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REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO CAMPINAS Direção e coordenação da Escola Judicial Repositório Oficial de Jurisprudência PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO n. 30 2007

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REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

CAMPINAS

Direção e coordenação da Escola JudicialRepositório Ofi cial de Jurisprudência

PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

n. 30

2007

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REVISTA DO TRIBUNAL REGIONALDO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

ISSN 1679-8694

Repositório Oficial de Jurisprudência

Campinas n. 30 p.1-261 jan./jun. 2007

DIREÇÃO E COORDENAÇÃO DA ESCOLA DA MAGISTRATURA

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

Rua Barão de Jaguara, 901- 13015-927 - Campinas/SP

Fone (19) 3236-2100www.trt15.gov.br

ESCOLA DA MAGISTRATURA DA JUSTIÇA DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

Rua Barão de Jaguara, 901- 14º andar - 13015-927 - Campinas/SP

Fone (19) 3031-4183 - Fax (19) 3236-0585e-mail: [email protected]

Catalogação na Publicação (CIP) elaborada peloSetor de Biblioteca/TRT 15ª Região

Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região /Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Escola daMagistratura – n.1, jul./dez. 1991-. Campinas/SP, 1991

n. 30, jan./jun. 2007

1. Direito do Trabalho - Brasil. 2. Direito Processual do Trabalho -Brasil. 3. Jurisprudência - Brasil. 4. Atos Normativos - Brasil. I.Brasil. Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região. Escola daMagistratura.

CDU - 34:331 (81) 347.998.72 (81)

Os textos doutrinários e de jurisprudência desta Revista são de estritaresponsabilidade dos seus autores.

Supervisão: Juíza Tereza Aparecida Asta GemignaniCapa: Patrícia Izumi da Silva

Colaboradoras da organização desta edição:Ana Maria da Silva OliveiraDébora Eliana de Oliveira BattaginElizabeth Aparecida Nespolon BertazzoliLaura Regina Salles AranhaMaria Auxiliadora Ortiz WinkelMônica de Oliveira JurgensenRosiane Cristina Runho Lucarelli

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ESCOLA DA MAGISTRATURADA JUSTIÇA DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

Juiz Flavio Allegretti de Campos Cooper - DiretorJuiz Lorival Ferreira dos Santos - Coordenador

CONSELHO EDITORIAL

Juíza Tereza Aparecida Asta Gemignani - Presidente

Juiz José Roberto Dantas Oliva

Juiz Guilherme Guimarães Feliciano

Juiz Henrique Macedo Hinz

Juíza Luciana Caplan

CONSELHO TÉCNICO - SUBCOMISSÕES

JURISPRUDÊNCIAJuiz José Otávio de Souza Ferreira – PresidenteJuiz Flávio LandiJuíza Fernanda Cristina de Moraes Fonseca

DOUTRINA INTERNACIONALJuiz Luiz Felipe Paim da Luz Bruno Lobo – PresidenteJuiz Marco Antônio de Souza BrancoJuiz José Antonio Ribeiro de Oliveira Silva

TRABALHOS DO MEIO CIENTÍFICOJuíza Eliana dos Santos Alves Nogueira – PresidenteJuíza Laura Bittencourt HinzJuíza Candy Florencio Thome

DOUTRINA NACIONALJuíza Olga Regiane Pilégis - PresidenteJuiz Firmino Alves LimaJuíza Ana Cláudia Pires Ferreira de Lima

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CONSELHO CONSULTIVO E DE PROGRAMAS

Juiz Fernando da Silva BorgesRepresentante dos Juízes do Tribunal

Juiz Francisco Alberto da Motta Peixoto GiordaniRepresentante dos Juízes Titulares de Vara do Trabalho

Juíza Alzeni Aparecida de Oliveira FurlanRepresentante dos Juízes Substitutos

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COMPOSIÇÃO DO TRIBUNAL

PRESIDENTELuiz Carlos de Araújo

VICE-PRESIDENTE ADMINISTRATIVOMaria Cecília Fernandes Alvares Leite

VICE-PRESIDENTE JUDICIALI. Renato Buratto

CORREGEDORA REGIONALFany Fajerstein

JUÍZES TOGADOS

Nildemar da Silva RamosLuiz Roberto NunesLorival Ferreira dos SantosJosé Antonio PancottiManuel Soares Ferreira CarraditaFernando da Silva BorgesVera Teresa Martins CrespoPaulo de Tarso SalomãoFlavio Nunes CamposElency Pereira NevesGerson Lacerda PistoriMariane KhayatAna Maria de VasconcellosHelena Rosa Mônaco da Silva L. CoelhoGisela Rodrigues M. de Araújo e MoraesEdmundo Fraga LopesTereza Aparecida Asta GemignaniAna Amarylis Vivacqua de Oliveira Gulla

José Pedro de Camargo R. de SouzaEurico Cruz NetoErnesto da Luz Pinto DóriaIrene Araium LuzFany FajersteinLuiz Carlos de AraújoLuís Carlos Cândido M. Sotero da SilvaLaurival Ribeiro da Silva FilhoMaria Cecília Fernandes Álvares LeiteCarlos Roberto do Amaral BarrosAntônio Miguel PereiraOlga Aida Joaquim GomieriEduardo Benedito de Oliveira ZanellaI. Renato BurattoHenrique DamianoFlavio Allegretti de Campos CooperLuiz Antonio LazarimJosé Pitas

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1ª TURMA

1ª CÂMARA

Juiz Luiz Antonio Lazarim

(Presidente da 1ª Câmara)

Juiz Luiz Roberto Nunes

Juíza Tereza Aparecida Asta Gemignani

2ª CÂMARA

Juíza Helena Rosa Mônaco da Silva Lins Coelho

(Presidente Turma e da 2ª Câmara)

Juiz Eduardo Benedito de Oliveira Zanella

Juíza Mariane Khayat

2ª TURMA

3ª CÂMARA

Juiz José Pedro de Camargo Rodrigues de Souza

(Presidente da 3ª Câmara)

Juiz Edmundo Fraga Lopes

Juíza Ana Amarylis Vivacqua de Oliveira Gulla

4ª CÂMARA

Juiz Paulo de Tarso Salomão

(Presidente da Turma e da 4ª Câmara)

Juiz Luís Carlos Cândido Martins Sotero da Silva

Juiz Antonio Miguel Pereira

3ª TURMA

5ª CÂMARA

Juiz Lorival Ferreira dos Santos

(Presidente 5ª Câmara)

Juiz Ernesto da Luz Pinto Dória

Juíza Gisela Rodrigues Magalhães de Araújo e Moraes

6ª CÂMARA

Juiz Henrique Damiano

(Presidente da Turma e da 6ª Câmara)

Juiz Luiz Carlos de Araújo

Juíza Ana Maria de Vasconcellos

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4ª TURMA

7ª CÂMARA

Juiz Manuel Soares Ferreira Carradita

(Presidente da Turma e da 7ª Câmara)

Juiz Laurival Ribeiro da Silva Filho

Juiz I. Renato Buratto

8ª CÂMARA

Juíza Irene Araium Luz

(Presidente da 8ª Câmara)

Juiz Flávio Allegretti de Campos Cooper

Juíza Vera Teresa Martins Crespo

5ª TURMA

9ª CÂMARA

Juiz Nildemar da Silva Ramos

(Presidente da 9ª Câmara)

Juiz Carlos Roberto do Amaral Barros

Juiz Gerson Lacerda Pistori

10ª CÂMARA

Juiz Fernando da Silva Borges

(Presidente da Turma e da 10ª Câmara)

Juiz José Antônio Pancotti

Juíza Elency Pereira Neves

6ª TURMA

11ª CÂMARA

Juiz Flavio Nunes Campos

(Presidente da Turma e da 11ª Câmara)

Juíza Fany Fajerstein

Juíza Maria Cecília Fernandes Álvares Leite

12ª CÂMARA

Juiz Eurico Cruz Neto

(Presidente da 12ª Câmara)

Juíza Olga Aida Joaquim Gomieri

Juiz José Pitas

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SEÇÃO DE DISSÍDIOS COLETIVOS

Juiz Luiz Carlos de Araújo (Presidente)Juíza Maria Cecília Fernandes Álvares Leite

Juiz Henrique DamianoJuiz Flavio Allegretti de Campos Cooper

Juiz Nildemar da Silva RamosJuiz Lorival Ferreira dos Santos

Juiz José Antônio PancottiJuiz Fernando da Silva BorgesJuiz Paulo de Tarso SalomãoJuiz Flávio Nunes CamposJuíza Elency Pereira NevesJuiz Gerson Lacerda Pistori

1ª SEÇÃO DE DISSÍDIOS INDIVIDUAIS

Juíza Fany Fajerstein (Presidente)Juiz Luís Carlos Cândido Martins Sotero da Silva

Juíza Olga Aida Joaquim GomieriJuiz Luiz Antonio LazarimJuiz Luiz Roberto Nunes

Juiz Manuel Soares Ferreira CarraditaJuíza Mariane Khayat

Juíza Ana Maria de VasconcellosJuíza Helena Rosa Mônica da Silva Lins Coelho

Juíza Gisela Rodrigues Magalhães de Araújo e MoraesJuíza Tereza Aparecida Asta Gemignani

Juíza Ana Amarylis Vivacqua de Oliveira Gulla

2ª SEÇÃO DE DISSÍDIOS INDIVIDUAIS

Juiz I. Renato Buratto (Presidente)Juiz José Pedro de Camargo Rodrigues de Souza

Juiz Eurico Cruz NetoJuiz Ernesto da Luz Pinto Dória

Juíza Irene Araium LuzJuiz Laurival Ribeiro da Silva Filho

Juiz Carlos Roberto do Amaral BarrosJuiz Antônio Miguel Pereira

Juiz Eduardo Benedito de Oliveira ZanellaJuiz José Pitas

Juíza Vera Teresa Martins CrespoJuiz Edmundo Fraga Lopes

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JUIZ(ÍZA) Vara do Trabalho

JUÍZES TITULARES DE VARAS DO TRABALHOEm 30/06/2007

Susana Graciela Santiso 7ª Campinas

Maria Cristina Mattioli 4ª Bauru

Maria Madalena de Oliveira 3ª Bauru

Neise Vicentini 1ª Lençóis Paulista

Thomas Malm Cruzeiro

Ana Lúcia Pereira São Sebastião

Suzana Monreal Ramos Nogueira Amparo

Fábio Grasselli Avaré

Veva Flores Itatiba

Samuel Hugo Lima Hortolândia

Erodite ribeiro dos Santos de Biasi Capivari

Valdevir Roberto Zanardi Votuporanga

Dagoberto Nishina de Azevedo 5ª São José dos Campos

Thelma Helena Monteiro de Toledo Vieira Salto

Manoel Carlos Toledo Filho 10ª Campinas

Antonio Francisco Montanagna 2ª Limeira

Rita de Cássia Penkal Bernardino de Souza 2ª São José do Rio Preto

Carlos Augusto Escanfella 4ª São José do Rio Preto

Édison Giurno 5ª Campinas

Luiz José Dezena da Silva Indaiatuba

Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani Campo Limpo Paulista

João Alberto Alves Machado 2ª Araçatuba

Claudinei Sapata Marques Penápolis

Fábio Allegretti Cooper 6ª Ribeirão Preto

Luciane Storel da Silva 11ª Campinas

Ricardo Antonio de Plato 2ª Jundiaí

Maria Inês Corrêa de Cerqueira César Targa 2ª Paulínia

Fábio Prates da Fonseca Aparecida

Paulo Augusto Ferreira Batatais

José Carlos Ábile 2ª Lençóis Paulista

Rosemeire Uehara Tanaka 4ª Jundiaí

Jorge Luiz Souto Maior 3ª Jundiaí

João Batista da Silva 2ª Taubaté

Luiz Felipe Paim da Luz Bruno Lobo 4ª Campinas

José Otávio de Souza Ferreira Mogi Guaçu

Orlando Amâncio Taveira Caçapava

Keila Nogueira Silva 2ª Marília

Edison dos Santos Pelegrini 1ª Bauru

Larissa Carotta Martins da Silva Scarabelim 1ª Jundiaí

Nora Magnólia Costa Rotondaro Tietê

Ana Paula Pellegrina Lockmann 8ª Campinas

Mari Angela Pelegrini Rancharia

Maria da Graça Bonança Barbosa 4ª São José dos Campos

Ricardo Regis Laraia 1ª Paulínia

Eliane de Carvalho Costa Ribeiro Piedade

Renan Ravel Rodrigues Fagundes Sta. Bárbara D'oeste

Wilton Borba Canicoba 3ª Campinas

Andrea Guelfi Cunha Itapira

Edna Pedroso Romanini Mogi Mirim

Regina Dirce Gago de Faria Monegatto Atibaia

Silnei Garrido Lage Olímpia

Hélio Grasselli 1ª são josé do Rio Preto

Marcelo Garcia Nunes Cravinhos

Marcos da Silva Pôrto 5ª Ribeirão Preto

Rita de Cássia Scagliusi do Carmo Leme

Adriene Sidnei de Moura David Diamantino 2ª Piracicaba

Marcelo Magalhães Rufino 3ª São José do Rio Preto

Jorge Luiz Costa 1ª Franca

Margarete Aparecida Gulmaneli 2ª Catanduva

Antonia Sant’Ana 3ª São José dos Campos

Ana Cláudia Torres Vianna 2ª Campinas

Scynthia Maria Sisti Tristão Tanabi

Cinthia Maria da Fonseca Espada Garça

Mônica Aiex 1ª Marília

Renato Henry Sant’Anna 1ª Ribeirão Preto

Isabel Cristina Torrizella Périgo São José do Rio Pardo

Carlos Eduardo Oliveira Dias 1ª Campinas

Adelina Maria do Prado Ferreira Tatuí

Regiane Cecília Lizi 2ª Bauru

Maria de Fátima Vianna Coelho 9ª Campinas

JUIZ(ÍZA) Vara do Trabalho

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JUIZ(ÍZA) Vara do TrabalhoJUIZ(ÍZA) Vara do Trabalho

Cláudia Cunha Marchetti Sumaré

Olga Regiane Pilegis 2ª Americana

Julio Cesar Roda Araras

Jorge Antonio dos Santos Cota 2ª Araraquara

Eliana Félix Batista Presidente Venceslau

Tárcio José Vidotti 4ª Ribeirão Preto

Oséas Pereira Lopes Junior 2ª Assis

Walney Quadros Costa 2ª Ribeirão Preto

Ronaldo Oliveira Siandela Capão Bonito

Wilson Pocidonio da Silva Bragança Paulista

Flávio Gaspar Salles Vianna 6ª Campinas

Alberto Cordero Donha 2ª Franca

Levi Rosa Tomé Ourinhos

Claudia Giglio Veltri Corrêa 1ª São Carlos

Edson Silva Trindade Taquaritinga

Marco Antonio Macedo André 2ª presidente prudente

Marco Antonio de Souza Branco 1ª Assis

Maurício Takao Fuzita 3ª Araçatuba

Luís Fernando Lupato Ubatuba

Amauri Vieira Barbosa Cajuru

José Maria Valentini Teodoro Sampaio

Wellington César Paterlini 2ª Sertãozinho

André da Cruz e Souza Wenzel Lorena

Sérgio Milito Barêa 3ª Araraquara

Roberto Nicácio Caraguatatuba

José Roberto Dantas Oliva 1ª Presidente Prudente

Sérgio Cardoso e Silva 1ª Araçatuba

Marcelo Carlos Ferreira 4ª Sorocaba

Renê Jean Marchi Filho 1ª Sertãozinho

José Roberto Thomazi 1ª Jaú

Hamilton Luiz Scarabelim 2ª Sorocaba

Wagner Ramos de Quadros 1ª Catanduva

Maria Helena Falco Salles Pederneiras

Jaide Souza Rizzo Birigüi

André Augusto Ulpiano Rizzardo 12ª Campinas

João Vieira de Moraes 2ª Jaboticabal

Luiz Antonio Zanqueta Lins

Lúcio Salgado de Oliveira 1ª São José dos Campos

Luciana Moro Loureiro Pirassununga

Roberta Jacopetti Bonemer 3ª Ribeirão Preto

Robson Adilson de Moraes José Bonifácio

Dora Rossi Góes 2ª São José dos Campos

José Antonio Ribeiro de Oliveira Silva Orlândia

Flávio Landi 1ª Americana

Marina de Siqueira Ferreira Zerbinatti São Roque

Renato de Carvalho Guedes 1ª Limeira

Firmino Alves Lima 1ª Piracicaba

Inez Maria Jantália Itanhaém

Eliana dos Santos Alves Nogueira Ituverava

Sandra de Poli 1ª Jacareí

Guilherme Guimarães Feliciano 1ª Taubaté

Rosana Fantini Nicolini 2ª Jacareí

Renata dos Reis D’Ávilla Calil Mococa

Maria Angélica Mineto Pires Botucatu

Luís Martins Junior Itu

Juliana Benatti 3ª Piracicaba

Luciana Nasr 3ª Sorocaba

Ana Cláudia Pires Ferreira de Lima 2ª Jaú

Alexandre Vieira dos Anjos São Joaquim da Barra

Gisele Pasotti Fernandes Flora Pinto Santa Cruz do Rio Pardo

Marcelo Schmidt Simões Itapeva

Odair Rodrigues da Rocha Guaratinguetá

Fernanda Cavalcanti Varzim Gaetano Bebedouro

Maria Cristina Brizotti Zamunér 1ª Sorocaba

Mauro César Luna Rossi Registro

Walter Gonçalves 2ª São Carlos

José Guido Teixeira Júnior Itararé

Kátia Liriam Pasquini Braiani Adamantina

Cristiane Montenegro Rondelli Porto Ferreira

Eliane Aparecida Aguado Moreno Itapetininga

André Luiz Alves Itápolis

Angela Maria Bermudes Matão

Ismar Cabral Menezes 1ª Jaboticabal

Leandra da Silva Guimarães São João da Boa Vista

Patrícia Glugovskis Penna Martins Rio Claro

Lúcia Zimmermann Pindamonhangaba

Luís Rodrigo Fernandes Braga Tupã

Laura Bittencourt Hinz Jales

Adriana Fonseca Perin Andradina

Ana Paula Alvarenga Martins Barretos

Evandro Eduardo Maglio Dracena

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JUÍZES DO TRABALHO SUBSTITUTOSEm 30/06/2007

Nome Circunscrição

Paulo César dos Santos Campinas

José Adilson de Barros Campinas

Álvaro dos Santos Campinas

Luiz Antonio de Campos Grain São José dos Campos

Sandro Valério Bodo Bauru

Júlio César Marin do Carmo Bauru

Evandro Eduardo Maglio Campinas

Ana Paula Alvarenga Martins Campinas

Júlio César Trevisan Rodrigues São José do Rio Preto

Alexandre Garcia Muller Presidente Prudente

Arilda Cristiane Silva de Paula Calixto Ribeirão Preto

Cássia Regina Ramos Fernandes São José dos Campos

José Eduardo Bueno de Assumpção Ribeirão Preto

Leo Minoru Ozawa Campinas

Denise Ferreira Bartolomucci Mulato São José dos Campos

Nelma Pedrosa Godoy Sant’anna Ferreira Presidente Prudente

Pedro Marcos Olivier Sanzovo Campinas

Andréia de Oliveira São José dos Campos

Marcus Menezes Barberino Mendes Campinas

Andréia Alves de Oliveira Gomide Ribeirão Preto

Gislene Aparecida sanches São José dos Campos

Fernando Lucas Uliani Martins dos Santos Campinas

Adhemar Prisco da Cunha Neto São José dos Campos

Henrique Macedo Hinz Campinas

Alzeni Aparecida de Oliveira Furlan Campinas

Tânia Aparecida Claro São José dos Campos

José Antônio Gomes de Oliveira Campinas

Alcione Maria dos Santos Costa Gonçalves Araçatuba

Pedro Edmilson Pilon Campinas

Valdir Rinaldi Silva Sorocaba

Alessandro Tristão São José do Rio Preto

Daniela Renata Rezende Ferreira Borges São José do Rio Preto

Alan Cezar Runho Ribeirão Preto

Wilson Cândido da Silva São José dos Campos

Valdomiro Ribeiro Paes Landim Bauru

conceição Ap. Rocha de Petribu Faria São José do Rio Preto

Nome Circunscrição

Isabela Tófano de Campos Leite Pereira Campinas

Valéria Cândido Peres Campinas

Mônica Muniz Barretto Volasco Sorocaba

Renato da Fonseca Janon Ribeirão Preto

Eucymara Maciel Oliveto Ruiz presidente prudente

Décio Umberto Matoso Rodovalho Campinas

Antonia Rita Bonardo Campinas

Luciana Caplan Campinas

Marcos Roberto Wolfgang Presidente Prudente

Azael Moura Junior Campinas

Márcia Cristina Sampaio Mendes Ribeirão Preto

Carlos Eduardo Vianna Mendes São José dos Campos

Danielle Bertachini Monteleone Campinas

Josefina Regina de Miranda Geraldi Campinas

Cleber Antonio Grava Pinto araçatuba

Kathleen Mecchi Zarins Stamato Campinas

Afrânio Flora Pinto Bauru

João Baptista Cilli Filho Ribeirão Preto

Renato César Trevisani Ribeirão Preto

Fernanda Cristina de Moraes Fonseca Campinas

Daniela Macia Ferraz Giannini Campinas

Rosana Alves Siscari Campinas

Rodrigo Penha Machado Ribeirão Preto

Marcelo Bueno Pallone Campinas

Marcelo Siqueira de Oliveira Bauru

Candy Florencio Thomé São José dos Campos

Lucineide Almeida de Lima Marques Bauru

Sandra Maria Zirondi São José do Rio Preto

Sandra dos Santos Brasil Campinas

Sidney Pontes Braga São José do Rio Preto

Elen Zoraide Módolo Jucá Araçatuba

Ana Maria da Silva Sandei Sorocaba

Cláudio Issao Yonemoto Presidente Prudente

Regina Rodrigues Urbano Campinas

Manoel Luiz Costa Penido São José dos Campos

Paulo Bueno Cordeiro de Almeida Prado Bauer Bauru

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Ana Paula Silva Campos Miskulin São José do Rio Preto

Déborah Beatriz Ortolan Inocêncio Nagy Sorocaba

Teresa Cristina Pedrasi Campinas

Diovana Bethânia Ortolan Inocêncio Fabreti Sorocaba

Priscila de Freitas Cassiano Nunes Ribeirão Preto

Ana Flávia de moraes Garcia Cuesta Campinas

Ana Maria Garcia Ribeirão Preto

José Antônio Dosualdo São José dos Campos

Rodarte Ribeiro São José do Rio Preto

Suzeline Longhi Nunes de Oliveira Araçatuba

Alexandre Chedid Rossi Sorocaba

Maurício de Almeida Bauru

Flávio Henrique Garcia Coelho Bauru

Andrea Maria Pfrimer Falcão São José dos Campos

Denise Santos Sales de Lima Ribeirão Preto

Ana Lúcia Cogo Casari Campinas

Maria Flávia Roncel de Oliveira Alaite Campinas

alexandre Alliprandino Medeiros ribeirão preto

adriana de Jesus Pita Colella Campinas

Sidney Xavier Rovida Araçatuba

Wellington Amadeu São José dos Campos

Sandra Carla Simamoto da Cunha Ribeirão Preto

Carlos Roberto Ferraz de Oliveira Silva Bauru

João Dionisio Viveiros Teixeira Campinas

Débora Wust de Proença São José dos Campos

Cecy Yara Tricca de Oliveira Campinas

Marco Antonio Folegatti de Rezende São José dos Campos

Carmen Lucia Couto Taube Campinas

João Batista de Abreu Campinas

Clóvis Victório Júnior Araçatuba

Elisabeth Priscila Satake Sato Campinas

André Luiz Menezes Azevedo Sette Campinas

Artur Ribeiro Gudwin Campinas

Cristiane Kawanaka de Pontes Campinas

Cícero Alanio Tenório de Melo Campinas

Lenita Aparecida Pereira Corbanezi Campinas

Christina Feuerharmel Ribeiro Campinas

Maurício Matsushima Teixeira Sorocaba

Solange Denise Belchior Santaella Campinas

Saint-clair Lima e Silva Campinas

Ronaldo Capelari Campinas

Ligia Mello de Lima Araújo Santos Campinas

Mauricio Bearzotti de Souza Campinas

Adriana Custódio Xavier de Camargo Campinas

Gilvânia Oliveira de Rezende sorocaba

Thiago Barbosa de Andrade Campinas

Salete Yoshie Honma Barreira Campinas

Vinicius Magalhães Casagrande Sorocaba

Rafael Menezes Santos Pereira Campinas

Aparecido Batista de Oliveira Sorocaba

André Luiz Tavares de Castro Pereira Sorocaba

Letícia Gouveia Antonioli Sorocaba

Lea Maria Ribeiro Vieira Ribeirão Preto

Antonio Carlos Cavalcante de Oliveira Bauru

Mauro César Moreli São Jose do Rio Preto

Ricardo Luís Valentini Ribeirão Preto

Rogério Princivalli da Costa Campos Ribeirão Preto

Paulo Eduardo Belloti Ribeirão Preto

Roberto dos Santos Soares Ribeirão Preto

Nome Circunscrição Nome Circunscrição

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ....................................................................................

DOUTRINA NACIONAL .....................................................................

Penhora sobre salários, proventos da aposentadoria e poupança:o princípio da legalidade e utilidade da jurisdição .............................GEMIGNANI, Tereza Aparecida Asta

Reclamação Trabalhista. Brasil Campeão .............................................AROUCA, José Carlos

Direito do Trabalho, Terceirização e Contratos de FornecimentoIndustrial - Notas sobre a Responsabilidade Jurídica de Clientes eFornecedores ...............................................................................................FELICIANO, Guilherme Guimarães

Análise da Orientação Jurisprudencial nº 130 da SDI-II do TST.A Competência Territorial das Ações Coletivas Trabalhistas ...........SANTOS, Ronaldo Lima dos

Responsabilidade Objetiva e Inversão da Prova nos Acidentesde Trabalho .................................................................................................MELO, Raimundo Simão de

Relações de Trabalho no Setor Canavieiro na era do Etanol eda Bionergia ................................................................................................GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa Garcia

DOUTRINA INTERNACIONAL ........................................................

Relaciones Laborales Triangulares: La subcontratación Y ElSuministro de Trabajadores En La Nueva Ley ChilenaUGARTE, Jose Luis ....................................................................................

15

19

37

43

63

79

101

121

119

17

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O Papel da Câmara Social: Sua Jurisprudência - Influência doDireito Internacional e Comunitário .....................................................COLLOMP, Evelyne

A Proteção dos Dados Pessoais dos Trabalhadores. PerspectivaComunitária Européia ..............................................................................BRAVO, Alvaro A. Sánchez

Grupo de Empresas: Enfoque Laboral ...................................................CASTELLO, Alejandro

TRABALHO DO MEIO CIENTÍFICO ...............................................

O Princípio Protetor do Empregado e a Dignidade da PessoaHumana ......................................................................................................ESPADA, Cinthia Maria da Fonseca

ATOS NORMATIVOS

Atos Normativos ........................................................................................

JURISPRUDÊNCIA .................................................................................

Ementário do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região

1ª SDI ............................................................................................................2ª SDI ............................................................................................................Direito Material ..........................................................................................Direito Processual ......................................................................................Direito Rural ...............................................................................................Execução ......................................................................................................Matéria Nova ..............................................................................................Tribunal Pleno ............................................................................................

ÍNDICE DAS EMENTAS .......................................................................

139

153

161

185

205

213215217231243245249251

255

183

211

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APRESENTAÇÃO

esta edição, o Tribunal Regional do Trabalho de Campinas apre-senta sua tradicional revista repaginada. A nova capa estiliza o

constante tangenciamento que existe entre dois mundos, o do capital e odo trabalho, numa contínua relação de inter-referência, em que ascondicionantes enfrentadas por um, causam repercussão de tal intensi-dade em outro, e vice-versa, que levam a um movimento deinterdependência pendular e recíproca, entre os interesses convergentese divergentes.

Ante tal contexto, a Revista se propõe a atuar como locus de dis-cussão, aberto a todas as correntes do pensamento jurídico, por acredi-tar no valor da pluralidade e da diversidade na construção dosparâmetros da normatividade, destinada a reger as relações humanas.

Ao azul, cor adotada pela Escola da Magistratura em sualogomarca, que representa a infinitude das questões que envolvem omundo do trabalho, adiciona o verde, como reconhecimento da pujançado agronegócio na área de sua jurisdição, e também como forma de ho-menagear a topografia privilegiada dos campos e campinas, que confe-riram nome à cidade em que está localizada sua sede, e que se constituinum dos pólos econômicos mais importantes do Brasil.

Num mundo marcado pelo expressivo avanço da tecnologiawireless, que intensifica a velocidade no processamento das informaçõese prioriza o virtual, apostar na importância de uma revista científicacomo veículo de reflexão constitui, antes de mais nada, um desafio.

Significa acreditar que é possível superar a perspectiva do aqui/agora, com a superficialidade que a caracteriza, e manter viva a pereni-dade do embate das idéias, necessário para evitar a esterilidade do pen-samento. É ter sensibilidade para reconhecer, que mesmo num ambientemarcado pela mudança constante, que o impele para a fugacidade, oser humano sempre procura descobrir suas raízes, e as vigas de susten-tação que possibilitem manter a fecundidade do pensamento, impres-cindível para preservar sua essência. Longe de desdenhar a tecnologia,e a força que representa no mundo contemporâneo, trata-se de conside-rar como isto pode afetar a vida e o comportamento humano, atuando

NN

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como um software que condiciona os padrões institucionais danormatividade, tanto nos locais de trabalho altamente sofisticado, comonos ambientes mais rudimentares em que não é utilizada. A regiãoabrangida pelo Tribunal de Campinas detém esta peculiaridade, abran-gendo tanto centros tecnológicos de ponta, como pequenos e rústicosestabelecimentos, tocados quase que exclusivamente por atividades ru-dimentares.

O tempo, cada vez mais curto, dificulta o acesso a diferentes obrase autores para o estudo dos temas relevantes. Daí a necessidade de umperiódico, que possa trazer a análise das questões mais candentes daatualidade. Para tanto, também se afigura importante a utilização deum meio de comunicação que, ao invés de ficar piscando na tela, exigin-do respostas imediatas, convida a refletir e a pensar, respeitando o tem-po de maturação necessário para a formação de novos conceitos e a in-corporação das novas idéias.

Assim, procura atingir o escopo de estimular o aprimoramento detodos os que acreditam no valor da ciência do direito, como formadorados pilares de sustentação do equilíbrio na diversidade, que marca deforma acentuada o mundo da realidade em que estamos mergulhados etemos que enfrentar todos os dias, mostrando de maneira clara como oDireito do Trabalho é imprescindível para alavancar o desenvolvimentodo ser humano como pessoa, e do país como nação.

Por isso, além de se constituir num desafio, representa também umato de fé na importância que o sistema jurídico tem para a edificação deuma sociedade democrática, impedindo que o predomínio das represen-tações virtuais possa subliminarmente substituir a realidade da vida, poroutra fabricada e hegemônica, que não tem lugar para a transcendência,asfixiando o homem numa mesmice angustiante e uniformizadora, queo impede de pensar e de criar.

Viver apenas no frenesi do presente amortece os sentidos do pas-sado e nos deixa a deriva, atrofiando a musculatura mental do pensa-mento, impedindo o ser humano de ter condições de lutar como sujeitoativo na construção do futuro.

Numa época marcada pelo ritmo frenético da mudança, que vemtransformando o modo como se organiza a sociedade e provoca altera-ções significativas no mundo do trabalho, que a Revista do TribunalRegional do Trabalho de Campinas possa contribuir para esse debate, afim de que tenhamos condições de conferir efetividade ao marco consti-tucional, que erigiu a centralidade do trabalho como valor estruturanteda república brasileira.

JUÍZA TEREZA APARECIDA ASTA GEMIGNANI

Presidente do Conselho Editorial

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DOUTRINA NACIONAL

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Tereza Aparecida Asta Gemignani*

PENHORA SOBRE SALÁRIOS, PROVENTOSDA APOSENTADORIA E POUPANÇA: O PRINCÍPIO

DA LEGALIDADE E A UTILIDADE DA JURISDIÇÃO

“Não se escapou, aqui, de uma daspatologias crônicas da hermenêutica

constitucional brasileira, que é a interpretaçãoretrospectiva, pela qual se procura interpretar otexto novo de maneira a que não se inove nada,

mas, ao revés, fique tão parecido quanto possívelcom o antigo”

Luis Roberto Barroso

Resumo: O artigo se propõe a analisar a questão da penhora sobresalários, proventos da aposentadoria e poupança, sob a perspectiva daconstitucionalização do processo, chamando atenção para os efeitosque a decisão produz na realidade fática que permeia o mundo dotrabalho. Ressalta que é preciso maximizar a aplicação do princípio dalegalidade, a fim de preservar a utilidade e a eficiência funcional dajurisdição.

Palavras-chave: Penhora sobre salários; Proventos de aposentadoria epoupança; Maximização do princípio da legalidade; Utilidade e efici-ência funcional da jurisdição.

Sumário: 1 Introdução; 2 O direito do avesso; 3 A constitucionalizaçãodo processo; 4 A solução dada pelo sistema e o princípio da legalida-de; 5 A efetividade e utilidade da jurisdição; 6 Conclusão; 7 Bibliogra-fia.

*Juíza do Tribunal Regional do Trabalho de Campinas e Doutora em Direito do Trabalho - nívelde pós-graduação- pela USP - Universidade de São Paulo.

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1 INTRODUÇÃO

Nosso direito sempre reco-nheceu a importância e relevânciado salário, tanto assim que lhe con-feriu a garantia da impenhora-bilidade, quando confrontado comoutro crédito de natureza diversada alimentícia.

A questão ora enfrentada sereveste de maior complexidade,pois pretende analisar se esta ga-rantia subsiste de forma absoluta,mesmo quando se trata de proce-der ao pagamento de outro salário,verba que ostenta a mesma nature-za. É o caso concreto, que vem semultiplicando nas Cortes Trabalhis-tas, do empregador que, depois dedesfazer seu negócio, ou de encer-rar suas atividades empresariais,passa a trabalhar como emprega-do, ou se aposenta. Entretanto, ficadevendo verbas salariais ao seu ex-empregado, que bate às portas daJustiça para executar a dívida e re-ceber o que é seu.

Neste caso, poderíamos sus-tentar que remanesce a impenho-rabilidade absoluta e integral de umsalário (do ex-empregador), confe-rindo-lhe total garantia, ao mesmotempo em que todas as garantiassão negadas ao outro salário (doex-empregado)?

2 O DIREITO DO AVESSO

Um dos pilares de sustenta-ção do Direito do Trabalho está cal-cado no conceito de que se o em-pregador detém o poder diretivo doempreendimento, deve exercê-lo

em sua integralidade não só no quese refere aos bônus, mas tambémquanto aos ônus, não podendotransferir o encargo respectivo parao empregado. Se em alguns países,principalmente europeus, a idéia degestão compartilhada é considera-da viável, no Brasil isso não acon-tece. Todo empregador é muito ci-oso de seu poder exclusivo de diri-gir a atividade empresarial e, viade regra, não aceita que haja qual-quer participação dos empregados.Por esse motivo, o direito do traba-lho também deve ser vigilante paraimpedir que sejam imputados aosempregados os efeitos decorrentesdo insucesso patronal nos negócios.

Num ambiente de conjuntu-ra econômica instável, marcadapor um índice considerável de mor-talidade das pequenas e médiasempresas, o que preocupa é a ten-tativa de jogar nas costas do em-pregado, os efeitos econômicos damá condução empresarial do em-pregador.

Não é incomum a situaçãodaquele que abriu um negócio, sedeu mal e despediu os empregadossem lhes pagar os direitos devidos,passando a trabalhar como empre-gado e recebendo salários, ou mes-mo os proventos de aposentadoriaem caso de jubilação.

Durante o período em que aempresa funcionou auferiu os be-nefícios da força de trabalho dosempregados, que não dispunhamde nenhuma participação em seupoder diretivo. Porém, quando so-

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breveio o infortúnio, despediu-ossem lhes pagar a devida contrapres-tação pelo trabalho (salários e di-reitos trabalhistas de natureza ali-mentar), pretendendo transferir-lhes as conseqüências da máperformance patronal na gerênciados recursos empresariais.

Ajuizada a ação trabalhista ecom um título judicial em mãos, osempregados encontram dificulda-des para receber o que lhes perten-ce, oportunidade em que descobremque seu antigo empregador está tra-balhando e recebendo salários, apo-sentado e auferindo os respectivosproventos ou até mesmo amea-lhando recursos em poupança.

A questão que se coloca é:pelo ordenamento legal em vigor,o ex-empregado tem, ou não, o di-reito de executar uma decisão quereconheceu a existência de créditostrabalhistas de natureza alimentarem seu favor, para tanto penhoran-do os salários, proventos de aposen-tadoria ou poupança do seu deve-dor (ex-empregador), que se bene-ficiou dos frutos de seu trabalho?

Ao tratar da impenhora-bilidade, o artigo 649 do CPC já si-nalizava de forma significativa aexceção quanto ao pagamento deprestação alimentícia (inciso IV doartigo 649 do CPC), assim reconhe-cendo que o crédito de natureza ali-mentar detinha condição especial,de modo que este benefício nãopode ser concedido apenas a umadas partes, em detrimento de ou-tra, quando os interesses contrapos-tos se referem a verbas de mesma

natureza, tanto em relação a um,quanto a outro.

A recente alteração promovi-da pela lei 11.382/2006 explicitoude forma ainda mais clara estaquestão, estabelecendo expressa-mente que, não só em relação aossalários, mas também quanto aosproventos de aposentadorias e pen-sões, e quantias destinadas ao sus-tento do devedor e sua família, aimpenhorabilidade deixa de subsis-tir em caso de penhora para pa-gamento de prestação alimentícia(inciso IV e parágrafo 2º do artigo649 do CPC), sinalizando que, emcumprimento à disposição legal ex-pressa, ambos os interesses estãoresguardados e assim devem ser sa-tisfeitos. Ademais, importante re-gistrar que a exceção legal não serefere apenas à pensão alimentícia,pois não foi esse o conceito agasa-lhado pela lei, mas sim prestaçãoalimentícia, que detém conotaçãomais abrangente, assim incluindoos créditos trabalhistas, que osten-tam inequívoca natureza alimentar,pois é com eles que o trabalhadorconsegue prover a sua subsistência,de modo que a tese da impenho-rabilidade absoluta dos salários doex-empregador, em desfavor dossalários do ex-empregado, se reve-la insustentável pelo ordenamentoprocessual em vigor.

3 A CONSTITUCIONALIZAÇÃODO PROCESSO

Ao discorrer sobre a idéiamestra, que norteou as alteraçõesimplementadas no processo civil naúltima década do século 20,

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Dinamarco1 destaca, com percuci-ência, que a garantia constitucionalde acesso à justiça não pode ser in-terpretada como simples ingressoem Juízo, pois “seria algo inope-rante e muito pobre se se resumissea assegurar que as pretensões daspessoas cheguem ao processo, semgarantir-lhe também um tratamen-to adequado. É preciso que as pre-tensões apresentadas aos juízescheguem efetivamente ao julga-mento de fundo, sem a exacerba-ção de fatores capazes de truncaro prosseguimento do processo”, sobpena do próprio sistema se tornarestéril, assim frustrando o direito deação que detém garantia constitu-cional, abrindo caminho para a de-sagregação social, cujo resultadocabe ao direito evitar.

Ademais, ensina que o exer-cício da jurisdição também tem oescopo de educar as pessoas para orespeito a direitos alheios e para oexercício dos seus, pois quando ajustiça funciona mal transgressoresnão a temem e lesados pouco espe-ram dela, o que leva ao descréditodas instituições. Neste sentido,quando um trabalhador detémuma decisão judicial, que reconhe-ce a existência de créditos em seufavor, e não consegue executá-lapara receber o que é seu, tal nãoconfigura apenas um apeque-namento de seu direito individualà jurisdição, mas compromete opróprio sistema jurídico, que semostra ineficiente e incapaz de so-lucionar o conflito existente, estig-

ma que pode levá-lo ao descréditoe asfixia, causando um dano a todasociedade, que sente o colapso deuma de suas artérias mais impor-tantes de oxigenação.

Daí a necessidade de se evi-tar a eternização dos conflitos e oprolongamento das angústias doslitigantes, garantindo o necessárioequilíbrio entre duas forças antagô-nicas: de um lado a celeridade pro-cessual, que tem por objetivo pro-porcionar a pacificação tão logoquanto possível; de outro a ponde-ração no trato da causa e das razõesdos litigantes,endereçada à melhorqualidade dos julgamentos.

Ao inserir o inciso LXXVIII,no artigo 5º da CF/88, a EmendaConstitucional 45/04 ressaltou queestas duas forças não atuam em se-parado, mas como vasos comuni-cantes de um mesmo movimento,de modo que uma não existe, se aoutra não for observada.

Assim, se o ex-empregadortem direito aos seus salários, tam-bém deve responder pelo períodoem que se beneficiou da força detrabalho e pagar o débito que temem relação ao seu ex-empregado,pois se trata de crédito que ostentaa mesma natureza (salarial). Ade-mais, é sempre saudável fazer va-ler as diretrizes fundantes da ciên-cia do direito - neminem laedere esuum cuique tribuere - ressaltandoseu papel pedagógico e formadordo comportamento social, sinali-zando ao devedor que o sistema

1Dinamarco, Cândido Rangel - Instituiçõs de Direito Processual Civil - vol ! - 5ª edição - MalheirosEditores Ltda - São Paulo - 2005- p. 134 e seguintes.

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jurídico não admite, que alguémpossa beneficiar-se do trabalhodespendido por outro ser huma-no,deixar de entregar a necessáriacontraprestação que lhe pertence,e ficar tudo por isso mesmo, semsofrer nenhuma conseqüência.

Nesta linha de raciocínio,mais insustentável ainda é admi-tir que alguém possa manter umareserva que lhe sobra (poupança),deixar de pagar verbas de nature-za alimentar a outrem, que delasnecessita para aten-der as suas necessi-dades básicas de sub-sistência, de modoque o disposto noinciso X, do artigo649 do CPC, quantoà impenhorabilidadedas cadernetas depoupança até 40 sa-lários-mínimos, nãopode ser aplicadoquando se trata decrédito trabalhista.

Erigido como fundamentalpela Constituição Federal em vigor,o direito do trabalho, inclusive emsua vertente processual, se encon-tra cada vez mais permeável aomovimento de constitucionaliza-ção, que vem revolucionando a ci-ência jurídica contemporânea.Como bem ressalta Dinamarco, odireito processual constitucionalexterioriza-se mediante a tutelaconstitucional do processo, consis-tente na observância de um conjun-to de princípios e garantias postospela Constituição, como a isono-mia e o devido processo legal, en-tre outros.

Neste passo, como reconhe-cer que está sendo observado o de-vido processo legal se a parte, ven-cedora numa ação, fica com umasentença em mãos sem poderexecutá-la? Onde está o enforcementda jurisdição? Trocando em miú-dos, para que serve a jurisdição, seé para terminar assim? Para queserve o estado democrático de di-reito, se os que devem continuama dever, e os que têm a receber nun-ca recebem?

Trata-se de re-conhecer que as ga-rantias constitucio-nais não são belaspalavras, agradáveisde ouvir, mas bensda vida, cuja eficáciadeve ser devidamen-te observada

Com efeito, sea lei passa a ser vistaapenas como algoetéreo, que não pre-

cisa ser cumprido e ali está apenaspara constar, como sustentarinstitucionalmente um país?

Como concluir que foram res-peitados os princípios da legalida-de e isonomia, se a impenhora-bilidade absoluta vem beneficiarapenas os salários do ex-emprega-dor , deixando as verbas salariaisdo ex-empregado sem qualquergarantia?

Trata-se, na verdade, de con-ferir concretude aos princípios rei-tores da vida em sociedade. A ra-zoável duração do processo,estabelecida no inciso LXXVIII, do

“Onde está o enforcement dajurisdição? Trocando em

miúdos, para que serve ajurisdição, se é para terminar

assim? Para que serve oestado democrático de

direito, se os que devemcontinuam a dever, e os que

têm a receber nuncarecebem?”

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artigo 5º da CF/88, permite que ovencedor de um processo e deten-tor de um título judicial permaneçaanos a fio sem receber seu crédito?

O princípio da inafastabili-dade da jurisdição, previsto noinciso XXXV do artigo 5º da CF/88, permite que o Estado assistaimpassível alguém usufruir dos be-nefícios proporcionados pelo traba-lho de outrem e deixe de remunerá-lo por isso?

O devido processo legal, aga-salhado no inciso LIV do artigo 5ºda CF/88, permite que um proces-so pare na execução e assim per-maneça sem a adequada solução,quando o devedor tem a possibili-dade de solver seu débito, mesmoque isso ocorra de forma mais gra-dual, através do depósito de umpercentual de sua renda mensal?

Por que a garantia prevista noinciso X do artigo 7º da CF/88 devebeneficiar apenas o salário doex-empregador e não o salário doex-empregado?

Ora, não é sustentável a in-terpretação que impeça o resulta-do útil da jurisdição!

Como ramo do direito públi-co, a validade do direito processu-al está definitivamente atrelada asua capacidade de decidir impera-tivamente e impor decisões, sem es-quecer que é preciso obter o máxi-mo possível de garantia social como mínimo de sacrifício pessoal,como ressalta Dinamarco.

Neste mesmo sentido cami-nha Nelson Nery Junior2 , ao dis-correr sobre a conceituação do de-vido processo legal, explicando queeste princípio “caracteriza-se pelotrinômio vida-liberdade-proprieda-de, vale dizer, tem-se o direito detutela àqueles bens da vida em seusentido mais amplo e genérico”, ouseja, a “ possibilidade efetiva de aparte ter acesso à Justiça”, o que in-clui o efetivo recebimento dos direi-tos judicialmente reconhecidos.

Com efeito, de que valeria terdireito à isonomia, ao contraditó-rio, a publicidade, à motivação dasdecisões, se tudo isso acabar numafolha de papel, sem que o bem davida seja entregue ao credor?

4 A SOLUÇÃO DADA PELOSISTEMA E O PRINCÍPIO DALEGALIDADE

A solução passa pela utiliza-ção do principio da proporcio-nalidade, a fim de preservar as ga-rantias constitucionais e gerar impor-tantes reflexos no balizamento dascondutas sociais. Ao proceder a pe-nhora de um percentual-geralmente30% dos salários do ex-empregador,para garantir o pagamento dos salá-rios que deve ao ex-empregado, o Es-tado está conferindo utilidade e efi-cácia ao exercício da jurisdição, as-sim garantindo a credibilidade dasinstituições, ao mesmo tempo em quesinaliza ao devedor que deve honrarseus compromissos, nem que paraisso tenha que se privar de algo, poisé preciso reconhecer que as necessi-

2Nery Junior, Nelson – Princípios do processo civil na Constituição Federal – 8ª edição- EditoraRevista dos Tribunais – São Paulo – 2004 – p. 63 e seguintes.

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dades do outro, pelo recebimento deum crédito de natureza alimentar,são tão importantes quanto as suas,assim resgatando o sentido daalteridade, base de edificação doordenamento jurídico.

Ora, a impenhorabilidade sa-larial absoluta, prevista no inciso IVdo artigo 649 do CPC, só pode serreconhecida quando houver confli-to de interesses entre um crédito denatureza civil e uma verba salarial,caso em que o juiz se limita asubsunção do fato à regra.

Entretanto, quando o confli-to envolve interesses salariais dasduas partes, o caso é diferente, le-vando o julgador a socorrer-se dosprincípios constitucionais comobússolas de orientação, pois é pre-ciso proceder à interpretação do di-reito posto no inciso supra referi-do, não como norma isolada, masem consonância com o parágrafo2º do mesmo artigo 649 do CPC, afim de obter a justa solução da lide.

E o que está posto pelo direito?

Está posto que as verbas denatureza salarial detêm privilégiosobre as demais.

Se assim é, como resolver umconflito entre duas pretensões,quando ambas detém a mesma na-tureza e estão igualmente protegi-das pelo direito posto?

Acaso o sistema respalda umasolução que confere garantias ape-nas ao salário do devedor (ex-em-pregador trabalhista), e a nega aosalário do credor (ex empregado)?

Ou seja, um seria mais salá-rio do que o outro?

Este é o punctum litis da con-trovérsia, cuja solução tem que serbuscada pela adequada e pondera-da interpretação do ordenamentojurídico vigente.

Assim, comecemos pelas ca-tegorias tradicionais de herme-nêutica.

a - Análise gramatical

Um texto legal não pode seraplicado pela metade, de modo quenão há sustentação para a aplica-ção pura e simples do inciso IV, doartigo 649 do CPC, sem consideraro constante do parágrafo 2º domesmo artigo. Neste passo, a con-clusão de que o salário do ex-em-pregador se reveste de impenho-rabilidade absoluta, em detrimen-to das verbas salariais devidas aoex-empregado, não encontra am-paro nem mesmo na simples análi-se gramatical, do texto expresso nalei processual.

b - Análise sistemática e teleo-lógica

Ao tratar da execução de umdébito de natureza civil, a normaprocessual sinalizou claramenteque, neste contexto, a verba salari-al é privilegiada e assim deve serresguardada. Assim, se à vista deum primeiro exame superficial sepudesse alegar que o disposto noartigo 649 do CPC respaldaria atese patronal, uma análise maisacurada e criteriosa do direito pos-to revela exatamente o contrário, ouseja, a regra processual sinalizouclaramente que as verbas salariaisostentam garantias especiais. Po-rém, em nenhum momento estabe-

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leceu que essas garantias seriamconferidas apenas aos salários doex-empregador, e negadas aos sa-lários do ex-empregado. Ambosconstituem verbas da mesma natu-reza- salarial- e um não pode serconsiderado mais importante doque o outro, porque o sistema legalem vigor assim não dispôs.

Ademais, como sustentar queo salário do ex-empregador éintocável, se ele próprio não reconhe-ceu este direito aos salários que deveao ex-empregado? Como dar ao ex-empregador uma ga-rantia que ele sonegouao ex-empregado, econcluir que isto foi fi-xado pelo ordena-mento, quando emnenhum momento odireito posto assim es-tabeleceu?

Conforme bemponderou CarlosMaximiliano3 , não“basta a elaboração lógica dosmateriais jurídicos que se encon-tram num processo, para atingir oideal de justiça, baseada nos pre-ceitos codificados.Força é compre-ender bem os fatos e ser inspiradopelo nobre interesse pelos destinoshumanos; compenetrar-se dos so-frimentos e aspirações das partes”,fazendo valer o Direito como ins-trumento que possibilita a coexis-tência humana.

Num sistema em que ao Es-tado cabe o monopólio da força eda jurisdição, como sustentar que

alguém, apesar de ser detentor deum título judicial executivo, forma-do por verbas de natureza salarial,nada receba porque, ao contráriodo que ocorreu em relação aos seus,os salários daquele que lhe deve sãomais importantes e devem perma-necer intocáveis. Ou seja, como sus-tentar que os salários do ex- empre-gador, são mais salários que os salá-rios do ex-empregado?

É inequívoco que tal posicio-namento se revela inadmissívelnum Estado de Direito, pautado

pela idéia matriz dedar a cada um o queé seu, pois provocagraves fissuras noedifício jurídico, cujabase de sustentaçãoreconhece expressa-mente a isonomia eo trabalho, como va-lores fundantes darepública brasileira.

Então, comobuscar a solução, se as regras tra-dicionais de interpretação desá-guam num impasse?

A solução passa pela utiliza-ção de novas ferramentas dehermenêutica, a fim de dar a cadaum o que é seu, quando ambas aspartes ostentam a titularidade deverbas salariais que se contrapõem.

A solução passa pelo desen-volvimento de uma nova dogmá-tica, que requer a utilização de ca-tegorias próprias de interpretação,que deve estar em conformidade

3Maximiliano, Carlos – Hermenêutica e aplicação do direito – Forense – Rio de Janeiro – 1988 – 10ªedição – p. 101 e seguintes.

“...como sustentar que o

salário do ex-empregador

é intocável, se ele próprio

não reconheceu este

direito aos salários que

deve ao ex-empregado?”

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com os princípios postos pela Cons-tituição, notadamente os que pos-sibilitam que, entre duas alternati-vas possíveis, deverá ser escolhidaaquela que confere maior efetivi-dade à jurisdição.

Em caso de colisão de direi-tos fundamentais, como ocorre emrelação às garantias que protegemos salários, tanto do credor, comodo devedor, como fontes de sub-sistência, a solução passa pela com-pressão, reduzindo-se o âmbitonormativo das garantias de uns, emrelação aos outros, nos limites donecessário, sendo que a medida doque comprimir, ou não, é dada pelatécnica da ponderação de bens.

Ao discorrer sobre o princípioda proporcionalidade, Suzana deToledo Barros4 ressalta que, comoestá previsto expressamente em al-gumas constituições, como a alemã“em nenhum caso um direito fun-damental poderá ser afetado emsua essência” ( artigo 19.2), sendoque Constituição Portuguesa tam-bém estabelece que “as leis restriti-vas de direitos, liberdades e garan-tias tem de revestir caráter geral eabstrato e não podem ter efeito re-troativo, nem diminuir a extensãoe o alcance do conteúdo essencialdos preceitos constitucionais” ( ar-tigo 18.3). A mesma expressão estácontida no artigo 53.1 da Consti-tuição da Espanha, ao prever quesomente através de “lei, que em to-dos os casos deve respeitar seu con-teúdo essencial, poderão ser regu-lados esses direitos e liberdades”

Esclarece, com remissão aopensamento de Vieira de Andrade,que há dois tipos de teoria para ex-plicar o conceito do que significa aexpressão núcleo essencial. Para asteorias absolutas o conteúdo essen-cial seria um núcleo fundamental,determinável em abstrato, própriode cada direito, resguardando seuâmago, que não poderia ser afeta-do, sob pena do direito deixar deexistir. Para as teorias relativas,cujo maior expoente é Hesse, o con-teúdo essencial de um direito só po-deria ser determinado à luz do di-reito restringido, isto é, tendo-se emconta o caso concreto, pois é emrazão das circunstâncias fáticas,que seria possível apurar a exten-são e os limites deste núcleo, cujamembrana delimitadora seria elás-tica, de modo que o tamanho doconteúdo essencial só poderia sermensurado em face de um conflitoespecífico, ou seja, quando estives-sem em jogo valores comprimindo-se reciprocamente, pois a restriçãoé legítima quando indispensável e namedida do necessário para a prote-ção de um direito fundamental.

Conclui que uma teoria nãoelimina outra, pois para evitar orelativismo constante, é necessáriojulgar as razões das restrições a par-tir de um dado previamente fixo(conteúdo essencial), embora sedeva valorizar uma solução que,prestigiando a concordância práti-ca entre os vários bens concorren-

4Barros, Suzana de Toledo - O princípio da proporcionalidade e o controle da constitucionalidadedas leis restritivas de direitos fundamentais - 3ª edição - Editora Brasília Jurídica - Brasília - 2003 -p. 100 e seguintes.

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tes, possa definir limites mais elás-ticos aos direitos (mais além ou maisaquém daquilo que teoricamente sepoderia prever como limite absolu-to) dada a situação apresentada.�

Tal diretriz metodológica seapresenta viável, ante a ausência deuma ordem hierarquizada entre osvalores constitucionalmente consa-grados, de modo que em caso decolisão, a redução do âmbitonormativo de cada um, se dará namedida do necessário, para garan-tir que ambos possam coexistir,balizados pela técnica da pondera-ção, e adequação de meios e fins.Neste contexto, se por um lado exis-te a garantia que a lei concedeu aossalários do devedor, por se tratarde um meio de subsistência, poroutro lado é preciso reconhecer queesse mesmo direito está assegura-do aos salários do credor, que tam-bém detém o direito constitucionalde acesso a uma jurisdição reves-tida de utilidade, para que o trâmi-te processual detenha razoável du-ração.

São esses os interesses em con-flito, nascidos da mesma matrizconstitucional, assim reivindicadospelas duas partes, cuja solução pas-sa pelo sacrifício de um, na justamedida que possa acarretar a pre-servação do direito do outro, tendoem vista que ambos possuem umaregião de intersecção. Neste cami-nhar, instituir a penhora sobre par-te dos salários ou proventos de apo-sentadoria do devedor - geralmen-te em 30%-, atende aos escopos le-gais, pois ao mesmo tempo em quelhe preserva um percentual razoá-

vel (70%), garante ao credor o re-cebimento de sua dívida, emboranum prazo mais dilatado, assimpreservando também a eficácia dajurisdição.

Destarte, falacioso o argu-mento dos que alegam que é preci-so observar o princípio da legalida-de e reconhecer a impenhorabi-lidade apenas em benefício do de-vedor, porque não foi isso que a leiestabeleceu.

Pelo contrário, até mesmo ocódigo de Processo Civil ressaltoua natureza especial e superior dasverbas salariais em face de dívidasde outra natureza, assim respaldan-do o raciocínio de ponderação su-pra referido, que preserva os salá-rios tanto do credor, quanto do de-vedor, na justa medida necessáriapara garantir o cumprimento deuma decisão judicial.

Ressalte-se que a lei expressa-mente excepcionou da impenhora-bilidade absoluta as prestações ali-mentícias, assim apontando que ocrédito do trabalhador, que osten-ta essa natureza, detém condiçãopreferencial em relação aos demais,de modo a corroborar como corre-to o procedimento referido, adota-do para garantir o recebimento docrédito trabalhista do ex-empre-gado. Com efeito, como sustentarque o princípio da legalidade deveser observado apenas em relação aossalários do ex-empregador, mas fla-grantemente descumprido em rela-ção aos salários do ex-empregado?

Por que a reserva legal só valepara um, e não vale para o outro,

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se ambos os valores em conflito sereferem a salários, e o acesso à ju-risdição útil, bem como a razoávelduração do processo, constituemdireitos fundamentais, que a Cons-tituição Federal garante também aocredor trabalhista?

É exatamente por isso que, aoinvés de ser conferido de forma ab-soluta, beneficiando apenas umadas partes ( o devedor trabalhista),o princípio da legalidade deve serreconhecido em benefício de ambase, aplicado sob o balizamento daproporcionalidade, reconhecido emfavor também do credor trabalhis-ta, procedendo-se a penhora de umpercentual que seja razoável parapossibilitar a subsistência do deve-dor, mas que também possa desti-nar uma parcela para quitar a dí-vida que tem para com seu ex-em-pregado, numa técnica de ponde-ração de bens, que visa preservar autilidade da jurisdição.

É preciso ressaltar que a ne-cessidade de conferir efetividade auma decisão judicial também estáinserida no devido processo legal,previsto no inciso LIV do artigo 5ºda CF/88, já que a garantia do iterprocessual não teria sentido se nãose pudesse garantir, também, aefetividade do resultado que eleproporciona, sob pena de se con-denar todo o sistema a uma situa-ção de esterilidade e inoperância,a meia-garantia, apenas dos meiose não dos fins, o que seria um con-tra-senso, além de desarrazoada aconclusão de que tal garantia só be-neficiaria um dos lados (ex-empre-gador) e não o outro (ex-emprega-

do), detentor de um título judicialem seu favor. Assim, é imperiosoconcluir que a possibilidade da pe-nhora de um percentual dos salá-rios, ou proventos da aposentado-ria do ex-empregador, é sustenta-da pela ponderação dos valores,viabilizada pela aplicação daproporcionalidade e razoabilidade,que compõem o conceito do devidoprocesso legal (artigo 5º- inciso LIV).

Neste caminhar, é imperiosoreconhecer que a correta aferiçãoda proporcionalidade e razoabili-dade passa pela aplicação de de-terminados critérios, como veremosa seguir:

I - A adequação

Consiste em aferir se o meioescolhido contribui para a obten-ção do resultado pretendido. Ora,se o ex-empregado é detentor deum título a ser executado, e o ex-empregador não dispõe de outrosbens que possam quitar este débi-to, a penhora sobre sua poupança,rendimentos salariais, ou proven-tos que recebe de aposentadoria,apresenta-se como o único meiopossível e adequado para a obten-ção do resultado pretendido, que éa solução da dívida.

II - A necessidade/exigibi-lidade

Ante as condicionantes su-pra referidas, é possível considerara penhora como medida necessá-ria, e indispensável para efetivar agarantia dos direitos do credor(ex- empregado), que detém a mes-ma natureza do direito penhorado(salários do ex-empregador).

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III - A proporcionalidade emsentido estrito

Exige que o meio utilizadoesteja em proporção com o objeti-vo almejado por um, e a capacida-de de suportar o ônus, pelo outro.A fim de atendê-lo é fixado umpercentual, geralmente em tornode 30%, procedendo-se a uma equ-ânime distribuição da carga coativaque a norma legal atribui ao direitode receber salários, tanto em bene-fício do ex-empregado, quanto doex-empregador, preservando os res-tantes 70%, assim deixando de cau-sar ônus excessivo ao devedor. Poroutro lado, tal percentual permiteque a dívida seja gradualmentequitada, o que atende não só aosinteresses do credor, mas tambémaos objetivos da própria jurisdição,preservando o resultado útil do pro-cesso e a justiça das decisões, o queevidentemente vem conferir maiorcredibilidade à atuação judicial, si-nalizando para a sociedade que de-cisão tem que ser cumprida.

Não menos importante é res-saltar a natureza pedagógica destasolução, pois todos os meses o de-vedor é lembrado que o salário deseu ex-empregado é tão importan-te quanto o seu, e todo aquele quese beneficia do trabalho de outremdeve remunerá-lo por isso. Estaidéia é central no Estado de Direi-to, e está posta expressamente naConstituição, ao reconhecer a

dignidade da pessoa humana e otrabalho como bases de sustenta-ção da República Brasileira.

Ao discorrer sobre o princípioda proporcionalidade, Willis San-tiago Guerra Filho5 explica quedeve ser “entendido como um man-damento de otimização do respei-to máximo a todo direito funda-mental em situação de conflito comoutro, na medida do jurídico efaticamente possível”.

Ademais, a aplicação dos prin-cípios constitucionais, pelo critérioda ponderação, vem conferir unida-de e harmonia ao sistema, integran-do suas diferentes partes e atenuan-do tensões normativas, como bemressalta Luis Roberto Barroso6 . Paratanto, o intérprete tem que superara crença de que os princípios seriamdotados apenas de dimensãoaxiológica e programática. Os con-flitos, que marcam nossa épocacontemporânea, exigem que sereconheça a eficácia normativa tam-bém aos princípios, sendo que taldiretriz está inserida na lógica dopróprio sistema, intrinsecamentedialético e edificado por normasarticuladas entre si, que podemincidir de maneira concomitante,sem necessidade de exclusão ou pri-vilégio a uma, em detrimento deoutra, como acontece com as regras.

Como bem enfatiza Barroso,a perspectiva pós-positivista e

5Guerra FILHO, Willis Santiago- “Sobre o princípio da proporcionalidade- in Dos Princípiosconstitucionais- Consideraçõees em torno das normas principiológicas da constituição- MalheirosEditores

6Barroso, Luis Roberto – Fundamentos Teóricos e filosóficos do novo direito constitucional brasi-leiro in. A nova interpretação constitucional - ponderação, direitos fundamentais e relaçõesprivadas - Editora Renovar - Rio - 2ª edição - 2006 - pp. 1 - 48

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principiológica do direito influen-ciou decisivamente a formação deuma moderna hermenêutica cons-titucional. Assim, ao lado dos prin-cípios materiais envolvidos, de-senvolveu-se um catálogo de prin-cípios instrumentais e específicos deinterpretação constitucional. Portais razões, carece de sustentaçãojurídica a interpretação que reco-nhece a aplicação do princípio dalegalidade apenas para beneficiaro ex-empregador, esquecendo-seque a lei também garante os salári-os do ex-empregado, que foram so-negados pelo primeiro, de modoque o princípio da legalidade deveser garantido e aplicado a ambos,pelo critério da ponderação.

Assim é porque o método dasubsunção, em que a premissamaior (norma) é aplicada evalorada sobre a premissa menor(fato), a fim de se obter uma solu-ção para o conflito, tem se revela-do insuficiente para resolver oshard cases, como ocorre na presen-te questão, em que convivem di-versas premissas maiores igualmen-te válidas e de mesma hierarquiaque, todavia, indicam soluçõesnormativas diversas e muitas vezescontraditórias. Por tais razões, asubsunção não tem instrumentospara produzir uma conclusão, queseja capaz de considerar todos oselementos normativos pertinentes,notadamente porque sua lógica,destinada a isolar uma única nor-ma para o caso, se revela incom-

patível com o princípio da unida-de, pelo qual todas as disposiçõesconstitucionais tem a mesma hie-rarquia, e devem ser interpretadasde forma harmônica sem exclusão,como esclarece Ana Paula deBarcellos7 . Neste sentido, tambémenfatiza que o “propósito da pon-deração é solucionar esses conflitosda maneira menos traumática parao sistema como um todo, de modoque as normas em oposição conti-nuem a conviver, sem a negação dequalquer delas, ainda que em de-terminado caso concreto elas pos-sam ser aplicadas em intensidadesdiferentes”.

5 A EFETIVIDADE E UTILIDA-DE DA JURISDIÇÃO

A diretriz que entende apli-cável apenas aos salários do deve-dor (ex-empregador) o benefício daimpenhorabilidade, ao mesmo tem-po em que nega aos salários do cre-dor (ex-empregado) a condição depreferência, sinaliza que é possívelutilizar-se do trabalho de outremsem lhe pagar o que deve, conclu-são que não encontra amparo nosistema jurídico em vigor. Com efei-to, colide frontalmente com o devi-do processo legal e solapa aefetividade de acesso à jurisdição,já que desacredita uma decisão ju-dicial, o que revela o equívoco des-ta interpretação, notadamente emse considerando que é a quantida-de de elementos normativos emprol de uma determinada solução

7Barcellos, Ana Paula - Alguns parâmetros normativos para a ponderação constitucional - in Anova interpretação constitucional - ponderação, direitos fundamentais e relações privadas -Editora Renovar - Rio - 2ª edição - 2006 - p. 49-118.

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e o peso que eles assumem diantedas circunstâncias concretas, que seconstituem nos principais critériosorientadores da ponderação, comopontua Barcellos.

Neste contexto, negar efeti-vidade a uma decisão judicial, quereconheceu ao credor o direito areceber verbas de natureza alimen-tícia, deixando de proceder à pe-nhora sobre um percentual dos sa-lários do devedor, seu ex-emprega-dor, se revela insustentável pois re-tira a efetividade da jurisdição, alémde colidir com o princípio daisonomia, por reconhecer ao deve-dor uma condição mais benéfica(integralidade dos salários), que elepróprio negou ao seu ex-emprega-do, deixando de pagar-lhe os salá-rios a que fazia jus.

A constitucionalização do di-reito aplicável às relações privadas,entre empregado/empregador, de-monstra de forma convincente queé preciso fazer valer a utilidade dajurisdição como marco estruturantedo ordenamento jurídico, assim es-tabelecido pela Constituição Federalde 1988 com o escopo de maximizaro alcance dos princípios ali agasa-lhados, para que haja um fortaleci-mento do próprio sistema, comoenfatiza Oscar Vilhena Vieira8.

Neste mesmo sentido as refle-xões de Canaris9 , ao lembrar que

no “alargamento progressivo dosdados sujeitos a tratamento jurídi-co, teve peso a denominada juris-prudência das valorações. Na suabase encontra-se a insatisfação cau-sada pela manutenção tardia da ju-risprudência dos interesses e, emgeral, do positivismo jurídico. Oinfluxo da filosofia dos valores, pre-sente, aliás, no neo-kantismo, per-mitiu uma transposição: a uma pon-deração de interesses causalmenteconsiderados pelo legislador, con-trapõem-se um sopesar de valores”

Ao discorrer sobre aessencialidade do direito para os es-tados constitucionais, GustavoZagrebelsky10 ressalta a necessida-de de reconhecimento da coexistên-cia de valores e princípios postospela Constituição, para que nãoocorra instabilidade institucional,colocando em risco a unidade eintegração do sistema jurídico, aomesmo tempo em que é preciso pre-servar sua base material pluralista,impedindo que se atribua aos prin-cípios uma interpretação absoluta,pois é preciso compatibilizá-los unscom os outros.

Como bem pondera AndréLuiz Vinhas da Cruz11 , o “papelconstrutivista, ou reconstrutivistado Poder Judiciário, e não só deste,mas da sociedade em geral, é o decoletar todo esse material fático,normativo e ético-moral, substan-

8Vilhena Vieira, Oscar - Direitos Fundamentais - Malheiros Editores - p. 40 e seguintes.9Canaris - Claus Wilhelm – Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito -tradução de A. Menezes cordeiro - Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa.10Zagrebelsky, Gustavo - El derecho dúctil- Tradução de Marina Gascón - Editorial Trotta-Madrid- 2007- p. 14 e seguintes.11Vinhas da Cruz - André Luiz - A tópica neoaristotélica de Theodor Viehweg - uma análise críticade Manuel Atienza - Revista da Esmese nº 7 - 2004 - p. 159-179.

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cialmente histórico, que diante deum prévio procedimento, do co-nhecimento de todos, igualitário, li-bertador e democrático, nos leve aoamplo debate público das grandesquestões nacionais, a fim de se al-cançar não só a racionalidadedecisória, mas principalmente aprópria efetivação da justiça, en-quanto ideal, e a emancipaçãogarantista dos direitos humanos”.

Destaca que a plenitude davida, que se desenvolve cada vezmais de forma coletiva, exige atitu-des moderadas (uma aureamedietas), embora propositivas econstrutivas, e que possam manter-se com a consciência de quem sabeque este ideal corresponde a umavisão da vida e a um ethos, que nãopodem ser considerados de formaalguma depreciáveis. Deste modo,o imperativo teórico de não aceita-ção da contradição válido para aciência jurídica - não deveria de for-ma alguma impedir a elaboraçãojurisprudencial de tentar realizarpositivamente a concordância prá-tica das diversidades, superando ascontradições que a realidade fáticaapresenta. Assim, a resposta nãopode ser buscada pela diminuiçãodas potencialidades constitucionais.É preciso priorizar a busca de solu-ções prudentes, que propiciem o de-senvolvimento dos princípios cons-titucionais em conjunto, adequan-do-os às especificidades de cadacaso concreto, porque só assim se-rão obtidas respostas sensatas, quepossam dirimir os conflitos sociais,rejeitando os extremismos que mais

servem para aprofundar asfissuras.

Atende melhor ao escopo dautilidade da jurisdição, preservar apossibilidade de quitação de um ti-tulo judicial de natureza salarial,mediante a penhora de uma partedos salários do devedor, do que sim-plesmente deixar de lado o título,preservando apenas a integridadedo salário do ex-empregador, quedeixou de reconhecer esse direito aoseu ex-empregado, que agora se vênovamente na iminência de ser ex-cluído da proteção prevista noordenamento jurídico, caso negadaa efetividade ao seu direito, já re-conhecido judicialmente.

Ora, a supremacia da consti-tuição exige que a razoável dura-ção do processo, como direito fun-damental, seja observada notada-mente em relação ao direito proces-sual, ante a inserção do incisoLXXVIII, ao artigo 5º da CF/88,pela EC 45/2004.

Herdeiros do direito europeu,em que a força do Estado estácentrada no Parlamento, o que le-vou à instituição da lei como pedraangular de edificação do sistemajurídico, o juiz brasileiro tradicio-nalmente se preocupa mais em apli-car o que consta da portaria, ordemde serviço, regulamento, lei. Só porúltimo lembra da Constituição, porconsiderar que compete apenas aoSupremo Tribunal Federal a guar-da de seus princípios, cabendo aojulgador das demais instâncias ape-nas resolver a questão concreta à

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luz da normatividade inferior comobem pontua Nalini12 , chamando aatenção para a necessidade de mu-dar essa perspectiva e atentar paraa “realização do justo concreto”pelo Judiciário, como um dos po-deres da República Brasileira, res-ponsável pela consecução dosobjetivos fundamentais postos pelaLei Maior.

Que dirá então, quando a pró-pria norma processual, recente-mente alterada, caminha na mes-ma direção da diretriz constitucio-nal?

Como enfatiza Bonavides13 ,há “na escala evolutiva do direitoconstitucional, legislado ao longodas revoluções e metamorfoses dedois séculos, quatro gerações su-cessivas de direitos fundamentaisque, passando da esfera subjetivapara as regiões da objetividade, bus-cam reconciliar e reformar a rela-ção do indivíduo com o poder, dasociedade com o Estado, da legali-dade com a legitimidade, dogovernante com o governado.”

Neste mesmo sentido caminhaCláudia Lima Marques14 , ao ressal-tar que, ante a “pluralidade de leisou fontes, existentes ou coexistentesno mesmo ordenamento jurídico, aomesmo tempo, que possuem camposde aplicação ora coincidentes oranão coincidentes”, os critérios tra-dicionalmente empregados para a

solução de conflitos se revelam in-suficientes, tornando necessário odiálogo das fontes preconizado porErik Jayme, pois para que se possaadministrar o pluralismo, que mar-ca a sociedade contemporânea, épreciso garantir a utilidade da juris-dição.

Assim, não se trata de atingiro extremo da descodificação, refe-rido pelo jurista italiano NatalinoIrti, mas de reconhecer que os prin-cípios constitucionais são reitoresdo ordenamento infraconsti-tucional, e ferramentas que possi-bilitam substituir o conflito pelasolução advinda da coordenaçãosistemática, flexível, útil e pondera-da das fontes.

Esta coordenação deve sermarcada por critérios de comple-mentaridade e subsidiaridade, nasuperação das antinomias aparen-tes e reais, a fim de preservar a co-erência, bem como a eficiência fun-cional do sistema plural e comple-xo de nosso direito contemporâneo.

A constitucionalização do di-reito processual visa resguardar aefetividade e a utilidade da jurisdi-ção, a fim de fazer valer a razoávelduração do processo como direitofundamental, essencial para o apri-moramento das instituições jurídi-cas e a solidez do processo deredemocratização do nosso país.

12Nalini, Renato - A rebelião da toga - Millennium Editora Ltda - 2006 - Campinas.13Bonavides, Paulo - Os direitos fundamentais e a globalização in Dos princípios constitucionais- Considerações em torno das normas principiológicas da Constituição - Malheiros Editores.14Marques - Cláudia Lima - Superação das antinomias pelo diálogo das fontes: o modelo brasi-leiro de coexistência entre o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil de 2002 - inRevista da Esmese - nº 7, 2004 - doutrina - p. 15-54.

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6 CONCLUSÃO

Os princípios constitucionaisque garantem a valorização do tra-balho e o recebimento de salários,bem como a utilidade da jurisdição,integram o conceito formador doprincípio da legalidade e, assimdevem nortear a interpretação dalegislação infra-constitucional,notadamente ante as alterações re-centemente promo-vidas pela lei11.382/2006 em re-lação aos incisos IVe X do artigo 649 doCPC, bem como oparágrafo 2º do mes-mo artigo. Destemodo, a efetivaçãoda penhora sobre apoupança, percen-tual dos proventos deaposentadoria ou salários do ex-em-pregador, quando se tratar de ga-rantir o pagamento de créditos tra-balhistas do ex-empregado, que de-tém inequívoca natureza alimentar,está respaldada pelo ordenamentoem vigor.

Assim sendo, diferentementedo que sustentam alguns dou-trinadores, tal não consiste em fa-zer letra morta do princípio da le-galidade. Pelo contrário, ao invés dereconhecê-lo apenas em benefíciode uma das partes, é precisomaximizá-lo, ampliando sua apli-cação para ambas as partes, paraambos os salários, de modo a ga-rantir a utilidade da jurisdição.

Insustentável a interpretaçãoreducionista, que pretende aplicaro principio da legalidade apenaspara beneficiar o ex-empregador/devedor, olvidando que porisonomia o ex-empregado/credortambém faz jus a sua aplicação, ain-da mais quando a lei expressamen-te imputa, em seu favor, condiçãopreferencial quanto ao recebimen-to de verba de natureza alimentar.

Ademais, não háamparo legal paraatribuir ao ex-em-pregado os riscoseconômicos do em-preendimento, geri-do apenas pelo ex-empregador, queusufruiu de sua for-ça de trabalho semresponder pela devi-da contraprestação,

violando o princípio basilar de dara cada um o que é seu que sustentao Estado de Direito.

Deste modo, não se trata dedesrespeitar o princípio da legali-dade agasalhado no artigo 5º daCF/88 mas, pelo contrário, de ex-trair a sua máxima efetividade,para que seja respeitado tanto emrelação ao ex-empregado, quantoem relação ao ex-empregador, im-pedindo que favoreça apenas um,em detrimento do outro, interpre-tação insustentável por colidir como princípio da isonomia.

Ante tais razões, quando setrata de executar o pagamento deverbas salariais devidas ao ex-em-

“Não há amparo

constitucional para

interpretar o princípio da

legalidade como contraposto

ao princípio da utilidade e

efetividade da jurisdição,

notadamente por ter sido

instituído como seu

garantidor.”

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pregado, o dogma da impenho-rabilidade absoluta dos salários,proventos de aposentadoria e pou-pança do ex-empregador não sesustenta, e deve ser revisto sob aperspectiva da ponderação dos va-lores que merecem ser resguarda-dos, a fim de garantir a utilidadeda jurisdição e a eficiência funcio-nal do sistema jurídico.

Não há amparo constitucio-nal para interpretar o princípio dalegalidade como contraposto aoprincípio da utilidade e efetividadeda jurisdição, notadamente por tersido instituído como seu garantidor.

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José Carlos Arouca*

RECLAMAÇÃO TRABALHISTABRASIL CAMPEÃO

Resumo: O pensamento neoliberal vitorioso com a globalização temcomo princípio básico para a reforma trabalhista não apenas aflexibilização dos direitos, a terceirização da mão-de-obra e adesregulamentação da legislação de proteção ao trabalho, mas tam-bém o desmonte da Justiça do Trabalho, que seria responsável pelaimposição de pesadas condenações às empresas. Não importa, no caso,o significado das condenações, ou seja, descumprimento da legislaçãotrabalhista, cada vez mais reduzida em seu alcance. A ditadura aca-bou com a pálida garantia dos empregos, a Constituição Cidadã per-mitiu a flexibilização dos principais componentes do contrato de tra-balho: salário e jornada. Fernando Henrique Cardoso precarizou a re-lação de emprego, pondo fim ao princípio da continuidade.

Palavras-chave: Justiça do Trabalho. Trabalhador x Empregador, Tra-balho x Capital. Direitos x Flexibilização de direitos.

*Advogado, juiz aposentado do TRT da 2ª Região. Membro da Academia Brasileira de Direito doTrabalho, do Instituto de Direito Social Cesarino Jr.

Há pouco o Estadão com todasua penetração como instrumentode formação da opinião pública di-vulgou matéria assinada por suacolunista defendendo a extinção daJustiça do Trabalho diante de seucusto e inutilidade. Agora informaseus leitores sobre o mal que os di-reitos trabalhistas causam ao paísque se tornou campeão mundial emações trabalhistas, coisa de 2 mi-lhões de processos por ano contraapenas 75 mil nos Estados Unidos,

79 mil na França e só 2,5 mil no Ja-pão. Culpa da legislação trabalhis-ta: “anacrônica, ultrapassada,detalhista e irreal”. Solução: ado-ção de mecanismos de conciliaçãoextrajudicial como arbitragem econciliação prévia.

O texto apoia-se em levanta-mento estatístico do Tribunal Supe-rior do Trabalho: em 2005, paracada 100 mil habitantes: 1.050 res-pondiam por uma ação trabalhista.

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Na Justiça comum, apenasno Estado de São Paulo, tramitamcerca de 17 milhões de ações. 8,5milhões se devem a iniciativa doEstado atrás de tributos e taxas so-negados ou controvertidos1 . Emtroca, não paga o que deve, valen-do-se do precatório, nada menos deR$ 63 bilhões devidos apenas pelosEstados, Distrito Federal e Municí-pios. No Estado de São Paulo, quefica com 49% do movimento naci-onal de processos, débitos que de-veriam ser quitados em 1998 só fo-ram pagos em 20062 .O Conselho Nacionalde Justiça divulgouseu primeiro levanta-mento para compre-ender a crise do Po-der Judiciário, fin-cando-se no ano2005, abrangendo aJustiça Federal, doTrabalho e dos Esta-dos. Constatou umaumento de 2,7 milhões de proces-sos em relação a 2004, que chega-ram a 57,5 milhões e passou para60,2 milhões. A taxa de congestio-namento nos tribunais impressio-na: de cada dez ações, sete ficaramsem solução naquele ano e passa-ram para o exercício seguinte. O ín-dice de congestionamento, obtidocom base na divisão do número desentenças pela quantidade de casosnovos e de causas que já estavampendentes, em 2004 era de 80%,

hoje, já é de quase 70%. Na JustiçaFederal, o índice médio de conges-tionamento foi de 71,1%, ou seja,de cada 100 processos, 71 não tive-ram solução naquele ano”. Na Jus-tiça do Trabalho o congestionamen-to de processos em 2005 foi menorque nos outros dois segmentos, masum pouco mais da metade dasações ficou sem solução. Na primei-ra instância da Justiça Estadual,onde estão mais de 50% dos pro-cessos, a taxa de congestionamen-to foi de 76%”3

Acabar com oPoder Judiciário?Negar a garantiaconstitucional deacesso para a defesade lesão de direito?Privatizá-lo com aarbitragem privada?Ficar com um Judi-ciário único, federalou estadual, comvaras especializa-

das: criminal, civil, tributária, tra-balhista, sem reserva para matériade natureza militar? Mas antes épensar em dar efetividade ao pro-cesso de modo geral, torná-lo segu-ro e acessível a todos, fazer com quetenha solução rápida e eficaz, inclu-sive quando a condenação afetar oPoder Público.

A matéria publicada no jor-nal deixa claro que o trabalhadorbrasileiro é um assumido criador de

“Mas antes é pensar em dar

efetividade ao processo de

modo geral, torná-lo seguro

e acessível a todos, fazer

com que tenha solução rápi-

da e eficaz, inclusive quando

a condenação afetar o Poder

Público.”

1 O Estado de São Paulo, 16.2.2007 e Folha de São Paulo, 15.2.2007.2Calote constitucionalizado, texto de Marcos Cintra, Folha de São Paulo, 19.2.20.3Correio Forense, 20.2.2007.

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casos, em 2006 o número de açõescresceu 13% nas contas do Tribu-nal Superior do Trabalho. Isto teriarepresentado uma “conta astronô-mica para o Pais”; só em 2005 “fo-ram pagos aos reclamantes R$ 7,19bilhões e em 2006 R$ 6,13 bilhõesaté setembro”. Epa! então culpadassão as empresas que não respeitamos direitos dos trabalhadores.

Que nossa legislação ficouanacrônica todos estão cansados desaber. A estabilidade no emprego,surgida timidamente nos idos de1923 com a previdência social dosferroviários4 e generalizada em1935 com a Lei 625 da “EraVargas”, acabou logo na primeiraetapa da ditadura para atender ascorporações transnacionais, maispropriamente, norte-americanas6 .A Constituição Cidadã permitiu aflexibilização dos dois componen-tes principais do contrato de traba-lho: salário e jornada7 , mas a páli-

da garantia do emprego ou a pro-teção contra dispensa sem justacausa ficou imobilizada, como en-feite no artigo dos direitos indivi-duais8 . O presidente FernandoHenrique Cardoso decretou o fimda Era Vargas e mesmo repetindoque nunca foi um neoliberal seguiuo receituário da “Nova Era” e tor-nou ordinária a prática do traba-lho extraordinário, mas gratuito,como moeda de troca nas negocia-ções coletivas, legitimada como umbanco de horas; além dissoprecarizou o contrato de trabalho,acabando com o princípio dadefinitividade, ficando determina-do no prazo e passível de suspen-são. Por pouco um dispositivo daCLT esvaziado, não foi preenchidocom o permissivo para a tercei-rização geral como queriam os Mi-nistros do Trabalho EdwardAmadeo e Francisco Dornelles9.Mas a pálida garantia dos empre-

4Decreto n° 4.682, de 24.1.1923, conhecido como Lei Eloi Chaves.5Lei n° 62, de 5.6.1935.6Já no governo Dutra a Missão Abbink condicionava o investimento de capital americano ao fim daestabilidade. A ditadura saudou o Fundo de Garantia como marco na história do Novo Direitodo Trabalho. Agora, passados mais de quarenta anos desde sua implantação com apoio de umCongresso amordaçado, se calam seus defensores diante da constatação de que os depósitosrenderam quase 20 vezes menos do que as aplicações no mercado financeiro, desde o Plano Real,considerado, assim, o pior investimento no período.

7O art. 7° da Constituição, nos incisos VI, XIII e XIV abriu espaço para a negociação a favor dasempresas, in pejus na linguagem juridiquês.VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convençãocoletiva de trabalho;XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento,salvo negociação coletiva.

8São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de suacondição social:

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de leicomplementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos.

9Francisco Dorneles, hoje senador eleito pelo Estado do Rio de Janeiro, assumiu o Ministério doTrabalho avisando que não era do ramo. Mais tarde, empolgado com a produção de projetos dedesregulamentação da legislação trabalhista, exclamou: “Agora tudo poderá ser flexibilidade”.

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gos, pensada na Convenção nº 154da OIT, teve vida curta e foi denun-ciada. Com ela - e poucos percebe-ram - rolou para a cova rasa a ate-nuação das dispensas coletivas,pois obrigava as empresas a notifi-car o sindicato previamente, dan-do conta do número de dispensasa serem praticadas, pessoas que se-riam atingidas, abrindo espaço paraa negociação e o propósito de re-duzir seus efeitos danosos.

A desregulamentação da le-gislação trabalhista criou a figurado trabalhador precarizado, queantes era caso de multa por infra-ção grave da legislação trabalhista.

Até o Tribunal Superior doTrabalho entrou na onda e come-çou com a quitação com força deliberação total, mesmo dos direitosnão pagos, medida que o Presiden-te Fernando Henrique Cardoso co-piou quando pensou as Comissõesde Conciliação Prévia, e por pouco

10A Súmula n° 41 inicialmente tinha o seguinte texto: A quitação passada pelo empregado, comassistência de Entidade Sindical de sua categoria, ao empregador, com observância dos requisi-tos exigidos nos parágrafos do art. 477 da Consolidação das Leis do Trabalho, tem eficácialiberatória em relação às parcelas expressamente consignadas no recibo. Em 2001, diante dareação dos advogados apesar do silêncio dos sindicatos, foi substituída pela Súmula 330 postanestes termos: Quitação. Validade - A quitação passada pelo empregado, com assistência deentidade sindical de sua categoria, ao empregador, com observância dos requisitos exigidos nosparágrafos do art. 477 da CLT, tem eficácia liberatória em relação às parcelas expressamenteconsignadas no recibo, salvo se oposta ressalva expressa e especificada ao valor dado à parcelaou parcelas impugnadas. I - A quitação não abrange parcelas não consignadas no recibo dequitação e, conseqüentemente, seus reflexos em outras parcelas, ainda que estas constem desserecibo. II - Quanto a direitos que deveriam ter sido satisfeitos durante a vigência do contrato detrabalho, a quitação é válida em relação ao período expressamente consignado no recibo dequitação.A Súmula 331 no item III permite a terceirização na atividade-meio: III - Não forma vínculo deemprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) ede conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio dotomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.A Lei n° 9.958, de 12 de janeiro de 2000 que instituiu as Comissões de Conciliação Prévia, nãodeixou por menos e deu à quitação o que as empresas queriam: efeito liberatório geral, introdu-zindo na CLT o art. 625-E com este parágrafo único: O termo de conciliação é título executivoextrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalva-das.Antes mesmo da Lei n° 4.066, de 1962, embrião do art. 477 da CLT, o juiz Gabriel MouraMagalhães escreveu em acórdão esta lição lapidar: "Ninguém está obrigado a ressalvar direitossob pena de perdê-los", muito menos, escrevi mais tarde, quitar o que é devido e não é pago.

não levou a culpa pela permissãoda terceirização da mão-de-obraaté na atividade-fim, que o TST per-mitira na atividade-meio10.

Uma coisa está certa no textopublicado pelo Estadão: "cerca de50% das ações terminam com acor-do na primeira instância". Acordodo mais fraco, do proletário, com omais forte, o capitalista, ou nas pa-lavras do mestre Cesarino Jr., dohipo com o hipersuficiente. O textotranscreve dados do TST, que me-recem um desdobramento. Em 2006foram ajuizadas 1.757.966 açõestrabalhistas no País; chegaram aosTribunais Regionais 534.609 e noTST 154.463; no Estado de São Pau-lo foram 514.896, 297.342 na 2ªRegião, 217.554 na 15ª. Nas regi-ões principais contabilizou-se190.727 no Estado do Rio de Janei-ro, 180.106 em Minas Gerais,121.2478 no Rio Grande do Sul,98.074 na Bahia, 71.480 em

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Pernambuco. Segundo o ramo deatividade, nas Varas do Trabalhoforam: 21% da indústria, 14,1% docomércio, 5,6 do transporte, 2,3%do sistema financeiro 5,1% da ad-ministração pública; mas no TSTchegaram 17.735 da indústria,7.963 do comércio, 6.129 do trans-porte, 15.762 - vejam só - do setorfinanceiro e - pasmem -7.023 da ad-ministração pública.

E daí? Só na cidade de SãoPaulo são 242 Varas da Justiça Co-mum, nas quais tramitaram no ano2006 15.995.916 ações, 5.727.457cíveis 8.551.160 executivos fiscais.Pelo Tribunal de Justiça passaram432.670 processos, dos quais 91.270envolvendo a Administração Públi-ca. Então toda a legislação brasilei-ra, mesmo recente, é "anacrônica,ultrapassada, detalhista e irreal";valendo os adjetivos dos comenta-ristas do Estadão e a solução será amesma: adoção de mecanismos deconciliação extrajudicial, como ar-bitragem e conciliação prévia?

No que toca aos direitos tra-balhistas bom será ter presente o co-mando que emerge cristalino e im-perativo do inciso III do art. 8° daConstituição: cabe ao sindicato a de-fesa, não só de interesses coletivosda categoria, mas, também, seus di-reitos individuais e estamos cansa-dos de dar a exata dimensão do gru-po profissional, ramo para o Proje-to de Lei Sindical do governo Lula,categoria a partir da conceituaçãoque se extrai com facilidade da lei-tura do art. 511, § 2° da velha CLT:conjunto de trabalhadores que se

ativam numa mesma atividade ouem atividades afins, sendo, pois, in-diferente a filiação ao sindicato.Mas o sindicato foi seduzido pelaterceirização apregoada pelo pen-samento neoliberal e pouco a pou-co os departamentos jurídicos ouforam extintos ou reduzidos, per-dendo a importância que tiveram,inclusive no enfrentamento da di-tadura militar de 1964.

Conciliação judicial ou extrajudicial não passa de transação dedireitos enquanto arbitragem é ape-nas o cômodo e caro substitutivo dagarantia de acesso ao Poder Judici-ário.

Mas conciliação entre o capi-tal e o trabalho ou a solução arbi-trada por particulares dos litígios econflitos trabalhistas é a negaçãoda atuação sindical.

De fato, a defesa dos direitosindividuais através do sindicato,num primeiro momento deve se darno interior do estabelecimento. Aorganização nos locais de trabalhoconstitui a forma mais apropriadapara a democratização dosindicalismo, significando seu ali-nhamento direto com os trabalha-dores. Daí o equívoco inexplicáveldas centrais que consensuaram (?)com o governo Lula e com os em-pregadores trocá-la pela represen-tação interna.

Se o litígio não é resolvidogera o conflito e passa a interessarnão mais exclusivamente ao traba-lhador individualmente atingido,mas à coletividade que também é

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indiretamente afetada, pois pode-rá pouco a pouco sofrer a mesmalesão11.

Para solucionar o conflito osindicato promoverá a negociaçãocoletiva. Esta, também, no modeloda CLT, alterado na "Era dos Mili-tares" com o Decreto-lei 229 de 1965e depois na "Era Neoliberal" com oPlano Real do Presidente FernandoHenrique Cardoso,não passa de um con-fronto entre desi-guais, de um lado osindicato que só tema seu favor a greve,sempre contida, equase sempre um"caso de polícia" e deoutro o empregadorque concentra emsuas mãos o poder decomando, no qual se contém o di-reito de despedir livremente. A fal-ta de freios para conter a práticaanti-sindical descaracterizou a ne-gociação coletiva, como instrumen-to para a defesa dos interesses cole-

“...a conta astronômicapaga pelas empresas quedescumprem a legislação

trabalhista, mutilada econtida é ainda pequenadiante do contingente de

trabalhadores que tambémforam lesados e por medo

não reclamaram.”

tivos dos trabalhadores, comprome-tendo decisivamente a ação sindical.

Concluindo, a conta astronô-mica paga pelas empresas quedescumprem a legislação trabalhis-ta, mutilada e contida é ainda pe-quena diante do contingente de tra-balhadores que também foram le-sados e por medo não reclamaram.

O tema comofoi colocado pelo jor-nal desinforma a po-pulação e nega o de-ver de bem formar aopinião pública, me-recendo ser melhordiscutido, inclusivepor aqueles que de-fendem os trabalha-dores, ou por quixo-tismo ou por dever deofício. Com a palavra

os dirigentes sindicais, de hoje, espe-cialmente aqueles que subiram maisaté alcançar ministérios e o coman-do das centrais e de ontem, inclusivenosso Presidente Lula.

11Nem por outra razão o Ministro Francisco Fausto, quando presidiu o TST dificultou o acesso aosregistros da distribuição de feitos, com o propósito declarado de impedir com isto a continuaçãodas "listas negras", ou seja, a estigmatização dos trabalhadores que ousassem reclamar outestemunhar em favor de seus companheiros, comprometendo assim a obtenção de novos pos-tos de trabalho.

Muito antes, o Ministro Guimarães Falcão, na presidência do Tribunal, afirmou que menos de40% dos trabalhadores reclamavam contra a lesão de seus direitos trabalhistas.

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Guilherme Guimarães Feliciano*

DIREITO DO TRABALHO, TERCEIRIZAÇÃO ECONTRATOS DE FORNECIMENTO INDUSTRIAL

- NOTAS SOBRE A RESPONSABILIDADE JURÍDICADE CLIENTES E FORNCEDORES

Resumo: Os contratos de fornecimento industrial, ainda quando vinculadosà atividade-fim da empresa-cliente, acompanham uma tendência universalde desconcentração produtiva. Se não mascaram típicas relações de empregocom o cliente, consubstanciam modalidade de terceirização material (de pro-dução), que não se confunde com a fattispecie da Súmula 331, IV, do C.TST eescapa àquela inteligência. A responsabilidade subsidiária, à luz do princí-pio da razoabilidade, pressupõe hipóteses de terceirização pessoal (de servi-ços), uma vez que, nesse caso, os trabalhadores da empresa fornecedora demão-de-obra sujeitam-se a obrigações de meio, com apropriação imediata daforça de trabalho pela empresa cliente. Outro entendimento infinitizaria, asmais das vezes, a trama de vínculos de responsabilidade (“regressum adinfinitum”).

Palavras-chave: Terceirização (material, pessoal). Contratos de fornecimen-to (industrial). Direito do Trabalho: responsabilidade subsidiária.Desconcentração produtiva.

Sumário: 1 Introdução; 2 Contratos de fornecimento industrial, fraudes eresponsabilidades; 3 Desconcentração e terceirização: de TOFFLER aFRIEDMAN 4Terceirização material vs. terceirização pessoal; 5 Um casoparticular: contratos de fornecimento de sucata; 6 Conclusões; 7 Bibliografia.

*Juiz Titular da 1ª Vara do Trabalho de Taubaté (Estado de São Paulo, Brasil), é Doutor em DireitoPenal pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e Doutorando em Ciências Jurídicaspela Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa. Professor Assistente Doutor doDepartamento de Ciências Jurídicas da Universidade de Taubaté (admitido por concurso públicode provas e títulos). Extensão Universitária em Economia Social e do Trabalho (UniversidadeEstadual de Campinas – UNICAMP). Diretor Cultural da AMATRA-XV (Associação dos Magis-trados do Trabalho da Décima Quinta Região), gestão 2005-2007. Diretor para Assuntos Legislativosda AMATRA-XV, gestão 2003-2005. Membro do Conselho Editorial da Revista ANAMATRA-FORENSE “Direito e Processo”. Membro da Subcomissão de Doutrina Internacional do ConselhoTécnico da EMATRA-XV (Escola da Magistratura do TRT da 15a Região) para a Revista do TribunalRegional do Trabalho da Décima Quinta Região. Membro do Instituto Brasileiro de Ciências Crimi-nais (IBCCrim) e do Instituto Manoel Pedro Pimentel (órgão científico vinculado ao Departamentode Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade de SãoPaulo), de cujo Boletim foi editor-chefe entre 1997 e 2002. Autor de teses e monografias jurídicas(Tópicos Avançados de Direito Material do Trabalho, v. I e II, Editora Damásio de Jesus, 2006; Teoria daImputação Objetiva no Direito Penal Ambiental brasileiro, Editora LTr, 2005; Informática e Criminalidade,Editora Nacional de Direito, 2001; Execução das Contribuições Sociais na Justiça do Trabalho, EditoraLTr, 2001; Tratado de Alienação Fiduciária em Garantia, Editora LTr, 2000). Palestrante e articulistaem Direito Penal e Direito e Processo do Trabalho. Membro da Academia Taubateana de Letras(cadeira n. 18).

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1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, avoluma-ram-se, na casuística forense naci-onal, os casos de contratos de for-necimento industrial que são de-nunciados na Justiça do Trabalho,ora por serem fraudulentos, ora poratraírem, na perspectiva dos recla-mantes, a exegese da Súmula 331,IV, do C.TST (responsabilidade sub-sidiária da empresa contratante, aquem aproveita o fornecimento).

Há alguns anos, à frente da2ª Vara do Trabalho de Taubaté(na qualidade de juiz substituto),inúmeros processos dessa naturezamereceram-me a atenção. Envolviam,à época, conhecida montadora dosegmento automotivo vale-paraibano que celebrara, com em-presa menor (especializada em co-mércio de sucata), contrato peloqual lhe fornecia sucata por certopreço e, em contrapartida, tinhapreferência na aquisição de sucataprensada, fazendo-o mediante sim-ples compensação econômico-fi-nanceira (pela retirada de quanti-dade equivalente de sucata não-processada)1 . Neste contrato, dedupla face, a empresa montadorapoderia funcionar, episodicamente,como fornecedora e como cliente. In-dagava-se: num caso e noutro, se-ria responsável pelos créditos tra-

balhistas dos empregados da em-presa de comércio de sucata?

O presente texto propõe exa-minar hipóteses dessa natureza,dando-lhe contornos jurídicos maisprecisos.

2 CONTRATOS DE FORNECI-MENTO INDUSTRIAL, FRAU-DES E RESPONSABILIDADES

Iniciemos com os supostos defraude. Não há, a esse propósito,muito o que pontuar. Tecnicamen-te, contrato de fornecimento é“aquele em que o vendedor se compro-mete a fazer entrega de mercadoriasem partidas sucessivas e em prazo de-terminado, por preço ajustado anteci-padamente ou simultaneamente comcada remessa, e pagamento na formaajustada”2 . Nada obstante, ocorre— e não é incomum — de uma em-presa interposta se obrigar a forne-cer mercadorias (dação “in rem”),mas, ao revés, fornecer mão-de-obra(atividade “in personam”), seja nasdependências da própria empresabeneficiária (o que facilita a identi-ficação da fraude), seja fora dela (oque implica em “externalizar” umsegmento do processo produtivocom precarização de vínculos deemprego — como se viu, há algumtempo, em alguns nichos da indús-tria calçadista3).

1Sirva, como paradigma, a sentença prolatada nos autos do processo n. 201/2000-2 (1ª Vara doTrabalho de Taubaté), aos 12 dias de julho de 2000.

2Dicionário Jurídico, Academia Brasileira de Letras Jurídicas, 4a ed., São Paulo, Forense Universitá-ria, 1996, p.195 (verbete «Contrato de Fornecimento»).

3É conhecido, e.g., o caso de Franca (SP), que suscitou medidas judiciais por parte do MinistérioPúblico do Trabalho (Procuradoria da Décima Quinta Região) na década de noventa. Maisrecentemente, em sua edição de n. 63, a Revista Comércio Exterior – Informe BB noticiou osarranjos produtivos locais (APL) que têm favorecido a microempresa calçadista no Municípiode São João Batista (SC): “Cerca de 30% da força de trabalho concentra-se nas famílias locais. O arranjoestá organizado para que os produtos passem de família em família e, a cada etapa, os calçados comecem aganhar forma. Por exemplo, uma se encarrega de cortar as palmilhas, outra de fazer o solado e assimsucessivamente. Há grande interação ao longo do processo. [...] O aspecto familiar retrata uma realidade

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Em tais casos, demonstrada afraude mediante instrução e provacompetente (o que se logra, amiú-de, com a demonstração de que aempresa interposta não tem auto-nomia gerencial e/ou econômico-financeira e, na prática, subordinaos seus empregados aos desígniosde gestão da empresa beneficiária),é de rigor reconhecer o liameempregatício diretamente com obeneficiário do “fornecimento”,sem prejuízo da solidariedade pas-siva — em acepção civil — do in-termediário, ut artigo 932, III, doCódigo Civil (uma vez que a em-presa interposta funciona, no pro-cesso produtivo, como meracomitida da contratante, que sim-plesmente lhe encomenda ou acome-te uma fase do processo produtivo,retirando-lhe qualquer margemgerencial nesse particular4). Trata-se de aplicar à espécie a norma doartigo 9º da CLT, com a inteligên-cia da Súmula 331, I, do TST.

Quando, porém, não há frau-de, a questão pede uma reflexãomais detida. É certo, por um lado,que a existência de um contrato defornecimento não exclui, por si só,a hipótese da terceirização de servi-ços. Não raro, aliás, vai mesmopressupô-la (como, de regra, nos

comum aos APLs: ser uma solução eficaz para empreendimentos de pequeno porte” (Comércio Exterior –Informe BB, Brasília, Banco do Brasil, janeiro/fevereiro de 2006, n. 63, ano 14, pp.22-23). Sobreser uma engenhosa solução para otimizar produção e vendagem de micro e pequenas empresas,uma versão deformada desse modelo já engendrou “arranjos” similares, porém associados auma empresa-mãe, de cujos quadros foram destacados os novos “empresários”, que passam aterceirizar etapas do ciclo produtivo em suas próprias casas, valendo-se da mão-de-obra deesposas, filhos e agregados. Consubstancia-se, em tais hipóteses, perniciosa fraude, que lesa osdireitos dos trabalhadores e compromete a própria formação das crianças e adolescentes envol-vidos.

4Comissão, com efeito, deriva do latim “commissio” e pode ser compreendida como o “ato deencomendar, cometer ou exercer encargo ou incumbência”, enquanto comissário, comitido ou prepostoé aquele que “desempenha uma comissão” — cfr. Dicionário Jurídico, pp.157-159 (verbetes «Comis-são», «Comissário» e «Comitido»). Em termos gerais, a figura dispensa a existência de uma procu-ração ou carta de comissão formais.

contratos de fornecimento que im-plicam a entrega de matéria-primamanufaturada ou semimanufaturadaàs empresas-clientes, destinada aoaproveitamento direto e imediato naslinhas de produção). Por outrolado, fazer derivar dessa premissa,em todo e qualquer caso, a respon-sabilidade subsidiária da empresacontratante/beneficiária — supon-do-se, insisto, legítimos os contratosde fornecimento — é, «veniaconcessa», incorrer em sério equívo-co, desses a que impelem concep-ções protecionistas desarraigadasda realidade econômica hodierna.

Convém esclarecer.

3 DESCONCENTRAÇÃO E TER-CEIRIZAÇÃO: DE TOFFLER AFRIEDMAN

Terceirização, em senso lato,é descentralização das atividades em-presariais. Admite, por conseguin-te, diversas manifestações concre-tas, como o fornecimento de coisas oubens, por uma parte (como, se dá,e.g., quando a empresa “A” forne-ce matéria-prima semimanufatu-rada para as linhas de montagemda empresa “B”), e fornecimento deserviços, por outra (como se dá, e.g.,quando a empresa “A” fornece pes-soal para se ativar em um segmen-

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to da linha de produção da empre-sa “B” — terceirização de ativida-de-fim5 — ou para a prestação deum serviço auxiliar, como limpeza,alimentação, transporte ou vigilân-cia patrimonial — terceirização deatividade-meio). É essa última, emprincípio, a terceirização disciplina-da pela Súmula 331 do C.TST: for-necimento de serviços que, diretaou indiretamente, imiscuem-se noprocesso produtivo da empresatomadora.

Na verdade, a desconcen-tração — fenômeno socioeconômicomais geral de que aterceirização é umamanifestação con-creta — configurauma tendênciainexorável da pós-modernidade, ine-rente às mudançasculturais, políticas eeconômicas que asso-maram aos nossosolhos nos últimostrinta anos. E nãoestamos falando, “in casu”, deglobalização econômica, ou somentedisso; a complexidade caleidos-cópica daquele rosário de mudan-ças permite-nos, com efeito, ir ain-da além.

ALVIN TOFFLER identificoua desconcen t ração como uma

5Que, no Brasil, normalmente tem caráter temporário (artigo 10 da Lei n. 6.019/74), sob pena dese conformar vínculo empregatício diretamente com a empresa tomadora (Súmula 331, I, 1ªparte, do C.TST). Afora esse caso, há hipóteses muito particulares de autorização legal ouregulamentar de terceirização de atividades-fim por tempo indeterminado, como se dá no setorde telecomunicações (artigo 94, II, da Lei 9.472/1997) e no setor bancário (Resolução BACEN n°°2166, de 30.06.1995); são todas, porém, de constitucionalidade duvidosa (especialmente aúltima).

6Alvim Toffler, The third wave, Londres, Pan Books, 1981, pp.64-68.7Idem, ibidem. Cfr. também, para uma leitura crítica da tese toffleriana, Raffaello Merli, “Toffler: A

Terceira Onda”, in A Sociedade Pós-Industrial, Domenico de Masi [org.], trad. Anna Maria Capovillaet al., 2ª ed., São Paulo, Editora SENAC, 1999, pp.183-192.

“Na verdade, a desconcen-tração — fenômeno

socioeconômico mais geralde que a terceirização é uma

manifestação concreta —configura uma tendência

inexorável da pós-modernidade, inerente às

mudanças culturais, políticase econômicas que assoma-ram aos nossos olhos nos

últimos trinta anos.”

característica da «terceira onda»(«the third wave»), que eclipsa pau-latinamente a série fenomenológicadefinidora da «segunda onda» («thesecond wave»)6 . A segunda onda,para TOFFLER, corresponde à eraindustrial: passou-se de um arran-jo social baseado no pequeno gru-po primário e local, distribuído peloterritório e com forte grau de auto-nomia e auto-suficiência, para umarranjo social caracterizado pelainterdependência complexa emassificante da sociedade industri-al. Essa passagem foi acompanha-

da por seis fenôme-nos de ordem econô-mico-sócio-psico-histórico-cultural7 , asaber: (a) a padroni-zação (de produtos,sistemas produtivos,infra-estruturas, es-quemas culturais,mercados, etc.); (b) aespecialização (aexemplo dotaylorismo, as opera-ções produtivas de-

vem ser subdivididas no maior nú-mero possível de operações obtidasindividualmente em seqüência); (c)a sincronização (porque em siste-mas «market-dependent», tempo édinheiro, desde a micro-sincroniza-ção das operações de trabalho atéa macro-sincronização das institui-

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ções8); (d) a concentração (dos re-cursos energéticos e tecnológicos,dos recursos financeiros e da pró-pria vida em sociedade: eis a era dourbanismo e das megalópoles9); (e)a maximização (da “gigan-tomania”, com a filosofia da“addiction to bigness” e o culto àsgrandes dimensões — do parqueindustrial, dos lucros, das vendas,das bilheterias, das cidades, etc. —como indicador de sucesso); e (f) acentralização (na indústria e nomundo dos negócios, a divisãotaylorista — imposta pela especia-lização — convive com a organiza-ção em torno do princípio “um ho-mem, um chefe”). No plano setorialsecundário (indústria), o sistema deprodução fordista é o paradigmamais exato da segunda onda: cen-tralização na especialização; pa-

8Na dicção de RAFFELLO MERLI, “no mundo industrial milhões de homens começam e terminam suajornada de trabalho no mesmo momento, comem, jogam, dormem e fruem espetáculos segundo umacadência temporal definida e sincronizada. Milhões de crianças começam e terminam seus estudos no mesmoperíodo. Nos Estados Unidos, na União Soviética, em Cingapura e na Suécia, na França e na Dinamarca,na Alemanha e no Japão, milhões de famílias cumprem as mesmas atividades no mesmo instante eprogramam diariamente a sua vida de trabalho, sua vida familiar e seu tempo livre com uma sincronizaçãoque na first wave [sociedade rural] era absolutamente impensável” (Raffaello Merli, op.cit., p.186).

9TOFFLER vai adiante e refere a concentração dos delinqüentes, detidos nas prisões; dos doentesmentais, nos manicômios; das crianças, nas escolas; e dos trabalhadores, nas fábricas. Terminapor chamar o século XIX como o período do «Grande Encarceramento» (op.cit., p.67).

10Estatui o artigo 233º que, “para efeitos deste Código, considera-se teletrabalho a prestação laboralrealizada com subordinação jurídica, habitualmente fora da empresa do empregador, e através do recursoa tecnologias de informação e de comunicação”. Já pela definição, vê-se ser, mesmo, um fenômenotípico da terceira onda toffleriana. Tal conceito soa bizarro na perspectiva ideológica do modelofordista (= segunda onda), em que a subordinação jurídica exsurge como um mero coroláriotecnológico do binômio concentração-centralização, que determinou o paulatino «encarceramento»dos trabalhadores nas fábricas (vide nota anterior).

11“A terceirização do trabalho é considerada por muitos como a principal estratégia da reestruturaçãoprodutiva, pois, ao mesmo tempo em que ela permite uma recomposição das taxas de lucro pelas empresas,oferece também aos capitalistas um maior controle sobre a força de trabalho. [...] Embora já existisse tantona indústria como no setor de serviços, a terceirização ganha o patamar de estratégia fundamental docapital a partir da década de 1970, quando da expansão dos princípios toyotistas de gestão e organizaçãodo trabalho e da produção. [...] Gestado no pós Segunda Guerra no Japão, o toyotismo se amplia noocidente em resposta à crise nas taxas de lucro e no domínio sobre os trabalhadores, marcados, respectiva-mente, pelo choque do petróleo de 1973 e as manifestações de maio de 1968. Para além de uma simplesintrodução de novas tecnologias, o toyotismo reorganiza a produção e implementa uma nova forma derelação entre capital e trabalho. Seu sucesso depende, em grande medida, de um consentimento ativo dostrabalhadores com a empresa e a produção; além de não questionar, eles também participam, sugerem, ebuscam a otimização da qualidade e da produtividade. Uma das conseqüências imediatas para a organi-zação dos trabalhadores é que o toyotismo combate o sindicalismo classista ou qualquer forma de organi-zação e mobilização que coloque em oposição trabalhadores e patrões” (Paula Regina Pereira Marcelino,“Terceirização do Trabalho no Brasil e na França”, in Anais do II Simpósio do GEPAL — Grupo deEstudos de Política da América Latina (http://www.uel.br/grupo-pesquisa/gepal/segundogepal/

dronização com sincronização; econcentração para a maximização.

Na terceira onda, ao contrá-rio, volve-se à desconcentração comofenômeno primordial. A prolifera-ção da informação e a possibilida-de de transmiti-la e intercambiá-lapor diversas redes facilita os pro-cessos de delegação gerencial e asestratégias de “empowerment”, cul-minando, na ponta mais débil, comfenômenos contratuais como oteletrabalho (que, em Portugal, jádesafia até disciplina legal, ut arti-gos 233º a 243º do Código do Tra-balho10). A terceirização — que temorigens anteriores à própria revo-lução telemática, deitando raízes notoyotismo11 — ganha novos fôlegoe sentido, apresentando-se à gran-de empresa como alternativa de

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conformação numa sociedade que sedesprega letargicamente dos impe-rativos do gigantismo, da concen-tração, da centralização e damassificação. Ao mesmo tempo, re-aparecem as unidades de produçãobaseadas no núcleo familiar (quepodem ou não ter compleição frau-dulenta — vide, supra, a nota n. 3,sobre os chamados «arranjos pro-dutivos locais») e, bem assim, emer-ge a classe dos «prosumers» (expres-são toffleriana para designar os tra-balhadores que produzem para oconsumo próprio, numa fusãoneologística das expressões inglesas“producer” e “consumer”), tanto nomeio rural — repaginando umaestereotipia peculiar à primeiraonda (das sociedades eminente-mente rurais) — quanto no meio ur-bano.

Segundo TOFFLER, na socie-dade pós-industrial

“O termo «descentra-lização» tornou-se a palavrade ordem da administração;grandes sociedades se apres-sam a fracionar a própria or-ganização em «centros derendimento». Um caso típicofoi a reorganização daESMARK Inc., uma socieda-de de grandes dimensões queatua nos setores de alimentos,

produtos químicos, petrolífe-ro e de seguros. [...] O que éimportante não é tanto aESMARK em si — que pro-vavelmente se reestruturoumais de uma vez desde então— quanto a tendência que elarepresenta. Centenas, talvezmilhares, de empresas estãocontinuamente se reorgani-zando, se descentralizando,às vezes indo muito longepara depois retroceder, masreduzindo pouco a pouco acentralização do controle desuas atividades. [...] No nívelainda mais profundo, asgrandes organizações estãomodificando os modelos deautoridade que caracteriza-ram o centralismo. A empre-sa típica da segunda onda eraorganizada em torno do prin-cípio «um homem, um che-fe». [...] A realidade é que umnúmero cada vez maior depessoas tem mais que um úni-co chefe” 12.

Essa descentralização/des-con centração produtiva conduz, nolimite, à externalização de certos seg-mentos produtivos, ora criandonovas demandas para o própriosetor secundário (como no caso doscontratos de fornecimento para li-nhas de produção, na linha do

PAULA%20REGINA%20PEREIRA%20MARCELINO.pdf — acesso em 22.02.2007). Para umavisão completa das conexões entre terceirização e toyotismo, cfr., ainda, Maria da Graça Druck,Terceirização: (des)fordizando a fábrica, São Paulo, Boitempo Editorial, 1999, passim. Com efeito,uma das características históricas do toyotismo, na contramão do fordismo (em virtude dasespecificidades do mercado consumidor japonês no pós-guerra), foi a mecanização flexívelvoltada à produção para mercados muito segmentados (o que inviabilizava uma especializa-ção de padrão taylorista, de funções únicas e restritas). Essa demanda segmentada determinouproduções pequenas e sem estoques (sistema just-in-time), agregando empresas menores aoredor de “empresas-mãe” que externalizavam segmentos do processo produtivo para reduzirplantas e estruturas. Conseqüentemente, o modelo de produção toyotista reconhece-sehodiernamente como aquele cujos elementos distintivos clássicos são a automatização, o just-in-time (estoque zero), o trabalho em equipe, a administração por estresse, a flexibilização damão-de-obra («shejunka»), a gestão participativa, o controle de qualidade total e a subcontratação.O toyotismo representa, por assim dizer, a ponte de transição entre o fordismo convencional dasegunda onda e as células produtivas da terceira onda.

12Op.cit., pp.267-270.

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toyotismo original), ora inflando osetor terciário (terceirização pesso-al — infra). Ou, nas palavras deTOFFLER,

“As grandes empresasestão agora procurando ati-vamente modos de reduzir asdimensões de suas unidadesde funcionamento. As novastecnologias e a transferênciade algumas funções para oterciário reduzem a escaladas atividades da empresa. Otradicional estabelecimentoou escritório da segundaonda, onde sob o mesmo tetotrabalhavam milhares de pes-soas, será uma raridade nospaíses de alta tecnologia. [...]Na Austrália, quando pedi aopresidente de uma compa-nhia que descrevesse a fábri-ca de automóveis do futuro,ele, falando com extrema con-vicção, me disse: «Não cons-truirei outro estabelecimentocomo esse, onde sob o mesmoteto trabalham 7 mil pessoas.Eu o fracionarei em unidadespequenas, cada uma dasquais empregará trezentas ouquatrocentas pessoas. As no-vas tecnologias disponíveispossibilitam isso»”13.Eis o futuro, inapelável. Con-

viva-se com ele, para melhor adequá-lo; ou debata-se diante ele, para afi-nal soçobrar.

Semelhante ordem de cons-tatações remete-nos a THOMASFRIEDMAN e à sua alegoria do«mundo plano», onde “um núme-ro maior do que nunca de pessoastem a possibilidade de colaborar ecompetir em tempo real com um

número maior de outras pessoas deum número maior de cantos do glo-bo, num número maior de diferen-tes áreas e num pé de igualdademaior do que em qualquer momen-to anterior da história do mundo”.Em síntese, a Humanidade logrouinterligar todos os principais cen-tros de conhecimento do planeta,costurando-os numa única rede glo-bal que aplainou e achatou, comonunca antes, as percepções, as com-preensões e as oportunidades glo-bais14. Hoje, pode-se conceber noponto “X”, produzir no ponto “Y”,negociar no ponto “W” e entregar noponto “Z” (pouco importando adistância geográfica entre todos es-ses pontos). A terceirização é ape-nas parte disso tudo — e não é, se-guramente, a parte mais deletéria.Ao contrário,

“As melhores companhiasterceirizam para vencer enão para encolher-se.Terceirizam para inovar commaior rapidez e a custosmais baixos a fim de crescer,ganhar fatias de mercado econtratar mais funcionáriosde diferentes especialida-des, e não para economizardespedindo empregados.[...] Não há dúvida de queexistem firmas dispostas aterceirizar simplesmente paraeconomizar dinheiro edisseminá-lo entre acionistase diretoria, e que realmente ofazem. Pensar que isso nãoacontece ou não aconteceráseria mais do que ingênuo.Mas as empresas que usam aterceirização principalmentecomo instrumento de redu-ção de custos e não para bus-

13Idem, pp.272-273.14Cfr. Thomas L. Friedman, O Mundo é Plano: Uma Breve História do Século XXI, trad. Cristiana

Serra, S. Duarte, Rio de Janeiro, Objetiva, 2005, pp.15-17.

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car inovação e acelerar o cres-cimento são a minoria, e eunão compraria ações de ne-nhuma delas. As melhorescompanhias estão procuran-do meios de combinar o me-lhor que existe na Índia como melhor que há em Dakotado Norte e o melhor que háem Los Angeles. Nesse senti-do, o termo «terceirização»na verdade deveria ser apo-sentado. O termo adequadoseria «busca de fornecedores»[atente-se a que FRIEDMANestá considerando, em espe-cial, o fenômeno da terceiri-zação material — para o con-ceito, cfr. infra]. Isso é o que omundo plano ao mesmo tem-po permite e exige, e as em-presas que o praticam de ma-neira correta acabam obten-do fatias mais amplas de mer-cado e mais funcionários emtoda parte, e não o oposto”15 .

E arremata:

“[...] Terceirização não é so-mente para os BenedictArnolds. Também servepara os idealistas”16 .

Daí porque dizíamos, supra,da impraticabilidade dos modelosjurídicos de proteção laboral que

colimam debelar ou inviabilizar“tout court” as manifestações con-cretas da desconcentração. Nessalinha, uma luta aguerrida e visceralcontra a terceirização — porque se-ria uma peleja contra adesconcentração — é, para já, umaluta perdida. Melhor será regulá-lae, sem laivos de radicalismos, en-gendrar mecanismos dúcteis o bas-tante para lhe aceder nos contex-tos mais ingentes e então assegurar,a um tempo, a dignidade dos tra-balhadores envolvidos e a plena sa-tisfação dos seus créditos alimenta-res. Toda ductibilidade, porém, su-põe o espaço da retração.

Vejamo-lo.

4 TERCEIRIZAÇÃO MATERIALvs. TERCEIRIZAÇÃO PESSOAL

Convergindo para aquela con-cepção lata de terceirização (item III,supra), merece referência, a esta altu-ra, o escólio de LUIZ CARLOSAMORIM ROBORTELLA, para quem

“a terceirização está consa-grada pelo processo econômi-co, indicando a existência deum terceiro especializadoque, com maior qualidade ouprodutividade, presta servi-ços ou produz bens para aempresa contratante”17.

15Idem, pp.333 e 336 (negritos no original). No Brasil, infelizmente, essas “melhores” geralmentenão são as maiores, nem tampouco as mais numerosas (mesmo porque se deu ênfase desmedi-da às terceirizações de pessoal, com elevada incidência de fraudes). Nem por isso, convirá desco-nhecer a terceirização como um dado socioeconômico tendencial da nossa realidade. Ignorar adireção da corrente não muda o curso dos barcos.

16Idem, ibidem (negritos no original). Trata-se da Regra n. 7 do Programa “Como as Empresas seAjustam” (ao mundo plano); os negritos da nota anterior correspondem à Regra n. 6. A propó-sito, BENEDICT ARNOLD (1741-1801) foi o mais célebre dos traidores da Guerra da Indepen-dência norte-americana a engrossar fileiras britânicas. Em julho de 1780, assumiu o comando doforte americano em West Point (New York) com o objetivo de rendê-lo às forças inglesas, tendosido desmascarado antes de lograr seu intento.

17Luiz Carlos Amorim Robortella, “Terceirização ¾¾ Tendências em Doutrina e Jurisprudência”, inDireito do Trabalho: Estudos em homenagem ao Prof. Luiz de Pinho Pedreira da Silva, Lélia GuimarãesCarvalho Ribeiro, Rodolfo Pamplona Filho (coord.), São Paulo, LTr, 1998, pp.312-320.

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Depreende-se do conceito, naesteira do que apontávamos, duas«espécies» compreendidas no fenô-meno geral da terceirização (o «gê-nero»). Haveremos de designá-las,doravante, pelas expressões «ter-ceirização material» (ou de produ-ção) e «terceirização pessoal» (oude serviços), que já antecipamos emalgumas passagens anteriores.

No primeiro caso (terceiri-zação material), uma determinadafase do processo produtivo é apar-tada da estrutura empresarial eacometida ao terceiro especializa-do, que se limita aexecutá-la, com re-cursos próprios e au-tonomia gerencial,para adiante forne-cer ao contratante oproduto final de suaatividade, que seráincorporado à linhade produção da em-presa-cliente no esta-do em que se apre-senta (i.e., manufatu-rado ou semimanufaturado). Nãohá quaisquer obrigações dos traba-lhadores da empresa fornecedorapara com a empresa-cliente, senãoindiretamente; e, nessa esguelha,confundir-se-ão com as obrigaçõescontratuais da própria empregado-ra (que – na perspectiva comunitá-ria da “Gemeinschaftsverhältnis” ale-mã – comunicam-se sociologicamen-te a todo o grupo de trabalhadores18).Em todo caso, serão sempre obriga-ções de fins, adstritas à entrega do pro-

“No primeiro caso(terceirização material),

uma determinada fase do pro-cesso produtivo é apartada da

estrutura empresarial e acome-tida ao terceiro especializado,

que se limita a executá-la, comrecursos próprios e autonomiagerencial, para adiante forne-cer ao contratante o produto

final de sua atividade, que seráincorporado à linha de produ-ção da empresa-cliente no es-tado em que se apresenta...”

duto com as especificações ajustadas.A subordinação técnico-jurídica damassa trabalhadora cinge-se às ins-tâncias hierárquicas do empregadorformal; logo, não há espaços para in-gerências da empresa-cliente na faseprodutiva que externalizou. Não há,outrossim, necessidade de vínculosou contatos, formais ou informais,entre os empregados da fornecedorae o «staff» da empresa-cliente.

Com a terceirização materialou de produção, as grandes empre-sas descobrem caminhos legais paraalavancar seus processos internos

de «downsizing» (=redução da estrutura organizacional),acompanhando atendência de enxu-gamento estruturalinerente à terceiraonda toffleriana (su-pra, tópico III). Tudoisso sem perda soci-al necessária de pos-tos de trabalho: ainterdependência em-

presarial – oposta à auto-suficiênciaque marcara o modelo fordista –predispõe o trespasse dos postos detrabalho às «empresas orbitais», i.e.,àquelas empresas que se capitali-zam fornecendo produtos manufa-turados e semimanufaturados às li-nhas de produção das empresas-cli-ente. Cumprirá, de resto, asseguraraos empregados das primeiras —quer por lei, por negociação coleti-va ou mesmo por construção judi-cial — certa equivalência com os

18Nesse sentido, confira-se, por todos, Arthur Nikisch, Arbeitsrecht: Allgemeine Lehren undArbeitsvertragsrecht, 3. Aufl., Tübingen, J. C. B. Mohr (Paul Siebeck), 1961, I Band, pp.162 e ss.“Gemeinschaftsverhältnis” significa, em tradução livre, “vínculo comunitário” (tal seria a nature-za da relação sociojurídica instaurada, no contrato de trabalho, entre os empregados e a empresaempregadora).

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padrões salariais e com as condi-ções de trabalho praticadas pelaempresa-cliente, para que não hajadiscrepâncias substanciais de feitioprecarizante.

A esta altura, mercê da expe-riência brasileira recente, dir-se-iaservir tal discurso à justificação dedesmontes estruturais de grandesempresas nacionais, secundando-oscom empresas «de estufa», i.e., em-presas fornecedoras criadas artifici-almente para absorver ex-emprega-dos e inseri-los em uma organizaçãofinanceiramente inidônea (compro-metendo, assim, a satisfação futurados créditos trabalhistas). Isso jáocorreu e poderá, de fato, voltar aocorrer. Mas, nesses casos, há frau-de – e as soluções juslaborais já fo-ram alvitradas supra (tópico II), im-portando em constrangimento dire-to das “empresas-clientes”, sem pre-juízo das responsabilidades crimi-nais e administrativas que tais es-quemas amiúde atraem.

Impende admitir, porém, queos processos de «downsizing» e asexternalizações de etapas produti-vas não serão sempre, ou necessari-amente, expedientes fraudulentos.Tornando às lições de ROBOR-TELLA, é da natureza mesma dasterceirizações provocar

“um desmonte da estruturaorganizacional clássica, queconcebia a empresa como

19Robortella, op.cit., p.313.20Dispõe o artigo 4º da Convenção n. 158/OIT (que o Brasil ratificou no plano internacional,

aprovou pelo Decreto Legislativo n. 68/92, promulgou pelo Decreto n. 1855/96 e depois denun-ciou pelo Decreto 2.100/96...): “Não se dará término à relação de trabalho de um trabalhador a menosque exista para isso uma causa justificada relacionada com sua capacidade ou seu comportamento oubaseada nas necessidades de funcionamento da empresa, estabelecimento ou serviço” (g.n.).

uma entidade auto-suficiente,autárquica, que se responsa-bilizava por todas, ou quasetodas, as fases do processoprodutivo”19.

Ora, se contextualmente nãose verificam fraudes nem se recor-re a empresas de estufa, essa mo-dalidade de terceirização – a ditamaterial – não padece de qualquerilegalidade (sobre atender, inclusi-ve, ao quanto dispõe o artigo 170,IV, da CRFB). Não há, outrossim,mera delegação de atividades paraos efeitos do artigo 932, III, do NCC,já que a empresa fornecedora gozade plena autonomia gerencial e fi-nanceira. Logo, não se justifica cri-ar um gravame patrimonial à em-presa-cliente, sequer em carátersubsidiário, apenas e tão somentepelo fato de a empresa reduzir assuas dimensões estruturais (acom-panhando uma tendência que –viu-se – alça foros de universalida-de). E nem mesmo se poderia instá-la a manter empregos, porquanto ca-rente de regulamentação a garantiainsculpida no artigo 7º, I, da CRFB.Isso é tanto mais verdadeiro quandoa redução de quadros torna-se umimperativo econômico-financeiro desubsistência corporativa (porque,nesses casos, sequer se trata de dis-pensa arbitrária, mesmo na acepçãoperfilhada pela malsinada Conven-ção n. 158 da Organização Interna-cional do Trabalho20).

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Já não é assim no segundocaso – o da chamada terceirizaçãopessoal. Nessa hipótese, terceiri-zam-se serviços pessoais indisso-ciáveis da unidade produtiva (que, porisso, tem de ser prestados nas pró-prias dependências da empresa-cli-ente, sob subordinação ou coorde-nação de seus prepostos). Já porisso, tais serviços não admitemterceirização material útil. Pense-se,por exemplo, na indústria mon-tadora automotiva. À luz dos maiscomezinhos princípios de gerencia-mento racional e responsável, a uni-dade produtiva nãopoderia acometer aterceiros a própriamontagem dos veí-culos, a sua pinturaou a aferição de con-formidades; se o faz,compromete a inte-gridade e/ou a segu-rança do produto fi-nal, aliena-se de fa-ses fundamentais doprocesso produtivo e,não bastasse, incorreem fraude (tópico II, supra), que tan-to pode ser perpetrada mediantedeslocamento geográfico (simulan-do terceirização material), comopode ser deflagrada na própria plan-ta da empresa tomadora (tercei-rização «intra muros» de atividades-fim, ressalvadas as hipóteses da Lein. 6.019/74). Tampouco a unidadepoderia acometer a terceiros, comdeslocamento geográfico, tarefasque, sobre serem secundárias, devemser desempenhadas nas suas depen-dências (limpeza, segurança, forne-cimento de alimentação, etc.).

Em todas essas situações, re-corre-se à figura da terceirizaçãopessoal ou de serviços, que de-manda essencialmente a inserçãode pessoal alienígena na estruturaorganizacional da empresa-cliente,sob recrutamento e subordinaçãoda empresa contratada. A empre-sa-cliente limita-se a coordenar osserviços, nos limites do seu interes-se gerencial (horários e locais delimpeza ou de transporte, postos devigilância, qualidade e composiçãodas refeições, etc.). Quando, porém,a terceirização pessoal alcança ati-

vidades-fim, os esco-pos de produtivida-de e qualidade daempresa-cliente im-põem, invariavel-mente, a criação devínculos formais ouinformais de subor-dinação entre os tra-balhadores da em-presa contratada eos prepostos da em-presa-cliente, res-ponsáveis pelo volu-

me e excelência da produção; daíporque, na esteira da Súmula n. 331,I, do TST, impõe-se o reconhecimen-to de liame empregatício diretamen-te com a empresa tomadora: a su-bordinação instaurada atrai a nor-ma do artigo 3º, caput, da CLT edesnatura a terceirização clássica.

Por força do conteúdo ético mí-nimo imanente a todo trabalho hu-mano (derivação do princípio da dig-nidade da pessoa humana – artigo 3o,III, da CRFB), e à vista da naturezapessoal e indissociável dos serviços emtestilha21 , a terceirização pessoal so-

“Já não é assim no segundocaso – o da chamada

terceirização pessoal. Nes-sa hipótese, terceirizam-se

serviços pessoaisindissociáveis da unidade pro-dutiva (que, por isso, tem deser prestados nas própriasdependências da empresa-

cliente, sob subordinação oucoordenação de seus

prepostos).”

21Diga-se, por oportuno, que esse caráter pessoal não induz, nem pode induzir, à pessoalidade estritado artigo 3º, caput, da CLT (que impediria, p. ex., a substituição de trabalhadores sem oconhecimento e/ou a autorização estrita da empresa-cliente). «Natureza pessoal», aqui, significaque a prestação de serviços pressupõe a presença física das pessoas nas dependências da empresa-

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freu, no evolver do Direito do Tra-balho, inúmeras limitações de or-dem formal e material, todas volta-das à erradicação da nefasta figu-ra do “marchandage” (mercancia detrabalho humano). Assim se expli-cam e justificam, a toda prova, oscuidados da Súmula 331/TST notrato hermenêutico da matéria (in-clusive quanto à responsabilidadesubsidiária reconhecida no item IV).

A aquisição dos conceitos aci-ma permite identificar, como mo-dalidades de terceirização material,tanto os contratos de fornecimento in-dustrial quanto ospróprios contratosde franquia (ou« f r a n c h i s i n g » ) 2 2 .Nem por isso, cogi-tar-se-á, em situa-ções normais, de re-conhecer a formaçãode liame empre-gatício entre o em-pregado da franquiae o franqueador (e.g.,entre o empregadode uma pequena lanchonete no in-terior de São Paulo e a rede norte-americana de «fast-food» ou a suamatriz brasileira que, a bem dizer,não fez mais que emprestar à lan-

chonete, mediante contrato, onome do estabelecimento, a técni-ca de produção e vendagem – o«know-how » – e a marca registra-da das iguarias).

Nessa ordem de idéias, aterceirização, que é, em si mesma,um valor positivo da nova econo-mia23 , tende a margear o«marchandage» sobretudo em suasegunda modalidade (terceirizaçãopessoal), à mercê da inserçãocorporativa dos “terceirizados” –que, desde a teoria da inserção deMOLITUR, é indiciária de subordi-

nação – e do seu con-tato pessoal e perma-nente com os quadrosfuncionais da empre-sa-cliente. Já entre oscasos de terceirizaçãomaterial, as fraudes –conquanto existam(e, uma vez articula-das, trazem dificul-dades ainda maioresao juiz, tanto naidentificação quanto

no desbaratamento24 ) – são me noscomuns. Conseqüentemente, serveespecialmente à terceirização pesso-al a advertência de ROBORTELLA,no sentido de que

cliente. Caso se identifiquem, em contextos de terceirização, vínculos de pessoalidade estritacom a empresa tomadora, conformar-se-á com ela o vínculo empregatício, por aplicação dosartigos 3º e 9º da CLT e interpretação “a contrario” da Súmula 331, III, “in fine”, do C.TST. É —outra vez — o que se verifica, amiúde, nas terceirizações de atividades-fim. Para a distinçãoentre a pessoalidade estrita do artigo 3º/CLT e a pessoalidade mínima que caracteriza osserviços delegados em terceirizações pessoais e a própria «relação de trabalho» (não-subordina-do) sujeita à competência da Justiça do Trabalho (artigo 114, I, da CRFB, na redação da EC n.45/2004), veja-se, de nossa lavra, “Justiça do Trabalho: nada mais, nada menos”, in Justiça doTrabalho: Competência Ampliada, Grijalbo Fernandes Coutinho, Marcos Neves Fava (coord.), SãoPaulo, LTr Editora, 2005, pp. 116-147.

22Sobre a definição do «franchising» como modalidade de terceirização, cfr., por todos, Robortella,op.cit., pp.313-314.

23Conforme a notícia de ROBORTELLA, “a terceirização constitui um dos dados essenciais da modernaorganização empresarial, estando já difundida em todo o mundo. Desde 1994, pelo menos, se realizam naEuropa feiras de subcontratação; na França, diz-se que o mercado da subcontratação atingiu, em 1993, 45bilhões de dólares; no continente europeu, 260 bilhões de dólares (Gazeta Mercantil de 9.11.94)” (op.cit.,p.314).

24Vide, supra, nota n. 3 (parte final).

“A aquisição dos conceitosacima permite identificar,

como modalidades deterceirização material, tantoos contratos de fornecimentoindustrial quanto os próprios

contratos de franquia (ou«franchising»). Nem por isso,

cogitar-se-á, em situaçõesnormais, de reconhecer a for-mação de liame empregatícioentre o empregado da fran-

quia e o franqueador”

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25Op.cit., p.315 (g.n.).26Valentim Carrion, Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, 21a ed., São Paulo, Saraiva, 1996

(agosto), pp.293-294 (g.n.).27No caso da locação ou cessão de estabelecimento, todavia, pode-se — e deve-se — discutir a respon-

sabilidade da empresa locadora/cedente em contextos de sucessão empresarial (artigo 2º, §2º,da CLT). Entendo, e tenho decidido, que “a responsabilidade do sucessor não exclui a responsa-bilidade do sucedido. Com efeito, não se dá, com a sucessão, a exoneração do sucedido. Firma-se, antes,a solidariedade passiva entre sucedido e sucessor, quanto a todos os créditos trabalhistas havidos em facedo primeiro. Outro entendimento importaria em exegese «in pejus» de norma legal tuitiva, contra amelhor hermenêutica («odiosa restringenda, favorabilia amplianda»). Não por outra razão, «mutatismutandi» (com relação à Rede Ferroviária Federal S/A), o Pleno do C.TST pacificou que a sucedida(RFFSA) responde subsidiariamente pelos direitos trabalhistas referentes a contratos rescindidos após ocontrato de concessão, além de responder integralmente pelos contratos de trabalho rescindidos antes daentrada em vigor da concessão (e apesar dela) [O.J. n. 225 da SDI-1/TST, na redação de 18.04.2002,anterior à atual, de 20.04.2005]. Não cabe dizer, aqui, que a solidariedade “decorre da lei ou da vontadedas partes”, porque o enfoque há de ser outro: não há, na legislação trabalhista, qualquer cláusula deexoneração do devedor originário (sucedido) – logo, sua responsabilidade (principal) remanesce incó-lume, convivendo com outra responsabilidade principal, dada pela lei (artigos 10 e 448 da CLT).Concomitantes duas responsabilidades principais concentradas em dois sujeitos distintos (Schuld comum,Haftung desdobrado), não há outro instituto se não a solidariedade passiva” (excerto da sentençaprolatada, em 30.09.2003, nos autos do processo n. 943/2002-4 da 3ª Vara do Trabalho deCampinas; negritos no original). Em sentido semelhante, confira-se, ainda, o magistério deEDILTON MEIRELLES: “A sucessão trabalhista não isenta a empresa sucedida pelos débitos constitu-ídos até a data do trespasse se o empregado não concorda com a cessão do débito (...) O sucedido continuariaresponsável pela satisfação de seus débitos, constituídos até a data da sucessão, já que a cessão de seu débitonão surte efeito em relação ao empregado, enquanto que a empresa sucessora, com o trespasse, assumiriatambém a posição de devedora (...) Nestes casos (...) surgiria a responsabilidade solidária por parte daempresa sucessora na hipótese desta assumir a dívida através da negociação mantida com o sucedido”(Edilton Meireles, “Sucessão trabalhista e assunção de dívida: da solidariedade empresarial”, in RevistaLTr, São Paulo, v.60, n.5, p.621, 05/1996 — g.n.).

“a terceirização (...) traz umdilema para o Direito do Tra-balho (...) onde nem sempreé fácil distingui-la da fraudu-lenta intermediação de mão-de-obra”25.

Imbuído da mesma preocu-pação, o saudoso VALENTIMCARRION outrora obtemperouque, conquanto distintos os concei-tos de subempreitada, locação demão-de-obra e terceirização, nãoraro

“se entrelaçam em suamaterialização concreta. (...)A terceirização é o ato peloqual a empresa produtora,mediante contrato, entrega aoutra empresa certa tarefa(atividades ou serviços nãoincluídos nos seus fins sociais)para que esta a realize habi-tualmente com empregadosdesta; transporte, limpeza e

restaurante são exemplos tí-picos”26.

Desse escólio, depreende-seque o interesse do Direito do Traba-lho na terceirização repousa sobrea inserção corporativa habitual dosempregados “terceirizados” na em-presa-cliente. Daí se inferir, nova-mente, que ao Direito do Trabalho in-teressa, aprioristicamente, aterceirização pessoal ou de serviços.Não lhe cabe, em princípio, imiscuir-se na discussão clausular dos con-tratos que engendram terceirizaçãomaterial («franchising», forneci-mento industrial, locação de esta-belecimento27, etc.). O conteúdodesses contratos interessa sobrema-neira à Ciência da Administração,ao Direito de Empresas (ou,mantida a dicotomia alemã, ao Di-reito Comercial) e eventualmenteao Direito Econômico. Ao Direitodo Trabalho, porém, interessará

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apenas «si et quando» houver frau-de (na celebração ou na execução).

Donde se concluir que a in-teligência da Súmula n. 331, IV, doTST atém-se à hipótese de terceiri-zação de serviços, única a admitira figura do “tomador de serviços”.Na terceirização material, tomam-sebens manufaturados ou semimanu-faturados; não se tomam, jamais,«serviços». Caso, porém, a empre-sa fornecedora (ou o “franchesee”,o locatário/cessionário, etc.) nãotenha autonomia gerencial; casoseja, antes, «testa deferro» da empresa-cliente, que continuagerindo o negócio esubordinando os tra-balhadores, haveráfraude, com todos osefeitos narrados su-pra (tópico II). Veja-se, porém, que a in-teligência a se apro-veitar da Súmula n.331, sob tais circuns-tâncias, é a do item I,não a do item IV.

5 UM CASO PARTICULAR:CONTRATOS DE FORNECI-MENTO DE SUCATA

Na indústria metalúrgica – emuito especialmente na indústriaautomotiva –, são recorrentes oscontratos de compra e venda de suca-ta ferrosa, que podem ou não pos-suir uma cláusula de fornecimento desucata prensada em favor do vende-

dor (e, nesse caso, o vendedor ge-ralmente será a própria unidademontadora automotiva). Em rela-ção à empresa que recebe a sucataprensada, o contrato perfaz moda-lidade de terceirização material. Àvista do que se discutiu no tópicoanterior, pode-se desde logo afirmarque não é essa a terceirização a quese reporta a Súmula 331, IV, doC.TST; tampouco há respaldo legalpara o reconhecimento da respon-sabilidade subsidiária do vendedorque readquire sucata prensada, seo comprador-fornecedor possui au-

tonomia gerencial erelações comerciaiscom terceiros (assim,e.g., quando vendesucata prensada aoutras montadoras,à indústria siderúrgi-ca ou à construçãocivil). Como se sabe,a responsabilidade sub-sidiária nada mais éque uma espécie deresponsabilidade soli-dária abrandada

pelo benefício de ordem28. Tal res-ponsabilidade impõe-se ao tomadorde serviços quando a empresaprestadora de serviços funcionacomo comitida (artigo 932, III, doNCC), oportunizando-se, da parteda empresa-cliente (comitente), a“culpa in vigilando”, a “culpa ineligendo” e/ou a “culpa inomittendo”29. Não será o caso, po-rém, se o comprador-fornecedor de-senvolve atividade econômica espon-

“Na indústria metalúrgica –e muito especialmente naindústria automotiva –,

são recorrentes os contra-tos de compra e venda desucata ferrosa, que podemou não possuir uma cláu-sula de fornecimento de

sucata prensada em favordo vendedor...”

28Nesse sentido, cfr., recentemente, o Ac. TRT 9ª Reg. RO n. 00467-2005-671-09-00-0, 2ª T. (n.30749/06), rel. Juíza MARLENE T. FUVERKI SUGUIMATSU, in DJPR 27.10.2006, p.690.

29A subsidiariedade, “in casu”, decorreu historicamente da aplicação analógica do artigo 455, caput,da CLT (subempreitada) às hipóteses de terceirização pessoal. Nesse sentido, confira-se, por todos,Francisco Antonio de Oliveira, Comentários aos Enunciados do TST, 4a ed., São Paulo, Revista dosTribunais, 1997, pp.814-815.

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tânea e independente30, assumindoapenas obrigações de fim (e.g., forne-cer sucata prensada), não obrigaçõesde meio.

Com efeito, se a empresa desucata assume todos os custos daprensa e do fornecimento da suca-ta semimanufaturada, sua ativida-de econômica pressupõe umgerenciamento autônomo. Seus tra-balhadores terão de realizar ativi-dades laborais nas dependências daunidade vendedora, já que a res-ponsabilidade pela coleta da suca-ta ferrosa é do comprador; mas,nem por isso, dir-se-á que prestamserviços àquela unidade. Tampoucohá, nessa etapa, terceirização pes-soal. Em típicos contratos deterceirização pessoal, a empresa-cliente (“in casu”, a unidademontadora) remunera a empresaprestadora de serviços pela realiza-ção de serviços pessoais indisso-ciáveis da unidade produtiva (su-pra, item IV); já nos contratos decompra e venda de sucata ferrosacom cláusula de fornecimento desucata prensada, é o comprador-for-necedor quem remunera a unidademontadora, pagando-lhe pela suca-ta coletada e compensando paga-mentos conforme lhe forneça a su-cata prensada. Ademais, quando ofornecimento efetivamente se con-suma (porque a cláusula cria, paraquem vende a sucata bruta, uma fa-culdade e não uma obrigação), aunidade montadora limita-se a in-corporar, às suas linhas de produ-ção, bens semimanufaturados produ-

30O que é perfeitamente possível, mesmo em se tratando de «empresas orbitais» (supra, tópico IV).Do contrário, todo o modelo de produção toyotista — baseado em produções pequenas, esto-que zero e conglomerados produtivos de unidades complementares (supra, nota n. 11) — seriauma imensa fraude.

31Cfr., por todos, Sílvio de Salvo Venosa, Direito Civil, 6ª ed., São Paulo, Atlas, 2006, v. 2, p.390.Diz-se “todas”, porque também são sinalagmáticos, em maioria, os contratos multilaterais (i.e.,com três ou mais partes), como é o de sociedade.

zidos por terceiro, mediante a res-pectiva compensação financeira.Perfaz-se, aí, modalidade deterceirização material (não de servi-ços), que – ressalvados os contex-tos de fraude – tampouco enseja res-ponsabilidade patrimonial subsidi-ária da unidade. É certo que umafase do processo produtivo (a doprensamento de sucata ferrosa bru-ta) estará sendo acometida à em-presa compradora-fornecedora;mas seus empregados não integrama organização básica da unidadeprodutiva (conquanto devam ocu-par algum espaço físico para fins decoleta) e não se promiscuem comas redes hierárquicas da empresa-anfitriã.

Nos contratos sinalagmáticos,há sempre dependência recíprocade obrigações, com atribuiçõesprestacionais a todas as partes31. Étambém o que se verifica nos con-tratos de terceirização. O tomador deserviços, na terceirização pessoal, équem paga o preço (daí se falar, nasfraudes, em «marchandage» de for-ça de trabalho). Já nos contratos decompra e venda de sucata brutacom cláusula de fornecimento desucata prensada, o preço (da suca-ta) é pago pelo comprador-forne-cedor, ao valor de mercado, com re-ajustes periódicos de mercado. Emsendo assim, não há mascaramentode remuneração indireta de servi-ços. Esclarece-se, ademais, o eixo deinteresses e o sinalagma próprio des-sa relação contratual (o que sinali-za para a sua função social – artigo

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421 do NCC): à empresa de sucatainteressa comprar (para processar erevender), conquanto assuma com-promisso anexo de fornecer sucataprensada, segundo as necessidadesdo vendedor; e à unidade automo-tiva interessa vender, beneficiando-se, em paralelo, com o fornecimen-to de sucata semimanufaturada emcondições mais vantajosas. Essa é –deve ser – a causa objetiva do negó-cio jurídico; e não, à evidência, asubcontratação de mão-de-obra. Acoleta de sucata bruta não pode serconsiderada propriamente um “ser-viço” prestado à uni-dade produtiva (em-bora, de fato, possalhe interessar doponto de vistagerencial); do con-trário, ter-se-ia deafirmar, sobre a eli-minação mesma dedespojos e rejeitos in-dustriais, tratar-se deuma atividade-meio,atrelada à consecu-ção de sua finalida-de social (resultando disso uma in-sólita responsabilidade subsidiáriadas unidades produtivas pelos cré-ditos trabalhistas de lixeiros e cole-tores públicos, por exemplo...).Despojamentos e dejeções não con-figuram atividades econômicas típi-cas; atipicamente, a atividade decoleta de rejeitos pode, sim, impli-car em responsabilidade trabalhis-ta subsidiária de quem a contrata,desde que o contrato tenha por ob-jeto principal o serviço e não o pró-prio rejeito (que, do contrário, dei-xa de ser “lixo” e passa a figurar

como mercadoria – «pretium» vs.«merx»).

Desfechando o raciocínio, re-leva evocar o magistério de PEDROVIDAL NETO, para quem a figurada terceirização, encontradiça tan-to na produção de componentes doproduto final (modalidade que, nes-te texto, designei por terceirizaçãomaterial) como na execução de ser-viços (o que aqui designei porterceirização pessoal), somente se ca-racteriza

quando inserida como etaparegular no processode produção de umaempresa, poupan-do-a de obtê-los coma utilização de seuspróprios equipamen-tos e de seu própriopessoal32.

Como antesasseverado, a elimi-nação de rejeitos nãoé atividade econômi-ca típica e, por não

ser, não integra, como etapa regu-lar, o processo de produção propria-mente dito. Antes, é dele uma con-seqüência indesejável. Mal compa-rando, é como a função biológicaexcretora: ela não “integra” a ati-vidade energética dos organismos,conquanto seja uma “conseqüên-cia” da função digestiva. No casoda coleta de lixo ou rejeitos, dir-se-á que houve comissão de serviços(para os efeitos do artigo 932, III,do NCC, e a conseqüente inteligên-cia da Súmula n. 331, IV, do TST)apenas quando a unidade produ-

“A marcha da grande empre-sa rumo aos mecanismos de

desconcentração e«downsizing» – entre osquais, por excelência, aterceirização (material epessoal) – é uma marcha

indelével e implacável. Tra-duz, a um tempo, o espírito“desencarcerador” da tercei-

ra onda (TOFFLER) e acoadjuvação universal do

mundo plano (FRIEDMAN).”

32Pedro Vidal Neto, “A terceirização perante o Direito do Trabalho”, in Direito e Processo do Trabalho,Estevão Mallet, Luiz Carlos Amorim Robortella (coord.), São Paulo, LTr, 1996, pp.91-92 (g.n.).

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tora dos rejeitos contrata uma em-presa para o seu específicodespojamento, sem o qual a ativi-dade econômica final sofreria sen-síveis prejuízos. Nos contratos decompra e venda de sucata ferrosa(com ou sem cláusula de forneci-mento), não parece ser esse o caso.

Pode, contudo, dar-se a frau-de em tais contratos?

Evidentemente que sim. Ha-verá fraude quando os trabalhado-res da empresa de sucata inserirem-se na organização da empresa“vendedora”, subordinando-se –direta ou indiretamente, formal ouinformalmente – aos prepostos des-sa última. Haverá fraude, quandoo “pagamento” da sucata não ob-servar os preços de mercado ou osreajustes do segmento, mas evoluirconforme o número de trabalhado-res designados para a coleta(mascaramento de paga à cessão demão-de-obra). Haverá fraude, en-fim, quando o pagamento do pre-ço da sucata for um pagamento“virtual”: na prática contábil – aser, de regra, transparecida em sedede prova pericial –, somente o“comprador-fornecedor” recebeentradas em dinheiro ou equivalen-te, ao argumento de que o valor defornecimento de sucata prensadasupera, sistematicamente, o preçode venda da sucata bruta (e, nessecaso, cumprirá investigar se a simu-lação acoberta apenas umaterceirização material ou se masca-ra, mesmo, uma terceirização pes-soal de coleta de despojos). Em to-das essas hipóteses – exceto, na úl-tima, se houver mera terceirizaçãomaterial –, a empresa-cliente (que,no contrato, figura como “vende-dora”) deve responder pelos crédi-

tos trabalhistas dos empregados da“compradora”, seja como real em-pregadora (na contingência dobinômio subordinação jurídica/pessoalidade estrita, ut artigo 3º/CLT), seja como devedora solidá-ria (artigo 942/NCC). Dá-se, poressa via, concreção justa e oportu-na ao princípio da primazia da re-alidade.

6 CONCLUSÕES

A marcha da grande empre-sa rumo aos mecanismos dedesconcentração e «downsizing» –entre os quais, por excelência, aterceirização (material e pessoal) –é uma marcha indelével e implacá-vel. Traduz, a um tempo, o espírito“desencarcerador” da terceira on-da (TOFFLER) e a coadjuvaçãouniversal do mundo plano(FRIEDMAN).

Nesse encalço, pode-seantever o incremento do volume decontratos de fornecimento industri-al que, na prática, desopilam a ati-vidade produtiva, “destacando”certas fases do processo de produ-ção (externalizações). Quando nãomascaram típicas relações de em-prego com a empresa-cliente, taiscontratos são lídimos e não desafi-am a inteligência da Súmula 331,IV, do C.TST, porque não há, a ri-gor, «prestação de serviços», masfornecimento de bens que se inte-gram à linha de produção no esta-do em que se encontram.

Em casos mais complexos, aspartes contratantes podem alternarposições. Assim é, p.ex., com os con-tratos de compra e venda de suca-ta ferrosa bruta com cláusula de for-necimento de sucata semima-nufaturada: o comprador, a certa

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altura ou sob certas condições, fazas vezes de fornecedor, enquanto ovendedor faz as vezes de cliente outomador. Tais hipóteses demandamespecial atenção, uma vez que, emtais esquemas, as fraudes – quandoexistem – são mais sofisticadas e de-mandam, de regra, maior energia naatividade processual probatória. Oscontratos industriais atípicos, quan-do mascaram relações de empregoou mesmo terceirizações pessoais deatividades-meio, encaminham frau-des e reclamam tratamento judicialpedagógico, à maneira da exegesevazada no item I da Súmula 331 doC.TST (formação direta de vínculoempregatício com a empresa-clien-te e/ou responsabilidade solidária).Há que ver, todavia, que nem sem-pre a complexidade traz consigo oardil ou a intenção de logro.

A temperança é, sempre,uma virtude. A saudável malhahermenêutica de proteção que aJustiça do Trabalho içou em derre-dor dos contratos de emprego, apartir de um arcabouço legislativoigualmente tuitivo, não podeinfinitizar irrefletidamente os elosde responsabilidade, ignorando astendências da sociedade pós-indus-trial e elegendo “pagadores” à mar-gem dos princípios e das regras queconferem racionalidade ao Direitoobjetivo.

Nessa epopéia, sejamos Teseu— e não Ícaro.

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Ronaldo Lima dos Santos*

ANÁLISE DA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIALNº 130 DA SDI-II DO TST

A COMPETÊNCIA TERRRITORIAL DAS AÇÕESCOLETIVAS TRABALHISTAS

Resumo: No âmbito das ações coletivas, ultrapassada a discussão dacompetência material, em virtude da novidade da matéria e da integraçãodas normas dos artigos 2º da Lei nº 7.347/85 e nº 8.078/90 (que for-mam o microssistema das ações coletivas), surgiram diversas interpre-tações doutrinárias e jurisprudenciais sobre o foro competente paraessas demandas. No âmbito do Judiciário Trabalhista o Tribunal Supe-rior do Trabalho editou a Orientação Jurisprudencial nº 130 da SDI-II,cujo conteúdo, em princípio, encontra-se em dissonância com a moder-na processualística das ações coletivas e com os princípios do proces-so do trabalho, sendo a sua análise minuciosa, em cotejo com as de-mais posições jurisprudenciais e doutrinárias do processo civil e doprocesso do trabalho, imprescindível para definir-se os rumos das li-des coletivas na Justiça do Trabalho.

Palavras-chave: processo do trabalho. Ações coletivas. Ação civil pú-blica. Competência territorial. OJ 130 da SDI-II.

Sumário: 1 A evolução da competência para as lides coletivas tra-balhistas. 2 Aplicação analógica de competência absoluta. 3 Aplica-ção analógica de competência quando a lei específica contém preceitoexpresso sobre o tema. 4 Aplicação do artigo 93 do CDC às ações civispúblicas 5 A competência territorial da ação civil pública no entendi-mento do TST e da doutrina e jurisprudência 6 Incompatibilidade daOJ-130 com o fundamento das ações coletivas e do processo do traba-lho. 7 A OJ-130 e o artigo 16 da Lei da Ação Civil Pública. 8 A soluçãopelo processo do trabalho e a experiência das ações de cumpri-mento. 9 Conclusões. 10 Bibliografia.

*Procurador do Trabalho da PRT/2ª Região. Mestre e Doutor em Direito do Trabalho pela Facul-dade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Professor de Direito do Trabalho da UNESP– Universidade Estadual Paulista.

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1 A EVOLUÇÃO COMPETÊN-CIA PARA AS LIDES COLETI-VAS TRABALHISTAS

Conforme afirmamos em ou-tra oportunidade, ultrapassado oprimeiro momento de discussãodoutrinária sobre o cabimento dasações coletivas na Justiça do Tra-balho, e também em relação ao in-cremento da denominada jurisdi-ção coletiva nesta Justiça especi-alizada, cuja configuração deli-neou-se com a conjugação dos pre-ceitos do Código de Defesa do Con-sumidor (Lei nº 8.078/90) e da Leida Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), passou a doutrina processualtrabalhista a debruçar-se sobre osdenominados pontos sensíveis dasações coletivas1, entre os quais sedestaca a questão da competênciaterritorial para essas demandas.

Em relação à competênciapara julgamento das ações coleti-vas na Justiça do Trabalho, convémlembrar que a primeira questão ver-sou sobre a competência material,em face da inexistência de previsãoespecífica na legislação trabalhistasobre o cabimento da ação civil pú-blica na Justiça do Trabalho.

Após diversas discussões ju-diciais e doutrinárias e, tendo emvista reiterados pronunciamentosdo Supremo Tribunal Federal e dosTribunais Trabalhistas, bem comoo advento da Lei Complementar nº75/93, que, em seu artigo 83 pre-viu a atribuição do Ministério Pú-blico do Trabalho para apropositura de “ação civil pública noâmbito da Justiça do Trabalho, para a

defesa de interesses coletivos, quandodesrespeitados os direitos sociais cons-titucionalmente garantidos”, consoli-dou-se o entendimento favorável àcompetência da Justiça do Traba-lho para as ações civis públicas emque a causa de pedir e o pedido de-lineiam-se a partir de conflitos de-correntes das relações de trabalho,no esteio do artigo 114 da Consti-tuição Federal de 1988. Essa com-petência foi corroborada pelo Ad-vento da Emenda Constitucional nº45/2004, que ampliou a competên-cia da Justiça do Trabalho.

Determinada a jurisdiçãocompetente, a questão recaiu sobrea definição da competência funci-onal para o julgamento da ação ci-vil pública. Essa competência é ex-traída do artigo 2º da Lei nº 7.347/85, que dispõe: “As ações previstasnesta Lei serão propostas no foro dolocal onde ocorrer o dano, cujo juízoterá competência funcional para pro-cessar e julgar a causa.”

No início das discussões a res-peito da competência funcionalpara apreciação da ação civil pú-blica no Judiciário Trabalhista, de-terminada corrente doutrinária, as-semelhando a defesa dos interessestransindividuais em ação civil pú-blica com a tutela de direitos coleti-vos em dissídio coletivo, pregava acompetência originária dos Tribu-nais Regionais do Trabalho ou doTribunal Superior do Trabalho, con-forme a abrangência do litígio, paraa apreciação das ações civis públi-cas, como se o provimento juris-dicional da ação civil pública se co-

1Santos, Ronaldo Lima dos. Legitimidade do Ministério Público do Trabalho para a tutela dosdireitos individuais homogêneos. In: 44º Congresso Brasileiro de Direito do Trabalho, Jornal doCongresso, São Paulo: LTr, 2004, p. 103.

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adunasse com o exercício do podernormativo pelos tribunais.

Embora tanto o dissídio cole-tivo quanto a ação civil pública se-jam instrumentos processuaisvocacionados à tutela de interessestransindividuais, eles não possuemidentidade de finalidades e nem deprocedimento. O dissídio coletivoobjetiva a defesa de interesse cole-tivo da categoria, por meio da cria-ção de normas e condições de tra-balho ou interpretação de instru-mento normativo da categoria, aopasso que a ação civil pública tempor escopo a reparação do interes-se metaindividual violado. Odissídio coletivo visa à criação danorma jurídica a ser aplicada nocaso concreto, enquanto pela açãocivil pública busca-se a aplicação dedireito preexistente.

O primeiro termina com oproferimento de um provimentojurisdicional de naturezaconstitutiva ou declaratória ao pas-so que a segunda caracteriza-se,predominantemente, por sua natu-reza condenatória.

O divisor de águas foi a deci-são proferida pelo Tribunal Supe-rior do Trabalho em favor da com-petência das Varas do Trabalho, naação civil pública promovida peloMinistério Público do Trabalho emface da Caixa Econômica Federal,buscando obstar a contratação ir-regular de Estagiários para substi-tuição de mão-de-obra permanen-te2.

Após reiteradas decisões dosTribunais Trabalhistas, a matéria sepacificou em torno da competência

2AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ESTAGIÁRIOS. DESVIO DE FINALIDADE. A ação civil pública é denatureza ordinária e individual, pois envolve a aplicação da legislação existente, o que implica dizer que,como qualquer Ação Ordinária, o órgão competente para apreciá-la originariamente é, em virtude do critérioda hierarquia, a Junta de Conciliação e Julgamento. Não pode ser invocado, como causa de modificação dacompetência o fato de a Ação ter sido ajuizada contra empresa de âmbito nacional ou a circunstância de oinquérito civil público ter sido instaurado a pedido de federação de âmbito nacional, abrangendo atividadese relações desenvolvidas nas circunscrições dos vinte e quatro Tribunais Regionais do Trabalho, haja vistaque o objetivo da presente Ação é a estipulação de uma obrigação de não fazer a ser imposta à DivisãoAdministrativa da CEF, que tem por sede a cidade de Brasília. Nesse sentido tem-se que a causa de pedirdireta é a orientação administrativa da CEF de utilizar o estagiário como mão-de-obra substitutiva dosempregados regulares. Destarte, a regra de competência hierárquica a ser observada por analogia não está noâmbito da competência específica da Justiça do Trabalho, em especial a estabelecida no art. 2º, I, a, da Lei nº7.701 de 21/12/88, senão que está no art. 93 da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor, quedeclara, ressalvando a competência da Justiça Federal, competir à Justiça local do foro do lugar da ocorrênciado dano, quando de âmbito local, e, no foro da capital do Estado ou no do Distrito Federal para os danos deâmbito regional ou nacional). Parecem decisivas mais duas circunstâncias: primeira, o ato contra o qual sedirige a Ação Civil Pública não foi praticado pelas Superintendências Regionais da Caixa, senão pela suadivisão Administrativa Nacional, com sede nesta Capital Federal. Assim, o comando sentencioso queporventura for emitido atingirá o próprio ato originário das supostas lesões à ordem jurídica laboral e aosinteresses coletivos dos estagiários, e difusos daqueles que, integrantes da sociedade, são candidatos aospostos efetivos ora ocupados pelos estagiários. Segunda, é de extrema inconveniência que o primeiro grau dejurisdição seja o órgão de cúpula do Tribunal Superior do Trabalho, retirando das partes as oportunidadesrecursais, com o sacrifício, inclusive, do princípio do duplo grau de jurisdição. Deve-se realçar, finalmente,que a competência do TST em matéria de dissídios coletivos resultou de imperativos lógicos e materiais denatureza diversa. Com efeito, não se poderia atribuir a qualquer Tribunal Regional do País o julgamento dedissídios coletivos cuja abrangência fosse superior à jurisdição territorial do TRT, sob pena de não-abrangência,por inteiro, da lide coletiva. Ação Civil Pública em que se declara a incompetência do Tribunal Superior doTrabalho para apreciar o feito.” (Ac un da SBDI2/TST nº 881/96- Proc. TST- ACP-154.931/94.8 -Rel. Min. Ronaldo Leal, j. 24.09.96 - Autor: Ministério Público do Trabalho; Ré: Caixa EconômicaFederal - DJU 1, de 29.11.96, p. 47434)

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funcional das varas do trabalhopara a apreciação das ações civispúblicas propostas perante o Judi-ciário Trabalhista, independente-mente da extensão do dano ou daabrangência subjetiva da demanda.

Atualmente, a temática dacompetência em sede ação civilpública gira em torno de seu tercei-ro aspecto, o da determinação dacompetência territorial para o jul-gamento dessas ações. Sobre aquestão, foi editada a OrientaçãoJurisprudencial nº 130 da SDI-II doTST, in verbis:

“Ação civil pública. Competên-cia territorial. Extensão do danocausado ou a ser reparado.Aplicação analógica do art. 93do código de defesa do consu-midor. DJ 04.05.2004 - Pará-grafo único do artigo 168 do Re-gimento Interno do TST. Paraa fixação da competênciaterritorial em sede de ação civilpública, cumpre tomar em con-ta a extensão do dano causadoou a ser reparado, pautando-sepela incidência analógica do art.93 do Código de Defesa do Con-sumidor. Assim, se a extensãodo dano a ser reparado limitar-se ao âmbito regional, a compe-tência é de uma das Varas doTrabalho da Capital do Estado;se for de âmbito supra-regionalou nacional, o foro é o do Dis-trito Federal.”

Tendo em vista a repercussãona processualística trabalhista des-te entendimento jurisprudencial es-posado pelo Tribunal Superior doTrabalho, pretendemos, com estetrabalho, tecer algumas considera-

ções sobre o conteúdo da OJ-130-SDI-II do TST e sobre a competên-cia territorial das ações coletivas,como forma de prestar colaboraçãopara a pacificação da matéria como entendimento que melhor se coa-dune com as finalidades das açõescoletivas, os atuais mecanismos deacesso à justiça e as regras e princí-pios do direito processual do traba-lho.

2 APLICAÇÃO ANALÓGICA DECOMPETÊNCIA ABSOLUTA

Embora no âmbito da teoriageral do processo a competênciaterritorial tenha natureza relativa,ou seja, é passível de modificação;na hipótese de ação civil pública,ex vi artigo 2º da Lei nº 7347/85, acompetência territorial é equipara-da à competência funcional dojuízo, recebendo, por disposição le-gal, caráter absoluto.

Esse conferimento de caráterabsoluto à competência territorialnão é exclusividade das ações cole-tivas, pois é encontrado em diver-sas disposições processuais.

Entre as exceções da relativi-dade da competência territorial en-contram-se as ações imobiliáriasrelativas a direito de propriedade,vizinhança, servidão, posse, divisãoe demarcação de terras e nunciaçãode obra nova (art. 95, CPC); asações em que a União for autora,ré ou interveniente (art. 99, CPC).Nas reclamações trabalhistas, acompetência territorial é relativa-mente absoluta, posto que não ad-mitem foro de eleição (art. 651,CLT).

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Competência é matéria quedeve encontrar previsão expressaem lei, sua regulamentação nãocomporta interpretação extensiva etampouco aplicação analógica, poisna ausência de disposição expressasobre a competência para aprecia-ção de determinada lide ou ação,aplica-se a regra geral. Karl Engisch,ao distinguir lacuna e ausência dedisposições excepcionais, esclareceque na ausência de regra excepcio-nal “intervém então pura e simples-mente o preceito-regra, de forma que aítambém não se poderiafalar de lacuna”3.

A redação daOJ-130, tal como está,com a tese da aplica-ção analógica da com-petência territorialprevista no artigo 93da Lei nº 8.078/90 àsações civis públicas daLei nº 7.347/85dissona do entendi-mento doutrinário so-bre a matéria e contra-ria a teoria geral doprocesso. Na realida-de, o entendimento es-posado na OJ-130 reflete, não umaaplicação analógica, mas, quandomuito, uma interpretação sistemáti-ca das Leis nº 7.347/85 e 8.078/90,como veremos a seguir.

3 APLICAÇÃO ANALÓGICADE COMPETÊNCIA QUANDO

“Competência é matéria quedeve encontrar previsão ex-

pressa em lei, sua regulamen-tação não comporta interpre-tação extensiva e tampoucoaplicação analógica, pois naausência de disposição ex-pressa sobre a competênciapara apreciação de determi-

nada lide ou ação, aplica-se aregra geral. Karl Engisch, aodistinguir lacuna e ausênciade disposições excepcionais,esclarece que na ausência deregra excepcional “intervémentão pura e simplesmente opreceito-regra, de forma que

aí também não se poderiafalar de lacuna.”

A LEI ESPECÍFICA CONTÉMPRECEITO EXPRESSO SOBREO TEMA.

Consiste a analogia num meiode integração da norma jurídicapelo qual uma norma, “estabelecidacom e para uma determinada factispecies, é aplicável a uma conduta paraa qual não há norma, havendo entreambos os supostos fáticos uma seme-lhança.”4 Denomina-se analogialegis a que parte de um preceito le-gal e aplica-o a casos semelhantes,

e analogia iuris a queparte de diversas dis-posições legais e, porindução, obtém prin-cípios comuns quesão aplicados aos ca-sos não direta e ex-pressamente previs-tos pelas regras le-gais.5

O pressupostopara a aplicação daanalogia é exatamen-te a existência deuma lacuna legal,isto é, a ausênciade norma específicapara o disciplina-

mento de determinada situaçãofática, ou, nos dizeres de KarlEngisch, “uma incompletude insa-tisfatória no seio do todo jurídico.”Lacuna significa vácuo, falha,falta, omissão.6

Desse modo, reportar-se àaplicação analógica do artigo 93 da

3ENGISCH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. Trad. J. Batista Machado. Lisboa: Funda-ção Calouste Gulbenkian, 2001, p. 283.

4FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito. São Paulo: Atlas, 1991, p.272.

5Idem. Ibidem, pp. 272-273.6FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portu-

guesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 1177.

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Lei nº 8078/90 às ações civis públi-cas, tal como delineado na OJ-130-TST, só teria sentido na ausência denorma específica sobre o tema naLei nº 7.347/85, sendo incongruen-te com todo o sistema de integraçãodo direito a aplicação analógica decompetência quando a lei específi-ca contém preceito expresso sobre otema (art. 2º, Lei nº 7.347/85).

Mesmo que estivéssemos di-ante de eventual ausência de nor-ma específica na Lei nº 7.347/85sobre a matéria em comento, nãohaveria qualquer lacuna, posto que,como ressalta Rodolfo de CamargoMancuso, há um necessário entre-laçamento e complementação entreas Leis nº 7.347/85 e nº 8.078/90,de forma que “impende tomar taisdispositivos conjuntamente, em inter-pretação sistemática, sob as diretrizesda razoabilidade e da plenitude da or-dem jurídica, tudo de molde a que aofinal reste preservado o objetivoprecípuo, que é o da efetiva tutela ju-dicial aos interesses metaindivi-duais”7.

Em resumo, em razão daimbricação entre as regras proces-suais da Lei da Ação Civil Públicae as do Código de Defesa do Con-sumidor, estabelecida pelo artigo 90deste, que determina que “Aplicam-se às ações previstas neste Título asnormas do Código de Processo Civil eda Lei nº 7.347, de 24 de julho de1985, inclusive no que respeita ao in-quérito civil, naquilo que não contra-riar suas disposições”, e pelo artigo21 da Lei nº 7.347/85 que prescreve

que “Aplicam-se à defesa dos direitose interesses difusos, coletivos e indivi-duais, no que for cabível, os dispositi-vos do Título III da Lei que instituiu oCódigo de Defesa do Consumidor”,melhor seria que o Tribunal Superi-or do Trabalho, na redação da OJ-130, tivesse utilizado a expressão“interpretação sistemática”.

No entanto, embora a inter-pretação sistemática seja a melhortécnica de entrelaçamento entres asLeis 7.347/85 e 8.078/90, ressalta-mos que alguns ilustres doutrina-dores, tal como o Tribunal Superi-or do Trabalho, utilizam a analo-gia como forma de estabelecer essevínculo entre as duas leis e as com-petências territoriais nelas previs-tas, como Hugo Nigro Mazzilli8 eAda Pellegini Grinover9 ; porém, aProfessora da Faculdade de Direi-to da Universidade de São Paulo re-fere-se à aplicação da analogia “ex-tensiva da intenção do legislador” enão à analogia legis como o fez oTribunal Superior do Trabalho.

4 APLICAÇÃO DO ARTIGO 93DO CDC ÀS AÇÕES CIVIS PÚ-BLICAS

Antes de analisarmos a inter-pretação conferida pela OJ-130 àregra do artigo 93 da Lei nº 8.078/90, mister discorrer sobre a aplica-ção desse dispositivo legal às açõescivis públicas, tendo em vista, comojá mencionado, a existência da re-gra específica do artigo 2º da Lei nº7347/85 que fixa o local do danocomo critério para a definição dacompetência territorial.

7MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1999,p. 68.8MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 181.9GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código de defesa do consumidor comentado pelos autores do antepro-jeto. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 804.

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Um primeiro argumento con-trário sustenta que o artigo 93 doCDC não tem aplicabilidade emsede de ação civil pública para a tu-tela de direitos difusos e coletivos,uma vez que referido dispositivo le-gal está inserido no Capítulo II doTítulo III do CDC que trata “Dasações coletivas para a defesa de inte-resses individuais homogêneos”.

Tal argumento se encontra re-futado pela maior parte da doutri-na e da jurisprudência, uma vezque o próprio artigo 21 da Lei nº7.347/85 determina que “Aplicam-se à defesa dos direitose interesses difusos, co-letivos e individuais,no que for cabível, osdispositivos do TítuloIII da Lei que instituiuo Código de Defesa doConsumidor” Ade-mais, como assinalaAda PellegriniGrinover “Ubi eadem,ibi eadem juris dis-positio’. É a necessáriacoerência interna dosistema jurídico que exige a formula-ção de regras idênticas em que se veri-fica a identidade de razão. Se o artigo93 do CDC fosse aplicável apenas aosinteresses individuais homogêneos, oresultado seria a regra da competên-cia territorial dê âmbito nacional ouregional só para as ações em defesa dosaludidos direitos, enquanto nos pro-cessos coletivos para a tutela de inte-resses difusos e coletivos a competên-cia nacional ou regional ficaria fora doalcance da lei. O absurdo do resultado

dessa posição é evidente, levando a seurepúdio pela razão e pelo bom senso,para o resguardo da coerência doordenamento”10.

Rodolfo de CamargoMancuso elucida que a interpreta-ção teológica deve privilegiar a in-terpretação que assegura o melhore mais efetivo acesso do conflito co-letivo à apreciação do órgãojurisdicional, não havendo an-tinomia ou contrariedade entre asregras de competência da LACP, doCDC e da CF/88, estendendo-se oartigo 93 do CDC às ações civis

públidas em geral.11

Também AluisioGonçalves de Cas-tro Mendes, apósafirmar ser unísso-no na doutrina oentendimento se-gundo o qual o arti-go 93 do CDC regequalquer processocoletivo, indepen-dentemente da espé-cie de interesse,aponta que cabe ao

hermeneuta a tarefa deharmonização dos dois dispositivoslegais. Segundo o autor, a concilia-ção seria possível alterando-se so-mente a fixação da regra pertinen-te às causas decorrentes de danosde âmbito nacional ou regional.12

A regra do artigo 2º da Lei nº7.347/85 não é assim incompatívelcom o preceito do artigo 93 da Leinº 8.078, mas apenas se apresentamais específico que aquele, postoque também se baseia no dano para

“A regra do artigo 2º da Leinº 7.347/85 não é assim

incompatível com o preceitodo artigo 93 da Lei nº 8.078,

mas apenas se apresenta maisespecífico que aquele, postoque também se baseia no

dano para a aferição da com-petência, com a ampliação daredação para se referir aosdanos de âmbito regional

ou nacional”.

10GRINOVER, Ada Pellegrini et al. op. cit., pp. 804-805.11MANCUSO, Rodolfo de Camargo. op. cit., pp. 68-9.12MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas no direito comparado e nacional. São Paulo:Ed. Revista dos Tribunais, 2002, pp. 231-232.

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a aferição da competência, com aampliação da redação para se refe-rir aos danos de âmbito regional ounacional.

5 A COMPETÊNCIA TERRI-TORIAL DA AÇÃO CIVIL PÚ-BLICA NO ENTENDIMENTODO TST E NO DA DOUTRINAE JURISPRUDÊNCIA PROCES-SUAL CIVIL

Entre os diversos preceitos le-gais referentes às ações coletivas eà tutela dos interesses difusos, co-letivos e individuais homogêneos,os artigos 93 e 104 do Código deDefesa do Consumidor são os dis-positivos que mais ensejam discus-sões e interpretações diversas emface da falta de clareza e da formade redação com que foram elabo-rados.

Nesse contexto, a interpreta-ção conferida pelo Tribunal Supe-rior do Trabalho ao inciso II do ar-tigo 93 do CDC, não pode, em prin-cípio, ser considerada incorretaposto que emerge apenas como maisuma entre as diversas possibilida-des de ilações possíveis a partir daanálise da redação desse preceitolegal, assim redigido:

“Art. 93. Ressalvada a compe-tência da justiça federal, é com-petente para a causa a justiçalocal:

I – no foro do lugar onde ocor-reu ou deva ocorrer o dano,quando de âmbito local;

II – no foro da Capital do Esta-do ou no Distrito Federal, paraos danos de âmbito nacional ouregional, aplicando-se as regrasdo Código de Processo Civil aoscasos de competência concorren-te”.

Consoante o entendimentoesposado pelo Tribunal Superior doTrabalho pela OJ-130, com base noinciso II do artigo em comento,para os danos de âmbito regional,a competência é de uma das Varasda Capital do Estado; para os da-nos supra-regionais ou nacionais, oforo deve ser o do Distrito Federal.O Tribunal Superior do Trabalhocriou a figura do dano supra-regi-onal, isto é, que abrange dois oumais Estados, diferenciando-o dodano regional, que, no seu enten-dimento seria que aquele queabrangesse duas ou mais comarcas,mas que não extrapolaria o âmbitoterritorial do Estado. O entendi-mento da mais alta Corte Trabalhis-ta fica assim resumido:

Local

Regional

Supra-Regional ouNacional

EXTENSÃODO DANO

FOROCOMPETENTE

Vara do Trabalho daRespectiva Comarca

Vara do Trabalho daCapital do Estado

Vara do Trabalho doDistrito Federal

Pela criação do dano de âm-bito supra-regional, o entendimen-to do TST é impar, não corres-pondendo efetivamente ao que pen-sam a doutrina e a jurisprudência.Segundo Ada Pellegrini Grinover,o dano regional constitui aqueleque se dispersa por mais de um Es-tado (equivale ao dano supra-regi-onal do TST), para o qual a autoraconsidera competente o foro daCapital do Estado ou do DistritoFederal; já na hipótese de danosnacionais (que abrange um consi-derável número de Estados) a com-petência seria do Distrito Federal.Nos danos que abrangessem mais

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de uma comarca, mas que nãoextrapolassem os limites do Estado(equivalente ao dano regional doTST), a competência seria de qual-quer uma das comarcas13.

Constatamos, nessa primeiraanálise, que o conceito de dano re-gional do TST não coincide com opensamento da doutrina e da juris-prudência, que lhe concedem o sig-nificado de dano interestadual. Nocaso de danos envolvendo duascomarcas trabalhistas, a melhor in-terpretação corresponde a que con-fere competência a qualquer dascomarcas, segundo os critérios daprevenção, e não à Capital do Es-tado, como exposto na OJ-130. Nes-se sentido, além do posicionamentode Ada Pellegrini Grinover, anteri-ormente citado, manifestam-seFrancisco Antonio de Oliveira,14

Rodolfo de Camargo Mancuso,Galeno Lacerda e Edis Milaré15 Oentendimento esposado na OJ-130do TST, segundo o qual os danossupra-regionais ou nacionais sejamde competência do Distrito Federalnão é extraído diretamente da re-dação do inciso II do artigo 93 doCDC, tendo em vista que o legisla-dor utilizou o conectivo “ou” ao re-ferir-se aos foros da Capital do Es-tado ou do Distrito Federal, alémde inverter a referência aos danosde âmbito nacional ou regional, demodo que seqüencialmente não háuma correspondência entre Capi-tal do Estado e dano regional; e

13GRINOVER, Ada Pellegrini et al. op. cit., p. 80814OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Ação civil pública: enfoques trabalhistas. São Paulo: Ed. Revis-ta dos Tribunais, 1999, p. 60.15Apud MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. op. cit., p. 65.

Distrito Federal e dano nacional:

“II – no foro da Capital do Es-tado OU no Distrito Federal,para os danos de âmbito nacio-nal ou regional, aplicando-se asregras do Código de ProcessoCivil aos casos de competênciaconcorrente” (grifo nosso).

Para que a interpretação doTST fosse correta, o preceito deve-ria estar assim redigido:

II – no foro da Capital do Es-tado E do Distrito Federal,RESPECTIVAMENTE, paraos danos de âmbito regionale nacional OU SUPRA-REGI-ONAIS, aplicando-se as re-gras do Código de ProcessoCivil aos casos de competên-cia concorrente.

A interpretação do TST, alémde conferir conteúdo diverso dopredominantemente aceito para aexpressão “dano regional”, acaboupor determinar a competência doDistrito Federal tanto para os da-nos interestaduais como para osdanos nacionais, o que tambémdestoa da doutrina minoritária doprocesso civil que concede ao Dis-trito Federal a competência para osdanos nacionais e à Capital do Es-tado para os danos regionais (inte-restaduais), nos termos da redaçãodo inciso II do artigo 93 do CDCpor nós elaborada a título de ilus-tração. O entendimento da corren-te minoritária fica assim ilustrado:

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Por fim, a interpretação doTST também destoa da doutrina eda jurisprudência predominantesno processo civil que conferem aoDistrito Federal simplesmente ostatu de Estado, de forma que, nashipóteses de danos regionais (inte-restaduais) ou nacionais (com aabrangência de um número consi-derável de Estados), qualquer Esta-do abrangido pelo dano será consi-derado competente; se o dano en-volver também o Distrito Federal,este será considerado competenteem concorrência com os demais en-tes da federação abrangidos pelodano.

Consoante aponta AluisioGonçalves de Castro Mendes, “oartigo 93, inciso II, fixou o foro da ca-pital do Estado ou do Distrito Fede-ral, para os danos de âmbito nacionalou regional. Parte da doutrina enxer-gou no dispositivo a incidência de duasregras estanques de competência, sen-do uma delas exclusiva, interpretan-do que (a) se o dano fosse regional oprocesso tramitaria perante o foro dacapital do Estado ou do Distrito Fede-ral. Mas, (b) se nacional, a competên-cia seria tão-somente dos órgãos judi-ciais situados no Distrito Federal. Che-gou-se a afirmar que a interpretaçãofacilitaria o acesso à justiça, o que pa-rece, com a devida vênia em relação à

Local (uma ou maiscomarcas)

Regional (interestadual)

Nacional

EXTENSÃODO DANO

FOROCOMPETENTE

Vara da Comarca

Vara da Capital de umdos Estados

Vara da Capital doDistrito Federal

autoridade dos que defenderam a po-sição, um total contra-senso. A desig-nação de um único foro, num país comoito milhões (sic) e quinhentos mil qui-lômetros quadrados e cerca de 170 mi-lhões de habitantes, representaria, sim,uma barreira intransponível,desestímulo ou medida encarecedora,para que a maioria das entidades es-palhadas pelo Brasil afora pudesse ajui-zar a respectiva ação”16.

A jurisprudência do SuperiorTribunal de Justiça vem consolidan-do-se nesse sentido:

“Conflito de competência. AçãoCivil Pública. Código de Defe-sa do Consumidor. 1. Interpre-tando o art. 93, inciso II, doCódigo de Defesa do Consumi-dor, já se manifestou esta Cor-te no sentido de que não há ex-clusividade do foro do Distri-to Federal para o julgamento deação civil pública de âmbito na-cional. Isto porque o referidoartigo, ao se referir à Capitaldo Estado e ao Distrito Fede-ral, invoca competênciasterritoriais concorrentes, de-vendo ser analisada a questãoestando a Capital do Estado eo Distrito Federal em planosiguais, sem conotação específi-ca para o Distrito Federal. 2.Conflito conhecido para decla-rar a competência do PrimeiroTribunal de Alçada Civil de SãoPaulo para prosseguir no jul-gamento do feito.” (Conflitode competência 17.533/DF,Rel. Ministro Carlos AlbertoMenezes Direito, SegundaSeção, DJU 30.12.2000, p.120).

16Idem. Ibidem, p. 237.

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Em síntese, segundo a doutri-na e a jurisprudência predominan-tes no processo civil, a competên-cia para as ações coletivas fica as-sim resumida:

Como se observa, a posiçãoda doutrina predominante do pro-cesso civil e do Superior Tribunalde Justiça concedem uma interpre-tação mais condizentes com osprincípios do acesso à justiça do queaquela enunciada pelo C. TribunalSuperior do Trabalho por meio daOJ-130-SDI-II.

Local

Duas ou mais comarcas

Regional (interestadu-al) ou Nacional

EXTENSÃODO DANO

FOROCOMPETENTE

Vara da respectivaComarca

Vara de quaiquer dascomarcas

Vara da Capital doDistrito Federal

6 INCOMPATIBILIDADE DAOJ-130 COM O FUNDAMENTODAS AÇÕES COLETIVAS E DOPROCESSO DO TRABALHO

A teoria geral do direito nosconcede uma série de métodosinterpretativos (histórico, sociológi-co, teleológico, lógico, axiológico,gramatical, sistemático); mas, em-

bora haja regras de interpretação,não há normas sobre a aplicaçãodas regras de interpretação, demodo que, em princípio, poderia oTribunal Superior do Trabalho uti-lizar o método de interpretação quemelhor lhe conviesse sobre a com-petência para os danos de âmbitoregional (interestadual) e nacional,apesar de destoar da doutrina pre-dominante.

No entanto, devemos analisarse a interpretação adotada pelo Tri-bunal Superior do Trabalho é a quemelhor se coaduna com os funda-mentos que nortearam a elaboraçãoda legislação das ações coletivas ecom as regras e princípios do pro-cesso do trabalho. Entre esses aspec-tos, para os objetivos do nosso es-tudo, podemos destacar a preocu-pação com o acesso à justiça e afacilitação da produção probatória.

A definição do local do danocomo o foro competente para aapreciação das ações civis públicas,entre outros fundamentos, objetouconferir competência ao juízo maispróximo do local dos fatos, de sor-te a privilegiar a investigação do atopraticado, das suas conseqüênciase das responsabilidades, além defacilitar a produção de provas, comagilização do procedimento, ao evi-tar-se a burocratização judiciáriacom o envio de precatórias17.

Esse fundamento que norteoua escolha do local do dano como ocritério de determinação do forocompetente, também deve balizara interpretação do inciso II do arti-go 93 do CDC; nesse ponto, a in-

Local

Duas ou mais comarcas

Regional

EXTENSÃO DODANO

FOROCOMPETENTE

Vara da respectivaComarca

Vara de quaiquer dascomarcas

Vara da Capital doDistrito Federal

17OLIVEIRA, Francisco Antonio de. op. cit., pp. 59-60.

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terpretação conferida pela OJ-130fere esses fundamentos, ao elegercomo foros competentes para osdiversos danos e suas dimensões,sempre o foro mais distante do lo-cal do dano.

Assim, por exemplo, em da-nos que se estendem por duas oumais comarcas, o fundamento dasações coletivas exige que privilegieuma das comarcas abrangidas pelodano, e não a capital do Estado,como entendeu o Tribunal Superi-or do Trabalho. Por outro lado, nahipótese de danos interestaduais ounacionais, o deslocamento da com-petência para o foro do Distrito Fe-deral desprivilegia todo o sistemade produção de provas e o acesso àjustiça dos sujeitos processuais, quedeverão deslocar-se a foro distantedo local dos fatos e, em se tratandode lides referentes às relações detrabalho, do domicílio ou sede doslitigantes.

No que se relaciona com aproblemática do acesso à justiça, oentendimento do Tribunal Superi-or do Trabalho, além de dificultaro acesso dos entes legitimados, pelodever de comparecimento a forodistante do local dos danos, tam-bém prejudica o acesso de testemu-nhas, encarecendo o procedimen-to. Essa dificuldade de acesso ao forocompetente, não atinge com tantaintensidade o Ministério Público doTrabalho, que tem Procuradoriasem todos os Estados em que há Tri-bunais do Trabalho, mas prejudicaveemente a atuação de associaçõese sindicatos, que, geralmente, estãosediados em apenas um Estado oumunicípio da Federação. Para aparte passiva, o prejuízo é equiva-lente, posto que uma empresa po-

derá ser demanda em localidadedistante da sua sede ou de suas fili-ais.

O entendimento esposado naOJ-130, ao ferir os princípios doprocesso coletivo, conseqüentemen-te viola os próprios princípios doprocesso do trabalho, posto que aregra do artigo 2º da Lei nº 7.347/85, ao aproximar o juízo competen-te do local dos fatos, traçou os mes-mos objetivos almejados pelo legis-lador trabalhista ao editar as regrasde competência do artigo 651 daCLT – local da prestação de servi-ços -, consistentes na facilitação daprodução probatória e na aberturados canais de acesso à justiça.

7 A OJ-130 E O ARTIGO 16 DALEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Embora não constitua objetodo nosso trabalho a análise da alte-ração incrementada no artigo 16 daLei nº 7.347/85 pela Lei nº 9.494/97, para limitar os limites da coisajulgada erga omnes aos limitesterritoriais do órgão prolator - va-lendo lembrar que referido disposi-tivo é considerado ineficaz peladoutrina dominante, por confundircompetência com efeitos subjetivosda coisa julgada -, à guisa deexemplificação, o entendimento doTribunal Superior do Trabalho cri-aria uma situação teratológica nahipótese em que este mesmo Tribu-nal ou qualquer juiz de uma dasVaras do Distrito Federal resolves-se dar aplicabilidade a este disposi-tivo, fazendo com que a decisão deum litígio com danos, por exemplo,nos Estados de São Paulo e MinasGerais, fizesse efeitos somente noterritório de jurisdição da Varajulgadora e não nos locais do dano,pois as Varas do Distrito Federal

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não possuem jurisdição em todo oterritório nacional.

Local do dano interestadual (SP-RJ)

8 A SOLUÇÃO PELO PRO-CESSO DO TRABALHO E AEXPERIÊNCIA DAS AÇÕESDE CUMPRIMENTO

Expusemos nas linhas anteri-ores o entendimento do TribunalSuperior do Trabalho emcotejamento com o entendimentoda doutrina processual civil em re-lação à aplicação do inciso II do ar-tigo 93 do Código de Defesa doConsumidor às ações civis públicase à sua interpretação no que se re-fere aos foros competentes para osdanos que extrapolem a jurisdiçãode uma comarca.

Verificamos que o entendi-mento do Tribunal Superior do Tra-balho não se coaduna com as posi-ções adotadas pela doutrina e pelajurisprudência do processo civil,posto que tanto a correnteminoritária quanto a majoritáriaenquadram os danos interestadu-ais na competência de um dos Es-tados, ao passo que o TST confere

1234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890112345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890112345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890112345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890112345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890112345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901

DF

SP RJ

1234512345123451234512345

Limites dos efeitos da coisa julgada (nãoabrangeria Rio de Janeiro e São Paulo)

competência ao Distrito Federaltanto para os danos supra-regionaisquanto para os nacionais.

Embora tenhamos afirmadoque predomina na doutrina proces-sual civil o entendimento segundoo qual o inciso II do artigo 93 doCDC possui aplicabilidade às açõescivis públicas, a doutrina processu-al do trabalho vem construindoentendimento próprio de que, deacordos com os princípios e funda-mentos do processo do trabalho, oartigo 93 do CDC não se aplica àsações civis públicas trabalhistas.

Segundo a doutrina trabalhis-ta, a competência territorial paraapreciação da ação civil pública noâmbito da Justiça do Trabalho deveobservar somente a regra específi-ca do artigo 2º da Lei nº 7.347/85.Desse modo a competênciaterritorial para julgamento da açãocivil pública na Justiça do Trabalhoé da Vara do Trabalho ou do Juizde Direito investido da jurisdiçãotrabalhista (artigo 668 da CLT) dolocal do dano, independentementeda extensão da lesão aos interessestransindividuais; na hipótese emque esta lesão ultrapasse a área dejurisdição da Vara do Trabalho queconheceu da demanda, o primeirojuízo que recebeu a ação estaráprevento.

Nesse sentido é o magistériode Raimundo Simão de Melo: “acompetência originária para julgamen-to da ação civil pública na Justiça doTrabalho é das Varas trabalhistas,como juízos de primeira instância, nostermos da Lei nº 7.347/85 (art. 2º),mesmo que o dano aos interessesmetaindividuais ultrapasse a jurisdi-ção de um dado juízo; essa hipótese,competente será aquele que primeiro

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18MELO, Raimundo Simão. MELO, Raimundo Simão. Ação civil pública na justiça do trabalho. SãoPaulo: LTr, 2002, p. 158. Aqui divergimos do fundamento do ilustre Procurador do Trabalho aonegar a aplicação do artigo 93 do CDC às ações civis públicas por se encontrar em Capítuloreferente às ações coletivas para a tutela dos interesses individuais homogêneos, posto que osartigos 21 e 90, respectivamente, da LACP e do CDC, propiciam o entrelaçamento entre os doisestatutos.19OLIVEIRA, Francisco Antonio de. op. cit., p. 230.20SANTOS, Ronaldo Lima dos. Sindicatos e ações coletivas: acesso à justiça, jurisdição coletiva e tutela dosdireitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. São Paulo, LTr, 2003, p. 381.21ROCHA, Ibraim. Ação civil pública e o processo do trabalho. São Paulo: LTr, 1996. p. 102.

receber a ação, que se tornaprevento”18.

Francisco Antonio de Olivei-ra pronuncia-se no mesmo sentido:“Em assim sendo, em sede de direi-tos difusos ou coletivos, será compe-tente para conhecer, instruir e julgara ação a Junta de Conciliação e Julga-mento, em que foi editado o ato, emque ocorreu o fato ou o dano, poucoimportando se aquele ato, aquele fatoou aquele evento danoso extrapola abase territorial daquela Junta. A sen-tença que vier a ser proferida fará coi-sa julgada erga omnes e ultra par-tes”19.

Em outra oportunidade, con-sideramos não aplicável analogi-camente a regra do inciso II do arti-go 93 da Lei nº 8.078/90; primeiro,porque o caput deste dispositivoexcepcionou a competência da Jus-tiça Federal e, em sendo as ações ci-vis públicas para a tutela de direitostransindividuais trabalhistas decompetência da Justiça do Trabalho,a especificidade da matéria suscitaa mesma exceção, pois é inegável ointeresse público no resguardo dascompetências específicas; segundo,porque a regra do artigo 2º da Leinº 7.347/85, ao aproximar o juízocompetente do local dos fatos, tra-çou os mesmos objetivos almejadospelo legislador trabalhista ao editaras regras de competência do artigo651 da CLT – local da prestação de

serviços -, consistentes na facilitaçãoda produção probatória e na aber-tura dos canais de acesso à justi-ça.20

Ibraim Rocha é mais rigorosoquanto à competência territorialpara a ação civil pública ao nãoaceitar a aplicação do artigo 2º daLei nº 7.347/85 à ação civil públicatrabalhista em detrimento do arti-go 651 da CLT, tendo em vista queo processo trabalhista traça garan-tia mínimas dos trabalhadores, ca-tegoria hipossuficiente21.

Em palestra proferida no Se-minário sobre os 10 anos da açãocivil pública na Justiça do Trabalho,realizado em Minas Gerais, peloTribunal Regional do Trabalho da3ª Região e pelo Centro de EstudosJurídicos da Procuradoria Regionaldo Trabalho da 3ª Região, o JuizJorge Luiz Souto Maior seposicionou pela aplicação do arti-go 651 da CLT às ações coletivastrabalhistas.

Assim, para parte da doutri-na processual trabalhista, indepen-dentemente da extensão territorialda lesão aos interesses transin-dividuais dos trabalhadores, a com-petência estará adstrita à jurisdiçãoda Vara do Trabalho do lugar ondeocorreu ou deva ocorrer o dano. Nahipótese de competência concorren-te, estará prevento o primeiro juízo

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que recebeu a ação, não tendoaplicabilidade o inciso II do artigo93 do CDC. No campo das lides co-letivas, a regra do artigo 2º da Leinº 7.347/85 é a que melhor se coa-duna com os escopos da competên-cia prevista no artigo 651 da CLT,de facilitação do acesso à justiça eda coleta de provas.

Não se pode relegar ao oblívioque a ação de cumprimento consti-tui típica ação coletiva para a tute-la de interesses individuais homo-gêneos, cuja propositura na Justiçado Trabalho sempre observou oforo do local da prestação de servi-ços pelos trabalhadores, indepen-dentemente da extensão do dano,sem qualquer prejuízo para o aces-so à justiça e à produção proba-tória, e sem invocação do inciso IIdo artigo 93 do CDC.

9 CONCLUSÕES

A temática pertinente à com-petência territorial das ações cole-tivas e, especificamente, da açãocivil pública, é objeto de diversosdebates na doutrina e na jurispru-dência, principalmente no referen-te à aplicação do inciso II do artigo93 do Código de Defesa do Consu-midor às ações civis públicas e àinterpretação quanto ao foro com-petente nas hipóteses de danos re-gionais e nacionais.

O Tribunal Superior do Tra-balho com vistas à pacificação dajurisprudência dos Tribunais Tra-balhistas editou a OrientaçãoJurisprudencial nº 130, por meio daSeção de Dissídios Individuais –SDI-II. Além de conferir conteúdoao conceito de dano regional diver-so do contido no artigo 93 do CDCe do entendimento predominante

da doutrina, o Tribunal Superior doTrabalho criou a figura do dano su-pra-regional, não contido na reda-ção do artigo 93 do CDC; conferin-do ao Distrito Federal a competên-cia para os danos supra-regionaise nacionais.

Ao fixar a competência dasações coletivas nos termos da OJ-130, o Tribunal Superior do Traba-lho dissona dos princípios e funda-mentos das ações coletivas e do pró-prio processo do trabalho, princi-palmente do acesso à justiça e doforo mais favorável à colheita dasprovas, e adota critérios mais pre-judiciais às ações coletivas trabalhis-tas do que os formulados pela dou-trina processual civil, posto que adoutrina processual civil majoritá-ria equipara o Distrito Federal a umdos Estados, dando-lhe competên-cia concorrente com estes nas hipó-teses de danos regionais (interesta-duais) e nacionais. Mesmo a dou-trina minoritária do processo civilposiciona-se no sentido de que osdanos interestaduais são de compe-tência concorrente dos Estados e doDistrito Federal e, somente na hi-pótese de danos nacionais haveriaa competência exclusiva do Distri-to Federal.

Ao considerar-se o caminharda doutrina trabalhista, a orienta-ção jurisprudencial adotada peloTribunal Superior do Trabalho dis-tancia-se mais ainda, tendo em vis-ta a tendência de negar-se a apli-cação do artigo 93 do CDC às açõescoletivas trabalhistas.

Em resumo, a OrientaçãoJurisprudencial 130 da SDI-II doTST foi editada na efervescência dodebate a respeito das ações coleti-vas no processo do trabalho, cujos

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contornos vêm firmando-se paula-tinamente na doutrina e na juris-prudência. O seu conteúdo dissonados diversos posicionamentos dadoutrina trabalhista, da praxe fo-rense e do comportamento que vemsendo adotado pelos diversos enteslegitimados para a propositura dasações coletivas e pelos juízes traba-lhistas. A manutenção da OJ-130,neste momento, terá como efeito oengessamento das ações coletivasna Justiça do Trabalho, fantasmaque rondou por muito tempo asações de cumprimento, até o can-celamento do famigerado Enunci-ado 310 do TST.

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Raimundo Simão de Melo*

RESPONSABILIDADE OBJETIVA E INVERSÃO DAPROVA NOS ACIDENTES DE TRABALHO

Resumo: O autor utiliza o princípio da harmonização das normasconstitucionais para analisar o ônus da prova nos acidentes de traba-lho, dando uma nova interpretação ao Art. 7º, XXVIII da Constituiçãobrasileira quanto à responsabilidade do empregador, fundamentandoos casos em que a mesma deixa de ser subjetiva, tornando-se objetiva,invertendo-se o ônus da prova quanto à responsabilidade pelos preju-ízos à saúde do trabalhador.

Sumário: 1 Conceito de acidente de trabalho; 2 Fundamentos da res-ponsabilidade pelos acidentes de trabalho; 2.1 Nas doençasocupacionais; 2.2 Nos acidentes-tipo ou típicos; 2.2.1 Nas atividadesde risco; 2.2.2 Por condições inseguras de trabalho; 2.2.3 Por ato inse-guro de culpa exclusiva do trabalhador; 2.3 Por ato ou fato de terceiro;2.4 Em relação ao servidor público; 3 Conclusões; 4 Bibliografia.

Palavras-chave: Acidente de trabalho. Ônus da prova. Responsabili-dade no acidente de trabalho. Responsabilidade objetiva. Servidor Pú-blico. Teoria do risco-proveito.

*Procurador Regional do Trabalho. Mestre e Doutor em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP.Professor de Direito e Processo do Trabalho. Membro da Academia Nacional de Direito doTrabalho.

1Dicionário jurídico, v. I, p. 72.2Op. cit., p. 73.3O plenário do STF reformulou entendimento anterior e declarou que a competência para julgar

ações por dano moral e material decorrente de acidente de trabalho é da Justiça Trabalhista. Adecisão unânime foi tomada durante análise do CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA7204.

1 CONCEITO DE ACIDENTE DETRABALHO

Acidente, na linguagem cor-rente, é um acontecimento impre-visto ou fortuito que causa danoà coisa ou à pessoa1. Para De Plá-cido e Silva2 , “distingue-se comoacidente do trabalho todo e qual-

quer acontecimento infeliz queadvém fortuitamente ou atinge ooperário, quando no exercício nor-mal de seu ofício ou de suas ativi-dades profissionais”3 . Essa era adefinição vigorante no século XIX,que considerava o acidente de tra-balho como um acontecimento sú-

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bito, de obra do acaso, casual, for-tuito, ou imprevisto, de causa ex-terna. A idéia era de infelicidade efalta de sorte da vítima.

Isto não mais se sustenta nosdias atuais, porque grande partedos acidentes decorre da ausênciade cuidados mínimos e especiais naadoção de medidas coletivas e in-dividuais de prevenção dos riscosambientais. Além disso, há inúme-ras atividades caracteristicamenteperigosas, cujos acidentes não sãoconsiderados meros infortúnios doacaso. São eventos previsíveis epreveníveis. Suascausas são identificá-veis e podem ser neu-tralizadas ou elimi-nadas. Não se con-funde evento impre-visto com eventoimprevisível. O even-to imprevisível é des-conhecido da comu-nidade humana queo observa; o eventoimprevisto é indese-jado tão-somente.

Na legislação brasileira, oconceito de acidente de trabalho éabrangente, incluindo as doençasprofissionais e do trabalho e outroseventos acidentários. Estabelece oart. 19 da Lei 8.213/91 que aciden-te do trabalho é o que ocorre peloexercício do trabalho a serviço daempresa, provocando lesão corpo-ral ou perturbação funcional quecause a morte ou a perda ou redu-ção, permanente ou temporária, dacapacidade para o trabalho. Os ar-tigos 20 e 21 e § § da Lei 8.213/91

consideram outros eventos comoacidentes.

2 FUNDAMENTOS DA RESPON-SABILIDADE NOS ACIDENTESDE TRABALHO

Dos acidentes de trabalhodecorrem várias responsabilidades.O trabalhador vítima de acidente dotrabalho pode pleitear, conforme ocaso, benefícios previdenciários e/oureparações a cargo do empregador.

Quanto à Previdência Social(INSS), a responsabilidade pela

concessão dos bene-fícios previden-ciários é objetiva, in-dependente de cul-pa. No caso, basta aotrabalhador-segura-do provar o evento,o dano e o nexo cau-sal entre estes.

Diferentemen-te ocorre em relaçãoà responsabilidade

do empregador pelas reparações pordanos materiais, morais e estéticos,cada vez mais comuns nos pleitosperante a Justiça do Trabalho4.

Com relação a esta, dizem oart. 7º e inciso XXVIII da Constitui-ção Federal: “são direitos dos tra-balhadores urbanos e rurais, alémde outros que visem à melhoria de suacondição social: [...] seguro contraacidentes de trabalho, a cargo doempregador, sem excluir a indeni-zação a que este está obrigado,quando incorrer em dolo ou culpa”.

“Quanto à Previdência So-

cial (INSS), a responsabili-

dade pela concessão dos

benefícios previdenciários

é objetiva, independente

de culpa. No caso, basta

ao trabalhador-segurado

provar o evento, o dano e

o nexo causal entre estes.”

4O plenário do STF reformulou entendimento anterior e declarou que a competência para julgarações por dano moral e material decorrente de acidente de trabalho é da Justiça Trabalhista. Adecisão unânime foi tomada durante análise do CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA7204.

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Pela tradicional compreensãodesse dispositivo, o trabalhador so-mente tem direito às indenizaçõesrespectivas se provar a culpa oudolo do empregador. Nesse senti-do, preleciona Rui Stoco5.

Data venia, não concordo in-tegralmente com essa posição, antea necessidade de aprimoramento eevolução da responsabilidade civil,comungando, assim, entre outros,com Antônio Elias de Queiroga6 eCarlos Roberto Gonçalves7, para osquais os novos rumos da responsa-bilidade civil caminham no senti-do de considerar objetiva a respon-sabilidade das empresas pelos da-nos causados aos empregados, combase na teoria do risco-criado, ca-bendo a estes somente a prova dodano e do nexo causal com o aci-dente.

A interpretação do incisoXXVIII do art. 7º da CF precisa serbuscada levando-se em conta a fi-nalidade e razão de ser do mesmono contexto da Constituição e doordenamento jurídico como umtodo.

Nesse sentido, é oportuna aadvertência de Celso Ribeiro Bas-tos8 , que diz: “as normas constitu-cionais são como que envolvidaspor uma camisa-de-força. Destarte,o intérprete se vê na contingênciade descobrir para além da simplesliteralidade dos Textos o ‘para quê’e o ‘para quem’ das suas prescri-ções, de sorte a distender o fio dainterpretação até os limites daque-

les parâmetros sistemáticos”, o quedeve fazê-lo levando em conta,como acrescenta o referido autor,que “a importância da interpreta-ção é fundamental em razão docaráter aberto e amplo da Consti-tuição, sendo que por isso os pro-blemas de interpretação surgemcom maior freqüência que noutrossetores do Direito. Vimos que a nor-ma constitucional apresenta-se, nomais das vezes, com uma petiçãode princípios. Aqui a interpretaçãotransforma-se em elemento de cons-tante atualização dessas espéciesnormativas, dentro de certos limi-tes oriundos da forma (literalidadeda lei)”.

É certo, como lembraHumberto Theodoro Júnior9 “queé difícil inovar em doutrina acercade velhos institutos, não pelos em-baraços da argumentação, mas por-que há uma força muito atuanteentre os intérpretes e aplicadores dodireito positivo, que é a lei da inér-cia, pois é, sem dúvida, muito maiscômodo seguir antigos padrões, jáestabelecidos de longa data na pra-xe forense e nos manuais da dou-trina, do que repensar soluçõespara os quase complicados proble-mas da interpretação evolutiva dasnormas legais”. Porém, não se podeolvidar que “é imperioso, no entan-to, vencer as dificuldades, visto queo Direito do Trabalho existe e sejustifica enquanto instrumento derealização dos direitos reconhecidoscomo fundamentais aos trabalha-dores, o que significa que ao intér-

5Responsabilidade civil, p. 814/815.6Responsabilidade civil e o novo Código Civil, p. 132.7Responsabilidade civil, p. 461.8Curso de Direito Constitucional, p. 103/4.9Fraude contra credores: natureza jurídica da sentença pauliana, p. 25.

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prete das suas normas e princípioscabe adotar postura que permitatorná-los concretos”10.

A minha discordância ba-seia-se no caráter aberto da Cons-tituição e da disposição inscrita noinciso XXVIII do art. 7º; no “por-quê”, no “para quê” e no “paraquem” foi criada referida norma.

Não pode esse dispositivo serinterpretado isoladamente, comotem sido feito. Assim, enquanto o §3º do art. 225 da Constituição Fe-deral assegura a responsabilidadeobjetiva por danos ao meio ambi-ente, incluído o dotrabalho (CF, art. 200– VIII), o incisoXXVIII do art. 7º falaem responsabilidadesubjetiva por aciden-tes de trabalho. Sur-ge, desde logo, apa-rente contradição/antinomia ou confli-to de normas consti-tucionais. Enquantoo § 3º do art. 225, deâmbito maior, assegura a respon-sabilidade objetiva nos danos aomeio ambiente, o inciso XXVIII doart. 7º, fala em responsabilidade sub-jetiva nos acidentes individualmen-te considerados.

Com efeito, a partir do mo-mento que se compreender o dis-posto no § 3° do art. 225 como prin-cípio maior (regra supralegal) queprotege um direito fundamental –a preservação da vida em todas asespécies –, difícil não é admitir apossibilidade de mitigação do incisoXXVIII do art. 7º, norma de alcan-ce menor, para se aplicar a respon-

sabilidade objetiva em determina-dos casos. Cabe observar que pelanorma supralegal do § 3º do art.225, estabeleceu o constituinte,para os danos ambientais, a respon-sabilidade objetiva, mas de manei-ra contraditória, tratou diferente-mente os acidentes de trabalho, quesão a conseqüência maior dos da-nos que atingem o ser humano tra-balhador. Parece mesmo umaantinomia.

No sistema constitucional, assupostas antinomias ou tensões en-tre normas da Constituição são re-

solvidas por meiodos princípios daunidade e da har-monização dos tex-tos constitucionais.Procura-se ponderarvalores e delimitar aforça vinculante e oalcance de cadauma das normas em“conflito”, para seharmonizá-las eotimizá-las a fim de

se produzir um equilíbrio sem ne-gar, por completo, a eficácia de ne-nhuma delas.

O meu objetivo é buscar umasolução adequada para a aparenteantinomia entre os dois dispositivosconstitucionais, que tratam, respec-tivamente, da responsabilidade pe-los danos ao meio ambiente, gene-ricamente, e pelos danos à saúde dotrabalhador, especificamente.

Estou certo de que não sepode fazer uma leitura tópica e iso-lada do inciso XXVIII do art. 7º daConstituição. É necessário inter-pretá-lo em conjunto e de forma

10Cleber Lúcio de Almeida, Responsabilidade civil do empregador e acidentes de trabalho, p. 74/5.

“O meu objetivo é buscaruma solução adequada paraa aparente antinomia entreos dois dispositivos constitu-cionais, que tratam, respec-tivamente, da responsabili-dade pelos danos ao meio

ambiente, genericamente, epelos danos à saúde do tra-balhador, especificamente.”

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harmônica com o disposto no § 3ºdo art. 225 da mesma Lei Maior11.

A vida, como não resta dúvi-da, é o bem maior do ser humano eé exatamente em função desse bemsupremo que existe o Direito. As-sim, não é lógico nem justo quepara a conseqüência do danoambiental em face da vida huma-na se crie maior dificuldade para abusca da reparação dos prejuízoscausados ao trabalhador.

Desse modo, não mais se sus-tenta uma interpretação literal doinciso XXVIII do art. 7º (“segurocontra acidentes de trabalho, a car-go do empregador, sem excluir aindenização a que este está obriga-do, quando incorrer em dolo ou cul-pa”), para desde logo se concluirque se trata unicamente de respon-sabilidade subjetiva. Esse dispositi-vo está umbilicalmente ligado aocaput do art. 7º, que diz textualmen-te: “São direitos dos trabalhadoresurbanos e rurais, além de outros quevisem à melhoria de sua condição so-cial (grifados).

A mais simples análise destasdisposições constitucionais mostraque o disposto no inciso XXVIIIconstitui garantia mínima do tra-balhador. Ademais, a expressãoconstante do caput do art. 7º, “ou-tros direitos que visem à suamelhoria” deixa claro que nenhumdos direitos encartados nos seusincisos é de conceito e conteúdo fe-

chados e imutáveis. De um lado,tem esta expressão dimensãoprospectiva, pois “estabelece umobjetivo a ser perseguido pelo Po-der Público, que é a melhoria dacondição social do trabalhador. Nãose cuida de exortação moral desti-tuída de eficácia jurídica. É cláusu-la vinculativa que carreia um juízode inconstitucionalidade aos atosque lhe são contrários”12 ; de outro,a vontade do constituinte e a ex-pressão da Lei Maior são no senti-do de assegurar, no referido artigo,um patamar mínimo de direitos fun-damentais, deixando aberta a pos-sibilidade de serem criados outrosdireitos e melhorados aqueles jáenumerados. Essa criação pode de-correr de alteração constitucional,infraconstitucional e convencional.

O que mais importa para apresente análise é que qualquer di-reito integrante do rol do referidoart. 7º pode ser alterado visandomelhoria para os trabalhadores. As-sim entende o Professor AmauriMascaro Nascimento13 , verbis: “AConstituição deve ser interpretadacomo um conjunto de direitos mí-nimos e não de direitos máximos,de modo que nela mesma se encon-tra o comando para que direitosmais favoráveis ao trabalhador ve-nham a ser fixados através da leiou das convenções coletivas. Ao de-clarar que outros direitos podemser conferidos ao trabalhador, aConstituição cumpre tríplice fun-

11Nesse sentido, alerta Eros Roberto Grau que “Não se interpreta o direito em tiras, aos pedaços.A interpretação de qualquer texto de direito impõe ao intérprete, sempre, em qualquer circuns-tância, o caminhar pelo percurso que se projeta a partir dele – do texto – até a Constituição. Umtexto de direito isolado, destacado, desprendido do sistema jurídico, não expressa significadoalgum” ( Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito, p. 34).

12Salvador Franco de Lima Laurino, Globalização, eficácia das normas constitucionais e realiza-ção dos direitos sociais, p. 196.

13Direito do Trabalho na Constituição de 1988, p. 40.

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ção. Primeiro, a elaboração das nor-mas jurídicas, que não deve perdera dimensão da sua função social depromover a melhoria da condiçãodo trabalhador. Segundo, a hierar-quia das normas jurídicas, de modoque, havendo duas ou mais nor-mas, leis, convenções coletivas,acordos coletivos, regulamentos deempresa, usos e costumes, será apli-cável o que mais beneficiar o em-pregado14 , salvo proibição por lei15.Terceiro, a interpretação das leis deforma que, entre duas interpreta-ções viáveis para a norma obscura,deve prevalecer aquela capaz deconduzir ao resultado que de me-lhor maneira venha a atender aosinteresses do trabalhador”.

Arnaldo Lopes Süssekind16,ao analisar o caput do art. 7º, as-sim se pronuncia: “E a expressão‘além de outros direitos que visemà melhoria de sua condição soci-al’, não só fundamenta a vigênciade direitos não previstos no artigoem tela, como justifica a institui-ção de normas, seja por lei, seja porconvenção ou acordo coletivo,seja, enfim, por um laudo arbitralou sentença normativa dos tribu-nais do trabalho. O que tem relevopara afirmar a constitucionalidadedessas normas jurídicas é que nãosejam elas incompatíveis com os

princípios e prescrições da LeiMaior”.

Os princípios e prescriçõesda Constituição Brasileira entreoutros, são o respeito à vida, à dig-nidade humana e, no âmbito tra-balhista, aos valores sociais do tra-balho, cabendo neste particular aointérprete colocar-se a favor domenor sacrifício do cidadão traba-lhador na escolha dos diversos sig-nificados de uma norma. No caso,o melhor significado para o dispos-to no inciso XXVIII do art. 7º é deconceito aberto que permiteharmonizá-lo com o disposto no §3º do art. 225 da CF, que asseguraa responsabilidade objetiva pelosdanos causados ao meio ambientee com outros preceitos legais. Nãose olvide que a Constituição esta-belece que os direitos nela expres-sos não excluem outros decorren-tes do regime e princípios por elaadotados (art. 5º, § 2º), o que afir-ma a necessidade de se buscaruma interpretação sistemática euniforme dos seus preceitos.

Quando o referido incisoXXVIII alude à culpa ou dolo doempregador como fundamento daresponsabilidade pelos acidentes detrabalho, não fixa a responsabilida-de subjetiva como questão fechada,porque conforme art. 7º, o legisla-

14Ao contrário do direito comum, no Direito do Trabalho, a pirâmide que entre as normas se formaterá como vértice não a Constituição Federal ou as convenções coletivas de modo imutável. Ovértice da pirâmide da hierarquia das normas trabalhistas será ocupado pela norma vantajosaao trabalhador, dentre as diferentes em vigor... Resulta do pluralismo do Direito do Trabalhoque é constituído de normas estatais e dos grupos sociais, da finalidade do Direito do Trabalhoque é a disciplina das relações de trabalho, segundo um princípio de melhoria das condiçõessociais do trabalhador com características marcadamente protecionistas como expressão dejustiça social e da razoabilidade que deve presidir a atuação do intérprete perante o problemasocial” (Amauri Mascaro Nascimento, Curso de Direito do Trabalho, p. 164/5).

15Não é o caso vertente, pois da combinação do disposto no artigo 7º, caput e inciso XXVIII nãodecorrem quaisquer proibições de alteração in melius. Proibição há se se tratar de alteração inpejus, pois o comando constitucional é cristalino ao assegurar aqueles direitos como garantiasmínimas que podem ser melhoradas pela lei ou pela negociação coletiva.

16Direito Constitucional do Trabalho, p. 80.

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dor ordinário está autorizado a criare modificar os direitos inscritos nosseus incisos, para a melhoria dostrabalhadores.

O Direito é um mecanismo aserviço da justiça e do bem comum,que abrange a atividade do legisla-dor, do intérprete e do aplicador,os quais devem levar em conta, sem-pre, certos valores assegurados noordenamento jurídico.

No caso, esses valores estãona Carta Magna, que dispõe no art.1º como fundamentos da nossa Re-pública e do Estado Democráticode Direito, entre outros, a cidada-nia, a dignidade da pessoa humana eos valores sociais do trabalho. O art.170 diz que a ordem econômicafunda-se na livre iniciativa e na va-lorização do trabalho humano.

Não se pode negar que essesvalores básicos ou princípios fun-damentais se inserem na perspecti-va da finalidade social da lei e dobem comum, pelo que toda normae cada instituto do nossoordenamento jurídico devem sercompreendidos e interpretados àluz desses fundamentos, devendoa interpretação exaltar a harmoniados sistemas jurídicos e se orientarpor tais princípios fundamentais (adignidade da pessoa humana, osvalores sociais do trabalho, o res-peito ao meio ambiente etc).

Diante das considerações su-pra, mais simples se torna a com-preensão e necessidade demitigação do inciso XXVIII do art.7º, mediante aplicabilidade ecompatibilização do § 1º do art. 14da Lei 6.938/81 (Lei de PolíticaNacional do Meio Ambiente) e do§ único do art. 927 do Código CivilBrasileiro, nos casos de acidentes e

doenças do trabalho, no que dizrespeito ao fundamento da respon-sabilidade do empregador.

O § 1º do art. 14 da Lei 6.938/81 diz que, “sem obstar a aplica-ção das penalidades previstas nes-te artigo, é o poluidor obrigado, in-dependentemente da existência deculpa, a indenizar ou reparar osdanos causados ao meio ambientee a terceiros, afetados por sua ati-vidade”.

O § único do art. 927 CódigoCivil, como importante novidadeem termos de responsabilidade ci-vil, acolhe a obrigação de reparar odano, independentemente de cul-pa, nos casos especificados em lei,ou quando a atividade normalmen-te desenvolvida pelo autor do danoimplicar, por sua natureza, riscopara os direitos de outrem.

Decorre do exposto que estesdois dispositivos legais são compa-tíveis com a disposição do incisoXXVIII do art. 7º no tocante à res-ponsabilidade do empregador de-corrente de acidentes e doenças dotrabalho, sem a pecha deinconstitucionalidade. Como dito,a imposição de responsabilidade aoempregador por acidente de traba-lho constitui um direito mínimo dotrabalhador, que pode ser melho-rado por meio de alteraçõeslegislativas e convencionais, porqueo aludido art. 7º assegura garanti-as mínimas e, no Direito do Traba-lho, a hierarquização das normasleva em conta aquela que for maisfavorável ao trabalhador.

Desse modo, se o art. 7º cui-da de direitos mínimos dos traba-lhadores; se esses direitos podem sermelhorados por outras normas le-gais; se os dois referidos dispositi-

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vos trazem, de fato, melhoriasdirecionadas à preservação do bemmaior da pessoa humana – a vida –; a conclusão natural é que são elesconstitucionais, porque compatíveiscom a norma suprema. Assim, de-vem esses dispositivos legais ser ob-servados na interpretação do incisoXXVIII do art. 7º, para uma aplica-ção conjunta e harmonizada.

Na busca dessa harmoni-zação e do respeito aos princípios evalores fundamentais antes aludi-dos, passo a objetar sobre a respon-sabilidade do empregador em facedos acidentes de trabalho: a) nasdoenças ocupacionais (doençasprofissionais e do trabalho); b) nosacidentes-tipo ou típicos; c) por atoou fato de terceiro; e d) em relaçãoao servidor público.

2.1 Nas doenças ocupacionais

As doenças ocupacionais de-sencadeiam-se pelo exercício do tra-balho peculiar a determinada ati-vidade ou pelas condições especi-ais em que esse trabalho é realiza-do e com ele se relaciona diretamen-

te17. Suas causas são o meio ambi-ente do trabalho inadequado. Essasdoenças decorrem dos danos aomeio ambiente do trabalho. Elasvêm aumentando a cada dia em de-corrência das mudanças no mun-do do trabalho, que se agravamcom a precarização do trabalhohumano, fenômeno existente emquase todo o mundo e intensifica-do nas economias emergentes,como é o caso do Brasil18.

Com relação à responsabilida-de pelas agressões ao meio ambientee pelos danos reflexos experimen-tados por terceiros, é pacífico o en-tendimento de que se trata da mo-dalidade objetiva (CF, art. 225, § 3ºLei 6.938/81, art. 14, § 1º).

As doenças profissionais e dotrabalho originam-se das agressõesao meio ambiente, ou seja, dasações de agentes insalubres de na-tureza física, química ou biológica,os quais, por sua natureza, sãoagressivos ao meio ambiente do tra-balho e, conseqüentemente, desen-cadeiam tais doenças19.

17Uma importante e crescente causa de doenças relacionadas com o trabalho, à qual ainda se dápouca importância, é o estresse no trabalho ou pelo trabalho ou por falta do trabalho. Sobre otema, veja-se Maria José Giannella Cataldi, “O stress no meio ambiente de trabalho”, EditoraLTr, 2003.

18Nesse particular, existem seqüelas bastante antigas e outras correlacionadas com o trabalho naatualidade. Por exemplo, a pneumoconiose, conhecida como pulmão negro, que podia ser encon-trada entre mineiros de carvão durante muito tempo, ainda persiste como verdadeira epidemia deintoxicação; outras, como câncer, agravam-se por conta da existência e proliferação de agentesnocivos dos ambientes de trabalho: presumem-se duas mil substâncias carcinogênicas nos locaisde trabalho. Por outro lado, as mudanças no mundo do trabalho ocasionam repercussões nosambientes de trabalho e aparecimento de novos riscos e repercussões sobre a vida e a saúde dotrabalhador. Por conta do desenvolvimento de novas tecnologias, como os vídeo-terminais, sur-gem conseqüências para o obreiro, por exemplo, catarata, fadiga, dor de cabeça, dor muscular,estresse, depressão, problemas neurológicos. A par disso, a síndrome da imunodeficiência adqui-rida (AIDS) ocasiona riscos e repercussões nos ambientes de trabalho da área da saúde (laborató-rios, hospitais, clínicas, emergências); tal como a manipulação de organismos geneticamentemodificados (OGM) pode disseminar agente biológico, com conseqüências para a saúde dostrabalhadores e meio ambiente. Por seu turno, no que diz respeito às relações humanas no meioambiente do trabalho, são cada vez mais importantes as análises acerca de elementos psicológicoscomo a pressão para desempenho da atividade, que desencadeia a depressão e distúrbios emoci-onais (Cf. Júlio César de Sá da Rocha, Direito Ambiental do trabalho, p. 138).

19Nas doenças auditivas provocadas por ruído ocupacional, não é razoável obrigar o trabalhadorque se submeteu a um ambiente ruidoso e, em conseqüência, ficou surdo, que comprove a culpado empregador, porque os danos à saúde, neste caso, decorrem da agressão maior ao meioambiente. A doença eclode como conseqüência do dano ambiental.

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O benzenismo, o hidragirismoe o saturnismo, são também, entreoutras, doenças decorrentes dacontaminação do meio ambiente dotrabalho. Essas doenças decorremdo risco da atividade e são previsí-veis como conseqüência da utiliza-ção do benzeno, do mercúrio e dochumbo, respectivamente. Nessassituações de contaminação parece-me descabido exigir do trabalhadorcom tais doenças a comprovação daculpa do empregador! A responsa-bilidade nesses casos não pode seroutra senão, a objetiva. Nesse sen-tido também entendem Júlio Césarde Sá da Rocha20 e Fábio Aurélioda Silva Alcure21.

Desse modo, forçoso é con-cluir que nas hipóteses de doençasocupacionais decorrentes dos da-nos ao meio ambiente do trabalho,a responsabilidade pelos prejuízosà saúde do trabalhador é objetiva(§§ 3º do art. 225 da Constituição e1º do art. 14 da Lei 6.938/81).Igualmente se aplica este entendi-mento em relação aos acidentes-tipodecorrentes de danos ambientaisgerais. A razão é que, sendo o meioambiente do trabalho um aspecto in-tegrante do meio ambiente geral(arts. 200 -VIII e 225 da Constitui-ção), toda e qualquer lesão decorren-te dos desequilíbrios ambientaisatraem a regra da responsabilidadeobjetiva assegurada nos aludidos dis-positivos.

Em contrapartida, a respon-sabilidade subjetiva de que trata oinciso XXVIII do art. 7º aplica-sesomente nos acidentes que não de-corram de degradação ambiental,

ressalvados os eventos oriundos dasatividades de risco, de fato de ter-ceiro e aqueles que envolvam os ser-vidores públicos, cuja responsabili-dade, como analisada a seguir, éobjetiva.

2.2 Nos acidentes-tipo ou típicos

Acidente-tipo é o evento ins-tantâneo que atinge o trabalhadorde súbito, causando-lhe gravameconsubstanciado numa incapacida-de parcial ou total (transitória oudefinitiva) para o trabalho, comdano lesivo à saúde física ou psí-quica, podendo ainda resultar namorte do trabalhador.

O evento acidentário pode tercomo causas (fatores): a) atividadesde risco; b) condições inseguras detrabalho; c) ato inseguro de culpaexclusiva do trabalhador; e d) atoou fato de terceiro.

2.2.1 Nas atividades de risco

O Código Civil (art. 927, §único) adotou a teoria do riscocomo fundamento da responsabili-dade objetiva paralelamente à teo-ria subjetiva, verbis: “Haverá obri-gação de reparar o dano, indepen-dentemente de culpa, nos casos es-pecificados em lei, ou quando a ativi-dade normalmente desenvolvida peloautor do dano implicar, por sua natu-reza, risco para os direitos de outrem(grifados)”.

Trata-se de conceito abertoque, por falta de regulamentaçãoexpressa do que seja atividade derisco, será uma tarefa árdua para ajurisprudência e a doutrina resol-verem, podendo, por isso, levar a

20Direito Ambiental e meio ambiente do trabalho: dano, prevenção e proteção jurídica, p. 67.21Meio ambiente de trabalho e perda auditiva. Responsabilidade objetiva do empregador, p. 46/7.

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um entendimento restritivo ouampliativo.

A atividade de risco pressu-põe a possibilidade de um perigo in-certo, inesperado, mas, em face deprobabilidades já reconhecidas porestatísticas, é esperado. A nature-za da atividade é a peculiaridadeque vai caracterizar o risco capazde ocasionar acidentes e provocarprejuízos. A atividade de risco éaquela que tem, pela sua caracte-rística, uma peculiaridade que des-de já pressupõe a ocorrência de aci-dentes. Tem ela intrinsecamente aoseu conteúdo um pe-rigo potencialmentecausador de dano aalguém. O exercíciode atividade quepossa oferecer perigorepresenta um risco,que o agente assume,de ser obrigado a res-sarcir os danos queresultarem para ter-ceiros.

O que configu-ra a responsabilidade objetiva pelorisco da atividade não é um riscoqualquer, normal e inerente à ativi-dade humana e/ou produtiva nor-mais, mas aquela cujo risco ineren-te é excepcional e incomum, embo-ra previsível22 ; é um risco que dápraticamente como certa a ocorrên-

cia de eventos danosos para as pes-soas. Este risco deve decorrer da ati-vidade potencialmente perigosa de-senvolvida com regularidade por al-guém que busca um resultado que,pela experiência acumulada, podeprever a ocorrência de acidentescom prejuízos para as pessoas.

A natureza potencialmenteperigosa da atividade de risco é apeculiaridade que a diferencia dasoutras atividades para caracterizaro risco capaz de ocasionar aciden-tes e provocar prejuízos indenizá-veis, com base na responsabilidade

objetiva (CC, art.927)23. Nesse senti-do, a decisão seguin-te: “... insta destacarque a responsabili-dade de reparar odano independe deculpa ‘quando a ati-vidade normalmen-te desenvolvida peloautor do dano impli-car, por sua nature-za, riscos para os di-

reitos de outrem’, nos termos do pa-rágrafo único do artigo 927, doCCB, que é exatamente o que ocor-re quando uma empresa impõe ascondições de trabalho aos seus em-pregados”24.

Se no direito comum as difi-culdades são grandes quanto à

“O que configura a respon-sabilidade objetiva pelo ris-co da atividade não é umrisco qualquer, normal e

inerente à atividade humanae/ou produtiva normais,

mas aquela cujo risco ine-rente é excepcional e

incomum, emboraprevisível...”

22Dada a previsibilidade do evento danoso, é devida indenização ao empregado que acidenta-seno trabalho quando o empregador, sem oferecer o devido treinamento, requisita-o para operarmáquina (RT, 757:316. In Carlos Roberto Gonçalves, Responsabilidade civil, p. 466).

23O Direito espanhol reconhece as atividades de risco ou perigosas como caso de responsabilidadeobjetiva para efeito de reparação dos acidentes de trabalho, como registra Manuel Luque Parra2,verbis: “Por el contrario la doctrina civil suele partir de una aplicacion mucho màs restringida dela teoría del riesgo, acuidiendo únicamente a criterios de imputación objetiva ante actividadesempresariales peligrosas. Siendo, normalmente, supuestos de responsabilid previstos yanormativamente (navegación aérea, energía nuclear, vehículos de motor, caza... “Laresponsabilidad civil del empresario en materia de seguridad y salud loboral”, p. 204).

24Processo TRT/15ª R, nº RO 498-2002-114-15-00-0; 6ª Turma; publicado no DOESP em 23.01.2004;Rel. Juiz Jorge Luiz Souto Maior (www.trt15.gov.br).

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identificação das atividades de ris-co, no Direito do Trabalho tal nãoconstitui novidade, por pelo menosduas razões. Já existem dois amploscampos de atividades consideradasde risco: a) as atividades insalubres(CLT, art. 189 e NR nº 15 da Porta-ria 3.214/77); e b) as atividadesperigosas (CLT, art. 193 e NR nº 16da Portaria 3.214/77).

Também é considerada peri-gosa a atividade exercida em con-tato com eletricidade (Lei 7.410/85e Decreto nº 92.530/86). Emboranão prefixadas em lei, há inúmerasoutras atividades consideradas pe-rigosas, pela sua natureza e formade exercício, e, portanto, enquadrá-veis como de risco para os efeitosdo § único do art. 927 do CC. NoDireito do Trabalho, ajudará ao juiznesse enquadramento a classificaçãodas empresas segundo o grau de ris-co de sua atividade (CLT, art. 162 eLei 8.212/91, art. 22, inciso II, letrasa, b e c).

São exemplos de atividadesperigosas que caracterizam a res-ponsabilidade objetiva pelapotencialidade de risco, entre ou-tras: a) o transporte ferroviário, quefoi um dos primeiros casos reconhe-cidos pela lei como atividade de ris-co; b) o transporte de passageirosde um modo geral; c) a produção etransmissão de energia elétrica; d)a exploração de energia nuclear; e)a fabricação e transporte de explo-sivos; f) o contato com inflamáveise explosivos; g) o uso de arma defogo; h) o trabalho em minas; i) otrabalho em alturas; j) o trabalhode mergulhador subaquático; k) asatividades nucleares; e l) as ativi-

dades insalubres e perigosas.

Estes são alguns casosilustrativos de atividades de risco,porquanto existe uma infinidade desituações encontráveis no dia-a-dia,como certamente serão reconheci-das pela doutrina e jurisprudência.Foram exatamente as atividades demaior risco que deram origem à res-ponsabilidade objetiva do emprega-dor no mundo, sobretudo a partirda Revolução Industrial, com o au-mento dos acidentes e das doençasdo trabalho.

Ademais, não se pode esque-cer que o art. 2º da CLT consagraque o empregador que busca resul-tados com a sua atividade, assumeos riscos da mesma em face daque-le que lhe presta serviços.

Pablo Stolze Gagliano eRodolfo Pamplona Filho25 dizemque quem deve assumir os riscos daatividade econômica (ou mesmo osriscos econômicos da atividade) é oempregador, e não o empregado,que se subordina juridicamente, deforma absoluta, ao poder patronalde direção. Eis a premissa básicapara se entender a responsabilida-de civil nas relações de trabalho su-bordinado, a par do disposto no §único do art. 927 do CCB.

Negar a responsabilidade ob-jetiva como um direito do trabalha-dor brasileiro na situação ora emanálise, seria mesmo um inexpli-cável paradoxo.

Assim, considerando a recepçãodo § único do art. 927 do CódigoCivil pelo inciso XXVIII do art. 7ºda Constituição, com apoio do § 3ºdo art. 225 da mesma Carta e, le-

25Novo curso de Direito Civil – Responsabilidade civil, p. 264.

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vando em conta os princípios que in-formam o Direito do Trabalho, osfundamentos da dignidade da pes-soa humana e dos valores sociais dotrabalho (CF, art. 1º), entendo apli-cável a responsabilidade objetiva doempregador nos acidentes de traba-lho em atividades de risco. Outros-sim, o § único do art. 927 do CódigoCivil não autoriza afirmar que a te-oria do risco foi adotada em carátergeral, para abranger qualquer risco.No caso, aplica-se aos riscos especi-ais da atividade do empregador.

2.2.2 Por condições inseguras detrabalho

Insegura é a condição ineren-te às instalações, maquinários, equi-pamentos de trabalho etc. A con-dição insegura de trabalho é fatorpropício à ocorrência de acidentescom lesão para o trabalhador e podeser de causa simples (degrau danifi-cado de uma escada) ou de causacomplexa (uma cadeia de fatoresque podem causar os acidentes).

As condições inseguras ou fal-ta de segurança no trabalho são osfatores que mais provocam aciden-tes de trabalho, como afirma o mé-dico e perito do trabalho OsvaldoMichel26 . A condição insegura, di-ferentemente da atividade de ris-co27 , é passível de neutralização oucorreção por meio de adequada pre-venção a cargo do empregador,como cláusula obrigatória do con-

trato de trabalho. Assim, constituiatividade de risco o trabalho em con-tato com corrente elétrica; já as ins-talações elétricas mal feitas ou im-provisadas com fios expostos etc.,constituem condição insegura28.

O contrato de trabalho é umcontrato sinalagmático e de adesão.Da primeira característica decorremobrigações recíprocas. De um lado,o empregado está obrigado a colo-car à disposição do empregador asua força de trabalho e cumprir ri-gorosamente as regras fixadas nocontrato, como também aquelas de-correntes de lei, servindo de exem-plo o dever de obediência às ordense disciplina para o bom andamentodo trabalho. De outro, cabem aoempregador inúmeras obrigações,como o pagamento de salários pelacontraprestação dos serviços e a pre-servação da integridade física e men-tal do trabalhador no local de tra-balho mediante a redução dos ris-cos inerentes ao trabalho, por meiode normas de saúde, higiene e segu-rança (CF, art. 7º, inciso XXII).

É forçoso reconhecer que omais importante conteúdo do con-trato de trabalho é a preservaçãoda vida do trabalhador. Esta é amais importante cláusula inseridaimplicitamente no contrato de tra-balho, pelo que a responsabilidadedecorrente dos acidentes de traba-lho é do tipo contratual. A culpa,no caso, é contratual. Veja-se, nes-

26Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, p. 53.27Na atividade de risco o que se pode fazer é tomar precauções para diminuir as possibilidades de

ocorrência de acidentes, porquanto eliminar essa possibilidade por completo é praticamente impos-sível, como por exemplo, nas atividades em contato com inflamáveis, explosivos, com energiaelétrica, atividades nucleares etc.

28Como condição insegura pode-se citar outros exemplos: iluminação ou ventilação inadequada,defeitos dos equipamentos de trabalho, projetos e construções inseguras, processos, operações oudisposições perigosas (empilhamento e armazenamento errados, passagens obstruídas, sobrecar-ga sobre o piso, congestionamento de máquinas e operadores nos locais de trabalho), não forneci-mento de equipamentos individuais – EPIs – ou fornecimento de EPIs inadequados ou com otempo de uso vencido e falta de medidas coletivas de proteção no meio ambiente do trabalho.

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se sentido, decisão do STF: “Cuida-se, ademais, de responsabilidadecivil proveniente de culpa contra-tual e não de culpa aquiliana, eisque a empresa não cumpriu a obri-gação implícita concernente à segu-rança do trabalho de seus empre-gados e de incolumidade, durantea prestação de serviços, determi-nando, no caso, como reconheceuo acórdão, ‘a remoção de pesa-díssima peça sem o equipamentotécnico e as cautelas necessárias, desorte que o deslizamento verifica-do era perfeitamente previsível’”29.

A responsabilidade contra-tual deriva de um contrato entre aspartes, no caso, empregado e em-pregador, surgindo o dever de in-denizar por parte de um dos con-tratantes pelo descumprimento dedeterminada obrigação decorrentedo pactuado. Para ilustrar, lembre-se o caso clássico do contrato detransporte coletivo, celebrado taci-tamente, por adesão do passageiroàs regras oferecidas pela empresa,que assume implicitamente a obri-gação de transportá-lo de forma adeixá-lo no local de destino ilesoquanto à sua integridade física epsíquica. É o caso, mutatismutandis, do contrato de trabalho,pois além de estar implícita nele aobrigação de respeito à saúde e in-tegridade física do trabalhador30,

trata-se o mesmo de um contratode adesão, em que o trabalhador,pela situação de dependência eco-nômica que lhe é peculiar no con-trato de trabalho, arrisca a sua saú-de, integridade física e a vida31.

Há duas teorias sobre a res-ponsabilidade civil: a) a dualista,que procura embasar a responsa-bilidade extracontratual na culpa,e a contratual no simples descum-primento da norma avençada; e b)a monista, que diz ser o descum-primento da norma legal oucontratual o fundamento, em re-gra, para os dois tipos de responsa-bilidade.

O Direito Civil brasileiro ado-tou a teoria dualista (extracontra-tual: arts. 186 a 188 e 927 econtratual: art. 389 e seguintes).Existe uma importante distinçãoentre as duas formas de responsa-bilidade com relação à prova, poiscomo sustentam, entre outros,Carlos Roberto Gonçalves32, CaioMário da Silva Pereira33 e AntônioElias de Queiroga34 , a mais signifi-cativa diferença que há entre asduas formas de responsabilidadediz respeito ao onus da prova. As-sim, enquanto na responsabilidadecontratual o credor só está obriga-do a demonstrar que a prestação foidescumprida e que houve um pre-

29RE nº 94.429-0, 1ª Turma, Relator Ministro Néri da Silveira; DJU de 15/06/84.30Nesta linha também é o entendimento de João José Sady ao afirmar que “a garantia de condições

de trabalho sadias em termos de higiene e segurança constitui uma cláusula implícita docontrato de trabalho (Direito do meio ambiente de trabalho, p. 126).

31Pinho Pedreira, com apoio nas lições de Horácio de Fuente sustenta que enquanto nas contrataçõesprivadas se achem normalmente em jogo valores econômicos e como exceção podem ser afeta-dos bens pessoais dos contratantes, geralmente de forma indireta, no contrato de trabalho otrabalhador, pela situação de dependência pessoal em que se encontra, arrisca permanentemen-te seus bens pessoais mais valiosos (a vida, integridade física, honra, dignidade etc.) (A repara-ção do dano moral no Direito do Trabalho, p. 555).

32Responsabilidade civil, p. 27.33Responsabilidade civil, p. 247.34Op. cit., p. 8/9.

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juízo (dano), na extracontratual oqueixoso terá que provar todos oselementos da responsabilidade ci-vil: o dano, a infração à norma e aculpa do agente. Na culpa contra-tual inverte-se o onus probandi parao réu. Este, para não ser condena-do na obrigação, terá que provar aocorrência de alguma das causasexcludentes admitidas na lei, comoa culpa exclusiva da vítima, o casofortuito ou a força maior. É a hipó-tese do acidente de trabalho em queo empregador, no caso de acidentedecorrente de condição insegura,deverá, para se isentar da conde-nação, comprovar que cumpriu asobrigações contratuais no que dizrespeito às normas de segurança emedicina do trabalho, pois na res-ponsabilidade contratual, que é ocaso, a culpa é presumida, porquehá um dever positivo de adimple-mento do objeto do contrato.

Não estou abandonando aidéia do elemento culpa, pois, comoafirma Caio Mário da Silva Perei-ra35, na tese da presunção de culpasubsiste o conceito genérico de cul-pa como fundamento da responsa-bilidade civil. Onde se distancia daconcepção subjetiva tradicional éno que concerne ao ônus da prova.Dentro da teoria clássica da culpa,a vítima tem o dever de demons-trar a existência dos elementos fun-damentais de sua pretensão, so-bressaindo o comportamento cul-poso do demandado. Ao se enca-minhar para a especialização daculpa presumida, ocorre uma inver-são do onus probandi. Em certas cir-

cunstâncias, presume-se o compor-tamento culposo do causador dodano, cabendo-lhe demonstrar aausência de culpa, para se eximirdo dever de indenizar.

Há um importante traçodiferenciador entre as responsabi-lidades contratual e extracon-tratual: na primeira, existe um laçode direito, uma relação jurídica queune o autor do dano e a vítima doprejuízo, que é o contrato. Na se-gunda, inexiste qualquer relação dedireito ligando autor e vítima.

No caso do acidente de tra-balho há uma situação jurídica en-tre o autor do dano (o empregador)e a vítima (o empregado), ligadospor um contrato de trabalho quecontém cláusulas explicitadas nopróprio instrumento e outras cons-tantes do ordenamento jurídicopositivo, que integram o pacto detrabalho como direitos fundamen-tais do trabalhador. O exemplomais candente desta situação jurí-dica é o respeito à saúde e à vidado trabalhador, por meio daimplementação de condições segu-ras de trabalho. É isto que funda-menta a natureza contratual daresponsabilidade decorrente de aci-dentes de trabalho, para efeito dainversão do ônus da prova a favorda vítima do acidente, além, é cla-ro, do risco, que justifica a assunçãodas conseqüências para quem ocriou. Essa inversão decorre da pre-sunção de culpa do empregador,que tem a obrigação de resguardaros seus empregados dos riscos ine-rentes ao trabalho36 .

35Op. Cit., p. 26536Cumpria à empresa resguardar seus empregados dos riscos inerentes à atividade específica por

eles exercida. Assim, se deixa ela de fazer, ao lado dos rotineiros exames médicos adequados àfunção de cervejeiro – psiquiátricos, psicológicos –, de prestar ao empregado a assistência sociale de afastá-lo periodicamente da atividade específica, não há como deixar de reconhecer a suaculpa (TJRJ, Ap. 6.741/98, 5ª Câm. Cível., Des. Carlos Ferrari, j. 20-10-1998. In Carlos RobertoGonçalves, Responsabilidade civil, p. 467).

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Afirma Caio Mário da Silva Pe-reira37 : “Foi assim que nasceu a obri-gação de indenizar a vítima de umacidente no trabalho, antes que estedever assumisse as veras de um insti-tuto autônomo. Imaginou-se, diz DePage, que no contrato de trabalhoocorre a ‘obrigação de seguridade’.Sobrevindo o acidente, o empregadortem o dever de indenizar, como efeitode uma obrigação contratual”.

Trata-se da aplicação de teo-ria doutrinária antiga, existentedesde as origens das reparações poracidentes de trabalho, que vem jus-tificando, no mundo inteiro, aresponsabilização do empregadorperante o empregado inferiorizadono tocante à prova da culpa daque-le. É certo que a inversão do ônusda prova com base na responsabi-lidade contratual já vigora nas de-mais relações civis e comerciais, in-clusive no Direito do Trabalho, nãopodendo ser diferente nos aciden-tes de trabalho, nos quais encon-tram-se os mais justificados funda-mentos dessa inversão, como é ób-vio. Nesse sentido reconhece LuizArthur de Godoy38 . Assim, apenaspode exonerar-se o empregador seeste demonstrar o emprego das me-didas recomendadas, sem ter logra-do evitar, no entanto, o aconteci-mento danoso. Ou, se comprovar aculpa exclusiva da vítima, ou a in-tervenção de caso fortuito ou de

força maior. No mesmo sentidocompartilha José Cairo Júnior39.

Cabe lembrar que a inversãodo ônus da prova não constitui no-vidade no Direito do Trabalho,como há muito tempo reconhecema doutrina e a jurisprudência40 . Essainversão pode decorrer da lei ou decriação jurisprudencial, como afir-ma Caio Mário da Silva Pereira41.

A inversão do ônus da provatem como objetivo a busca da verda-de real e se norteia em princípio dejustiça. No Direito do Trabalho acres-ce-se, como fundamento, o princípioda hipossuficiência do trabalhador.

Não obstante isso, o funda-mento da responsabilidade, nocaso, continua sendo a culpa, quese presume, por um processo técni-co relativo ao sistema da prova. Sãopresunções juris tantum que, sendorelativas, permitem prova em con-trário daquilo que se presume. Nãose cogita de presunção juris et dejuris, que na verdade, seria a pró-pria responsabilidade objetiva ou,então, como afirmado por AlvinoLima42, tratar-se-ia de uma simplesficção de culpa, por não permitir aprova em contrário.

A regra da inversão do ônusda prova está consagrada na leibrasileira nos arts. 6º, inciso VIII43

e 3844 do CDC.37Op. cit., p. 266.38Responsabilidade de direito comum e dano resultante de acidente do trabalho, p. 110.39O acidente do trabalho e a responsabilidade civil do empregador, p. 86.40São exemplos as Súmulas: 68 (que trata do ônus da prova na equiparação salarial), 212 (que cuida

do ônus da prova do motivo do término da relação de emprego) e 338 (que cria presunção relativasobre a veracidade da jornada de trabalho alegada pelo empregado em processo judicial).

41Responsabilidade civil, p. 266.42Culpa e risco, p. 76.43Artigo 6º, inciso VIII do CDC – São direitos do consumidor: [...] a facilitação da defesa de seus

direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova a seu favor, no processo civil, quando, acritério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regrasordinárias da experiência.

44O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe aquem as patrocina.

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Essa regra aplica-se com mai-or razão nos acidentes de trabalho,porque a insegurança das condiçõesde trabalho como causa dos aci-dentes gera presunção juris tantumem face das estatísticas que mos-tram que a maioria dos acidenteslaborais tem como causa a falta deprevenção dos riscos ambientais.Neste caso, é muito mais fácil parao empregador provar que cumpriusuas obrigações contratuais do queo empregado demonstrar odescumprimento das mesmas.

Conclui-se, portanto, que nosacidentes decorrentes de condiçõesinseguras de trabalho, por se tratarde uma responsabilidade contra-tual, inverte-se o ônus da provapara o empregador. Cumpre a este,para não arcar com as conseqüên-cias reparatórias, comprovar quenenhuma culpa teve em relação aoacidente, ou seja, que cumpriu assuas obrigações contratuais atinen-tes às normas de medicina, higienee segurança do trabalho.

2.2.3 Por ato inseguro de culpaexclusiva do trabalhador

Ato inseguro é uma condutaindevida do elemento humano, queno caso do acidente de trabalhoconstitui “a maneira pela qual o tra-balhador se expõe, consciente ou in-conscientemente a risco de aciden-tes. Em outras palavras, é um certotipo de comportamento que leva aoacidente”45.

O ato inseguro, quando deculpa exclusiva do trabalhador,constitui hipótese de exclusão daresponsabilidade do empregadorpelos danos causados, cabendo aeste comprovar que de fato não con-correu de nenhuma forma para oevento, que aconteceu por culpaexclusiva da vítima. Na análise doacidente não pode ser desde logoconsiderada como causa, isolada-mente, o ato ou a condição que ori-ginou o evento. Devem ser analisa-das todas as causas, desde a maisremota, o que permitirá um ade-quado estudo e posterior neutra-lização ou eliminação dos riscos.Até o presente momento, nenhumadas máquinas construídas, nenhumdos produtos químicos obtidos porsíntese e nenhuma das teorias soci-ais formuladas alteraram funda-mentalmente a natureza humana.As formas de comportamento, quedevem ser levadas em consideraçãono esforço de prevenir atos insegu-ros, deverão ser analisadas demodo bastante abrangente46 .

É oportuno lembrar que aobrigação das empresas com rela-ção à prevenção de riscosambientais não é somente adotarmedidas preventivas de segurançae fornecer equipamentos aos em-pregados, mas também instruir ostrabalhadores e conscientizá-los danecessidade de se evitar acidentes,podendo, para tanto, utilizar-se doseu poder disciplinar em face do

45Cf. Osvaldo Michel, Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, p. 55.46É preciso que se examine em que situação e circunstâncias foi praticado o ato que levou ao

acidente; se o trabalhador agiu consciente ou inconscientemente; se estava usando equipamen-tos de proteção adequados; se os recebeu e se os mesmos estavam dentro do tempo de vida útil;qual o ritmo do trabalho; quais as exigências de produção por parte da empresa; se o trabalha-dor tinha capacitação técnica para a atividade e, se não a tinha, se recebeu autorização superiorpara tanto; se estava devidamente instruído para executar a tarefa que levou ao evento; seestava em jornada normal de trabalho ou se cumpria sobrejornada excessiva; se estava traba-lhando sob algum tipo de pressão psicológica ou econômica; se estava cumprindo aviso prévioetc.

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empregado recalcitrante. Comoafirma a jurisprudência, “o simplesfornecimento do aparelho de pro-teção pelo empregador não o exi-me do pagamento do adicional deinsalubridade, cabendo-lhe tomaras medidas que conduzam à dimi-nuição ou eliminação da nocivi-dade, dentre as quais as relativasao uso efetivo do equipamento peloempregado” (Súmula 289/TST).

Assim, o ato inseguro, de cul-pa exclusiva do empregado, com-provado pelo empregador, exclui aresponsabilidade deste com relaçãoà reparação pelos danos resultan-tes do acidente.

2.3 Por ato ou fato de terceiro

Além da responsabilidadepor ato próprio (arts. 186 e 927 doCCB), estabelece a lei alguns casosem que alguém deve suportar asconseqüências decorrentes do fatoou ato de terceiro (CC, art. 932 -III), verbis:

Artigo 932 – São também res-ponsáveis pela reparação civil:

III - o empregador ou comi-tente, por seus empregados, serviçaise prepostos, no exercício do traba-lho que lhes competir, ou em razãodele (grifados);

Prescreve o art. 933 do mes-mo Código que as pessoasindicadas nos incisos I a V do arti-go antecedente, ainda que não hajaculpa de sua parte, responderãopelos atos praticados pelos tercei-ros ali referidos. Finalmente, cons-ta do § único do art. 942 do CC quesão solidariamente responsáveiscom os autores os co-autores e aspessoas designadas no artigo 932.

Deflui dos dispositivos legaismencionados que alguém, mesmo

não tendo praticado diretamenteato danoso para outrem, pode res-ponder pelas conseqüências desseato, praticado por um terceiro comquem mantenha alguma relaçãojurídica estabelecida por lei ou con-tratualmente, sendo esta responsa-bilidade de natureza objetiva (art.933 e § único do art. 942).

É o caso das terceirizações deserviços, muito comuns no Direitodo Trabalho, onde existe um con-trato entre o tomador e a empresaprestadora, pelo qual esta recebeordens da contratante para a reali-zação dos serviços objeto do con-trato, na direção do interesseobjetivado pela tomadora, que de-termina à contratada o modo comodevem os serviços ser realizados,variando a fiscalização pelatomadora conforme cada caso. Emuns, a fiscalização é exercida diá-ria e diretamente pela tomadorados serviços, especialmente quan-do estes são executados no próprioestabelecimento do tomador; emoutros casos em que a prestação dosserviços é executada fora do esta-belecimento do tomador, não raroeste designa supervisores para ori-entarem e acompanharem a execu-ção dos serviços e a qualidade doproduto final, que se não estiveremde acordo com as suas necessida-des de mercado são rejeitados, daíresultando essa forma especial desubordinação.

No Código anterior, a res-ponsabilidade por fato de outremera presumida (juris tantum) em faceda chamada culpa in vigilando ouin eligendo, tendo o STF emitido aSúmula 341, com o seguinte teor:“É presumida a culpa do patrão oucomitente pelo ato culposo do em-

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pregado ou preposto”. Assim, se opatrão provasse haver tomado to-dos os cuidados reclamados pelacircunstância, ficava exonerado daresponsabilidade pelo ato do seuempregado ou preposto. Todavia,não valem mais tais consideraçõesporque, como afirma CarlosRoberto Gonçalves47 , “o novo Có-digo Civil, como já se afirmou, con-sagrou a responsabilidade objetiva,independente da idéia de culpa,dos empregadores e comitentes pe-los atos de seus empregados, servi-çais e prepostos (artigo 933), afas-tando qualquer dúvida que aindapudesse existir sobre o assunto e tor-nando prejudicada a Súmula 341do Supremo Tribunal Federal, quese referia ainda à ‘culpa presumi-da’ dos referidos responsáveis. Res-ta ao empregador somente a com-provação de que o causador dodano não é seu empregado oupreposto, ou que o dano não foicausado no exercício do trabalhoque lhe competia, ou em razãodele”48 .

Esta alteração legal represen-tou uma das mais importantes no-vidades em termos de revoluçãoprovocada pelo Código Civil de2002 em matéria de responsabilida-de de terceiro ou por fato de ou-trem, pela adoção da teoria do ris-co e pelo conseqüente abandono dorequisito da inversão do ônus daprova, ou seja, substituiu-se a cul-

pa presumida e o ônus probatórioinvertido pela objetivação efetivada responsabilidade civil.

Essa responsabilidade, queconsta explicitamente da lei e sobrea qual não cabe mais discussão, fun-damenta-se na teoria do risco-pro-veito49 do empregador ou tomadorde serviços pela atividade que de-senvolve, isto porque tanto o em-pregador em relação ao seu empre-gado, como o tomador em face àsempresas terceirizadas vivem emfunção do lucro, pelo que, como ad-verte Antônio Elias Queiroga50 ,deve a responsabilidade civil dopatrão ou comitente ser examina-da com maior rigor do que a res-ponsabilidade civil dos pais, tam-bém objetiva, porque estes não ti-ram nenhum proveito da ativida-de dos filhos menores, ao contráriodo patrão ou comitente que utilizaos seus empregados para fins lucra-tivos.

A responsabilidade por fatode terceiro surgiu em face de trêsmodalidades de culpa: culpa ineligendo, porque o tomador escolheumal a empresa terceirizada, porexemplo (preposto); culpa ininstruendo, porque não foram minis-tradas ao preposto (empresaterceirizada) as instruções devidase, culpa in vigilando, por falta deuma adequada e precisa vigilânciasobre a conduta do agente (empre-

47Responsabilidade civil, p. 148.48Analisando o projeto de Código Civil de 1975, que deu origem ao atual, já se manifestava Caio

Mário da Silva Pereira, dizendo que: “Todo aquele (pessoa física ou jurídica) que empreendeuma atividade que, por si mesma, cria um risco para outrem, responde pelas suas conseqüênci-as danosas a terceiros. Não haverá cogitar se houve um procedimento do comitente na escolhaou na vigilância do preposto, isto é, faz-se abstração da culpa in eligendo ou in vigilando”(Responsabilidade civil, p. 289).

49A insegurança material da vida moderna criou a teoria do risco-proveito, sem se afastar dosprincípios de u’a moral elevada, sem postergar a dignidade humana e sem deter a marcha dasconquistas dos homens (Alvino Lima, Culpa e risco, p. 336).

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sa terceirizada). Outrossim, pelosistema legal vigente no novo Có-digo Civil, essas modalidades deculpa são presumidas juris et de jure,não incumbindo mais à vítima,como no sistema anterior, prová-las51. O preponente somente se exo-nerará da indenização se provarcaso fortuito ou força maior ou queo evento se deu sem nexo de causa-lidade com relação a ele, ou seja,que a conduta foi praticada forados limites da preposição”52.

Conclui-se, assim, com baseno novo CC, que a responsabilida-de do empregador ou comitente(tomador de serviços) pelos atos,respectivamente, dos seus empre-gados e prepostos (empresasterceirizadas) que causem aciden-tes de trabalho e conseqüentes da-nos à saúde dos trabalhadores, é ob-jetiva53 e solidária54.

2.4 Em relação ao servidor público

Como qualquer trabalhador,o servidor público também está su-

jeito aos acidentes e doenças do tra-balho. A falta de prevenção, a es-cassez de funcionários e os movi-mentos repetitivos levam centenasde servidores a afastamentos pordoenças ocupacionais e até à inca-pacidade para a atividade habitu-al. O ritmo de trabalho, a mas-sificação do trabalhador, a perdada individualidade e os movimen-tos repetitivos são as causas demuitas doenças, como a LER/DORT, que vem se expandindo en-tre os trabalhadores públicos. Emoutros casos, v.g., na polícia, hámuitos acidentes com a morte ouinvalidez de policiais em serviçoscombatendo o crime, muitas vezessem as mínimas condições de tra-balho; noutras situações a ativida-de causa stress e provoca váriasdoenças (distúrbios psíquicos etc).

Toda evolução da responsa-bilidade civil do Estado, desde airresponsabilidade até a responsa-bilidade objetiva sem culpa levouem conta os fundamentos do risco

50Responsabilidade civil e o novo Código Civil, p. 228.51A responsabilidade por fato de outrem, no Direito do Trabalho, é muito mais facilmente justificada

pela teoria do risco-proveito ou, mesmo, do risco da empresa, do que com o emprego depresunção de culpa, tendo essa responsabilidade por fundamento o dever de segurança doempregador ou preponente em relação àqueles que lhe prestam serviços (Cf. Carlos AlbertoMenezes Direito e Sérgio Cavalieri Filho, Comentários ao novo Código Civil, p. 221/13).

52Cf. Silvio de Salvo Venosa, que inclusive alerta para o fato de que “o fornecedor e fabricanterespondem pelos danos de seus empregados e prepostos causados ao consumidor, indepen-dentemente de culpa. Fora do campo do consumidor, ainda se exige a culpa do preposto”(Direito Civil – responsabilidade civil, p. 69). Significa dizer que no aspecto da responsabilizaçãopelo Código de Defesa do Consumidor o direito já atingiu, talvez, o seu auge quanto àhumanização na reparação dos danos, o que não ocorreu ainda com relação aos outros camposdo direito, mas que, como pensamos, pode vir a ocorrer em breve na esteira da evolução doinstituto da responsabilidade civil, especialmente na área do Direito do Trabalho, pela semprepresente característica da hipossuficiência, que foi o fundamento maior da responsabilidadesem culpa no CDC.

53Acidente do trabalho. Indenização. A sentença penal condenatória transitada em julgado, quefixa culpa do empregado pelo falecimento de companheiro seu durante jornada de trabalho, fazemergir a responsabilidade objetiva do patrão, nos termos do artigo 1.521, III, do Código Civil(1916, correspondente ao art. 932, inciso III, do novo Código). (RT, 744:280. In Carlos RobertoGonçalves, Responsabilidade civil, p. 467).

54Pode o autor promover a ação de indenização acidentária, pelo direito comum, contra a empresaempreiteira contratada, de que é empregado, e contra a empresa contratante, quando entenderque são elas, solidariamente, responsáveis pelo acidente sofrido, do qual lhe advieram seqüelasincapacitantes (2° TACSP, AgI 488.253, 5ª Câm., Rel. Juiz Adail Moreira, J, 3-6-1997. In CarlosRoberto Gonçalves, Responsabilidade civil, p. 468).

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criado, da solidariedade social e daidéia de justiça, esta, sobretudo emface da desigualdade existente en-tre o particular e a AdministraçãoPública, com maior dificuldade da-quele para provar a culpa desta.Trata-se da teoria do risco adminis-trativo, consagrada no Direito bra-sileiro (CF, art. 37, § 6º) e (CódigoCivil, art. 43).

A pergunta que se faz é se aAdministração Pública também res-ponde objetivamente perante osseus servidores no caso de danos de-correntes de acidentes de trabalho,vez que o art. 37, §6º, faz referência a“danos causados aterceiros” e o § 3º doart. 39 da Constitui-ção não mandouaplicar aos servido-res públicos o incisoXXVIII do art. 7º, queprevê a obrigato-riedade do segurocontra acidentes detrabalho e da indeni-zação de direito co-mum, no caso de dolo ou culpa doempregador. Entendo que se o re-ferido inciso XXVIII não se aplicaao servidor público, não há razãopara excluir o acidente de trabalhoque o vitima, da responsabilidadeobjetiva (CF, art. 37, § 6º).

Simples, portanto, parece aresposta para o servidor públicovítima de acidente de trabalho, poisse for reconhecido como tal, é por-que estava no exercício de uma fun-ção pública. Outrossim, antes de serservidor público, trata-se de um ci-dadão, de um particular como qual-quer outro, que, em face da Admi-nistração Pública, submete-se duasvezes à desigualdade que justifica

a aplicação da responsabilidade ob-jetiva: como cidadão e trabalhador.Não seria justo, lógico e jurídico queem face de um dano causado pelaAdministração Pública, que acarre-te prejuízo a um particular e a umservidor público ao mesmo tempo,este tenha que provar a culpa doEstado e aquele não.

Assim, provados o fato, odano e o nexo causal, surge o de-ver de reparar os danos aciden-tários pelo Estado, em face da res-ponsabilidade objetiva. Nesse sen-tido é a seguinte decisão: “Aciden-

te do trabalho. Inde-nização pelo direitocomum. Teoria dorisco administrativo.Art. 37, 6º, da CF.Culpa da munici-palidade, ademaisdemonstrada. Repa-ração devida, inde-pendentemente doseguro social. Hono-rários advocatícios.Recurso voluntário

não conhecido. Reexame necessá-rio conhecido e provido parcialmen-te. 1. Não se conhece de recurso vo-luntário quando se apresenta caren-te de fundamentação. 2. Em face dodisposto no art. 37, 6º, da CF, queadotou a teoria do risco adminis-trativo, a obrigação da munici-palidade indenizar o dano causa-do a seu funcionário independe daprova de culpa daquela. Somentea culpa exclusiva da vítima ou for-ça maior eximiriam a administra-ção pública da aludida obrigação,o que não ocorreu na espécie, onde,ademais, restou amplamente de-monstrada a sua culpa” (Tribunalde Alçada do Estado do Paraná;Apelação Cível nº 124.761.200; 2ª

“...antes de ser servidor pú-blico, trata-se de um cida-dão, de um particular como

qualquer outro, que, em faceda Administração Pública,submete-se duas vezes à

desigualdade que justifica aaplicação da responsabilida-de objetiva: como cidadão e

trabalhador.”

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Câmara Cível; Ac. nº 10.634; Rel.Juiz Pilde Pugliese, DJ-PR de 27/11/1998).

3 CONCLUSÕES

a) A responsabilidade pelosdanos causados à saúde do traba-lhador, quanto ao fundamento,aplica-se, além do inciso XXVIII doart. 7º da Constituição, o § 3º doart. 225 da CF, o § 1º do art. 14 daLei 6.938/81, o § único do art. 927e os arts. 932-III, 933 e 942, § únicodo Código Civil;

b) Nas doenças ocupacionaise acidentes decorrentes dos danosao meio ambiente, a responsabili-dade do empregador é objetiva;

c) Nos acidentes de trabalhodecorrentes de atividades de risco,a responsabilidade do empregadoré objetiva;

d) Nos acidentes em ativida-des comuns, por condições insegu-ras de trabalho (descumprimentodas normas-padrão de segurança ehigiene do trabalho), a responsabi-lidade do empregador é subjetiva,com inversão do ônus da prova parao autor do dano;

e) Por ato inseguro de culpaexclusiva do trabalhador, devida-mente comprovado pelo emprega-dor, este ficará isento do dever dereparação;

f) Pelos danos causados àsaúde do trabalhador por ato oufato de terceiro (terceirização,quarteirização etc.) responde oempregador ou tomador de servi-ços solidária e objetivamente;

h) Nos acidentes de trabalhoenvolvendo servidor público, a res-ponsabilidade do Estado é objetiva.

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Gustavo Filipe Barbosa Garcia*

RELAÇÕES DE TRABALHO NO SETOR CANAVIEIRONA ERA DO ETANOL E DA BIONERGIA

Resumo: O crescimento das atividades no setor da cana-de-açúcar éum dos temas de maior destaque na atualidade. O presente estudoprocurar frisar que isso não pode ocorrer sem que as normas jurídicastrabalhistas, inclusive pertinentes à segurança e à medicina do traba-lho, sejam fielmente observadas. Os ideais de lucro e de enriquecimen-to econômico não podem ter conotação que afaste a necessária defesada segurança, da saúde e da própria dignidade da pessoa humana nasrelações de trabalho.

Sumário: 1 Introdução; 2 Meio ambiente de trabalho, Direito, Seguran-ça e Medicina do trabalho no contexto dos Direitos Humanos Funda-mentais; 3 Registro de empregados, grupo de empresas e terceirização;4 Jornada de trabalho, intervalos e folgas; 5 Trabalho migrante, recruta-mento de trabalhadores, alimentação e habitação; 6 Meio ambiente detrabalho no setor canavieiro, áreas de vivência e obrigações a seremobservadas no trabalho no campo; 7 Conclusão; 8 Bibliografia.

Palavras-chave: relação de trabalho; cana-de-açúcar; meio ambiente detrabalho.

1 INTRODUÇÃO

O grande crescimento do se-tor da economia referente ao cultivoda cana-de-açúcar, com a produçãodos diversos elementos e substânciasdela derivadas (com destaque para oaçúcar e o álcool), é mais do que co-nhecido e divulgado na atualidade1.

Em tempos de previsão deesgotamento de diferentes fon-tes de energia, com sérias difi-culdades e conflitos nas áreasde obtenção do pe t ró leo , aa tenção se vo l ta , cada vezmais, para as fontes de energiarenováveis, como a que se refe-re ao etanol.

*Procurador do Trabalho do Ministério Público do Trabalho da 2ª Região. Ex-Juiz do Trabalho da2ª Região, da 8ª Região e da 24ª Região. Ex-Auditor Fiscal do Trabalho. Bacharel e Doutor emDireito pela Universidade de São Paulo. Autor do livro “Curso de Direito do Trabalho”. SãoPaulo: Método, 2007.

1Cf. COSTA, Mário Luiz Oliveira da. Setor sucroalcooleiro: da rígida intervenção ao livre mercado.São Paulo: Método, 2003. p. 83: “A atividade sucroalcooleira, no Brasil, envolve números muitoexpressivos. Trata-se de uma das atividades agroindustriais de maior relevância no âmbitosocial, assim como no econômico”.

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O interesse no álcool combus-tível, desse modo, acaba por alcan-çar proporções internacionais, ge-rando notório aumento de sua pro-dução e investimentos no setor.

Esse aquecimento da econo-mia, trazido pelo impulso da cana-de-açúcar, apesar dos diferentes as-pectos positivos, vem muitas vezesacompanhado de sérios problemasambientais2 e nas relações de tra-balho, que precisam ser objeto deatenção do Estado e de toda a soci-edade.

Não se pode permitir que o in-teresse econômico prevaleça frentea valores de maior relevância, vol-tados à garantia dos direitos de or-dem fundamental, relacionados àhigidez do meio ambiente e à ob-servância das normas que regulamas relações de trabalho envolvidas.

O presente estudo, sem a in-tenção de esgotar a ampla temática,tem como objetivo destacar as prin-cipais disposições que devem serobservadas quanto ao trabalhoprestado no setor sucroalcooleiro,seja no âmbito rural, de plantaçãoe cultivo da cana-de-açúcar, sejanas destilarias, na produção dosseus derivados, entre eles o açúcar,oálcool carburante, a energia elétri-ca extraída do bagaço da cana, oplástico biodegradável, os álcooispara fins industriais, químicos e far-macêuticos e outros3.

Nesse enfoque, são indicadosos principais cuidados para se evi-tar danos ao meio ambiente de tra-balho e às relações de ordem traba-lhista, em defesa da segurança, asaúde e a dignidade daqueles delaboram no referido setor.

2 MEIO AMBIENTE DE TRABA-LHO, DIREITO, SEGURANÇA EMEDICINA DO TRABALHO NOCONTEXTO DOS DIREITOSHUMANOS FUNDAMENTAIS

O meio ambiente do trabalho in-sere-se no meio ambiente como umtodo, o qual, por sua vez, integra orol dos direitos humanos fundamen-tais, inclusive porque objetiva o res-peito à “dignidade da pessoa hu-mana”, valor supremo que revelao “caráter único e insubstituível dacada ser humano”4 , figurando, ain-da, como verdadeiro fundamento daRepública Federativa do Brasil (art.1º, inciso III, da CF/88).

Aliás, parte da doutrina do Di-reito Constitucional inclui o “meioambiente”, justamente, entre os cha-mados direitos fundamentais de “ter-ceira geração” ou “dimensão”.

Ao mesmo tempo, importan-tes direitos trabalhistas, diretamen-te relacionados à Segurança e Me-dicina do Trabalho fazem parte dosdireitos sociais, os quais também fi-guram como direitos humanos fun-damentais, normalmente conhecidos

2Cf. COSTA, Mário Luiz Oliveira da. Op. cit., p. 86: “Igualmente relevantes, no aspecto ambiental,os danos ao meio ambiente que a atividade sucroalcooleira poderá causar se mal conduzida,como a emissão de poluentes (despejados em terra, ar e rios) decorrentes do processo de industri-alização, os indevidos avanços por vezes verificados de determinadas plantações de cana nasmargens de rios, causando o seu assoreamento, assim como a queima da palha da cana, que gerapoluição visual e desconforto”.3Cf. COSTA, Mário Luiz Oliveira da. Op. cit., p. 173.4Cf. COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 3. ed. São Paulo:Saraiva, 2004. p. 31.

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como de “segunda geração” ou “di-mensão”.

Assim, observa-se nítidainterdependência entre o meio am-biente do trabalho, a Segurança eMedicina do trabalho, o Direito doTrabalho, os direitos sociais, os di-reitos fundamentais e o próprio Di-reito Constitucional5.

Cabe destacar que os diver-sos direitos sociais trabalhistas, inclu-sive o mandamento de “reduçãodos riscos inerentes ao trabalho, pormeio de normas de saúde, higienee segurança” (art. 7º, inciso XXII,da CF/88), encontram-se expressa-mente previstos no art. 7º da Cons-tituição Federal de 1988.

Tais disposições fundamen-tam o sistema jurídico de tutela domeio ambiente do trabalho, reconhe-cido pela Constituição da Repúbli-ca, em seu art. 200, inciso VIII, eque, como já mencionado, integrao meio ambiente em sentido global(art. 225 da CF/88); a par disso,estão incluídas no importante roldos direitos humanos fundamentais(art. 5º, § 2º, da Constituição Fede-ral de 1988)6 , aspecto este tambémreconhecido no âmbito internacio-nal7 , o que também fica evidente nadisposição do § 3.º do art. 5º, daCF/88, acrescentado pela EmendaConstitucional 45/20048.

Confirma-se, desse modo, aimportância de se observar as di-

5Cf. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Meio ambiente do trabalho: direito, segurança e medicina dotrabalho. São Paulo: Método, 2006.6Cf. MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e saúde do trabalhador: responsabili-dades legais, dano material, dano moral, dano estético. São Paulo: LTr, 2004. p. 31: “O meioambiente do trabalho adequado e seguro é um direito fundamental do cidadão trabalhador (latosensu)”.7Cf. SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito internacional do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 389.8Cf. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. São Paulo: Método, 2007. p. 48-49.

versas normas regulando as rela-ções de trabalho, seja no âmbitourbano, seja rural, no que tange àprodução da cana-de-açúcar e deseus derivados. Desse modo, nostópicos seguintes, serão destacadosos principais aspectos a merecerematenção.

3 REGISTRO DE EMPREGADOS,GRUPO DE EMPRESAS ETERCEIRIZAÇÃO

Como é evidente, os empre-gados do setor alcooleiro que pres-tem serviços, seja na agricultura,seja na parte industrial (destilaria),devem estar devidamente regis-trados, na forma do art. 41 da CLT,bem como ter as suas Carteiras deTrabalho de Previdência Social ano-tadas, conforme art. 29 da CLT.

Trata-se de dever imposto aoempregador, decorrente de normasde ordem pública, não dependen-do nem mesmo da vontade do tra-balhador.

Desse modo, não se admite ale-gações no sentido de que o emprega-do foi quem não quis ser registrado,não tinha ou não trouxe a CTPS.

Além disso, se o trabalhadorexerce função necessária e que in-tegre o regular desenvolvimento daatividade econômica, essencial parao empregador, fica de plano afas-tada a figura do mero “eventual”,pois o art. 3º da Consolidação das

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Leis do Trabalho, ao estabelecer osrequisitos da relação de emprego,não exige efetiva habitualidade naprestação de serviços (mas sim anão eventualidade). O mesmo ocor-re na previsão do art. 2º da Lei5.889/73, sobre a relação de empre-go rural.

Quanto ao empregador, ain-da no âmbito rural, a Lei 5.889/73,no art. 3º, § 2º, admite o grupo deempresas não só por subordinação,mas também por mera “coordena-ção”9.

Reconhecida a existência degrupo de empresas, ainda que nãotenha sido formalmente constituí-do (conforme princípio da prima-zia da realidade, incidente nas re-lações de trabalho), tem-se a con-seqüente responsabilidade solidáriade todos os seus integrantes, quan-to aos direitos referentes à relaçãode emprego.

Aliás, a NR 31, em seu item31.3.3.1, também prevê que: “Res-ponderão solidariamente pela apli-cação desta Norma Regulamen-tadora as empresas, empregadores,cooperativas de produção ou par-ceiros rurais que se congreguempara desenvolver tarefas, ou queconstituam grupo econômico”.

Desse modo, o grupo de em-presas no setor rural pode se confi-gurar bem mais facilmente, ou seja,mesmo ausente o controle exercidopor certa empresa principal em face

9MAGANO, Octavio Bueno. Manual de direito do trabalho: direito individual do trabalho. 3. ed. SãoPaulo: LTr, 1992. v. 2, p. 88.10Cf. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 181.11MAGANO, Octavio Bueno. Op. cit., p. 88.12REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1993. v. 2, p. 219: “Afalta de controle, como se vê, é que caracteriza a ‘coligação de sociedades’, permanecendo elasnum mesmo plano horizontal, sem uma subordinar à outra seus interesses”.

de outras subordinadas, bastandohaver certa “direção única”10 ,como forma de se assegurar a “re-alização de objetivos comuns”11.Essa ausência de controle exercidopor uma das empresas abrange asituação de empresas meramentecoligadas, previstas no art. 243, §1º, da Lei 6.404/76 e arts. 1.099 e1.100 do Código Civil de 200212.

Além desses aspectos, cabedestacar que o vínculo de empregoem questão deve ser mantido e for-malizado diretamente com o em-pregador, ou seja, aquele que se be-neficia da prestação dos serviços,na forma do art. 2º, caput, da CLT.

A intermediação de mão-de-obra, muitas vezes indicada comoterceirização (no caso, ilegal), emgrave fraude às relações de traba-lho (art. 9º da CLT), é juridicamen-te nula (gerando o vínculo de em-prego com o tomador, ou seja, o ver-dadeiro empregador) e socialmen-te inaceitável.

Nesse sentido, não se podepermitir que o verdadeiro empre-gador, ao invés de admitir direta-mente os seus empregados, insiraum intermediário como mero em-pregador “formal” (muitas vezesconhecido como “gato” ou “em-preiteiro”), que apenas faz aintermediação de mão-de-obra emfavor daquele, procurando confun-dir o trabalho humano com simplesmercadoria.

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Por isso, sendo o empregadorum produtor de cana-de-açúcar,ele próprio deve admitir os empre-gados que trabalham nessa produ-ção (atividade-fim), não podendocontratar intermediário que apenaslhe forneça a mão-de-obra necessá-ria para a sua atividade.

Do mesmo modo, sendo oempregador uma destilaria, produ-zindo etanol e derivados da cana-de-açúcar, os empregados quelaboram na respectiva atividade-fim devem ser contratados pelo pró-prio empregador, não sendo lícitaa utilização de trabalhadores deterceiros, com vínculo meramenteformal mantido com empresasprestadoras de serviços ou coope-rativas.

Nesse sentido prevê a Súmula331, inciso I, do Tribunal Superiordo Trabalho:

“A contratação de trabalha-dores por empresa interposta é ile-gal, formando-se o vínculo direta-mente com o tomador de serviços,salvo no caso de trabalhador tem-porário (Lei 6.019, de 3.1.1974)”.

Cabe lembrar que o trabalhotemporário não é autorizado parao âmbito rural, tendo em vista quea empresa de trabalho temporáriodeve ser necessariamente urbana,conforme art. 4º da Lei 6.019/7413.

A violação dos preceitos aci-ma indicados, em manifesto preju-ízo da ordem social, afronta direi-tos trabalhistas de ordem funda-mental, que asseguram a dignida-

de do trabalhador, correspondendoa grave infração da ordem pública,com nítidos contornos metainvi-duiduais.

Efetivamente, no caso, toda acoletividade de trabalhadores esta-rá sendo prejudicada, com gravesrepercussões à sociedade como umtodo.

Desse modo, o ordenamentojurídico autoriza e determina a atu-ação coletiva do Ministério Públicodo Trabalho (arts. 127 e 129, III, daCF/88), bem como dos demais le-gitimados, com destaque para osentes sindicais (art. 8º, inciso III, daCF/88), no ajuizamento de açõescivis públicas e de natureza coleti-va, bem como na celebração de Ter-mos de Compromisso de Ajusta-mento de Conduta pelo MPT (art.5º, § 6º da Lei 7.347/85).

A inspeção do trabalho,exercida pelos órgãos integrantes doMinistério do Trabalho e Emprego(Delegacias Regionais e Subde-legacias do Trabalho), tambémexercem papel fundamental nessaprevenção e repressão das ilegali-dades relacionadas à fraude nas re-lações de trabalho (art. 21, incisoXXIV, da CF/88).

Mesmo na esfera criminal,cabe destacar o tipo penal previstono art. 203 do Código Penal, refe-rente à “frustação de direito asse-gurado por lei trabalhista”:

“Frustar, mediante fraude ouviolência, direito assegurado pelalegislação do trabalho:

13Cf. CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Formas atípicas de trabalho. São Paulo: LTr, 2004. p. 24: “Porser a lei clara e trazer expressamente a vedação, e ainda mais se tratando de exceção à regra geralde contratação, o que por si só já mereceria interpretação restritiva, não há como aceitar a existên-cia de empresa de trabalho temporário rural, devendo o vínculo ser tomado diretamente com oempregador, utilizando-se das formas contratuais já existentes, como o próprio contrato desafra”.

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Pena: detenção, de 1 (um) anoa 2 (dois) anos, e multa, além dapena correspondente à violência”.

Referida pena é aumentadade 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço)se a vítima é menor de 18 (dezoito)anos, idosa, gestante, indígena ouportadora de deficiência física oumental (§ 2º do art. 203 do CP).

Como é evidente, a mencio-nada intermediação de mão-de-obra, com a terceirização ilícita peloverdadeiro empregador, constituiuma das piores fraudes à aplicaçãodos direitos trabalhistas, pois visaa retirar a incidência de todo oarcabouço da respectiva legislação,de ordem pública, que tutela as re-lações de emprego.

Por isso, a reação deve ser to-mada de forma completa e efetiva,incluindo-se aí a aplicação rigoro-sa das previsões constantes dos“Crimes contra a Organização doTrabalho”.

Ainda sobre o tema, de acor-do com o art. 109, inciso VI, daConstituição Federal de 1988, com-pete aos juízes federais processar ejulgar “os crimes contra a organi-zação do trabalho”.

Cabe realçar que o SupremoTribunal Federal deferiu liminar emmedida cautelar na ADIn 3.684-0,com efeito ex tunc, atribuindo inter-pretação conforme a Constituiçãoaos incisos I, IV e IX do seu art. 114,declarando que “no âmbito da ju-risdição da Justiça do Trabalho, nãoestá incluída competência para pro-cessar e julgar ações penais”.

Conforme entendimento sedi-mentado na Súmula 115 do TFR,ainda aplicado pelos tribunais nopresente: “Compete à Justiça Fede-ral processar e julgar os crimes con-tra a organização do trabalho,quando tenham por objeto a orga-

nização geral do trabalho ou direi-tos dos trabalhadores consideradoscoletivamente”.

No caso de fraude às relaçõesde emprego, em razão deintermediação de mão-de-obra,tem-se nitidamente um prejuízo atoda à coletividade de trabalhado-res, afrontando a organização ge-ral do trabalho como um todo.

Por fim, mesmo quanto à ne-cessária anotação da Carteira deTrabalho e Previdência Social, cabelembrar a previsão do art. 297, § 4º,do Código Penal, acrescentado pelaLei 9.983/2000, que determina in-correr nas mesmas penas do crimede “falsificação de documento pú-blico” (ou seja, reclusão de dois aseis anos e multa) quem omite, nafolha de pagamento, na Carteira deTrabalho e Previdência Social doempregado, em documento contábilou em qualquer outro documentoque deva produzir efeito perante aprevidência social, “nome do segu-rado e seus dados pessoais, a remu-neração, a vigência do contrato detrabalho ou de prestação de servi-ços” (destaquei).

4 JORNADA DE TRABALHO,INTERVALOS E FOLGAS

A duração do trabalho é temaque também merece atenção espe-cial no setor sucroalcooleiro, pois éfreqüente verificar empregados,principalmente da parte industrial,nas destilarias (como motoristas eoperadores de máquinas), cumprin-do jornada de trabalho que excedeo limite permitido pela lei.

A Constituição Federal de1988, no art. 7º, inciso XIII, é claraao estabelecer como direito dos tra-balhadores urbanos e rurais a “du-ração do trabalho normal não su-perior a oito horas diárias e quaren-

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ta e quatro semanais”. O incisoXVI, do mesmo art. 7º, por sua vez,prevê o direito à “remuneração doserviço extraordinário superior, nomínimo, em cinqüenta por cento àdo normal”.

Como se nota, a rigor, a pror-rogação da jornada de trabalhoapenas é permitida “extraordinari-amente”, até como medida de pre-venção de acidentes e doençasocupacionais.

Na Consolidação das Leis doTrabalho, o art. 59, caput, limita aduas horas extras o acréscimo naduração normal do trabalho, pormeio de acordo escrito entre empre-gado e empregador, convenção ouacordo coletivo de trabalho.

Ocorrendo necessidade impe-riosa, o mencionado limite pode serexcedido, seja para fazer face amotivo de força maior, seja paraatender à realização ou conclusãode serviços inadiáveis ou cujainexecução possa acarretar prejuí-zo manifesto (art. 61 da CLT). Nes-ses casos, o excesso deve ser comu-nicado, em dez dias, à autoridadecompetente em matéria de trabalho(ou, antes desse prazo, justificadono momento da fiscalização, semprejuízo dessa comunicação). Deacordo com o § 2º do art. 61 daCLT, na hipótese de força maior, otrabalho não pode exceder a 12horas no dia, limite este que tam-bém pode ser aplicado, por analo-gia, para a realização ou conclusãode serviços inadiáveis ou cujainexecução possa acarretar prejuí-zo manifesto.

Cabe frisar que o empregadortambém deve conceder aos trabalha-dores, sejam urbanos ou rurais, o in-tervalo para descanso e refeição

(intrajornada) e o intervalo inter-jornada, sendo este último de 11horas consecutivas, conforme art. 66da CLT e art. 5º, parte final, da Lei5.889/73.

Quando da folga semana re-munerada (preferencialmente aosdomingos, conforme art. 7º, incisoXV, da CF/88, e regulamentação daLei 605/49, que também prevê odescanso remunerado em feriados),as 24 horas deste dia de descanso(remunerado) devem ser somadasàs 11 horas de intervalo (não remu-nerado), somando um total de 35horas de descanso (na mesma linhada previsão da Súmula 110 do TST).

Como medida de ergonomia,a Norma Regulamentadora 31, noitem 31.10.9, assim prevê: “Nas ati-vidades que exijam sobrecargamuscular estática ou dinâmica de-vem ser incluídas pausas para des-canso e outras medidas que preser-vem a saúde do trabalhador”. Es-sas “pausas” (no plural, indicandoa necessidade de concessão de pelomenos duas no decorrer da jorna-da de trabalho, por exemplo, de 10minutos cada) não se confundemcom o intervalo intrajornada, nãosendo descontadas da jornada detrabalho.

Para que se cumpra o impor-tante objetivo da referida norma deergonomia, proporcionando o ne-cessário descanso e bem estar aoempregado, as referidas pausas nãodevem ser concedidas em momentospróximos aos horários de entrada, dealmoço e de saída, pois isso desvirtu-aria a sua finalidade por completo.Por exemplo, caso fosse (irregular-mente) concedida a pausa no finalda jornada, o trabalhador, certa-mente, até estaria voltando para

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casa mais cedo, no entanto, cansa-do da mesma forma, pois não teriausufruído as pausas durante o tra-balho.

Sobre o intervalo intrajor-nada, o art. 71, caput, da CLT dis-põe que em qualquer trabalho con-tínuo, cuja duração exceda de 6(seis) horas (como na jornada deoito horas), é obrigatória a conces-são do intervalo para repouso e ali-mentação de no mínimo 1 (uma)hora, não podendo exceder (salvoacordo escrito, convenção ou acor-do coletivo) de 2 (duas) horas14.Não excedendo de 6 (seis) horas otrabalho, o intervalo devido é de 15(quinze) minutos, quando a dura-ção ultrapassar 4 (quatro) horas (§1º do art. 71).

No âmbito rural, a Lei 5.889/73, no art. 5º, também prevê que emqualquer trabalho contínuo de du-ração superior a 6 (seis) horas éobrigatória a concessão de um in-tervalo para repouso ou alimenta-ção, observados os usos e costumesda região. Regulamentando o pre-ceito, o Decreto 73.626/74, no art.5º, § 1º, prevê a obrigatoriedade, emqualquer trabalho contínuo de du-ração superior a 6 (seis) horas, deconcessão de um intervalo mínimode 1 (uma) hora para repouso oualimentação, observados os usos ecostumes da região15.

Os mencionados intervalosde descanso não são computados

na jornada de trabalho (art. 71, §2º, da CLT).

Como é óbvio, mesmo sendodesrespeitados os referidos limiteslegais, todas as horas extras devemser corretamente pagas (com o adi-cional devido) ao empregado(Súmula 376 do TST), que não podeser prejudicado pelo empregador,o qual também responde pela res-pectiva penalidade administrativa,a ser aplicada pela fiscalização dotrabalho.

Além disso, em se tratando deconduta reiterada, afetando umconjunto de empregados, tem-severdadeira lesão de ordemmetaindividual, manifestamenteprejudicial à saúde e à segurançados trabalhadores, bem como à so-ciedade como um todo, seja no as-pecto previdenciário, seja na ques-tão da política de empregos.

Por isso, também aqui, impõe-se a atuação do Ministério Públicodo Trabalho e dos entes sindicais,em defesa dos preceitos que asse-guram a dignidade, a saúde, a vidae a higidez física e psíquica do tra-balhador, no sentido de que os li-mites da duração do trabalho sejamnecessariamente respeitados peloempregador. Nesse enfoque, sãopassíveis de utilização os instru-mentos da tutela metaindividual deinteresses difusos, coletivos e indi-viduais homogêneos, perfeitamen-te aplicáveis às relações de traba-

14Cf. Orientação Jurisprudencial 342 da SDI-I do TST: “Intervalo intrajornada para repouso ealimentação. Não concessão ou redução. Previsão em norma coletiva. Validade. É inválida cláu-sula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução dointervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho,garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso ànegociação coletiva”.15Cf. PÔRTO, Marcos da Silva. Trabalho rural e jornada de trabalho. In: GIORDANI, FranciscoAlberto da Motta Peixoto; MARTINS, Melchíades Rodrigues; VIDOTTI, Tarcisio José (Coord.).Direito do trabalho rural: homenagem a Irany Ferrari. 2. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 500.

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lho, com destaque para o Termo deCompromisso de Ajustamento deConduta e as ações coletivas.

Na esfera criminal, cabe fazermenção ao art. 149 do Código Pe-nal, com redação determinada pelaLei 10.803, de 11 de dezembro de2003, pertinente à “redução a con-dição análoga à de escravo”.

Efetivamente, o referido tipopenal não mais se restringe à figuramais tradicional, de trabalho força-do em sentido estrito, sob coação oucom restrição da liberdade, mas ex-pressamente prevê, também, a “jor-nada exaustiva”, apta a configuraro trabalho em condições degradan-tes. Nesse sentido, vejamos a previ-são do caput do art. 149 do CP:

“Reduzir alguém a condiçãoanáloga à de escravo, quer subme-tendo-o a trabalhos forçados ou ajornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de tra-balho, quer restringindo, por qual-quer meio, sua locomoção em ra-zão de dívida contraída com o em-pregador ou preposto:

Pena: reclusão, de dois a oitoanos, e multa, além da pena cor-respondente à violência”.

No caso, parece claro que oempregado, ao ter de trabalhar 11,12 horas ou mais por dia, estariasendo submetido a uma jornada detrabalho exaustiva, em prejuízo desua saúde e segurança, colocando-o em grave risco de sofrer aciden-tes e doenças ocupacionais.

Como se nota, a violação doslimites da duração do trabalho, comhoras extras em quantidade e fre-qüência abusivas (mesmo que pa-gas em sua integralidade ao empre-

gado), bem como a ausência de con-cessão das folgas previstas em lei,correspondem a grave afronta aosistema jurídico, em prejuízo daintegridade do trabalhador e dasociedade como um todo, a pontode merecer previsão da tutela deordem penal.

É dever do empregador fazercom que as normas de ordem pú-blica, que limitam a jornada de tra-balho e o labor extraordinário, se-jam fielmente respeitadas. Eventu-ais argumentos no sentido de quenão há mão-de-obra suficientemen-te qualificada para a eliminaçãodas horas extras ilegais não afastaa incidência das normas acimaindicadas, pois o risco do empreen-dimento é do empregador (art. 2º,caput, da CLT), que necessariamen-te tem de se ajustar às previsõescontidas no ordenamento jurídico.

5 TRABALHO MIGRANTE,RECRUTAMENTO DE TRABA-LHADORES, ALIMENTAÇÃO EHABITAÇÃO

Nas atividades rurais envol-vendo a cana-de-açúcar, principal-mente nas épocas de safra, verifi-ca-se a freqüente utilização de tra-balhadores residentes em outroslocais do país, que se deslocam paraos canaviais.

No entanto, há diversas res-trições legais relacionados ao recru-tamento e transporte de trabalha-dores de uma localidade para ou-tra do território nacional.

Efetivamente, como prevê oart. 207 do Código Penal, sobre o“aliciamento de trabalhadores deum local para outro do território na-cional”:

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“Aliciar trabalhadores, com ofim de levá-los de uma para outralocalidade do território nacional:

Pena: detenção de 1 (um) a 3(três) anos, e multa.

§ 1º Incorre na mesma penaquem recrutar trabalhadores forada localidade de execução do tra-balho, dentro do território nacional,mediante fraude ou cobrança dequalquer quantia do trabalhador,ou, ainda, não assegurar condiçõesdo seu retorno ao local de origem.

§ 2º A pena é aumentada de1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) sea vítima é menor de 18 (dezoito)anos, idosa, gestante, indígena ouportadora de deficiência física oumental”.

Por isso, os produtores e for-necedores da cana-de-açúcar, ao seutilizarem da referida mão-de-obramigrante, devem observar rigorosa-mente todas as disposições inciden-tes ao caso, inclusive para que nãoincorram no crime de aliciamentode trabalhadores, com especial des-taque para a Instrução Normativa65, de 19 de julho de 2006, da Se-cretaria da Inspeção do Trabalho,do Ministério do Trabalho e Empre-go.

Referida Instrução Norma-tiva, concretizando os princípiosconstitucionais do valor social tra-balho e da dignidade da pessoahumana (que são normas jurídicasdotadas de eficácia), ao dispor so-bre procedimentos para a fiscaliza-ção do trabalho rural, nos arts. 22e seguintes, trata do “recrutamen-to de trabalhadores”.

Para o recrutamento e trans-porte de trabalhadores para locali-dade diversa da sua origem é ne-

cessária a expedição de “CertidãoLiberatória pelas Delegacias Regi-onais do Trabalho e Emprego ourespectivas Subdelegacias” (art. 22,§ 1º da IN 65/2006).

Por sua vez, para a emissãodessa Certidão Liberatória, as DRTsdevem exigir do empregador oupreposto a “comprovação da con-tratação regular dos trabalhado-res”, que consiste na apresentação:

- das Carteiras de Trabalhodevidamente anotadas;

- dos atestados médicosadmissionais;

- dos contratos escritos quedisciplinem a duração dotrabalho, o salário, condi-ções de alojamento, alimen-tação e de retorno à locali-dade de origem do trabalha-dor.

Desse modo, se aquele queexerce a atividade econômica (nocaso, na produção da cana-de-açú-car) verifica ser necessária acontratação de empregados resi-dentes em localidades diversas doterritório nacional, tendo em vistanão ser suficiente a mão-de-obra lo-cal, já deve se programar previa-mente, contratando na forma daInstrução Normativa 65/2006, de-vendo assegurar aos trabalhadores alo-jamento, alimentação e retorno à loca-lidade de origem.

Não é aceitável uma atitudemeramente passiva do emprega-dor, de ficar somente aguardandoos trabalhadores serem trazidospor intermediários (“gatos” e em-preiteiros), em razão de promessasde emprego nas lavouras da cana-de-açúcar, sem que sejam observa-dos os requisitos acima destacados,

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em especial a obtenção da CertidãoLiberatória.

Ao se utilizar a mão-de-obramigrante sem tomar as cautelasacima indicadas, o empregadorpoderá estar figurando como co-autor no mencionado crime dealiciamento de trabalhadores, umavez que estará concorrendo paraque este se configure, na forma doart. 29, caput, do Código Penal.

Tendo em vista a situaçãoacima destacada, se o empregadorpretende ou necessita utilizar tra-balhadores de outras localidades doterritório nacional, para não incor-rer nas graves ilicitudes de ordemtrabalhista e criminal apontadas,deve realizar a contratação direta-mente, ou seja, sem a intermediaçãodos chamados “empreiteiros”, ob-tendo a Certidão Liberatória naDelegacia ou Subdelegacia do Tra-balho local de origem, comprovan-do a contratação regular dos tra-balhadores, bem como asseguran-do os direitos relacionados a ates-tado médico admissional, duraçãodo trabalho, salário, alojamento, ali-mentação e retorno à localidade deorigem do trabalhador.

Como se nota, é dever do em-pregador o fornecimento das refe-ridas utilidades ao empregadomigrante, relacionadas à habitaçãoe alimentação, não podendo se va-ler de intermediador de mão-de-obra.

A Lei 5.889/73, regulando otrabalho rural, no art. 9º, autorizaserem descontados do empregadorural as seguintes parcelas, calcu-

ladas sobre o salário mínimo:

- até 20% (vinte por cento)pela ocupação da moradia;

- até 25% (vinte e cinco porcento) pelo fornecimento dealimentação sadia e farta,atendidos os preços vigentesda região.

Frise-se que as referidas dedu-ções devem ser “previamente auto-rizadas, sem o que serão nulas depleno direito” (§ 1º do art. 9º).

Sempre que mais de um em-pregado residir na mesma morada,o desconto de 20% sobre o saláriomínimo deve ser dividido propor-cionalmente ao número de empre-gados, “vedada, em qualquer hipó-tese, a moradia coletiva de famíli-as” (§ 2º do art. 9º).

Como se nota, a habitação eda alimentação (que, como já vis-to, devem ser necessariamente for-necidos no caso dos trabalhadoresrecrutados em outras localidades),não podem ficar a cargo de inter-mediários, que explorem eventualdesconhecimento, despreparo oumesmo ignorância sobre preços edireitos trabalhistas por parte dotrabalhador vindo de outras locali-dades, mas sim pelo próprio empre-gador, no âmbito do contrato detrabalho e das suas condições pac-tuadas e previstas na legislação.

Cabe reiterar que o forneci-mento não pode ser de qualquer ali-mentação, mas necessariamente“sadia e farta”. Quanto ao preço,deve atender aqueles “vigentes naregião”16.

16De acordo com a Orientação Jurisprudencial 133 da SDI-I do TST: “A ajuda alimentaçãofornecida por empresa participante do Programa de Alimentação ao Trabalhador, instituído pelaLei n.º 6.321/76, não tem caráter salarial. Portanto, não integra o salário para nenhum efeitolegal”.

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Quanto à habitação, cabe res-salvar que se o caso for de forneci-mento para viabilizar a prestaçãode serviços, não se trata de utilida-de com natureza salarial (fornecidacomo contraprestação pela presta-ção dos serviços), mas sim de for-ma para possibilitar o trabalho(Súmula 367, inciso I, do TST).

Por isso, em hipóteses de ne-cessidade de fornecimento do alo-jamento ao empregado, para pos-sibilitar o labor (como em razão dadistância e da localização do tra-balho), não se admite o desconto nosalário, pois a utilidade apenas es-tará servindo para viabilizar a ati-vidade do empregador, que correos riscos do empreendimento, sobpena de violação do princípio daintangibilidade salarial17.

Não se admite, ainda, o cha-mado “truck system”, que podeconfigurar verdadeira servidão pordívida.

Nesse sentido, é vedado aoempregador que mantiver arma-zém para venda de mercadorias aosempregados ou serviços destinadosa proporcionar-lhes prestações innatura, “exercer qualquer coação ouinduzimento no sentido de que osempregados se utilizem do arma-zém ou dos serviços” (art. 462, § 2º,da CLT).

Além disso, sempre que nãofor possível o acesso dos emprega-dos a armazéns ou serviços nãomantidos pela empresa, é lícito à

autoridade competente determinara adoção de medidas adequadas,visando a que as mercadorias sejamvendidas e os serviços prestados apreços razoáveis, sem intuito delucro e sempre em benefício dosempregados (art. 462, § 3º, da CLT).

Sobre esse tema, na esferapenal, o já mencionado crime de“redução a condição análoga à deescravo”, conforme art. 149 do Có-digo Penal (com redação determi-nada pela Lei 10.803/2003), tem aseguinte previsão:

“Reduzir alguém a condiçãoanáloga à de escravo, quer subme-tendo-o a trabalhos forçados ou ajornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de tra-balho, quer restringindo, por qualquermeio, sua locomoção em razão de dí-vida contraída com o empregador oupreposto:

Pena: reclusão, de dois a oitoanos, e multa, além da pena cor-respondente à violência.

[...]

§ 2º A pena é aumentada demetade, se o crime é cometido:

I – contra criança ou adoles-cente;

II – por motivo de preconcei-to de raça, cor, etnia, religião ouorigem”.

Observam-se, portanto, gravesconseqüências administrativas, tra-balhistas e mesmo criminais na

17Cf. PRUNES, José Luiz Ferreira. Direito do trabalho para advogados e empregadores rurais. Curitiba:Juruá, 2000. p. 493: “Quando a habitação é concedida para possibilitar o trabalho (sem o que esteseria impossível ou difícil), não pode ser paga pelo empregado”; CARRION, Valentin. Comentá-rios à Consolidação das Leis do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 134: “As utilidades queforem condição para o exercício de qualquer trabalho não podem ser descontadas (ferramentas,uniforme, capacetes)”; OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Consolidação das Leis do Trabalho comen-tada. 2. ed. São Paulo: RT, 2000. p. 131.

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contratação ilegal de trabalhadoresde uma localidade para outra do ter-ritório nacional, ou seja, sem a inte-gral observância dos preceitos que re-gulam a matéria. As referidas infra-ções, do mesmo modo, acarretamconseqüências que atingem toda acoletividade de trabalhadores, comsérias repercussões para a ordem ju-rídica e social, autorizando a utiliza-ção da tutela coletiva (reparatória epreventiva) pelos entes legitimados,com destaque ao Ministério Públicodo Trabalho e os entes sindicais, naforma já exposta.

6 MEIO AMBIENTE DE TRABA-LHO NO SETOR CANAVIEIRO,ÁREAS DE VIVÊNCIA E OBRIGA-ÇÕES A SEREM OBSERVADASNO TRABALHO NO CAMPO

Quanto ao meio ambiente detrabalho nas atividades aqui estu-dadas, cabe destacar as importan-tes previsões contidas na NormaRegulamentadora 31, aprovadapela Portaria 86, de 3 março de2005, do Ministério do Trabalho eEmprego, com fundamento no art.13 da Lei 5.889/73.

A referida Norma Regula-mentadora se aplica a quaisqueratividades da agricultura, pecuária,silvicultura, exploração florestal eaqüicultura (bem como às ativida-des de exploração industrial desen-volvidas em estabelecimentos agrá-rios), verificadas as formas de rela-ções de trabalho e emprego e o lo-cal das atividades (item 31.2).

Desse modo, de acordo coma NR 31, item 31.3.3, cabe ao em-pregador rural ou equiparado:

a) garantir adequadas condi-ções de trabalho, higiene e confor-

to, definidas na Norma Regulamen-tadora 31, para todos os trabalha-dores, segundo as especificidadesde cada atividade;

b) realizar avaliações dos ris-cos para a segurança e saúde dostrabalhadores e, com base nos re-sultados, adotar medidas de pre-venção e proteção para garantirque todas as atividades, lugares detrabalho, máquinas, equipamentos,ferramentas e processos produtivossejam seguros e em conformidadecom as normas de segurança e saú-de;

c) promover melhorias nosambientes e nas condições de tra-balho, de forma a preservar o nívelde segurança e saúde dos trabalha-dores;

d) cumprir e fazer cumprir asdisposições legais e regulamentaressobre segurança e saúde no traba-lho;

e) analisar, com a participa-ção da Comissão Interna de Preven-ção de Acidentes no Trabalho Ru-ral – CIPATR, as causas dos aciden-tes e das doenças decorrentes dotrabalho, buscando prevenir e eli-minar as possibilidades de novasocorrências;

f) assegurar a divulgação dedireitos, deveres e obrigações que ostrabalhadores devam conhecer emmatéria de segurança e saúde notrabalho;

g) adotar os procedimentosnecessários quando da ocorrênciade acidentes e doenças do trabalho;

h) assegurar que se forneçaaos trabalhadores instruções com-preensíveis em matéria de seguran-ça e saúde, bem como toda orien-

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tação e supervisão necessárias aotrabalho seguro;

i) garantir que os trabalhado-res, através da CIPATR, participemdas discussões sobre o controle dosriscos presentes nos ambientes detrabalho;

j) informar aos trabalhadores:

1. os riscos decorrentes dotrabalho e as medidas de proteçãoimplantadas, inclusive em relaçãoa novas tecnologias adotadas peloempregador;

2. os resultados dos examesmédicos e complementares a queforam submetidos, quando realiza-dos por serviço médico contratadopelo empregador;

3. os resultados das avalia-ções ambientais realizadas nos lo-cais de trabalho;

k) permitir que representan-te dos trabalhadores, legalmenteconstituído, acompanhe a fiscaliza-ção dos preceitos legais e regula-mentares sobre segurança e saúdeno trabalho;

l) adotar medidas de avalia-ção e gestão dos riscos com a se-guinte ordem de prioridade:

1. eliminação dos riscos;

2. controle de riscos na fonte;

3. redução do risco ao míni-mo através da introdução de medi-das técnicas ou organizacionais ede práticas seguras inclusive atra-vés de capacitação;

4. adoção de medidas de pro-teção pessoal, sem ônus para o tra-balhador, de forma a complemen-tar ou caso ainda persistam tempo-rariamente fatores de risco.

Merece destaque, assim, odever do empregador de expedir“ordens de serviço”, explicando-asde forma acessível aos trabalhado-res, para que estes cumpram as suasprevisões (NR 31, item 31.3.4), sai-bam e se previnam quanto aos ris-cos da atividade, principalmentepara evitar a chamada “exaustão”pelo excesso de trabalho. Aliás, so-bre esta séria questão, o adequadoé que a forma de cálculo da remu-neração não fique apenas vincula-da exclusivamente à produção, de-vendo ser levado em conta o tem-po trabalhado, bem como existir origoroso cumprimento das regrasque estabelecem folgas, pausas e li-mitações quanto à jornada de tra-balho.

O alojamento, na realidade,faz parte das chamadas “áreas devivência”, as quais também devemobservar os requisitos da NR 31,item 31.23.

Nesse sentido, o empregadorrural ou equiparado devedisponibilizar aos trabalhadoresáreas de vivência compostas de:

a) instalações sanitárias;

b) locais para refeição;

c) alojamentos, quando hou-ver permanência de trabalhadoresno estabelecimento nos períodosentre as jornadas de trabalho;

d) local adequado para pre-paro de alimentos;

e) lavanderias.

O cumprimento do dispostonas alíneas “d” e “e” somente éobrigatório nos casos onde houvertrabalhadores alojados.

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As instalações sanitárias de-vem ser constituídas de (NR 31,item 31.23.3):

a) lavatório na proporção deuma unidade para cada grupo devinte trabalhadores ou fração;

b) vaso sanitário na propor-ção de uma unidade para cada gru-po de vinte trabalhadores ou fração;

c) mictório na proporção deuma unidade para cada grupo dedez trabalhadores ou fração;

d) chuveiro na proporção deuma unidade para cada grupo dedez trabalhadores ou fração.

No mictório tipo calha, cadasegmento de sessenta centímetrosdeve corresponder a um mictóriotipo cuba.

As instalações sanitárias de-vem:

a) ter portas de acesso que im-peçam o devassamento e serconstruídas de modo a manter oresguardo conveniente;

b) ser separadas por sexo;

c) estar situadas em locais defácil e seguro acesso;

d) dispor de água limpa epapel higiênico;

e) estar ligadas a sistema deesgoto, fossa séptica ou sistemaequivalente;

f) possuir recipiente para co-leta de lixo.

A água para banho deve serdisponibilizada em conformidadecom os usos e costumes da regiãoou na forma estabelecida em con-venção ou acordo coletivo.

Nas frentes de trabalho, de-vem ser disponibilizadas instala-ções sanitárias fixas ou móveis com-postas de vasos sanitários e lavató-rios, na proporção de um conjuntopara cada grupo de quarenta tra-balhadores ou fração, atendidos osrequisitos acima indicados (quantoàs instalações sanitárias nas áreasde vivência), sendo permitida a uti-lização de fossa seca.

Os locais para refeição devematender aos seguintes requisitos(NR 31, item 31.23.4):

a) boas condições de higienee conforto;

b) capacidade para atender atodos os trabalhadores;

c) água limpa para higieni-zação;

d) mesas com tampos lisos elaváveis;

e) assentos em número sufi-ciente;

f) água potável, em condiçõeshigiênicas;

g) depósitos de lixo, com tam-pas.

Em todo estabelecimento ru-ral deve haver local ou recipientepara a guarda e conservação derefeições, em condições higiênicas,independentemente do número detrabalhadores.

Nas frentes de trabalho de-vem ser disponibilizados abrigos,fixos ou móveis, que protejam ostrabalhadores contra as intempéri-es, durante as refeições.

Quanto ao alojamento especi-ficamente, merecem destaque asregras inseridas na NR 31, item

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31.23.5. Desse modo, os alojamen-tos devem:

a) ter camas com colchão, se-paradas por no mínimo um metro,sendo permitido o uso de beliches,limitados a duas camas na mesmavertical, com espaço livre mínimode cento e dez centímetros acimado colchão;

b) ter armários individuaispara guarda de objetos pessoais;

c) ter portas e janelas capa-zes de oferecer boas condições devedação e segurança;

d) ter recipientes para coletade lixo;

e) ser separados por sexo.

O empregador rural ou equi-parado deve proibir a utilização defoguetes, fogareiros ou similares nointerior dos alojamentos.

O empregador deve fornecerroupas de cama adequadas às con-dições climáticas locais. As camaspoderão ser substituídas por redes,de acordo com o costume local, obe-decendo ao espaçamento mínimode um metro entre as mesmas. Porfim, é vedada a permanência depessoas com doenças infecto-contagiosas no interior do aloja-mento.

Os locais para preparo de refei-ções (NR 31, item 31.23.6) devem serdotados de lavatórios, sistema decoleta de lixo e instalações sanitári-as exclusivas para o pessoal quemanipula alimentos.

Os locais para preparo de re-feições não podem ter ligação dire-ta com os alojamentos.

As lavanderias (NR 31, item31.23.7) devem ser instaladas em

local coberto, ventilado e adequa-do para que os trabalhadores alo-jados possam cuidar das roupas deuso pessoal. As lavanderias devemser dotadas de tanques individuaisou coletivos e água limpa.

Devem ser garantidas aos tra-balhadores das empresas contrata-das para a prestação de serviços asmesmas condições de higiene con-forto e alimentação oferecidas aosempregados da contratante (NR 31,item 31.23.8).

Como importante regra, amerecer destaque, a NormaRegulamentadora 31, no item31.23.9, estabelece que “o empre-gador rural ou equiparado devedisponibilizar água potável e frescaem quantidade suficiente nos locaisde trabalho”. A água potável deveser disponibilizada em condiçõeshigiênicas, sendo proibida a utiliza-ção de copos coletivos.

Com relação às moradias, sem-pre que o empregador rural ouequiparado fornecer aos trabalha-dores moradias familiares estas de-verão possuir (NR 31, item31.24.11):

a) capacidade dimensionadapara uma família;

b) paredes construídas em al-venaria ou madeira;

c) pisos de material resistentee lavável;

d) condições sanitárias ade-quadas;

e) ventilação e iluminação su-ficientes;

f) cobertura capaz de pro-porcionar proteção contra intem-péries;

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g) poço ou caixa de água pro-tegido contra contaminação;

h) fossas sépticas, quandonão houver rede de esgoto, afasta-das da casa e do poço de água, emlugar livre de enchentes e a jusantedo poço.

As moradias familiares de-vem ser construídas em local areja-do e afastadas, no mínimo, cin-qüenta metros de construções des-tinadas a outros fins. É vedada, emqualquer hipótese, a moradia cole-tiva de famílias.

O transporte dos trabalhado-res também deve ser fornecido emcondições adequadas, conformeNR 31, item 31.1618.

O empregador também éobrigado a zelar pela saúde e segu-rança dos empregados, cuidandodas Medidas de Proteção Pessoal,fornecendo gratuitamente, exigin-do a utilização e orientando sobreo uso dos equipamentos de prote-ção individual (EPI) pelos empre-gados, conforme previsões da NR31, item 31.20.

Quanto aos órgãos que inte-gram o sistema de gerenciamentoda segurança e da saúde nas rela-ções de trabalho rural, cabe desta-car o Serviço Especializado em Se-gurança e Saúde no Trabalho Ru-ral (SESTR – NR 31, item 31.6) e aComissão Interna de Prevenção dosAcidentes do Trabalho Rural(CIPATR – NR 31, item 31.7)19.

A ausência de respeito às pre-visões e exigências referentes a cadaum desses e outros tópicos regula-dos na NR 31, a par de constituirgrave infração ao meio ambiente detrabalho, prejudicando a saúde e asegurança do trabalhador, podemesmo configurar modalidade detrabalho degradante, inserido no tipopenal do já mencionado art. 149,caput, do CP.

Para a devida observânciasdos mencionados preceitos, tem-sea necessária atuação na esfera tra-balhista, inclusive de ordemmetaindividual, bem como na esfe-ra criminal, para que a dignidadedo trabalhador seja respeitada nareferida temática.

7 CONCLUSÃO

No atual cenário econômico,as previsões apontam para umacentuado crescimento nas ativida-des relacionada à cana-de-açúcar,com destaque para a produção doetanol.

Essa evolução, no entanto,deve ser necessariamente acompa-nhada da imperiosa observânciadas normas que regem as relaçõesde trabalho, como condição sinequa non para se atuar e permane-cer no referido setor.

Por se tratar de imprescindí-vel cumprimento da legislação deordem pública, de naturezacogente, da qual dependem a saú-

18Cf. ARAÚJO, Giovanni Moraes de. Normas Regulamentadoras comentadas. 6. ed. Rio de Janeiro: GVC,2007. p. 1048: “As exigências básicas estão relacionadas ao tipo e estado do veículo, existência deregistrador instantâneo de velocidade, bancos, porta e escada de acesso, compartimento separado paraferramentas e a habilitação do motorista”.

19Cf. MARANO, Vicente Pedro. A segurança do trabalho, a medicina do trabalho e o meio ambiente nasatividades rurais da agropecuária. São Paulo: LTr, 2006.

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de, a segurança, a dignidade e avida das pessoas, é necessário queas disposições incidentes sejam ri-gorosamente cumpridas pelas em-presas e empregadores que estãodesenvolvendo ou pretendam de-senvolver as diversas atividadesque integram o setor sucroal-cooleiro.

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DOUTRINA INTERNACIONAL

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José Luis Ugarte*

RELACIONES LABORALES TRIANGULARES:LA SUBCONTRATACIÓN Y EL SUMINISTRO DETRABAJADORES EN LA NUEVA LEY CHILENA

Sumário: 1 Las Relaciones Triangulares de Trabajo; 2 La Regulacióndel Suministro de Trabajadores Y la Subcontratación Laboral; 3 LaNueva Ley sobre Subcontratación Laboral: de la ResponsabilidadSubsidiaria a la Solidaria; 4 El Debate Legal sobre el Suministro deTrabajadores; 5 La Ley sobre Suministro de Trabajadores: Las Empresasde Servicios Transitorios; 6 Aspectos Pendientes: ¿Y La Igualdad deCondiciones?.

Palavras-chave: relación laboral triangular; externalización;trilateralidad laboral; subcontratación; suministro de trabajadores.

*Profesor de Derecho del Trabajo, Universidad Alberto Hurtado y Diego Portales, Santiago, Chile.1Datos ENCLA 2004, Dirección del Trabajo.

1 LAS RELACIONES TRIANGU-LARES DE TRABAJO

Las relaciones laborales trian-gulares se refieren a aquellas rela-ciones en que comparecen en unamisma situación jurídica tres par-tes: dos empresas que se vinculanpara la prestación de servicios co-merciales entre ambas, y el traba-jador que en la prestación de servi-cios subordinados queda posicio-nado entre ambas.

Están de moda en Chile y enel mundo. Así las cifras indican queen el 2004 el 50.5 por ciento de lasempresas señala haber recurrido ala subcontratación laboral, cifra queen 1999 llegaba a 42.9 por ciento.

De este modo en Chile una de cadados empresas tiene algún tipo derelación laboral triangular1.

Dicha expansión del trabajotemporal no es, obviamente, unaexclusividad de Chile. Con cifrasal año 2000, es posible percibir lapresencia de empresas dedicadasal suministro en diversos paísesque tienen regulada legalmente lafigura: en Alemania habían regis-tradas 2499 empresas del rubro,430 en España y en Gran Bretañamás de 5000.

Las relaciones laboralestriangulares son el resultado delproceso de externalización empre-sarial.

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La externalización, como for-ma de implementación de ladescentralización productiva, tienedos facetas fundamentales: por unaparte, produce un adelgazamientode la estructura productiva de laempresa, a través de una nuevaconcepción de la estructura organi-zativa en la que se renuncia alcrecimiento interno, popularizadabajo la expresión downsizing, y porotro lado, se genera una modifica-ción en la estructura laboral de laempresa, dando lugar al fenómenodel outsourcing o triangulaciónlaboral.

Es el fenómeno de latrilateralidad laboral, que seproduce cuando la actividaddesplazada hacia fuera de la em-presa, es asumida por una empre-sa, en principio, distinta y ajena,que asume la ejecución de dichatarea desplazada con el uso de suspropios trabajadores, generandouna suerte de triángulo laboral: laempresa que externaliza, la empre-sa que asume la actividadproductiva externalizada y lostrabajadores de esta última, queprestan servicios en los hechos paraambas.

Ahora, la trilateralidadlaboral puede adoptar, en lo fun-damental, dos modalidades: lasubcontratación laboral y elsuministro de trabajadores por lavía de una empresa de trabajo tem-poral.

La primera se refiere a lasituación en que una empresa,dueña de una obra o faena, contra-ta a otra empresa, denominadacontratista, mediante un contratocivil o comercial, para que ejecutea su cuenta y riesgo, con sus propios

trabajadores, un determinadotrabajo o servicio, pudiendo estaúltima a su turno, contratar a otraempresa, denominada subcon-tratista, para que lleve a cabo eltrabajo o servicio requerido.

La segunda, en cambio, con-siste en que una empresa, cuyo girocorresponde al suministro detrabajadores (empresa suministra-dora o de trabajo temporal), ponea disposición de otra empresa (de-nominada usuaria), por el pago deun precio determinado, losservicios laborales de sus em-pleados, reteniendo para sí lacalidad formal de empleador.

En Chile, mientras la figurade la subcontratación laboraldataba de antiguo, y estaba regu-lada en la legislación vigente (artí-culos 64 y 64 bis del Código delTrabajo), el caso del suministro eradistinto: sólo en los últimos años sepresentaba como un fenómeno derelevancia para la comunidad jurí-dica nacional, en directa relacióncon el momento de moda que vivela denominada descentralizaciónproductiva.

2 LA REGULACIÓN DELSUMINISTRO DE TRABAJA-DORES Y LA SUBCONTRATA-CIÓN LABORAL

En ese sentido, ¿cuáles son lasdiferencias que es posible trazarentre la subcontratación y el sumi-nistro de trabajadores?.

En lo conceptual es posibleadvertir las siguientes diferencias:

a) En la subcontratación lapotestad de mando es ejercidaefectivamente por la empresacontratista o subcontratista, en el

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suministro de trabajadores dichopoder es ejercido por la empresausuaria del suministro.

b) En la subcontratación elobjeto del contrato civil o comerci-al entre la empresa principal y laempresa contratista o subcon-tratista es la ejecución de una obrao la prestación de un servicio parael cumplimiento de una etapaproductiva, en el suministro detrabajadores la relación entre laempresa usuaria y la empresasuministradora sólo tiene por obje-to el suministro de trabajadores.

Los problemas de lostrabajadores en ambas figuras sondistintos: en la subcontratación laidentidad del empleador esindiscutible y los problemas pasanpor el cumplimiento efectivo de lalegislación existente, especialmen-te de la responsabilidad subsidiariade la mandante o empresa princi-pal, y la equiparación de lascondiciones saláriales entre estostrabajadores y los que estándirectamente contratados por laempresa dueña de la obra. En elsuministro el problema es más gra-ve: no se tiene certeza respecto dequien debe entenderse como elempleador, y en consecuencia,

respecto de quien se ejercen losderechos de los trabajadoressuministrados.

A estas figuras se refierenueva legislación conocida públi-camente como ley sobre subcon-tratación laboral (Ley 20.123).2

La nueva regulación para lasubcontratación no es sino una re-forma de la legislación anterior (art.64 y 64 bis del Código del Trabajo),mejorando los derechos de lostrabajadores ya existentes. En cam-bio, en el caso del suministro lasnuevas normas vienen a ser laprimera regulación de los derechosde los trabajadores cedidos osuministrados en Chile.

La nueva normativa sobre re-laciones triangulares cambia la mi-rada jurídica sobre el problema delas relaciones laborales: éstas noson, como lo pretendía la dogmá-tica laboralista clásica, relacionesprivadas, que sólo interesen a losparticulares involucrados, sino quese tratan, en rigor, de relaciones depoder que tienen incidencia directaen el reparto de la riqueza generadadel esfuerzo y la cooperación soci-al, de modo tal, que la normativajurídica debe generar puntos de

2Se trata de un proyecto de ley de corta pero azarosa vida. Originalmente concebido en la Direccióndel Trabajo, con la consulta de los actores involucrados tanto empresariales como sindicales, serefería sólo al suministro de trabajadores. El Gobierno lo presento a su discusión parlamentariaen 1999 dentro del marco de las denominadas reformas laborales, pero fue finalmente retirado dela misma en el Senado, porque, como indica la historia la ley 19.759, la materia fue considerada�de suyo compleja�, lo que haría �necesario escuchar a los distintos sectores involucrados en lanormativa propuesta, lo que no es posible con la detención y profundidad necesaria, dada laurgencia con que se está despachando este iniciativa legal�. A esa altura, y dentro de la tramitaciónde la reforma laboral, se le había agregado el acápite de la subcontratación laboral.

El proyecto de ley fue repuesto en el año 2002, pero en su debate en el Senado fue objeto denumerosos recortes y restricciones, que alteraron profundamente el sentido original de la pro-puesta rebajando ostensiblemente su finalidad protectora de los trabajadores. Por lo mismo, elproyecto aprobado en el Senado no representaba un avance significativo en la protección de lostrabajadores ni subcontratados, ni suministrados. Por lo mismo, el Gobierno repuso en el 2005prácticamente el proyecto original de 1999, con su carácter tutelar inicial, y que acabado, al finalde cuentas, siendo la Ley Nº 20.123 del 2006.

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equilibrio que mejoren la posicióndel sujeto afecto a dicha relación depoder que es el trabajador.

Por ello, el eje central de lanueva regulación es en el caso dela subcontratación a la empresaprincipal, y en el caso delsuministro, la empresa usuaria.Aquí está el dominio de las relacio-nes de poder que existen en losprocesos de externalización, aquídebe estar, entonces, el centro deimputación de responsabilidades ysanciones por lesiones a losderechos de los trabajadores.

3 LA NUEVA LEY SOBRESUBCONTRATACIÓN LABO-RAL: DE LA RESPONSABILI-DAD SUBSIDIARIA A LA SOLI-DARIA

La nueva regulación de lasubcontratación presenta comopuntos centrales los siguientes: 1 -Se incorpora por primera vez en lalegislación laboral chilena un con-cepto de lo que se denomina traba-jo “en régimen de subcontra-tación”, que pone acento en dosaspectos fundamentales:

1.1 - Debe existir un contratoentre la empresa principal y la em-presa contratista, que puede ser decualquier naturaleza jurídica y quedebe tener por objeto la ejecuciónpor parte de esta última de unaobra o servicio en el mandante, sinrestringir el tipo de obra o serviciode que se trata.

La definición legal entiendeque la obra o servicio debe realizar-se en el dueño de la obra, cuestiónque, obviamente, no dice relacióncon el espacio físico del mismo, sinocon que la obra o servicio de que setrata sea parte del ciclo productivode la empresa que la encarga3.

Quedan excluidos del régi-men de subcontratación: a.) los con-tratos entre empresas cuyo objetono sea la ejecución de una obra oservicios, sino que sólo una obliga-ción de dar, como por ejemplo, unacompraventa, y b.) quedan exclui-dos, por así disponerlo la propia ley,las obras o servicios esporádicos uocasionales prestados a la empresadueña de la obra.

1.2 - La empresa contratistadebe realizar dicha obra o servicio,por su cuenta y riesgo y ejerciendoel mando de su propios trabajado-res. Aspecto clave: la subordinaciónde los trabajadores debe quedarradicada en la empresa contratistao subcontratista, y en ningún caso,en el dueño de la obra.

De no cumplirse con las con-diciones a) o b), la situación res-pectiva no podrá ser calificada detrabajo en “régimen de subcon-tratación”, sino que, como lo de-clara expresamente el artículo 183A, de intermediación o suministrolaboral, debiendo ser consideradoel dueño de la obra comoempleador y responder legalmen-te como tal.

3Así lo ha entendido la Dirección del Trabajo que el Dictamen 141/005, del 10.01.2007, señala que“que lo verdaderamente sustancial en este aspecto es que la empresa principal sea la dueña de las respectivasobras o faenas en las que deban desarrollarse los servicios o ejecutarse las labores subcontratadas, indepen-dientemente del lugar físico en que éstas se realicen. En otros términos, estaremos en presencia de trabajosubcontratado, en tanto se trate de actividades pertenecientes a la organización de la empresa principal, aúncuando los trabajos, tareas o labores que implique la ejecución de la o las obras o servicios, se desarrollen enrecintos o instalaciones ajenos a la empresa principal, dueña de la respectiva obra, empresa o faena”.

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En ese sentido, el estableci-miento de un concepto legal desubcontratación genera algunos co-mentarios:

En primer lugar, es una em-presa arriesgada, en la que ha fra-casado un su oportunidad la pro-pia Organización Internacional deTrabajo, y que genera los más va-riados debates doctrinales, peroque parece salvado con propiedaden la ley de subcontratación4.

Precisamente uno de los as-pectos a destacar es que el legisla-dor chileno ha construido unanoción amplia de subcontratación,evadiendo algunas disputasdoctrinales un tanto artificialesacerca de lo que es la institución dela subcontratación.

La subcontratación laboral,como comprobó rudamente la OIT,no tiene ninguna esencia pura queel legislador de cualquier origendeba respetar. De modo tal, que de-bates propios de la doctrinaextranjera o de otras áreas delderecho nacional, no deben, y asífue en este caso, limitar laconstrucción laboral del conceptode subcontratación.

Nuestro legislador ha optadopor construir una noción amplia desubcontratación laboral, que no co-incide con la figura del mismonombre en el derecho civil, porqueno se exige la existencia de dos

4La OIT después de varios intentos fracasados, dio por cerrado en 2003, sin éxito, el debate sobreel concepto de subcontratación, debido a las diferencias conceptuales existentes en los diversossistemas legales. Al respecto ver AMEGLIO, E. “Vicisitudes del proyecto de convenio internacio-nal sobre trabajo en régimen de subcontratación”, AAVV Cuarenta y dos estudios sobre ladescentralización empresarial y el Derecho del Trabajo, FCU, Uruguay, 2000.

5A falta de una definición legal expresa, en Uruguay este ha sido uno de los puntos en el debate yel resultado es que “la doctrina y la jurisprudencia no han logrado un acuerdo sobre la noción oconcepto de subcontratación o intermediación”. CASTELLO, A. Responsabilidad Solidaria en elDerecho del Trabajo, FCU, Uruguay, 2004, p 44.

contratos iguales entre las diversasempresas (contrato base = subcon-trato), pero tampoco con los con-tornos de esta figura en el labora-lismo extranjero, que en generalexigen la duplicidad de contratosciviles o mercantiles entre las em-presas y en todo caso, generalmenterestringen el concepto sólo aaquellos casos donde el objeto delcontrato que liga a las empresas esuna actividad principal de la em-presa mandante.

En efecto, en Chile no tienenlugar el debate doctrinario:

a) acerca de la necesidad dela duplicidad de contratos de igualnaturaleza jurídica entre las empre-sas (civil o mercantil), para que exis-ta propiamente subcontratación.Nuestra ley exige sólo un contratono laboral entre las empresas (prin-cipal y contratista) y uno laboralentre el contratista y el trabajador,para que se configure la figura dela subcontratación regulada por elCódigo del Trabajo y operen las res-ponsabilidades legales que corres-pondan5 .

b) acerca del tipo deactividades que son objeto del con-trato civil o mercantil entre las em-presas, en cuanto estas forman o noparte de actividades esenciales oprincipales de la empresa mandan-te. Nuestra ley no hace ningunadistinción sobre el tipo de actividad

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desarrollada por la empresacontratista, de modo tal queconcurriendo los requisitos legales,existirá una situación de subcontra-tación laboral, ya sea que se tratede una actividad esencial o princi-pal o que se trate nada más de unaperiférica o accesoria, y operaránlas responsabilidades laborales pre-vistas por la ley para la empresaprincipal6.

2 - Se establece un modelode responsabilidad laboral queperfecciona el vigente

2.1 - Se consagra la responsa-bilidad subsidiaria y en cadena delmandante o dueño de la obra (artí-culo 183 D). El dueño de la obra omandante responderá subsidiaria-mente con respecto de las obliga-ciones laborales y previsionales queafecten a sus empresas contratistas.También responderá en la mismacalidad en caso de las obligacioneslaborales que afecten a las empre-sas subcontratistas, cuando estas nopuedan exigirse de las empresascontratistas en su calidad deresponsable subsidiario inmediato.

6Cuestión que nos ahorra el espinudo debate acerca de que debe ser considerado y que no actividadprincipal de la empresa mandante y de ese modo cuando hay o no subcontratación laboral. Casoparadigmático de esto es el atiborrado debate doctrinal español acerca de la noción de “propiaactividad” a la que hace referencia el artículo 42.1 del Estatuto de los Trabajadores, comoelemento constitutivo del concepto de subcontratación, y que deja afuera del mismo a actividadesperiféricas o no esenciales. Ver RIVERO, J. “La descentralización productiva y las nuevas formasorganizativas del trabajo”, en AAVV Descentralización productiva y nuevas formas de organi-zar la producción, X Congreso Nacional de Derecho del Trabajo, MTAS, España, 2000. El ahorroen nuestro caso no es total, ya que la ley de subcontratación, con poco tino conceptual, reforman-do el artículo 66 de la Ley Nº 16.744, ha hecho innecesariamente alusión a la actividad principalen materia de higiene y seguridad, específicamente en relación a las empresas principales: las quetengan más de 50 trabajadores subcontratados dentro “propio giro”, deberán implementar unsistema de gestión de la seguridad y salud en el trabajo. El Reglamento sobre la materia (DS Nº76, del 2007), con menos tino aún, ha definido actividad del giro propio como aquella actividad“destinada a que la empresa principal desarrolle sus operaciones o negocios” (artículo 4). Comoes fácil de advertir, es difícil pensar en una actividad que no este destinada a que la principalhaga su negocio, por lo que si la norma legal busca acotar su propia aplicación sólo a lo“esencial” de la actividad de la principal, el Reglamento se encarga, por la amplitud de laexpresión “destinada”, que ello definitivamente no resulte.

La nueva ley tiene como ideacentral el reforzamiento de laprotección laboral del trabajadorsubcontratado por medio delperfeccionamiento de las reglas yaexistentes en la materia (artículo 64y 64 bis CT). La herramienta fun-damental es la asignación al dueñode la obra o empresa principal deuna responsabilidad jurídica subsi-diaria (opera sólo en caso de que eldeudor principal, esto es, elempleador no cumpla con el pagode las obligaciones laborales, dotan-do al dueño de la obra del benefi-cio de excusión).

Esta responsabilidad subsidi-aria es para el mandante y dueñode la obra de carácter indirecto, encuanto su exigibilidad depende node un hecho propio, sino de unhecho ajeno: el no cumplimiento delas obligaciones laborales yprovisionales por parte de la empre-sa contratista. En ese sentido, el es-quema legal de protección laboraldel trabajador de empresascontratista y subcontratista seconstruye sobre un modelo simple:en primer lugar, responsabilidad

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jurídica directa de la empresacontratista, y por tanto deudorprincipal de las obligacioneslaborales, y en segundo lugar, endefecto de la anterior, la responsa-bilidad jurídica subsidiaria eindirecta por parte del dueño de laobra o mandante.

2.2 - Se establece unaresponsabilidad subsidiaria amplia

La ley soluciona cuestionesque se habían debatido en lajurisprudencia judicial: primero, laempresa principal responderá detodas las obligaciones laborales yprevisionales, incluidas las even-tuales indemnizaciones legales quecorrespondan por término de larelación laboral, y segundo, dicharesponsabilidad quedará limitadatemporalmente al periodo duranteel cual el o los trabajadores pres-taron servicios en régimen desubcontratación para el mandante(art. 183 B).

2.3 - Se establece unaresponsabilidad directa de la em-presa principal en materia deseguridad e higiene

La empresa principal tiene laobligación, junto al contratista, dedisponer de todas medidas necesa-rias para proteger la vida y saludde los trabajadores subcontratadosen la faena respectiva (Art. 183 E).Ahora, el dueño de la obra que con-trate o subcontrate con otros la rea-lización de una obra, faena o servicios

propias de su giro y por esa vía seemplee a más de 50 trabajadores,deberá vigilar el cumplimiento porparte de dichos contratistas osubcontratistas de la normativa rela-tiva a higiene y seguridad, debiendopara ello implementar un sistema degestión de la seguridad y salud en eltrabajo para todos los trabajadoresinvolucrados7 .

2.4 - Se establece una res-ponsabilidad solidaria

La ley establece, como mayornovedad en la materia, un eventualagravamiento de la responsabilidaddel mandante, pero no por un he-cho del contratista (como sería, porejemplo, el no pago de las obliga-ciones laborales), sino por un hechosuyo: debe responder solidariamen-te por no haber ejercidos los dere-chos de control que la ley le otorga(artículo 183 B). Si ejerce los dere-chos de control, la empresa princi-pal queda en la misma situación an-terior a la nueva ley: respondesubsidiariamente, si no los ejerce, ysólo en ese caso, su responsabilidadse agrava, respondiendo solidaria-mente.

Más allá, entonces, del errormediático que se ha producido so-bre la materia, señalándose que hayun cambio en el tipo de responsa-bilidad en la materia que ahorapasa a ser solidaria, error debidoquizás a la histeria colectiva que la

7Ello supone, dice el artículo 7 transitorio de la Ley Nº 20.123, la elaboración por parte de laempresa principal de un “reglamento especial para empresas contratistas y subcontratistas, en el que seestablezca como mínimo las acciones de coordinación entre los distintos empleadores de las actividadespreventivas, a fin de garantizar a todos los trabajadores condiciones de higiene y seguridad adecuadas”. Deeste modo, en estos casos, aparte del reglamento interno de orden higiene y seguridad del dueñode las obras y de los contratistas, debe elaborarse un reglamento especial de coordinación deacciones de seguridad, a cargo y de responsabilidad de dueño de la obra. Dicha materia, la deseguridad e higiene en el ámbito de la subcontratación, ha quedado regulada por el DecretoSupremo Nº 76, del 18.01.2007.

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ley ha producido en el ámbito em-presarial, parece claro que elrégimen general de responsabilidaden materia de la empresa principalsigue siendo la responsabilidad sub-sidiaria, dependiendo de su propiaconducta el mantenerse en esasituación. Sólo en el caso que noejerza los derechos de control,como forma de sanción, la ley agra-va su responsabilidad a solidaria.

La justificación de esta nor-ma legal es buscar incentivar el sis-tema de autocontrol del cum-plimiento de la legislación laboral:el mandante ve agravado su gradode responsabilidad de subsidiaria asolidaria por el hecho propio de noejercer los derechos que la ley leotorga - de información y retención.Estos derechos van dirigidos, pre-cisamente, a velar por el respeto delos derechos del trabajador enrégimen de subcontratación.

Es obvio que la posición jurí-dica prevalente de la empresa prin-cipal respecto del contratista,reforzada legalmente por laatribución legal de los derechos deinformación y retención, justificanplenamente que debe verse agrava-da su responsabilidad cuando, porsu propia falta de diligencia en elejercicio de esos derechos, el pagode las obligaciones laborales yprovisionales se vea en situación deno ser integrados.

3 - Se reconfiguran los dere-chos de control que la ley laboral leotorga a la empresa principalrespecto de la empresa contratista:

el derecho de información yderecho de retención (art. 183 CT).

La empresa principal tienederecho a ser informada por el es-tado de cumplimiento de lasobligaciones laborales y previ-sionales, tanto de los trabajadoresdel contratista como del subcon-tratista. En dicho caso, el cum-plimiento deberá acreditarse o porcertificados emitidos por laInspección del Trabajo o por mediosidóneos que garanticen dichosderechos8 .

En caso de que se informe laexistencia de una deuda laboral oprevisional, la empresa principal debeejercer el derecho de retención de lasobligaciones que tenga a favor delcontratista o subcontratista respecti-vo, por el monto de que esresponsable subsidiariamente,debiendo pagar con dicha retenciónal trabajador o institución provisionalacreedora (art. 183 CT).

Antes estos derechos seestablecían en único interés delmandante en cuanto le permitecautelar su eventual situación deresponsabilidad subsidiaria, siendosu ejercicio de algún modo faculta-tivo o voluntario. En la ley desubcontratación se les reconfiguray pasan al mismo tiempo decautelar el interés del mandante aproteger los derechos del traba-jador: su falta de ejercicio efectivogenera para el mandante, a modode consecuencia jurídica, unaintensificación de su responsa-bilidad: de subsidiaria a solidaria.

8El artículo 183 C señala que el Ministerio de Trabajo dictará un reglamento que regulará la formay mecanismos que adoptaran esos medios idóneos a los que se refiere la ley. El reglamento fuedictado con fecha 20.01.2007, y correspóndela Nº 319 del Ministerio del Trabajo, donde se regulala certificación vía Inspección del Trabajo o vía entidad competente (empresa privada decertificación laboral).

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De este modo, la ley generaun sistema de protección deltrabajador en régimen de subcon-tratación que opera en dos niveles:primero, la responsabilidad directadel contratista en su calidad deempleador, y segundo, la responsa-bilidad indirecta del mandante encalidad de tercero responsablesubsidiariamente, quien, además, yaquí el gran aporte de la reformalegal en estudio, responde de lasobligaciones laborales que corres-ponda, en caso de no haber ejercidooportunamente los derechos decontrol que la ley le otorga, ahoraen calidad de tercero responsablesolidariamente.

4 EL DEBATE LEGAL SOBRE ELSUMINISTRO DE TRABAJA-DORES

Los problemas del suministroeran más graves que la subcon-tratación. No podía determinarsequien es el empleador para efectoslegales laborales, y la empresausuaria no se hace responsable nidirectamente (“los contratos estánsuscritos con la suministradora”alegan en los Tribunales y hastaahora la Corte Suprema los apoyaal inhabilitar en sus fallos sobre lamateria a la Dirección del Trabajopor “carecer de competencia le-gal”), ni indirectamente comoresponsables solidarios o subsi-diarios (porque no existe ningunanorma legal que los obligue comosí ocurre en la subcontratación).Además quedaban una serie dederechos constitucionales ylaborales en el aire, sin poder serejercidos, especialmente los decarácter colectivo, no se pueden sin-dicalizar ni negociar colectiva-

mente con la empresa usuaria don-de trabajan porque no son susempleados.

Eran por así decirlo, lostrabajadores ideales para lausuaria: no tienen contrato formalde trabajo con ella, no hay que res-ponder por sus derechos laboralesni previsionales, no se sindica-lizaban y no negocian colectiva-mente, y por si fuera poco, sisolicitaban la intervención de laautoridad administrativa losTribunales de Justicia consolidabantoda esta situación declarando quela Inspección del Trabajo carece decompetencia en esta materia.

¿Cómo se soluciona esta suigeneris situación legal - una tierrade nadie - en la que se encuentranlos trabajadores suministrados porempresas de servicios transitorios?

Esa pregunta no teníarespuesta en la ley laboral en Chi-le. Como decía en una nota de pren-sa el Presidente de la Confe-deración de Trabajadores del Co-mercio “estos trabajadores trabajansin Dios ni ley” (Diario Siete, 5 deEnero del 2006).

En efecto, dicha figura noestaba reconocida por nuestro legis-lador: los trabajadores tenían día adía, cara a cara, una relaciónlaboral con un empleador “real”(empresa usuaria), quien noobstante no asumía ningunaresponsabilidad y que al momentode plantear sus exigencias laboraleslos reenviaba a tratar con unempleador “fantasma” (empresade trabajo temporal), y cuandoreclamaban la protección de laDirección del Trabajo para quehiciera exigible el cumplimiento de

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las disposiciones laborales respec-tivas frente al empleador real, dichaacción se veía paralizada median-te declaraciones de incompetenciade los Tribunales de Justicia,obtenidas por la vía de la acciónde protección, quedando la acciónfiscalizadora, entonces, centrada enla empresa de servicios transitorios,quien, paradójicamente, no teniamayor contacto laboral diario ypermanente con el trabajador, sal-vo firmar el contrato de trabajo yen algunos casos, para el pago delas remuneraciones.

Lo extraño y precario de lapeculiar situación que los traba-jadores suministrados, hizo plan-tear la temática acerca de buscar eintroducir una posible regulaciónlegal en nuestro orden laboral parael suministro de trabajadores, quepermitiera resolver las inquietudesque esta figura genera: ¿puede serconsiderado empleador una em-presa que no tiene mayor contactolaboral con los trabajadores?, ¿escorrecto que la empresa que recibedía a día la prestación de serviciosno asuma ninguna responsabilidaden el ámbito laboral?, ¿elsuministro de trabajadores requiereque la labor suministrada sea sólotransitoria?, ¿cómo se ejercen losderechos colectivos de lostrabajadores suministrados, especi-almente la sindicalización y lanegociación colectiva?, ¿qué ocurrecon las diferencias salariales entrelos trabajadores suministrados y loscontratados directamente por laempresa usuaria?, ¿quién respon-de en caso de accidentes del trabajoy enfermedades profesionales?

De no haberse regulado estafigura, el suministro de trabaja-

dores en Chile habría seguidopresentando rasgos que abierta-mente perjudican al trabajador ce-dido:

a) Es difícil de sostener que laempresa usuaria, donde eltrabajador temporal presta susservicios diariamente y respecto dela cual tiene deberes laborales, notenga ninguna responsabilidad le-gal frente al trabajador. Cabeseñalar, sin embargo, como vere-mos más adelante, que estaobjeción del trabajo temporal hasido superada, en la legislacióncomparada mediante el estable-cimiento de la responsabilidadlaboral solidaria de la empresausuaria o, en su defecto, la respon-sabilidad subsidiaria.

b) El trabajo suministradocomo se da en la realidad laboralchilena corresponde a un casoparadigmático de precarización delempleo, que se traduce en la dife-rencia de estabilidad laboral queexiste entre el trabajador perma-nente y el suministrado. Aún losmás benevolentes con esta figuraseñalan que aunque el empleosuministrado no es forzosamentesinónimo de trabajo precario, nodeja de ser un paliativo insuficien-te para muchos temporeros quebuscan una situación estable.

c) Existe una notablediscriminación laboral en materiade suministro en Chile: mientras lostrabajadores contratados directa-mente por la usuaria gozan decierta estabilidad laboral, asociadaa beneficios y garantías laborales,los trabajadores suministrados, enmuchas ocasiones, haciendo lamisma labor o desempeñando lamisma función, reciben un trato

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sensiblemente distinto, asociado amenos beneficios (tanto materialescomo económicos), menos garan-tías (existe mucha contratación ahonorarios) y peores salarios.

Precisamente estas, entreotras, razones hicieron que seprohibiera inicialmente en laslegislaciones laborales nacionales elsuministro o cesión de trabajadores,prohibición adicionalmente refren-dada a nivel internacional con elConvenio de la OIT sobre agenciasde colocación (N° 96). Sólo en ladécada de los noventa comenzó aganar carta de legitimidad, comouna forma de buscar flexibilizar lasrelaciones de trabajo, permitiendoque las empresas recurrieran a otrasempresas en búsqueda de mano deobra por razones temporales, sinnecesidad de contratar directa-mente a dichos trabajadores. Asídiversos países que hasta fines delos ochenta prohibían esta figura,comenzaron a reconocerla y regu-larla: España en 1994, Italia en1997 y en nuestro propio entornoColombia en 19909.

Además se le reconoció comofigura legítima en el ámbito de lalegislación internacional del trabajocon el Convenio Nº 181 de la OIT,sobre agencia privadas de empleo(1997).

La recepción, sin embargo,siempre bajo la premisa fundamen-tal de que para el Derecho delTrabajo las relaciones triangularesno son normales, éste sólo lasacepta a titulo de excepción,justificándolas tradicionalmente

9Regulan el suministro de trabajadores diversos países, entre otros : Alemania (ley 1976), España(Ley 14/1994), Irlanda (Employment Agencies Act 1991), Argentina ( Ley Nº 24.013/1991),Colombia (Ley Nº 50/1990).

desde un punto de vista económico,y que cuando las establece, reconocela posibilidad de este tipo de relaci-ones de trabajo en tanto queexcepción a un principio general.

En ese contexto, Chile seencontraba casi como una exce-pción en el plano internacional, yaque no se reconocía esta figura,cuestión que precisamente vino aser solucionada por la Ley Nº20.123, que conocido popularmen-te como de subcontratación, su pro-pósito principal es regular elsuministro de trabajadores.

5 LA LEY SOBRE SUMINISTRODE TRABAJADORES: LAS EM-PRESAS DE SERVICIOS TRANSI-TORIOS

La nueva ley reconoce y re-gula por primera vez en Chile la fi-gura del suministro de personal através de lo que denomina empre-sas de servicios transitorios.

La regulación se centra en tresejes fundamentales:

Primero, se regula las empre-sas de servicios transitorios (EST)para garantizar que no se trata desimples artificios jurídicos, quetengan por objeto servir sólo demedio de las empresas usuariaspara evadir obligaciones laborales.

Segundo, se regula la cesióndel trabajador propiamente tal, estoes, la relación entre la EST, la em-presa usuaria y los trabajadoressuministrados, para garantizar queel suministro tenga un carácter

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transitorio, evitando que se trans-forme en una forma permanente decontratar trabajadores por parte delas empresas usuarias.

Tercero, se regula la situaciónjurídica de la empresa usuaria conel objetivo fundamental deestablecer un mecanismo deresponsabilidad para que esta res-ponda por las obligaciones laboralesdel trabajador.

Estas tres líneas de regulaciónmodifican el panorama delsuministro de trabajadores en Chi-le anterior a la ley Nº 20.123: don-de las EST no tenían que cumplirningún requisito en particular (loque facilitaba la existencia desuministradoras de papel oartificiales), el suministro detrabajadores era permanente (loque permitía que por añostrabajadores laboren para lausuarias sin derechos sobre estas),y por último, no había regulaciónde la situación jurídica de las em-presas usuarias (lo que generabauna suerte de impunidad legal enmateria laboral no respondiendopor ninguna obligación laboral nisiquiera a titulo de responsablesubsidiario).

Revisemos estas líneas deregulación:

5.1 Las empresas de servi-cios transitorios

A estas empresas se lereconoce la calidad de empleadorcon respecto a los trabajadoressuministrados o cedidos, por lo quedebe responder legalmente de todaslas obligaciones laborales yprevisionales que correspondan. Deacuerdo a las reglas generales esacalidad no le corresponde: como no

hay excepción al artículo 3 del Có-digo del Trabajo, la ETS no deberíaser considerada empleador, ya queel mando y la dependenciacorresponde a la empresa usuaria.La nueva ley altera las reglasgenerales, considerando empleadora quien no ejerce el mando y lasubordinación, a cambio de unaregulación que garantice losderechos de los trabajadores.

La regulación delas EST exi-ge que:

a) Las empresas quedesarrollen el suministro de recur-sos humanos tendrán por ley unobjeto social único (art. 183 F) y nopodrá ser filiales o coligadas de laempresa usuaria (art. 183 I). Hoylas usuarias crean en muchas oca-siones sus propias empresas desuministro sólo con el objeto de quelos trabajadores no tengan contra-tos con ella, por eso es posible enChile encontrar en un mismo cen-tro de trabajo, decenas de empre-sas suministradoras actuando parauna sola usuaria, como ocurre, porejemplo, con las multitiendas (art.183 I).

b) Las empresas de trabajotemporal deberán constituir unagarantía para el cumplimiento desus obligaciones laborales yprevisionales, mediante un depósi-to a través de instrumentos finan-cieros constituidos a nombre de laDirección del Trabajo, contra elcual se pagarían las obligacioneslaborales o previsionales pendientesde la empresa de trabajo transitorio.La garantía tiene un monto de 250UF aumentada por cada traba-jador suministrado en 1 UF porsobre 100 trabajadores, 0.7 UF porsobre 150 y 0.3 por sobre 200.

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La garantía es una exigenciacomún en el derecho comparado:se exige cauciones monetarias enItalia, Portugal, España, Argentinay Colombia.

c) A efectos de permitir unaadecuada información y publicidadsobre estas empresas así como su-pervisar el cumplimiento de los re-quisitos de constitución, éstasdebieran registrarse ante laDirección del Trabajo.

Dicho registro será requisitonecesario para el funcionamientode las empresas de serviciostransitorios, y la cancelación de lainscripción en dicho registro impor-tará la extinción de la respectivaempresa de servicios transitorios.La exigencia de registro público dela ETT es una regla en el derechocomparado: se exige en Alemania,España, Italia, Gran Bretaña, Irlan-da, Colombia, Argentina.

5.2 - El contrato de puesta adisposición y el trabajador transitorio

El centro de la regulación so-bre el suministro de trabajadores loconstituye el denominado contratode “puesta a disposición”, figurajurídica civil o mercantil celebradaentre la empresa usuaria y la em-presa de servicios transitorios, queopera como sustento legal a lacesión legal de trabajadores, yrespecto del cual operan dos meca-nismos claves de las nuevaregulación: la causalidad delsuministro (el contrato debejustificarse en una causa legal), yla transitoriedad del mismo (la leylo somete a un plazo máximo)

El contrato a puesta dis-posición debe estar escriturado den-tro del plazo de 5 días de comen-

zado el suministro del trabajadorpara la usuaria, salvo que duremenos de ese lapso de tiempo, encuyo caso la escrituración deberealizarse dentro de 2 días, y debemencionar, con carácter obliga-torio, las siguientes menciones: laindividualización de las partesdeberá hacerse con indicación delnombre, domicilio y número de cé-dula de identidad o rol únicotributario de los contratantes. En elcaso de personas jurídicas, sedeberá, además, individualizar al olos representantes legales. Además,deberá indicar la causal invocadapara la contratación de serviciostemporarios de conformidad con elartículo siguiente, los puestos detrabajo para los cuales se realiza,la duración de la misma y el precioconvenido.

Respecto de esta figura cabeseñalar lo siguiente:

5.2.1 - El suministro detrabajadores debe ser transitorio, ybasado en requerimientos excep-cionales de una empresa usuaria.Hasta ahora el suministro en Chileha sido permanente, pudiendoextenderse por varios años que eltrabajador preste servicios a la em-presa usuaria sin que se genere unvínculo jurídico entre ambos.

La regulación, por tanto, pre-cisa las causas específicas quepermitan el suministro, las quedeben constar en el contrato de“puesta a disposición”:

a) suspensión del contrato detrabajo o de la obligación de prestarservicios, según corresponda, de unoo más trabajadores por licencias mé-dicas, des- cansos de maternidad o fe-riados;

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b) eventos extraordinarios, talescomo la organización de congresos,confe- rencias, ferias, exposiciones uotros de similar naturaleza;

c) proyectos nuevos y específi-cos de la usuaria, tales como laconstrucción de nuevas instalaciones,la ampliación de las ya existentes oexpansión a nuevos mercados;

d) período de inicio deactividades en empresas nuevas;

e) aumentos ocasionales, sean ono periódicos, o extraordinarios deactividad en una determinada sección,faena o establecimiento de la usuaria; o

f) trabajos urgentes, precisos eimpostergables que requieran unaejecución inmediata, tales comoreparaciones en las instalaciones yservicios de la usuaria.

Podría considerarse que lascausales son extremadamenteambiguas y amplias, lo que es encierta medida cierto, pero latransitoriedad del suministro vieneefectivamente garantizada por eltiempo máximo que de duración dela cesión del trabajador: en los ca-sos de la letra de 90 hasta 180 díassegún el caso de que se trate, sinposibilidades de renovación.

Al igual que en el derechocomparado, el suministro essiempre transitorio: en Bélgica elcontrato sólo puede tener unaduración máxima de tres a seismeses, en Dinamarca no puede ex-ceder de tres meses y no esrenovable, en Alemania el plazomáximo es entre nueve meses y unaño, y en el resto de los casos, comoen Francia, si bien no se fija tiempomáximo, se le liga a que la tarea o

función a desempeñar sea tran-sitoria.

5.3 - Situación legal de laempresa usuaria

Aunque la empresa usuariano corresponde al empleador desdeel punto de vista legal, la normativavigente le exige que asuma determi-nadas responsabilidades:

a) La ley considera unrégimen de responsabilidad subsi-diaria de la empresa usuariarespecto de las obligacioneslaborales y previsionales de lostrabajadores suministrados, equi-parando en esta materia a lostrabajadores suministrados y lostrabajadores en régimen de subcon-tratación.

Se trata de una norma fun-damental, ya que hasta ahora lasempresas usuarias no asumíanningún tipo de responsabilidadrespecto de los trabajadoressuministrados, encontrándose aquíuna de las razones más evidentesde la situación de precariedadlaboral de estos trabajadores.

b) El suministro de trabaja-dores se restringe en relación al tipode actividad que puede desem-peñar el trabajador cedido,prohibiendo la ley que se utilice estafigura en los casos que señala: pararealizar tareas de alto directivo (ge-rentes y subgerentes que tenganpoder de representación de la em-presa), para ser cedidos a otras empresas usuarias y especialmente seprohíbe el suministro para elreemplazo de trabajadores enhuelga dentro de una negociacióncolectiva10.

10Norma común en el derecho comparado: se prohíbe el suministro en situación de huelga de laempresa usuaria en España, Gran Bretaña, Italia, Francia.

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c) Se establece una responsa-bilidad directa de la empresausuaria en materia de higiene yseguridad: la ley señala que será deresponsabilidad directa de lausuaria el cumplimiento de las nor-mas referidas a la higiene yseguridad en el trabajo, incluidaslas disposiciones legales yreglamentarias relativas al SeguroSocial contra Riesgos de Accidentesdel Trabajo y EnfermedadesProfesionales de la Ley Nº 16.744,especialmente las medidas deprevención de riesgos que debaadoptar respecto de sus trabaja-dores permanentes.

d) La ley cierra el andamiajenormativo descrito con un sistemade sanciones en contra de la empre-sa usuaria en casos de infracción yde fraude a la ley:

En el primer caso, la usuariaresponde por infracción a la leylaboral cuando contrate a untrabajador de servicios temporariospor intermedio de empresas no ins-critas en el registro que para talesefectos llevará la Dirección delTrabajo. La sanción será, aparte dela multa que corresponda, que eltrabajador respectivo se considera-rá como dependiente de la usuaria,vínculo que se regirá por las nor-mas de la legislación laboral común(art. 183 AA).

En el segundo caso, la usuariaresponde por fraude a la ley laboralcuando ha celebrado contratos detrabajo en supuestos distintos aaquellos que justifican la contra-tación de servicios temporarios, oque tengan por objeto encubrir unarelación de trabajo de carácter

permanente con la usuaria, seentenderán celebrados en fraude ala ley, considerándose el trabajadorcomo dependiente de la usuaria,vínculo que se regirá por las normasde la legislación laboral común, sinperjuicio de las demás sancionesque correspondan (artículo 183 U).

6 ASPECTOS PENDIENTES:¿Y LA IGUALDAD DE CON-DICIONES?

En ese sentido, para concluir,una propuesta como la descrita ar-riba, recoge las líneas másavanzadas de regulación delfenómeno del suministro en elderecho comparado, atendido quedurante la década de los noventase ha producido su legalizacióndentro de buena parte de los paísesdel mundo, bajo las directrices delConvenio Nº 181 de laOrganización Internacional delTrabajo, sobre agencias privadas deempleo.

A pesar del notable avanceque la ley representa tanto para lostrabajadores suministrados comolos subcontratados en Chile, existenciertos puntos pendientes quedeberían ser objeto de debate enfuturas reformas a la ley definitiva-mente aprobada.

Dichos puntos pendientes sonfundamentalmente los siguientes:

En primer lugar, el denomi-nado problema de la equiparaciónsalarial, que es un problema comúnal trabajo en régimen de subcon-tratación como al suministro detrabajadores. Uno de los aspectos

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11En rigor, se trata de una norma habitual en el derecho comparado: existe equiparación salarialentre el trabajador suministrado y el trabajador directo en la misma función en Bélgica, Italia,Francia, Portugal y en Colombia.

más relevantes en el debate públi-co del tema en Chile respecto deambas figuras de trabajo triangu-lar corresponde a las sensibles ydiscriminatorias condiciones detrabajo, especialmente salariales, enque se desempeñan los trabajadoressubcontratados o suministradosrespecto de los trabajadores directosde la empresa dueña de la obra ode las empresas usuarias querealizan el mismo trabajo.

En rigor, las propuestas delGobierno no han buscado solucio-nar directamente este problema delas diferencias remuneracionalesentre los tipos de trabajadores. Laley de subcontratación laboral noda respuesta a este problema: siguesiendo plenamente legal establecercondiciones de remuneraciones in-feriores para trabajadores subcon-tratados o suministrados, a pesar derealizar el mismo trabajo que losdirectamente contratados por lasempresas principales.

Una solución, políticamentemuy interesante y novedosa,expresión de un derecho funda-mental en lo laboral de no-discriminación arbitraria (“a igualtrabajo, igual remuneración”), yque evita de paso que el negocio dela triangulación laboral se centre enla precariedad laboral, seríaderechamente exigir en que se in-corpore al proyecto de ley la deno-minada “equiparación salarial paraigual trabajo”, de modo tal que, derealizar la misma tarea, eltrabajador subcontratado o sumi-nistrado tenga derecho a recibirigual remuneraciones que el

trabajador directamente contrata-do por la empresa mandante ousuaria.

Esta regla legal ya existe en elderecho comparado. En España, laley 29/1999, de 16 de julio de 1999,estableció la denominada “equi-paración salarial” entre los traba-jadores directo y los suministradospor vía de una empresa de trabajotemporal: Los trabajadores contrata-dos para ser cedidos a empresasusuarias tendrán derecho durante losperíodos de prestación de servicios enlas mismas a percibir, como mínimo,la retribución total establecida para elpuesto de trabajo a desarrollar en elconvenio colectivo aplicable a la em-presa usuaria, calculada por unidad detiempo11. Y en el mismo sentido, elartículo 79 de la Ley Nº 50, quedispone: los trabajadores en misióntendrán derecho a un salario ordinarioequivalente al de los trabajadores dela empresa usuaria que desempeñen lamisma actividad, aplicando para elefecto las escalas de antigüedad vigen-tes en la empresa. Igualmente, tendránderecho a gozar de los beneficios queel usuario tenga establecidos para sustrabajadores en el lugar de trabajo, enmateria de transporte, alimentación yrecreación.

En segundo lugar, y paraconcluir, cabe señalar que un as-pecto especialmente problemático,aunque menos urgente que el ante-rior, en el caso del suministro detrabajadores que este proyecto le-galiza, corresponde al difícilescenario que enfrenta el ejerciciode derechos colectivos del trabajo,particularmente la sindicalizacióny la negociación colectiva.

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Los trabajadores suminis-trados prestan servicios en diversasempresas usuarias, sin conexiónentre ellas, y las condiciones detrabajo no están determinadas porsu empleador común (la empresasuministradora), sino por las em-presas usuarias donde prestanservicios, las que tienen sus propiossindicatos y regulaciones colectivas.

La ley no aborda este punto,y sería deseable en el futuro buscaruna fórmula para facilitar elejercicios de derechos consti-tucionales del trabajador, especial-mente la libertad sindical, dondeuna fórmula interesante a explorarsería atribuir al sindicato de la em-presa usuaria cuando exista larepresentación sindical de estostrabajadores, si ellos se lo solicitan,y en todas aquellas materias referi-das a condiciones comunes de

trabajo que afecten a este tipo detrabajadores, aunque sin incluir lanegociación colectiva con lausuaria, ya que en el esquema legalvigente, dicho derecho siempredebería ejercerse ante el em-pleador, esto es, ante la empresa deservicios transitorios.

Una formula, quizás, sería laadoptada en Estados Unidos, paístan admirado por los enemigos delDerecho del Trabajo, donde la Jun-ta Nacional de Relaciones deTrabajo (NLRB), decidió que lostrabajadores de la empresa centraly los externos de empresassuministradoras (agencias deempleo) que prestaban serviciosbajo su mando, constituían unasola unidad de negociacióncolectiva, aunque tuvieran emplea-dores distintos12 .

12M.B Sturgis, Inc. and Textile Processors, Service Trade, Health Care, Professional and TechnicalEmployees International Union Local 108. National Labour Relations Board, vol 331, num. 173,25.08.2000. El criterio central de esta decisión es lo que se denomina en la jurisprudencia de esaOficina “la comunidad de intereses” presente en trabajadores que se desempeñan en el mismoproceso productivo.

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Evelyne Collomp**

O PAPEL DA CÂMARA SOCIAL:SUA JURISPRUDÊNCIA – INFLUÊNCIA DO

DIREITO INTERNCACIONAL E COMUNITÁRIO*

Resumo: O trabalho pretende analisar o papel da Câmara Social daCorte de Cassação Francesa, à luz do direito internacional e comunitá-rio, consideradas as reformas legislativas ocorridas na França e quealteraram o procedimento, visando imprimir maior celeridade eefetividade, preservada a segurança jurídica, das decisõesjurisdicionais.

Palavras-chave: Câmara Social; Corte de Cassação, Direito Internacio-nal; Direito Comunitário.

Sumário: 1 A Câmara Social. Sua missão normativa. 2 O papel especí-fico da Corte de Cassação em geral e a Câmara Social em particular naaplicação do direito comunitário e do direito internacional. A – Asconvenções de direito internacional puro que se impõem ao juiz dotrabalho francês. B – O direito comunitário. C – A missão específica daCorte de Cassação é particularmente aquela de sua Câmara Social quan-do da aplicação do direito comunitário.

*Tradução de Luciana Caplan. Revisão da tradução por Danielle Bertachini Monteleone.** Juíza Presidente da Câmara Social da Corte de Cassação Francesa

1 A CÂMARA SOCIAL. SUAMISSÃO NORMATIVA

A Câmara Social é uma dascinco câmaras cíveis da Corte deCassação; sua vocação natural é,como pelas outras formações, de terum papel normativo, o que querdizer que sua missão essencial,como lembrava nosso Primeiro Pre-sidente, há alguns anos, no discur-so de inauguração, é de “dar umainterpretação da lei que preenchasuas lacunas, tire suas ambigüida-

des, que precise o sentido ou o al-cance ou ainda a adapte à evolu-ção dos costumes, das técnicas, davida social, da economia, das men-talidades ou da cultura”. É certoque suas especificidades tornam àCorte esta tarefa infinitamente di-fícil, uma vez que ela deve admi-nistrar um contencioso de massasob um aspecto geralmente muitofactual de produzir decisõesnormativas. Enquanto as outras câ-maras cíveis produzem aproxima-

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damente 2000 a 2500 decisões porano, este número passa de 8000pela Câmara Social com um efeti-vo de conselheiros pouco superior...e esta realidade, que nós tínhamosacreditado, por um momento, quedeveria ter melhorado pela modifi-cação dos procedimentos de repre-sentação em matéria social (estes,depois de janeiro de 2005, são,como nas outras matérias, subme-tidos à representação obrigatória,isto é, eles necessitam da interven-ção de um advogado no conselho -sendo que podiam ser apresentadosdiretamente pelas partes) na reali-dade pouco evolui, sendo a melho-ra registrada em um primeiro mo-mento devido ao efeito tardio rela-cionado ao procedimento prévio doauxílio jurisdicional; para enfrentaresta situação excepcional, a Câma-ra Social teve, pois, que se dotar deuma organização toda particular,adaptada na medida do possível aseu fluxo considerável de casos.

Aproveitando a introduçãoem nosso Código de Processo Civil,por uma lei orgânica de 25 de ju-nho de 2001, que entrou em vigorem 1º de janeiro de 2002, de umprocedimento dito “de admissão derecursos”, que existia já no Conse-lho de Estado a partir desde 1987,e que à Corte de Cassação permitetambém, a partir de então, a umaformação mais reduzida de apenastrês magistrados de uma câmara,declarar pelo não conhecimento deum recurso inadmissível em suaforma ou desprovido de motivo ur-gente e relevante. A Câmara Socialaparelhou-se de um núcleo de re-flexão e de orientação dos recursoscomposto por cinco conseillersréférendaires, além de mais outrosdois, especialmente encarregados

das inadmissibilidades e dos recur-sos relativos às eleições profissio-nais, o qual tem particularmentepor missão prever imediatamente,desde a chegada dos memoriais,seu adequado encaminhamento àseção competente respectiva e aosjuízes relatores competentes espe-cificamente incumbidos docontencioso a que se referem e dereagrupar os processos de mesmotipo, de maneira a organizar audi-ências temáticas, e também de re-solver de forma célere os processosque surgem à primeira vista, oumesmo ao final de um estudo com-pleto, manifestamente destinados anão serem admitidos, estando estaorientação naturalmente suscetívelde ser, em seguida, revisada, se sus-tentado, por exemplo, à vista doselementos desenvolvidos em segui-da, nos memoriais de defesa, que oproblema aventado é mais comple-xo que parecia de início... estes pro-cessos simples têm agora designa-da uma audiência - desde aexpiração dos prazos dos quais dis-põem as partes para entregar seusmemoriais (sendo de cinco mesespara o requerente, a contar do re-curso, e três para o requerido, acontar da intimação dos memoriaisem questão) onde é certamente sem-pre possível orientá-los novamentese algum tipo de dificuldade surgir;vêm assim, em princípio, diante dasformações de seção e ordinárias,apenas os processos que mereçamuma resposta normativa, seja porse tratar uma questão nova, sejaporque possam ensejar uma revira-volta na jurisprudência ou que oprocedimento mereça uma respos-ta porque, por exemplo, a soluçãocontida na decisão atacada encon-tra-se justificada, mas é mal moti-vada.

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Estas medidas permitiram, aocusto de um esforço considerável detodos os membros da Câmara, umasensível melhora na situação… mes-mo se o fluxo atual de recursos éainda bastante relevante para per-mitir à Câmara Social de se dedi-car exclusivamente à sua funçãonormativa (deste modo, se o esto-que de processos em curso na Câ-mara Social é atualmente de 7610e o de processos pendentes de deci-são e conclusos com os juízes é de667, o prazo de solução dos proces-sos que era ainda de mais de 900dias, há dez anos, se encontra hojereduzido a apenas 582; certamen-te é ainda muito longo, mas de-monstra assim mesmo uma eviden-te melhora).

Apesar de todas estas dificul-dades, ela se esforça em exercer suamissão que é a de interpretar demaneira unificada e normativa aregra de direito, à custa de, às ve-zes, provocar revisão na jurispru-dência - que não ocorre semproblematizar, porém, a questão arespeito da segurança jurídica; umareflexão global sobre a questão foraargüida por um grupo de trabalhodirigido por professores... mas ain-da se trata, sem dúvida, de uma di-ficuldade recorrente sobretudo emum período de mutação aceleradaem todos os domínios e, uma vezque a jurisprudência é o reflexo daevolução das práticas sociais, eco-nômicas, políticas, assim como dasmentalidades, não é, portanto, sur-preendente, que ela própria expe-rimente, também, modificações.

Não se deve, contudo, exage-rar quanto ao impacto das modifi-cações jurisprudenciais... primeiro,

raras são aquelas que são insupor-táveis para o passado; em seguida,certas evoluções são amplamenteprevisíveis e intervêm sempre nosdomínios mais controvertidos, ondese revela necessária a correção decertos excessos ou de se fixar umalinha diretiva mais coerente; emsuma, se trata de melhorar, deadaptar, de se ater o mais próximopossível às realidades econômicase sociais; enfim, não se deve perderde vista, por um lado, que em suamaioria, a jurisprudência mantém-se por um longo tempo e, por outrolado, que, de toda forma, a linhadiretiva da Câmara Social é sem-pre de adotar uma posição “razoá-vel”, esforçando-se em levar emconsideração os interesses legítimosdos trabalhadores, parte fraca docontrato de trabalho que se convémproteger, mas também aqueles (in-teresses) legítimos da empresa, semcontudo ocultar a necessidade deafirmar a perenidade dos princípi-os e dos valores fundamentais.

Tal como a liberdade de exer-cer uma atividade profissional (eupenso em toda jurisprudência quese desenvolveu sobre as cláusulasde não-concorrência), a proteçãoda vida privada (a Câmara Socialafirmou com veemência que o tra-balhador, mesmo ao tempo e no lu-gar do trabalho, tem direito ao res-peito à intimidade de sua vida pri-vada, onde o empresário vê recu-sado o direito de tomar conheci-mento direto de uma mensagemprivada constante do correio eletrô-nico de seu empregado) ou ainda aimperiosa necessidade de executaro contrato de trabalho de boa fé.

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2 O PAPEL ESPECÍFICO DA COR-TE DE CASSAÇÃO EM GERAL EA CÂMARA SOCIAL EM PARTI-CULAR NA APLICAÇÃO DO DI-REITO COMUNITÁRIO E DODIREITO INTERNACIONAL

O artigo 55 da Constituiçãode 1958 dispõe que “os tratados ouacordos internacionais regular-mente ratificados ou aprovadostêm, desde sua publicação, umaautoridade superior àquela das leis,com a reserva, para cada acordo outratado, de sua aplicação pela ou-tra parte”; ademais, a condição dereciprocidade se refere apenas aotratado bilateral; em compensaçãoe qualquer que seja o tipo de con-venção, suas disposições suficiente-mente precisas para fornecer res-posta a uma questão de direito sãodiretamente aplicáveis na ordeminterna; pertence, portanto, à todajurisdição do Estado, a aplicaçãodas disposições das convenções in-ternacionais, solucionando, em fa-vor destas, eventuais conflitos comas regras nacionais (este é o contro-le de convencionalidade das leis);esta autoridade do direito interna-cional é repleta de conseqüências le-vando-se em conta a importânciadas convenções que vinculam hojea França, seja em se tratando deacordos bilaterais que afetam o re-gime de trabalho (relativos, porexemplo, à imigração) ou, sobretu-do, de convenções multilaterais vi-sando, ou a harmonizar e a coor-denar os diferentes sistemas nacio-nais em matéria de trabalho e deproteção social (se trata, assim, dasalvaguarda da concorrência, im-pondo-se obrigações equivalentesnum contexto de mundialização detrocas), ou a universalizar o pro-gresso social e certos valores da de-mocracia ou, ainda, em facilitar o

processo de integração européia;dentre estas, se deve certamentefazer uma ressalva quanto ao direi-to comunitário.

A – As convenções de direitointernacional puro que se impõemao juiz francês do trabalho:

- as convenções da Organiza-ção Internacional do Traba-lho às quais convêm acres-cer o Pacto Internacional re-lativo aos direitos civis epolíticos e o Pacto Interna-cional relativo aos direitoseconômicos, sociais e cultu-rais adotados em dezembrode 1966 pela AssembléiaGeral das Nações Unidas, eaplicáveis na França a par-tir de 1981; na França, es-tas convenções da OIT apli-cam-se diretamente desde omomento em que sãoratificadas; elas abrangemum vasto campo materialindo desde as liberdadesfundamentais às condiçõesde trabalho e à seguridadesocial; elas visam sobretudosubmeter a concorrênciainternacional às regras co-muns, evitando a corrida aum leilão social;

- as convenções do Conselhoda Europa (criado pelo Tra-tado de Londres, em 1948)a começar pela muito céle-bre Convenção Européiados Direito do Homem e dasLiberdades Fundamentaisde 1950, mas também pelaCarta Social européia ou atémesmo as Cartas Sociais: ade 1961, a primeira, tardia-mente ratificada pela Fran-ça (ela apenas entrou em

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vigor em 1974) cujas exigên-cias eram modestas na me-dida em que os Estados apoderiam subscrever semaceitar todos os deveres daparte obrigatória; depois, a de3 de maio de 1996, chamadaCarta Revisada, e que consa-gra 31 direitos aos quaiscorrespondem igualmentedeveres (mas uma aceitaçãoparcial resta possível);

- a Convenção Européia dosDireitos do Homem e das Li-berdades Fundamentais in-teressa, em alguns de seusdispositivos, especificamen-te ao direito do trabalho; sãoaqueles que concernem àproibição do trabalho força-do (artigo 4), a liberdadesindical (artigo 11) e, desteponto de vista, a Corte Eu-ropéia de Direitos do Ho-mem produziu importantessentenças relativas à repre-sentatividade dos sindicatosde categorias, ao direito dosindicato de negociar, àscláusulas de segurança sin-dical... mas, além destas dis-posições específicas, funda-mentando-se sobre o prin-cípio da indivisibilidade dosdireitos do Homem, a Cor-te Européia faz resultar dosdireitos profissionais, dispo-sições mais genéricas (comodo direito ao respeito à vidaprivada ou da proibiçãodirigida aos Estados deofender de forma excessivao “direito de ganhar a vidapor um trabalho livremen-te empreendido”); igual-mente, esta convenção éfreqüentemente invocada

perante as jurisdições dotrabalho e particularmentepelo artigo 6, que garanteum direito a um processoeqüitativo, conduzido pu-blicamente e dentro de umprazo razoável perante umtribunal imparcial e inde-pendente (a França foi con-denada sob o fundamentodeste texto em certos pro-cessos na primeira instância– logo, perante o Conseil dePrud’Hommes – em tendodesprezado esta exigênciade celeridade), e é em refe-rência a esta disposição quea Câmara Social procurouinvestigar, por exemplo, sea disposição de direito inter-no obrigando o juiz que jul-gara um despedimento des-provido de causa real e sé-ria, relevante, de determi-nar, de ofício, ao emprega-dor, de reembolsar àsASSEDIC (Associações peloEmprego na Indústria e Co-mércio) as somas pagas aotrabalhador despedido, eracompatível com as exigên-cias internacionais (senten-ça de 18 de janeiro de 1989)ou ainda que ela questionouacerca da regularidade daorganização ou do procedi-mento no Conselhos supra-citados – por exemplo, adecisão da Câmara Social,em 19 de novembro de2002, que cassara as senten-ças que haviam estatuídosem haver prova que o réutinha sido regularmentechamado ao processo, ou,ainda, a decisão de 19 dedezembro de 2003, tendo

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respondido positivamente àquestão de saber se a com-posição dos conselhos deprimeira instância (Conseilsde Prud’Hommes), jurisdi-ções com competência ex-clusiva para os litígios nas-cidos do contrato de traba-lho e que são constituídosem sistema paritário de re-presentantes eleitos domundo salarial e do mun-do patronal, estaria confor-me à exigência de imparci-alidade; é ainda por referên-cia ao mesmo princípio queela considerou, acerca da leichamada “Aubry II”, de 19de janeiro de 2000, que “oprincípio de proeminênciado direito e a noção de pro-cesso eqüitativo, que resul-tam do artigo 6-1 da Con-venção Européia dos Direi-tos do Homem e das Liber-dades Fundamentais” seoporiam, “salvo prova deimperioso motivo de inte-resse geral, à ingerência dopoder legislativo na admi-nistração da justiça a fim deinfluenciar sobre o desfechode um litígio em curso” (Câ-mara Social, 24 de abril de2001, Bol. nº 13-0, cuja po-sição, replicada depois pelaAssembléia Plenária numasentença de 24 de janeiro de2003, veio a ser ratificadapela CEDH); outras dispo-sições são ainda invocadasquando consagram um di-reito fundamental, mais pre-cisamente se não o faz o di-reito nacional, ou que elaslimitem as restrições que elepode suportar; é assim que

a Câmara Social se apoiouno artigo 8 da Convençãoque consagra o direito detoda pessoa ao respeito a seudomicílio, para cassar umasentença que outorgou eficá-cia à uma cláusula de mobi-lidade impondo a um traba-lhador de transferir seu do-micílio, enquanto que estarestrição a uma liberdadegarantida pela convenção“não era indispensável àproteção dos interesses legí-timos da empresa e nem pro-porcional”, ou por julgar queo empregador não poderia,sem afrontar o respeito àvida privada de seu traba-lhador, o que inclui o sigilode correspondência, tomarconhecimento das mensa-gens pessoais por aqueleemitidas ou recebidas, gra-ças a um instrumento deinformática colocado à suadisposição (sentença Nikonde 02 de outubro de 2001);

- A Carta: a Carta Social Eu-ropéia foi revisada em 03 demaio de 1996 (ratificadapela França por uma lei de10 de março de 1999 epublicada por decreto, em4 de fevereiro de 2000); elaconsagra 31 direitos, dentreos quais o direito à igualda-de de oportunidade, àigualdade de tratamentoem matéria de emprego e deprofissão sem discriminaçãofundada no sexo, o direitoà informação e à consulta,o direito à proteção em casode despedida, o direito àdignidade no trabalho, àproteção contra a pobrezae a exclusão social, direito à

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habitação... os novos proce-dimentos adotados vão,sem dúvida, dar a este ins-trumento, que por muitotempo fora desprezado,todo seu interesse. A partirde então, permite-se às or-ganizações internacionaisnão-governamentais, orga-nizações internacionais enacionais representativasde empregadores e de tra-balhadores, formular recur-sos contra um Estado quetenha ratificado a Carta Eu-ropéia revisada, por sua vi-olação, e um órgão de con-trole quase jurisdicional,denominado Comitê Euro-peu dos Direitos Sociais, éencarregado de velar pelorespeito a suas disposições.Depois de ter decidido pelaadmissibilidade da reclama-ção, o Comitê requisita aoEstado réu que submeta umrelatório sobre o mérito dareclamação em um prazodeterminado e depois con-vida a organização queixo-sa a produzir uma réplicaao relatório e, se for o caso,uma audiência pública podeser organizada; ao final, oComitê adota uma “decisãosobre o mérito” na reclama-ção, a qual é, em seguida,transmitida com a própriareclamação ao Conselho daEuropa. Com base no rela-tório do Comitê, o Conselhoadotará uma resolução. Re-levante precisar que se tra-ta de procedimentos autô-nomos em relação às açõesjudiciais internas que nãosão condicionadas ao esgo-

tamento dos recursos inter-nos e que completam os de-mais controles da boa apli-cação da Carta, resultantedos relatórios apresentadospelos Estados ao Conselhoda Europa, mas é bem evi-dente que as posiçõesadotadas por estas instân-cias supranacionais não dei-xam de incidir na jurispru-dência interna pois, pelasdecisões que adota, o Comi-tê Europeu de Direitos So-ciais “diz o direito”, e pelasua jurisprudência, desen-volve uma interpretaçãoteleológica da Carta ligadaa seu objetivo, que é de ga-rantir as liberdades e direi-tos fundamentais da pessoaao trabalho, e zelar pela suaplena eficácia. Suas decisõestem um caráter declaratórioquanto à interpretação dasdisposições da Carta emcomparação à legislação doEstado concernente; estasresoluções não criam, defato, obrigações aos Estadosque devem fazer evoluirsuas legislações para lhescolocar em conformidade -à Carta -, se cabível, maselas não são completamen-te despidas de repercussãona ordem interna, uma vezque elas podem fomentar oraciocínio do juiz internoquando ele deve interpretaras normas de mesma cate-goria, logo, internas. É as-sim que em duas resoluçõesadotadas em 04 de maio de2005, o Conselho de Minis-tros do Conselho da Euro-pa confirmou duas decisões

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do Comitê que concluíampela violação pela França daCarta com relação ao regi-me interno do tempo de tra-balho proveniente da lei de17 de janeiro de 2003, cha-mada “Fillon II”, e de dasobreaviso; sobre o primei-ro ponto, ele julgou que oregime jurídico da limitaçãodo tempo de trabalho dosempregados qualificadossob forma de empreitadapor dia, sem que qualquerlimitação do tempo de tra-balho hebdomadário seja fi-xada, não estava em confor-midade com os imperativosde condições de trabalhoeqüitativas da Carta; sobreo segundo, decidiu aindaque os períodos de sobrea-viso durante os quais o as-salariado deve ficar à dispo-sição do empregador nãopodem ser assimilados, semqualquer limitação, a tem-po de descanso e, portanto,concluiu por uma violaçãoà Carta pelo novo artigo L212-4 bis do Código de Tra-balho, relativo à definiçãodos ditos “sobreavisos”(que, todavia, ainda nãofora modificado...); ditoisso, esta interpretação sealia àquela da Corte de Cas-sação (segunda instância)que julga, igualmente, queo tempo livre apenas podeser aquele livremente orga-nizado pela pessoa, fora deimposição da empresa;

B – O direito comunitário:

O direito comunitário consti-tui, por sua vez, uma ordem jurídi-

ca original. Instituída pelo Tratadode Roma de 1957, a ComunidadeEuropéia, que se tornou União Eu-ropéia em 1992 (Tratado deMaastricht), é o contexto de umaintegração regional sem equivalen-te no mundo; ela é dotada de insti-tuições que exercem competênciaslegislativas e executivas (o Conse-lho de Ministros, a Comissão Euro-péia, o Parlamento) e jurisdicionais(a Corte das Comunidades Euro-péias à qual é associado um tribu-nal de primeira instância), sendo,por excelência, fonte de um direitoderivado; os regulamentos,diretivas e decisões impõem-se aosEstados-membro e, em grande par-te, diretamente nas ordens jurídi-cas de cada um deles, prevalecen-do sobre as regras nacionais con-trárias; acrescido à autoridade dosTratados fundadores, o conjuntoconstitui uma ordem jurídica comu-nitária que prepondera, insiste-se,sobre todo outro sistema jurídico,seja nacional ou mesmo internaci-onal e se beneficia, por conseqüên-cia, de uma supremacia absoluta.

No domínio social, foi neces-sário esperar 1.972 para que fosseempreendida uma política socialnova e voluntarista com o recursoao procedimento da Diretiva (quevincula todo Estado-membro des-tinatário quanto ao resultado aatingir, deixando às instâncias na-cionais a competência quanto à for-ma e aos meios); tratou-se então dese aperfeiçoar os direitos dos traba-lhadores dos países membros e deharmonizar os direitos nacionaissobre os pontos onde as diferençaspudessem manipular, intervir naconcorrência, ou afetar a moderni-zação das empresas; é assim que,entre 1974 e 1980, importantes

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diretivas relacionadas às dispensascoletivas, à igualdade profissionalentre homens e mulheres, à cessãoda empresa, à proteção da saúdeno trabalho, surgiram; mas é o Tra-tado de Maastrricht, instituindo aUnião Européia em 1992, que mar-cou a etapa verdadeiramente im-portante, uma vez que ele foraacompanhado de um protocolo so-bre a política social, o qual abriucaminho a uma harmonização so-cial reforçada, principalmente emreconhecendo à negociação coleti-va, a nível comunitário, a aptidãopara produzir instrumentos deaproximação; esta faculdade con-duziu à conclusão de alguns Acor-dos-padrão substituídos porDiretivas impondo aos membros deos empregar ao passo que parale-lamente outras Diretivas continua-vam a ser produzidas; estadualidade de meios para conseguira harmonização social encontra-sehoje consagrada pelo Tratado deAmsterdam que substituiu o Trata-do de Maastricht em 1997, atuali-zando-o por admitir novosingressantes; aquele, comporta umtítulo consagrado à política social efaz também referência “aos direi-tos fundamentais garantidos pelaConvenção Européia dos Direitosdo Homem e das Liberdades Fun-damentais, lançando uma ponteentre o direito comunitário e as con-venções do Conselho da Europa.

Neste universo comunitário,é possível distinguir três frentes:

- uma, relativa ao “direito so-cial único”, conjunto de re-gras inserido nos Tratadosou regulamentos, portantouniformemente válidas so-bre o território da União, e

que organizam os procedi-mentos ou as instituiçõessociais comunitárias ou,ainda, que determinam so-bre o futuro de certas cate-gorias de pessoas (comoquanto ao regime da livrecirculação dos trabalhado-res, por exemplo);

- uma frente relativa ao direi-to à harmonização social,que visa a alcançar umaequivalência de direitos dosEstados membros, e quecompreende os compromis-sos assumidos pelos mem-bros, às Diretivas e reco-mendações (é neste item sedeve inserir o princípio daigualdade de remuneraçãoentre mulheres e homens, asdiretivas sociais notificadasaos Estados desde 1975 re-ferentes às dispensas coleti-vas, a igualdade profissio-nal, a manutenção dos di-reitos dos trabalhadores emcaso de sucessão de empre-sas, a proteção dos trabalha-dores em caso de insolvên-cia do empregador, asdiretivas sobre a saúde e asegurança no trabalho, odireito à informação do tra-balhador sobre as condiçõesde seu contrato de trabalho,o planejamento do tempode trabalho, sobre o ônusprobatório em caso de dis-criminação fundada nosexo, a igualdade de trata-mento...);

- uma última frente queintitularei o direito da coor-denação dos direitos nacio-nais em matéria social,

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reagrupando as normas re-lativas à seguridade socialdos trabalhadores exercen-do a liberdade de circulaçãono espaço comunitário,mas que não mais se referediretamente à Câmara So-cial, uma vez que ela nãoestá mais encarregada des-te tipo de contencioso.

Este conjunto jurídico comu-nitário enriquecido pela contribui-ção jurisprudencial da Corte de Jus-tiça das Comunidades Européias(CJCE), ao ser provocada por açõespor descumprimento propostas pelaComissão contra os Estados mem-bros, ou por demandas de interpre-tação que lhe são endereçadas soba forma de preliminar pelas juris-dições nacionais, é um terreno pri-vilegiado de interações entre osjuízes de Luxemburgo (da CJCE) eos juízes nacionais, à frente dosquais, quanto a estes, figuram na-turalmente a Corte de Cassação esua Câmara Social.

C – A missão específica daCorte de Cassação é particularmen-te aquela de sua Câmara Socialquando da aplicação do direito co-munitário:

*Uma missão específica:

É claro que o direito europeuexerceu, ou exerce, em várias dire-ções e por diversos caminhos, umainfluência sobre o direito social fran-cês, e que as jurisdições nacionais,particularmente a Corte de Cassa-ção, possuem um papel essencialneste aspecto; é que, de fato, forados casos onde a adaptação ao di-reito comunitário passa por mu-danças legislativas ou regulamen-tares, tais como as relativas à igual-dade de remuneração entre ho-

mens-mulheres em 1972, inscritahoje no artigo L. 140-2 do Códigodo Trabalho, à saúde e à seguran-ça no trabalho que figuram no li-vro II do mesmo Código, à igual-dade profissional homens-mulheres(lei de 9 de maio de 2001 que cul-minou no novo artigo L. 213-1, leide 16 de novembro de 2001 relati-va à luta contra as discriminações),ou traduzindo-se pela interdição dereconsiderar as regras do direitonacional que conduziriam à umaregressão em relação às exigênciascomunitárias (assim, as regras re-lativas às dispensas coletivas), amaior parte dos outros casos de in-terferência implicam diretamente ojuiz nacional, quer se trate:

- de isolar as regras nacionaiscontrárias às normas comu-nitárias: o juiz nacional, juizde direito comum do direitocomunitário, deve afastartoda disposição legislativaou regulamentar contráriaao direito derivado ou aosTratados conforme interpre-tados pela Corte de Justiça:assim, ao exemplo de umadisposição constante do ar-tigo L. 213-1 do Código doTrabalho na sua redaçãoanterior a 2001, proibindo otrabalho noturno das mulhe-res na indústria, e a qual aCorte de Justiça julgara con-trária à Diretiva de 1976 so-bre a igualdade profissionale que o juiz civil ou penaldeveria ignorar;

- de substituir normas comu-nitárias às regras nacionais(assim, quanto à condiçãodo trabalhador imigrante deoutro Estado membro quedifere totalmente daquela do

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estrangeiro de direito, umavez que é praticamente assi-milado ao trabalhador fran-cês sob o fundamento de re-gras substanciais do direitocomunitário sobre a livre cir-culação);

- de interpretar as regras na-cionais em conformidade àsnormas supra-nacionais,sendo a Câmara Social daCorte de Cassação particu-larmente sensível à esta obri-gação de interpretação con-forme, ainda que tenha al-gumas raras vezes interro-gado a Corte de Justiça a res-peito; uma das aplicaçõesmais prestigiadas foi a adap-tação de sua antiga interpre-tação do artigo L. 122-12,alínea 2, do Código do Tra-balho àquela feita pela Cor-te de Justiça acerca daDiretiva de 14 de fevereirode 1977 sobre a manutençãodos direitos dos trabalhado-res em caso de sucessão deempresas (Assembléia Ple-nária de 16 de março de1990, quando a Corte de cas-sação retomou uma fórmu-la da CJCE restabelecendouma leitura, uma interpreta-ção, que ela havia adotadocinco anos antes); no mesmodomínio ela teve que, pelomesmo motivo, também re-tomar sua posição em casode sucessão de empresa deuma entidade econômica deuma pessoa privada poruma pessoa pública (Cortede Cassação, 25 de junho de2002); podemos ainda invo-car a interpretação de certasdisposições que parecem be-

neficiar apenas os trabalha-dores de nacionalidade fran-cesa, enquanto que o direitocomunitário impõe o reco-nhecimento do benefíciotambém aos estrangeiros co-munitários que trabalhamna França (por exemplo,convocados em seu paísàquilo que equivale do ser-viço nacional, o estrangeiroda União Européia deve serbeneficiado de uma suspen-são de seu contrato de tra-balho em virtude do artigoL. 122-18, assim como comrelação às possibilidade dese ausentar se é candidatoou eleito às assembléias cor-respondentes, em seu país, àAssembléia Nacional ou aoSenado); a influência comu-nitária se manifesta aindana recepção pela Corte deCassação da maneira inven-tada pela CJCE de detectara discriminação e de fazerpesar sobre o empregador oônus de convencer acercadas razões legítimas das di-ferenças praticadas;

Para exercer esta missão, aCorte de Cassação utiliza muitastécnicas:

* As técnicas:

1 Primeiramente, deve-se lem-brar que o artigo 177 do tratado ins-tituindo a Comunidade Européia(tornado artigo 234 depois de en-trar em vigor o tratado de Amster-dã, em 1º de maio de 1989), obrigaàs Cortes Supremas dos Estadosmembros de apresentar à Corte deJustiça das Comunidades Européi-as toda questão de direito comuni-tário necessária para trazer a solu-

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ção ao litígio sobre os quais éprovocada; mas além desta facul-dade à qual a Câmara Social rara-mente tem a ocasião de recorrer, aCorte de Cassação contribui de di-versas maneiras à construção co-munitária:

a) a técnica da dilação preju-dicial: prevista pelo artigo 234 alí-nea 3 do Tratado das Comunida-des Européias, dispondo que a pro-vocação da CJCE é obrigatória pe-rante as jurisdições cujas decisõesnão são suscetíveis de um recursojurisdicional cada vez que umanova questão de direito comunitá-rio, e cuja solução não se apresentaevidente, é colocada; a prática dascortes supremas, e da Corte de Cas-sação em particular, revela quepouco se recorre a este procedimen-to (por exemplo, 3 vezes em 2000,2 em 2001, 2002 e 2005, 1 em 2003,4 em 2004); em realidade, a ele ape-nas se recorre nas hipóteses ondese verifica uma real dificuldade deinterpretação da norma comunitá-ria ou quando as respostas anterio-res são incompletas ouinsatisfatórias; é assim que a Câma-ra Social fez uso deste procedimen-to para decidir um recurso que le-vantava uma questão de competên-cia internacional e da aplicação doregulamento de 22 de dezembro de2000 relativo à competência judici-al, ao reconhecimento e à execuçãode decisões em matéria civil e co-mercial (o qual substituiu a conven-ção de Bruxelas de 27 de setembrode 1968); tratava-se na ocasião desaber de qual era a jurisdição com-petente para conhecer a ação decontestação de dispensa de um tra-balhador tendo havido dois empre-gadores sucessivos pertencentes aomesmo grupo mas domiciliados,

um na França e, o outro, no ReinoUnido, e se a competência previstano artigo 6-1 do regulamento (se-gundo o qual se há múltiplos réus,o autor pode chamar a todos pe-rante o tribunal do domicílio de umdeles se as demandas são conexas)seria aplicável uma vez que existe,ademais, textos organizando regrasde competência específicas para osconflitos do trabalho (artigo 18);

b) ademais, a Corte de Cas-sação zela pelo respeito à regra co-munitária, primeiro em aplicandocorretamente esta regra nos recur-sos sobre os quais ela é acionada,em seguida, em verificando queaquela é igualmente implementadade forma adequada pelas jurisdi-ções inferiores; neste sentido, elacontribui para assegurar a unifor-midade da aplicação do direito co-munitário; e é desta forma que elaaplica o princípio segundo o qual aresposta dada pela CJCE se impõe,uma vez que ela mesma se encon-tra na origem da questão (o que nãoocorre sem a presença, por vezes,de dificuldades, a partir do momen-to em que a resposta fornecidaapresente uma certa margem demanobra), é ainda desta forma queela respeita certamente as soluçõesdadas pela CJCE por ocasião dasargüições prejudiciais decididaspor outras cortes supremas; umbom exemplo da influência da ju-risprudência da CJCE sobre a aná-lise dos textos produzidos pela Câ-mara Social refere-se à aplicação doartigo L. 122-12, alinea 2, do Códi-go do Trabalho, já mencionado, eque, como já dito, é relativo à no-ção de transferência de uma enti-dade econômica e às conseqüênci-as que resultam para a transferên-cia correlata do contrato de traba-

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lho: durante muito tempo, a Câma-ra Comercial tinha considerado quea retomada de uma atividade in-dustrial e comercial sob a forma deum serviço administrativo direta-mente explorado em administraçãoestatal constituía uma modificaçãojurídica tal que ela ocasionava, nãoapenas a cessão, mas o desapareci-mento completo da empresa de sor-te que não poderia haver lugar paraa aplicação do texto mencionado;esta jurisprudência fora revertidapela decisão Mayeur da CJCE de 26de setembro de 2000 que, sobre ar-güição prejudicial de uma jurisdi-ção de Metz, admitiu que os arti-gos da Diretiva de 1977 “não per-mitem excluir do campo de aplica-ção desta” a transferência de umaatividade dentro de determinadascondições; a Câmara Social assimconcluiu em uma série de decisõesde 25 de junho de 2002.

c) organiza o direito interno,ativando-se algumas vezes até acriar novas vias de direito para as-segurar o benefício efetivo dos di-reitos e liberdades garantidos pelostratados; pôde ser dito que desteponto de vista, a Corte de Cassa-ção era “criadora de direito” cadavez que, principalmente, a coorde-nação entre a ordem jurídica comu-nitária e a ordem jurídica nacionalapresenta problema; assim, o é nodomínio – que não interessa, é ver-dade, diretamente à Câmara Soci-al – da responsabilidade do Estadopela violação do direito comunitá-rio ou pela repetição do indevidoresultado à declaração de incompa-tibilidade de taxas internas com ostextos comunitários, onde a CJCEremeteu às regras procedimentaisnacionais “sobre reserva que estasregras não são menos favoráveis

para os recursos fundados sobre odireito comunitário que para os re-cursos similares de natureza inter-na e que elas não são organizadasde maneira a tornar impossível ouexcessivamente difícil o exercício dodireito”; a Corte de Cassação se viuentão investida da tarefa de orga-nizar, e até a criar vias de direitopróprias a satisfazer a esta exigên-cia fundamental.

Nesta mesma linha, nós po-demos ainda citar uma decisão pro-nunciada pela Câmara Social em 17de junho de 2003 onde ela aplicouos princípios emitidos pela CJCE epela Corte Européia de Direitos doHomem em matéria de discrimina-ção indireta em razão da naciona-lidade: um trabalhador da socieda-de Alitalia contestou a decisão dogrupo de reservar apenas aos em-pregados titulares de um contratode trabalho italiano, certas vanta-gens, mas não tiveram êxito peran-te os juízes relatores a quo; a Câma-ra, entretanto, rejeitou o recursomantendo que uma desigualdadede tratamento entre trabalhadorespoderia ser justificada por diferen-ças de situação, o que era o caso;

d) ela coordena o direito in-terno, chegando, por vezes, atémesmo a criar novas condutas dedireito para assegurar um efetivoproveito dos direitos e liberdadesgarantidos pelos tratados; pode serdito que, deste ponto de vista, aCorte de Cassação era “criadora dedireitos”, principalmente, nas vezesem que a coordenação entre a or-dem júridica comunitária e a ordemjurídica nacional fosse um proble-ma. Assim o é no âmbito, ainda queem verdade não interesse direta-mente à Câmara Social, da respon-sabilidade do Estado pela violação

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do direito comunitário ou daqueleda repetição do indébito decorren-te da declaração de incompatibili-dade de taxas internas com os tex-tos comunitários, onde a CJCE re-meteu às regras nacionais de pro-cedimento (com a reserva de queessas regras não sejam menos favo-ráveis para os recursos fundados nodireito comunitário, do que para osrecursos similares de natureza in-terna, bem assim que elas não se-jam dispostas de forma a tornarimpossível ou excessivamente difí-cil o exercício do direito”; a Cortede Cassação se viu assim investidada tarefa de coordenar, por vezesaté mesmo de criar, as vias de di-reito adequadas para a satisfaçãodesta exigência fundamental;

e) enfim, às vezes assume naprópria a veste da Corte de Justiçadas Comunidades Européias e setorna, de certo modo, uma “juris-dição comunitária desconcen-trada”, para declarar incompatívelou, ao contrário, compatível com odireito comunitário tal ou tal nor-ma de direito interno.

Conclusão: nós observamosassim que o direito supranacionaleuropeu desempenha um papelfundamental e por diversos meiosna evolução da jurisprudência na-cional, seja por que se trate, paraela, de aplicar diretamente as nor-

mas supranacionais, ou de contro-lar-lhes a aplicação, argüindo deofício se necessário, o que ela sem-pre teve a oportunidade de fazercom a condição de respeitar a re-gra do contraditório, o que o fazemos juízes relatores a quo, seja aindapor que ela se disponha a verificara conformidade do direito internoou de inventar as vias de direito quepermitem com ele que seja correta-mente implementado; a Corte deCassação tem a preocupação per-manente de assegurar a harmo-nização do “corpus” resultante dodireito comunitário ou europeu,com as normas do direito nacional;esta necessidade que se impõe a elaconduziu a uma redefinição do ofí-cio do juiz, pois finalmente são jus-tamente os próprios poderesjurisdicionais do juiz que podem sever modificados pela exigência dese garantir a efetividade do direitocomunitário e, mais particularmen-te, destas normas supranacionais.A relação do juiz face à lei se viumodificada; por outro lado, os mei-os postos à sua disposição na ordeminterna para alcançar o objetivopretendido nem sempre fora adap-tados, adequados; houve a necessi-dade de, por vezes, se inventar no-vas vias de direito e tudo isso con-duziu a “uma revalorização dafunção jurisdicional”.

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Alvaro A. Sánchez Bravo*

A PROTEÇÃO DOS DADOS PESSOAISDOS TRABALHADORES: PERPESCTIVA

COMUNITÁRIA EUROPÉIA

Resumo: O presente trabalho pretende analisar as propostas formula-das na União Européia no tocante à regulamentação do tratamento a serdispensado aos dados pessoais do trabalhador na relação de trabalho.

Palavras-chave: dados pessoais do trabalhador; proteção; intimidade.

Sumário: Introdução; 1 Âmbito de aplicação; 2 Participação dos repre-sentantes dos trabalhadores; 3 Princípios gerais para o tratamento dedados no setor das relações laborais; 4 Categorias especiais de dados:os dados sensíveis; 5 Dados relativos à saúde; 6 Atividades de vigilân-cia e controle

*Doutor em Direito pela Universidade de Sevilha – Espanha. Professor de Teoria do Direito daUniversidade de Sevilha. Professor de Política Criminal do Instituto Audaluz Inter-Universi-tário de Criminologia. Presidente da Associação Audaluz de Direito, Meio Ambiente e Desen-volvimento Sustentável.

INTRODUÇÃO

“A União Européia necessitade normas mais claras e simplespara a proteção dos dados pesso-ais dos trabalhadores, que levemmais em conta a relação entre em-presário e trabalhador. A existên-cia de um marco claro e simples deprincípios e normas, aplicável emtoda a União Européia, será positi-va para os trabalhadores e empre-sas”. Desta maneira, expressava-seAnna Diamantopoulou, Comissá-ria Européia responsável por Em-prego e Assuntos Sociais, evidenci-ando a preocupação comunitáriacom o estabelecimento de um mar-co adequado para a proteção dosdados no trabalho.

Prosseguindo a iniciativa ini-ciada em agosto de 2001, a Comis-são iniciou uma segunda rodada deconsultas com interlocutores soci-ais europeus, com vistas ao estabe-lecimento de uma série de princípi-os e normas que rejam o tratamen-to dos dados pessoais no trabalhoa fim de proporcionar uma orien-tação, o mais geral possível e claraem seu conteúdo, aos trabalhado-res e empresários sobre seus direi-tos e obrigações em relação ao tra-tamento dos dados pessoais noâmbito das relações de trabalho.

A Comissão, a este respeito,não optou por um instrumento ju-rídico concreto para regular estasquestões, mas, consciente da espe-

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cial sensibilidade dos interlocutoressociais, propôs uma dupla possibi-lidade alternativa:

- elaboração de uma Diretivaespecífica que estabeleça o marcocomum europeu para assegurar aproteção dos dados pessoais nocampo das relações laborais;

- que os interlocutores sociaiselaborem uma proposta por si pró-prios, independentemente da Co-missão, para o desenvolvimento deuma iniciativa harmonizadora nes-te campo.

O porquê destainiciativa comunitá-ria parte da constata-ção de que, em quepese o marco geral deproteção de dadosestabelecido pelasDiretivas 95/46/CEe 2002/58/CE, evi-denciou-se nos últi-mos tempos muta-ções de diversa etio-logia que devem serconsideradas. Fenô-menos como o progresso tecno-lógico (e-mail e tele-trabalho), aglobalização; e inclusive, o 11-S(controle dos trabalhadores pormotivos de segurança) propiciarama necessidade de uma reflexão acer-ca da proteção adequada dos da-dos pessoais dos trabalhadores que,partindo das regulações gerais, aco-lha suas especificidades.

Os conteúdos fundamentaisda iniciativa comunitária podem seagrupar em seis grandes blocos:

1 ÂMBITO DE APLICAÇÃO

Dizendo respeito ao marco deproteção geral estabelecido nas já

citadas Diretivas, a iniciativa comu-nitária não pretende estabelecer oprincípio da livre circulação dosdados laborais na Comunidade semprecisar e completar o marco jurí-dico existente, a fim de asseguraruma proteção complementar dosdados pessoais dos trabalhadores(entendendo por tal os trabalhado-res na ativa, os já aposentados e oscandidatos a um emprego).

Seu campo de aplicação deve-rá cobrir todos os dados, incluídos osom e a imagem, independentemen-te do suporte utilizado para o trata-mento. Para tal efeito, a proteção in-

cluiria a vigilânciados trabalhadoresmediante dispositi-vos técnicos de câ-maras, computado-res, telefones e qual-quer outro equipa-mento de comunica-ção, identificação elocalização.

Igualmente ,deve proteger não sóos dados pessoaisgerados no transcur-

so de uma relação de trabalho exis-tente, mas também os recompiladosdurante o processo de seleção ouconservados depois da extinção darelação de trabalho.

O destinatário destas medi-das não seria apenas o setor públi-co, mas também o setor privado, in-cluindo-se, se estimado necessário,as agências de emprego, as ATT eas organizações que representamaos trabalhadores.

2 PARTICIPAÇÃO DOS REPRESEN-TANTES DOS TRABALHADORES

Dada a dimensão coletiva dosdireitos dos trabalhadores, a par-

“Fenômenos como o progres-so tecnológico (e-mail e tele-trabalho), a globalização; einclusive, o 11-S (controle

dos trabalhadores pormotivos de segurança)

propiciaram a necessidadede uma reflexão acerca da

proteção adequada dosdados pessoais dos trabalha-

dores que, partindo dasregulações gerais, acolha

suas especificidades.”

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ticipação de seus representantesevidencia-se como imprescindível,tanto na proteção de seus interes-ses, como na proteção dos dadospessoais.

É por isso que a iniciativa co-munitária estabelece como princí-pio geral a obrigação de informar econsultar aos representantes dostrabalhadores, antes e sempre quese adotem medidas tendentes à in-trodução e modificação de sistemasde tratamento automatizado dedados, de dispositivos técnicos decontrole e vigilância dos trabalha-dores, assim como de questionári-os ou testes de qualquer formatoutilizados durante a seleção ou o pe-ríodo de emprego.

3 PRINCÍPIOS GERAIS PARA OTRATAMENTO DE DADOS NOSETOR DAS RELAÇÕES LABORAIS

Tendo presente o prescritopela Diretiva 95/46/CE em seu ar-tigo 6º, devem ser estabelecidas al-gumas precisões no âmbito das re-lações trabalhistas:

- Os dados pessoais dos traba-lhadores não serão objeto dequalquer processamento quenão por motivos diretamen-te relacionados e necessári-os para o desenvolvimentoda prestação laboral.

- Os dados dos trabalhadoresnão poderão ser utilizadospara além dos fins previstosinicialmente, com interdi-ção de processamentos pos-teriores incompatíveis comtais fins.

- Os dados pessoais serão ob-jeto de um processamentoleal. Isto supõe que sejam

obtidos diretamente do tra-balhador afetado. Se proce-dem de terceiros, o trabalha-dor deverá ser informado eo seu consentimento deveser obtido previamente aoprocessamento.

- Os trabalhadores têm o di-reito ao livre acesso a seusdados. Proíbe-se que os em-pregadores e empresáriossolicitem aos candidatos aum emprego ou aos traba-lhadores ativos que exerci-tem seu direito de acessocom o objetivo de fornecê-los ao empregador ou em-presário. Tenta-se, com isso,que os trabalhadores não sevejam submetidos a “chan-tagem” e forneçam dadosque, em seguida, possamlhes prejudicar.

- A relevância que tem o con-sentimento do trabalhadornas relações trabalhistas,enquanto legitimador dotratamento de seus dadospessoais, deve variar. A re-lação de dependência e su-bordinação, assim como aprecariedade laboral, fazque o consentimento expan-da-se, amparando situaçõesintrusivas nos direitos dotrabalhadores, pois enten-de-se por muitos emprega-dores que tal consentimen-to ampara qualquer contro-le ou vigilância sobre seusempregados.

- É por isso que a iniciativacomunitária, com bom cri-tério, não o estima como oúnico critério relevante parao processamento, mas o

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vincula ao cumprimento deoutros princípios como osda pertinência, necessidadee proporcionalidade.

- Os dados pessoais devem sertratados de maneira lícita.No âmbito laboral, o trata-mento de dados pessoaisnão deve ter como objetivoe/ou efeito prejudicar ilici-tamente ao trabalhador.

4 CATEGORIAS ESPECIAIS DEDADOS: OS DADOS SENSÍVEIS

O art. 8.1 da Diretiva 95/46/CE proíbe o processamento dosdados pessoais que revelem a ori-gem racial ou étnica, as opiniõespolíticas, as convicções religiosas oufilosóficas, o pertencimento a sin-dicatos, assim como o tratamentode dados relativos à saúde ou à se-xualidade. Seu apartado 5 proíbe oprocessamento de dados relativosàs condenações criminais.

O tratamento dos dados sen-síveis, em sua sobreposição com osdados laborais, é suscetível de pro-vocar situações de discriminaçãopara os trabalhadores por referên-cia a alguma das categorias de da-dos mencionadas.

É por isso que a iniciativa pro-põe algumas medidas específicasneste campo. O processamento dosdados sensíveis dos trabalhadoresdeverá estar proibido, exceto se, atítulo excepcional e prévia habilita-ção legal, estabeleçam-se garantiase salvaguardas adequadas. Nestecaso, e levando em conta os princí-pios de determinação e limitação dafinalidade, legitimidade e proporcio-nalidade, poder-se-á autorizar umtratamento de tais dados, se de acor-

do com as seguintes particularida-des:

- Os dados relativos à vida se-xual só poderão ser objetode processamento quandoseja necessário para deter-minação da responsabilida-de dos empregadores nasuposição de uma acusaçãode assédio sexual.

- Os dados relativos aos ante-cedentes penais só poderãoser processados se for neces-sário com respeito às fun-ções particulares do empre-go em questão. Nestes ca-sos, prevê-se o necessáriocontrole prévio por parte daautoridade nacional de con-trole, para evitar abusos eexcessos, assim como veri-ficar a pertinência doprocessamento.

Por outro lado, proíbe-se a so-licitação de um empregador a umtrabalhador da relação completa deseus antecedentes criminais, semesclarecer previamente os que se-jam relevantes para fins da presta-ção laboral. O consentimento dotrabalhador torna-se irrelevanteneste caso, não amparando estestratamentos.

- Os dados relativos à origemsocial ou étnica e às convic-ções religiosas e filosóficassó serão objeto de processa-mento quando, com préviahabilitação legal, tenha pormotivo uma determinadaexigência profissional ouem caso de medidas de dis-criminação inversa positivapara favorecer a determi-nadas coletividades, preci-samente em atenção a sua

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origem racial, étnica oucultural.

5 DADOS RELATIVOS À SAÚDE

Ainda que consideradosigualmente como dados sensíveis,a teor do preceituado pelo art. 8.1.da Diretiva 95/46, a iniciativa de-dica um apartado específico e con-creto à problemática dos dados re-lativos à saúde. Igualmente, detém-se na consideração dos cada vezmais generalizados testes de consu-mo de drogas e álcool, assim comotestes genéticos, no âmbito das re-lações laborais.

Partindo do princípio geral deproibição do tratamento de dadosrelativos à saúde, são previstos, en-tretanto, determinadas exceçõesjustificadas pela proteção dos inte-resses de empregadores e trabalha-dores na relação laboral que os une.

Pois bem, o processamentoexcepcional destes dados só poderáser verificado se for necessário, sejapara comprovar se o trabalhador éapto para o desenvolvimento dasfunções inerentes ao posto de tra-balho, seja para adaptar seu traba-lho às normas de segurança e higi-ene em seu lugar de trabalho; ouainda para verificar se o trabalha-dor tem direito a perceber determi-nadas prestações sociais (aposenta-dorias, incapacidades, subsídios...).

Sobre as pessoas legitimadaspara efetuar dito processamento,restringe-se aos profissionais dasaúde ou pessoas submetidas ao si-gilo médico equivalente ao dos pro-fissionais sanitários, seguindo o as-sinalado pelo ponto 3 do art. 8 daDiretiva geral.

A iniciativa contempla igual-mente que os dados relativos à saú-

de devem ser conservados indepen-dentemente de quaisquer outrosdados pessoais. O motivo não é sóa especial incidência destes sobre osdireitos dos cidadãos, mas tambémo acesso indesejado de terceiros,alheios ao trabalho sanitário den-tro ou fora da empresa.

Por último, restringe-setaxativamente o acesso do empre-gador ao resultado dos examesmédicos, limitando-se seu conheci-mento àqueles dados relevantes arespeito da adequação do trabalha-dor ao posto concreto de trabalho.

No tocante aos dados relati-vos aos testes de consumo de dro-gas e/ou álcool, a iniciativa cons-tata a potencialidade lesiva de di-tos testes, sobretudo quando são sis-temáticos, generalizados ou impos-tos sistematicamente sem motivosconcretos.

Pois bem, como assinala opróprio documento, deve se estabe-lecer uma nítida diferenciação en-tre teste de consumo de drogas e deálcool. Um resultado positivo nesteúltimo revela uma deficiência atu-al no trabalho; enquanto que o re-lativo a drogas não evidencia umadeficiência anterior ou atual ou umrisco de dependência, mas unica-mente que determinadas drogasforam consumidas anteriormente.Nada obstante, estas diferençasquanto à relevância dos testes, notocante à carga da prova de deter-minados consumos, desde o pontode vista técnico, a iniciativa exigeque os mesmos sejam confiáveis,precisos e submetidos a rigorososprocessos de controle de qualidade.

Da mesma forma que na hi-pótese das condenações penais, es-tima-se que apenas o consentimen-

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to do trabalhador não pode servircomo guarda-chuva habilitadorpara realizar o uso dos dados rela-tivos ao consumo de drogas e/ouálcool.

As propostas neste campopodem ser resumidas nas seguintespropostas:

- Os dados relativos ao con-sumo de drogas e álcool sópoderão ser recolhidos emanuseados com objetivode determinar se um traba-lhador é apto para desenvol-ver seu trabalho sem colo-car em perigo sua seguran-ça ou das outras pessoas.

- Os testes sistemáticos e ge-neralizados estão proibidos.Excetuam-se os casos emque um controle de tal na-tureza esteja justificado pelanatureza particular do em-prego no qual a segurançaé primordial.

- Os testes individuais são au-torizados só se puderem de-terminar razoavelmenteque um trabalhador conso-me drogas ou álcool colo-cando em perigo grave asegurança de seus compa-nheiros ou do público (setorde transportes, operador deguindaste, obras públi-cas...).

- Os dados derivados dos tes-tes de consumo de drogase/ou álcool poderão ser uti-lizados para os tratamentosde desabituação de ditosconsumos.

- Da mesma forma que os da-dos relativos à saúde, estessó poderão ser recolhidos e

processados por profissio-nais da saúde qualificadose submetidos ao sigilo pro-fissional.

Por outra parte, a genética, esuas múltiplas aplicações, constitu-em hoje uma das manifestaçõesmais contundentes da sociedade doTerceiro Milênio. Pois bem, diantede inegáveis ganhos, um uso tortu-oso e inadequado pode produzirgraves lesões aos cidadãos em seusdireitos e interesses mais íntimos.

É por isso que a iniciativa par-te da premissa de que os dados ge-néticos que manifestem o estado desaúde de uma pessoa deveriam go-zar de uma proteção reforçadaacerca dos dados relativos à saúde.E isso é assim porque estes dadosdizem respeito a temas importan-tes como o “direito a não saber” e o“direito a não dar a conhecer” da-dos tão íntimos da pessoa.

Novamente, o simples con-sentimento do afetado não deve serconsiderado como elementohabilitador para o tratamento deditos dados. É por isso que para otratamento excepcional destes dadosdevem ser adotadas as garantiasadequadas e que podem ser agru-padas nas seguintes:

- O tratamento de dados ge-néticos não deve ser autori-zado senão a título excep-cional, com fins de proteçãoda saúde e da segurança dostrabalhadores afetados oude terceiros, e sempre namedida em que esteja auto-rizado por uma norma le-gal nacional que estabeleçaas necessárias garantias.

- Respeito estrito ao princípioda proporcionalidade. O re-

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sultado buscado não podeser obtido por outro meiomenos intrusivo.

- Deveria ser estabelecida umaassistência genética prévia(psicológica, médica...).

- Será necessária uma verifi-cação prévia por parte daautoridade nacional de con-trole. Esta verificação deve-rá levar em conta especial-mente, como detalha o tex-to da iniciativa, as particu-laridades de cada caso, aqualidade dos testes, apertinência econfiabilidadedos resulta-dos e a ne-cessidade debuscar umequilíbrio en-tre os seguin-tes elemen-tos: os direi-tos da pessoaafetada; osi n t e r e s s e smanifestamente predomi-nantes da sociedade; e o di-reito de não saber, em caso dedoenças graves incuráveis.

6 ATIVIDADES DE VIGILÂN-CIA E CONTROLE

A possibilidade de estabeleceruma vigilância e controle sobre ostrabalhadores no lugar de trabalhocomo uma das faculdades do em-pregador, vinculada a questões deeficiência e produtividade, consti-tui hoje objeto de uma viva contro-vérsia.

Junto à disparidade das legis-lações nacionais (com ausência de

marco regulatório algum em mui-tos Estados), a existência de dispo-sitivos técnicos avançados (que in-clusive utilizam as ferramentastecnológicas dos próprios trabalha-dores, tais como e-mails, Internet,registro automático de dados,cookies, etc.) desenha um mapa denebulosa indefinição, fonte de nãopoucos conflitos.

Retomando o assinalado noapartado 2 acerca da participaçãodos interlocutores sociais no dese-nho destas políticas, a iniciativa con-sidera que deverão ser incluídos osseguintes princípios:

- Verificação préviapor parte da autori-dade nacional decontrole de toda ati-vidade de controle evigilância dos traba-lhadores.

- A vigilância contí-nua e permanentenão deve ser autori-zada senão por mo-tivos de saúde, segu-

rança ou proteção dos bensda empresa.

- A vigilância secreta nãodeve ser autorizada salvo secumpridas as garantias fi-xadas por legislações prote-toras (e os países que nãotêm legislação interna?), ouse pode supor razoavel-mente que se está desenvol-vendo uma atividade crimi-nosa ou qualquer outro atodigno de sanção (não seriamais correta a supervisãojudicial, como sucede emoutros âmbitos?)

- Os dados pessoais recolhi-dos com o fim de garantir a

“A possibilidade de estabele-cer uma vigilância e controlesobre os trabalhadores no

lugar de trabalho como umadas faculdades do emprega-dor, vinculada a questões deeficiência e produtividade,

constitui hoje objeto de umaviva controvérsia.”

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segurança, o controle ou obom funcionamento dos sis-temas de tratamento nãodevem ser utilizados paracontrolar cada trabalhador,salvo o daqueles dos quaisdepende concretamente ofuncionamento do sistema.

- A avaliação de rendimentosdos trabalhadores e a toma-da de decisões baseadas ne-les não devem estarjustificadas exclusivamentenos dados solicitados no cur-so da vigilância eletrônica.

- Salvo casos excepcionais,proíbe-se a vigilância siste-mática da utilização do cor-reio eletrônico ou deInternet por parte dos tra-balhadores. Poder-se-á efe-tuar uma vigilância indivi-dualizada quando existammotivos suficientes para su-por que se está cometendoum delito, qualquer outroato repreensível ou uma in-fração grave, sempre quenão exista outro meio me-nos lesivo para conseguir oresultado buscado.

- Independentemente da au-torização ou não da utiliza-ção de ferramentastecnológicas do trabalhocom fins privados, o empre-gador não pode, como prin-cípio, aceder ao e-mail decaráter privado e/ou outrosarquivos privados, especial-mente aqueles identificadoscomo tal.

- O consentimento do traba-lhador não habilita ao em-pregador derrogar o sigilode e-mail e arquivos priva-

dos, especialmente durantea extinção do contrato.

Até aqui, a exposição dosprincipais pontos da iniciativa co-munitária sobre a criação de umâmbito unificado de proteção dosdados pessoais no setor das relaçõeslaborais.

Previa-se, após a Consulta daComissão, que se abrisse um prazode seis semanas para que fossemfeitos comentários sobre a propos-ta comunitária.

A resposta da UNICE não sefez esperar e pode ser consideradacomo francamente dura. Depois dese manifestar de maneira contun-dente de que não está disposta ainiciar negociações neste âmbito,opõe-se taxativamente a umadiretiva particular neste âmbito.Considera-se que a proteção dosdados pessoais no âmbito do traba-lho está suficientemente garantidapela Diretiva geral, a 95/46/CE, euma iniciativa concreta para o âm-bito laboral seria “contraproducenteao mesmo tempo para os trabalhado-res e para as empresas”.

É por isso que se advoga porum aperfeiçoamento dos elementosjurídicos existentes, sem iniciativaalguma concreta neste âmbito.

Assim se encontra a situaçãoatual. Deveremos estar atentos aosposicionamentos restantes dosinterlocutores sociais que ainda nãose pronunciaram. A Comissão, àvista do manifestado, deverá voltara propor uma nova proposta ouseguir, como parece concluir quesucederá, esta nova caminhadalegislativa em matéria de proteçãode dados. Estaremos atentos aosnovos passos que vão se dando.

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Alejandro Castello*

GRUPO DE EMPRESAS:ENFOQUE LABORAL

Resumo: La investigación de que resultó ese texto pretendió analizar alos grupos de empresas y, en especial, suya responsabilidad patrimonialpor las deudas laborales contraídas por cualquiera de sus miembros.Parte, así, del análisis del concepto de grupo empresarial para, despues,estabelecer conclusiones sobre la responsabilidad misma.

Palavras-chave: grupo de empresas; grupo económico.

Sumario: 1 Introducción. 2 Concepto de grupo de empresas. 2.1 For-mas de control o dominación entre empresas. 2.2 Definicionesdoctrinarias de grupo de empresas. 2.3 Elementos que identifican elgrupo de empresas: control y dirección unitaria. 3 Formas deestructuración de los grupos de empresas. 3.1 Grupos porsubordinación: centralizados y descentralizados. 3.2 Grupos porcoordinación. 4 Otras clases de grupos. 5 Regulación en Uruguay. 6Conclusiones.

*Profesor de Derecho del Trabajo y Seguridad Social de la Facultad de Derecho de la Universidadde la República, Uruguay. Magíster en Derecho del Trabajo y Seguridad Social. Co-Director delAnuario de Jurisprudencia Laboral de Uruguay.

1Si bien en el presente trabajo utilizaremos el término “grupo de empresas”, que es el escogido porlos Organizadores del seminario y el más usual en la literatura española, el fenómeno que aquí seestudia también es frecuentemente denominado “conjunto económico” (término usual enUruguay), “grupo económico”, “agrupación de empresas”, “grupo de sociedades”, “empresade grupo”, “agrupamiento societario”, “unión de empresas”, ““conjunto social y económicoúnico”, “unidad económica y social”, “unidad económica”, “unidad de trabajo” , “una solaempresa respecto del Derecho del Trabajo”, “grupo laboral de empresas”, entre otros.

1 INTRODUCCION

La concentración empresariay una de sus formas más importan-tes, la conformación de grupos deempresas1, son ante todo fenómenoseconómicos que se desarrollan en

el marco de una economía capita-lista. En los albores de la sociedadcapitalista el rol dominante de laeconomía recayó sobre el comerci-ante y el productor individuales,que fueron el motor de la

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producción y los negocios. En laeconomía clásica el modelo seestructuraba (al menos en teoría)sobre un régimen de competenciaperfecta, con un mercado al queconcurrían un sinnúmero deproductores de bienes y prestadoresde servicios que tendrían la calidadde oferentes y demandantes. Bajoese enfoque el mercado operaríacomo regulador impersonal y au-tomático de los intereses queconcurrían al mismo, ninguno delos cuales tendría por sí solo el po-der para influir sobre la dimensiónde la oferta o la demanda, ni sobreel precio del pro-ducto o servicio.

El desarrollo yprofundización delsistema capitalistade producción, elavance tecnológico yla competencia co-mercial interna e in-ternacional trajeronconsigo un nuevofenómeno econó-mico: la concentra-ción empresarial, y ésta a su vezuna nueva forma de organizaciónde la actividad económica: los gru-pos de empresas. Según destacanStolovich, Rodríguez y Bértola, laconformación del grupo de empre-sas presenta varias ventajas paraquienes lo organizan o dirigen, en-tre la cuales se encuentra la de

disponer de un capital movilizableimportante con la consiguientecapacidad de radicar el excedentedonde sea más conveniente a losintereses del grupo y la de transfe-rir los recursos de una empresa aotra, para concentrarlos en aquellaque sea más beneficioso. Ello leconfiere a la estructura empresari-al grupal características deplasticidad y flexibilidad, lo quesupone una superioridad conrespecto a la empresa individual2 .

En efecto, por multiplicidadde razones y objetivos3, la actividad

empresaria ya nosuele ser realizada enforma separada e in-dividual por cadaunidad productiva,sino que ello ocurre através de toda suertede combinacionessocietarias, contrac-tuales o simplementede hecho, que generaque el conjunto deempresas constituyauna estructura global

y compleja. En tal sentido, Vardaropone de relieve que el fenómeno delos grupos de empresas representauna forma de flexibilización delconcepto mismo de empresa, queofrece la ventaja fundamental deser utilizable tanto para centralizarcomo para descentralizar los crite-rios de formación de las decisiones

2STOLOVICH, Luis, RODRIGUEZ, Juan Manuel y BERTOLA, Luis, El poder económico en elUruguay, Montevideo, 1990, pág. 34.3Se mencionan como objetivos que impulsan la creación de grupos de empresas la búsqueda delpunto óptimo de rentabilidad en función de una producción ampliada; el mejor aprovechamientode los recursos que ofrece el conjunto de las unidades económicas concentradas; la posibilidad desatisfacer demandas masivas y crecientes del mercado, difícilmente abarcables por unidadespequeñas o fragmentadas; el incremento o mejora de la porción de mercado y la obtención demayor poder en el mismo; la disminución del riesgo económico (y jurídico) producto delfraccionamiento de la actividad en multiplicidad de empresas formalmente autónomas entre sí.

“El desarrollo yprofundización del sistemacapitalista de producción, el

avance tecnológico y lacompetencia comercialinterna e internacional

trajeron consigo un nuevofenómeno económico: la

concentración empresarial, yésta a su vez una nueva

forma de organización de laactividad económica: los

grupos de empresas.”

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al interior de la empresa4. ParaMonereo el fenómeno de laconcentración del poder económicoconstituye una de las principalescaracterísticas del capitalismodesarrollado, lo que se produce tan-to a nivel interno como internacio-nal5 , mientras que los grupos de em-presas representan una formaavanzada de la evolución organiza-tiva del capital en la economía demercado.

Las situaciones de concen-tración empresaria y la confor-mación de grupos de empresasinteresan al Derecho en general, yaque su funcionamiento puedeafectar tanto intereses generalescomo particulares o individuales,como sucede con la formación demonopolios y oligopolios quetienden a distorsionar la compe-tencia y los precios en el mercado ya disminuir el poder político de losEstados. Como acertadamenteseñala María Luisa de ArribaFernández, los grupos de empresasson fenómenos de reorganizaciónempresarial que en si mismos no sonni buenos ni malos, pero debido alos efectos que genera su actuacióny la complejidad jurídica de los pro-blemas que se crean, resultaimprescindible estudiar y regular losmismos desde la perspectiva de unverdadero Derecho de grupos,necesariamente interdisciplinario6 .

En ese orden, en el caso delDerecho comercial y societario

4VARDARO, Gaetano, “Prima e dopo la persona giuridica: sindacati, imprese di grupo e relazioniindustriali” en Giornale di Diritto del lavoro e di Relazioni industriali, nº 38, anno X, 1988, 2,Milano, pág. 212.5MONEREO PEREZ, José Luis, “Aspectos laborales de los grupos de empresas” en Revistaespañola de Derecho del Trabajo, nº 21, 1985, Madrid, pág. 73.6de ARRIBA FERNÁNDEZ, María Luisa, Derecho de grupos de sociedades, Ed. Thomson –Civitas, Madrid, 2004, pág. 32 y sigs.

interesa la vinculación de estefenómeno con el derecho de lacompetencia y la protección delconsumidor, la garantía de losacreedores, la tutela de los sociosminoritarios y externos, el riesgo deinsolvencia societaria, el funcio-namiento orgánico del grupo, laprotección del patrimonio de la em-presa dependiente, los proce-dimientos concursales que afectana una unidad del grupo y su posibleextensión al resto de los componen-tes, entre otros aspectos. En elámbito del Derecho tributario losgrupos de empresas también handespertado interés y preocupaciónque ha derivado en regulaciones dediverso tipo. Por un lado, el interésse centra en los efectos distorsivosque puede tener el grupo de empre-sas en la configuración de losimpuestos ya que pueden utilizarsecomo herramientas o vehículospara evadir tributos u obtenerventajas indebidas. Por otro lado,el agrupamiento de empresaspuede tener como consecuencia lainsolvencia de algunas de sus uni-dades, con la consiguiente pérdidade ingresos fiscales.

Desde el punto de vistalaboral, varios son los conflictos,problemas y cuestiones jurídicasque genera la constitución de ungrupo de empresas. Por una parte,la legislación, la doctrina y lajurisprudencia ponen su miradasobre los aspectos vinculados a la

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insolvencia de los integrantes delgrupo y las consecuencias econó-micas negativas que ello puedegenerar para el trabajador. Es asíque, frecuentemente, con finalidadde tutela se buscan mecanismos einstrumentos para involucrarpatrimonialmente a todo el grupopor las deudas laborales de uno desus miembros. Por otra parte, losgrupos de empresas generan undislocamiento sobre el concepto tra-dicional de empresa y empleador.Difícilmente la relación laboral setrabe formalmentecon todas las empre-sas que lo integran;lo usual es que el con-trato laboral seperfeccione con unasola de las unidadeseconómicas. Sin em-bargo, en los gruposde empresas el ver-dadero centro dedecisión y direcciónnormalmente se ubi-ca fuera del em-pleador formal, loque provoca quemuchas decisionesque puedan perju-dicar al trabajadorsean sustancialmente atribuibles a untercero, ajeno formalmente a larelación laboral y que por ende sediscuta si el verdadero empleador(real y sustancial) es el propio grupo.

A los problemas jurídicoslaborales antes mencionados hayque sumar que aún en el caso deque el grupo se constituya con fi-nes legítimos, su accionar puedeocasionar perjuicios a los traba-jadores en aspectos del Derechoindividual como su antigüedad, encaso de que sea sucesivamente

transferido en el seno del grupo, lascondiciones laborales, que puedenser distintas en cada unidad perosin que exista motivo fundado paraello, siendo más bien una estrategiapara eludir la aplicación de bene-ficios laborales. Pero también puedesignificar un impedimento para elejercicio de derechos colectivos comola libertad sindical, la participación,negociación colectiva y huelga, espe-cialmente en aquellos países queimpiden o dificultan el ejercicio detales derechos a nivel superior al de

la empresa.

Debido a la ex-tensión que se hafijado para la confec-ción de las ponen-cias, en el presentetrabajo vamos a cen-trarnos en el estudioen la temática referi-da a la responsa-bilidad patrimonialdel grupo de empre-sas por las deudaslaborales contraídaspor cualquiera de susmiembros. Para ello,analizaremos losmodelos teóricos de

responsabilidad del grupo y lassoluciones jurídicas que rigen en elRío de la Plata. Pero antes, haremosun breve análisis sobre qué es ungrupo de empresas y las formas quepuede adoptar.

2 CONCEPTO DE GRUPO DEEMPRESAS

2.1 Formas de control odominación entre empresas

Edurne Terradillos señala queen términos económicos se entiendepor concentración empresaria

“Difícilmente la relaciónlaboral se trabe formalmentecon todas las empresas que lo

integran; lo usual es que elcontrato laboral se perfeccionecon una sola de las unidadeseconómicas. Sin embargo, en

los grupos de empresas elverdadero centro de decisióny dirección normalmente seubica fuera del empleadorformal, lo que provoca que

muchas decisiones quepuedan perjudicar al

trabajador seansustancialmente atribuibles a

un tercero, ajeno formalmentea la relación laboral y que por

ende se discuta si elverdadero empleador (real y

sustancial) es el propio grupo.”

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�toda operación por la cual una omás empresas pierden su indepen-dencia económica (a veces inclusosu personalidad jurídica) quedandosometidas a la dirección unitaria deotra ya existente o de una nueva,bien mediante una fusión comple-ta, bien en virtud de una participa-ción financiera dominante o a tra-vés de directivos comunes o bien,finalmente, por contrato de traspa-so o transferencia de la gestiónefectiva del negocio7.

La concentración empresariaha sido históricamente el resultadode dos grandes instrumentos: porun lado, la fusión y absorción deempresas, mecanismo clásico deconcentración a través del cual lasempresas se agrupan jurídicamenteperdiendo su identidad (en todo oen parte), a favor de otra empresanueva o ya existente (concentra-ción primaria); por otro lado, lacreación de grupos de empresas,instrumento más moderno queadquiere formas, estructuras y me-canismos sumamente diversos ycomplejos y supone necesariamentela existencia de una pluralidad deempresas, formalmente autónomasentre sí (concentración secundaria).

En los casos de fusión oabsorción, la determinación delempleador y con ello del respon-

sable de las prestaciones laboralesresulta clara, ya que existe formal-mente una única empresa8 . Encambio, en el caso de los grupos deempresas el proceso de concen-tración económica supone unacentralización de la capacidadresolutoria de las empresas, perosimultáneamente una diversificacióno fragmentación de la actividad enuna pluralidad de personas jurídicasque arroja como resultado un em-pleador formal o contractu al y otro,el grupo, de unidad de caráctersustancial o real.

Como lo hace notar CampsRuiz, en la actualidad los grupos deempresas constituyen un fenómenocada vez más extendido y extrema-damente complejo, por la variedadde sus formas de presentación9. Tra-dicionalmente la constitución de ungrupo de empresas se lograba medi-ante la adquisición de lasparticipaciones, acciones o cuotasde otra empresa, en cantidad sufi-ciente para asegurar el control dela voluntad decisoria de la misma(dominación orgánica o interna).Otras formas menos habituales decontrol han sido los contratos dedominación societaria (modalidadfrecuente en Alemania), la estipu-lación de disposiciones estatuta-rias10 o los llamados interlocking

7TERRADILLOS, Edurne, La representación colectiva de los trabajadores en los grupos de empre-sas. Modernas fórmulas de regulación. Colección Estudios, Consejo Económico y Social, Madrid,2000, pág. 64.

8SENRA BIEDMA, Rafael, “Grupos de empresas y Derecho del trabajo. Análisis introductorio dela técnica jurídica de atribución de la condición de sujeto patronal” en Grupos de empresas yDerecho del trabajo, Antonio Baylos y Luis Collado (Editores), AAVV, Ed. Trotta, Madrid,1994, pág. 166.

9CAMPS RUIZ, Luis Miguel, “Problemática jurídico-laboral del grupo de empresas: puntos críti-cos” en Grupos de empresas y Derecho del trabajo, Antonio Baylos y Luis Collado (Editores),AAVV, Ed. Trotta, Madrid, 1994, pág. 87.

10El dominio a través de disposiciones estatutarias se produce cuando decisiones trascendentes setrasladan al exterior de la empresa por disposición expresa del contrato social. Así, por ejemplo,cuando el derecho a elegir directores le es concedido a terceros, lo que asegura el control de la empresa.

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directorates o directorios entrecru-zados, que consisten en acuerdosno formales, por los cuales quienescontrolan diversas empresas seponen de acuerdo en que represen-tantes de todas y cada una de ellasparticiparán en los directorios delas demás11 . De esta forma, las deci-siones que adoptarán los órganosdirectivos de cada empresa respon-derán a una unidad de criterio quese repetirá en las resoluciones de lasrestantes sociedades.

Sin embargo, en los últimosaños las formas de creación de gru-pos de empresas se han vuelto mássutiles y complejas, principalmen-te como consecuencia de los meca-nismos de descentralización empre-sarial. En tal sentido, cada vez esmás frecuente que la dominación deuna empresa sobre otra sea másbien de tipo económico, externo einorgánico. Ello sucede cuandouna empresa impone a otra losdatos económicos que la someten auna cierta conducta en su actividadempresaria. En este tipo de controlel dominio es ajeno a la mecánicade la formación de la voluntad so-cial. Una modalidad de controleconómico puede configurarse, enciertos casos, mediante los contra-tos comerciales de exclusividad enel suministro, comercialización(franchising) o distribución, los gru-pos de interés económico (GIE), los

consorcios y figuras asociativas si-milares. Según Martorell, este tipode contrato puede dar lugar a unasituación de influencia dominantecuando detrás de una fachada deaparente igualdad jurídica entre laspartes, se oculta una relaciónhegemónica de una de ellas12 , loque hace que estas modalidades decontratación se alejen de la nociónde colaboración o cooperación.

2.2 Definiciones doctrina-rias de grupo de empresas

Uno de los aspectos centralesen la temática de los grupos de em-presas es la delimitación de suconcepto, ya que de ello normal-mente depende la aplicación de lasregulaciones y principios jurídicosque se refieren a ese supuesto. Enalgunos casos las legislaciones danuna definición o al menos estable-cen ciertas pautas para su concep-tualización13. Pero la mayoría de lasveces (como sucede en el caso deUruguay) corresponde a la doctrinay la jurisprudencia elaborar lanoción de grupo. Por tratarse de unfenómeno intrínsecamente econó-mico empresarial y que en susorígenes se estudió en el DerechoMercantil, es común que el conceptolaboral de grupo de empresas seapoye en las regulaciones legales ynociones doctrinarias emanadas dela legislación mercantil, lo cual,

11MANÓVIL, Rafael M., Grupo de sociedades en Derecho comparado, Ed. Abeledo Perrot, BuenosAires, 1998, pág. 145.

12MARTORELL, Ernesto Eduardo, Los contratos de dominación empresaria y la solidaridadlaboral, Ed. Depalma, Buenos Aires, 1996,, pág. 73.

13Por citar algunos ejemplos de nociones contenidas en leyes, en el caso de Brasil la Consolidaciónde las Leyes del Trabajo (CLT) establece en su artículo 2º numeral 2º que “siempre que una o másempresas, teniendo incluso, cada una de ellas, personalidad jurídica propia, se encuentren bajola dirección, control o administración de otra” constituyen grupo industrial, comercial o decualquier otra actividad económica.

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como señala Terradillos14, puedeconstituir un método desacertadoen tanto la traslación mecánica deconceptos económico-mercantilesal Derecho laboral, no siemprepuede responder adecuadamente ala función de la legislación laboraly a los principios que guían a lamisma.

A nivel de la doctrina (espe-cialmente la europea) puedeencontrarse una infinidad dedefiniciones, pero indudablemente,en el país que más se ha tratado estatemática es en España. Así, por ci-tar algunos autores, Embid Irujoentiende por grupo de empresas�aquella forma de unión de empre-sas en la que, sin perjuicio delmantenimiento de la personalidadjurídica de las sociedades integra-das en él, quedan todas ellassometidas a una dirección eco-nómica única ejercitada por lasociedad dominante del mismo15 .Según Embid Irujo, la direcciónunitaria es la nota que distingue algrupo frente a otras formas deuniones de empresas y consistiríaen la atribución a la sociedad do-minante del grupo de la compe-tencia para decidir y planificar so-bre los elementos que caracterizanla ordenación fundamental de unaempresa (aspectos financieros,comerciales y laborales).

María Luisa de ArribaFernández define al grupo de empre-sas como la integración de varias so-

ciedades jurídicamente indepen-dientes bajo una dirección uni-taria�, expresando que los elemen-tos claves del grupo son la indepen-dencia jurídica de sus integrantesy la dirección unitaria a la que seven sometidos16. Otra autoraespañola, Pilar Juárez Pérez, señalaque bajo la denominación de grupode empresas se incluye toda formaorganizativa empresarial, conindependencia de las entidadesvinculadas�si son empresas o soci-edades- y del modo en que se arti-cule su interrelación�subordina-ción o coordinación17 . Define algrupo como aquella forma de uniónde empresas donde, sin perjuiciodel mantenimiento de la persona-lidad jurídica de las sociedades in-tegradas en él, todas quedan sujetasa una dirección económica única,agregando que la existencia de unadirección económica única suponeque las empresas agrupadas actúande forma coordinada, obedeciendoa una planificación común de re-cursos y a una política empresarialconjunta, diseñada por la sociedaddominante o sociedad matriz.

En opinión de Camps Ruíz,el rasgo definitorio de los grupos deempresas radica en la circunstanciade que la empresa dominanteejerce una dirección unitaria,entendiéndose por tal la compe-tencia para decidir sobre finan-ciación y sobre la política depersonal, así como sobre el apro-

14TERRADILLOS, Edurne, Los grupos de empresas .... ob. cit. pág. 28.15EMBID IRUJO, José Miguel, “Caracterización jurídica del Grupo de sociedades y su significado

en Derecho del trabajo” en Revista Laboral, nº 7, Madrid, 1985, pág. 566 y sigs.16de ARRIBA FERNÁNDEZ, María Luisa, Derecho de grupos de sociedades, ob. cit., pág. 84.17JUAREZ PEREZ, Pilar, Las relaciones laborales en los grupos internacionales de sociedades, Ed.

Comares, Granada, 2000, pág. 1.

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visionamiento, producción o ventasde la empresa18. Por eso, las empre-sas que integran el grupo aúnsiendo independientes entre sí des-de una perspectiva jurídico-formal,actúan sin embargo con arreglo acriterios de subordinación quepermiten identificar, más allá de lapluralidad, una cierta unidadeconómica. Por su parte, el reco-nocido autor brasileño BuenoMagano define al grupo como con-junto de empresas o sociedades jurí-dicamente independientes, some-tidas a la unidad de dirección. In-fluenciado por la legislación vigen-te en Brasil, el autor manifiesta queel grupo de empresas se compone decuatro elementos: a) la empresa, entanto realidad económica; b) lasociedad comercial, como agente decontrol; c) la autonomía de las uni-dades componentes del grupo, do-tadas de personalidad jurídica y d)el control, consistente en la posibi-lidad de ejercer una sociedad sobreotra influencia dominante19.

En la doctrina uruguaya,Américo Plá Rodríguez fue de losprimeros autores en abordar estatemática, habiendo dedicado vari-as obras a su estudio. En el año1981, en un trabajo publicado enEspaña, el prestigioso autor definíaal grupo de empresas como el �con-junto de empresas aparentementeautónomas pero sometidas a unadirección económica única20. Otro

prestigioso autor uruguayo, Ermi-da Uriarte, incursionó en la nociónde grupo de empresas al estudiar lasempresas multinacionales, definien-do al primero como el conjunto deempresas, formal y aparentementeindependientes, que están sin em-bargo, recíprocamente entrela-zadas, al punto de formar un todocomplejo pero compacto, en cuantoresponde a un mismo interés. Elpoder económico se sitúa a nivel delgrupo y no a nivel de cada empre-sa componente, aún cuando losderechos y obligaciones respecto delos terceros nazcan a nivel de cadauna de ellas. Existe unidad profun-da bajo la pluralidad de personasaparentemente distintas. Por ello, elgrupo se convierte, en definitiva, enla única y verdadera empresasubyacente21.

2.3 Elementos que identi-fican el grupo de empresas:control y dirección unitaria

Lo expuesto hasta el momen-to permite afirmar que a nivel de ladoctrina existen dos elementos quehabitualmente se manejan para de-finir el grupo de empresas: el controlo dominación entre empresas y lapresencia de una dirección econó-mica unitaria o unificada, aunquecorresponde anotar que en elámbito laboral se pone el acento enel último elemento. En cierta forma,estas opiniones coinciden con elpanorama legislativo comparado,

18CAMPS RUIZ, Luis Miguel, “Problemática jurídico-laboral del grupo de empresas: puntoscríticos, ob. cit., pág. 87.

19BUENO MAGANO, Octavio, “Los grupos de empresa en el Derecho del Trabajo”, en Civitas,Revista española de Derecho del Trabajo, nº 6, abril-junio 1981, Madrid, 1981, pág. 185.

20PLÁ RODRÍGUEZ, Américo, “Los grupos de empresas” en Revista Civitas, nº 6, abril-junio1981, Madrid, pág. 187.

21ERMIDA URIARTE, Oscar, Empresas multinacionales y Derecho laboral, Ed. Amalio Fernández,Montevideo, 1981, pág. 73.

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ya que según señala Terradillos elestudio empírico de los textos jurí-dicos de los países que regulan losgrupos de empresas demuestra quela dependencia y la direcciónunitaria son las notas más co-múnmente requeridas para definiral mismo22.

Corresponde advertir que, laposición que se asuma en cuanto alrequerimiento de la presencia deuno o ambos elementos puede de-rivar en la ampliación o restriccióndel campo de supuestos calificablescomo grupo de empresas. En efecto,si solamente se exige la presenciadel elemento dirección económicaunitaria se consideraría como gru-po de empresas tanto a aquel que seagrupa en torno a la subordinacióno control en cualquiera de sus for-mas (grupos por subordinación),como a los que se agrupan de for-ma voluntaria por razones decoordinación y colaboración em-presarial (grupos por coordinación).En cambio, si se define el grupo deempresas en base a los dos elemen-tos (control y dirección unificada)sólo los grupos subordinados caenbajo dicha calificación.

La exigencia del elementodirección económica unitaria paraidentificar al grupo de empresas suelepresentar dificultades teóricas yprácticas. Las primeras refieren fun-damentalmente a la determinaciónde su noción. La opinión predomi-nante se inclina por incluir en elconcepto de dirección económicaunificada la posibilidad de incidirsobre las actividades de planifi-cación, ejecución y control de las

22TERRADILLOS, Edurne, La representación colectiva de los trabajadores en los grupos de em-presas, ob. cit., pág. 70.

políticas de la empresa en sus di-versos campos (financiero, comer-cial, laboral, etc.). Las dificultadesprácticas refieren a los inconveni-entes para detectar en el caso con-creto la unidad de decisión entreempresas. Como generalmente elgrupo no admite o reconoce supropia condición, la presencia de ladirección unificada se suele buscarmediante el recurso a la técnica delos indicios: existencia de planifi-cación común en materia econó-mica, financiera, comercial, tecno-lógica, laboral; trasiego de personalentre empresas; utilización comúnde maquinaria, locales, personal,asesores; existencia de directores oadministradores comunes; présta-mos o subvenciones entre las em-presas; garantías cruzadas, etc.

Para tratar de superar lasdificultades antes mencionadas,una importante corriente deopinión (fundamentalmente deorigen doctrinario) ha sostenido elabandono del elemento direcciónunitaria para definir al grupo deempresas, optando por exigir única-mente la presencia del control odominación. Así, a vía de ejemplo,el Forum Europaeu Derecho de gru-pos que constituye un equipo deexpertos europeos cuyo propósitoes la elaboración de un proyecto deregulación comunitario de los gru-pos de empresas, ha propuesto pres-cindir del elemento direcciónunitaria y delimitar el grupo única-mente en base al elemento controlsocietario. Según la propuesta ela-borada por el Forum Europaeum, laexistencia del grupo quedaría de-

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finida por el hecho de que unasociedad posea la mayoría de losderechos de voto de otra empresa,haya suscrito con ella un contratode dominio o disponga del derechoa nombrar o destituir a la mayoríade los miembros del órgano dedirección o vigilancia. De esta for-ma, se evitaría recurrir al conceptode dirección unitaria, que generainseguridades e incertidumbres yaque obliga a realizar averiguacionesno siempre fáciles23.

Por nuestra parte, entende-mos que la delimitación de la nociónde grupo de empresasdebe hacerse en basea los dos elementosya comentados: a) elbinomio domina-ción-dependencia yb) la dirección eco-nómica unificada.Por lo que refiere alelemento control odominio, su existen-cia supone que unaempresa pueda te-ner injerencia eintervención determinante sobre lascompetencias relevantes de otraempresa, al punto de podersustituir su voluntad por la de laempresa dominada (subsidiaria ofilial). Si bien algunos autores dejande lado este elemento para hacerhincapié en la unidad de decisióno gestión, consideramos que sólopuede hablarse de la configuraciónde un grupo de empresas si seidentifican lazos de dominaciónentre ellas (control directo) o enrelación a un mismo centro de po-

23El contenido y alcance de esta propuesta puede verse más ampliamente en: EMBID IRUJO, JoséMiguel, Introducción al derecho de los grupos de sociedades, ob. cit., pág. 211 y sigs.

24EMBID IRUJO, José Miguel, Introducción al derecho de los grupos de sociedades, ob. cit., pág. 228.

der externo a las mismas (controlindirecto). El control implicaidentidad de titulares de las empre-sas pero además concentración depoder. En cuanto al elementodirección unitaria, nos inclinamospor exigir su presencia porque con-sideramos que es la nota que le dacoherencia interna al grupo. Lo quehace que una pluralidad de empre-sas se convierta en una unidad ogrupo, es que además de estar rela-cionadas por vínculos de control lasmismas actúan bajo criterios deconducción unitaria, lo que lesconfiere la calidad de empresa

policorporativa.

Sin embargo,debe precisarse quees opinión general-mente admitida quecuando existe unarelación de domina-ción-dependenciade una empresa so-bre otra, se presumeque existe unadirección unificada,debido a que quien

domina siempre puede imponer yejercer una conducción sobre elsujeto subordinado. Si existedominación casi siempre existirádirección unitaria. Por lo general,ambos elementos son dos caras deuna misma moneda. Por ello, comoacertadamente señala Embid Irujo,la existencia de control constituyeuna presunción iuris tantum del gru-po de empresas; el mismo existirásalvo que la empresa dominantedemuestre que no ha ejercido elpoder derivado del control24 .

“Lo que hace que unapluralidad de empresas seconvierta en una unidad ogrupo, es que además de

estar relacionadas porvínculos de control las

mismas actúan bajo criteriosde conducción unitaria, lo que

les confiere la calidad deempresa policorporativa.”

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En función de todo lo anteri-or, definimos al grupo de empresascomo aquel que se constituyecuando dos o más empresas serelacionan por vínculos estables dedominación o control, sea éstedirecto o indirecto, interno o exter-no, o se encuentran bajo la influen-cia dominante de una o máspersonas físicas o jurídicas, conindependencia de la forma jurídi-ca u organizativa que adopten(centralizada o descentralizada) yactúen bajo una dirección econó-mica unificada.

La definición por la que op-tamos, supone excluir de la nociónde grupo de empresas una serie deelementos que son accesorios o con-tingentes, como por ejemplo:

a) el tipo de actividad quedesarrollan las empresas (puedetratarse de actividad industrial, co-mercial, agropecuaria, financiera ode cualquier otra índole econó-mica). Además, no necesariamentetiene que existir conexión, comple-mentariedad o sucesividad entre losgiros de las empresas.

b) tampoco interesa la natura-leza jurídica de la empresa. Si biennormalmente el grupo se integra consociedades comerciales, podrían for-mar parte de él cooperativas, aso-ciaciones civiles, entidades públicas,fideicomisos, empresas uniper-sonales, etc.

c) el tipo de control que seejerce sobre las empresas, quepuede ser interno (u orgánico), ex-terno (o económico) o personal, sal-vo que la legislación excluya ex-presamente alguno de ellos.

d) la forma en que seorganizan las empresas del grupo.

No es indispensable que exista unasociedad madre o matriz, podríanexistir formas de organización des-centralizada e inclusive centros depoder múltiples.

e) la existencia de fraude,abuso de derecho, conduccióntemeraria o desviada. El compor-tamiento del grupo puede tenerrelevancia en ciertas legislacionespara justificar la comunicación deresponsabilidad en el grupo, perono para delimitar su concepto.

f) el motivo o causa por lacual se creó el grupo. Es perfec-tamente lícito que la fragmentaciónde la empresa en múltiples sujetosde derecho obedezca a la intenciónde limitar la responsabilidad, diver-sificar los riesgos, obtener un mejorposicionamiento en el mercado,optimizar los recursos, etc.;

g) la mera coincidencia dealgún director o administradorentre distintas empresas. La colo-cación de personas en los órganosde dirección de una empresa cons-tituye una forma de control odominación de tipo personal, solosi permite asegurar el resultado delas decisiones que se adopten.

h) la existencia de contratoscomerciales estables entre empre-sas. Es frecuente que se entablen re-laciones comerciales de diverso tipoentre empresas, que inclusivepueden dar lugar a fenómenos dealianzas estratégicas en el merca-do o de subcontratación e interme-diación laboral. Sin embargo, ellono puede confundirse con la exis-tencia de un grupo de empresas, sal-vo que se verifique un régimen decontrol y dirección económicaunitaria.

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3 FORMAS DE ESTRUCTURA-CIÓN DE LOS GRUPOS DEEMPRESAS

La observación de la realidaddemuestra que la fenomenología delos grupos es sumamente complejay variada, encontrándose en cons-tante evolución, al punto de haberseafirmado que existen tantos tipos degrupos como grupos existen en larealidad25 . Con esa prevención, acontinuación expondremos lasclasificaciones más usuales.

3.1 Grupos por subordina-ción: centralizados y descentrali-zados

Los grupos de empresas jerár-quicos o por subordinación han sidodefinidos por Manóvil comoaquellos en que una o varias socie-dades se hallan bajo el controldirecto o indirecto de otra u otraspersonas con actividad o interesesempresarios propios, que ejercen enforma directa o indirecta ladirección total o parcial de losnegocios sociales de aquéllas26, entanto que María Luisa de ArribaFernández los prefiere definir comoaquellos en los que las sociedadesagrupadas se ordenan entre sí entorno a una relación jerárquica dedependencia, siendo la sociedadmatriz simultáneamente sociedaddominante, directa o indirecta-mente, y vértice de la estructura

25de ARRIBA FERNÁNDEZ, María Luisa, Derecho de grupo de sociedades, ob. cit., pág. 93.26MANÓVIL, Rafael M., Grupos de sociedades (...) ob. cit., pág. 180.27de ARRIBA FERNÁNDEZ, María Luisa, Derecho de grupos de sociedades, ob. cit., pág. 97.28La filialización, como estrategia de descentralización, supone la transferencia parcial de una

empresa a otra que se crea expresamente como filial para contratar con ella la realización deobras o servicios. Ha sido definida como “una estrategia de descomposición programada ysistemática, tendiente a convertir a las otrora grandes empresas, en una serie de entidades demenor dimensión, con grados de autonomía variables en función de cada circunstancia particu-lar”: GARMENDIA, Mario, “Filialización” en Cuarenta y dos estudios sobre la descentralizaciónempresarial, Ed. FCU, Montevideo, 2000, pág. 201.

grupal. En los grupos verticales ladirección unitaria (en definitiva, lapolítica empresarial de las diferen-tes sociedades del grupo) vienemarcada unilateralmente por lasociedad matriz27.

A causa de la descentra-lización productiva (y del procesoconocido como filialización28) ladoctrina ha comenzado a hablar degrupos de empresas centralizados, queserían los grupos tradicionalmenteconstituidos sobre una base clara-mente jerarquizada y vertical acuya cabeza se encuentra una em-presa madre que ejerce la domi-nación del resto, y de grupos de em-presas descentralizados en los que susintegrantes están dotados de unmayor grado de autonomía pro-ductiva, organizativa y de gestiónpero se encuentran vinculados porlazos de dominación formal. Enambas formas de organización delgrupo existen lazos de depen-dencia, pero la diferencia radica enel margen de autonomía funcionalque existe en uno y otro caso.

3.2 Grupos por coordinación

Cuando las unidades del gru-po carecen de poder para imponersus propios objetivos y el poderrecae en una sola de las empresas,se configura una relación decontrol-dependencia que se tradu-

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ce en la constitución de un grupopor subordinación. En cambio, cuan-do el poder de negociación de lasunidades del grupo es suficientepara imponer, o al menos influir,sobre los objetivos y las estrategiasglobales del conjunto, se instituyeuna relación horizontal, paritaria ode igualdad, que en ciertos casospuede derivar en la constitución deun grupo por coordinación29. En losgrupos por coordinación las empre-sas se encuentran situadas (al me-nos teóricamente) en un plano deigualdad, con equivalentes poderesde influencia sobre la dirección delconjunto, por lo que no existedependencia o control de ningunaclase. En todo caso, la estrategiacomún que sigue el grupo, quepodría identificarse con la nociónya comentada de dirección econó-mica unificada, no es consecuenciadel ejercicio de un poder de controlo dominación, sino de la voluntadpropia de cada empresa que haresuelto libremente trasladar partede su poder decisorio empresariala favor de la estructura grupal.

Ejemplos de grupos porcoordinación son los Grupos deInterés Económico (también deno-minados Agrupaciones de InterésEconómico), los Consorcios (tam-bién llamados Uniones Temporalesde Empresas), las sociedadesaccidentales y los joint ventures.

También ingresarían en esa catego-ría, las vinculaciones entre empre-sas que son consecuencias deacuerdos comerciales que implicanformas de cooperación e interco-nexión más o menos estables, comoel franchising, el suministro, elknow how, la asistencia financieray otras modalidades de colabora-ción. En interesante estudio Anto-nio Ojeda Avilés hace referencia alfenómeno de las redes de empre-sas, a las cuales define como coor-dinación empresarial estable demedios instrumentales con reper-cusión laboral para impulsar losobjetivos propios de cada empresamiembro30. El autor señala que lospuntos distintivos de las redes deempresas en relación a los gruposde empresas son la plena inde-pendencia de objetivos mercantilesque tiene cada empresa integrantede la red y la inexistencia de unidadde titulares, dirección económica y/o caja31 . Ojeda Avilés anota que enmuchos casos las redes de empre-sas significan inseguridad, desin-formación y falta de instrumentosjurídicos para la defensa del tra-bajador y muestran los males delempresario difuso, desvaído y detrazos desenfocados, lo que derivaen cierta facilidad de las empresaspara eludir las responsabilidadeslaborales, especialmente a través dela cesión de trabajadores o lasucesión de empresas32.

29ARCE ORTIZ, Elmer, La circulación de trabajadores en el grupo de empresas, Sevilla, 2003, pág. 61.30El autor señala que uno de los elementos que identifican a las redes de empresas es el geográfico:coinciden en el mismo lugar de trabajo. Ejemplos de redes de empresas serían los parquestecnológicos, los distritos industriales, los polígonos industriales, las lonjas, los mercados deabasto, las superficies de asentamiento de mayoristas, los centros comerciales, los viveros deempresas, los puertos de mar y aeropuertos.31OJEDA AVILES, Antonio, “Aspectos laborales de las redes de empresas” en Revista Españolade Derecho del Trabajo, nº 125, enero-marzo 2005, Madrid, pág. 797 y sigs.32OJEDA AVILES, Antonio, “Aspectos laborales de las redes de empresas” ob. cit., pág. 806.

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33DIESTE, Juan Francisco, “Responsabilidad laboral derivada de las distintas formas detercerización” Cuarenta y dos estudios sobre la descentralización empresarial, Ed. FCU,Montevideo, 2000. pág. 326.34RASO DELGUE, Juan, “Las nuevas formas de organización empresarial y la determinación delempleador” en XV Jornadas Uruguayas de Derecho del Trabajo, Ed. FCU, Salto, 2004, pág. 163y sigs.

En algunos casos los grupospor coordinación pueden deformarsey evolucionar hacia formas dedominación externa (económica) ointerna (orgánica), en las cualesuna sola de las empresas pasa atener injerencia determinante en elproceso de toma de decisiones delas demás empresas integrantes delgrupo. En estos casos el grupo encuestión dejará de considerarsecomo de coordinación para pasar aser de subordinación. Así, a vía deejemplo, refiriéndose a los supues-tos de descentralización de laproducción Dieste ha puesto demanifiesto la relevancia jurídica quetiene la constatación de que la em-presa comitente ejerza su conduc-ción sobre las demás empresasproveedoras de servicios, señalandoque si mediara una injerencia cla-ramente invasora del poder orga-nizativo, directivo y disciplinario dela principal sobre el ámbito deactuación de la tercera, de tal for-ma que el personal de ésta respon-da indistintamente a las directivasde una u otra, se está en presenciade una empresa dominante, deempleador múltiple o de grupoeconómico, que justificaría unahipótesis de responsabilidad soli-daria33.

De igual modo, Raso Delgueestablece una serie de pautas o in-dicadores que servirían para detec-tar la existencia de dominacióneconómica entre dos o más empre-sas34 , lo que implicaría dejar de lado

la noción de colaboración o coor-dinación entre empresas: a) expre-siones de control y dirección porparte de la empresa principal sobreel establecimiento que ocupa ladependiente; b) la organización porparte de la empresa dominante decursos de formación y capacitaciónde trabajadores de la dominada; c)la posibilidad por parte de la em-presa principal de intervenir en lasdecisiones relativas a la contra-tación, suspensión, despido, modifi-caciones de las condiciones detrabajo de los empleados de ladependiente; d) la duración ypermanencia de la relación con-tractual; e) la elección por parte dela empresa controlante del lugar detrabajo de la empresa subordinada;f) el hecho que la empresa princi-pal provea transporte, hospedaje,herramientas, equipos y/o recursoshumanos a la empresa auxiliar; g)el uso de logos o marcas de la em-presa principal en vehículos o uni-formes de la empresa dependiente;h) la realización en forma continuay permanente por parte de la em-presa dominada de las operacionesde carga y descarga de losproductos de la empresa principal;i) profesionales comunes, adminis-trador contable común, pago de lafranquicia a través de gananciascompartidas.

Para una importante corrien-te de opinión, los grupos horizon-tales, paritarios o por coordinacióndeben situarse en el terreno de la

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cooperación interempresarial y noen el de los grupos económicos. Lainexistencia de subordinación odependencia en cualquiera de susformas excluiría a los grupos porcoordinación de la calificación degrupos de empresa, constituyendoúnicamente una forma de colabo-ración empresarial. Para otros au-tores como Elmer Arce, debedescartarse que actualmente losgrupos de coordinación sean siempresimples uniones de naturaleza frá-gil entre empresas competidoras, decarácter temporal y sin pretensionesde crear vínculos de dominación.Por lo general, los grupos decoordinación generan un entramadode relaciones duraderas e institucio-nalizadas de cooperación quecondicionan, en mayor o menorgrado, su estrategia empresarial35.

Bajo el criterio tradicional dedefinición del grupo de empresas porel que hemos optado en estetrabajo, que exige la presencia dedependencia o control y dedirección económica unitaria, resul-ta evidente que los auténticos gru-pos horizontales, paritarios o porcoordinación no quedan compren-didos en la noción. En este tipo degrupo existe un interés empresari-al y una gestión compartidos entretodos los integrantes, pero no exis-te dependencia o control. Si bienen los grupos paritarios existedirección unitaria, al igual que su-cede en los grupos jerárquicos o porsubordinación, en los primeros es elresultado del acuerdo libre de lassociedades que deciden agruparse,

mientras que en los segundos esconsecuencia del control o domi-nación.

3.4 Otras clases de grupos

Otra clasificación de los gru-pos frecuentemente mencionadapor la doctrina es la de grupos dederecho o contractuales y grupos dehecho o fácticos. Los grupos dederecho son aquellos constituidosde acuerdo con los instrumentosjurídicos que el ordenamientoestablece a esos efectos (general-mente el contrato), mientras que losgrupos de hecho o fácticos sonaquellos que no se crean conformea un instrumento predeterminadopor la ley36 . Esta clasificación tieneespecial aplicación y relevancia enel Derecho alemán, donde lalegislación prevé la constitución degrupos de empresas a partir de uncontrato de dominación, lo que hadado lugar a que ante la ausenciade contrato la doctrina y jurispru-dencia hablen de grupos de hechoo fácticos.

En función de la fuente queda origen a la dirección unitaria,María Luisa de Arriba Fernándezclasifica a los grupos en grupos debase societaria, que serían aquellosen los que aquella nace de lapropiedad de participaciones oacciones en el capital las filiales osubsidiarias por parte de una em-presa matriz; grupos contractuales,en los cuales el poder de direcciónderiva de un contrato y grupospersonales, en los que la direcciónunitaria se fundamenta en la

35ARCE ORTIZ, Elmer, La circulación de trabajadores en el grupo de empresas, ob. cit., pág. 64.36EMBID IRUJO, José Miguel, Introducción al derecho de los grupos de sociedades, ob. cit., pág.

17 y sigs.

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coincidencia de las personas queocupan el cargo de administrado-res en las diferentes sociedadesagrupadas (generalmente la iden-tidad radica en los lazos familia-res)37 .

Otra clasificación que menci-ona dicha autora es la de grupos deactividad homogénea y grupos deactividad heterogénea. Los primerosson aquellos en los que todos los in-tegrantes se dedican a la mismaactividad, en tanto que los segun-dos son aquellos en que los miem-bros realizan actividades diferentes.Emparentada con esta clasificaciónse suele hacer otra que divide a losgrupos en industriales y financieros.En este caso no se toma en cuentael conjunto de actividades realiza-das por las sociedades agrupadassino exclusivamente la ejercida porla sociedad matriz. El grupo es in-dustrial cuando la empresa madrerealiza su propia actividad produc-tiva, sea industrial, comercial o deservicios, en tanto que el grupo esfinanciero cuando la sociedad ma-triz tiene como único objeto lagestión y administración de lasparticipaciones que posee en el res-to de las empresas del grupo. Enestos casos la cabeza del grupo esgeneralmente un holding, cuyaúnica finalidad es dominar a otrassociedades.

En atención a los fines que sepersiguen por los grupos, ladoctrina laboralista española e ita-liana han clasificado a éstos en pa-tológicos y fisiológicos38. Los patoló-

gicos serían aquellos grupos que secrean con la finalidad de evitar elcontrol jurídico y repartir el riesgoeconómico, mientras que los fisioló-gicos serían los que la pluralidad ju-rídica se justificaría en razones decompetitividad, eficiencia organi-zativa, etc. Consecuencias jurídicascomo la extensión de responsa-bilidad en el seno del grupo, solo seadmitiría en el ámbito de los gru-pos patológicos, los cuales son tra-tados con disvalor por la doctrina.Sin embargo, la clasificación men-cionada es criticada porque no esfácil establecer una línea fronterizaentre ambas modalidades de agru-pación. Por lo general, la constitu-ción de un grupo de empresas res-ponde a más de una razón y persi-gue más de una finalidad. Por otraparte, la distinción entre grupos deempresas patológicos y fisiológicos notiene consecuencia jurídica enningún país; se trata de una meradiferenciación teórica, académica oexpositiva, sin recepción legislativaa nivel comparado.

4 MODELOS DE REGULACIÓNDE LOS GRUPOS DE EMPRE-SAS

Atendiendo a la forma en quese posiciona el Derecho del trabajopositivo ante los grupos de empre-sas, groso modo podría afirmarseque se observan tres grandes mo-delos de regulación laboral:

a) un primer modelo, que escuantitativamente el más reducido,está constituido por aquellos países

37de ARRIBA FERNÁNDEZ, María Luisa, Derecho de los grupos de sociedades, ob. cit, pág. 95 ysigs.

38TERRADILLOS, Edurne, Los grupos de empresa ante la jurisprudencia social española, Ed.Tirant lo blanch, Valencia, 2000, pág. 14.

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que regulan legalmente la figura delos grupos de empresas, en especialen cuanto a su régimen de respon-sabilidad. En esa categoría seincluyen Alemania, Portugal, Bra-sil y Argentina.

b) en el lado opuesto, pode-mos ubicar a aquellos ordena-mientos jurídicos nacionales (losmás numerosos) cuya legislaciónlaboral guarda completo silenciosobre los grupos de empresas. Ejem-plos de este modelo son Chile, Perúy Uruguay.

c) en medio de estos modelosopuestos, podría ubicarse aquellaslegislaciones comparadas quecontienen algunas regulacionespuntuales, sectoriales y parcialessobre los grupos de empresas. A víade ejemplo, allí se ubica España, endonde existen referencias norma-tivas a los grupos de empresas enmateria de participación de lostrabajadores en ese ámbito, pero nohay regulación sobre su régimen deresponsabilidad patrimonial u otrasconsecuencias jurídicas laborales.

A su vez, en lo que refiereestrictamente al régimen deresponsabilidad patrimonial delgrupo de empresas por deudas con-traídas por sus integrantes conterceros, en grandes líneas tambiénexistirían tres modelos de comu-nicación de responsabilidad39:

a) el tradicional (tambiénllamado entity law approach), que

parte de la base de la autonomía decada integrante del grupo y soloacepta la responsabilidad en casode dolo o fraude, en especial delagente controlante (a través deldisregard y figuras similares), esdecir, admite solamente casos deresponsabilidad subjetiva.

b) el sistema de la unidaddel grupo (enterprise approach), queatribuye responsabilidad solidariao subsidiaria a la sociedad madrecuando existe dominación total, loque constituye un modelo deresponsabilidad objetiva. Este siste-ma ha sido recogido en variosproyectos legislativos40, pero no fuesancionado por ningún país.

c) el sistema dual germánico(llamado dualist approach), queprevé regímenes de responsabilidaddiferenciados según se trata de gru-pos de derecho o de hecho. Cuandoel grupo es fruto de un contrato(grupo de derecho o contractual) porel cual una filial se somete contrac-tualmente a la dirección de unamatriz, el reverso de tal sujeción esel establecimiento de una responsa-bilidad de la dominante por laspérdidas que tuviera la filial. Encambio, tratándose de gruposfácticos o de hecho (ausencia de con-trato de dominación) la sociedadmatriz debe compensar a losterceros por los perjuicios causadoscomo consecuencia de las direc-trices desventajosas emitidas.

39GIRGADO, Pablo, La responsabilidad de la sociedad matriz y de los administradores en unaempresa de grupo, Ed. Marcial Pons, Madrid, 2002., pág. 32 y sigs.

40Por ejemplo en dos proyectos franceses promovidos por el diputado Cousté y en el Anteproyectoespañol de Ley de Sociedad Anónima de 1979.

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En la actualidad, la posiciónpredominante es admitir algún gra-do y forma de responsabilidadpatrimonial en el marco del grupode empresas. Cuando no existelegislación expresa sobre el punto,son la doctrina y la jurisprudenciade cada país las que se han encar-gado de establecer los andarivelespor los cuales transita alguna for-ma de atribución de responsa-bilidad, aunque más no sea en casode fraude, dolo o abuso de derecho.Por ese motivo, puede afirmarseque la postura que sostenía lairresponsabilidad to-tal en el seno del gru-po ha sido superadaen casi todos losordenamientos jurí-dicos. En efecto, sibien la mayoría delos autores y laslegislaciones aceptanque la configuracióny actuación del gru-po de empresas no esilícito sino que se tra-ta de una forma le-gítima que tiene eloperador económico de organizarsu actividad, en la actualidadtambién se admite que el principiode limitación de responsabilidad noes sagrado e impenetrable, y que endeterminados supuestos se puedeextender la responsabilidad a lossujetos que integran el grupo por

“En la actualidad, la posiciónpredominante es admitiralgún grado y forma de

responsabilidad patrimonialen el marco del grupo de

empresas. Cuando no existelegislación expresa sobre elpunto, son la doctrina y la

jurisprudencia de cada paíslas que se han encargado de

establecer los andarivelespor los cuales transita alguna

forma de atribución deresponsabilidad, aunque más

no sea en caso de fraude,dolo o abuso de derecho.”

deudas contraídas por alguno deellos.

5 REGULACION DE LOS GRU-POS EN URUGUAY

En Uruguay no existeregulación legal el grupo de empre-sas en el ámbito del Derecho deltrabajo41, sin embargo, la atoníalegislativa no ha sido obstáculopara que la doctrina y jurispru-dencia hayan recogido la figuradesde hace varios años, existiendociertos criterios asentados encuanto al mismo, en especial en lo

que refiere a sur e s p o n s a b i l i d a dpatrimonial. La Su-prema Corte de Jus-ticia ha señalado quecuando dos empre-sas aparentementei n d e p e n d i e n t e sestán vinculadas porun todo complejo,pero integral, enton-ces nos encontramosfrente a una realidadeconómica, que se-guramente es máseconómica que jurí-

dica, la que ha sido recepcionada,aunque inorgánicamente por elderecho patrio42.

La noción de grupo de empre-sas se ha edificado en Uruguayfundándose en la autonomía de ladisciplina y en la aplicación de

41Tampoco existe regulación del conjunto económico en otras disciplinas, salvo algunas mencionesaisladas y específicas, como es el caso de la Ley Nº 13.426 referida a la materia jubilatoria queprevé la posibilidad de reclamar adeudos previsionales cuando se crea un conjunto económicopor desdoblamiento de capitales que elimine o disminuya la solvencia de una empresa; la Ley Nº17.292 en materia concursal, que inhibe que una empresa que integre un grupo económico seaacreedor informante en el concurso de otra empresa del grupo; la Ley Nº 17.613 sobre fortalecimientodel sistema bancario, atribuye al Banco Central importantes facultades de controlar sobre losconjuntos económicos y la Recopilación de Normas Bancocentralistas, que define a los grupos deempresas en forma muy amplia, con motivo de regular los créditos otorgados entre sus miembros.

42Anuario de Jurisprudencia Laboral (AJL) 1996/1997 c. 227.

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sus principios propios. En tal sen-tido, María Josefina Plá Regules haseñalado que el Derecho del trabajotiene la suficiente autonomía comopara otorgar personería laboral adeterminadas realidades, sin queesto importe otorgársela a todos losefectos jurídicos, y puede tambiéndescartar dentro del campo laboral,privándola de efectos, la personeríaderivada de otras ramas jurídicasque, trasladada al Derecho deltrabajo, originaría serios perjuiciosal trabajador43. Como consecuenciade ello, la doctrina y jurisprudenciauruguayas suelen considerar y tra-tar al grupo de empresas comoempleador. Indudablemente, lapersonificación del grupo a losefectos laborales supone rompercon las reglas clásicas que pro-vienen del Derecho civil y societario,en donde excepcionalmente el gru-po adquiere tal calidad, man-teniéndose intacta la autonomíaformal de las empresas que loforman.

Sin embargo, conservar esaficción en el ámbito laboral gene-raría enormes perjuicios para eltrabajador y desmerecería princi-pios muy arraigados en el Derechodel trabajo, como el principio deprimacía de la realidad. Así, PLARODRÍGUEZ sostiene que lacalidad de empleador deber seratribuida al grupo como tal, queconstituye a su juicio una unidadsubyacente pese a la multiplicidadde manifestaciones externas lo quegenera que el grupo sea la ver-

dadera y única empresa subya-cente44. A la misma conclusión ar-riba Ermida Uriarte, para quien elconjunto económico debe ser consi-derado como una unidad y un úni-co deudor, lo que hace innecesariohablar de solidaridad. El autormanifiesta que la idea de emplea-dor único responde a la de em-pleador real por oposición a la deempleador aparente. Si prevale-ciera esta última, determinaría quela existencia del grupo quedaraencubierta por el velo de lapersonalidad jurídica atribuida acada una de las empresas que lointegran. Pero al levantarse el velode esas personerías resurge larealidad subyacente: única empre-sa, único empleador, único deu-dor45.

A nuestro modo de ver, en-tender al grupo de empresas de mododistinto implicaría quedarse en lamera superficie formal del factorconstitutivo de la empresa, desco-nociendo la realidad subyacente. Atales efectos, se entiende que elDerecho del trabajo tiene suficien-te autonomía científica como paraatribuir la calidad de sujeto dederecho laboral, a situaciones osupuestos que no necesariamentecoinciden con las categoríasformales derivadas del Derecho ci-vil. Considerar al grupo de empre-sas como empleador tiene dosconsecuencias inmediatas. Enprimer lugar, en el plano jurídicoexistiría un único deudor de lasobligaciones contraídas con los

43PLA REGULES, María Josefina, “La personería laboral del empleador” en revista Derecho Laboral,tomo XIX, nº 101, enero-marzo 1976, Montevideo, pág. 131.

44PLÁ RODRÍGUEZ, Américo, “Los grupos de empresas” ob. cit., pág. 192.45ERMIDA URIARTE, Oscar, Empresas multinacionales y Derecho laboral, ob. cit., pág. 148.

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46ARCE ORTIZ, Elmer, La circulación de trabajadores en el grupo de empresas, ob. cit., pág. 65.47La posición de la justicia laboral puede consultarse en: AJL 2001 c. 129. AJL 1993 c. 707. AJL

1999 c. 142. Idem: AJL 1996-1997 c. 992. AJL 1994-1995, c. 190. AJL 1991, c. 193 y 209.48Véase al respecto: ABELLA DE ARTECONA, Martha, “La personalidad jurídica de las socieda-

des comerciales. Sus implicancias desde el punto de vista del Derecho comercial” en Jornadasinterdisciplinarias laboral-comercial, Ed. FCU, Montevideo, 1992, pág. 53; MANTERO DE SANVICENTE, Osvaldo, “La teoría del conjunto económico en el Derecho del trabajo” misma obraque la anterior, pág. 39. PLA RODRÍGUEZ, Américo, “Sobre la noción de conjunto económico”en Revista Judicatura nº 36, noviembre 1993, Montevideo, pág. 14 y sigs.

trabajadores de cualquier unidaddel grupo, por lo que resultaríainnecesario hablar de responsa-bilidad mancomunada, solidaria,indivisible, etc., porque sencilla-mente existiría un solo sujeto dederecho laboral deudor. Como lohace notar Elmer Arce con granacierto, recurrir al mecanismo de laresponsabilidad solidaria entre lasempresas agrupadas resulta en-gañoso o al menos falso, toda vezque no exista verdadera pluralidadempresarial, sino una única empre-sa a la que le corresponde untratamiento jurídico también uni-tario46.

En segundo lugar, la personi-ficación laboral del grupo tienerepercusión directa sobre el régimende responsabilidad patrimonial: siel grupo de empresas tiene la calidadde empleador (y por ende deudory acreedor único laboral), carece desentido analizar el comportamientode sus unidades para determinar sies procedente la comunicación deresponsabilidad. Por el contrario, laresponsabilidad del grupo pasa aser objetiva, por el solo hecho deconstituirse. Al respecto, interesaseñalar que una cuestión que se hadebatido en Uruguay es si lasanción de la Ley nº 16.060 sobreSociedades Comerciales, que prevéel instituto de la inoponibilidad dela personería jurídica basada en lanoción de fraude o abuso de

derecho (art. 189 y sigs.), modificóo dejó sin efecto las construccionesdoctrinarias y jurisprudenciales so-bre conjunto económico en materialaboral.

Luego de algunas vacila-ciones iniciales, tanto la doctrinacomo la jurisprudencia laboral47

entendieron que aplicar el institutodel disregard of legal entity en elámbito laboral implicaría un graveretroceso en la protección de loscréditos laborales, ya que habríaque probar que la personalidad ju-rídica fue utilizada con fraude oabuso de derecho para extender laresponsabilidad en el seno del gru-po. Se invocó además que elDerecho del trabajo es autónomo yposee fines y principios propios, noexistiendo además razones paradejar de lado una teoría que sehabía creado muchos años antes dela sanción de la ley societaria48. Porello, en Uruguay se acepta que laresponsabilidad del grupo de empre-sas es objetiva, por el solo hecho deconstituirse, considerándose a todaslas unidades del grupo como con-trayente originario de los derechosy obligaciones laborales emergentesde las relaciones de trabajo.

6 CONCLUSIONES

Los vigorosos procesos deacumulación de capital y con-centración económica desarrolla-dos desde fines del siglo XIX hasta

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nuestros días, se han visto poten-ciados con las nuevas formas deproducción descentralizadas (ter-cerización), la revolución tecno-lógica, la apertura de los mercados,la permisividad de las legislaciones(en ciertos casos directamente el fo-mento y promoción de la con-centración). Las ventajas econó-micas, comerciales, financieras, téc-nicas, laborales y fiscales quereportan para el capital las es-tructuras empresariales multi-formes en relación a la mega em-presa, unitaria y vertical, auguraque el grupo de empresas se consti-tuirá en el arquetipo de organi-zación empresarial flexible en eltiempo venidero.

En términos generales, existeacuerdo en que los grupos de empre-sas son manifestaciones válidas deorganización del capital, que salvonorma legal expresa que dispongalo contrario su configuración yfuncionamiento deben reputarse lí-citos, lo que no implica que bajo de-terminadas reglas y criterios puedaatribuírseles determinados efectosjurídicos y adjudicárseles ciertos ni-veles de responsabilidad patri-monial49. En efecto, la necesidad decompatibilizar la libertad de empre-sa con la protección de los derechosindividuales y colectivos de lostrabajadores, ha llevado a que laslegislaciones laborales busquen so-luciones sui generis para problemascomo el riesgo de insolvencia de lasunidades del grupo, la conserva-

ción y respeto de los derechosindividuales (antigüedad, nivel deretribución, etc.) y el ejercicioefectivo de los derechos colectivos(negociación colectiva, participa-ción, libertad sindical y huelga).

Si bien no existe una opiniónunívoca sobre qué es el grupo de em-presas, los datos más comúnmentecitados por la doctrina, la juris-prudencia y las legislaciones son lapresencia de una relación dedominio o control entre las empre-sas, que puede ser interna (orgá-nica) o externa (económica), y deuna dirección económica unifi-cada del conjunto, que se traduceen la gestión y conducción unitariadel agrupamiento en sus aspectosfinancieros, comerciales, econó-micos y laborales. Desde la perspec-tiva del Derecho del trabajo, queuna empresa pueda tener injerenciadeterminante en otra y que a su vezexista una transferencia de poderhacia un centro, que conducirá atodas las unidades con criterio glo-bal, implica que en la realidad hayauna única empresa policorporativay un único sujeto de imputación dederechos y obligaciones laborales.

Como lo señala AntonioBaylos Grau con gran agudeza, lafragmentación de la actividadempresaria en diferentes persona-lidades jurídicas supone una formao intento de cortocircuitar la res-ponsabilidad de la empresa en suconjunto respecto del proyecto glo-

49Como lo ha señalado la Suprema Corte de Justicia de Italia, la política de agrupación de empresases uno de los tantos métodos lícitos y ordinarios que tienen éstas para afrontar las vicisitudes delmercado. Sin embargo, debe reconocerse que en las estructuras grupales el centro de decisión setraslada al exterior de la empresa, lo que genera una importante cantidad de problemas en elámbito laboral, que obligan al jurista a buscar la línea de compatibilidad entre los instrumentosutilizados para dar forma y estructura a la actividad económica y los derechos de los trabajadores:DE SIMONE, Gisella, “La forma grupo nel diritto del lavoro” ob. cit., pág. 78.

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bal de actuación de la misma50. Sinembargo, la tesis de la irresponsa-bilidad laboral del grupo y de laseparación patrimonial absoluta esun criterio que tiende a perimir. Enefecto, a diferencia del Derecho co-mercial en el cual la comunicaciónde responsabilidad en el seno delgrupo de empresas aún hoy en-cuentra detractores, en el campodel Derecho del trabajo la situaciónparece ser más abierta y flexible ya

que tal posibilidad es aceptada des-de hace varios años, aún cuando noexiste una solución unívoca sobreel tipo o régimen de respon-sabilidad que corresponde atri-buirle. En la actualidad no pareceaventurado afirmar que en esta dis-ciplina la configuración de un gru-po de empresas no es neutra ointrascendente, aún cuando noexista regulación legal.

50BAYLOS GRAU, Antonio, “Los acuerdos – marco de empresas globales: una nueva manifestaciónde la dimensión transnacional de la autonomía colectiva” en Revista de Derecho Social nº 28(2004), Madrid, pág. 194.

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TRABALHO DO MEIO CIENTÍFICO

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Cinthia Maria da Fonseca Espada**

O PRINCÍPIO PROTETOR DO EMPREGADOE A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA*

Resumo: A compreensão do princípio protetor do empregado somenteé possível quando se extrai o conteúdo em dignidade da pessoa huma-na que ele possui. O presente estudo procura analisar a correlaçãoentre o princípio de proteção e a dignidade da pessoa humana, além defundamentar, com base nessa vinculação, o “status” de Norma de Di-reito Fundamental do princípio protetor. A questão da possibilidadede relativização do mesmo princípio também será objeto de pondera-ção neste artigo.

Palavras-chave: Princípio; Proteção; Dignidade.

Sumário: Introdução; 1 O Princípio Protetor do Empregado; 2 A Digni-dade da Pessoa Humana; 3 O Princípio Protetor do Empregado comoNorma de Direito Fundamental; 4 Relativização do Princípio Protetordo Empregado; Conclusão; Notas Bibliográficas; Referências.

*O presente artigo corresponde a uma parte da dissertação de mestrado da autora, cujo título éO Princípio Protetor do Empregado e a Efetividade da Dignidade da Pessoa Humana –Análise sob o Prisma da Teoria dos Princípios. A defesa pública da dissertação ocorreu no dia24 de novembro de 2006, no Centro Universitário “Eurípedes de Marília” – UNIVEM mantidopela Fundação de Ensino “Euripedes Soares da Rocha”, sento orientadora a Prof. Norma SueliPadilha.

**Juiza Titular da Vara do Trabalho de Garça (15ª Região) é mestre em Direito pelo CentroUniversitário “Euripedes de Marília” – UNIVEM.

INTRODUÇÃO

O princípio protetor do em-pregado e a dignidade da pessoahumana serão analisados, neste ar-tigo, com base em uma Teoria Jurí-dica específica, que aborda, demodo enfático, os princípios jurídi-cos.

Alguns esclarecimentos de-vem ser feitos nesse ponto. Existem

várias teorias a respeito dos princí-pios jurídicos, devendo-se elucidarque o presente trabalho tem, comoreferencial teórico central, RobertAlexy, embora obras de diferentesautores também tenham sidopesquisadas e utilizadas.

A riqueza das obrasinvestigadas igualmente impõe anecessidade de ressalvar a brevida-

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de deste estudo e remeter o leitorao exame mais detalhado das obrasrelacionadas na bibliografia encon-trada no final do artigo.

De qualquer forma, pequenasexplicações são necessárias. Confor-me a aludida Teoria, os princípiossão vistos como fundamentos detoda a ordem jurídica, adquirindo adignidade de normas vigentes, váli-das e eficazes, o que tem implicaçãono tocante à efetividade do Direito,em razão do reconhecimento de for-ça normativa ao texto constitucio-nal em sua íntegra, inclusive aos dis-positivos de “texturaaberta”.

Inicia-se umnovo modo de inter-pretação do Direitoe, com ele, a necessi-dade de análise dosdiversos ramos doDireito sob o enfoquedos princípios especi-ais que os regem,sem esquecer-se, éclaro, dos princípiosgerais de Direito e dos princípiosconstitucionais. Até porque, conso-ante essa mesma Teoria, todas asnormas infraconstitucionais devemser “lidas” sob o prisma da Lei Fun-damental.

Nesse contexto, em relação aoDireito do Trabalho, o princípioprotetor do empregado torna-se apeça mais importante para a reali-zação desta “leitura”, em razão desua grande importância no âmbitodo mencionado ramo jurídico.

Observe-se, nesse ponto, quea compreensão do princípio prote-tor do empregado não é possívelsem o estudo da dignidade da pes-soa humana. Ambos possuem es-

treita vinculação, pois a efetividadeda dignidade humana do trabalha-dor depende da tutela dos direitosfundamentais e da realização, nomaior grau possível, do princípio deproteção.

Destarte, analisar-se-á super-ficialmente, neste artigo, a correla-ção entre o princípio protetor doempregado e a dignidade da pes-soa humana, tendo, como “pano defundo”, a Teoria dos Princípios. Oestudo levará a duas questões fun-damentais: o “status” de norma dedireito fundamental do princípio

da proteção e a pos-sibilidade derelativização dessemesmo princípio.

1 O PRINCÍPIOPROTETOR DOEMPREGADO

Sob o ponto devista das modernasTeorias que abor-dam a questão dosprincípios jurídicos,pode-se dizer que o

princípio protetor do empregadopossui estrutura de norma, o quelhe agrega grande força no âmbitodo Direito do Trabalho.

Essas Teorias, inclusive a deAlexy, reconhecem a normati-vidade dos princípios, tanto dosexpressos na ordem jurídica, quan-to dos implícitos, descobertos porocasião da aplicação do direito. Osprincípios e as regras são vistoscomo espécies do gênero norma, ouseja, as normas tanto podem serprincípios quanto regras.

Ao discorrer acerca do as-sunto, Ruy Samuel Espíndola (3)assim se posiciona:

“...os princípios são vistoscomo fundamentos de toda aordem jurídica, adquirindo adignidade de normas vigen-tes, válidas e eficazes, o quetem implicação no tocante àefetividade do Direito, em

razão do reconhecimento deforça normativa ao texto

constitucional em suaíntegra, inclusive aos dispo-sitivos de “textura aberta”.”

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Hoje, no pensamento jurídicocontemporâneo, existe unanimi-dade em se reconhecer aos prin-cípios jurídicos o statusconceitual e positivo de normade direito, de norma jurídica.Para este núcleo de pensamen-to, os princípios têmpositividade, vinculatividade,são normas, obrigam, têm efi-cácia positiva e negativa sobrecomportamentos públicos ouprivados, bem como sobre a in-terpretação e a aplicação de ou-tras normas, como as regras eoutros princípios derivados deprincípios de generalizaçõesmais abstratas. E esse caráternormativo não é predicado so-mente dos “princípios positivosde Direito”, mas também, comojá acentuado, dos “princípiosgerais de Direito”. Reconhece-se, destarte, normatividade nãosó aos princípios que são, ex-pressa e explicitamente, contem-plados no âmago da ordem ju-rídica, mas também aos que,defluentes de seu sistema, sãoanunciados pela doutrina e des-cobertos no ato de aplicar o Di-reito.

Norberto Bobbio (4) tambémdefende a normatividade dos prin-cípios, com base nos seguintes ar-gumentos:

Para sustentar que os princípi-os gerais são normas, os argu-mentos são dois, e ambos váli-dos: se são normas aquelas dasquais os princípios gerais são ex-traídos, através de um procedi-mento de generalização sucessi-va, não se vê por que não de-vam ser normas também eles: seabstraio da espécie animal, ob-tenho sempre animais, e não flo-

res ou estrelas. Em segundo lu-gar, a função para a qual são ex-traídos e empregados é a mes-ma cumprida por todas as nor-mas, isto é, a função de regularum caso.

Para Robert Alexy (5) as re-gras e os princípios são normas por-que ambos dizem o que “deve ser”e podem ser formulados com a aju-da das expressões deônticas básicasdo mandamento, da permissão eda proibição. Além disso, os prin-cípios, tanto quanto as regras, sãorazões para juízos concretos de“dever ser”.

Princípios e regras pertencemao campo do “dever ser” e não do“ser”, o que não suscita dúvidas.Ambos podem conter um manda-mento, uma permissão ou umaproibição. Conforme o inciso II doart. 5º da CF/88 ninguém é obriga-do a fazer ou deixar de fazer, se-não em virtude de lei (princípio dalegalidade), o que estabelece a per-missão de fazer tudo que a lei nãoproíba. A regra contida no art. 228do Código Civil Brasileiro contémuma proibição, visto que dispõenão serem admitidos como testemu-nhas os menores de 16 (dezesseis)anos. Por fim, como exemplo demandamento, cita-se o inciso II doart. 14 do CPC, que ordena às par-tes e seus procuradores agirem comlealdade e boa-fé no curso do pro-cesso, expressando os mencionadosprincípios.

Regras e princípios tambémsão razões para juízos concretos de“dever ser”, ou seja, ambos podemser utilizados na solução dos casosconcretos. Em relação às regras,esta é uma questão de fácilvisualização, porque elas são

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comumente utilizadas para a solu-ção de casos, por serem sempre es-critas e mais concretas que os prin-cípios. As regras referentes a horasextras e trabalho noturno, porexemplo, são diuturnamente utili-zadas nos julgamentos dos proces-sos em trâmite na Justiça do Traba-lho.

Por outro lado, é bem maisdifícil vislumbrar a solução de umcaso concreto com a utilização deum princípio, embora isso seja pos-sível. O aplicador da lei pode invo-car princípios como os da dignida-de humana, liberdade, igualdade elegalidade como meio de interpre-tação da legislação em vigor paradecidir quais as regras efetivamen-te aplicáveis em um caso específi-co. O princípio estaria sendo utili-zado como razão para um juízoconcreto de “dever ser”.

No concernente ao princípioprotetor, pode-se afirmar que elepossui estrutura de norma, porquenão é apenas utilizado como bali-za na interpretação de normas (fun-ção interpretativa) e na integraçãodo direito (função supletiva), mastambém possui a função fundamen-tadora da Ordem Jurídica, porquan-to serve de fundamento e de ele-mento essencial à compreensãosistêmica do Direito do Trabalho.

Assim como Paulo Bonavides(6), Godinho Delgado (7) tambémentende que tal função normativaespecífica aos princípios seria resultan-te de sua dimensão fundamentadorade toda a ordem jurídica.

O princípio sob exame estávinculado à própria razão de ser doDireito do Trabalho, que, conformeAmérico Plá Rodrigues (8) respon-

de fundamentalmente ao propósito denivelar desigualdades.

Para Maurício Godinho Del-gado (9) o princípio protetor doempregado informa que:

[...] o Direito do Trabalho estru-tura em seu interior, com suasregras, institutos, princípios epresunções próprias, uma teiade proteção à parte hipossu-ficiente na relação empregatícia– o obreiro – visando retificar(ou atenuar), no plano jurídico,o desequilíbrio inerente ao pla-no fático do contrato de traba-lho.

Enquanto Plá Rodrigues (10)entende que este princípio se ma-nifesta em três dimensões – “indubio pro operario”, norma maisfavorável e condição mais benéfica(11) – Delgado (12) o compreendede forma mais abrangente:

A noção de tutela obreira e deretificação jurídica da reconhe-cida desigualdade socioeconô-mica e de poder entre os sujei-tos da relação de emprego (idéiainerente ao princípio protetor)não se desdobra apenas nas trêscitadas dimensões. Ela abrange,essencialmente, quase todos (se-não todos) os princípios especi-ais do Direito Individual do Tra-balho. Como excluir essa noçãodo princípio da imperatividadedas normas trabalhistas? Ou doprincípio da indisponibilidadedos direitos trabalhistas? Ou doprincípio da inalterabilidadecontratual lesiva? Ou da pro-posição relativa à cotinuidade darelação de emprego? Ou da no-ção genérica de despersona-lização da figura do emprega-dor (e suas inúmeras conseqüên-

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cias protetivas ao obreiro)? Oudo princípio da irretroação dasnulidades? E assim sucessiva-mente. Todos esses outros prin-cípios especiais também criam,no âmbito de sua abrangência,uma proteção especial aos inte-resses contratuais obreiros, bus-cando retificar, juridicamente,uma diferença prática de podere de influência econômica e so-cial apreendida entre os sujeitosda relação empregatícia.

Desse modo, o princípio tutelarnão se desdobraria em apenastrês outros, masseria inspiradoramplo de todo ocomplexo de re-gras, princípiose institutos quecompõem esseramo jurídicoespecializado.

Considerando-se que o Direito doTrabalho, e princi-palmente o DireitoIndividual do Traba-lho, constrói-se a partir da constataçãofática da diferenciação sócio-econômi-ca e de poder substantivas entre osdois sujeitos da relação jurídica cen-tral desse ramo jurídico – emprega-dor e empregado (13) não há dúvidade que ele possui muitos outros des-dobramentos, além dos menciona-dos por Plá Rodrigues (14), vistoque todos os princípios especiais doDireito Individual do Trabalho deledecorrem ou com ele possuem co-nexão, como, por exemplo, os prin-cípios da norma mais favorável, dacondição mais benéfica, daimperatividade das normas traba-lhistas, da continuidade da relaçãode emprego, etc. (15)

Nessa linha de raciocínio, oprincípio da proteção possui estru-tura de norma, em decorrência desua função fundamentadora daordem jurídica trabalhista.

Apesar disto, deve-se ressal-var que não existem princípios ab-solutos em nosso sistema jurídico(16), o que se aplica também aoprincípio protetor do empregado, adespeito de sua imensa importân-cia dentro da ordem jurídica traba-lhista.

Delgado (17) afirma que oprincípio da proteção:

[...] não vai se aplicarsempre, em qualquersituação ou contexto.Há relações, situaçõesou circunstâncias queafastam sua incidênciae força direcional, emrespeito a princípiosexternos ao Direito doTrabalho que tenden-cialmente ou circuns-tancialmente tenhampreponderância. É o

que repetidas vezes tem feito ajurisprudência, a propósito, notocante ao contraponto entre oprincípio tutelar (e outros tra-balhistas) e o princípio geral donão enriquecimento sem causaou o princípio constitucional (etambém geral) da propor-cionalidade e seu corolário (ouequivalente, se for o caso), darazoabilidade.

Por fim, esclareça-se que, emface da teoria dos princípios, o va-lor da proteção do empregado podeser visto e entendido como “man-dato de optimização”.

Robert Alexy (18) entende osprincípios como “mandatos de

“...em face da teoria dos

princípios, o valor da

proteção do empregado

pode ser visto e entendi-

do como “mandato de

optimização”.”

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optimização”, pois ordenam quealgo seja realizado na maior medi-da possível, e podem ser cumpridosem diferentes graus, sendo certoque a medida devida do seu cum-primento depende das possibilida-des fáticas e jurídicas existentes.

À medida que os princípiostêm o caráter de “mandatos deoptimização”, não trazem direitosdefinitivos, mas apenas direitos pri-ma facie, que podem ser restringi-dos, quando entram em colisão comoutros direitos. Só os direitos comcaráter de regras são definitivos.(19)

Não é possível a constituiçãode uma hierarquia rígida de valo-res ou princípios. Contudo, ordensbrandas de preferências prima faciepodem ser estabelecidas pela juris-prudência ou legislação. Estas duasmaneiras de construção de priori-dades prima facie estão ligadas aoconceito de ponderação, como as-severa Alexy (20) e demonstram opeso relativo dos princípios, comoafirma Norma Sueli Padilha (21).

Assim sendo, colocar o prin-cípio protetor do empregado como“mandato de optimização” signifi-ca afirmar que ele possui um pesorelativo e traz um direito prima facie,que não é definitivo, e pode ser res-tringido, embora preceda a muitosoutros em caso de colisão, em ra-zão do grande peso que possui noâmbito do Direito do Trabalho.(22)

Princípios são valores e quan-do conflitam devem ser pondera-dos. A concepção de princípiosabsolutos leva a resultados absur-dos na prática e, nesse aspecto, oprincípio protetor do empregadonão constitui exceção. Dessa forma,se ele fosse erigido à categoria de

absoluto, o intérprete e aplicadorda lei ver-se-ia na obrigação de darrazão ao empregado sob quaisquercircunstâncias, mesmo àquelas quedemonstrassem a existência de má-fé e enriquecimento sem causa, porexemplo.

Todavia, dada à sua grandeimportância, até mesmo em razãode sua estreita relação com os di-reitos fundamentais do trabalha-dor, inclusive o da dignidade dapessoa humana, o princípio prote-tor não pode sofrer restrição semum motivo justo, o que deve serentendido de forma adequada. Aquestão atinente à relativização domencionado princípio será objetode análise posterior.

2 O PRINCÍPIO DA DIGNIDA-DE DA PESSOA HUMANA

A compreensão do princípioprotetor do empregado somente épossível quando se extrai o conteú-do em dignidade da pessoa huma-na que ele possui.

Destarte, afigura-se necessá-ria, em um primeiro momento, abusca do significado dessa dignida-de, o que constitui tarefa difícil, porse tratar de termo de contornos va-gos.

A idéia da existência de umvalor intrínseco da pessoa não érecente, e certamente Kant é um deseus mais bem sucedidos exposito-res. Ele concebe a dignidade da pes-soa como parte da autonomia éticae da natureza racional do ser hu-mano. Para ele, o homem existecomo um fim em si mesmo e, por-tanto, não pode ser tratado comoobjeto. (23)

Na Fundamentação da Meta-física dos Costumes, ele afirma: Age

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de tal maneira que possas usar a hu-manidade, tanto em tua pessoa quan-to na pessoa de qualquer outro, sem-pre e simultaneamente como fim e nun-ca simplesmente como um meio. (24)

Embora a dignidade esteja re-lacionada à capacidade de nos con-duzirmos pela nossa razão e não nosdeixarmos arrastar pelas nossas pai-xões, não é apenas a razão que nostorna merecedores de dignidade. Aidéia de que o homem tem um va-lor que lhe é intrínseco é uma cons-trução de natureza moral, conside-rando-se que esse valor lhe é artifi-cialmente conferido.(25)

C o n f o r m eVieira (26):

O papel funda-mental da razãoé habilitar o serhumano a cons-truir parâme-tros morais,como a concep-ção de que aspessoas devemser tratadas com dignidade pelosimples fato de serem pessoas;de que não podem ser tratadascomo meios ou meros instru-mentos na realização de nossosdesejos, mas que têm desejos eanseios próprios, que devem serrespeitados.

Sarlet (27) também entendeque a capacidade de autodetermi-nação, que constitui o elementonuclear da noção de dignidade dapessoa humana, é apenas potenci-al, porque mesmo o absolutamenteincapaz possui dignidade, como,por exemplo, a pessoa portadora degrave deficiência mental.

Por conseguinte, a dignidadeindepende de circunstâncias con-cretas e do comportamento das pes-soas. Mesmo pessoas que cometemações indignas e infames têm dig-nidade. (28)

Com isso fica claro que o sig-nificado de dignidade da pessoahumana está relacionado a umaconstrução de natureza moral, naqual se insere a idéia de que todohomem, independentemente dequaisquer circunstâncias (como ca-pacidade mental, raça, credo, sexo,ou até mesmo a efetiva conduta

digna que a pessoapossa ter) tem umvalor intrínseco quelhe é próprio e nãopode ser quantifi-cado, nem ser objetode renúncia.

Nessa linha deraciocínio, a dignida-de da pessoa huma-na não pode ser con-cebida apenas comoprestação, mas deve

ser entendida também nesse senti-do. Sarlet (29) concebe a dignidadesimultaneamente como limite e ta-refa dos poderes estatais, da comu-nidade em geral, de todos e de cadaum.

A dignidade da pessoa hu-mana tem, portanto, uma dupla di-mensão. Por um lado, constitui ex-pressão da autonomia da pessoa,ou seja, é vista como algo inerenteao ser humano, que não pode seralienado ou perdido, representan-do um limite à atuação do Estado eda comunidade (dimensão defen-siva). De outra parte, também éalgo que necessita da proteção porparte da comunidade e do Estado

“...o significado de dignidadeda pessoa humana está

relacionado a uma construçãode natureza moral, na qual se

insere a idéia de que todohomem, independentementede quaisquer circunstâncias(como capacidade mental,raça, credo, sexo, ou até

mesmo a efetiva conduta dignaque a pessoa possa ter) temum valor intrínseco que lhe é

próprio e não pode serquantificado, nem ser objeto

de renúncia.”

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(dimensão protetiva, assistencial,prestacional). (30)

Assim, se a pessoa tem de-mência, a dimensão assistencial eprotetiva da dignidade prevalecesobre a dimensão autonômica. (31)

Portanto, pode-se afirmarque o Estado não apenas deve res-peitar a dignidade da pessoa huma-na, que serve de limite à sua atua-ção, mas também tem o dever depromover essa dignidade e, paraisso, deve gerar inclusão social. (32)

Nesse contexto, a dignidadesó faz sentido no âmbito daintersubjetividade, devendo sercompreendida sob esta perspectiva.(33)

Conforme Vieira (34), ela é:

[...] um princípio derivado dasrelações entre as pessoas; e o di-reito à dignidade está associadoà proteção daquelas condiçõesindispensáveis para a realizaçãode uma existência que faça sen-tido para cada pessoa.

Ainda que exista uma dimen-são social da dignidade, consideran-do-se o fato de ser uma construçãomoral do homem que vive em soci-edade, não se deve confundir dig-nidade da pessoa humana com dig-nidade humana. Conforme Sarlet(35), a primeira diz respeito a umatributo da pessoa individualmen-te considerada, e não de um ser ide-al ou abstrato; a segunda concerneà humanidade como um todo.

De qualquer forma, além dadimensão social, existe tambémuma cultural, decorrente do fato deser a dignidade fruto do trabalho dediversas gerações e da humanidadecomo um todo. (36)

Parece difícil saber até queponto a dignidade está acima dasespecificidades culturais, pois de-terminadas comunidades possuemprática social e jurídica que seriamconsideradas, pela maior parte dahumanidade, atentatórias à digni-dade da pessoa humana, comoocorre, por exemplo, com a pena demorte. (37)

Mesmo se houvesse um con-ceito universal de dignidade, issonão evitaria conflitos na prática,quando da avaliação de um casoconcreto. Portanto, a necessidadede segurança jurídica impõe a bus-ca de uma definição aberta e, mini-mamente objetiva, de dignidade dapessoa humana. (38)

Não se perca de vista quequalquer definição de dignidade dapessoa constitui um processo emandamento, não apenas por se tra-tar de um termo polissêmico, decontornos imprecisos, mas tambémpelo fato de que todo contexto so-cial e histórico sempre condicionao conhecimento.

Sarlet (39) sugere, como pon-to de partida para essa definição, aconcepção de Dürig (40) no senti-do de que a dignidade restaria atin-gida sempre que a pessoa fosse re-baixada a objeto/instrumento,quando viesse a ser descaracterizadae desconsiderada como sujeito de di-reitos.

O autor (41) define dignida-de da pessoa humana como sendo:

[...] a qualidade intrínseca e dis-tintiva de cada ser humano queo faz merecedor do mesmo res-peito e consideração por partedo Estado e da comunidade, im-plicando, neste sentido, um com-

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plexo de direitos e deveres fun-damentais que asseguram a pes-soa tanto contra todo e qualquerato de cunho degradante e de-sumano, como venham a lhe ga-rantir as condições existenciaismínimas para uma vida saudá-vel, além de propiciar e promo-ver sua participação ativa e co-responsável nos destinos da pró-pria existência e da vida em co-munhão com os demais sereshumanos.

Ressalte-se a completude dadefinição de Sarlet (42) que põe emrelevo a capacidadede autodetermina-ção da pessoa comoelemento nuclear dosignificado de digni-dade, mas não deixade mencionar assuas duas dimensões– defensiva eassistencial, demons-trando que a suaconcepção se prendea uma construçãomoral.

Com base nessa definiçãopode-se afirmar que a incidência doprincípio da dignidade da pessoahumana no âmbito do trabalhoimplica a necessidade de se prote-ger o trabalhador contra qualquerato atentatório à sua dignidade, delhe garantir condições de labor sau-dáveis e dignas, e também de pro-piciar e promover a inclusão soci-al.

Constata-se, desta forma, queo núcleo do princípio protetor doempregado encontra seu funda-mento no princípio da dignidade dapessoa humana, considerando-seque a principal finalidade da pro-

teção ao trabalhador é promover asua dignidade.

Nesse passo, embora o propó-sito do princípio protetor do empre-gado também seja o de tratar desi-gualmente os desiguais para pro-mover a igualdade real/substanci-al entre partes que se encontramem desigualdade de fato (princípioisonômico) em seu núcleo, a prin-cipal finalidade do princípio é pro-mover a dignidade do trabalhador.Assim, promover a igualdade realconstitui um dos meios de promo-ção da dignidade do obreiro.

R e s s a l v e - s eque o princípio pro-tetor do empregadonão se relaciona so-mente com os princí-pios da dignidadeda pessoa humana eda igualdade. Ape-nas não faz parte doobjetivo da presentepesquisa exploraressa hipótese.

3 O PRINCÍPIOPROTETOR DO EMPREGADOCOMO NORMA DE DIREITOFUNDAMENTAL

Com a finalidade de verificarse o princípio protetor do empre-gado é uma norma de direito fun-damental, torna-se necessário esta-belecer o significado de “direitosfundamentais” na sistemática daConstituição Federal de 1988.

A expressão “direitos funda-mentais” é comumente utilizadapelos constitucionalistas para desig-nar “o conjunto de direitos da pes-soa humana expressa ou implicita-mente reconhecidos por uma deter-minada ordem constitucional”.

“...a incidência do princípioda dignidade da pessoahumana no âmbito do

trabalho implica a necessida-de de se proteger o trabalha-

dor contra qualquer atoatentatório à sua dignidade,de lhe garantir condições delabor saudáveis e dignas, e

também de propiciar epromover a inclusão social.”

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Conseqüentemente, a sua principalcaracterística é a positividade, ou seja,o reconhecimento por uma ordem cons-titucional em vigor. – grifo nosso. (43)

A Carta de Direitos de 1988consagrou a idéia da abertura mate-rial do catálogo constitucional dos di-reitos e garantias fundamentais. Por-tanto, os direitos fundamentais nãosão apenas os assim reconhecidospelo constituinte, mas também ou-tros, em outras partes da Constitui-ção, e também em tratados e con-venções internacionais conforme osparágrafos 2º e 3º do artigo 5º daConstituição. (44)

O desafio é identificar os cri-térios para a localização dos direi-tos fundamentais que não foram,expressamente, assim designadospelo constituinte, tarefa que passanecessariamente pela construção deum conceito material de direitos fun-damentais. (45)

A Constituição de 1988 podeser considerada como sendo umaConstituição da pessoa humana e,nesse sentido, o seu sistema de di-reitos fundamentais repousa na dig-nidade da pessoa humana. (46)

Sarlet (47) afirma que:

[...] os direitos e garantias fun-damentais podem, com efeito,ainda que de modo e intensida-de variáveis, ser reconduzidosde alguma forma à noção de dig-nidade da pessoa humana, jáque todos remontam à idéia deproteção e desenvolvimento daspessoas, de todas as pessoas.

O mesmo autor (48) ressalvaa necessidade de cautela, pois tudoo que consta do texto da Constitui-ção pode ser reconduzido ao prin-

cípio/valor da dignidade da pessoacom algum esforço argumentativo.Contudo, não é assim que o princí-pio deve ser visto e interpretado,porque, se assim fosse, toda e qual-quer posição jurídica estranha aocatálogo poderia ser guindada àcondição de direito fundamental, oque viria a esvaziar a própria no-ção de dignidade da pessoa.

De qualquer forma, é inegá-vel a posição de destaque ocupadapelo princípio da dignidade da pes-soa humana nesta tarefa, pois atuacomo diretriz material para a iden-tificação de direitos fundamentais,constituindo, para tanto, um crité-rio basilar, embora não exclusivo.Outros princípios, como os relacio-nados à vida e à liberdade, porexemplo, também são critérios quepodem ser utilizados na menciona-da empreita. (49)

Segundo o critério propostopor Sarlet (50) para a identificaçãodos direitos fundamentais, sempreque uma posição jurídica tiver porbase e fundamento direto a digni-dade da pessoa, será uma normade direito fundamental, devendo-se ressalvar a necessidade de exa-me em cada caso concreto.

No que diz respeito ao men-cionado critério, algumas conside-rações devem ser feitas. Primeiro, aposição jurídica que constitui nor-ma de direito fundamental não ape-nas deve se relacionar com o prin-cípio da dignidade da pessoahumana, mas sim tê-lo por base efundamento direto. Segundo, osucesso da aplicação do critério pro-posto por Sarlet (51) depende dautilização, pelo intérprete, de todosos recursos disponibilizados pela

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teoria dos princípios. Terceiro, é im-prescindível que o intérprete man-tenha sempre uma postura crítica,para que não haja uma desvalori-zação dos direitos fundamentais edo próprio princípio da dignidadeda pessoa humana.

Embora seja conveniente emum caso concreto buscar-se primei-ro a existência de ofensa a um de-terminado direito fundamentalconsagrado pelo constituinte, parareduzir a margem de arbítrio do in-térprete e aplicador da lei, nadaimpede que se busque fundamentodireto na dignidade da pessoa hu-mana para a proteção de um direi-to não consagrado expressamentecomo fundamental pelo constituin-te. (52)

Diante disso, é possível a clas-sificação, como norma de direitofundamental, de qualquer posiçãojurídica que tiver por base e funda-mento direto a dignidade da pes-soa, mesmo se ela não tiver sidoassim classificada pelo legisladorconstituinte.

Nesse contexto, o princípioprotetor do empregado não podemais deixar de ser visto como nor-ma de direito fundamental, pois emseu núcleo encerra-se a proteção dadignidade do trabalhador.

4 RELATIVIZAÇÃO DO PRIN-CÍPIO PROTETOR DO EMPRE-GADO

Já foi tomada posição, nestetrabalho, no sentido de que nãoexistem princípios absolutos e, por-tanto, mesmo o princípio da digni-dade da pessoa humana e o prote-tor do empregado podem ser res-tringidos. No entanto, ainda não foi

analisada a questão da justificaçãoda restrição da proteção do obreirohipossuficiente.

Com o objetivo de aprofun-damento desse delicado assunto, ha-verá necessidade de retomar tambémo tema no que tange ao princípio dadignidade da pessoa humana.

Existe consenso no sentido deque nenhuma restrição de direito fun-damental poderá ser desproporcionale/ou afetar o núcleo essencial do direi-to objeto da restrição. (53)

Isso quer dizer que para a res-trição existe um limite dos limitese, nesse contexto,

[...] o princípio da dignidade dapessoa humana passa a ocuparlugar de destaque, notadamentepelo fato de que, ao menos paraalguns, o conteúdo em dignida-de da pessoa humana acaba porser identificado como constitu-indo o núcleo essencial dos di-reitos fundamentais, ou pela cir-cunstância de – mesmo não acei-ta tal identificação – se conside-rar que pelo menos (e sempre) oconteúdo em dignidade da pes-soa humana em cada direito fun-damental encontra-se imune arestrições. (54)

Nessa mesma linha, alguns en-tendem que o conteúdo em dignida-de da pessoa, quando violado, impor-ta em desproporcionalidade. (55)

Assim sendo, o princípio dadignidade da pessoa constitui ofundamento da proteção do núcleode todos os direitos fundamentais,impondo a última barreira contraa restrição desses direitos.

Nesse passo, o princípio pro-tetor do empregado pode sofrer

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relativização quando, num conflito denormas, a restrição não afetar a dig-nidade do trabalhador, que constitui onúcleo do princípio de proteção sobanálise, como anteriormente menci-onado.

Considerando-se o fato, tam-bém já ressaltado, de que o princí-pio da dignidade da pessoa huma-na tem contornos vagos e impreci-sos, sempre haverá dúvida a respei-to de qual é o conteúdo em digni-dade humana que existe no princí-pio protetor do empregado e tam-bém em outros direitos fundamen-tais, sendo que umasolução constitucio-nalmente adequadasomente é possívelem cada caso con-creto. (56)

Na prática,surgirão resultadosmuito diferentes, de-pendendo da visãode mundo do intér-prete, formada apartir do contextosocial, histórica e territorialmentelocalizado, em que se insere.

Por conseguinte, mesmo oscritérios previamente estabelecidosconstituem o resultado de uma ava-liação subjetiva e, nesse sentido, deuma opção axiológica. (57)

Sarlet (58) sustenta que:

Por mais que se tenha a digni-dade como bem jurídico absolu-to, o que é absoluto (e nesta li-nha de raciocínio, até mesmo oque é a própria dignidade) en-contra-se de certa forma emaberto e, em certo sentido – comojá demonstrado – irá dependerda vontade do intérprete e de

uma construção de sentido cul-tural e socialmente vinculada.

A própria dignidade da pessoa,como norma jurídica fundamen-tal, possui um núcleo essenciale, portanto, apenas este (na hi-pótese de uma necessáriaharmonização da dignidade dediversas pessoas), por via deconseqüência, será intangível.

O mesmo autor afirma que oprincípio da dignidade da pessoahumana impõe a vedação de qual-quer conduta que importe emcoisificação e instrumentalização do ser

humano (que é fim, enão meio)(59). Este,portanto, o núcleo doprincípio.

Como conse-qüência, sempre queo trabalhador não fortratado como ser hu-mano (que é fim),mas sim como coisa(meio) o núcleo doprincípio protetor doempregado estarásendo afetado, e nes-

sas ocasiões ele não poderá sofrerqualquer relativização.

CONCLUSÃO

O princípio protetor do em-pregado possui estrutura de normapelo fato de servir de fundamentoe de elemento essencial à compre-ensão sistêmica da ordem jurídicatrabalhista. Ressalve-se que ele tam-bém possui as funções supletiva einterpretativa.

Esse princípio também deveser entendido como “mandato deoptimização”, à medida que nãotraz direitos definitivos, mas ape-nas direitos prima facie, que podem

“...sempre que o trabalhador

não for tratado como ser

humano (que é fim), mas sim

como coisa (meio) o núcleo

do princípio protetor do

empregado estará sendo

afetado, e nessas ocasiões

ele não poderá sofrer qual-

quer relativização.”

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ser restringidos, quando entram emcolisão com outros direitos.

De qualquer forma, isto nãodiminui a sua importância no âm-bito do Direito do Trabalho, queganhará maior efetividade com asua aplicação à luz da teoria dosprincípios.

Portanto, a concretização dasnormas de Direito do Trabalho de-pende da realização, no maior graupossível, do princípio de proteçãodo empregado que possui estreitavinculação com o da dignidadehumana, além de outros princípiosque constituem direitos fundamen-tais. O próprio princípio protetor énorma de direito fundamental.

Apesar da possibilidade derelativização do princípio protetordo empregado, sempre que o tra-balhador não for tratado como serhumano (que é fim), mas sim comocoisa (meio) o núcleo do princípioestará sendo afetado, e nessas oca-siões ele não poderá sofrer qualquerrelativização.

A despeito da importância dodireito processual para a tutela dosdireitos fundamentais, sem que sedê a devida importância ao direitomaterial não é possível alcançar aalmejada efetividade de direitos.

É inegável que as mudançasda legislação trabalhista dependemde escolhas políticas e quando es-tas se baseiam no pensamento in-telectual que prega a existência decrise estrutural a respeito do traba-lho e do emprego na sociedade con-temporânea, as alterações norma-tivas são prejudiciais ao trabalha-dor.

Todavia, independentementede qualquer política pública, há

necessidade de tutelar e, mais doque isto, dar efetividade ao direitode dignidade do trabalhador pormeio da teoria dos princípios, comoiniciativa do Poder Judiciário e dosjuristas em geral, o que implica apromoção, no maior grau possível,do princípio protetor do emprega-do. Com este objetivo, a posturacrítica do intérprete também é desuma importância.

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) O presente artigo correspondea uma parte da dissertação demestrado da autora, cujo título é OPrincípio Protetor do Empregadoe a Efetividade da Dignidade daPessoa Humana – Análise sob oPrisma da Teoria dos Princípios.A defesa pública da dissertaçãoocorreu no dia 24 de novembro de2006, no Centro Universitário“Eurípedes de Marília” – UNIVEMmantido pela Fundação de Ensino“Eurípides Soares da Rocha”, sen-do orientadora a Prof. Dra. NormaSueli Padilha.

(2) Cinthia Maria da Fonseca Es-pada, Juíza Titular da Vara do Tra-balho de Garça (15ª Região) é mes-tre em Direito pelo Centro Univer-sitário “Eurípedes de Marília” –UNIVEM mantido pela Fundaçãode Ensino “Eurípides Soares daRocha”.

(3) ESPÍNDOLA. Ruy Samuel. Con-ceito de Princípios Constitucio-nais. 2. ed. São Paulo: Editora Re-vista dos Tribunais, 2002, p. 60-61.

(4) BOBBIO, Norberto. Teoria doOrdenamento Jurídico. 10. ed.Brasília: Editora Universidade deBrasília, 1997, p. 158-159.

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(5) ALEXY, Robert. Teoría De LosDerechos Fundamentales. 3. ed.Madrid: Centro de Estudios Políti-cos y Constitucionales, 2002, p. 83.

(6) BONAVIDES, Paulo. Curso deDireito Constitucional. 16. ed. SãoPaulo: Malheiros Editores Ltda,2005, p. 283-284.

(7) DELGADO, Maurício Godinho.Curso de Direito do Trabalho. SãoPaulo: LTr, 2006b, p. 189.

(8) RODRIGUEZ, Américo Plá.Princípios de Direito do Trabalho.Tradução de Wagner D. Giglio. SãoPaulo: LTr: Ed. da Universidade deSão Paulo, 1978, p. 29.

(9) ______. Curso de Direito doTrabalho. São Paulo: LTr, 2006b,p. 197-198.

(10) RODRIGUEZ, Américo Plá.Princípios de Direito do Trabalho.Tradução de Wagner D. Giglio. SãoPaulo: LTr: Ed. da Universidade deSão Paulo, 1978, p. 41-42.

(11) Para Alice Monteiro de Barros(2005, p. 169), o princípio protetor“é consubstanciado na norma e nacondição mais favorável”. Confor-me Sérgio Pinto Martins (2000,p. 76), o princípio da proteção podeser desmembrado em três dimensões- “in dubio pro operário”, normamais favorável e condição mais be-néfica – embora este autor tenharestrições com relação à aplicaçãodo princípio “in dubio pro operá-rio” no processo do trabalho.

(12) DELGADO, MaurícioGodinho. Capitalismo, Trabalho eEmprego: Entre o Paradigma da

Destruição e os Caminhos de Re-construção. São Paulo: LTr, 2006a,p. 198-199.

(13) ______. Princípios de DireitoIndividual e Coletivo do Traba-lho. São Paulo: LTr, 2004, p. 82.

(14) RODRIGUEZ, Américo Plá.Princípios de Direito do Trabalho.Tradução de Wagner D. Giglio. SãoPaulo: LTr: Ed. da Universidade deSão Paulo, 1978

(15) Não será possível discorrer me-lhor sobre esse assunto no presenteartigo, porquanto tal análise de-mandaria a utilização de muitaspáginas.

(16) A existência de princípios ab-solutos ocasionaria dificuldadespráticas e injustiças. Se, por exem-plo, o princípio da liberdade fosseerigido à categoria de absoluto, asimples menção aos valores que eleencerra seria suficiente para restrin-gir qualquer outro princípio quecom ele colidisse. Isso ocasionariaresultados absurdos na prática,pois, até onde chegasse o direito àliberdade, não existiriam quaisqueroutros direitos fundamentais.

Em nosso sistema jurídico não exis-tem princípios absolutos. O princí-pio do direito à vida constitui umbom exemplo disso. O art. 128,inciso II, do Código Penal, permiteo aborto em caso de estupro – nacolisão do direito à vida de que gozao feto com o também direito fun-damental da mãe à sua dignidadecomo pessoa e à sua liberdade, olegislador ponderou e optou pelaprecedência do direito à dignidadee à liberdade da mãe, em detrimentodo direito à vida do feto.

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Não se discute aqui a respeito doacerto, ou não, do legislador, comrelação à opção efetuada. Apenasse exemplifica o fato de que ne-nhum princípio pode ser conside-rado absoluto em nosso sistema ju-rídico. A ilustração é adequada, vis-to que o direito à vida constitui prin-cípio qualificado por muitos comosupremo.

(17) DELGADO, MaurícioGodinho. Princípios de DireitoIndividual e Coletivo do Traba-lho. São Paulo: LTr, 2004, p. 84.

(18) ALEXY, Robert. Teoría De LosDerechos Fundamentales. 3. ed.Madrid: Centro de Estudios Políti-cos y Constitucionales, 2002, p.86-87.

(19) ______. El Concepto Y LaValidez Del Derecho. Traducción:Jorge M. Seña. Ilustración decubierta: Juan Santana. 2. ed. Bar-celona: Editorial Gedisa, S.A.,2004a, p. 185.

(20) ______. Teoría De LosDerechos Fundamentales. 3. ed.Madrid: Centro de Estudios Políti-cos y Constitucionales, 2002.

(21) PADILHA, Norma Sueli. Co-lisão de Direitos Metaindividuaise a Decisão Judicial. Porto Alegre:Sergio Antonio Fabris Editor, 2006,p.123.

(22) O peso do princípio protetordo empregado está sendo conside-rado, aqui, em abstrato.

(23) KANT, Immanuel. Fundamen-tação da Metafísica dos Costumese Outros Escritos. São Paulo: Edi-tora Martin Claret, 2004

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignida-de da Pessoa Humana e DireitosFundamentais na ConstituiçãoFederal de 1988. Porto Alegre: Li-vraria do Advogado, 2002, p. 32-33.

(24) KANT, Immanuel. Fundamen-tação da Metafísica dos Costumese Outros Escritos. São Paulo: Edi-tora Martin Claret, 2004, p. 59.

(25) VIEIRA, Oscar Vilhena. Direi-tos Fundamentais. Uma Leitura daJurisprudência do STF. São Pau-lo: Malheiros Editores Ltda., 2006,p. 64-67.

(26) Idem, p. 67.

(27) SARLET, Ingo Wolfgang. Dig-nidade da Pessoa Humana e Di-reitos Fundamentais na Constitui-ção Federal de 1988. Porto Alegre:Livraria do Advogado, 2002, p. 45.

(28) Idem, p. 43-44.

(29) Ibidem, p. 46-50.

(30) Ibidem.

(31) Ibidem, p.50.

(32) Aqui emerge a questão da dig-nidade do ser humano que traba-lha, considerando-se que em nossasociedade a maioria das pessoasdepende do labor para sobrevivere ter uma existência digna. Consti-tui tarefa do Estado promovê-la.

(33) Ibidem, p. 56.

(34) VIEIRA, Oscar Vilhena. Direi-tos Fundamentais. Uma Leitura daJurisprudência do STF. São Pau-lo: Malheiros Editores Ltda., 2006,p. 66.

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(35) SARLET, Ingo Wolfgang. Dig-nidade da Pessoa Humana e Di-reitos Fundamentais na Constitui-ção Federal de 1988. Porto Alegre:Livraria do Advogado, 2002, p. 53.

(36) Idem, p. 46.

(37) Ibidem, p. 58.

(38) Ibidem, p. 57-59.

(39) Ibidem, p. 59.

(40) Ibidem.

(41) Ibidem, apud, p. 62.

(42) SARLET, Ingo Wolfgang. Dig-nidade da Pessoa Humana e Di-reitos Fundamentais na Constitui-ção Federal de 1988. Porto Alegre:Livraria do Advogado, 2002.

(43) VIEIRA, Oscar Vilhena. Direi-tos Fundamentais. Uma Leitura daJurisprudência do STF. São Pau-lo: Malheiros Editores Ltda., 2006,p. 36.

(44) SARLET, Ingo Wolfgang. Dig-nidade da Pessoa Humana e Di-reitos Fundamentais na Constitui-ção Federal de 1988. Porto Alegre:Livraria do Advogado, 2002, p. 99-100.

(45) Idem, p. 100-101.

(46) Ibidem, p. 81-82.

(47) Ibidem, p. 84.

(48) Ibidem, p. 102.

(49) Ibidem, p. 103.

(50) Ibidem, p. 103-104.

(51) Ibidem.

(52) Ibidem, p. 106-107.

(53) Ibidem, p. 120.

(54) Ibidem, p. 119-121.

(55) Ibidem, p. 121.

(56) Ibidem, p. 124.

(57) Ibidem, p. 132-133.

(58) Ibidem, p. 137-138.

(59) Ibidem, p. 141-142.

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ATOS NORMATIVOS

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ATOS NORMATIVOS

Assento Regimental n.13, de 26out. 2006 – DOE 31 out. 2006, p.1Altera o § 3º do art. 56 do Regimen-to Interno.

Assento Regimental n.14, de 26out. 2006 – DOE 31 out. 2006, p.1Altera o 6º do Regimento Interno.

Comunicado GP-CR n.100, de 30out. 2006 – DOE 6 nov. 2006, p.1Comunica, nos termos do art. 5° doCapítulo “NOT”, da CNC, que asSecretarias das Varas do Trabalhodeixarão de notificar as partes e seusprocuradores, no período de 5 a 19de dezembro de cada ano, sem pre-juízo da preparação das diligênciasnecessárias à realização das notifi-cações após o término do recesso.

Portaria GP n.36, de 7 nov. 2006 –DOE 8 nov. 2006, p.1Cria o Serviço de ComunicaçãoSocial, subordinado à Secretaria-Geral da Presidência do TRT da 15ªRegião.

Provimento GP-CR n.05, de 9 out.2006 – DOE 10 nov. 2006, p.1Altera o Capítulo “UNI”, da Con-solidação das Normas da Correge-

doria, renomeando-o para Capítu-lo “PROT”, a fim de disciplinar ossistemas de protocolo e encaminha-mento de petições.

Resolução GP-EM n.02, de 8 nov.2006 – DOE 10 nov. 2006, p.2Dispõe sobre o Curso de FormaçãoInicial de Juízes.

Provimento GP-CR n. 06, de 1º nov.2006 – DOE 10 nov. 2006, p.1Altera os artigos 17-A e 17-B doCapítulo “ORD” da Consolidaçãodas Normas da Corregedoria, comrelação à técnica de redação e, tam-bém, com relação aos atos ordina-tórios que não dependam do des-pacho do juiz.

Comunicado da Presidência n.98, de6 nov. 2006 – DOE 16 nov. 2006, p.1Comunica que durante o período de20.12 a 06.01, referente ao recesso doTribunal, o plantão judiciário dejuízes e servidores ocorrerá normal-mente, todos os dias (inclusos 25.12e 01.01), de acordo com os procedi-mentos e horários de atendimento (9às 12 horas) estabelecidos na Resolu-ção Administrativa 07.

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Comunicado da Presidência n.103,de 14 nov. 2006 – DOE 16 nov.2006, p.1Comunica a alteração na escala dejuízes e servidores de 2ª Instância,relativa ao plantão judiciário do Tri-bunal, em 15 nov. 2006 conformeResolução Administrativa 07/2006.

Comunicado GP n.105, de 17 nov.2006 – DOE 22 nov. 2006, p.1Comunica que as secretarias doTribunal, Judiciária e das Turmasdeixarão de notificar as partes e seusprocuradores, no período de 5 a 19de dezembro do corrente ano, semprejuízo das notificações relativasàs medidas urgentes.

Comunicação CR n. 06 de 17 nov.2006 – DOE 23 nov. 2006, p.1Comunica e transcreve, para co-nhecimento, o teor do Provimenton. 03, da Corregedoria-Geral da Jus-tiça do Trabalho, publicado no DJde 8 nov. 2006.

Portaria GP n.37, de 23 nov. 2006– DOE 24 nov. 2006, p.1Autoriza o funcionamento dos ór-gãos do Tribunal Regional do Tra-balho da 15ª Região no dia 8 dedezembro de 2006 (Dia Nacional daConciliação).

Portaria GP n.40, de 5 dez. 2006 –DOE 6 dez. 2006, p.60Fixa os valores, em reais, das diáriasa serem pagas aos magistrados eservidores, e os valores das diáriasnos deslocamentos para o exterior.

Portaria GP n.39, de 5 dez. 2006 –DOE 6 dez. 2006, p.60Fixa os valores, em reais, das diáriasa serem pagas aos magistrados eservidores, e os valores das diáriasnos deslocamentos para o exterior.

Resolução Administrativa n.10, de5 dez. 2006 – DOE 6 dez. 2006, p.59Regulamenta a concessão e o pa-gamento de diárias e passagens aé-reas e rodoviárias no âmbito do TRTda 15ª Região. Revoga as Resolu-ções Administrativas ns.03/2000 e05/2002; e as Portarias GDG ns.01/2000, 17/2000, e GP n.02/2004.

Provimento GP-CR n. 07, de 4 dez.2006 – DOE 11 dez. 2006, p.1Altera o artigo 3° do Capítulo“PET” da Consolidação das Nor-mas da Corregedoria, a fim de es-tabelecer critérios objetivos para oseu cumprimento.

Provimento GP-CR n.08, de 7 dez.2006 – DOE 11 dez. 2006, p.1Prorroga a “vacatio legis” do art.3º do Capítulo PROT da Consoli-dação das Normas da Corre-gedoria.

Comunicado da Presidência n.114,de 6 dez. 2006 – DOE 11 dez. 2006, p.1Antecipação de horário das Audi-ências Públicas de distribuição deprocessos.

Portaria GP-CR n.42, de 7 dez.2006 – DOE 11 dez. 2006, p.1Prorroga a distribuição dos proces-sos baixados do 2° grau e na fasede conhecimento somente para a 2ªVara do Trabalho de LençóisPaulista até 31 de janeiro de 2007.

Ato Regulamentar EM n.01, de 7dez. 2006 – DOE 12 dez. 2006, p.1- Republicação DOE 15 dez. 2006, p.1Regulamenta o Programa de Está-gio no TRT da 15ª Região.

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Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 30, 2007 207

Portaria GPJ n.228, de 12 dez.2006 – DOE 13 dez. 2006, p.1Convoca o juiz José AntônioPancotti para, no período de 11 dedezembro de 6 a 10 de junho de 07,exercer a função de JuizCorregedor Auxiliar desta Corte.

Portaria GPJ n.229, de 12 dez.2006 – DOE 13 dez. 2006, p.1-Republicação DOE 14 dez. 2006.Convoca os juízes auxiliares doTRT da 15ª Região para 2006-2008.- Juiz Auxiliar da Presidência:Wilson Pocidonio da Silva;- Juiz Auxiliar da Vice-PresidênciaAdministrativa: Renan RavelRodrigues Fagundes;- Juiz Auxiliar da Vice-PresidênciaJudicial: Andrea Guelfi Cunha;- Juiz Auxiliar da Corregedoria:Luiz José Dezena da Silva.

Comunicado da Presidência n.118,de 14 dez. 2006 – DOE 19 dez.2006, p.1Comunica a escala de juízes e ser-vidores que estarão de plantão nassedes das circunscrições (Fóruns deCampinas, Sorocaba, São José dosCampos, Ribeirão Preto,Araçatuba, Presidente Prudente,São José do Rio Preto e Bauru) noperíodo de recesso, entre os dias 20e 31 de dezembro de 2006.

Comunicado da Presidência n.119,de 14 dez. 2006 – DOE 19 dez.2006, p.2Comunica a escala de juízes e ser-vidores que estarão de plantão na2ª Instância do Tribunal, no perío-do de recesso, entre os dias 20 e 31de dezembro de 2006.

Portaria GP-CR n.44, de 15 dez.2006 – DOE 19 dez. 2006, p.2Regulamenta os dias em que nãohaverá expediente nos órgãos daJustiça do Trabalho da 15ª Regiãono ano de 2007.

Comunicado da Presidência n.124,de 19 dez. 2006 – DOE 22 dez.2006, p.4Comunica a escala de juízes e ser-vidores que estarão de plantão na2ª Instância do Tribunal, no perío-do de 1° de janeiro a 31 de marçode 2007.

Comunicado da Presidência n.123,de 19 dez. 2006 – DOE 22 dez.2006, p.1Comunica a escala de juízes e ser-vidores que estarão de plantão nassedes das Circunscrições (Fóruns deCampinas, Sorocaba, São José dosCampos, Ribeirão Preto,Araçatuba, Presidente Prudente,São José do Rio Preto e Bauru), du-rante o recesso, feriados e finais desemana, no período de 1° de janei-ro a 31 de março de 2007.

Portaria SPV n.975, de 19 dez.2006 – DOE 22 dez. 2006, p.4Designa servidores para comporema Comissão Permanente de Disci-plina pelo prazo de 1 ano a partirda publicação. (19 dez. 2006 - 18dez. 2007).

Portaria GP-CR n.45, de 19 dez.2006 – DOE 3 jan. 2007, p.23Prorroga a distribuição dos proces-sos baixados do 2° grau somente paraa 3ª Vara do Trabalho de Araraquaraaté atingir o número de 1.354 feitos,independentemente de data.

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Comunicado da Presidência n.01, de5 jan. 2007 – DOE 8 jan. 2007, p.1Comunica a constituição das Tur-mas e das Seções Especializadas doTribunal.

Comunicado da Presidência n.02,de 10 jan. 2007 – DOE 11 jan.2007, p.1Comunica a alteração na esca-la de juízes e servidores que es-tarão de plantão na 2ª Instân-cia do Tribunal, nos dias 13 e 14de janeiro de 2007.

Portaria GP n.01, de 10 jan. 2007– DOE 12 jan. 2007, p.1Torna público os valores do subsí-dio mensal dos magistrados e daremuneração dos cargos dos servi-dores do Tribunal.

Comunicado da Presidência n.04,de 19 jan. 2007 – DOE 23 jan.2007, p.1Comunica a escala de juízes e ser-vidores do Plantão Judiciário na 2ªInstância, nos meses de fevereiro emarço de 2007.

Provimento GP-CR n.01, de 24 jan.2007 – DOE 29 jan. 2007, p.1-Republicação DOE 31 jan. 2007Altera a redação e a vigênciado art. 3°. do Capítulo PROTda Consolidação das Normasda Corregedoria.

Portaria SPV n.84, de 17 jan. 2007– DOE 30 jan. 2007, p.1Designa servidores para integrarema Comissão de Recebimento deMater ia i s Permanentes e deExpediente. Revoga a PortariaSPV n. 1284, de 16 nov. 2005.

Portaria SPV n.85, de 17 jan. 2007– DOE 30 jan. 2007, p.1Designa servidores para integrarema Comissão de Exame de MaterialPermanente. Revoga a PortariaSPV n. 1283, de 16 nov. 2005.

Portaria SPV n.86, de 17 jan. 2007– DOE 30 jan. 2007, p.1Designa servidores para integrarema Comissão Especial de Recebimen-to de Equipamentos de Informática:Revoga a Portaria SPV n.498, de 26.jun. 2006.

Portaria GP-CR n.03, de 30 jan.2007 – DOE 1º fev. 2007, p.3Prorroga a distribuição dos proces-sos baixados do 2° grau somentepara a 2ª Vara do Trabalho deJacareí por mais um ano e seis me-ses, até que se atinja o número de7.444 feitos.

Comunicado da Presidência n. 06 de30 jan. 2007 – DOE 1º fev. 2007, p.1Comunica a efetiva escala de juízesque atuaram no Plantão Judiciário,nas sedes das Circunscrições(Fóruns de Campinas, Sorocaba,São José dos Campos, Ribeirão Pre-to, Araçatuba, Presidente Pruden-te, São José do Rio Preto Bauru) nosfinais de semana e feriados, no pe-ríodo de 1º de outubro a 17 de de-zembro de 2006, durante o recessoentre os dias 20 de dezembro de2006 e 6 de janeiro de 2007, e nodia 7 de janeiro de 2007.

Portaria GP-VPJ n.02 , de 9 fev.2007 – DOE 14 fev. 2007, p.1Disciplina serviço de autenticaçãode traslado.

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Portaria GP n.04 , de 14 fev. 2007– DOE 23 fev. 2007, p.1Regulamenta a divulgação e afixa-ção de cartazes.

Portaria GP n.05, de 5 mar. 2007 –DOE 7 mar. 2007, p.2Designa servidores para atuaremcomo PREGOEIROS nesta Corte,bem como para comporem equipesde apoio nos processos licitatóriosna modalidade Pregão.

Assento Regimental n.01, de 13mar. 2007 – DOE 19 mar. 2007, p.1Altera artigos do Regimento Interno.

Portaria GP-VPJ n.03, de 20 mar.2007 – DOE 26 mar. 2007, p.1Regulamenta os procedimentos deEliminação de Autos Findos eDocumentos Administrativos noâmbito deste Tribunal.

Portaria GP n. 06 de 20 mar. 2007– DOE 26 mar. 2007, p.1Altera a constituição da ComissãoPermanente de Avaliação deDocumentos do Tribunal Regionaldo Trabalho da 15ª Região, quepassará a ser composta por ummembro de cada uma das seguintesunidades: Secretaria-Geral daPresidência; Corregedoria-Regional;Diretoria-Geral de CoordenaçãoAdministrativa; Diretoria Adminis-trativa; Diretoria de Informática;Secretaria Judiciária; Centro deMemória, Arquivo e Cultura; Setorde Arquivo.

Comunicado PR n.19, de 22 mar.2007 – DOE 28 mar. 2007, p.1Comunica a escala de Juízes e

Servidores que estarão de plantãona 2ª Instância deste E. Tribunal,no período de 1º de abril a 30 dejunho de 2007, conforme ResoluçãoAdministrativa n.07, publicada noDOE-PJ de 04.08. 2006 observan-do que podem ocorrer modifica-ções de acordo com a necessidade.

Comunicado PR n.20, de 22 mar.2007 – DOE 28 mar. 2007, p.1Comunica a escala de Juízes e Ser-vidores que estarão de plantão nassedes das Circunscrições (Fóruns deCampinas, Sorocaba, São José dosCampos, Ribeirão Preto,Araçatuba, Presidente Prudente,São José do Rio Preto e Bauru), noperíodo de 1º de abril a 30 de ju-nho de 2007, conforme ResoluçãoAdministrativa n. 07, publicada noDOE-PJ de 04.08.2006 observandoque podem ocorrer modificações deacordo com a necessidade de cadalocalidade.

Portaria GP-VPJ n.04, de 26 mar.2007 – DOE 30 mar. 2007, p.1A transmissão de pet ições edocumentos dirigidos ao TribunalRegional do Trabalho da 15ª Regiãopoderá ser feita por meio defac-símile, utilizando-se, exclusi-vamente, as linhas telefônicas números(19) 3232-5491, para os relativos aprecatórios, (19) 3233-7144, para osprocessos de competência recursal,(19) 3234-8709, para os de compe-tência originária deste Tribunal, e(19) 3236-2100 - ramal: 1069, paraas reclamações correicionais.Revoga a Portaria GP 26/2004.

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JURISPRUDÊNCIA

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1ª SEÇÃO DE DISSÍDIOS INDIVIDUAIS

01 - MANDADO DE SEGURAN-ÇA. APLICAÇÃO DE PENALIDA-DE DISCIPLINAR

Aplicação de penalidade discipli-nar, por superintendente deautarquia estadual, não configuraato de autoridade e exige ampla

dilação probatória para elu-cidação dos fatos controvertidos.Mandado de segurança incabível.TRT/SP 15ª Região 2492-2005-067-15-00-7 - Ac. 1ªSDI 98/07-PDI1. Rel. Tereza Aparecida AstaGemignani. DOE 16 fev. 2007,p. 3.

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2ª SEÇÃO DE DISSÍDIOS INDIVIDUAIS

01 - AÇÃO RESCISÓRIA. CERTI-DÃO DE TRÂNSITO EM JULGA-DO. VERIFICAÇÃO DE ERROS

Em face da extrema importânciados dados fornecidos pela certidãode trânsito em julgado, a verifica-ção de erros insanáveis (inclusivecom relação a datas) neste docu-mento impõe ao julgador o enviode ofício à Vara do Trabalho, dan-do ciência do descuido e recomen-dando maior zelo em sua confec-ção. AÇÃO RESCISÓRIA. DOCU-MENTO NOVO. CARACTE-RIZAÇÃO. Na acepção do incisoVII do art. 485 do CPC, documen-to novo apto a ensejar a descons-tituição do julgado é o cronologi-camente velho, ou seja, que já exis-tia ao tempo do processo originá-rio, mas que o autor ignorava suaexistência ou dele não pôde fazeruso em tempo oportuno, sendo pri-mordial, ainda, que tal documen-to, por si só, seja capaz de lhe asse-gurar pronunciamento favorável.AÇÃO RESCISÓRIA. DOCU-MENTO NOVO. REQUISITOS:AUSÊNCIA DE CULPA PELANÃO UTILIZAÇÃO OPORTUNA,

PERTINÊNCIA COM OS FATOSALEGADOS E CAPACIDADEDESTE DOCUMENTO DE ASSE-GURAR PRONUNCIAMENTOFAVORÁVEL.- Além de haver ne-cessidade de que a parte que lançamão do "documento novo" em açãorescisória não haver apresentadoculpa por sua não utilização opor-tuna, impõe-se a pertinência comos fatos alegados e a característicade que tal documento "seja capaz,por si só, de assegurar um pronun-ciamento favorável ao autor". É oque esclarece com propriedadeManoel Antônio Teixeira Filho: "Aexigência é lógica: se se tratar dedocumento destituído de aptidãopara modificar o resultado do jul-gamento, tornando-o favorável aoautor, é elementar que nenhumaimportância ele possuirá , daí por-que a pretensão rescisória deveráser repelida. (...) o que se deve con-siderar é a possibilidade de o docu-mento acarretar a modificação dojulgado quanto a um ou alguns dospedidos formulados perante o juízoemitente da sentença rescindenda".AÇÃO RESCISÓRIA. ERRO DEFATO. O erro de fato apto a ensejar

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a rescisão de um julgado consisteem a sentença admitir um fatoinexistente ou considerar inexis-tente um fato efetivamente ocorri-do, havendo necessidade de que oerro incida sobre o fato em si, sobrea ocorrência ou não de determina-do acontecimento. Em outras pala-vras, para que eventual erro de fatodê causa à rescisão pretendida, faz-se necessário que a sentença nele seescore e que o erro se demonstrepatente mediante o simples examedos documentos e demais peçasconstantes dos autos, não se admi-tindo, de modo algum, a produçãode quaisquer outras provas. AÇÃORESCISÓRIA. INTEGRAÇÃO AOFEITO DE TODOS AQUELES QUE

COMPUSERAM A RELAÇÃO JU-RÍDICO-PROCESSUAL DE ORI-GEM. IMPRESCINDIBILIDADE.Considerando-se que o juízorescindendo decide acerca da ma-nutenção da decisão condenatóriano mundo jurídico, não se cindindoo ato apenas para alguns dos par-ticipantes da relação jurídica pro-cessual de origem, é primordial quetodos aqueles que a compuseramsejam chamados a integrar o feito,sob pena de se fulminar a validadeda constituição regular da açãorescisória e sua eficácia decisória.TRT/SP 15ª Região 1486-2003-000-15-00-2 - Ac. 2ªSDI 36/07-PDI2.Rel. Olga Aida Joaquim Gomieri.DOE 26 jan. 2007, p. 8.

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Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 30, 2007 217

01 - ACORDO. PERANTE ACOMISSÃO DE CONCILIAÇÃOPRÉVIA. QUITAÇÃO GERAL.INEXISTÊNCIA DE VÍCIO DECONSENTIMENTO. VALIDADE

Não havendo prova da existênciade qualquer vício que possa termaculado a manifestação de von-tade exarada por pessoa absoluta-mente capaz para a prática dos atosda vida civil, deve ser consideradaplenamente válida a quitação geralconferida, perante a Comissão deConciliação Prévia, ao extinto con-trato de trabalho, inclusive em re-lação a verbas não pleiteadas, es-pecialmente em se considerandoque foi o próprio trabalhador quemprocurou a referida entidade. En-tendimento em sentido contráriotornaria letra morta o disposto noart. 625-E, parágrafo único, daCLT, e demais dispositivos pertinen-tes às Comissões de ConciliaçãoPrévia. TRT/SP 15ª Região 1904-2004-043-15-00-0 - Ac. 3ªCâmara57.349/06-PATR. Rel. EdmundoFraga Lopes. DOE 1º dez. 2006, p. 29.

02 - ADICIONAL DE INSALUBRI-DADE. BASE DE CÁLCULO APARTIR DA CF/1988. REMUNE-RAÇÃO

A CF, em seu art. 7º, inciso IV, vedaa vinculação do salário mínimopara qualquer fim, enquanto seuinciso XXIII, para qualificar o adi-cional que deve ser pago pelo salá-rio prestado em condições penosas,insalubres ou perigosas, utiliza aexpressão "remuneração" em vez de"salário". A intenção do legisladorconstituinte, ao elevar a base decálculo do adicional de insalubrida-de, determinando sua incidênciasobre a remuneração, acabou poratender à própria finalidade socialda norma, que é a de estimular oempregador a investir em máqui-nas e equipamentos, com o objeti-vo de neutralizar ao máximo osagentes insalubres existentes noambiente de trabalho. Assim, a par-tir do advento da CF/88, encontra-se derrogada a regra do art. 192 daCLT, na parte atinente à base decálculo do adicional de insalubrida-

DIREITO MATERIAL

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de, por absoluta incompatibilidadecom as disposições citadas. Aliás,nesse sentido já decidiu o E. STF (RE236396/MG, DJ de 20 nov. 1998,2.140). Portanto, o percentual res-pectivo deve incidir sobre a remu-neração auferida pelo empregado.TRT/SP 15ª Região 1789-2004-010-15-00-3 - Ac. 10ªCâmara 7.316/07-PATR. Rel. Fernando da SilvaBorges. DOE 23 fev. 2007, p. 56.

03 - ADICIONAL DE TRANSFE-RÊNCIA. MUDANÇA DE DOMI-CÍLIO CUMULADA COMTRANSFERÊNCIA PROVISÓRIA

Toda "pessoa natural" pode termais de 1 (uma) residência. Mas sóterá 1 (um) domicílio, assim consi-derado o lugar onde se estabelecercom "ânimo definitivo" (art. 31CCB-16), devendo o "ânimo defini-tivo" ser, no âmbito do Direito doTrabalho, judicialmente avaliadoem função do contrato de trabalho,o gerador de direitos e obrigaçõesentre as partes. E não em relação aeventos ocorridos após o términoda relação de emprego, mormentemudança domiciliar do ex-empre-gado para local diverso do da anti-ga prestação de serviços, alheiosque são ao pacto laboral anterior-mente findo, para que só assimhaja, em face das exigências apa-rentemente contraditórias feitaspelo art. 469 CLT, compatibilizaçãoentre "mudança" de domicílio e, aomesmo tempo, transferência provi-sória. TRT/SP 15ª Região 2694-2002-014-15-00-0 - Ac. 5ªCâmara11.802/07-PATR. Rel. Veva Flores.DOE 23 mar. 2007, p. 71.

04 - APOSENTADORIA ESPON-TÂNEA. REFLEXO NO CONTRA-TO DE TRABALHO. ART. 453, §

2º, DA CLT. INDENIZAÇÃO DE40% DO FGTS. ADIN N. 1.721-3

A decisão do STF proferida naADIn n. 1.721-3 culminou com ainconstitucionalidade do § 2º doart. 453 da CLT, o que implica oreconhecimento de que a aposen-tadoria espontânea não constituijusta causa para a extinção do con-trato de trabalho e torna devida,nas hipóteses de continuidade darelação de emprego e posterior dis-pensa por iniciativa do emprega-dor, a indenização de 40% sobre osdepósitos do FGTS de todo o perío-do contratual. TRT/SP 15ª Região169-2006-114-15-00-2 - Ac. 2ªCâ-mara 1634/07-PATR. Rel. EduardoBenedito de Oliveira Zanella. DOE19 jan. 2007, p. 22.

05 - ATLETA PROFISSIONAL.EMPRÉSTIMO. CO-RESPONSA-BILIDADE. ENTIDADE DES-PORTIVA CEDENTE E CESSIO-NÁRIA. DECRETO N. 2.574/98.IMPOSSIBILIDADE

O Decreto regulamentador n.2.574/78, em seu art. 38, § 4º, aoconsiderar a entidade cedente co-obrigada ao pagamento dos valo-res convencionados entre a entida-de desportiva cessionária e o joga-dor anuente, no período de emprés-timo, extrapolou os limites de suaatuação, visto que a norma origi-nária (Lei n. 9.615/98), de tal res-ponsabilidade não cogitou. Porcorolário, sendo incontestável quea sua origem se deu no executivo(art. 84, IV, da CF), em evidentedissonância como a norma originá-ria do Legislativo, naquilo que ex-cede à sua competência, por óbvio,não obriga, pelo que não subsiste acondenação solidária da entidade

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Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 30, 2007 219

que figurou na condição de cedentedo atleta profissional, no períodoem que este atuou, por empréstimo,junto ao cessionário. TRT/SP 15ªRegião 1424-2004-008-15-00-2 - Ac.10ªCâmara 52.887/06-PATR. Rel.Elency Pereira Neves. DOE 10 nov.2006, p. 69.

06 - CONTRATO DE TRABALHO.ATIVIDADE ILÍCITA. CASA DEJOGOS (CARTEADO). EFEITOSDA NULIDADE TRABALHISTA.INDENIZAÇÃO PELO EQUIVA-LENTE. A SE EVITAR O ENRI-QUECIMENTO ILÍCITO DOCONTRAVENTOR MAIOR. OEXPLORADOR DO NEGÓCIO ILÍ-CITO

Inconteste que o contrato de traba-lho para sua validade requer alicitude do objeto, logo em ativida-de ilícita não há que se falar em re-lação de emprego. É certo tambémque a nulidade do contrato de tra-balho gera efeitos ex nunc, haja vis-ta a natureza infungível do labor,que uma vez despendido não temcomo ser restituído ao agente. Daícomportar indenização peloequivalente da prestação dos servi-ços, mesmo em atividade ilícita.Como forma de contribuir para coi-bir os negócios escusos, impondo aocontraventor maior uma indeniza-ção pecuniária, de modo a evitar oseu enriquecimento ilícito à custa dotrabalhador, com a complacênciado Judiciário Trabalhista. Os prin-cípios da proteção, da primazia darealidade, do enriquecimento semcausa, da irretroatividade das nu-lidades e a impossibilidade da vol-ta ao status quo ante, dão susten-tação a tal modalidade reparatória.Afinal a Justiça é cega, mas o juiznão. A decisão deve ser mais justa

e equânime possível, atendendo aosfins sociais da lei e as exigências dobem comum. Recurso do reclaman-te provido para conceder umaindenização contraprestacional deR$ 5.000,00. TRT/SP 15ª Região1532-2005-113-15-00-0 - Ac. 11ªCâ-mara 8.179/07-PATR. Rel. Edisondos Santos Pelegrini. DOE 2 mar.2007, p. 10.

07 - CONTRIBUIÇÃO PREVIDEN-CIÁRIA

Os empregados aposentados doBanco Nossa Caixa S/A, contrata-dos antes da Lei n. 10.430/71, nãopodem sofrer o desconto de contri-buição previdenciária criada pelaEC n. 41. O trabalhador aposenta-do não pode ficar ao sabor da von-tade do agente político controlador,notadamente porque a supostatransferência de folha de pagamen-to para Fazenda Estadual teve oóbvio intuito de legitimar a cobran-ça da contribuição previdenciáriados inativos. TRT/SP 15ª Região717-2006-073-15-00-3 - Ac. 7ª Câ-mara 12.137/07-PATR. Rel. RenatoHenry Sant´Anna. DOE 23 mar.2007, p. 89.

08 - CONTRIBUIÇÃO SINDICAL.PATRONAL. COBRANÇA

Não exigência da certidão de dívi-da prevista no art. 606 da CLT. Oart. 606 da CLT, que previa a expe-dição de certidão de dívida paraviabilizar a cobrança de contribui-ção sindical, não foi recepcionadopela CF/88, que em seu art. 8º,inciso I, expressamente vedou a in-gerência estatal em entidades sin-dicais. TRT/SP 15ª Região 0155-2006-028-15-00-3 - Ac. 2ªCâmara10.500/07-PATR. Rel. FábioGrasselli. DOE 16 mar. 2007, p. 12.

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09 - CONVENÇÃO COLETIVA.OBRIGATORIEDADE. FUNDA-ÇÃO PÚBLICA

As fundações públicas são regidaspelo princípio da legalidade, de quetrata o caput, do art. 37, da CF. Nãopodem ser obrigadas por normasestabelecidas entre entidades sindi-cais signatárias de convenções co-letivas, que não as representam. AoPoder Público não é dado reunir-seem associações de natureza priva-da, como os sindicatos. Ademais,eventuais acréscimos de despesasresultantes da aplicação de tais ins-trumentos normativos viola o incisoII, do art. 167, bem como os incisosI e II, do art. 1º, do art. 169, da CF.TRT/SP 15ª Região 1206-2001-057-15-00-5 - Ac. 3ªCâmara 57.370/06-PATR. Rel. Ricardo Regis Laraia.DOE 1º dez. 2006, p. 30.

10 - DANO MORAL

O dano à moral deve ser compre-endido como aquele causado a ou-trem que não tenha naturezapatrimonial. É o sofrimento huma-no provocado por determinado atoilícito de terceiro que molesta bensimateriais ou magoa valores íntimosda pessoa. Trata-se da dor oriundada violação de um bem juridica-mente tutelado sem repercussãopatrimonial. Por conseguinte, emvirtude de um ato ilícito, sobrevin-do perturbação nas relações psíqui-cas, na tranqüilidade, nos entendi-mentos e nos afetos de uma pessoa,configura-se o dano moral, perfei-tamente passível de indenização.Destarte, merece acolhida a teseque busca fixação do quantum rele-vante para pagamento de indeni-zação face à necessidade de repa-ração da lesão sofrida com eficáciana punição para o agente causa-

dor. Recurso do reclamante que sedá provimento para majorar a in-denização arbitrada. TRT/SP 15ªRegião 1353-2003-042-15-00-8 - Ac.6ªCâmara 6.801/07-PATR. Rel.Marcelo Garcia Nunes. DOE 16 fev.2007, p. 28.

11 - DANO MORAL. PROVA NE-CESSÁRIA. PEDIDO DE DEMIS-SÃO VERSUS RESCISÃO INDIRE-TA

O deferimento de indenização pordano moral, consistente em alegadaagressão e ofensa verbal, exige pro-va robusta, sendo necessária em vis-ta de que mesmo diante de prova-do desentendimento não se presu-me. Por presunção não se condenaa indenizar. Outrossim, mesmo queprovada a agressão e ofensa verbalnem por isso nulo seria o pedido dedispensa formulado pelo emprega-do, visto que todo trabalhador temà sua disposição a rescisão indiretado contrato de trabalho prevista noart. 483, alínea "b" da CLT. Recur-so ordinário conhecido e de provi-mento negado. TRT/SP 15ª Região847-2004-021-15-00-5 - Ac. 12ªCâ-mara 2.809/07-PATR. Rel. LuizFelipe Paim da Luz Bruno Lobo.DOE 19 jan. 2007, p. 48.

12 - DANO MORAL. VIOLAÇÃOÀ INTIMIDADE E PRIVACIDA-DE. CARACTERIZAÇÃO

A indenização por dano moral en-contra fundamento legal nas dispo-sições contidas no art. 5º, incisos Ve X, da CF/88, de cuja leitura che-ga-se à conclusão de que o deverde reparar decorre da violação dosdireitos individuais de cada cidadãorelativamente à sua intimidade, pri-vacidade, honra e imagem. Ora,admitido como fato incontroverso

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nos autos a existência de câmera ins-talada no banheiro feminino doestabelecimento, direcionada ao lo-cal onde se encontra o vaso sanitá-rio e captando imagens que eram exi-bidas na sala do sócio-proprietárioda empresa, a alegação de desconhe-cimento da existência do referidoequipamento, evidentemente, nãoencontra qualquer sustentação noconjunto probatório. Assim, flagran-te o desrespeito por parte do empre-gador à intimidade da trabalhado-ra, restando configurado o danomoral, em face da violação aos di-reitos protegidos pelos dispositivosconstitucionais supramencionados.TRT/SP 15ª Região 1090-2005-032-15-00-1 - Ac. 10ªCâmara 5.796/07-PATR. Rel. Fernando da SilvaBorges. DOE 9 fev. 2007, p. 80.

13 - DANOS MORAIS E MATERI-AIS DECORRENTES DE DOENÇAPROFISSIONAL. PRESCRIÇÃO.AÇÃO AJUIZADA JUNTO À JUS-TIÇA COMUM ANTES DA EC N.45/04. APLICAÇÃO DO INCISOXXIX DO ART. 7º DA LEI MAIOR.IMPOSSIBILIDADE

O Legislador, sabiamente, positivoua função social da aplicação das nor-mas através do art. 5º da LICC (De-creto-lei n. 4.657/42), que por cui-dar-se de norma de sobredireito, tam-bém é plenamente aplicável no bojoda solução de controvérsias traba-lhistas. Assim, compete ao Juiz bus-car atender aos fins sociais imanentesà lei, bem como às exigências do bemcomum, quando da efetiva aplicaçãoda norma expressa para a soluçãodos conflitos intersubjetivos que lhesão trazidos pelos jurisdicionados. Incasu, o trabalhador ajuizou a presen-te ação em 21 jun. 2002 (fl. 02) pe-rante a Justiça Comum, quando es-

tava vigente o Código Civil passa-do, em que se garantia aexigibilidade dos direitos às repa-rações pecuniárias por danos mo-rais e materiais decorrentes do aci-dente do trabalho pelo prazo de 20(vinte) anos, consoante dispunha oart. 177 daquele mesmo Código.Não se enxerga, até aí, nenhum lap-so grosseiro imputável ao recla-mante, desde que se reconheça,para tanto, que ainda hoje pendecontrovérsia judicial acerca da com-petência para o julgamento dasações que envolvam empregado eempregador através de pedido dereparação civil por lesões morais emateriais decorrentes de acidentedo trabalho. Consigne-se que, se oescopo do Direito Processual con-temporâneo é mesmo o de sublimara instrumentalidade do processo,como veículo da prestaçãojurisdicional e efetivação de justiçapelo Estado, data venia dos respei-táveis, doutos e possíveis entendi-mentos contrários ao que ora seadota, conclui-se que a aplicação dodispositivo legal trabalhista (incisoXXIX do art. 7º) in casu, por maisparadoxal que possa parecer, violao princípio da proteção do traba-lhador, com o que, entre o princí-pio e a lei, fica-se com o primeiro.TRT/SP 15ª Região 0781-2005-051-15-00-6 - Ac. 11ªCâmara 11.052/07-PATR. Rel. Fany Fajerstein. DOE16 mar. 2007, p. 52

14 - DANOS MORAIS. PRESCRI-ÇÃO. PRAZO. INCIDÊNCIA, NAHIPÓTESE DOS AUTOS, DOART. 7º, XXIX, DA CF, E NÃO DOCC/1916. PREVALÊNCIA DANORMA ESPECIAL SOBRE A GE-NÉRICA. DISPOSITIVO QUEABRANGE TODOS OS CRÉDITOSRESULTANTES DAS RELAÇÕES

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DE TRABALHO, INCLUSIVE AINDENIZAÇÃO POR DANOSMORAIS. MARCO INICIAL: VI-GÊNCIA DA EC N. 45/04 PARAOS CASOS OCORRIDOS ANTE-RIORMENTE E A DATA DO FATOPARA OS POSTERIORES

O prazo prescricional para postu-lar indenização por danos moraisresultantes das relações de trabalhoé o previsto no art. 7º, XXIX, da CF,na medida em que a norma, por-que específica, deve prevalecer so-bre a genérica inserta no CódigoCivil. A expressão "créditos resul-tantes das relações de trabalho",usada pelo referido dispositivo,abrange não só os de natureza sa-larial e indenizatória, mas tambémquaisquer outros decorrentes darelação trabalhista, inclusive o re-presentado pela indenização pordanos morais. O pedido deve serformulado no lapso de 5 anos dadata do fato, se persistir o contra-to, limitado a 2 anos a contar doseu rompimento. Considerando queos prazos aplicáveis nesta Justiçasão inferiores aos do CC/1916, omarco de fluência da prescrição,relativamente aos fatos ocorridosantes da vigência da EC n. 45/04,é a data em que esse diploma en-trou em vigor, sob pena de o direi-to já nascer extinto, o que, por ób-vio, não se pode admitir. TRT/SP15ª Região 208-2003-041-15-00-3 -Ac. 8ªCâmara 2.245/07-PATR.Rel. Vera Teresa Martins Crespo.DOE 12 jan. 2007, p. 92.

15 - DANOS MORAIS. REUNIÃODE PASTORES. OFENSAS PESSO-AIS. CONFIGURAÇÃO

Restando comprovado nos autosque, durante uma reunião, o recla-mante foi vítima de diversos epítetos

ofensivos à sua pessoa, como "pre-guiçoso", "endemoniado", "pertur-bado", "malandro", tem-se por evi-denciada a ofensa à sua honra eimagem pessoal, máxime conside-rando-se que os fatos ocorreramdiante de centenas de pastores, e,inclusive, de sua esposa. Abstraçãofeita à questão relativa aos fins daentidade recorrente - se econômi-cos ou religiosos -, é certo que pes-soa alguma, no exercício de seupoder hierárquico, está autorizadaa ofender a outrem, sendo impera-tivo o respeito mútuo nas relaçõeshumanas. O poder de direção e fis-calização do empregador não oautoriza a avançar por sobre a hon-ra e a imagem das pessoas, causan-do-lhes constrangimentos evulnerando a dignidade humana.A indenização por danos morais émedida de rigor, como forma decompensação pela dor e sofrimen-to íntimos causados ao reclaman-te. TRT/SP 15ª Região 1745-2005-051-15-00-0 - Ac. 6ªCâmara10.247/07-PATR. Rel. Ana PaulaPellegrina Lockmann. DOE 16 mar.2007, p. 26.

16 - DEFICIENTE FÍSICO. INE-XISTÊNCIA DE ESTABILIDADE.POSSIBILIDADE DE DISPENSA.DIREITO DIFUSO

Não há vedação legal à demissãodo deficiente físico, excepcionada ahipótese de explícito ato discrimi-natório, caso em que incide o dis-posto na Lei n. 9.029/95. A Cons-tituição da República permite a des-pedida arbitrária ou sem justa cau-sa (art. 7º, inciso I), impondo ape-nas o pagamento de uma indeni-zação compensatória. Tem o em-pregador, portanto, o direito deproceder à dispensa arbitrária de

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seu empregado portador de defici-ência (cegueira), salvo quando estativer decorrido de acidente do tra-balho. Nos termos do art. 93 da Lein. 8.213/91, empresas com mais de100 empregados devem preenchercertos percentuais de seus cargos(que variam de 2 a 5%) combeneficiários reabilitados pelo INSSou pessoas portadoras de deficiên-cia, habilitadas. O § 1º do citadoartigo, no entanto, não prevê a es-tabilidade desses empregados, exi-gindo apenas a prévia contrataçãode substituto em condição seme-lhante. Tal garantia não consiste emdireito individual do empregado,mas sim em dever jurídico impostoà empresa de contratar previamen-te o substituto, configurando dire-to difuso que, como tal, não seamolda à postulação em caráterindividual. Devem os legitimadoscoletivamente (como sindicato eMinistério Público do Trabalho)valer-se de ação de caráter coletivoou ação civil pública para que even-tual lesão seja reparada. TRT/SP15ª Região 1159-2005-096-15-00-6- Ac. 1ªCâmara 3.199/07-PATR.Rel. Wilton Borba Canicoba. DOE 26jan. 2007, p. 12.

17 - DESCONTO SALARIAL. PER-DA DE NUMERÁRIO EM ASSAL-TO. DESCUMPRIMENTO DE NOR-MA DA EMPRESA. INADMISSI-BILIDADE

Ainda que a reclamada tenha jun-tado declaração escrita autorizan-do o desconto, há de se destacarque o risco da atividade econômicapertence ao empregador, consoan-te regra inserta no art. 2º da CLT,não sendo admissível sua transfe-rência ao empregado. Portanto,mesmo que se pudesse argumentar

que o reclamante haviadescumprido regras contratuaisquanto ao recolhimento do dinhei-ro no cofre, o que culminou na"perda" do numerário em assalto,caberia ao empregador, que detémo jus variandi, aplicar penalidade aotrabalhador pela falta cometida, aqual, dependendo da gravidade,poderia constituir até mesmo emdespedida por justa causa. Contu-do, em hipótese alguma, é admiti-da a efetivação de descontos em seusalário a tal título, porquanto este éintangível, conforme expressa dis-posição do art. 462 da CLT. Recur-so ordinário não-provido. TRT/SP15ª Região 652-2006-088-15-00-5 -Ac. 5ªCâmara 11.901/07-PATR.Rel. Lorival Ferreira dos Santos.DOE 23 mar. 2007, p. 74.

18 - DIREITO CIVIL. DANO MO-RAL. REVISTA DE EMPREGA-DOS EM RAZÃO DE FURTOINEXISTENTE

A situação vexatória consistente narevista efetuada aos empregadosem face de suposto furto de nume-rário, que, depois, percebeu-seinexistente, evidencia o grau deconstrangimento a que foram sub-metidos os trabalhadores, que aca-baram por consentir permanece-rem nus diante de um fiscal daempresa, tornando-se alvo de go-zações numa cidade de pequenoporte, em que prevalece o trabalhorural. Além de constrangedor, talfato representa gravame à honrados empregados. Configurada aconduta comissiva adotada peloempregador, caracterizado está odano, afigurando-se devida a inde-nização. Aplicação dos arts. 186 e927, CC. Recurso improvido. TRT/SP 15ª Região 1657-2005-052-15-

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00-4 - Ac. 3ªCâmara 300/07-PATR.Rel. Luciane Storel da Silva. DOE12 jan. 2007, p. 54.

19 - DIREITO CIVIL. DIREITO DOTRABALHO. DANO MORAL.ANOTAÇÃO ILEGAL NA CTPS

O empregador é responsável pelaimagem do empregado junto à so-ciedade, devendo prover condiçõesjustas e favoráveis ao trabalho.Anotações ilegais realizadas naCTPS em cumprimento ao acordojudicial prejudicam a imagem dotrabalhador frente ao mercado detrabalho, pois entre dois trabalha-dores, em iguais condições de tra-balho, tendo somente um deles pro-vocado esta Especializada, optar-se-ia pela contratação do outro.Havendo dano à imagem ou aoconceito que a sociedade possui dedeterminada postura, decorrentedo ato inquinado das anotaçõesprocedidas pelo empregador, nãohá como afastar a ocorrência dodano moral. Conforma-se, igual-mente, inegável prejuízo decorren-te de dano material na modalidadede lucros cessantes. Recurso provi-do. TRT/SP 15ª Região 386-2006-070-15-00-2 - Ac. 3ªCâmara51.873/06-PATR. Rel. LucianeStorel da Silva. DOE 10 nov. 2006,p. 33.

20 - DOENÇA PROFISSIONAL.EMPREGADO APOSENTADOPOR TEMPO DE SERVIÇO POS-TERIORMENTE DISPENSADO.DIREITO À GARANTIA PROVI-SÓRIA DE EMPREGO

O empregado aposentado por tem-po de serviço que continua traba-lhando na empresa não perde o di-reito à garantia provisória de em-prego prevista no art. 118 da Lei n.

8.213/91, bastando que tenha so-frido acidente de trabalho típico ouque seja portador de doença pro-fissional ou do trabalho, nos termosda lei, e que tenha se afastado pormais de quinze dias. A questão daimpossibilidade de cumulação debenefícios, prevista no art. 124 dareferida lei, é exclusivamente previ-denciária, de interesse do segura-do e da autarquia, não afetando asobrigações do empregador em facedo empregado. TRT/SP 15ª Região1038-2003-085-15-00-9 - Ac. 1ªCâ-mara 6.933/07-PATR. Rel. ThelmaHelena Monteiro de Toledo Vieira.DOE 23 fev. 2007, p. 25.

21 - EMPREGADO PORTADORDE LEUCEMIA. REINTEGRA-ÇÃO INDEVIDA. MANUTEN-ÇÃO DA QUALIDADE DE SEGU-RADO

A preocupação social de salvaguar-dar o direito à vida do trabalhadorportador de doença sabidamentegrave, leucemia mielóide crônica,garantindo-lhe os meios de proverseu sustento e custear seu tratamen-to de saúde, pode ser resolvida poroutro caminho, não menos efetivodo que a reintegração no emprego,e com lastro jurídico e social. Todoempregado, enquanto tal, é segu-rado obrigatório da Previdência So-cial e, mesmo após sua dispensa,permanece como segurado, duran-te, no mínimo, 12 meses após o rom-pimento do contrato de trabalho,prazo este que pode ser elastecido,como enuncia o art. 15 da Lei n.8.213/91. Se durante esse interva-lo o segurado valer-se de algumbenefício previdenciário, preserva-o, sem limite de prazo. Assim é queantes de invocar a função social dapropriedade, de inegável peso his-

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tórico e social, é necessário perqui-rir, se não é ao Estado, no exercíciode seus projetos assistenciais, quecabe proteger o empregado dispen-sado. TRT/SP 15ª Região 399-2005-002-15-00-2 - Ac. 4ªCâmara12.348/07-PATR. Rel. MarianeKhayat. DOE 23 mar. 2007, p. 64.

22 - EMPREGADO PÚBLICO. DIS-PENSA COM MOTIVAÇÃO APÓSCONCLUÍDO O ESTÁGIO PRO-BATÓRIO. REINTEGRAÇÃO IN-CABÍVEL

Não é devida a reintegração do ser-vidor submetido a concurso públi-co e admitido sob a égide da CLTquando dispensado, com motiva-ção, após a instauração de regularprocesso administrativo, com o di-reito à ampla defesa. TRT/SP 15ªRegião 1021-2002-109-15-00-6 - Ac.2ªCâmara 11.591/07-PATR. Rel.Eduardo Benedito de OliveiraZanella. DOE 23 mar. 2007, p. 57.

23 - HORAS EXTRAS. COMISSIO-NISTA PURO. LABOR EXTRAOR-DINÁRIO EM ATIVIDADE ALHEIAA VENDAS. DEVIDAS, NESTECASO, AS HORAS LABORADASMAIS O ADICIONAL

O empregado comissionista puro,além do adicional sobre as horaslaboradas como vendedor, faz jus,também, às horas extraordináriasacrescidas do adicional quanto aoperíodo trabalhado nas tarefasalheias à atividade de vendas, pois,nestas tarefas, a hora normal nãofoi remunerada pelas comissões, jáque o empregado não estava reali-zando vendas. TRT/SP 15ª Região0949-2005-033-15-00-1 - Ac. 8ªCâ-mara 56.013/06-PATR. Rel. JoãoBatista da Silva. DOE 1º dez. 2006,p. 53.

24 - INSS. CONTRIBUIÇÃO PRE-VIDENCIÁRIA. LEI N. 10.666/03.PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS SEMRECONHECIMENTO DE VÍNCU-LO EMPREGATÍCIO. POSSIBILI-DADE

A norma constante no caput do art.4º da Lei n. 10.666/03, há de terplena efetividade naqueles casosem que trabalhador e empresárioreconhecem, em juízo, uma extin-ta prestação de serviços com natu-reza autônoma, sem relação deemprego. Afinal, essa é a inteligên-cia que se extrai da aplicaçãocominada dos arts. 21, 22 e 30, §4º, da Lei n. 8.212/91. Ou seja, alémdaqueles 20% previstos no art. 22da Lei n. 8.212/1991, o tomadordos serviços também deve recolhermais 11% a título de contribuiçãoprevidenciária sobre o valor totalajustado em acordo, qualquer quetenha sido o modo da extinta pres-tação de serviços, agora em funçãoda Lei n. 10.666/03. Recurso doINSS que se dá provimento. TRT/SP 15ª Região 126-2005-086-15-00-1 - Ac. 9ªCâmara 6.666/07-PATR.Rel. Gerson Lacerda Pistori. DOE16 fev. 2007, p. 41.

25 - INTERVALO ENTRE JORNA-DAS. CLT, ART. 66. PETROLEI-ROS. APLICABILIDADE

A Lei n. 5.811/72 não cuida do in-tervalo entre jornadas, de sorte queo art. 66 da CLT também se aplicaaos trabalhadores por ela abrangi-dos. O pagamento pelaextrapolação do limite legal, decor-rente de dobras de turnos (horasextraordinárias stricto sensu) nãoexclui a obrigação de quitar, simul-taneamente, as horas trabalhadasno período de descanso, conforme

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a Súmula n. 110, do TST (horas ex-tras fictas). TRT/SP 15ª Região1148-2004-126-15-00-2 - Ac. 3ªCâ-mara 54.417/06-PATR. Rel.Ricardo Regis Laraia. DOE 24 nov.2006, p. 32.

26 - JORNADA MÓVEL E VARI-ÁVEL. EMPREGADO À DISPOSI-ÇÃO DO EMPREGADOR 44 HO-RAS POR SEMANA. NULIDADEDA CLÁUSULA

A cláusula contratual que estipulajornada "móvel e variável", medi-ante o pagamento por hora traba-lhada, quando o empregado per-manece à disposição do emprega-dor quarenta e quatro horas porsemana, afronta o princípio de pro-teção ao trabalhador. A nulidadeda estipulação gera o direito a dife-renças entre as horas pagas e ascontratadas (à disposição). TRT/SP15ª Região 2197-2005-131-15-00-9- Ac. 2ªCâmara 56.937/06-PATR.Rel. Thelma Helena Monteiro deToledo Vieira. DOE 4 dez. 2006, p.19.

27 - JORNAL. VENDA DEASSINATURAS ATRAVÉS DETELEMARKETING. TERCEIRIZA-ÇÃO. RESPONSABILIDADE SUB-SIDIÁRIA

Prestação de serviços consistente navenda de assinaturas novas de jor-nal, através de telemarketing, se ca-racteriza como espécie deterceirização, atraindo a responsa-bilidade subsidiária da empresajornalística. Mormente quando háforte interveniência do Jornal nomodus operandi dos serviços contra-tados, fixando preço, forma de pa-gamento, tipo de assinatura, metasde vendas e premiação; fornecen-

do material promocional, formulá-rios e sistemas de comercialização;além de orientação e supervisão dosserviços prestados pela contratada;afora a exclusividade e aconfidencialidade exigidas. Recur-so ordinário da reclamante provi-do no ponto. TRT/SP 15ª Região383-2005-113-15-00-1 - Ac. 12ªCâ-mara 12.680/07-PATR. Rel. Edisondos Santos Pelegrini. DOE 23 mar.2007, p. 100.

28 - JUROS DE MORA. SERVIDORPÚBLICO. PARCELAS VINCEN-DAS

Não há de se falar em mora do de-vedor antes do vencimento da obri-gação. Os juros de mora devemincidir a partir do ajuizamento,mas, em relação às parcelasvincendas, somente a partir domomento em que configurada amora do ente público, ou seja, apartir do vencimento de cada par-cela mensal. JUROS DE MORA.ENTE PÚBLICO. PERCENTUALDE 0,5% AO MÊS. ACOLHIMEN-TO. A lei, em sentido amplo, gozade presunção de legitimidade e aela deve ser aplicada ao caso con-creto, ressalvada a hipótese deinconstitucionalidade, que deve sersuscitada pela parte interessada.Em se tratando de ente público, osjuros de mora devem ser calcula-das no percentual de 0,5% (meiopor cento) ao mês, como já procla-mada pelo C. TST (TSTRXOFROAG 4573 - TP - Min. IvesGandra Martins Filho - DJU 20 jun.2003). TRT/SP 15ª Região 751-2005-059-15-00-0 - Ac. 4ªCâmara9.134/07-PATR. Rel. Paulo deTarso Salomão. DOE 9 mar. 2007,p. 59.

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Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 30, 2007 227

29 - JUSTA CAUSA. MOTORISTADE ÔNIBUS ENVOLVIDO EMACIDENTE DE TRÂNSITO.DESÍDIA. OBRIGATORIEDADEDE DEMONSTRAÇÃO DE QUE AMÉDIA DE ACIDENTES OCORRI-DOS COM O RECLAMANTE ÉSUPERIOR À DOS DEMAIS CO-LEGAS DE TRABALHO. DESPRO-PORÇÃO ENTRE A FALTA E APUNIÇÃO

Para que se reconheça que um mo-torista de ônibus assumiu compor-tamento desidioso porque se envol-veu em dois pequenos acidentescom ônibus que dirigia, ao longo doperíodo de 19 meses de vigência docontrato de trabalho, principalmen-te daquele que conduz veículos emcidades como São Paulo, com seutrânsito caótico e muitas vezes dealta velocidade, especialmente nasmarginais, local em que ocorreu oincidente que resultou na dispensamotivada do obreiro, apresenta-seessencial a demonstração de que,no universo dos motoristas queprestam serviços à empregadora, amédia de acidentes envolvendo oreclamante tenha sido bem superi-or à dos demais motoristas, fato quecomprovaria seu menosprezo pelasregras de segurança do trânsito.Inexistente essa demonstração nosautos, deve ser afastada a tese dedesídia, pois todo e qualquer moto-rista de ônibus com horário a cum-prir, submetido ao tráfego das gran-des cidades, está sujeito a se envol-ver em acidentes. De outro lado, areduzida gravidade daquele ocor-rido com o obreiro demonstra queeste não foi totalmente imprudentea ponto de justificar a pecha dedesidioso no cumprimento de suasobrigações. Evidente, pois, adesproporcionalidade entre a falta

e a punição. Decisão de primeirograu confirmada. TRT/SP 15ª Re-gião 0657-2005-021-15-00-9 - Ac.11ªCâmara 11.060/07-PATR. Rel.Marcelo Magalhães Rufino. DOE16 mar. 2007, p. 53.

30 - PERICULOSIDADE. MOTO-RISTA. ABASTECIMENTO. CON-TATO EVENTUAL. ADICIONALINDEVIDO

O contato intermitente com infla-mável é aquele que se repete pordiversas vezes numa mesma jorna-da de trabalho e a "intermitência"é "a interrupção momentânea" (Au-rélio Buarque de Hollanda Ferreira),enquanto "intermitir" significa "pa-rar por intervalos" (Grande Dicioná-rio Larousse Cultura da Língua Por-tuguesa). Nas normas técnicas, aintermitência está regulada na Por-taria MTb n. 3.311, de 29/11/89, enela exige-se a repetição do mesmoacontecimento por diversas vezes,numa mesma jornada de trabalho,para a sua caracterização. O mo-torista, que cuida de abastecer oveículo por ele dirigido ou acompa-nha o abastecimento pelo frentista,por apenas alguns minutos, ingres-sa em área de risco de modo mera-mente eventual, não fazendo jus aoadicional de periculosidade. Alémdisso, a atividade não está relacio-nada no Quadro 03 do Anexo 02da Norma Regulamentar n. 16, doMTb. INTERVALO. SUPRESSÃOPARCIAL. REMUNERAÇÃO. PE-RÍODO EFETIVAMENTE SUPRI-MIDO. A supressão parcial do in-tervalo destinado à alimentação edescanso implica a remuneração doperíodo efetivamente suprimido (§4º do art. 71, da CLT), até porque asua remuneração integral contrariao princípio que veda o enriqueci-

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mento sem causa e não estimula oempregador a conceder intervaloem maior extensão ao trabalhador.Se a remuneração deverá corres-ponder a uma hora, em qualquercaso, que interesse teria o empre-gador em conceder 30, 40, 50 ou 55minutos de intervalo? TRT/SP 15ªRegião 1356-2004-029-15-00-2 - Ac.4ªCâmara 6.413/07-PATR. Rel.Paulo de Tarso Salomão. DOE 16fev. 2007, p. 24.

31 - PRESCRIÇÃO DO DIREITODE AÇÃO. PRESCRIÇÃO QÜIN-QÜENAL. INTERRUPÇÃO.AÇÃO ARQUIVADA

Conforme entendimento sumulado(n. 268 do C. TST), a ação anteriorarquivada interrompe a prescriçãodo direito de ação, em relação apedido idênticos. Observe-se que amencionada Súmula não discute aprescrição qüinqüenal, mas apenasa prescrição do direito de ação. Nãodecorrido lapso de prazo superiora dois anos entre o arquivamentoda reclamação anterior e oajuizamento da nova ação, não seconsumou a prescrição do direitode ação. Quanto à prescriçãoqüinqüenal, o marco para conta-gem é a data da propositura danova reclamação, retroagindo cin-co anos a partir daí. TRT/SP 15ªRegião 2150-2003-018-15-00-5 - Ac.5ªCâmara 916/07-PATR. Rel.Gisela Rodrigues Magalhães deAraújo e Moraes. DOE 12 jan. 2007,p. 65.

32 - RESPONSABILIDADE DOEMPREGADOR. ACIDENTE DETRABALHO

Não obstante o novo CC/2002 eseu art. 927, do art. 2º da CLTdimana ser do empregador o risco

da atividade econômica e de suaresponsabilidade a direção na pres-tação pessoal de serviços. Neste sen-tido está obrigado a dar conheci-mento de todos os riscos que envol-vem o desempenho das tarefas, for-necer EPIs adequados e em núme-ro suficiente, bem como orientar efiscalizar a correta utilização(Súmula n. 289 do C. TST). Aciden-te ocorrido quando despido olaborista de EPI que fora entregueem regime de partilha e em circuns-tâncias tais que evidenciam a faltade fiscalização do uso é classica-mente de culpa do empregador.Recurso Ordinário a que se dá pro-vimento parcial para, reformandoa sentença de 1º grau, deferir inde-nização por danos morais decor-rentes de acidente de trabalho.TRT/SP 15ª Região 1384-2002-091-15-00-8 - Ac. 12ªCâmara 5.587/07-PATR. Rel. Luiz Felipe Paim da LuzBruno Lobo. DOE 9 fev. 2007, p. 85.

33 - RESPONSABILIDADE INVIGILANDO DO ENTE PÚBLICO

O ente público, quando estabelecerelação jurídica com o prestador deserviços, segue aos ditames do cer-tame licitatório, e não age com cul-pa in eligendo. Não lhe é lícito esco-lher, de forma discricionária, comquem irá contratar. Todavia, adcautelam, haveria meios legais e ju-rídicos de inserir cláusulascontratuais autorizadoras de resci-são (via unilateral) da relação jurí-dica nas hipóteses em que se cons-tatasse inadimplência do contrata-do concernente a obrigações traba-lhistas. O contrato poderia ser ime-diatamente rescindido, com multaspesadas impostas. Cabe aos admi-nistradores aprimorarem os contra-tos, inviabilizando os desvios que

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freqüentemente são constatadospelo Judiciário. Responsabilidadesubsidiária mantida. TRT/SP 15ªRegião 2227-2005-132-15-00-3 - Ac.12ªCâmara 9.892/07-PATR. Rel.Nora Magnólia Costa Rotondaro.DOE 9 mar. 2007, p. 101.

34 - SOCIEDADE POR QUOTAS.SÓCIO MINORITÁRIO. RELA-ÇÃO DE EMPREGO COM A SO-CIEDADE. POSSIBILIDADE

O direito do trabalho não infenso àpromiscuidade contratual de modoque é perfeitamente possível a con-vivência do contrato de trabalhocom outros tipos de contrato priva-do, como o de sócio de sociedadecomercial. Assim, nada há empeci-lho legal para que o sóciominoritário, com apenas 5% de quo-tas do capital social, tenha reconhe-cida sua condição também de em-pregado da sociedade, quando lhepresta serviços com requisitos depessoalidade, subordinação, nãoeventualidade e mediante salários,presentes, portanto, os requisitos doart. 3º da CLT. Recurso ordinário aque se nega provimento. TRT/SP15ª Região 0927-2005-009-15-00-8- Ac. 10ªCâmara 56.319/06-PATR.Rel. José Antonio Pancotti. DOE 1ºdez. 2006, p. 58.

35 - TAXA NEGOCIAL A SERPAGA POR EMPREGADOR. NU-LIDADE DE PREVISÃO EM NOR-MA COLETIVA

Todas as receitas sindicais são, emrelação aos sindicatos profissionais,suportadas pelos trabalhadores,beneficiários das atividades ins-titucionais e negociais das entida-des sindicais. E isso acontece justa-mente como forma de garantir aampla e livre atuação das entida-

des sindicais, que dessa forma nãoestão submetidas ao poderio econô-mico das empresas. TRT/SP 15ªRegião 1006-2005-126-15-00-6 - Ac.3ªCâmara 7.017/07-PATR. Rel.Regina Dirce Gago de FariaMonegatto. DOE 23 fev. 2007, p.33.

36 - TERCEIRIZAÇÃO.

A terceirização há que ser adotadacom um mínimo de garantias parao trabalhador, como, aliás, exigetoda a legislação protetora ao tra-balho e trabalhador, que por suafeita dá vazão aos princípios fun-damentais estampados no art. 1º,incisos III e IV, da CF: "a dignidadeda pessoa humana" e "os valoressociais do trabalho...". Não pode oPoder Público constituído ser o pri-meiro a, por meio da alegação deausência de responsabilidade, tor-nar precários ou mesmo negar osdireitos trabalhistas mínimos con-quistados pelos trabalhadores. Etampouco pode a Lei n. 8.666/93ser analisada de forma isolada, massim interpretada em consonânciacom os dispositivos constitucionaise legais que regem a matéria, taiscomo o art. 37, § 6º da CF, os arts.9º e 444 da CLT, e os arts. 43 e 186do CC. TRT/SP 15ª Região 1581-2003-082-15-00-7 - Ac. 5ªCâmara3.478/07-PATR. Rel. CarlosAugusto Escanfella. DOE 26 jan.2007, p. 32.

37 - TRANSAÇÃO PERANTE CO-MISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉ-VIA - CCP. QUITAÇÃO COMEFEITO LIBERATÓRIO GERAL,SEM RESSALVA DE NENHUMAVERBA. TRABALHADOR ASSIS-TIDO PELA ENTIDADE SINDI-CAL DE SUA CATEGORIA PRO-

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FISSIONAL NO MOMENTO DACOMPOSIÇÃO. PARÁGRAFOÚNICO DO ART. 625-E DA CLT.IMPROCEDÊNCIA DOS PEDI-DOS FORMULADOS EM FACEDO RECONHECIMENTO DAQUITAÇÃO DELES

A quitação outorgada por ex-em-pregado em demanda submetida àComissão de Conciliação Prévia -CCP, sem ressalva, tem efeitoliberatório geral em relação a todae qualquer parcela oriunda do ex-tinto contrato de trabalho, confor-me expressamente previsto no pa-rágrafo único do art. 625-E da CLT.Essa eficácia liberatória geral deveser especialmente admitida quan-do a pretensão submetida à referi-da comissão não envolvia verbasrescisórias, as quais foram ante-riormente pagas ao trabalhador,que contou com a devida assistên-cia sindical nesse ato. Outrossim,essa mesma entidade sindical tam-bém o assistiu por ocasião da cele-bração da avença perante a referi-

da comissão, da qual não restouressalvada nenhuma parcela decor-rente do extinto pacto laboral.Logo, a reclamatória que postulapedidos relativos a esse contrato detrabalho deve ser julgada improce-dente. TRT/SP 15ª Região 1873-2004-096-15-00-3 - Ac. 4ªCâmara12.252/07-PATR. Rel. MarceloMagalhães Rufino. DOE 23 mar.2007, p. 61.

38 - VÍNCULO EMPREGATÍCIO.MOTORISTA TRANSPORTA-DOR

Considera-se transportador autô-nomo de bens, na forma da Lei n.7.290, de 19 dez. 1984, o motoristaproprietário de veículo que execu-ta fretes, ainda que em caráter con-tinuado, diretamente a usuário des-te serviço, se inexistir prova de su-bordinação, como, por exemplo, aobrigatoriedade do cumprimentode horário. TRT/SP 15ª Região 217-2006-071-15-00-9 - Ac. 12ªCâmara2.715/07-PATR. Rel. José Pitas.DOE 19 jan. 2007, p. 45.

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DIREITO PROCESSUAL

01 - AÇÃO ANULATÓRIA DEDÉBITO ADMINISTRATIVO EDECLARATÓRIA DE NULIDA-DE DE ATO JURÍDICO. PENALI-DADE ADMINISTRATIVA IM-POSTA AO EMPREGADOR PE-LOS ÓRGÃOS DE FISCALIZA-ÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRA-BALHO (MULTA PELO DESCU-MPRIMENTO DE TERMO DECOMPROMISSO FIRMADO PE-RANTE O MINISTÉRIO PÚBLI-CO). COMPETÊNCIA DA JUSTI-ÇA DO TRABALHO. CF, ART.114, INCISO VII, COM REDAÇÃODADA PELA EC N. 45/04

Após o advento da EC n. 45, de 8dez. 2004, que modificou a redaçãodo art. 114 da CF, ampliando acompetência material desta JustiçaEspecializada, a Justiça do Traba-lho passou a ser competente paraconhecer e julgar ações relativas àspenalidades administrativas impos-tas aos empregadores pelos órgãosde fiscalização das relações de tra-balho (CF, art. 114, inciso VII).COMPETÊNCIA MATERIAL.MODIFICAÇÃO. AÇÕES JUL-GADAS EM PRIMEIRA INSTÂN-

CIA PELA JUSTIÇA COMUM.CONFLITO DE COMPETÊNCIANEGATIVO. PRECEDENTES DOEXCELSO PRETÓRIO. NATURE-ZA CONSTITUCIONAL DA MA-TÉRIA.- De fato, o ordenamentojurídico processual determina a re-messa imediata dos autos ao Juízocompetente quando há alteração decompetência de ordem absoluta.Assim, não se aplicaria, a princípio,a perpetuação da jurisdição consa-grada no art. 87 do CPC, in fine, porconta das alterações na competên-cia material da Justiça do Trabalhoadvindas da EC n. 45/04, visto quese trata de ampliação/modificaçãode competência de natureza abso-luta. Todavia, o aplicador do direi-to busca sempre a finalidade socialda norma e o atendimento do bemcomum (art. 5º da LICC) e não podese dar por satisfeito com a letra friada lei. Com esse desiderato, há quese reconhecer que a remessa imedi-ata a este Juízo especializado dasações já julgadas pela Justiça Co-mum antes do advento da EC n.45/04, certamente, atenta contrauma série de princípios caros aoordenamento jurídico posto, em

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especial, os da segurança jurídica,da paz social e da busca por estabi-lidade das relações jurídicas, inclu-sive processuais. Nessa linha, aliás,manifestou-se o Plenário do ExcelsoPretório, firmando posicionamentono sentido de que a existência ounão de sentença nos autos é o mar-co divisório para aferição do Juízocompetente, ante as modificaçõesde competência absoluta instituídasatravés a EC n. 45/04, (conformeCC 7204/MG - Minas Gerais - Con-flito de Competência – Rel. Min.CARLOS BRITTO. Julgamento: 29jun. 2005. Órgão Julgador: Tribu-nal Pleno - Publicação: DJ 9 dez.2005, p. 5. Ement. Vol. 2217-2, p.303) - (Site do STF - entrada em 2fev. 2006). Logo, sopesando o statusconstitucional da questão em voga,o entendimento do C. STF acercada matéria, bem como não perden-do de vista os princípios acimamencionados, faz-se imperioso sus-citar o conflito negativo de compe-tência perante o Eg. STJ, na formado art. 105, I, "d" da Lei Maior, emtodos os casos em que, como no oraapreciado, tenha havido a remessaa este Juízo Especializado quandojá existe nos autos sentença profe-rida pela Justiça Comum antes doadvento da EC n. 45/04. TRT/SP15ª Região 1463-2005-090-15-00-5- Ac. 11ªCâmara 11.035/07-PATR.Rel. Fany Fajerstein. DOE 16 mar.2007, p. 52.

02 - AÇÃO CAUTELAR. COMPE-TÊNCIA

Antes da interposição do recursonão tem o relator competência paraapreciar medida cautelar inomi-nada objetivando suspender os efei-tos da sentença, consoante se infe-re do parágrafo único do art. 800

do CPC e do art. 210 do RegimentoInterno deste Tribunal, mesmo por-que não se pode dar efeitosuspensivo a recurso ainda não in-terposto. TRT/SP 15ª Região 1532-2006-000-15-00-6 - Ac. 2ªCâmara4.879/07-PATR. Rel. FábioGrasselli. DOE 2 fev. 2007, p. 70.

03 - AÇÃO CAUTELAR. EFEITOSUSPENSIVO EM RECURSO OR-DINÁRIO. IMPROVIMENTO

O recurso ordinário não possui porregra efeito suspensivo, justamen-te para que se agilizem medidasemergenciais, como àquela deferidana ação principal, que por meio deacolhida de pedido de tutela ante-cipada, busca a reparação de danofísico, quando pretende-se de for-ma célere a restituição de condiçõesbásicas para a continuidade davida de um ser humano que noâmbito do trabalho, perdeu partedo membro superior direito, sendoo mesmo essencial para desenvol-ver atividades cotidianas, tantolaborais, quanto pessoais. O bemmaior a ser preservado é o da ur-gência, e, não, da aceitação da mo-rosidade, que, infelizmente,permeia o Poder Judiciário face àburocracia existente, principalmen-te em medidas recursais e de cunhoexecutório. Ação cautelar a qual sejulga improcedente. TRT/SP 15ªRegião 6-2005-108-15-00-3 - Ac.6ªCâmara 8.934/07-PATR. Rel.Marcelo Garcia Nunes. DOE 9 mar.2007, p. 72.

04 - AÇÃO MONITÓRIA. CO-BRANÇA DE CONTRIBUIÇÃOSINDICAL. NÃO CABIMENTO

A ação monitória, como um atalhoprocessual, se vale da prova pré-

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constituída, que equivaleria à pro-va ou forte probabilidade do direi-to e da relação jurídica de crédito edébito, para conferir ao credor océlere adimplemento de uma deter-minada obrigação. Aliás, esse é oargumento fundamental para quese negue a possibilidade da utiliza-ção do procedimento monitóriopara a cobrança da contribuiçãosindical. Quando um Sindicato ale-ga que a empresa a ele vinculadanão recolheu as contribuições sin-dicais respectivas, não há provapré-constituída a ser produzida nosautos que possa gerar no espírito dojulgador o juízo de plausibilidadeexigido pela ação monitória. Aapresentação de uma guia de reco-lhimento ou mesmo de uma notifi-cação para pagamento de dívidanão são documentos hábeis paracriar uma hipótese de verossimi-lhança da existência de um créditoentre a entidade sindical e a empre-sa notificada, na qualidade de cre-dor e devedor, respectivamente.Afinal, trata-se de documentos con-feccionados unilateralmente pelocredor e não contêm nenhuma fu-maça de direito capaz de funda-mentar o procedimento injuntivo.TRT/SP 15ª Região 510-2006-109-15-00-4 - Ac. 4ªCâmara 4.656/07-PATR. Rel. Mariane Khayat. DOE2 fev. 2007, p. 84.

05 - ACORDO ENTABULADO PE-RANTE A CÂMARA ARBITRALLABORAL DO ESTADO DE SÃOPAULO. ALEGAÇÃO DE COISAJULGADA QUE SE AFASTA

A possibilidade de apreciação pelojudiciário da validade do acordoextrajudicial firmado entre as par-tes encontra fundamento no art. 5ºda Constituição da República.

Quanto ao termo de transação noqual foi pactuada a quitação geralao extinto contrato de trabalho,não haveria como lhe conferir vali-dade. Com efeito, inviável dar-sequitação pelo que não foi discrimi-nado, sob pena de reconhecer-se re-núncia a direitos trabalhistas, alémdo que, na seara do Direito do Tra-balho os títulos devem ser pagos sobrubrica própria. TRT/SP 15ª Região693-2005-109-15-00-7 - Ac. 1ªCâ-mara 3.162/07-PATR. Rel. AdrieneSidnei de Moura DavidDiamantino. DOE 26 jan. 2007, p.11.

06 - ACORDO JUDICIAL. QUITA-ÇÃO GERAL DAS VERBAS RELA-TIVAS AO EXTINTO CONTRATODE TRABALHO. DANO MORALE MATERIAL DECORRENTE DEDOENÇA PROFISSIONAL. COI-SA JULGADA. IMPOSSIBILIDA-DE

A indenização por danos moraisdecorrente da relação de trabalhoé instituto típico do Direito Civil,que, através da Emenda n. 45/04,foi definitivamente alçada à com-petência desta Justiça Especializa-da, mas que, de forma alguma, seconfunde com as verbas trabalhis-tas. A questão fica ainda mais cla-ra ao notarmos que todo arcabouçojurídico que embasa a reparação dodano causado ao empregado, naprestação de serviço laboral, advémdo Direito Civil, e.g., art. 186 doCC/02. Portanto, acordo judicialfirmado em processo anterior nãotem o condão de fulminar pela coi-sa julgada a pretensão do trabalha-dor, pois as indenizações por danomoral e material, derivadas de do-ença ocupacional, não fazem par-te das "verbas relativas ao extinto

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contrato de trabalho", apenas de-correm da relação empregatícia(art. 114, VI, da CF), mantendo asua índole do direito comum. Poroutro lado, considerando que atransação interpreta-se restriti-vamente (art. 1027 do CC de 1916e art. 843 do atual), não há comoreconhecer a quitação do danomoral objeto da presente ação. Ascausas de pedir e os pedidos dosprocessos comparados são diferen-tes e a única alegação que os unereside na relação empregatícia exis-tente entre as partes. No processooriginário, é evidente a reclamaçãode perda econômica, enquanto nes-te, a questão reside na lesão moral.Ausentes, então, as condições ex-pressas no art. 301, §§ 2º e 3º, doCPC, não há que se falar em coisajulgada. TRT/SP 15ª Região 9167-2005-146-15-00-2 - Ac. 11ªCâmara1.368/07-PATR. Rel. Flavio NunesCampos. DOE 12 jan. 2007, p. 125.

07 - ACORDO JUDICIAL. TRÂN-SITO EM JULGADO. INSS.CONTRIBUIÇÃO PREVIDEN-CIÁRIA

Não há óbice legal para a celebra-ção de acordo judicial pelas partes,mesmo após o trânsito em julgadoda sentença da fase de conheci-mento, mas seus efeitos devem serlimitados às partes acordantes. OINSS, como um terceiro interessa-do, não pode sofrer os prejuízosdecorrentes da transação pactuada,devendo a execução prosseguir emrelação a contribuição previ-denciária, a ser calculada de formaproporcional aos títulos objeto decondenação. TRT/SP 15ª Região183-2003-093-15-00-7 - Ac. 10ªCâ-mara 9.637/07-PATR. Rel. Elency

Pereira Neves. DOE 9 mar. 2007,p. 93.

08 - ADICIONAL DE INSALUBRI-DADE. PROVA TÉCNICA.IMPOSSIBILIDADE. SUPRIMEN-TO E ÔNUS DA PROVA

A despeito da exigência legal de queo acolhimento de pedido de adicio-nal de insalubridade tenha que serprecedido de prova técnica, a im-possibilidade de verificação das con-dições reais de trabalho do recla-mante, em face da modificação doambiente, permite ao juiz que su-pra essa deficiência com outrosmeios probatórios, como a provatestemunhal ou laudo pericial desituação similar produzido em ou-tros feitos. Demais disso, com fun-damento no princípio da aptidãopara a prova, é do reclamado o ônusde provar, em casos de modifica-ção do ambiente de trabalho, a suasalubridade antes dessa mudança,sem o que prevalecerá a assertivado reclamante de que as condiçõeseram insalubres. JUSTIÇA GRA-TUITA. REQUISITOS PARA ACONCESSÃO. - A Lei n. 10.537/02 inseriu novas disposições na CLTno que diz respeito à cobrança decustas processuais e passou a disci-plinar, no art. 790, § 3º, os requisi-tos para a concessão da Justiça Gra-tuita. E tal dispositivo apenas men-ciona que o trabalhador deve de-clarar sua condição, sob as penasda lei, sem exigir qualquer formali-dade para tanto. E mesmo os requi-sitos objetivos fixados na norma sãopassíveis de flexibilização, visto quea norma permite ao juiz que con-ceda esse benefício de ofício que, apropósito, é garantia constitucionalde acesso à justiça. TRT/SP 15ªRegião 2178-1998-023-15-00-0 - Ac.

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6ªCâmara 12.912/07-PATR. Rel.Carlos Eduardo Oliveira Dias. DOE23 mar. 2007, p. 79.

09 - AGRAVO DE PETIÇÃO. DE-CISÃO INTERLOCUTÓRIA. DES-CABIMENTO

A despeito da genérica estipulaçãodo art. 897 , da CLT, relativamenteao cabimento do agravo de petição,sua interpretação deve levar emconta o sistema recursal no qual eleestá inserido. E, nesse sentido, o §1º do art. 893, da CLT, prevê queos incidentes no processo não estãosujeitos a recurso imediato, somen-te sendo atacáveis por ocasião dorecurso da decisão principal. Essadisposição consagra o princípio dairrecorribilidade interlocutória, queé de aplicação geral para os recur-sos trabalhistas, inclusive para oagravo de petição, manejado emfunção de decisões judiciais profe-ridas em execução. Assim, a exegesesistemática do tema leva à conclu-são de que os incidentes na execu-ção trabalhista não comportam re-curso imediato, mas somente po-dem ser discutidos, por agravo depetição, quando houver decisão de-finitiva ou terminativa da execução.TRT/SP 15ª Região 1254-1992-013-15-00-7 - Ac. 6ªCâmara 55.823/06-PATR. Rel. Carlos Eduardo OliveiraDias. DOE 1º dez. 2006, p. 50.

10 - CERCEAMENTO PROBA-TÓRIO. INDEFERIMENTO DEOITIVA DE TESTEMUNHAS

Os arts. 765 da CLT e 130 do CPCconferem ao magistrado ampla li-berdade na direção do processo,permitindo-lhe indeferir a produ-ção de provas inúteis, desnecessá-rias e meramente protelatóriasquando já houver formado seu con-

vencimento. Seguindo essa diretriznormativa, o MM. Juiz a quo firmousua convicção em face do depoi-mento pessoal prestado pelo autor,entendendo desnecessária a dilaçãoprobatória. Os pontos controverti-dos restaram elucidados por meiodo referido depoimento, assimcomo não apontou o autor, em suapeça recursal, quais seriam as ou-tras questões que exigiriam produ-ção de prova. Injustificável a con-versão do julgamento em diligên-cia. HORAS EXTRAS. ENQUA-DRAMENTO NA EXCEÇÃO PRE-VISTA NO INCISO I DO ART. 62DA CLT. A realização de trabalhoexterno por si só não tem o condãode afastar o reconhecimento do la-bor extraordinário desde que sejapossível a mensuração e o controleda jornada. TRT/SP 15ª Região1380-2005-113-15-00-5 - Ac. 2ªCâ-mara 1.632/07-PATR. Rel. HelenaRosa Mônaco da Silva Lins Coelho.DOE 19 jan. 2007, p. 22.

11 - COISA JULGADA. SUBSTI-TUIÇÃO PROCESSUAL. CONFI-GURAÇÃO

Quando o reclamante ajuíza açãotrabalhista com idênticos pedidosàqueles que já foram objeto deação, já transitada em julgada, porparte do órgão sindical, na quali-dade de substituto processual, figu-rando, inclusive, no rol dos substi-tuídos, não há como afastar os efei-tos da coisa julgada. LITIGÂNCIADE MÁ-FÉ. DESCARACTERI-ZAÇÃO.- Não se deve confundirexercício regular de um direito commá-fé. A garantia do duplo grau dejurisdição, a qual permite à parteque se sentiu prejudicada recorrerpara uma instância hierarquica-mente superior a fim de obter uma

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segunda análise sobre a matéria emque restou vencida não pode ser ge-nericamente considerada medidaprotelatória e passível de aplicaçãode sanção. TRT/SP 15ª Região 28-2006-037-15-00-5 - Ac. 2ªCâmara1.725/07-PATR. Rel. Helena RosaMônaco da Silva Lins Coelho. DOE19 jan. 2007, p. 26.

12 - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇADO TRABALHO. MORTE EMSERVIÇO. DANOS MORAIS EMATERIAIS. AÇÃO AJUIZADAPELA MÃE DA VÍTIMA

O art. 114 da CF confere à jurisdi-ção trabalhista competência paraprocessar e julgar não apenas asações relativas à relação de empre-go, açambarcando a orientação pre-conizada em seu inciso I, a um sótempo, tanto a competência em ra-zão da matéria, quanto a compe-tência em razão da pessoa. Nessesentido, não estando presente nopólo ativo da demanda o trabalha-dor, mas sua herdeira, que visa oressarcimento de suposta lesãomoral e material sofrida em seupatrimônio, cujos danos se carac-terizam como indiretos epersonalíssimos, não sendo objetodo conflito, portanto, direitos de-correntes do contrato de trabalho,flagrante se revela a incompetênciada Justiça do Trabalho paraapreciá-la. TRT/SP 15ª Região1359-2005-041-15-00-0 - Ac. 11ªCâ-mara 1.183/07-PATR. Rel. MariaCecília Fernandes Alvares Leite.DOE 12 jan. 2007, p. 120.

13 - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇADO TRABALHO. RELAÇÃO DETRABALHO. REPRESENTAÇÃOCOMERCIAL. PESSOA JURÍDI-CA. PRIMAZIA DA REALIDADE

A Justiça do Trabalho é competen-te para apreciar litígio envolvendoprestação de serviço que, emboracontratada junto a pessoa jurídica,seja desenvolvida por pessoa física.À esta Especializada interessa a re-alidade fática e não a roupagemcom que os fatos se apresentam ajuízo. TRT/SP 15ª Região 1078-2005-014-15-00-5 - Ac. 8ªCâmara53.428/06-PATR. Rel. Vera TeresaMartins Crespo. DOE 24 nov. 2006,p. 52.

14 - CONTRIBUIÇÃO SINDICAL.NATUREZA TRIBUTÁRIA. TÍTU-LO EXECUTIVO EXTRAJU-DICIAL. RECEPÇÃO DO ART.606/CLT PELA CONSTITUIÇÃODA REPÚBLICA/88. AUSÊNCIADE INTERFERÊNCIA OU INTER-VENÇÃO NA ORGANIZAÇÃOSINDICAL. AÇÃO MONITÓRIA.CARÊNCIA DA AÇÃO. FALTADE INTERESSE PROCESSUAL.EXTINÇÃO DO PROCESSO SEMRESOLUÇÃO DO MÉRITO

A contribuição sindical prevista nosarts. 578 a 610 da CLT tem nature-za tributária (art. 8º, IV, in fine, c/cart. 149 da Constituição da Repú-blica), estando sujeita à atividadevinculada de lançamento (art. 142/CTN), sendo parte legítima paracobrá-la a entidade sindical corres-pondente, mediante ação de execu-ção, instruindo a petição inicial comprova da publicação dos editais deque trata o art. 605/CLT e com cer-tidão expedida pelas autoridadesregionais do Ministério do Traba-lho e Emprego, a qual valerá comotítulo executivo extrajudicial, naforma do art. 605/CLT, que foirecepcionado pela Constituição daRepública/88, não se caracterizan-do interferência ou intervenção na

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organização sindical. Em havendotítulo executivo extrajudicial, faltainteresse processual à entidade sin-dical para promover a cobrançamediante ação de conhecimento,devendo o processo ser extinto semresolução do mérito (art. 267, VI,do CPC). TRT/SP 15ª Região 1610-2005-004-15-00-7 - Ac. 7ªCâmara12.145/07-PATR. Rel. João Batistada Silva. DOE 23 mar. 2007, p. 89.

15 - DIRIGENTE SINDICALVERSUS SINDICATO

Questiúnculas internas devem serresolvidas pela Justiça Comum. AEC n. 45 não confere a matéria àJustiça do Trabalho. TRT/SP 15ªRegião 2176-2005-007-15-00-1 - Ac.12ªCâmara 12.653/07-PATR. Rel.Nora Magnólia Costa Rotondaro.DOE 23 mar. 2007, p. 99.

16 - EMBARGOS DE DECLARA-ÇÃO QUE REPETEM MEDIDAIDÊNTICA ANTES JÁ AVIADA.AUSÊNCIA DE INTERRUPÇÃODO PRAZO RECURSAL

Ausente qualquer possibilidade deconhecimento dos Embargos de De-claração, mormente porque medi-da idêntica já havia sido aviada,operando-se a preclusão consu-mativa, não há interrupção do pra-zo recursal. Admissão de outra hi-pótese implicaria em jamais se ope-rar o trânsito em julgado da deci-são, com a mera interposição de em-bargos de declaração, mesmoreprisando medida idêntica já apre-sentada, hipótese que encontra obs-táculo nos arts. 14 e 538, ambos doCPC e no princípio que assegura adevida duração do processo, inse-rido no art. 5º, LXXVIII, da CF.TRT/SP 15ª Região 2304-2005-131-15-00-9 - Ac. 3ªCâmara 56.163/06-

PATR. Rel. Maria Inês Corrêa deCerqueira César Targa. DOE 1ºdez. 2006, p. 25.

17 - EMPRESA BRASILEIRA DECORREIOS E TELÉGRAFOS. RE-GIME JURÍDICO PRÓPRIO DASEMPRESAS PRIVADAS

Cuidando de empresa pública queexplora atividade econômica, a re-clamada está submetida ao "regimejurídico" próprio das empresas pri-vadas, inclusive quanto às obriga-ções trabalhistas e tributárias con-soante artigo 173, § 1º, da CF, nãomerecendo qualquer tratamentodiferenciado das empresas priva-das, sob pena de ofensa ao princí-pio da isonomia. Neste aspecto, osprivilégios anteriormente havidosnão foram recepcionados pela CFde 05/10/98. Não há, portanto,privilégio quanto ao depósitorecursal e recolhimento de custasprocessuais. Recurso não conheci-do. TRT/SP 15ª Região 148-2004-099-15-00-7 - Ac. 5ªCâmara 2.422/07-PATR. Rel. Lorival Ferreira dosSantos. DOE 12 jan. 2007, p. 73.

18 - ENTIDADE DE DIREITO. IN-TERNACIONAL PÚBLICO. IMU-NIDADE DE JURISDIÇÃO. PRO-CESSO TRABALHISTA. FASE DECONHECIMENTO

A imunidade de jurisdição assegu-rada às Entidades de Direito Inter-nacional Público, tais como a Or-ganização das Nações Unidas, nãoalcança as causas de natureza tra-balhista, pois fica restrita aos atosde império, não abarcando os demera gestão, estando entre estesúltimos a contratação de trabalha-dores. A prerrogativa de imunida-de de execução não impede que aJustiça Trabalhista Brasileira exer-

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ça sua jurisdição nos processos deconhecimento ajuizados contra taisentidades. TRT/SP 15ª Região 234-2004-093-15-00-1 - Ac. 1ªCâmara54.173/06-PATR. Rel. Luiz RobertoNunes. DOE 24 nov. 2006, p. 18.

19 - HONORÁRIOS ADVOCA-TÍCIOS DE ACORDO COM O CC.MANUTENÇÃO DA R. SENTEN-ÇA

Com a edição do novo CC, em vi-gor a partir de janeiro de 2003, pormeio do seu art. 389, estabeleceu-se que os honorários advocatíciosnão mais decorreriam somente dasucumbência, mas, agora, doinadimplemento da obrigação. As-sim, seria violar os princípios ele-mentares de direito, concluir que,para as dívidas civis o devedor de-veria pagar honorários advo-catícios, ao passo que para as ver-bas trabalhistas não, ainda que sejainegável sua natureza alimentar.Considerando-se que o reclamantedeve ser reparado pelo gasto queteve com a contratação de advoga-do para receber seus direitos traba-lhistas, inadimplidos pela reclama-da, com base nos arts. 389 e 404,entendo cabíveis os honoráriosadvocatícios. TRT/SP 15ª Região1189-2005-136-15-00-7 - Ac. 6ªCâ-mara 57.102/06-PATR. Rel. LuizCarlos de Araújo. DOE 4 dez. 2006,p. 37.

20 - JUSTIÇA DO TRABALHO.AGRAVO DE INSTRUMENTO VI-SANDO ATACAR DECISÃO IN-TERLOCUTÓRIA. INADMISSSI-BILIDADE

Mesmo nos processos oriundos daJustiça Comum, não se conhece deAgravo de Instrumento interpostonos moldes da legislação processu-

al civil. Nesta Justiça Especializadaos incidentes do processo são resol-vidos pelo próprio Juízo ou Tribu-nal, admitindo-se a apreciação dasdecisões interlocutórias somente emrecursos da decisão definitiva. Re-curso que não se conhece sob penade afronta ao art. 893 consolidadoe violação aos princípios fundamen-tais da economia e da celeridadeprocessuais. TRT/SP 15ª Região3527-2005-135-15-01-1 - Ac. 7ªCâ-mara 776/07-PATR. Rel. ManuelSoares Ferreira Carradita. DOE 12jan. 2007, p. 82.

21 - LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. CA-RACTERIZAÇÃO

A mera circunstância de não pro-var a parte a veracidade do que ale-ga em juízo, não leva, inexo-ravelmente, que se a tenha comonão apresentado a verdade, alitigância de má-fé, para sua carac-terização exige mais, a vontade deenganar, de embair, conduta envol-ta em malícia. TRT/SP 15ª Região592-2005-030-15-00-2 - Ac. 6ªCâ-mara 10.165/07-PATR. Rel. FranciscoAlberto da Motta Peixoto Giordani.DOE 9 mar. 2007, p. 83.

22 - LITISCONSÓRCIO ATIVO.DEPÓSITO RECURSAL. LIMITELEGAL OU VALOR DA CONDE-NAÇÃO. DESERÇÃO

É notório que o depósito recursaltem por finalidade a garantia daexecução da sentença. Seria ilógi-co, então, a multiplicidade de tra-balhadores, em litisconsórcio ativo,não ver assegurados os seus direi-tos em eventual execução, respei-tado o limite legal ou o valor dacondenação, eis que o depósito úni-co somente cobriria parcialmenteos débitos porventura existentes.

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Ressalte-se, outrossim, que, mate-maticamente falando, no ajuiza-mento em separado de ações tra-balhistas haveria, necessariamente,o depósito recursal para cada umdos reclamantes. É certo, também,que o limite legal para o depósitorecursal é aquele individualizadopara cada autor, pois, caso contrá-rio, a questão cairia no vazio. TRT/SP 15ª Região 0673-2004-013-15-00-6 - Ac. 11ªCâmara 11.092/07-PATR. Rel. Hélio Grasselli. DOE 16mar. 2007, p. 54.

23 - PETIÇÃO INICIAL. EMEN-DA. PRAZO FINAL

No processo civil, a petição inicialdeve ser emendada antes da cita-ção (arts. 264 e 294 do CPC), inclu-sive porque a citação só é determi-nada pelo Juiz após a préviaconstatação de que preenche os re-quisitos legais (art. 285 do CPC). Talnorma deve ser aplicadasubsidiariamente ao processo dotrabalho, mas com a devida adap-tação ao rito trabalhista (art. 769 daCLT), onde a citação independe dadeterminação do Juiz (art. 841,caput, CLT), que somente examinaa petição inicial após a tentativa deconciliação (art. 847 da CLT). Daconjugação dessas normas, conclui-se que até esse momento o Juiz po-derá determinar que o reclamanteemende a petição inicial, sendo tam-bém esse o termo final para o recla-mante requerer eventual emenda àexordial. Cerceamento de defesadecretado, por maioria de votos, afim de que o reclamante emende asua petição inicial, conforme reque-rido na abertura da audiência.TRT/SP 15ª Região 0339-2005-056-15-00-1 - Ac. 5ªCâmara 57.647/06-

PATR. Rel. Desig. Samuel HugoLima. DOE 4 dez. 2006, p. 35.

24 - PRESCRIÇÃO. INTERRUP-ÇÃO. CONTAGEM

Na forma do art. 219 do CPC, se-gundo parte, caput, dá-se a inter-rupção da prescrição. Para efeito dacontagem bienal, basta verificar afluência dos dois anos desta inter-rupção. Para efeito da contagemqüinqüenal, deve-se considerar oscinco anos anteriores ao primeiroajuizamento, pois em sentido con-trário, o trabalhador não teria agarantia de discutir o seu direito atodas as verbas. TRT/SP 15ª Região842-2005-042-15-00-4 - Ac. 12ªCâ-mara 5.529/07-PATR. Rel. JoséPitas. DOE 9 fev. 2007, p. 82.

25 - PROCESSO ENVOLVENDOTRABALHADOR MENOR DEIDADE. AUSÊNCIA DE INTER-VENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚ-BLICO EM PRIMEIRO GRAU DEJURISDIÇÃO. NULIDADE. NÃOCONFIGURAÇÃO

Não se declara a nulidade do feitoque envolve trabalhador menor deidade apenas em face ausência deintervenção do Ministério Públicono primeiro grau de jurisdição,mormente quando o reclamante foidevidamente representado no fei-to, havendo a regular outorga depoderes a advogado. Se a própriaparte não se insurge contra a ho-mologação do acordo celebrado emJuízo, não se pode presumir que aausência de atuação do Parquetcomo custos legis tenha acarretadoefetivos prejuízos ao trabalhador,justificando a declaração de nuli-dade, a teor do art. 794 da CLT. Oart. 112 da LC n. 75/93 prevê a

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necessária intervenção do Ministé-rio Público do Trabalho nas causasque envolvam interesse de menores,no segundo grau, ou seja, nos Tri-bunais Regionais do Trabalho. Anorma não faz referência expressaà intervenção do Parquet em primei-ro grau de jurisdição. TRT/SP 15ªRegião 0157-2006-084-15-01-3 - Ac.1ªCâmara 56.881/06-PATR. Rel.Luiz Roberto Nunes. DOE 4 dez.2006, p. 16.

26 - RECONVENÇÃO. RECURSOADESIVO. SUCUMBÊNCIA RECÍ-PROCA

De acordo com o art. 317 do CPC,existindo plena autonomia entre aação principal e a reconvenção, ainterposição de recurso adesivo,por força desta mesma autonomia,somente pode ocorrer quando o re-quisito da sucumbência recíprocaestiver presente em cada uma dasações, principal e reconvencional.A existência de sucumbência recí-proca apenas no âmbito da AçãoPrincipal não autoriza, portanto, ainterposição de recurso adesivo ten-do por objeto apenas a Reconven-ção julgada totalmente improce-dente, para discutir direitos nelavindicados. TRT/SP 15ª Região148-2004-046-15-00-1 - Ac. 10ªCâ-mara 12.537/07-PATR. Rel. JoãoAlberto Alves Machado. DOE 23mar. 2007, p. 95.

27 - RECURSO DO INSS. CON-TRA DECISÕES HOMOLOGA-TÓRIAS DE ACORDOS POSTERI-ORES À SENTENÇA

A homologação de acordo posteri-or ao trânsito em julgado da sen-tença que pôs fim à demanda nãoprejudica a incidência de recolhi-mentos fiscais e previdenciários so-

bre o valor total da condenação, eisque já definidos os títulos que com-põem o salário de contribuição.TRT/SP 15ª Região 2159-2001-093-15-00-0 - Ac. 9ªCâmara 11.336/07-PATR. Rel. Nildemar da Silva Ra-mos. DOE 16 mar. 2007, p. 43.

28 - REVELIA. EFEITOS. PRESUN-ÇÃO DE VERACIDADE. POSSI-BILIDADE DE CONTRAPROVA

A revelia tem como efeito apenas adesoneração do autor quanto à pro-va dos fatos por ele alegados, vistoque presumidos verdadeiros. Noentanto, porque relativa essa pre-sunção e em razão da garantia deintervenção do revel no processo"no estado em que se encontrar"(art. 322, parágrafo único, CPC),permite-se a este que traga aos au-tos contraprova aos fatos narradosna petição inicial, no intuito dedesconstituir aquela presunção deveracidade. TRT/SP 15ª Região1233-2005-110-15-00-6 - Ac. 11ªCâ-mara 9.437/07-PATR. Rel. MariaCecília Fernandes Alvares Leite.DOE 16 mar. 2007, p. 49.

29 - VALE-TRANSPORTE. ÔNUSDA PROVA. APTIDÃO DA PRO-VA

O ônus da prova quanto ao vale-transporte pertence à empregado-ra, atento a que se deve presumir anecessidade de receber o benefício,em razão da condição - igualmen-te presumida - de hipossuficiênciado trabalhador. Exigir do obreiro aprodução da prova da negativa doempregador, no processo, ao pedi-do de concessão do respeitante be-nefício seria onerar-lhe muito, alémde se poder questionar a razoabi-lidade de tal exigência. Aliás, odador de serviço é quem detém os

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documentos relativos ao contratode trabalho, sendo, portanto, a par-te mais apta à produção da provada recusa e/ou desinteresse doempregado, deixando de assim pro-ceder, deve ser responsabilizadopelo pagamento da aludida verba.TRT/SP 15ª Região 910-2004-004-15-00-8 - Ac. 6ªCâmara 1.124/07-PATR. Rel. Francisco Alberto daMotta Peixoto Giordani. DOE 12jan. 2007, p. 77.

30 - VÍNCULO DE EMPREGO. RE-CONHECIDO PELO TRIBUNAL.

RETORNO DOS AUTOS À ORI-GEM. REAPRECIAÇÃO DA MA-TÉRIA. IMPOSSIBILIDADE

O TRT não pode novamente se ma-nifestar acerca da existência ou nãode liame empregatício quando amatéria já foi por ele solucionada,encontrando-se, portanto, preclusaa questão. TRT/SP 15ª Região 2323-2005-142-15-00-9 - Ac. 7ªCâmara6.535/07-PATR. Rel. GiselaRodrigues Magalhães de Araújo eMoraes. DOE 16 fev. 2007, p. 32.

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DIREITO RURAL

01 - TRABALHADOR RURAL.ART. 71, § 4º, DA CLT.APLICABILIDADE EM RELA-ÇÃO AOS TRABALHADORESRURAIS

O debate mais aprofundado da ma-téria, sobretudo no âmbito desta 5ªTurma, conduziu este Relator a re-considerar o entendimento até en-tão adotado quanto ao tema. Ocor-re que o art. 7º, caput, da Constitui-ção da República, além de equipa-rar os direitos sociais dos trabalha-dores urbanos e rurais, deixou ex-plícita a possibilidade da aquisiçãoe incorporação ao seu patrimôniojurídico de "outros que visem amelhoria de sua condição social",dentre os quais podem perfeita-mente ser incluídas as horas extrasfictas criadas pela Lei n. 8.923, de27 jul. 1994, que acresceu ao art.71 da CLT o seu § 4º. Mais do queisto, é de se observar que o paga-mento de indenização pela supres-são total ou parcial dos intervalosintrajornada em nada colide comos arts. 5º e 6º da Lei n. 5.889/73, e5º do Decreto n. 73.626/74, que

apenas disciplinam uma dinâmicadiferente de concessão dos repou-sos para os empregados nas ativi-dades agropecuárias. Na verdade,estes dois Diplomas legais, talcomo a CLT, não regulavam qual-quer conseqüência jurídica para aviolação do repouso entre dois tur-nos de trabalho, sendo justo e equ-ânime que a sepultura da antigaconcepção de que esta lesão de di-reito implicava apenas infração deíndole administrativa (antigaSúmula n. 88 do C. TST), impostapelo novel art. 71, § 4º, da CLT,opere efeitos tanto para trabalha-dores urbanos quanto rurais. As-sim, considerando que a redaçãodo art. 4º do Decreto n. 73.626/74é anterior à modificação da disci-plina operada na CLT, e que estasempre foi fonte supletiva de direi-to para as relações de trabalho nocampo, concluo pela aplica-bilidade, aos rurícolas, da regra doart. 71, § 4º, da CLT. TRT/SP 15ªRegião 708-2006-146-15-00-8 - Ac.10ªCâmara 7.282/07-PATR. Rel.Marcos da Silva Pôrto. DOE 23 fev.2007, p. 55.

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02 - TRABALHADOR RURAL.CONTRATAÇÃO ATRAVÉS DEEMPREITEIRO. PLANTIO DECAFÉ. VÍNCULO EMPREGA-TÍCIO DIRETO COM O PROPRI-ETÁRIO RURAL. PERTINÊNCIA

A contratação de trabalhadorespelo proprietário rural, através de"empreiteiro" de mão-de-obra, parao plantio de café em sua proprie-dade, conforme a Súmula n. 331, Ie III do C. TST, configura terceiri-zação ilícita de prestação de servi-ços. Isto porque, tratando-se deempresa agrícola cafeeira, os servi-ços de plantação de cafezais é umadas etapas da produção agrícolaessencial para que a atividade em-presarial alcance a finalidade a quese propôs, constituindo portanto aatividade fim do empreendimentorural, jamais podendo ser conside-rada como atividade - meio a per-mitir a terceirização. O vínculoempregatício deve ser reconhecidodiretamente o tomador de serviços,no caso o proprietário rural. Recur-so ordinário a que se nega provi-mento, no particular. CONTRATODE SAFRA. AUSÊNCIA DEPACTUAÇÃO ESCRITA. RECO-NHECIMENTO. VIABILIDADE.-O contrato de trabalhadores ruraispara a safra é modalidade de con-trato a prazo certo. O contrato in-dividual de trabalho pode ser acor-dado tácita ou expressamente (CLT,

art. 443), tanto que o Juiz devereconhecê-lo quando o conjunto defatos provados fizerem emergir asua configuração, com base na dou-trina do chamado "contrato reali-dade". Assim, em se tratando deatividade agrícola típica, em que otrabalhador foi admitido para pres-tação de serviços especificados,cujo período trabalhado se restrin-giu exatamente enquanto perduroua necessidade dos serviços, não im-pede que se reconheça o contratode safra, ainda que a respeito nãoexista pactuação expressa. Comefeito, sendo a reclamante contra-tada para o plantio de café, presta-ção de serviços cuja duração depen-de exclusivamente de variaçõesestacionais da atividade agrária eo contrato tendo a duração preci-samente desses serviços na propri-edade rural, não há dúvida que aintenção real dos contratantes foicelebrar contrato para a safra, talcomo definida no art. 19 do Decre-to n. 73.623/74, que regulamentao art. 14 da Lei n. 5.889/73, aindaque haja contrato escrito. Nestascircunstâncias, devidas as parcelasrescisórias exclusivamente destamodalidade de contratação. Recur-so ordinário a que se dá parcial pro-vimento no particular. TRT/SP 15ªRegião 570-2006-035-15-00-5 - Ac.10ªCâmara 54.430/06-PATR. Rel.José Antonio Pancotti. DOE 24 nov.2006, p. 57.

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EXECUÇÃO

01 - AÇÃO DE EXECUÇÃO DEHONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇADO TRABALHO

Não há como incluir na nova com-petência da Justiça do Trabalho, oslitígios decorrentes dos serviços,objeto dos contratos firmados en-tre fornecedores e consumidores, ouseja, as relações de consumo, pre-vistas no art. 1º do CDC (Lei n.8.078/96). O § 2º do art. 3º da Lein. 8.078/90 não deixa margem àdúvida quando delimita que o ser-viço, objeto do contrato de consu-mo, é aquele que não decorre derelações de caráter trabalhista. As-sim, tratando-se de atividade exe-cutada pelo advogado a um clien-te, materializa-se a relação de con-sumo, já que o consumidor utilizaos serviços do fornecedor para sa-tisfazer a uma necessidade própriae não uma atividade produtiva.Embora possa conter prestação deserviços, a relação é de consumo,não configurando a relação de tra-balho nos moldes do art. 114 da CF,mormente ante a total independên-cia das partes. A relação de traba-

lho, mencionada no art.114-I daCF/88, existirá sempre que, naprestação de serviços, excluir-se arelação de consumo. Esta últimarefere-se às relações não permanen-tes, sem continuidade ou habituali-dade na prestação de serviços. Eisto conforme definição do art. 2ºdo CDC. Portanto, se a lide tratade relação de consumo, impõe-se oreconhecimento da incompetênciamaterial desta Especializada, paraapreciar a presente demanda, coma remessa dos autos, à Justiça Co-mum. TRT/SP 15ª Região 51-2006-016-15-00-9 - Ac. 1ªCâmara 57.851/06-PATR. Rel. Claudinei SapataMarques. DOE 12 jan. 2007, p. 41.

02 - ACORDO. DISCRIMINAÇÃODE VERBAS PARA FINS DE INSS.DESVINCULAÇÃO DOS TER-MOS DA PETIÇÃO INICIAL.CONCESSÃO DE PRAZO

Conquanto o Juiz do Trabalho devavelar pelo recolhimento das contri-buições previdenciárias, a concilia-ção é atividade jurisdicional maisrelevante e não está vinculada aostermos da lide processual, muitas

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vezes inferior à lide sociológica,competindo à justiça resolvê-la in-tegralmente. Válida a conciliação,portanto, na forma do art. 475-N,III, do CPC, "...ainda que verse so-bre matéria não posta em juízo".Nesta esteira de raciocínio, muitomenos há que se argumentar quecaracteriza lesão ao INSS, ou mes-mo fraude à legislação previden-ciária, acordo entabulado pelaspartes que englobe verbas devida-mente requeridas pelo obreiro evalores condizentes com os pleitosefetivados, ainda que todos os títu-los transacionados, ou a maior par-te deles, possua natureza indeniza-tória. Finalmente, nos termos doart. 765, da CLT, nada impede aconcessão de prazo para discrimi-nação das verbas inseridas no acor-do realizado, sem que isso impliqueinobservância do parágrafo únicodo art. 43, da Lei n. 8.212/91. TRT/SP 15ª Região 2001-2004-064-15-00-8 - Ac. 2ªCâmara 4.890/07-PATR. Rel. Maria Inês Corrêa deCerqueira César Targa. DOE 2 fev.2007, p. 71.

03 - AGRAVO DE PETIÇÃO EMEMBARGOS DE TERCEIRO. CÔN-JUGE. PENHORA DE IMÓVEL.PRAZO LEGAL. CIÊNCIA INE-QUÍVOCA. INAPLICABILIDADEDOS EXATOS TERMOS DO ART.1.048 DO CPC. INTEMPESTIVI-DADE. IMPROVIMENTO

A doutrina mais autorizada admi-te que à redação dada pelo legisla-dor ao art. 1.048 do CPC tenha fal-tado clareza. Inequívoco, de todomodo, que foi utilizado o critériosubjetivo do conhecimento do atopelo terceiro. Ou seja, o menciona-do artigo apenas é aplicado quan-do o terceiro, por qualquer motivo,

não tenha tomado conhecimentoda apreensão judicial. O legisladorse preocupou com o terceiro que,por não figurar na relação jurídi-co-processual, pudesse vir a ter co-nhecimento da penhora e conse-qüente expropriação do bem ape-nas após efetivada a arrematação,adjudicação ou remição. Tratando-se de cônjuge que teve ciência dapenhora de imóvel tão logo foraesta efetivada, consoante norma doart. 669, parágrafo único, do CPC,o prazo para o ajuizamento dosembargos é de cinco dias a contardaquele ato e não até a arrema-tação, adjudicação ou remição.Agravo improvido. TRT/SP 15ªRegião 584-2004-063-15-00-6 - Ac.4ªCâmara 441/07-PATR. Rel. LuísCarlos Cândido Martins Sotero daSilva. DOE 12 jan. 2007, p. 59.

04 - AGRAVO DE PETIÇÃO. RA-ZÕES. CÓPIA DOS EMBARGOS ÀEXECUÇÃO. INVIÁVEL OCONHECIMENDO DO RECURSO

A mera reprodução, no agravo depetição, das razões dos embargosà execução não viabiliza o conhe-cimento do recurso, pois cabe àparte demonstrar e especificar asrazões de seu inconformismo. Aautorização à interposição do re-curso por simples petição (art. 897,§ 1º, da CLT) não autoriza tal con-duta, pois é indispensável que aparte apresente à instância adquem as razões de sua irresig-nação. Admitir tal conduta auto-rizaria, em última análise, o mes-mo procedimento pelo Tribunal, oque, evidentemente, levaria ao des-crédito a ordem processual e o pró-prio Poder Judiciário. TRT/SP 15ªRegião 2306-1997-003-15-00-0 -Ac. 3ªCâmara 346/07-PATR. Rel.

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Edmundo Fraga Lopes. DOE 12jan. 2007, p. 55.

05 - ARREMATAÇÃO. PELOEXEQÜENTE. POSSIBILIDADE

Inexiste óbice legal do credor arre-matar os bens penhorados, mesmoque por preço inferior ao da avali-ação, tendo em vista que pode com-petir vis a vis com outros pretenden-tes, donde a venda se faz a quemder mais. Único quesito a ser obser-vado e perseguido pelo Juiz da exe-cução é o repúdio ao preço vil.Aplicação subsidiária do art. 690 doCPC. TRT/SP 15ª Região 780-1996-016-15-00-2 - Ac. 6ªCâmara 3.736/07-PATR. Rel. Ana Maria deVasconcellos. DOE 26 jan. 2007, p. 34.

06 - EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECU-TIVIDADE

A exceção de pré-executividadeconstitui ferramenta processualadequada para reconhecer ainexigibilidade do título judicial,quando fundado em lei revogada,e lastreado em interpretação incom-patível com a CF em vigor, o quetorna desnecessário o ajuizamentode ação rescisória para tanto (inte-ligência dos incisos XXXVI eLXXVIII do art. 5º da CF/88, emface do princípio da supremacia daConstituição). TRT/SP 15ª Região191-1998-124-15-00-9 - Ac. 1ªCâ-mara 57.034/06-PATR. Rel. Desig.Tereza Aparecida Asta Gemignani.DOE 4 dez. 2006, p. 18.

07 - EXECUÇÃO. SÓCIO GEREN-TE DE SOCIEDADE ANÔNIMA.ADMISSIBILIDADE

Nos termos do art. 158, II, da Lei n.6.404/74, o sócio administrador deSociedade Anônima pode ser res-

ponsabilizado pelos débitos traba-lhistas inadimplidos pela socieda-de. Aplicação da disregard of the le-gal entity, consubstanciada nos arts.50 do CC e 135 do CTN e do prin-cípio da eficácia do provimentojurisdicional. Por se tratar de socie-dade de capital fechado originadade sociedade limitada, cuja admi-nistração nunca mudou, presume-se que os administradores tinhamliberdade de ação e autonomia;havia imediatidade entre seus atose seus efeitos e possível comunhãode fato entre seus haveres própriose os da sociedade. Recurso do recla-mante provido. TRT/SP 15ª Região736-2003-091-15-00-9 - Ac. 7ªCâ-mara 770/07-PATR. Rel. ManuelSoares Ferreira Carradita. DOE 12jan. 2007, p. 82.

08 – EXECUÇÃO TRABALHISTA.PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

Ainda que o entendimentojurisprudencial sedimentado naSúmula n. 114 do C. TST seja nosentido de ser inaplicável a prescri-ção intercorrente, na Justiça do Tra-balho, entendemos que a mesma foiexpressamente contemplada pelolegislador no § 1º do art. 884 daCLT, ao dispor que a matéria de de-fesa será restrita às alegações de cum-primento da decisão ou do acordo,quitação ou prescrição da dívida (gri-fo nosso). Ora, o dispositivo legalem referência somente pode repor-tar-se à prescrição intercorrente,haja vista que a ordinária apenaspode ser argüida na fase de conhe-cimento, inadmissível que é a mo-dificação ou inovação da sentençaexeqüenda, na fase de liquidação dojulgado, ex vi do § 1º do art. 879 daCLT. De outra parte, porém, em setratando de matéria prescricional,

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a mesma não pode ser declarada deofício, como ocorreu na hipótese, esomente tem aplicação quando aparalisação vincula-se à prática deatos de incumbência exclusiva docredor, o que não se verifica dosautos. Agravo de petição doexeqüente a que se dá provimentopara afastar a prescrição inter-corrente. TRT/SP 15ª Região 773-2005-148-15-00-5 - Ac. 6ªCâmara10.249/07-PATR. Rel. Ana PaulaPellegrina Lockmann. DOE 16 mar.2007, p. 26.

09 - HONORÁRIOS ADVOCA-TÍCIOS SUCUMBENCIAIS. INCA-BÍVEIS. FASE DE LIQUIDAÇÃO/EXECUÇÃO

Em sede de incidente da liquida-ção/execução não se pode falar emcondenação por honorários advo-catícios previstos para processos decognição, mesmo porque, segundoa nova regra do art. 162, § 1º, doCPC, a execução não mais se cons-titui em processo autônomo. E noProcesso do Trabalho (art. 878 daCLT) jamais o fora. TRT/SP 15ªRegião 411-2002-085-15-00-3 - Ac.5ªCâmara 11.885/07-PATR. Rel.Carlos Augusto Escanfella. DOE 23mar. 2007, p. 73.

10 - HORAS EXTRAS. COMPEN-SAÇÃO OU DEDUÇÃO. FORMADE APURAÇÃO. SÚMULA N.347 DO TST

Realmente, para fins de observân-cia ao princípio da vedação ao enri-quecimento ilícito, convém aojulgador autorizar a dedução da-

quelas horas extras que já haviamsido pagas ao reclamante, desdeque estejam efetivamente compro-vadas nos autos. Contudo, essemesmo princípio permite concluirque dita compensação ou deduçãonão pode ter como base os valorespagos sob iguais rubricas, mas sima 'quantidade de horas extras qui-tadas'. Trata-se, afinal, de critérioque não só exclui a possibilidade deequívocos quanto aos efeitos infla-cionários sobre o direito, como tam-bém parece ser o modo de cálculoque mais se aproxima da justa rea-lidade vivida pelo trabalhador.Aplicável à questão, aliás, a inteli-gência da Súmula n. 347 do TST.TRT/SP 15ª Região 1034-2003-029-15-00-2 - Ac. 9ªCâmara 53.119/06-PATR. Rel. Gerson Lacerda Pistori.DOE 10 nov. 2006, p. 63.

11 - RESPONSABILIDADE DOSADMINISTRADORES DAS SO-CIEDADES ANÔNIMAS. EXECU-ÇÃO

A não observância dos preceitostrabalhistas, de ordem pública pe-las sociedades anônimas atrai a in-cidência do disposto no inciso II, doart. 158, da Lei n. 6.404/76, art.927, do CC e art. 592, II, do CPC.Portanto, seus administradores de-vem ser responsabilizados pelosatos praticados com violação da leie responder pela execução, inclusi-ve com seus bens particulares.TRT/SP 15ª Região 558-2003-091-15-00-6 - Ac. 1ªCâmara 1.603/07-PATR. Rel. Edna PedrosoRomanini. DOE 19 jan. 2007, p. 12.

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MATÉRIA NOVA

01 - DOENÇA OCUPACIONAL.PPRA E PCMSO. AUSÊNCIA DEINCONSTITUCIONALIDADE.PRECEDENTES DO E. STF

O art. 200 da CLT, ao delegar parao Ministério do Trabalho a ediçãode disposições complementares àsnormas de segurança, estabeleceudelegação normativa com força delei, não havendo assim como se fa-lar em usurpação de competêncialegislativa. Logo, as normas queestabeleceram o PPRA e PCMSOnão feriram o princípio constituci-onal da legalidade, previsto noinciso II do art. 5º da CF. Aliás, o E.STF, na ADI-MC n. 1.347-5, Min.Celso de Mello (DJU 1º dez. 1995),já pacificou que tais Normas Regu-lamentares sequer estão sujeitas aocontrole de constitucionalidade emabstrato. DESRESPEITO ÀS NRs.CULPA DO EMPREGADOR. IN-VERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.-Age com culpa, em decorrência dainobservância do dever legal decautela, o empregador que nãocumpre as NRs relacionadas às nor-mas de prevenção de acidentes do

trabalho e doenças ocupacionais.Por via de conseqüência, por contapresunção da culpa, cabe ao em-pregador a prova da ausência donexo causal. TRT/SP 15ª Região487-2004-123-15-00-2 - Ac. 5ªCâ-mara 855/07-PATR. Rel. SamuelHugo Lima. DOE 12 jan. 2007, p.63.

02 - ELEIÇÕES SINDICAIS. FOR-MAÇÃO DA COMISSÃO ELEI-TORAL. INÉRCIA DA CHAPAC O N C O R R E N T E .INDEFERIMENTO DA PRETEN-SÃO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.POSSIBILIDADE

O sindicato profissional, comoagrupamento de pessoas, com ob-jetivos comuns, deve primar nosseus atos, sejam eles negociais, ad-ministrativos, jurídicos, etc, pelosprincípios basilares que norteiam asistemática jurídica adotada pelonosso País. No caso proposto, en-tendeu o MM. Juízo a quo que naformação da Comissão Eleitoralhouve a ausência de proporcionalidade entre as chapas concor-

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rentes, com clara falta de democra-tização no processo de escolha dosseus representantes. Ora, ficou evi-denciado que a chapa intitulada"Renovação-CUT", encabeçadapelo recorrido, se manteve total-mente inerte na AGE convocadapara aquele fim, ou seja, apresen-tação de nomes para a formação dacomissão eleitoral. Ato contínuo, osnomes restantes colocados em vo-tação foram aprovados pela maio-ria absoluta dos presentes, reforçan-do o seu caráter soberano sobre aquestão em debate. Portanto, litigade má-fé o recorrido, pois pretendeque o Poder Judiciário socorra assuas aspirações, quando, sem qual-quer motivo plausível e no momen-to correto, se mantém totalmenteinerte, talvez, quem sabe,antevendo a derrota eleitoral e umasolução judicial para a sua situação.Sem dúvida alguma, o recorridodeve suportar o resultado da sua

incúria, sob pena desta Justiça Es-pecializada cometer a maior ilega-lidade no âmbito sindical, qual seja:não respeitar a vontade do traba-lhador. Recurso provido. TRT/SP15ª Região 67-2006-084-15-00-0 -Ac. SDC 7/07-PADC. Rel. FlavioNunes Campos. DOE 12 jan. 2007,p. 37.

03 - EMPRESA OPTANTE PELO"SIMPLES" CONTRIBUIÇÃO SIN-DICAL PATRONAL. INDEVIDA

A contribuição sindical patronal jáestá embutida na contribuição aoSIMPLES - exegese do art. 3º, § 6º,da IN n. 9, de 10 fev. 1999, que veiocomplementar (tão-somente, nãolegislando, como se pode quererentender) a legislação ordinária(Lei n. 9.317/96). TRT/SP 15ª Re-gião 625-2006-088-15-0 - Ac. 6ªCâ-mara 10.051/07-PATR. Rel. AnaMaria de Vasconcellos. DOE 9 mar.2007, p. 80.

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TRIBUNAL PLENO

01 - AGRAVO REGIMENTAL EMRECLAMAÇÃO CORREICIONAL.DEFERIMENTO DE JUNTADA,POR LINHA, DA DEFESA ESCRI-TA. CONTESTAÇÃO E DOCU-MENTOS. PROCEDIMENTO DECARÁTER EXCEPCIONAL QUETRAZ INSEGURANÇA ÀS PARTESE AO JULGAMENTO DA LIDE.NECESSIDADE DE ENCADERNA-ÇÃO ADEQUADA DOS PAPÉISPARA SUA PRESERVAÇÃO FU-TURA, INCLUSIVE PARACONHECIMENTO PELAS INS-TÂNCIAS SUPERIORES. ATOQUE, POR SI SÓ, NÃO IMPLICAACEITAÇÃO DA PROVA OU PRE-SUNÇÃO DE REGULARIDADEDA DEFESA. ERRO DE PROCEDI-MENTO. RECURSO PROVIDO

Nos termos do art. 35 do Regimen-to Interno do TRT da 15ª Região, areclamação correicional somente écabível para corrigir erros, abusose atos atentatórios à boa ordem pro-cessual, ação ou omissão que impor-te erro de procedimento. Vale di-zer, não compete à Corregedoriaintervir administrativamente paracorrigir eventuais erros de julga-

mento, que devem ser atacados,pelas partes, por meio dos recursosprocessuais próprios. A decisão quedecreta a revelia e encerra sumari-amente a fase instrutória por irre-gularidade da representação doempregador constitui ato de natu-reza jurisdicional, escapando, as-sim, dos limites de competência daCorregedoria. Entretanto, se a Au-toridade a quo, nessas condições,deferir a juntada da defesa escrita(contestação e documentos), deve-rá fazê-lo de forma regular, não sejustificando sua encadernação porlinha. Tal procedimento reveste-sede indiscutível excepcionalidade etraz insegurança às partes e ao jul-gamento da lide, porquanto nãopreserva adequadamente aquelespapéis, inclusive para eventual efuturo conhecimento pelas Instân-cias Superiores. A juntada daque-les documentos não implica, por sisó, aceitação da prova ou presun-ção de regularidade da defesa, ca-bendo ao Julgador apreciar livre-mente a ocorrência da revelia ou daconfissão ficta segundo as peculia-ridades do caso concreto. TRT/SP15ª Região 1012-2006-131-15-00-0

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- Ac. TP 40/07-PPLJ. Rel. LuísCarlos Cândido Martins Sotero daSilva. DOE 12 jan. 2007, p. 34.

02 - AGRAVO REGIMENTAL.IMPUGNAÇÃO DA DECISÃOQUE CONSIDEROU INCABÍVELRECLAMAÇÃO CORREICIONAL

O agravo regimental é o recursoapropriado para impugnar decisãoproferida pelo Corregedor Regional(RITRT, arts. 39 e 281, I, "d") emreclamação correicional. RECLA-MAÇÃO CORREICIONAL. EXE-CUÇÃO PROVISÓRIA DE ACÓR-DÃO DO TRIBUNAL REGIONALDO TRABALHO. CRÉDITO DENATUREZA ALIMENTAR. LIBE-RAÇÃO DE DINHEIRO E ALIE-NAÇÃO DE PROPRIEDADE.POSSIBILIDADE. APLICABILI-DADE AO PROCESSO DO TRA-BALHO DO DISPOSTO NO CPC(ART. 475-O, § 2º, I e II).- Sensívelà natureza alimentar dos créditostrabalhistas - reconhecida, inclusi-ve, na CF (art. 100, § 1º) - a Conso-lidação (art. 899) prescreve que, noprocesso do trabalho, os recursostêm efeito meramente devolutivo,salvo as exceções expressamenteprevistas, negando ao recurso or-dinário (art. 895), ao recurso de re-vista (§ 1º do art. 896) e ao recursoextraordinário (§ 2º do art. 893; STF,Súmula n. 228), de modo particu-larmente específico, a concessão deefeito suspensivo (art. 895 e § 1º doart. 896). É possível perceber acen-tuada semelhança no tratamentolegislativo em ordem a negar efeitosuspensivo aos recursos interpostosnas ações de alimentos (CPC, arts.520, II; 497 e 542, § 2º) e nas recla-mações trabalhistas (CLT, arts. 899e 895; § 1º do art. 896 e § 2º do art.893), por evidente a natureza ali-

mentar dos créditos nelas postula-dos, a reclamar atividade jurisdi-cional célere, efetiva e de resulta-dos concretos, mediante sentençaou acórdão com eficácia imediata.A execução provisória, tanto noprocesso civil quanto no processodo trabalho, ainda mantém seme-lhanças inquestionáveis. Com efei-to. No processo civil, a execuçãoprovisória está submetida a diver-sos parâmetros, entre os quais,especificamente, se destaca a im-possibilidade de levantamento dedepósito em dinheiro e a prática deatos que importem alienação depropriedade (CPC, art. 475-O,inciso III). Contudo, existem hipó-teses expressamente previstas na leiem que aqueles atos podem ser pra-ticados na execução provisória ins-taurada: a) se oferecida a necessá-ria caução (CPC, art. 475-O, incisoIII); b) independentemente de cau-ção, em se tratando de crédito denatureza alimentar, até o valor cor-respondente a sessenta (60) salári-os mínimos, quando o credor esti-ver em situação de necessidade(CPC, art. 475-O, § 2º, I), ou, en-tão, nos casos de execução provi-sória em que penda agravo de ins-trumento junto ao Supremo Tribu-nal Federal ou ao Superior Tribu-nal de Justiça (CPC, art. 544). Istoé, no processo civil, a execução decrédito de natureza alimentar écompleta, a despeito de marcadapelo signo da provisoriedade (CPC,art. 475-O, inciso II), porque a sen-tença ou o acórdão ainda estão su-jeitos a recursos recebidos exclusi-vamente no efeito devolutivo. NaCLT há referência genérica no sen-tido da permissão da execução pro-visória até a penhora (CLT, art.899), e não restritiva, como seria o

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caso se houvesse no dispositivo ci-tado a expressão "permitida a exe-cução provisória somente ou exclu-sivamente até a penhora". Daí re-sulta que a Consolidação, a rigor,não estabelece proibição ou restri-ção à continuidade da execuçãoprovisória após a realização do atoconstritivo. Percebe-se que, com res-peito ao levantamento de depósitoem dinheiro e à prática de atos queimportem alienação da proprieda-de, a Consolidação é particularmen-te omissa, razão pela qual deve seraplicado o disposto no CPC (art.475-O), por verificada, na espécie,plena compatibilidade entre a CLTe o CPC. RECLAMAÇÃO COR-REICIONAL. EXECUÇÃO PROVI-SÓRIA DE ACÓRDÃO DO TRI-BUNAL REGIONAL DO TRABA-LHO. LEVANTAMENTO DO DE-PÓSITO RECURSAL. POSSIBILI-DADE.- Não se alegue que a CLT(§ 1º do art. 899) condiciona o le-vantamento do depósito recursalexclusivamente ao trânsito em jul-gado da sentença ou acórdão sobexecução. Efetivamente, não. Comefeito. Primeiro, porque o citadodispositivo não trata de execuçãoprovisória. Segundo, porque a CLTsomente expressou o óbvio, isto é,o levantamento do depósitorecursal (cujo valor se destina à sa-tisfação do crédito reconhecido ju-dicialmente) quando a sentença ou

o acórdão tiver transitado em jul-gado (aliás, não teria sentido reali-zar atos processuais constritivospara satisfação do montante inte-gral do débito, quando existentedepósito recursal passível de utili-zação como pagamento de parte dadívida). Terceiro, porque a CLT nãoproíbe o levantamento do depósitorecursal quando se executa provi-soriamente a sentença ou oacórdão, sobretudo quando aimpugnação é excepcional, como éo caso da interposição de recursode revista (não dotado de efeitosuspensivo) para o TST. Quarto,porque, se, na execução provisóriade crédito de natureza alimentar,o credor pode levantar dinheirodepositado como garantia integralda execução (isto é, numerário ob-jeto de penhora), como acima de-monstrado, fica absolutamente cla-ro que esse mesmo credor pode le-vantar depósitos recursais realiza-dos, ainda que não haja numeráriopenhorado garantindo integral-mente a execução (afinal, quempode o mais também pode o me-nos). Deve ser mantida a decisãoque considerou incabível a reclama-ção correicional. Agravo regimen-tal a que se nega provimento. TRT/SP 15ª Região 1340-2004-126-15-00-9 - Ac. TP 43/07-PPLJ. Rel. LuizCarlos de Araújo. DOE 12 jan.2007, p. 34.

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ÍNDICE DAS EMENTAS

1ª SEÇÃO DE DISSÍDIOSINDIVIDUAIS

- Mandado de Segurança.Aplicação de penalidadedisciplinar

2ª SEÇÃO DE DISSÍDIOSINDIVIDUAIS

- Ação rescisória. Certidão detrânsito em julgado. Verifi-cação de erros.

- Ação rescisória. Documentonovo. Caracterização

- Ação rescisória. Documentonovo. Requisitos: ausênciade culpa pela não utilizaçãooportuna, pertinência com osfatos alegados e capacidadedeste documento de asse-gurar pronunciamentofavorável

- Ação rescisória. Erro de fato

- Ação rescisória. Integraçãoao feito de todos aquelesque compuseram a relaçãojurídico-processual de ori-gem. Imprescindibilidade

DIREITO MATERIAL

- Acordo perante a Comissãode Conciliação Prévia. Qui-tação geral. Inexistência devício de consentimento.Validade

- Adicional de insalubridade.Base de cálculo a partir daCF/1988. Remuneração

- Adicional de transferência.Mudança de domicíliocumulada com transferên-cia provisória

- Aposentadoria espontânea.Reflexo no contrato de tra-balho. Art. 453, § 2º, daCLT. Indenização de 40%do FGTS. ADIn n. 1.721-3

- Atleta profissional. Emprés-timo. Co-responsabilidade.Entidade desportiva ceden-te e cessionária. Decreto n.2.574/98. Impossibilidade

- Contrato de trabalho. Ati-vidade ilícita. Casa de jogos(carteado). Efeitos da nuli-

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dade trabalhista. Indeniza-ção pelo equivalente. A seevitar o enriquecimentoilícito do contraventormaior. O explorador do ne-gócio ilícito.

- Contribuição previdenciária

- Contribuição sindical.Patronal. Cobrança.

- Convenção coletiva. Obri-gatoriedade. Fundaçãopública

- Dano moral

- Dano moral. Prova neces-sária. Pedido de demissãoversus rescisão indireta

- Dano moral. Violação à in-timidade e privacidade.Caracterização

- Danos morais e materiaisdecorrentes de doença pro-fissional. Prescrição. Açãoajuizada junto à JustiçaComum antes da EC n. 45/04. Aplicação do incisoXXIX do art. 7º da Lei Maior.Impossibilidade

- Danos morais. Prescrição.Prazo. Incidência, na hipó-tese dos autos, do art. 7º,XXIX, da CF, e não do CC/1916. Prevalência da normaespecial sobre a genérica.Dispositivo que abrangetodos os créditos resultan-tes das relações de trabalho,inclusive a indenização pordanos morais. Marco inicial:vigência da EC n. 45/04para os casos ocorridos

anteriormente e a data dofato para os posteriores

- Danos morais. Reunião depastores. Ofensas pessoais.Configuração

- Deficiente físico. Inexis-tência de estabilidade.Possibilidade de dispensa.Direito difuso

- Desconto salarial. Perda denumerário em assalto. Des-cumprimento de norma daempresa. Inadmissibilidade

- Direito Civil. Dano moral.Revista de empregados emrazão de furto inexistente

- Direito Civil. Direito do Tra-balho. Dano moral. Anota-ção ilegal na CTPS

- Doença prof i s s iona l .Empregado aposentado portempo de serviço posterior-mente dispensado. Direito à ga-rantia provisória de emprego.

- Empregado. Portador deleucemia. Reintegraçãoindevida. Manutenção daqualidade de segurado

- Empregado público. Dis-pensa com motivação apósconcluído o estágio pro-batório. Reintegração inca-bível

- Horas extras. Comissionistapuro. Labor extraordinárioem atividade alheia a ven-das. Devidas, neste caso, ashoras laboradas mais oadicional

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- INSS. Contribuição previ-denciária. Lei n. 10.666/03.Prestação de serviços semreconhecimento de vínculoempregatício. Possibilidade.

- Intervalo entre jornadas.CLT, art. 66. Petroleiros.Aplicabilidade

- Intervalo. Supressão parcial.Remuneração. Período efeti-vamente suprimido

- Jornada móvel e variável.Empregado à disposiçãodo empregador 44 horaspor semana. Nulidade dacláusula

- Jornal. Venda de assinatu-ras através de telemarketing.Terceirização. Responsabi-lidade subsidiária

- Juros de mora. Ente públi-co. Percentual de 0,5% aomês. Acolhimento

- Juros de mora. Servidor pú-blico. Parcelas vincendas

- Justa causa. Motorista deô n i b u s e n v o l v i d o e macidente de trânsito. Desí-dia. Obrigatoriedade de de-monstração de que a médiade acidentes ocorridos como reclamante é superior àdos demais colegas detrabalho. Desproporçãoentre a falta e a punição

- Periculosidade. Motorista.Abastecimento. Contatoeventual. Adicional inde-vido

- P r e s c r i ç ã o d o d i r e i t od e a ç ã o . P r e s c r i ç ã oqüinqüenal. Interrupção.Ação arquivada

- Responsabilidade do empre-gador. Acidente de trabalho

- Responsabilidade in vigilandodo ente público.

- Sociedade por quotas. Sóciominoritário. Relação deemprego com a sociedade.Possibilidade

- Taxa negocial a ser paga porempregador. Nulidade deprevisão em norma coletiva

- Terceirização

- Transação perante comissãode conciliação prévia - CCP.Quitação com efeitol iberatório geral , semressa lva de nenhumaverba. Trabalhador assisti-do pela entidade sindicalde sua categoria profissionalno momento da composi-ção. Parágrafo único do art.625-e da CLT. Improcedênciados pedidos formuladosem face do reconhecimentoda quitação deles

- Vínculo empregatício. Mo-torista transportador

DIREITO PROCESSUAL

- Ação anulatória de débitoadministrativo e declara-tória de nulidade de ato ju-rídico. Penalidade adminis-trativa imposta ao empre-gador pelos órgãos de fis-

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calização das relações detrabalho (multa pelodescumprimento de termode compromisso firmadoperante o ministério público).Competência da Justiça doTrabalho. CF, art. 114,inciso VII, com redaçãodada pela EC n. 45/04

- Ação cautelar. Competên-cia

- Ação cautelar. Efeito sus-pensivo em recurso ordiná-rio. Improvimento

- Ação monitória. Cobrançade contribuição sindical.Não cabimento

- Acordo entabulado peran-te a Câmara ArbitralLaboral do Estado de SãoPaulo. Alegação de coisajulgada que se afasta

- Acordo judicial. Quitaçãogeral das verbas relativas aoextinto Contrato de Traba-lho. Dano moral e materialdecorrente de doença pro-fissional. Coisa julgada.Impossibilidade

- Acordo judicial. Trânsito emjulgado. INSS. Contribui-ção Previdenciária

- Adicional de insalubridade.Prova técnica. Impossibili-dade. Suprimento e ônus daprova

- Agravo de petição. Decisãointerlocutória. Descabi-mento

- Cerceamento probatório.Indeferimento de oitiva detestemunhas

- Coisa julgada. Substituiçãoprocessual. Configuração

- Competência da Justiça doTrabalho. Morte em serviço.Danos morais e materiais.Ação ajuizada pela mãe davítima

- Competência da Justiça doTrabalho. Relação de trabalho.Representação comercial.Pessoa jurídica. Primaziada realidade

- Competência material .Modificação. Ações julga-das em Primeira Instânciapela Just iça Comum.Conflito de Competêncianegativo. Precedentes doexcelso pretório. Naturezaconstitucional da matéria

- Contribuição sindical .Natureza tributária. Títuloexecutivo extrajudicial.Recepção do art. 606/CLTpela Constituição da Repú-blica/88. Ausência de inter-ferência ou intervenção naorganização sindical. Açãomonitória. Carência daação. Falta de interesseprocessual. Extinção doprocesso sem resolução domérito

- Dirigente sindical versusSindicato

- Embargos de declaração querepetem medida idêntica

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antes já aviada. Ausênciade interrupção do prazorecursal

- Empresa Brasileira de Cor-reios e Telégrafos. Regimejurídico próprio das empre-sas privadas

- Entidade de Direito Interna-cional Público. Imunidadede jurisdição. Processo tra-balhista. Fase de conheci-mento

- Honorários advocatícios deacordo com o CC. Manu-tenção da r. sentença

- Horas extras. Enqua-dramento na exceção pre-vista no inciso I do art. 62da CLT

- Justiça do Trabalho. Agra-vo de instrumento visandoatacar decisão interlocu-tória. Inadmissibilidade

- Justiça gratuita. Requisitospara a concessão

- Litigância de má-fé. Carac-terização

- Litigância de má-fé. Desca-racterização

- Litisconsórcio ativo. Depó-sito recursal. Limite legal ouvalor da condenação. De-serção

- Petição inicial. Emenda.Prazo final

- Prescrição. Interrupção.Contagem

- Processo envolvendo tra-balhador menor de idade.

Ausência de intervençãodo Minis tér io Públ icoem pr imeiro grau dejurisdição. Nulidade. Nãoconfiguração

- Reconvenção. Recursoadesivo. Sucumbênciarecíproca

- Recurso do INSS. Contradecisões homologatórias deacordos posteriores àsentença

- Revelia. Efeitos. Presunçãode veracidade. Possibilidadede contraprova

- Vale-transporte. Ônus daprova. Aptidão da prova

- Vínculo de emprego reco-nhecido pelo Tribunal.Retorno dos autos à origem.Reapreciação da matéria.Impossibilidade

DIREITO RURAL

- Contrato de safra. Ausênciade pactuação escrita. Reco-nhecimento. Viabilidade

- Trabalhador rural. Art. 71,§ 4º, da CLT. Aplicabilidadeem relação aos trabalhado-res rurais

- Trabalhador rural. Con-tratação através de emprei-teiro. Plantio de café. Vín-culo empregatício diretocom o proprietário rural.Pertinência

EXECUÇÃO

- Ação de execução de hono-rários advocatícios. Incom-

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petência da Justiça doTrabalho

- Acordo. Discriminação deverbas para fins de INSS.Desvinculação dos termosda petição inicial. Conces-são de prazo

- Agravo de petição em em-bargos de terceiro. Cônjuge.Penhora de imóvel. Prazolegal. Ciência inequívoca.Inaplicabilidade dos exatostermos do art. 1048 doCPC. Intempestividade.Improvimento

- Agravo de petição. Razões.Cópia dos embargos àexecução. Inviável o conhe-cimendo do recurso

- Arrematação pelo exe-qüente. Possibilidade

- Exceção de pré-execu-tividade.

- Execução. Sócio gerente desociedade anônima. Admis-sibilidade

- Execução trabalhista. Pres-crição intercorrente

- Honorários advocatíciossucumbenciais. Incabíveis.Fase de liquidação/execu-ção

- Horas extras. Compensaçãoou dedução. Forma de apu-ração. Súmula n. 347 doTST

- Responsabilidade dos admi-nistradores das sociedadesanônimas. Execução

MATÉRIA NOVA

- Desrespeito às NRs. Culpado empregador. Inversãodo ônus da prova

- Doença ocupacional. PPRAe PCMSO. Ausência deinconstitucionalidade. Pre-cedentes do e. STF

- Eleições sindicais. Formaçãoda comissão eleitoral. Inér-cia da chapa concorrente.Indeferimento da preten-são. Litigância de má-fé.Possibilidade

- Empresa optante pelo"SIMPLES" Contribuiçãosindical patronal. Indevida

TRIBUNAL PLENO

- Agravo regimental em recla-mação correicional. Defe-rimento de juntada, porlinha, da defesa escrita.Contestação e documentos.Procedimento de caráterexcepcional que traz insegu-rança às partes e ao julga-mento da lide. Necessidadede encadernação adequadados papéis para sua preser-vação futura, inclusive paraconhecimento pelas instân-cias superiores. Ato que,por s i só, não implicaaceitação da prova oupresunção de regularidadeda defesa. Erro de procedi-mento. Recurso provido

- Agravo regimental. Impug-nação da decisão quecons iderou incab íve lreclamação correicional

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- Reclamação correicionalExecução provisória deAcórdão do Tribunal Re-gional do Trabalho. Crédi-to de natureza alimentar.Liberação de dinheiro e ali-enação de propriedade.Possibilidade. Aplicabili-dade ao Processo do trabalho

do disposto no CPC (art.475-O, § 2º, I e II)

- Reclamação correicionalExecução provisória deAcórdão do Tribunal Regio-nal do Trabalho. Levanta-mento do depósito recursal.Possibilidade

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