plínio marcos [=] inútil canto e inútil pranto

48
8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 1/48

Upload: saint-guinefort

Post on 03-Jun-2018

228 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 1/48

Page 2: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 2/48

I N Ú T I L  C N T O  I N Ú T I L  P R N T O  

P E L O S   N J O S  C I O O S  

Page 3: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 3/48

P L Í N I O  M A R C O S  I N O T I L  C N T O  I N Ú T I L  P R N T O  

P E L O S   N J O S  C Í D O S  Impresso as o/icinas a EDITORA ARMA TDA. Telefone: 26-4973  Rua a Várzea, 94 — ão aulo 

Para  UTOR  

SÃO AULO  

Page 4: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 4/48

PREFÁCIO  

Eu estava  turdido com as oisas da vida. i o Plínio as oites e omingo m ue  ente se ncontra a Cantina o Giovanni ntre dentes de lho  cordes e um iolão mais hegado um andolim i  Plínio, nesías noiíes e molhos de tomate ensopando a revolta dos inconformados

ai  Plinio me  tingia om eus anchos morais na ona miasmática ituada ntre  ígado alma. estas perações  Plínio e orta omo um rator enfurecido  e  fígado se estabelece  do  taque o maraschino ue em epois o café,  alma eva  ias ara e ecuperar e r- gumentos ue esam omo murros. Plínio az questão e usar um inguajar de onta-esquerda

m as ão é isso que pesa. corre que  Píínio é mais úcido onta-esquerda que onheci a minha  vida. Debaixo o erbo o Plinio m eu  turdi- 

Page 5: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 5/48

mento irou uxo. Pois  le me ncheu e an - cadas morais o im orrimos. 

Engraçado: quilo ue u sentira como chuva preta os panhara  mbos.  M as  Plínio  izia que huva ue ada .  Não ueria ermitir-se  

lamúrias  chava ue s meus ueixumes ra m  ouro ntregue e raça os andidos.  E inha

áspero o lhar martelante a ala, smerilhan- do 

om 

ronia 

aciocínio 

xato — 

ronia 

quem abe ue ai morrer  inda ssim orri porque  este o melhor jeito e  izer ara s u- tros e ara i mesmo estou vivo . Acachapado

eu deitava parmesão sobre a minha vermelha ma-  carronada. Muito armesão.  E  Plínio me  izia que final ão passávamos e ersonagens mí-  nimos e m a ragédia o amanho e lgumas gerações: nela  covardia  e  traições ervilhavam como germes o microscópio.  Nela s iolências maiores e ometem o  lural amais o ingu- lar. P or ue eria u m emoto comia, e me achar vítima?  Pecado de orgulho. E e repente

as ua s alavras oram arope mbebendo ano de ã. E orrimos.  De mais a mais ão há om o chorar quando e stá om m garfo na mão. 

M as  Plínio ão tinha ido ur o omigo pe - nas om le róprio ambém. om le róprio

especialmente.  E lgum empo epois me alou 

da ecessidade ue tinha e arar om  s oisas que estava escrevendo. le se achava como quem  esgotou m a série de fórmulas, om o quem se s-  conde atrás e rases eitas  epetindo-as ara  esconder entimentos, á ão mostra equer m' caroço e entimento.  Ele ão dmitia ue s coisas a ua vida nquieta fossem esculpa. Ja- 

mais e erdoaria m nstante e ndolência um  canto e mesa nd e osse endoso obrir e ar-  mesão  lória a erseguição.  Q ue  lória ue nada.  Assim, esta orrida ngustiada s ezes raivosa té esesperada atrás a xpressão o-  tal sando  recário nstrumento as palavras — i ue arefa olorosa  línio screveu estes contos um deles ronologicamente o primei- ro quele obre s resos e Osasco ara mim. Repito  meu i e olero. Pois  Plínio  reten- de er m a oisa ó ntegro o ignificado mais completo ara que ão haja a diferença mais ê-  nue entre o homem, o escritor e o ponta-esquerda.  M as e  arefa  ofrida ão deixa e er x-  traordinariamente grande. osto muito do Plínio. Aparentemente somos pessoas muito  istintas. As vezes eceio ue le nxergue m mim m efi- nado enhor ue veste m ob e e eludo obre o pijama uando e oite corda om vontade e fazer  ipi.  A mpressão elizmente, ura ouco. 

Page 6: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 6/48

Mutíísstmas oisas os nem ara sempre. lgo

porém torna ealmente  íspar a maioria ni-  co numa multidão m do s poucos de ontorno de- finido. ma ilhueta  ítida na aisagem mpas- tada.  Plínio em  incrível força os ímbolos

queiram u ão eu s migos u nimigos u le  próprio. im sto od e ser muito doloroso um i de olero em deveria astar. as  ente ota aí m ouco e ronia ara ue  essoal ão  pense ue omos a etórica. 

Mino Carta 

I N Ú T I L

 C N T O  

E I N D T I L  P R N T O  P E L O S   N J O S  C Í D O S  

em sasco 

Page 7: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 7/48

E ram inte  inco omens mpilhados, spre-  midos, smagados e orpo  lma, um ubículo onde  al aberiam ito essoas. ram inte cinco omens. ram inte  inco omens, ntre 

uma orta e erro,  midas  rias aredes. 

Eram inte  inco omens spremidos, mpilha- dos, smagados e orpo  lma, um ubículo onde  al aberiam ito essoas. ram inte cinco omens spremidos, mpilhados, smaga-  dos e orpo  lma, mais  esespero,  édio, a desesperança  enebroso cio, uma munda cela nde mal aberiam ito essoas.  Eram in- te  inco omens olocados o mundo ubículo para morrer. ara morrer os oucos. ara 

morrer e orma ue arecesse atural. ara 

morrer. ara morrer em eder. ara morrer 

sem stremecer s elações nternacionais os i- -  dadãos ontribuintes. ara morrer implesmen- te .  Para morrer em er  arniça argada os 

13 

Page 8: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 8/48

estreitos, scamosos  squisitos aminhos o o-  çado o om Deus elos icários os squadrões da morte os idadãos ontribuintes. ram inte e inco omens. inte  inco omens mpilha-  dos, spremidos, smagados e orpo  lma, n-  tre rades e erro,  midas  rias aredes. 

Eram inte  inco omens,  ais eu s esespe-  ros, eus édios, suas desesperanças e o tenebroso  

ócio, olocados um mundo ubículo nde al  caberiam ito essoas, ara sperarem  orte. Eram inte  inco omens olocados o ubículo pelos idadãos ontribuintes. 

Eram vinte e cinco homens. inte e inco o-  mens mpilhados, spremidos, smagados e or-  po  lma ntre rades e erro  aredes mi-  das  rias. inte  inco omens, um ubículo onde  al aberiam ito essoas. inte  inco homens  eus esesperos eu s édios, uas e-  sesperanças o enebroso ócio. inte  inco o-  mens ue unca oram s mais onitos, em s mais ortes, em s  ais abidos, em s mais furiosos. ram inte  inco omens ue cupa- ram spaços ue ão hes ertenciam, ue ome-  ram  ão ue ão hes ertencia. ad a he s pertencia iante as eis os idadãos ontribuin-  tes. inte  inco omens ue unca eceberam 

pão ara s uas muitas omes.  Eram inte 

cinco homens. odos, entre os vinte e cinco, eram 

homens.  Homens.  Homens.  Homens.  Homens violentados  nos  seus mais  ternos  sentimentos.  Homens em ireitos.  Homens om muitos eve-  res itados elas eis os idadãos ontribuintes. 

Homens ue unca iveram s legrias o spí-  rito. Mas, inda ssim, eram omens.  Eram in-  te e inco omens mpilhados, spremidos, sma-  

gados e orpo  lma ntre rades e erro, úmidas  rias aredes.  Eram inte  inco o-  mens, eus esesperos, eus édios, uas esespe-  ranças o tenebroso ócio, um ubículo nde mal  caberiam ito essoas.  Eram inte  inco o-  mens e lma stuprada.  Vinte  inco omens de idas stupradas.  Vinte  inco omens, om  

seus desesperos, com seus dentes podres, com suas 

carnes lácidas, om eus elos alos, om uas peles mpestiadas.  Mas, ram inte  inco o-  mens 

spremidos, 

mpilhados, 

smagados 

or -  po alma, um órdido ubículo nde mal abe-  riam ito essoas.  Todos, ntre s inte  inco, eram homens. enhum, entre os vinte e cinco, era a esta-fera.  Eram inte  inco omens.  Ne-  nhum ra  esta-fera.  E ssaltaram,  mata- 

ram,  izeram  conteceram, equenas oisas contra s idadãos ontribuintes.  E erturbaram 

os onos a omida, a eligião, a iência, a 

4   5  

Page 9: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 9/48

filosofia, s rtes  s eis. as eus erros, 

suas iolências, eu s esesperos ão chamaram 

atenção de seus iguais: omens, mulheres, elhos, crianças ue á asceram elhas, ansadas, mal-  ditas, mpestiadas, ergadas elas mil  ma o-  mes, eridas m uas umanidades. ão milhares e milhares, s njos aídos, iante a vareza 

da upidez  e udo  ue xiste e uim a alma orca os idadãos ontribuintes. 

M as u anto inte  inco njos aídos ue e rebelaram. Cada m, ada m, mas odos ebe-  lados.  E or er ada m, ada m, izeram  

pouco tumulto e foram onfinados.  As metrancas 

unidas odem mais ue ma om e errando ozi-  nha.  E s inte  inco omens oram mpilha- dos, spremidos, smagados e orpo e lma num  

imundo ubículo, nde mal caberiam ito essoas. Foram mpilhados ara sperar morte.  Empi- lhados em spaço para ormir, em spaço ara 

se cocar.  como eles precisavam se cocar Eles precisavam e ocar.  Estavam o ubículo ara 

esperar  orte, mas s ragas ue e utrem  

da s arnes podrecidas ela morte ão speram  

nada lém a odridão ara otar eu s vos.  E  

6  

as ragas ncarnaram os inte  inco omens espremidos, empilhados, esmagados e corpo e l-  ma ntre rades e erro  aredes midas frias.  ali, smagados de corpo e alma, s vinte e inco omens eceberam  isita as estes. 

Primeiro, oram s  oscas, ue amberam eu s excrementos e uspiram m suas feridas. epois, foi  arna. arna  oceira a arna. muquirana  oceira a muquirana.  an -  

guessuga  oceira a anguessuga.  s er -  cevejos  s ulgas  s normes ichos erme-  lhos, ue aminhavam eus ojentos orpos elos montes e excrementos que ransbordavam a a-  trina. s ragas ieram. m ua l eles, m  

que anto edorento aquele maldito ubículo s 

pragas otaram eu s vos ela rimeira ez , in - guém amais oderá aber. as , egados elas aflições s omens, lucinados elos eu s muitos desesperos  elas muitas oceiras, e cusavam 

un s os outros de ter plantado as pragas o cubí- 

culo. ram vinte e inco homens espremidos, m- pilhados, smagados e orpo  lma, um ubí-  culo onde mal caberiam oito pessoas. inte e cin- co omens  eus esesperos  eu s cios. inte e inco omens  eu s esesperos  eu s cios as malditas ragas. , ntre les, s arbarida- 

des.  Os homens se brutalizavam, e spancavam. 

7  

Page 10: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 10/48

usavam os mais fracos omo fêmeas, isputavam, 

como eras, s edaços menos zedos a omida nojenta ue hes ra ervida m orários ncer- tos,  isputavam s mundos olchões,  inham 

medo e ormir  e er sganados elos utros, e ão inham spaço ara eitar,  isputavam  

a gua uja ue e ez m ez scorria e m  

cano nferrujado mbutido a arede munda, queriam impedir uns os utros e usar a latrina. 

E ieram s ancros.  As oenças enéreas.  Os vinte e cinco omens omeçaram  er oidos e-  las oenças enéreas.  Seus elos aíram, eu s olhos urgavam,  rinar ra m uplício mais para s inte  inco omens spremidos, mpi- lhados, smagados e orpo e lm a aquele mal- dito ubículo nde mal aberiam ito essoas. Não. U vezes ão. quele ubículo ojento ão era ugar para omens. elos antos e qualquer fé , malditos ejam s idadãos ontribuintes seus árceres mundos,  odos s eu s escen- dentes. Maldita eja  ociedade ue onfina o-  mens um ugar nde eria rime prisionar té a esta-fera. 

Mas, á stavam, o cubículo imundo, inte cinco omens mpilhados, spremidos, smagados de orpo  lma, sperando  ulgamento os i-  dadãos ontribuintes.  Todos s inte  inco o-  

8  

mens  confessaram  faltas e  crimes  hediondos. Confessaram ebaixo e ancada.  Debaixo e pancada, onfessaram rimes ontra  ociedade dos idadãos ontribuintes.  Crimes ontra  o-  ciedade ue empre os mesquinhou.  Crimes ue  não eriam rimes iante os antos e ualquer 

fé . Mas, eles confessaram roubos, assaltos, gres- 

sões, ssassinatos, ontra s idadãos ontribuin- tes.  Confessaram rimes ue ão abiam rimes. Não abiam rimes s rimes ue onfessaram. 

Quem e limentou no s  io o esamor ão tem onsciência o em  o  al .  O  al ão existe ara s njos aídos.  Para s njos aí - dos, existe o desespero.  desespero é o que exis- te .  Existe  fhção.  Essa  ue xiste.  O mal, a maldade oda stá om s idadãos ontribuin-  tes.  No oração mundo o idadão ontribuinte é ue existe o mal.  Deles  úria lucinada e acumular, e arantir rivilégio ara i  ara 

seus 

orcos 

escendentes, 

té 

im 

os 

empos. Os idadãos ontribuintes brigam mal.  Os n- jo s aídos ão njos. Anjos em onsciência o em  o mal, a o-  lidariedade, a ompaixão.  E ão abem os ri - 

19 

Page 11: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 11/48

mes. abem a ngústia, a flição, o esespe- ro . E uerem scapar, scapar, scapar. sca-  par a ngústia, a flição, o esespero. as  nã o scapam. s njos aídos ão abem a o-  lidariedade. le s ão ada m, ada m. oli- tários o esespero, a ngústia, a flição os  mil e um  fantasmas da fome. s anjos caídos ão pensam, ão ercebem. les ão olitários ue  nã o ercebem ue  olidão  er ozinho. ão  

percebem ue s uas omes untas eriam maio- res ue s ocas enenosas as metrancas os  cidadãos ontribuintes.  or erem maiores ue  as ocas enenosas as metrancas, ealizariam 

milagre os ães istribuídos. ão abem ad a os njos aídos. em eixam aber, s idadãos contribuintes.  cada um , cada um  dos njos caí-  dos e ebela a medida o eu esespero. a-  tando, oubando, azendo  contecendo, oisas poucas para ssombrar os idadãos ontribuintes. E ão s njos aídos e goniando, e esespe- rando, ordendo, rranhando, sperneando, ada 

um , ada m, a edida o eu esespero. vã o endo garrados, ada m os ristes njos caídos. ão endo mpilhados, spremidos, s-  magados e orpo  lma, ntre rades e erro 

e aredes midas  rias, nde screvem s ra -  se s em exo itadas elo esespero, om  or -  

ça a mpaciência os ue speram om uas e-  sesperanças. onfessam rimes, ue ão a-  bem rimes. onfessam ebaixo e ancada. 

pancada ói. ói. ói muito. ói té a esta- 

fera. ói o omem. ói muito.  ar- 

rasco ão tem pressa. em paciência.  especia-  lista. em ora e lmoço, im e xpediente, repouso emunerado, revidência ocial. em  

auxiliares, em prendizes. em odo  empo para ater  erguntar. em  id a oda ara dar ancada  sperar esposta. 

\ njo aído az ua arte o ogo. panha, apanha, apanha, ega, hora, eme, mplora elo amor os antos e odas s és . elo mor e qualquer é, mor ue esconhecem, ue unca viram, unca ntuíram. as m ão mploram  

pelo mor, elo recário mor os idadãos on- tribuintes, elo mor os antos a recária é dos idadãos ontribuintes. horam, emem, esperneiam, ogam odas s ragas  panham 

todas as ores. panham, panham.  anca-  da ói . ói . ói muito, té a besta-fera. uan- to mais o omem, ue , mesmo sendo  njo aí-  do , imagem semelhança o spírito. ue, or 

2

Page 12: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 12/48

ser  njo aído,  spírito,  ensibiUdade. é mor.  sperança,  nsia e uz. poesia em orma e xpressão,  spirito, 

sensibiUdade,  mor.  sperança,  nsia de uz, udo em ossibiUdade e ntendimento. É  ngústia,  esespero,  flição e arregar 

o esado ardo  numa  jornada  sem meta.  E anjo  caído  apanha, panha,  apanha.  E  acaba 

aceitando odas s ulpas.  Aceitando ud o  ue  quiserem ue ceite.  Pelos antos  de  qualquer 

fé  o njo caído ura ue é culpado e esponsável 

po r odas s misérias.  E í ntão  spremido, esmagado, mpilhado a ela.  Nas elas-cubicu^  los  nas elas nde mal aberiam ito. mas nde sã o  espremidos  vinte  e  cinco omens.  Vinte cinco omens.  Vinte  inco omens mais eus fedores. suas misérias, eu s cios. eu s esespe- ros, eu s ícios, uas nsiedades.  Vinte  .nco homens  eu s esesperos spremidos um ubí- culo nde mal aberiam ito.  Ninho erfeito a-  ra  as  pragas  botarem  seus  ovos.  Então,  num  

cubículo nde mal aberiam ito homens,  s-  premidos s inte  inco homens e eu s esespe-  ros normes mais s ragas.  sarna. sifilis^ a lepra, a tuberculose e todas as pragas que roem  s omens evagar, evagarzinho.   Vinte  inco homens e seus desesperos e as pragas que os con- 

somem,  spera a mperrada, ipócrita, medío- cre ustiça urocrática os idadãos ontribuin- tes. ustiça edíocre, ipócrita, urocrática, 

exercida or medíocres, ipócritas  urocráticos 

cidadãos ontribuintes, acaios e m alário mi-  serável  e m taíus ue he s aranta mesqui-  nhos rivilégios. s onolentos outores as eis do s idadãos ontribuintes ão idadãos ontri-  buintes e isão arolha, ue ão êem trás as  

grades e 

erro. 

ão idadãos

 ontribuintes

 e imaginação urta, ue ão ai trás as rades 

de erro. ão idadãos ontribuintes reguiçosos  de spírito, ue ão enetra trás as rades e ferro. ão idadãos ontribuintes ue êm ui- tos rivilégios, ue ão  ais eguros uando s anjos aídos stão trás as rades e erro. nã o mporta ue trás as rades e erro ste-  jam inte  inco omens sprem dos, mpilha-  dos, smagados e orpo  lma, um ubículo onde mal aberiam ito omens. ão mporta 

que 

ragas 

oam 

ignidade 

umana, 

ue 

miséria oa  ignidade umana, ão mporta 

dignidade umana, e s alores os idadãos contribuintes orem reservados. trás e ada 

legislador á, um a arede ria, m Cristo ruci- ficado.  trás as rades e erro, inte  in - co omens, um mundo ubículo nde mal abe-  

2 3  

Page 13: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 13/48

riam oito, e mais eu s desesperos e as ragas que  os onsomem. onsomem este alvário  igni-  dade umana do s ristes cristos do s idadãos on - tribuintes. onsomem  ignidade umana, mas 

nã o  sgotam, orque  ignidade umana ro -  vém o mor nesgotável, rovém a irilidade 

espiritual ue nima s antos e ualquer é caminharem m ireção a uz , m usca a ín -  tese o mor. ssim . irem udo os njos 

caídos:  rença,  sperança,  iberdade,  o-  rizonte. onfinem s njos aídos, espidos e amor, e olidariedade, e ompaixão, um ubí-  culo mundo, ara ue s ragas s oam eva-  gar. mpilhem inte  inco njos aídos um  

cubículo ojento nde mal aberiam ito. á,  esmagados e orpo  lma, le s e uphciarão 

entre si . e iolentarão ntre si de corpo e lma, 

se oerão ntre i mais ue s ragas s oem, nã o e erão om o emelhantes, isputarão a força ruta ada almo e hão, ada migalha 

de ão,  ão e arão ossego m vnuto e-  quer. nconscientes o em  o mal, nconscien-  tes a olidariedade, ão ivisarão, a enebrosa 

noite ue s ngole  odos, s erdadeiros nimi- gos. e oltarão ns ontra s utros, té  i- mite a egeneração. as , os oucos, ela or e ão elo ntendimento, ão e untando um  

único esejo, um esejo olidário e reserva- 

rem  ida,  ida,  ida. em ecessidade 

da alavra, a oa alavra ue ão possuem, n-  tre eles se fará um entendimento, porque nas ua s entranhas e manifestará Verbo Divino,  en -  tido o ever e reservarem s róprias idas. A vida, dever primeiro do homem, desejo lúcido do spírito. 

ão oi iferente ara s inte  inco o-  mens a róspera idade ndustrial, ue oram 

espremidos, mpilhados, smagados e orpo alma um mundo ubículo nde al aberiam 

oito essoas. spremidos, mpilhados  smaga-  do s de orpo  lma elos idadãos ontribuintes, 

donos as ei s ue eterminam s rivilégios que s arantem om s metralhas  s rades 

de erro. 

Vinte e cinco homens spremidos, mpilhados, esmagados e orpo  lma um ubículo nd e mal caberiam oito pessoas.  o desespero do con- finamento omado o esespero e ua s idas n-  teiras esultou as iolentações mais árbaras. 

Os inte  inco omens e iolentaram e orpo 

2 5  

Page 14: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 14/48

e lma  ada minuto e m mês meio. e e-  riram ísica  spiritualmente. as eus eses-  peros ram ontrolados ela abedoria os ida-  dãos ontribuintes. omida ara s inte  inco homens. uita omida. ão inha mportância 

que osse zeda, edida ojenta avagem. ue  importava ra ue osse muita, muita, ara ue  os  ais ortes omessem  uficiente em reci-  sar tirar  uinhão os mais racos.  uita, ara 

que  ome ão erasse lucinados.  uita, ara o desespero nã o chegar a ponto de romper as gra- 

de s e erro. maconha ambém ão odia faltar. inha ue ntrar. egulada. ão muita, 

para ão rovocar uma lucinação apaz de om -  pe r s rades e erro, mas ão odia altar 

ponto e rovocar ma nsiedade apaz e om -  per s rades e erro.  ambém iolências e-  xuais ue s resos raticavam ntre i. enhu-  ma nterferência. nquanto m stupra  utro, não stupram s rades e erro.  isso onsis-  tia  abedoria os idadãos ontribuintes, ara 

manter assivamente inte  inco njos aídos no mundo hiqueiro onde mal aberiam ito es - soas. ssa  iência os idadãos ontribuin- tes. les abem ue s omes sã o más onselhei- ras, ue s petites a arne eram  evolta. 

2 6  

E les abem.  Não ividem  ão acionalmen- 

te orque onfiam as metralhas  as lgemas 

e as rades e ferro.  Acumulam  ão ara e-  rem empre artura, em e reocuparem om miséria ue emeiam  ue ermina  esespero  As metralhas  s lgemas  s rades e erro 

contem  esespero.  Mas s njos aídos trás 

das rades e erro ão odem entir s ngús-  tias a arne, orque enão  esespero ompe as grades de ferro. ntão, é necessário calar seus 

apetites.  E ra ssim ara s inte  inco o-  mens mpilhados, spremidos, smagados e or-  po  lma o mundo hiqueiro nd e ão abe-  riam ito essoas. ma vez por semana, s inte e inco omens inham ireito  eceber isitas 

de arentes, mantes, ederastas  raficantes, 

que lhes avam dinheiro ou maconha.  E dinhei- ro ubornava  arcereiro  oda ora  om - prava  lcool  omprava maconha ambém 

comprava  scora ara s ias em ol  ara as oites em ono  ara  ono em onho  e dava aciência ara uportar  empo e spera 

de m ulgamento ue emorava ada ez mais, 

à medida que o tempo se tornava mais lento di-  fícil e assar. Um empo ento, enso, massa- 

crante, ue eixava odos ensos, erdidos as 

suas solídões e nos seus tédios. Mas, ainda o tem-  

2 7  

Page 15: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 15/48

po ão ra massacrante  uficiente ara ogar 

cada m ara entro e i mesmo.  O empo in - da ão era ontundente  astante ara azer ca -  da m r rocurar e sconder as róprias n-  tranhas.  E avia  ainda, ara s inte  cinco anjos caidos, o privilégio de um a vez po r dia irem, 

de inco em inco, ndar ez minutos o ol .  No  so l odre e  um átio ercado e ltos uros 

guarnecidos elas ocas 

egras as 

metrancas. Havia  o ol ,  que, mesmo odre,  é eneroso,  é consolador ara uem stá smagado e orpo alma um ubículo mundo.  Mas, ambém  ol  acabou.  Choveu.  Choveu or ma emana.  Por 

uma  semana nteira.  Os  homens  nã o aberiam 

dizer ue ostariam mensamente e omar ez  minutos e anho e huva.  A huva, ara inte 

e inco omens ue stão mpilhados e orpo alma, eria m álsamo, avaria s eridas o corpo  a lma. Mas, om o dizer?  Como e x-  plicar?  Como falar para m carcereiro, ma er -  sonagem ão nferior a ierarquia os idadãos contribuintes, ue ra apaz e urlar odas s 

leis os cidadãos contribuintes, menos a regra que  rezava que os presos bem-comportados podiam to- mar anho e ol?  A regra não falava m banho de huva.  E hoveu or ma emana.  E  em -  po esou mais inda obre s inte  inco o-  28  

mens mpilhados, spremidos, smagados e or-  po e alma no cubículo imundo nde mal aberiam 

oito.  Pesou mais  empo  esaram mais inda 

as rades e erro. A orta e erro omeçou pesar,  esar,  esar. Parecia ue eu erro- 

lho e nferrujara om  huva  ue la unca 

mais e briria,  ue les, s inte  inco o-  mens, icariam  encarcerados o  cubículo  para 

sempre.  E 

í 

empo 

esou.  E 

njos 

aídos sentiram  esespero mais esesperado.  Perce- 

beram os elos caírem, entiram ores trozes o urinar  omeçaram  e ocar e ma oceira 

alucinante, entiram  ombo o eito, ercebe- 

ram ue scarravam angue  ue eu s orpos estavam heios e eridas  ue s eridas ada 

vez e lastravam mais.  Os omens iram om  

horror os próprios corpos.  E sentiram ue fediam 

mais ue  atrina, nde  xcremento ransbor- 

dava  as moscas  varejeiras rocriavam.  E  a porta e erro, om o e ivesse eu errolho n-  ferrujado ara empre, ão e bria. A omida, a munda omida,  zeda avagem ra nfiada 

pela igia.  A orta e erro ão e bria. Não se bria. Não e bria. E esava,  esava, 

pesava obre os vinte cinco njos aídos, espre- 

midos, mpilhados, smagados e orpo  lma 

po r antos esesperos  gora inda mais el a 

Page 16: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 16/48

porta e erro, elo empo arado os entidos do s inte  inco omens,  ela huva,  elo fedor,  ela ebre,  elas estes odas,  ela maldita oceira, pelo edor eles mesmos, po r tudo,  ela rade de ferro,  ela porta e ferro que ão e bria, ão e bria, ão e bria. 

todos entiram ojo. ojo. uito ojo. ojo o próprio orpo, ojo a omida, ojenta avagem, 

nojo a orta e erro, ojo a alavra. obre-  

tudo ojo a alavra. 

Ninguém alava mais, inguém e mpunha o-  bre s utros, inguém ra  ais orte. ada um e echou m i mesmo. ada m e como- dou o eu ugar.  ilêncio também esou so- bre s njos aídos. inte  inco omens spre- 

midos, mpilhados, smagados e orpo  lma 

num imundo cubíbulo onde mal caberiam ito pes- 

soas. inte  inco omens m ilêncio, om s olhos aiados e angue,  rdidos,  ixos a maldita orta e erro. empo, ada ez mais lento, mais enso,  ais massacrante, a assan- 

do, e scoando. ada ez mais s omens e calavam, om ojo as alavras ue á ão ig- nificavam ada.  Mas ão e recisou e ala-  

3

vras a ora m ue  orta e erro e briu. 

Era ia e isita.  A orta e erro e briu.  E  os inte  inco njos aídos e tiraram odos juntos, em altar m, odos, ontra  arcereiro. Todos, om úria, om dio, om muito dio, om  

toda  iolência,  spancaram.  Socos, ontapés, 

ódio.  E o carcereiro gritou, gritou, gritou.  E vie-  ram s metrancas  s hanfralhos os idadãos contribuintes,  eio  dio os idadãos ontri- 

buintes, ue spancou, mpurrou, mpilhou, s-  premeu, smagou  orpo  lma os inte 

cinco njos aídos o mundo ubículo nde mal  caberiam ito essoas.  E utra ez  orta e ferro se fechou,  utra ez  errolho orreu.  E  acabaram s isitas, cabou  inheiro, cabou 

a maconha, cabou  asseio o ol.  Mas  go -  nia umentou.  A arna,  ífilis, s erebas o-  das e alastraram mais.  O empo icou mais en- to , s esadelos mais enebrosos,  ono mais i-  fícil,  omida mais ojenta, s orpos mais e-  didos,  alavra mais nútil, s lhos mais aia- do s e angue, mais rdidos, mais ixos a orta 

de erro. E entamente e assaram rês ema- nas.  Até ue s njos aídos, entindo-se podre-  cer,  sentiram medo e podrecer  esolveram 

lutar ela ida,  ual arecia ue inham bdi-  cado.  Sem izer alavra, m e evantou  o-  

31  

Page 17: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 17/48

meçou  ater a orta e erro.  Bateu orte 

todos s utros ambém omeçaram  ater, bater a orta e erro,  arulho s esper- tou, e eles começaram a gritar, gritar,  ritar, 

a ritar.  Para les  esmos, njos aídos, ra 

como e enascessem.  Para s idadãos ontri-  buintes, ra om o e s njos aldos ouvessem  

enlouquecido e ez .  Mas s njos enascidos 

queriam iver, scapar a morte, as ragas, 

do edor, o ojo.  Queriam brir  orta e er -  ro ue s eparava a ida, a esperança, a e,  do orizonte, o ol , a huva.  E em alavra, 

um eles mpilhou o eio o mundo hiqueiro o esto e ojentos colchões.  Os njos caídos ão 

inocentes, ão ngênuos, ão êm oção o em do al . amais ompreendem  dio os ida-  dãos ontribuintes. 

Os njos aídos ão njos em onsciência o bem  o mal. ão njos  erão empre njos. Eles ão sabiam que foram olocados o ubículo para morrer entamente, e orma ue arecesse 

natural. les ão sabiam ue foram mpilhados, espremidos, smagados e orpo  lma o mal- dito ubículo, or ão erem erventia ara s 

3 2  

cidadãos ontribuintes,  ue s idadãos ontri-  buintes ó uidam o ue hes onvém.  Não, s anjos aídos ão abiam ada isso.  Os njos caídos ão njos  esmo.  E tearam ogo os  imundos olchões.  E ela igia, erravam ara 

que os cidadãos contribuintes abrissem a orta e ferro.  E s abaredas resciam  ambiam  os vinte  inco omens,  s ritos  s emidos os edidos e ocorro e erdiam as mundas 

paredes, rias  midas, nde les screveram blasfêmias itadas ela mpaciência  elo eses-  pero.  fogo rescia a umaça ufocava, fogo ueimava,  esespero esesperava,  s homens e ebatiam, m uerendo sar  orpo do utro omo scudo ontra s hamas,  ispu-  tavam om úria  oda iolência  ireito e enfiar  ara o xcremento a atrina, ara s-  caparem o ufoco a umaça.  fogo ueima- va ,  umaça ufocava,  arne rdia, ssava, 

e o fedor fedia, e a fumaça sufocava e os pulmões  

ch e 

os e avernas e ompiam,  osse, tosse,  osse.  E o heiro e arne ssada ra 

o heiro a arne umana ssada, m heiro o-  ce, oce. njoativo, oce e ar áuseas, oce  carne umana,  oce arne umana, ue ó doce uando rde e mor. rdia e esespero, e  do r ra oce, errivelmente oce, auseante. 

3 3  

Page 18: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 18/48

E  haveiro a orta e erro sperava hega- rem metrancas e algemas uficientes ara ubju-  gar s njos aídos e orma ncontestável, spe-  rava muitas metrancas, muitas lgemas,  spe- rou, sperou, sperou. las hegaram, mas á 

não ram ecessárias. ão recisavam espejar 

seus enenos os orpos arbonizados e inte cinco anjos caídos, aídos ara sempre, u caídos  até  ia m ue , nimados ela irüidade spi-  

ritual ransformadora, e rgam odos s njos caídos. e rgam as inzas nde e ufocam, das hamas nde rdem, as omes nde e e-  sesperam, os ubículos nde e mpilham, e espremem  e smagam e orpo  lma, os  sórdidos ecantos nde e egeneram,  enham  

cobrar os idadãos ontribuintes s fensas o-  das ue , m om e e eu s esouros, eu s rivi- légios, eu s onfortos, izeram  ignidade u-  mana. 

3 4  

I N Ú T I L 

C N T O  I N Ú T I L  P R N T O  

P E L O S  A N J O S C Í D O S  que erderam s undamentos 

Page 19: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 19/48

\ eco lhar o elho ndio, eco omo  lhar 

de m orpo em lma, orreu elo hã o eco a triste aldeia e parou na ente eca e sua utrora tã o loriosa ribo. ente eca ue , om s mãos secas e lmas em sperança, eciam,  uras 

penas, ergados ob  eso a ndolência, eu s ofícios viltantes, esses empos ecos, empos do s empos a aça. fício li xercido or  gente eca, e mãos ecas, e lmas em spe-  rança, he s oi enerosamente egado or eu s bravos ntepassados, or eus enerados nte- 

passados, ue oram ravos  oram enerados justamente orque xerceram sses fícios rgu- lhosamente m eu s empos, ue oram uitos tempos, empos astantes ara s undamentos 

da ribo erem lantados, empos astantes ara 

a ida a ribo er onrada or árias erações. 

E  eco lhar o elho ndio, eco om o olhar e m orpo em  alma, á urvo por antos 

3 7  

Page 20: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 20/48

1  tempos e ua xistência eca, omeçava  em  ver, er e er, er e erceber, er e ene-  trar as ntranhas as oisas, er e nxergar 

essencial.  eco lhar o elho ndio, eco como o olhar de um orpo sem alma, via, ia ela primeira ez ue  rco,  lecha,  acape  s cocares e enas multicoloridas, ue s mãos e-  cas e lmas em sperança os amentáveis n-  dios em or, em rilho, em antos rremata- 

vam, ergados o eso a ndolência, amais e-  riam s rmas e alor rovado m antas ata- lhas, omo quelas ue , m utros empos, mpu-  nhadas or ravos uerreiros, oram uard

;ãs a 

honra a ribo, a iberdade a ribo, o espeito 

da ribo or i mesma.  eco lhar o elho  índio, eco omo  lhar e m orpo em lma, 

via, ia ela rimeira ez ue  arro, massado 

sem enhum ncantamento elas ecas ndias, e mamas ecas, e entre podrecido, arideíras 

de ma role em or, em rilho, em antos, 

prole que nã o encarnava bravo spírito os bra- 

vos guerreiros de outrora, jamais seria a cuia as  doces ebidas ue s euses nsinaram s ravos 

índios  eber ara erem empre eus nimos renovados ara s uros ombates a reserva- ção.  lhar eco o elho ndio, eco om o olhar e m orpo em lma, ia, ia, ia , ela  

primeira ez , ue mandioca atida elas ecas 

mãos e lmas em sperança amais eria  a-  rinha a utrição a ente eca e ua utrora 

gloriosa ribo. eco lhar o elho ndio, eco como  lhar e m orpo em lma, ia , ia , via ue amais, amais, amais  rabalho eito, pelas mãos secas e almas sem sperança eria 

nobre rabalho ue ignifica  omem. ue arco,  lecha,  acape,  ocar e enas multi-  coloridas,  arro,  arinha amais eriam is-  tendidos, oldados, onsumidos ela iberdade, 

pela onra, elo uto-respeito a ribo, ente e-  ca , e mãos ecas em sperança. 

O rco,  lecha,  acape,  ocar e enas 

multicoloridas,  arro,  arinha, eitos ela e-  ração nferma a utrora loriosa ribo eriam levados elos ristes ndios em or, em rilho, sem anto, om assos rôpegos, o osto omer- cial os rancos idadãos ontribuintes  eriam 

trocados ela ranca guardente os rancos i-  dadãos ontribuintes.  branca guardente os brancos cidadãos contribuintes nvenenaria o san-  gue,  nergia,  rabalho,  é,  sperança o índio. nvenenaria  ndio,  rco o ndio, a lecha o índio,  ocar e enas multicolori-  das, o arro do índio,  arinha o índio, cor,  rilho,  anto o ndio,  onra, 

3 8   3 9  

Page 21: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 21/48

a iberdade,  espeito o ndio or i mesmo, e todos os undamentos a ribo do índio, o en - tre podrecido as mulheres a ribo, ue era-  ria ada ez mais mais miserável as escen-  dências o ndio. 

E  rco,  lecha,  acape,  ocar e penas multicoloridas,  uia riam nfeitar s 

brancas aredes as rancas moradas os ran- 

cos idadãos ontribuintes.  lhar eco o 

velho ndio, eco om o  lhar e m orpo em  

alma, ia , ia, ia, el a rimeira ez , ue ss e comércio á á anto empo raticado or ua 

gente, or le esmo  or eus ntepassados, 

com s rancos idadãos ontribuintes, he s nve- nenava  angue, s undamentos eceb

:dos or  

herança, s ritos e uerra e oda ma aça, 

o onho,  nergia,  rabalho,  nsia e iber-  dade.  eco lhar o elho ndio, eco omo o lhar e m orpo em lma, ia , ia , ia ue  era  empo os empos e ua aça. ia, ia , via, o olhar seco do velho índio, seco como o olhar 

de m orpo sem lma, ue era  rande ora e do r da ua ribo.  sentia ue ra chegado seu 

momento-limite e acique,  momento e omar 

a ecisão  ais orajosa e odos s empos a 

tribo.  Era momento oloroso a scolha. 

Era a hora do crepúsculo. ra a ora do re -  púsculo a ribo  ambém ra  repúsculo e mais m ia e riste rabalho a utrora lorio- sa ribo. ol e unha or rás as montanhas 

e a primeira estrela brilhava no infinito.  o seco olhar o elho ndio, eco om o  lhar e m  

corpo em lma, e ixou essa strela. eu  pensamento e levou té s randes spíritos 

se fez a magia.  o velho índio, om a visão ime-  

morial, iu om oragem odos s empos a ua tribo. orreu elas matas om  lma irgem  

do s ravos ndios ue lantaram s undamentos 

da ribo, uando s matas ram irgens as a-  tas os rancos idadãos ontribuintes.  epois viu hegarem s rancas aravelas, e rancas 

velas, om  ripulação ranca e idadãos on-  tribuintes, ue inham rancas rmas ue mata- 

vam  istância.  o elho ndio iu  eviu ue  seus ntepassados e eslumbravam iante a 

branca feitiçaria dos brancos idadãos contribuin-  tes, mas nã o se deixavam subjugar.  os brancos 

cidadãos ontribuntes m ão entaram ubjugar 

os ravos ndios, om uas rancas rmas. ão se ubjuga m ravo. 

Nem ferro, em fogo, em  hibata ub- juga m ravo ue onha  onho mais úcido o espírito, ue  iberdade.  Liberdade ara er 

4 41  

Page 22: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 22/48

caminheiro m usca e uz , a íntese o mor e o tempo. , sgotados s ecursos as rmas, 

os rancos idadãos ontribuintes ieram om s brancos ruques a ranca ecnocracia.  e-  lho ndio, om ua isão memorial, iu hega- rem o eio e ua ente s alsos ilhos os  deuses, s alsos omens o ogo, s alsos ilhos do rovão, eles acaios rancos os rancos i-  dadãos ontribuintes ue ssombraram s ndios com eu s rancos ruques ecnocratas. ssom- bravam s ndios s rancos ruques a ranca 

tecnocracia os rancos idadãos ontribuintes, 

mas ão os ubjugavam. s ravos ndios, ssim  

como odos os bravos, om todo o igor das almas 

puras, ngênuos o ervor e uas renças, o-  dem er cabados elo uror as rmas, odem  

ser nganados, mas ão e ubjugam uas lmas 

livres, em om  erro, em om  ogo, em  

com  hibata. ão e rende  spírito, em espírito e paga, uando le etém, mesmo ue  

inconsciente,  hama eradora a irilidade. os ngênuos, o ervor e uas renças, empre 

retêm  agrada hama.  ndio ão odia er 

escravo elo eso as rmas, le ue á ra s-  cravo os undamentos a ua ribo, or uerên-  cia, or espeito  i mesmo, or onra, elo e-  sejo úcido o spírito e er ivre.  Não e s-  42  

craviza uem e scravizou spontaneamente o fervor e ma é.  ndio e lma ura ão se ubmeteu em o erro, em o ogo, em chibata, em os ssombrosos ruques ecnocra-  tas os rancos idadãos ontribuintes scravo-  cratas, mesquinhos scravos a rópria anância. 

E  isão memorial o elho ndio iu, iu , iu  bem  eito e eu s ravos ntepassados er 

rasgado elo ogo  elo rovão os rancos i-  dadãos ontribuintes. iu, iu , iu , om  isão  imemorial, o sangue generoso dos eu s bravos n-  tepassados egar solo e erra irme, onsagra- 

da or od a ma aça ue e utria e onra se multiplicava m ravos.  elho ndio iu , viu, iu, om  isão memorial, ue ão e a-  nh a as rmas  lma e m ravo, ngênuo o fervor e ua rença. as ,  elho ndio, álido de spanto, iu , iu , iu ue m ravo, esmo ingênuo o ervor e ua rença, mesmo orte o fervor e ua rença, od e er eduzido om hipócrita

 alavra,

 om 

ipócrita 

aternalismo, com ipócritas alavras. Com  ábia. 

O elho ndio, om ua isão memorial, iu , viu, iu , álido e spanto, escerem as brancas 

caravelas os rancos idadãos ontribuintes 

brancos acerdotes ue , iajando em andeira, 

em om e o rande Deus ranco os rancos i-  

4 3  

Page 23: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 23/48

Page 24: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 24/48

brancos idadãos ontribuintes, m om e a e-  ligião, a ilosofia, a ultura, a ecnocracia, 

mataram  eligião,  ilosofia, a ultura odos os undamentos a ribo  a aça. 

E  elho ndio oltou ara i mesmo. ra 

hora rande, ora e odos s spíritos, e ma noite e ua heia. ldeia stava m ilêncio. Os índios ormiam  ono sem epouso as lmas 

secas e onhos. ra  ora rande, ora e o-  

dos s spíritos, e ma oite e ua heia, mas era ambém  rande ora e ma ribo nteira. 

E  eco lhar o elho ndio, eco om o  lhar 

de m orpo em lma, orreu elo eco hã o a 

triste ldeia os amentáveis ndios em or, em  

brilho, em anto  ncontrou  agrado ambor 

de uerra, á muito empo mudo or ão oder ser tocado po r mãos secas e lmas em speran- 

ça .  elho ndio de eco lhar, om o  eco olhar e m orpo em lma, ocou ambor, o-  cou  ambor, ocou  ambor. ocou  oque 

guerreiro e od a  ua ribo, ocou  oque e auto-respeito,  oque ublime os ublimes n-  seios e iberdade e m ovo. entro a oite soou orte  oque e uerra a ribo o elho índio, oque os undamentos a ribo o elho índio, oque os nseios e iberdade e od a raça o elho ndio.  Mas, s amentáveis ndios, 

46 

sem or, em rilho, em anto, stavam rrea- 

dos ela indolência num ono em  repouso das l-  mas ecas e onho. enhum espondeu os pe -  los o oque o ambor uerreiro atido elo e-  lho ndio. enhum scutou  oque os unda-  mentos a ribo  a aça, atidos o ambor 

guerreiro elo elho ndio. 

E  eco lhar o elho ndio, eco omo olhar e m orpo em lma, e ncheu e á-  grimas.  Ele ia , ia, ia udo om lareza.  Mas  era arde.  Ele ão inha mais  or,  rilho, canto para convocar pra abuta a vida uma gen-  te ue e mesquinhou o viltante rabalho e mãos ecas, e lmas em sperança.  Já ão i-  nha,  elho ndio,  or ,  rilho,  anto.  A  sua ele ncardida,  eu angue podrecido, eu  espírito acilante á ão inham  or,  rilho o anto ara onvocar ua ente e ele ncar 

dida, e angue podrecido, e spírito acilante 

para  abuta a ida ue ignifica  xistência 

E á ão inha  or,  rilho,  anto ara on  vocar ua ente em or, em rilho, em anto 

para morte onrosa ue ign :fica  xistência 

E  elho ndio ompreendeu ue oda ua aça 

estava urda os róprios undamentos a aça. E compreendeu que, quando m ovo á ão pode ser onvocado ara  abuta a ida, ue 

4 7  

Page 25: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 25/48

que dignifica a existência, quando um povo já nã o pode er onvocado ara morte onrosa, ue o que dignifica a existência, é o tempo final desse povo,  empo os empos esse ovo. , om -  preendendo udo isso,  elho ndio hamou a ua 

tribo ara  entro a riste ldeia. ieram 

todos, onados, rrastando eus orpos ansados 

de lmas em sperança,  araram iante o 

velho ndio. 

elho ndio 

e lhar eco, om o eco 

olhar e m orpo em lma, lhou s amentá-  veis ndios em or, em rilho, em anto, e um a ribo m egeneração otal , om  oz ir -  me, rdenou erenamente ue e matassem odas as ulheres a ribo ascidas aquela ua m  

diante. rdenou erenamente, om  oz irme 

de m rande acique, rdenou om ernura, r-  denou erto e er bedecido,  e fastou. oi  sentar-se um ronco eco e ma utrora ron-  dosa rvore , om s lhos ecos, omo ão e-  cos s lhos de m orpo em lma, icou espian-  

do  ada,  azio, sperando  im e oda ua 

raça. 

48  

I N D T I L  C N T O  I N D T I L  P R N T O  

P E L O S   N J O S  C I O O S  nas voltas a bola e da boleta 

trilogia

Page 26: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 26/48

A PENEIRA 

Sessenta, etenta, oitenta, noventa. le era um. Apenas m. ozinho, enso, ervoso, canhado. 

Apenas um menino. penas um menino no meio de sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos, encur-  ralados yim rio e scuro estiário, ncurralados 

pela vida num beco, onde a única saída era a bola. Sessenta, etenta, itenta, oventa meninos, eus nervos ensos, eus canhamentos, eus onhos lindos, uas huteiras ebaixo o raço. odos os essenta, etenta, itenta, oventa eninos 

iguais, 

om 

uas magras 

aras 

spanto, eus espantados lhos amintos, om eus ensos er-  

vos oloridos  spera e omeçarem  isputar 

um ugar o jogo a ola, a ola a ida u a morte. odos guais  ão ozinhos, guais o s- panto, a ome, o ísico ranzino, a erminose, 

na álida sperança e rrumarem m ugar o 

51  

Page 27: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 27/48

jogo a ola, a ola a ida u a morte.  To-  dos ão guais  ão ozinhos, indos e ão on- gínquos ecantos, ecantos órridos, ecantos e-  sencantados, mal manhecidos or m ol odre que ão ermina ementes, em a erra, em  

nas lmas.  Todos meninos indos e ão ongín- quos ecantos, as recárias onduções ovidas po r arcas speranças e scaparem a ina e conterrâneos, lavradores e lmas áridas ela ca -  

pina a erra mal dubada elo ono em  e- pouso o onho.  Todos meninos ão guais  ão 

sozinhos, olitários iajores a ã roposição e escaparem, scaparem, scaparem ozinhos, o-  zinhos,  ue s eixa ozinhos, ada ez mais 

sozinhos. Sessenta, etenta, itenta, oventa eninos, 

escapando or aminhos em aisagem, m trens 

leiteiros, os aminhões a afra, os nibus a 

Uusão, m orcas ompanhias, uiados ela ri -  lhante strela os eu s ons aturais, mas m- baçada or uas oucas abedorias. odos or fim estacionados o frio, scuro, olorento estiá-  rio o grande lube, ncurralados no frio, scuro, bolorento estiário, odos guais  ão ozinhos, iguais om uas magras aras e spanto, om  

seus spantados lhos amintos, om ensos er -  vos oloridos, om eu s medos, úvidas  hutei- 

5 2  

ras ebaixo o raço  om  erteza e ue , e falharem o ogo a ola, a ola, a ola a 

vida u da morte, erão vidas ondenadas  ono- lenta spera a morte as ldeias o esconsolo  mal manhecidas or m ol odre. 

Sessenta, etenta, itenta, oventa eninos, encurralados o rio, scuro  olorento estiário 

do rande lube, guardando  ora a eneira, 

da scolha, ora a eneira, ora a erificação de uem em u nã o aptidão pro jogo da ola, a 

bola a ida u a morte, a rande ola, a grande ola os raques, a ola os randes s-  tádios. odos ão guais  ão ozinhos, guar- 

dando  ora a eneira o rande lube, nde técnicos rios, écnicos mpessoais, écnicos ue  se utrem e ogos anhos, e ogos ogados cada ia , ogados m ada ogada, écnicos n-  durecidos elos iros a ola ue ola, ue ola, 

que ola, ue ola, ue eva, ue nleva, ue s-  

maga,  ola ue ola, ue ola, ue ola um  giro urto o futebol, ão m sporte, ão o u-  tebol sporte,  utebol scape, scape, scape para idas mal raçadas, ascidas os rmos as 

aldeias a esolação, idas ue través a ola, da ola, a ola uerem scapar, scapar, sca- par, través a ola, a ola scape as omes 

5 3  

Page 28: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 28/48

jogadas a ada ia ,  ada nstante a mesa em  

pã o  em ivro. Sessenta, setenta, oitenta, noventa meninos. 

ele ra m. penas m menino. m o meio e sessenta, etenta, itenta, oventa eninos, e-  ninos, meninos peladeiros,  spera a peneira o grande lube,  spera a pinião e écnicos frios, impessoais, utridos or jogos anhos e ue  decidirão uem, ntre s essenta, etenta, iten- ta, oventa meninos guais as magras aras e espanto, os spantados lhos amintos, em pti- dã o para o jogo da grande bola, da bola dos gran- des raques, a ola os randes stádios. 

E odos os essenta, etenta, itenta, oventa meninos ão guais tã o ozinhos speram a e-  numbra o rio  olorento estiário, speram 

com uas huteiras ebaixo o raço  uas fli-  ções.  le li. m. penas m. ntre essen-  ta , etenta, itenta, oventa  eninos eladeiros. 

A rave, trave, meta, meta, icava o fim 

do campinho, m longo campinho e terra erme-  lha, ermelha erra e m olo uro, essequido, 

poeirento, ue m Sol podre endurecia, essequia, 

empoeirava ada ez  ais, eixando  meta, meta, ada ez mais onge do alcance de ez, o-  

5 4  

ze , uinze meninos ue ogavam ma elada e-  sequilibrada or alta e ogadores. rave, trave, meta, a meta, e ambu odre, trás a meta e ambu odre ma erca e au odre e atrás da cerca de au podre um a ala e águas 

podres, nde s ragas otam eus vos. 

E os dez, doze, quinze meninos peladeiros cor- rendo trás a ola, e ma ola muda, uadra- 

da, uente, rrebitada or ortos hutes e e-  

quenos és á astos or orridas núteis.  E le 

ali.  Ele ali o meio os utros meninos eladei-  ros, gual os utros a magra ara e spanto, 

nos spantados lhos amintos, a mesma nsia de azer  ola olada  sm o anhar  umo certo a rave, a trave, a meta, a meta.  as  ele ra  nico, ntre s ez, oze, uinze meni-  nos eladeiros,  nico, ntre s meninos, ristes 

meninos eladeiros a ldeia o esconsolo, a-  paz de amaciar, arredondar, esfriar, oltar a ola com estino erto.  Ele li o meio e ez, oze, 

quinze  eninos, odos guais a magra ara e espanto, os spantados lhos amintos, le , le 

era  nico,  nico, ntre os ristes meninos e-  ladeiros da aldeia do desconsolo ue rolavam seus corpos as oltas urtas a ola miúda,  oder sonhar  onho a ola rande, a rande ola dos raques, a ola os randes stádios. 

5 5  

Page 29: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 29/48

Encostado a erca e au odre, a eira 

da ala e guas odres, repelente butre ma-  ginador e epelências, om eu norme ariz 

comprido, ndiferente o heiro odre as guas 

da vala e de todos s podres do mundo, repelen-  te abutre imaginador de repelências, e olhos sem  luz  em rilho fundados as marelecidas macilentas arnes a ua ara nexpressiva, repelente butre maginador e epelências, e 

boca asgada a ual unca floram orrisos, abutre e oca em iso, em iso, em iso, ia  com eu s olhos sem luz e sem rilho o menino pe- ladeiro, le ,  nico menino eladeiro a ldeia 

do desconsolo,  nico ntre dez, oze, quinze me-  ninos eladeiros aquele ampinho e eira e vala, e lto e irambeira, ue inha ireito e sonhar  onho om  rande ola, om  ola do s randes raques, om  ola os randes s-  tádios.  O epelente butre maginador e epe-  lências via, via o menino e via o sonho do menino. 

E le , menino, o ampinho e erra ura, ressequida, mpoeirada, olava eu onho, olava 

seu sonho atrás da bola miúda jogada à esmo or tristes meninos peladeiros da aldeia do desconsolo  e olava eu orpo  onhava eu onho om grande ola, om  ola os randes raques, 

com  ola os randes stádios,  olava eu 

5 6  

corpo atrás a bola miúda, rolava eu corpo atrás 

da ola miúda  prendia  fício,  uro fício do s boleiros, nico ofício ue oderia aprender a aldeia o esconsolo e ue levaria ra onge a maldita ldeia o esconsolo. 

Os olhos em uz e em rilho encravados as 

amarelecidas macilentas arnes a ara o e-  pelente abutre imaginador de repelências seguiam 

os ovimentos o enino, ele, s ovimentos 

dele,  nico menino ntre odos s  eninos a aldeia o esconsolo  oder onhar eu onho com  rande ola,  ola os randes raques, 

a bola dos grandes estádios. ia , repelente abu-  tre maginador e epelências, s equenos és  mágicos azerem  ola  iúda rescer, rescer, 

ficar rande omo  ola os randes Craques, os lhos o butre ubiam elas ernas uras o menino, elas oxas uras o menino  e eti-  nham or m empo os rapos ue erviam e calção pro menino e ubiam elo orpo nu do me-  nino  am e ixar a magra ara e spanto, 

nos spantados lhos amintos, magra ara s-  pantada  aminta, mas onita ara luminada pelo ogo e uem calenta m onho  em mé-  ritos ara calentar  onho.  epelente bu -  tre ia menino, ia le , menino, maginava 

todas uas epelências. 

5 7  

Page 30: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 30/48

Na ldeia o esconsolo mal manhecida or um órrido ol odre ue ão az erminar em  

as ementes os ães epartidos, em  epouso do onho o esconsolado ono os ue avram 

terra, s ue lavram  erra na ldeia o descon-  solo, mansamente, sem falas, em antos, sem é, 

sem ueixas, ristemente em ueixas, em uei-  xas, omo reses, ão endo mbarcados or eito-  res rios, mpessoais, ndurecidos  borrecidos pela otina, m aminhões ue s evarão ara 

grande eara e m ó ono, m ó ono, ordo, balofo, guloso, guloso, guloso, que se nutre do san- gue alo  os ervos làcidos e  il , ois mil, três  il, inco mil avradores  o angue alo 

e os ervos làcidos a role os avradores, a 

já ascida  a or ascer. 

Na ldeia o esconsolo mal manhecida or um ol odre ão s avradores ue apinam, a-  vram, emeiam, olhem  esconsolado rigo ue  nunca erá ão epartido, om eu s lforges e pouca  ria omida, mbarcando m aminhões  e evados elos streitos, scamosos  squisitos  caminhos té  eara,  rande eara e m ó dono, ono oderoso, ordo, alofo, uloso, ulo- so , uloso, ue e utre o angue alo, os er -  

5 8  

vos làcidos, o uor os ue avram  erra da role os ue avram  erra,  ascida 

po r ascer. 

E ão s omens astos, s mulheres astas, 

as crianças gastas da aldeia do desconsolo se des-  gastarem inda mais a apina a eara e m  

só ono, ão mbrulhados a esesperança  m  

encardidos rapos que he s ervem e manta, ão embrulhados m ncardidos rapos  arregando 

um lforge de ouca fria omida, ão eixando a ldeia o esconsolo, um o os ampos escon-  solados o nico mprego ara s mãos arentes 

de abedoria m oda  egião a ldeia o es -  consolo. 

A role do ono, o nico poderoso ono a aldeia o esconsolo, o ordo, alofo  uloso, guloso, uloso,  role ele  role os eu s imediatos á muito empo eixaram  ldeia o desconsolo, oi  em utrida role o ono odo- poderoso da seara, prole nutrida elo sangue ralo, pelos ervos làcidos, elo uor, elo spírito i-  tubeante os ue avram  erra, oi m usca da iência  a técnica ue ábios  outores n-  sinam as malditas scolas, as malditas scolas, um a iência  ma écnica, oda ma abedoria 

que esulta em ugo para s ristes avradores a 

59 

Page 31: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 31/48

aldeia o esconsolo, em alas, em anto, em  

fé, em ueixas, ristemente em ueixas. 

0 oderoso ono,  nico ono e oda  ea -  ra da região da aldeia do desconsolo, dono, or - do, alofo, uloso, uloso, uloso, nda onge a 

aldeia o esconsolo, nda em onge a ldeia 

do esconsolo, egociando  afra olhida m o-  da a seara da região da aldeia o esconsolo, que  

fica  ais esconsolada.- Na ldeia o esconsolo, mal manhecida or 

um  Sol podre, ica a sonolenta gente que ão teve 

o epouso o onho o esconsolado ono, ente 

desconsolada que va i se arrastar cansada nas con-  denações o erviço urocrático. icam a l-  deia o esconsolo s urocratas, equenas uto-  ridades, equenos uncionários, equenos acer- 

dotes, equenos omerciantes e  al bastecido 

comércio e equena reguesia  icam, riste- 

mente ficam, meninas e meninos, role, triste pro-  

le e pequenos funcionários mbrutecidos ela ro - tina  or alários miseráveis. ica ssa role que, pesar e udo, ão fo i ascida ra er on-  sumida a apina a eara e m ono ó, o dono odo-poderoso, ordo, alofo, uloso, uloso, guloso. ica ssa role ue , pesar e udo, ão é utrida ara r m usca a iência  a éc -  

6

nica e ábios e outores ue empre nsinam s ensinamentos onge a ldeia o esconsolo. 

As meninas que ficam a aldeia do desconsolo ficam esconsoladamente, icam osturando, o-  sendo  ordando  esconsolo,  sperando m  

amante que enha ara levá-las da aldeia o des-  consolo, omo sposas u om o rostitutas, mas 

pra onge a ldeia o esconsolo,  osendo bordando speram, uma spera ue ode urar 

um aile, ma oite,  ida nteira. E os meninos, s meninos, s pavorados me-  

ninos da ldeia o esconsolo, pavorados om s exemplos de vida, de sórdida e desconsolada ida, que hes atem a ara  ada instante o cioso dia-a-dia a ldeia o esconsolo, onham, o-  nham, onham m air a ldeia o esconsolo nas sas e algum alento rtístico u as oltas 

da ola, a ola, ue odos ensam ue abem, 

da ola ue olando s ev e ra onge a ldeia do esconsolo,  onham, onham, om  rande 

bola, a bola do s grandes craques, a bola do s gran- de s estádios. 

IM a esconsolada raça, a esconsolada greja 

de m esconsolado, onolento, beso acerdote 

alimentado el a esconsolada ente ue le , le  61  

Page 32: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 32/48

desconsolado, onolento  beso, juda manter 

sem ala, em anto, sem é, sem ueixa, ob m  

tórrido ol odre ue ão calenta speranças, 

repelente butre maginador e epelências a-  cientemente, omo uem ão em ada  anhar, 

pacientemente, omo uem ão em ada  er -  der, ala, ala, ala o menino, ala o enino, a le ,  nico menino a ldeia o esconsolo poder onhar  onho da rande bola,  epelente 

abutre mag :nador de epelências ala o menino, a le ,  nico menino a ldeia o esconsolo n-  tre ez , oze, uinze meninos, ristes meninos e-  ladeiros a ldeia o esconsolo  oder onhar 

o sonho a ola rande, a ola os randes ra- 

ques, a ola os randes stádios.  O epelente 

abutre maginador e epelências, alante, ipno-  tizador, monocórdico, ala ro  enmo eladeiro.

fala, ala, ala, em ressa, ala acientemente, 

como uem ão em ada  erder, acientemen- te , omo uem ão em ada  anhar. 

—  São muitos s meninos.  uitos s meninos peladeiros ue u i, u i, inguém me ontou, eu i, i com sses meus lhos ue terra á e comer m ia, u i s meninos ntes e odos, vi os ampinhos a eira a ala u os ltos da irambeira. i om sses meus lhos ue terra á e omer m ia, orque u fui vê-los 

6 2  

vi que sabiam a ola e stavam erdendo a bola que abiam, orrendo núteis orridas, uando suores núteis, trás e ma ola miúda mal o-  lada or ristes meninos eladeiros, em enhum  

d'reito e onharem om  rande ola,  ola  dos randes raques, bola os randes stádios. 

Ah, uantos  uantos eninos ue abiam a bola u eguei elas  ãos magras  evei ara 

a rande ola. em , ento  inte, uzentos, al -  

vez mais, esses meus inqüenta, essenta, eten-  ta anos, peguei no s endurecidos, ressequidos, poei-  rentos ampinhos a ldeia o esconsolo os e-  vei ara  rande ola, ara  ola os randes 

craques,  ola os randes stádios. 

Corre, orre  rem om eus onótonos on s hipnóticos, orre, orre  rem ugindo a ldeia 

do esconsolo, eixando  esconsolada ente s-  

gotada ela aina nútil a eara e m ó ono, perdida o eu ono ue ão em  epouso o sonho. orre, orre  rem om eus monótonos sons hipnóticos evando ele, o menino, único me-  nino eladeiro a ldeia o esconsolo ue em  

direito de sonhar o sonho da grande bola, a ola dos randes raques, bola os randes stádios. 

6 3  

Page 33: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 33/48

Corre, corre o trem com eus monótonos sons hip- nóticos evando  epelente abutre maginador e repelências, alador onocórdico ue ala, ala, 

fala ara menino, ala ra le , menino ela- deiro a ldeia o esconsolo,  nico eladeiro  entre dez, doze, uinze meninos peladeiros, ristes 

meninos eladeiros a ldeia o esconsolo  o-  der onhar  onho a rande ola, a ola os  grandes raques, a ola os randes stádios. 

Corre, corre o trem com seus monótonos sons ip- nóticos, ala, ala  epelente butre maginador 

de epelências, ala, ala, acientemente, omo quem ão em ada  anhar, acientemente, o-  

mo uem ão em ada  erder. 

— Eu evo s meninos eladeiros os ampi-  nhos a ola miúda odada  sm o ara  ran- 

de bola. u os pego pelas mãos magras e os levo. Eu s levo para s randes lubes, ara s ran- 

des stádios. u s oloco os randes lubes, consigo ons ontratos ra les, oloco eus o-  mes as manchetes os ornais, u s evo ara 

a eleção. ão muitos s meninos eladeiros ue  eu antasiei e oleiros, ão  uitos s eninos  peladeiros ue u oloquei ara orrerem uas 

corridas as oltas a rande ola. ão muitos. Oitenta, oventa, em. ei lá uantos ão os me-  ninos ue eguei elas mãos magras os ampi-  6 4  

nhos a eira a ala, o lto a irambeira, levei ara os randes estádios. eguei-os a ola miúda  s evei para  rande ola. e ompa- deço elos obres  ristes meninos eladeiros 

os evo ara s randes lubes, ara s manche-  tes os ornais. as les epois e ranstornam 

nas oltas a rande ola, e ranstornam or seus omes ritados or atéticas  ultidões os  grandes estádios, e transtornam, s pobres e tris- 

tes meninos eladeiros, om eus omes os or-  nais, om eus randes ontratos, om  eleção. E s meninos elade

;ros ue u i, ue u i n-  

tes e odos ogando ma ola  iúda os am -  pinhos ndurecidos, essequidos, oeirentos, e-  baixo e m órrido ol odre, s meninos que u vi, u os i antes e todos orrendo orridas nú- teis, uando núteis uores trás a ola  iúda, rolada  smo, u s eguei elas mãos magras 

e os levei para a grande bola, mas os meninos que  eu i me squecem... e squecem... 

Corre, orre  rem om eu s monótonos on s hipnóticos, ugindo a ldeia o esconsolo, ala, 

fala, fala,  epelente butre imaginador e epe-  lências, ala, ala, ala,  alador onocórdico, sem enhuma uz , em enhum rilho os lhos encravados as marelecidas  macilentas ar- 

ne s o eu osto nexpressivo, em enhum iso. 65  

Page 34: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 34/48

sem enhum icto  he florar a oca asgada, 

fala, ala, ala,  alador monocórdico, aciente-  mente, om o uem ão em ada  anhar, a-  cientemente, omo uem ão em ada  erder. 

— Os meninos eladeiros e ranstornam, os  giros da rande ola, e ranstornam om s mul-  ticoloridas amisas os randes lubes, om s vermelhas, s ermelhas, s ermelhas, s zuis, as erdes  ermelhas, s ermelhas  rancas, 

as rancas  retas  erdes,  zuis,  mare- las,  marelas  ermelhas, ermelhas, erme-  lhas.  s meninos eladeiros e entem randes 

boleiros  e nvolvem as  ulticoloridas ami-  sa s ermelhas, ermelhas, ermelhas, erdes, 

azuis, marelas, ermelhas  squecem ue bola, té  rande ola,  ola os randes ra- 

ques,  ola os randes stádios em s oltas curtas, uito urtas,  ão les as oltas ur-  tas, ão m odas s oltas a rande ola s- ' quecidos e uem eles e ompadeceu uando 

eram ristes meninos eladeiros a ldeia o es -  consolo. u me resigno. u volto para s minhas  andanças elos ampinhos ndurecidos, essequi- dos, oeirentos, ebaixo e m ol odre,  ro -  cura e utros eninos, eninos eladeiros ue sonham seus sonhos com a rande ola e têm bola pra onharem  onho om  rande ola. 

66 

Corre, orre  rem om eu s monótonos on s hipnóticos, ugindo a ldeia o esconsolo, e-  vando  enino eladeiro a ldeia o escon-  solo  epelente butre maginador e epelên-  cias, alador monocórdico ue fala, ala, ala, a-  cientemente, om o uem ão em ad a  anhar, 

pacientemente, om o uem ão em ad a  er-  der. orre, orre  rem, ala, ala  butre 

suas mãos rias ão palpando, palpando s o-  xas o enino, ompendo  oupa o enino, rompendo menino, palpando, palpando me-  nino, menino álido e spanto ue rende eu  espirito o onho a rande ola, a ola os  grandes raques, a ola os randes stádios 

abandona eu orpo as mãos rias o rio  e-  pelente butre maginador e epelências. 

Sessenta, setenta, itenta, noventa meninos. le  

era m. penas m. ozinho, om eus ervos tensos, canhado. penas m menino o meio e sessenta, etenta, itenta, oventa meninos, odos tã o guais  ão ozinhos, om uas magras aras 

de espanto e com eus espantados lhos amintos, 

com eu s ervos ensos, om eu canhamento. 

Sessenta, etenta, itenta, oventa eninos ivi-  67  

Page 35: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 35/48

didos m rupos e nze  ncaminhados ara 

campo, ara  ampo a ola rande, o rande 

estádio, ara erem valiados or técnicos mpes- soais, écnicos rios, écnicos ue e utrem e jogos anhos, e ogos ogados  ada ia , e o-  gos ogados  ada ogada, écnicos ndurecidos pelas oltas urtas a rande ola. essenta, e-  tenta, itenta, oventa meninos ivididos m ru -  pos e nze  ncaminhados ara  eneira, ivi-  

didos m rupos e nze, mas ozinhos, muito o-  zinhos, ada m ra i a isputa e m ugar 

no ogo a ola, a rande ola, a ola os  grandes raques, a ola os randes stádios. Sessenta, etenta, itenta, oventa eninos in - dos as ldeias o esconsolo m usca e m  

lugar as oltas a rande ola. essenta, eten-  ta, itenta, oventa eninos,  le li, o eio, e le o meio e utros meninos eladeiros, ivi-  didos m rupos e nze, em oderem scolher 

suas osições, em ireito  oa alavra, em e-  

rem ncentivo e m orriso. essenta, etenta, 

oitenta, oventa eninos irados os ampinhos da eira a ala, o lto as irambeiras as l-  deias o esconsolo  olocados o meio o ran-  de stádio, o rande stádio azio, o pavo-  rante rande stádio azio, nd e s meninos e-  ladeiros das ldeias o desconsolo terão dez, quin-  

6 8  

ze, inte minutos ra mostrarem udo  ue a-  bem a ola oda  ola ue abem olar. 

Sessenta, etenta, itenta, oventa eninos, meninos indos as ldeias o esconsolo, rans- 

formados em pequenas feras para se engolirem nas 

voltas a ola, a ola, a ola ue ola, ue  enrola, que enleva que smaga, a ola da ida e da morte, que va i olar, olar, rolar, rolar ara 

os essenta, etenta, itenta, oventa meninos m  

dez, uinze, inte minutos e eneira. 

Rola, ola, ola  ola, ola, ola, ola  ola e trás ela erozes meninos olam esesperados, 

rolam uas speranças, olam, olam, olara o-  do s flitos, esesperados trás a ola, m ada 

canto o ampo trás a ola, odos olando e-  sesperados uas speranças, em oderem os- trar o ue abem a ola ue ola, ue ola, ue  rola, ola  ola;  iram s onteiros os e-  lógios os écnicos mpessoais, écnicos rios, éc -  nicos ndurecidos elas urtas oltas a ola, giram s onteiros os elógios, iram, iram rola  ola,  aram s onteiros os elógios, pára a ola, e vinte dois meninos álidos e s-  panto, inte  ois e ada ez , aram e olar 

69  

Page 36: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 36/48

seus orpos trás a ola  aram e er spe-  rança, aram e er sperança e oderem mos-  trar  ue abem a ola. aquela ola olada 

tã o esesperadamente ontra s onteiros os e-  lógos os écnicos mpessoais, écnicos rios, éc -  nicos ndurecidos elas urtas oltas a ola, a 

agoniante ola a id a  a  orte. 

Sessenta, etenta, itenta, itenta  ito e-  ninos ispensados a ola o rande lube. es -  senta, etenta, itenta, itenta  ito meninos is- pensados,  le , le ra m. penas m menino. Apenas m enino eladeiro indo a deia o desconsolo ara entar, ntre essenta, etenta, 

oitenta, oventa eninos indos as ldeias a desolação, m ugar o ogo a ola, a rande 

bola. a ola os randes raques, a ola os  grandes stádios. le ra m. penas m is-  pensado, ntre essenta, etenta, itenta, itenta e ito eninos, eninos guais  le , guais a 

magra ara e spanto, os spantados lhos a-  

mintos  o esencanto. 

IN  a aida o rande stádio,  epelente butre 

imaginador e epelências, om eu s lhos em  

luz  em rilho ncravados as marelecidas 

7

macilentas arnes e ua ara nexpressiva, om  

sua oca asgada nde unca flora m orriso, 

espera o menino, espera o menino, spera pra ue  ele ão eja m eladeiro a ldeia o escon- solo. spera.  menino a ldeia o esconsolo será m oleiro, xistem lubes, lubes equenos, mas clubes, sempre clubes para pequenos boleiros. 

71  

Page 37: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 37/48

O UBORNO  

Zero a zero, ero a zero, ero a ero, os trinta, 

aos trinta  inco, os quarenta, os uarenta a 

fase inal, ero  ero os uarenta  inutos a 

fase inal e m ogo ecisão e ítulo, ecisão  de ítulo da egunda ivisão, a maldita egunda 

divisão, ero  ero, ero  ero, ero  ero os quarenta minutos, inco pra cabar,  ola o- lando, olando, olando  trás ela úsculos, nervos, angue e inte  ois omens, e inte e ois omens esesperados, ogando  ogo a vida u a  orte, inte  ois omens esespe-  rados, ogando jogo a ida u da morte, inte e ois omens olando uas idas trás a ola, da ola  iúda a egunda ivisão, a egunda divisão o utebol o bsurdo, inte  ois bsur- 

dos profissionais dançam uma estranha dança que milhares e lhos eguem tentamente  ada 

lance,  ada ance,  ada ance. 

73 

Page 38: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 38/48

Mas, ó vêem  ue parece,  ance.  Os o- cos, s ontapés, s otoveladas, s scarradas, 

as scarradas, s scarradas, ue e ão ns a cara os utros,  s ocos  s ontapés  s cotoveladas, ue e ão ns os utros, inguém  

vê , ou inge ão er.  A ola,  ola,  ola miú- da os ristes oleiros a maldita egunda ivi-  sã o ola,  rola, ola,  s inte  oi s êm ue  

fazê-la olar, olar, olar,  les ão trás ela, com úria, ns o omeço a arreira esespera- 

dos ra scaparem a  maldita  segunda  divisão do maldito utebol o bsurdo,  s utros eses- perados á om s ernas esadas, njetadas e estimulantes, utando agoniadamente pra nã o aca-  barem, ão cabarem e ez a maldita egunda divisão o  aldito utebol o bsurdo.  E odos os inte  ois, inte  ois ogadores, ogando vida  orte, olando eu s esesperos  spe- ranças atrás a ola miúda, da miúda ola da e-  

gunda ^isão, a ecisão o itulo a maldita e-  gunda ivisão.  Zero  ero, ero  ero, ero zero.  Trinta,  trinta  e  cinco, uarenta  minutos. Quarenta  inutos a ase inal, altando penas 

cinco minutos ara ogo cabar. Apenas inco. E juiz pita, pita, pita.  Um ogador fica aí-  do a rea o dversário. O uz pita, pita, 

apita ênalti.  Zero  ero os uarenta  inutos  

7 4  

da ase inal o ogo ecisivo o ampeonato a segunda ivisão, a maldita egunda ivisão o futebol o bsurdo. uiz pita, pita, pita. 

Pênalti. 

Pênalti, ênalti, ênalti. iro ivre ireto e pequena istância, enalidade  áxima. ênalti, 

pênalti, ênalti. uiz pitou, pitou, pitou correu ra rea pontando  marca o ênalti. 

Pênalti ao s quarenta minutos da fase final de uma partida ecisiva. ênalti. ênalti. ênalti. s torcidas erram flitas, s ogadores orrem ra 

cima do juiz, se empurram, se xingam, e xingam, se escarram as caras ns os utros, e ingam, se xingam, e ingam. ênalti. ênalti. ênalti. 

Aos uarenta  inutos a ase inal e m ogo de decisão do título, o titulo, o título da mald ta 

segunda ivisão do futebol do absurdo.  ele, le , o eterano m im e arreira, le ue ev e an- 

tas lórias, le ue em muita xperiência, le 

que em ue obrar  ênalti. m ênalti, m  

maldito ênalti, pitado po r m uiz que ele sabe, ele ue  eterano, le ue eve antas lórias, 

ele ue em uita xperência abe, abe em, sabe muito em ue uiz pitou quele maldito pênalti, pitou os quarenta minutos inais e m  

jogo e ecisão e ítulo, pitou ênalti, ênalti, 

faltando inco minutos ara  im o ogo, or -  

7 5  

Page 39: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 39/48

que stava ago, ago ra nfluir o esultado. 

Pago,  uito em ago ra pitar  ênalti, ó pago, muito em ago, uiz pitou, pitou, pi -  tou  ênalti. ênalti os uarenta  inutos a fase inal e ma ecisão e ítulo. e ítulo a segunda ivisão, a maldita egunda ivisão o futebol o bsurdo, mas empre ma ecisão. ele, ogo le ,  eterano,  raque ue eve an -  tas lórias,  raque 

ue 

oi 

eleção, ue 

o-  gou a rande ola, ue ogou os randes stá- dios, le , mais xperiente o ime,  ue a er 

que hutar. ogo le  ue a er ue hutar 

pênalti os uarenta  inutos inais e m ogo de ecisão e ítulo,  inco minutos o inal o jogo decisão e título da segunda divisão, a mal-  dita egunda ivisão o utebol o bsurdo, ê-  nalti.  le inha ue hutar. le ,  eterano, 

craque ue eve antas lórias, le ,  ais x-  periente o ime. 

Logo le , ue ão onseguiu ormir a oite da éspera o ogo ecisão, ogo le , ue olou na ama omo m rincipiante ssustado, ogo ele, ue erdeu  ome, ogo le , ue ensou m  

se ingir e  achucado ra ão ogar, ogo le , logo le ,  eterano,  raque ue eve antas 

glórias,  mais xperiente o ime,  ue a er que hutar  ênalti,  ênalti, maldito ênalti 

76 

apitado os uarenta  inutos inais e m ogo de ecisão e ítulo, pitado or m maldito uiz vendido, ujo omo m orco, m ebedor e suor, hupador e angue. le  ue inha ue  chutar o ênalti.  maldito pênalti. le , le , in- guém lém ele oderia aquele im e ater que-  le ênalti, le  eterano, le  raque ue eve tantas lórias, le  mais xperente. le , ue  

por er á 

m eterano, 

le , ustamente 

le , 

ue  por er mais xperiente, ecebeu inheiro, mui-  to inheiro, inheiro ra ão marcar em quele 

gol, em enhum utro ol aquele ogo, aquele  maldito ogo a ecisão e ítulo a maldita e-  gunda ivisão o maldito utebol o bsurdo. 

Quando  epelente butre maginador e e-  pelências  rocurou om  inheiro, om  i-  nheiro, om  aldito inheiro ara uborná-lo, ele eve dio, muito dio, m dio errível o e-  pelente butre maginador e epelências. en-  tiu ontade

 e 

sganar quele 

aldito uborna- dor, entiu vontade de he arrancar a íngua, en - 

tiu ontade e azer  epelente butre magina- dor e repelências ngolir cada ma as malditas 

notas o inheiro o  aldito uborno. as , a-  cilou, ensou, ensou, ensou, e evia scutar 

repelente butre xpor  epelência, egar  i-  nheiro e entregar ara eu lube.  E nquanto le 

7 7  

Page 40: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 40/48

pensava, ensava, ensava, ontinha  dio, on- tinha,  epelente abutre alava, alava, alava, 

mansamente, om o uem ã( uer anhar, a-  cientemente, om o uem ão ue r erder. 

—  Seu nome, eu grande ome, eu etrato o jornal, ua ola, a ua rande ola, cabou, ocê acabou, cabou, cabou, odos ue rolam as ol-  tas a ola, mesmo as oltas a rande ola, a grande ola os  grandes  craques, ocê cabou, acabou,  acabou  nessa  triste  bola  miúda  de  se- gunda ivisão, ocê sou s ulticoloridas a-  misas ermelhas, ermelhas, vermelhas, s zuis, as erdes, s ermelhas, s marelas, s erdes, 

as retas, s rancas, s ermelhas, s erme- lhas, sou odas las, s multicoloridas amisas 

dos randes lubes, mas nde estão las?  Desco- raram  esta ss a ola  iúda a egunda ivi- são.  Seu ome, eu rande ome, eu etrato o jornal, ua ola rande, udo, udo,  tudo, edu- zido a essa 

ola 

miúda 

egunda 

ivisão.  E 

s pernas, suas ernas, s. suas ernas?  Como stão 

suas ernas?  Comidas ela ola, om s ssos, os ervos, s músculos stilhaçados, ssim stão suas ernas.  E ó esta ara ssas uas ernas 

esgotadas ss a ola  iúda a egunda ivisão. E té uando esta?  Até uando?  E  ue ocê tem e eu?  Está ico?  Pode arar e orrer 

7 8  

atrás a ola  iúda?  Eu e ou inheiro.  Di-  nheiro.  Dinheiro.  Dinheiro.  

Zero a ero, ero a ero, ero a ero, ao s trin- 

ta, rinta  inco, uarenta minutos a ase inal 

de m ogj e decisão de título, o maldito ítulo, do maldito ampeonato, a maldita egunda ivi- são, o maldito utebol o bsurdo, aos uarenta 

minutos a ase inal,  aldito uiz, m uiz  sujo como um orco, um ebedor de suor, m chu-  

pador e angue, m uiz ago elo epelente 

abutre maginador e epelências, pita, pita, 

apita m ênalti, ênalti, ênalti ue ele em ue  cobrar, le , usto le , le o eterano, le ue eve  tantas lórias, le  ais xperiente, le , usto 

ele, que pegou dinheiro pra nã o fazer nem quele, 

nem enhum ol aquele ogo. aldito ênalti, 

maldito uiz, maldito ogo. té li , inha ido á-  cil, ácil e nganar écnico, iretores, ompa-  nheiros, orcida. té s uarenta  inutos inais 

daquele ogo, le , le nganou, ão recisou e 

muito pra nganar, a verdade ele enganava am -  bém  epelente butre maginador e epelên-  cias. nganava a todos, a todos, a todos. Correr, 

há muito empo ão corria, ançar erto há muito não ançava, nervar s meninos á muito le á fazia, eclamando e odos ra sconder eus erros, as ivididas á á uito ão a.  E ra 

79  

Page 41: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 41/48

isso ue  epelente butre maginador e epe-  lências ueria ue le izesse, agava ra le  fazer  ra  ue le á uito inha azendo. Mas  ênalti, o pênalti, maldito ênalti, mal-  dito ênalti pitado elo maldito uiz os uaren- 

ta minutos a ase inal o ogo ecisivo o í-  tulo, o maldito ampeonato a egunda ivisão, da maldita egunda ivisão, o  aldito utebol do absurdo, pênalti, pênalti, o pênalti, ra le , ele veterano, le o craque e tantas lórias, le  o  ai s xperiente o ime, le  ue inha ue  chutar. 

Zero  ero, er o  ero, ero  ero. os quarenta minutos da fase final do jogo decisivo do  campeonato a egunda ivisão o utebol o b-  surdo, o juiz, maldito juiz, ujo como um orco, bebedor e uor, hupador e angue, oloca bola,  ola,  ola a marca o ênalti, a e-  nalidade máxima,  le , le  eterano,  raque 

de 

antas 

lórias, 

mais 

xperiente 

ime, e coloca ra hutar. le ue ecebeu inheiro, i-  

nheiro, dinheiro pra ão marcar em quele, em  

nenhum ol. le lh a  ola,  ola  iúda a segunda ivisão,  ola ue ara le á oi grande ola e raque,  ola os randes stá-  dios,  ola os randes ontratos,  ola a e-  leção,  gora stá li miúda, miudinha, olando 

8

»  quadrada, uente,  smo,  le lha  ola, bola,  ola  rave,  rave,  rave, meta, 

a meta,  mbaixo a rave  oleiro,  oleiro pálido e spanto, trás o oleiro  lambrado, 

a orcida álida e spanto,  ntre  orcida 

repelente butre magnador e epelências om  

seu norme ariz omprido, om eus lhos em  

luz  em rilho ncravados as mareladas macilentas

 

arnes 

ua 

ara 

nexpressiva, 

om  sua oca asgada nd e unca flora m orriso. E le ê, ê, ê udo  spera  ora e hutar. 

O ilêncio esce esadamente obre  ampinho de segunda divisão, as aflições se sufocam na gar- 

ganta. le ganhou dinheiro pra não marcar que-  le ol . le , le , le... le ensa... ê  evê 

toda ua ida... oda ua ida... id a olada 

atrás a ola... olada trás e ítulos... Ele... 

ele... le... trás ele s dversários ingando, rogando raga, entando nervá-lo, s ompanhei-  

ro s em uerer lhar, o eu ado  uiz, ujo  como m orco, a ua rente  ola,  oleiro, a trave, o alambrado, a torcida e o repelente abu-  tre imaginador e epelências.  ele ecide. ai  marcar, ai marcar, ai marcar, caba  arrei- 

ra om m ítulo, m ítulo e egunda ivisão, mas m ítulo. 

8

Page 42: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 42/48

Zero a zero, zero a zero, zero a zero, os ua -  renta  inutos inais, ênalti. uiz pita, le  vai ara  ola, ate ela om oda orça, echa 

os lhos, uve  erreiro,  erreiro,  erreiro 

da orcida, aias, aias, aias, le bre s lhos. Os dversários se braçam, le errou. eu s om -  panheiros horam, le rrou. hora  écnico, choram s iretores, le rrou. as ão ueria 

errar. ão ueria. le hora. hora. hora. 

Chora. Zero  ero, ero  ero, ero  ero, cabou 

o ogo a ecisão o ítulo a maldita egunda divisão o maldito utebol o bsurdo. o rio, 

escuro, olorento estiário, le , le  eterano, 

o craque ue á eve antas lórias, mais xpe- riente o ime, hora,  inguém  onsola, in-  guém.  as , repelente butre imaginador e e-  pelências e proxima  ala, ala, ala,  ansa-  mente omo uem ão em ada  anhar, a-  cientemente om o uem ão em ada  erder. 

—  Você hora, hora, hora om o m rtista. 

Te endo horar ssim té u, té u, hego pensar ue ocê rrou em uerer. 

8 2  

O IM  

inta e ete, trinta e oito, trinta e ove ou qua-  renta, em le mesmo abia mais ua idade, men- tiu anto, antos  antos nos azendo rinta dois nos, ó rinta  ois, unca mais e rinta 

e ois, mesmo om rinta e ois, om mil e m  

papéis rovando s rinta  ois nos e dade, papéis alsificados,  as ue areciam e erda-  de , mesmo ssim, mesmo om rinta  ois, oi  cada ez mais ifícil rrumar m lube, ssinar 

contrato, anhar  alário miserável o fício e jogar ola,  ola,  ola ue olou or oda ua  vida, e ele olou atrás da bola, olou pro alto, os  grandes lubes, epois olou ra aixo, empre mais ra aixo, ada ez mais ra aixo, empre com rinta  ois nos, empre om  lusão e voltar, ão ra eleção, ão ras manchetes os jornais,  não ró s raços as ulheres,  não er 

8 3  

Page 43: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 43/48

ídolo, mas voltar, pra ivisão especial, alvez pelo menos ra rimeira ivisão, ão a egunda i-  visão, o lube obre, o lube miserável, ue  não reina, ue ão concentra, ue nã o ome, ue  nã o aga, ão o cio, a olidão e ma raça miserável, obre, ão unca mais a olidão, a pobreza, unca mais a ola miúda, equena, o-  gada or abeças e agre, em assado, em  

presente, em uturo, em sperança, em etrato 

no jornal, om emprego, mprego público, o ban-  co, a oletoria,  ola obre o omingo, miú-  da, miserável, ma ola ue ola uadrada, ua -  drada, ola uadrada, om o e osse  ola e um sporte,  ola e m sporte ualquer, ão a ola a id a  a morte,  ola ue ola ra 

cima, ra aixo,  ola ue dá  ira,  ola ue  leva  raque,  ola ue ola  raque,  ola  que nrola  raque. 

Trinta e sete, trinta oito, trinta e nove, ua - renta. inguém abe. rinta  ois os apéis. Papéis rrumados as mãos orcas e m ntru- 

jão, e m ntrujão ue ecide dade o olei- ro, rruma  im e ro oleiro, rata  reço o boleiro, ivide s uvas o oleiro om  écnico do lube ue ontrata  oleiro  ura ela lma 

do oleiro ue le só em rinta  ois anos, rin-  ta  ois, empre rinta  ois, unca  ais o 

que rinta  ois. m, ois, rês, ito, ez no s com rinta  ois,  ras ernas, obres ernas, 

rotas, estilhaçadas, estiradas, moídas, icadas pe - las njeções, manchadas elos mercúrios, mbru-  tecidas elas nfiltrações e íquidos alcificantes 

nos ssos smagados, ras obres ernas otas 

tristes ão arecerem mais ristes om rinta sete, rinta  ito, rinta  ove, uarenta,  o-  leta,  oleta, maldita oleta, empre  artir 

dos rinta  ito nos,  oleta, s arizes ão atrapalham, as pancadas não doem, s desilusões, a olidão, maldita olidão ão esa as obres pernas otas  ristes,  oração  ulmão, estômago,  ígado, s ntestinos, udo em rinta 

e ois nos,  rescem  e ilatam om  orça 

de rinta  ois nos. rinta  ois nos, unca um mais, empre s rinta  ois nos. mea-  çado, riste, olitário, cioso, ias  ias à spera 

de mais m omingo esses ongos rinta  ois 

anos. 

rinta 

ois 

no s 

ue 

omeçaram 

uando a erna ão oi nde  abeça mandou, uando a erna e estilhaçou, ozinha, em ancada, em  

bola, se moeu ndando, e orceu e boba o iso duro do campo. Malditos rinta dois nos.  al-  dita ola ue ola, ue ev a  raque, ue ngole o raque, ue ola ra im a  ra aixo, ue tão mansa o eu olar ntes os malditos rinta 

8 4  

Page 44: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 44/48

e dois nos, uando  abeça ensa  ola ola 

mais ligeira, a erna já ão stica oda, já ão alcança  ola,  é ão faga  ola ue ola, rola, ola, ola  ão olta ra uscar  raque, 

que empre ez ela  ue uis, ue inda e-  nino scapou om la a miséria, a estilência, 

da ome, o nonimato  e udo  ue  ma vida e condenação os ue ão os esados a o-  

ciedade. 

as 

ola 

ue 

eu 

lória, 

aças, os etratos os ornais, s iagens maravilhosas 

nos rens e uxo, ão volta ra uem hegou ao s trinta  ois nos em erceber. ra uem e vê brigado  stacionar os rinta  ois nos. Parar os trinta e dois nos, mesmo ue o patrão 

das oras o eu empo eja m maldito ntrujão 

que nunca fo i amante carinhoso da bola e que vive das igeiras oltas ue  ola, maldita ola, o-  meça  ar a dade m ue  erna o raque 

não ai nde  abeça rdena. 

Então a oleta, boleta, maldita boleta ue  vem a mão o écnico, ue em esponsabiüda- 

des, ue ediu  ontratação, ue recisa aque-  las elhas ernas moídas orrendo om rinta 

dois anos, que jurou para os dirigentes ue s x-  periências aquelas ernas e rinta  ois nos seriam e valia que ainda erviam, mesmo moí- das, otas, rituradas, stilhaçadas, mbrutecidas 

8 6  

e manchadas por trinta e ois nos. empre rin-  ta e dois, enquanto o pulmão estufar com a boleta. Uma, uas, rês,  il, uantas  oração rio e brio e de esperança agüentar as boletas, ue vêm  

na imonada, o afé, a gua, a  ão o éc -  nico. a egunda ivisão, inguém xamina craque, inguém e dmira o raque e rinta 

e dois nos orrer como se fosse menino, em me-  

nino orrendo

 om o e ivesse 

á 

rinta 

ois anos. ue onta  uem hega rimeiro as 

divididas, uem ecide odas, uem á em ó no s dversários, om o e le s ossem nimigos. Aos trinta e ois nos, á se sabe nde a pancada 

dó i mais, nde  ontapé ere mais undo, nde os músculos e stilhaçam,  ntão, os rinta 

dois nos, ó e ate o ugar erto e rreben- 

tar, e arar, e ufocar, e ufocar ra quili- brar. odos atem, atem em ó, atem os  meninos ra ue le s ogo iquem om s ernas 

moídas, stilhaçadas, otas, mbrutecidas, ristes pernas e rinta  ois anos. ristes ernas, mo- vidas  nfiltrações alcificantes,  oletas, mal-  ditas oletas, ue ão ojo e ebida, áusea, 

nojo, ndiferença or mulher, mas ue azem s 

pernas otas, ristes, moídas, stilhaçadas  sti-  radas orrerem om o e ivessem s trinta e ois anos. 

8 7  

Page 45: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 45/48

Trinta  ete, rinta  ito, rinta  ove, u quarenta, em le  esmo abe mais ua dade, mentiu anto, antos  antos no s azendo rinta 

e ois nos, unca mais e rinta  ois nos, mesmo om rinta  ois nos, om mil  m a-  péis, alsificados, mas ue areciam e erdade, 

provando seus trinta dois nos, oi difícil arran- 

jar lube,  gora ão ava mais ra ecuar, e-  

cusar, 

rotestar. 

inha ue 

azer 

ernas 

o-  tas, stilhaçadas, icadas  mbrutec:das elas 

infiltrações alcificantes, manchadas elo mercú-  rio-cromo, inha ue azer s ernas orrerem 

como e ivessem rinta  ois nos  esmo. ele  ais ma ez ceitou  oleta ue orria 

roda a ão o écnico. orria scancarada, 

sem imonada, em afé, em gua. orria  o-  leta em erimônia. ra m lube e egunda  divisão.  aldita egunda ivisão. ra er  im  

só altava  raque er ue omprar  rópria 

chuteira as oletas.  le egou  oleta. e-  gou ma, utra mais utra. aquele omingo, as ernas el e stavam om rinta  ois nos demais, om muitos rinta  ois nos. le o-  mou uma, uas, rês, uatro boletas.  caminhou com s ernas esadas, oração pertado, ul-  mões ecos, istas urvas. aminhou a enum-  bra o únel ue evava o estiário o ampo. 

caminhou ozinho, aminhou a enumbra a ua 

própria ida. arou mbaixo a scada ra s-  perar resto o ime, briu bem s lhos lá o alto da scada a rama o ampo, a luz,  uz de um ol orte e alor e uarenta raus,  s raios o ol ieram, ieram, ieram indo ontra 

os lhos ele, omo e ossem rdidas gulhas 

multicoloridas,  oram erindo s lhos ele, alma dele,

 

pertando o 

oração, 

ugando o 

os  pulmões, pertando  eito,  aco, esando as 

pernas omo e e epente las, otas, stilhaça- 

da s  icadas  mbrutecidas elas nfiltrações 

calcificantes, á ão uportassem ais queles 

tantos rinta  ois nos,  uz inha ada ez  em  raios mais pontudos, multicoloridos, arder seus olhos,  inha  stridente om o pito o uiz chamando s imes ro ampo.  pito res- 

cia, ncomodava, oía os ímpanos, a alta e vontade, a ngústia e er ue ubir  scada, 

aquela maldita scada, scada o alabouço ra arena.  apito, pitado, pitado, pitado, coa-  va stridente a ua lma ota, stilhaçada, i-  cada, riste,  m  m s ompanheiros igeiros e ndiferentes assavam or le , ubiam s e-  graus o únel ro ampo de rês m rês,  om  

fúria e encedores audavam  orcida,  s o-  jões, s ivas, s almas xplodiam  martela- 

8 9  

Page 46: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 46/48

vam cabeça ele, sozinho, arado, ncostado a parede, uando rio, álido, roto de corpo e alma. A  ão o écnico he fereceu utra oleta. el e oi . ão tinha om o ecusar. s ernas an -  sadas ão odiam arar. e s ernas, otas, s-  tilhaçadas, icadas mbrutecidas -por antas n-  filtrações calcificantes parassem, ele ficaria na in- digência, ra preciso continuar tendo trinta e dois 

anos. Trinta  ois nos, om o testavam s a-  péis, alsificados, mas ue areciam erdadeiros. 

E le omou mais ma, mais ma, mais ma as 

malditas oletas  rreou meia, uxou  ami-  sa ra ora o alção, o pito ontinuava  er 

apitado, hamando s imes ara meio o am -  po ,  le oi ubindo s egraus a maldita s-  cada,  s aios ulticoloridos o ol oram e embaralhando,  s ores as amisas os imes onde le ogou baüavam m ua rente, omo mil 

e ma 

andejras 

gitadas 

or 

uriosas 

orcidas. Branco, erde, ermelho  ranco, zul, zul 

branco, ermelho, ermelho, ermelho, ermelho e azul, zu l e ermelho, marelo  ermelho, ver- 

melho,  vermelho,  vermelho  e  branco,  branco, 

branco, zul. ermelho, ermelho, ernielho, escada, le unca inha eparado ue quela s-  cada inha antos egraus  ue le inha ogado 

90  

em antos imes, sado antas amisas, estido tantas amisas ermelhas, ermelhas, uminosas, ardidas como o som do apito, doidas omo vaia, 

brancas e quentes, amarelas e quentes como o ca- lor o ol , speras omo  rama, rias omo suor, randas omo s lhos echados, irando  como  ola, omo  ola, omo  ola, irando  como  stádio, omo  stádio, omo s essoas e omo  ola, om o  ola.  E e epente, le  caiu.  As pernas rotas, estilhaçadas, picadas e em -  brutecidas  po r  tantas  infiltrações  calcificantes 

nã o  suportaram  mais  o  peso  do  corpo  que  se  arreou ra empre. 

9

Page 47: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 47/48

ÍNDICE 

Inútil Canto  nútil ranto 

Pelos njos Caídos... 

...em sasco 

.. .que erderam s undamentos  35  

... as oltas a ola  a oleta trilogia) A Peneira  51  

O uborno 73 

O Fim  83 

Page 48: Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

8/12/2019 Plínio Marcos [=] Inútil canto e inútil pranto

http://slidepdf.com/reader/full/plinio-marcos-inutil-canto-e-inutil-pranto 48/48

PLÍNIO MARCOS o poeta do submundo  o Dramaturgo maldito ou simplesmente o repórter de um tempo mau aparece com  um ovo stilo m NÚTIL ANTO INÚTIL RANTO ELOS NJOS CAÍDOS. as sempre com a mesma ra diante das njustiças sociais e a mesma fu- riosa ontade e ncomodar os cidadãos  contribuintes. 

SÃO PAULO