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Dissertação “MODELAMENTO FÍSICO E MATEMÁTICO DO FLUXO NO INTERIOR DE UM MOLDE DE LINGOTAMENTO CONTÍNUO DE BEAM BLANK ALIMENTADO COM DUAS VÁLVULAS SUBMERSAS TUBULARES’’ Autor: Johne Jesus Mol Peixoto Orientador: Prof. PhD. Carlos Antônio da Silva Co-orientador: Prof. D.Sc. Itavahn Alves da Silva Ouro Preto, março de 2016

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Dissertação

“MODELAMENTO FÍSICO E MATEMÁTICO DO

FLUXO NO INTERIOR DE UM MOLDE DE

LINGOTAMENTO CONTÍNUO DE BEAM BLANK

ALIMENTADO COM DUAS VÁLVULAS

SUBMERSAS TUBULARES’’

Autor: Johne Jesus Mol Peixoto

Orientador: Prof. PhD. Carlos Antônio da Silva

Co-orientador: Prof. D.Sc. Itavahn Alves da Silva

Ouro Preto, março de 2016

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Johne Jesus Mol Peixoto

“Modelamento Físico e Matemático do Fluxo no Interior de

um Molde de Lingotamento Contínuo de Beam Blank Alimentado

com Duas Válvulas Submersas Tubulares’’

Dissertação de Mestrado Apresentada ao Programa

de Pós Graduação em engenharia de Materiais da

REDEMAT, como parte integrante dos requisitos

para a obtenção do Título de Mestre em Engenharia

de Materiais.

Área de concentração: Processos de Fabricação

Orientador: Prof. PhD. Carlos Antônio da Silva

Co-orientador: Prof. D.Sc. Itavahn Alves da Silva

Ouro Preto, março de 2016.

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II

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III

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por mais esta vitória em minha vida e por sempre me dar

forças para enfrentar os desafios.

Agradeço aos meus pais, irmãos, familiares e amigos pelo apoio e incentivo oferecidos

durante esta jornada. Em especial à minha esposa Bianca.

Agradeço ao professor PhD. Carlos Antônio da Silva pela oportunidade e orientação neste

trabalho e também ao professor D.Sc. Itavahn Alves da Silva pela co-orientação.

Agradeço também a todos os amigos do laboratório de Pirometalurgia por tornar aquele

ambiente um espaço de amizade aliado à produção científica. Em especial ao Weslei Gabriel e

aos alunos de iniciação científica Letícia Queiroz e Ciro Silva por todo o auxílio na realização

dos experimentos e análise dos resultados.

Agradeço aos demais professores que fizeram parte desta caminhada e deram sua contribuição

para minha formação pessoal e profissional.

Ao CNPq pela bolsa de mestrado concedida.

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IV

Epígrafe

“A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais.”

Aristóteles

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V

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... VII

LISTA DE TABELAS ................................................................................................. XIII

LISTA DE NOTAÇÕES ............................................................................................. XIV

RESUMO ...................................................................................................................... XV

ABSTRACT ................................................................................................................. XVI

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 4

2.1 Objetivos Gerais ........................................................................................................... 4

2.2 Objetivos Específicos ................................................................................................... 4

3 CAPÍTULO I – REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................... 5

3.1 Lingotamento Contínuo ............................................................................................... 5

3.2 Lingotamento Contínuo de Beam Blank ...................................................................... 7

3.3 Modelamento Físico ................................................................................................... 10

3.3.1 Modelamento Físico de Lingotamento Contínuo de Beam Blank ...................... 13

3.3.2 Técnica PIV (Particle Image Velocimetry) ........................................................ 18

3.4 Modelamento Matemático ......................................................................................... 20

3.4.1 Modelamento Matemático de Fluxo de Aço em Moldes de Beam Blank .......... 21

3.4.2 Modelamento Matemático de Fluxo Térmico em Moldes de Beam Blank ........ 27

3.5 Referências Bibliográficas ......................................................................................... 78

4 CAPÍTULO II - MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................. 31

4.1 Modelo Físico ............................................................................................................ 31

4.1.1 Análise via injeção de corante ............................................................................ 33

4.1.2 Visualização via plano de laser .......................................................................... 33

4.1.3 Velocimetria PIV (Particle Image Velocimetry) ................................................ 34

4.1.4 Planar LIF (Laser Induced Fluorescence) ......................................................... 35

4.1.5 Medição da flutuação do Menisco ..................................................................... 36

4.2 Modelamento matemático .......................................................................................... 37

4.3 Referências Bibliográficas .......................................... Erro! Indicador não definido.

5 CAPÍTULO III – ANÁLISE DO FLUXO DE AÇO NUM MOLDE DE

LINGOTAMENTO CONTÍNUO DE BEAM BLANK ..................................................... 42

5.1 Introdução .................................................................................................................. 43

5.2 Materiais e Métodos ................................................................................................... 45

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VI

5.3 Resultados e Discussão .............................................................................................. 49

5.3.1 Profundidade do jato .......................................................................................... 49

5.3.2 Comportamento do fluxo ................................................................................... 50

5.3.3 Análise do campo de velocidades ...................................................................... 52

5.4 Conclusão ................................................................................................................... 54

5.5 Referências ................................................................................................................. 55

6 CAPÍTULO IV – COMPORTAMENTO DO JATO DE AÇO E ANÁLISE DAS

FLUTUAÇÕES SUPERFICIAIS ...................................................................................... 56

6.1 Introdução .................................................................................................................. 57

6.2 Materiais e Métodos ................................................................................................... 58

6.2.1 Modelamento Físico ........................................................................................... 58

6.2.2 Modelamento Matemático .................................................................................. 61

6.3 Resultados e Discussão .............................................................................................. 61

6.3.1 Análise do Perfil de Velocidades ....................................................................... 61

6.3.2 Caracterização do Jato ........................................................................................ 64

6.3.3 Avaliação da flutuação do Menisco ................................................................... 66

6.4 Conclusão ................................................................................................................... 67

6.5 Referências ................................................................................................................. 68

7 CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 69

7.1 Influência do diâmetro da SEN .................................................................................. 69

7.2 Influência da vazão .................................................................................................... 71

7.3 Referências .................................................................. Erro! Indicador não definido.

8 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 76

9 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................. 77

APÊNDICE I .......................................................................................................................... 81

APÊNDICE II ......................................................................................................................... 84

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VII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Representação esquemática de duas das possíveis rotas do lingotamento

contínuo: produção de blocos (seção quadrada) ou produção de beam blanks – seção próxima

de uma viga em I ou H (CHEN e LIN, 2011). ........................................................................... 2

Figura 3.1 – Representação esquemática de uma máquina de lingotamento contínuo (adaptado

HIBBELER, 2014). .................................................................................................................... 6

Figura 3.2 – a) Seção típica de um molde de lingotamento contínuo de beam blank (LUO et

al., 2013); b) lingote de beam blank (HOEDL et al., 2003). ..................................................... 8

Figura 3.3 – Defeitos típicos do lingotamento contínuo de beam blanks: 1- trincas superficiais

longitudinais na alma e no filete; 2- trincas internas na ponta do flange; 3- trincas internas

transversais no flange; 4- trincas internas transversais na alma (CHEN et al., 2007). .............. 9

Figura 3.4 – Modelo de molde de lingotamento contínuo de beam blank construído em

acrílico em tamanho real: (a) vista frontal; (b) vista lateral (CHEN et al., 2012b). ................. 13

Figura 3.5 – Campo de velocidades (m/s) no plano central, menisco e paredes do flange para

válvula submersa, cujo diâmetro interno é 50mm, com orifício inferior de 20mm, porta lateral

elíptica de 50mmX60mm e inclinação de 25° para baixo. Profundidade de imersão e

velocidade de lingotamento iguais a 100mm e 1,16m/min, respectivamente (De SANTIS et

al., 2014). ................................................................................................................................. 14

Figura 3.6 – (a) Modelo físico em acrílico; (b) Posição dos sensores utilizados para avaliar

valores de velocidade no menisco durante a simulação física (De SANTIS et al., 2014). ...... 15

Figura 3.7 – Profundidade de penetração do jato para SEN de diâmetro interno de 40mm,

velocidade de lingotamento de 1,0m/min e imersão da SEN de: (a) 50mm; (b) 70mm; (c)

90mm; (d) 110mm (ZHANG et al., 2014). .............................................................................. 17

Figura 3.8 – Distribuição de escória no molde de beam blank para velocidade de lingotamento

igual a: (a) 1,0m/min; (b) 1,2m/min; (c) 1,4m/min. Diâmetro interno e imersão da SEN de

40mm e 70mm, respectivamente (ZHANG et al., 2014). ........................................................ 17

Figura 3.9 – Representação esquemática da técnica PIV (adaptado RAFFEL et al., 2007). ... 19

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VIII

Figura 3.10 – Campos vetoriais de velocidade do fluxo em molde de lingotamento contínuo

de placas obtidos via a) simulação LES; b) PIV (THOMAS e ZHANG, 2001). ..................... 20

Figura 3.11 – Fluxo de aço em ¼ de um molde de beam blank: (a) no plano de simetria entre

centro do flange e o centro da alma; (b) plano passando pelo centro da SEN até face estreita

do flange; (c) representação esquemática do padrão de fluxo (Lee et al., 1998). .................... 22

Figura 3.12 – Contraste entre distribuição de fluxo em molde de beam blank: a) apenas

líquido; b) considerando solidificação da pele (YANG et al., 2006). ...................................... 23

Figura 3.13 – a) Seção transversal do beam blank; Perfil de velocidades das seções A-A (b) e

B-B (c) (CHEN et al., 2012a). ................................................................................................. 24

Figura 3.14 – Estrutura da válvula submersa de três orifícios laterais (CHEN et al., 2012b),

onde θ é a inclinação na saída. ................................................................................................. 25

Figura 3.15 – Campo vetorial de velocidades na seção A-A para diferentes ângulos de

inclinação das portas da SEN de três saídas laterais (CHEN et al., 2012b). ............................ 26

Figura 3.16 – a) Perfil de velocidades; b) perfil da casca solidificada; c) superfícies

isotérmicas. SEN com três portas laterais e ângulo da porta de -15° a uma velocidade de

lingotamento de 1,0m/min (XU e ZHU, 2015). ....................................................................... 26

Figura 3.17 – Fotografia da “casca” de um beam blank após breakout da pele na região do

filete (HIBBELER et al., 2009). .............................................................................................. 28

Figura 3.18 – Distribuição de temperatura ao longo da face quente do molde para diferentes

velocidades de água de refrigeração (XU et al.,2010). ............................................................ 28

Figura 3.19 – Variação da temperatura com a distância do menisco (LUO et al., 2012). ....... 30

Figura 4.1 – Modelo de acrílico do molde de beam blank em escala de 1:1: (a) vista frontal;

(b) vista lateral. ......................................................................................................................... 32

Figura 4.2 – (a) Dimensões da seção transversal do molde de beam blank; (b) plano frontal

AA passando pelo centro das duas válvulas e plano lateral BB passando pelo centro de uma

das válvulas. ............................................................................................................................. 32

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IX

Figura 4.3 – Avaliação do jato a partir da injeção de corante: a) Imagem frontal e b) imagem

lateral do teste de injeção de corante. ....................................................................................... 33

Figura 4.4 – Representação esquemática da montagem experimental para realização de

captura de imagens pela técnica PIV. ....................................................................................... 34

Figura 4.5 – Esquema da montagem experimental para realização dos testes da técnica Planar

LIF. ........................................................................................................................................... 36

Figura 4.6 – Vista em perspectiva isométrica do desenho do molde de beam blank com

válvulas tubulares utilizado nas simulações matemáticas. ....................................................... 39

Figura 4.7 – Malhas utilizada nas simulações matemáticas: a) Molde completo com Element

size 8mm; b) malha considerando um plano de simetria, com Element size 5mm. ................. 41

Figura 5.1 – Máquina de lingotamento contínuo de aços com três veios de beam blank, da

Caster in Xintai Steel Company, projeto e instalação da Siemens VAI e CCTEC

(http://en.cctec.cn/en/company/, acessado em 20/7/2014). ...................................................... 44

Figura 5.2 – a) Molde em acrílico utilizado nas simulações físicas; b) dimensões do beam

blank; c) seção transversal do molde de beam blank e suas regiões, destacando os planos AA e

BB nos quais foram realizadas as análises. .............................................................................. 46

Figura 5.3 – Evolução do jato de corante para válvula tipo 1 e vazão de 100L/min – a)t=1s;

b)t=2s; c)t=3s e d)t=4s. ............................................................................................................ 47

Figura 5.4 – Visão do fluxo em molde de beam blank através da iluminação do mesmo por

um plano de laser. Testes realizados com válvula tipo 2 e vazão de 125L/min: a) t=1s; b) t=2s

e c) t=3s. ................................................................................................................................... 47

Figura 5.5 – Esquema de funcionamento de um aparelho PIV, de acordo com a DANTEC®.

.................................................................................................................................................. 48

Figura 5.6 – Gráfico da profundidade do jato para: a) jato de corante em t=2s; b) obtida na

simulação via CFX/Ansys. ....................................................................................................... 50

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X

Figura 5.7 – Mapa vetorial do fluxo obtido por simulação matemática para vazão de 125L/min

a)seção AA válvula tipo1; b)seção AA válvula tipo 2; c)seção BB válvula tipo 1 e d)seção BB

válvula tipo 2. ........................................................................................................................... 51

Figura 5.8 – Mapa vetorial de velocidades na região do menisco para uma vazão de

125L/min: a) válvula tipo 1 e b)válvula tipo 2. ........................................................................ 52

Figura 5.9 – Gráficos de velocidade em função da distância y do centro da válvula até o filete

da face estreita do flange obtidos: pela Técnica PIV a uma distância do menisco de a1)

250mm, b1) 450mm e c1) 750mm; por simulação numérica no CFX a uma distância do

menisco de a2) 250mm, b2) 450mm e c2) 750mm. ................................................................. 53

Figura 6.1 – a) Esquema do circuito utilizado nas simulações físicas; b) vista em perspectiva

do molde de beam blank cortado pelo plano de simetria AA; c) dimensões do beam blank; d)

seção transversal do molde de beam blank com suas regiões, planos de análise AA e BB e

pontos de medição da flutuação do menisco P1 e P2. .............................................................. 59

Figura 6.2 – Esquema do funcionamento de um aparelho Planar LIF, de acordo com a

DANTEC®. .............................................................................................................................. 60

Figura 6.3 – Perfil de velocidades para vazão de 100L/min e imersão da SEN 100mm: a)

seção BB– CFD e b) seção BB - PIV. ...................................................................................... 62

Figura 6.4 – Gráficos de velocidade em função da distância y do centro da válvula submersa

até a ponta do flange, obtidos: pela técnica PIV a uma distância do menisco de a1) 250mm,

b1) 500mm e c1) 750mm; por simulação numérica no CFD a uma distância do menisco de a2)

250mm, b2) 500mm e c2) 750mm. .......................................................................................... 63

Figura 6.5 – Perfil de velocidades obtido por simulação matemática para vazão de 125L/min:

Plano AA a) imersão 50mm e b) imersão 75mm; plano BB c) imersão 50mm e d) imersão

75mm. ....................................................................................................................................... 63

Figura 6.6 – Espalhamento de traçador (corante) inserido na tubulação de alimentação do

molde – a) t=1s; b) t=2s; c) t=4s e d) t=10s. Vazão 125L/mine imersão 100mm. ................... 64

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XI

Figura 6.7 – Espalhamento de traçador obtido por simulação matemática em regime transiente

– a) t=1s; b) t=2s; c) t=4s e d) t=10s. Vazão 125L/min e imersão 100mm. ............................. 65

Figura 6.8 – Espalhamento de traçador (Rodamina 6G) obtido via técnica PLIF no plano BB

para vazão de 125L/min: a) Imersão 100mm e b) Imersão 75mm. .......................................... 66

Figura 6.9 – Gráfico da amplitude de oscilação do menisco para diferentes vazões e imersões:

a) Alma – P1; b) Filete – P2. .................................................................................................... 67

Figura 7.1 – Gráficos de velocidade em função da distância y do centro da válvula até o filete

da face estreita do flange obtidos por simulação numérica no CFX com malha 5mm a uma

distância do menisco de a) 250mm, b) 450mm e c) 750mm. Válvula de diâmetro interno igual

a 26,7mm. ................................................................................................................................. 70

Figura 7.2 – Perfil de velocidades obtido pela técnica PIV no plano BB para imersão das

válvulas de 100mm e vazão 125L/min: a) diâmetro interno 26,7mm e b) diâmetro interno

34,6mm. .................................................................................................................................... 70

Figura 7.3 – Visualização do fluxo através da iluminação de partículas por um plano de laser

para válvulas submersas de diâmetro interno 34,6mm e imersão 100mm: a) vazão de

100L/min e b) vazão de 150L/min. .......................................................................................... 72

Figura 7.4 – Espalhamento de traçador obtido por simulação matemática para válvulas

submersas de diâmetro interno 34,6mm, imersão 100mm e vazão 100L/min: a) t=2s; b) t=3s;

c) t=5s. ...................................................................................................................................... 72

Figura 7.5 – Espalhamento de traçador (rodamina) obtido via técnica PLIF no plano BB para

a vazão 100L/min, válvulas submersas de diâmetro interno 34,6mm e imersão 100mm. ....... 73

Figura 7.6 – Perfil de velocidades obtido por simulação no plano paralelo ao plano BB a

25mm da face plana do flange. a) Localização do plano CC; b) 100l/min; c) 125l/min; d)

150l/min. Diâmetro interno de 34,6mm e profundidade de imersão da SEN de 100mm. ....... 74

Figura 7.7 – Perfil de velocidades obtido pela técnica PIV no plano paralelo ao plano BB a

25mm da face plana do flange: a) 100l/min; b) 125l/min; c) 150l/min. Diâmetro interno de

34,6mm e profundidade de imersão da SEN de 100mm. ......................................................... 75

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XII

Figura A.1 – Fórmula estrutural da Rodamina 6G (Fonte: Manual Planar LIF). .................... 81

Figura A.2 – Montagem experimental para aquisição de imagens para construção da curva de

calibração da técnica LIF. ........................................................................................................ 82

Figura A.3 – Gráfico de concentração versus Intensidade de emissão com ajuste linear de

0μg/L a 50μg/L. ........................................................................................................................ 83

Figura A.4 – Gráfico de concentração versus Intensidade de emissão com ajuste linear de

0μg/L a 40μg/L. ........................................................................................................................ 83

Figura A.5 – Gráfico de concentração versus Intensidade de emissão com ajuste linear de

0μg/L a 30μg/L; ........................................................................................................................ 84

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XIII

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Comparação dos valores de velocidade no menisco (cm/s) obtidos no

modelamento físico e na simulação matemática (De SANTIS et al., 2014). ........................... 15

Tabela 3.2 – Parâmetros experimentais do modelamento físico de molde de lingotamento

contínuo de beam blank realizado por Zhang et al. (2014). ..................................................... 16

Tabela 4.1 – Métodos de análise e combinação de variáveis utilizadas em cada teste. ........... 31

Tabela 4.2 – Parâmetros para os testes de velocimetria PIV. .................................................. 35

Tabela 6.1 – Profundidade de penetração do jato em função da vazão e da imersão da SEN. 65

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XIV

LISTA DE NOTAÇÕES

CCD – Charge Coupled Device

CFD – Computational Fluid Dynamics

CFX – software da Ansys Computational Fluid Dynamics

LIF – Laser induced Fluorescence

PIV – Particle Image Velocimetry

RMS – Root Mean Square

SEN – Submerged Entry Nozzle

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XV

RESUMO

O controle do fluxo de aço é de extrema importância para o processo de lingotamento

contínuo de beam blank, pois influencia a taxa de flotação de inclusões não-metálicas; os

mecanismos de formação e crescimento da casca solidificada e a eficiência de lubrificação das

paredes do molde. Um fluxo inadequado de aço no interior do molde pode gerar defeitos que

resultam no sucateamento do lingote ou redução do ritmo de produção. Para elucidar os

parâmetros que interferem no fluxo de aço, foram realizados modelamentos físico e

matemático do fluxo de fluido no interior de um molde de lingotamento contínuo de beam

blank alimentado com duas válvulas tubulares, avaliando a influência da velocidade de

lingotamento, da profundidade de imersão e do diâmetro das válvulas submersas. Para o

modelamento matemático utilizou-se o software CFX 15.0. A técnica PIV foi utilizada para

obter informações quantitativas e qualitativas do fluxo. Os resultados das simulações

matemáticas mostraram boa concordância com os resultados do modelamento físico, portanto,

o modelo matemático foi capaz de descrever as características do fluxo no interior do molde

de lingotamento contínuo de beam blank. A análise do perfil de velocidades do líquido, no

interior do molde de beam blank, revelou a existência de seis vórtices, dois na região da alma

e dois em cada flange do molde, sendo que este padrão de fluxo (quantidade e posição dos

vórtices) não sofreu modificações quanto às variáveis analisadas. O jato de líquido

proveniente da SEN se espalha mais rapidamente para a ponta dos flanges e lentamente pela

alma, o que pode acarretar na solidificação irregular da pele ao longo da seção transversal. O

aumento da vazão de fluido implica em aumento da profundidade de penetração do jato de

líquido, sendo que este excede o comprimento real do molde (0,8m) para a vazão de 150l/min

(equivalente à velocidade de lingotamento de 1,2m/min). Para uma SEN com diâmetro

interno de 34,6mm, observou-se que o menisco é estável, isto é, possui baixa intensidade de

flutuação (aprox. 0,22mm) e esta não é afetada significativamente pela variação da velocidade

de lingotamento e da profundidade de imersão da SEN. A partir destes resultados, sugere-se

profundidade de imersão igual a 75mm e velocidade de lingotamento máxima de 1m/min.

Palavras Chave: Beam Blank, Fluxo, Lingotamento Contínuo, Modelamento Físico, PIV,

Planar LIF, Simulação Matemática.

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XVI

ABSTRACT

The steel flow control is very important to the continuous casting of beam blank, since it

influences the inclusions removal, the development of solidified shell and its lubrication.

Inadequate flow can generate defects that result in the scrapping of the ingot or reduced

production rhythm. In this work techniques of physical and mathematical modeling have been

applied in order to elucidate the influence of parameters such as casting speed, the immersion

depth and SEN inner diameter on the fluid flow inside a beam blank continuous casting mold

fed with two straight through tubular type nozzles. The CFX 15.0 software was used for the

mathematical modeling and the PIV technique was used to obtain quantitative and qualitative

flow information. Results from mathematical and physical simulations were in good

agreement; therefore the mathematical model was able to describe the flow characteristics

inside the mold. The velocity profile analysis revealed the existence of six vortices in the

mold, two at the web region and two at each flange, and this overall flow pattern (number and

location of the vortices) does not change with process variables. The outcoming SEN fluid jet

quickly spreads itself to the flange edge and slowly to the web. This can lead to irregular shell

solidification over the cross section. Increasing the fluid flow rate results in an increasing jet

penetration depth. For flow rate of 150L/min (equivalent to the casting speed of 1.2m/min)

the latter can exceed the actual length of the mold (0.8m). For a SEN with inner diameter of

34.6mm, it was observed that the meniscus is stable, that is, it shows a low intensity of

fluctuation (approx. 0.22mm); this intensity of oscillation is not significantly affected by

either casting speed or SEN immersion depth. From these results, it is suggested an

immersion depth equal to 75mm and a maximum casting speed of 1 m/min.

Keywords: Beam Blank, Continuous Casting, Fluid Flow, Mathematical Modelling, PIV,

Planar LIF, Physical Modelling.

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1 INTRODUÇÃO

O aço é o pilar do mundo industrializado. Sob o ponto de vista comercial, até o momento,

nenhum outro material exibe combinação tão favorável de propriedades mecânicas e custos.

Neste cenário, o método de lingotamento contínuo é responsável por mais de 95% da

produção mundial de 1,4bilhões de toneladas de aço em 2011(HIBBELER, 2014).

Nas últimas décadas, tornou-se incontestável a participação cada vez maior do processo de

lingotamento contínuo na produção mundial de aço, devido à alta produtividade

proporcionada por este método, aliada ao menor gasto e consumo de energia, com variantes

capazes de produzir lingotes de formatos variados. Há uma tendência, nos processos de

lingotamento contínuo, denominada fabricação de near-net-shapes, que consiste em lingotar o

produto numa geometria próxima da forma acabada, reduzindo passes na seção de laminação,

diminuindo custos operacionais.

O processo de lingotamento contínuo de near-net-shapes é uma alternativa eficiente em

relação ao lingotamento de placas, blocos e tarugos, oferecendo alta produtividade e

aumento da eficiência energética na etapa de laminação, além da redução dos custos. Este

conceito inclui o lingotamento de placas e tiras de seções reduzidas, beam blanks dentre

outros semiacabados (ONISHI et al., 1981). A partir do final da década de 60, o

lingotamento de blocos vem sendo substituído por seções de “osso-de-cachorro” ou beam

blank (Figura 1.1). O lingotamento contínuo de beam blank é uma ligação ideal entre a

aciaria e a planta de laminação. Tal método produz vigas estruturais de alta qualidade interna

e superficial com uma grande variedade de dimensões do produto final. A utilização de

lingotes de beam blanks resulta em um menor número de passes na etapa de laminação,

reduzindo custos e consumo de energia – incluindo os custos referentes à economia de

energia para o reaquecimento e redução da energia gasta na deformação (HIBBELER,

2014).

Geometrias, tais como: placas e tarugos, são mais simples quando comparadas à seção

transversal de um beam blank. Assim, em um molde de beam blank, a distribuição de

temperatura, distorções e tensões tanto no molde quanto no material solidificado são mais

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2

complexas, o que normalmente induz defeitos no lingote e diminui a vida útil de serviço do

molde (LUO et al., 2013).

Chen et al. (2012a) lembram que o comportamento do fluxo de aço líquido no interior de um

molde de lingotamento contínuo impacta diretamente na qualidade final do produto, pois

influencia a limpidez do aço, formação da casca sólida e consequentemente na qualidade

superficial do produto lingotado. O padrão de fluxo de aço no interior do molde é

determinado a partir da combinação de diversas variáveis de processo, como: velocidade de

lingotamento, imersão e configuração da(s) válvula(s) submersa(s), dentre outros.

Figura 1.1 – Representação esquemática de duas das possíveis rotas do lingotamento contínuo:

produção de blocos (seção quadrada) ou produção de beam blanks – seção próxima de uma viga em I

ou H (CHEN e LIN, 2011).

Yang et al. (2006) construíram um modelo matemático tridimensional para simular a

transferência de calor e o fluxo de aço dentro do molde de lingotamento de beam blank,

considerando simultaneamente o fluxo de aço e a taxa de solidificação. Os autores

observaram que a tendência de movimento do aço em um modelo considerando apenas a fase

líquida é consistente com o modelo que também considera a presença da pele de aço

solidificado no molde; mas que a velocidade do fluxo de retorno é evidentemente maior no

molde quando se considera o efeito da pele.

O aumento da velocidade de lingotamento eleva a profundidade de penetração do jato,

provocando diminuição da taxa de flotação de inclusões não-metálicas e alterando a

distribuição da escória do molde, assim como ocorre quando eleva-se a profundidade de

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3

imersão da válvula submersa. Aumentar a profundidade de imersão da(s) válvula(s)

submersa(s) permite ainda reduzir tanto o nível de turbulência na região do menisco como a

chance de desenvolvimento de vórtices, além de melhorar a taxa de crescimento da pele

sólida, mas também resulta em aumento da profundidade de penetração (CHEN et al., 2012a).

Dada a ligação evidente entre o comportamento fluidodinâmico do aço líquido no molde; a

produtividade da máquina de lingotamento contínuo e a qualidade do produto, modelamentos

matemático e físico têm sido utilizados na otimização metalúrgica do processo de

lingotamento. Diferentes tipos e configurações de válvulas submersas podem ser estudadas,

com o objetivo de definir as condições que resultem em maior facilidade operacional e melhor

qualidade do aço produzido. Este trabalho explora uma combinação referente ao emprego

simultâneo de duas válvulas tubulares, e seus efeitos sobre as características do fluxo no

interior do molde. Quanto à geometria das válvulas, foram avaliadas válvulas de diâmetro

interno igual a 26,7mm e 34,6mm, e a profundidade de imersão das válvulas foi 50mm,

75mm e 100mm. As vazões utilizadas foram 100l/min, 125l/min e 150l/min, que corresponde

às velocidades de lingotamento de 0,78m/min; 0,98m/min e 1,2m/min respectivamente.

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4

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivos Gerais

A partir de simulações física e matemática em um modelo de molde de lingotamento contínuo

de beam blank, objetivou-se determinar a estrutura de fluxo de aço no interior do molde, tal

como é afetada por uma dada combinação de geometria da válvula submersa e parâmetros

operacionais.

2.2 Objetivos Específicos

Realizar simulações matemáticas do fluxo de aço num molde de lingotamento contínuo de

beam blank, variando a configuração (diâmetro e imersão) da válvula submersa do tipo

tubular, com o auxílio do software ANSYS CFX®;

Determinar o campo de velocidades por meio de velocimetria PIV, de modo a promover a

validação da simulação matemática;

Caracterizar o fluxo no molde através de visualização por plano de laser, nas diferentes

configurações de válvula e vazão;

Avaliar a profundidade de penetração do jato no interior do molde, utilizando os testes

físicos e simulações computacionais;

Analisar a intensidade de flutuação do menisco, utilizando o modelo físico;

Estudar o efeito da vazão de fluido sobre o fluxo no interior do molde;

Definir valores de parâmetros operacionais (vazão, imersão e diâmetro da válvula

submersa) que resultem num fluxo mais adequado ao processo;

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3 CAPÍTULO I – REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Lingotamento Contínuo

O processo de lingotamento contínuo de aços é o último estágio metalúrgico onde ainda se

trabalha com o metal no estado líquido. O objetivo desta etapa é solidificar o aço, em uma

forma desejável, de tal maneira que possa ser utilizado nas etapas seguintes da cadeia

produtiva. Um esquema típico de uma máquina de lingotamento contínuo pode ser observado

na Figura 3.1. O aço líquido flui, por gravidade da panela para o distribuidor, e daí para molde

de cobre com resfriamento a água, onde o aço começa a se solidificar. A principal função do

distribuidor é fornecer continuamente aço líquido ao molde, mesmo durante as trocas de

panela, permitindo que o processo seja contínuo e garantindo a uniformidade térmica e

composicional do aço líquido, entregue ao(s) veio(s). O material parcialmente solidificado sai

do molde a uma velocidade de lingotamento, geralmente medida em m/min. Abaixo do

molde, os jatos de água provenientes do resfriamento secundário refrigeram o material até o

término da solidificação do aço.

O resfriamento primário, por meio de canais de circulação de água no molde de cobre, é

utilizado para extrair calor do aço líquido, ainda no interior do molde, e garantir a

solidificação uniforme da casca ou pele, que tem o formato do molde, como placas, tarugos

ou near-net-shapes com variadas dimensões. Este deve ser capaz de assegurar solidificação

uniforme ao longo do perímetro do molde e, na saída do mesmo, uma pele de espessura capaz

de resistir à pressão ferrostática, devido ao aço ainda líquido em seu interior.

O decréscimo das dimensões da seção transversal do molde ao longo do comprimento do

mesmo, denominada conicidade, é muito importante de modo a compensar a contração de

solidificação do aço durante a formação da pele. Se a conicidade for muito pequena, haverá

redução da extração de calor devido à formação de gap (fresta) entre a pele solidificada e a

parede do molde, incorrendo em crescimento heterogêneo da casca sólida. Pontos quentes e

regiões finas na pele irão acumular distorções e eventualmente na saída do molde levarão ao

rompimento da pele, ou interrompimento da operação de lingotamento (breakout). Do mesmo

modo, uma conicidade muito grande pode conduzir a um excessivo desgaste do molde ou

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deformação da pele e novamente causar um interrompimento da operação de lingotamento

contínuo - breakout (HIBBELER, 2014).

Figura 3.1 – Representação esquemática de uma máquina de lingotamento contínuo (adaptado

HIBBELER, 2014).

Escória na forma de pó, chamada de fluxante, é utilizada no molde de lingotamento contínuo,

logo acima do menisco de aço. Este fluxante é constituído de três camadas: porção não-

fundida (pó in natura); porção sinterizada ou pastosa e porção líquida. A parte pulverizada

atua como isolante térmico para prevenir a solidificação do aço no menisco; enquanto a parte

líquida previne a reoxidação do aço, por contato com a atmosfera (age como um isolante

químico). Porém a parte líquida também é responsável pela absorção de inclusões não-

metálicas presentes na poça de aço, dependendo do tipo de inclusões e do tipo de pó fluxante.

A lubrificação da parede do molde, a qual depende basicamente da viscosidade e da

temperatura de solidificação do fluxante, assim como a transferência de calor entre o molde e

a pele de aço solidificado também são importantes, pois a distribuição não uniforme de taxas

de extração de calor pode resultar em formação de trincas.

O controle sobre os diversos parâmetros operacionais do processo de lingotamento contínuo –

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velocidade de lingotamento; frequência de oscilação, geometria e conicidade do molde;

superaquecimento e tipo de aço, geometria do bocal e profundidade de imersão da(s)

válvula(s) submersa(s), entre outros - se faz necessário para alcançar boa produtividade e

garantir exigências de qualidade. Todos estes parâmetros estão relacionados com a taxa de

extração de calor durante a solidificação, portanto, com o crescimento da pele, com a

eficiência na flotação de inclusões, e ainda com a intensidade de turbulência na interface

metal-escória, ou região do menisco.

3.2 Lingotamento Contínuo de Beam Blank

O lingotamento contínuo de near-net-shapes é uma família de técnicas nas quais o produto

intermediário tem boa qualidade superficial e está próximo do seu formato final, o que

durante a etapa de laminação diminui o grau de redução da área da seção reta sem prejuízos à

microestrutura, e consequentemente eliminando custos de produção. O lingotamento contínuo

de beam blanks é um exemplo típico do lingotamento de near-net-shapes, representando uma

excelente alternativa à rota convencional de lingotamento de blocos para a produção de perfis

estruturais e outras seções (LUO et al., 2012). Tal processo implica em aumento de

produtividade, redução no consumo de energia e dos custos de laminação. É importante

ressaltar que o sucesso alcançado através do desenvolvimento dos processos de lingotamento

contínuo depende principalmente do entendimento e aplicação de conhecimentos

fundamentais de fenômenos de transporte: a transferência de calor e a distribuição de tensões

têm grande influência na qualidade do produto final, pois interferem na formação de trincas,

microestrutura e propriedades dos lingotes (CHEN et al., 2007). A Figura 3.2 apresenta um

esquema típico da seção transversal de um molde de beam blank e canais de refrigeração (3.2-

a) e uma foto de um lingote de beam blank (3.2-b).

Nos últimos anos, a pesquisa em lingotamento contínuo de beam blank tem atraído muita

atenção. Mostra-se interesse no comportamento térmico e/ou mecânico no interior do molde

(YANG et al., 2006; CHEN et al., 2007; CHEN et al., 2008; HIBBELER et al., 2009;

HIBBELER, 2014; etc.); em alguns casos investiga-se a solidificação durante o resfriamento

secundário visando sua otimização (LUO et al., 2012; LUO et al., 2013); outros são estudos

sobre ocorrência de trincas superficiais em beam blanks (KIM et al., 1997; LEE et al., 2000;

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CHEN et al., 2007).

Figura 3.2 – a) Seção típica de um molde de lingotamento contínuo de beam blank (LUO et al., 2013);

b) lingote de beam blank (HOEDL et al., 2003).

Devido à geometria complexa do beam blank, o fluxo de aço líquido é diferente daquele que

ocorre em placas e tarugos. Portanto, mudanças na velocidade e no grau de superaquecimento

do aço líquido (diferença entre as temperaturas de vazamento e de solidificação do aço)

podem gerar problemas na estabilidade do menisco e uniformidade da pele ao longo da seção

(YANG et al., 2006). O formato do beam blank também afeta o mecanismo de solidificação e

de distribuição de tensões durante o resfriamento. Ou seja, devido principalmente a seu

formato complexo, vários tipos de defeitos podem ocorrer no lingotamento contínuo de beam

blanks (ONISHI et al., 1981). Xu e Zhu (2015) lembram que alguns problemas comuns em

lingotes de beam blank, como as falhas (trincas superficiais) na região do filete e as

irregularidades (trincas superficiais na alma, depressões na face plana do flange, etc...) no

produto após o lingotamento, ocorrem principalmente devido ao padrão de fluxo de aço

líquido no interior do molde, que por sua vez é influenciado pelo tipo e quantidade de

válvulas submersas utilizadas. Alguns destes defeitos estão esquematizados na Figura 3.3.

Kim et al. (1997) identificaram que defeitos típicos em beam blanks, tais como trincas

superficiais longitudinais na região da alma e trincas internas próximas ao filete do flange,

podem ser previstas satisfatoriamente, por meio de modelo matemático, e que uma elevada

tensão de tração desenvolvida na alma e no filete durante o estágio inicial de solidificação

pode ser a causa do crescimento destas trincas. Utilizando um modelo matemático 3D que

considerava o efeito das tensões de origens térmicas sobre a pele solidificada, Lee et al.

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(2000) definiram um coeficientede susceptibilidade à trinca, e a partir deste, também

verificaram que a região da alma e do filete são as mais prováveis de formação de trincas, e

ainda notaram que a solidificação da pele é retardada no centro do flange, devido à elevada

profundidade de penetração do jato proveniente da SEN tubular. Além disso, Seok e Yoon

(2002) investigaram o efeito da composição do aço sobre a formação de trincas longitudinais,

encontrando que a maior susceptibilidade à trinca ocorre para um teor de carbono entre

0.12%– 0.13% em peso e que existe uma relação linear entre a velocidade de lingotamento e a

formação de trincas.

Figura 3.3 – Defeitos típicos do lingotamento contínuo de beam blanks: 1- trincas superficiais

longitudinais na alma e no filete; 2- trincas internas na ponta do flange; 3- trincas internas transversais

no flange; 4- trincas internas transversais na alma (CHEN et al., 2007).

A configuração do sistema de rolos de suporte do veio, devido ao formato do beam blank

afeta a tensão na pele durante a solidificação e o resfriamento secundário. Onishi et al. (1981),

por meio de um modelo matemático que avaliou a tensão sobre a pele, provocada pela pressão

do aço líquido no seu interior, concluíram que a melhoria do sistema de suporte do veio,

utilizando rolos laterais do comprimento do flange para expandir as regiões de compressão no

filete e na alma, é efetiva na prevenção de trincas e permitiu elevar a velocidade de

lingotamento.

O aumento da velocidade de lingotamento resulta em maior velocidade do fluxo de aço e o

refluxo se torna mais turbulento, provocando flutuação excessiva do menisco podendo levar a

ocorrência de defeitos ao veio, porém intensifica a capacidade do aço líquido de fundir o pó

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fluxante. Outro ponto importante é que velocidade de lingotamento também influencia a

distribuição de temperaturas no veio. Yang et al. (2006) observaram, via simulação numérica

que, com o aumento da velocidade de lingotamento, a variação de temperatura no menisco

não é óbvia, porém, a temperatura no centro do molde aumenta substancialmente, pois o aço

líquido é renovado rapidamente nesta região. Assim, o comprimento metalúrgico da máquina

aumenta e também os riscos de surgimento de trincas longitudinais na superfície da alma.

Estes pesquisadores apontaram que para alcançar produtividade aliada à boa qualidade dos

lingotes, a velocidade de lingotamento deveria ser controlada entre 0,85m/min e 1,05 m/min,

não excedendo o valor máximo de 1,1m/min.

3.3 Modelamento Físico

Os métodos de modelamento físico e matemático são ferramentas muito importantes no

estudo de processos metalúrgicos. Na procura por aperfeiçoar tais processos, otimizando as

condições operacionais sem necessariamente aumentar os custos de produção, estes métodos

são utilizados para verificar a influência de variáveis do processo, sem no entanto,

comprometer a rotina operacional, reduzindo assim os gastos com experiências e perdas por

produtos não conformes, provenientes de resultados inesperados.

Neste sentido, é desejável que o modelamento matemático a ser adotado deve ser capaz de

descrever por completo um determinado processo metalúrgico, determinando as possíveis

interações entre gás, aço e escória. Porém, isto é trabalho muito complicado até para os mais

sofisticados computadores, e fica claro que diversas aproximações e simplificações são

necessárias para se chegar a uma solução razoável do problema. Por outro lado, a modelagem

física é uma alternativa valiosa que permite simular tal processo em condições ambientes e

avaliar diversas de suas características.

De modo geral, o modelamento físico consiste em construir um modelo em escala laboratorial

de determinado reator metalúrgico, e simular o processo que ocorre em tal reator. Para que os

resultados obtidos em laboratório sejam aplicáveis à prática industrial, é necessário que exista

semelhança entre o modelo e o protótipo (reator industrial). Diz-se que o modelo e o protótipo

são semelhantes (ou similares) quando exibem uma razão constante entre os valores de

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grandezas correspondentes, denominadas relações de similaridade ou relações de escala

(GUTHRIE, 1989).

Os critérios de similaridade entre o protótipo (máquina industrial) e o modelo podem incluir

condições de similaridade geométrica, mecânica (que é subdividida em estática, cinemática e

dinâmica), térmica ou química. Para o estudo fluidodinâmico, isto é o comportamento do

fluxo de fluido, considerando-se um fluxo turbulento da forma da equação de Navier-Stokes,

os fatores mais importantes que governam o fluxo de um fluido são forças devido à inércia, à

gravidade, à fricção e possivelmente à tensão superficial (GUTHRIE, 1989). Os números

adimensionais obtidos através destas forças são:

Reynolds (Re) => razão entre as força inercial e força viscosa (Equação 3.1);

𝑅𝑒 =𝜌𝑈𝐿

𝜇 (3.1)

Froude (Fr) => razão entre forças inerciais e força gravitacional (Equação 3.2);

𝐹𝑟 =𝑈2

𝑔𝐿 (3.2)

Weber (We) => Razão entre força inercial e força de tensão superficial (Equação 3.3);

𝑊𝑒 =𝜌𝑈2𝐿

𝜎 (3.3)

Onde ρ é massa específica do fluido (kg/m³); μ é a viscosidade dinâmica (Pa.s); U é a

velocidade (m/s); L é distância (m); g é a aceleração da gravidade (9,81m/s²); σ é a tensão

superficial (J/m²).

No molde de lingotamento contínuo, negligenciando a presença da casca sólida e os efeitos do

empuxo de natureza térmica (o acréscimo de velocidade devido ao empuxo é geralmente uma

ordem de grandeza menor que a velocidade média do líquido no molde), as principais forças

deste sistema fluidodinâmico são relacionadas à gravidade e a viscosidade, e assim os

adimensionais relevantes ao processo são o número de Froude e o número de Reynolds (De

SANTIS et al., 2014). Então deve-se ter Rem=Rep (Equação 3.4) e também Frm=Frp (Equação

3.5):

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(𝜌𝑈𝐿

𝜇)

𝑚

= (𝜌𝑈𝐿

𝜇)

𝑝

(3.4)

(𝑈2

𝑔𝐿)

𝑚

= (𝑈2

𝑔𝐿)

𝑝

(3.5)

Escolhendo a água como fluido análogo ao aço e sendo conhecidos os valores: 𝜌𝑎ç𝑜 =

7000𝑘𝑔. 𝑚−3, 𝜇𝑎ç𝑜 = 0,007 𝑃𝑎. 𝑠, 𝜌á𝑔𝑢𝑎 = 1000 𝑘𝑔. 𝑚−3, 𝜇á𝑔𝑢𝑎 = 0,001 𝑃𝑎. 𝑠 resulta

(Equação 3.7):

(𝜌

𝜇)

á𝑔𝑢𝑎

= (𝜌

𝜇)

𝑎ç𝑜

= 106𝑠. 𝑚−2 (3.6)

Substituindo a razão da Equação 3.6 na igualdade da Equação 3.4 tem-se:

𝑅𝑒𝑚 = 𝑅𝑒𝑝 ∴ (𝜌𝑈𝐿

𝜇)

𝑚

= (𝜌𝑈𝐿

𝜇)

𝑝

106 ∗ (𝑈𝐿)𝑚 = 106 ∗ (𝑈𝐿)𝑝 ∴ (𝑈𝐿)𝑚 = (𝑈𝐿)𝑝

𝑈𝑝

𝑈𝑚=

𝐿𝑚

𝐿𝑝= 𝜆 (3.7)

Onde λ é o fator de escala.

Para o número de Froude, simplificando a Equação 3.5 tem-se:

𝐹𝑟𝑚 = 𝐹𝑟𝑝 ∴ (𝑈2

𝑔𝐿)

𝑚

= (𝑈2

𝑔𝐿)

𝑝

(𝑈2

𝐿)

𝑚

= (𝑈2

𝐿)

𝑝

=>𝑈𝑝

2

𝑈𝑚2 =

𝐿𝑝

𝐿𝑚=

1

𝜆=>

𝑈𝑝

𝑈𝑚= 𝜆−1/2 (3.8)

Das Equações 3.7 e 3.8, tem-se que 𝜆 = 𝜆−1/2. Portanto o fator de escala deverá ser λ = 1,

para satisfazer ao mesmo tempo os adimensionais de Reynolds e de Froude. Um modelo em

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escala real permite reproduzir o mesmo campo de velocidades que no protótipo (equipamento

industrial). Mas deve-se notar que este resultado é válido para o caso em que o fluxo de

líquido no molde é laminar. Na prática o fluxo é turbulento na maior parte da seção de fluxo e

o valor da viscosidade turbulenta não é conhecida a priori. Desta forma é costume adotar o

critério de Froude como o único a ser seguido neste tipo de simulação.

Para situações nas quais se tem dúvidas sobre qual estado de forças domina o escoamento do

fluido, pode ser necessário utilizar um modelo em escala real: em tais condições, ambos os

critérios de Fr e Re entre o modelo e o protótipo são satisfeitos (GUTHRIE, 1989).

3.3.1 Modelamento Físico de Lingotamento Contínuo de Beam Blank

Chen et al. (2012a, 2012b) utilizaram modelamento físico para validar os resultados da

simulação matemática durante estudo de fluxo de aço no molde de beam blank. Foram

realizados testes em um molde construído em acrílico em tamanho real, exceto pelo

comprimento que foi de 1,2m (o valor real era 0,7m), para obter um fluxo totalmente

desenvolvido (Figura 3.4).

Figura 3.4 – Modelo de molde de lingotamento contínuo de beam blank construído em acrílico em

tamanho real: (a) vista frontal; (b) vista lateral (CHEN et al., 2012b).

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De Santis et al. (2014) realizaram um estudo em molde de lingotamento contínuo de beam

blank, com dimensões de 430mmX350mmX90mm, propondo mudança na forma de

alimentação do molde, com a utilização de apenas uma válvula submersa, com uma porta na

parte inferior e outra na lateral. Estes pesquisadores realizaram simulações matemáticas

variando o diâmetro do orifício inferior, o diâmetro, formato (circular ou elíptico) e inclinação

da porta lateral. Para avaliar o fluxo, basearam-se em índices relacionados à velocidade no

menisco, para evitar entranhamento de escória, e nas paredes, para evitar impacto de aço

líquido prejudicial à integridade da pele de aço solidificado. Encontraram que a configuração

da SEN apresentada na Figura 3.5leva a melhores resultados para estes dois índices

analisados.

Figura 3.5 – Campo de velocidades (m/s) no plano central, menisco e paredes do flange para válvula

submersa, cujo diâmetro interno é 50mm, com orifício inferior de 20mm, porta lateral elíptica de

50mmX60mm e inclinação de 25° para baixo. Profundidade de imersão e velocidade de lingotamento

iguais a 100mm e 1,16m/min, respectivamente (De SANTIS et al., 2014).

Para validar a simulação matemática, De Santis et al. (2014) construíram um modelo físico

em acrílico em escala 1:1 (Figura 3.6-a), e realizaram testes utilizando a SEN com a

configuração que gerou os melhores resultados na simulação matemática. Avaliou-se a

velocidade no menisco através de sensores de velocidade ultrassônicos (UVP – Ultrasonic

Velocity Profile), posicionados no molde de acordo com a Figura 3.6-b, 10mm abaixo do

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menisco. Os resultados apresentados na Tabela 3.1 indicam uma considerável concordância

entre os testes no modelo físico e a simulação matemática. Os valores médios representam a

intensidade geral do fluxo de líquido, enquanto que os valores máximos são picos de

velocidade e, em caso de formação de ondas na região do menisco, podem ser prejudiciais ao

desenvolvimento da pele (De SANTIS et al., 2014).

Figura 3.6 – (a) Modelo físico em acrílico; (b) Posição dos sensores utilizados para avaliar valores de

velocidade no menisco durante a simulação física (De SANTIS et al., 2014).

Tabela 3.1 – Comparação dos valores de velocidade no menisco (cm/s) obtidos no modelamento físico

e na simulação matemática (De SANTIS et al., 2014).

Posição do sensor Teste físico Simulação Matemática

Média Máxima Média Máxima

Alma 20 26 17 24

Flange - lado da SEN 4 8 3 7

Flange - lado oposto a SEN 13 16 11 13

Utilizando apenas modelamento físico, Zhang et al. (2014) avaliaram o de fluxo de aço no

molde de lingotamento contínuo de beam blank de dimensões 420mmX360mmX90mm e

800mm de altura (altura efetiva de 700mm). O modelo foi construído em escala 1:1, com

altura de 1,4m, e os parâmetros analisados são apresentados na tabela 3.2.

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16

Tabela 3.2 – Parâmetros experimentais do modelamento físico de molde de lingotamento contínuo de

beam blank realizado por Zhang et al. (2014).

Fator avaliado Valores Parâmetros fixos

Diâmetro interno da SEN 30mm, 35mm, 40mm 1,0m/min, 70mm

Imersão da SEN 50mm, 70mm, 90mm, 110mm 1,0m/min, 40mm (diâmetro)

Velocidade de lingotamento 1,0m/min, 1,2m/min, 1,4m/min, 40mm (diâmetro) e 70mm (imersão)

Para simular a remoção de inclusões não-metálicas no interior do molde, Zhang et al. (2014)

introduziram no fluxo do molde de beam blank partículas de densidade menor que da água e

tamanho de aproximadamente 100μm, utilizando o critério de similaridade cinemática dado

pela Equação 3.9. Em cada teste com duração de 5min, uma amostra de 5g de partículas era

introduzida no fluxo de líquido, e as partículas que passavam pelo molde eram capturadas na

saída do molde. Após secagem, eram pesadas e o resultado era utilizado para calcular a taxa

de remoção de inclusões.

𝑅𝑖𝑛𝑐,𝑚2 ∗ 𝜇𝑎ç𝑜

𝑅𝑖𝑛𝑐,𝑝2 ∗ 𝜇á𝑔𝑢𝑎

∗(𝜌á𝑔𝑢𝑎 − 𝜌𝑖𝑛𝑐,𝑚)

(𝜌𝑎ç𝑜 − 𝜌𝑖𝑛𝑐,𝑝) = √ 𝜆 (3.9)

Onde 𝑅𝑖𝑛𝑐,𝑝 e 𝑅𝑖𝑛𝑐,𝑚 são o raio da inclusão no protótipo e no modelo, respectivamente;𝜇𝑎ç𝑜 e

𝜇á𝑔𝑢𝑎 são a viscosidade cinemática do aço a 1600°C e da água à temperatura ambiente,

respectivamente; 𝜌𝑎ç𝑜, 𝜌á𝑔𝑢𝑎,𝜌𝑖𝑛𝑐,𝑝 e 𝜌𝑖𝑛𝑐,𝑚 são a densidade do aço, da água, da inclusão no

protótipo e da inclusão no modelo, respectivamente.

Zhang et al. (2014) também avaliaram a profundidade de penetração do jato por meio da

injeção de corante como traçador e o nível de flutuação do menisco, quando da utilização de

óleo para simular a escória no molde. Na Figura 3.7 nota-se que o aumento na imersão das

válvulas submersas resultou no aumento da profundidade de penetração do jato. A

distribuição de escória para as velocidades de lingotamento iguais a 1,0m/min, 1,2m/min e

1,4m/min são mostradas na Figura 3.8. Pode-se notar que a camada de escória é estável a

1,0m/min (espessura uniforme, e sem muitas oscilações) e com o aumento da velocidade de

lingotamento, observaram-se flutuações da interface água/óleo e a distribuição de escória

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17

tende a tornar-se desigual (variação na espessura da camada), sendo necessário ajustar a

profundidade de imersão para evitar a exposição da superfície do fluido.

Figura 3.7 – Profundidade de penetração do jato para SEN de diâmetro interno de 40mm, velocidade

de lingotamento de 1,0m/min e imersão da SEN de: (a) 50mm; (b) 70mm; (c) 90mm; (d) 110mm

(ZHANG et al., 2014).

Figura 3.8 – Distribuição de escória no molde de beam blank para velocidade de lingotamento igual a:

(a) 1,0m/min; (b) 1,2m/min; (c) 1,4m/min. Diâmetro interno e imersão da SEN de 40mm e 70mm,

respectivamente (ZHANG et al., 2014).

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18

Em resumo, Zhang et al. (2014) observaram que existem seis vórtices no molde: dois

redemoinhos em direções opostas na alma, e quatro nos flanges. Para profundidade de

imersão das válvulas e velocidade de lingotamento fixas, o aumento do diâmetro interno das

válvulas resulta em menor nível de flutuação no menisco e eleva a taxa de remoção de

inclusões não-metálicas. De acordo com os indicadores analisados, estes pesquisadores

concluíram que a SEN de diâmetro interno igual a 40mm, profundidade de imersão entre

70mm e 90mm e velocidade de lingotamento de 1,0m/min representam a melhor configuração

para o molde de beam blank avaliado.

3.3.2 Técnica PIV (Particle Image Velocimetry)

A técnica PIV, aplicável em líquidos transparentes (portanto aplicável ao modelamento físico

de fluxos aquosos) para realizar análise digital da velocidade de minúsculas partículas

dispersas no líquido, vem sendo utilizada em pesquisas na área de siderurgia para determinar

o comportamento fluidodinâmico do aço líquido em panelas de refino, no distribuidor e no

molde de lingotamento contínuo. As imagens adquiridas de dois pulsos sucessivos do laser

são processadas via software específico e a velocidade (além de linhas de fluxo, vorticidade,

valores médios e flutuações) resulta de um procedimento de interpolação, permitindo

caracterizar o campo de velocidades no interior do equipamento.

A análise fluidodinâmica via PIV, cujo esquema pode ser verificado na Figura 3.9, consiste na

iluminação de partículas micrométricas dispersas no fluxo de água por meio de feixe de luz

laser pulsante, e posterior comparação entre os posicionamentos das partículas entre duas

imagens digitais consecutivas, separadas apenas por alguns microssegundos. Estas imagens

são obtidas por meio de câmera CCD (do inglês charge-coupled device - dispositivo de carga

acoplada) e divididas em pequenos subdomínios denominados áreas de interrogação, as quais

são iluminadas por laser pulsante e analisadas separadamente. Cada área de interrogação

conterá uma quantidade de pares de partícula, sendo que cada par representa as partículas nos

instantes inicial e final do deslocamento. A partir das posições inicial e final das partículas e o

respectivo tempo, pode-se calcular os vetores de velocidade a cada ponto. O resultado obtido

através da análise de centenas de pares destas imagens é o campo de velocidades ou mapa

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19

vetorial de velocidades do fluxo. Todo este processamento é realizado em software específico

(CHRISTENSEN et al., 2001).

Para obter bons resultados com a técnica PIV, as variáveis mais importantes são a taxa de

captura da câmera, o tempo entre pulsos do laser e tamanho da área de interrogação, de modo

a abrigar uma quantidade de partículas suficientes para se obter um deslocamento médio

representativo daquela região. Estes parâmetros devem ser ajustados, garantindo que as

partículas entre os instantes inicial e final permaneçam em uma mesma área de interrogação,

recomendando-se cerca de 7 a 10 pares de partículas por região, de modo que a medição de

velocidade seja realmente representativa (CHRISTENSEN et al., 2001).

Figura 3.9 – Representação esquemática da técnica PIV (adaptado RAFFEL et al., 2007).

A Figura 3.10 mostra a distribuição de velocidade média em metade de um modelo fechado

utilizando água, de um molde de lingotamento contínuo de placas. Essa figura compara

resultados gerados de por simulação matemática pelo modelo Large Eddy Simulation (LES) e

modelamento físico via PIV. É importante observar a presença do chamado duplo rolo,

característico de fluxos em moldes de placas, prevista pelo modelo matemático e confirmada

na análise via PIV (THOMAS e ZHANG, 2001).

Encontram-se na literatura publicações de utilização da técnica PIV para avaliar o fluxo em

distribuidores e em moldes de lingotamento contínuo de placas, porém aqueles que analisam a

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estrutura de fluxo no interior de um molde de beam blank são escassos. Este estudo utilizará

esta técnica para validar os resultados de simulação matemática do padrão de fluxo no interior

do molde de lingotamento contínuo de beam blank.

Figura 3.10 – Campos vetoriais de velocidade do fluxo em molde de lingotamento contínuo de placas

obtidos via a) simulação LES; b) PIV (THOMAS e ZHANG, 2001).

3.4 Modelamento Matemático

Devido aos altos custos de investigações empíricas aliadas a grandes avanços tecnológicos de

hardware e software computacionais, o modelamento matemático tornou-se uma importante

ferramenta no estudo de fenômenos relacionados a fluxo de fluidos. Estes fenômenos incluem

fluxo turbulento na SEN e no molde, solidificação da pele, transporte de bolhas de gás e

inclusões no aço líquido, transferência de calor, fenômenos interfaciais entre camada de

escória e aço líquido, entre outros (THOMAS e ZHANG, 2001). Neste sentido, existe um

grande incentivo ao desenvolvimento de modelos matemáticos quantitativos capazes de

prever temperatura, deformação e tensões na casca solidificada durante o lingotamento

contínuo de near-net-shape com segurança suficiente para resolver problemas práticos tais

como o projeto de conicidade do molde. Muitos modelos computacionais têm sido

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21

desenvolvidos, mas apenas alguns destes foram validados, devido às dificuldades

computacionais associadas com geometria e comportamento complexos destes moldes

(HIBBELER et al., 2009).

Um típico modelo matemático tridimensional de fluxo de aço resolve a equação da

continuidade e as equações de Navier-Stokes para fluidos Newtonianos incompressíveis.

Estas equações baseiam-se na conservação da massa e da quantidade de movimento em cada

ponto de um domínio computacional. A solução dessas equações fornece as componentes de

pressão e velocidade em cada ponto do domínio. Esse modelo deve considerar o fluxo

turbulento do fluido, já que altas taxas de fluxo são envolvidas nesse processo. Um dos

modelos mais populares é o modelo K–ε, que avalia o efeito da turbulência a partir de uma

viscosidade turbulenta efetiva (𝜂𝑒𝑓). Esta aproximação requer a solução de mais duas

equações diferenciais parciais, uma para o transporte de energia cinética turbulenta (k) e sua

taxa de dissipação (ε) (THOMAS e ZHANG, 2001).

Muitos autores que têm se interessado em estudar o lingotamento de beam blank utilizaram

modelamentos matemáticos em softwares como o ANSYS CFX ou FLUENT. Os estudos

visam simular o fluxo de aço, de calor e/ou o campo de tensões ao qual o veio é submetido

durante o processo, com o objetivo de entender os fenômenos no interior do molde, e prever a

ocorrência de defeitos, para então melhorar as condições de operação das máquinas e a

qualidade do produto final.

3.4.1 Modelamento Matemático de Fluxo de Aço em Moldes de Beam Blank

O fluxo de aço líquido, no lingotamento contínuo, é de grande interesse, pois ele influencia

diretamente em muitos fenômenos importantes no processo e têm grandes consequências na

qualidade do lingote obtido. CHEN et al. (2012a e 2012b) destacam que a melhoria da

limpidez e controle das trincas superficiais em lingotes de beam blank dependem de diversos

parâmetros, tais como: distribuição do fluxo turbulento no molde, que envolve formação de

vórtices, comportamento e flutuações do menisco, além da taxa de remoção de inclusões; os

quais são afetados pela velocidade de lingotamento; número, profundidade de imersão e

geometria da válvula submersa.

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22

A velocidade de lingotamento dita a produtividade da máquina de lingotamento e é um

parâmetro importante para o projeto dos moldes de lingotamento contínuo. Elevadas

velocidades de lingotamento resultam em altas taxas de fluxo de fluido e de calor no molde,

reduzindo o tempo de permanência do aço no interior do molde, o que pode levar a formação

de uma pele mais fina. Utilizando simulação matemática, Lee et al. (1998) observaram que o

fluxo de recirculação ocorre nas regiões da alma e da face estreita do flange, conforme Figura

3.11. A Figura 3.7-(a) mostra que ocorre recirculação na região da alma que prossegue até o

menisco, mas não ocorre entre a válvula submersa e o flange. Na Figura 3.11-(b), observa-se

que a recirculação na região da face estreita do flange ocorre abaixo da válvula submersa,

sendo que as velocidades do fluxo próximo ao menisco são baixas. Este padrão de fluxo do

aço líquido é esquematizado na Figura 3.11-(c). Estes pesquisadores ainda lembram que o

impacto do jato de aço líquido proveniente da SEN retarda o desenvolvimento da pele na

região do filete e do centro do flange

Figura 3.11 – Fluxo de aço em ¼ de um molde de beam blank: (a) no plano de simetria entre centro do

flange e o centro da alma; (b) plano passando pelo centro da SEN até face estreita do flange; (c)

representação esquemática do padrão de fluxo (Lee et al., 1998).

Yang et al. (2006) desenvolveram um modelo acoplado de fluxo de aço líquido e solidificação

do mesmo para estudar a influência do grau de superaquecimento e da velocidade de

lingotamento no fluxo e solidificação do aço, para analisar a interação entre a pele formada e

o aço líquido e para comparar a distribuição de temperatura no veio sobre diferentes

condições. Após simular o fluxo de aço no molde, os autores observaram que o campo de

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velocidades encontrado ao considerar o efeito do crescimento da pele é consistente com o

campo encontrado sem considerá-lo; Contudo no primeiro caso o fluxo de aço líquido é

reforçado, ou seja, sua velocidade é intensificada, como pode ser visto na Figura 3.12.

Figura 3.12 – Contraste entre distribuição de fluxo em molde de beam blank: a) apenas líquido; b)

considerando solidificação da pele (YANG et al., 2006).

Chen et al. (2012a, 2012b) utilizaram modelamento matemático tridimensional para analisar o

fluxo de aço no molde de beam blank, com o objetivo de otimizar os parâmetros de processo e

encontrar os fatores que influenciam a limpidez do aço no molde. Tal estudo foi realizado em

função de problemas com a decorrência de trincas longitudinais na alma de lingotes de beam

blank durante a partida (startup) da máquina de lingotamento contínuo da empresa Jinxi Iron

and Steel Co – China. Identificou-se que a quantidade de inclusões não metálicas presentes

nos lingotes era maior que a esperada, e estas inclusões estavam relacionadas à formação das

trincas nos lingotes. Para confirmar e validar os resultados encontrados via modelamento

matemático, foram realizados testes utilizando água como fluido em um molde construído em

acrílico em tamanho real, exceto pelo comprimento que foi de 1,2m (o valor real era 0,7m),

para obter um fluxo de água totalmente desenvolvido.

CHEN et al. (2012a) simularam e analisaram o campo de fluxo turbulento e a flutuação do

menisco no molde de beam blank quando se usa SEN do tipo tubular (válvula tubular). Os

autores encontraram seis vórtices no molde, quatro vórtices perto do flange e dois vértices na

região da alma, como pode ser visto nas imagens (b) e (c) da Figura 3.13. O modelo VOF

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(volume of fluid) foi usado para rastrear a evolução da superfície livre no menisco. Estes

pesquisadores encontraram que o aumento da velocidade de lingotamento resultou em

aumento da profundidade de penetração, da velocidade no menisco e aumento gradual da

flutuação da superfície livre. Já o aumento da profundidade de imersão das válvulas

submersas resulta em aumento na profundidade de penetração do jato de aço líquido;

enquanto que a velocidade na superfície e a flutuação da superfície livre reduzem

gradualmente. Estes pesquisadores concluíram que, embora este tipo de SEN (válvula tubular)

seja mais barato e leve a certa facilidade de operação, a mesma não promove a limpeza do aço

líquido e, portanto, não deve ser utilizada na produção. No entanto, se ela ainda for usada, de

acordo com as simulações a profundidade de imersão deve ser de 50mm, e a velocidade de

lingotamento deve estar entre 0,9m/min e 1,3m/min.

Figura 3.13 – a) Seção transversal do beam blank; Perfil de velocidades das seções A-A (b) e

B-B (c) (CHEN et al., 2012a).

Chen et al. (2012b) estudaram a influência da SEN sobre o fluxo no molde de beam blank.

Foram estudadas dois tipos de válvula: SEN com três saídas laterais separadas 120° com

ângulos de inclinação (θ) variando de -3°, 3°, 9° e 15° (Figura 3.14) e profundidade de

imersão de 225mm e válvula tubular com profundidade de imersão de 75mm. Para a SEN

com três saídas laterais, existem seis vórtices na parte superior e seis vórtices na parte inferior

do molde. A presença dos seis vórtices na parte superior pode aumentar a flutuação do

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menisco, o que auxilia na fusão do pó fluxante e na absorção de inclusões não metálicas pela

escória. Estes pesquisadores observaram que com o aumento do ângulo de inclinação das

portas da SEN (Figura 3.15), a profundidade de impacto do jato diminui gradualmente

enquanto a flutuação da superfície livre do aço líquido aumenta. Para a válvula submersa

tubular, as oscilações interfaciais no molde são relativamente pequenas e a profundidade de

penetração do jato é muito alta.

Figura 3.14 – Estrutura da válvula submersa de três orifícios laterais (CHEN et al., 2012b),

onde θ é a inclinação na saída.

Comparando os dois tipos de válvula submersa, Chen et al. (2012b) observaram que

utilizando a SEN de três orifícios laterais, a profundidade de penetração do jato será menor,

provocando uma consideravél mudança na velocidade na superfície livre e intensificando sua

flutuação. Isto irá melhorar o fluxo de aço líquido no molde, fornece calor para a fusão do pó

fluxante e a absorção das inclusões não-metálicas, auxiliando assim na limpeza do aço. A

configuração mais indicada é a SEN com três orifícios laterais com ângulo de saída de 9° e

profundidade de imersão no intervalo de 200-250mm, considerando que a velocidade de

lingotamento esteja entre 0,9m/min e 1,1m/min.

Xu e Zhu (2015) também realizaram um estudo comparando a utilização de válvulas tubulares

com válvulas com portas laterais. Estes pesquisadores desenvolveram um modelo matemático

tridimensional que simula simultaneamente o padrão de fluxo de aço líquido, transferência de

calor e solidificação da pele, comparando os resultados entre a utilização de duas válvulas

tubulares simples e duas válvulas, denominadas “three port radial SEN”, que consiste numa

válvula com três portas laterais, duas apontadas para o flange e uma para a região central da

alma. Os resultados mostraram que utilizando as válvulas tubulares simples, a superfície livre

do menisco praticamente não oscila, devido à alta profundidade de penetração do jato, o que é

prejudicial para o processo de fusão do pó fluxante e flotação de inclusões não-metálicas. E

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também, a distribuição de temperatura é tal que a pele solidificada é mais fina na região do

filete e mais espessa na alma, o que pode gerar rupturas na região do filete podendo

ocasionalmente resultar em rompimento do veio e, com isto, interrupção da sequência de

lingotamento. Já utilizando as válvulas com três orifícios laterais, vide Figura 3.16, os

pesquisadores observaram uma melhor oscilação do menisco, porém devido ao encontro dos

jatos na região central da alma, cria-se uma zona de alta temperatura, chamada “self-braking-

zone”, que leva a uma pele mais fina no centro da alma, tornando-a propensa a rupturas.

Figura 3.15 – Campo vetorial de velocidades na seção A-A para diferentes ângulos de

inclinação das portas da SEN de três saídas laterais (CHEN et al., 2012b).

Figura 3.16 – a) Perfil de velocidades; b) perfil da casca solidificada; c) superfícies isotérmicas. SEN

com três portas laterais e ângulo da porta de -15° a uma velocidade de lingotamento de 1,0m/min (XU

e ZHU, 2015).

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27

3.4.2 Modelamento Matemático de Fluxo Térmico em Moldes de Beam Blank

Lee et al. (2000) desenvolveram um modelo matemático acoplado de fluxo de aço,

transferência de calor e distribuição de tensões no molde de lingotamento contínuo de beam

blanks com o objetivo de prever a formação de trincas nos lingotes. Estes pesquisadores

observaram que a tensão é concentrada na parte mais fina da pele solidificada, aumentando a

probabilidade da ocorrência de trincas. Assim, a solidificação não homogênea do aço (avanço

irregular da frente de solidificação) implica em maior probabilidade do aparecimento de

trincas no veio. Por sua vez, a solidificação não homogênea resulta da transferência de calor

não uniforme.

No seu estudo sobre distribuição de temperatura num molde de beam blank, Yang et al.

(2006) observaram que a temperatura do menisco sobe com o aumento do grau de

superaquecimento, intensificando a capacidade de fusão da escória pelo aço líquido. A pele é

formada com uma espessura cada vez menor e menos uniforme à medida que o grau de

superaquecimento aumenta, o que pode levar à geração das trincas longitudinais na alma

(região onde a pele é sempre a mais fina em comparação a toda a seção transversal da peça).

Ao mesmo tempo, a refusão da pele já solidificada é agravada e, por isso, breakouts podem

ocorrer. Os resultados calculados indicam que quando o grau de superaquecimento aumenta

em 10°C, a temperatura do menisco aumenta entre 3-4°C em média e a temperatura na parte

inferior do núcleo líquido aumentará 6°C, ou seja, o comprimento metalúrgico será maior, o

que novamente facilita a ocorrência de trincas e breakouts. De acordo com os resultados da

simulação, o grau de superaquecimento adequado dever ser de até 35°C, para reduzir a

ocorrência de defeitos. A Figura 3.17 apresenta uma “casca” de beam blank resultante de um

breakout (HIBBELER et al., 2009). Segundo Chen et al. (2009), a espessura da pele na saída

do molde é máxima na ponta do flange e mínima no filete e a espessura mínima desejável da

pele do veio ao deixar o molde é de 12mm.

Xu et al. (2010) estudou a distribuição da temperatura da face quente do molde (que

obviamente afeta a formação da pele e, consequentemente a ocorrência de defeitos) de

lingotamento contínuo de beam blank em diferentes condições de refrigeração. Estes

pesquisadores lembram que a melhor forma de aumentar a uniformidade da temperatura da

face quente é por meio da otimização do projeto dos canais de água de refrigeração do molde.

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Foi mostrado que a velocidade da água de molde influencia a temperatura da face quente,

como pode ser visto na Figura 3.18. Com o aumento da velocidade da água de refrigeração do

molde, a temperatura da face quente decresce continuamente, por isso, o aumento desta

velocidade resulta em maior taxa de transferência de calor, sendo benéfico para o molde, pois

evita o aquecimento excessivo do mesmo. Temperaturas mais altas são prejudiciais para os

moldes de cobre porque aumentam sua fragilidade devido à segregação de elementos no

contorno de grão. Uma distribuição não uniforme de temperatura também é prejudicial, pois

promove concentração de tensões e pode levar a distorção permanente do molde.

Figura 3.17 – Fotografia da “casca” de um beam blank após breakout da pele na região do

filete (HIBBELER et al., 2009).

Figura 3.18 – Distribuição de temperatura ao longo da face quente do molde para diferentes

velocidades de água de refrigeração (XU et al.,2010).

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Chen et al. (2007,2008, 2009) simularam os perfis de temperatura e tensão num molde de

beam blank e encontraram que a ponta do flange e a alma são as regiões que possuem maiores

valores de tensão e deformação, o que facilita a geração de trincas nestas posições. Além

disso, se a extração de calor na alma do beam blank for alta demais, a temperatura da

superfície desta região pode ficar muito mais baixa do que a temperatura na ponta do flange,

gerando tensões térmicas entre estas regiões. A baixa temperatura na região da alma pode

resultar em baixa ductilidade do aço nesta região e gerar trincas na alma quando a peça for

desencurvada. O surgimento destas trincas pode ser evitado pelo controle apropriado do

sistema de refrigeração secundária (CHEN et al., 2009).

Neste sentido, Luo et al. (2012) avaliaram a distribuição de temperatura em lingotamento

contínuo de beam blank do menisco até a região onde o veio é desencurvado utilizando

métodos de simulação numérica. As temperaturas encontradas em pontos típicos da seção

transversal do beam blank ao longo do veio podem ser vistas na Figura 3.19. Nota-se que a

maior temperatura superficial na maioria do veio ocorre no filete por causa do

superaquecimento causado pela concentração de fluxo de calor vindo do flange e da alma. A

dificuldade em alcançar uma distribuição de temperaturas uniforme na superfície de um beam

blank está ligada ao seu formato complexo. Com base na distribuição de temperatura do veio

de beam blank, Luo et al. (2012) propuseram uma melhoria na disposição dos bicos de

pulverização de água na zona de resfriamento secundária, para reduzir o consumo de água e

de forma a garantir que esta distribuição de temperatura seja o mais homogênea possível,

evitando a formação de trincas e favorecendo a qualidade do produto.

Diante dos fatores anteriormente apresentados, a compreensão e controle do fluxo de aço se

mostram então de extrema importância para a contenção do surgimento de defeitos nos

lingotes de beam blank e para viabilizar o lingotamento contínuo destas geometrias mais

complexas com boa qualidade e produtividade.

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Figura 3.19 – Variação da temperatura com a distância do menisco (LUO et al., 2012).

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31

4 CAPÍTULO II - MATERIAIS E MÉTODOS

O fluxo no interior de um molde de lingotamento contínuo de beam blank foi analisado

através de modelamentos físico e matemático. Os testes foram realizados utilizando duas

válvulas submersas, localizadas no centro de cada flange. Quanto à geometria das válvulas,

foram comparados dois tipos de válvulas submersas tubulares cujos diâmetros internos são de

26,7mm e 34,6mm. As vazões utilizadas foram 100l/min, 125l/min e 150l/min, que

corresponde às velocidades de lingotamento de 0,78m/min; 0,98m/min e 1,2m/min

respectivamente, e a profundidade de imersão das válvulas tubulares foi 50mm, 75mm e

100mm. A Tabela 4.1 resume as variáveis e o método de análise utilizado em cada teste.

Tabela 4.1 – Métodos de análise e combinação de variáveis utilizadas em cada teste.

Parâmetros Método de análise

Diâmetro

- SEN

(mm)

Imersão -

SEN

(mm)

Vazão

(L/min)

Injeção de

corante

Plano

de laser PIV LIF

Flutuação

do Menisco CFX

CFX -

Traçador

26,7 100

100 X X X

X

125 X X X

X

150 X X X

X

34,6

100

100 X X X X X X X

125 X X X X X X X

150 X X X X X X

75

100

X X

125

X X X

150

X X

50

100

X X

125

X X

150

X X

4.1 Modelo Físico

Para a realização dos testes de simulação física foi utilizado um modelo de molde de beam

blank de acrílico em escala natural, como mostrado na Figura 4.1. A seção transversal tem

dimensões 499mmX415mmX125mm (Figura 4.2(a)) e altura total do modelo é 1,5m,

enquanto o comprimento real do molde é 0,8m. Esta extensão do modelo tem por objetivo

garantir um fluxo completamente desenvolvido no interior do mesmo e evitar que a região de

saída do modelo influencie no fluxo. O fator de escala 1:1 foi definido de maneira a permitir

ensaiar válvulas de tamanho industrial.

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32

Figura 4.1 – Modelo de acrílico do molde de beam blank em escala de 1:1: (a) vista frontal; (b) vista

lateral.

Figura 4.2 – (a) Dimensões da seção transversal do molde de beam blank; (b) plano frontal AA

passando pelo centro das duas válvulas e plano lateral BB passando pelo centro de uma das válvulas.

As várias combinações a serem analisadas incluem a geometria e a imersão da válvula

submersa e a vazão de líquido. Os ensaios compreendem: análise do jato pela injeção de

corante, visualização via plano de laser, determinação de velocidade através de velocimetria

PIV (Particle Image Velocimetry) e avaliação da flutuação da superfície livre (menisco). Os

fluxos foram analisados em duas seções do molde perpendiculares ao menisco, como

mostrado na Figura 4.2(b), possibilitando descrever o fluxo na região da alma (plano AA) e

do flange (plano BB). Devido ao formato da região do filete, na seção AA (vista frontal) não

foi possível realizar análise quantitativa via PIV. A curvatura da região do filete interfere na

refração da luz entre água-acrílico-ar, provocando distorções na imagem justamente na região

onde estão localizados os jatos provenientes das válvulas, e consequentemente, no campo de

velocidades obtido pela técnica PIV.

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33

4.1.1 Análise via injeção de corante

Um dos métodos de análise aplicados na simulação física foi o de caracterização do jato

através da injeção de corante. Este método consiste em inserir corante na tubulação de entrada

de água e filmar o caminho percorrido pelo jato no interior do molde até o total espalhamento

da corante. De posse desta filmagem, foi possível estimar o tempo necessário para o

espalhamento, visualizar o fluxo de líquido ao longo da altura do molde e avaliar a

profundidade de penetração do jato de líquido. Foram realizados dois testes para cada

combinação de vazão e diâmetro, com imersão da SEN igual a 100mm, sendo que em um a

filmagem foi realizada frontalmente, focando na região da alma (Figura 4.3(a)), e no outro a

filmagem foi lateralmente, isto é, na região do flange (Figura 4.3(b)). Para determinar a

profundidade de penetração do jato, foram utilizadas duas imagens (uma frontal e outra

lateral) obtidas das filmagens no tempo de 2s, e então a distância atingida pelo traçador foi

medida e a média dos dois valores foi tomada como a profundidade de penetração do jato.

Figura 4.3 – Avaliação do jato a partir da injeção de corante: a) Imagem frontal e b) imagem lateral do

teste de injeção de corante.

4.1.2 Visualização via plano de laser

Para avaliação do campo vetorial, foram realizados ensaios com injeção de partículas de

densidade próxima à da água, nos quais a incidência de um plano de laser sobre a seção AA

descrita na Figura 4.2(b), permitiu iluminaras partículas contidas no fluido. Estas partículas

acompanham o fluxo do fluido permitindo, portanto, a identificação da trajetória. Este método

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34

permitiu avaliar o fluxo qualitativamente, identificando o formato do jato, assim como os

vórtices gerados na seção analisada.

4.1.3 Velocimetria PIV (Particle Image Velocimetry)

Para análise quantitativa do fluxo de líquido por meio de simulação física foi utilizada a

técnica PIV (Particle Image Velocimetry) através do aparelho fornecido pela DANTEC®

existente no laboratório de Pirometalurgia do DEMET/UFOP. Os testes foram realizados de

acordo com o esquema da Figura 4.4, por meio da montagem de um sistema da DANTEC –

2D, o qual compõe-se basicamente de um laser Dual Power- 65/15 400mJ, duração de pulsos

de 4ns, faixa de comprimento de onda entre1064nm e 532nm, uma câmera CCD Flow-Sense

2ME, ligados a um computador para análise de imagens via software Dynamics Studio. Para

todas as condições experimentais, foram adquiridas 100 imagens com duração de tempo entre

as mesmas de 3000µs e frequência de captura de 10Hz.

Figura 4.4 – Representação esquemática da montagem experimental para realização de captura de

imagens pela técnica PIV.

A distância entre a câmera que compõe o sistema PIV e o molde foi definida de modo que a

área de abrangência da câmera cobrisse toda a seção lateral do flange – 41cm – resultando

num retângulo de aproximadamente 41cmX27cm (largura x altura). Sendo assim, foi mapeada

toda a região lateral (no flange) do menisco até uma profundidade de aproximadamente 1m,

divididas em três partes determinadas pela abrangência da câmera. Esta análise permitiu

determinar o perfil de velocidades ao longo da vertical para diferentes configurações de

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35

válvula submersa e parâmetros operacionais. A Tabela 4.2 resume algumas das variáveis

importantes para realização dos testes.

Tabela 4.2 – Parâmetros para os testes de velocimetria PIV.

Parâmetros Valores

Área visualizada 41x27cm²

Distância laser-molde 0,6m

Distância câmera-molde 1,7m

Frequência do pulso 10Hz

Duração do pulso 4ns

Partículas utilizadas 5μm

4.1.4 Planar LIF (Laser Induced Fluorescence)

Com a utilização de um traçador e um filtro de luz adequado, os equipamentos da montagem

PIV da DANTEC® (laser, câmera CCD e software Dynamics) permitem a realização de

testes da técnica PLIF (Planar Laser Induced Fluorescence) para uma análise qualitativa do

fluxo do líquido no interior do molde. A técnica LIF baseia-se no principio da fluorescência e

é usada para medir concentração e/ou temperatura em fluidos. Estas medições são possíveis

em função da relação existente entre a intensidade de fluorescência de uma substância

(traçador) e sua concentração ou temperatura. A técnica consiste em capturar a luz emitida

(fluorescência) e filtrar a luz excitante (laser) conhecida como ruído, pela utilização de um

filtro ótico. A intensidade de emissão depende da energia de excitação, do volume da amostra

a ser excitada, da concentração, temperatura e de outras propriedades físicas do meio usado.

(fonte: Manual de operação do Planar LIF, 2002).

Utilizou-se como traçador a Rodamina 6G, com energia de absorção na faixa de comprimento

de onda (λ) entre 460nm e 590nm, e espectro de emissão entre 550nm e 670nm, não

conflitante com o espetro de absorção, tornando-o adequado para aplicação em que se utiliza

o laser Nd:YAG (Fonte: manual Planar LIF). Na Figura 4.5 tem-se uma representação

esquemática da montagem experimental para realização dos testes. A solução do traçador é

inserida na tubulação que alimenta as válvulas submersas; ao entrar na região iluminada pelo

laser, as moléculas do traçador são excitadas, e emitem luz com comprimento de onda entre

540nm e 640nm. As imagens são capturadas pela câmera CCD equipada com um filtro de luz

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permeável ao comprimento de onda 570nm, e o software faz o tratamento dos dados

correlacionando o brilho das imagens com a intensidade de emissão através de uma curva de

calibração previamente estabelecida. Assim, é possível o mapear o desenvolvimento e

percurso do fluxo de líquido. A preparação da solução de traçador e determinação da curva de

calibração são descritas no apêndice I.

Figura 4.5 – Esquema da montagem experimental para realização dos testes da técnica Planar LIF.

Como a correlação entre concentração e intensidade de emissão está relacionada com a

luminosidade da imagem, para garantir uma boa qualidade nas imagens a serem adquiridas

durante os testes, deve-se levar em consideração alguns parâmetros fixados na etapa de

calibração, tais como distância entre a câmera e o molde, distância entre o laser e o molde e

abertura do diafragma da câmera. Neste caso, os seguintes parâmetros foram fixados:

distância Laser – reservatório igual 67cm; distância câmera-reservatório de 140,3cm; abertura

do diafragma da câmera igual a 4. Como câmera foi focada numa região de aproximadamente

24cm de altura, foram realizadas análises em três posições no plano BB. Assim foi possível

mapear o fluxo até cerca de 72cm abaixo do menisco.

4.1.5 Medição da flutuação do Menisco

Um sensor ultrassônico de medição de distância (modelo Sick UM30-211118) foi utilizado

para avaliar a flutuação do menisco. O sensor foi posicionado acima do molde, focando nos

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pontos P1 e P2, conforme a Figura 4.2(b), para analisar a flutuação na região da alma e do

filete, respectivamente. Em cada ponto de análise, foram realizados dois testes para cada uma

das combinações de vazão e imersão das válvulas submersas de diâmetro interno igual a

34,6mm. Durante os testes, a distância entre o sensor e o menisco foi medida em função do

tempo, ao longo de 60s. Estes dados foram utilizados para calcular a intensidade de flutuação

média e máxima para cada combinação de vazão e profundidade de imersão da SEN.

4.2 Modelamento matemático

As simulações matemáticas serão realizadas utilizando-se o software CFX (Ansys®).

Considera-se o regime permanente, de modo que as equações a serem resolvidas são:

Equação de Continuidade (4.1):

0)(

U

t

(4.1)

Equação de Navier Stokes (4.2):

BUpUUUt

U T

effeff

)()()( ´

(4.2)

Equação da Viscosidade efetiva (4.3):

teff (4.3)

O modelo de turbulência empregado foi o k – ε, sendo as equações auxiliares para

determinação de k (Equação 4.4) e ε (Equação 4.5):

k

k

t PKUkt

k)(

)( (4.4)

)()()(

21

CPCk

Ut

kt

(4.5)

Então, como definição da viscosidade turbulenta (Equação 4.6):

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2kCt (4.6)

Nestas equações: ρ é a massa específica do fluido (kg/m3); t é o tempo (s); o operador

gradiente; U a componente média da velocidade (m/s); µeff a viscosidade efetiva (Pa.s); B a

soma das forças de campo (N/m3); µ a viscosidade absoluta do fluido ou viscosidade

molecular (Pa.s); µt a viscosidade turbulenta (Pa.s); k a energia cinética turbulenta (m2/s

2); Pk

a taxa de produção de energia cinética turbulenta devido às forças viscosas e flutuabilidade; ε

a taxa de dissipação da energia cinética de turbulência (m2/s

3); Cε1, σk, Cε2, Cµ constantes do

modelo k-ε de turbulência.

As condições de contorno aplicadas foram:

Condição de não deslizamento, aplicada em todas as paredes da válvula e do molde,

regiões onde o fluido possui velocidade zero e os valores de k e ε são também nulos.

Condição da superfície superior do molde (menisco), onde se assume uma superfície de

livre deslizamento e velocidade Uz igual a zero.

Condição de entrada do fluido, na qual é especificada a vazão de líquido (1,667kg/s;

2,083kg/s e 2,5kg/s para as velocidades de lingotamento de 0,78m/min; 0,98m/min e

1,2m/min, respectivamente). Os valores de k e ε na entrada são estimados assumindo (Li

et al., 2001):

𝑘 = 0.01 𝑉2 (4.7)

𝜀 = 𝑘1.5

𝑅 (4.8)

Onde, V é a velocidade média do na entrada da válvula e R seu o raio interno.

Condição de saída do molde: openning pressure;

Condição de simetria, pois podem ser definidos dois planos de simetria e nessas regiões as

componentes de velocidade normais à fronteira são iguais a zero. Assim, o cálculo em

questão pode abranger metade ou apenas um quarto de toda a geometria.

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39

A geometria (Figura 4.6) utilizada nas simulações foi construída através do software Design

Modeler do Ansys. Não foi considerado conicidade do molde e o comprimento total foi de

1,5m, assim como o molde de acrílico utilizado no modelamento físico.

Figura 4.6 – Vista em perspectiva isométrica do desenho do molde de beam blank com válvulas

tubulares utilizado nas simulações matemáticas.

A malha foi construída utilizando o software Meshing Modeler, com elementos

predominantemente tetraédricos. Foi utilizada a função advanced function (on: proximity and

curvature) devido á curvatura da região do filete; a ferramenta inflation foi aplicada em todas

as superfícies externas (paredes) do molde, com cinco camadas e o parâmetro transition ratio

igual a 0,2. O estudo de independência de malha foi feito através da comparação dos

resultados obtidos com malhas de tamanhos variados. Inicialmente, foram comparadas malhas

construídas utilizando a ferramenta element sizing com tamanho de elementos de 10mm,

9mm, 8mm e 7mm. O tamanho máximo dos elementos foi determinado como 8mm. A malha

resultante tinha aproximadamente 3,8 milhões de elementos e 900 mil nós para o molde

completo, sem considerar simetria, vide Figura 4.7(a). A qualidade da malha foi avaliada

através do parâmetro skewness, cuja média foi 0,215 e valor máximo de 0,92. O tempo

necessário para a simulação no CFX foi de aproximadamente 6h, para um critério de

convergência com resíduo RMS (Root Mean Square) igual a 5x10-6

. Assim as simulações

foram realizadas no molde completo, o que facilita a visualização do fluxo, e seus resultados

são a presentados no Capítulo III.

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40

A partir da comparação entre os perfis de velocidades obtidos pela técnica PIV e pelas

simulações matemáticas, notou-se que à medida que se afasta do menisco, a diferença entre os

valores de velocidade aumenta, sendo que para pontos distantes do menisco mais que 500mm

a velocidade obtida via CFX foi consideravelmente menor (em módulo). Como as válvulas

tubulares são caracterizadas por jatos com alta profundidade de penetração, levando a

necessidade de se descrever o fluxo até próxima a saída do molde (~800mm), optou-se por

reduzir o tamanho máximo dos elementos, sendo necessário considerar um plano de simetria

passando pelo centro das duas válvulas submersas.

Desta forma, foi realizado um novo estudo de independência de malha, através da comparação

dos resultados obtidos com malhas de tamanhos variados (utilizando a ferramenta elemento

sizing): 7mm, 6mm, 5mm e 4mm. O tamanho máximo dos elementos foi determinado como

5mm e a malha resultante possuía aproximadamente 7,0 milhões de elementos e 1,5 milhões

de nós para a metade do molde, vide Figura 4.7(b). Neste caso, a média e o valor máximo do

parâmetro skewness foram 0,214 e 0,876, respectivamente. O tempo necessário para a

simulação no CFX foi de aproximadamente 10h para o resíduo RMS igual a 5x10-6

. Os

resultados das simulações com a válvula de diâmetro interno igual a 34,6mm utilizando a

malha de 5mm são apresentados no Capítulo IV, enquanto uma comparação entre os

resultados obtidos com os dois tamanhos de elementos de malhas é discutida na seção um do

Capítulo V.

Além disto, foram realizadas duas simulações em regime transiente para avaliar o

comportamento do traçador inserido no fluxo para a válvula de diâmetro interno igual a

34,6mm, com imersão de 100mm e nas vazões de 100l/min e 125l/min. Neste caso, o

resultado da simulação matemática em regime permanente nas mesmas condições de vazão e

imersão da SEN foi utilizado como condição inicial, para garantir que o traçador foi injetado

no molde com fluxo completamente desenvolvido. Isto é, o arquivo de resultados (“.res”)

gerado na simulação em regime permanente foi utilizado como condição inicial no CFX-

Solver, através do Initial Values Specification -> Continue History From. Assim, a solução

começa a partir do histórico de execução do arquivo de resultados referenciado, utilizando os

valores das principais variáveis resolvidas (em especial de velocidade e pressão) neste arquivo

como uma estimativa inicial para estas variáveis na nova simulação, e continua-se o cálculo

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para as modificações introduzidas (neste caso a injeção do traçador) até se alcançar o tempo

total da simulação (fonte CFX-Solver Theory Guide).

Figura 4.7 – Malhas utilizada nas simulações matemáticas: a) Molde completo com Element size

8mm; b) malha considerando um plano de simetria, com Element size 5mm.

Em termos de organização, os resultados deste trabalho foram divididos em três capítulos. O

Capítulo III é um artigo que já foi publicado nos anais do 46º Seminário de Aciaria –

Internacional, e apresenta os resultados obtidos na comparação entre a utilização de válvulas

tubulares de diâmetro interno igual a 26,7mm e 34,6mm. O Capítulo IV aborda o

comportamento do jato de aço e análise das flutuações superficiais, também está apresentado

no formato de um artigo, e já foi submetido para publicação no 47º Seminário de Aciaria –

Internacional. O último capítulo apresenta uma discussão dos resultados complementares aos

dois capítulos anteriores.

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42

5 CAPÍTULO III – ANÁLISE DO FLUXO NUM MOLDE DE LINGOTAMENTO

CONTÍNUO DE BEAM BLANK

Conforme já mencionado os principais resultados obtidos são apresentados na forma de

artigos. O primeiro artigo abordou aspectos gerais do fluxo, comparando-se válvulas

submersas tubulares de diâmetros internos 26,7mm e 34,6mm. Este artigo foi apresentado

oralmente durante o 46º Seminário de Aciaria – Internacional, parte integrante da ABM Week

2015, sendo publicado nos anais do congresso.

Análise do Fluxo em Molde de Lingotamento Contínuo de Beam Blank:

Simulação Computacional e Física *

Johne Jesus Mol Peixoto1, Weslei Viana Gabriel

1, Leticia Queiroz Ribeiro

2, Carlos Antônio da Silva

3,

Itavahn Alves da Silva3, Varadarajan Seshadri

4

Resumo

O movimento do fluido no interior do molde durante o processo de lingotamento contínuo

possui grande impacto na qualidade do produto fabricado, pois influencia os mecanismos de

formação da casca solidificada, flotação de inclusões e lubrificação da pele. A geometria

complexa dos moldes de beam blank dificulta a garantia de fluxos térmicos simétricos, o que

resulta em variação na espessura da pele; daí a importância de se estudar os parâmetros que

interferem no fluxo do fluido no interior do molde. Neste trabalho verificou-se a influência da

velocidade de lingotamento e do diâmetro de válvulas submersas do tipo tubulares sobre o

fluxo no interior do molde. A análise do campo vetorial de velocidades revelou a existência

de seis vórtices, dois na região da alma e dois em cada flange do molde. Além disso, foi

encontrado que o aumento de 100L/min a 150L/min a profundidade do jato sobe de 0,74m

para 0,84m, enquanto que um aumento de 67% na área de seção transversal das válvulas

tubulares não promove diminuição significativa desta profundidade.

Palavras-chave: Beam Blank; Fluxo; Lingotamento Contínuo; Near Net Shapes.

FLUID FLOW ANALYSIS IN MOULD FOR BEAM BLANK CONTINUOUS

CASTING: COMPUTATIONAL AND PHYSICAL SIMULATION

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Abstract

The fluid flow inside the mould during Continuous Casting has a great effect on product

quality affecting the formation of solid shell, inclusions flotation as well as skin lubrication.

The complex geometry of Beam Blank moulds can make difficult to guarantee the thermal

flow symmetry resulting in thickness variation of the solidified skin. Therefore, it is important

to study the influence of parameters on fluid flow inside the mould. This paper aimed to

verify the influence of casting velocity likewise the diameter of the Straight Through Conduit

type SEN. Six vortices were observed in the mold, two vortices near the web and two in each

flange. Furthermore, increase the fluid flow of 100L/min to 150L/min promotes variation

from 0,74m to 0,84m at the depth jet, but increase of 67% area of the cross section of the

Straight Through Conduit type SEN didn’t cause significant variation in this parameter.

Keywords: Beam Blank; Fluid Flow; Continuous Casting; Near Net Shapes.

1 Engenheiro Metalúrgico, Mestrando em Engenharia de Materiais, REDEMAT, Universidade Federal de

Ouro Preto, Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil.

2 Graduando em Engenharia Metalúrgica, Escola de Minas, Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil.

3 Engenheiro Metalúrgico, Ph.D., Professor, Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de Minas, Ouro

Preto, Minas Gerais, Brasil.

4 Engenheiro Metalúrgico, Dr. Ing., Professor Emérito, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

* Contribuição técnica ao 46º Seminário de Aciaria – Internacional, parte integrante da ABM Week, realizada

de 17 a 21 de agosto de 2015, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

5.1 Introdução

Existe uma tendência do Lingotamento Contínuo que são os processos de fabricação dos

chamados near-net-shapes, que consiste em processos capazes de fabricar produtos com

forma geométrica e características internas mais próximas da condição final de aplicação, ou

seja, o produto acabado ou semiacabado (Garcia et al., [1]). Este conceito inclui o

lingotamento de placas e tiras de seções reduzidas, beam blank (Figura 5.1) dentre outros.

Como vantagem destaca-se a redução no número de passes no processo de laminação,

resultando em aumento na produtividade, redução no consumo energético e

consequentemente diminui o custo de produção.

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44

Figura 5.1 – Máquina de lingotamento contínuo de aços com três veios de beam blank, da Caster in Xintai Steel

Company, projeto e instalação da Siemens VAI e CCTEC (http://en.cctec.cn/en/company/, acessado em

20/7/2014).

Hibbeler et al. [2] destacam que a eficiência e qualidade do lingotamento contínuo de aço

estão em constante aperfeiçoamento, devido ao aumento da automação e os avanços

tecnológicos obtidos, principalmente, através de testes experimentais na própria planta. No

entanto, as soluções empíricas são agora muito caras, sem o auxílio de ferramentas como a

modelagem computacional. Nota-se um grande interesse na aplicação de modelamentos

matemáticos em estudos do comportamento térmico e/ou mecânico no interior do molde, da

distribuição do fluxo de aço e também na investigação da solidificação da pele. Neste sentido,

Hibbeler et al. [2] desenvolveram um modelo para simular ao mesmo tempo temperatura,

tensão e deformação em um quarto da seção transversal de um molde comercial de

lingotamento contínuo de beam blank, considerando a complexidade de sua geometria real, a

dependência das propriedades dos materiais com a temperatura e as condições operacionais. O

modelo forneceu informações sobre os mecanismos de falha da pele na região do filete,

desencadeada inicialmente por uma pele mais fina sob condições combinadas de tensões

termomecânicas, e mais tarde acelerada pela abertura de um gap no filete.

O padrão de fluxo de aço no interior do molde impacta na limpidez do aço, na formação da

casca sólida e consequentemente na qualidade superficial do produto lingotado. YANG et al.

[3], CHEN et al. [4] lembram que a limpidez do aço é influenciada pelo campo de

velocidades do aço na região do molde e esta propriedade pode ser controlada pelos

parâmetros operacionais, tais como: velocidade de lingotamento, profundidade de imersão e

configuração da(s) válvula(s) submersa(s), entre outros. Através de simulações matemáticas,

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nestes trabalhos foram avaliados os efeitos destas variáveis no fluxo de aço em moldes de

lingotamento contínuo de beam blank.

Utilizando um modelo matemático tridimensional que considerava simultaneamente o fluxo

de aço e a solidificação dentro do molde, Yang et al. [3] observaram que o campo de

velocidades do aço em um modelo considerando apenas a fase líquida é semelhante ao do

modelo que considera a presença da pele de aço solidificado no molde, mas as velocidades do

fluxo de retorno são evidentemente maiores quando se considera o efeito da pele.

Chen et al. [4], verificou que para válvulas tubulares, o aumento na profundidade de imersão

promove aumento na profundidade de impacto do jato, o que pode ser maléfico ao processo

de flotação de inclusões, mas que por outro lado, reduz a velocidade no menisco, resultando

em menor entranhamento da escória no banho. Para este tipo de válvula, a profundidade de

imersão recomendada está na faixa de 50mm a 100mm.

Diferentes tipos e configurações de válvulas submersas têm sido estudados, com o objetivo de

definir as condições que resultem em maior facilidade operacional e melhor qualidade do aço

produzido.

5.2 Materiais e Métodos

Foram realizadas simulações físicas e matemáticas do fluxo de fluido no interior de um molde

com formato de beam blank, avaliando a velocidade e profundidade do jato, assim como

campo vetorial formado pelo fluxo.

Nas simulações físicas utilizou-se modelo em acrílico escala 1:1 (Figura 5.2.a), de um molde

de beam blank com dimensões 499mmX415mmX125mm e altura de 1,5m. Os testes foram

realizados com dois tipos de válvulas submersas tubulares cujos diâmetros internos são de

26,7mm (tipo 1) e 34,6mm (tipo 2). As vazões utilizadas foram de 100L/min, 125L/min e

150L/min, que corresponde às velocidades de lingotamento de 0,78m/min; 0,98m/min e

1,2m/min respectivamente. A profundidade de imersão das válvulas foi 100mm.

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Os fluxos foram analisados em duas áreas do molde perpendiculares ao menisco,

possibilitando descrever o fluxo na região da alma e na do flange. A posição das regiões

analisadas pode ser verificada através da Figura 5.2(c).

Figura 5.2 – a) Molde em acrílico utilizado nas simulações físicas; b) dimensões do beam blank; c) seção

transversal do molde de beam blank e suas regiões, destacando os planos AA e BB nos quais foram realizadas as

análises.

Um dos métodos de análise aplicados na simulação física foi o de caracterização do jato

através da injeção de corante. Este método consiste em inserir corante na tubulação de entrada

de água e filmar o caminho percorrido pelo jato no interior do molde até seu total

espalhamento, desta forma foi possível visualizar o fluxo ao longo da altura do molde e

avaliar a profundidade de impacto (Figura 5.3).

Para avaliação do campo vetorial, os ensaios consistiram em incidir um plano de laser sobre

uma determinada área do modelo, iluminando partículas (com densidade igual a da água)

contidas no fluido. Estas partículas acompanham o fluxo do fluido permitindo, portanto, a

identificação da trajetória. A Figura 5.4 mostra exemplos de imagens obtidas nestes testes,

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47

sendo possível identificar o formato do jato, assim como os redemoinhos gerados seção AA

do molde.

Figura 5.3 – Evolução do jato de corante para válvula tipo 1 e vazão de 100L/min – a)t=1s; b)t=2s; c)t=3s e

d)t=4s.

Figura 5.4 – Visão do fluxo em molde de beam blank através da iluminação do mesmo por um plano de laser.

Testes realizados com válvula tipo 2 e vazão de 125L/min: a) t=1s; b) t=2s e c) t=3s.

Para análise quantitativa do fluxo por meio de simulação física foi utilizada a técnica PIV

(Particle Image Velocimetry) através do aparelho fornecido pela DANTEC® existente no

laboratório de Pirometalurgia do DEMET-UFOP. Esta técnica consiste basicamente em seguir

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48

o fluxo das partículas dispersas no fluido em um plano gerado pela iluminação com o laser

Sheet Visualization e captação de imagens na filmagem deste plano por uma câmera CCD

(Figura 5.5).

As imagens, geradas a partir de dois pulsos sucessivos do laser, são processadas em software

específico e a velocidade (além de linhas de fluxo, vorticidade, valores médios e flutuações) é

determinada a partir de um processo de interpolação. Foi avaliado o campo vetorial da altura

do menisco até uma profundidade de aproximadamente 80 cm permitindo a análise do fluxo e

do redemoinho. A Figura 5.2(c) mostra a posição dos planos analisados.

Figura 5.5 – Esquema de funcionamento de um aparelho PIV, de acordo com a DANTEC®.

As simulações computacionais foram realizadas em regime permanente utilizando-se o

software Ansys® CFX 15.0 versão acadêmica, considerando a água um fluido Newtoniano,

temperatura constante e igual a 25ºC. O modelo aplicado foi o k-є, no qual se resolve as

equações da continuidade, de Navier Stokes e da Viscosidade efetiva, além das equações

auxiliares para determinação de k (energia de turbulência) e ε (taxa de dissipação de energia

cinética).

Condições de contorno aplicáveis ao problema:

Paredes - Condição de não deslizamento nas paredes do molde;

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Condição de livre deslizamento no menisco;

Vazão mássica na entrada - 1,667kg/s; 2,083kg/s e 2,5kg/s para as velocidades de

lingotamento equivalentes a 0,78m/min; 0,98m/min e 1,2m/min respectivamente.

Os resultados obtidos através da simulação matemática são validados quando apresentam

resultados semelhantes aos de simulação física, isto é determinado através da comparação dos

mapas vetoriais obtidos em ambas as técnicas, assim como pelos valores de velocidades.

5.3 Resultados e Discussão

Os resultados foram divididos em três tópicos em função das variáveis analisadas.

5.3.1 Profundidade do jato

A profundidade do jato foi analisada através da observação do comportamento do jato de

corante ao longo do molde, método semelhante ao aplicado por Chen et al. [5]. Com base nas

análises das imagens da Figura 5.3, o tempo definido para a determinação da profundidade do

jato foi de 2s, uma vez que para tempos superiores se tem um maior espalhamento do jato.

Após o espalhamento do jato a força inercial, responsável pelo desenvolvimento do jato na

direção vertical, deixa de ser a predominante no sistema e o mesmo se espalha por convecção.

A Figura 5.6 apresenta a variação da profundidade do jato em função da vazão de água obtida

através da análise do jato de corante e pela modelagem computacional. Os resultados obtidos

pelo teste físico (Figura 5.6(a)) indicam a variação da vazão possui maior influência sobre a

profundidade do jato, enquanto que o aumento do diâmetro das válvulas não resultou em uma

redução significativa desta profundidade, levando-se em conta que o aumento da seção

transversal das válvulas foi em torno de 68%. Para a simulação matemática (Figura 5.6(b)) a

sensibilidade da profundidade de impacto com a vazão foi menor que no teste físico, mas os

resultados de ambos os testes são próximos.

Chen et al. [4], também verificaram que o aumento da velocidade de lingotamento, ou seja, da

vazão de fluido, resultou sempre em um aumento de profundidade do jato, porém tais autores

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50

encontraram valores superiores a 1m, para velocidades e 0,7m/min a 1,3m/min em um molde

de beam blank de seção 550mmx450mmx90mm, diâmetro interno e imersão das válvulas

igual a 40mm e 75mm respectivamente. Isto pode ser justificado em função do modelo

possuir a alma mais estreita e o flange mais aberto, o que pode dificultar o movimento do

fluido em direção à alma, restringindo o fluxo na região do filete.

Figura 5.6 – Gráfico da profundidade do jato para: a) jato de corante em t=2s; b) obtida na simulação via

CFX/Ansys.

5.3.2 Comportamento do fluxo

Através da avaliação do campo vetorial é possível entender o comportamento do fluxo ao

longo do molde. Com base na análise das Figuras 5.6(a) e (b) é possível verificar que no caso

de válvulas tubulares tem-se evolução do jato na direção de lingotamento e a partir de

determinada profundidade parte do fluido retorna na região central do molde formando dois

vórtices na alma. Posteriormente o fluido se desloca verticalmente em direção às válvulas

submersas e desce junto com o jato. Na região do flange Figura 5.6(b) também se observa a

formação de dois vórtices que promovem retorno do fluido para a região do menisco. Este

fluido de retorno se movimenta do flange para o centro da alma e em seguida desce

tangencialmente às válvulas e se desloca na direção do jato. Os resultados foram semelhantes

aos encontrados por Lee et al. [6]. E o número de vórtices encontrados foram seis (dois na

alma e quatro nos flanges) assim como descrito por Chen et al. [5]. Este modo de recirculação

do fluido também foi observado nas filmagens realizadas com plano de laser nas seções AA e

BB do modelo físico, que geraram as imagens da Figura 5.4.

Não se verifica uma variação significativa no comportamento do fluxo quando mudou o

diâmetro da válvula tubular de 26,7mm para 30,4 mm, como pode ser visto na comparação

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51

entre as Figuras 5.7(a) e (b) – plano AA – e entre as Figuras 5.7(c) e (d) – plano BB. A

movimentação do fluido foi semelhante para ambas as válvulas, diferenciando-se apenas

quanto à ordem de grandeza das velocidades, ocorrendo uma redução na velocidade do jato

com aumento no diâmetro das válvulas.

Figura 5.7 – Mapa vetorial do fluxo obtido por simulação matemática para vazão de 125L/min a)seção AA

válvula tipo1; b)seção AA válvula tipo 2; c)seção BB válvula tipo 1 e d)seção BB válvula tipo 2.

Analisando o mapa vetorial de velocidade de recirculação de fluido na região do menisco

(Figura 5.8), nota-se claramente que o fluido se movimenta das faces estreitas do flange para

o centro da alma, sendo que a região de maior velocidade no menisco ocorre próximo aos

filetes, e para a válvula de menor diâmetro tem-se maior velocidade.

Lee et al.[6], Yang et al.[3] e CHEN et al. [4,5], destacam que os fluxos recirculatórios de aço

na região da alma e da ponta do flange afetam o perfil de crescimento da pele sólida do beam

blank, e assim, o crescimento da pele sólida nas regiões do filete é mais lento nos estágios

iniciais da solidificação. Da mesma forma, o crescimento da pele sólida nas regiões do filete e

do centro do flange é retardado devido ao impacto do fluxo de aço da válvula submersa sobre

a pele sólida. É importante lembrar que uma condição de baixa velocidade do aço no topo do

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52

molde, prejudica a fusão do pó fluxante, flotação, separação e absorção das inclusões não-

metálicas pela escória do molde. Por outro lado, a oscilação excessiva do menisco irá

favorecer o entranhamento de escória. De Santis et al. [7] sugerem que para se ter uma boa

fusão do pó fluxante, a velocidade na região do menisco deve ser da ordem de 0,30 m/s; como

se verifica na figura 5.8, os valores de velocidade no menisco estão abaixo do especificado e o

aumento no diâmetro da válvula resultou em diminuição desta velocidade, o que pode estar

relacionado com a redução na velocidade de recirculação do vórtice superior mostrado nos

mapas vetoriais da Figura 5.7(c) e (d).

Figura 5.8 – Mapa vetorial de velocidades na região do menisco para uma vazão de 125L/min: a) válvula tipo 1 e

b)válvula tipo 2.

5.3.3 Análise do campo de velocidades

Os gráficos da Figura 5.9 representam a variação da componente vertical de velocidade sobre

uma linha horizontal traçada no plano BB (Figura 5.3(c)), isto é sua origem projeta-se sobre o

centro da válvula C e sua extremidade está sobre o filete da face estreita do flange. Foram

analisadas três posições a uma distância de 250mm, 450mm e 750mm do menisco. Estes

dados foram obtidos tanto via simulação física através da técnica PIV (gráficos da esquerda)

quanto pela computacional utilizando o software Ansys CFX (gráficos da direita). As maiores

velocidades em módulo são obtidas na região central e diminui próximo das paredes devido às

condições de contorno das mesmas. À medida que se distancia do menisco, a velocidade

diminui em função da redução gradativa da força de impacto do jato. O aumento da vazão

implica em maiores velocidades do jato (velocidade negativa) e também de recirculação

(velocidade positiva).

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53

Figura 5.9 – Gráficos de velocidade em função da distância y do centro da válvula até o filete da face estreita do

flange obtidos: pela Técnica PIV a uma distância do menisco de a1) 250mm, b1) 450mm e c1) 750mm; por

simulação numérica no CFX a uma distância do menisco de a2) 250mm, b2) 450mm e c2) 750mm.

Yang et al. [3] destacaram que com o aumento da velocidade de lingotamento, o gradiente de

temperatura no interior do molde é intensificado e o núcleo líquido é alongado (o

comprimento metalúrgico aumenta). De acordo com os resultados da simulação, a velocidade

lingotamento deve ser controlada entre 0,85m/min e 1,05m/min para manter a produtividade e

melhorar a qualidade dos lingotes, sendo que a velocidade máxima não deve exceder

1,1m/min. Por outro lado, Chen et al. [4] observaram que com o aumento da velocidade de

lingotamento, as características do fluxo de aço no molde não mudam significativamente, mas

a profundidade de impacto e a velocidade na superfície aumentam, ocorrendo ainda uma

elevação gradual da flutuação da superfície livre. Mantendo-se os outros parâmetros

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54

constantes, a velocidade de lingotamento deve estar entre 0,9m/min e 1,3m/min. Deve-se

ressaltar que há diferenças nas medidas da seção transversal dos moldes de beam blank

analisados nos dois trabalhos.

É importante notar que a mudança no sinal da velocidade observado nos gráficos da Figura

5.9 indica a passagem pelo centro de um dos vórtices laterais do flange, como mostrado nas

Figuras 5.7(c) e (d). Os gráficos da esquerda da Figura 5.9 (obtidos via PIV), indicam que o

centro do vórtice ao longo da vertical está localizado cerca de 75mm do centro do jato, ou

seja, aproximadamente 125mm do filete da face estreita do flange.

Comparando os dados obtidos via simulação física e os obtidos pelo CFX, conclui-se que a

simulação computacional apresenta valores coerentes, sendo capaz de descrever corretamente

o fluxo de fluido no modelo de molde de lingotamento contínuo de beam blank.

5.4 Conclusão

Um aumento de 67% na área de seção transversal das válvulas tubulares não promove

diminuição significativa na profundidade do jato molde de beam blank para vazões

entre 100L/min e 150L/min.

O aumento na vazão de fluido promove aumento significativo na profundidade do jato,

sendo que para aumento de 100L/min a 150L/min na vazão, a profundidade sobe de

0,74m para 0,84m.

Tanto na simulação física quanto na matemática, foram observados seis vórtices no

molde: dois na região da alma e dois em cada flange.

O campo de velocidade vertical obtido pelo Ansys CFX 15.0 apresentou valores

compatíveis com o obtido via PIV na simulação física.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer ao Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) e à Fundação Gorceix pelo apoio financeiro, em especial pelas bolsas de

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pesquisa concedidas a J. J. M. Peixoto, W.V. Gabriel L. Q. Ribeiro, respectivamente.

Agradecem também à FAPEMIG pelo apoio.

5.5 Referências

1 Garcia A, Spim JA, Santos CA, Cheung N. Lingotamento Contínuo de Aços. São Paulo: ABM;

2006.

2 Hibbeler LC, Xu K, Thomas B.G, Koric S, Spangler C. Thermomechanical Modeling of beam

blank Casting. Iron & Steel Technology. 2009; 6(7):60-73.

3 Yang JW; Du YP, Shi R, Cui XC. Fluid Flow and Solidification Simulation in beam blank

Continuous Casting Process With 3D Coupled Model. Journal of Iron and Steel Research,

International. 2006;13(4):17-21.

4 Chen W, Zhang YZ, Zhu LG, Zhang CJ, Chen Y, Wang BX, Wang C. Three dimensional FEM

study of fluid flow in mould for beam blank continuous casting: influence of straight through

conduit type SEN. Ironmaking and Steelmaking. 2012; 39(8):551-559.

5 Chen W, Zhang YZ, Zhang CJ, Zhu LG, Zhang CJ, Chen Y, Wang BX, Wang C. Three-

dimensional FEM study of fluid flow in mould for beam blank Continuous Continuous Casting:

influence of nozzle structure and parameters on fluid flow. Ironmaking and Steelmaking. 2012;

39(8):560-567.

6 Lee J-E, Yoon J-K, Han HN. 3-dimensional mathematical model for the analysis Beam Blank

casting using body fitted coordinate of continuous system. ISIJ Int. 1998; 38(2):132–141.

7 De Santis M, Cristallini A, Rinaldi M, Sgro A. Modelling-based Innovative feeding Strategy

for Beam Blanks Mould Casting Aimed at As-cast Surface Quality Improvement. ISIJ

International. 2014; 54 (3): 496–503.

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56

6 CAPÍTULO IV – COMPORTAMENTO DO JATO DE AÇO E ANÁLISE DAS

FLUTUAÇÕES SUPERFICIAIS

O segundo artigo avaliou o padrão de fluxo e o comportamento do menisco quando se utiliza

duas válvulas tubulares com diâmetro interno de 34,6mm. Este artigo já foi submetido para

publicação em congresso, a saber, o 47º Seminário de Aciaria – Internacional, parte integrante

da ABM Week, que será realizada de 26 a 30 de setembro de 2016, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

COMPORTAMENTO DO JATO DE AÇO E ANÁLISE DAS FLUTUAÇÕES

SUPERFICIAIS EM UM MOLDE DE BEAM BLANK

Johne Jesus Mol Peixoto1, Weslei Viana Gabriel

1, Ciro Azevedo Silva

2, Leticia Queiroz Ribeiro

2

Carlos Antônio da Silva3, Itavahn Alves da Silva

3, Varadarajan Seshadri

4

Resumo

A complexidade do formato do molde de beam blank aumenta a importância de se

compreender o comportamento do fluxo no interior do mesmo. Neste estudo verificou-se a

influência da profundidade de imersão e da velocidade de lingotamento sobre as

características de fluxo em um molde de beam blank alimentado por duas válvulas tubulares.

Os resultados das simulações matemáticas foram coerentes com os resultados do

modelamento físico. A velocidade de espalhamento do jato na região do flange é maior que na

alma e este fator pode acarretar na solidificação irregular da pele ao longo da seção

transversal. A profundidade de penetração do jato variou entre 66cm e 77cm. A intensidade

média de flutuação do menisco foi de 0,22mm, sendo a flutuação máxima encontrada de

0,85mm. Com base nos resultados obtidos, os parâmetros de operação sugeridos são:

profundidade de imersão igual a 75mm e velocidade de lingotamento máxima de 1m/min.

Palavras-chave: Beam Blank; Fluxo; PIV; PLIF.

BEHAVIOUR OF THE STEEL JET AND ANALYSIS OF SURFACE

FLUCTUATIONS IN A BEAM BLANK MOULD

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57

Abstract

The complexity of the beam blank mold geometry increases the importance of assessing the

flow behavior inside the mold. This work is related to the influence of the immersion depth

and the casting speed on the flow characteristics in a beam blank mold fed with two tubular

nozzles. There was found a good agreement between the results obtained from physical

modeling and CFD modeling. The liquid jet spreads itself faster at the flange region than at

the web and this factor can lead to a nonuniform shell thickness along the cross section. The

jet penetration depth ranged between 66cm and 77cm. The average intensity of meniscus

fluctuation was 0.22mm, and the maximum fluctuation was 0.85mm. Based on modeling

results the suggested operating parameters are: SEN immersion of 75mm and maximum

casting speed of 1m/min.

Keywords: Beam Blank; Fluid Flow; PIV; PLIF.

1 Engenheiro Metalúrgico, Mestrando em Engenharia de Materiais, REDEMAT, Universidade Federal de

Ouro Preto, Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil. 2 Graduando em Metalurgia, Escola de Minas, Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil.

3 Engenheiro Metalúrgico, Ph.D., Professor, Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de Minas, Ouro

Preto, Minas Gerais, Brasil. 4 Engenheiro Metalurgista, Dr. Ing., Professor Emérito, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil..

6.1 Introdução

Yoon [1] aponta a alta eficiência metalúrgica do processo de lingotamento contínuo, em

virtude dos muitos avanços tecnológicos obtidos. Um desses notáveis avanços tecnológicos é

sem dúvida o lingotamento de pré-formas, tecnologia que consiste em obter o produto com

geometria mais próxima da forma final de aplicação, reduzindo custos operacionais e

aumentando a produtividade.

Onishi et al. [2], destacam que devido ao formato do produto, o lingotamento contínuo de

beam blank difere consideravelmente do lingotamento de placas e tarugos quanto às tensões

internas e mecanismos de solidificação. Chen et al. [3] e Lee et al. [4], entre outros, ressaltam

que a transferência de calor entre o veio e as paredes do molde, padrão do campo de

velocidades (particularmente na região do menisco), padrão de oscilação do molde e

fenômenos de segregação, durante o regime de solidificação, têm grande influência na

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58

qualidade interna e superficial do produto. Neste sentido, Kim et al. [5], Lee et al. [4] e

Hibeller et al.[6] detectaram a formação de um “gap” de ar na ponta do flange na etapa inicial

da solidificação, o qual prejudica o processo de extração de calor, decrescendo a velocidade

de solidificação. De igual maneira, o impacto do jato de aço líquido retarda o crescimento da

pele na região do filete.

Na zona de refrigeração secundária do processo de lingotamento contínuo de beam blank,

Zhao et al. [7] verificaram que trincas longitudinais na região do filete são geradas em

decorrência da grande diferença de temperatura entre o filete e outras regiões na superfície do

veio. Estes pesquisadores propuseram uma melhoria neste sistema de refrigeração, de modo a

uniformizar a temperatura superficial e otimizar o consumo de água.

A geometria do bocal da(s) válvulas submersa(s) influencia o campo de velocidades e a

dissipação de calor na região do molde. Neste contexto, Xu e Zhu [8] compararam o uso de

válvulas tubulares simples e válvulas dotadas de três portas laterais na saída, duas apontados

para o flange e uma para a região central da alma. Os resultados mostraram que para válvulas

tubulares, o perfil de temperatura é tal que a pele solidificada é mais fina na região do filete e

mais espessa na alma; enquanto que para as válvulas com três portas laterais, ocorreu uma

maior oscilação do menisco, porém o encontro dos jatos na região central da alma cria uma

zona de alta temperatura, o que gera uma pele mais fina, e, por isso, propensa a rupturas.

Neste trabalho, aplicaram-se métodos de modelagem física e matemática para evidenciar os

efeitos de velocidade de lingotamento e profundidade de imersão das válvulas submersas

sobre o comportamento do fluxo no molde de lingotamento contínuo de beam blank.

6.2 Materiais e Métodos

6.2.1 Modelamento Físico

Os experimentos de modelagem física foram realizados em uma réplica em acrílico de um

molde de lingotamento contínuo de beam blank, na escala 1:1, com dimensões

499mmX415mmX125mm e altura de 1,5m. Nos testes foram empregadas válvulas submersas

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59

do tipo tubular com diâmetro interno de 34,6mm. As vazões de abastecimento do molde

foram 100L/mim, 125L/mim e 150L/mim, as quais correspondem às velocidades de

lingotamento de 0,78m/mim, 0,98m/mim e 1,2m/mim na máquina industrial, respectivamente.

As profundidades de imersão das válvulas submersas foram de 100mm, 75mm e 50mm. O

padrão do fluxo foi analisado ao longo dos planos AA e BB, possibilitando uma descrição na

região da alma e do flange (vide Figura 6.1(b) e (d)). A flutuação do menisco foi captada com

o auxílio de um sensor ultrassônico de medição de distância (modelo Sick UM30-211118)

posicionado no ponto P1 e no ponto P2, para analisar a flutuação na região da alma e do filete,

conforme a Figura 6.1(d). Foram realizados dois testes para cada uma das combinações de

vazão e imersão das válvulas submersas, em cada ponto de análise. A posição do menisco foi

medida em função do tempo, ao longo de 60s, e os dados foram utilizados para calcular a

intensidade de flutuação média e máxima para cada teste.

Figura 6.1 – a) Esquema do circuito utilizado nas simulações físicas; b) vista em perspectiva do molde de beam

blank cortado pelo plano de simetria AA; c) dimensões do beam blank; d) seção transversal do molde de beam

blank com suas regiões, planos de análise AA e BB e pontos de medição da flutuação do menisco P1 e P2.

Utilizou-se a técnica de injeção de corante para caracterizar o comportamento do jato de aço

descarregado no molde. Este método consiste em injetar o traçador na tubulação de entrada da

água e filmar o caminho percorrido no interior do molde até seu total espalhamento,

possibilitando a visualização do fluxo e a profundidade de penetração do jato.

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60

A técnica PLIF (Planar Laser-Induced Fluorescence) foi utilizada (software Dynamics,

montagem PIV da DANTEC®) para uma análise qualitativa do fluxo no interior do molde.

Esta técnica faz uso da propriedade de fluorescência de alguma substância, denominada

“traçador”, para revelar o desenvolvimento e percurso do fluxo analisado. Como

esquematizado na Figura 6.2, a técnica consiste em iluminar uma determinada região do

molde com um plano de laser pulsante (comprimento de onda 532nm), que ao incidir sobre as

moléculas do traçador (no caso a Rodamina 6G) as excita, fazendo com que a mesma emita

uma radiação (comprimento de onda entre 540nm e 640nm). As imagens são capturadas por

uma câmera CCD equipada com um filtro de luz permeável ao comprimento de onda 570nm,

tornando possível o mapeamento do fluxo devido à correlação existente entre intensidade da

radiação emitida e concentração do traçador, previamente estabelecida através de uma curva

de calibração.

Figura 6.2 – Esquema do funcionamento de um aparelho Planar LIF, de acordo com a DANTEC®.

Para analisar quantitativamente o fluxo, por meio de simulações físicas, foi utilizada a técnica

PIV (Particle Image Velocimetry). Este método consiste na dispersão de partículas com

densidade igual à da água e incidência de um feixe de laser em pulsos, o que permite mapear

o caminho percorrido no interior do fluido através de um processo de interpolação. Uma

câmera CCD captura uma sequência de imagens, que são processadas através de um software

específico (Dynamics Studio da DANTEC®), fornecendo os valores de velocidades,

vorticidade e flutuações, dentre outros parâmetros do fluxo.

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61

6.2.2 Modelamento Matemático

As simulações computacionais foram realizadas com o software Ansys® CFX 15.0 versão

acadêmica, em regime permanente, considerando a água um fluido Newtoniano

incompressível, com temperatura constante e igual a 25ºC. O modelo de turbulência

empregado foi o k-ε, no qual se resolvem as equações da continuidade, de Navier-Stokes e da

viscosidade efetiva, além das equações auxiliares para determinação de k (energia cinética de

turbulência) e ε (taxa de dissipação da energia cinética de turbulência).

Condições de contorno aplicáveis ao problema:

Condição de não deslizamento nas paredes do molde e das válvulas;

Condição de livre deslizamento no menisco;

Condição de simetria, o que implica que o cálculo em questão abrange apenas metade

de toda a geometria, e nessas regiões as componentes de velocidade normais à fronteira são

iguais a zero.

Vazão mássica na entrada: 0,833kg/s, 1,042kg/s e 1,25kg/s para as velocidades de

lingotamento equivalentes a 0,78m/min, 0,98m/min e 1,2m/min, respectivamente.

Para avaliar o comportamento do traçador foi conduzida uma simulação matemática em

regime transiente com tempo total de 15s. Neste caso, o resultado da simulação matemática

em regime permanente nas mesmas condições de vazão e imersão da SEN (Submerged Entry

Nozzle) foi utilizado como condição inicial, para garantir que o traçador foi injetado no molde

com fluxo completamente desenvolvido.

6.3 Resultados e Discussão

6.3.1 Análise do Perfil de Velocidades

O perfil de velocidades foi determinado em três partes do plano BB através da técnica PIV,

analisando uma profundidade total de 800mm. Na Figura 6.3 são comparados os resultados

deste teste e da simulação computacional. Observou-se uma boa coerência em relação à

estrutura do jato e localização dos vórtices. Da mesma forma, os gráficos da Figura 6.4

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62

relacionam a distância y do centro da válvula submersa com a componente vertical de

velocidade, analisadas numa linha horizontal que corta o plano BB, nas distâncias de 250mm,

500mm e 750mm, a partir do menisco (Figura 6.1(b)). Comparando os resultados obtidos via

simulações físicas (PIV) com os obtidos via simulações computacionais (CFD), observou-se

mesma intensidade nas velocidades, porém, as curvas geradas pela simulação computacional

mostram-se mais suaves e, com isto, o jato descarregado no molde mostrou-se mais aberto

que aquele obtido via a técnica PIV.

Figura 6.3 – Perfil de velocidades para vazão de 100L/min e imersão da SEN 100mm: a) seção BB– CFD e b)

seção BB - PIV.

A Figura 6.5 mostra que a mudança na profundidade de imersão das válvulas de 50mm para

75mm não altera significativamente o padrão de fluxo. A posição dos vórtices e a distribuição

no campo vetorial de velocidades mostram-se praticamente as mesmas para ambas as

condições. Nestas imersões, existem seis vórtices no total, dois na alma e quatro nos flanges,

assim como foi descrito em trabalho anterior (Peixoto et al. [9]) para a imersão de 100mm.

Este padrão de fluxo também foi observado nos trabalhos de Lee et al. [4] e Chen et al. [10].

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63

Figura 6.4 – Gráficos de velocidade em função da distância y do centro da válvula submersa até a ponta do

flange, obtidos: pela técnica PIV a uma distância do menisco de a1) 250mm, b1) 500mm e c1) 750mm; por

simulação numérica no CFD a uma distância do menisco de a2) 250mm, b2) 500mm e c2) 750mm.

Figura 6.5 – Perfil de velocidades obtido por simulação matemática para vazão de 125L/min: Plano AA a)

imersão 50mm e b) imersão 75mm; plano BB c) imersão 50mm e d) imersão 75mm.

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64

6.3.2 Caracterização do Jato

A Figura 6.6 mostra que, sob tais condições de vazão e imersão, a profundidade dos jatos

descarregados no molde foi de aproximadamente 0,8m, considerando o tempo t=2s, pois neste

instante aparentemente tem-se apenas a ação da força de arraste proveniente dos jatos que

saem das válvulas sobre o traçador (corante), e para tempos superiores há um maior

espalhamento do corante. Na simulação computacional transiente utilizando o traçador, nas

mesmas condições de imersão e vazão, tem-se uma profundidade de penetração do jato que

sai da válvula submersa da ordem de 0,75m, para um tempo t=2s (Figura 6.7(c)). Tanto os

resultados do teste físico quanto do modelamento matemático mostraram que o traçador se

espalha mais rapidamente para os flanges e lentamente pela alma. Notou-se que para um

tempo de 10s o traçador ainda não cobre a região da alma na parte superior do menisco,

evidenciando que a renovação de fluido nesta região é lenta. Isto implica em um menor aporte

térmico, pois o aço já chega “frio” nesta região e, consequentemente, a pele será mais espessa

na região da alma. É importante ressaltar ainda que o impacto do fluxo de aço sobre a pele

sólida nas regiões do filete e do centro do flange retarda o crescimento da pele nessas regiões.

Este efeito na região central do flange, também foi observado por Xu e Zhu [8], que o

denominaram “washing effect”.

Figura 6.6 – Espalhamento de traçador (corante) inserido na tubulação de alimentação do molde – a) t=1s; b)

t=2s; c) t=4s e d) t=10s. Vazão 125L/mine imersão 100mm.

Os valores da profundidade de penetração do jato, obtidos por simulação matemática, estão

apresentados na Tabela 6.1. O aumento da vazão e da imersão da SEN implicou em aumento

na profundidade do jato. Chen et al. [10] encontraram a profundidade de impacto superior a

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1m para profundidades de imersões da SEN variando de 25mm a 125mm; enquanto que,

Zhang et al. [11] obtiveram por modelamento físico valores entre 50cm e 60cm, para

profundidades de imersão da SEN entre 50mm e 110mm.

Tabela 6.1 – Profundidade de penetração do jato em função da vazão e da imersão da SEN.

Imersão da SEN 50mm 75mm 100mm*

Vazão (L/min) 100 125 150 100 125 150 100 125 150

Profundidade do jato (cm) 66,3 70,8 75,3 69,7 75,3 77,5 74,0 75,5 77,3

*PEIXOTO et al. [9].

Figura 6.7 – Espalhamento de traçador obtido por simulação matemática em regime transiente – a) t=1s; b) t=2s;

c) t=4s e d) t=10s. Vazão 125L/min e imersão 100mm.

A Figura 6.8 apresenta uma comparação do espalhamento de traçador (Rodamina 6G) para as

profundidades de imersões de 75mm e 100mm. Deve-se destacar o caráter transiente do jato,

que para t=1s apresentou pequenos desvios em relação ao seu eixo de simetria vertical. Após

o espalhamento do jato, a força inercial, responsável pelo desenvolvimento na direção

vertical, deixa de ser a predominante no sistema e o mesmo se espalha por convecção,

retornando em direção ao menisco, seguindo o movimento dos vórtices da região do flange.

Nota-se que a redução da profundidade imersão da válvula submersa implicou em maior

espalhamento do jato, sendo que para t=15s a região superior da ponta do flange está

preenchida de traçador para a imersão de 75mm (Figura 6.8(b)) e que o mesmo não ocorreu

para a profundidade de imersão da válvula submersa de 100mm (Figura 6.8(a)).

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Figura 6.8 – Espalhamento de traçador (Rodamina 6G) obtido via técnica PLIF no plano BB para vazão de

125L/min: a) Imersão 100mm e b) Imersão 75mm.

6.3.3 Avaliação da flutuação do Menisco

A Figura 6.9 apresenta os resultados da análise da flutuação no menisco. A intensidade média

de flutuação o foi da ordem de 0,22mm e a intensidade máxima foi ligeiramente maior na

região da alma (0,85mm) que na região do filete (0,75mm). A redução da profundidade de

imersão da SEN não resultou em variação significativa da intensidade de flutuação do

menisco. Estes dados mostraram que utilizando as válvulas tubulares simples, a superfície

livre do menisco praticamente não oscila, devido à alta profundidade de penetração do jato, o

que é prejudicial para o processo de fusão do pó fluxante e flotação de inclusões.

Houve substancial coerência entre os resultados obtidos, com aqueles disponíveis na literatura

acerca da flutuação do menisco. Por simulação matemática, Xu e Zhu [8] observaram que

para válvulas tubulares, o nível de flutuação do menisco mostrou-se menor que 1mm;

enquanto que Zhang et al. [11], via modelamento físico, obtiveram uma flutuação média da

ordem de 0,2mm para SEN de 40mm de diâmetro interno e 70mm de profundidade de

imersão. Já Chen et al. [10], obtiveram, por simulação matemática, uma flutuação de

oscilação da ordem de 0,8mm na região da alma e 2,2mm na do flange, para imersão de

75mm.

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67

Figura 6.9 – Gráfico da amplitude de oscilação do menisco para diferentes vazões e imersões: a) Alma – P1; b)

Filete – P2.

A partir dos resultados anteriores, sugere-se uma profundidade de imersão das válvulas

submersas próxima de 75mm e velocidade de lingotamento máxima de 1m/min.

6.4 Conclusão

Os resultados das simulações matemáticas mostraram-se coerentes com os resultados do

modelamento físico. Utilizando-se duas válvulas tubulares com diâmetro interno de 34,6mm,

observou-se que:

O traçador se espalha mais rapidamente para a ponta dos flanges e lentamente pela

alma;

A profundidade de penetração do jato variou entre 66cm e 77cm;

A intensidade média de flutuação do menisco foi da ordem de 0,22mm e a intensidade

máxima de flutuação foi 0,85mm. Este parâmetro mostrou-se não ser afetado

significativamente pela variação da velocidade de lingotamento e da profundidade de

imersão da SEN;

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer ao Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES), Fundação Gorceix e à FAPEMIG pelo apoio.

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68

6.5 Referências

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3 Chen W, Zhang YZ, Zhang CJ, Zhu LG, Wang BX, Lu WG, Ma JH. ACTA Metallurgica Sinica

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4 Lee J-E, Yeo T-J, Oh KH, Yoon J-K, Yoon U-S. Prediction of Cracks in Continuously Cast Steel

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Behavior of a Solidifying Shell. Metallurgical and Materials Transactions. 2000;31(A):225-237.

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continuously cast beam blank. Ironmaking and Steelmaking. 1997;24(3):249-256.

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secondary cooling of continuously cast beam blanks. Ironmaking and Steelmaking.

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8 Xu M, Zhu M. Transport Phenomena in a Beam-Blank Continuous Casting Mold with Two

Types of Submerged Entry Nozzle. ISIJ International. 2015;55(4):791-798.

9 Peixoto JJM, Gabriel WV, Ribeiro LQ, Souza SS, Silva CA, Silva IA, Seshadri V. Análise do

Fluxo em Molde de Lingotamento Contínuo de Beam Blank: Simulação Computacional e Física.

46º Seminário de Aciaria–Internacional ABM Week. 2015;1-10.

10 Chen W, Zhang Y-Z, Zhu L-G, Zhang C-J, Chen Y, Wang B-X, Wang C. Three-dimensional

FEM study of fluid flow in mould for beam blank continuous casting: influence of straight

through conduit type SEN. Ironmaking and Steelmaking. 2012; 39(8):551-559.

11 Zhang L, Chen D, Long M, Xie X, Zhang X, Ma Y. Hydraulic Simulations of Fluid Flow in

Beam Blank Casting Mold with Double Nozzles. EPD Congress. 2014;375-384.

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7 CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo os resultados complementares aos dois artigos contidos nos capítulos

anteriores são apresentados e discutidos, de maneira a acrescentar informações relevantes que

não foram descritas anteriormente.

7.1 Influência do diâmetro da SEN

No capítulo III foram estudadas as válvulas tubulares de diâmetro interno igual a 26,7mm

(tipo 1) e 34,6mm (tipo 2). Pela comparação dos gráficos da Figura 5.9(a1, b1 e c1) obtidos

via simulação matemática (malha de 8mm) com os gráficos da Figura 7.1 (malha de 5mm)

nota-se que a influência da vazão sobre o perfil de velocidades nas posições 500mm e 750mm

foi maior quando utilizou-se a malha de 5mm. Além disso, os gráficos da Figura 7.1 (malha

de 5mm) estão mais coerentes com os resultados com os gráficos obtidos via PIV (Figura

5.9(a1, b1 e c1)). Consequentemente, a profundidade de penetração do jato de líquido também

foi maior quando se utilizou a malha de 5mm: para as vazões de 100l/min, 125l/min e

150l/min, as profundidade de penetração do jato foram, respectivamente,74,2cm, 77,5cm e

80,9cm para a válvula de diâmetro interno igual 34,6mm ; e 76,4cm, 79,2cm e 82,6cm para a

válvula de diâmetro interno igual 26,7mm. É importante notar que estes valores de

profundidade de penetração do jato são mais próximos dos valores calculados pela dispersão

de corante no interior do molde (apresentados no gráfico da Figura 5.6(a)). Assim, a redução

do tamanho máximo dos elementos da malha aprimorou a descrição das características do

fluxo pelo modelamento matemático.

Zhang et al. (2014) avaliaram o fluxo em molde de beam blank com válvulas de diâmetros

internos 30mm, 35mm e 40mm, e encontraram que a válvula de maior diâmetro resultava em

maior taxa de remoção de inclusões. Na Figura 7.2 têm-se os perfis de velocidades obtidos

pela técnica PIV para os dois tipos de válvulas submersas estudados. Nota-se que o aumento

do diâmetro das válvulas submersas resultou num jato central de menor intensidade (menores

valores de velocidade) e ligeiramente mais aberto. Isto também pode ser observado nos

gráficos das Figuras 5.9 e 7.2 (válvula com diâmetro interno de 26,7mm) e Figura 6.4

(válvula com diâmetro interno de 34,6mm). A partir dos resultados anteriores e considerando

aqueles apresentados no capítulo III, nos demais testes foram utilizadas as válvulas submersas

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de diâmetro interno igual a 34,6mm, de modo a reduzir a profundidade de penetração do aço e

obter um fluxo mais ameno, isto é, menores valores de velocidade no interior do molde,

reduzindo o risco de erosão da casca solidificada.

Figura 7.1 – Gráficos de velocidade em função da distância y do centro da válvula até o filete da face estreita do

flange obtidos por simulação numérica no CFX com malha 5mm a uma distância do menisco de a) 250mm, b)

450mm e c) 750mm. Válvula de diâmetro interno igual a 26,7mm.

Figura 7.2 – Perfil de velocidades obtido pela técnica PIV no plano BB para imersão das válvulas de 100mm e

vazão 125L/min: a) diâmetro interno 26,7mm e b) diâmetro interno 34,6mm.

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71

7.2 Influência da vazão

Na Figura 7.3 mostra-se a visualização do comportamento do fluxo do líquido pelos testes via

plano de laser no plano AA em diferentes tempos para as vazões 100l/min e 150l/min. Nota-

se que as partículas contidas no fluido acompanham o jato principal até cerca de 2s, e a partir

de 3s os jatos provenientes de cada SEN se encontram no centro da alma, iniciando o fluxo de

retorno, dando origem aos dois vórtices. Como observado anteriormente no tópico 6.3.2 pelos

testes de injeção de traçador, para um tempo de 10s as partículas ainda não alcançam a parte

superior da alma, próxima ao menisco, evidenciando que a renovação de fluido nesta região é

lenta e a elevada profundidade do jato, que é característico do fluxo quando se utiliza válvulas

tubulares, é prejudicial para a fusão do pó fluxante e para a absorção de inclusões pela

escória. Além disso, o aumento da vazão resulta em maior penetração do jato, mas não alterou

significativamente o preenchimento da parte superior da alma até 10s.

A profundidade de penetração do jato obtida por simulação matemática na Figura 7.4 para os

tempos de 2s e 3s são equivalentes às observadas no modelamento físico, Figura 7.3(a).

Observa-se que devido à localização da SEN no centro do flange, o jato de aço é confinado na

região do flange, e não ocorre fluxo de retorno no flange no plano AA. Assim, o

desenvolvimento do jato leva ao seu impacto sobre a pele solidificada na face plana do flange.

Na Figura 7.4, o espalhamento de traçador obtido por simulação matemática mostra que o

desenvolvimento do jato entre 2s, 3s e 5s resulta na sua expansão sobre a parede do flange,

em pontos de 500mm a 600mm abaixo do menisco. Xu e Zhu (2015) também observaram este

fenômeno e o denominaram de “washing zone”. Isto leva a erosão da pele solidificada,

reduzindo sua espessura em certos pontos, e pela ação das tensões de solidificação resulta em

depressões na parede do flange.

Deve-se destacar ainda que devido à elevada profundidade de penetração do jato, a remoção

(flotação) de inclusões no molde é praticamente insignificante. Assim, quando se utiliza

válvulas tubulares, é recomendado aumentar a limpidez do aço nas etapas anteriores ao

lingotamento do beam blank.

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Figura 7.3 – Visualização do fluxo através da iluminação de partículas por um plano de laser para válvulas

submersas de diâmetro interno 34,6mm e imersão 100mm: a) vazão de 100L/min e b) vazão de 150L/min.

Figura 7.4 – Espalhamento de traçador obtido por simulação matemática para válvulas submersas de diâmetro

interno 34,6mm, imersão 100mm e vazão 100L/min: a) t=2s; b) t=3s; c) t=5s.

Analisando o espalhamento de traçador (Rodamina 6G) até 1s, Figura 7.5, nota-se que o

comportamento o jato não é uniforme, isto é, sofre pequenos deslocamentos aleatórios apesar

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de toda sua força inercial na saída da válvula submersa. Em t=1s, a profundidade atingida

pelo jato de líquido é de aproximadamente 0,6m, como também é mostrado na Figura 7.3(a).

Assim, os jatos provenientes das válvulas submersas atingem uma profundidade muito

elevada em pequeno intervalo de tempo, levando grande quantidade de calor para a região da

saída do molde (o comprimento real do molde é 0,8m, sem descontar a borda livre). Em

alguns estudos (CHEN et al., 2007; CHEN et al., 2008; XU et al., 2010; XU e ZHU, 2015)

foi observado que na região de saída do molde existe um alto gradiente de temperatura. Desta

forma, alguns pesquisadores (CHEN et al., 2009; LUO et al., 2012; ZHAO et al., 2014)

avaliaram e propuseram melhorias no sistema de refrigeração secundária do lingotamento

contínuo de beam blank, de modo a tornar mais uniforme a temperatura superficial na seção

transversal do veio e evitar a formação de trincas.

Figura 7.5 – Espalhamento de traçador (rodamina) obtido via técnica PLIF no plano BB para a vazão 100L/min,

válvulas submersas de diâmetro interno 34,6mm e imersão 100mm.

O perfil de velocidades foi analisado no plano CC, a 25mm da parede do flange, ver Figura

7.6(a). Os resultados obtidos para diferentes vazões de líquido pelo modelamento matemático

e pela técnica PIV são apresentados nas Figuras 7.6 e 7.7, respectivamente. Analisando o

perfil de velocidades no plano CC paralelo à face do flange e distante 25mm desta, observa-se

a presença do jato de fluido proveniente da SEN para distâncias maiores que 300mm,

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indicado que ao se expandir no interior do molde, o jato passa a incidir sobre casca de aço

solidificada. Nota-se também a presença do vórtice visto anteriormente no plano BB, cujo

centro está cerca de 450mm abaixo do menisco. Comparando estes resultados com os obtidos

através da técnica PIV numa profundidade total de 800mm (Figura 7.7) se nota boa coerência

em relação à estrutura do jato, localização do vórtice e intensidade de velocidades.

É importante destacar que o aumento da vazão de líquido implicou em aumento dos valores

de velocidade do líquido, tanto na região de penetração do aço (proveniente do jato,

direcionada para baixo entre 500mm e 600mm), quanto na região do fluxo de retorno,

próximo à ponta do flange. Isto é prejudicial para o desenvolvimento a casca de aço

solidificada. Como mencionado por outros pesquisadores (YANG et al., 2006; CHEN et al.,

2012a), a velocidade de lingotamento deve ser limitada, de modo a reduzir a profundidade de

penetração do jato e seu impacto sobre a casca solidificada. De acordo com os resultados

deste trabalho, a velocidade de lingotamento deverá ser menor ou igual a 1m/min.

Figura 7.6 – Perfil de velocidades obtido por simulação no plano paralelo ao plano BB a 25mm da face plana do

flange. a) Localização do plano CC; b) 100l/min; c) 125l/min; d) 150l/min. Diâmetro interno de 34,6mm e

profundidade de imersão da SEN de 100mm.

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Figura 7.7 – Perfil de velocidades obtido pela técnica PIV no plano paralelo ao plano BB a 25mm da face plana

do flange: a) 100l/min; b) 125l/min; c) 150l/min. Diâmetro interno de 34,6mm e profundidade de imersão da

SEN de 100mm.

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8 CONCLUSÕES

Os resultados das simulações matemáticas obtidos pelo Ansys CFX 15.0 mostraram-se

coerentes com os resultados do modelamento físico, particularmente quando comparou-se o

perfil de velocidades via PIV e a profundidade de penetração do jato via injeção de corante. A

utilização de válvulas tubulares resulta em elevada profundidade de penetração do jato. Existe

maior influência da vazão do que imersão ou diâmetro interno das válvulas submersas, sendo

que para a vazão de 150l/min (equivalente à velocidade de lingotamento de 1,2m/min) a

profundidade de penetração do jato excede o comprimento real do molde (0,8m).

Tanto na simulação física quanto na matemática, foram observados seis vórtices no molde

dois na região da alma e dois em cada flange. A quantidade e posição dos vórtices não sofreu

modificações quando se alterou a velocidade, a imersão e o diâmetro interno da válvula

submersa tubular. Destaca-se ainda que o jato de fluido proveniente da SEN se espalha mais

rapidamente para a ponta dos flanges e lentamente pela alma.

O menisco (superfície livre) é estável, possui baixa intensidade de flutuação. Para a SEN de

diâmetro interno de 34,6mm, a intensidade média de flutuação do menisco foi da ordem de

0,22mm e a intensidade máxima de flutuação foi 0,85mm. Este parâmetro não foi afetado

significativamente pela variação da velocidade de lingotamento e da profundidade de imersão.

A partir dos resultados deste trabalho, no lingotamento contínuo de beam blank sugere-se

utilizar duas válvulas tubulares de diâmetro interno igual a 34,6mm, com profundidade de

imersão igual a 75mm e velocidade de lingotamento máxima de 1m/min.

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9 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Desenvolver um modelo matemático considerando a presença de uma camada de ar

acima do menisco, para avaliar o menisco como uma superfície livre e determinar as

características de flutuação;

Analisar o comportamento da interface metal escória em molde de lingotamento

contínuo de beam blank alimentado por duas válvulas tubulares, determinando a

influência da vazão de fluido, do diâmetro e da profundidade de imersão das válvulas;

Construir um modelo matemático para avaliar a formação da casca de aço solidificada

(pele) em molde de beam blank e aliar os resultados a valores industriais.

Estudar as características de fluxo utilizando novos modelos de válvula submersas,

como, por exemplo, duas válvulas com três portas na saída ou alimentação do molde

com apenas uma válvula com portas laterais e na parte inferior.

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APÊNDICE I

Curva de Calibração da Técnica Planar LIF

Tian e Roberts (2003) relatam que a visualização do fluxo com através da técnica LIF é

bastante fácil, porém extração de dados confiáveis de concentração de escalar é bastante

difícil, sendo que a relação entre intensidade do brilho da imagem (I) e concentração (C) é

linear para concentrações de traçador Rodamina menores que cerca de 50μg/L. Assim, para

preparação da solução com o traçador deve-se atentar para a precisão requerida na solução

utilizada durante os testes, que é da ordem de μg/l. Assim, para prepará-la recomenda-se

primeiramente produzir uma determinada quantidade de solução com alta concentração (na

ordem de mg/l), que será diluída para a utilização nos testes (fonte: Manual de operação do

LIF, 2002). Foram preparados 2L de solução com concentração igual a 250mg/l de rodamina

6G, cuja fórmula química é apresentada na Figura A.1. Uma balança analítica com divisão

mínima de 0,0001g, foi utilizada para medir a massa do traçador, 526,32mg de Rodamina 6G

95%, que foi diluída em um volume suficiente de álcool antes de misturá-lo na água, para

evitar aglomeração das partículas. Este conteúdo foi transferido para um balão volumétrico de

2l e adicionou-se água destilada até completar os 2l de solução.

Figura A.1 – Fórmula estrutural da Rodamina 6G (Fonte: Manual Planar LIF).

Antes da realização dos testes no molde, foi realizada uma etapa de calibração utilizando um

recipiente menor. O recipiente utilizado foi um reservatório de dimensões:

19,3cmX44,2cmX26cm (altura de trabalho 24cm) e volume útil de 22,18L, ver Figura A.2. A

calibração consiste em correlacionar a concentração com a intensidade emitida, através da

aquisição de imagens com diversas concentrações conhecidas. As concentrações utilizadas

foram: 0μg/l; 2,5μg/l; 5μg/l;7,5μg/l; 10μg/l; 15μg/l; 20μg/l; 25μg/l; 30μg/l; 40μg/l e 50μg/l.

Para isto, foi realizada a diluição da solução padrão no reservatório (22,18L): mede-se o

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82

volume de solução padrão necessário para alcançar a concentração desejada, dado pela

relação: 𝐶𝑝 ∗ 𝑉𝑝 = 𝐶𝑓 ∗ 𝑉𝑓, onde Cp é a concentração padrão, Vp é o volume da solução

padrão, Cf é a concentração final desejada e Vf é o volume final (22,18L).

Com o aparato experimental montado (laser, câmera e reservatório, conforme Figura A.2),

para cada concentração foi adquirida uma sequência de 10 imagens, das quais uma foi

escolhida aleatoriamente para ser utilizada na calibração. Esta operação foi repetida quatro

vezes para cada valor de concentração, assim cada ponto da curva de calibração continha uma

média de cinco valores de intensidade de emissão, como pode ser vistos nos pontos do gráfico

da Figura A.3.

Figura A.2 – Montagem experimental para aquisição de imagens para construção da curva de calibração da

técnica LIF.

A curva de calibração foi então construída para três intervalos de concentração, como

mostrado nas Figuras A.3, A.4 e A.5. Pelo formato das curvas e pelo fator R2 de correlação do

ajuste linear, conclui-se que a relação entre intensidade de emissão e concentração de

Rodamina 6G foi linear entre 0μg/L a 30μg/L. Assim a curva de calibração mostrada na

Figura A.5 foi utilizada no tratamento das imagens dos experimentos. Durante a captura das

imagens, a solução padrão de traçador (250mg/L) foi inserida continuamente na linha de

alimentação de modo a não ultrapassar a concentração de 30μg/L na saída das válvulas

submersas.

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Figura A.3 – Gráfico de concentração versus Intensidade de emissão com ajuste linear de 0μg/L a 50μg/L.

Figura A.4 – Gráfico de concentração versus Intensidade de emissão com ajuste linear de 0μg/L a 40μg/L.

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Figura A.5 – Gráfico de concentração versus Intensidade de emissão com ajuste linear de 0μg/L a 30μg/L;

Referências Bibliográficas

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TIAN, X. e ROBERTS, P.J.W. A 3D LIF system for turbulent buoyant jet flows. Experiments in

Fluids, v.35, p.636–647, 2003.

APÊNDICE II

Publicação em Periódico Internacional Relacionada a este Trabalho

Neste tópico é apresentado o resumo de um artigo aceito para publicação na revista Journal of

Materials Processing, da editora Elsevier (DOI: 10.1016/j.jmatprotec.2016.02.011). Este

artigo é resultado do trabalho em parceria com W. V. Gabriel. O foco principal do texto é a

comparação entre a utilização de duas válvulas tubulares e a utilização de apenas uma válvula

tubular de maior diâmetro para alimentação do molde.

COMPUTATIONAL AND PHYSICAL SIMULATION OF FLUID FLOW INSIDE A BEAM

BLANK CONTINUOUS CASTING MOLD

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Authors: Johne Jesus Mol Peixoto(a)

, Weslei Viana Gabriel(a)

, Leticia Queiroz Ribeiro(a)

, Carlos Antônio da

Silva(a)

, Itavahn Alves da Silva(a)

, Varadarajan Seshadri(b)

.

a) Department of Metallurgical Engineering / REDEMAT, Federal University of Ouro Preto, Ouro Preto,

Brazil.

b) Department of Metallurgical Engineering, Federal University of Minas Gerais, Belo Horizonte, Brazil.

Abstract

The main features of the flow field inside a beam blank continuous casting mold have been

assessed through mathematical and physical modeling techniques. Experimental techniques

such as particle dispersion through addition of dye and particle image velocimetry have been

used in a physical model of the mold to assess the flow pattern. Different combinations of

nozzle geometry and throughput have been employed and the experimental results have been

analyzed. In the case of two tubular nozzles, which should ensure good thermal and flow

symmetry, six vortices were observed in the mold, two near the web and two in each of the

flanges. Increasing the flow rate of the fluid from 100L/min to 150L/min leads to a change

from 0.74m to 0.84m in the jet penetration depth. However even a 67% increase of the nozzle

cross section did not affect this parameter significantly. Experiments with one single tubular

nozzle (53.2mm inside diameter) were also carried out and the resulting flow asymmetry has

been characterized. The difference in the fluid velocities at the fillets could lead to unequal

solid shell growth. The depth of jet penetration is larger than mold nominal length (0.8m).

Fluid flow structure as determined by PIV measurements and CFD simulations show a good

agreement.

Keywords: Beam Blank; Fluid Flow; Continuous Casting; Near Net Shapes; PIV.