políticas públicas de trabalho a experiência do microcrédito no brejo paraibano

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Políticas Públicas de Trabalho a Experiência Do Microcrédito No Brejo Paraibano

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  • XIV Encontro Nacional da ABET 2015 Campinas

    GT 3 - Regulao, polticas e instituies pblicas do trabalho

    POLTICAS PBLICAS DE TRABALHO: a experincia do microcrdito no BrejoParaibano

    Elton Oliveira de MouraWanderleya dos Santos Farias

    Elaine de Lima Rocha

  • POLTICAS PBLICAS DE TRABALHO: a experincia do microcrdito no BrejoParaibano

    Resumo: Este estudo pretende analisar a concepo e a possvel efetividade de um programade microcrdito municipal adotado na cidade de Bananeiras, desde 2013, com a inteno deestimular o empreendedorismo e a expanso das oportunidades de negcios. O microcrditoest frequentemente associado s polticas de reduo de pobreza e gerao de emprego erenda. No mbito nacional, desde a dcada de 1970, o microcrdito vem ganhando destaquena articulao de diversas aes envolvendo atores polticos, privados e da sociedade civil,com o intuito de promover o desenvolvimento local por meio do microcrdito. Realizou-seum estudo exploratrio e descritivo, com os recursos metodolgicos da observao direta,entrevista semiestruturada e anlise documental. Observou-se que os sujeitos contempladoscom pequenos financiamentos percebem o programa de microcrdito como fomentador doempreendedorismo de pequeno porte. Os representantes institucionais destacaram aimportncia do programa na gerao de emprego e renda no municpio. O EmpreenderBananeiras liberou um volume considervel de pequenos emprstimos, desde a suainaugurao at a fase recente e que a populao de baixa renda abriu pequenos negcios comos financiamentos obtidos. Contudo, foi possvel verificar a existncia de algumas falhas naoperacionalizao do programa como a dificuldade de acompanhamento na fase do ps-crdito.

    Palavras-chave: Microcrdito. Empreendedorismo. Trabalho e Renda. Poltica Pblica.

    1 INTRODUO

    Este estudo pretende analisar a concepo e a possvel efetividade de um programade microcrdito municipal que vem sendo adotado na cidade de Bananeiras, com o intuito deestimular o empreendedorismo, desde 2013. Recentemente, as polticas pblicas de combate pobreza tm ganhado destaque na agenda de gesto dos governos locais. Dentre essaspolticas, podemos destacar as que defendem a ideia do empreendedorismo de pequeno porteassociado s prticas de microcrdito como uma importante estratgia de superao daexcluso social e da falta de oportunidades.

    A prtica do microcrdito est frequentemente associada s polticas de reduo depobreza e gerao de emprego e renda, tendo em vista que seu principal propsito viabilizaro acesso ao crdito aos pequenos negcios. Em grande parte, esses financiamentos sedestinam aos empreendimentos informais que possuem baixa dotao de capital e por isso notm como apresentar garantias, o que acaba os privando de pleitear recursos e crditos juntoao sistema financeiro tradicional.

  • O sucesso de diversos casos utilizando a prtica do microcrdito, sobretudo aexperincia do Gramem Bank em Bangladesh a partir dos anos 1970, idealizada peloeconomista indiano Muhammad Yunus, levou ao reconhecimento do microcrdito como umadas principais alternativas de combate pobreza (PASSOS et al. 2002; MIGUEL, 2012). Foipossvel perceber, com essa iniciativa pioneira, que existiam outras possibilidades deestimular a gerao de emprego e de renda de maneira sustentvel sem o Estado recorrer apolticas assistencialistas. Com a reconfigurao da postura institucional do Banco Mundial, apartir da dcada de 1990, o combate pobreza passou a fazer parte de sua agenda. A partirda, instituies multilaterais passaram a realizar conferncias internacionais quepreconizavam a ampliao de polticas de microcrdito e novas estratgias dedesenvolvimento, inclusive a de estmulo da criao do mercado de microfinanas nos pasesem desenvolvimento (KRAYCHETE, 2005; FARIAS, 2012).

    No contexto brasileiro, experincias precursoras na concesso de microcrdito japarecem nos anos 1970 como o trabalho desenvolvido pela Unio Nordestina de Assistncia Pequenas Organizaes (UNO) que desenvolveu, nessa fase histrica, um programa deconcesso de financiamentos para pequenos negcios informais e pessoas de baixa renda.

    A partir da dcada de 1990, nos dois mandatos do governo do presidente FernandoHenrique Cardoso (1995 1998 e 1999 2002) estabelecido um marco regulatrio para omercado de microfinanas. Nessa fase, surgem as Sociedades de Crdito aoMicroempreendedor (SCMs) e as Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico(OSCIPS). Essas entidades foram concebidas pelo governo com o intuito de trazer dinamismopara a rea de crdito popular (FARIAS, 2012).

    Na dcada de 2000, no governo do presidente Lus Incio Lula da Silva (2003 2006e 2007 2010), emergem discusses sobre reduo da desigualdade e pobreza no pas,preocupao que embasou a ampliao da concesso de pequenos financiamentos pelasesferas subnacionais, como estados e municpios (FARIAS, 2012).

    Nessa perspectiva, os governos locais tambm passaram a voltar suas atenes para ocombate pobreza levando em considerao as peculiaridades das suas regies. Na Paraba,experincias como a do Empreender PB e Empreender JP, poltica pblicas desenvolvidaspelo governo do estado paraibano e pela prefeitura municipal de Joo Pessoa,respectivamente, tm mudado a realidade de vrias famlias paraibanas por meio do acesso aocrdito.

    Inspirado nestas experincias locais, o municpio de Bananeiras, localizado na regiodo Agreste paraibano, instituiu o programa Empreender Bananeiras no ano de 2013. Segundo

  • a prefeitura, essa poltica pblica tem como propsito a concesso de crdito produtivoorientado e procura incentivar a gerao de renda no municpio mediante o fortalecimento daeconomia solidria entre os empreendedores individuais, micro e pequenos empreendedoresprofissionais autnomos. At a fase atual, foram atendidos com microcrdito 292empreendedores que residem no referido municpio.

    Para fins deste estudo especfico, escolheu-se analisar o programa EmpreenderBananeiras, tendo como norteador o seguinte questionamento: como o programa EmpreenderBananeiras atua no municpio enquanto poltica de gerao de renda e reduo da pobreza?

    O trabalho est estruturado da seguinte maneira: alm desta introduo, a segundaseo traz o referencial terico, onde se discute a relao entre microcrdito eempregabilidade, a tica do Banco Mundial em relao s prticas de microcrdito nocombate pobreza e apresenta-se uma contextualizao do mercado de microfinanas noBrasil. Na terceira seo, destacam-se os aspectos metodolgicos que balizaram ainvestigao, apresentando detalhadamente o campo da pesquisa, as estratgias eprocedimentos de coleta e anlise dos dados. Na quarta seo, procedem-se as anlises ediscusses sobre a concepo, estrutura e resultados da poltica de microcrdito no municpiode Bananeiras. Por fim, a ltima seo apresenta as consideraes finais sobre o trabalho.

    2 REFERENCIAL TERICO

    Para um melhor entendimento da proposta deste artigo, nesta seo seroapresentados os principais conceitos e discusses sobre microcrdito e sua relao com aempregabilidade, as polticas de microcrdito na agenda do Banco Mundial visando combatera pobreza e, por fim, o mercado de microfinanas no Brasil.

    2.1 O microcrdito e a empregabilidade

    Principal atividade do mercado de microfinanas, a prtica do microcrdito predominantemente associada s polticas de reduo de pobreza, que por meio de concessode recursos financeiros destinados pequenos negcios, geralmente informais, possibilitam agerao de emprego e renda aos pequenos negcios, que possuem baixas fontes de renda eque por no terem como apresentar garantias, no tem acesso ao sistema financeiro tradicional

  • (BARONE et al, 2002; COLOTEDI, 2011; LIMA, 2009; SANTOS; CARRION, 2009;YUNUS, 2000; ZOUIAN; BARONE, 2007).

    Lima (2009) argumenta sobre a importncia do microcrdito como fomentador dascapacidades empreendedoras dos beneficiados, por meio do estmulo a autonomia, ou seja,atravs do recurso financeiro disponibilizado, o indivduo ter de utilizar de sua autonomiapara desenvolver estratgias de como tornar estes recursos rentveis. Contudo, esse processoexige uma contrapartida por parte dos beneficiados, que consiste no comprometimento eresponsabilidade com os compromissos firmados.

    O microcrdito comea a ganhar notoriedade no cenrio global a partir dos anos 70com as experincias desenvolvidas no Brasil e em Bangladesh. No contexto brasileiro, aUnio Nordestina de Assistncia Pequenas Organizaes (UNO), uma associao sem finslucrativos que desenvolveu um programa precursor no Brasil na concesso de microcrditopara pequenos negcios informais e indivduos de baixa renda, em grande parte trabalhadoresautnomos. Este projeto foi replicado pela Accion International Tecnolgica (AITEC), umaorganizao no governamental internacional, que levou o projeto a outros pases da AmricaLatina (FARIAS, 2012).

    Outro caso a destacar o do Gramem Bank, iniciativa idealizada e executada porMuhammad Yunus, um professor do departamento de economia na Universidade deChittagong em Bangladesh, foi pioneira no oferecimento de servio de emprstimo apopulao mais pobre. O sucesso do Gramem Bank atribudo metodologia utilizada naconcesso dos emprstimos, que era pautado na ideia de emprstimo solidrio conhecidotambm como aval solidrio e consiste no emprstimo em grupo como garantia - (NERI et al.2008), avaliao e assistncia aos tomadores de emprstimo, ausncia de procedimentosburocrticos, parcelas pequenas para pagamento, juros baixos, alm do estmulo a ajudamtua entre os tomadores de emprstimo (BARONE et al. 2002; FARRANHA, 2005).

    Considerado o maior banco voltado para a concesso de crdito popular, o GramemBank rendeu o prmio Nobel da paz no ano de 2006 ao economista Muhammad Yunus, peloseu trabalho de combate pobreza na regio de Bangladesh na ndia por meio da concessode crdito aos mais pobres. A experincia foi expandida para mais de 60 pases, chegando aatender mais de 2,3 milhes de famlias e considerada com um dos exemplos mais bemsucedidos de combate pobreza adotando a prtica do microcrdito (MIGUEL, 2012).

    Para Yunus (2000), a prtica do microcrdito no significa apenas emprestar odinheiro para as pessoas e depois receber de volta. O autor ressalta a importncia domicrocrdito no contexto de mudana social, destacando o cunho emancipatrio que a prtica

  • possui, possibilitando que o indivduo que antes encontrava-se margem num contextoeconmico-social, desenvolva o seu prprio projeto de vida, ajudando na mudana social domeio onde o mesmo est inserido.

    As experincias de sucesso tm contribudo para a popularizao do crdito popularno mundo, tornando a prtica do microcrdito segundo Passos et al. (2002) um dos principaisparadigmas de programa que possuem forte impacto social, por meio do combate pobrezade maneira no assistencial e sustentvel.

    A partir da segunda metade da dcada de 1990, o Banco Mundial surge comoinstituio promotora do microcrdito, incluindo em sua agenda o incentivo a constituio deum mercado de microfinanas, como parte das polticas de combate pobreza, sobretudo empases em desenvolvimento.

    2.2 As polticas de microcrdito na agenda do Banco Mundial

    Recentemente, durante a dcada de 1990, o Banco Mundial passou por um processode reconfigurao de sua postura institucional, que inclui a gerao de novas polticas sociais,diferentemente do seu posicionamento em dcadas anteriores. A partir dessa novaconfigurao, foram estabelecidas novas estratgias pela instituio para o enfrentamento dapobreza. O discurso em torno do aspecto humano do desenvolvimento e da incluso daspopulaes de baixa renda na economia de mercado figuram como eixos centrais. Sob estaperspectiva, os programas de microcrdito aparecem como uma das possveis alternativaalinhada a estes eixos na reduo do contexto de privao social da populao mais pobre(FARIAS, 2012).

    O tom economicista que atravessou as reformas neoliberais promovidas na dcada de1980, recebeu bastante crticas a partir das implicaes sociais desses ajustes econmicos.Diante disso, foi possvel observar a falta de insero e aumento das privaes materiais dagrande maioria da populao mundial (FARIAS, 2012). Segundo Diniz (2006), de maneiragradual percebeu-se que a integrao dos pases pobres economia mundial deveriaconsiderar as particularidades e as tradies locais. O debate acerca destas distores gerou aarticulao de um ciclo de conferncias internacionais onde o cerne das discusses era aquesto social.

    Em fevereiro de 1997, em Washington nos Estados Unidos, aconteceu a ConfernciaGlobal do Microcrdito, reunindo representantes de organismos governamentais, agncias dedesenvolvimento, Organizaes No-Governamentais (ONGs), e instituies financeiras de

  • vrias partes do mundo. O plano de ao aprovado na conferncia, consolida o crdito comoum dos mecanismos centrais no combate pobreza. Para tanto, para o atingimento desteobjetivo, o plano de ao designava o atendimento de 100 milhes de famlias, considerando apopulao mais pobre, dando nfase as mulheres dessas famlias, at o ano de 2005 (BANCOMUNDIAL, 1997).

    Dentre as diversas justificativas que ressaltavam a importncia dos programas demicrocrdito como fomentadores da melhoria da qualidade de vida da populao mais pobre,pode-se destacar o argumento de que esta iniciativa contribuiria para a ampliao de poupanae acumulao de ativos da populao mais pobre; que os clientes de baixa renda significavamum bom risco; que se deveria ressaltar a participao democrtica dos beneficirios; e pela

    facilidade de reproduzir esses modelos de programa nos pases em desenvolvimento (OIT,2002).

    Esse processo implicou em diversos arranjos institucionais que exigiram aformalizao das ONGs pioneiras em instituies reguladas, constituio de departamentosvoltados para as microfinanas dentro dos bancos comerciais e constituio de bancosespecializados. Muitos obstculos necessitaram ser vencidos at o mercado de microfinanasse tornar uma atividade comercial, como por exemplo, a ausncia de suporte terico queconsiderassem este mercado como objeto de estudo das teorias que discutem as atividadescreditcias; definio de tecnologias adequadas, que permitissem a incluso de camadas dapopulao excludas do mercado oficial de crditos; disponibilidade de recursos para suprir spotenciais demandas; e definio de um marco legal que abrigasse as instituiesespecializadas em microfinanas. Tais arranjos com objetivo de combater as dificuldadesapresentadas, envolveram diversas instituies, desde as de atuao em mbito local, at asinstituies atuantes em espaos de nvel nacional e internacional (KRAYCHETE, 2005).

    No Brasil, segundo Kraychete (2005), existem no apenas diferenciaes sobre o quevem a ser o mercado de microfinanas, mas podemos encontrar diferentes tipos e categoriasde microcrdito. importante salientar a existncia, em mbito nacional, de trs segmentos deprogramas voltados ao microcrdito, os realizados por representaes da sociedade civil, pelosetor pblico e iniciativa privada. A seguir, ser discutido com mais clareza odesenvolvimento do mercado de microfinanas no Brasil, alm de citar alguns casos deprogramas de microcrdito que vem sendo desenvolvidos nas diversas regies do Brasil,inclusive o que veio a se tornar nosso objeto de estudo nesta pesquisa, o programaEmpreender Bananeiras.

  • 2.3 Mercado de microfinanas no Brasil

    Segundo Farias (2012), o microcrdito no Brasil no percorreu uma trajetria lineardo ponto de vista de sua evoluo histrica. Diante disso, Farranha (2005) apresenta umadiviso em quatro fases, compreendidas entre os anos de 1972 e 2010, para se ter umacompreenso pormenorizada do mercado de microfinanas no Brasil.

    A primeira fase estende-se do ano de 1972 at o ano de 1988, onde a UNO, atuandona regio Nordeste, protagonizou o que considerado a primeira experincia de microcrditodesenvolvida no Brasil e na Amrica Latina. No fim da dcada de 1980, o Centro de Apoioaos Pequenos Empreendimentos (CEAPE), ONG que se destacou pela atuao na periferia dePorto Alegre e pela introduo da metodologia de grupos solidrios, onde as obrigaesreferentes ao pagamento dos emprstimos eram repartidas entre os componentes do grupobeneficiado. Em 1984, o Conselho da Mulher Executiva da Associao Comercial do Rio deJaneiro, em parceria com a entidade internacional Women World Bank, criou o Banco daMulher, com o propsito de incluir a populao feminina de baixa renda no sistema bancrio(MIGUEL, 2012; FARIAS, 2012).

    Esse perodo particularmente caracterizado pelas iniciativas advindas da sociedadecivil, em especial as ONGs, o que viabilizaram a prtica do microcrdito por meio de canais eredes que estavam margem da rede bancria, fato que denominou o ttulo de banco dos

    pobres a estas iniciativas pioneiras (FARIAS, 2012).

    O segundo momento est compreendido entre os anos de 1989 1998, fase em queemerge aes articuladas para o desenvolvimento de prticas de microcrdito voltados abertura de pequenos negcios informais, advindas do envolvimento entre organizaes semfins lucrativos e algumas instncias do setor pblico responsveis pela gerao de emprego erenda (FARIAS, 2012). Ainda segundo a autora, estas aes se tornaram possveis a partir daConstituio de 1988 que estabeleceu bases para uma maior descentralizao fiscal edecisria para estados e municpios, o que permitiu um maior desenvolvimento de aesarticuladas entre os governos estaduais e municipais e as organizaes sem fins lucrativos.

    A terceira fase ocorreu durante o perodo de governo do presidente FernandoHenrique Cardoso, entre os anos de 1998 e 2002, pelo qual ocorreram mudanas na legislaosobre o funcionamento e estruturao do microcrdito no Brasil, que visavam direcionar asoperaes de algumas instituies com fins lucrativos para o segmento dos pequenosnegcios. Com essa mudana, o governo pretendia atrair pessoas jurdicas de direito privado

  • para o ramo das microfinanas, mediante a garantia de que essas instituies teriamrentabilidade (FARIAS, 2012).

    Por fim, a quarta fase ocorreu durante os mandatos do presidente Lula, com incio em2002 e estende-se at o ano de 2010. Esse perodo foi marcado pela introduo de novas polticase regulamentaes com o objetivo de promover a democratizao do crdito no pas. Como, porexemplo, a elevao do valor mximo de emprstimos do varejo para as pequenas atividadesprodutivas, criao do Programa Nacional de Microcrdito Produtivo Orientado (PNMPO),ampliao do Programa Crediamigo do Banco do Nordeste (BNB) e criao do Agroamigo.

    Na seo seguinte, apresenta-se o caminho metodolgico desenvolvido nestapesquisa, caracterizando o design de pesquisa estabelecido, delimitao de processo deinvestigao e os procedimentos de coleta e anlise dos dados.

    3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    Esta pesquisa tem carter descritivo e exploratrio, pois procura estudar uma polticapblica de microcrdito a partir de um estudo de caso na cidade paraibana de Bananeiras. Paraa compreenso dos mltiplos aspectos em torno dos possveis impactos que o programaEmpreender Bananeiras pode ter ocasionado no cotidiano de trabalho das pessoas queobtiveram financiamentos, aplicou-se recursos metodolgicos de natureza quantitativa equalitativa.

    A pesquisa, segundo Marconi e Lakatos (2007, p. 15) um procedimento formal,com mtodo de pensamento reflexivo, que requer tratamento cientfico e se constitui nocaminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais.

    Foram utilizados dados numricos, por meio de instrumentos estatsticos quecaracterizam uma pesquisa quantitativa. Por outro lado, como o pesquisador foi a campo paracontextualizar o fenmeno e colheu depoimentos da equipe executora do programa e depessoas que obtiveram emprstimos, a pesquisa tambm teve um perfil qualitativo.(SAMPIERI; COLLADO; LCIO, 2006). Destaque-se que este trabalho tambm dialoga comas recomendaes feitas por Godoy (2009) acerca da realizao do estudo de caso,perpassando pelas seguintes etapas: escolher a unidade de anlise, definio do papel dateoria, reviso da literatura, conduo e coleta na anlise de dados.

    Realizou-se uma pesquisa de campo onde se fez o levantamento quantitativo dedados primrios junto prefeitura de Bananeiras. Procurou-se aferir o funcionamento ecritrios que balizam o programa de microcrdito municipal bem como a quantidade e valor

  • mdio de emprstimos fornecidos para o pblico alvo. Investigou-se o perfil dos beneficiadosquanto composio por gnero e o tipo de atividade econmica que foram abertas com aobteno dos pequenos emprstimos no programa local.

    Tambm se aferiu quantitativamente o nmero de pessoas que participaram do cursode capacitao do programa Empreender Bananeiras desde o perodo de sua implantao em2013 at agosto de 2014. A capacitao empresarial, ao lado da elaborao do plano denegcios, so algumas das exigncias requeridas pela prefeitura para que a pessoa inscritapossa obter o emprstimo. Esses indicadores foram tabulados e analisados na quarta seodesse artigo.

    Essas informaes deram um importante suporte para o conhecimento doempreender Bananeiras, mas era fundamental se ter uma viso mais abrangente acerca daspercepes dos sujeitos envolvidos na execuo desse programa de microcrdito local. Paratanto, foram realizadas visitas na prefeitura onde o pesquisador pde fazer entrevistassemiestruturadas com representantes institucionais do programa e com pessoas que tiveramacesso ao microcrdito e abriram pequenos negcios.

    Como se mencionou anteriormente, a unidade de anlise escolhida foi o EmpreenderBananeiras, um programa fruto de uma poltica pblica desenvolvida pelo municpio deBananeiras, que atua desde abril de 2013 (fase de inaugurao) com o propsito de gerao deemprego e renda ao municpio pela prtica do microcrdito. A pesquisa foi realizada durante operodo de setembro a novembro de 2014, onde foram entrevistados 3 representantesinstitucionais do Programa Empreender Bananeiras. Esses funcionrios ocupam funesdistintas no Programa. Um deles era representante da rea de planejamento; outro era umestagirio que responde pela assessoria aos empreendedores do municpio; por fim,entrevistou-se um funcionrio da rea de assessoria contbil, cuja tarefa oferecer apoiotcnico nas principais dvidas dos empreendedores; tambm foram entrevistados 5empreendedores beneficiados pelo programa. Para garantir o anonimato dos mesmos, foramcriados nomes fictcios.

    Quanto reviso da literatura, Hartley (1995) argumenta que importante contarcom uma estrutura terica de referncia antes de iniciar as atividades de campo. Para tanto,antes da realizao da pesquisa, construiu-se todo um aporte terico balizado em outrosestudos sobre o tema discutido, utilizando-os como referncias e fontes de busca: livros, teses,dissertaes, artigos cientficos, vdeos e conversas informais com pesquisadores da rea.

  • Para Godoy (2009), o estudo de caso qualitativo, pode ser considerado como umapesquisa multimtodo, pelo fato de utilizar vrias fontes de informao. Para tanto, nesteestudo foram utilizadas trs tipos de fontes de dados: observao, documentos e entrevistas.

    A observao pode ser direta ou participante (YIN, 2001), neste caso optou-se pelaobservao direta, onde o pesquisador atua apenas como um mero espectador, procurandoapreender aparncias, eventos e comportamentos (GODOY, 2009). As observaes foramfeitas durante a realizao das visitas de reconhecimento e durante a realizao dasentrevistas.

    A anlise documental pode trazer importantes contribuies para o estudo de caso(GODOY, 2009). No que tange este tipo de coleta de dados, utilizou-se materiais escritos(formulrios, leis, folders e panfletos), registros de banco de dados fornecidos pelaorganizao (nmero de inscritos, nmero de contemplados, composio por gnero e valoresdos emprstimos) e elementos iconogrficos (imagens e fotografias). Estes documentospodem ser considerados primrios (quando produzidos por indivduos que presenciaram oevento) ou secundrios (coletados por indivduos que no presenciaram o evento) (BAILEY,1982), contudo durante a seo de anlise e discusso, a fonte dos dados ser sempreexplicitada.

    A entrevista semiestruturada tem como principal propsito compreender qual osignificado atribudo pelos entrevistados sobre questes e situaes inerentes ao tema deinteresse, possibilitando ao pesquisador desenvolver uma ideia sobre como os sujeitospercebem os aspectos do mundo (GODOY, 2009). Nesta pesquisa utilizou-se a entrevistasemiestruturada, onde foi utilizado um roteiro de entrevista contendo aspectos flexveis comosugerido por Godoy (2009) que estimulassem ao entrevistado a se expressar. Em algumas dasentrevistas percebeu-se um certo desvio da linha de pensamento, contudo assim foi possvelobter relatos interessantes dos sujeitos. A forma de registro das entrevistas foi por meio degravao direta com autorizao dos entrevistados. Utilizou-se tambm anotaes durante asentrevistas de pontos importantes para serem revisitados posteriormente.

    Aps o fim da coleta de dados e continuao do processo de anlise, iniciou-se oprocesso de ouvir as gravaes e transcrio dos pontos mais importantes de cada entrevista.Para facilitar o processo de anlise, os dados foram segmentados e categorizados conformeum sistema de organizao derivado dos prprios dados (TESCH, 1990). Definiu-se unidadesde anlise, que seriam: os dados inerentes a concepo do programa, os que descreviam erelatavam a forma de estrutura e organizao, o perfil dos negcios beneficiados e por fim osresultados da implantao do programa aps o perodo de atuao no municpio.

  • 4 POLTICA DE MICROCRDITO EM BANANEIRAS-PB

    O municpio de Bananeiras est localizado na microrregio do brejo paraibano epossua, em 2010, uma populao residente de 21.851 habitantes, sendo 10.784 homens e11.067 mulheres, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica(IBGE). Desse total, 8.668 pessoas residiam na zona urbana e 13.183 na zona rural, o queindica que mais de 60% da populao estava localizada na zona urbana (CARVALHO,FIGUEIREDO, FARIAS, 2013).

    A atividade econmica com maior participao no Produto Interno Bruto (PIB) domunicpio, em 2010, era o setor de servios (71,09%), seguido pelo setor de agropecuria(16,91%) e a indstria com (9,63%). No diagnstico socioeconmico do municpio deBananeiras elaborado por Carvalho, Figueiredo e Farias (2013), as autoras apontam afragilidade das atividades produtivas locais, durante o perodo de 2000 a 2010, e o baixo nvelde desempenho econmico quando comparado ao comportamento de outras cidadescircunvizinhas.

    Segundo as autoras mencionadas, apesar de relativo crescimento dos indicadores querefletem a dinmica econmica de Bananeiras, o municpio ainda apresenta baixa capacidadede gerao de emprego e renda, o que exige a ao de polticas pblicas especficas quedinamizem as vocaes prprias do municpio.

    nesse sentido que a concepo do Empreender Bananeiras surge em 2013, comouma alternativa da gesto local para estimular a gerao de emprego e renda no municpio.Conforme o discurso institucional da prefeitura, o referido programa procura beneficiarpequenos empreendedores formais e informais com recursos limitados e que possuemdificuldade de acesso a crdito pelo sistema financeiro tradicional.

    Com pouco mais de um ano e meio de funcionamento, o programa j apresentaalguns resultados que merecem ser discutidos, como sero apresentados nas sees seguintes.O Projeto intitulado Bananeiras Cidade Empreendedora, que apresenta a Casa doEmpreendedor e o Empreender Bananeiras como iniciativas ao empreendedorismo e gerao de emprego e renda em Bananeiras (PB), possibilitou ao governo local o prmionacional de Prefeito Empreendedor da edio 2014. Essa premiao concedida peloSEBRAE e tem como propsito reconhecer a capacidade administrativa de gestores que

    elaboraram os melhores projetos e implantaram aes em favor do surgimento e dodesenvolvimento de pequenos negcios em seus municpios (SEBRAE, 2014).

  • Nas sees a seguir sero apresentadas informaes sobre a concepo doprograma, seus principais resultados e as avaliaes feitas pelos sujeitos assistidos.

    4.1 Concepo e estrutura da poltica municipal de microcrdito

    O programa Empreender Bananeiras uma poltica pblica criada pelo municpio deBananeiras-PB, instituda sob a lei municipal n 571, de 2 de setembro de 2013. O programatem como objetivo promover a gerao de renda no municpio por meio da concesso docrdito produtivo orientado aos microempreendedores, empreendedores individuais,empresrios de pequeno porte, profissionais autnomos, bem como cooperativas de produo(BANANEIRAS, 2013).

    O municpio instituiu a lei municipal n 578, de 10 de outubro de 2013, queestabeleceu a Taxa Administrativa Municipal (TAM) que utilizada como fonte de recursospara o Fundo Empreender Bananeiras, criado para implementao e operacionalizao doprograma Empreender Bananeiras.

    Essa taxa tem como fato gerador a assinatura de contratos entre o municpio e os seusfornecedores de produtos no fator de 1,0 % (um por cento) sobre o valor destes. A cobranadeve ser realizada no ato de pagamento, com exceo de contratos de servios pblicosexplorados por concesses dispensadas de procedimento licitatrio para contratao com omunicpio ou com valor inferior a 2 (dois) salrios mnimos (BANANEIRAS, 2013). Valesalientar, tambm, que o programa atua com liberaes do fundo estadual do Empreender PB,por meio de uma parceria feita com o rgo.

    Em entrevista concedida pelo Representante 1 do Empreender Bananeiras, ele relatoucomo se deu o processo de concepo do programa, desde o processo de gerao de ideias as reflexes, at a procura por parceiros que ajudaram nesse processo. O seguinte relato doRepresentante 1 retrata esse momento:

    A gente queria uma ferramenta que ajudasse [...] ento a gente procurou oEmpreender Paraba pra fazer uma parceria... e foi uma coisa levando a outra n...Ento as ideias foram surgindo de acordo com esse primeiro pensamento que eracriar uma ferramenta de apoio ao microempreendedor... A gente comeou a pensarmais forte nisso, como mais intensidade, por esse crescimento de Bananeiras n,pelo crescimento turstico de Bananeiras, uma cidade que t com oempreendedorismo muito forte n... das empresas vindo pra c procurar seestabelecer aqui, e s vezes o pequeno no sabia o que fazer, no tinha um crdito,no tinha um apoio, no sabia como formalizar [...] (Representante 1)

    Percebe-se que o programa surge a partir de um momento particular vivido pelomunicpio, o crescimento turstico, que gerou inquietaes por parte dos gestores sobre como

  • poderiam ajudar aos empreendedores a enfrentar essas oportunidades que vinham surgindo. Aprtica do microcrdito aparece como alternativa de suprir uma demanda emergente, que erade proporcionar aos sujeitos demandantes o potencial empreendedor e condies para opequeno negcio deslanchar.

    O programa funciona na Casa do Empreendedor, que um ambiente onde so

    oferecidos servios de apoio ao empreendedor. Os principais servios so o de orientaogerencial, contbil e jurdica. O servio de orientao gerencial feito por um estagirio,estudante do curso de Administrao da Universidade Federal da Paraba (UFPB), que buscasanar as principais dvidas dos empreendedores e orient-los quanto a gesto dosempreendimentos. O servio de orientao contbil feito por uma Contador, que fica disposio dos empreendedores para sanarem suas dvidas sobre o tema. O Representante 2,relatou em entrevista que as principais dvidas que as pessoas manifestam ao procurar oservio de orientao est relacionado formalizao e ao pagamento de tributos. O serviode orientao jurdica feito pelo procurador do municpio e realizado medianteagendamento prvio.

    Alm dos servios de orientao, a Casa do Empreendedor atua na promoo decursos e formaes destinadas aos empreendedores do municpio, independente de serematendidos pelo Empreender Bananeiras. Os cursos geralmente so promovidos em parceriacom instituies interessadas no desenvolvimento do empreendedor como o SEBRAE.Contudo, apesar dessa preocupao com orientao dos empreendedores, o Representante 1do programa ressalta a baixa procura pelos cursos oferecidos, como pode ser expresso naseguinte fala:

    A gente trouxe um curso de manipulao de alimentos, se inscreveram dez pessoas,no apareceu nenhuma [...] o pessoal no v isso como um investimento.(Representante 1)

    No que tange ao processo de concesso do crdito, o empreendedor deve passar por 5(cinco) etapas, que consistem em: a) inscrio no programa etapa em que o empreendedorpreenche um formulrio com informaes pessoais e do seu empreendimento, alm de relatarsuas pretenses acerca do financiamento; b) visita dos consultores nesta etapa osempreendedores recebem uma visita in loco para elaborao do plano de negcios que irnortear a aplicao do crdito juntamente com os empreendedores; c) avaliao do plano denegcios o plano de negcios avaliado pela equipe do programa Empreender Bananeiras;d) formao os empreendedores com plano de negcios aprovados participam de umaformao orientada para gesto de empresa, por meio do Best Game, que jogo que simula adinmica do mercado com o objetivo de levar o gestor de empresas tomada de decises

  • estratgicas, que visam o sucesso das empresas no mercado (CENTRO CAPE, 2014); e)liberao do crdito os empreendedores que passaram com xito pelas quatro etapasanteriores alcanam nesta etapa a liberao do crdito.

    Aps a concesso do crdito, os empreendedores possuem 6 (seis) meses de carnciapara iniciar o pagamento das parcelas. Uma visita para acompanhamento a evoluo dopequeno negcio tambm feita aps a concesso do financiamento. Contudo, alguns dosentrevistados relatam no terem recebido ainda nenhuma visita para saber como o crdito foiaplicado. A justificativa dada pelo Representante 1 do programa que a grande quantidade devisitas programadas para processo de concesso do crdito acaba retardando as visitas deacompanhamento ps-crdito.

    Na entrevista feita com o Representante 1, fica evidente a desconfiana por parte dapopulao antes da concepo do programa, o que pode ser observado no relato a seguir:

    Quando a gente comeou, a populao dizia que isso era conversa, que a gente tavaconversando besteira [risos]... eles [a populao] podiam acreditar, mas no tinhama certeza de que isso iria pra frente, e hoje ns somos uma realidade, um exemplo aser seguido!.(Representante 1)

    Por outro lado, o entrevistado refere-se aos resultados alcanados pelo programa empouco mais de um ano de concepo. Os casos de sucesso foram constantementemencionados durante a entrevista e as conversas informais com o Representante 1, como podeser observado na seguinte fala do entrevistado:

    Pra mim gratificante quando chega o borracheiro, quando chega a cabeleireira, adona do restaurante [...] quando a gente v o testemunho destas pessoas, a gente v amudana que o crdito proporcionou na vida destas pessoas (Representante 1)

    Estes resultados corroboram com o pensamento de Yunus (2000), de que a prtica domicrocrdito no consiste apenas em emprestar dinheiro, mas de gerar uma mudana social navida das pessoas. Muito embora, alguns problemas na operacionalizao do programa foramidentificados durante o perodo de imerso no campo, como por exemplo a falta de um bancode dados com informaes dos empreendedores contemplados e o no acompanhamento daaplicao do financiamento aps a concesso do crdito.

    A seguir sero apresentados detalhadamente os principais resultados obtidos peloprograma at o momento.

    4.2 Perfil dos sujeitos capacitados e dos pequenos negcios

    Desde a sua concepo at a fase mais recente, conforme o levantamento deinformaes realizado pelo pesquisador junto aos representantes institucionais do EmpreenderBananeiras, o programa recebeu 535 inscries de pessoas de baixa renda interessadas em

  • obter financiamentos. Os sujeitos que procuraram o programa local de microcrdito, de modogeral se enquadravam em duas situaes.

    De um lado, pequenos empreendedores que j atuavam em alguma atividadeeconmica se inscreveram no programa local com o intuito de ter acesso a um maior volumede capital de giro. De outro lado, pessoas que estavam desocupadas e em busca de alternativasde gerao de renda, perceberam, nessa ao municipal, uma possibilidade de se tornarempotenciais empreendedores.

    Grfico 1. Pessoas inscritas no Empreender Bananeiras desde a concepo do programa: composio por gnero(em %)

    Fonte: Dados da pesquisa

    De modo geral, como se pode observar no Grfico 1, percebe-se a predominncia dopblico feminino em nmeros absolutos de 291 (54%) mulheres inscritas no programa emdetrimento do pblico masculino com 244 (46%) inscries desde a concepo do programa.Esse fato chama ateno porque, de certo modo, demonstra o pragmatismo das mulheres detentarem encontrar formas de incluso no mercado de trabalho local. Segundo os relatos daequipe institucional, algumas mulheres informaram que procuraram o programa demicrocrdito para obterem um acrscimo no nvel de renda familiar e alcanarem autonomia.

    Das 535 pessoas inscritas no programa durante esse perodo, 292 pessoas foramcontempladas com o crdito, consequentemente esse tambm o nmero de pessoas queparticiparam do Best Game e receberam a formao oferecida pelo programa.

    Dos sujeitos que se inscreveram no Empreender Bananeiras e que foramcontemplados com o acesso ao crdito liberado pela prefeitura, a maioria era composta pelopblico masculino, com 145 pessoas, cerca de 52%. Estes resultados empricos indicam assingularidades que permeiam as experincias locais de microcrdito, pois nas pesquisas feitas

    obter financiamentos. Os sujeitos que procuraram o programa local de microcrdito, de modogeral se enquadravam em duas situaes.

    De um lado, pequenos empreendedores que j atuavam em alguma atividadeeconmica se inscreveram no programa local com o intuito de ter acesso a um maior volumede capital de giro. De outro lado, pessoas que estavam desocupadas e em busca de alternativasde gerao de renda, perceberam, nessa ao municipal, uma possibilidade de se tornarempotenciais empreendedores.

    Grfico 1. Pessoas inscritas no Empreender Bananeiras desde a concepo do programa: composio por gnero(em %)

    Fonte: Dados da pesquisa

    De modo geral, como se pode observar no Grfico 1, percebe-se a predominncia dopblico feminino em nmeros absolutos de 291 (54%) mulheres inscritas no programa emdetrimento do pblico masculino com 244 (46%) inscries desde a concepo do programa.Esse fato chama ateno porque, de certo modo, demonstra o pragmatismo das mulheres detentarem encontrar formas de incluso no mercado de trabalho local. Segundo os relatos daequipe institucional, algumas mulheres informaram que procuraram o programa demicrocrdito para obterem um acrscimo no nvel de renda familiar e alcanarem autonomia.

    Das 535 pessoas inscritas no programa durante esse perodo, 292 pessoas foramcontempladas com o crdito, consequentemente esse tambm o nmero de pessoas queparticiparam do Best Game e receberam a formao oferecida pelo programa.

    Dos sujeitos que se inscreveram no Empreender Bananeiras e que foramcontemplados com o acesso ao crdito liberado pela prefeitura, a maioria era composta pelopblico masculino, com 145 pessoas, cerca de 52%. Estes resultados empricos indicam assingularidades que permeiam as experincias locais de microcrdito, pois nas pesquisas feitas

    Homens46%

    Mulheres54%

    obter financiamentos. Os sujeitos que procuraram o programa local de microcrdito, de modogeral se enquadravam em duas situaes.

    De um lado, pequenos empreendedores que j atuavam em alguma atividadeeconmica se inscreveram no programa local com o intuito de ter acesso a um maior volumede capital de giro. De outro lado, pessoas que estavam desocupadas e em busca de alternativasde gerao de renda, perceberam, nessa ao municipal, uma possibilidade de se tornarempotenciais empreendedores.

    Grfico 1. Pessoas inscritas no Empreender Bananeiras desde a concepo do programa: composio por gnero(em %)

    Fonte: Dados da pesquisa

    De modo geral, como se pode observar no Grfico 1, percebe-se a predominncia dopblico feminino em nmeros absolutos de 291 (54%) mulheres inscritas no programa emdetrimento do pblico masculino com 244 (46%) inscries desde a concepo do programa.Esse fato chama ateno porque, de certo modo, demonstra o pragmatismo das mulheres detentarem encontrar formas de incluso no mercado de trabalho local. Segundo os relatos daequipe institucional, algumas mulheres informaram que procuraram o programa demicrocrdito para obterem um acrscimo no nvel de renda familiar e alcanarem autonomia.

    Das 535 pessoas inscritas no programa durante esse perodo, 292 pessoas foramcontempladas com o crdito, consequentemente esse tambm o nmero de pessoas queparticiparam do Best Game e receberam a formao oferecida pelo programa.

    Dos sujeitos que se inscreveram no Empreender Bananeiras e que foramcontemplados com o acesso ao crdito liberado pela prefeitura, a maioria era composta pelopblico masculino, com 145 pessoas, cerca de 52%. Estes resultados empricos indicam assingularidades que permeiam as experincias locais de microcrdito, pois nas pesquisas feitas

  • por Farias (2012) e Andrade, Binotto e Siqueira (2011) o pblico assistido pelas polticas demicrocrdito era predominantemente feminino.

    Vale ressaltar que na pesquisa realizada em Bananeiras, apenas consta o nmerorelativo a 277 pessoas, pois 15 pessoas foram contempladas na inaugurao do EmpreenderBananeiras, onde o processo foi conduzido pelo Empreender Paraba, por isso a equipe doEmpreender Bananeiras no possui informaes mais detalhadas dos dados de identificaodestas pessoas beneficiadas.

    O Grfico 2 apresenta a evoluo, em valores absolutos, da quantidade de pessoasatendidas pelo programa desde a sua inaugurao, em abril de 2013 a agosto de 2014, data daltima liberao de crdito.

    Constata-se que, no primeiro ano de sua execuo, o programa EmpreenderBananeiras conseguiu atrair um nmero crescente de pessoas interessadas em obter pequenosfinanciamentos. Entre a fase de inaugurao at outubro de 2013, o contingente de pessoasatendidas pelo programa municipal apresentou uma expanso de nada menos que 333,3%. Apartir dessa fase, observa-se que houve uma tendncia para um comportamento mais linearquanto ao atendimento do pblico-alvo. De abril de 2013 a agosto de 2014, a quantidade depessoas atendidas permaneceu relativamente constante.

    Grfico 2. Evoluo do nmero de pessoas atendidas pelo programa entre abril de 2013 a agosto 2014 (emvalores absolutos)

    Fonte: Dados da pesquisa

    Portanto, h uma linearidade a partir de ento, as liberaes concedidas entre operodo de outubro de 2013 e agosto de 2014 conseguiram uma mdia de 66 pessoas porliberao de crdito.

    1520

    65 67 67

    01020304050607080

    Inaugurao jun-13 out-13 mai-14 ago-14abr-2013 jun-2013 out-2013 mai-2014 ago-2014

  • A soma dos valores concedidos em crdito aos empreendedores pelo programachegou a quantia de R$ 889.050,00. O Grfico 3 traz a evoluo do valor total deemprstimos, apresentando o quanto foi destinado a cada etapa de liberao de crdito peloprograma.

    Grfico 3. Evoluo do valor total de emprstimos concedidos pelo Empreender Bananeiras entre abril de 2013 aagosto 2014

    Fonte: Dados da pesquisa

    possvel aludir, a partir das informaes apresentadas no Grfico 3, que houve umaevoluo ms a ms do valor de emprstimos, principalmente a partir de junho de 2013,atingindo um ponto mais alto em maio de 2014, que representou a liberao com a maiorquantia em dinheiro concedida, chegando a R$ 210.900,00. Em agosto de 2014, possvelobservar uma certa reduo do valor emprestado, retornando a mdia dos meses anteriores amaio de 2014.

    Confrontando os Grficos 3 e 4, percebe-se que no perodo de outubro de 2013 aagosto de 2014, a mdia de pessoas atendidas se mantm, ao ponto que os valores concedidospor emprstimos sofrem uma variao maior. Isto se explica pelo perfil dos empreendedoresque buscaram o crdito junto ao programa. Caso seja formalizado, o empreendedor podepleitear a liberao de um crdito de at R$ 5.000, mas caso o empreendedor ainda esteja nainformalidade, este valor reduzido para at R$ 2.000,00. Vale salientar que estes valores soreferentes a primeira liberao, ao ponto que o empreendedor consegue quitar todas asparcelas do financiamento, a linha de crdito dele tem seu valor aumentado, possibilitando oemprstimo de quantias maiores.

    R$-

    R$50.000,00

    R$100.000,00

    R$150.000,00

    R$200.000,00

    R$250.000,00

    Inaugurao

    R$40.000,00

    abr-2013 jun-2013 out-2013 mai-2014 ago-2014

    A soma dos valores concedidos em crdito aos empreendedores pelo programachegou a quantia de R$ 889.050,00. O Grfico 3 traz a evoluo do valor total deemprstimos, apresentando o quanto foi destinado a cada etapa de liberao de crdito peloprograma.

    Grfico 3. Evoluo do valor total de emprstimos concedidos pelo Empreender Bananeiras entre abril de 2013 aagosto 2014

    Fonte: Dados da pesquisa

    possvel aludir, a partir das informaes apresentadas no Grfico 3, que houve umaevoluo ms a ms do valor de emprstimos, principalmente a partir de junho de 2013,atingindo um ponto mais alto em maio de 2014, que representou a liberao com a maiorquantia em dinheiro concedida, chegando a R$ 210.900,00. Em agosto de 2014, possvelobservar uma certa reduo do valor emprestado, retornando a mdia dos meses anteriores amaio de 2014.

    Confrontando os Grficos 3 e 4, percebe-se que no perodo de outubro de 2013 aagosto de 2014, a mdia de pessoas atendidas se mantm, ao ponto que os valores concedidospor emprstimos sofrem uma variao maior. Isto se explica pelo perfil dos empreendedoresque buscaram o crdito junto ao programa. Caso seja formalizado, o empreendedor podepleitear a liberao de um crdito de at R$ 5.000, mas caso o empreendedor ainda esteja nainformalidade, este valor reduzido para at R$ 2.000,00. Vale salientar que estes valores soreferentes a primeira liberao, ao ponto que o empreendedor consegue quitar todas asparcelas do financiamento, a linha de crdito dele tem seu valor aumentado, possibilitando oemprstimo de quantias maiores.

    Inaugurao jun-13 out-13 mai-14

    R$40.000,00

    R$150.000,00 R$162.050,00

    R$210.900,00

    abr-2013 jun-2013 out-2013 mai-2014 ago-2014

    A soma dos valores concedidos em crdito aos empreendedores pelo programachegou a quantia de R$ 889.050,00. O Grfico 3 traz a evoluo do valor total deemprstimos, apresentando o quanto foi destinado a cada etapa de liberao de crdito peloprograma.

    Grfico 3. Evoluo do valor total de emprstimos concedidos pelo Empreender Bananeiras entre abril de 2013 aagosto 2014

    Fonte: Dados da pesquisa

    possvel aludir, a partir das informaes apresentadas no Grfico 3, que houve umaevoluo ms a ms do valor de emprstimos, principalmente a partir de junho de 2013,atingindo um ponto mais alto em maio de 2014, que representou a liberao com a maiorquantia em dinheiro concedida, chegando a R$ 210.900,00. Em agosto de 2014, possvelobservar uma certa reduo do valor emprestado, retornando a mdia dos meses anteriores amaio de 2014.

    Confrontando os Grficos 3 e 4, percebe-se que no perodo de outubro de 2013 aagosto de 2014, a mdia de pessoas atendidas se mantm, ao ponto que os valores concedidospor emprstimos sofrem uma variao maior. Isto se explica pelo perfil dos empreendedoresque buscaram o crdito junto ao programa. Caso seja formalizado, o empreendedor podepleitear a liberao de um crdito de at R$ 5.000, mas caso o empreendedor ainda esteja nainformalidade, este valor reduzido para at R$ 2.000,00. Vale salientar que estes valores soreferentes a primeira liberao, ao ponto que o empreendedor consegue quitar todas asparcelas do financiamento, a linha de crdito dele tem seu valor aumentado, possibilitando oemprstimo de quantias maiores.

    ago-14

    R$210.900,00

    R$165.000,00

    abr-2013 jun-2013 out-2013 mai-2014 ago-2014

  • O Grfico 4 apresenta a mdia dos valores de emprstimos concedidos por liberao,ou seja, a razo entre valor emprestado e nmero de pessoas contempladas, como observa-se aseguir:

    Grfico 4. Evoluo do valor mdio de emprstimo por pessoa concedido pelo Empreender Bananeiras entreabril de 2013 a agosto 2014

    Fonte: Dados da pesquisa

    Analisar o Grfico 4 traz algumas reflexes e questionamentos importantes. O fatoque chamou mais ateno foi a elevada proporo entre valor o emprestado e o nmero depessoas contempladas no ms de junho de 2013. A explicao para esse fato veio tona naentrevista feita com Representante 1. O mesmo relatou o interesse do programa empotencializar as solues locais de gerao de emprego e renda. Quando indagado sobre comoo programa procurava fazer isso, a resposta foi:

    A gente pegou a associao do pessoal que produz polpa [...] por exemplo teve osarteses, teve os piscicultores, tem o pessoal da agricultura familiar, teve os moto-taxistas [...] ento, a gente toda vez que tem o recurso, a gente sempre busca fazerum direcionamento e contemplar algumas dessas categorias. (Representante 1)

    O programa busca contemplar algumas categorias de atividades especficas, comoobservado no trecho da entrevista. Essa ao est direcionada a potencializar algumasatividades que podem gerar riqueza no mercado local a partir de solues locais,corroborando com o que prope Prahalad e Hart (2002).

    No ms de junho de 2013, a equipe do Empreender Bananeiras decidiu contemplarum ramo de atividade especifica que estava passando por um processo de consolidao nomunicpio. Os moto-taxistas, com apoio do governo municipal, estavam criando umaassociao com o objetivo de obterem a legalizao dessa atividade no municpio. Ento o

    R$-

    Inaugurao

    jun-13

    out-13

    mai-14

    ago-14

    abr-2013

    jun-2013

    out-2013

    mai-2014

    ago-2014

    O Grfico 4 apresenta a mdia dos valores de emprstimos concedidos por liberao,ou seja, a razo entre valor emprestado e nmero de pessoas contempladas, como observa-se aseguir:

    Grfico 4. Evoluo do valor mdio de emprstimo por pessoa concedido pelo Empreender Bananeiras entreabril de 2013 a agosto 2014

    Fonte: Dados da pesquisa

    Analisar o Grfico 4 traz algumas reflexes e questionamentos importantes. O fatoque chamou mais ateno foi a elevada proporo entre valor o emprestado e o nmero depessoas contempladas no ms de junho de 2013. A explicao para esse fato veio tona naentrevista feita com Representante 1. O mesmo relatou o interesse do programa empotencializar as solues locais de gerao de emprego e renda. Quando indagado sobre comoo programa procurava fazer isso, a resposta foi:

    A gente pegou a associao do pessoal que produz polpa [...] por exemplo teve osarteses, teve os piscicultores, tem o pessoal da agricultura familiar, teve os moto-taxistas [...] ento, a gente toda vez que tem o recurso, a gente sempre busca fazerum direcionamento e contemplar algumas dessas categorias. (Representante 1)

    O programa busca contemplar algumas categorias de atividades especficas, comoobservado no trecho da entrevista. Essa ao est direcionada a potencializar algumasatividades que podem gerar riqueza no mercado local a partir de solues locais,corroborando com o que prope Prahalad e Hart (2002).

    No ms de junho de 2013, a equipe do Empreender Bananeiras decidiu contemplarum ramo de atividade especifica que estava passando por um processo de consolidao nomunicpio. Os moto-taxistas, com apoio do governo municipal, estavam criando umaassociao com o objetivo de obterem a legalizao dessa atividade no municpio. Ento o

    R$5.000,00

    R$2.666,67

    R$7.500,00

    R$2.493,08

    R$3.147,76

    R$2.462,69

    abr-2013

    jun-2013

    out-2013

    mai-2014

    ago-2014

    O Grfico 4 apresenta a mdia dos valores de emprstimos concedidos por liberao,ou seja, a razo entre valor emprestado e nmero de pessoas contempladas, como observa-se aseguir:

    Grfico 4. Evoluo do valor mdio de emprstimo por pessoa concedido pelo Empreender Bananeiras entreabril de 2013 a agosto 2014

    Fonte: Dados da pesquisa

    Analisar o Grfico 4 traz algumas reflexes e questionamentos importantes. O fatoque chamou mais ateno foi a elevada proporo entre valor o emprestado e o nmero depessoas contempladas no ms de junho de 2013. A explicao para esse fato veio tona naentrevista feita com Representante 1. O mesmo relatou o interesse do programa empotencializar as solues locais de gerao de emprego e renda. Quando indagado sobre comoo programa procurava fazer isso, a resposta foi:

    A gente pegou a associao do pessoal que produz polpa [...] por exemplo teve osarteses, teve os piscicultores, tem o pessoal da agricultura familiar, teve os moto-taxistas [...] ento, a gente toda vez que tem o recurso, a gente sempre busca fazerum direcionamento e contemplar algumas dessas categorias. (Representante 1)

    O programa busca contemplar algumas categorias de atividades especficas, comoobservado no trecho da entrevista. Essa ao est direcionada a potencializar algumasatividades que podem gerar riqueza no mercado local a partir de solues locais,corroborando com o que prope Prahalad e Hart (2002).

    No ms de junho de 2013, a equipe do Empreender Bananeiras decidiu contemplarum ramo de atividade especifica que estava passando por um processo de consolidao nomunicpio. Os moto-taxistas, com apoio do governo municipal, estavam criando umaassociao com o objetivo de obterem a legalizao dessa atividade no municpio. Ento o

    R$10.000,00

    R$7.500,00

    abr-2013

    jun-2013

    out-2013

    mai-2014

    ago-2014

  • programa concedeu crdito para 20 associados como forma de impulsionar e incentivar aatividade no municpio.

    No que tange aos segmentos econmicos que foram contemplados com pequenosfinanciamentos pelo programa local de microcrdito, constata-se uma grande variedade depequenos negcios abertos ou ampliados.

    Quadro 1. Distribuio dos emprstimos individuais por tipo de negcio (abril de 2013 a agosto 2014)Atividade Qtd. Atividade Qtd.

    Venda de artigos de moda ntima e porcatlogo

    35 Agricultor 9

    Bar 24 Mercadinho 8Vesturio 22 Variedades 8Moto txi 20 Oficinas mecnicas 8Artesanato 14 Feirante 8Avicultura 14 Costureira 7Doces e salgados 13 Cabeleireiro 7Lanchonete 9 Outros segmentos 71

    Total 277Fonte: Dados da pesquisa

    Como se observa na Tabela 1, uma gama de atividades produtivas foi atendida peloEmpreender Bananeiras. Os segmentos de comrcio e servios foram os mais contempladoscom microcrdito, com destaque para: vendas de artigos de moda intima e por catlogo (12,64%), bar (8,66%), vesturio (7,94%), moto txi (7,22%), artesanato (5,05%), avicultura(5,05%), doces e salgados (4,69%). A venda de produtos de moda ntima e de produtos porcatlogo aparece como o segmento com mais empreendedores mais contemplados,contrastando com os resultados de pesquisas realizadas em outros contextos como, porexemplo, as conduzidas por: Andrade, Binotto e Siqueira (2011) que destaca o setor deproduo (artesanato, alimentao, bordados, trics, etc.) dentre as atividades com maisrepresentatividade entre os tomadores de crdito; Farias (2012) apresenta o segmento dealimentao e vesturio como os mais representativos; Sela et al. (2006) identificou o setor deconfeces como o que apresentou o maior nmero de pequenos negcios contemplados como microcrdito

  • 4.3 Avaliao dos sujeitos assistidos pelo microcrdito

    Nessa seo, pretende-se apresentar as principais percepes e avaliaesexplicitadas pelos sujeitos assistidos pelo programa de microcrdito por meio das entrevistasrealizadas pelo pesquisador.

    Quanto s motivaes relatadas pelos beneficiados que os levaram a procurar oprograma, a maioria dos entrevistados relata o desejo de melhorar as condies do seuempreendimento, ressaltando as dificuldades existentes para se ter acesso ao crdito nosistema financeiro tradicional, como perceptvel no seguinte relato:

    Eu procurei em outro banco... assim... o juro at menor, mas a burocracia bemmaior, para a mesma quantia [...] acho que ajudou muito, porque antes eu no tinhacomo manter estoque [...] eu consegui alguns clientes, porque geralmente os clienteschegam pra comprar a mercadoria na hora e eu no tinha a mercadoria na hora e jiam procurar em outro local [...] eu pude empregar outro funcionrio, deu praampliar o comrcio [...] (Beneficiado 1)

    O relato feito pelo Beneficiado 1 corrobora as dificuldades encontradas pelospequenos empresrios quando buscam financiamento por meio do sistema financeirotradicional detalhadas por diversos autores (BARONE et al. 2002; COLOTEDI, 2011; LIMA,2009; SANTOS; CARRION, 2009; YUNUS, 2000; ZOUIAN; BARONE, 2007). O termoburocracia utilizado na fala do Beneficiado 1, refere-se as garantias exigidas pelo sistemafinanceiro que na maioria das vezes atua como barreira para se ter acesso ao crdito. Outrosentrevistados, afirmaram que haviam procurado outros bancos para conseguir financiamento,mas tiveram como barreiras as garantias exigidas. O Beneficiado 4 relata, em sua fala, relatacomo se deu o processo de liberao do crdito pelo programa Empreender Bananeiras:

    Foi fcil, no teve tanta burocracia, eu at me surpreendi, porque geralmente algunsprogramas do governo ... muitas das vezes se torna cansativo... voc fica naquelaespera, expectativa e voc acaba desistindo... nesse foi to prtico e fcil que eu atme surpreendi [...].(Beneficiado 4)

    O termo burocracia aparece em mais de uma entrevista, tambm com sentido deentrave, barreira ou dificuldade. O beneficiado comenta o fato de ter ficado surpreso com afacilidade e rapidez do processo de liberao do crdito pelo programa. Destaca-se, ento, afacilidade na concesso do crdito, eliminando a quantidade de garantias exigidas pelosistema financeiro tradicional, corroborando com os achados de Andrade, Binotto e Siqueira(2011).

    O programa de microcrdito do municpio de Bananeiras, de acordo com o discursodos entrevistados, tambm possibilitou a mudana social no contexto da vida das pessoas,como possvel observar nos seguintes relatos:

  • [...] O dinheiro que eu ganhava s com o trabalho (o entrevistado refere-se ao seuemprego formal) era pouco... eu precisava de outra renda para complementar... daveio o crdito e meus planos... ... futuramente viver disso aqui [o entrevistadorefere-se ao empreendimento] sabe... melhorou 100% [...] (Beneficiado 5)[...] Minha moto j era uma 2004 e eu precisava de uma moto nova, e no momentoeu no tinha condies financeiras de comprar, da atravs desse investimento(crdito financiado) eu pude comprar [...] antes a moto quebrava muito [...] alm deeu ter uma melhoria em potncia e sem falar no conforto pra mim e pro meu cliente[...] eles [os clientes] me elogiam muito, mas que moto macia... que moto boa [risosdo entrevistado]! (Beneficiado 3)

    Os relatos dos entrevistados explicitam como o acesso ao crdito possibilitou umamudana em suas vidas. O Beneficiado 5 evidencia como o crdito possibilitou um aumentona renda familiar, proporcionando melhorias na sua condio de vida e fomentou o desejo depotencializar o seu prprio negcio, estimulando assim, como argumenta Lima (2009) oestimulo autonomia do indivduo para tornar seus recursos rentveis, como foi o caso doBeneficiado 3. Estes resultados ratificam o pensamento de Yunus (2000) sobre a prtica domicrocrdito no estar relacionada apenas com o emprstimo de uma quantia financeira e simcom uma mudana social na vida das pessoas.

    Outro aspecto evidenciado nas entrevistas foi em relao a formao oferecida peloprograma s pessoas contempladas com financiamento. Os relatos dos beneficiados apontampara a importncia de se ter uma orientao prvia sobre como utilizarem os recursosfinanceiros auferidos:

    Veio uma equipe para nos orientar e ensinar como trabalhar com aquele dinheiro [...]eles fizeram tipo uma feira [o entrevistado refere-se ao Best Game] para mostrarcomo a gente comprava do atravessador, no caso... fornecedor, cliente, at a partefinal que era o dinheiro que ficava ali para o nosso uso [...] no foi s, toma o crditoe te vira! (Beneficiado 3).Outra coisa que eu gostei muito foi a formao que a gente teve [...] teve umaformao mostrando como a gente administrar... assim, tipo como a gente poderiaadministrar uma empresa [...] anotar direitinho quanto entrou, quanto gastou... euachei muito interessante (Beneficiado 6)

    Os entrevistados expressam como o programa Empreender Bananeiras no limita-sea concesso de crdito, atuando tambm na formao do empreendedor, possibilitando que orecurso financeiro seja corretamente aplicado para que o beneficiado possa conseguir asmelhorias desejadas e pagar o financiamento. Ao enfatizar que no foi s, toma o crdito e tevira!, o Beneficiado 3 descreve a preocupao do programa com a orientao do

    empreendedor. O Beneficiado 6 em seu relato mostra o quanto o momento da capacitao foiimportante para ele e como possibilitou que ele percebesse a sua atividade dentro de umadinmica maior, o mercado.

    De maneira geral, os entrevistados no alegaram dificuldades no pagamento dasparcelas do crdito. Outros, mesmo ainda no perodo de carncia, relataram j ter conseguido

  • parte do dinheiro para quitar o financiamento e pretendem adiantar as parcelas para poder teracesso um valor maior de emprstimo.

    Eu j tenho mais de 50% [o entrevistado refere-se ao valor que j possui para quitaro financiamento], se eu conseguir daqui pra l [fim do perodo de carncia] eu quero liquidar logo, porque se eu conseguir quitar o de dois [valor do emprstimo, quefoi de R$ 2.000,00] eu vou tirar um de quatro [R$ 4.000,00]... e j vou compraroutros produtos [...] (Beneficiado 5)

    Em entrevista com o Representante 1 do programa, ele relata que apesar doprograma no possuir dados sobre o nmero exato do nvel de inadimplncia, segundo eleeste ndice baixo e h pessoas que buscam quitar o financiamento antes do perodo prdeterminado.

    Por fim, quando questionados pelos aspectos em que o programa poderiamelhorar, os sujeitos beneficiados que foram entrevistados sugeriram que o programa poderiaoferecer um acompanhamento posterior ao crdito. Segundo os beneficiados, foi prometidopelos representantes do programa uma visita de acompanhamento para saber como ocorreu aaplicao do financiamento, contudo, todos os entrevistados afirmaram no ter recebido avisita. O Representante 1 do programa justificou que o fato est relacionado grandequantidade de pessoas a serem atendidas pelo programa, tanto quanto a visita de elaboraodo plano de negcios quanto a visita de acompanhamento.

    5 CONSIDERAES FINAIS

    Este estudo teve como objetivo analisar a concepo e a possvel efetividade de umprograma de microcrdito municipal que vem sendo adotado na cidade de Bananeiras desde2013. Para tanto, foram utilizadas entrevistas com os beneficiados e os representantes doprograma Empreender Bananeiras, alm de observaes e anlise de documentos.

    A partir da pesquisa de campo realizada na prefeitura de Bananeiras e com pessoasque tiveram acesso ao microcrdito, percebe-se que a concepo institucional do programa demicrocrdito procura oferecer ao empreendedor um ambiente em que ele pode buscar apoionecessrio, em termos de orientao, formao e financiamento para poder ampliar suaatividade ou criar seu prprio negcio.

    Os empreendedores com poucas fontes de recursos passam a ter acesso a crdito sema necessidade de apresentar inmeras garantias como as exigidas pelo sistema financeirotradicional. As cinco etapas determinadas pelo programa para liberao do crdito, segundoos entrevistados trata-se de um processo gil e sem muitas barreiras.

  • Nessa perspectiva, pode-se destacar o incentivo s vocaes prprias do municpio,por meio de concesso de crdito direcionado a algumas categorias com o intuito de fomentare estimular o desenvolvimento das principais atividades locais. Contudo, observa-se tambmuma certa diversidade no que tange as atividades contempladas pelo programa, o quepossibilita a pluralizao das atividades econmicas que movimentam a economia local.

    O oferecimento de cursos, palestras e orientao ao pblico, independentemente deserem beneficiados pelo programa, uma preocupao interessante por parte da equipeinstitucional do Empreender Bananeiras. Os beneficiados entrevistados ressaltaram aimportncia da formao que tiveram durante o processo de concesso do crdito. Ofereceruma orientao para aplicao do crdito e conduo das atividades de gesto implicam nodesenvolvimento de negcios mais sustentveis e rentveis.

    Os sujeitos beneficiados pelo programa relataram melhorias na conduo dos seusnegcios e consequentemente estimularam um processo de mudana na vida social destesindivduos e no contexto onde os mesmos esto inseridos, que deve ser o principal propsitode uma poltica pblica deste tipo.

    A despeito dos impactos positivos que os sujeitos entrevistados destacaram em suasentrevistas com a obteno do microcrdito, constatou-se que o Empreender Bananeiras temdificuldade de acompanhar a evoluo dos pequenos negcios credenciados pelo programa nafase do ps-crdito. Essa uma dimenso importante do programa local que merece seravaliado, pois o acompanhamento institucional faz parte de sua concepo enquanto programade gerao de emprego e renda. Outro aspecto limitador foi o fato do programa no possuirdados sistematizados que possibilitassem a disponibilizao de informaes relevantes paraeste e futuros estudos.

    Por fim, buscou-se contribuir para a ampliao de conhecimento em torno deexperincias de polticas pblicas locais que vm tentando trazer respostas para o quadro deprecariedade econmica e social de municpios paraibanos.

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