poesias do amor pagÃo -...

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Copyright POESIAS DO AMOR PAGÃO Poesias 1987 1988 1989 José M. da Silva © José Manuel da Silva, 1989 Rio de Janeiro, R.J., Brasil

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POESIASDO

AMOR PAGÃO

Poesias 1987 1988 1989

José M. da Silva

© José Manuel da Silva, 1989Rio de Janeiro, R.J., Brasil

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ÍNDICE

AMOR DOS FRACOS ................................................................................... 417/08 ............................................................................................................ 6SEM T�TULO I .............................................................................................. 7SEM T�TULO II ............................................................................................. 7OUVI UMA CAN��O .................................................................................... 8MENINA DO CABELO CASTANHO .............................................................. 9CAMINHANDO ................................................................................................. 10DO B�BADO .................................................................................................... 11AU .............................................................................................................. 12O POETA DA LUZ FRACA .......................................................................... 13DO SER ..................................................................................................... 14DAS MO�AS .............................................................................................. 15A TUA AUS�NCIA ...................................................................................... 16LOUCO VARRIDO ...................................................................................... 17TU .............................................................................................................. 18A TUA IMAGEM .......................................................................................... 19AMOR PAG�O ........................................................................................... 20O CORA��O .............................................................................................. 21ESSAS LETRAS ......................................................................................... 22UMA PARTE DE MIM ................................................................................. 24ALGU�M .................................................................................................... 25ORA... ........................................................................................................ 26VEJA BEM .................................................................................................. 27VOC� ME PERGUNTA ............................................................................... 28EPIFANIA I ................................................................................................. 30DEPOIS DO JANTAR ................................................................................. 31O DIL�VIO ................................................................................................. 32O REL�GIO ............................................................................................... 33EM VENDO A NOITE .................................................................................. 34CAN��O DO ESQUECIMENTO ................................................................. 35COM O CORRER DO DIA .......................................................................... 36D�VIDA ...................................................................................................... 37ISABEL ...................................................................................................... 38TENTANDO ENTENDER O OLHAR ENIGM�TICO DO GATO... .................. 39MUDAN�A ................................................................................................. 40CLUBE ....................................................................................................... 41FRAGMENTOS .......................................................................................... 42DIZE-ME QUEM �S... ................................................................................. 43SONIA ........................................................................................................ 44SEM PRETENS�O ..................................................................................... 45DESEJO QUALQUER ─ MAL-ME-QUER .................................................... 46DIVISANDO O SOL POENTE ..................................................................... 49DEPOIS ...................................................................................................... 50PERGUNTA ............................................................................................... 51POEMA DO EU .......................................................................................... 52JOE ............................................................................................................ 54CHEIRO DE VOC� ..................................................................................... 55A CLARINETA ............................................................................................ 56ACHO ......................................................................................................... 58AINDA ........................................................................................................ 59POEMA DO FIM ......................................................................................... 60UM QUERER .............................................................................................. 61PARA VIN�CIUS OUTRA VEZ ..................................................................... 62POESIA INACABADA ................................................................................. 64POESIA INACABADA I ............................................................................... 64POESIA INACABADA II .............................................................................. 64POESIA INACABADA III ............................................................................. 64POESIA INACABADA IV ............................................................................. 64EM TEMPO ................................................................................................ 65*** .............................................................................................................. 66

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To Bob Dylan

Sex is a temporary thing; sex isn’t love. You can get sex anywhere. If you’re looking for someone to loveyou, now that’s different. I guess you have to stay in college for that.

Bob Dylan

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AMOR DOS FRACOS

Só os fracos podem amarpois só um fraco pode perdoarum ultraje tamanho ao paladarsó um fraco pode olhar nos olhosde alguém que o trai sem pretexto.

Só os fracos podem amarpois só um fraco vê certa belezaem tirar do antro o perdidoem cavar a própria sepulturae abdicar da culturaem prol da perda de tempoque é o momentode rir pra não chorar.

Só os fracos podem amarpois só um fraco escreve poemasem nome de um amor impossívele só a fraqueza explicariaum poema de tabacariaenfim só um fraco é sensívela ponto de chorar na ruapelo brilho marcante da lua.

Pois os fortes tentam amarmas resistem a tais maus tratose não choram sem motivose não morrem estando vivosnem tampouco têm coragemde entrar pela garagemse a decência fecha a porta.

Pois moral, respeito e briosó existem se ligadosao que todo fraco almejao amor quente de alguém friopasseando de mãos dadasseja lá que dia seja.

Só os fracos podem amarpois só um fraco tem doçurapra adoçar esse teu fel.E se a vida vale a penaseja oca ou seja belaeu sou fraco e digo nãoa viver sem coração.

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Só os fracos podem amarpois amar é a fortalezaque fraqueja a solidão.

Rio, 1987.

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17/08

O verso agora ficou mudofoi-se a estrofe que era tudo.É,José,aí está a tua respostanão há muito o que dizerneste agosto já sombriofoi-se do mundo a inspiraçãocom a tua expiraçãonão há muito o que fazerpois a chuva já secou.Que alguém bom te ampare e guardeao teu gosto sem alardee vai, poeta, ser eternodeixa o mundo, esse doentese ocupar em ser moderno.

Rio, 1987.

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SEM TÍTULO I

Da rua em diantenão há o que fazerdo mundo pra baixosó te querer.

Pois tua casa é no céue o mundo uma ilusãoquando penso nos teus olhose tudo então vira prazer.

Do vício de querer um copochego a ficar bêbadode tanto ter fome de te olharfecho os olhos e não paro de te ver.

Terezópolis, 1987.

SEM TÍTULO II

Sou quem te atenta o juízoporque sou quem te ama;e em muitas horas do dianão consigo sair dessa lama.

Gosto de gostar gostandoe sem querer querer ficarfazendo amor e divagandoporque é divertido te gostar.

Rio, 1987.

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OUVI UMA CANÇÃO

Ouvi uma cançãoque me lembrou do teu sorrisocomo se o amorfosse apenas um aviso.

E o brilho dos teus olhosse me chegou em pensamentocomo se a saudadedesfalecesse esse momento.

E então filosofeieu cá comigo e meus botõesimaginando o casamentodesses nossos corações.

E ainda agora distraídoo frio duro, a luz tardiasurpreso olhando para o tetopois que te amava e não sabia.

Rio, 1987.

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MENINA DO CABELO CASTANHO

Você que senta na janelaAbre o caderno e faz não sei o quêE me deixa pensandoEm ficar com vocêCadê a razão que me faz perceberSeu cabelo castanhoE jeito largado?Não são pra mim e talvez pra ninguémQue não deviaNão devoPensar em vocêPor quê? Se o solContinua a brilharNum dia tão lindoSem ter de pensarEm largar de vocêO se me perguntaOnde ponho meus olhosE em qual dimensãoDescobri-me em vocêEntrée para o diaVisão tão felizE um susto me agarraSua presença sumiuDa janela e do mundoE um rapaz sonhadorJá ganhou a manhãA fingir que teu nomeÉ minha bela DésiréeVocê VocêCadê VocêPor quê? VocêSe vocêEntrée Désirée.

Rio, 1987.

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CAMINHANDO

Não se fazem mais amoresassim aconchegantesem que esquecer o mundoé lembrança embriagante.

Olhem só onde chegueisem dinheiro andando a pépelas ruas da cidadesem destino mas com fé.

Enredado em pensamentosa cabeça latejandomas a dor é mais profundauma espécie de ar nefando.

Onde é mesmo que eu parei?...Ah!... Não se fazem mais amores...Bem, anyway agora é tardeVou dormir sem meus pudores.

Um favode melprocurado anelna faltado alguémme durmopensandoem qualquerIsabel.

Rio, 1987.

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DO BÊBADO

No fundo a vidaé a sensaçãode se estar constantementebêbado. Olhar por cima. Estar em baixo.Sentir não pensando.Pensar não querendo.Querendo não vendo.No caso o estudocom o sexo e o trabalhoa vidahistória das três fugas.Pois a fuga do bêbadonão traz a consciência material da fugae sim a abstrata intuiçãode algo prazerosoembora doloroso.Dá um sono...Maldito mal-estar!Esse questionamento do desejoum eterno investigarentre o abraço e o beijo.Embate ferrenho...Duro chegar à conclusãose tudo é dádiva ou maldição.

Rio, 1987.

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AU

Como ousas me dizer que nãovivo como tupenso como tucomo te atreves a negarque sintoque reflitoé público e notóriomeu existirmeu serfaz com que me julguediferente de vocêque não viveque não senteque não refleteque não existecomo euque não penso em ticomo pensas em mimque começo a pensarpor que pensas assimpois eu vejo vocêmas você não me vê.

Rio, 1987.

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O POETA DA LUZ FRACA

O poeta é um ser marginale muito gosta de o ser talcomeça pelo meioe não termina no final.

Que ser é esse que chora a saudadedo que ainda não chegoue que pinta a imagemdo que alguém nunca falou?

O poeta é o lugarda rima rica e do desterroda loucura onde o fatose engrandece com o detalheonde tudo faz sentidoe onde brilha uma luz fracaonde chego sem ter idovomito a letra e como a faca.

Rio, 1987.

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DO SER

Há um pensamento estranho em minha menteComo um algoz de minha vozE enquanto pensoNão descansoHá agora uma verdade em minha vidaComo o amor que não tem corE enquanto vivoSó me esquivoHá do ser a grande dúvida enfimComo o espelho que reflete atrás de mimE enquanto estudo as dimensões do não-saberVem a vontade tão imensa de escrever.

Rio, 1987.

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DAS MOÇAS

Vi uma perna bonitae perguntei teu nome, Anita.Vi uma face sombriae acreditei em você, Maria.Beijei uma boca sincerae me entreguei a você, Vera.Senti um desejo de mortee você, Marta, foi a minha sorte.Te deixei no ardor da primíciae até hoje me lembro, Patrícia.A felicidade era tua caríciae te amava com amor, Letícia.Disse gozei e mentiae chorei por nós dois, Sofia.E andei de esquina em esquinavagando de Cristina em Regina.Decidi me casar com alguéme na hora, Lígia, esqueci do amém.Ainda vago com esperança e agoniapesquisando esse teu coração, Bia.Deixarei a poesia incompletacomo falta uma parte ao poeta;e no eterno trocar de lugarsó espero a solidão enganarou um grande amor encontrar.

Rio, 1987.

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A TUA AUSÊNCIA

Sou um mero teorizador da vidaUm transgressor do pensamentoValete de um baralho apócrifoFixador idólatra de um momento.

Pois poesia é ser ninguémEnquanto ser não é verdadeHá que ter o ser em siFazer do todo uma metade.

Sou feliz na infelicidadeA do amor incoerênciaDe saber o que é saudadeDe temer a tua ausência.

Rio, 1987.

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LOUCO VARRIDO

Tenho ainda muito que aprenderOu então sou louco varridoMas é tão gostoso me envolverCom alguém de sabor ardido!...

Não sei bem se a inspiraçãoÉ porta-voz fiel do coraçãoMas o temor de não saberMe faz do teu veneno beber.

Viver é conhecer o doce e o amargoÉ temer as angústias de um amorEvitando que a doçura passe ao largo;Como disse, é rimar sorriso e dor.

***Não é ser um pessimistaUm alguém que antecipa a dor do desconhecidoBom é ser um analistaPra sofrer com a alegria e se rir quando sofrido.

Alô adeus meu bem-quererVocê me ama com prazerMas é que eu sou um louco atorQue te ama só com amor.

Rio, 1988.

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TU

És o pincel com que traçoNo espaço o meu sonho floridoÉs um detalhe do ventoQue lento me beija o calorSe todo dia me acordoE te recordo como um sonho perdidoDe noite me enrosco pequenoE obsceno me embriago de amor.

Rio, 1988.

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A TUA IMAGEM

Não sei bem o que me dáQuando o amargo me dominaÉ uma estranha sensaçãoQue me assusta e me fascina.

Vou pedir à inspiraçãoQue do pouco me enfastieE ao tempo só imploroQue sem frestas me espie.

Vou ali e não demoroSó, de novo, e sem coragemPra dizer que sinto faltaDe não ser a tua imagem.

Em algum lugar distanteEstá um brilho de prazerQue coloca em todo amanteA semente e faz crescer.

Rio, 1988.

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AMOR PAGÃO

Não sei mais o que fazer com vocêAmor pagãoQue desafia toda lei que eu crieiContra a paixãoVocê, que é minha sinaMe alucina e me fascinaMe acende com um sorrisoE me fere sem avisoVocê é o perdão do meu excessoE o amanhã que eu sempre peçoNão é bem que eu te adoreOu que esteja em teu poderMas é que essa minha vidaNão respira sem te ver.

Rio, 1988.

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O CORAÇÃO

O coração tem pouco pra dizerEnquanto a razão não entenderQue não se pode dizer nada ao coraçãoCom medo de se entender sua razãoE pra dizer pouco ao coraçãoÉ preciso não entender toda a razãoQue pouco diz ao coraçãoQue muito espera da razão.

Rio, 1988.

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ESSAS LETRAS

O que fazer com essas letras?Letras de dor, letras de amor.Torná-las em rimas ricasOu empobrecê-las por solidariedadeAo país infeliz?O que fazer com essas letras?Letras de cor, de vapor.Poderia filosofá-las em ininteligíveisQue foram, que sãoOu empunhá-las movido de paixão.E letras tão belasE letras confusasE letras esquecidasLetras que buscamO sentido do inexplicávelTentando, lembrandoTirando, botandoDoá-las à praça públicaAlimentá-las de mendigosVesti-las da sujeira das ruasSão letras em poesia futuristaPorque de um passado em revista.Ou então entregá-las a vocêCom um beijo, no ensejoDeixando de lado o pudorSem que falassem em pavor.Mas são letras profundasDa mente oriundasOnde o mundo vagueia sem rumoNum eterno trocar de lugarOnde o pensar ganha e perde seu prumoSem no entanto parar e afundar.O que pensar dessas letras? Que falam de sexo e se arrependem no amor;

que se apaixonam insaciáveis. Ah, se o caos finalmente decidisse pôr ordem nas linhas tortas e retas das deusas letras...!

Afinal são letras fortesDe farta impressãoQue às vezes não falam de mortesE nem sempre de comiseração.Outras mais à toaAfoitas se exibem em discussãoE algumas se desvirtuamPara um brinde aos perdõesEnquanto uma perdida se moralizaE inventa as viciações.

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O que dizer a essas letras?Se não que a letra é vã, anãEco poderoso que não vibra no ar?Pois a letra é um desenho do amanhã da memória,É o desprendimento da sensação da certeza de nada saber, e a esperança de

poder brincar com Golias sem cegar Davi.Como explicar a essas letrasQue jamais farão sentidoNem a um simples pedido?A quem confiar essas letrasQue querem a qualquer custoDizer que carecem e conhecem o justo?Que têm raiva e que choramE que de vergonha se coram.A quem se não a mimQue as conheço e entendoE que no meu coraçãoLogo as tranco correndo?

Rio, 1988.

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UMA PARTE DE MIM

Alguma parte de mim morreuLonge daqui.Pois sinto um sono profundoE o terror de ficar s�.Deve ser minh’alma g�meaOu um medo que pariMas sei que foi a mortePois do mundo tenho d�.

***Alguma parte de mim empenou a tintaE assinala a passagemDe um lampejo de sentirAh! tu, doce voragemQue do verso faz surgirUm mist�rio j� contadoE um rimar desajeitado.

***E, no entanto,Alguma coisa fez morrer dentro de mimComo em encantoA pregui�a de gostar de ser assim.

Rio, 1988.

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ALGUÉM

Alguém me pediu um poemaQue falasse de amor ou de uma coisa boaMas é realmente uma penaQue não me lembre de quem no pensamento ressoa.

Fosse uma bela mulherFalaria com admiraçãoE perguntaria me querPra desejar tua paixão?

Fosse uma pessoa prudenteOu de cultura marcanteDiria ainda bem, felizmente,Que de ti jamais fico distante.

Fosse ainda alguém de quem eu gostasseCujo amor por mim fosse algo de certoTalvez um beijo só, então, não bastasseQue dirá um poema, para tê-la por perto.

Rio, 1988.

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ORA...

Gostaria muito hoje deescrever uma poesia.Por isso escrevo este conto.Ora, dir-me-á o atletadas palavras; um louco.

Em que pese vinte vezesa raiz das coisas,as estrelas não têm fim.Ora, então que o amorjamais seja só um pouco.

Invasão, um olhar me perscruta.Que estranho essa palavra aqui,num conto sem rima.Ora, que seja então poesiapois eu falo até que fique rouco.

métrica, tétricapeste do oestesul tão azulmorte sem porte

Foi uma sombraque me desejou boa tardecom o tesouro de meus olhosdesprocuro o porquê;ora, então essa voz dentro de mimnão é se não o ecode um prometeu vagabundo...

E em caso de não sabero que dizerhaverá sempre o não-falaro contemplar;ora, pois se o verso é a contemplação do infinito...

Rio, 1988.

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VEJA BEM

Um sestércioÉ quanto valeNo vão comércioO que quero dar-lhe.

Mas um milhãoJá em transe profundoÉ a sensaçãoDe ter você no mundo.

Perdoe a poesia insossaOu seja lá o que forSó veja bem, essa moça,O tamanho do meu amor.

Rio, 1988.

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VOCÊ ME PERGUNTA

Voc� me perguntaCoisas profundasQue bem se escondem dentro de mimMe amuo num r�pidoNum desmomento de raivaSe de mim ningu�m sabeNem euSe � t�o bom s� sentirEntendeu?E voc� ainda exigeQue me abra de todoSua voz me investigaSeu amor um engodo.Ah, se eu lhe pudesse dizerSe voc� pudesse, que fosse, entenderN�o que desmanche um prazerNem que o amor possa serSei l�...O que aflige� que voc� me pergunta.A paix�o quer de tudo pra siO amor do adult�rio se ri.S�o palavras perdidas na noiteEm solid�o de um quarto mais frioS�o pedidos mudos, sombrios,E � o cansa�o de imparar de pensar.Que diabo voc� quer saberSer� que � preciso dizer?Me desculpeN�o se ofenda de novo.O meu ser foi escritoDecifrado e revistoMinha alma estudadaMinha mente abordadaDe maneira discretaNuma ilha ─ ou creta.E meu corpo olhadoMeu pensar desnudadoE ainda vem me dizerQue n�o sabe voc�Que tanto l�Como rolam as pedrasNas encostas do mim!?

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Se é tão simples...Eu estou nas palavrasE nas rimas tambémNos assuntos quaisquerNo sentido insentidoNo feliz bem-me-querOuNo azul desprovidoDe algum poeta ferido.

Rio, 1988.

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EPIFANIA I

Que alguém mais capazInteligente e sagazQuem maior do que euNesse mundo ateu?

Que vivi e morriE as ruas varriQue passei de partidaPela corja da vida?

Que deixei que me olhassemE desafio malvadoNão deixei que entrassemNo meu mais dentro lado?

Rio, 1988.

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DEPOIS DO JANTAR

O ar está pesadoTem estadoNo mundo lá fora há fomeNão se comeNo mundo cá dentro há cansaçoSem mais espaçoHá um medo grandeUma coisa de sustoComo se fosse acontecerNão chorar nunca maisO ar continua fugindoComo findoNa boca o gosto de sangueNa mão o poeta do mangue.

Rio, 1988.

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O DILÚVIO

Il y a des choses à dire.Yeah. E o dilúvio continua.A chover e a choverNa alma dos incautosO sono me perturbaO sexo me derrubaE tudo que eu queriaEra pensar na MariaComo fuga para o mundoComo atalho para o fundoE eis que me surge uma ideiaUm simples pensamentoDe julgar a humanidadePelo status do momento.Dá-me os louros da vitóriaOu a sorte aleatóriaE por vezes vem me verSem te dares a conhecer.

Rio, 1988.

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O RELÓGIO

Quem ainda não se sentiu traídoPelos enganos do relógioQue em certas horas corre demaisE em outras não corresponde a nossa expectativaTemporal?Imoral.É estúpido pensar no relógioE então é sofrível se pensar no tempoPois o que é o tempoSe não uma abstraçãoCriada pela necessidadeDe consolidar burocraticamente as mudançasPor que passamos?Os fatos.O tempo não tem fatos.É um surrealismoUm abstrato antropomorfismoUm substratoDo contatoDa Terra com o nadaDo nada com o cada.O tempo foi criado, sem dúvida,Por uma mente por certo lúcidaPreocupada em registrarEm cronologar, em fixar.O tempo, digo eu, não existe.Pra que então viver assim?Mas e o relógio?Bem, o relógio é o relógio...

Rio, 1988.

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EM VENDO A NOITE

O frio aqui em cima me faz chorarE o pensamento voa al�mDos reflexos nos vidrinhosN�o s�o orgasmos de velocidadeNem modismos adolescentes� um profundo desgosto do mundoE um acervo de coisas n�o feitas.E por isso corroCorro em duas rodas como se em quatroA geografia pouco significaE o pensamento n�o sossega um instanteAs vis�es s�o assustadorasBatidas, mortes ou uma queda que seja� tudo o que a consci�ncia lampeja.O chegar ser� ainda mon�tonoComo a repeti��o da mil�sima vezO deitar uma imita��o do acordarCom a invers�o da minha insensatez.Pois afinal n�o tenho nada a perderS� a vida ─ que insiste em arder.E amanh� quando a raz�o acordarE essa dor de n�o entender me voltarEspero ter de mais velho alguns dias.E visto que a vida � um eterno sofrerAinda que pouco se nos fa�am saberResta ent�o a solid�o destas noites t�o frias.

Rio, 1988.

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CANÇÃO DO ESQUECIMENTO

N�o sou nadaVeramente nadaN�o sobressa� nas letras de meu pa�sN�o fui doutor como mam�e sempre quisTampouco morri em acidente marcanteOu sobrevivi a um ataque fulminanteJamais olhei de dentro da televis�oDo r�dio n�o me ouviram um s� refr�oN�o inspirei novela, livro ou pagodeDe mim o jornal n�o fala ─ nem podeNada descobri para curar doen�aNem matei autoridade por desaven�aNunca fui her�i, muito menos bandidoNem deportado por motivo sofridoS� amei por prazer e por paix�oSem jamais ter feito p�blica minha emo��oNas ruas meu andar n�o � t�o nobrePara que me reconhe�a o rico ou o pobreEnfim nem mesmo sei se homem sereiPois na mediocridade sempre me apagueiNem sequer responderei perguntas sobre a vidaDe algum cantor num programa de sortidaE das artes s� me gabo de escreverO que nunca ao povo vou dizer.

Rio, 1989.

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COM O CORRER DO DIA

Dia maldito que me trouxe a noiteNoite abrasada que não dorme em breuDe um perfume só me cheiro a matoSob um poder que não me valeu.

A tarde enclítica o poema assouEm braços magros de ternura friaO céu de azul se aboliu do morroE a chuva disse que amanhã estia.

Adeus meu dia que me foi tão bomAdeus e vai se enfurnar no escuroQue hoje em dia já sonhar não valeA pena asmática por sobre o muro.

Rio, 1989.

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DÚVIDA

E se o tempo me faltasse de repente?E se a fresta em nosso amor de dor frementeNão sufizer pra vislumbrar a soluçãoComo é então que vai ficar minha razão?

Pois que se morro e não te vejo ao cortejoNão me faria muito bem à outra vidaE se não vou nem dou vazão ao meu desejoTerei pavor só de pensar em a partida.

E se de nós só restar mesmo a solidãoDe um amor então vivente e outro não?Me faltaria ao sexo forte a coragemDe te perder por tão pequenina bobagem.

Pois que a vida só se tira a quem a temE o amor a quem não espera sempre vemDe mal com a sorte nenhum forte há que se poupeE sem amor não há mortal que se enroupe.

E se do vinho desse amor eu não beberPois que sequer cheguei eu a te conhecer?Ou descobrir que nem a casca eu venciPara comer do amor a polpa, Deus, e se...?

Rio, 1989.

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ISABEL

Te amo nas linhas negras do papelTe amo nos garranchos sem jeitoTe amo na rima pobre de whisky com bordelTe amo num olhar perdido em teu peito.

E se amar for pensarTe penso tanto que não seiMas se amar for viverJá são mil anos que terei.

Te amo nas manchas deixadas no lençolE nas marcas das unhas em meu braçoComo um peixe pendurado no anzolTe amo em versos bêbados que traço.

Porque o amor é um atalhoPelo abismo da loucuraÉ a vida em sal e alhoQue se converte em doçura.

Enfim te amo sem saberMuito bem o que dizerSão confissões em um diárioEm um filme sem cenárioFrases mudas sem retornoNaufragadas e sem véuVento frio nesse fornoQue é a visão de Isabel.

Rio, 1989.

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TENTANDO ENTENDER O OLHAR ENIGMÁTICO DO GATO...

Por isso, sempre d� comida a um gato.Ele pode ser o seu retrato.De Sidarta e de Govinda,N�o, espera, � cedo ainda.Uns buscando as nuvens d�o o saltoEt les autres veem a vida coisa linda...

Por isso n�o renegue o lado baixo.Quantos h� dentro do fachoDentro d’alma ou fora delaCoisa feia ou coisa belaA alguns importa pouco o que eu achoE h� outros que veem o mundo de uma sela.

Mas tamb�m n�o brinque tanto com t�o pouco.Se acaba por ficar ficando rouco.E de tudo que se diz ou que se fazA vida o muito leva, a morte o traz.E por isso n�o exija tanto o trocoMuitos h� cujo apetite � voraz.

O troco do socoA bela capelaQue traz mas n�o fazE que ainda � lindaO retrato do gatoVoraz e fugazPor baixo do fachoNo salto do arauto...Pega! ─ o leitor incauto.

Rio, 1989.

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MUDANÇA

Muda tudo, de momento a momentoMudas de roupa, mudo de alentoMuda o dinheiro, mudando o tormentoE muda o amor, de cego a ciumento.

O em verdade vos digo também já mudouO valor mudará, se é que prestouAté o humano é mutante, se tu vens eu já vouE o infante, por que não está onde estou?

Fica, porém, a mudança, já realizadaFicou a semente, árvore potencializadaToda uma ideia, que será desmembradaO amorfo da forma a ser cristalizada.

Passou o homem, a mulher e a criançaO auxílio já é fruta, o cansaço é andançaA quem chega, a esperança da trocaDe quem parte, a memória se evoca.

Rio, 1989.

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CLUBE

� a bola que sobeE a �gua que splashaA palavra de invejaE o olhar sensual.

� a crian�a chorandoE o homem-cervejaA mulher descansandoE a menina que beija.

N�o h� muito a dizerDo lugar em siPor�m muito a fazerEm d�, r� e mi.

S�o pessoas e sonhos e lutas e armadilhasEm meio a olhares e toques e fugas e r�dios de pilha.Desafio � velhice, escola da juventudeSem a ordem dos fatores ─ valor de brancos e de negritude.

Enquanto l� s�o brigas e risadasConforme o ponto, a marca e as pisadas;Por�m n�o l�, entre o cora��o e a maldade,� uma coisa assim, inexplic�vel bem perto da saudade.

Rio, 1989.

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FRAGMENTOS

Aqui me quedo escrevendo de novoVersos tolos ─ em os lendo me caloS�o bobagens, como noite sem luaS�o paisagens, com carro�as na ruaCerta vez me fui levado a pensarQue a poesia vem e vai como o diaMas na noite que sem versos caiuA inspira��o em meu colo dormiuDiz o m�sico com as migalhas no barDiz a puta com o cansa�o no olharDiz o mestre com o bolso vazioDiz o pobre com a vida no estioDizem todos que nem podem sofrerO que os tolos procuram sem verOu seja, � no olhar, � nos gestos e vozesQue est� a vida em suas mortes atrozesE � o poeta qual cavaleiro andanteO respons�vel por esta miss�o humilhante ─A de trazer para hoje o amanh�E de levar para longe o passadoDe tragar por voc�s todo o felDe vomitar todo o gosto do nojoDe adorar, sem gostar, a paix�oE criar de uma tripa, cora��oMas se a vida n�o fosse sozinhaOnde todos s� achassem raz�oAh, se a vida fosse entendidaSe a chegada n�o trouxesse a partidaAqui me quedo escrevendo de novo...

Rio, 1989.

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DIZE-ME QUEM ÉS...

É que a hora já é tardeE a solidão da noite em mim já ardeNo pensamento um pedaço de pãoNo corpo um desejo anãoPois em tudo há o corte de uma sorte consorteE no espírito o dedo azedo do medo arremedoSeguramente o sonho não vemNem com a monotonia de um sono de tremE não que a vida tenha um gosto de felÉ que já se esqueceu do aroma do melPois que posto está o que foi dispostoE na estupidez do poeta o sabor sem gostoQue me venham de graça as novenas de SamariaSe é que existe algum conserto à maniaMas depressa como depressa é o vooDa andorinha que não vomita o enjooE se casa com o João-de-barro molhadoPra fazer verão no subterrâneo aladoDepois recito em muda voz a poesiaE não sei se me chamo João ou MariaE de novo recito já bem trôpego de sonoTorcendo que a rima ache logo seu dono

De tudo um pouco Por tudo e maisO conhecimento A sangue-mornoDe douto e louco Que não se fazE arrebatamento. Amor suborno.

E lá se vai a noite com o barco da luaSem que se materialize a loura de saia nuaA vida inelutavelmente sem fé continuaA poesia irremediavelmente a pé se evacua.

Rio, 1989.

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SONIA

Sabia tudo desde o inícioOntem o hoje faz comícioNunca esperes que não seja eu que te vejaInvento o sonho e o amanhãA te conter em meu afã.

Rio, 1989.

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SEM PRETENSÃO

Sem pretensão um soneto se me veioFigurante desleixado a se rir de meu anseioE as horas têm conchavo com a trevaDe querer e não poder de não saber se traz ou leva.

Assim não dá, que coisa loucaEscrever tão coisa poucaNo fim se esvai, a esperançaDe temer tua tardança.

Que se mude, que me altereQue se faça, que se espereImbricado em fina teia

Foi o novo. E o conselhoFoi o frio em que me espelhoA incerteza me chateia.

Rio, 1989.

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DESEJO QUALQUER ─ MAL-ME-QUER

Quero ser teu para sempreSem nunca o serQuero ser teu dependenteSem quererQuero ser tudo na abrangênciaDo nada absoluto que extasiaSem pensar no amanhãVivendo o agora em doce agoniaDisparar por teus cabelosEm beijos loucos e perdidosEscutar o teu amorEm batidas sem compassoFortes e pesadas, um peito arfanteE o outro repousanteQuero que o tempo se entedieEm esperar nosso cansaçoE que a vida se atrofieNuma antessala com mormaçoEm teus braços o infinitoEm teus lábios eu perdidoVer a morte em vida aflitoE te dizer que sou bandidoPois não sabes quem sou eu?Cavalheiro quando possoApaixonado em destroçosQuero embotar-me para o mundoSem perder minha vontadeIr à lua num sorrisoE sorrir com você nuaLembrar teu nome nos mercadosE compor em noite quenteOs romances que não digoPor temer um mau repentePor sobre a mesa o recadoDe mim pra mimDe ti pra tiPois ti é mim e mim sou tiEm se isto for corretoJá não sei o que é o sonhoE o sono é um pesadelo medonhoDe não querer me repetirDe não saber como pedirDe adiar o aproximarE de ser pobre no rimarQuero sentir ao ser sentidoE ler o desejo de querer ser desejada

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Em teus olhos de bonecaEm teu ser toda mulherQue n�o importe o labutarO pensar e o comerQue se amargurem os pensadoresQue n�o tenhamos o que fazerQue fazer? Um p�o com melUm racioc�nio ─ vem do c�uQuero ent�o me agacharE te ver desesperadaSem saber,Sem querer,Sem poder,Toda amarrada no poder do meu olharAprisionada em minha posseSem que um dedo s� a toqueE revezar nesta pris�oA cela fria a me esperarO cheiro quente a me fritarEm tua m�o um meu desejoEm teu tes�o o amor perfeitoEm minha espera ─ insatisfeitoEm tua chegada o meu s� beijoPois quero ser teu de novo e sempreEm um momento sem tormentoEm vinte anos de um segundoAo descobrir que n�o h� mundoQuero de azul me pintarNo teu olharE de verde te ati�arMas sem perder a cor do meu desejoSem te ver quando te vejoDiz o s�bio, diz o padreDizem todos os que dizemS� n�o digo pois n�o seiSe te vi ou te penseiEsta cartaDe t�o longaDe t�o ufanaDe palavrasDe amantesCom saborCom voz pedanteVez em quandoEsquecimentoVou levandoAfobamento

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É que é difícil ser amorE consciência ao mesmo tempoPensar no tempo é dissaborQuando a vida é um momentoEm se te tendo não há olhosPara querer seja o que forE a noite já se vaiVai dormir com meu torporTudo enfim é o dizerQue não quero te quererE que viver sem ser assimSeria então o morrer sem fimO fim de mimQuero ser teu sem bem o serQuero te dar o meu viverQuero ser mais que tua morteQuero vagar em tua sorteNão consigoNão consigoEscrever é um castigoParar é te insultarNão dormir é me assaltarPor um amor que não conhecesUm sabotar que não merecesE no entanto...

Rio, 1989.

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DIVISANDO O SOL POENTE

Diviso ao longe um portal sem fimDe ouro e prata e de marfimQue se aenorma e vem a mimEm se negando de carmim.

Percebo ao lado um suspiro rotoAndar sombrio amor esgotoQue se avoluma em névoa e portoQue faz o certo ficar torto.

Me acerco do som que me dominaÉ um que pensa outro que assinaA vida segue e o país me azucrinaAté o banho me maltrata e me afina.

Apor o nomeO saboneteVagar sem roupaCoisa loucaDiviso o claroE o escuroCair da noiteDia no açoiteSó esperar que a própria noiteEm dia torne e não se afoite.

Rio, 1989.

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DEPOIS

Você, é, vocêQue se me excita de emoçõesEstranho ser a me fitarParece ter dois coraçõesUm deles me examinaO outro me alucinaUm dilacera o meu peitoOutro me acena lá do leitoDivide comigo a imensidãoDe uma lágrima em perdãoMe dá de teus dois um coraçãoConfere sem mim a situaçãoSem te marcar de torpe açãoE se compreender-me não puderesQue se faça do nada um alferesPra te dizer alô em vãoE fugir a pé tirado o chãoE depois...Bem, depois...

Rio, 1989.

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PERGUNTA

Iago que souN�o me posso desculparHomem de brioS� me quero humilharEm te pensando escrevo istoPois do amor eu n�o desistoAboletado em refletirAgoniado em pensamentosPois para que serve o amor?Pra torturar? Pra se deitar?Ou envolver alguns momentos?Amar, al�ar vooSonhar, por isso dooSe a vida fosse um reto agirE se querer um n�o sentirOh! ─ � um imenso questionarUm de contrastes se abalarE enturmado em ant�teseSinto fremir dentro da ep�fiseOu hip�fise, sei l�Porque a sorte n�o � m�E ainda absorto em recordarMe n�o mais quero perguntarO que te fiz, meu cora��oQue do meu sim fizeste n�o.

Rio, 1989.

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POEMA DO EU

Enquanto voc�s discutem o candidato � presid�nciaEu me embriagoDe prazerDe bebidaDe poderSer quem eu souEu escuto o notici�rioEu sou euEu me acomodo ao pensar masoquistaEu ─ eu ─ euEu repito o maldito euE depois me durmo com o pensamento a matutarAlgo de negrume a me agitarS� falo em mim porque s� a mim conhe�oS� quero a mim porque s� em mim me esque�oE se pobre ─ digo em mais um poema ─� minha rima e poesia� como se a noite abra�asse o diaEm calmariaVersos fundosE sem plexoCom alturasE um convexoAltar de almas cegasQue se esvaem na periferiaDo amanhecer acovardado de estuporEnquanto o menor abandonado se extingueNa esfinge do medo dos adultos cidad�osE o bar se enriqueceE se me jorra em plumas de sangueUma catarse alco�lica com dois �sPorque mais n�o pode terEscuto os sons dos gatos noturnosQue se me d�o os gritos divinosDe um amanhecer que n�o vereiPois dormireiE ─ e sempre e ─A lembran�a de tudo o que n�o fizA incompletude do meu serA mulher que n�o ameiPorque a mulher que n�o me amouE a vontade de urinarSou sincero com voc�sE me arremedo em pesarPois que s� sei que de pensarEm me morrer me arruinarSe me dariam ─ adoro esta constru��o ─

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E j� se quebrou todo este eloDe um vers�culo em poesiaE de antem�o me admiroDe tanto ver de tanto serUma cachola de falaresUm alquebrado almoxarifeO que � isso deus do c�u?Que s�o palavras a cairDo c�u, do inferno do saberDe ser quem quer que eu queira serDesculpe amiga se n�o fuiDesculpe amigo tolum suiE segue o verso segue o astralEm uma nuvem coqueiralLembrando Mozart em sonho f�nixA presepada em jogo c�nixH� quanto tempo se me n�o vemA frase solta o p� tamb�mE al�m do mais se n�o te importasQue p� no saco ─ tu me cortasUm asco azedo um s� momentoA nau posseira o vento alentoA professora o idealO sol mar alto e borealDe um lado a sede inconstanteDe outro o esp�rito incessante.

Rio, 1989.

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JOE

Hey Joe, se você for pra São Paulo mesmoVocê tem que saber, você tem que entenderQue uma parte fica aqui.

Hey Joe, a turma aqui tem te conhecidoE se você pensar, não se assuste de verAlguém pensando te encontrar.

A gente tem mais é que viverTem que fazer e acontecerE se um vai um fica pra trásMas só que ir é começar a voltarDizer adeus é como um copo de chopeE olha, Joe, não pensa demais.

Hey Joe, além do mais Sampa é logo aliE a gente fica por aqui, saudade é festaJoe, goodbye.

Rio, 1989.

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CHEIRO DE VOCÊ

Quando de um sobressalto apareceuUm faz-de-conta, uma alegriaUm devaneio em mentografia de vocêA acalentar minha lembrançaNessa saudade um quero-mais feito criançaPois tudo aqui tem cheiro de você...

E se a paz que são teus olhosA me verA me quererMorrer de amorÉ te imaginarAqui.

Rio, 1989.

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A CLARINETA(para Mozart)

E a m�sica pra mim tem cor de roxoS�o amorfismos lindos que aumentam e diminuemNo crescer e morrer da orquestraE eu quase choro com o miado pungente da clarinetaUm arrepio sobe com o trinar do violinoPara depois tudo acabarEm gozo org�smico de final de sinfoniaA cama � pouca pra meu cansa�o esgotadoAs sensa��es continuam e o roxo ainda existeUm roxo bel�ssimoDe tons maiores e menoresDe alegrias e tristezasMas acima de tudo a pazA paz que � conseguir ouvirConseguir entenderEntrar de corpo e alma na m�sica de outremA linguagem musical se aprendeGradualmente, ou n�o! ─O entender � como impulsos de entendimentoVis�es abreviadas por�m cheias, plenas de conhecerMusicar a vida, compassar as emo��esEssa a miss�o desses bras�esE depois escrevoComo sempreEscrevo desesperadamenteComo uma vontade irreverentePorque fremente, prementeArdente ─ dirias tu� amante da arte que se alucinaCom o amarrotar das impress�es ─ uma vacinaContra a dor de n�o poder ouvirContra o ardor de n�o saber pedirComo � dif�cil em palavras dizerO que as notas acabaram de fazerNo ar � minha voltaNo vibrar de linhas tortas

***

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A clarineta soa já um solo longeE o meu corpo ainda se queda inabrandadoPorém em muito satisfeitoA plenitude é um constante adicionar de novos fatosJá que à noite nem são pardos nossos gatosO entender independe da vontadeÉ uma dádiva, uma inesperada súbita realidadeE se mais ponho as conjunções a trabalharMenos esqueço a clarineta a se chorar...

(inspirado no concerto para clarinetae orquestra em lá maior, de W. A. Mozart)

Rio, 1989.

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ACHO

Que perdi a capacidade de amarE também há coisas mais importantes a fazerDe igual prazerPois como amar num mundo sem amor?Como ser alguém em meio ao estupor?Dividendos militantesHipocrisias flagrantes

Demais DemaisUm na frenteOutro atrás

Além do mais, o que é o amor?Ninguém sabe ninguém viuQuando chega já partiu...

Por maisTenazUm fracoAudaz

E por isso achoPor tudo que é praxeUm quadro pastelPintado a guacheEm só se amando se senteA dor de ser semente

Depois do arrozAlguém descrenteUm passo em falsoO forteA morte

Por isso achoQue é tudo engodoE se a luz balir com um latido profundoAinda assim suponhoQue nada se sabe das coisas férteis do mundo.

Rio, 1989.

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AINDA

Ainda há muito a fazerAlma minhaE muito a dizer.

Quanto mais não sejaUma palavra de amorMesmo que jamais se vejaA causa primeira da dor.

Se rimar é traduzirO voltar enquanto irAi de nós, deserto ecoQue insiste em te molhar

enquanto seco.

Rio, 1989.

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POEMA DO FIM

Miserável albatrozQue trouxe o medo até nósVoando um voo de mau gostoFazendo o posto ser disposto.

Condenável quebra-nozQue a quebrar nos fez de vósAlusão de ver no tudoO canto escuro ficar mudo.

Insuperável essa vozQue adormece o mais ferozE a vida corre nauseabundaDe mitos vários oriunda.

Admirável ser atrozQue não desfez todos os nósUma vontade de pairarSó, no da morte limiar.

Rio, 1989.

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UM QUERER

Então digo outra vezEm bom e claro portuguêsParece que quando falo caloVocê não entendeNão compreendeQuero te namorarSem precisar te beijarQuer dizerIsso não impedeEntendeu?É um querer que não quer serSó quer poderSer sem saberEu sei que é difícilQue é talvez inútilQue é um sentimento fútilQuerer ser abandonadoNum abraço apertadoDesperdiçar um tempo hábilAmando, vezes louco, ora imóvelMas é que quero ser teu namoradoSem precisar ficar grudadoEstando sempre do teu ladoOu não.Que importa o risoSe escondido nasce o siso?

Rio, 1989.

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PARA VINÍCIUS OUTRA VEZ

J� pensei no ditoNo n�o ditoE no que queria dizer.E no entanto ainda n�o sei o que fazer.Dado que o amor n�o se explica.� como a flor que na teoria n�o se aplica.

J� revisitei o mitoO malditoO aflito e o viver.E ainda n�o sei bem como morrer.Enquanto paira no meu ar um jeito estranhoDe um vapor meio-sem-gra�a de antanho.

J� fiz amorE muita dorNum mausol�u de esperan�a.E aqui confesso a impaci�ncia com a tardan�a.Mujer de hoy, esperando estoy.Ou qualquer coisa que pare�a e que n�o foi.

Contra o verso e o n�o-versoO anverso e o adversoContra mim e o n�o-mimO jasmim e o curumimContra o tudo do absurdoContra o nada da esplanada.

J� lutei, desespereiSorri muitoE chorei.E como todos n�o fiz nada que preguei.N’algum al�m devem estar tuas respostas.J� que te esvais num nado seco e de costas.

J� vi a surraE a curraNum afago vi carinho.E entretanto n�o h� pombos em teu ninho.Ah, poesia, que te repetes tanto em mimFaze algo urgente, n�o maltrata o mundo assim.Pois que h� vida na poesiaE h� cura j� na pr�pria amarga azia.

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A favor de um amorInfinito enquanto forA favor de toda dorDo sorriso e do torporA favor de tudo pôrNum elogio sem favor.

Já.

Rio, 1989.

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POESIA INACABADA

Poesias e mais poesiasPoesias daqui e de l�

Poesias que falam de mimPoesias de um sonho sem fim

POESIA INACABADA I

Poesias demais poesiasPoesias poesias e poesias

Poesias que s�o s� poesiasPoesias que nem s�o poesias

POESIA INACABADA II

Poesias que em tempo v�oPoesias que ao amor se d�o

Poesias a matraquearPoesias que v�o torturar

POESIA INACABADA III

Poesias e mais poesiasPoesias de tirar o ar

Poesias de preenchimentoPoesias s�o o pensamento

POESIA INACABADA IV

Poesias por demais poesiasPoesias que do ser se evadem

Poesias que n�o t�m poesiaPoesias ─ que jamais se acabem.

Rio, 1989.

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EM TEMPO

Você que afaga a esperançaDe uma sorte ingrata e belaQue se esmera na andançaE vê o mundo da janela.Você que a mente tem espessa,Esqueça.

Rio, 1989.

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...Já que pode estar o fimA dois segundos só de mim...

Rio, 1989.