excelentÍssima senhora presidente do supremo...

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1 EXCELENTÍSSIMA SENHORA PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL GLEISI HELENA HOFFMANN, brasileira, casada, Senadora da República, do PT/PR, portador de Cédula de Identidade RG nº 3996866-5 SSP/PR, inscrita no CPF sob nº 676.770.619-15, localizável na Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Ala Teotônio Vilela, gabinete 04; e VANESSA GRAZZIOTIN, brasileira, casada, Senadora da República, do PCdoB/AM, portadora de Cédula de Identidade RG nº8/R472659 SESEG/SC, inscrita no CPF sob nº 161.146.202-91, localizável na Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Ala Alexandre Costa, gabinete 03; vêm, por seu advogado (doc. 1), com fundamento no disposto no inciso LXIX, do art. 5º, alíneas “d” do inciso I, do art. 102, ambos da Constituição Federal e no que estabelece a Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009 impetrar o presente MANDADO DE SEGURANÇA com pedido de concessão de medida liminar contra ato ilegal e abusivo praticado pelo Presidente da Mesa Diretora do Senado Federal, SENADOR JOSÉ RENAN VASCONCELOS CALHEIROS, brasileiro, casado, advogado, eleito pelo PMDB/AL, portador da CI cujo RG é o de nº 229.771, emitida pela SSP/AL, inscrito no CPF sob o nº 110.786.854-87, residente e domiciliado em Maceió - AL e estabelecido na Presidência do Senado

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA PRESIDENTE DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

GLEISI HELENA HOFFMANN, brasileira, casada, Senadora da

República, do PT/PR, portador de Cédula de Identidade RG nº 3996866-5

SSP/PR, inscrita no CPF sob nº 676.770.619-15, localizável na Praça dos Três

Poderes, Senado Federal, Ala Teotônio Vilela, gabinete 04; e

VANESSA GRAZZIOTIN, brasileira, casada, Senadora da

República, do PCdoB/AM, portadora de Cédula de Identidade RG nº8/R472659

SESEG/SC, inscrita no CPF sob nº 161.146.202-91, localizável na Praça dos

Três Poderes, Senado Federal, Ala Alexandre Costa, gabinete 03;

vêm, por seu advogado (doc. 1), com fundamento no disposto no inciso LXIX, do

art. 5º, alíneas “d” do inciso I, do art. 102, ambos da Constituição Federal e no

que estabelece a Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009 impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA

com pedido de concessão de medida liminar

contra ato ilegal e abusivo praticado pelo Presidente da Mesa Diretora do

Senado Federal, SENADOR JOSÉ RENAN VASCONCELOS CALHEIROS,

brasileiro, casado, advogado, eleito pelo PMDB/AL, portador da CI cujo RG é o

de nº 229.771, emitida pela SSP/AL, inscrito no CPF sob o nº 110.786.854-87,

residente e domiciliado em Maceió - AL e estabelecido na Presidência do Senado

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Federal, localizada no Senado Federal, Praça dos Três Poderes, Brasília – DF,

CEP 70.165-900, indicado, para fins desta impetração, como Autoridade

Coatora, pelas razões de fato e de direito que passam a expor:

1. Da legitimidade para figurar no polo ativo do mandado de segurança

As impetrantes são partes legítimas para figurar no polo ativo do

presente mandado de segurança, por serem parlamentares integrantes do

Senado Federal, a quem está sendo submetida a apreciação da Proposta de

Emenda à Constituição nº 55/2016, com grave violação às normas

constitucionais que disciplinam o processo legislativo de alteração da

Constituição Federal, conforme restará demonstrado nesta petição e com os

documentos que a acompanham, bem como entendimento consagrado pela

jurisprudência dessa egrégia Corte, como se anota no seguinte acórdão do

Mandado de Segurança nº 24.667, cujo Relator foi o Ministro Carlos Velloso,

julgado em 04/12/2003:

“CONSTITUCIONAL. PODER LEGISLATIVO: ATOS: CONTROLE

JUDICIAL. MANDADO DESEGURANÇA. PARLAMENTARES.

I. - O Supremo Tribunal Federal admite a legitimidade do

parlamentar - e somente do parlamentar – para impetrar mandado

de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no

processo de aprovação de lei ou emenda constitucional

incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o

processo legislativo.

II. - Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Ministro Moreira Alves

(leading case) (RTJ 99/1031); MS 20.452/DF, Ministro Aldir

Passarinho (RTJ 116/47); MS 21.642/DF, Ministro Celso de Mello

(RDA 191/200); MS 24.645/DF, Ministro Celso de Mello, "D.J." de

15.9.2003; MS 24.593/DF, Ministro Maurício Corrêa, "D.J." de

08.8.2003; MS 24.576/DF, Ministra Ellen Gracie, "D.J." de

12.9.2003; MS 24.356/DF, Ministro Carlos Velloso, "D.J." de

12.9.2003.

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III. - Agravo não provido”. Acórdão publicado no DJE de

23/04/2004)”

2. Da legitimidade para figurar no polo passivo da impetração

O Exmo. presidente do Senado Federal é indicado como

autoridade coatora em virtude de ter praticado os atos lesivos de burla

constitucional e regimental na tramitação da Proposta da Emenda Constitucional

nº 55/2016 aqui atacados, como restará demonstrado pela narrativa dos fatos e

pelo entendimento de direito.

3. Dos fatos

Conforme se pode verificar na tramitação da Proposta de Emenda

à Constituição nº 55, em 26/10/2016, a autoridade coatora, por despacho seu,

submeteu-a a apreciação da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do

Senado Federal.

Naquela comissão, após a realização de audiências e vista

coletiva, o parecer do relator, Senador Eunício de Oliveira foi aprovado por

maioria, vencidos os votos em separado dos Senadores Roberto Requião,

Humberto Costa, Vanessa Grazziotin e Randolphe Rodrigues (docs anexos).

Submetida ao plenário da Casa legislativa, a Proposta de Emenda

à Constituição nº 55/2016 foi votada em primeiro turno no dia 29 de novembro

de 2016. Em seguida, passou a cumprir o interstício entre o primeiro e o segundo

turno de, no mínimo, cinco dias úteis, pela exigência do art. 362, do Regimento

Interno do Senado Federal, sendo submetida, ato contínuo, às 3 (três) sessões

deliberativas ordinárias em segundo turno, nos termos do mesmo diploma

legal regimental que ordena:

“Art. 363. Incluída a proposta em Ordem do Dia, para o segundo

turno, será aberto o prazo de três sessões deliberativas

ordinárias para discussão, quando poderão ser oferecidas

emendas que não envolvam o mérito.” (grifamos)

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Note-se que o regimento interno é de clareza meridiana ao

consignar a necessidade de sessão deliberativa ordinária de discussão de

uma proposta de emenda à Constituição, não comportando exame

dessemelhante do texto.

Nada obstante, o presidente do Senado Federal, autoridade ora

impetrada, no dia 08 de dezembro de 2016, de forma atropelada e sem qualquer

convocação prévia, realizou três sessões no mesmo dia, sendo duas delas, a

despeito do que prevê explicitamente o RISF, sessões extraordinárias, para

contar prazo para a PEC 55/2016.

“08/12/2016 - 190ª Sessão Deliberativa Extraordinária 10h30

min

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 55, DE 2016 (nº

241 de 2016, na Câmara dos Deputados) Primeira sessão de

discussão, em segundo turno)

Primeira sessão de discussão, em segundo turno, da Proposta de

Emenda à Constituição nº 55, de 2016 (nº 241/2016, na Câmara

dos Deputados), de iniciativa da Presidência da República, que

altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para

instituir o Novo Regime Fiscal, e dá outras providências (Teto dos

Gastos Públicos).

08/12/2016 - 191ª Sessão Deliberativa Ordinária 14h00min

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 55, DE 2016

(nº 241 de 2016, na Câmara dos Deputados)

(Segunda sessão de discussão, em segundo turno)

Segunda sessão de discussão, em segundo turno, da Proposta de

Emenda à Constituição nº 55, de 2016 (nº 241/2016, na Câmara

dos Deputados), de iniciativa da Presidência da República, que

altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para

instituir o Novo Regime Fiscal, e dá outras providências (Teto dos

Gastos Públicos).

08/12/2016 - 192ª Sessão Deliberativa Extraordinária 16h00min

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(Terceira e última sessão de discussão, em segundo turno)

Terceira e última sessão de discussão, em segundo turno, da

Proposta de Emenda à Constituição nº 55, de 2016 (nº 241/2016,

na Câmara dos Deputados), de iniciativa da Presidência da

República, que altera o Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal, e dá outras

providências (Teto dos Gastos Públicos).”

Formalmente questionado sobre a inclusão de matéria restrita às

sessões deliberativas ordinárias pela Exma. Senadora Vanessa Grazziotin, ora

impetrante, a autoridade indigitada coatora respondeu conferir “interpretação

diversa” ao regimento interno.

“A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e

Democracia/PCdoB - AM. Para uma questão de ordem. Sem

revisão da oradora.)

– Muito obrigada, Sr. Presidente.

Nós temos na Ordem do Dia, hoje, na pauta, o item que trata da

primeira sessão de debates da PEC 55, e fomos convocados hoje

pela manhã, para uma reunião extraordinária.

Então, nós queremos apresentar a V. Exª, Presidente Renan, uma

questão de ordem no seguinte sentido: de fato, havia um calendário

acordado por todas as Lideranças para a tramitação, debate e

votação da PEC 55. Entretanto, nós entendemos que, em

decorrência dos últimos fatos – eu não quero me referir a eles neste

momento, farei isso no momento oportuno –, alguma coisa tem que

ser revista.

Então, nós recorremos ao Regimento Interno, Sr. Presidente, que

diz que uma proposta de emenda à Constituição só pode ser

debatida em sessões ordinárias. É isso o que determina o art.

363 do Regimento, podendo, obviamente, ser incluída em sessão

extraordinária, caso haja unanimidade de todas as Srªs e os Srs.

Senadores. E nós estamos aqui, Sr. Presidente, dizendo que não

vamos aceitar a discussão dessa PEC em sessão extraordinária,

mas somente em sessão ordinária.

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É esse o encaminhamento que nós fazemos a V. Exª neste

momento.

Eu acho que a Senadora Gleisi está trazendo a questão de ordem

por escrito e poderemos encaminhá-la à Mesa, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – A Senadora

Vanessa Grazziotin formula questão de ordem, apontando a

suposta violação do art. 363 do Regimento Interno do Senado

Federal, por tê-lo como taxativo, no sentido de que a discussão da

proposta de emenda à Constituição deve dar-se exclusivamente

em sessões deliberativas ordinárias.

Em que pese o brilhantismo da argumentação de S. Exª, a

literalidade do dispositivo não constitui a melhor exegese para o

cumprimento dos procedimentos regimentais. A inclusão de PEC

na pauta de sessão extraordinária, em absoluto, não viola o art.

363, posto que não afasta a aplicação do art. 189, conforme

autoriza o art. 372.

O art. 189, por exemplo, estabelece que o Presidente prefixará dia,

horário e Ordem do Dia para a sessão deliberativa ordinária,

dando-os a conhecer previamente ao Senado em sessão ou

através de qualquer meio de comunicação, como manda o

Regimento. Não há nenhuma restrição quanto à natureza da

matéria, portanto a inclusão de PEC em sessão ordinária,

independentemente de calendário especial, como revelam as

PECs 37 e 38, de 2011, casos concretos; a PEC 36, de 2016; e o

primeiro turno da PEC 55, de 2016, entre outros.

Não se ignore tampouco que os acordos de procedimentos

firmados pelos Líderes partidários são comuns para viabilizar a

apreciação de matérias que, mesmo não sendo consensuais no

mérito, revelam-se urgentes e relevantes para o País.

No processo legislativo, é fundamental o cumprimento das etapas

de discussão, sendo irrelevante se em sessão ordinária ou

extraordinária, desde que todos os Senadores, querendo, tenham

a oportunidade de fazê-lo.

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A apreciação da Proposta de Emenda à Constituição nº 55, de

2016, sabemos todos, segue calendário previamente acordado

com os Líderes, respeitado o direito das minorias.

Em face da sensibilidade da matéria, os Líderes deliberaram que

haveria a adequada discussão da matéria sem qualquer ressalva

quanto à natureza das sessões. Assim, ocorreu, no primeiro turno,

circunstância superada pelo tempo, tendo em vista que a questão

de ordem, veiculando dúvidas sobre a interpretação regimental,

deve ser suscitada imediatamente, durante a sessão, sob pena de

preclusão, art. 403, Senador Roberto Requião.

A inclusão da PEC 55, de 2016, em sessão extraordinária, Srs.

Senadores, Srªs Senadoras, apenas assegura o cumprimento da

meta temporal de conclusão da matéria, o dia 13 de dezembro,

como todos sabem, acordado com os Líderes no dia 19 de outubro,

divulgado publicamente e ratificado pelos Líderes e membros dos

partidos políticos presentes na reunião de Líderes no dia 16 de

novembro, que aprovou o rol de matérias que seriam apreciadas

até o fim desta Sessão Legislativa, igualmente público.”

A interpretação dada ao Regimento Interno foi questionada pelos

senadores presentes à sessão, nos seguintes termos:

“A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) –

Obrigada, Sr. Presidente.

Na forma do art. 405 do Regimento Interno, eu recorro ao Plenário

da decisão de V. Exª e queria ponderar com V. Exª que o art. 189

não se aplica à matéria que estamos em verificação, porque essa

matéria é uma proposição sujeita a disposições especiais,

conforme o Título IX do Regimento Interno. Portanto, não se aplica

o 189 e o 363 é claro em dizer que não pode contar – não pode

contar – para discussão da matéria sessão extraordinária.

Portanto, recorro, na forma do art. 405, de sua decisão ao Plenário

da Casa.

..........................................................................................

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O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Eu peço aos

Senadores...

O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PE) – Com o apoio da Liderança do PT.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL)

– Eu peço aos Senadores e às Senadoras...

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco Moderador/PRB - RJ) – Sr.

Presidente.

A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e

Democracia/PCdoB - AM)

– Com o nosso apoio também.”

............................................................................................

A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e

Democracia/PCdoB - AM) – Eu quero aqui repetir as palavras do

Senador Humberto Costa, que iniciou dizendo que fazia um apelo

político a V. Exª, até muito maior do que o apelo regimental: vamos

debater esta matéria de acordo com o que determina o Regimento.

Eu acho, Sr. Presidente, que nós estamos no limite. A partir de

agora, não dá mais. Se não for possível... E nós entendemos que

isso é possível. Quem sabe até sem prejudicar o calendário dos

senhores? Mas, se não for possível, Sr. Presidente, nós vamos ter

que ter uma atitude, no meu entendimento, desculpe-me, muito

mais rígida, porque parece que agora tudo pode – parece que

agora tudo pode.

Nós estamos pedindo do lado político uma negociação para

discutirmos a matéria...”

Ao colocar a questão de ordem que visava fazer cumprir o

regimento em votação, o presidente do Senado afirmou tratar-se de um “acordo

de líderes”, sendo repelido por líderes partidários presentes, que afirmaram ter

concordado com um calendário para discussão e votação, não com a inclusão

da matéria em sessão que não tem, regimentalmente, essa atribuição.

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A natureza das sessões extraordinárias no âmbito do Senado

Federal relaciona-se com o debate de matérias de urgência, podendo ser

convocadas pelo presidente da Casa sempre em acordo com as lideranças (art.

154, § 3º, do RISF), o que, como já infirmado, não ocorrera. Tudo quando posto

joga por terra qualquer narrativa que pondere a aplicação do art. 412, do RISF.

Isso porque o acordo de lideranças tem expressa previsão regimental de não

prescindir da unanimidade dos líderes :

“Art. 412. A legitimidade na elaboração de norma legal é

assegurada pela observância rigorosa das disposições

regimentais, mediante os seguintes princípios básicos:

...............................................................................

III – impossibilidade de prevalência sobre norma regimental de

acordo de lideranças ou decisão de Plenário, exceto quando

tomada por unanimidade mediante voto nominal, resguardado o

quorum mínimo de três quintos dos votos dos membros da Casa;”

In casu não houve acordo unânime de lideranças, como se pode

perfeitamente verificar do debate feito no plenário do Senado por ocasião da

190ª Sessão Deliberativa Extraordinária. Houve, isso sim, flagrante

descumprimento ao devido processo legislativo e a dispositivos constitucionais,

como será adiante demonstrado.

Ato contínuo, a autoridade impetrada, ao encerrar a votação da

questão de ordem IMPEDIU a discussão da PEC 55/2016 afirmando que já havia

chamado o segundo item da pauta, o que também é contraditado pelas notas

taquigráficas da sessão. Há apenas uma menção, não anúncio, do item que se

referiria à matéria seguinte. Tudo feito de forma completa e propositadamente

açodada, quando deveria, a rigor, o presidente anunciar o início da discussão

do segundo turno da PEC 55/2016. Ao deixar de fazê-lo e impedir que a

Senadora Gleisi Hoffmann se manifestasse incorreu, desnecessariamente, em

grave violação ao seu direito parlamentar ao devido processo legislativo:

“O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Nós vamos

encerrar a votação e proclamar o resultado.

(Procede-se à apuração.)

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O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Votaram

SIM, 48 Senadores; e NÃO,12. Nenhuma abstenção.

Está mantida a decisão do Presidente da Mesa e esta sessão é a

primeira de discussão da PEC 55 em segundo turno.

Item 2 da pauta.

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – Para discutir, Sr. Presidente. Para discutir

a PEC 55.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco Moderador/PRB - RJ) – Sr.

Presidente, vamos para o Item 2, Sr. Presidente.

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – Para discutir. Para discutir em segundo

turno, Sr. Presidente. Eu gostaria da palavra para discutir a PEC 55

em segundo turno.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Eu já chamei

o Item 2.

V. Exª terá.

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – Sr. Presidente, eu estava com o microfone

levantado. Por favor, se V. Exª quiser atropelar o Regimento e

colocar para contar, tudo bem. Agora tem que deixar nós

discutirmos. Eu gostaria de discutir a PEC 55.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Depois de

anunciar o segundo item da pauta...

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – Não, Sr. Presidente, o senhor não

anunciou.”

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco Moderador/PRB - RJ) –

Anunciou.

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – Não foi lido. O senhor não leu.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco Moderador/PRB - RJ) –

Anunciou, anunciou...

Anunciou sim. Eu ouvi...

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O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Item 2 da

pauta.

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – O senhor não leu, Sr. Presidente.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco Moderador/PRB - RJ) –

Anunciou, anunciou sim. Vamos em frente, Sr. Presidente.

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – Sr. Presidente, o senhor não leu.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco Moderador/PRB - RJ) –

Anunciou, anunciou sim. Anunciou, eu ouvi.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Item 2 da

pauta.

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – Sr.Presidente, isso não pode acontecer. O

que é isso? Eu estava com o microfone levantado aqui.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Item 2 da

pauta.

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – Eu estava com o microfone levantado, Sr.

Presidente.

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco Moderador/PRB - RJ) – Sr.

Presidente, eu queria fazer um apelo...

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – Por favor, Sr. Presidente, eu quero apelar

a V. Exª. Eu quero discutir a PEC 55.

Já não basta ser em votação extraordinária, e V. Exª não vai dar a

palavra?

O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco Moderador/PRB - RJ) –

Depois do Item 2.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Projeto de

Lei do Senado nº 204.

A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência

Democrática/PT - PR) – Inaudível. (Fora do microfone.)

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O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Projeto de

lei do Senado nº 204....”

A situação fora de tal gravidade que após incluir uma Proposta de

Emenda à Constituição em sessão extraordinária, o Exmo. Presidente do

Senado impediu que ela fosse discutida, cassando a palavra dos parlamentares

que se dispunham a exercer seu dever, configurando o segundo ato de

ilegalidade que nulifica as sessões de debate da PEC 55/2016, por flagrante

desrespeito ao devido processo legislativo.

No mesmo dia 08 de dezembro a autoridade ora apontada como

coatora, incluiu a PEC 55/2016 na 191ª Sessão Deliberativa Ordinária, ocorrida

às 14h00min e na 192ª Sessão Deliberativa Extraordinária, ocorrida às

16h35min, reiterando a ilegalidade já cometida anteriormente naquela mesma

manhã.

Importa consignar, que o desrespeito ao devido processo

legislativo na discussão da PEC 55/2016, não pode ser justificado em razão da

circunstância do Senado não ter realizado sessões ordinárias nos dias 6 e 7 do

corrente mês de dezembro de 2016, tendo em vista a decisão da Mesa Diretora

da Senado em aguardar o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal a

respeito da Decisão Liminar concedida pelo Exmo Senhor Ministro Marco

Aurélio, nos autos da ADPF nº 402, datada de 05/12/2016, decisão esta que veio

a ser parcialmente referendada para que S. Excia. o Senador Renan Calheiros

fique impossibilitado de eventualmente ter de exercer interinamente a função de

Presidente da República.

A Autoridade Coatora não só podia, como deveria ter previsto a

realização das sessões ordinárias.

Mas além deste aspecto, NADA JUSTIFICA O ILEGAL E ABUSIVO

ATO DE IMPOSSIBILITAR QUE A MATÉRIA LEGISLATIVA POSTA EM

DISCUSSÃO, FOSSE EFETIVAMENTE DISCUTIDA!

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4. Do Direito

Essa colenda Corte sempre entendeu que há legitimidade para a

impetração de mandado de segurança por parlamentar destinado a coibir ato

ilegal praticado durante a tramitação de processo legislativo, em respeito ao

direito líquido e certo de participar de um devido processo legislativo

constitucional (MS 24.667, Pleno, Min. Carlos Velloso, DJ de 23.04.04).

Desse modo, a possibilidade de avançar na análise da

constitucionalidade da administração ou organização interna das casas

legislativas tem sido admitida em situações excepcionais, em que há flagrante

desrespeito ao devido processo legislativo ou aos direitos e garantias

fundamentais.

A regularidade do processo legislativo é questão que assume cada

dia maior importância nos debates contemporâneos. A formação democrática da

vontade legislativa, que diz respeito ao núcleo do sistema constitucional há que

ser avaliada sempre em cumprimento das normas postas, sob pena de uma

maioria sujeitar as minorias à sua vontade em detrimento de princípios gerais e

constitucionais e de obediência ao devido processo.

Em reconhecimento ao princípio da supremacia da Constituição

como corolário do estado constitucional e a ampliação do controle judicial de

constitucionalidade que dele decorre consagraram a ideia de que nenhum

assunto, quando suscitado à luz da Constituição, poderá estar previamente

excluído da apreciação judicial. É nesse diapasão que esse Supremo Tribunal

Federal tem entendido que a discricionariedade das medidas políticas não

impede o seu controle judicial, desde que haja violação a direitos assegurados

pela Constituição em vigor.

No caso em tela, ao burlar o procedimento de inclusão para

discussão da PEC 55/2016 nas três sessões deliberativas ordinárias,

conforme estabelece o art. 363 do Regimento Interno do Senado Federal, bem

como ao impedir formalmente a discussão, interditando a fala de senadores

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inscritos, incorreu o Exmo. Presidente do Senado não somente em violação a

dispositivo regimental, mas simultaneamente ao desrespeito à norma

constitucional perfeitamente posta no § 2º do art. 60, quando dispõe:

“Da Emenda à Constituição

Art. 60. .............................................................................

.........................................................................................

§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do

Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada

se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos

membros.” (grifamos)

O texto constitucional prevê um direito parlamentar

subjetivo no processo legislativo, que é a prévia discussão de qualquer proposta

de emenda constitucional. A proposta deverá ser discutida antes de ser votada,

e o destinatário desse comando constitucional são os parlamentares que têm o

direito subjetivo de discuti-la. A violação desse direito parlamentar subjetivo viola

diretamente o que dispõe o art. 60, § 2º, da Constituição Federal e invalida o

processo legislativo constitucional.

José Afonso da Silva, ao se aprofundar sobre as

regras procedimentais do processo legislativo constitucional, asseverou que “o

legislador tem o dever de respeitar os requisitos do processo legislativo para que

se possa produzir uma lei válida. Tem que respeitar, por exemplo, as regras de

iniciativa legislativa (quem pode apresentar o projeto de lei), tem que respeitar o

sistema de discussão e votação estabelecido, regras sobre revisão no

bicameralismo, sobre veto, sanção, promulgação e publicação. Se não forem

cumpridas essas regras procedimentais a lei pode ser inválida, isto é,

inconstitucional, ou poder ser ineficaz (falta de publicação, por exemplo)” (José

Afonso da Silva, Teoria do Conhecimento Constitucional, editora Malheiros, São

Paulo, 2014, pag. 423).

Em linha contínua de argumentação, no que tange ao cerceamento

da palavra a senadores que se dispunham a discutir a matéria, é postura que,

conquanto possa ser corriqueira e tida como da “praxe legislativa”, não pode

subsistir nem ser considerado procedimento menor ou de pouca gravidade,

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máxime em se tratando de debate relevante como uma alteração constitucional

da magnitude que a PEC 55/2016 alcança.

Independentemente da posição que se assuma quanto à

determinada proposta ou projeto em tramitação no parlamento, apresenta-se

ilegal a cassação da palavra de um parlamentar pela autoridade que ocupa a

posição de dirigir os trabalhos. Vetar o direito constitucional de um parlamentar

à palavra e a discutir as matérias que estão sob sua análise atenta contra a

soberania do voto que lhe foi conferido pelos seus eleitores, sendo intrínseco ao

exercício de seu mandato.

Urge, portanto, que se faça uma interpretação sistemática do

Regimento Interno do Senado Federal com princípios constitucionais e com a

jurisprudência já consagrada nessa Suprema Corte, sobretudo no que tange ao

direito de minorias parlamentares.

Outro não foi o entendimento em diversas ocasiões em que,

sustentado na farta jurisprudência do próprio STF, as decisões de Ministros

relatores reconheceram, preliminarmente, a possibilidade de o Tribunal “exercer

o controle da juridicidade da atividade parlamentar”, sempre que, como no caso

presente, esteja “em jogo a interpretação da Lei Maior”, sem que isso implique

eventual invasão de atividades de competência do Poder Legislativo,

diferentemente do que ocorreria diante de questões de natureza interna corporis,

“imunes ao controle jurisdicional em homenagem ao princípio da separação dos

Poderes, independentes e harmônicos entre si”.

À guisa de exemplo, entendeu a Exma Ministra Rosa Weber ao

examinar o Mandados de Segurança nº 32.885, em que se atacava decisão do

Presidente do Senado, que indeferiu as questões de ordem e determinou que se

procedesse à instalação de uma única CPI:

“É disso que se trata. Independentemente das minúcias

regimentais, a questão versa sobre prerrogativa das minorias. Há

que analisar a matéria à luz da Constituição Federal, e não do

Regimento Interno. Não é este que disciplina o direito cujo

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reconhecimento judicial se pleiteia. Indiferente que exista ‘recurso’

de ofício ou que conste formalmente do ato apontado como coator

o deferimento ou indeferimento do pleito da minoria,

consubstanciado no Requerimento nº 302, de 2014; à figura

externa do ato, prevalece a análise das consequências materiais

que ele produz, sob o parâmetro da normatividade decorrente do

art. 58, § 3º, da CF/88.”

Hipótese mais complexa que a que se discute nestes autos, o

presidente do Senado, naquele caso embora formalmente com respaldo em

norma do regimento interno da Casa legislativa, ao indeferir as questões de

ordem e submetê-las a exame da CCJ e, em última instância, do Plenário do

Senado, manifestando-se pela criação de uma única CPI, com objeto ampliado,

acabou por submeter o requerimento para instalação de CPI à vontade da

maioria, o que revelaria o “caráter materialmente constitucional” da controvérsia.

A esse propósito, afirmou a Ministra: “fundada, a pretensão, em potencial afronta

a preceito constitucional assecuratório de direito subjetivo público titularizado por

grupo minoritário integrante do Poder Legislativo, a controvérsia assume, na sua

substância, dimensão eminentemente constitucional”. Justificada estaria,

portanto, o exercício da jurisdição constitucional pelo STF e o mandado de

segurança seria o instrumento hábil para provocar sua atuação, no caso.

Mantendo essa postura, a jurisprudência do Supremo Tribunal

Federal já vem acumulando decisões, em que se afasta o argumento da

prevalência dos atos internos das casas legislativas, reconhecendo o direito

subjetivo dos parlamentares ao devido processo legislativo. O precedente

condutor foi firmado pelo Plenário, no Mandado de Segurança nº 23.831/DF,

publicado no DJ 04/08/06, em que foi relator o Exmo. Ministro Celso de Mello:

“(...)

O CONTROLE JURISDICIONAL DOS ATOS PARLAMENTARES:

POSSIBILIDADE, DESDE QUE HAJA ALEGAÇÃO DE

DESRESPEITO A DIREITOS E/OU GARANTIAS DE ÍNDOLE

CONSTITUCIONAL. - O Poder Judiciário, quando intervém para

assegurar as franquias constitucionais e para garantir a integridade

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e a supremacia da Constituição, desempenha, de maneira

plenamente legítima, as atribuições que lhe conferiu a própria Carta

da República, ainda que essa atuação institucional se projete na

esfera orgânica do Poder Legislativo. - Não obstante o caráter

político dos atos parlamentares, revela-se legítima a intervenção

jurisdicional, sempre que os corpos legislativos ultrapassem os

limites delineados pela Constituição ou exerçam as suas

atribuições institucionais com ofensa a direitos públicos subjetivos

impregnados de qualificação constitucional e titularizados, ou não,

por membros do Congresso Nacional. Questões políticas. Doutrina.

Precedentes. - A ocorrência de desvios jurídico-constitucionais nos

quais incida uma Comissão Parlamentar de Inquérito justifica,

plenamente, o exercício, pelo Judiciário, da atividade de controle

jurisdicional sobre eventuais abusos legislativos (RTJ 173/805-810,

806), sem que isso caracterize situação de ilegítima interferência

na esfera orgânica de outro Poder da República.”

O nosso sistema democrático, em consonância com a jurisdição

constitucional impõe limites aos excessos da maioria e requer que se modere o

exercício da vontade majoritária. Desse modo, age a Corte Suprema na sua

função de reforçar as normatividade da democracia.

A propósito, importa relembra as sábias palavras do mestre Pedro

Lessa sobre os limites de atuação do Poder Judiciário no controle dos chamados

atos políticos, conceito do qual se extrai a atual jurisprudência sobre a matéria.

Dizia Pedro Lessa:

“Para se furtar à competencia do poder judiciario, não basta que

uma questão offereça aspectos politicos, ou seja susceptivel de

effeitos politicos. É necessario que seja simplesmente, puramente,

meramente politica.

Quaes são as questões exclusivamente politicas? As que se

resolvem com faculdades meramente politicas, por meio de

poderes exclusivamente politicos, isto é, que não têm como termos

correlativos direitos incarnados nas pessôas, singulares ou

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collectivas, sobre que taes poderes se exercem. Quando á funcção

de um poder, executivo ou legislativo, não corresponde, ou, antes,

não se oppõe um direito, de uma pessoa, physica ou moral, que a

acção desse poder interessa, um tal poder pressuppõe

evidentemente o arbitrio da autoridade, em quem reside. É um

poder discricionario, que portanto não póde ser restringido pela

interferencia de outro. Poder meramente politico é um poder

discricionário.”

E um pouco adiante:

“Acabemos, pois, de uma vez com o equivoco, definindo a

verdadeira doutrina americana, que é a nossa. Uma questão póde

ser distinctamente politica, altamente politica, segundo alguns, até

puramente politica, fora dos dominios da justiça, e comtudo, em

revestindo a fórma de um pleito, estar na competencia dos

tribunaes, desde que o acto, executivo ou legislativo, contra o qual

se demande, fira a Constituição, lesando ou negando um direito

nella consagrado. (...). Analogamente, discorrendo também dos

Insular Cases, dizia, ha pouco, outra autoridade, o professor Rowe:

“Estes julgados serviram de realçar com grande clareza a posição

única occupada pela Côrte Suprema. Diversamente de outro

qualquer tribunal, lhe cabe ás vezes resolver questões, que,

suposto juridicas na fórma, são politicas na substancia, e actuam

profundamente sobre a estructura de nossas instituições”. (...)

Dest’arte a interpretação constitucional se afastou da politica tanto

quanto possivel. Este “tanto quanto possivel", rematando e

restringindo as considerações anteriores, bem está mostrando não

se poderem evitar de todo as questões políticas, antes serem

muitas vezes de necessidade absoluta, na competencia de um

tribunal creado para constituir o juiz unico e definitivo, assim

dos seus proprios direitos, como dos do poder legislativo e do

executivo. Por mais que se apurem sutilizas, requintando ficções

e convenções, nunca se poderá conceber que não tope

frequentemente em questões politicas de alta gravidade o

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definidor exclusivo e supremo dos limites entre os tres orgams

da soberania nacional na distribuição constitucional dos

poderes”.

E algumas linhas depois:

“Numa palavra: a violação de garantias constitucionaes, perpetrada

á sobra de funcções politicas, não é imune á acção dos tribunaes.

A estes compete empre verificar se a attribuição politica, invocada

pelo excepcionante, abrange nos seus limites a faculdade

exercida”.

Em substancia:

exercendo attribuições politicas, e tomando resoluções politicas,

movese o poder legislativo num vasto dominio, que tem como

limites um circulo de extenso diametro, que é a Constituição

Federal. Emquanto não transpõe essa peripheria, o Congresso

elabora medidas e normas, que escapam á competencia do

poder judiciario. Desde que ultrapassa a circumferencia, os

seus actos estão sujeitos ao julgamento do poder judiciario,

que, declarando-os inapplicaveis por offensivos a direitos,

lhes tira toda a efficacia juridica.

(Do Poder Judiciario. Livraria Francisco Alves: Rio de Janeiro,

1915, p. 59 e 6366 – redação conforme o original – grifos das

Impetrantes.

É por essa razão, conforme já assinalado, que o Supremo Tribunal

Federal, superando a tese da insindicabilidade de atos tomados na condução do

processo legislativo, tem reconhecido amplamente a legitimidade ativa de

parlamentar para a propositura de mandado de segurança assegurando a defesa

do direito subjetivo ao devido processo legislativo, de que é exemplo o acórdão

no Mandado de Segurança nº 24.667, Relator o Ministro Carlos Velloso, julgado

em 04/12/2003:

“CONSTITUCIONAL. PODER LEGISLATIVO: ATOS: CONTROLE

JUDICIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. PARLAMENTARES.

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I. - O Supremo Tribunal Federal admite a legitimidade do

parlamentar - e somente do parlamentar – para impetrar mandado

de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no

processo de aprovação de lei ou emenda constitucional

incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o

processo legislativo.

II. - Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Ministro Moreira Alves

(leading case) (RTJ 99/1031); MS 20.452/DF, Ministro Aldir

Passarinho (RTJ 116/47); MS 21.642/DF, Ministro Celso de Mello

(RDA 191/200); MS 24.645/DF, Ministro Celso de Mello, "D.J." de

15.9.2003; MS 24.593/DF, Ministro Maurício Corrêa, "D.J." de

08.8.2003; MS 24.576/DF, Ministra Ellen Gracie, "D.J." de

12.9.2003; MS 24.356/DF, Ministro Carlos Velloso, "D.J." de

12.9.2003.

III. - Agravo não provido”. Acórdão publicado no DJE de

23/04/2004)”

É que os regimentos internos das casas legislativas são fontes

normativas que decorrem de expressa autorização contida na Constituição

Federal de 1988, nos seus arts. 51, III e 53, XII.

Na lição de Raul Machado Horta:

“A função do regimento é complementar o texto constitucional,

preenchendo os claros que a Constituição confiou ao domínio

material do regimento interno. A posição do regimento, não

obstante a autonomia normativa na matéria que a Constituição lhe

reservou, é secundária e derivada, não podendo dispor contra o

que se encontra consagrado, expressa ou implicitamente, na

norma constitucional superior.”

(Limitações constitucionais dos poderes de investigação. Revista

de Direito Público, São Paulo, v. 5, p. 39, 1968)

Desse modo, a possibilidade de avançar na análise da

constitucionalidade da administração ou organização interna das casas

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legislativas tem sido admitida em situações excepcionais, em que há flagrante

desrespeito ao devido processo legislativo ou aos direitos e garantias

fundamentais.

A regularidade do processo legislativo é questão que assume cada

dia maior importância nos debates contemporâneos. A formação democrática da

vontade legislativa, que diz respeito ao núcleo do sistema constitucional há que

ser avaliada sempre à luz das normas postas, sob pena de uma maioria sujeitar

as minorias à sua vontade em detrimento de princípios gerais e constitucionais

e de obediência ao devido processo.

Em reconhecimento ao princípio da supremacia da Constituição

como corolário do estado constitucional e do adequado controle judicial de

constitucionalidade que dele decorre, consagrou a jurisprudência a ideia de que

nenhum assunto, quando suscitado à luz da Constituição, poderá estar

previamente excluído da apreciação judicial. É nesse diapasão que esse

Supremo Tribunal Federal tem entendido que a discricionariedade das medidas

políticas não impede o seu controle judicial, desde que haja violação a direitos

assegurados pela Constituição em vigor.

Ainda mais aberto ao controle jurisdicional do processo legislativo,

o Ministro Sepúlveda Pertence reiteradamente sustentou que a jurisprudência

acerca da impossibilidade de o Supremo Tribunal Federal examinar matéria

interna corporis não seria aplicável quando em jogo a defesa de direito subjetivo.

Esse ponto de vista do Ministro Sepúlveda Pertence, embora vencido em alguns

julgados, serviu para que o Supremo Tribunal Federal evoluísse a jurisprudência

para admitir o cabimento do mandado de segurança em diversas outras

hipóteses, dentre as quais é exemplo marcante a disciplina dos poderes das

CPIs e do poder dos presidentes das Casas Legislativas para designar, ou não,

membros de comissões.

Veja-se, por exemplo, o voto proferido pelo Ministro Sepúlveda

Pertence no julgamento do MS 21.754, Redator para o acórdão o Ministro

Francisco Rezek, Plenário, DJ 21.2.1997:

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“Senhor Presidente, entendo que esta jurisprudência é correta, e

decorre menos de textos expressos do que de uma experiência

internacional de concretização do princípio da independência e da

harmonia dos Poderes. A ela não tenho dúvida em me alinhar.

Permito-me uma breve consideração, apenas para não me

comprometer com a linha dessa jurisprudência, quando ela, a meu

ver, extravasa ou supera um pouco os limites da sua legitimidade.

Como um critério pragmático, prático, empírico, se repete muito, no

tema, é que, no processo legislativo ou em qualquer deliberação da

Câmara, o que o Judiciário pode apurar são as violações de norma

constitucional, não de norma regimental. Minha ótica, no ponto, é

um pouco diversa. Não me sinto, neste momento, autorizado à

afirmação apodítica de que da violação da norma regimental não

possa surgir jamais uma questão susceptível de solução

jurisdicional. O que me parece essencial é saber, seja qual for a

norma jurídica invocada, se há, em tese, direito subjetivo a

proteger. Se existe, pode a norma de referência ser regimental.

Assim como, pode a violação de norma constitucional não trazer

viabilidade, ao mandado de segurança, se não há direito subjetivo

em jogo: aí, a ofensa à Constituição poderá gerar, sim, a

inconstitucionalidade formal da norma dela decorrente a ser

declarada, porém, em outras vias.” (grifo das Impetrantes)

É conforme exposto, o direito subjetivo das impetrantes ao respeito

ao devido processo legislativo, representado pelo direito de discutirem a matéria

a ser deliberada, em sessões ordinárias, as questões centrais do presente

mandado de segurança, tendo como fundamento, o disposto no § 2º do art. 62,

da Constituição Federal, obstado pelo ato coator da autoridade impetrada.

5. Do periculum in mora

A par da ausência de urgência que justifique tamanha pressa na

alteração constitucional, e sem cumprir os requisitos constitucionais e

regimentais, a PEC 55/2016 teve sua fase de discussão considerada encerrada

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e está incluída na ordem do dia para ser votada em definitivo no dia 13 de

dezembro, terça-feira próxima no plenário do Senado Federal, o que evidencia

o periculum in mora e impõe a necessidade de concessão da medida liminar,

sob pena do perecimento do direito dos senadores ao debate que deveria

anteceder a votação.

6. Do pedido

De tudo quando exposto, as Impetrantes requerem:

a) seja concedida medida liminar, com fundamento no disposto no inciso

III, do art. 7º da Lei nº 12.016/2009, para que seja suspensa a

tramitação da Proposta de Emenda à Constituição nº 55/2016, no

Senado Federal, determinando-se que a autoridade coatora respeite o

direito dos Parlamentares a discutirem a PEC 55/2016, em 3 (três)

sessões deliberativas ordinárias de discussão conforme assegurado

no § 2º do art. 60, da Constituição Federal c/c art. 363 e art.412 do

RISF para, somente após o debate inclui-la na pauta e submetê-la à

apreciação e deliberação do Plenário do Senado Federal, ou até o

julgamento deste Mandado de Segurança;

b) sucessivamente ao item anterior, concessão de ordem liminar para

que, na improvável hipótese de que se considere constitucional e

regimental a discussão da PEC 55 em sessões extraordinárias, seja

determinada a realização de 1 (uma) sessão extraordinária de

discussão, ante a não realização da discussão na 190 ª sessão

extraordinária, de 8 de dezembro de 2016, na qual a autoridade

coatora impediu que a senadora impetrante Gleisi Hoffmann discutisse

a matéria;

c) seja determinada a notificação da autoridade coatora, nos termos do

disposto no inciso I do art. 7º, da Lei nº 12.016/2009, para que possa,

caso queira, prestar suas informações no prazo legal de 10 (dez) dias;

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d) seja determinada a intimação da Advocacia Geral da União, órgão de

representação judicial, para os fins do disposto no inciso II do art. 7º

da Lei nº 12.016/2009;

4. após a apresentação das informações da autoridade coatora, a

intimação do Procurador Geral da República, para que possa emitir seu

parecer, no prazo de até 10 dias, nos termos do disposto no art. 12 da Lei

nº 12.016/2009;

5. O deferimento da ordem de segurança, de forma que sejam

reconhecidos e declarados nulos os atos ilegais praticados na tramitação

da Proposta de Emenda à Constituição nº Constitucional nº 55/2016,

determinando-se que a autoridade coatora respeite o direito dos

Parlamentares a discutirem a PEC 55/2016, em 3 (três) sessões

deliberativas ordinárias de discussão para, somente após o debate inclui-

la na pauta e submetê-la à apreciação e deliberação do Plenário do

Senado Federal, e que sucessivamente seja deferida a segurança para

que seja declarada nula a discussão da PEC 55/2016 na 190ª sessão

extraordinária, na qual a autoridade coatora impediu que a Impetrante

Senadora Gleisi Hoffmann discutisse a matéria;

6.Protesta ainda, pela juntada das demais procurações, na forma dos arts.

104 caput, § 1º do CPC.

Dá-se à presente demanda o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), para

efeitos fiscais.

Termos em que E. Deferimento

Brasília, 12 de dezembro de 2016.

Paulo Machado Guimarães OAB/DF nº 5.358