plano de manejo da flona de irati - vol 1

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Volume 1 do Plano de Manejo da Floresta Nacional de Irati, contendo o diagnóstico da Unidade.

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  • Plano de Manejo da

    Floresta Nacional de Irati

    FERNANDES PINHEIRO

    Dezembro 2013

  • PRESIDENTA DA REPBLICA DILMA VANA ROUSSEFF

    MINISTRA DO MEIO AMBIENTE IZABELLA MNICA VIEIRA TEIXEIRA

    PRESIDENTE DO INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAO DA BIODIVERSIDADE ROBERTO RICARDO VIZENTIN

    DIRETOR DE CRIAO E MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAO GIOVANNA PALAZZI

    COORDENADOR GERAL DE CRIAO, PLANEJAMENTO E AVALIAO DE UNIDADES DE CONSERVAO CAIO MARCIO PAIM PAMPLONA

    COORDENADOR DE ELABORAO E REVISO DE PLANO DE MANEJO ALEXANDRE LANTELME KIROVSKY

    COORDENADOR DA 9 REGIO DO ICMBio DANIEL PENTEADO

    CHEFE DA FLORESTA NACIONAL DE IRATI RICARDO AUGUSTO ULHOA

    SOCIEDADE DE PESQUISA EM VIDA SELVAGEM E EDUCAO AMBIENTAL CLVIS RICARDO SCHRAPPE BORGES - Diretor Executivo

  • PLANO DE MANEJO DA FLORESTA NACIONAL DE IRATI SUPERVISO TCNICA Augusta Rosa Gonalves Analista Ambiental, Engenheira Florestal, MSc.

    Cirineu Jorge Lorensi

    COORDENAO GERAL Cibele Munhoz

    Ademar Luis Brandalise

    Ricardo Augusto Ulhoa

    ELABORAO DO VOLUME I Cibele Munhoz

    Ademar Luis Brandalise

    Ricardo Augusto Ulhoa

    Andrea von der Heyde Lamberts

    ELABORAO DO VOLUME II Augusta Rosa Gonalves

    Cirineu Jorge Lorensi

    Cibele Munhoz

    Ademar Luis Brandalise

    Ricardo Augusto Ulhoa

    Andrea von der Heyde Lamberts

    Randolf Zachow

    FLORESTA NACIONAL DE IRATI Ademar Luis Brandalise

    Adilson Jos Bora

    Jair Ferreira Luz

    Jocieli Aparecida Lawandowski

    Maria Ins da Silva

    Ricardo Augusto Ulhoa

    Trajano Gracia Neto

  • RELATRIOS TEMTICOS

    AVALIAO ECOLGICA RPIDA Execuo: Natturis Consultoria e Advocacia Ambiental e Consiliu Meio Ambiente

    e Projetos.

    Financiamento: Fundo Brasileiro para a Biodiversidade FUNBIO (Atlantic Forest

    Conservation (AFCoF) e Fundo de Conservao da Mata Atlntica Funbio/KfW).

    Coordenao Cosette Barrabas Xavier da Silva

    Srgio Augusto Abraho Morato

    Fabio te Vaarwerk

    Anurofauna Carlos Eduardo Conte

    Avifauna Alberto Urben Filho

    Fernando C. Straube

    Herpetofauna Srgio Augusto Abraho Morato

    Carlos Eduardo Conte

    Ictiofauna Gislaine Otto

    Amaraldo Piccoli

    Mastofauna Gledson Vigiano Bianconi

    Rodrigo Csar Benet

  • Meio Fsico Andr Rafael Possani

    Vegetao Raul Silvestre

    Cartografia Franco Amato

    Apoio Tcnico Eliana Keyko F. Nery Nakaya

    Maria Dolores Alves dos Santos Domit

    Deborah Pina

    DIAGNSTICO SOCIOECONMICO Execuo: Maria Vitria Yamada Muller

    Financiamento: Fundo Brasileiro para a Biodiversidade FUNBIO (Atlantic Forest

    Conservation (AFCoF) e Fundo de Conservao da Mata Atlntica Funbio/KfW).

    Responsabilidade Tcnica Kusum Vernica Toledo

    Colaborao Antonio Luiz Zilli

    Karen de Ftima Follador Karam

    Leandro ngelo Pereira

    Guilherme Silveira Dias

    Superviso Maria Vitria Yamada Muller

    Cibele Munhoz

  • INVENTRIO DAS FLORESTAS NATURAIS NA FLORESTA NACIONAL DE IRATI, ESTADO DO PARAN. Execuo: Departamento de Engenharia Florestal Universidade Estadual do

    Centro-Oeste UNICENTRO Campus de Irati e Fundao de Apoio da

    Universidade Estadual do Centro-Oeste - FAU

    Financiamento: Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e alimentao

    FAO / Ministrio do Meio Ambiente - MMA (Projeto FAO UTF/BRA/062/BRA -

    Consolidao dos instrumentos polticos e institucionais para a implementao do

    PNF - Programa Nacional de Florestas).

    Coordenao Afonso Figueiredo Filho Eng. Florestal, Dr.

    Andrea Nogueira Dias Eng. Florestal, Dr.

    Luciano Farina Watzlawick Eng. Florestal, Dr.

    Inventrio Florestal Rafael Rode - Engenheiro Florestal

    Alex Roberto Sawsczuk - Engenheiro Florestal

    Flvio Augusto Ferreira do Nascimento - Engenheiro Florestal

    Jlio Cezar Ferreira do Nascimento - Engenheiro Florestal

    Ademar Luiz Chiquetto - Acadmico de Engenharia Florestal

    Adisnei Barzotto Ribeiro - Acadmico de Engenharia Florestal

    Agnaldo Jos de Mattos - Acadmico de Engenharia Florestal

    Daniel Saueressing - Acadmico de Engenharia Florestal

    Fabiano Carneiro - Acadmico de Engenharia Florestal

    Francisco Alves de Moura Jnior - Acadmico de Engenharia Florestal

    Hilbert Blum - Acadmico de Engenharia Florestal

    Maria Dolores dos Santos - Acadmico de Engenharia Florestal

    Marshall Watson Herbert - Acadmico de Engenharia Florestal

    Raul Silvestre - Acadmico de Engenharia Florestal

    Thiago Floriani Stepka - Acadmico de Engenharia Florestal

    Vagner Putton - Acadmico de Engenharia Florestal

  • Cubagem Ademar Luiz Chiquetto - Acadmico de Engenharia Florestal

    Adisnei Barzotto Ribeiro - Acadmico de Engenharia Florestal

    Maria Dolores dos Santos - Acadmico de Engenharia Florestal

    Ricardo Yoshiaki Tani Acadmico de Engenharia Florestal

    Enerson Cruziniani - Acadmico de Engenharia Florestal

    Raul Silvestre - Acadmico de Engenharia Florestal

    Identificao Botnica Daniel Saueressing Tcnico Florestal e Acadmico de Engenharia Florestal

    INVENTRIO DAS FLORESTAS PLANTADAS NA FLORESTA NACIONAL DE IRATI, ESTADO DO PARAN. Execuo: Departamento de Engenharia Florestal Universidade Estadual do

    Centro-Oeste UNICENTRO Campus de Irati e Fundao de Apoio da

    Universidade Estadual do Centro-Oeste - FAU

    Financiamento: Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e alimentao

    FAO / Ministrio do Meio Ambiente - MMA (Projeto FAO UTF/BRA/062/BRA -

    Consolidao dos instrumentos polticos e institucionais para a implementao do

    PNF - Programa Nacional de Florestas).

    Coordenadores Afonso Figueiredo Filho Eng. Florestal, Dr.

    Andrea Nogueira Dias Eng. Florestal, Dr.

    Luciano Farina Watzlawick Eng. Florestal, Dr.

    Inventrio Florestal Rafael Rode - Eng. Florestal

    Alex Roberto Sawsczuk - Eng. Florestal

    Flvio Augusto Ferreira do Nascimento - Eng. Florestal

    Jlio Cezar Ferreira do Nascimento - Eng. Florestal

    Ademar Luiz Chiquetto - Acadmico de Engenharia Florestal

    Adisnei Barzotto Ribeiro - Acadmico de Engenharia Florestal

  • Agnaldo Jos de Mattos - Acadmico de Engenharia Florestal

    Daniel Saueressing - Acadmico de Engenharia Florestal

    Fabiano Carneiro - Acadmico de Engenharia Florestal

    Francisco Alves de Moura Jnior - Acadmico de Engenharia Florestal

    Hilbert Blum - Acadmico de Engenharia Florestal

    Maria Dolores dos Santos - Acadmico de Engenharia Florestal

    Marshall Watson Herbert - Acadmico de Engenharia Florestal

    Raul Silvestre - Acadmico de Engenharia Florestal

    Thiago Floriani Stepka - Acadmico de Engenharia Florestal

    Vagner Putton - Acadmico de Engenharia Florestal

    Cubagem Ademar Luiz Chiquetto - Acadmico de Engenharia Florestal

    Adisnei Barzotto Ribeiro - Acadmico de Engenharia Florestal

    Maria Dolores dos Santos - Acadmico de Engenharia Florestal

    Ricardo Yoshiaki Tani Acadmico de Engenharia Florestal

    Enerson Cruziniani - Acadmico de Engenharia Florestal

    Raul Silvestre - Acadmico de Engenharia Florestal

    Identificao Botnica Daniel Saueressing Tcnico Florestal e Acadmico de Engenharia Florestal

    OFICINA DE PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO Cecil Roberto de Maya Brothehood de Barros Planejamento e moderao

    Cibele Munhoz Planejamento e relatoria

    Ricardo Augusto Ulhoa Planejamento

    Ademar Luis Brandalise - Planejamento

  • SUMRIO

    VOLUME I - DIAGNSTICO

    1. INTRODUO .......................................................................................... 16

    2. INFORMAES GERAIS DA FLORESTA NACIONAL DE IRATI ............ 19

    2.1. REGIO DA UNIDADE DE CONSERVAO ........................................... 19

    2.2. ACESSO UNIDADE ............................................................................... 21

    2.3. ORIGEM DO NOME .................................................................................. 23

    2.4. HISTRICO DA FNI .................................................................................. 23

    3. ANLISE DA REPRESENTATIVIDADE .................................................... 27

    4. ASPECTOS HISTRICOS, CULTURAIS E SOCIECONMICOS ............ 31

    4.1 Aspectos culturais e histricos ..................................................................... 31

    4.1.1. Os ciclos econmicos e a ocupao europeia da regio de Irati ....... 34

    A erva-mate ................................................................................................ 35 A imigrao na regio centro-sul do Paran ........................................... 36

    O ciclo madeireiro nas primeiras dcadas do sculo XX ....................... 37

    O ciclo da madeira a partir dos anos 60 .................................................. 38

    4.2 Caractersticas da populao da Regio da FNI .......................................... 39

    4.2.1 Desenvolvimento Socioeconmico da Regio .................................... 39

    4.2.2 Dinmica demogrfica ........................................................................ 45

    4.2.3 Situao educacional da populao ................................................... 51

    4.3 Viso da comunidade sobre a Floresta Nacional ................................... 53

    4.4 Uso e ocupao do solo e problemas ambientais decorrentes .............. 55

    4.5 Legislao Pertinente ............................................................................ 63

    5 CARACTERIZAO DOS FATORES ABITICOS E BITICOS ................... 70

    5.1 Clima ...................................................................................................... 70

    5.2 Geomorfologia ....................................................................................... 75

    5.3 Geologia................................................................................................. 78

    5.4 Solos ...................................................................................................... 86

    5.5 Hidrografia ............................................................................................. 90

    MEIO BITICO ............................................................................................ 97

  • 5.6 Vegetao .............................................................................................. 97

    5.7 Fauna ................................................................................................... 114

    5.7.1 Mastofauna ...................................................................................... 114

    5.7.3 Herpetofauna ................................................................................... 131

    5.7.4 Ictiofauna ......................................................................................... 132

    5.7.5 Invertebrados .................................................................................. 136

    6 CARACTERIZAO DAS ATIVIDADES PRPRIAS AO USO MLTIPLO,

    CONFLITANTES E ILEGAIS ............................................................................ 137

    6.1 Atividades prprias ao uso mltiplo ............................................................ 137

    6.2 Atividades conflitantes ................................................................................ 147

    6.3 Atividades ilegais........................................................................................ 150

    7. Aspectos Institucionais da Floresta Nacional de Irati. .................................. 151

    7.1. Pessoal. .................................................................................................... 151

    7.2. Infra-estrutura, Equipamentos e Servios. ................................................ 153

    7.3. Estrutura Organizacional. .......................................................................... 166

    7.4 Situao fundiria ....................................................................................... 167

    7.5 Recursos Financeiros. ................................................................................ 167

    7.6 Cooperao Institucional ............................................................................ 168

    8. Declarao de Significncia. ........................................................................ 168

    REFERNCIAS ................................................................................................ 173

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Resumo das Informaes da Floresta Nacional de Irati-PR. ........... 18

    Quadro 2. Populao total e rea territorial dos municpios da regio da FNI

    2010 ........................................................................................................ 20

    Quadro 3. Distncia entre a sede da FNI e Curitiba e os principais centros

    urbanos do entorno. ............................................................................................. 22

    Quadro 4. ndice de Desenvolvimento Humano Brasil, Paran e Municpios

    da Regio da FNI, 1991-2000. ............................................................................. 40

    Quadro 5. Evoluo do ndice de Desempenho Municipal IPDM dos

    municpios da Regio da FNI, 2002-2009. ........................................................... 40

  • Quadro 6. Total de famlias e famlias pobres, distribuio por situao de

    domiclio, taxa de pobreza e ndice de desigualdade social, segundo os

    municpios da Regio da FNI, 2000. .................................................................... 43

    Quadro 7. Nmero de pessoas dos grupos etrios de 10 a 13 anos e de 14 a

    17 anos, total e ocupadas, por municpios da Regio da FNI, 2000 .................... 44

    Quadro 8. Populao total dos municpios da Regio da FNI - 2000 e 2010 ... 46

    Quadro 9. Taxas de crescimento geomtrico da populao, segundo os

    municpios da Regio da FNI 1970-2010 .......................................................... 46

    Quadro 10. Taxa de fecundidade total e esperana de vida ao nascer, segundo

    municpios da regio da FNI- 1991/2000. ............................................................ 48

    Quadro 11. Populao por grandes grupos etrios e ndice de idosos, segundo

    os municpios da FNI 2010 ................................................................................ 49

    Quadro 12. Razo de sexo da populao por grupos etrios, segundo os

    municpios da Regio da FNI 2010 ................................................................... 50

    Quadro 13. Populao com 15 anos e mais de idade, taxa de analfabetos por

    situao de domiclio, de analfabetos funcionais e nmero mdio de sries

    concludas, seg. os municpios da Regio da FNI 2000. ................................... 52

    Quadro 14. Taxa de frequncia escola por grupos etrios, segundo os

    municpios da Regio da FNI 2010. ................................................................... 53

    Quadro 15. Estabelecimentos agropecurios por tipo de ocupao do solo nos

    municpios da Regio da FNI, 1996 / 2006 .......................................................... 56

    Quadro 16. Espcies nativas de uso tradicional na regio da FNI: .................... 58

    Quadro 17. Rede de servios da regio da FNI. ................................................ 68

    Quadro 18. Infraestrutura de apoio sade na regio da FNI. .......................... 69

    Quadro 19. Caracterizao das unidades geolgicas da regio da FNI. ........... 82

    Quadro 20. Processos de titulao mineral em tramitao no DNPM localizados

    nas imediaes da FNI. ........................................................................................ 86

    Quadro 21. Uso e ocupao da terra na regio da FNI. .................................... 98

    Quadro 22. Distribuio das classes de tamanho dos fragmentos de floresta

    nativa em estgio mdio e avanado de regenerao na regio da FNI. ............ 98

    Quadro 23. Uso e ocupao da terra da FNI. .................................................. 101

  • Quadro 24. Parmetros fitossociolgicos das principais espcies das florestas

    nativas em estgio avanado de sucesso na FNI. ........................................... 102

    Quadro 25. Parmetros dendromtricos estimados para os plantios de Pinus

    elliotti na FNI. ........................................................................................... 105

    Quadro 26. Parmetros dendromtricos estimados para os plantios de Pinus

    taeda na FNI. ........................................................................................... 106

    Quadro 27. Parmetros dendromtricos estimados para os talhes com plantios

    de diversas espcies na FNI. ............................................................................. 107

    Quadro 28. Sortimento dos plantios de espcies exticas da FNI. .................. 108

    Quadro 29. Parmetros dendromtricos estimados para os plantios de Araucaria

    angustifolia. ........................................................................................... 112

    Quadro 30. Riqueza de espcies de acordo com cada guilda e subguilda, para a

    macrorregio. ........................................................................................... 122

    Quadro 31. Riqueza das vrias guildas de ocupao do ambiente, confrontadas

    com sua representao na avifauna da macrorregio. ...................................... 124

    Quadro 32. Espcies da avifauna de interesse para a conservao. .............. 129

    Quadro 33. Composio da equipe da FNI ...................................................... 152

    Quadro 34. Descrio do uso, rea construda e status de conservao das

    edificaes existentes na FNI em julho 2013. .................................................... 164

    Quadro 35. Aplicao de recursos na FNI 2009/2011. ................................. 167

    Quadro 36. Parcerias institudas no mbito da FNI. ......................................... 168

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Regio da Floresta Nacional de Irati .................................................. 20

    Figura 2. Acessos Floresta Nacional de Irati. ................................................. 21

    Figura 3. Placa na BR 153 indicando o acesso Floresta Nacional de Irati. .... 22

    Figura 4. Posio geogrfica da FNI evidenciando sua importncia como

    remanescente estratgico para a conservao da Floresta com Araucria. ........ 30

    Figura 5. Genealogia dos municpios da regio da FNI. .................................... 34

    Figura 6. Tipos climticos do Estado do Paran. .............................................. 70

  • Figura 7. Mdias de precipitao ao longo do ano na regio da FNI. ............... 72

    Figura 8. Mdia de nmero de dias de chuva por ms, ao longo do ano, na

    regio da FNI. ....................................................................................................... 73

    Figura 9. Durao dos dias e nmero mdio de horas de insolao ao longo dos

    meses do ano na regio da FNI. .......................................................................... 74

    Figura 10. Compartimentos geomorfolgicos e nvel de dissecao da

    paisagem da Regio da FNI. ................................................................................ 76

    Figura 11. Hipsometria da FNI. ........................................................................ 78

    Figura 12. Principais unidade geolgicas do Paran. ...................................... 79

    Figura 13. Coluna cronolitoestratigrfica da Bacia Sedimentar do Paran,

    mostrando a distribuio espacial e temporal das principais litologias observadas,

    os grupos das principais formaes geolgicas e os ambientes formadores

    dessas litologias. .................................................................................................. 80

    Figura 14. Formaes geolgicas da regio da FNI. ....................................... 81

    Figura 15. Formaes geolgicas da FNI. ....................................................... 85

    Figura 16. Solos da regio da FNI. .................................................................. 87

    Figura 17. Solos da FNI. .................................................................................. 89

    Figura 18. Mapa de Drenagem da Regio da FNI. .......................................... 92

    Figura 19. Hidrografia da FNI. .......................................................................... 93

    Figura 20. Vrzea formada pelo encontro dos rios das Antas e Imbituvo. ..... 95

    Figura 21. Aude no interior da FNI. ................................................................ 96

    Figura 22. Uso e Ocupao do Solo na FNI .................................................. 101

    Figura 23. Composio da rea de plantios florestais da FNI. ....................... 104

    Figura 24. Composio etria dos plantios florestais da FNI. ........................ 104

    Figura 25. Distribuio do volume comercial dos plantios de Pinus elliottii na

    FNI. ...................................................................................................... 108

    Figura 26. Distribuio do volume comercial dos plantios de Pinus taeda na

    FNI. ...................................................................................................... 109

    Figura 27. Diagrama UPGMA indicando a similaridade entre pontos amostrais,

    mediante valores de composio especfica. ..................................................... 128

  • Figura 28. Proporcionalidade dos temas das pesquisas autorizadas no SISBIO

    pela FNI. ...................................................................................................... 138

    Figura 29. Nmero de estudantes que visitam a FNI para atividades de

    Educao Ambiental, 2006 2009. .................................................................... 140

    Figura 30. Barbaqu ...................................................................................... 143

    Figura 31. Linha de transmisso Irati-Sabar. ............................................... 148

    Figura 32. Placa indicando a entrada da FNI. ................................................ 153

    Figura 33. Barraco. ...................................................................................... 154

    Figura 34. Chamin. Ao fundo guarita localizada na entrada da FNI. ............ 155

    Figura 35. Garagem ....................................................................................... 156

    Figura 36. Escritrio administrativo da FNI. ................................................... 156

    Figura 37. Casa funcional. ............................................................................. 157

    Figura 38. Edificao utilizada como refeitrio, lavanderia e depsito. .......... 158

    Figura 39. Sede da brigada ............................................................................ 159

    Figura 40. Centro de visitantes. ..................................................................... 160

    Figura 41. Bancos e mesas ........................................................................... 161

    Figura 42. Trilha das Araucrias .................................................................... 162

    Figura 43. Comunicao visual da FNI .......................................................... 163

    Figura 44. A FNI no organograma do ICMBio. ............................................... 166

  • Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    15

    DIAGNSTICO

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    16

    1. INTRODUO

    A Floresta Nacional de Irati (FNI) localiza-se no estado do Paran e

    abrange parte dos municpios de Fernandes Pinheiro e Teixeira Soares. Possui

    rea de 3.495 hectares, situado em rea de domnio do bioma Mata Atlntica. A

    maior parte de sua rea coberta por florestas nativas com predominncia de

    araucria, ou seja, Floresta Ombrfila Mista, segundo classificao do IBGE e

    cerca de 37,5% (1.308 ha) com reflorestamento de Araucaria, Pinus e Eucalyptus

    (IBAMA, 2006). uma unidade de conservao, e como tal, foi instituda pelo

    poder pblico, com limites definidos, com objetivos de conservao, por ter

    caractersticas naturais relevantes em sua gesto e manejo deve ser garantida

    sua proteo.

    As unidades de conservao segundo o Sistema Nacional de Unidades de

    Conservao da Natureza (SNUC) so divididas em dois grupos, Unidades de

    Uso Sustentvel, ao qual pertencem as Florestas Nacionais (FLONA) e Proteo

    Integral. As Unidades do primeiro grupo tm como objetivo bsico compatibilizar a

    conservao da natureza com o uso sustentvel de parcela dos seus recursos

    naturais. Nestes espaos a explorao do ambiente realizada de maneira a

    garantir a perenidade dos recursos ambientais renovveis e dos processos

    ecolgicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecolgicos, de forma

    socialmente justa e economicamente vivel (Lei 9.985/2000).

    As Florestas Nacionais (FLONA) tm por sua vez como objetivo bsico o

    uso mltiplo e sustentvel dos recursos florestais e a pesquisa cientfica, com

    nfase em mtodos para explorao sustentvel de florestas nativas. Para que as

    unidades atinjam os objetivos definidos por lei grupo e categoria - e seus

    objetivos especficos definidos em seu decreto de criao e detalhados nos

    estudos complementares, so elaborados os seus Planos de Manejo (PM).

    A rea que atualmente a Floresta Nacional de Irati foi inicialmente criada

    como Estao Florestal de Irat ou Parque Florestal Manoel Enrique da Silva e

    teve como objetivo principal pesquisar o Pinheiro-do-Paran (Araucaria

    angustifolia) sob diferentes condies de cultivo. Segundo o Plano Florestal da

    Estao Florestal de Irati (1949), as Estaes Florestais destinavam-se criao

    de patrimnio nacional e a ampliao de conhecimentos sobre os aspectos

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    17

    tcnicos, administrativos e financeiros de reflorestamentos. Posteriormente essas

    reas foram utilizadas para testar o desenvolvimento de diferentes espcies e

    procedncias de Pinus e Eucalyptus, em diferentes ambientes e tratos

    silviculturais, como parte da poltica florestal do pas.

    Dentro desta percepo a FNI teve seu primeiro PM elaborado em 1989

    pela Fundao de Pesquisas Florestais do Paran (FUPEF). Atualmente esse

    documento est sendo revisado no novo escopo dado pela Lei 9.985/2000 que

    Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza, seguindo o

    princpio da publicidade e da participao social, promovendo a sustentabilidade

    econmica da unidade, a integrao com as demais polticas pblicas de proteo

    ambiental e de uso sustentvel dos recursos naturais renovveis, o

    desenvolvimento e adaptao de mtodos e tcnicas de uso sustentvel dos

    recursos naturais, dentre outros.

    A reviso do Plano de Manejo foi iniciada no mbito da Gesto

    Compartilhada da Floresta Naciona de Irati, iniciada em dezembro de 2006, por

    meio do Termo de Parceria firmado entre o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

    dos Recursos Naturais Renovveis (IBAMA) e a Sociedade de Pesquisa em Vida

    Selvagem e Educao Ambiental (SPVS) e posteriormente aditivada em 2008, j

    com o novo rgo gestor da FNI, o Instituto Chico Mendes de Conservao da

    Biodiversidade (ICMBio).

    Em 2011 o termo de parceria foi desfeito, o que levou o ICMBio a dar

    continuidade s atividades para finalizao do PM. Para servir como fundamentos

    do processo de deciso para o planejamento foram realizados estudos

    socioeconmicos, avaliao ecolgica rpida, inventrios das florestas nativas e

    das florestas plantadas, bem como uma oficina de planejamento participativo

    (OPP), na qual participaram representantes de diferentes atores sociais da regio.

    O documento composto por dois volumes: I Diagnstico e II-

    Planejamento, contando ainda com uma verso resumida denominada Resumo

    Executivo.

    O resumo da informao sobre a FNI est no Quadro 1.

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    18

    Quadro 1. Resumo das Informaes da Floresta Nacional de Irati-PR.

    Ficha Tcnica da Floresta Nacional

    Nome da Unidade de Conservao: Floresta Nacional de Irati Coordenao Regional: Coordenao Regional Florianpolis (CR-9) Unidade de Apoio Administrativo e Financeiro: UAAF Foz do Iguau Endereo da sede: PR 153, Km 325 trecho entre Irati e

    Imbituva/PR Fernandes Pinheiro/PR Caixa Postal 163 Irati PR 84500-000

    Site: http://www.icmbio.gov.br

    Telefone: (42) 3422.6944

    Fax: (42) 3422.6944

    e-mail: [email protected] Superfcie da Unidade de Conservao (ha):

    3.495 ha

    Permetro da Unidade de Conservao (km):

    52,167km

    Superfcie da Proposta de ZA (ha): 32.753 ha Permetro da Proposta de ZA (km): 97,616 km

    Municpios que abrange e percentual abrangido pela Unidade de Conservao:

    Fernandes Pinheiro/PR (78%) e Teixeira Soares/PR (22%)

    Estados que abrange: Paran Coordenadas geogrficas (latitude e longitude):

    5033'44,889"W e 2520'24,818"S

    Data de criao e nmero do Decreto:

    Em 1946 foi criado o Parque Florestal Manoel Henrique da Silva. Posteriormente sua rea foi enquadrada como Floresta Nacional pela Portaria n 559/IBDF de 25 de outubro de 1968.

    Marcos geogrficos referenciais dos limites:

    Limite Oeste: Rio das Antas Leste: Riacho Jacu e Rio Imbituva Norte: Foz do Rio das Antas desaguando no Rio Imbituva. Sul: Arroio Cochinhos e Estrada Rural Municipal entre Kartdromo e IAPAR.

    Biomas e ecossistemas: Mata Atlntica Floresta Ombrfila Mista (FOM)

    Atividades ocorrentes: Proteo, educao ambiental / visitao, pesquisa.

    Educao ambiental : Visitas s trilhas, centro de visitantes e atividades ao ar livre com alunos da rede

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    19

    escolar municipal da regio e outros grupos organizados; Palestras em escolas.

    Fiscalizao : Fiscalizao eventual com apoio de UCs prximas e da Polcial Ambiental Estadual.

    Pesquisa: Realizadas por outras instituies de pesquisa, essencialmente voltadas pesquisa bsica de fauna e flora.

    Visitao: A visitao feita, em geral, com acompanhamento por tcnico da unidade, sob agendamento prvio. Os principais pblicos so escolares, universitrios e pesquisadores, com uma mdia de 1.500 visitantes/ano. As atividades consistem essencialmente em caminhadas nas trilhas e visita exposio (diorama) no centro de visitantes.

    Atividades conflitantes: Existncia de linhas de transmisso com atividades de manuteno; caa e pesca; uso de estrada interna unidade para acesso a rea particular.

    2. INFORMAES GERAIS DA FLORESTA NACIONAL DE IRATI

    2.1. REGIO DA UNIDADE DE CONSERVAO

    A Floresta Nacional de Irati tem 78% de sua rea no municpio de

    Fernandes Pinheiro e 22% em Teixeira Soares. Alm disso, faz divisa com mais

    dois municpios, Irati e Imbituva (Figura 1). Esses quatro municpios passam, a

    partir daqui, a ser chamados de Regio da Floresta Nacional de Irati.

    Situa-se na regio centro-sul do Paran, no Segundo Planalto Paranaense,

    rea de ocorrncia da Floresta Ombrfila Mista, entre as coordenadas geogrficas

    251 e 2540 de latitude sul; e 5111 e 5115 de longitude oeste. Ao norte, faz

    divisa com os municpios de Prudentpolis, Guamiranga, Iva e Ipiranga, a leste

    com Ponta Grossa, ao sul com Rio Azul, Rebouas, So Joo do Triunfo e

    Palmeira e a oeste com Incio Martins e Guarapuava.

    Com uma rea de 310.307,97 ha e uma populao de 91.363 habitantes,

    dos quais 65,5% residem em rea urbana, a Regio da FNI tem uma estrutura

    fundiria baseada na pequena propriedade rural, sendo 88,3% da rea total

    formada por 6.421 propriedades com at 50 ha.

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    20

    Figura 1. Regio da Floresta Nacional de Irati

    Fonte: Mazza, 2006

    Localizada na poro centro-sul do Estado do Paran, no que pode ser

    considerado a rea core da Florestal Ombrfila Mista, a regio da FNI

    caracterizada por apresentar uma condio de manuteno da cobertura original

    relativamente melhor que o restante da rea de abrangncia desse ecossistema

    em termos de rea (cerca de 32% com remanescentes de florestas nativas).

    Entretanto, grande parte desses remanescentes esto pulverizados em

    fragmentos de tamanho inferior a 1,0ha.

    Quadro 2. Populao total e rea territorial dos municpios da regio da FNI 2010

    Municpio Populao rea territorial

    (ha)

    Total Rural Urbana Fernandes Pinheiro 5.932 3.838 (64,7%) 2.094 40.650 Imbituva 28.455 10.567 (37,1%) 17.888 Irati 56.207 11.275 (20,1%) 44.932 99.529 Teixeira Soares 10.283 5.487 (53,4%) 4.796 90.308 PARAN 10.444.526 1.535.345 (14,7%) 8.909.181 19.988.000 Fonte: IBGE - Censo Demogrfico 2010.

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    21

    Com isso, a FNI com 3.495 ha, a REBIO das Araucrias (14.919,42 ha) e a

    Estao Ecolgica de Fernandes Pinheiro (532.13 ha) representam alguns dos

    principais remanescentes de floresta com araucria da regio.

    2.2. ACESSO UNIDADE

    O acesso rodovirio FNI facilitado pela sua proximidade a duas

    rodovias importantes: a BR 277, que corta o Paran de Leste a Oeste, e a BR

    153, a rodovia Transbrasiliana, que perpassa o pas de Norte a Sul (Figura 2).

    Figura 2. Acessos Floresta Nacional de Irati.

    O trajeto, partindo de Curitiba, tem incio pela BR 277 sentido Ponta

    Grossa, por uma distncia de cerca de 45km, at uma inflexo desta mesma

    rodovia na altura do km 147, logo aps o posto da Polcia Rodoviria Federal.

    Desse ponto segue-se por aproximadamente 98km, at o km 245, no viaduto de

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    22

    entrada do municpio de Irati, donde toma-se a BR 153, em direo a Imbituva,

    por cerca de 3,8km, at o km 325. Desse ponto, toma-se a direita, percorrendo

    1,5km por via cascalhada, at a entrada da FNI (Figura 3).

    Figura 3. Placa na BR 153 indicando o acesso Floresta Nacional de Irati.

    Tendo como origem regies ao Norte da unidade, pode-se acessar a FNI

    diretamente pela BR 153, atravessando o municpio de Imbituva e seguindo em

    direo a Irati, por 23 km, at o km 325, donde toma-se a esquerda, percorrendo

    1,5km por via cascalhada, at a entrada da FNI. As distncias entre a FNI e as

    principais cidades constam no Quadro 3.

    Quadro 3. Distncia entre a sede da FNI e Curitiba e os principais centros urbanos do entorno.

    Local Distncia aproximada Vias de Acesso Principal

    Curitiba 158 km BR-277 e BR 153

    Irati 8 km PR-153

    Fernandes Pinheiro 13,5 km PR-438, BR 277 e BR 153

    Imbituva 20 km BR 153

    Teixeira Soares 20 km PR-438, BR 277 e BR 153

    Fonte: Google Earth, acesso: 24/05/2012.

    O atendimento ao transporte aerovirio, com linhas regulares, mais

    prximo regio, exercido pelo aeroporto Afonso Pena, em Curitiba. Ponta

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    23

    Grossa, a cerca de 90km de distncia possui o Aeroporto Municipal Santana, que

    recebe avies de pequeno e mdio porte, mas onde, atualmente, no existem

    linhas comerciais em operao.

    2.3. ORIGEM DO NOME

    A partir de 1943 o Instituto Nacional do Pinho iniciou a aquisio de terras

    visando o reflorestamento e a experimentao florestal, voltados principalmente

    para a araucria. Assim, em 1946 foi criado o Parque Florestal Manoel Henrique

    da Silva, na ento localidade de Fernandes Pinheiro, municpio de Teixeira

    Soares, no Paran.

    Entretanto, corriqueiramente era utilizado o ttulo Estao Experimental

    para o tratamento dessas reas e a tendncia em se associar os nomes das

    reas pblicas a topnimos, ou seja, a entes geogrficos da regio: segundo o

    Plano Florestal da Estao Florestal de Irat(INP, 1949):

    Esta Estao (E.F. de Fernandes Pinheiro) costuma ser chamada Estao Florestal de Irat, por estar situada na srie geolgica de Irat.

    Em 25 de outubro de 1968, sob tutela do Instituto Brasileiro de

    Desenvolvimento Florestal IBDF, a rea foi reenquadrada como Floresta

    Nacional de Irat.

    O nome da srie Irati, que na lngua tupi significa rio do mel, provm de

    local onde afloram os folhelhos pretos desta formao geolgica: a cidade

    paranaense de Irati (AMARAL, 1971), limtrofe Floresta Nacional.

    2.4. HISTRICO DA FNI

    A extrao e comercializao da madeira uma das mais antigas

    atividades econmicas exercidas no Brasil. Ocorrendo desde seu incio de forma

    emprica e desordenada, atravessou fases sucessivas de pujana e depresso.

    Essa instabilidade criou, ao longo de mais de quatro sculos, um complexo de

    insegurana, que passou de gerao em gerao (INP, 1948).

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    24

    Pouco antes da II Guerra Mundial, verificou-se substancial aumento na

    exportao de madeiras, sobretudo para a Europa e especialmente para a

    Alemanha que, quela altura, cuidava de compor imensos estoques com objetivos

    estratgicos (INP, 1948).

    Facilidades cambiais e abundncia de matria prima favoreciam o

    incremento dos negcios e, assim, a indstria madeireira viveu uma fase de

    prosperidade. At esse momento, as serrarias trabalhavam em regime de vinte

    quatro horas.

    Com o incio da II Guerra em setembro de 1939, estancou-se, de sbito, as

    exportaes para a Europa, interferindo fortemente no comrcio internacional

    brasileiro. Com isso, restou basicamente apenas um destino contnuo para as

    exportaes madeireiras: a Argentina (INP, 1948).

    Em toda a regio produtora do sul do pas, os trens corriam em verdadeiros

    vales formados de pilhas de madeira, cuja altura aumentava continuamente,

    criando srio problema para o governo. Essa circunstncia fez com que

    crescessem os embarques de madeira brasileira sob consignao para a praa

    de Buenos Aires, onde passou a ser vendida a preo desvantajoso, chegando por

    vezes a no cobrir os custos de explorao.

    Coincidindo com esses fatos, o transporte ferrovirio comeou a diminuir

    pela dificuldade de manuteno das ferrovias, pela dificuldade de importao de

    material rodante para a recuperao das linhas e das locomotivas e pela

    dificuldade de obteno de combustvel: a madeira utilizada era, paradoxalmente,

    rara no interior das florestas, em decorrncia de graves erros administrativos.

    Desenhava-se assim, um quadro de perspectivas sombrias ao setor madeireiro,

    levando o poder pblico a tomar medidas acauteladoras sobre o futuro da

    indstria madeireira (INP, 1948).

    Sob esse panorama foi criado, em 1939, o Servio do Pinho, sob o mbito

    da Comisso de Defesa da Economia Nacional, que realizou levantamento sobre

    a capacidade de produo do parque madeireiro dos Estados do sul, visando

    regular a produo das serrarias de acordo com a real capacidade de transporte

    ferrovirio. Alm disso, fixou cotas de exportao de madeira para os trs Estados

    do sul, disciplinando as remessas para o nico mercado extrangeiro normalmente

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    25

    operante poca. Tais medidas impediram o aumento dos estoques margem

    das ferrovias, que poca estavam estimados em 40.000 vages, bem como

    provocaram a reao dos preos, os quais se elevaram a valores de remunerao

    mais justos. Com o sucesso das medidas adotadas ficou resolvido no mais ser

    abandonada prpria sorte a indstria madeireira (INP, 1948).

    Assim, a partir do ncleo constitudo pelo Servio do Pinho, foi criado em 19

    de maro de 1941 o Instituto Nacional do Pinho (INP), pelo Decreto n. 3.124,

    posteriormente reorganizado pelo Decreto-lei 4.813, de 08 de outubro de 1942,

    com a incumbncia de controlar e regulamentar a economia madeireira e tratar do

    florestamento e do reflorestamento das zonas devastadas. Para isso foi traado

    um plano de instalao de vrias estaes experimentais distribudas pela regio

    de ocorrncia da A. angustifolia, para o plantio e observaes sobre a cultura do

    pinheiro do Brasil (INP, 1948b).

    Neste cenrio em 1946 foi iniciada a compra, pelo INP, das terras para

    formao do Parque Florestal Manoel Henrique da Silva, na regio de ocorrncia

    natural da araucria. A Unidade foi destinada implementao de estudos e

    ensaios com a Araucaria angustifolia com o objetivo inicial de avaliar e testar os

    mtodos de plantio, espaamento, tratos culturais etc, gerando subsdios para os

    plantios em grande escala (Hosokawa et al., 1990). Nessa rea foram realizados

    plantios de araucria no perodo entre 1943 (pelo antigo proprietrio da terra) at

    1961.

    Com a publicao da Portaria IBDF n 559 em outubro de 1968, j sob a

    administrao do IBDF, o Parque Florestal Manoel Henrique da Silva foi

    enquadrado como Floresta Nacional, respaldado em artigo do Cdigo Florestal de

    1965 que definiu a figura dessa categoria de unidade de conservao.

    Desde o incio do sculo, estudos vinham sendo conduzidos visando

    introduo e a aclimatao do gnero Pinus no Brasil (Lfgren, 1906). Na dcada

    de 1930 foram feitos os primeiros estudos sobre os chamados pinus subtropicais,

    com a implantao de extensas reas experimentais pelo Instituto Florestal de

    So Paulo (P. elliotti e P. taeda). A introduo de espcies exticas com fins

    comerciais ocorreu, por um lado em razo da diminuio de espcies nativas nos

    Estados do sul e sudeste do pas e, por outro lado em funo do aumento da

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    26

    demanda de celulose para a fabricao de papel e de madeira para serraria

    (KRONKA, BERTOLANI, & PONCE, 2005).

    Na dcada de 1950, alguns particulares, ainda em muito pequena escala, e

    outros rgos de pesquisa estatais iniciaram testes por meio do plantio de

    diversas variedades de pinus (KRONKA, BERTOLANI, & PONCE, 2005). Na FNI

    os plantios de pinus foram realizados de 1960 a 1981 (FIGUEIREDO FILHO,

    2006).

    Foram tambm realizados plantios experimentais de outros gneros e

    espcies como: Acacia sp., Eucalyptus spp, Cupressus lusitanica e Cunninghamia

    lanceolata.

    Processo de gesto da FNI

    A gesto da FNI acompanhou as tendncias e orientaes segundo as

    diferentes fases e contextos histricos.

    Assim, as primeiras atividades no Parque Florestal tiveram incio em 26 de

    setembro de 1946, sob a coordenao do agrnomo Ferno de Lignac Paes

    Leme, do silvicultor austraco Erwin Grger e, a partir de 1949, do agrnomo

    Ernesto Silva Arajo, que foi o diretor da Unidade at o ano de 1978. Um relatrio

    do INP datado do final de 1949 sugere a denominao Estao Florestal de Irati,

    e define claramente quais eram os objetivos de tais reas na poca:

    ...so essencialmente empresas de reflorestamento em estado de organizao, dedicadas cultura de Araucria (...) no apenas destinadas criao de um patrimnio nacional, mas tambm ampliao de nossos conhecimentos sob os aspectos tcnicos, administrativos e financeiros de reflorestamento....

    Os objetivos permaneceram muito prximos aos anteriores, na gesto do

    INP, mas agora focados no gnero Pinus.

    Em 1989 foi elaborado, pela Fundao de Pesquisas Florestais FUPEF, o

    primeiro e nico Plano de Manejo da Floresta Nacional de Irati, com objetivos

    predominantemente dirigidos ao aspecto produtivo, no tendo sido contemplados

    outros temas de manejo voltados conservao. Ele era composto por um

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    27

    inventrio das florestas nativas e plantadas, um levantamento de fauna,

    levantamento da malha viria e algumas propostas para uso pblico, voltadas

    para atividades de lazer. O inventrio das florestas plantadas foi feito de forma

    muito detalhada, objetivando subsidiar a colheita dessas florestas. O

    levantamento da malha viria recomendava a adequao das vias internas para o

    escoamento da produo, e o inventrio faunstico apontava (contrariando o que

    sabemos hoje, a partir de levantamentos posteriores) para uma diversidade pouco

    significativa da fauna aqui existente, e conclua que a explorao florestal na

    Unidade no acarretaria nenhum impacto representativo sobre a nossa

    biodiversidade. No foi feita nenhuma proposta de zoneamento para a FNI, no

    se definiu nenhuma estratgia para a conservao dos nossos remanescentes de

    floresta nativa e no foram mencionadas prticas minimizadoras do impacto da

    explorao dos plantios florestais. Esse Plano de Manejo vigorou at 1999, ano

    de seu vencimento. Suas propostas de manejo no foram executadas de forma

    adequada, o que interfere na qualidade dos povoamentos existentes atualmente.

    Aps a publicao da Lei do SNUC esforos tm ocorrido no sentido de

    adequar a FNI ao conceito de Unidade de Conservao, onde a conservao da

    biodiversidade, dos processos ecolgicos, do patrimnio cultural e o uso

    sustentvel dos recursos naturais tornam-se seus objetivos de gesto e manejo,

    tendo como uma das principais diretrizes a participao social. Nesse contexto foi

    priorizada a criao e consolidao do Conselho Consultivo da FNI e o

    estabelecimento de parcerias com instituies de pesquisa e ensino.

    3. ANLISE DA REPRESENTATIVIDADE

    A Mata Atlntica, reconhecidamente um dos biomas mais ricos em

    diversidade biolgica do mundo, tambm um dos mais ameaados do planeta.

    Essa formao, que poca da chegada dos portugueses revestia cerca de 15%

    do territrio do Brasil, representa hoje menos de 7% de sua cobertura original.

    Cerca de 62% da populao brasileira reside dentro do territrio sob o domnio da

    Mata Atlntica e, conseqentemente, nela est a maior concentrao das

    atividades produtivas do pas.

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    28

    Graas sua ampla distribuio, o bioma Mata Atlntica composto por

    vrios tipos de ecossistemas relacionados entre si, tais como a Floresta Ombrfila

    Densa, a Floresta Ombrfila Mista (Floresta com Araucrias), a Floresta

    Estacional Semidecidual, a Floresta Estacional Decidual e os ecossistemas

    associados como manguezais, restingas, brejos interioranos, campos de altitude e

    ilhas costeiras e ocenicas. Essa amplitude contribui para a constituio de uma

    grande variabilidade de ambientes, de espcies e gentica, levando a enquadrar

    a regio da Mata Atlntica como Hotspot de Biodiversidade (MYERS et al., 2000)

    O Estado do Paran originalmente apresentava quase que a totalidade de

    seu territrio recoberto pelo bioma Mata Atlntica. Atualmente grande parte dos

    remanescentes ainda existentes esto concentrados principalmente em unidades

    de conservao.

    No sul do Brasil um dos ecossistemas mais caractersticos do bioma Mata

    Atlntica corresponde Floresta Ombrfila Mista (IBGE, 2004), tambm

    conhecida como regio das matas de araucria (Maack, 2002), pinheiral

    (Rizzini e Coimbra Filho, 1988) ou floresta com araucria. Segundo Koch e

    Corra (2002) a exuberncia da Floresta com Araucria era tamanha que os

    viajantes chegavam a ficar vrios dias quase sem ver a luz do sol, encoberta

    pelas copas entrelaadas dos pinheiros. A devastao da Floresta Ombrfila

    Mista seguiu um ritmo semelhante por toda a sua rea de ocorrncia, tendo

    iniciado de forma lenta entre os sculos XVIII e XIX, para se intensificar durante a

    1 Guerra Mundial, quando os mercados nacional e internacional se viram

    privados do pinho-de-riga, madeira produzida na Europa, voltando-se ento para

    o pinheiro-brasileiro. A explorao da araucria foi mais intensa a partir de 1934,

    atingindo seu auge no perodo de 1950 a 1970.

    No Estado do Paran existiam, originalmente, cerca de 73.780 km de

    Floresta Ombrfila Mista (quase 40% da rea do Estado). Em 1965 existiam

    apenas 21,6% da rea original desse tipo de formao remanescente, sendo

    cerca de 18,6% considerados como mata virgem (Maack, 2002). At a dcada

    de 1970 a araucria foi o principal produto brasileiro de exportao, respondendo

    com mais de 90% da madeira remetida para fora do pas (Seitz, 1986).

    Levantamentos realizados no ano de 2002 estimaram que os remanescentes de

    Floresta Ombrfila Mista, nos estgios primrios ou mesmo avanados, no

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    29

    perfaziam mais de 0,7% da rea original (MMA, 2002), o que a colocava entre as

    tipologias mais ameaadas do bioma Mata Atlntica. As indicaes mais otimistas

    registram entre 1 a 2% de reas originais cobertas pela Floresta Ombrfila Mista

    nos trs Estados do Sul (Koch e Corra, 2002). Estudos realizados pelo PROBIO

    Araucria (Castella e Britez, 2001), indicavam a ocorrncia de apenas 0,8% de

    Floresta Ombrfila Mista em estgio avanado, sendo que a distribuio espacial

    desses remanescentes apresentava-se dispersa em fragmentos pequenos e

    mdios, no superiores a 5.000 ha. O mesmo estudo indicava ainda a inexistncia

    de reas intocadas j quela poca.

    A Floresta Ombrfila Mista, em funo de seu nmero de espcies

    endmicas, foi enquadrada como uma rea de Endemismo de Aves (Endemic

    Bird Area - EBA), rea Montanhas da Floresta Atlntica (BIRDLIFE

    INTERNATIONAL, 2012).

    A FNI constitui uma das dez Florestas Nacionais da regio sul e uma das

    65 unidades enquadradas nessa categoria no Brasil. Dentre as da regio sul, a

    segunda maior em rea total. Constitui, junto com as outras Florestas Nacionais

    do sul e do sudeste, algumas das mais antigas reas da Unio que foram

    posteriormente transformadas em UCs, considerando-se sua aquisio pelo

    Instituto Nacional do Pinho nas dcadas de 1930-1940.

    Essa UC contribui para o cumprimento da misso do ICMBio1

    1

    Proteger o patrimnio natural e promover o desenvolvimento socioambiental.

    e constitui

    tambm a representao institucional na regio.

    Nesse contexto, fica saliente a importncia, pela sua simples existncia, da

    Floresta Nacional de Irati. Com um total de 3.495ha, essa unidade de

    conservao apresenta diversos tipos de cobertura vegetal, sendo que cerca de

    60% correspondem a reas naturais, ou seja, cerca de 2.000ha de formaes

    nativas. Por representar um grande remanescente de florestas naturais, sua

    posio geogrfica estratgica para a conexo entre diversos fragmentos da

    regio, fortalecendo seu papel na manuteno do patrimnio gentico.

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    30

    A FNI est inserida na bacia hidrogrfica do Tibagi, que abrange um

    territrio de 2.493.738ha e 53 municpio distribudos na poro centro-oriental do

    Paran. A bacia do Tibagi, de maneira geral, apresenta uma reduzida rea de

    cobertura florestal, por volta de 3,4% da rea total (83.878ha). Dessa rea de

    cobertura florestal existente, a unidade responsvel pela conservao de cerca

    de 2,4% do total, correspondente aos seus remanescentes naturais.

    Em conjunto com a Reserva Biolgica das Araucrias, a Estao Ecolgica

    Fernandes Pinheiro e a proposta de Refgio de Vida Silvestre do Rio Tibagi

    (Figura 4), a FNI compe um corredor de biodiversidade relativamente extenso.

    Alm disso, essas unidades formam um mosaico de unidades de conservao de

    diferentes categorias e com representantes dos dois grupos previstos no SNUC,

    proteo integral e de uso sustentvel.

    Figura 4. Posio geogrfica da FNI (em verde) evidenciando sua importncia como remanescente estratgico para a conservao da Floresta com Araucria.

    Legenda: Em laranja - Estao Ecolgica de Fernandes Pinheiro; em azul: Reserva Biolgica das Araucrias; em verde - Floresta Nacional de Irati. Fonte: SPVS

    Os outros 37% da cobertura vegetal da FNI so ocupados por silvicultura,

    sendo cerca de 430ha compostos por plantios de araucria e cerca de 860ha por

    plantios de espcies exticas, principalmente de pinus. Esses plantios constituem

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    31

    um ativo florestal passvel de explorao, que configura importante fonte de

    recursos financeiros a serem reinvestidos em conservao da biodiversidade.

    Alm disso, a explorao do pinus existente na unidade altamente

    recomendada, do ponto de vista ecolgico, considerando tratar-se de uma

    espcie extica que, via de regra, apresenta ndices bastante baixos de riqueza e

    diversidade e por seu alto potencial de contaminao biolgica, especialmente em

    reas abertas, como por exemplo, campos e banhados.

    Considerando os aspectos acima citados, nas avaliaes realizadas no

    mbito do Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade

    Biolgica Brasileira - PROBIO, a FNI foi enquadrada como uma rea prioritria

    para conservao do bioma Mata Atlntica de importncia extremamente alta

    (Ma622) pelo Ministrio do Meio Ambiente em 2006 (MMA, 2012).

    4. ASPECTOS HISTRICOS, CULTURAIS E SOCIECONMICOS

    4.1 Aspectos culturais e histricos

    A histria do Brasil pr-cabralino recente costuma ser estudada atravs das

    lnguas nativas. Quando os europeus passaram a ocupar a costa oriental da

    Amrica do Sul, encontraram etnias vinculadas a quatro principais grupos

    lingusticos: arawak, tupi-guarani, j e karib.

    A expanso dos ndios pertencentes ao grupo Guarani teria tido seu ponto

    de origem em algum lugar na Amaznia em direo ao sul, onde ocuparam as

    bacias dos rios Paraguai, Paran e Uruguai e seus afluentes. Pesquisas indicam

    que as populaes Guarani, em contnuo processo de crescimento demogrfico e

    de expanso territorial, a partir do sudoeste da Amaznia (bacia do rio Guapor),

    teriam sucessivamente ocupado a rea do atual Mato Grosso do Sul e, atravs da

    bacia do Paran, ingressado no sul do Brasil pelo noroeste paranaense

    (Brochado 1984; Noelli 1998, 1999-2000).

    As lnguas associadas matriz lingustica Macro-J tiveram sua expanso

    iniciada pelos J meridionais (Kaingang e Xkleng) h cerca de 3 mil anos, a

    partir da Regio Centro-Oeste do Brasil em direo ao sul, ocupando mais

  • Diagnstico

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    32

    especificamente as regies altas dos planaltos (Cunha, 2008). Os jesutas do

    sculo XVII, fundadores das redues do sul do Brasil, registraram a presena

    desses grupos indgenas no Guaranis na regio que hoje se estende do sul do

    Estado de So Paulo at a margem direita do rio Iguau, denominando-os de

    Cabeludos e Gualachos.

    Na poca da chegada dos europeus na Amrica podemos dizer que os

    Guarani ocupavam, alm do litoral da baia de Paranagu para o sul, todos os

    vales dos grandes rios do interior, e os J (Kaingang e Xokleng) ocupavam as

    regies mais altas nos interflvios desses rios.

    provvel que os Kaingang e os Xokleng tenham chegado primeiro na

    regio do Paran, pois em quase todo o Estado os stios Guarani esto prximos

    ou sobre os stios arqueolgicos dos Kaingang e dos Xokleng. Com a chegada

    dos Guarani e, na medida em que estes iam conquistando os vales dos rios, os

    Kaingang foram sendo empurrados para o centro-sul do Paran.

    O territrio paranaense, at o incio do sculo XVII pertencia ao Imprio

    Espanhol e era chamado de Provncia ou Repblica del Guayr. Por essa poca,

    a regio do Guayr tinha se tornado abrigo para Guaranis que fugiam dos

    comerciantes em busca de ouro e escravos. A partir de 1610 a Coroa Espanhola

    fomentou a criao de 15 redues jesuticas no Guayr, visando diminuir a

    resistncia indgena e para facilitar a efetiva conquista desse territrio. No vale do

    rio Tibagi foram fundadas quatro redues: San Francisco Javier (1622), Nustra

    Seora de Encarnacin e San Jos (1625) e San Miguel (1627). Essas redues,

    em sua maioria, eram formadas sobre antigas aldeias Guarani e J (Parellada,

    2007 apud Montoya, 1985).

    A durao dessas redues foi curta, pois j em 1631 todas elas haviam

    sido destrudas pelos bandeirantes paulistas. Grande parte dessas tm

    localizao incerta, tendo-se apenas aproximaes de onde deveriam estar

    situadas (Parellada, 2007). A reduo de So Miguel localizava-se onde hoje o

    municpio de Tibagi, a cerca de 80km, em linha reta, da FNI.

    A partir do final do sculo XVII, quando as populaes Guarani tiveram

    uma drstica reduo em funo, principalmente das guerras contra os

  • Diagnstico

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    33

    colonizadores, os Kaingang voltaram a se expandir por todo o centro do Paran

    (Mota, 2005).

    Apesar de todas as lutas dos Kaingang para expulsar os brancos, os

    caciques foram vencidos um a um e aceitaram fixar-se nos aldeamentos definidos

    pelo governo, sob pena de serem exterminados, como de fato alguns o foram.

    Praticamente todos os grupos Kaingang que viviam no Sul do Brasil foram

    conquistados e aldeados at o final do sculo XIX. Simultaneamente ao

    aldeamento, os territrios foram sendo ocupados pelas fazendas e a colonizao

    nacional foi se consolidando nas dcadas seguintes.

    Atualmente a populao indgena do Paran est estimada em 9000

    indivduos, habitando 17 Terras. As TIs mais prximas FNI so:

    TI Rio dAreia, localizada a cerca de 70km de distncia da unidade, no

    municpio de Incio Martins. Abriga 51 Guaranis;

    TI Marrecas, a cerca de 90km da FNI, nos municpios de Guarapuava e

    Turvo. Abriga uma populao de 385 ndios, pertencentes s etnias

    Kaingang e Xet.

    No perodo a partir da segunda metade do sculo XIX e incio do sculo XX

    que foi se configurando a diviso geopoltica da regio, a partir do territrio do

    municpio de Ponta Grossa (Figura 5).

  • Diagnstico

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    34

    Figura 5. Genealogia dos municpios da regio da FNI.

    Fonte: IBGE, 2012.

    4.1.1. Os ciclos econmicos e a ocupao europeia da regio de Irati

    A ocupao da regio da FNI foi regida por vrios ciclos econmicos, que

    se iniciaram com o ciclo da minerao do ouro, no sculo XVI. At ento, o atual

    Estado do Paran era habitado exclusivamente por populaes indgenas. A

    descoberta desse metal precioso na bacia do rio Paranagu estimulou a

    explorao agrcola da regio do litoral e do primeiro planalto curitibano. A

    posterior queda da produo de ouro fez com que parte da populao que vivia

    em funo das atividades mineradoras procurasse novos locais para habitar.

    Assim, gradativamente, ocorreu um processo de interiorizao da populao do

    primeiro planalto curitibano, alcanando os Campos Gerais, no segundo planalto

    paranaense. O crescente mercado interno demandava cada vez mais produtos

    agropecurios, e essa populao, anteriormente vivendo da subsistncia, iniciou

    atividades de maior alcance para suprir essas necessidades do mercado,

    tornando-se criadores e agricultores.

    A pecuria tornou-se a principal atividade econmica da regio, estimulada

    pelo estabelecimento da rota de comrcio que levava gado e muares do Rio

    Grande para o abastecimento de So Paulo e das Minas Gerais. O transporte dos

    animais se fazia por uma rota conhecida como o Caminho das Tropas, ligando

    Viamo, no Rio Grande do Sul, a Sorocaba, em So Paulo, onde havia o principal

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    35

    mercado pecurio da poca. A regio onde hoje est a FNI se situava nesse

    caminho, ao longo do qual foram fundadas pequenas povoaes e estabelecidas

    grandes fazendas, cujos campos naturais serviam de pastagem para engorda e

    descanso dos animais. Essas povoaes propiciaram a ocupao populacional do

    territrio e o conseqente incio das atividades econmicas e sociais.

    A fora de trabalho para essa atividade consistia principalmente em

    escravos, que incluam negros, ndios e seus mestios, e havia tambm um

    contingente significativo de trabalhadores livres, chamados agregados. Da

    miscigenao dessas etnias surgiu uma nova, o caboclo, que at os dias atuais

    faz parte dos grupos tnicos caractersticos da regio.

    A erva-mate

    Ao longo do sculo XVIII, outra atividade comea a ganhar importncia na

    economia paranaense, a explorao, beneficiamento e exportao da erva-mate.

    Em uma fase inicial, a erva-mate dividiu com a pecuria o status de principal

    negcio da economia regional. A partir da primeira metade do sculo XIX, com o

    declnio da atividade de criao de gado, a erva-mate assume o posto de principal

    produto de exportao paranaense, e esse cenrio permaneceria at 1929.

    Encontrada de forma natural em meio s matas da regio Centro-Sul do

    Paran, a erva-mate (Ilex paraguariensis) teve seu consumo difundido e

    assimilado de diversas formas pela populao da Amrica do Sul e vrios pases.

    Sua extrao, preparao e beneficiamento, transporte e exportao tornaram-se

    lucrativos ao ponto de atrair investimento em infra-estrutura, mecanizao e

    industrializao da produo. A atividade ervateira estimulou o estabelecimento

    de empresas relacionadas ao seu suporte, proporcionando o desenvolvimento da

    regio em diversos setores, auxiliando na construo de suas caractersticas

    urbanas, culturais e produtivas. A indstria surgiu no Paran para aproveitar

    melhor a erva-mate e inseriu o Estado no cenrio do comercio internacional

    martimo.

    A erva-mate contribuiu diretamente para a ocupao da regio centro-sul

    do Paran e, conseqentemente, da Regio da FNI. A abundncia de erva-mate

    nessa regio e a sua crescente importncia na economia do Estado atraiu muitos

    dos antigos trabalhadores das fazendas de gado, com o declnio da atividade

  • Diagnstico

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    36

    pecuarista, na primeira metade do sculo XIX. Irati, situada no centro da regio

    produtora, teve sua realidade poltica, econmica e social fortemente influenciada

    pela erva-mate. As primeiras famlias a se estabelecerem nesse municpio vieram

    de Palmeira, Campo Largo, Lapa, Itaioca, Assungui e Curitiba.

    A produo ervateira era voltada quase exclusivamente para a exportao,

    atendendo demandas dos mercados da Argentina e Uruguai. Assim, essa

    atividade sofreu grandes oscilaes devido a causas externas regio,

    culminando com o decrscimo expressivo das exportaes nas dcadas de 1910

    e 1920, o que marcou o fim da preponderncia dessa atividade na economia do

    Estado. Ao mesmo tempo, uma nova fora surgia no cenrio da economia

    paranaense: a extrao da madeira.

    A imigrao na regio centro-sul do Paran

    Durante o sculo XIX, com os crescentes movimentos pelo fim do trfico e

    da abolio da escravatura, o Governo Imperial passou a estimular e apoiar a

    vinda de imigrantes europeus para o pas. Essa vinda se intensificou a partir de

    meados do sculo. Os poloneses tiveram grande importncia na ocupao da

    regio. Foram eles os difusores das carroas, influenciando significativamente o

    desenvolvimento das vias de transporte terrestre. No final do sculo vieram os

    ucranianos, e introduziram uma outra dimenso cultural, de cunho religioso, pois

    eram catlicos praticantes do rito oriental, cujas caractersticas marcaram

    inclusive a arquitetura. Outros grupos tnicos tambm chegaram, como os

    italianos e alemes, que contriburam na diversificao agrcola e instalao das

    primeiras manufaturas, e os srios e libaneses (chamados de turcos) que

    estimularam o desenvolvimento do comrcio, inclusive o comrcio itinerante, na

    figura do mascate, que prestava um grande servio para as populaes que

    habitavam os sertes da regio.

    Na dcada de 1890, a populao da regio das matas do Imbituva dobrou

    de tamanho, indicando um significativo deslocamento humano para aquela regio.

    Em 1899, chega regio de Irati a Estrada de Ferro So Paulo-Rio Grande. Em

    1907, criado o municpio de Irati e, no ano seguinte, chega o primeiro

    contingente de colonos, os holandeses. Ainda nesse ano comeam a chegar

    imigrantes ucranianos e poloneses, cerca de 300 famlias, e tambm alguns

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    37

    austracos. Em 1909 vieram os alemes, em 1910 e 1912, mais ucranianos e

    poloneses e, em 1913, italianos.

    A mo de obra dos imigrantes teve um papel decisivo no desenvolvimento

    do ciclo econmico da madeira.

    O ciclo madeireiro nas primeiras dcadas do sculo XX

    Inicialmente, a exemplo do que aconteceu em todo o Brasil, a madeira

    exportada era retirada do litoral, pois a falta de vias de ligao entre este e o

    interior do estado constitua-se no maior empecilho para a explorao das

    extensas florestas de pinheiros, que eram utilizados apenas nos limites de serra

    acima. Aps a abertura da Estrada da Graciosa, ligando Curitiba a Antonina, em

    1873, da construo da Estrada de Ferro Paranagu-Curitiba, em 1885 e do

    ramal Morretes-Antonina em 1891, a explorao da madeira pode tornar-se uma

    das atividades econmicas mais importantes do Estado. A araucria angustifolia

    o pinheiro do Paran crescia em florestas exuberantes na regio de Irati. Sua

    madeira branca, leve e fcil de trabalhar foi o principal alvo da explorao nas

    primeiras dcadas do sculo XX.

    O primeiro grande propulsor da exportao do pinheiro paranaense foi,

    sem dvida, a Primeira Guerra Mundial, pois, com a impossibilidade de

    importao do similar estrangeiro, o pinho-do-paran passou a abastecer o

    mercado interno e tambm o dos pases vizinhos, em especial o argentino.

    Multiplicaram-se as serrarias, concentrando-se no centro-sul e deslocando-se

    para o oeste e sudoeste do Estado. Desse modo, a exportao do pinho tornou-

    se o carro chefe da economia paranaense, ultrapassando a importncia da erva-

    mate como fonte de arrecadao de divisas para o Estado. O desenvolvimento do

    transporte feito por caminho aps a dcada de 30 libertou a indstria madeireira

    da dependncia exclusiva da estrada de ferro, e possibilitou a sua penetrao

    cada vez mais para o interior, em busca das florestas de pinheiro nativo.

    A explorao da madeira era uma atividade nmade e, por isso, no se

    integrava vida social e econmica da regio. Localizadas as reas florestais,

    iniciava-se sua explorao intensiva e, uma vez esgotado o patrimnio natural

    existente, as serrarias se transferiam para outros lugares. Embora em vrios

    locais se criasse um ncleo habitacional, com casas para trabalhadores,

  • Diagnstico

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    38

    mercados etc., tudo se desfazia com a transferncia das empresas exploradoras.

    Alm disso, como as reas de explorao se localizavam longe dos centros

    urbanos e rgos de fiscalizao, as condies de vida e de relaes de trabalho

    eram precrias, se no desumanas.

    Entre o final da dcada de 1920 e os anos 1960 foram devastados 40.000

    km de florestas nativas, resultando no esgotamento do patrimnio natural e

    tornando a situao socioeconmica da regio precria, uma vez que a riqueza

    oriunda da explorao madeireira foi apropriada por poucos, quase nada restando

    no lugar.

    O declnio da explorao da araucria, em meados da dcada de 40,

    decorrente da Segunda Guerra Mundial, que impediu a exportao da madeira

    para a Europa, gerou uma crise no setor florestal e consequentemente a

    precarizao socieconmica da regio.

    O ciclo da madeira a partir dos anos 60

    Segundo Wachowisky (1972), com o esgotamento das florestas naturais do

    Paran, a fim de garantir a continuidade da atividade madeireira e evitar uma

    crise no setor, foram realizados estudos que apontaram como soluo o plantio

    de espcies exticas madeirveis.

    A introduo de espcies alctones com fins silviculturais teve incio em

    1903, por Navarro de Andrade, que trouxe mudas de eucalipto que produziriam

    madeira para dormentes de estradas de ferro.

    Apesar de diversas tentativas anteriores com a utilizao de mudas de

    origem europeia, apenas em 1948, por meio do Servio Florestal do Estado de

    So Paulo, obteve-se sucesso com o plantio do gnero Pinus, agora com

    espcies de origem americana: Pinus palustris, P. echinata, P. elliottii e P. taeda.

    Dentre essas, as duas ltimas se destacaram pela facilidade nos tratos culturais,

    rpido crescimento e reproduo intensa no sul e sudeste do Brasil.

    A partir da segunda metade da dcada de 1960 o setor madeireiro foi

    marcado pela poltica de incentivos fiscais para o reflorestamento, a qual permitia

    s pessoas jurdicas a deduo do imposto de renda a pagar de importncias a

    serem aplicadas em empreendimentos florestais. No Estado do Paran, entre

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    39

    1966 e 1975 foram reflorestados 655.546ha, sendo 62,4% dessa rea recoberta

    com plantios de pinus (BREPOHL, 1976).

    Com esse desenho, o setor madeireiro ganhou um novo impulso, agora

    com a atividade de reflorestamento, a qual permanece relevante na economia

    regional at os dias de hoje.

    4.2 Caractersticas da populao da Regio da FNI

    4.2.1 Desenvolvimento Socioeconmico da Regio

    O ndice de Desenvolvimento Humano/IDH um indicador utilizado com o

    propsito de evidenciar as condies de desenvolvimento socioeconmico de um

    pas, estado e/ou municpio. Ele permite que se verifique o grau de desigualdade

    entre unidades poltico-administrativas, auxiliando na gesto de polticas pblicas.

    O IDH-M o ndice que evidencia o desenvolvimento humano entre os

    municpios.

    No incio da dcada 1990 o Paran alcanou o ndice de IDH de 0,711,

    colocando o estado na 6 posio dentre os demais estados do pas, cujo IDH era

    de 0.696. Uma dcada depois, em 2000, se verifica que houve uma melhora, com

    o ndice alcanando 0,787, o que manteve o estado na mesma posio no ranking

    nacional, destacando-se que agora o IDH do Brasil 0,766. Contudo, segundo a

    classificao utilizada pelo PNUD/ONU, o Paran permanece no nvel de mdio

    desenvolvimento.

    Os municpios da Regio tambm apresentaram melhoria no IDH no

    perodo 1991/2000. Porm, todos esto distantes da mdia estadual,

    evidenciando sua condio mais frgil no conjunto da socioeconomia paranaense.

    Irati o municpio que tem a melhor situao e Fernandes Pinheiro a pior, ficando

    no 299 lugar entre os 399 municpios paranaenses (Quadro 4).

  • Diagnstico

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    40

    Quadro 4. ndice de Desenvolvimento Humano Brasil, Paran e Municpios da Regio da FNI, 1991-2000.

    Brasil, Paran e Municpios da Regio da FNI IDHM, 1991 IDHM, 2000 Posio em 2000

    Brasil 0,696 0,766 -

    Paran 0,711 0,787 6a

    Fernandes Pinheiro 0,625 0,711 299a

    Imbituva 0,684 0,727 248a

    Irati 0,677 0,743 186a

    Teixeira Soares 0,654 0,738 205a

    Fonte: PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2000

    No Estado do Paran, o Instituto Paranaense de Desenvolvimanto

    Econmico e Social Ipardes desenvolveu, em 2009, o ndice Ipardes de

    Desempenho Municipal - IPDM, o qual mede o desempenho da gesto e aes

    pblicas dos 399 municpios paranaenses, considerando trs eixos: emprego e

    renda, sade e educao.

    A leitura dos resultados considerando-se o ndice final feita a partir de

    valores variando entre 0 e 1, sendo que quanto mais prximo de 1, maior o nvel

    de desempenho do municpio.

    Quadro 5. Evoluo do ndice de Desempenho Municipal IPDM dos municpios da Regio da FNI, 2002-2009.

    Municpio IPDM

    2002 2005 2007 2008 2009

    Fernandes Pinheiro 0,4894 0,5199 0,5979 0,6065 0,6575

    Imbituva 0,5601 0,6249 0,6459 0,6580 0,6651

    Irati 0,6194 0,6654 0,6849 0,7002 0,6993

    Teixeira Soares 0,5565 0,5962 0,6610 0,6507 0,6550 Fonte: IPARDES

    Observando os dados do Quadro 5 verifica-se que, entre os anos 2002 e

    2009, houve melhora na qualidade de vida das populaes dos quatro municpios

    da Regio da FNI, de maneira global, para esses trs eixos medidos pelo IPDM.

    Essa melhoria ocorreu de maneira mais significativa em Fernandes Pinheiro, que

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    41

    no incio do perodo de medio apresentava o pior desempenho, e em 2009

    praticamente se equivaleu aos demais municpios da Regio, ultrapassando

    inclusive o de Teixeira Soares.

    Outro indicador que expressa s condies socioeconmicas de uma

    regio a renda familiar. O ndice de pobreza medido pela renda familiar per

    capita at meio salrio mnimo. Por meio da anlise de tal indicador se pode

    apreender a situao de privao humana, relacionada s necessidades bsicas.

    IPARDES (2007), em estudo socioeconmico do Territrio Centro-sul do

    Paran, onde se insere a regio da FNI, verificou que, em 2000, o percentual de

    famlias pobres dessa poro do Estado era de 36,7% do total de famlias

    residentes. Embora a Regio da FNI apresente uma taxa menor que a do

    Territrio, o percentual de famlias em condio de pobreza era de 31,1%, ou

    seja, um percentual bem maior do que a mdia estadual, de 20,9%.

    Quando se observa a situao isolada de cada um dos municpios da

    regio da FNI, a situao se apresenta ainda mais aguda no municpio de

    Fernandes Pinheiro, cuja taxa de pobreza representava 46,7% do total de

    famlias. Irati o municpio que se encontra em melhor situao com taxa de

    27,4%, ndice um pouco abaixo da mdia estadual, mas acima da mdia do

    Territrio Centro-Sul.

    Nos municpios de Irati e Imbituva, a situao mais aguda de pobreza est

    entre as famlias que residem na rea urbana, cuja taxa de 62,6% no primeiro e

    50,8% no segundo municpio (Quadro 6). Esta situao tpica para a mdia do

    Estado do Paran e tambm para a Regio da FNI. Porm, destoa da mdia do

    Territrio Centro-Sul, cujas taxas mais elevadas de pobreza so encontradas na

    zona rural.

    Nesse sentido, dois municpios da Microrregio se equiparam ao Territrio:

    em Fernandes Pinheiro e Teixeira Soares as maiores taxas de pobreza esto na

    zona rural, representando 77,1% e 67,0% do total de famlias. Contudo

    importante considerar que parcela das famlias da rea rural tm uma renda no

    monetria, indireta, advinda da produo para consumo prprio, cujos valores no

    so contabilizados nos clculos relativos taxa de pobreza.

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    42

    Por sua vez, o Brasil est colocado entre os pases com os menores

    ndices de desempenho em relao distribuio da renda, apesar de melhorias

    significativas ao longo dos ltimos 20 anos (UNDP, 2012). Por sua vez, o Paran

    apresenta a pior distribuio de renda (ndice de Gini2

    O ndice de Gini, que mede o grau de desigualdade de uma populao,

    aponta para um panorama bastante prximo mdia do Estado na regio da FNI.

    Isso demonstra que, alm de pobres, os municpios da regio da FNI tambm

    apresentam alta concentrao das riquezas, o que agrava ainda mais a situao

    socioeconmica local.

    = 0,607) entre os Estados

    do sul e sudeste do pas, com um resultado significativamente mais grave do que

    a mdia nacional (0,539).

    2 O coeficiente de Gini consiste em um nmero entre 0 e 1, onde 0 corresponde completa igualdade de renda (onde todos tm a mesma renda) e 1 corresponde completa desigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda, e as demais nada tm).

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    43

    Quadro 6. Total de famlias e famlias pobres, distribuio por situao de domiclio, taxa de pobreza e ndice de desigualdade social, segundo os municpios da Regio da FNI, 2000.

    Municpio Total de famlias

    FAMLIAS POBRES

    Taxa de pobreza (%) ndice de Gini Situao de domiclio

    Total (Abs) Urbano Rural

    Abs % Abs %

    Fernandes Pinheiro 1.676 179 22,9 603 77,1 782 46,7 0,600

    Imbituva 7.000 1.231 50,8 1.192 49,2 2.423 34,6 0,580

    Irati 15.261 2.614 62,6 1.560 37,4 4.174 27,4 0,560

    Teixeira Soares 2.244 253 32,9 515 67,0 769 34,2 0,580

    TERRITRIO CENTRO-SUL 64.338 8.867 37,5 14.752 62,5 23.620 36,7 -

    PARAN 2.824.283 395.344 67,1 194.076 32,9 589.420 20,9 0,607

    Fonte: IBGE Censo Demogrfico/ microdados, 2000 Nota: Dados trabalhados pelo IPARDES

  • Diagnstico

    Floresta Nacional de Irati Plano de Manejo

    44

    Outro indicador que colabora para entender a situao de uma

    determinada regio o referente presena de trabalho infanto-juvenil. Por meio

    de tal informao se pode perceber o quanto as famlias dependem da

    contribuio do trabalho ou da renda de seus filhos, ao mesmo tempo em que se

    pode deduzir o comprometimento que haver na formao escolar, nos riscos

    sade, bem como na formao integral dos futuros cidados.

    No Estado do Paran, em 2000, cerca de 17% da populao de

    trabalhadores se encontrava na faixa etria entre 10 a 17 anos. Neste mesmo

    perodo, no Territrio Centro-Sul, este grupo era bem superior mdia estadual,

    representando cerca de 27% do total de trabalhadores. Entretanto, a regio da

    FNI se aproximava da situao estadual, onde o percentual de trabalhadores

    infanto-juvenil era de 19,5% (Quadro 7).

    Quando se examinam as faixas etrias, constata-se que o grupo de

    adolescentes de 14 a 17 anos tem significativa participao na populao de

    trabalhadores do Territrio Centro-Sul: eles representam 41,6%. Na Regio da

    FNI, embora a participao seja menor, 33,6%, ainda se encontra acima da mdia

    estadual, 28,7%.

    Quadro 7. Nmero de pessoas dos grupos etrios de 10 a 13 anos e de 14 a 17 anos, total e ocupadas, por municpios da Regio da FNI, 2000

    Municpios

    Pessoas

    Total % de Ocupados

    10 a 17 anos

    10 a 13 anos

    14 a 17 anos

    10 a 17 anos

    10 a 13 anos

    14 a 17 anos

    Fernandes Pinheiro 16,3 5,2 27,3

    Imbituva 3.846 1.920 1.927 21,1 4,7 37,4

    Irati 8.152 4.129 4.023 19,0 5,8 32,6

    Teixeira Soares 1.348 697 651 20,5 7,7 34,3

    Regio da FNI 14.442 7.295 7.149 19,5 5,7 33,6

    Territrio centro-sul 38.671 19.169 19.501 26,7 11,5 41,6

    Paran 1.502.974 746.331 756.642 16,9 4,9 28,7

    Fonte: IBGE Censo Demogrfico/ microdados, 2000. Nota: Dados trabalhados pelo IPARDES

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    45

    Com relao situao dos municpios onde se situa a FNI, o percentual

    de trabalhadores em idade infanto-juvenil, 10 a 17 anos, se situa entre a mdia

    estadual e a do Territrio Centro-Sul. Fernandes Pinheiro apresenta a melhor

    situao, com somente 16,3% daquela populao de trabalhadores, cuja

    participao menor que a verificada para o Paran. De outro lado est Imbituva,

    onde a participao daquele pblico de 21,1%. Entretanto, o que se constata

    em todos os municpios a tendncia de maior participao da populao

    adolescente, entre 14 a 17 anos, no conjunto de trabalhadores. No total do

    Territrio a participao deste pblico de 42%, e o municpio de Imbituva o

    nico que se aproxima desta participao, tendo 37,4% dos jovens como

    trabalhadores.

    Os trs indicadores apresentados at o momento IDH, famlias pobres e

    trabalho infanto-juvenil - permitem que se reconhea que tanto o Territrio Centro-

    Sul, quanto mais especificamente a Regio da FNI, so regies paranaenses com

    expressivas carncias socioeconmicas.

    4.2.2 Dinmica demogrfica

    Entre os anos de 2000-2010 o Paran experimentou um crescimento de

    9,2% no total da populao residente, sendo que mais de 85% da sua populao

    estava concentrada na zona urbana, em 2010. A Regio da FNI apresentou

    crescimento populacional de 1,0%, ndice maior que a mdia estadual. Embora

    em 2010 a maior parte da populao (69,1%) residisse na rea urbana dos

    municpios, a proporo de populao residente na rea rural era quase o dobro

    daquela que se verificava para o Estado como um todo (Quadro 8).

    Teixeira Soares foi o municpio que apresentou a maior taxa de

    crescimento entre 2000 a 2010, (2,3%), seguido de Imbituva (1,5%) e Irati (0,7%).

    Situao diferente do municpio de Fernandes Pinheiro, que no perodo perdeu

    populao, apresentando uma taxa de crescimento negativa de -0,7%.

    Com relao situao de domiclio, o que se verificava em 2010 era que

    em Irati e Imbituva a maior concentrao populacional tambm se dava na zona

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    46

    urbana, 79,9% e 62,9% respectivamente, condio semelhante a do Estado e da

    microrregio. Porm os municpios de Fernandes Pinheiro e Teixeira Soares so

    tipicamente rurais, no primeiro 64,7% da populao reside no meio rural e no

    segundo 53,6%.

    Quadro 8. Populao total dos municpios da Regio da FNI - 2000 e 2010

    Municpio Populao - 2000

    GU 2000 (%)

    Populao - 2010 GU

    2010 (%)

    Urb Rur Total Urb Rur Total Fernandes Pinheiro 1.965 4.403 6.368 30,9 2.094 3.838 5.932 35,3

    Imbituva 14.781 9.715 24.496 60,3 17.888 10.567 28.455 62,9 Irati 39.306 13.046 52.352 75,1 44.932 11.275 56.207 79,9 Teixeira Soares 3.785 4.407 8.192 46,2 4.796 31.167 10.283 46,6 REGIO da FNI 59.837 31.571 91.408 65,5 69.710 31.167 100.877 69,1 PARAN 7.786.084 1.777.374 9.563.458 81,4 8.912.692 1.531.384 10.444.526 85,3 Fonte: IBGE Censo Demogrfico, 2010. Legenda: Urb Urbana; Rur Rural; e GU Grau de urbanizao.

    O que chama a ateno nos municpios da microrregio a situao

    instvel no que se refere dinmica demogrfica. No municpio de Irati se

    percebe que nas ltimas dcadas a taxa de crescimento populacional vem

    decaindo a cada recenseamento (Quadro 9Quadro 9), o que leva a crer que

    brevemente o municpio poder apresentar taxas negativas de crescimento.

    Quadro 9. Taxas de crescimento geomtrico da populao, segundo os municpios da Regio da FNI 1970-2010

    Municpio Taxa de crescimento geomtrico (%)

    1970-1980 1980-1991 1991-2000 2000-2010

    Fernandes Pinheiro - - 0,2 -0,7

    Imbituva 0,8 -1,6 3,3 1,5

    Irati 1,5 1,1 1,0 0,7

    Teixeira Soares 0,0 -4,5 0,6 2,3

    Fonte: IBGE Censo Demogrfico 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010. Nota: Dados trabalhados pelo IPARDES

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    47

    Imbituva e Teixeira Soares tambm apresentam uma situao instvel no

    que se refere dinmica populacional. No perodo 1980-1991 tiveram taxas

    negativas de crescimento, sendo que Teixeira Soares teve uma taxa de -4,5%,

    com perda real de populao. Na dcada seguinte (1991-2000) Imbituva

    recuperou parte de sua populao, com crescimento positivo de 3,3%, e Teixeira

    Soares na ltima dcada apresenta taxa positiva. Fernandes Pinheiro, municpio

    criado em meados da dcada de 1990, j passou a apresentar taxa negativa de

    crescimento no perodo seguinte, 2000-2010.

    Sem dvida, o componente migratrio, dentre os fatores demogrficos,

    vem tendo um peso substantivo na conformao do quadro populacional regional.

    O j conhecido processo de modernizao da agricultura paranaense, deflagrado

    em algumas regies principalmente a partir da dcada de 1970, foi

    paulatinamente se estendendo a todas as reas do Estado, provocando intensos

    movimentos de evaso populacional das reas rurais. Os municpios que

    compem o territrio no fugiram s caractersticas mais gerais que marcaram

    esse processo. Mais especificamente, ainda que substantivas parcelas dos

    emigrantes rurais tenham se fixado em centros urbanos prximos de suas reas

    de origem, predominaram os deslocamentos de maior distncia, resultando em

    saldos migratrios negativos para fora da regio (IPARDES, 2007).

    Subjacentes s alteraes na dinmica de crescimento populacional da

    regio, fortemente condicionadas pelos processos migratrios, interagem tambm

    as mudanas no comportamento reprodutivo e no perfil de mortalidade da

    populao observadas no perodo. O nmero mdio de filhos nascidos vivos por

    mulher no transcorrer do perodo reprodutivo, estimado para o Estado no incio da

    dcada de 1990, situava-se em 2,6, tendo declinado para 2,3 em torno do ano

    2000. Os municpios da regio da FNI evidenciavam nveis de fecundidade mais

    elevados do que a mdia do Estado nesse perodo. No entanto, todos

    experimentaram queda nas taxas de fecundidade no intervalo de dez anos em

    questo (Quadro 10).

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    48

    Quadro 10. Taxa de fecundidade total e esperana de vida ao nascer, segundo municpios da regio da FNI- 1991/2000.

    Municpio Taxa de fecundidade total

    (1) Esperana de vida ao

    nascer (2) 1991 2000 1991 2000

    Fernandes Pinheiro 3,6 3,0 61,8 69,9

    Imbituva 3,2 2,9 65,7 67,5

    Irati 2,7 2,4 63,3 66,1

    Teixeira Soares 3,8 2,7 61,8 68,1

    Paran 2,6 2,3 65,7 69,8

    Fonte: IPARDES, 2007; PNUD.

    Outro dado populacional relevante a ser considerado se refere situao

    etria da populao dos municpios e, em particular, os dados relativos ao grau de

    envelhecimento da populao. Segundo os dados do Censo 2010, o grau de

    envelhecimento da populao do Estado atingia quase 33%, o que indicava que

    para cada 100 jovens menores de 15 anos de idade do Paran havia 33 idosos

    acima de 65 anos.

    Dentre os municpios da Regio da FNI o que vai se observar uma

    situao um pouco distinta daquela do Estado, ou seja, o ritmo de envelhecimento

    da populao residente menor em trs dos municpios: Fernandes Pinheiro,

    Teixeira Soares e Imbituva, c