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1 EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, ROSA WEBER, RELATORA DO MANDADO DE SEGURANÇA N.º 33.078/SP Os direitos humanos somente podem ser alcançados quando restringem o poder do Estado. Sendo assim, a defesa desses direitos depende mais da independência judicial que enunciá- los em uma constituição. É a aplicação bem sucedida dos direitos fundamentais judiciais (para os quais a efetiva proteção judicial é essencial) que marca a diferença entre um Estado de Direito e um Estado policial. Em outras palavras, os direitos penais, processuais e processuais penais desempenham um papel fundamental na realização do estado democrático de direito moderno. 1 MANDADO DE SEGURANÇA Nº ° 33.078/SP CONECTAS DIREITOS HUMANOS, associação civil sem fins lucrativos qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, inscrita no CNPJ sob nº 04.706.954/0001-75, com sede na Avenida Paulista, nº 575, 19º andar, São Paulo/SP, representada por seus advogados (doc. 01, 02, 03 e 04), vem respeitosamente à presença de V. Exa. manifestar-se na qualidade de AMICUS CURIAE no MS n.º 33.078 proposto pelo Estado de São Paulo, representando os interesses institucionais do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, em face de decisão plenária 1 Trecho do discurso do ministro Gilmar Mendes, então presidente do Supremo Tribunal Federal, no Simpósio Internacional em comemoração aos 40 anos da Corte Constitucional do Egito, realizado em 2009, na cidade do Cairo. O tema principal do evento foram as garantias constitucionais dos direitos e das liberdades políticas. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaArtigoDiscurso/anexo/DiscEgito.pdf Tradução livre de: “Human rights can only be achieved when they restrict the power of the state. As such, upholding these rights depends more on judicial independence than on listing them in a constitution. It is the successful application of judicial fundamental rights (for which effective judicial protection is essential) that marks the difference between the rule of law and a police state. In other words, criminal, procedural and criminal procedural rights play a key role in accomplishing the modern democratic rule of law.”

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL, ROSA WEBER, RELATORA DO MANDADO DE SEGURANÇA N.º

33.078/SP

Os direitos humanos somente podem ser alcançados quando

restringem o poder do Estado. Sendo assim, a defesa desses

direitos depende mais da independência judicial que enunciá-

los em uma constituição. É a aplicação bem sucedida dos

direitos fundamentais judiciais (para os quais a efetiva

proteção judicial é essencial) que marca a diferença entre um

Estado de Direito e um Estado policial. Em outras palavras,

os direitos penais, processuais e processuais penais

desempenham um papel fundamental na realização do estado

democrático de direito moderno. 1

MANDADO DE SEGURANÇA Nº ° 33.078/SP

CONECTAS DIREITOS HUMANOS, associação civil sem fins lucrativos qualificada

como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, inscrita no CNPJ sob

nº 04.706.954/0001-75, com sede na Avenida Paulista, nº 575, 19º andar, São Paulo/SP,

representada por seus advogados (doc. 01, 02, 03 e 04), vem respeitosamente à presença de

V. Exa. manifestar-se na qualidade de

AMICUS CURIAE no MS n.º 33.078

proposto pelo Estado de São Paulo, representando os interesses institucionais do

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, em face de decisão plenária

1 Trecho do discurso do ministro Gilmar Mendes, então presidente do Supremo Tribunal Federal, no

Simpósio Internacional em comemoração aos 40 anos da Corte Constitucional do Egito, realizado em 2009, na cidade do Cairo. O tema principal do evento foram as garantias constitucionais dos direitos e das liberdades políticas. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaArtigoDiscurso/anexo/DiscEgito.pdf Tradução livre de: “Human rights can only be achieved when they restrict the power of the state. As such, upholding these rights depends more on judicial independence than on listing them in a constitution. It is the successful application of judicial fundamental rights (for which effective judicial protection is essential) that marks the difference between the rule of law and a police state. In other words, criminal, procedural and criminal procedural rights play a key role in accomplishing the modern democratic rule of law.”

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proferida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no Pedido de Providências nº 0001527-

26.2014.2.00.0000.

1) OBJETO DA DEMANDA

A decisão colegiada do e. Conselho Nacional de Justiça desafiada pelo presente

Mandado de Segurança foi fruto da inconformidade de um juiz de primeiro grau, Roberto

Luiz Corcioli Filho, que recebeu através de um e-mail da Presidência do TJSP, a

notícia de que estava afastado da 12ª Vara Criminal Central da Capital por conta do

teor garantista de suas decisões.

Indignado com o ocorrido, o magistrado acionou o e. CNJ para que

este se manifestasse sobre o seu caso e sobre a política de designações de juízes

auxiliares no Estado de São Paulo – até porque já era público e notório que a designação e

remoção de juízes auxiliares naquele estado careciam de critérios claros e objetivos

O v. acórdão prolatado em 17/06/2014, no Pedido de Providências de nº

0001527-26.2014.2.00.0000, determinou que o impetrante recoloque o nome do juiz

Roberto Luiz Corcioli Filho na lista de designações de Juízes Auxiliares da Capital para

Varas Criminais e/ou Infracionais na Comarca de São Paulo e que edite, no prazo de 60

(sessenta) dias, ato normativo que regulamente o artigo 8º, caput, da Lei Complementar

Estadual nº 980, de 21 de dezembro de 2005, estabelecendo regras e critérios objetivos

e impessoais para as designações dos Juízes Auxiliares da Capital do Estado de São Paulo.

Nota-se que a controvérsia se inicia por conta do sistema de designações dos

Juízes Auxiliares da Capital do Estado de São Paulo, onde o binômio necessidade-

disponibilidade não foi observado no caso do afastamento do magistrado da vara criminal.

O e. CNJ entendeu ainda que, pelo afastamento ter se dado exclusivamente por conta de

uma representação disciplinar de promotores de justiça perante a Corregedoria-local de

Justiça, a medida teve natureza cautelar disciplinar com todas as características de um ato

administrativo viciado por desvio de finalidade.

3

Ora, é inegável que o e. Conselho desempenhou papel determinante para se

garantir a aplicação dos princípios da administração pública, do juiz natural e da garantia da

independência judicial - nada além de sua própria atribuição dada pelo poder constituinte

derivado no art. 103-B, § 4º, II, da Constituição da República.

O inconformismo do TJSP traz a esta Suprema Corte um mandado de segurança

que questiona o papel do e. CNJ de aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro,

principalmente no que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e

processual, o que, inevitavelmente o traz como a primeira questão constitucional a ser

debatida, não obstante haja, ainda, violação da Constituição quanto a direitos fundamentais

de acesso à ordem jurídica justa.

Nesse sentido, vale mencionar as palavras do Exmo. Min. Luiz Fux, em decisão

monocrática no Mandado de Segurança n. 32.077 que também discutia as atribuições do e.

Conselho:

(...) zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União

A necessidade do controle externo do judiciário é evidente, porém só ganhou

corpo após a Emenda Constitucional nº45/2004 e, ainda que este c. Supremo Tribunal já

tenha reconhecido a constitucionalidade do e. CNJ, demandas que questionam as suas

atribuições não deixarão de chegar à esta c. Corte.

Ocorre que a presente demanda escancara a resistência do impetrante em

reconhecer o e. CNJ como legitimador social do Poder Judiciário e ferramenta importante

para a evolução do processo democrático brasileiro.

O caso do magistrado Roberto Luiz Corcioli Filho é apenas um reflexo dessa

resistência por parte da Presidência da Corte paulista em abandonar o controle ideológico

4

de seus juízes. Um reflexo que emergiu para o debate público e agora torna-se

paradigmático2.

É a partir do caso de um juiz que aplica a hermenêutica constitucional sob a

perspectiva de garantia de direitos, sendo punido por isso, que a sociedade discute a

mudança da política de designações de juízes auxiliares no Estado de São Paulo.

2) DA POSSIBILIDADE DE MANIFESTAÇÃO COMO AMICUS CURIAE EM MANDADO DE

SEGURANÇA

A presente demanda tem por objeto a validade e os efeitos da decisão do e.

Conselho Nacional de Justiça, que determinou ao Tribunal de Justiça de São Paulo o

estabelecimento de regras e critérios objetivos e impessoais para as designações dos Juízes

Auxiliares da Capital do Estado de São Paulo.

Trata-se, assim, de controvérsia que transcende ao direito fundamental das partes

deste mandamus, possuindo implicações políticas, sociais e jurídicas de indiscutível

magnitude e de inquestionável significação para sociedade, uma vez que trata da garantia

constitucional de acesso à justiça e da necessidade de independência do Poder Judiciário.

Indiscutível magnitude, pois um único juiz afetado em sua independência

funcional gera consequências para toda a coletividade, que recebe uma resposta

jurisdicional sem todas as garantias necessárias para a existência do Estado de Direito,

como aquele desenhado pela Constituição.

Inquestionável significação para a sociedade, pois a movimentação de magistrados

da área criminal para a área cível por conta de decisões que não seguem a linha ideológica

da Presidência do respectivo tribunal, afeta a sua própria confiança no Poder Judiciário e a

sua compreensão quanto às garantias conquistadas na Constituição de 1988.

2 http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,martelo-suspenso,1637362 e http://www.conjur.com.br/2015-fev-03/controle-ideologico-juizes-afeta-independencia-judiciario

5

É um típico caso de interesse público onde a pluralização do debate é saudável e

necessária para que o Judiciário continue a garantir valores fundamentais para a

democracia.

É nesse sentido que o Congresso Nacional incorporou ao texto do novo Código

de Processo Civil a possibilidade de amicus curiae em qualquer demanda desde que haja

relevância, especificidade do tema ou repercussão social da controvérsia3.

Da mesma forma, o Exmo. Ministro Gilmar Mendes, nos autos do MS nº

32.033/DF, não só admitiu a figura do amicus curiae em mandado de segurança, bem como

ressaltou a importância da participação social nos processos de interesse social:

Ao ter acesso a essa pluralidade de visões em permanente diálogo, o

Supremo Tribunal Federal passa a contar com os benefícios decorrentes dos

subsídios técnicos, implicações político-jurídicas e elementos de repercussão

econômica que possam vir a ser apresentados pelos “amigos da Corte”. Essa

inovação institucional, além de contribuir para a qualidade da prestação

jurisdicional, garante novas possibilidades de legitimação dos julgamentos

do Tribunal no âmbito de sua tarefa precípua de guarda da Constituição [...]

não há qualquer incompatibilidade do rito do mandado de segurança

com a participação do amicus curiae, nem há qualquer impedimento

legal para a sua admissão pelo fato de o mandado de segurança não

se tratar de um feito do controle abstrato, pois, conforme já

ressaltado, o Tribunal admitiu a possibilidade de amicus curiae em

recurso extraordinário.4

Também Vossa Excelência já enfrentou pedido de ingresso de amicus curiae em

mandado de segurança, como se deu no caso dos MS 27854/DF, MS 28375/DF, MS

3 Novo Código de Processo Civil. Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a

especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a manifestação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de quinze dias da sua intimação. 4 MS 32.03332033/DF. Ministro Relator Gilmar Mendes, julgado em 20.6.2013.

6

27728/DF, MS 27761/DF e MS 32874/DF5, em que não admitiu a admissão da mesma

proponente, ANDECC – Associação Nacional de Defesa dos Concursos para Cartórios,

por entender que os amigos da Corte não são assistente litisconsorciais e não estão legitimados a atuar

na defesa incondicional de seus próprios interesses.

Vossa Excelência teve o cuidado de analisar os atos constitutivos da ANDECC,

verificando que os presidentes da associação eram candidatos aos concursos questionados

pelos mandados de segurança, sendo a defesa incondicional de interesse próprio da

proponente no caso, o que fica claro ao transcrever trecho de seu voto no MS 28.375/DF:

Os amigos da Corte não são assistentes litisconsorciais e não estão legitimados a atuar na defesa incondicional de seus próprios interesses. Verifico, pela análise dos atos constitutivos da ANDECC (fl. 1.175 do MS 28.375/DF), que, à época das impetrações, o Presidente da Associação era Humberto Monteiro da Costa, um dos litisconsortes ativos admitidos pela decisão da lavra da Ministra Ellen Gracie, a fls. 819-26. Em eleição de 31.12.2009, uma nova chapa composta por Caroline Sarraf Ferri (Presidente) e Monique da Costa Ribeiro (Vice- Presidente), também candidatas aprovadas no mesmo certame, foi eleita.

Ocorre que a hipótese do presente pedido de ingresso é completamente

distinta.

Uma breve, porém atenta, verificação dos atos constitutivos da organização

requerente permite à Vossa Excelência compreender que o interesse de se ingressar

com a presente manifestação como amicus curiae é o de defender um inegável

interesse coletivo, da qual não é diretamente atingida e que pode impactar todo um

universo de pessoas que buscam na justiça a guarida de seus direitos.

Estes posicionamentos refletem a ampliação de acesso ao Supremo Tribunal

Federal consolidando-se no aumento do número de amici curiae protocolados, bem como na

diversidade de atores proponentes. Com a possibilidade de manifestações da sociedade civil

nas ações que tramitam na Suprema Corte, busca-se a representação da pluralidade e

diversidade sociais nas razões e argumentos a serem considerados por este Egrégio

5 Nos pedidos apresentados nos MS 27854, MS 28375, MS 27728, MS 27815, MS 27761 e MS 32874, por

exemplo.

Comentado [R1]: Acho que aqui seria bom discorrer mais sobre pq nosso caso difere da juris que vc mesmo destacou (juris negativa). Seria bom identificar com mais clareza os argumentos que levaram a Rosa a não admitir no caso citado e rebater cada um deles no nosso caso. Não está claro pq é diferente...

7

Supremo Tribunal Federal, conferindo, inegavelmente, maior legitimidade e riqueza às

decisões.

Assim, fica evidenciada a possibilidade jurídica da manifestação da requerente

como amicus curiae no presente Mandado de Segurança.

3) DA LEGITIMIDADE PARA SE MANIFESTAR COMO AMICUS CURIAE

Demonstrada a possibilidade de intervenção de amicus curiae, faz-se necessário

analisar a legitimidade da requerente para se manifestar como tal.

A jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal tem adotado a

possibilidade de entidades da sociedade civil atuarem nos litígios submetidos à Corte como

forma de pluralizar o acesso ao debate constitucional em matérias de relevante interesse

para a sociedade brasileira. Como bem salientado pelo e. Ministro Celso de Mello, na

decisão que deferiu pedido de ingresso como amicus curiae no RE nº 631.053:

EMENTA: “AMICUS CURIAE”. JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL E

LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO

“MEDIADOR ENTRE AS DIFERENTES FORÇAS COM LEGITIMAÇÃO NO

PROCESSO CONSTITUCIONAL” (GILMAR MENDES). POSSIBILIDADE DA

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS, NA CONDIÇÃO DE “AMICUS CURIAE”, EM

SEDE DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL

RECONHECIDA. NECESSIDADE, CONTUDO, DE PREENCHIMENTO, PELA

ENTIDADE INTERESSADA, DO PRÉ-REQUISITO CONCERNENTE À

REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA. DOUTRINA. CONSEQUENTE

ADMISSIBILIDADE DE SEU INGRESSO, NA QUALIDADE DE “AMICUS

CURIAE”, EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL

RECONHECIDA. PRECEDENTES. PEDIDO DEFERIDO.

[...] É de acentuar que o Supremo Tribunal Federal, em assim agindo,

não só garantirá maior efetividade e atribuirá maior legitimidade às

suas decisões, mas, sobretudo, valorizará, sob uma perspectiva

eminentemente pluralística, o sentido essencialmente democrático

dessa participação processual, enriquecida pelos elementos de

8

informação e pelo acervo de experiências que o “amicus curiae”

poderá transmitir à Corte Constitucional, notadamente em processos –

como o de controle abstrato de constitucionalidade ou de recurso

extraordinário com repercussão geral – cujas implicações políticas, sociais,

econômicas, jurídicas e culturais são de irrecusável importância, de

indiscutível magnitude e de inquestionável significação para a vida do País e

a de seus cidadãos. [...] A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal

consolidou entendimento de que, a exemplo do que acontece com a

intervenção de ‘amicus curiae’ nas ações de controle concentrado, a

admissão de terceiros nos processos submetidos à sistemática da

repercussão geral há de ser aferida, pelo Ministro Relator, de maneira

concreta e em consonância com os fatos e argumentos apresentados pelo

órgão ou entidade, a partir de 2 (duas) pré-condições ‘cumulativas’, a saber:

(a) a relevância da matéria e (b) a representatividade do postulante.

Apesar de instrumentos de participação coadjuvantes à propositura de ações, os

amici curiae são de extrema importância no que diz respeito à produção do diálogo entre o

STF e a sociedade civil. A relevância do instrumento do amicus reside na necessidade de

promover a discussão dos argumentos trazidos pelos atores sociais pertinentes à causa em

discussão, para que estes possam interagir e dialogar com os Ministros.

A entidade requerente possui interesse singular na defesa de direitos humanos

através de um funcionamento adequado do Sistema de Justiça, para que todos os atores

executem suas atividades ontológicas, principalmente na defesa e garantia dos direitos

fundamentais. Atuar em ações e processos destinados à efetivação dos direitos humanos

inclui a busca continua pela efetivação dos fundamentos da República Federativa do Brasil,

bem como seus princípios e garantias celebrados pela Constituição Federal.

Diante das disposições legais ora disponíveis e da construção jurisprudencial

acerca dos limites da possibilidade de manifestações de organizações da sociedade civil na

qualidade de amicus curiae, depreendem-se alguns aspectos principais, quais sejam: (a) a

relevância da matéria discutida, no sentido de seu impacto sócio-político; (b) a

representatividade e legitimidade material dos postulantes e a pertinência dos

argumentos apresentados.

9

Assim vejamos.

a) Relevância da matéria discutida.

A matéria discutida na presente demanda trata da vulneração de garantias da

magistratura, principalmente no que toca à inamovibilidade e à independência judicial. Tais

garantias são diretamente refletidas nas próprias garantias da sociedade de que um juiz não

possa, por interesses políticos e/ou econômicos, ser afastado do juízo onde está a exercer a

sua jurisdição.

A partir do afastamento do juiz Roberto Luiz Corcioli Filho das áreas

criminal e infracional pela presidência do TJSP por suas decisões serem contrárias

à corrente majoritária daquela Corte, observou-se que a designação de juízes pelo

TJSP é sistematicamente realizada mediante decisão administrativa sem motivação

e sem a adoção de critérios objetivos, impessoais e pré-estabelecidos.

Assim, o e. CNJ entendeu que o processo de designação de juízes substitutos,

adotado pelo TJSP, afronta a garantia da inamovibilidade, o princípio do juiz natural e

vulnera a independência judicial, determinando a recolocação do nome do juiz Roberto

Luiz Corcioli Filho na lista de designações de Juízes Auxiliares da Capital para Varas

Criminais e/ou Infracionais na Comarca de São Paulo e a edição de ato normativo que

regulamente o artigo 8, caput, da Lei Complementar Estadual n. 980, de 21 de dezembro de

2005, estabelecendo regras e critérios objetivos e impessoais para as designações dos Juízes

Auxiliares da Capital do Estado de São Paulo (aspecto objetivo).

Sendo essa a decisão da qual o TJSP busca segurança, torna-se clara a

relevância da matéria não só para se assegurar as garantias da magistratura e dos

jurisdicionados, mas também o próprio papel do e. CNJ em promover o controle

externo do Judiciário. Note-se que a possibilidade de designação política do juiz

substituto gera também perseguições daqueles juízes que possuem convicções diferentes de

quem os designa, tendo impacto direto e imensurável para a sociedade.

10

A questão torna-se ainda mais grave quando se trata de matéria criminal e

infracional, onde pode estar em jogo um dos direitos mais caros para todo e qualquer ser

humano: a liberdade.

b) Representatividade da postulante e a sua legitimidade material.

A requerente tem como uma de suas missões a efetivação dos fundamentos da

República Federativa do Brasil, especialmente no que tange à cidadania e à dignidade da

pessoa humana. Veja-se:

“Conectas Direitos Humanos foi fundada em 2001 com a missão de

fortalecer e promover o respeito aos direitos humanos no Brasil e no

hemisfério Sul, dedicando-se, para tanto, à educação em direitos humanos, à

advocacia estratégica e à promoção do diálogo entre sociedade civil,

universidades e agências internacionais envolvidas na defesa destes direitos.

Conectas promove advocacia estratégica em direitos humanos, em

âmbito nacional e internacional, com o objetivo de alterar as práticas

institucionais e sociais que desencadeiam sistemáticas violações de

direitos humanos. Desde 2006, tem status consultivo junto ao Conselho

de Direitos Humanos das Organização das Nações Unidas (ONU) e, desde

2009, dispõe de status de observador na Comissão Africana de Direitos

Humanos e dos Povos.”6

Com relação aos fins institucionais da associação autora, vale transcrever o inciso

VI do artigo 3º e o parágrafo 1º, item “d” do mesmo artigo de seu Estatuto (doc. 01), in

verbis:

Artigo 3º - A ASSOCIAÇÃO será regida nos termos da Lei 9.790/99 e terá

por finalidade promover, apoiar, monitorar e avaliar projetos em direitos

humanos em nível nacional e internacional, em especial:

[...]

6 Disponível em www.conectas.org

11

VI – promoção e defesa dos direitos humanos em âmbito judicial.

Parágrafo 1º - A ASSOCIAÇÃO pode, para consecução de seus objetivos

institucionais, utilizar todos os meios permitidos na lei, especialmente para:

[...]

g) Promover ações judiciais visando à efetivação dos direitos

humanos.

Além disso, é importante mencionar que a requerente é a organização com maior

número de amici curiae perante este Supremo Tribunal Federal, já tendo ingressado com 49

(quarenta e nove) amicus curiae desde a sua fundação.

Restam, desde modo, devidamente demonstrados os requisitos necessários para a

admissão da presente manifestação na qualidade de amicus curiae, quais sejam, relevância da

matéria discutida, a representatividade do postulante e sua legitimidade.

4) PARÂMETROS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DA INDEPENDÊNCIA JUDICIAL

a) Introdução.

A Carta Constitucional brasileira de 1988 atribuiu ao Poder Judiciário

inquestionável relevância para a manutenção e desenvolvimento do Estado Democrático

de Direito. O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional constitui-se, portanto, a

principal garantia de direitos subjetivos elencada na Constituição. Mesmo quando todas as

restantes proteções falham, ele fornece uma barreira protetora ao público contra quaisquer violações de seus

direitos e liberdades garantidos pela lei.

Nesse sentido a vigência de direitos e liberdades em um sistema democrático

requer que os mecanismos judiciais sejam aptos a garantir o devido processo a todas as

pessoas que possam vir a ser submetidas ao exercício do poder punitivo do Estado, de

onde se emane sempre a justiça de maneira independente e imparcial. Essa aptidão,

necessariamente, envolve uma série de garantias aos operadores do sistema de justiça, que

se confundem com os próprios pressupostos de existência do sistema e da necessária

confiança social.

12

Dentre os princípios e garantias trazidos pela Constituição de 1988, destaca-se,

para esta demanda, o princípio do juiz natural e a garantia de inamovibilidade e

independência do juiz. A violação desses princípios e garantias foram claras diante do

afastamento do magistrado Roberto Luiz Corcioli Filho da vara criminal, uma vez

que o teor garantista de suas decisões foi o motivo determinante para sua

movimentação para uma vara cível.

Não obstante tal construção ser afirmada pela própria Constituição brasileira, o

que já teria fundamento o bastante para o julgamento da presente lide, é preciso destacar e

trazer à baila o que já se reconhece como construção política, institucional e jurídica

internacional sobre o tema aqui tratado.

É nesse contexto que se insere a presente demanda, que a Conectas Direitos

Humanos se viu compelida a se manifestar como amicus curiae para oferecer um breve

panorama dos principais parâmetros internacionais sobre a independência judicial e a

consequente necessidade da Corte paulista adotar critérios objetivos e impessoais para a

designação de magistrados.

b) Organização das Nações Unidas.

No âmbito da Organização das Nações Unidas, dentre os documentos

internacionais ratificados pelo Brasil estão a Declaração Universal dos Direitos

Humanos (DUDH)7 e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP)8.

A importância destes documentos é inquestionável por garantirem, internacionalmente,

direitos individuais, e proteção frente à violações de direitos humanos. E não é à toa que há

uma explícita preocupação de tais documentos com a garantia de independência judicial

7 Adotada e proclamada pela Resolução n. 217A, da III Assembléia Geral das Nações Unidas de 10.12.1948 e

assinada pelo Brasil na mesma data. 8 Decreto nº 592, DE 6 DE JULHO DE 1992. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm

13

pelos Estados signatários, tendo em vista que a independência judicial é um dos

pressupostos para a garantia do Estado Democrático de Direito.

O artigo 10º da DUDH define como um direito básico e comum a todo ser

humano um julgamento justo realizado por um tribunal independente e imparcial. É a

partir desse dispositivo que se constrói todo arcabouço jurídico de garantias judiciais no

âmbito do sistema da ONU. Veja-se a transcrição do artigo:

Art. 10º - Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e

pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial,

para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer

acusação criminal contra ele.

O PIDCP também prevê em seu artigo 14, parágrafo 1º, a necessidade de

um tribunal independente para se garantir o direito humano de acesso à justiça. Veja-se:

14.1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça.

Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com devidas

garantias por um tribunal competente, independente e imparcial,

estabelecido por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal

formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de

caráter civil. [...]

Ainda assim, ao reconhecer que havia um distanciamento destas disposições à

situação real dos países, e no intuito de consagrar tais princípios e garantias, o 7º Congresso

da ONU sobre Prevenção ao Crime e Tratamento dos Infratores, em 6 de setembro de

1985, estabeleceu os Princípios Básicos das Nações Unidas sobre a Independência

do Judiciário (doc. 5).

14

Tais princípios foram desenvolvidos no âmbito da ONU com o intuito de

assegurar a independência da função jurisdicional e de ser aceito como instrumento útil

para medir a independência do Poder Judiciário em um Estado-membro9.

Logo nos princípios n°s 1 e 2, o documento chama a atenção quando diz:

1. A independência do Poder Judiciário deve ser garantida pelo Estado e

consagrada na Constituição ou em lei do país. É dever de todas as

instituições governamentais e outras, respeitar e observar a independência

do Judiciário10.

2. O Judiciário deverá decidir de forma imparcial, com base em fatos e em

conformidade com a lei, sem quaisquer restrições, influências, aliciamentos,

pressões, ameaças ou interferências, diretas ou indiretas, de qualquer setor

ou por qualquer motivo.11

O princípio da independência dos juízes, além de ser uma obrigação baseada em

tratados e um direito absoluto não sujeito a qualquer exceção12, é reconhecido pela

comunidade internacional como um costume internacional e princípio geral de direito –

dois critérios de julgamento da Corte Internacional de Justiça13.

No Brasil, pela Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB),

costumes e princípios gerais de direito são aplicáveis no caso de omissão legislativa, o que

9 Resolução nº 40/32 de 29 de novembro de 1985 e Resolução nº 40/146 de 13 de dezembro de 1985. 10 Tradução livre de “1. The independence of the judiciary shall be guaranteed by the State and enshrined in the Constitution or the law of the country. It is the duty of all governmental and other institutions to respect and observe the independence of the judiciary.” 11 Tradução livre de “2. The judiciary shall decide matters before them impartially, on the basis of facts and in accordance with the law, without any restrictions, improper influences, inducements, pressures, threats or interferences, direct or indirect, from any quarter or for any reason.” 12 Comissão de Direitos Humanos da ONU. Comentário Geral nº 32.1. 13 Estatuto da Corte Internacional de Justiça - Artigo 38. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: a. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; d. sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem.

15

pode não ser o caso da presente demanda, mas que é importante ponderar na medida que

costumes e princípios gerais do direito internacional estão no espectro do alcance do art. 4º

da LINDB.

Tamanha é a importância do tema para a ONU, que em 1994, a Comissão de

Direitos Humanos14 (hoje Conselho de Direitos Humanos), notando a frequência de

ataques à independência de juízes, o enfraquecimento de garantias judicias de

independência e a gravidade das violações de direitos humanos, decidiu criar a

Relatoria Especial para a Independência do Sistema Judicial, que possui a atribuição

de:

a investigar todas as alegações substanciais transmitidos para ele ou ela e

para relatar suas conclusões e recomendações sobre as mesmas;

b identificar e registrar não só ataques à independência do poder judiciário,

advogados e funcionários judiciais, mas também o progresso alcançado na

proteção e promoção de sua independência, além de fazer recomendações

concretas, incluindo a prestação de serviços de consultoria ou assistência

técnica quando forem solicitadas pelo Estado interessado;

c identificar formas e meios para melhorar o sistema judicial, e fazer

recomendações concretas sobre o assunto;

d estudar, com a finalidade de fazer propostas, questões importantes de

princípios, com vistas a proteger e reforçar a independência do Poder

Judiciário e advogados e funcionários judiciais;

A atual Relatora Especial, a juíza brasileira Sra. Gabriela Knaul, já apresentou em

seus relatórios destinados ao Conselho de Direitos Humanos da ONU a preocupação

com a forma que se dão as designações de juízes e a necessidade que elas sejam

realizadas de maneira impessoal e objetiva.

14 Resolução 1994/41.

16

Em 2013, no relatório da Consulta sub-regional sobre a independência do Poder

Judiciário na América Central15, foi registrada a preocupação sobre o que identificou

como controle político exercido nos sistemas de seleção e designação de

magistrados e da importância da criação de instituições de apoio às Cortes

Supremas para a administração de justiça, o que reflete a necessidade da existência do

Conselho Nacional de Justiça e sua função administrativa de estabelecer critérios e

procedimentos objetivos e transparentes de seleção, nomeação, promoção, remoção,

suspensão e destituição de juízes. Veja-se o trecho do relatório mencionado:

86. No que diz respeito ao corpo de seleção, embora na maioria dos países

tenham sido criadas instituições de apoio às supremas cortes para

administrar a justiça, como o Conselho Nacional do Judiciário, em El

Salvador, o Conselho Nacional de Administração e Carreira Judiciária na

Nicarágua ou o Conselho da Judicatura e da Carreira Judicial (criada, mas

ainda não em funcionamento), exige-se que estas instituições sejam, na

prática, independentes das cortes supremas de justiça, com membros

independentes, que estabeleçam procedimentos objetivos e

transparentes de seleção, nomeação, promoção, remoção, suspensão

e demissão de juízes. A composição deste órgão deve ser pluralista, com

predomínio de magistrados e juízes entre os seus membros, e garantir a

participação de instituições da sociedade civil. Além disso, a seleção dos seus

membros deve ser transparente e pública.16

15Apresentado ao Conselho em 02/04/2013. A/HRC/23/43/Add. 4. Disponível em http://www.ohchr.org/Documents/HRBodies/HRCouncil/RegularSession/Session23/A-HRC-23-43-Add4_sp.pdf 16 Tradução livre de “86. En lo que atañe al órgano de selección, a pesar de que en la mayoría de los países se crearon instituciones de apoyo a las cortes supremas para la administración de justicia, como el Consejo Nacional de la Judicatura en El Salvador, el Consejo Nacional de Administración y Carrera Judicial en Nicaragua o el Consejo de la Judicatura y de la Carrera Judicial en Honduras (creado, pero aún no en funcionamiento), se requiere que estas instituciones sean en la práctica independientes de las cortes supremas de justicia, con miembros independientes, que establezcan procedimentos objetivos y transparentes de selección, nombramiento, promoción, remoción, suspensión y destitución de jueces. La composición de este órgano tendría que ser pluralista, con un predominio de magistrados y jueces entre sus miembros, y garantizar la participación de entidades de la sociedad civil. Además, el proceso de selección de sus miembros debería ser transparente y público”. Disponível em http://www.ohchr.org/Documents/HRBodies/HRCouncil/RegularSession/Session23/A-HRC-23-43-Add4_sp.pdf

17

No Relatório de 2009, dessa vez submetido pelo Relator à época, Sr.

Leandro Despouy, foram apresentadas recomendações fortes e específicas sobre a

necessidade da independência judicial interna, o que significa dizer do risco à

independência quando a cúpula de um tribunal busca influenciar ou interferir nas decisões

de magistrados de primeira instância:

48. O Relator Especial observa que a independência dos juízes

precisa ser protegida da interferência externa e também interna. Para

tanto, as estruturas adequadas dentro do Judiciário são decisivas. Neste

contexto, o relator especial chama a atenção para os procedimentos

aplicados para a nomeação ou eleição de presidentes de tribunais.

49. Juízes precisam trabalhar em um ambiente propício para a tomada

de decisões independentes. Para evitar que a hierarquia interna vá

contra a independência dos juízes, o Relator Especial encoraja os

Estados-Membros a considerar a introdução de um sistema em que os

presidentes dos tribunais são eleitos pelos juízes dos respectivos tribunais.

50. Além disso, as estruturas e as condições apropriadas precisam ser

colocadas em prática, a fim de evitar situações em que a reversão de

decisões por órgãos judiciais superiores inclua uma sanção para os

juízes de nível inferior que fizeram essas decisões, o que resultaria em

uma diminuição da independência de um juiz singular dentro do

Judiciário.17

Vê-se na objetividade das recomendações da Relatoria Especial da ONU para a

Independência do Sistema Judicial, que a Presidência de um tribunal nunca poderia ter o

17 Tradução livre de “48. The Special Rapporteur notes that the independence of judges needs to be protected

both from outside and internal interference. For both, adequate structures within the judiciary are decisive. In this context, the Special Rapporteur draws attention to the procedures applied for the appointment or election of court chairpersons. 49. Judges need to work in an environment which is conducive to independent decision-making. To avoid having internal judicial hierarchy run counter to the independence of judges, the Special Rapporteur encourages Member States to consider introducing a system whereby court chairpersons are elected by the judges of their respective court. 50. Furthermore, appropriate structures and conditions need to be put in place in order to avoid situations in which the overturn of judgements by higher judicial bodies includes a sanction to the lower-level judges that made those rulings, which would result in a lessening of the independence of an individual judge within the judiciary.” Disponível em: http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G09/125/63/PDF/G0912563.pdf?OpenElement

18

poder discricionário que a Corte paulista se propõe a ter, e, nunca um juiz poderia ser

punido com o afastamento da área criminal por tomar decisões que não seguem o

entendimento da cúpula do tribunal, como se deu no caso do magistrado Roberto Luiz

Corcioli Filho.

Especificamente quanto à interferência da cúpula do tribunal, a relatoria especial

da ONU, no mesmo relatório, asseverou que é crucial que se garanta a inamovibilidade do

juiz por esse ser um dos principais pilares da independência do judiciário, o que se aplica

diretamente ao caso tratado na presente demanda. Veja-se o que diz o trecho mencionado

do relatório:

57. Independentemente se o mandato do juiz é vitalício ou para um período

limitado de tempo, é crucial que a nomeação seja garantida através da

inamovibilidade do juiz para o período que ele/ela tenha sido

designado. A inamovibilidade dos juízes é um dos principais pilares

que garantem a independência do poder judicial. Somente em

circunstâncias excepcionais pode o princípio da inamovibilidade ser

transgredido. Uma dessas exceções é a aplicação de medidas disciplinares,

incluindo a suspensão e remoção.”18

Note-se que o caso aqui discutido não é isolado, mas sim reflexo de um

desvio na administração da justiça que tem consequências diretas para os

jurisdicionados.

Além disso, não é exclusividade do Brasil casos em que juízes são punidos por

tomarem decisões que não agradam a cúpula política do respectivo tribunal.

A relatoria da ONU vem tratando do tema ao receber casos individuais. No

Paraguai, um juiz foi destituído do cargo, após absolver 14 pessoas de um processo

18 Tradução livre de “57. Independently of whether the mandate of the judge is for life or for a limited period

of time, it is crucial that tenure be guaranteed through the irremovability of the judge for the period he/she has been appointed. The irremovability of judges is one of the main pillars guaranteeing the independence of the judiciary. Only in exceptional circumstances may the principle of irremovability be transgressed. One of these exceptions is the application of disciplinary measures, including suspension and removal. Disponível em: http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G09/125/63/PDF/G0912563.pdf?OpenElement

19

criminal19. Em Honduras, quatro magistrados da Suprema Corte de Justiça foram

destituídos, por conta de seus votos a favor em um recurso de amparo em face de um

decreto que criou a Lei de Depuração da Polícia Nacional20.

O e. Conselho Nacional de Justiça, exercendo seu papel definido pela

Constituição e respeitando as recomendações internacionais, determinou a mudança na

política de designação de juízes substitutos para que respeitasse critérios objetivos e

impessoais de seleção no intuito de preservar a independência judicial.

Agora, está diante desta c. Suprema Corte, o papel de reconhecer que o e. CNJ

atuou dentro de suas atribuições e de legitimar o trabalho de um conselho que foi criado

pelo mesmo clamor social que agora busca ver garantida a independência e a

inamovibilidade do magistrado Roberto Luiz Corcioli Filho, como um caso paradigmático,

além da efetivação do art. 37 da Constituição da República na política de designações do

Tribunal paulista.

Nesse sentido, observando-se os parâmetros do sistema universal de proteção dos

direitos humanos, ao qual o Brasil está inserido, e aplicando-os à demanda trazida ao

19 Organização das Nações Unidas. AL – PRY 5/2012. A/HRC/23-51. “presunta destitución de un juez

resultando de un proceso disciplinario que supuestamente no cumplio con el derecho a un juicio justo, garantias al debido proceso y a la independencia de la judicatura. Según la información recibida, en 2011, el Sr. Gustavo David Bonzi Villalba, entonces Juez Penal de Garantías de la ciudad de Yby Yau, decidió sobreseer definitivamente a catorce personas en la causa penal ―Ministerio Público c/ Ossvaldo Villalba

Ayala y otros s/ secuestro y otros en Kuruzu de Hierro-Circunscripción de Concepción‖ luego de once días de audiencia preliminar al considerar imposible elevar fundadamente la causa a juicio oral. Según la fuente, por consiguiente, el Jurado de Enjuiciamiento de Magistrados procedió de oficio al enjuiciamiento del entonces Juez Bonzi por mal desempeño de funciones. El Juez Bonzi fue suspendido de su cargo el 27 de julio, antes de que la segunda instancia revisara su decisión en la causa penal. Se informa además que en diciembre de 2011, el Juez Bonzi fue destituido por el Jurado de Enjuiciamiento de Magistrados, que, según la fuente, se negó a recibir las pruebas a favor del Juez Bonzi en más de una ocasión, y su cargo fue declarado vacante.” Disponível em: http://www.ohchr.org/Documents/HRBodies/SP/A-HRC-23-51_EFS.pdf 20 Organização das Nações Unidas. UA – HND 13/20012. “Supuesta injerencia en la independencia de la

judicatura. Según las informaciones recibidas, el Congreso Nacional destituyó a cuatro de los cinco magistrados de la Sala Constitucional de la Corte Suprema de Justicia: los señores José Antonio Gutiérrez Navas, Gustavo Enrique Bustillo Palma, José Francisco Ruiz Gaekel y la señora Rosalinda Cruz Sequeira. El procedimiento de destitución fue supuestamente realizado durante la madrugada del 12 de diciembre de 2012 sin la debida transparencia, con el supuesto fundamento en los artículos 205, numeral 20, 321 y 324 de la Constitución de la República de Honduras. Sin embargo se informa que este procedimiento de destitución habría sido llevado a cabo como medida de represalia política, en razón de los votos por parte de los cuatro magistrados en referencia a favor de un recurso de amparo en contra del Decreto 89-2012 que creó la Ley de Depuración de la Policía Nacional.” Disponível em: http://www.ohchr.org/Documents/HRBodies/SP/A-HRC-23-51_EFS.pdf

20

presente mandado de segurança, torna-se inevitável a denegação da segurança pretendida

para que continue em seus efeitos a r. decisão tomada pelo plenário do CNJ.

c) Organização dos Estados Americanos.

O Estado brasileiro também é signatário da Convenção Americana de Direitos

Humanos (CADH ou Convenção), que, por meio de seu artigo 33, instituiu a Comissão

Interamericana de Direitos Humanos (CIDH ou Comissão) e a Corte

Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH); e, reconheceu a competência

obrigatória da CorteIDH para interpretar ou aplicar a Convenção.

Fundamentalmente todos os parâmetros trazidos pelo Sistema Interamericano de

Direitos Humanos, no que diz respeito a garantias judiciais, emanam da CADH21,

especialmente do artigo 8º da Carta. Veja-se o seu parágrafo 1º, que trata da independência

judicial:

Artigo 8º - Garantias judiciais

1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e

dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente,

independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração

de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de

seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer

outra natureza.

A partir daí, observa-se que, tanto a Comissão quanto a CorteIDH, tratam

substancialmente do tema da independência judicial e, mais especificamente sobre

a punição a juízes por decisões tomadas contrariamente ao entendimento da cúpula

do respectivo tribunal.

A preocupação da Comissão com o fortalecimento do acesso à justiça e o estado

de direito na região é tamanha, que em 5 de dezembro de 2013 apresentou relatório

21 Decreto nº 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm

21

específico sobre Garantias para a independência dos operadores da Justiça22, baseado

em questionário de consulta aos Estados e à sociedade civil com o objetivo de reunir

informações relevantes para identificar as problemáticas que enfrentam os operadores da

justiça e impulsionar a plena utilização de parâmetros internacionais que sirvam de guia aos

Estados para garantirem sua independência e imparcialidade.

Veja-se a justificativa da Comissão para a elaboração desse relatório:

“Ainda que a a comunidade internacional reconheça o trabalho de juízes,

promotores, advogados e defensores públicos como essencial para a garantia

do acesso à justiça e do devido processo legal, em vários países da região

essas funções são desempenhadas sem garantias de uma atuação

independente, tanto em nível individual, quanto das instituições em que

trabalham. Essa fragilidade é expressa em uma série de ingerências

das autoridades públicas e atores não-estatais que criam barreiras de iure

ou de facto para pessoas que buscam o acesso à justiça, o que ainda está

associado à falta de desenhos institucionais que resistam às pressões que

podem vir de outras instituições governamentais ou estatais, ou ainda a

ausência de procedimentos adequados para a nomeação, seleção e

devidas garantias nos procedimentos de caráter disciplinar.”23

Observa-se que foi exatamente a ausência de procedimentos adequados de

nomeação e das devidas garantias nos procedimentos de caráter disciplinar que iniciou o

debate, que chega a esta c. Suprema Corte, mesmo após ter sido apreciado pelo e. CNJ.

22 Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/defensores/docs/pdf/Operadores-de-Justicia-2013.pdf 23 Tradução livre de: “a pesar del amplio reconocimiento que ha dado la comunidad internacional a labor de jueces y juezas, fiscales, defensoras y defensores públicos, como actores esenciales para garantizar el acceso a la justicia y el debido proceso, en varios Estados de la región desempeñan sus labores en ausencia de garantías que aseguren una actuación independiente, tanto en un nivel individual como de las instituciones en las que trabajan. Dicha fragilidad se expresa en una serie de injerencias por parte de poderes públicos y agentes no estatales que generan barreras de iure o de facto para las personas que desean acceder a la justicia las cuales están asociadas a la falta de diseños institucionales que resistan las presiones que pueden provenir de otros poderes públicos o instituciones del Estado, así como en la ausencia de procedimientos adecuados para nombramiento y selección, y de garantías debidas en los procedimientos de carácter disciplinario.” Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/defensores/docs/pdf/Operadores-de-Justicia-2013.pdf

22

Nesse sentido, é importante destacar que o presente mandado de segurança

desafia uma decisão em acordo com os parâmetros internacionais de garantias para a

independência judicial de um órgão essencial para o bom funcionamento do sistema

judicial.

O papel dos juízes para a garantia de direitos humanos e a manutenção e

desenvolvimento do estado democrático de direito é inegável, mesmo assim vale

transcrever a concepção da Comissão Interamericana sobre essa importância:

16. A Comissão reitera que as juízas e os juízes são os principais atores para

se atingir a proteção judicial dos direitos humanos em um Estado

democrático, assim como o devido processo legal, que deve ser observado

na possibilidade do Estado aplicar uma sanção. As juízas e os juízes

encontram-se em um sistema democrático como controladores da

convencionalidade, constitucionalidade e da legalidade das ações de outros

poderes do Estado e de funcionários do Estado em geral, bem como

indutores da justiça em relação às controvérsias entre particulares.”24

Nesse sentido, a Comissão tem desenvolvido em seus relatórios temáticos e no

marco do sistema de petições e casos uma série de parâmetros partindo da premissa de que

a garantia de independência é imprescindível para que juízes possam contribuir

efetivamente para o acesso à justiça das vítimas de violações de direitos humanos25.

24 Tradução livre de: 16. La Comisión reitera que las juezas y los jueces son los principales actores para lograr la protección judicial de los derechos humanos en un Estado democrático, así como del debido proceso que debe observarse cuando el Estado puede establecer una sanción. Las juezas y los jueces fungen en un sistema democrático como controladores de la convencionalidad, constitucionalidad y legalidad de los actos de otros poderes del Estado y funcionarios del Estado en general, así como impartidores de justicia en relación con las controversias generadas por actos de particulares que puedan afectar los derechos de las personas. Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/defensores/docs/pdf/Operadores-de-Justicia-2013.pdf 25 Tradução livre de: “En el ámbito del sistema interamericano el derecho de acceso a la justicia deriva de los artículos 8 y 25 de la Convención Americana de los cuales se desprenden una serie de obligaciones estatales que se deben garantizar a las personas afectadas en sus derechos para la búsqueda de justicia en sus respectivos casos. Adicionalmente, de dichas obligaciones estatales se desprenden determinadas garantías que los Estados deben brindar a las y los operadores de justicia a efecto de garantizar su ejercicio independiente y posibilitar así que el Estado cumpla con su obligación de brindar acceso a la justicia a las personas.” Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/defensores/docs/pdf/Operadores-de-Justicia-2013.pdf

23

A análise que a Comissão faz a respeito da independência judicial como uma das

garantias que os Estados devem oferecer, desdobra-se em duas dimensões, a primeira,

institucional e, a segunda, funcional ou de exercício individual do juiz.

A independência, apesar da sua faceta institucional, reflete-se em uma dimensão

funcional ou do exercício individual do juiz. Tal dimensão da independência judicial está

calcada numa série de condições providas pelo Estado nas quais permite ao operador de

justiça exercer sua função de maneira independente.

Ao analisar a dimensão funcional da independência, a CIDH defende que a

movimentação de juízes por motivos de caráter discricionário pode servir de

represália, ameaça ou amedrontamento ao desempenho da função jurisdicional.

Entendimento que se aplica, em sua integralidade, ao caso do magistrado Roberto Luiz

Corcioli Filho levado ao e. CNJ e agora trazido à apreciação desta c. Suprema Corte. Veja-

se:

A movimentação de juízes de praça ou espaço na qual trabalham

pode ter um fim legítimo e ser necessária para a reestruturação e

administração eficiente do poder judiciário. Entretanto, quando está

baseado em motivos de caráter discricionário o ato de separação do

operador de justiça dos casos que vinha tratando ou de sua área de

atuação, pode ser uma represália às suas decisões, servindo também

como uma ameaça ou amedrontamento no desempenho

independente de sua função26.

A CIDH também vem recebendo informações de casos semelhantes ao do

presente mandado de segurança, como o que ocorreu em Honduras, onde um juiz foi

afastado de sua atuação na área criminal por não acompanhar o entendimento do

26 Tradução livre de: “125. El traslado de las y los operadores de justicia de plaza o de la sala en la cual trabajan puede tener un fin legítimo y ser necesaria para la reestructuración y administración eficiente del poder judicial, fiscalías o defensorías públicas. Sin embargo, cuando está basado en motivos de carácter discrecional el acto de separación del operador de justicia de los casos que venía conociendo o de su lugar de trabajo puede ser uma represalia a sus decisiones, sirviendo la amenaza de traslado también como um amedrentamiento para el desempeño independiente de sus labores.” Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/defensores/docs/pdf/Operadores-de-Justicia-2013.pdf

24

presidente da Corte Suprema27 ou o que se passou no Uruguai, onde a Suprema Corte de

Justiça movimentou a juíza Mariana Mota de seu cargo como juíza criminal sem

decisão fundamentada depois de ter condenado um ex-presidente do Uruguai por sua

participação no golpe de Estado de 1973, mesmo tendo ainda por julgar 50 processos por

graves violações de direitos humanos e crimes cometidos durante a ditadura uruguaia28.

Ainda que o Brasil não tenha casos relacionados à independência judicial no

sistema interamericano de direitos humanos, nota-se que o caso discutido nesta demanda é

muito semelhante aos apresentados acima.

Diante dessas situações a CIDH apresentou as seguintes recomendações:

127. Diante das situações mencionadas, a Comissão ressalta a importância

de que as movimentações dos operadores de justiça se realizem de acordo

com critérios públicos e objetivos; adotados por meio de um procedimento

prévio e claramente estabelecido, no que se levem em consideração

interesses e necessidades do operador de justiça envolvido. [...] As

movimentações não devem ser decididas arbitrariamente, mas sim

responder a critérios objetivos. A Comissão considera, assim como a

Relatoria da ONU, que deveria haver a oportunidade para que os

operadores de justiça possam impugnar as decisões de movimentação

ou afastamento de casos, incluindo o direito ao contraditório29.

27 Tradução livre de: “244 (...) La Comisión recibió a su vez información sobre un juez que habiéndose

especializado en el ámbito penal durante todos sus años de servicio en el poder judicialhabía sido trasladado a desempeñarse como juez civil en virtud de no haber coincidido con el criterio jurídico del presidente de la Corte Suprema”. Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/defensores/docs/pdf/Operadores-de-Justicia-2013.pdf 28 Tradução livre de: “126. Sobre este aspecto, la Comisión Interamericana recibió información según la cual, por ejemplo, un presidente de una Corte Suprema de Justicia disponía el traslado de jueces de salas con el objetivo de reprimir a aquellos que no votaran en las decisiones de relevancia nacional, apegándose a la directriz señalada por el presidente de la corte. La Comisión recibió a su vez información sobre un juez que habiéndose especializado en el ámbito penal durante todos sus años de servicio en el poder judicial había sido trasladado a desempeñarse como juez civil en virtud de no haber coincidido com el criterio jurídico del presidente de la Corte Suprema. Asimismo, la Comisión recibió información sobre el traslado de jueces de tribunales cuando han adoptado decisiones de carácter sensible en materia de graves violaciones a derechos humanos y dicho traslado podría tener por objetivo separarlos de tomar una decisión que pudiera afectar sensiblemente los intereses de otros poderes.” Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/defensores/docs/pdf/Operadores-de-Justicia-2013.pdf 29 Tradução livre de: “127. En vista de situaciones como las señaladas, la Comisión resalta la importancia de que los traslados de las y los operadores de justicia se realicen sobre labase de criterios públicos y objetivos;

25

Também é preciso destacar que na linha do que já vem decidindo o próprio STF,

a Comissão entende que tais recomendações se aplicam aos juízes substitutos, vendo com

preocupação a pressão exercida para decidirem conforme os interesses da cúpula do

tribunal. Veja-se:

3. Sobre os períodos de prova

97. Em alguns países a Comissão Interamericana tem observado que a

legislação prevê um período de prova com o fim de determinar o ingresso

definitivo do juiz à carreira. Sobre essa questão a CIDH observa que, no

mesmo sentido da provisoriedade, os operadores de justiça sujeitos

aos chamados períodos de prova podem estar sujeitos às pressões

para tomar determinadas decisões em conformidade com os

interesses da autoridade da qual dependa sua nomeação definitiva,

colocando em risco sua independência30.

A proximidade do e. STF com os sistemas regionais e universais de direitos

humanos é a própria consequência dos efeitos dos parágrafos §2º e de 3º do artigo 5º da

Constituição brasileira. E na esteira dessa aproximação, o próprio Excelentíssimo Ministro

Ricardo Lewandowski, no dia 10 de fevereiro de 2015, firmou carta de intenções (doc. 7)

entre o Conselho Nacional de Justiça e a Comissão Interamericana de Direitos

Humanos em que procura aprofundar a integração do Poder Judiciário brasileiro ao

adoptados a través de un procedimiento previo yclaramente establecido, en el cual se tengan en cuenta los intereses y necesidades deloperador de justicia involucrado. En este sentido, es conveniente brindar unaoportunidad para escuchar cuenta las opiniones, aspiraciones y la situación familiar deloperador de justicia involucrado así como la especialización y fortalezas adquiridas en eltranscurso de su carrera. Las transferencias y rotaciones no deben decidirsearbitrariamente, sino responder a criterios objetivos. La Comisión considera asimismo aligual que la Relatoría de Naciones Unidas que debería existir una oportunidad para las y losoperadores de justicia a impugnar las decisiones de traslado o separación de los casos,incluyendo el derecho de acceso a un tribunal.” Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/defensores/docs/pdf/Operadores-de-Justicia-2013.pdf 30 Tradução livre de: “3. Sobre los períodos de prueba 97. En algunos países la Comisión Interamericana ha observado que la legislación prevé un período de prueba, con el fin de determinar el ingreso definitivo delfuncionario a la carrera judicial. Al respecto, la CIDH observa que en forma similar a laprovisionalidad, las y los operadores de justicia sujetos a dichos períodos de prueba enalgunas ocasiones pueden ser sujetos a presiones para tomar determinadas decisiones deconformidad con los intereses de la autoridad de la cual dependa su nombramientodefinitivo, poniendo en riesgo su actuación independiente.” Disponível em: https://www.oas.org/es/cidh/defensores/docs/pdf/Operadores-de-Justicia-2013.pdf

26

Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos. Nas palavras do

excelentíssimo ministro presidente31:

“É preciso que os juízes compreendam não apenas como funcionam

esses sistemas, mas como se integram, e façam aquilo que o ministro

Celso de Mello chama de ‘controle de convencionalidade’, ou seja,

verifiquem se determinada ação está ou não em conformidade

com as convenções internacionais das quais o Brasil faz parte.”

Mas não é só a Comissão que se manifesta sobre o assunto no âmbito da OEA. A

própria CorteIDH já tem jurisprudência sobre independência judicial na região.

No Caso Apitz Barbera e Outros vs. Venezuela32 (doc. 8), juízes designados

para ocupar provisoriamente o cargo de Magistrados de la Corte Primera de lo Contencioso

Administrativo foram destituídos com a justificativa de terem cometido um erro judicial

inexcusável ao suspender um ato administrativo que negou um registro de compra e venda.

Nesta oportunidade, a Corte pontuou quais são as obrigações do Estado no que

tocam as garantias judiciais previstas na Convenção Americana, especificando, inclusive, a

questão da independência dos juízes provisórios:

43. A Corte observa que os Estados estão obrigados a assegurar que

os juízes provisórios sejam independentes e, por isso, deve ser dado

certo tipo de estabilidade e permanência no cargo, posto que a

provisoriedade não equivale à livre remoção [...] No mesmo sentido, a

Corte considera que a provisoriedade não deve significar alteração do

regime de garantias do juiz e dos próprios jurisdicionados. Ademais, a

provisoriedade não deve se estender indefinitivamente no tempo, devendo

estar sujeita à uma condição resolutória, como o cumprimento de um prazo

31 Notícias do STF. Acessível em http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=285129 32 Corte IDH. Caso Apitz Barbera y otros (“Corte Primera de lo Contencioso Administrativo”) Vs. Venezuela. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 5 de agosto de 2008. Serie C No. 182, párr. 78.

27

pré-determinado ou um concurso público que nomeie o substituto do juiz

provisório com caráter permanente33.

Neste mesmo caso levado à Corte também foi tratada a garantia do direito de

defesa do juiz que se vê perante um processo de movimentação pela autoridade do

tribunal:

44. Esta Corte tem destacado que os diferentes sistemas políticos têm

idealizado diferentes procedimentos estritos tanto para a nomeação de juízes

como para sua destituição. Sobre esse último ponto, o Tribunal tem

afirmado que a autoridade a cargo do processo de destituição de um

juiz deve atuar com imparcialidade e permitir o exercício do direito

de defesa34.

Em outro caso emblemático levado ao Sistema Interamericano de Direitos

Humanos (doc. 9), a CorteIDH reconheceu a responsabilidade internacional da Venezuela

pela destituição arbitrária da juíza Mercedes Chocrón Chocrón sem oferecer garantias de

um devido processo, nem um recurso adequado para questionar tal decisão. 35

33 Corte IDH. Caso Apitz Barbera y otros (“Corte Primera de lo Contencioso Administrativo”) Vs. Venezuela. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 5 de agosto de 2008. Serie C No. 182. Tradução livre de: “43 .La Corte observa que los Estados están obligados a asegurar que los jueces provisorios sean independientes y, por ello, debe otorgarles cierto tipo de estabilidad y permanencia en el cargo, puesto que la provisionalidad no equivale a libre remoción. (…) En similar sentido, la Corte considera que la provisionalidad no debe significar alteración alguna del régimen de garantías para el buen desempeño del juzgador y la salvaguarda de los propios justiciables. Además, no debe extenderse indefinidamente en el tiempo y debe estar sujeta a una condición resolutoria, tal como el cumplimiento de un plazo predeterminado o la celebración y conclusión de un concurso público de oposición y antecedentes que nombre al reemplazante del juez provisorio con carácter permanente.” 34 Corte IDH. Caso Apitz Barbera y otros (“Corte Primera de lo Contencioso Administrativo”) Vs. Venezuela. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 5 de agosto de 2008. Serie C No. 182. . Tradução livre de: 44. Esta Corte ha destacado con anterioridad que los diferentes sistemas políticos han ideado procedimientos estrictos tanto para el nombramiento de jueces como para su destitución. Sobre este último punto, el Tribunal ha afirmado que la autoridad a cargo del proceso de destitución de un juez debe conducirse imparcialmente en el procedimiento establecido para el efecto y permitir el ejercicio del derecho de defensa. 35 Corte IDH. Mercedes Chocrón Chocrón vs. Venezuela. Sentencia de 1 de julho de 2011

28

Naquela oportunidade a Corte também reiterou que a provisoriedade não

equivale à livre remoção, hipótese em que devem-se observar um processo disciplinar

com direito à defesa ou um ato administrativo devidamente motivado:

“em qualquer matéria, inclusive trabalhista ou administrativa, a

discricionariedade da administração tem limites intransponíveis, sendo um

deles o respeito aos direitos humanos. É importante que a atuação da

administração se encontre regulada, e esta não pode invocar a ordem

pública para reduzir discricionariamente as garantias dos

administrados. [...]

118. Sobre o dever de motivar as decisões que afetam a estabilidade dos

juízes a seu cargo, a Corte reitera sua jurisprudência no sentido de que a

motivação “é a exteriorização da justificação racional que permite chegar a

uma conclusão”. O dever de motivar as decisões é uma garantia vinculada

com a correta administração de justiça, que protege o direito dos cidadãos

de serem julgados de acordo com o que diz o Direito, e outorga

credibilidade às decisões jurídicas no marco de uma sociedade democrática.

Portanto, as decisões adotadas pelos órgãos internos que possam afetar

direitos humanos devem estar devidamente fundamentadas, pois do

contrário seriam decisões arbitrárias. Nesse sentido, a argumentação de uma

decisão e de certos atos administrativos devem permitir conhecer quais

foram os fatos, motivos e normas em que de fundamentou a autoridade

para tomar sua decisão, a fim de descartar qualquer indício de arbitrariedade.

Assim mesmo, a motivação demonstra às partes que estão sendo ouvidas e,

naqueles casos em que as decisões são recorríveis, proporciona a

possibilidade de criticar a decisão e alcançar um novo exame da questão em

instâncias superiores. Por tudo isso, o dever de motivação é uma das

“devidas garantias” incluídas no artigo 8.1 para assegurar o direito ao devido

processo36.

36 Corte IDH. Mercedes Chocrón Chocrón vc. Venezuela.. Tradução livre de: "en cualquier materia, inclusive en la laboral y la administrativa, la discrecionalidad de la administración tiene límites infranqueables, siendo uno de ellos el respeto de los derechos humanos. Es importante que la actuación de la administración se encuentre regulada, y ésta no puede invocar el orden público para reducir discrecionalmente las garantías de los administrados. [...] 118. Sobre este deber de motivar las decisiones que afectan la estabilidad de los jueces

29

O simples e improvável argumento de que não se equivaleria a discussão sobre a

remoção e a movimentação de juízes seria imprudente, e até mesmo temerário, já que a

Constituição brasileira e os tratados internacionais não dão menos garantias a

juízes provisórios sujeitos à movimentação. Uma vez investido na autoridade de

juiz, a jurisdição é exercida em sua plenitude – ao jurisdicionado deve ser entregue

a prestação jurisdicional revestida de todas as garantias judiciais constitucionais e

internacionais. Portanto, essas mesmas garantias devem ser observadas tanto nos

procedimentos de remoção como no procedimento de movimentação que pode ter

caráter de remoção.

Vale salientar que o estado brasileiro reconhece a competência obrigatória da

Corte Interamericana de Direitos Humanos para interpretar ou aplicar a CADH, o que

se dá por meio do Decreto nº 4.463 de 8 de novembro de 2002, cujo artigo 1º, devido à sua

importância, ora transcreve-se:

Art. 1º É reconhecida como obrigatória, de pleno direito e por prazo

indeterminado, a competência da Corte Interamericana de Direitos

Humanos em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação da

Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José), de

22 de novembro de 1969, de acordo com art. 62 da citada Convenção, sob

reserva de reciprocidade e para fatos posteriores a 10 de dezembro de 1998.

Assim, verifica-se a importância dos organismos internacionais (regionais e

universais) na própria interpretação dos tratados nos quais o Brasil se comprometeu a

cumprir. No presente caso concreto, a aplicação dos tratados e recomendações en su cargo, la Corte reitera su jurisprudencia en el sentido que la motivación “es la exteriorización de la justificación razonada que permite llegar a una conclusión”. El deber de motivar las resoluciones es una garantía vinculada con la correcta administración de justicia, que protege el derecho de los ciudadanos a ser juzgados por las razones que el Derecho suministra, y otorga credibilidad a las decisiones jurídicas en el marco de una sociedad democrática. Por tanto, las decisiones que adopten los órganos internos que puedan afectar derechos humanos deben estar debidamente fundamentadas, pues de lo contrario serían decisiones arbitrarias. En este sentido, la argumentación de un fallo y de ciertos actos administrativos deben permitir conocer cuáles fueron los hechos, motivos y normas en que se basó la autoridad para tomar su decisión, a fin de descartar cualquier indicio de arbitrariedad. Asimismo, la motivación demuestra a las partes que éstas han sido oídas y, en aquellos casos en que las decisiones son recurribles, les proporciona la posibilidad de criticar la resolución y lograr un nuevo examen de la cuestión ante las instancias superiores. Por todo ello, el deber de motivación es una de las “debidas garantías” incluidas en el artículo 8.1 para salvaguardar el derecho a un debido processo”.

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internacionais não deixa outra alternativa ao e. STF a não ser reconhecer e legitimar a r.

decisão tomada pelo plenário do e. CNJ e, por consequência, denegar a segurança

pretendida neste mandado de segurança.

5) FORÇA VINCULANTE DAS DELIBERAÇÕES DE ÓRGÃOS INTERNACIONAIS SOBRE

DIREITOS HUMANOS

O sistema normativo internacional de proteção dos direitos humanos é

integrado por tratados internacionais de proteção que refletem, sobretudo, a consciência

ética contemporânea compartilhada pelos Estados, na medida em que invocam o consenso

internacional acerca de parâmetros protetivos mínimos a serem respeitados pelos Estados

no que tange à dignidade humana.

De acordo com o entendimento da Profª. Flávia Piovesan37, esses Tratados

não são o “teto máximo” de proteção, mas o “piso mínimo” para

garantir a dignidade humana, constituindo o “mínimo ético irredutível”.

Os Estados podem e devem ir além, jamais aquém destes parâmetros.

Além disso, instituem órgãos de proteção como Comissões, Comitês e

Conselhos que estabelecem mecanismos de monitoramento voltados à implementação dos

direitos internacionalmente reconhecidos e, apesar de algumas das normas, deliberações e

recomendações desses órgãos não terem força vinculante direta, possuem a qualidade de

sinalizar ao Estado a sua responsabilidade internacional em assegurar o

cumprimento de direitos humanos internacionalmente admitidos.

No entendimento da professora Márcia Nina Bernardes, em artigo publicado na

Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos38, ao tratar do Sistema

Interamericano de Direitos Humanos

37 Implementação das obrigações, standards e parâmetros internacionais de direitos humanos no âmbito intra-governamental e federativo. Apresentação da Profª Flávia Pìovesan. Disponível em http://www.internationaljusticeproject.org/pdfs/piovesan-speech.pdf

31

...a CADH estabelece obrigações jurídicas às autoridades estatais

brasileiras, não se tratando de um documento meramente político que

enuncia aspirações a serem perseguidas a longo prazo. Essa Convenção,

assim como outros tratados internacionais de direitos humanos

reconhecidos pelo Brasil, cria deveres jurídicos para o país. Como

instrumento jurídico que integra o ordenamento interna, a fiscalização de

cumprimento de tais obrigações não deve ser realizada apenas por órgãos

supranacionais e impõe-se também como tarefa daqueles que

desempenham internamente as funções essenciais de justiça, além do

Judiciário. De fato, ao lado do controle de legalidade e de

constitucionalidade, torna-se imperiosa a realização do controle de

convencionalidade. O conhecimento dos padrões de interpretação

dos artigos da CADH pela Corte IDH e também pela CIDH

também estão incluídos nessa obrigação.

Sendo assim, as recomendações, jurisprudência e comunicados dos

mecanismos de controle dos tratados assinados no âmbito da ONU e da OEA,

mencionados acima, são a interpretação dos dispositivos normativos internacionais

firmados entre Estados e por isso devem ser adotadas pelo Poder Judiciário brasileiro,

como também ressaltada André de Carvalho Ramos:

...se a interpretação judicial brasileira for contrária à interpretação desses

órgãos internacionais, o Brasil responderá por isso e, pior, para o

jurisdicionado existirá a sensação de que o tratado de direitos humanos

foi distorcido e só foi usado como “retórica judicial” para fins de

propaganda externa. [...] O reconhecimento da interpretação

internacional dos tratados ratificados pelo Brasil é consequência óbvia

dos vários comandos constitucionais que tratam de “tratados de direitos

humanos”, como os parágrafos 2º e 3º do art. 5º. De que adiantaria a

Constituição pregar o respeito a tratados internacionais de direitos

38 Sistema Interamericano de Direitos Humanos como Esfera Pública Transnacional: Aspectos Jurídicos e Políticas da Implementação de Decisões Internacionais. SUR. Revista Internacional de Direitos Humanos – v. 8, n. 15, dez. 2011. p. 149.

32

humanos se o Brasil continuasse a interpretar os direitos humanos neles

contidos nacionalmente?39

Portanto, observa-se que o TJSP, ao não definir critérios objetivos e

impessoais para a designação de juízes substitutos, além de violar a própria

Constituição brasileira também viola a Declaração Universal dos Direitos

Humanos40, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos41 e a Convenção

Americana sobre Direitos Humanos (CADH).42

6) CONCLUSÃO

Trata-se o presente caso de mandado de segurança que desafia a r. decisão do e.

Conselho Nacional de Justiça de determinar ao Tribunal de Justiça de São Paulo, ora

impetrante, a recolocação do nome do juiz Roberto Luiz Corcioli Filho na lista de

designações de Juízes Auxiliares da Capital para Varas Criminais e/ou Infracionais na

Comarca de São Paulo e edição de ato normativo que regulamente o artigo 8º, caput, da Lei

Complementar Estadual nº 980, de 21 de dezembro de 2005, estabelecendo regras e

critérios objetivos e impessoais para as designações dos Juízes Auxiliares da Capital do

Estado de São Paulo.

A determinação do e. Conselho Nacional de Justiça foi fruto da inconformidade

de um juiz de primeiro grau, Roberto Luiz Corcioli Filho, que recebeu através de um e-mail

(!) da Presidência do TJSP, a notícia de que estava afastado da 12ª Vara Criminal Central da

Capital por conta do teor garantista de suas decisões.

Nota-se que a controvérsia se inicia por conta de representação disciplinar de

promotores de justiça perante a Corregedoria-local de Justiça contra o juiz Roberto Luiz

39 Processo Internacional de Direitos Humanos, 2ª edição, 2012, Ed. Saraiva. p. 354-355. 40 Adotada e proclamada pela Resolução n. 217A, da III Assembléia Geral das Nações Unidas de 10.12.1948 e assinada pelo Brasil na mesma data. 41 Decreto nº 592, DE 6 DE JULHO DE 1992. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm 42 Decreto nº 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm

33

Corcioli Filho por conta do teor de suas decisões, cujo pedido de punição foi prontamente

acatado pela Presidência da Corte paulista.

O e. CNJ, desempenhando papel determinante para se garantir a aplicação dos

princípios da administração pública, do juiz natural e da garantia da independência judicial,

entendeu que o ato administrativo de movimentação não respeitou o binômio necessidade-

disponibilidade, identificando ainda um desvio de finalidade diante da discricionariedade

máxima da Presidência do TJSP em movimentar juízes substitutos.

O que está em disputa no presente mandamus é a resistência do impetrante em

abandonar o controle ideológico de seus juízes e em reconhecer o e. CNJ como legitimador

social do Poder Judiciário.

O caso do magistrado Roberto Luiz Corcioli Filho é reflexo dessa resistência por

parte da Presidência da Corte paulista. Um reflexo que emergiu para o debate público e

agora torna-se paradigmático.

Nesse sentido, no intuito de contribuir para debate, a presente manifestação de

amicus curiae traz a esta c. Corte Suprema tratados e recomendações internacionais que, ao

serem aplicados à presente demanda, impõem a denegação da segurança pretendida, por

estarem de acordo com a r. decisão tomada pelo plenário do e. CNJ.

7) PEDIDO

Diante do exposto, a Conectas Direitos Humanos requer a sua admissão como

amicus curiae no presente mandado de segurança e a denegação da segurança pretendida para

que a r. decisão tomada pelo plenário do CNJ mantenha seus efeitos no sentido de

determinar que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo recoloque o nome do juiz

Roberto Luiz Corcioli Filho na lista de designações de Juízes Auxiliares da Capital para

Varas Criminais e/ou Infracionais na Comarca de São Paulo e que edite ato normativo que

regulamente o artigo 8, caput, da Lei Complementar Estadual n. 980, de 21 de dezembro de

2005, estabelecendo regras e critérios objetivos e impessoais para as designações dos Juízes

Auxiliares da Capital do Estado de São Paulo

34

Caso não seja admitida a presente manifestação na qualidade de amicus curiae,

requer-se seu recebimento como memoriais.

Termos em que,

Pede deferimento.

São Paulo, 15 de maio de 2015.

Rafael C. G. Custódio Marcos Roberto Fuchs

OAB/SP 262.284 OAB/SP 101.663

Flavio Siqueira Júnior Vivian Calderoni

OAB/SP 284.930 OAB/SP 286.871

Sheila Santana de Carvalho Mayra de Oliveira Gramani

OAB/SP 343.588 RG 50.059.588-4