plenitude 21 - alimentação

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1 Plenitude21 Pensando o século presente Edição n° 02 | Maio 2012 | Distribuição Gratuita www.plenitude21.com.br Alimentação espinhosa Entrevista especial Carlos Armenio Khatounian Professor da Esalq-USP O padrão alimentar atual é uma das maiores barreiras para um mundo mais saudável Obesidade Infantil Os riscos para os futuros adultos e para o país

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A edição de maio é um convite à reflexão sobre os alimentos que estão nas nossas mesas, como eles são produzidos e os custos ambientais e sociais de um padrão alimentar insustentável.

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1Plenitude21

Pensando o século presente Edição n° 02 | Maio 2012 | Distribuição Gratuita

www.plenitude21.com.br

Alimentação espinhosa

Entrevista especial

Carlos Armenio Khatounian Professor da Esalq-USP

O padrão alimentar atual é uma das maiores barreiras para um mundo mais saudável

Obesidade InfantilOs riscos para os futuros

adultos e para o país

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Plenitude212

Anúncio MDS

AssistaÊaoÊfilmedaÊcampanha.Baixe o leitor de QR Code em seu

celular e fotografeeste código

Latas PapéisPlástico Vidro

Restos de comidaCascas e ossosPó de café e cháGalhos e podas

Cascas de legumes, restos de frutas, ossos. Tudo isso vira adubo, gás combustível e até energia termoelétrica.

Faz crescer a plantação e aquece a economia. Em outras palavras: realimenta a vida. É um recurso valioso, que não se pode desperdiçar.

Para garantir que mais material seja aproveitado, separe o lixo úmido do seco. Com uma atitude simples, você ajuda a gerar renda para

quem mais precisa e poupa recursos naturais. Saiba mais no separeolixo.com.

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3Plenitude21

AssistaÊaoÊfilmedaÊcampanha.Baixe o leitor de QR Code em seu

celular e fotografeeste código

Latas PapéisPlástico Vidro

Restos de comidaCascas e ossosPó de café e cháGalhos e podas

Cascas de legumes, restos de frutas, ossos. Tudo isso vira adubo, gás combustível e até energia termoelétrica.

Faz crescer a plantação e aquece a economia. Em outras palavras: realimenta a vida. É um recurso valioso, que não se pode desperdiçar.

Para garantir que mais material seja aproveitado, separe o lixo úmido do seco. Com uma atitude simples, você ajuda a gerar renda para

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Sumário

“Com uma linguagem simples e objetiva, Plenitude 21 consegue trazer pautas de grande interesse, temas prementes e expô-los com clareza, mas sem que estes percam a relevância ou enveredem pela futilidade. É uma publicação que se destaca por investir em temas como sustentabilidade e saúde, mas sem que estes ganhem uma roupagem fútil ou de ‘auto-ajuda’, como o caminho tomado por outras publicações. Vida longa a essa bela publicação e que ela continue nesta trajetória vencedora’’. Bruno Garcez, jornalista da BBC Brasil em Londres.

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Um outro olhar: Hortas comunitárias, pág. 26

Mercado: Agrotóxicos e seus impactos, pág. 16

Vida plena: suplementação de vitaminas em idosos, pág. 12

Visão: entrevista especial, pág. 08

Em foco: Alimentação moderna e saúde, pág. 20

VisãoO campo revelado

Carlos Armenio Khatounian

Vida plenaQuando a farmácia vira feira

OpiniãoO pior cego

Eduardo Fagnani

Em focoA mastigação coletiva do planeta

Outro olharO plantio de um novo

fututo

FuturoA responsabilidade

negligenciada

Coluna socialEscola de bem viver

OxigênioO alimento desconhecido

Conexão o seu canal para críticas e comentários

16 MercadoProteção para quem?

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Artigo (In)Segurança Alimentar Rafael Moya

38 Retrato SocialEneas de Troya

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5Plenitude21

A rotina cotidiana consome o tempo e leva consigo o humano direito a uma boa alimentação, diversificada e nutritiva, imprescindível para uma vida saudável. A falta de tempo, o cansaço decorrente das longas jornadas de trabalho e a oferta da praticidade mudou o modo de se alimentar.

Nas últimas décadas os cidadãos foram transformados em consumi-dores vorazes. Foi estratégico para o crescimento da indústria alimen-tícia os processos de industrialização e urbanização intensa a partir da segunda metade do século passado.

A vida urbana quebrou o vínculo que existia entre a terra e o homem, que norteava e orientava a uma correta relação sustentável entre o indivíduo e o meio ambiente. Alimentava-se de produtos locais, de época, sem venenos ou aditivos sintéticos.

Nas próximas páginas você verá como e porque, hoje, a indústria e a comunicação nos preparam para comer o que quisermos, a qualquer época do ano e em todos os continentes. Tudo está ao alcance. Se parece bom, vale lembrar o preço que pagamos por esse “presente”.

A entrevista “O campo revelado” mostra como os hábitos alimenta-res intensivos em açúcar, gordura, proteína animal e carboidratos são estímulos para a destruição de florestas, expulsão de milhões de tra-balhadores do campo, manutenção de gigantescas fazendas produ-toras de culturas únicas, esterilização e contaminação dos solos por agrotóxico, como apresentado na reportagem “Proteção para quem?”.

Não bastasse a destruição, a alimentação produzida em ambientes artificiais já é apontada, junto com a poluição e o estresse, como cau-sadora de inúmeras doenças que devem dizimar porção significativa da população mundial ao longo deste século.

Através de garfadas diárias o planeta é consumido. Por isso, o ser hu-mano, peça determinante do problema, também porta a solução. As reportagens sobre merenda escolar e hortas comunitárias mostram que nem tudo está perdido e que a luz continua acesa no fim do túnel.

Mas, uma agricultura sustentável, que respeita os limites do planeta sem exaurir os trabalhadores do campo, conseguiria alimentar a po-pulação mundial? Em “A mastigação coletiva do planeta” essa discus-são é apresentada junto com alternativas encontradas por universida-des e profissionais que trabalham e vivem do campo.

Esta edição de Plenitude 21 oferece um convite à reflexão e à discussão sobre o mundo que queremos para viver de forma saudável, socialmente justo e ambientalmente correto. Para isso, será importante o cidadão-consumidor se conscientizar de onde vêm seus alimentos, como são produzidos e por quais meios. Se as indústrias que os manipulam cumprem as leis, respeitam os seus trabalhadores e o meio ambiente. Afinal, mais que apenas saciar a fome, num mundo sustentável, a alimentação tem um papel fundamental na busca por mais equilibrio entre ser humano e meio ambiente. Boa Leitura!

Expediente

Coordenador editorialDavi Carvalho

Jornalistas FundadoresDavi CarvalhoMichelle Dovigo

EditorDavi Carvalho

RepórteresDavi Carvalho, Inaê Miranda, Michel-le Carvalho

ColaboradoresAry Macedo, Arlei Medeiros, Anna Coote, Carlos Armenio Khathou-nian, Christiane Mangilli Ayello, Eduardo Fagnani, José Vagner Papini, Maria Ângela Goes Mon-teiro, Mariana Schwartzmann, Jarbas Magalhães, Carlos Edu-ardo Gzvitauski, Ricardo Young, Rafael Moya, Elenice Areias, Sil-vio José de Souza, Romeu Mat-tos Leite.

Foto da CapaKevin Dooley

Projeto GráficoAtipo Design e Brandingwww.atipo.com.br

Jornalista ResponsávelDavi Carvalho MTB: 58.724

Coordenadora de PublicidadeMichelle DovigoContato: [19][email protected]

Os artigos e textos opinativos es-crito por colaboradores expres-sam a visão de seus autores.

PLENITUDE 21 ADERIU À LI-CENÇA CREATIVE COMMONS. ASSIM, A REPRODUÇÃO DO CONTEÚDO É LIVRE - EXCETO IMAGENS - DESDE QUE SE-JAM CITADOS COMO FONTES A PUBLICAÇÃO E O AUTOR.

EditorialO planeta mastigado

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A filial da Nestlé no Reino Unido anunciou ter removido totalmente cores, sabores e conservantes artificiais de seus doces. Em comunicado, a empresa divulgou que promoverá a mesma mudança em países europeus e no Canadá, mas não no Brasil.

Segundo jornais britânicos, a Nestlé seria a primeira grande empresa de produ-tos alimentícios a retirar aditivos químicos de toda sua linha de doces. A companhia eliminou mais de 80 ingredientes artificiais das receitas de 79 produtos vendidos no Reino Unido. Os químicos teriam sido substituídos por alternativas naturais derivadas de frutas, legumes e plantas comestíveis.

A Food Standards Agency, que cuida da qualidade dos alimentos no país, havia recomendado a fabricantes de alimentos que eliminassem ingredientes químicos. Um estudo da ONG britânica Grupo de Apoio a Crianças Hiperativas mostra que de um total de 357 crianças hipe-rativas examinadas 87% apresentaram agravamento do seu quadro devido a colorantes artificiais na comida, enquanto 72% reagiram a conservantes.

Segundo comunicado da Nestlé, as mudanças foram feitas em resposta a pesquisa da empresa Heal-th Focus International, que mostra que 74% dos consumidores buscam produtos naturais nos supermercados.

Pílulas

A rede McDonald’s anunciou uma mudança comemorada entre os grupos de defesa dos animais: os fornecedores das lojas nos Estados Unidos deverão definir planos concretos para melhorar as condições como são criadas porcas reprodutoras. Atualmente, es-ses animais passam quase toda a vida em celas individuais, peque-nas demais até para que se movam. A medida vale apenas para as lojas norte-americanas e tem como objetivo extinguir essa prática da pecuária, deixando os animais com mais espaço e menos sofri-mento durante a vida.

Entre os que comemoraram a ação da maior rede de restau-rantes do mundo, está Temple Grandin, cientista e especialista em comportamento de animais criados para abate. “Mudar das celas de gestação para melhores alternativas vai beneficiar o bem-estar das porcas e eu fico contente em ver o McDonald’s trabalhando com seus fornecedores para esse fim”, disse.

O acordo foi apoiado pela ONG Humane Society International (HSI), que luta em vários países por práticas menos cruéis de abate na vida dos animais criados para consumo. No Brasil, segundo a HSI, cerca de 1,5 milhão de porcas reprodutoras são confinadas em celas. (Revista Página 22)

Consciência

Menos cruel

Mc Donald’s se compromete com bem-estar animal

Nestlé anuncia doces mais naturais

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7Plenitude21

Médicos

Governo quer ampliar vagas em medicina

O governo federal planeja estimular as universidades estaduais e particulares cujos cursos de me-dicina estejam bem-avaliados a abrir novas vagas. O estímulo se dará principalmente por meio de convênios de assistência ou parcerias técnicas. Outra medida prevê o aumento da oferta para resi-dência médica por meio de parcerias com hospitais de excelência. A meta do programa é ampliar, até 2020, a quantidade de médicos no país dos atuais 1,8 para 2,5 profissionais para cada grupo de mil habitantes.

Amargo

Anvisa proíbe cigarro com sabor

A Anvisa baniu os cigarros aromatizados e com sabor no país. No caso do açúcar, a Anvisa cedeu aos apelos da indústria do fumo e manteve a adição, porém limitada à reposição do açúcar perdido na secagem da folha de tabaco. As substâncias proibidas, natural ou sintética, mascaram o gosto amargo e tornam a fumaça menos irritante. Entre os aditivos suspensos estão o açúcar, frutas, mel, temperos e ervas. Um estudo recente mostrou que a maioria dos adolescentes fumantes procura pelos cigarros com sabor.

Controle

Coca e Pepsi mudam fórmula para evitar alerta de câncer

A Coca-Cola e a Pepsi decidiram mudar a fórmula, nos EUA, de corante caramelo que compõe os refrigerantes para não ter de colocar um alerta de risco de câncer em suas latas. A notificação passou a ser obrigatória depois que o estado da Califórnia listou um componente químico presente no co-rante das bebidas como cancerígeno. Segundo a agência que regulamenta a alimentação nos EUA um consumidor teria de beber mais do que mil latas de refrigerante por dia para alcançar os níveis apresentados no estudo.

Saúde Básica

Ministério avalia postos de saúde

O Ministério da Saúde iniciou em abril a avaliação de desempenho nas unidades básicas de saúde do país. Cerca de 17 mil equipes de profissionais que trabalham nessas unidades serão avaliadas até julho. Cidades e postos bem avaliados terão direito a receber o dobro de recursos. Os crité-rios do censo incluem as condições de infraestrutura do local, a qualidade do serviço prestado, o desempenho dos médicos e de outros profissionais de saúde e o atendimento e acompanhamento dos pacientes.

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Plenitude218

Existe um receituário de agricultura sustentável ca-paz de alimentar o mundo todo?

Vou começar numa pers-pectiva histórica mais longa, para ser mais preciso. A nos-sa aventura enquanto espécie biológica começa há 150 mil anos atrás. Nessa trajetória, nós fomos sobretudo caçado-res coletores. Só passamos a ser agricultores, em alguns lugares do mundo, entre 10 mil e 12 mil anos atrás. Então, a agricultura é uma maneira relativamente recente de nos relacionarmos com o meio ambiente.

Os vestígios da agricultura mais antiga re-velam um sis-tema de derru-ba-e-queima. Mu i t o

a n t e s

Visão Por Carolina Derivi, da revista Página 22

O CAMPO

de começarem as civilizações antigas, que desenvolveram a escrita, fizemos 5 mil anos pelo menos de derruba-e--queima. E foi só quando as áreas disponíveis nessas re-giões tinham sido completa-mente degradadas é que nós passamos para a beira do rio. Para uma civilização primitiva, era praticamente impossível enfrentar a força de um rio, não tinha controle das cheias, que podiam levar todo um ano de trabalho.

Acontece que, nessas regi-ões onde surgiu essa agricul-tura hidráulica, a floresta não se recompunha. Então a agri-cultura ia deixando atrás de si

um de-s e r t o .

E ,

Seja na escala planetária, seja naquela da nossa vida cotidiana, velhos hábitos são difíceis de contestar. Depois de estabelecido, um modus operandi pode se transformar numa espécie de transe, em que qualquer variação da norma se assemelha a uma excentricidade. E é a nos acordar desse transe, quando a o assunto é a sustentabilidade no campo, que se dedica o professor da Esalq-USP, Carlos Ar-menio Khatounian.

Um dos maiores nomes da agroecologia no Brasil, Khatounian contesta a ideia de que só a agricultura empresarial é eficiente e bem-su-cedida. Lembra que as propriedades menores e de trabalho familiar ainda são predominantes no mundo, com grande capacidade de adap-tação aos soluços da economia e ao aproveita-mento racional dos recursos naturais.

Mais que espaço e oportunidade, há necessidade de uma agricultura de base ecológica, especial-mente em tempos de super-população, em que a segurança alimentar ascende ao topo dos problemas globais. No entan-to, diz o professor, nenhuma inovação no âmbito das la-vouras dará conta do recado se a humanidade não reformular, urgentemente, os padrões de sua própria dieta.

REVELADO

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9Plenitude21

quando chegou o momento que não tinha mais área para fazer derruba-e-queima, eles não tiveram outra saída que não fosse descer para a bei-ra dos rios. Então, o início da História já é marcado por uma crise ambiental derivada da agricultura, uma crise de des-matamento e desertificação.

O seu ponto é que a agri-cultura nasceu acoplada à degradação ambiental e per-manecerá assim?

Então, o “permanecerá assim” é que é a pergunta. Agricultura e degradação am-biental caminharam juntas na História, inclusive nos países que hoje nós chamamos de desenvolvidos. É importante falar disso, porque existe uma ideia, mais ou menos dissemi-nada, de que a agricultura que nós fazíamos 100 anos atrás era sustentável. Mas isso não é verdadeiro. Na verdade, a agricultura que nós estamos fazendo desde 10 mil anos é uma agricultura insustentável.

Vou colocar a pergunta de outra maneira: é verdade que só a grande escala e a monocultura são eficientes o bastante para alimentar um cenário de 9 bilhões de pessoas em 2050?

Essa pergunta é bem mais fácil de responder. Se você olhar a história da agricultura, o que predomina é a agricultu-ra familiar. No livro História das Agriculturas no Mundo (de Ma-zoyer e Laurence Roudart), o professor da Universidade de Paris, Marcel Mazoyer, quanti-ficou o número de agricultores do começo ao fim dos Nove-centos. Em 100 anos, o núme-ro de agricultores na Europa foi reduzido a 10%. De cada 100 propriedades, apenas 10 restaram no ano 2000. No entanto, apesar de ter havido uma diminuição no número de propriedades, essa agricultura é essencialmente familiar. Nos Estados Unidos, e no Brasil também.

Quando a gente fala de Pa-raná, você pensa em agricultu-ra familiar predominante. Mas, quando se fala em Mato Grosso, você pensa que é agricultura

empresarial. Eu achei que isso seria parte da nossa conversa e levantei os dados do Censo. No Paraná, coisa de 75% a 80% das propriedades são tocadas com mão de obra familiar. E no Mato Grosso? Quanto você acha que seria? Dá um chute.

Quarenta por cento?Vou te dar os dados do

Censo: 75%. Isso porque as grandes unidades, com regime de mão de obra capitalista, são altamente instáveis. Nesse li-vro que eu menciono, o autor se propõe a seguinte pergunta: por que a agricultura européia neste último século diminuiu em número, mas ao mesmo tempo continuou essencial-mente familiar no uso da força de trabalho?

A resposta é relativamente simples. A agricultura passa por altos e baixos, como qual-quer setor econômico, mas tem ciclos de preços mais ou menos previsíveis. Imagine que estamos falando de café. O café, hoje, está numa fase de preço alto, e nessa fase você consegue manter uma relação trabalhista de assala-riamento sem problemas. Mas nós podemos voltar daqui a dois anos a um preço de café, não na faixa dos R$ 500, mas na faixa dos R$ 250, que é um valor histórico realista. Quando bater nesses R$ 250, digamos que vai sobrar um limite de R$ 50 por saca para a família so-

breviver. Ela não vai ganhar muito nesse ano, mas vai manter o negócio, enquanto aquele sistema empresarial não tem como comprimir despesas. Não tem como dizer para o em-pregado que ele não vai receber 13o salário, porque o café baixou de preço. Na propriedade familiar, se o pessoal conseguir manter o ne-gócio e pagar as despesas, mesmo que não sobre nada, está no positivo.

A depender de empenho em Pesquisa e Desenvolvimento, no futuro, seria possível produzir todos os alimentos livres de agro-tóxicos…

Sim e não. Se você for comparar hoje o ren-dimento quilos-por-hectare de culturas orgâni-cas e tradicionais, é quase o mesmo. Em al-guns casos colhe-se mais, em outros um pouco menos. Em um levantamento feito nos Estados Unidos, uns cinco anos atrás, mostrou-se que a diferença era 5% a menos para os cultivos orgânicos, em média. O que é surpreendente, dada a falta de investigação.

Agora vamos voltar à questão de alimentos versus população. A FAO faz previsões de que nós vamos chegar em meados do século ao redor de 9 bilhões de habitantes. Nós já pas-samos dos 7. Fazendo as contas, na virada dos anos 2030 para os 2040, seria necessá-rio dobrar a produção de grãos para alimentar essa população. Acontece que nós não temos recursos – nem de solo, nem de água, nem de energia – para duplicar a produção.

Simplesmente esses recursos não exis-

Agricultura e degradação ambien-tal caminharam juntas na História, inclu-sive nos países que hoje nós chama-mos de desenvolvidos

Diversidade de culturas ajuda a manter o equilíbrio nas produções familiares

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tem. Só tem um continente com grande possibilidade de expansão, que é a América do Sul, sobretudo no Brasil. Na Europa não tem, na América do Norte não tem, e na Ásia tem muito pouco. Quase toda a África, ao Sul do Saara, é semiárida. Para fazer produ-ção nessas regiões, seria pre-ciso irrigar. Podemos fazer um poço profundo e retirar água dali, ideia levada a cabo na China, na Índia e nos Estados Unidos, que são os três países que mais irrigam em regiões de semiárido.

Acontece o seguinte: a água que esses países estão extraindo do solo acumulou-se em tempos geológico passa-dos. No tempo presente, chove pouco, então os aquíferos não são alimentados. O resultado é que a água é como um poço de petróleo. Vai-se esgotar.

E isso já está acontecen-do nesses três países. Não tem como. E a agricultura, à medida que se tecnifica, con-some mais e mais energia do petróleo. E, se você tem hoje qualquer flutuação no preço do petróleo, também há uma flutuação imediata nos preços dos alimentos. E os fertilizan-tes nitrogenados são totalmen-te dependentes do petróleo.

Então, quais são as op-ções de que o mundo dis-põe? Seria preciso rever o consumo de alimentos de origem animal, que puxa o consumo de água e grãos?

Então, este é o outro pon-to. A Dinamarca consumia, na virada do milênio, na ordem de 1.400, 1.500 quilos de grãos por habitante ao ano. Isso sig-nifica quase 3 quilos de grão por dia. Não tem jeito de uma pessoa comer isso. Aqui no Brasil, a gente come cerca de 150 gramas de arroz por dia, comendo bastante. Essa pro-

dução está embutida no con-sumo animal.

Os dados médios da pro-dução animal dos Estados Unidos – semelhante ao Brasil – mostram que para 1 quilo de frango são necessários mais ou menos 11 quilos de grãos. E, para 1 quilo de porco, são 22 quilos de grãos. O pessoal da indústria fala que gasta, em média, 2 quilos de ração para fazer 1 quilo de frango. Mas isso é o animal vivo. Você não come pena, bico, osso, tripa. Outra coisa: a ração tem 12% de umidade. E a carne tem 80%. A comparação correta, então, seria se fosse eliminada a água. Quando você elimina a água, 1 quilo de matéria seca da parte comestível do frango custa 11 quilos de ração. É um custo absurdamente elevado.

Com esse padrão alimen-tar não dá para saciar o mun-do?

De jeito nenhum. Nem com transgênico, nem com conven-cional, nem com orgânico. O resultado é que, queiramos ou não, nós seremos obrigados a mudar a nossa dieta.

Por isso o senhor respon-deu “sim e não”.

Exato. A primeira parte era sim, é possível manter um ní-vel bom de produtividade com a agricultura de base ecoló-gica. Mas não tem jeito, nós vamos ter que mudar as nos-sas dietas. A pergunta que se pode colocar é quando isso acontecerá e se a humani-dade vai enfrentar isso com guerra ou de uma forma dis-cutida, negociada.

Uma guerra da carne?Não é bem isso. Imagine

que você está num churras-co. Tem lá uma saladinha de alface, tem vinagrete, tem pão, e alguém tirou um pedaço de picanha da chur-rasqueira e começou a fa-tiar. Para onde vai o pesso-al? Para a picanha. Por que

é que nós gostamos mais de carne? Se você olhar os problemas de saúde humana que nós enfrentamos hoje, estão bem ligados ao há-bito alimentar. O consenso dos nutricionistas é o seguinte: estamos comendo muito produto de origem animal, muita gordura, muito açúcar e muito sal. Porque nós comemos mais essas coisas? A resposta é: porque é mais gostoso. Porque, evolutivamente, a gente tinha que de-senvolver um pagamento fisiológico para uma necessidade da espécie.

Um pé de mandioca não corre. Um pé de tomate também não corre. Mas bicho corre. Para nós, era importante consumir carne, em determinado momento da nossa história evo-lutiva, porque a carne é um alimento mais completo do ponto de vista protéico. Mas para ter carne era preciso se esforçar muito mais. Então o pagamento fisiológico era um prazer maior. A mesma coisa vale para a gordura, para o sal e para o açúcar. Era muito menos disponível. Até 50 anos atrás, quase ninguém enchia a barriga de carne ou se empanturrava de doce.

Agora, imagine que você está em qualquer país democrático e um governante, entenden-do os problemas que são advindos do consu-mo crescente de carne, decide impor restri-ções ao consumo, por impostos. Quando ele se elege de novo? Nunca. Em nenhum país democrático essa proposta passaria. Os chi-neses, há 40 anos, consumiam quatro quilos de produtos de origem animal ao ano por ca-beça. E hoje estão consumindo na ordem de 75, de 80 quilos. Quem vai falar para os chi-neses que não devem consumir carne? Um inglês, que já consome quase 150 quilos? Nenhum país, ou extrato social, tem reserva moral para impedir os outros.

Não tem saída para esse impasse?Tem um grupo na Inglaterra que chegou à

conclusão de que a única maneira de resolver esse problema é com o conhecimento do pro-blema, com a redução voluntária do consumo de carne. É o Eat Less Meat.

Se chegar num momento em que determi-nado povo não consegue ter acesso a carne e outros continuam tendo acesso a quantidades maiores, você pode esperar que isso estou-

Com esse padrão alimentar não dá para alimentar o mundo nem com transgênico, nem com convencional, nem com orgânico

Os chineses, há 40 anos, consumiam qua-tro quilos de produtos de origem animal ao ano por cabeça. E hoje estão con-sumindo na ordem de 75, de 80 qui-los. Quem vai falar para os chineses que não devem consumir carne? Um inglês, que já consome quase 150 quilos? Nenhum país, ou extrato social, tem reserva moral para impedir os outros.

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re na forma de conflito. Esse conflito pode ser, por exemplo, por causa de água. Para produ-zir grãos, para então converter em carne, você precisa de muita água. Em média, para 1 quilo de grão, você precisa entre 500 e mil litros de água. Porque as plantas também transpiram, não fazem fotossíntese sem transpiração.

Tudo isso não é só catástrofe. Eu acho que tem luz no fim do túnel, e bastante luz. Porque hoje a percepção é a seguinte: a mesma dieta que faz bem para o meio ambiente é a dieta que faz bem para a nossa saúde. Cereais in-tegrais, um pouco de leguminosas, hortaliças e frutas, quantidades moderadas de produtos de origem animal, e quantidades limitadas de açúcar e de álcool. Essa dieta é perfeitamen-te compatível com uma situação de produção orgânica. Então, o desafio que se coloca é o seguinte: nós não resolvemos a segurança ali-mentar sem mudar os hábitos. E, ao resolver a questão alimentar, nós resolveremos também as questões de saúde.

Redirecionar a nossa dieta para produ-tos locais também faz parte dessa solução?

Claro. Vamos imaginar que a gente vai ficar nessa dieta recomendada pelos nutricionistas. Se o seu cereal integral for aveia produzida no Canadá e trigo produzido na Argentina, se as sua leguminosas são grão-de-bico produzido no México e lentilha no Chile, se as suas frutas são peras importada de Portugal… Bom, você já viu onde eu estou querendo chegar. Pode até ser orgânico, mas o gasto energético de transporte com isso é absurdo.

Tem toda a poluição da siderurgia para fazer esses meios de transporte. E comida humana é essencialmente perecível. Alguns cereais, menos. Mas para frutas e hortaliças, a escala é de dias, às vezes nem isso. Exige refrigeração, fungicidas e bactericidas para que esse transporte de longa distância se re-alize. Ao passo que, se você faz as coisas em esquema local, tudo isso se resolve com mais facilidade. Se você comer hortaliças da região, frutas da época, isso vai mudando. Esse é o padrão da cultura orgânica de base local.

Mas isso envolve também o que se cha-ma de “alimentos da terra”, propícios para a realidade ecológica de cada local?

Sim, são aqueles que naturalmente crescem melhor em determinado local. Uma cultura própria da região pede menos adubo e pode sair sem nenhum veneno. Porque essa cultura está adaptada àquela condição. Para produzir 20 toneladas de mandioca aqui no Brasil, o que a gente precisa? Nada. Precisa de trabalho. Mas, de insumos externos, nada. Então, para o ajuste da composição da dieta ao que é localmente possível de produzir, este é um passo fundamental. Mas isso só acontece quando a gente gosta de ser como a gente é.

No artigo “Breve história ambiental e so-ciocultural da alimentação no Brasil”, o senhor argumenta que a maior perda com a inserção

de novas variedades agrícolas por aqui foi cultural…

É. E o lugar onde essa perda é mais forte no Brasil é a cidade de São Paulo. Eu sou paulistano. A cidade de São Paulo é o lugar em que os imigrantes recentes fizeram todo o esforço para negar as influências tropicais, a influên-cia negra e nordestina, que de alguma forma era identificada como cultural e socialmente inferior.

Quando eu era criança, eu ia para o Nordeste e sen-tia falta de pão. Porque sou de origem armênia e lá o cereal de base é o trigo, tudo se come com pão. Mas no Nordeste o pessoal comia tapioca, comia inhame com manteiga, comia cuscuz de milho, bolo de man-dioca. Se nós paulistas quis-ermos uma dieta tropical mais adaptada, teríamos que olhar mais para o vizinho.

Mas hoje, se você for a uma capital nordestina qualquer, o pessoal come pão com man-teiga no café da manhã. O trigo foi-se introduzindo fortemente. E continua avançando. O Brasil é o maior importador de trigo. O nosso consumo é da ordem de 8 milhões de toneladas, e só produzimos entre 2 milhões e 3 milhões.

Se, nesta conversa, você conseguir quebrar a mentira, o mito de que a eficiência está ligada à agricultura empre-sarial e de que a agricultura de sucesso no mundo é a empre-sarial, acho que já está de bom tamanho.

Nós não resolvemos a segurança alimentar sem mudar os hábi-tos. E, ao resolver a questão alimentar, nós resolveremos também as questões de saúde.

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O estado nutricional do ido-so reflete diretamente na sua saúde. É comum serem observa-dos sinais de deficiências nutri-cionais, causada pela alimenta-ção imprópria e a baixa ingestão de alimentos, comum nesta faixa etária. Esses fatores podem levar à perda de peso e carências em vitaminas e minerais, com im-pacto na saúde geral. Porém, a ideia do quanto mais melhor não se aplica no caso das vitaminas, que devem estar disponíveis de forma equilibrada no organismo para não causar danos.

Quando o consumo de ali-mentos não responde às neces-sidades nutricionais específicas do idoso, pode desenvolver-se um estado de mal nutrição, com aumento de sintomas que dete-rioram a qualidade de vida: fadi-ga, fraqueza muscular, anemia, imunidade diminuída, redução da função pulmonar e cardíaca.

Por saber desses riscos, já é grande o número de idosos que vão às drogarias e farmá-cias em busca de complemen-tos vitamínicos. O aposentado Antonio da Silva Carvalho, 80, sempre foi saudável e não

se lembra da última vez que teve de tomar antibióticos ou antiinflamatórios, mas há um ano suplementa cálcio, como forma de prevenção de enfra-quecimento dos ossos. A deci-são foi tomada após conversas com amigos e familiares que orientaram o idoso a comprar comprimidos de carbonato de cálcio para substituir o leite, que o aposentado insiste em não beber.

“Comecei a tomar para evitar fraqueza nas pernas e quedas, que é um perigo para quem tem a minha idade”, afirma Carvalho, que diz conhecer outros idosos que tomam inúmeros tipos de vitaminas em comprimidos.

Esse tipo de uso de suple-mento tem se disseminado, mas não é defendido pelos médicos e nutricionistas como alternativa inicial para tratar o problema. O médico especia-lista em geriatria pela Facul-dade de Ciências Médicas da Unicamp, José Vagner Papini explica que a suplementação tem um momento adequado para ser usada e não pode ser feita indiscriminadamen-

Vida Plena Por Michelle Carvalho

Quando a farmácia vira feiraIdosos abusam de suplementação vitamínica para reverter sinais do envelhecimento e da má alimen-tação sem saber que o excesso pode causar problemas cardíacos, psíquicos e dificultar o caminhar

A alimentação balanceada é o melhor remédio para tratar o déficit vitamínico. De maneira geral, as frutas, verduras, legumes e carnes proporcionam a quanti-dade necessária de vitam-inas ao organismo

Foto: Flickr/vrot01

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Quando a farmácia vira feira

Todo ano, uma em cada três pessoas com 65 anos ou mais sofre uma ou mais que-das, sendo que desse total, 6% resultam em fratura. A pre-venção de quedas tornou-se uma política pública devido ao envelhecimento populacional atual e o esperado para os pró-ximos 40 anos, quando o Bra-sil terá mais de 30 milhões de pessoas com mais de 65 anos.

Estudo publicado no Bri-tish Medical Journal mostram que a vitamina D melhora a resistência e o equilíbrio entre as pessoas mais velhas, en-quanto que outros não encon-traram qualquer efeito signifi-cativo sobre o risco de queda. Diante dessas discrepâncias, uma equipe internacional de

te. Para Papini, muitas vezes essa suplementação não é necessária, porque pode ser conseguida com alimentação diversificada. “A alimentação balanceada é o melhor remé-dio para tratar o déficit vita-mínico. De maneira geral, as frutas, verduras, legumes e carnes proporcionam a quanti-dade necessária de vitaminas ao organismo”, comenta Papi-ni.

ExcessoSabe-se que o estado nutri-

cional do idoso está fortemente relacionado com a sua fragilida-de, porque o déficit em micro nutrientes, como antioxidantes e vitamina D, contribui para o agravamento da debilidade do idoso na medida em que provo-ca a perda de peso e de massa muscular. Essas perdas apresen-tam como consequência a dimi-

nuição da força e da atividade física, o que causa diminuição no apetite, agravando, mais ainda, o estado nutricional.

O geriatra marca que as vitaminas também devem ser ingeridas com orientação mé-dica, porque o excesso desses nutrientes pode causar sérios danos à saúde. “ Em excesso, a vitamina A causa sonolência, irritabilidade e dores de cabe-ça. Já a vitamina D pode cau-sar falta de apetite e de dispo-sição, náusea e vômitos, que podem ser acompanhados de sede excessiva, aumento da micção, fraqueza, nervosismo e hipertensão arterial. A vitami-na B6 pode lesar gravemente os nervos, destruindo parte da medula espinhal e dificultando o caminhar”, alerta Papini.

No idoso a desnutrição apresenta especificidades que

tornam o diagnóstico complexo, e somente um médico consegue identificar. Por exemplo, o estado nutricional pode estar diretamente rela-cionado ao isolamento, a perda do cônjuge, a depressão, a demência, a anorexia, o uso de medicamentos, a diminuição da mobilidade, o consumo de álcool, o de tabaco, o estado da dentição, o uso de próteses, são condições que devem merecer uma atenção especial.

Vitamina D ajuda na prevenção de quedas

pesquisadores analisou os re-sultados de oito estudos para prevenção de quedas, a fim de avaliar a efetividade da vitami-na D na prevenção de quedas em idosos.

Os resultados mostraram que os benefícios da suple-mentação com vitamina D na prevenção de quedas depen-diam da dose adotada. Foram estudadas as vitaminas D2 e D3. Suplemento diário de 700 a 1000 UI de vitamina D (vitamina D2 ou D3) reduzia a queda em 19% e até 26% com a vitamina D3. Esse efeito foi independente da idade, tipo de moradia ou suplementação adicional com cálcio. O efeito foi mais significativo depois de 2 a 5 meses do início do trata-

mento e se estendeu até 12 meses.

Absorção prejudicadaA absorção do cálcio também diminui com

a idade e sua suplementação também pode ser necessária, especialmente em mulheres em risco de osteoporose. Antes de começar a suplementar cálcio é importantíssimo procurar o seu médico, porque nem todos os pacientes podem ingerir mais desse mineral, por exem-plo, quem sofre com cálculos renais, que pode ter os sintomas piorados.

Outros fatores também influenciam na bai-xa absorção em idosos. Pessoas acima dos setenta anos têm uma incidência maior de gastrite, diminuição da acidez gástrica e con-seqüente deficiência da absorção intestinal da vitamina B12. A falta desta vitamina pode levar a anemia e doenças neurológicas, com dificul-dades de marcha e déficits de cognição.

Foto: Lou Tickle

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O neoliberalismo difundiu o dogma de que o combate à pobreza poderia ser obtido exclusivamente via programas focalizados (como o programa Bolsa-Família). Essa crença equivocada despreza o papel do crescimento econômico. Observe-se a seguinte pas-sagem de um documento do Banco Mundial (2003):

“Embora o crescimento tal-vez não seja aritmeticamente necessário para acabar com a pobreza extrema no Brasil, o crescimento permanece sendo um elemento crítico para gerar oportunidades econômicas e melhorar as perspectivas para a redução sustentada da pobreza. Dado o tamanho pequeno do hiato de renda agregado dos po-bres, o Brasil talvez não pareça precisar de crescimento para pôr fim à pobreza” (Banco Mundial 2003: 13).

Quatro décadas de hegemo-nia do neoliberalismo criaram a mais grave crise financeira desde 1929. O Estado teve de salvar o capitalismo dos capitalistas. Os dogmas liberalizantes perderam força.

Porem, a visão sobre o de-senvolvimento social permane-ce imutável. Como o pior cego, os organismos internacionais atribuem os progressos recen-tes no Brasil apenas ao pro-grama Bolsa Família. Recente relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimen-to Econômico (OCDE) ressal-tou que “jamais se viu a pobre-za e a desigualdade caírem tão depressa” como no Brasil. Esse avanço foi motivado pelo crescimento e pelo Programa Bolsa Família, “um exemplo de política social copiado no mun-do inteiro, inclusive em países mais desenvolvidos”.

O pior cegoOpinião por Eduardo Fagnani

Da mesma forma, Michelle Bachelet, que coordena impor-tante Grupo Executivo da Orga-nização Internacional do Traba-lho (OIT), destacou a experiência do Brasil na luta contra a miséria, “através dos seus programas de transferência condicionada de recursos, que tiraram mais de 30 milhões de pessoas da pobreza nos últimos nove anos”.

Essa miopia empobrece o debate sobre os caminhos do desenvolvimento. Embora insu-ficiente, o crescimento é o mais decisivo fator para o desenvolvi-mento social. Estudos da CEPAL mostram uma correlação clara entre PIB per capita e pobreza nos países da América Latina. A pobreza extrema no mundo caiu pela metade entre 1980 e 2005, devido, sobretudo, ao papel da China (a proporção de pobres na população total caiu de 57% para menos de 15%), cujo PIB cresceu mais de 8% ao ano em média.

O período em que houve maior queda da pobreza no Bra-sil foi – pasmem – durante o re-gime militar: entre 1970 e 1980, a proporção de pobres caiu de 68% para 35%; o PIB cresceu 8,6% ao ano em média e a renda per capita subiu 68%.

Esse patamar manteve--se inalterado por 15 anos. Em 1994, com o Plano Real, ele voltou a cair pelo impac-to da queda da inflação na renda do trabalho. Nos dez anos seguintes a pobreza ex-trema estabilizou-se em torno de 28% da população total (o PIB cresceu pífios 2% ao ano em média). Somente após 2006 esse patamar voltou a declinar, atingindo 15,4% em 2009. A queda da pobreza veio acompanhada da redução da desigualdade e de melhorias na distribuição da renda – ao

contrário do regime militar. Esse progresso decorreu do reforço do

papel do Estado na indução de um projeto de desenvolvimento apoiado na inclusão social. O PIB cresceu a taxas médias anuais de 5% (mais que o dobro da década anterior) impul-sionando o mundo do trabalho. A taxa de de-semprego caiu pela metade. Mais de 10 mi-lhões de empregos formais foram criados. A renda domiciliar per capita, o rendimento dos salários e o consumo das famílias apresen-taram melhoras sensíveis. O salário mínimo teve aumento real superior a 70%, ampliando a renda do trabalho e das famílias que rece-bem benefícios da Seguridade Social – mais de 70% desses benefícios equivalem ao piso do salário mínimo. A Seguridade Social con-cede cerca de 35 milhões de benefícios dire-tos (Previdência Urbana, Previdência Rural; Assistência e Seguro-Desemprego). Direta e indiretamente (membros da família) atinge mais de 100 milhões de pessoas, a metade da população do País. Finalmente, o desen-volvimento recente foi fruto de diversas ações combate à pobreza, com destaque para o me-ritório programa Bolsa Família.

Em suma, a partir de 2007 caminhamos no sentido de construir um novo modelo de desenvolvimento que articula positivamente a estratégia macroeconômica com o desenvol-vimento social. Esse fato proporcionou mobi-lidade social ascendente – o que não ocorria desde o final dos anos de 1970. Entre 2005 e 2011 mais de 48 milhões de pessoas dei-xaram as Classes “DE” e ascenderam para a “C”; e, outros 16 milhões subiram para a Clas-se “AB”.

Essa é lição a ser apreendida pelos or-ganismos internacionais e pelos brasileiros. A manutenção desses avanços depende da compreensão das suas causas e, sobretudo, da mobilização política em sua defesa. Avan-çar além desse ponto requer o entendimento de que o Brasil precisa com urgência enfren-tar um conjunto de desafios estruturais – com destaque para a questão dos juros e do câm-bio.

O artigo “As lições do desenvolvimento social re-cente no Brasil”, do professor Eduardo Fagnani, tráz uma abordagem mais ampla sobre o tema apresenta-do no artigo acima. Publicado pela revista Le Monde Diplomatique, o texto pode ser lido aqui.

Eduardo Fagnani é professor do Institudo de Economia da Unicamp

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Proteção para quem?

Considerado o motor do agronegócio brasileiro, o agrotóxico impacta os ecossis-temas e a saúde da população. Hoje, os agrotóxicos já são con-siderados um dos grandes prob-lemas de saúde pública no Brasil e no mundo.

Agrotóxicos são substâncias, ou mistura de substâncias, de natureza química, destinadas a prevenir, destruir ou repelir qualquer forma de vida animal ou vegetal que seja nociva às plantas e animais, seus produ-tos e subprodutos e ao homem. Os mais usados são inseticidas (que controlam insetos), fungici-das (fungos), herbicidas (plantas invasoras), desfoliantes (folhas indesejadas), fumigantes (bacté-rias do solo), raticidas (roedores), moluscocidas (moluscos), ne-maticidas (nematoideos) e acari-cidas (ácaros).

Os agrotóxicos foram de-senvolvidos para dificultar ou exterminar formas de vida; justamente por essa caracte-rística, são capazes de afetar a saúde humana. “O desen-volvimento de moléculas cada

Mercado por Bruno Dominguez

Modelo de agricultura adotado no Brasil incentiva o uso indiscriminado de venenos para garantir produção de larga escala, mas rotação de culturas e a agricultura familiar são alternativas

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Somente no ano passado, foram vendidas 725,6 mil toneladas dessas substâncias no país, movimentando US$ 6,62 bilhões, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag). Em 1987, o consumo não ultrapassava as 100 mil toneladas.

vez mais poderosas em seus efeitos biocidas não poupa as estruturas biológicas de seres que não são seus alvos”, diz Lia Giraldo, especialista em saúde ambiental, pesquisa-dora do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz).

Lia defende a recuperação do conceito de veneno para essas substâncias. “Existe um verdadeiro sistema de oculta-mento do risco, via permissivi-dade de venda e de uso”. Para ela, o modelo produtivo da ag-ricultura estabeleceu um clima favorável ao uso indiscrimi-nado de agrotóxico. “Por trás do recorde no consumo, está uma política governamental que incentiva as monoculturas exportadoras por meio de lin-has de crédito e outros ben-efícios”, acrescenta Frederico Peres, pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Tra-balhador e Ecologia Humana (Cesteh), da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arou-ca (Ensp/Fiocruz).

Foto: Kevin Dooley

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As grandes lavouras são altamente mecanizadas, com pulverização feita por tratores ou aviões; nas pequenas,

é comum que o próprio agricultor dilua, manipule e aplique

Prejuízo Co-organizador do livro É

veneno ou é remédio?, Fre-derico explica que os efeitos dos agrotóxicos podem ser agudos ou crônicos. Os agu-dos são mais frequentes em trabalhadores rurais, com sin-tomas que aparecem até 24 horas depois da exposição: espasmo muscular, convulsão, náusea, desmaio, vômito, difi-culdade respiratória. Os crô-nicos decorrem da exposição prolongada a baixas doses das substâncias, inclusive via alimentação, podendo surgir anos após o contato. Nesses casos, é comum que profis-sionais de saúde não relacio-nem o sintoma à exposição ao agrotóxico, o que aponta para a necessidade de treinamento.

O inseticida Dicloro-Dife-nil-Tricloroetano (DDT), por exemplo, foi proibido a partir da década de 1970 em todo o mundo: descobriu-se que interferia na cadeia alimentar animal, contribuía para o de-senvolvimento de câncer em seres humanos e se espalhava facilmente pelo ar.

Recentemente, a Acade-mia Americana de Pediatria relacionou o consumo de ali-mentos com resíduos de agro-tóxicos presentes em insetici-das a transtorno do déficit de atenção e hiperatividade em crianças. A Associação Nacio-nal de Defesa Vegetal, que re-presenta a indústria dos agro-

tóxicos no Brasil, alega que o resultado não é conclusivo e que “toda substância química, sintetizada em laboratório ou mesmo aquelas encontradas na natureza, pode ser consi-derada um agente tóxico”. O risco de efeitos indesejados, diz a organização em seu site, depende das condições de exposição, que incluem inges-tão, contato, tempo e frequên-cia.

TrabalhadoresOs habitantes de áreas ru-

rais, especialmente os traba-lhadores da agricultura fami-liar, são os mais vulneráveis. O que aumenta o perigo não é o nível de toxicidade das subs-tâncias, mas a proximidade do contato. As grandes lavouras são altamente mecanizadas, com pulverização feita por tra-tores ou aviões; nas pequenas, é comum que o próprio agricul-tor dilua, manipule e aplique o agrotóxico, acompanhado dos filhos ou da mulher.

O Censo Agropecuário, divulgado pelo Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006, informa que a agricultura familiar respondia por 84,4% das propriedades rurais do Brasil — ocupava 24,3% da área destinada a agropecuária e era responsá-vel por 38% do total da produ-ção. Somente 1,8% de todos os produtores brasileiros ado-tavam a agricultura orgânica

— livre de produtos químicos.Em 70% das que recorriam a agrotóxicos,

estes eram aplicados por pulverizador costal, equipamento que mais expõe o trabalhador — trata-se de pequeno tanque que, preso às costas, lança o veneno. Em visitas a lavouras, Frederico observou que são pouco comuns as medidas de proteção — uso de equipamentos de segurança, aplicação da dosagem correta, consumo de produtos autorizados, obediência às regras de armazenagem e descarte de em-balagens. O Censo confirma: em mais de 21% das propriedades não se empregava qualquer equipamento de proteção individual. Nas de-mais, foram declarados principalmente o uso de bota (67,9%) e chapéu (53%).

A baixa adesão às medidas de proteção, aponta Frederico, é consequência de seu des-conhecimento. “As intoxicações poderiam ser reduzidas com o uso correto, mas identifica-mos que essas informações nem chegam aos agricultores”.

A observação de Frederico é respaldada pelo Censo, segundo o qual 56,3% das lavou-ras que utilizavam agrotóxicos não recebiam orientação técnica. Em apenas 21,1% ocorriam visitas regulares de técnicos. Outra questão apontada pelo relatório é que 77,6% dos res-ponsáveis pela direção declararam ter ensino fundamental incompleto ou nível mais baixo de instrução. “Como as orientações que acom-panham estes produtos são de difícil entendi-mento, o baixo nível de escolaridade, incluindo os 15,7% que não sabem ler e escrever, está

Foto: Guy Schmidt

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Pequenos produtores e mo-vimentos sociais pleiteiam junto a Anvisa a retirada do agrotóxico metamidofós do mercado brasi-leiro até 30 de junho de 2012. Os trabalhadores rurais também pe-dem a capacitação de profissio-nais de saúde para identificar e notificar os casos de intoxicação por agrotóxicos e a criação de um cadastro nacional de casos

entre os fatores socioeconômi-cos que potencializam o risco de intoxicação”, conclui o do-cumento.

Perigo à mesaO perigo chega à mesa

do consumidor por meio de alimentos com resíduos das substâncias. Desde 2001, a Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária monitora essa contaminação no Programa de Análise de Resíduos de Agro-tóxicos em Alimentos (Para). Amostras in natura de 20 cul-turas (alface, arroz, batata, ce-bola, feijão, laranja, pimentão e tomate, entre outras) são co-lhidas mensalmente em pon-tos de venda de todo o Brasil e encaminhadas a laboratórios.

O relatório do Para de 2009, divulgado no fim de ju-nho, indicou que das 3.130 amostras analisadas, 907 (29%) eram insatisfatórias: em 2,8% havia agrotóxicos em ní-

veis acima do limite máximo de resíduos, 23,8% tinham agro-tóxicos não autorizados para a cultura e 2,4% apresentavam as duas irregularidades. As culturas com mais amostras insatisfatórias foram as de pi-mentão (80%), pepino (54,8%) e uva (56,4%). Além disso, 3,9% das amostras continham ingredientes ativos banidos do Brasil, ou que nunca foram registrados, e 25,1%, subs-tâncias que se encontram em processo de reavaliação toxi-cológica. Foram investigados até 234 ingredientes ativos de agrotóxicos

Os resultados, publicados no site da Anvisa (www.anvi-sa.gov.br), são preocupantes, considera o gerente-geral de Toxicologia da agência, Luiz Claudio Meirelles. “O alimento com resíduo de agrotóxico não é visível como mofo em pão”, compara, observando que o Para é importante por apontar

um risco que o consumidor não enxerga.Apesar de não serem identificáveis pelo

consumidor, nem causarem sintomas agu-dos, vegetais contaminados podem gerar efeitos crônicos — consequência de anos de contato com as substâncias. Os dados do Para servem para orientar as ações gover-namentais — do Ministério da Agricultura à Polícia Federal — e alertar os consumidores.

Lavar os alimentos não é suficiente para livrá-los dos agrotóxicos, explica Frederico Peres. Cozinhar ou descascar esses produ-tos diminui em até 70% os resíduos, mas não os elimina.

Prejuízos para o ambienteO uso indiscriminado de agrotóxicos tam-

bém impacta o ecossistema. Ao entrarem em contato com o ambiente, as substâncias po-dem ser degradadas ou se movimentarem, dependendo de fatores como característica do solo, condições climáticas e formas de aplicação. “Quando o produto não se degra-da, pode contaminar solo, ar e água, colo-cando em risco a saúde da população, que ignora o risco, dada a baixa concentração das substâncias”, explica a pesquisadora Maria de Lourdes

de envenenamento por agro-tóxicos e pesticidas. De acordo com o Movimento de Liberta-ção dos Sem Terra (MLST), só em 2009, foram identificados mais de 5,2 mil casos de intoxicação por esse tipo de produto, com 170 mortes.

Outros pontos cobrados são a necessidade de revisão toxi-cológica imediata de todos os agrotóxicos comercializados no país e a reavaliação obrigatória

da segurança de uso desses produtos a cada cinco anos. “Estamos trabalhando em âmbito nacional a necessidade de estimular um modo de produção focado na agroecologia”, disse a representante do MLST, Vânia Araújo.

Para o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Bar-bano, as propostas apresentadas pelos trabalhado-res estão dentro da agenda de discussões sobre o tema. “Estamos empenhados no trabalho com essa agenda e vamos avançar no sentido de criar um grupo que possa discutir assuntos relacionados a instrumentos de amparo e capacitação para os pe-quenos produtores”, afirmou Barbano.

Campanha contra os agrotóxicos

Foto: Sara Golemon

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Os efeitos dos agrotóxicos colocam em questão o próprio agronegócio. “Essas substân-cias são fundamentais para a produção em larga escala e de alta competitividade”, afir-ma Frederico. Lia ressalva que nem sempre foi assim: “Até meados da década de 1970, a produção agrícola no Brasil não era químico-dependente”.

O ano de 1976 marcou o início do processo de ex-pansão dessas substâncias no país, segundo a pesqui-sadora. “Em pleno processo desenvolvimentista e de di-tadura, o governo aprovou o Plano Nacional de Defensivos Agrícolas, que condicionava o crédito rural ao uso obrigatório de agrotóxicos pelos agriculto-

Clique lá: Baixe o relatório do PARA-2010 e veja os resultados do programa da Anvisa que analisa a qualidade dos alimentos. O PARA tem fornecido subsídios à tomada de decisão para restrição e banimento de químicos perigosos para a população.

res”. De lá para cá, ela avalia, o país não parou de ampliar o mercado dessas substâncias até ser o maior consumidor do mundo. “O Mato Grosso, por exemplo, vive uma farra quími-ca”, critica.

Os pesquisadores ouvi-dos pela Radis consideram que orientar a produção pelo modelo agroecológico— que vai além da supressão do uso de fertilizantes minerais e de agrotóxicos, e defende a ro-tação de culturas, a pequena propriedade e a agricultura familiar — é uma opção viável ao agronegócio. “Seria de fato muito apropriada para o Brasil, seus interesses do desenvolvi-mento humano e sua sustenta-bilidade”, opina Lia.

Ainda preocupam os aci-dentes, especialmente os decorrentes da pulverização aérea de agrotóxicos. Um exemplo vem do município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso: em 2006, ventos car-regaram para a área urbana pesticida despejado por um avião monomotor — num mo-vimento chamado de deriva. Nos dias seguintes, hortas e árvores da cidade apareceram com as folhas queimadas, que logo caíram.

ControleCabe a Agênica Nacional

de Vigilância Sanitária (Anvi-sa) a análise de resíduos nos alimentos, a avaliação toxi-cológica das substâncias, a fiscalização da produção, a coordenação da Rede Nacio-nal de Centros de Informação e Assistência Toxicológica e a proposição de regulamentos.

As substâncias importa-das, exportadas, produzidas, transportadas, armazenadas, comercializadas e usadas no país precisam ser registradas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,

num processo que tem a par-ticipação das pastas do Meio Ambiente e da Saúde.

Há 451 ingredientes ativos e 1.400 produtos formulados com uso autorizado no Brasil. Quanto à saúde, predominam substâncias medianamente tóxicas (33%), seguidas das altamente tóxicas (25%), das pouco tóxicas (24%) e das ex-tremamente tóxicas (18%). Em relação ao ambiente, 38% são consideradas muito perigosas, enquanto as perigosas somam 25%, as pouco perigosas, 8%, as altamente perigosas, 7% — 22% não têm classificação de periculosidade ambiental por-que foram registradas antes de 1990.

Assim como acontece com a regulação da propaganda de medicamentos e com o exame de pedidos de patentes farma-cêuticas, a atuação da agência no controle de agrotóxicos é contestada. “A indústria ten-ta impedir na Justiça o nosso trabalho, mas as decisões têm sido favoráveis à Anvisa”, con-ta Luiz Claudio. Em 2008, os técnicos da agência ficaram meses impedidos de reavaliar

substâncias por liminar concedida aos produ-tores de agrotóxico, depois que a agência reto-mou o exame de 14 ingredientes.

Essa pressão, diz ele, é decorrente de in-teresses econômicos: empresas que tiveram seus produtos banidos no exterior lutam para continuar vendendo-os no Brasil. Série históri-ca mostra tendência de crescimento vertigino-so no consumo nacional de substância proibida internacionalmente. “Viramos o destino final de produtos banidos em outros países”, diz Luiz Claudio, que aponta como consequência o au-mento de danos ao trabalhador rural, ao am-biente e à população em geral.

Desde 2001, ano em que começou a atuar nessa área, a agência já proibiu cinco ingre-dientes ativos presentes em mais de 80 agrotó-xicos, e restringiu o uso de outros 27.

Reportagem publicada pela Revista Radis, edição 95

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) divulgou o primeiro de uma série de estudos sobre saúde e sustenta-bilidade com objetivo de contribuir para as discussões da conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, que acontece em junho no Rio de Janeiro. O volume de lançamento é um alerta à socie-dade e ao Estado brasileiro sobre o uso de agrotóxicos. Clique aqui e baixe o estudo.

Frederico acredita que a agroecologia já funciona bem para a agricultura familiar — especialmente quando conta com incentivo governamental, como a compra da produção para ser usada na merenda escolar. Lia afirma que este modelo já conta com tecnologia para a produção de alimentos em larga escala: “Não é um discurso vazio, só que precisa de incenti-vos como os oferecidos ao agronegócio”.

Que modelo?

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O consumo de alimentos cresce a cada ano estimulado por políticas públicas de inclusão social e de promoção da segurança alimentar, mas um transe coletivo põe em risco a saúde das pessoas e do planeta

A mastigação coletiva do planeta

A alimentação humana é um dos maiores desafios a ser enfrentado rumo a um planeta saudável e sustentável. A questão central deix-ou de ser a velha pergunta: conseguiremos al-imentar uma população em crescimento, que deve chegar a nove bilhões de pessoas em 2050? O problema atual, e que seguirá pelas próximas décadas, é como produzir alimen-tos sem manter o atual rastro de destruição do planeta, causado, em grande parte, pelos hábitos de consumo contemporâneos.

Nas últimas décadas ganharam as me-sas as dietas ricas em gordura, açúcar, car-boidratos e proteína animal. Para atender a demanda por esses insumos, o consumo de recursos naturais acelera a cada ano. Um ex-emplo instrutivo é que quase 80% dos produ-tos industrializados usam açúcar, que extraído ou do milho ou da cana-de-açúcar, duas cul-turas produzidas em gigantes fazendas e in-tensivas em agrotóxicos.

Outra informação relevada pelos consumi-dores é o impacto direto da agricultura sobre o consumo de água. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimen-tação (FAO), para gerar um quilo de carne são precisos 15 mil litros de água. Em comunicado emitido em março, a FAO afirmou que a agri-cultura utiliza 70% de toda a água consumida no mundo.

Em Foco Por Davi Carvalho

Foto: Jim Capaldi

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Hoje, a produção de bovinos na região nor-te é, em média, de um animal por hectare (10 mil m²). Segundo o coordenador do Greenpea-ce essa produção pode ser elevada a três ca-beças.

Tudo o tempo todoNão bastasse o impacto sobre o planeta,

a saúde humana é diretamente impactada por um padrão alimentar que é mantido à base de agrotóxicos, conservantes, corantes, estabili-zantes e centenas de outros aditivos químicos, que já são relacionados ao surgimento e agra-vamento de doenças.

Para atender as necessidades do padrão alimentar atual, em que tudo pode ser comido o ano todo, o uso de agrotóxicos e outras subs-tâncias químicas não podem ser dispensados. Um exemplo diz respeito aos aditivos quími-cos, que podem ser naturais ou sintéticos e têm como função ampliar a vida dos alimentos, diminuir perdas, realçar o sabor ou melhorar as qualidades nutricionais dos alimentos.

Há séculos, aditivos como o sal e limão são adicionados para preservar alimentos e asse-

No Brasil, a relação entre pecuária, agricultura e des-matamento foi estudada pela Empresa Brasileira de Pesqui-sa Agropecuária (Embrapa) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Os estudos deram origem ao documento Terra Class que aponta a criação de gado como responsável por 62% do desmatamento ocorrido na flo-resta Amazônica até o ano de 2008.

Essa informação foi capta-da pelo Censo Agropecuário de 2006, o último realizado no país, e pela Pesquisa Pecuária Municipal (PPM). Dados dos dois levantamentos mostram que nos quinze anos entre 1995 e 2010 o rebanho bovino brasileiro cresceu 55 milhões de cabeça, chegando a 210 milhões de animais. Cerca de 46% desse aumento se deu na região norte, onde o rebanho passou de 17 milhões de ca-

beças para 42 milhões. O coordenador de campa-

nhas do Greenpeace, Andre Muggiati, explica que esse au-mento não foi alcançado pelo incremento da produtividade por unidade produtora, mas sim pelo aumento do desflo-restamento. Muggiati vê as políticas públicas de inclusão social como fundamentais, mas adverte que à medida que a inclusão acontece cres-ce a demanda por proteína que acompanha um aumento do desmatamento. “Na região da floresta amazônica esse grande problema poderia ser minimizado com práticas que visem aumentar a produtivi-dade, como a rotatividade de pastagens e investimento em tecnologia. Mas tudo isso re-quer conscientização do pro-dutor e política pública, e são mais caras [financeiramente] que simplesmente derrubar a floresta”, explica Muggiati.

Pense +: O estudo Terra Class pode ser baixado aqui.

80% dos produtos industrializados usam açúcar, que extraí-do ou do milho ou da cana-de-açúcar, duas culturas pro-duzidas em gigantes fazendas e intensivas em agrotóxicos.

Vídeo

O Veneno Está na Mesa

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Para atender as necessidades do padrão alimentar atual, em que tudo pode ser comido o ano todo, o uso de agrotóxicos e outras substâncias químicas não podem ser dispensados

gurar boa qualidade a eles. Mas com a industrialização do cardápio aumentou o uso das substâncias sintéticas em-pregadas para dar cor, sabor, cheiros e características físi-cas, de forma artificial.

O professor de engenha-ria de alimentos da Universi-dade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP), Silvio José de Souza, consi-dera que os aditivos trouxeram conforto e uma série de pro-blemas para a saúde. “Essas substancias ajudaram a redu-zir a fome e o desperdício de alimentos e têm regras para a sua utilização. Se usadas as quantidades corretas não há problemas. Mas o risco está na falta de fiscalização, porque a produção de alimento sob a égide capitalista não permite que a empresa se preocupe

A obesidade e o diabetes são as doenças que mais cres-cem no mundo. Além de suas complicações específicas, tra-zem consigo inúmeros males associados que deixam con-seqüências que são levadas para a vida [ver reportagem A responsabilidade negligencia-da, na página 30].

Além de afetar a saúde físi-ca, as duas enfermidades têm forte poder destrutivo sobre a saúde mental, principalmen-te das mulheres. A psicóloga Christiane Mangilli Ayello ex-plica que o alimento faz parte da cultura de um povo, da his-tória familiar e social de um in-divíduo e é a primeira forma de contato com a mãe, através da amamentação. “Excesso ou falta de comida, podem simbo-licamente representar excesso ou falta de amor. O excesso de comida em alguns pode repre-sentar preencher algum vazio, aliviar uma angústia ou ansie-dade. Dificilmente uma pessoa obesa alimenta-se apenas por

com a saúde do consumidor, mas com o lucro, senão ela perde competitividade e mer-cado. Por isso, cumpre-se a lei quando dá”, comenta Souza.

O professor argumenta que essas substâncias são necessárias porque o homem sempre se viu como o centro, por isso, reproduz a ideia de que tudo no planeta está pron-to para ser consumido. Mas tudo o quê existe na natureza é matéria prima, que precisa ser adicionada de substâncias e manipulada para se tornar alimentos.

necessidade, mas sim por uma busca incansável de prazer. Em alguns casos, a alimen-tação é utilizada como forma de manifestação de impulsos agressivos, como morder, en-golir sem mastigar, quase uma automutilação”, explica Chris-tiane.

Ela acredita que as mu-lheres sofram uma maior co-brança com relação a estética, devido a padrões de beleza pré-estabelecidos, o que pode levar a mulher a alto grau de ansiedade, em alguns casos depressão, além de baixa au-toestima.

Preconceito caroNos homens, geralmente,

a preocupação com a obesi-dade aparece quando come-çam a desenvolver problemas de saúde física. Por isso, um preconceito trazido há gera-ções aumenta a possibilidade de o homem sofrer mais com problemas físicos ligados a ali-mentação inadequada.

“O homem sempre se via como o mais forte, resisten-te, responsável pela família e tinha que trabalhar. Cuidado com a saúde era perda de tem-po. Era assim antigamente, mas ainda hoje esse precon-ceito existe, apesar de aumen-tar o número de homens que fazem prevenção e se cuidam adequadamente”, relata Ary Augusto Reis de Macedo, ci-rurgião especialista em cirur-gia bariátrica.

A reprodução dessa ideia piora a situação da saúde masculina, principalmente a partir dos 40 anos de idade, quando exames e cuidados específicos precisam ser re-alizados com freqüência. “O homem se alimenta mal, às ve-zes bebe e fuma, não pratica atividade física e ainda pensa que é indestrutível. Quando ele percebe que pode adoecer vem ao consultório com danos irreversíveis nos olhos e rins, causados pelo diabetes, ou com males que podem matá-

-lo a qualquer momento, como um infarto ou um acidente vas-cular cerebral”, explica o espe-cialista.

Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o câncer de próstata é o que mais mata homens no Brasil, um a cada 24 minutos. A de-tecção da doença em estágio inicial, que aumenta as chan-ces de cura, se dá por exames de sangue e através do toque retal, muito conhecido pelos homens nas piadas mas pou-co praticado.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que esse preconceito tem trazido sérios danos a saúde masculina. Conforme a entidade, a falta de prevenção, agravado pelo uso do fumo e álcool, é res-ponsável por 80% da diferença na expectativa de vida entre mulher e homem. No Brasil, essa diferença está em mais de sete anos: a esperança de vida feminina está em 77 anos e a masculina em 69.

Autoestima e preconceito

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23Plenitude21

Em foco

Alimentos produzidos fora da sua épo-ca demandam mais fertilizantes, herbici-das, inseticida e substancias regulado-

ras de crescimento.

A cada dia mais estudos comprovam que os casos de câncer estão ligados aos maus hábitos de saúde e ali-mentação. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar (INCA), a combinação da alimentação saudável com atividade física é capaz de prevenir 19% de casos de câncer no Brasil por meio do controle do peso. Ou-tro estudo recente americano afirma que metade de todos os tipos de câncer poderiam ser evitados se as pessoas ado-tassem estilos de vida mais saudáveis.

O nutricionista da Área de Nutrição, Alimentação e Cân-cer do Inca, Fábio Gomes, afirma que o câncer pode ser prevenido desde bebê. “O pri-meiro passo para a prevenção do câncer começa já na ama-mentação. Porque as mães que amamentam seus filhos exclusivamente até os seis meses e depois complemen-tando conforme a recomenda-ção, previnem que as crianças desenvolvam a obesidade já na infância. Então proteger a

Câncer pode ser evitado com hábitos saudáveis

criança da obesidade já na in-fância é o primeiro passo para prevenir do câncer”, explica.

O nutricionista relata al-guns hábitos de alimentação que devem fazer parte do dia a dia das pessoas. “É preciso aumentar o consumo de frutas e hortaliças, voltar ao nosso arroz e feijão, nossa carne, nossa alimentação tradicional. E ao mesmo tempo reduzir os alimentos industrializados o máximo que a gente puder, ou seja, a gente vai ao supermer-cado as pessoas tem que olhar para o carrinho, olhar para a sua dispensa, olhar para o seu cesto de compras e tentar manter uma menor quantidade possível de alimentos prontos para consumir, prontos pra aquecer”, detalha.

DesintoxicaçãoRomeu Mattos Leite, pre-

sidente da Câmara Temática Nacional de Agricultura Orgâ-nica, aponta alternativas ao uso de agrotóxicos e aditivos alimentares. Mais uma vez a presença do Estado é funda-mental para incentivar um há-

bito de consumo de alimentos mais saudáveis, o que pode diminuir impactos futuros sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). “Precisamos que os governos criem linhas de financiamento atrativas nos bancos públicos para os produto-res orgânicos, que sejam criadas e incentiva-das pesquisas nas universidade e nos órgãos públicos para aumentar a produtividade para que possamos oferecer produtos mais baratos e saudáveis”, ilustra Leite.

Além de uma posição ativa dos governos, para viabilizar a produção orgânica como uma saída é preciso uma mudança profunda nos hábitos alimentares e uma tomada de consci-ência sobre os impactos do consumo diário so-bre os recursos do planeta. Não dá para pen-sar em alimentação sustentável e limpa sem dar preferência, quando possível, para alimen-tos da estação. Hoje, come-se frutas, legumes, hortaliças e cereais todos os dias do ano, sem se preocupar com o custo ambiental, econômi-co e social da produção.

Alimentos produzidos fora da sua época demandam mais fertilizantes, herbicidas, inse-ticida e substancias reguladoras de crescimen-to. “Vegetais produzidos em meios artificiais não apresentam a mesma riqueza nutricional dos produzidos em seu tempo. Outro proble-ma é que, geralmente, esse tipo de produção consome mais energia do que a energia que o produto pode ofertar depois de pronto. Nesse caso, consome-se apenas por prazer”, explica Leite.

Foto: Mark Robinson

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O excesso de comida em alguns pode representar preencher algum vazio, aliviar uma angústia ou ansiedade

Hoje, mais de 90% das pesquisas em andamento na Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias

(Embrapa) não contemplam alimentos orgânicos

Uma pesquisa feita pela Universidade de Southampton, na Inglaterra, concluiu que co-rantes e conservantes encon-trados em alimentos infantis e refrigerantes podem ser re-lacionados a hiperatividade e distúrbios de concentração em crianças.

O estudo - encomendado pela Food Standards Agency, a Vigilância Sanitária da Grã--Bretanha, e publicado na re-vista científica Lancet - oferecia três tipos diferentes de bebidas a um grupo de 300 crianças de três, oito e nove anos de idade. Uma das bebidas continha uma forte mistura de corantes e conservantes, outra tinha a quantidade média de aditivos que as crianças ingerem por

dia, e a última era um pla-cebo, sem nenhum aditivo. Os níveis de hiperatividade foram medidos antes e depois de as crianças beberem um dos líquidos aleatoriamente.

Coquetel de aditivosO grupo que ingeriu a mis-

tura A, com alto nível de adi-tivos, teve «efeitos adversos significativos» em comparação com o que bebeu o placebo. O pesquisador responsável pelo estudo, Jim Stevenson, defendeu que algumas mis-turas de corantes artificiais e benzoato de sódio, um con-servante usado em sorvetes e doces, estavam ligadas a um aumento de hiperatividade. «No entanto, os pais não de-

vem achar que é possível prevenir problemas de hiperatividade completamente apenas reti-rando esses aditivos da comida», explicou ele. «Sabemos que há muitos outros fatores nes-sa questão, mas pelo menos este (a ingestão de aditivos) é um que a criança pode evitar.» Hiperatividade

Entre 5% e 10% das crianças em idade es-colar sofrem algum tipo de desordem de aten-ção, com sintomas como impulsividade, dificul-dade de concentração e atividade excessiva. Mais meninos que meninas são diagnosticados com o problema e as crianças afetadas pela condição geralmente tem dificuldades acadê-micas, com um desempenho fraco na escola. Médicos dizem que fatores como a genética, o nascimento prematuro, o ambiente e a criação também podem ser associados à hiperativida-de.

Corantes podem causar hiperatividade em crianças

Os aditivos alimentares podem ser produzidos em meio orgânico, mas a falta de pesquisa e crédito mantém a escala de produção muito re-duzida e inviabiliza o negócio. Hoje, mais de 90% das pes-quisas em andamento na Em-presa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) não contemplam alimentos orgâ-nicos e todo o processo para registro de um produto, que envolve teste científicos, de impacto sobre saúde e meio ambiente, não sai por menos de R$ 300 mil.

Educação pelo bolsoMais que inviabilizar alter-

nativa mais natural, o alto cus-to desse processo de desen-volvimento de aditivos garante que as grandes empresas con-tinuarão a dominar um setor cada dia mais importante para um futuro mais equilibrado.

Conscientes do impacto que comidas industrializadas têm sobre o bem estar, a lon-gevidade e mercado de traba-lho, alguns países já discutem ações para desestimular o consumo de produtos nocivos

à saúde. O governo dinamarquês

criou, em novembro de 2011, uma sobretaxa sobre o preço dos hambúrgueres, que deve encarecer o produto em cerca de R$ 0,30, e de manteiga que passou a custa, aproximada-mente, R$ 0,75. A ação, ape-sar de pontual, faz parte de um movimento coeso que envolve políticos, universidades e so-ciedade que buscam vida mais longa aos dinamarqueses. A intenção do governo é aumen-tar a expectativa de vida no país para 82 anos na próxima década. Hoje a esperança de

vida naquele país é de 79 anos. A Dinamar-ca, como outros países europeus, já tem uma taxação mais alta para açúcar, chocolates, re-frigerantes.

Outros países europeus também desesti-mulam o consumo de produtos através de tri-butos. Hungria e Suécia vão além do movimen-to dinamarquês e criaram taxas sobre doces, salgadinhos e aromatizantes artificiais.

Os impactos da alimentação inadequada já são conhecidos sobre a saúde presente e futura das pessoas. A nova discussão que tardiamente emerge é quanto ao impacto do consumo desorientado de alimentos sobre o meio ambiente. Esse debate fica ainda mais premente quando se atenta para o dado apre-sentado pela FAO em 2011 de que um bilhão de pessoas vive sob fome crônica.

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Desenvolvimento, erradi-cação da pobreza, qualida-de de vida e distribuição de renda. Esses são alguns dos principais desafios do século 21. Apesar de parecer uma missão bastante espinhosa, chegar até eles pode ser mais fácil do que se imagina. Inicia-tivas simples, como as hortas comunitárias, que contam ex-clusivamente com o trabalho e organização da população, têm se mostrado capazes de elevar a qualidade de vida das pessoas e desenvolver uma comunidade, por meio da ge-ração de trabalho e renda.

De Campinas vem dois exemplos de como unir a co-munidade através desse tipo de agricultura.

É no Parque Itajaí 4, na periferia de Campinas, que hoje funciona a Associação dos Produtores da Agricultura Urbana e Periurbana de Cam-pinas e Região – Cio da Terra, que conta, atualmente, com 25 associados, trabalhando em uma área de 14 mil metros quadrados.

A iniciativa partiu da pró-pria comunidade, em 2005, como conta o presidente da Associação, Orlando Batista dos Santos. “Muitas pessoas

Outro olhar Por Inaê Miranda

Hortas comunitárias urbanas geram emprego e renda para agricultores que trabalham de forma integrada a produção do alimento e a responsabilidade com o futuro do planeta

da comunidade estavam de-sempregadas e começaram a ocupar o espaço de uma área pública. Como o trabalho esta-va gerando resultados, com o tempo (a atividade) passou a ser oficializada pela Prefeitu-ra”.

Para melhorar o cultivo e ter um bom aproveitamento na produção e comercializa-ção dos produtos, a asso-ciação conta com o apoio da Coordenadoria de Assistên-cia Técnica Integral (Cati), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. O órgão promove o desenvolvimento rural susten-tável, por meio da implantação de programas e projetos volta-dos ao desenvolvimento socio-econômico das comunidades envolvidas, considerando a preservação do meio ambien-te e possibilitando a inserção social.

Seu Orlando, como é cha-mado, conta que, no começo, eram poucas as pessoas que trabalhavam no cultivo de hor-taliças e legumes no local. En-tretanto, com a boa perspec-tiva do negócio e o apoio da Administração Municipal em ceder o espaço, o programa foi crescendo e atraindo famí-lias inteiras, como a do Senhor João Pereira, de 54 anos, que

hoje é o coordenador de produção da associa-ção Cio da Terra.

Ao lado da esposa e do filho, hoje, seu João se orgulha de tirar o seu sustento da hor-ta comunitária que ajudou a criar. Trabalhando a maior parte da vida como motorista particu-lar, ele conta que entrou em uma depressão profunda após perder o emprego e foi neste momento que ele passou a mexer na terra e resgatou a autoestima. “Para mim foi excelen-te, melhorei muito. Muitas pessoas que estão aqui, com depressão, reduzem o medicamen-to”, aponta Pereira, confirmando que, além de gerar renda, o cultivo da terra se transforma em uma verdadeira terapia para os agriculto-res.

Tendo como carro chefe as verduras, os associados chegam a receber R$ 1 mil por mês com a venda dos produtos, todos eles orgânicos. A venda é feita para um restauran-te, o melhor cliente da Associação, e em duas feiras semanais na cidade. Alguns agricultores também vendem individualmente os produtos, no sistema porta a porta.

A produção é organizada e todos se di-videm nas tarefas, desde o planejamento da plantação até a venda, mas o lucro final é sempre dividido em partes iguais, independen-temente da atuação no plantio. “Aqui a gente procura pessoas para inserir no mercado de trabalho. Nosso objetivo é trabalho e renda”, declarou.

Para seu João, a horta comunitária é a ‘salvação de uma sociedade’. “No que diz res-peito à saúde e à economia, em tudo. A po-pulação mais carente, por exemplo, não teria acesso a produtos orgânicos, mais saudáveis, se não fosse pela horta”, enfatizou. E esses novos hábitos refletem diretamente na melhor

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qualidade de vida. “Quando vem alguém da comunidade nós orientamos sobre a importân-cia dos legumes, da salada na alimentação. A consciência das pessoas muda”, afirmou.

O presidente da associação também ob-serva o impacto social positivo que a horta causa na comunidade. “Primeiro porque são famílias do local, que, naturalmente, acabam tendo uma interação com outras pessoas da comunidade. Além disso, o acesso de forma prática ao alimento contribui com a qualidade de vida não só dos consumidores como dos produtores”, percebeu.

Consciência ambiental De acordo com seu Orlando, ainda há a

questão ambiental trazida pelas hortas co-munitárias. “Há um mudança importante no que diz respeito à ecologia e meio ambiente. Naturalmente, esses espaços vazios urbanos tendem a ser depósitos de lixo, como ocorria na área do Itajaí, que não tem mais esse pro-blema porque foi ocupado pela horta. As pes-soas nos respeitam e deixam de fazer esse descarte”, complementa.

Os próprios agricultores também são orientados a proteger o meio ambiente. “É uma atenção especial. Coisas que, espon-taneamente, as pessoas não estavam pra-ticando”, afirma o presidente, que defende a iniciativa urbana como um dos segredos para o desenvolvimento social. “É um desafio para desenvolver a cidade como um todo. Temos muitos espaços públicos ociosos e que com-portam a produção de muitos tipos de alimen-tos. É possível obter renda satisfatória, mas é um desafio que precisamos construir aos pou-cos”, diz. “É um projeto com uma perspectiva futura muito promissora”, avalia.

De acordo com Alexandre Augusto Cec-con, técnico de economia solidária da Se-cretaria de Trabalho e Renda, o conceito de hortas comunitárias possibilita, além de gera-ção de renda, a integração da comunidade. “Quando falamos em um grupo (de agriculto-res comunitários) pensamos em regras, logo, na produção qualificada, que gera novos hábi-tos e renda”.

Desenvolvimento SustentávelOutro exemplo de horta comunitária de

Campinas vem da Vila Esperança, na região dos Amarais. A Associação Comunidade Saudável visa integrar, através da agricultura urbana, a produção de saúde, cultura e edu-cação continuada, além do desenvolvimento sustentável.

A proposta surgiu em 2007, por meio de um movimento que mantinha convênios com a Organização Mundial da Saúde (OMS), Uni-versidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Organizações Não Governamentais (ONGs). “A partir daí veio a pergunta: como tornar uma comunidade saudável?”, recorda-se Adriana

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Plenitude2128

do Amaral, educadora social e uma das articuladoras do pro-jeto.

A escolha pelas hortas co-munitárias surgiu para que as áreas ociosas da região fos-sem ocupadas e se tornassem produtivas. A área pública tam-bém foi cedida pela Prefeitura, que teve como beneficiários representantes da própria co-munidade. O projeto ainda é recente e o plantio foi iniciado apenas no ano passado e já conta com oito agricultores.

“Já tem produção, mas é o primeiro momento, por isso tem o apoio da Prefeitura. É um momento de organização. O importante desse movimen-to é o diálogo intersetorial, que envolve saúde, trabalho e ren-da, meio ambiente, gerando qualidade de vida da comuni-dade local e economia solidá-ria”, explica.

A revista Desafios do Desenvolvimento, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), tem outras duas reportagens ilustra-tivas sobre experiências de hortas comuni-tárias. Uma retrata como um projeto de agri-cultura urbana desenvolvido pela prefeitura de Penápolis (GO) reintegra comunidades socialmente marginalizadas e melhora qual-idade nutricional das famílias.

A reportagem “Inclusão pelo Campo”, mostra como o ambiente econômico pro-movido pela agricultura favorece o avanço social de regiões carentes e aponta que a evolução pode ser acelerada se tiver mais educação no campo.

Vídeos

Segurança alimentarInclusão social e produtiva

A escolha pelas hortas comunitárias surgiu para que as áreas ociosas da região fossem ocupadas e se tornassem produtivas

O projeto ainda conta com o apoio do Laboratório Inter-disciplinar de Pesquisa-Ação em Comunidade saudável (Li-pacs), um dos grandes articu-ladores do movimento, Prefei-tura Municipal de Campinas e do

Instituto Nacional de Co-lonização e Reforma Agrária (Incra). “Sem essa base, tal-vez não existisse o programa”, afirma Adriana, ressaltando a importância do apoio público para o desenvolvimento social.

O modelo de hortas comu-nitárias não é inédito no Es-tado de São Paulo. O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) realizou um projeto de hortas comu-nitárias como mecanismo de organização social e geração de renda nas cidades de Arei-ópolis, Itatinga e Botucatu, no centro sul do Estado, nos anos

de 2004 e 2005.A implantação das hortas comunitárias

apresentou resultados positivos na organiza-ção social, tendo se mostrado importante para comunidades carentes. De acordo com o es-tudo realizado por pesquisadores do Sistema Agroindustrial Integrado (SAI), do Sebrae, os resultados econômicos, se não expressivos, constituíram para muitos dos envolvidos, a única fonte de renda. Procurado, o Sebrae informou que ainda não possui projetos se-melhantes de agricultura familiar na região de Campinas.

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29Plenitude21

Por vezes temos a sensação de que nossos avós e demais an-tepassados tinham uma alimen-tação mais saudável que nossa. A discussão sobre a alimentação é complexa e muito controversa. Grandes monopólios assumem a produção agrícola e alimentí-cia em geral, o que delega algo fundamental, que é a segurança alimentar, nas mãos de poucos grupos empresariais. Mais do que uma discussão econômica, estamos diante de um debate que envolve questões ambien-tais, geográficas, de soberania nacional, entre tantas outras.

No contexto de uma econo-mia cada vez mais globalizada, a produção, a distribuição e con-sumo de alimentos exigem que qualquer abordagem referente à discussão de Segurança Alimen-tar seja feita à luz do princípio da precaução que, apresenta-se como instrumento que deveria ser empregado por Estados e empresas na busca por soluções que permitissem agirem com segurança em toda e qualquer situação que envolva riscos po-tenciais. Riscos estes conhecidos ou não.

Esteve recentemente no Brasil o novo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Ali-mentação (FAO) Pat Mooney. Ele é considerado autoridade internacional em assuntos de governança global, concen-tração corporativa e monopó-lio de propriedade intelectual, especialista em agricultura, biotecnologia, biodiversida-de e nanotecnologia, e atua no apoio ao desenvolvimen-to de tecnologias socialmen-te responsáveis e “úteis aos pobres e marginalizados”. O canadense mostrou-se pre-ocupado com as discussões no Congresso brasileiro sobre a liberação da tecnologia Ter-minator, que produz sementes estéreis (chamadas de “sui-cidas”), incapazes de serem aproveitadas pelos agriculto-res em mais de uma colhei-

Isso significa que não podemos ficar reféns de grandes conglomerados

econômicos que colocam o lucro à frente de nossa ali-

mentação

(IN)SEGURANÇA ALIMENTARpor Rafael Moya *

ta. “Essa é a mais perigosa tecnologia com a qual temos que lidar atualmente, pois as sementes ficariam concentra-das nas mãos de poucas em-presas e seu custo seria invi-ável para os produtores mais pobres”, diz.

Ao olharmos as políticas públicas das últimas décadas notaremos que elas têm ido ao sentido de dar grande apoio ao agronegócio, tendo por base sementes geneticamente mo-dificadas, grandes latifúndios fundados na monocultura, e assim, favorecidos grandes conglomerados econômicos. Esta opção política dos gover-nos ignora a possibilidade de retomarmos de maneira séria a discussão sobre reforma agrária, agricultura familiar, pequenas propriedades, racio-nalização de recursos, alterna-tivas ao uso de agrotóxico etc.

Tratando apenas do Esta-do de São Paulo, apesar das mínimas políticas públicas de incentivo à agricultura familiar, do total de R$ 46,9 milhões mo-vimentados pelo PAA (Progra-ma de Aquisição de Alimentos) em 2011, os assentamentos da reforma agrária responde-ram por R$ 24,7 milhões, ou seja, 52%. O programa adqui-riu alimentos produzidos por 11 mil famílias de agricultores familiares, das quais 5,8 mil são assentadas. A estima-tiva da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) é de que mais de um milhão de pessoas foram beneficia-das com produtos fornecidos a creches, abrigos de idosos, hospitais públicos, entre outras instituições. São Paulo respon-deu por 13% da execução do PAA, que teve um orçamento de R$ 350 milhões em 2011. Por meio do programa, os agricultores familiares podem fornecer produtos até um li-mite de R$ 4,5 mil por família anualmente. Os alimentos são doados a entidades assisten-ciais e programas sociais das

prefeituras. Cerca de 80% dos produtos são frutas, legumes e verduras frescos.

Outro aspecto importante apontado por muitos produtores é a organização. A comer-cialização via mercados institucionais se dá por meio das associações e cooperativas. E estas precisam estar preparadas para garantir a qua-lidade e a regularidade da produção. As 11 mil famílias que participam do PAA estão organi-zadas em 225 cooperativas em 115 municípios paulistas. Mas ainda são poucos os municípios que compram alimentos dos pequenos produ-tores, apesar da Lei 11.947/2009 determinar que pelo menos 30% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a alimentação escolar sejam des-tinados à aquisição de produtos da agricultura familiar. Há, portanto, um imenso mercado po-tencial a ser explorado.

A alimentação saudável é fundamental para a sobrevivência da humanidade, mas a garantia da qualidade de vida de todos está diretamente relacionada à oferta e à certeza de acessibilidade satisfatória aos alimentos seguros provenientes de sistema produtivos eficazes e confiáveis. Isso significa que não podemos ficar reféns de grandes conglomerados econômicos que colocam o lucro à frente de nossa alimentação. Isso é preocupante e interessa a todos nós.

Rafael Moya é advogado e consultor. [email protected]

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Plenitude2130

As mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas im-pactaram seriamente a alimentação de crianças e jovens. Os pais praticamente terceirizaram a preparação de alimen-tos dentro de casa e permitiram que os filhos se cercassem de alimentos de baixa qualidade nutricional e ricos em car-boidratos, gorduras e sal. A falta de políticas públicas am-pliou os problemas e, hoje, o Brasil, assim como o mundo, vive uma epidemia de obesidade infantil, que cresce a um ritmo nunca visto. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-09, do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE), mostra que entre os anos de 1989 a 2009 o percentual de crianças com excesso de peso passou de 13,4% para 33,4%.

Se o Brasil assistiu alarmado o crescimento da obesida-de em adultos nos últimos 20 anos, governos e sociedade despertam lentamente para combater esse novo desafio aos sistemas de saúde, que pode custar caro para o país no fu-turo. Segundo dados do IBGE, uma em cada três criança de 5 a 9 anos está com peso acima do adequado para a idade.

A responsabilidade

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Esses dados apontam para uma sobrecarga do sistema de saúde brasileiro nas próxi-mas décadas, porque pesqui-sas recentes mostram que a obesidade infantil traz consigo doenças como diabetes, hiper-tensão e problemas relacio-nados a circulação, coração e estrutura óssea. Enfermidades que até 10 anos atrás eram associadas à velhice e obesi-dade em adultos. A esperança está no fato de que, se tratada a obesidade, pode haver re-gressão em todos essas doen-ças secundárias.

Fruto das mudanças de há-bitos alimentares e falta de ati-vidade física, o enfrentamento deste problema requer políti-cas públicas e reeducação ali-mentar em casa, mas como fazer isso se os pais também não foram educados sobre como se alimentar de forma adequada? Para a doutora do instituto de pediatria da Facul-dade de Ciências Médicas da Unicamp, Maria Ângela Goes Monteiro, a responsabilidade não pode ser deixada apenas com a família, mas precisa ser trabalhada por governos, esco-las, organizações, movimentos sociais e igreja para que o país consiga enfrentar o problema.

Nos grandes centros o trabalho e deslocamento con-somem pelo menos 10 horas diárias dos pais. A falta de tempo sempre é apresentada como um problema, mas para a pediatra da Unicamp não há justificativa para negligenciar o direito a uma boa alimentação dos filhos.

“Aos pais cabe a consciên-

negligenciadacia de que ter filho é se dedicar para algo muito importante. É a doação de um tempo para uma situação bastante rele-vante. Não dá para deixar para os outros. Se não há tempo para os filhos, para o quê ha-verá de ter”, questiona Maria Ângela.

Nossa ruaJunto ao uso indiscrimina-

do de alimentação industriali-zada, a falta de atividades fí-sicas contribui para o aumento do número de crianças em es-tado de sobrepeso e obesida-de. É muito comum que mães prefiram que os filhos fiquem dentro de casa a estar nas ruas e parques brincando. “Um dos grandes problemas atuais é que as crianças comem muitas calorias e não gastam. E mais uma vez o papel da família é fundamental, porque você não muda uma criança se a família não for referência. A criança se desenvolve por modelo”, expli-ca a pediatra, que orienta pais e mães a acompanharem os filhos em caminhadas e brin-

Rotina exaustiva e mudanças sociais contribuiram para que a alimentação dos filhos deixasse de ser prioridade e agravou os problemas relacionados a obesidade infantil

Clique lá: Veja POF 2008-09, que mostra como o peso do brasileiro tem aumentado

nas últimas décadas.

por Davi Carvalho Futuro

cadeiras de rua por ser uma forma saudável de gastar energia.

A comunicação de alguns setores da indús-tria de alimentos focaliza a compra em excesso como forma de minimizar os gastos. As com-pras em quantidade limitadas dão lugar a com-pras dos pacotes fechados, fardos e caixas de refrigerantes, sucos e alimentos.

Esse consumo de varejo leva a outros pro-blemas ligados a alimentação, principalmente relacionados a falta de nutrientes. É o caso da anemia em crianças até três anos de idade e de constipação intestinal, causada pela falta de fibras nos alimentos.

A OPAS disponibiliza em seu site estudos sobre alimentação infantil. No Guia Alimentar Para Crianças apresenta os dez passos recomendados

pelo Ministério da Saúde e OPAS/OMS para melhorar a alimentação infantil das crianças menores de dois anos no Brasil.

Pense +: em abril a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) divulgou um

comunicado em que defende a necessi-dade de apertar o cerco à publicidade de

alimentos e bebidas não alcoólicas -espe-cialmente as supercalóricas e com baixo

valor nutricional- para crianças.

Page 32: Plenitude 21 - alimentação

Plenitude2132

No mês de março foram anunciadas boas notícias para os pacientes de AIDS, cirro-se, hepatite e esquizofrenia. Cientistas e médicos cubanos, ingleses e brasileiros avança-ram em pesquisas e projetos que apontam para a cura ou significativa melhora de sinto-mas dessas doenças.

Cientistas cubanos anun-ciaram que estão prontos para iniciar teste em humanos de uma vacina contra a AIDS. “Agora estamos preparados para uma pequena e contro-lada fase de exames clínicos com pacientes soropositivos que não se encontram em es-tágios avançados da doença, disse o pesquisador Enrique Iglesias, do Centro de Enge-nharia e Biotecnia Genética, CIGB. A vacina Teravac-HIV-1 é produzida a partir de prote-ínas recombinadas que pro-vocam uma resposta celular de defesa contra o vírus HIV. Cuba investepor ano mais de US$ 200 milhões (cerca de R$ 349 milhões) em programas de prevenção contra a AIDS.

Já na Escócia, cientistas da Universidade de Edimburgo descobriram como aumentar a produção de um tipo de célu-la regenerativa localizada no fígado. A técnica pode auxi-liar no tratamento de doenças

como a cirrose e a hepatite crônica. O estudo explica que quando está doente, o fígado pro-duz muitas células do ducto biliar (transportam a bile), mas não células que trabalham para de-sintoxicar o órgão e reparar o tecido danificado. Segundo os estudos seria possível desenvol-ver um remédio que estimulasse a criação de células regenerativas para que o fígado fosse recuperado. A técnica consiste em alterar al-guns genes das células do fígado. Os cientis-tas esperam que em longo prazo a descoberta contribua para diminuir a espera para trans-plantes de fígado.

EsquizofreniaPsiquiatras brasileiros e ingleses testam um

antibiótico para o tratamento de pessoas com esquizofrenia. A minociclina tem propriedades antiinflamatórias e protetoras do cérebro. No Brasil, 30 pacientes participaram de um estudo com o remédio. Nas pesquisas internacionais, na Inglaterra e no Paquistão foram cerca de 170.

Os brasileiros tinham o diagnóstico de es-quizofrenia há no máximo cinco anos e faziam tratamento com diversas drogas antipsicóticas. O antibiótico foi acrescentado à terapia de par-te do grupo e percebeu-se melhoras nos pa-cientes. A esquizofrenia é caracterizada por diferentes sintomas: psicóticos, dificuldades cognitivas e de vocabulário e falta de motiva-ção e de interesse em relações pessoais.

Exames de imagem do cérebro feitos em 24 dos 30 participantes do estudo mostraram que quem usou o antibiótico teve uma prote-ção maior da parcela do cérebro responsável pelas emoções. A expectativa não é substituir os antipsicóticos pelo antibiótico, mas somá-lo ao tratamento.

EsperançaGotasLei Seca

A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de Lei que dobra a multa por dirigir sob influência de álcool e/ou ou-tras drogas e permite a utili-zação de imagens e vídeos para comprovar a infração dos motoristas. A multa pas-sará de R$ 957,70 para R$ 1.915,40. No caso de rein-cidência em um prazo de 12 meses, o valor será de R$ 3.830,80. Só em 2011 o Brasil teve 155 mil aciden-tes de carro e de moto, que custaram mais de R$ 200 milhões pelo SUS.

Células-tronco

O Ministério da Saúde vai investir R$ 15 milhões em pesquisa e produção de células-tronco em escala comercial. Parte dos re-cursos - R$ 8 milhões - irá para a conclusão de oito centros nacionais de te-rapia celular. O objetivo é ampliar o uso terapêutico das células-tronco em pa-cientes da rede pública de saúde, como em casos de recuperação do coração, movimento das articulações e tratamento de esclerose múltipla.

Contra o câncer

O Ministério da Saúde pre-tende investir R$ 505 mi-lhões na rede de unidades oncológicas do SUS. Os recursos serão aplicados em infraestrutura e na com-pra de equipamentos. Os investimentos permitirão a ampliação de 48 unidades oncológicas existentes e a criação de outras 32 unida-des, o que devem aumentar em 28 mil o número de tra-tamentos realizados anu-almente. As regiões norte, nordeste e interior do sul e sudeste serão as principais áreas contempladas

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Pratos coloridos, cardápios variados e alimentos fresqui-nhos na mesa. Tudo é minu-ciosamente pensado por uma equipe de nutricionistas para oferecer ao aluno um maior rendimento escolar e acesso a uma alimentação saudável, já que, para muitos, a merenda servida na escola é a primeira refeição do dia e, quase sem-pre, a única considerada com-pleta. De quebra, esse direito assegurado por lei, garante aos pequenos produtores e agricultores familiares uma fonte de renda justa e segura.

Os especialistas afirmam que o alimento é fundamental para o desenvolvimento men-tal e físico, em especial nos primeiros anos de vida. “Uma alimentação deficiente na in-fância pode gerar uma série de problemas, como dificuldades de aprendizagem e obesidade. Neste sentido, o Programa de Alimentação Escolar cumpre um papel fundamental, porque assegura, a uma boa parcela de crianças em situação de ris-co social, o direito de ter aces-so a uma alimentação ade-quada”, afirma Priscila Tassi, nutricionista e coordenadora do Departamento de Alimen-tação Escolar da Centrais de Abastecimento de Campinas (Ceasa).

Em Campinas, 230 mil re-feições são servidas por dia,

Coluna social por Inaê Miranda

A merenda escolar se consolidou como uma das mais eficazes políticas públicas de combate à des-nutrição infantil e, atualmente, cumpre o papel de ser modelo de cardápio saudável

Escola de bem viver

O Programa de Alimentação Escolar cumpre um papel fundamental, porque assegura, a uma boa parcela de crianças em situação de risco social, o direito de ter acesso a uma alimentação adequada

em mais de 550 unidades es-colares - das redes de ensino municipal e estadual - incluin-do os alunos do programa de Educação de Jovens e Adultos e de entidades assistenciais da cidade atendias pelo Pro-grama de Alimentação Esco-lar.

Segurança AlimentarAo todo, o programa mu-

nicipal conta com 16 tipos de cardápio planejados por uma equipe de nutricionistas, ela-borados e divididos de acordo com o tipo de unidade e faixa etária: ensino infantil, funda-mental, educação de jovens e adultos, além de entidades. “Eles são elaborados de modo a promover hábitos alimenta-res saudáveis, por meio do uso de alimentos variados, segu-ros, que respeitem a cultura e as tradições de cada região do município, bem como as con-dições sócio-econômicas dos estudantes atendidos, dando prioridade aos alimentos “in natura”, explica Kátia Guima-rães, coordenadora de nutri-ção da Secretaria Municipal de Educação.

O programa de alimenta-

ção escolar também leva em conta o tempo de permanência dos estudantes na unidade escolar e dispensa atenção individualizada àqueles que apresentam algum tipo de pato-logia, como os diabéticos, os intolerantes à lactose e os obesos. “Desta forma, estamos contribuindo para o crescimento e o desenvol-vimento dos alunos e também para a melhoria do rendimento escolar”, ressalta a nutricionis-ta.

Com o objetivo de garantir uma dieta sau-dável, os alimentos formulados, como refres-cos e mingaus, foram banidos, dando lugar aos produtos in natura. Dados da Ceasa dão conta de que, de 2009 a 2011, houve um au-mento de 141% no volume de verduras, 34% no de legumes e 27% no de frutas servidos na merenda da cidade. “O cardápio também foi enriquecido com novos grãos como lentilha, ervilha partida e feijão preto; água de coco; arroz integral e barra de cereal”, complementa Priscila. Nos cardápios dos estudantes tam-bém não há receitas com frituras e o açúcar foi excluído de todos os preparos para crianças de até um ano.

Educação alimentarO Programa de Alimentação Escolar de

Campinas também inclui o desenvolvimen-to de atividades de educação nutricional nas unidades. O objetivo é melhorar os hábitos alimentares das crianças além de prevenir e combater o sobrepeso e obesidade a infantil e seus males à saúde, como hipertensão e dia-betes. Por meio de atividades educativas, as

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Direito garantido por leiA merenda escolar é um direito garantido ao aluno pela

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996. O texto diz que o dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de “atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. Por sua vez, a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricion-al (Losan) assegura de forma sustentável o direito à alimen-tação adequada para toda população brasileira. Esse direito está assegurado, principalmente, pela Constituição Federal, de 1988, e pelo Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

Além de garantir a segurança alimentar de crianças e adolescentes do ensino público, a merenda escolar também é fonte de renda para

os pequenos produtores

nutricionistas realizam pales-tras nas escolas sobre alimen-tação saudável para pais, pro-fessores, diretores e alunos. O programa também conta com 47 hortas escolares que aju-dam no trabalho de educação alimentar.

Na horta escolar do Centro Municipal de Educação Infan-til (Cemei) Cristiano Osório de Oliveia, antes de ir para a mesa, os alimentos plantados são objetos de estudo. “A hor-ta está dentro do nosso pro-jeto pedagógico. As crianças acompanham todo o processo de plantação e desenvolvi-mento do alimento plantado, que vai desde a cenoura, ao espinafre, rabanete e alface. Dependendo do que é produ-zido, é utilizado na cozinha”, explica a orientadora pedagó-gica da escola Regina Célia da Silveira Melo Devera.

Trabalho e rendaAlém de garantir a segu-

rança alimentar de crianças e adolescentes do ensino pú-blico, a merenda escolar tam-bém é fonte de renda para os pequenos produtores. Isso graças a Lei Federal 11.947, de 2009, que determina que pelo menos 30% dos produtos adquiridos para alimentar os estudantes com recursos do Fundo Nacional de Desenvol-vimento da Educação (FNDE) devem vir da agricultura fa-miliar. A compra também fica dispensada de licitação, desde que os preços sejam compatí-veis com os do mercado local e os produtos atendam normas de qualidade.

Algumas cidades ainda tentam se adequar à deter-minação. Em Campinas, por exemplo, foi realizada uma chamada pública no ano pas-sado para aquisição de ali-mentos da agricultura familiar, com dispensa de licitação. Ou-tras quatro chamadas públicas estão em andamento.

“De acordo com as normas, o agricultor local tem prioridade em relação ao regional e o estadual. A preferência na contra-tação é dos agricultores provenientes de assen-tamentos da reforma agrária, de comunidades tradicionais indígenas ou quilombolas, dos demais agricultores ou empreen-dedores familiares rurais. Por fim, será dada priori-dade na contratação dos agricultores organizados em grupos formais, coo-perativas e associações”, explica Kátia.

Os agricultores que já distribuem os seus pro-dutos para escolas res-saltam da importância da lei. Na Cooperativa dos Produtores de Chuchu de Amparo (Coopcham), são 45 famílias produzindo. A produção de chuchu - car-ro chefe da Cooperativa - é de 150 mil caixas ao ano. Frutas, tubérculos e folhosas também são dis-tribuídas às crianças.

Para as famílias, a parceria com as escolas alavanca a produção mu-nicipal, distribui melhor a renda e contribui para a fixação do homem no campo. “É uma garantia de entrega durante todo o período do contrato, o que favorece o planeja-mento de plantio, do pre-ço mínimo justo, evitando preços excessivamente baixos devido à oscilação do mercado em períodos de safra”, ressalta Valéria Gerbi, diretora da Coop-cham.

Para o Engenheiro Agrônomo da Coorde-nadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Esta-do de São Paulo, Osmar

Mosca Diz, o programa proporciona um incremen-to na renda dos produtores familiares. “A partir do momento que ele tem a garantia de compra dos seus produtos, vai ampliar a sua área de produ-ção e ainda elimina as figuras indesejáveis dos atravessadores, oportunistas que angariam para si uma fatia considerável da renda ou do lucro dos agricultores familiares”, completa.

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Sabe aquela informação que todos sabem, mas pouco se reflete sobre ela? Assim é a alimentação industrializada. Os consumidores sabem que são comidas ricas em gorduras, sal e açúcar e, por isso, desaconselha-das por médicos e nutricionistas como parte de uma dieta coti-diana. O documentário Comida S.A (Food inc, 2010, EUA) con-vida a um exercício de reflexão sobre a origem e os impactos da alimentação industrializada so-bre a saúde humana, o planeta e seus recursos.

O filme questiona o quanto conhecemos da comida que compramos nos supermer-cados e servimos às nossas famílias. Além disso, mostra como a comunicação tem sido utilizada por empresas para atribuir uma imagem de natu-ral a alimentos sintéticos, com cores, sabor, cheiro e caracte-rísticas criadas em laboratório. Os rótulos escondem que as companhias do setor são guia-das pela busca incessante por lucro, mesmo que isso custe a

Documentário

O alimento desconhecido

O título sugere um documentário, mas é uma ficção que usa como cenário uma rede de fast food para denunciar uma série de contradições e ma-zelas de uma sociedade que aos poucos se con-some. Três núcleos distintos são abordados: os ricos empresários donos da rede de restaurantes, sempre buscando maneiras de maximizar seus lu-cros; jovens de classe média que trabalham nesses restaurantes, incapazes de desejar um futuro além da caixa registradora; e imigrantes ilegais que labu-tam penosamente no abate bovino, aceitando con-dições degradantes e extremas por alguns dólares.

A cena em que o supervisor assedia as fun-cionárias é emblemática, o desrespeito do supervi-sor aos empregados, a falta de segurança no tra-balho, a ilegalidade e a falta de acesso a justiça.

O desencadear de um circulo vicioso fica evi-denciado quando a grande empresa obriga seus fornecedores de carne a produzir mais. Os maus tratos e desrespeito aos direitos humanos passam a ser replicado de cima para baixo, reproduzindo uma cadeia produtiva baseada na exploração e ganância e Nação Fast Food é um filme que faz pensar. In-cômoda, a obra mostra o processo pelo qual passa a carne que chega a lanchonetes do mundo inteiro, da fazenda aos pratos.

Resenha no blog www.cinefiloeu.com

saúde dos consumidores e a destruição de recursos natu-rais.

O filme apresenta como o se-tor tem se concentrado em uma grande cadeia industrial, com linha de produção fordista, que busca o super barateamento dos produtos.

Fica claro o que as empresas fazem para destruir as estações do ano. Todo dia é época de to-das as frutas e verduras. É óbvio que esta indústria não quer que você saiba a verdade sobre o que você está comendo, porque se você souber, é impossível que não reflita.

Os trabalhadores do setor, produtores agrícolas e animais são peças movidas diariamente na busca pelo dinheiro. A forma como os bois, aves e porcos são cultivados, alimentados e pro-cessados para chegar a embala-gens coloridas ultrapassa a cruel-dade e causa indignação.

Altamente recomendado, o documentário é um dos melho-res produzidos sobre o assunto. Comida S.A. é um ótimo convite para quem deseja pensar o pre-sente e o futuro.

Crítica por Eduardo FrotaOxigênio

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“Sábados Azuis” é uma série da TV Brasil que en-foca experiências positivas da sociedade civil brasileira e destaca a importância do cooperativismo, da agri-cultura familiar e inúmeras outras atividades geradoras de renda e trabalho ligados a saúde e educação. O pro-grama propõe um retrato da civilização brasileira, escrito e desenhado por pessoas, famílias, comunidades, insti-

Cemitério de Praga, Umberto Eco

Personagens históricos em uma delirante trama fantástica. Trinta anos após O nome da rosa, Umberto Eco nos envolve, mais uma vez, em uma narrativa vertiginosa, na qual se desenrola uma história de complôs, enganos, falsificações e assassinatos, em que encontramos o jovem médico Sigmund Freud (que prescreve terapias à base de hipnose e cocaína), o escritor Ippolito Nievo, judeus que querem dominar o mundo, uma satanista, missas negras, os documentos falsos do caso Dreyfus, jesuítas que conspiram contra maçons, Garibaldi e a formação dos Protocolos dos Sábios de Sião. Curiosamente, a única figura de fato inventada nesse romance é o protagonista Simone Simonini, embora, como diz o autor, basta falar de algo para esse algo passar a existir...

tuições públicas e privadas: todos protagonistas das mais variadas ações sociais. A série é composta por 32 programas e está dividida em oito grandes temas: Bra-sil Tecnológico, Brasil Sus-tentável, Artesanal, o Brasil das Letras (Educação), Bra-sil Rural, dos Imigrantes, Brasil das Festas e Brasil Saudável. Cada tema é abor-dado em quatro programas de 26 minutos, compondo

uma ampla crônica audio-visual sobre a sociedade at-ual. Os roteiros contemplam as várias regiões do país, dialogam entre si, criando um panorama rico e repre-sentativo da diversidade econômica e sócio-cultural do Brasil. O projeto foi ba-seado em livro do jornalista e deputado Márcio Moreira Alves, que faleceu em 2009, aos 72 anos.

Confissões de Minas, Carlos Drummond de Andrade

Neste livro, o escritor faz prosa da melhor qualidade e de diferentes maneiras. O ro-mancista Cyro dos Anjos comentou à época do lançamento: “não acredito que se en-contrem páginas mais belas na língua portuguesa”. Em Confissões de Minas Drum-mond se confessa por intermédio da poesia e do modo de ser de outros escritores, e também ao falar de suas origens e da paisagem humana com a qual se solidariza no anonimato da metrópole. A prosa deste livro se alimenta do “sentimento do mundo”, ou seja, das grandes correntes históricas de sua época, marcada pela transformação do Brasil rural em urbano industrial, pela crise de 1929, pela ascensão de nazismo e co-munismo, culminando na Segunda Guerra Mundial. Um Drummond menos conhecido mas não menos fundamental.

A Caverna, José Saramago

A Caverna é uma história de gente simples: um oleiro, um guarda, duas mulheres e um cão muito humano. Todos circulam pelo Centro, um gigantesco monumento do consumo onde os moradores usam crachá, são vigiados por câmeras de vídeo e não podem abrir as janelas de casa. Era para o Centro que o oleiro Cipriano vendia a louça de barro que fabricava artesanalmente - agora, os clientes do Centro preferem pratos e jarros de plástico. Sem outro ofício na vida, Cipriano perde a razão de viver. Nesta versão moderna do mito da caverna de Platão, Saramago faz uma apresentação sutil de uma face cruel do mundo capitalista, que promove homogeneização e transforma os cidadãos em consumidores e contemplam o mundo por janelas. Ora do carro, ora do apartamento, ou ainda da televisão ou computador.

Oxigêniopor Michelle Carvalho

Na Televisão

Brasil que dá certo

Todos os programas já ex-ibidos estão disponíveis no site do programa.

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Retrato Social

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