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Sem Opção Veículo: Correio Braziliense - Caderno: Política - Seção: Não Especificado - Assunto: Política - Página: 2,4 - Publicação: 29/12/19 URL Original: Polarização turbinada Polarização turbinada O primeiro ano de gestão de Jair Bolsonaro foi marcado pelo contínuo processo de adaptação no relacionamento com os Poderes — em especial o Congresso —, mas, também, por momentos de ataques à oposição. Uma coerência característica do presidente da República em apostar no tensionamento com a esquerda e de marcar seu território político. Ao longo de 2019, sobraram críticas ao PT, a Cuba, à Venezuela e até à vitória nas urnas do presidente da Argentina, Alberto Fernández — depois, adotou um tom pragmático nessa relação. Com a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão, Bolsonaro tentou disfarçar e não dar importância, porém, mesmo governistas admitem que, desde então, se deflagrou a volta do clima de polarização observado na corrida eleitoral de 2018. Um cabo de guerra que deságua nas eleições municipais, em 2020, e que tem todos os elementos para se estender até 2022. A intensificação da polarização para 2020 é uma questão de tempo. A própria esquerda, que passou o ano amadurecendo a narrativa de uma união progressista, a fim de pavimentar os rumos para 2022, volta a se deparar com a sombra do PT. Nesse processo de autorreflexão, as legendas não conseguiram fazer valer suas posições no Congresso e, embora tenham trazido as militâncias para o campo da formulação, se afastaram da massa de rua, ideológica e combativa. Assim, a soltura de Lula muda o panorama. Da boca para fora, os petistas defendem a construção de alianças com candidatos progressistas com chances de sucesso nos municípios, com o objetivo de evitar o avanço de nomes do centro e da direita. Na prática, a postura é outra. Os movimentos do PT ainda são analisados com tons de incredulidade e incerteza na esquerda. Há uma avaliação de que o partido tenta manter a hegemonia no espectro político. A presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann (SP), defende, por exemplo, a candidatura de Lula para 2022, ainda que não possa tomar posse devido à Lei da Ficha Limpa. Todos os atuais elementos sugerem a volta da polarização, defendida pelo próprio ex-presidente. “Temos de ter a coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para ficar em cima do muro ou no meio do caminho”, disse o petista, na abertura do 7º Congresso Nacional, em novembro. O governo, por sua vez, comemora a reação da economia. O Produto Interno Bruto (PIB), que deve subir 1,2% em 2019 e crescer até 3% em 2020, é um pilar que fortalece Bolsonaro na disputa pela direita. À medida que mais empregos sejam gerados ao longo dos anos, mais consolidadas ficam as chances de reeleição, analisa o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. “A economia está dando sinais e, realmente, havendo a melhora esperada, o presidente é favorito para 2022. Apesar de todas as dificuldades e em que pese, às vezes, dizerem que ele é impopular, é um candidato fortíssi Independentemente de polarização e de nomes de centro, tem grandes chances de ser reeleito”, sustenta. O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), concorda que a saída de Lula da prisão aumenta a polarização. “E, em alguma medida, apaga um pouco as perspectivas de o centro aparecer como uma possível solução”, frisa. A despeito de pesquisas, que sugerem uma reprovação de 36% de Bolsonaro, ele acredita que o chefe do Executivo mantém a popularidade. “Você vê aí o quanto é aplaudido, é comemorado e festejado em suas andanças pelo Brasil. E isso é muito bom. Eu acho que o caminho está muito aberto para uma consolidação do plano do Brasil para uma direita construída nos valores da família”, destaca. Desafio Na esquerda, o grande desafio é convencer o PT a abdicar da hegemonia e discutir a união, avalia o senador Weverton Rocha (PDT-MA), líder do partido na Casa. “Desde o início do ano, com PSB, Rede e PV, discutimos a edição de uma frente. Deixamos claro que não tem um chefe. Pode ser o líder que estiver na melhor posição, não há imposição”, diz. “Mas o PT vai ter de dizer se quer contribuir com a democracia ou apostar em sua hegemonia. Sem dúvidas, é um dos maiores partidos, com uma das maiores militâncias, mas não pode cometer o mesmo erro de bancar uma candidatura isolada e, mais uma vez, entregar as eleições para a direita.” O pleito de 2020 vai ser esclarecedor sobre os rumos a serem adotados pela esquerda em 2022, avalia Rocha. O senador Humberto Costa (PT-PE), líder do partido na Casa, discorda em relação à desunião. “Quando começou o ano, o

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SemOpção

Veículo: Correio Braziliense - Caderno: Política - Seção: Não Especificado -Assunto: Política - Página: 2,4 - Publicação: 29/12/19URL Original:

Polarização turbinadaPolarização turbinada O primeiro ano de gestão de Jair Bolsonaro foi marcado pelo contínuo processo de adaptação no relacionamento com os Poderes— em especial o Congresso —, mas, também, por momentos de ataques à oposição. Uma coerência característica do presidenteda República em apostar no tensionamento com a esquerda e de marcar seu território político. Ao longo de 2019, sobraramcríticas ao PT, a Cuba, à Venezuela e até à vitória nas urnas do presidente da Argentina, Alberto Fernández — depois, adotou umtom pragmático nessa relação. Com a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão, Bolsonaro tentou disfarçar enão dar importância, porém, mesmo governistas admitem que, desde então, se deflagrou a volta do clima de polarizaçãoobservado na corrida eleitoral de 2018. Um cabo de guerra que deságua nas eleições municipais, em 2020, e que tem todos oselementos para se estender até 2022. A intensificação da polarização para 2020 é uma questão de tempo. A própria esquerda, que passou o ano amadurecendo anarrativa de uma união progressista, a fim de pavimentar os rumos para 2022, volta a se deparar com a sombra do PT. Nesseprocesso de autorreflexão, as legendas não conseguiram fazer valer suas posições no Congresso e, embora tenham trazido asmilitâncias para o campo da formulação, se afastaram da massa de rua, ideológica e combativa. Assim, a soltura de Lula muda opanorama. Da boca para fora, os petistas defendem a construção de alianças com candidatos progressistas com chances desucesso nos municípios, com o objetivo de evitar o avanço de nomes do centro e da direita. Na prática, a postura é outra. Os movimentos do PT ainda são analisados com tons de incredulidade e incerteza na esquerda. Há uma avaliação de que opartido tenta manter a hegemonia no espectro político. A presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann (SP), defende, porexemplo, a candidatura de Lula para 2022, ainda que não possa tomar posse devido à Lei da Ficha Limpa. Todos os atuaiselementos sugerem a volta da polarização, defendida pelo próprio ex-presidente. “Temos de ter a coragem de dizer: nós somos,sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para ficar em cima do muro ou no meio do caminho”, disse o petista, na abertura do 7ºCongresso Nacional, em novembro. O governo, por sua vez, comemora a reação da economia. O Produto Interno Bruto (PIB), que deve subir 1,2% em 2019 e cresceraté 3% em 2020, é um pilar que fortalece Bolsonaro na disputa pela direita. À medida que mais empregos sejam gerados aolongo dos anos, mais consolidadas ficam as chances de reeleição, analisa o ministro-chefe da Secretaria de Governo, LuizEduardo Ramos. “A economia está dando sinais e, realmente, havendo a melhora esperada, o presidente é favorito para 2022.Apesar de todas as dificuldades e em que pese, às vezes, dizerem que ele é impopular, é um candidato fortíssimo.Independentemente de polarização e de nomes de centro, tem grandes chances de ser reeleito”, sustenta. O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), concorda que a saída de Lula da prisão aumenta a polarização. “E, emalguma medida, apaga um pouco as perspectivas de o centro aparecer como uma possível solução”, frisa. A despeito depesquisas, que sugerem uma reprovação de 36% de Bolsonaro, ele acredita que o chefe do Executivo mantém a popularidade.“Você vê aí o quanto é aplaudido, é comemorado e festejado em suas andanças pelo Brasil. E isso é muito bom. Eu acho que ocaminho está muito aberto para uma consolidação do plano do Brasil para uma direita construída nos valores da família”,destaca. Desafio Na esquerda, o grande desafio é convencer o PT a abdicar da hegemonia e discutir a união, avalia o senador Weverton Rocha(PDT-MA), líder do partido na Casa. “Desde o início do ano, com PSB, Rede e PV, discutimos a edição de uma frente. Deixamosclaro que não tem um chefe. Pode ser o líder que estiver na melhor posição, não há imposição”, diz. “Mas o PT vai ter de dizer sequer contribuir com a democracia ou apostar em sua hegemonia. Sem dúvidas, é um dos maiores partidos, com uma dasmaiores militâncias, mas não pode cometer o mesmo erro de bancar uma candidatura isolada e, mais uma vez, entregar aseleições para a direita.” O pleito de 2020 vai ser esclarecedor sobre os rumos a serem adotados pela esquerda em 2022, avaliaRocha. O senador Humberto Costa (PT-PE), líder do partido na Casa, discorda em relação à desunião. “Quando começou o ano, o

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discurso era de que a esquerda ia se dividir, mas conseguimos uma unidade dentro e fora do Congresso. Participamos dedefesas importantes, como educação e Previdência”, ressalta, embora reconheça as dificuldades de mobilização e de conseguirum protagonismo maior. Líder do PSol na Câmara, Ivan Valente (SP) critica a polarização e a classifica como resultado de mudanças muito drásticas napolítica federal. “Você tinha governantes mais amenos que, mesmo discordando de alguns, ouvia todas as frentes. Hoje, não hámais diálogo. É complexo perceber esse isolamento do presidente da República”, afirma. Na opinião dele, mudanças estruturaisna gestão Bolsonaro poderiam ter bons reflexos. “Enfrentamos questões complicadas no governo, que não dá suporte aosnegros e gays nem abre diálogo com a oposição. E não dá para escolher um ou outro partido. Se não falar com todo mundo, oslíderes não se interessarão pela aproximação com o Planalto.” “A economia está dando sinais e, realmente, havendo a melhora esperada, o presidente é favorito para 2022.Independentemente de polarização e de nomes de centro, tem grandes chances de ser reeleito”Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo“Sem dúvidas, é um dos maiores partidos (PT),com uma das maiores militâncias, mas não pode cometer o mesmoerro de bancar uma candidatura isolada e, mais uma vez, entregar as eleições para a direita”Weverton Rocha, senador Cabo de guerra favorece governo

O governo é o principal favorecido no atual cenário de polarização. Com a esquerda rachada e a caneta da Presidência daRepública na mão, o presidente Jair Bolsonaro tem, hoje, um pé no segundo turno do pleito de 2022. Na prática, com 29% deaprovação — de acordo com o Ibope/CNI —, ele mantém, dentro da margem de erro, o índice de 31% de intenção de votosobservado no primeiro turno das eleições de 2018. A ameaça ao chefe do Executivo poderia vir do centro, que, além de estardividido, terá dificuldades de superar um ambiente polarizado. O cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice, prevê que as eleições presidenciais poderãoser disputadas por três polos, mas avalia o espaço do centro com mais incertezas. “(O ex-presidente) Lula tem prestígio eleitoralalto e, por isso, o PT continua com força para ter um candidato forte e disputar um segundo turno. Mas é preciso aguardar odesempenho do centro em 2020 para saber as reais chances de uma terceira via”, pondera. Os pleitos municipais servirão como termômetro para testar discursos do centro, especialmente nas capitais, destaca Noronha.“As eleições para prefeitura servem para testar popularidade de algumas lideranças. Em São Paulo, (o governador João) Doriaterá o primeiro teste para ver como o eleitor recebe o apoio dele nas regiões”, explica. “Sem dúvida, a eleição de prefeito criaestrutura partidária para as eleições presidenciais, mas, claro, pesam as questões locais.” Mesmo na hipótese de que Bolsonaro ceda, por algum motivo, a disputa das eleições ao ministro da Justiça e Segurança Pública,Sérgio Moro, a direita capitaneada pelo governo ainda lideraria em um cenário polarizado. A pesquisa FSB/Veja aponta umempate técnico no primeiro turno, com vitória do ex-magistrado no segundo turno. Por isso, a oposição liderada pelo PDT tentadefender a candidatura do ex-ministro Ciro Gomes em um cenário contra o presidente da República. Para encarar Moro, a apostaseria no governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Apesar das estratégias levantadas pela esquerda, é difícil vislumbrar uma união, analisa o cientista político Geraldo TadeuMonteiro, professor e coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia da Universidade do Estadodo Rio de Janeiro (Uerj). “A oposição ainda não conseguiu se rearticular. Há disputa dentro da oposição de esquerda pelahegemonia. Estão olhando para a política interna, isso faz com que tenham pouca força”, avalia. O caminho para superar a polarização, na opinião dele, é pelo centro. “Está dividido, mas tem enorme capacidade dearticulação. Ocupou o vazio político deixado pela desarticulação do governo Bolsonaro. Várias pautas só foram viabilizadas, emcondições razoáveis, porque Maia assumiu essa posição”, sustenta, numa referência ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia(DEM-RJ). Uma candidatura centrista forte poderia surgir de uma composição entre o parlamentar e Ciro. “Mas isso tem de serconstruído, é difícil aproximar militâncias. A única saída para 2022 é a articulação do centro democrático”, defende. (IS e RC) Em defesa de uma quarta via Existe vida inteligente fora da extrema esquerda, da extrema direita e do estamento partidário capitaneado pelos principaispartidos de centro, como DEM, PSDB, PSD, MDB e PP. É o que sustenta o senador Álvaro Dias (Podemos-PR), líder do partido naCasa. Ele acredita que, com uma comunicação competente, é possível conduzir uma candidatura fora do establishment político

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“mostrando a realidade dos fatos”. Ele vê o PT como o menor dos desafios. “Não há que se fazer muito esforço para se falar de uma organização criminosa queassaltou o poder no país. Os escândalos de corrupção se sucederam e impactaram fortemente na sociedade”, dispara. Quantoao presidente Jair Bolsonaro, ele destaca o que classifica como incoerências. “Especialmente o descumprimento doscompromissos no que diz respeito ao combate à corrupção”, sustenta. O senador vai ingressar no Supremo Tribunal Federal (STF), em até 30 dias, com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)contra a lei anticrime sancionada por Bolsonaro na última semana. A ideia é barrar a criação do chamado juiz de garantias. “Asincoerências estão ficando visíveis e isso certamente terá consequências. O que pode dar vida e sobrevivência ao presidente éuma recuperação da economia, mas isso é improvável. Até que ponto nós teremos uma recuperação da economia capaz deinfluenciar o pensamento da nação?”, questiona. Para Dias, o partido também tem a capacidade de se distinguir das demais legendas de centro. “Se não conseguirmos descolardesse estamento partidário denominado de Centrão, nós teremos fracassado em relação ao objetivo inicial”, decreta. “Oobjetivo que nos trouxe à cena política é exatamente ser uma alternativa diferente, capaz de fazer a leitura correta dasprioridades da população e transformá-las em bandeiras e causas que haveremos de defender.” Identidade O deputado José Nelto (Podemos-GO), líder do partido na Câmara, minimiza eventuais pré-candidaturas do apresentador LucianoHuck e do governador de São Paulo, João Doria. “Não têm identidade. E o (Wilson) Witzel (governador do Rio de Janeiro) tambémnão”, sustenta. Para ele, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também não apresenta perfil para liderar o centro.“Ele tem posição, é respeitado, seria um grande primeiro-ministro, mas não tem o voto popular”, analisa. Para o deputado Daniel Coelho (Cidadania-PE), líder da legenda na Casa, centro e esquerda não conseguiram apresentarpropostas. “Os partidos precisam dialogar e construir agenda. O PT está com uma agenda velha e repetitiva. Os demais partidosainda não conseguiram encontrar um caminho, mas precisam tomar cuidado para não criarem um ambiente de campanhapermanente”, adverte. (RC e IS) Medida controversaA criação do juiz de garantias prevê que um magistrado deverá conduzir a investigação criminal, decidindo sobre a decretaçãode prisão, busca e quebra de sigilos. Ele também cuidará do recebimento da denúncia do Ministério Público. Já a instrução doprocesso e a sentença ficarão a cargo de um outro juiz. A dura missão do centro O centro político tem estrutura partidária, recursos e candidaturas potencialmente fortes para a disputa das eleições de 2020 e2022, mas vai precisar mais do que isso para romper a polarização, sobretudo nas capitais. Para ter alguma chance de derrubarcandidaturas de esquerda ou de direita — sobretudo na disputa presidencial, daqui a três anos —, será preciso construir uniãoem torno de um nome com poder de liderança e com ideologia e gestão bem definidas. A formatação de uma candidatura centrista para as eleições presidenciais passa, inevitavelmente, por 2020. O pleito paraprefeitos e vereadores é o principal recurso no curto prazo para pavimentar o processo, sustenta o estrategista eleitoral RosanoGarbin, sócio da consultoria Lógicas, Táticas e Estratégias. “É um passo necessário para ter uma caixa de ressonância nosmunicípios que espalhe suas políticas. Do contrário, não vão ter narrativa para convencer a população”, alerta. No papel, é possível o centro romper a polarização e emplacar um candidato. As viagens feitas pelo presidente da Câmara,Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizam movimentos na busca por protagonismo. Contudo, Garbin acredita que ele não tem a liderançapopular necessária. “O centro faz de tudo para ter espaço, mas, dificilmente, vai ter isso, porque não há uma grande liderança.O ACM Neto (prefeito de Salvador e presidente do DEM), por melhor que seja, não reproduz a influência do ACM ‘vô’”, justifica. Outra qualidade que o centro precisará mostrar é a defesa de uma ideologia bem construída, seja de esquerda, seja de direita. Éo que faz, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro, com uma narrativa em defesa dos valores familiares, cristãos e, maisrecentemente, desde as eleições, da liberdade econômica. Na visão do governo, só uma postura semelhante ameaçaria suareeleição. Para a esquerda, o centro precisa flexibilizar a defesa da política econômica liberal e buscar um equilíbrio maispróximo do social. Caso contrário, ambos os polos acreditam que a disputa em 2022 ficará, novamente, entre os extremos.

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Contudo, por mais que o centro — especialmente a centro-direita — busque fórmulas diferentes em busca da vitória, é muitoimprovável superar a polarização no cenário atual. É o que avalia o senador Esperidião Amin (PP-SC), líder do bloco parlamentarUnidos pelo Brasil, que representa quase 1/4 do Senado. “Neste momento, é impossível furar. Por quê? Porque Lula é o grandevitorioso por sair? Não. Ele sofreu sua maior derrota ao sair da cadeia. O único beneficiário disso tudo foi o Bolsonaro. Viu queele já até ficou com bom humor depois disso? Ele não precisou dizer nada. O Lula falou por ele, e consumou a polarização”,avalia. O senador afirma que todos no centro estarão elaborando candidaturas em 2020 pensando em 2022 e admite haver umaprocura para definir uma chapa única do centro. “Tem dois ou três tentando se habilitar. O centro pode ser uma solução,gostaria que fosse, mas, neste cenário, não tem terceiro lugar. Se mudar o cenário, aí é outra avaliação, não sou profeta”, frisaAmin. União Já o senador Otto Alencar (PSD-BA), líder do partido na Casa, é mais otimista. Na opinião dele, a polarização não fecha as portaspara o surgimento de um candidato de centro. Nomes como Maia, o governador de São Paulo, João Doria, o apresentadorLuciano Huck e o ex-ministro Ciro Gomes despontam como favoritos para ocupar o espaço, acredita o parlamentar. “Estousonhando com um novo presidente de centro. O Brasil precisa de um novo Juscelino Kubitschek, alguém que olhe para o futuro econviva bem com diferenças ideológicas e partidárias. Alguém com um espírito democrático e conciliador”, ressalta. “Essarenovação pode ser que venha da união entre esses quatro. A polarização só vai adiante se a posição de um e de outro for a deolhar para o próprio umbigo.” O deputado Celso Sabino (PSDB-PA), eleito líder do partido na Câmara para 2020, avalia que Doria é uma importante opção dalegenda para 2022, mas diz haver outros grandes nomes na sigla, como o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Detoda maneira, ele confia na possibilidade de o centro superar a polarização. “Vamos eleger prefeitos para pavimentar o caminhopara as próximas eleições. Diria que 2020 será um aperitivo do que virá em três anos”, projeta. Apesar de boa parte dasociedade ainda transitar entre os extremos, o parlamentar defende uma terceira via. “É necessário a ponderação, semradicalismo, com a adoção de uma agenda liberal, mas sem esquecer a questão social”, destaca. As eleições municipais vão dar um pouco do alinhamento da polarização em 2022, mas o deputado Efraim Filho (DEM-PB),escolhido líder do partido por aclamação para o ano que vem, concorda que é possível romper os polos. “Acredito que vamos veruma divisão maior nesse espectro ideológico e de posicionamento político. O pleito municipal dará o tom dessereposicionamento ideológico e trará um equilíbrio maior entre as forças políticas nas disputas, mas não acredito que vá serepetir o cenário das eleições de 2018, entre PSL e PT”, afirma. Ele aposta, inclusive, que o DEM sairá fortalecido no próximoano. “Estamos investindo de forma planejada e estratégica para que essas forças nas capitais e nos municípios nos deemenvergadura política para nos permitir o protagonismo em 2022”, frisa. “Estou sonhando com um novo presidente de centro. O Brasil precisa de um novo Juscelino Kubitschek, alguémque olhe para o futuro e conviva bem com diferenças ideológicas e partidárias”Otto Alencar, senador “Tem dois ou três tentando se habilitar. O centro pode ser uma solução, gostaria que fosse, mas, neste cenário,não tem terceiro lugar”Esperidião Amin, senador

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