plantar árvores para curar a terra

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Page 1: Plantar árvores para curar a terra

PLANTAR ÁRVORES PARA CURAR A TERRA

Desde a independência do Quénia, nos anos 60, que o governo tem trabalhado para modernizar o

país, mas muitos problemas se têm deparado. À medida que a população cresce, mais árvores são

cortadas para se obter terra para cultivar e lenha para cozinhar e aquecer. Sem as raízes das

árvores para segurar a terra, as chuvas fortes fazem desaparecer o solo fértil. As florestas estão a

dar lugar a novos desertos.

♦♦♦♦♦♦

Esta é a história de alguém que está a trabalhar para melhorar a vida dos habitantes

do Quénia. O nome dela é Wangari Maathai, e o seu trabalho não é nada fácil. Wangari

Maathai foi uma das quenianas que tiveram a sorte de receber uma formação académica.

Na escola, disseram-lhes, a ela e aos outros jovens, que seriam eles os futuros líderes do

país. Teriam a responsabilidade particular de trabalhar para ajudar o povo queniano.

Wangari tomou a sério esta responsabilidade. Quando acabou a escola e viu o que estava a

acontecer à terra, decidiu ajudar a plantar árvores. Não umas poucas árvores no jardim lá

de casa, nem algumas centenas numa pequena floresta, mas milhares de árvores, milhões

mesmo.

O seu primeiro projecto não correu muito bem. Conseguiu obter de graça seis mil

árvores, mas estas eram frágeis, com raízes pequenas e apenas algumas folhas. Decidiu dá-

las a plantar a pessoas que precisavam muito de trabalho. Mas essas pessoas não tinham

nem as ferramentas necessárias, nem dinheiro para irem de autocarro até ao trabalho.

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Acresce que, devido a uma época de seca excessiva, o governo decidiu que não se podia

utilizar água nos jardins. Apenas duas das pequenas árvores não morreram. Foi um

começo muito desencorajador.

Por essa altura, Wangari foi a uma conferência das Nações Unidas no Canadá.

Conheceu pessoas como Margaret Mead e Madre Teresa, pessoas com muita experiência

no tocante a melhorar as vidas dos outros. Isso deu-lhe forças para continuar a tentar, mas

percebeu que não poderia fazê-lo sozinha. Wangari voltou então para o Quénia e fundou

uma associação de mulheres de todo o país. O seu primeiro projecto foi levar líderes

importantes a plantar sete árvores em Nairobi, a capital do Quénia, em honra de sete

grandes heróis quenianos. As suas fotografias saíram nos jornais, tendo tido assim muita

publicidade. Infelizmente, as pessoas que deveriam ter tomado conta das árvores não lhes

deram água suficiente. As árvores depressa morreram.

Em seguida, Wangari e a associação estabeleceram o objectivo de plantar milhões de

árvores em terrenos públicos. As pessoas que viviam perto olhariam por essas árvores.

Chamaram ao projecto “Salvem a Terra Haram-bee” (Ha-rahm-BAY quer dizer

”Caminhemos na mesma direcção”). O departamento florestal do governo gostou dos

projectos das mulheres empenhadas e concordou em dar-lhes, de graça, plantas semeadas.

Mas quando o comité pediu quinze milhões de plantas ainda novas, o departamento

decidiu que não podia ser assim. Quinze milhões eram demasiado.

Isto deu outra ideia a Wangari. Além de ajudar a plantar árvores, queria também dar

poder às pessoas que não tinham nenhum: por que não treinar as mulheres para criar

viveiros de árvores? Assim, as mulheres poderiam ganhar dinheiro ao fornecer-lhe as

árvores que ela queria plantar. A ideia funcionou. As mulheres foram ensinadas a fazer

enxertos de árvores que cresciam naturalmente nas suas zonas. Aprenderam a plantar

árvores, a cuidar delas e a gerir um pequeno negócio. Estavam a aprender a ajudar-se a si

próprias e, ao mesmo tempo, a ajudar a terra. Era maravilhoso. Em breve, muitas pessoas

começaram a plantar os tipos certos de árvores, da forma correcta. Plantavam-nas em fila,

de modo a servir de barreira contra o vento e a manter a humidade do solo. À medida que

as árvores cresciam e os seus ramos se expandiam, podiam ser podadas. As que eram

abatidas serviam como lenha. O que era igualmente maravilhoso.

Todas as rádios e televisões davam notícias sobre as plantas e as árvores novas.

Chegaram cartas de escolas, de igrejas, de instituições públicas, a pedir árvores para

plantar. A ideia de Wangari ganhou um novo nome. Passou a chamar-se Green Belt

Movement. Por todo o Quénia, tanto nas cidades como nas aldeias, as pessoas começaram

a formar associações. Os membros do Green Belt reuniam-se para explicar a importância

das árvores. Arranjavam ferramentas de jardim, tanques de água, e davam formação

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àqueles que eram contratados para olhar pelas árvores. Muitas vezes, contratavam pessoas

com deficiência, para as quais encontrar trabalho era ainda mais difícil. Centenas de

pessoas conseguiram assim um emprego.

Wangari descobriu que, frequentemente, as pessoas plantavam as árvores com

grande entusiasmo, mas que, depois, desistiam de cuidar delas. Por isso, muitas árvores

morriam. Então, os membros do Green Belt tentaram uma ideia nova. Sempre que se

plantavam novas árvores, prometiam mandar a essas pessoas dinheiro pelas árvores que

ainda estivessem vivas seis meses depois da plantação. Saber que seriam monetariamente

recompensadas fazia com que as pessoas fossem mais cuidadosas com as pequenas árvores

enquanto estas criavam raízes.

Mas Wangari estava preocupada: muitos plantadores de árvores tinham trazido

novos tipos de árvores que cresciam rapidamente. Estas podiam ser cortadas e vendidas

mais cedo do que as árvores naturais do Quénia. As pessoas descobriram que, assim,

conseguiam dinheiro mais depressa… Mas as árvores que são plantadas para serem

abatidas dentro de poucos anos não resolvem o problema da erosão do solo. E estas

árvores perturbam o equilíbrio próprio da natureza. Além de lenha e material para

construção, as árvores nativas do Quénia fornecem igualmente forragem para animais,

frutas, mel e ervas medicinais, coisas que as árvores importadas não provêm.

Wangari começou então a trabalhar arduamente para ensinar às pessoas que as

árvores nativas são melhores para o Quénia e foi-se apercebendo de que os seus esforços

não têm sido em vão: em apenas doze anos, foram criados mil e quinhentos viveiros de

árvores. Mais de dez milhões de árvores nativas foram plantadas em terrenos públicos pelo

Green Belt Movement. Muitas estão em recintos verdes perto de escolas e são as crianças

que tomam conta delas. Mais de um milhão de crianças fazem este trabalho. Cada criança

cuida de uma ou de duas árvores. Em 1989, o Global Windstar Awards deu a Wangari

Maathai dez mil dólares pelo seu trabalho de plantação de árvores e de defesa do ambiente

no Quénia. As pessoas perguntaram-se o que iria ela fazer com todo esse dinheiro. Na

cerimónia de entrega do prémio, Wangari anunciou que o daria a viveiros de árvores e às

associações do Green Belt Movement noutras partes de África.

Wangari Maathai fala muitas vezes sobre “aquilo que há de Deus” em todos nós.

Acredita que “o que há de Deus em nós” é a nossa capacidade de nos importarmos com as

pessoas – todas as pessoas – e com a nossa Terra preciosa.

Janet Sabina e Marnie Clark

Lighting Candles in the Dark Philadelphia, FGC, 2001 (Tradução e adaptação)