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Poemas

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tudo densotensoimensoquandopenso."Eu me chamo Antnio.

O que quer dizer Paulo Leminski

No fica fazendoo que, um dia, eu sempre fiz.No fica s querendo, querendo,coisa que eu nunca quis.O que quer dizer, diz.S se dizendo num outroo que, um dia, se disse,um dia, vai ser feliz.

No discuto - Paulo Leminskino discutocom o destinoo que pintareu assino

No sei quantas almas tenho Fernando PessoaNo sei quantas almas tenho.Cada momento mudei.Continuamente me estranho.Nunca me vi nem acabei.De tanto ser, s tenho alma.Quem tem alma no tem calma.Quem v s o que v,Quem sente no quem ,Atento ao que sou e vejo,Torno-me eles e no eu.Cada meu sonho ou desejo do que nasce e no meu.Sou minha prpria paisagem;Assisto minha passagem,Diverso, mbil e s,No sei sentir-me onde estou.Por isso, alheio, vou lendoComo pginas, meu ser.O que segue no prevendo,O que passou a esquecer.Noto margem do que liO que julguei que senti.Releio e digo: Fui eu?Deus sabe, porque o escreveu.

Poema em linha reta Fernando Pessoa Nunca conheci quem tivesse levado porrada.Todos os meus conhecidos tm sido campees em tudo.E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,Indesculpavelmente sujo.Eu, que tantas vezes no tenho tido pacincia para tomar banho,Eu, que tantas vezes tenho sido ridculo, absurdo,Que tenho enrolado os ps publicamente nos tapetes das etiquetas,Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,Que tenho sofrido enxovalhos e calado,Que quando no tenho calado, tenho sido mais ridculo ainda;Eu, que tenho sido cmico s criadas de hotel,Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moos de fretes,Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado[sem pagar,Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachadoPara fora da possibilidade do soco;Eu, que tenho sofrido a angstia das pequenas coisas ridculas,Eu verifico que no tenho par nisto tudo neste mundo.Toda a gente que eu conheo e que fala comigoNunca teve um ato ridculo, nunca sofreu enxovalho,Nunca foi seno prncipe todos eles prncipes na vidaQuem me dera ouvir de algum a voz humanaQue confessasse no um pecado, mas uma infmia;Que contasse, no uma violncia, mas uma cobardia!No, so todos o Ideal, se os oio e me falam.Quem h neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? prncipes, meus irmos,Arre, estou farto de semideuses!Onde que h gente no mundo?Ento sou s eu que vil e errneo nesta terra?Podero as mulheres no os terem amado,Podem ter sido trados mas ridculos nunca!E eu, que tenho sido ridculo sem ter sido trado,Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?Eu, que venho sido vil, literalmente vil,Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Soneto do amigoEnfim, depois de tanto erro passado Tantas retaliaes, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado.

bom sent-lo novamente ao lado Com olhos que contm o olhar antigo Sempre comigo um pouco atribulado E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano Sabendo se mover e comover E a disfarar com o meu prprio engano.

O amigo: um ser que a vida no explicaQue s se vai ao ver outro nascerE o espelho de minha alma multiplica...Vinicius de Moraes

Dialtica

claro que a vida boa E a alegria, a nica indizvel emoo claro que te acho linda Em ti bendigo o amor das coisas simples claro que te amo E tenho tudo para ser feliz Mas acontece que eu sou triste...Vinicius de MoraesO verbo no infinito

Ser criado, gerar-se, transformarO amor em carne e a carne em amor; nascerRespirar, e chorar, e adormecerE se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar Um dia luz e ver, ao mundo e ouvirE comear a amar e ento sorrirE ento sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haverE perder, e sofrer, e ter horrorDe ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer de tudo ao vir um novo amorE viver esse amor at morrerE ir conjugar o verbo no infinito...Vinicius de Moraes