

novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no

Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a

acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo

No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua

Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do

mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128

na

Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010

(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como

exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar

eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa

geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as

estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na

proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir

em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e

incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam

economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios

que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute

certamente um delesrdquo (hellip)

128

Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445

81

54 O Hypercluster da economia do mar

ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia

portuguesardquo

Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de

economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de

avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129

sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa

da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura

considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e

sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes

diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero

O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a

fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de

conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo

O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia

portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos

seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz

a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um

cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal

O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um

catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado

potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e

investimentos de qualidade nomeadamente externos

Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera

cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a

comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de

28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-

129

Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf

82

se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor

que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos

Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um

novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global

na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130

O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas

diferentes de planos e acccedilotildees a saber

1) Planos prioritaacuterios

Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e

competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores

sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp

turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo

amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)

2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata

Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da

frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)

3) Planos de alimentaccedilatildeo

Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo

prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo

amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp

conservaccedilatildeo da natureza)

4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)

O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho

criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131

(FEM)

130

Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do

Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes

httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce

41366a4bbe8a49b02a028 131

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt

83

O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento

com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute

organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster

apresentado

Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo

principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo

assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente

fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais

55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132

The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as

a whole 133

O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE

Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo

respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento

econoacutemico do meio marinho134

No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm

1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre

outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o

desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e

actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a

132

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133

ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados

como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)

Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da

UE satildeo Partes na UNCLOS 134

COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios

comuns na EUrdquo p 2

84

gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no

quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia

econoacutemica ambiental e social do mar

Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional

tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente

mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a

coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular

esta mateacuteria de forma coerente e articulada

Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e

considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de

Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi

determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os

objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando

as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute

acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a

qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos

O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a

Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do

espaccedilo mariacutetimordquo

Visatildeo

ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e

seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no

conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo

Missatildeo

ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na

promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e

potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem

no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o

85

normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento

sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo

Discussatildeo Puacuteblica

A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo

Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva

Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099

de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do

POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo

ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo

Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia

estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais

A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos

erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de

biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no

acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e

interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o

desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo

No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo

Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de

Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de

zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de

intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral

86

Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes

medidas

Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a

promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a

reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e

paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel

Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais

Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos

espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural

Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes

da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e

associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais

De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do

Norte135

litoral da Ria de Aveiro136

litoral da Ria Formosa137

e o litoral da Costa

Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes

lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com

recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros

135

wwwpolislitoralnortept 136

wwwpolisriadeaveiropt 137

wwwpolislitoralriaformosapt

87

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo

A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte

ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na

eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo

participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens

para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e

o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da

Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a

saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a

pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em

termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo

No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte

ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer

A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura

do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)

e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os

municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do

Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A

regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo

cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138

em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139

na Poacutevoa

de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140

em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio

Minho141

em Vila Nova de Cerveira entre outros

138

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139

Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140

Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141

AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt

88

O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional

do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada

por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem

vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias

constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e

relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo

ldquoMarrdquo

A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral

ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de

produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a

internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento

e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de

forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da

Regiatildeo142

Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de

razotildees das quais destaco as seguintes

A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a

maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela

existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e

econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade

Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes

que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de

complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao

desenvolvimento da regiatildeo

Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no

sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda

de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas

ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de

142

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52

89

riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do

reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo

Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com

outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM

favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades

indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional

Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no

plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa

estrateacutegia europeia

Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-

financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo

relevante em ambos os programas

Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente

dos jovens para a temaacutetica mar

Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo

entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para

o desenvolvimento no domiacutenio do mar

Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num

processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e

nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano

constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter

em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do

Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e

POCTEA143

)

Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada

a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades

puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal

143

POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal

POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

90

Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa

que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar

Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de

cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo

Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de

complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste

peninsular no domiacutenio do mar

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144

Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para

consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu

objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas

para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo

1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e

das bacias hidrograacuteficas

O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e

desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e

ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de

sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees

estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo

2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao

meio marinho

Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar

e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo

certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que

144

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54

91

visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos

marinhos nomeadamente

Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de

diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo

monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das

pescas e da aquacultura

Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a

induacutestria

3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e

a seguranccedila alimentar

Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do

conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que

contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees

de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade

de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do

consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior

aos produtos regionais

4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras

espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura

O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma

aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute

largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo

evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a

espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a

temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de

elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir

92

5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo

O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo

para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias

mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de

cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)

orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de

valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que

promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam

para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional

6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e

fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar

Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu

desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster

regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos

de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do

empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o

desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo

Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes

formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao

desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento

de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo

das demais componentes

7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias

A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu

constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-

oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping

representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas

vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste

contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O

apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas

articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias

93

internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila

constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos

transportes

Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros

do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial

importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade

do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de

incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica

8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo

naacuteutico

Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas

existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e

das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e

desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede

de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave

naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos

de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave

valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha

estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo

e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas

de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a

criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego

9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias

marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do

sector e a empregabilidade

O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores

chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima

94

A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as

outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a

qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas

ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a

oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro

de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da

formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do

turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de

desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio

10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar

A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito

do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do

POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando

o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas

No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a

iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo

actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145

e do CIIMAR146

Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo

oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-

Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos

sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e

naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)

145

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg

95

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar

A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder

coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da

governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico

dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no

domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como

plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes

actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees

Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a

existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do

mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees

A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de

pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees

puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas

com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em

presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de

coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos

que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e

a respectiva regulaccedilatildeo existente

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo

Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela

plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que

tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo

Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de

Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de

96

Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a

importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo

para as regiotildees Centro e Norte de Portugal

Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster

consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de

actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o

emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da

formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees

de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147

rdquo

Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de

entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais

pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de

Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional

criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de

mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da

produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto

diversificado de sectores e de actividades

bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca

bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica

bull Induacutestrias mariacutetimas

bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio

plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)

bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo

bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)

bull Roboacutetica submarina

bull Biotecnologia marinha

bull Energias renovaacuteveis

147

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

97

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro

linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148

que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos

clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)

Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das

Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades

emergentes no domiacutenio da economia do mar

Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca

da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar

Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias

mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica

Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no

apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza

No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto

totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos

anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes

Ecomare

Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo

de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro

Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto

Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo

de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar

permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os

seus protoacutetipos em meio marinho

148

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

98

Consupesca

Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca

costeira e de arrasto

Panthalassa

Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da

transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas

integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do

processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de

seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos

Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos

Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da

implementaccedilatildeo dos seguintes projectos

Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a

posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua

localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre

as Caraiacutebas e a Europa

Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da

naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo

como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico

Turismo Mariacutetimo de Natureza

Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)

99

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional

Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o

sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado

mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem

desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas

(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego

de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees

Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso

tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente

com o tempo de uma vidardquo (hellip)149

Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde

cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade

permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao

mar

A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela

INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica

como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150

Este estudo estrateacutegico foi apoiado

pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER

Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector

que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos

Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de

animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees

a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos

O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual

a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico

que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte

Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem

futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e

consequentemente no QREN (2007-2013)

149

Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010

(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150

Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

100

Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que

datildeo estrutura a cinco eixos

Rede de infra-estruturas naacuteuticas

Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da

actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na

qualificaccedilatildeo de serviccedilos

Dinamizaccedilatildeo turiacutestica

Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de

empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica

Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica

Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias

hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos

agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo

Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica

acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de

espaccedilos museoloacutegicos

Governacircncia

Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no

estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao

puacuteblico

Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos

que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem

econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um

desenvolvimento sustentaacutevel

O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua

interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso

de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para

as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas

101

Conclusotildees

No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os

tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a

transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas

europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo

pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto

de partida para posteriores aprofundamentos

Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais

Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta

constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de

atingir o seu potencial sisteacutemico

A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua

natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o

interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e

lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma

inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas

civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se

iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso

contributo deram agrave Humanidade

Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante

provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa

natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo

pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as

adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a

construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute

assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI

Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra

de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum

aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania

e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias

102

Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente

da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do

seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada

numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e

participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos

melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as

sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental

tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios

prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico

emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees

Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser

decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem

que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda

subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais

Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo

foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma

incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval

que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da

demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos

histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos

Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)

Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo

Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr

nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo

menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo

chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do

seacuteculo XX

103

Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem

Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector

mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades

mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por

excelecircncia e da Franccedila com a PAC

Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos

europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo

e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos

A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores

do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o

sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua

propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas

a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal

focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral

ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando

como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde

sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado

ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute

O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam

a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce

tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora

da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito

tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151

Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo

mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para

implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi

reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia

Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da

poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar

151

Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia

p186

104

com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao

mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma

Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e

laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica

ao mar

Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um

novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para

desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros

atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o

sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas

podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas

jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar

e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as

potencialidades do mar

Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus

verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como

a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a

ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking

mundial de paiacuteses mariacutetimos

Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste

devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal

atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico

um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias

Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave

medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de

poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que

afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes

Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades

105

Fontes e bibliografia

Fontes

Documentos COM (Comunicaccedilotildees da Comissatildeo Europeia)

COM (2010) 494 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Proposta de Regulamento do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um programa de apoio ao

aprofundamento da poliacutetica mariacutetima integrada Comissatildeo Europeia 2010

COM (2009) 540 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 538 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing

environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 536 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo

Europeia Comissatildeo Europeia 2009

106

COM (2009) 8 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte

mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009

COM (2008) 791 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento

do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008

COM (2008) 395 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores

praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas

Comissatildeo Europeia 2008

COM (2007) 575 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007

COM (2007) 574 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia

2007

COM (2006) 275 final Volume I

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento

Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma

futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares

Comissatildeo Europeia 2006

107

COM (2006) 275 final Volume II

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica

mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo

Europeia 2006

COM (2006) 105 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma

energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006

COM (2005) 658 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel

Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005

COM (2005) 505 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do

Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da

poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo

Europeia 2005

COM (2005) 504 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio

marinho Comissatildeo Europeia 2004

COM (2002) 511 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao

Conselho e ao Parlamento Europeu Estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel da

aquicultura europeia Comissatildeo Europeia 2002

108

Outras fontes

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 (2009) Porto CCDR-

NMinisteacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do Desenvolvimento

Regional

Encontro Porto Cidade Regiatildeo Para uma Regiatildeo do Conhecimento (2008) Porto

Reitoria Universidade do Porto

Estrateacutegia Nacional para o Mar (2006) Lisboa EMAMMinisteacuterio da Defesa

Nacional

Genuinely Sustainable Marine Ecotourism in the EU Atlantic Area a Blueprint for

Responsible Marketing (2006) Bristol University of West of England

ldquoOs clusters mariacutetimos na encruzilhada da inovaccedilatildeo e do desenvolvimento regionalrdquo

Inforegio panorama nordm 23 (2007) Bruxelas Comissatildeo Europeia DG Poliacutetica Regional

Plano de Acccedilatildeo para o Desenvolvimento Turiacutestico do Norte de Portugal (2008) Porto

CCDR-N Ministeacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do

Desenvolvimento Regional

109

Internet

Agecircncia Europeia de Seguranccedila Mariacutetima

wwwemsaeuropaeu (acedido 5 de Marccedilo de 2010)

AquaMuseu do rio Minho

httpaquamuseucm-vncerveirapt (acedido 13 de Setembro de 2010)

Atlas Europeu dos Mares

httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas (acedido 22 de Outubro de 2010)

Instituto Nacional da Aacutegua

wwwinagpt (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Instituto Hidrograacutefico

wwwhidrografico (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

wwwcimarorg (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR

httpwwwcetmarorg (acedido 8 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Agecircncia Europeia do Ambiente

wwweeaeuropaeu (acedido 4 de Janeiro de 2011)

Comissatildeo Europeia ndash Assuntos Mariacutetimos

httpeceuropaeumaritimeaffairsindex_enhtml (acedido 12 de Janeiro 2011)

Comissaacuterio Europeu Joe Borg

httpeceuropaeucommission_barrosoborgindex_enhtml (acedido 20 Dezembro de 2009)

Comissatildeo Europeia ndash O nosso Planeta Oceano

httpeceuropaeuresearchrtdinfsupptindex_pthtml (acedido 15 de Junho de 2010)

110

Comissatildeo Europeia ndash Pesca

httpeceuropaeufisheriesindex_pthtml (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Sea Search

wwwsea-seachnet (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comiteacute das Regiotildees

httpwwwcoreuropaeu (acedido 13 de Setembro de 2010)

Dia Europeu do Mar

httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday (acedido 10 de Novembro de 2010)

European Sea Ports Organization

wwwespobe (acedido 30 de Outubro de 2010)

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda

httpwwwfundacao-elapt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

wwwemamcompt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

FAO ndash Fisheries Department

httpfaoorgfidefaultesp (acedido 22 Novembro 2010)

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

httpwwwfempt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Foacuterum Europeu Mariacutetimo

httpswebgateeceuropaeumaritimeforum (acedido 10 de Novembro de 2010)

Fundaccedilatildeo Gil Eannes

wwwfundacaogileannespt (acedido 12 de Setembro de 2010)

Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm (acedido 5 de Janeiro de 2011)

111

International Maritime Organization

httpimoorg (acedido 14 de Novembro de 2010)

Irish Marine Institute

httpwwwmarineie (acedido 6 de Maio de 2010)

Instituto Portuaacuterio e dos Transportes Mariacutetimos

wwwimarporpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm (acedido 18 de Outubro de 2010)

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos

wwwjnieaeu (acedido 20 Agosto de 2010)

Lancha Poveira

httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp (acedido 30 de Outubro de 2010)

Museu da Marinha

wwwmuseumarinhamuseusiteptpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Nautisme Espace Atlantique 2

wwwnea2eu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

ONU ndash Department of Economic and Social Affairs

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm (acedido 30

de Setembro de 2010)

Oceanaacuterio de Lisboa

wwwoceanariopt (acedido 20 Agosto de 2010)

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar

httpwwwoceano21org (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Parlamento Europeu

httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)

112

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

httppoeminagpt (acedido 29 de Dezembro de 2010)

Polis Litoral Norte

wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria de Aveiro

wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria Formosa

wwwpolislitoralriaformosapt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciapt (acedido 10 de Janeiro de 2011)

Projecto Naacuteutica

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

(acedido 14 de Janeiro de 2011)

Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)

wwwqrenpt (acedido 14 de Janeiro de 2011)

SaeR ndash Sociedade de Avaliaccedilatildeo Estrateacutegica e Risco Lda

wwwsaerpr (acedido 12 Dezembro de 2010)

Surfrider Foundation Europe

wwwsurfridereu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

113

Bibliografia

AIRALDI Gabriela (2007) DallacuteEurosia al Nuovo Mondo Una Storia italiana secc

XI-VVI Geacutenova Itaacutelia Fratelli Frilli Editori

ALBUQUERQUE Luiacutes (2001) Introduccedilatildeo agrave Histoacuteria dos Descobridores Portugueses

Lisboa Publicaccedilatildeo Europa-Ameacuterica

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627

(2010) Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Aacutereas-chave nordm 20 (2006)

Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Perspectivas e linhas

estrateacutegicas nordm 19 (2006) Lisboa CIEJDPrincipia

FERNANDEZ-ARNESTO Felipe (2001) Civilizations Culture Ambition and the

Transformation of Nature Nova Iorque EUA Simom amp Shuster

BOORSTIN Daniel (1986) The Discovers Nova Iorque EUA Vintage Press

BOXER Charles R (2001) O Impeacuterio Mariacutetimo Portuguecircs 1415-1825 Lisboa

Ediccedilotildees 70

CARVALHO Virgiacutelio (1995) A Importacircncia do Mar para Portugal Venda Nova

Bertrand

COSTA Joatildeo Paulo O (2009) Henrique o Infante Lisboa A Esfera dos Livros

DREYER Edward L (2007) Zheng He - China and the Oceans in the early Ming

Dynasty ndash 14051433 Nova Iorque EUA Pearson Education

114

HUBERMAN Leo (1970) Histoacuteria da Riqueza do Homem Rio de Janeiro Brasil

Zahar Editores

HUTTON Will (2006) The Writing on the Wall - Why We Must Embrace China as a

Partner or Face It as an Enemy Nova Iorque EUA Free Press

LEITAtildeO Augusto R (2006) Organizaccedilotildees Europeias Coimbra FEUC

PERES Damiatildeo (1982) Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses Trofa Vertente

MATIAS Nuno V MARQUES Viriato S FALCATO Joatildeo LEITAtildeO Aristides G

(2010) Poliacuteticas Puacuteblicas do Mar Lisboa Esfera do Caos

SILVA Antoacutenio M (2005) Portugal e a Europa ndash distanciamento e reencontro Viseu

CHSCPalimage Editores

RIBEIRO Maria Manuela T (Coord) (2007) Mare Oceanus ndash Atlacircntico espaccedilo de

diaacutelogos Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm6 Coimbra Almedina

RIBEIRO Maria Manuela T (2003) A ideia de Europa uma perspectiva histoacuterica

Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm 3 Coimbra CEIS 20Quarteto Editora

RODRIGUES Jorge amp DEVEZAS Tessaleno (2009) Portugal ndash O Pioneiro da

Globalizaccedilatildeo A Heranccedila das Descobertas VN Famalicatildeo Centro Atlacircntico

RODRIGUES Antoacutenio S (1997) Histoacuteria Comparada - Portugal Europa e o Mundo

Cronologia Lisboa Tema amp Debates

SMITH Adam (1976) Inquiry into the Nature and Causes of Wealth of Nations

Chicago EUA The University of Chicago Press

Page 5: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à

V

Resumo

Sabemos que dois terccedilos do planeta Terra satildeo ocupados pelos Oceanos Logo eacute

premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentaacutevel possiacutevel

E os ldquomaresrdquo foram desde sempre a seiva da Europa Os europeus desde haacute muito

tempo tiveram propensatildeo para se libertarem do mare incognitum Essa ousadia trouxe

retorno econoacutemico cultural e cientiacutefico notaacuteveis para a Humanidade

Os espaccedilos mariacutetimos e o litoral europeu satildeo essenciais para o bem-estar e

prosperidade ligam continentes atraveacutes de rotas comerciais regulam o clima satildeo fonte

de alimento de energia e de inuacutemeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e satildeo

tambeacutem locais privilegiados de residecircncia e lazer para os cidadatildeos

A Europa preconiza actualmente uma Poliacutetica Mariacutetima Integrada reflectindo e

projectando a nossa relaccedilatildeo com os oceanos e mares Esta abordagem inovadora e

holiacutestica reforccedila a capacidade da Europa face aos desafios da globalizaccedilatildeo e da

competitividade agraves alteraccedilotildees climaacuteticas agrave autonomia energeacutetica agrave seguranccedila mariacutetima

entre outras O leme da Poliacutetica Mariacutetima Europeia Integrada foi tomado em 2005 pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso e estaacute ancorada na Agenda de Lisboa

(apela ao crescimento econoacutemico e emprego) e na Agenda de Gotemburgo (apela ao

desenvolvimento sustentaacutevel ndash ambiental econoacutemico e social)

A nossa longa histoacuterica mariacutetima a liacutengua e cultura portuguesa e o facto de existir

uma Estrateacutegia Nacional para o Mar em consonacircncia com a Poliacutetica Mariacutetima Europeia

Integrada podem ser os factores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores

desiacutegnios para o seacuteculo XXI ndash o Mar Importa referir que eacute iminente o alargamento da

zona econoacutemica exclusiva (equivalente a 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental) e

caso seja aceite teremos seguramente uma nova oportunidade de estar no centro do

mundo

Esta investigaccedilatildeo tem portanto como objectivo analisar a poliacutetica mariacutetima

europeia e os seus desenvolvimentos em Portugal

PALAVRAS-CHAVE

EUROPA MAR POLIacuteTICA PORTUGAL SUSTENTAacuteVEL

VI

Lista de abreviaturas

BEI ndash Banco Europeu de Investimento

BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China

CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte

CdR ndash Comiteacute das Regiotildees

CE ndash Comissatildeo Europeia

CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos

CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval

CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar

CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors

CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental

CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono

COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade

CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa

DEM ndash Dia Europeu do Mar

EBA ndash European Boating Association

EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio

EM ndash Estados Membros

EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho

EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima

ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus

EuDA ndash European Dredging Association

EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group

VII

FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

FSE ndash Fundo Social Europeu

GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento

IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo

IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo

OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers

ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2

PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum

PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca

PIB ndash Produto Interno Bruto

PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas

PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal

POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva

VIII

Nota preacutevia

A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de

diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos

A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora

Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a

tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e

em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e

internacional

A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na

qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia

nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro

do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a

uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos

procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige

O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo

conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor

Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal

Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo

Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em

Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam

O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em

2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias

europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em

representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em

Estudos Europeus

Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos

amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre

me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e

carinho

Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho

IX

Iacutendice

Resumo V

Lista de abreviaturas VI

Nota preacutevia VIII

Introduccedilatildeo 1

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9

13 Siglo de oro espanhol 13

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27

24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43

X

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51

332 Fundos estruturais 53

333 Outras fontes de financiamento 55

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58

41 Breve balanccedilo 58

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59

43 Instrumentos transectoriais 62

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68

51 Princiacutepios e objectivos 73

52 Pilares estrateacutegicos 73

53 Acccedilotildees e medidas 75

54 O Hypercluster da economia do mar 81

55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99

Conclusotildees 101

Fontes e bibliografia 105

1

Introduccedilatildeo

A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito

Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e

a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a

conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz

parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia

para a vida

Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-

me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de

Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e

institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que

ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais

Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no

acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se

espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar

Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma

poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo

sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como

todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para

Portugal

Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que

procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material

e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e

desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas

italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes

para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de

Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa

Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia

europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas

2

No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica

Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades

da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os

mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a

consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no

processo de construccedilatildeo da PMIE

Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo

de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares

como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma

iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a

Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi

apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em

2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-

Comissaacuterio Europeu)

No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das

instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico

concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees

econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade

poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final

deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave

PMIE

Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis

agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves

actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees

estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste

capiacutetulo

No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)

resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de

aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos

Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores

da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da

3

Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente

em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo

No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para

aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades

latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a

plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de

desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo

Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a

ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo

entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de

inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto

ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas

4

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica

Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da

Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes

protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores

potecircncias de entatildeo

Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e

Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e

terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma

abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das

actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo

Industrial

Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos

Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV

aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar

Negro)

Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida

como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano

(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare

Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que

teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula

Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo

ateacute ao momento da chegada dos portugueses

Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como

Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)

Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)

Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do

seacuteculo VIII)

5

Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental

contiacutegua

No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo

as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede

litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes

casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma

talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade

continental

Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees

mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza

e na monarquia dual catalo-aragonesa

Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias

europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela

Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a

civilizaccedilatildeo mediterracircnica

A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia

Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado

predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e

banqueiros

Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos

A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas

libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca

Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e

o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash

assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-

senhorial dominante na Europa medieval

1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a

todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo

naval 2 AIRALDI 2007 9

3 AIRALDI ibidem 99

6

Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o

historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees

Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento

mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)

Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam

verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em

Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e

economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num

ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do

inicio do seacuteculo XV5

Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da

revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se

inscreveu na Histoacuteria universal

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas

Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque

para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a

partir do final do seacuteculo XIII

Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave

entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a

lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica

Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e

criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional

Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a

4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na

Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na

Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381

7

Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a

chama empreendedora pioneira

A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti

aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que

mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da

bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil

mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias

poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde

sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel

Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No

entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de

ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos

A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida

As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota

mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de

Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa

portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes

armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para

circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias

lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como

objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro

da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de

ldquoIacutendiardquo8

Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes

asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio

que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o

Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo

do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro

6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700

membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo

hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148

8

Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua

expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as

Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem

como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma

potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais

importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da

famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram

a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees

tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e

em diversos pontos do Magrebe

Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e

secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar

atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo

(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades

mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como

Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que

negociavam

A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie

sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia

da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude

comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla

Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees

de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000

pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros

A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por

ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel

Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas

desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de

onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as

Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo

fora um deles

9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um

dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique

9

Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade

Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a

haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em

conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que

cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra

dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao

hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10

Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas

surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a

uma escala global pelos portugueses

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo

O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos

portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o

centro econoacutemico do mundo

Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os

chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em

direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi

seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a

navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de

expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward

Dreyer na sua obra Zheng He11

O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de

diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser

excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente

necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo

primaacuteriardquo diz Dreyer

As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada

por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma

10

RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11

DREYER 2007 3

10

crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente

espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a

seguir chegassem ao Iacutendico12

Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de

Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto

de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia

hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem

aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as

potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de

commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo

dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista

Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em

particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash

e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)

idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o

arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria

principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza

negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora

procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado

Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence

ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a

Iacutendia)

A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante

longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais

entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos

sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde

entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo

mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo

no comeacutercio internacional

12

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61

11

O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a

inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo

do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room

de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das

primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um

modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare

Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de

influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e

longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13

Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash

baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do

planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as

bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como

globalizaccedilatildeo

Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como

um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto

gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a

visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um

conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu

a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14

Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico

e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a

gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou

um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos

deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de

publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo

naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar

A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de

aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos

infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador

13

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185

12

mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil

China e Japatildeo

Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de

projecccedilatildeo mundial foi tripla

Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e

Iacutendico

Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo

Campanha de marketing internacional junto do papado (poder

transnacional reconhecido pelos europeus)

Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico

(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um

projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo

messiacircnica

A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode

afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou

uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para

segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno

das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15

Segundo Daniel Boorstin16

ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo

prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as

largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo

15

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16

BOORSTIN 1986 83

Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e

bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria

e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria

Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que

destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos

13

13 Siglo de oro espanhol

O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do

seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave

abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute

a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681

Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro

com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don

Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro

Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado

politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados

por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau

Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado

pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em

1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de

Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras

notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan

de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro

de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica

muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais

ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III

Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves

ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17

o gesto mais

extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de

Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi

assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre

o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por

descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da

Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes

17

Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da

Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea

14

chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O

tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494

Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio

internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha

foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano

As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a

arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades

de Salamanca e Alcalaacute de Henares

As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos

comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de

Toledo Valecircncia e Saragoccedila

Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos

Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo

XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18

Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera

inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais

preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de

Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo

de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao

disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro

O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519

No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da

Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica

mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574

exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as

Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia

portuguesa20

Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel

I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de

seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a

18

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349

15

Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um

monarca um impeacuterio e uma espada

Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol

no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves

Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia

mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-

Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol

y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de

hoje)

Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os

acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo

Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees

espanholas das Ameacutericas

O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como

ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da

armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra

A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em

159021

Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional

apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don

Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute

provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo

reinado do filho e neto de Felipe II22

Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia

comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar

e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo

coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque

de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de

Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade

com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos

e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado

21

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373

16

pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos

recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)

desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e

passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento

em 1645

Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-

1648) de que passo a citar os mais importantes

As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da

Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis

como o momento de perda da hegemonia naval

Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp

Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses

A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640

A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs

A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa

Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional

foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele

tirar proveito efectivo

Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses

foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por

outrosrdquo23

Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os

ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24

ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os

23

BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24

RODRIGUES 1997 280 (volume I)

O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de

700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para

1770 contra 811 ingleses e 155 franceses

17

barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o

lugarrdquo dizia Leo Huberman25

Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista

justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica

desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do

seacuteculo XVII

A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos

chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso

apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como

arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26

O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27

A

doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O

holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28

(1604) e Mare Liberum (1609)

a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria

um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei

consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda

a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso

natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare

Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no

iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas

inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses

O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que

criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em

que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a

dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas

companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia

dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares

desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras

25

HUBERMAN 1970 45 26

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27

O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm

Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000

Berlim e Nova York 28

Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da

companhia holandesa VOC

18

cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29

) Esta deu origem mais tarde ao

aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India

Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias

Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que

agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van

Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594

Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso

Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a

infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-

ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o

hardpower)30

Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com

dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees

de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de

vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua

projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade

na projecccedilatildeo oceacircnica

Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de

Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais

ceacutelebre31

e em 1694 surgiu o Bank of England32

De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a

que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira

metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de

velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento

da artilharia a bordo dos navios33

29

HUBERMAM ibidem nt 12 30

HUTTON 2006 70 31

SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402

19

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial

O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente

chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens

era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para

cobrir os custos totais da frota)

As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas

mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram

ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo

ndash a Burguesia

Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo

protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo

niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido

ostracizados pela nobreza

Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial

disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta

O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de

capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte

financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial

A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34

com

profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento

econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado

Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a

partir do seacuteculo XIX

Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do

motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e

simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este

momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela

A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com

34

James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente

que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor

20

maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a

influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial

eclodiu em geral mais tarde

O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia

mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e

conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-

1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste

seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente

produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias

industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que

culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)

Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35

35

Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres

21

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que

daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36

No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as

principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da

Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para

Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus

De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses

costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto

europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a

apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de

descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de

culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua

maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um

planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a

elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes

desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o

astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do

horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a

vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)

A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar

encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e

prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas

36

Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794

22

presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas

tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio

permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer

A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas

ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos

(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de

milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como

os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais

de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob

jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres

Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute

igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por

estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo

A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre

teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no

desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria

Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura

veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico

da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu

eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de

mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias

representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia

Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da

importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem

crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva

ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre

sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de

comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da

rede logiacutestica que o torna possiacutevel37

37

COM (2006) 275 final vol II 3

23

O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na

agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo

muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente

Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do

desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre

estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos

larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte

empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38

A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de

2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro

europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute

exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de

outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia

A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que

diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro

agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro

segundo um estudo do Irish Marine Institute39

os sectores com maior potencial de

crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias

renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha

O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois

90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute

efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute

incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de

toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos

europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados

38

COM (2006) 275 final vol II 4 39

Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie

24

que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees

de euros40

Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do

transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas

para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador

para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-

portuaacuterios

Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a

classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua

lideranccedila

Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que

o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72

mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar

da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a

sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para

a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se

encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das

zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da

construccedilatildeo naval

O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos

anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro

satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o

desenvolvimento das zonas costeiras e insulares

O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos

uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a

641

Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades

interesses e locais42

O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento

sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem

40

Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41

Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde

Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de

motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42

Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde

25

objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43

e pelos Chefes de Estado

e de Governo44

O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia

Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45

Os mares em torno da

Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em

que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande

parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa

Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma

vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de

energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em

muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico

e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro

As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas

natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos

recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo

oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia

costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do

sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de

exportaccedilatildeo

Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

(FAO)46

indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado

de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de

uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode

tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura

poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e

desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47

A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o

maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de

pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das

43

COM (2006) 105 final 44

Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45

Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46

O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47

COM (2002) 511 final

26

pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48

Satildeo proporcionados

numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da

transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos

estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas

actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas

pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo

Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a

uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos

segmentos do sector das pescas49

Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por

sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa

No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-

me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos

mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o

reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos

Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a

PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa

poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de

direitos e com valores50

dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro

48

Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49

COM (2006) 275 final volume II 7-9 50

A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos

direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa

Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os

respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os

objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos

como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees

27

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo

ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente

orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a

plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma

sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo

cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da

Comissatildeo Europeia para 2005-2009

A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os

diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a

identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num

periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das

actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a

formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para

aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre

uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem

holiacutestica dos oceanos e dos mares

Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por

pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude

de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar

dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha

devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca

eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar

Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e

insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio

entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental

Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova

consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do

potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades

econoacutemicas

28

A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-

se em dois pilares fundamentais

Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o

crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no

conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e

garantir empregos de qualidade

Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam

todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito

Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa

parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do

meio marinho

A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees

entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as

actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute

necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e

de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica

Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos

oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos

O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente

ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes

Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de

poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de

agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados

para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um

niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute

devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor

acrescentado agraves actividades de outros51

51

COM (2006) 275 final volume II 5-6

29

24 Aacutereas-chave no Livro Verde

Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar

Meio marinho

O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo

acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da

ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)

alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo

com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas

descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)

Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-

se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na

elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de

lastro52

Investigaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com

conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus

programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e

racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas

tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia

Inovaccedilatildeo

A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo

como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem

tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento

sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia

52

Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade

do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar

ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de

transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de

lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os

registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro

30

eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo

dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia

Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo

As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No

entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53

o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero

de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos

mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo

O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem

formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo

assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa

O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos

potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas

perspectivas profissionais

A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para

o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que

importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e

mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os

europeus se habituaram com toda a legitimidade

Formaccedilatildeo de clusters54

O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os

diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e

produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem

todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio

mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de

53

Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and

related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54

Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de

empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais

precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo

de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees

associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo

31

transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters

regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima

atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55

Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou

grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos

comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no

ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo

de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns

nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade

A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em

sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e

tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da

construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo

resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e

serviccedilos56

Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e

transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores

mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos

Qualidade de vida nas regiotildees costeiras

O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca

Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se

construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida

agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente

A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que

a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute

igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de

abrandamento57

Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral

enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias

55

BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56

Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o

Livro Verde 57

Contributo da CRPM para o Livro Verde

32

A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo

e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma

maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de

transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo

abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das

aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas

costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e

remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar

no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet

actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58

Ao planear o

desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter

um resultado sustentaacutevel

As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do

turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel

mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel

pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a

competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o

patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero

crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade

constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais

compatiacuteveis com o ambiente

Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da

qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e

desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo

A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos

os destinos turiacutesticos costeiros

A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a

competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute

oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural

situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de

58

Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma

questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo

33

atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia

subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta

inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas

de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas

actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local

No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve

tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte

tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus

em dias sol por ano)

Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica

gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a

tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto

ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no

litoral portuguecircs

Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima

Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios

estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de

competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e

autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59

eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais

Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a

criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia

mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio

marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve

proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma

abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste

59

O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a

comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo

possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos

domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio

nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo

proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm

34

contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma

importacircncia cada vez maior

Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas

sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial

sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260

e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61

Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor

compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees

O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois

ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado

promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as

partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e

directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais

Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala

dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia

da Seguranccedila Mariacutetima62

(EMSA) com sede em Lisboa

Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos

ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63

Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que

aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas

sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos

recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados

de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e

agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo

Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico

60

ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61

Contributo da EuDA para o Livro Verde 62

A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de

acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no

mar 63

ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire

(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute

considerado um marco da poesia moderna

35

Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que

obviar a estas lacunas

A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de

observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a

melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e

o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da

comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise

integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados

provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos

serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de

dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de

monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas

O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem

criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector

mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo

dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso

contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema

oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas

sazonais64

Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os

continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos

de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave

rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias

ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a

navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver

documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns

trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros

por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira

64

COM (2006) 275 final volume II 34-35

36

Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos

teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar

pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde

Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e

das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma

convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos

estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender

as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da

avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As

organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se

associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro

que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar

de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades

mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a

Humanidade65

Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um

papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano

estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e

por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente

orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e

ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas

Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos

atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer

Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995

sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66

satildeo um evento

desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas

diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os

desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste

quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas

(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos

65

COM (2006) 275 final volume II 51 66

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)

37

culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma

para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa

Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as

Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider

Foundation Europe67

Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico

para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas

Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268

ldquoNautisme Espace

Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da

fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria

comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos

temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em

cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns

transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por

cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um

periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo

Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como

tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este

projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique

(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11

parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo

O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo

da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar

67

Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o

litoral 68

Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)

38

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE

O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo

Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado

mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam

devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo

do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda

A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o

lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses

Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia

O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa

de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas

as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais

apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro

Verde69

As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor

informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima

Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem

integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade

da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia

mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e

respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala

comunitaacuteria)

As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o

papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar

proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as

actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do

envolvimento dos governos dos Estados-Membros

69

COM (2007) 574 final 2

39

Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos

mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio

privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas

economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que

funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas

Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute

mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou

locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o

ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os

governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais

(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do

espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos

ecossistemas

O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o

interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos

mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e

do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias

mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho

cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos

Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global

dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de

boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os

pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais

ou turistas

Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de

ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado

na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute

veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como

abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70

No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230

eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados

70

COM (2007) 574 final 9-10

40

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo

Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se

com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os

Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano

de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da

subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma

ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas

para o mar

A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de

2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia

em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente

com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de

trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo

tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar

rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as

oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo

De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no

segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem

integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos

eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a

Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a

divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores

prioritaacuterios a seguir

Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa

pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos

assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes

europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre

41

Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias

envolvidas

Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave

proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia

aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de

uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez

o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave

Iacutendia em 1498

A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo

Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos

oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados

todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada

O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto

grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-

Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso

Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a

abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e

transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os

resultados das acccedilotildees preparatoacuterias

A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute

analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo

entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e

pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais

Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que

desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam

conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima

42

Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez

instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais

ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos

que se seguem satildeo especialmente importantes

Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima

A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo

segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e

optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade

ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e

ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei

e agrave seguranccedila em geral71

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras

(GIZC)

Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre

e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e

vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees

concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e

outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas

actividades de lazer72

Dados e informaccedilotildees

A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos

factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de

decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de

dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema

importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e

informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73

71

COM (2007) 575 final 5 72

COM (2007) 575 final 6 73

COM (2007) 575 final 6

43

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo

As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na

prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo

principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber

1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares

O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar

as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o

desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi

superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da

logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a

partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas

noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica

offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios

deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias

marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver

produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos

mercados mundiais

Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento

sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as

actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do

ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o

desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores

conexos

O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e

continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a

prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel

elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para

proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de

concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional

44

Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de

dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente

em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a

necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas

da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de

transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis

A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da

construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de

ponta incorporada

O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental

para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses

investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras

do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer

o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave

medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e

promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e

o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas

A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas

pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74

bem como de energias renovaacuteveis e

tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de

transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento

A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente

potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais

que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as

suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima

europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos

produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo

da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para

criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua

globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector

privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par

74

Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em

offshore

45

da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia

mariacutetima

Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo

que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e

privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para

compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e

sectores75

Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-

Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76

que estabelece um quadro de acccedilatildeo

comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos

ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando

especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida

no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do

ambiente marinho77

Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu

foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no

domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as

medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho

ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista

a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando

exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as

ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e

assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas

sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)

O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final

de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa

75

COM (2007) 575 final 7-9 76

Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77

Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final

46

um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio

marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia

2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima

A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o

desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas

Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades

humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a

chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a

degradaccedilatildeo do ambiente

O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo

portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este

reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os

efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode

permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute

necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a

niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os

esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o

diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a

investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais

eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78

3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras

Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi

duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As

comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo

que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do

ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade

As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a

desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees

78

COM (2007) 575 final 12

47

(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no

quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia

estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu

hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das

aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve

ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees

costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo

dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas

regiotildees

O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante

catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias

Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram

que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se

por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos

vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos

econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)

A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores

mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade

em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional

no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo

Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o

desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade

e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar

plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento

mariacutetimo inter-regional

As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas

consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades

mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem

serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A

48

Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a

sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79

A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os

esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do

bem-estar social dos trabalhadores activos no sector

A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica

tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das

condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das

comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras

Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do

desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees

residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica

pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo

para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si

valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na

conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em

agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade

4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais

A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma

governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o

direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos

pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas

principais instacircncias internacionais

O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais

a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da

biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do

transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos

navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as

prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees

79

COM (2007) 575 final 13-14

49

externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees

climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)

Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os

parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem

mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os

Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e

China (agora denominados BRIC)

A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada

relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo

Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que

concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao

niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em

desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de

cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave

poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80

5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente

os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos

barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir

agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos

barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo

interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa

mariacutetima81

Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em

resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de

consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da

Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa

80

COM (2007) 575 final 14-15 81

Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os

oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade

mariacutetima da Europa p 51

50

mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e

integrada

Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo

de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia

puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles

o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns

Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da

Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao

mar

A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as

comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais

os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre

elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade

A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais

destaco o Dia Europeu do Mar82

(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e

2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o

Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar

da Europa

O Atlas Europeu dos Mares83

jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados

do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo

puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico

fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados

como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o

transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e

as ldquoauto-estradas do marrdquo

Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84

como o website85

contribuem para ajudar a melhor

compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores

de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a

comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de

82

Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83

Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84

Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85

Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs

51

alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho

e as comunidades costeiras

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE

As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos

financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra

Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave

forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos

instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de

exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam

todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos

financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de

Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas

no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado

programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia

A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a

niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa

que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia

instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB

meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por

finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos

domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute

sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro

52

beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica

Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra

vez sob controlo

A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se

ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo

O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de

coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem

deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel

As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013

centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos

Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito

empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e

melhores empregos

Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a

crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar

para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer

grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho

Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os

intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local

A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos

difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o

conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo

um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo

(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e

luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim

reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as

disparidades seriam maiores

Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada

atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas

estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio

comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas

A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma

dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para

53

27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a

superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute

aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as

disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente

60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros

que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de

gravidade da poliacutetica regional para Leste

Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional

aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais

e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento

comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica

Agriacutecola Comum (PAC)

Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo

e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem

projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE

332 Fundos Estruturais

Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

O FEDER86

apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos

produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas

O FSE87

instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das

categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de

formaccedilatildeo

86

Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao

desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87

Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999

relativo ao Fundo Social Europeu

54

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)

O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia

atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia

Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas

designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar

emprego duradouro

Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves

telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes

Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de

desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local

e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees

Medidas de assistecircncia teacutecnica

O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a

competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia

Fundo Social Europeu (FSE)

O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na

Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade

regional e emprego

O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes

Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem

ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho

inovadoras

Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das

pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes

Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a

discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho

Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e

colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino

55

333 Outras fontes de financiamento

A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr

outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88

que

serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo

verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89

contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo

transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em

bacias mariacutetimas

O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um

importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais

destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de

desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as

ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis

Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo

Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro

Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo

multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades

mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente

ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de

2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares

integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e

ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O

prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de

Janeiro de 2011

Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios

financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a

Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE

88

Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a

ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho

relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm

56

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE

pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante

o periacuteodo remanescente (2010-2013)

Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um

programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a

implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE

e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu

das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo

desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e

Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica

mariacutetima integrada

No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros

actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-

Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e

das zonas costeiras

Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os

objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro

modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes

interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute

iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar

ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE

A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da

PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31

de Dezembro de 2013

O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90

Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo

integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as

bacias mariacutetimas

90

COM (2010) 494 final 11

57

Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as

poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras

Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos

recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo

e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com

as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais

Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas

com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia

Marinha

Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que

respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada

Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se

traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91

Estudos e programas de cooperaccedilatildeo

Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do

puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo

campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo

de siacutetios Web

Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes

interessadas

Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de

informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais

financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico

nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado

instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos

Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto

91

COM (2010) 494 final 12-13

58

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE

41 Breve balanccedilo

A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem

destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades

relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios

muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas

aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as

regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas

deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as

relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse

consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-

se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base

para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral

nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da

induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior

integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a

PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos

reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees

costeiras do continente92

O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a

fazecirc-lo) quatro objectivos93

Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais

abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo

Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais

necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas

92

COM (2009) 540 final 2 93

COM 2009) 540 final 3

59

Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de

sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial

No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em

consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e

encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso

A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees

incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos

da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas

em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham

sido ainda adoptados

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas

O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e

nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva

passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a

compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo

das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os

progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem

pelos stakeholders

Instituiccedilotildees da UE94

A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo

de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de

Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano

de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees

94

COM (2009) 540 final 3-4

60

regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e

eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas

A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato

da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a

coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais

tendo em conta as especificidades regionais

O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece

a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e

Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895

ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior

importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o

valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia

integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em

conta as especificidades regionais (hellip)rdquo

Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-

Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos

de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se

utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees

nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros

e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia

e impacto

A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito

positivos96

Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes

comissotildees e estruturas

O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A

Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem

elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote

mariacutetimo e costeirordquo97

constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses

divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica

95

16503108 REV 1 96

Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi

Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97

CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009

61

O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um

parecer98

particularmente favoraacutevel agrave PMIE

Estados-Membros99

Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-

Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos

informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas

mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma

estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais

Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas

praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo

inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em

Junho de 2008100

e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de

estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel

dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer

francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima

coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima

britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido

A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e

a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo

um total de 14 Estados membros

Regiotildees101

As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu

iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para

executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram

igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as

regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas

para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas

98

JO 2008C 21107 99

COM (2009) 540 final 4-5 100

COM (2008) 395 final de 2662008 101

COM (2009) 540 final 5

62

(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do

plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho

Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional

Partes interessadas102

As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma

PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a

advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e

regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos

e instrumentos inovadores

A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os

vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A

Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero

de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a

voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado

em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais

para a PMIE

43 Instrumentos transectoriais

Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de

existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a

poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute

possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos

102

COM (2009) 540 final 5-6

63

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira

(GIZC)103

O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a

competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute

um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo

sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem

ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes

interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos

concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho

A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o

ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104

O roteiro

estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros

de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE

Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105

as partes

interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez

princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante

para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou

igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria

para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o

desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um

estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os

benefiacutecios econoacutemicos do OEM

No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de

um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada

da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar

o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106

No final de

2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de

Barcelona107

103

Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104

COM(2008) 791 final 105

httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107

COM (2009) 540 final 6-7

64

Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima

A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no

mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo

significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar

e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos

detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente

Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas

de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108

empreendidas a niacutevel nacional regional e

europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo

da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de

Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109

A

Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante

total de 57 milhotildees de euros110

para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com

vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no

Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111

Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima

Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos

adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho

permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e

de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como

objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos

utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas

de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem

como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes

e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112

Destaque para o

lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico

para as questotildees marinhas

108

SEC (2008) 2337 109

COSDP 949 PESC 1366 110

Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111

COM (2009) 540 final 7 112

COM (2009) 540 final 7-8

65

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE

Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e

que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a

sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de

recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas

mariacutetimas e costeiras

Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para

dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a

protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das

alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no

mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor

da globalizaccedilatildeo e da prosperidade

Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa

mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as

sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade

ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute

avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas

Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos

alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees

costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a

montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos

contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma

isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve

igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo

resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e

as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais

necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo

seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes

interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113

113

COM (2009) 540 final 11

66

Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o

desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da

legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar

investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como

gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois

converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e

contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum

sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode

contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos

essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e

a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar

a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos

possam alcanccedilar os resultados previstos114

A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um

impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro

ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o

desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos

cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um

objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre

todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a

poliacutetica para o meio marinho115

As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da

PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos

geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um

elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os

Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta

cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros

que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem

igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116

114

COM (2009) 540 final 11 115

COM (2009) 540 final 12 116

COM (2009) 540 final 12

67

Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A

Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala

mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A

Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais

parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e

processos informais117

No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se

no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no

futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE

promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia

renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes

submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica

comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma

estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com

vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute

importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no

debate em curso sobre a coesatildeo territorial

A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de

favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e

melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito

do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas

seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o

investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente

no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a

favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute

a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo

naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute

proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de

navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo

e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das

costas da Europa118

117

COM (2009) 540 final 12 118

COM (2009) 540 final 12

68

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico

fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o

oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de

Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)

Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial

relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do

processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute

resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram

definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste

capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas

mariacutetimas nacionais

Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas

(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a

sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos

sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE

Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal

para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta

portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente

apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)

da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de

Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a

entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a

decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015

Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma

aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira

ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos

Estados Unidos da Ameacuterica

69

As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de

destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou

jurisdiccedilatildeo nacional

Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas

oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas

sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes

insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos

submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119

os campos de fontes hidrotermais as

riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de

afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que

importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos

culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos

energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam

um dos principais activos nacionais

Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de

governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio

da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional

para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o

Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel

sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma

missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque

permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos

Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco

objectivos que passo a enumerar

1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade

2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano

3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas

4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano

5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano

119

A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende

sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave

latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas

70

Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos

de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo

cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc

resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu

em particular120

rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de

modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima

Integrada Europeia

De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com

ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos

oceanos

Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje

que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante

intangiacutevel e invisiacutevel121

No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal

foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais

significativos destaco

Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada

por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares

aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)

O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na

sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia

Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial

de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o

futurordquo

Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros

8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente

- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a

capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e

120

Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a

cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121

ENM 2006-2016 p 2

71

tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que

permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando

o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis

- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o

objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela

requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar

- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma

Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da

plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela

Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar

Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do

Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar

os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta

comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250

recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas

Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma

Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)

com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental

de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo

de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-

Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental

Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto

com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de

preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas

para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos

do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas

aacutereas ligadas ao mar

Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de

Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere

aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos

domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha

72

Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu

procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica

Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia

A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de

Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009

junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU

A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma

continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU

em Nova Iorque

Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram

dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde

Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve

desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos

Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente

americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades

nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave

poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba

tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo

entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional

A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para

tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que

pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos

da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade

civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar

como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e

preservando este valioso patrimoacutenio

O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento

econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na

concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados

tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso

73

uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios

humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento

51 Princiacutepios e objectivos

A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade

nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a

existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente

Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos

agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas

ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento

econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122

A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a

educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros

internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do

oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos

transparentes rigorosos e crediacuteveis

52 Pilares estrateacutegicos

As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um

enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber

- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de

percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real

impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil

avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo

122

ENM 2006-2016 p 10

74

- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela

gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave

interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses

jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo

- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel

mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos

avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar

obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses

nacionais

Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades

as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos

Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel

assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento

diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de

desenvolvimento do Paiacutes

A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida

e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes

pilares estrateacutegicos123

O conhecimento

O planeamento e o ordenamento espaciais

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais

No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute

atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no

desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute

possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de

desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a

educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o

uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais

satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento

puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar

123

ENM 2006-2016 p 12

75

O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo

promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de

conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da

abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as

utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente

integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento

das actividades associadas

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo

envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e

multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-

activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser

suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional

nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica

tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a

identidade nacionais

O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs

pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de

qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes

econoacutemica social e ambiental

53 Acccedilotildees e medidas

O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs

pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades

econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em

desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do

crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124

124

ENM 2006-2016 p 17

76

Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos

preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas

Transportes

Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte

mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa

promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte

acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo

de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela

uacutenica portuaacuteria125

Energia

Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia

energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos

existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e

atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam

responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma

induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as

exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por

exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor

conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins

energeacuteticos com origem foacutessil

Aquicultura e pescas

Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que

tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as

actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas

protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes

125

A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto

atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar

desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma

ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado

dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias

importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o

que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por

naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo

77

artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura

offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental

Defesa nacional e seguranccedila

Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do

Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na

seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito

dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na

mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de

Protecccedilatildeo Civil

Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo

Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de

ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes

fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e

participando activamente nas redes internacionais

Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza

Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e

costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha

recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a

conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo

de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da

poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre

o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e

assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho

Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo

Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees

promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando

nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e

fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e

a educaccedilatildeo ambiental

78

Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio

Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as

actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o

desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo

o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas

internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o

remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o

turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais

classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees

Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza

promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes

Poliacutetica externa

Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros

continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da

comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e

defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes

Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126

que tendo em consideraccedilatildeo a

exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto

prazo

Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a

implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos

do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as

competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela

Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas

aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central

para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus

interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos

assuntos do mar

Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da

discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do

126

ENM 2006-2016 p18

79

processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de

forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos

assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida

eficaz e abrangente

Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de

acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar

condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A

implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais

permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando

valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir

o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo

Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127

a saber

A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar

A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao

mar

A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo

das ciecircncias do mar da Europa

O planeamento e ordenamento espacial das actividades

A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

O fomento da economia do mar

A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas

A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos

mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional

A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em

Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar

assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das

suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no

periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base

num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica

127

ENM 2006-2016 pp 22-23

80

Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na

inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias

instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo

obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que

cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos

objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador

Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da

Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste

novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no

Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a

acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo

No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua

Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do

mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128

na

Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010

(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como

exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar

eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa

geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as

estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na

proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir

em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e

incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam

economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios

que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute

certamente um delesrdquo (hellip)

128

Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445

81

54 O Hypercluster da economia do mar

ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia

portuguesardquo

Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de

economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de

avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129

sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa

da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura

considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e

sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes

diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero

O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a

fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de

conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo

O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia

portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos

seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz

a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um

cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal

O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um

catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado

potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e

investimentos de qualidade nomeadamente externos

Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera

cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a

comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de

28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-

129

Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf

82

se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor

que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos

Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um

novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global

na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130

O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas

diferentes de planos e acccedilotildees a saber

1) Planos prioritaacuterios

Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e

competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores

sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp

turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo

amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)

2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata

Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da

frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)

3) Planos de alimentaccedilatildeo

Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo

prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo

amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp

conservaccedilatildeo da natureza)

4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)

O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho

criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131

(FEM)

130

Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do

Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes

httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce

41366a4bbe8a49b02a028 131

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt

83

O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento

com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute

organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster

apresentado

Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo

principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo

assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente

fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais

55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132

The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as

a whole 133

O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE

Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo

respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento

econoacutemico do meio marinho134

No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm

1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre

outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o

desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e

actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a

132

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133

ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados

como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)

Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da

UE satildeo Partes na UNCLOS 134

COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios

comuns na EUrdquo p 2

84

gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no

quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia

econoacutemica ambiental e social do mar

Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional

tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente

mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a

coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular

esta mateacuteria de forma coerente e articulada

Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e

considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de

Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi

determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os

objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando

as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute

acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a

qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos

O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a

Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do

espaccedilo mariacutetimordquo

Visatildeo

ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e

seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no

conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo

Missatildeo

ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na

promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e

potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem

no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o

85

normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento

sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo

Discussatildeo Puacuteblica

A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo

Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva

Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099

de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do

POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo

ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo

Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia

estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais

A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos

erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de

biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no

acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e

interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o

desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo

No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo

Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de

Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de

zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de

intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral

86

Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes

medidas

Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a

promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a

reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e

paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel

Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais

Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos

espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural

Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes

da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e

associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais

De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do

Norte135

litoral da Ria de Aveiro136

litoral da Ria Formosa137

e o litoral da Costa

Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes

lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com

recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros

135

wwwpolislitoralnortept 136

wwwpolisriadeaveiropt 137

wwwpolislitoralriaformosapt

87

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo

A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte

ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na

eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo

participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens

para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e

o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da

Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a

saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a

pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em

termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo

No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte

ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer

A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura

do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)

e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os

municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do

Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A

regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo

cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138

em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139

na Poacutevoa

de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140

em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio

Minho141

em Vila Nova de Cerveira entre outros

138

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139

Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140

Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141

AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt

88

O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional

do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada

por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem

vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias

constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e

relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo

ldquoMarrdquo

A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral

ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de

produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a

internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento

e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de

forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da

Regiatildeo142

Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de

razotildees das quais destaco as seguintes

A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a

maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela

existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e

econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade

Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes

que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de

complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao

desenvolvimento da regiatildeo

Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no

sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda

de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas

ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de

142

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52

89

riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do

reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo

Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com

outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM

favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades

indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional

Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no

plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa

estrateacutegia europeia

Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-

financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo

relevante em ambos os programas

Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente

dos jovens para a temaacutetica mar

Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo

entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para

o desenvolvimento no domiacutenio do mar

Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num

processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e

nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano

constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter

em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do

Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e

POCTEA143

)

Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada

a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades

puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal

143

POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal

POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

90

Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa

que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar

Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de

cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo

Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de

complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste

peninsular no domiacutenio do mar

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144

Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para

consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu

objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas

para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo

1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e

das bacias hidrograacuteficas

O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e

desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e

ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de

sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees

estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo

2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao

meio marinho

Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar

e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo

certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que

144

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54

91

visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos

marinhos nomeadamente

Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de

diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo

monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das

pescas e da aquacultura

Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a

induacutestria

3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e

a seguranccedila alimentar

Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do

conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que

contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees

de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade

de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do

consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior

aos produtos regionais

4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras

espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura

O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma

aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute

largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo

evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a

espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a

temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de

elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir

92

5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo

O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo

para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias

mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de

cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)

orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de

valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que

promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam

para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional

6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e

fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar

Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu

desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster

regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos

de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do

empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o

desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo

Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes

formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao

desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento

de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo

das demais componentes

7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias

A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu

constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-

oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping

representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas

vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste

contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O

apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas

articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias

93

internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila

constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos

transportes

Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros

do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial

importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade

do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de

incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica

8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo

naacuteutico

Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas

existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e

das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e

desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede

de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave

naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos

de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave

valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha

estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo

e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas

de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a

criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego

9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias

marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do

sector e a empregabilidade

O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores

chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima

94

A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as

outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a

qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas

ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a

oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro

de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da

formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do

turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de

desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio

10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar

A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito

do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do

POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando

o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas

No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a

iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo

actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145

e do CIIMAR146

Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo

oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-

Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos

sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e

naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)

145

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg

95

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar

A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder

coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da

governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico

dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no

domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como

plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes

actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees

Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a

existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do

mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees

A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de

pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees

puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas

com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em

presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de

coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos

que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e

a respectiva regulaccedilatildeo existente

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo

Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela

plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que

tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo

Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de

Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de

96

Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a

importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo

para as regiotildees Centro e Norte de Portugal

Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster

consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de

actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o

emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da

formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees

de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147

rdquo

Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de

entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais

pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de

Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional

criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de

mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da

produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto

diversificado de sectores e de actividades

bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca

bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica

bull Induacutestrias mariacutetimas

bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio

plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)

bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo

bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)

bull Roboacutetica submarina

bull Biotecnologia marinha

bull Energias renovaacuteveis

147

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

97

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro

linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148

que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos

clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)

Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das

Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades

emergentes no domiacutenio da economia do mar

Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca

da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar

Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias

mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica

Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no

apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza

No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto

totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos

anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes

Ecomare

Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo

de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro

Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto

Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo

de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar

permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os

seus protoacutetipos em meio marinho

148

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

98

Consupesca

Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca

costeira e de arrasto

Panthalassa

Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da

transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas

integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do

processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de

seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos

Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos

Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da

implementaccedilatildeo dos seguintes projectos

Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a

posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua

localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre

as Caraiacutebas e a Europa

Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da

naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo

como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico

Turismo Mariacutetimo de Natureza

Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)

99

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional

Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o

sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado

mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem

desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas

(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego

de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees

Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso

tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente

com o tempo de uma vidardquo (hellip)149

Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde

cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade

permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao

mar

A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela

INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica

como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150

Este estudo estrateacutegico foi apoiado

pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER

Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector

que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos

Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de

animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees

a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos

O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual

a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico

que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte

Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem

futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e

consequentemente no QREN (2007-2013)

149

Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010

(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150

Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

100

Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que

datildeo estrutura a cinco eixos

Rede de infra-estruturas naacuteuticas

Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da

actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na

qualificaccedilatildeo de serviccedilos

Dinamizaccedilatildeo turiacutestica

Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de

empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica

Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica

Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias

hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos

agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo

Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica

acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de

espaccedilos museoloacutegicos

Governacircncia

Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no

estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao

puacuteblico

Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos

que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem

econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um

desenvolvimento sustentaacutevel

O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua

interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso

de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para

as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas

101

Conclusotildees

No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os

tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a

transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas

europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo

pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto

de partida para posteriores aprofundamentos

Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais

Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta

constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de

atingir o seu potencial sisteacutemico

A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua

natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o

interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e

lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma

inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas

civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se

iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso

contributo deram agrave Humanidade

Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante

provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa

natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo

pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as

adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a

construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute

assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI

Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra

de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum

aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania

e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias

102

Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente

da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do

seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada

numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e

participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos

melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as

sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental

tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios

prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico

emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees

Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser

decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem

que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda

subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais

Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo

foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma

incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval

que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da

demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos

histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos

Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)

Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo

Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr

nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo

menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo

chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do

seacuteculo XX

103

Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem

Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector

mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades

mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por

excelecircncia e da Franccedila com a PAC

Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos

europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo

e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos

A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores

do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o

sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua

propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas

a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal

focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral

ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando

como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde

sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado

ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute

O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam

a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce

tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora

da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito

tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151

Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo

mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para

implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi

reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia

Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da

poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar

151

Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia

p186

104

com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao

mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma

Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e

laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica

ao mar

Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um

novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para

desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros

atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o

sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas

podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas

jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar

e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as

potencialidades do mar

Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus

verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como

a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a

ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking

mundial de paiacuteses mariacutetimos

Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste

devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal

atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico

um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias

Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave

medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de

poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que

afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes

Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades

105

Fontes e bibliografia

Fontes

Documentos COM (Comunicaccedilotildees da Comissatildeo Europeia)

COM (2010) 494 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Proposta de Regulamento do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um programa de apoio ao

aprofundamento da poliacutetica mariacutetima integrada Comissatildeo Europeia 2010

COM (2009) 540 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 538 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing

environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 536 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo

Europeia Comissatildeo Europeia 2009

106

COM (2009) 8 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte

mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009

COM (2008) 791 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento

do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008

COM (2008) 395 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores

praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas

Comissatildeo Europeia 2008

COM (2007) 575 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007

COM (2007) 574 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia

2007

COM (2006) 275 final Volume I

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento

Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma

futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares

Comissatildeo Europeia 2006

107

COM (2006) 275 final Volume II

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica

mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo

Europeia 2006

COM (2006) 105 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma

energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006

COM (2005) 658 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel

Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005

COM (2005) 505 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do

Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da

poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo

Europeia 2005

COM (2005) 504 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio

marinho Comissatildeo Europeia 2004

COM (2002) 511 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao

Conselho e ao Parlamento Europeu Estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel da

aquicultura europeia Comissatildeo Europeia 2002

108

Outras fontes

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 (2009) Porto CCDR-

NMinisteacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do Desenvolvimento

Regional

Encontro Porto Cidade Regiatildeo Para uma Regiatildeo do Conhecimento (2008) Porto

Reitoria Universidade do Porto

Estrateacutegia Nacional para o Mar (2006) Lisboa EMAMMinisteacuterio da Defesa

Nacional

Genuinely Sustainable Marine Ecotourism in the EU Atlantic Area a Blueprint for

Responsible Marketing (2006) Bristol University of West of England

ldquoOs clusters mariacutetimos na encruzilhada da inovaccedilatildeo e do desenvolvimento regionalrdquo

Inforegio panorama nordm 23 (2007) Bruxelas Comissatildeo Europeia DG Poliacutetica Regional

Plano de Acccedilatildeo para o Desenvolvimento Turiacutestico do Norte de Portugal (2008) Porto

CCDR-N Ministeacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do

Desenvolvimento Regional

109

Internet

Agecircncia Europeia de Seguranccedila Mariacutetima

wwwemsaeuropaeu (acedido 5 de Marccedilo de 2010)

AquaMuseu do rio Minho

httpaquamuseucm-vncerveirapt (acedido 13 de Setembro de 2010)

Atlas Europeu dos Mares

httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas (acedido 22 de Outubro de 2010)

Instituto Nacional da Aacutegua

wwwinagpt (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Instituto Hidrograacutefico

wwwhidrografico (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

wwwcimarorg (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR

httpwwwcetmarorg (acedido 8 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Agecircncia Europeia do Ambiente

wwweeaeuropaeu (acedido 4 de Janeiro de 2011)

Comissatildeo Europeia ndash Assuntos Mariacutetimos

httpeceuropaeumaritimeaffairsindex_enhtml (acedido 12 de Janeiro 2011)

Comissaacuterio Europeu Joe Borg

httpeceuropaeucommission_barrosoborgindex_enhtml (acedido 20 Dezembro de 2009)

Comissatildeo Europeia ndash O nosso Planeta Oceano

httpeceuropaeuresearchrtdinfsupptindex_pthtml (acedido 15 de Junho de 2010)

110

Comissatildeo Europeia ndash Pesca

httpeceuropaeufisheriesindex_pthtml (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Sea Search

wwwsea-seachnet (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comiteacute das Regiotildees

httpwwwcoreuropaeu (acedido 13 de Setembro de 2010)

Dia Europeu do Mar

httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday (acedido 10 de Novembro de 2010)

European Sea Ports Organization

wwwespobe (acedido 30 de Outubro de 2010)

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda

httpwwwfundacao-elapt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

wwwemamcompt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

FAO ndash Fisheries Department

httpfaoorgfidefaultesp (acedido 22 Novembro 2010)

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

httpwwwfempt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Foacuterum Europeu Mariacutetimo

httpswebgateeceuropaeumaritimeforum (acedido 10 de Novembro de 2010)

Fundaccedilatildeo Gil Eannes

wwwfundacaogileannespt (acedido 12 de Setembro de 2010)

Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm (acedido 5 de Janeiro de 2011)

111

International Maritime Organization

httpimoorg (acedido 14 de Novembro de 2010)

Irish Marine Institute

httpwwwmarineie (acedido 6 de Maio de 2010)

Instituto Portuaacuterio e dos Transportes Mariacutetimos

wwwimarporpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm (acedido 18 de Outubro de 2010)

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos

wwwjnieaeu (acedido 20 Agosto de 2010)

Lancha Poveira

httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp (acedido 30 de Outubro de 2010)

Museu da Marinha

wwwmuseumarinhamuseusiteptpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Nautisme Espace Atlantique 2

wwwnea2eu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

ONU ndash Department of Economic and Social Affairs

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm (acedido 30

de Setembro de 2010)

Oceanaacuterio de Lisboa

wwwoceanariopt (acedido 20 Agosto de 2010)

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar

httpwwwoceano21org (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Parlamento Europeu

httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)

112

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

httppoeminagpt (acedido 29 de Dezembro de 2010)

Polis Litoral Norte

wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria de Aveiro

wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria Formosa

wwwpolislitoralriaformosapt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciapt (acedido 10 de Janeiro de 2011)

Projecto Naacuteutica

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

(acedido 14 de Janeiro de 2011)

Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)

wwwqrenpt (acedido 14 de Janeiro de 2011)

SaeR ndash Sociedade de Avaliaccedilatildeo Estrateacutegica e Risco Lda

wwwsaerpr (acedido 12 Dezembro de 2010)

Surfrider Foundation Europe

wwwsurfridereu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

113

Bibliografia

AIRALDI Gabriela (2007) DallacuteEurosia al Nuovo Mondo Una Storia italiana secc

XI-VVI Geacutenova Itaacutelia Fratelli Frilli Editori

ALBUQUERQUE Luiacutes (2001) Introduccedilatildeo agrave Histoacuteria dos Descobridores Portugueses

Lisboa Publicaccedilatildeo Europa-Ameacuterica

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627

(2010) Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Aacutereas-chave nordm 20 (2006)

Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Perspectivas e linhas

estrateacutegicas nordm 19 (2006) Lisboa CIEJDPrincipia

FERNANDEZ-ARNESTO Felipe (2001) Civilizations Culture Ambition and the

Transformation of Nature Nova Iorque EUA Simom amp Shuster

BOORSTIN Daniel (1986) The Discovers Nova Iorque EUA Vintage Press

BOXER Charles R (2001) O Impeacuterio Mariacutetimo Portuguecircs 1415-1825 Lisboa

Ediccedilotildees 70

CARVALHO Virgiacutelio (1995) A Importacircncia do Mar para Portugal Venda Nova

Bertrand

COSTA Joatildeo Paulo O (2009) Henrique o Infante Lisboa A Esfera dos Livros

DREYER Edward L (2007) Zheng He - China and the Oceans in the early Ming

Dynasty ndash 14051433 Nova Iorque EUA Pearson Education

114

HUBERMAN Leo (1970) Histoacuteria da Riqueza do Homem Rio de Janeiro Brasil

Zahar Editores

HUTTON Will (2006) The Writing on the Wall - Why We Must Embrace China as a

Partner or Face It as an Enemy Nova Iorque EUA Free Press

LEITAtildeO Augusto R (2006) Organizaccedilotildees Europeias Coimbra FEUC

PERES Damiatildeo (1982) Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses Trofa Vertente

MATIAS Nuno V MARQUES Viriato S FALCATO Joatildeo LEITAtildeO Aristides G

(2010) Poliacuteticas Puacuteblicas do Mar Lisboa Esfera do Caos

SILVA Antoacutenio M (2005) Portugal e a Europa ndash distanciamento e reencontro Viseu

CHSCPalimage Editores

RIBEIRO Maria Manuela T (Coord) (2007) Mare Oceanus ndash Atlacircntico espaccedilo de

diaacutelogos Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm6 Coimbra Almedina

RIBEIRO Maria Manuela T (2003) A ideia de Europa uma perspectiva histoacuterica

Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm 3 Coimbra CEIS 20Quarteto Editora

RODRIGUES Jorge amp DEVEZAS Tessaleno (2009) Portugal ndash O Pioneiro da

Globalizaccedilatildeo A Heranccedila das Descobertas VN Famalicatildeo Centro Atlacircntico

RODRIGUES Antoacutenio S (1997) Histoacuteria Comparada - Portugal Europa e o Mundo

Cronologia Lisboa Tema amp Debates

SMITH Adam (1976) Inquiry into the Nature and Causes of Wealth of Nations

Chicago EUA The University of Chicago Press

Page 6: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à

VI

Lista de abreviaturas

BEI ndash Banco Europeu de Investimento

BRIC ndash Brasil Ruacutessia Iacutendia e China

CCDR-N ndash Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento Regional do Norte

CdR ndash Comiteacute das Regiotildees

CE ndash Comissatildeo Europeia

CEO ndash Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos

CESA ndash Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval

CETMAR ndash Centro Tecnoloacutegico del Mar

CIEJD ndash Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors

CIIMAR ndash Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

CLPC ndash Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental

CO 2 ndash Dioacutexido de Carbono

COMPETE ndash Programa de Factores de Competitividade

CRPM ndash Conferecircncia das Regiotildees Mariacutetimas da Europa

DEM ndash Dia Europeu do Mar

EBA ndash European Boating Association

EFTA ndash Associaccedilatildeo Europeia de Livre Comeacutercio

EM ndash Estados Membros

EMAM ndash Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

EMEPC ndash Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

EMODNET ndash Rede Europeia de Observaccedilatildeo e de Dados do Meio Marinho

EMSA ndash Agecircncia Europeia da Seguranccedila Mariacutetima

ENM ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ESPO ndash Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus

EuDA ndash European Dredging Association

EUROMIG ndash European Union Recreational Marine Industry Group

VII

FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

FSE ndash Fundo Social Europeu

GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento

IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo

IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo

OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers

ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2

PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum

PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca

PIB ndash Produto Interno Bruto

PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas

PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal

POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva

VIII

Nota preacutevia

A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de

diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos

A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora

Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a

tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e

em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e

internacional

A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na

qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia

nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro

do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a

uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos

procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige

O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo

conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor

Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal

Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo

Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em

Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam

O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em

2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias

europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em

representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em

Estudos Europeus

Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos

amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre

me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e

carinho

Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho

IX

Iacutendice

Resumo V

Lista de abreviaturas VI

Nota preacutevia VIII

Introduccedilatildeo 1

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9

13 Siglo de oro espanhol 13

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27

24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43

X

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51

332 Fundos estruturais 53

333 Outras fontes de financiamento 55

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58

41 Breve balanccedilo 58

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59

43 Instrumentos transectoriais 62

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68

51 Princiacutepios e objectivos 73

52 Pilares estrateacutegicos 73

53 Acccedilotildees e medidas 75

54 O Hypercluster da economia do mar 81

55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99

Conclusotildees 101

Fontes e bibliografia 105

1

Introduccedilatildeo

A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito

Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e

a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a

conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz

parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia

para a vida

Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-

me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de

Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e

institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que

ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais

Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no

acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se

espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar

Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma

poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo

sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como

todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para

Portugal

Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que

procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material

e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e

desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas

italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes

para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de

Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa

Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia

europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas

2

No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica

Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades

da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os

mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a

consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no

processo de construccedilatildeo da PMIE

Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo

de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares

como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma

iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a

Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi

apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em

2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-

Comissaacuterio Europeu)

No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das

instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico

concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees

econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade

poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final

deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave

PMIE

Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis

agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves

actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees

estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste

capiacutetulo

No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)

resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de

aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos

Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores

da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da

3

Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente

em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo

No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para

aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades

latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a

plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de

desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo

Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a

ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo

entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de

inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto

ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas

4

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica

Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da

Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes

protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores

potecircncias de entatildeo

Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e

Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e

terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma

abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das

actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo

Industrial

Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos

Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV

aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar

Negro)

Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida

como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano

(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare

Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que

teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula

Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo

ateacute ao momento da chegada dos portugueses

Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como

Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)

Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)

Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do

seacuteculo VIII)

5

Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental

contiacutegua

No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo

as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede

litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes

casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma

talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade

continental

Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees

mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza

e na monarquia dual catalo-aragonesa

Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias

europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela

Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a

civilizaccedilatildeo mediterracircnica

A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia

Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado

predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e

banqueiros

Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos

A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas

libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca

Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e

o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash

assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-

senhorial dominante na Europa medieval

1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a

todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo

naval 2 AIRALDI 2007 9

3 AIRALDI ibidem 99

6

Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o

historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees

Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento

mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)

Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam

verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em

Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e

economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num

ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do

inicio do seacuteculo XV5

Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da

revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se

inscreveu na Histoacuteria universal

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas

Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque

para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a

partir do final do seacuteculo XIII

Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave

entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a

lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica

Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e

criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional

Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a

4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na

Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na

Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381

7

Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a

chama empreendedora pioneira

A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti

aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que

mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da

bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil

mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias

poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde

sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel

Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No

entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de

ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos

A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida

As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota

mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de

Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa

portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes

armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para

circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias

lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como

objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro

da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de

ldquoIacutendiardquo8

Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes

asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio

que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o

Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo

do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro

6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700

membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo

hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148

8

Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua

expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as

Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem

como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma

potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais

importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da

famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram

a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees

tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e

em diversos pontos do Magrebe

Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e

secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar

atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo

(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades

mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como

Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que

negociavam

A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie

sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia

da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude

comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla

Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees

de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000

pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros

A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por

ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel

Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas

desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de

onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as

Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo

fora um deles

9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um

dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique

9

Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade

Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a

haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em

conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que

cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra

dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao

hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10

Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas

surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a

uma escala global pelos portugueses

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo

O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos

portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o

centro econoacutemico do mundo

Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os

chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em

direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi

seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a

navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de

expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward

Dreyer na sua obra Zheng He11

O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de

diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser

excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente

necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo

primaacuteriardquo diz Dreyer

As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada

por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma

10

RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11

DREYER 2007 3

10

crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente

espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a

seguir chegassem ao Iacutendico12

Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de

Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto

de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia

hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem

aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as

potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de

commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo

dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista

Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em

particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash

e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)

idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o

arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria

principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza

negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora

procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado

Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence

ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a

Iacutendia)

A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante

longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais

entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos

sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde

entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo

mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo

no comeacutercio internacional

12

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61

11

O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a

inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo

do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room

de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das

primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um

modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare

Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de

influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e

longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13

Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash

baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do

planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as

bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como

globalizaccedilatildeo

Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como

um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto

gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a

visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um

conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu

a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14

Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico

e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a

gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou

um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos

deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de

publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo

naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar

A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de

aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos

infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador

13

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185

12

mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil

China e Japatildeo

Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de

projecccedilatildeo mundial foi tripla

Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e

Iacutendico

Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo

Campanha de marketing internacional junto do papado (poder

transnacional reconhecido pelos europeus)

Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico

(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um

projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo

messiacircnica

A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode

afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou

uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para

segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno

das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15

Segundo Daniel Boorstin16

ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo

prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as

largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo

15

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16

BOORSTIN 1986 83

Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e

bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria

e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria

Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que

destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos

13

13 Siglo de oro espanhol

O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do

seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave

abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute

a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681

Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro

com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don

Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro

Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado

politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados

por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau

Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado

pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em

1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de

Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras

notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan

de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro

de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica

muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais

ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III

Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves

ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17

o gesto mais

extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de

Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi

assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre

o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por

descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da

Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes

17

Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da

Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea

14

chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O

tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494

Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio

internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha

foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano

As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a

arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades

de Salamanca e Alcalaacute de Henares

As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos

comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de

Toledo Valecircncia e Saragoccedila

Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos

Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo

XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18

Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera

inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais

preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de

Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo

de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao

disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro

O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519

No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da

Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica

mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574

exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as

Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia

portuguesa20

Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel

I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de

seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a

18

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349

15

Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um

monarca um impeacuterio e uma espada

Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol

no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves

Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia

mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-

Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol

y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de

hoje)

Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os

acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo

Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees

espanholas das Ameacutericas

O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como

ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da

armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra

A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em

159021

Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional

apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don

Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute

provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo

reinado do filho e neto de Felipe II22

Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia

comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar

e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo

coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque

de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de

Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade

com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos

e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado

21

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373

16

pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos

recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)

desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e

passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento

em 1645

Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-

1648) de que passo a citar os mais importantes

As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da

Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis

como o momento de perda da hegemonia naval

Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp

Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses

A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640

A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs

A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa

Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional

foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele

tirar proveito efectivo

Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses

foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por

outrosrdquo23

Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os

ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24

ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os

23

BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24

RODRIGUES 1997 280 (volume I)

O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de

700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para

1770 contra 811 ingleses e 155 franceses

17

barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o

lugarrdquo dizia Leo Huberman25

Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista

justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica

desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do

seacuteculo XVII

A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos

chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso

apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como

arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26

O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27

A

doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O

holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28

(1604) e Mare Liberum (1609)

a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria

um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei

consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda

a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso

natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare

Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no

iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas

inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses

O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que

criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em

que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a

dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas

companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia

dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares

desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras

25

HUBERMAN 1970 45 26

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27

O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm

Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000

Berlim e Nova York 28

Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da

companhia holandesa VOC

18

cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29

) Esta deu origem mais tarde ao

aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India

Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias

Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que

agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van

Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594

Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso

Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a

infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-

ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o

hardpower)30

Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com

dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees

de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de

vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua

projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade

na projecccedilatildeo oceacircnica

Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de

Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais

ceacutelebre31

e em 1694 surgiu o Bank of England32

De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a

que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira

metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de

velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento

da artilharia a bordo dos navios33

29

HUBERMAM ibidem nt 12 30

HUTTON 2006 70 31

SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402

19

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial

O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente

chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens

era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para

cobrir os custos totais da frota)

As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas

mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram

ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo

ndash a Burguesia

Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo

protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo

niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido

ostracizados pela nobreza

Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial

disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta

O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de

capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte

financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial

A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34

com

profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento

econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado

Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a

partir do seacuteculo XIX

Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do

motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e

simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este

momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela

A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com

34

James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente

que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor

20

maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a

influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial

eclodiu em geral mais tarde

O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia

mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e

conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-

1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste

seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente

produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias

industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que

culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)

Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35

35

Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres

21

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que

daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36

No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as

principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da

Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para

Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus

De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses

costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto

europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a

apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de

descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de

culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua

maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um

planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a

elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes

desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o

astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do

horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a

vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)

A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar

encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e

prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas

36

Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794

22

presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas

tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio

permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer

A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas

ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos

(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de

milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como

os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais

de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob

jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres

Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute

igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por

estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo

A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre

teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no

desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria

Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura

veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico

da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu

eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de

mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias

representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia

Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da

importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem

crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva

ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre

sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de

comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da

rede logiacutestica que o torna possiacutevel37

37

COM (2006) 275 final vol II 3

23

O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na

agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo

muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente

Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do

desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre

estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos

larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte

empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38

A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de

2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro

europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute

exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de

outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia

A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que

diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro

agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro

segundo um estudo do Irish Marine Institute39

os sectores com maior potencial de

crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias

renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha

O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois

90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute

efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute

incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de

toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos

europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados

38

COM (2006) 275 final vol II 4 39

Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie

24

que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees

de euros40

Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do

transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas

para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador

para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-

portuaacuterios

Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a

classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua

lideranccedila

Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que

o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72

mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar

da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a

sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para

a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se

encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das

zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da

construccedilatildeo naval

O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos

anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro

satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o

desenvolvimento das zonas costeiras e insulares

O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos

uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a

641

Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades

interesses e locais42

O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento

sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem

40

Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41

Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde

Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de

motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42

Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde

25

objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43

e pelos Chefes de Estado

e de Governo44

O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia

Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45

Os mares em torno da

Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em

que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande

parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa

Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma

vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de

energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em

muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico

e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro

As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas

natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos

recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo

oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia

costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do

sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de

exportaccedilatildeo

Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

(FAO)46

indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado

de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de

uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode

tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura

poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e

desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47

A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o

maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de

pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das

43

COM (2006) 105 final 44

Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45

Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46

O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47

COM (2002) 511 final

26

pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48

Satildeo proporcionados

numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da

transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos

estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas

actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas

pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo

Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a

uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos

segmentos do sector das pescas49

Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por

sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa

No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-

me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos

mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o

reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos

Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a

PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa

poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de

direitos e com valores50

dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro

48

Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49

COM (2006) 275 final volume II 7-9 50

A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos

direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa

Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os

respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os

objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos

como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees

27

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo

ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente

orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a

plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma

sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo

cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da

Comissatildeo Europeia para 2005-2009

A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os

diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a

identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num

periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das

actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a

formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para

aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre

uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem

holiacutestica dos oceanos e dos mares

Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por

pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude

de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar

dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha

devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca

eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar

Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e

insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio

entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental

Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova

consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do

potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades

econoacutemicas

28

A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-

se em dois pilares fundamentais

Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o

crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no

conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e

garantir empregos de qualidade

Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam

todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito

Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa

parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do

meio marinho

A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees

entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as

actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute

necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e

de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica

Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos

oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos

O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente

ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes

Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de

poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de

agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados

para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um

niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute

devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor

acrescentado agraves actividades de outros51

51

COM (2006) 275 final volume II 5-6

29

24 Aacutereas-chave no Livro Verde

Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar

Meio marinho

O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo

acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da

ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)

alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo

com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas

descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)

Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-

se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na

elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de

lastro52

Investigaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com

conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus

programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e

racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas

tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia

Inovaccedilatildeo

A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo

como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem

tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento

sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia

52

Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade

do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar

ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de

transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de

lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os

registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro

30

eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo

dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia

Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo

As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No

entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53

o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero

de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos

mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo

O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem

formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo

assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa

O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos

potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas

perspectivas profissionais

A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para

o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que

importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e

mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os

europeus se habituaram com toda a legitimidade

Formaccedilatildeo de clusters54

O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os

diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e

produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem

todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio

mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de

53

Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and

related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54

Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de

empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais

precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo

de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees

associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo

31

transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters

regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima

atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55

Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou

grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos

comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no

ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo

de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns

nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade

A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em

sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e

tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da

construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo

resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e

serviccedilos56

Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e

transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores

mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos

Qualidade de vida nas regiotildees costeiras

O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca

Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se

construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida

agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente

A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que

a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute

igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de

abrandamento57

Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral

enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias

55

BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56

Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o

Livro Verde 57

Contributo da CRPM para o Livro Verde

32

A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo

e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma

maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de

transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo

abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das

aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas

costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e

remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar

no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet

actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58

Ao planear o

desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter

um resultado sustentaacutevel

As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do

turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel

mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel

pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a

competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o

patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero

crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade

constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais

compatiacuteveis com o ambiente

Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da

qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e

desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo

A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos

os destinos turiacutesticos costeiros

A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a

competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute

oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural

situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de

58

Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma

questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo

33

atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia

subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta

inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas

de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas

actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local

No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve

tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte

tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus

em dias sol por ano)

Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica

gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a

tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto

ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no

litoral portuguecircs

Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima

Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios

estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de

competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e

autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59

eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais

Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a

criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia

mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio

marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve

proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma

abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste

59

O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a

comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo

possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos

domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio

nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo

proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm

34

contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma

importacircncia cada vez maior

Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas

sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial

sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260

e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61

Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor

compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees

O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois

ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado

promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as

partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e

directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais

Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala

dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia

da Seguranccedila Mariacutetima62

(EMSA) com sede em Lisboa

Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos

ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63

Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que

aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas

sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos

recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados

de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e

agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo

Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico

60

ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61

Contributo da EuDA para o Livro Verde 62

A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de

acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no

mar 63

ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire

(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute

considerado um marco da poesia moderna

35

Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que

obviar a estas lacunas

A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de

observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a

melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e

o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da

comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise

integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados

provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos

serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de

dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de

monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas

O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem

criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector

mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo

dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso

contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema

oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas

sazonais64

Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os

continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos

de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave

rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias

ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a

navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver

documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns

trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros

por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira

64

COM (2006) 275 final volume II 34-35

36

Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos

teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar

pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde

Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e

das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma

convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos

estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender

as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da

avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As

organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se

associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro

que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar

de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades

mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a

Humanidade65

Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um

papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano

estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e

por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente

orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e

ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas

Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos

atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer

Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995

sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66

satildeo um evento

desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas

diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os

desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste

quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas

(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos

65

COM (2006) 275 final volume II 51 66

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)

37

culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma

para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa

Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as

Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider

Foundation Europe67

Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico

para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas

Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268

ldquoNautisme Espace

Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da

fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria

comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos

temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em

cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns

transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por

cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um

periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo

Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como

tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este

projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique

(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11

parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo

O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo

da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar

67

Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o

litoral 68

Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)

38

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE

O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo

Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado

mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam

devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo

do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda

A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o

lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses

Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia

O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa

de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas

as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais

apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro

Verde69

As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor

informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima

Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem

integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade

da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia

mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e

respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala

comunitaacuteria)

As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o

papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar

proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as

actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do

envolvimento dos governos dos Estados-Membros

69

COM (2007) 574 final 2

39

Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos

mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio

privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas

economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que

funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas

Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute

mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou

locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o

ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os

governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais

(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do

espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos

ecossistemas

O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o

interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos

mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e

do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias

mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho

cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos

Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global

dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de

boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os

pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais

ou turistas

Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de

ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado

na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute

veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como

abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70

No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230

eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados

70

COM (2007) 574 final 9-10

40

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo

Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se

com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os

Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano

de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da

subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma

ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas

para o mar

A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de

2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia

em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente

com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de

trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo

tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar

rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as

oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo

De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no

segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem

integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos

eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a

Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a

divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores

prioritaacuterios a seguir

Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa

pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos

assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes

europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre

41

Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias

envolvidas

Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave

proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia

aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de

uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez

o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave

Iacutendia em 1498

A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo

Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos

oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados

todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada

O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto

grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-

Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso

Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a

abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e

transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os

resultados das acccedilotildees preparatoacuterias

A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute

analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo

entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e

pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais

Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que

desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam

conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima

42

Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez

instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais

ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos

que se seguem satildeo especialmente importantes

Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima

A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo

segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e

optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade

ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e

ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei

e agrave seguranccedila em geral71

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras

(GIZC)

Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre

e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e

vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees

concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e

outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas

actividades de lazer72

Dados e informaccedilotildees

A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos

factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de

decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de

dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema

importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e

informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73

71

COM (2007) 575 final 5 72

COM (2007) 575 final 6 73

COM (2007) 575 final 6

43

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo

As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na

prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo

principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber

1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares

O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar

as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o

desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi

superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da

logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a

partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas

noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica

offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios

deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias

marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver

produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos

mercados mundiais

Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento

sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as

actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do

ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o

desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores

conexos

O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e

continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a

prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel

elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para

proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de

concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional

44

Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de

dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente

em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a

necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas

da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de

transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis

A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da

construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de

ponta incorporada

O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental

para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses

investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras

do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer

o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave

medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e

promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e

o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas

A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas

pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74

bem como de energias renovaacuteveis e

tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de

transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento

A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente

potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais

que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as

suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima

europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos

produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo

da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para

criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua

globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector

privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par

74

Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em

offshore

45

da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia

mariacutetima

Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo

que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e

privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para

compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e

sectores75

Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-

Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76

que estabelece um quadro de acccedilatildeo

comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos

ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando

especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida

no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do

ambiente marinho77

Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu

foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no

domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as

medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho

ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista

a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando

exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as

ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e

assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas

sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)

O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final

de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa

75

COM (2007) 575 final 7-9 76

Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77

Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final

46

um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio

marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia

2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima

A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o

desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas

Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades

humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a

chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a

degradaccedilatildeo do ambiente

O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo

portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este

reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os

efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode

permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute

necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a

niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os

esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o

diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a

investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais

eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78

3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras

Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi

duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As

comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo

que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do

ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade

As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a

desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees

78

COM (2007) 575 final 12

47

(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no

quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia

estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu

hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das

aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve

ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees

costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo

dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas

regiotildees

O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante

catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias

Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram

que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se

por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos

vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos

econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)

A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores

mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade

em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional

no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo

Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o

desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade

e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar

plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento

mariacutetimo inter-regional

As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas

consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades

mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem

serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A

48

Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a

sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79

A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os

esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do

bem-estar social dos trabalhadores activos no sector

A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica

tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das

condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das

comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras

Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do

desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees

residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica

pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo

para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si

valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na

conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em

agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade

4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais

A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma

governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o

direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos

pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas

principais instacircncias internacionais

O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais

a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da

biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do

transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos

navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as

prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees

79

COM (2007) 575 final 13-14

49

externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees

climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)

Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os

parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem

mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os

Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e

China (agora denominados BRIC)

A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada

relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo

Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que

concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao

niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em

desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de

cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave

poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80

5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente

os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos

barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir

agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos

barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo

interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa

mariacutetima81

Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em

resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de

consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da

Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa

80

COM (2007) 575 final 14-15 81

Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os

oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade

mariacutetima da Europa p 51

50

mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e

integrada

Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo

de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia

puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles

o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns

Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da

Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao

mar

A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as

comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais

os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre

elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade

A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais

destaco o Dia Europeu do Mar82

(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e

2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o

Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar

da Europa

O Atlas Europeu dos Mares83

jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados

do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo

puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico

fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados

como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o

transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e

as ldquoauto-estradas do marrdquo

Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84

como o website85

contribuem para ajudar a melhor

compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores

de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a

comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de

82

Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83

Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84

Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85

Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs

51

alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho

e as comunidades costeiras

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE

As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos

financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra

Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave

forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos

instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de

exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam

todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos

financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de

Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas

no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado

programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia

A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a

niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa

que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia

instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB

meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por

finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos

domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute

sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro

52

beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica

Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra

vez sob controlo

A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se

ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo

O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de

coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem

deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel

As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013

centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos

Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito

empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e

melhores empregos

Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a

crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar

para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer

grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho

Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os

intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local

A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos

difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o

conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo

um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo

(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e

luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim

reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as

disparidades seriam maiores

Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada

atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas

estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio

comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas

A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma

dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para

53

27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a

superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute

aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as

disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente

60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros

que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de

gravidade da poliacutetica regional para Leste

Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional

aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais

e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento

comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica

Agriacutecola Comum (PAC)

Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo

e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem

projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE

332 Fundos Estruturais

Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

O FEDER86

apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos

produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas

O FSE87

instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das

categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de

formaccedilatildeo

86

Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao

desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87

Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999

relativo ao Fundo Social Europeu

54

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)

O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia

atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia

Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas

designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar

emprego duradouro

Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves

telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes

Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de

desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local

e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees

Medidas de assistecircncia teacutecnica

O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a

competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia

Fundo Social Europeu (FSE)

O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na

Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade

regional e emprego

O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes

Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem

ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho

inovadoras

Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das

pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes

Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a

discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho

Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e

colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino

55

333 Outras fontes de financiamento

A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr

outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88

que

serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo

verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89

contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo

transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em

bacias mariacutetimas

O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um

importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais

destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de

desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as

ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis

Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo

Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro

Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo

multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades

mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente

ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de

2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares

integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e

ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O

prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de

Janeiro de 2011

Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios

financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a

Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE

88

Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a

ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho

relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm

56

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE

pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante

o periacuteodo remanescente (2010-2013)

Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um

programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a

implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE

e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu

das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo

desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e

Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica

mariacutetima integrada

No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros

actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-

Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e

das zonas costeiras

Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os

objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro

modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes

interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute

iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar

ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE

A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da

PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31

de Dezembro de 2013

O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90

Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo

integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as

bacias mariacutetimas

90

COM (2010) 494 final 11

57

Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as

poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras

Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos

recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo

e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com

as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais

Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas

com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia

Marinha

Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que

respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada

Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se

traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91

Estudos e programas de cooperaccedilatildeo

Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do

puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo

campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo

de siacutetios Web

Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes

interessadas

Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de

informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais

financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico

nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado

instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos

Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto

91

COM (2010) 494 final 12-13

58

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE

41 Breve balanccedilo

A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem

destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades

relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios

muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas

aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as

regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas

deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as

relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse

consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-

se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base

para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral

nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da

induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior

integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a

PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos

reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees

costeiras do continente92

O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a

fazecirc-lo) quatro objectivos93

Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais

abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo

Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais

necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas

92

COM (2009) 540 final 2 93

COM 2009) 540 final 3

59

Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de

sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial

No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em

consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e

encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso

A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees

incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos

da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas

em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham

sido ainda adoptados

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas

O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e

nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva

passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a

compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo

das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os

progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem

pelos stakeholders

Instituiccedilotildees da UE94

A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo

de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de

Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano

de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees

94

COM (2009) 540 final 3-4

60

regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e

eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas

A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato

da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a

coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais

tendo em conta as especificidades regionais

O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece

a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e

Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895

ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior

importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o

valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia

integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em

conta as especificidades regionais (hellip)rdquo

Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-

Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos

de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se

utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees

nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros

e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia

e impacto

A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito

positivos96

Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes

comissotildees e estruturas

O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A

Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem

elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote

mariacutetimo e costeirordquo97

constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses

divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica

95

16503108 REV 1 96

Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi

Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97

CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009

61

O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um

parecer98

particularmente favoraacutevel agrave PMIE

Estados-Membros99

Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-

Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos

informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas

mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma

estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais

Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas

praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo

inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em

Junho de 2008100

e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de

estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel

dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer

francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima

coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima

britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido

A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e

a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo

um total de 14 Estados membros

Regiotildees101

As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu

iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para

executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram

igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as

regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas

para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas

98

JO 2008C 21107 99

COM (2009) 540 final 4-5 100

COM (2008) 395 final de 2662008 101

COM (2009) 540 final 5

62

(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do

plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho

Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional

Partes interessadas102

As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma

PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a

advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e

regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos

e instrumentos inovadores

A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os

vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A

Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero

de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a

voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado

em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais

para a PMIE

43 Instrumentos transectoriais

Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de

existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a

poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute

possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos

102

COM (2009) 540 final 5-6

63

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira

(GIZC)103

O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a

competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute

um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo

sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem

ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes

interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos

concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho

A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o

ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104

O roteiro

estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros

de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE

Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105

as partes

interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez

princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante

para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou

igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria

para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o

desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um

estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os

benefiacutecios econoacutemicos do OEM

No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de

um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada

da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar

o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106

No final de

2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de

Barcelona107

103

Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104

COM(2008) 791 final 105

httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107

COM (2009) 540 final 6-7

64

Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima

A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no

mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo

significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar

e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos

detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente

Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas

de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108

empreendidas a niacutevel nacional regional e

europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo

da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de

Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109

A

Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante

total de 57 milhotildees de euros110

para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com

vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no

Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111

Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima

Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos

adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho

permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e

de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como

objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos

utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas

de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem

como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes

e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112

Destaque para o

lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico

para as questotildees marinhas

108

SEC (2008) 2337 109

COSDP 949 PESC 1366 110

Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111

COM (2009) 540 final 7 112

COM (2009) 540 final 7-8

65

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE

Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e

que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a

sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de

recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas

mariacutetimas e costeiras

Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para

dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a

protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das

alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no

mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor

da globalizaccedilatildeo e da prosperidade

Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa

mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as

sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade

ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute

avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas

Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos

alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees

costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a

montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos

contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma

isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve

igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo

resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e

as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais

necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo

seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes

interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113

113

COM (2009) 540 final 11

66

Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o

desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da

legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar

investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como

gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois

converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e

contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum

sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode

contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos

essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e

a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar

a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos

possam alcanccedilar os resultados previstos114

A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um

impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro

ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o

desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos

cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um

objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre

todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a

poliacutetica para o meio marinho115

As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da

PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos

geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um

elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os

Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta

cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros

que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem

igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116

114

COM (2009) 540 final 11 115

COM (2009) 540 final 12 116

COM (2009) 540 final 12

67

Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A

Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala

mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A

Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais

parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e

processos informais117

No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se

no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no

futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE

promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia

renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes

submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica

comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma

estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com

vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute

importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no

debate em curso sobre a coesatildeo territorial

A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de

favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e

melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito

do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas

seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o

investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente

no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a

favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute

a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo

naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute

proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de

navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo

e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das

costas da Europa118

117

COM (2009) 540 final 12 118

COM (2009) 540 final 12

68

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico

fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o

oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de

Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)

Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial

relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do

processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute

resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram

definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste

capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas

mariacutetimas nacionais

Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas

(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a

sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos

sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE

Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal

para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta

portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente

apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)

da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de

Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a

entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a

decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015

Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma

aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira

ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos

Estados Unidos da Ameacuterica

69

As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de

destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou

jurisdiccedilatildeo nacional

Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas

oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas

sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes

insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos

submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119

os campos de fontes hidrotermais as

riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de

afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que

importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos

culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos

energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam

um dos principais activos nacionais

Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de

governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio

da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional

para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o

Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel

sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma

missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque

permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos

Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco

objectivos que passo a enumerar

1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade

2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano

3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas

4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano

5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano

119

A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende

sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave

latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas

70

Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos

de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo

cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc

resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu

em particular120

rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de

modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima

Integrada Europeia

De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com

ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos

oceanos

Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje

que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante

intangiacutevel e invisiacutevel121

No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal

foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais

significativos destaco

Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada

por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares

aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)

O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na

sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia

Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial

de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o

futurordquo

Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros

8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente

- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a

capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e

120

Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a

cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121

ENM 2006-2016 p 2

71

tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que

permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando

o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis

- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o

objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela

requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar

- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma

Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da

plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela

Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar

Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do

Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar

os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta

comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250

recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas

Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma

Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)

com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental

de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo

de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-

Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental

Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto

com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de

preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas

para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos

do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas

aacutereas ligadas ao mar

Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de

Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere

aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos

domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha

72

Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu

procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica

Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia

A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de

Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009

junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU

A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma

continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU

em Nova Iorque

Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram

dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde

Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve

desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos

Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente

americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades

nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave

poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba

tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo

entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional

A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para

tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que

pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos

da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade

civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar

como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e

preservando este valioso patrimoacutenio

O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento

econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na

concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados

tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso

73

uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios

humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento

51 Princiacutepios e objectivos

A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade

nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a

existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente

Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos

agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas

ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento

econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122

A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a

educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros

internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do

oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos

transparentes rigorosos e crediacuteveis

52 Pilares estrateacutegicos

As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um

enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber

- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de

percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real

impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil

avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo

122

ENM 2006-2016 p 10

74

- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela

gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave

interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses

jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo

- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel

mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos

avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar

obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses

nacionais

Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades

as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos

Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel

assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento

diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de

desenvolvimento do Paiacutes

A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida

e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes

pilares estrateacutegicos123

O conhecimento

O planeamento e o ordenamento espaciais

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais

No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute

atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no

desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute

possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de

desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a

educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o

uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais

satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento

puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar

123

ENM 2006-2016 p 12

75

O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo

promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de

conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da

abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as

utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente

integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento

das actividades associadas

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo

envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e

multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-

activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser

suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional

nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica

tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a

identidade nacionais

O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs

pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de

qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes

econoacutemica social e ambiental

53 Acccedilotildees e medidas

O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs

pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades

econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em

desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do

crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124

124

ENM 2006-2016 p 17

76

Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos

preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas

Transportes

Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte

mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa

promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte

acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo

de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela

uacutenica portuaacuteria125

Energia

Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia

energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos

existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e

atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam

responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma

induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as

exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por

exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor

conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins

energeacuteticos com origem foacutessil

Aquicultura e pescas

Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que

tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as

actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas

protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes

125

A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto

atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar

desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma

ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado

dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias

importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o

que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por

naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo

77

artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura

offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental

Defesa nacional e seguranccedila

Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do

Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na

seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito

dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na

mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de

Protecccedilatildeo Civil

Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo

Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de

ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes

fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e

participando activamente nas redes internacionais

Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza

Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e

costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha

recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a

conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo

de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da

poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre

o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e

assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho

Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo

Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees

promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando

nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e

fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e

a educaccedilatildeo ambiental

78

Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio

Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as

actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o

desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo

o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas

internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o

remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o

turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais

classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees

Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza

promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes

Poliacutetica externa

Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros

continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da

comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e

defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes

Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126

que tendo em consideraccedilatildeo a

exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto

prazo

Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a

implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos

do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as

competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela

Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas

aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central

para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus

interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos

assuntos do mar

Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da

discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do

126

ENM 2006-2016 p18

79

processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de

forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos

assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida

eficaz e abrangente

Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de

acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar

condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A

implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais

permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando

valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir

o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo

Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127

a saber

A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar

A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao

mar

A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo

das ciecircncias do mar da Europa

O planeamento e ordenamento espacial das actividades

A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

O fomento da economia do mar

A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas

A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos

mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional

A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em

Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar

assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das

suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no

periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base

num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica

127

ENM 2006-2016 pp 22-23

80

Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na

inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias

instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo

obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que

cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos

objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador

Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da

Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste

novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no

Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a

acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo

No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua

Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do

mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128

na

Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010

(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como

exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar

eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa

geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as

estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na

proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir

em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e

incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam

economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios

que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute

certamente um delesrdquo (hellip)

128

Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445

81

54 O Hypercluster da economia do mar

ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia

portuguesardquo

Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de

economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de

avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129

sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa

da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura

considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e

sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes

diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero

O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a

fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de

conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo

O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia

portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos

seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz

a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um

cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal

O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um

catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado

potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e

investimentos de qualidade nomeadamente externos

Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera

cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a

comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de

28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-

129

Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf

82

se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor

que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos

Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um

novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global

na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130

O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas

diferentes de planos e acccedilotildees a saber

1) Planos prioritaacuterios

Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e

competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores

sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp

turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo

amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)

2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata

Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da

frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)

3) Planos de alimentaccedilatildeo

Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo

prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo

amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp

conservaccedilatildeo da natureza)

4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)

O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho

criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131

(FEM)

130

Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do

Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes

httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce

41366a4bbe8a49b02a028 131

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt

83

O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento

com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute

organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster

apresentado

Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo

principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo

assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente

fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais

55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132

The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as

a whole 133

O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE

Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo

respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento

econoacutemico do meio marinho134

No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm

1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre

outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o

desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e

actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a

132

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133

ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados

como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)

Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da

UE satildeo Partes na UNCLOS 134

COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios

comuns na EUrdquo p 2

84

gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no

quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia

econoacutemica ambiental e social do mar

Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional

tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente

mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a

coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular

esta mateacuteria de forma coerente e articulada

Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e

considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de

Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi

determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os

objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando

as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute

acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a

qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos

O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a

Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do

espaccedilo mariacutetimordquo

Visatildeo

ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e

seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no

conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo

Missatildeo

ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na

promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e

potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem

no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o

85

normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento

sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo

Discussatildeo Puacuteblica

A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo

Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva

Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099

de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do

POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo

ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo

Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia

estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais

A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos

erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de

biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no

acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e

interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o

desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo

No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo

Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de

Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de

zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de

intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral

86

Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes

medidas

Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a

promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a

reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e

paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel

Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais

Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos

espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural

Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes

da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e

associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais

De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do

Norte135

litoral da Ria de Aveiro136

litoral da Ria Formosa137

e o litoral da Costa

Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes

lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com

recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros

135

wwwpolislitoralnortept 136

wwwpolisriadeaveiropt 137

wwwpolislitoralriaformosapt

87

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo

A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte

ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na

eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo

participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens

para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e

o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da

Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a

saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a

pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em

termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo

No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte

ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer

A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura

do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)

e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os

municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do

Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A

regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo

cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138

em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139

na Poacutevoa

de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140

em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio

Minho141

em Vila Nova de Cerveira entre outros

138

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139

Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140

Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141

AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt

88

O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional

do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada

por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem

vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias

constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e

relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo

ldquoMarrdquo

A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral

ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de

produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a

internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento

e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de

forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da

Regiatildeo142

Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de

razotildees das quais destaco as seguintes

A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a

maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela

existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e

econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade

Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes

que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de

complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao

desenvolvimento da regiatildeo

Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no

sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda

de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas

ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de

142

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52

89

riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do

reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo

Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com

outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM

favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades

indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional

Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no

plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa

estrateacutegia europeia

Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-

financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo

relevante em ambos os programas

Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente

dos jovens para a temaacutetica mar

Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo

entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para

o desenvolvimento no domiacutenio do mar

Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num

processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e

nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano

constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter

em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do

Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e

POCTEA143

)

Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada

a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades

puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal

143

POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal

POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

90

Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa

que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar

Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de

cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo

Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de

complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste

peninsular no domiacutenio do mar

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144

Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para

consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu

objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas

para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo

1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e

das bacias hidrograacuteficas

O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e

desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e

ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de

sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees

estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo

2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao

meio marinho

Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar

e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo

certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que

144

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54

91

visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos

marinhos nomeadamente

Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de

diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo

monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das

pescas e da aquacultura

Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a

induacutestria

3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e

a seguranccedila alimentar

Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do

conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que

contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees

de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade

de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do

consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior

aos produtos regionais

4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras

espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura

O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma

aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute

largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo

evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a

espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a

temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de

elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir

92

5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo

O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo

para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias

mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de

cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)

orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de

valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que

promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam

para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional

6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e

fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar

Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu

desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster

regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos

de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do

empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o

desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo

Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes

formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao

desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento

de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo

das demais componentes

7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias

A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu

constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-

oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping

representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas

vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste

contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O

apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas

articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias

93

internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila

constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos

transportes

Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros

do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial

importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade

do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de

incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica

8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo

naacuteutico

Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas

existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e

das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e

desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede

de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave

naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos

de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave

valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha

estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo

e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas

de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a

criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego

9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias

marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do

sector e a empregabilidade

O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores

chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima

94

A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as

outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a

qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas

ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a

oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro

de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da

formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do

turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de

desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio

10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar

A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito

do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do

POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando

o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas

No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a

iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo

actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145

e do CIIMAR146

Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo

oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-

Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos

sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e

naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)

145

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg

95

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar

A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder

coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da

governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico

dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no

domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como

plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes

actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees

Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a

existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do

mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees

A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de

pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees

puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas

com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em

presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de

coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos

que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e

a respectiva regulaccedilatildeo existente

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo

Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela

plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que

tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo

Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de

Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de

96

Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a

importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo

para as regiotildees Centro e Norte de Portugal

Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster

consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de

actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o

emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da

formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees

de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147

rdquo

Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de

entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais

pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de

Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional

criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de

mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da

produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto

diversificado de sectores e de actividades

bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca

bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica

bull Induacutestrias mariacutetimas

bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio

plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)

bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo

bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)

bull Roboacutetica submarina

bull Biotecnologia marinha

bull Energias renovaacuteveis

147

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

97

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro

linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148

que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos

clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)

Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das

Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades

emergentes no domiacutenio da economia do mar

Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca

da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar

Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias

mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica

Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no

apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza

No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto

totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos

anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes

Ecomare

Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo

de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro

Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto

Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo

de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar

permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os

seus protoacutetipos em meio marinho

148

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

98

Consupesca

Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca

costeira e de arrasto

Panthalassa

Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da

transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas

integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do

processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de

seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos

Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos

Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da

implementaccedilatildeo dos seguintes projectos

Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a

posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua

localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre

as Caraiacutebas e a Europa

Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da

naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo

como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico

Turismo Mariacutetimo de Natureza

Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)

99

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional

Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o

sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado

mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem

desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas

(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego

de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees

Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso

tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente

com o tempo de uma vidardquo (hellip)149

Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde

cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade

permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao

mar

A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela

INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica

como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150

Este estudo estrateacutegico foi apoiado

pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER

Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector

que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos

Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de

animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees

a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos

O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual

a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico

que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte

Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem

futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e

consequentemente no QREN (2007-2013)

149

Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010

(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150

Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

100

Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que

datildeo estrutura a cinco eixos

Rede de infra-estruturas naacuteuticas

Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da

actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na

qualificaccedilatildeo de serviccedilos

Dinamizaccedilatildeo turiacutestica

Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de

empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica

Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica

Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias

hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos

agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo

Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica

acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de

espaccedilos museoloacutegicos

Governacircncia

Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no

estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao

puacuteblico

Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos

que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem

econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um

desenvolvimento sustentaacutevel

O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua

interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso

de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para

as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas

101

Conclusotildees

No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os

tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a

transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas

europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo

pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto

de partida para posteriores aprofundamentos

Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais

Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta

constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de

atingir o seu potencial sisteacutemico

A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua

natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o

interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e

lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma

inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas

civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se

iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso

contributo deram agrave Humanidade

Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante

provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa

natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo

pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as

adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a

construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute

assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI

Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra

de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum

aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania

e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias

102

Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente

da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do

seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada

numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e

participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos

melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as

sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental

tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios

prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico

emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees

Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser

decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem

que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda

subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais

Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo

foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma

incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval

que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da

demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos

histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos

Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)

Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo

Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr

nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo

menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo

chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do

seacuteculo XX

103

Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem

Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector

mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades

mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por

excelecircncia e da Franccedila com a PAC

Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos

europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo

e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos

A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores

do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o

sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua

propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas

a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal

focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral

ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando

como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde

sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado

ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute

O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam

a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce

tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora

da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito

tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151

Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo

mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para

implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi

reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia

Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da

poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar

151

Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia

p186

104

com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao

mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma

Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e

laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica

ao mar

Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um

novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para

desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros

atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o

sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas

podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas

jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar

e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as

potencialidades do mar

Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus

verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como

a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a

ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking

mundial de paiacuteses mariacutetimos

Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste

devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal

atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico

um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias

Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave

medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de

poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que

afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes

Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades

105

Fontes e bibliografia

Fontes

Documentos COM (Comunicaccedilotildees da Comissatildeo Europeia)

COM (2010) 494 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Proposta de Regulamento do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um programa de apoio ao

aprofundamento da poliacutetica mariacutetima integrada Comissatildeo Europeia 2010

COM (2009) 540 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 538 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing

environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 536 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo

Europeia Comissatildeo Europeia 2009

106

COM (2009) 8 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte

mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009

COM (2008) 791 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento

do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008

COM (2008) 395 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores

praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas

Comissatildeo Europeia 2008

COM (2007) 575 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007

COM (2007) 574 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia

2007

COM (2006) 275 final Volume I

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento

Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma

futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares

Comissatildeo Europeia 2006

107

COM (2006) 275 final Volume II

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica

mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo

Europeia 2006

COM (2006) 105 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma

energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006

COM (2005) 658 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel

Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005

COM (2005) 505 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do

Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da

poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo

Europeia 2005

COM (2005) 504 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio

marinho Comissatildeo Europeia 2004

COM (2002) 511 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao

Conselho e ao Parlamento Europeu Estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel da

aquicultura europeia Comissatildeo Europeia 2002

108

Outras fontes

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 (2009) Porto CCDR-

NMinisteacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do Desenvolvimento

Regional

Encontro Porto Cidade Regiatildeo Para uma Regiatildeo do Conhecimento (2008) Porto

Reitoria Universidade do Porto

Estrateacutegia Nacional para o Mar (2006) Lisboa EMAMMinisteacuterio da Defesa

Nacional

Genuinely Sustainable Marine Ecotourism in the EU Atlantic Area a Blueprint for

Responsible Marketing (2006) Bristol University of West of England

ldquoOs clusters mariacutetimos na encruzilhada da inovaccedilatildeo e do desenvolvimento regionalrdquo

Inforegio panorama nordm 23 (2007) Bruxelas Comissatildeo Europeia DG Poliacutetica Regional

Plano de Acccedilatildeo para o Desenvolvimento Turiacutestico do Norte de Portugal (2008) Porto

CCDR-N Ministeacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do

Desenvolvimento Regional

109

Internet

Agecircncia Europeia de Seguranccedila Mariacutetima

wwwemsaeuropaeu (acedido 5 de Marccedilo de 2010)

AquaMuseu do rio Minho

httpaquamuseucm-vncerveirapt (acedido 13 de Setembro de 2010)

Atlas Europeu dos Mares

httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas (acedido 22 de Outubro de 2010)

Instituto Nacional da Aacutegua

wwwinagpt (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Instituto Hidrograacutefico

wwwhidrografico (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

wwwcimarorg (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR

httpwwwcetmarorg (acedido 8 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Agecircncia Europeia do Ambiente

wwweeaeuropaeu (acedido 4 de Janeiro de 2011)

Comissatildeo Europeia ndash Assuntos Mariacutetimos

httpeceuropaeumaritimeaffairsindex_enhtml (acedido 12 de Janeiro 2011)

Comissaacuterio Europeu Joe Borg

httpeceuropaeucommission_barrosoborgindex_enhtml (acedido 20 Dezembro de 2009)

Comissatildeo Europeia ndash O nosso Planeta Oceano

httpeceuropaeuresearchrtdinfsupptindex_pthtml (acedido 15 de Junho de 2010)

110

Comissatildeo Europeia ndash Pesca

httpeceuropaeufisheriesindex_pthtml (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Sea Search

wwwsea-seachnet (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comiteacute das Regiotildees

httpwwwcoreuropaeu (acedido 13 de Setembro de 2010)

Dia Europeu do Mar

httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday (acedido 10 de Novembro de 2010)

European Sea Ports Organization

wwwespobe (acedido 30 de Outubro de 2010)

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda

httpwwwfundacao-elapt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

wwwemamcompt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

FAO ndash Fisheries Department

httpfaoorgfidefaultesp (acedido 22 Novembro 2010)

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

httpwwwfempt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Foacuterum Europeu Mariacutetimo

httpswebgateeceuropaeumaritimeforum (acedido 10 de Novembro de 2010)

Fundaccedilatildeo Gil Eannes

wwwfundacaogileannespt (acedido 12 de Setembro de 2010)

Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm (acedido 5 de Janeiro de 2011)

111

International Maritime Organization

httpimoorg (acedido 14 de Novembro de 2010)

Irish Marine Institute

httpwwwmarineie (acedido 6 de Maio de 2010)

Instituto Portuaacuterio e dos Transportes Mariacutetimos

wwwimarporpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm (acedido 18 de Outubro de 2010)

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos

wwwjnieaeu (acedido 20 Agosto de 2010)

Lancha Poveira

httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp (acedido 30 de Outubro de 2010)

Museu da Marinha

wwwmuseumarinhamuseusiteptpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Nautisme Espace Atlantique 2

wwwnea2eu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

ONU ndash Department of Economic and Social Affairs

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm (acedido 30

de Setembro de 2010)

Oceanaacuterio de Lisboa

wwwoceanariopt (acedido 20 Agosto de 2010)

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar

httpwwwoceano21org (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Parlamento Europeu

httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)

112

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

httppoeminagpt (acedido 29 de Dezembro de 2010)

Polis Litoral Norte

wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria de Aveiro

wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria Formosa

wwwpolislitoralriaformosapt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciapt (acedido 10 de Janeiro de 2011)

Projecto Naacuteutica

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

(acedido 14 de Janeiro de 2011)

Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)

wwwqrenpt (acedido 14 de Janeiro de 2011)

SaeR ndash Sociedade de Avaliaccedilatildeo Estrateacutegica e Risco Lda

wwwsaerpr (acedido 12 Dezembro de 2010)

Surfrider Foundation Europe

wwwsurfridereu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

113

Bibliografia

AIRALDI Gabriela (2007) DallacuteEurosia al Nuovo Mondo Una Storia italiana secc

XI-VVI Geacutenova Itaacutelia Fratelli Frilli Editori

ALBUQUERQUE Luiacutes (2001) Introduccedilatildeo agrave Histoacuteria dos Descobridores Portugueses

Lisboa Publicaccedilatildeo Europa-Ameacuterica

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627

(2010) Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Aacutereas-chave nordm 20 (2006)

Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Perspectivas e linhas

estrateacutegicas nordm 19 (2006) Lisboa CIEJDPrincipia

FERNANDEZ-ARNESTO Felipe (2001) Civilizations Culture Ambition and the

Transformation of Nature Nova Iorque EUA Simom amp Shuster

BOORSTIN Daniel (1986) The Discovers Nova Iorque EUA Vintage Press

BOXER Charles R (2001) O Impeacuterio Mariacutetimo Portuguecircs 1415-1825 Lisboa

Ediccedilotildees 70

CARVALHO Virgiacutelio (1995) A Importacircncia do Mar para Portugal Venda Nova

Bertrand

COSTA Joatildeo Paulo O (2009) Henrique o Infante Lisboa A Esfera dos Livros

DREYER Edward L (2007) Zheng He - China and the Oceans in the early Ming

Dynasty ndash 14051433 Nova Iorque EUA Pearson Education

114

HUBERMAN Leo (1970) Histoacuteria da Riqueza do Homem Rio de Janeiro Brasil

Zahar Editores

HUTTON Will (2006) The Writing on the Wall - Why We Must Embrace China as a

Partner or Face It as an Enemy Nova Iorque EUA Free Press

LEITAtildeO Augusto R (2006) Organizaccedilotildees Europeias Coimbra FEUC

PERES Damiatildeo (1982) Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses Trofa Vertente

MATIAS Nuno V MARQUES Viriato S FALCATO Joatildeo LEITAtildeO Aristides G

(2010) Poliacuteticas Puacuteblicas do Mar Lisboa Esfera do Caos

SILVA Antoacutenio M (2005) Portugal e a Europa ndash distanciamento e reencontro Viseu

CHSCPalimage Editores

RIBEIRO Maria Manuela T (Coord) (2007) Mare Oceanus ndash Atlacircntico espaccedilo de

diaacutelogos Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm6 Coimbra Almedina

RIBEIRO Maria Manuela T (2003) A ideia de Europa uma perspectiva histoacuterica

Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm 3 Coimbra CEIS 20Quarteto Editora

RODRIGUES Jorge amp DEVEZAS Tessaleno (2009) Portugal ndash O Pioneiro da

Globalizaccedilatildeo A Heranccedila das Descobertas VN Famalicatildeo Centro Atlacircntico

RODRIGUES Antoacutenio S (1997) Histoacuteria Comparada - Portugal Europa e o Mundo

Cronologia Lisboa Tema amp Debates

SMITH Adam (1976) Inquiry into the Nature and Causes of Wealth of Nations

Chicago EUA The University of Chicago Press

Page 7: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à

VII

FAO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

FEDER ndash Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

FEM ndash Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

FSE ndash Fundo Social Europeu

GIZC ndash Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

IampD ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento

IampDampI ndash Investigaccedilatildeo Desenvolvimento e Inovaccedilatildeo

IDTI ndash Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento das Tecnologias de Informaccedilatildeo

OEM ndash Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

OGP ndash International Association of Oil and Gas Producers

ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamentais

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

NEA 2 ndash Nautisme Espace Atlantique 2

PAC ndash Poliacutetica Agriacutecola Comum

PALOP ndash Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa

PCP ndash Poliacutetica Comum da Pesca

PIB ndash Produto Interno Bruto

PME`S ndash Pequenas e Meacutedias Empresas

PMIE ndash Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

POCTEA ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

POCTEP ndash Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha-Portugal

POEM ndash Plano Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

QREN ndash Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

TIC ndash Tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

ZEE ndash Zona Econoacutemica Exclusiva

VIII

Nota preacutevia

A realizaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo natildeo teria sido possiacutevel sem a colaboraccedilatildeo de

diversas pessoas e entidades pelo que lhes dirijo os devidos agradecimentos

A primeira palavra de agradecimento vai para a minha Orientadora Professora Doutora

Maria Manuela Tavares Ribeiro Grato pela sua disponibilidade e destreza em aceitar a

tarefa de orientaccedilatildeo Aproveito para a felicitar pelas inuacutemeras iniciativas que organiza e

em que participa elevando o prestiacutegio da nossa Faculdade de Letras a niacutevel nacional e

internacional

A segunda palavra e natildeo menos relevante vai para o meu co-Orientador na

qualidade de especialista Dr Tiago de Pitta e Cunha A sua notaacutevel experiecircncia

nacional (Coordenador da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos) e europeia (ex-Membro

do Gabinete do Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e as Pescas) aliada a

uma cooperaccedilatildeo profiacutecua diria mesmo perfeita permitiram que neste trabalho tenhamos

procurado a profundidade e a transversalidade que o tema proposto exige

O reconhecimento eacute extensiacutevel a todos os Professores da parte curricular pelo

conhecimento adquirido nas aulas memoraacuteveis Uma palavra particular para o Professor

Doutor Antoacutenio Martins da Silva e outra para o meu colega e amigo Asdruacutebal

Sotomaior pois sem eles natildeo teria sido possiacutevel conseguir este objectivo

Agradeccedilo aos funcionaacuterios do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors em

Lisboa pela simpatia e competecircncia com que sempre me receberam

O meu justo agradecimento ainda ao Comiteacute das Regiotildees pelo convite feito em

2008 para visitar e participar in loco nas sessotildees plenaacuterias das principais instacircncias

europeias (Parlamento Comissatildeo e CdR) Participaram neste evento 27 alunos em

representaccedilatildeo de todos os Estados Membros da UE oriundos de cursos de 2ordm Ciclo em

Estudos Europeus

Finalmente o meu obrigado sentido aos que estatildeo mais proacuteximos Agradeccedilo aos

amigos de sempre agrave Teresinha ao meu Irmatildeo e ao meu Pai pelos incentivos que sempre

me deram na vida Agrave minha Matildee sinto-me sempre grato pela sua sabedoria paciecircncia e

carinho

Agrave minha futura sobrinha Maria dedico este trabalho

IX

Iacutendice

Resumo V

Lista de abreviaturas VI

Nota preacutevia VIII

Introduccedilatildeo 1

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica 4

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas 6

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo 9

13 Siglo de oro espanhol 13

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa 16

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial 19

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia 21

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia 23

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo 27

24 Aacutereas-chave no Livro Verde 29

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE 38

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros 40

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo 40

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo 43

X

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE 51

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia 51

332 Fundos estruturais 53

333 Outras fontes de financiamento 55

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE 56

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE 58

41 Breve balanccedilo 58

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas 59

43 Instrumentos transectoriais 62

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE 65

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar 68

51 Princiacutepios e objectivos 73

52 Pilares estrateacutegicos 73

53 Acccedilotildees e medidas 75

54 O Hypercluster da economia do mar 81

55 Plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo 83

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo 85

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal) 87

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo 87

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento 90

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar 95

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo 95

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional 99

Conclusotildees 101

Fontes e bibliografia 105

1

Introduccedilatildeo

A minha relaccedilatildeo com o Mar comeccedilou desde haacute muito

Foi graccedilas agraves actividades naacuteuticas em ambiente mariacutetimo que aprendi a valorizar e

a respeitar a natureza a partilhar valores sociais a estabelecer novas amizades e ateacute a

conhecer novos continentes Tudo comeccedilou por prazerlazer e hoje em dia o MAR faz

parte da minha profissatildeo e seraacute sempre seguramente uma fonte de inspiraccedilatildeo e energia

para a vida

Depois da formaccedilatildeo na aacuterea da engenharia e ciecircncias econoacutemicas decidi matricular-

me no Curso de Mestrado Estudos Europeus na Faculdade Letras da Universidade de

Coimbra de forma de aprofundar os meus parcos conhecimentos (histoacutericos poliacuteticos e

institucionais) sobre a Europa Foi uma experiecircncia enriquecedora e gratificante que

ultrapassou largamente as minhas aspiraccedilotildees iniciais

Contudo confrontado com a necessidade de elaborar uma tese de dissertaccedilatildeo no

acircmbito do Mestrado ocorreu-me explorar uma temaacutetica actual e transversal que se

espera poder ldquounirrdquo os europeus a uma causa ndash o Mar

Assim este trabalho de investigaccedilatildeo intitulado Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash Uma

poliacutetica agrave medida de Portugal pretende ser um contributo para a pesquisa e reflexatildeo

sobre as questotildees europeias e a sua relaccedilatildeo com o mar e os oceanos mateacuteria que como

todos nos temos vindo a aperceber cada vez mais se reveste de grande importacircncia para

Portugal

Foi com o espiacuterito de ldquopara antever o futuro temos de conhecer o passadordquo que

procurei ao longo do primeiro capiacutetulo debruccedilar-me sobre as fontes de riqueza material

e imaterial que estando relacionadas com o mar contribuiacuteram para a formaccedilatildeo e

desenvolvimento da Europa Neste acircmbito debruccedilo-me sobre as expediccedilotildees mariacutetimas

italianas que apesar de confinadas ao mediterracircneo foram extremamente importantes

para os ldquodescobridoresrdquo que se seguiram Entre estes uacuteltimos destacarei o papel de

Portugal o siglo de oro espanhol o ciclo holandecircs e a hegemonia mariacutetima inglesa

Para terminar o enquadramento histoacuterico faccedilo referecircncia agrave emergecircncia da burguesia

europeia e agraves suas origens nas actividades mariacutetimas

2

No segundo capiacutetulo procuro analisar transversalmente o Livro Verde da Poliacutetica

Mariacutetima Integrada Europeia Assim apresentarei os fundamentos e as potencialidades

da Europa no domiacutenio mariacutetimo a ldquovisatildeordquo europeia para o futuro dos oceanos e os

mares e ainda as aacuterea-chave nele apontadas No final deste capiacutetulo abordarei a

consulta puacuteblica que possibilitou aos europeus participarem directa e activamente no

processo de construccedilatildeo da PMIE

Saliento que pela primeira vez a dimensatildeo mariacutetima da Europa assumiu a posiccedilatildeo

de real prioridade poliacutetica ou seja na histoacuteria da Uniatildeo Europeia os oceanos e os mares

como um todo tornaram-se assunto de foco poliacutetico ao mais alto niacutevel A PMIE foi uma

iniciativa de Joseacute Manuel Duratildeo Barroso aquando da sua primeira nomeaccedilatildeo para a

Presidecircncia da Comissatildeo Europeia em 2004 No programa Barroso I a PMIE foi

apresentada como uma necessidade premente chegando mesmo a ser instituiacuteda em

2004 a pasta dos Assuntos Mariacutetimos atribuiacuteda na altura ao maltecircs Joe Borg (ex-

Comissaacuterio Europeu)

No terceiro capiacutetulo comeccedilarei por salientar as condiccedilotildees poliacuteticas ao niacutevel das

instacircncias europeias que permitiram a consolidaccedilatildeo da PMIE Este destaque poliacutetico

concedido ao Mar eacute o reconhecimento do seu valor estrateacutegico em diferentes dimensotildees

econoacutemica ambiental cultural de seguranccedila de investigaccedilatildeo e de lazer Desta vontade

poliacutetica declarada emergiu o Livro Azul acompanhado de um plano de acccedilatildeo No final

deste capiacutetulo seratildeo apresentados os instrumentos financeiros comunitaacuterios de suporte agrave

PMIE

Apesar da jovem idade - cinco anos - a PMIE jaacute conseguiu obter resultados notaacuteveis

agrave escala europeia Por isso no quarto capiacutetulo proponho-me fazer uma breve anaacutelise agraves

actividades decorrentes da PMIE tendo em conta a governacircncia mariacutetima E as acccedilotildees

estrateacutegicas para o futuro da poliacutetica mariacutetima europeia seratildeo ainda apresentadas neste

capiacutetulo

No quinto capiacutetulo passarei a analisar a Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM)

resultante do apelo da Uniatildeo Europeia (UE) aos Estados-membros (EM) no sentido de

aplicarem abordagens holiacutesticas e transversais para o uso sustentaacutevel dos oceanos

Realccedilo que Portugal a par de Espanha e Franccedila foi um dos principais impulsionadores

da poliacutetica mariacutetima europeia Destacarei ainda a importacircncia do ldquoHypercluster da

3

Economia do Marrdquo o plano de ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (POEM) actualmente

em discussatildeo puacuteblica e tambeacutem o programa ldquoPolis do Litoralrdquo

No capiacutetulo seguinte o sexto destacarei a Agenda Regional para o Mar que para

aleacutem de ser enquadrada na ENM e PMIE responde visivelmente agraves especificidades

latentes na regiatildeo Norte de Portugal No final deste capiacutetulo seratildeo abordados ainda a

plataforma ldquoOceano XXIrdquo e o estudo estrateacutegico intitulado ldquoA Naacuteutica como factor de

desenvolvimento da regiatildeo Norterdquo

Neste trabalho procuro dar um contributo acadeacutemico sobre a PMIE registando a

ausecircncia de estudos sobre esta mateacuteria congratulo-me com o estudo que tatildeo

entusiasticamente me comprometeu e espero que o mesmo possa servir de

inspiraccedilatildeoorientaccedilatildeo a TODOS aqueles que se revejam no todo ou em parte do exposto

ou simplesmente aos que se interessem pelas temaacuteticas abordadas

4

Cap I ndash Principais talassocracias europeias ndash breve retrospectiva histoacuterica

Como forma de introduzir a influecircncia dos assuntos mariacutetimos na formaccedilatildeo da

Europa resolvi reflectir sobre os aspectos histoacutericos que considero mais relevantes

protagonizados no periacuteodo compreendido entre os seacuteculos XIV e XX pelas maiores

potecircncias de entatildeo

Seratildeo abordadas neste capiacutetulo primeiramente as repuacuteblicas italianas (Geacutenova e

Veneza) seguindo-se a expansatildeo portuguesa passando pela aventura castelhana e

terminando com a acccedilatildeo holandesa e inglesa No final deste capiacutetulo faccedilo uma

abordagem agrave formaccedilatildeo de uma nova classe social ndash a burguesia ndash oriunda das

actividades mariacutetimas mercantis que foi o ldquomotor de arranquerdquo para a Revoluccedilatildeo

Industrial

Os maiores impeacuterios ateacute ao seacuteculo XV foram de dois tipos

Continentais como o impeacuterio Alexandrino (euro-asiaacutetico no seacuteculo IV

aC) e o Mongol (no seacuteculo XIII que se estendia do Oceano Paciacutefico ao Mar

Negro)

Outros centrados estrategicamente numa bacia mariacutetima que jaacute foi tida

como o centro econoacutemico do mundo A este tipo pertenciam o impeacuterio Romano

(com o apogeu nos seacuteculos I e II aC em que o Mediterracircneo ndash chamado Mare

Internum ndash era um ldquolago romanordquo o Mare Nostrum) e o impeacuterio Islacircmico (que

teve o seu apogeu entre os seacuteculos VIII e XIII que se estendia desde a Peniacutensula

Ibeacuterica agrave Iacutendia) e permitiu transformar o Oceano Iacutendico num ldquolago muccedilulmanordquo

ateacute ao momento da chegada dos portugueses

Houve tambeacutem outros impeacuterios tais como

Egiacutepcio (com o apogeu no seacuteculo XV aC)

Persa (seacuteculos VI a IV aC que se estendia da Iacutendia agrave Greacutecia)

Chinecircs (o Chacutein do seacuteculo III aC o Han do seacuteculo II ou o Tang do

seacuteculo VIII)

5

Como nota comum todos estes impeacuterios ocupavam uma extensatildeo continental

contiacutegua

No entanto outros modelos de expansatildeo surgiram ainda na Antiguidade ndash incluindo

as colonizaccedilotildees mediterracircneas dos cretenses feniacutecios e gregos assentes numa rede

litoral e descontiacutenua da orla do Mediterracircneo e do mar Negro De referir entre estes

casos a importacircncia do impeacuterio ateniense (com o auge no seacuteculo V aC) uma

talassocracia1 por excelecircncia baseada na projecccedilatildeo naval e na descontinuidade

continental

Este uacuteltimo tipo de expansatildeo naval replicou-se mais tarde nas projecccedilotildees

mediterracircnicas das repuacuteblicas mariacutetimas italianas com destaque para Geacutenova e Veneza

e na monarquia dual catalo-aragonesa

Apesar das diferenccedilas havia um denominador comum nestas talassocracias

europeias ndash o mar Mediterracircneo Como sublinha a historiadora genovesa Gabriela

Airaldi2 a actividade mariacutetima era o elemento que interligava e dinamizava a

civilizaccedilatildeo mediterracircnica

A esse ambiente mediterracircnico peculiar associou-se na Idade Meacutedia

Uma revoluccedilatildeo comercial e financeira com uma economia de mercado

predominantemente virada ao exterior assente numa diaacutespora de mercadores e

banqueiros

Uma projecccedilatildeo geopoliacutetica criando impeacuterios mariacutetimos descontiacutenuos

A disponibilidade para alianccedilas poliacuteticas ldquooperativasrdquo pragmaacuteticas

libertas dos preconceitos ideoloacutegico-religiosos da eacutepoca

Ora como refere Airaldi3 esta interdependecircncia estrateacutegica entre a Europa do Sul e

o ldquolagordquo mediterracircnico originou um novo tipo de estado ndash as repuacuteblicas mariacutetimas ndash

assentes numa oligarquia mercantil-financeira distintas do sistema monaacuterquico-

senhorial dominante na Europa medieval

1 O termo vem do grego e eacute uma junccedilatildeo do vocaacutebulo mar (thaacutelassa) e de poder (kraacutecia) Aplica-se a

todos os Estados no qual o poder se exerce baseado na expansatildeo mariacutetima garantida por uma projecccedilatildeo

naval 2 AIRALDI 2007 9

3 AIRALDI ibidem 99

6

Os muccedilulmanos e os chineses tinham no entanto criado uma inovaccedilatildeo que o

historiador Felipe Fernaacutendez-Arnesto4 sintetiza na diferenciaccedilatildeo entre civilizaccedilotildees

Civilizaccedilotildees da beira-mar ou no meio do mar ldquomoldadasrdquo pelo elemento

mariacutetimo (assim eram as talassocracias ateacute entatildeo existentes)

Civilizaccedilotildees que ldquodomesticaramrdquo os grandes mares que geravam

verdadeiras ldquocivilizaccedilotildees oceacircnicasrdquo Como aquele historiador demonstra em

Civilizations o Islatildeo foi a primeira civilizaccedilatildeo a projectar-se poliacutetica e

economicamente usando os caminhos oceacircnicos transformando o Iacutendico num

ldquolagordquo seu domiacutenio secular que foi beliscado pela curta expansatildeo chinesa do

inicio do seacuteculo XV5

Essa confluecircncia dos dois movimentos tornou o Iacutendico num espelho precoce da

revoluccedilatildeo que ocorreria mais tarde e que foi a razatildeo pela qual a histoacuteria de Portugal se

inscreveu na Histoacuteria universal

11 Repuacuteblicas Mariacutetimas Italianas

Os genoveses venezianos e catalatildees dominavam o Mediterracircneo com destaque

para as duas Repuacuteblicas italianas que lideraram o mundo poliacutetico euromediterracircnico a

partir do final do seacuteculo XIII

Geacutenova perderia o poder hegemoacutenico em 1380 na batalha naval de Chioggia agrave

entrada da grande laguna veneziana o que a levou sair do Adriaacutetico e a perder a

lideranccedila mediterracircnea para Veneza conhecida como a Serenissima Repubblica

Geacutenova La Superba havia dominado a regiatildeo desde que derrotara Pisa em 1320 e

criara um impeacuterio mediterracircnico e uma rede comercial e financeira transnacional

Perderia em 1397 a autonomia poliacutetica passando a ser uma zona de confronto entre a

4 Felipe Fernaacutendez-Arnesto exerce actualmente o magisteacuterio na caacutetedra Priacutencipe das Astuacuterias na

Universidade de Tufts Departamento de Histoacuteria e eacute membro do claustro de Queen Mary na

Universidade de Londres 5 FERNAacuteNDEZ-ARNESTO Felipe 2001 381

7

Franccedila e o Ducado de Milatildeo ao longo do seacuteculo XV No entanto nunca se apagou a

chama empreendedora pioneira

A individualidade genovesa foi de facto marcante ndash o seu espiacuterito de orizzonti

aperti (horizontes abertos) foi pioneiro no seacuteculo XIII Foi nesta repuacuteblica mariacutetima que

mais transparente se tornou o choque entre por um lado o lobby das cruzadas e da

bandeira poliacutetica da recuperaccedilatildeo de Jerusaleacutem e por outro lado a burguesia mercantil

mais arrojada ligada ao Banco di S Giorgio (criado em 1407) e agraves 28 famiacutelias

poderosas que compunham os Albergui6 A Escola genovesa de almirantado onde

sobressai a figura de Emanuele Pessagno (conhecido pelo portugueses como Manuel

Peccedilanha7) criou fama e uma geraccedilatildeo marinai erranti (marinheiros errantes) No

entanto veio para Portugal no iniacutecio do seacuteculo XIV para servir as navegaccedilotildees de

ldquooutrosrdquo em Quatrocentos e Quinhentos

A acircnsia genovesa de projecccedilatildeo para aleacutem do ldquolagordquo mediterracircnico ficou conhecida

As navegaccedilotildees de Benedetto Zacaria em 1277 abriam oficialmente a rota

mediterracircnico-atlacircntica para a Flandres anulando o significado das feiras de

Champagne e valorizando estrategicamente o estreito de Gibraltar bem como a costa

portuguesa e galega Mais tarde os irmatildeos Ugolino e Valdino Vivaldi com duas galeacutes

armadas por Tedisio Doria em 1291 aventuraram-se no Mar Oceano (o Atlacircntico) para

circum-navegarem Aacutefrica e chegarem ldquoagraves partes da Iacutendia e trazerem mercadorias

lucrativasrdquo mas nunca mais houve notiacutecias deles Especula-se que eles teriam como

objectivo provavelmente natildeo a verdadeira Iacutendia das especiarias mas a regiatildeo do ouro

da Aacutefrica Ocidental que na Idade Meacutedia muitos incluiacuteam na designaccedilatildeo geneacuterica de

ldquoIacutendiardquo8

Nos genoveses sentiu-se precocemente a necessidade de procurar chegar agraves fontes

asiaacuteticas de commodities de alto valor por via do Ocidente em oposiccedilatildeo ao domiacutenio

que os venezianos e aacuterabes detinham sobre as vias mediterracircnicas do Levante para o

Oriente E o sentido de risco dos clatildes financeiros genoveses daria corpo ao primeiro elo

do que viria a designar de Repubblica Internazional del Denaro

6 Agregaccedilatildeo artificial de vaacuterias famiacutelias da oligarquia genovesa Os Alberghi teriam entre 1600 a 1700

membros 40 dos quais estavam regularmente expatriados 7O monarca D Dinis em 1317 tornaria Manuel Peccedilagno de Geacutenova Almirante-mor do reino um cargo

hereditaacuterio 8 ALBUQUERQUE 2001 148

8

Mais proacuteximos geograficamente dos portugueses os catalatildees apesar da sua

expansatildeo mediterracircnica entre 1229 e 1412 (um impeacuterio que no seu auge incluiacutea as

Baleares Malta Sardenha Siciacutelia e os Ducados de Atenas e Neopaacutetria na Greacutecia bem

como um relacionamento especial com o Chipre) e de se terem afirmado como uma

potecircncia mariacutetima mediterracircnica dispunham de um dos centros cartograacuteficos mais

importantes da eacutepoca situado em Maiorca onde deu cartas a escola de cartoacutegrafos da

famiacutelia judia Cresques9 e a quem eacute atribuiacutedo um Atlas de 1375 Estes nunca desafiaram

a hegemonia genovesa e posteriormente a veneziana Mas como os italianos os catalatildees

tambeacutem fundaram coloacutenias mercantis muito fortes em Alexandria Beirute Damasco e

em diversos pontos do Magrebe

Os venezianos por seu lado consumada a paz com Geacutenova em 1381 e

secundarizaccedilatildeo geopoliacutetica desta repuacuteblica rival expandiram os seus domiacutenios de mar

atraveacutes da ocupaccedilatildeo de pontos estrateacutegicos na costa adriaacutetica grega e no Mediterracircneo

(ilhas como Chipre Corfu ou Creta) Tambeacutem estabeleceram fortes comunidades

mercantis ndash os fundaci ndash nos portos e placas giratoacuterias comerciais estrateacutegicas (como

Constantinopla Tana Sinope Tebisonda Alexandria e Damasco) dos paiacuteses com que

negociavam

A partir dessa rede dominaram o comeacutercio do que entatildeo chamavam mercanzie

sottili (mercadorias finas) as commodities de alto valor da eacutepoca que vinham da Iacutendia

da China do Ceilatildeo e das Molucas que chegavam a Veneza trazidas pelas mude

comboios mariacutetimos que vinham das placas giratoacuterias que eram Constantinopla

Alexandria e os portos da Siacuteria Este comeacutercio internacional movimentava 20 milhotildees

de ducados por ano A frota veneziana dispunha de 300 grandes navios 45 galeacutes e 3000

pequenos barcos e envolvia 36000 marinheiros

A Europa vivia literalmente enfeiticcedilada pelas especiarias dominada por

ldquofetichismordquo das commodities de luxo como ironizou o historiador Fernand Braudel

Paradoxalmente os europeus medievos consumiam produtos made in Oriente mas

desconheciam de todo onde ficavam exactamente e como eram os paiacuteses e as gentes de

onde se importavam tais luxos Daiacute a propagaccedilatildeo de mitos e contos fantaacutesticos sobre as

Iacutendias e China Apenas alguns viajantes aventureiros chegavam agraves fontes ndash Marco Polo

fora um deles

9 Um dos filhos desta famiacutelia catalatilde Jafuda Cresques cristianizado como Jaume (Jaime) Ribes seria um

dos expoentes maacuteximos do grupo conselheiro do Infante Henrique

9

Veneza soube gerir tambeacutem o ldquosaco de gatosrdquo que era a Europa do final da Idade

Meacutedia O grande cisma no papado entre 1378 e 1417 num periacuteodo em que chegou a

haver mais do que um centro de poder papal (Roma e Avignon) com pontiacutefices em

conflito apoiados por diferentes potecircncias ndash deu uma ajuda a esta cidade-Estado que

cultivava teimosamente a sua independecircncia De referir tambeacutem a intermitente Guerra

dos Cem Anos (1337-1453) que consumia as candidatas potenciais de entatildeo ao

hegemonismo da Europa continental a saber Inglaterra e Franccedila10

Natildeo eacute demais sublinhar que o conhecimento acumulado e as inovaccedilotildees geopoliacuteticas

surgidas com a expansatildeo das repuacuteblicas mariacutetimas mediterracircnicas seriam aprimoradas a

uma escala global pelos portugueses

12 O papel de Portugal ndash o pioneiro da globalizaccedilatildeo

O facto geopoliacutetico que abriria nas deacutecadas seguintes a janela de oportunidade aos

portugueses ocorreria bem longe do Mediterracircneo ndash Oceano Iacutendico ndash considerado o

centro econoacutemico do mundo

Ainda o Infante D Henrique natildeo fazia jus ao seu cognome de ldquoNavegadorrdquo jaacute os

chineses da dinastia Ming haviam lanccedilado a partir de 1405 sete expediccedilotildees em

direcccedilatildeo ao Iacutendico muito para aleacutem da sua tradicional esfera de influecircncia oceacircnica Foi

seu Almirante-Mor era Zheng He (1371-1433) a cujo nome ficou associado a

navegaccedilotildees de longa distacircncia anteriores agraves portuguesas Aquele movimento de

expediccedilotildees era o que chamariacuteamos hoje de ldquoprojecccedilatildeo de poderrdquo sublinhou Edward

Dreyer na sua obra Zheng He11

O argumento utilizado era um cruzamento haacutebil de

diplomacia e demonstraccedilatildeo do seu poder naval sem ser necessaacuterio exercecirc-lo a natildeo ser

excepcionalmente ldquoa sua armada era suficientemente intimidante e raramente

necessitava de combater de facto mas estar preparada para o fazer era a sua missatildeo

primaacuteriardquo diz Dreyer

As navegaccedilotildees chinesas acabariam abruptamente em 1433 A expansatildeo foi travada

por um movimento reaccionaacuterio da burocracia de Beijing e ocorreu no meio de uma

10

RODRIGUES amp DEVEZAS 2009 53-59 11

DREYER 2007 3

10

crise de hiperinflaccedilatildeo com o colapso do papel-moeda chinecircs tatildeo generosamente

espalhado pela Aacutesia Este recuo deixaria a porta aberta para os navegadores que a

seguir chegassem ao Iacutendico12

Assim Portugal aproveitou uma janela de oportunidade uacutenica no iniacutecio de

Quatrocentos pois a China entatildeo a maior economia do mundo recuou no seu projecto

de expansatildeo oceacircnica As Repuacuteblicas Italianas (nomeadamente Veneza entatildeo potecircncia

hegemoacutenica) e a Catalunha natildeo dispunham de estrateacutegias ou de inovaccedilotildees para irem

aleacutem do seu espaccedilo tradicional de projecccedilatildeo de poder que era o Mediterracircneo E as

potencias regionais e os poderes locais que dominavam os checkpoints e as rotas de

commodaties de alto valor em Aacutefrica no proacuteximo e Meacutedio Oriente e no Iacutendico natildeo

dispunham de poder naval para enfrentar um ldquointrusordquo expansionista

Alavancado o mito do Preste Joatildeo a elite portuguesa de Quatrocentos em

particular os dois irmatildeos ndash infantes Henrique o ldquoNavegadorrdquo e Pedro o ldquoCosmopolitardquo ndash

e o monarca D Joatildeo II (considerado um ldquoPriacutenciperdquo exemplar do Renascimento)

idealizaram uma estrateacutegia tenaz de cerco pelas ldquotraseirasrdquo ao elo mais fraco da eacutepoca o

arco muccedilulmano fragmentado que dominava as rotas de commodities ateacute Alexandria

principal porto do Mediterracircneo agora nas matildeos dos mamelucos e com quem Veneza

negociava Esta estrateacutegia portuguesa foi evolutiva e de geometria variaacutevel ora

procurando vias pela costa e rios de Aacutefrica Ocidental ao encontro do potencial aliado

Preste Joatildeo e do estrateacutegico Nilo ora recorrendo ao uso de espionagem e intelligence

ateacute agrave procura de um rota mariacutetima alternativa para uma das fontes de especiarias (a

Iacutendia)

A procura do Preste Joatildeo pelos navegadores portugueses foi infrutiacutefera durante

longas deacutecadas Apenas entre 1508 e 1514 se realizaram os primeiros encontros oficiais

entre as cortes etiacuteope e lisboeta Entretanto dois caminhos se abriram dois ciclos

sucessivos de uma nova especializaccedilatildeo econoacutemica portuguesa internacional onde

entrou o ouro o ignoacutebil traacutefico de escravos e as especiarias Esta nova especializaccedilatildeo

mudou o padratildeo tradicional da economia do paiacutes e foi responsaacutevel por uma revoluccedilatildeo

no comeacutercio internacional

12

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 60-61

11

O sucesso no estabelecimento da nova rota mariacutetima para a Iacutendia deveu-se tanto a

inovaccedilotildees teacutecnicas e cientiacuteficas (como a caravela e a nova cartografia) como agrave gestatildeo

do conhecimento global da eacutepoca (o centro de acccedilatildeo do Infante Henrique e o war room

de D Joatildeo II) e tambeacutem a inovaccedilotildees estrateacutegicas para a projecccedilatildeo de poder (rede das

primeiras feitorias e fortificaccedilotildees de plataformas oceacircnicas e de novas cidades e de um

modelo de colonizaccedilatildeo) e ainda juriacutedicas (estabelecimento da doutrina do Mare

Clausum e assinatura dos primeiros tratados de divisatildeo do mundo em zonas de

influecircncia) Foi este conjunto de inovaccedilotildees que permitiu o surgimento de um novo e

longo ciclo geopoliacutetico e substituir Veneza na lideranccedila mundial13

Portugal criou portanto um novo tipo de impeacuterio ndash o impeacuterio oceacircnico em rede ndash

baseado na mobilidade e poder naval pois viabilizou o domiacutenio de uma vasta aacuterea do

planeta e uma forma de comeacutercio verdadeiramente internacional Este network lanccedilou as

bases para a criaccedilatildeo da aldeia global fenoacutemeno hoje sobejamente conhecido como

globalizaccedilatildeo

Os portugueses introduziram o uso sistemaacutetico do conhecimento cientiacutefico como

um activo indispensaacutevel para alcanccedilar objectivos poliacuteticos geoestrateacutegicos Tal facto

gerou os alicerces do Renascimento cientiacutefico europeu e transformou radicalmente a

visatildeo do mundo como um planeta composto por massas continentais banhadas por um

conjunto de oceanos interligados Foi graccedilas agrave expansatildeo mariacutetima portuguesa que surgiu

a concepccedilatildeo de um globo terrestre e uma nova cartografia14

Apesar das fortes raiacutezes empiacutericas da expansatildeo portuguesa do caraacutecter pragmaacutetico

e do forte improviso os liacutederes de Quatrocentos e de Quinhentos desenvolveram a

gestatildeo de conhecimento de forma eficiente Este foi o capital ldquointelectualrdquo que afirmou

um espoacutelio singular que destacou Portugal elevando-o agrave escala mundial Satildeo exemplos

deste periacuteodo os primeiros centros de acccedilatildeo de expansatildeo mariacutetima uma vaga de

publicaccedilotildees cientiacuteficas originais a revoluccedilatildeo na cartografia e na ciecircncia da construccedilatildeo

naval e uma evoluccedilatildeo da arte militar

A construccedilatildeo da hegemonia portuguesa foi claramente um processo evolutivo de

aprendizagem que abarcou vaacuterias geraccedilotildees Isto foi sucedendo desde a eacutepoca inicial dos

infantes D Henrique e D Pedro com a chegada agrave Costa da Mina e agrave linha do Equador

13

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 175-176 14

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 184-185

12

mais tarde com a passagem do Cabo da Boa Esperanccedila ateacute agrave chegada agrave Iacutendia Brasil

China e Japatildeo

Concluiacuteda a chegada agrave Iacutendia (1498) jaacute no tempo do rei D Manuel I a estrateacutegia de

projecccedilatildeo mundial foi tripla

Afirmaccedilatildeo de um poder naval sem contestaccedilatildeo mundial no Atlacircntico e

Iacutendico

Conclusatildeo da maior rede mundial de checkpoints existentes ateacute entatildeo

Campanha de marketing internacional junto do papado (poder

transnacional reconhecido pelos europeus)

Portugal caiu num dilema entre a focalizaccedilatildeo num espaccedilo controlaacutevel do Iacutendico

(ligado agrave rota das especiarias) e a tentaccedilatildeo de uma extensatildeo raacutepida incluindo um

projecto imperial universal embebido numa ideologia cruzadista e de expansatildeo

messiacircnica

A capacidade inovadora dos portugueses foi de tal forma abrangente que se pode

afirmar que nos seacuteculos XV e XVI Portugal inovou na arte de inovar Isto provocou

uma ruptura ldquotectoacutenicardquo na histoacuteria do mundo e natildeo foi um mero acidente relegado para

segundo plano por muitos historiadores e analistas face ao mediatismo criado em torno

das viagens de Colombo agrave Ameacuterica Central15

Segundo Daniel Boorstin16

ldquo(hellip) como empreendimento organizado e de longo

prazo a conquista dos Portugueses foi a mais moderna mais revolucionaacuteria do que as

largamente celebradas exploraccedilotildees de Colombo ()rdquo

15

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 331 16

BOORSTIN 1986 83

Daniel Boorstin faleceu em 2004 Estudou em Oxford Harvard e Yale foi autor de 20 livros e

bibliotecaacuterio do Congresso norte-americano de 1975 a 1987 Foi director do Museu Nacional de Histoacuteria

e Tecnologia e da Smithsonian Institution entidades norte-americanas A Trilogia sobre a Histoacuteria

Mundial que escreveu ficou ceacutelebre E nela incluiu Os Descobridores Foi um dos acadeacutemicos que

destacou a originalidade portuguesa de Quatrocentos e Quinhentos

13

13 Siglo de oro espanhol

O ldquoseacuteculo de ourordquo foi o apogeu da cultura espanhola desde o Renascimento do

seacuteculo XV ateacute ao periacuteodo Barroco do seacuteculo XVII Marcado por acontecimentos-chave

abrangeu o periacuteodo desde a publicaccedilatildeo da gramaacutetica Castellana de Nebrija em 1492 ateacute

a morte de Calderoacuten de la Barca em 1681

Nos finais do seacuteculo XVIII jaacute se havia popularizado a expressatildeo Seacuteculo de Ouro

com a qual Lope de Vega aludia a si proacuteprio e que suscitava a admiraccedilatildeo de Don

Quixote de la Mancha no seu famoso discurso sobre a Idade de Ouro

Com a uniatildeo dinaacutestica os Reis Catoacutelicos Fernando e Isabel delinearam um Estado

politicamente forte que foi consolidado posteriormente cujos ecircxitos foram invejados

por alguns intelectuais contemporacircneos como por exemplo o italiano Nicolau

Maquiavel Poreacutem esse Estado politicamente forte esteve ideologicamente dominado

pela inquisiccedilatildeo eclesiaacutestica Os judeus que natildeo se cristianizaram foram expulsos em

1492 e dispersaram-se fundando coloacutenias hispacircnicas pela Europa Aacutesia e Norte de

Aacutefrica Aiacute cultivaram a sua liacutengua e escreveram livros em castelhano emergindo figuras

notaacuteveis como o economista e escritor Joseacute Penso de La Vega Miguel de Barrios Juan

de Prado Isaac Cardoso Abraham Zacuto Isaac Orobio e Manuel de Pina Em Janeiro

de 1492 Castela conquista o bastiatildeo mouro de Granada finalizando a etapa poliacutetica

muccedilulmana peninsular ainda que uma minoria mourisca aiacute continuasse a habitar mais

ou menos tolerada ateacute ao reinado de Felipe III

Em Outubro desse mesmo ano Cristoacutevatildeo Colombo chega agrave Ameacuterica A chegada agraves

ldquoiacutendiasrdquo por ocidente foi considerado pelo historiador Pierre Vilar17

o gesto mais

extraordinaacuterio da histoacuteria da Humanidade Ainda nesse ano foi celebrado o Tratado de

Tordesilhas entre D Joatildeo II e os Reis Catoacutelicos Como o nome indica este Tratado foi

assinado na povoaccedilatildeo castelhana de Tordesilhas a 7 de Junho de 1494 celebrado entre

o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para dividir as terras descobertas e por

descobrir Este tratado surgiu na sequecircncia da contestaccedilatildeo portuguesa agraves pretensotildees da

Coroa espanhola resultantes da viagem de Cristoacutevatildeo Colombo que ano e meio antes

17

Pierre Vilar foi um historiador francecircs Estaacute considerado uma das maacuteximas autoridades no estudo da

Histoacuteria de Espanha tanto no periacuteodo do Antigo Regime como na Idade Contemporacircnea

14

chegara ao chamado Novo Mundo reclamando-o oficialmente para Isabel a Catoacutelica O

tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494

Durante o apogeu cultural e econoacutemico desta eacutepoca Espanha alcanccedilou prestiacutegio

internacional e influenciou culturalmente a Europa Tudo quanto provinha de Espanha

foi amiuacutede imitado e divulgou-se a aprendizagem e estudo do castelhano

As aacutereas culturais mais cultivadas foram a literatura as artes plaacutesticas a muacutesica e a

arquitectura O saber foi-se acumulando e disseminado pelas prestigiadas universidades

de Salamanca e Alcalaacute de Henares

As cidades mais importantes foram Sevilha por receber as riquezas coloniais e dos

comerciantes e banqueiros europeus Madrid como sede da corte e ainda as cidades de

Toledo Valecircncia e Saragoccedila

Com a anexaccedilatildeo dinaacutestica e a formaccedilatildeo da monarquia dual ibeacuterica sob a coroa dos

Habsburgo a dinastia dos Felipes tenta criar o maior impeacuterio global no final do seacuteculo

XVI e primeira metade do seacuteculo XVII18

Com o nascimento do mito do ldquoEl Doradordquo (um suposto rei de uma regiatildeo auriacutefera

inventado pelos nativos colombianos) em 1538 acelerou-se a corrida aos metais

preciosos da Ameacuterica pelos ldquoconquistadoresrdquo espanhoacuteis Em 1547 o famoso mineiro de

Potosi nos Andes comeccedilava a sua exploraccedilatildeo intensiva de prata e em 1560 a invenccedilatildeo

de um novo meacutetodo de refinaccedilatildeo com mercuacuterio vindo das minas espanholas levou ao

disparo do negoacutecio superando a produccedilatildeo de ouro

O pico da importaccedilatildeo de prata para Espanha ocorre no quinqueacutenio de 1591-159519

No Oriente os castelhanos estabeleceram-se em Cebu desde 1565 e dois Navios da

Armada Miguel Lopez de Legazpi conseguiram estabelecer uma nova rota transpaciacutefica

mais a norte para o Meacutexico Em 1571 ocupavam a baiacutea de Manila e em 1574

exploravam as ilhas Borneacuteu e a Nova Guineacute A carreira regular entre o Meacutexico e as

Filipinas entre Acapulco e Manila pretendeu pocircr em xeque a carreira da Iacutendia

portuguesa20

Felipe II sofreu em larga medida do messianismo de seu avocirc portuguecircs D Manuel

I e viu em seu redor desenvolver-se uma retoacuterica imperialista e universalista herdada de

seu pai Carlos V O poeta-soldado Hernando de Acuntildea anunciara num poema dirigido a

18

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358 19

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 348-349 20

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 349

15

Carlos V que estava proacuteximo o dia em que se realizaria a maacutexima universal um

monarca um impeacuterio e uma espada

Espanha atingia entatildeo o auge de seu Siglo de Oro com um impeacuterio onde ldquoel Sol

no se poniacuteardquo desde o Virreinato de Nueva Espantildea (Ameacuterica Norte e Central) ateacute agraves

Filipinas o que levava os estrategos da Corte dos Felipes a sonhar com uma ldquomonarquia

mundialrdquo Mais tarde o aristocrata andaluz Gaspar Felipe de Guacutezman o famoso Conde-

Duque de Olivares adoptando uma expressatildeo de Gil Vicente afirmou ldquoDios es espantildeol

y estaacute de parte de la nacioacuten estos diasrdquo (Deus eacute espanhol e faz parte da naccedilatildeo nos dias de

hoje)

Ainda na vigecircncia do reinado de Felipe II (1556-1598) satildeo de salientar os

acontecimentos que iriam dar iniacutecio ao processo de decadecircncia deste siglo

Iniacutecio dos ataques sistemaacuteticos dos corsaacuterios ingleses agraves possessotildees

espanholas das Ameacutericas

O desastre da Grande y Feliciacutessima Armada (mais conhecida como

ldquoInvenciacutevel Armadardquo) que partira de Lisboa em 1588 (levando boa parte da

armada portuguesa que natildeo regressou) para invadir e subjugar a Inglaterra

A derrota frente aos ingleses na batalha naval do estreito de Gibraltar em

159021

Depois da morte de Felipe II uma atmosfera de desengantildeo de desilusatildeo nacional

apoderou-se de Espanha ndash segundo Elliot a obra imortal El Inginioso Hidalog Don

Quixote de La Mancha (1605 e 1614) de Miguel de Cervantes Saavedra eacute

provavelmente o expoente dessa eacutepoca de decliacutenio estrateacutegico que se iria estender pelo

reinado do filho e neto de Felipe II22

Na realidade o Siglo de Oro espanhol durou menos de sessenta anos A decadecircncia

comeccedilou na aclamaccedilatildeo de Felipe II em 1581 como rei portuguecircs nas Cortes de Tomar

e termina nas deacutecadas de 1630 e 1640 com Felipe IV (III em Portugal) Este uacuteltimo

coroado aos dezasseis anos de idade entregou o governo do impeacuterio ao Conde-Duque

de Olivares Durante o vinteacutenio compreendido entre 1623 e 1643 eacute o Conde-Duque de

Olivares que exerceraacute o controlo efectivo sobre o Estado espanhol A notoacuteria rivalidade

com o cardeal de Richelieu (Franccedila) arrastou a Espanha para a Guerra dos Trinta Anos

e a diversos conflitos paralelos com a Itaacutelia e com os Paiacuteses Baixos O desgaste causado

21

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 358-360 22

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 373

16

pelos vaacuterios conflitos o decliacutenio da induacutestria e do comeacutercio devido ao esgotamento dos

recursos das coloacutenias espanholas e a restauraccedilatildeo da coroa portuguesa (em 1640)

desacreditaram a sua gestatildeo Destituiacutedo do cargo exilou-se no norte de Espanha e

passou seus uacuteltimos anos submetido agraves investigaccedilotildees da Inquisiccedilatildeo ateacute seu falecimento

em 1645

Sucedeu-se ainda um quadro de desaires no final da Guerra dos Trinta Anos (1618-

1648) de que passo a citar os mais importantes

As derrotas infligidas na batalha naval ao largo de Downs no canal da

Mancha Esta derrota naval eacute considerada pelos proacuteprios estrategos espanhoacuteis

como o momento de perda da hegemonia naval

Em 1639 a infligida pelos holandeses comandados por Maarten Tromp

Em 1643 em Rocroi derrotados pelos franceses

A reconquista da Independecircncia dos portugueses em 1640

A revolta da Catalunha que se converte num protectorado francecircs

A derrota de Lens em 1648 de novo agraves matildeos dos franceses

14 O ciclo holandecircs e a hegemonia inglesa

Se Portugal de Quinhentos foi o pioneiro do verdadeiro comeacutercio internacional

foram os hegemonistas seguintes holandeses e ingleses que souberam inovar para dele

tirar proveito efectivo

Alguns historiadores desenharam esta imagem sugestiva ndash o papel dos portugueses

foi entatildeo ldquoo de lanccedilarem catildees para espantarem a caccedila que depois foi apanhada por

outrosrdquo23

Natildeo foi por acaso que os holandeses ficaram conhecidos no seacuteculo XVII como os

ldquocarreteiros do marrdquo com uma frota que era o dobro da de Inglaterra e Franccedila juntas24

ldquoLanccedilaram-se ao mar e tornaram-se os transportadores das mercadorias mundiais Os

23

BOXER 2001 32 Imagem atribuiacuteda por Charles R Boxer ao capitatildeo holandecircs Willem Bosman 24

RODRIGUES 1997 280 (volume I)

O contraste no periacuteodo de 1600-1700 foi brutal a frota comercial portuguesa baixou de uma meacutedia de

700 navios (no periacuteodo de Quinhentos) para quase metade e a holandesa disparou de menos de 100 para

1770 contra 811 ingleses e 155 franceses

17

barcos holandeses iam a toda a parte levando mercadoria de todo o mundo a todo o

lugarrdquo dizia Leo Huberman25

Aos holandeses e ingleses caberia inovarem no empreendorismo capitalista

justamente onde falhou o ldquocapitalismo monaacuterquico portuguecircsrdquo o que gerou a croacutenica

desvantagem competitiva que marcaria a evoluccedilatildeo do comeacutercio a partir dos comeccedilos do

seacuteculo XVII

A esse conjunto de inovaccedilotildees anglo-holandesas entre 1600 e 1700 poderemos

chamar de revoluccedilatildeo de softpower ndash mais poderoso do que o militarismo religioso

apelidado de ldquodilataccedilatildeo da feacuterdquo que os portugueses e espanhoacuteis pretenderam usar como

arma ideoloacutegica de consolidaccedilatildeo das ldquoDescobertasrdquo26

O primeiro aspecto inovador do softpower da potecircncia emergente foi juriacutedico27

A

doutrina do Mare Clausum defendida e aplicada pelos portugueses foi contestada O

holandecircs Hugo Grotius formulou em De Jure Pradae28

(1604) e Mare Liberum (1609)

a ideia de que haveria um direito natural de navegaccedilatildeo livre no mar alto O oceano seria

um bem puacuteblico comum onde natildeo se aplicavam os direitos de conquista nem a lei

consuetudinaacuteria ldquoEm virtude deste direito (de mar livre) o comeacutercio estaacute aberto a toda

a genterdquo afirma Grotius que termina a sua obra Mare Liberum dizendo que eacute preciso

natildeo recuar perante a guerra se os portugueses mantiverem a sua doutrina do Mare

Clausum Grotius respondia tambeacutem a uma decisatildeo de James I de Inglaterra que no

iniacutecio de 1609 decretara a obrigatoriedade de licenccedilas nos mares em redor das costas

inglesas o que prejudicou seriamente os holandeses

O segundo aspecto foi poliacutetico-comercial Foram por sua vez os ingleses que

criaram um novo tipo de companhia trading baseada numa sociedade por acccedilotildees em

que a proacutepria rainha da altura Elizabeth I participava como accionista e sem a

dependecircncia do circuito dos banqueiros alematildees e italianos A primeira dessas

companhias em finais de 1600 tinha o estranho nome de ldquoGovernador e Companhia

dos Aventurosos Mercadores para a descoberta de regiotildees domiacutenios ilhas e lugares

desconhecidosrdquo e contava em Londres com 240 accionistas que investiram 25 libras

25

HUBERMAN 1970 45 26

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 397 27

O debate entre o Mare Clausum e o Mare Liberum estaacute muito bem documentado no livro de Wilhelm

Grewe intitulado The Epochs of International Law republicado pela editora Walter de Gruyer em 2000

Berlim e Nova York 28

Grotius refere nesta obra supracitada a captura em Malaca de um barco portuguecircs por um navio da

companhia holandesa VOC

18

cada um (na eacutepoca uma soma de certa importacircncia29

) Esta deu origem mais tarde ao

aparecimento da famosa Companhia Inglesa das Iacutendias Orientais Honourable East India

Company Em 1602 foi a vez de os holandeses criarem a Companhia das Indias

Orientais a conhecida VOC (acroacutenimo de Verenidge Oost-indische Compagnie) que

agrupou nove companhias por acccedilotildees depois do ensaio com a inicial Compagnie Van

Verre (Companhia das Terras Longiacutenquas) criadas em 1594

Estas companhias natildeo eram meramente comerciais eram bem mais do que isso

Funcionavam como uma ferramenta poliacutetica multifuncional pois natildeo soacute criavam a

infra-estrutura para o comeacutercio internacional como tambeacutem serviam de arma poliacutetico-

ideoloacutegica (exercendo softpower) coerciva (cobrando impostos) e militar (aplicando o

hardpower)30

Por alguns satildeo consideradas exemplos de ldquoactores natildeo estaduaisrdquo com

dimensatildeo multinacional a quem os monarcas atribuiacuteam poderes soberanos nas regiotildees

de expansatildeo ao contraacuterio dos ibeacutericos que exerciam o poder ultramarino atraveacutes de

vice-reis Posteriormente os franceses copiaram o modelo anglo-holandecircs na sua

projecccedilatildeo nas Ameacutericas e na Iacutendia mas com menos sucesso devido agrave sua inferioridade

na projecccedilatildeo oceacircnica

Em 1609 os holandeses fundaram o Amesterdamsche Wisselbank (Banco de

Amesterdatildeo) sobre o qual Adam Smith escreveu vaacuterios paraacutegrafos na sua obra mais

ceacutelebre31

e em 1694 surgiu o Bank of England32

De salientar ainda a mudanccedila no exerciacutecio de hardpower nos mares Eacute um aspecto a

que muitos historiadores designaram ldquorevoluccedilatildeo militarrdquo ocorrida ao longo da primeira

metade do seacuteculo XVII visto que os ingleses e holandeses inovaram em termos de

velocidade flexibilidade (aperfeiccediloamento da capacidade de bolinar) e posicionamento

da artilharia a bordo dos navios33

29

HUBERMAM ibidem nt 12 30

HUTTON 2006 70 31

SMITH 1776 livro IV capiacutetulo 3 parte I 32

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 398-400 33

RODRIGUES amp DEVEZAS ibidem 402

19

15 A Burguesia e a Revoluccedilatildeo Industrial

O incremento do comeacutercio mariacutetimo permitiu que os produtos do Oriente

chegassem agrave Europa e vice-versa Este comeacutercio apesar do risco impliacutecito nas viagens

era altamente rentaacutevel (bastava uma caravela chegar do Oriente com especiarias para

cobrir os custos totais da frota)

As transacccedilotildees comerciais realizadas pelos europeus atraveacutes das suas rotas

mariacutetimas permitiram o enriquecimento das classes sociais vigentes e contribuiacuteram

ainda em grande escala para o aparecimento de uma nova classe social ldquoendinheiradardquo

ndash a Burguesia

Os burgueses eram os habitantes dos burgos que eram pequenas ldquocidadesrdquo

protegidas por muros Eram ldquogentesrdquo de elevado estatuto econoacutemico embora de baixo

niacutevel cultural e social Por isso se compreende agrave luz da eacutepoca que tenham sido

ostracizados pela nobreza

Com o mundo e o comeacutercio ligado em rede ndash mercado global ndash a procura mundial

disparou e consequentemente tornou-se mais premente aumentar a oferta

O ldquonegoacutecio mariacutetimordquo indissociaacutevel da burguesia favoreceu a acumulaccedilatildeo de

capitais na Europa Posteriormente esta acumulaccedilatildeo de capital serviu de suporte

financeiro agrave Revoluccedilatildeo Industrial

A Revoluccedilatildeo Industrial consistiu num conjunto de mudanccedilas tecnoloacutegicas34

com

profundo impacto no processo produtivo que se reflectiu no desenvolvimento

econoacutemico e social na Europa A era industrial provocou uma ruptura com o passado

Foi iniciada em Inglaterra em meados do seacuteculo XVIII e rapidamente se expandiu a

partir do seacuteculo XIX

Entre as novas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas saliento a importacircncia da aplicaccedilatildeo do

motor a vapor em navios que veio encurtar a distacircncia entre os portos e

simultaneamente aumentar a capacidade de circulaccedilatildeo de pessoas e mercadorias Este

momento marcou o decliacutenio do ciclo de navegaccedilatildeo comercial agrave vela

A Revoluccedilatildeo Industrial eacute o ponto culminante de uma evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

econoacutemica e social que se vinha processando na Europa desde a Idade Meacutedia com

34

James Watt em 1765 introduz na Gratilde-Bretanha o condensador na maacutequina de Newcomen componente

que aumenta consideravelmente a eficiecircncia da maacutequina a vapor

20

maior ecircnfase nos paiacuteses onde a Reforma protestante tinha conseguido destronar a

influecircncia da Igreja Catoacutelica Nos paiacuteses fieacuteis ao catolicismo a Revoluccedilatildeo Industrial

eclodiu em geral mais tarde

O seacuteculo XIX no plano das relaccedilotildees internacionais foi marcado pela hegemonia

mundial britacircnica de expansatildeo colonialista e pelo aparecimento das primeiras lutas e

conquistas dos trabalhadores O trono britacircnico foi ocupado pela rainha Vitoacuteria (1837-

1901) razatildeo pela qual esse periacuteodo eacute denominado por Era Vitoriana No final deste

seacuteculo a busca de novas regiotildees para colonizar e descarregar os produtos (maciccedilamente

produzidos pela revoluccedilatildeo industrial) levou a uma acirrada disputa entre as potecircncias

industrializadas causando diversos conflitos e um crescente espiacuterito armamentista que

culminou mais tarde na eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial (1914)

Statue of Prince Henry the Navigator ndash Belgrave Square London35

35

Estaacutetua em homenagem ao Infante D Henrique Belgrave Square em Londres

21

Cap II ndash O Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

21 Fundamentos da Poliacutetica Mariacutetima Integrada Europeia

Partimos da definiccedilatildeo de fundamento eacute o que daacute consistecircncia e seguranccedila o que

daacute coesatildeo agraves partes do todo que ele mesmo estrutura e sustenta36

No capiacutetulo precedente dedicado a um breve enquadramento histoacuterico destaquei as

principais naccedilotildees europeias que contribuiacuteram fortemente para identidade mariacutetima da

Europa Facto eacute que hoje em dia em pleno seacuteculo XXI eacute inconcebiacutevel olhar para

Europa e imaginaacute-la sem mar ou negar a sua importacircncia no quotidiano dos europeus

De referir que na Uniatildeo Europeia a 27 apenas 5 Estados-membros natildeo satildeo paiacuteses

costeiros o que demonstra desde logo a importacircncia da temaacutetica mariacutetima no contexto

europeu Este eacute sem duacutevida um dos desafios que a Europa enfrenta e que passo a

apresentar neste capiacutetulo dedicado ao Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

Qualquer cidadatildeo europeu se lembraraacute dos relatos das grandes viagens de

descobrimentos que revelaram aos nossos antepassados a vastidatildeo a diversidade de

culturas e a riqueza de recursos do nosso planeta O ecircxito destas viagens que na sua

maioria eram mariacutetimas exigia quase sempre espiacuterito de abertura a ideias novas e um

planeamento meticuloso aleacutem de extraordinaacuteria coragem e forte determinaccedilatildeo Graccedilas a

elas natildeo soacute foram sendo desvendadas ao longo do tempo regiotildees do mundo antes

desconhecidas como tambeacutem apareceram novas tecnologias como por exemplo o

astrolaacutebio (instrumento naval usado para medir a altura dos astros acima da linha do

horizonte) o cronoacutemetro mariacutetimo (destinado a calcular a longitude exacta) e a turbina a

vapor (que permitiu escapar agrave tirania dos ventos dominantes)

A densidade populacional nas zonas do litoral europeu foi sempre elevada No mar

encontraram um meio de subsistecircncia pescadores e marinheiros mas tambeacutem sauacutede e

prazer novos horizontes para sonhar e um rico reportoacuterio de vocaacutebulos e metaacuteforas

36

Enciclopeacutedia Luso Brasileira vol 8 1794

22

presentes tanto na literatura como no quotidiano Fonte de romance de uniatildeo mas

tambeacutem de separaccedilotildees perigos desconhecidos e sofrimento o mar eacute um desafio

permanente e suscita em noacutes uma vontade profunda de melhor o conhecer

A Europa possui mais de 70000 km de orla costeira estaacute rodeada por numerosas

ilhas por quatro mares (Mediterracircneo Baacuteltico do Norte e Negro) e por dois oceanos

(Atlacircntico e Aacuterctico) O continente europeu eacute uma peniacutensula com uma orla costeira de

milhares de quiloacutemetros ndash maior do que a de outras grandes massas continentais como

os Estados Unidos ou a Federaccedilatildeo da Ruacutessia Dada esta configuraccedilatildeo geograacutefica mais

de dois terccedilos das fronteiras da UE satildeo de orla mariacutetima E os espaccedilos mariacutetimos sob

jurisdiccedilatildeo dos Estados-Membros satildeo mais vastos do que os seus espaccedilos terrestres

Graccedilas agraves suas regiotildees ultraperifeacutericas para aleacutem do Oceano Atlacircntico a Europa estaacute

igualmente presente no Oceano Iacutendico e no mar das Caraiacutebas Os desafios colocados por

estas regiotildees no plano mariacutetimo satildeo numerosos e afectam a Uniatildeo Europeia no seu todo

A Europa desde tempos imemoriais essencialmente devido agrave sua geografia sempre

teve uma relaccedilatildeo privilegiada com os oceanos sendo estes determinantes no

desenvolvimento da sua cultura identidade e histoacuteria

Assim continua a ser hoje em dia Num momento em que a Uniatildeo Europeia procura

veementemente revitalizar a economia eacute importante reconhecer o potencial econoacutemico

da dimensatildeo mariacutetima Estima-se que 3 a 5 do produto interno bruto (PIB) europeu

eacute gerado pelas induacutestrias e serviccedilos do sector mariacutetimo sem contar com o valor de

mateacuterias-primas como o petroacuteleo o gaacutes ou o pescado As regiotildees mariacutetimas europeias

representam mais de 40 do PIB da Uniatildeo Europeia

Natildeo obstante os cidadatildeos europeus nem sempre estatildeo bem conscientes da

importacircncia dos oceanos e mares na sua vida Embora saibam que a aacutegua eacute um bem

crucial poderatildeo desconhecer que proveacutem dos oceanos sob a forma ldquorecicladardquo de chuva

ou de neve por exemplo Preocupam-se com as alteraccedilotildees climaacuteticas mas nem sempre

sabem ateacute que ponto satildeo moduladas pelos oceanos Beneficiam da possibilidade de

comprar produtos baratos de todo o mundo sem se aperceberem da complexidade da

rede logiacutestica que o torna possiacutevel37

37

COM (2006) 275 final vol II 3

23

O desenvolvimento sustentaacutevel como se sabe ocupa um lugar preponderante na

agenda de trabalhos da Uniatildeo Europeia O desafio consiste em assegurar o reforccedilo

muacutetuo do crescimento econoacutemico da coesatildeo social e da protecccedilatildeo do ambiente

Ora a PMIE tem a oportunidade de aplicar aos oceanos o princiacutepio do

desenvolvimento sustentaacutevel Para esse efeito pode tirar partido dos trunfos que sempre

estiveram na base da supremacia no domiacutenio mariacutetimo conhecimento dos oceanos

larga experiecircncia e capacidade para enfrentar novos desafios conjugados com um forte

empenho na protecccedilatildeo dos seus recursos38

A Europa depois de seacuteculos de ligaccedilatildeo aos mares e oceanos assume a partir de

2007 a coordenaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ligadas ao espaccedilo mariacutetimo e costeiro

europeu Todavia o objectivo de alcanccedilar uma poliacutetica mariacutetima mais integrada natildeo eacute

exclusivo da Europa eacute algo que tem vindo a ser implementado igualmente por paiacuteses de

outras regiotildees do mundo como a Austraacutelia o Canadaacute ou os Estados Unidos

22 Potencialidades das principais actividades mariacutetimas da Uniatildeo Europeia

A Uniatildeo Europeia eacute a primeira potecircncia mariacutetima mundial especialmente no que

diz respeito ao transporte mariacutetimo agraves teacutecnicas de construccedilatildeo naval ao turismo costeiro

agrave energia offshore incluindo as energias renovaacuteveis e serviccedilos associados No futuro

segundo um estudo do Irish Marine Institute39

os sectores com maior potencial de

crescimento seratildeo o sector dos cruzeiros e portuaacuterio a aquicultura as energias

renovaacuteveis as telecomunicaccedilotildees submarinas e a biotecnologia marinha

O transporte mariacutetimo e os portos satildeo essenciais para o comeacutercio internacional pois

90 do comeacutercio externo da Uniatildeo Europeia e mais de 40 do seu comeacutercio interno eacute

efectuado por via mariacutetima A Uniatildeo Europeia com 40 da frota mundial eacute

incontestavelmente o liacuteder deste sector global Anualmente 35 mil milhotildees de

toneladas de mercadorias e 350 milhotildees de passageiros transitam pelos portos mariacutetimos

europeus Cerca de 350000 pessoas trabalham nos portos e nos serviccedilos associados

38

COM (2006) 275 final vol II 4 39

Para mais informaccedilotildees sobre o Irsih Marine Institute httpwwwmarineie

24

que no seu conjunto geram um valor acrescentado de aproximadamente 20 mil milhotildees

de euros40

Com o aumento do volume do comeacutercio mundial e o desenvolvimento do

transporte mariacutetimo de curta distacircncia e das ldquoauto-estradasrdquo mariacutetimas as perspectivas

para estes sectores satildeo de crescimento contiacutenuo O transporte mariacutetimo eacute um catalisador

para outros sectores nomeadamente a construccedilatildeo naval e os equipamentos mariacutetimo-

portuaacuterios

Os serviccedilos mariacutetimos associados como os seguros a banca a intermediaccedilatildeo a

classificaccedilatildeo e a consultoria satildeo mais um domiacutenio em que a Europa deve manter a sua

lideranccedila

Os oceanos e os mares geram igualmente receitas graccedilas ao turismo Estima-se que

o volume de negoacutecios directo do sector do turismo mariacutetimo na Europa tenha sido de 72

mil milhotildees de euros em 2004 Os turistas que passam feacuterias no litoral usufruem do mar

da praia e da zona costeira de formas muito diversas Muitos destinos turiacutesticos devem a

sua popularidade agrave proximidade do mar e dependem da qualidade ambiental deste Para

a sustentabilidade do turismo em geral e em particular do ecoturismo sector que se

encontra em raacutepida expansatildeo eacute pois crucial prever um elevado niacutevel de protecccedilatildeo das

zonas costeiras e do meio marinho O turismo gera ainda trabalho para a induacutestria da

construccedilatildeo naval

O sector europeu dos cruzeiros tambeacutem se desenvolveu fortemente nos uacuteltimos

anos registando uma taxa de crescimento anual superior a 10 Os navios de cruzeiro

satildeo praticamente todos construiacutedos na Europa O turismo de cruzeiro contribui para o

desenvolvimento das zonas costeiras e insulares

O sector da naacuteutica de recreio registou igualmente um aumento constante nos

uacuteltimos anos prevendo-se que o seu crescimento anual na Uniatildeo Europeia seja de 5 a

641

Nenhuma outra forma de lazer colectivo abrange um leque tatildeo grande de idades

interesses e locais42

O mar desempenha um papel essencial na competitividade no desenvolvimento

sustentaacutevel e na seguranccedila do aprovisionamento energeacutetico os quais constituem

40

Contributo da Organizaccedilatildeo dos Portos Mariacutetimos Europeus (ESPO) para o Livro Verde 41

Contributo da European Union Recreational Marine Industry Group (EURMIG) para o Livro Verde

Este sector inclui nomeadamente a construccedilatildeo de embarcaccedilotildees a electroacutenica de ponta para fabrico de

motores e equipamentos mariacutetimos o financiamento e a construccedilatildeo e exploraccedilatildeo de infra-estruturas 42

Contributo da European Boating Association (EBA) para o Livro Verde

25

objectivos essenciais identificados pela Comissatildeo Europeia43

e pelos Chefes de Estado

e de Governo44

O mar do Norte eacute depois da Ruacutessia dos Estados Unidos e da Araacutebia

Saudita a quarta maior fonte de petroacuteleo e de gaacutes no mundo45

Os mares em torno da

Europa desempenham tambeacutem um importante papel no sector da energia na medida em

que permitem o transporte por um nuacutemero crescente de navios-tanque de uma grande

parte do petroacuteleo e do gaacutes consumidos na Europa

Por outro lado o vento as correntes oceacircnicas as ondas e mareacutes representam uma

vasta fonte de energia inesgotaacutevel Convenientemente explorados estes tipos de

energias poderiam assegurar uma importante parte do abastecimento de electricidade em

muitas zonas costeiras da Europa e contribuir assim para o desenvolvimento econoacutemico

e a criaccedilatildeo de emprego com caraacutecter duradouro

As empresas europeias desenvolvem know-how na aacuterea das tecnologias marinhas

natildeo soacute no domiacutenio da exploraccedilatildeo de hidrocarbonetos no mar como tambeacutem nos dos

recursos marinhos renovaacuteveis das actividades em aacuteguas profundas da investigaccedilatildeo

oceanograacutefica dos veiacuteculos e robocircs subaquaacuteticos das obras mariacutetimas e da engenharia

costeira Essas tecnologias satildeo cada vez mais utilizadas e estimularatildeo o crescimento do

sector europeu das tecnologias marinhas especialmente nos mercados mundiais de

exportaccedilatildeo

Por fim a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Alimentaccedilatildeo e a Agricultura

(FAO)46

indica que caberaacute agrave aquicultura satisfazer a nova procura mundial no mercado

de consumo de pescado A dificuldade consiste em gerir este aumento de procura de

uma forma sustentaacutevel e compatiacutevel com o ambiente A competiccedilatildeo pelo espaccedilo pode

tambeacutem constituir um importante problema em algumas zonas costeiras A aquicultura

poderaacute distanciar-se da costa o que exigiraacute novos trabalhos de investigaccedilatildeo e

desenvolvimento da tecnologia de cultura em jaulas offshore47

A Uniatildeo Europeia eacute uma das principais potecircncias de pesca ao niacutevel mundial e o

maior mercado de produtos transformados agrave base de peixe Embora o nuacutemero de

pescadores na Uniatildeo Europeia tenha vindo a baixar ao longo dos anos o sector das

43

COM (2006) 105 final 44

Conclusotildees da Presidecircncia do Conselho Europeu de 23 e 24 de Marccedilo de 2006 45

Contributo da International Association of Oil and Gas Producers (OGP) para o Livro Verde 46

O estado das pescas e da aquicultura no mundo FAO 2004 47

COM (2002) 511 final

26

pescas no seu conjunto emprega ainda cerca de 526000 pessoas48

Satildeo proporcionados

numerosos postos de trabalho natildeo soacute no sector da captura como na induacutestria da

transformaccedilatildeo acondicionamento transporte e comercializaccedilatildeo bem como nos

estaleiros faacutebricas de artes de pesca empresas de abastecimento e de manutenccedilatildeo Estas

actividades tecircm uma importacircncia consideraacutevel no tecido econoacutemico e social das zonas

pesqueiras A transiccedilatildeo gradual para pescarias mais sustentaacuteveis prevista pela Uniatildeo

Europeia e o aumento da procura de peixe enquanto alimento saudaacutevel conduzem a

uma maior estabilidade rentabilidade e inclusiveacute crescimento econoacutemico em certos

segmentos do sector das pescas49

Como verificamos as actividades mariacutetimas ainda que dispersas ou diacutevidas por

sectores satildeo efectivamente importantes para o desenvolvimento econoacutemico da Europa

No entanto sendo a Europa um continente proeminentemente mariacutetimo questiono-

me porque eacute que soacute a partir de 2006 surge uma intenccedilatildeo de abordar os assuntos

mariacutetimos como um todo e de forma integrada A resposta eacute complexa Talvez seja o

reflexo de uma Europa tradicionalmente sectaacuteria baseada nos interesses individuais dos

Estados-membros e com a dificuldade em falarem a uma soacute voz Apesar de tardia a

PMIE pode ser uma referecircncia para a Europa na forma como desenvolve e implementa

poliacuteticas axioloacutegicas e integradas contribuindo simultaneamente para uma Europa de

direitos e com valores50

dando assim a todos uma melhor perspectiva de futuro

48

Factos e nuacutemeros sobre a Poliacutetica Comum da Pesca (PCP) CE 2004 49

COM (2006) 275 final volume II 7-9 50

A dignidade humana a liberdade a democracia a igualdade o Estado de Direito o respeito pelos

direitos do Homem satildeo os valores fundamentais da UE consagrados no Preacircmbulo do Tratado de Lisboa

Satildeo comuns a todos os EM e qualquer paiacutes europeu que queira tornar-se membro da UE tem de os

respeitar Defender estes valores bem como a paz e o bem-estar dos povos da Uniatildeo satildeo agora os

objectivos principais da UE Estes objectivos gerais satildeo complementados por objectivos mais especiacuteficos

como a promoccedilatildeo da justiccedila e da protecccedilatildeo sociais e a luta contra a exclusatildeo social e as discriminaccedilotildees

27

23 Livro Verde ndash ldquouma visatildeo para os oceanos e os maresrdquo

ldquo(hellip) torna-se especialmente necessaacuterio termos uma poliacutetica mariacutetima abrangente

orientada para o desenvolvimento de uma economia mariacutetima florescente e para a

plena exploraccedilatildeo do potencial das actividades centradas no mar e de uma forma

sustentaacutevel para o ambiente Esta poliacutetica deve assentar na excelecircncia da investigaccedilatildeo

cientiacutefica da tecnologia e da inovaccedilatildeo mariacutetimardquo Cit nos objectivos estrateacutegicos da

Comissatildeo Europeia para 2005-2009

A Comissatildeo Europeia em Junho de 2006 apresentou um Livro Verde sobre os

diferentes aspectos de uma futura poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria Esta obra realccedilou a

identidade e a supremacia mariacutetimas da Europa que devem ser preservadas num

periacuteodo em que as pressotildees sobre o ambiente comprometem a perenidade das

actividades mariacutetimas A poliacutetica mariacutetima deve consequentemente ter por objectivo a

formaccedilatildeo de um sector mariacutetimo inovador competitivo e respeitador do ambiente Para

aleacutem das actividades mariacutetimas a abordagem proposta integra tambeacutem a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras O Livro Verde teve como objectivo lanccedilar um debate sobre

uma futura poliacutetica mariacutetima para a Uniatildeo Europeia caracterizado por uma abordagem

holiacutestica dos oceanos e dos mares

Ele tornou claro que num periacuteodo em que os recursos estatildeo ameaccedilados por

pressotildees fortes e pela crescente capacidade tecnoloacutegica de os explorar soacute uma atitude

de profundo respeito pelos oceanos e pelos mares nos permitiraacute continuar a desfrutar

dos benefiacutecios que eles nos oferecem A reduccedilatildeo acelerada da biodiversidade marinha

devido nomeadamente agrave poluiccedilatildeo ao impacto das alteraccedilotildees climaacuteticas e agrave sobrepesca

eacute desde jaacute um sinal de alarme inequiacutevoco que natildeo se pode ignorar

Assim o Livro Verde baseou-se nas poliacuteticas e iniciativas da UE existentes e

insere-se no contexto da Estrateacutegia de Lisboa procurando estabelecer o justo equiliacutebrio

entre as dimensotildees econoacutemica social e ambiental

Como tal contribuiu largamente para que os europeus adquirissem uma nova

consciecircncia da grandeza do seu patrimoacutenio mariacutetimo da importacircncia dos oceanos e do

potencial dos oceanos para melhorar o bem-estar e aumentar as oportunidades

econoacutemicas

28

A Comissatildeo Europeia postulou que a poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria deve alicerccedilar-

se em dois pilares fundamentais

Em primeiro lugar deve estar ancorada na Estrateacutegia de Lisboa estimulando o

crescimento e a criaccedilatildeo de mais e melhores empregos O investimento permanente no

conhecimento e nas competecircncias eacute um factor essencial para manter a competitividade e

garantir empregos de qualidade

Em segundo lugar deve manter e melhorar o estado do recurso em que se baseiam

todas as actividades mariacutetimas ou seja o oceano propriamente dito

Embora a utilizaccedilatildeo destes pilares como base para a nova poliacutetica mariacutetima possa

parecer relativamente simples haacute que natildeo descurar duas caracteriacutesticas especiacuteficas do

meio marinho

A primeira consiste na natureza global dos oceanos que faz com que as relaccedilotildees

entre paiacuteses sejam ao mesmo tempo complementares e concorrenciais Para regular as

actividades mariacutetimas no interesse do desenvolvimento sustentaacutevel ao niacutevel mundial eacute

necessaacuterio elaborar regras aplicaacuteveis universalmente Contudo cada parcela de oceano e

de mar eacute singular e pode exigir as suas proacuteprias regras e uma gestatildeo mais especiacutefica

Esta aparente contradiccedilatildeo eacute ilustrativa do motivo pelo qual a natureza global dos

oceanos representa um tatildeo grande desafio para os decisores poliacuteticos

O outro desafio que se oferece a uma boa governaccedilatildeo mariacutetima directamente

ligado ao aspecto anterior prende-se com a multiplicidade dos intervenientes

Numerosas satildeo as poliacuteticas sectoriais que surgiram e que existem a todos os niacuteveis de

poder comunitaacuterio nacional regional e local Pode acontecer que intervenientes de

agecircncias e paiacuteses diferentes ou organizaccedilotildees internacionais estejam melhor colocados

para adoptar as propostas de acccedilatildeo Contudo para que as decisotildees sejam tomadas a um

niacutevel mais proacuteximo dos interessados cumprindo-se o princiacutepio da subsidiariedade soacute

devem ser desenvolvidas acccedilotildees ao niacutevel da Uniatildeo Europeia se tal conferir valor

acrescentado agraves actividades de outros51

51

COM (2006) 275 final volume II 5-6

29

24 Aacutereas-chave no Livro Verde

Do Livro Verde constam diversas aacutereas-chave que passamos a analisar

Meio marinho

O meio marinho enfrenta nomeadamente os seguintes problemas diminuiccedilatildeo

acelerada da biodiversidade (consequecircncias na realizaccedilatildeo do potencial da

ldquobiotecnologia azulrdquo) exploraccedilatildeo excessiva dos recursos (consequecircncias para a pesca)

alteraccedilotildees climaacuteticas (consequecircncias para a pesca e para o turismo costeiro) poluiccedilatildeo

com origem terrestre acidificaccedilatildeo da aacutegua do mar e a poluiccedilatildeo provocada pelas

descargas dos navios e os acidentes mariacutetimos (na falta de melhor seguranccedila mariacutetima)

Para diminuir o impacto destes fenoacutemenos no meio-ambiente marinho deveraacute reforccedilar-

se a legislaccedilatildeo no domiacutenio da seguranccedila mariacutetima introduzir-se a avaliaccedilatildeo de riscos na

elaboraccedilatildeo das poliacuteticas e aplicar novas tecnologias ao niacutevel do tratamento de aacuteguas de

lastro52

Investigaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo eacute essencial para se poder definir estrateacutegicas e tomar decisotildees com

conhecimento de causa Todavia os EM podem ir mais longe coordenando os seus

programas de investigaccedilatildeo nacionais a fim de realizar uma investigaccedilatildeo pan-europeia e

racionalizando meios A cooperaccedilatildeo entre investigadores e criadores de novas

tecnologias assume tambeacutem especial importacircncia

Inovaccedilatildeo

A inovaccedilatildeo pode ajudar a encontrar soluccedilotildees em domiacutenios em franca mutaccedilatildeo

como eacute o caso das energias e das alteraccedilotildees climaacuteticas As soluccedilotildees encontradas podem

tambeacutem beneficiar paiacuteses terceiros quando estes optarem por um desenvolvimento

sustentaacutevel e assim poderatildeo constituir uma vantagem competitiva para estes A energia

52

Aacutegua de lastro eacute a aacutegua do mar captada pelo navio para garantir a seguranccedila operacional e estabilidade

do mesmo Em geral os tanques satildeo preenchidos com maior ou menor quantidade de aacutegua para aumentar

ou diminuir o calado dos navios durante as operaccedilotildees portuaacuterias A aacutegua de lastro eacute um risco pelo facto de

transportar espeacutecies exoacuteticas dentro dos tanques dos navios Os seres vivos introduzidos pela aacutegua de

lastro podem variar entre organismos milimeacutetricos ateacute peixes com 30 centiacutemetros Satildeo inuacutemeros os

registos de ldquobioinvasatildeordquo por meio da aacutegua de lastro no mundo inteiro

30

eoacutelica as turbinas movidas pelas correntes de mareacute e os recursos de gaacutes e de petroacuteleo

dos grandes fundos marinhos podem representar novas fontes de energia

Matildeo-de-obra ldquosaber-fazerrdquo

As actividades mariacutetimas precisam de atrair pessoas altamente qualificadas No

entanto embora no seu conjunto o emprego no sector mariacutetimo europeu seja estaacutevel53

o nuacutemero de mariacutetimos europeus estaacute a diminuir Ou seja apesar de diminuir o nuacutemero

de trabalhadores no sector das pescas o sector foi compensado por pujantes serviccedilos

mariacutetimos tais como turismo e transporte mariacutetimo

O recrutamento em nuacutemero suficiente de mariacutetimos e outros profissionais bem

formados e competentes eacute essencial para garantir a sobrevivecircncia do sector mariacutetimo

assim como para manter a vantagem concorrencial da Europa

O ensino e a formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo devem ter por objectivo conferir aos

potenciais candidatos as mais elevadas competecircncias que possam abrir muacuteltiplas

perspectivas profissionais

A excelecircncia dos candidatos a emprego soacute seraacute garantida se se conseguir atrair para

o ensino e formaccedilatildeo no domiacutenio mariacutetimo os jovens mais capazes Eacute nesse quadro que

importa lutar contra a imagem do sector Eacute essencial oferecer aos mariacutetimos homens e

mulheres condiccedilotildees de vida e de trabalho adequadas ao niacutevel das expectativas a que os

europeus se habituaram com toda a legitimidade

Formaccedilatildeo de clusters54

O desenvolvimento de uma percepccedilatildeo comum das articulaccedilotildees possiacuteveis entre os

diferentes sectores mariacutetimos permitiraacute melhorar a imagem e aumentar a atractividade e

produtividade destes Estes agrupamentos de empresas e de profissionais que abrangem

todos os sectores de actividade podem assumir diversas formas Assim no domiacutenio

mariacutetimo eacute preciso distinguir os clusters nacionais ndash que servem frequentemente de

53

Ver o documento ldquoEmployment social and training aspects of maritime and fishing industries and

related sectorsrdquo httpeceuropaeumaritimeaffairspdfSEC(2006)_68920_2pdf 54

Remetendo em inglecircs para a noccedilatildeo de conjunto o termo ldquoclusterrdquo designa um agrupamento de

empresas do mesmo sector presentes na maior parte das vezes numa mesma bacia de emprego Mais

precisamente segundo Michael E Porter da Universidade de Harvard um cluster eacute ldquouma concentraccedilatildeo

de empresas ligadas entre si de fornecedores especializados de prestadores de serviccedilos e de instituiccedilotildees

associadas (universidades associaccedilotildees comerciais etc)rdquo

31

transmissores de opiniatildeo para certos ramos ou profissotildees mariacutetimas ndash dos clusters

regionais Estes uacuteltimos consagram-se ao desenvolvimento da economia mariacutetima

atraveacutes da inovaccedilatildeo e da aproximaccedilatildeo entre investigaccedilatildeo formaccedilatildeo e a induacutestria55

Os clusters podem contribuir para estimular a competitividade de todo um sector ou

grupo de sectores Eacute o que acontece se se partilhar conhecimentos realizar projectos

comuns de investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo (desenvolvimento de produtos) unir esforccedilos no

ensino e na formaccedilatildeo partilhar meacutetodos de organizaccedilatildeo inovadores dentro de um grupo

de empresas (aquisiccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum) ou estrateacutegias de promoccedilatildeo comuns

nomeadamente em mateacuteria de marketing e publicidade

A exploraccedilatildeo do potencial oferecido pela formaccedilatildeo de clusters eacute pertinente em

sectores com cadeias de abastecimento complexas que envolvem produccedilatildeo e serviccedilos e

tambeacutem com um grande nuacutemero de pequenas e meacutedias empresas Eacute esse o caso da

construccedilatildeo naval Na construccedilatildeo naval moderna mais de 70 do ldquonavio acabadordquo

resulta do trabalho de uma vasta rede de fornecedores de sistemas equipamentos e

serviccedilos56

Eacute possiacutevel disseminar as boas praacuteticas ligando estes sectores entre si e

transformando-os em redes de excelecircncia mariacutetima que abranjam todos os sectores

mariacutetimos incluindo o dos serviccedilos

Qualidade de vida nas regiotildees costeiras

O litoral europeu foi em tempos povoado por comunidades que viviam da pesca

Com o desenvolvimento do transporte mariacutetimo local e internacional foram-se

construindo portos e emergiram novas actividades nas periferias A procura de uma vida

agrave beira-mar apenas pelo prazer que daiacute decorre eacute um fenoacutemeno relativamente recente

A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas da Europa (CRPM) sublinha que

a atractividade natural (paisagem horas de insolaccedilatildeo e benefiacutecios para a sauacutede) daacute

igualmente origem a um forte crescimento demograacutefico que natildeo apresenta sinais de

abrandamento57

Por exemplo Portugal com 75 da populaccedilatildeo a viver no litoral

enfrenta neste domiacutenio indubitavelmente grandes desafios e novas exigecircncias

55

BERNARD-BRUNET Patrick 2007 23 56

Contributo da Associaccedilatildeo dos Estaleiros Europeus de Construccedilatildeo e Reparaccedilatildeo Naval (CESA) para o

Livro Verde 57

Contributo da CRPM para o Livro Verde

32

A concentraccedilatildeo demograacutefica nas regiotildees costeiras acarreta pressotildees sobre o espaccedilo

e o ambiente Exige uma maior acessibilidade em especial das pequenas ilhas e uma

maior mobilidade no seu interior que passa pela melhoria das infra-estruturas de

transporte Obriga agrave oferta de serviccedilos de interesse geral (sauacutede educaccedilatildeo

abastecimento de aacutegua e energia telecomunicaccedilotildees serviccedilos postais tratamento das

aacuteguas residuais e dos resiacuteduos) a fim de promover a qualidade de vida nas zonas

costeiras especialmente durante as estaccedilotildees altas do turismo Nas regiotildees rurais e

remotas as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo tecircm um papel a desempenhar

no fornecimento de serviccedilos em linha sauacutede ensino acesso puacuteblico agrave Internet

actividade econoacutemica ajuda agraves empresas e teletrabalho58

Ao planear o

desenvolvimento do litoral haacute que ter em conta o seu impacto ambiental a fim de obter

um resultado sustentaacutevel

As zonas costeiras e as ilhas satildeo elementos essenciais da atractividade e do ecircxito do

turismo costeiro Para que a Europa permaneccedila o primeiro destino turiacutestico ao niacutevel

mundial tem que apoiar um turismo sustentaacutevel nessas regiotildees O turismo sustentaacutevel

pode contribuir para o desenvolvimento das zonas costeiras e das ilhas melhorando a

competitividade das empresas satisfazendo as necessidades sociais promovendo o

patrimoacutenio natural e cultural e valorizando os ecossistemas locais Para um nuacutemero

crescente de destinos turiacutesticos a necessidade de melhorar ou manter a sua atractividade

constitui um incentivo para adoptar praacuteticas e estrateacutegias mais sustentaacuteveis e mais

compatiacuteveis com o ambiente

Muitos desses destinos jaacute realizam esforccedilos para efectuar uma gestatildeo integrada da

qualidade definindo estrateacutegias com os seus parceiros aplicando boas praacuteticas e

desenvolvendo instrumentos de acompanhamento e avaliaccedilatildeo para ajustar a sua acccedilatildeo

A sua experiecircncia poderaacute ser utilizada para formular recomendaccedilotildees destinadas a todos

os destinos turiacutesticos costeiros

A diversificaccedilatildeo dos produtos e serviccedilos turiacutesticos pode contribuir para a

competitividade dos destinos costeiros e insulares especialmente quando aos turistas eacute

oferecida a oportunidade de desfrutarem de locais de interesse cultural e natural

situados no litoral ou no hinterland rural ou urbano bem como de uma variedade de

58

Iniciativa do Comiteacute das Regiotildees (CdR) de 12102005 ndash Poliacutetica Mariacutetima da Uniatildeo Europeia ldquouma

questatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel para as autoridades locais e regionaisrdquo

33

atracccedilotildees ligadas ao mar (observaccedilatildeo dos mamiacuteferos marinhos mergulho e arqueologia

subaquaacutetica actividades naacuteuticas e talassoterapia) Esta diversificaccedilatildeo apresenta

inuacutemeras vantagens designadamente uma menor pressatildeo nas praias fontes alternativas

de rendimento para antigos pescadores nas comunidades costeiras e criaccedilatildeo de novas

actividades destinadas a apoiar a preservaccedilatildeo e o desenvolvimento do patrimoacutenio local

No caso de Portugal para aleacutem de possuir uma oferta turiacutestica diversificada deve

tirar partido da sua localizaccedilatildeo geograacutefica como paiacutes costeiro por excelecircncia da forte

tradiccedilatildeo mariacutetima e de clima ameno que o caracteriza (lidera a lista de paiacuteses europeus

em dias sol por ano)

Estas mais-valias intriacutensecas permitem o prolongamento da estaccedilatildeo turiacutestica

gerando assim mais crescimento econoacutemico e aumento do nuacutemero de empregos a

tempo inteiro Desta forma diluindo os picos de concentraccedilatildeo turiacutestica reduz o impacto

ambiental das actividades turiacutesticas e contribui para melhorar a qualidade de vida no

litoral portuguecircs

Novas formas de governaccedilatildeo mariacutetima

Qualquer forma de governaccedilatildeo dos oceanos deve ter em conta os princiacutepios

estabelecidos nos Tratados relativamente aos domiacutenios poliacuteticos e agrave distribuiccedilatildeo de

competecircncias entre instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia Estados-Membros regiotildees e

autoridades locais Nesta base e em conformidade com o princiacutepio da subsidiariedade59

eacute necessaacuterio atender agraves especificidades sectoriais e regionais

Uma poliacutetica mariacutetima inclusiva da Uniatildeo Europeia deveraacute visar o crescimento e a

criaccedilatildeo de mais e melhores postos de trabalho contribuindo assim para uma economia

mariacutetima forte e em expansatildeo competitiva e sustentaacutevel e em harmonia com o meio

marinho Deve procurar prevenir e minimizar os conflitos em torno da utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo e prever mecanismos claros e consensuais para a sua resoluccedilatildeo Deve

proporcionar uma maior previsibilidade para o sector e outros interessados e uma

abordagem mais eficaz em mateacuteria de conservaccedilatildeo dos recursos marinhos Neste

59

O princiacutepio da subsidiariedade prossegue dois objectivos opostos Por um lado permite que a

comunidade intervenha quando as medidas individualmente adoptadas pelos Estados-Membros natildeo

possibilitem uma soluccedilatildeo cabal Por outro lado visa manter a competecircncia dos Estados-Membros nos

domiacutenios que natildeo podem ser melhor regidos por uma intervenccedilatildeo comunitaacuteria A inclusatildeo deste princiacutepio

nos Tratados europeus deveraacute permitir que as decisotildees comunitaacuterias sejam adoptadas a um niacutevel tatildeo

proacuteximo quanto possiacutevel dos cidadatildeos - httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm

34

contexto o diaacutelogo social europeu nos sectores mariacutetimos reveste-se de uma

importacircncia cada vez maior

Para se alcanccedilarem estes objectivos eacute necessaacuterio coordenar e integrar as poliacuteticas

sectoriais Confirmam-no os compromissos assumidos no quadro da cimeira mundial

sobre o desenvolvimento sustentaacutevel de 200260

e as disposiccedilotildees da Convenccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar61

Aleacutem disso os progressos da ciecircncia e da tecnologia facultam agora uma melhor

compreensatildeo das interacccedilotildees e relaccedilotildees no que se refere aos oceanos e suas utilizaccedilotildees

O modelo de governaccedilatildeo da PMIE por sectores ou regiotildees geograacuteficas deve pois

ser substituiacutedo por uma abordagem transversal O modelo de governaccedilatildeo integrado

promove a partilha de conhecimentos e de boas praacuteticas bem como o diaacutelogo entre as

partes interessadas O impacto desta forma de governo permite elaborar medidas e

directivas agrave escala europeia respeitando as especificidades locais regionais e nacionais

Acho importante referir ainda que este modelo pode desencadear economias de escala

dando como exemplo de partilha o sistema de vigilacircncia mariacutetima da Agecircncia Europeia

da Seguranccedila Mariacutetima62

(EMSA) com sede em Lisboa

Novos instrumentos da gestatildeo das relaccedilotildees com os oceanos

ldquoOcirc mer nul ne connaicirct tes richesses intimesrdquo - Les fleurs du mal 63

Para uma melhor compreensatildeo das utilizaccedilotildees concorrentes do oceano haveraacute que

aperfeiccediloar os dados e as informaccedilotildees relativos agraves actividades mariacutetimas sejam elas

sociais econoacutemicas ou recreativas bem como sobre o impacto dessas actividades nos

recursos Tambeacutem para os operadores econoacutemicos mariacutetimos eacute importante haver dados

de qualidade Contudo subsistem grandes problemas no que se refere agrave harmonizaccedilatildeo e

agrave fiabilidade dos dados bem como agrave monitorizaccedilatildeo das regiotildees marinhas da Uniatildeo

Europeia que continuam a ser insuficientes e desajustados do ponto de vista geograacutefico

60

ONU Department of Economic and Social Affairs ndash Division for Sustainable Development

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm 61

Contributo da EuDA para o Livro Verde 62

A EMSA criada em 2002 na sequecircncia da cataacutestrofe do Erika e tem como objectivos reduzir o risco de

acidentes mariacutetimos diminuir a poluiccedilatildeo provocada pelos navios e salvaguardar as vidas humanas no

mar 63

ldquoOacute mar ningueacutem conhece as tuas riquezas escondidasrdquo ndash As Flores do Mal de Charles Baudelaire

(1821-1867) poeta francecircs e um dos fundadores do simbolismo O seu livro As Flores do Mal eacute

considerado um marco da poesia moderna

35

Para conceber uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria racional e sustentaacutevel haveraacute que

obviar a estas lacunas

A Uniatildeo Europeia pode examinar a possibilidade de criar uma rede europeia de

observaccedilatildeo e de dados do meio marinho Esta possibilita garantir a longo prazo a

melhoria da observaccedilatildeo sistemaacutetica (in situ e a partir do espaccedilo) a interoperabilidade e

o reforccedilo do acesso aos dados com base em soluccedilotildees tecnologias da informaccedilatildeo e da

comunicaccedilatildeo (TIC) robustas abertas e geneacutericas Essa rede possibilita uma anaacutelise

integrada ao niacutevel da Uniatildeo Europeia de diferentes tipos de dados e metadados

provenientes de vaacuterias fontes O objectivo eacute fornecer agraves autoridades puacuteblicas aos

serviccedilos mariacutetimos e induacutestrias conexas bem como aos investigadores uma fonte de

dados primaacuterios para utilizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de previsotildees e nas actividades de

monitorizaccedilatildeo integrando assim iniciativas existentes mas fragmentadas

O melhoramento e a difusatildeo dos dados relativos ao meio marinho permite tambeacutem

criar novas oportunidades para as empresas comerciais de alta tecnologia do sector

mariacutetimo e melhorar a eficiecircncia de actividades como a vigilacircncia mariacutetima a gestatildeo

dos recursos marinhos e a investigaccedilatildeo marinha nos laboratoacuterios europeus Aleacutem disso

contribui significativamente para reduzir as actuais incertezas relativamente ao sistema

oceacircnico e agraves alteraccedilotildees climaacuteticas tornando mais precisas as previsotildees meteoroloacutegicas

sazonais64

Proteger o legado mariacutetimo e sensibilizar o puacuteblico

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente os

continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos portos

de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir agrave

rebentaccedilatildeo Alguns passam horas a observar as coloacutenias de aves marinhas ou as baleias

ou a esperar que o peixe morda o isco Outros passam os tempos livres a restaurar ou a

navegar em velhos barcos de madeira Haacute ainda outros que gostam de ver

documentaacuterios sobre os golfinhos ou os pinguins na televisatildeo ou no cinema Alguns

trabalharatildeo nos solos mariacutetimos outros seratildeo pescadores ou capitatildees de porto e outros

por sua vez trabalharatildeo no posto de turismo de uma cidade costeira

64

COM (2006) 275 final volume II 34-35

36

Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo interligadas Quantos

teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa mariacutetima Bem poucos a avaliar

pelo debate realizado a propoacutesito do Livro Verde

Que assim seja natildeo eacute de surpreender Os aquaacuterios podem dar uma ideia da beleza e

das maravilhas da vida sob as ondas mas poucos conseguem mostrar de forma

convincente quatildeo fraacutegeis satildeo os oceanos que actividades os ameaccedilam e que esforccedilos

estatildeo a ser feitos para os preservar Os museus do mar podem ajudar-nos a compreender

as proezas do passado mas dificilmente nos conseguiratildeo transmitir uma noccedilatildeo clara da

avanccedilada tecnologia que eacute apanaacutegio das actividades mariacutetimas do presente As

organizaccedilotildees que se dedicam a manter vivas as tradiccedilotildees do passado nem sempre se

associam agrave realidade comercial do presente sem falar do deslumbrante potencial futuro

que os oceanos encerram A Comissatildeo Europeia crecirc que haacute muito a ganhar com o forjar

de um sentimento de identidade comum entre todos aqueles que vivem das actividades

mariacutetimas ou cuja qualidade de vida estaacute fortemente ligada ao mar Ganhar-se-aacute assim

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees em jogo e da importacircncia do mar para a

Humanidade65

Acredito que as actividades naacuteuticas podem neste domiacutenio desempenhar um

papel fundamental A Naacuteutica pelo vasto puacuteblico que abrange ao longo de todo o ano

estabelece respeito muacutetuo entre por um lado os recursos naturais (mar aacutegua e litoral) e

por outro as populaccedilotildees residentes ou turiacutesticas As actividades naacuteuticas satildeo fortemente

orientadas desde haacute muito para a descoberta protecccedilatildeo e promoccedilatildeo do patrimoacutenio e

ambiente e ainda para a descoberta e promoccedilatildeo das actividades e profissotildees mariacutetimas

Os centros naacuteuticos e as marinas podem ser a grande vitrine do oceano aberta a todos

atraveacutes de actividades educativas desportivas e de lazer

Vejamos o exemplo dos Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos criados na Bretanha em 1995

sob o lema o ldquoOceano nos unerdquo Os Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos66

satildeo um evento

desportivo de alto niacutevel competitivo que se realiza anual e rotativamente pelas

diferentes regiotildees do Atlacircntico promovendo a fileira naacuteutica popularizando os

desportos naacuteuticos e incentivando intercacircmbios de experiecircncias Participam neste

quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas de cinco modalidades naacuteuticas

(Canoagem Remo Subaquaacuteticas Surf e Vela) sempre acompanhados de grupos

65

COM (2006) 275 final volume II 51 66

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos ( wwwjnieaeu)

37

culturais e musicais representativos das regiotildees participantes contribuindo desta forma

para uma Europa mariacutetima mais unida e coesa

Haacute vaacuterios anos a esta parte tecircm sido realizados eventos como por exemplo as

Initiatives Oceacutean ldquoIl nacutey a pas de petit pollutionrdquo da responsabilidade da Surfrider

Foundation Europe67

Este movimento europeu sensibiliza e mobiliza o grande puacuteblico

para as questotildees e problemaacuteticas ambientais e mariacutetimas

Por uacuteltimo realccedilo tambeacutem o projecto europeu NEA 268

ldquoNautisme Espace

Atlantique 2rdquo que visa o desenvolvimento sustentaacutevel e coordenado do conjunto da

fileira naacuteutica nas regiotildees da faixa atlacircntica (actividades portos de recreio induacutestria

comeacutercio e serviccedilos) atraveacutes de um reforccedilo de cooperaccedilatildeo baseado em trecircs eixos

temaacuteticos o desenvolvimento econoacutemico a protecccedilatildeo do ambiente a coesatildeo social Em

cada uma destas temaacuteticas o projecto prevecirc a realizaccedilatildeo de acccedilotildees comuns

transnacionais associando diversos parceiros e de acccedilotildees locais implementadas por

cada parceiro no seu territoacuterio Impulsionado por 23 parceiros europeus durante um

periacuteodo de 3 anos (Janeiro 2009 a Dezembro de 2011) o NEA2 foi aprovado pelo

Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional Espaccedilo Atlacircntico (POCTEA) e beneficia como

tal de uma subvenccedilatildeo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) Este

projecto persegue o sucesso alcanccedilado pelo seu antecessor Nautisme Espace Atlantique

(Novembro de 2004 a Outubro de 2007) do Programa INTERREG III B que reuniu 11

parceiros com o objectivo comum ldquodesenvolvimento coordenado do turismo naacuteuticordquo

O sector naacuteutico e os seus intervenientes satildeo parceiros eficazes para a mobilizaccedilatildeo

da populaccedilatildeo e consequente aproximaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do mar

67

Surfrider Foundation Europe (wwwsurfridereu) ONG dedicada a proteger os oceanos as ondas e o

litoral 68

Nautisme Espace Atlantique 2 ( wwwnea2eu)

38

25 Participaccedilatildeo dos europeus no processo de construccedilatildeo da PMIE

O debate poliacutetico acerca da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo

Europeia constitui a melhor oportunidade nos uacuteltimos anos para que o significado

mundial e local dos oceanos e os resultados da investigaccedilatildeo e inovaccedilatildeo marinhas sejam

devidamente apreciados pela sociedade declarou Peter Heffernan director executivo

do Irish Marine Institute em Galway na Irlanda

A consulta sobre a poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Europeia iniciou-se apoacutes o

lanccedilamento do Livro Verde a 7 de Junho de 2006 e teve uma duraccedilatildeo de treze meses

Foi o maior periacuteodo de consulta alguma vez efectuada na Uniatildeo Europeia

O processo de consulta teve um eco sem precedentes evidenciado pela elevada taxa

de participaccedilatildeo e pela qualidade das contribuiccedilotildees Para aleacutem dos contributos de todas

as instituiccedilotildees europeias tambeacutem vaacuterios parlamentos nacionais e alguns regionais

apresentaram directamente agrave Comissatildeo Europeia as suas observaccedilotildees sobre o Livro

Verde69

As contribuiccedilotildees preconizaram consulta e diaacutelogo mas tambeacutem uma melhor

informaccedilatildeo de todos os afectados pela poliacutetica mariacutetima

Os intervenientes econoacutemicos congratularam-se com o princiacutepio de uma abordagem

integrada de modo a induzir maior transparecircncia e eficiecircncia na elaboraccedilatildeo de poliacuteticas

e regulamentaccedilatildeo apropriada no acircmbito da Uniatildeo Europeia Defenderam a necessidade

da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada com vista a promover a economia

mariacutetima florescente Torna-se premente desenvolver relaccedilotildees fortes entre os sectores e

respectivas actividades conexas e apelaram agrave formaccedilatildeo de clusters (incluindo agrave escala

comunitaacuteria)

As regiotildees defenderam entusiasticamente uma abordagem integrada Sublinharam o

papel das regiotildees costeiras enquanto centros da economia mariacutetima Estas esperam tirar

proveito por um lado da ligaccedilatildeo estabelecida entre a acccedilatildeo ao niacutevel comunitaacuterio e as

actividades no terreno nas regiotildees costeiras e por outro lado do reforccedilo do

envolvimento dos governos dos Estados-Membros

69

COM (2007) 574 final 2

39

Os Estados-Membros satildeo favoraacuteveis ao princiacutepio da gestatildeo integrada dos assuntos

mariacutetimos e encaram a proposta de uma poliacutetica mariacutetima integrada como meio

privilegiado para assegurar um desenvolvimento estaacutevel e sustentaacutevel das respectivas

economias mariacutetimas e regiotildees costeiras Desejam manter os mecanismos que

funcionam bem pois servem de catalisadores de boas praacuteticas

Os cidadatildeos individuais e a sociedade civil reagiram de forma ambivalente Haacute

mesmo quem tema que a Uniatildeo Europeia possa interferir nas competecircncias nacionais ou

locais mas em geral as reacccedilotildees mostraram que o puacuteblico estaacute preocupado com o

ecossistema marinho estando contudo ceacutepticos relativamente agraves medidas que os

governos possam vir a tomar para o proteger As organizaccedilotildees natildeo governamentais

(ONG) ambientais apelaram a uma acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio do ordenamento do

espaccedilo mariacutetimo e costeiro a fim de assegurar a execuccedilatildeo de uma gestatildeo baseada nos

ecossistemas

O lanccedilamento de uma consulta sobre a poliacutetica mariacutetima despertou igualmente o

interesse daqueles que desejam informar e dar a conhecer elementos sobre os nossos

mares e oceanos O conhecimento por parte dos cidadatildeos europeus das nossas costas e

do que estaacute para aleacutem delas eacute considerado como um sustentaacuteculo tanto das economias

mariacutetimas cujo ecircxito depende da sua atractividade como do nosso ambiente marinho

cuja preservaccedilatildeo depende da sensibilizaccedilatildeo dos cidadatildeos

Contudo todos estatildeo de acordo quanto agrave necessidade de melhorar a imagem global

dos sectores mariacutetimos Satildeo inuacutemeras as sugestotildees relacionadas com as permutas de

boas praacuteticas conferecircncias participaccedilatildeo de peritos em assuntos mariacutetimos como os

pescadores ou projectos de pequena escala destinados a informar as comunidades locais

ou turistas

Em suma o processo de consulta deu azo ao aparecimento de um manancial de

ideias e estimulou o desejo de participar num projecto comum a longo prazo baseado

na aprendizagem e no desenvolvimento interactivo permanente Este processo natildeo soacute

veio introduzir uma nova abordagem integrada da gestatildeo dos assuntos mariacutetimos como

abriu alas a uma nova forma de fazer poliacutetica na Europa70

No total foram recebidas mais de 490 contribuiccedilotildees e organizados mais de 230

eventos em que se debateu a poliacutetica mariacutetima com os vaacuterios interessados

70

COM (2007) 574 final 9-10

40

Cap III ndash O Livro Azul plano de acccedilatildeo e instrumentos financeiros

31 Condiccedilotildees poliacuteticas do processo de decisatildeo

Presidido pela Alemanha o Conselho Europeu de Junho de 2007 congratulou-se

com o vasto debate que teve lugar na Europa acerca da futura poliacutetica mariacutetima Os

Chefes de Estado e de Governo convidaram a Comissatildeo Europeia a elaborar um plano

de acccedilatildeo europeu a apresentar em Outubro desse mesmo ano Atendendo ao princiacutepio da

subsidiariedade este plano de acccedilatildeo teve por fim explorar de uma forma

ambientalmente sustentaacutevel o pleno potencial das actividades econoacutemicas orientadas

para o mar

A Comissatildeo em resposta ao Conselho Europeu adoptou no dia 10 de Outubro de

2007 uma Comunicaccedilatildeo conhecida como o Livro Azul da Poliacutetica Mariacutetima Europeia

em que define a sua visatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada para a UE juntamente

com um plano de acccedilatildeo pormenorizado que estabeleceu um ambicioso programa de

trabalho para os proacuteximos anos As descobertas cientiacuteficas a raacutepida evoluccedilatildeo

tecnoloacutegica a globalizaccedilatildeo as alteraccedilotildees climaacuteticas e a poluiccedilatildeo marinha estatildeo a alterar

rapidamente o relacionamento da Europa com os mares e oceanos com todas as

oportunidades e desafios impliacutecitos desse processo

De salientar que a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia no

segundo semestre de 2007 reconheceu de forma clara a necessidade de uma abordagem

integrada para os assuntos mariacutetimos A Presidecircncia Portuguesa levou a cabo diversos

eventos com destaque para uma Conferecircncia Ministerial sobre Poliacutetica Mariacutetima para a

Uniatildeo Europeia que teve lugar em Lisboa no dia 22 de Outubro permitindo a

divulgaccedilatildeo dos resultados da consulta puacuteblica do Livro Verde e a indicaccedilatildeo dos sectores

prioritaacuterios a seguir

Esta Conferecircncia foi altamente significativa pois juntou agrave volta da mesma mesa

pela primeira vez os decisores poliacuteticos responsaacuteveis nacionais pela coordenaccedilatildeo dos

assuntos do mar independentemente da foacutermula governativa adoptada em cada paiacutes

europeu A estes juntaram-se ainda os paiacuteses da Associaccedilatildeo Europeia de Livre

41

Comeacutercio (EFTA) do Espaccedilo Econoacutemico Europeu e as principais instituiccedilotildees europeias

envolvidas

Por sua vez o Parlamento Europeu no dia 20 de Maio de 2008 deu ldquoluz verderdquo agrave

proposta da Comissatildeo Europeia para a criaccedilatildeo de uma Poliacutetica Mariacutetima Europeia

aprovada com 587 votos a favor 20 contra e 58 abstenccedilotildees A aprovaccedilatildeo pelo PE de

uma poliacutetica mariacutetima europeia teve lugar no dia em que se celebrou pela primeira vez

o Dia Europeu do Mar data que coincidiu ainda com a chegada de Vasco da Gama agrave

Iacutendia em 1498

A Comissatildeo Europeia propocircs uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo

Europeia baseada no reconhecimento inequiacutevoco de que todas as questotildees relativas aos

oceanos e mares estatildeo interligadas e que para podermos colher os resultados desejados

todas as poliacuteticas ligadas ao mar devem ser elaboradas de uma forma articulada

O plano de acccedilatildeo baseou-se na consulta puacuteblica e resultou dos trabalhos de um alto

grupo de pilotagem com a participaccedilatildeo de 10 Comissaacuterios presidido por Joe Borg (Ex-

Comissaacuterio Europeu para os Assuntos Mariacutetimos e da Pesca) e supervisionado pelo

Presidente da Comissatildeo Europeia Duratildeo Barroso

Uma poliacutetica mariacutetima integrada exige um quadro de governaccedilatildeo que aplique a

abordagem integrada a todos os niacuteveis bem como instrumentos poliacuteticos horizontais e

transectoriais Exige igualmente uma soacutelida base financeira que tenha em conta os

resultados das acccedilotildees preparatoacuterias

A Comissatildeo Europeia criou uma funccedilatildeo de ldquopoliacutetica mariacutetimardquo cuja tarefa eacute

analisar os assuntos mariacutetimos e as poliacuteticas que os afectam assegurar a coordenaccedilatildeo

entre as poliacuteticas sectoriais garantir que as interacccedilotildees entre elas sejam tidas em conta e

pilotar o desenvolvimento de instrumentos poliacuteticos transectoriais

Por outro lado a Comissatildeo comeccedilou a reunir as agecircncias da Uniatildeo Europeia que

desempenham funccedilotildees ligadas agraves actividades mariacutetimas para que contribuam

conjuntamente para a elaboraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima

42

Um quadro de governaccedilatildeo integrado para os assuntos mariacutetimos exige por sua vez

instrumentos horizontais de planificaccedilatildeo que sejam comuns agraves poliacuteticas sectoriais

ligadas ao mar e apoiem a elaboraccedilatildeo conjunta de poliacuteticas Assim os trecircs instrumentos

que se seguem satildeo especialmente importantes

Uma rede europeia de vigilacircncia mariacutetima

A vigilacircncia mariacutetima reveste-se da maior importacircncia para garantir a utilizaccedilatildeo

segura do mar e para a protecccedilatildeo das fronteiras mariacutetimas da Europa O melhoramento e

optimizaccedilatildeo das actividades de vigilacircncia mariacutetima bem como a sua interoperabilidade

ao niacutevel europeu satildeo importantes para que a Europa possa fazer face aos desafios e

ameaccedilas ligados agrave seguranccedila da navegaccedilatildeo agrave poluiccedilatildeo marinha ao cumprimento da lei

e agrave seguranccedila em geral71

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada das zonas costeiras

(GIZC)

Os quadros de ordenamento existentes incidem essencialmente na vertente terrestre

e raramente abordam a forma como o desenvolvimento costeiro pode afectar o mar e

vice-versa Temos de fazer face aos problemas resultantes das crescentes utilizaccedilotildees

concorrentes do mar que vatildeo do transporte mariacutetimo agrave produccedilatildeo de energia offshore e

outras formas de exploraccedilatildeo do leito marinho passando pela pesca e aquicultura e pelas

actividades de lazer72

Dados e informaccedilotildees

A disponibilidade e a facilidade de acesso a um vasto leque de dados relativos aos

factores naturais e agrave actividade humana nos oceanos constituem a base para a tomada de

decisotildees estrateacutegicas no domiacutenio da poliacutetica mariacutetima Dada a vasta quantidade de

dados coligidos e armazenados em toda a Europa para fins muito diversos eacute de extrema

importacircncia estabelecer uma infra-estrutura adequada para recolher os dados e

informaccedilotildees sobre o ambiente marinho73

71

COM (2007) 575 final 5 72

COM (2007) 575 final 6 73

COM (2007) 575 final 6

43

32 Livro Azul e o plano de acccedilatildeo

As acccedilotildees propostas no Livro Azul ajudam a Uniatildeo Europeia a avanccedilar na

prossecuccedilatildeo dos objectivos fulcrais da poliacutetica mariacutetima integrada incidindo

principalmente em cinco domiacutenios de acccedilatildeo estrateacutegica a saber

1)Maximizaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares

O principal objectivo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia eacute criar

as melhores condiccedilotildees para a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares permitindo o

desenvolvimento dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

Em muitos Estados-Membros o desenvolvimento recente da economia mariacutetima foi

superior ao da economia no seu conjunto sobretudo em regiotildees activas no domiacutenio da

logiacutestica mariacutetima O transporte mariacutetimo de contentores aumentou consideravelmente a

partir de 2000 esperando-se que triplique ateacute 2020 Por outro lado regiotildees activas

noutros mercados de forte crescimento como o equipamento mariacutetimo a energia eoacutelica

offshore a naacuteutica de recreio ou o sector dos cruzeiros continuaratildeo a colher benefiacutecios

deste crescimento Graccedilas agrave forte especializaccedilatildeo da Europa no campo das tecnologias

marinhas as induacutestrias europeias tecircm tambeacutem um grande potencial para desenvolver

produtos mariacutetimos de ponta susceptiacuteveis de assumir uma posiccedilatildeo lideranccedila nos

mercados mundiais

Contudo haacute muito potencial subaproveitado ainda Para garantir o crescimento

sustentaacutevel de actividades ligadas ao mar e assegurar ao mesmo tempo que as

actividades mariacutetimas se desenvolvam de forma a natildeo comprometer a sauacutede do

ecossistema eacute indispensaacutevel ter uma visatildeo estrateacutegica actualizada que permita o

desenvolvimento competitivo e seguro do transporte mariacutetimo dos portos e dos sectores

conexos

O transporte mariacutetimo eacute vital para o comeacutercio internacional e interno da Europa e

continua a ser a espinha dorsal do cluster mariacutetimo Contudo este sector soacute continuaraacute a

prosperar se a Uniatildeo Europeia prosseguir os seus esforccedilos com vista a atingir um niacutevel

elevado de seguranccedila mariacutetima e protecccedilatildeo do transporte mariacutetimo contribuindo para

proteger as vidas humanas e o ambiente e simultaneamente favorecer condiccedilotildees de

concorrecircncia equitativas ao niacutevel internacional

44

Embora seja uma importante fonte de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica e de emissotildees de

dioacutexido de carbono (CO2) o transporte mariacutetimo continua a ser bastante mais eficiente

em termos energeacuteticos do que o transporte rodoviaacuterio Por este motivo e dada a

necessidade de reduzir o nuacutemero de camiotildees que circulam nas estradas congestionadas

da Europa uma poliacutetica mariacutetima integrada favorece fortemente a promoccedilatildeo de

transportes mariacutetimos seguros e fiaacuteveis

A cadeia logiacutestica mariacutetima europeia requer tambeacutem a existecircncia de estaleiros da

construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e empresas de equipamento mariacutetimo com tecnologia de

ponta incorporada

O aumento dos investimentos na investigaccedilatildeo e tecnologia marinha eacute fundamental

para assegurar o crescimento econoacutemico sem agravar a degradaccedilatildeo do ambiente Esses

investimentos criaratildeo tambeacutem novas oportunidades Graccedilas a tecnologias respeitadoras

do ambiente que permitam a prosperidade das actividades mariacutetimas sem comprometer

o ambiente marinho as empresas europeias poderatildeo manter a sua posiccedilatildeo de lideranccedila agrave

medida que as normas mundiais se tornem mais estritas e que as induacutestrias novas e

promissoras como a biotecnologia azul as energias renovaacuteveis offshore a tecnologia e

o equipamento subaquaacuteticos e a aquicultura marinha forem desenvolvidas

A tecnologia permite agrave Europa beneficiar de todas as potencialidades oferecidas

pelo mar enquanto fonte de petroacuteleo e gaacutes74

bem como de energias renovaacuteveis e

tambeacutem enquanto lugar de transporte de energia que permite diversificar as vias de

transporte de energia e aumentar deste modo a seguranccedila do abastecimento

A integraccedilatildeo e a competitividade das empresas no sector mariacutetimo satildeo fortemente

potenciadas pela formaccedilatildeo de clusters multissectoriais Os clusters locais e regionais

que reuacutenem diferentes sectores e partes interessadas para desenvolver sinergias entre as

suas actividades afiguram-se uma evoluccedilatildeo promissora da comunidade mariacutetima

europeia Os clusters contribuem para melhorar a qualidade e elevar os padrotildees dos

produtos e serviccedilos do sector mariacutetimo europeu bem como para aumentar a integraccedilatildeo

da economia mariacutetima Contribuem deste modo para o crescimento econoacutemico e para

criaccedilatildeo de emprego bem como para a sustentabilidade da economia mariacutetima na sua

globalidade O seu sucesso dependeraacute largamente da acccedilatildeo inovadora do sector

privado e de outras partes interessadas sobretudo no caso dos clusters regionais A par

74

Segundo a OGP 40 do petroacuteleo e 60 do gaacutes actualmente consumidos na Europa satildeo extraiacutedos em

offshore

45

da criaccedilatildeo de clusters multissectoriais devem ser criados centros regionais de excelecircncia

mariacutetima

Os clusters contribuem ainda para conservar o know-how mariacutetimo da Europa pelo

que satildeo fundamentais para a poliacutetica mariacutetima A cooperaccedilatildeo entre os sectores puacuteblico e

privado em centros de excelecircncia mariacutetima cria tambeacutem um contexto favoraacutevel para

compreender e programar adequadamente as interacccedilotildees entre diferentes induacutestrias e

sectores75

Para fazer face a este domiacutenio estrateacutegico a UE pocircs em marcha uma Directiva-

Quadro denominada Estrateacutegia Marinha76

que estabelece um quadro de acccedilatildeo

comunitaacuteria no domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

Foi com o objectivo de promover o uso sustentaacutevel dos mares e a conservaccedilatildeo dos

ecossistemas marinhos incluindo o leito do mar estuaacuterios e aacutereas costeiras dando

especial atenccedilatildeo aos siacutetios com elevado valor em biodiversidade que foi desenvolvida

no quadro da Uniatildeo Europeia a Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do

ambiente marinho77

Este documento cuja aprovaccedilatildeo foi precedida de ampla discussatildeo a niacutevel Europeu

foi o ponto de partida para a preparaccedilatildeo da proposta de Directiva do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no

domiacutenio da poliacutetica para o meio marinho

A Directiva estabelece um quadro no qual os Estados Membros devem tomar as

medidas necessaacuterias para obter ou manter um bom estado ambiental no meio marinho

ateacute 2020 Para isso devem ser desenvolvidas e aplicadas estrateacutegias marinhas com vista

a proteger e preservar o meio marinho impedir a sua deterioraccedilatildeo ou quando

exequiacutevel restaurar os ecossistemas marinhos nas aacutereas afectadas prevenir e reduzir as

ldquoentradasrdquo no meio marinho de modo a eliminar progressivamente a poluiccedilatildeo e

assegurar que natildeo haja impactos ou riscos significativos (biodiversidade ecossistemas

sauacutede humana e utilizaccedilotildees legiacutetimas do mar)

O processo negocial desta Directiva culminou com a respectiva aprovaccedilatildeo no final

de 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho da Uniatildeo Europeia e representa

75

COM (2007) 575 final 7-9 76

Directiva Quadro ldquoEstrateacutegia Marinhardquo ndash COM (2005) 505 final 77

Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do ambiente marinhordquo ndash COM (2005) 504 final

46

um instrumento de particular importacircncia no quadro da poliacutetica de protecccedilatildeo do meio

marinho constituindo assim o pilar ambiental da Estrateacutegia Mariacutetima Europeia

2) Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos e inovaccedilatildeo para a poliacutetica mariacutetima

A ciecircncia a tecnologia e a investigaccedilatildeo marinha satildeo cruciais para o

desenvolvimento sustentaacutevel das actividades mariacutetimas

Ao ajudarem a compreender mais profundamente os impactos das actividades

humanas nos sistemas marinhos a investigaccedilatildeo e a tecnologia marinhas fornecem a

chave para romper a ligaccedilatildeo entre o desenvolvimento das actividades mariacutetimas e a

degradaccedilatildeo do ambiente

O reforccedilo da abordagem multidisciplinar da ciecircncia marinha pode contribuir para

uma melhor compreensatildeo das interacccedilotildees entre as actividades mariacutetimas sendo

portanto uma componente indispensaacutevel de uma poliacutetica mariacutetima integrada Este

reforccedilo seraacute igualmente fundamental para prever e atenuar tanto quanto possiacutevel os

efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

A investigaccedilatildeo marinha e mariacutetima tem custos elevados pelo que natildeo se pode

permitir faltas de eficiecircncia Para poder utilizar os recursos europeus da melhor forma eacute

necessaacuterio definir uma estrateacutegia clara que articule as prioridades a niacutevel poliacutetico e a

niacutevel de investigaccedilatildeo responda a desafios transectoriais potencie as sinergias entre os

esforccedilos dos Estados-Membros e os da Comunidade evite as duplicaccedilotildees e melhore o

diaacutelogo entre os intervenientes A Europa deve tambeacutem explorar o modo como a

investigaccedilatildeo pode contribuir mais e melhor para a inovaccedilatildeo e como transformar mais

eficazmente o conhecimento e as competecircncias em produtos e serviccedilos industriais78

3) Maximizaccedilatildeo da qualidade de vida nas regiotildees costeiras

Na uacuteltima deacutecada o crescimento demograacutefico nas regiotildees costeiras e insulares foi

duas vezes superior ao crescimento demograacutefico meacutedio na Uniatildeo Europeia As

comunidades costeiras satildeo tambeacutem o destino da maioria dos turistas na Europa pelo

que a necessidade de reconciliar o desenvolvimento econoacutemico a sustentabilidade do

ambiente e a qualidade de vida nessas regiotildees se coloca aiacute com maior acuidade

As autoridades regionais e as comunidades costeiras tecircm um importante papel a

desempenhar na regulaccedilatildeo das actividades costeiras e mariacutetimas O Comiteacute das Regiotildees

78

COM (2007) 575 final 12

47

(CoR) as regiotildees costeiras e as suas redes satildeo por conseguinte parceiros essenciais no

quadro da elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Os portos e os sectores mariacutetimos conferem a estas regiotildees uma importacircncia

estrateacutegica para a Europa no seu conjunto Oferecem importantes serviccedilos ao seu

hinterland e funcionam como base para o policiamento das fronteiras mariacutetimas e das

aacuteguas costeiras Daqui resulta uma forte pressatildeo sobre as infra-estruturas facto que deve

ser tomado em consideraccedilatildeo na atribuiccedilatildeo de recursos comunitaacuterios As regiotildees

costeiras satildeo tambeacutem particularmente afectadas pelas alteraccedilotildees climaacuteticas e a gestatildeo

dos riscos pode assumir proporccedilotildees dramaacuteticas nos orccedilamentos e economias destas

regiotildees

O mar eacute determinante para o turismo costeiro e mariacutetimo e eacute um importante

catalisador do desenvolvimento econoacutemico das zonas costeiras europeias

Embora reconheccedilam que haacute fontes de financiamento os interessados consideram

que tecircm um insuficiente acesso agrave informaccedilatildeo A Comissatildeo Europeia deve esforccedilar-se

por optimizar os projectos mariacutetimos nas regiotildees costeiras e insulares no acircmbito dos

vaacuterios instrumentos financeiros comunitaacuterios disponiacuteveis (ver ponto 33 Instrumentos

econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE)

A necessidade de obter melhores dados soacutecio-econoacutemicos sobre os sectores

mariacutetimos e as regiotildees costeiras eacute tambeacutem evidente tendo em conta que a dificuldade

em obter tais informaccedilotildees estaacute a limitar a capacidade dos interessados a niacutevel regional

no respeitante ao desenvolvimento de planos e investimentos racionais a longo prazo

Por outro lado a colaboraccedilatildeo inter-regional eacute essencial para permitir o

desenvolvimento das regiotildees costeiras europeias o qual deve ter em conta a diversidade

e especificidade destes locais Por conseguinte a Comissatildeo Europeia deve utilizar

plenamente o Programa de Cooperaccedilatildeo Territorial para apoiar o desenvolvimento

mariacutetimo inter-regional

As regiotildees ultraperifeacutericas e as ilhas estatildeo sujeitas a desvantagens econoacutemicas

consideraacuteveis mas dispotildeem de um elevado potencial no que se refere agraves actividades

mariacutetimas e agrave investigaccedilatildeo marinha As suas extensas zonas mariacutetimas oferecem

serviccedilos ligados aos ecossistemas de grande interesse para a Uniatildeo Europeia A

48

Comissatildeo Europeia deve promover o desenvolvimento do seu potencial mariacutetimo e a

sua cooperaccedilatildeo com os vizinhos regionais respectivos79

A actual situaccedilatildeo das pescas na Europa natildeo pode ser considerada satisfatoacuteria Os

esforccedilos para conseguir reduzir a capacidade existente e a conservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo

dos recursos haliecircuticos existentes devem ser acompanhados por uma melhoria do

bem-estar social dos trabalhadores activos no sector

A integraccedilatildeo dos pescadores na economia mariacutetima mais ampla pode ser beneacutefica

tanto para as suas perspectivas de emprego como para o desenvolvimento global das

condiccedilotildees em que trabalham e em que o seu sector opera Aleacutem disso o bem-estar das

comunidades pesqueiras tradicionais eacute uma componente importante para a qualidade de

vida nas regiotildees costeiras

Saliento o papel que o sector naacuteutico pode desempenhar ao niacutevel do

desenvolvimento local pois para aleacutem de proporcionar actividades para populaccedilotildees

residentes eou turistas eacute uma importante via para gerar emprego e riqueza A Naacuteutica

pode e deve estabelecer o elo entre o mar e a populaccedilatildeo desfavorecida contribuindo

para a inserccedilatildeo e coesatildeo social da comunidade As actividades naacuteuticas trazem em si

valecircncias de solidariedade ou de inclusatildeo social como por exemplo ajudar na

conversatildeo das comunidades piscatoacuterias em dificuldade (escassez de emprego) em

agentes naacuteuticos reconhecidos pela sociedade

4) Promoccedilatildeo da lideranccedila europeia nos assuntos mariacutetimos internacionais

A Uniatildeo Europeia deve continuar a envidar esforccedilos com vista a assegurar uma

governaccedilatildeo internacional dos assuntos mariacutetimos mais eficiente e a fazer cumprir o

direito mariacutetimo internacional instando os Estados-Membros a ratificar os instrumentos

pertinentes Neste contexto deve promover a coordenaccedilatildeo dos interesses europeus nas

principais instacircncias internacionais

O acesso das induacutestrias e serviccedilos mariacutetimos europeus aos mercados internacionais

a exploraccedilatildeo comercial e cientiacutefica sustentaacutevel das aacuteguas profundas a protecccedilatildeo da

biodiversidade marinha mundial a melhoria da seguranccedila mariacutetima e da protecccedilatildeo do

transporte mariacutetimo as condiccedilotildees de trabalho a reduccedilatildeo da poluiccedilatildeo causada pelos

navios e a luta contra as actividades ilegais nas aacuteguas internacionais devem constituir as

prioridades da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia a niacutevel das suas relaccedilotildees

79

COM (2007) 575 final 13-14

49

externas Deve igualmente prestar atenccedilatildeo agraves implicaccedilotildees geopoliacuteticas das alteraccedilotildees

climaacuteticas (por exemplo as questotildees relacionadas com o Aacutertico)

Por outro lado os assuntos mariacutetimos satildeo regularmente tema de debates com os

parceiros da Uniatildeo Europeia que jaacute adoptaram medidas a favor de uma abordagem

mariacutetima integrada nomeadamente a Austraacutelia o Canadaacute o Japatildeo a Noruega e os

Estados-Unidos mas tambeacutem com outros parceiros como o Brasil Ruacutessia Iacutendia e

China (agora denominados BRIC)

A Uniatildeo Europeia deve fomentar ainda uma responsabilidade partilhada

relativamente aos mares que compartilha com os seus vizinhos Concretamente a Uniatildeo

Europeia propotildee apresentar propostas no sentido de aumentar a cooperaccedilatildeo no que

concerne agrave gestatildeo do Mediterracircneo e do mar Negro E ainda promover a cooperaccedilatildeo ao

niacutevel das relaccedilotildees externas dos paiacuteses da Europa Setentrional com os paiacuteses em

desenvolvimento incluindo os pequenos Estados insulares atraveacutes de programas de

cooperaccedilatildeo reforccedila as capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento no que se refere agrave

poliacutetica mariacutetima e ao Direito do mar80

5) Promoccedilatildeo da visibilidade da Europa mariacutetima

Os cidadatildeos europeus cresceram com as histoacuterias dos grandes exploradores que

nos fizeram compreender que a Terra eacute redonda e nos ensinaram a situar exactamente

os continentes Muitos deles gozam as suas feacuterias na costa no meio da azaacutefama dos

barcos de pesca saboreando marisco nos restaurantes e passeando agrave beira-mar a fugir

agrave rebentaccedilatildeo () Outros passam os tempos livres a restaurar ou a navegar em velhos

barcos de madeira () Quantos todavia compreenderatildeo que estas actividades estatildeo

interligadas Quantos teratildeo consciecircncia de serem cidadatildeos de uma Europa

mariacutetima81

Na sequecircncia do Livro Verde sobre uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo e em

resposta ao forte apoio manifestado por muitas partes interessadas durante o processo de

consulta relativo agrave nova poliacutetica de promoccedilatildeo da cultura e do patrimoacutenio mariacutetimos da

Europa a Comissatildeo tem focado a sua atenccedilatildeo no aumento da visibilidade da Europa

80

COM (2007) 575 final 14-15 81

Extractos do Livro Verde ldquoPara uma futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo Uma visatildeo europeia para os

oceanos e os maresrdquo Capiacutetulo VI Reivindicar a heranccedila mariacutetima da Europa - Reiterar a identidade

mariacutetima da Europa p 51

50

mariacutetima como um dos objectivos fulcrais de uma poliacutetica mariacutetima holiacutestica e

integrada

Os stakeholders exprimiram claramente a opiniatildeo de que o processo de elaboraccedilatildeo

de uma poliacutetica mariacutetima comunitaacuteria permitiu a aquisiccedilatildeo de uma nova consciecircncia

puacuteblica sobre a importacircncia da economia e patrimoacutenio mariacutetimo e estaacute a criar entre eles

o sentimento de partilharem um objectivo e identidade comuns

Para tal a poliacutetica mariacutetima integrada deve procurar aumentar a visibilidade da

Europa mariacutetima e melhorar a imagem das suas actividades e das profissotildees ligadas ao

mar

A PMIE deve ainda promover o patrimoacutenio mariacutetimo europeu apoiando as

comunidades mariacutetimas as cidades portuaacuterias as comunidades piscatoacuterias tradicionais

os produtos artesanais as teacutecnicas tradicionais e fomentar a criaccedilatildeo de ligaccedilotildees entre

elas para incrementar o seu conhecimento e dar maior visibilidade

A Comissatildeo Europeia prossegue este objectivo recorrendo a iniciativas das quais

destaco o Dia Europeu do Mar82

(celebrado em Bruxelas Roma e Gijoacuten 2008 2009 e

2010 respectivamente) e as novas ldquoferramentasrdquo de comunicaccedilatildeo com realce para o

Atlas Europeu dos Mares o Foacuterum Mariacutetimo e o website oficial para os assuntos do mar

da Europa

O Atlas Europeu dos Mares83

jaacute eacute uma realidade Destina-se a todos os interessados

do mundo marinho e do patrimoacutenio mariacutetimo e o objectivo eacute sensibilizar a opiniatildeo

puacuteblica para a importacircncia dos oceanos e dos mares da Europa Este Atlas pedagoacutegico

fornece uma seacuterie de dados fiaacuteveis e regularmente actualizados sobre temas tatildeo variados

como o relevo do fundo do mar a erosatildeo costeira a frota de pesca europeia o

transporte mariacutetimo a amplitude de mareacutes as quotas de pesca por espeacutecie e por regiatildeo e

as ldquoauto-estradas do marrdquo

Tanto o Foacuterum Mariacutetimo84

como o website85

contribuem para ajudar a melhor

compreender a visatildeo transversal da actividade mariacutetima presente em diversos sectores

de actividade Estas ferramentas satildeo meios eficazes para disseminar informaccedilatildeo sobre a

comunidade mariacutetima dar a conhecer boas praacuteticas mariacutetimas e podem ainda servir de

82

Informaccedilatildeo sobre Dia Europeu do Mar disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday 83

Atlas Europeu do Mares disponiacutevel em httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas 84

Foacuterum Mariacutetimo disponiacutevel em httpswebgateeceuropaeumaritimeforum 85

Website oficial do Assuntos Mariacutetimos europeus httpeceuropaeumaritimeaffairs

51

alavanca para futuras sinergias potenciando a economia mariacutetima o ambiente marinho

e as comunidades costeiras

33 Instrumentos econoacutemico-financeiros de apoio agrave PMIE

As poliacuteticas independentemente da sua natureza carecem sempre de instrumentos

financeiros para agilizar a prossecuccedilatildeo das mesmas A PMIE natildeo foge a esta regra

Conveacutem neste ponto destinado aos instrumentos financeiros distingui-los quanto agrave

forma como contribuem para consolidaccedilatildeo da PMIE Assim sendo comeccedilo pelos

instrumentos ao dispocircr da poliacutetica de coesatildeo e da poliacutetica regional que apesar de

exercerem um papel importante na eliminaccedilatildeo das assimetrias regionais natildeo saciam

todas as necessidades impliacutecitas na PMIE De seguida abordo outros instrumentos

financeiros (Fundo Europeu das Pescas Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de

Parceria e o 7ordm Programa-Quadro) que vatildeo ao encontro de algumas medidas enunciadas

no plano de acccedilatildeo do Livro Azul e para terminar faccedilo referecircncia ao receacutem-criado

programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

331 A poliacutetica de coesatildeo e a poliacutetica regional europeia

A expressatildeo ldquopoliacutetica de coesatildeordquo designa um quadro poliacutetico de solidariedade a

niacutevel europeu traduzindo-se em centenas de milhares de projectos em toda a Europa

que beneficiam do apoio do Fundo de Coesatildeo e dos Fundos Estruturais ndash o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

Para acelerar a convergecircncia econoacutemica social e territorial a Uniatildeo Europeia

instituiu um Fundo de Coesatildeo em 1994 Este fundo destina-se aos paiacuteses cujo PIB

meacutedio por habitante eacute inferior a 90 da meacutedia comunitaacuteria O Fundo de Coesatildeo tem por

finalidade conceder financiamentos a favor de projectos de infra-estruturas nos

domiacutenios do ambiente e dos transportes Contudo a aplicaccedilatildeo do Fundo de Coesatildeo estaacute

sujeita a determinadas condiccedilotildees Caso o deacutefice puacuteblico de um Estado Membro

52

beneficiaacuterio exceder 3 do PIB nacional (regras de convergecircncia da Uniatildeo Econoacutemica

Monetaacuteria) nenhum novo projecto seraacute aprovado enquanto o deacutefice natildeo estiver outra

vez sob controlo

A coesatildeo econoacutemica e social descrita no Acto Uacutenico Europeu de 1986 propotildee-se

ldquoreduzir a diferenccedila entre as diversas regiotildees e o atraso das regiotildees menos favorecidasrdquo

O Tratado de Lisboa acrescenta-lhe uma terceira vertente quando fala de poliacutetica de

coesatildeo econoacutemica social e territorial Isto significa que a poliacutetica de coesatildeo tambeacutem

deve visar um desenvolvimento territorial mais equilibrado e sustentaacutevel

As orientaccedilotildees estrateacutegicas da poliacutetica de coesatildeo para o periacuteodo 2007-2013

centram-se em torno de trecircs prioridades 1ordf ndash reforccedilo da capacidade de atracccedilatildeo dos

Estados-Membros das regiotildees e das cidades 2ordf ndash promoccedilatildeo da inovaccedilatildeo do espiacuterito

empresarial e do crescimento da economia do conhecimento 3ordf Criaccedilatildeo de mais e

melhores empregos

Hoje em dia a Europa enfrenta uma tarefa esmagadora Natildeo soacute tem de vencer a

crise profunda que atravessa e reduzir o desemprego e a pobreza como deve transitar

para uma economia com baixas emissotildees de carbono Tatildeo ambiciosa tarefa requer

grande rapidez de acccedilatildeo em muitas e variadas frentes razatildeo pela qual o Conselho

Europeu adoptou a Estrateacutegia ldquoEuropa 2020rdquo Para que a Europa venccedila todos os

intervenientes tecircm de dar o seu contributo agrave escala europeia nacional regional e local

A poliacutetica de coesatildeo tem de continuar a desempenhar um papel fundamental nos tempos

difiacuteceis que atravessamos para estimular o crescimento inteligente (valorizando o

conhecimento a inovaccedilatildeo a educaccedilatildeo e a sociedade digital) sustentaacutevel (promovendo

um economia hipocarboacutenica em termos de recursos e competitividade) e inclusivo

(aumento da taxa de participaccedilatildeo no mercado de trabalho aquisiccedilatildeo de qualificaccedilotildees e

luta contra a pobreza) com vista ao desenvolvimento harmonioso da UE e assim

reduzir as disparidades regionais Indubitavelmente sem a poliacutetica de coesatildeo as

disparidades seriam maiores

Contudo a coesatildeo econoacutemica social e territorial eacute essencialmente concretizada

atraveacutes da poliacutetica regional A poliacutetica regional da UE favorece a reduccedilatildeo das diferenccedilas

estruturais existentes entre as regiotildees o desenvolvimento equilibrado do territoacuterio

comunitaacuterio e a promoccedilatildeo de uma igualdade de oportunidades efectiva entre as pessoas

A poliacutetica regional constitui a segunda maior rubrica orccedilamental da UE com uma

dotaccedilatildeo de 348 mil milhotildees de euros para o periacuteodo de 2007-2013 O alargamento para

53

27 Estados Membros em Janeiro de 2007 alterou a situaccedilatildeo da UE pois enquanto a

superfiacutecie da UE aumentou mais de 25 e a populaccedilatildeo mais de 20 a sua riqueza soacute

aumentou cerca de 5 O PIB meacutedio por habitante da UE diminuiu mais de 10 e as

disparidades regionais foram multiplicadas por dois Eacute sabido que aproximadamente

60 das regiotildees menos desenvolvidas se situam doravante nos 12 Estados-Membros

que aderiram desde 2004 Logo facilmente se depreende a deslocaccedilatildeo do centro de

gravidade da poliacutetica regional para Leste

Para o periacuteodo de 2007-2013 a dotaccedilatildeo financeira atribuiacuteda agrave poliacutetica regional

aproxima-se dos 348 mil milhotildees de euros 278 mil milhotildees para os Fundos Estruturais

e 70 mil milhotildees para o Fundo de Coesatildeo Esta dotaccedilatildeo representa 45 do orccedilamento

comunitaacuterio ou seja constitui a segunda rubrica orccedilamental logo atraacutes da Poliacutetica

Agriacutecola Comum (PAC)

Cabe agraves regiotildees e agraves respectivas entidades regionais atraveacutes das poliacuteticas de coesatildeo

e desenvolvimento regional afectarem uma parte dos fundos europeus para financiarem

projectos de interesse mariacutetimo e que vatildeo ao encontro do estipulado na PMIE

332 Fundos Estruturais

Como foi referido anteriormente existem dois tipos de fundos estruturais o Fundo

Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e o Fundo Social Europeu (FSE)

O FEDER86

apoia desde 1975 a realizaccedilatildeo de infra-estruturas e investimentos

produtivos geradores de emprego nomeadamente os destinados agraves empresas

O FSE87

instituiacutedo em 1958 apoia a inserccedilatildeo profissional dos desempregados e das

categorias desfavorecidas da populaccedilatildeo financiando nomeadamente acccedilotildees de

formaccedilatildeo

86

Regulamento (CE) nordm 16982005 do Conselho de 20 de Setembro de 2005 relativo ao apoio ao

desenvolvimento rural pelo Fundo Europeu Agriacutecola de Desenvolvimento Rural 87

Regulamento (CE) nordm 17841999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 12 de Julho de 1999

relativo ao Fundo Social Europeu

54

Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)

O FEDER destina-se a reforccedilar a coesatildeo econoacutemica e social na Uniatildeo Europeia

atraveacutes da correcccedilatildeo dos desequiliacutebrios regionais Resumidamente o FEDER financia

Ajudas directas aos investimentos realizados nas empresas

designadamente as pequenas e meacutedias empresas (PME`s) a fim de criar

emprego duradouro

Infra-estruturas ligadas nomeadamente agrave investigaccedilatildeo e agrave inovaccedilatildeo agraves

telecomunicaccedilotildees ao ambiente agrave energia e aos transportes

Instrumentos financeiros (fundos de capital de risco fundos de

desenvolvimento local etc) a fim de apoiar o desenvolvimento regional e local

e favorecer a cooperaccedilatildeo entre as cidades e regiotildees

Medidas de assistecircncia teacutecnica

O FEDER interveacutem na poliacutetica regional em trecircs objectivos a convergecircncia a

competitividade regional e emprego e a cooperaccedilatildeo territorial europeia

Fundo Social Europeu (FSE)

O FSE tem por objectivo melhorar o emprego e as possibilidades de emprego na

Uniatildeo Europeia e interveacutem no acircmbito dos objectivos da convergecircncia e competitividade

regional e emprego

O FSE apoia as acccedilotildees dos Estados-membros nos domiacutenios seguintes

Adaptaccedilatildeo dos trabalhadores e das empresas sistemas de aprendizagem

ao longo da vida concepccedilatildeo e difusatildeo de formas de organizaccedilatildeo do trabalho

inovadoras

Acesso ao emprego por parte das pessoas que procuram trabalho das

pessoas inactivas das mulheres e dos migrantes

Integraccedilatildeo social das pessoas desfavorecidas e luta contra a

discriminaccedilatildeo no mercado do trabalho

Reforccedilo do capital humano atraveacutes da reforma dos sistemas educativos e

colocaccedilatildeo em rede dos estabelecimentos de ensino

55

333 Outras fontes de financiamento

A PMIE aleacutem dos fundos estruturais e do fundo de coesatildeo tem ao seu dispocircr

outros instrumentos financeiros como seja o Fundo Europeu para as Pescas88

que

serve para estimular actividades econoacutemicas alternativas agrave pesca como o turismo

verde previsto para o desenvolvimento sustentaacutevel das zonas de pesca costeiras o

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria89

contribuiraacute atraveacutes da cooperaccedilatildeo

transfronteiriccedila para dar resposta a problemas comuns dos paiacuteses do litoral inseridos em

bacias mariacutetimas

O Banco Europeu de Investimento (BEI) pode igualmente constituir um

importante instrumento para financiamento de avultados investimentos infra-estruturais

destinados a facilitar o ordenamento espacial e a execuccedilatildeo de estrateacutegias de

desenvolvimento de poacutelos de competitividade em regiotildees costeiras ou melhorar as

ligaccedilotildees agrave rede de produccedilatildeo de energias renovaacuteveis

Por fim realccedilo a primeira call lanccedilada a 30 de Julho de 2009 pela Comissatildeo

Europeia denominada The Ocean of Tomorrow integrada no seacutetimo Programa-Quadro

Ela eacute dotada de um orccedilamento de 34 milhotildees de euros para projectos de investigaccedilatildeo

multidisciplinar com o objectivo de conciliar o desenvolvimento de actividades

mariacutetimas com a preservaccedilatildeo dos mares e oceanos Uma segunda call ainda referente

ao seacutetimo Programa-Quadro de 45 milhotildees foi entretanto lanccedilada a 30 de Julho de

2010 Espera-se que as propostas abordem a complexidade dos oceanos e mares

integrando vaacuterias disciplinas (ambiente transportes energia pescas economia e

ciecircncias sociais) promovendo tambeacutem novos modelos de gestatildeo integrada do oceano O

prazo limite para entrega de candidaturas da segunda chamada termina no dia 18 de

Janeiro de 2011

Estas duas chamadas conjuntas respondem agrave necessidade de alocar meios

financeiros de suporte agraves prioridades expostas na Estrateacutegia Europeia para a

Investigaccedilatildeo Marinha e Mariacutetima e assim dar resposta ao pilar ambiental da PMIE

88

Decisatildeo 2005367CE do Conselho de 14 de Abril de 2005 que autoriza os Estados-Membros a

ratificar no interesse da Comunidade Europeia a Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho

relativa aos documentos de identificaccedilatildeo dos mariacutetimos (Convenccedilatildeo nordm 185) - JO L 136 de 3052005 89

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm

56

334 Programa de apoio ao aprofundamento da PMIE

Apesar dos instrumentos financeiros disponibilizados a implementaccedilatildeo da PMIE

pode estar em risco devido agrave falta de meios para financiar as acccedilotildees necessaacuterias durante

o periacuteodo remanescente (2010-2013)

Para tal efeito entendeu a Comissatildeo Europeia ser necessaacuterio estabelecer um

programa de apoio a medidas destinadas a promover o aprofundamento e a

implementaccedilatildeo da PMIE uma vez que os outros instrumentos disponibilizados pela UE

e apresentados anteriormente (o Fundo de Coesatildeo o FEDER o FSE o Fundo Europeu

das Pescas o seacutetimo Programa-Quadro de actividades em mateacuteria de investigaccedilatildeo

desenvolvimento tecnoloacutegico e demonstraccedilatildeo e o Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e

Parceria) natildeo cobrirem significativamente as prioridades e objectivos da poliacutetica

mariacutetima integrada

No entanto este programa serviraacute de complemento aos instrumentos financeiros

actuais e futuramente disponibilizados ao niacutevel nacional e sub-nacional pelos Estados-

Membros para promover a protecccedilatildeo e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos oceanos e mares e

das zonas costeiras

Para que a Uniatildeo Europeia implemente e aprofunde a PMIE e prossiga os

objectivos basilares estabelecidos no Livro Azul eacute necessaacuterio um apoio financeiro

modesto mas constante Daiacute que juntamente com os Estados-Membros e as partes

interessadas este financiamento permite prosseguir os trabalhos exploratoacuterios jaacute

iniciados atraveacutes de acccedilotildees preparatoacuterias e projectos-piloto e desenvolver e concretizar

ainda melhor as opccedilotildees de execuccedilatildeo da PMIE

A dotaccedilatildeo financeira para a execuccedilatildeo do programa de apoio ao aprofundamento da

PMIE foi fixada em 50 milhotildees de euros e seraacute aplicaacutevel entre 1 de Janeiro de 2011 e 31

de Dezembro de 2013

O programa de apoio tem os seguintes dez objectivos gerais90

Favorecer o desenvolvimento e a implementaccedilatildeo de uma governaccedilatildeo

integrada dos assuntos mariacutetimos e costeiros e estrateacutegias integradas para as

bacias mariacutetimas

90

COM (2010) 494 final 11

57

Contribuir para o desenvolvimento de instrumentos transversais para as

poliacuteticas sectoriais ligadas ao mar ou agraves zonas costeiras

Apoiar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas e promover a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos

recursos marinhos e costeiros o crescimento econoacutemico sustentaacutevel a inovaccedilatildeo

e o emprego nos sectores mariacutetimos e nas regiotildees costeiras em consonacircncia com

as prioridades e acccedilotildees das poliacuteticas sectoriais

Melhor definir os limites da sustentabilidade das actividades humanas

com impacto no meio marinho no acircmbito da Directiva-Quadro Estrateacutegia

Marinha

Melhorar e reforccedilar a cooperaccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo externas no que

respeita aos objectivos da poliacutetica mariacutetima integrada

Estes objectivos do programa de apoio ao aprofundamento da PMIE podem-se

traduzir nas seguintes acccedilotildees elegiacuteveis91

Estudos e programas de cooperaccedilatildeo

Informaccedilatildeo do puacuteblico e partilha de boas praacuteticas sensibilizaccedilatildeo do

puacuteblico e actividades associadas de comunicaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo incluindo

campanhas de publicidade eventos e ainda o desenvolvimento e a manutenccedilatildeo

de siacutetios Web

Conferecircncias seminaacuterios grupos de trabalho e foacuteruns de partes

interessadas

Mutualizaccedilatildeo monitorizaccedilatildeo e visualizaccedilatildeo de uma grande quantidade de

informaccedilotildees boas praacuteticas e bases de dados sobre os projectos regionais

financiados pela UE e garantia do correspondente acesso do puacuteblico

nomeadamente sempre que adequado por intermeacutedio de um secretariado

instituiacutedo para um ou vaacuterios destes efeitos

Acccedilotildees referentes a instrumentos transversais incluindo projectos-piloto

91

COM (2010) 494 final 12-13

58

Cap IV ndash Orientaccedilotildees estrateacutegias para o futuro da PMIE

41 Breve balanccedilo

A poliacutetica mariacutetima integrada europeia estabeleceu-se como uma nova abordagem

destinada a reforccedilar o desenvolvimento oacuteptimo e sustentaacutevel de todas as actividades

relacionadas com o mar Confirmou a visatildeo de que a Europa pode colher benefiacutecios

muito maiores com um impacto ambiental muito menor se articular as poliacuteticas relativas

aos oceanos e mares As instituiccedilotildees da Uniatildeo Europeia os Estados-Membros e as

regiotildees criaram estruturas de governaccedilatildeo para garantir que as poliacuteticas mariacutetimas

deixassem de ser desenvolvidas de uma forma isolada e tomassem em consideraccedilatildeo as

relaccedilotildees e sinergias com outras aacutereas poliacuteticas Os stakeholders confirmaram o interesse

consideraacutevel que a ampla consulta realizada em 2006-2007 despertou e a PMIE tornou-

se uma das poliacuteticas da Uniatildeo Europeia que mais recorre a uma abordagem ldquoda base

para o topordquo No domiacutenio das poliacuteticas sectoriais com impacto no mar e no litoral

nomeadamente as poliacuteticas da pesca dos transportes do ambiente da energia da

induacutestria ou da investigaccedilatildeo deram-se passos consideraacuteveis no sentido de uma maior

integraccedilatildeo e coerecircncia Foram tambeacutem adoptadas as primeiras medidas para aplicar a

PMIE numa base regional Em resumo a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

estaacute a modificar a forma como os europeus olham para os seus mares e oceanos

reafirmando ao mesmo tempo a importacircncia estrateacutegica dos mares e das regiotildees

costeiras do continente92

O quadro oferecido pela PMIE procura essencialmente concretizar (e jaacute comeccedilou a

fazecirc-lo) quatro objectivos93

Promover a integraccedilatildeo das estruturas de governaccedilatildeo tornando-as mais

abertas agrave participaccedilatildeo e agrave cooperaccedilatildeo

Criar uma base de conhecimentos e os instrumentos transectoriais

necessaacuterios para permitir a execuccedilatildeo das poliacuteticas integradas

92

COM (2009) 540 final 2 93

COM 2009) 540 final 3

59

Melhorar a qualidade das poliacuteticas sectoriais atraveacutes da procura activa de

sinergias e de uma maior coerecircncia transectorial

No quadro da realizaccedilatildeo dos objectivos acima referidos tomar em

consideraccedilatildeo as especificidades dos mares regionais que banham a Europa e

encontrar soluccedilotildees adaptadas a cada caso

A aplicaccedilatildeo do plano de acccedilatildeo conheceu jaacute um franco progresso das 65 acccedilotildees

incluiacutedas no plano foram iniciadas ou concluiacutedas 56 (trata-se na maior parte de actos

da Comissatildeo Europeia ou Conselho Europeu) Foram empreendidas vaacuterias iniciativas

em relaccedilatildeo a nove das acccedilotildees desse plano embora os documentos oficiais natildeo tenham

sido ainda adoptados

42 Governaccedilatildeo mariacutetima e participaccedilatildeo das partes interessadas

O Livro Azul defende que eacute necessaacuterio repensar a gestatildeo dos mares e oceanos a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo isto eacute nas instituiccedilotildees da UE nos Estados-Membros e

nas regiotildees Os actores poliacuteticos responderam em geral de uma forma muito positiva

passados dois anos tomaram-se medidas em toda a Uniatildeo para superar a

compartimentaccedilatildeo das vaacuterias poliacuteticas relacionadas com o mar aumentar a participaccedilatildeo

das partes interessadas e identificar sinergias poliacuteticas Importa agora realccedilar os

progressos alcanccedilados pelas instituiccedilotildees europeias Estados membros regiotildees e tambeacutem

pelos stakeholders

Instituiccedilotildees da UE94

A Comissatildeo Europeia adoptou diversas medidas no sentido de integrar o processo

de definiccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima Em 2005 foi criado um Grupo Director de

Comissaacuterios que examinou as iniciativas poliacuteticas mais importantes incluiacutedas no plano

de acccedilatildeo do Livro Azul Foram tambeacutem criadas estruturas para promover reuniotildees

94

COM (2009) 540 final 3-4

60

regulares entre as Direcccedilotildees-Gerais interessadas a fim de identificar sinergias e

eliminar eventuais incoerecircncias entre as poliacuteticas

A Comissatildeo Europeia reorganizou igualmente os seus serviccedilos e alargou o mandato

da Direcccedilatildeo-Geral dos Assuntos Mariacutetimos e das Pescas a fim de assegurar a

coordenaccedilatildeo poliacutetica global e desenvolver se necessaacuterio instrumentos transectoriais

tendo em conta as especificidades regionais

O Conselho Europeu mostra um grande empenhamento na PMIE Natildeo soacute reconhece

a natureza transectorial da PMIE ao abordaacute-la na sua formaccedilatildeo Assuntos Gerais e

Relaccedilotildees Externas como reafirma nas suas conclusotildees de 8 de Dezembro de 200895

ldquoque uma abordagem integrada das questotildees mariacutetimas constitui um objectivo da maior

importacircncia tendo em conta a necessidade de reforccedilar as sinergias a coerecircncia e o

valor acrescentado das acccedilotildees sectoriais empreendidas pela Uniatildeo Europeia

integrando-as numa visatildeo global dos mares dos oceanos e dos seus litorais tendo em

conta as especificidades regionais (hellip)rdquo

Em termos institucionais a participaccedilatildeo activa do Conselho e dos Estados-

Membros eacute assegurada pelos trabalhos do Conselho de Assuntos Gerais e pelos grupos

de contacto dos Estados-Membros para a PMIE Estes grupos satildeo a garantia de que se

utiliza plenamente os conhecimentos especializados existentes nas administraccedilotildees

nacionais se presta a devida atenccedilatildeo agraves necessidades especiacuteficas dos Estados-Membros

e das regiotildees costeiras e se obteacutem um consenso poliacutetico com o maacuteximo de transparecircncia

e impacto

A atenccedilatildeo e o apoio do Parlamento Europeu agrave poliacutetica mariacutetima tecircm sido muito

positivos96

Contudo os assuntos mariacutetimos continuam a ser tratados por diferentes

comissotildees e estruturas

O Comiteacute das Regiotildees tem dado vaacuterios contributos beneacuteficos para a PMIE A

Comissatildeo Europeia tomou nota em especial do parecer sobre o Livro Azul que conteacutem

elementos importantes para trabalhos futuros O recente parecer do Comiteacute ldquoPacote

mariacutetimo e costeirordquo97

constitui um exemplo valioso da combinaccedilatildeo de interesses

divergentes de uma forma coerente complementar e sineacutergica

95

16503108 REV 1 96

Especialmente atraveacutes do relatoacuterio A6-01632008 (Comissatildeo dos Transportes e do Turismo) de Willi

Piecyk deputado do Parlamento Europeu entretanto falecido 97

CdR 4162008 final adoptado em 17 de Junho de 2009

61

O Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu emitiu em 14 de Abril de 2008 um

parecer98

particularmente favoraacutevel agrave PMIE

Estados-Membros99

Agrave data da publicaccedilatildeo do Livro Verde poucas iniciativas existiam nos Estados-

Membros em favor de abordagens integradas Dois paiacuteses a Franccedila e os Paiacuteses Baixos

informaram que dispunham de uma estrutura administrativa para coordenar as poliacuteticas

mariacutetimas Pelo seu lado Portugal tinha jaacute iniciado acccedilotildees concretas com vista a uma

estrateacutegia sobre os oceanos Desde entatildeo registaram-se progressos consideraacuteveis e mais

Estados-Membros tomaram iniciativas para integrar a poliacutetica mariacutetima e partilhar boas

praacuteticas de abordagens integradas da poliacutetica mariacutetima Estas iniciativas satildeo

inteiramente conformes com as orientaccedilotildees publicadas pela Comissatildeo Europeia em

Junho de 2008100

e referem-se a mudanccedilas organizacionais eou ao desenvolvimento de

estrateacutegias integradas de mais longo prazo com vista ao desenvolvimento sustentaacutevel

dos sectores mariacutetimos e das regiotildees costeiras

De salientar os exemplos do Nationaal Waterplan neerlandecircs o Grenelle de la Mer

francecircs o Entwicklungsplan Meer alematildeo a Lei sueca sobre uma poliacutetica mariacutetima

coerente o plano polaco interdepartamental de uma poliacutetica mariacutetima e a Lei mariacutetima

britacircnica A Irlanda Portugal e a Esloveacutenia tomaram igualmente medidas neste sentido

A Beacutelgica a Bulgaacuteria a Repuacuteblica Checa a Dinamarca a Itaacutelia a Greacutecia a Finlacircndia e

a Espanha comunicaram tambeacutem a realizaccedilatildeo de actividades neste domiacutenio perfazendo

um total de 14 Estados membros

Regiotildees101

As regiotildees costeiras participam plenamente como parceiros da PMIE desde o seu

iniacutecio e satildeo as mais bem colocadas para identificar os elementos necessaacuterios para

executar a poliacutetica tanto a niacutevel local como das bacias mariacutetimas Mostraram

igualmente grande capacidade para trabalhar com as autoridades nacionais e com as

regiotildees de outros Estados-Membros com o objectivo de promover soluccedilotildees integradas

para as questotildees relativas ao mar A Conferecircncia das Regiotildees Perifeacutericas Mariacutetimas

98

JO 2008C 21107 99

COM (2009) 540 final 4-5 100

COM (2008) 395 final de 2662008 101

COM (2009) 540 final 5

62

(CRPM) que reuacutene cerca de 160 regiotildees europeias segue atentamente os progressos do

plano de acccedilatildeo atraveacutes de intervenccedilotildees regulares nas reuniotildees do grupo de trabalho

Aquamarina criado especificamente para promover a PMIE a niacutevel regional

Partes interessadas102

As partes interessadas tem tido um papel preponderante no estabelecimento de uma

PMIE para a UE Os actores regionais e empresariais e as ONG foram os primeiros a

advogar a articulaccedilatildeo das poliacuteticas da UE com impacto nos mares sectores mariacutetimos e

regiotildees costeiras As suas contribuiccedilotildees constituiacuteram a base para a criaccedilatildeo de conceitos

e instrumentos inovadores

A celebraccedilatildeo anual do Dia Europeu do Mar converteu-se no evento em que os

vaacuterios ciacuterculos interessados podem realizar intercacircmbios altamente produtivos A

Comissatildeo Europeia deve dar continuidade a este evento assim como ampliar o nuacutemero

de europeus participantes Ao mesmo tempo deve encorajar as partes interessadas a

voltar a organizar eventos descentralizados em torno do Dia Europeu do Mar celebrado

em 20 de Maio reflectindo desta forma as contribuiccedilotildees nacionais regionais e locais

para a PMIE

43 Instrumentos transectoriais

Conforme abordado no capiacutetulo III (Livro Azul) foi identificada a necessidade de

existirem instrumentos transectoriais nomeadamente o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a vigilacircncia integrada e a construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a

poliacutetica mariacutetima Estes trecircs instrumentos desenvolveram-se a um bom ritmo e jaacute eacute

possiacutevel registar os primeiros resultados obtidos Ora vejamos

102

COM (2009) 540 final 5-6

63

Ordenamento do espaccedilo mariacutetimo (OEM) e gestatildeo integrada da zona costeira

(GIZC)103

O aumento das actividades desenvolvidas nos mares da Europa exacerbou a

competiccedilatildeo pelo espaccedilo mariacutetimo que eacute limitado O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute

um instrumento-chave para equilibrar os interesses sectoriais e garantir uma utilizaccedilatildeo

sustentaacutevel dos recursos marinhos sendo o seu princiacutepio subjacente uma abordagem

ecossisteacutemica Este processo proporciona agraves administraccedilotildees puacuteblicas e partes

interessadas um quadro de ordenamento estaacutevel fiaacutevel e centrado em objectivos

concretos a partir do qual podem coordenar as suas acccedilotildees e optimizar a utilizaccedilatildeo do

espaccedilo mariacutetimo em benefiacutecio do desenvolvimento econoacutemico e do meio marinho

A Comissatildeo adoptou em 2008 a comunicaccedilatildeo intitulada ldquoRoteiro para o

ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na UErdquo104

O roteiro

estabelece dez princiacutepios-chave e analisa o desenvolvimento entre os Estados-Membros

de uma abordagem comum que promova a aplicaccedilatildeo do OEM a niacutevel nacional e da UE

Em debates organizados pela Comissatildeo no decurso de 2009105

as partes

interessadas de todos os sectores mariacutetimos relevantes consideraram que os dez

princiacutepios-chave satildeo vaacutelidos tecircm um caraacutecter global e constituem uma base importante

para o desenvolvimento do OEM a niacutevel europeu A Comissatildeo Europeia lanccedilou

igualmente duas acccedilotildees preparatoacuterias no Baacuteltico (no acircmbito da estrateacutegia comunitaacuteria

para a regiatildeo do Baacuteltico) e no Mar do NorteAtlacircntico Nordeste visando o

desenvolvimento da vertente de cooperaccedilatildeo transfronteiras do OEM assim como um

estudo sobre o potencial do ordenamento do espaccedilo mariacutetimo no Mediterracircneo e os

benefiacutecios econoacutemicos do OEM

No seguimento da recomendaccedilatildeo incluiacuteda no Livro Azul no sentido da criaccedilatildeo de

um sistema de intercacircmbio de boas praacuteticas para o desenvolvimento da gestatildeo integrada

da zona costeira (GIZC) a Comissatildeo iniciou em 2009 um projecto destinado a fomentar

o intercacircmbio de boas praacuteticas e promover a aplicaccedilatildeo efectiva da GIZC106

No final de

2008 o Conselho assinou o Protocolo sobre a GIZC no acircmbito da Convenccedilatildeo de

Barcelona107

103

Para informaccedilatildeo detalhada sobre a GIZC consultar httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 104

COM(2008) 791 final 105

httpeceuropaeumaritimeaffairsspatial_planning_enhtml6 106

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm 107

COM (2009) 540 final 6-7

64

Integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima

A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima permitiraacute aumentar a eficaacutecia das operaccedilotildees no

mar e reduzir os custos de exploraccedilatildeo As potenciais economias a niacutevel da UE satildeo

significativas se se considerar a necessidade crescente de detectar localizar interceptar

e controlar actividades iliacutecitas no mar assim como de prevenir acidentes mariacutetimos

detectar descargas ilegais controlar as actividades de pesca e proteger o ambiente

Ateacute agrave data a Comissatildeo elaborou descriccedilotildees pormenorizadas das vaacuterias iniciativas

de integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima108

empreendidas a niacutevel nacional regional e

europeu terminou um estudo sobre os aspectos juriacutedicos e regulamentares da integraccedilatildeo

da vigilacircncia mariacutetima e procedeu a um exerciacutecio conjunto com a Agecircncia Europeia de

Defesa e o Estado-Maior da UE em resposta a um pedido do Conselho de Defesa109

A

Comissatildeo lanccedilou igualmente dois convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas num montante

total de 57 milhotildees de euros110

para projectos-piloto de integraccedilatildeo da vigilacircncia com

vista a promover uma cooperaccedilatildeo mais estreita entre as administraccedilotildees nacionais no

Mediterracircneo e na bacia do Mar do Norte111

Construccedilatildeo de uma base de conhecimentos para a poliacutetica mariacutetima

Natildeo eacute possiacutevel desenvolver uma poliacutetica mariacutetima sem dados e conhecimentos

adequados sobre os mares e o litoral da Europa O conhecimento do meio marinho

permanece eacute ainda muito disperso e pouco rentaacutevel A Rede Europeia de Observaccedilatildeo e

de Dados do Meio Marinho (EMODNET) anunciada no Livro Azul tem como

objectivo reduzir as incertezas no conhecimento dos mares e os custos operacionais dos

utilizadores de dados marinhos Eacute necessaacuterio avaliar as bases de dados e os programas

de observaccedilatildeo existentes em termos de cobertura precisatildeo e frequecircncia de recolha bem

como compilar de forma global e compatiacutevel os dados provenientes de diferentes fontes

e tornaacute-los acessiacuteveis como instrumento de boa governaccedilatildeo112

Destaque para o

lanccedilamento do ldquoAtlas Europeu dos Maresrdquo tem como objectivo sensibilizar o puacuteblico

para as questotildees marinhas

108

SEC (2008) 2337 109

COSDP 949 PESC 1366 110

Convites agrave apresentaccedilatildeo de propostas MARE200813 e 200904 111

COM (2009) 540 final 7 112

COM (2009) 540 final 7-8

65

44 Perspectivas e visatildeo futura da PMIE

Os uacuteltimos dois anos confirmaram que a PMIE eacute uma poliacutetica muito promissora e

que pode contribuir de forma muito significativa para o crescimento o emprego e a

sustentabilidade ambiental nas zonas costeiras da Europa e para aleacutem destas Apesar de

recente esta nova poliacutetica da UE jaacute alterou a forma como a Europa gere as suas riquezas

mariacutetimas e costeiras

Apoacutes trecircs anos de deliberaccedilotildees intensas eacute fundamental manter este impulso para

dar uma resposta aos desafios essenciais a meacutedio e longo prazo que representam a

protecccedilatildeo do ambiente o crescimento econoacutemico e o bem-estar O duplo impacto das

alteraccedilotildees climaacuteticas e da crise econoacutemica faz-se sentir de uma forma particular no

mundo mariacutetimo os oceanos determinam o nosso clima e o sector mariacutetimo foi o motor

da globalizaccedilatildeo e da prosperidade

Por conseguinte eacute importante desenvolver o potencial econoacutemico da Europa

mariacutetima melhorar a acccedilatildeo dos poderes puacuteblicos nos mares e continuar a explorar as

sinergias que permitem o reforccedilo muacutetuo do crescimento econoacutemico e da estabilidade

ambiental Segundo a Comissatildeo Europeia a melhor forma de alcanccedilar estes objectivos eacute

avanccedilar em seis direcccedilotildees estrateacutegicas

Eacute necessaacuterio consolidar a governaccedilatildeo mariacutetima integrada Os progressos

alcanccedilados nos uacuteltimos anos devem ser traduzidos em estruturas integradas eficazes a

todos os niacuteveis de governaccedilatildeo As instituiccedilotildees da UE os Estados-Membros e as regiotildees

costeiras tecircm uma responsabilidade particular na integraccedilatildeo da poliacutetica mariacutetima a

montante e na adopccedilatildeo de programas coerentes e comuns para os assuntos mariacutetimos

contrariando a tendecircncia prevalecente para pensar a poliacutetica sectorial de uma forma

isolada A participaccedilatildeo das partes interessadas na definiccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas deve

igualmente ser consagrada de forma mais permanente nas estruturas de governaccedilatildeo

resultando num diaacutelogo mais intenso entre a UE os Governos dos Estados-Membros e

as regiotildees costeiras que frequentemente detecircm as competecircncias fundamentais

necessaacuterias para uma abordagem integrada dos assuntos mariacutetimos Pela mesma razatildeo

seria conveniente criar uma plataforma intersectorial de diaacutelogo entre as partes

interessadas sobre os assuntos mariacutetimos113

113

COM (2009) 540 final 11

66

Os instrumentos poliacuteticos transectoriais satildeo fundamentais para fomentar o

desenvolvimento econoacutemico a monitorizaccedilatildeo do ambiente a seguranccedila e o respeito da

legislaccedilatildeo nos oceanos e mares da Europa Em especial o ordenamento do espaccedilo

mariacutetimo a par de um maior conhecimento do meio marinho pode incentivar

investimentos econoacutemicos consideraacuteveis e melhorar drasticamente a forma como

gerimos os nossos espaccedilos mariacutetimos preservando os seus ecossistemas Deve pois

converter-se num instrumento praacutetico a todos os niacuteveis de governaccedilatildeo relevantes e

contar com os mecanismos necessaacuterios para garantir um processo decisoacuterio comum

sobre os investimentos transfronteiriccedilos A integraccedilatildeo da vigilacircncia mariacutetima pode

contribuir para modificar a forma como as autoridades nacionais executam objectivos

essenciais como a luta contra a imigraccedilatildeo ilegal a protecccedilatildeo da navegaccedilatildeo comercial e

a protecccedilatildeo dos recursos naturais Os Estados-Membros e a Comissatildeo teratildeo de continuar

a colaborar nestes domiacutenios para que os processos iniciados nos uacuteltimos dois anos

possam alcanccedilar os resultados previstos114

A definiccedilatildeo dos limites de sustentabilidade das actividades humanas com um

impacto no meio marinho nos proacuteximos anos no acircmbito da Directiva-Quadro

ldquoEstrateacutegia Marinhardquo traraacute clareza e permitiraacute criar uma plataforma para o

desenvolvimento de todas as actividades mariacutetimas tendo em conta os seus efeitos

cumulativos Por esta razatildeo a aplicaccedilatildeo desta directiva continuaraacute a constituir um

objectivo fundamental da PMIE que deveraacute igualmente reforccedilar a cooperaccedilatildeo entre

todos os sectores e serviccedilos afectados nomeadamente entre as ciecircncias marinhas e a

poliacutetica para o meio marinho115

As estrateacutegias baseadas nas bacias mariacutetimas satildeo fundamentais para o ecircxito da

PMIE pois permitem adaptar as prioridades e os instrumentos poliacuteticos aos contextos

geograacutefico econoacutemico e poliacutetico especiacuteficos de cada grande regiatildeo mariacutetima Um

elemento essencial para que a PMIE seja bem sucedida eacute a cooperaccedilatildeo com e entre os

Estados-Membros e as regiotildees que partilham bacias mariacutetimas e sendo necessaacuterio esta

cooperaccedilatildeo deveraacute ser acompanhada de um diaacutelogo apropriado com os paiacuteses terceiros

que partilham bacias mariacutetimas com a UE As acccedilotildees a niacutevel das sub-bacias podem

igualmente ser uacuteteis e constituir exemplos positivos e de boas praacuteticas116

114

COM (2009) 540 final 11 115

COM (2009) 540 final 12 116

COM (2009) 540 final 12

67

Deveraacute prestar-se uma maior atenccedilatildeo agrave dimensatildeo internacional da PMIE A

Europa deve assumir um papel de motor na melhoria da governaccedilatildeo mariacutetima agrave escala

mundial como jaacute o fez no que respeita agrave pirataria ou agraves praacuteticas de pesca destrutivas A

Comissatildeo pretende reforccedilar o diaacutelogo com um nuacutemero limitado dos seus principais

parceiros mariacutetimos assim como a sua participaccedilatildeo em foacuteruns internacionais e

processos informais117

No presente contexto de crise econoacutemica a execuccedilatildeo da PMIE deveraacute recentrar-se

no crescimento econoacutemico no emprego e na inovaccedilatildeo sustentaacuteveis Por conseguinte no

futuro a UE deve explorar as sinergias entre a poliacutetica energeacutetica comunitaacuteria e a PMIE

promover a produccedilatildeo de energia no mar nomeadamente as formas de energia

renovaacuteveis e utilizar mais o mar para o transporte de energia por condutas redes

submarinas e navios Seraacute igualmente necessaacuterio fortalecer os viacutenculos entre a poliacutetica

comunitaacuteria de combate agraves alteraccedilotildees climaacuteticas e a PMIE desenvolvendo uma

estrateacutegia de adaptaccedilatildeo das zonas costeiras e mariacutetimas agraves alteraccedilotildees climaacuteticas com

vista a proteger as infra-estruturas costeiras e preservar a biodiversidade marinha Eacute

importante garantir que as zonas mariacutetimas e costeiras entrem plenamente em conta no

debate em curso sobre a coesatildeo territorial

A UE deve aleacutem disso promover ainda mais o transporte mariacutetimo a fim de

favorecer a co-modalidade pocircr em praacutetica o conceito de auto-estradas do mar e

melhorar o programa de transporte mariacutetimo de curta distacircncia da UE Ainda no acircmbito

do objectivo de impulsionar o desenvolvimento econoacutemico das actividades mariacutetimas

seraacute necessaacuterio encontrar a forma e os meios de estimular o emprego mariacutetimo e o

investimento na frota embandeirada da UE continuando todavia a apostar firmemente

no conceito de navios ecoloacutegicos Com efeito o apoio agrave inovaccedilatildeo e agrave investigaccedilatildeo a

favor de navios com baixo niacutevel de emissotildees ou mesmo com emissotildees nulas continuaraacute

a constituir a resposta principal da Comunidade agrave situaccedilatildeo do sector da construccedilatildeo

naval tatildeo importante do ponto de vista estrateacutegico Desta maneira a UE poderaacute

proporcionar aos estaleiros navais europeus e agrave europeia induacutestria do equipamento de

navios uma vantagem tecnoloacutegica sobre os seus concorrentes noutras regiotildees do mundo

e tornar o transporte mariacutetimo mais seguro e sustentaacutevel em especial ao longo das

costas da Europa118

117

COM (2009) 540 final 12 118

COM (2009) 540 final 12

68

Cap V ndash Estrateacutegia Nacional para o Mar

ldquoA Estrateacutegia Nacional para o Mar (ENM) constitui um instrumento poliacutetico

fundamental para que Portugal possa proteger e valorizar o inestimaacutevel recurso que o

oceano representa para o nosso paiacutesrdquo Cit pelo Dr Joatildeo Mira Gomes (ex-Secretaacuterio de

Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar) na ENM 2007 p V)

Como referi no primeiro capiacutetulo a ligaccedilatildeo de Portugal ao mar ganhou especial

relevacircncia durante a eacutepoca dos Descobrimentos marcando decisivamente o iniacutecio do

processo de globalizaccedilatildeo As trocas comerciais culturais cientiacuteficas e tecnoloacutegicas daiacute

resultantes promoveram o grande desenvolvimento do nosso paiacutes e alteraram

definitivamente os processos de transmissatildeo de conhecimentos entre os povos Neste

capiacutetulo dedico-me agrave anaacutelise da evoluccedilatildeo entre 1998 e 2010 das principais dinacircmicas

mariacutetimas nacionais

Portugal actualmente dispotildee de uma das maiores zonas econoacutemicas exclusivas

(ZEE) da Europa com mais de 1700000 km2 o que corresponde a cerca de 18 vezes a

sua aacuterea terrestre existindo ainda a possibilidade de vir a contar com espaccedilos mariacutetimos

sob sua jurisdiccedilatildeo que poderatildeo exceder em muito a actual aacuterea da ZEE

Neste acircmbito a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma Continental

(EMEPC) estaacute a trabalhar no sentido de determinar espaccedilos a reclamar por Portugal

para aleacutem das actuais 200 milhas naacuteuticas Assim a EMEPC elaborou a proposta

portuguesa chefiada pelo oceanoacutegrafo Manuel Pinto de Abreu que foi recentemente

apresentada agrave Comissatildeo de Limites para a Extensatildeo da Plataforma Continental (CLPC)

da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) Ateacute hoje a ONU recebeu 51 propostas de

Estados que querem ver aumentado o seu domiacutenio mariacutetimo Portugal foi o 44ordm paiacutes a

entregar a proposta A ONU encontra-se a avaliar a 16ordf proposta e prevecirc-se que a

decisatildeo relativa agrave proposta portuguesa seja conhecida em 2015

Caso seja aceite a proposta de alargamento pela ONU Portugal passaraacute a deter uma

aacuterea territorial equivalente 43 vezes agrave aacuterea de Portugal Continental Accedilores e Madeira

ou seja o equivalente agrave da Iacutendia e a segunda maior plataforma mundial a seguir aos

Estados Unidos da Ameacuterica

69

As Regiotildees Autoacutenomas da Madeira e dos Accedilores assumem aqui um papel de

destaque pelo seu posicionamento central nos espaccedilos mariacutetimos sob soberania ou

jurisdiccedilatildeo nacional

Este extenso espaccedilo mariacutetimo encerra alguns dos mais importantes ecossistemas

oceacircnicos a niacutevel global As caracteriacutesticas biogeograacuteficas e geomorfoloacutegicas das aacutereas

sob jurisdiccedilatildeo nacional englobam uma vasta biodiversidade marinha Os ambientes

insulares oceacircnicos o mar profundo e as planiacutecies abissais os montes e bancos

submarinos a dorsal meacutedio-atlacircntica119

os campos de fontes hidrotermais as

riquiacutessimas zonas estuarinas e lacustres os grandes canhotildees submarinos as zonas de

afloramento costeiro entre outros conferem a Portugal um patrimoacutenio natural uacutenico que

importa valorizar e preservar A este patrimoacutenio juntam-se os valores arqueoloacutegicos

culturais esteacuteticos e histoacutericos os recursos geoloacutegicos e minerais os recursos

energeacuteticos renovaacuteveis e os recursos biotecnoloacutegicos que no seu conjunto representam

um dos principais activos nacionais

Destaco tambeacutem o pioneirismo de Portugal ao niacutevel da concepccedilatildeo de um plano de

governacircncia integrado para os assuntos do Mar Refiro-me em particular ao relatoacuterio

da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (CEO)ldquoO Oceano ndash Um Desiacutegnio Nacional

para o Seacuteculo XXIrdquo elaborado em 2004 que apresentou uma Estrateacutegia Nacional para o

Oceano Esta CEO dotou Portugal de uma nova visatildeo ldquoUm Oceano saudaacutevel

sustentaacutevel e seguro eacute o principal activo fiacutesico e sociocultural de Portugalrdquo e uma

missatildeo ldquoDestacar Portugal como uma naccedilatildeo mariacutetima da Uniatildeo Europeiardquoque

permita desenvolver e interiorizar colectivamente uma nova abordagem aos Oceanos

Para a prossecuccedilatildeo destas uacuteltimas a CEO baseou a sua estrateacutegia em cinco

objectivos que passo a enumerar

1) Valorizar a associaccedilatildeo de Portugal ao Oceano como Factor de Identidade

2) Assegurar o conhecimento e a protecccedilatildeo do Oceano

3) Promover o desenvolvimento sustentaacutevel de actividades econoacutemicas

4) Assumir uma posiccedilatildeo de destaque e especializaccedilatildeo em assuntos do Oceano

5) Construir uma estrutura institucional moderna de gestatildeo do oceano

119

A dorsal meacutedio-atlacircntica ou crista oceacircnica do Atlacircntico eacute uma cordilheira submarina que se estende

sob o Oceano Atlacircntico e o Oceano Aacutertico desde a latitude 87ordmN ateacute agrave ilha sub-antaacutertica de Bouvet agrave

latitude 54ordmS Os pontos mais elevados desta cordilheira emergem em vaacuterios locais formando ilhas

70

Em suma este valioso contributo surge da ldquonecessidade de encontrar mecanismos

de reforccedilo da identidade nacional que respondam agrave pressatildeo da homogeneizaccedilatildeo

cultural e agrave premecircncia de conceber um modelo de desenvolvimento sustentaacutevel que decirc

resposta agrave competitividade acrescida no quadro global em geral e no quadro europeu

em particular120

rdquo Este trabalho bem estruturado inovador e orientador serviu de

modelo-base para as actuais Estrateacutegia Nacional para o Mar e Poliacutetica Mariacutetima

Integrada Europeia

De facto Portugal goza de uma reputaccedilatildeo internacional de paiacutes mariacutetimo com

ideias e acccedilotildees proacuteprias sendo um activo contribuidor para a agenda global dos

oceanos

Depois de seacuteculos ligados ao mar natildeo se compreende muito bem nos dias de hoje

que o Mar seja para a maioria da sociedade portuguesa algo de distante

intangiacutevel e invisiacutevel121

No entanto saliento ainda que nos uacuteltimos anos em Portugal

foram dados passos importantes no que concerne agrave poliacutetica dos oceanos Entre os mais

significativos destaco

Em 1998 a Comissatildeo Mundial Independente para os Oceanos liderada

por Portugal e presidida pelo ex-Presidente da Repuacuteblica Dr Maacuterio Soares

aprovou o relatoacuterio ldquoO Oceano Nosso Futurordquo no acircmbito da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura (UNESCO)

O Ano Internacional dos Oceanos que se comemorou em 1998 na

sequecircncia de uma proposta apresentada por Portugal agrave Assembleia da Comissatildeo

Oceanograacutefica Intergovernamental da UNESCO e adoptada pela Assembleia

Geral das Naccedilotildees Unidas serviu de elemento integrador da Exposiccedilatildeo Mundial

de Lisboa (Expo 98) subordinada ao tema ldquoO Oceano um patrimoacutenio para o

futurordquo

Ainda nesse ano as Resoluccedilotildees do Conselho de Ministros nuacutemeros

8898 8998 e 9098 de 10 de Julho criaram respectivamente

- A Comissatildeo Oceanograacutefica Intersectorial com o objectivo de reforccedilar a

capacidade de resposta do sector de investigaccedilatildeo e desenvolvimento em ciecircncias e

120

Discurso do Primeiro-Ministro Duratildeo Barroso - XV Governo Constitucional (200204) ndash durante a

cerimoacutenia de tomada de posse da Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos no dia 972003 121

ENM 2006-2016 p 2

71

tecnologias do mar e serviccedilos oceanograacuteficos afins mediante uma estrateacutegia que

permita compatibilizar acccedilotildees congregar esforccedilos e evitar duplicaccedilotildees optimizando

o uso dos meios humanos e das infra-estruturas disponiacuteveis

- O Programa Dinamizador das Ciecircncias e Tecnologias do Mar com o

objectivo de dar a este domiacutenio de investigaccedilatildeo baacutesica e aplicada a prioridade que ela

requer (numa perspectiva) de natureza estruturante e interdisciplinar

- A Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma

Continental com vista a considerar a possibilidade da extensatildeo do limite exterior da

plataforma continental para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas no quadro previsto pela

Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar

Em 2003 foi criada a Comissatildeo Estrateacutegica dos Oceanos (Resoluccedilatildeo do

Conselho de Ministros nordm 812003 de 17 de Junho) com o objectivo de elaborar

os elementos de definiccedilatildeo de uma estrateacutegia nacional para o oceano Esta

comissatildeo produziu em 2004 um relatoacuterio com um conjunto de cerca de 250

recomendaccedilotildees e propostas de acccedilatildeo estrateacutegicas

Em 2005 foi criada a Estrutura de Missatildeo para a Extensatildeo da Plataforma

Continental (Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 92005 de 17 de Janeiro)

com o objectivo de preparar uma proposta de extensatildeo da plataforma continental

de Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas para apresentaccedilatildeo agrave Comissatildeo

de Limites da Plataforma Continental das Naccedilotildees Unidas Esta substituiu a ex-

Comissatildeo Interministerial para a Delimitaccedilatildeo da Plataforma Continental

Em 2005 foi ainda criada a Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

(EMAM) Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm 1282005 de 10 de Agosto

com o objectivo de dar continuidade ao trabalho jaacute desenvolvido e a missatildeo de

preparar uma proposta que estabeleccedila as medidas que devem ser implementadas

para o desenvolvimento de uma poliacutetica integrada do Governo para os assuntos

do mar e para uma acccedilatildeo articulada de todas as entidades com competecircncia nas

aacutereas ligadas ao mar

Em 2006 foi dado iniacutecio agrave instalaccedilatildeo em Lisboa da Agecircncia Europeia de

Seguranccedila Mariacutetima que desempenha um papel fundamental no que se refere

aos aspectos relativos agrave recolha registo e avaliaccedilatildeo de dados teacutecnicos nos

domiacutenios da seguranccedila do traacutefego e da poluiccedilatildeo marinha

72

Em 2007 durante a Presidecircncia Portuguesa do Conselho Europeu

procedeu-se agrave organizaccedilatildeo de uma Conferecircncia Ministerial sobre uma Poliacutetica

Mariacutetima para a Uniatildeo Europeia

A submissatildeo da proposta de extensatildeo da plataforma continental de

Portugal para aleacutem das 200 milhas naacuteuticas decorreu a 11 de Maio de 2009

junto de Hariharan Pakshi Rajan da CLPC da ONU

A primeira apresentaccedilatildeo da mesma proposta de extensatildeo da plataforma

continental portuguesa teve lugar no dia 13 de Abril de 2010 na sede das ONU

em Nova Iorque

Refiro mais uma vez que Portugal conjuntamente com Franccedila e Espanha foram

dos primeiros Estados-membros a dar contributos para o Livro Verde

Relevo ainda que a centralidade e a dimensatildeo atlacircntica dos espaccedilos mariacutetimos sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional reforccedilam o papel-chave que Portugal podedeve

desempenhar no quadro da Uniatildeo Europeia como elemento de ligaccedilatildeo privilegiada aos

Paiacuteses Africanos de Liacutengua Oficial Portuguesa (PALOP) bem como ao continente

americano e ao resto do Mundo A posiccedilatildeo geoestrateacutegica do espaccedilo mariacutetimo sob

soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional impotildee ainda importantes desafios e responsabilidades

nas aacutereas da defesa nacional seguranccedila e vigilacircncia imigraccedilatildeo ilegal combate agrave

poluiccedilatildeo apoio agrave navegaccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar mas engloba

tambeacutem um conjunto de oportunidades de desenvolvimento econoacutemico e de ligaccedilatildeo

entre as vaacuterias regiotildees do territoacuterio nacional

A mais-valia para Portugal da ENM eacute tornar o mar um projecto nacional Para

tal deve apostar numa abordagem integrada da governaccedilatildeo dos assuntos do mar que

pela primeira vez congregue os esforccedilos das diferentes tutelas dos agentes econoacutemicos

da comunidade cientiacutefica das organizaccedilotildees natildeo governamentais e tambeacutem da sociedade

civil Deste modo co-responsabiliza todos os actores para o aproveitamento do mar

como factor diferenciador do desenvolvimento econoacutemico e social valorizando e

preservando este valioso patrimoacutenio

O Estado tem um papel facilitador e promotor de condiccedilotildees de desenvolvimento

econoacutemico e social mas cabe agraves empresas e agrave sociedade civil o papel principal na

concretizaccedilatildeo dos objectivos que satildeo a razatildeo de ser da ENM A obtenccedilatildeo de resultados

tangiacuteveis soacute seraacute perceptiacutevel em algum casos a meacutediolongo prazo exigindo por isso

73

uma aposta raacutepida mas persistente nas aacutereas ligadas agrave educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo de meios

humanos criaccedilatildeo e optimizaccedilatildeo de infra-estruturas e investigaccedilatildeo e desenvolvimento

51 Princiacutepios e objectivos

A proclamaccedilatildeo do mar como principal factor diferenciador e de identidade

nacional assumindo-o como prioridade estrateacutegica e um projecto nacional reclama a

existecircncia de uma visatildeo simultaneamente ambiciosa e realista crediacutevel e atraente

Pretendem-se criar as condiccedilotildees e mecanismos que possibilitem aos diversos

agentes desenvolver de forma equilibrada e articulada as muacuteltiplas actividades ligadas

ao mar tendo em vista a promoccedilatildeo da qualidade do ambiente marinho do crescimento

econoacutemico e a criaccedilatildeo de novos empregos e oportunidades122

A ENM permite a organizaccedilatildeo de planos de acccedilatildeo orientados para a mobilizaccedilatildeo a

educaccedilatildeo e a capacitaccedilatildeo de toda a sociedade portuguesa e dos seus parceiros

internacionais A ENM visa o aproveitamento e utilizaccedilatildeo sustentaacutevel e responsaacutevel do

oceano e das zonas costeiras e criaccedilatildeo de ferramentas de gestatildeo que tornem os processos

transparentes rigorosos e crediacuteveis

52 Pilares estrateacutegicos

As razotildees que tornam a formulaccedilatildeo a implementaccedilatildeo e a avaliaccedilatildeo da ENM um

enorme desafio satildeo de vaacuteria ordem a saber

- Em primeiro lugar a reconhecida falta de conhecimento de compreensatildeo e de

percepccedilatildeo quer devido agrave complexidade dos ecossistemas oceacircnicos e costeiros e do real

impacto e inerentes consequecircncias das actividades humanas quer devido agrave difiacutecil

avaliaccedilatildeo do potencial das actividades econoacutemicas que dificultam a tomada de decisatildeo

122

ENM 2006-2016 p 10

74

- Em segundo lugar a dificuldade verificada na partilha de responsabilidade pela

gestatildeo do oceano como recurso comum e espaccedilo tridimensional devido agrave

interdependecircncia e aos conflitos que se verificam entre as vaacuterias utilizaccedilotildees interesses

jurisdiccedilotildees e processos de gestatildeo

- Em terceiro lugar o oceano e as zonas costeiras representam hoje a niacutevel

mundial uma grande oportunidade para novas actividades econoacutemicas que face aos

avanccedilos tecnoloacutegicos recentes comeccedilam a orientar o seu interesse e acccedilatildeo para o mar

obrigando a novas formas de gestatildeo e de defesa e salvaguarda activa dos interesses

nacionais

Para que Portugal aproveite as oportunidades existentes e mitigue as dificuldades

as linhas orientadoras da ENM assentam em trecircs pilares estrateacutegicos

Estes satildeo os factores criacuteticos de sucesso ou seja aquilo que se torna indispensaacutevel

assegurar para valorizar definitivamente a importacircncia do mar como elemento

diferenciador projectando-o no futuro como um dos principais motores de

desenvolvimento do Paiacutes

A construccedilatildeo de uma economia mariacutetima proacutespera ao serviccedilo da qualidade de vida

e do bem-estar social e respeitando o ambiente tem de ser suportada pelos seguintes

pilares estrateacutegicos123

O conhecimento

O planeamento e o ordenamento espaciais

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais

No que concerne ao conhecimento utilizado aqui no seu sentido mais lato soacute

atraveacutes de uma aposta coerente e sustentada na investigaccedilatildeo cientiacutefica e no

desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas ao oceano e agraves zonas costeiras eacute

possiacutevel criar uma base soacutelida para as decisotildees de governaccedilatildeo numa perspectiva de

desenvolvimento sustentaacutevel e de gestatildeo integrada Adicionalmente a formaccedilatildeo a

educaccedilatildeo a sensibilizaccedilatildeo a difusatildeo da informaccedilatildeo e o respectivo acesso bem como o

uso de indicadores objectivos de suporte agraves vaacuterias poliacuteticas sectoriais e intersectoriais

satildeo certamente os melhores factores de credibilidade e dinamizaccedilatildeo do investimento

puacuteblico e privado nas actividades relacionadas com o mar

123

ENM 2006-2016 p 12

75

O planeamento e o ordenamento espaciais satildeo as ferramentas de governaccedilatildeo

promovidas pelas entidades competentes indispensaacuteveis para assegurar uma visatildeo de

conjunto assente nos princiacutepios do desenvolvimento sustentaacutevel da precauccedilatildeo e da

abordagem ecossisteacutemica atraveacutes do levantamento e ordenamento de todas as

utilizaccedilotildees existentes e futuras permitindo dar suporte a uma gestatildeo verdadeiramente

integrada progressiva e adaptativa do oceano e da zona costeira e do desenvolvimento

das actividades associadas

A promoccedilatildeo e a defesa activas dos interesses nacionais obtecircm-se pelo

envolvimento empenhado e competente no acircmbito das relaccedilotildees bilaterais e

multilaterais prosseguidas atraveacutes da participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo proacute-

activas nos diversos fora internacionais Mais uma vez estas acccedilotildees tecircm de ser

suportadas por uma estrutura de coordenaccedilatildeo que garanta a articulaccedilatildeo a niacutevel nacional

nas suas vertentes diplomaacutetica poliacutetica econoacutemica social ambiental cientiacutefica

tecnoloacutegica de defesa nacional e seguranccedila reforccedilando a imagem a soberania e a

identidade nacionais

O eventual insucesso das medidas ou acccedilotildees associadas a qualquer um destes trecircs

pilares estrateacutegicos condicionaraacute de forma significativa o desenvolvimento efectivo de

qualquer poliacutetica ligada ao oceano que integre de forma sustentaacutevel as vertentes

econoacutemica social e ambiental

53 Acccedilotildees e medidas

O estabelecimento e aplicaccedilatildeo de acccedilotildees e medidas que materializem os trecircs

pilares estrateacutegicos prioritaacuterios eacute fundamental para o sucesso das actividades

econoacutemicas onde se cruzam e renovam sectores tradicionais e sectores em

desenvolvimento como suporte essencial para a criaccedilatildeo de riqueza e melhoria do

crescimento coesatildeo social e qualidade de vida124

124

ENM 2006-2016 p 17

76

Soacute com uma ENM assente nestes alicerces seraacute possiacutevel alcanccedilar os objectivos

preconizados nas diferentes poliacuteticas nacionais nomeadamente nas seguintes aacutereas

Transportes

Apostando na competitividade dos portos nacionais e fomentando o transporte

mariacutetimo enquanto modo de transporte menos poluente Neste contexto importa

promover a articulaccedilatildeo do transporte mariacutetimo com outros modos de transporte

acrescentando valor atraveacutes de cadeias logiacutesticas bem como atraveacutes da implementaccedilatildeo

de instrumentos de normalizaccedilatildeo e simplificaccedilatildeo de procedimentos tais como a janela

uacutenica portuaacuteria125

Energia

Apostando nas energias renovaacuteveis contribuindo para a reduccedilatildeo da dependecircncia

energeacutetica externa e da emissatildeo de gases com efeito de estufa aproveitando os recursos

existentes no mar agilizando os procedimentos de licenciamento mobilizando e

atraindo investimento privado e apostando nas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas que permitam

responder aos desafios da competitividade deste sector e ao desenvolvimento de uma

induacutestria que produza bens equipamentos e serviccedilos que potenciem o emprego as

exportaccedilotildees de equipamentos e tecnologia e a reconversatildeo de induacutestrias como por

exemplo as metalo-mecacircnicas e os estaleiros navais assegurando tambeacutem o melhor

conhecimento das aptidotildees geoloacutegicas do deep offshore nomeadamente para fins

energeacuteticos com origem foacutessil

Aquicultura e pescas

Assegurando a sustentabilidade da exploraccedilatildeo de recursos criando medidas que

tornem mais justa a distribuiccedilatildeo de rendimentos na cadeia de valor diversificando as

actividades econoacutemicas das comunidades piscatoacuterias implementando aacutereas marinhas

protegidas recuperando ecossistemas degradados reforccedilando o sistema de recifes

125

A janela uacutenica portuaacuteria garante que os agentes econoacutemicos passem a relacionar-se com cada porto

atraveacutes de um uacutenico canal electroacutenico uma espeacutecie de balcatildeo uacutenico virtual tendo a possibilidade de tratar

desta forma todos os processos administrativos para o despacho de mercadorias e navios Desta forma

ldquosimplifica-se os processos para melhor servir as empresasrdquo conforme referiu o ex-secretaacuterio de Estado

dos Assuntos Fiscais De acordo com Joatildeo Amaral Tomaz em 2005 ldquo99 por cento das mercadorias

importadas em Portugal chegaram pela via mariacutetimardquo O valor representa ldquoa entrada de 15000 navios o

que em termos de processo administrativo corresponde a 15 formulaacuterios e a cerca de 100 paacuteginas por

naviordquo No total satildeo quase ldquoum milhatildeo e quinhentas mil paacuteginas de papel que deveratildeo ser eliminadasrdquo

77

artificiais fomentando a investigaccedilatildeo e desenvolvimento em sistemas de aquicultura

offshore garantindo a sua rentabilidade econoacutemica e sustentabilidade ambiental

Defesa nacional e seguranccedila

Clarificando as atribuiccedilotildees aacutereas de intervenccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das entidades do

Sistema de Autoridade Mariacutetima Intervindo na prevenccedilatildeo e combate agrave poluiccedilatildeo na

seguranccedila da navegaccedilatildeo e protecccedilatildeo e salvaguarda da vida humana no mar no acircmbito

dos sistemas nacionais para a busca e salvamento na fiscalizaccedilatildeo mariacutetima na

mitigaccedilatildeo de riscos naturais e no apoio agraves populaccedilotildees no acircmbito do Serviccedilo Nacional de

Protecccedilatildeo Civil

Ciecircncia tecnologia e inovaccedilatildeo

Investindo em recursos humanos qualificados projectos e infra-estruturas de

ciecircncia e tecnologia associadas ao oceano optimizando os recursos existentes

fomentando e reforccedilando a cooperaccedilatildeo e partilha de meios entre instituiccedilotildees e

participando activamente nas redes internacionais

Ambiente e conservaccedilatildeo da natureza

Assegurando o bom funcionamento e manutenccedilatildeo dos ecossistemas marinhos e

costeiros promovendo o conhecimento e protecccedilatildeo da biodiversidade marinha

recuperando habitats degradados e salvaguardando as aacutereas essenciais para a

conservaccedilatildeo e gestatildeo dos recursos vivos e natildeo vivos nomeadamente atraveacutes da criaccedilatildeo

de uma rede de aacutereas marinhas protegidas assegurando o combate e controlo da

poluiccedilatildeo incluindo o efeito das actividades humanas realizadas em meio terrestre sobre

o meio marinho combatendo e prevenindo a introduccedilatildeo de espeacutecies autoacutectones e

assegurando a monitorizaccedilatildeo global do estado de sauacutede do ambiente marinho

Educaccedilatildeo cultura e sensibilizaccedilatildeo

Inserindo nos programas escolares o tema oceano em todas as suas dimensotildees

promovendo a mediatizaccedilatildeo das actividades mariacutetimas junto da sociedade apostando

nos centros de interpretaccedilatildeo aquaacuterios oceanaacuterios e museus dedicados ao mar e

fomentando o ensino naval e naacuteutico a valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio cultural subaquaacutetico e

a educaccedilatildeo ambiental

78

Turismo lazer desportos e naacuteutica de recreio

Valorizando o mar como diferenciador da oferta turiacutestica e estimulando as

actividades associadas ao mar que permitam a ocupaccedilatildeo de tempos livres o lazer e o

desporto desenvolvendo condiccedilotildees para um faacutecil e natural acesso ao mar promovendo

o turismo naacuteutico e oceacircnico atraveacutes da aposta na organizaccedilatildeo de provas desportivas

internacionais de grande prestiacutegio e em actividades mariacutetimo-turiacutesticas como a vela o

remo a canoagem o surf o mergulho e a observaccedilatildeo de aves e cetaacuteceos fomentando o

turismo associado agrave actividade da pesca tirando partido das importantes aacutereas naturais

classificadas existentes na nossa costa onde assumem um importante papel as Regiotildees

Autoacutenomas dos Accedilores e da Madeira para dinamizar o turismo de natureza

promovendo o turismo de cruzeiros jaacute em franca expansatildeo no nosso paiacutes

Poliacutetica externa

Promovendo a centralidade atlacircntica de Portugal e as relaccedilotildees externas com outros

continentes nomeadamente as relaccedilotildees transatlacircnticas a desenvolver no acircmbito da

comunidade dos PALOP afirmando Portugal como o paiacutes mariacutetimo da Europa e

defendendo os interesses nacionais em todos os fora internacionais relevantes

Foram identificadas trecircs acccedilotildees prioritaacuterias126

que tendo em consideraccedilatildeo a

exigecircncia do contexto actual satildeo consideradas como sendo de implementaccedilatildeo de curto

prazo

Criar uma comissatildeo de coordenaccedilatildeo interministerial para a

implementaccedilatildeo da ENM E assim a articulaccedilatildeo intergovernamental dos assuntos

do mar seraacute desta forma garantida de modo permanente mantendo-se as

competecircncias e aacutereas de acccedilatildeo vertical e sectorial de cada tutela

Melhorar a articulaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo das posiccedilotildees nacionais relativas

aos assuntos do mar nos diversos fora internacionais Esta eacute uma acccedilatildeo central

para afirmar Portugal como um paiacutes que defende de forma coerente os seus

interesses e assume a lideranccedila dos dossiers internacionais no que respeita aos

assuntos do mar

Assegurar o acompanhamento teacutecnico diplomaacutetico e poliacutetico da

discussatildeo puacuteblica sobre o Livro Verde da Poliacutetica Mariacutetima Europeia e do

126

ENM 2006-2016 p18

79

processo subsequente durante o qual eacute fundamental que o Paiacutes se mobilize de

forma a garantir que Portugal se mantenha na vanguarda da nova abordagem aos

assuntos do mar ao niacutevel europeu atraveacutes de uma participaccedilatildeo esclarecida

eficaz e abrangente

Atenta agrave natureza marcadamente horizontal da ENM definiram-se um conjunto de

acccedilotildees estrateacutegicas que identificam medidas transversais que contribuem para criar

condiccedilotildees favoraacuteveis para o melhor aproveitamento do mar de forma sustentaacutevel A

implementaccedilatildeo destas acccedilotildees articuladas com as restantes estrateacutegias nacionais

permitiraacute operacionalizar os pilares estrateacutegicos definidos anteriormente acrescentando

valor agraves acccedilotildees actualmente em curso e contribuindo para o objectivo central de definir

o mar como um ldquoprojecto nacionalrdquo

Foram assim seleccionadas oito acccedilotildees estrateacutegicas127

a saber

A sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo da sociedade para a importacircncia do mar

A promoccedilatildeo do ensino e divulgaccedilatildeo nas escolas de actividades ligadas ao

mar

A promoccedilatildeo de Portugal como um centro de excelecircncia de investigaccedilatildeo

das ciecircncias do mar da Europa

O planeamento e ordenamento espacial das actividades

A protecccedilatildeo e recuperaccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

O fomento da economia do mar

A aposta nas novas tecnologias aplicadas agraves actividades mariacutetimas

A defesa nacional a seguranccedila a vigilacircncia e a protecccedilatildeo dos espaccedilos

mariacutetimos sob soberania ou jurisdiccedilatildeo nacional

A proposta da Estrateacutegia Nacional para o Mar foi aprovada na generalidade em

Conselho de Ministros a 4 de Outubro de 2006 A Estrateacutegia Nacional para o Mar

assume-se como um documento dinacircmico aberto aos ajustamentos que a evoluccedilatildeo das

suas condicionantes e a avaliaccedilatildeo da sua execuccedilatildeo vierem a recomendar Vigora no

periacuteodo de 2006 a 2016 ano em que deveraacute ser sujeita a uma revisatildeo global com base

num processo de avaliaccedilatildeo e discussatildeo puacuteblica

127

ENM 2006-2016 pp 22-23

80

Relativamente agrave ENM tenho a comentar que depois da anaacutelise efectuada reparei na

inexistecircncia de um programa de acccedilatildeo efectivo (prazos orccedilamentaccedilatildeo parcerias

instrumentos financeiros ao dispocircr etc) anexo agrave poliacutetica nacional para o mar Natildeo

obstante a ratificaccedilatildeo do Conselho de Ministros da ENM esta Estrateacutegia sugere que

cabe agrave sociedade civil e agrave iniciativa privada o papel principal na concretizaccedilatildeo dos

objectivos da Estrateacutegia sendo o Estado relegado para um papel de mero facilitador

Satildeo de facto os stakeholders os principais responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo da

Estrateacutegia mas teraacute de ser o Estado a criar as condiccedilotildees favoraacuteveis para o iniacutecio deste

novo ciclo A ver pelas oito acccedilotildees estrateacutegicas propostas a sua boa execuccedilatildeo tem no

Estado o seu principal responsaacutevel Soacute com um Estado determinado e perseverante a

acccedilatildeo estrateacutegica pode ser verdadeiramente ldquolanccedilada ao marrdquo

No entanto percebemos que nos discursos oficiais nomeadamente de Sua

Excelecircncia o Presidente da Repuacuteblica Professor Aniacutebal Cavaco Silva os assuntos do

mar estatildeo na ordem do dia conforme constatei nos excertos do seu discurso128

na

Assembleia da Repuacuteblica durante a 36ordf Sessatildeo Comemorativa do 25 de Abril de 2010

(hellip)ldquoTemos de repensar a nossa relaccedilatildeo com o mar Repensar o modo como

exploramos as oportunidades que ele nos oferece Importa afirmar a ideia de que o mar

eacute um activo econoacutemico maior do nosso futurordquo (hellip)rdquoAgraves vantagens decorrentes da nossa

geografia da Histoacuteria e da imagem externa do Paiacutes podemos ainda juntar as

estrateacutegias e poliacuteticas para o mar desenhadas nos uacuteltimos seis anos em Portugal e na

proacutepria Uniatildeo Europeia Natildeo eacute necessaacuterio fazer mais estudos e relatoacuterios Basta agir

em cumprimento daquelas estrateacutegiasrdquo (hellip) ldquoEacute essencial que criemos condiccedilotildees e

incentivemos os agentes econoacutemicos a investir no conjunto dos sectores que ligam

economicamente Portugal ao marhellipPortugal e os Portugueses precisam de desiacutegnios

que lhes decircem mais coesatildeo mais auto-estima e mais propoacutesito de existir O mar eacute

certamente um delesrdquo (hellip)

128

Este discurso pode ser consultado na integra no site oficial da Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciaptidc=22ampidi=39445

81

54 O Hypercluster da economia do mar

ldquoUm domiacutenio de potencial estrateacutegico para o desenvolvimento da economia

portuguesardquo

Dentro das poliacuteticas mariacutetimas nacionais natildeo posso deixar de enaltecer o estudo de

economia poliacutetica realizado pela equipa multi-disciplinar da SaeR ndash Sociedade de

avaliaccedilatildeo estrateacutegica e risco Lda ndash denominado Hypercluster da Economia do Mar129

sob a coordenaccedilatildeo do ex-ministro das Financcedilas Professor Ernacircni Lopes por iniciativa

da Associaccedilatildeo Comercial de Lisboa Trata-se de uma obra de referecircncia cuja leitura

considero indispensaacutevel a todos aqueles (decisores poliacuteticos empresaacuterios acadeacutemicos e

sociedade civil) que estatildeo empenhados em deixar aos seus descendentes um paiacutes

diferenciado internacionalmente relevante e seguramente mais proacutespero

O estudo propriamente dito estaacute dividido em trecircs partes primeira parte ndash a

fundamentaccedilatildeo segunda parte ndash a avaliaccedilatildeo estrateacutegica das componentes e a visatildeo de

conjunto terceira parte ndash a estrateacutegia e os planos de acccedilatildeo

O estudo confronta-nos com o facto amplamente demonstrado de que a economia

portuguesa estaacute a sofrer uma descontinuidade nos seus padrotildees de modernizaccedilatildeo e nos

seus modelos de desenvolvimento e a anaacutelise prospectiva da economia nacional conduz

a um cenaacuterio espontacircneo de definhamento e agrave necessidade de se caminhar para um

cenaacuterio de afirmaccedilatildeo estrateacutegica para Portugal

O hypercluster configura-se como simultaneamente uma forccedila propulsora e um

catalisador capaz de organizar e dinamizar um conjunto de sectores com elevado

potencial de crescimento e inovaccedilatildeo e capacidade para atraiacuterem recursos e

investimentos de qualidade nomeadamente externos

Segundo o estudo a economia do mar representa hoje apenas 2 do PIB e gera

cerca de 75000 empregos o que eacute considerado muito abaixo do seu potencial face ateacute a

comparaccedilotildees internacionais com paiacuteses ou regiotildees proacuteximas O efeito multiplicador de

28 configura estas actividades como geradoras fortes de valor acrescentado admitindo-

129

Hypercluster do Mar - httpwwwsaerptupUPLOADbin2_imagem_0955656001242642284-657pdf

82

se que possam vir a representar em 2025 directamente cerca de 45 do PIB valor

que sobe para 10 a 12 englobando os valores indirectos

Haveraacute assim que criar nas palavras inspiradoras do Professor Ernacircni Lopes um

novo desiacutegnio nacional tornar Portugal num actor mariacutetimo relevante a niacutevel global

na viragem do I para o II quartel do seacuteculo XXI130

O estudo propotildee por fim um masterplan distribuiacutedo por quatro plataformas

diferentes de planos e acccedilotildees a saber

1) Planos prioritaacuterios

Englobando os componentes com maiores condiccedilotildees de atractividade e

competitividade e capacidades para servirem de motores catalisadores e formatadores

sisteacutemicos do conjunto (portos logiacutestica amp transportes mariacutetimos naacuteutica de recreio amp

turismo naacuteutico pesca aquicultura amp induacutestria do pescado visibilidade comunicaccedilatildeo

amp cultura mariacutetima e produccedilatildeo de pensamento estrateacutegico)

2) Planos de sustentaccedilatildeo imediata

Englobando os componentes fundamentais para o bom funcionamento da ldquolinha da

frenterdquo (serviccedilos mariacutetimos construccedilatildeo amp reparaccedilatildeo navais e obras mariacutetimas)

3) Planos de alimentaccedilatildeo

Englobando os componentes criadores de consistecircncia e sustentabilidade a longo

prazo com papel regenerador e inovador do conjunto (investigaccedilatildeo cientiacutefica inovaccedilatildeo

amp desenvolvimento ensino amp formaccedilatildeo defesa amp seguranccedila no mar e ambiente amp

conservaccedilatildeo da natureza)

4) Plano meta-oceano (prospectivo e de longo prazo)

O estudo propotildee tambeacutem algumas medidas consideradas determinantes no caminho

criacutetico para o sucesso da implementaccedilatildeo deste projecto Como por exemplo a criaccedilatildeo do

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar131

(FEM)

130

Referecircncia feita no website da SaeR pelo coordenador no estudo sobre o Hypercluster da economia do

Mar Professsor Doutor Ernacircni Lopes

httpwwwsaerptindexphplop=conteudoampop=f7177163c833dff4b38fc8d2872f1ec6ampid=c24cd76e1ce

41366a4bbe8a49b02a028 131

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar - httpwwwfempt

83

O FEM conheceu recentemente a sua constituiccedilatildeo estatutaacuteria conta no momento

com o Eng Fernando Ribeiro e Castro na qualidade de secretaacuterio-geral e estaacute

organizado de acordo com as componentes da economia do mar do hypercluster

apresentado

Por conseguinte originou a formaccedilatildeo de vaacuterios grupos de trabalho com o objectivo

principal de concretizar as linhas de acccedilatildeo previstas nos planos prioritaacuterios pondo

assim em marcha o Hypercluster da Economia do Mar em Portugal Actualmente

fazem parte do FEM cinquenta e oito empresas nacionais

55 Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM)132

The problems of ocean space are closely interrelated and need to be considered as

a whole 133

O ordenamento do espaccedilo mariacutetimo eacute um instrumento fundamental da PMIE

Permite agraves autoridades puacuteblicas e agraves partes interessadas coordenarem a acccedilatildeo

respectiva e optimiza a utilizaccedilatildeo do espaccedilo marinho beneficiando o desenvolvimento

econoacutemico do meio marinho134

No acircmbito do Plano de Acccedilatildeo da ENM Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros nordm

1632006 de 12 de Dezembro foi aprovado um Programa de Acccedilatildeo que integra entre

outros o ldquoPlaneamento e ordenamento do espaccedilo e actividades mariacutetimasrdquo que prevecirc o

desenvolvimento de um POEM Este plano tem como objectivo ordenar os usos e

actividades do espaccedilo mariacutetimo presentes e futuros em estreita articulaccedilatildeo com a

132

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo - httppoeminagpt 133

ldquoOs problemas do espaccedilo mariacutetimo estatildeo estreitamente inter-relacionados e devem ser considerados

como um todordquo Preacircmbulo da Convenccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)

Adoptada em 1982 entrou em vigor em 1994 A Comunidade Europeia e todos os Estados-Membros da

UE satildeo Partes na UNCLOS 134

COM (2008) 791 final ldquoRoteiro para o ordenamento do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios

comuns na EUrdquo p 2

84

gestatildeo da zona costeira garantindo a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos a sua

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo potenciando a utilizaccedilatildeo eficiente do espaccedilo marinho no

quadro de uma abordagem integrada e intersectorial e fomentando a importacircncia

econoacutemica ambiental e social do mar

Tendo presente que os instrumentos de gestatildeo territorial existentes a niacutevel nacional

tecircm um enfoque essencialmente na vertente terrestre natildeo contemplando a vertente

mariacutetima ou natildeo considerando o acircmbito multidimensional do mar isto eacute o fundo a

coluna de aacutegua a superfiacutecie o litoral e a atmosfera importa encontrar forma de regular

esta mateacuteria de forma coerente e articulada

Assim atraveacutes do Despacho nordm 322772008 da CIAM de 18 de Dezembro e

considerando o disposto no nordm 2 do artigo 38ordm do Decreto-Lei nordm 38099 de 22 de

Setembro na redacccedilatildeo dada pelo Decreto-Lei nordm 462009 de 20 de Fevereiro foi

determinada a elaboraccedilatildeo do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

O POEM como plano sectorial deveraacute estabelecer e justificar as opccedilotildees e os

objectivos sectoriais com incidecircncia territorial e definir normas de execuccedilatildeo integrando

as peccedilas graacuteficas necessaacuterias agrave representaccedilatildeo da respectiva expressatildeo territorial e seraacute

acompanhado por um relatoacuterio que procede ao diagnoacutestico da situaccedilatildeo territorial sobre a

qual interveacutem e agrave fundamentaccedilatildeo teacutecnica das opccedilotildees e objectivos estabelecidos

O desenvolvimento deste plano considera como documento orientador a

Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeia denominado ldquoRoteiro para o ordenamento do

espaccedilo mariacutetimordquo

Visatildeo

ldquoEspaccedilo Mariacutetimo diferenciador da identidade nacional sustentaacutevel ordenado e

seguro suporte de actividades socioeconoacutemicas e potenciador de recursos assente no

conhecimento na inovaccedilatildeo e na especificidade geograacuteficardquo

Missatildeo

ldquoAfirmar a importacircncia econoacutemica ambiental e social do Mar assente na

promoccedilatildeo do conhecimento dos recursos naturais e das actividades existentes e

potenciais e no ordenamento integrado e gestatildeo adaptativa dos usos que se desenvolvem

no espaccedilo mariacutetimo em estreita articulaccedilatildeo com a gestatildeo da zona costeira com o

85

normativo internacional comunitaacuterio e nacional e demais instrumentos de planeamento

sectorial e de gestatildeo do territoacuterio envolvendo os diferentes actores e agentesrdquo

Discussatildeo Puacuteblica

A Proposta do Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo (POEM) e o respectivo

Relatoacuterio Ambiental encontram-se concluiacutedos tecnicamente e aprovados pela respectiva

Equipa Multidisciplinar Nos termos previstos do artigo 40ordm do Decreto-Lei nordm 38099

de 22 de Setembro na sua actual redacccedilatildeo faz-se saber que a Discussatildeo Puacuteblica do

POEM decorre entre o periacuteodo de 29 de Novembro de 2010 a 22 de Fevereiro de 2011

56 Programa ldquoPolis do Litoralrdquo

ldquoOperaccedilotildees integradas de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da orla costeirardquo

Como verificamos no Livro Verde as zonas costeiras assumem uma importacircncia

estrateacutegica em termos ambientais econoacutemicos sociais e culturais

A resoluccedilatildeo dos seus problemas ndash designadamente o controlo dos processos

erosivos da ocupaccedilatildeo urbana de zonas de risco da destruiccedilatildeo de habitats e a perda de

biodiversidade e do decliacutenio das actividades econoacutemicas ndash revela-se prioritaacuteria no

acircmbito de uma poliacutetica de desenvolvimento sustentaacutevel implicando um equiliacutebrio e

interacccedilatildeo indispensaacuteveis entre a conservaccedilatildeo dos recursos naturais e o

desenvolvimento socioeconoacutemico de cada regiatildeo

No acircmbito da poliacutetica integrada para as zonas costeiras o XVII Governo

Constitucional determinou em Resoluccedilatildeo do Conselho de Ministros 902008 de 3 de

Junho a realizaccedilatildeo de um conjunto de operaccedilotildees de requalificaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de

zonas de risco e de aacutereas naturais degradadas situadas no litoral em espaccedilos de

intervenccedilatildeo prioritaacuteria designadas Polis Litoral

86

Os objectivos impliacutecitos agraves respectivas intervenccedilotildees passam pelas seguintes

medidas

Proteger e requalificar a zona costeira tendo em vista a defesa da costa a

promoccedilatildeo da conservaccedilatildeo da natureza e biodiversidade a renaturalizaccedilatildeo e a

reestruturaccedilatildeo de zonas lagunares e a preservaccedilatildeo do patrimoacutenio natural e

paisagiacutestico no acircmbito de uma gestatildeo sustentaacutevel

Prevenir e defender pessoas bens e sistemas de riscos naturais

Promover a fruiccedilatildeo puacuteblica do litoral suportada na requalificaccedilatildeo dos

espaccedilos balneares e do patrimoacutenio ambiental e cultural

Potenciar os recursos ambientais como factor de competitividade atraveacutes

da valorizaccedilatildeo das actividades econoacutemicas ligadas aos recursos do litoral e

associando-as agrave preservaccedilatildeo dos recursos naturais

De momento estatildeo identificadas quatro aacutereas territoriais ldquopolisrdquo a saber litoral do

Norte135

litoral da Ria de Aveiro136

litoral da Ria Formosa137

e o litoral da Costa

Vicentina Abrangem no seu conjunto 308 km de frente costeira 220 km de frentes

lagunares e estuarinas a financiar pelo Estado municiacutepios entidades privadas e com

recurso a fundos comunitaacuterios no acircmbito do Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional

(QREN) totalizando um orccedilamento global na ordem dos 3225 milhotildees de euros

135

wwwpolislitoralnortept 136

wwwpolisriadeaveiropt 137

wwwpolislitoralriaformosapt

87

Cap VI ndash Agenda Regional do Mar (Norte de Portugal)

61 Pacto regional para a competitividade da regiatildeo ldquoNorte 2015rdquo

A regiatildeo Norte de Portugal possui uma grande tradiccedilatildeo mariacutetima e uma forte

ligaccedilatildeo ao mar que conheceu diferentes formas de expressatildeo ao longo dos tempos Na

eacutepoca das primeiras descobertas (a partir do seacuteculo XV) o Porto e a sua regiatildeo

participaram activamente na construccedilatildeo de embarcaccedilotildees e no fornecimento de homens

para incorporar as respectivas guarniccedilotildees Nos seacuteculos seguintes o comeacutercio mariacutetimo e

o aparecimento de uma burguesia comercial com intensas relaccedilotildees com o norte da

Europa constituiacuteram a base de desenvolvimento da economia desta cidade e sua regiatildeo

No final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX o transporte mariacutetimo possibilitou a

saiacuteda de importantes fluxos migratoacuterios em direcccedilatildeo ao Brasil e mais recentemente a

pesca (em especial a pesca do bacalhau) e a induacutestria transformadora marcaram em

termos sociais e econoacutemicos os espaccedilos litorais da regiatildeo

No presente assiste-se ao aparecimento de novas actividades emergentes com forte

ligaccedilatildeo ao mar nos campos econoacutemico cientiacutefico e do lazer

A regiatildeo Norte deteacutem um importante patrimoacutenio natural (por exemplo rede natura

do Litoral Norte) e cultural tangiacutevel (por exemplo arquitectura militar civil e religiosa)

e intangiacutevel (tradiccedilotildees e costumes) ao longo da sua zona costeira com destaque para os

municiacutepios de Espinho Porto Matosinhos Vila do Conde Poacutevoa de Varzim e Viana do

Castelo Este patrimoacutenio estaacute disperso carecendo de valorizaccedilatildeo e de promoccedilatildeo A

regiatildeo apresenta ainda um conjunto de centros vocacionados para a divulgaccedilatildeo

cientiacutefica e da temaacutetica mar de que constituem exemplos a Estaccedilatildeo Litoral da Aguda138

em Gaia o projecto Rosa-dos-Ventos em Vila do Conde a Lancha Poveira 139

na Poacutevoa

de Varzim a Fundaccedilatildeo Gil Eannes140

em Viana do Castelo e o AquaMuseu do rio

Minho141

em Vila Nova de Cerveira entre outros

138

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda - httpwwwfundacao-elapt 139

Lancha Poveira - httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp 140

Fundaccedilatildeo Gil Eannes - wwwfundacaogileannespt 141

AquaMuseu do rio Minho- httpaquamuseucm-vncerveirapt

88

O Conselho Regional e a Comissatildeo de Coordenaccedilatildeo e Desenvolvimento Regional

do Norte (CCDR-N) definiram uma estrateacutegia de desenvolvimento regional designada

por ldquoNORTE 2015 ndash Uma Regiatildeo Um Futuro Uma Estrateacutegiardquo e dentro desta tem

vindo a promover um conjunto de agendas temaacuteticas consideradas prioritaacuterias

constituindo o ldquopacto regional para a competitividade da regiatildeo do Norterdquo Entre elas e

relevante para o trabalho em questatildeo eacute a Agenda Regional do Mar - Plano de Acccedilatildeo

ldquoMarrdquo

A Agenda Regional do Mar e o seu plano de acccedilatildeo tem como objectivo geral

ldquovalorizar o recurso mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de actividades de

produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o emprego e a

internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da Investigaccedilatildeo Desenvolvimento

e Inovaccedilatildeo (IampDampI) marinha da formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de

forma a contribuir em condiccedilotildees de sustentabilidade para a competitividade da

Regiatildeo142

Em siacutentese este plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo justifica-se assim por um conjunto de

razotildees das quais destaco as seguintes

A existecircncia de uma zona costeira extensa e rica onde se concentra a

maior parte da populaccedilatildeo e da actividade econoacutemica da regiatildeo marcada pela

existecircncia de vaacuterios estuaacuterios de elevado valor ambiental paisagiacutestico e

econoacutemico que urge valorizar em condiccedilotildees de sustentabilidade

Permite uma aproximaccedilatildeo global e coordenada das actividades e saberes

que integram a temaacutetica mar bem como o desenvolvimento de relaccedilotildees de

complementaridade e a produccedilatildeo de efeitos de sinergia favoraacuteveis ao

desenvolvimento da regiatildeo

Permite desenvolver as estrateacutegias adequadas e a sua coordenaccedilatildeo no

sentido da adaptaccedilatildeo da regiatildeo aos efeitos das alteraccedilotildees climaacuteticas

Constitui uma oportunidade para parar ou diminuir a tendecircncia de perda

de biodiversidade que caracteriza a evoluccedilatildeo dos ecossistemas marinhos

Favorece o aproveitamento do potencial que algumas actividades ligadas

ao mar apresentam enquanto espaccedilos de empreendimento inovaccedilatildeo criaccedilatildeo de

142

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 52

89

riqueza e de emprego qualificado que importa estimular do ponto de vista do

reforccedilo da competitividade e do emprego da regiatildeo

Contribui atraveacutes da iniciativa regional e das articulaccedilotildees possiacuteveis com

outras regiotildees portuguesas e com a EMAM para a consecuccedilatildeo da ENM

favorecendo a criaccedilatildeo de escala e o desenvolvimento de complementaridades

indispensaacuteveis agrave consecuccedilatildeo dessa estrateacutegia nacional

Contribui para o desenvolvimento da PMIE atraveacutes da assunccedilatildeo no

plano regional do conjunto de princiacutepios e de orientaccedilotildees que enquadram essa

estrateacutegia europeia

Reforccedila o papel da regiatildeo nos programas de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional no acircmbito do Espaccedilo Atlacircntico co-

financiados pelo FEDER em que a dimensatildeo mariacutetima ocupa uma posiccedilatildeo

relevante em ambos os programas

Contribui para a sensibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo em geral e especialmente

dos jovens para a temaacutetica mar

Apresenta um programa de fundos estruturais interessante para o periacuteodo

entre 2007 e 2013 que permite o lanccedilamento de iniciativas e investimentos para

o desenvolvimento no domiacutenio do mar

Eacute importante mencionar que a elaboraccedilatildeo do plano de acccedilatildeo ldquoMarrdquo assentou num

processo aberto agrave participaccedilatildeo de um alargado leque de actores de acircmbito regional e

nacional quer na fase de estudo quer durante a fase da sua implementaccedilatildeo Este plano

constitui tambeacutem um referencial central para os investimentos puacuteblicos e privados a ter

em consideraccedilatildeo no acircmbito das candidaturas ao Programa Operacional Regional do

Norte (ON2 ndash O Novo Norte) e aos Programas de Cooperaccedilatildeo (POCTEP e

POCTEA143

)

Neste ponto a Agenda Regional destaca-se da ENM pelo facto de estar enquadrada

a temaacutetica ldquoMarrdquo nestes programas operacionais podendo ser candidataacuteveis entidades

puacuteblicasprivadas da regiatildeo Norte de Portugal

143

POCTEP - Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedilo Espanha - Portugal

POCTEA - Programa de Cooperaccedilatildeo Transnacional do Espaccedilo Atlacircntico

90

Saliento que a regiatildeo Norte eacute no presente momento a uacutenica regiatildeo portuguesa

que apresenta uma estrateacutegia integrada para o Mar

Ora este plano de acccedilatildeo estimula tambeacutem o alargamento da dinacircmica de

cooperaccedilatildeo a outras regiotildees vizinhas como seja a regiatildeo Centro de Portugal e a regiatildeo

Autoacutenoma da Galiza e favorece assim o desenvolvimento de condiccedilotildees de

complementaridade e de escala indispensaacuteveis agrave afirmaccedilatildeo internacional do Noroeste

peninsular no domiacutenio do mar

62 Linhas estrateacutegicas de desenvolvimento144

Para o efeito foram delineadas dez linhas de desenvolvimento estrateacutegico para

consubstanciar o ldquoplano de acccedilatildeordquo Analisei-as cada uma per si tendo em conta o seu

objectivo e tipologias respectivas Passo a enumerar as dez linhas estrateacutegicas definidas

para a regiatildeo Norte que constam na Agenda do ldquoMarrdquo

1) Promover a conservaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo e a gestatildeo dos ecossistemas costeiros e

das bacias hidrograacuteficas

O objectivo eacute o de fomentar o estudo dos ecossistemas costeiros e fluviais e

desenvolver medidas com vista agrave sua protecccedilatildeo recuperaccedilatildeo valorizaccedilatildeo e

ordenamento de forma a potenciar os seus usos de acordo com modelos de

sustentabilidade Os projectos e as acccedilotildees a desenvolver devem observar as orientaccedilotildees

estabelecidas pelas ldquoBases para a Estrateacutegia de Gestatildeo Integrada das Zonas Costeirasrdquo

2) Desenvolver novos produtos e promover a aplicaccedilatildeo de novas tecnologias ao

meio marinho

Esta linha tem em vista os desenvolvimentos futuros no campo das ciecircncias do mar

e da utilizaccedilatildeo do meio marinho atraveacutes de novos produtos e serviccedilos que resultaratildeo

certamente da aplicaccedilatildeo a este meio de conhecimento e de tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo Podem enquadrar-se no acircmbito desta linha estrateacutegica os projectos que

144

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 p 54

91

visam o desenvolvimento de novos produtos resultantes da utilizaccedilatildeo de organismos

marinhos nomeadamente

Desenvolvimento de novos medicamentos e a promoccedilatildeo de instrumentos de

diagnoacutestico para monitorizaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

Desenvolvimento de novas teacutecnicas para conhecimento protecccedilatildeo

monitorizaccedilatildeo e gestatildeo do meio marinho a garantia de sustentabilidade das

pescas e da aquacultura

Desenvolvimento de novos tipos de materiais compoacutesitos e enzimas para a

induacutestria

3) Promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca e da aquicultura e

a seguranccedila alimentar

Nesta linha enquadram-se acccedilotildees que contribuam para o aprofundar do

conhecimento dos recursos vivos marinhos e do seu valor comercial acccedilotildees que

contribuam para o desenvolvimento e melhoramento de tecnologias de conservaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo do pescado e da avaliaccedilatildeo do risco para a sauacutede puacuteblica e ainda acccedilotildees

de implementaccedilatildeo de processos de certificaccedilatildeo de origem de seguranccedila e de qualidade

de produtos da pesca e da aquacultura de modo a melhorar a imagem junto do

consumidor muitas vezes influenciada por produtos importados de qualidade inferior

aos produtos regionais

4) Desenvolver novas tecnologias de produccedilatildeo de peixes de bivalves e de outras

espeacutecies e a sustentabilidade da aquicultura

O objectivo desta linha estrateacutegica eacute o de promover o desenvolvimento de uma

aquicultura sustentaacutevel e fomentar a produccedilatildeo intensiva de espeacutecies alternativas agraves jaacute

largamente implantadas em todo o Sul da Europa nomeadamente a dourada e o robalo

evitando assim a saturaccedilatildeo do mercado e a competiccedilatildeo entre produtores O recurso a

espeacutecies alternativas (goraz linguado polvo entre outras) mais adaptadas a

temperaturas baixas permitiraacute conquistar novos mercados dado tratar-se de espeacutecies de

elevado valor comercial e cujas populaccedilotildees naturais tecircm vindo a diminuir

92

5) Promover o desenvolvimento do cluster ldquo conhecimento e economia do marrdquo

O objectivo desta linha de acccedilatildeo eacute o de reforccedilar a economia do mar contribuindo

para a modernizaccedilatildeo das actividades tradicionais nomeadamente as induacutestrias

mariacutetimas o apoio a actividades emergentes e o desenvolvimento de redes de

cooperaccedilatildeo entre empresas e instituiccedilotildees de Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento (IampD)

orientadas para a transferecircncia de tecnologia e para o desenvolvimento da cadeia de

valor dos produtos da economia do mar Satildeo considerados prioritaacuterios os projectos que

promovam a densificaccedilatildeo das relaccedilotildees intra e intersectoriais e projectos que contribuam

para internacionalizaccedilatildeo da base produtiva regional

6) Reforccedilar a investigaccedilatildeo e desenvolvimento nas aacutereas das ciecircncias marinhas e

fomentar o empreendedorismo em actividades da economia do mar

Esta linha completa as anteriormente apresentadas constituindo o seu

desenvolvimento uma condiccedilatildeo necessaacuteria para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do cluster

regional para o mar O apoio a formaccedilotildees avanccediladas ao desenvolvimento de projectos

de investigaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias e da economia do mar e ao fomento do

empreendedorismo eacute para esta Agenda uma indiscutiacutevel prioridade para o

desenvolvimento do seu plano de acccedilatildeo

Esta linha privilegia abordagens que integrem de forma dinacircmica as componentes

formativa investigaccedilatildeo incubaccedilatildeo e de aconselhamento e apoio financeiro ao

desenvolvimento de novos projectos e iniciativas empresariais e ainda ao acolhimento

de projectos empresariais externos que pela sua relevacircncia contribuam para o reforccedilo

das demais componentes

7) Apoiar o desenvolvimento do transporte mariacutetimo e a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila mariacutetima e das infra-estruturas portuaacuterias

A localizaccedilatildeo de Portugal e da regiatildeo do Norte no Sul do Arco Atlacircntico Europeu

constitui uma posiccedilatildeo privilegiada por referecircncia agraves rotas mariacutetimas norte-sul e este-

oeste que importa potenciar As ldquoauto-estradasrdquo do mar e o short sea shipping

representam alternativas ao transporte rodoviaacuterio de mercadorias com reconhecidas

vantagens do ponto de vista ambiental e econoacutemico O porto de Leixotildees apresenta neste

contexto uma posiccedilatildeo relevante no que respeita agrave auto-estrada mariacutetima do Atlacircntico O

apetrechamento e a modernizaccedilatildeo dos portos da regiatildeo e a melhoria das suas

articulaccedilotildees com o hinterland de forma a favorecer a inserccedilatildeo nas cadeias

93

internacionais de transporte e a operaccedilatildeo nas melhores condiccedilotildees de seguranccedila

constituem objectivos importantes no acircmbito dos programas regionais do mar e dos

transportes

Adquirem especial relevacircncia os projectos do novo molhe e terminal de passageiros

do porto de Leixotildees bem como projectos que favoreccedilam a melhoria das condiccedilotildees de

seguranccedila das operaccedilotildees portuaacuterias No acircmbito desta linha estrateacutegica adquire especial

importacircncia a criaccedilatildeo do Poacutelo Mar do Parque de Ciecircncia e Tecnologia - Universidade

do Porto - que integraraacute e articularaacute as valecircncias de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo de

incubaccedilatildeo de empresas e de acolhimento empresarial e ainda uma funccedilatildeo de divulgaccedilatildeo

cientiacutefica

8) Valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo regional a naacuteutica de recreio e o turismo

naacuteutico

Esta linha estrateacutegica contribui para a consolidaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo das estruturas

existentes e para a criaccedilatildeo de novos projectos que tenham por missatildeo a valorizaccedilatildeo e

interpretaccedilatildeo do patrimoacutenio e do conhecimento relacionado com as temaacuteticas do mar e

das comunidades mariacutetimas A valorizaccedilatildeo deste potencial em paralelo com a criaccedilatildeo e

desenvolvimento de um conjunto de condiccedilotildees de apoio agrave naacuteutica de recreio (uma rede

de marinas devidamente infra-estruturadas que disponibilizem serviccedilos de apoio agrave

naacuteutica geridas segundo um modelo empresarial) a criaccedilatildeo de um conjunto de produtos

de turismo naacuteutico e de turismo costeiro constituem as condiccedilotildees indispensaacuteveis agrave

valorizaccedilatildeo e aproveitamento do patrimoacutenio mariacutetimo que a regiatildeo possui Esta linha

estrateacutegica privilegia o desenvolvimento de projectos que promovam na sua elaboraccedilatildeo

e desenvolvimento o envolvimento das comunidades mariacutetimas das respectivas zonas

de forma a favorecer a emergecircncia e a diversificaccedilatildeo de actividades ligadas ao mar e a

criaccedilatildeo de novas oportunidades de emprego

9) Promover o desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo nas aacutereas das ciecircncias

marinhas e da economia do mar de forma a favorecer a seguranccedila a qualificaccedilatildeo do

sector e a empregabilidade

O desenvolvimento da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo no domiacutenio do mar satildeo factores

chave para a empregabilidade para o reforccedilo do cluster do mar e seguranccedila mariacutetima

94

A presente linha estrateacutegica tem uma dimensatildeo transversal cruzando todas as

outras Linhas que compotildeem o Plano de Acccedilatildeo Tem por objectivo favorecer a

qualificaccedilatildeo de jovens e adultos em aacutereas de actividade directa e indirectamente ligadas

ao mar com especial incidecircncia na aacuterea da seguranccedila Neste sentido importa qualificar a

oferta formativa existente e reforccedilar a coordenaccedilatildeo entre a acccedilatildeo do Forpescas (Centro

de Formaccedilatildeo Profissional das Pescas) e de outras organizaccedilotildees que intervecircm na aacuterea da

formaccedilatildeo em actividades relacionadas com o mar (por exemplo formaccedilatildeo na aacuterea do

turismo) no sentido de adequar e ordenar a oferta formativa segundo as necessidades de

desenvolvimento que se colocam neste domiacutenio

10) Promover a cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila e transnacional no domiacutenio do mar

A regiatildeo do Norte possui uma experiecircncia histoacuterica de cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila

principalmente com a Galiza e de cooperaccedilatildeo transnacional especialmente no acircmbito

do Espaccedilo Atlacircntico do qual a CCDR-N eacute actualmente a Autoridade de Gestatildeo do

POCTEA O tema Mar eacute relevante para estes dois ldquoespaccedilosrdquo de cooperaccedilatildeo integrando

o corpo principal de objectivos dos respectivos Programas

No que respeita agrave cooperaccedilatildeo transfronteiriccedila com a Galiza foi criado sob a

iniciativa da CCDRN e da Xunta da Galicia um grupo de trabalho misto envolvendo

actores das duas regiotildees sob a coordenaccedilatildeo do CETMAR145

e do CIIMAR146

Foi desenvolvido um primeiro conjunto de projectos estruturantes de cooperaccedilatildeo

oportunamente candidatados ao Programa de Cooperaccedilatildeo Transfronteiriccedila Portugal-

Espanha em seis domiacutenios prioritaacuterios (qualidade do meio marinho recursos marinhos

sector alimentar biotecnologias e novos produtos construccedilatildeo e reparaccedilatildeo naval e

naacuteutica de recreio e por fim cultura e turismo)

145

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR httpwwwcetmarorg 146

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental httpwwwcimarorg

95

63 Modelo de governaccedilatildeo para a Agenda Regional do Mar

A coordenaccedilatildeo transversal de poliacuteticas e a articulaccedilatildeo entre vaacuterios niacuteveis de poder

coloca a questatildeo da concertaccedilatildeo e integraccedilatildeo de poliacuteticas ou seja a questatildeo da

governanccedila Este plano constitui um referencial de desenvolvimento estrateacutegico

dinacircmico que serve de base ao lanccedilamento e ao desenvolvimento de intervenccedilotildees no

domiacutenio do mar O plano de acccedilatildeo corporiza a ambiccedilatildeo de se constituir como

plataforma de suporte a um processo evolutivo aberto agrave participaccedilatildeo dos diferentes

actores e agrave coordenaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees

Um dos aspectos essenciais para garantir a gestatildeo e regulaccedilatildeo do plano eacute a

existecircncia de informaccedilatildeo estrateacutegica que permita o conhecimento mais aprofundado do

mesmo e o acompanhamento das principais realizaccedilotildees

A gestatildeo estrateacutegica deste plano de acccedilatildeo eacute da responsabilidade de um comiteacute de

pilotagem presidido pela CCDR-N e constituiacutedo por um conjunto de instituiccedilotildees

puacuteblicas da regiatildeo Norte responsaacuteveis pelas principais aacutereas de poliacutetica relacionadas

com a temaacutetica e tambeacutem por entidades representativas dos espaccedilos litorais em

presenccedila O comiteacute de pilotagem seraacute um espaccedilo privilegiado de articulaccedilatildeo e de

coordenaccedilatildeo intersectorial e de articulaccedilatildeo territorial das diversas iniciativas e projectos

que teraacute como objectivo principal a responsabilidade de implementar o plano de acccedilatildeo e

a respectiva regulaccedilatildeo existente

64 Oceano XXI - Cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo

Ainda acerca das estrateacutegias regionais destaco o trabalho levado a cabo pela

plataforma ldquoOceano XXI ndash Associaccedilatildeo para o Conhecimento e Economia do Marrdquo que

tem como principal objectivo especiacutefico dinamizar o cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo

Este cluster foi reconhecido pela Autoridade de Gestatildeo do Programa de factores de

Competitividade (COMPETE) no dia 27 de Julho de 2009 como Estrateacutegia de

96

Eficiecircncia Colectiva E por este facto importa ser referenciado neste trabalho dada a

importacircncia que vai seguramente ter a curto prazo nos projectos considerados ldquoacircncorardquo

para as regiotildees Centro e Norte de Portugal

Por outro lado o objectivo geral que orienta o desenvolvimento deste cluster

consiste em ldquovalorizar o recurso Mar atraveacutes do desenvolvimento de um conjunto de

actividades de produtos e de serviccedilos que promovam o crescimento econoacutemico o

emprego e a internacionalizaccedilatildeo da regiatildeo apostando no reforccedilo da IampDampI da

formaccedilatildeo do empreendedorismo e da cooperaccedilatildeo de forma a contribuir em condiccedilotildees

de sustentabilidade para a competitividade da regiatildeo147

rdquo

Este cluster sediado na regiatildeo Norte envolve um vasto e diversificado conjunto de

entidades representativas dos interesses regionais (Centro e Norte) e nacionais

pertencentes aos principais sectores do agregado econoacutemico subjacente agrave Estrateacutegia de

Eficiecircncia Colectiva tendo em vista a diversificaccedilatildeo da base econoacutemica regional

criando desta forma novas actividades e serviccedilos e fomentando o aparecimento de

mercados alternativos com maior valor econoacutemico o reforccedilo da competitividade e da

produtividade das induacutestrias do mar e o aumento do emprego qualificado

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo integra um conjunto

diversificado de sectores e de actividades

bull Pesca aquicultura salicultura e induacutestria transformadora da pesca

bull Actividades mariacutetimo-portuaacuterias e logiacutestica

bull Induacutestrias mariacutetimas

bull Induacutestrias transformadoras de suporte agraves actividades mariacutetimas (tecircxtil e vestuaacuterio

plaacutestico moldes madeira metalomecacircnica)

bull Cruzeiros naacuteutica de recreio e turismo mariacutetimo

bull Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC)

bull Roboacutetica submarina

bull Biotecnologia marinha

bull Energias renovaacuteveis

147

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

97

O cluster do ldquoconhecimento e da economia do marrdquo organiza-se segundo quatro

linhas prioritaacuterias de intervenccedilatildeo148

que estatildeo em consonacircncia com a visatildeo europeia dos

clusters mariacutetimos referida no Livro Verde (capiacutetulo II)

Linha Prioritaacuteria 1 ndash desenvolver a Investigaccedilatildeo amp Desenvolvimento das

Tecnologias de Informaccedilatildeo (IDTI) e apoiar o desenvolvimento de actividades

emergentes no domiacutenio da economia do mar

Linha Prioritaacuteria 2 ndash promover a qualidade e a valorizaccedilatildeo dos produtos da pesca

da aquicultura e de produtos marinhos e a seguranccedila alimentar

Linha Prioritaacuteria 3 ndash promover a modernizaccedilatildeo e a inovaccedilatildeo das induacutestrias

mariacutetimas do transporte mariacutetimo da actividade portuaacuteria e da logiacutestica

Linha Prioritaacuteria 4 ndash valorizar o patrimoacutenio mariacutetimo e o seu aproveitamento no

apoio ao desenvolvimento da naacuteutica de recreio e do turismo de natureza

No acircmbito da Estrateacutegia de Eficiecircncia Colectiva ndash cluster do ldquoconhecimento e da

economia do marrdquo ndash foram reconhecidos seis projectos acircncora que no seu conjunto

totalizam uma estimativa de investimento de 120 milhotildees de euros nos trecircs proacuteximos

anos (2010 - 2013) E satildeo os seguintes

Ecomare

Aquaacuterio dedicado agrave temaacutetica dos mares da Peniacutensula Ibeacuterica centro de recuperaccedilatildeo

de animais marinhos e laboratoacuterio oceanograacutefico da Universidade de Aveiro

Parque de Ciecircncia e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto

Visa o desenvolvimento de acccedilotildees de IampD transferecircncia de tecnologias incubaccedilatildeo

de empresas acolhimento empresarial formaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo cientiacutefica O Poacutelo do Mar

permitiraacute que os empreendedores desenvolvam as suas investigaccedilotildees eou testem os

seus protoacutetipos em meio marinho

148

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar httpwwwoceano21org

98

Consupesca

Com o objectivo especiacutefico de reduzir o consumo de combustiacutevel na frota da pesca

costeira e de arrasto

Panthalassa

Promover a seguranccedila alimentar e a sustentabilidade ambiental da produccedilatildeo da

transformaccedilatildeo e do consumo de pescado atraveacutes da implementaccedilatildeo de sistemas

integrados abrangendo toda a cadeia de produccedilatildeo que permitem para cada fase do

processo de fabrico desenvolver as melhores soluccedilotildees do ponto de vista ambiental e de

seguranccedila conferindo maior valor acrescentado aos produtos

Promoccedilatildeo e desenvolvimento do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos

Reforccedilo do turismo naacuteutico e dos desportos naacuteuticos em Portugal atraveacutes da

implementaccedilatildeo dos seguintes projectos

Construccedilatildeo do Terminal de Cruzeiros de Leixotildees tendo como objectivo reforccedilar a

posiccedilatildeo do Porto de Leixotildees no mercado do turismo de cruzeiros explorando a sua

localizaccedilatildeo no cruzamento de rotas entre o Atlacircntico nordeste e o Mediterracircneo e entre

as Caraiacutebas e a Europa

Construccedilatildeo do Centro de Mar em Viana do Castelo visando o desenvolvimento da

naacuteutica de recreio e dos desportos naacuteuticos e o reforccedilo da posiccedilatildeo de Viana do Castelo

como uma cidade da naacuteutica do Atlacircntico

Turismo Mariacutetimo de Natureza

Em especial na ilha da Morraceira (Figueira da Foz) e ilha das Berlengas (Peniche)

99

65 A Naacuteutica como factor de desenvolvimento regional

Como referi no capiacutetulo dedicado aos domiacutenios destacados pelo Livro Verde o

sector naacuteutico pode ter um papel importante no que concerne agrave protecccedilatildeo do legado

mariacutetimo e na sensibilizaccedilatildeo do puacuteblico No entanto as actividades naacuteuticas podem

desempenhar outras funccedilotildees vitais para a implementaccedilatildeo das poliacuteticas mariacutetimas

(regionais nacionais e europeias) e serem consideradas um activo gerador de emprego

de riqueza e bem-estar das populaccedilotildees

Pese embora que para se ter uma verdadeira identidade mariacutetima (hellip) ldquoeacute preciso

tempo para sentir o mar eacute algo que soacute se consegue com muito tempo eventualmente

com o tempo de uma vidardquo (hellip)149

Urge a necessidade de se formar geraccedilotildees que desde

cedo se familiarizem com o mar A praacutetica naacuteutica qualquer que seja a modalidade

permite despertar o interesse e consequentemente aproximar a populaccedilotildees jovens ao

mar

A este propoacutesito menciono o estudo do qual fui coordenador realizado pela

INTERCEacuteLTICA ndash Associaccedilatildeo Cultural Desportiva e Turiacutestica que coloca a Naacuteutica

como factor de desenvolvimento da regiatildeo Norte150

Este estudo estrateacutegico foi apoiado

pelo programa Operacional da Regiatildeo Norte (CCDR-N) com recurso ao FEDER

Numa primeira fase efectou-se um levantamentoinventaacuterio exaustivo ao sector

que incluiu diversos actores como a Autoridade Mariacutetima o Instituto Portuaacuterio e dos

Transportes Mariacutetimos os clubes as associaccedilotildees os portos de recreio as empresas de

animaccedilatildeo turiacutestica os operadores mariacutetimo-turiacutesticos o desporto escolar as federaccedilotildees

a induacutestria o comeacutercio e os serviccedilos naacuteuticos

O objectivo primeiro deste levantamento foi determinar a dimensatildeo do sector e qual

a sua importacircncia para com base na informaccedilatildeo obtida elaborar um plano estrateacutegico

que respondesse agraves reais necessidades e carecircncias do sector naacuteutico na regiatildeo Norte

Numa segunda fase foram elaboradas propostas de projectos que pudessem

futuramente ser enquadradas nas Agendas Regionais temaacuteticas do Turismo e do Mar e

consequentemente no QREN (2007-2013)

149

Discurso do Arqto Guilherme Guimaratildees nas comemoraccedilotildees oficiais do Dia Europeu do Mar 2010

(20 de Maio) a bordo do navio Gil Eannes em Viana do Castelo 150

Para mais informaccedilotildees sobre o Projecto Naacuteutica consultar o seguinte site

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

100

Foi apresentado um plano de acccedilatildeo com base nas propostas e recomendaccedilotildees que

datildeo estrutura a cinco eixos

Rede de infra-estruturas naacuteuticas

Assenta em trecircs medidas concretas a criaccedilatildeo dos centros coordenadores da

actividade naacuteutica aumento da capacidade instalada (massificaccedilatildeo da praacutetica) e na

qualificaccedilatildeo de serviccedilos

Dinamizaccedilatildeo turiacutestica

Estatildeo sintetizadas em trecircs itens criaccedilatildeo de pacotes naacuteuticos desenvolvimento de

empreendimentos turiacutesticos temaacuteticos e de serviccedilos de animaccedilatildeo naacuteutica

Dinamizaccedilatildeo da naacuteutica

Baseada em quatro medidas 1 ) Rede de equipamentos e actividades em bacias

hidrograacuteficas e albufeiras 2) Rede de prestadores de serviccedilos 3) Apetrechamento dos

agentes naacuteuticos 4) Formaccedilatildeo

Promoccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Essencialmente na estruturaccedilatildeo temaacutetica e ediccedilatildeo de material directoacuterio da naacuteutica

acccedilatildeo para a iniciaccedilatildeo agraves actividades naacuteuticas organizaccedilatildeo de eventos e criaccedilatildeo de

espaccedilos museoloacutegicos

Governacircncia

Com a aposta no conceito inovador de loja da naacuteutica (tipo loja do cidadatildeo) e no

estabelecimento de um observatoacuterio para o sector naacuteutico actualizaacutevel e disponiacutevel ao

puacuteblico

Estas propostas foram elaboradas com a intenccedilatildeo de promover projectos colectivos

que criem sinergias entre os diversos stakeholders do sector naacuteutico e que o capitalizem

econoacutemica social e ambientalmente tornando-o mais coeso e rumo a um

desenvolvimento sustentaacutevel

O Norte de Portugal deteacutem uma prodigiosa costa Atlacircntica e planos de aacutegua

interiores (rios lagos e zonas lacustres) singulares Trata-se sem duacutevida de um recurso

de inquestionaacutevel valor O desafio eacute tornaacute-lo um produto reconhecido e apeteciacutevel para

as populaccedilotildees residentes e em simultacircneo para os turistas

101

Conclusotildees

No decurso deste trabalho analisei a importacircncia do MAR para a Europa desde os

tempos dos descobrimentos ateacute agrave actualidade com a implementaccedilatildeo da PMIE Dada a

transversalidade do tema este trabalho aborda as componentes das poliacuteticas mariacutetimas

europeia nacional e regional (Norte de Portugal) Devo notar que este trabalho natildeo

pretende ser um estudo final eou conclusivo mas que possa ser considerado como ponto

de partida para posteriores aprofundamentos

Concluiacutedo este introacuteito passo a apresentar as conclusotildees finais

Como sabemos os oceanos ocupam dois terccedilos da aacuterea total do planeta Terra Esta

constataccedilatildeo permite desde logo concluir que as actividades mariacutetimas estatildeo longe de

atingir o seu potencial sisteacutemico

A histoacuteria da Europa particularmente a partir do periacuteodo medieval devido agrave sua

natureza geograacutefica em forma de peniacutensula e bem torneada pelo mar despoletou o

interesse dos europeus pelo desconhecido Por detraacutes do mare incognitum havia mitos e

lendas que uma vez superadas pela audaacutecia dos descobridores desencadearam uma

inovadora epopeia mariacutetima que culminou com a descoberta de rotas mariacutetimas culturas

civilizaccedilotildees e estabelecimento de intercacircmbios comerciais transnacionais Assim se

iniciou o processo de globalizaccedilatildeo atraveacutes do qual os portugueses tatildeo grande e valioso

contributo deram agrave Humanidade

Actualmente na Europa deparamo-nos com uma cenaacuterio econoacutemico preocupante

provocado essencialmente pela crise financeira mundial e constatamos que a Europa

natildeo consegue acudir a todas dificuldades dos Estados Membros perifeacutericos A Europa natildeo

pode estar soacute unida quando economicamente o ambiente eacute favoraacutevel e perante as

adversidades diminuir a sua solidariedade pondo em causa valores notaacuteveis como a

construccedilatildeo da Europa e a moeda uacutenica Para tal eacute vital restabelecer a unidade pois soacute

assim a UE pode lograr responder aos enormes desafios do seacuteculo XXI

Acredito que o que eacute urgente acima de tudo eacute unir os europeus O MAR sem sombra

de duacutevida dada a sua transversalidade e caso seja utilizado como denominador comum

aproximaraacute os europeus agraves instituiccedilotildees europeias desenvolveraacute a nossa euro ndashcidadania

e conduziraacute a um maior envolvimento dos concidadatildeos nas decisotildees europeias

102

Voltando ao tema do trabalho em anaacutelise reforccedilo mais uma vez que foi o presidente

da Comissatildeo Europeia o portuguecircs Joseacute Manuel Duratildeo Barroso que lanccedilou no iniacutecio do

seu mandato o processo de construccedilatildeo para uma verdadeira Poliacutetica Mariacutetima Integrada

Europeia

A PMIE tornou-se um instrumento exemplar de savoir faire da poliacutetica apoiada

numa estrateacutegica botton up permitindo que os europeus dessem o seu contributo e

participassem na sua implementaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo desta poliacutetica tem como objectivos

melhorar a eficaacutecia da acccedilatildeo governamental no domiacutenio do mar e explorar melhor as

sinergias a fim de aumentar o crescimento econoacutemico e a sustentabilidade ambiental

tendo sempre presente a dimensatildeo social E assim poder ainda responder aos desafios

prementes da protecccedilatildeo do ambiente seguranccedila mariacutetima crescimento econoacutemico

emprego qualificado e contribuir tambeacutem para o bem-estar das populaccedilotildees

Esta ldquoeuroapostardquo mariacutetima cujo potencial esmiucei ao longo deste trabalho pode ser

decisiva e contribuir fortemente para a afirmaccedilatildeo da Europa no mundo Espero tambeacutem

que possa servir de exemplo a outras regiotildees do mundo de momento ainda

subdesenvolvidas mas que se apresentam com iacutendices de crescimento exponenciais

Em Portugal desde o seacuteculo XIV (D Joatildeo I) ateacute ao Estado Novo o cluster mariacutetimo

foi o nosso ldquocartatildeo de visitardquo no plano internacional Este apresentado como paradigma

incluiacutea a navegaccedilatildeo comercial a pesca longiacutenqua (pe o bacalhau) e a construccedilatildeo naval

que ombreava com os melhores construtores a niacutevel mundial Como prova da

demonstraccedilatildeo puacuteblica deste reconhecimento invoco a estatuaacuteria que enaltece os feitos

histoacutericos do navegadores portugueses como por exemplo D Sebastiatildeo em Lagos

Vasco da Gama em Sines Infante D Henrique no Porto e Londres (Belgrave Square)

Joatildeo Aacutelvares Fagundes em Viana do Castelo

Portugal integrado haacute vinte e cinco anos na Uniatildeo Europeia natildeo se conseguiu impocircr

nas questotildees mariacutetimas Perdeu uma boa oportunidade para tirar partido desta integraccedilatildeo

menosprezando os fundos comunitaacuterios para desenvolver o seu cluster mariacutetimo

chegando ateacute cair no esquecimento e ficar praticamente extinto no terceiro quartel do

seacuteculo XX

103

Foi lamentaacutevel esta inoperacircncia de Portugal junto da UE e vice-versa Ou seja nem

Portugal soube aproveitar os generosos fundos europeus para desenvolver o sector

mariacutetimo nem a UE soube aproveitar a mais-valia do know-how luso das actividades

mariacutetimas agrave semelhanccedila do que sucedeu com a Alemanha como paiacutes exportador por

excelecircncia e da Franccedila com a PAC

Talvez a explicaccedilatildeo para este desvio fosse a seduccedilatildeo dos portugueses pelos fundos

europeus para aplicar em novas aacutereas com resultados visiacuteveis e imediatos a curto prazo

e cujo retorno econoacutemico hoje ainda questionamos

A ldquodemocraciardquo voltou costas ao seu passado de seacuteculos ndash o MAR Diversos factores

do passado recente contribuiacuteram para esta situaccedilatildeo a saber a descolonizaccedilatildeo e o

sentimento generalizado de ruptura com a ideologia do Estado Novo (pois a sua

propaganda estava fortemente ligada ao domiacutenio mariacutetimo) E Portugal limitou-se apenas

a exercer o domiacutenio mariacutetimo aquando da adesatildeo nas 12 milhas mariacutetimas Portugal

focou-se no bloco terrestre contrariando assim o seu percurso natural e ancestral

ldquoSe Portugal sempre ignorou o mar sua agenda europeia natildeo o perspectivando

como um activo estrateacutegico ao interesse nacional tambeacutem a proacutepria UE se viu desde

sempre a si proacutepria como um bloco terrestre capitaneado pelo eixo continental traccedilado

ao longo de deacutecadas entre Paris e Bona do que como a potecircncia mariacutetima que tambeacutem eacute

O tratado de Roma eacute omisso quanto ao potencial dos oceanos e dos mares que circundam

a Europa para o processo de integraccedilatildeo europeia a politica comum de pescas nasce

tardia e gradualmente por analogia da PAC e os transportes mariacutetimos ficaram de fora

da politica europeia de transportes e logo da rede transeuropeia de transportes por muito

tempo praticamente ateacute ao Livro Branco dos Transportes de 2001rdquo151

Com o lanccedilamento da PMIE Portugal compreendeu a importacircncia da sua vocaccedilatildeo

mariacutetima para os assuntos europeus e finalmente tem uma estrateacutegia mariacutetima para

implementar no territoacuterio nacional decorrente da perspectiva europeia Esta atitude foi

reforccedilada pela actuaccedilatildeo do governo portuguecircs especialmente durante a Presidecircncia

Portuguesa da UE em 2007 onde Portugal deixou a sua griffe com a aprovaccedilatildeo da

poliacutetica mariacutetima europeia De novo Portugal e a Europa estatildeo agora voltados para o mar

151

Dr Tiago Pitta e Cunha (2010) art cit na Revista do Centro de Informaccedilatildeo Europeia Jacques Delors -

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627 Lisboa Principia

p186

104

com uma visatildeo mais abrangente e integrada e em uniacutessono para os sectores ligados ao

mar Em consequecircncia destes acontecimentos a regiatildeo Norte de Portugal elaborou uma

Agenda para o mar e tem estruturas universitaacuterias a desenvolver actividades cientiacuteficas e

laboratoriais associadas agrave iniciativa privada que permitem dar uma nova visatildeo econoacutemica

ao mar

Para que Portugal cumpra o mar como desiacutegnio nacional eacute necessaacuterio iniciar-se um

novo ciclo que aproxime os portugueses do mar Exige-se uma nova vaga de fundo para

desenvolver a nossa cultura mariacutetima como jaacute tem sucedido em outros Estados membros

atraveacutes de um processo de enculturaccedilatildeo A formaccedilatildeo joga um papel determinante para o

sucesso deste objectivo Os planos curriculares das escolas e universidades portuguesas

podem ser o ponto de partida deste novo ciclo despertando o interesse nas camadas

jovens e influenciando-os para o gosto da nossa heranccedila mariacutetima permitindo vivenciar

e experienciar actividades de mar de modo a serem eles no futuro a capitalizarem as

potencialidades do mar

Se compararmos em termos de territoacuterio e de populaccedilatildeo com os parceiros europeus

verificamos que Portugal natildeo eacute um paiacutes pequeno estamos ao mesmo niacutevel de paiacuteses como

a Beacutelgica Repuacuteblica Checa Holanda Dinamarca Irlanda e Greacutecia Isto sem referir a

ZEE que em breve poderaacute catapultar o nosso paiacutes para o deacutecimo lugar do ranking

mundial de paiacuteses mariacutetimos

Como sabemos o ldquocentro de gravidaderdquo da Uniatildeo Europeia deslocou-se para leste

devido agrave entrada de novos Estados membros (alargamento a vinte e sete) E Portugal

atraveacutes da agenda europeia para o mar pode tornar-se apesar de ser um paiacutes perifeacuterico

um verdadeiro liacuteder nas poliacuteticas europeias

Voltando a questatildeo inicial A Poliacutetica Mariacutetima Europeia ndash uma poliacutetica feita agrave

medida de Portugal penso que apesar de jaacute termos dado alguns passos na integraccedilatildeo de

poliacuteticas mariacutetimas eacute no entanto imprescindiacutevel uma vontade poliacutetica perseverante que

afirme Portugal na Europa defenda a nossa heranccedila e salvaguarde o futuro do nosso paiacutes

Oxalaacute saibamos aproveitar este ldquooceanordquo de oportunidades

105

Fontes e bibliografia

Fontes

Documentos COM (Comunicaccedilotildees da Comissatildeo Europeia)

COM (2010) 494 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Proposta de Regulamento do Parlamento

Europeu e do Conselho Europeu que estabelece um programa de apoio ao

aprofundamento da poliacutetica mariacutetima integrada Comissatildeo Europeia 2010

COM (2009) 540 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Relatoacuterio de progresso sobre a poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo Europeia

Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 538 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Towards the integration of maritime surveillance A common information sharing

environment for the EU maritime domain Comissatildeo Europeia 2009

COM (2009) 536 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Desenvolver a dimensatildeo internacional da poliacutetica mariacutetima integrada da Uniatildeo

Europeia Comissatildeo Europeia 2009

106

COM (2009) 8 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Objectivos estrateacutegicos e recomendaccedilotildees para a poliacutetica comunitaacuteria de transporte

mariacutetimo no horizonte de 2018 Comissatildeo Europeia 2009

COM (2008) 791 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo Roteiro para o ordenamento

do espaccedilo mariacutetimo definiccedilatildeo de princiacutepios comuns na EU Comissatildeo Europeia 2008

COM (2008) 395 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Orientaccedilotildees para uma abordagem integrada da poliacutetica mariacutetima rumo a melhores

praacuteticas de governaccedilatildeo mariacutetima integrada e de consulta das partes interessadas

Comissatildeo Europeia 2008

COM (2007) 575 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Uma poliacutetica mariacutetima integrada para a Uniatildeo Europeia Comissatildeo Europeia 2007

COM (2007) 574 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu ao

Parlamento Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees

Conclusotildees da consulta sobre uma poliacutetica mariacutetima europeia Comissatildeo Europeia

2007

COM (2006) 275 final Volume I

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho ao Parlamento

Europeu ao Comiteacute Econoacutemico e Social Europeu e ao Comiteacute das Regiotildees Para uma

futura poliacutetica mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares

Comissatildeo Europeia 2006

107

COM (2006) 275 final Volume II

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde para uma futura poliacutetica

mariacutetima da Uniatildeo ndash uma visatildeo europeia para os oceanos e os mares Comissatildeo

Europeia 2006

COM (2006) 105 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Livro Verde Estrateacutegia europeia para uma

energia sustentaacutevel competitiva e segura Comissatildeo Europeia 2006

COM (2005) 658 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Reexame da Estrateacutegia em favor do desenvolvimento sustentaacutevel

Uma plataforma de acccedilatildeo Comissatildeo Europeia 2005

COM (2005) 505 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Directiva do Parlamento Europeu e do

Conselho Europeu que estabelece um quadro de acccedilatildeo comunitaacuteria no domiacutenio da

poliacutetica para o meio marinho (Directiva ldquoestrateacutegia para o meio marinhordquo) Comissatildeo

Europeia 2005

COM (2005) 504 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo ao Conselho Europeu e ao

Parlamento Europeu Estrateacutegia temaacutetica para a protecccedilatildeo e conservaccedilatildeo do meio

marinho Comissatildeo Europeia 2004

COM (2002) 511 final

UNIAtildeO EUROPEIA Comissatildeo Europeia ndash Comunicaccedilatildeo da Comissatildeo Europeu ao

Conselho e ao Parlamento Europeu Estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel da

aquicultura europeia Comissatildeo Europeia 2002

108

Outras fontes

Agenda Regional do Mar Plano de Acccedilatildeo ldquoMARrdquo 2007-2013 (2009) Porto CCDR-

NMinisteacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do Desenvolvimento

Regional

Encontro Porto Cidade Regiatildeo Para uma Regiatildeo do Conhecimento (2008) Porto

Reitoria Universidade do Porto

Estrateacutegia Nacional para o Mar (2006) Lisboa EMAMMinisteacuterio da Defesa

Nacional

Genuinely Sustainable Marine Ecotourism in the EU Atlantic Area a Blueprint for

Responsible Marketing (2006) Bristol University of West of England

ldquoOs clusters mariacutetimos na encruzilhada da inovaccedilatildeo e do desenvolvimento regionalrdquo

Inforegio panorama nordm 23 (2007) Bruxelas Comissatildeo Europeia DG Poliacutetica Regional

Plano de Acccedilatildeo para o Desenvolvimento Turiacutestico do Norte de Portugal (2008) Porto

CCDR-N Ministeacuterio do Ambiente do Ordenamento do Territoacuterio e do

Desenvolvimento Regional

109

Internet

Agecircncia Europeia de Seguranccedila Mariacutetima

wwwemsaeuropaeu (acedido 5 de Marccedilo de 2010)

AquaMuseu do rio Minho

httpaquamuseucm-vncerveirapt (acedido 13 de Setembro de 2010)

Atlas Europeu dos Mares

httpeceuropaeumaritimeaffairsatlas (acedido 22 de Outubro de 2010)

Instituto Nacional da Aacutegua

wwwinagpt (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Instituto Hidrograacutefico

wwwhidrografico (acedido 2 de Dezembro de 2010)

Centro Interdisciplinar de Investigaccedilatildeo Marinha e Ambiental

wwwcimarorg (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Centro Tecnoloacutegico del Mar - Fundacioacuten CETMAR

httpwwwcetmarorg (acedido 8 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Agecircncia Europeia do Ambiente

wwweeaeuropaeu (acedido 4 de Janeiro de 2011)

Comissatildeo Europeia ndash Assuntos Mariacutetimos

httpeceuropaeumaritimeaffairsindex_enhtml (acedido 12 de Janeiro 2011)

Comissaacuterio Europeu Joe Borg

httpeceuropaeucommission_barrosoborgindex_enhtml (acedido 20 Dezembro de 2009)

Comissatildeo Europeia ndash O nosso Planeta Oceano

httpeceuropaeuresearchrtdinfsupptindex_pthtml (acedido 15 de Junho de 2010)

110

Comissatildeo Europeia ndash Pesca

httpeceuropaeufisheriesindex_pthtml (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comissatildeo Europeia ndash Sea Search

wwwsea-seachnet (acedido 30 de Outubro de 2010)

Comiteacute das Regiotildees

httpwwwcoreuropaeu (acedido 13 de Setembro de 2010)

Dia Europeu do Mar

httpeceuropaeumaritimeaffairsmaritimeday (acedido 10 de Novembro de 2010)

European Sea Ports Organization

wwwespobe (acedido 30 de Outubro de 2010)

Estaccedilatildeo Litoral da Aguda

httpwwwfundacao-elapt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Estrutura de Missatildeo para os Assuntos do Mar

wwwemamcompt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

FAO ndash Fisheries Department

httpfaoorgfidefaultesp (acedido 22 Novembro 2010)

Foacuterum Empresarial da Economia do Mar

httpwwwfempt (acedido 15 de Dezembro de 2010)

Foacuterum Europeu Mariacutetimo

httpswebgateeceuropaeumaritimeforum (acedido 10 de Novembro de 2010)

Fundaccedilatildeo Gil Eannes

wwwfundacaogileannespt (acedido 12 de Setembro de 2010)

Gestatildeo Integrada das Zonas Costeiras

httpeceuropaeuenvironmenticzmourcoasthtm (acedido 5 de Janeiro de 2011)

111

International Maritime Organization

httpimoorg (acedido 14 de Novembro de 2010)

Irish Marine Institute

httpwwwmarineie (acedido 6 de Maio de 2010)

Instituto Portuaacuterio e dos Transportes Mariacutetimos

wwwimarporpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Instrumento Europeu de Vizinhanccedila e de Parceria

httpeceuropaeuworldenpfunding_enhtm (acedido 18 de Outubro de 2010)

Jogos Naacuteuticos Atlacircnticos

wwwjnieaeu (acedido 20 Agosto de 2010)

Lancha Poveira

httpwwwpovoadevarzimcomptlanchapoveiraphp (acedido 30 de Outubro de 2010)

Museu da Marinha

wwwmuseumarinhamuseusiteptpt (acedido 20 Agosto de 2010)

Nautisme Espace Atlantique 2

wwwnea2eu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

ONU ndash Department of Economic and Social Affairs

httpwwwunorgesasustdevdocumentsWSSD_POI_PDEnglishPOITochtm (acedido 30

de Setembro de 2010)

Oceanaacuterio de Lisboa

wwwoceanariopt (acedido 20 Agosto de 2010)

Oceano XXI Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar

httpwwwoceano21org (acedido 3 de Dezembro de 2010)

Parlamento Europeu

httpwwweuroparleuropaeufactsheets1_2_2_pthtm (acedido 9 de Novembro de 2010)

112

Plano de Ordenamento do Espaccedilo Mariacutetimo

httppoeminagpt (acedido 29 de Dezembro de 2010)

Polis Litoral Norte

wwwpolislitoralnortept (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria de Aveiro

wwwpolisriadeaveiropt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Polis Ria Formosa

wwwpolislitoralriaformosapt (acedido 17 de Dezembro de 2010)

Presidecircncia da Repuacuteblica Portuguesa

httpwwwpresidenciapt (acedido 10 de Janeiro de 2011)

Projecto Naacuteutica

httpwwwprojectonauticacomindexphpseccao=nauticaampcontent=apresentacao

(acedido 14 de Janeiro de 2011)

Quadro de Referecircncia Estrateacutegico Nacional (QREN)

wwwqrenpt (acedido 14 de Janeiro de 2011)

SaeR ndash Sociedade de Avaliaccedilatildeo Estrateacutegica e Risco Lda

wwwsaerpr (acedido 12 Dezembro de 2010)

Surfrider Foundation Europe

wwwsurfridereu (acedido 14 de Janeiro de 2011)

113

Bibliografia

AIRALDI Gabriela (2007) DallacuteEurosia al Nuovo Mondo Una Storia italiana secc

XI-VVI Geacutenova Itaacutelia Fratelli Frilli Editori

ALBUQUERQUE Luiacutes (2001) Introduccedilatildeo agrave Histoacuteria dos Descobridores Portugueses

Lisboa Publicaccedilatildeo Europa-Ameacuterica

Europa Novas Fronteiras ndash Portugal ndash 25 Anos de Integraccedilatildeo Europeia nordm 2627

(2010) Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Aacutereas-chave nordm 20 (2006)

Lisboa CIEJDPrincipia

Europa Novas Fronteiras ndash Poliacutetica Mariacutetima Europeia Perspectivas e linhas

estrateacutegicas nordm 19 (2006) Lisboa CIEJDPrincipia

FERNANDEZ-ARNESTO Felipe (2001) Civilizations Culture Ambition and the

Transformation of Nature Nova Iorque EUA Simom amp Shuster

BOORSTIN Daniel (1986) The Discovers Nova Iorque EUA Vintage Press

BOXER Charles R (2001) O Impeacuterio Mariacutetimo Portuguecircs 1415-1825 Lisboa

Ediccedilotildees 70

CARVALHO Virgiacutelio (1995) A Importacircncia do Mar para Portugal Venda Nova

Bertrand

COSTA Joatildeo Paulo O (2009) Henrique o Infante Lisboa A Esfera dos Livros

DREYER Edward L (2007) Zheng He - China and the Oceans in the early Ming

Dynasty ndash 14051433 Nova Iorque EUA Pearson Education

114

HUBERMAN Leo (1970) Histoacuteria da Riqueza do Homem Rio de Janeiro Brasil

Zahar Editores

HUTTON Will (2006) The Writing on the Wall - Why We Must Embrace China as a

Partner or Face It as an Enemy Nova Iorque EUA Free Press

LEITAtildeO Augusto R (2006) Organizaccedilotildees Europeias Coimbra FEUC

PERES Damiatildeo (1982) Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses Trofa Vertente

MATIAS Nuno V MARQUES Viriato S FALCATO Joatildeo LEITAtildeO Aristides G

(2010) Poliacuteticas Puacuteblicas do Mar Lisboa Esfera do Caos

SILVA Antoacutenio M (2005) Portugal e a Europa ndash distanciamento e reencontro Viseu

CHSCPalimage Editores

RIBEIRO Maria Manuela T (Coord) (2007) Mare Oceanus ndash Atlacircntico espaccedilo de

diaacutelogos Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm6 Coimbra Almedina

RIBEIRO Maria Manuela T (2003) A ideia de Europa uma perspectiva histoacuterica

Colecccedilatildeo Estudos sobre a Europa nordm 3 Coimbra CEIS 20Quarteto Editora

RODRIGUES Jorge amp DEVEZAS Tessaleno (2009) Portugal ndash O Pioneiro da

Globalizaccedilatildeo A Heranccedila das Descobertas VN Famalicatildeo Centro Atlacircntico

RODRIGUES Antoacutenio S (1997) Histoacuteria Comparada - Portugal Europa e o Mundo

Cronologia Lisboa Tema amp Debates

SMITH Adam (1976) Inquiry into the Nature and Causes of Wealth of Nations

Chicago EUA The University of Chicago Press

Page 8: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 9: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 10: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 11: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 12: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 13: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 14: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 15: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 16: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 17: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 18: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 19: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 20: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 21: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 22: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 23: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 24: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 25: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 26: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 27: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 28: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 29: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 30: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 31: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 32: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 33: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 34: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 35: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 36: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 37: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 38: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 39: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 40: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 41: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 42: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 43: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 44: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 45: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 46: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 47: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 48: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 49: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 50: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 51: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 52: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 53: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 54: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 55: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 56: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 57: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 58: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 59: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 60: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 61: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 62: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 63: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 64: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 65: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 66: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 67: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 68: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 69: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 70: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 71: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 72: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 73: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 74: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 75: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 76: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 77: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 78: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 79: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 80: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 81: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 82: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 83: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 84: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 85: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 86: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 87: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 88: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 89: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 90: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 91: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 92: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 93: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 94: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 95: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 96: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 97: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 98: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 99: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 100: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 101: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 102: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 103: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 104: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 105: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 106: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 107: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 108: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 109: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 110: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 111: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 112: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 113: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 114: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 115: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 116: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 117: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 118: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 119: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 120: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 121: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 122: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 123: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à
Page 124: POLÍTICA MARÍTIMA EUROPEIA · Portugal, o siglo de oro espanhol, o ciclo holandês e a hegemonia marítima inglesa. Para terminar o enquadramento histórico, faço referência à