política externa independente e política externa do governo lula da silva - compat

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POLÍTICA EXTERNA INDEPENDENTE E POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO LULA DA SILVA: PERMANÊNCIAS E SEMELHANÇAS LEONARDO MIGUEL ALLES 1 Resumo A política externa do Brasil pauta-se por dois objetivos históricos: a busca pela autonomia e pelo desenvolvimento econômico e social do país. Se esses objetivos são basilares da diplomacia brasileira, a maneira como a sua persecução foi realizada mudou ao longo do tempo. Não obstante, é preciso ressaltar que tanto a política externa independente quanto a política externa do governo Lula possuem muitas semelhanças na busca por essas duas metas. Semelhanças que serão objeto de estudo do presente artigo. Palavras-chave: Política Externa Brasileira. Autonomia. Desenvolvimento. Diplomacia. Abstract The brazilian foreign policy has been directed through two historical goals: the path for greater autonomy and for social and economic development. As framework for brazilian foreign policy, these two goals have been pursued in different ways throughout history. The Independent Foreign Policy and the foreign policy of Lula da Silva have similar guidelines to achieve both goals. This similarity will be the focus of this article. Keywords: Brazilian Foreign Policy. Autonomy. Development. Diplomacy. I) Introdução 1 Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUCRS, mestrando em Relações Internacionais pela UFRGS. 1

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Page 1: Política Externa Independente e Política Externa do Governo Lula da Silva - Compat

POLÍTICA EXTERNA INDEPENDENTE E POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO LULA DA SILVA:

PERMANÊNCIAS E SEMELHANÇAS

LEONARDO MIGUEL ALLES1

Resumo

A política externa do Brasil pauta-se por dois objetivos históricos: a busca pela autonomia e pelo desenvolvimento econômico e social do país. Se esses objetivos são basilares da diplomacia brasileira, a maneira como a sua persecução foi realizada mudou ao longo do tempo. Não obstante, é preciso ressaltar que tanto a política externa independente quanto a política externa do governo Lula possuem muitas semelhanças na busca por essas duas metas. Semelhanças que serão objeto de estudo do presente artigo.

Palavras-chave: Política Externa Brasileira. Autonomia. Desenvolvimento. Diplomacia.

Abstract

The brazilian foreign policy has been directed through two historical goals: the path for greater autonomy and for social and economic development. As framework for brazilian foreign policy, these two goals have been pursued in different ways throughout history. The Independent Foreign Policy and the foreign policy of Lula da Silva have similar guidelines to achieve both goals. This similarity will be the focus of this article.

Keywords: Brazilian Foreign Policy. Autonomy. Development. Diplomacy.

I) Introdução

O presente estudo tem como objetivo principal demonstrar as similaridades da

política externa independente (doravante referida também pela abreviação PEI) e a

política externa do governo Lula. PEI é a denominação atribuída à política exterior

do país entre 1961 e 1964 (até o golpe militar), embora tenha tido vários

condutores2, será tratada de forma homogênea para fins deste trabalho. Tanto a PEI

quanto a política externa de Lula apresentam a autonomia e o desenvolvimento

1 Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUCRS, mestrando em Relações Internacionais pela UFRGS.2 Durante a presidência de Jânio, Afonso Arinos (01/1961 a 08/1961) foi o chanceler. O período Goulart teve à frente do MRE os seguintes ministros: a) San Tiago Dantas (09/1961 a 07/1962); Afonso Arinos (07/1962 a 09/1962); c) Hermes Lima (09/1962 a 06/1963); d) Lins e Silva (06/1963 a 08/1963); e e) Araújo Castro (08/1963 a 03/196).

1

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econômico como metas de governo. Embora cada estágio da política externa passe

por uma conjuntura interna e externa diferentes, é possível identificar certas

continuidades e semelhanças na condução da diplomacia estatal.

Cumpre esclarecer que essas fases da política exterior nacional foram

escolhidas em razão das similitudes conjunturais tais como governo civil, expansão

econômica, aproximação do Brasil a países do Sul e atuação em órgãos

multilaterais.

Para comparar os dois momentos históricos, utilizar-se-á excertos de

discursos dos responsáveis pela política externa brasileira em ambos os períodos,

bem como indicadores econômicos e sociais para demonstrar os resultados obtidos

por cada gestão, sob à luz de conceitos-chave que serão apresentados na seção

seguinte.

II) Política externa, autonomia e desenvolvimento

Três conceitos são fundamentais para o desdobramento deste artigo: a)

política externa; b) autonomia; e c) desenvolvimento. Para Manfred Wilhelmy, a

política externa é um conjunto de atividades políticas mediante as quais cada Estado

promove seus interesses perante os demais Estados (WILHELMY apud ALTEMANI,

2005:5). Letícia Pinheiro propõe um conceito de maior abrangência:

[...] conjunto de ações e decisões de um determinado ator, geralmente mas não necessariamente o Estado, em relação a outros Estados ou atores externos – tais como organizações internacionais, corporações multinacionais ou atores transnacionais-, formulada a partir de oportunidades e demandas de natureza doméstica e/ou internacional. Nesse sentido, trata-se da conjugação dos interesses e ideias dos representantes de um Estado sobre sua inserção no sistema internacional tal como este se apresenta ou em direção à sua reestruturação, balizados por seus recursos de poder. (PINHEIRO, 2004, p. 7)

Para Celso Lafer a política externa significa:

[...]– substância da ação diplomática – é uma política pública. É, no entanto, um tipo especial de política pública, mais qualitativa do que quantitativa, que exige como passo prévio uma análise, em cada conjuntura, tanto das demandas da sociedade nacional quanto das oportunidades oferecidas pelo momento internacional.” (LAFER apud RIBEIRO, 2006, p. 74)

A autonomia é um termo bastante empregado para caracterizar a política

externa brasileira. O precursor em utilizar o vocábulo foi Gerson Moura em sua obra 2

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“Autonomia na Dependência” (1980), posteriormente Gelson Fonseca cunhou os

termos “autonomia pela distância”(2004: 359) e “autonomia pela participação” (2004:

363); Vigevani difundiu os conceitos de “autonomia pela integração”(2003:37) e

“autonomia pela diversificação” (2007:283). Para fins deste trabalho será utilizada a

conceituação de Roberto Russel e Juan Tokatlian que definem autonomia nos

seguintes termos:

[...] uma condição do Estado-nação que lhe possibilita articular e alcançar objetivos políticos de forma independente. De acordo com este significado, autonomia é uma propriedade que o Estado-nação pode ter ou não, ao longo de um contínuo em cujos extremos se apresentam duas situações ideais: total dependência ou completa autonomia. [...] é normalmente empregado para caracterizar a habilidade do Estado, entendida como capacidade e disposição para tomar decisões baseadas em necessidades e objetivos próprios sem interferências nem constrangimentos externos e para controlar processos ou acontecimentos que se produzem além de suas fronteiras. Em ambos os casos, a autonomia é sempre uma questão de grau que depende, fundamentalmente, das capacidades, duras e brandas dos Estados e das circunstâncias externas que se lhes apresentam. (RUSSEL e TOKATLIAN apud PINHEIRO, 2000:313)

O desenvolvimento é a busca pelo progresso. Conforme Marco Antonio

Vasconcellos e Manuel Enriquez Garcia, deve resultar do crescimento econômico

acompanhado de melhoria na qualidade de vida, ou seja, deve incluir

as alterações da composição do produto e a alocação de recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde, alimentação, educação e moradia)(VASCONCELLOS e GARCIA apud OLIVEIRA, 2002:37).

Na seção seguinte analisar-se-á a primeira das duas fases escolhidas para

estudo.

III) Política Externa Independente

A política externa independente sofreu influência da Operação Pan-

Americana3, do governo JK. No entanto, se a OPA possuía um caráter regional, a

3 Conforme a mensagem presidencial ao Congresso Nacional, Circular n. 3.863, de 20 de março de 1961: “Essas, em termos muito gerais, as observações que cabe fazer sobre a política exterior que o governo se propõe adotar e que podem ser resumidas nos seguintes pontos: 1. respeito aos compromissos e à posição tradicional do Brasil no mundo livre; 2. ampliação dos contatos com todos os países, inclusive os do mundo socialista; 3. contribuição constante e objetiva à redução das tensões internacionais, quer no plano regional, quer no mundial; 4. expansão do comércio externo

3

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PEI representou a universalização das relações internacionais do Brasil (VIZENTINI,

2005:30). Conforme Gelson Fonseca, “a ideia de que ‘o mundo tem outros pontos

cardeais’, já anunciada por Horácio Lafer, chanceler de Juscelino, é plenamente

renovada” (FONSECA, 2004: 314).

A PEI significou o desengajamento brasileiro do conflito Leste-Oeste. O

tradicional alinhamento com os EUA dificultava o desenvolvimento do país, bem

como cerceava relações com países que tinham controvérsias com Washington. A

busca pela autonomia no plano externo se deu mediante lealdade ao Ocidente: “Em

conseqüência da formação histórica, cultural e cristã, tanto quanto a

situação geográfica, nossa nação é predominantemente ocidental”

(QUADROS apud FRANCO, 2007:147). Jânio Quadros iniciou seu mandato de

forma independenstista (inspirado em Nasser, Tito e Nehru), evitando alinhamento

com quaisquer blocos, inclusive o movimento dos Não-Alinhados. Eis as palavras de

Quadros em artigo publicado na Foreign Affairs:

Não sendo membro de bloco algum, nem mesmo do bloco neutralista, preservamos nossa liberdade absoluta de tomar nossas próprias decisões em casos específicos e à luz de sugestões pacíficas em consonância com nossa natureza e história. Um grupo de nações, especialmente da Ásia, tem também o cuidado de permanecer à margem de qualquer choque de interesses, que são invariavelmente os das grandes potências e não necessariamente os de nosso país, quanto mais da paz mundial. P 153

A autonomia da PEI também se manifestou na aproximação dos países

africanos. Novas embaixadas foram abertas na África: Senegal, Costa do Marfim,

Nigéria e Etiópia (GARCIA, 2005:184). Entretanto, quando San Tiago Dantas esteve

à frente do MRE, o chanceler realizou discurso na Câmara dos Deputados

(DANTAS, 1962:45) no sentido de que o as exportações do Brasil deveriam se

afastar daquela região em virtude de sua parca capacidade de pagamentos e de seu

reduzido dinamismo econômico.

A autonomia da PEI foi colocada em xeque quanto à questão cubana. Os

brasileiro; 5. apoio decidido ao anticolonialismo; 6. luta contra o subdesenvolvimento econômico; 7. incremento das relações com a Europa, em todos os planos; 8. reconhecimento e atribuição da devida importância aos interesses e aspirações comuns ao Brasil e às nações da África e da Ásia; 9. estabelecimento e estreitamento de relações com os Estados africanos; 10. fidelidade ao sistema interamericano; 11. continuidade e intensificação da Operação Pan-Americana; 12. apoio constante ao programa de Associação do Livre Comércio Latino-Americano; 13. a mais íntima e completa cooperação com as repúblicas irmãs da América Latina, em todos os planos; 14. relações de sincera colaboração com os Estados Unidos, em defesa do progresso democrático e social das Américas; 15. apoio decidido e ativo à Organização das Nações Unidas para que ela constitua a garantia efetiva e incontestável da paz internacional e da justiça econômica”. (FRANCO, 2007:58-59) (G.N.)

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Estados Unidos buscavam instrumentalizar a OEA com o intuito de intervir na ilha.

Tancredo Neves, primeiro-ministro durante o breve período parlamentarista,

esboçou o posicionamento do país nos seguintes termos:

Com relação a Cuba, o governo brasileiro manterá uma atitude de defesa intransigente do princípio de não-intervenção, por considerar indevida a ingerência de qualquer outro Estado, seja sob que pretexto for, nos seus negócios internos. Fiel aos princípios democráticos, que se encontram inscritos na Carta de Bogotá e que constituem base essencial do sistema interamericano, o Brasil deseja ver o governo revolucionário cubano evoluir, dentro do mais breve prazo, para a plenitude da vida democrática, inclusive no que diz respeito ao processamento de eleições livres e à efetividade de garantias para os direitos individuais. Essa evolução depende, entretanto, de forma exclusiva, da autodeterminação do povo cubano e não poderá ser substituída, nem acelerada, por qualquer forma de pressão ou de ingerência vinda do exterior. (FRANCO, 2007:174) (G.N.)

O Brasil, o México, o Chile, o Equador, a Bolívia e a Argentina se abstiveram

de votar a moção que expulsou Cuba da OEA, em 1962. Cumpre ressaltar que o

governo brasileiro propôs uma interpretação jurídica divergente da norte-americana

acerca de Cuba com fundamento no princípio da não-intervenção. A diplomacia de

Dantas buscou evitar o isolamento da ilha para que essa não buscasse auxílio em

Moscou.

Para os bastiões da PEI, a autonomia era conditio sine quo non para o

desenvolvimento do país, pois habilitaria o Brasil a comercializar seus produtos com

quaisquer países. Eis a posição esboçada por Quadros:

[...] É preciso levar ao conhecimento do mundo o fato de que o Brasil está aumentando intensivamente sua produção, com vistas não apenas ao seu mercado doméstico, mas especificamente procurando atrair outras nações. De um ponto de vista econômico, a divisa do meu governo é “Produzir tudo, porque tudo que for produzido é comerciável”. Sairemos à conquista desses mercados; em casa, na América Latina, na África, na Ásia, na Oceania, em países sob a democracia e naqueles que se uniram ao sistema comunista. Os interesses materiais não conhecem doutrina e o Brasil está atravessando um período em que sua própria sobrevivência como nação, ocupando uma das áreas mais extensas e privilegiadas do globo, depende da solução dos seus problemas econômicos. Nossa própria fidelidade ao sistema democrático de vida está em jogo nessa luta pelo desenvolvimento. [...]É preciso frisar que a idéia por trás da política externa do Brasil e sua implementação tornaram-se agora o instrumento para uma política de desenvolvimento nacional. Como parte importante de nossa vida de nação, a política externa deixou de ser um exercício irreal, acadêmico, levado a efeito por elites absortas e fascinadas; tornou-se o tópico principal da preocupação diária. Com ela, buscamos objetivos específicos: em casa, prosperidade e bem-estar; no exterior, viver juntos, amigavelmente e em paz no mundo. (FRANCO, 2007:154-155) (G.N.)

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Page 6: Política Externa Independente e Política Externa do Governo Lula da Silva - Compat

O Brasil iniciara um processo de industrialização substitutivo de importações e

precisava exportar boa parte de sua produção em virtude do seu reduzido mercado

interno. Iniciativas do tipo ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio)

fracassaram, pois os demais países da região também haviam se engajado em

industrializações com elevado protecionismo estatal. Dessa forma, o reatamento de

relações diplomáticas com os países do Leste europeu (Albânia, Bulgária, Hungria,

Romênia e URSS) representou tanto atitude de autonomia quanto uma necessidade

de mercados consumidores para os produtos brasileiros4. Conforme Francisco

Clementino de San Tiago Dantas, acerca do reatamento com a URSS:

O primeiro ponto para o qual desejo chamar a atenção da Câmara é que o governo não foi levado a essa decisão por nenhum motivo de simpatia, nem mesmo de tolerância ideológica ou doutrinária, mas, sim, por considerações de ordem política e de ordem econômica, em que entram em linha de conta, única e exclusivamente, os interesses do nosso país. (FRANCO, 2007:207) (G.N.)

O governo Goulart deu continuidade às medidas iniciadas por Jânio, em

relação aos países do Leste europeu criou o Grupo de Coordenação de Comércio

com os Países Socialistas da Europa Oriental - COLESTE5. Conforme Hermes Lima,

A expansão do intercâmbio com a área socialista é objetivo de política comercial. Assim sendo, não tem e nem poderia ter qualquer motivação de natureza política ou ideológica. Não envolve simpatias, preferências ou inclinações. É ato de soberania fundado em razões de ordem econômica e comercial e somente como tal deve ser entendida. (FRANCO, 2008:73) (G.N.)

O universalismo da PEI resultou em um fluxo comercial considerável entre

Brasil e o Leste Europeu. Os saldos da balança comercial resultaram favoráveis ao

país conforme se pode ver no anexo I.

As mesmas teses cepalinas de Prebisch que propiciaram a industrialização

brasileira foram novamente alegadas em razão do deterioramento dos termos de

troca em relação aos produtos primários. A Comissão Econômica para América

4 Vide o anexo II para mais informações acerca da expansão comercial entre o Brasil e os países do Leste Europeu.5 Decreto Nº 1.880, de 14 de dezembro de 1962. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Historicos/DCM/dcm1880impressao.htm>. Acesso em 21.jan. 2010.

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Page 7: Política Externa Independente e Política Externa do Governo Lula da Silva - Compat

Latina da ONU tornava mais permeável as demandas dos países em

desenvolvimento, explicitando a tensão Norte-Sul. Evandro Cavalcanti Lins e Silva

em sua posse como chanceler enfatizou esse aspecto:

Daremos ênfase particular ao desenvolvimento do mercado comum latino-americano, através da ALALC, dentro da orientação traçada pelo senhor presidente da República na sua recente visita ao Chile e ao Uruguai e das subseqüentes medidas tomadas para a sua dinamização. E, dentro dessa orientação, entraremos por uma revisão das condições do comércio internacional, de forma a garantir preços compensadores e estáveis dos produtos primários e a igualdade que deve existir, para os países em processo de desenvolvimento, relativamente aos países industrializados, no tocante à sua participação no comércio internacional. (FRANCO, 2009:137-138) (G.N.)

Foi com esse espírito que o Brasil buscou um forte protagonismo nos trabalhos

preparatórias que culminaram na Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e

Desenvolvimento (UNCTAD). Eis as palavras de Araújo Castro:

O processo de reformular todo o funcionamento do comércio internacional, à luz das necessidades dos países subdesenvolvidos, apenas se inicia. Os resultados da conferência não serão espetaculares, nem seus efeitos se farão sentir de maneira imediata. Não se transforma, no espaço de algumas semanas, um sistema de divisão internacional do trabalho que é o produto de séculos. (FRANCO, 2008:326)

Castro ainda proferiria o famoso discurso dos 3 “Ds” (desenvolvimento,

desarmamento e descolonização), em 1963. As bandeiras universais foram o meio

encontrado pelo chanceler para despolitizar a PEI.

A Interrupção da PEI

A PEI estava muito atrelada à conjuntura interna (tanto do viés política quanto

do econômico) que foi bastante volátil no período 1961-1964 (vide os indicadores

econômicos no anexo II). Jânio havia instituído um ortodoxo pacote econômico e

conseguira o reescalonamento da dívida externa. A renúncia do mandatário causou

uma crise institucional que quase desencadeou uma guerra civil, pois os grupos

conservadores do país não queriam que João Goulart assumisse o governo. A

solução conciliatória foi a instituição do parlamentarismo que perduraria até janeiro

de 1963.

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O período Tancredo Neves registrou descontrole das contas públicas6. No

final de 1962, foi instituído o plano Trienal, com o intuito de ajustar a economia do

país. O plano fracassou e os indicadores econômicos pioraram (vide anexo II).

A presidência Goulart enfrentou dificuldades políticas além das econômicas,

seus projetos de cunho nacionalista e não socialista foram rejeitados pelas elites

rurais e urbanas, pois significariam alterar a estrutura da propriedade fundiária e

urbana do país (FAUSTO, 2008:448). Além disso, ao promulgar uma lei que reduzia

a remessa de lucros por parte de empresas transnacionais, Lei 4131/627, o

investimento externo direto decresceu (vide anexo II).

O golpe militar pôs fim à PEI, como medida de rechaço a tudo que poderia

guardar identidade com o regime anterior. Nesse sentido, a PEI foi substituída por

um novo alinhamento junto aos Estados Unidos. Somente a gestão Geisel retomaria

alguns princípios da PEI. O legado da PEI pode ser percebido na administração Lula

da Silva e de seu Chanceler Celso Amorim, conforme será examinado na próxima

seção.

IV) Política Externa Do Governo Lula

A política externa do governo Lula busca a autonomia e o desenvolvimento de

formas semelhantes à PEI. Sua gestão recupera a tradição nacional-

desenvolvimentista e a clivagem Norte-Sul (VEIGA, 2006: 41). Tullo Vigevani

qualificou a diplomacia de Lula, nos seguintes termos:

Apesar de existirem elementos de alteração dos rumos do país ainda na administração FHC, Lula da Silva utiliza uma estratégia que poderia ser batizada de “autonomia pela diversificação”, enfatizando a cooperação Sul-Sul para buscar maior equilíbrio com os países do Norte, realizando ajustes, aumentando o protagonismo internacional do país e consolidando mudanças de programa na política externa. (VIGEVANI et al, 282-283) (G.N.)

6 Sobre as dificuldades institucionais e econômicas vividos pelo país, recomenda-se o capítulo 8 “Inflação, Estagnação e Ruptura: 1961-1964”, escrito por Marcelo de Paiva Abreu. In: Ordem do Progresso.7 Eis o inteiro teor do artigo da Lei 4131/62 que seria revogado pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964, promulgado sob a égide do governo militar. Art. 31. As remessas anuais de lucros para o exterior não poderão exceder de 10% sobre o valor dos investimentos registrados.

8

Page 9: Política Externa Independente e Política Externa do Governo Lula da Silva - Compat

O país intensificou as relações entre

países emergentes como anunciara Lula

“Aprofundaremos as relações com grandes

nações em desenvolvimento: a China, a

Índia, a Rússia, a África do Sul [...]” (LULA,

2003). Em 2003 foi criado o IBAS (Índia,

Brasil e África do Sul), grupo que congrega

as maiores democracias de suas respectivas regiões e com considerável poder

econômico. O governo Lula concedeu status de economia de mercado à China,

quando Hu Jintao esteve no Brasil, em novembro de 2004. Essa atitude brasileira

representou novas oportunidades comerciais para o comércio bilateral conforme as

curvas acima.

No primeiro mandato de Lula há um estreitamento das relações com países

africanos. O Brasil abre sua embaixada em São Tomé e Príncipe, único país da

CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) com o qual não possuía

missão diplomática (BRASIL, 2006). Em novembro do mesmo ano, Lula realiza

visitas oficiais em São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Namíbia e África do

Sul. Conforme o mandatário, o estreitamento de laços com a África constitui “uma

obrigação política, moral e histórica”, posição bastante semelhante à de Jânio

Quadros. O Lula da Silva ainda realizaria visitas à Síria, Líbano, Emirados Árabes

Unidos, Egito e Líbia. Além disso, em 2005, foi realizada em Brasília a Cúpula

América do Sul Países Árabes.

A autonomia da política externa nacional também surge na priorização da

América do Sul pela administração Lula:

[...] é essencial uma ação decidida de revitalização do MERCOSUL, enfraquecido pelas crises de cada um de seus membros e por visões muitas vezes estreitas e egoístas do significado da integração.O MERCOSUL, assim como a integração da América do Sul em seu conjunto, é sobretudo um projeto político. Mas esse projeto repousa em alicerces econômico-comerciais que precisam ser urgentemente reparados e reforçados. (LULA, 2003)

A conjuntura política e econômica do subcontinente americano tem

obstaculizado os planos brasileiros para a região. Cumpre não olvidar que

problemas dessa ordem resultaram no malogro da ALALC. Entre os fatos que

9

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dificultam o relançamento do Mercosul estão: a) a reindustrialização da Argentina

(“guerra das geladeiras” em 2004); b) A demora do congresso brasileiro em aprovar

a entrada da Venezuela no bloco causou tensão entre os dois países. Ainda na

região o Brasil teve problemas com a Bolívia, em razão da nacionalização das

reservas de hidrocarbonetos daquele país; com o Equador, uma hidrelétrica

construída pela Odebrecht apresentou problemas estruturais; e com o Paraguai, que

requereu a revisão do tratado de Itaipu. Nesse conturbado contexto, o presidente

Lula deu continuidade às negociações da CASA (Comunidade Sul-Americana de

Nações), que, em 2008, surgiu sob a denominação UNASUL – União de Nações

Sul-Americana. Sem aprofundar esse tema, critica-se a superposição de diversos

projetos integracionistas que até o momento não tem cumprido o cronograma

traçado, v.g., o Mercosul ainda encontra-se na fase de união aduaneira.

Soares ainda estipula que a persecução de um assento permanente no

Conselho de Segurança das Nações Unidas é outro exemplo da busca de uma

política externa própria e do reconhecimento pelas potências da sua relevância,

mediante os papéis que pode desempenhar no sistema internacional, em questões

de paz e de desenvolvimento (2005:4).

Referente ao tema do desenvolvimento, este aparece nos discursos de posse

do presidente e de seu chanceler:

No meu Governo, a ação diplomática do Brasil estará orientada por uma perspectiva humanista e será, antes de tudo, um instrumento do desenvolvimento nacional. Por meio do comércio exterior, da capacitação de tecnologias avançadas, e da busca de investimentos produtivos, o relacionamento externo do Brasil deverá contribuir para a melhoria das condições de vida da mulher e do homem brasileiros, elevando os níveis de renda e gerando empregos dignos. (LULA, 2003)

[...] Coerentemente com os anseios manifestados nas urnas, o Brasil terá uma política externa voltada para o desenvolvimento e para a paz, que buscará reduzir o hiato entre nações ricas e pobres, promover o respeito da igualdade entre os povos e a democratização efetiva do sistema internacional. Uma política externa que seja um elemento essencial do esforço de todos para melhorar as condições de vida do nosso povo, e que esteja embasada nos mesmos princípios éticos, humanistas e de justiça social que estarão presentes em todas as ações do Governo Lula. [...]O aumento das exportações, a busca de tecnologias e investimentos produtivos serão elementos importantes da estratégia nacional de crescimento e da redução da vulnerabilidade externa. [...] Lutaremos para preservar o espaço de flexibilidade para que possamos decidir, soberanamente, qual o modelo de desenvolvimento que mais nos convém. (AMORIM, 2003).

O caráter universalista da política externa brasileira, presente desde a PEI, 10

Page 11: Política Externa Independente e Política Externa do Governo Lula da Silva - Compat

encontra guarida na manifestação de Amorim, in verbis:

Nossa política externa não pode estar confinada a uma única região, nem pode ficar restrita a uma única dimensão. O Brasil pode e deve contribuir para a construção de uma ordem mundial pacífica e solidária, fundada no Direito e nos princípios do multilateralismo, consciente do seu peso demográfico, territorial, econômico e cultural, e de ser uma grande democracia em processo de transformação social. O Brasil atuará, sem inibições, nos vários foros internacionais, regionais e globais. (2003)

O comércio internacional é um importante

meio para o acúmulo de divisas necessárias à

implementação de políticas econômicas e sociais.

A desvalorização cambial ocorrida em 2002, em

razão da campanha presidencial, persistiu nos

primeiros anos da administração Lula da Silva (vide

anexo III). A perda de valor do Real frente ao Dólar

propiciou um boom exportador. A paulatina

revalorização do Real não interferiu no aumento do

fluxo comercial, o que demonstra a competitividade

do país nos mercados em que passou a atuar. No

entanto, a crise financeira de 2008, que teve início

nos E.U.A., afetou as exportações do Brasil.

Alguns gráficos ao lado ilustram de forma clara a

evolução desse indicador econômico.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Secretaria de Comércio Exterior - Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comércio Exterior

O país tornou-se um grande receptor de investimentos produtivos externos,

entre os países em desenvolvimento apenas a China supera o Brasil. É preciso levar

em consideração que o elevado Risco Brasil (vide anexo III), durante e após a

eleição, afastaram os investidores

internacionais em virtude de bandeiras

defendidas por Lula em campanhas

anteriores. No entanto, a continuação da

política macroeconômica do governo

anterior permitiu a restauração da

11

Saldos Comerciais - US$ bilhões FOBJaneiro/Dezembro - 2000 a 2009

-0,7

2,7

13,2

24,9

33,8

44,9 46,540,0

25,0 24,6

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Exportação - US$ bilhões FOBJaneiro/Dezembro - 2000 a 2009

55,1 58,3 60,473,2

96,7118,5

137,8160,6

197,9

152,3

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Importação - US$ bilhões FOBJaneiro/Dezembro - 2000 a 2009

55,9 55,647,2 48,3

73,691,4

120,6

173,0

127,6

62,8

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Page 12: Política Externa Independente e Política Externa do Governo Lula da Silva - Compat

confiança e da credibilidade internacionais. Essa atitude foi essencial para a

expansão do investimento direto (vide o gráfico acima).

A política externa do governo Lula da Silva também redesenha a geografia

comercial do país. Entre 1998 a 2005, a relevância dos mercados tradicionais

(Estados Unidos, União Européia, Japão, Canadá, México, Mercosul) diminuiu de

79,3% para 67,2%. No mesmo interregno, os mercados não tradicionais (China8,

Ásia-Pacífico, África, Europa Oriental, Oriente Médio etc.) elevaram seu peso de

19,7% para 31% (PRATES, nov.2005/abr.2006:138)9. Assim, a cooperação Sul-Sul

representa uma oportunidade de ampliar o comércio exterior brasileiro, embora não

substitua o relacionamento com os EUA10 e a União Européia.

Luiz Inácio Lula da Silva estipulou como meta de governo a redução das

iniquidades no campo do comércio internacional, bandeira já defendida pelos

bastiões da PEI durante a UNCTAD.

As negociações comerciais são hoje de importância vital. Em relação à ALCA, nos entendimentos entre o MERCOSUL e a União Européia, que na Organização Mundial do Comércio, o Brasil combaterá o protecionismo, lutará pela eliminação e tratará de obter regras mais justas e adequadas à nossa condição de País em desenvolvimento. Buscaremos eliminar os escandalosos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos que prejudicam os nossos produtores privando-os de suas vantagens comparativas (LULA, 2003).

Na conferência de Cancún, que versou sobre a liberalização do comércio

mundial, o Brasil coordenou um grupo de países interessados na abertura do

mercado agrícola dos países desenvolvidos, o grupo conhecido como G-20 também

não cedeu às demandas e imposições dos países ricos. Nas palavras do Chanceler

Amorim:

Podemos criar, aqui em Cancún, um novo espírito, mostrando que a liberalização do comércio e a distribuição mais justa da riqueza não somente são compatíveis, como também mutuamente benéficas. O Brasil continua a apoiar, de modo inequívoco, a existência de um sistema multilateral de comércio que seja eqüitativo, baseado em regras e orientado para o mercado. A OMC constitui plataforma essencial para a nossa integração à economia global: a expansão do comércio é fundamental para que se criem empregos e se atinjam taxas mais elevadas de crescimento econômico, possibilitando a melhoria das condições de vida de milhões de

8 Vide página 9.9 Dados recentes (2006-2009) corroboram essa tendência, vide anexo IV.10 No primeiro semestre de 2004, o presidente Lula viajou aos EUA para apresentar o Brasil aos investidores internacionais.

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pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza. (AMORIM, 2003)

O protagonismo exterior brasileiro é reflexo da estabilidade política e

econômica que o país passa.

Conjuntura favorável

Para uma melhor análise do tema desenvolvimento é preciso trazer à tona

alguns indicadores do plano interno. O Brasil possui um dos maiores mercados

consumidores do mundo, sua população aproximada é de 190,6 milhões. Entre 2002

e 2007, 20 milhões de brasileiros ascenderam das classes D e E para a classe C

entre 2002 e 2007. A camada C, classe média, totaliza 97 milhões de pessoas, o

que significa 52% da população do país (BRASIL, 2009).

A produção industrial do Brasil expandiu-se, tornando o país em uma

plataforma exportadora. Sua parcela do comércio mundial passou de 0,9% em 2000

para 1,2% em 2007, as exportações passaram de US$ 55,1 bilhões para US$ 160,6

bilhões no mesmo período. Os saldos positivos da balança comercial brasileira e os

fluxos de investimentos produtivos contribuíram para que as reservas em moeda

estrangeira do País atingissem US$ 206,8 bilhões no final de 2008 (vide anexo III).

Apoiadas pelas iniciativas internacionais do governo brasileiro, as empresas

brasileiras aceleraram seu processo de internacionalização, aumentando as

exportações para os parceiros tradicionais e para novos mercados (ibidem).

O agronegócio representa outra importante fonte de divisas para país. As

exportações do setor passaram de R$ 56 bilhões em 2003 para R$ 131,4 bilhões em

2008. Aproximadamente 79% da produção nacional de alimentos é consumida

internamente e 21% são embarcados para mais de 212 mercados. Conforme dados

do governo, o país possui 388 milhões de hectares de terras agricultáveis, dos quais

90 milhões ainda não foram utilizados. Por essas razões, é fácil compreender a

importância da Rodada Doha para o Brasil, devido a sua elevada competitividade no

agronegócio, essa vantagem comparativa é mitigada em razão das práticas

protecionistas do países ricos (ibidem).

O bom momento econômico vivido pelo país reflete na sua capacidade de

investimento em infraestrutura. Em 2007, o governo federal lançou o Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC), cujo orçamento atingirá a US$ 301 bilhões até

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Page 14: Política Externa Independente e Política Externa do Governo Lula da Silva - Compat

2010. O programa prevê investimentos em projetos de infraestrutura logística,

energética, social e urbana, que podem resultar em melhorias ao setor produtivo e à

população brasileira. Para Amado cervo, a gestão Lula caracteriza-se pela presença

indutora do Estado na economia “o paradigma logístico repõe em marcha a visão

dual de mundo dos cepalinos ortodoxos, porém o faz mediante adaptação da política

exterior à interdependência global do século XXI” (CERVO, 2008:88).

V) Conclusões

Como se pode perceber a busca pela autonomia e pelo desenvolvimento em

ambos os períodos analisados esteve atrelada a questões conjunturais. As

características comuns de governos civis, expansão econômica, participação em

organismos multilaterais, aproximação de países do Sul resultaram em desfechos

distintos.

A autonomia ao tempo da PEI possuía duas dimensões: o não alinhamento

com quaisquer dos blocos da Guerra Fria que resultou na opção pela ordem

baseada na nação Norte-Sul e o desenvolvimento. Nenhuma consistiu em políticas

ortodoxas, pois o Brasil continuava um país integrado no sistema capitalista e sob

forte influência dos Estados Unidos, como fica claro no comunicado conjunto

Goulart-Kennedy emitido em abril de 1962, em Washington. Além disso, a presença

norte-americana às vésperas do golpe de 1964 (Operação Brother Sam)

demonstrava a disposição da potência em intervir no Brasil caso fosse necessário.

No plano econômico, a busca pelo desenvolvimento foi permeada de altos e

baixos, o PIB reduziu ao longo do período 1961-1964, a elevada inflação prejudicou

a vida da população. Ademais, o desenvolvimento nacional esteve condicionado a

empréstimos internacionais e investimentos externos, que se reduziam à medida

conjuntura política piorava.

É importante ressaltar que a PEI, por seu ineditismo, não representa uma

experiência perdida, pois ela estabeleceu o perfil contemporâneo das relações

exteriores do país.

A administração Lula da Silva parece reviver o clima da PEI, em conjunturas

interna e externa diferentes. O fim da Guerra Fria e dos receios de radicalização

interna (e.g., não pagamento da dívida pública) permitiram o país a exercer seus

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potenciais político, econômico e social. A diversificação de suas relações

internacionais reduziu a influência norte-americana na política do Brasil. A economia

cresce, a inflação é baixa, o país apresenta-se ao mundo como um lugar propício a

investimentos. Talvez os melhores exemplos do reconhecimento da comunidade

internacional dessa conjuntura favorável são a realização da copa do mundo de

futebol, em 2014, e das olimpíadas, em 2016.

Ao que tudo indica a diplomacia brasileira atingiu um modelo sustentável de

práticas em prol do desenvolvimento econômico e social. Na arena internacional, a

opinião do Brasil é requerida com assiduidade, basta lembrar a presença do país em

reuniões do G-8, e da participação do país no G-20 financeiro, com o intuito de

resolver a crise global que assolou o mundo desde 2008.

VI) Referências Bibliográficas

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Page 16: Política Externa Independente e Política Externa do Governo Lula da Silva - Compat

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FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13. ed. São Paulo: EDUSP, 2008.

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MACIEL, Natalia. Igual mas Diferente: a Política Externa Brasileira em Perspectiva Histórica e seus Desafios no Novo Contexto Global. Disponível em <http://www.revistaintellector.cenegri.org.br/ed2009-10/nataliamaciel-10.pdf>. Acesso em 26 jan. 2010.

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http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=571

http://www.secom.gov.br/

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Anexo I

INTERCÂMBIO COMERCIAL BRASILEIRO em U$S 1000 FOBPart. % sobre

total BrasilVar.% de ano para

ano

ANO EXP IMP Saldo (*) Corrente (*) EXP IMP EXP IMP

Bulgária

1961 0,4 - 0,4 0,4 0,00 0,00 -60,00 -

1962 2.252,6 29,7 2.222,9 2.282,3 0,19 0,00 563.050,00 -

1963 1.165,9 510,5 655,4 1.676,4 0,08 0,04 -48,24 1.618,86

1964 3.549,7 1.971,9 1.577,8 5.521,6 0,25 0,18 204,46 286,27

Hungria

1960 4.114,7 3.650,9 463,8 7.765,6 0,32 0,28 -48,96 -46,13

1961 4.305,2 1.536,5 2.768,7 5.841,7 0,31 0,12 4,63 -57,91

1962 3.042,8 1.030,8 2.012,0 4.073,6 0,25 0,08 -29,32 -32,91

1963 5.965,9 1.300,4 4.665,5 7.266,3 0,42 0,10 96,07 26,15

1964 6.635,7 2.724,7 3.911,0 9.360,4 0,46 0,25 11,23 109,53

Romênia

1960 1.256,2 1.716,0 -459,8 2.972,2 0,10 0,13 715,18 90.215,79

1961 1.950,7 614,2 1.336,5 2.564,9 0,14 0,05 55,29 -64,21

1962 3.295,8 2.017,1 1.278,7 5.312,9 0,27 0,15 68,95 228,41

1963 6.378,0 2.346,7 4.031,3 8.724,7 0,45 0,18 93,52 16,34

1964 5.448,5 829,0 4.619,5 6.277,5 0,38 0,08 -14,57 -64,67

URSS

1960 13.346,5 14.758,5 -1.412,0 28.105,0 1,05 1,14 259,33 1.487,62

1961 19.229,0 16.035,0 3.194,0 35.264,0 1,37 1,24 44,08 8,65

1962 39.007,1 27.593,9 11.413,2 66.601,0 3,21 2,12 102,86 72,09

1963 40.107,5 31.396,1 8.711,4 71.503,6 2,85 2,43 2,82 13,78

1964 37.146,1 21.151,1 15.995,0 58.297,2 2,60 1,95 -7,38 -32,63

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDICSecretaria de Comércio Exterior - SECEXDepartamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comércio Exterior - DEPLA

Anexo II

INDICADORES ECONÔMICOS 1960 1961 1962 1963 1964

PIB (%) 9,4 8,6 6,6 0,6 3,4

Produto industrial (%) 10,6 11,1 8,1 -0,2 5

Produto agrícola (%) 4,9 7,6 5,5 1 1,3

Produto do setor de serviços (%) 9,1 8,1 5,8 -0,1 1,4

Exportações (US$ 106) 1270 1405 1215 1406 1430

Importações (US$ 106) 1293 1292 1304 1294 1086

Balança comercial (US$ 106) -23 113 -89 112 344

Entradas autônomas de capital (US$ 106) 475 615 491 310 359

Variação de reservas (US$ 106) 281 -307 63 43 -113

Dívida externa registrada total (US$ 106) 2372 2835 3005 3089 3160

Inflação (%) 29,5 33,2 49,4 72,8 91,8

Fonte: Abreu, 1990, p. 403-404.

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Anexo III

Indicador jan/03 mar/09 Variação (%)PIB – Produto Interno Bruto (R$ bilhões de 2008) 2.269,41 2.889,72 27Balanço de pagamentos (saldo mensal – US$ milhões) 713 940 32Balança comercial (saldo mensal – US$ milhões) 1.155 3.712 221Superávit primário (% do PIB acumulado em 12 meses) 3,71 3,29 -11Reservas internacionais (US$ milhões) 37.652 201.941 436

Investimento estrangeiro direto(acumulado em 12 meses – US$ milhões)

16.020 41.601 160

Investimento brasileiro no exterior(acumulado em 12 meses – US$ milhões)

2.654 15.611 488

Risco-Brasil (pontos-base) 1.439 355 -75

Juros Selic (% a.a.) 25 10,25 -59

Crédito total (% do PIB) 21,8 42,5 95

Dólar comercial (R$) 3,44 2,21 -36

Inflação IPCA (% a.m.) 2,25 0,48 -79

Cesta básica (R$) 207 204 -1

Emprego (milhões de postos formais) 28,7 39,1 36

Taxa de desocupaçãoregiões metropolitanas (%)

11,2 9 -20

Salário mínimo real (R$) 281 465 65

Produção industrial(Índice de Base Fixa: 2002 = 100)

92,22 110,78 20

Safra de grãos (milhões ton/ano) 97,7 145,8 49

Vendas do comércio 93,38 131,18 40Fonte: Secretaria de Comunicação Social - Destaques: ações e programas do Governo Federal, p. 5.

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Anexo IV

PRINCIPAIS MERCADOS DE DESTINO DAS EXPORTAÇÕESVARIAÇÃO

U$S MILHÕES 2006 2007 2008 2009 (JAN. ATÉ JUNHO) VALOR 2006/05 VALOR 2007/06 PART. % VALOR 2008/07 PART. % VALOR 2009/08 PART. %ALADI 31.382 24,9 36.426 15,6 22,7 51.196 22,5 25,9 14.525 -37,3 20,8-MERCOSUL 13.951 20,4 17.354 24,1 10,8 21.737 25,3 11 6.190 -40,3 8,8-DEMAIS/ ALADI EXC. MERCOSUL 17.431 28,8 19.072 8,9 11,9 29.459 20,5 14,9 8.335 -34,8 11,9UNIÃO EUROPEIA 30.374 16 40.428 30,2 25,2 46.395 14,8 23,4 15.989 -27,2 22,9ESTADOS UNIDOS 24.679 9,8 25.314 2,2 15,8 27.648 9,2 14 7.307 -43,3 10,4ÁSIA 20.792 13,4 25.086 20,5 15,6 37.442 49,3 18,9 18.728 15,8 26,8ÁFRICA 7.441 26 8.578 15 5,3 10.170 18,6 5,1 4.177 -3,3 6ORIENTE MÉDIO 5.745 35,7 6.399 11,3 4,0 8.055 25,9 4,1 3.336 -1 4,8EUROPA ORIENTAL 4.496 17,9 4.309 10,7 2,7 5.580 29,5 2,8 1.618 -40,2 2,3FONTE: SECEX/ MDIC

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