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PLANO DE NEGÓCIO PARA UMA EMPRESA DE AQUAPONIA NO RIO DE JANEIRO Marcial Pereira Saboya de Castro Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Édison Renato Pereira da Silva, D.Sc. Rio de Janeiro Agosto de 2019

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PLANO DE NEGÓCIO PARA UMA

EMPRESA DE AQUAPONIA NO RIO DE

JANEIRO

Marcial Pereira Saboya de Castro

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Édison Renato Pereira da Silva,

D.Sc.

Rio de Janeiro

Agosto de 2019

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Saboya de Castro, Marcial Pereira

Plano de Negócio para uma Empresa de Aquaponia no

Rio de Janeiro/ Marcial Pereira Saboya de Castro. - Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica. 2019.

VI, 78 p.

Orientador: Édison Renato Pereira da Silva, D.Sc.

Projeto de Graduação - UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia de Produção, 2019.

Referências Bibliográficas: p. 74-78

1. Plano de Negócio 2. Aquaponia 3. Análise de

Viabilidade Econômica

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos que, de alguma forma, me ajudaram a completar

mais esta etapa na minha formação.

Agradeço à minha namorada e sempre companheira, Cristiani, por estar junto em

todos esses anos, à minha família, em especial meu pai, Marcial, e minha mãe, Yacy,

por toda estrutura que me proporcionaram. Às minhas irmãs e meus sobrinhos, pela

inspiração e carinho.

Agradeço à Cecília, por nunca me deixar desistir.

Agradeço a todos os professores da Escola Politécnica com quem tive o prazer e

a honra de aprender, em especial ao amigo e professor Édison Renato, pela força para

ultrapassar o último obstáculo.

Agradeço a meus colegas com quem convivi por todos esses anos - algumas das

pessoas mais brilhantes que já conheci - e a todos os meus amigos.

Agradeço e dedico este trabalho à memória de pessoas importantes que se foram

durante a minha jornada de formação na Escola Politécnica: Professor Luiz Antônio

Meirelles (Poli-UFRJ), Professor Edinaldo da Silva Bezerra (UFRRJ), Osmar Marques,

Yvonne Cavalcanti, Aila Pereira, Julio Pereira e Clarinha.

Agradeço a Deus por ter colocado todas essas pessoas na minha vida.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

Plano de Negócio para uma Empresa de Aquaponia no Rio de Janeiro

Marcial Pereira Saboya de Castro

Agosto/ 2019

Orientador: Édison Renato Pereira da Silva, D.Sc.

Curso: Engenharia de Produção

O mundo possui um desafio pela frente para as próximas décadas: produzir alimentos

para nutrir uma população que cresce a ritmo forte, utilizando-se dos recursos naturais

disponíveis de forma sustentável. Neste cenário, um sistema de produção denominado

aquaponia se apresenta como uma alternativa para contribuir para a solução deste

problema. Para tanto, é preciso que ele se mostre viável, não apenas em seu nível

original de fundo de quintal (literalmente), mas também em escala comercial.

Este trabalho se trata de um Plano de Negócio para uma empresa que vai se utilizar

desse sistema de produção, situada numa fazenda no município de Vassouras-RJ. Ele

lançará mão de uma série de ferramentas da Engenharia de Produção, agrupadas por

temas em capítulos: Análise de Mercado, Plano de Marketing, Plano de Operações e

Plano Financeiro. A conclusão alcançada é que a empresa em questão é viável de se

manter do ponto de vista econômico.

Palavras-chave: Plano de Negócio, Aquaponia, Estudo de Viabilidade Econômica.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

Business Plan for an Aquaponics Company in Rio de Janeiro

Marcial Pereira Saboya de Castro

August/ 2019

Advisor: Édison Renato Pereira da Silva, D.Sc.

Course: Production Engineering

The world faces a real challenge ahead: to produce enough food to nourish a fast

growing population, by using available resources in a sustainable way. Against this

backdrop, a production system known as aquaponics is presented as an alternative to

contribute to the solution for that problem. Therefore, it must prove itself viable, not

only in its original backyard level, but also in commercial level.

This project is a Business Plan for a new company that will use such production system,

located in a farm at Vassouras-RJ, Brazil. It will use a series of Production Engineering

tools, grouped by chapters: Market Analysis, Marketing Plan, Operations Plan and

Financial Plan. The conclusion is that such company is economically feasible.

Keywords: Business Plan, Aquaponics, Financial Statement Analysis.

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SUMÁRIO

SOBRE ESTE TRABALHO 11

1 INTRODUÇÃO 13

1.1 A Produção Mundial de Alimentos 14

1.2 Hidroponia 17

1.3 Aquicultura 19

1.4 Aquaponia 21

1.5 A Instalação da Empresa 23

2 ANÁLISE DE MERCADO 24

2.1 Quadro do Modelo de Negócio 24

2.2 Análise SWOT 28

2.3 Análise das Forças Competitivas 31

2.4 Análise CAMGPEST 36

2.5 Segmentação de Mercado 40

3 PLANO DE MARKETING 42

3.1 Missão 42

3.2 Visão 42

3.3 Valores 42

3.4 Mix de Marketing: Os 4 P’s 42

4 PLANO DE OPERAÇÕES 47

4.1 Análise da Cadeia de Valor 48

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5 PLANO FINANCEIRO 55

5.1 Investimento Inicial 56

5.2 Custos Operacionais 59

5.3 Receitas 64

5.4 Análise de Viabilidade Econômica 69

6 CONCLUSÃO 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 74

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Histórico e Estimativa de Crescimento Populacional (Dados: ONU 2019,

Gráfico: Autor) ....................................................................................................................... 15

Figura 2: Componentes do Modelo de Negócios. Fonte: Osterwalder (2011). ...................... 25

Figura 3: Quadro do Modelo de Negócio da Empresa. Elaboração própria

(utilizando a ferramenta Strategyzer) ..................................................................................... 28

Figura 4: Fonte: Kurzweil e Salado (2019) ............................................................................ 30

Figura 5: Forças que determinam a concorrência no mercado. Fonte: Porter (1986). ........... 32

Figura 6: Histórico de Preços do Arroz em Casca. Fonte: ESALQ/SENAR-RS

(2019) ..................................................................................................................................... 45

Figura 7: Organograma. Elaboração própria. ......................................................................... 47

Figura 8: Cadeia de Valor Genérica. Fonte: Porter (1985), apud Kotler (2000) .................... 48

Figura 9: Evolução de Preços do Tomate. Fontes: CEPEA (2019) e CEASA-RJ/

SIMA (2019). ......................................................................................................................... 66

Figura 10: Evolução de Preços da Alface. Fontes: CEPEA (2019) e CEASA-RJ/

SIMA (2019). ......................................................................................................................... 67

Figura 11: Evolução de Preços do kg de Tilápia. Fonte: CEASA-RJ/ SIMA (2019). ........... 68

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Custos para Investimento Inicial. Elaboração própria. ................................... 58

Tabela 2: Custos para Investimento em Geração de Energia Fotovoltaica. Elaboração

própria. ............................................................................................................................ 59

Tabela 3: Estimativa de Custos Operacionais. Elaboração própria. ............................... 60

Tabela 4: Evolução dos Custos Operacionais em Relação à Capacidade. Elaboração

própria. ............................................................................................................................ 63

Tabela 5: Demonstrativo do Resultado (xR$ mil). Elaboração própria. ........................ 69

Tabela 6: Fluxo de Caixa Esperado. Elaboração própria. .............................................. 70

Tabela 7: Indicadores de Viabilidade Econômica. Elaboração Própria. ........................ 70

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SOBRE ESTE TRABALHO

Problema: é viável estabelecer e manter uma empresa situada no município de

Vassouras-RJ para produção em escala comercial de peixes, legumes e verduras, de

modo social, ambiental e economicamente sustentável, utilizando os métodos de

produção da aquaponia?

Hipótese: este trabalho estudará a hipótese de que uma empresa nas condições

citadas acima é viável e lucrativa.

Objetivo: avaliar a viabilidade de criação de uma empresa de aquaponia, com

objetivo de comercializar peixes, legumes e verduras, gerando ao final um plano de

negócio para a implementação da mesma.

Metodologia: o trabalho será conduzido na forma de um plano de negócio para

implementação da empresa. Pela definição do SEBRAE (2019), o plano de negócios “é

um documento que descreve por escrito os objetivos de um negócio e quais passos

devem ser dados para que esses objetivos sejam alcançados, diminuindo os riscos e as

incertezas”.

Limitação da pesquisa: o presente trabalho não incluirá qualquer tipo de

acompanhamento posterior à criação da empresa.

Contribuição científica: o trabalho se propõe a servir como um modelo de plano

de negócio para novas empresas, especificamente - mas não restrito – nos ramos de

comércio de alimentos e produção sustentável.

Descrição dos capítulos:

O capítulo de introdução fará um resumo do histórico de produção de alimentos

em nível mundial e de alguns dos desafios que essa indústria encontrará nos próximos

anos. Também serão explicados os conceitos de aquaponia, bem como os motivos que

lhe caracterizam como um método de produção sustentável.

Em seguida, será feita uma análise do mercado de forma local (Brasil e Rio de

Janeiro) e aplicação de técnicas como análise SWOT, Quadro de Modelo de Negócio,

análise de forças competitivas, análise CAMGPEST e segmentação de mercado.

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Passada esta etapa, o plano de Marketing pretende apresentar a marca e

posicionar o mix de marketing da empresa, através dos chamados 4 P’s do Marketing:

Produto, Preço, Praça e Promoção.

O capítulo seguinte tratará do plano operacional para o início das atividades da

empresa. Sua proposta será analisar o comportamento da empresa frente a cada item da

chamada Cadeia de Valor, de Porter (1985, apud KOTLER, 2000).

Por último, será feito um plano financeiro, que culminará com um estudo de

viabilidade econômica, com o objetivo de responder em definitivo à pergunta proposta

no problema inicial do trabalho.

Ao final, o capítulo de conclusão apresentará uma recapitulação resumida dos

planos apresentados de forma consolidada e formulará propostas de futuros trabalhos

para complementar o tema.

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1 INTRODUÇÃO

A partir da questão sobre se é viável estabelecer e manter uma empresa situada

no município de Vassouras-RJ para produção em escala comercial de peixes, legumes e

verduras, de modo social, ambiental e economicamente sustentável, utilizando os

métodos de produção da aquaponia, este trabalho estudará a hipótese de que uma

empresa nas condições citadas acima é viável e lucrativa. Seu objetivo é avaliar a

viabilidade de criação de uma empresa de aquaponia, com objetivo de comercializar

peixes, legumes e verduras, gerando ao final um plano de negócio para a implementação

da mesma.

Ele será conduzido na forma de um plano de negócio para implementação da

empresa. Pela definição do SEBRAE (2019), o plano de negócios “é um documento que

descreve por escrito os objetivos de um negócio e quais passos devem ser dados para

que esses objetivos sejam alcançados, diminuindo os riscos e as incertezas”. Não será

incluso qualquer tipo de acompanhamento posterior à criação da empresa.

O capítulo de introdução fará um resumo do histórico de produção de alimentos

em nível mundial e de alguns dos desafios que essa indústria encontrará nos próximos

anos. Também serão explicados os conceitos de aquaponia, bem como os motivos que

lhe caracterizam como um método de produção sustentável.

Em seguida, será feita uma análise do mercado de forma local (Brasil e Rio de

Janeiro) e aplicação de técnicas como análise SWOT, Quadro de Modelo de Negócio,

análise de forças competitivas, análise CAMGPEST e segmentação de mercado.

Passada esta etapa, o plano de Marketing pretende apresentar a marca e

posicionar o mix de marketing da empresa, através dos chamados 4 P’s do Marketing:

Produto, Preço, Praça e Promoção.

O capítulo seguinte tratará do plano operacional para o início das atividades da

empresa. Sua proposta será analisar o comportamento da empresa frente a cada item da

chamada Cadeia de Valor, de Porter (1985, apud KOTLER, 2000).

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Por último, será feito um plano financeiro, que culminará com um estudo de

viabilidade econômica, com o objetivo de responder em definitivo à pergunta proposta

no problema inicial do trabalho.

Ao final, o capítulo de conclusão apresentará uma recapitulação resumida dos

planos apresentados de forma consolidada e formulará propostas de futuros trabalhos

para complementar o tema.

1.1 A Produção Mundial de Alimentos

No final do século XVIII, o economista inglês Thomas Malthus assombrou o

mundo com sua teoria exposta na obra “Um Ensaio sobre o Princípio de População”

(MALTHUS, 1798), a partir da sua famosa projeção de que o crescimento da população

mundial aconteceria em progressão geométrica, enquanto o da produção de alimentos

ocorreria em progressão aritmética. Tal perspectiva inevitavelmente geraria um ponto

de insustentabilidade, eclodindo na disseminação da fome, miséria e, em última

instância, até mesmo em conflitos armados.

Atualmente, sabe-se que as projeções da hoje anedótica “Lei de Malthus” não se

concretizaram no prazo esperado por ele, ao que se credita principalmente aos avanços

tecnológicos na produção de alimentos que continuam ocorrendo desde a revolução

industrial. No entanto, os riscos alertados pelo pesquisador estão longe de terem sido

completamente afastados num horizonte não muito distante.

Apesar de os países desenvolvidos do mundo ocidental já apresentarem há

algumas décadas taxas decrescentes de expansão populacional, os países emergentes e,

principalmente, os subdesenvolvidos se tornaram os motores que continuam a elevar as

taxas de natalidade de forma galopante. Isso gera novas projeções alarmantes para o

crescimento da população mundial pelas próximas décadas. A ONU (2019) já projeta

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que a população mundial alcance a marca de 10 bilhões de pessoas em meados da

década de 2050, como se observa na Figura 1. Essa população gigantesca vai continuar

a requerer esforços para se conseguir produzir – e distribuir – alimentos de qualidade.

Figura 1: Histórico e Estimativa de Crescimento Populacional (Dados: ONU 2019, Gráfico: Autor)

Pelo lado da produção de alimentos, os avanços obtidos com a revolução

industrial de fato foram fundamentais para se alcançar as colossais quantidades

produzidas atualmente. No entanto, esses avanços trouxeram novos desafios a serem

superados.

Uma das práticas que o avanço tecnológico permitiu foi a utilização de áreas

cada vez mais extensas para plantio de uma única espécie (monocultura), de forma a

otimizar o uso de recursos – equipamentos, principalmente. A monocultura traz

embarcado o problema das pragas, que nada mais são do que uma proliferação natural

de animais que se alimentam da espécie vegetal plantada, em quantidade proporcional à

abundância daquela planta em uma área concentrada. Para eliminar essas pragas que

reduzem a produtividade da colheita, a resposta da tecnologia foi criar compostos

químicos que afastasse ou matasse os animais indesejados. O problema gerado é que,

não apenas o solo apresenta um maior desgaste de determinados tipos de nutrientes (de

acordo com a espécie cultivada em monocultura), como também muitas vezes os

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químicos presentes nos defensivos agrícolas também geraram efeitos indesejados de

longo prazo nos solos, tornando-os menos férteis.

Outro fator de longo prazo que a revolução industrial trouxe foi a aceleração das

alterações climáticas a nível mundial. Nos casos mais extremos, desertos (FENG e FU

2013) e regiões semiáridas (HUANG et al. 2016) vêm apresentando relevante expansão

territorial em todos os continentes do planeta. Além disso, já faz algum tempo que se

tem perfeita noção de que o aumento da poluição e a falta de tratamento à água com

resíduos tóxicos tem aumentado a incidência de contaminantes, em especial metais

pesados, em rios, mares e oceanos (MORMEDE e DAVIES, 2001). Também é

universalmente aceito na literatura o efeito nocivo que esses metais pesados incorrem à

saúde humana após a ingestão de peixes que tenham absorvido tais substâncias, como

mostram os estudos de Afshan et al. (2014) e Bosch et al. (2015).

Outro ponto que não pode ser ignorado é a concentração populacional cada vez

mais intensa nas áreas metropolitanas, que oferece uma maior dificuldade logística para

abastecimento. A segregação cada vez maior das áreas de produção alimentícia dos

principais centros de consumo ainda gera uma quantidade absurda de desperdício de

alimentos perecíveis. Estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e

Agricultura (FAO, 2019) estima que um terço da comida produzida para consumo

humano anualmente no mundo, cerca de 1,3 bilhão de toneladas, é desperdiçado,

representando uma perda de cerca de US$ 990 bilhões. Para piorar, a logística de

abastecimento de alimentos ainda gera uma carga considerável de poluição e gases de

efeito estufa, contribuindo também para o aquecimento global e alterações climáticas

citadas no parágrafo anterior.

Além da dificuldade de se produzir alimentos para dezenas de bilhões de

pessoas, há ainda o desafio de fazê-lo com qualidade. Uma das equações mais

complexas desses desafios está se desenvolvendo atualmente, com uma gigantesca

massa populacional em países como China e Índia, onde classes de pessoas que

historicamente sempre viveram em condição de pobreza ou miséria e, hoje, começam a

ascender socialmente e consumir itens que, até pouco tempo atrás, eram considerados

um luxo: proteína animal.

Isso traz à tona um fator que vem sido motivo de alerta crescente nos últimos

anos: a exploração de peixes a partir da pesca extrativa em oceanos, mares, rios e lagos.

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Há mais de uma década, Charles Clover (2006) vem alertando para os riscos e efeitos já

sentidos da pesca excessiva nos oceanos. Segundo o autor, mais de 2.000 espécies de

peixes já foram extintas por causa de práticas abusivas de pesca. Ele ainda mostra

estimativas de que, caso não sejam tomadas medidas drásticas de proteção, os oceanos

poderão perder completamente sua capacidade de manter e regenerar suas populações

íctias até a metade deste século. Dessa forma, a produção comercial de peixes através da

criação em cativeiro se torna uma alternativa viável e até mesmo necessária para a

preservação de diversas espécies que hoje são fundamentais para a alimentação humana.

Também tratando sobre o tema, um relatório da WWF Brasil (2019) cita que um terço

das populações pesqueiras do mundo está atualmente sobre-explotadas.

Como último fator de preocupação, não se pode deixar de citar o consumo

sustentável de água. Temos acompanhado no Brasil nos últimos anos o crescimento de

uma crise hídrica, não mais apenas no semiárido nordestino, mas também em regiões

que historicamente não sofriam com falta de chuvas, como o estado de São Paulo,

afetado por uma grave crise hídrica a partir de 2014 (ESTADÃO, 2014 “Nível da

Cantareira cai a 16,4%, novo recorde negativo”). Como se sabe, a agricultura é

responsável pela maior parte do consumo de água limpa. No Brasil, a FAO (2015)

estima que 60% da água coletada no país são gastos na atividade agropecuária e, desses,

90% são usados na irrigação de plantações. Não bastasse o uso excessivo, grande parte

do volume usado na irrigação acaba perdido, seja por evaporação, seja por infiltração no

solo sem aproveitamento das plantas, ou ainda escoamento direto. Portanto, não basta

simplesmente aprender a produzir mais, é necessário aprender a fazer o uso racional

deste recurso imprescindível à agricultura e à sobrevivência da população.

Por todos esses motivos explicitados, pode-se concluir que é fundamental que a

produção de alimentos passe urgentemente a seguir preceitos de sustentabilidade, a fim

de evitar o colapso dos recursos necessários em um futuro não muito distante.

1.2 Hidroponia

É provável que todas as crianças de hoje, a partir de certa idade, já tenham

passado na escola pelo experimento de plantar uma semente – normalmente um caroço

de feijão – diretamente em um pedaço de algodão mergulhado na água. Elas podem

nunca ter ouvido falar no termo hidroponia, mas é esse o nome técnico desta prática. De

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forma resumida, trata-se de um método de cultivo de vegetais sem contato com o solo.

Não precisa ser necessariamente feijão – ao contrário, inúmeras espécies podem ser

utilizadas – nem precisa obrigatoriamente do algodão. A água, por outro lado, é

imprescindível (daí vem o prefixo hidro no nome), pois é de onde a planta vai extrair

todos os nutrientes dos quais precisa para se desenvolver.

A lógica por trás da hidroponia é que os vegetais não precisam do solo para

crescerem e se desenvolverem. Na verdade, o solo nada mais é do que um meio de

sustentação para sua estrutura física, além de uma possível fonte de nutrientes. Por outro

lado, sendo provido um meio de sustentação à planta de modo que as raízes

permaneçam em contato direto com a água, estas apresentam muito mais facilidade de

retirar nutrientes dissolvidos (enquanto eles estiverem presentes no meio) do que se

estivessem plantadas no solo.

As raízes também se desenvolvem com mais rapidez se não tiverem que gastar

energia cavando um material sólido como o solo. Além disso, se a planta tem mais

facilidade para captar nutrientes na água, isso significa que ela se desenvolve mais

rápido nesse meio do que se plantada diretamente no solo. Diversos experimentos

comprovam este fato. Makobo et al. (2009) cita um experimento usando quatro espécies

diferentes de tomate com sementes divididas entre um sistema hidropônico e plantio

convencional em solo. Em sua conclusão, os autores citam que “os resultados mostram

que as plantas no sistema sem-solo [hidropônico] se desenvolveram mais rapidamente e

tiveram uma produção maior do que as plantas cultivadas no solo. Além disso, a média

de produção que atingiu tamanho comercial foi de 92,1% no cultivo sem solo, enquanto

no solo só se atingiu 77,0%”.

Portanto, do ponto de vista comercial, este método apresenta diversas vantagens.

Em primeiro lugar, ele não depende de uma área com solo fértil - basta ter

disponibilidade de água. Climas hostis também podem ser facilmente contornados com

estufas ou até mesmo produção indoor. Isso permite cultivar alimentos fora do período

normal da safra, o que representa um potencial de otimização do preço de venda. Além

disso, o cultivo direto na água dispensa uma série de atividades inerentes à agricultura

tradicional, como preparo e manejo do solo, adubação ou eliminação de ervas daninhas.

Até mesmo algumas pragas (basicamente as que não voam) são afastadas pela barreira

da água. Para completar, ainda tem o crescimento mais rápido do que na agricultura em

solo.

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No entanto, já que as plantas retiram os nutrientes da água ao longo do tempo, o

meio pode chegar a se esgotar completamente. Por isso, na hidroponia, é preciso

frequentemente misturar à agua diversos nutrientes essenciais às plantas. Alguns desses

nutrientes podem representar custos consideravelmente elevados. Mais do que isso, é

preciso ainda frequentemente (cerca de uma vez ao mês) trocar toda a água do sistema,

pois alguns dos elementos químicos podem atingir níveis tóxicos às plantas. Isso

representa mais do que só uma inconveniente atividade extra, uma vez que, dependendo

da composição da água a ser descartada, é preciso tomar cuidado com o local de seu

despejo, pois pode acarretar em problemas ambientais.

A conclusão é que a hidroponia é um método que pode ser comercialmente

vantajoso, mas possui uma limitação referente ao uso e despejo da água, o que por sua

vez pode representar um risco ao ideal de sustentabilidade que se almeja alcançar na

produção de alimentos.

1.3 Aquicultura

Aquicultura (ou aquacultura) é um termo que se refere à criação de espécies de

animais em ambientes aquáticos controlados. Nele está incluída a piscicultura

(especificamente para criação de peixes), mas também carcinicultura (crustáceos),

malacocultura (moluscos) entre muitos outros.

Os peixes possuem uma peculiaridade que é muito importante do ponto de vista

comercial: o seu metabolismo foi lapidado ao longo de milênios de seleção natural para

garantir um rápido crescimento, principalmente nas fases mais jovens. A explicação

chega a ser intuitiva. Quanto maior o tamanho de um indivíduo no mar, menos espécies

são capazes de abocanhá-lo e maiores são as opções de espécies para ele se alimentar.

Ou seja, o seu crescimento representa a subida de degraus na escada da cadeia

alimentar.

Alguns fatores ajudam nisso. Em primeiro lugar, os peixes não precisam gastar

energia com sustentação, a própria água oferece isso! Além disso, o ganho energético

mais importante é que eles não gastam energia para manter a temperatura corporal, uma

vez que eles mantêm a temperatura da água1.

1 Isto pode não se aplicar para algumas espécies que vivem em regiões de frio extremo, mas pode ser

considerada uma regra geral para qualquer espécie criada de forma comercial no Brasil.

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Essas peculiaridades significam que os peixes apresentam uma taxa muito alta

de conversão de comida em massa corporal. Shike (2013) apresenta dados de um estudo

da taxa de conversão de alimentos entre diferentes grupos de espécies (FCR, sigla em

inglês para Feed Convertion Ratio). Os bovinos de corte apresentam uma taxa FCR de

6:1, ou seja, a cada seis unidades de peso de alimento fornecido representam uma

unidade de peso de ganho de massa corporal. Mais do que isso, o autor cita que esses

valores encontrados não divergem significativamente dos estudos realizados três

décadas antes, ao contrário das aves, que tiveram um ganho de eficiência da ordem de

250%, chegando a um FCR de 2:1. Suínos apresentam FCR de 3,5:1, enquanto bagres,

segundo o autor, atingem quase 1:1. Delong et al. (2009) cita especificamente a Tilápia

como tendo uma taxa de até 1,4:1. Naturalmente, quando se fala de exploração

comercial, essa taxa de conversão se torna um atrativo fundamental.

Como qualquer criação de animais para engorda, quanto maior a densidade de

animais, maior é a produtividade e menores são os esforços de manejo e manutenção.

No entanto, altas densidades também representam maiores desafios, especialmente para

os peixes.

Como é de conhecimento geral, peixes excretam amônia, substância tóxica tanto

para animais quanto para plantas. Na natureza, a amônia é diluída a níveis

insignificantes nos oceanos e rios caudalosos. Em lagoas e rios de menor vazão, a

amônia pode se tornar um limitante à população de peixes do local, mas ela também é

metabolizada e eliminada por bactérias e plantas.

Já na criação de peixes em confinamento de tanques, a amônia pode representar

um sério risco aos animais. A solução passa por criar um sistema de circulação que

conduz a água a passar por uma série de filtros que retiram a amônia, assim como restos

de comida não ingerida e excrementos sólidos. De acordo com Wheaton (2002), esses

dejetos em alta concentração podem ser nocivos ao meio ambiente e devem ter cuidado

com a escolha do local e forma de despejo, podendo, em alguns casos, necessitar de

tratamentos prévios.

Portanto, a aquicultura, assim como a hidroponia, apresenta qualidades com

enorme potencial para a prática comercial, entretanto também representa riscos ao

caráter de sustentabilidade desejado ao negócio.

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1.4 Aquaponia

Aquaponia nada mais é do que um híbrido entre a aquicultura e a hidroponia,

que absorve as vantagens dos dois métodos, enquanto resolve alguns dos principais

problemas de ambos. Trata-se de um sistema fechado que circula a água que sai dos

tanques de peixes, enviando-a para os meios de cultura hidropônica e, posteriormente, a

devolve para os tanques, fechando o ciclo.

Como já mencionado, os peixes excretam amônia, que é um composto químico

que contém nitrogênio. O nitrogênio, por sua vez, é notadamente um elemento

fundamental para o crescimento de vegetais, o que torna a água rica em amônia um

nutriente valioso para as plantas. Por sua vez, as plantas irão consumir o nitrogênio

presente na água, funcionando como uma espécie de filtro para o tanque de peixes.

Desta forma, quando o ciclo se fecha, a água retorna para o tanque livre da substância

tóxica.

Como se nota, a água do sistema sequer precisa ser trocada – ela apenas precisa

ser reposta em pequenas quantidades semanalmente, para repor o volume que tenha sido

perdido através da evaporação e do consumo normal do metabolismo dos peixes e

plantas.

Portanto, um sistema funcional de aquaponia não apresenta dejetos, só saem do

sistema os peixes, legumes e hortaliças colhidos para consumo. E os únicos inputs

necessários são os alevinos (primeiro estágio de vida dos peixes), os brotos de vegetais,

o alimento dos peixes, o oxigênio fornecido ao tanque por meio de uma bomba de

aeração e a água de reposição.

Uma particularidade da aquaponia que pode torná-la um importante elemento

nos desafios encontrados para os problemas da alimentação da população mundial como

um todo é que esse sistema pode ser aplicado nas mais diversas escalas, desde um

pequeno modelo no quintal de uma casa ou na varanda de um apartamento até em

grandes áreas para escala comercial, independente do clima ou do regime de chuvas da

região. Para isso, basta que sejam obedecidas as relações necessárias entre a quantidade

de peixes, o volume de alimento fornecido a eles e a área de plantio.

Feita esta observação, é importante lembrar que, apesar de todos os benefícios

listados, a operação de um sistema de aquaponia não pode ser considerada de absoluta

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simplicidade. Todos os organismos envolvidos – além dos já citados, há uma importante

participação de bactérias, que agem na conversão da amônia em nitritos e,

posteriormente, em nitratos, que é de fato a substância que é absorvida e nutre as plantas

– exigem um espectro de condições específico envolvendo fatores como temperatura,

pH, nível de oxigenação da água, entre outros. Tais espectros podem ser mais ou menos

abrangentes para cada um dos organismos, mas a faixa que abrange todos ao mesmo

tempo, que é a necessária para a sobrevivência do sistema, é relativamente tênue e não

necessariamente abrange o ambiente ótimo para cada organismo.

Isso torna imprescindível realizar constantemente uma série de controles sobre

os parâmetros de qualidade da água e, eventualmente, adotar medidas corretivas para o

ambiente. Casos críticos podem resultar na perda de todos os peixes e, em último caso,

até mesmo das plantas.

Há de se levar em conta ainda, em especial quando se trata de uma operação

com fins comerciais, que um sistema de aquaponia leva um tempo para amadurecer.

Inicialmente, é preciso aguardar um período que pode variar de três a cinco semanas,

antes de sequer incluir os primeiros peixes e plantas, apenas para atrair e cultivar as

bactérias que atuam no processo de nitrificação (SOMMERVILLE et al., 2014). Além

disso, antes de se poder capitalizar com a venda de produtos, há de se aguardar ainda o

tempo de crescimento e desenvolvimento das plantas – que é mais rápido,

especialmente nas hortaliças – e dos peixes – que duram meses ou até mesmo mais de

um ano.

Em seguida, o sistema vai aos poucos se adaptando e melhorando sua

produtividade. Por outro lado, autores como Savidov (2004) citam que, após cerca de

seis meses de funcionamento normal, um sistema passa a ter um ganho significativo de

produtividade, além de uma capacidade maior de se auto balancear, tornando a operação

mais fácil e menos arriscada.

Todos esses fatores devem ser considerados no plano de negócios da empresa,

para que ele reflita ao máximo possível a realidade que será enfrentada no início das

suas operações.

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1.5 A Instalação da Empresa

A empresa será instalada na Fazenda São Francisco do Tinguá, pertencente à

família do investidor (autor deste trabalho). Localizada no município de Vassouras, na

Região Sul Fluminense, é uma propriedade que está na família desde a década de 1960.

A entrada do imóvel, situada na estrada RJ-115, dista cerca de 57 km da unidade do

Centro de Abastecimento de Abastecimento de Alimentos (CEASA) de Paty do Alferes-

RJ e 115 km da unidade principal do CEASA na Avenida Brasil, Rio de Janeiro, com

estradas em boas condições de acesso.

A região é conhecida como Vale do Café, por causa da predominância desta

cultura no local ainda na época do Brasil Império. Atualmente, no entanto, a principal

atividade econômica de origem agropecuária praticada é a pecuária de leite. A Fazenda

São Francisco do Tinguá também tem na produção leiteira sua principal atividade.

Contando com um rebanho de cerca de 600 cabeças, a produção diária atual é de

aproximadamente 4.000 litros, o que a torna a principal fornecedora de leite da unidade

da Nestlé em Três Rios-RJ.

A propriedade é bem servida de água, contando com diversos córregos perenes

de pequeno porte que cruzam ou até mesmo nascem em seus limites. Portanto, a

presença de água não apresenta um risco de vir a se tornar uma restrição para a operação

ou expansão de capacidade da empresa. Tampouco é a disponibilidade de terras, uma

vez que a propriedade possui mais de 500 hectares.

A presença da família na região há muito tempo ainda permite o uso de uma rede

de contatos para captação de mão de obra. Porém, é importante frisar que não se deve

nutrir esperança de encontrar funcionários disponíveis no município e entornos com

experiência em criação de peixes, muito menos em aquaponia. Deste modo, o

planejamento deve prever a necessidade de treinamento básico a todos os novos

funcionários que vierem a ser contratados.

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2 ANÁLISE DE MERCADO

Entrar em um negócio sem conhecer bem seu mercado é agir como um cego

num campo de batalha. Por esse motivo, é unanimidade na literatura que o primeiro

passo em um Plano de Negócios deve ser entender o mercado em que a empresa será

inserida. Para tanto, este capítulo lançará mão de uma série de ferramentas para

identificar, diagnosticar e compreender o mercado de atuação da empresa.

2.1 Quadro do Modelo de Negócio

Foi pensando em uma tela de pintura (tradução para o termo em inglês “canvas”)

que o autor Alexander Osterwalder (2011) imaginou uma ferramenta que sirva como

modelo de negócio, mas que seja simples de fazer, de se compreender, de se discutir e

de se alterar. Tal qual uma pintura, que qualquer pessoa olhe e compreenda a que o

desenho se refere, e ainda possa pegar um pincel para realizar alterações. De forma

sucinta, o suíço explica que o Modelo de Negócios “é um esquema para a estratégia ser

implementada através das estruturas organizacionais dos processos e sistemas”.

O modelo proposto por Osterwalder é dividido em nove componentes básicos

que, de acordo com o autor, “mostram a lógica de como uma organização pretende gerar

valor”. A seguir, cada um deles será analisado, sob a ótica da empresa objeto de estudo

deste trabalho.

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Figura 2: Componentes do Modelo de Negócios. Fonte: Osterwalder (2011).

2.1.1 Segmentos de Clientes

Ao menos inicialmente, a proposta da empresa é atuar no setor B2B, ou seja,

fornecer a empresas que vão processar e/ou revender os produtos aos consumidores

finais. No início das operações, serão buscados potenciais clientes em locais próximos à

produção da empresa, no município de Vassouras-RJ e seu entorno e, posteriormente,

com o aumento da escala, será buscada uma expansão para toda a Região Sul-

Fluminense e, finalmente, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Os tipos de

negócios que representam potencial para se tornarem clientes são:

Supermercados

Hotéis/ Restaurantes

Cooperativas

Distribuidoras

Feirantes

“Pesque e Pague”

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Existe a possibilidade de se entrar no mercado de varejo com venda direta aos

consumidores, mas, para chegar a este ponto, é preciso ter atingido escala de produção e

nível de serviço que só serão possíveis após muito tempo de maturidade da empresa, o

que foge, portanto, do objeto de estudo deste trabalho.

A respeito da possibilidade de exportação de produtos, será necessário um

estudo para avaliar as exigências requisitadas nos âmbitos jurídico, fiscal e

fitossanitário. De qualquer forma, este tipo de operação também requer um nível de

volume de produção relativamente elevado.

2.1.2 Proposta de Valor

A proposta de valor da empresa é produzir verduras, legumes e peixes de

maneira ambientalmente sustentável através do método de aquaponia.

2.1.3 Canais

Inicialmente, venda direta spot e, posteriormente, contratos com definição de

periodicidade e volume de entrega

2.1.4 Relacionamento com Clientes

Gerar valor aos produtos através do caráter sustentável da produção. Mostrar aos

clientes a capacidade de prover volumes de fornecimento seguros e constantes, de forma

minimamente ou nada dependentes da época do ano ou clima do local. A partir do

momento em que se estabelecer uma produção relativamente constante e confiável,

passará a ser viável elaborar contratos de fornecimento de longo prazo.

2.1.5 Fontes de Receitas

A fonte de receitas considerada neste trabalho é venda de peixes, verduras e

legumes. Há potencial para desenvolver novas fontes no futuro, como fertilizantes

orgânicos, alevinos, energia elétrica, entre outros, mas essas possibilidades não estarão

incluídas no presente escopo.

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2.1.6 Recursos Principais

Os recursos considerados principais para o bom funcionamento dos processos da

empresa são os tanques e encanamentos, funcionários para a alimentação diária dos

peixes e o estoque de ração.

2.1.7 Atividades-Chave

As atividades-chave podem ser divididas entre atividades de suprimentos e de

operações corriqueiras. Entre as de suprimentos, estão a aquisição de alevinos e o

fornecimento de ração. Já as operações do dia-a-dia envolvem a alimentação dos peixes,

colheita de legumes e verduras, despesca e monitoramento periódico das condições da

água no sistema.

2.1.8 Parcerias Principais

A empresa identifica três grupos de parceiros-chave. Em primeiro lugar, os

clientes com potencial de elaboração de contratos de longo prazo. Pelo lado dos

suprimentos, o fornecedor de ração para peixes e o fornecedor de alevinos também se

enquadram nesta categoria.

2.1.9 Estrutura de Custos

A estrutura de custos tem como principais fatores relevantes os seguintes itens:

Ração

Energia elétrica

Mão de obra

Alevinos e sementes

Serviços prestados

Mais à frente, no Capítulo 5 – Plano Financeiro, esses fatores serão abordados

com maior profundidade, explicando sua função e estipulando valores para cada um dos

itens.

A Figura 3 mostra o esboço do Quadro do Modelo de Negócios da empresa,

elaborado utilizando a ferramenta Strategyzer (disponível na internet gratuitamente no

endereço < https://platform.strategyzer.com/>).

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Figura 3: Quadro do Modelo de Negócio da Empresa. Elaboração própria (utilizando a

ferramenta Strategyzer)

2.2 Análise SWOT

O conceito de SWOT, acrônimo inglês para “Strenghs/ Weaknesses/

Opportunities/ Threats” (Forças/ Fraquezas/ Oportunidades/ Ameaças) já é difundido no

meio acadêmico e empresarial há bastante tempo. Ghemawat (2007) cita que um

congresso de política empresarial em Harvard, no ano de 1963, “ajudou a difundir o

conceito tanto na academia como na prática de gerenciamento”, embora ele já circulasse

entre os teóricos pelo menos desde o início da década.

De forma bastante autoexplicativa, esta ferramenta busca identificar as

características, sejam elas positivas ou negativas, potenciais ou efetivas, ambientais ou

inerentes à empresa, de modo que se possa antever e se preparar para adversidades

futuras.

2.2.1 Forças

Uma das grandes forças do negócio da empresa é a localização. O fato de se

situar no município de Vassouras a coloca ao alcance do mercado da Região

Metropolitana do Rio de Janeiro, uma zona urbana de mais de 13 milhões de habitantes

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(segundo a estimativa do IBGE para 2018). Essa proximidade significa para a empresa

um diferencial em termos de qualidade e frescor dos produtos oferecidos.

Outra vantagem é a vasta disponibilidade que a fazenda onde a empresa vai se

localizar propicia, em termos de volume e qualidade da água, além de espaço físico.

Esses fatores representam um potencial para significativos aumentos de capacidade ao

longo do tempo.

2.2.2 Fraquezas

Uma das fraquezas identificadas é a falta de experiência do Gestor no mercado.

Como já mencionado na introdução ao assunto, a aquaponia apresenta riscos de perda

significativa de produtos através de falhas na manutenção do sistema. A empresa

pretende mitigar esses riscos através da automação de ações de monitoramento e

controle, que permitam antecipar problemas a tempo de usar soluções que evitem que o

sistema entre em colapso que resulte em morte de peixes e plantas.

Outra fraqueza inerente ao uso de um sistema de aquaponia é a falta de mão de

obra qualificada, além da escassez de consultoria técnica especializada. De fato, a

empresa terá que estabelecer um processo de treinamento de novos funcionários,

partindo do princípio que qualquer novo colaborador terá que passar por uma instrução

que cubra desde os princípios mais básicos das operações. A padronização de processos

e a elaboração de protocolos de operação servirão para garantir que o aprendizado

adquirido seja aplicado nas funções do dia-a-dia do trabalho.

Por fim, outra fraqueza identificada é a possibilidade de excesso de produtos, em

especial as hortaliças, que têm menor valor agregado. De fato, as formas de se resolver

tal situação seriam reduzir o preço praticado ou prospectar novos clientes. Para o caso

de um produto de pouco valor de mercado, buscar clientes em regiões mais afastadas

pode nem mesmo compensar os ganhos de receitas com esse produto. Portanto, para

contornar essa potencial fraqueza, um dos objetivos de Pesquisa e Desenvolvimento da

empresa é adaptar ao sistema de aquaponia a cultura de vegetais que podem ser

utilizados na alimentação do gado da fazenda, já que este apresenta uma demanda muito

grande em relação à capacidade de produção da empresa. Esta possibilidade é factível

de acordo com a literatura referente à aquaponia, como será mostrado mais à frente

neste trabalho, numa abordagem mais aprofundada sobre o tema no Capítulo 5 – Plano

Financeiro.

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2.2.3 Oportunidades

São muitas as oportunidades oferecidas por este mercado, de forma que serão

explicitadas algumas das principais. Uma delas é a demanda por alimentos mais

saudáveis, como atestado pelo instituto Euromonitor International em pesquisa citada

por Kurzweil e Salado (2019), que diz que “20% dos brasileiros estão dispostos a pagar

mais por produtos naturais”.

Figura 4: Fonte: Kurzweil e Salado (2019)

Uma característica importante da produção de alimentos utilizando o sistema de

aquaponia é a relativa estabilidade da produção ao longo do ano, uma vez que o mesmo

não depende de aspectos de sazonalidade como temperatura e regime de chuvas, ao

contrário da agricultura convencional. Desta forma, o sistema apresenta uma forte

oportunidade do ponto de vista financeiro, que é a oferta de produtos agrícolas em

períodos de entressafra, onde os volumes comercializados são significativamente

menores e os preços acabam aumentando de forma drástica.

Outra oportunidade que estará ao alcance da empresa é a possibilidade de

exportação de produtos. Em países desenvolvidos, o mercado de produtos orgânicos e

saudáveis é ainda mais robusto que no Brasil (MASCARAQUE, 2019, ou SHORT et al.

2017), além de trazer uma vantagem pela desvalorização cambial do Real frente a

moedas como o Dólar, o Euro ou a Libra. No entanto, essa possibilidade envolve uma

série de adequações e registros para obter as licenças necessárias, de forma que a

entrada em potenciais mercados estrangeiros não será abordada no escopo deste

trabalho.

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2.2.4 Ameaças

A principal ameaça ao negócio diz respeito à volatilidade de preços inerente ao

comércio de qualquer produto de origem agropecuária. É um fato que legumes e

verduras variam seu valor constantemente, de acordo principalmente com a

disponibilidade de produtos no mercado. Em relação ao comércio de peixes, essa regra

não é diferente (PESAGRO RIO, 2019). No entanto, há muitos autores, como Bernstein

(2011), que relatam ser possível cultivar diversas espécies de peixes e vegetais em

sistemas de aquaponia. Por isso, apesar de o presente trabalho se basear em um número

restrito de produtos (tilápia, tomates e hortaliças), está entre os desafios de a empresa

desenvolver o cultivo de produtos alternativos que obtenham maior valor de mercado,

além de processos que permitam o cultivo de diferentes vegetais ao longo do ano, para

aproveitar os períodos de alta dos preços de cada uma das espécies.

2.3 Análise das Forças Competitivas

No início da segunda metade do século XX, o meio acadêmico – sobretudo

norte-americano – dedicou grandes esforços à pesquisa sobre as diferenças entre os

segmentos da indústria. O principal motivo de intriga era a falta de compreensão sobre a

causa de alguns mercados apresentarem forte concorrência, enquanto outros conseguiam

manter um estágio mais brando de competição, apresentando naturalmente resultados

mais consistentes. Ghemawat (2007) revela que, nessa época, inúmeros estudos

empíricos foram realizados para tentar estabelecer correlação entre o nível de

concorrência e diversas variáveis estruturais.

O trabalho definitivo sobre o tema foi desenvolvido apenas na virada da década

de 1980, quando o professor de Harvard Michael Porter publicou seu famoso livro

Estratégia Competitiva. Ele afirmou que:

“A intensidade da concorrência em uma indústria não é uma questão

de coincidência ou de má sorte. Ao contrário, a concorrência em uma

indústria tem raízes em sua estrutura econômica básica e vai além do

comportamento dos atuais concorrentes. O grau da concorrência de uma

indústria depende de cinco forças competitivas básicas (...). O conjunto

destas forças determina o potencial de lucro final na indústria, que é medido

em termos de retorno a longo prazo sobre o capital investido”. (PORTER,

1986)

A Figura 5, adaptada da mesma fonte, mostra de maneira esquemática as forças

às quais o autor se refere.

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Figura 5: Forças que determinam a concorrência no mercado. Fonte: Porter (1986).

A seguir, serão analisadas cada uma das forças descritas, sob o ponto de vista de

como elas podem impactar no mercado ao qual será inserida a empresa objeto deste

Plano de Negócio.

2.3.1 Rivalidade entre Concorrentes

A concorrência encontrada se divide em cada tipo de produto. Isso porque não

foi identificado, até o momento desta pesquisa, nenhum produtor que pratique a

aquaponia com fins comerciais no estado do RJ. Entretanto, há uma variedade de

produtores de legumes e hortaliças capilarizados por todo o território, sobretudo em

pequenos negócios de agricultura familiar. Também se observa uma crescente

disseminação da aquicultura, especialmente na Região Sul Fluminense. Segundo

relatório do FIPERJ (2011), a aquicultura comercial no estado vem sendo desenvolvida

desde o início dos anos 1980.

De forma geral, no agronegócio, há um espírito muito forte de coletividade entre

produtores. A explicação é simples: com raras exceções, é praticamente impossível um

único produtor ser capaz de fornecer todo o volume necessário de um determinado

produto agropecuário, seja ele um tipo de hortaliça, legume, carne ou leite, para suprir

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exclusivamente um mercado de toda uma região. É importante ressaltar que isso não se

refere apenas a regiões de grandes metrópoles como Rio de Janeiro ou São Paulo, mas é

válido também em pequenas cidades de 20 a 50 mil habitantes. As exceções citadas são

produtos de nicho muito específico, como por exemplo algumas espécies de trufas ou

cogumelos, que requerem condições de produção muito específicas, mas cujos

mercados têm escala extremamente reduzida em contraste com os produtos mais

tradicionais. Além disso, é praticamente impossível que um único fornecedor seja capaz

de suprir integralmente a necessidade de todos os tipos de produtos naturais vendidos,

por exemplo, por uma rede de supermercados.

Desta maneira, um grande produtor de leite de uma região não é visto pelo seu

vizinho – também grande produtor de leite – como uma ameaça à oferta do seu produto.

Pelo contrário, em uma região emergente, é de interesse dos locais que novos

produtores surjam e cresçam, pois isso pode, entre outros benefícios, fomentar a

instalação de indústrias de processamento naquela região, o que tende a elevar os preços

praticados dos produtos em questão. Assim, não é raro que produtores de determinados

segmentos agropecuários de uma região se reúnam para disseminar boas práticas,

organizar compras coletivas, dividir informações de preços e alinhar estratégias para

negociar com as indústrias clientes dos seus produtos, que tendem a ser sempre o lado

mais forte na negociação.

Como já foi explicado anteriormente, a estratégia da empresa não contempla,

num horizonte visível, a entrada no mercado de varejo com um ponto de venda próprio

para seus produtos. Caso contrário, seria necessário avaliar uma nova gama de

competidores, desde feiras livres e pequenas mercearias até hortifrútis e redes de

supermercados, que teriam um perfil bem mais agressivo e sem qualquer resquício do

caráter colaborativo encontrado na concorrência entre produtores.

2.3.2 Poder de Barganha do Fornecedor

Sob o ponto de vista do fornecedor de ração para peixes, o mercado dispõe de

algumas marcas competidoras, tanto nacionais como estrangeiras. A estratégia inicial

será usar a mesma marca que atualmente já fornece a ração para as vacas da fazenda

onde será instalada a empresa, que tem reputação pela qualidade de seus produtos.

Desta forma, aproveita-se o custo reduzido de frete, que já é otimizado com as grandes

quantidades fornecidas para o gado, além da frequência já estabelecida de entrega de

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produtos. No futuro, é possível substituir a ração por alimentos produzidos na própria

fazenda. Essa medida deve ser tomada aos poucos, mas tem potencial para chegar a

substituir a totalidade do volume de ração, representando uma redução de custos e

mitigação de riscos referentes à flutuação do mercado.

Para a aquisição de alevinos, o mercado é formado por diversos pequenos

produtores pulverizados. Em pesquisa na internet, encontram-se alguns espalhados pelo

estado do Rio de Janeiro. Muitos desses pequenos produtores podem não ter capacidade

de fornecimento constante. Em conversa com um produtor de peixes da região, foi

identificado que existe uma coordenação entre produtores do Sul Fluminense para

regularmente buscar lotes de alevinos provenientes de um fornecedor de boa reputação

no estado do Paraná, de onde o custo do frete se tornaria proibitivo caso cada comprador

precisasse realizar sua encomenda de forma individual.

No futuro, também é possível passar a procriar as espécies nas próprias

instalações da empresa, de modo a não mais depender da compra de alevinos.

Entretanto, a criação voltada para reprodução é uma atividade consideravelmente

complexa, acarretando em novos custos, de modo que pode não fazer sentido do ponto

de vista financeiro.

A oferta de sementes também é suprida por uma gama de produtores brasileiros

de médio a grande porte, com atuação nacional, além de pequenos produtores focados

em mercados regionais, mas com menor confiabilidade sobre a qualidade dos produtos e

a capacidade de fornecimento regular. Como as sementes não apresentam problemas

para estoque, a estratégia a ser adotada pela empresa é a de fazer compras planejadas

para suprir a demanda de um ano inteiro, de forma que possa cotar de uma vez com

diversas das empresas de boa reputação no mercado, para garantir o suprimento de

produtos de qualidade com um preço competitivo.

Há autores como Ashworth (2002) que defendem a prática de obter suas próprias

sementes para o plantio da próxima safra. No entanto, pelo teor do seu livro,

aparentemente suas técnicas são voltadas para pequenos produtores, em geral que não

têm objetivos comerciais. De forma geral, a literatura, como Stone (2016), costuma

defender que, tendo em vista o baixo custo de suprimento de sementes, dificilmente se

torna economicamente vantajoso adotar essa prática, exceto na hipótese de não haver

disponibilidade de fornecimento para a sua região de alguma espécie indispensável.

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2.3.3 Ameaça de Novos Entrantes

A produção de alimentos é um mercado que não oferece barreiras significativas

à entrada de novos competidores. Tendo isso em vista, a diferenciação que a empresa

apresenta se baseia na questão da sustentabilidade na sua produção. Alimentos

produzidos sem critérios de sustentabilidade, como por exemplo com uso de

agrotóxicos ou organismos geneticamente modificados tendem a ter uma depreciação no

mercado.

No entanto, nada impede que um concorrente também possa produzir alimentos

sustentáveis. Nesse caso, se ele utilizar métodos tradicionais ou mesmo hidroponia, que

são práticas notadamente menos eficientes do que aquaponia, a empresa terá nessa

eficiência o seu diferencial competitivo.

Se, em último caso, um concorrente passar a praticar um método hoje

desconhecido que seja mais eficiente do que a aquaponia, resta ver se esse método pode

ser aprendido e replicado. Sendo possível, a empresa poderia tomar a decisão de no

futuro adaptar sua estrutura para este novo método, desde que obedeça aos preceitos

originais da sustentabilidade social, ambiental e econômica.

Tendo isso em vista, é importante ressaltar mais uma vez que, dado o tamanho

do mercado objetivado (seja o regional, no início das operações da empresa, ou a capital

do estado), a empresa não terá capacidade de suprir toda a sua demanda com

exclusividade. Desta forma, não existe a noção de rivalidade entre competidores ao

ponto de precisar torcer pelo fracasso de um concorrente para facilitar seu sucesso.

Longe disso, a disseminação e o crescimento dos produtores que se dispõem a ofertar

alimentos cultivados de maneira sustentável é muito bem vinda e será apoiada pela

empresa.

2.3.4 Ameaça de Produtos Substitutos

Qualquer um dos produtos que vier a ser produzido pela empresa poderá ser

feito também por outros produtores. Uma alternativa de proteção seria investir em

pesquisa genética para obtenção de uma nova espécie ou híbrido que poderia vir a ser

patenteada, mas isso está completamente fora do escopo de atuação da empresa.

Da mesma forma, praticamente qualquer produto – dentro do escopo de produtos

da empresa - que venha a ser oferecido por concorrentes e que mostre potencial para

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obter sucesso comercial também poderia passar a ser cultivado. A exceção ocorre nos

tubérculos e raízes. Bernstein (2011) cita que esses são os grupos de espécies com maior

dificuldade de serem produzidas na aquaponia e, quando cultivadas com sucesso,

geralmente apresentam formas distorcidas do padrão, o que pode representar um fator

de rejeição ou depreciação do mercado. Como tais itens (batatas, beterraba, mandioca,

cenoura, entre outros) não têm particular destaque entre os de maior valor de mercado,

isso não representa um risco para a empresa.

É importante lembrar que, dentro dos preceitos de sustentabilidade que regem as

diretrizes da empresa, organismos geneticamente modificados (transgênicos) não serão

avaliados como possibilidades para o mix de produtos cultivados.

2.3.5 Poder de Barganha dos Clientes

Ao optar pela venda exclusivamente ao mercado B2B, escolhe-se concorrer em

um ambiente mais populoso, porém menos agressivo. Por outro lado, perde-se poder de

barganha nas negociações com clientes.

A maior desvantagem ocorre na relação com as grandes redes de supermercados

e com as distribuidoras de alimentos. No entanto, elas possuem demanda praticamente

ilimitada e frequente, além de boa estrutura financeira, o que os torna potenciais alvos

para elaboração de parcerias de suprimento de longo prazo, o que só será possível após

algum tempo de operação da empresa.

Já para o início das operações, a estratégia de entrada é prospectar hotéis e

restaurantes localizados próximos à empresa, enquanto ainda não houver estrutura para

fornecimento de grandes quantidades em frequência confiável.

Empresas popularmente conhecidas como “Pesque e Pague” são comuns no

interior do Rio de Janeiro, especialmente nas regiões de serra. Um produtor de peixes

consultado durante a pesquisa diz que elas tendem a oferecer os preços mais caros, mas

têm a péssima reputação de atrasar pagamentos ou até mesmo dar calotes.

2.4 Análise CAMGPEST

Proposta pela professora da Poli/UFRJ Maria Alice Ferruccio (2015), a

ferramenta CAMGPEST (acrônimo com as iniciais de cada um dos fatores da sua

análise) destaca-se das demais por uma característica singular. Além de simplesmente

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identificar fatores externos ou internos à companhia que têm potencial para influenciar o

seu desempenho, também é preciso estabelecer um grau de intensidade relativa a cada

um dos itens levantados. Esse grau é definido numa escala de 1 a 3, onde 1 representa

um potencial de influência fraco e 3 representa um potencial de influência forte. A

análise também inclui a identificação de cada item como uma ameaça (A) ou uma

oportunidade (O), dependendo se o potencial de impacto é negativo ou positivo,

respectivamente. É curioso observar que um mesmo fator pode apresentar mais de um

aspecto, podendo até mesmo ter uma oportunidade e uma ameaça.

CULTURAL

Em relação ao fator cultural, foram identificados itens de maior relevância, com

potencial de impactos opostos. Como oportunidade, há o aumento na percepção de valor

por parte dos consumidores a respeito da qualidade de produtos, em especial os riscos à

saúde inerentes aos produtos não orgânicos. Em algumas culturas, como o tomate, isso é

ainda mais evidenciado. Também há uma preferência cada vez mais exacerbada em

relação à sustentabilidade: a forma como ocorreu a produção, o uso consciente dos

recursos naturais e a valorização do produtor próximo ao mercado consumidor, cujos

produtos têm um impacto ambiental menor em função da logística de distribuição.

Por outro lado, há um fator cultural com potencial de impacto negativo. Trata-se

de uma série de movimentos de consumidores que defendem o fim do consumo de

proteína animal, como vegetarianos e veganos. Se esses grupos um dia já foram tratados

como nichos muito específicos, é inegável que eles vêm crescendo consideravelmente

nos últimos anos, inclusive apresentando significativo espaço na mídia convencional e

nas redes sociais.

AMBIENTAL

Do ponto de vista ambiental, que é um fator cada vez mais presente no interesse

popular, nas políticas governamentais e na mídia, a aquaponia se mostra uma

importante alternativa para superar, de forma sustentável, o desafio do aumento da

produção de alimentos a fim de nutrir a população que tende a crescer consistentemente

nas próximas décadas. Portanto, este fator se torna claramente uma grande oportunidade

para a empresa.

MERCADOLÓGICO

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Ao frequentar supermercados e hortifrútis, é fácil constatar como os produtos

orgânicos apresentam um preço premium em relação aos demais. Isso mostra que o

mercado está claramente disposto a pagar mais por essa diferenciação. Essa

característica, naturalmente, também representa uma oportunidade para a empresa,

conforme será descrito com maior profundidade na seção de precificação do Capítulo 5

– Plano Financeiro.

GEOGRÁFICO

A localização da empresa representa mais uma grande oportunidade para a

empresa. Situada no município de Vassouras, a cerca de 115 km do Rio de Janeiro,

segunda maior Região Metropolitana do Brasil, com cerca de 13 milhões de habitantes,

segundo o censo 2010 do IBGE.

POLÍTICO

Uma das ameaças à empresa é a pressão que algumas entidades ambientalistas

fazem sobre os governos por todo o mundo, com o objetivo de aumentar (ou criar) a

regulamentação sobre o uso da água em áreas rurais. Apesar desse risco, como já foi

explicado, o sistema de aquaponia consome relativamente pouca água, em comparação

com a agricultura convencional. Dessa forma, a concorrência da empresa estaria ainda

mais exposta aos potenciais efeitos negativos que esse fator acarreta.

ECONÔMICO

No cenário econômico, há uma expectativa generalizada de retomada do

crescimento da economia, após a concretização das reformas (em especial a

previdenciária e a tributária) propostas pelo Governo. O estado do Rio de Janeiro,

afundado em uma crise ainda mais profunda, também apresenta sinais de que pode

aproveitar essa onda de recuperação, especialmente se for puxado pela sua principal

empresa, a Petrobrás.

SOCIAL

Sob a ótica social, infelizmente é impossível dissociar a imagem do Rio de

Janeiro com a violência. Para agravar o quadro, situações que costumavam ficar restritas

a determinadas áreas principalmente na Região Metropolitana e na Baixada Fluminense

têm cada vez mais se espalhado pelo interior do estado, até mesmo em cidades

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pequenas. Esse é um risco que lamentavelmente atinge qualquer negócio instalado no

estado.

TECNOLÓGICO

Existe uma oportunidade gerada pela tecnologia que é a geração de energia

elétrica, em especial utilizando o sistema fotovoltaico. Por ser um campo em que tem

havido muito investimento em todo o mundo, novas tecnologias vêm sendo lançadas no

mercado, trazendo benefícios em termos de custos e eficiência energética. Como será

descrito mais à frente de forma mais minuciosa, a empresa possui planos para lançar

mão desta tecnologia num futuro próximo

O Quadro 1 mostra, de forma resumida, esses fatores descritos. A cada um dos

itens foi atribuído um grau de intensidade, representado na quarta coluna. Os graus 1, 2

e 3 representam, respectivamente, potenciais de impacto baixo, médio e alto. O aspecto

positivo ou negativo desses impactos é apresentado na terceira coluna, respectivamente

pelas letras “O” (Oportunidade) e “A” (Ameaça).

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Quadro 1: Análise CAMGPEST

Fonte: Adaptado de Ferruccio (2015)

2.5 Segmentação de Mercado

A segmentação de mercado é uma ferramenta que tem como objetivo orientar as

empresas a definir seu público alvo (FERRUCCIO, 2015). Com essa definição, a

empresa pode ter um melhor conhecimento dos seus clientes e suas demandas, para

dosar seus esforços de maneira mais eficiente. Sua classificação, partindo do mais

amplo até o mais restrito, é dividida em:

Mercado Potencial: qualquer consumidor que possa ter interesse no

produto

Mercado Disponível: além do interesse, o consumidor pode realizar a

compra

Mercado Disponível Qualificado: além de poderem comprar, possuem

uma característica desejada pela empresa

Mercado Alvo: foco da empresa ao projetar o produto

Mercado Penetrado: reais consumidores do produto

Desta forma, a segmentação de mercado para a empresa estudada neste Plano de

Negócio pode ser explicada no Quadro 2.

FATOR ITEM A/O GRAU

Aumento da conscientização dos consumidores a respeito da necessidade de

consumir produtos saudáveis e produzidos com práticas sustentáveisO 3

Aumento do número de consumidores que defendem o fim do consumo de

proteína animal (vegetarianos, veganos, etc.)A 2

AmbientalO mundo precisa descobrir e disseminar práticas de produção sustentável de

alimentos em larga escalaO 3

Mercadológico O mercado está disposto a pagar mais por produtos orgânicos e sustentáveis O 3

GeográficoLocalização próxima (115 km) do mercado do RJ com seus 13 milhões de

habitantesO 3

PolíticoPossibilidade de maior ingerência do governo sobre o uso de água na

agriculturaO 1

País vive um momento de retomada do crescimento da economia O 1

Estado do RJ também apresenta sinais de recuperação, assim como a

Petrobrás, sua principal empresaO 2

Social Risco de alastramento da violência da RM do RJ para o interior e zonas rurais A 3

Tecnológico Perspectiva de redução de custos de sistemas de geração de energia solar O 1

Cultural

Econômico

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Quadro 2: Segmentação de Mercado.

Mercado Potencial

Brasil e todos os países com os quais tenhamos

relações comerciais que permitam importação de

alimentos

Mercado Disponível Região Metropolitana do Rio de Janeiro e Região Sul

Fluminense

Mercado Disponível

Qualificado

Empresas de processamento, distribuição ou revenda

de alimentos na Região Metropolitana do Rio de

Janeiro e Região Sul Fluminense

Mercado Alvo

Empresas de processamento, distribuição ou revenda

de alimentos na Região Metropolitana do Rio de

Janeiro e Região Sul Fluminense cujo público está

disposto a pagar um prêmio por produtos saudáveis e

sustentáveis produzidos localmente

Mercado Penetrado

Inicialmente, restaurantes e pequenos mercados

locais em Vassouras e arredores (Miguel Pereira,

Barra do Piraí, Valença e Mendes). Posteriormente,

restaurantes, distribuidores, feirantes e redes de

supermercados na Região Metropolitana do RJ e Sul

Fluminense Fonte: Adaptado de Ferruccio (2015)

A expansão da prospecção de clientes, a partir do município de Vassouras, sede

da empresa, até o mercado da Região Metropolitana do Rio de Janeiro será feita em

etapas, acompanhando os já previstos aumentos de capacidade produtiva para os

próximos anos. Esses temas serão abordados com mais detalhes nos próximos capítulos.

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3 PLANO DE MARKETING

O Plano de Marketing é uma ferramenta que tem como objetivo delinear as

ações que serão implementadas para a atuação da empresa no mercado. Kotler (2000)

define que “é o instrumento central para direcionar e coordenar o esforço de marketing”.

A primeira etapa é a determinação da marca. A empresa se chamará Green Fish,

com o objetivo de salientar o caráter sustentável do negócio, além de apresentar o

principal produto comercializado, os peixes.

Em seguida, é importante definir a missão, a visão e os valores que irão

direcionar as ações da empresa, ao longo de toda a sua atuação no mercado.

3.1 Missão

Oferecer produtos de qualidade ao mercado do Rio de Janeiro de maneira social

e ambientalmente sustentável.

3.2 Visão

Ser uma referência no mercado fluminense em termos de fornecimento de peixes

e alimentos de qualidade. Disseminar a prática da aquaponia como um modelo viável,

eficiente e sustentável de produção de alimentos, seja em escala familiar como de

maneira comercial.

3.3 Valores

Sustentabilidade no uso dos recursos naturais, em especial a água, respeito

máximo aos clientes e difusão da prática de aquaponia.

3.4 Mix de Marketing: Os 4 P’s

Uma vez que já foram determinadas essas diretrizes, é preciso avaliar como

esses fatores serão desdobrados dentro de cada um dos itens que formam o Mix de

Marketing (MCCARTHY, 1968). São os chamados “4 P’s do Marketing”: Produto,

Preço, Praça e Promoção.

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3.4.1 Produto

A estratégia da empresa é começar suas atividades oferecendo uma gama

simples de produtos, composta basicamente por tomates, hortaliças e tilápias. A

explicação para esse mix é simples: esses são os produtos mais cultivados usando

técnicas de aquaponia e, portanto, a literatura sobre o tema é rica em detalhes como, por

exemplo, proporções seguras entre a quantidade de peixes por metro cúbico de água, a

área de camas de cultivo e a densidade de plantio. Esse conhecimento teórico é

fundamental para a Green Fish poder dar seus primeiros passos de forma segura,

estruturando seus processos, enquanto faz experiências – em menor escala – de culturas

e espécies que tenham maior valor de mercado.

Entre os vegetais, a escolha de hortaliças (alface, rúcula, manjericão, entre

outras) se dá pela sua rápida resposta de crescimento na presença de nitrogênio, que é

farto no sistema de aquaponia. Isso ajudará no ganho de escala para entrar em clientes

que requerem um volume maior. Já o tomate representa um produto de maior valor

agregado em relação às hortaliças, em especial nos períodos fora da safra da agricultura

convencional. Como ilustração deste fato, temos inúmeros casos de reportagens

veiculadas na mídia nos últimos anos mostrando o aumento do preço do tomate como o

grande “vilão da inflação” de alimentos desde antes da recessão de 2014 (ver

FINANCIAL TIMES, 2013 “Rousseff endangered by price of tomatoes", ou

ESTADÃO, 2015 “Tomate, o vilão da inflação. De novo”).

Por outro lado, a escolha da tilápia como espécie para criação de peixes também

é uma tendência no meio da aquaponia. O principal motivo é o fato de que essa espécie

consegue se adaptar adequadamente a uma vasta gama de climas e temperaturas, além

de apresentar uma grande eficiência de conversão de alimento em massa corporal, o que

reflete em um crescimento rápido (DUDLEY, 2018). Isso tudo seria relevado se a

tilápia não tivesse, também, uma forte aceitação no mercado. Ao contrário, ela aparece

há mais de dez anos seguidos entre as quatro espécies de peixes mais consumidas nos

Estados Unidos, segundo relatório anual do instituto norte americano National Fisheries

Institute (2018). No Brasil, dados do Anuário da Piscicultura 2019 da Associação

Brasileira de Piscicultura (PEIXEBR, 2019) indicam que a tilápia representou 55,4% da

produção de peixe de cultivo (portanto, excluído o volume obtido através de pesca

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extrativista) no país no ano de 2018. A mesma publicação aponta que a espécie é a mais

consumida no Brasil e está presente em todos os estados da federação.

Entretanto, conforme já mencionado, um dos objetivos de médio prazo para a

empresa é migrar seu mix de produtos para alternativas que possam agregar maior valor

na sua venda. Em termos de peixes, há espécies como pirarucu, pacu e tambaqui que já

são ordinariamente criadas em cativeiro no Sudeste brasileiro, até mesmo em sistemas

de aquaponia. Embora seu mercado seja mais restrito que o de tilápias, elas têm

definitivamente valor de mercado superior.

Entre as espécies de maior valor agregado estão o salmão e crustáceos como

camarões e lagostas. Destas, apenas o camarão tem histórico de criação em cativeiro em

larga escala no Brasil. Para as demais, seria necessário estudar a viabilidade biológica e

econômica de adaptação e criação em um sistema de aquaponia. Caso bem sucedido,

seria um grande potencial de produto premium para a empresa.

3.4.2 Preço

Em se tratando de produtos agropecuários, não há como fugir da flutuação de

preços ditada pela sazonalidade da agricultura convencional, que ora inunda o mercado

com grandes volumes de um mesmo produto ofertados ao mesmo tempo em que

acabam por derrubar os preços, ora catapultam preços quando os produtores não

conseguem mais suprir a demanda. Há estratégias que permitem obter um prêmio em

cima do preço de mercado – e o caráter sustentável e livre de agrotóxicos da aquaponia

certamente é um desses diferenciais – mas mesmo assim, não há como fugir da

depreciação em momentos de queda generalizada de preços.

O gráfico da Figura 6 mostra um exemplo dessa flutuação, com a flutuação de

preços no período de agosto de 2017 a julho de 2019 do arroz em casca

(ESALQ/SENAR-RS, 2019). No Capítulo 5 – Plano Financeiro, serão apresentados

gráficos e números para os produtos que virão a ser comercializados pela Green Fish.

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Figura 6: Histórico de Preços do Arroz em Casca. Fonte: ESALQ/SENAR-RS (2019)

3.4.3 Praça

A proposta da Green Fish é atuar no mercado B2B, isto é, como fornecedora

para outras empresas, como restaurantes, mercados, distribuidores, cooperativas,

feirantes e revendedores. O motivo para não entrar no segmento de varejo é o aumento

dos fatores de risco envolvidos na atuação desse mercado, tais como aumento dos

custos fixos, caráter mais predatório da concorrência, necessidade de um mix muito

grande de produtos, todos com um giro muito rápido, além da necessidade de um

investimento inicial muito mais significativo em termos de preparo do local de venda,

criação e divulgação da marca.

Além disso, a prospecção de clientes começará nos arredores da fazenda onde a

empresa será instalada, no município de Vassouras-RJ. Trata-se de uma cidade pequena,

com pouco menos de 35 mil habitantes (segundo o censo do IBGE de 2010), mas com

uma quantidade de restaurantes e mercados locais suficientes para atender com sobras à

oferta de seus produtos durante os estágios iniciais. As redes de contatos do Gestor e

sua família com comerciantes da região também servirão para facilitar a entrada nesse

mercado.

À medida que a empresa for ganhando escala, poderá passar a aumentar sua

participação no próprio município, bem como passar a atuar em cidades maiores da

Região Sul Fluminense, como Barra do Piraí (100 mil habitantes, 21 km de Vassouras),

Três Rios (81 mil habitantes, 63 km), Valença (76 mil habitantes, 34 km) Resende (127

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mil habitantes, 111 km) ou Volta Redonda (272 mil habitantes, 50 km) [Fontes: Censo

do IBGE de 2010, Google Maps 2019].

Posteriormente, quando a Green Fish já tiver obtido uma escala mais relevante,

além de já dominar a produção de itens de maior valor agregado, o objetivo é passar a

atender a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em especial a capital, onde a

demanda por produtos de qualidade – e a maior concentração de restaurantes gourmet -

permitirá a adoção de preços mais atrativos. Naturalmente, a expansão para esses

mercados representará um aumento nos desafios em termos logísticos para a empresa, o

que, em algum momento, fatalmente resultará na necessidade de contratação de um ou

mais funcionários para realizar entregas de produtos.

3.4.4 Promoção

A prospecção de clientes, inicialmente, será feita de forma pessoal com os

representantes dos restaurantes e comércios que tenham interesse em adquirir os

produtos da empresa. Essas reuniões serão feitas pelo Gestor, com base em seu

conhecimento do mercado da região. Posteriormente, caso seja identificado um aumento

no interesse e na divulgação “boca a boca” das atividades da Green Fish, poderá ser

analisada a criação de um website e redes sociais para servirem de canal de publicidade

oficial.

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4 PLANO DE OPERAÇÕES

O Plano de Operações deve descrever a estruturação da empresa, bem como o

modo como ocorrerá seu funcionamento, uma vez iniciadas suas atividades.

Inicialmente, é preciso identificar a estrutura organizacional da empresa, através

do Organograma. O Organograma da Green Fish, conforme representado pela Figura 7,

é composto por um gestor, quatro áreas e duas assessorias.

Figura 7: Organograma. Elaboração própria.

Para o início das operações, será mantida uma estrutura enxuta, com a atuação

apenas do Gestor – que é o investidor e autor deste trabalho – e um funcionário. O

Gestor acumulará inicialmente as funções de Logística, Comercial e Compras, enquanto

o funcionário será responsável pelas Operações. O Assessor Técnico será terceirizado,

através de consultoria de especialista na área de Zootecnia ou Veterinária. O Assessor

Jurídico-Contábil também será terceirizado através da contratação de uma firma

especializada.

Em função das características da produção de escala reduzida e intermitência de

outputs durante o início das operações da empresa, o acúmulo de funções do Gestor não

deverá representar um gargalo para o desenvolvimento da mesma. Ao contrário, ter um

funcionário exclusivo para as áreas de Logística, Comercial e Compras significaria um

gasto desnecessário com um recurso que ficaria ocioso por grande parte do tempo.

Na verdade, é esperado que, com o incremento natural da escala de produção,

venha a se tornar necessário primeiramente aumentar a equipe do setor de Operações,

antes mesmo de vir a se precisar alocar recursos dedicados às demais três áreas. A partir

daí, será possível passar a treinar um dos funcionários de Operações em rotinas de

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outras áreas (Logística, por exemplo), para que ele possa, no futuro, assumir em

definitivo essa área. Dessa forma, o Gestor poderá aos poucos desaglomerar as funções

inicialmente acumuladas, podendo passar a se concentrar no gerenciamento e

planejamento estratégico da empresa.

4.1 Análise da Cadeia de Valor

Uma vez determinada a estrutura da empresa, é necessário identificar como será

a atribuição de cada um dos elementos dentro das atividades da Green Fish. Para isso,

será utilizada a ferramenta da Análise da Cadeia de Valor, sugerida por Porter (1985,

apud KOTLER, 2000).

Figura 8: Cadeia de Valor Genérica. Fonte: Porter (1985), apud Kotler (2000)

4.1.1 Logística de Entrada

De acordo com o modelo de Porter, a Logística de Entrada envolve todos os

processos que vão desde o recebimento de insumos e matérias-primas até a sua

destinação para uso nas operações da empresa. Esses processos serão realizados pelos

funcionários de Operações, de acordo com procedimentos e locais de armazenagem

determinados em conjunto com o Gestor, mas não devem representar parte significativa

da rotina dos funcionários, em comparação com as atividades operacionais do dia-a-dia.

No caso estudado, o principal insumo recorrente, em função da sua quantidade e

frequência de reposição, será a ração para peixes. O principal cuidado que sua

armazenagem requer é evitar a aproximação de animais como ratos e gambás.

Infraestrutura

Recursos Humanos

Desenv. Tecnológico

Aquisição/ Compras

Logística Interna Operações Logística Externa Marketing e Vendas Serviços

Atividades Primárias

Ati

vid

ades

de

Su

po

rte

Margem

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A armazenagem de sementes não requer grandes esforços. Basta um armário em

local fresco e ao abrigo da luz, além de um cuidado para registrar corretamente a

espécie de cada cultura. Já os alevinos, não requerem armazenagem, pois a sua chegada

já inicia imediatamente o processo de adaptação aos tanques e estrutura da empresa.

4.1.2 Operações

As operações no dia-a-dia da empresa consistem principalmente em ações de

alimentação de peixes e atividades de monitoramento para averiguar se as condições da

água e do ambiente estão satisfatórias para o bom desenvolvimento dos peixes e plantas.

Em dias específicos, também serão incluídos processos de plantio, colheita e despesca,

além de serviços de manutenção da estrutura e dos equipamentos.

A alimentação dos peixes, que ocorre diversas vezes ao dia, deve obedecer a

protocolos estabelecidos de acordo com o tamanho, a espécie e a densidade de animais

em cada tanque. Já o monitoramento inclui coleta de informações, registro e, se

necessário, aplicação de ferramentas para correção (por exemplo, ajuste do pH da água).

Bernstein (2011) sugere um checklist de atividades rotineiras de monitoramento

e manutenção, conforme indicado no Quadro 3.

Quadro 1: Checklist de atividades de rotina.

Adaptado de Bernstein (2011)

Posteriormente, novas atividades poderão ser adicionadas e outras substituídas

por processos automatizados, conforme planos descritos no setor de Desenvolvimento

Tecnológico.

Frequência Atividade

Alimentar peixes

Medir temperatura da água

Checar funcionamento das bombas

Procurar vazamentos na tubulação

Medir pH da água

Medir taxa de amônia

Adicionar Água

Procurar presença de insetos

Limpar bombas e encanamento

Retirar resíduos sólidos do fundo do filtro

Medir nível de nitratos

Diária

Semanal

Mensal

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4.1.3 Logística de Saída

Os outputs da empresa se restringem aos vegetais colhidos e à despesca de

peixes.

No caso dos peixes, a despesca deve ser feita acompanhada da venda, já que a

saída dos produtos deve ser feita de forma imediata. Para os vegetais, ainda é possível

estocar durante um período limitado.

4.1.4 Marketing e Vendas

Se por um lado os peixes, após despescados, não podem ser estocados por longo

tempo no aguardo de sua venda, por outro lado, sua despesca pode ser atrasada em

várias semanas, em caso de arrefecimento do mercado. Isso será importante no início

das operações da Green Fish, para não evitar o desperdício de produtos ou a venda por

valores de liquidação. Esse atraso é acompanhado numa diminuição de custos

operacionais, uma vez que o fornecimento de ração pode ser ligeiramente reduzido no

período.

Já com os vegetais, a janela de tempo disponível para a colheita é

substancialmente reduzida, uma vez que o produto pode atingir um nível de maturação a

partir do qual ele passa a perder seu valor comercial. Além disso, é preciso ser criterioso

na escolha dos produtos a serem cultivados, a fim de otimizar o seu valor de venda,

levando em conta a sazonalidade do cultivo convencional. Como a aquaponia permite a

produção de vegetais durante todo o ano, é possível programar para colher produtos nos

seus períodos de entressafra.

Por outro lado, é comum na literatura do tema encontrar autores como Bernstein

(2011) que citam produtores de sistemas de aquaponia que se sentem de certa forma

desmotivados quando se veem às voltas com quantidades grandes de vegetais, muitas

vezes de baixo valor de mercado e que dão muito mais trabalho para serem vendidos a

preços razoáveis, se comparados com os peixes. Se a empresa vier a passar por um

problema desse tipo, uma saída é desenvolver o cultivo de produtos que possam ser

consumidos pelos animais da fazenda, que representam uma demanda muito alta.

Produtos como milho, sorgo, soja e cana-de-açúcar, que podem ser fornecidos como

alternativa ou complemento à ração das vacas, poderiam ser produzidos no sistema de

aquaponia, conforme também registrado por Bernstein.

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4.1.5 Serviços

Atividades de pós-vendas, todas a cargo do Gestor, seriam restritas a contato

com os clientes (lembrando que seriam empresas como restaurantes, hotéis, mercados)

para receber feedbacks a respeito dos produtos entregues, além de sondar a demanda por

novos tipos de vegetais e espécies de peixes que seriam de interesse dos clientes no

futuro.

4.1.6 Infraestrutura

Em termos de estrutura física, de tanques e camas de cultivo, ficaria a cargo do

Gestor a identificação da necessidade e posterior execução das obras de aumento de

capacidade. Já a manutenção periódica, busca por vazamentos e limpeza seriam de

responsabilidade dos operadores.

Porter inclui ainda entre os processos de infraestrutura as atividades relativas à

gestão financeira, administrativa, legal, entre outras. Neste caso, assuntos referentes à

contabilidade e adequação a normas jurídicas seriam tratados pelo Assessor Jurídico-

Contábil, enquanto os demais seriam executados pelo Gestor.

4.1.7 Gestão de Recursos Humanos

Estas atividades também ficarão sob a responsabilidade do Gestor. Como não é

esperado encontrar mão de obra qualificada especificamente em piscicultura, ainda

menos em aquaponia, a empresa terá que trabalhar com a hipótese de ter que treinar

todos os novos funcionários desde os conceitos mais básicos. A busca por mão de obra

será realizada no entorno da propriedade, dando preferência a familiares de atuais

funcionários da fazenda.

4.1.8 Desenvolvimento Tecnológico

Conforme já explicado anteriormente, no início das suas operações, a Green Fish

vai focar na criação de tilápias, em conjunto com o cultivo de hortaliças e tomates. O

motivo é que essas culturas e espécie são mais fartamente exploradas na literatura de

aquaponia, de forma que deverão apresentar processos mais estáveis e fáceis de serem

implementados. No entanto, um dos objetivos de médio prazo é que a empresa

desenvolva práticas para poder cultivar vegetais e criar espécies de peixes que tenham

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maior valor de mercado. Esse será o objetivo dos processos de Desenvolvimento

Tecnológico.

A respeito da criação de peixes, um dos desafios é a possibilidade de se criar

crustáceos e salmão, cujas espécies apresentam enorme potencial de mercado, em

conjunto com preços premium. No entanto, além da diversificação e valorização das

espécies criadas, outro desafio de Desenvolvimento Tecnológico que a empresa terá que

enfrentar é realizar a sua própria produção de alevinos, com o cruzamento de peixes.

Esta atividade não é muito divulgada na literatura, justamente por não ser amplamente

executada em sistemas de aquaponia – ou mesmo na piscicultura, de forma mais ampla.

Se esse obstáculo for superado, representará a mitigação do risco referente à pouca

opção de fornecedores confiáveis de alevinos no estado do Rio de Janeiro (conforme

descrito mais à frente na seção Aquisições/ Compras). Além disso, a produção de

alevinos poderá até mesmo representar uma nova fonte de receitas para a empresa,

embora o objetivo inicial realmente se limite ao fornecimento interno.

Sob o ponto de vista dos vegetais, a cultura do tomate apresenta um bom valor

de mercado na época da entressafra da agricultura convencional. No entanto, uma

alternativa viável seria cultivar espécies que possam ser usadas na substituição da ração

dos animais da fazenda. Para tanto, seria necessário atingir uma escala considerável e

desenvolver o cultivo aquapônico de plantas como milho, sorgo, soja ou cana-de-açúcar.

Outra área que será abordada por processos de Desenvolvimento Tecnológico,

também executada pelo Gestor, é a busca pela automação de tarefas operacionais, tais

como a alimentação de peixes e o monitoramento de índices da água e das camas de

cultivo.

4.1.9 Aquisição/ Compras

Os processos referentes a Aquisições e Compras também serão executados pelo

Gestor. Alguns insumos têm características de suprimento recorrente, outros serão

adquiridos em grandes quantidades para serem usados em longos períodos e outros

ainda serão apenas esporádicos.

Como já visto no item Logística de Entrada, o principal insumo recorrente será a

ração para os peixes. Existe atualmente uma vasta disponibilidade de fornecedores de

ração para peixes, seja para compra em pet shops e lojas de produtos agropecuários, seja

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para aquisição direta através de representantes regionais. Todas as principais marcas

oferecem uma gama extensa de produtos customizados para diferentes tipos de espécies

e etapa de desenvolvimento dos peixes. Nos primeiros anos de operação, como a

empresa ainda trabalhará com escala reduzida, será utilizada a marca Rações Total, hoje

pertencente à holding americana Archer Daniels Midland, que possui boa reputação pela

sua qualidade. No entanto, o principal motivo pela escolha é o fato de a marca já

fornecer atualmente a ração para alimentação do gado da fazenda. Com consumo de

cerca de 2.000 kg de ração por dia, a fazenda possui condições especiais junto ao

fornecedor em termos de custos de produto e frete, prazo para pagamento e logística de

abastecimento, dos quais a Green Fish poderia se beneficiar em seu início de operações,

até que cresça e obtenha escala para prospectar novos fornecedores.

Outras matérias-primas diretas para as operações da empresa são alevinos e

sementes. Sementes, além de terem uma grande oferta de fornecedores espalhados por

todo o país, possui duas características facilitadoras. A primeira é que podem ser

estocadas por vários meses, de forma que é possível comprar em grandes quantidades.

A segunda é a possibilidade de distribuição por correio, o que permite acesso a

praticamente qualquer fornecedor/ distribuidor em qualquer local do país através da

internet. Portanto, o processo de aquisição de sementes deve contemplar uma etapa de

planejamento de plantio para os próximos trimestres e uma cotação com diversos

fornecedores para garantir preços competitivos.

O mesmo não se pode dizer dos alevinos. Por conta da sua fragilidade no estágio

inicial de desenvolvimento animal, seu transporte requer cuidados especiais. O custo

com a logística de entrega pode tornar proibitiva a aquisição a partir de fornecedores

mais distantes. Desta forma, será necessário prospectar fornecedores no estado do Rio

de Janeiro ou em regiões próximas à fronteira com São Paulo ou Minas Gerais. Uma

busca rápida na internet mostra que existem algumas possibilidades de fornecedores no

estado do Rio de Janeiro, mas estes não parecem tão confiáveis quanto as grandes

empresas do ramo, localizadas majoritariamente no interior dos estados de São Paulo,

Paraná e Mato Grosso do Sul. Ao contrário, a maioria dos fornecedores do Rio de

Janeiro são amadores, que oferecem seus alevinos em plataformas como o site Mercado

Livre. Desta forma, representam um risco ao fornecimento desse insumo primordial,

principalmente à medida que a Green Fish começar a ganhar escala e passar a precisar

da reposição de alevinos de forma massiva e constante. Esse é o principal motivo da

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necessidade de processos de Desenvolvimento Tecnológico que visem à procriação dos

peixes, para fornecimento interno de alevinos, conforme já explicitado no item anterior.

Enquanto esses processos ainda não estiverem estabelecidos, uma alternativa é se juntar

a produtores da região de Barra do Piraí e Volta Redonda (também no Sul Fluminense)

que se organizam para fazer compras periódicas de alevinos vindos de grandes

produtores do Paraná.

Outros materiais de reposição, EPI’s, entre outros deverão ser adquiridos de

forma mais esporádica, cabendo ao Gestor decidir quais podem fazer sentido estabelecer

um estoque para possibilitar compras de maior escala e quais devem ser comprados sob

demanda.

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5 PLANO FINANCEIRO

O Plano Financeiro aqui apresentado é uma proposta de análise de viabilidade

para os primeiros anos da Green Fish. Como já explicado em outras etapas deste

trabalho, a estratégia de operação da empresa prevê que a mesma comece suas

atividades com uma escala reduzida e, com o passar do tempo, vá investindo em

ampliação da sua estrutura, visando aumento de produção tanto de peixes como de

vegetais. A presente análise já contempla essa progressão no futuro próximo.

A análise focará nos custos relativos a investimento em infraestrutura, custos de

operação do negócio e previsão de receitas. Não serão considerados efeitos da inflação

no horizonte de tempo anos contemplado no estudo, uma vez que esta age tanto de

forma negativa, do ponto de vista dos custos de insumos da operação, quanto de forma

positiva, impactando a receita de venda dos produtos. Cada um dos elementos de custos

e receitas tem sua peculiaridade em termos de histórico e expectativa futura de inflação

de modo que (i) a tentativa de prever cada um desses índices aumentaria

significativamente o grau de incerteza dos resultados e (ii) o uso de um índice

macroeconômico mais genérico para todos os elementos seria tão ineficaz quanto

simplesmente desconsiderar o efeito da inflação no estudo.

Outro fator que será desconsiderado no estudo é o potencial incremento de

receitas futuras com a substituição dos produtos por espécies de maior valor comercial.

Embora essa seja uma das metas para o Desenvolvimento Tecnológico da empresa, não

há um prazo para o seu cumprimento. Pela falta de literatura a respeito de culturas e

espécies menos populares na aquaponia, seria leviano tentar adivinhar uma série de

fatores que determinam a produtividade e os custos de operação. Por exemplo, a troca

das culturas vegetais representaria uma alteração na capacidade de produção das camas

de cultivo. Da mesma forma, a substituição da espécie de peixe criada implica em

mudanças em fatores como o tempo de crescimento até a despesca, densidade de

animais por tanque e eventualmente até o custo da ração. Desta forma, cada alteração

futura no mix de produtos será avaliada por um business case próprio a fim de avaliar

sua efetividade em termos de custo-benefício. Eventuais ganhos que essas alterações

possam trazer serão considerados no presente trabalho como margem de segurança, para

garantir a eficácia da análise de viabilidade da empresa, dado que a própria natureza do

horizonte de tempo analisado contempla significativo grau de incertezas.

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A estrutura de produção da Green Fish no início das operações consistirá em

uma área de 450 m2 de cultivo de vegetais, sendo cerca de 380 m2 de camas de cultivo.

Os peixes serão criados em doze tanques variando de 3 a 7 m3 de volume. Isso permitirá

uma produção anual estimada em 3.500 kg de tilápias, 6.500 kg de tomate e 3.500

dúzias de alface, quando o sistema atingir sua maturidade em termos de produtividade.

Essas quantidades são relativamente conservadoras, uma vez que já levam em

consideração eventuais perdas com descarte, amostras doadas para prospecção de

clientes, entre outros motivos.

As instalações serão localizadas ao redor de uma casa já existente na fazenda,

onde até recentemente servia de moradia para um funcionário. Com a estrutura já

existente, não será necessária execução de obra civil, o que reduz consideravelmente os

valores necessários de investimento para começo das operações. Será necessária apenas

a instalação dos tanques, camas de cultivo e encanamentos.

O local também já dispõe de rede de fornecimento de energia elétrica e água de

boa qualidade. O prédio em questão servirá como depósito de ração, equipamentos e

materiais, além de dependência para uso dos funcionários durante o expediente. Além

disso, ele possibilitará abrigar novas camas de cultivo ou tanques, caso no futuro se opte

por produzir espécies que requerem abrigo do sol ou controle de temperatura. Por fim, a

área também apresenta disponibilidade de abrigar as expansões de capacidade já

previstas.

Todos os custos apresentados neste capítulo são referências obtidas a partir de

pesquisas em sites de lojas de materiais de construção, produtos de jardinagem,

equipamentos elétricos, empresas de aquicultura, lojas físicas no Centro de

Abastecimento da Guanabara (CADEG) e Central de Abastecimento de Alimentos do

Rio de Janeiro (CEASA-RJ), além de plataformas como o Mercado Livre, e-Bay e

OLX, durante o período de junho a julho de 2019.

5.1 Investimento Inicial

Os custos envolvidos com o início das operações da Green Fish podem ser

divididos nas seguintes categorias:

Aquisição e instalação da estrutura física

Taxas de criação e regularização da empresa junto a órgãos públicos

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Operação inicial antes de poder rentabilizar a atividade

A primeira categoria é composta principalmente pelos tanques para peixes,

camas de cultivo com seu material de preenchimento (chamado meio de cultivo),

encanamentos e bombas de água e de aeração. Em virtude da instabilidade no

fornecimento de energia na região – o que é comum no meio rural brasileiro – será feito

ainda o investimento em um conjunto de aparelhos “no-break” para evitar danos aos

equipamentos elétricos em caso de oscilações de potência da rede, além de manter o

sistema em funcionamento por mais tempo durante eventuais apagões. Também haverá

um investimento em equipamentos de automação, em especial ligados ao

monitoramento dos parâmetros do ambiente para peixes e plantas (temperatura da água,

pH, nível de oxigenação, entre outros). Esses equipamentos ajudarão na manutenção e

operação do sistema no dia-a-dia, antecipando as tomadas de decisões para corrigir

anomalias e reduzindo os riscos de acidentes. A respeito das bombas d’água,

fundamentais para a circulação do sistema, evitando a intoxicação dos peixes, é

importante destacar que, embora do ponto de vista meramente econômico, faça sentido

investir em um único equipamento mais robusto, capaz de atender sozinho à

especificidade técnica, por outro lado, ele se tornaria um fator de risco em caso de pane.

Dessa forma, a empresa opta por uma estratégia cautelosa de manter três máquinas de

menor potência (possivelmente com uma extra para manter como estoque de

emergência), a fim de minimizar os efeitos de eventuais danos causado a um desses

componentes.

A segunda categoria engloba gastos com a burocracia necessária para a criação

da empresa no âmbito legal. Ações como criação de Cadastro Nacional de Pessoa

Jurídica (CNPJ), obtenção de alvará, cadastro no Simples Nacional, licenciamento

ambiental, entre outras. A maior parte dessas ações será executada pelo Assessor

Jurídico-Contábil, mas seus custos são relevantes para serem incluídos na análise de

viabilidade econômica.

A terceira categoria trata dos custos dos primeiros meses de operação, antes de

poder começar de fato a vender seus produtos. Esse período corresponde a cerca de seis

meses, em que custos como mão de obra, energia e alguns insumos começarão a contar,

sem que tenha receitas para compensá-los. Na verdade, são necessárias de 4 a 6 semanas

após a instalação dos tanques e camas de cultivo antes de sequer poder colocar as

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primeiras plantas e peixes no sistema. Após esse estágio, os meses seguintes são

necessários para os primeiros exemplares crescerem e amadurecem. Além disso, é

muito provável que as primeiras colheitas, ainda em escala diminuta, sirvam apenas

para apresentação da qualidade do produto a potenciais clientes iniciais. Por isso, a fim

de análise de viabilidade, os gastos nesses seis primeiros meses serão tratados como

parte do investimento inicial, sendo considerado o início da empresa a partir do

momento que a Green Fish poderá de fato começar a faturar com a venda de seus

produtos.

É natural, mas importante destacar que, tendo em vista que a presente análise

financeira pretende abordar futuras expansões de capacidade da empresa, que apenas os

custos com a primeira categoria seriam aplicáveis na ocasião dos investimentos para

ampliação estrutural.

A Tabela 1 mostra a expectativa em relação a esses gastos.

Tabela 1: Custos para Investimento Inicial. Elaboração própria.

Como se pode notar, a estimativa de custos iniciais totais para início das

operações da empresa somam R$ 42.000. Já para a expansão futura da capacidade de

produção, mantendo características semelhantes de instalações, seria necessário um

montante da ordem de R$ 23.500, ou seja, cerca de 56% do investimento inicial.

Também foi avaliada a possibilidade de investimento em um sistema de energia

elétrica fotovoltaica para abastecer as instalações da Green Fish. Essa alternativa

representaria uma redução nos custos operacionais, além da mitigação dos riscos

Categoria Itens Valor (xR$1.000)

Tanques 6,0

Tubulação 2,0

Meio de Cultura 12,0

Bombas 1,5

Automação 0,5

No-break 1,5

Subtotal 23,5

Taxas de criação Taxas e tributos 5,0

Mão de obra 12,0

Energia 1,0

EPI's, materiais gerais, etc. 0,5

Total 42,0

Operação inicial

Aquisição de materiais

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inerentes à dependência do já citado pouco confiável fornecimento de energia pela

empresa que atende à região. Como o consumo não seria muito grande, o sistema

dimensionado seria relativamente pequeno, com apenas duas placas de 350 Wp sendo

suficientes para abastecer. Uma pesquisa de preços feita com uma empresa de instalação

de sistemas fotovoltaicos que atua no Sul Fluminense – e que também fez os cálculos de

dimensionamento dos equipamentos – mostrou os seguintes resultados:

Tabela 2: Custos para Investimento em Geração de Energia Fotovoltaica. Elaboração

própria.

Relativamente ao total apresentado anteriormente, este custo não é grande,

representando apenas cerca de 20% do investimento inicial da empresa. No entanto, em

função dos gastos esperados para a criação e manutenção da Green Fish em seus

primeiros anos, optou-se por adiar esse investimento para um momento em que a

mesma já tenha começado a praticar lucros expressivos, quando será viável utilizar

parte desses valores para ser reinvestido nela.

5.2 Custos Operacionais

O principal item dentre os custos variáveis é o imposto recolhido como Simples

Nacional, correspondente a 6% do faturamento bruto – no patamar mais baixo da

modalidade. No entanto, ele será analisado no próximo item, que calcula a expectativa

de receita, e vai incidir na diferença entre receita líquida e bruta.

Os demais itens variáveis, como aquisição de sementes e alevinos, ou gastos

com alimentação dos peixes, foram calculados de maneira anualizada, junto com os

custos fixos, conforme mostra a Tabela 3.

Item Valor (x R$1.000)

Placas solares 2,0

Inversor 1,0

Controlador 0,5

Baterias 3,5

Instalação 1,5

Total 8,5

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Tabela 3: Estimativa de Custos Operacionais. Elaboração própria.

Os custos de mão de obra levam em conta os salários e encargos do funcionário

do setor de Operações, uma vez que no início das atividades este será o único contratado

da empresa. O Gestor, por ser também o dono, não terá recolhimento de salário neste

momento, para não sacrificar o resultado da companhia.

Os custos de energia são representados praticamente com exclusividade pelas

bombas de água, que representam um consumo anual da ordem de 87 MWh.

Os valores para aquisição de alevinos, sementes e material de plantio levam em

conta a estimativa de produção já citada de 3.500 kg de peixes, 6.500 kg de tomates e

3.500 dúzias de alface.

A conta para obter a estimativa de gastos com ração foi feita a partir das

instruções dadas por Dudley (2018), que determina que:

$total = ΔP x FCR x $unit , onde:

ΔP é o ganho de massa corporal dos peixes durante seu período de

crescimento nos tanques. Para a conta, foi considerado o valor de 3.500

kg que representa a produção esperada para um ano de operação. No

entanto, o ganho de peso é menor do que isso, pois os alevinos são

adquiridos com uma média de 50g e a despesca é feita com um peso

médio de 750g por animal, o que significa que cerca de 6,5% do peso da

venda não são obtidos durante o crescimento nos tanques da empresa.

Esse percentual foi desconsiderado, a fim de manter uma margem de

segurança nos cálculos.

Item Valor (x R$1.000/ano)

Mão de obra 23,5

Energia 2,0

Alevinos 5,5

Sementes de alface 0,4

Sementes de tomate 0,3

Material de plantio 0,3

Ração 10,0

Serviços de contabilidade 6,0

Assistência técnica 3,0

Total 51,0

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FCR é o acrônimo da expressão em inglês Food Convertion Rate, ou

Taxa de Conversão de Comida, que é um parâmetro intrínseco a cada

espécie animal e representa quantas unidades de alimento um indivíduo

daquela espécie precisa ingerir para incrementar em uma unidade sua

massa corporal. Não só o autor mencionado, mas diversas fontes na

literatura (como Bernstein ou St Mickell) atribuem à tilápia um fator

FCR de 1,7, o que é uma eficiência muito alta – bovinos, por exemplo,

apresentam FCR acima de 7,0 (DUDLEY, 2018).

$unit é o custo de aquisição de 1 kg de alimento. Como inicialmente a

alimentação será feita exclusivamente com ração da marca Rações Total,

que já fornece para a fazenda, foi feita uma consulta informal com o seu

representante para avaliar o custo da ração para peixes. Existem

diferentes produtos voltados para a alimentação de tilápias, de acordo

com o estágio corporal do animal, mas a média do produto com o frete

de entrega foi calculada na ordem de R$1,50 por kg. Como margem de

segurança, o valor considerado nos cálculos foi incrementado para

R$1,60.

$total é o valor anualizado do gasto com alimentação. O produto dos

valores supracitados é R$9.520/ano, ao qual foi adicionada uma margem

de segurança de 5%, obtendo o valor conservador de R$10 mil, que

consta na Tabela 3.

Os valores dos serviços de contabilidade e assistência técnica foram

determinados a partir dos custos reais praticados pelos prestadores dos mesmos serviços

à fazenda. O escritório de contabilidade cobra uma taxa mensal no valor de meio salário

mínimo. Já a assistência técnica foi calculada como uma diária de R$500 a cada dois

meses. Na verdade, há a possibilidade de contar com o serviço de assistência de órgãos

como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro

(EMATER-RIO) ou a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro

(FIPERJ), o que representaria a eliminação dessa linha de custo.

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5.2.1 Considerações sobre a Evolução dos Custos Operacionais

Antecipando a perspectiva de aumento da capacidade da empresa nos anos

seguintes à sua implementação, é preciso analisar como essa expansão irá impactar nos

custos operacionais.

Em termos de mão de obra, é esperado que, ao dobrar a capacidade inicial de

produção, será necessária a contratação de um segundo funcionário para as funções de

Operações. No entanto, essa equipe de dois trabalhadores deverá ser suficiente mesmo

quando as instalações forem novamente incrementadas para o triplo ou até o quádruplo

da capacidade inicial. Na verdade, a expectativa é que, a partir daí, a próxima demanda

por novas contratações seria para exercer funções de Logística para escoamento da

produção – funções essas que, no início das operações, deverão ser executadas pelo

Gestor.

Os gastos com energia devem naturalmente aumentar na mesma proporção do

aumento da capacidade. A razão é lógica: se o principal item de consumo são as bombas

d’água, ao se dobrar a capacidade implica no dobro do número de tanques e no dobro do

número de bombas (com potências semelhantes). No entanto, essa linha de custo tende a

ser praticamente zerada a partir do momento que a empresa fizer o investimento em

geração de energia fotovoltaica.

Os custos de aquisição de alevinos e sementes também são proporcionais à

capacidade de produção da empresa. No entanto, a partir do momento que a equipe for

expandida para dois funcionários de Operações, será possível começar a praticar a

reprodução dos peixes nas próprias instalações. Isso tem o potencial para reduzir os

gastos com alevinos em 50 a 100%. No limite, a Green Fish poderia até superar sua

própria demanda de alevinos e passar a vender o excedente, gerando uma nova fonte de

renda, mas essa possibilidade não será analisada no presente trabalho.

O aumento do número de funcionários também permitirá a execução de

processos para reduzir outro fator de custo importante: a alimentação dos peixes. A

fazenda já possui instalações em que é possível fazer a mistura de componentes como

farelo de milho, soja, sais minerais, entre outros, de forma que a compra desses

componentes individuais, com a mistura feita pela própria empresa, pode representar

uma redução da ordem de 20% nos custos de ração animal.

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Por fim, é previsto um aumento no custo com Assistência Técnica, considerando

que, com o aumento do número de tanques e peixes, o assessor (veterinário/

zootecnista) deverá fazer visitas com uma frequência maior.

O quadro da Tabela 4 mostra a previsão de evolução desses custos em função da

capacidade da empresa. A capacidade inicial de produção é descrita como “X” e cada

incremento de infraestrutura é considerado como aproximadamente da mesma escala da

estrutura inicial.

Tabela 4: Evolução dos Custos Operacionais em Relação à Capacidade. Elaboração

própria.

Para os cálculos, foi considerado que a produção de alevinos na própria empresa

atingiria 80% da demanda e que a mistura própria da ração economizaria em 20% os

custos com alimentação.

Como se pode notar, há um considerável potencial de ganhos de escala no

negócio. Os cálculos mostram que aumentos seguidos de 100%, 50% e 33% de

capacidade acarretam em aumentos de custos operacionais de apenas 63%, 15% e 13%,

respectivamente.

Capacidade X 2X 3X 4X

Funcionários 1 2 2 2

Itens

Mão de obra 23,5 47,0 47,0 47,0

Energia 2,0 4,0 6,0 8,0

Alevinos 5,5 2,2 3,3 4,4

Sementes de alface 0,4 0,8 1,2 1,6

Sementes de tomate 0,3 0,6 0,9 1,2

Material de plantio 0,3 0,6 0,9 1,2

Ração 10,0 16,0 24,0 32,0

Serviços de contabilidade 6,0 6,0 6,0 6,0

Assistência técnica 3,0 6,0 6,0 6,0

Total 51,0 83,2 95,3 107,4

Aumento % de custos - 63% 15% 13%

Valor (x R$1.000/ano)

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5.3 Receitas

A expectativa de receitas da Green Fish passa pela análise dos preços de

mercado dos três produtos considerados neste trabalho: tomates, hortaliças (será

baseado nos preços da alface) e tilápias.

Para a determinação dos valores, primeiramente será feita uma análise do

histórico de preços de cada produto no setor atacadista no estado do Rio de Janeiro. Há

duas bases de dados disponíveis na internet, os sites do CEASA-RJ/SIMA (2019),

especificamente sobre os preços de atacado praticados no Centro de Distribuição

CEASA da cidade do Rio de Janeiro, e da CEPEA/ESALQ (2019), da Escola de

Agronomia ligada à USP, que faz uma análise de preços de diversos produtos em vários

mercados espalhados pelo país.

Sobre esses números, há dois fatores que permitem à empresa praticar preços

razoavelmente acima da média apresentada. Em primeiro lugar, as médias apresentadas

nos índices de preços de mercado não distinguem produtos orgânicos de convencionais,

ou produtos danificados, que acabam sendo vendidos em liquidação. Naturalmente,

produtos orgânicos são mais caros, conforme comprovado por qualquer ida a um

supermercado/ feira livre, ou ainda por reportagens frequentes na mídia (ver FOLHA

DE SÃO PAULO, 2015 “Preço alto ainda limita consumo de orgânicos – Diferença

chega a 270%”; VEJA RIO, 2017 “Quanto custa ser orgânico”; ou REVISTA GLOBO

RURAL, 2017 “Preços ainda limitam consumo de orgânicos no Brasil, aponta

pesquisa”). No meio acadêmico, este assunto também já foi abordado, como por Short

et al. (2017). A natureza do produto obtido através da aquaponia permitirá à empresa

obter preços premium pela sua qualidade.

O outro fator de diferenciação da Green Fish será aproveitado nos estágios

iniciais do seu funcionamento, quando a prospecção de clientes focará em pequenos

negócios no município de Vassouras e cidades mais próximas. Conversas informais

com conhecidos do autor que possuem pequenos restaurantes e mercados locais

mostram que esses clientes, em geral, não possuem escala que justifique a viagem de

cerca de 300 km (ida e volta) até a CEASA da capital para comprar os produtos mais

baratos, tendo que recorrer a comprar seus suprimentos em supermercados da região ou

a intermediários que levam os produtos desde a central de abastecimento, cobrando um

sobrepreço. Dessa forma, os produtos da empresa representarão para esses clientes uma

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alternativa de preço abaixo do preço de varejo, mas com produtos de qualidade e

frescos.

Como os cálculos de viabilidade econômica são feitos com base em parâmetros

anualizados, os preços de vendas usados para cálculo de receitas serão médias anuais,

para simplificação das contas. Uma vez que o sistema de produção da aquaponia

permite produção contínua ao longo de todo o ano, caberá ao planejamento operacional

buscar uma maneira de organização que permita maximizar as quantidades colhidas nos

períodos de entressafra da agricultura convencional, quando os preços naturalmente

tendem a inflar, de forma a otimizar o potencial de receitas da empresa.

5.3.1 Tomate

A Figura 9 mostra um gráfico com a evolução da média mensal de preços do

quilo de tomate pelas revendas atacadistas nos últimos anos no Rio de Janeiro,

confrontando duas bases de dados disponíveis. As linhas vermelha e azul são originadas

dos estudos do CEPEA/ESALQ (2019) e mostram a distinção entre os tipos 2A e 3A

(este último só possui dados a partir de 2016). A diferença entre os tipos é uma

classificação dos revendedores de acordo com as condições de apresentação

(principalmente o tamanho) das frutas, sendo o tipo 3A claramente negociado a um

prêmio, indicando que é o produto de melhor qualidade.

Já a linha verde é obtida através da base de dados do CEASA-RJ/ SIMA (2019),

que está disponível até dezembro de 2018, mas não faz distinção entre tipos de frutas.

Por fim, a linha preta contínua representa a linha de tendência por regressão linear

referente a estes últimos dados, calculada pelo software Microsoft Excel. Ela serve para

mostrar que há uma clara tendência de inflação de preços do tomate, embora já tenha

sido explicado no início deste capítulo que não serão considerados os efeitos

inflacionários nos cálculos de viabilidade econômica. Num caso como esse de receita de

um produto importante no portfólio da empresa, o potencial ganho futuro com a

inflação acabará sendo tratado como uma margem de segurança para os cálculos.

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Figura 9: Evolução de Preços do Tomate. Fontes: CEPEA (2019) e CEASA-RJ/ SIMA

(2019).

A média dos últimos dois anos entre todos os dados apresenta um valor de cerca

de R$2,24/kg (com desvio padrão de 0,96), apesar de ser nítido que o tomate especial

3A supera sensivelmente essa marca (o cálculo mostra uma média de R$2,86/ kg para o

mesmo período, com desvio padrão de 1,06). Dessa forma, considerando o prêmio de

margem que a empresa espera conseguir pela qualidade de seus produtos, o presente

estudo irá trabalhar com um sobrepreço de meio desvio padrão em relação à média dos

três conjuntos de dados, o que resulta em um preço de venda líquido de R$2,75/kg.

Levando em conta a quantidade vendida estimada em 6,5 toneladas por ano, a

receita bruta anual prevista para este produto seria de R$17.875. Descontados os

impostos sob a alíquota de 6% do Simples Nacional, obtém-se o valor esperado de

receita líquida de R$16.802,50.

5.3.2 Alface

A Figura 10 mostra a evolução de preço da alface nos últimos anos, no mercado

atacadista do Rio de Janeiro. Mais uma vez, a base de dados da CEPEA/ ESALQ

(2019), que tem histórico de preços apenas a partir de 2016, faz distinção por tipos de

produtos: alface americana (representada pela linha azul), alface crespa (linha vermelha)

e alface lisa (linha verde). Os dados do CEASA-RJ/ SIMA (2019), disponíveis até

dezembro de 2018, estão representados pela linha amarela. A linha de tendência por

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regressão linear, calculada pelo software Microsoft Excel, foi ocultada para diminuir a

poluição visual, mas mostrava uma linha praticamente horizontal, na altura do preço

R$5,30.

Figura 10: Evolução de Preços da Alface. Fontes: CEPEA (2019) e CEASA-RJ/ SIMA

(2019).

De forma conservadora, será adotada como base a média apenas das espécies de

alface crespa e lisa, justamente as mais baratas, nos últimos três anos, que apresenta um

valor de cerca de R$5,35/ dúzia (desvio padrão de 1,81). Adotando um percentual de

sobrepreço igualmente conservador de apenas 8,5% (ou um quarto do desvio padrão), o

estudo irá considerar um preço de venda de R$5,80 por dúzia de alface.

Extrapolando para a venda anual de 3.500 dúzias, o valor esperado de receita

bruta é de R$20.300. Com o desconto dos impostos, a receita líquida será de R$19.000.

5.3.3 Tilápia

O gráfico da Figura 11 mostra a evolução do preço médio do quilo de tilápia

inteiro praticado no mercado atacadista do CEASA-Rio de Janeiro, conforme dados

disponibilizados pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro

(PESAGRO-RIO). Os pontos de descontinuidade das linhas representam meses que não

tinham valores disponíveis.

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Figura 11: Evolução de Preços do kg de Tilápia. Fonte: CEASA-RJ/ SIMA (2019).

Um olhar atento aos valores nota que até o final de 2014 os preços médios eram

múltiplos de R$0,50, sendo possível inferir que a partir de 2015 tenha havido alguma

alteração na metodologia de obtenção dos dados, de forma que os valores médios,

discriminados até a segunda casa decimal, passam a apresentar caráter mais

verossimilhante do ponto de vista estatístico. O site do órgão não apresenta qualquer

justificativa para esse fato. Contatos questionados pelo autor durante a pesquisa

tampouco souberam confirmar se houve alteração na metodologia ou o motivo.

Desta forma, foram usados os dados do período de 2015 a 2019 para se

determinar a média para o período de R$5,81/kg, com desvio padrão de R$0,30. Para

fins de expectativa de receita, este trabalho irá utilizar o valor de R$6,40 para o quilo de

peixe, o que corresponde a 10% de sobrepreço em relação à média calculada, ou dois

desvios-padrão.

Portanto, a expectativa de receita anual da empresa com a venda de peixes, na

sua configuração inicial, é de R$22.440, o que representa um faturamento líquido da

ordem de R$21.000.

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5.4 Análise de Viabilidade Econômica

Seguindo orientação do SEBRAE (2013) em seu manual “Como Elaborar um

Plano de Negócios”, uma vez tendo em mãos as expectativas de receitas e custos, “é

possível prever o resultado da empresa, verificando se ela possivelmente irá operar com

lucro ou prejuízo”. A ferramenta que a publicação indica para iniciar essa avaliação é o

Demonstrativo de Resultados.

Trata-se de um mecanismo utilizado na Contabilidade de Custos para comparar,

como o próprio nome já indica, os resultados já confirmados de ganhos e despesas, de

forma posterior ao exercício em análise. Sua utilização no Plano de Negócios,

naturalmente, é adaptada para ser usada com valores esperados, portanto, de forma

anterior à execução dos fatos. O objetivo é que sirva de guia para, ao longo das

operações da Green Fish, seus gestores possam ter uma forma de acompanhamento do

seu desempenho.

A Tabela 5 mostra a aplicação dessa ferramenta, com base nas expectativas de

custos e receitas previamente explicadas ao longo deste capítulo. O único item que

ainda não foi mencionado, o período de depreciação dos investimentos foi considerado

em dez anos para a infraestrutura de produção e vinte anos para os equipamentos de

geração de energia elétrica.

Tabela 5: Demonstrativo do Resultado (xR$ mil). Elaboração própria.

Ano 0 1 2 3 4 5

Investimento -42,0 0,0 -23,5 -23,5 -8,5 23,5

- Em capacidade produtiva -42,0 -23,5 -23,5 23,5

- Em geração de energia -8,5

Receita Bruta 60,6 121,2 181,7 181,7 242,3

Impostos 3,6 7,3 10,9 10,9 14,5

Receita Líquida 56,9 113,9 170,8 170,8 227,8

Custos -51,0 -83,2 -95,3 -89,3 -99,4

- Mão de Obra -23,5 -47,0 -47,0 -47,0 -47,0

- Energia -2,0 -4,0 -6,0 0,0 0,0

- Alevinos -5,5 -2,2 -3,3 -3,3 -4,4

- Insumos -1,0 -2,0 -3,0 -3,0 -4,0

- Alimentação -10,0 -16,0 -24,0 -24,0 -32,0

- Serviços -9,0 -12,0 -12,0 -12,0 -12,0

EBITDA 5,9 30,7 75,5 81,5 128,4

Depreciação -4,2 -6,6 -8,9 -9,3 -7,0

Resultado 1,7 24,1 66,6 72,2 121,4

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Em termos de capacidade de produção, o plano prevê que haja um investimento

para dobrar a capacidade inicial da empresa no segundo ano. No terceiro ano, será feito

um novo investimento, de mesma proporção, elevando a capacidade para o triplo da

original. Por fim, no quinto ano, um novo aporte elevará para o quádruplo da

capacidade do início das suas operações. Além disso, o demonstrativo também mostra

que no quarto ano será feito um investimento em geração de energia elétrica, com o

objetivo de reduzir em 100% os gastos mensais com energia.

Em seguida, a Tabela 6 representa a expectativa de geração de fluxo de caixa

pela Green Fish. Como todos os investimentos serão realizados com capital próprio do

proprietário da empresa, não há incidência de despesas financeiras.

Tabela 6: Fluxo de Caixa Esperado. Elaboração própria.

Por fim, os números apresentados nas ferramentas acima são utilizados para

calcular alguns indicadores importantes para a análise da viabilidade econômica da

empresa: o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa de Retorno do Investimento (TIR), o

Período de Recuperação de Investimento (PRI ou Payback Period). Como Taxa Mínima

de Atratividade (TMA), foi utilizado o valor de 8% a.a., um coeficiente que corresponde

a cerca de 125% do valor atual da SELIC, de 6,5% a.a. (Banco Central do Brasil, 2019).

Os valores, calculados para o horizonte de cinco anos, estão apresentados na Tabela 7.

Tabela 2: Indicadores de Viabilidade Econômica. Elaboração Própria.

A análise das ferramentas apresentadas mostra que a empresa tem capacidade de

se tornar economicamente viável, inclusive com geração de resultado que possibilitará

novos investimentos em aumento de estrutura no médio prazo.

Ano 0 1 2 3 4 5

Lucro Líquido (+) 1,7 24,1 66,6 72,2 121,4

Depreciação (+) 4,2 6,6 8,9 9,3 7,0

Investimento -42,0 0,0 -23,5 -23,5 -8,5 23,5

Fluxo de Caixa Final -42,0 5,9 7,2 52,0 73,0 151,9

Fluxo de Caixa Acumulado -42,0 -36,1 -28,9 23,1 96,2 248,0

VPL R$ 212.405,70

TIR 63%

Payback (anos) 2,55

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5.4.1 Considerações sobre a Estratégia de Incremento de Capacidade

Ao se analisar o quadro com a expectativa do Demonstrativo de Resultado,

chama à atenção a baixa expectativa de lucro nos primeiros anos da atividade da

empresa. Tal ponto é reforçado pelo fato de que, com pouco mais do dobro do

investimento inicial previsto, seria possível já começar as operações da Green Fish com

o triplo da capacidade de produção. Portanto, por que não valeria a pena fazer um

esforço para aumentar a escala já no início da empresa, de modo a já começar

praticando as margens mais expressivas, que o Plano de Negócios aqui apresentado

espera atingir só a partir do terceiro ano de atividade?

A razão para essa estratégia mais conservadora está na mitigação de alguns

riscos inerentes à atividade. Em primeiro lugar, o próprio sistema de aquaponia

apresenta possibilidades de problemas com potencial a trazer grandes prejuízos nos

piores cenários, com a perda completa de peixes em um mesmo tanque. Autores como

Bernstein (2011), uma produtora experiente e com uma grande rede de contatos do

setor, aponta que é não é raro acontecerem tragédias com sistemas operados por

principiantes que acabam perdendo toda sua produção, literalmente, de um dia para o

outro. Por essa razão, a estratégia da companhia de aumentar aos poucos a sua

capacidade está alinhada à expectativa de amadurecimento gradual da equipe com o

sistema de produção.

Além disso, o aumento de produção só se transforma em aumento de receitas se

vier acompanhado de incremento nas vendas. Portanto, a capacidade das instalações

deverá acompanhar gradativamente o aumento do escopo de prospecção de novos

clientes. Caso contrário, uma sobrecarga de produtos finais poderia acabar por derrubar

os preços praticados ou, num cenário ainda pior, acarretar numa perda de produtos por

descarte.

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6 CONCLUSÃO

Alinhado ao objetivo inicial de se avaliar a viabilidade de criação de uma

empresa de aquaponia e gerar um plano de negócio para a sua implementação, este

trabalho conseguiu confirmar a hipótese que tal empresa tem condições de operar de

forma viável e lucrativa.

Primeiramente, foi apresentada uma introdução do contexto mundial de

produção de alimentos, bem como seus desafios para o futuro, envolvendo as

complexidades apresentadas pelas perspectivas de crescimento e concentração

populacional, mudanças climáticas e métodos atuais de produção, pouco sustentáveis do

ponto de vista dos produtos aplicados na produção de alimentos e do uso irresponsável

dos recursos hídricos. Em seguida, foram introduzidos os conceitos de aquaponia, uma

técnica ainda pouco difundida no Brasil, e os motivos que levam esse sistema a se

mostrar como uma alternativa sustentável para os desafios da produção de alimentos.

Ao final do capítulo de Introdução, ainda foi descrito o ambiente em que a empresa será

inserida, numa fazenda de gado leiteiro no município de Vassouras-RJ.

Passada esta introdução, foram utilizadas uma série de ferramentas para se

realizar a Análise de Mercado: o Quadro do Modelo de Negócio, análise SWOT,

identificação das Forças Competitivas de Porter, análise CAMGPEST e segmentação do

mercado. O capítulo seguinte apresentou a proposta do Plano de Marketing, através da

identificação dos “4 P’s do Marketing”: Produto, Preço, Praça e Promoção. Em seguida,

o Plano de Operações detalhou os itens da Cadeia de Valor de Porter.

Por fim, foi realizado um Plano Financeiro, com a finalidade de obter

ferramentas que apoiassem a análise de viabilidade da empresa. Para isso, foi feito um

levantamento das expectativas de custos – tanto na fase de implantação, quanto após o

início das operações da Green Fish – e receitas, a elaboração de um Demonstrativo de

Resultados e de um Fluxo de Caixa. Essas análises permitiram os cálculos que preveem

indicadores de Valor Presente Líquido por volta de R$212 mil, Taxa Interna de Retorno

de 63% e Payback de 2,55 anos. Esses valores mostram que o negócio tem perspectiva

de se tornar economicamente viável, mantendo sua característica de sustentabilidade na

produção de alimentos.

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Utilizando este trabalho como base, futuros projetos podem vir a ser realizados,

após um horizonte de um a três anos do início das operações da empresa, com a

finalidade de avaliar o quanto a realidade apresentou de aderência em relação às

expectativas aqui apresentadas. A partir desse diagnóstico, um novo plano estratégico

deveria ser estabelecido, tendo em vista os cinco anos seguintes.

O ambiente da empresa tratada neste trabalho foi determinado uma vez que a

mesma será localizada na já existente fazenda da família do autor. No entanto, as

características do sistema de aquaponia – pouca dependência de regime de chuvas, fácil

adequação a diversos tipos de climas, alta produtividade em comparação à agricultura

convencional, eliminação da utilização de fertilizantes artificiais e agrotóxicos –

permitem sua adoção em praticamente qualquer parte do mundo, podendo ser aplicadas

até em regiões de climas mais extremos, ou mesmo em ambientes urbanos. Assim, é

possível afirmar que este sistema pode se tornar uma importante ferramenta na busca

pelo aumento da produção sustentável de alimentos de qualidade em todo o mundo.

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negativo,1135794 >. Acesso em: 5 de fevereiro de 2019.

ESTADÃO – Jornal O Estado de São Paulo, 2015. Tomate, o vilão da inflação. De

novo. Disponível em: < https://economia.estadao.com.br/blogs/de-olho-nos-

precos/tomate-o-vilao-da-inflacao-de-novo/ >. Acesso em: 25 de junho de 2019.

FINANCIAL TIMES, 2013. Rousseff endangered by price of tomatoes. Disponível em:

< https://www.ft.com/content/c9ad0994-a390-11e2-ac00-00144feabdc0 >. Acesso em:

25 de junho de 2019.

FOLHA DE SÃO PAULO, 2015. Preço alto ainda limita consumo de orgânicos –

Diferença chega a 270%. Disponível em: <

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/07/1661852-preco-alto-ainda-limita-

consumo-de-organicos-diferenca-chega-a-270.shtml >. Acesso em: 25 de junho de

2019.

REVISTA GLOBO RURAL, 2017. Preços ainda limitam consumo de orgânicos no

Brasil, aponta pesquisa. Disponível em: <

https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2017/06/precos-ainda-

limitam-consumo-de-organicos-no-brasil-aponta-pesquisa.html >. Acesso em: 25 de

junho de 2019.

VEJA RIO, 2017. Quanto Custa Ser Orgânico. Disponível em: <

https://vejario.abril.com.br/cidades/produtos-organicos/ >. Acesso em 25 de junho de

2019.