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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho – 2ª Região 49ª Vara do Trabalho de São Paulo - SP TERMO DE JULGAMENTO Processo nº 0001282-22.2015.5.02.0049 AUTORES: Espólio de Geraldo Magela Barbosa da Cunha, JOSELINE VIEIRA DO AMARAL DA CUNHA, JOÃO AMARAL DA CUNHA e ANA AMARAL DA CUNHA, estes dois representados por Joseline Vieira do Amaral da Cunha. RÉUS: AF ANDRADE EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA., PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO, MARIA OSMARINA MARINA DA SILVA VAZ DE LIMA, JOÃO CARLOS LYRA PESSOA DE MELLO FILHO, APOLO SANTANA VIEIRA e BRADESCO SEGUROS S/A. Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006. Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 6966848 Data da assinatura: 20/03/2018, 10:37 AM.Assinado por: ANTONIO PIMENTA GONCALVES

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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho – 2ª Região49ª Vara do Trabalho de São Paulo - SP

TERMO DE JULGAMENTOProcesso nº 0001282-22.2015.5.02.0049

AUTORES:Espólio de Geraldo Magela

Barbosa da Cunha, JOSELINE VIEIRA DOAMARAL DA CUNHA, JOÃO AMARAL DACUNHA e ANA AMARAL DA CUNHA, estesdois representados por Joseline Vieira do Amaralda Cunha.

RÉUS: AF ANDRADE

EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕESLTDA., PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO,MARIA OSMARINA MARINA DA SILVA VAZ DELIMA, JOÃO CARLOS LYRA PESSOA DEMELLO FILHO, APOLO SANTANA VIEIRA eBRADESCO SEGUROS S/A.

Documento elaborado e assinado em meio digital. Validade legal nos termos da Lei n. 11.419/2006.Disponibilização e verificação de autenticidade no site www.trtsp.jus.br. Código do documento: 6966848Data da assinatura: 20/03/2018, 10:37 AM.Assinado por: ANTONIO PIMENTA GONCALVES

Partes ausentes.

Submetido o processo àapreciação do Juízo, proferiu-se a seguinte

S E N T E N Ç A

Vistos, etc.

Versa a presente açãosobre pretensão dos autores dereconhecimento de vínculoempregatício, em que teria figuradocomo empregado o falecido GeraldoMagela Barbosa da Cunha. Tambémpostulam o recebimento de direitosrescisórios, multas dos artigos 467 e 477da CLT, horas extras, seguro de vida,cesta básica, domingos, adicionalnoturno, adicional de periculosidade,

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indenização por danos materiais eindenização por danos morais.

A primeira reclamadacontestou aduzindo que: é parte ilegítima; apetição inicial é inepta; não teve qualquertipo de relação com o “de cujus”; não eraproprietária, possuidora ou exploradora daaeronave em que o falecido trabalhava;antes do acidente ocorrido com o avião, omesmo foi cedido pela contestante a JoãoLyra e Apolo Vieira; o Partido SocialistaBrasileiro é que detinha a posse daaeronave; não há direito ao adicional depericulosidade porque a exposição a risco,se existente, era eventual; não há relaçãotrabalhista ou civil que justifique suaresponsabilização por danos materiais oumorais; o acidente ocorreu por culpaexclusiva da vítima.

O segundo réu se defendenos seguintes termos: há prevenção da 45ªVara do Trabalho de São Paulo; a empresa

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CESSNA FYNANCE, proprietária do avião,deve ser chamada ao processo; o contestanteé parte ilegítima; não realiza transporteaéreo como atividade fim e sequer comoatividade meio; o Partido Socialista nãocontratou os pilotos que trabalharam naaeronave utilizada por Eduardo Camposdurante a campanha eleitoral presidencialdo ano 2.014; não foi empregador dofalecido; o próprio candidato arrecadavarecursos para o desenvolvimento dacampanha; o transporte aéreo foi cedido aEduardo Campos, por doação, pelos réusJoão Carlos Lyra e Apolo Santana; segundoconsta do relatório do CENIPA, o acidenteaéreo que vitimou o falecido Geraldoocorreu em virtude de culpa da vítima.

Em defesa, a terceira résustenta que: é parte ilegítima; não houvequalquer vínculo fático entre a contestante eo falecido; não há amparo legal para suaresponsabilização; não participou da relaçãode trabalho que envolveu o “de cujus”; só

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usou o avião acidentado em oitooportunidades.

Contestando, o quarto réudiz que: é parte ilegítima; a petição inicial éinepta; não houve relação de emprego entreo contestante e o “de cujus”; a aeronave emque trabalhou o falecido era de propriedadeda empresa CESSNA FINANCE, arrendada àAF ANDRADE; em 15.03.2014 o contestantefirmou uma carta de intenção de compra doavião, transação que não se concretizou,tendo sido desfeito o pacto em junho/2014; oavião continuou em posse do contestanteporque possuía créditos de horas de vôo; opretendido adicional de periculosidade éindevido, pois não há prova de que o co-piloto acompanhasse o abastecimento; nãohouve prestação de horas extras nemtrabalho em domingos ou feriados; háexcludente de responsabilidade docontestante pelo acidente ocorrido, emvirtude dos seguintes fatos: o piloto MarcosMartins não possuía habilitação própria

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para pilotar aquele tipo de avião; segundorelatório do CENIPA havia fadiga esonolência do piloto; não é crível que osalário do falecido fosse de R$ 10.000,00,consoante alegado; eventual direito aindenização por danos materiais deve selimitar a nove anos.

A defesa do quintoreclamado veio nos seguintes termos: é parteilegítima; em maio de 2014 o reclamadoJoão Carlos Lyra propôs ao contestante acriação de uma empresa de táxi aéreo efretamentos, envolvendo a aeronaveacidentada; a constituição da empresa nãose concretizou em virtude da não efetivaçãodo arrendamento mercantil do avião; ocontestante não participou do acordofirmado entre o réu João Lyra e a primitivaarrendatária da aeronave, empresa AFANDRADE; o autor baseia suas alegaçõesapenas em reportagens jornalísticas, masnão há documentos que provem a condiçãode arrendatário; o acidente que vitimou o

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falecido Geraldo ocorreu por força maior efalha humana; não há como se acatar osalário alegado pois só há prova derecebimento da importância de R$ 7.000,00.

A sexta ré apresentou defesaalegando que: há incompetência absoluta daJustiça do Trabalho para se pronunciarsobre eventual responsabilidade daseguradora; a contestante é parte ilegítima;já pagou aos autores o valor integral doseguro obrigatório; na ocasião do acidenteaéreo a apólice de seguro havia sidocancelada; havia diversas prestações doseguro em atraso; o Seguro cobria apenas autilização do avião pela empresa AFAndrade; os valores que a autoria usou paracálculo dos lucros cessantes estãodissociados dos verdadeiros vencimentos do“de cujus”; não há vínculo de emprego entrea seguradora e a vítima.

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O processo foi instruído comdocumentos, inquirição da autoria (fls. 572verso), depoimentos da primeira, do quarto e

do quinto réus (fls. 609 verso / 610 verso)e depoimentos de testemunhas (fls. 640verso/ 644) .

O Ministério Público doTrabalho manifestou-se às fls. 695/697.

As partes apresentarammemoriais de razões finais.

Relatados.

Passo a

D E C I D I R .

I- CONSIDERAÇÕES INICIAIS

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a) Do polo ativo

Em virtude do que dispõe oart. 1º da Lei 6.858/80, eventuais direitostrabalhistas não recebidos em vida porGeraldo Magela Barbosa da Cunha devemser pagos aos seus dependentes habilitadosperante a Previdência Social,independentemente de inventário ouarrolamento.

Então, os direitostrabalhistas aqui discutidos não demandamremessa ao Juízo responsável pela partilhada herança.

Além dos direitostrabalhistas supra mencionados, também sediscute nesta lide sobre indenizações pordanos materiais e morais decorrentes damorte do autor da herança. Estas não seconsubstanciam em direitos trabalhistasdeixados pelo empregado, mas direitos

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próprios dos sucessores, surgidos apenascom seu passamento.

Em outras palavras: partedos pedidos desta lide (indenizações) nãocompõem a herança; constituem potenciaisdireitos dos autores Joseline, João Amaral eAna Amaral. Os demais pleitos (valoressupostamente devidos ao de cujus por seuempregador), embora façam parte daherança (que é um conjunto de bens, direitose obrigações – ativos e passivos), nãodemandam processamento de inventário ouarrolamento.

Logo, afigura-se inadequadoque no polo ativo estejam reunidos o espóliocom a viúva e seus filhos, pois estes são ospróprios beneficiários da herança; e a parteda herança aqui discutida independe deinventário ou arrolamento.

Por tais razões, determino aexclusão da lide do Espólio de Geraldo

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Magela Barbosa da Cunha, devendo o póloativo passar a figurar da seguinte forma:“JOSELINE VIEIRA DO AMARAL DACUNHA, JOÃO AMARAL DA CUNHA eANA AMARAL DA CUNHA, estes doisúltimos representados pela primeira, todossucessores de Geraldo Magela Barbosa daCunha”

Resta ainda acatar orequerimento formulado pelo Parquet à fls.696, concernente à expedição de ofício aoINSS, com cópia do documento de fls. 52,para que a menor Ana Amaral da Cunhapasse a figurar como dependente de seufalecido pai, circunstância que não constoudo documento de fls. 45 certamente emvirtude do lamentável fato de que Ana veioà luz depois do falecimento de seu genitor(v. fls. 49 e 52).

b) Do Chamamento ao Processo

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Impõe-se, outrossim, amanutenção do polo passivo da forma que seencontra, sem a inclusão da empresaCESSNA FINANCE EXPORTCORPORATION, dada a discordância daautoria que não pode ser instada ademandar contra quem não pretende.Eventual conflito secundário entre talempresa e quaisquer outras dasdemandadas, há que ser resolvido, se for ocaso, perante o Juízo adequado, já quepatente a incompetência deste. Indeferido ochamamento ao processo pretendido pelosegundo reclamado.

c) Da Incompetência relativaà Seguradora

Diversa é a situação daSeguradora Bradesco (sexta reclamada), eisque contra ela há pretensão manifestadapela autoria em sede de aditamento (fls.

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142/144), estando a competência neste casovinculada ao fato de que o liame entre aautoria e a seguradora deriva do conflitooriginário pertinente ao vínculoempregatício discutido, havendo incidênciado art. 114, da Constituição da República.Fica rejeitada a exceção de incompetênciasuscitada à fls. 479.

A propósito ainda daBradesco Seguros, deixo de acatar aargüição de ilegitimidade de parte pelo fatode que a relação securitária teria sidoestabelecida com outra empresa, aBRADESCO AUTO/RE. Note-se,inicialmente, que a apólice de seguroestampa o logotipo e o nome BRADESCOSEGUROS (v. fls. 146, e também o doc. 2 dovol. de documentos da 6ª ré). Acresce que,contraditoriamente à alegação de que nãopossui responsabilidade pelo compromissoderivado da relação securitária, aBRADESCO SEGUROS informa em suadefesa que ela própria “BRADESCO

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SEGUROS já providenciou o pagamentointegral das indenizações decorrentes doseguro obrigatório da aeronave, ...” (fls.477, sublinhei); também afirmou, à fls. 476que: “Nesse ensejo, a ora contestante,desempenhando a função social esperada deuma seguradora, já entrou em contato comas famílias das vítimas e lhes transferiutodos os valores que a eles seriam devidosem razão do seguro obrigatório da aeronave– seguro RETA” (novamente sublinhei). Ficaclaro, portanto, que a contestanteBRADESCO SEGUROS S/A. assumeencargos financeiros que alega pertencer aBradesco Auto/RE Cia de Seguros. E não épor menos. Do site de Bradesco Auto/RE(http://wwws.bradescoautore.com.br/SEGUSiteDoSegurado/index.do), consta talinformação.

E, do site de BradescoSeguros(http://www.bradescoseguros.com.br/wps/por

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tal/TransforDigital), consta, na aba“Empresas do Grupo”, Bradesco Auto/RE.

Aplicável, então, poranalogia, o parágrafo 2º, do artigo 2º daCLT, em sua redação vigente à época dosfatos.

Tem mais. A testemunha LuisFernando Bonani, cujo depoimento estáregistrado às fls. 643 verso / 644, se dizempregada da Bradesco Seguros e dádiversas informações sobre o contrato deseguro mantido entre esta empresa e areclamada AF ANDRADE.

Fica portanto mantida no

polo passivo a empresa BRADESCOSEGUROS S/A.

II- PRELIMINARES

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Em linhas gerais, a petiçãoinicial é clara, atende os requisitos do art.840 da CLT e os pedidos decorrem comlógica da causa de pedir. Rejeito aspreliminares de inépcia, ressalvada ahipótese de acatamento de inépcia parcial.

As demais preliminares deilegitimidade de parte confundem-se com omérito e como tal serão enfrentadas.

III- VÍNCULO EMPREGATÍCIO

Neste primeiro momento nãose trata de perquirir sobre a pessoa que,formal ou juridicamente era o operador daaeronave. Apenas investigar sobre aexistência de contrato de trabalho, comvistas aos ditames dos artigos 2º e 3º da CLTe, em caso positivo, quem era o empregador.

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Pois bem. Não há dúvidas deque Geraldo Magela Barbosa da Cunhavinha trabalhando na aeronave que servia aEduardo Campos em suas viagens dacampanha eleitoral à presidência daRepública no ano 2.014. Tanto que veio afalecer trabalhando no referido avião, emacidente ocorrido em agosto daquele ano,fato que se tornou de domínio público.Nenhum dos réus negou que o “de cujus”vinha trabalhando como copiloto daquelanave.

Na verdade, estáincontroverso, porque não negado pornenhum dos réus, que o “de cujus”trabalhou como copiloto do avião entre 10de junho de 2014 e 13 de agosto de 2014.

Na duração da campanha, asviagens sem dúvida eram constantes. Emcampanhas presidenciais as agendas doscandidatos são extensas, com compromissosque, não raro, estão distribuídos em diversas

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localidades e/ou estados num mesmo dia.Consta do relatório do CENIPA que ospilotos apresentavam sinais de fadiga esonolência, o que aponta que o trabalho eranão eventual. Oneroso também o era, dadoque não se cogita de trabalho voluntário,hipótese não suscitada por quaisquer daspartes. Há notícias de que o de cujus recebiaremuneração mensal de R$ 10.000,00, fatomencionado no e-mail que está à fls. 63 dosautos, referendado por informação prestadapela testemunha Flávia Tatiane (fls. 640verso). Conquanto se trate de testemunhaque não presenciou a maioria dos fatos porsi relatados e, em que pese ter mencionado apalavra “interesse” quando questionadasobre a contradita, circunstância já tratada àfls. 641/642, o fato é que presta informaçõesconvincentes, revelando conhecimentohaurido da intimidade que mantinha com seufalecido esposo, morto junto com o autor dapresente herança. Sua fala demonstrasinceridade e veracidade, expressando comfranqueza não ter presenciado parte do que

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relata. Sua cognição sobre os fatos decorredo acesso a correspondências de seu esposo,de conversas com ele mantidas, daconvivência com sua rotina de trabalho e dorelacionamento que mantinha com pessoasdo ambiente da aviação. De mais a mais,parte do que fala diz respeito a fatos que,como dito, não foram negados de formaexpressa pelos réus.

Importante registrar que oelemento da pessoalidade também não foinegado. Não consta das peças de defesa queo copiloto, que como dito trabalhava deforma não eventual e onerosa, tivesse afaculdade de se fazer substituir por outrem.

Colecionam-se, pelo que atéaqui discorremos, os requisitos da nãoeventualidade, da onerosidade e dapessoalidade.

Resta o da subordinação, quetambém se faz presente pelo simples fato de

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que nenhuma das defesas alegou a prestaçãode trabalho autônomo.

O “jogo de empurra”manifestado pelas defesas, que apresentamteses conflitantes, levou cada uma delas àbusca de afastar de si a posição deempregador, sem negar a condição deempregado do falecido. Na prática, cadacontestante ventila subliminarmente a tese deque o empregador era outro.

Temos então por indiscutívela condição de empregado de GeraldoMagela Barbosa da Cunha.

Investiguemos, a partir deagora, quem teria sido o empregador.

A testemunha Flávia TatianeZilatic Vargas Martins informa que GeraldoMagela, o copiloto, foi contratado por meiode contato feito por seu falecido esposoMarcos Martins (fls. 641 verso), que à época

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era o comandante. Obviamente o fez amando de seu patrão João Carlos LyraPessoa de Mello Filho, pessoa que, emPrimeira Instancia foi declaradoempregador de Marcos em ação movida pelafamília deste perante a 45ª Vara do Trabalhode São Paulo-Capital (proc. 425/2015daquela unidade judiciária).

A mesma testemunha Fláviainforma que viu mensagens trocadas entreMarcos, o reclamante e João Carlos Lyratratando sobre pousos e decolagens.

Durante todo o período emque o reclamante trabalhou na aeronave (10de junho de 2014 a 13 de agosto de 2014), oavião esteve em posse de João Carlos Lyra,conforme por ele admitido em depoimentopessoal registrado à fls. 609 verso, onde se lêque: “o depoente manteve a posse daaeronave até a data do acidente”.

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Embora João Carlos Lyranegue ter pago salários a Geraldo, admitiu àfls. 610 a possibilidade de lhe ter feitopagamentos referentes a ressarcimento dedespesas de alimentação.

Na verdade, o copiloto, quesabidamente não trabalhava de graça,recebia salários por meio do piloto Marcos,mas com numerário fornecido por JoãoCarlos, como deflui do depoimento datestemunha Flávia, que guarda consonânciacom o documento de fls. 63.

Sobre o valor do salário,obviamente a autoria teve dificuldade deproduzir a prova. Mas o fez como pode,através do depoimento da testemunha Fláviaque menciona o valor de R$ 10.000,00, etambém pelo já citado documento de fls. 63.

A bem da verdade, incumbiaao empregador produzir prova dos valorespagos ao seu empregado. Mas como não

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formalizou a relação de emprego e buscouescamotear a realidade, não produziu aprova que lhe incumbia.

Assim, não há outro valor aser admitido para o salário do falecido, quenão o retro mencionado. Se quisesse, adefesa poderia ter tentado provar que osalário alegado e demonstrado pela autoriaera irreal ou que estava fora da realidadepraticada no mercado. Teve à sua disposiçãoas testemunhas Fabiano e Jackson (fls. 642verso a 643 verso), ambas profissionais daaviação, mas nada especulou sobre o saláriomédio praticado naquele meio.

Pelo que se expôs, admite-sea existência de contrato de trabalho entre o“de cujus” e o réu João Carlos Lyra Pessoade Mello Filho, no período compreendidoentre 10 de junho de 2014 e 13 de agosto de2014. Função: Copiloto. Salário: R$10.000,00 por mês.

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Apolo Santana Vieiraigualmente era empregador. Consta dodepoimento de Flávia que também viumensagens entre seu esposo e uma secretáriade Apolo versando sobre os voos, indicandoque este réu, que sabidamente havia seassociado a João Carlos no que pertine àtentativa de aquisição da aeronave, tambéminterferia na rotina de trabalho dodemandante.

O fato de que outrasentidades pagassem parte das despesas daaeronave, como hangaragem, não retira aqualidade de empregador destes dois. Écomum que, em campanhas eleitorais,diversos apoiadores arquem, cada um comuma parte das despesas. Mas está claro queos gastos concernentes aos salários datripulação, suas despesas de viagens, bemcomo as tratativas sobre as rotinas de voos,ficaram a cargo destes dois.

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A respeito da empresa AFAndrade, não há qualquer prova de quetenha contratado, assalariado ou submetidoo autor a subordinação. As testemunhasFabiano de Camargo Peixoto e JacksonLucas de Souza Leite, então empregados daAF, não conheceram o falecido, o que nãoseria comum numa empresa de tão pequenoporte, com apenas três aeronaves. FláviaTatiane menciona contatos de seu maridocom a empresa AF Andrade, versando sobrevoos, mas tudo indica que se tratam de fatosanteriores à contratação de Geraldo, que sóocorreu em junho.

Assim, por falta de provas,deixo de reconhecer a existência de vínculoempregatício entre o autor da herança e aprimeira ré, mantido o vínculo empregatícioapenas com o quarto e com o quinto réus.

Dir-se-ia que, assimdecidindo, o Juízo estaria ultrapassando oslimites do pedido, dado que o pleito de letra

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“a” faz menção a reconhecimento de vínculoempregatício apenas com a primeira ré (fls.28). Não é assim. O pedido seguinte dizrespeito à responsabilidade solidária detodos os demais réus. E ainda que assim nãofosse, o fato é que, tratando-se de matériaque diz respeito a interesse público, incumbeà Autoridade Judiciária, uma vez detectada aexistência de um contrato de trabalho,determinar a sua formalização, ainda que aparte não manifeste interesse. Aplicação dobrocardo: “Dê-me o fato e eu te darei odireito”.

IV- DIREITOS RESCISÓRIOS

Admitido que foi o contratode trabalho, é induvidoso que suaterminação ocorreu em virtude da morte doempregado. Devidos portanto os direitos

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finais postulados nas letras “c”, “d”, “e” e“f”, do rol de fls. 28.

O acréscimo do art. 467 daCLT não se aplica em virtude dacontrovérsia, só resolvida em Juízo. Mas,dado o inadimplemento, cabe o deferimentoda multa do art. 477 do mesmo Diploma. Aocontrário do artigo 467, o 477 não contémem sua redação exigência de ausência decontrovérsia para sua incidência. Basta omero inadimplemento, já verificado.Entendimento diverso permitiria ao devedorafastar a incidência da penalidade ao seu belprazer, bastando que contestasse o pleito,ainda que de forma infundada.

V- HORAS EXTRAS / DOMINGOS

Pleitos ineptos, na medidaem que a autoria não cuidou de apontar osdias e horários laborados. Impõe-se a

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extinção, sem resolução do mérito, nostermos do artigo 485, I do CPC, c/c artigo330, I, do mesmo Codex.

VI- ADICIONAL NOTURNO

Pela mesma causa (ausênciade indicação dos dias e horários em quehouve trabalho noturno), a pretensão éinepta. Igualmente fadada à extinção.

VII- ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

Nos termos do Anexo 2, letra“c”, da NR 16 do MTE, são consideradasatividades perigosas as executadas nospostos de reabastecimento de aeronaves,envolvendo todos os trabalhadores nessaatividade ou que operam na área de risco.

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Bem, a autoria produziuprova, através da testemunha GuilhermeCrepaldi Teixeira Silva, que os pilotos ecopilotos se revezam para acompanhar oabastecimento de aeronaves de pequenoporte, como aquela em que trabalhava o “decujus”. Sua fala, assim está registrada à fls.642:

“... em todas as aeronaves depequeno porte fabricadas pelaCessna os pilotos acompanham oprocesso de reabastecimento,porque nem sempre osabastecedores conhecem osdetalhes técnicos da aeronave, etambém para checar a quantidadede combustível, que interfere nobalanceamento e performance daaeronave em voo; piloto e copilotocostumam se revezar nesteacompanhamento, ficando um nacabine preparando o voo e o outro

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fora acompanhando oabastecimento; geralmente ficammuito próximo do ponto deabastecimento, a cinco ou seispassos, porque se trata de aeronavepequena, e porque geralmente aposição do caminhão impede que oabastecedor visualize o mostradorde litragem, sendo o copiloto oupiloto quem o avisa quandoatingida a quantidade...; também sefaz necessário o acompanhamentodos pilotos para a checagem do tipode combustível, pois já houve casode queda de aeronave, em virtudede injeção de combustívelinapropriado.”

De fato, há notícias deaeronaves que caíram em virtude de erro deabastecimento(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0403200803.htm) e

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(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1503200831.htm).

Aeronauta que é, obviamenteGuilherme relatou situação corriqueira emseu meio.

Tratando-se de fato“normal”, “corriqueiro”, incumbia aos réusdemonstrar, se fosse o caso, que no caso doautor era diferente. Tal não ocorreu.

Reputando então que asatividades do autor estavam enquadradas naprevisão da supra citada NR, e com base noart. 193 da CLT, defiro o pedido de letra“o”, que produzirá os reflexos pretendidos,inclusive compondo a base salarial do autorpara cálculo de outros direitos que vierem aser deferidos, excetuando-se eventualindenização por danos materiais, em relaçãoà qual a pretensão da autoria não incluiu oadicional em tela (v. fls. 19 e 20).

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Impõe-se ainda consignar quenão há aplicabilidade ao caso da Súmula447, TST, eis que, como dito acima, ocopiloto acompanhava de perto a operaçãode abastecimento, não permanecendo nacabine de comando durante este evento.

VIII- DANOS MATERIAIS

O falecimento prematuro deGeraldo Magela Barbosa da Cunhaacarretou evidentes prejuízos materiais aoseus sucessores, consistentes principalmentena perda dos salários que certamenteauferiria até o advento da morte natural,sendo que, segundo a estimativa de vida doIBGE utilizada pela autoria, era de 74 anos.

Não se pode, como pretende adefesa, limitar a expectativa de obtenção desalários ao tempo em que o autor passaria ater direito ao jubilamento, porque, salvo ahipótese de aposentadoria por invalidez,

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poderia continuar trabalhando depois deaposentado.

Estimo porém que parte dosalário do falecido, era usado em benefíciopróprio. Além disso, não há plena certeza deque os salários do “de cujus” continuassembeneficiando integralmente a esposa e filhosou que se destinassem sempre à constituiçãode capital com potencial para lhes beneficiarem futura partilha de herança.

Assim, a princípio, apenas70% da renda do postulante deveria comporo cálculo da indenização por danosmateriais, já que é presumível que osrestantes 30% não se destinariamnecessariamente aos autores.

A responsabilidade dosempregadores é objetiva e decorre daaplicação da teoria do risco, que temmarcada incidência em seara trabalhista,pois é do empregador os riscos da atividade

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econômica. No caso em tela, há majoradaaplicabilidade desta espécie deresponsabilidade, em virtude de a atividadeaeronáutica envolver acentuados riscos,particularidade já explorada em brilhantesdecisões de Juízes da esfera Cível emsentenças envolvendo o mesmo acidenteaéreo aqui discutido, algumas delasabojadas a estes autos (fls. 220/226 e645/652). Há, portanto, incidência do art.927 do Código Civil.

Rejeitada que fosse aresponsabilidade objetiva, ainda assim osempregadores não escapariam de obrigaçãoderivada de responsabilidade subjetiva. Istoporque está provado que se pautaram comculpa na condução dos fatos que culminaramcom o fatídico acidente. Permitiram que aaeronave navegasse operada pelos pilotos,sem que estivessem preenchidas as condiçõespara tanto. Com efeito, conforme ressaltadopela autoria, o Relatório derivado das

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investigações empreendidas pelo CENIPAapuraram que:

“... a aeronave não atendia ascondições de aeronavegabilidade previstaspela legislação.”

“...os pilotos não passarampor treinamento de diferenças ou formação,antes de operar o CE 560XLS+.”

“o CVR da aeronave estavainoperante há cerca de um ano e sete meses,não atendendo aos requisitos deaeronavegabilidade”.

Diante de taisirregularidades, como poderiam osempregadores do autor permitir queoperasse o avião como copiloto, trabalhandoem condições irregulares? Não se olvide queem Direito do Trabalho o poder diretivo éatribuído ao empregador. Clarificado está

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que se pautaram com culpa, consistente emimprudência.

A hipótese deresponsabilidade exclusiva da vítima,invocada pelas defesas, é de todo afastável.Ora, se é que os pilotos falharam em virtudede cansaço e sonolência, a culpa é dospróprios empregadores que os expuseram ajornadas extenuantes em função do ritmo dacampanha eleitoral. E se erraram porimperícia, novamente a culpa é doempregador, que contratou para a conduçãoda nave pessoas que não tinham habilitaçãoespecífica para aquele tipo de avião.

É fato que havia deficiênciasdos pilotos, circunstância explorada pelorelatório do CENIPA. Também é induvidosoque houve indisciplina, incúria e erro noprocedimento de pouso, tudo agravado pelasmás condições de tempo e cansaço datripulação. Tudo isso foi igualmenteestudado no relatório retro mencionado.

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Porém não é custoso concluir

que, nestas circunstâncias, o copiloto foimais vítima do que agente. O mesmorelatório menciona que o piloto tinha carátermais impetuoso e o copiloto mais passivo. Asdecisões, por certo, incumbiram muito maisao comandante do que ao seu “auxiliar”.Vale lembrar que, pelos ditames legaisaplicáveis, Geraldo estava submetido àautoridade do comandante Marcos (art. 166,“caput” e parágrafo 2º da Lei 7.565/86).Sob este aspecto, o empregador se tornouresponsável, em relação ao copiloto Geraldo,por supostos erros praticados pelocomandante Marcos (CC, 932, III).

Dos empregadores foi a culpaprincipal de ter submetido Geraldo atrabalhar naquelas circunstâncias, comcomandante que não estava integralmentehabilitado para aquele tipo de aeronave,submetido a condições de cansaço e

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sonolência, em avião inapto para aaeronavegabilidade.

A culpa de Geraldo serestringe ao fato de ter aceito o encargo,mesmo não estando ele próprio habilitadopara tanto e conhecendo as própriaslimitações. Em virtude desta singularidade,sem eliminar a responsabilidade dosempregadores, reduzo de 70 para 60% opercentual dos rendimentos de Geraldo quecomporão a base de cálculo da indenização.

Com estas restrições, ficaparcialmente deferido o pedido de letra “p”,consistente em pensão mensal, que tem comomarco inicial a morte de Geraldo e final adata em que completaria 74 anos. Além dopercentual de 60% dos salários, a “renda”será composta também pelo valor atinente aoFGTS, aos 13º salários e terço de férias (semo principal, pois o valor do salário já foimultiplicado pela autoria por 12, envolvendo

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portanto a remuneração do período de férias– v. fls. 19/20).

A indenização há que serpaga de uma só vez, nos termos do art. 950do Código Civil.

IX- DANOS MORAIS

Seria desnecessário tratarsobre o sofrimento que a morte produz nosfamiliares próximos do falecido. Todos osabemos, e a psicologia contém vastaliteratura a respeito do luto, suasconsequências, seu enfrentamento esuperação, esta nem sempre alcançada emsua plenitude.

Os casos de morte poracidente aéreo geram ainda maioramargura. Toda queda de avião constituiuma tragédia. Invariavelmente o parente

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próximo padece martírios advindos dascogitações mentais sobre o terror sofrido porseu ente querido nos últimos momentos davida. A consternação padecida pela imagemdos corpos despedaçados. Tudo aliado aosúbito. Repentinamente depara-se com anotícia da morte de quem até momentosatrás gozava de plena saúde, vivacidade efulgor. Inesperada e brusca frustração desonhos, planos, expectativas e esperanças.Vida interrompida de improviso.

O primeiro impacto, deviolência ímpar, surge no próprio momentodo recebimento da notícia. Transtornointenso. Estudiosos ligados a diversas linhasda psicologia estudam meios de ajudarpacientes que se deparam com o inesperadoe trágico evento de mortes súbitas de pessoaspróximas.

Nos dias que se seguem, asensação da ausência, o rompimento violentode relações afetivas tão intensas.

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No futuro, a estabilização daperda, a triste lembrança e os efeitos que,segundo as experiências e atributos de cadaindivíduo, muito podem variar.

Para a viúva a perda afetiva;o novo e repentino estado de solidão. Odesfazimento da convivência com aquele que,de regra, lhe é a pessoa mais íntima eafeiçoada. Joseline experimentou a viuvez,de forma trágica, quando grávida de suafilha Ana. O medo do futuro. A insegurançasobre a criação dos filhos, agora sem aparticipação do pai, seu natural parceiro natarefa que talvez seja o mais nobre dosencargos humanos: preparar indivíduos parase tornarem capazes de viver autonomamentee conviver saudavelmente em sociedade comos valores adotados pela família.

Para os filhos, a orfandadedesde a tenra idade. João viu-se órfão aostrês anos. Sua irmã Ana veio à luz quando o

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pai já havia falecido. A ausência da figurapaterna, que tantos transtornos acarreta naformação afetiva, fato igualmente estudadocom amplitude e profundidade pelapsicologia.

Retomando o que foi dito noinício deste item, não há necessidade, nemhaveria oportunidade suficiente paraespecularmos sobre os danosextrapatrimoniais experimentados pelosautores. Faltaria tempo, papel (ou meiosdigitais), pré-conhecimento de situaçõesfuturas, experiência pessoal e tantas outrascondições que nos impediriam de aquilatarcom exatidão a extensão do sofrimentopassado, presente e futuro de Joseline, JoãoAmaral e Ana Amaral.

Tudo isto sem cedermos aopessimismo, pois não faltam motivos paraacreditar que os demandantes encontrarãoforças para a (re)construção de suas vidas,de forma feliz e com superação.

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Mas as considerações sefazem necessárias para fundamentar que nanossa compreensão está configurada aexistência de graves danos extrapatrimoniaise sua relação de causa e efeito com o eventodanoso.

Falta perquirir sobre aantijuridicidade do comportamento doofensor, a respeito do que peço vênia parame reportar às considerações jáempreendidas no item anterior, versandosobre responsabilidade objetiva e subjetiva,estando a pretensão dos autores amparadaem quaisquer das linhas a que se filie ojulgador.

Posto isto, e levando emconta ainda a pequena parcela de culpaatribuída a Geraldo, cabe o deferimento dopedido de indenização por danos morais, que

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arbitro em R$ 1.000.000,00 (Hum Milhão deReais) para Joseline e R$ 500.000,00(Quinhentos Mil Reais) para cada um deseus filhos. Importante ressaltar que, quantoao particular, as indenizações visam reparardanos personalíssimos experimentados porcada um dos autores, não se tratando devalores devidos ao empregado. Portanto, adestinação individualizada das importânciasnão está adstrita à forma de divisãopreconizada pelo artigo 1º da Lei 6.858/80.

Não faltará quem seescandalize com os valores arbitrados,julgando tratar-se de indenização milionáriae desmedida, manipulação da "indústria dodano moral", enriquecimento ilícito,ausência de fundamentação adequada para ovalor arbitrado, falta de prudência eresponsabilidade na adoção dos parâmetrosutilizados, etc.

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Essas ponderações devemser rechaçadas. É preciso observar asparticularidades do caso. A doutrinaassentou-se no sentido de que o arbitramentodeve pautar-se, dentre outros aspectos, pelaextensão do dano, pela situação econômicada vítima, pelo patrimônio e poder financeirodo ofensor.

A magnitude do dano e suasconsequências já foi tratada acima. Quantoà situação econômica das vítimas, estápatente que se tratava de família de classemédia, acostumada a mediano padrão devida numa metrópole como a de São Paulo(que possui um dos maiores custos de vidado país), consentâneo com a renda do autorda herança. Falta especular sobre o podereconômico dos réus, especialmente osempregadores João Carlos Lyra Pessoa deMelo Filho e Apolo Santana Vieira.

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Acerca deste último, constaser sócio da empresa BandeirantesCompanhia de Pneus, que apenas em relaçãoa dívidas fiscais teria sonegado importânciaque gira em torno de R$100.000.000,00 (cemmilhões de reais), consoante consta denotícia que se tornou pública como se vêhttps://jornalggn.com.br/tag/blogs/apolo-santana-vieira. Também há suspeita de serproprietário de patrimônio milionário, aexemplo de veículos de luxo, barco eapartamento cobertura em praia, fato quetambém se tornou público pela veiculação danotícia constante do linkhttp://jc.ne10.uol.com.br/blogs/pingafogo/2017/03/10/apolo-vieira/.

A respeito de João CarlosLyra Pessoa de Melo Filho, consta que suafamília possui um grupo de empresas que, aofalir, teria deixado prejuízos no mercado naordem de R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhõesde reais) –http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2014/0

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8/26/filho-de-ex-deputado-socialista-luiz-piauhylino-e-irmao-de-criacao-e-joao-carlos-lyra-assume-outra-parte-de-financiamento-para-compra-de-aviao-de-eduardo-campos/. Também há suspeitas deter ele próprio passado empresas de suapropriedade para o nome de "laranjas",consoante ventilado em decisão judicialproferida em sede de Habeas Corpushttp://www.trf5.jus.br/data/2016/07/PJE/08043072620164050000_20160720_84067_40500004555948.pdf.

Esclareço que as mençõesaqui realizadas se dão, não com o intuito deafirmar a ocorrência de crime, mas parademonstrar indícios cabais da existência depatrimônio considerável dos reclamadosmencionados.

Como se vê, tratam-se osempregadores, de pessoas acostumadas alidar com dezenas e até centenas de milhões

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de reais. Se assim não fosse, não teriam sedisposto à aquisição de uma aeronave queseria cedida à campanha presidencial deEduardo Campos, com o mote de futuracriação de empresa de táxi aéreo. Estascircunstâncias devem ser sopesadas natarefa de arbitramento da indenização.

Não se diga, portanto, que setrata de arbitramento desconectado dagrandeza do dano e das circunstânciasfinanceiras das vítimas e dos causadores dofato em questão.

X- OUTROS PEDIDOS

Pelo que consta dodocumento 3, encartado ao volume apartadotrazidos à colação pela sexta ré, o seguro devida já foi pago aos autores em valoressuperiores aos previstos pela NormaColetiva. Não se diga que se tratam de

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institutos diversos, dado que a finalidade é amesma.

Ademais, a norma coletivatrazida pelos autores às fls. 97 e seguintesnão lhes beneficiam, na medida em que osempregadores não desenvolviam atividadespróprias de empresas de táxi aéreo, nãoparticipando então da categoria econômicaque figura naquela norma. À toda evidênciaadquiriram o direito ao uso da aeronave como intuito de cedê-la à campanha presidencialde Eduardo Campos. Pelo que consta dosautos, a intenção de criação futura deempresa de táxi aéreo não ultrapassou ocampo das intenções ou da justificação paraaquisição do bem.

Com isto ficam fadados àimprocedência os pedidos de “seguro devida” e “cesta básica”, ambos amparadosna norma coletiva supra referida.

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Com base no princípio darestituição integral, preconizado pelo artigo404 do CC, defiro o pedido de letra “s”, emvalor equivalente a 30% do que vier a serapurado pelos títulos retro deferidos.

XI- RESPONSABILIDADE DE CADA RÉU

a) Os empregadores

Já foi declarado, no item IIIsupra, que os empregadores do “de cujus”eram os réus João Carlos Lyra Pessoa deMello Filho e Apolo Santana Vieira, quenesta condição detêm responsabilidadeprincipal e solidária entre si pelos direitosreconhecidos aos autores, o que, ademais,decorre da disposição contida no artigo 297do Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei7.565/86).

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b) AF AndradeEmpreendimentos eParticipações Ltda.

Já foi decidido, no item IIIsupra, que os empregadores do falecidoeram João Carlos e Apolo, não a empresaAF. Isto porém não retira a responsabilidadedesta ré, que decorre dos artigos 123, 124,132 e 256 da Lei 7.565/86.

De fato, não consta que osempregadores tivessem obtido a concessãomencionada no inciso I do artigo 123 da leicitada, de sorte que juridicamente a AFAndrade continuava na posição deoperador/explorador da aeronave, o queatrai sua responsabilidade nos termos dosdemais dispositivos legais acima referidos,notadamente o artigo 256.

Ora, posse e relação deemprego constituem fatos. Mas

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responsabilidade decorre de circunstânciasjurídicas, como a que acima foi explicitada.

Fica declarada aresponsabilidade solidária da ré AFAndrade.

c) Partido Socialista Brasileiro

Não há provas de que oPSB tenha participado da contratação deGeraldo, efetuado pagamento de seussalários, ou a ele ministrado ordens.

A testemunha FláviaTatiane, trazida a Juízo pela própria autoria,afirma que não se recorda de contatos do seumarido com o PSB (fls. 641 verso). Ora, seumarido (Marcos Mendes) era o comandanteda aeronave, com o qual Geraldotrabalhava. Via de regra as ordens de

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viagens e até mesmo os salários eramdestinados a Marcos, e por ele repassados aoautor. Então, Geraldo não recebeu ordensemanadas do PSB, pois não consta sequerque o comandante tivesse tido contato comeste ente.

Não se ignore: emcampanhas eleitorais para cargosmajoritários, não é incomum queagremiações partidárias cedam a legendapara interessados que apresentem potencialpara captação de recursos destinados aoempreendimento da campanha. Nestes casos,os partidos oferecem a estrutura partidária,a penetração de que desfrutam no tecidosocial, o poder de angariamento deapoiamentos políticos, enquanto o candidatose responsabiliza, dentre outros encargos,pela conquista de apoiadores que ofereçamrecursos financeiros para o empreendimentoda campanha.

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No caso em tela, não estáexcluída a hipótese de que o PSB tenhaarcado com parte das despesas do embateeleitoral encabeçado por Eduardo Campos.Mas não há qualquer indício ou evidência deque tenha assumido encargos relacionadosaos deslocamentos do candidato. Aocontrário, a prova dos autos veio no sentidode que o fornecimento do meio de transporte,incluindo o salário dos pilotos, foi oferecidopelos empresários João Carlos Lyra Pessoade Mello Filho e Apolo Santana Vieira,tendo o primeiro declarado em seudepoimento pessoal que emprestou o avião aEduardo, tendo ainda assumido despesasreferentes a atualização de um software daaeronave que estava vencido (fls. 610). Ofato de haver nos autos indicação de que ahangaragem da aeronave era paga por umaterceira empresa, confirma que umadiversidade de apoiadores arcava com asdespesas da campanha.

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Os autos não apresentamqualquer elemento que permitam concluirque o PSB tivesse intervenção, encargo ouparticipação quanto ao transporte aéreoutilizado pelo candidato Eduardo. Tambémnão é possível concluir, com base na provados autos, que o partido tivesseresponsabilidade pela elaboração da agendado candidato e, portanto, interferência nadeterminação das viagens e voos a seremempreendidos pela tripulação.

É fato conhecido queEduardo Campos havia alcançado grandeprojeção nacional conquistada ao longo desua trajetória política, especialmente depoisde ter governado o Estado de Pernambuco.Político experiente e carismático, possuíagrande poder de penetração e alargadamalha de relacionamentos no meio político.Grande líder que era, não dependia de que acúpula do partido elaborasse e/oucomandasse sua agenda de compromissos.Repiso que não há como concluir com base

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na prova destes autos, a não ser porpresunção infundada, que a agremiaçãopolítica tivesse ingerência sobre o trabalhoda tripulação ou poder de comando sobreela.

Pelas razões expostas,absolvo o Partido Socialista Brasileiro daspretensões contra si veiculadas

d) MARINA SILVA

A primeira testemunha daautoria, Flávia Tatiane Zilatic VargasMartins, foi a única a se referir à ré MariaOsmarina Marina da Silva Vaz de Lima.Consta de seu depoimento que:

“... acerca de MariaOsmarina Marina da Silva dizapenas que era passageira dosvoos” (fls. 641 verso).”

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Nenhuma outratestemunha ou documento faz menção aMarina Silva como sendo pessoa que desseordens à tripulação, pagasse seus salários outivesse participado de sua contratação.

Não há sequerdemonstração de que Marina cumprisse asmesmas agendas que o candidato Eduardo eque fizesse com ele as mesmas viagens. Tantoque não estava no avião no dia do acidente.Via de regra, a dupla de candidatos (àpresidência e à vice presidência) sedesdobram para o fim de participar da maiorquantidade de eventos possíveis, com vistas amultiplicar a possibilidade de contatos,apenas se reunindo em ocasiões dedestacada importância.

Novamente, apenas porpresunção infundada poderíamosresponsabilizar a terceira reclamada. Oselementos dos autos não dão ensejo a tal.

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Fica a terceira requerida absolvida daspretensões dos autores.

e) BRADESCO SEGUROSS/A.

Está incontroverso que areclamada AF Andrade, já condenada nestesautos com base nos fundamentos lançadosno item “b)” deste item XI, havia contratadoa Bradesco Seguros SA para a garantia daaeronave acidentada. A extensão dagarantia está circunscrita nas cláusulascontratuais constantes destes autos, queabrangem inclusive a tripulação, envolvendoportanto a pessoa do falecido Geraldo.

Eventus mortis, a famíliade Geraldo experimenta danos materiais emorais já tratados alhures.

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Até o limite contratado, aseguradora responde pelos referidos danos.

Em que pese a existênciade atrasos nas parcelas do seguro, acompanhia seguradora não se desvencilhoudo ônus de demonstrar que tivesse dadociência à proprietária da aeronave (CessnaFinance), para que querendo efetuasse ospagamentos, tratando-se de exigência legal.

Não é crível que atransferência da posse da aeronave para osréus João Carlos e Apolo tivesse ocorridosem a ciência da Seguradora. Tanto assim,que em agosto de 2014, quando o avião jáestava em posse destes a alguns meses, aseguradora novamente empreendeunegociações com AF Andrade, quejuridicamente estava mantida na posição deoperadora, com vistas à celebração deseguro obrigatório, o que realmente seefetivou.

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Logo, as obrigaçõessecuritárias assumidas pela sexta rémantinham-se incólumes na ocasião doacidente. Não se lhes beneficia osargumentos de que o contrato de seguro nãomais vigia e de que o usuário era outro quenão o segurado.

Consta, do própriocontrato de seguros, que em situaçõesespeciais a Companhia pode efetuarpagamentos diretos às vítimas. Ora, asituação tratada nestes autos éespecialíssima. Não se trata de ato devoluptuosidade da seguradora, mas deobrigações contraídas contratualmente.

Sendo assim, àSeguradora atribui-se responsabilidadesolidária pelas indenizações por danosmorais e materiais, até o limite contratadopor pessoa, além do que sobre isto incidir atítulo de ressarcimento pelos gastos comhonorários advocatícios.

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XII- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Excetuando-se asindenizações por danos morais, queconstituem direitos pessoais dos autores emvalores individualizados, as verbas oriundasdos demais títulos deferidos deverão serpartilhadas de acordo com a fórmulaestipulada pelo art. 1º da Lei 6.858/80, emcotas iguais para cada um dos três autores.

As indenizações por danosmorais receberão atualização e jurossomente a partir da data de publicação dapresente decisão, pois só com esta o direitofoi instituído.

Consoante exorta a Ilustrerepresentante do Ministério Público, osvalores destinados aos menores impúberes

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deverão ser depositadas separadamente emcontas poupança, para que se dêcumprimento à determinação do parágrafo1º do art. 1º da Lei 6.858/80.

Determino à Secretaria queremova para o seu devido lugar aprocuração pública dos menores, queembora numerada como folha 33 estáalocada entre as folhas 22 e 23 dos autos, emmeio à petição inicial. É provável que esteerro tenha sido a causa do requerimentoformulado pelo Ministério Público doTrabalho à fls. 696, acerca doentranhamento de procurações públicas dosmenores impúberes.

À vista da declaraçãocontida no item III da petição inicial (fls.26), concedo aos autores os benefícios dagratuidade da Justiça.

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Pelo exposto, julgoEXTINTOS, sem resolução do mérito, ospedidos de horas extras, domingos eadicional noturno, em razão deindeferimento da petição inicial decorrentede inépcia.

.Outrossim, julgo

IMPROCEDENTE a ação em relação aosrequeridos PARTIDO SOCIALISTABRASILEIRO e MARIA OSMARINAMARINA DA SILVA VAZ DE LIMA.

Quanto ao mais, julgoPROCEDENTE EM PARTE a presenteação, para o fim de condenar os reclamadosAF ANDRADE EMPREENDIMENTOS EPARTICIPAÇÕES, JOÃO CARLOS LYRAPESSOA DE MELLO FILHO e APOLOSANTANA VIEIRA, solidariamente, aopagamento, a favor dos autores JOSELINEVIEIRA DO AMARAL DA CUNHA, JOÃOAMARAL DA CUNHA e ANA AMARAL DACUNHA, dos seguintes títulos:

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1. saldo salarial (13 dias);2. 2/12 de férias mais um

terço; 3. 2/12 de 13º salário;

4. indenização pelo FGTS;5. multa do artigo 477 da

CLT;6. adicional de

periculosidade com reflexos sobre fériasproporcionais mais 1/3, 13º salárioproporcional e FGTS;

7. indenização por danosmateriais (pensão mensal vitalícia, segundoos parâmetros traçados na fundamentação, aser paga de uma só vez);

8. indenização por danosmorais: 8.1- R$ 1.000.000,00(Hum milhão de reais) a favor de JoselineVieira do Amaral da Cunha;

8.2- R$ 500.000,00(Quinhentos mil reais) a favor de JoãoAmaral da Cunha;

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8.3- R$ 500.000,00(Quinhentos mil reais) a favor de AnaAmaral da Cunha;

9. ressarcimento pelos gastoscom honorários advocatícios.

A sexta reclamada, Bradesco

Seguros S/A, responderá solidariamentepelas indenizações por danos morais emateriais, até o limite contratado “porpessoa”; e mais, a parte da indenizaçãopelos gastos com honorários advocatíciosque incidir sobre tal importância

.Juros e correção monetária

na forma da lei, observando-se, quanto àépoca própria, a data de vencimento de cadaobrigação, que em relação às verbassalariais é o 5º dia útil do mês subseqüenteao do fato gerador.

As cotas destinadas aosmenores impúberes deverão ser depositadasem conta poupança, para que se dê

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atendimento ao parágrafo 1º do art. 1º daLei 6.858/80.

No prazo de oito dias, acontar do trânsito em julgado, osempregadores deverão efetuar o registro docontrato na CTPS do falecido, com os dadosconstantes da fundamentação. Eventualomissão será suprida por ato da Secretaria.

Autorizo a dedução das cotasprevidenciárias e fiscais a cargo doempregado, obedecidas, quanto ao impostode renda, as alíquotas mensais vigentes nasrespectivas épocas, aplicando-se inclusiveeventuais isenções.

Os reclamados deverãocomprovar também os recolhimentosprevidenciários que constituírem a cota-parte do empregador.

As verbas objeto da presentecondenação possuem caráter indenizatório,

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com as seguintes exceções: saldo salarial,13º salário proporcional e adicional depericulosidade.

Custas pelos reclamados aosquais se dirigiu a condenação, calculadassobre o valor da condenação arbitrado emR$ 4.500.000,00 (Quatro Milhões eQuinhentos Mil Reais), no importe de R$90.000,00 (Noventa Mil Reais).

Oficie-se ao INSS e DRT.

Providencie a Secretaria aexpedição do ofício mencionado no últimoparágrafo do item I, a, da fundamentação,independentemente do trânsito em julgado.

Atente também para odeslocamento da procuração pública dosmenores, como consta do item XII dafundamentação.

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Proceda-se à alteração dopólo ativo, com exclusão do Espólio, dando-se atendimento ao que foi a esse respeitodeterminado no item I, letra “a)”, a dafundamentação.

Intimem-se as partes. Dê-seciência ao Ministério Público do Trabalho.

São Paulo, 01/setembro/2017

ANTONIO PIMENTA GONÇALVESJuiz do Trabalho

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