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Política de Concorrência da União Europeia XXXI Relatório sobre a Política de Concorrência 2001 Comissão Europeia Direcção-Geral da Concorrência

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Page 1: Política de Concorrência da União Europeia...bancos públicos na Alemanha e de lançar um vasto inquérito sobre os efeitos dos auxílios con-cedidos sob a forma de medidas fiscais,

Política de Concorrência da União Europeia

XXXI Relatório sobre a Política de Concorrência

2001

Comissão EuropeiaDirecção-Geral da Concorrência

Page 2: Política de Concorrência da União Europeia...bancos públicos na Alemanha e de lançar um vasto inquérito sobre os efeitos dos auxílios con-cedidos sob a forma de medidas fiscais,

Encontram-se disponíveis numerosas outras informações sobre a União Europeia na rede Internet, via servidor Europa (http://europa.eu.int)

Uma ficha bibliográfica figura no fim desta publicação

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2002

ISBN 92-894-3540-2

© Comunidades Europeias, 2002Reprodução autorizada mediante indicação da fonte

Printed in Belgium

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No decurso de 2001 registou-se uma intensa acti-vidade nos três domínios da política de concor-rência:

antitrust

, controlo das operações deconcentração e auxílios de Estado. Vários proces-sos objecto de decisão por parte da Comissão sus-citaram grande interesse junto do público, devidoquer ao montante particularmente elevado dascoimas ou dos auxílios, quer à dimensão das ope-rações de concentração que não foram autoriza-das ou ainda devido aos importantes acordosalcançados em processos

antitrust

ligados ao des-porto (transferências de jogadores de futebol,Fórmula 1). No domínio das operações deconcentração continuou a haver uma grande acti-vidade, não obstante o facto de a taxa deconcentrações notificadas que dão origem a deci-sões de proibição continuar a ser muito reduzida.A Comissão adoptou um livro verde sobre a revi-são do regulamento das operações de concentra-ção com o objectivo de lançar um debate sobre aforma de melhorar o actual sistema comunitáriode controlo destas operações.

Efectuaram-se igualmente progressos importan-tes no domínio da política dos auxílios estatais. OConselho Europeu de Estocolmo exortou todos osEstados-Membros a apresentarem uma tendênciadecrescente a nível dos auxílios estatais e a reori-entarem os auxílios para objectivos horizontais deinteresse comum. A maior transparência induzidapelo novo registo dos auxílios estatais e pelo novopainel dos auxílios estatais permitirá controlar osprogressos alcançados pelos Estados-Membros.Importantes decisões em que nos tornámos pio-neiros incluem, nomeadamente, as propostas depôr termo às garantias estatais concedidas aosbancos públicos na Alemanha e de lançar umvasto inquérito sobre os efeitos dos auxílios con-cedidos sob a forma de medidas fiscais, bem comas decisões relativas aos custos irrecuperáveis nosector da electricidade.

Neste contexto, é particularmente importantepara mim, enquanto comissário responsável pelaconcorrência, explicar as vantagens da política de

concorrência, bem como o trabalho realizadopela Comissão Europeia neste domínio. O pre-sente relatório anual constitui uma boa ocasiãopara lançar um olhar crítico sobre o que já reali-zámos, tirar conclusões sobre a nossa acçãofutura e verificar se a nossa acção se encontra emconsonância com o nosso objectivo.

O nosso objectivo consiste em garantir que a con-corrência funcione sem distorções, a fim de asse-gurar uma maior possibilidade de escolha aosconsumidores, a inovação tecnológica e a concor-rência a nível dos preços. Este objectivo será rea-lizado se as empresas concorrerem entre si emvez de adoptarem comportamentos concertados ese não abusarem do seu poder de mercado.Quando existe uma concorrência efectiva, os pro-dutores tentam atrair os clientes propondo-lhesum preço mais baixo, uma qualidade mais ele-vada ou um melhor serviço do que os seus con-correntes. Por outras palavras, comprome-temo-nos a trabalhar em benefício dos cidadãoseuropeus. É à luz dos exemplos referidos no pre-sente relatório que poderemos verificar se esteobjectivo foi atingido.

O relatório apresenta um amplo resumo da formacomo a Comissão Europeia desempenhou a suafunção de controlo do bom funcionamento daconcorrência no mercado interno. Quanto a esteaspecto, gostaria de sublinhar dois pontos relati-vamente aos quais foram realizados progressosimportantes em 2001: a luta contra os cartéis e acooperação internacional e multilateral (incluindoo alargamento).

Cartéis

Montante recorde de coimas

Um dos factos marcantes de 2001 é sem dúvidaalguma a actividade sem precedentes desenvol-vida no domínio dos cartéis. Com dez decisões

PREFÁCIO DE MARIO MONTI

Membro da Comissão responsável pela política de concorrência

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negativas contra 56 empresas, um montante glo-bal de coimas superior a 1 800 milhões de euros,dos quais cerca de metade provêm exclusiva-mente do processo «Vitaminas», bem como acoima individual mais elevada alguma vez apli-cada (no processo «Papel autocopiativo»), 2001será sem dúvida um ano significativo na históriada luta da Comissão Europeia contra os cartéis.

Desde que assumi as minhas funções em Setem-bro de 1999, tive oportunidade, em várias ocasi-ões, de referir clara e publicamente que consideroque as práticas de cartel constituem um verda-deiro cancro para uma economia de mercadoaberta e moderna. Contrariamente a outras for-mas de comportamento que restringem a concor-rência, têm por único objectivo reduzir ou elimi-nar a concorrência, não produzindo qualquerefeito benéfico para a economia e não podendo,por conseguinte, beneficiar de um balanço econó-mico favorável. Os seus únicos efeitos são nega-tivos, na medida em que reduzem a escolha dosconsumidores, provocam um aumento dos custose uma redução da competitividade da indústria,um atraso nas adaptações necessárias das empre-sas e desvantagens no domínio da inovação.

Este é o preço a pagar por uma economia domi-nada por cartéis. E é um preço elevado para a eco-nomia europeia. Tal como o demonstram as deci-sões adoptadas este ano, os cartéis são numerosose grassam em vários domínios: dos serviços ban-cários aos produtos industriais e dos transportesaéreos aos produtos de consumo corrente. Envol-vem tanto empresas de dimensão reduzida comoas maiores empresas mundiais e afectam tantomercados locais como mercados mundiais.

Reforço da aplicação do Direito da Concorrência

Assumi as minhas funções de comissário respon-sável pela Concorrência com a determinação dereforçar a acção da Comissão neste domínio. Comefeito, tenho a convicção de que a eficácia de umapolítica anticartéis reside sobretudo na sua capaci-dade de dissuadir os dirigentes das empresas de seenvolverem em comportamentos deste tipo. Ora,uma tal dissuasão só é eficaz se as probabilidadesde se ser sancionado forem reais e se o montantedas sanções for suficientemente elevado em rela-ção aos benefícios esperados de um cartel.

Esta prioridade traduziu-se, desde há dois anos,numa acção aprofundada no domínio do trata-

mento dos processos. Temos reforçado conside-ravelmente os meios humanos e materiais danossa Unidade especializada no tratamento decartéis e continuaremos a fazê-lo em 2002. Reori-entámos as prioridades das outras Unidades ope-racionais

antitrust

da Direcção-Geral de Concor-rência para a luta anticartéis, tanto no que dizrespeito à detecção como à instrução e à condena-ção dos cartéis. Intensificámos os contactos comos nossos colegas das autoridades responsáveispela concorrência dos Estados-Membros, mastambém com os colegas de outras autoridades,nomeadamente, as autoridades americanas ecanadianas, a fim de melhor fazer face a práticasque se globalizam. Criámos instrumentos quepermitem uma gestão mais eficaz e mais céleredos processos relativos a cartéis.

Os êxitos significativos registados em 2001 cons-tituem os primeiros frutos desta acção e congra-tulo-me por esse facto. Estes constituem, noentanto, apenas uma etapa.

A credibilidade de uma política anticartéis, a suaforça de dissuasão e, por conseguinte, a sua eficá-cia, baseiam-se no longo prazo. Os dirigentes dasempresas que levam a cabo estas práticas devemconvencer-se que não lhes daremos tréguas, queserão detectados e que as sanções serão elevadas.Em suma, que é mais perigoso do que lucrativoparticipar num cartel e que a única possibilidadede atenuar as consequências financeiras dos seusactos é pôr-lhes termo e contactarem-nos noâmbito do programa de clemência.

Alargamento e concorrência

O ano de 2001 foi igualmente um ano importantepara as negociações de adesão no domínio daconcorrência. Estas negociações foram provisori-amente encerradas no início de Dezembro com aEstónia, Letónia, Lituânia e Eslovénia. Prosse-guem com a Bulgária, Chipre, República Checa,Hungria, Malta, Eslováquia, Polónia e Roménia.Todavia, a vigilância prossegue sem interrupçãomesmo em relação aos quatro países candidatosrelativamente aos quais o capítulo «Concorrên-cia» foi provisoriamente encerrado. Esta con-clusão provisória em 2001 das negociações comquatro países candidatos traduz os progressossignificativos que estes realizaram na adopção eaplicação do acervo comunitário no domínio daconcorrência.

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Nos próximos meses, a Comissão continuará aprestar assistência aos países candidatos no pro-cesso de transformações necessárias a levar acabo no domínio da concorrência. A este respeito,gostaria de sublinhar o problema dos auxíliosestatais incompatíveis nos países candidatos,nomeadamente os destinados a atrair o investi-mento directo estrangeiro. Com efeito, a inexis-tência de uma regulamentação adequada emmatéria de auxílios de Estado constitui o princi-pal obstáculo para os países candidatos em que ocapítulo «Concorrência» não foi ainda provisori-amente encerrado. Como temos necessidade depreservar a integridade do mercado interno, a UEnão pode aceitar que continuem a ser concedidosauxílios estatais incompatíveis nos países candi-datos após a sua adesão. Esta questão reveste umaimportância crucial para os investidores, porexemplo, que procuram a segurança jurídica. Poresta razão, a Comissão está activamente a auxiliaros países candidatos a converterem os auxíliosestatais incompatíveis em regimes de auxíliosadmissíveis, antes da adesão.

Para que a sua integração na União constitua umêxito, os países candidatos devem igualmenteadquirir uma cultura de concorrência que permitaàs empresas aprenderem a respeitar as regras eaos consumidores ganharem cada vez mais cons-ciência das vantagens da concorrência. Tal é par-ticularmente importante porque a tomada deconsciência do papel desempenhado pela políticade concorrência permite igualmente melhorar aaplicação das regras nesta matéria. As empresas eos particulares podem contribuir significativa-mente para a aplicação destas regras ao intenta-rem acções no domínio da concorrência junto dostribunais e ao apresentarem denúncias às autori-dades responsáveis pela concorrência. Esperoque tal possa igualmente acontecer cada vez commais frequência nos países candidatos, pois talcontribuirá para garantir a existência de uma con-corrência sã nos mercados e, por essa mesmarazão, concluir o processo de transição nos paísescandidatos tendente a instituir uma economia demercado que funcione correctamente.

Como é do vosso conhecimento, as propostas demodernização apresentadas pela Comissão nodomínio

antitrust

destinam-se precisamente afavorecer uma tal cultura de concorrência. Areforma proposta tem por objectivo asseguraruma aplicação ainda mais eficaz das regras

anti-trust,

graças à aplicabilidade directa de todos oselementos das regras

antitrust

pelos tribunais e

pelas autoridades nacionais. Para além disso,tem-se atribuído particular ênfase ao reforço darede existente entre a Comissão e as autoridadesnacionais competentes em matéria de concorrên-cia. Uma tal rede reveste, evidentemente, tambémuma grande importância para os países candida-tos. As datas previstas para a adesão dos novosEstados-Membros e para a aplicação da reformano sector

antitrust

são essencialmente coinciden-tes. A partir do momento em que os países candi-datos se tornem Estados-Membros, as suas autori-dades

antitrust

tornar-se-ão parte integrante damais descentralizada e mais activa rede de aplica-ção da legislação neste domínio. Nesta perspec-tiva, a actual fase de pré-adesão é particularmenteimportante. Tendo em conta os progressos já rea-lizados e os contactos regulares que foram estabe-lecidos entre a Comissão e as autoridades respon-sáveis pela concorrência dos países candidatos,devemos estar confiantes quanto ao futuro.

Cooperação internacional e multilateral

Em tempo de globalização, a cooperação interna-cional não deve limitar-se aos países candidatos.Devemos encontrar meios para aproximar a nívelmundial não apenas as autoridades responsáveispela concorrência, mas igualmente os conceitosda política de concorrência. Em 2001, foram rea-lizados progressos em duas formas de coopera-ção multilateral, tendo a Comissão desempe-nhado sempre um papel motor nas iniciativas queestiveram na origem destas acções.

OMC: comércio e política de concorrência

A Organização Mundial do Comércio (OMC) éum fórum dos mais importantes. Em 1996 lançá-mos a ideia de um acordo multilateral sobre ocomércio e a concorrência. A 4.ª Reunião Minis-terial da OMC, que se realizou em Doha (Qatar)de 9 a 14 de Novembro de 2001, adoptou umadeclaração relativa à «interacção entre o comér-cio e a política de concorrência». Esta declaraçãoconstitui um passo essencial nos esforços quetemos desenvolvido no sentido de se elaboraremregras de concorrência multilaterais no âmbito daOMC, na medida em que se reconhece pela pri-meira vez que a OMC tem boas razões para nego-ciar e celebrar um acordo multilateral em matériade comércio e concorrência. Até há pouco tempo,o próprio princípio de um acordo deste tipo noâmbito da OMC continuava a ser uma questãomuito controversa. O reconhecimento da impor-

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tância da criação de um tal quadro e da suarelevância nas áreas do desenvolvimento e docomércio internacional contribuirá para a intro-dução e igualmente para uma aplicação mais efi-caz das regras de concorrência nacionais, commaior benefício para os consumidores do mundointeiro. Além disso, mesmo que os proponentesdas regras de concorrência multilaterais tenhamde aguardar a 5.ª Reunião Ministerial da OMCpara que se dê início formal à fase das negocia-ções sobre um acordo multilateral, foi desde jáassumido um compromisso claro de encetar estasnegociações numa determinada data e esta ques-tão será abrangida pelo compromisso único. Naprática, entramos agora numa «fase preparató-ria», durante a qual podemos realizar muito tra-balho útil para clarificar, com os nossos parceirosdos países em desenvolvimento e dos paísesdesenvolvidos, os elementos que serão necessá-rios para tal acordo. Além disso, as propostas daUE sobre os principais elementos que constitui-rão este acordo foram amplamente aceites emDoha. Com efeito, a declaração centra-se nos ele-mentos que a UE considera deverem ser aborda-dos em primeiro lugar para efeitos de clarificação(princípios fundamentais da política de concor-rência, tais como a transparência, a não discrimi-nação e a imparcialidade processual, o compro-misso de declarar ilegais os cartéis graves e asmodalidades de cooperação voluntária entre asautoridades

antitrust

). Finalmente, a declaraçãoabre caminho a uma assistência técnica mais ori-entada e a um reforço das capacidades, o que per-mitirá às economias dos países emergentes e dospaíses em desenvolvimento compreender melhore apreciar a importância destas questões.

Rede Internacional da Concorrência

Numa base mais informal, foi lançada em Outu-bro a Rede Internacional da Concorrência (RIC),na sequência de discussões intensas ocorridas noOutono de 2000. É a primeira vez que as autori-dades de concorrência do mundo inteiro levam acabo uma iniciativa autónoma destinada a permi-tir-lhes partilhar as suas experiências e trocaremideias sobre questões de concorrência associadasà globalização crescente da economia mundial. ARIC será uma rede informal centrada em projec-tos precisos e baseada no consenso, que reuniráas autoridades

antitrust

de países desenvolvidos e

de países em desenvolvimento. Debruçar-se-ásobre a aplicação do Direito da Concorrência,bem como sobre questões de política de concor-rência de interesse comum e formulará propostasde convergência em matéria substantiva e proces-sual, graças a um programa e a uma estrutura cen-tradas nos resultados. Favorecerá igualmente adivulgação das experiências e das melhores práti-cas neste domínio, dará a conhecer o papel dedefensor da concorrência que as autoridades

anti-trust

podem desempenhar e tentará facilitar acooperação internacional. A RIC centrará os seusesforços nas questões

antitrust

de dimensãointernacional, que são difíceis mas não impossí-veis de resolver. Numa primeira fase, a RIC tra-balhará em duas questões importantes neste sec-tor: o controlo das concentrações num contextode pluralidade de jurisdições e o papel de defesada concorrência que as autoridades

antitrust

podem desempenhar. Este programa será a seguiralargado a fim de incluir igualmente questõescom especial importância para as economias emtransição e para as economias dos países emdesenvolvimento.

* * *

Aproveito também esta ocasião para expressar aminha gratidão ao Parlamento Europeu e aoComité Económico e Social, que têm dado deforma reiterada o seu apoio à política de concor-rência da Comissão. Em 2001, apoiaram as nos-sas propostas de modernização dos procedimen-tos de concorrência que, espero, serãodefinitivamente aprovadas pelo Conselho em2002. As observações dos representantes doscidadãos europeus, bem como dos interesses eco-nómicos e sociais da UE, são extremamenteimportantes para a nossa política. O seu apoio eas suas críticas construtivas contribuem para ori-entar a nossa actividade.

O relatório anual constitui geralmente para mimuma boa oportunidade para ter, com estas duasinstituições, um amplo debate sobre uma varie-dade de questões de actualidade no domínio dapolítica de concorrência. Estes debates são úteis,uma vez que não se limitam a uma avaliação daactividade passada da Comissão, mas abordamigualmente o que esta deverá ser no futuro. Ficona expectativa de poder continuar esta troca depontos de vista com base no presente relatório.

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XXXI Relatório sobre a Política de Concorrência2001

(publicado conjuntamente com o

Relatório Geralsobre a

Actividade da União Europeia — 2001

)

SEC(2002) 462 final

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Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Caixa 1: A concorrência e os consumidores — As principais decisões da Comissão adoptadas em 2001. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

12

I — Acordos, decisões de associação e práticas concertadas e abusos de posição dominante — artigos 81.º e 82.º; monopólios estatais e direitos monopolistas — artigos 31.º e 86.º . . . . . . . . . . . 15

A — Modernização do quadro legislativo e das regras de interpretação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151. Modernização das regras de aplicação dos artigos 81.

o

e 82.

o

do Tratado CE . . . . . . . . . 15

2. Revisão da comunicação sobre a não aplicação ou redução de coimas . . . . . . . . . . . . . . 16

3. Revisão do regulamento de isenção por categoria dos acordos de transferência de tecnologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

Caixa 2: Nova comunicação «de minimis» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

174. Revisão das regras processuais: novas funções dos auditores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

B — Aplicação dos artigos 81.

o

, 82.

o

e 86.

o

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201. Artigo 81.

o

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202. Artigos 82.

o

e 86.

o

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Caixa 3: Política de concorrência no sector dos resíduos de embalagens . . . . . . . . . .

26

C — Evolução sectorial da concorrência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281. Energia: liberalização dos sectores da electricidade e do gás . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282. Serviços postais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 323. Telecomunicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344. Transportes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 375. Meios de comunicação social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 426. Distribuição de veículos automóveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

Caixa 4: Autorizada a Covisint — Mercado electrónico B2B no sector dos veículos automóveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

457. Serviços financeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 478. Sociedade da Informação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 509. Desporto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

Caixa 5: Transferências de futebolistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

5210. Produtos farmacêuticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

D — Estatísticas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

II — Controlo das operações de concentração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

A — Política geral e novos desenvolvimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 611. Introdução — Evolução geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 612. Mercados nacionais e concorrência potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Caixa 6: Processos relativos ao sector do papel e posição dominante colectiva . . . . .

673. Controlo das operações de concentração no século XXI — Livro verde

sobre a revisão do Regulamento das Concentrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

Caixa 7: Restrições acessórias — Adaptação da política da Comissão . . . . . . . . . . . .

714. Evolução na aplicação do conceito da empresa insolvente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

Caixa 8: Schneider/Legrand . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

725. Soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 736. Artigo 9.

o

— Remessas para os Estados-Membros: nova evolução . . . . . . . . . . . . . . . 797. Cooperação internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

Caixa 9: GE/Honeywell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

81

B — Estatísticas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

III — Auxílios estatais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

A — Política geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 851. Transparência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 852. Modernizar o controlo dos auxílios estatais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

Caixa 10: Capital de risco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

873. Auxílios estatais e política fiscal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 894. Custos irrecuperáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 895. Radiodifusão pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

ÍNDICE

Page 10: Política de Concorrência da União Europeia...bancos públicos na Alemanha e de lançar um vasto inquérito sobre os efeitos dos auxílios con-cedidos sob a forma de medidas fiscais,

10

6. Apoio à produção cinematográfica e audiovisual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

7. Alargamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

Caixa 11: Bancos públicos alemães (Anstaltslast e Gewährträgerhaftung). . . . . . . . . .

92

B — Noção de auxílio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

1. Origem dos recursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

2. Vantagens para uma empresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

3. Especificidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

4. Efeito sobre o comércio entre Estados-Membros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

C — Apreciação da compatibilidade dos auxílios com o mercado comum. . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

1. Auxílios horizontais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

2. Auxílios com finalidade regional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

3. Auxílios sectoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

D — Procedimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

1. Início do procedimento formal de investigação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

2. Auxílios existentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

3. Recuperação do auxílio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

4. Não execução das decisões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

E — Estatísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

IV — Serviços de interesse geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

1. Princípios gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

2. Evolução recente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

3.

Antitrust

(incluindo liberalização) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

V — Actividades de carácter internacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

A — Alargamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

1. Preparação e negociações de adesão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

2. Progressos realizados em matéria de alinhamento das regras de concorrência . . . . . . . 127

3. Regras de aplicação dos acordos europeus e da decisão relativa à união aduaneira . . . 128

4. Prorrogação do estatuto previsto na alínea a) do n.

o

3 do artigo 87.

o

nos termos dos acordos europeus e adopção dos mapas dos auxílios com finalidade regional . . . . 129

5. Assistência técnica aos países candidatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

6. Balcãs Ocidentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

B — Cooperação bilateral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

1. Estados Unidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

2. Canadá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

3. Outros países da OCDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

4. Países mediterrânicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

5. América Latina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

6. Federação da Rússia e Ucrânia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

C — Cooperação multilateral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133

1. OMC: Comércio e política de concorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133

Caixa 12: Comércio e concorrência: do relatório Van Miert a Doha . . . . . . . . . . . . . .

134

2. OCDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135

3. Cnuced . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136

4. Rede Internacional da Concorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136

VI — Perspectivas para 2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

1.

Antitrust

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

2. Concentrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140

3. Auxílios estatais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140

4. Domínio internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

Anexo — Processos analisados no relatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143

Page 11: Política de Concorrência da União Europeia...bancos públicos na Alemanha e de lançar um vasto inquérito sobre os efeitos dos auxílios con-cedidos sob a forma de medidas fiscais,

11

1.

A aplicação das regras em matéria de concor-rência constitui uma das tarefas mais importantesda Comissão, desempenhando um papel funda-mental a nível do funcionamento económico domercado único. Tendo em conta a fase final deintrodução do euro, que se iniciou em 1 deJaneiro de 2002, e o alargamento sem preceden-tes da União Europeia, é necessário prever umamodernização das regras em matéria de acordos,decisões e práticas concertadas, concentrações eauxílios estatais, para que a Comissão adapte asua acção ao contexto económico em rápida evo-lução. Desta forma, a Comissão poderá centrar-senos comportamentos dos intervenientes no mer-cado que representam maiores perigos para uma«economia de mercado aberta e de livre concor-rência», tal como previsto no Tratado.

2.

Em 2001, diversas decisões em matéria de car-téis vieram salientar o esforço contínuo da Comis-são no sentido de agir contra comportamentosanticoncorrenciais flagrantes das empresas, numamplo leque de sectores. Estas decisões revelam oimpacto directo da política de concorrência para obem-estar dos consumidores, o que ficou patentenas decisões do corrente ano relativas à indústriaautomóvel. Além disso, a abertura dos mercadosem que a concorrência ainda não está plenamenteestabelecida, garantindo simultaneamente condi-ções equitativas e salvaguardando a prestação deserviços de interesse geral, continuou a ser umaprioridade da actividade da Comissão.

3.

A acção da Comissão no domínio dasconcentrações desenrola-se num contexto deglobalização e de uma crescente complexidadedos casos. Os aspectos multi-jurisdicionais susci-tados pelas concentrações de dimensão mundialexigem de forma crescente uma intensificação dacooperação internacional ao nível de diferentesinstâncias, por via, nomeadamente, da RedeInternacional de Concorrência (RIC) e de acor-dos bilaterais. Uma vez que o sistema europeu decontrolo das operações de concentração tem deestar preparado para fazer face aos desafios susci-tados por estas concentrações globais e pelo alar-gamento da União Europeia, a Comissão está aproceder a uma revisão completa do Regula-mento das Concentrações da Comunidade Euro-peia. Em Dezembro de 2001 foi publicado umdocumento de consulta (livro verde) que abrangequestões jurisdicionais, processuais e materiais.

4.

No domínio dos auxílios estatais, registaram-seem 2001 melhorias significativas em termos detransparência, com a adopção do Painel de Avalia-

ção dos Auxílios Estatais e a abertura ao público deum registo dos auxílios estatais em linha. A polí-tica da Comissão no sentido de actualizar e moder-nizar as suas regras em matéria de auxílios estataisprosseguiu com a adopção de novas regras nestedomínio relativas ao capital de risco e com o iníciode três importantes reformulações das políticasnos domínios dos auxílios ao emprego, à investiga-ção e desenvolvimento e aos grandes projectos deinvestimento regional. No que se refere ao con-trolo e aplicação da legislação, foi consagradaespecial atenção à entrada em vigor definitiva dosdois regulamentos de isenção por categoria relati-vos aos auxílios às pequenas e médias empresas eaos auxílios à formação, bem como ao regula-mento relativo aos auxílios

de minimis

.

5.

Com a adopção das Posições Comuns sobre ocapítulo da Concorrência em 12 de Dezembro, ter-minou a primeira fase das actividades relativas aoalargamento consagradas ao domínio dos auxíliosestatais. O Conselho de Associação decidiu encer-rar provisoriamente o capítulo da Concorrência noque se refere a quatro países candidatos.

6.

A Comissão deverá consagrar especial aten-ção aos aspectos da concorrência do próximoalargamento e terá de colaborar com os paísescandidatos para garantir que em toda a Uniãoalargada se aplicam as mesmas regras, com amesma eficácia.

7.

Em 2001, o número total de processos novoscifrou-se em 1036, englobando 284 no domínio

antitrust

(ao abrigo dos artigos 81.

o

, 82.

o

e 86.

o

),335 no domínio das concentrações e 417 proces-sos no domínio dos auxílios estatais (excluindo asdenúncias). Os dados comparáveis relativos a2000 foram de 1211 processos novos no total,incluindo 297 no domínio

antitrust

, 345 proces-sos de concentrações e 569 de auxílios esta-tais (

1

). A diminuição do número de processosnovos representa, por conseguinte, uma tendên-cia global devido à ligeira redução verificada nodomínio

antitrust

, à primeira redução do númerode processos de concentrações ao fim de váriosanos e a uma descida significativa do número deprocessos de auxílios estatais.

8.

A ligeira redução do número de novos proces-sos no domínio

antitrust

confirma que se mantêmos efeitos, verificados nos dois últimos anos, aonível das notificações (acentuada tendência

¥1∂

Os dados relativos aos auxílios estatais de 2000 foram revistosapós a publicação do Relatório da Concorrência de 2000.

INTRODUÇÃO

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12

decrescente desde 1999) decorrentes da publica-ção das orientações em matéria de acordos hori-zontais e verticais. O número de denúncias, queregistou grandes oscilações nos anos anteriores,permaneceu bastante estável no corrente ano(116

em 2001, contra 112 em 2000).

9.

O número total de processos encerrados ascen-deu a 1 204, englobando 378 processos

antitrust

,346 no domínio das concentrações e 480 de auxíliosestatais (excluindo as denúncias). Os dados compa-ráveis relativos a 2000 foram de 1 230 processosencerrados, abrangendo 400 no domínio

antitrust

,355 concentrações e 475 de auxílios estatais (

1

).Embora a ligeira redução no número de processos

antitrust

encerrados seja consequência de umamaior focalização nos processos de cartéis (que exi-gem grande intensidade de recursos), o número deprocessos encerrados (378) excede amplamente onúmero de processos novos (284), contribuindoassim para uma nova redução dos atrasos.

10.

O ligeiro abrandamento das concentrações ealianças que foram objecto de análise por parte daComissão em 2001 parece reflectir o declíniogeral das condições económicas no mundo indus-trializado e a alteração por parte das empresas dapercepção do êxito da actividade recente emmatéria de fusões e alianças. Pela primeira vezdesde 1993, o número de concentrações notifica-

das à Comissão desceu, passando de 345 em2000 para 335 em 2001, mas continua a ser muitomais elevado do que em 1999. Foram adoptadas340 decisões formais durante o ano (contra345 em 2000). Embora se tivesse registado em2001 uma pausa na tendência ascendente donúmero global de notificações de operações deconcentração, estes processos estão a tornar-secada vez mais complexos e os mercados maisconcentrados. Em especial, o número de proces-sos iniciados que exigem investigações aprofun-dadas aumentou mais rapidamente do que onúmero total de processos (decisões adoptadas nafase II: em 2001 aumentaram 17% relativamentea 2000 e 100% relativamente a 1999).

11.

No domínio dos auxílios estatais, o númerode notificações desceu cerca de 30%, tendo osnovos casos de auxílios não notificados descidocerca de 45% em comparação com 2000,enquanto os pedidos de revisão de auxílios quasequintuplicaram; o número de processos iniciadosmanteve-se contudo estável (66 em 2001 contra67 em 2000). As decisões finais negativas aumen-taram ligeiramente (31 em 2001 contra 26 em2000). O número de processos pendentes tam-bém aumentou (de 584 em 2000 para 621 em2001) devido ao número de denúncias (

2

).

¥1∂

O

número relativo aos processos

antitrust

foi revisto após a publi-cação do Relatório da Concorrência de 2000.

¥2∂

Os dados relativos a 2000 foram revistos após a publicação doRelatório da Concorrência de 2000.

Caixa 1: A concorrência e os consumidores — As principais decisões da Comissão adoptadas em 2001

O comissário Monti já sublinhou diversas vezes a grande importância que a Comissão atribui aosaspectos da política e do direito da concorrência relacionados com os consumidores. A política dos auxí-lios estatais, o controlo das operações de concentração e a execução das regras

antitrust

têm todos umpapel a desempenhar para assegurar aos consumidores os benefícios resultantes da aplicação das regrasde concorrência comunitárias.

Se analisarmos especificamente o ano de 2001, diversas decisões no domínio

antitrust

revelam clara-mente em que medida a preservação da plena concorrência favorece os interesses dos consumidores.Quaisquer lucros adicionais gerados pelos operadores no mercado através de uma restrição da concor-rência, como por exemplo mediante cartéis, serão em última análise pagos pelo consumidor, que poderiater beneficiado de preços mais reduzidos, de um melhor serviço e de uma escolha mais ampla caso aconcorrência tivesse funcionado correctamente.

British Midland/Lufthansa/SAS

Em 1 de Março de 2000, a British Midland International, a Lufthansa e a SAS notificaram um acordo deempresa comum ao abrigo do qual acordaram em coordenar os seus serviços com destino e a partir doaeroporto de Heathrow, em Londres, e do aeroporto internacional de Manchester.

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INTRODUÇÃO

13

A Comissão reconheceu que, em termos de ganhos de eficiência e de concorrência, o efeito global doacordo é positivo. Permite uma reorganização e uma expansão das actuais redes das partes. Contudo, aempresa comum prevê que seja concedido à Lufthansa um direito exclusivo de explorar voos em pratica-mente todas as rotas entre Londres e Frankfurt. O mercado Londres-Frankfurt é um dos mais activos daEuropa. A Comissão concluiu que a retirada da British Midland da rota Londres-Frankfurt representa umarestrição apreciável da concorrência neste mercado. A Comissão tinha dúvidas quanto ao facto de oacordo poder mesmo conduzir a uma eliminação da concorrência. Apenas permaneceriam no mercado aBritish Airways e a Lufthansa e esta última empresa, juntamente com a British Midland, passariam adeter uma posição muito mais favorável no que se refere ao acesso a faixas horárias nas duas extremi-dades do mercado. Em contrapartida, os esforços da British Airways no sentido de aumentar as suasfrequências seriam prejudicados devido à escassez de faixas horárias em Frankfurt.

Com o objectivo de dissipar as preocupações da Comissão em matéria de concorrência, as partes apresen-taram um compromisso no sentido de disponibilizar faixas horárias no aeroporto de Frankfurt, de forma apermitir que um novo operador ou que um concorrente existente, em especial a British Airways, aumen-tasse as suas frequências nesta rota e concorresse em pé de igualdade com a Lufthansa. Entretanto, aBritish Airways solicitou e obteve algumas destas faixas horárias.

Desta forma, os clientes beneficiarão de uma maior escolha de serviços de transporte aéreo para um maiornúmero de destinos, de melhores ligações, de horários convenientes e de viagens sem interrupções.

SAS/Maersk

Em 18 de Julho, a Comissão decidiu aplicar uma coima às companhias aéreas escandinavas SAS eMaersk Air, nos montantes de 39,375 milhões de euros e de 13,125 milhões de euros, respectivamente,devido à sua participação num acordo secreto de partilha de mercados.

A Comissão verificou que a Maersk Air tinha abandonado a rota Copenhaga-Estocolmo, o que levou àmonopolização dessa rota pela SAS, em detrimento de mais de um milhão de passageiros que a utilizatodos os anos. Afigurava-se igualmente que a SAS tinha deixado de voar na rota Copenhaga-Veneza e quea Maersk Air tinha iniciado operações nesta rota e, por último, que a SAS tinha abandonado a rotaBillund-Frankfurt, passando a Maersk Air a ser o único transportador. Além disso, as partes negociaramigualmente uma cláusula geral de não concorrência que abrangia as suas operações futuras nas rotas inter-nacionais com destino e partida da Dinamarca e nas rotas internas dinamarquesas.

Na sequência desta decisão, foi restabelecida a concorrência entre a SAS e a Maersk Air, as duas maiorescompanhias aéreas que operam com destino e a partir da Dinamarca. Foram mesmo anunciadas novasentradas em rotas anteriormente abrangidas pelo acordo de partilha de mercados, por exemplo pela SASno que se refere a cinco viagens de ida e volta por dia entre Billund e Copenhaga. Foi restabelecida apressão sobre as tarifas aéreas, uma vez que o comportamento de cada uma das partes em matéria depreços voltou a ser limitado pela possibilidade efectiva de uma nova entrada pela outra parte.

Sector dos veículos automóveis

No sector dos veículos automóveis, a Comissão denunciou as práticas dos produtores que impediam osconsumidores de adquirirem veículos no país da sua escolha.

Em 29 de Junho, a Comissão adoptou uma decisão em que aplicava uma coima de 30,96 milhões de eurosà Volkswagen devido à imposição de preços de revenda na Alemanha para o novo Volkswagen Passat. Em1996 e 1997 a Volkswagen enviou circulares aos seus distribuidores alemães incitando-os a não venderemeste modelo a preços inferiores aos da lista de preços recomendada. Trata-se da primeira decisão acercada imposição de preços de revenda no sector dos veículos automóveis. A imposição de preços de revendaconstitui uma restrição muito grave à concorrência em matéria de preços e tem efeitos directos sobre ospreços aos consumidores.

Em 10 de Outubro, a Comissão adoptou uma decisão em que aplicou uma coima de 71,825 milhões deeuros à Daimler-Chrysler por diversas infracções ao artigo 81.

o

do Tratado CE. Uma dessas infracçõesconsistia em obstáculos ao comércio paralelo na Alemanha, que impediam os adquirentes de outros

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14

Estados-Membros de efectuarem as suas aquisições junto de distribuidores alemães. Uma outra infracçãoconsistiu num acordo de fixação de preços na Bélgica, destinado a reduzir os descontos concedidos aosconsumidores.

Durante 2001 registaram-se importantes progressos no que se refere à revisão da isenção por categoriarelativa aos veículos automóveis, que será concluída em 2002. Para mais informações consultar asecção I.C.6.1 do presente relatório.

Comissões bancárias para o câmbio de divisas da zona euro

Logo a seguir à criação do euro, a Comissão recebeu denúncias de consumidores alegando que determi-nados bancos tinham fixado colectivamente as suas comissões de câmbio de notas na zona euro. AComissão realizou diversas inspecções sem aviso prévio em vários bancos e enviou pedidos de infor-mação à maior parte dos bancos da zona euro. Subsequentemente, iniciou processos contra um elevadonúmero de bancos em sete Estados-Membros.

Diversos bancos reagiram, apresentando propostas unilaterais à Comissão, em que se comprometiam areduzir significativamente as comissões aplicáveis e a eliminar todas essas comissões até, o mais tardar,Outubro de 2001, pelo menos no que se refere às operações de compra a titulares de contas, o que eraclaramente vantajoso para os consumidores antes da transição para o euro.

Tomando em consideração a circunstância excepcional do desaparecimento do mercado em causa e obenefício imediato para os consumidores resultante destas propostas, a Comissão decidiu encerrar oprocesso de cartel contra a maior parte dos bancos. Em 12 de Dezembro, a Comissão aplicou coimas acinco bancos alemães, num total de 100,8 milhões de euros, devido à celebração de um acordo sobre umacomissão de cerca de 3% para a compra e venda de notas da zona euro.

Concentrações

As decisões relativas ao controlo das concentrações têm também impacto no dia-a-dia dos consumidores.

No processo Nordea/Postgirot, a Comissão aprovou a aquisição, pelo grupo bancário escandinavo Nordea,do controlo exclusivo da empresa Postgirot Bank AB da Suécia, mediante determinadas condições. APostgirot é uma filial a 100% da empresa pública Posten AB, que é a empresa de correios sueca. É proprie-tária e explora um sistema interno de transferência de pagamentos, que utiliza para fornecer serviços depagamento à distância a clientes particulares e empresas. A Postgirot presta igualmente serviços bancáriosa clientes individuais e empresas, incluindo depósitos, concessão de empréstimos, pagamentos internacio-nais, financiamento das exportações e serviços de cartões. O acordo suscitou inicialmente preocupaçõesem termos de concorrência uma vez que a Nordea controlaria tanto a Postgirot como a Bankgirot, os doisprincipais sistemas de pagamentos bancários utilizados pelos suecos para o pagamento da electricidade,telefone e outras facturas. Este nível elevado de influência poderia conduzir a aumentos de preços que afec-tariam directamente as necessidades bancárias diárias dos consumidores. Contudo, a Nordea compro-meteu-se a reduzir a sua participação na Bankgirot para 10%, um nível que não lhe permitirá ter umainfluência decisiva sobre a empresa, e de se retirar da Privatgirot, uma empresa que concorre com aPostgirot nos serviços técnicos relacionados com o sistema de transferências bancárias. Ao aceitar estescompromissos e fazer depender deles a aprovação da concentração, a Comissão garantiu que a nova enti-dade criada continuará a estar sujeita à concorrência em benefício do consumidor final.

O processo

Unilever

, relativo à alienação de marcas de produtos alimentares muito conhecidas (versecção II.5.3, ponto 309), bem como dois processos relativos ao sector da distribuição de combustíveis(

BP/E.ON

e S

hell/DEA

, ver secção II.6, pontos 317 e 318) também poderão revelar-se de especial inte-resse para os consumidores.

Auxílios estatais

Por último, o controlo dos auxílios estatais é fundamental para assegurar que o dinheiro dos contribuintesé afectado de forma eficiente e contribui para um contexto económico forte no qual entidades económicasviáveis podem criar oportunidades de emprego sustentáveis para os cidadãos europeus. Nas suas decisõesrelativas a auxílios estatais, a Comissão toma em consideração os aspectos relacionados com o correctofuncionamento dos serviços de interesse geral.

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15

A — Modernização do quadro legislativo e das regras de interpretação

1. Modernização das regras de aplicação dos artigos 81.

o

e 82.

o

do Tratado CE

12.

Em 27 de Setembro de 2000, a Comissãoadoptou uma proposta de regulamento que intro-duz um novo sistema de aplicação dos arti-gos 81.

o

e 82.

o

(

1

). Quando entrar em vigor, onovo regulamento irá, nomeadamente, substituiro Regulamento n.

o

17 de 1962. O elemento fun-damental proposto pela reforma consiste na tran-sição de um sistema em que a Comissão detém omonopólio da aplicação do n.

o

3 do artigo 81.

o

(omonopólio de isenção) para um sistema de excep-ção legal, directamente aplicável, nos termos doqual os acordos que não violem o n.

o

1 doartigo 81.

o

ou que preencham as condições don.

o

3 do mesmo artigo são automaticamenteconsiderados lícitos e os acordos em infracção aon.

o

1 do artigo 81.

o

, mas que não preencham ascondições do n.

o

3 do mesmo artigo são automa-ticamente considerados ilícitos. Esta reformaimplica a abolição do sistema de notificação e deautorização estabelecido no Regulamento n.

o

17e um reforço da responsabilidade das autoridadesnacionais de concorrência e dos tribunais nacio-nais na aplicação dos artigos 81.

o

e 82.

o

; implicaigualmente que sejam previstas disposições cla-ras para salvaguardar a aplicação coerente dosartigos 81.

o

e 82.

o

em toda a União Europeia,como por exemplo a rede criada entre todas asautoridades europeias de concorrência. O regula-mento proposto destina-se igualmente a reforçaros poderes de investigação da Comissão (ou seja,o direito de inspecção em instalações que nãosejam empresas). Através desta proposta, aComissão deseja aumentar a eficiência no trata-mento das infracções aos artigos 81.

o

e 82.

o

, asse-gurando assim uma concorrência efectiva naEuropa (

2

).

13.

Em 29 de Março de 2001, o Comité Econó-mico e Social adoptou o seu parecer sobre a pro-

posta de regulamento (

3

). Neste parecer, o Comité«apoia com convicção a reforma do sistema deexecução das regras de concorrência», «tendoapreciado a clara e corajosa linguagem normativa»utilizada na proposta da Comissão, que qualificacomo essencial para a reforma. Contudo, dada acomplexidade da questão e por forma a preservar aunidade e coerência do sistema e a primazia dodireito comunitário e a garantir uma descentraliza-ção efectiva, mantendo simultaneamente amáxima segurança jurídica, o Comité instou igual-mente a Comissão a adoptar, antes ou após aentrada em vigor do novo regulamento, «actos for-mais de acompanhamento da proposta» que con-tribuiriam para uma melhor clarificação dos con-ceitos fundamentais da legislação comunitária emmatéria de concorrência, como por exemplo aafectação do comércio entre Estados-Membros.

14.

Em 20 de Junho de 2001, a Comissão dosAssuntos Económicos e Monetários do Parla-mento Europeu adoptou o seu relatório finalsobre as propostas da Comissão Europeia (

4

). Noseu relatório, esta Comissão do Parlamento«admitiu que o sistema actual que rege a políticada concorrência é demasiado burocrático, pesadoe ineficaz» e que o alargamento da União Euro-peia apenas virá agravar esta situação. Destaforma, a Comissão do Parlamento acolheu favo-ravelmente a proposta da Comissão Europeia nosentido de proceder «a uma reforma radical dasregras de concorrência antes do alargamento daComunidade». Contudo, por forma a alcançar demodo pragmático os objectivos da reforma, aComissão parlamentar propôs à Comissão Euro-peia uma alteração da sua proposta em determi-nados pontos e sugeriu algumas clarificaçõessobre elementos essenciais da reforma proposta.A maior parte destas sugestões foi adoptadapelo Parlamento Europeu, quando aprovou por409 votos a favor e 54 contra o seu parecer sobrea proposta de regulamento, em 6 de Setembro de2001 (

5

). As alterações propostas pelo Parla-mento Europeu destinam-se nomeadamente a

¥1∂

COM(2000) 582, JO C 365 E/284 de 19.12.2000.

¥2∂

Para uma descrição circunstanciada da proposta da Comissão,ver secção I.A.3. do XXX Relatório sobre a Política de Concor-rência (2000), SEC(2001) 694. Para mais informações relativasao livro branco de 1999 sobre a modernização, ver secção I.A.2.do XXIX Relatório da Política de Concorrência (1999),SEC(2000) 720.

¥3∂

JO C 155 de 29.5.2001, p. 73.

¥4∂

O relatório da Comissão dos Assuntos Económicos e Monetáriose os pareceres da Comissão da Indústria, do Comércio Externo,da Investigação e da Energia, bem como da Comissão dos Assun-tos Jurídicos e do Mercado Interno (A5-0229/2001), ainda nãoforam publicados no JO, mas podem ser consultados no seguinteendereço: http://www2.europarl.eu.int/omk/OM-Europarl?PROG=REPORT&L=EN&PUBREF=-//EP//TEXT+REPORT+A5-2001-0229+0+NOT+SGML+V0//EN.

¥5∂

Resolução legislativa do Parlamento Europeu (R5-0444/2001)ainda não publicada no JO, mas que pode ser consultada noseguinte endereço: http://www3.europarl.eu.int/omk/omnsapir.so/pv2?APP=PV2&PRG=CALEND&FILE=010906&TPV=DEF&LANGUE=EN.

I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE — ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

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16

suprimir o sistema de registo no que se referea determinados tipos de acordos (n.

o

2 doartigo 4.

o

), a harmonizar o regime de coimas(artigo 5.

o

), a garantir a proporcionalidade dasmedidas correctivas de natureza comportamentalou estrutural (n.

o

1 do artigo 7.

o

) e a definir clara-mente a noção de interesse público no contextodas decisões da Comissão baseadas no artigo 10.

o

15.

Em 14 e 15 de Maio de 2001 e em 5 deDezembro de 2001, respectivamente sob as Presi-dências sueca e belga, o Conselho (Indústria) rea-lizou um amplo debate sobre a proposta daComissão. Embora tivesse chegado a um acordoprovisório relativamente a alguns dos aspectos doregulamento proposto, concluiu que as discus-sões sobre os princípios e as modalidades dareforma prevista deveriam prosseguir no grupode trabalho do Conselho. Como orientação para aactividade futura do grupo de trabalho, o Conse-lho discutiu em especial os princípios gerais sub-jacentes ao funcionamento da rede de autoridadesde concorrência, convidando a Comissão aestabelecer estes princípios numa declaraçãocomum. O Conselho subscreveu igualmente oobjectivo do artigo 3.

o

da proposta da Comissãono sentido de garantir uma aplicação uniformedas regras de concorrência para os acordos queafectam o comércio entre Estados-Membros, masinstou o grupo de trabalho a debater mais porme-norizadamente o efeito destas disposições sobreas regras nacionais na matéria.

2. Revisão da comunicação sobre a não aplicação ou redução de coimas

16.

De acordo com a filosofia geral do exercíciode modernização no sentido de centrar as suasactividades nas infracções mais graves ao direitocomunitário, a Comissão adoptou em 2001 umnovo projecto de regras destinadas a facilitar adetecção e eliminação dos cartéis, nomeada-mente os relativos à fixação de preços. A comuni-cação sobre a não aplicação ou redução de coimasfoi revista após cinco anos de aplicação, com oobjectivo de aumentar a sua eficácia e maximizar acapacidade de a Comissão detectar e lutar eficaz-mente contra os cartéis. O novo projecto de comu-nicação publicado em 21 de Julho de 2001 (

1)aborda estas questões de forma mais precisa eprepara o terreno para a adopção, em 2002, de

uma nova comunicação relativa à imunidade emmatéria de coimas e à redução do montante dascoimas.

3. Revisão do regulamento de isenção por categoria dos acordos de transferência de tecnologia

17. Em 20 de Dezembro, a Comissão adoptouum relatório (2) de avaliação da aplicação doRegulamento n.o 240/96 (3), regulamento deisenção por categoria relativo aos acordos detransferência de tecnologia (seguidamente desig-nado por «RITT»). O relatório apresenta umaanálise crítica da aplicação do RITT e da perspec-tiva política em que se baseia este Regulamento.Realça em especial a necessidade de adaptar oRITT por forma a garantir a coerência com asnovas isenções por categoria da Comissão relati-vas aos acordos de distribuição (4) com os acor-dos de I&D e de especialização (5), que sebaseiam numa abordagem mais orientada para osaspectos económicos.

18. O relatório conclui que o RITT utiliza crité-rios mais relacionados com os aspectos formaisdo acordo do que com os seus verdadeiros efeitosno mercado. Com efeito, o ICTT apresenta quatrolacunas principais:

— em primeiro lugar, o RITT é demasiado nor-mativo e parece funcionar como um «coletede forças» o que poderá desencorajar a reali-zação de transacções eficientes e prejudicar adivulgação de novas tecnologias;

— em segundo lugar, o RITT abrange apenasalguns acordos de licenças de patente e desaber-fazer. Este âmbito de aplicação redu-zido do RITT revela-se cada vez mais inade-quado para abordar a complexidade dosmodernos acordos de concessão de licenças(por exemplo, acordos de colocação em

¥1∂ Projecto de comunicação da Comissão relativa à imunidade emmatéria de coimas e à redução do montante das coimas nos pro-cessos relativos a cartéis, JO C 205 de 21.7.2001, p. 18.

¥2∂ Relatório de avaliação da Comissão sobre o Regulamento deisenção por categoria n.o 240/96, relativo a certas categorias deacordos de transferência de tecnologia, COM(2001) 786 final de20 de Dezembro de 2001. O relatório está igualmente disponívelna Internet no seguinte endereço: http://europa.eu.int/comm/competition/antitrust/technology_transfer/

¥3∂ Regulamento (CE) n.o 240/96 da Comissão relativo à aplicaçãodo n.o 3 do artigo 81.o do Tratado a determinadas categorias deacordos de transferência de tecnologia, JO L 31 de 9.12.1996,p. 2 a 13.

¥4∂ Regulamento de isenção por categoria n.o 2790/1999 da Comis-são, JO L 336 de 29.12.1999, p. 21.

¥5∂ Regulamentos de isenção por categoria n.os 2658/2000 e2659/2000 da Comissão, JO L 304 de 5.12.2000, respectiva-mente p. 3 e 7.

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I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICASCONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE —

ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

17

comum ou licenças de software que impli-quem direitos de autor);

— em terceiro lugar, diversas restrições sãoactualmente consideradas ilegais ou excluí-das da isenção por categoria sem que para talexista uma justificação económica, quandoas partes não possuem poder de mercado e seencontram numa relação vertical. Trata-se,em especial, de restrições que ultrapassam oâmbito dos DPI objecto de licença (porexemplo, obrigações de não concorrência ecláusulas de vinculação);

— em quarto lugar, ao centrar-se nos aspectosformais do acordo, o RITT torna extensívelo benefício da isenção por categoria a situa-ções que nem sempre reunem as condiçõesprevistas no n.o 3 do artigo 81.o, quer porqueas partes contratantes são concorrentes, querporque detêm uma posição forte no mer-cado.

19. O relatório tece considerações sobre diversasquestões:

— deveria o âmbito de aplicação do RITT, queapenas se aplica a patentes e saber-fazer, seralargado por forma a abranger igualmente osdireitos de autor, os direitos relativos aosdesenhos, modelos e marcas? Esta questãoreveste-se de especial importância paradiversos sectores, incluindo a indústria infor-mática, que depende de uma cadeia de

licenças de direitos de autor para a sua produ-ção e distribuição;

— deveria o RITT cobrir igualmente os acordosde licenças entre mais do que duas empresas,tais como os acordos de colocação emcomum? Estes acordos têm vindo a tornar-secada vez mais importantes para a indústria,dada a crescente complexidade das novas tec-nologias. Neste contexto, poderá afirmar-seque as licenças entre diversas partes podemaumentar a eficácia e reforçar a concorrência,em especial quando o agrupamento abrangeapenas DPI essenciais. Contudo, este tipo delicenças poderá igualmente ter graves efeitosanticoncorrenciais, principalmente quando oacordo abrange tecnologias de substituiçãoou quando exige que os membros concedamlicenças recíprocas relativamente a tecnolo-gias actuais e futuras a um custo mínimo ounuma base de exclusividade;

— uma abordagem mais flexível no que serefere aos acordos de licença entre não con-correntes. É comummente admitido que se aspartes num acordo têm uma relação vertical,ou seja, não são concorrentes, as licençasexclusivas permitem um aumento da eficáciae um reforço da concorrência. Por exemplo,caso o titular do DPI não disponha dos acti-vos necessários para a produção ou distri-buição dos produtos objecto da licença, serámais eficaz conceder uma licença a alguémque disponha desses activos;

Caixa 2: Nova comunicação «de minimis»

A Comissão adoptou em 20 de Dezembro uma nova comunicação relativa aos acordos de pequena impor-tância que não restringem sensivelmente a concorrência, nos termos do n.o 1 do artigo 81.o do Tratado CE(«Comunicação de minimis») (1). A nova comunicação substitui a de 1997 (2). Ao definir de forma maisclara e exaustiva quais os acordos entre empresas que não são proibidos pelo Tratado, a comunicação reduzas formalidades administrativas das empresas, principalmente das empresas de dimensão mais reduzida.Simultaneamente, a Comissão poderá mais facilmente evitar a análise de processos que não têm interesse doponto de vista da política de concorrência, podendo assim concentrar-se nos casos mais importantes.

A nova comunicação reflecte uma abordagem mais orientada para os aspectos económicos e apresenta asseguintes características principais:

1) os limiares «de minimis» são aumentados para 10% da quota de mercado no que se refere aos acordosentre concorrentes e para 15% para os acordos entre não concorrentes.

(1) JO C 368 de 22.12.2001, p. 13. A nova comunicação está também disponível na Internet no seguinte endereço:http://europa.eu.int/comm/competition/antitrust/deminimis/

(2) JO C 372 de 9.12.1997, p. 13.

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18

— uma abordagem mais prudente no que serefere aos acordos de licença entre concorren-tes. Caso as partes tenham uma relação hori-zontal, ou seja, se a licença impede a concor-rência que haveria entre o licenciante e olicenciado se não existisse a licença, estesacordos poderão suscitar algumas preocupa-ções em termos de concorrência. Por um lado,as licenças exclusivas conduzem frequente-mente a uma repartição do mercado atravésda afectação de territórios ou clientes, princi-palmente quando a licença é recíproca ouquando a exclusividade abrange igualmenteprodutos concorrentes não objecto da licença.As quotas de produção acordadas no âmbito

dos acordos de licença entre concorrentespodem facilmente conduzir a uma restriçãodirecta da produção. Por outro lado, em deter-minadas circunstâncias, em especial no casoda concessão de licenças a uma empresacomum e no caso de licenças não recíprocas,é possível que a exclusividade não se limite aprovocar uma restrição da concorrência inter-marcas, podendo igualmente proporcionarganhos de eficiência. Por forma a avaliar se osefeitos desfavoráveis à concorrência podemser compensados pelos ganhos de eficiência,deverão ser tomados em consideração o poderde mercado das partes e a estrutura dos mer-cados afectados pelo acordo.

A comunicação anterior tinha fixado os limiares «de minimis» em, respectivamente, 5% e 10% da quotade mercado. Normalmente, não surgem preocupações em matéria de concorrência quando as empresasnão dispõem de um mínimo de poder de mercado. Os novos limiares tomam em consideração este facto,permanecendo simultaneamente a um nível suficientemente baixo para serem aplicáveis independente-mente das características da estrutura global do mercado (1). A diferença entre os dois limiares toma emconsideração, tal como anteriormente, o facto de os acordos entre concorrentes serem geralmente maissusceptíveis de provocar efeitos anticoncorrenciais do que os acordos entre não concorrentes;

2) especifica pela primeira vez um limiar de quota de mercado para as redes de acordos que produzemum efeito cumulativo desfavorável à concorrência.

A anterior comunicação «de minimis» excluía do seu âmbito acordos celebrados num mercado em que«a concorrência é restringida pelo efeito cumulativo de redes paralelas de acordos similares celebradospor vários fabricantes ou comerciantes». Tal significava, na prática, que as empresas que desenvolviamactividades em sectores como o da cerveja ou dos combustíveis não podiam normalmente beneficiar dacomunicação «de minimis». A nova comunicação introduz um limiar de quota de mercado «deminimis» específico de 5% para os mercados em que existam tais redes paralelas de acordos similares;

3) inclui a mesma lista de restrições graves que os regulamentos de isenção por categoria horizontais everticais.

A nova comunicação define de forma mais clara e coerente as restrições graves (como a fixação depreços e a repartição de mercados) que são normalmente sempre proibidas e que não podem beneficiarda comunicação «de minimis». No que se refere aos acordos entre não concorrentes, a nova comuni-cação retomou as restrições graves estabelecidas no Regulamento de isenção por categorian.o 2790/1999 relativo aos acordos verticais (2). Para os acordos entre concorrentes, a nova Comuni-cação retomou as restrições graves estabelecidas no Regulamento de isenção por categorian.o 2658/2000 relativo aos acordos de especialização (3);

4) os acordos entre pequenas e médias empresas são normalmente «de minimis».

A nova comunicação precisa que os acordos entre pequenas e médias empresas (PME) são raramentesusceptíveis de afectar de forma sensível o comércio entre Estados-Membros. Desta forma, os acordosentre PME não são, na generalidade, abrangidos pelo âmbito de aplicação do n.o 1 do artigo 81.o

(1) Tal não implica que os acordos entre empresas que excedem os limiares fixados na comunicação não restrinjam de forma sensível aconcorrência. Tais acordos podem ter apenas um efeito negligenciável sobre a concorrência no mercado comum, mas a situação sópode ser apreciada numa base casuística. Esta apreciação é especialmente relevante no que se refere aos acordos que não são abran-gidos por nenhum dos regulamentos de isenção por categoria da Comissão.

(2) Regulamento de isenção por categoria n.o 2790/1999 da Comissão, JO L 336 de 29.12.1999, p. 21.(3) Regulamento de isenção por categoria n.o 2658/2000 da Comissão, JO L 304 de 5.12.2000, p. 3.

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4. Revisão das regras processuais: novas funções dos auditores

20. Em 23 de Maio de 2001, a Comissão adoptoua decisão relativa às funções do auditor em deter-minados processos de concorrência (1). O novo«mandato dos auditores», que substitui o mandatoanterior de 1994 (2), surge na sequência da deci-são adoptada no ano passado pela Comissão nosentido de reforçar o papel do auditor. Pretendeu-se reforçar a independência e os poderes do audi-tor, aumentar a sua participação nos processos deconcentrações e antitrust e melhorar a objectivi-dade e a qualidade dos processos de concorrênciada Comissão e das decisões deles resultantes.

21. O direito de audição das partes e de terceirosconstitui um princípio fundamental do DireitoComunitário. Este princípio foi reafirmado naCarta dos Direitos Fundamentais da União Euro-peia, como parte integrante do direito de cadapessoa «a que a sua causa seja julgada de formaimparcial, equitativa e num prazo razoável». Asalvaguarda deste direito no âmbito dos proces-sos de concorrência da Comissão constitui umaresponsabilidade específica do auditor.

22. O cargo de auditor foi criado em 1982. Inici-almente, as suas responsabilidades limitavam-seprincipalmente à organização, presidência econdução da audição oral nos processos antitrust— ou seja, cartéis e abusos de posição dominante— e posteriormente também nos processos relati-vos às operações de concentração. O auditor asse-gurava igualmente que no processo de elaboraçãodos projectos de decisão da Comissão relativos acasos de concorrência fossem devidamente toma-dos em consideração todos os factos relevantes,quer fossem favoráveis ou desfavoráveis às partesem causa. No desempenho das suas funções, oauditor contribuía para a objectividade da própriaaudição e de qualquer decisão subsequente. Estemandato foi actualizado e alargado em 1994 como objectivo de assegurar uma protecção adequadados direitos das partes, em especial no que serefere à confidencialidade dos documentos e dossegredos comerciais e a um acesso adequado aoprocesso da Comissão.

23. O novo mandato, adoptado pela Comissãoem 23 de Maio de 2001, mantém estes aspectos

fundamentais das funções do auditor, mas asmesmas foram reforçadas, adaptadas e consolida-das à luz da evolução do Direito da Concorrência.

24. A transparência da nomeação dos auditoresfoi melhorada através da sua publicação no JornalOficial, enquanto a interrupção, cessação de fun-ções ou transferência necessitam de uma decisãofundamentada da Comissão, também publicadano Jornal Oficial. Convém realçar que a indepen-dência do auditor relativamente à Direcção-Geralda Concorrência foi reforçada, na medida em queo auditor depende agora, para efeitos administra-tivos, do membro da Comissão responsável espe-cificamente pela concorrência (o comissário daConcorrência), do qual é directamente responsá-vel e não do director-geral da Concorrência,como acontecia anteriormente.

25. Além disso, as funções do auditor foramtambém reforçadas no âmbito do próprio pro-cesso de tomada de decisão. Os funcionáriossuperiores da Direcção-Geral da Concorrênciadevem manter o auditor informado da evoluçãodo processo até à fase do projecto de decisão queserá apresentado ao comissário da concorrência.O auditor pode apresentar ao comissário observa-ções sobre qualquer questão suscitada em qual-quer processo de concorrência da Comissão. Orelatório final do auditor, elaborado com base noprojecto de decisão apresentado ao ComitéConsultivo, deve agora ser sistematicamente ane-xado ao projecto de decisão apresentado àComissão, de forma a que esta tenha plenoconhecimento de todas as informações relevantesrelativas ao processo de concorrência e ao res-peito do direito de audição. Este relatório podeser alterado à luz de quaisquer alterações introdu-zidas no projecto de decisão antes da sua adop-ção. Por forma a reforçar a transparência do pro-cesso, o relatório final deve também ser enviadoaos destinatários da decisão, juntamente com aprópria decisão, assim como aos Estados-Mem-bros. Para além disso, deve ser publicado no Jor-nal Oficial, juntamente com a decisão.

26. O novo mandato alarga igualmente as fun-ções do auditor no que se refere aos compromis-sos propostos pelas partes relativamente a qual-quer processo a que a Comissão tenha dado inícioao abrigo do controlo das concentrações ou noâmbito antitrust. O auditor pode apresentarobservações sobre a objectividade de qualquerinvestigação que tenha sido realizada, por formaa apreciar o impacto dos compromissos propos-tos sobre a concorrência.

¥1∂ Decisão de 23 de Maio de 2001 relativa às funções do auditor emdeterminados processos de concorrência, JO L 162 de 19.6.2001,p. 21.

¥2∂ Decisão de 12 de Dezembro de 1994 relativa ao mandato dosconselheiros auditores no âmbito dos processos de concorrênciaque correm perante a Comissão, JO L 330 de 21.12.1994, p. 67.

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20

27. O novo mandato aborda igualmente os pode-res do auditor no que se refere à concessão ourecusa da confidencialidade das informaçõesdivulgadas através de publicação no Jornal Ofi-cial. Tal é aplicável, especialmente, às versõespúblicas das decisões da Comissão em processosnos domínios antitrust e das concentrações.

28. A importância atribuída pelas partes aosaspectos processuais foi recentemente demons-trada pelas as acções intentadas no Tribunal dePrimeira Instância, em resultado das quais foramemanados diversos despachos do presidente em20 de Dezembro de 2001 (1).

29. Em 30 e 16 de Outubro, respectivamente, aComissão nomeou o senhor S. Durande e asenhora K. Williams para o exercício das funçõesde auditores.

B — Aplicação dos artigos 81.o, 82.o e 86.o

1. Artigo 81.o

1.1. Cartéis

1.1.1. Um ano ímpar em matéria de decisões anticartéis

30. A prioridade concedida ao tratamento dosprocessos relativos a cartéis traduziu-se em 2001num importante aumento do número de proces-sos tratados. A Comissão adoptou 10 decisõesformais negativas nos processos «Eléctrodos degrafite», «Gluconato de sódio», «SAS/Maersk»,«Vitaminas», «Bancos alemães», «Ácido cítrico»,«Cervejeiras belgas», «Cervejeiras do Luxem-burgo», «Fosfato de zinco» e «Papel autocopia-tivo», tendo igualmente arquivado, em resultadode «transacções», cinco processos de cartéis nosector bancário relacionados com a introdução doeuro (2). Por outro lado, a Comissão adoptoucomunicações de acusações em diversos outroscasos, nomeadamente nos processos «Placas degesso» e «GFU» (3).

31. Os acordos secretos de cartéis figuram entreas restrições de concorrência mais graves. Tradu-

zem-se por aumentos de preços e por uma redu-ção da escolha dos consumidores. Têm tambémum impacto negativo sobre toda a indústria euro-peia, por aumentarem o custo dos serviços, dasmercadorias e das matérias-primas para as empre-sas europeias que obtêm os seus fornecimentosjunto dos participantes nos cartéis. A mais longoprazo, estas práticas degradam a competitividadeglobal da indústria europeia.

32. Por todos estes motivos, a detecção, a ins-trução e o sancionamento dos acordos secretos decartéis constitui um dos elementos fundamentaisda política de concorrência conduzida pelaComissão Europeia desde o seu início. A criaçãoem 1998 de uma unidade especializada (UnidadeCartéis) confirmou concretamente a prioridadeque a Comissão consagra à luta contra os cartéis,embora outras unidades possam igualmente nelaparticipar. Por outro lado, a entrada em vigor dofuturo regulamento do Conselho destinado asubstituir o Regulamento n.o 17 relativo aos pro-cessos antitrust, consagra o controlo dos merca-dos e a luta contra as práticas anticoncorrenciaisocultas que neles se desenvolvem como missõescentrais da política comunitária de concorrência.É nesta perspectiva que desde há vários anos temsido dada prioridade ao reforço substancial dosmeios e a uma reorganização profunda dos méto-dos de trabalho da Direcção-Geral em matéria deluta contra os cartéis.

33. Detectar, instaurar processos e aplicar san-ções aos acordos secretos de cartéis constitui umdesafio permanente para as autoridades de con-corrência. A crescente globalização do comércioimplica que se tenha de fazer face a acordossecretos que ultrapassam as fronteiras da Europa,por vezes celebrados fora do território do EEE. Ageneralização das novas tecnologias da informa-ção e da comunicação torna mais difícil o acessoaos elementos de prova relativos a estes acordos.Por último, a intensificação da luta contra os car-téis, tanto na Europa como fora das fronteiras daEuropa, gera um grau de sofisticação crescentedas práticas anticoncorrenciais desenvolvidas.

34. A reforma do Regulamento n.o 17, que seencontra actualmente a ser debatida no âmbito doConselho, reveste uma importância fundamentalpara assegurar que a Comissão faça face a estedesafio, continuando a reforçar a sua eficácia emmatéria de luta contra práticas anticoncorrenciaisocultas. Em especial, a reforma dos poderes deinvestigação e, nomeadamente, a possibilidadede realizar inspecções na residência privada das

¥1∂ Processos T-219/01 R, Commerzbank AG e T-216/01R, Reise-bank AG, bem como processo T-213/01 R, Österreichische Post-parkasse AG.

¥2∂ Ver a secção 1.1.2.¥3∂ Comunicados de imprensa Memo/01/149 de 24.4.2001 e

IP/01/830 de 13.6.2001.

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I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICASCONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE —

ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

21

pessoas constitui um elemento indispensávelpara adaptar a luta contra os cartéis a práticascada vez mais sofisticadas.

35. Da mesma forma e pelos mesmos motivos, aComissão iniciou a revisão da sua comunicaçãosobre a não aplicação ou redução de coimas.

36. A Comissão Europeia adoptou um primeiroprograma de não aplicação ou redução de coimasem 1996 (1), por forma a aumentar a eficácia,tanto a nível da detecção como do tratamento doscasos de cartel. O programa de não aplicação ouredução das coimas foi concebido como umapoderosa arma de investigação destinada arecompensar as empresas que cooperam com aComissão. Reconhece que é difícil obter elemen-tos de prova sólidos relativos aos cartéis secretosnum contexto cada vez mais sofisticado.

37. Após cinco anos de vigência, o programa denão aplicação ou redução de coimas desempenhaum papel importante no domínio da aplicação dasregras de concorrência contra os cartéis e foi invo-cado pelas empresas em muitos processos inicia-dos desde Julho de 1996. Até ao momento, estaComunicação foi aplicada em 16 decisões finaisda Comissão: «Sobretaxa de liga metálica» (2),«British Sugar» (3), «Tubos com revestimento tér-mico» (4), «Ferries gregos» (5), «Tubos de aço nãosoldados» (6), «Lisina» (7), «SAS Maersk Air» (8),«Eléctrodos de grafite» (9), «Gluconato desódio» (10), «Vitaminas» (11), «Cervejeiras bel-gas» (12), «Cervejeiras do Luxemburgo» (13),«Ácido cítrico» (14), «Banco alemães» (15), «Fos-fato de zinco» (16) e «Papel autocopiativo» (17).

38. Contudo, a experiência obtida até aomomento revela que a eficácia da Comunicaçãoseria reforçada com um aumento da transparênciae da segurança quanto às condições de concessãodas reduções de coimas. Beneficiaria igualmente

de um maior alinhamento entre o nível de redu-ção das coimas e o valor da contribuição dasempresas para a comprovação da infracção.

39. Por estes motivos, após cinco anos de aplica-ção, a Comissão decidiu rever a sua comunicaçãosobre a não aplicação ou redução de coimas, com oobjectivo de aumentar a sua eficácia e de maximi-zar a capacidade da Comissão para detectar e san-cionar os cartéis. Um projecto de nova comunica-ção, publicado em 21 de Julho (18), abordou estasquestões sob diversos ângulos e preparou o terrenopara a adopção de uma nova comunicação sobre anão aplicação ou redução de coimas em 2002.

1.1.2. Decisões relativas a cartéis em 2001

Eléctrodos de grafite (19)

40. Em 18 de Julho, a Comissão aplicou coimas,num montante total de 218,8 milhões de euros, àempresa alemã SGL Carbon AG, à empresanorte-americana UCAR International e a seisoutras empresas, devido à fixação comum de pre-ços e à repartição do mercado dos eléctrodos degrafite. Na sequência de uma aprofundadainvestigação iniciada em 1997, a Comissão con-cluiu que estas empresas participaram num cartelmundial durante praticamente toda a década denoventa. A Comissão caracterizou o comporta-mento das empresas como uma infracção «muitograve» às regras comunitárias de concorrência.

41. Os eléctrodos de grafite são colunas de gra-fite moldadas em cerâmica utilizadas principal-mente na produção de aço em fornos de arco eléc-trico, também designados «mini-siderurgias».

42. No que se refere à comunicação sobre a nãoaplicação ou redução de coimas, será importanterealçar que foi a primeira vez que a Comissãoconcedeu uma redução substancial da coima(70%). A Showa Denko beneficiou desta reduçãopor ter sido a primeira empresa a cooperar e a for-necer à Comissão elementos de prova decisivosda existência do cartel.

SAS/Maersk (20)

43. Também em 18 de Julho, a Comissão decidiuaplicar coimas às companhias aéreas escandina-

¥1∂ JO C 207 de 18.7. 1996, p. 4.¥2∂ JO L 100 de 1.4.1998.¥3∂ JO L 76 de 22.3.1999.¥4∂ JO L 24 de 30.1.1999.¥5∂ JO L 109 de 27.4.1999.¥6∂ Não publicada.¥7∂ JO L 152 de 7.6.2001.¥8∂ Processos COMP/D2/37.444 e COMP/D2/37.386, JO L 265 de

5.10.2001.¥9∂ Processo COMP/36.490; IP/01/1010 de 18.7.2001.¥10∂ Processo COMP/36.756; IP/01/1355 de 20.10.2001.¥11∂ Processo COMP/37.512; IP/01/1625 de 21.11.2001.¥12∂ Processo COMP/37.614, IP/01/1739. ¥13∂ Processo COMP/37.800; IP/01/1740 de 5.12.2001.¥14∂ Processo COMP/36.604; IP/01/1743 de 5.12.2001.¥15∂ Processo COMP/37.919; IP/01/1796 de 11.12.2001.¥16∂ Processo COMP/37.027; IP/01/IP/01/1797 de 11.12.2001.¥17∂ Processo COMP/36.212; IP/01/1892 de 20.12.2001.

¥18∂ JO C 205 de 21.7.2001, p. 18.¥19∂ Processo COMP/36.490; IP/01/1010 de 18.7.2001.¥20∂ Processos COMP/D2/37.444 e COMP/D2/37.386, JO L 265 de

5.10.2001.

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vas SAS e Maersk Air nos montantes de, respec-tivamente, 39,375 milhões de euros e 13,125 mi-lhões de euros, devido à sua participação numacordo secreto de repartição de mercados. Esteacordo levou à monopolização por parte da SASda rota Copenhaga-Estocolmo em detrimento demais de um milhão de passageiros que utilizamesta rota anualmente e à repartição de outras rotasa partir e com destino da Dinamarca (1).

44. A SAS e a Maersk Air notificaram um acordode cooperação que dizia principalmente respeitoà partilha de códigos e aos programas de passageirofrequente. Durante a investigação preliminar afi-gurou-se que, coincidindo com a entrada em vigordo acordo de cooperação, a Maersk Air tinhaabandonado a rota Copenhaga-Estocolmo, ondeaté aí tinha concorrido com a SAS. Apurou-seigualmente que, na mesma altura, a SAS tinhadeixado de voar na rota Copenhaga-Veneza e quea Maersk Air tinha iniciado operações nesta rotae, por último, que a SAS tinha abandonado a rotaBillund-Frankfurt, deixando a Maersk Air — oseu anterior concorrente nessa rota — comoúnico transportador.

45. Estas entradas e abandonos de rotas, que nãoforam notificados, faziam parte de um acordomais amplo de repartição de mercados queincluía uma cláusula global de não concorrênciarelativa às operações futuras das partes nas rotasinternacionais com partida e destino da Dina-marca, bem como nas rotas domésticas dinamar-quesas.

46. A repartição de mercado foi descoberta nasequência de inspecções às instalações dasempresas. As inspecções foram realizadas emJunho de 2000, em estreita cooperação com asautoridades nacionais de concorrência da Suéciae da Dinamarca.

47. Na sequência desta decisão, a concorrênciaentre a SAS e a Maersk Air, as duas maiores com-panhias aéreas que operam com destino e a partirda Dinamarca, foi restabelecida em benefício dosconsumidores.

Gluconato de sódio (2)

48. Em 2 de Outubro de 2001, a Comissão apli-cou coimas à Archer Daniels Midland Company

Inc., à Akzo Nobel N.V, à Avebe B.A., à FujisawaPharmaceutical Company Ltd., à JungbunzlauerAG e à Roquette Frères S.A., num total de57,53 milhões de euros, devido à fixação de pre-ços e à partilha do mercado do gluconato desódio. A Comissão caracterizou o comporta-mento das empresas como uma infracção «muitograve» às regras comunitárias de concorrência edo EEE.

49. Na sequência de uma investigação iniciadaem 1997, a Comissão apurou que as empresasparticiparam num cartel mundial entre 1987 e1995. Os acordos de cartel foram aplicados atra-vés de um controlo rigoroso das vendas, da reali-zação de reuniões regulares a nível multilateral ebilateral e da aplicação de um sistema de com-pensação. Durante este período, a Comissãorecolheu elementos de prova relativos a mais de25 reuniões do cartel.

50. O gluconato de sódio é um produto químicoutilizado para a limpeza do metal e do vidro, comaplicações na lavagem de garrafas, na limpeza deutensílios e na decapagem de tinta, sendo tam-bém utilizado como aditivo nos produtos alimen-tares e em diversas outras aplicações químicas.

51. A Comissão concedeu pela primeira vez umaredução muito significativa da coima ao abrigo dasecção B da comunicação sobre a não aplicaçãoou redução de coimas. A Fujisawa beneficiou deuma redução de 80% devido ao facto de ter sido aprimeira empresa a apresentar elementos deprova decisivos quanto à existência do cartel,antes de a Comissão ter realizado qualquerinvestigação ordenada através de decisão. AComissão não concedeu à Fujisawa uma reduçãode 100% da coima porque não o poderia fazer nostermos da secção B da comunicação, visto que aFujisawa apenas se dirigiu à Comissão após terrecebido um pedido de informações. Esta reticên-cia em colaborar espontaneamente e antes dequalquer medida de investigação foi tomada emconsideração.

Vitaminas (3)

52. Em 21 de Novembro, a Comissão adoptouuma decisão nos termos do artigo 81.o do Tratadoe do artigo 53.o do Acordo EEE em que concluiuque treze produtores de vitaminas A, E, B1, B2,B5, B6, C, D3, H, ácido fólico, beta-caroteno e

¥1∂ A SAS recorreu desta decisão para o Tribunal de Primeira Instân-cia em 3 de Outubro de 2001 (processo T-241/01), contestando omontante da coima.

¥2∂ Processo COMP/36.756; IP/01/1355 de 20.10.2001. ¥3∂ Processo COMP/37.512; IP/01/1625 de 21.11.2001.

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carotenóides participaram em cartéis relativa-mente a cada um destes produtos, de que resulta-ram no total doze infracções distintas.

53. A Comissão aplicou coimas a oito empresas,num total de 855,23 milhões de euros, devido àfixação de preços de oito produtos diferentes e àatribuição de quotas de vendas relativamente aosmesmos produtos. As disposições em matéria deprescrição relativas às coimas no âmbito dos pro-cessos de concorrência (1) foram aplicadas àsinfracções relativas às vitaminas B1, B6, H eácido fólico.Como tal, a Comissão não aplicouqualquer coima às empresas relativamente à suaparticipação nestes cartéis. Cada um dos acordosconstituiu uma infracção muito grave às regrascomunitárias de concorrência, justificando assimo nível globalmente elevado das coimas aplicadas.

54. Uma característica notória deste complexode infracções consistiu no papel central desempe-nhado pela Hoffmann-La Roche e pela BASF, osdois principais produtores de vitaminas, em prati-camente todos os cartéis, enquanto os outrosintervenientes apenas participaram num númerolimitado de vitaminas.

55. Os participantes em cada um dos cartéis fixa-ram preços para os diferentes produtos vitamí-nicos, atribuíram quotas de vendas, acordaram eaplicaram aumentos de preços e emitiram anún-cios de preços em conformidade com os seusacordos. Criaram igualmente um sistema de con-trolo e de aplicação dos seus acordos e participa-ram em reuniões regulares para aplicar os seusplanos. O modus operandi dos diferentes cartéisera essencialmente o mesmo. Dada a continui-dade e a semelhança do método, a Comissão con-siderou adequado tratar num mesmo processo enuma mesma decisão o complexo de acordos queabrangeu as diferentes vitaminas.

Ácido cítrico (2)

56. Em 5 de Dezembro, a Comissão decidiu apli-car coimas num montante total de 135,22 milhõesde euros a cinco empresas produtoras de ácidocítrico.

57. A investigação da Comissão permitiu estabe-lecer que os cinco produtores em causa participa-

ram, entre 1991 e 1995, num cartel secreto deâmbito mundial que lhes permitiu fixar os pre-ços e repartir o mercado do ácido cítrico. Esteacordo constitui uma infracção muito grave aoartigo 81.o do Tratado CE e ao artigo 53.o doAcordo EEE, que justifica o elevado montantedas coimas.

Cervejeiras belgas (3)

58. Em 5 de Dezembro de 2001, a Comissãoaplicou coimas a cinco empresas, num total de91,655 milhões de euros, devido à sua participa-ção em dois cartéis secretos distintos no mercadobelga da cerveja.

59. O primeiro cartel envolveu a Interbrew, porum lado, e a Alken-Maes e a Danone (na altura aempresa-mãe da Alken-Maes), por outro. A Inter-brew e a Alken-Maes/Danone, que ocupavam aprimeira e a segunda posições no mercado, acor-daram num pacto geral de não agressão, na repar-tição de clientes no sector «horeca» (hotéis,restaurantes e cafés), na fixação de preços nocomércio retalhista, na limitação de investimen-tos e de publicidade no sector horeca, numa novaestrutura tarifária (horeca e retalhista) e num sis-tema mensal pormenorizado de intercâmbio deinformações relativas aos volumes de vendas(horeca e retalhista). O cartel esteve em funciona-mento entre 1993 e 1998. Os directores-gerais erestantes quadros de direcção das empresas envol-vidas reuniram-se regularmente para aplicar econtrolar estes acordos. A Comissão considerouque a infracção era «muito grave». Ao fixar o mon-tante da coima, a Comissão tomou igualmente emconsideração o facto de a Danone ter cometidoanteriormente infracções ao artigo 81.o (4) de natu-reza semelhante.

60. O segundo cartel dizia respeito à cerveja commarca de distribuidor na Bélgica. Trata-se da cer-veja que os supermercados encomendam aosfabricantes de cerveja, mas que vendem com umamarca própria. No período compreendido entreOutubro de 1997 e Julho de 1998, a Interbrew, aAlken-Maes, a Haacht e a Martens reuniram-sequatro vezes para discutir o mercado da cervejacom marca de distribuidor na Bélgica, assimcomo os seus preços e clientes. Durante estasreuniões, as quatro cervejeiras trocaram também

¥1∂ Regulamento (CEE) n.o 2988/74 do Conselho, de 26 de Novem-bro de 1974, relativo à prescrição quanto a procedimentos e exe-cução de sanções no domínio do direito dos transportes e daconcorrência da Comunidade Económica Europeia.

¥2∂ Processo COMP/36.604; IP/01/1743 de 5.12.2001.

¥3∂ Processo COMP/37.614; IP/01/1739 de 5.12.01.¥4∂ Decisão da Comissão de 23 de Julho de 1984 (vidro plano) e

Decisão da Comissão de 15 de Maio de 1974 (vidro plano).

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informações comerciais. Este cartel foi conside-rado uma infracção «grave».

Cervejeiras do Luxemburgo (1)

61. Em 5 de Dezembro, a Comissão aplicou coi-mas a três cervejeiras luxemburguesas, a Brasse-rie Bofferding, a Brasserie Battin e a Brasserie deWiltz, num total de 448 000 euros devido à suaparticipação num acordo de partilha de mercadono sector horeca (hotéis, restaurantes e cafés) doLuxemburgo. Uma quarta cervejeira, a Brasseriede Luxembourg, que é filial da Interbrew, não foiobjecto de qualquer coima uma vez que revelou ocartel à Comissão e observou todas as outrascondições previstas na secção B da comunicaçãosobre a não aplicação ou redução de coimas.

62. As cervejeiras acordaram por escrito em res-peitar os acordos de compra exclusiva de cadauma delas («vínculo da cerveja») com os clienteshoreca, tendo também decidido aplicar medidasdestinadas a restringir a entrada de cervejeirasestrangeiras no sector horeca luxemburguês. Oacordo vigorou entre 1985 e 2000 e foi conside-rado uma infracção «grave».

Fosfato de zinco (2)

63. Em 11 de Dezembro, a Comissão aplicoucoimas num montante total de 11,95 milhões deeuros a seis empresas produtoras ou ex-produto-ras de fosfato de zinco. A investigação da Comis-são permitiu comprovar que os seis produtoresem causa participaram, entre 1994 e 1998, numacordo que abrangeu todo o Espaço EconómicoEuropeu e que lhes permitiu fixar os preços e par-tilhar a quota de 90% que detinham no mercadodo fosfato de zinco, um pigmento mineral anti-corrosivo utilizado para o fabrico de tintas indus-triais. Este acordo constitui, pela sua natureza,uma infracção muito grave ao artigo 81.o do Tra-tado CE e ao artigo 53.o do Acordo EEE.

Transacções relativas às comissões bancárias de câmbio de divisas da zona euro e bancos alemães (3)

64. Pouco tempo após a criação do euro, em 1 deJaneiro de 1999, a Comissão (DG MercadoInterno) recebeu queixas devidas ao facto de as

comissões de câmbio das notas e moedas da zonaeuro continuarem a ser elevadas. A Comissão rea-lizou diversas inspecções sem aviso prévio emdiversos bancos e enviou pedidos de informaçõesà maior parte dos bancos da zona euro. Recolheuelementos de prova reveladores de que algunsgrupos de bancos nacionais podem ter acordado amanutenção das comissões de câmbio emdeter-minados níveis, por forma a minimizar os prejuí-zos causados pela introdução do euro. Nesta base,a Comissão deu início em 2000 a diversos proces-sos de infracção contra um elevado número debancos e agências de câmbio em sete Esta-dos-Membros (Áustria, Bélgica, Finlândia, Ale-manha, Irlanda, Países Baixos e Portugal).

65. Contudo, diversos bancos tomaram a inicia-tiva de apresentar propostas unilaterais à Comis-são, comprometendo-se: i) a reduzir significati-vamente as comissões aplicáveis ao câmbio dedivisas das moedas participantes; e ii) a eliminartodas essas comissões o mais tardar até Outubrode 2001, pelo menos no que se referia às opera-ções de compra de titulares de contas.

66. Tomando em consideração a circunstânciaexcepcional do desaparecimento do mercado emcausa e o benefício imediato para os consumido-res resultante destas propostas, que implicavamum desvio do alegado comportamento colusivo,a Comissão decidiu arquivar os processos deinfracção contra mais de 50 bancos na Bélgica,Finlândia, Irlanda, Países Baixos, Portugal e con-tra alguns bancos na Alemanha (4).

67. Em 12 de Dezembro, a Comissão aplicoucoimas a cinco bancos alemães num total de100,8 milhões de euros devido à celebração deum acordo de fixação de uma comissão de cercade 3% para a compra e venda de notas da zonaeuro durante o período de transição de três anos,com início em 1 de Janeiro de 1999.

68. O processo austríaco será objecto de umaapreciação mais pormenorizada no quadro de umcartel de dimensão mais vasta no sector bancárioaustríaco que se encontra actualmente a ser inves-tigado.

Papel autocopiativo (5)

69. Em 20 de Dezembro, a Comissão decidiuaplicar coimas num montante total de 313,69 mi-

¥1∂ Processo COMP/37.800; IP/01/1740 de 5.12.2001.¥2∂ Processo COMP/37.027; IP/01/1797 de 11.12.2001.¥3∂ Processo COMP/37.919; IP/01/1796 de 11.12.2001.

¥4∂ IP/01/1159 de 31.7.2001.¥5∂ Processo COMP/36.212; IP/01/1892 de 20.12.2001.

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ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

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lhões de euros a 10 empresas produtoras de papelautocopiativo.

70. A investigação da Comissão permitiu provarque os produtores em causa participaram, entre1992 e 1995, num cartel secreto de âmbito euro-peu destinado a melhorar a rendibilidade dos par-ticipantes através de aumentos colectivos de pre-ços. Este acordo constitui, pela sua natureza, umainfracção muito grave ao artigo 81.o do Tra-tado CE e ao artigo 53.o do Acordo EEE, o quejustifica o montante elevado das coimas, nomea-damente a coima de 184,27 milhões de eurosaplicada à Arjo Wiggins Appleton, primeiro pro-dutor e instigador do cartel. A Sappi beneficioude imunidade total relativamente à sua participa-ção no cartel, uma vez que foi a primeira empresaa cooperar com a Comissão, tendo fornecido pro-vas decisivas relativas ao cartel.

Acórdão do Tribunal no processo «British Sugar»

71. Por decisão de 14.10.1998, a Comissão apli-cou coimas aos produtores de açúcar BritishSugar e Tate&Lyle e aos comerciantes de açúcarNapier Brown and James Budgett por uma infrac-ção ao n.o 1 do artigo 81.o do Tratado CE, queconsistiu numa coordenação da política de preçosdas partes no mercado do açúcar branco granu-lado no Reino Unido (1).

72. Na sequência de um recurso interposto portrês das partes, o Tribunal de Primeira Instânciaconfirmou inteiramente no seu acórdão de 12 deJulho de 2001 (2) a decisão da Comissão, exceptono que se refere à coima aplicada à empresaTate&Lyle, a qual foi reduzida. O Tribunal de Pri-meira Instância não julgou pertinentes quaisquerdos argumentos apresentados pelas partes com oobjectivo de tentaram demonstrar que não tinhamcometido qualquer infracção e que o seu compor-tamento não era susceptível de afectar o comércioentre Estados-Membros.

73. Quanto às coimas impostas, o Tribunal dePrimeira Instância apoiou as conclusões daComissão no que se refere à classificação dainfracção como grave, à sua duração, ao seucarácter intencional e à apreciação das circuns-

tâncias agravantes e atenuantes. Relativamente àquestão da clemência, o Tribunal de Primeira Ins-tância não pôs em causa os princípios da actualcomunicação da Comissão relativa à não aplica-ção ou redução de coimas (3). O Tribunal consi-derou, contudo, que a Comissão tinha caracteri-zado incorrectamente a cooperação da Tate&Lylecomo não sendo permanente e total, na acepçãoda alínea b) do ponto B da comunicação. Assim,o Tribunal de Primeira Instância exerceu plena-mente a sua competência de plena jurisdição (4) evoltou a apreciar as características da cooperaçãoda Tate&Lyle, tendo aumentado a redução dacoima de 50% para 60%.

74. Entretanto, a British Sugar recorreu para oTribunal de Justiça das Comunidades Europeiasdo acórdão do Tribunal de Primeira Instância (5).

2. Artigos 82.o e 86.o

2.1. Artigo 82.o — Empresas em posição dominante

75. O artigo 82.o proíbe que as empresas quepossuem uma posição dominante num determi-nado mercado abusem dessa situação por forma aprejudicar terceiros. Tal abuso pode consistir, porexemplo, na limitação da produção, na aplicaçãode preços excessivos, numa política de preçosdiscriminatória ou predatória, na vinculação dasvendas ou noutras práticas comerciais não basea-das no princípio da eficiência económica. Estaspráticas têm um efeito negativo sobre a concor-rência e são levadas a cabo por empresas cujopoder de mercado lhes assegura uma protecçãoem relação à pressão concorrencial e lhes permiteeliminar os seus concorrentes sem grandes danospara si próprias ou impedir, de forma significa-tiva, o acesso ao mercado de novos operadores.

76. Em 2001, a Comissão aplicou coimas emquatro processos ao abrigo do artigo 82.o Nos res-tantes processos que examinou, a Comissão acei-tou compromissos das empresas em causa oualterações aos acordos que puseram termo às prá-ticas abusivas. Os processos analisados não selimitaram a sectores específicos e dizem respeito,

¥1∂ Para uma descrição pormenorizada da decisão, ver XXVIII Rela-tório da Política de Concorrência de 1998, p. 138 a 140.

¥2∂ Processos apensos T-202/98, T-204/98 e T-207/98, Tate&Lyle,British Sugar e Napier Brown/Comissão.

¥3∂ JO C 207 de 18.7.1996, p. 4.¥4∂ Ver artigo 229.o do Tratado CE e artigo 17.o do Regulamento

n.o 17 de 1962.¥5∂ Processo C-359/01 P.

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nomeadamente, ao sector postal e à indústria dosveículos automóveis.

Deutsche Post AG I (1)

77. Em 20 de Março, a Comissão adoptou a suaprimeira decisão no sector postal ao abrigo doartigo 82.o, concluindo que o operador postalalemão Deutsche Post AG tinha abusado da suaposição dominante no mercado dos serviços deencomendas comerciais, ao conceder descontosde fidelidade e ao impor preços predatórios. Foiaplicada à Deutsche Post uma coima de24 milhões de euros. Ver secção I.C.2.2.

Deutsche Post AG II (2)

78. Em 25 de Julho, foi adoptada outra decisãono sector postal, também relacionada com aDeutsche Post AG. Ver secção I.C.2.2.

Duales System Deutschland (DSD) (3)

79. Em 20 de Abril, a Comissão decidiu que aDSD, a empresa que criou a marca «Green Dot»,abusou da sua posição dominante no mercado darecolha e reciclagem de embalagens na Alema-nha. A DSD é a única empresa que explora naAlemanha um serviço colectivo de recolha e reci-clagem de embalagens. A Comissão contestouuma disposição do acordo de utilização de marcaconcluído entre a DSD e os seus clientes, queobrigava estes a pagarem encargos corresponden-tes ao volume das embalagens com a marcaGreen Dot, em vez de pagarem encargos corres-pondentes aos volumes das embalagens relativa-mente aos quais a DSD efectivamente forneciaum serviço de recolha e reciclagem. Esta disposi-ção constituía uma infracção ao artigo 82.o, umavez que forçava os clientes a pagarem serviçosque não tinham sido efectivamente prestados eimpedia a entrada de concorrentes no mercado.

¥1∂ Processo COMP/C1/35.141.¥2∂ Processo COMP/C1/36.915. ¥3∂ Processo COMP/34.493; IP/01/584.

Caixa 3: Política de concorrência no sector dos resíduos de embalagens

Ao transpor a legislação comunitária em matéria de ambiente, os Estados-Membros fixam objectivos derecolha e reciclagem de resíduos de embalagens, em conformidade com o princípio do poluidor-pagador.O direito e a regulamentação nacionais de cada país fixam o quadro geral para o sector, sendo posterior-mente criados diferentes sistemas de recolha e reciclagem das embalagens. Nos denominados sistemascolectivos, como aqueles que a Comissão analisou recentemente, existem relações contratuais entre ooperador do sistema e os produtores/distribuidores de mercadorias embaladas, as empresas de recolha eas sociedades de garantia/reciclagem.

Em termos gerais, a Comissão procura actuar no interesse dos consumidores. O objectivo da Comissãoconsiste em garantir que os novos mercados criados neste sector estão abertos à concorrência, mantendosimultaneamente elevados níveis de protecção ambiental e assegurando que os serviços são fornecidosao melhor preço possível. A Comissão adoptou diversas decisões formais e enviou ofícios de arquiva-mento em 2001 (duas decisões no âmbito do processo Duales System Deutschland (1), uma decisão noâmbito do processo Eco Emballages (2), ofícios de arquivamento no caso dos processos Pro Europe (3),Returpack-PET (4), Returpack Aluminium (5) e Returglas (6)) que estabelecem os princípios fundamentaisque os sistemas devem observar em matéria de concorrência e que podem ser resumidos da seguinteforma:

a) livre escolha das empresas: a Comissão considera que as empresas obrigadas a recuperar e reciclar osresíduos devem poder optar entre diversos sistemas ou outras soluções que se encontrem em conformi-dade com a legislação. O objectivo consiste em salvaguardar a sua liberdade de não fazer apelo ao

(1) Processo COMP/D3/34.493, Decisão de 20 de Abril de 2001, JO L 166 de 26.6.2001, p. 1; Decisão de 17 de Setembro de 2001,JO L 319 de 4.12.2001, p. 1.

(2) Processo COMP/D3/34.950, Decisão de 15 de Junho de 2001, JO L 233 de 31.8.2001, p. 37.(3) Processo COMP/D3/38.051.(4) Processos COMP/D3/35.656 e COMP/D3/37.224.(5) Processo COMP/D3/35.658.(6) Processo COMP/D3/35.669.

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I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICASCONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE —

ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

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Michelin (1)

80. Em 20 de Junho, a Comissão decidiu aplicaruma coima ao produtor francês de pneus Miche-lin, no montante de 19,76 milhões de euros,devido a um abuso da sua posição dominante nomercado francês de pneus recauchutados epneus de substituição para veículos pesados. Ainvestigação da Comissão comprovou que, entre1990 e 1998, a Michelin utilizou um sistema com-plexo de descontos, bónus e acordos comerciaisque tiveram por efeito vincular os distribuidores àMichelin enquanto seu fornecedor, criando conse-quentemente, de forma artificial, uma barreira àentrada de concorrentes no mercado. A sançãoelevada reflectiu a gravidade e duração da infrac-ção e o facto de a Michelin ter cometido anterior-mente uma infracção semelhante.

IMS Health (2)

81. Em 3 de Julho, a Comissão impôs medidasprovisórias à IMS Health (Estados Unidos), lídermundial de recolha de dados sobre as vendas ereceitas no sector farmacêutico, tendo ordenadoque concedesse licenças relativamente à sua«estrutura de 1 860 módulos», que segmenta aAlemanha em 1 860 zonas de vendas ou «módu-los». A Comissão considerou que a recusa daIMS de conceder uma licença para a utilização dainfra-estrutura que, na opinião da Comissão, setornou uma norma de facto da indústria farma-cêutica alemã, constituía à primeira vista umabuso de posição dominante. A recusa impedianovas entradas potenciais no mercado dos dadossobre as vendas do sector farmacêutico, sendosusceptível de causar danos graves e irreparáveis

sistema dominante ou de o fazer apenas no que se refere a uma parte das suas embalagens. Tendo emconta a posição de mercado muito forte dos sistemas já existentes, é extremamente importante, para acriação de condições de concorrência, que não existam restrições de acesso ao mercado para os forne-cedores de serviços alternativos. O objectivo da Comissão é também o de garantir que sejam desenvol-vidos novos tipos de actividades no sector da recuperação de embalagens, eliminando assim osobstáculos à autogestão e outras soluções individuais de cumprimento da legislação. Desta forma, aComissão não aceita comportamentos abusivos que consolidariam a posição dominante do operadorexistente;

b) rejeição de cláusulas de exclusividade injustificadas: quando a Comissão aprecia as restrições daconcorrência no sector da recuperação de resíduos de embalagens, tem nomeadamente em conta oâmbito e a duração dos contratos. De maneira geral, a Comissão assume uma posição crítica relativa-mente a todos os tipos de cláusulas de exclusividade que não sejam justificadas por argumentos denatureza económica sólidos e convincentes;

c) acesso sem restrições à infra-estrutura de recolha: uma das características do mercado da recolha etriagem dos resíduos de embalagens nas residências é o facto de,na prática, ser muito difícil duplicar ainfra-estrutura de recolha existente. Seria inconveniente obrigar as famílias a utilizarem para osmesmos materiais caixotes diferentes consoante os diversos sistemas de recolha. Para além disso, umatal solução não seria economicamente viável. Por conseguinte, a Comissão considera que, na prática, apartilha das infra-estruturas de recolha por parte destas empresas constitui uma condição prévia para aexistência de concorrência;

d) comercialização livre de materiais secundárias: a comercialização de materiais secundárias por partedas empresas de recolha deve ser tão livre quanto possível, assegurando simultaneamente que osprodutos são encaminhados para um canal de reciclagem adequado. O material de embalagem reco-lhido e triado pode, efectivamente, ser reutilizado enquanto matéria-prima secundária para diversosnovos produtos.

A Comissão aplicará os princípios acima referidos aos processos actualmente pendentes e aos processosfuturos. O consumidor beneficiará directamente da aplicação destes princípios, uma vez que a concor-rência nos mercados da recuperação de resíduos de embalagem deverá proporcionar uma redução dospreços que, em última análise, o consumidor paga pelos produtos tratados nos sistemas de recuperação.

¥1∂ Processo COMP/36.041; IP/01/873.¥2∂ Processo COMP/38.044 IMS Health/NDC, Decisão de 3 de Julho

de 2001, JO L 59 de 28.2.2002.

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aos actuais concorrentes da IMS, a NDC Health(Estados Unidos) e a AzyX Geopharma Services(Bélgica). O presidente do Tribunal de PrimeiraInstância, junto do qual a IMS formulou umpedido de medidas provisórias, ordenou a suspen-são da execução da decisão da Comissão em 26 deOutubro, na pendência de uma apreciação final dorecurso de anulação (1). A NDC Health interpôsrecurso do despacho do presidente do Tribunal dePrimeira Instância, em 12 de Dezembro.

De Post/La Poste (Bélgica) (2)

82. Em 5 de Dezembro, a Comissão decidiu queo operador postal belga De Post/La Poste tinhaabusado da sua posição dominante ao estabeleceruma tarifa preferencial para o serviço geral decorreio, subordinada à aceitação de um contratosuplementar que cobria um novo serviço decorreio empresa a empresa («B2B») e aplicouuma coima de 2,5 milhões de euros. Ver sec-ção I.C.2.2.

2.2. N.o 1 do artigo 86.o conjugado com o artigo 82.o — Empresas públicas/empresas com direitos especiais ou exclusivos e posição dominante

83. Nos termos do artigo 86.o, as regras deconcorrência aplicam-se igualmente às empresaspúblicas ou às empresas a que os Estados-Mem-bros concederam direitos especiais ou exclusivos.Os Estados-Membros não podem adoptar nemmanter em vigor qualquer medida contrária aodisposto nas regras de concorrência relativa-mente a estes tipos de empresas.

La Poste (França) (3)

84. Em 23 de Outubro, a Comissão adoptou umadecisão relativa ao controlo das relações entre aempresa francesa La Poste e as empresas especi-alizadas na preparação do correio. A Comissãoconcluiu que existia um conflito de interesses nasrelações entre La Poste e as empresas privadas depreparação de correio, uma vez que La Poste é

simultaneamente um concorrente dessas empre-sas e, devido ao seu monopólio postal, o seu par-ceiro obrigatório. Na opinião da Comissão, esteconflito de interesses incentiva La Poste a abu-sar da sua posição dominante. Uma vez que alegislação francesa não prevê um controlo sufi-cientemente eficaz ou independente para neutra-lizar este conflito de interesses, a Comissão con-cluiu que o Estado francês cometeu umainfracção ao n.o 1 do artigo 86.o, em articulaçãocom o artigo 82.o do Tratado.

C — Evolução sectorial da concorrência

1. Energia: liberalização dos sectores da electricidade e do gás

85. O ano de 2001 pautou-se por importantesdesenvolvimentos no sector europeu da energia(electricidade e gás), cujo processo de liberaliza-ção está a decorrer. A reestruturação do sectorprosseguiu e os consumidores começaram abeneficiar da liberalização em maior escala eforam muitos os que utilizaram as novas possibi-lidades de mudar de fornecedores. Foi propostanova legislação para acelerar o processo de libe-ralização. Igualmente importante foi a adopçãode diversas medidas acessórias para assegurarque a liberalização se torne uma realidade econó-mica.

86. O processo de liberalização implica que osintervenientes no mercado se adaptem à nova rea-lidade económica. Na opinião da Comissão, aliberalização obriga as empresas do sector daenergia a tornarem-se mais eficientes (racionali-zação) e a melhorarem os serviços que prestamaos consumidores. Simultaneamente, cria novasoportunidades de mercado para estas empresas.Podem alargar o âmbito geográfico das suas acti-vidades, tornando-se multinacionais, e podempenetrar em novos mercados do produto e passa-rem a comercializar múltiplos produtos de utili-dade pública. Em 2001 ficou claro que o processode reestruturação do sector energético europeuestá a prosseguir, provocando uma maior activi-dade a nível das concentrações, impulsionadaprincipalmente pelas economias de escala e dedimensão. Os exemplos mais notórios em 2001foram a política de aquisições da EDF em Espa-nha, Itália e Reino Unido, bem como a aquisiçãode uma participação maioritária na empresa de

¥1∂ Processo T-184/01 R. O presidente concluiu que a natureza abu-siva do comportamento da IMS não poderia ser consideradocomo totalmente destituído de ambiguidade, nos termos das actu-ais regras de concorrência, que existia um risco de a IMS podersofrer danos graves e irreparáveis se fosse forçada a concederuma licença aos seus concorrentes e que o equilíbrio de interessesno presente processo exigia uma suspensão da execução da deci-são.

¥2∂ Processo COMP/C1/37.859, JO L 61 de 2.3.2002.¥3∂ Processo COMP/C1/37.133.

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I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICASCONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE —

ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

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gás alemã Ruhrgas pela empresa de electricidadealemã EON. Desde que seja competente para tra-tar destas concentrações ao abrigo do Regula-mento das Concentrações (1), a Comissão garanteque as mesmas não levam à criação ou ao reforçode uma posição dominante nos mercados daenergia.

87. O objectivo final da política de liberalização— numa perspectiva da concorrência — consisteem proporcionar aos consumidores uma maiorescolha entre os fornecedores que, por sua vez,concorrem entre si com base nos preços e servi-ços. Os consumidores — principalmente nos paí-ses que optaram por uma abertura de mercadoque ultrapassa os requisitos mínimos das directi-vas europeias da electricidade e do gás — benefi-ciam já do processo de liberalização. Destaforma, a nível comunitário, os preços da electrici-dade (excluindo IVA e os impostos de energia)aplicados aos grandes utilizadores industriaisdesceram desde o início da política de liberaliza-ção, registando-se obviamente algumas diferen-ças entre Estados-Membros. Parecem tambémexistir indícios de convergência de preços entreos Estados-Membros (2). No que se refere ao sec-tor do gás, a situação é ligeiramente diferente,uma vez que o gás é importado principalmente aoabrigo de contratos a longo prazo e os preços pre-vistos nestes contratos para o continente europeuestão normalmente ligados aos preços do petró-leo. O aumento dos preços do petróleo levou porconseguinte a um aumento dos preços do gás noano passado. Contudo, a médio e longo prazoprevê-se que os grandes centros de distribuiçãode gás se desenvolverão também na Europa con-tinental, do que resultará uma maior liquidez ecomercialização a curto prazo. Tal permitirá queos operadores no mercado disponham de umnovo preço de referência que poderá substituir aligação ao preço do petróleo, facilitando assim asnegociações em matéria de preços.

1.1. Proposta da Comissão sobre a realização dos mercados europeus da electricidade e do gás

88. De um ponto de vista legislativo, a evoluçãomais importante a que se assistiu em 2001 foi a

proposta da Comissão de uma nova directiva rela-tiva à realização dos mercados europeus da elec-tricidade e do gás (3). A proposta, que foi apre-sentada ao Conselho e ao Parlamento Europeuem Março de 2001, na sequência de uma audiçãopública dos intervenientes no mercado realizadano Outono de 2000, é composta por elementosquantitativos e qualitativos.

89. No que se refere aos «elementos quantitati-vos», a proposta prevê uma abertura do mercadopara todos os consumidores de electricidadecomercial em 2003, para todos os consumidoresde gás comercial em 2004 e para todos os outrosutilizadores — incluindo as residências privadas— em 2005. Ao elaborar a sua proposta, aComissão tomou em consideração o facto de aaplicação das directivas existentes por partedos Estados-Membros ter provocado diferentesníveis de abertura do mercado. Além disso, em2001 a Comissão deu início a processos porinfracção contra a França e a Alemanha pela nãotransposição ou transposição incompleta dadirectiva relativa ao gás e contra a Bélgica portransposição incompleta da directiva relativa àelectricidade.

90. Infelizmente, os consumidores dos paísesque optaram por uma abertura lenta do mercadoestão em desvantagem, em termos concorrenci-ais, relativamente aos consumidores dos paísesque optaram por uma abertura rápida de mercado.Da mesma forma, as empresas de electricidadenestes últimos países estão sujeitas à concorrên-cia em toda a sua base de clientes, enquanto asempresas de electricidade nos primeiros paísescontinuam a beneficiar de uma base de clientesprotegida, o que lhes proporciona vantagens con-correnciais indevidas. Estas distorções da con-corrência apenas poderão ser reduzidas ou supri-midas se todos os Estados-Membros acordaremno mesmo nível de abertura de mercado.

91. No que se refere aos «elementos qualitati-vos», a proposta prevê, em primeiro lugar, oreforço das regras de dissociação. Visto que sãonumerosas as empresas nos sectores da electrici-dade e do gás que estão integradas verticalmente,ou seja, que desenvolvem actividades a nível dotransporte e fornecimento (além de produziremelectricidade ou armazenarem gás), existe o riscode o departamento de transporte de uma empresaconceder um tratamento favorável ao seu depar-¥1∂ A aquisição de uma participação maioritária na Ruhrgas pela

EON foi tratada pelo organismo alemão Bundeskartellamt.¥2∂ Documento de trabalho da Comissão: Primeiro relatório relativo

à implementação do mercado interno da electricidade e do gás,SEC(2001) 1957, de 3 de Dezembro de 2001, p. 23. ¥3∂ COM(2001) 125 final de 13 de Março de 2001.

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tamento de fornecimento, em detrimento de ter-ceiros que solicitem acesso. Para resolver estaquestão, a Comissão propôs na directiva que asempresas integradas verticalmente sejam obriga-das a efectuar uma dissociação jurídica dosrespectivos departamentos. A proposta prevêigualmente determinadas medidas de acompa-nhamento por forma a garantir a inexistência detransferências indevidas de informações entre osdiversos departamentos dissociados. Por último,foi proposto que estas regras de dissociaçãoreforçadas sejam igualmente alargadas às gran-des empresas de distribuição.

92. Em segundo lugar, a Comissão propõe tornarobrigatória a criação pelos Estados-Membros deentidades de regulação independentes a nívelnacional e adoptar um regime de acesso de tercei-ros regulamentado (em oposição a um regime deacesso de terceiros negociado, que constitui outraopção ao abrigo das actuais directivas). O acessoregulamentado significa que é concedido combase em tarifas aprovadas por uma autoridadepública. A vantagem de um regime de acessoregulamentado consiste no facto de implicar, nor-malmente, menores custos de transacção para osterceiros e de as tarifas serem controladas —numa base ex ante — pela entidade de regulaçãonacional.

93. A proposta da Comissão relativa à realizaçãodos mercados da energia foi favoravelmente aco-lhida pela maioria dos Estados-Membros duranteo Conselho de Estocolmo, em Março de 2001.Contudo, alguns Estados-Membros, como aFrança, expressaram preocupações no que serefere ao prazo final para a liberalização total domercado. Outros, como a Alemanha, que tinhaoptado por um regime de acesso de terceirosnegociado e era contra uma entidade nacional deregulação, expressou as suas preocupações noque se refere aos «elementos qualitativos». Toda-via, foi dado início às negociações sobre o pro-jecto de directiva nos grupos de trabalho do Con-selho e alcançaram-se progressos significativosdurante 2001. Espera-se portanto que as negocia-ções possam ser concluídas em 2002.

94. Em Junho de 2001, a Comissão recordou aosEstados-Membros a sua responsabilidade no sen-tido de garantirem que as diferenças a nível daabertura do mercado sejam suprimidas tão rapi-damente quanto possível (1) e chamou a sua aten-

ção para o facto de as empresas não deverem tirarindevidamente partido dos diferentes níveis deabertura do mercado. Por último, a Comissãoanunciou que no caso de os Estados-Membrosnão terem condições ou não pretenderem adoptara proposta da Comissão relativa à realização domercado da energia, poderá utilizar os instrumen-tos previstos no n.o 3 do artigo 86.o do Tra-tado CE. Este artigo permite adoptar — emdeterminadas condições — decisões e directivasda Comissão dirigidas aos Estados-Membros,que não necessitam da aprovação destes últimos.

95. Paralelamente às propostas legislativas,houve actividades e discussões em grupos inter-nacionais de interessados (administrações nacio-nais, entidades de regulação, consumidores e pro-dutores). Estes grupos (o Fórum de Florença noque se refere à electricidade e o Fórum de Madridno que se refere ao gás) reuniram-se por iniciativada Comissão e contaram com a sua participaçãoactiva. Assim, foram discutidas determinadasquestões técnicas e regulamentares com o objec-tivo de alcançar uma harmonização que favore-cesse as trocas comerciais transfronteiras e a cri-ação de condições de igualdade a nível europeu,garantindo que a concorrência nos mercados daelectricidade e do gás não é falseada.

1.2. Interacção da política de concorrência com as regras do mercado interno

96. A aplicação da política de concorrênciagarante em especial que as barreiras estataissuprimidas pela directiva relativa ao gás e electri-cidade não são substituídas por um comporta-mento anticoncorrencial dos operadores domercado, que produziria o mesmo efeito. Sãonecessárias três condições básicas para criar emanter uma concorrência efectiva nos mercadosdo gás e da electricidade: liberdade do lado daoferta, liberdade do lado da procura, liberdade noacesso à rede. A liberdade não significa evidente-mente «sem encargos», mas antes «sem restri-ções artificiais».

97. Em especial, as seguintes características pro-vocam um contexto desfavorável para o desen-volvimento da concorrência nos mercados euro-peus do gás e da electricidade: em primeiro lugar,o facto de as redes serem e permaneceremmonopólios naturais. A Comissão tenta favorecerum acesso efectivo dos terceiros à rede em condi-ções não discriminatórias e não abusivas. No sec-tor da electricidade, está a ser dada especial aten-¥1∂ Comunicado de imprensa IP/01/872 de 20 de Junho de 2001.

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I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICASCONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE —

ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

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ção ao acesso aos interconectores congestionadosentre diferentes Estados-Membros, que consti-tuem infra-estruturas essenciais para o comérciotransfronteiras. O acesso a estes interconectores étambém fundamental para diversos países comuma estrutura de fornecimento monopolística,em que a concorrência efectiva apenas se podeverificar a nível da importação. A Comissão inter-veio na concepção do sistema de repartição dacapacidade de transmissão para o interconectorde electricidade entre o Reino Unido e a França eestá actualmente a investigar e a controlar a situ-ação noutras fronteiras, nomeadamente os inter-conectores de electricidade entre a Espanha e aFrança e os interconectores para os Países Bai-xos. Examinou igualmente a construção e utiliza-ção de um novo interconector que liga a Noruegae a Alemanha (1). O acesso à rede constitui igual-mente uma questão importante no sector do gás.Em 2001, a Comissão tratou um processo relaci-onado com a recusa conjunta das empresas de gásda Europa continental de concederem, a um pro-dutor norueguês de gás, acesso às suas condutas.A Comissão resolveu a questão após uma dasempresas europeias em causa ter apresentadocompromissos que tornavam o regime de acessode terceiros mais eficaz (2).

98. Em segundo lugar, a demarcação vertical é, econtinuará a ser, uma característica geral daindústria da energia, principalmente no mercadodo gás, devido à existência de uma cadeia de for-necimento vertical bem estabelecida, em quetodas as empresas têm a sua posição e funçãobem definidas.

99. Em terceiro lugar, os produtores têm tradici-onalmente cooperado na comercialização nestesmercados, e continuam a fazê-lo hoje, o que levaa uma concorrência menos vigorosa do lado daoferta. Um exemplo desta prática é o sector degás irlandês (Corrib) (3) e norueguês (GFU) (4),ou o sector de electricidade francês (EDF/CNR),mas afigura-se que existem acordos semelhantestambém noutros países.

100. Algumas outras características (demarca-ção horizontal, restrições na utilização) que limi-tam a concorrência são principalmente notóriasnos mercados do gás.

1.3. Política da Comissão em matéria de auxílios estatais no sector da energia

101. Em 2001 foi consagrada especial atençãoaos seguintes aspectos:

— análise dos processos relativos a custos irre-cuperáveis (metodologia e decisões). Versecções III.A.4;

— apreciação de um número crescente de regi-mes de promoção de energias renováveis.Ver secção III.C.1.3;

— a Comissão analisou, nomeadamente, regi-mes baseados em auxílios ao funcionamento,como o Prime d’encouragement écologiqueno Luxemburgo, regimes baseados em mer-cados de certificados verdes, como as leisregionais em matéria de electricidade nasregiões belgas, e também regimes mais com-plexos que incluem uma combinação dediversos métodos de incentivo, como oregime britânico das renewable obligations;

— apreciação dos auxílios estatais destinadosa garantir um nível de segurança dofornecimento de electricidade. A Directiva96/92/CE (5) autoriza os Estados-Membros adarem prioridade às fontes de energia locaisde origem fóssil, desde que não excedam umlimiar fixo baseado no seu consumo anual deenergia, por forma a garantirem um determi-nado nível de segurança do fornecimento.

1.4. Outros aspectos no sector da energia: combustíveis para veículos automóveis

102. Na reunião de 29 de Setembro de 2000, rea-lizada entre a Comissão e as autoridades nacio-nais de concorrência e destinada a debater a polí-tica de concorrência no sector dos combustíveispara automóveis (6), concluiu-se que a entrada denovos participantes independentes no mercado éessencial para manter e/ou melhorar a pressão

¥1∂ Ver comunicação nos termos do n.o 3 do artigo 19.o doRegulamento n.o 17 do Conselho no processo COMP/E3/37.921Viking Cable, JO C 247 de 5.9.2001, p. 11; entretanto, as partesnotificantes decidiram abandonar o projecto Viking Cable.

¥2∂ Comunicado de imprensa IP/01/1641 — A Comissão resolve odiferendo da Marathon com a Thyssengas.

¥3∂ Comunicado de imprensa IP/01/578 — A Enterprise Oil, a Sta-toil e a Marathon comercializam separadamente o jazigo de gásirlandês de Corrib.

¥4∂ Comunicado de imprensa IP/01/830 — A Comissão opõe-se àsvendas conjuntas de gás por intermédio da GFU na Noruega.

¥5∂ Directiva 96/92/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de19 de Dezembro de 1996, que estabelece regras comuns para omercado interno da electricidade, JO L 27 de 30.1.1997, p. 20.

¥6∂ Ver Relatório da Concorrência de 2000, pontos 119-221. Vertambém comunicados de imprensa MEMO/00/55 de 20.9.2000,IP/00/1090 de 29.9.2000 e IP/00/1391 de 30.11.2000.

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concorrencial nos mercados europeus doscombustíveis para automóveis. Durante 2001, aDirecção-Geral da Concorrência realizou umainvestigação aprofundada das condições concor-renciais dos operadores independentes não inte-grados no sector dos combustíveis para automó-veis.

103. Os operadores independentes identificaramdiversos factores que tornavam a sua situação porvezes difícil. Estes factores estão relacionadoscom o comportamento das empresas integradasverticalmente e também com determinadas bar-reiras administrativas. Os operadores indepen-dentes alegaram que algumas das suas dificulda-des se devem ao comportamento de certasempresas integradas verticalmente, como a fixa-ção de preços discriminatórios ou predatórios,recusas de fornecimento, dificuldades na con-cessão de acesso às infra-estruturas logísticas econtratos de fornecimentos exclusivos a longoprazo entre as empresas integradas de combustí-veis para automóveis e as estações de serviço.Embora este tipo de comportamento fosse sus-ceptível de ser abrangido pelo âmbito de aplica-ção dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE, casoestivessem preenchidos os critérios de aplicaçãodestas disposições, a investigação não revelouquaisquer elementos de prova conclusivos deinfracção às regras comunitárias da concorrência.Por último, os operadores independentes referi-ram diversas barreiras administrativas que lhescausam dificuldades consideráveis. As barreirasestatais que foram objecto de maior número dequeixas são, por exemplo, a legislação nacionalde transposição da Directiva CE 98/93 relativa àsegurança do abastecimento, algumas disposi-ções fiscais, os requisitos ambientais, as medidasdestinadas a aumentar a transparência em matériade preços e os métodos de distribuição dos pontosde venda a retalho. A investigação revelou que asituação dos operadores independentes varia con-sideravelmente em função dos Estados-Membrosque participaram na investigação. As conclusõesda investigação foram apresentadas e debatidasnuma segunda reunião realizada entre a Comis-são e as autoridades de concorrência nacionaisem 16 de Novembro de 2001.

2. Serviços postais

104. O sector postal está em pleno desenvolvi-mento, tendo em vista principalmente uma novaabertura do mercado e as transformações provo-

cadas pela economia electrónica. A Comissãoadoptou diversas decisões importantes relativas aeste sector, a fim de evitar uma nova monopoliza-ção dos mercados liberalizados por parte dos ope-radores estabelecidos.

2.1. Proposta da Comissão para uma maior abertura do mercado

105. Em 15 de Outubro de 2001, o Conselhoaprovou uma posição comum dos Estados-Mem-bros relativamente a um texto destinado a alterara Directiva Postal vigente.

106. As principais alterações introduzidas pelotexto aprovado no Conselho são as seguintes:

— uma maior abertura do mercado, com umaredução progressiva da área reservada a par-tir de 1 de Janeiro de 2003 e até 1 de Janeirode 2006 (1);

— a possibilidade, através de uma proposta daComissão a ser aprovada pelo ParlamentoEuropeu e o Conselho, da realização do mer-cado interno postal em 2009 (2);

— a liberalização do correio de saída transfron-teiriço, excepto no que se refere aos Esta-dos-Membros em que este tipo de correiodeve integrar os serviços reservados, porforma a garantir a prestação de um serviçouniversal;

— a proibição de subvenções cruzadas dos ser-viços universais fora da área reservada pro-venientes de receitas dos serviços da áreareservada, a não ser que tal seja estritamentenecessário a fim de preencher certas obriga-ções específicas de serviço universal impos-tas na área concorrencial;

¥1∂ Em especial, uma vez que a partir de 2003 a área não reservadaincluirá as cartas com um peso superior a 100 g; este limite depeso não se aplicará se o preço for igual ou superior a três vezes atarifa pública para uma unidade de correspondência na primeiraclasse de peso da categoria mais rápida. A partir de 2006, a áreanão reservada incluirá cartas com um peso superior a 50 g; estelimite de peso não se aplicará se o preço for igual ou superior atrês vezes a tarifa pública para uma unidade de correspondênciana primeira classe de peso da categoria mais rápida.

¥2∂ Em 2006, a Comissão irá terminar um estudo que avaliará, relati-vamente a cada Estado-Membro, o impacto sobre o serviço uni-versal da realização do mercado interno postal em 2009. Combase neste estudo, a Comissão apresentará um relatório ao Parla-mento Europeu e ao Conselho acompanhado de uma propostaque confirmará, se adequado, a data de 2009 para a plena realiza-ção do mercado interno postal ou determinará outras medidas àluz das conclusões do estudo.

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I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICASCONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE —

ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

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— a aplicação dos princípios da transparência enão discriminação sempre que os fornecedo-res de serviços universais apliquem tarifasespeciais.

107. O texto aprovado pelo Conselho nãocontém qualquer definição de «serviçosespeciais» (1). O texto revisto, embora prevejauma abertura do mercado postal inferior à inicial-mente prevista pela Comissão, pode ser conside-rado um importante passo no sentido de um mer-cado interno postal. O texto tem ainda de seraprovado pelo Parlamento Europeu.

2.2. Processos

Deutsche Post AG I (2)

108. Em 20 de Março, a Comissão terminou asua investigação sobre a Deutsche Post AG(DPAG) e adoptou uma decisão final em que con-cluía que a DPAG tinha abusado da sua posiçãodominante ao conceder descontos de fidelidade eao utilizar preços predatórios no mercado dos ser-viços de encomendas comerciais. Foi aplicada àDPAG uma coima de 24 milhões de euros no quese refere ao encerramento do mercado resultantedo seu regime, em vigor há longa data, de descon-tos de fidelidade. Não foi imposta qualquer coimarelativamente ao sistema de preços predatórios,uma vez que os conceitos de custo económico uti-lizados para classificar um preço como predatórionão estavam ainda suficientemente desenvolvi-dos na altura. Trata-se da primeira decisão formalda Comissão sobre um abuso no sector postal.

109. Na sequência de uma denúncia da UnitedParcel Service, em 1994, alegando que a DPAGestava a utilizar as receitas do seu monopólio decorrespondência geral para financiar vendasabaixo do custo no mercado aberto dos serviçosde encomendas comerciais, a Comissão adoptouuma decisão em que defende que qualquer ser-viço fornecido pelo beneficiário de um monopó-lio em concorrência aberta tem de abranger, pelomenos, o custo adicional ou superior necessáriopara alargar a sua actividade ao sector concorren-cial. Qualquer cobertura de custos abaixo deste

nível deverá ser considerada preço predatório. Ainvestigação revelou que a DPAG não cobriu oscustos superiores resultantes da prestação do ser-viço de entrega de encomendas postais duranteum período de cinco anos.

110. Além disso, a DPAG decidiu criar umaempresa distinta («Newco») para fornecer servi-ços de encomendas comerciais que poderá obteros serviços e bens necessários ao seu funciona-mento quer junto da DPAG (a preços do mer-cado), quer junto de terceiros, quer ainda pro-duzi-los ela própria. Além disso, a DPAGcomprometeu-se a que todos os serviços e bensque fornece à Newco serão fornecidos aos con-correntes desta última aos mesmos preços e nasmesmas condições.

Deutsche Post AG II (3)

111. Em 25 de Julho, a Comissão, na sequênciade uma denúncia apresentada pelos Serviços deCorreios do Reino Unido, decidiu que a DeutschePost AG (4) («DPAG») tinha abusado da sua posi-ção dominante no mercado alemão da correspon-dência ao interceptar, aplicar sobrecargas e atra-sar o correio internacional de chegada queclassificou erradamente de casos de repostagemnacional (a denominada repostagem A-B-A). AComissão decidiu igualmente que o comporta-mento abusivo da DPAG justificava a aplicaçãode uma coima que, devido à incerteza jurídicaexistente na altura da infracção, teria um mon-tante simbólico de 1 000 euros.

112. A Comissão concluiu que a DPAG tinhaabusado da sua posição dominante no mercadoalemão da entrega de correio internacional —cometendo assim uma infracção ao artigo 82.o doTratado CE — de quatro formas: a) efectu-ando discriminações entre os diferentes clientes,b) recusando-se a fornecer o seu serviço deentrega, c) cobrando um preço excessivo peloserviço prestado e d) limitando o desenvolvi-mento do mercado alemão da entrega de correiointernacional e do mercado do Reino Unido docorreio internacional destinado à Alemanha.Durante o processo, a DPAG assumiu o compro-misso de deixar de interceptar, aplicar sobretaxasou atrasar o correio internacional do tipo objectodo presente processo.¥1∂ Na proposta original da Comissão era apresentada uma definição

de serviços especiais. Embora a maior parte das delegações naci-onais tivesse chegado a acordo quanto à necessidade de definirserviços especiais na nova directiva, não foi possível alcançar noConselho um compromisso relativo a uma definição específica.

¥2∂ Processo COMP/35.141, JO L 125 de 5.5.2001.¥3∂ Processo COMP/36.915, JO L 331 de 15.12.2001.¥4∂ Comunicado de imprensa IP/01/1068 de 25.7.2001.

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De Post/La Poste (Bélgica) (1)

113. Em 5 de Dezembro, a Comissão decidiuque o operador postal belga De Post/La Postetinha abusado da sua posição dominante, ao fazercom que a aplicação de uma tarifa preferencial noserviço de correspondência geral dependesse daaceitação de um contrato adicional que incluíaum novo serviço de correspondência empresa aempresa («B2B»). Este novo serviço concorrecom o serviço B2B de «troca de documentos»fornecido na Bélgica pela Hays, uma empresaprivada estabelecida no Reino Unido. Uma vezque La Poste explorou os recursos financeiros domonopólio de que beneficia no serviço geral decorrespondência, utilizando a sua posição domi-nante nesse serviço no mercado separado e dis-tinto dos serviços B2B, a Comissão aplicou-lheuma coima de 2,5 milhões de euros.

114. Em Abril de 2000, a Hays plc. («Hays»),um operador privado de serviços postais sediadono Reino Unido, tinha apresentado uma denúnciaà Comissão alegando que La Poste estava a tentareliminar a rede de troca de documentos da Hays,que operava na Bélgica desde 1982. A Hays nãopodia concorrer com as reduções de tarifas ofere-cidas pela La Poste na área objecto de monopólioe, consequentemente, estava a perder a maiorparte dos seus clientes tradicionais na Bélgica, ouseja, as companhias de seguros.

3. Telecomunicações

3.1. Orientações relativas à análise do mercado e ao cálculo do poder de mercado

115. Na sequência de uma iniciativa comum doscomissários Mario Monti e Erkki Liikanen, aComissão adoptou em 25 de Março um «Projectode orientações sobre a análise do mercado e ocálculo do poder de mercado significativo» (2),tendo em vista a adopção formal da proposta dedirectiva relativa a um novo quadro regulamentarpara as redes e serviços de comunicações electró-nicas. O projecto de orientações deverá auxiliar oConselho e o Parlamento Europeu a aprovar anova definição de poder de mercado significativoproposta na directiva-quadro (artigo 13.o).

116. O projecto de orientações baseia-se najurisprudência do Tribunal de Primeira Instânciae do Tribunal de Justiça em matéria de concorrên-cia e também na própria prática decisória daComissão quanto à definição do mercado rele-vante e à aplicação da noção de posição domi-nante individual e colectiva, em especial no quese refere aos mercados das comunicações electró-nicas.

117. O projecto foi inicialmente discutido comas autoridades reguladoras nacionais e com asautoridades nacionais da concorrência em 29 deMarço, em Bruxelas. No âmbito de uma consultapública lançada pela Comissão, os operadores emcausa puderam também expressar a sua opinião etomar posição numa reunião pública realizada emBruxelas, em 18 de Junho. Estas duas reuniõesrevelaram que as autoridades e os operadores emcausa partilham, quanto ao fundamental, a abor-dagem da Comissão.

118. A versão definitiva das orientações seráadoptada pela Comissão quando a nova direc-tiva-quadro for adoptada pelo Parlamento Euro-peu e o Conselho.

3.2. Adopção do sétimo relatório sobre a transposição das directivas

119. Em 28 de Novembro, a Comissão adoptou osétimo relatório sobre a aplicação pelos Esta-dos-Membros da União Europeia do actual qua-dro regulamentar das telecomunicações. A prin-cipal conclusão do relatório é que o sector dosserviços das telecomunicações é extremamenteactivo e as autoridades reguladoras nacionaiscontinuam a progredir no sentido da liberaliza-ção. A concorrência entre os operadores está aprovocar, na globalidade, uma descida dos pre-ços. Os preços das chamadas de longa distânciados operadores estabelecidos desceram 11%desde o ano transacto e 45% desde 1998, no quese refere a uma chamada de três minutos naEuropa, e em 14% desde o ano transacto e 47%desde 1998 no que se refere a uma chamada dedez minutos. O nível médio da penetração daInternet a nível das residências na União Euro-peia situava-se em cerca de 36% em Junho de2001. Por outro lado, mantêm-se certos estran-gulamentos de carácter regulamentar que têm deser rapidamente eliminados por forma a garantirum crescimento contínuo dos mercados dastelecomunicações. As principais questões são adesagregação do lacete local, os tempos de

¥1∂ Processo COMP/37.859; IP/01/1738 de 5.12.2001. ¥2∂ COM(2001) 175 final de 28 de Março de 2001.

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I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICASCONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE —

ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

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entrega excessivos e o facto de os preços daslinhas alugadas não se basearem nos custos, prin-cipalmente nas velocidades exigidas para as ban-das largas e o comércio electrónico, a persistênciade distorções tarifárias e de compressões dos pre-ços em determinados casos e, por último, o plenofuncionamento da selecção e pré-selecção dostransportadores.

3.3. Controlo da aplicação das directivas

120. A Comissão continuou a velar pela aplica-ção efectiva das decisões de liberalização nosEstados-Membros, bem como pela instituição doquadro regulamentar na Grécia, na sequência daliberalização completa dos mercados, com efei-tos em 1 de Janeiro.

121. Apesar dos progressos significativos reali-zados pelos Estados-Membros, estavam ainda emcurso 21 processos de infracção contra Esta-dos-Membros que não tinham transposto correc-tamente as directivas de liberalização baseadasno n.o 3 do artigo 86.o do Tratado ou que nãotinham notificado medidas de transposição. AComissão prosseguiu nomeadamente o processocontra o Luxemburgo, relativo à concessão dedireitos de passagem, tendo introduzido umaacção no Tribunal de Justiça em Fevereiro. OLuxemburgo é acusado de não ter estabelecidoregras claras que garantam o tratamento não dis-criminatório dos operadores em matéria de direi-tos de passagem.

122. Em 16 de Outubro, o Tribunal de Justiçaconfirmou a posição da Comissão nos processosa que tinha dado início contra Portugal e a Grécia.No acórdão relativo a Portugal, o Tribunal de Jus-tiça confirmou que os serviços de chamadas deretorno não constituíam telefonia vocal, na acep-ção da Directiva 90/388/CEE e que, por conse-guinte, o Governo português tinha erradamentereservado estes serviços ao operador estabelecidoaté à liberalização das telecomunicações (1). Noacórdão relativo à Grécia (2), o Tribunal confir-mou que nos termos da directiva acima referida oacesso ao mercado das telecomunicações móveisapenas pode ser limitado se não existirem fre-quências. Quando o acesso está condicionado àobtenção de uma autorização, o Estado-Membrodeve garantir que os procedimentos para obten-

ção da autorização são transparentes e públicos,sendo utilizados critérios objectivos e não discri-minatórios.

123. Em 6 de Dezembro, o Tribunal de Justiçapronunciou um acórdão (3) relativo a um litígioentre a Comissão e a França no que se refere aomecanismo de financiamento do serviço univer-sal em vigor neste Estado-Membro desde 1997.Este litígio tinha sido apresentado ao Tribunalpela Comissão em Abril de 2000. O Tribunal deuinteiramente razão à Comissão, considerandoque o dispositivo francês não respeitava os princí-pios da proporcionalidade, objectividade e trans-parência exigidos pelas directivas e que a Françanão tinha também cumprido as suas obrigaçõesem matéria de reequilíbrio das tarifas.

124. Ainda sobre a questão do reequilíbrio dosencargos de assinatura telefónica, tal como esta-belecido na Directiva 96/19/CE, a Comissãoprosseguiu o processo de infracção contra a Espa-nha, através do envio de um parecer fundamen-tado complementar em Julho. Este parecer realçaprincipalmente a incoerência entre as tarifas deacesso totalmente desagregado ao lacete local,fixadas em Dezembro de 2000, e o regime de«price cap» alterado em Maio de 2001, que fazcom que subsista um risco de «efeito de tesoura»até 2003, susceptível de comprometer os resulta-dos da desagregação. A Comissão apresentou ocaso ao Tribunal de Justiça em 21 de Dezem-bro (4).

3.4. Inquérito sectorial sobre o acesso desagregado ao lacete local

125. Em Julho de 2000, a Comissão propôs umnovo regulamento sobre a oferta de acesso desa-gregado ao lacete local, que foi rapidamenteaprovado (5) pelo Parlamento e pelo Conselho eque entrou em vigor em 2 de Janeiro (6). Simulta-neamente, a DG Concorrência lançou a primeirafase de um inquérito sectorial sobre o lacete locale enviou cartas aos operadores estabelecidos por

¥1∂ Processo C-429/99.¥2∂ Processos apensos C-396/99 e C-397/99.

¥3∂ Processo C-146/00.¥4∂ Processo C-500/01.¥5∂ Regulamento n.o 2887/2000 do Parlamento Europeu e do Conse-

lho, de 18 de Dezembro de 2000, JO L 334 de 31.12.2000.¥6∂ A «desagregação» do lacete local (ou «a última milha», ou seja, o

circuito físico entre as instalações do cliente e o repartidor localdo operador de telecomunicações) equivale à concessão obrigató-ria do acesso à rede local por parte do operador estabelecido atransportadores alternativos, por forma a introduzir a concorrên-cia neste segmento da rede de telecomunicações, que é principal-mente controlado pelos anteriores monopólios. É normalmenteimpossível uma duplicação destas redes a nível nacional.

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forma a investigar as condições de acesso aolacete local e o desenvolvimento de serviços debanda larga nos lacetes locais dos operadoresestabelecidos. As telecomunicações de bandalarga utilizam as mesmas linhas dos utilizadoresfinais para encaminhar maiores volumes de infor-mação mediante novas técnicas e permitem aprestação de serviços de acesso Internet de altavelocidade.

126. O inquérito prosseguiu em 2001, tendo sidoenviados questionários a novos participantes emJulho. O objectivo desta segunda fase do inqué-rito consiste em avaliar a situação concorrencialno lacete local seis meses após a entrada em vigordo novo regulamento, bem como determinarpotenciais abusos de posição dominante por partedos operadores estabelecidos, em infracção aoartigo 82.o do Tratado CE. Esta segunda fasedeverá permitir que a Comissão disponha, no iní-cio de 2002, de uma apreciação completa da situ-ação do acesso desagregado ao lacete local nos15 Estados-Membros e dos problemas encontra-dos pelos novos participantes ao obterem acessoem condições leais e competitivas.

3.5. Inquérito sectorial sobre as linhas alugadas

127. A primeira fase do inquérito sectorial sobreas linhas alugadas consistiu na recolha e análisede dados de mercado comparativos de todos osEstados-Membros. Em Setembro de 2000, aComissão apresentou as conclusões iniciais doinquérito numa audição pública realizada emBruxelas. Foram identificadas diversas questõesde concorrência e a Comissão decidiu abordar asque revestiam, aparentemente, dimensão comu-nitária e características transfronteiras, deixandoas restantes para as autoridades nacionais.

128. Em Novembro de 2000, a Comissão deuinício a cinco processos ex officio (1) para analisarmais aprofundadamente o fornecimento de linhasalugadas internacionais em cinco Estados-Mem-bros: Bélgica, Grécia, Itália, Portugal e Espanha.Esta investigação é realizada em estreitacolaboração com as autoridades nacionais deconcorrência e com as entidades reguladoras dastelecomunicações nesses Estados-Membros.

129. Uma vez que os resultados do inquérito sec-torial inicial eram de natureza comparativa e nãoestavam actualizados, a Comissão enviou, em2002, pedidos formais de informação às autorida-des nacionais desses cinco Estados-Membros ediscutiu os factores relevantes específicos a cadapaís em reuniões bilaterais com as respectivasautoridades. A cooperação contínua com as auto-ridades nacionais centra-se principalmente naanálise rigorosa do comportamento concorren-cial dos operadores nacionais estabelecidos noque se refere ao fornecimento de linhas alugadas.Actualmente, a Comissão está a verificar infor-mações segundo as quais os preços das linhasalugadas dos cinco operadores estabelecidosenvolvidos tinham sido reduzidas, bem como aapreciar outros factores relevantes, nomeada-mente o nível, equidade e transparência dos des-contos, os acordos em matéria de nível do serviçoe os parâmetros de qualidade de serviço.

3.6. Inquérito sectorial sobre os serviços de itinerância («roaming»)

130. Este inquérito sectorial foi lançado emJaneiro de 2000, para investigar a questão dospreços dos serviços de itinerância que não sãotransparentes para os consumidores, são rígidos eatingem níveis que não estão relacionados com ocusto do transporte, a partir de recolha de infor-mações comparativas sobre os preços e níveis decustos relativamente a todos os operadoresmóveis na União Europeia (2). Verificou-se quetanto o mercado grossista como o retalhistapermanecem predominantemente nacionais. Oinquérito apurou rácios de concentração de maisde 90% para os dois operadores estabelecidos namaior parte dos mercados grossistas de itinerân-cia nacionais e uma notória inexistência de pres-são concorrencial em toda a União Europeia,principalmente a nível grossista.

131. Em 11 de Julho, no âmbito do seguimentodo inquérito sectorial, inspectores da Comissão efuncionários das autoridades nacionais de con-corrência iniciaram inspecções simultâneas, semaviso prévio, nas instalações de nove operadoresde telefonia móvel europeus localizados noReino Unido e na Alemanha (3). Os dados reco-lhidos estão actualmente a ser analisados a fim de

¥1∂ Processos COMP/38.001 Linhas alugadas Espanha,COMP/38.002 Linhas alugadas Portugal, COMP/38.003 Linhasalugadas Itália, COMP/38.004 Linhas alugadas Grécia eCOMP/38.005 Linhas alugadas Bélgica.

¥2∂ A itinerância ocorre quando um utilizador de um telefone móvelefectua ou recebe chamadas numa rede que não é a sua rede deorigem.

¥3∂ Comunicado de imprensa Memo/01/262 de 11.7.2001.

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determinar se existem elementos de prova sufici-entes para apoiar uma conclusão formal deinfracção antitrust. Além disso, prossegue a coor-denação com as autoridades nacionais de concor-rência e de telecomunicações para promover umaacção pró-concorrencial a nível nacional.

3.7. Processos instruídos nos termos dos artigos 81.o e 82.o

3.7.1. Identrus

132. Em 31 de Julho, a Comissão autorizou osacordos entre diversos grandes bancos europeus enão europeus que criaram uma rede global(«Identrus») para a autenticação de assinaturaselectrónicas e outros aspectos das transacções decomércio electrónico (1). A Comissão concluiuque o sistema Identrus não provocará qualquerrestrição apreciável da concorrência. Em espe-cial, não provoca qualquer risco de encerra-mento, será sujeito a pressão concorrencial porparte dos sistemas concorrentes e os participantespodem livremente participar noutros sistemassemelhantes. A decisão de autorização da Comis-são ilustra a importância que consagra ao desen-volvimento de mercados concorrenciais relacio-nados com o comércio electrónico.

3.7.2. Intelsat

133. Em 1 de Junho, a Comissão enviou um ofí-cio de arquivamento (certificado negativo) àIntelsat relativamente à sua reestruturação, nostermos da qual passa de um organismo intergo-vernamental para uma empresa comercial. AIntelsat foi criada como um organismo governa-mental para fornecer comunicações via satéliteem todo o mundo, antes da liberalização dastelecomunicações. Uma vez que os mercados dastelecomunicações evoluíram e outros operadoresde satélite entraram no mercado, a estrutura daIntelsat passou a ser menos adequada, tanto emtermos comerciais como de concorrência. Ainvestigação e a análise da Comissão revelaramque a reestruturação não provocava qualquer res-trição significativa da concorrência, salientandoque a Intelsat iria realizar uma oferta pública ini-cial de admissão em bolsa no prazo de dois anosapós a privatização. Esta conclusão estava emconformidade com as conclusões de anteriores

processos que envolveram outras organizações desatélite intergovernamentais, nomeadamente aorganização de satélites marítimos Inmarsat (2) ea organização de satélites europeia Eutelsat (3).

3.7.3. Wanadoo

134. Em 19 de Dezembro, a Comissão enviouuma comunicação de objecções à Wanadoo Inte-ractive, uma filial da France Télécom, encarre-gada do fornecimento de acesso à Internet (4). Napresente fase, a Comissão é de opinião que estaempresa fixou os preços dos seus serviços deacesso à Internet de alta velocidade através datecnologia ADSL abaixo dos seus custos margi-nais (e também abaixo dos seus custos variáveis),o que poderá constituir um abuso de posiçãodominante. Este eventual abuso ocorreu duranteo ano de 2001, num momento crítico para olançamento dos serviços de acesso de bandalarga destinados ao mercado das residências emFrança, em detrimento dos concorrentes daWanadoo.

4. Transportes

4.1. Transportes aéreos

135. A Comissão analisou diversas alianças decompanhias aéreas em 2001. Em geral, a Comis-são considera que as alianças de companhiasaéreas podem beneficiar os passageiros ao alar-gar as redes e melhorar a eficácia. Contudo, asalianças podem também restringir a concorrênciaem rotas específicas e frequentemente são neces-sárias soluções para contrariar este efeito.

4.1.1. British Midland/Lufthansa/SAS (5)

136. Em 1 de Março de 2000, a British MidlandInternational, a Lufthansa e a SAS notificaramum acordo de empresa comum através do qualacordavam em coordenar os seus serviços noEEE, com partida e destino dos aeroportos deHeathrow, em Londres, e aeroporto internacionalde Manchester. A Comissão investigou esteacordo em estreita cooperação com as autorida-des de concorrência do Reino Unido. Em 12 de

¥1∂ Processo COMP/37.462, JO L 249 de 19.9.2001.

¥2∂ Comunicado de imprensa IP/98/923 de 22.8.1998. ¥3∂ Comunicado de imprensa IP/00/1360 de 27.11.2000.¥4∂ Comunicado de imprensa IP/01/1899 de 21.12.2001.¥5∂ Processo COMP/37.812, Comunicação de 14 de Março de 2001,

JO C 83 de 14.3.2001.

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Junho de 2001, após as partes terem apresentadodiversos compromissos, a Comissão Europeiainformou que lhes seria concedida uma isençãopor um período de seis anos relativamente ao seuacordo de empresa comum, nos termos do n.o 3do artigo 5.o do Regulamento n.o 3975/87.

137. O acordo de empresa comum prevê que éconcedido à Lufthansa o direito exclusivo deexplorar voos em praticamente todas as rotasentre Londres e Manchester, por um lado, e osaeroportos alemães, por outro. Da mesma forma,é concedido à SAS um direito exclusivo para otráfego entre Londres/Manchester e os paísesescandinavos. Esta restrição foi considerada pro-blemática no que se refere à rota Londres-Frank-furt que, com 2,1 milhões de passageiros O/D(point of origin/point of destination) em 1999, éuma das mais activas da Europa. A Comissãoconcluiu que a retirada da British Midland da rotaLondres-Frankfurt representa uma restrição sig-nificativa da concorrência, tanto no mercado dospassageiros não sensíveis ao factor tempo (delazer) como dos clientes sensíveis ao factortempo (profissionais).

138. Na sua análise nos termos do n.o 3 doartigo 81.o, a Comissão chegou à conclusão deque, em termos de ganhos de eficiência e de con-corrência, o efeito global do acordo é positivo.Leva a uma reorganização e expansão das actuaisredes das partes, permitindo à Lufthansa e à SASconcorrer no que se refere ao tráfego nacional doReino Unido, bem como no tráfego entre o ReinoUnido e a Irlanda, e transportar passageiros a par-tir de qualquer ponto da rede STAR para os desti-nos regionais no Reino Unido. Provoca, alémdisso, um aumento da concorrência na rede. Nasequência do acordo, a British Midland pôde ini-ciar a prestação de novos serviços entre Londrese Barcelona, Lisboa, Madrid, Milão e Roma.

139. Com o objectivo de solucionar as preocupa-ções da Comissão em matéria de concorrência, aspartes apresentaram diversos compromissos, emespecial no sentido de tornar disponíveis faixashorárias no aeroporto de Frankfurt que permiti-riam ao novo participante operar quatro frequênciadiárias. A Comissão realizou um teste de mercadopor forma a verificar se as faixas horárias seriamefectivamente utilizadas pelos concorrentes.

140. A Comissão investigou ainda a cooperaçãoentre a Austrian Airlines e a Lufthansa. Em14 de Dezembro de 2001, publicou uma comuni-cação com base no artigo 16.o do Regulamento

n.o 3975/87 (1), manifestando a sua intenção deconceder uma isenção relativamente a esta coo-peração, com base nos compromissos oferecidospelas partes.

141. Por outro lado, a Comissão prosseguiu assuas investigações sobre as alianças trans-atlânticas Lufthansa/United e KLM/Northwest.Deu também início a novas investigações quantoà proposta de aliança transatlântica BA/AA, traba-lhando em estreita cooperação com o Serviço deConcorrência do Reino Unido. Prevê-se que em2002 serão tomadas decisões sobre todas estasalianças.

4.1.2. SAS/Maersk Air (2)

142. Ver secção I.B.1.1.

4.1.3. Consultas relativas às tarifas de frete da IATA

143. As conferências de tarifas de frete da IATAconstituem uma instância onde os transportado-res aéreos se reúnem para acordar as suas tarifasrelativas ao transporte de carga.

144. Até Junho de 1997, este sistema beneficiavade uma isenção por categoria nos termos doRegulamento n.o 1617/93 (3), que permitiu efec-tivamente que as companhias aéreas europeiasacordassem as tarifas para o transporte de frete noEEE. Esta isenção por categoria foi retirada peloRegulamento n.o 1523/96 da Comissão de 24 deJulho de 1996. A principal razão apresentada pelaComissão para retirar a isenção por categoriaconsistiu no facto de as tarifas fixadas pelas con-ferências de tarifas de frete parecerem ser muitomais elevadas do que os preços de mercado etambém no facto de o sistema ter deixado de seafigurar essencial para o «interlining» (4) no EEE.

145. Na sequência da retirada da isenção porcategoria, a IATA notificou o sistema e solicitouuma isenção individual (5). O principal argu-mento apresentado pela IATA em defesa das con-ferências de tarifas consistia no facto de facilita-rem o «interlining» em matéria de carga. As

¥1∂ JO C 356 de 14.12.2001, p. 5.¥2∂ Decisão da Comissão de 18 de Julho de 2001 no processo

COMP/37.444 SAS Maersk Air, JO L 265 de 5.10.2001.¥3∂ JO L 155 de 26.6.1993.¥4∂ O interlining verifica-se quando a carga é transportada em parte

ou na totalidade da viagem por uma companhia aérea que não acompanhia aérea com quem o cliente celebrou o contrato.

¥5∂ COMP/36.563.

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tarifas de frete estabelecidas por estas conferên-cias são com efeito utilizadas a nível grossistapara calcular a remuneração de cada transporta-dor relativamente à sua participação nas transfe-rências «interline».

146. Numa comunicação de objecções enviada àIATA em Maio de 2001, a Comissão consideroupreliminarmente que as conferências de tarifasde frete da IATA eram abrangidas pelo n.o 1 doartigo 81.o do Tratado CE. Na sua análise nos ter-mos do n.o 3 do artigo 81.o, a Comissão reconhe-ceu que as conferências de tarifas de frete facili-tavam o funcionamento de um sistema global de«interlining» no EEE. Considerou, contudo, quea IATA não tinha conseguido demonstrar que estesistema restritivo continuava a ser indispensávelpara prestar aos clientes do EEE serviços «inter-lining» eficientes.

147. Na sequência da comunicação de objec-ções, a IATA concordou em pôr termo à fixaçãoconjunta de tarifas de frete no EEE. Concreta-mente, no início de 2002, as tarifas de frete fixa-das individualmente por cada transportador deve-rão substituir as fixadas em conjunto pelasconferências de tarifas.

148. Por conseguinte, a Comissão decidiu encer-rar este processo. A Comissão enviou igualmenteà IATA um ofício de arquivamento que abrangiadiversas outras resoluções administrativas etécnicas no sector da carga que facilitarão o«interlining» e que são diferentes da fixação detarifas de frete.

4.1.4. Conferências de tarifas de passageiros IATA

149. As companhias aéreas da Comunidadebeneficiam de uma isenção por categoria que lhespermite consultar as tarifas dos transportesregulares de passageiros desde que tais tarifas sedestinem a «interlining» [Regulamento (CEE)n.o 1617/93 da Comissão]. O «interlining» veri-fica-se quando o passageiro é transportadodurante toda ou parte da sua viagem por outracompanhia aérea que não aquela junto da qualreservou os bilhetes.

150. Na prática, a isenção relativa às consultasde tarifas de passageiros aplica-se às actividadesde uma só organização — International AirTransport Association (IATA). A IATA organizaconferências de tarifas de passageiros que se reú-nem diversas vezes por ano para fixar as tarifas de

«interlining» para todas as regiões do mundo.Todos os transportadores com pavilhão do EEE ecom um determinado número de companhiasaéreas regionais participam na conferência detarifas que abrange a Europa. Qualquer compa-nhia aérea que seja membro das conferências detarifas de passageiros pode efectuar «interlining»com qualquer outra companhia, às taxas fixadasnessas conferências. As tarifas de classe econó-mica e executiva são acordadas relativamente atodos os pares de cidades do EEE, incidindo, emcada ocasião, sobre um período de ano. Paraalguns pares de cidades, são também acordadasas tarifas APEX e outras tarifas de desconto.Estas tarifas aplicam-se juntamente com um sis-tema de ponderação designado Acordo Proporci-onal Multilateral, que determina o montante queuma companhia aérea recebe por transportar umpassageiro em regime de «interline» num deter-minado segmento de viagem.

151. Em Fevereiro de 2001, a DG Concorrênciapublicou um documento de consulta sobre o factode as conferências de tarifas de passageiros daIATA deverem ou não continuar a ser isentas. EmJunho de 2001, a Comissão prorrogou por um anoa actual isenção por categoria para as conferên-cias de tarifas de passageiros, enquanto determi-nava qual a abordagem que seguiria no futuro. Asconferências de tarifa constituem uma restriçãoclara da concorrência, uma vez que envolvem afixação de preços, mas também garantem umbenefício para os consumidores ao proporcio-nar-lhes a possibilidade de adquirir um únicobilhete para viagens que envolvem diversas com-panhias aéreas. O documento de consulta partiudo pressuposto de que o «interlining» proporci-ona benefícios tanto económicos como para osconsumidores e colocava a questão de saber se asrestrições sobre a concorrência inerentes às con-ferências de tarifas de passageiros são necessá-rias para garantir tais benefícios.

4.2. Transporte marítimo

152. Em 2001 registaram-se desenvolvimentossignificativos na política de concorrência emmatéria de transportes marítimos regulares, tantoa nível da União Europeia como a nível internaci-onal.

4.2.1. TACA revisto

153. Em 29 de Novembro de 2001, a Comissãopublicou uma comunicação em que anunciava a

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intenção de conceder uma isenção aos aspectosmarítimos do Acordo de Conferência Transatlân-tica revisto (TACA revisto), dando aos terceiros30 dias para apresentarem as suas observações.Esta comunicação vem na sequência da decisãoda Comissão de Agosto de 1999 de não se oporaos aspectos terrestres do acordo, levantandosérias dúvidas no que se refere aos aspectos marí-timos.

154. No período a partir de Agosto de 1999, ainvestigação da Comissão visou principalmenteverificar se as disposições de intercâmbio deinformações entre membros da conferência sãosusceptíveis de prejudicar a confidencialidadedos contratos de serviço individuais concluídosentre transportadores e as companhias de navega-ção. O facto de estes contratos estarem disponí-veis ampla e livremente constitui, na opinião daComissão, um elemento fundamental para garan-tir que os membros do TACA revisto continuam aestar sujeitos a uma concorrência efectiva. Aodeterminar se é o que acontece na realidade, aComissão tomou devidamente em consideraçãoas conclusões da Federal Maritime Commissiondos Estados Unidos, no seu relatório sobre oimpacto do Ocean Shipping Reform Act dosEstados Unidos, segundo o qual apenas cerca de10% de toda a carga transportada pelos membrosda TACA são efectivamente transportados aoabrigo das tarifas de conferência. Os restan-tes 90% são transportados ao abrigo de contratosde serviço.

155. Em resposta às preocupações da Comissão,as partes no TACA alteraram significativamenteas disposições da conferência no que se refere aointercâmbio de informações e propuseram deter-minados compromissos. A Comissão tomou umaposição preliminar, na pendência de observaçõesde terceiros, de que estas alterações e compro-missos, juntamente com os elementos de provaclaros da existência de concorrência significativaa nível interno e externo, são suficientes para darresposta às dúvidas graves levantadas em Agostode 1999.

156. O processo relativo ao TACA revisto serviuigualmente para salientar a questão da gestão decapacidades. O acordo de conferência contémuma disposição geral inspirada na alínea d) doartigo 3.o do Regulamento n.o 4056/86 do Conse-lho, que permite que uma conferência regule acapacidade proposta por cada um dos seus mem-bros. O TACA revisto aproveitou esta opção naestação baixa do Natal e Ano Novo de 2000/2001.

O programa de capacidade, que abrangeu umperíodo de cinco semanas e que foi notificado àComissão, deu a esta última a oportunidade declarificar a sua posição relativamente ao âmbitoda alínea d) do artigo 3.o Assim, a Comissão con-siderou, nomeadamente, que um programa deconferência de gestão de capacidade não poderiaser utilizado como um instrumento para criar umaestação alta artificial e que a retirada de capaci-dade não poderia ser combinada com o aumentodas tarifas de conferência. As partes no TACArevisto comprometeram-se a observar estas ori-entações.

157. O âmbito da alínea d) do artigo 3.o foi tam-bém debatido num processo que envolveu a FarEastern Freight Conference (FEFC). Em Outubrode 2001, as partes na FEFC decidiram aplicar umregime coordenado de retirada de navios por umperíodo de seis meses. Este regime tinha porobjectivo fazer face aos efeitos combinados deuma queda drástica da procura nas rotas Europa— Extremo Oriente e da introdução de volumessignificativos de nova capacidade. Numa carta deaviso às partes, a Comissão indicou que conside-rava que o programa FEFC não era abrangidopela alínea d) do artigo 3.o, com a interpretaçãoque lhe foi dada pela Comissão nas decisõesTAA (1) e EATA (2). Em especial, o programa nãotinha, na opinião da Comissão, o objectivo, sus-ceptível de ser autorizado, de fazer face a uma flu-tuação a curto prazo da procura. O programa nãopodia também ser elegível para uma isenção indi-vidual, uma vez que qualquer eventual benefíciopara os utilizadores do transporte seria mais doque neutralizado pelo impacto negativo do pro-grama sobre os custos dos utilizadores. Em res-posta à carta de aviso, os membros da FEFCpuseram imediatamente termo ao seu regimecoordenado de retirada de navios.

4.2.2. Consórcios

158. Dois acordos de consórcio foram autoriza-dos pela Comissão em 2001 (3), o que veio confir-mar o facto de os acordos operacionais destanatureza contribuírem normalmente para umaorganização mais racional dos serviços de trans-

¥1∂ Decisão da Comissão de 19 de Outubro de 1994 no processon.o IV/34.446 Trans-Atlantic Agreement, JO L 376 de 31.12.1994.

¥2∂ Decisão da Comissão de 30 de Abril de 1999 no processon.o IV/34.250 Europe-Asia Trades Agreement, JO L 193de 26.7.1999.

¥3∂ Processo COMP/37.982 Grand Alliance/Americana Consortiume processo COMP/38.021 Europe to Caribbean Consortium.

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porte marítimo, proporcionando benefícios signi-ficativos para os seus utilizadores.

4.2.3. Relatório da OCDE sobre os transportes marítimos regulares

159. A nível internacional, o acontecimentomais importante deste ano foi sem dúvida a publi-cação de um projecto de relatório da OCDE sobrea política de concorrência no domínio dos trans-portes marítimos regulares. O relatório, debatidonum seminário da OCDE em Dezembro de 2001,põe em causa a justificação invocada para manteruma imunidade ou isenção no domínio antitrustpara as actividades colectivas de fixação de pre-ços das companhias de transportes marítimosregulares e recomenda que os países membrosdeveriam iniciar uma revisão da sua legislação namatéria. A Comissão acolhe favoravelmente orelatório como uma contribuição relevante para odebate e irá analisar mais profundamente asimplicações em termos da legislação comunitáriaaplicável aos transportes marítimos regulares.

4.2.4. P&O/Stena

160. No sector do transporte marítimo depequeno curso, deve salientar-se, em 2001, adecisão da Comissão de prorrogar a isenção rela-tiva à empresa comum entre a P&O e a Stena Lineno que se refere aos ferries do canal da Mancha.A isenção inicial de três anos foi concedida em26 de Janeiro de 1999 e as partes solicitaram umaprorrogação em 22 de Dezembro de 2000. Ainvestigação da Comissão concluiu, nomeada-mente, que as características do mercado eramsusceptíveis de permitir a concorrência entre osprincipais operadores e que os aumentos de pre-ços que se tinham realizado podiam ser explica-dos por circunstâncias que não a existência daempresa comum. Desta forma, a Comissão con-cluiu que não existiam motivos para se opor auma isenção automática por mais seis anos, ouseja, o período normal nos termos do regula-mento relevante relativo aos transportes maríti-mos. Assim, a empresa comum beneficiará deuma isenção até 7 de Março de 2007.

4.3. Transportes ferroviários

161. Em Fevereiro, o Conselho e o Parlamentoadoptaram finalmente as três directivas queenglobam o pacote dos transportes ferroviá-

rios (1). O pacote torna extensível os direitos deacesso a todos os tipos de frete rodoviário inter-nacional que funcionem numa rede de frete rodo-viária transeuropeia específica até 2008 e em todaa rede da União Europeia após essa data. Opacote inclui o licenciamento comunitário paraos operadores rodoviários, as regras pormenori-zadas sobre os encargos de infra-estrutura, a afec-tação da vias e a certificação em termos de segu-rança e os requisitos para o estabelecimento deum organismo regulador independente a nívelnacional para controlar o processo de encar-gos/afectação e para tratar das queixas.

162. Em Junho, a Comissão deu início a um pro-cesso formal contra a Ferrovie dello Stato (FS),relativamente ao acesso ao mercado (2). Na suaComunicação de objecções, a Comissão conside-rou que a recusa contínua e prolongada da FS deconceder acesso à GVG, um pequeno operadorrodoviário alemão, constituía um abuso de posi-ção dominante.

163. Em Outubro, a Comissão enviou um aviso àDeutsche Bahn (DB) relativamente a discrimina-ções em detrimento de um operador privado (3).Neste outro processo que envolveu a GVG, aComissão concluiu na sua comunicação de objec-ções que a DB tinha abusado da sua posiçãodominante de três formas. Em primeiro lugar, aDB efectuava discriminações no que se refere aosencargos que cobrava pela tracção. Em segundolugar, a DB recusou-se subsequentemente a for-necer qualquer tipo de tracção. Em terceiro lugar,a DB impôs um requisito segundo o qual a GVGdevia contratar pessoal da DB.

164. A Comissão anunciou entretanto no livrobranco A Política Europeia de Transportes noHorizonte 2010: a hora das opções (4), a intençãode apresentar propostas legislativas para liberali-zar o acesso ao mercado através da abertura dosserviços de transportes de mercadorias nacionaisde frete e de cabotagem, concluindo assim o mer-cado interno no sector do frete rodoviário.

¥1∂ Directiva 2001/12/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de26 de Fevereiro de 2001, que altera a Directiva 91/440/CEE doConselho relativa ao desenvolvimento dos caminhos-de-ferrocomunitários.Directiva 2001/13/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de26 de Fevereiro de 2001, que altera a Directiva 95/18/CE do Con-selho relativa às licenças das empresas de transporte ferroviário.Directiva 2001/14/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de26 de Fevereiro de 2001, relativa à repartição de capacidade da infra-estrutura ferroviária, à aplicação de taxas de utilização da infra-estru-tura ferroviária e à certificação da segurança, JO L 75 de 15.3.2001.

¥2∂ Processo COMP/37.685.¥3∂ Comunicado de imprensa IP/01/1415 de 15.10.2001.¥4∂ COM(2001) 370 final de 12 de Setembro de 2001.

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5. Meios de comunicação social

5.1. Transmissão televisiva de acontecimentos desportivos

5.1.1. Regulamento de transmissões da UEFA

165. O acesso aos mercados de radiodifusão,principalmente os mercados da televisão por assi-natura (pay-TV) e da televisão por visualização(pay-per-view), parece estar fortemente depen-dente do acesso aos direitos e à tecnologia.Durante o ano transacto, o potencial dos direitosdesportivos para encerrar os mercados de radiodi-fusão foi analisado em diversos casos. No regula-mento relativo às transmissões da UEFA, porexemplo (1), as alterações relativas às horas emque os organismos de radiodifusão podiam serimpedidos de transmitir futebol de uma origemespecífica não permitiam que os regulamentostivessem qualquer efeito apreciável sobre os mer-cados de radiodifusão. A regulamentação daUEFA sobre a transmissão de acontecimentosdesportivos, inicialmente apresentada à Comis-são era muito complexa e tinha um âmbito extre-mamente vasto. A transmissão de encontros eraproibida durante todo o fim-de-semana. Após aintervenção da Comissão, a UEFA simplificou assuas regras e limitou estritamente o número dehoras bloqueadas. A partir da época 2000/2001, anova regulamentação da UEFA apenas autorizaas associações nacionais a impedir a transmissãode acontecimentos desportivos no seu territóriodurante duas horas e trinta minutos, quer aosábado quer ao domingo, à hora em que os princi-pais jogos nacionais são disputados. Da mesmaforma, a separação das funções reguladoras ecomerciais da FIA e, mais especificamente, aredução da duração dos contratos para a radiodi-fusão da Fórmula 1, impedirão que estes contra-tos provoquem distorções nos mercados nacio-nais de radiodifusão gratuita e de televisão porassinatura (2). Este sector continuará a ser objectode análise, em especial no que se refere à evolu-ção nos mercados de transmissão a jusante.

5.1.2. Liga dos Campeões da UEFA

166. A Comissão iniciou também uma análisesobre a forma como os direitos são vendidos enão sobre as condições em que são vendidos.

Emitiu uma Comunicação de objecções contra aUEFA em relação à venda colectiva de direitosde radiodifusão nas fases finais da Liga dosCampeões da UEFA. A venda colectiva destesdireitos numa base de exclusividade é susceptívelde restringir a sua oferta, limitando assim a trans-missão de jogos de futebol nos mercados detransmissão a jusante; a venda exclusiva destesdireitos é susceptível de provocar distorções deconcorrência nestes mercados.

5.2. Outras questões

5.2.1. Entidades de gestão colectiva de direitos de autor e direitos conexos

167. A gestão de direitos de autor e direitosconexos pelas sociedades de gestão colectiva temvindo tradicionalmente a ser efectuada por enti-dades nacionais até agora com posições demonopólio nos mercados nacionais. O desenvol-vimento da Internet vem pôr em causa esta situa-ção, uma vez que um serviço disponibilizadoatravés da Internet é, teoricamente, acessível apartir de qualquer parte do mundo. As sociedadesde gestão começaram assim a analisar a formacomo os direitos poderiam ser geridos neste con-texto sem fronteiras. Em Agosto, a Comissãopublicou uma comunicação nos termos do n.o 3do artigo 19.o no que se refere a um acordo entresociedades deste tipo para a gestão de direitos detransmissão simultânea através dos meios deradiodifusão tradicionais e através da Internet.Este acordo não virá alterar a posição domonopólio de cada uma das sociedades de gestãono que se refere ao seu repertório nacional, masirá introduzir concorrência entre as entidades degestão no que se refere à concessão a jusante deuma licença global aos utilizadores.

5.2.2. CD/DVD

168. Foram analisados problemas verticais noque se refere à distribuição e aos preços dos CD,tendo a Comissão encontrado elementos de provarelativamente a uma fixação limitada dos preços aretalho — que foi rapidamente suprimida após ainvestigação da Comissão.

169. A Comissão começou igualmente a analisarum processo potencialmente importante para osconsumidores, que poderá combinar limitaçõeshorizontais e verticais — o sistema de codifica-ção regional de DVD. Neste caso, a Comissãoestá a analisar o acordo horizontal relativo à

¥1∂ JO L 171 de 26.6.2001, p. 12.¥2∂ Comunicado de imprensa IP/01/1523 de 30.10.2001.

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norma DVD, que inclui o sistema de codificaçãoregional, juntamente com acordos verticais delicenciamento de tecnologia e saber-fazer para autilização de tal norma.

6. Distribuição de veículos automóveis

170. No sector da distribuição dos veículos auto-móveis, em 2001 a actividade da Comissão cen-trou-se sobre:

— a prossecução do processo de avaliação doRegulamento n.o 1475/95 (1), na sequênciado relatório de avaliação adoptado pelaComissão em 15 de Novembro de 2000 (2);

— o lançamento do processo de reflexão no quese refere à eventual adopção de um regimelegislativo específico para a distribuição dosveículos automóveis após o termo do Regu-lamento n.o 1475/95, em Setembro de 2002;

— o controlo de aplicação do Regulamenton.o 1475/95, com a adopção, nomeadamente,de duas decisões de infracção que incluem aaplicação de coimas.

6.1. Preparativos para um novo regime legislativo específico para a distribuição dos veículos automóveis

171. Até 30 de Setembro de 2002, data do seutermo, o Regulamento n.o 1475/95 isenta da proi-bição prevista no n.o 1 do artigo 81.o os acordosde distribuição selectiva e exclusiva no que serefere a veículos a motor de mais de três rodas,relativamente aos quais os produtores estabele-cem concessionários no interior de territóriosexclusivos; estes concessionários podem venderveículos quer a clientes finais, quer aos seusintermediários, quer a outros concessionárioshomologados pelo produtor.

172. Recorde-se que o relatório de avaliaçãoconcluiu que os objectivos previstos para oRegulamento n.o 1475/95 apenas foram parcial-

mente atingidos e que as hipóteses em que o regu-lamento se baseava já não eram totalmente váli-das.

173. Antes de decidir, no relatório de avaliaçãodo regulamento de isenção, qual o regime legisla-tivo que poderia resolver melhor os problemasidentificados em matéria de distribuição automó-vel, a Comissão lançou um estudo destinado aidentificar e a avaliar o impacto económico, paratodas as partes interessadas, de cinco cenárioslegislativos eventuais (3). Este estudo é de natu-reza puramente consultiva e não inclui qualquerrecomendação quanto ao futuro regime legisla-tivo.

174. O estudo de impacto económico analisaos efeitos sobre a concorrência intermarcas eintramarcas, sobre a criação de obstáculos àintegração do mercado interno e sobre os efei-tos na concorrência no mercado dos serviçospós-venda. Estes efeitos foram analisados a fimde identificar o impacto sobre os construtores, asua rede oficial de distribuição, os prestadores deserviços pós-venda homologados, os reparadoresindependentes, os consumidores e os produtoresde peças sobresselentes e de sistemas de diag-nóstico.

175. Para além destes cinco cenários legislati-vos, foram analisados diversos assuntos especí-ficos, considerados como variáveis susceptíveisde serem aplicadas a cada cenário, tanto enquantotais, como no contexto de cada cenário adequado(como por exemplo as multimarcas e as ligaçõesentre venda e serviços pós-venda).

176. Paralelamente, foi também encomendadoum estudo sobre as expectativas dos consumido-res, a fim de determinar a sua posição relativa-mente ao actual sistema de distribuição dos veí-culos automóveis e de alternativas possíveis parao futuro (4). Estes dois estudos completam o pro-cesso de avaliação da Comissão relativo ao regu-lamento de isenção. Vêm juntar-se aos doisoutros estudos elaborados em 2000 sobre a liga-ção entre a venda de veículos novos e os serviçospós-venda e os diferenciais de preços na Comuni-

¥1∂ Regulamento (CE) n.o 1475/95 da Comissão, de 28 de Junhode 1995, relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 85.o (actual-mente 81.o) do Tratado CE a certas categorias de acordos dedistribuição e de serviço de venda e pós-venda de veículos auto-móveis, JO L 145 de 29.6.1995.

¥2∂ Relatório sobre a avaliação do Regulamento (CE) n.o 1475/95relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 85.o (actualmente 81.o) doTratado CE a certas categorias de acordos de distribuição e de ser-viço de venda e pós-venda de veículos automóveis, COM(2000)743 final de 15 de Novembro de 2000; ver igualmente Relatórioda Concorrência de 2000, pontos 112 a 115.

¥3∂ O caderno de encargos para este estudo pode ser consultado nosítio Internet da Direcção-Geral da Concorrência: http://europa.eu.int/comm/competition/car_sector/distribution. Este estudo foiconfiado ao consultor Andersen na sequência de um concursopúblico. Pode ser consultado no endereço Internet acima referido.

¥4∂ «Customer Preferences for existing and potential Sales and Ser-vicing Alternatives in Automotive Distribution», Dr. Lademann& Partner, disponível no endereço: http://europa.eu.int/comm/competition/car_sector/distribution.

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dade (1). Estes estudos constituem elementos deinformação úteis para a determinação do futuroregime de distribuição dos veículos automóveis.

177. Após ter analisado as conclusões dos estu-dos elaborados a seu pedido, a Comissão apre-sentará uma proposta no início de 2002 relativaao futuro regime aplicável à distribuição automó-vel após Setembro de 2002. Desnecessário serádizer que a Comissão analisará todas as outrasfontes de informação disponíveis (2).

6.2. Avaliação geral da aplicação do regulamento de isenção no que se refere ao preço dos veículos novos

178. Tal como faz todos os anos, a Comissãocomparou os preços sem impostos dos veículosnovos na Comunidade (3). Esta comparação éefectuada duas vezes por ano, com base nos pre-ços de venda recomendados pelos produtorespara cada Estado-Membro da Comunidade, emMaio e Novembro de cada ano.

179. A situação em 1 de Maio de 2001 demons-tra que, tal como em Novembro de 2000 e apesarda continuação da depreciação da libra esterlinarelativamente ao euro, os preços continuavam aser mais elevados no Reino Unido do que na zonaeuro, embora tenham diminuído ou se tenhammantido estáveis. A Alemanha e a Áustria conti-nuam a ser os países mais caros da zona euro. AComissão verificou novamente que a diferença depreço médio na zona euro era claramente superiora 20% nos segmentos menos caros (A a D),embora o grande número de modelos dos seg-mentos B a D devesse normalmente implicar umaforte concorrência. Regra geral, a Grécia, a Fin-lândia, a Espanha, os Países Baixos e a Dina-marca são os mercados em que os preços dos veí-culos novos sem impostos são mais baixos (4).

180. Estas diferenças de preços são nitidamentesuperiores aos limites fixados na comunicação

relativa ao Regulamento n.o 123/85 (5), ou seja,12% (6). Esta comunicação continua em vigor eespecifica algumas questões relativas ao Regula-mento n.o 1475/95, nomeadamente no que serefere às diferenças de preços. Para além desteslimites, a Comissão poderá retirar o benefício daisenção se as divergências de preços tiverem ori-gem em acordos isentos ao abrigo do Regula-mento n.o 1475/95 (7).

181. Estas diferenças de preços importantesexplicam o facto de numerosos consumidorescontinuarem a adquirir o seu veículo noutros paí-ses da Comunidade, embora com diversas dificul-dades, como comprova o número constante deconsumidores que apresentam queixas à Comis-são, que na maior parte das vezes incidem sobreprazos de entrega excessivamente longos.

6.3. Aplicação do regulamento de isenção em 2001

182. Em 2001, a Comissão adoptou duas deci-sões de infracção, em que foram aplicadas coi-mas contra os dois construtores de automóveisVolkswagen e DaimlerChrysler. Aprovou igual-mente o novo sistema de distribuição da Porsche.

6.3.1. Volkswagen (8)

183. A Comissão adoptou uma decisão em queaplicou uma coima de 30,96 milhões de euros àVolkswagen relativamente à fixação de preços derevenda na Alemanha para o novo VolkswagenPassat. Em 1996 e 1997 a Volkswagen tinha envi-ado circulares aos seus distribuidores alemães nosentido de não venderem este modelo a preçosinferiores à lista de preços recomendada. Contra-riamente à anterior decisão contra a Volkswagen,esta segunda decisão não diz respeito a medidasdestinadas a limitar as vendas transfronteiras. Afixação dos preços de revenda constitui contudouma restrição muito grave. É a primeira decisãoacerca da fixação de preços de revenda no sectordos veículos automóveis.¥1∂ Estes dois estudos podem ser consultados no sítio Internet da

Direcção-Geral da Concorrência: http://europa.eu.int/comm/competition/car_sector/. «Ligação natural entre venda e pós-venda»(Autopolis), «Análise económica das diferenças de preços naComunidade» (Hans Degryse e Frank Verboven - KU Leuven eCEPR). Ver igualmente o Relatório da Concorrência de 2000,ponto 113.

¥2∂ Entre estas fontes de informação poder-se-á mencionar o estudoencomendado pela Associação dos Construtores Europeus deAutomóveis (ACEA), que incide igualmente sobre os efeitoseconómicos de sistemas de distribuição alternativos.

¥3∂ Esta comparação é obrigatória nos termos do artigo 11.o do regu-lamento de isenção.

¥4∂ Ver comunicados de imprensa da Comissão IP/01/227 de12.9.2001 e IP/01/1051 de 23.7.2001.

¥5∂ Comunicação da Comissão sobre o Regulamento (CEE)n.o 123/85 de 12.12.1984, relativo à aplicação do n.o 3 doartigo 85.o (actualmente 81.o) do Tratado a certas categorias deacordos de distribuição e de serviço de venda e pós-venda de veí-culos automóveis, capítulo II.1, JO C 17 de 18.1.1985.

¥6∂ A diferença pode contudo ultrapassar em seis pontos estes 12%durante um período de menos de um ano no que se refere a umaparte negligenciável dos veículos.

¥7∂ Ver artigo 8.o e considerando 31 do regulamento.¥8∂ Processo COMP/36.693 Volkswagen, Decisão da Comissão de

29 de Junho de 2001 (JO L 262 de 2.10.2001).

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6.3.2. DaimlerChrysler (1)

184. Na sequência de denúncias de consumido-res, a Comissão iniciou um processo contra a Dai-mlerChrysler. Em 10 de Outubro, a Comissãoadoptou uma decisão em que aplicou uma coimade 71,825 milhões de euros à DaimlerChryslerdevido a diversas infracções ao artigo 81.o do Tra-tado CE. A primeira infracção refere-se a restri-ções ao comércio paralelo na Alemanha, acorda-das entre a DaimlerChrysler e os membros da suarede de distribuição na Alemanha. A aplicação doartigo 81.o a estas restrições acordadas entre a Dai-mlerChrysler e os seus agentes alemães resulta deestes agentes suportarem um risco comercialconsiderável relacionado com a sua actividade (2).

A segunda infracção consistia na restrição devendas a empresas de leasing independentes naAlemanha e em Espanha. Por último, a Daimler-Chrysler participou num acordo de fixação de pre-ços na Bélgica, destinado a reduzir os descontosconcedidos aos consumidores.

6.3.3. Sistema de distribuição da Porsche

185. Na sequência da notificação dos novosacordos de distribuição da Porsche (3), a Comis-são chegou à conclusão de que os acordos podemser objecto duma isenção nos termos do Regula-mento n.o 1475/95, após a Porsche ter introdu-zido certas alterações, principalmente no que serefere à fixação de objectivos de vendas, devendoagora ser tomadas em consideração todas asvendas, independentemente do local de residên-cia do adquirente e de os distribuidores da Pors-che serem autorizados a efectuarem vendas emlinha se os consumidores pretenderem fazer aqui-sições através da Internet. Desta forma, o pro-cesso foi encerrado através de um ofício de arqui-vamento.

¥1∂ Processo COMP/36.264 DaimlerChrysler; Comunicado deimprensa IP/01/1394 de 10.10.2001.

¥2∂ Nos termos das Orientações relativas às restrições verticais(JO C 291 de 13.10.2000, p. 1), o único factor determinante naapreciação da aplicabilidade do n.o 1 do artigo 81.o à actividadede agente comercial é o risco financeiro ou comercial suportadopelo agente na prática da venda de bens ou serviços em que estáenvolvido. Neste processo, os descontos concedidos pelos agentestinham responsabilidades em matéria de transportes; adquiriamigualmente os veículos de demonstração — o que constituía umapercentagem significativa da totalidade dos carros vendidos — efinanciavam a manutenção de existências de peças sobresselentes.O contrato obrigava-os a fornecer serviços de garantia (sem seremtotalmente reembolsados) e serviços pós-venda suportando osrespectivos riscos. ¥3∂ Processo COMP/37.886 Porsche.

Caixa 4: Autorizada a Covisint — Mercado electrónico B2B no sector dos veículos automóveis (1)

Introdução

Em Agosto de 2001, a Comissão aprovou (2) formalmente a criação da Covisint, uma empresa comum nodomínio do mercado electrónico entre empresas (B2B), que tinha sido notificada no início do ano. ACovisint é composta pelos principais produtores de veículos automóveis, ou seja, a Ford, a Daimler-Chrysler, a General Motors, a Renault e a Nissan. Um sexto produtor de veículos automóveis, a PSAPeugeot Citroën, juntou-se posteriormente ao projecto.

A Covisint é um mercado electrónico destinado a fornecer à indústria automóvel meios no domínio dosconcursos, do desenvolvimento de produtos em colaboração e da gestão da cadeia de fornecimentos,reduzindo assim os custos e melhorando a eficiência da cadeia de fornecimentos. Trata-se de uma bolsagerida pelo adquirente, ou seja, pelo lado da procura, contrariamente a outras bolsas como a SupplyOn,que foram criadas pelos vendedores de componentes. Os fabricantes de veículos automóveis que tenci-onam realizar as suas aquisições através da bolsa (incluindo os accionistas da Covisint) representam cercade 63% da produção mundial de veículos automóveis. A maior parte dos principais fornecedores decomponentes automóveis indicou também a sua vontade de utilizar o mercado electrónico.

(1) Processo COMP/38.064; comunicado de imprensa IP/01/1155 de 31.7.2001; JO C 49 de 15.2.2001.(2) Todas as autoridades de concorrência que analisaram a Covisint tinham também dado luz verde ao projecto. Após negociações com

representantes da Covisint, a Federal Trade Commission (FTC) dos Estados Unidos autorizou a operação com base nas informaçõesdisponíveis, embora tenha reservado o direito de reiniciar o processo se surgissem problemas. O Bundeskartellamt alemão e as auto-ridades austríacas também autorizaram o regime. As autoridades japonesas não levantaram quaisquer objecções ao projecto.

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6.4. Despacho do Tribunal de Justiça no processo Asia Motor France SA (1)

186. A Asia Motor France, bem como outrasempresas com ela relacionadas, exerciam activi-

dades de importação de venda de veículos japo-neses em França. Em 1985 e em 1988 tinhamapresentado à Comissão uma denúncia relativa aum alegado cartel entre cinco importadores deveículos japoneses (Toyota, Mazda, Honda, Mit-subishi e Nissan) que, por um lado, teriam subs-crito, um acordo com o Governo francês a fim delimitar a venda de veículos japoneses a 3% dasvendas totais anuais de veículos automóveis e,

Preocupações potenciais

Os mercados electrónicos B2B como a Covisint, estão a tornar-se muito comuns. Têm um importanteimpacto potencial sobre a forma como as empresas de determinados sectores desenvolvem as suas activi-dades e prevê-se que na generalidade produzam efeitos positivos em termos de concorrência. Deveriam criarmais transparência, contribuindo assim para ligar mais operadores e para integrar mercados, e poderãotambém criar eficiências de mercado ao reduzir os custos de investigação e informação e ao melhorar agestão das existências, proporcionando em última análise preços mais baixos para o consumidor final.

Contudo, nalgumas circunstâncias os efeitos negativos sobre a concorrência poderão neutralizar aseficiências de mercado.

Intercâmbio de informações

Esta questão diz respeito à capacidade de os utilizadores trocarem ou descobrirem informações comer-ciais sensíveis, relacionadas por exemplo com os preços e as quantidades. Esta capacidade estará normal-mente relacionada com o tipo de concepção do sistema, em especial no que se refere à capacidade deacesso aos dados dos diferentes utilizadores.

Aquisição conjunta /venda conjunta

Tal como no comércio tradicional, esta preocupação surge se os utilizadores se agrupam para restringir aconcorrência face aos seus concorrentes. Este fenómeno é abordado de forma aprofundada nas orienta-ções sobre as restrições horizontais.

Investigação e análise

O projecto Covisint não constitui uma concentração, uma vez que as empresas que criaram a bolsa nãoexercerão um controlo conjunto ou exclusivo sobre a nova empresa. Desta forma, a Covisint deverá serapreciada nos termos do artigo 81.o do Tratado CE e não nos termos do Regulamento das Concentrações,sendo a primeira importante bolsa B2B a ser analisada nesta perspectiva. O facto de a Covisint ser oprimeiro caso deste tipo significa que poderá potencialmente servir como guia para o tratamento de outrosprojectos semelhantes.

Após analisar os acordos notificados e as respostas aos pedidos de informação, a Comissão concluiu queo projecto notificado não provoca actualmente restrições da concorrência na acepção do n.o 1 doartigo 81.o, tendo enviado às partes um ofício de arquivamento em conformidade. Em especial, os acordosincluem disposições adequadas para eliminar problemas potenciais em matéria de concorrência do tipodiscutido supra (1). Estas disposições dizem respeito às compras agrupadas (entre produtores de automó-veis ou no que se refere a produtos específicos para o sector) e também ao intercâmbio de informaçõesconfidenciais, uma vez que os acordos prevêem uma protecção adequada dos dados, através da utilizaçãode firewalls e regras de segurança. A Comissão salienta igualmente que a Covisint é aberta a todas asempresas do sector numa base não discriminatória, se baseia em normas abertas e permite que tanto osaccionistas como outros utilizadores participem noutras bolsas B2B.

(1) Comunicação Carlsberg, JO C 49 de 15.2.2001.

¥1∂ Processo C-1/01 P — Despacho do Tribunal (segunda secção) de20 de Setembro de 2001.

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por outro, teriam chegado a acordo entre si parapartilhar esta quota de 3%, por forma a excluirqualquer outra marca japonesa para além das suaspróprias (1). As denúncias foram rejeitadas pelaComissão.

187. O despacho do Tribunal de Justiça de 20 deSetembro, favorável à Comissão, põe definitiva-mente termo a este processo. A Comissão tinha odireito de rejeitar a denúncia na medida em queos problemas que referia resultavam directa-mente da política das autoridades públicas e nãode um acordo entre empresas.

7. Serviços financeiros

188. Ao aplicar a política de concorrência aosector dos serviços financeiros, o objectivo globalconsiste em tornar os mercados financeiros euro-peus mais competitivos e eficientes. Esta situaçãocontribuirá para o bem-estar dos consumidores epara uma economia europeia dinâmica e baseadano conhecimento, com um maior crescimentoeconómico.

189. O sistema financeiro da União Europeiaestá a integrar progressivamente, sob a influênciada globalização, os avanços tecnológicos, a intro-dução do euro e a liberalização actual do mer-cado. A introdução das notas e moedas em eurosem 1 de Janeiro de 2002 aumentará ainda mais atransparência e reforçará a integração no âmbitoda União. A integração está a proporcionar níveismais elevados de concorrência em certos merca-dos. Aumenta igualmente a necessidade de umamaior vigilância na aplicação e controlo da polí-tica de concorrência, por forma a garantir que osmercados financeiros se mantêm abertos e con-correnciais. Existe o risco de as empresas tenta-rem proteger-se de níveis cada vez mais elevadosde concorrência celebrando acordos anticoncor-renciais ou, quando ocupam uma posição domi-nante, exercendo o seu poder de mercado deforma a impedir o desenvolvimento de modelosempresariais novos e inovadores.

190. Em 2001, foram alcançados progressos sig-nificativos na aplicação e clarificação da políticade concorrência no que se refere aos sistemasde pagamentos. Este elemento é extremamenteimportante no contexto da próxima introdução deuma área única de pagamentos na União Euro-

peia. No domínio da infra-estrutura financeira, oobjectivo político consiste em promover aconcorrência, libertando assim forças de mercadofavoráveis ao estabelecimento de uma infra-estru-tura mais eficaz. A Comissão iniciou os seusesforços no sentido de garantir que a política deconcorrência é plenamente respeitada nas deno-minadas operações «back office» de transacçõesde valores mobiliários. A eficácia destas opera-ções, conhecidas na indústria como compensa-ções e liquidações, tem implicações importantespara a eficácia global dos mercados de capitaiseuropeus.

7.1. Concorrência no sector das compensações e liquidações

191. Em 15 de Fevereiro de 2001, o Comité deSábios sobre a regulamentação dos mercadoseuropeus de valores mobiliários, presidido porAlexandre Lamfalussy, publicou o seu relatóriofinal. O seu mandato tinha sido definido pelosministros da Economia e Finanças da UniãoEuropeia em 17 de Julho de 2000, com o objec-tivo de atingir um mercado financeiro europeuverdadeiramente integrado.

192. No seu relatório, o Comité refere-se especi-ficamente ao sector das compensações e liquida-ções. Manifesta-se convicto de que é necessáriauma nova reestruturação do sector na UniãoEuropeia. Embora, na sua opinião, o processo deconsolidação deva em larga medida incumbir aosector privado, o Comité afirma que tal não signi-fica que não existam questões de política públicaque deverão ser analisadas. Em especial, a polí-tica pública deveria centrar-se nas questões deconcorrência e na supressão dos obstáculos eimpedimentos que dificultam a consolidação. OComité considera claramente que as questões deconcorrência, tais como um acesso aberto e nãodiscriminatório e os acordos exclusivos, sesituam entre as mais importantes questões depolítica pública.

193. O Comité sugere que a Comissão analise asituação no domínio das compensações e liquida-ções, por forma a garantir que a política de con-corrência da Comunidade está a ser correcta-mente observada neste sector tão fundamental.Neste contexto, e uma vez que estava já a exami-nar o sector, a Comissão alargou a sua análise,lançando uma investigação formal aprofundadaex officio. É a primeira vez que se realiza uma¥1∂ Processo COMP/33.014 Asia Motor.

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investigação antitrust de tão grande dimensão nosector das compensações e liquidações.

194. A Comissão identificou já diversas preo-cupações possíveis em matéria de concorrênciano domínio das compensações e liquidações.

— Em primeiro lugar, os participantes no mer-cado indicaram que alguns sistemas de liqui-dação estão possivelmente a praticar preçosdiscriminatórios e a aplicar condições dife-rentes a transacções equivalentes.

— Em segundo lugar, poderão existir acordosexclusivos entre as bolsas e os sistemas decompensação e liquidação que restringem aconcorrência neste tipo de serviços.

— Em terceiro lugar, os participantes no mer-cado referiram o possível risco de seremcobrados preços excessivos para os serviçosde compensação e liquidação quando este sis-tema é detido por uma plataforma de negoci-ação e as transacções nessa plataforma têm deser liquidadas e/ou compensadas nesse sis-tema (os denominados «silos verticais»).

195. O objectivo da investigação consiste emdeterminar em que medida as possíveis preo-cupações em matéria de concorrência acima refe-ridas se justificam e, se assim for, se podem serabordadas através da aplicação da legislaçãocomunitária em matéria de concorrência. Os des-tinatários desta investigação são os participantesno mercado, incluindo os bancos, as plataformasde negociação e os sistemas de compensação eliquidação.

7.1.1. Eurex (1)

196. Em Dezembro de 2001, a Comissão encer-rou, através de um ofício de arquivamento, a noti-ficação da Deutsche Börse A.G. e da SWX SwissExchange («empresas-mãe») da sua empresacomum Eurex, uma bolsa transfronteiras para anegociação electrónica de produtos financeirosderivados, tais como opções e futuros (2).

197. A Comissão considerou que a Eurex é umaempresa comum de pleno exercício controladaconjuntamente, sendo portanto uma concentra-ção, mas que não tem uma dimensão comunitária.Nos termos do n.o 1 do artigo 22.o do Regula-mento n.o 4064/89, o Regulamento n.o 17/62 não

se aplica às concentrações, excepto no que serefere às empresas comuns que não têm dimensãocomunitária e que têm como objecto ou efeito acoordenação do comportamento concorrencialdas empresas que permanecem independentes.Normalmente, as autoridades nacionais de con-corrência analisam se existe tal risco de coorde-nação no contexto da sua análise da concentra-ção. Neste caso, essa análise não foi realizada,uma vez que a operação não foi notificada àsautoridades nacionais de concorrência relevantes,por não ser necessário.

198. Desta forma, a Comissão verificou, nostermos do n.o 1 do artigo 81.o, se existia qualquerrisco de coordenação do comportamento dasempresas-mãe resultante da concentração departe das suas actividades. As empresas-mãedesenvolvem actividades em diversos mercadosque estão próximos dos mercados da negociaçãoe da compensação de derivados nos quais a Eurexestá presente, como por exemplo os mercados dosserviços para a admissão à cotação e a negociaçãode títulos (acções e instrumentos de dívida) ewarrants, o mercado do fornecimento de siste-mas electrónicos de câmbio e o mercado da vendade informações sobre o mercado.

199. Em Agosto de 2000, a Comissão publicouuma comunicação em que solicitava observaçõesrelativamente à sua intenção de adoptar uma posi-ção favorável quanto a este processo (3). AComissão concluiu que não existe qualquer riscoconsiderável de coordenação do comportamentodas empresas-mãe nestes mercados vizinhos.

7.2. Sistemas de pagamento

200. Em 9 de Agosto de 2001, a Comissão adop-tou a sua primeira decisão formal nos termos doartigo 81.o do Tratado CE no que se refere aoscartões internacionais de pagamento no âmbitodo processo Visa International (4). A decisãoesclarece a política da Comissão no que se referea diversas questões deste sector. Conclui quealgumas disposições do sistema do cartão depagamento Visa International, que haviam sidonotificadas à Comissão para autorização, não sãoabrangidas pelo âmbito da proibição prevista noartigo 81.o e cobrem todos os tipos de cartõesVisa International (cartões de crédito com um

¥1∂ Processo COMP/D1/37.557.¥2∂ Comunicado de imprensa IP/02/4 de 3.1.2002.

¥3∂ JO C 231 de 11.8.2000, p. 2.¥4∂ Processo COMP/29.373, JO L 293 de 10.11.2001, p. 24.

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mecanismo de crédito, cartões de débito deferidoe cartões de débito imediato). Diz exclusivamenterespeito às cinco disposições das regras do cartãoVisa International a seguir descritas:

a) a regra de não discriminação, que proíbe oscomerciantes de cobrarem montantes adicio-nais aos titulares do cartão Visa devido à suautilização.

Embora se considere que as regras de nãodiscriminação limitam a liberdade de os ope-radores comerciais fixarem os seus própriospreços, a Comissão chegou à conclusão deque esta restrição não tem um efeito negativoconsiderável sobre a concorrência. Os estu-dos de mercado realizados na Suécia e nosPaíses Baixos — em que a regra de não discri-minação tinha sido suprimida pelas autorida-des nacionais de concorrência — haviamrevelado que esta supressão não teve umefeito significativo sobre as comissões dosoperadores comerciais;

b) as regras alteradas relativas à emissão de car-tões e à celebração de contratos com operado-res comerciais a nível transfronteiras, quepermitirão agora que os membros do Visaemitam cartões aos consumidores e celebrem(todos os tipos de) contratos com operadorescomerciais noutros Estados-Membros, sem oestabelecimento prévio de uma sucursal/filialno país em causa;

c) o princípio da territorialidade na concessão delicenças, segundo o qual, em princípio, osbancos precisam de obter uma licença paraemitir cartões e celebrar contratos em cadaEstado-Membro. Uma vez que os bancospodem obter licenças de marca adicionaispara todos os Estados-Membros em que estãoautorizados a desenvolver actividades bancá-rias, considera-se que este princípio não cons-titui uma restrição de concorrência considerá-vel;

d) a regra que prevê a impossibilidade de cele-brar contratos com operadores comerciaissem se proceder à emissão de cartões, queexige que os bancos emitam um número razo-ável de cartões antes de iniciarem actividadesde aquisição de operadores comerciais.

Contudo, considera-se que esta regra pro-move o desenvolvimento do sistema ao garan-tir uma larga base de cartões, tornando assimo sistema mais atraente para os operadorescomerciais;

e) a regra relativa à obrigação de aceitar todos oscartões, segundo a qual os operadores comer-ciais devem aceitar todos os cartões válidosquer com a marca Visa (normalmente um car-tão de crédito ou um cartão de débito defe-rido) quer com a marca Electron (normal-mente um cartão de débito imediato),independentemente da identidade do emi-tente, da natureza da transacção e do tipo decartão utilizado.

Uma vez que o desenvolvimento de um sis-tema de pagamento depende de os emitentespoderem pressupor que os seus cartões serãoaceites pelos operadores que realizaram con-tratos com outros adquirentes, considera-seque esta regra promove o desenvolvimento dosistema de pagamento Visa, uma vez quegarante a aceitação universal dos cartões Visa.

201. Por definição, os cartões Visa são meios depagamento transfronteiras. A decisão conclui queas disposições previstas nas regras do Visa Inter-national, que são aplicáveis pelo menos em todoo mercado comum, têm pelo menos potencial-mente um efeito sobre o comércio entre os Esta-dos-Membros.

202. A Comissão publicou em Agosto, separadada decisão acima referida, uma comunicação emque solicitava observações quanto à sua intençãode adoptar uma posição favorável sobre adenominada Comissão Interbancária Multila-teral Inter-Regional (1). A Comissão tinha inici-almente enviado ao Visa uma Comunicação deobjecções sobre a matéria, mas o Visa propôsagora alterações que envolvem uma redução donível das comissões, a introdução de critériosobjectivos para a fixação dos seus níveis e a trans-parência face aos operadores comerciais quantoao nível e percentagem relativa das categorias decustos incluídas na comissão interbancária.

7.3. Consórcios de seguros nucleares

203. Em Janeiro de 2001, a Comissão encerrou,através de um ofício de arquivamento (certificadonegativo), três notificações de consórcios deseguros e resseguros nucleares, ou seja, os consó-rcios sueco, italiano e espanhol (2). A Comissãoconsiderou que estavam envolvidos três merca-

¥1∂ Processo COMP/29.373, JO C 226 de 11.8.2001, p. 21.¥2∂ Processos COMP/37.363, Svenska Atomförsikringspoolen,

COMP/34.985, Pool Italiano Rischi Atomici, e COMP/34.558,Aseguradores Riesgos Nucleares.

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dos relevantes diferentes: o mercado dos segurosde propriedade nuclear, o mercado do resseguronuclear e o mercado dos seguros de responsabili-dade nuclear. Os primeiros dois destes mercadossão de dimensão mundial, tal como demonstramexemplos de prestações de serviços transfrontei-ras, e nesses mercados a quota de cada um dosconsórcios em questão era bastante inferior a 5%,o que levou a Comissão a concluir que o efeitodos acordos de consórcio sobre a concorrêncianesses mercados não era significativo. Contudo,os mercados relativos ao seguro de responsabili-dade nuclear são ainda nacionais, devido às gran-des diferenças entre as disposições legislativasnacionais neste domínio e à necessidade de exis-tirem serviços de liquidação de sinistros situadoslocalmente. Cada um dos consórcios em questãotinha um monopólio no seu mercado nacional dosseguros de responsabilidade nuclear. Contudo, aComissão concluiu que sem os acordos de consó-rcio não existiria qualquer oferta de seguros deresponsabilidade nuclear com uma coberturaadequada para os riscos em questão, conside-rando por conseguinte que os acordos de consór-cio não restringem a concorrência neste domínio.

7.4. Convergência entre os sectores bancário e de seguros

204. O termo bancassurance (ou «Allfinanz»,em alemão) refere-se à crescente convergênciaverificada entre o sector bancário e dos seguros.Nos mercados financeiros de retalho, a conver-gência baseia-se em alegadas sinergias de distri-buição: a capacidade de vender, de forma cru-zada, seguros aos clientes bancários e serviçosbancários aos titulares de apólices de seguros. É oque acontece em especial na Alemanha, onde dis-posições legislativas recentes favorecem especifi-camente produtos de pensões privadas, abrindoassim uma ampla — e potencialmente muitolucrativa — nova área de actividades para os ban-cos e companhias de seguros. Esta situação levoua um número crescente de acordos bancassu-rance, quer sob a forma de acordos de cooperaçãoquer sob a forma de concentrações.

205. Numa perspectiva de análise da concorrên-cia, os acordos de cooperação ou as concentra-ções entre bancos e companhias de seguros nãocolocam normalmente grandes preocupaçõesde concorrência, uma vez que anteriormente asempresas em questão não estavam, regra geral,presentes nos mercados das outras empresas. Noque se refere às concentrações bancassurance,

ver processo M.2431, Allianz/Dresdner, anali-sado na parte II, Controlo das concentrações XXIRelatório sobre a Política de Concorrência 2001(ainda não publicado).

206. No que se refere aos acordos de cooperaçãobancassurance, em Novembro de 2001, após terpublicado a comunicação Carlsberg, a Comissãoautorizou através de um ofício de arquivamento acriação pela AMB, controlada pela Generali, queé a quarta companhia de seguros alemã, e peloCommerzbank, o quarto banco alemão, de umaempresa comum no que se refere à distribuiçãodos seus produtos bancários e de segurosdestinados aos particulares. As principais razõesque justificavam esta autorização foram: a) assobreposições de mercado eram mínimas, b) asinterligações a nível da direcção não levantavamproblemas de concorrência e c) as partes enfren-tavam uma importante concorrência nomeada-mente por parte dos grupos Allianz/Dresdner eMünchener Rück/Ergo.

8. Sociedade da Informação

8.1. Comunicação de objecções enviada à Microsoft

207. Em 30 de Agosto, a Comissão enviou umacomunicação de objecções à empresa de softwarenorte-americana Microsoft Corp. («Microsoft») (1),no que se refere a diversas infracções aoartigo 82.o Esta comunicação de objecções veioalargar e complementar uma anterior comunica-ção emitida em Agosto de 2000, na sequência deuma denúncia da empresa norte-americana SunMicrosystems Inc (2).

208. Nos termos da comunicação de objecçõesde 2001, a Microsoft cometeu uma infracção àsregras de concorrência comunitárias ao abusar dasua posição dominante nos mercados dos siste-mas operativos de computadores pessoais e dossistemas operativos de servidores. A Comissãoconsidera que a Microsoft tem impedido quefornecedores de software concorrentes tenhamacesso a «informações de interface», ou seja,informações necessárias para que o software deservidor dos fornecedores possa funcionar comos PC «Windows» e o software do servidor da

¥1∂ Processo COMP/37.792; IP/01/1232 de 30.8.2001.¥2∂ Processo COMP/37.245, agora tratado conjuntamente com o pro-

cesso COMP/37.792, com o número COMP/37.792.

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Microsoft. A Microsoft tem vindo também a apli-car uma política de divulgação discriminatória eselectiva de informações de interface.

209. Segundo a Comissão, a Microsoft tem utili-zado uma estratégia de abuso baseada no facto derecusar aos concorrentes produtores de softwarede servidor a oportunidade de concorrerem, combase no mérito, com o seu software Windows.Com efeito, devido à ampla utilização do Windowsnas redes de tecnologia de informação, a interope-rabilidade com o Windows tem uma importanteinfluência nas decisões de aquisição dos clientes.

210. Além disso, a Comissão considera que aMicrosoft abusa da sua posição dominante atravésda política de licenciamento do Windows 2000.Devido à licença «tudo incluído» da Microsoft, osclientes têm de pagar um pacote completo de ser-viços mesmo que preferissem obter alguns dosserviços junto de fornecedores concorrentes deservidores. Desta forma, os clientes que já utili-zam o Windows e quisessem adquirir serviçosconcorrentes, teriam de pagar encargos de licenci-amento duplos. Assim, esta política encaminharáos consumidores para os produtos de servidoresda Microsoft, reduzindo por conseguinte as suasopções no que se refere a software concorrentes eprovocando um encerramento da concorrência.

211. Por último, no que se refere ao MediaPlayer da Microsoft (um programa informáticode «fluxo contínuo» que permite a transmissãorápida através da Internet e a reprodução em PCde ficheiros áudio e vídeo), a Comissão consideraque o vínculo do Media Player com o sistemaoperacional do Windows PC provoca distorçõesda concorrência. Dada a tendência dos consumi-dores para utilizarem configurações pré-instala-das no seu computador, este vínculo encerra omercado a outros fornecedores de software defluxo contínuo («streaming»).

212. A Comissão regista o facto de o Tribunal derecurso dos Estados Unidos ter decidido, em28 de Junho de 2001, que a Microsoft tinha vio-lado o § 2 do Sherman Act ao utilizar meios anti-concorrenciais para manter um monopólio nomercado dos sistemas operativos. A Comissãoestá a analisar de perto o resultado deste processoe regista que o Ministério da Justiça e diversosEstados americanos chegaram a um acordo finalpara a resolução do processo, enquanto outrosEstados continuam o processo. Embora esteresultado nos Estados Unidos possa afectar algu-mas das práticas investigadas pela Comissão, osprocessos norte-americano e comunitário não

abrangem os mesmos factos, sendo portantocomplementares.

8.2. Sociedade da Informação e Internet

213. A criação de condições favoráveis a umcontexto aberto e concorrencial para o desenvol-vimento da Internet e do comércio electrónicocontinua a ser o objectivo principal da Comissão.É óbvio que as actuais regras de concorrênciapodem abordar as peculiaridades da Internetdevido ao seu nível adequado de abstracção. Asregras de concorrência são extremamente adaptá-veis à evolução das condições económicas,incluindo as que resultam da alteração fundamen-tal da actividade comercial na economia Internet.

214. Colocaram-se questões em matéria de polí-tica de concorrência no que se refere à infra-estru-tura de telecomunicações utilizada para o tráfegoInternet. Estas questões relacionaram-se comdiversos mercados, nomeadamente os mercadosdo acesso Internet de banda larga (elevada capa-cidade) e banda estreita (baixa capacidade), bemcomo os mercados relacionados com a conectivi-dade Internet.

215. A falta de concorrência nos mercados deacesso local em todos os Estados-Membros, prin-cipalmente no que se refere ao acesso de bandalarga, foi novamente identificada como umabarreira importante para o desenvolvimento daInternet e dos serviços Internet na Europa. AComissão tinha já iniciado importantes acçõespolíticas neste domínio, como por exemplo oRegulamento relativo ao «acesso desagregado aolacete local» e o inquérito sectorial sobre o lacetelocal (1), estando agora pronta para analisaroutras iniciativas. A Comissão continuou a exa-minar todas as pressões concorrenciais que pode-rão advir das plataformas de acesso de bandalarga alternativa, incluindo o acesso móvel semfios. Contudo, embora o acesso móvel sem fiospossa exercer uma pressão concorrencial sobre aactual tecnologia dominante a nível do lacetelocal, é também importante controlar os operado-res no mercado com uma posição dominante nosector da telefonia móvel.

216. Surgiram igualmente preocupações na áreada gestão da Internet, em especial no que se refereaos nomes dos domínios Internet. Os casos que aComissão está a tratar dizem respeito a denúncias

¥1∂ Ver secção I.C.3.4.

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contra registos de nomes de domínios de nívelsuperior, nos termos do artigo 82.o É evidente queas regras de concorrência europeias se aplicam aoSistema de Nomes de Domínio (DNS). Na gene-ralidade, a Comissão considera que o registo espe-culativo, discriminatório e abusivo de nomes dedomínio Internet deve ser evitado, uma vez que setrata de um elemento fundamental para garantirum contexto aberto e competitivo na Internet.

9. Desporto

217. No seu relatório sobre o desporto apresen-tado no Conselho Europeu de Helsínquia (1), aComissão expressou a sua posição sobre a formade conciliar as diferentes funções do desporto. OConselho da União Europeia, na sua declaraçãoanexa às conclusões do Conselho de Nice (2),sublinhou a necessidade de tomar em conta, emtodas as acções comunitárias, «as funções soci-ais, educativas e culturais do desporto, funda-

mento da sua especificidade, a fim de respeitar ede promover a ética e a solidariedade necessáriasà preservação da sua função social».

218. A declaração consagra o empenhamento doConselho a favor da autonomia das organizaçõesdesportivas e do seu direito à auto-organizaçãoatravés de estruturas associativas adequadas.Desta forma, as organizações desportivas têm pormissão organizar e promover a sua disciplina e,em especial, as regras especificamente desporti-vas e a constituição das equipas nacionais. Estamissão deve, obviamente, ser realizada obser-vando as legislações nacionais e comunitárias.

219. O Conselho salientou principalmente opapel fundamental das federações desportivaspara a necessária solidariedade entre o desportode lazer e o desporto de alto nível, sublinhando osprincípios que as devem guiar: acesso de umlargo público ao espectáculo desportivo, apoio aodesporto amador, não discriminação, igualdadede oportunidades, formação, protecção da saúdee luta contra a dopagem.

220. Em 2001, a Comissão aplicou, no contextode quatro processos de concorrência, os princí-pios que foram salientados pelo Conselho na suadeclaração.

¥1∂ Relatório da Comissão ao Conselho Europeu na óptica da salva-guarda das actuais estruturas desportivas e da manutenção dafunção social do desporto no âmbito comunitário, COM(1999)644 final de 10 de Dezembro de 1999.

¥2∂ Declaração relativa às características específicas do desporto e àsua função social na Europa, a tomar em consideração ao execu-tar as políticas comuns.

Caixa 5: Transferências de futebolistas

Em 5 de Março de 2001, os comissários Monti, Reding e Diamantopoulou e os presidentes da FIFA e daUEFA terminaram as discussões sobre as transferências internacionais de jogadores de futebol. A FIFA ea UEFA comprometeram-se a adoptar novas regras de transferência com base num determinado númerode princípios (1), entre os quais se salientam três destinados a promover a formação dos jovens futebo-listas, a assegurar a estabilidade das equipas, a integridade, a regularidade e o correcto desenrolar dascompetições, no contexto das características específicas do futebol, a fim de preservar o interesse dosapoiantes e dos espectadores por este desporto.

a) O primeiro tema das discussões consistiu nas indemnizações de formação. A Comissão apoiou sempreo princípio de indemnizações de formação, relacionadas com os custos de formação, incluindo notermo do contrato. Considera-se que um jovem futebolista, ou seja com menos de 23 anos, está emformação até atingir os 21 anos. Se parte para outro clube, é legítimo que o clube formador recebaindemnizações que cubram o custo da formação que ministrou. Obviamente, a dificuldade reside nocálculo deste custo. A Comissão aceitou ultrapassar o custo de formação real do futebolista em causa,tomando em consideração os resultados do centro de formação. Quando um jovem futebolista jogasucessivamente em diversos clubes, o seu clube formador de origem receberá uma parte daindemnização de formação que o jogador recebe.

b) O segundo tema incidiu nos contratos, nomeadamente a questão de limitar a sua duração, sendo umdos objectivos impedir a não aplicação do acórdão Bosman (processo C-415/93, Bosman, Colect. 1995,

(1) Comunicado de imprensa da Comissão IP/01/314 de 6.3.2001.

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9.1. Fórmula 1

221. Os processos da Fórmula 1 revestemextrema importância, tanto em termos financeirose económicos como em termos de organizaçãodesportiva no âmbito de uma associação interna-cional. Em 1999, a Comissão considerou que aFederação Internacional Automóvel (FIA) seencontrava numa situação de conflito de interes-ses entre o seu papel de entidade reguladora dodesporto, por um lado, e as suas actividades deorganização de campeonatos de automóveis, poroutro. Esta situação favorecia as séries organiza-das pela FIA e, principalmente, a Fórmula 1. AComissão pôs também em causa as condições doscontratos celebrados entre a FOA, a empresa quegere os direitos televisivos da Fórmula 1, e osorganismos de radiodifusão, nomeadamente por-que permitiam a eliminação de acontecimentosde desporto automóvel susceptíveis de entrar emconcorrência com a Fórmula 1.

222. Por último, a Comissão conseguiu encon-trar uma solução para estes problemas, de acordocom a FIA e a FOA. Segundo esta solução, quefoi objecto de publicação no Jornal Oficial emJunho de 2001, a FIA retira-se do domíniocomercial para salvaguardar a sua independênciae imparcialidade enquanto entidade de regulação.

Desta forma, renunciou aos seus direitos televisi-vos ou transferiu-os para os respectivos titulares.Por outro lado, a FIA introduziu importantes alte-rações às suas regras, estabelecendo critérios bemdefinidos para a concessão de licenças FIA aosacontecimentos desportivos e aos respectivosparticipantes. No que se refere às actividadescomerciais, a FOA eliminou as cláusulas anticon-correnciais dos seus acordos com os circuitos e ascadeias de televisão, tendo também abandonado apromoção de ralis.

223. Esta nova situação terá consequênciasbenéficas para o desporto automóvel na Europa.A melhoria do sistema de regulação da FIA con-tribuirá para a observância das medidas necessá-rias em termos de segurança, sem prejudicar osinteresses comerciais dos organizadores indepen-dentes da FIA. Com efeito, o interesse da FIA emfavorecer as denominadas séries «FIA» fica neu-tralizado, uma vez que a Federação receberá nofuturo os mesmos lucros de todas as séries. Aliberdade a nível do funcionamento, o reforço datransparência e a garantia de normas de segu-rança elevadas formam um contexto favorável aodesenvolvimento contínuo do desporto automó-vel, constituindo igualmente um modelo de orga-nização desportiva.

p. I-4921) . Desta forma, os contratos foram limitados a uma duração máxima de cinco anos e a umaduração mínima de um ano, a fim de evitar as transferências durante a época futebolística, quefalseiam a concorrência. Estas transferências devem limitar-se a casos excepcionais, como uma lesãoou um desacordo total do jogador com o seu treinador, etc. Quanto à rescisão dos contratos, aComissão defende um sistema equilibrado de rescisão unilateral do contrato. Anteriormente, a FIFAimpunha o acordo dos dois clubes para que um futebolista pudesse ser transferido durante o contrato.Actualmente, o jogador pode ser transferido sem este acordo duplo, mas podem ser previstascompensações, quer directamente no contrato do jogador, quer quando são justificadas pelo clube. Osmontantes exorbitantes podem ser objecto de recurso para os tribunais. Além disso, os dirigente declubes e de federações salientaram que uma equipa se constrói ao longo de diversos anos e que apartida de um jogador apenas depois de um ou dois anos pode arruinar uma parte desta construção.Para limitar estas rescisões perigosas, foi previsto um mecanismo de sanções desportivas que podeatingir quatro meses de suspensão no final do primeiro ou do segundo ano. Em contrapartida, estassanções não podem ser aplicadas no termo do terceiro ano. Este sistema limita assim as rescisões decontrato durante os dois primeiros anos, mas favorece-as a partir do terceiro ano, tendo sido assimencontrado um equilíbrio entre os interesses dos diferentes intervenientes. Foi também introduzidauma certa flexibilidade a fim de respeitar as regras de «justa causa desportiva».

c) Por último, estão previstos órgãos arbitrais paritários, compostos de representantes de jogadores e declubes. Um Tribunal Arbitral do Futebol, que é uma instância de apelação que dispõe de uma câmaratambém com uma composição paritária, irá decidir os conflitos relativos às transferências internacio-nais. Estes novos órgãos arbitrais têm por função tratar rapidamente os processos que lhes são apresen-tados, o que não retira aos jogadores a possibilidade de interporem recurso, se o desejarem, para ostribunais, hipótese proibida pelas regras tradicionais da FIFA.

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9.2. UEFA

224. A regulamentação da UEFA sobre a trans-missão de acontecimentos desportivos inicial-mente apresentada à Comissão era muitocomplexa e tinha um âmbito muito alargado. Atransmissão de encontros estava proibida durantetodo o fim-de-semana. A Comissão tentouencontrar um equilíbrio entre o interesse despor-tivo e as regras de concorrência. A partir da época2000/2001, a nova regulamentação da UEFAautoriza as associações nacionais a impedirem atransmissão de acontecimentos desportivos nosseus territórios apenas durante duas horas e trintaminutos, ao sábado ou ao domingo, na hora emque os principais desafios nacionais são disputa-dos.

9.3. Subvenções aos clubes profissionais de futebol franceses

225. Este processo é abrangido pelos artigos 87.o

e seguintes do Tratado relativos aos auxílios esta-tais. As autoridades francesas pretenderam que aComissão tomasse posição sobre um tema queera novo para ela, ou seja, o dos auxílios estataisem matéria de desporto para o financiamento doscentros de formação dos jovens jogadores. AComissão aceitou a concessão destas subven-ções, considerando que tinham um objectivo edu-cativo e de integração e um fraco impacto na con-corrência entre os grandes clubes.

226. Durante 2002, a Comissão continuará aaplicar os princípios definidos pela Declaração deNice ao analisar os dois processos que estão actu-almente em fim de instrução, o regulamento FIFAaplicável à actividade dos agentes de jogadores ea regra UEFA relativa à propriedade ou ao con-trolo económico, por um mesmo operador, dediversos clubes desportivos que participam nasmesmas competições. A Comissão está também aanalisar diversos processos relativos à venda emcomum dos direitos de retransmissão de aconte-cimentos desportivos em exclusividade a umúnico organismo de radiodifusão por território,durante um período que abrange diversos anos.

10. Produtos farmacêuticos

227. A nível estratégico, a actividade antitrustda Comissão no sector farmacêutico registoudois acontecimentos importantes durante 2001.Em ambos os casos, a Comissão foi convidada a

tomar em consideração a importância fundamen-tal da investigação e desenvolvimento nestesector.

228. Em primeiro lugar, a Comissão tomounovas medidas no sentido de preservar o comér-cio paralelo neste sector. Fê-lo, por um lado,interpondo um recurso relativamente ao acórdãoproferido pelo Tribunal de Primeira Instância em26 de Outubro de 2000 num processo relativo aoproduto cardiovascular da Bayer, Adalat (1) e, poroutro lado, adoptando uma decisão de proibiçãocontra o sistema de preços duplos da GlaxoWellcome que abrange cerca de 80 produtosfarmacêuticos vendidos em Espanha.

229. Em segundo lugar, os serviços da Comissãoanalisaram e autorizaram, nos termos das orienta-ções sobre a aplicação do artigo 81.o do Tra-tado CE aos acordos de cooperação horizon-tal (2), duas empresas comuns criadas porempresas farmacêuticas com o objectivo dedesenvolver, produzir e vender determinadosnovos produtos farmacêuticos.

10.1. Comércio paralelo: Adalat, GlaxoWellcome

10.1.1. Adalat

230. No início de Janeiro de 2001, a Comissãointerpôs recurso (3) contra o acórdão do Tribunalde Primeira Instância que tinha anulado a suadecisão de proibir um acordo entre a Bayer e osgrossistas situados em Espanha e em França eque continha uma proibição de exportação domedicamento Adalat (4). As questões que estãoagora pendentes perante o Tribunal de Justiçasão: a) em que condições se pode considerar queos distribuidores concordaram com o seu forne-cedor relativamente a uma restrição específica daconcorrência e b) em que circunstâncias esta res-trição se pode considerar equivalente a uma proi-bição de exportação.

231. Estas questões podem parecer questõesjurídicas de âmbito limitado, mas são fundamen-

¥1∂ Processo T-41/96 Bayer/Comissão [ainda não publicado].¥2∂ Orientações sobre a aplicação do artigo 81.o do Tratado CE aos

acordos de cooperação horizontais, JO C 3 de 6.1.2001.¥3∂ Processos C-2/01 e 3/01P. O Bundesverband Arzneimittel-

Importeure interpôs um recurso separado contra o acórdão doTribunal de Primeira Instância. O Tribunal de Justiça apensouestes dois processos.

¥4∂ Processo COMP/34.279; Decisão da Comissão de 10 de Janeiro de1996, JO L 201, p. 1; comunicado de imprensa IP/96/19 de 10.1.1996.

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I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICASCONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE —

ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

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tais para salvaguardar a política da Comissão noque se refere às restrições verticais territoriaisneste e noutros sectores. A Comissão consideraque o Tribunal de Primeira Instância se afastou dajurisprudência anterior estabelecida pelo Tribu-nal de Justiça das Comunidades Europeias aointerpretar de forma demasiado estrita as noçõesde «acordo» e «proibição de exportação» (1). Estainterpretação — se não for anulada pelo Tribunalde Justiça das Comunidades Europeias — permi-tiria que as empresas desenvolvessem estratégiasdirigidas contra o comércio paralelo, de forma aque as suas acções não fossem abrangidas peloâmbito de aplicação do artigo 81.o do Tra-tado CE. Por seu turno, tal significaria o fim dapolítica da Comissão no sentido de preservar ocomércio paralelo no sector farmacêutico e nou-tros sectores, realizando uma apreciação qualita-tiva dos alegados méritos subjacentes às medidasdo sector.

10.1.2. GlaxoWellcome (2)

232. Foi este tipo de apreciação qualitativa que aComissão realizou na decisão contra a Glaxo-SmithKline (GSK), que proibia um sistema duplode preços através do qual a GlaxoWellcome(GW) tencionava cobrar aos grossistas espanhóisum preço mais elevado pelos medicamentos queestes exportam do que pelos medicamentos querevendem para consumo em Espanha.

233. Na sua decisão, a Comissão não aborda aquestão de saber se se trata ou não de um«acordo» na acepção do n.o 1 do artigo 81.o, sim-plesmente porque existem elementos de provaque revelam que a maior parte dos distribuidoressubscreveram o sistema de preços da GW,incluído nas suas novas condições de venda. Nocontexto do n.o 1 do artigo 81.o, a Comissão con-corda com o argumento da GW de que o sectorfarmacêutico está extremamente regulamentadoe que as autoridades nacionais têm muitas vezesuma palavra a dizer na fixação dos preços devenda e que dispõem de regimes de reembolsoque transformam os doentes em clientes que nãosão muito sensíveis aos preços. É também evi-dente que a falta de harmonização entre as legis-lações nacionais provoca uma certa discrepância

dos níveis de preços entre os Estados-Membros.Contudo, a Comissão considera — em conformi-dade com a jurisprudência normal — que estafalta de harmonização não confere às empresasfarmacêuticas o direito de consolidar esta dife-rença de preços aplicando preços mais elevadosnos países em que são mais baixos, quando osmedicamentos são exportados para países compreços mais elevados. Segundo a Comissão, estessistemas duplos de preços perpetuam indevida-mente a segmentação de mercados nacionais.

234. Contudo, a Comissão continua a analisaraprofundadamente a alegação da GW de que estasegmentação dos mercados nacionais beneficiaos consumidores e que por conseguinte o sistemaduplo de preços poderá beneficiar de uma isençãonos termos do n.o 3 do artigo 81.o É na realidadeo primeiro caso em que uma empresa farmacêu-tica convidou a Comissão a efectuar este tipo deapreciação. A GW apresenta, em traços largos,dois argumentos que a Comissão recusou.

235. A GW alega, em primeiro lugar, que ocomércio paralelo provoca perdas de receitas,que esta situação reduz o seu orçamento deinvestigação e desenvolvimento (cerca de 15%dos seus custos), enfraquecendo assim a suacapacidade de desenvolver medicamentos novose inovadores. A este respeito, a Comissão sali-enta, nomeadamente, que qualquer perda dereceitas poderia ser integrada no orçamento demarketing da GW (os restantes 85% dos seus cus-tos). Esta deveria constituir a alternativa maisplausível, uma vez que o sector farmacêutico éum dos que regista os mais elevados investimen-tos em investigação e desenvolvimento e é umsector em que a inovação — mais do que o preço— constitui o principal parâmetro de concorrên-cia. A GW argumenta igualmente que o comércioparalelo provoca atrasos na entrada de medica-mentos no mercado dos países com preços bai-xos. A Comissão considera que os elementos deprova não são convincentes.

236. Entretanto, a GW tentou que a decisão daComissão fosse anulada (3).

237. Todas as questões suscitadas pelos proces-sos Adalat e Glaxo estão também presentes emmuitos outros processos em apreciação. Diversasempresas farmacêuticas, incluindo a Merck, soli-citaram que a Comissão emitisse um certificado¥1∂ Para um resumo dos principais fundamentos do recurso da

Comissão, ver JO C 79 de 10.3.2001, p. 15.¥2∂ Processo COMP/36.957; Decisão da Comissão de 8 de Maio

de 2001, JO L 302 de 17.11.2001; comunicado de imprensaIP/01/661 de 8.5.2001. ¥3∂ Processo C-168/01 P, sub judice.

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negativo, ou pelo menos uma isenção, para osseus sistemas de fornecimento por quota. Estessistemas — que alegadamente são impostos uni-lateralmente aos grossistas — limitam as quanti-dades de medicamentos fornecidos aos grossis-tas, utilizando como referência as suas vendasnacionais anteriores. As empresas farmacêuticasinvocam o planeamento da produção e da distri-buição como principal justificação. Muitos gros-sistas apresentaram denúncias, há longo tempopendentes, contra estes sistemas. Agora que aComissão adoptou a sua decisão Glaxo, os seusserviços iniciaram uma análise mais aprofundadados sistemas de fornecimento por quota.

10.2. Empresas comuns

238. A Comissão reconhece a importância dasactividades de investigação e desenvolvimentopara o sector farmacêutico. Durante 2001, os seusserviços emitiram ofícios de arquivamento noâmbito de dois processos em que as empresas far-macêuticas tinham notificado uma empresacomum de cooperação que incluía actividades dedesenvolvimento, produção e venda de novosmedicamentos. Os dois processos suscitavamquestões de acordo com as orientações da Comis-são relativas às restrições horizontais da concor-rência.

10.2.1. Pfizer/EISAI (1)

239. No primeiro processo, a Pfizer (EUA) tinhadecidido cooperar com a EISAI (Japão) paraintroduzir no mercado um novo produto contra adoença de Alzheimer. A Pfizer iria abandonar oseu próprio produto já em desenvolvimento afavor do da EISAI, tomando esta empresa a seucargo a maior parte das actividades de I&D e deprodução. A Pfizer utilizaria a sua rede de distri-buição mundial para realizar a maior parte dacomercialização. Quando as duas partes notifica-ram a cooperação, o seu produto (normalmenteconhecido pela marca Aricept) tinha já alcançadoas áreas de mercado em que praticamentenenhuma das empresas comuns de I&D concor-rentes tinham conseguido introduzir um produtorival no mercado. A quota de mercado elevada doAricept indica que detinha uma posição domi-nante em muitos Estados-Membros.

240. A Comissão considerou o facto de a Pfizerter abandonado as suas actividades de I&D comouma restrição da concorrência, na acepção don.o 1 do artigo 81.o Se a EISAI tivesse optado porse juntar a um forte parceiro em termos de marke-ting que não tivesse já um produto próprio emprodução, o nível de concorrência neste mercadoteria sido superior. Contudo, dados os benefíciosóbvios para os consumidores, os serviços daComissão consideraram existir motivos suficien-tes para conceder uma isenção. As elevadas quo-tas de mercado não foram utilizadas contra aspartes, uma vez que resultavam da denominada«vantagem da antecipação». A duração da isen-ção foi contudo limitada a sete anos, a contar daintrodução do medicamento no mercado, umavez que as partes não tinham demonstrado neces-sitarem de um período mais longo para recuperaros seus investimentos relativamente reduzi-dos (2).

10.2.2. Pfizer/Aventis (3)

241. No segundo caso, a Pfizer (EUA) estavaenvolvida numa cooperação com outro operadorimportante (Aventis) e com uma empresa deinvestigação mais pequena sediada nos Esta-dos Unidos, denominada Inhale. O objectivoconsistia em desenvolver, produzir e vender umproduto de insulina por inalação, num mercadoque até ao momento apenas dispunha de insulinainjectável. A Pfizer não estava presente no mer-cado da insulina (injectável) e a Aventis era ape-nas o terceiro operador, bastante atrás dos doisprincipais produtores (Novo Nordisk e Eli Lilly),na maior parte dos Estados-Membros.

242. Por este motivo, não se considerou que aempresa comum (na realidade uma série deempresas comuns distintas) levantasse problemasde concorrência nos termos do n.o 1 do artigo 81.o

Contudo, considerou-se uma obrigação de nãoconcorrência de 30 anos (mais cinco anos após otermo, para organizar os aspectos práticos dotermo da cooperação) demasiado longa para serconsiderada uma restrição acessória. As partescomprometeram-se a reduzir este período para20 anos (mais três anos após o termo). Os servi-ços da Comissão aceitaram a cláusula de não con-corrência dada a posição de mercado relativa-mente fraca das partes e a inexistência de um

¥1∂ Processo COMP/36.932.

¥2∂ Ver Orientações sobre os acordos horizontais, ponto 73, JO C 3de 6.1. 2001.

¥3∂ Processo COMP/37.590.

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I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICASCONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE —

ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

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efeito considerável de encerramento provocadopelas disposições de distribuição exclusiva entreas partes. Nestas circunstâncias, os serviços daComissão não consideraram ser necessário deter-minar com absoluta precisão a duração exacta doperíodo que as partes necessitarão para recuperaros significativos investimentos que realizaram.

243. De notar que os dois processos envolveramuma cooperação a nível da comercialização, soba forma de co-promoção e co-comercialização.

No caso da co-promoção, duas ou mais empresasutilizam a sua estrutura de vendas para comerci-alizar o produto sob uma única marca comercial,enquanto a co-comercialização significa quecada empresa vende o produto sob a sua própriamarca comercial. Alguns países proíbem aco-promoção, alegando que o co-promotor nãodispõe de uma autorização de comercializaçãopara o medicamento em causa. Nestes países, asempresas optarão pela técnica da co-comerciali-zação.

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D — Estatísticas

Gráfico 1 Processos novos

0

100

200

300

400

500

600

1996

206

159

447

82

1997

221

177

101

499

1998

216

192

101

509

1999

162

149

77

388

2000

101

112

84

297

2001

94

116

74

284

Notificações Denúncias Processos de iniciativa da Comissão

Gráfico 2 Processos tratados

1996

367

21

1997

490

27

1998

539

42

1999

514

68

2000 2001

362

38

324

54

0

100

200

300

400

500

600

700

Procedimento informal Decisões formais

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I — ACORDOS, DECISÕES DE ASSOCIAÇÃO E PRÁTICASCONCERTADAS E ABUSOS DE POSIÇÃO DOMINANTE —

ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAISE DIREITOS MONOPOLISTAS — ARTIGOS 31.º E 86.º

59

0

200

400

600

800

1 000

1 200

1 4001 280 1 262

1 204

1 013935

840

Gráfico 3 Evolução do número de processos pendentes no final do ano

1996

447499 517 509

581

388 400 378

284

582

297

388

1997 1998 1999 2000 2001Processos novos Processos encerrados Processos pendentes em 31 de Dezembro

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A — Política geral e novos desenvolvimentos

1. Introdução — Evolução geral

244. Após um período de sete anos de cresci-mento rápido da actividade de concentrações, onúmero de notificações neste domínio registouum ligeiro declínio em 2001, tendo atingido335 contra 345 no ano precedente.

245. A Comissão tomou 339 decisões finais,20 das quais na sequência de uma investigaçãoaprofundada (5 decisões de proibição, 5 de auto-rização sem condições e 10 de autorização condi-cional) e 13 de autorização condicional no termode uma investigação inicial («primeira fase»). AComissão autorizou 312 operações no âmbito daprimeira fase, das quais 140 (45%) em confor-midade com o procedimento simplificado intro-duzido em Setembro de 2000. Além disso, aComissão remeteu sete processos para os Esta-dos-Membros ao abrigo do artigo 9.o do Regula-mento das Concentrações, tendo dado início ainvestigações aprofundadas no âmbito de 22 pro-cessos, três dos quais estavam ainda pendentes nofinal do ano (1).

246. A actividade em matéria de concentraçõesnos sectores das telecomunicações e dos meiosde comunicação, que foram particularmenteafectados pela descida das cotações nas bolsasde valores, foi praticamente nula em 2001.Enquanto em 2000 se registaram 65 notificaçõesneste sector, este número desceu para quatro em2001, tendo-se verificado uma acentuada quebrano último trimestre de 2000 em relação ao pri-meiro trimestre de 2001 (13 casos e 1 caso, res-pectivamente).

247. O tipo mais frequente de fusões e aquisi-ções analisadas pela Comissão envolveu duas (oumais) empresas da UE. O número de operaçõesentre as empresas da UE e de países terceirosdiminuiu em 2001 comparado com 2000,enquanto o número de operações entre empresasestabelecidas no mesmo país aumentou.

248. Não obstante esta ligeira descida donúmero de notificações, foram adoptadas cincodecisões de proibição (2), o que representa onúmero anual de proibições mais elevado até àdata. Além disso, cinco notificações foram retira-das pelas partes notificantes na segunda fase doprocedimento (em parte devido às preocupaçõesmanifestadas pela Comissão do ponto de vista daconcorrência e também a outros motivos nãoconexos). As cinco decisões de proibição foramtomadas devido à criação (quatro casos) oureforço (um caso) de uma posição dominanteúnica. A questão da existência de uma posiçãodominante colectiva potencial esteve no âmagode cinco processos de segunda fase este ano. Noâmbito do processo MAN/Auwärter (3) e de doisprocessos analisados em conjunto, a UPM Kym-mene/Haindl (4) e a Norske Skog/Parenco/Wal-sum (5), as investigações aprofundadas conduzi-ram à autorização das operações sem condições.Noutros dois processos examinados paralela-mente, a saber, a BP/E.ON (6) e a Shell/DEA (7), aComissão autorizou as operações, sob reservados compromissos propostos pelas partes a fim dedissipar as preocupações quanto a uma posiçãodominante colectiva no mercado de etileno noâmbito da rede de condutas «ARG+», que liga osPaíses Baixos, a Bélgica e a Alemanha.

249. Não obstante o aumento do número de proi-bições, a percentagem das decisões de proibiçãoem relação às operações notificadas continua aser diminuta, cifrando-se em 1%, ou 2% se foremincluídas as notificações retiradas na segundafase. O risco de retirada da notificação no decursoda segunda fase ou de uma decisão de proibiçãoincorrido pela parte notificante não denota qual-quer tendência sistemática de aumento ou des-cida, conforme demonstrado pelo gráfico emseguida apresentado.

¥1∂ COMP/M.2495 — Haniel/Fels; COMP/M.2547 — Bayer/AventisCrop Science e COMP/M.2568 — Haniel/Ytong.

Tipo de operação 2000 2001

Nacionais 74 85

Intra-UE 144 138

UE-Exterior da UE 102 82

Exterior da UE 31 36

¥2∂ Em conformidade com o n.o 3 do artigo 8.o do Regulamento dasConcentrações.

¥3∂ COMP/M.2201 de 26.6.2001.¥4∂ COMP/M.2498 de 21.11.2001.¥5∂ COMP/M.2499 de 21.11.2001.¥6∂ COMP/M.2533 de 6.9.2001.¥7∂ COMP/M.2389 de 23.8.2001.

II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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Proibições e retirada de notificações no âmbito da segunda fase, 1991-2001

2. Mercados nacionais e concorrência potencial

250. Cerca de metade das decisões de proibiçãoe da retirada de notificações na segunda faseregistadas este ano diziam respeito a operaçõesde concentração entre empresas estabelecidas nomesmo país. Na maioria destes casos as preo-cupações em matéria de concorrência engloba-vam diversos países, não se restringido aos paísesonde se situava a sede das partes na operação.Não obstante, a proibição das operações deconcentração «nacionais» tende a suscitar as crí-ticas mais acérrimas e as maiores pressões sobreos representantes políticos a nível nacional, porparte das empresas em causa, conforme se podecomprovar pelas decisões de proibição tomadaseste ano no âmbito dos processos General Elec-tric/Honeywell (1) e Schneider/Legrand (2), bemcomo no quadro da retirada da notificação daoperação SEB/Föreningssparbanken (3) na segundafase do procedimento. Desde 1990, 12 das 18proibições adoptadas prenderam-se com opera-ções de concentração «nacionais». Foram afecta-das por estas 12 proibições «nacionais» empresasestabelecidas nos países seguintes: Alemanha (3),Estados Unidos (2), Países Baixos (2 processos,ambos em consequência de uma remessa efectu-ada pelos Países Baixos nos termos do artigo22.o) e Reino Unido, África do Sul (4), Finlândia(remessa nos termos do artigo 22.o), Suécia eFrança (um processo por país). A distribuiçãogeográfica das concentrações nacionais proibidasparece reflectir a dimensão relativa dos paísesrespectivos, não se vislumbrando quaisquer dife-renças significativas entre países ou grupos depaíses. Em especial, os dados não sustentam a

hipótese de um «tratamento diferenciado a favordos pequenos países» no âmbito do regime comu-nitário aplicável às operações de concentração.Pode ser argumentado que sete destas proibiçõesdas operações de concentração nacionais afecta-ram empresas estabelecidas nas «grandes econo-mias» (D, UK, F e EUA), duas incidiram emempresas de pequenos países (FIN e S), enquantoa importância dos Países Baixos e da África doSul depende dos parâmetros de dimensão aplica-dos (população, PIB, superfície, etc.). Para alémdos mercados nacionais das empresas em causa, amaioria das operações de concentração nacionaisproibidas criava igualmente problemas do pontode vista da concorrência noutros países do EEE.

251. Atendendo ao reduzido número de proibi-ções na sua globalidade, são limitadas as possibi-lidades de serem extraídas conclusões significati-vas do ponto de vista estatístico no que se refere àrepartição das proibições entre os diferentes paí-ses e ao longo do tempo. Feita esta advertênciaquanto à necessidade de uma certa prudência namatéria, o quadro apresentado à frente indica onúmero de empresas afectadas por uma decisãode proibição, juntamente com o número de partesenvolvidas (isto é, duas ou mais por operação) decada país em que as empresas foram afectadaspor uma decisão de proibição. Entre os países doEEE, as empresas estabelecidas na Suécia,Noruega, Dinamarca, França, Finlândia e Alema-nha defrontaram uma percentagem de proibiçõesacima da média, enquanto as empresas italianas ebritânicas se depararam com um número ligeira-mente inferior de proibições. As empresasnorte-americanas também defrontaram um riscode proibição abaixo da média. No entanto, emgeral, a repartição geográfica por país do númerorelativo de proibições não diverge estatistica-mente de uma distribuição (aleatória) normal.

252. As operações de concentração horizontaisentre empresas que operam nos mesmos merca-dos geográficos e do produto podem provocar

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Total

Notificações 63 60 58 95 110 131 172 235 292 345 296 1 857

Proibições 1 1 2 3 1 2 1 2 5 18

Retirada de notificações na segunda fase 1 1 4 5 6 3 20

Risco regulamentar (%) 1,6 0,0 1,7 1,1 1,8 3,1 0,6 2,6 2,1 2,3 2,7 2,0

¥1∂ COMP/M.2220 de 3.7.2001.¥2∂ COMP/M.2282 de 10.10.2001.¥3∂ COMP/M.2380, notificação retirada.¥4∂ Processo COMP/M.619 Gencor/Lonrho: apesar de a Lonrho ser

uma empresa estabelecida no Reino Unido, as suas actividadesprincipais são desenvolvidas na África meridional.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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problemas do ponto de vista da concorrência,uma vez que se traduzem num aumento das quo-tas de mercado e conduzem à supressão de umconcorrente directo. Esta análise é perfeitamenteindependente da dimensão do mercado, uma vezque o objectivo fundamental do controlo das ope-rações de concentração, que consiste em protegeros consumidores contra os efeitos decorrentes deum poder monopolista (preços mais altos, quali-dade inferior, restrição da produção, menosinovação), é sempre válido, independentementede estes consumidores se situarem num paísgrande ou pequeno. Em 2001, as operações proi-bidas, designadamente a Schneider/Legrand (1),SCA/Metsä Tissue (2) e a CVC/Lenzing (3), bemcomo a fusão bancária na Suécia a que as partesrenunciaram, a saber, a SEB/Föreningsspar-banken (4), inseriam-se nesta categoria. Todasestas operações teriam conferido às partes naconcentração quotas de mercado excepcional-mente elevadas nos mercados geográficos e nosmercados do produto relevantes. Apesar de osmercados geográficos relevantes no âmbito dosprocessos Schneider/Legrand, SCA/Metsä Tissuee SEB/Föreningssparbanken assumirem umadimensão nacional, a operação CVC/Lenzingteria conduzido à criação de posições dominantesa nível europeu.

2.1. Definição dos mercados geográficos relevantes e concorrência potencial

253. Um elemento fulcral da análise do ponto devista da concorrência prende-se com a definiçãodo mercado geográfico relevante. A definição domercado geográfico relevante (bem como dosmercados do produto relevantes) tem como fina-lidade identificar os concorrentes das empresasem causa num caso específico em condições derestringir o comportamento das referidas empre-

sas. Esta abordagem é definida no Regulamentodas Concentrações e constitui prática consagradano que se refere à maioria das autoridades de con-corrência a nível mundial. A definição dos merca-dos geográficos baseia-se na análise tanto do ladoda procura como do lado da oferta. Em 2001, aComissão analisou as definições de mercado porela adoptadas nas suas decisões relativas a opera-ções de concentração nos últimos cinco anos. De1 295 decisões, 184 (14,2%) definiram os merca-dos como tendo dimensão nacional. Em 187 casos(14,4%), os mercados revestiam uma dimensãomais alargada. Nos restantes 924 casos (71,4%),a questão do âmbito dos mercados geográficos foideixada em aberto, uma vez que não se levanta-riam quaisquer preocupações do ponto de vista daconcorrência independentemente da definiçãoadoptada, ou seja, dimensão geográfica corres-pondente ao EEE, dimensão regional ou nacio-nal. Deste modo, o mercado geográfico só foidefinido como assumindo uma dimensão nacio-nal numa minoria de casos.

254. No entanto, a definição de mercado consti-tui apenas o ponto de partida de uma análise daoperação de concentração e não o seu termo.Mesmo nos casos em que os mercados geográ-ficos, por razões específicas ao sector, são defini-dos de forma estrita, como tendo por exemplouma dimensão nacional, a existência de concor-rentes potenciais já levou anteriormente a Comis-são a aceitar quotas de mercado nacionais relati-vamente elevadas.

255. Tal é ilustrado pela decisão adoptada esteano no processo SCA/Metsä Tissue (5). O casoprendia-se com a proposta de aquisição pela SCAMölnlycke Holding BV, controlada pela empresasueca Svenska Cellulosa AB, do seu concorrentefinlandês, a Metsä Tissue Corp. Ambas as empre-sas consagram-se à produção de produtos depapel tecido, tais como papel higiénico, papel decozinha, lenços e guardanapos de papel numa

A D DK F I NL S FIN UK N CA Ch.Is ZA US

Empresas afectadas pela proibição (excluindo os casos do artigo 22.o) 1 11 1 7 1 2 4 1 3 1 1 1 1 4

Número de partes 119 1007 79 599 310 334 260 85 724 70 49 24 21 609

Percentagem de empresas afectadas (%) 0,8 1,1 1,3 1,2 0,3 0,6 1,5 1,2 0,4 1,4 2,0 4,2 4,8 0,7

¥1∂ COMP/M.2283 de 10.10.2001.¥2∂ COMP/M.2097 de 31.1.2001.¥3∂ COMP/M.2187 de 17.10.2001.¥4∂ COMP/M.2380, notificação retirada. ¥5∂ COMP/M.2097 de 31.1.2001 (JO L 57 de 27.2.2002).

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série de países do EEE. A Comissão definiu osmercados geográficos relevantes como tendodimensão nacional, uma vez que a investigaçãode mercado conduziu à conclusão que os fornece-dores podiam facturar aos clientes (supermerca-dos) preços diferentes em países distintos (discri-minação em matéria de preços) e dada aexistência de custos de transporte significativos.No entanto, quando extraiu esta conclusão, aComissão não considerou cada mercado nacionalde forma separada, mas teve em conta todas asimportações efectivas e potenciais em cada paísrelevante. Por exemplo, a análise do mercadosueco na óptica da concorrência envolveu a iden-tificação de todas as instalações de produção,independentemente do país em que se situassem,em condições de abastecerem os supermercadossuecos em produtos de papel a um preço compe-titivo, o número de concorrentes credíveis destetipo que subsistiriam após a concentração, a suacapacidade de produção e a propriedade das mar-cas. Após ter tomado em consideração todos osconcorrentes existentes e potenciais no domíniodos produtos de papel tecido, a Comissão con-cluiu que as quotas de mercado nalguns mercadosnacionais, que se afigurariam elevadas se fossemanalisadas de forma separada, não suscitavamquaisquer problemas de concorrência no caso emapreço. Inversamente, a investigação revelou ainexistência de quaisquer concorrentes potenci-ais com uma capacidade de produção suficientepara defrontar as quotas de mercado muito eleva-das das partes (até 90%) na Suécia, Noruega,Dinamarca e Finlândia, o que levou eventual-mente a Comissão a proibir esta operação. NaFinlândia, as preocupações em matéria de con-corrência incidiam sobretudo na supressão de umconcorrente potencial.

256. O grau de permeabilidade do mercado noque se refere à entrada de novos operadoresassume uma importância fundamental nesta aná-lise. A existência de barreiras à entrada significa-tivas continua a ser um elemento importante paradetectar os eventuais problemas de concorrênciasuscitados por uma dada operação. No âmbito doprocesso CVC/Lenzing (1), por exemplo, aComissão detectou a existência de barreiras àentrada significativas nos mercados do EEE, nãoobstante as reduzidas barreiras comerciais,devido ao elevado investimento de capital neces-sário, aos entraves em termos de percepção de

qualidade, às barreiras culturais e aos problemaslogísticos. Por outro lado, a ausência de barreirasregulamentares ou os requisitos em matéria dedistribuição local e a existência de concorrentescredíveis suficientemente próximos são factoressusceptíveis de aumentar as quotas de mercadoque podem ser consideradas aceitáveis a nívelnacional. Os pequenos países tendem a denotaruma nítida «vantagem» neste contexto e a Comis-são tem aceite regularmente quotas de mercadomais elevadas no âmbito das pequenas economiasdo que nos mercados de dimensão mais alargada.Outras operações que foram autorizadas pelaComissão devido à existência de uma concorrên-cia potencial ou à supressão de barreiras regula-mentares que conduziram a um alargamento dosmercados geográficos incluíram a Philips/AgilentHealth Care Solutions (2), a Pirelli/BICC (3) e aGerling/NCM (4). Estas operações traduziram-seem quotas de mercado nacionais que variavamentre 40% e mais de 60% nalguns países.

257. Ao invés, a supressão, mediante uma fusãoou aquisição, de um concorrente potencial quetenha impedido uma empresa de assumir umaposição dominante pode suscitar problemas doponto de vista da concorrência, mesmo se não severificar qualquer sobreposição directa a níveldas actividades desenvolvidas pelas empresas nomomento da operação. Várias investigações desegunda fase em 2001 centraram-se na supressãode concorrentes potenciais.

258. No processo EdF/EnBW (5), a Comissãoautorizou, sob reserva de determinadas condições,a aquisição do controlo conjunto da empresa deelectricidade alemã Energie Baden-WürttembergAG (EnBW) pela Electricité de France (EdF) epela Zweckverband Oberschwäbische Elektrizi-tätswerke (OEW), uma associação de nove muni-cípios do sudoeste da Alemanha.

259. A investigação concluiu que a EdF benefi-ciava de uma posição dominante no mercadofrancês de abastecimento de clientes elegíveis,com uma quota de mercado em torno dos 90%.Para além da EdF, desenvolvem actividades emFrança três outros produtores de electricidade, asaber, a CNR, a Société Nationale d’ElectricitéThermique (SNET) e a Harpen AG, pertencenteao Grupo RWE. Estas três empresas, contudo,

¥1∂ COMP/M.2187 de 17.10.2001.

¥2∂ COMP/M.2256 de 2.3.2001.¥3∂ COMP/M.1882 de 19.7.2000.¥4∂ COMP/M.2602 de 11.12.2001.¥5∂ COMP/M.1853 de 7.2.2001.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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representam apenas uma pequena proporção daprodução de electricidade e abastecem sobretudoa EdF. A EnBW foi considerada um dos concor-rentes potenciais mais prováveis no mercado fran-cês, constituindo uma das empresas em melhorescondições estratégicas de penetrar no mercado deabastecimento dos clientes elegíveis. A área deabastecimento da EnBW situa-se no sudoeste daAlemanha, com uma longa fronteira comumcom a França. Dois dos quatro interconectoresfranco-alemães encontram-se na área de abasteci-mento da EnBW. Com a aquisição da EnBW, aEdF aumentaria igualmente a sua capacidadepotencial de retaliação na Alemanha, expondo-seassim em menor medida à concorrência emFrança. Os compromissos aceites no âmbito desteprocesso são debatidos no ponto 300.

260. As preocupações do ponto de vista daconcorrência suscitadas pelo processo Grupo Vil-lar Mir/EnBW/Hidroeléctrica del Cantábrico (1),que foi igualmente autorizado sob reserva dedeterminadas condições, eram muito semelhan-tes. A operação envolvia a aquisição do controloconjunto da empresa de electricidade espanholaHidroeléctrica del Cantábrico (Hidrocantábrico)pelo grupo espanhol Villar Mir e pela EnergieBaden-Württemberg (EnBW), uma empresaalemã controlada em conjunto com a Electricitéde France (EdF).

261. A Comissão manifestou preocupaçõesquanto ao facto de a operação reforçar a posiçãodominante colectiva existente no mercado gros-sista espanhol de electricidade, detida pelaEndesa e Iberdrola. Após a operação, a EdF dis-poria de poucos incentivos no sentido de aumen-tar a já escassa capacidade comercial do interco-nector franco-espanhol, que contribui para acriação de uma barreira às importações de electri-cidade em Espanha e conduz ao isolamento domercado face a outros mercados de electricidadeeuropeus, em detrimento dos clientes. Para dissi-par estas preocupações, a EdF e o operador darede de electricidade francesa, a RTE, compro-meteram-se a aumentar substancialmente a capa-cidade comercial do interconector entre a Espa-nha e a França, que deverá passar de 1 100 MWpara cerca de 4 000 MW, criando assim condi-ções para um maior fluxo comercial no domínioda electricidade com destino e proveniente deEspanha, em benefício dos clientes espanhóis.

262. A supressão da concorrência potencialtambém suscitou preocupações do ponto de vistada concorrência no processo Südzucker/SaintLouis (2), uma operação que foi autorizada, medi-ante condições, na sequência de uma investiga-ção da segunda fase. A investigação da Comissãorevelou que a operação teria reforçado a posiçãodominante já detida pela Südzucker nos merca-dos de açúcar industrial e açúcar para venda aretalho no sul da Alemanha e na Bélgica, dadoque a Saint Louis deixaria de existir enquantoconcorrente independente e credível da Süd-zucker nestas áreas geográficas. A importância depreservar a concorrência potencial é ainda maiorem mercados muito regulamentados, como o doaçúcar, em que se verifica uma concorrênciapouco intensa e em que os clientes manifestamuma enorme dependência face a um númeroreduzido de fornecedores.

2.2. Definição dos mercados dos produtos relevantes

263. A análise dinâmica da concorrência poten-cial aplica-se não só à definição dos mercadosgeográficos, como também aos mercados dos pro-dutos, conforme salientado pela decisão adoptadaeste ano no processo Tetra Laval/Sidel (3).

264. A Comissão empreendeu uma investigaçãopormenorizada desta concentração no sector daembalagem entre a Tetra Laval (Tetra), o líder anível mundial no domínio das embalagens de car-tão e de equipamentos conexos, e a Sidel, onúmero um à escala mundial no domínio de equi-pamentos de embalagens de plástico PET. A ope-ração de concentração, que assumiu a forma deuma oferta pública de aquisição na Bolsa de Valo-res de Paris, foi notificada à Comissão em 18 deMaio de 2001. À luz dos resultados da suainvestigação, a Comissão decidiu, em 30 deOutubro de 2001, proibir este projecto deconcentração. De forma resumida, as razões sub-jacentes à decisão da Comissão consistiram nofacto de a operação de concentração criar umaestrutura de mercado que: a) permitiria à Tetrareforçar a sua posição dominante no sector dasembalagens de cartão mediante a supressão domaior concorrente no mercado vizinho, a saber,do equipamento de embalagens PET; e b) permi-tiria à Tetra tirar partido da sua posição domi-

¥1∂ COMP/M.2434 de 26.9.2001.¥2∂ COMP/M.2530 de 20.12.2001.¥3∂ COMP/M.2416 de 30.10.2001.

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nante no sector das embalagens de cartão paraadquirir uma posição dominante no sector doequipamento de embalagens PET. Em conse-quência, a operação de concentração teriaaumentado o grau de concentração no sector dasembalagens, criando barreiras à entrada e atenu-ado a concorrência em detrimento dos consumi-dores.

265. A Tetra é o líder incontestado a nível mun-dial no sector das embalagens de cartão. Comoconcluído em decisões anteriores da Comissão econfirmado pelo Tribunal de Justiça (processoC-333/94 TetraPak/Comissão), a Tetra detémposições dominantes nos mercados de equipa-mento para embalagens de cartão assépticas edas próprias embalagens de cartão assépticas,com uma quota de mercado no EEE correspon-dente a 80%. A Sidel é o principal fabricante deequipamento de embalagens de plástico PET e,nomeadamente, de máquinas de moldagem porsopro (SBM) que são utilizadas para produzirgarrafas de plástico, com uma quota de mercadoem torno dos 60%. Ambos os sectores se carac-terizam por um elevado grau de concentração,detendo os concorrentes quotas de mercadoinferiores a 15%.

266. Atendendo à forte posição das partes nosrespectivos sectores, a investigação da Comissãocentrou-se na interacção entre as embalagens decartão e as embalagens de plástico PET. As emba-lagens de cartão, em especial de cartão asséptico,têm sido tradicionalmente utilizadas para emba-lar produtos sensíveis à luz ou ao oxigénio, taiscomo os produtos lácteos líquidos, os sumos defruta, as bebidas aromatizadas de frutas e bebidasà base de chá e de café («produtos sensíveis»). Aembalagem asséptica é utilizada para produtos delonga duração que não requerem uma distri-buição refrigerada. As garrafas de plástico PETsão garrafas transparentes produzidas a partir deresina. São normalmente utilizadas para o acon-dicionamento de água mineral e bebidas gaseifi-cadas não alcoólicas. Em 2000, só 1% de leitee sumos é que foi vendido em embalagens PETno EEE.

267. Uma vez que os dois materiais se destinamnormalmente a utilizações diferentes, as partessustentaram que os dois mercados deviam serconsiderados distintos e não relacionados entresi para efeitos do direito da concorrência. Ainvestigação aprofundada da Comissão revelou,na sequência de uma análise da definição de mer-

cado com base no conceito de SSNIP (1), que osdois mercados constituem, na fase actual, merca-dos de produtos relevantes distintos.

268. No entanto, a Comissão considerou queuma definição de mercado estática e restrita nãoreflectia de forma adequada as condições de mer-cado dinâmicas e, nomeadamente, a interacçãoentre os dois materiais de embalagem. Após umainvestigação pormenorizada, a Comissão con-cluiu que os dois mercados, que se inserem nomesmo sector industrial, isto é, o da embalagemde produtos alimentares líquidos, são mercadosvizinhos estreitamente relacionados entre si e quea interacção entre os mesmos se intensificarárapidamente nos próximos anos.

269. A Comissão apurou que, num futuro pró-ximo, as empresas de equipamento de embala-gens PET, nomeadamente a Sidel, em conjuntocom empresas de embalagem independentes(conversores), concorrerão no mercado com vistaa promover a substituição das embalagens de car-tão pelas embalagens PET. Em especial, a estraté-gia da Sidel tem consistido em contribuir deforma significativa para o rápido crescimento doPET no segmento das embalagens assépticas parasumos de fruta e produtos lácteos líquidos. Naopinião da Sidel e de outros operadores no mer-cado, seria assim possível contestar a posição deliderança das embalagens de cartão que conti-nuam a predominar neste segmento do mercado.

270. A operação de concentração teria elimi-nado a Sidel enquanto concorrente num mercadovizinho muito próximo, suprimindo assim umafonte de pressões concorrenciais sobre a posiçãodominante da Tetra no sector das embalagens decartão. A Comissão concluiu que, como a opera-ção de concentração permitiria à Tetra desenvol-ver actividades em ambos os mercados de emba-lagem, teria por efeito reforçar a posiçãodominante da Tetra, aumentar os preços dasembalagens de cartão e reduzir a inovação. Aten-dendo ao rápido crescimento futuro projectadodas embalagens PET, isto significava que se per-deria assim uma fonte de concorrência potencialcada vez mais significativa.

271. Em suma, tanto a definição do mercadogeográfico como a definição do mercado do pro-duto não se traduzem, de modo algum, numa aná-

¥1∂ Small significant non-transitory increase in prices — Ligeiroaumento significativo e não transitório dos preços.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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lise estática de uma simples cumulação das quo-tas de mercado, constituindo ao invés o ponto departida para uma análise aprofundada da dinâ-mica de mercado prevalecente num determinadosector. No que se refere ao debate sobre os deno-minados «pequenos países», tal significa que,muito embora seja certo que as operações deconcentração possam conduzir a quotas de mer-cado mais elevadas nos pequenos mercados naci-

onais, tal não suscita forçosamente quaisquerpreocupações do ponto de vista da concorrência.O impacto do regime de controlo das concentra-ções aplicado pela Comissão sobre as empresasnão difere em função da área geográfica em queas empresas se encontram estabelecidas. Tal éigualmente corroborado pelas estatísticas relati-vas às operações de concentração proibidas, apre-sentadas supra.

Caixa 6: Processos relativos ao sector do papel e posição dominante colectiva

UPM-Kymmene/Haindl (1) e Norske Skog/Parenco/Walsum (2)

Em 20 de Junho de 2000, a Comissão recebeu uma notificação da empresa finlandesa produtora de papele de pasta de papel, a UPM-Kymmene, relativa a uma proposta de aquisição do seu concorrente alemão, aHaindl, e de uma segunda operação de concentração respeitante à revenda de duas das seis instalações deprodução de papel da Haindl ao fabricante de papel norueguês Norske Skog. Os mercados analisados noâmbito desta investigação foram os mercados do papel de jornal e do papel de revistas contendo madeira(«mercado do papel»). A investigação da Comissão centrou-se na questão de saber se estas duas opera-ções conduziriam à criação de uma posição dominante colectiva nos mercados de papel de jornal e dopapel. Estas operações figuram entre os primeiros casos em que a Comissão investigou a criação potencialde uma posição dominante colectiva por parte de quatro empresas.

O sector do papel de publicação caracteriza-se em geral por uma concorrência a longo prazo no que dizrespeito a (novas) capacidades e por uma concorrência a curto prazo em matéria de preços, sujeitos acondicionalismos de capacidade. Ambos os mercados analisados denotam características semelhantes quepodem ser resumidas da seguinte forma: a) produtos relativamente homogéneos, não obstante algumasvariações no âmbito das diferentes categorias de qualidade; b) flutuações das quotas de mercado dos prin-cipais fornecedores em ambos os mercados, nomeadamente no que diz respeito ao papel de jornal; c) umelevado grau de transparência no que se refere às capacidades, prazos de entrega e preços médios, masfalta de transparência no que diz respeito às decisões de investimento antes de estas se tornarem irreversí-veis; d) procura cíclica e caracterizada por uma falta de elasticidade; e) alguma incerteza quanto ao graude simetria dos custos, nomeadamente no mercado do papel de jornal; f) grande importância doscontactos em múltiplos mercados e das ligações em todo o sector da pasta de papel e do papel; g) limitadopoder de negociação dos adquirentes; h) fácil acesso a tecnologias de ponta; e i) o sector caracteriza-sepor elevados custos irrecuperáveis (ou seja, importantes barreiras à entrada).

No mercado de papel de jornal, a Comissão centrou-se nas quatro maiores empresas(UPM-Kymmene/Haindl, Stora Enso, Norske Skog/Haindl-2 e Holmen) que, no seu conjunto, tinhamuma quota de cerca de 70% em termos de vendas e 80% em termos de capacidade. No mercado do papel,os três maiores fornecedores (UPM-Kymmene/Haindl, Stora Enso e M-Real/Myllykoski) teriam repre-sentado, após as operações de concentração, aproximadamente 70% do mercado, tanto em termos decapacidade como de vendas. As operações conduziriam à supressão no mercado de um concorrente signi-ficativo, a Haindl, cuja estrutura de custos difere ligeiramente dos outros grandes fornecedores, nomeada-mente no mercado do papel de jornal, dado que utiliza papel reciclado como matéria-prima num grausignificativamente maior. No mercado de papel de revistas contendo madeira, a Haindl tem sido particu-larmente activa nos últimos cinco anos, uma vez que representa uma grande proporção do aumento totalregistado a nível da capacidade de produção.

(1) COMP/M. 2498 de 21.11.2001.(2) COMP/M. 2499 de 21.11.2001.

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A operação de concentração conduziria a um mercado relativamente mais transparente e menosincerto, com a redução de cinco para quatro empresas no mercado do papel de jornal e de quatro paratrês empresas no mercado do papel de revista contendo madeira, respectivamente. No entanto, haviauma série de características que não levariam à criação de uma posição dominante colectiva, designa-damente a reduzida estabilidade das quotas de mercado, a falta de transparência a nível dos projectosde expansão da capacidade antes da respectiva divulgação oficial e a falta de simetria das estruturas decustos.

Inicialmente, a Comissão analisou se seria provável uma coordenação com base nos dois mecanismosseguintes: em primeiro lugar, mediante a coordenação dos investimentos em novas capacidades deprodução, no intuito de limitar a capacidade no mercado, aumentando assim o nível dos preços médios alongo prazo; em segundo lugar, mediante a coordenação dos períodos de cessação da produção parasustentar os preços temporariamente durante uma desaceleração da procura (não é necessária uma coor-denação a curto prazo nos períodos caracterizados por uma forte procura).

A Comissão concluiu que o mecanismo de coordenação dos investimentos supramencionado não condu-ziria a uma coordenação tácita nos mercados do papel de jornal e do papel de revista contendo madeira,respectivamente (1). No entanto, sustentou que a coordenação tácita nos períodos de cessação daprodução constitui um mecanismo de coordenação susceptível de favorecer a criação de uma posiçãodominante colectiva entre os quatro fornecedores principais no sector do papel de jornal e os três fornece-dores principais no sector do papel de revistas contendo madeira. É evidente que uma medida deste tipoteria repercussões sobre os preços, conforme se depreende de diversas declarações efectuadas pelos direc-tores-gerais de várias fábricas de papel importantes, que afirmaram publicamente, sob diversas formas,que estão dispostos a reduzir a produção, caso necessário, para manter o equilíbrio entre a oferta e aprocura.

No entanto, uma coordenação deste tipo, neste caso específico, seria provavelmente comprometida pelaacção de pequenos operadores. Com efeito, a Comissão entende que os pequenos operadores que subsis-tiriam no mercado, como a SCA, a Abitibi, a Palm e a Burgo, podem desempenhar um papel activo nosrespectivos mercados e inviabilizar qualquer coordenação tácita. Estes operadores poderiam compro-meter esta coordenação mediante a realização de investimentos, se os oligopolistas pretendessem renun-ciar a quaisquer investimentos para obter preços mais elevados e mediante o aumento da produção se osoligopolistas tentassem encerrar as suas instalações temporariamente (definição dos períodos de cessaçãoda produção). Estas empresas, algumas das quais se inserem em importantes grupos com recursos esaber-fazer significativos noutros mercados de pasta de papel e papel, disporiam dos meios necessáriospara tirar partido da coordenação tácita entre os principais operadores a fim de aumentarem as suas quotasde mercado.

Conclusões

Não obstante a existência de uma série de características que reforçavam a probabilidade de as operaçõescriarem posições dominantes colectivas por parte de quatro e três empresas, respectivamente, foram iden-tificados diversos factores que levaram a Comissão a concluir que estes últimos contrabalançariam taisriscos. Deste modo, ambas as operações foram autorizadas.

(1) Um raciocínio semelhante foi seguido no âmbito de outro processo que foi autorizado após uma investigação pormenorizada,COMP/M.2201 — MAN/Auwärter de 26 de Junho de 2001, e que suscitava questões quanto à existência de uma posição dominantecolectiva. As principais repercussões deste caso incidiam no mercado de autocarros urbanos na Alemanha. A MAN/Auwärter e ooutro operador principal no mercado de autocarros urbanos na Alemanha, a EvoBus da DaimlerChrysler, abasteceu, cada uma, umpouco menos de metade desse mercado. Na sequência de uma análise aprofundada, contudo, a Comissão concluiu que não haviaqualquer risco de as duas empresas poderem proceder a uma coordenação tácita das suas actividades. Em primeiro lugar, a Comis-são concluiu que não era provável qualquer divisão tácita do mercado entre a EvoBus e a MAN/Auwärter, uma vez que não existiaqualquer mecanismo de coordenação viável. Em segundo lugar, a existência de disparidades significativas entre a EvoBus e aMAN/Auwärter, tais como estruturas de custos diferentes, tornariam mais provável que as empresas concorressem entre si do que aadopção de um comportamento colusivo. Por conseguinte, a Comissão concluiu que o mercado de autocarros alemão continuará aser concorrencial, mesmo após a aquisição.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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3. Controlo das operações de concentração no século XXI — Livro verde sobre a revisão do Regulamento das Concentrações

272. A União Europeia depara-se com novosdesafios suscitados pelas operações de concentra-ção à escala mundial, por uma maior integraçãodos mercados, pela introdução do euro e, prova-velmente um factor mais importante ainda, o alar-gamento da União Europeia para 25 ou maisEstados-Membros. No intuito de garantir que osistema de controlo das operações de concentra-ção a nível europeu acompanha de forma ade-quada esta nova evolução, a Comissão adoptouem 11 de Dezembro de 2001 o livro verde sobre arevisão do Regulamento das Concentrações. Apublicação deste livro verde lançou um período deconsulta que deverá permitir a todos os interessa-dos apresentarem as suas observações até ao finalde Março de 2002. A Comissão tenciona proporuma versão alterada do Regulamento dasConcentrações no segundo semestre de 2002, umavez recebidas e analisadas estas observações.

273. O livro verde aborda questões de jurisdição,materiais e processuais. As principais alteraçõespropostas são em seguida referidas.

3.1. Questões de competência

274. O disposto no Regulamento das Concentra-ções confere à Comissão competência exclusivapara tratar as operações de concentração dedimensão comunitária. A Comissão examinou aaplicação das referidas disposições, isto é, oslimiares em matéria de volume de negócios pre-vistos no artigo 1.o, e concluiu que o n.o 3 doartigo 1.o não alcançou o objectivo pretendido.Aquando da introdução do n.o 3 do artigo 1.o,em 1997, os limiares em matéria de volumes denegócios estabelecidos nesta disposição destina-vam-se a assegurar a competência da Comissãono que respeita aos casos que afectavam três oumais Estados-Membros, as denominadas notifi-cações múltiplas. No entanto, desde a última revi-são do Regulamento das Concentrações, só cercade 20% dos casos sujeitos a notificação em trêsou mais Estados-Membros é que excediamefectivamente estes limiares. Por conseguinte, aComissão propõe que se altere o n.o 3 doartigo 1.o e introduza uma competência comuni-tária automática no que diz respeito aos casos quedevam ser objecto de notificação múltipla em trêsou mais Estados-Membros. Os limiares relativos

ao volume de negócios actualmente estabelecidosno n.o 3 do artigo 1.o seriam suprimidos. Estasolução é proposta no intuito de permitir àComissão, geralmente reconhecida como a auto-ridade melhor situada neste contexto, tratar asoperações que produzem efeitos em três ou maisEstados-Membros e reforçar a igualdade das con-dições de concorrência no domínio do controlodas operações de concentração na Europa. Estaalteração deverá produzir efeito antes do alarga-mento da Comunidade em 2004.

275. Os artigos 9.o e 22.o são os mecanismos deremessa dos processos previstos no Regulamentodas Concentrações, tendo em vista a adaptaçãodo sistema de controlo das concentrações que sebaseia, regra geral, no volume de negócios porforma a permitir que a entidade responsável pelainstrução do processo seja a autoridade emmelhores condições para o efeito. A Comissãopropõe simplificar os requisitos neste contexto,reforçando assim a transparência e facilitandouma repartição adequada do trabalho entre aComissão e os Estados-Membros. A principalalteração em matéria de instrumentos de remessaprende-se com o n.o 2 do artigo 9.o A propostadelineada no livro verde consiste em suprimir aobrigação de demonstrar que uma operação con-duzirá ao risco de ser criada ou reforçada umaposição dominante num mercado específico doEstado-Membro. Em vez disso, bastará que oEstado-Membro demonstre que a operação afec-tará a concorrência nesse mercado específico.Além disso, prevê-se que o Estado-Membro dei-xará de estar sujeito à obrigação de comprovarque o mercado em causa constitui uma partesubstancial do mercado comum.

3.2. Questões materiais

276. Dado que as práticas das empresas têmvindo a evoluir desde a entrada em vigor doRegulamento das Concentrações, justifica-seexaminar se o conceito de operação de concentra-ção deve ser actualizado no intuito de ter esta evo-lução devidamente em conta.

277. O conceito de concentração engloba a aqui-sição, por uma ou mais empresas, do controlojurídico ou de facto de uma ou mais empresas,incluindo a criação de empresas comuns. As ope-rações que envolvem a aquisição de participaçõesminoritárias que não dão origem a qualquer poderde controlo não são, por conseguinte, abrangidaspelo referido regulamento. De igual forma, tam-

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bém não abrange as alianças estratégicas. Taisalianças assumem normalmente a forma de acor-dos contratuais de cooperação, mas implicammuitas vezes um importante elemento estruturalmediante o qual a gestão das actividades das par-tes passa a estar interligada. Há vários exemplosdeste tipo de acordos nos sectores das compa-nhias aéreas e das telecomunicações. As aliançasestratégicas são actualmente examinadas aoabrigo dos artigos 81.o e 82.o do Tratado. O livroverde descreve as dificuldades inerentes à defi-nição de uma demarcação com suficiente segu-rança jurídica, concluindo que se afigura que osartigos 81.o e 82.o continuam a ser o instrumentomais adequado para examinar as referidas opera-ções. Por conseguinte, não é proposta qualqueralteração no que se refere a este aspecto.

278. O livro verde propõe algumas alterações àsactuais disposições relativas a operações múlti-plas. As operações múltiplas são operações jurí-dicas distintas que, por diversas razões, estãointer-relacionadas mas que, quando analisadas deforma separada, poderão não atingir os limiaresem matéria de volume de negócios estabelecidosno Regulamento das Concentrações. Coloca-se aquestão de saber se estas operações devem serconsideradas uma única operação de concentra-ção, caso em que preencheriam os limiares emmatéria de volume de negócios estabelecidos noregulamento, ficando assim sujeitos à jurisdiçãoda Comissão. O livro verde propõe alterar as dis-posições actuais no que diz respeito às operaçõesmúltiplas no intuito de assegurar uma aplicaçãomais coerente e eficaz do sistema de controlo dasoperações de concentração.

279. O principal critério material para a análisedas operações de concentração ao abrigo doRegulamento das Concentrações é o da posiçãodominante. O livro verde lança um debate sobre orespectivo mérito, enquanto critério materialdefinido no Regulamento das Concentrações, emcomparação com o critério da «diminuição signi-ficativa da concorrência» que é utilizado nalgu-mas outras jurisdições, como os EUA, o Canadá ea Austrália. O livro verde incita a um debate sobreas vantagens e inconvenientes dos dois critérios,bem como sobre o papel adequado a atribuir àsconsiderações em matéria de eficiência na análisede uma concentração. É de salientar, contudo,que não se prevê que sejam extraídas quaisquerconclusões concretas sobre esta questão no prazofixado para o actual processo de revisão do Regu-lamento das Concentrações.

3.3. Questões processuais

280. Um dos objectivos do livro verde consisteigualmente em lançar um debate quanto aoseventuais meios para assegurar uma maior sim-plificação processual no que se refere aos casosque não suscitam quaisquer preocupações doponto de vista da concorrência. Para além de umadiscussão geral sobre tais medidas, é também rea-lizada uma análise específica quanto ao âmbitodas alterações relativas a determinadas operaçõesno domínio do capital de risco.

281. Por último, a proposta processual maisimportante no livro verde incide sobre a adapta-ção do calendário para a apresentação e análisedos compromissos na primeira e segunda fases deinvestigação da Comissão. Propõe-se a introdu-ção de uma disposição de suspensão, aplicávelmediante pedido das partes, no intuito de conferirmais tempo para que todas as partes interessadasanalisem os compromissos propostos pelas partesna operação.

3.4. Grupo de trabalho com a participação das autoridades de concorrência nacionais

282. Na elaboração do livro verde relativo à revi-são do Regulamento das Concentrações, adoptadoem 11 de Dezembro de 2001, a Comissão soli-citou a opinião de um vasto leque de interessa-dos afectados pelo controlo das operações deconcentração (empresas, Estados-Membros, etc.).

283. Para além de uma série de reuniões infor-mais com diversos representantes das empresas, aComissão presidiu a cinco sessões de um grupode trabalho composto por representantes dosministérios competentes e/ou autoridades de con-corrência dos quinze Estados-Membros. As dis-cussões tiveram lugar nas instalações da DGConcorrência e abrangeram, nomeadamente,questões de jurisdição, os procedimentos emmatéria de apresentação de compromissos, bemcomo questões materiais (o critério da concorrên-cia) e processuais. Os Estados-Membros tiveramigualmente oportunidade de se pronunciaremsobre o livro verde na sua globalidade, ainda nasua fase de projecto.

284. A Comissão tenciona prosseguir as discus-sões sobre a eventual reforma do Regulamentodas Concentrações da mesma forma exaustiva eaberta, convidando todos os interessados a apre-sentarem as suas observações construtivas emresposta ao livro verde.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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4. Evolução na aplicação do conceito da empresa insolvente

285. A Comissão invocou o conceito de «empresainsolvente» no âmbito da sua decisão de autorizara aquisição projectada pela BASF das duas filiaisbelgas da Sisas SPA (Pantochim and Euro-diol) (1), que eram objecto de um processo defalência ao abrigo do direito belga.

286. Antes do ano 2000, a Comissão apenastinha baseado uma única decisão de autorização

neste conceito de «empresa insolvente» (porvezes denominado operação de concentração deemergência). Tal sucedeu no âmbito do processoKali+Salz (2), em que a Comissão definiu três cri-térios para a aplicação do conceito, a saber: a) aempresa a adquirir teria rapidamente desapare-cido do mercado se não fosse adquirida por outraempresa; b) não havia outro adquirente alterna-tivo menos prejudicial para a concorrência; e c) aempresa adquirente obteria a quota de mercadoda empresa adquirida se esta última desapare-

Caixa 7: Restrições acessórias — Adaptação da política da Comissão

A Comissão Europeia adoptou uma Comunicação sobre as restrições directamente relacionadas com asconcentrações e necessárias para o efeito (as denominadas «restrições acessórias») (1), que substitui umaComunicação anterior de 1990. As restrições acessórias são acordos contratuais directamente relacio-nados com a operação e que são necessários para o efeito, sendo frequentemente celebrados pelasempresas no contexto das operações de concentração. Os exemplos mais correntes de tais «restriçõesacessórias» são as cláusulas de não concorrência, os acordos em matéria de licenças ou os acordos decompra ou de fornecimento.

A nova abordagem anuncia uma alteração política de fundo no domínio do controlo das operações deconcentração. A Comissão deixará de analisar as «restrições acessórias» acordadas pelas partes no âmbitodas suas decisões em matéria de concentrações, pondo assim termo a uma prática que remonta a onzeanos. Ao abrigo da política anterior, tais cláusulas beneficiavam automaticamente dos efeitos da decisãode autorização se a Comissão concluísse que estavam directamente relacionadas com a operação, sendonecessárias para o efeito. Em contrapartida, na fase actual, as empresas e respectivos juristas deverãoexaminar se tais restrições podem ser abrangidas pela decisão relativa à concentração, por uma isençãopor categoria relevante ou pelo âmbito de aplicação do artigo 81.o A comunicação fornece orientações aosmeios jurídicos e empresariais, com base na anterior prática e experiência adquiridas pela Comissão nestedomínio. Coaduna-se igualmente com o processo de modernização em curso da política da concorrênciada União Europeia.

Além disso, a nova política é consentânea com o procedimento simplificado que tem vindo a ser aplicadopela Comissão a determinadas categorias de concentrações desde Setembro de 2000. Com efeito, noscasos que são objecto de um procedimento simplificado, a Comissão deixou já de examinar as restriçõesacessórias.

É de salientar que a Comissão nunca esteve sujeita a uma obrigação jurídica de examinar e abordarformalmente as «restrições acessórias» nas suas decisões de aplicação do Regulamento das Concentra-ções. Quaisquer observações formuladas a este respeito nas anteriores decisões neste domínio assumiramuma natureza puramente declarativa, não produzindo qualquer efeito vinculativo do ponto de vista jurí-dico sobre as partes ou os tribunais nacionais.

As cláusulas que não podem ser consideradas «acessórias» não são ilegais, per se, apenas não são auto-maticamente abrangidas por uma decisão da Comissão relativa a uma operação de concentração. Nãoobstante, podem ser justificadas nos termos do artigo 81.o do Tratado ou ser abrangidas pelo âmbito deaplicação de um regulamento de isenção por categoria.

(1) JO C 188 de 4.7.2001, p. 5.

¥1∂ Ver COMP/M.2314 — BASF/Eurodiol/Pantochim, de 11.7.2001.

¥2∂ Decisão 94/449/CEE da Comissão no processo IV/M.308 —Kali+Salz/MDK/Treuhand, JO L 186 de 21.7.1994, p. 38.

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cesse do mercado. Esta abordagem foi confir-mada, em grande medida, pelo Tribunal de Jus-tiça no acórdão subsequente por ele proferido (1).

287. Somente o terceiro critério não teria sidopreenchido no caso BASF dado que, contraria-mente ao caso Kali+Salz, em que se tratava deum duopólio que procedia a uma fusão porforma a tornar-se um monopólio, existiamoutros operadores nos mercados afectados pelareferida operação, por exemplo a Lyondell Che-mical e a ISP. Atendendo à existência de outrosfornecedores, não teria sido razoável concluirque o desaparecimento da Eurodiol teria condu-zido à transferência de toda a sua quota de mer-cado para a BASF.

288. A Comissão comparou, contudo, a situaçãode mercado em que a BASF ficaria com a propri-edade dos activos com a retirada forçosa dos acti-vos do mercado, tendo concluído que tal teriaconduzido directamente a restrições de capaci-dade que não seriam compensadas a curto prazopelos concorrentes, num mercado que se caracte-riza já por importantes condicionalismos emmatéria de capacidade. Sem a operação deconcentração, as condições de mercado seriamassim significativamente piores para os consumi-dores. Em todo o caso, os parâmetros económicosdo processo não apontavam para a possibilidadede a BASF estar em condições de impor aumen-tos significativos dos preços após a concentração.Atendendo às circunstâncias específicas e excep-cionais do caso, a Comissão desenvolveu assim,de forma prudente, os critérios muito rigorososde aplicação do conceito de «empresa insol-vente» estabelecidos no âmbito do processoKali+Salz.

¥1∂ Processos apensos C-68/94 e C-30/95 — República Fran-cesa/Comissão e SCPA/Comissão, [1998] Colect. I-1375, nomea-damente pontos 112-116.

Caixa 8: Schneider/Legrand (1)

Na sequência de uma investigação aprofundada, a Comissão proibiu em Outubro de 2001 uma operaçãode concentração entre a Schneider Electric e a Legrand, os dois principais fabricantes franceses de equi-pamento eléctrico. A concentração enfraqueceria consideravelmente o bom funcionamento do mercadoem diversos países, nomeadamente em França, em que a rivalidade entre as duas empresas tem sido até àdata a principal força-motriz da concorrência.

Os efeitos desta operação sobre a concorrência diziam sobretudo respeito aos equipamentos eléctricos debaixa tensão, isto é, o conjunto dos sistemas utilizados para a distribuição de electricidade e o controlo decircuitos eléctricos a nível de habitações, escritórios ou fábricas. Estes equipamentos abrangem uma vastagama de produtos, desde os quadros de distribuição eléctrica até às tomadas e interruptores, passandopelos suportes de cabos.

Verificavam-se sobreposições substanciais entre as actividades da Schneider e da Legrand nos mercadosdos quadros eléctricos (quadros de distribuição secundária e terminais, bem como das suas componentes,em que a quota de mercado agregada oscilaria entre 40% e 70%, consoante os países), aparelhos eléc-tricos (em especial as tomadas e os interruptores e o material de fixação associado, com uma quota agre-gada de 40% a 90%) e certos produtos de utilização industrial (actuadores industriais e transformadoresde baixa tensão) ou destinados a aplicações mais específicas (por exemplo, iluminação de segurança).

Em França, esta operação levantava problemas particularmente graves relativamente à quase totalidade dosprodutos em causa e daria origem, na maior parte dos casos, a um reforço de posição dominante. ASchneider e a Legrand são, de longe, os dois principais operadores no mercado francês e o inquérito daComissão demonstrou claramente que seria ilusório aguardar um desenvolvimento significativo da activi-dade dos concorrentes estrangeiros a curto e a médio prazos. Por outro lado, teriam sido igualmente criadasposições dominantes nos mercados da Dinamarca, Espanha, Grécia, Itália, Portugal e Reino Unido.

Numa tentativa de solucionar estes problemas de concorrência, a Schneider apresentou à Comissão umasérie de compromissos em 14 de Setembro de 2001, data-limite para a sua apresentação. No entanto,

(1) COMP/M.2283 de 10.10.2001.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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5. Soluções

289. Este ano pautou-se pela consolidação e evo-lução da política e prática da Comissão no que serefere aos compromissos no âmbito das opera-ções de concentração. A Comunicação da Comis-são sobre as soluções passíveis de serem acei-tes (1) foi adoptada em Dezembro de 2000 (emseguida denominada «Comunicação sobre assoluções»), fornecendo orientações sobre oscompromissos, bem como os tipos e a forma dassoluções aceitáveis para resolver os problemas deconcorrência.

290. O objectivo prosseguido pela Comissão nosentido de reforçar a coerência e as melhores prá-ticas a nível do tratamento dos compromissos foisignificativamente consolidado pela decisão deinstituir, em Abril de 2001, no âmbito da taskforce Concentrações, uma unidade responsávelpelo acompanhamento da execução dos compro-missos, que emite pareceres sobre a possibilidadede aceitar e implementar os compromissos pro-postos no âmbito das operações de concentração(«unidade de execução»). Esta unidade desempe-nha diversas funções, mas no dia-a-dia o seupapel mais importante consiste em centralizar osaber-fazer necessário a nível interno sobre asquestões específicas suscitadas pelos casos deconcentrações que requerem soluções. Os mem-bros da unidade responsável pelo acompanha-mento da execução participam igualmente nasequipas de relatores que são responsáveis pela

análise dos processos de concentração em quepodem ser exigidos ou somente debatidos com-promissos, na fase mais precoce possível. Nestasinstâncias, o seu papel consiste em garantir queos princípios gerais delineados na comunicaçãosobre as soluções sejam aplicados com a maiorcoerência possível, atendendo simultaneamenteaos requisitos específicos de cada caso.

291. A unidade responsável pelo acompanha-mento da execução pretende igualmente desen-volver orientações quanto às melhores práticas,baseando-se na experiência adquirida no âmbitode processos anteriores, por forma a identificar osaspectos que têm funcionado bem na prática eaqueles que apresentam deficiências.

292. Um exemplo quanto à maior clareza indu-zida pela adopção da comunicação sobre assoluções consiste no facto de as decisões estabele-cerem actualmente uma clara distinção entre osaspectos dos compromissos que constituem condi-ções e os que são obrigações (2). Os artigos 2.o

e 3.o do dispositivo da decisão no âmbito do pro-cesso The Post Office/TPG/SPPL (3) constituemum exemplo ilustrativo desta distinção. As conse-quências jurídicas não são idênticas em caso denão observância das condições e em caso deincumprimento das obrigações. Mediante o esta-belecimento de uma clara distinção entre ascondições e as obrigações no âmbito das decisõesde autorização, sob reserva de compromissos, aComissão pretende garantir que não subsistamquaisquer dúvidas quanto às implicações da não

tornou-se evidente, nomeadamente na sequência do inquérito de mercado realizado pela Comissão, queestes compromissos iniciais não permitiriam restabelecer uma concorrência efectiva.

Findo o prazo, a Comissão não podia aceitar compromissos de «última hora», salvo se estes demons-trassem imediata e indubitavelmente que assegurariam o restabelecimento das condições de concorrência.A Schneider apresentou novos compromissos em 24 de Setembro, mas estes deixavam subsistir sériasdúvidas quanto à capacidade concorrencial das entidades que eram objecto de uma proposta de cessão,nomeadamente no que se refere ao acesso à distribuição em França e aos riscos económicos associados àseparação efectiva destas entidades do resto do grupo de que faziam parte. Além disso, as propostas daSchneider não apresentavam qualquer solução efectiva para um certo número de mercados geográficose/ou do produto em que tinham sido identificados problemas de concorrência. Como tal, a Comissão nãodispunha de outra alternativa se não proibir a operação.

Em 13 de Dezembro de 2001, a Schneider recorreu da decisão da Comissão para o Tribunal de PrimeiraInstância.

¥1∂ Comunicação da Comissão sobre as soluções passíveis de seremaceites nos termos do Regulamento (CE) n.o 4064/89 do Conselhoe do Regulamento (CE) n.o 447/98, JO C 68 de 2.3.2001, p. 3-11.

¥2∂ Ver ponto 12 da secção II da comunicação.¥3∂ COMP/M.1915 de 13.3.2001.

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observância das diferentes partes dos compro-missos.

293. Um outro exemplo do impacto da comuni-cação sobre as soluções e da unidade responsávelpelo acompanhamento da execução consiste nofacto de terem sido designados mandatários emtodos os casos que envolveram autorizações con-dicionais em 2001, salvo um (1). Além disso, osmandatos que definem o papel e os poderes des-tes mandatários também foram evoluindo deforma significativa ao longo do ano. No primeirosemestre de 2002, a Comissão tenciona lançaruma consulta sobre um texto normalizado rela-tivo aos compromissos em matéria de alienação,bem como um modelo do mandato aplicável aomandatário. A introdução destes parâmetros dereferência destina-se a auxiliar as partes numaoperação de concentração notificada e a Comis-são aquando da elaboração e da negociação desoluções. Isto tem por finalidade assegurar a coe-rência da abordagem adoptada nos diferentescasos, mantendo simultaneamente um certo graude flexibilidade a fim de adaptar os compromis-sos por forma a ter em conta as circunstânciasespecíficas dos casos individuais.

5.1. Soluções — Evolução em termos estatísticos

294. Durante o ano em curso, foram tomadas13 decisões sob reserva de compromissos, apósuma investigação de primeira fase (2). Alémdisso, foram autorizadas 10 operações sob reservade compromissos, na sequência de investigaçõesde segunda fase (3). Em dois destes processos[Metso/Svedala (4) e Bombadier/Adtranz (5)] foram

igualmente propostos compromissos na primeirafase, mas considerou-se que estes não dissipavamas sérias dúvidas da Comissão, pelo que foi dadoinício a uma investigação de segunda fase. Outrascinco operações foram autorizadas incondicio-nalmente na sequência de uma investigação desegunda fase (6). É de referir que as partes no pro-cesso MAN/Auwärter tinham apresentado com-promissos na primeira fase, mas que estes se torna-ram redundantes uma vez que a Comissão decidiu,no termo da sua investigação aprofundada, que nãoexistiam motivos que justificassem uma conclusãonegativa sobre os efeitos da operação.

295. Em relação às cinco operações que foramproibidas em 2001, em dois casos (SCA/MetsäTissue (7) e CVC/Lenzing (8)) as partes apresenta-ram na segunda fase os mesmos compromissosque tinham sido considerados insuficientes naprimeira fase; noutros dois casos (Schnei-der/Legrand (9) e Tetra Laval/Sidel (10)) forampropostas soluções diferentes em cada uma dasduas fases e num caso (GE/Honeywell (11)) nãoforam propostos quaisquer compromissos na pri-meira fase. Estes últimos três casos são debatidosmais à frente no presente capítulo.

5.2. Natureza das soluções aceites em 2001

296. Um princípio fundamental delineado naComunicação sobre as soluções prende-se com ofacto de, quando surgem preocupações do pontode vista da concorrência, «a forma mais eficaz derestabelecer a concorrência efectiva, para além daproibição da operação, consiste na criação dascondições para o aparecimento de um novo con-corrente ou para o reforço dos concorrentes exis-tentes através de uma alienação» (12). Em confor-midade com este princípio, a grande maioria dosproblemas de concorrência suscitados pelasconcentrações no decurso de 2001 foi dissipadaatravés de alienações. Por exemplo, em relação às13 operações que foram autorizadas mediantecondições na primeira fase, sete envolveram a alie-

¥1∂ COMP/M.2431 — Allianz/Dresdner de 19.7.2001.¥2∂ COMP/M.2602 — Gerling/NCM, 11.12.2001; COMP/JV.56 —

Hutchison/ECT, 29.11.2001; COMP/M.2567 — Nordbanken/Pos-tgirot, 8.11.2001; COMP/M.2574 — Pirelli/Edizione/Olivetti/Tele-com Italia, 20.9.2001; COMP/M.2337 — Nestlé/Ralston Purina,27.7.2001; COMP/M.2431 — Allianz/Dresdner, 19.7.2001;COMP/M.2300 — YLE/TDF/Digita/JV, 26.6.2001; COMP/M.2396— Industri Kapital/Perstorp (II), 11.5.2001; COMP/M.2268 —Pernod Ricard/Diageo/Seagram Spirits, 8.5.2001;COMP/M.2286 — Buhrmann/Samas Office Supplies, 11.4.2001;COMP/M.2277 — Degussa/Laporte, 12.3.2001; COMP/JV.54 —Smith & Nephew/Beiersdorf/JV, 30.1.2001; COMP/M.2041 —United Airlines/US Airways, 12.1.2001.

¥3∂ COMP/M.2389 — Shell/DEA, 20.12.2001; COMP/M.2530 —Südzucker/Saint Louis, 20.12.2001; COMP/M.2533 — BP/E.ON,20.12.2001; COMP/M.2420 — Mitsui/CVRD/Caemi, 30.10.2001;COMP/M.2434 — Grupo Villar Mir/ENBW/Hidroelectrica DelCantabrico, 26.9.2001; COMP/JV.55 — Hutchison/RCPM/ECT,3.7.2001; COMP/M.2139 — Bombadier/Adtranz, 3.4.2001;COMP/M.1915 — The Post Office/TPG/SPPL, 13.3.2001;COMP/M.1853 — EDF/ENBW, 7.2.2001; COMP/M.2033 —Metso/Svedala, 24.1.2001.

¥4∂ COMP/M.2033 de 24.1.2001.¥5∂ COMP/2139 de 3.4.2001.

¥6∂ COMP/M.2201 — MAN/Auwärter, 20.6.2001; COMP/M.2314 –BASF/Pantochim/Eurodiol, 11.7.2001; COMP/M.2333 — DeBeers/LVMH,25.7.2001; COMP/M.2498 — UPM-Kymmene/Haindl,21.11.2001; and COMP/M.2499 — Norske Skog/Parenco/Wal-sum, 21.11.2001.

¥7∂ COMP/2097 de 31.1.2001.¥8∂ COMP/M.2187 de 17.10.2001.¥9∂ COMP/M.2283 de 10.10.2001.¥10∂ COMP/M.2416 de 30.10.2001.¥11∂ COMP/M.2220 de 3.7.2001.¥12∂ Secção III.1, ponto 13.

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nação de uma ou várias actividades (1) e outraenvolveu a alienação de faixas horárias [UnitedAirlines/US Airways (2)]. Nos procedimentos desegunda fase, a alienação de uma ou várias activi-dades foi igualmente o tipo de solução aceite commaior frequência. Com efeito, nos processosMetso/Svedala (3) e The Post Office/TPG/SPPL (4),as preocupações do ponto de vista da concorrên-cia foram plenamente dissipadas pelas alienaçõespropostas pelas partes. Por último, no processoBombadier/Adtranz (5), as partes compromete-ram-se a alienar as suas actividades Regioshuttlee Variotram através de licenças exclusivas, nãopassíveis de serem transferidas.

297. Em quatro procedimentos de primeira fasee noutros quatro procedimentos de segunda fase,as partes comprometeram-se a alienar participa-ções por elas detidas noutras empresas a fim depôr termo ao controlo ou à influência que exer-ciam sobre estas últimas, eliminando assim osproblemas de concorrência daí resultantes (6).Por exemplo, no caso Allianz/Dresdner, as preo-cupações da Comissão quanto ao provávelcontrolo de facto da Münchener Rück, umimportante concorrente, foram dissipadas pelocompromisso apresentado pelas partes de reduzi-rem a sua participação nessa empresa para 20,5%até ao final de 2003 e não exercerem mais do queessa proporção dos seus direitos de voto nasassembleias gerais anuais da Münchener Rück.De igual forma, no processo Nordbanken/Postgi-rot, o grupo bancário sueco Nordea, que ficariacom o controlo exclusivo de um dos dois sistemasde pagamentos principais, comprometeu-se areduzir para 10% a sua participação no outro, aBankgirot, e a renunciar numa proporção idênticaaos seus direitos de accionista.

298. A maioria das soluções em matéria de alie-nação adoptadas em 2001 envolveram um com-promisso no sentido de concluir a alienação numdeterminado prazo a contar da data de adopção dadecisão. Dois casos envolveram uma soluçãomais imediata (7). No processo The PostOffice/TPG/SPPL (8), as partes compromete-ram-se a não executar a sua operação até serencontrado um adquirente para a actividade a ali-enar, que devia ser previamente aprovado pelaComissão, uma vez que esta última entendia queo êxito da solução dependia, em grande medida,das características do adquirente (9).

299. O processo Nestlé/Ralston Purina (10)constitui outro exemplo em 2001 de um caso emque a Comissão aprovou um adquirente esco-lhido, antes da realização da operação. Pela pri-meira vez, esta disposição foi associada a umasolução alternativa que é denominada, em termosinformais, como uma solução de «compradorfirme» (11). A possibilidade de aceitar este tipo desoluções foi prevista na Comunicação sobre estamatéria (12) e constitui um tipo de compromissoque a Comissão prevê ser mais utilizado nofuturo. Neste processo, a primeira solução alter-nativa consistia na concessão de uma licença rela-tiva à marca Friskies da Nestlé, em Espanha. Seesta alternativa de concessão de uma licença nãofosse executada até uma data fixa (13) ou até àdata de realização da operação notificada, as par-tes deixariam de dispor da possibilidade de cederas marcas da Nestlé sob licença, devendo recorrerà alternativa do comprador firme. Tal consistia naalienação de uma participação de 50% naempresa comum espanhola, detida em conjuntocom a Agrolimen (Gallina Blanca Purina JV),que representa uma solução mais atraente, dadoque consiste num pacote mais importante e maisfácil de alienar, comparativamente à concessãode licenças relativas à marca Friskies da Nestlé.

300. Muito embora a maioria das soluções acei-tes pela Comissão seja consentânea com o princí-pio de que os compromissos simples e estruturaisconstituem soluções ideais, a Comissão tem

¥1∂ COMP/M.2602 — Gerling/NCM, 11.12.2001; COMP/M.2574 —Pirelli/Edizione/Olivetti/Telecom Italia, 20.9.2001; COMP/M.2300— YLE/TDF/Digita/JV, 26.6.2001; COMP/M.2396 — IndustriKapital/Perstorp (II), 11.5.2001; COMP/M.2286 — Buhr-mann/Samas Office Supplies, 11.4.2001; COMP/M.2277 —Degussa/Laporte, 12.3.2001; COMP/JV.54 — Smith &Nephew/Beiersdorf/JV, 30.1.2001.

¥2∂ O acordo de fusão entre estas duas empresas foi subsequente-mente retirado em consequência de objecções formuladas aoacordo nos Estados Unidos pelas respectivas autoridades de con-corrência.

¥3∂ COMP/M.2033 de 24.1.2001.¥4∂ COMP/M.1915 de 13.3.2001.¥5∂ COMP/M.2139 de 3.4.2001.¥6∂ Fase I — COMP/JV.56 — Hutchison/ECT, 29.11.2001;

COMP/M.2567 — Nordbanken/Postgirot, 8.11.2001; COMP/M.2574— Pirelli/Edizione/Olivetti/Telecom Italia, 20.9.2001; eCOMP/M.2431 — Allianz/Dresdner, 19.7.2001. Fase II —COMP/M.2530 — Südzucker/Saint Louis, 20.12.2001;COMP/M.2533 — BP/E.ON, 20.12.2001; COMP/M.2420 — Mit-sui/CVRD/Caemi, 30.10.2001; e COMP/M.1853 — EDF/ENBW,7.2.2001.

¥7∂ Ver secção III.1, ponto 20 da comunicação.¥8∂ COMP/M.1915 de 13.3.2001.¥9∂ Ver igualmente mais à frente (secção 5.3) a discussão sobre a

implementação das soluções.¥10∂ COMP/M.2337 de 27.7.2001.¥11∂ Este tipo de disposição foi já adoptado em casos anteriores, por

exemplo, IV/M.1453 — AXA/GRE de 08.04.1999 e COMP/M.1813— Industri Kapital (Nordkem)/Dyno de 12.7.2000.

¥12∂ Pontos 22 e 23.¥13∂ A data exacta é considerada como uma informação confidencial

do ponto de vista comercial.

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aceite compromissos bastante mais complexosdo que uma alienação directa. Por exemplo, nocaso EdF/EnBW (1), operação que foi autorizadaapós uma investigação aprofundada, o conjuntode soluções incluía três elementos, dois dos quaisrelativamente correntes (2) e um terceiro inova-dor. Este terceiro vector dos compromissos pro-postos pela EdF pretendia dissipar as preocupa-ções do ponto de vista da concorrência quetinham surgido em relação aos denominados cli-entes «elegíveis» em França, isto é, aqueles cujoabastecimento de electricidade está aberto à con-corrência. Para dirimir estas preocupações, a EdFcomprometeu-se a facultar aos seus concorrenteso acesso às capacidades de produção situadas emFrança sob a forma de centrais eléctricas virtuais(5 000 MW) e acordos back-to-back no âmbito deacordos de compra de energia de co-produção emvigor, num valor máximo de 1 000 MW. Nestecontexto, é de ter em conta que uma alienação dascentrais eléctricas não podia ser considerada umasolução adequada, por razões económicas (seriamuito pouco provável que os novos operadoresassumissem o risco de adquirir uma central destetipo) e por razões jurídicas, nomeadamente nocaso das centrais nucleares. Nos termos dos com-promissos, os contratos relativos às centrais eléc-tricas virtuais seriam adjudicados através de umconcurso público não discriminatório, em quepoderiam participar as centrais de produção e osoperadores comerciais de electricidade. Prevê-seque estas modalidades de acesso à capacidade deprodução de electricidade vigorem por um prazode cinco anos, só podendo ser rescindidas medi-ante um pedido fundamentado da EdF. Calcula-seque findo este prazo o mercado de electricidadeem França se terá desenvolvido de forma sufici-ente, existindo outras fontes de abastecimento.

301. As ilações que podem ser extraídas desteexemplo são porventura limitadas devido àscircunstâncias muito específicas do casoEdF/EnBW. Não obstante, este caso demonstra adisponibilidade da Comissão no sentido de acei-tar soluções originais sempre que as circunstân-

cias o exijam e quando disponha de tempo sufici-ente para analisar a eficácia das propostas emcausa. Esta análise é normalmente efectuada noquadro do procedimento de segunda fase.

302. Existe uma diferença notável no tipo desoluções que a Comissão aceitou nos procedi-mentos de primeira fase em 2001, comparativa-mente a 2000. Esta diferença prende-se com ofacto de em 2001 a Comissão não ter aceite quais-quer soluções no âmbito do procedimento de pri-meira fase que envolviam compromissos destina-dos a facultar aos concorrentes ou aos clientes oacesso às redes de distribuição ou a patentesvitais. Em 2000, este tipo de compromisso foiaceite no âmbito de seis processos (3). No quadrodo processo Vivendi/Canal+/Seagram, a Comis-são aceitou um conjunto de compromissos queincluíam o acesso dos concorrentes aos filmes e àmúsica em linha da Universal, sem qualquer dis-criminação a favor das sucursais desta última,designadamente a Canal+ e a Vizzavi. Outrosexemplos ilustrativos foram os processosBASF/Shell/Project Nicole (licença em matériade patentes), Vodafone Airtouch/Mannesmann(acesso aos serviços de itinerância e aos serviçosgrossistas) e BSkyB/Kirch Pay TV (acesso ao sis-tema de acesso condicional da Kirch e aos seusserviços de televisão por assinatura).

303. Apesar de a Comissão não ter aceite quais-quer soluções destinadas a assegurar o acesso àsredes de distribuição ou a patentes vitais noâmbito dos procedimentos de primeira fase em2001, este tipo de soluções foi aceite em cincoprocessos no quadro dos procedimentos desegunda fase (4). O facto de estas soluções teremsido aceites no âmbito de procedimentos desegunda fase, deixando de o ser na primeira fase,pode ser interpretado como indício de uma maiorprudência por parte da Comissão na sequência daadopção da comunicação sobre as soluções. Tal éigualmente reflectido pelo facto de o número decasos que conduziram a soluções na primeira fasedo procedimento ter diminuído este ano em rela-ção a 2000 (13, em comparação com 27 decisões

¥1∂ COMP/M.1853 de 7.2.2001.¥2∂ Em primeiro lugar, a EdF comprometeu-se a renunciar ao exercí-

cio dos seus direitos de voto na CNR, um produtor de electrici-dade que opera em França, e a retirar o seu representante doConselho de Administração da CNR; a EdF deixará igualmentede estar associada à política comercial e à estratégia de mercadoda CNR. Este compromisso assegurará que a CNR possa tor-nar-se um operador concorrencial activo no sector da electrici-dade em França. Em segundo lugar, a EnBW alienará a suaparticipação de co-controlo de 24% na WATT, o que restabeleceráo status quo ante na Suíça.

¥3∂ COMP/M.2050 — Vivendi/Canal+/Seagram de 13.10.2000;COMP/JV.48 — Vodafone/Vivendi/Canal+ de 20.7.2000;COMP/M.1795 — Vodafone Airtouch/Mannesmann de12.4.2000; COMP/M.1751 — Shell/BASF/JV — Project Nicolede 29.3.2000; COMP/M.1838 — BT/ESAT de 27.3.2000;COMP/JV.37 — BSkyB/Kirch Pay TV de 21.3.2000.

¥4∂ COMP/M.2389 — Shell/DE de 20.12.2001; COMP/M.2530 —Südzucker/Saint Louis de 20.12.2001; COMP/M.2434 — GrupoVillar Mir/ENBW/Hidroelectrica Del Cantabrico de 26.9.2001;COMP/JV.55 — Hutchison/RCPM/ECT de 3.7.2001; eCOMP/M.1853 — EDF/ENBW de 7.2.2001.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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deste tipo em 2000), enquanto simultaneamente aComissão iniciou mais inquéritos de segunda faseem 2001 do que nunca (22 em 2001 comparativa-mente a 12 em 1998, 19 em 1999 e 20 em 2000).

5.3. Implementação das soluções

304. Os aspectos supramencionados centra-ram-se nas novas soluções que têm vindo a seraceites pela Comissão ao longo do ano. Noentanto, para apresentar uma panorâmica globalda situação neste domínio, é igualmente impor-tante examinar a implementação das soluçõesanteriormente aceites pela Comissão, dado queuma solução só dissipará plenamente as preo-cupações suscitadas do ponto de vista da concor-rência na condição de ser devida e correctamenteaplicada.

305. Várias das empresas envolvidas nas opera-ções que foram autorizadas mediante condiçõesno decurso de 2001 registaram já progressos con-sideráveis no sentido da plena implementaçãodos seus compromissos. Tais progressos são par-ticularmente notáveis nos casos em que os com-promissos propostos consistiam na realização dealienações.

306. Por exemplo, foi encontrado um adquirentede forma extremamente rápida no âmbito do pro-cesso The Post Office/TPG/SPPL (1), em que aspartes assumiram um compromisso quanto àimplementação de uma solução previamente àrealização da operação. A decisão foi tomada em13 de Março de 2001 e, decorridos menos de trêsmeses, foi apresentado à Comissão um acordo decompra e venda celebrado com a Swiss PostInternational, tendo em vista a respectiva aprova-ção, a qual foi concedida em 14 de Junho de2001. A alienação foi subsequentemente conclu-ída (2) e, em conformidade com os compromissosassumidos neste processo, a The Post Office, aTPG e a SPPL puderam subsequentemente exe-cutar a sua operação notificada.

307. No processo Metso/Svedala (3), a Comissãoadoptou uma decisão de autorização condicionalem 24 de Janeiro de 2001 e aprovou a empresasueca Sandvik AB enquanto adquirente dos acti-

vos a serem alienados em Setembro de 2001.Apesar da solução não ter sido proposta numprazo particularmente curto, tratou-se de um casointeressante, uma vez que envolveu a cooperaçãocom as autoridades de concorrência dos EstadosUnidos não só durante o período de investigaçãoda Comissão, como também durante o processode implementação das soluções, após a adopçãoda decisão pela Comissão. Esta cooperação con-tínua deveu-se ao facto de vigorar um calendáriodistinto nos Estados Unidos pelo que a investiga-ção da Federal Trade Commission prosseguiu atéOutubro de 2001, data em que autorizou a opera-ção. Nos Estados Unidos, a alienação à SandvikAB de diversas actividades no domínio da tritura-ção de pedra constituiu uma solução imediatapara a maioria dos problemas de concorrênciaidentificados.

308. Em 2001, registaram-se igualmente pro-gressos significativos em relação a muitassoluções que tinham sido decididas em 2000. Porexemplo, a alienação das instalações de polipro-pileno e das actividades neste domínio que as par-tes se tinham comprometido a efectuar no âmbitodo processo Shell/BASF/JV — Projet Nicole (4)foi concluída no primeiro semestre de 2001, talcomo as alienações nos mercados de polietilenoem relação aos quais tinham surgido preocupa-ções do ponto de vista da concorrência no âmbitodo processo Dow Chemical/Union Carbide (5).

309. Outro exemplo consistiu na alienaçãolevada a bom termo da carteira de marcas e acti-vidades que a Unilever se tinha comprometido aceder, no intuito de obter a devida autorizaçãorelativa ao seu projecto de aquisição da Bestfoodsem Setembro de 2000. As marcas a alienarincluíam a Bachelors, McDonnell’s, Oxo e Vesta(sopas) no Reino Unido e na Irlanda, a Royco,Heisse Tasse, Super Noodles, Aiki Noodles, Lie-big/LieCaixa, Oxo, Aardapel Anders, Rijke Sau-zen, Raguletto e Lesieur (sobretudo sopas,molhos e pratos de acompanhamento desidrata-dos) na Europa continental, a Casa de Mateus(compotas) em Portugal e a BlåBand, Touch ofTaste e Isomitta (caldos) nos países nórdicos.Esta alienação foi realizada de uma só vez àCampbell Soup Company no âmbito de umacordo que atingia ele próprio os limiares em ter-mos de dimensão comunitária, pelo que teve deser notificado à Comissão tendo em vista a res-¥1∂ COMP/M.1915 de 13.3.2001.

¥2∂ Tal como em quase todos os casos que envolvem uma alienação,a realização desta operação não corresponde à conclusão doscompromissos, dado que determinadas partes dos compromissosprendem-se com o comportamento do vendedor após a alienação.

¥3∂ COMP/M.2033 de 24.1.2001.¥4∂ COMP/M.1751 de 29.3.2000.¥5∂ COMP/M.1671 de 3.5.2000.

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pectiva autorização (1). A alienação notificada foisubsequentemente autorizada em Abril de 2001.

310. No entanto, nem sempre se registaram pro-gressos harmoniosos no que se refere a todos oscompromissos propostos à Comissão e que estive-ram na origem das suas decisões de autorização.

311. Por exemplo, em relação às soluções quetinham sido apresentadas pelas partes no âmbitodo processo TotalFina/Elf Aquitaine (2), a Comis-são rejeitou em Setembro de 2000 os primeirosadquirentes propostos pela TotalFina, uma vezque alguns não disporiam de qualquer incentivono sentido de concorrer efectivamente no mer-cado de vendas de gasolina nas auto-estradasfrancesas. Um dos adquirentes propostos, a saber,Le Mirabellier, recorreu subsequentemente destadecisão para o Tribunal de Primeira Instância(TPI). O TPI não proferiu ainda qualquer decisãofinal a este respeito, mas rejeitou contudo opedido de medidas cautelares apresentado pelaLe Mirabellier (3). Após a rejeição desta primeiraproposta de adquirentes para as referidas estaçõesde serviço, a TotalFina propôs um segundo grupode adquirentes que foi aceite pela Comissão emMaio de 2001.

312. Uma outra vertente das soluções aceites noâmbito do processo TotalFina/Elf Aquitaine (4)consistiu na alienação das actividades da ElfAntargaz no sector do gás de petróleo liquefeito(LPG). A referida alienação foi concluída em2001 (5) quando a Comissão autorizou a PAI,uma filial da BNP Paribas, e a empresanorte-americana UGI, a adquirirem estas activi-dades. A PAI e a UGI já tinham sido aprovadaspela Comissão no quadro dos referidos compro-missos. No entanto, os adquirentes deviam, emprimeiro lugar, persuadir a Comissão que talrepresentava uma solução duradoura e estruturalpara os problemas identificados no mercado devenda de LPG em França, dado que conjugavaum adquirente financeiro e uma empresanorte-americana especializada na distribuição evenda de electricidade, gás natural e LPG. Ascondições mediante as quais a Comissão autori-zou a fusão TotalFina/Elf Aquitaine foram játodas preenchidas na íntegra.

313. A Comissão teve igualmente conhecimentode casos em que o calendário apresentado pelaspartes para a observância do seus compromissosnão pôde ser respeitado devido ao comporta-mento de terceiros. Por exemplo, no processoCarrefour/Promodes (6), a Carrefour comprome-teu-se a alienar a sua participação na Cora numdeterminado prazo. Não obstante a determinaçãoda Carrefour, a realização desta alienação noperíodo fixado não foi possível. No entanto, emvez de anular a decisão, a Comissão decidiu pror-rogar o prazo, tendo a alienação sido subsequen-temente feita a um investidor financeiro. Dadoque a cessão da participação não pôde ser conclu-ída de forma atempada, tal salientou o papelimportante que os mandatários podem desempe-nhar em situações deste tipo, com vista a garantirque a empresa não seja afectada do ponto de vistaconcorrencial no período de transição quedecorre entre a execução da operação inicial e aalienação da participação. Esta experiência con-tribuiu de forma significativa para os trabalhos daComissão relativos à elaboração do mandato-tipoa ser aplicável aos mandatários.

314. De igual forma, dado que o caso Carre-four/Promodes envolveu eventualmente a aliena-ção a um investidor financeiro, tal obrigou aComissão a considerar cuidadosamente as condi-ções em que um investidor financeiro pode serconsiderado um adquirente aceitável. Muitoembora devam ser tomadas em consideração ascircunstâncias de cada caso específico na tomadade uma decisão quanto ao facto de um investidorfinanceiro ser ou não um adquirente satisfatório,alguns factores podem suscitar dificuldades. Porexemplo, é importante que o adquirente e o ven-dedor sejam independentes entre si, pelo que ovendedor não deve ter contraído quaisquerempréstimos significativos junto do adquirente,nem deve o adquirente ter beneficiado de quais-quer empréstimos significativos ou estar sujeito aquaisquer obrigações perante o vendedor. Alémdisso, a Comissão deve apreciar se o investidorfinanceiro dispõe do saber-fazer empresarialnecessário para desenvolver ou manter a empresacomo operador activo no mercado. Este aspecto éainda mais importante porque o adquirente passaa dispor de uma participação maioritária numaactividade alienada.

¥1∂ Ver COMP/M.2350 — Campbell/ECBB (Unilever) de 2.4.2001.¥2∂ COMP/M.1628 de 9.2.2000.¥3∂ Processo T-342/00, Petrolessence SA e Societé de Gestion de

Restauration Routiere (partes requerentes)/Comissão das Comu-nidades Europeias.

¥4∂ COMP/M.1628 de 9.2.2000.¥5∂ Ver COMP/M.2375 — PAI + UGI / Elf Antargaz de 21.3.2001. ¥6∂ COMP/M.1684 de 25.1.2000.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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5.4. Cooperação internacional em matéria de soluções

315. A importância da coordenação entre aComissão e as autoridades competentes nos Esta-dos Unidos e noutros países é debatida noutrasecção do presente relatório. No entanto, é impor-tante salientar que as discussões realizadas entrea Comissão e as outras autoridades não incidemapenas sobre questões do direito material emcausa, mas abrangem também as medidas neces-sárias para a implementação das soluções acorda-das. Em 2001, registaram-se vários casos em quese verificou uma coordenação deste tipo.

316. No processo Metso/Svedala (1), a ComissãoFederal do Comércio («FTC») dos Estados Uni-dos empreendeu uma investigação paralela que,devido aos diferentes condicionalismos tempo-rais a que estava sujeita, prosseguiu mesmo apóso termo do inquérito da Comissão. Neste caso, oscompromissos que tinham sido assumidos pelaspartes perante a Comissão dissiparam também,em grande medida, os problemas identificadosnos Estados Unidos.

6. Artigo 9.o — Remessas para os Estados-Membros: nova evolução

317. No contexto da revisão do Regulamento dasConcentrações, foi proposto alterar o mecanismode remessa previsto no artigo 9.o No entanto, apolítica da Comissão no que diz respeito à aplica-ção do artigo 9.o também evoluiu este ano,quando a Comissão remeteu para o Bundeskartel-lamt uma parte de duas operações, a saber, aBP/E.ON (2) e a Shell/DEA (3), ambas relativasa produtos petrolíferos. Simultaneamente, aComissão iniciou uma investigação aprofundadano que se refere às partes petroquímicas de ambasas operações devido às preocupações suscitadasno mercado de etileno. Deste modo, a análise dosector petroquímico foi dissociada da análise dosprodutos petrolíferos a jusante na Alemanha,sendo a análise desta última área remetida na suaglobalidade para o Bundeskartellamt.

318. Pela primeira vez, foi remetida para umaautoridade nacional a análise de um sector globalno âmbito de um Estado-Membro, apesar de a

autoridade não ter determinado que a operaçãoimplicava um risco de criação ou reforço de umaposição dominante em todos os mercados do sec-tor relevante (produtos petrolíferos a jusante) naAlemanha. Esta decisão foi tomada com base nofacto de a operação afectar diversos outros mer-cados de produtos petrolíferos que não eramenglobados pelo pedido (por exemplo, óleos debase, aditivos, vaselina e slack waxes) ou em rela-ção aos quais o Bundeskartellamt não detectara àprimeira vista quaisquer problemas de concor-rência em consequência da operação. Estes mer-cados estão intrinsecamente associados aos dosprodutos petrolíferos e lubrificantes especifica-mente referidos no pedido, uma vez que se inte-gram todos na cadeia de produtos que resultamdo processo de refinação, pelo que os problemasde acesso às refinarias e infra-estruturas supra-mencionados são igualmente relevantes nestesmercados. A segmentação destes mercados teriafragmentado indevidamente a análise da vertenterelativa aos produtos petrolíferos. No intuito deevitar essa fragmentação, a Comissão decidiuremeter toda esta parte da operação.

319. No âmbito do processo Govia/ConnexSouth Central (4), a Comissão considerou queestavam preenchidas as condições previstas non.o 2, alínea b), do artigo 9.o do Regulamento dasConcentrações. Para que estas condições fossemsatisfeitas, a Comissão devia decidir que o mer-cado afectado não constituía uma parte substan-cial do mercado comum. As autoridades britâni-cas apresentaram o seu pedido, alegando que aoperação afectava a concorrência em rotas ferro-viárias específicas, nomeadamente na zona Lon-dres-Gatwick-Brighton, em que criaria umasobreposição entre a South Central e a empresaferroviária pertencente às partes, a Thameslink.Foi a primeira vez que um processo foi remetidopara um Estado-Membro nos termos do n.o 2,alínea b), do artigo 9.o do Regulamento dasConcentrações.

320. Em dois processos abrangidos peloartigo 9.o, a Comissão remeteu os casos para asautoridades nacionais, tendo as respectivas deci-sões finais sido subsequentemente objecto derecurso para os tribunais nacionais. Nos termosdo Regulamento das Concentrações, as autorida-des nacionais devem apenas tomar as medidasestritamente necessárias para restabelecer a con-

¥1∂ COMP/M.2033 de 24.1.2001.¥2∂ COMP/M.2533 de 6.9.2001.¥3∂ COMP/M.2389 de 23.8.2001. ¥4∂ COMP/M.2446 de 20.7.2001.

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corrência nos mercados relevantes. No entanto,as acções dos Estados-Membros no âmbito dosprocessos remetidos podem ser impugnadas aoabrigo do direito nacional e comunitário. Esteano foram adoptadas acções deste tipo no âmbitode dois processos.

321. O primeiro caso foi a Interbrew/Bass (1),que foi remetido para o Reino Unido em 2000.Após uma investigação aprofundada realizadapela autoridade de concorrência britânica, oministro do Comércio e da Indústria decidiu,em 3 de Janeiro de 2001, impor uma solução queconsistia na alienação de todas as actividades daBass de fabrico de cerveja, o que teve por efeitoproibir a operação na prática. Em 2 de Fevereirode 2001, a Interbrew recorreu da decisão adop-tada, invocando que não se tratava de uma solu-ção razoável e proporcional e que se baseava emprocedimentos desleais. Em 23 de Maio, oSupremo Tribunal em Londres rejeitou as princi-pais alegações da Interbrew, mas sustentou que osprocedimentos da autoridade de concorrênciatinham sido desleais, uma vez que a Interbrewnão tinha beneficiado de qualquer oportunidadede dissipar os problemas críticos relevantes medi-ante a apreciação de uma solução alternativamenos grave. Após novas análises e consultas, asautoridades do Reino Unido decidiram que aInterbrew devia alienar a Bass Brewers ou a Car-ling Brewers a um adquirente a aprovar pelodirector-geral do Comércio, a fim de compensaros efeitos nefastos da concentração Inter-brew/Bass Brewers.

322. O segundo caso incidiu na questão do for-necimento de electricidade associada à operaçãoENEL/FT/Wind/Infostrada (2), que foi remetidopara a autoridade de concorrência italiana. Apósuma investigação aprofundada, esta autoridadeaprovou o projecto de concentração, sob reservade uma série de condições impostas à Enel. Estadecisão foi subsequentemente objecto de umrecurso por parte da ENEL (3) e da Codacons,tendo a associação italiana de defesa dos consu-midores igualmente recorrido da decisão adop-tada pela autoridade de concorrência. Num acór-dão sobre ambos os recursos apensos, publicadoem 14 de Novembro de 2001, o tribunal compe-tente (TAR) conclui que a ENEL não tinha uma

posição dominante no mercado de abastecimentode electricidade, tendo igualmente anulado adecisão adoptada pela autoridade de concorrên-cia italiana no que diz respeito às soluções preco-nizadas.

7. Cooperação internacional

323. A Comissão tem vindo a desenvolver umacooperação bilateral com países terceiros nodomínio da concorrência, nomeadamente, noque diz respeito aos processos em matéria deconcentrações. De igual forma, tem vindo adesenvolver actividades a nível multilateral,tendo centrado os seus esforços este ano na cria-ção de uma rede internacional de concorrência.

324. Os problemas práticos e jurídicos associa-dos ao controlo das operações de concentraçãocom repercussões à escala mundial exigiram umacooperação eficaz entre as autoridades de concor-rência na aplicação das respectivas regras namatéria.

7.1. Cooperação com as autoridades dos Estados Unidos

325. A cooperação entre a UE e os Estados Uni-dos baseia-se em dois acordos de cooperação nodomínio da concorrência que foram celebradosna última década com os Estados Unidos. Na prá-tica, esta cooperação no domínio da aplicação dodireito da concorrência constitui o modelo para acooperação transatlântica em geral.

326. A experiência a nível da cooperação quoti-diana tem demonstrado grande eficácia, nomea-damente no âmbito das operações de concentra-ção, uma vez que reduz de forma substancial orisco de discrepâncias ou incoerências nas deci-sões adoptadas. No entanto, a Comissão e asautoridades norte-americanas discordam porvezes sobre as vantagens de uma operação espe-cífica, mesmo de dimensão mundial. Assistiu-seeste ano a uma importante divergência de pontosde vista entre as autoridades dos Estados Unidose a Comissão no que se refere à decisão destaúltima de proibir a concentração entre a GE e aHoneywell (4). Tanto a GE como a Honeywell

¥1∂ COMP/M.2044 de 22.8.2000.¥2∂ COMP/M.2216 de 19.1.2001.¥3∂ O recurso foi interposto para o Tribunale Amministrativo Regio-

nale del Lazio — TAR.

¥4∂ Ver caixa no presente capítulo para uma análise mais aprofundadadeste caso, COMP/M.2220 — General Electric/Honeywell de3.7.2001.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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recorreram da decisão de proibição para o Tribu-nal de Justiça em Setembro de 2001.

327. Muito embora estas discrepâncias em ter-mos de abordagem tenham sido muito raras naprática, são muito importantes as vantagens queadvêm da maior convergência possível entre aUE e os EUA no domínio do controlo das opera-ções de concentração. É por isso que os trabalhosde um grupo existente relativo às operações de

concentração transatlânticas foram reorientados,tendo em vista identificar áreas em que poderiaser possível uma maior convergência. O diálogo ea cooperação entre a Comissão e as autoridadesde concorrência norte-americanas contribuíramjá de forma substancial para reforçar a conver-gência nesta área e, mediante a análise dos pro-cessos que suscitaram abordagens ligeiramentediferentes, a Comissão pretende atenuar o riscode divergências desnecessárias no futuro.

Caixa 9: GE/Honeywell

Em 3 de Julho de 2001, a Comissão Europeia declarou a concentração projectada entre as empresasnorte-americanas General Electric («GE») e Honeywell incompatível com o mercado comum.

A operação de concentração afectava dois tipos de sectores industriais, designadamente os produtosaeronáuticos (motores a reacção, produtos de aviónica e não aviónica e sistemas de arranque) e ossistemas industriais (pequenas turbinas a gás marítimas).

A Comissão considerou os efeitos horizontais e de exclusão da operação de concentração, que advinhamdos produtos e serviços complementares que a entidade resultante da fusão estaria em condições de propora uma clientela comum. Em especial, a Comissão considerou que a operação permitiria às partes tirarempartido do aumento do seu poder de mercado para entravar a concorrência nos referidos mercados.

Posição dominante da GE

Um importante factor na apreciação da Comissão prendeu-se com a conjugação da posição dominante daGE a nível dos motores a reacção para grandes aviões comerciais e regionais, da sua capacidade finan-ceira e da sua integração vertical no domínio da aquisição, financiamento e locação financeira de aero-naves, com as posições de liderança da Honeywell no domínio dos motores a reacção para aviõesprivados, produtos de aviónica e não aviónica.

A GE pode ser considerada uma empresa bastante singular. Não só constitui um importante conglome-rado industrial, como é também uma importante organização financeira através da sua filial GE Capital, oque significa que as unidades industriais da GE dispõem de avultados recursos financeiros. Com efeito, aanálise da operação realizada pela Comissão confirmou a existência de uma importante capacidade finan-ceira, bem como da capacidade de absorver o fracasso de alguns produtos, o que assume uma importânciafulcral num sector caracterizado por investimentos a longo prazo e mercados financeiros deficientes.

Por outro lado, a GE é uma empresa verticalmente integrada a nível das actividades de aquisição, financi-amento e locação financeira de aeronaves através da GE Capital Aviation Services («GECAS»), o maioradquirente de aviões novos e proprietário da maior frota de aviões em serviço e de aeronaves em termosde encomendas e opções. Ao invés das outras empresas de locação financeira independentes, a política daGECAS consiste em seleccionar apenas motores da GE aquando da aquisição de aviões novos. A GE,através da GECAS, dispõe de incentivos e da capacidade de reforçar a posição dos seus motores nomercado através de diversos meios. Na qualidade de cliente, quer se trate de um cliente de lançamento ounão, a GECAS pode influenciar a selecção do equipamento das aeronaves pelos respectivos fabricantes efazer pender o prato da balança a favor da GE enquanto fornecedor exclusivo. A GECAS contribui igual-mente para reforçar a posição da GE em relação às companhias aéreas, uma vez que obriga estas últimasa seleccionarem aeronaves com motores da GE, o que não sucederia noutras circunstâncias.

Em virtude da capacidade financeira por ela detida através da GE Capital e da sua integração vertical coma GECAS, a GE tinha conquistado a quota mais elevada e mais sustentável nos mercados de motores paragrandes aviões comerciais e aviões regionais, aumentado o diferencial em relação aos seus concorrentes ealcançado a posição de fornecedor exclusivo de motores numa série de plataformas, em prejuízo dos seusconcorrentes.

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Atendendo à natureza do mercado de motores a reacção, caracterizado por importantes barreiras à entradae expansão, à posição histórica da GE junto de muitas companhias aéreas, ao seu incentivo no sentido deutilizar o poder financeiro da GE Capital junto dos clientes, à sua capacidade de tirar partido da inte-gração vertical através da GECAS, ao poder de negociação limitado dos clientes e à posição comparativa-mente fraca dos seus concorrentes, considerou-se que a GE estava em condições de adoptar umcomportamento independente dos seus concorrentes, dos clientes e, em derradeira instância, dos consu-midores, pelo que passaria a deter uma posição dominante nos mercados de motores a reacção paragrandes aviões comerciais e de motores a jacto para grandes aeronaves regionais.

Os efeitos da concentração

A concentração projectada teria conduzido à criação de posições dominantes em diversos mercados, emconsequência da conjugação das posições de liderança da Honeywell nestes mercados com a capacidadefinanceira e a integração vertical da GE em matéria de aquisição, financiamento, locação financeira deaeronaves e serviços pós-venda, conforme supramencionado.

Além disso, dada as posições dominantes e/ou de liderança das partes nos seus mercados, bem como ovasto leque de produtos complementares que a entidade resultante da operação poderia propor, estesefeitos seriam ainda agravados pela capacidade financeira e técnica desta última, bem como pelos incen-tivos económicos de que disporia no sentido de adoptar práticas de exclusão, tais como a elaboração depacotes de produtos a preços estrategicamente determinados, incluindo a fixação de preços predatórios,tendo em vista a evicção progressiva dos seus concorrentes de determinados mercados ou segmentos demercado específicos. Tal teria sucedido nomeadamente em consequência da capacidade da entidade resul-tante da fusão no sentido de proceder a subvenções cruzadas entre os diferentes produtos que entravam nacomposição do referido pacote.

Os concorrentes no sector de produtos de aviónica e não aviónica seriam assim privados das futurasreceitas geradas pelas vendas de equipamento de origem e peças sobresselentes. Os recursos financeirosfuturos gerados a nível interno são vitais para este sector, dado que são necessários para financiar asdespesas relacionadas com o desenvolvimento de novos produtos, a promoção da inovação e permitirultrapassar os seus concorrentes do ponto de vista tecnológico. Com a sua progressiva marginalização,em resultado da integração da Honeywell na GE, os concorrentes da Honeywell seriam assim privados deuma fonte vital de receitas, pelo que a sua capacidade de investir no futuro e desenvolver a próximageração de sistemas de bordo seria reduzida de forma substancial ou mesmo eliminada, em detrimento dainovação, concorrência e, portanto, do bem-estar dos consumidores.

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II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

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B — Estatísticas

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Gráfico 4Número de decisões finais adoptadas anualmente desde 1995 e número de notificações

19961995

109 110125 131

142

172

238 235

270

292

345 345 340 335

1997 1998 1999 2000 2001

Decisões finais [Regulamento (CEE) n.o 4064/89]

Notificações [Regulamento (CEE) n.o 4064/89]

Decisões finais (artigo 66.o do Tratado CECA)

77

10

10

9

13 9

Gráfico 5Repartição por tipo de operações (1993-2001)

OPA 9% Empresas

comuns/controlo conjunto

45%

Aquisição de participação maioritária

40%

Outras 6%

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A — Política geral

328. O nono relatório sobre os auxílios estataisna União, publicado pela Comissão em Julho (1),abrange os anos 1997-1999. Durante este perí-odo, os quinze Estados-Membros concederam,em média, 90 mil milhões de euros de auxílios aosector transformador, agricultura, pesca, carvão,transportes e serviços. Muito embora se trate deum montante considerável, representa uma dimi-nuição de quase 12% relativamente ao períodoprecedente 1995-1997. Durante o período1997-1999, os auxílios estatais com objectivosregionais representaram 17% do total, tendo 10%objectivos horizontais.

329. É particularmente de realçar o declínio dosauxílios ao sector transformador, que se situamactualmente abaixo do nível dos auxílios conce-didos ao sector dos transportes. O nono relatórioindica que, em média, o montante total de auxí-lios concedidos anualmente ao sector transforma-dor nos 15 Estados-Membros foi de 27,6 milmilhões de euros, face a 35,8 mil milhões deeuros ao longo do período 1995-1997.

330. A necessidade de maiores reduções nosníveis globais de auxílio e de uma reorientaçãodos auxílios para objectivos horizontais de inte-resse comunitário foi sublinhada pelo ConselhoEuropeu de Estocolmo em Março de 2001, noâmbito do qual os Estados-Membros foramconvidados a manter o actual nível de auxíliosexpresso em percentagem do PIB até 2003, e areorientar os auxílios para objectivos horizontaisde interesse comum, inclusive em matéria decoesão. Tal foi confirmado por uma resolução doConselho de ministros da Indústria em 6 deDezembro de 2001, que convidou os Esta-dos-Membros a «prosseguirem os seus esforçoscom vista a reduzirem os níveis de auxílio, em

termos de percentagem do PIB, no intuito dediminuírem prioritariamente, tendo em vista asua supressão, os auxílios que produzem os mai-ores efeitos de distorção, e a reorientarem osauxílios para objectivos horizontais, incluindo acoesão e, se for caso disso, as pequenas e médiasempresas (PME)», bem como a recorrerem emmaior grau às avaliações «ex ante» e «ex post»dos regimes de auxílio e a reforçarem a transpa-rência e a qualidade dos relatórios apresentados àComissão, nomeadamente no que diz respeitoaos procedimentos de acompanhamento e con-trolo a nível nacional e, quando possível, atravésda apresentação das estatísticas relevantes.

331. Por seu turno, a Comissão foi convidada adesenvolver, em conjunto com os Estados-Mem-bros, instrumentos e indicadores estatísticos rela-tivos à eficácia e à eficiência dos auxílios, a apro-fundar a apreciação do impacto dos auxíliossobre a concorrência, a fomentar a troca de expe-riências e a realização de exercícios de avaliaçãoconcertados, bem como a prosseguir os seusesforços com vista a simplificar, modernizar eclarificar as regras comunitárias em matéria deauxílios estatais. A Comissão foi igualmente con-vidada a apresentar um primeiro balanço dos pro-gressos realizados em 2002.

1. Transparência

332. Em 22 de Março de 2001, a Comissão anun-ciou um novo registo de auxílios estatais, acessí-vel ao público. O registo fornece informações por-menorizadas sobre os processos instruídos pelaComissão no domínio dos auxílios estatais. Seráactualizado numa base regular, assegurando assimao público um acesso rápido às decisões maisrecentes em matéria de auxílios estatais. O registo,que pode ser consultado no sítio Internet da Direc-ção-Geral da Concorrência, http://europa.eu.int/comm/competition/index_en.html, é compostopor duas partes. A primeira apresenta informa-ções agregadas sobre todos os casos objecto deanálise preliminar registados após 1 de Janeiro de2000. A segunda parte permite aos utilizadoresrealizar pesquisas simples relativamente a todasas decisões da Comissão sobre auxílios estataisadoptadas no âmbito dos casos registados após1 de Janeiro de 2000, facultando aos utilizadoreso acesso à informação por número de processo,instrumento de auxílio (subvenção, empréstimoem condições favoráveis, garantia, diferimentofiscal, etc.), tipo de processo (notificação indivi-¥1∂ COM(2001) 403.

1995-1997 1997-1999

Auxílios estatais globais (em mil milhões de euros) 102 90

Auxílios estatais ao sector transformador (em mil milhões de euros) 35,8 27,6

Auxílios estatais em percentagem do valor acrescentado no sector transformador 2,6 1,9

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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dual ou regime de auxílio), tipo de decisão (iníciode procedimento formal, decisões finais, etc.),base jurídica, Estado-Membro (e região/provín-cia), objectivo do auxílio e sector em causa.

333. Ao assegurar ligações aos comunicados deimprensa e às decisões da Comissão que sãopublicadas no Jornal Oficial ou enviadas directa-mente aos Estados-Membros, o registo reúnenuma instância única o impressionante conjuntode informações relativas às decisões da Comissãono domínio dos auxílios estatais já disponíveisatravés da Internet.

334. Em Julho, foi adoptada uma segundaimportante iniciativa em matéria de transparên-cia, com a publicação da primeira edição do Pai-nel de Avaliação dos auxílios estatais. O Painel deAvaliação divide-se em cinco secções. A primeiraparte apresenta as despesas com auxílios estataisna União e em cada Estado-Membro, expressasem percentagem do PIB. São subsequentementediscriminadas as percentagens de auxílio naUnião em função das principais finalidades pros-seguidas: promoção de objectivos horizontais,tais como a investigação e desenvolvimento,pequenas e médias empresas ou formação; assis-tência aos sectores da agricultura e das pescas;assistência ao sector dos transportes; assistência aoutros sectores específicos tais como o carvão, aconstrução naval ou a produção siderúrgica; apoioàs regiões em atraso. A segunda parte apresentaideias relativas a um fórum dos Estados-Membrosque fornecerá informações sobre a respectiva polí-tica em matéria de auxílios estatais e níveis detransparência. Deverá servir de catalisador parafomentar o debate entre os Estados-Membros. Aterceira parte contém informações sobre o grau desucesso dos Estados-Membros no que se refere àobservância das regras em matéria de auxíliosestatais, a fim de identificar os problemas e pro-por as melhorias eventualmente necessárias.Além disso, incluem-se informações sobre arecuperação dos auxílios estatais concedidos ile-galmente. Com vista a identificar possíveis áreasem que poderá vir a ser necessária uma futuraintervenção da Comissão ao abrigo das regras emmatéria de auxílios estatais, a quarta parte do Pai-nel de Avaliação põe em relevo os montantes deauxílio atribuídos pelos Estados-Membros afavor de objectivos e sectores específicos. OsEstados-Membros são incentivados a debateremdeterminadas tendências e padrões em matéria dedespesas e a aferirem o seu impacto no funciona-mento do mercado interno. A parte final do Painel

de Avaliação pretende lançar uma discussãosobre a interacção entre a situação em matéria deauxílios estatais, tal como existe nos Esta-dos-Membros após o respectivo controlo pelaComissão, o funcionamento do mercado internoe o êxito do processo de reforma económica.Neste aspecto, o Painel de Avaliação transcendeas meras questões da concorrência.

335. No futuro, o Painel de Avaliação será publi-cado numa base semestral e evoluirá progressiva-mente em resposta às necessidades dos váriosgrupos de utilizadores futuros. Assentará numconjunto básico de indicadores que, ao longo dotempo, permitirá identificar inflexões na políticae padrões das despesas em matéria de auxíliosestatais. Estes indicadores de base serão acompa-nhados em cada Painel de Avaliação por umasérie de outros indicadores que se centrarão emdeterminados temas, tendo em vista uma análisemais aprofundada. O Painel de Avaliação tam-bém permitirá contribuir para outros documentosda Comissão, nomeadamente as propostas relati-vas às orientações gerais para as políticas econó-micas, os indicadores estruturais e o aferimentoda política empresarial.

2. Modernizar o controlo dos auxílios estatais

336. Como já anunciado no anterior relatórioanual, a Comissão decidiu lançar um processo dereforma a longo prazo destinado a simplificar osprocedimentos em matéria de auxílios estatais noque se refere aos casos menos complexos, porforma a concentrar os recursos da Comissão noscasos mais graves de distorção da concorrência,com o objectivo de assegurar a introdução dasmodificações necessárias antes do alargamento.

337. A entrada em vigor dos primeiros três regu-lamentos adoptados, em princípio, em Dezembrode 2000 com base no Regulamento de Habilita-ção (CE) n.o 994/98 representa já uma importanteetapa no processo de modernização. Trata-se dedois regulamentos que introduzem isenções porcategoria no que se refere aos auxílios às peque-nas e médias empresas e aos auxílios à formação,bem como de um regulamento que codifica aregra de minimis (1).

¥1∂ JO L 10 de 13.1.2001, ver também XXX Relatório sobre a Polí-tica de Concorrência, 2000, pontos 293 a 295.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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338. O Regulamento relativo aos auxílios deminimis codifica a regra de minimis, anterior-mente delineada numa comunicação da Comis-são de 6 de Março de 1996, reforçando assim asegurança jurídica neste domínio. Ao abrigodesta regra, os auxílios a favor de uma empresaque não excedam o limite de 100 000 euros aolongo de um período de três anos não serãoconsiderados auxílios estatais na acepção don.o 1 do artigo 87.o do Tratado, pelo que nãoestão sujeitos a qualquer obrigação de notifica-ção.

339. As isenções por categoria permitem que osEstados-Membros concedam os auxílios imedia-tamente, sem necessidade de notificação prévia ede autorização pela Comissão, desde que sejampreenchidas as condições fixadas no regulamentode isenção. Os regulamentos de isenção por cate-goria não revertem apenas em benefício daComissão, mas também das administrações naci-onais, regionais e locais dos Estados-Membros,uma vez que o procedimento de concessão doauxílio pode ser acelerado, sendo igualmentereduzida a carga administrativa inerente. Noentanto, esta simplificação processual não é sinó-nimo de um menor controlo ou de uma aplicaçãomenos estrita das regras em matéria de auxíliosestatais. Diversas disposições contidas nos regu-lamentos asseguram que os Estados-Membrosdeverão informar a Comissão através de fichas deinformação sintéticas e relatórios anuais, permi-tindo assim que a Comissão controle a aplicaçãodas isenções por categoria. Além disso, dado que

os regulamentos são directamente aplicáveis nosEstados-Membros, os denunciantes podem igual-mente dirigir-se aos tribunais nacionais se os seusconcorrentes tiverem beneficiado de auxílios quenão respeitam todas as condições estabelecidasno regulamento de isenção relevante.

340. Com base nos formulários de informaçãoresumida transmitidos pelos Estados-Membros, épossível proceder a uma primeira apreciação daaplicação dos regulamentos de isenção por cate-goria pelos Estados-Membros. Até ao final deDezembro, a Comissão tinha recebido 106 for-mulários nos termos do regulamento relativo aosauxílios às PME e 47 formulários ao abrigo doregulamento relativo aos auxílios à formação. Agrande maioria destes formulários incidia sobreregimes de auxílio e não sobre auxílios individu-ais. Este recurso em grande escala aos regula-mentos de isenção por categoria traduziu-senuma redução do número de casos notificados,tendo sido recebidas 286 notificações no períodocompreendido entre Fevereiro e Novembro de2001, face às 400 notificações recebidas ao longodo mesmo período em 2000. O recurso aos regu-lamentos de isenção por categoria diverge consi-deravelmente consoante os Estados-Membros.No início de Dezembro, a Itália tinha transmitido56 formulários, a Alemanha 54 e a Espanha 20.Estes países são, de longe, os maiores utilizado-res dos regulamentos de isenção por categoria.No outro extremo, situam-se a França, Portugal, aFinlândia e o Luxemburgo que não enviaramainda qualquer formulário.

Caixa 10: Capital de risco

Um importante factor a assinalar no domínio dos auxílios estatais em 2001, que demonstra a forma comoas regras em matéria de auxílios estatais podem ter de ser adaptadas a novas situações de mercado,consistiu na adopção pela Comissão de uma nova comunicação relativa aos auxílios estatais e capital derisco (1), juntamente com uma apreciação efectuada pela Comissão de diversas medidas destinadas apromover a mobilização de capital de risco em diferentes Estados-Membros.

A comunicação foi elaborada em resposta a uma série de factores, nomeadamente, a necessidade depromover os mercados de capital de risco na Comunidade e as dificuldades associadas à apreciação dedeterminadas medidas que prosseguem este objectivo e que são propostas pelos Estados-Membros aoabrigo das actuais regras de auxílios estatais, em especial quando não existe qualquer relação directa entrea concessão do auxílio e um conjunto específico de custos elegíveis em matéria de investimento ouinvestigação e desenvolvimento. Em função da concepção das medidas de capital de risco, osEstados-Membros podem conceder auxílios aos operadores económicos a um ou mais «níveis», assegu-rando uma remuneração aos investidores (permitindo-lhes realizar investimentos de capital de risco em

(1) JO C 235 de 21.8.2001, p. 3.

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341. A Comissão está actualmente a elaborar umterceiro regulamento de isenção por categoria noque diz respeito aos auxílios a favor do emprego.Em 2 de Outubro de 2001, adoptou um projectode proposta em relação ao qual os Estados-Mem-

bros foram consultados em 7 de Dezembro noâmbito do Comité Consultivo relativo aos auxí-lios estatais. O projecto de regulamento propõeuma isenção de notificação, sob determinadascondições, dos auxílios destinados à criação de

condições mais favoráveis) e/ou às empresas que beneficiam do investimento. A comunicação enunciadeterminados critérios com base nos quais a Comissão apreciará estas medidas, fornecendo também umalista não exaustiva de tipos de medidas de auxílio susceptíveis de satisfazer estes critérios.

Enquanto primeiro caso de aplicação da sua comunicação relativa aos auxílios estatais e capital de risco, aComissão aprovou os Regional Venture Capital Funds (1) no Reino Unido, que não apresentam qualquerligação com custos elegíveis específicos, tendo aceite um auxílio estatal a favor de uma medida em que aparticipação numa empresa pode assumir a natureza de capital necessário para as despesas correntes deexploração (fundo de maneio). O regime britânico tem por objectivo solucionar o problema da falta definanciamento a nível regional para as PME no que diz respeito aos investimentos de capital. A Comissãoreconheceu as deficiências do mercado neste segmento, dado que não eram excedidos os limiares estabe-lecidos na comunicação relativa ao capital de risco. Foi adoptado o mesmo raciocínio no âmbito doprocesso Régime Cadre — Fonds de capital investissement franceses (2). Na apreciação destas notifica-ções, a Comissão aplicou o disposto no ponto VIII da comunicação, podendo concluir que o auxílioconcedido aos investidores privados e às PME era compatível com as regras em matéria de auxílios esta-tais. No que diz respeito aos fundos criados ao abrigo das medidas, a Comissão concluiu que não setratava de empresas beneficiárias de auxílios na acepção do n.o 1 do artigo 87.o do Tratado CE. Outroscasos em que a comunicação foi aplicada em 2001 incluíram a Linea de apoyo a la capitalización deempresa de base tecnológica (Espanha) (3), bem como um outro regime britânico destinado a colmatar aslacunas a nível da mobilização de pequenos montantes de capital de risco a favor das PME nas áreasmineiras da Inglaterra (4).

Para além de adoptar e aplicar a nova comunicação, a Comissão prosseguiu a sua prática de autorizarmedidas que favorecem a participação em empresas sob a forma de capital de risco, se forem respeitadasoutras regras em matéria de auxílios estatais (5). Esta aprovação requer normalmente a existência de umvínculo com um projecto de investimento específico para que este tipo de auxílio possa ser classificadocomo um auxílio ao investimento inicial (6) ou com custos elegíveis no âmbito de projectos de I&D. Podeser citado a título ilustrativo um empréstimo destinado a um investimento no capital social de empresasem fase de arranque, considerado compatível com o regulamento de isenção relativo às PME (7), ou umaparceria inactiva, ou seja, uma participação no capital social sem a assunção de qualquer função degestão, a favor de actividades de I&D pré-competitivas consideradas compatíveis com o enquadramentocomunitário dos auxílios estatais à investigação e desenvolvimento (8). Um outro exemplo consiste nadecisão adoptada pela Comissão relativamente a um regime de auxílio alemão (9) que tinha por objectivoreforçar a mobilização de capitais a favor de actividades de I&D pré-competitivas e investimentos inova-dores. A Comissão estabeleceu uma distinção entre os bancos públicos, os investidores privados e aspequenas empresas que são objecto de investimento, tendo decidido que não existia qualquer elemento deauxílio na acepção do artigo 87.o do Tratado CE ou que o auxílio era compatível com o mercado comum,quer ao abrigo do regulamento de isenção aplicável às PME, quer ao abrigo do enquadramento nodomínio da I&D. É de assinalar que a decisão da Comissão toma em consideração o reduzido grau dedesenvolvimento do mercado de capital de risco («mercado embrionário») na Alemanha comparativa-mente ao mercado norte-americano de capital de risco inicial.

(1) Processo C-56/2000, Decisão da Comissão de 6 de Junho de 2001, JO L 263 de 3.10.2001.(2) Processo N 448/2000, Decisão da Comissão de 25 de Julho de 2001, JO C 318 de 13.11.2001.(3) Processo N 630/01, Decisão da Comissão de 11 de Dezembro de 2001 (JO C 32 de 5.2.2002).(4) Processo N 722/2000, Decisão da Comissão de 20 de Dezembro de 2001 (ainda não publicada).(5) Ver ponto II.3 da comunicação: «O presente documento não pretende em caso algum pôr em causa a compatibilidade de auxílios

estatais que respeitem os critérios definidos noutras orientações, enquadramentos ou regulamentos adoptados pela Comissão».(6) Para a definição de investimento inicial, ver, por exemplo, o n.o 4 do artigo 4.o das orientações relativas aos auxílios com finalidade

regional (JO C 74 de 10.3.1998, p. 9).(7) Processo N 465/2000, Decisão da Comissão de 3 de Julho de 2001 (JO C 328 de 23.11.2001). (8) NN 94/2000, Decisão da Comissão de 23 de Maio de 2001 (JO C 219 de 4.8.2001). (9) Processo N 551/2000, Decisão da Comissão de 28 de Fevereiro de 2001 (JO C 117 de 21.4.2001).

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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novos postos de trabalho, dos auxílios a favor dorecrutamento de categorias desfavorecidas de tra-balhadores e dos auxílios com vista a suportar oscustos adicionais inerentes à contratação de tra-balhadores deficientes. As regras relativas aosauxílios destinados à criação de postos de traba-lho foram harmonizadas com as regras estabele-cidas no âmbito do regulamento de isenção porcategoria sobre os auxílios a favor das PME noque diz respeito à criação de emprego associada ainvestimentos.

342. Em 13 de Novembro de 2001, a Comissãodecidiu prorrogar o prazo de vigência do enqua-dramento multissectorial dos auxílios com finali-dade regional a favor dos grandes projectos deinvestimento, do código de auxílios ao sector defibras sintéticas e do enquadramento comunitáriode auxílios estatais ao sector dos veículos auto-móveis até 31 de Dezembro de 2002 (1). Se onovo enquadramento multissectorial entrar emvigor antes de 31 de Dezembro de 2002, substi-tuirá os três enquadramentos prorrogados a partirda sua data de entrada em vigor.

3. Auxílios estatais e política fiscal

343. O controlo dos auxílios estatais sob formafiscal continua a ser uma prioridade para aComissão. Neste âmbito, e em conformidadecom os compromissos assumidos na sua Comuni-cação sobre a aplicação das regras relativas aosauxílios estatais às medidas que respeitam àfiscalidade directa das empresas (2), a Comissãoconvidou, nos termos do n.o 1 do artigo 88.o doTratado CE, quatro Estados-Membros a altera-rem ou a suprimirem regimes de auxílio existen-tes, tendo iniciado o procedimento formal deinvestigação no que se refere a outras onze medi-das adoptadas em oito Estados-Membros.

344. A maioria das medidas visadas diz respeitoa regimes fiscais derrogatórios vantajosos que sãoreservados a determinados tipos de actividades(serviços financeiros, actividades offshore) ou adeterminados tipos de empresas que satisfazemcertos critérios em termos de volume de negó-cios, âmbito internacional das respectivas activi-dades ou nacionalidade. Os procedimentos inici-ados pela Comissão permitirão determinar se aselectividade destas medidas se justifica e se estes

regimes se traduzem numa vantagem na acepçãodo n.o 1 do artigo 87.o do Tratado CE, nomeada-mente no âmbito do exercício de poderes discrici-onários pela administração fiscal.

345. No domínio da fiscalidade indirecta, aComissão decidiu dar início ao procedimentoprevisto no n.o 3 do artigo 88.o do Tratado relati-vamente a reduções dos impostos especiais deconsumo concedidas em três Estados-Membros afavor do fuelóleo pesado utilizado como combus-tível na produção de alumina. Estas reduções dosimpostos especiais de consumo foram autoriza-das pelo Conselho (Decisão n.o 2001/224/CE de12 de Março de 2001) (3), em aplicação do dis-posto na Directiva 92/81/CEE, de 19 de Outubrode 1992, relativa à harmonização das estruturasdo imposto especial sobre o consumo de óleosminerais. No entanto, conforme referido noquinto considerando da Decisão n.o 2001/224 doConselho, «a presente decisão não prejudica oresultado de eventuais procedimentos relativos adistorções de funcionamento do mercado únicoque pudessem ser intentados, nomeadamente aoabrigo dos artigos 87.o e 88.o do Tratado. Não dis-pensa os Estados-Membros da obrigação, nos ter-mos do artigo 88.o do Tratado, de notificarem àComissão quaisquer auxílios estatais que possamvir a ser instituídos». A Comissão lembra que, demodo geral, as decisões de autorização da redu-ção dos impostos especiais de consumo, tomadascom base nas disposições do Tratado em matériafiscal, não prejudicam a aplicação das regras con-signadas no Tratado no domínio da concorrência.

4. Custos irrecuperáveis

346. Previamente à liberalização do mercadoeuropeu da electricidade, a recuperação dosinvestimentos realizados pelas empresas de elec-tricidade era assegurada mediante a fixação detarifas adequadas pelo Estado. Nestas circunstân-cias, muitas destas empresas investiram em ins-talações de produção de electricidade relativa-mente onerosas ou celebraram contratos de longoprazo do tipo take or pay. A diminuição dos pre-ços da electricidade na sequência da liberalizaçãodo sector pode comprometer a recuperação demuitos destes investimentos ou dos custos ineren-tes aos contratos a longo prazo, dando assim ori-gem a custos não passíveis de serem recuperados.

¥1∂ JO C 368 de 22.12.2001, p. 10.¥2∂ JO C 384 de 10.12.1998, p. 3. ¥3∂ JO L 84 de 23.3.2001, p. 23.

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Tais custos são normalmente denominados «cus-tos irrecuperáveis».

347. Ao invés do que sucedeu noutros processosde liberalização anteriores, a liberalização dosector da electricidade não coincidiu com umavanço tecnológico ou um incremento significa-tivo da procura. Pelo contrário, o mercado daelectricidade está cada vez mais sujeito a diversoscondicionalismos externos que tendem a aumen-tar os custos de produção, tais como a protecçãodo ambiente ou a segurança do abastecimento.

348. Nestas condições, algumas empresas pode-rão ser induzidas a repercutir sobre os seus clientescativos a totalidade dos seus custos irrecuperáveisameaçando deste modo a viabilidade de outrasempresas. Por conseguinte, pode revelar-se neces-sário conceber um tipo de mecanismo de compen-sação no que se refere aos custos irrecuperáveis.

349. Este mecanismo de compensação deve esta-belecer um equilíbrio delicado entre, por um lado,a necessidade de não enfraquecer as empresas deelectricidade por forma a que deixem de estar emcondições de assegurar o abastecimento de electri-cidade, fundamental para a economia da União e,por outro lado, a necessidade de não impedir aentrada de novos operadores no mercado, o quecomprometeria o processo de liberalização e asvantagens daí decorrentes para os consumidores.

350. A Comissão entende que quando tais meca-nismos de compensação equilibrados assumem aforma de auxílios estatais, podem ser considera-dos compatíveis com o Tratado CE ao abrigo don.o 3, alínea c), do artigo 87.o, uma vez que favo-recem a transição do sector da electricidade paraum mercado liberalizado e, por conseguinte, odesenvolvimento económico do sector, garan-tindo simultaneamente que as compensaçõessejam limitadas e proporcionadas, não afectandoo comércio numa medida incompatível com ointeresse comunitário.

351. Em 26 de Julho de 2001, a Comissão adop-tou uma metodologia de análise dos auxíliosestatais ligados a custos irrecuperáveis em quedefine os critérios que utilizará para examinar seum mecanismo de compensação dos custos irre-cuperáveis que represente um auxílio estatal podeser autorizado ao abrigo do Tratado CE (1).

352. O princípio de base subjacente à metodolo-gia é o de que as compensações devem ser limita-das no tempo e assumir um âmbito restrito. Nãodevem exceder os custos efectivamente suporta-dos pelas empresas, directamente causados pelaliberalização e conducentes a prejuízos. Porexemplo, não deve ser paga qualquer compensa-ção no que diz respeito a uma instalação que setornou menos rentável na sequência da aberturado mercado, se continuar a gerar lucros. Ascompensações devem ser limitadas ex ante,devendo igualmente prever um mecanismo deadaptação ex post que tome em consideração aevolução real do mercado em direcção à liberali-zação e, nomeadamente, a evolução efectiva dospreços no mercado da electricidade.

353. Em conformidade com esta metodologia,em 26 de Julho de 2001, a Comissão autorizoupela primeira vez três casos individuais respeitan-tes a custos irrecuperáveis, designadamente naÁustria, Espanha e Países Baixos (2).

5. Radiodifusão pública

5.1. Comunicação da Comissão relativa à aplicação das regras em matéria de auxílios estatais ao serviço público de radiodifusão (3)

354. Em 17 de Outubro de 2001, a ComissãoEuropeia adoptou uma comunicação em queexplica a forma como aplica as regras em matériade auxílios estatais ao financiamento dos organis-mos públicos de radiodifusão. A comunicaçãoclarifica que os Estados-Membros são, emprincípio, livres de definir o conteúdo e o âmbitodo serviço público, bem como a respectiva formade financiamento e organização. No entanto, aComissão apela para que estes aspectos se pautempela transparência, a fim de apreciar a proporcio-nalidade do financiamento público e controlareventuais práticas abusivas. Os Estados-Membrosdevem estabelecer uma definição exacta do man-dato do serviço público, incumbir formalmenteum ou mais operadores de desempenhar essemandato mediante um acto oficial e dispor de umaautoridade adequada para controlar a respectivaobservância. A Comissão intervirá nos casos em

¥1∂ Disponível em todas as línguas oficiais nas páginas da DG COMPno sítio web Europa.

¥2∂ Ver segunda parte, XXXI Relatório sobre a Politica da Concor-rência (ainda não publicada).

¥3∂ JO C 320 de 15.11.2001, p. 5.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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que o auxílio conduz a uma distorção da concor-rência, que não pode ser justificada pela necessi-dade de cumprir a obrigação de serviço público.

6. Apoio à produção cinematográfica e audiovisual

6.1. Exame dos regimes nacionais de apoio à produção cinematográfica e audiovisual

355. Na sequência da sua decisão de 1998 rela-tiva ao regime francês de apoio automático à pro-dução cinematográfica, a Comissão tem vindo aproceder a um exame dos regimes em vigor nou-tros Estados-Membros com base nos mesmos cri-térios de apreciação. A Comissão já examinou eaprovou regimes numa série de Estados-Mem-bros. A Comissão está actualmente a ultimar asdiscussões com os restantes Estados-Membros afim de assegurar a conformidade dos seus regimescom o direito comunitário. A conclusão desteexame proporcionará segurança jurídica ao sector.

6.2. Comunicação da Comissão sobre certos aspectos jurídicos respeitantes às obras cinematográficas e outras obras audiovisuais

356. Em 26 de Setembro de 2001, a ComissãoEuropeia adoptou uma comunicação que explicae clarifica as orientações seguidas na aplicaçãodas regras em matéria de auxílios estatais aosauxílios atribuídos pelos Estados-Membros paraapoiarem a sua produção cinematográficanacional. A comunicação clarifica que os Esta-dos-Membros são livres, em princípio, de apoia-rem a sua produção cinematográfica nacional,podendo optar pela forma que considerem maisadequada para o efeito. No entanto, a Comissãorequer simultaneamente que os Estados-Mem-bros respeitem determinadas condições especí-ficas a fim de impedir que o auxílio produza efei-tos indevidos, contrários ao funcionamento domercado comum. A Comissão não tenciona alte-rar os critérios de compatibilidade existentes,salvo se estes forem incapazes de impedir umadistorção indevida da concorrência na CE. Nacomunicação, a Comissão indica que uma even-tual distorção da concorrência induzida pelosauxílios neste sector provém mais de requisitosterritoriais (por exemplo, imposição de condiçõesaos produtores no sentido de desembolsarem umadeterminada proporção do orçamento cinemato-

gráfico no território nacional), do que do nível doauxílio em si. Na sua decisão de 1998 relativa aoregime de auxílio francês, a Comissão considerouque os Estados-Membros devem ser incentivadosa reduzirem as preferências nacionais no que dizrespeito ao local de realização das despesas emrelação a uma proporção significativa dos custos.Neste contexto, a Comissão anuncia na comuni-cação a intenção de aprofundar a sua análise, àluz dos resultados do exame dos regimes de auxí-lio que efectua actualmente, do nível máximo deterritorialização passível de ser autorizado.

7. Alargamento

357. O ano de 2001 foi importante em termos depreparação do processo de alargamento no domí-nio dos auxílios estatais. Em Fevereiro de 2001, aDG Concorrência decidiu instituir um grupo detrabalho consagrado ao «Alargamento e auxíliosestatais», que tem por função apreciar a situaçãoem matéria de controlo dos auxílios estatais nosdoze países candidatos. Em relação a cada paíscandidato, procedeu-se a uma avaliação doenquadramento jurídico no que se refere ao con-trolo dos auxílios estatais, da capacidade admi-nistrativa criada para o efeito e dos resultadosobtidos até à data em termos de execução prática.As conclusões deste exercício de avaliação cons-tituíram o ponto de partida para a elaboração dasecção respeitante aos auxílios estatais do pro-jecto de posição comum relativamente a cada paíscandidato, incluindo uma posição sobre oencerramento provisório do capítulo da concor-rência.

358. Com a adopção pelo Conselho das PosiçõesComuns da UE relativas ao capítulo da concor-rência, apresentadas nas Conferências de Adesãoem 11 e 12 de Dezembro de 2001, foi concluídauma primeira fase das actividades do grupo detrabalho. As conferências respectivas acordaramencerrar provisoriamente o capítulo da concor-rência no que diz respeito a quatro países candi-datos (Estónia, Letónia, Lituânia e Eslovénia).No que se refere aos restantes oito países candi-datos, as posições comuns concluíram que, nãoobstante os progressos realizados no domínio dosauxílios estatais, não era ainda possível encerrarprovisoriamente o capítulo.

359. Numa segunda fase, o grupo de trabalho daDG Concorrência consagrado ao «Alargamento eauxílios estatais» procederá a uma segunda rondade análise dos resultados obtidos em matéria de

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execução no que se refere aos oito países candida-tos, em relação aos quais o capítulo de Concorrên-cia não pôde ainda ser encerrado. Neste contexto,atribuirá especial atenção aos problemas especí-ficos em matéria de auxílios estatais que foramidentificados nas posições comuns (questõesimportantes tais como a conversão de auxílios fis-cais incompatíveis, definição de mapas de auxí-lios com finalidade regional, programas de rees-

truturação do sector siderúrgico, etc.). O grupo detrabalho continuará igualmente a acompanhar deperto a situação no que se refere aos auxíliosestatais nos quatro países relativamente aos quaiso capítulo da concorrência foi encerrado. Porúltimo, o acompanhamento dos inventários deauxílios estatais e dos relatórios anuais sobre osauxílios estatais elaborados pelos países candida-tos continuará a ser um trabalho importante.

Caixa 11: Bancos públicos alemães (Anstaltslast e Gewährträgerhaftung)

Como anunciado no relatório do ano transacto, a Comissão prosseguiu a sua análise da compatibilidadedo sistema alemão de garantias do Estado a favor das instituições de crédito públicas («Anstaltslast» e«Gewährträgerhaftung») com as regras em matéria de auxílios estatais.

Contexto jurídico e económico

O termo Anstaltslast pode ser traduzido como «obrigação de manutenção». Tal significa que os proprietá-rios públicos (por exemplo, Estado federal, Länder, autarquias) da instituição são responsáveis por asse-gurar os seus alicerces económicos, bem como o seu funcionamento durante toda a sua existência. Foireconhecido pela primeira vez em 1897 como um princípio geral de direito pelo Supremo Tribunalalemão. O termo Gewährträgerhaftung pode ser traduzido como «obrigação de garantia» e significa queo garante deve suportar todas as responsabilidades do banco que não possam ser satisfeitas com base nosseus activos. Foi expressamente introduzido em diversas leis adoptadas pelos Länder em 1931/32, quandopassou a substituir a anterior responsabilidade directa das autarquias.

As garantias permitem que os bancos públicos, que são importantes concorrentes nos mercados finan-ceiros europeus, beneficiem de financiamento em condições muito mais favoráveis. As instituições decrédito alemãs, de propriedade pública e que beneficiam destas garantias, compreendem os 12 Landes-banken, cerca de 550 caixas económicas de dimensões diversas, bem como 11 instituições de crédito definalidade específica que se consagram ao financiamento orientado pela política pública, o que, no seuconjunto, representa aproximadamente um terço do mercado bancário alemão e cerca de 320 000 traba-lhadores.

As duas garantias não são limitadas no tempo nem em termos de montante. De igual forma, asinstituições de crédito não devem desembolsar qualquer remuneração para o efeito.

Apreciação ao abrigo das regras em matéria de auxílios estatais e recomendação

Em 8 de Maio de 2001, na sequência de estreitos contactos entre os serviços da Comissão e as autori-dades alemãs, a Comissão Europeia adoptou uma recomendação formal em que propunha ao Governoalemão as medidas adequadas para a supressão destas garantias estatais ou com vista a torná-las compatí-veis com as regras em matéria de auxílios estatais consignadas no Tratado CE.

Esta recomendação explica que o sistema de garantia deve ser considerado como um auxílio estatal naacepção do Tratado: as medidas baseiam-se em recursos estatais e favorecem determinados tipos deempresas, distorcem a concorrência e afectam o comércio na Comunidade. No entanto, dado que osistema já existia aquando da entrada em vigor do Tratado CE em 1958, o auxílio deve ser consideradoum auxílio «existente» em relação ao qual a Comissão só pode solicitar alterações futuras, não podendointervir a título retroactivo.

Em conformidade com a recomendação da Comissão, a compatibilidade com as regras do Tratado CEdeve ser alcançada até 31 de Março de 2002. No entanto, a recomendação prevê expressamente que aComissão pode decidir aceitar uma data posterior, se considerar que tal é objectivamente necessário ejustificado a fim de garantir uma transição adequada de alguns bancos públicos para o novo regime. A

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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Comissão está ciente da necessidade de proteger os credores existentes, que concederam fundos àsinstituições de crédito de direito público com base no sistema de garantia.

Solução

O Governo alemão aceitou em 18 de Julho de 2001 a recomendação formal adoptada pela ComissãoEuropeia em 8 de Maio de 2001. Tal aceitação baseou-se num consenso obtido em 17 de Julho de 2001entre o comissário responsável pelo pelouro da concorrência, Mario Monti, e o ministro das Finançasalemão, Caio Koch-Weser, que chefiava uma delegação composta por três ministros de Finanças dosLänder e pelo presidente da associação de bancos de aforro e caixas económicas alemães.

O Governo alemão confirma mediante o seu acordo que o sistema de auxílio existente em matéria degarantias, que constitui um auxílio estatal incompatível na acepção do Tratado, precisa de ser alterado. Talcria uma obrigação para o Governo alemão no sentido de assegurar a conformidade do sistema de garan-tias com as regras relativas aos auxílios estatais consignadas no Tratado.

O acordo de 17 de Julho de 2001 prevê um período transitório de quatro anos, designadamente de 19 deJulho de 2001 a 18 de Julho de 2005, durante o qual as duas garantias existentes poderão continuar avigorar. Findo este prazo, e com base no denominado «modelo de plataforma», uma garantia (Anstalts-last) será substituída por uma relação comercial normal de propriedade, regida pelos princípios daeconomia de mercado, o que significa que o Estado deixará de estar sujeito a qualquer obrigação nosentido de apoiar os bancos. A outra garantia (Gewährträgerhaftung) será suprimida.

No entanto, a Gewährträgerhaftung pode ser mantida (cláusula de anterioridade) igualmente após 18 deJulho de 2005 a fim de proteger os credores em conformidade com os seguintes princípios:

— em relação às responsabilidades existentes em 18 de Julho de 2001, a Gewährträgerhaftung pode sermantida sem quaisquer limites até ao respectivo vencimento;

— em relação às responsabilidades criadas entre 19 de Julho de 2001 e 18 de Julho de 2005, a Gewähr-trägerhaftung só será mantida em relação àquelas cujo prazo de vencimento finda até ao finalde 2015. Caso contrário, em relação às responsabilidades com um prazo de vencimento posteriora 2015, a Gewährträgerhaftung não beneficiará de qualquer cláusula de anterioridade.

Nos termos da decisão da Comissão de 8 de Maio de 2001, as autoridades alemãs deviam apresentar àComissão, até 30 de Setembro de 2001, as medidas concretas que tencionavam adoptar a fim de tornar osistema de garantias compatível com as regras do Tratado. As autoridades alemãs comprometeram-se aapresentar até ao final de 2001 as medidas jurídicas necessárias aos organismos legislativos relevantes doEstado federal ou dos Länder, tendo em vista a sua adopção até ao final de 2002. Em caso de não obser-vância do prazo estabelecido para a adopção das referidas medidas pelo Estado federal ou por um Land,os elementos de auxílio estatal contidos nas garantias serão considerados como um auxílio novo a partirde 2003 no que se refere aos bancos abrangidos pela legislação do Land respectivo ou do Estado federal.Consequentemente, o elemento de auxílio estatal poderá vir a ser recuperado junto destes bancos a partirde 2003.

Muito embora o acordo de 17 de Julho de 2001 diga apenas respeito aos Landesbanken e às caixaseconómicas, a aceitação de medidas adequadas engloba igualmente as 11 instituições de crédito espe-ciais independentes que se consagram ao financiamento orientado pela política pública. Um acordoseparado relativo às instituições de crédito especiais foi concluído no início de 2002. Este acordo estabe-lece as condições em matéria de neutralidade das condições de concorrência sob as quais as instituiçõesde crédito especiais poderão desenvolver as suas actividades no futuro, mantendo simultaneamente asgarantias do Estado. Em particular, deverão recorrer em regra geral aos bancos comerciais para efeitosde canalização dos seus financiamentos específicos, sendo apenas autorizadas algumas excepções nestecontexto.

O conteúdo de ambos os acordos deverá ser integrado de forma juridicamente vinculativa numa novadecisão da Comissão que altere a Recomendação de 8 de Maio de 2001. Esta decisão deve ser adoptadaaté ao final de Março de 2002.

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B — Noção de auxílio

360. Nos termos da definição estabelecida non.o 1 do artigo 87.o do Tratado CE, são incom-patíveis com o mercado comum, na medida emque afectem as trocas comerciais entre os Esta-dos-Membros, os auxílios concedidos peloEstado ou provenientes de recursos estatais, quefalseiem ou ameacem falsear a concorrência,favorecendo certas empresas ou certas produ-ções. A forma de concessão do auxílio (bonifica-ção da taxa de juro, desagravamentos fiscais,garantias de empréstimo, fornecimento de bensou serviços em condições preferenciais ou injec-ções de capital em condições não aceitáveis paraum investidor privado) é irrelevante para o efeito.

1. Origem dos recursos

361. A primeira condição a ser preenchida é a deque o auxílio deve ser concedido por umEstado-Membro ou ser proveniente de recursosestatais. A anterior jurisprudência do Tribunalestabeleceu que o conceito de «Estado» e de«recursos» neste contexto devem ser interpreta-dos de forma lata. No entanto, o acórdão profe-rido pelo Tribunal em 13 de Março de 2001 noâmbito do processo PreussenElektra definiu oslimites do conceito de recursos estatais. O casoincidia sobre uma obrigação imposta aos distri-buidores de electricidade na Alemanha no sentidode pagar um preço mais elevado pela electrici-dade produzida a partir de fontes de energiarenovável. Na sequência de litígios na Alemanha,foi solicitado ao Tribunal de Justiça que delibe-rasse sobre uma questão prejudicial, no intuito deestabelecer se um sistema deste tipo representavaum auxílio estatal na acepção do n.o 1 doartigo 87.o do Tratado.

362. No seu acórdão, o Tribunal estabeleceu quea medida em causa constituía incontestavelmenteuma vantagem para os produtores de electrici-dade a partir de fontes de energia renovável, umavez que beneficiavam de preços garantidos maiselevados do que aqueles que teriam prevalecido

noutras circunstâncias. No entanto, para que umamedida seja considerada um auxílio estatal, nãobasta que a vantagem seja outorgada pelo Estado.A vantagem deve ser concedida directa ou indi-rectamente através de recursos estatais. Tendo emconta os factos inerentes ao caso, o Tribunal con-cluiu que o sistema de fixação de preços de elec-tricidade na Alemanha, segundo o qual umaempresa privada paga um preço mais elevado doque o necessário noutras circunstâncias, nãoenvolvia a utilização de recursos estatais, peloque não podia ser considerado um auxílio.

363. Com base na lógica seguida pelo Tribunalde Justiça das Comunidades Europeias no pro-cesso PreussenElektra, a Comissão declarou umamedida belga, aplicável na região da Flandres,como não sendo abrangida pelo n.o 1 do artigo87.o do Tratado CE (1). A Comissão concluiu queuma medida mediante a qual os distribuidoresdeviam adquirir anualmente uma determinadaquantidade de certificados verdes não envolviarecursos estatais (2). De igual forma, a Comissãodecidiu que a emissão pelas autoridades públicasde certificados comprovativos de que a electrici-dade verde corresponde à definição legal nãoenvolve recursos estatais (3). Não obstante estaapreciação, a Comissão examinou igualmente amedida enquanto auxílio estatal, tendo conside-rado que preenchia os critérios estabelecidos noenquadramento dos auxílios estatais a favor doambiente (ver infra).

2. Vantagens para uma empresa

364. Para constituir um auxílio estatal, umamedida deve igualmente conferir uma vantagemdirecta ou indirecta ao beneficiário. A questão de

Ambos os acordos contribuem para assegurar no futuro a igualdade das condições de concorrênciaentre os bancos do sector privado e do sector público. As modalidades transitórias, consideradas no seuconjunto, permitirão às instituições financeiras em questão procederem a uma reestruturação adequadadas suas actividades e respectiva organização tendo em vista o novo enquadramento jurídico eeconómico.

¥1∂ Processo N 550/2000, Decisão da Comissão de 25 de Julho de2001 (JO C 330 de 24.11.2001).

¥2∂ Para a aplicação do mesmo tipo de raciocínio, ver processoN 678/2001, Decisão da Comissão de 28 de Novembro de 2001(JO C 30 de 2.2.2002) e processo N 504/2000, Decisão daComissão de 28 de Novembro de 2001 (JO C 30 de 2.2.2002).

¥3∂ Ver igualmente processo NN 30/B/2000, Decisão da Comissãode 28 de Novembro de 2001 (ainda não publicada).

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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saber se a compensação dos custos inerentes aocumprimento das obrigações de serviço públicopode ser considerada uma vantagem é examinadano capítulo do presente relatório que aborda espe-cificamente os serviços de interesse económicogeral. A Comissão também analisou esta questãoda vantagem no domínio da gestão de resíduos.Em 31 de Janeiro de 2001, no âmbito do processoN 484/00, a Comissão Europeia decidiu nãolevantar objecções no que diz respeito ao sistemade gestão de resíduos neerlandês para os elemen-tos de fachada em PVC, uma vez que os mecanis-mos não atribuíam qualquer vantagem às empre-sas participantes (produtores e importadores, porum lado, e empresas de reciclagem, por outro),não constituindo, por conseguinte, um auxílioestatal na acepção do n.o 1 do artigo 87.o do Tra-tado CE. O sistema assegura que as empresas quevendem elementos de fachada em PVC assumema responsabilidade pela respectiva reciclagem,em consonância com o princípio do polui-dor-pagador. O sistema baseia-se num acordovoluntário entre diversas entidades no âmbito dacadeia de produção, consumo e reciclagem dePVC. O acordo prevê um pagamento fixo pelasestruturas e elementos de fachada em PVC quesão comercializados nos Países Baixos, a serdesembolsado pelos respectivos produtores eimportadores. Estes recursos são utilizados parasuportar os custos de recolha e reciclagem doselementos de fachada, incluindo o transporte. AComissão adoptou decisões semelhantes no quese refere aos sistemas neerlandeses de reciclagemde papel e cartão e sucata de veículos automóveis(processos NN 87/00 e C11/01). Este último sis-tema só foi autorizado após a obtenção de impor-tantes provas quanto à ausência de qualquer com-pensação excessiva a favor das empresas dedesmantelamento de veículos automóveis.

365. Por vezes, a questão de saber se umamedida pública específica constitui uma vanta-gem deve ser decidida com base na eventualidadede um investidor privado que actue numa econo-mia livre de mercado participar ou não na opera-ção (1). Em 6 de Junho de 2001, no âmbito doprocesso C 36/2001, a Comissão Europeia deci-diu dar início ao procedimento formal deinvestigação das medidas de auxílio estatal noque se refere a uma medida adoptada pelas auto-

ridades da região da Valónia na Bélgica, envol-vendo o Grupo Beaulieu, um dos principais fabri-cantes de alcatifas na Europa, estabelecido naregião da Flandres do mesmo país. No decursodas suas averiguações no âmbito do processoVerlipack, a Comissão teve conhecimento daeventual existência de um auxílio estatal a favordo Grupo Beaulieu. Tratava-se de uma novamedida tomada pela região da Valónia, tendo aComissão consequentemente solicitado aoGoverno central belga a apresentação de informa-ções que lhe permitissem apreciar a medida à luzdas regras em vigor. Com base nas informaçõestransmitidas, a Comissão teve conhecimento que,em Dezembro de 1998, o Grupo Beaulieu tinhaliquidado uma dívida à região da Valónia nomontante de 113 712 000 francos belgasmediante a transferência de 9 704 acções na Hol-ding Verlipack II, cujo valor nominal ascendia a100 milhões de francos belgas mas cujo valor realdevia ser significativamente inferior, atendendo àsituação financeira da empresa nessa altura. Porconseguinte, a Comissão manifestou dúvidasquanto ao facto de um investidor privado poderter aceite esta operação.

3. Especificidade

366. Para ser abrangida pelo n.o 1 do artigo 87.o

do Tratado CE, determinada medida não deveapenas ser uma medida estatal mas ser tambémselectiva, afectando o equilíbrio entre a empresabeneficiária e os seus concorrentes. Este carácterselectivo distingue as medidas de auxílio estataldas medidas gerais de apoio económico, que seaplicam a todas as empresas em todos os sectoresde actividade económica num determinadoEstado-Membro. Desde que não favoreçam umdomínio de actividade específico, estas medidasgerais integram as competências dos Esta-dos-Membros em termos de opções de políticaeconómica. Desta forma, as medidas que têm umimpacto transsectorial e que são aplicáveis deigual forma em todo o território de umEstado-Membro, destinando-se a favorecer todaa economia, não constituem auxílios estatais naacepção do n.o 1 do artigo 87.o do Tratado CE.

367. No caso das condutas Adria-Wien, o Tribu-nal Constitucional austríaco (Verfassungsgeri-chtshof) solicitou ao Tribunal de Justiça que deli-berasse sobre uma questão prejudicial no que serefere à interpretação do artigo 87.o, tendoindagado se as medidas legislativas de um

¥1∂ Ver documento da Comissão sobre a aplicação dos artigos 92.o

e 93.o às participações das autoridades públicas, Boletim CE9/1984, igualmente disponível nas páginas da DG COMP no sítioweb Europa.

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Estado-Membro que prevêem um desagrava-mento da tributação em matéria de energia noque se refere ao gás natural e à electricidade,sendo a redução fiscal apenas concedida,contudo, às empresas cuja actividade principalconsista na produção de mercadorias, podem serconsideradas um auxílio estatal na acepção don.o 1 do artigo 87.o O Tribunal de Justiçaconcluiu que, não obstante o seu carácter objec-tivo, o critério aplicado pela legislação nacionalnão pode ser justificado pela natureza ou âmbitodo regime previsto pela referida legislação, peloque a medida deve ser considerada um auxílioestatal.

368. Em contrapartida, a Comissão decidiu que alei italiana destinada à saída da economia subter-rânea das empresas em situação ilegal e dos tra-balhadores não declarados regularmente consti-tui uma medida geral na acepção do n.o 1 doartigo 87.o do Tratado (1). A medida, que prevêdesagravamentos fiscais e reduções das contri-buições para a segurança social, é aplicável emtodo o território italiano a todas as empresas dequalquer sector que tenham recorrido à contra-tação irregular sem respeitar, no todo ou emparte, as obrigações legais existentes em maté-ria fiscal e no domínio das contribuições para asegurança social. A Comissão verificou que nãotinha sido estabelecida qualquer discriminaçãosistemática, quer a nível do dispositivo, medi-ante a designação de beneficiários específicos,quer a nível da sua aplicação, mediante a atri-buição de poderes discricionários às autorida-des públicas.

369. As medidas belgas que prevêem a reduçãodas contribuições patronais para a segurançasocial a favor dos empregadores que optam porregimes de trabalho a tempo parcial na empresadeviam ser igualmente consideradas como umamedida de carácter geral (2). O dispositivo é auto-maticamente aplicável a todas as empresas naBélgica e ao conjunto dos trabalhadores no sectorprivado e nas empresas públicas autónomas, nãodispondo as autoridades públicas de qualquerpoder discricionário na aplicação deste meca-nismo que não contém, de facto ou de jure, qual-quer elemento de especificidade sectorial, regio-nal ou outro.

370. Na decisão relativa ao imposto britânicosobre as alterações climáticas (3) (ver «Auxílios afavor do ambiente»), a Comissão decidiu queuma isenção fiscal a favor das instalações de pro-dução combinada de calor e energia não assumeum carácter selectivo, não constituindo conse-quentemente um auxílio estatal nos termos don.o 1 do artigo 87.o do Tratado CE.

371. O sistema alemão segundo o qual as empre-sas são obrigadas a proceder à acumulação dereservas financeiras para o financiamento de futu-ras obrigações legais suscitou uma denúncia noque se refere à aplicação deste sistema às centraisde energia nuclear e às suas provisões respeitan-tes à gestão de resíduos e encerramento das ins-talações de produção (4). A Comissão concluiuque o Código Comercial alemão requer que todasas empresas constituam reservas para responsabi-lidades eventuais. Estas regras são aplicadas atodas as empresas de forma idêntica e nãopodem ser restringidas pelo poder discricionáriodo Estado. Por conseguinte, estes regulamentosinserem-se na categoria de medidas gerais e nãopodem ser abrangidas pelas regras em matéria deauxílios estatais estabelecidas pelo Tratado CE.Em todo o caso, a Comissão declarou que asdisposições se justificavam pela natureza oueconomia do sistema alemão de tributação dasempresas.

372. Na sua decisão de início do procedimentoformal de investigação relativamente às empre-sas de seguro cativas das ilhas de Äland (pro-cesso C-55/2001), a Comissão considerou que ocritério de especificidade podia ser preenchido,uma vez que os beneficiários de uma redução doimposto sobre as sociedades se circunscreviam àsempresas que se consagravam às actividades nodomínio do seguro cativo, que representa apenasum segmento do sector segurador.

373. Na sua análise preliminar do sistema neer-landês respeitante às actividades de financia-mento internacional (processo C-51/2001 —11 de Julho de 2001), que prevê benefícios fiscaisrelacionados com o exercício de uma actividadeinternacional, a Comissão também identificouuma especificidade, uma vez que a medida rever-tia apenas em benefício de grupos de empresasque exerciam actividades em pelo menos quatro

¥1∂ Processo N 674/2001, Decisão da Comissão de 13 de Novembrode 2001 (ainda não publicada).

¥2∂ Processo N 232/2001, Decisão da Comissão de 3 de Julho de2001 (JO C 268 de 22.9.2001).

¥3∂ Processo C-18/2001 (ex-N 123/2000), Decisão da Comissão de28 de Março de 2001 (JO C 185 de 30.6.2001).

¥4∂ Processo NN 137/2001, Decisão da Comissão de 11 de Dezem-bro de 2001 (ainda não publicada).

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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países estrangeiros ou dois continentes. Os gru-pos de empresas que desenvolvem actividades anível internacional, mas que não satisfazem oscritérios supramencionados, não podem benefi-ciar da medida.

374. A especificidade pode também advir danacionalidade da empresa, designadamente, cen-tros de coordenação de empresas estrangeiras naAlemanha (processo C-47/2001), empresas isen-tas e elegíveis em Gibraltar (processos C-52/2001e C-53/2001).

4. Efeito sobre o comércio entre Estados-Membros

375. Num processo (1) relativo a um auxílio àsempresas de transporte rodoviário na regiãoFriuli-Venezia-Giulia, o TPI confirmou a suajurisprudência anterior no que se refere às duascondições para a aplicação do n.o 1 do artigo 87.o,designadamente, que deve ser afectado o comér-cio entre os Estados-Membros e distorcida a con-corrência. O TPI salientou que estas duas condi-ções estão em geral, forçosamente interligadasentre si. Em especial, quando o auxílio reforça aposição de uma empresa comparativamente aoutras empresas que concorrem no âmbito docomércio intracomunitário, deve considerar-seque estas últimas são afectadas por esse auxílio.

376. No caso em apreço, o Tribunal lembrou, emprimeiro lugar, que foi já consagrado najurisprudência o princípio de que mesmo um auxí-lio de montante relativamente diminuto é susceptí-vel de afectar as trocas comerciais entre os Esta-dos-Membros nos sectores que se caracterizampor uma forte concorrência, tal como o sector dotransporte. Em segundo lugar, para que o n.o 1 doartigo 87.o seja aplicável, basta que o auxílio ame-ace distorcer a concorrência ou seja susceptível deafectar o comércio entre os Estados-Membros. Porconseguinte, o ónus não recai sobre a Comissão nosentido de estabelecer que o auxílio em causa afec-tou a competitividade de determinadas empresasde transporte no caso em apreço. O TPI salientouigualmente que o facto de a actividade da maioriados beneficiários do auxílio ser sobretudo deíndole local não era de molde a impedir que o auxí-lio produzisse efeitos sobre o comércio entre os

Estados-Membros e a concorrência, desde a aber-tura parcial do mercado de cabotagem à concor-rência. O auxílio reforçava a situação financeira dosector do transporte rodoviário e, deste modo, acapacidade das empresas comerciais de transporterodoviário na região de Friuli-Venezia-Giulia emrelação aos seus concorrentes.

C — Apreciação da compatibilidade dos auxílios com o mercado comum

1. Auxílios horizontais

1.1. Investigação e desenvolvimento

377. Para apoiar a investigação e o desenvolvi-mento no domínio de memórias flash não volá-teis, a Comissão declarou um projecto de auxílioitaliano compatível com o mercado comum, combase na aplicação do enquadramento comunitáriode auxílios estatais à investigação e desenvolvi-mento (2). A Comissão, com base num parecer deperitos científicos, concluiu que o beneficiário doauxílio, a ST Microelectronics, empreendia acti-vidades de investigação industrial. Quanto à con-cepção de novos processos de produção, aComissão qualificou esta parte do projecto comodesenvolvimento pré-competitivo.

378. A Comissão tem sempre sustentado quequalquer adiantamento efectuado pelo Estado,mesmo se for reembolsável em caso de êxito doprojecto, constitui um auxílio estatal. Destemodo, a notificação britânica de um adianta-mento a favor de um projecto de I&D daRolls-Royce foi examinada à luz do enquadra-mento dos auxílios à I&D. A Comissão sustentouque o projecto de I&D pode ser parcialmente con-siderado como não excedendo o estádio de desen-volvimento pré-competitivo em termos de proxi-midade do mercado. Com base numa apreciaçãoefectuada por peritos científicos, a Comissãodecidiu que o nível de risco tecnológico requerapoio público, tendo assim aceite que o auxílioem causa assumia um efeito de incentivo. Umavez que eram preenchidos todos os outros crité-rios estabelecidos no enquadramento dos auxíliosà I&D, a Comissão considerou o auxílio compatí-vel com o Tratado CE.

¥1∂ Acórdão do TPI de 4 de Abril de 2001, Regione autonoma FriuliVenezia Giulia/Comissão, processo T-288/97, ainda não publi-cado.

¥2∂ Processo N 32/2000, Decisão da Comissão de 11 de Abril de2001 (JO C 199 de 14.7.2001).

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379. Na área da litografia, que desempenha umpapel fundamental na definição da estruturaexacta de circuitos integrados, a Comissão apro-vou diversos projectos de I&D (1).

1.2. Emprego, formação e condições de trabalho

380. No quadro de uma política activa no mer-cado de trabalho, a Dinamarca notificou umregime de rotação profissional (2), segundo o qualum empregador ou um trabalhador pode benefi-ciar de uma subvenção que englobe parte dos cus-tos salariais, se o trabalhador participar emacções de educação ou formação no âmbito deum regime de rotação profissional. Tal significaque uma pessoa desempregada que recebe osubsídio de desemprego ocupa o lugar do traba-lhador que se ausenta temporariamente devido àsua participação numa acção de formação. Notermo da acção de formação, a pessoa que nelaparticipou ocupa um outro posto de trabalhojunto do mesmo empregador, podendo a pessoarecém-contratada prosseguir a sua actividadeprofissional nessa empresa. A Comissão conside-rou que este regime não favorece certas empresasou certas produções, não lhe sendo, portanto,aplicável o n.o 1 do artigo 87.o do Tratado CE.Este regime deve ser analisado em articulaçãocom uma decisão anterior da Comissão relativa auma subvenção de emprego abrangendo parte dosalário de trabalhadores recém-contratados (3).Ambos os regimes em conjunto constituem umexemplo de como conjugar a formação e oemprego enquanto medida de política nacionalno mercado de trabalho.

381. No intuito de incentivar os empregadores amelhorarem as condições e o ambiente de traba-lho para além dos requisitos prescritos pela legis-lação, a Dinamarca notificou um regime segundoo qual uma empresa que se consagra ao transporteterrestre, incluindo o transporte rodoviário (emcontraposição às actividades offshore, transporte

marítimo e aéreo), pode receber uma subvenção afim de compensar a taxa sobre o ambiente de tra-balho e para a cobertura dos custos relacionadoscom o procedimento de certificação (4). A Comis-são aceitou o argumento de que a diferenciaçãoentre as empresas de transporte terrestre e as res-tantes pode ser justificada pela natureza ou eco-nomia do sistema. Além disso, o organismo decertificação não dispõe de qualquer possibilidadede favorecer certas empresas ou certas produções.Por conseguinte, considerou-se que a medida nãoera abrangida pelo n.o 1 do artigo 87.o do Tra-tado CE. Em relação à isenção das inspecçõesfacturáveis nas empresas que defrontavam pro-blemas ambientais específicos, a Comissão deci-diu que tal não implicava uma perda de receitasou custos mais elevados para o Estado. Destemodo, esta medida também não era abrangidapelo âmbito de aplicação do n.o 1 do artigo 87.o

do Tratado CE.

1.3. Ambiente

382. A Comissão dispôs de diversas oportunida-des para aplicar o novo enquadramento comuni-tário dos auxílios estatais a favor do ambiente,que foi adoptado em Dezembro de 2000 epublicado no Jornal Oficial em 3 de Fevereirode 2001 (5). Vários Estados-Membros, impelidospelo Protocolo de Quioto da Convenção-Quadrodas Nações Unidas sobre as Alterações Climáti-cas adoptado em Dezembro de 1997, procuraramassegurar uma redução das emissões de gases deestufa mediante a tributação da energia não favo-rável ao ambiente. O Reino Unido, por exemplo,introduziu um imposto sobre as alterações climá-ticas no que se refere à utilização da energia paraoutros efeitos que não domésticos. Prevê-se umaredução das taxas ou uma isenção total desteimposto a favor de diversos beneficiários por umperíodo de dez anos.

383. A notificação britânica da isenção fis-cal/redução do imposto sobre as alterações climá-ticas (6) suscitou uma série de diferentes questõesem matéria de auxílios estatais, uma das quais(isenção a favor dos combustíveis de utilizaçãodupla) conduziu à abertura de um procedimentoformal de investigação.

¥1∂ Processo N 430/2001, Decisão da Comissão de 30 de Outubro de2001 (ainda não publicada), processo N 433/2001, Decisão daComissão de 30 de Outubro de 2001 (ainda não publicada), pro-cesso N 801/2000, Decisão da Comissão de 18 de Julho de 2001(JO C 333 de 28.11.2001). Nas duas primeiras decisões, a Comis-são declarou expressamente que os auxílios poderiam igualmenteter sido autorizados ao abrigo do n.o 3, alínea b), do artigo 87.o doTratado CE, uma vez que os projectos podiam ser consideradosprojectos importantes de interesse europeu comum na acepçãodesta disposição.

¥2∂ Processo N 236/2001, Decisão da Comissão de 25 de Julho de2001 (JO C 268 de 22.9.2001).

¥3∂ Processo N 357/1996 (JO C 67 de 4.3.1997), conforme alteradono processo N 142/1999 (JO C 151 de 29.5.1999).

¥4∂ Processo N 246/2001, Decisão da Comissão de 19 de Setembrode 2001 (ainda não publicada).

¥5∂ JO C 37 de 3.2.2001, p. 3.¥6∂ Processo C-18/2001 (ex-N 123/2000), Decisão da Comissão de

28 de Março de 2001 (JO C 185 de 30.6.2001).

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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384. No que diz respeito aos fornecedores deelectricidade que celebraram um contrato comempresas que produzem fontes de energia taiscomo a energia eólica, a hidroenergia até 10 MW,energia das marés, energia das ondas, etc. — adenominada electricidade verde no âmbito de umprocesso neerlandês (1) — a Comissão aceitou oargumento de que a isenção se justifica pela natu-reza ou economia do sistema fiscal. Uma vez quea produção de electricidade verde não contribuipara as emissões de CO2 a longo prazo, é lógicoque não seja aplicável o imposto CO2. Por conse-guinte, esta isenção fiscal não é abrangida peloâmbito de aplicação do n.o 1 do artigo 87.o doTratado CE. Não obstante, a Comissão continuoua examinar as medidas britânicas e neerlandesascom base na aplicação do enquadramento dosauxílios estatais a favor do ambiente.

385. No que se refere ao imposto britânico, acompatibilidade foi examinada, pela primeiravez, com base no conceito de «auxílio ao funcio-namento sob forma de desagravamentos ouisenções fiscais e baseados na celebração de acor-dos entre o Estado-Membro e os beneficiários doauxílio» (2). No processo neerlandês relativo àelectricidade verde, a compatibilidade foi apreci-ada com base nas regras em vigor em matéria defiscalidade. Dado que todas as condições estabe-lecidas no enquadramento relativo ao ambienteeram plenamente preenchidas, a Comissão nãoformulou quaisquer objecções em relação a estetipo de isenções.

386. A segunda notificação britânica de particu-lar interesse nesta área circunscreve-se a umaisenção fiscal global do imposto sobre as altera-ções climáticas no que se refere ao gás natural naIrlanda do Norte por um período de cincoanos (3). A Comissão reconheceu a situação espe-cífica do mercado do gás natural na Irlanda doNorte, caracterizado por uma indústria em fase dearranque (desde 1996), por preços superiores em40%-70% aos prevalecentes no resto do ReinoUnido, pela falta de uma infra-estrutura de gás epela proporção negligenciável do gás em termosde consumo de energia (2,4%), tendo reconhe-cido que a aplicação de um imposto ambiental

sobre o gás criaria novos obstáculos para estemercado já caracterizado por uma situação precá-ria. Do ponto de vista ambiental, trata-se de umafonte de energia preferível, e se as empresasforem efectivamente incentivadas a substituíremo carvão, o petróleo ou a electricidade pelo gás,tal conduzirá potencialmente a uma redução sig-nificativa das emissões de CO2 devido à actualproporção relativamente diminuta do gás em ter-mos de consumo total de energia. A Comissãoaceitou igualmente o argumento apresentadopelo Reino Unido de que o desenvolvimento dainfra-estrutura de gás só poderá prosseguir se asempresas optarem pelo abastecimento a gás.Mediante a aprovação de condições favoráveisdestinadas a promover esta procura, a decisão daComissão também fomenta indirectamente odesenvolvimento de uma infra-estrutura de gás naIrlanda do Norte.

387. Uma medida belga, circunscrita à região daFlandres, introduz certificados verdes para osprodutores de energia verde. Apesar de ter con-cluído que a emissão de certificados verdes pelasautoridades da Flandres não envolvia recursosestatais (ver supra «Origem dos recursos»), aComissão prosseguiu o exame da medida notifi-cada com base no enquadramento dos auxílios afavor do ambiente, tendo declarado a mesmacompatível com o mercado comum (4). Foi adop-tada a mesma abordagem no que se refere àsmedidas tomadas pelo Reino Unido que impõemuma obrigação aos fornecedores de electricidadena Escócia, em Inglaterra e no País de Gales nosentido de assegurar que uma proporção da elec-tricidade fornecida aos clientes na Grã-Bretanhaseja proveniente de fontes de energia renová-vel (5). As medidas britânicas prevêem igual-mente que os fornecedores que não dispõem deum número suficiente de certificados de electrici-dade verde deverão efectuar pagamentos a favorde um fundo, instituído e explorado pelo Estado.As receitas deste fundo serão distribuídas aos for-necedores. A Comissão considerou que o meca-nismo de redistribuição constitui um auxílioestatal. Dado que as regras que regem o meca-nismo de redistribuição são consentâneas com oenquadramento dos auxílios a favor do ambiente,a Comissão declarou-as compatíveis com oTratado. ¥1∂ Processo NN 30/B/2000, Decisão da Comissão de 28 de Novem-

bro de 2001 (ainda não publicada).¥2∂ Em relação a este aspecto, ver igualmente Processo N

840/A/2000, Decisão da Comissão de 6 de Junho de 2001 erectificação da decisão da Comissão de 17 de Outubro de 2001(JO C 358 de 15.12.2001).

¥3∂ Processo N 660/A/2000, Decisão da Comissão de 18 de Julho de2001 (JO C 263 de 19.9.2001).

¥4∂ Processo N 550/2000, Decisão da Comissão de 25 de Julho de2001 (JO C 330 de 24.11.2001).

¥5∂ Processo N 504/2000, Decisão da Comissão de 28 de Novembrode 2001 (ainda não publicada).

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388. A notificação do Reino Unido relativa a umregime de comercialização das emissões tendoem vista a redução das emissões de gás comefeito de estufa foi considerada compatível com oenquadramento dos auxílios estatais a favor doambiente (1). O sistema de comercialização per-mite aos participantes em diferentes mecanismoscom vista a alcançar determinados objectivosneste domínio comercializarem os seus direitosem matéria de emissões entre si e com outros par-ticipantes. Os direitos em matéria de emissão sãoatribuídos gratuitamente aos participantes. Anotificação reveste igualmente interesse devidoao facto de a Grã-Bretanha, para além do regimede comercialização, conceder subvenções àsempresas em contrapartida de reduções absolutasem matéria de emissões em relação às quais apre-sentaram propostas no âmbito de um concurso. OReino Unido sustentou que estas subvenções sãonecessárias a título de incentivo, tendo a Comis-são declarado as mesmas compatíveis com oenquadramento dos auxílios a favor do ambientedevido ao facto de não vigorar qualquer regimeobrigatório a nível da UE nesta área e na condiçãodesta lacuna subsistir no futuro.

1.4. Emergência e reestruturação

389. Em 1999, a Comissão propôs medidas ade-quadas a todos os Estados-Membros no que serefere às orientações comunitárias relativas aosauxílios estatais de emergência e à reestruturaçãoconcedidos a empresas em dificuldade. Todos osEstados-Membros aceitaram as referidas medi-das, uma das quais consistia em assegurar a con-formidade dos regimes existentes neste domínionalguns Estados-Membros com as novas orienta-ções na matéria. Em 2000, a Comissão encetouum diálogo bilateral com diversos Estados-Mem-bros tendo em vista a adaptação dos seus regimesde auxílio existentes. Em relação à Alemanha (2),

o Estado-Membro com o maior número de regi-mes deste tipo, os serviços da Comissão regista-ram em 2001 que os regimes de auxílio em causatinham sido adaptados às novas orientações.

390. Em 28 de Março de 2001, no âmbito doprocesso C-41/99, a Comissão Europeia encerroua investigação sobre um dos casos de maiorimportância e complexidade no domínio dosauxílios estatais na Alemanha Oriental. EmMarço de 1996, a Comissão autorizou a con-cessão de um auxílio a favor da empresa gestorade participações sociais Lintra e das suas oito fili-ais. Subsequentemente, o plano de privatizaçãodo grupo desmoronou-se. A Comissão concluiuque o auxílio no montante de 623 milhões demarcos alemães tinha sido concedido, não obs-tante, em conformidade com o plano de reestrutu-ração do grupo, tendo respeitado a decisão deautorização de auxílio adoptada pela Comissão.No entanto, concluiu que um montante de35 milhões de marcos alemães tinha sido objectode uma utilização abusiva, devendo ser recupe-rado junto dos beneficiários, designadamente, aempresa gestora de participações sociais Lintra erespectivas filiais. A concessão de auxílio estatala favor de diversas filiais da Lintra tem vindo a serexaminada no âmbito de procedimentos distintos.

391. Em 8 de Maio de 2001, no processoC-1/2000, a Comissão Europeia autorizou umempréstimo subordinado concedido pelo bancopúblico Kreditanstalt für Wiederaufbau («KfW»)no valor de 76,7 milhões de euros (150 milhõesde marcos alemães) e uma garantia federal de80% respeitante a um crédito de 63,9 milhões deeuros (125 milhões de marcos) a favor daempresa alemã de construção civil, a PhilippHolzmann AG. A Comissão concluiu que asmedidas de reestruturação eram adequadas pararestabelecer a viabilidade a longo prazo daempresa e para evitar os erros cometidos anterior-mente. Nesse contexto, a Comissão teve em contaas modificações introduzidas no plano inicial eautorizou uma linha de crédito por um ano novalor de 125 milhões de marcos alemães(63,9 milhões de euros) concedida pelo Kredi-tanstalt für Wiederaufbau no final de 2000.

392. Em 3 de Julho de 2001, no processo C-33/98,a Comissão Europeia adoptou uma decisão parci-almente negativa no que diz respeito ao auxílioconcedido à Babcock Wilcox España («BWE»).Em Abril de 1998, a Comissão deu início a umprocedimento formal de investigação ao abrigodas regras do Tratado CE em matéria de auxílios

¥1∂ Processo N 416/2001, Decisão da Comissão de 28 de Novembrode 2001 (ainda não publicada).

¥2∂ Processos E 4/2001 (ex-N 297/01, ex-N 81/93), E 5/2001(ex-N 591/90), E 6/2001 (ex-N 77/90), E 7/2001 (ex-N 18/93),E 8/2001, E 9/2001 (ex-N 512/91), E 10/2001 (ex-N 594/91),E 11/2001 (ex-N 627/91), E 12/2001 (ex-N 255/90), E 13/2001(ex-N 155/88), E 14/2001 (ex-N 442/91), E 15/2001 (ex-N 24/95),E 16/2001 (ex-N 73/93), E 17/2001 (ex-N 413/91), E 18/2001(ex-NN 81/90), E 20/2001 (ex-N 18/83), E 21/2001 (ex-N 81/95,ex-N 851/96), E 22/2001 (ex-N 901/96), E 23/2001 (ex-N 181/95,ex-N 79/98), E 24/2001 (ex-N 400/94, ex-N 997/95), E 25/2001(ex-N 219/96), E 26/2001 (ex-N 75/95, ex-N 420/97, ex-NN 106/97),E 27/2001 (ex-N 599/96), E 28/2001 (ex-N 181/97, ex-N 117/95,ex-N 767/95), E 29/2001 (ex-N 711/95, ex-N 618/96), E 30/2001(ex-N 629/96), E 31/2001 (ex-N 337/96), E 32/2001 (ex-N 452/97),E 33/2001 (ex-NN 74/95, ex-N 370/97), E 34/2001 (ex-N 183/94).

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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estatais no que se refere a duas injecções de capi-tal, ambas no valor de 60,1 milhões de euros(10 000 milhões de pesetas), que a SociedadEstatal de Participaciones Industriales (SEPI)tinha concedido em 1994 e 1997 à sua filial a100%, a BWE. Em Julho de 1999, a Comissãodecidiu alargar o procedimento, por forma aincluir no âmbito da investigação uma nova injec-ção de capital de 246,4 milhões de euros(41 000 milhões de pesetas) notificada pelasautoridades espanholas. Por último, em Julho de2000, a Comissão alargou novamente o procedi-mento por forma a englobar auxílios num valortotal de 463,5 milhões de euros (77 110 milhõesde pesetas) que tinham sido propostos no âmbitodo acordo de privatização entre a SEPI e a Bab-cock Borsig AG. A Comissão decidiu proibir oauxílio de 21,44 milhões de euros que as autori-dades espanholas tencionavam conceder àempresa em actividade, tendo em vista a realiza-ção de investimentos futuros no capital de empre-sas comuns através das quais realizará encomen-das futuras. Ao invés dos outros investimentossubvencionados, previstos no plano industrial, aComissão considerou que o desembolso destemontante se aproximava excessivamente do mer-cado, inserindo-se na política comercial daempresa e, que consequentemente, o apoio con-cedido pelo Estado neste contexto era susceptívelde distorcer gravemente a concorrência numamedida contrária ao mercado comum.

393. Em 30 de Outubro de 2001, no processoC-36/2000, após uma investigação aprofundadainiciada em Junho de 2000, a Comissão Europeiaadoptou uma decisão final negativa relativamenteao auxílio a favor do fabricante de porcelana ale-mão, a Graf von Henneberg GmbH, estabelecidona Turíngia. A Comissão ordenou a recuperaçãode cerca de 71,3 milhões de euros (139,4 milhõesde marcos alemães), que foi considerado comoum auxílio incompatível e ilegal. Em conformi-dade com a sua prática na matéria, a Comissãodecidiu que a empresa actualmente existente, aGraf von Henneberg, é solidariamente responsá-vel juntamente com a sua antecessora, para efei-tos de recuperação do auxílio incompatível na suaglobalidade.

2. Auxílios com finalidade regional

394. A Comissão encerrou o procedimento for-mal de investigação relativo à Investitionszula-gengesetz 1999 a favor dos novos Länder

alemães, incluindo Berlim (1). Trata-se da lei res-peitante ao regime de auxílio regional maisimportante a favor das empresas na AlemanhaOriental. Foi possível adoptar uma decisão posi-tiva devido à introdução de diversas alterações nalei alemã no decurso do procedimento deinvestigação. Em especial, a Alemanha aceitouestabelecer uma distinção entre investimento ini-cial, em relação ao qual podem ser concedidosauxílios ao investimento, e investimento desubstituição, que deve ser considerado como umauxílio ao funcionamento. No que diz respeito aeste último, foram acrescentadas condições espe-cíficas aplicáveis aos auxílios ao funcionamento(intensidade máxima de auxílio de 5% e inexis-tência de qualquer auxílio ao funcionamento após31 de Dezembro de 2004). Além disso, a leialemã foi alterada a fim de respeitar o âmbitogeográfico e as intensidades máximas de auxílio,conforme estabelecidas nas decisões da Comis-são relativas ao mapa de auxílios com finalidaderegional aplicável à Alemanha (as intensidadesmáximas de auxílio oscilam entre 10% e 27,5%,consoante o o beneficiário do auxílio ser umaPME e/ou se situar numa região Interreg III, nazona limítrofe da República Checa ou da Poló-nia). Neste contexto, a região que engloba o mer-cado de trabalho de Berlim deve ser analisadaseparadamente. Tal abrange a cidade de Berlim erespectiva periferia (que pertence ao Länd deBrandeburgo) e deve ser considerada uma regiãoelegível nos termos do n.o 3, alínea c), doartigo 87.o do Tratado CE, ao invés dos Länder daAlemanha Oriental que são regiões elegíveis nostermos do n.o 3, alínea a), do artigo 87.o do Tra-tado CE. Por conseguinte, a intensidade máximade auxílio autorizada na região de Berlim é de20% no que diz respeito ao auxílio ao investi-mento, não sendo possível a concessão de qual-quer auxílio ao funcionamento.

395. O principal regime de auxílio com finali-dade regional a favor da Flandres (2) foi aprovadopela Comissão sem necessidade de dar início aum procedimento formal de investigação. O«regime de auxílio a favor das empresas dedimensão média e grande nas áreas elegíveis paraefeitos de auxílio regional nos termos do n.o 3,alínea c), do artigo 87.o do Tratado CE (lei rela-

¥1∂ Processo C-72/98 (ex-N702/97), N 671/99, E5/98, Decisão daComissão de 28 de Fevereiro de 2001 (ainda não publicada).

¥2∂ Processo N 715/2000, Decisão da Comissão de 21 de Dezembrode 2000, carta ao Estado-Membro com data de 7 de Fevereiro de2001 (JO C 244 de 1.9.2001).

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tiva à expansão económica de 30.12.1970)» temcomo principal objectivo incentivar o investi-mento nas empresas. No âmbito deste regime, aComissão aprovou a locação de um edifício comoum custo de investimento elegível, ou seja, atítulo de custos de capital fixo e não como despe-sas correntes de uma empresa mas, para o efeito,devem ser preenchidas cumulativamente as con-dições a seguir referidas: os contratos de locaçãodevem ser inscritos como activos fixos nobalanço do beneficiário do auxílio; o arrendatáriocalcula a amortização respeitante aos activosarrendados; o contrato de locação deve ter umaduração de pelo menos cinco anos; o contrato delocação não engloba as despesas correntes (porexemplo, custos de manutenção, despesas emmatéria de seguro, etc.).

396. No âmbito do British Regional SelectiveAssistance Scheme (1), a Comissão aceitou umavez mais a locação do edifício como um custo decapital fixo. As condições a serem respeitadas sãoas seguintes: a locação deve ser por um períodomínimo de oito anos e abranger apenas o edifício,excluindo todos os custos de exploração conexostais como impostos, serviços comuns, seguro,reparações, electricidade, gás, etc. Para calcular ovalor do arrendamento, os pagamentos desem-bolsados a título de renda durante pelo menosoito anos serão actualizados, de modo a estabele-cer o valor actual líquido do arrendamento.

397. Uma notificação italiana (2) suscitou umdebate interessante sobre a definição de investi-mento inicial. O regime fiscal não faz qualqueralusão específica aos investimentos iniciais refe-ridos nos pontos 4.4 e 4.6 das orientações relati-vas aos auxílios com finalidade regional. Noentanto, o regime propõe uma definição técnicade investimento elegível para efeitos de auxílio,que coincide com os investimentos líquidos cal-culados como a diferença entre os investimentosbrutos de uma empresa em novos activos duranteo período de referência (correspondente aoaumento da capacidade de produção da empresa)e os montantes das vendas, abates e amortizaçãode todos os activos da empresa durante o mesmoperíodo de referência (correspondente à diminui-ção da capacidade de produção da empresa). Porconseguinte, para determinar os investimentos

elegíveis, o regime prevê a dedução aos investi-mentos brutos totais, dos investimentos desubstituição realizados a fim de repor a capaci-dade de produção da empresa, reduzida pelasvendas, abates e amortização de todos os activosao longo de um determinado período. Com basenesta definição, a Comissão aceitou que os inves-timentos elegíveis para efeitos de auxílio corres-pondem aos investimentos iniciais na acepçãodas orientações relativas aos auxílios com finali-dade regional.

398. Em contrapartida, a Comissão decidiu que adefinição (investimento em activos fixos corpó-reos novos) contida nalgumas leis fiscais espa-nholas (3) não pode ser considerada como umauxílio ao investimento na acepção das orienta-ções, uma vez que as despesas são susceptíveis definanciar investimentos de substituição, que sãoconsiderados auxílios ao funcionamento.

399. Em sete casos, a Comissão teve de iniciar oprocedimento formal de investigação relativa-mente a regimes de auxílios fiscais espanhóis nãonotificados (4). O argumento de que as isençõespodem ser justificadas pela natureza e economiado sistema fiscal foi rejeitado pela Comissão. Emtrês casos (5), a Comissão rejeitou o argumentode que o regime fiscal em análise devia ser consi-derado como um auxílio existente. A Comissãoconsiderou que se tratava de um auxílio novo,uma vez que os regimes em análise continhamalterações substanciais ou não estavam ligadosaos regimes fiscais existentes antes da adesão daEspanha à UE. Em três instâncias (relativamenteàs reduções do montante de imposto a pagar, até45% do investimento realizado (6)), a Comissãoconsiderou que se tratava, em parte, de um auxí-lio ao investimento e, em parte, de um auxílio aofuncionamento, tendo nos restantes quatro casos(respeitantes a isenções fiscais temporárias, ouseja, reduções progressivas do montante colectá-vel básico ao longo de quatro exercícios fiscaisconsecutivos (7)) considerado que se tratava de

¥1∂ Processo N 731/2000, Decisão da Comissão de 25 de Abril de2001 (JO C 211 de 28.7.2001).

¥2∂ Processo N 646/A/2000, Decisão da Comissão de 13 de Feve-reiro de 2001 (JO C 149 de 19.5.2001).

¥3∂ Processos C-48/1999, C-53/1999 e C-54/1999, ver infra.¥4∂ Processo C-48/1999, Decisão da Comissão de 11 de Julho de

2001 (ainda não publicada), processo C-49/1999, Decisão daComissão de 11 de Julho de 2001 (ainda não publicada), Pro-cesso C-50/1999, Decisão da Comissão de 11 de Julho de 2001(ainda não publicada), Processo C-51/1999, Decisão da Comis-são de 11.7.2001 (ainda não publicada), processo C-52/1999,Decisão da Comissão de 11 de Julho de 2001 (ainda não publi-cada), processo C-53/1999, Decisão da Comissão de 11 de Julhode 2001 (ainda não publicada), processo C-54/1999, Decisão daComissão de 11 de Julho de 2001 (ainda não publicada).

¥5∂ Processos C-48/1999, C-53/1999, C-54/1999, ver supra.¥6∂ Processos C-48/1999, C-53/1999, C-54/1999, ver supra.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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um auxílio ao funcionamento. Em nenhum doscasos foi o auxílio compatível ao abrigo de umaqualquer derrogação do Tratado, tendo a Comis-são convidado a Espanha a recuperar o auxílioilegal.

400. Em 1998, a Comissão propôs medidas ade-quadas a todos os Estados-Membros no quadrodas orientações relativas aos auxílios estatais comfinalidade regional. Em 1999 e 2000, a Comissãoencetou um diálogo bilateral com diversos Esta-dos-Membros a fim de ajustar os seus regimes deauxílio regional existentes, atendendo à formula-ção e significado exactos das disposições conti-das nas orientações relativas aos auxílios comfinalidade regional. Em relação à Itália (1) e àAlemanha (2), diversos processos foram encerra-dos este ano através do envio de uma carta pelosserviços da Comissão em que era assinalado ofacto de o regime de auxílio regional em causa tersido adaptado às orientações relativas aos auxí-lios com finalidade regional.

401. Além disso, a Comissão tomou uma sériede decisões ao abrigo do enquadramento multis-sectorial dos auxílios para grandes projectos deinvestimento (3). Em 8 de Maio de 2001, no pro-cesso N 783/2000, a Comissão Europeia decidiunão formular objecções relativamente a um auxí-lio proposto no montante de 119 080 000 euros afavor da Wacker Chemie GmbH Nünchritz, paraa ampliação e a modernização das antigas instala-ções de silicone da Hüls AG. A Comissão con-cluiu que a intensidade proposta de 26,77% deequivalente-subvenção bruto (ESB) era inferior àintensidade de auxílio máxima passível de serautorizada para este projecto específico ao abrigodo enquadramento multissectorial. Na análise dacompatibilidade do auxílio, a Comissão teve emconta a situação de mercado, o número de postosde trabalho directamente criados em consequên-cia do projecto e os efeitos benéficos do investi-mento sobre as economias das regiões assisti-das (4). Em 18 de Julho de 2001, no processoN 184/2000, a Comissão Europeia aprovou umauxílio no valor de 27,6 milhões de euros a favordo investimento do Kartogroup na Leuna, Saxó-nia-Anhalt. O investimento incide sobre a criação

de instalações de fabrico de papel tecido tendoem vista a produção de papel higiénico e papel decozinha. O custo total do investimento ascende a85 milhões de euros (166 milhões de marcos ale-mães) e o auxílio aprovado representa 35% doscustos de investimento elegíveis. O projecto deinvestimento cria 154 postos de trabalho perma-nentes numa área caracterizada por uma elevadataxa de desemprego. A Comissão autorizou oauxílio, dado que o considerou compatível com oenquadramento multissectorial dos auxílios comfinalidade regional para grandes projectos deinvestimento.

3. Auxílios sectoriais

3.1. Sectores sujeitos a regras específicas

3.1.1. Construção naval

402. Em conformidade com o n.o 1 do artigo 3.o

do Regulamento (CE) n.o 1540/98 do Conselho,que estabelece novas regras de auxílio à constru-ção naval (5), não foi autorizado qualquer novoauxílio ao funcionamento a favor da construçãonaval desde o início de 2001.

403. Em consonância com a sua posição de 29 deNovembro, a Comissão implementou a sua estra-tégia composta por dois vectores com vista a pro-teger o sector comunitário da construção navaldas alegadas subvenções atribuídas pela Coreia afavor do seu sector de construção naval. Por umlado, realizou investigações ao abrigo do Regula-mento relativo aos entraves comerciais (6) e pre-parou a sua acção contra a Coreia no âmbito daOMC. Por outro lado, propôs um regulamentorelativo a um mecanismo de defesa temporá-rio (7).

404. O mecanismo temporário de defesa pro-posto constitui uma medida excepcional, desti-nado a apoiar a acção da Comissão contra aCoreia ao abrigo do Acordo sobre as Subvençõese as Medidas de Compensação da OMC. Apenasentrará em vigor quando a Comissão intentar aacção contra a Coreia sob os auspícios da OMC edeixará de vigorar se a Comunidade e a Coreiaalcançarem um acordo sobre esta questão. Em¥7∂ Processos C-49/1999, C-50/1999, C-51/1999, C-52/1999, ver

supra.¥1∂ Processos N 272/98, NN 132/93, N 307/96, NN 61/93, NN 88/93,

N 26/98, N 487/95, N 747/97, N 659/a/97, N 288/96, C 27/89.¥2∂ Processos N 711/95, N 618/96.¥3∂ JO C 107 de 7.4.1997, p. 1.¥4∂ O limite para os auxílios com finalidade regional na área assistida

em causa é de 35% brutos para as empresas de grande dimensão.

¥5∂ JO L 202 de 18.7.1998, p. 1.¥6∂ Regulamento (CE) n.o 3286/94 do Conselho, JO L 349 de

31.12.1994, p. 71.¥7∂ COM(2001) 401 final; JO C 304 E de 30.10.2001, p. 208.

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todo o caso, a sua vigência findará em 31 deDezembro de 2002.

405. O Conselho da Indústria de 5 de Dezembronão alcançou o consenso necessário para adoptaro mecanismo temporário de defesa. Consequen-temente, a Comissão não iniciou ainda a acçãocontra a Coreia no âmbito da OMC. No entanto,actualizará as suas investigações na matériadurante o primeiro semestre de 2002.

406. Em 25 de Julho de 2001, a Comissãodecidiu declarar o auxílio estatal não notificadoa favor dos investidores da embarcação «LeLevant» como incompatível com o mercadocomum (1). O navio foi financiado por investido-res privados, continuando a ser da sua proprie-dade. O navio é explorado pela empresa CIL, quedeverá igualmente tornar-se o seu eventual pro-prietário futuro. Os investidores dispunham dodireito de deduzir os seus custos de investimentodo seu rendimento tributável em conformidadecom um regime fiscal («Loi Pons»). Em relação aeste tipo de projectos, a Comissão deve verificar avertente de desenvolvimento do projecto. Nestecaso, a Comissão considerou que a embarcaçãonão contribuía de uma forma significativa para odesenvolvimento de Saint-Pierre-et-Miquelon.Dado que o auxílio ilegal tinha sido já concedido,deve o mesmo ser recuperado. A Comissão consi-dera que são os investidores, na qualidade debeneficiários directos e proprietários actuais donavio, que devem reembolsar o auxílio.

407. A Comissão decidiu alargar uma investiga-ção formal sobre a reestruturação do sector deconstrução naval espanhol, mediante a inclusãode todas as operações conducentes à criação dogrupo de construção naval IZAR (2). A Comissãomanifesta dúvidas quanto ao facto de o preçopago pela Bazan (que passou subsequentemente adenominar-se IZAR), um grupo de construçãonaval militar, de propriedade pública, por umasérie de estaleiros adquiridos ao grupo de cons-trução naval civil Astilleros Espanoles (AESA) eà holding pública Sociedad Estatal de Participati-ones Industriales (SEPI) corresponder a verda-deiras operações de mercado, podendo assimconstituir um auxílio a favor do novo grupoIZAR. A Comissão duvida da compatibilidadedeste auxílio com as regras existentes em matériade auxílios à construção naval. Por conseguinte,

decidiu alargar o procedimento de investigação jáem curso relativamente a uma operação mediantea qual a AESA alienou dois estaleiros navais euma fábrica de automóveis à SEPI.

3.1.2. Siderurgia

408. O Sexto Código dos Auxílios à Siderurgia,que permanecerá em vigor até ao termo davigência do Tratado CECA em Julho de 2002, sóautoriza a concessão de auxílios num númerolimitado de casos, designadamente, para efeitosde investigação e desenvolvimento, protecçãodo ambiente e financiamento de medidas sociaisno âmbito do encerramento de instalaçõessiderúrgicas.

409. A Comissão aprovou auxílios para a protec-ção do ambiente a favor das seguintes empresassiderúrgicas CECA: Voest Alpine Linz (1,6 mi-lhões de euros), Voest Alpine Donawitz (2,6 mi-lhões de euros), Böhler Edelstahl (348 830 euros)e diversas empresas espanholas. Adoptou umadecisão negativa em relação a um auxílio a favorda BRE.M.A Warmwalzwerk (622 564 euros),uma vez que não tinha sido incluída qualquer de-dução das poupanças geradas pelo investimento,conforme exigido pelo anexo ao Código dos Au-xílios à Siderurgia.

410. A Comissão aprovou auxílios para efeitosde I&D a favor da Corus Technology BV(166 661 euros), Sidmar NV (505 620 euros),Stahlwerke Bremen (290 828 euros) e CogneAcciai Speciale (2,58 milhões de euros). Adop-tou uma decisão negativa no que diz respeito a umauxílio a favor da Eko Stahl (399 004 euros),dado que considerou que esta empresa apenasfuncionaria como um «terreno experimental»para os outros participantes num projecto deI&D.

411. A Comissão adoptou igualmente duas deci-sões finais relativas à Georgsmarienhuette Hol-ding GmbH e à Groeditzer Stahlwerke GmbH,tendo considerado que não havia qualquer ele-mento de auxílio inerente ao contrato de gestão eà venda de activos.

3.1.3. Carvão

412. Quatro Estados-Membros produzem actu-almente carvão na UE. Em virtude das condiçõesgeológicas desfavoráveis, a maioria das minas naUE não são competitivas em relação ao carvãoimportado. Não obstante, os Estados-Membros

¥1∂ Processo C-74/99.¥2∂ Processo C-40/00, Decisão de 28 de Novembro de 2001.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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em causa optam por apoiar a sua indústria deextracção de carvão, sobretudo por motivos soci-ais e regionais. Os auxílios estatais são regidospela Decisão 3632/93/CECA (1), que estabeleceas condições e as modalidades de concessão des-tes auxílios. Os Estados-Membros notificam osauxílios estatais numa base anual. A Comissãoanalisa cuidadosamente os pedidos e concede arespectiva autorização. O que precede será válidoaté à expiração do Tratado CECA.

413. A Comissão adoptou, mediante decisão de25 de Junho de 2001, uma proposta de regula-mento do Conselho relativo aos auxílios estatais àindústria do carvão (2) na perspectiva do trata-mento dos auxílios estatais que serão concedidosapós 23 de Julho de 2002.

414. Em 2001, a Comissão autorizou regimes deauxílio estatal que permitem à Alemanha (3),França (4), Espanha (5) e Reino Unido (6) conce-der o financiamento público necessário a favor daindústria de carvão para o ano de 2001. Estesauxílios asseguram a cobertura da diferença entreos custos de produção e o preço do carvão comer-cializado a nível internacional, bem como umacompensação pelo pagamento das contribuiçõespara a segurança social.

3.1.4. Indústria automóvel

415. Em 13 de Novembro de 2001, a Comissãodecidiu prorrogar o prazo de vigência do enqua-dramento comunitário dos auxílios estatais nosector dos veículos automóveis (JO C 279 de15.9.1997). Todos os Estados-Membros aceita-ram a prorrogação que é válida por um ano, ouseja, até 31 de Dezembro de 2002, excepto se onovo enquadramento multissectorial relativo aosauxílios com finalidade regional para os grandesprojectos de investimento, que substituirá oenquadramento sectorial específico aplicável àindústria de veículos automóveis, entrar em vigorantes dessa data.

416. Em 17 de Janeiro de 2001, a ComissãoEuropeia autorizou um auxílio ao investimentoregional no montante de 40 milhões de librasesterlinas a favor da Nissan Motor Manufactu-ring Ltd (7). O auxílio em causa constitui umauxílio ao investimento regional destinado àtransformação das instalações de produção deveículos automóveis em Sunderland (ReinoUnido), com vista à introdução do novo modelo«Micra». As dúvidas iniciais da Comissão, queconduziram à abertura do procedimento formalde investigação em Setembro de 2000, não foramconfirmadas.

417. Em 6 de Junho, a Comissão decidiu adoptaruma decisão final negativa relativamente ao auxí-lio à investigação e desenvolvimento que as auto-ridades italianas propunham conceder à IVECOS.p.A, uma filial do Grupo Fiat, que desenvolveactividades no domínio da concepção. O valor doauxílio projectado ascendia a 16 milhões deeuros, em termos nominais, a favor de umprojecto de investimento no montante de111 milhões de euros, tendo em vista renovação ea expansão da gama de veículos ligeiros daIVECO.

418. A Comissão concluiu que o auxílio projec-tado não era necessário para o desenvolvimentode uma nova gama de veículos ligeiros pelaIVECO. Apesar do projecto se traduzir num pro-duto melhorado em relação ao modelo anterior, ocarácter inovador do investimento não ia paraalém da prática corrente na indústria automóvel,no contexto do desenvolvimento e lançamento denovos modelos.

419. Em conformidade com as regras que regemos auxílios estatais à I&D, os auxílios só podemser concedidos se servirem de incentivo para queas empresas empreendam actividades de I&Dpara além das suas operações quotidianas nor-mais. Se o desenvolvimento de um novo modeloou gama de modelos fosse considerado comouma actividade de investigação passível de bene-ficiar de auxílio, todos os fabricantes de automó-veis poderiam solicitar um auxílio à I&D relativa-mente a todos os modelos novos por elesintroduzidos no mercado. A subvenção públicacorresponderia nesse caso a um simples auxílioao funcionamento e não prosseguiria o objectivopretendido de incentivar as empresas a empreen-

¥1∂ JO L 329 de 30.12.1993, p. 12.¥2∂ COM(2001) 423 final (JO C 304 E/202 de 30.10.2001).¥3∂ Decisão da Comissão de 21 de Dezembro de 2000, N1/2001, JO

L 127 de 9.5.2001, p. 55.¥4∂ Decisão da Comissão de 23 de Maio de 2001, N3/2001, JO L 239

de 7.9.2001, p. 35.¥5∂ Decisão da Comissão de 11 de Dezembro de 2001, N2/2001,

ainda não publicada.¥6∂ Decisão da Comissão de 8 de Maio de 2001, N4/2001, JO L 241

de 11.9.2001, p. 10; Decisão da Comissão de 25 de Julho de2001, N 6/2001, JO L 305 de 22 de Novembro de 2001, p. 27;Decisão da Comissão de 17 de Outubro de 2001, N 7/2001 eN 8/2001, ainda não publicadas. ¥7∂ Processo C-51/2000.

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derem actividades de investigação que não reali-zariam na ausência desse auxílio.

420. Em 23 de Outubro de 2001, a ComissãoEuropeia autorizou uma injecção de capital reali-zada em 1999 a favor do fabricante espanhol deveículos automóveis, a Santana Motor, dado quea medida não constituía um auxílio estatal. AComissão também aprovou parcialmente o auxí-lio ao investimento a favor da Santana no que serefere ao seu plano estratégico 1998-2006.

421. No caso de injecções de capital em empre-sas que envolvem recursos públicos, a Comissãodeve garantir que a medida não contém qualquerelemento de auxílio estatal. Para o efeito, aComissão realiza uma investigação aprofundadacom vista a determinar se a rentabilidade e asperspectivas de crescimento da empresa justifi-cam a injecção de capital do ponto de vista de uminvestidor numa economia de mercado. Nestecaso, a Comissão concluiu que as perspectivas derentabilidade da Santana eram suficientes parajustificar a injecção de capital. Por conseguinte, aComissão decidiu que a injecção de capital nãoconstituía um auxílio.

422. No que se refere ao auxílio ao investimentoregional, a Comissão concluiu que o auxílio écompatível com o mercado comum, na medidaem que respeita os limites acima dos quais setorna necessária uma análise mais aprofundada,em conformidade com as regras específicas queregem os auxílios ao sector dos veículos automó-veis. O montante máximo de auxílio susceptívelde ser concedido foi fixado em 8,68 milhões deeuros.

423. Em 28 de Fevereiro de 2001, após um pro-cedimento formal de investigação, a ComissãoEuropeia autorizou auxílios ao investimento regi-onal no valor de 78 mil milhões de liras italianas(40 milhões de euros) para a produção do novomodelo «Punto» nas instalações da Fiat em Melfi(sul de Itália). A Comissão examinou a mobili-dade geográfica do projecto e concluiu que as ins-talações do grupo Fiat em Tychy na Polóniateriam representado uma alternativa viável. A fimde apreciar a proporcionalidade do auxílio, foirealizada uma análise custos/benefícios. Nesteâmbito, foram comparados os custos do projectoem Melfi com os custos associados a instalaçõesalternativas. Uma vez que a intensidade de auxí-lio prevista era inferior ao limite de auxílio regio-nal e à intensidade da desvantagem regional, ouseja, ao custo suplementar inerente à produção

em Melfi em detrimento das instalações deTichy/Polónia, a Comissão concluiu que asregras estabelecidas no enquadramento comuni-tário dos auxílios estatais no sector dos veículosautomóveis tinham sido respeitadas, sendo o pro-jecto de auxílio compatível com o Tratado.

424. Em 20 de Dezembro de 2001, após um pro-cedimento formal de investigação, a ComissãoEuropeia decidiu que a Alemanha devia reduzir oauxílio ao investimento regional projectado afavor da DaimlerChrysler para a construção denovas instalações de fabrico de motores em Köl-leda (Turíngia), uma área assistida na acepção don.o 3, alínea a), do artigo 87.o

425. No que se refere à necessidade, a Alemanhadeclarou que o investimento podia ser realizadoem instalações alternativas na Hungria (em Nyer-gesujfalu). Com base nos documentos recebidos,a Comissão concluiu que as instalações na Hun-gria representavam uma alternativa comercialcredível. No que diz respeito à proporcionalidadedo auxílio, a apreciação da análise custos/benefí-cios traduziu-se numa intensidade de desvanta-gem regional de 31,93% em relação à Kölleda,um valor mais baixo do que o inicialmente indi-cado pela Alemanha. Devido a um aumento signi-ficativo da capacidade de produção, a intensidadede auxílio passível de ser autorizada foi reduzidanum ponto percentual suplementar, passandopara 30,93%. Consequentemente, a Comissão sópode autorizar um montante de auxílio corres-pondente a 30,93% do investimento elegível de185 milhões de euros (valor actual líquido), o quecorresponde a 57,22 milhões de euros (valoractual líquido). Os restantes 6,58 milhões deeuros do auxílio notificado foram consideradosincompatíveis com o mercado comum.

426. Em 18 de Julho de 2001, após um procedi-mento formal de investigação, a Comissão deci-diu reduzir o auxílio ao investimento regionalprojectado a favor da Volkswagen para novas ins-talações de produção de veículos automóveis emDresden. As instalações de montagem do novomodelo e o armazém deveriam situar-se em Dres-den e as novas unidades de carroçaria e de pinturaem Mosel, situando-se estas últimas na proximi-dade das primeiras, ambas em áreas assistidas naacepção do n.o 3, alínea a), do artigo 87.o

427. No que se refere à necessidade do auxílio, aComissão concluiu, com base nos documentosrecebidos no decurso do procedimento, que aempresa tinha considerado a produção na Repú-

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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blica Checa (em Praga e Kvasiny) como umaalternativa comercial credível. A Comissãobaseou a sua apreciação da proporcionalidade doauxílio em duas análises custos/benefícios distin-tas: uma relativa às instalações de Dresden ePraga, por um lado, e outra relativa a Mosel eKvasiny, por outro. No que se refere ao investi-mento em Mosel, a intensidade de auxílio pre-vista era inferior à intensidade da desvantagemregional e ao limite de auxílio regional. Por con-seguinte, a Comissão autorizou o auxílio projec-tado a favor da Mosel no montante de 65 milhõesde marcos alemães. No que respeita ao investi-mento em Dresden, a intensidade do auxílio pre-visto pela Alemanha excedia a intensidade dadesvantagem regional. Consequentemente, aComissão autorizou um auxílio no valor de 80milhões de marcos alemães, tendo o montanteremanescente de 25,7 milhões de marcos ale-mães sido considerado incompatível com o mer-cado comum.

3.1.5. Transportes

Transportes ferroviários

428. A Comissão tem vindo a prosseguir háalguns anos uma política com vista a alterar oequilíbrio existente entre os meios de transporte,promovendo os meios menos nefastos para oambiente a fim de assegurar um sistema de trans-porte sustentável. No seu recente livro brancorelativo a uma política comum dos transportes, aComissão lembrou que o transporte ferroviáriorepresenta um sector estratégico de que dependeo êxito dos esforços envidados neste contexto.Por conseguinte, a Comissão continuará a adop-tar uma abordagem favorável em matéria de auxí-lios ao sector ferroviário, tanto no que diz res-peito aos serviços ferroviários, como, emespecial, aos investimentos na infra-estrutura fer-roviária que, devido aos elevados custos que acar-retam, não são viáveis sem um co-financiamentopúblico.

429. Em conformidade com a sua políticacomum em matéria de transportes, a Comissãodecidiu, em 13 de Fevereiro de 2001, não levantarobjecções no que se refere à decisão do ReinoUnido de conceder subvenções públicas a umasérie de projectos. A finalidade dos projectos con-siste em demonstrar ao público em geral que otransporte ferroviário pode constituir um meio detransporte eficiente e viável, bem como umaalternativa, nomeadamente ao transporte rodovi-

ário (N 687/2000, Innovative solutions in raillogistics) (1). Além disso, em 19 de Setembro de2001, autorizou um auxílio substancial a favor daentidade responsável pela gestão da infra-estru-tura no Reino Unido tendo em vista o financia-mento de um programa de investimentos de reno-vação da infra-estrutura principal da redeferroviária na Grã-Bretanha (N 500/2001 UKNetwork Grant) (2).

Transportes marítimos

430. Em 2001, a Comissão autorizou diversosregimes de auxílio a favor da contratação de mari-nheiros comunitários. Estas medidas de auxílio,que contribuem para reduzir os custos salariaissuportados pelas empresas marítimas, visam per-mitir-lhes defrontar a concorrência internacional,sem recorrerem aos pavilhões de países que asse-guram uma fiscalidade mais favorável e umregime social menos oneroso para o armador.Contribuem igualmente para salvaguardar oemprego dos marinheiros comunitários, a fim depreservar o saber-fazer no domínio marítimo eassegurar um elevado nível de segurança no sec-tor.

431. Em 8 de Fevereiro, a Comissão autorizou aFrança a prorrogar para além de 2001 o regime dereembolso das contribuições sociais patronaisdas empresas marítimas que tinha autorizado em1999 por um período de três anos. Este regimeconsiste em reembolsar às empresas, que empre-gam trabalhadores no sector da navegação e cujosnavios estão sujeitos à concorrência internacio-nal, as contribuições sociais respeitantes aoseguro de velhice, doença e acidentes de trabalhodesembolsadas no ano precedente aos organis-mos responsáveis pela cobrança destas contri-buições.

432. Em 30 de Abril, a Comissão autorizou aFrança a completar o seu dispositivo de auxílios afavor da contratação de marinheiros comunitá-rios, permitindo o reembolso às empresas maríti-mas das contribuições desembolsadas para efei-tos de prestações familiares e das contribuiçõespara o seguro de desemprego.

433. Em 6 de Março, a Comissão autorizou aFinlândia a reembolsar aos armadores as quotiza-ções patronais pagas a favor do fundo de pensões

¥1∂ Decisão da Comissão de 13 de Fevereiro de 2001.¥2∂ Decisão da Comissão de 19 de Setembro de 2001 (JO C 333 de

28.11.2001, p. 7).

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do pessoal marítimo, seguro de desemprego,seguro de acidentes, seguro de vida e seguro detempo livre. As medidas de auxílio são aplicáveisa todos os navios registados como navios decomércio internacional, incluindo, em determi-nadas condições, os rebocadores e empurradores.Nestes últimos dois casos, são apenas aplicáveisaos navios de alto mar.

434. Em 28 de Fevereiro, a Comissão decidiudar início a um procedimento nos termos do n.o 2do artigo 88.o do Tratado a fim de examinar asmedidas de auxílio relacionadas com a compen-sação das obrigações de serviço público assegu-radas pela SNCM (1). Esta decisão foi tomadaatendendo aos novos elementos de informaçãocomunicados à Comissão no quadro do procedi-mento iniciado em 1998 relativamente aos auxí-lios que a empresa Corsica Maritima, filial daSNCM, recebia do Estado francês pelo transportede passageiros entre a França e a Itália nas rotasGénova-Bastia e Livorno-Bastia (2).

435. Em 30 de Outubro de 2001, a Comissãodecidiu encerrar os dois procedimentos em con-junto. Concluiu que, na medida em que as sub-venções concedidas à SNCM não tinham exce-dido os custos suportados por esta empresa noâmbito da prestação do serviço público de trans-porte marítimo com destino e proveniência daCórsega, conforme definido pelos poderes públi-cos, podia ser estabelecido que não tinham sidooutorgadas subvenções cruzadas em benefício dasua filial Corsica Maritima. Por outro lado, oexame da Comissão demonstrou que as rendaspagas por esta última tinham sido fixadas em con-dições de mercado. A Comissão solicitou igual-mente à França que a informasse, antes da data deentrada em vigor do novo contrato relativo ao ser-viço público de transporte marítimo na Córsega,das medidas que seriam tomadas para assegurar aadaptação estrutural da SNCM às novas condi-ções de mercado resultantes da aplicação doartigo 4.o do Regulamento CE) n.o 3577/92.

436. Em 20 de Junho, a Comissão encerrou oprocesso iniciado em Agosto de 1999 no que serefere aos auxílios desembolsados pela Itália afavor da Tirrenia di Navigazione no período com-preendido entre 1990 e o final de 2000, tendoconsiderado que esta podia beneficiar da derroga-ção prevista no n.o 2 do artigo 86.o do Tratado a

favor das empresas responsáveis pela gestão deserviços de interesse económico geral. Comefeito, a Comissão verificou que o auxílio conce-dido pela Itália constituía uma compensaçãonecessária e proporcionada no que se refere aomandato atribuído à Tirrenia di Navigazione:garantir durante todo o ano um nível suficiente deserviços regulares com destino e provenientes dedeterminados portos da Sicília e da Sardenha.

437. A fim de ter em conta a evolução do mer-cado, caracterizado pela liberalização da cabota-gem desde 1 de Janeiro de 1999 e a recenteentrada de novos operadores no mercado, aComissão decidiu que as compensações pagas àTirrenia di Navigazione a partir de 1 de Janeiro de2001 deveriam circunscrever-se à cobertura dodéfice registado para a prestação dos serviços cor-respondentes aos compromissos assumidos pelaItália em relação ao período 2000-2004. Estespreviam efectivamente uma redução da oferta dosserviços da empresa, no intuito de conferir umamaior margem de manobra aos outros operadoresnas linhas comercialmente mais rentáveis.

438. Em 25 de Julho, a Comissão autorizou osauxílios pagos pela Espanha à empresa marítimaTrasmediterranea a fim de liquidar o contrato deserviço público celebrado com o Estado em 1978.A Comissão autorizou igualmente os auxíliosdestinados a compensar as obrigações de serviçopúblico assumidas pela empresa em 1998, noâmbito do arquipélago das Canárias.

439. A Comissão considerou que os auxíliosresultantes da liquidação do contrato de serviçopúblico celebrado em 1978 entre a Trasmediter-ranea e o Estado espanhol constituíam auxílioexistentes. Estes auxílios estavam relacionadoscom os direitos e as obrigações criados nodecurso do período abrangido pelo contrato e cor-respondiam ao saldo das compensações devidas àTrasmediterranea pelos serviços de cabotagemmarítima prestados pela empresa entre 1978 e1997 no âmbito do referido contrato.

440. Em 18 de Julho, a Comissão decidiu encer-rar os procedimentos nos termos do n.o 2 doartigo 88.o do Tratado que tinha iniciado e alar-gado, respectivamente, em 3 de Setembro de1993, 23 de Junho de 1996 e 21 de Janeiro de1999 no que diz respeito aos auxílios concedidosao sector portuário italiano (3) no período com-

¥1∂ Processo C-14/2001, JO C 117 de 21.4.2001.¥2∂ Processo C-78/98, JO C 62 de 4.3.1999. ¥3∂ Processos C-27/93 e C-81/98, JO CL 312 de 29.11.2001, p. 5.

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preendido entre 1992 e 1998. Em 1991, oGoverno italiano desencadeou uma profundareforma estrutural do sector. Aquando destareforma, foram concedidos auxílios substanciaispara desmantelar o sistema existente e permitir aabertura do sector à concorrência. Na sua decisãofinal, a Comissão concluiu que os auxílios nomontante de 120 milhões de euros pagos pela Itá-lia a favor das empresas, companhias e gruposportuários, sob a forma de subvenções destinadasa liquidar as dívidas e a cobrir os défices dessasempresas, companhias e grupos, eram incompatí-veis com o mercado comum, devendo ser recupe-rados pelo Estado italiano. Em contrapartida, aComissão concluiu que os auxílios desembolsa-dos pela Itália em relação ao pagamento de venci-mentos de fim de carreira e das contribuições paraa reforma antecipada dos trabalhadores portuá-rios empregues pelas companhias e gruposportuários não constituíam auxílios na acepçãodo artigo 87.o do Tratado. De igual forma, asmedidas relativas à «Casa integrazione guadagnistraordinaria», à indemnização una tantum afavor de trabalhadores inaptos e à «Casa diSoggiorno di Dovadolce», adoptadas pela Itáliapara salvaguardar o pagamento do seguro e dasegurança social devidos aos trabalhadoresportuários não constituíam auxílios na acepçãodo artigo 87.o do Tratado.

441. Em 20 de Dezembro de 2001, a Comissãoaprovou a extensão do regime britânico FreightFacilities Grants à navegação costeira e ao trans-porte marítimo de curta distância, bem como oprojecto relativo ao porto de Rosytn (1), querepresentou o primeiro caso de aplicação dasregras em matéria de auxílios estatais àinfra-estrutura portuária. A Comissão considerahabitualmente que o financiamento público dainfra-estrutura gerida pelo Estado e acessível atodos os utilizadores potenciais de forma nãodiscriminatória, não é normalmente abrangidopelo n.o 1 do artigo 87.o do Tratado CE. Combase no acórdão proferido pelo Tribunal dePrimeira Instância no âmbito do processo«Aéroports de Paris/Comissão das ComunidadesEuropeias» (2), pode extrair-se a conclusão deque a gestão e a prestação de serviços deinfra-estrutura é susceptível de constituir umaactividade económica para efeitos do disposto non.o 1 do artigo 87.o do Tratado. O apoio público

concedido a favor de uma entidade responsávelpela gestão da infra-estrutura que tenha sidoescolhida através de um procedimento aberto enão discriminatório para a construção e manuten-ção, etc., da infra-estrutura de transporte repre-senta, contudo, um preço de mercado e não pres-supõe normalmente a aplicação do disposto non.o 1 do artigo 87.o do Tratado CE. O regime FFGe o projecto do porto de Rosytn foram autoriza-dos por força do n.o 3, alínea c), do artigo 87.o doTratado CE.

Navegação interior

442. O livro branco sobre a política europeia detransportes no horizonte 2010 (3) define as gran-des linhas e as prioridades da política comunitá-ria no sector dos transportes. Preconiza comomedida prioritária o reequilíbrio entre os modosde transporte, objectivo esse que deve ser nomea-damente prosseguido através da promoção dosmeios de transporte mais favoráveis ao ambientee dispondo de capacidades não utilizadas, taiscomo a navegação interior. A navegação interior éum modo de transporte seguro, limpo, eficaz emtermos de consumo de energia e que dispõe de umareserva de capacidade importante. As actividadesque favorecem a transição do transporte de merca-dorias por via rodoviária para a navegação interiorassumem assim um interesse comum na acepçãodo n.o 3, alínea c), do artigo 87.o do Tratado CE.De igual forma, também o Regulamento (CE)n.o 718/199 do Conselho pretende incentivar osEstados-Membros a adoptarem um certo númerode medidas a favor da navegação interior (4).

443. Os auxílios atribuídos ao sector da navega-ção interior em 2001 constituem regimes de auxí-lio destinados a promover, como em França (5), aadaptação da frota fluvial aos requisitos do mer-cado ou a favorecer, tal como nos Países Bai-xos (6), a realização, a extensão e a entrada emfuncionamento de ligações entre determinadasinstalações industriais específicas e as viasnavegáveis, com vista a favorecer o transportefluvial. Neste último caso, a Comissão consideraque se trata de um co-financiamento público de

¥1∂ Processo N 649/2001.¥2∂ Processo T-128/98 Aéroports de Paris/Comissão das Comunida-

des Europeias, Colect. II-3929.

¥3∂ COM(2001) 370.¥4∂ Regulamento (CE) n.o 718/99 do Conselho relativo a uma política

de capacidade das frotas comunitárias de navegação interior comvista à promoção do transporte por via navegável (JO L 90de 2.4.1999).

¥5∂ Decisão de 2 de Outubro de 2001, N 299/01 (JO C 342 de5.12.2001).

¥6∂ Decisão de 31 de Janeiro de 2001, N 597/2000 (JO C 102 de31.3.2001).

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infra-estruturas em relação às quais não existe ummercado competitivo. Justifica-se assim a inter-venção do Estado, que responde à necessidade decoordenação dos transportes, em conformidadecom o artigo 73.o do Tratado CE.

444. Além disso, a Comissão autorizou um auxí-lio estatal para a criação de infra-estruturas decarregamento e descarregamento (terminais detransbordo) ao longo das vias fluviais na regiãoda Flandres, que tem por finalidade tornar as viasde navegação interior mais acessíveis e aumentaro recurso a este modo de transporte (1). Na suadecisão, a Comissão fez nomeadamente notarque o transporte no sector da navegação interiorrequer um elevado investimento na infra-estru-tura a fim de assegurar o respectivo funciona-mento eficiente e que tais investimentos não sãoeconomicamente rentáveis sem um co-financia-mento público.

Transportes aéreos

445. O ano de 2001 pode ser dividido no períodoantes e no período após o dia 11 de Setembro, namedida em que os atentados terroristas nos Esta-dos Unidos tiveram repercussões importantessobre o sector dos transportes aéreos. A Comis-são Europeia prosseguiu uma política baseadanas orientações de Dezembro de 1994 (2) no quese refere aos auxílios à aviação civil e aos aero-portos.

446. No intuito de fazer face a estes aconteci-mentos excepcionais, a Comissão clarificou rapi-damente esta política (3). A Comissão reconhe-ceu, por outro lado, que determinados auxíliospodiam ser justificados em reacção aos aconteci-mentos extraordinários. Referiu-se aos auxíliosrelacionados com a ausência de ofertas adequa-das em matéria de seguro, aos auxílios destinadosa compensar os prejuízos incorridos pelas com-panhias aéreas na sequência do encerramento doespaço aéreo durante quatro dias, bem como oselevados custos das medidas de segurança adop-tadas na sequência destes acontecimentos. Todasestas medidas de auxílio tomadas pelos Esta-

dos-Membros deviam ser objecto de notificaçãoda sua parte e examinadas ao abrigo do n.o 2, alí-nea b), do artigo 87.o do Tratado. Vários auxíliosestatais no domínio dos «seguros» foram já auto-rizados pela Comissão em 2001.

447. No intuito de permitir que os aviões levan-tem voo e os aeroportos funcionem, os Estadosnotificaram à Comissão os auxílios concedidosatravés de regimes de garantia pública às com-panhias privadas de seguro contra os riscos ter-roristas. A Comissão autorizou, na condição deserem respeitados diversos critérios (4), auxíliosàs companhias aéreas e aos prestadores de servi-ços privados de seguro contra os riscos terroristasa favor dos seguintes Estados-Membros:

— Reino Unido: decisão de 23 de Outubrode 2001 (5);

— Portugal e Luxemburgo: decisões de 28 deNovembro (6);

— Bélgica e Suécia: decisões de 11 de Dezem-bro (7);

— Alemanha, Áustria, Dinamarca, Espanha eFrança: decisões de 20 de Dezembro (8).

448. Mais prosseguiu a Comissão a sua políticaconsagrada em matéria de auxílios ao sector daaviação. Encetou igualmente uma análise dofinanciamento dos aeroportos.

449. Em 18 de Julho de 2001, a Comissão deci-diu que os auxílios à formação concedidos pelasautoridades belgas em benefício da companhiaaérea Sabena (9) eram compatíveis com o Tra-tado CE, em conformidade com o enquadra-mento dos auxílios à formação (10).

450. Em 18 de Julho de 2001, na sequência doacórdão proferido pelo Tribunal de Primeira Ins-tância em 12 de Dezembro de 2000 que tinhaanulado a Decisão 97/789/CE relativamente aosauxílios concedidos à companhia aérea Alitalia, aComissão adoptou uma nova decisão em que rec-

¥1∂ Decisão da Comissão de 11 de Dezembro de 2001, N 550/2001,Parceria entre o sector público e privado a favor da infra-estru-tura de carregamento e descarregamento (ainda não publicada).

¥2∂ Aplicação dos artigos 92.o e 93.o do Tratado CE e do artigo 61.o

do Acordo EEE aos auxílios estatais no sector da aviação(JO C 350 de 10.12.1994, p. 5).

¥3∂ Comunicação da Comissão Europeia de 10 de Outubro de 2001sobre as consequências dos atentados nos Estados Unidos no sec-tor do transporte aéreo, COM(2001) 574 final.

¥4∂ Comunicação da Comissão Europeia de 10 de Outubro de 2001sobre as consequências dos atentados nos Estados Unidos no sec-tor do transporte aéreo, conforme adaptada pelo Grupo ad hoc doConselho da União Europeia.

¥5∂ NN 90/2001.¥6∂ NN 140/2001 e NN 144/2001.¥7∂ NN 139/2001 e NN 141/2001, JO C 24 de 26.1.2002.¥8∂ NN 153/2001 (Áustria), NN 157/2001 (França), NN 146 e

161/2001 (Dinamarca), NN 143/2001 (Espanha), NN 162/2001(Alemanha).

¥9∂ JO L 249 de 19.9.2001.¥10∂ JO C 343 de 11.11.1998.

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tifica os erros de apreciação e a falta de funda-mentação salientados pelo Tribunal e declaracompatível com o mercado comum o auxílio con-cedido à Alitalia (1) sob a forma de uma injecçãode capital no valor de 2750 mil milhões de lirasitalianas, a ser desembolsado em três parcelas.

451. Por outro lado, a Comissão autorizou doisauxílios de emergência a favor de companhiasaéreas, ambas pertencentes, em parte, ao grupoSwissair em situação de falência. Em 17 de Outu-bro, a Comissão não levantou objecções em rela-ção a um auxílio de emergência no valor de125 milhões de euros concedido à companhiaaérea Sabena (2). Em 20 de Dezembro, a Comis-são não formulou objecções em relação a umamedida de auxílio de emergência no montante de120 milhões de euros concedido sob a forma degarantia de créditos pelo Land da Renânia doNorte-Vestefália (RFA) à companhia alemã LTU.

452. No domínio dos aeroportos, uma decisãoincidia sobre a isenção da obrigação de paga-mento do imposto sobre as sociedades, conside-rada como um auxílio estatal. Em dois outroscasos, as medidas em causa não foram considera-das como auxílios estatais.

453. Em 3 de Julho de 2001, a Comissão decidiuque a isenção relativa ao imposto neerlandêssobre as sociedades concedida a favor do gruponeerlandês Schipol Group, isto é, a empresa quedetém a propriedade e explora o aeroporto deSchipol em Amesterdão, bem como outros aero-portos nos Países Baixos, constituía um auxílioestatal ao qual deveria ser posto termo até 1 deJaneiro de 2002 (3).

454. Em 13 de Março de 2001, a Comissão deci-diu que o financiamento público pela região dePiemonte (Itália) a favor da melhoria e novodesenvolvimento da infra-estrutura dos aeropor-tos de Turim, Cureo e Biela não podia ser consi-derado como um auxílio estatal. Foi consideradoque a localização dos aeroportos em causa e a suaimportância predominantemente de índole localno que se refere ao seu impacto do ponto de vistaeconómico e da concorrência, justificavam per-feitamente esta conclusão (4).

455. Em 5 de Outubro de 2001, a Comissãoadoptou uma decisão relativa à denúncia apresen-tada contra a Aer Rianta, a empresa pública irlan-desa que detém a propriedade e explora os aero-portos de Dublim, Cork e Shanon. Nesta decisão,concluiu-se que, dado que o estatuto fiscalespecial da Aer Rianta tinha sido modificado apartir de 1 de Janeiro de 1999, a anterior isençãofiscal tinha deixado de ser problemática. Alémdisso, considerou-se que nem a transferência dainfra-estrutura aeroportuária do Estado irlandêspara a Aer Lingus a um valor considerado inferiorao valor de mercado, nem o facto de a Aer Riantaser o concessionário dos estabelecimentoscomerciais livres de impostos e dos parques deestacionamento constituíam auxílios estatais (5).

3.1.6. Agricultura

456. Em 6 de Junho de 2001, a Comissão Euro-peia adoptou novas orientações para os auxíliosestatais à publicidade de produtos agrícolas (6). Onovo texto clarifica a política da Comissão no quediz respeito à publicidade de produtos de quali-dade, produtos de origem regional e aos sistemasde rastreabilidade.

457. No que se refere à origem regional dos pro-dutos, este aspecto pode doravante passar a serpromovido na condição de serem respeitadas asregras em matéria de livre circulação de merca-dorias. As novas orientações autorizam subsídiosà publicidade sempre que a origem de um pro-duto seja a mensagem principal, se tal tiver lugarfora do Estado-Membro ou da região de produ-ção. O objectivo deve consistir em familiarizar osconsumidores com os produtos que não conhe-cem. Sempre que a publicidade visar consumido-res no Estado-Membro ou região de produção,podem ser igualmente prestadas informaçõesrelativas à origem dos produtos. No entanto, nestecaso, a referência à origem deve assumir umanatureza secundária em relação à informaçãosobre a qualidade do produto.

458. Podem ser igualmente concedidos auxíliosdestinados à publicidade de produtos de quali-dade se esses produtos preencherem claramentenormas de qualidade mais elevadas ou beneficia-rem de uma denominação de origem protegida.Invocar a elevada qualidade dos produtosquando, na prática, apenas satisfazem os requisi-

¥1∂ JO L 271 de 12.10.2001.¥2∂ C (2001) 3137 final, ainda não publicada.¥3∂ Esta decisão não foi ainda publicada no Jornal Oficial, mas pode

ser consultada no sítio web da DG COMP sob o n.o E 45/2000.Ver também IP/01/934.

¥4∂ Esta decisão não foi ainda publicada no Jornal Oficial, mas podeser consultada no sítio web da DG COMP sob o n.o N 58/2000.

¥5∂ Esta decisão não figura (ainda) no sítio web da DG COMP.¥6∂ JO C 252 de 12.9.2001, p. 5.

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tos legislativos aplicáveis a todos os produtossemelhantes pode induzir em erro o consumidor.O apoio público a favor da publicidade só é pos-sível se não forem infringidas quaisquer regras nodomínio do mercado interno.

459. No caso de produtos com uma Denomina-ção de Origem Protegida (DOP) ou com umaIndicação Geográfica Protegida (IGP), ou aindacom a menção Especialidade Tradicional Garan-tida (ETG), registadas pela UE, a Comissão nãose opõe geralmente aos auxílios em matéria depublicidade que contenha uma referência à ori-gem do produto em causa, na condição de tal cor-responder exactamente aos produtos que foramregistados.

460. Na sequência da introdução de sistemas derotulagem obrigatória da carne bovina, as novasregras também estabelecem a forma como apublicidade dos sistemas de rastreabilidade podeser subvencionada. Os auxílios estatais relativos àpublicidade a favor de empresas individuais con-tinuam a ser proibidos, sendo previstos auxílioscom uma intensidade máxima de 50% ou de 75%para determinados produtos originários de PMEem áreas desfavorecidas.

461. As novas orientações suprimem as duasversões existentes de 1986 e 1987. Estaconsolidação e clarificação deverá contribuir parauma maior simplificação e transparência a níveldas regras comunitárias em matéria de auxíliosestatais. As novas orientações serão aplicáveisaos novos auxílios estatais, incluindo as notifica-ções pendentes, a partir de 1 de Janeiro de 2002.

462. Em 2001, a problemática principal no que serefere aos auxílios estatais no sector agrícolaesteve indubitavelmente associada às repercussõesda «crise da BSE». As regras em matéria de auxí-lios estatais impedem normalmente que os Esta-dos-Membros concedam auxílios ao rendimentoa favor dos agricultores, uma vez que tal poderiadistorcer a concorrência e comprometer o funcio-namento das organizações de mercado comunitá-rias. Somente em caso de situações excepcionaispoderão ser concedidos auxílios deste tipo a fimde compensar os prejuízos provocados por estassituações.

463. A crise que subsiste no mercado de carnebovina, provocada por novos receios de BSE nofinal do ano transacto, foi reconhecida pelaComissão como um evento excepcional, em con-formidade com o estabelecido no n.o 2, alínea b),do artigo 87.o do Tratado CE. Não foi a redução

do número de vendas ou do volume de negóciosque foi considerado um acontecimento excepcio-nal. A Comissão considera que a quebra a níveldas vendas constitui uma consequência de umaconjugação excepcional e rara de eventos, que setraduziram em prejuízos para os agricultores, asaber, o encerramento dos mercados de exporta-ção à carne bovina comunitária e o alcance dareacção desfavorável dos consumidores euro-peus, ambos precedidos e acompanhados poruma série de acontecimentos tais como os primei-ros casos de BSE detectados em países como aAlemanha, a Itália e a Espanha, a proibição anível comunitário da comercialização de qual-quer tipo de alimento para animais à base decarne e ossos, e a gestão por vezes controversa dacrise a nível nacional.

464. Consequentemente, a Comissão Europeiaautorizou os Estados-Membros a concederemauxílios ao rendimento num montante total de460 milhões de euros a favor dos agricultores nosector bovino que registaram prejuízos no perí-odo compreendido entre Novembro de 2000 eJunho de 2001 devido à crise da BSE, bem comooutros auxílios estatais relacionados com a BSE(isto é, custos associados aos testes para a detec-ção de BSE, indemnização dos matadouros, valordos animais destruídos, reconstituição do efec-tivo nas explorações agrícolas em que foi detec-tado BSE, custos de armazenagem, transporte eeliminação de proteínas animais transformadas ealimentos para animais).

465. Globalmente, a Comissão recebeu 379 notifi-cações de projectos de medidas de auxílio estatala serem concedidas a favor do sector agrícola eagro-industrial. A Comissão iniciou também umexame de 39 medidas de auxílio que não tinhamsido notificadas previamente nos termos do n.o 3do artigo 88.o do Tratado CE. A Comissão nãoformulou objecções relativamente a 212 medi-das. Várias destas medidas só foram aprovadasapós os Estados-Membros em questão teremintroduzido alterações ou apresentado compro-missos quanto à sua alteração no intuito deassegurar a sua conformidade com as regrascomunitárias em matéria de auxílios estatais. Oprocedimento previsto no n.o 2 do artigo 88.o doTratado CE foi lançado relativamente a 15 pro-cessos, em que as medidas em causa suscitavamsérias dúvidas quanto à sua compatibilidade como mercado comum. A Comissão encerrou o pro-cedimento previsto no n.o 2 do artigo 88.o do Tra-tado CE no que se refere a cinco processos, tendo

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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adoptado uma decisão final negativa em doiscasos. Quando foi adoptada uma decisão nega-tiva, mas os auxílios já tinham sido pagos peloEstado-Membro relevante, a Comissão solicitoua recuperação dos respectivos montantes.

3.1.7. Pesca

466. O sector da pesca, devido às suas caracterís-ticas sociais e económicas, continua a ser objectode uma intervenção pública significativa, tanto anível comunitário como nacional.

467. A Comissão analisou a compatibilidade dosregimes nacionais que concedem auxílios no sec-tor com as novas orientações para o exame dosauxílios estatais no sector das pescas e da aqui-cultura (1).

468. As novas orientações, aplicáveis a partir de1 de Janeiro de 2001, são mais específicas emdeterminados domínios. Estabelecem que as ori-entações comunitárias relativas aos auxílios comfinalidade regional não se aplicam ao sector dapesca e que os elementos dos regimes de auxíliosregionais aplicáveis ao sector da pesca serão ana-lisados com base nas orientções «pesca». Poroutro lado, introduzem um maior número de ele-mentos para a apreciação dos auxílios à forma-ção, aos serviços de aconselhamento e à pescaexperimental, bem como uma melhor definiçãodas condições de concessão de auxílios deemergência e à reestruturação a favor de empre-sas em dificuldade (referência à apresentação àComissão de um plano destinado a reduzir acapacidade da frota). São igualmente estabeleci-das condições mais pormenorizadas no que serefere aos auxílios destinados a melhorar a gestãoe o controlo das actividades de pesca e no caso deaquisição de embarcações em segunda mão. Noque diz respeito a casos específicos, são estabele-cidos elementos mais pormenorizados em maté-ria de auxílios ao rendimento (as medidas relaci-onadas com circunstâncias excepcionais deverãoser analisadas numa base casuística e, em caso decessação temporária de actividade, remete-separa a aplicação da disposição relevante das ori-entações), a disposição relativa aos créditos degestão foi suprimida e foram introduzidas dis-posições específicas no que se refere aos auxíliosdestinados a dar resposta aos danos causados porcatástrofes naturais ou por outros acontecimentosextraordinários, aos prémios de seguro, às regiões

ultraperiféricas e aos auxílios ao emprego. Asnovas orientações contêm igualmente dois ane-xos, o que implica um controlo reforçado dosregimes aprovados, um relativo às informaçõesque devem ser fornecidas aquando da notificaçãodo regime de auxílio e outro sobre as informaçõesque devem figurar no relatório anual a comunicarà Comissão, relativo a todos os regimes de auxílioexistentes ou a todos os auxílios específicos con-cedidos fora de um regime de auxílio aprovadoque não foram sujeitos a qualquer obrigaçãoespecífica de apresentação de relatórios noâmbito de uma decisão condicional.

469. Por último, convém sublinhar o númeroelevado de regimes notificados à Comissão,sobretudo durante o segundo semestre de 2001,uma vez que foram notificadas todas as medidasde auxílio nacionais de co-financiamento adopta-das no âmbito do instrumento financeiro de orien-tação da pesca, no contexto da preparação dasmedidas de aplicação do novo quadro comunitá-rio de apoio.

3.2. Sectores não sujeitos a regras específicas

3.2.1. Sector financeiro

470. Em 25 de Julho de 2001, no processo NN53/2001 [Bankgesellschaft Berlin (BGB)], aComissão Europeia aprovou o auxílio deemergência necessário para que o rácio de fundospróprios do banco alcançasse o nível de 9,7%,registado antes da respectiva crise, o que envol-veu um auxílio estatal no montante de aproxima-damente 2 mil milhões de euros. O banco tinharegistado prejuízos substanciais em 2000, sobre-tudo devido à realização de operações não rentá-veis no sector imobiliário. A aprovação do auxíliode emergência baseou-se no compromisso assu-mido pelas autoridades alemãs no sentido deapresentar um plano de reestruturação no prazode seis meses, devendo a Comissão adoptar pos-teriormente uma decisão sobre o plano de reestru-turação ou tomar uma decisão na sua ausência.Nesta segunda apreciação, a Comissão analisarácuidadosamente o montante de auxílio necessárioe solicitará contrapartidas a fim de compensar oefeito de distorção da concorrência resultante doauxílio, se tal for considerado adequado.

471. Em 11 de Dezembro de 2001, a Comissãodecidiu que as medidas fiscais aplicáveis aos ban-cos, introduzidas pela Lei italiana n.o 461/98 de¥1∂ JO C 19 de 20.1.2001.

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23 de Dezembro de 1998 e pelo Decreto legisla-tivo conexo n.o 153/99 de 17 de Maio de 1999,eram incompatíveis com as regras em matéria deauxílios estatais consignadas no Tratado CE. Asmedidas em causa concedem uma vantagem con-correncial discriminatória a favor dos bancos queparticipam nas operações que são objecto de umtratamento favorável. A Itália deve actualmenteproceder à recuperação dos montantes que osbancos não tiveram de desembolsar, na qualidadede beneficiários das isenções fiscais em causa.Prossegue a investigação da Comissão no que dizrespeito aos auxílios estatais às fundações bancá-rias (enquanto distintas dos bancos em si). O esta-tuto destas medidas continua ainda por definir. AComissão examinou igualmente se o tratamentofiscal específico em questão deve ser consideradocomo um auxílio à reestruturação, mesmo se nãoestão preenchidas as condições para a aplicaçãodas orientações comunitárias relativas aos auxí-lios estatais de emergência e à reestruturação deempresas em dificuldade. O auxílio não foi notifi-cado individualmente à Comissão. Os bancos quebeneficiam do auxílio não se encontram em situ-ação difícil e o auxílio também não se destina arestabelecer a viabilidade a longo prazo dasempresas em causa. Por último, as orientações exi-gem a tomada de medidas para compensar, namedida do possível, os eventuais efeitos adversosdo auxílio sobre os concorrentes (normalmente, soba forma de uma redução da presença da empresa nomercado após a reestruturação). No caso em espé-cie, não se prevêem medidas deste tipo.

3.2.2. Serviços

472. Em 13 de Novembro de 2001, em confor-midade com o procedimento previsto no n.o 1 doartigo 88.o do Tratado CE e no artigo 18.o doRegulamento (CE) n.o 659/1999, a ComissãoEuropeia propôs à República Francesa a adopçãode medidas adequadas no âmbito do Processo E46/2001, que consistem na supressão da isençãodo imposto sobre as convenções do seguro dedoença para as mútuas e instituições de previdên-cia. Alternativamente, as autoridades francesaspoderão igualmente conceder a isenção em con-trapartida da prestação de um serviço de interesseeconómico geral, na condição de garantirem queo auxílio resultante da isenção não excede os cus-tos inerentes aos condicionalismos assumidosneste contexto.

473. Em 13 de Novembro de 2001, a ComissãoEuropeia deu início a um procedimento formal de

investigação sobre uma série de medidas ad hoc afavor da RTP, o organismo português de radiodi-fusão pública uma vez que tinha dúvidas quantoao facto de o Estado português ter eventualmentedesembolsado uma compensação excessiva pelocustos de serviço público reembolsáveis da RTPem 1992-1998 no montante de 83,6 milhões deeuros. O procedimento foi desencadeado nasequência de três denúncias recebidas pelaComissão em 1993, 1996 e 1997 da parte de umorganismo de radiodifusão português privado, aSIC. Em 7 de Novembro de 1996, a Comissãotinha tomado já uma decisão sobre a primeiradenúncia e partes da segunda, decisão essa que foianulada pelo Tribunal de Primeira Instância (1).

3.2.3. Acontecimentos extraordinários

474. A Comissão autorizou um projecto de auxí-lio na região de Val d’Aosta destinado a compen-sar os danos provocados pelas inundações e des-moronamentos de terras na sequência das chuvastorrenciais que afectaram a região em Outubro de2000 (2). O regime engloba a compensação doscustos fixos suportados pelas empresas que sus-penderam as suas actividades em consequênciadas chuvas, na condição de a empresa ter recome-çado a desenvolver a actividade em questão. Oauxílio consiste numa subvenção que cobre até95% dos custos fixos suportados pelas empresasdurante o período compreendido entre a interrup-ção da actividade na sequência do acontecimentoe o respectivo recomeço, que não pode excederseis meses. Os montantes a serem eventualmenterecebidos a título de indemnizações de segurodevem ser deduzidos dos referidos auxílios. Aduração do regime é de um ano e o orçamentoprevisto pelas autoridades italianas eleva-se a516 456 euros. Este regime foi considerado com-patível com o Tratado CE em aplicação do n.o 2,alínea b), do seu artigo 87.o, dado que se destina aremediar os danos causados por catástrofes natu-rais. Neste contexto, a Comissão considerou queos acontecimentos visados por este regime cons-tituem catástrofes naturais na acepção da referidadisposição. Além disso, a Comissão observouque os auxílios não conduzirão de modo algum auma compensação excessiva e que, atendendo ao

¥1∂ Processo T-46/97 de 10 de Maio de 2000.¥2∂ Processo N 429/2001, Decisão da Comissão de 17 de Outubro de

2001 (JO C 5 de 8.1.2002). A Comissão tinha já aprovado umregime de auxílio a favor da planificação urgente de catástrofesnaturais em Val d’Aoste em 29.11.2000 (N 433/2000). Comefeito, este último constitui o quadro de referência do referidoregime relativo às chuvas torrenciais.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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orçamento previsto e ao número estimado debeneficiários, os montantes a desembolsar a cadaempresa serão provavelmente modestos.

D — Procedimentos

475. Na sequência da adopção e entrada emvigor do Regulamento (CE) n.o 659/1999 doConselho, muitas das regras processuais porme-norizadas que regem o exame dos auxílios esta-tais foram codificadas e consolidadas num únicotexto legislativo. Apesar de alguns dos processossobre os quais o Tribunal de Justiça se pronun-ciou continuarem a incidir sobre decisões adopta-das pela Comissão antes da entrada em vigor doregulamento, outros podem fornecer orientaçõesúteis quanto à interpretação e aplicação das dis-posições do regulamento.

1. Início do procedimento formal de investigação

476. Em dois acórdãos proferidos em 2001, oTribunal de Justiça salientou que a Comissão nãodispõe de poder discricionário quanto à decisãode dar início ou não ao procedimento formal deinvestigação previsto no n.o 2 do artigo 88.o Emespecial, o Tribunal realçou que as razões deconveniência administrativa, quer por parte daComissão, quer do Estado-Membro, não podemjustificar a não abertura de um procedimento noscasos em que a Comissão manifesta ou deviamanifestar sérias dúvidas quanto à compatibili-dade de uma medida com o mercado comum.

477. No seu acórdão Prayon-Rupel de 15 deMarço de 2001 (1), o Tribunal clarificou nova-mente as circunstâncias em que a Comissão devedar início ao procedimento formal de investiga-ção que prossegue um duplo objectivo: destina-sea proteger os direitos das eventuais partes interes-sadas e permitir à Comissão ter pleno conheci-mento de todos os factos antes de adoptar a suadecisão. Deste modo, o procedimento formal deinvestigação é obrigatório se a Comissão defron-tar sérias dificuldades para determinar se o auxí-lio é ou não compatível com o mercado comum.O conceito de sérias dificuldades constitui umcritério objectivo. Observa-se que o exame reali-zado pelo Tribunal de Primeira Instância em

matéria de existência de sérias dificuldades trans-cende a mera consideração da existência ou nãode um erro de apreciação manifesto. O Tribunalexamina se a tomada em consideração da infor-mação na posse ou do conhecimento da Comis-são aquando da adopção da decisão impugnadadeveria ter conduzido a sérias dúvidas. Nestecontexto, o Tribunal salienta que a existência desérias dificuldades pode ser igualmente depreen-dida da duração do procedimento preliminar,bem como das suas circunstâncias específicas.No caso em apreço, o Tribunal concluiu que operíodo de oito meses que tinha decorrido entre adata de notificação e a adopção da decisão, junta-mente com os reiterados pedidos de informação ea relutância do Estado-Membro em prestar asinformações solicitadas, apontavam para a exis-tência de sérias dificuldades. Atendendo a todosestes elementos, o Tribunal concluiu que aComissão não dispunha de um conhecimentosuficiente dos factos aquando da adopção da suadecisão de não levantar objecções ao auxílio, peloque deveria ter iniciado o procedimento formalde investigação, a fim de recolher informaçõesmais completas e superar as sérias dificuldades deapreciação.

478. O Tribunal seguiu o mesmo raciocínioquando anulou a decisão da Comissão de não for-mular objecções no que se refere a um auxílioconcedido pela República Francesa aos produto-res de licores e aguardentes (2). Dado que, nocaso em consideração, as denúncias recebidaspela Comissão continham fortes elementos com-provativos quanto a uma ligação entre o plano deauxílio projectado e um sistema de tributaçãosusceptível de infringir outras disposições doTratado, a Comissão confrontou-se com sériasdificuldades para determinar se o plano de auxílioera compatível com o mercado comum. Nestascircunstâncias, devia ter sido iniciado o procedi-mento previsto no n.o 2 do artigo 88.o

479. Num recurso interposto pela Áustria contrauma decisão da Comissão no sentido de dar inícioa um procedimento formal de investigação no quese refere ao auxílio concedido a favor da SiemensBauelemente OHG, a Áustria argumentou que,no caso em questão, o prazo de dois meses esta-belecido na jurisprudência Lorenz dentro do quala Comissão deve concluir a sua análise prelimi-nar, tinha já expirado, pelo que o auxílio se tinha

¥1∂ Acórdão do TPI de 15 de Março de 2001, Société chimiquePrayon-Rupel/Comissão, processo T-73/98, Colect. p. II-867.

¥2∂ Acórdão do Tribunal de 3 de Maio de 2001, Portugal/Comissão,processo C-204/97, ainda não publicado.

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tornado um auxílio existente aquando da aberturado procedimento pela Comissão. Deste modo, aComissão já não dispunha do direito de dar inícioao procedimento formal de investigação. OTribunal de Justiça confirmou a jurisprudênciaLorenz, tendo salientado que o auxílio notificadose transforma num auxílio existente se forem pre-enchidas duas condições necessárias e suficien-tes: o prazo de dois meses após a notificaçãocompleta deve ter expirado e o Estado-Membrodeve ter notificado previamente a Comissão daexecução do auxílio projectado. O Tribunal rejei-tou o argumento da Comissão no sentido de que,após ter recebido essa notificação prévia, dispu-nha ainda do direito de formular objecções namatéria. O Tribunal deixou no entanto claro que,à altura, não tinham sido ainda adoptadas quais-quer regras processuais com base no artigo 89.o

do Tratado CE. Entretanto, o disposto nos n.os 5e 6 do artigo 4.o do Regulamento n.o 659/1999torna o acórdão irrelevante, uma vez que estasdisposições conferem expressamente à Comissãoo direito de formular objecções no prazo dequinze dias úteis a contar da data de recepção danotificação prévia pelo Estado-Membro. Muitoembora o acórdão não afecte directamente asactuais regras processuais em vigor, confirma arigorosa atitude adoptada pelo Tribunal no que serefere à observância pela Comissão dos prazosimpostos. Coaduna-se igualmente com a posiçãogeral do Tribunal segundo a qual a Comissãodeve iniciar um procedimento rapidamente sem-pre que tiver dúvidas quanto à compatibilidade deum auxílio.

2. Auxílios existentes

480. O Tribunal abordou a questão da distinçãoentre os auxílios novos e os auxílios existen-tes (1). O processo prendia-se com uma decisãoque tinha sido já parcialmente anulada peloacórdão anterior Alzetta Mauro de 15 de Junhode 2000 (2). O Tribunal confirmou no âmbito donovo processo que um regime de auxílio institu-ído num mercado inicialmente encerrado à con-corrência deve, aquando da liberalização dessemercado, ser considerado como um regime deauxílio existente, na medida em que no momento

da sua criação não era ainda abrangido peloâmbito de aplicação do n.o 1 do artigo 87.o doTratado, que é apenas aplicável aos sectores aber-tos à concorrência. O TPI rejeitou o argumento deque só os auxílios concedidos após a plena libera-lização do mercado podem ser classificadoscomo auxílios novos. Confirmou que, em matériade auxílios estatais, basta uma abertura, mesmoparcial, do mercado relevante à concorrência,para que o auxílio seja susceptível de afectar ocomércio entre os Estados-Membros. É impor-tante sublinhar que, muito embora tenha confir-mado que os auxílios concedidos antes da libera-lização constituem auxílios existentes, o TPIrealçou que extraiu esta conclusão na ausência dedisposições pormenorizadas de execução doartigo 88.o do Tratado que regulem a classifica-ção destes auxílios após a data fixada para aliberalização. Entretanto, contudo, o Regula-mento n.o 659/1999 do Conselho prevê expressa-mente na alínea b), ponto (v), do seu artigo 1.o

o seguinte: «Quando determinadas medidas setransformem em auxílio na sequência da liberali-zação de uma actividade provocada pela legisla-ção comunitária, essas medidas não serão consi-deradas auxílios existentes depois da data fixadapara a liberalização». Uma situação como a iden-tificada no processo T-288/97, mas que ocorraapós a entrada em vigor do Regulamento, nãopode, consequentemente, continuar a ser tratadacomo um auxílio existente.

481. Nos termos do n.o 2 do artigo 88.o do Tra-tado, a Comissão dispõe apenas do direito de darinício a um procedimento relativamente a auxí-lios novos. Sempre que o auxílio for classificadocomo um auxílio existente, a Comissão deve, emprimeiro lugar, apresentar uma proposta de medi-das adequadas ao Estado-Membro relevante. Estaclassificação não é meramente processual. Noscasos em que auxílios novos foram executadosilegalmente, tendo sido subsequentementeconsiderados incompatíveis com o mercadocomum, a Comissão deve em geral exigir a recu-peração nos termos do artigo 14.o do Regula-mento (CE) 659/1999 do Conselho. No entanto,a recuperação não pode ser exigida no caso dosauxílios existentes.

482. O Tribunal examinou a situação processualem que a Comissão tinha classificado umamedida de auxílio como um auxílio novo, tendodado início a um procedimento nos termos don.o 2 do artigo 88.o, enquanto o Estado-Membroem questão sustentava que se tratava de um auxí-

¥1∂ Acórdão do TPI de 4 de Abril de 2001, Regione autonoma FriuliVenezia Giulia/Comissão, processo T-288/97, ainda não publi-cado.

¥2∂ Acórdão do TPI de 15 de Junho de 2000, Alzetta e outros/Comis-são, processos apensos T-298/97 a T-23/98, Colect. 2000,p. II-2319.

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III — AUXÍLIOS ESTATAIS

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lio existente (1). O Tribunal considerou que aopção da Comissão em termos de procedimento,conjuntamente com o convite formulado às auto-ridades italianas no sentido de suspender o paga-mento, pressupunha a classificação do auxílio,ainda que a título provisório, como um auxílionovo, facto que tinha consequências jurídicas. Oinício do procedimento formal de investigaçãosignificava que a Comissão não tencionava exa-minar o auxílio no contexto dos procedimentosaplicáveis aos auxílios existentes nos termos don.o 1 do artigo 88.o do Tratado CE, e que, na suaopinião, o auxílio tinha sido executado ilegal-mente. Uma decisão deste tipo modifica a situaçãojurídica da medida em causa, bem como a dos seusbeneficiários, dado que suscita, no mínimo, impor-tantes dúvidas quanto à legalidade da medida, oque deve levar o Estado-Membro a suspender orespectivo pagamento. Pode igualmente ser invo-cada perante um tribunal nacional que deverá deli-berar sobre todas as consequências decorrentes deuma infracção à última frase do n.o 3 do artigo 88.o

do Tratado CE. Por estas razões, o Tribunal decla-rou admissível a acção intentada pelo Governo ita-liano contra o início do procedimento.

3. Recuperação do auxílio

483. Em conformidade com o princípio consig-nado no artigo 14.o do Regulamento processual, aComissão exige a recuperação de todos os auxílioque tenham sido concedidos em infracção à obri-gação de notificação e que sejam incompatíveiscom o mercado comum. Além disso, o artigo 14.o

exige que os Estados-Membros procedam à recu-peração imediatamente e nos termos do direitoprocessual nacional aplicável, desde que este per-mita uma execução imediata e efectiva da decisãoda Comissão.

484. No decurso deste ano, a Comissão exigiu arecuperação no âmbito de 20 processos. No finaldo ano, havia ainda 67 casos de recuperação pen-dentes. Estes casos são acompanhados de pertopela Comissão, a fim de assegurar a plena obser-vância dos princípios consignados no artigo 14.o

pelos Estados-Membros. No decurso deste ano, oincumprimento pelas autoridades alemãs das suasobrigações no âmbito do processo LautexGmbH (2) levou a Comissão a apresentar uma

denúncia ao Tribunal de Justiça em 25 de Julhodevido à não observância da ordem de recuperação,com base no n.o 2 do artigo 88.o do Tratado CE.

4. Não execução das decisões

485. Quando os Estados-Membros recusam res-peitar uma decisão em matéria de recuperação, aprática corrente da Comissão consiste em inter-por uma acção perante o Tribunal de Justiça. Em2001, o Tribunal de Justiça pronunciou-se sobredois processos relativos à não execução de umadecisão da Comissão. O primeiro caso referia-seà recuperação do auxílio concedido à «NouvelleFiliature Lainière de Roubaix». Em Novembrode 1998 (3), a Comissão adoptou uma decisãosegundo a qual o auxílio atribuído a esta empresaera incompatível com o mercado comum,devendo ser recuperado pelas autoridades france-sas. Esta decisão suscitou dois recursos para oTribunal de Justiça. Em Janeiro de 1999, oGoverno francês interpôs um recurso tendo emvista a anulação (4) da decisão. Uma vez que osrecursos de anulação não têm efeito suspensivo,não afectam a obrigação dos Estados-Membrosde respeitarem a decisão de recuperação. Naausência de recuperação, a Comissão intentou emJulho de 1999 (5) uma acção relativa à nãoexecução da ordem de recuperação no prazoestabelecido. Em 22 de Março, o Tribunal rejei-tou o recurso de anulação (6) e pronunciou-senesse mesmo dia sobre a acção relativa à nãoexecução da ordem de recuperação (7). O Tribu-nal salientou que, em conformidade com ajurisprudência consagrada, somente a impossibi-lidade absoluta de executar a decisão poderiarepresentar um argumento de defesa válido para asua não observância por parte do Estado-Mem-bro. Se um Estado-Membro defrontar dificulda-des imprevistas e imprevisíveis na execução deuma decisão, deve apresentar estes problemas àComissão, juntamente com propostas relativas àintrodução de alterações adequadas na decisãorelevante. Neste caso, tanto a Comissão como oEstado-Membro estão vinculados pelo princípioconsignado no artigo 10.o do Tratado CE, que

¥1∂ Acórdão do Tribunal de 9 de Outubro de 2001, Itália/Comissão,processo C-400/99, ainda não publicado.

¥2∂ Decisão da Comissão de 20 de Julho de 1999 (JO L 42 de15.2.2000).

¥3∂ Decisão 1999/378/CE da Comissão de 4 de Novembro de 1998(JO L 145 de 10.6.1999, p. 18).

¥4∂ Processo C-17/99.¥5∂ Processo C-261/99.¥6∂ Acórdão do Tribunal de Justiça de 22 de Março de 2001,

França/Comissão, processo C-17/99, ainda não publicado.¥7∂ Acórdão do Tribunal de Justiça de 22 de Março de 2001, Comis-

são/França, processo C-261/99, ainda não publicado.

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impõe uma obrigação de verdadeira cooperaçãocom vista a superar as dificuldades, respeitandosimultaneamente as regras em matéria de auxíliosestatais. Uma vez que o Governo francês nãoinformou a Comissão da existência de quaisquerdificuldades deste tipo, o Tribunal concluiu que aFrança não tinha respeitado as suas obrigações aoabrigo do Tratado. Em 3 de Julho de 2001, o Tri-bunal reiterou estes princípios num acórdão emque declarava que as autoridades belgas nãotinham adoptado as medidas necessárias paraproceder à recuperação do auxílio previsto noâmbito dos regimes Maribel bis/ter (1).

486. Se um Estado-Membro não der cumpri-mento a um acórdão proferido pelo Tribunal, a

Comissão pode, em conformidade com oartigo 228.o, instituir um novo procedimento con-tra o Estado-Membro que pode conduzir, emúltima instância, à imposição de uma sançãopecuniária. Em 18 de Julho de 2001, e pela pri-meira vez no âmbito de um processo de recupera-ção de um auxílio estatal, a Comissão decidiuenviar um parecer fundamentado à Itália em queespecificava os pontos em relação aos quais a Itá-lia não tinha respeitado o acórdão do Tribunal noâmbito do processo Comissão/Itália (2).

¥1∂ Acórdão do Tribunal de Justiça de 3 de Julho de 2001, Comis-são/Bélgica, processo C-378/98, ainda não publicado.

¥2∂ C-280/95, Comissão/Itália, Colect. 1998, p. I-0259. Nesse acór-dão, a Itália tinha sido já condenada por não ter cumprido a ordemde recuperação contida na Decisão da Comissão de 9 de Junho de1993 relativa a um procedimento em matéria de auxílios estatais(Crédito fiscal aos transportadores rodoviários profissionais demercadorias) (JO L 233 de 16.9.1993).

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E — Estatísticas

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1 000

Auxílios notificados Auxílios não notificados Auxílios existentes Denúncias

Gráfico 6Evolução do número de casos registados (excepto agricultura, pescas, transportes e indústria hulhífera) entre 1996 e 2001

1996

644

1997

656

1998

444

1999

569

2000

663

2001

5693 1

5

294

152

91

550

140

515

97

342

98

469

86

473

4946

322

10

200

19961997

19981999

20002001

300

400

500

600

700

800

474 502

460

460475

451

Gráfico 7Evolução do número de decisões adoptadas pela Comissão(excepto agricultura, pescas, transportes e indústria hulhífera) entre 1996 e 2001

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0 100 200 300 400 500

Gráfico 8Número de decisões por Estado-Membro (excepto agricultura, pescas, transportes e indústria hulhífera)

Reino Unido

FinlândiaPortugal

ÁustriaPaíses Baixos

ItáliaIrlandaFrança

EspanhaGrécia

AlemanhaDinamarca

Bélgica

União Europeia

Luxemburgo

Suécia31

71520

38

397

3973

12130

1124

451

3

2

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1. Princípios gerais

487. As regras comunitárias em matéria de con-corrência são em princípio aplicáveis integral-mente às empresas a que o Estado confiou odesempenho de serviços de interesse económicogeral. Contudo, nos termos do disposto no n.o 2do artigo 86.o do Tratado CE, a aplicação dasregras do Tratado e, em especial, as regras emmatéria de concorrência, não podem constituirobstáculo ao cumprimento, de direito ou de facto,das missões particulares confiadas a estas empre-sas. No entanto, o desenvolvimento das trocascomerciais não deve ser afectado de maneira quecontrarie os interesses da Comunidade. Porconseguinte, nos termos do princípio da proporci-onalidade consagrado no n.o 2 do artigo 86.o, aaplicação das regras do Tratado CE deve limitar--se à medida em que tal seja necessário ao cum-primento por parte da empresa em causa da mis-são específica que o Estado lhe confiou.

488. A importância dos serviços de interesseeconómico geral (SIEG) foi sublinhada nomea-damente pela introdução do artigo 16.o do Tra-tado CE pelo Tratado de Amsterdão, que estabe-lece: «Sem prejuízo do disposto nos artigo 73.o,86.o e 87.o, e atendendo à posição que os serviçosde interesse económico geral ocupam noconjunto dos valores comuns da União e ao papelque desempenham na promoção da coesão sociale territorial, a Comunidade e os seus Esta-dos-Membros, no limite das respectivas compe-tências e do âmbito de aplicação do presente Tra-tado, zelarão por que esses serviços funcionemcom base em princípios e em condições que lhespermitam cumprir as suas missões».

489. A Comissão por seu lado, apresentou, deforma pormenorizada a sua posição sobre a maté-ria, nas duas comunicações sobre «os serviços deinteresse geral na Europa» de 1996 (1) e 2000 (2).Nestas comunicações, a Comissão refere-se, emespecial, os critérios de aplicação das regras doTratado relativas à concorrência e ao mercadointerno e mostra, com base em exemplos concre-tos, que a aplicação correcta destes critérios nãoprejudica o bom funcionamento dos serviços deinteresse económico geral.

2. Evolução recente

2.1. O pedido do Conselho Europeu de Nice

490. O Conselho Europeu de Nice de 7, 8 e 9 deDezembro de 2000 tomou conhecimento, comsatisfação, da Comunicação da Comissão de2000, tendo no entanto solicitado à Comissão queapresentasse um relatório sobre o funcionamentodos serviços de interesse geral para o ConselhoEuropeu de Laeken de 14 e 15 de Dezembro de2001. O Conselho Europeu solicita em especial àComissão que analise os meios para garantir umamaior previsibilidade e segurança jurídica naaplicação do direito da concorrência aos serviçosde interesse económico geral. O Conselho Euro-peu aprovou igualmente uma declaração doConselho «Mercado Interno» de 28 de Setembrode 2000, que exprimia duas preocupações especí-ficas:

— por um lado, é conveniente especificarmelhor a articulação entre os meios de finan-ciamento dos serviços de interesse econó-mico geral e as regras comunitárias em maté-ria de auxílios estatais;

— por outro, deveria ser efectuada uma avalia-ção periódica dos serviços de interesse eco-nómico geral, nomeadamente sobre osaspectos relativos à qualidade do serviço, àacessibilidade, à segurança e aos preços.

2.2. Relatório da Comissão ao Conselho Europeu de Laeken

491. A Comissão adoptou o seu relatório em17 de Outubro de 2001 (3). Recorda a importân-cia que atribui aos serviços de interesse geral,como componente essencial do modelo de socie-dade europeia, bem como o facto de o DireitoComunitário não se opor de forma alguma à cria-ção e ao funcionamento de serviços de interessegeral eficazes.

492. Assim, o Direito Comunitário relativo aosauxílios estatais permite aos Estados-Membrosque estes concedam às empresas encarregadas deexplorarem os serviços de interesse económicogeral os apoios financeiros necessários para com-pensar os custos excedentários decorrentes da¥1∂ JO C 281 de 26.9.1996.

¥2∂ Documento COM(2000) 580 final de 20 de Setembro de 2000,igualmente publicado no JO C 17 de 19.1.2001, p. 4. Vide igual-mente o XXX Relatório da Comissão sobre a Política de Concor-rência 2000, caixa 3, após o ponto I.C.2.7. ¥3∂ COM(2001) 598 de 17 de Outubro de 2001.

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missão específica que lhes é confiada e permitirque estas empresas assegurem a sua missão emcondições de equilíbrio económico. Por outrolado, o Direito Comunitário opõe-se a que o mon-tante do apoio concedido pelo Estado exceda onecessário para cumprir a missão de serviçopúblico e possa ser utilizado por uma empresaencarregada de explorar um serviços de interesseeconómico geral para efectuar subvenções cruza-das em benefício de actividades abertas à concor-rência.

493. A fim de aumentar a previsibilidade e asegurança jurídica na matéria, a Comissão adop-tou uma abordagem em duas etapas:

— numa primeira fase, a Comissão tencionaelaborar em 2002, em estreita colaboraçãocom os Estados-Membros, um quadrocomunitário para os auxílios estatais conce-didos às empresas encarregadas de assegura-rem serviços de interesse económico geral.Neste contexto, os Estados-Membros e asempresas serão informados das condiçõesem que a Comissão pode autorizar os auxí-lios estatais a empresas encarregadas deexplorarem serviços de interesse económicogeral;

— numa segunda fase, a Comissão avaliará aexperiência adquirida com a aplicação desteenquadramento e, se a experiência o justifi-car, a Comissão prevê adoptar um regula-mento que isente determinados auxílios dodomínio dos serviços de interesse económicogeral da obrigação de notificação prévia.

494. A Comissão adoptou igualmente duasmedidas a fim de aumentar a transparência nodomínio dos serviços de interesse económicogeral:

— por um lado, a Comissão consagrará dora-vante uma parte específica do seu relatórioanual sobre a política de concorrência aosserviços de interesse geral, no qual descre-verá as modalidades de aplicação das regrasde concorrência a esses serviços;

— por outro, para facilitar o acesso às informa-ções disponíveis, a Comissão identificará nofuturo os casos associados aos serviços deinteresse geral no seu registo dos auxíliosestatais.

495. Finalmente, é conveniente sublinhar queem 22 de Novembro de 2001, o Tribunal de Jus-

tiça proferiu o acórdão Ferring (1). Neste casoespecífico, o Tribunal considerou que uma com-pensação concedida a determinadas empresasencarregadas de explorarem um serviço de inte-resse económico geral não constituía um auxílioestatal na acepção do n.o 1 do artigo 87.o do Tra-tado. Se o Tribunal de Justiça vier a confirmaresta jurisprudência, a Comissão tirará daí, como éevidente, todas as consequências.

496. Por outro lado, no seu relatório ao ConselhoEuropeu de Laeken, a Comissão especificou, paraalém disso, a sua posição quanto às modalidadesde selecção das empresas encarregadas de explora-rem os serviços de interesse económico geral.Quando um Estado-Membro decide confiar a pres-tação desses serviços a terceiros, deve respeitar asdisposições comunitárias na matéria. Um contratoatravés do qual uma autoridade pública confia agestão de um serviço de interesse geral a um ter-ceiro e que cumpra as condições enunciadas nasdirectivas comunitárias relativas aos contratospúblicos (2) constitui um «contrato público» naacepção dessas directivas e a sua atribuição deverespeitar as disposições das referidas directivas.

497. Para além disso, em conformidade com ajurisprudência do Tribunal de Justiça (3), a celebra-ção de contratos não abrangidos pelas directivasrelativas aos contratos públicos deve respeitar asregras e os princípios do Tratado, ou seja, as regrasrelativas à livre prestação de serviços e à liberdadede estabelecimento, bem como os princípios datransparência, da igualdade de tratamento, da pro-porcionalidade e do reconhecimento mútuo.

498. A Comissão considera que a aplicação des-tes princípios só pode conferir vantagens aos uti-lizadores e aos operadores económicos. AComissão analisará, além disso, se serão necessá-rias outras medidas para clarificar estas regras.

499. O relatório da Comissão foi acolhido favo-ravelmente pelo Conselho «Mercado Interno,Protecção dos Consumidores e Turismo» de26 de Novembro de 2001. O Conselho incentivouem especial a Comissão a preparar, num futuropróximo, orientações que especifiquem nomea-damente em que condições as compensações deserviço público não são abrangidas pelas regrasdos auxílios estatais. O Conselho convida igual-mente a Comissão, à luz e com base na experiên-

¥1∂ Processo C-53/00.¥2∂ Directivas 92/50, 93/77, 93/36 e 93/38.¥3∂ Acórdão de 7 de Dezembro de 2000, Telaustria, processo

C-324/98.

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cia adquirida com as orientações, a elaborar, logoque possível, em estreita cooperação com osEstados-Membros, uma proposta de regulamentoque isente determinados auxílios em matéria deserviços de interesse económico geral da obriga-ção de notificação prévia, tomando em considera-ção as especificidades sectoriais. O Conselhoconvidou finalmente a Comissão a apresentar-lheum relatório sobre a preparação de um regula-mento desse tipo, tendo em vista o ConselhoEuropeu de Copenhaga.

500. O Conselho Europeu de 14 e 15 de Dezem-bro de 2001 «tomou conhecimento, com satisfa-ção, das conclusões do Conselho, bem como dorelatório conjunto do Conselho e da Comissãosobre os serviços de interesse geral, os quaisserão objecto de uma avaliação, a nível comunitá-rio, no que se refere aos seus desempenhos e aosseus efeitos sobre a concorrência. O ConselhoEuropeu incentiva a Comissão a elaborar um qua-dro de orientação para os auxílios estatais conce-didos às empresas encarregadas de missões deserviços de interesse geral».

501. Durante 2002, a Comissão comprome-ter-se-á a realizar os objectivos anunciados no seurelatório ao Conselho Europeu, à luz da evoluçãoda jurisprudência do Tribunal de Justiça.

3. Antitrust (incluindo liberalização)

502. No domínio antitrust, a Comissão tratou,em 2001, diversos processos e questões legislati-vas sobre os serviços de interesse geral, base-ando-se nos princípios legislativos e políticosdefinidos na Comunicação da Comissão relativaaos serviços de interesse geral na Europa de20 de Setembro de 2000. A dimensão que ajurisprudência e a legislação assumiram contri-buiu, por conseguinte, para aumentar a previsibi-lidade e a segurança jurídica neste domínio.

503. As regras comunitárias de concorrência nãosão por isso aplicáveis quando a actividade emcausa não é de natureza económica e/ou quando sepode excluir qualquer efeito sobre as trocas comer-ciais entre Estados-Membros. Por esta razão, aComissão arquivou vários processos em 2001 (1).

504. Noutros processos, as regras comunitáriasde concorrência puderam ser plenamente aplica-das, uma vez que o facto de pôr termo ao compor-tamento anticoncorrencial da empresa à qual foiconfiada a exploração de um serviço de interesseeconómico geral não prejudicava manifesta-mente o cumprimento da missão específica atri-buída a esta empresa na acepção do n.o 2 doartigo 86.o (2). No sector postal, várias decisõesda Comissão (3) demonstraram que abusos deposição dominante realizados por uma empresa aque o Estado tinha confiado um serviço de inte-resse económico geral não podiam normalmentejustificar-se com base no n.o 2 do artigo 86.o Adecisão adoptada no processo Deutsche Post AG I(DPAG) assume uma importância especial. Nestadecisão, a Comissão considerou que não se justi-ficava uma derrogação ao abrigo do n.o 2 doartigo 86.o, na medida em que a supressão dasreduções de fidelidade concedidas pela DPAGaos seus parceiros e o aumento dos preços daDPAG de molde a abranger pelo menos os custossuplementares associados à prestação de serviçosde envio de encomendas pelo correio não impedi-ria a DPAG de cumprir a sua obrigação legal defornecimento de um serviço de interesse econó-mico geral («operador de último recurso»).

3.1. Actividade dos tribunais

505. No seu acórdão de 17 de Maio (4), o Tribu-nal de Justiça das Comunidades Europeiasdebruçou-se sobre a compatibilidade de uma leiitaliana que concedia a uma empresa o direitoexclusivo de explorar um serviço postal universalcom o n.o 1 do artigo 86.o, em articulação com oartigo 82.o, na medida em que subordinava odireito de qualquer outro operador económico defornecer um serviço de correio expresso nãoabrangido pelo serviço universal ao pagamentode um direito postal equivalente a uma taxa defranquia normalmente devida à empresa encarre-gada do serviço universal. O Tribunal de Justiçadas Comunidades Europeias declarou que, na

¥1∂ Tal como foi o caso do processo COMP/D-3/38213Ryanair/ENAV e Itália, na medida em que a ENAV (a entidaderesponsável pelo controlo do tráfico aéreo em Itália) não exerciauma actividade económica.

¥2∂ Do mesmo modo, na Decisão da Comissão de 23 de Outubro de2001, La Poste(França)/SNELPD (COMP/C1/37133), o n.o 1 doartigo 86.o, alínea g) do n.o 1 do artigo 3.o, o n.o 2 do artigo 10.o eos artigos 81.o e 82.o poderiam ser inteiramente aplicados contraum Estado-Membro, uma vez que pôr termo à situação anticon-correncial criada por esse Estado-Membro no contexto de umaempresa à qual foram confiados serviços de interesse económicogeral não prejudicava o desempenho das missões particulares atri-buídas a essa empresa.

¥3∂ Relativamente aos processos Deutsche Post AG I, Deutsche PostAG II, De Post/La Poste(Bélgica) ver secção I.C.2.2.

¥4∂ Processo C-340/99, TNT Traco, parágrafos 51-63.

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medida em que as trocas comerciais entre Esta-dos-Membros podiam ser afectadas, tal legisla-ção era contrária ao n.o 1 do artigo 86.o, em arti-culação com o artigo 82.o, na medida em quecriava uma situação em que o operador históricoque beneficiava do direito exclusivo não podiadeixar de abusar da sua posição dominante rece-bendo uma remuneração por serviços que ele pró-prio não tinha fornecido. Contudo, o Tribunal deJustiça considerou igualmente que esta restriçãoda concorrência, que consistia no facto de asempresas que não asseguram o serviço universalserem obrigadas a contribuir para a viabilidadedo prestador do serviço universal, podia justifi-car-se à luz do n.o 2 do artigo 86.o (1) se a contri-buição financeira se limitasse ao montante estri-tamente necessário para compensar os eventuaisprejuízos que o prestador histórico do serviçopostal universal poderia suportar (2).

506. No domínio da saúde, o Tribunal de Justiçadas Comunidades Europeias proferiu umadecisão a título prejudicial, em 25 de Outubro (3),na qual procedeu a uma análise da compatibili-dade com o artigo 86.o, em articulação com oartigo 82.o, de uma disposição legislativa alemãao abrigo da qual era recusado às empresas aautorização de fornecerem serviços de transportede doentes quando a concessão de tal autorizaçãoé susceptível de ter efeitos contrários sobre aexploração e a rendibilidade do serviço de trans-porte de emergência, que é confiado, em determi-nadas zonas geográficas, a organizações de assis-tência médica que propõem simultaneamenteserviços de transporte de doentes. O Tribunal deJustiça declarou em primeiro lugar que asorganizações de assistência médica eram empre-sas na acepção do Direito Comunitário da Con-corrência, na medida em que o fornecimento deserviços de transporte de emergência, bem comode serviços de transporte de doentes, constituiuma actividade económica. O Tribunal relem-brou seguidamente que incumbe aos tribunais

nacionais determinar, em primeiro lugar, se asorganizações de assistência médica detêm umaposição dominante no mercado do transporte deemergência e se este mercado constitui uma partesubstancial do mercado comum. Em segundolugar, os tribunais nacionais teriam de averiguarse a legislação alemã produziu efeitos no comér-cio entre Estados-Membros, isto é, se havia umgrau razoável de probabilidade que os operadoresestabelecidos noutros Estados-Membros que nãoa Alemanha fossem impedidos de forneceremserviços de transporte em ambulância na Alema-nha ou de se estabelecerem nesse país. Se estascondições prévias se encontrarem reunidas, o Tri-bunal de Justiça é do parecer que a legislaçãoalemã permitirá às organizações de assistênciamédica uma extensão da sua posição dominanteaos mercados vizinhos, mas distintos, do trans-porte de doentes, o que constituiria uma infracçãoao n.o 1 do artigo 86.o, em articulação com oartigo 82.o, se uma situação desse tipo não se jus-tificasse objectivamente. Contudo, o Tribunal deJustiça chegou finalmente à conclusão que alegislação alemã dizia respeito a um serviço deinteresse económico geral e podia justificar-se aoabrigo do n.o 2 do artigo 86.o, desde que todas ascondições enunciadas nesta disposição fossemrespeitadas e que as empresas independentespudessem obter uma autorização para fornecerserviços de transporte de doentes, caso asorganizações de assistência médica encarregadasdeste serviço não estivessem manifestamente emcondições de satisfazer a procura neste domínio.

3.2. Liberalização por via de medidas legislativas

507. Nas suas conclusões, o Conselho Europeu deLisboa de Março de 2000 convidou a Comissão, oConselho e os Estados-Membros, no limite dascompetências respectivas, a definirem, até ao finalde 2000, uma estratégia para a eliminação dos obs-táculos aos serviços e a acelerar a liberalização emsectores como o gás, a electricidade, os serviçospostais e os transportes. Por esta razão, ao longo de2001 a Comissão continuou a incentivar a aberturados mercados e a concorrência, apresentando pro-postas legislativas e controlando a aplicação dalegislação comunitária existente. A sua actividadecentrou-se nomeadamente nos domínios em quesão fornecidos serviços de interesse económicogeral e teve em conta, relativamente a este aspecto,o princípio da proporcionalidade e as especificida-des de cada um dos sectores em causa.

¥1∂ Os factos a que o acórdão diz respeito são anteriores ao prazopara transposição da Directiva 97/67/CE (ou seja, Fevereiro de1999). O n.o 4 do artigo 9.o da referida Directiva precisa que só asempresas que operam no âmbito do serviço universal podem serobrigadas a contribuir para o fundo do serviço universal.

¥2∂ Além disso, o TJCE alegou que nestas circunstâncias o operadorhistórico, quando fornece um serviço que não faz parte do ser-viço universal, deve também ser obrigado a contribuir financeira-mente para o serviço universal. Finalmente, o TJCE alegou que ooperador histórico tinha igualmente de garantir que a sua activi-dade de correio expresso fora do serviço universal não era sub-vencionada pelo serviço universal, aumentando desta formaindevidamente os prejuízos potenciais desse serviço.

¥3∂ Processo C-475/99, Ambulanz Glöckner

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508. No sector da energia, a Comissão apresen-tou uma proposta de nova directiva (1), que prevêa abertura completa do mercado da electricidadee do gás em três etapas, de 2003 a 2005. A pro-posta de directiva visa igualmente manter umnível elevado de serviços de interesse económicogeral, obrigando os Estados-Membros a garanti-rem o direito de os particulares adquiriremelectricidade em condições razoáveis, bem comoa realização de diversos objectivos essenciais,como a defesa dos consumidores mais vulnerá-veis, a protecção dos direitos fundamentais dosconsumidores finais (conjunto mínimo de condi-ções aplicáveis aos contratos, transparência dainformação e disponibilidade de mecanismos deresolução de litígios transparentes e pouco onero-sos), bem como a segurança do abastecimento.

509. No sector postal, a Comissão prosseguiu osseus esforços a fim de preparar uma maior aber-tura do mercado. A sua nova proposta de 21 deMarço de 2001 sublinha nomeadamente que cadaEstado-Membro fixará pormenorizadamente assuas próprias normas de serviço universal. Naposição comum adoptada pelo Conselho em15 de Outubro de 2001, foram introduzidasvárias alterações ao texto. Os dois pontos queapresentam maior importância para os serviçosde interesse económico geral são, em primeirolugar, o objectivo da liberalização dos serviços deexpedição de correio transfronteiras, salvo paraos Estados-Membros em que a sua inclusão nosserviços reservados é necessária para garantir ofornecimento do serviço universal e, em segundolugar, a proibição de qualquer subvenção cruzadaem benefício dos serviços universais que não per-tençam ao sector reservado a partir de receitasprovenientes de serviços do sector reservado,salvo se tal for estritamente necessário para cum-

prir as obrigações específicas de serviço universalimpostas no sector aberto à concorrência.

510. No sector das telecomunicações, o Conse-lho alcançou um acordo político, em 6 de Dezem-bro, relativamente a um conjunto de directivas(«Novo pacote de medidas relativas àstelecomunicações»), que substituirá o actual qua-dro comunitário regulamentar no domínio dastelecomunicações. O principal progresso emrelação ao quadro actual é que este novo quadroaplica o princípio da neutralidade tecnológica edissocia os serviços de transporte do forneci-mento de conteúdos. Por outro lado, põe termo àdistinção entre regulamentação das redes detelecomunicações e das redes de radiodifusão.Para além disso, introduz definições dos merca-dos e dos operadores dominantes na perspectivado Direito da Concorrência, com o objectivo decriar uma legislação própria ao sector. A fim degarantir uma aplicação coerente destes princí-pios, foi concedido à Comissão o direito de seopor às interpretações nacionais que não sejamcompatíveis com o Direito Comunitário.

511. A Comissão centrou a sua actividade nocontrolo da transposição das actuais directivasrelativas à liberalização e no prosseguimento dosinquéritos sobre a oferta desagregada de acessoao lacete local, o sector das linhas alugadas e oroaming. No seu acórdão de 6 de Dezembrode 2001, proferido no processo C-146/00 Comis-são/França, o Tribunal de Justiça clarificoudeterminadas questões relativas ao financiamentodo serviço universal e ao cálculo do custo líquidodeste serviço em conformidade com as directivasrelativas às telecomunicações. O Tribunal deuinteiramente razão à Comissão, considerandoque o sistema francês de financiamento do ser-viço universal não respeitava os princípios daproporcionalidade, objectividade e transparênciaexigidos pelas directivas e que a França tinhaigualmente infringido as suas obrigações emmatéria de reequilíbrio das tarifas.

¥1∂ COM(2001) 125 final de 13 de Março de 2001. Para mais porme-nores, ver ponto 88.

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A — Alargamento

1. Preparação e negociações de adesão

512. Em 2001, a União Europeia prosseguiu asnegociações de adesão no domínio da concorrên-cia. Em Março de 2001, as negociações relativasà concorrência foram oficialmente iniciadas coma Bulgária. As negociações de adesão com a Tur-quia não começaram ainda, estando no entanto jábem avançada a preparação da análise analíticada compatibilidade das regras de concorrênciaturcas com o acervo comunitário.

513. A fim de determinar se os países candidatostinham realizado os preparativos necessários parapermitir que a Comissão propusesse aos Esta-dos-Membros encerrar provisoriamente as nego-ciações no domínio da concorrência, a Comissãoanalisou, nomeadamente, se os países candidatostinham atingido um nível de preparação satisfató-rio em três sectores: a) o quadro legislativo nodomínio antitrust e dos auxílios estatais; b) acapacidade administrativa necessária no domínioda concorrência; e c) a demonstração da aplica-ção efectiva do acervo comunitário no domínioda concorrência. O método aplicado para avaliarestes critérios é explicado em pormenor no rela-tório da Comissão relativo ao estado de adianta-mento das negociações de adesão no que respeitaao capítulo «Concorrência», apresentado aogrupo «Alargamento» do Conselho em Janeiro de2001. Este relatório incluía igualmente o estadodas negociações com Chipre, República Checa,Estónia, Hungria, Polónia e Eslovénia. Em Julhode 2001, a Comissão apresentou ao grupo «Alar-gamento» do Conselho uma versão actualizadadesse relatório, que incluía igualmente os dadosrelativos à Bulgária, Letónia, Lituânia, Malta,Roménia e Eslováquia. O grupo acolheu favora-velmente os dois relatórios.

514. No que diz respeito às negociações de ade-são, o Conselho Europeu de Gotemburgo, de 15 e16 de Junho de 2001, confirmou o calendárioapresentado no documento estratégico da Comis-são relativo ao alargamento de 8 de Novembrode 2000. Segundo este relatório, a UE devia tercomo prioridade, no segundo semestre de 2001, adefinição de posições comuns, nomeadamente noque se refere aos pedidos de medidas transitórias,relativamente a vários capítulos, incluindo o dapolítica da concorrência. Em conformidade comeste calendário, a Comissão apresentou ao

Conselho, no final de Outubro de 2001, projectosalterados de posições comuns relativos ao capí-tulo «concorrência». Os projectos de posiçõescomuns relativamente ao conjunto dos doze paí-ses candidatos no que diz respeito ao capítulo«concorrência» encontram-se em fase de negoci-ação. Têm por objectivo permitir ao Conselhoanalisar se existem as condições que permitiriamencerrar provisoriamente este capítulo.

515. Em Novembro de 2001, o Conselho deci-diu, em conformidade com a recomendação daComissão, encerrar provisoriamente as negocia-ções sobre a concorrência com a Estónia, Letó-nia, Lituânia e Eslovénia. Quanto a todos osoutros países candidatos, o Conselho aprovou aproposta da Comissão no sentido de prosseguir asnegociações neste domínio. O Conselho Europeude Laeken de Dezembro de 2001 reafirmou que aUnião Europeia estava determinada a realizarcom êxito as negociações de adesão com os paí-ses candidatos que estiverem prontos até ao finalde 2002, de forma a que estes países possam par-ticipar enquanto Estados-Membros nas eleiçõesdo Parlamento Europeu de 2004. Para além disso,o Conselho Europeu de Laeken declarou«concordar com o relatório da Comissão queconsidera que a manter-se o ritmo actual dasnegociações e das reformas nos países candida-tos, Chipre, a Eslovénia, a Estónia, a Hungria, aLetónia, a Lituânia, Malta, a Polónia, a Repú-blica Checa e a República Eslovaca poderãoestar aptos».

2. Progressos realizados em matéria de alinhamento das regras de concorrência

516. A Comissão Europeia elabora regularmenterelatórios sobre os progressos realizados por cadapaís candidato à adesão. Os quatro relatóriosperiódicos relativamente aos dez países daEuropa Central e Oriental (PECO), Chipre, Maltae Turquia, adoptados pela Comissão Europeia emNovembro de 2001, avaliam os progressos reali-zados desde os relatórios de 2000.

517. As realizações no domínio antitrust e dasconcentrações foram geralmente consideradassatisfatórias, tanto no que diz respeito à legisla-ção como à criação da capacidades administrativanecessária. O principal desafio com que sãoconfrontadas as autoridades antitrust dos paísescandidatos continua a ser a necessidade de darprioridade à aplicação do direito da concorrência

V — ACTIVIDADES DE CARÁCTER INTERNACIONAL

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aos comportamentos anticoncorrenciais queentravam mais gravemente o bom funcionamentodos mercados, tais como os cartéis, as aquisiçõesmonopolistas e as práticas de exclusão por partede empresas em posição dominante. Para melho-rar os seus resultados neste domínio, os paísescandidatos deveriam igualmente, de uma formageral, criar uma política de sanções mais dissua-siva.

518. Em comparação com o domínio antitrust, aintrodução do controlo dos auxílios estatais nospaíses candidatos demonstrou ser muito maiscontroversa, lenta e politicamente sensível.Contudo, as negociações de adesão permitiramacelerar a criação de um enquadramento jurídicoe processual para a regulamentação dos auxíliosestatais.

519. Em 2001, todos os países candidatos comnegociações em curso tinham instituído autorida-des nacionais de controlo dos auxílios estatais. ATurquia aceitou fazê-lo até 1 de Janeiro de 2003.A Comissão tinha sublinhado que essas autorida-des deveriam efectivamente controlar os auxíliosestatais novos e existentes concedidos por todasas entidades implicadas. Todas as novas medidasde auxílio deveriam ser previamente notificadasàs autoridades de controlo. Estas deveriam estarhabilitadas a recolher todas as informaçõesnecessárias para analisar os auxílios estataisconcedidos por todas as entidades em causa. Paraalém disso, deveriam ter poderes para emitir umparecer independente sobre a compatibilidade detodas as novas medidas de auxílio com os acordoseuropeus, antes destes serem concedidos.Contudo, não se afigura que todas as autoridadesde controlo recebiam sistematicamente as infor-mações relativas a todos os novos auxílios conce-didos que lhes permitiriam exercer plenamente assuas funções.

520. Para garantir a transparência necessária, amaior parte dos países candidatos criaram inven-tários exaustivos dos auxílios existentes, que sãocontinuamente actualizados. Para além disso, aComissão continuou a colaborar com as autorida-des de controlo dos países candidatos a fim degarantir que os seus relatórios anuais sobre osauxílios estatais estejam em conformidade com ametodologia utilizada para elaborar relatórios daComissão sobre os auxílios estatais.

521. A Comissão continuou a chamar a atençãode vários países candidatos para a necessidade dealinharem os seus regimes de auxílios fiscais, fre-

quentemente utilizados para atrair investimentosestrangeiros, bem como os auxílios estatais nasdenominadas zonas económicas especiais, peloacervo comunitário, muito antes da adesão. AComissão sublinhou igualmente a exigência detransparência e de aplicação rigorosa do acervonos casos de reestruturação.

3. Regras de aplicação dos acordos europeus e da decisão relativa à união aduaneira

522. Tendo em vista completar o enquadramentojurídico que rege as relações entre a Comunidadee os dez países associados da Europa Central eOriental no domínio da concorrência, foram ela-boradas duas séries de regras de aplicação. A pri-meira diz respeito à aplicação das disposições dosacordos europeus em matéria de concorrênciaaplicáveis às empresas (antitrust). A segundarefere-se às regras relativas aos auxílios estatais.

523. Foram já adoptadas regras de aplicação dasdisposições em matéria de concorrência aplicá-veis às empresas, relativamente à RepúblicaCheca (1), Polónia (2), República Eslovaca (3),Hungria (4), Bulgária (5), Roménia (6), Estó-nia (7), Lituânia (8) e Eslovénia. (9) Em 2001, oConselho de Associação adoptou igualmenteregras de aplicação das disposições em matériade concorrência aplicáveis às empresas para aLetónia (10). O texto das regras de aplicação éessencialmente o mesmo para todos os paísesassociados. Trata-se principalmente de regrasprocessuais, isto é, de regras relativas às questõesde competência para a análise dos processos, aosprocedimentos de notificação dos processos àoutra parte, regras de consulta e de cortesia, bem

¥1∂ Decisão 1/96 do Conselho de Associação UE-República Checade 30 de Janeiro de 1996 (JO L 31 de 9.2.1996).

¥2∂ Decisão 1/96 do Conselho de Associação UE-Polónia de 16 deJulho de 1996 (JO L 208 de 17.8.1996).

¥3∂ Decisão 1/96 do Conselho de Associação UE-Eslováquia de15 de Agosto de 1996 (JO L 295 de 20.11.1996).

¥4∂ Decisão 2/96 do Conselho de Associação UE-Hungria de 6 deNovembro de 1996 (JO L 295 de 20.11.1996).

¥5∂ Decisão 2/97 do Conselho de Associação UE-Bulgária de 7 deOutubro de 1997 (JO L 15 de 21.1.1998).

¥6∂ Decisão 1/99 do Conselho de Associação UE-Roménia de 16 deMarço de 1999 (JO L 96 de 10.4.1999).

¥7∂ Decisão 1/99 do Conselho de Associação UE-Estónia de 28 deAbril de 1999 (JO L 144 de 9.6.1999).

¥8∂ Decisão 4/99 do Conselho de Associação UE-Lituânia de 26 deMaio de 1999 (JO L 156 de 23.6.1999).

¥9∂ Decisão 4/2000 do Conselho de Associação UE-Eslovénia de21 de Dezembro de 2000 (JO L 130 de 12.5.2001).

¥10∂ Decisão 5/2001 do Conselho de Associação UE-Letónia de 25 deAbril de 2001 (JO L 183 de 6.7.2001).

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V — ACTIVIDADES DE CARÁCTER INTERNACIONAL

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como as regras relativas às trocas de informações.No que diz respeito a certos problemas de ordemconstitucional na execução das regras de aplica-ção na Hungria, foram feitos progressos para ten-tar resolver as dificuldades que subsistem. AComissão apresentou ao Conselho uma propostade alteração das regras de aplicação no que dizrespeito à Hungria. Após acordo sobre um texto,o Conselho de Associação CE-Turquia pôdeigualmente adoptar as regras de aplicação emconformidade com a Decisão relativa à UniãoAduaneira de 1995, tanto para as empresas comopara o controlo dos auxílios estatais.

524. Foram realizados importantes progressosem 2001 no domínio da adopção das regras deaplicação relativas aos auxílios estatais. Taisregras encontram-se já em vigor relativamente àRepública Checa desde 1998 (1). Em 2001, oConselho de Associação adoptou igualmenteregras de aplicação para a Lituânia (2), Letó-nia (3), Roménia (4), Eslovénia (5), Polónia (6),Bulgária (7) e Eslováquia (8). As regras de aplica-ção constituem um sistema de dois pilares para ocontrolo dos auxílios estatais. No que se refere àComunidade, a Comissão aprecia a compatibi-lidade dos auxílios concedidos pelos Esta-dos-Membros da União Europeia face às regrascomunitárias na matéria. No que diz respeito aopaís associado, uma autoridade nacional devevigiar e controlar os auxílios públicos existentes enovos, segundo os mesmos critérios que osdecorrentes da aplicação das regras comunitáriasrelativas aos auxílios estatais. Estas regras deaplicação incluem procedimentos de consulta ede resolução dos problemas, regras em matéria detransparência (os países associados devem elabo-rar e actualizar um inventário dos seus regimes deauxílios e dos auxílios individuais que concede-ram), bem como regras relativas a intercâmbio deinformações. Após os trabalhos preparatórios noâmbito do Conselho, os projectos de regras de

aplicação relativas aos auxílios estatais aguardama sua aprovação pelo Conselho de Associaçãocom a Estónia no início de 2002.

4. Prorrogação do estatuto previsto na alínea a) do n.o 3 do artigo 87.o nos termos dos acordos europeus e adopção dos mapas dos auxílios com finalidade regional

525. Os acordos europeus estabelecem que osauxílios concedidos pelos países associados sãoapreciados tendo em conta o facto de, durante umperíodo de cinco anos, estes países serem consi-derados regiões idênticas às enunciadas na alí-nea a) do n.o 3 do artigo 87.o do Tratado que ins-titui a Comunidade Europeia. Em 2000, osConselhos de Associação decidiram prorrogar avalidade desse estatuto por cinco anos suplemen-tares para a Bulgária (9), Roménia (10), Lituâ-nia (11) e Estónia (12). Em 2001, foram adoptadasdecisões similares pelos respectivos Conselhos deAssociação relativamente à República Checa (13),Letónia (14), Polónia (15), Eslováquia (16) e Eslové-nia (17).

526. A decisão do Conselho de Associação queprorroga o estatuto previsto na alínea a) do n.o 3do artigo 87.o acrescenta geralmente que o paísassociado deve comunicar dados relativos ao PIBpor habitante ao nível estatístico apropriado.Esses valores deverão ser utilizados pela autori-dade de vigilância dos auxílios estatais do paísassociado e pela Comissão Europeia para elabo-rarem conjuntamente o mapa dos auxílios comfinalidade regional para o país associado, combase nas orientações comunitárias relativas aosauxílios nacionais com finalidade regional. Estemapa permite determinar a elegibilidade das regi-ões para auxílios regionais, bem como as intensi-

¥1∂ Decisão 1/98 do Conselho de Associação UE-República Checade 24 de Junho de 1998 (JO L 195 de 11.7.1998).

¥2∂ Decisão 2/2001 do Conselho de Associação UE-Lituânia de22 de Fevereiro de 2001 (JO L 98 de 7.4.2001).

¥3∂ Decisão 4/2001 do Conselho de Associação UE-Letónia de 20 deMarço de 2001 (JO L 163 de 20.6.2001).

¥4∂ Decisão 4/2001 do Conselho de Associação UE-Roménia de10 de Abril de 2001 (JO L 138 de 22.5.2001).

¥5∂ Decisão 2/2001 do Conselho de Associação UE-Eslovénia de3 de Maio de 2001 (JO L 163 de 20.6.2001).

¥6∂ Decisão 3/2001 do Conselho de Associação UE-Polónia de 23 deMaio de 2001 (JO L 215 de 9.8.2001).

¥7∂ Decisão 2/2001 do Conselho de Associação UE-Bulgária de23 de Maio de 2001 (JO L 216 de 10.8.2001).

¥8∂ Decisão 6/2001 do Conselho de Associação UE-Eslováquia de22 de Novembro de 2001 (ainda não publicada).

¥9∂ Decisão 1/2001 do Conselho de Associação UE-Bulgária de28 de Fevereiro de 2000 (JO L 144 de 17.6.2000).

¥10∂ Decisão 2/2000 do Conselho de Associação UE-Roménia de17 de Julho de 2000 (JO L 230 de 12.09.2000).

¥11∂ Decisão 2/2000 do Conselho de Associação UE-Lituânia de24 de Julho de 2000 (JO L 199 de 05.10.2000).

¥12∂ Decisão 3/2000 do Conselho de Associação UE-Estónia de 1 deDezembro de 2000 (JO L 21 de 23.1.2001).

¥13∂ Decisão 3/2001 do Conselho de Associação UE-República Checade 8 de Março de 2001 (JO L 100 de 11.4.2001).

¥14∂ Decisão 3/2001 do Conselho de Associação UE-Letónia de 20 deMarço de 2001 (JO L 156 de 13.6.2001).

¥15∂ Decisão 2/2001 do Conselho de Associação UE-Polónia de 7 deMaio de 2001 (JO L 215 de 9.8.2001).

¥16∂ Decisão 3/2001 do Conselho de Associação UE-Eslováquia de18 de Maio de 2001 (JO L 217 de 11.8.2001).

¥17∂ Decisão 4/2001 do Conselho de Associação UE-Eslovénia de25 de Julho de 2001 (ainda não publicada).

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dades máximas de auxílio autorizadas para cadauma dessas regiões. Sob proposta dos paísesassociados, a Comissão elaborou projectos demapas dos auxílios com finalidade regional desti-nados ao Conselho, tendo em vista a sua adopçãopelos Comités de associação relativamente àRepública Checa, Estónia, Letónia, Lituânia,Polónia, Eslováquia e Eslovénia.

5. Assistência técnica aos países candidatos

527. Tendo em conta as insuficiências que subsis-tem, a assistência técnica no domínio da concor-rência continua a constituir um instrumentoessencial para preparar os países candidatos para aadesão. São aplicadas medidas específicas noâmbito dos programas PHARE. No âmbito doprograma de desenvolvimento institucional(geminação), destinado a reforçar as instituiçõesdos países candidatos, são destacados peritos dosEstados-Membros por longos períodos junto dosPECO, a fim de aconselharem as autoridadesnacionais responsáveis pela concorrência e pelocontrolo dos auxílios estatais. Para além disso,foram organizadas sessões comuns de formaçãoem Março de 2001 para funcionários das autorida-des da concorrência dos países candidatos. Essassessões centraram-se na explicação, destinada aospaíses candidatos, do novo acervo no domínio daconcorrência, bem como na transposição e aplica-ção das regras de concorrência.

528. A Comissão prosseguiu uma política volun-tarista de intensificação dos contactos com asautoridades de concorrência dos países candida-tos. A VII Conferência Anual sobre a Concorrên-cia, que reúne as autoridades da concorrência dospaíses candidatos e a Comissão, realizou-se de17 a 19 de Junho de 2001 em Liubliana, naEslovénia. As delegações incluíam funcionáriosde alto nível das autoridades responsáveis pelaconcorrência e pelos auxílios estatais, incluindo ocomissário Monti. A Conferência Anual constituium fórum em que se trocam ideias e experiências.Permite igualmente estabelecer ou reforçar con-tactos profissionais entre funcionários responsá-veis pela concorrência. Este ano, a Conferênciacentrou-se mais particularmente nas práticas dospaíses candidatos em matéria de aplicação dalegislação e na necessidade de garantir umatransposição efectiva das regras em matéria anti-trust e de auxílios estatais.

6. Balcãs Ocidentais

529. Em Santa Maria da Feira, em Junho de2000, o Conselho Europeu reconheceu que ospaíses dos Balcãs Ocidentais eram candidatospotenciais à adesão à UE. A União comprome-teu-se a apoiar o processo de estabilização e deassociação para esta região, nomeadamente gra-ças à assistência técnica. Em 2001, a Comissãoencetou discussões com as autoridades da con-corrência recentemente criadas nos países dosBalcãs Ocidentais, tendo em vista os trabalhosque serão necessários em conformidade com asdisposições relativas à concorrência dos acordosde estabilização e de associação em vias de seremconcluídos com estes países (1). A Comissão par-ticipou também activamente na importante inici-ativa regional da OCDE sobre a política daconcorrência para os países dos Balcãs Ociden-tais, que foi lançada em Liubliana em Julhode 2001.

B — Cooperação bilateral

1. Estados Unidos

530. A Comissão apresenta anualmente aoConselho e ao Parlamento Europeu um relatóriosobre as suas actividades de cooperação com osEstados Unidos no âmbito do Acordo de Coope-ração de 1991 (2) e do Acordo de Cortesia Posi-tiva de 1998 (3). O último relatório diz respeito aoano de 2000 (4). O relatório de 2001 será publi-cado em 2002.

531. Em 2001, a Comissão prosseguiu a sua coo-peração com o departamento «antitrust» doMinistério da Justiça americano e com a FTC(Comissão Federal do Comércio) num númerocada vez maior de processos. A tendência para a

¥1∂ Em 2001 foram assinados dois Acordos de Estabilização e Asso-ciação. O Acordo de Estabilização e Associação entre as Comu-nidades Europeias e os seus Membros, por um lado, e a antigaRepública jugoslava da Macedónia, por outro, foi assinado em9 de Abril de 2001 no Luxemburgo. O Acordo de Estabilização eAssociação entre as Comunidades Europeias e os seus membros,por um lado, e a República da Croácia, por outro, foi assinado em29 de Outubro de 2001 no Luxemburgo.

¥2∂ Acordo entre as Comunidades Europeias e o Governo dos Esta-dos Unidos da América relativo à aplicação dos respectivos direi-tos da concorrência (JO L 95 de 27.4.1995, tal como alterado peloJO L 131 de 15.6.1995).

¥3∂ Acordo entre as Comunidades Europeias e o Governo dosEstados Unidos da América relativo aos princípios de cortesiapositiva na aplicação dos respectivos direitos da concorrência(JO L 173 de 18.6.1998).

¥4∂ COM(2002) 45 de 29.1.2002.

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mundialização dos mercados prosseguiu a umritmo rápido ao longo do ano, sendo a ilustraçãomais evidente o número recorde e a dimensãodas concentrações transnacionais. Com efeito,em 2001, o número das operações notificadastanto à Comissão como às autoridades antitrustnorte-americanas aumentou significativamente.Grande número de operações neste domínioforam analisadas simultaneamente pela Comissãoe pelas autoridades americanas. As discussõesentre as diferentes instâncias centram-se geral-mente em questões como a definição de merca-dos, os eventuais efeitos de uma operação sobre aconcorrência nestes mercados, bem como a viabi-lidade das soluções eventualmente propostas.

532. Realizaram-se inquéritos que deram origema uma cooperação transatlântica estreita nomeada-mente nos processos de concentração GE/Honey-well, Metso/Svedala e CVC/Lenzing (1). A Co-missão cooperou também estreitamente com osseus homólogos americanos em vários inquéritosque não diziam respeito a operações deconcentração, por exemplo os inquéritos daComissão e da FTC no que diz respeito à criaçãoda empresa comum de serviços inter-empresasCovisint entre os fabricantes de peças sobresse-lentes para veículos automóveis. A cooperaçãoUE-Estados Unidos em processos de concorrên-cia é analisada de forma mais aprofundada nocapítulo do presente relatório consagrado aocontrolo das operações de concentração bemcomo no sétimo relatório ao Conselho e ao Parla-mento Europeu relativamente a 2001, que serápublicado em 2002.

533. Em 2001, foram inúmeros os contactosbilaterais entre a Comissão e os serviços america-nos. O comissário Monti efectuou uma visita aWashington em Março, tendo aproveitado estaocasião para se encontrar com membros impor-tantes do Governo americano. Em 24 de Setem-bro, encontrou-se em Washington com os diri-gentes recentemente nomeados das autoridadesantitrust americanas, o «Assistant AttorneyGeneral», Charles James, e o presidente da FCT,Timothy Muris, por ocasião da reunião bilateralanual UE-Estados Unidos. Esta reunião coincidiucom o décimo aniversário do acordo bilateralUE-Estados Unidos sobre a política de concor-rência. Realizaram-se também reuniões durante oano entre a Comissão e outras instâncias america-

nas, nomeadamente o Ministério dos Transportes(responsável, a diversos títulos, pela gestão dequestões de concorrência nos seus sectores res-pectivos).

534. O mandato do grupo de trabalho conjunto«Concentrações» UE-Estados Unidos foi reori-entado por ocasião da reunião de 24 de Setembro.Os trabalhos prosseguiram e intensificaram-se.Os temas abordados deverão ser definidos commais precisão de forma a reflectir as questões quese colocaram no âmbito da apreciação dasconcentrações nos recentes processos.

2. Canadá

535. A cooperação bilateral com o Canadáassenta no acordo de cooperação no domínio daconcorrência que entrou em vigor em Junhode 1999 (2). Anualmente, a Comissão apresenta orelatório pormenorizado ao Conselho e ao Parla-mento Europeu sobre a sua cooperação com oCanadá. O último relatório abrangeu o período de1 de Junho a 31 de Dezembro de 2000 (3). O rela-tório sobre 2001 será publicado durante o ano de2002.

536. Um número crescente de processos são exa-minados pelas autoridades da concorrência dasduas partes. Os contactos entre a Comissão Euro-peia e o seu homólogo canadiano, o Departa-mento da Concorrência canadiano, foram fre-quentes e frutuosos. As discussões incidiramsobre processos concretos e também sobre ques-tões mais gerais de política da concorrência. Asduas reuniões bilaterais previstas no Acordo deCooperação realizaram-se em Fevereiro de 2001,em Bruxelas, e em Setembro de 2001, em Otava,tendo os directores das autoridades de concorrên-cia em causa nelas participado.

3. Outros países da OCDE

537. Durante o ano de 2001, a Comissão coope-rou com as autoridades da concorrência de váriospaíses da OCDE, nomeadamente a Austrália,Nova Zelândia e Coreia. Estes contactosdisseram simultaneamente respeito a processosconcretos e a questões mais gerais de política da

¥1∂ GE/Honeywell, ver ponto 326 e caixa 9; Metso/Svedala, ver pon-tos 307 e 316; CVC/Lenzing, ver ponto 256.

¥2∂ Acordo entre as Comunidades Europeias e o Governo do Canadárelativo à aplicação dos respectivos direitos da concorrência(JO L 175 de 10.7.1999).

¥3∂ COM(2002) 45 de 29.1.2002.

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concorrência. A Comissão prosseguiu igual-mente os seus esforços tendo em vista concluirum acordo de cooperação bilateral com o Japão.

538. Durante o ano, a Comissão prosseguiuigualmente a sua estreita cooperação com oÓrgão de Fiscalização da EFTA, no âmbito daaplicação do Acordo sobre o Espaço EconómicoEuropeu.

4. Países mediterrânicos

539. Os acordos euromediterrânicos, que consa-gram associações entre a UE e Marrocos (1),Tunísia (2) e Israel (3), encontram-se em vigor.Marrocos, a Tunísia e Israel dispõem de legisla-ção sobre concorrência, o que facilita os contac-tos relativos a um mecanismo de cooperação coma Comissão no âmbito dos compromissos previs-tos pelos artigos 36.o destes três acordos. No quediz respeito aos outros acordos euromediterrâni-cos, o acordo com a Jordânia (4) não se encontraainda em vigor. O Parlamento jordano rejeitou oprojecto de lei sobre a concorrência apresentadopelo Governo. O acordo com o Egipto (5) foiassinado em 2000; neste país, encontra-se emapreciação um projecto de lei sobre a concorrên-cia. O acordo provisório com a Organização deLibertação da Palestina (6) não foi ainda objectode uma renegociação definitiva. A Comissãoacompanhou esta situação no âmbito da aproxi-mação dos parceiros mediterrânicos tendo emvista uma cooperação horizontal da política daconcorrência.

540. Na perspectiva do relançamento da políticamediterrânica, efectuaram-se reuniões de negoci-ação com a Argélia, Líbano e Síria. O capítulo«concorrência» dos próximos acordos permitiráaproximar da política comunitária as políticas deconcorrência existentes ou futuras desses países.A Comissão oferece aos novos parceiros a possi-bilidade de reforçarem a cooperação técnica einstitucional. A Argélia dispõe já de uma lei sobrea concorrência e de autoridade responsável pelasua aplicação, o que não acontece ainda noLíbano nem na Síria.

5. América Latina

541. O mecanismo de cooperação (7) entre auto-ridades da concorrência previsto no acordo entrea União Europeia e o México (8), actualmente emvigor, permitiu trocas de informações, consultassobre determinadas actividades, bem como umacooperação técnica.

542. Realizaram-se quatro reuniões de negocia-ção entre a União Europeia, o Mercosul e o Chilepara a liberalização das trocas comerciais. Oobjectivo consiste em criar mecanismos de coo-peração entre as autoridades de concorrência daspartes. A aplicação das regras de concorrênciagarantirá a segurança jurídica e a transparência detratamento para as empresas nos mercados res-pectivos. O enquadramento das regras de concor-rência nos países do Mercosul evoluiu favoravel-mente. A Argentina completou o seu sistemaregulamentar e institucional através da criação doSecretariado e deve agora proceder à criação dotribunal da concorrência. O Uruguai criou o ser-viço da concorrência responsável pelos regula-mentos de transposição da legislação sobre a con-corrência. O Paraguai tem agora um projecto delei sobre a concorrência bastante completo. OBrasil analisa uma nova proposta de lei a fim deintegrar os seus serviços da concorrência. AComissão recebeu regularmente informaçõessobre a política de concorrência do Mercosul.

543. No que diz respeito à Comunidade Andina,foi assinado entre a Comissão e o SecretariadoGeral do CAN (Comunidade Andina das Nações)o protocolo financeiro do projecto de cooperaçãotécnica «concorrência». O Serviço de Coopera-ção EuropeAid está encarregado da selecção doconsultor que gerirá o programa.

544. Durante o ano prosseguiram actividades deinformação directa sobre a doutrina comunitária,nomeadamente através do «Boletín Latinoameri-cano de Competencia».

6. Federação da Rússia e Ucrânia

545. A cooperação com a Federação da Rússiano domínio da concorrência registou importantesprogressos ao longo do ano, graças a uma série dereuniões de alto nível. Durante essas reuniões foiabordado todo um conjunto de questões de¥1∂ JO L 70 de 18.3.2000, artigos 36.o a 41.o

¥2∂ JO L 97 de 30.3.1997, artigos 36.o a 41.o¥3∂ JO L 147 de 21.6.2000, artigos 36.o a 38.o¥4∂ Artigos 53.o a 58.o, COM(1997) 554 final.¥5∂ Artigos 35.o a 39.o, COM(2001) 184 final.¥6∂ JO L 187 de 16.7.1997, artigos 33.o e 34.o

¥7∂ JO L 245 de 29.9.2000 e JO L 157 de 30.6.2000.¥8∂ JO L 276 de 28.10.2000.

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concorrência de interesse comum, desde a coope-ração sobre processos específicos em inquéritosantitrust, às discussões sobre as perspectivas deuma política de controlo dos auxílios estatais noâmbito da Federação da Rússia, passando poruma troca de experiências no domínio da políticade liberalização.

546. Além disso, realizou-se um número consi-derável de reuniões de trabalho destinadas a fazeravançar os trabalhos impostos pelo Acordo deParceria e Cooperação. Foi organizado umseminário destinado a fazer compreender melhora política europeia em matéria de auxílios estataisno sector da siderurgia.

547. Relativamente à Ucrânia, a Comissão orga-nizou uma breve viagem de estudo destinada afazer compreender melhor ao Comité ucranianoda Concorrência o direito e a prática da UniãoEuropeia no domínio da concorrência.

C — Cooperação multilateral

548. Em 2001 registaram-se dois grandes acon-tecimentos no que diz respeito a iniciativas daComissão, a iniciativa realizada no âmbito daOrganização Mundial do Comércio (OMC), porum lado, e a relativa à nova Rede Internacional daConcorrência (RIC), por outro.

1. OMC: Comércio e política de concorrência

1.1. A concorrência no Plano da Acção de Doha para o Desenvolvimento

549. Após uma longa preparação, realizou-se emDoha (Catar), de 9 a 14 de Novembro, a quartareunião ministerial da OMC. A Declaração adop-tada pelos membros da OMC em Doha (1)aborda, nomeadamente, a «interacção entre ocomércio e a política de concorrência». As passa-gens relevantes da Declaração (2) (pontos 23a 25), comprovam que, pela primeira vez, todosos membros da OMC, sem excepção, reconhe-cem que é necessário criar um quadro multilateralpara que a política de concorrência possa favore-cer o comércio e o desenvolvimento internacio-

nais. Chegou-se a um consenso em Doha paraque todos os membros da OMC negociem e assi-nem um Acordo Multilateral sobre o Comércio ea Concorrência. Foi igualmente acordado que afase oficial das negociações começará imediata-mente após a quinta reunião ministerial da OMC,que se realizará no México, em 2003, e que oresultado das negociações sobre a concorrênciafará parte integrante do resultado global dasnegociações (ponto 47). As modalidades dasnegociações serão definidas na quinta reuniãoministerial.

550. No centro das suas preocupações sobre odesenvolvimento, a Declaração sublinha igual-mente a necessidade de aumentar os esforçospara prestar uma assistência técnica que permitaconstruir e melhorar a capacidade dos países emdesenvolvimento e dos países menos avançadosneste domínio. É evidente que estes países têmnecessidade, sem demora, de toda a assistênciaque os países desenvolvidos lhes possam conce-der, a fim de melhorar a sua capacidade para ava-liar as implicações de uma cooperação multilate-ral mais estreita neste domínio para as suaspolíticas e os seus objectivos em matéria dedesenvolvimento, bem como para o seu desenvol-vimento humano e institucional. A Comissãocolaborará com todas as organizações intergover-namentais implicadas, incluindo a CNUCED, eatravés dos canais regionais e bilaterais apropria-dos, a fim de prestar uma assistência coordenada,reforçada e dotada de recursos adequados pararesponder a estas necessidades.

551. Finalmente, a Declaração refere que o perí-odo anterior às negociações que começarão coma quinta reunião ministerial deverá ser aprovei-tado para clarificar, com os nossos parceiros doprocesso de Genebra, os diferentes elementosque constituirão o futuro quadro multilateral eque serão mais susceptíveis de figurar num man-dato de negociação. A Declaração inclui umalista indicativa dessas questões, com os elemen-tos que a UE tem vindo a considerar pilares dofuturo quadro multilateral da concorrência: cer-tos princípios fundamentais do comércio e daconcorrência, entre os quais a transparência, anão discriminação e a imparcialidade processual;o compromisso de combater os cartéis «graves»;as modalidades de colaboração voluntária entreas autoridades antitrust; o apoio ao reforçoprogressivo dos organismos responsáveis pelaconcorrência nos países em desenvolvimento,graças à criação de capacidades neste domínio.

¥1∂ Também denominado «Plano de Acção de Doha para o Desen-volvimento», devido à posição central que a dimensão «desen-volvimento» ocupará no futuro trabalho da OMC.

¥2∂ Disponível em linha no sítio da Internet da OMC: www.wto.org.

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1.2. Uma primeira avaliação da declaração adoptada em Doha

552. O resultado das discussões sobre o comér-cio e a concorrência de Doha, bem como a formu-lação das passagens relevantes na declaraçãoministerial, são totalmente satisfatórios para aComissão, pelas seguintes razões:

— em primeiro lugar, os membros da OMC queassinaram o programa adoptado em Doha(incluindo os mais cépticos relativamente aopapel que a OMC pode desempenhar nodomínio da concorrência, tais como certospaíses em desenvolvimento, mais especial-mente a Índia e Hong Kong) reconhecempela primeira vez que a negociação e a assi-natura de um acordo multilateral sobre oComércio e a Concorrência no âmbito daOMC pode ser proveitoso simultaneamentepara si próprios e para o sistema comercialmultilateral. Até muito recentemente, só aideia de um tal acordo era controversa. Oreconhecimento da importância de tal enqua-dramento e da sua utilidade para o comércioe para o desenvolvimento internacionais con-tribuirá para a introdução, e para uma aplica-ção mais eficaz, de regimes de concorrêncianacionais, dos quais os consumidores domundo inteiro beneficiarão;

— em segundo lugar, mesmo que venha a sertomada outra decisão aquando da quinta reu-nião ministerial, em 2003, relativamente àsmodalidades da fase final das negociaçõessobre este acordo multilateral, existe a partirde agora um compromisso unânime e clarode lançar estas negociações numa data pre-cisa, de forma que as novas «regras docomércio e da concorrência» façam parteintegrante do denominado «compromissoúnico» resultante do processo de negociaçãolançado em Doha, que deverá estar concluídoaté 1 de Janeiro de 2005 o mais tardar. Do

ponto de vista da UE e dos outros autores daproposta de negociação deste tipo de regrasno âmbito da OMC, entramos a partir deagora numa fase crucial, durante a qualtemos a firme intenção de especificar, com osnossos parceiros dos países em desenvolvi-mento e dos países desenvolvidos, quais oselementos que os membros da OMC deverãoincluir neste acordo multinacional e estabe-lecer a partir desses elementos uma ordem detrabalhos precisa e completa para as negocia-ções, que será adoptada pela quinta reuniãoministerial da OMC, em 2003;

— em terceiro lugar, as nossas propostas relati-vas aos principais elementos do futuro acordomultilateral sobre o comércio e a concorrên-cia foram amplamente aceites. A UE foi a pri-meira a pôr na mesa propostas concretas efundamentais. Por essa razão, a Declaraçãode Doha centra-se precisamente sobre os ele-mentos que tínhamos sublinhado nas nossaspropostas e que considera como as questõesque os membros da OMC deverão abordar emprimeiro lugar, para efeitos de clarificação;

— finalmente, o Grupo de Trabalho de Genebradedicar-se-á agora a trabalhos concretossobre estes elementos durante a fase anterioràs negociações. Relativamente a este aspecto,a Declaração permite uma assistência técnicae um reforço das capacidades mais orienta-das, o que permitirá aos países emergentes eem desenvolvimento compreender e apreciarmelhor a importância destas questões, nome-adamente para o desenvolvimento das suaspróprias economias. Aquando deste processo,a CNUCED e outras instituições internacio-nais, bem como acordos regionais e bilate-rais, terão certamente um papel importante adesempenhar para que cada um esteja emcondições de encetar negociações oficiais napróxima reunião ministerial.

Caixa 12: Comércio e concorrência: do relatório Van Miert a Doha

Os esforços desenvolvidos tendo em vista incluir a concorrência no programa de trabalho da OMC come-çaram em 1996, quando a Comissão propôs ao Conselho (1), com base no Relatório Van Miert (2), que aOrganização Mundial do Comércio criasse um grupo de trabalho encarregado dos trabalhos iniciais para

(1) Relatório por um grupo de peritos independentes presidido por Karel Van Miert intitulado «Competition Policy in the New TradeOrder: Strengthening International Cooperation and Rules».

(2) Comunicação da Comissão de 18 de Junho de 1996, COM(96) 284 final.

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V — ACTIVIDADES DE CARÁCTER INTERNACIONAL

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2. OCDE

553. Os principais acontecimentos da sessão deMaio foram mesas-redondas sobre os programasde formação das autoridades da concorrênciadestinadas aos seus funcionários e à transparên-cia dos preços. No que diz respeito a este últimoponto, a CE sublinhou as vantagens das medidasde transparência dos preços impostas pelo Estado(por exemplo, relativamente a determinados ser-viços públicos ou no mercado dos veículos auto-móveis), a fim de realizar a integração dos merca-dos e reforçar a concorrência e a entrada de novosoperadores, bem como os efeitos anticoncorren-ciais dos acordos voluntários de transparência depreços concluídos por operadores privados ouacordos semelhantes entre os fornecedores.Outras delegações abordaram questões diferen-tes, sublinhando as vantagens e os inconvenientesda transparência dos preços para o consumidor. Aconclusão que se pode tirar destas discussões éque a transparência dos preços pode, em determi-nados casos, ser benéfica para os consumidores,mas que pode também ter graves efeitos anticon-correnciais, consoante a estrutura do mercado emcausa e a natureza das modalidades desta transpa-rência (nível de agregação das informações troca-das, período temporal dos dados trocados e fre-quência dessas trocas, etc.).

554. A Comissão participou, em Junho, na pri-meira Conferência da OCDE sobre a política daconcorrência nos países da Europa do Sudeste,que se realizou em Liubliana, logo a seguir àsétima Conferência Anual com os países candida-tos à adesão.

555. Durante a sessão do CLP, em Outubro, aOCDE organizou o primeiro Fórum Mundial daConcorrência, que reuniu representantes de maisde 50 países. O comissário Monti participouneste Fórum. No seu discurso de abertura, instouas autoridades de concorrência do mundo inteiroa reforçarem a sua cooperação e a criarem meca-nismos de gestão no domínio da política deconcorrência internacional. Os temas abordadosdurante o fórum abrangeram o papel da políticade concorrência nas reformas económicas, osinstrumentos de cooperação, os cartéis «graves»e a cooperação em matéria de fusões transfron-teiras. A Comissão participou igualmentedurante a sessão da CLP na mesa-redonda consa-grada à regulamentação dos preços de acesso àsinfra-estruturas de rede, nomeadamente emmatéria de telecomunicações, mas igualmenteem matéria de gás e electricidade, e na consa-grada aos meios de investigação que não os pro-gramas de clemência (nomeadamente as inspec-ções surpresa).

o desenvolvimento de um quadro internacional para as regras de concorrência. Esta iniciativa foi apro-vada pelo Conselho e apoiada por vários membros da OMC, tendo sido adoptada uma decisão pelaConferência Ministerial da OMC de Singapura, em 11 de Dezembro de 1996, tendo em vista «criar umgrupo de trabalho encarregado de estudar as questões... relativamente à interacção entre o comércio e apolítica em matéria de concorrência, incluindo as práticas anticoncorrenciais, a fim de determinar osdomínios que poderão ser examinados mais tarde no âmbito da OMC».

Nessa época a Comissão alegou que os debates poderiam articular-se em torno do compromisso de todosos membros da OMC de se dotarem de uma estrutura nacional de concorrência, da definição e da adopçãode princípios de concorrência comuns a nível internacional (sobre as práticas mais prejudiciais à concor-rência), da criação de um instrumento de cooperação entre as autoridades de concorrência e da adaptaçãodo sistema de resolução dos litígios da OMC no domínio da concorrência (1).

Desde a segunda reunião ministerial da OMC, que se realizou em Singapura, e da criação, seguidamente,do grupo de trabalho da OMC sobre o Comércio e a Concorrência, em Genebra, a Comissão estevesempre na primeira linha dos esforços para persuadir os seus parceiros comerciais da OMC dos méritosde um acordo multilateral sobre a concorrência. As discussões que se realizaram em Genebra foram parti-cularmente úteis para clarificar a posição da Comissão e o interesse que teriam os países em desenvolvi-mento na conclusão de um tal acordo.

(1) XXVI Relatório sobre a Política de Concorrência, pontos 235 e 236.

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3. Cnuced

556. A Comissão participou na sessão da Cnu-ced de 2 a 4 de Julho consagrada à cooperaçãointernacional entre autoridades da concorrência,reunião em que o comissário Monti anunciouprojectos concretos de assistência técnica aospaíses em desenvolvimento: um projecto deassistência técnica em matéria de concorrênciapara o Comesa (Mercado Comum da África Ori-ental e Central), um projecto de seminário parafuncionários responsáveis pela concorrência dospaíses em desenvolvimento e um projecto deestudo conjunto com a Cnuced sobre a importân-cia de uma política de concorrência para os paísespobres. O Comissário Monti sublinhou as vanta-gens da concorrência para os países em desenvol-vimento e solicitou um esforço em matéria dedesenvolvimento da cooperação internacional.

4. Rede Internacional da Concorrência

557. A International Bar Association organizou,de 2 a 4 de Fevereiro, uma reunião em DitchleyPark, no Reino Unido, que reuniu um númeroimportante de autoridades da concorrência e deespecialistas a fim de discutirem a recomendaçãodo ICPAC (1) no sentido de criar uma rede inter-nacional da concorrência (RIC). Na sequência dareunião de Ditchley, foi constituído um grupodirector para supervisar o lançamento deste pro-jecto. Este grupo, no qual a Comissão participouactivamente, reuniu-se uma primeira vez em Ber-lim, em Maio, e seguidamente à margem da ses-são do CLP da OCDE em Paris, em Outubro.

558. Na sequência das discussões e dos esforçosconcretos acima mencionados, na quinta-feira,25 de Outubro, foi anunciada publicamente emNova Iorque, EUA a criação de uma rede interna-cional da concorrência (RIC). É a primeira vezque um número tão grande de autoridades da con-corrência toma uma iniciativa autónoma desti-nada a permitir-lhes partilhar as suas experiên-cias e a trocar pontos de vista sobre os problemasde concorrência associados à globalização cadavez maior da economia. A RIC será uma redeinformal de organismos antitrust de países desen-volvidos e em desenvolvimento, centrada em pro-jectos e baseada no consenso, que abordará ques-tões de interesse comum no domínio da aplicação

da legislação e da política antitrust e que formu-lará propostas que permitem chegar a uma con-vergência dos procedimentos e dos textos, graçasa um programa e a uma estrutura orientados paraos resultados. Facilitará a divulgação das experi-ências e das melhores práticas neste domínio,incentivará o papel de defensor da concorrênciaque as autoridades antitrust podem desempenhare tentará promover a cooperação internacional. ARIC centrará os seus esforços nos problemasantitrust internacionais cuja resolução é difícil,mas contudo possível. Numa primeira fase, a redetrabalhará sobre duas questões importantes: oprocedimento de controlo das concentrações numcontexto de competências múltiplas e o papel dedefensor da concorrência que as autoridades anti-trust podem desempenhar. Este programa de tra-balho será seguidamente alargado a fim de incluirquestões que apresentem uma importância espe-cial para as economias em transição e em desen-volvimento.

559. Qualquer autoridade da concorrência naci-onal ou regional responsável pela aplicação dalegislação antitrust pode tornar-se membro daRIC. A rede solicitará igualmente os pareceres eas contribuições do sector privado e de diferentesorganizações não governamentais. Cooperaráestreitamente com os seguintes tipos de entida-des: organizações internacionais, como porexemplo OCDE, OMC e Cnuced, federações pro-fissionais e associações de consumidores, especi-alistas do direito antitrust e/ou economistas, bemcomo personalidades do mundo académico. ARIC recorrerá nomeadamente a consultores nãogovernamentais que não são membros da rede,mas que poderão dar o seu apoio para a identifica-ção dos projectos. Poderá igualmente solicitar acertos consultores não governamentais que parti-cipem em grupos de trabalho para determinadosprojectos, apresentem relatórios ou participemnas audições associadas aos projectos RIC.

560. No que diz respeito à sua organização, aRIC será uma estrutura virtual sem secretariadopermanente, organizada de forma flexível emtorno dos seus projectos, orientada por um grupodirector que identificará os projectos em questãoe conceberá os programas de trabalho para ossubordinar à apreciação da RIC no seu conjunto.A autoridade que acolherá a conferência anualassumirá durante um ano as despesas de organi-zação e secretariado. Realizar-se-á uma confe-rência da RIC anualmente. Esta conferência reu-nirá os dirigentes das autoridades antitrust com o

¥1∂ Comité Consultivo sobre a Política Internacional de Concorrên-cia.

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V — ACTIVIDADES DE CARÁCTER INTERNACIONAL

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objectivo de elaborar novos projectos, fazer oponto da situação sobre os projectos em curso eapresentar recomendações relativamente a essasquestões. As conferências serão a oportunidadepara organizar um diálogo estruturado sobre umnúmero limitado de projectos, apresentadosatempadamente pela RIC a fim de permitir que

todos os membros participem de uma formaválida. A primeira conferência oficial da RIC seráorganizada pelas autoridades antitrust italianas eestá prevista para Outubro de 2002. Seguida-mente, as conferências anuais realizar-se-ão nosseguintes países: México (2003), Coreia (2004),Alemanha (2005) e África do Sul (2006).

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1. Antitrust

1.1. Actividade legislativa e regulamentar

Proposta de um novo regulamento de execução dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE

561. Na sequência do debate que se realizou noConselho «Indústria» de 5 de Dezembro de 2001,a Presidência belga concluiu que devia ser adop-tado em 2002 o novo Regulamento de execuçãodos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE, a fim degarantir que este seja plenamente aplicável antesdo próximo alargamento da União Europeia. Porconseguinte, os trabalhos sobre a proposta donovo regulamento da Comissão prosseguirão noâmbito do Conselho sob a Presidência espanholae, se for caso disso, sob a Presidência dinamar-quesa. Paralelamente às discussões sobre o pro-jecto de regulamento no âmbito do grupo de tra-balho do Conselho e em conformidade como opedido do Parlamento Europeu, do Conselho e doComité Económico e Social, a Comissão apre-sentará, em 2002, vários projectos de comunica-ções destinadas a clarificar certos conceitosimportantes do novo regulamento.

Revisão do regulamento de isenção por categoria relativo aos acordos de transferência de tecnologia

562. Após discussão do relatório (ver pontos 17e seg.) com o sector, associações de consumido-res e outros interessados durante o primeirosemestre de 2002, a Comissão proporá novasregras de concorrência para a aplicação doartigo 81.o aos acordos de concessão de licenças.

«Orientações sobre a análise do mercado» e «Recomendação sobre os mercados relevantes dos serviços e das redes de comunicações electrónicas» da Comissão — adopção de uma directiva codificada da Comissão relativa à concorrência nos mercados das comunicações electrónicas

563. Na sequência da adopção das propostas dedirectivas que constituem o novo quadro regula-mentar para os serviços e redes de comunicaçõeselectrónicas, no início de 2002, a Comissãopublicará, em conformidade com o artigo 15.o daDirectiva-Quadro, as suas «Orientações sobre aanálise do mercado e cálculo do poder de mer-cado» e uma «Recomendação sobre os mercadosrelevantes». Estes dois textos deverão fornecer às

autoridades legislativas nacionais as orientaçõesnecessárias para a aplicação dos novos conceitosdesse quadro regulamentar, baseados no direitoda concorrência.

564. A Comissão adoptará igualmente umadirectiva codificada relativa à concorrência nodomínio das comunicações electrónicas, quesubstituirá a Directiva 90/388 e todas as directi-vas que a modificaram posteriormente.

Proposta de regulamentação para a distribuição dos veículos automóveis

565. O Regulamento de isenção por categoria(CE) n.o 1475/95 relativo à distribuição dos veí-culos automóveis deixa de vigorar em 30 deSetembro de 2002. No início de 2002, a Comis-são adoptará a sua proposta relativa ao regime dedistribuição dos veículos automóveis, base-ando-a no relatório de avaliação de Novembro de2000, na audição organizada em 14 e 15 de Feve-reiro de 2001 com todas as partes interessadas,nos quatro estudos encomendados pela Comis-são (1) e em todas as outras informações e estudospertinentes à sua disposição.

566. A proposta adoptada será publicada no Jor-nal Oficial, a fim de conferir a todos os interessa-dos a possibilidade de apresentarem as suasobservações. Após a recepção das observaçõesescritas e orais de todos os interessados, bemcomo do Comité Consultivo, e após as outrasinstituições terem sido informadas, a propostaserá finalizada e submetida à Comissão paraadopção. Esta deverá adoptar o futuro regula-mento no Verão de 2002, isto é, de a isenção porcategoria actual cessar a sua vigência, no final deSetembro de 2002.

1.2. Actividades de controlo

567. Na sequência da publicação para consulta,em Julho de 2001, de um projecto de comunica-ção sobre medidas de clemência destinado asubstituir a actual «Comunicação sobre a nãoimplica ou a redução de coimas nos processosrelativo a acordos, decisões e práticas concerta-das», adoptada em 1996, a Comissão examinoucuidadosamente as observações que recebeu e

¥1∂ 2000: Diferenciais de preços entre Estados-Membros, Relaçãoentre vendas e serviços pós-vendas; 2001: Impacto de eventuaiscenários legislativos futuros na distribuição de veículos automó-veis sobre todas as partes interessadas e Preferências dos clientesrelativamente às alternativas existentes e potenciais de vendas eserviços pós-vendas na distribuição de veículos automóveis.

VI — PERSPECTIVAS PARA 2002

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propõe-se adoptar uma comunicação actualizadae revista durante 2002.

568. O acesso ao processo é uma das principaisgarantias para proteger os direitos da defesa. Afim de tomar em conta a experiência adquirida atéao momento com a aplicação da comunicação daComissão relativa às regras de procedimentointerno para os pedidos de acesso ao processo,bem como para adaptar esta comunicação à maisrecente jurisprudência do TPI, foi desenvolvidauma revisão da comunicação em 2001. A Comis-são deverá adoptar esta comunicação revistadurante o segundo semestre de 2002.

2. Concentrações

569. A fim de garantir que o sistema de controlodas concentrações da UE está em condições dedar resposta aos desafios que o aguardam, nome-adamente o próximo alargamento da União Euro-peia, a Comissão adoptou, em 11 de Dezembrode 2001, um Livro Verde sobre a revisão do Regu-lamento das concentrações. Este livro verde dáinício a um período de consultas que conferirá atodos a possibilidade de apresentarem observaçõessobre os problemas de competências, materiais eprocessuais suscitados. Estas consultas terminarãono final de Março de 2002. Seguidamente, aComissão tem a intenção de propor um regula-mento alterado sobre as concentrações, provavel-mente durante o segundo semestre de 2002.

570. O âmbito de competência da Comissão seráigualmente afectado pelo termo da vigência doTratado que institui a Comunidade Europeia doCarvão e do Aço («CECA»), em 23 de Julho de2002. Após esta data, as concentrações serãoapreciadas quer ao abrigo do Tratado CE, nome-adamente do Regulamento (CEE) n.o 4064/89 doConselho, quer, se não atingirem os limiares esta-belecidos nesse regulamento, ao abrigo da legis-lação nacional em causa. Tal marcará o final dacompetência exclusiva da Comissão sobre asoperações de concentração no sector da siderur-gia. Após o termo de vigência do Tratado CECA,uma concentração deixará de ser abrangida pordois Tratados diferentes, tal como aconteceu emquatro (1) dos onze processos apreciados ao

abrigo do Tratado CECA em 2001. Graças a estasituação e às alterações que serão introduzidas noregulamento relativo às operações de concentra-ção no âmbito da sua revisão, o sistema europeude controlo das concentrações poderá funcionartão eficazmente quanto possível e as concentra-ções no sector siderúrgico poderão desta formaser tratadas ao nível apropriado.

571. Finalmente, será intensificada a cooperaçãocom as autoridades americanas responsáveis pelocontrolo das concentrações, a fim de alcançar umamelhor convergência de procedimentos e na aná-lise do mérito dos processos aquando da aplicaçãoda legislação neste domínio ao número cada vezmaior de casos simultaneamente da competênciada UE e dos Estados Unidos. Relativamente a esteaspecto, o grupo de trabalho UE/Estados Unidosrelativo às concentrações e os seus cinco subgru-pos especializados, recentemente criados e insti-tuídos pelas autoridades em causa (a ComissãoEuropeia, a Comissão Federal do Comércio e oMinistério da Justiça americano), continuarão aser uma das prioridades para 2002.

3. Auxílios estatais

572. No domínio dos auxílios estatais, a Comis-são prosseguirá e intensificará os seus esforços derevisão das regras e procedimentos, a fim de fazercom que os casos mais simples sejam tratadosrápida e facilmente, o que permitirá concentrar osrecursos nos casos que apresentam maiores riscosdo ponto de vista da política de concorrência.Todavia, mesmo em relação a esses casos, oobjectivo consiste em que sejam tratados segundoprocedimentos e regras de transparência previsí-veis. No entanto, esses esforços não implicam deforma alguma uma abrandamento da posiçãotradicional da Comissão, que todos os Esta-dos-Membros reconhecem aliás, segundo a qualos níveis de auxílios gerais, em termos de PIB,continuam a ser demasiado elevados, as formasde auxílio que falseiam mais a concorrênciadevem ser eliminadas e os auxílios devem ser reo-rientados para medidas horizontais que favore-çam os grandes objectivos económicos da Comu-nidade, nomeadamente o da coesão. A Comissãoprosseguirá, por conseguinte, os seus esforçospara garantir uma recuperação rápida e eficaz dosauxílios incompatíveis, bem como o controloefectivo da aplicação das decisões da Comissãopelos Estados-Membros. A Comissão tentaráigualmente melhorar a transparência desenvol-

¥1∂ COMP/CECA.1359 — Balli/Klockner de 01.10.2001 eCOMP/M.2481 de 31.09.2001; COMP/CECA.1356 — BHP/Billi-ton de 14.06.2001 e COMP/M.2413 de 14.06.2001;COMP/CECA.1352 — Endesa/CDF/SNET de 18.04.2001 eCOMP/M.2281 de 17.04.2001; e COMP/CECA.1351 — Usi-nor/Arbed/Aceralia de 23.11.2001 e COMP/M.2382 de 19.07.2001

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VI — PERSPECTIVAS PARA 2002

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vendo progressivamente o registo e o painel deavaliação dos auxílios estatais.

573. No que diz respeito à evolução da políticano domínio dos auxílios horizontais, a Comissãodeverá normalmente concluir a revisão do enqua-dramento dos auxílios estatais concedidos àinvestigação e ao desenvolvimento, criar umnovo quadro legal para os auxílios ao emprego erever o enquadramento multissectorial dos auxí-lios com finalidade regional a favor de grandesprojectos de investimento. Em conformidadecom os compromissos assumidos no seu relatórioao Conselho Europeu de Laeken, a Comissãoatribuirá igualmente uma prioridade muitoespecial à clarificação da aplicação das regrasrelativas aos auxílios estatais aos serviços de inte-resse económico geral, à luz da evolução dajurisprudência do Tribunal (1).

4. Domínio internacional

574. Na cena internacional, a Comissão continu-ará a aplicar a sua política dualista, no sentido demelhorar a cooperação bilateral com os seushomólogos estrangeiros e de explorar as possibi-lidade de desenvolvimento da cooperação multi-lateral. No que diz respeito à primeira, a Comis-são continuará a cooperar com os Estados Unidose o Canadá no âmbito dos acordos bilaterais emvigor. Espera concluir um acordo semelhantecom o Japão. A cooperação no domínio da con-corrência será igualmente reforçada com todos ospaíses mediterrânicos, uma vez que a Comissãodeu prioridade a esta região. A importância cres-

cente dos países asiáticos no domínio da políticade concorrência a nível mundial exigirá umreforço da cooperação e da assistência técnicaigualmente nesta região (nomeadamente com aChina, Coreia e Índia). Para além disso, a Comis-são deverá criar formas de cooperação apropria-das com os grandes países em relação aos quaisse encontram já em vigor ou virão a ser concluí-dos acordos de associação, nomeadamente a Rús-sia, Ucrânia, México, Mercosul e Chile.

575. No que se refere às iniciativas multilaterais,a Comissão continuará a participar activamenteem todas as manifestações internacionais queabordem questões de política da concorrência,nomeadamente no âmbito da OCDE, da OMC eda Cnuced. Para além disso, a Comissão dá actu-almente a sua contribuição para o novo conceitode «governança», participando na «Rede Interna-cional da Concorrência», que tem por objectivomelhorar a colaboração entre as autoridades deconcorrência do mundo inteiro, a fim de incenti-var a convergência das políticas de concorrência.

576. No âmbito do calendário de adesão acor-dado no Conselho Europeu de Gotemburgo, emJunho de 2001, as negociações de adesão entra-rão na fase de finalização com alguns países can-didatos, mas prosseguirão com outros. Será apli-cado um processo de controlo reforçado aospaíses candidatos com os quais as negociações deadesão no domínio da concorrência foram encer-radas. Tendo em conta os progressos registados,as relações com a Turquia no domínio da concor-rência prosseguirão.

577. A Comissão dará uma atenção especial aodesenvolvimento da assistência técnica aos paí-ses candidatos e aos países em desenvolvimento.¥1∂ COM(2001) 598 de 17 de Outubro de 2001.

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ANEXO — PROCESSOS ANALISADOS NO RELATÓRIO

1. Artigos 81.o, 82.o e 86.o

Processo Publicação Ponto

Ácido cítrico IP/01/1743 de 5.12.2001 56 e seg.

Bancos alemães IP/01/1796 de 11.12.2001 64 e seg.

British Midland/Lufthansa/SAS JO C 83 de 14.3.2001 Caixa 1, 136 e seg.

Cervejeiras belgas IP/01/1739 de 5.12.2001 58 e seg.

Cervejeiras do Luxemburgo IP/01/1740 de 5.12.2001 61 e seg.

Conferências de tarifas de passageiros IATA JO L 177 de 30.6.2001 149 e seg.

Consultas de tarifas de frete IATA IP/01/694 de 15.5.2001IP/01/1433 de 19.10.2001 143 e seg.

Covisint IP/01/1155 de 31.7.2001,JO C 49 de 15.2.2001 Caixa 4

DaimlerChrysler IP/01/1394 de 10.10.2001 184

De Post/la Poste (Bélgica) JO L 61 de 2.3.2002 82, 113 e seg.

Deutsche Post AG I JO L 125 de 5.5.2001 77, 108 e seg.

Deutsche Post AG II JO L 331 de 15.12.2001 78, 111 e seg.

Duales System Deutschland (DSD) JO L 166 de 21.6.2001 79, Caixa 3

Eléctrodos de grafite IP/01/1010 de 18.7.2001 40 e seg.

Eurex IP/02/4 de 3.1.2002 196 e seg.

Formule 1 (FIA e FOA) JO C 169 de 13.06.2001IP/01/1523 de 30.10.01 221 e seg.

Fosfato de zinco IP/01/1797 de 11.12.2001 63

GlaxoWellcome JO L 302 de 17.11.2001 232 e seg.

Gluconato de sódio IP/01/1355 de 20.10.2001 48 e seg.

Identrus JO L 249 de 19.9.2001 132

IMS Health JO L 59 de 28.2.2002 81

Intelsat JO C 9 de 12/01/2001 133

La Poste (França) IP/01/1476 de 23.10.2001 84

Liga dos Campeões da UEFA IP/01/1043 de 20.7.2001 166

Michelin IP/01/873 de 20.6.2001 80

Microsoft IP/01/1232 de 30.8.2001 207 e seg.

P&O/Stena IP/01/806 de 7.6.2001 160

Papel autocopiativo IP/01/1892 de 20.12.2001 69 e seg.

Pfizer/Aventis 241

Pfizer/EISAI 239, 240

Regulamento da UEFA de transmissão de jogos de futebol JO L 171 de 26.6.2001 165, 224

SAS/Maersk JO L 265 de 5.10.2001 Caixa 1, 43 e seg.

Sistema de distribuição da Porsche 185

TACA — Acordo de Conferência Transatlântico IP/01/1713 de 3.12.2001 153 e seg.

Visa International JO L 293 de 10.11.2001 200 e seg.

Vitamins IP/01/1625 de 21.11.2001 52 e seg.

Volkswagen JO L 262 de 2.10.2001 183

Wanadoo IP/01/1899 de 21.12.2001 134

2. Controlo das operações de concentração

Processo Publicação Ponto

BASF/Eurodiol/Pantochim IP/01/01/984 de 11.7.2001 285

BP/E.ON IP/01/1247 de 6.9.2001IP/01/1893 de 21.12.2001 317

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144

Carrefour/Promodes JO C164 de 14.6.2000 313

CVC/Lenzing IP/01/1436 de 17.10.2001 256

EdF/EnBW JO L 59 de 28.2.2002 258, 300

ENEL/FT/Wind/Infostrada IP/01/79 de 19.1.2001 322

GE/Honeywell IP/01/298 de 1.3.2001IP/01/842 de 14.6.2001IP/01/855 de 18.6.2001IP/01/939 de 3.7.2001 326, Caixa 9

Govia/Connex South Central IP/01/1048 de 20.7.2001 319

Grupo Villar Mir / EnBW / Hidroeléctrica del Cantábrico IP/01/1320 de 26.9.2001 260

Interbrew/Bass JO C 293 de 14.10.2000IP/01/940 de 22.8.2000 321

Metso/Svedala IP/01/103 de 24.1.2001 307, 316

Nestlé/Ralston Purina JO C 239 de 25.8.2001IP/01/1136 de 27.7.2001 299

Nordbanken/Postgirot IP/01/1552 de 8.11.2001 297, Caixa 1

Norske Skog/Parenco/Walsum IP/01/1053 de 23.7.2001IP/01/1629 de 21.11.2001 Caixa 6

SCA/Metsä Tissue IP/00/1063 de 26.9.2000IP/01/147 de 31.1.2001JO L 57 de 27.2.2002 255

Schneider/Legrand IP/01/481 de 30.3.2001IP/01/1393 de 10.10.2001IP/02/173 de 31.1.2002 Caixa 8

Shell/DEA IP/01/1222 de 23.8.2001IP/01/1893 de 21.12.2001 317

Südzucker/Saint Louis IP/01/1223 de 23.8.2001IP/01/1891 de 20.12.2001 262

Tetra Laval/Sidel IP/01/965 de 5.7.2001IP/01/1393 de 10.10.2001IP/02/173 de 31.1.2002 263 e seg.

The Post Office/TPG/SPPL IP/00/1317 de 15.11.2000IP/01/364 de 13.3.2001 298, 306

TotalFina/Elf Aquitaine JO L 143 de 29.5.2001 311

Unilever/Bestfoods IP/00/1076 de 29.9.2000IP/01/494 de 3.4.2001 309, Caixa 1

UPM-Kymmene/Haindl IP/01/1053 de 23.7.2001IP/01/1629 de 21.11.2001 Caixa 6

3. Auxílios estatais

Processo Publicação Ponto

Actividades financeiras internacionais Ainda não publicado 373

Aer Rianta Ainda não publicado 455

Alemanha: auxílio à indústria do carvão JO C 127 de 9.5.2001 414

Alteração do auxílio à Philipp Holzmann AG Ainda não publicado 391

Assistência regional selectiva JO C 211 de 28.7.2001 396

Auxílio à capitalização de empresas com base tecnológica JO C 32 de 5.2.2002 Caixa 10

Auxílio à I&D na Cogne Acciai Speciali Ainda não publicado 410

Auxílio ao sector agrícola na sequência das inundações do mês de Outubro de 2000 (Valle d’Aosta) Ainda não publicado 474

Auxílio ao transporte por via fluvial — IWW Netherlands JO C 102 de 31.3.2001 443

Auxílio regional à Flandres (lei de fomento económico) JO C 244 de 11.9.2001 395

Auxílios às empresas afectadas pelas tempestades de Outubro de 2000 JO C 5 de 8.11.2002 474

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ANEXO — PROCESSOS ANALISADOS NO RELATÓRIO

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Auxílios fiscais sob a forma de um crédito fiscal de 45% na Província de Alava Ainda não publicado 398, 399

Auxílios fiscais sob a forma de um crédito fiscal de 45% na Província de Biscaia Ainda não publicado 398, 399

Auxílios fiscais sob a forma de um crédito fiscal de 45% na Província de Guipúscoa Ainda não publicado 398, 399

Auxílios fiscais sob a forma de uma redução da base tributável de algumas novas empresas da província de Alava Ainda não publicado 399

Auxílios fiscais sob a forma de uma redução da base tributável de algumas novas empresas da província de Guipúscoa Ainda não publicado 399

Auxílios fiscais sob a forma de uma redução da base tributável de algumas novas empresas nas províncias de Alava, Guipúscoa e Biscaia Ainda não publicado 399

Auxílios fiscais sob a forma de uma redução de 50% do montante do imposto sobre as sociedades para as empresas novas criadas na Comunidade Autónoma de Navarra Ainda não publicado 399

Babcock Wilcox España Ainda não publicado 392

Banking Society Berlin BGB Ainda não publicado 470

Böhler, Edelstahl JO C 226 de 11.8.2001 409

Capital de risco para pequenas empresas com base tecnológica JO C 117 de 21.4.2001 Caixa 10

Centrais de energia nuclear Ainda não publicado 371

Centros de controlo/coordenação de empresas estrangeiras Ainda não publicado 374

Certificados verdes para a electricidade JO C 330 de 24.11.2001 363, 387

Concorrência em matéria de soluções inovadoras de logística ferroviária Ainda não publicado 429

Construção naval JO L 327 de 12.12.2001 406

Construção naval — Reestruturação dos estaleiros públicos JO C 21 de 24.1.2002 407

Corus Technology, aço CECA JO C 347 de 8.12.2001 410

Créditos fiscais no Mezzogiorno JO C 149 de 19.5.2001 397

Daimler/Chrysler/Kölleda (DE) Ainda não publicado 424

Disposições fiscais aplicáveis às mútuas e às instituições de previdência em França Ainda não publicado 472

Eko Stahl Ainda não publicado 410

Empresas de seguros cativas na ilha de Åland Ainda não publicado 372

Empresas offshore elegíveis em Gibraltar Ainda não publicado 374

Empresas offshore isentas em Gibraltar Ainda não publicado 374

Empréstimos a empresas JO C 328 de 23.11.2001 Caixa 10

Espanha: auxílio à indústria do carvão Ainda não publicado 414

Fiat Melfi (IT) JO L 177 de 30.6.2001 423

França: auxílio à indústria do carvão JO L 239 de 7.9.2001 414

Fundo empresarial Coalfields Ainda não publicado Caixa 10

Fundos de capital de investimento JO C 318 de 13.11.2001 Caixa 10

Fundos regionais de capital de risco JO L 263 de 3.10.2001 Caixa 10

Futour 2000 JO C 219 de 4.8.2001 Caixa 10

Graf von Henneberg GmbH Ainda não publicado 393

Injecção de capital — Verlipack Ainda não publicado 365

Instalações de carga/descarga para a navegação interior JO C 24 de 26.1.2002 444

Isenção fiscal ao grupo Schipol Ainda não publicado 453

IVECO (IT) JO L 292 de 9.11.2001 417

Kartogroup JO C 5 de 9.1.2001 401

Landesbanken (Alemanha) Ainda não publicado Caixa 11

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146

Lautex GmbH JO L 42 de 15.2.2000 484

Lintra Beteiligungsholding Ainda não publicado 390

Litografia — EUV JO C 333 de 28.11.2001 379

Litografia extatic JO C 5 de 8.1.2002 379

Litografia fluor JO C 5 de 8.1.2002 379

Memórias flash não voláteis JO C 199 de 14.7.2001 377

Micra da Nissan JO L 140 de 24.5.2001 416

Planeamento da resposta a calamidades naturais JO C 71 de 3.3.2001 474

Plano de auxílio aos transportadores franceses por vias navegáveis JO C 342 de 5.12.2001 443

Prémio fiscal ao investimento Ainda não publicado 394

Promoção do sistema de aeroportos do Piemonte Ainda não publicado 454

Protecção ambiental JO C 30 de 2.2.2002 363

Redução das quotizações patronais para a segurança social em caso de aplicação de uma duração semanal de trabalho de 38 horas e em caso de redução colectiva do tempo de trabalho JO C 268 de 22.9.2001 369

Regime de comercialização de emissões Ainda não publicado 388

Regimes de eliminação de resíduos de papel e cartão Ainda não publicado 364

Regimes de eliminação de sucata de automóveis Ainda não publicado 364

Regularização da economia paralela JO C 30 de 2.2.2002 368

Rotação profissional JO C 268 de 22.9.2001 380

RU — Imposto relativo à alteração climática JO C 185 de 30.6.2001 370, 383

RU — Imposto relativo à alteração climática — Irlanda do Norte JO C 263 de 19.9.2001 386

RU : Auxílios a favor da indústria do carvão JO L 241. 11.9.2001JO L 305 de 22.11.2001JO L 35 de 6.2.2002 414

Santana Motor Ainda não publicado 420

Sidmar Ainda não publicado 410

Sistema de gestão dos resíduos provenientes de elementos de fachada em PVC JO C 358 de 15.12.2001 364

Société national maritime Corse-Méditérannée JO C 117 de 21.4.2001 434

Stahlwerke Bremen JO C 244 de 1.9.2001 410

Subvenção a estruturas para o tráfego de mercadorias JO C 45 de 19.2.2002 441

Subvenção a empresas com certificados das condições de trabalho JO C 5 de 8.1.2001 381

Subvenções a favor dos grandes consumidores de energia JO C 358 de 15.12.2001 385

Subvenções à rede de infra-estruturas ferroviárias JO C 333 de 28.11.2001 429

Subvenções de capital — tecnologias renováveis JO C 30 de 2.2.2002 363, 387

Taxa zero para a electricidade verde JO C 30 de 2.2.2002 363, 384

Voest Alpine Donawitz JO C 318 de 13.11.2001 409

Voest Alpine Linz, CECA JO C 333 de 28.11.2001 409

VW Dresden (DE) JO L 48 de 20.2.2002 426

Wacker Chemie GmbH JO C 211 de 28.7.2001 401

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Comissão Europeia

Política de Concorrência da União Europeia — 2001

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias

2002 — 146 p. — 21 x 29,7 cm

ISBN 92-894-3540-2

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