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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 16, 17 e 18 de abril de 2013 POLÍTICAS DE RECONHECIMENTO DE SERVIDORES E SEU EFEITO NOS RESULTADOS DAS ORGANIZAÇÕES: A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE REMUNERAÇÃO VARIÁVEL DA SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO Antoine Azevedo Lousao Luiz Carlos Becker Junior

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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 16, 17 e 18 de abril de 2013

POLÍTICAS DE RECONHECIMENTO DE SERVIDORES E SEU EFEITO NOS RESULTADOS DAS ORGANIZAÇÕES:

A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE REMUNERAÇÃO VARIÁVEL

DA SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

Antoine Azevedo Lousao Luiz Carlos Becker Junior

2

Painel 43/161 Remuneração variável como incentivo ao desempenho

POLÍTICAS DE RECONHECIMENTO DE SERVIDORES

E SEU EFEITO NOS RESULTADOS DAS ORGANIZAÇÕES: A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE

REMUNERAÇÃO VARIÁVEL DA SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

Antoine Azevedo Lousao Luiz Carlos Becker Junior

RESUMO Os programas de remuneração variável se difundem no setor público e têm seu impacto discutido em diversos papers acadêmicos. O recente salto dos resultados da Rede pública de ensino do Estado do Rio de Janeiro leva ao questionamento sobre o efeito do Programa de Bonificação lançado pela Secretaria de Estado de Educação em 2011. Algumas características distinguem o programa de iniciativas de outros estados e de políticas anteriores de valorização do magistério fluminense: metas agressivas, linhas de corte claras, curva forçada de premiação, critérios de elegibilidade alinhados aos processos críticos. A essas características se somam a clareza na comunicação das regras, o rigor e a transparência na apuração de resultados. No entanto, o Programa de Bonificação está atrelado a políticas mais amplas de melhoria das condições docentes, de revisão dos percursos de carreira e de ofertas de aperfeiçoamento profissional. Se a remuneração variável constitui um importante elemento simbólico na implantação de uma nova cultura de resultados e de reconhecimento do mérito, esses elementos apontam para a necessidade de uma análise contextualizada de seu papel na gestão pública contemporânea.

3

1 INTRODUÇÃO: BONIFICAÇÃO POR RESULTADOS NO SETOR PÚBLICO

Os programas de remuneração variável se difundem no setor público e

têm seu impacto discutido em diversos papers acadêmicos. Estudos empíricos

mostram a influência positiva dos programas de remuneração variável nos

resultados das organizações 1 . Essa influência positiva é contudo tomada com

precaução pelos estudiosos do setor público: enquanto alguns gestores descrevem

as experiências de implantação da remuneração variável nas instituições públicas

como impulsionadoras do emprego racional de habilidades por parte dos servidores

e como uma maneira de “seduzir, motivar, manter, comprometer, e, principalmente,

fidelizar os talentos da organização”2, muitos autores lançam um olhar de ceticismo

sobre o alcance desse tipo de medida3. Em paper publicado no V Congresso do

Consad, Luís Otávio Milagre de Assis e Mário Teixeira Reis Neto evidenciam o

contraste entre o otimismo dos gestores em sua atividade de propagação dos

programas de remuneração variável no setor público, de um lado, e o pessimismo

de estudiosos que apontam o fracasso dessas iniciativas na maioria dos casos, de

outro lado, fracasso que se dá por uma modelagem inadequada do programa ou

pela resistência exercida por traços estruturais do setor público. A partir desse

contraste, os autores identificam características dos programas de incentivo que

podem favorecer sua contribuição para os resultados das organizações: a

construção de uma agenda estratégica para toda a organização, o estabelecimento

de resultados quantitativos como base da premiação, a estruturação do modelo em

torno de equipes e não em torno de indivíduos, o uso de uma unidade de inteligência

contra o gaming, a realização de um processo formal e periódico de contratualização

de metas e a criação de sistemas de incentivo diferenciados em função do tipo de

tarefa. Entre as peculiaridades do setor público que requerem cuidado do gestor na

hora de implantar um programa de bonificação por resultados, os autores destacam

a motivação intrínseca fortemente presente nos servidores públicos (sentido de

cumprimento do dever, prazer, lealdade, etc.), que os programas de remuneração

devem reforçar e com os quais devem evitar entrar em conflito.

1 KRAUTER, 2006.

2 GONDIM, 2009.

3 ASSIS e NETO, 2012.

4

Em face do debate acadêmico, o presente trabalho busca contribuir para

a elucidação do papel da remuneração variável na evolução dos resultados das

organizações públicas a partir da experiência recente da Secretaria de Estado de

Educação do Rio de Janeiro (Seeduc). Para tanto, busca-se analisar as

características intrínsecas do Programa de bonificação implantado pela Secretaria

(regras, modo de implantação e acompanhamento), bem como a sua inserção no

planejamento estratégico e na política de gestão de pessoas formulada para a

Educação Pública Fluminense, visando a distinguir os diferentes elementos de

contribuição dessa política para a melhoria dos resultados educacionais alcançados

pela Rede Pública de Ensino do Estado do Rio de Janeiro4.

2 A IMPLANTAÇÃO DA BONIFICAÇÃO POR RESULTADOS NA REDE PÚBLICA DE EDUCAÇÃO FLUMINENSE

O recente salto dos resultados da Rede Pública de Ensino do Estado do

Rio de Janeiro leva ao questionamento sobre o efeito do Programa de Bonificação

lançado pela Secretaria de Estado de Educação em 2011.

Nos resultados divulgados pelo Ministério da Educação em 2010, o Rio de

Janeiro encontrava-se na 26º posição do ranking IDEB entre todos os Estados da

Federação5. Diante desse fato, a melhoria da Educação Pública na Rede Estadual

ocupou amplo lugar nos temas abordados na campanha do então candidato à

reeleição Sérgio Cabral Filho. A meta de estar entre os cinco Estados com melhor

resultado no IDEB em 2013, divulgada no discurso de posse de 1º de Janeiro de

2011, foi estabelecida após um diagnóstico elaborado em 60 dias pela Secretaria

de Estado de Educação, conduzido pelo então recém-nomeado Secretario de

Estado Wilson Risolia Rodrigues. O que apareceu para o público como uma

promessa de campanha foi na realidade fruto de um profundo estudo realizado

com base em oportunidades de melhoria e um programa detalhado de

4 Entre 2009 e 2011, a Rede Pública de Educação do Estado do Rio de Janeiro foi a que mais

cresceu em posições no ranking IDEB e a que teve o maior crescimento em proficiência dos alunos na Prova Brasil, juntamente com o Estado de Goiás. Fonte: INEP, 2012. 5 Posição do Estado do Rio de Janeiro no ranking IDEB na modalidade Ensino Médio.

5

desdobramento de metas de proficiência e aproveitamento de alunos 6 por

modalidade de ensino, em cada escola, e consolidado nos níveis de unidades

administrativas regionais e da Secretaria, levando ainda em consideração a

tendência de crescimento de todos os Estados para os próximos anos. Para cada

escola foi estabelecida uma meta de acordo seu potencial de crescimento, um

plano de ação, um programa de avaliações bimestrais para acompanhamento e um

programa de remuneração variável para recompensar os servidores de unidades

que alcançassem ou superassem suas metas.

Juntamente com os instrumentais para a melhoria do ensino e da gestão

escolar (currículo mínimo, processos administrativos – melhoria de sistemas

tecnológicos, melhoria da qualidade da despesa – avaliações externas periódicas,

governança, programas de valorização do magistério, processos seletivos), a

meritocracia constitui um pilar fundamental da reforma da gestão voltada para

resultados. O programa de remuneração variável está no cerne da promoção

desse conceito.

2.1 Características do Programa de Remuneração Variável da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro

A meta audaciosa imposta pelo novo corpo de gestão da Seeduc resultou

em um programa de remuneração variável com características peculiares. O

Programa foi pensado como uma forma de implantar uma nova cultura

organizacional de responsabilidade na gestão das unidades e de reconhecimento do

mérito em todos os níveis.

O estabelecimento do programa se deu a partir da publicação de um

Decreto de valorização do docente7, que além da bonificação dispõe sobre condições

para o acesso às funções estratégicas (direção de unidade escolar, coordenação

pedagógica, etc.) que até então eram preenchidas por indicação política8.

6 A proficiência é medida através do indicador de desempenho, obtido pelo resultado da Prova Brasil

e das avaliações externas realizadas pelo Estado do Rio de Janeiro (SAERJ). O aproveitamento é medido pelo indicador de fluxo, obtido através da taxa de aprovação publicada pelo MEC e da taxa de abandono escolar. 7 Decreto 42.793, de 06 de Janeiro de 2011.

8 Sobre esse tema trata o paper nº124 do presente Congresso.

6

Algumas características do Programa de Bonificação o distinguem de

iniciativas de outros estados e de políticas anteriores de valorização do magistério

fluminense: metas agressivas, linhas de corte claras, curva forçada de premiação,

critérios de elegibilidade alinhados aos processos críticos. As regras de elegibilidade

e de premiação do Programa refletem assim uma linha específica de planejamento e

gestão estabelecida pela Secretaria.

Para ser elegível, a escola deve lançar as notas do alunado no sistema

gerencial da Secretaria, o que permite um acompanhamento fiel do rendimento e do

fluxo dos alunos, e consequentemente um melhor planejamento das ações

pedagógicas. Cada unidade de ensino deve cumprir o currículo mínimo

regulamentado para as disciplinas, o que permitiu reduzir em 20% a desigualdade

de proficiência das escolas da Rede 9 ; deve participar de todas as avaliações

externas, avaliações bimestrais que permitem um monitoramento regular dos

resultados e que dão lugar a reuniões de acompanhamento em três níveis (escola,

Regional e nível central), planos de correção de desvios e divulgação das boas

práticas. Enfim, o professor tem que cumprir um percentual mínimo de presença na

unidade escolar (70% de freqüência presencial10), o que favorece a redução do

número de licenças e contribui para a resolução do problema de provimento de

professores (carência de docentes reduzida em 90% mas ainda crônica em algumas

regiões e disciplinas pela indisponibilidade de oferta de profissionais no mercado11).

Esses critérios de elegibilidade contribuem para o conhecimento do planejamento

integrado da Secretaria e à sua adoção pela Rede.

Essas condições devem ser cumpridas por toda a unidade escolar e não

somente pelos professores isoladamente, o que favorece o sentimento de

pertencimento dos profissionais à escola e a participação dos mesmos no

planejamento pedagógico, como membros integrantes da equipe escolar (a ausência

de sentimento de pertencimento do professor à escola é diagnosticado sobretudo

naqueles que trabalham sob um regime de carga horária de 16 horas semanais, e

que constituem aproximadamente 70% dos profissionais da Rede de ensino

9 Fonte: Relatório Seeduc em Números (http://www.rj.gov.br/web/seeduc/).

10 A frequência contabilizada exclui os períodos de afastamento, por qualquer motivo.

11 A indisponibilidade de profissionais no mercado também deve ser tratada como problema de

política pública, e combatida através de ações para a atratividade da carreira. Fonte: sistema Conexão Educação Gestão.

7

fluminense12). Assim, a observância dos critérios de elegibilidade e o alcance das

metas permitem que todos os servidores recebam o bônus (professores regentes,

equipe técnico pedagógica, pessoal de apoio), ao mesmo tempo em que o

descumprimento das regras por um servidor prejudica os demais.

Os critérios de recebimento pelos servidores das Diretorias Regionais são

determinados em percentual do cumprimento dos critérios pelas escolas sob sua

área de abrangência (90% das escolas devem cumprir os diferentes critérios de

elegibilidade). Quanto aos servidores da sede, estes ficam excluídos do programa

de bonificação, bem como os servidores extraquadro. Assim, o Programa aponta

uma clara tendência de focalização nos servidores de carreira e que atuam

diretamente junto aos alunos, criando dessa forma um mecanismo de incentivo que,

dentro de um conjunto de medidas, busca a permanência dos professores nas

escolas (ou a reversão da tendência de um grande número de professores quererem

deixar a sala de aula em prol de funções extraclasse ou de um percurso de gestão,

na maioria dos casos por melhores condições remuneratórias e não por vocação

profissional). A exclusão da sede também denota o cuidado de evitar qualquer

conflito de interesse entre a idealização, a implantação e o monitoramento do

Programa, de um lado, e o recebimento do benefício, de outro. Esse cuidado não

seria necessário em uma organização do setor privado, onde a bonificação estaria

atrelada a um resultado financeiro e poderia ser distribuído em todas as escalas

hierárquicas sem que se incorra em um conflito de interesse ou em risco de falta de

transparência.

Nesse aspecto, vale notar que em alguns Estados, como Minas Gerais, a

valorização da dimensão coletiva do trabalho vai além da esfera da unidade escolar,

atrelando um percentual significativo da bonificação ao resultado geral da Rede de

Ensino. Certamente não há uma receita ideal sobre o quanto a bonificação por

resultados deve estar atrelada a uma dimensão de responsabilidade individual ou

coletiva do desempenho, uma vez que o Programa deve refletir o modelo de gestão

e de cultura organizacional que se busca implantar na Rede, mas também práticas a

serem reforçadas pelas necessidades de conjuntura, fazendo com que o equilíbrio

entre as duas dimensões seja encontrado no caso a caso, e objeto de revisão

periódica de acordo com a evolução da organização.

12

Fonte: sistema SIGRH (Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro).

8

Enfim, entre os critérios de elegibilidade encontra-se um gatilho. A escola

deve alcançar no mínimo 90% de sua meta de proficiência em todas as modalidades

do Ensino Regular e 80% nas modalidades de EJA (em 2012 o gatilho passou a ser

de 70% para as metas de EJA e de 85% para as metas do Ensino Regular, o que foi

permitido pelos bons resultados obtidos ao longo desse ano e a consequente

aproximação da meta de IDEB fixada para 2013) 13 . Essa regra tem inúmeras

implicações em relação ao espírito do Programa. Primeiramente, ela visa a evitar

que a escola concentre seus esforços em somente algumas modalidades de ensino,

isto é, naquelas que já teriam melhor desempenho e portanto mais chances de

alcançar a meta. Além disso, ela traduz o tom audacioso do programa, que o

distingue de programas onde o servidor recebe um bônus proporcional ao resultado

alcançado, independentemente dessa proporção. Isso traduz o objetivo audacioso

imposto pela Secretaria, que não poderia se contentar de uma melhora tímida em

seus resultados. Enfim, a característica pressupõe a escolha clara, do ponto de vista

político, de que nem todos os servidores da Rede recebem o bônus (30% no

primeiro ano, expectativa de 50% no segundo ano do Programa), mas que aqueles

que o recebem refletem um esforço excepcional e, conseqüentemente, recebem

valores substanciais. Com efeito, o servidor pode receber até três vencimentos nos

casos em que a meta for superada. Esse coeficiente é reservado ao Diretor de

unidade escolar e aos professores regentes (aqueles que atuam dentro de sala de

aula), apontando a intenção de incentivar a permanência e a valorização dos

docentes que atuam nas turmas. Esse dispositivo reforça ainda uma lógica de

diferenciação com base no mérito e no desempenho14, se sobrepondo aos reajustes

salariais concedidos de forma linear às carreiras docentes e de apoio (o Programa

não interfere nos planos de carreira estabelecidos em lei).

Assim, o coeficiente final de premiação para cada servidor depende, além

do cumprimento integral dos critérios de elegibilidade, da função exercida na

unidade escolar, do grau de alcance das metas para indicadores de fluxo e

proficiência em cada modalidade, do percentual de carga horária trabalhado em

cada unidade (nos casos em que o servidor atua em mais de uma unidade, a

premiação é proporcional ao tempo dedicado a cada uma delas, de acordo com

13

Essa regra tem como exceção as escolas que possuem cinco modalidades de ensino, e que podem receber o bônus sem ter alcançar uma das metas do Ensino de Jovens e Adultos. 14

O princípio de diferenciação é exposto em WELCH, 2005.

9

seus respectivos resultados) e do grau de alcance das metas por essas unidades.

Embora favoreça a diferenciação com base no mérito, o Programa está instituído

sobre critérios objetivos e exclui os fatores subjetivos (ou discricionários) presentes

com frequência na bonificação das organizações privadas.

2.2 Lançamento, implantação, acompanhamento e resultados do Programa

Publicado o Decreto de 07 de Janeiro de 2011, que institui a Bonificação

por Resultados na Seeduc, impôs-se o desafio de implantar um programa em uma

organização com baixa maturidade na gestão, com um histórico de iniciativas mal

sucedidas acerca do tema15, e com grande quantidade de ruídos nos fluxos de

comunicação com a Rede de ensino. Como levar ao conjunto de servidores a

clareza sobre as regras e a implantação do Programa nessas condições? Alguns

ruídos de comunicação nas primeiras semanas após o lançamento do Programa

traduzem as dificuldades enfrentadas 16 . Porém, o baixo número de recursos

interpostos após o pagamento, um ano e meio depois, mostrou o caminho percorrido

nesse período para melhorar a transparência e a comunicação com a Rede.

No início do ano letivo, foi distribuída às escolas uma cartilha com o

detalhamento das regras do Programa de Bonificação. Porém, para chegar ao

professor, as informações contidas na cartilha tinham que transpor as barreiras

impostas por coordenadores regionais e diretores que, entrincheirados em suas

posições obtidas a través de indicação política, muitas vezes se sentiam ameaçados

pela equipe de gestão recém empossada na Seeduc, de forma que muitas vezes as

cartilhas não foram além dos almoxarifados das Regionais.

Os encontros corpo a corpo com os servidores, a mudança dos gestores

das Regionais e das escolas (não mais designados, a partir de então, por indicação

política mas por processo seletivo interno), a multiplicação dos canais de

comunicação (como central de relacionamento web para tirar as dúvidas) e o

gradual ganho de credibilidade da nova gestão permitiu pouco a pouco o

rompimento dessas barreiras, sem dirimir completamente os ruídos. 15

O Programa Nova Escola, anteriormente lançado no Estado do Rio de Janeiro, acabou dando lugar à incorporação da parcela remuneratória aos salários dos servidores, o que contradiz a lógica de um Programa de Remuneração Variável. 16

Entre as dificuldades enfrentadas estava o pressuposto que o discurso sobre metas advinha de uma implantação no serviço público, sem qualquer discernimento, de uma cultura oriunda das organizações privadas.

10

Paralelamente ao trabalho de comunicação, a equipe de gestores

dedicada ao projeto estabeleceu um plano de ação para a realização do cálculo, que

compreendia a extração de dados de diversos sistemas (sistema de pessoal do

Estado, sistema gerencial da Secretaria, relatórios externos como índices de

participação nas avaliações externas, indicador de proficiência e indicador de fluxo

escolar calculado sobre a taxa de aprovação do MEC) e sua inserção em um

sistema desenvolvido especialmente para o projeto, responsável pelo controle de

elegibilidade da escola e dos servidores e pelo cálculo do coeficiente de premiação.

Nesse aspecto, o desafio não era só a coordenação da extração pelos respectivos

órgãos e equipes responsáveis por dados de natureza diversa – dados sobre

pessoal, resultados escolares, etc. – mas o controle de fidedignidade dos dados e

consequentemente o correto pagamento do bônus. Em uma organização com um

modelo de gestão ainda incipiente, onde os dados inseridos pela Rede no sistema

possuíam baixo grau de confiabilidade, o projeto encontrava-se diante de um grande

risco de colocar o novo programa em descrédito, por exemplo ao bonificar

equivocadamente determinados servidores por causa de uma alocação indevida dos

mesmos no quadro de horários do sistema por um diretor de escola. Vale ressaltar

que a ausência de qualquer política de responsabilização dos gestores na

organização incentivava um baixo grau de cuidado com os dados inseridos no

sistema por parte dos diretores de escola. Assim, o novo projeto corria um sério risco

de insucesso por conta de problema enraizados na cultura de gestão da

organização. Em outras palavras, o germe novo corria um sério risco de não

sobreviver por conta da força inercial da cultura predominante. Vale ressaltar que,

nesse aspecto, a instituição de um programa de bonificação constituiu por si só um

instrumento de incentivo e pressão para que os gestores das unidades da Rede

aumentassem seu cuidado em relação aos dados inseridos, na medida em que os

próprios servidores começavam a cobrar uma inserção fidedigna de sua vida

funcional no sistema para não serem prejudicados na hora de receber o bônus. No

entanto, esse simples elemento não garante por si só a melhoria da qualidade da

base de dados e a mudança de uma cultura enraizada, mas necessita um

movimento firme, de sentido top down, de estabelecimento de uma política de

11

consequência para os gestores da Rede, envolvendo um controle rigoroso e mesmo

a dispensa de um bom número de gestores relutantes ao alinhamento com as

diretrizes da organização17.

A melhoria da qualidade da base de dados, as análises intermediárias

feitas pela equipe do projeto, envolvendo a identificação de divergências e

incongruências ao longo do processo e as decisões de tratamento das mesmas,

enfim um cuidadoso processo de homologação final da base e do cálculo,

permitiram o pagamento da bonificação com um percentual mínimo de erros e de

interposição de recursos (erros devidos à base, e não ao cálculo, que deram origem

a cerca de duzentos processos de recurso, em um universo de mais de noventa mil

matrículas ativas). O sistema de cálculo desenvolvido para o projeto apresentou em

um relatório gerencial o controle de elegibilidade e a memória de cálculo e

premiação para cada escola e servidor, visando a dar transparência integral sobre o

valor recebido por cada um.

No primeiro ciclo do Programa de Remuneração Variável, baseado nos

dados de 2011 e pago em Agosto de 2012, foram beneficiados 337 escolas e 14.865

servidores, detentores de 16.502 matrículas 18 . Mais de 60% dos servidores

premiados receberam mais de 1,5 vencimentos. Nenhum servidor lotado em

Diretorias Regionais fez jus ao bônus. Os números podem ser considerados

positivos para o primeiro ciclo, tendo em vista a agressividade das metas estipuladas

e os critérios de elegibilidade como o gatilho de premiação (algumas escolas não

receberam porque não alcançaram a meta em apenas uma modalidade de ensino).

2.3 Pontos de atenção para o amadurecimento do projeto e revisão anual dos ciclos de remuneração

Sabe-se pela experiência como pela literatura19 que qualquer programa

de gestão com a intenção de implantar uma mudança durável em uma grande

organização, mesmo após um primeiro ciclo bem sucedido, deve passar por vários

ciclos de amadurecimento, ao longo dos quais o programa tem seu sucesso

17

Em 2011 e 2012, a Seeduc procedeu a mais de 2000 designações para funções através de processo seletivo interno. Fonte: relatório Seeduc em Números (http://www.rj.gov.br/web/seeduc/). 18

Fonte: relatório Seeduc em Números (http://www.rj.gov.br/web/seeduc/). 19

KOTTER, 1997 e FALCONI, 2009.

12

consolidado ou é progressivamente levado ao fracasso e ao engavetamento. Ao

longo desses ciclos a equipe gestora recebe feedbacks da organização e é levada a

implantar melhorias contínuas e correções parciais de rumo do projeto.

Para vencer o desafio de consolidação do projeto ao longo de vários

ciclos e para poder implantar mudanças incrementais com segurança, o primeiro

ponto de atenção consiste certamente na apropriação do conhecimento pelo quadro

da organização, com ganho de autonomia em relação ao apoio da consultoria

contratada para apoiar o projeto no primeiro momento. No caso de um programa de

remuneração variável, a complexidade do tema e dos instrumentos exige o

envolvimento de diversos setores: área de negócio (RH), TI, área de avaliação de

metas e indicadores, etc. Para vencer essa complexidade, o primeiro passo é o

domínio completo do projeto pela área de negócio, encarregada de liderar as partes

envolvidas para o sucesso do Programa, de divulgar as regras em toda a

organização, de orientar as demais áreas nos processos necessários para a

consecução do pagamento, de testar e homologar o cálculo, de tratar os recursos

recebidos após o pagamento (ainda que tenha que consultar demais áreas para

isso, como a área responsável pela avaliação de metas e indicadores),

responsabilizando-se pela entrega ao final de cada ciclo. O domínio do projeto pela

área de negócio se faz ainda mais necessário quando algumas etapas do ciclo

dependem de outros órgãos do Governo, como o Centro de Tecnologia da

Informação e Comunicação do Estado do Rio de Janeiro - Proderj (órgão que cuida

dos bancos de dados e da programação de sistemas) e da Secretaria de

Planejamento e Gestão (que detém em sua base de dados uma parte substancial

das informações funcionais necessárias ao Programa).

Vencido o desafio de internalização do conhecimento, o segundo ponto

de atenção é o recebimento de feedbacks da organização após cada ciclo,

permitindo a implantação de melhorias incrementais no Programa, garantindo sua

permanência e evitando a complacência por parte dos servidores. Os principais

feedbacks provêm certamente do público-alvo do Programa, cuja a maioria dos

componentes encontra-se na linha de frente da organização, muitas vezes longe da

rotina do órgão central. Dai a importância de se estar atento aos sinais da ponta, que

podem chegar diretamente ou, com mais frequência, através de unidades de gestão

intermediárias. O recebimento de feedbacks e os consequentes ajustes no

13

Programa contribuem para maior clareza dos sinais enviados à Rede de unidades,

bem como para o incremento da segurança contra tentativas de manipulações dos

resultados ou atitudes contrárias àquelas que se deseja disseminar na cultura

organizacional.

Em Liderando a Mudança20, John Kotter enumera entre os erros mais

frequentes cometidos em um processo de mudança organizacional o envio de sinais

contrários às diretrizes que se busca disseminar entre os colaboradores da

organização, seja pela comunicação direta, seja pelo exemplo ou pelo incentivo. O

amadurecimento de um programa de remuneração variável permite afinamentos que

objetivam evitar esses sinais contrários e reforçar a transparência e a isonomia do

projeto em seus princípios. Um exemplo evidente de ajuste21 está no regulamento da

régua de corte para a premiação, que pode ser enrijecida ou flexibilizada de acordo

com a análise dos resultados obtidos no primeiro ciclo bem como das principais

causas que explicam esse resultado. Assim, no caso da Seeduc, os resultados

obtidos no ano de 2011, que confortaram a posição da organização no seu caminho

traçado para alcance de sua meta global (estar entre os cinco Estados do Brasil com

melhor resultado no IDEB de 2013), levaram a um ajuste da régua de corte de

premiação de 95% para 85% nas modalidades de Ensino Regular, e de 80% para

70% no Ensino de Jovens e Adultos, o que possibilitaria a inclusão de um maior

número de escolas no grupo premiado no segundo ciclo e constituiria um importante

incentivo para os servidores, considerando uma tendência de crescimento constante

dos indicadores. Outro ajuste para o segundo ciclo do Programa, em prol da

isonomia no tratamento entre servidores, foi a exclusão da premiação dos servidores

que boicotaram a aplicação das avaliações externas ou não lançaram notas do

alunado, mesmo nos casos onde a equipe escolar se mobilizou e conseguiu garantir

a aplicação da prova ou o lançamento das notas. Anteriormente, como esses

critérios de elegibilidade eram exigidos apenas da escola em seu conjunto, e não de

cada servidores individualmente, os servidores que faltassem com suas obrigações

e que com isso sobrecarregassem seus colegas com o cumprimento das mesmas

não eram prejudicados. Na nova regra, os critérios de elegibilidade continuam sendo

cobrados do conjunto da escola, mas também de cada professor, individualmente.

20

KOTTER, 1997. 21

O conjunto de ajustes do Programa para o segundo ciclo foi publicado no Decreto 44.112 de 13 de Março de 2012.

14

Vale notar que, embora essa modificação apresente uma restrição suplementar, ela

advém de uma cobrança dos professores que no primeiro ciclo testemunharam o

recebimento do prêmio por alguns colegas que não haviam cumprido com suas

obrigações, sobrecarregando os demais, que asseguraram a entrega para que o

grupo não fosse prejudicado.

Enfim, a clareza dos sinais enviados pelos mentores da gestão ao

conjunto de servidores também passa, como ponto de atenção, pelo esclarecimento

sobre o correto significado dos resultados almejados, ou daquilo que se pretende

com tais resultados, evitando atitudes equivocadas dos servidores em sua tentativa

de alcança-los. Por exemplo, no caso da Educação Pública, os gestores escolares e

professores devem obter ganhos de proficiência nas avaliações através da melhora

do nível de conhecimento dos alunos, e não pela seleção dos alunos que fazem a

prova. Esse risco deve ser contornado, não só pelo esforço de comunicação do

projeto, mas por um conjunto de regras e de mecanismos de controle que evitem os

desvios. O estabelecimento de um percentual mínimo de alunos que devem fazer as

avaliações externas, para que estas sejam consideradas válidas, constitui nesse

caso o mecanismo de segurança (no Programa de Bonificação da Seeduc, o

percentual estabelecido é de 80% em cada escola, ou 75% em cada turma). Da

mesma forma, a equipe escolar deve buscar a melhora do rendimento como reflexo

da redução da taxa de abandono escolar, da melhora do aprendizado e da redução

da defasagem idade/série dos alunos (nos registros da Rede de Ensino constam, ao

longo dos anos, turmas com mais de 70% de alunos reprovados, bem como a

existência de alunos com cinquenta anos de diferença de idade em uma mesma

turma22). Esses elementos requerem por sua vez a adoção de metodologias de

ensino adaptadas, as ações de reforço escolar em turmas específicas e pelo

encaminhamento dos alunos com maior defasagem para programas de ensino

adaptados (como o Ensino de Jovens e Adultos), e não pela aprovação de um aluno

que não demonstra a aquisição dos conhecimentos mínimos para a progressão de

série. O controle sobre esse entendimento passa por diversos mecanismos, como a

adoção de um indicador externo para maior confiabilidade dos dados (a taxa de

aprovação publicada pelo censo do MEC), o cruzamento dos resultados das

avaliações externas com as avaliações internas e destas, por sua vez, com as taxas

22

Fonte: sistema Conexão Educação Gestão (Seeduc).

15

de aprovação, mas também pelas mais diversas rotinas de gestão da Seeduc, desde

o processo de inscrição de alunos nas turmas até o processo de lançamento de

notas. Nesse aspecto, cabe notar que o sistema gerencial da Secretaria é um dos

únicos entre as grandes redes de educação pública do país a relacionar as notas

lançadas com a aprovação dos alunos.

Se o espírito expresso nas regras do Programa de Bonificação por

Resultados distingue o mesmo da maioria dos programas de bonificação do setor

público e mesmo do setor privado, a contribuição do Programa para os resultados da

Seeduc não reside somente em suas características intrínsecas, mas também na

coerência apresentada vis-à-vis o planejamento estratégico da Secretaria e os

demais processos de gestão e desenvolvimento de pessoas.

3 O PAPEL DA BONIFICAÇÃO POR RESULTADOS NOS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS E NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA ORGANIZAÇÃO

3.1 A bonificação por resultados nos processos de desenvolvimento de pessoas

O reconhecimento do esforço individual e coletivo, a distinção de

servidores pelo mérito, a celebração do alcance de metas são elementos

constituintes de um modelo vencedor de gestão por resultados nas organizações23.

A bonificação expressa esses três elementos, na medida em que busca reconhecer

o mérito profissional e que sela a vitória de uma equipe. Constitui, assim, um

elemento de incentivo ao alcance de resultados pelo seu aspecto financeiro, pelo

seu significado simbólico de reconhecimento e pela sinalização de um importante

processo de mudança do modelo de gestão e da cultura organizacional. No entanto,

esses aspectos não fazem da bonificação por resultados uma ferramenta suficiente,

por si só, para o alcance de metas ousadas. Por isso o Programa de Bonificação

deve estar inserido em uma política mais ampla de gestão de pessoas, que envolve

a melhoria das condições docentes, a revisão dos percursos e perspectivas de

carreira, a ofertas de instrumentos de trabalho adequados e de oportunidades de

aperfeiçoamento profissional.

23

WELCH, 2005, e FALCONI, 2009.

16

No caso da Educação Pública fluminense, o Programa de Remuneração

Variável está atrelado a um novo pilar estratégico definido para o desenvolvimento da

Rede de Ensino a partir do final do ano de 2010: as melhorias das condições docentes

e a valorização do magistério. As melhorias das condições docentes passam, em

primeiro lugar, pelo provimento de professores e de equipe escolar adequada como

solução à carência de profissionais, por ações de melhoria do clima organizacional

nas escolas (ações de mediação de conflitos, de prevenção à saúde física e mental

dos profissionais e de segurança no trabalho). Passam, também, pela disponibilização

de um instrumental metodológico para que o profissional possa alcançar as metas

propostas: metodologia específica de gestão escolar, matriz de referência para as

diferentes modalidades de ensino – o currículo mínimo –, oferta de formação para as

diferentes disciplinas e modalidades, bem como na área de gestão escolar. A criação,

no final de 2010, de uma Subsecretaria de Gestão de Pessoas para prover e

desenvolver os profissionais da organização (que já conta com mais de 91000

servidores ativos 24 ), bem como de uma Escola corporativa de aperfeiçoamento

profissional – conhecida como Escola Seeduc, inaugurada em Fevereiro de 2012 –

evidenciam essa política do ponto de vista da estrutura organizacional.

A valorização do magistério passa por sua vez pela criação de

oportunidades e de percursos de carreira. Nesse ponto, as principais ações

empreendidas pelo Governo fluminense foram a instituição dos processos seletivos

internos para provimento das funções estratégicas, onde antes imperava a prática

de indicação, bem como o projeto de certificação docente (anunciado na mídia no

segundo semestre 2012 para implantação em 2013), com diferenciados níveis de

atestado de proficiência e de remuneração a eles atreladas. Ambas as medidas

oferecem perspectivas de evolução profissional a médio e longo prazo, de forma

equânime, a todos os membros da carreira do magistério do Estado, em carreiras

pedagógicas ou na área de gestão.

A bonificação por resultados aparece portanto na política de

desenvolvimento de pessoas como um sinal forte de uma política de valorização do

mérito, mas perderia seu sentido e seu poder de contribuição para a mudança de

cultura organizacional se não estivesse atrelada a um instrumental adequado que

24

Fonte: sistema SIGRH (Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro).

17

permita o alcance das metas propostas, bem como a perspectivas de evolução

profissional em longo prazo. Enfim, para além da política de gestão de pessoas do

órgão, a remuneração variável deve expressar plenamente a visão e a estratégia

da organização.

3.2 A bonificação por resultados no planejamento estratégico da organização

Para além dos processos de desenvolvimento de pessoas, o Programa de

Bonificação por Resultados deve estar alinhado aos principais elementos da

estratégia da organização. Ele deve, por assim dizer, expressar essa estratégia e

torná-la tangível para os colaboradores. Ele deve reunir e refletir as diversas

diretrizes sem contudo esgotar as formas de expressão das mesmas.

De acordo com John Kotter25, um dos erros mais comuns nos processos

de mudança das organizações é a subestimação da importância da Visão pelo grupo

gestor. Ora a comunicação da Visão passa também por programas de bonificação

cujo desenho mostra claramente a direção a ser tomada pela instituição.

Segundo Vicente Falconi, uma solução de negócio deve ter duas

características primordiais: deve ser a melhor alternativa para a resolução de um

problema (entende-se aqui problema como uma lacuna de resultado, ou

oportunidade de ganho) e sua função deve ser coerente com o planejamento

estratégico da organização. Em suma, o autor de O Verdadeiro Poder cita as duas

perguntas que devem ser feitas diante de uma nova proposta: a proposta é a melhor

que eu posso adotar entre as opções disponíveis no mercado? Onde exatamente a

proposta se insere dentro do escopo de meu planejamento de negócio?26 No caso

de um Programa de Remuneração Variável, a importância da atenção a esse

segundo ponto é reforçada pelo fato do Programa dever refletir com fidedignidade os

princípios, o espírito e os resultados que a organização deseja adotar. O Programa

de Bonificação por Resultados desenvolvido pela Seeduc se insere em um programa

de gestão pelas diretrizes, que compreende o desdobramento de metas, uma

metodologia de gestão específica, a revisão dos macroprocessos e um sistema de

monitoramento. Cabe notar que muitas manifestações recebidas de profissionais da

25

KOTTER, 1997. 26

FALCONI, 2009.

18

Rede através da Central de Relacionamento não tratam do Programa de Bonificação

diretamente, mas fazem perguntas sobre o bônus ao mesmo tempo que discutem

algum aspecto do desdobramento de metas ou da metodologia de gestão escolar.

Assim, o Programa de Bonificação está inserido em um planejamento

estratégico e alinhado aos principais dispositivos de gestão. De acordo com Neilson

e Pasternack27, a sustentabilidade dos resultados de uma organização decorre do

alinhamento entre os elementos que constituem seu DNA: incentivos, direitos

decisórios, fluxo de comunicação e estrutura. O alinhamento desses quatro

elementos formam a organização saudável, capaz de alavancar e de sustentar seus

resultados a longo prazo, mantendo também seus colaboradores satisfeitos. Um

programa de bonificação pode portanto criar oportunidades para a descentralização

das decisões para a esfera das escolas e das Regionais 28 , para a criação de

oportunidades de discussão sobre regras, processos e dificuldades, para uma

estrutura que facilite os fluxos de decisão e acompanhamento, e que seja voltada

para as pessoas da organização. O Programa não esgota o sistema de gestão, mas

contribui para sua coerência e sua fluidez, se aliado a práticas flexíveis e ágeis de

resolução de problemas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenho de um programa de remuneração variável exprime, em suas

principais características, a ambição de uma organização em relação ao alcance

de resultados. No setor público, um programa de bonificação por resultados deve

eliminar qualquer critério subjetivo que represente uma quebra de isonomia entre

servidores. Porém, o programa pode ter linhas de corte ousadas e curvas de

premiação acentuadas, de forma a diferenciar claramente os níveis de

desempenho e conseqüentemente os níveis de bônus. O caráter mais ou menos

acentuado do programa dependerá do tamanho do percurso a ser feito pela

organização, do grau de mudança exigido, da menor ou maior intenção de

valorização de práticas diferenciadas.

27

NEILSON e PASTERNACK, 2007. 28

A Rede Pública estadual de ensino do Rio de Janeiro é dividida administrativamente em 14 Diretorias Regionais, acrescidas da Diretoria de Escolas Prisionais e Socioeducativas.

19

Mas se a remuneração variável constitui um importante elemento

simbólico na implantação de uma nova cultura de resultados e de reconhecimento

do mérito, alguns elementos apontam para a necessidade de uma análise

contextualizada de seu papel na gestão pública contemporânea. A remuneração

variável é um instrumento de reconhecimento baseado na meritocracia e de

celebração coletiva do alcance de resultados excepcionais. Porém, sua contribuição

efetiva para os resultados está em seu poder de veicular a Visão da organização, de

se inserir em uma política abrangente de gestão e desenvolvimento de pessoas, de

ser usado como instrumento de facilitação da troca de informações para a resolução

de problemas e para o acompanhamento de resultados.

Enfim, o sucesso maior de um programa de remuneração variável está na

sua sustentabilidade a longo prazo, pois somente após vários ciclos o programa

pode contribuir de maneira efetiva para uma mudança durável da cultura

organizacional, da maneira que os profissionais da organização têm de se

comportar, se comprometer e solucionar os problemas. Ao longo desses ciclos, a

sustentabilidade do programa dependerá em última instância de sua credibilidade

junto aos colaboradores da organização e ao público externo, credibilidade que, por

sua vez, é fruto de um cuidado de todo instante.

REFERÊNCIAS

ASSIS, Luís Otávio Milagres, e NETO, Mário Teixeira Reis, Remuneração Variável

Por Desempenho no Setor Público: Investigação das Causas do Fracasso e

Implicações para o Estado Brasileiro, V Congresso CONSAD de Gestão Pública,

Brasília, 4 a 6 de junho de 2012

FALCONI, Vicente, O Verdadeiro Poder, Práticas de gestão que conduzem a

resultados revolucionários, Nova Lima, INDG Tecs, 2009

GONDIM, Desirée Custódio Mota, Remuneração Variável Como Impulsor na Gestão

Por Resultados, II Congresso CONSAD de Gestão Pública, Brasília, 6 a 8 de Maio

de 2009

KOTTER, John P., Liderando a Mudança, Campus, 1997

20

KRAUTER, Elizabeth, A Influência da Remuneração Variável no Desempenho das

Empresas, XIII SIMPEP, Bauru, 6 a 8 de Novembro de 2006

NEILSON, Gary L., e PASTERNACK, Bruce A., Resultados, Mantenha o que está

certo, corrija o que está errado e obtenha um ótimo desempenho, Rio de Janeiro,

Rocco, 2007

WELCH, Jack, Winning, New York, Harper Collins, 2005

21

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AUTORIA

Antoine Azevedo Lousao – É graduado em Ciências Humanas (Université Paris X Nanterre, 2005), Mestre em Filosofia Política (Université Paris I Panthéon-Sorbonne, 2007), Mestre em Administração e Comunicação das Instituições (Institut d´Etudes Politiques de Paris - Sciences Po Paris, 2008), Doutorando em Teoria Política (Universidade Federal do Rio de Janeiro). É servidor da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Estado do Rio de Janeiro (desde 2011), atuando sucessivamente como Assessor de Planejamento e Gestão e como Superintendente de Desenvolvimento de Pessoas (desde 2012) na Secretaria de Estado de Educação.

Endereço eletrônico: [email protected]

Luiz Carlos Becker Junior – É bacharel em Formação de Executivos e em Direito pela Universidade Estácio de Sá/RJ, com Pós-Graduação e Especialização em Políticas Públicas e Governo pela Escola de Governo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trabalhou na Indústria de Roupas Pilares, na DELFIN Rio Crédito Imobiliário e na Caixa Econômica Federal. Exerceu diversos cargos gerenciais. Premiado no III Concurso de Experiências Inovadoras na Administração Pública Federal – Prêmio Hélio Beltrão – ENAP, 1998. Coordenou as estratégias operacionais dos Programas de Renda Mínima – Bolsa Escola e Bolsa Alimentação. Professor dos programas de MBA da Fundação Getulio Vargas. Autor dos livros: Desenvolvimento de Equipes (2005) e Planejamento e Gestão Estratégica em Organizações de Saúde (2011), ambos pela editora FGV. Desde 2010 é Subsecretário de Gestão de Pessoas da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro.

Endereço eletrônico: [email protected]