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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO RURAL DIRECÇÃO PROVINCIAL DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO RURAL SOFALA PLANO DE MANEIO COMUNITÁRIO DOS RECURSOS NATURAIS DA REGIÃO DE CANDA. Projecto FAO GCP/MOZ/056/NET Beira, Dezembro de 2001.

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Page 1: PLANO DE MANEIO COMUNITÁRIO DOS … em cerca de 18.000 habitantes distribuídos em 4 povoações. Nesta área, foi feito uma série de estudos nomeadamente o Diagnóstico Rural Participativo

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO RURAL DIRECÇÃO PROVINCIAL DA AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO RURAL

SOFALA

PLANO DE MANEIO COMUNITÁRIO DOS RECURSOS NATURAIS DA REGIÃO DE CANDA.

Projecto FAO GCP/MOZ/056/NET

Beira, Dezembro de 2001.

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A elaboração deste trabalho contou com a direcção e apoio técnico da ORAM – Sofala, com a supervisão e apoio

financeiro da FAO, através do Projecto FAO GCP/MOZ/056/NET. Ficha Técnica Título da Obra: Plano de Maneio dos Recursos Naturais da Região de Canda Autor: Aníbal dos Anjos António Revisão Ortográfica: Ana Amélia J. António

César Benjamim Edição: 1ª Edição Direcção: ORAM – Sofala Apoio Financeiro Projecto FAO GCP/MOZ/056/NET Título de Propriedade: Esta obra é propriedada da Comunidade de Canda Distribuição: Projecto FAO GCP/MOZ/056/NET e ORAM – Sofala Direitos de Autor: Aníbal dos Anjos António e ORAM – Sofala Capa: Aníbal dos Anjos António Tiragem: 10 exemplares Ano: 2001 Beira, Moçambique, 2001.

Projecto FAO GCP/MOZ/056/NET DNFFB/FAO/Holanda

Praça dos Heróis Moçambicanos, MADER – 2º andar, C.P: 1928 Tel.: 258-1-460036, 460548; Fax.: 258-1-460060

E-mail: [email protected]

ORAM – Sofala

Rua Brito Capelo nº 531, C.P 41, Beira Tel.: 258-3-311220/1; Fax.: 258-3-312842

e-mail: [email protected] - Moçambique

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Nota do Autor Apesar das dificuldades, e eventuais falhas que esta obra possa inserir, estou convicto de ter conseguido de forma modesta contribuir para a concretização das reais aspirações da comunidade de Canda no processo de gestão comunitária dos recursos naturais e assegurar o alcance com sucesso do objectivo “capital” que é a conservação, desenvolvimento e utilização racional dos recursos naturais tanto pela presente geração como para as gerações vindouras. Especial agradecimento vai para o comitê de gestão dos recursos naturais e a comunidade de Canda pelo implacável empenho que tiveram na organização de uma séries de encontros para discussão massiva das questões relativas a gestão da zona de Canda. À ORAM-Sofala pela condução e acompanhamento das actividades em diversas fases, dedico o mais profundo reconhecimento de gratidão. À FAO representada pelo Projecto FAO GCP/MOZ/056/NET, pela supervisão técnica e apoio financeiro, endereço os meus reais agradecimentos. À minha família, pela compreensão e apoio, o meu puro e eterno apreço. A todos que directa ou indirectamente contribuíram para a realização com sucesso deste trabalho, o meu sincero agradecimento. O Autor, Aníbal dos Anjos António

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APRESENTAÇÃO O Plano de Maneio dos Recursos Naturais da região de Canda, é resultado de um processo participativo que se iniciou em Abril de 1998, através da ORAM (Associação de Ajuda Mútua) de Sofala no âmbito das actividades viradas a segurança dos direitos de uso e aproveitamento da terra e gestão dos recursos naturais na comunidade de Canda-Gorongosa, tendo em Junho de 2000 o sector de desenvolvimento de programas da ORAM terminado a delimitação do território do regulado de Canda. Em Abril de 2001, foi firmada a carta de acordo (CdA) entre a FAO e a ORAM-Sofala, para o estabelecimento de directrizes para a elaboração do presente Plano de Maneio. Canda constitui a primeira área piloto no estabelecimento de programas de maneio comunitário dos recursos naturais na província de Sofala, onde a comunidade e técnicos estão de mãos dadas sem medir esforços para reduzir a degradação e o uso inadequado dos recursos existentes e deste modo garantir a sua conservação e utilização sustentável para as actuais e futuras gerações. A região comunitária de Canda cobre uma área de cerca de 107.000 hectares, com uma população estimada em cerca de 18.000 habitantes distribuídos em 4 povoações. Nesta área, foi feito uma série de estudos nomeadamente o Diagnóstico Rural Participativo (DRP), delimitação e zoneamento da área para diversos fins, inventário florestal e levantamentos sócio-econômicos. Estes estudos culminara com a elaboração deste Plano de Maneio. O processo de elaboração do plano de maneio bem assim o seu conteúdo é da responsabilidade da comunidade de Canda e constitui as suas principais aspirações na gestão participativa dos recursos naturais da região. Assim, se espera que esta iniciativa venha a ser um contributo positivo para a conservação, desenvolvimento e utilização sustentável dos recursos naturais desta zona em particular e dos recursos naturais de uma forma geral em todo o distrito de Gorongosa, quissá para toda a província.

Beira, Dezembro de 2001.

O Director Provincial da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Sofala

__________________________________ (João Tiago Meneses Machado Ribeiro)

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PREFÁCIO O trabalho que agora se torna público - Plano de Maneio Comunitário dos Recursos Naturais da Região de Canda, insere dentro de si, uma série de elementos resultantes de pesquisas, reflexões, trocas de experiências e recomendações. Ele assenta profundamente na vontade e aspirações da comunidade local. Os ambientes económico, social, político e legal permitem sem dúvidas a implementação física dos objectivos prosseguidos neste Plano de Maneio. Assim, esperamos que a implementação física dos objectivos deste Plano de Maneio, por todos os intervenientes, vise essencialmente a conservação, desenvolvimento e utilização sustentável dos recursos naturais existentes em Canda.

Beira, Dezembro de 2001.

O Administrador do Distrito da Gorongosa

__________________________________ (Luís Domingos Tomossene)

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O Régulo da região Comunitária de Canda

Régu

Composição Do Comitê De Gest Nº Nome

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

8.

9.

10.

11.

12.

13.

Anjo Chico Dique

Baptista Escrivão

Fátima Vulande

Domingos Paulino

Madeira Joaquim

Buazi Lino Taimo

Francisco Chacupiwa

Bongesse Bacicolo

Rosalina Chico Tique

Francisco Guitse

Oliveira Relógio

Ana Tenesse

Luisinha M. Portugal

lo Eugênio de Almeida

ão Comunitária De Canda

Função

Presidente

Vice-Presidente

Presidente do Conselho Fiscal

Vice-Presidente do Conselho Fiscal

Secretário

Tesoureiro

Chefe da Floresta

Auxiliar da Floresta e Fauna Bravia

Chefe de queimadas descontroladas

Assistente de queimadas descontroladas

Advogado

Assistente de advogado

Assistente de advogado

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Plano De Maneio Comunitário Dos Recursos Naturais Da Região De Canda. 1

ÍNDICE

1 CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO 5

1.1 ANTECEDENTES 5 1.1.1 Informação geral 5 1.1.2 Localização da área 6 1.1.3 Limites 6 1.1.4 Acesso 6

1.2 METODOLOGIA 6

1.3 CARACTERÍSTICAS LOCAIS 9 1.3.1 Situação sócio-econômica da região 9 1.3.2 Formas locais de comunicação 10 1.3.3 Situação política 11 1.3.4 Situação legal 11 1.3.5 Situação da Bioesfera 11

2 CAPÍTULO II: ANÁLISES E CONCEITOS DE MANEIO COMUNITÁRIO 12

2.1 Análise dos Recursos Existentes 12 2.1.1. Recursos Florestais 13

2.2 CONCEITO DE MANEIO COMUNITÁRIO DOS RECURSOS NATURAIS 20 2.2.1 Recursos Florestais 20 2.2.2 Recursos faunísticos 21 2.2.3 Recursos Hídricos 24 2.2.4 Terra Arável 26 2.2.5 Biodiversidade 29

3 CAPÍTULO III: ARRANJO ADMINISTRATIVO 31

3.1 Recursos Humanos 31

3.2 Propriedade do Plano de Maneio 31

3.3 Avaliação e Monitoria do Plano de Maneio 31

3.4 Validade do Plano de Maneio 31

4 PROJECTOS DE INVESTIMENTO COMUNITÁRIO 32

4.1 Produção de lenha e Carvão Vegetal 32

4.2 Fomento Pecuário (gado bovino e caprino) 33

4.3 Treinamento de fiscais comunitários 34

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Plano De Maneio Comunitário Dos Recursos Naturais Da Região De Canda. 2

5 BIBLIOGRAFIA 35

ANEXO 1: MAPAS DA ÁREA DE CANDA 36

ANEXO 2: LICENCIAMENTO FLORESTAL NO DISTRITO DE GORONGOSA 41

ANEXO 3: LISTA NOMINAL DE FISCAIS COMUNITÁRIOS DE CANDA 45

ANEXO 4: TABELA DAS TAXAS E SEUS VALORES (FAUNA BRAVIA) 46

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Plano De Maneio Comunitário Dos Recursos Naturais Da Região De Canda. 3

Lista de Tabelas

Conteúdo Pág.

Tabela 1: Tabela 2: Tabela 3: Tabela 4: Tabela 5: Tabela 6: Tabela 7: Tabela 8: Tabela 9: Tabela 10: Tabela 11: Tabela 12: Tabela 13: Tabela 14: Tabela 15: Tabela 16: Tabela 17: Tabela 18: Tabela 19: Tabela 20: Tabela 21:

Resultados do DRP sobre as aspirações comunitárias de Canda Matriz DOFA Volume comercial e total por tipo florestal na área de Canda Volume comercial por qualidade do fuste e por tipo florestal Volume por qualidade do fuste por classe de madeira (anexo 2) Número de licenças para exploração de madeira emitidas para a região de Canda Principais espécies exploradas na região de Canda entre 1998 e 2001 Volume/espécie/operador em 1998 Volume/espécie/operador em 2000 Volume/espécie/operador em 2001 Classificação da floresta de Canda Distribuição diamétrica das espécies dentro do povoamento florestal Freqüência diamétrica em árvores com DAP menor que 20 cm Fauna bravia nas coutadas 6 e 15 em Novembro de 1994 Fauna bravia no Parque Nacional da Gorongosa (1968 – 1994) Fauna bravia nas coutadas de Marromeu e Reserva de Búfalos Análise de nutrientes em algumas espécies florestais Orçamento para a exploração de lenha carvão Orçamento para o fomento pecuário Orçamento para o treinamento de fiscais comunitários Resumo dos três projectos de investimento

79

14144415161616171719192122222732333434

Lista de Figuras

Conteúdos Pág.

Fig. 1: Fig. 2: Fig. 3: Fig. 4: Fig. 5: Fig. 6: Fig. 7: Fig. 8: Fig. 9: Fig. 10 Fig. 11

Factores intervenientes na gestão dos recursos na região de Canda Estrutura orgânica de comunicação da comunidade de Canda Estrutura orgânica do comitê de gestão dos recursos naturais de Canda Plantio de árvores Desenvolvimento da fauna bravia Fomento pecuário com gado bovino Fomento pecuário com gado caprino e aves Gestão dos recursos hídricos O cultivo da banana Biodiversidade Fogo

810102023232425262929

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1 CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO O diagnóstico do impacto das actividades desenvolvidas pela ORAM tendo em conta a actual dinâmica sócio-economica das comunidades dentro da área de Canda, no distrito de Gorongosa província de Sofala, constitui sem dúvidas um “pontapé” de saída para a identificação dos reais problemas das comunidades locais envolvidas no processo e ao mesmo tempo para a sugestão de novas formas e metodologias para o uso racional e sustentado dos recursos florestais, faunísticos, hídricos e a terra, observando para o efeito a adopção de medidas para a sua conservação. Com os elevados índices de degradação dos recursos naturais e dos ecossistemas da região, mercê a uma exploração desregrada que decorre desde os tempos da guerra civil, urge a necessidade de tomada de medidas e acções urgentes tanto para estancar o processo de destruição do ecossistema, bem como para sugerir medidas apropriadas para uma gestão sustentada dos recursos através de um envolvimento directo das comunidades no maneio dos recursos naturais. Neste contexto, na seqüência da materialização do apoio do Projecto GCP/MOZ/056/NET, que está testando, com sucesso, metodologias de desenvolvimento de Planos de Maneio participativos com o envolvimento directo das Comunidades na gestão dos recursos naturais em várias regiões do país, pretende através da ORAM elaborar um Plano de Maneio Comunitário dos Recursos Naturais na região de Canda. 1.1 ANTECEDENTES

1.1.1 Informação geral Desde 1998 que a ORAM (Associação Rural de Ajuda Mútua) de Sofala vem desenvolvendo várias actividades na região de Canda-Gorongosa com vista a assegurar às comunidades locais o direito de uso e aproveitamento da terra e gestão dos recursos naturais ali existentes. Estas acções culminaram com a delimitação do território do regulado de Canda e com a entrega à comunidade de uma Certidão de Ocupação de Terras, emitida pelos Serviços de Geografia e Cadastro da província de Sofala. A comunidade de Canda encontra-se devidamente organizada e estruturada e já tem constituído um Comitê de Gestão Comunitária, que é o interlocutor directo, tanto com a ORAM como com outras entidades que se deslocam à região. Na seqüência da implementação física das actividades ora iniciadas pela ORAM em Abril do corrente ano (2001), foi firmado um acordo entre a ORAM-Sofala e a FAO visando a operacionalização das actividades que espelhem os interesses da comunidade local. Como resultado, a ORAM-Sofala, ao abrigo do acordo e com o envolvimento directo da comunidade de Canda, deverá produzir os seguintes resultados: (1) Zoneamento do regulado de Canda com cerca de 107.000 hectares; (2) Elaboração de um plano de Agro-business; e (3) Elaboração de um Plano Comunitário de Maneio dos Recursos Naturais.

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1.1.2 Localização da área A área sob gestão da Comunidade de Canda localiza-se no posto administrativo de Nhamadze, distrito de Gorongosa, região norte da província de Sofala. Situa-se nas proximidades da serra da Gorongosa que faz parte do complexo do “Vale do Rift” com cerca de 1.863 metros de altitude acima do nível médio das águas do mar, o que confere à região uma característica orográfica própria com uma precipitação média anual de cerca de 2000 mm. É a mais alta de todas as áreas a volta da montanha. O Posto Administrativo situa-se a norte do distrito da Gorongosa e dista da sede distrital cerca de 30 km e cerca de 230 km da cidade da Beira, ao longo da Estrada Nacional nº 1 no troço Inchope - Caia.

1.1.3 Limites A região sob gestão da Comunidade de Canda com cerca de 107.000 ha é limitada a Norte pelo distrito de Macossa na província de Manica, a Oeste pelo rio Vanduzi, também na província de Manica, a Este pelo posto administrativo de Vanduzi e a Sul pelo posto administrativo da Gorongosa. Geograficamente a área é geo-referenciada e delimitada pelas seguintes coordenadas:

Norte: 18º 00´ 08” Sul: 18º 30´ 13” Este 34º 00´ 09” Oeste 33º 30´ 19”

1.1.4 Acesso O acesso à região sob gestão da comunidade de Canda embora tivesse sido limitado no passado (período da guerra e pós guerra), pela intransitabilidade do troço Inchope cruzamento N´topa, devido principalmente ao efeito da própria guerra (pontes destruídas) e falta de manutenção das estradas, actualmente o troço está na sua fase final de reabilitação, o que tornará mais fácil e simples o acesso à região através da Estrada Nacional nº 1 no troço Inchope-Caia. 1.2 METODOLOGIA Para a análise e interpretação da situação da área sob gestão da comunidade de Canda, foi recolhida e avaliada uma série de informação produzida, quer pela ORAM, quer obtida directamente da comunidade alvo através dos seus hábitos de vivência e de troca de experiências com outras comunidades. Os resultados do Diagnóstico Rural Participativo (DRP) realizado em Abril de 2001 pela ORAM-Sofala, em coordenação com a FAO, onde participaram cerca de 130 camponeses, constituiu uma outra base segura para obter as reais aspirações comunitárias nas acções de desenvolvimento da região. A tabela 1 ilustra as aspirações da comunidade de Canda de acordo com os resultados do inquérito do DRP.

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Plano De Maneio Comunitário Dos Recursos Naturais Da Região De Canda. 7

Tabela 1: Resultados do DRP sobre as aspirações comunitárias de Canda

Necessidades para: Classificação

Mulheres (M) Jovens (J) Homens (H) (M) (J) (H)

Transporte Serração/madeira Serração 1º 1º 1º

Padaria Escola EP2 Escolas 2º 2º 2º

Casas melhoradas Agricultura melhorada Formação profissional 2º 3º 3º

Hospital Reserva florestal Hospital 3º 4º 4º

Fábricas Criação de bovinos Farms 3º 5º 5º

Estradas Fruteiras Lojas 4º 5º 6º

Bem vestir Mercados/lojas Reserva florestal 4º 6º 7º

Mercados Estradas Pedreira 5º 7º 8º

Estudar Jazigos 6º 9º

Pecuária 10º

Fonte: DRP da ORAM/FAO, Abril, 2001.

Outra forma de obtenção de informação, foi através de visitas realizadas à região de Canda pela equipa de apoio técnico da ORAM acompanhada dos consultores das áreas de Agrobusiness e Agroflorestry o que permitiu observar e discutir com as comunidades os factos realísticos sobre as formas mais adequadas da gestão dos recursos dentro daquela região e que ao mesmo tempo constituem a vontade e a aspiração da comunidade. Para efeitos de troca de experiências com outras comunidades que já estão a desenvolver actividades do gênero, no que diz respeito à gestão dos recursos naturais pelas comunidades, um grupo representativo da comunidade de Canda, orientado pela ORAM, deslocou-se a Pindanyanga, província de Manica, onde pode trocar experiências úteis para ambas comunidades e viu o nível de implementação deste tipo de programas por aquela comunidade. Igualmente, foram levantados e analisados dados referentes às características biofísicas e sociais da região de Canda com vista a identificar a interligação dos diversos factores bem como avaliar as condições favoráveis para o estabelecimento do programa de gestão comunitária dos recursos naturais pelas comunidades locais. A figura 1 abaixo ilustra a interacção dos diferentes factores intervenientes na gestão dos recursos naturais da região de Canda e questiona sobre as melhores formas de acção que deverão constituir passos seguros para o estabelecimento de um Plano de Maneio Comunitário.

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Para permitir o estabelecimento mais adequado e claro de programas e planos de actividades visando o alcance com sucesso dos objectivos do Plano de Maneio que se pretende estabelecer, foram identificados e analisados os pontos que constituem as Debilidades, Oportunidades, pontos Fortes, e as Ameaças da região, tendo se constituído a matriz DOFA, conforme se apresenta na tabela 2 a seguir. Nestes termos, o Plano de Maneio que se pretende estabelecer na região de Canda, terá em conta para além das aspirações das comunidades locais identificadas no processo do diagnóstico, aspectos relativos a diferentes realidades da região tais como a situação sócio-económica, Política, Institucional, Legal bem como a interacção do ecossistema existente. Por outro lado, aspectos relativos às oportunidades, fraquezas, fortalezas e riscos serão objecto de análise no processo de elaboração deste Plano de Maneio.

Região Comunitária de Canda

Realidade Legal: Acção do: Poder Local

(Régulos, Fumos, etc) Governo

(chefes de posto) ONGs (ORAM, etc.) Investidores

(Agentes econômicos)

QQUUEE AACCÇÇÕÕEESS DDEEVVEERRÃÃOO SSEERR EEMMPPRREEEENNDDIIDDAASS PPAARRAA AA

Realidade: Política

Interacção dos recursos Naturais.

Realidade Biofísica

Realidade: Institucional

Realidade: Sócio-economica

Fig.1: Factores intervenientes na gestão dos recursos na região de Canda.

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Plano De Maneio Comunitário Dos Recursos Naturais Da Região De Canda. 9Tabela 2: Matriz DOFA

Debilidades (fraquezas) Baixa presença institucional; Falta de transferência de

tecnologias modernas por parte das instituições;

Falta de capacidade financeira; Falta de mercado para os produtos

excedentes da produção; Baixo nível de escolaridade dos

camponeses.

Oportunidades Presença da ORAM no terreno; Possibilidade de implementação do

projecto de maneio comunitário; Desenvolvimento de infra-

estruturas sociais e econômicas; Criação de programas de

assistência técnica aos camponeses;

Criação de programas de desenvolvimento e de protecção.

Fortalezas (pontos fortes) Área oficialmente delimitada; Existência de recursos (riquezas); Actividades iniciadas pela ORAM; Comunidade efectivamente

organizada Acessibilidade da área Legislação favorável a

implementação de programas comunitários

Apoio técnico e financeiro da FAO.

Ameaças (riscos) Implicações sociais sobre a

floresta Invasão da área por pessoas

estranhas devido ao fácil acesso; Que a comunidade relegue todo o

peso das actividades para a ORAM;

Conflitos políticos.

1.3 CARACTERÍSTICAS LOCAIS

1.3.1 Situação sócio-econômica da região A comunidade de Canda é constituída por 4 povoações compreendendo cerca de 18000 habitantes. A sua principal actividade económica é a agricultura de subsistência orientada essencialmente ao cultivo de milho e outras culturas alimentares bem como a criação de animais de pequena espécie tais como aves, gado caprino e suíno. Até 1998, a área tinha sido alocada a cerca de 10 operadores florestais (madeireriros). Hoje, encontram-se licenciados no distrito da Gorongosa 3 operadores um dos quais a operar em regime de concessão florestal na zona sul da vila ou seja fora da área comunitária de Canda. Mesmo assim, dos dois madeireiros licenciados para o presente ano (2001), apenas um possui licenças de exploração de madeira para 4 espécies nomeadamente: Combretum imberbe (monzo), Pterocarpus angolensis (umbila), Afzelia quanzensis (chanfuta) e Millettia stuhlmannii (panga-panga). Em termos de desenvolvimento da região de Gorongosa – Canda, existe um grande potencial para o efeito derivado principalmente da reabilitação da estrada nacional nº 1, Centro Nordeste o que poderá abrir portas para novos investidores.

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Plano De Maneio Comunitário Dos Recursos Naturais Da Região De Canda. 10

1.3.2 Formas locais de comunicação A comunidade de Canda, consciente da importância dos recursos naturais existentes e sobretudo da necessidade da sua utilização racional, instituiu um sistema de comunicação local que facilita a transmissão de informações de uns para outros bem como a execução de diversas actividades. Tal sistema de comunicação compreende a seguinte estrutura:

Fig. 2. Estrutura Orgânica de comunicação da comunidade de Canda.

A região de Canda possui um regulado com 4 povoações representados por igual número de chefes: chefe Domba com 11 pfumos, chefe Maruro com 5 pfumos, chefe Mangara com 8 pfumos e chefe Nota com 7 pfumos, totalizando assim 31 pfumos na comunidade toda. Em média cada pfumo tem cerca de 600 habitantes. A informação veicula neste circuito de forma rápida e eficientemente de um lado para outro. Ela segue do Régulo à população e da população ao Régulo, passando pelo comitê de gestão, chefes de povoação e pfumos, sem obstruções. As missões técnicas de assistência à região, cofirmam as informações obtidas através de encontros regulares com o comitê de gestão e através do mesmo canal transmitem os conhecimentos e novas tecnologias para a gestão dos recursos. O comitê de gestão de recursos naturais é constituído por 4 áreas (área de fiscais, área de florestas e fauna bravia, área de queimadas descontroladas, e a área de advocacia), conforme o organograma a seguir.

Fig. 3: Estrutura orgânica do comitê de gestão dos recursos naturais de Canda.

Comité de Gestão de RN

Área de Fiscalização

Área de Florestas eFauna Bravia

Área de Queimadas Descontroladas

Área de Advocacia

Régulo Chefes de povoação

Comitê de gestão

Chefe Maruro

Chefe Domba

Chefe Mangara

Chefe Nota

Famílias

5 Pfumos

11 Pfumos

8 Pfumos

7 Pfumos

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1.3.3 Situação política Após o Acordo de Paz em Moçambique que ditou o fim da guerra civil, a região de Canda conheceu um clima político saudável e estável. Nestes termos, as condições para a implementação de projectos de desenvolvimento local estão garantidas de tal modo que as pequenas diferenças de opinião entre os cidadãos não têm efeitos significativos para o avanço no desenvolvimento da região.

1.3.4 Situação legal O poder local está devidamente instituído e reconhecido. Os régulos, pfumos e outras hierarquias locais são funcionais. Por outro lado, o poder administrativo também é devidamente reconhecido e operacional. Assim, todas as acções desenvolvidas para o bem da comunidade, são acções coordenadas pelas forças legais existentes na região. Actualmente, a comunidade de Canda possui uma certidão de ocupação de terras que lhe confere poderes para a gestão comunitária da área através de um comitê de gestão comunitário constituído para o efeito. Com este instrumento legalmente estabelecido, as negociações com as ONG´s e outros agentes econômicos, podem facilmente serem estabelecidos através dos representantes da comunidade.

1.3.5 Situação da Bioesfera A interação dos recursos existentes conheceu, ao longo dos anos, alguma perturbação devido principalmente a extração exclusiva de algumas espécies e a utilização de técnicas inadequadas para o exercício, tanto na área da agricultura como na da caça. O uso indiscriminado do fogo bem como a exploração de determinadas espécies, criou escassez ou mesmo desaparecimento de algumas espécies arbóreas e animais. Este fenômeno teve igualmente grande reflexo no ecossistema como um todo. Contudo, a região de Canda é potencial em recursos florestais, hídricos, terra arável e para a criação de animais (aves, gado caprino, suíno e ovino). A actividade ecoturística, também pode perfeitamente ser desenvolvida mercê as belas paisagens ali existentes.

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2 CAPÍTULO II: ANÁLISES E CONCEITOS DE MANEIO COMUNITÁRIO

A importância económica, social, cultural e científica dos recursos florestais e faunísticos para a sociedade moçambicana justifica que se estabeleça uma legislação adequada, que promova a sua utilização sustentável, bem como a promoção de iniciativas para garantir a protecção, conservação dos recursos florestais e faunísticos, visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. 2.1 Análise dos Recursos Existentes Na verdade a comunidade de Canda está consciente da degradação dos recursos florestais e faunísticos, e que tal degradação já atingiu níveis muito altos e medidas urgentes para estancar a situação ou inverter o decurso das coisas devem ser adoptadas de modo a garantir a reposição, conservação e perpetuidade na utilização dos recursos, tanto pela a presente como pelas futuras gerações. A comunidade de Canda para garantir uma correcta utilização dos recursos existentes bem como a sua conservação através de medidas apropriadas, apoiada pela ORAM-Sofala, através dos fundos da FAO canalizados via Projecto GCP/MOZ/056/NET, efectuou o zoneamento da região sob sua gestão (Esboço de uso e aproveitamento da Terra e Gestão de Recursos – Canda, em anexo), tendo identificado as seguintes zonas principais de intervenção (vide mapas em anexo):

Zona de conservação e biodiversidade/ecoturismo; Zona de exploração de madeira e caça; Zona de habitação; Zona de agricultura.

Cada uma das zonas identificadas deverá ter um objectivo de desenvolvimento específico de acordo com os usos e costumes da região bem como de acordo com as necessidades de desenvolvimento da área. a) Zona de conservação e biodiversidade/ecoturismo Assim, a zona de conservação e de biodiversidade/ecoturística de acordo com o mapa de zoneamento em anexo, se situa na zona mais alta da região, quase no sopé da montanha. Nesta zona, o desenvolvimento de actividades econômicas que visem o abate de árvores, remoção da cobertura vegetal poderá facilmente provocar a movimentação dos solos e conseqüente a erosão da vertente da montanha e do vale dos rios. Esta zona poderá pelas suas potencialidades desempenhar um grande papel no turismo contemplativo ou mesmo no turismo cinegético incluindo “Game Farmers”. Porém, a vontade da comunidade local é a criação de condições para o re-assentamento natural da fauna bravia. Esta acção deverá ser implementada numa p b) Zona de exploração de madeira e caça A zona de exploração de madeira e caça, de acordo com os dados do inventário florestal, (Mussanhane, J. (2001). Inventário florestal de Canda. Bases para a elaboração do plano de maneio comunitário), há condições que justifiquem a instalação de uma pequena indústria de transformação de madeira para fins

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comerciais e para a utilização local. A implementação deste objectivo, deverá ser feito com base em acordos contratuais entre a comunidade como detentora do recurso e o agente económico como detentor de capitais, em que todos saem a ganhar sem prejuízo das partes. Esta matéria é tratada num capítulo específico no plano de Agro-business. Esta zona, deverá igualmente ser utilizada para a exploração de outros produtos tais como mel, cogumelos, apicultura, lenha, carvão, estacas e capim, para obras de construção de casas. c) Zona de habitação A grande maioria da comunidade se situa nas proximidades das vias públicas, ou ao longo da Estrada Nacional nº 1 ou mesmo ao longo de outras vias de acesso que dão para o interior da área. Embora a zona esteja vocacionada para o estabelecimento de habitações, é notório que este fenômeno ocorre em simultâneo com a prática de machambas. Na zona de habitação, ainda pode-se praticar a criação de animais de pequena espécie principalmente o gado caprino, suíno, aves e roedores. O processo de repovoamento pecuário, principalmente com o gado bovino e caprino, deverá ser acompanhado de estudos relacionados com a capacidade de suporte da área bem como da análise da quantidade e qualidade de pasto para os animais a serem introduzidos de modo a definir medidas adequadas de gestão e prevenir consequências nefastas com os níveis de expansão de animais. d) Zona de agricultura Esta área foi zoneada para fins agrícolas. Contudo, dada a situação concreta de uso e aproveitamento de terra aliado aos costumes da comunidade, não existe uma nítida divisão entre esta zona e a zona habitacional, resultante do facto de que cada membro da comunidade tem muita terra a sua volta e as casas se situam distantes umas das outras, o que resulta numa baixa densidade populacional comparativamente a zona periférica às vias de acesso. Em termos de recursos naturais, a região de Canda é potencialmente rica em:

Recursos Florestais; Recursos Faunísticos; Recursos Hídricos; Terra Arável; Recursos Humanos Biodiversidade

2.1.1. Recursos Florestais Em Agosto de 2001 foi realizado um inventário florestal pela ORAM (Associação Rural de Ajuda Mútua) através da Unidade de Apoio ao Maneio Comunitário da Direcção Nacional de Florestas e Fauna Bravia (DNFFB) com o objectivo de avaliar os recursos florestais da região de Canda com vista a fornecer informação necessária para a tomada de decisão no maneio dos recursos florestais existentes. Especificamente, o estudo esteve orientado com ênfase para a avaliação da composição de espécies, medição da altura das árvores e a distribuição diamêtrica

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das espécies, volume total da madeira comercial1, por qualidade do fuste e não comercial das espécies encontradas, a sua abundância relativa e absoluta. 2.1.1.1. Potencial madeireiro O estudo do inventário florestal, fez o levantamento da informação indicativa sobre o estoque de madeira existente bem como as espécies que poderão ser exploradas para fins comerciais, conforme se pode ver na tabela 3 a seguir:

Tabela 3: Volume comercial e total por tipo florestal na área de Canda.

Volume (m3/ha) Tipo florestal Área (ha) Comercial Total

LF1 9.457,0 43,50 145,19

LF2 4.923,2 18,65 58,78

LF3 12.084,5 11,64 41,99

WG 38.562,5 6,56 24,22

Total 65.027,2 14,73 49,73

Fonte: Mussanhane, J. (2001). Inventário florestal de Canda. Bases para a elaboração do plano de maneio comunitário.

Em termos globais, por tipo florestal, nota-se que o maior volume de madeira se concentra no tipo florestal LF1 com cerca de 43 m3/ha que pode ser comercializada. Por outro lado, em termos de biomassa lenhosa existe um total de cerca de 50 m3/ha, volume que pode assegurar a exploração não só de madeira para serrar mas também para lenha e carvão vegetal. A tabela 4 a seguir ilustra a análise dos volumes existentes por tipo florestal e por qualidade do tronco. A qualidade do tronco varia de 1 a 4 onde 1 é tronco excelente e 4 é tronco mau que não serve para fins comerciais.

Tabela 4: Volume comercial por qualidade do fuste e por tipo florestal

Volume comercial por qualidade do fuste Tipo florestal Área (ha) 1 2 3 P

Totais (m3/ha)

LF1 9.457,0 20,6 9,5 4,6 34,7

LF2 4.923,2 8,8 3,7 1,7 14,2

LF3 12.084,5 2,1 1,6 2,1 5,8

WG 38.562,5 0,6 1,0 1,2 2,8

Total global 65.027,2 32,1 15,8 9,6 57,5

P = Preciosa

1 Por madeira comercial refere-se ao fuste principal com diâmetro, comprimento e qualidade satisfactórios e com ramadas cujas dimensões podem ser industrialmente processáveis e possuem mercado.

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Por outro lado, foi feita uma análise do volume comercial de toda a área por classe diamêtrica e por qualidade do fuste para as espécies de 1ª, 2ª, 3ª e Preciosas. Os resultados apresentados no anexo 2, ilustram claramente a disponibilidade de madeira para fins industriais desde que a operação seja feita observando critérios normados por lei e recomendações apresentadas neste estudo. Portanto, no processo de exploração da madeira, dever-se-á observar com rigor a diversificação de espécies de modo a promover a utilização de outras espécies que até ao momento secundarizadas ou cujo mercado ainda não foi claramente assegurado. Outro material lenhoso em pé que poderá ser potencialmente utilizado para a produção de lenha e carvão vegetal é estimado em cerca de 2.578.330,2 m3. (Mussanhane, J. (2001). Inventário florestal de Canda. Bases para a elaboração do plano de maneio comunitário). 2.1.1.2. Licenciamento Florestal A generalizada forma de exploração florestal sob regime de licença simples caracterizada principalmente pelo corte de um número muito limitado de espécies, caracterizou o tipo de exploração florestal que vinha sendo, e de certa forma continua sendo desenvolvido na região de Canda. De acordo com os dados disponíveis nos Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia de Sofala, o distrito da Gorongosa foi por muitos anos alvo de autorizações desregradas para fins madeireiros. A título de exemplo, em 1998, foram emitidas cerca de 42 licenças pertencentes a 8 operadores dando direito a exploração cerca de 4.320 m3 de madeira de diversas espécies sendo as mais predominantes as seguintes: Umbila cerca de 51% do volume total explorado, Chanfuta (12,1%) e Panga-panga (11,6%). Veja as tabelas 2, 4 e 6 no anexo 2. Apesar desta situação descrita no parágrafo anterior, que prevaleceu por longo período, actualmente se observa uma redução considerável no número de licenças emitidas para a área. A tabela 6 a seguir ilustra de forma comparativa o exercício da actividade madeireira em três anos: 1998, 2000 e 2001.

Tabela 6: Número de licenças para exploração de madeiras emitidas para a região de Canda.

ANO Parâmetro 1998 2000 2001 Observações

Nº de licenças 42 11 4

Nº de Operadores 8 4 2

Redução em cerca de 90% Redução em cerca de 75%

Volume explorado 4.320 760 450 Redução em cerca de 90%

Como se pode ver, houve uma redução gradual tanto no número de licenças emitidas bem assim no número de operadores e os respectivos volumes. De 1998 a 2001, registou-se uma redução em cerca de 90% no número de licenças, 75% no número de operadores e 90% no volume licenciado.

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Na mesma tabela 6, pode se ver que de cerca de 42 licenças emitidas em 1998, em 2001 passou para 4 significando uma redução na ordem dos 90%, o mesmo sucedendo com os volumes licenciados.

Tabela 7: Principais espécies exploradas na região de Canda entre 1998 e 2001.

Nº Nome comercial Nome científico

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Chanfuta Injale Messassa Mefula Missanda Mucarate Panga-Panga Umbaua Umbila Monzo

Afzelia quanzensis Sterculia apendiculata Brachystegia spiciformis Sclerocarya birrea Erythrophleum sp. Guibourtia conjugata Millettia stuhlmannii Khaya nyassica Pterocarpus angolensis Combretum imberbe

Em relação as espécies, é notório nas tabelas 8, 9 e 10 que a maior percentagem das cerca de 10 espécies autorizadas recai sobre a Umbila, Panga-Panga e Chanfuta.

Tabela 8: Volume/espécie/operador em 1998.

Espécies Parâmetro

Chanfuta Panga-p. Umbaua Umbila Messassa Missanda Injale Mefula Mucarate

Volume total por espécie 525 500 300 2,190 180 175 50 350 50

Volume global 4,320

Percentagem por espécie (%) 12.2 11.6 6.9 50.7 4.2 4.1 1.2 8.1 1.2

Tabela 9: Volume/espécie/operador em 2000.

Espécies Parâmetro

Chanfuta Monzo Panga-panga Umbaua Umbila

Volume total por espécie 346 100 167 97 50

Volume global 760

Percent. por espécie (%) 45.5 13.2 22.0 12.8 6.6

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Tabela 10: Volume/espécie/operador em 2001.

Espécies Parâmetro

Chanfuta Monzo Panga-panga Umbaua Umbila

Volume total por espécie 200 150 50 0 50

Volume global 450

Percent. por espécie (%) 44.4 33.3 11.1 0.0 11.1

2.1.1.3. Classificação da floresta A área de estudo é coberta por cerca de 4 tipos florestais, nomeadamente: floresta fechada de baixa altitude (LF1), floresta medianamente fechada de baixa altitude (LF2), floresta aberta de baixa altitude (LF3) e floresta com poucas árvores e muito capim ou seja pradaria arborizada (Wg). De acordo com os resultados do inventário florestal de Canda, os tipos florestais que se apresentam em maior extensão são a floresta do tipo pradaria arborizada totalizando cerca de 59% da área total seguida da floresta aberta de baixa altitude com cerca de 18% do total, e por último a floresta fechada de baixa altitude com cerca de 14%.

Tabela 11: Classificação da floresta de Canda

Área Tipo florestal Descrição Hectares (%)

LF1 Floresta fechada de baixa altitude, com árvores superiores a 7 metros de altura.

9 457.0 14.5

LF2 Floresta medianamente fechada de baixa altitude.

4 923.2 7.6

LF3 Floresta aberta de baixa altitude. 12 084.5 18.6

Wg Floresta com poucas árvores e muito capim.

38 562.5 59.3

Total 65 027.2 100.0

2.1.1.4. Composição de espécies A vegetação florestal da área é composta por cerca de 47 espécies arbóreas, algumas das quais sem valor comercial identificado. De entre as espécies mais abundantes, destacam-se: Pterocarpus rotundifolius (Momba) usado para fins medicinais, com cerca de 8 árvores por ha, Brachystegia spiciformis (Messassa), usada na área principalmente para a produção de lenha e carvão e também para madeira, com 7 árvores/ha e Brachystegia boehmii (Mufute), usada para a produção de madeira, com cerca de 6 árvores/ha.

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Exceptuando uma e outra espécie, a maior parte delas têm uma baixa freqüência na floresta. Na maior parte dos casos não chega a 1 árvore por hectare. Ecologicamente essas espécies ocorrem no seu habitat natural em interacção com outras comunidades vegetais existentes na área. Cada uma das espécies joga um papel importante no conjunto de outras dentro da dinâmica do ecossistema existente incluindo a fauna. Neste caso o que deve ter contribuído para a situação observada, é a perturbação generalizada do ecossistema devido as formas inadequadas de gestão da floresta. Assim, o plano de maneio prevê a reposição de um número de espécies em declínio, para garantir por um lado o enriquecimento e o balanço da composição de espécies na floresta e por outro para que se possa alcançar bons resultados econômicos na exploração madeireira. 2.1.1.5. Taxa de Crescimento Anual (IMA) A informação sobre o crescimento das espécies arbóreas é fundamental para uma avaliação futura dos níveis de madeira que a floresta pode oferecer. Em florestas naturais, a avaliação da taxa de crescimento é bastante complexa para uma grande gama de espécies arbóreas com diferentes padrões de taxas de crescimento. Em geral, Moçambique não dispõe de dados consistentes sobre a taxa de crescimento das espécies nativas. Contudo, para efeitos de estimativas, se utilizam dados esporádicos da região com condições ecológicas comparáveis. Neste trabalho, são utilizados dados do país e dos países vizinhos revistos em 1998. Assim, a avaliação dos dados existentes dentro do país sugerem um Incremento Médio Anual em Volume (IMAv) que varia entre 0.4 a 1.6 m3/ha/ano. Os dados disponíveis sobre a taxa de crescimento das florestas nativas noutros países da África com certas condições ecológicas similares não são consistentes, provavelmente porque não existe informação sólida nesta matéria. Em vários estudos, o IMA da biomassa lenhosa é referido como variando entre 0.24 a 6.94 m3/ha/ano. De acordo com SAKET, at al (1999), num estudo intitulado “Proposal of a Model of Integrated Forest Management Plan for the Timber Concession of Maciambose, Cheringoma, Norte of Sofala”, foi considerada uma taxa de incremento diamêtrico de 3 mm por ano, o que condiciona a um período de rotação na exploração de 33 anos. 2.1.1.6. Regeneração Em florestas nativas, a regeneração natural até ao presente momento não tem merecido qualquer tratamento silvicultural, salvo num e noutro caso, ficando deste modo exposta a vários factores incluindo a acção dos fogos que elimina sistematicamente as árvores pequenas sem capacidade de resistir (árvores com DAP<20 cm). Do resultado do inventário florestal recentemente realizado na área, é notório que a distribuição diamétrica das espécies da área não é promissora embora se registe um maior número de árvores por hectare (cerca de 40) no intervalo de DAP entre 10 – 19,9 cm comparativamente as outras classes diamêtricas avaliadas. O corte admissível por ano foi calculado em cerca de 5.242,4 m3 de madeira comercial da 1ª e 2ª espécies. A falta de avaliação da quantidade de árvores com DAP inferior a 10 cm, como se pode ver na tabela 12, impede visualizar a estrutura do povoamento e fazer inferências sobre as suas reais possibilidades de auto-regeneração ao longo dos

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tempos. Igualmente, esta situação não permite avaliar a capacidade de sobrevivência ao fogo das espécies mais novas. Assim, ao longo do período de implementação do plano de maneio, estudos relativos a esta matéria deverão ser levados a cabo de modo a se obter uma análise mais consistente da estrutura do povoamento da região de Canda.

Tabela 12: Distribuição diamêtrica das espécies dentro do povoamento florestal.

DAP (cm) Parâmetros 10-19.9 20-29.9 30-39.9 40-49.9 DAP>50

Nº de árvores/ha 38.5 23.5 6.2 5.9 0.08

Um estudo realizado por SAKET at al (1999), no distrito de Cheringoma, província de Sofala mostrou que o número de árvores na classe diamétrica de 5-9 era menor do que nas classes de 14 a 19 como se pode ver na tabela 13 a seguir.

Tabela 13: Freqüência diamêtrica em árvores com DAP menor que 20 cm.

Classe de DAP (cm) Tipo Florestal 5 - 9 10 – 14 15 - 19

LF1 58 60 38

LF2 51 61 29

LF3 40 62 33

T 39 43 16

WG 33 45 34

Fonte: SAKET, M., MONJANE, M., ANJOS, A. (1999). Proposal of a Model of Integrated Forest Management Plan For Timber Concession of Maciambose.

Tal tendência é comparável separadamente para ambas espécies comerciais e não comerciais. Em geral, a regeneração natural é muito deficiente e está muito abaixo dos níveis para uma floresta cuja exploração obedece um corte selectivo. Tal ausência de regeneração nas classes diamêtricas menores e em particular para as mais pequenas, reflecte a dimensão de estragos causados pelas queimadas descontroladas cuja intensidade aumenta de ano para ano. De acordo com M. Patrick (2001), em florestas de miombo é normal encontrar uma distribuição bi-modal ou a campânula (de Gauss) das classes diamétricas porque muitas espécies regeneram episodicamente. A literatura sugere que a classe diamétrica de 5 – 9 cm constitua ainda a fase conhecida por sufrutícia ( em inglês, suffrutex), fase esta durante a qual a parte aérea da planta cresce normalmente durante o tempo chuvoso mas fica “completamente” danificada durante o tempo seco. Este processo pode se repetir até a idade de 8 a 20 anos, dependendo da espécie.

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2.2 CONCEITO DE MANEIO COMUNITÁRIO DOS RECURSOS NATURAIS O conceito de maneio comunitário dos recursos naturais assenta no espírito da utilização sustentável dos recursos em que a força activa e promotora do processo é a comunidade devidamente organizada. Nestes termos, o maneio será um conjunto de medidas de gestão dos recursos numa perspectiva de utilização permanente dos recursos existentes tendo em vista a sua conservação e desenvolvimento.

2.2.1 Recursos Florestais A região de Canda tratando-se de uma zona onde a comunidade local tem uma certidão de uso e aproveitamento da terra, a exploração e gestão dos recursos florestais ali existentes, far-se-á pela respectiva comunidade, se for por terceiros, far-se-á pela negociação dos termos e condições da exploração entre as comunidades locais, o requerente e o Estado, através da Direcção Provincial da agricultura. A exploração de lenha e carvão vegetal pelas comunidades locais, ou seus membros, só poderá ser mediante obtenção de uma licença para o efeito, junto dos Serviços de florestas. A comercialização dos produtos explorados far-se-á em feiras próprias a realizarem-se nas sedes dos respectivos distritos, localidades, vilas ou postos administrativos, onde no acto de aquisição, o comprador ser-lhe-á passada uma guia de trânsito, pelo fiscal comunitário treinado ou pelo fiscal de florestas e fauna bravia, que o habilita a transportar até ao respectivo destino e a comercializá-lo, se for o caso. Não é permitido a autorização de exploração de lenha e carvão vegetal, por terceiros estranhos à comunidade de Canda, salvo quando o requerente já tenha obtido o consentimento do comitê de gestão dos recursos naturais local. 2.1.1.7. Medidas de Gestão Mercê a sua sensibilidade e hábitos costumeiros, a comunidade de Canda no geral aconselha a observância das seguintes medidas proibitivas:

Corte de lenha no cemitério; Abertura de machambas ao longo dos rios; Corte de árvores para fins de combustível lenhoso ao longo da montanha; Caça para fins comerciais.

Fig. 4: Plantio de árvores

Para efeitos de exploração da madeira na floresta, os dados do inventário sugerem a existência de um volume suficiente de madeira, cerca de 275.115 m3 para alimentar uma serração com capacidade de cerca de 5.000 m3 de madeira por ano. Contudo, para efeitos de gestão sustentável, recomenda-se que o volume a autorizar para

exploração não deverá passar de 1.000 (mil) metros cúbicos ano, até que estudos mais exaustivos venham a recomendar outros níveis. Estudos mais detalhados deverão ser feitos ao longo do período de gestão dos recursos, de modo a determinar com maior precisão os níveis de madeiras existentes bem como as quantidades que deverão ser extraídas anualmente, observando para o efeito o disposto na lei e na capacidade industrial a ser instalada. Face ao elevado nível de empobrecimento da floresta em determinadas espécies, o reflorestamento é recomendável.

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Deverá ser estabelecido um viveiro para a produção de mudas das respectivas espécies que serão distribuídas à comunidade para o plantio. A cada Pfumo será responsabilizado uma área territorial para o plantio de árvores previamente seleccionadas. Por outro lado, medidas silviculturais por parte do operador, serão adoptadas na exploração. Cortes selectivos, desbastes de rebentos nos primeiros três anos, serão assegurados para garantir a reposição natural das espécies. Para evitar que ocorra erosão do solo devido à exploração florestal, deverão ser implementadas as seguintes medidas:

Evitar cortes massivos; Restringir a exploração às épocas secas ou de baixa precipitação; Planificar o abate de modo a evitar ou minimizar o deslize de troncos

paralelamente à encosta; Uso de animais em vez de máquinas durante o abate; e Estabilizar os trilhos logo depois do abate.

2.2.2 Recursos faunísticos A área de estudo é adjacente a zona tampão do Parque Nacional da Gorongosa. Devido as suas condições climatéricas e de diversidade de vegetação, oferece um excelente e adequado ambiente para o desenvolvimento de uma gama de pasto devido a permanente existência de água que corre todo o ano das nascentes do monte, que constituem a densa rede hidrográfica da região. A área, em tempos suportou uma fauna diversa e abundante, que permitiu a obtenção de lucros significativos para Moçambique, com elevados benefícios sociais (população local). Passados cerca de 18 anos de guerra na região, a maior parte da fauna foi dispersa e outras espécies foram completamente dizimadas. Esta área como qualquer outra da zona, num passado recente sofreu uma grande pressão da caça furtiva através da utilização de cabos de aço, armadilhas e outro tipo de armas de caça que eventualmente terá contribuído para o declínio dos níveis normais de existência de espécies de fauna bravia para níveis muito críticos. Embora não haja estudos especificamente feitos para a área de Canda no que diz respeito ao inventário da fauna bravia, para efeitos ilustrativos dos níveis de declínio da fauna na região, a seguir se apresentam tabelas comparativas em diferentes anos, nas regiões de Coutadas 6 e 15, Parque Nacional da Gorongosa e Região de Marromeu:

Tabela 14: Fauna Bravia nas Coutadas 6 e 15 em Novembro de 1994.

Espécie Animais obseravdos Animais estimados

Cabrito cinzento Impala Reedbuck

1 4 3

16 64 48

Fonte: Dutton, P., Ramsay, S. & Falcão, R. (1994). Aerial Survey of Hunting Areas Coutadas 6, 7, 9 e 15.

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Plano De Maneio Comunitário Dos Recursos Naturais Da Região De Canda. 22Tabela 15: Fauna Bravia no Parque Nacional da Gorongosa

Espécie 1968 1990 1994

Elefante Búfalo Hipopótamo Wilderbeest Waterburck Zebra Elande Sable Harterbeest Nhala

2.200 14 .000 3.000 5.500 3.500 3.000 500 700 800

sem dados

4 0 0 7

200 7 0

12 0

40

0 0 0 0

25 0 0 0 0 0

Fonte: In “Dutton, P., Ramsay, S. & Falcão, R. (1994). Aerial Survey of Hunting Areas Coutadas 6, 7, 9 e 15”.

Da tabela 15, nota-se o declínio do número de animais ao longo dos anos. As causas associadas a este fenômeno se relacionam com a matança massiva de animais no período da guerra, caça furtiva para fins comerciais, queimadas descontroladas que de ano para ano alteram o habitat dos animais e do ecossistema no geral.

Tabela 16: Fauna Bravia nas Coutadas de Marromeu e Reserva de Búfalos

Quantidade de animais Especie

1968 1990 1994

Elefante Búfalo Hipopótamo Waterburck Zebra Elande Sable Harterbeest Reedbuck

257 20.000

250 40.300

673 sem dados sem dados sem dados sem dados

373 30.394 1.770 45.653 2.720

sem dados 24 32 260

sem dados 1.500

sem dados sem dados sem dados sem dados sem dados sem dados sem dados

Fonte: In “Dutton, P., Ramsay, S. & Falcão, R. (1994). Aerial Survey of Hunting Areas Coutadas 6, 7, 9 e 15”.

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Assim, uma análise comparativa dos dados das tabelas 15 e 16, nota-se que o fenômeno de redução de animais foi mais acentuado na região de Gorongosa do que nas Coutadas de Marromeu e Reserva de Búfalos. A principal razão que estará na origem deste drástico fenômeno, provavelmente é que a região de Marromeu é uma zona de difícil acesso na maior parte do ano, devido principalmente ao terreno alagadiço e má qualidade das vias de acesso. Assim, os dados da tabela 15 acima, confirmam a inexistência de recursos faunísticos na região da Gorongosa. A comunidade de Canda está ciente desta situação e procura formas adequadas de deixar a reposição de animais. Deste modo, a zona indicada para caça, não deverá nela ser feita caça alguma. Todo o esforço e mediadas deverão ser orientadas a conservação e desenvolvimento da fauna bravia. 2.1.1.8. Medidas de Gestão

Fig. 5: Desenvolvimento da fauna bravia.

A fauna bravia deve ser protegida e preservada, quer evitando a caça furtiva através de ratoeiras, laços, cabos de aço, flechas, azagaias, fogos, armas automáticas, substâncias venenosas, explosivos e outras formas de caça, quer evitando as queimadas descontroladas que na maior parte dos casos destroem o pasto e o habitat dos animais. Ninguém deve caçar para vender senão para consumo próprio quando devidamente autorizado e licenciado! A caça permitida fora das modalidades

previstas pela Lei, é quando se trate de defesa de pessoas e bens de acordo com o artigo 25 da Lei 10/99 de 7 de Julho. Na verdade a zona de Canda tem poucos animais e por isso ninguém deve caçar. Só podem caçar membros da comunidade licenciados para o efeito. No acto da caça, deve-se evitar o abate de fêmeas, destruição de ninhos e morte de crias. A época na qual é permitido caçar é de 1 de Abril a 31 de Outubro. Portanto de 1 de Novembro a 31 de Março é o período de defeso da fauna bravia. Neste período ocorre a reprodução dos animais e não é permitido caçar. Para assegurar às comunidades locais o consumo da proteína animal, medidas de repovoamento pecuário deverão ser implementadas. De acordo com as aspirações e necessidades actuais da comunidade de Canda, o repovoamento pecuário deverá ser feito prioritariamente com o gado bovino. Os níveis de prevalência da mosca Tsé-Tsé não são alarmantes na região. A razão da preferência deste tipo de gado, alia-se ao facto destes animais para além de oferecer a sua rica carne e leite para a alimentação, poderem ajudar na lavoura dos terrenos e no transporte de mercadorias

Fig. 6: Fomento pecuário com

gado bovino.

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(bens e produtos). Canda tem experiência na utilização de juntas de boi para puxar carroça e lavrar a terra. Desta forma, os problemas de alimentação, transporte e lavoura ficariam simultaneamente minimizados. O sistema de entrega dos animais aos membros da comunidade obedecerá a uma seqüência rotativa como acontece com o sistema de repovoamento pecuário ora em curso no país.

Por outro lado o repovoamento pecuário com animais do tipo

Fig. 7: Fomento pecuário

2.1.1.9. Medidas PO comitê de gestão dseus conselheiros é infracção às regras eserão encaminhadoslegislação vigente. Todo aquele que for aserá conduzido ao Ccaso. Em situações eMesmo assim, o infilegalmente de acordoTodos os instrumentoautorizados, serão coultrapasse a competmesmo as entidades Todo aquele que forprevistas pela legislatransgredido.

2.2.3 Recursos HídriA região de Canda cprincipais, destacam-

cabrito, porcos e aves, deve estar garantido de modo a permitir uma diversificação no consumo das proteínas e assegurar que as camadas de menos posses participem no processo de fomento pecuário de forma directa. Outra das grandes vantagens na utilização de animais de pequena espécie, é o curto ciclo reprodutivo que eles têm o que em menos tempo permite a multiplicação de muitos animais.

com gado caprino e aves.

unitivas os recursos naturais de Canda em coordenação com o Régulo e responsável por atribuir penas e multas primárias no caso de stabelecidas por este acordo. Casos que ultrapassem este nível, as autoridades administrativas e resolvidos de acordo com a

panhado a exercer a caça de forma furtiva, ou seja, ilegalmente, omitê de Gestão para ser penalizado conforme a gravidade do m que é capturada a carne, esta será distribuída à comunidade. ractor será obrigado a pagar o custo do animal que caçou com a tabela de preços em vigor constantes no anexo 4. s de caça que forem encontrados em posse de cidadãos não nfiscados e o Comitê de Gestão resolverá o problema. Caso

ência deste, será encaminhado a administração do distrito ou competentes se assim o exigir. encontrado a caçar contra as normas costumeiras locais e as ção vigente, será punido conforme o artigo da lei que tiver

cos onstitui uma bacia hidrográfica com pouco mais de 20 rios. Dos se o rio Vunduzi, Chitunga, Nhandar, Nhandungue e Muera.

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A maior parte dos rios que compõem a bacia nasce da grande serra da Gorongosa. Ao longo dos rios se encontram frondosos mananciais florestais compostos principalmente por Umbauas (Khaya nyassica), Chanfuta (Afzelia quanzensis) e Njale (Sterculia apediculata).

2.2.4 Medidas de Gestão A comunidade de Canda acha que não se pode abrir machambas ao longo dos rios. Esta medida está sendo aplicada ao longo de alguns rios secundários. Portanto, é possível assumir uma medida de gestão para o futuro que não seja uma medida corectiva. Assim, não se pode mais abrir machambas a menos de 20 metros do rio. Uma distância inferior a esta, seria fonte de litígio, pois iríamos entrar nas vertentes dos rios onde a erosão é potencialmente um perigo sério. O objectivo principal na gestão dos recursos hídricos, é por um lado, assegurar a produção, conservação e fornecimento de água potável e do peixe às comunidades. Por outro lado, essas e outras actividades de exploração e de cultivo não contribuam negativamente através do assoreamento dos rios bem como da erosão dos solos e suas vertentes. Por outro lado, visa favorecer a infiltração da água evitando deste modo o escorrimento superficial, o que contribui para a lavagem dos nutrientes do solo. Outro objectivo é a produção de água em quantidade e em qualidade. Para evitar o assoreamento e elevada sedimentação nos rios e riachos, recomenda-se a adopção das seguintes medidas:

Criação de barreiras vegetais de 10 a 15 metros de largura em ambas margens dos rios secundários. Espécies arbóreas como a umbaua, mugonha, missanda, njale e outras que são comuns na zona, deverão ser plantadas ao longo dos rios primários,, num compasso de 10 a 15 metros de distância entre as árvores. Esta operação poderá ter lugar depois duma colheita de sementes organizada ao nível da comunidade de Canda;

Construção de artefactos (em caso de necessidade), para captura de sedimentos ao longo das linhas de drenagem;

Evitar o deslize de árvores nos rios/riachos no processo de exploração florestal; Evitar o estabelecimento de machambas nas margens dos rios/riachos com

características susceptíveis à erosão, não menos que 15 metros em abas margens;

Plantar capim (Vetiver grass) nas vertentes dos rios para assegurar o solo e evitar o seu deslizamento. Deverá criar-se viveiros comunitários para a multiplicação do capim e abastecimento à comunidade.

Fig. 8: Gestão dos recursos hídricos

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2.2.5 Terra Arável A comunidade de Canda localiza-se numa zona agroecologicamente definida por um clima tropical seco de altitude. Apresenta solos arenoso-argilosos, na maior parte dos casos com fraca capacidade de drenagem. Em geral as terras para a agricultura são férteis. Contudo, é necessário identificar medidas adequadas de gestão das áreas de produção de produtos alimentares e de rendimento de modo a satisfazer os objectivos de gestão a curto, médio e longo prazos para que haja sempre riqueza por explorar. Em práticas agrícolas, as famílias em geral usam associação e consorciação das seguintes culturas:

Milho Mapira Mandioca Algodão

Batata Reno Hortícolas Gergelim Girassol

Feijão manteiga Feijão nhemba Feijão jugo Fruteiras (com destaque da bananeira).

A cultura da banana O cultivo da bananeira desde os tempos antes da guerra, constituiu uma das grandes culturas de rendimento económico. De acordo com as aspirações da comunidade, ficou evidente que maior parte das famílias está a favor da produção a escala comercial da bananeira. Actualmente importa restaurar a cultura da bananeira porquanto já foi largamente ali produzida. Esta matéria é tratada com profundidade no documento de Agrobusiness.

Dada a topografia e acidentes geográficos da região de Canda, a disponibilidade de muita terra em planícies é fraca. A maior parte das áreas destinadas para a agricultura estão localizadas em declives, vales e zonas com acidente topográfico irregular. Assim, as medidas a serem implementadas na gestão destes solos devem em primeira mão ter em conta a grande susceptibilidade de erosão dos solos por práticas inadequadas de cultivo. Neste contexto a introdução de medidas agroflorestais deverão conduzir à redução dos impactos negativos no sistema de práticas de actividades de exploração em declives, machambas abandonadas e activas. Nas zonas baixas, trata-se de proteger a integridade da bacia hidrográfica que se estende da serra da Gorongosa até Marromeu bem como proteger as zonas vulneráveis, melhorando a infiltração das águas de modo a assegurar um regime hídrico aceitável dos principais rios. 2.1.1.10. Medidas de Gestão A grande variedade das plantas cultivadas assim como das condições pedológico-climáticas da zona de Canda fazem com que se utilizem ali diferentes formas de preparação do solo. Usar para a agricultura nestas condições, modelos universais pode acarretar consequências negativas. Numerosas zonas desérticas e semi-desérticas formaram-se como resultado da intervenção do homem e confirmam a exploração e o cultivo incorrectos do solo (P. Ivontchik, 1989).

Fig. 9: O cultivo da banana.

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A preparação do solo é a fase anterior a outras práticas agrícolas como a rotação de culturas, a adubação, etc. Assim, na preparação do solo deverá recorrer-se a um conjunto de lavouras destinadas a:

melhoramento da estrutura da camada arável e das propriedades físicas do solo. A preparação do solo permite melhorar a sua permeabilidade à água e ao ar, intensificar os processos biológicos;

conservação da massa orgânica do solo e, em certas condições, o aumento desta;

utilização mais plena, racional e produtiva das precipitações; incorporação no solo dos resíduos das raízes e restos vegetais após a colheita,

e às vezes, de ervas daninhas, suas sementes e órgãos de multiplicação vegetativa.

As medidas de gestão dos solos propostas para esta região, estão ligadas a introdução de práticas agro-florestais, o que em geral já foi um sucesso na zona tampão do Parque Nacional da Gorongosa. A tabela 17 a seguir, mostra alguns resultados das análises de compostos botânicos de algumas espécies aplicadas na zona tampão do Parque Nacional da Gorongosa feitas no Laboratório da Açucareira de Mafambisse, na província de Sofala.

Tabela 17: Análise de nutrientes em algumas espécies florestais

Elemento Químico Nº Espécie Elemento

de análise N P K Ca Mg

Folhas 4,60 0,35 0,20 0,40 0,18 1 Gliricidia sepium 0

Ramos 1,30 0,47 0,17 0,10 0,16

Folhas 4,80 0,30 0,28 0,40 0,40 2 Gliricidia sepium 1

Ramos 1,60 0,40 0,21 0,50 0,50

Folhas 3,70 0,20 0,24 0.80 0,80

Ramos 0,60 0,40 0,25 0,30 0,30 3 Sesbania macrantha

Semente 2,10 0,30 0,30 0,40 0,40

Folhas 3,60 0,30 2,43 1,59 0,15

Ramos 0,90 0,30 2,43 1,59 0,25

Flores 1,90 0,50 1,94 1,73 0,16 4 Sesbania sesban

Sementes 2,40 0,13 0,30 1,94 1,19

Folhas 2,00 0,27 0,12 0,08 3,70

Ramos 0,60 0,33 0,23 1,30 2,10 5 Calliandra calothyrsus

Flores 1,30 0,17 1,10 0,16 0,14

Folhas 2,60 0,16 1,30 0,12 0,14

Ramos 1,20 0,14 1,00 1,58 0,12 6 Tephrosia vogelii

sementes 0.80 0,23 1,02 0,22 0,20

Fonte: Laboratório da Açucareira de Mafambisse, 2001.

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A análise destes dados revelou que o uso das espécies para o incremento de nutrientes no solo pode ser possível de tal modo que seja dispensável a utilização de fertilizantes artificiais. Os teores de Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K), Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg) obtidos das análises mostra igualmente que a combinação destas espécies pode oferecer um resultado positivo. Assim a introdução de medidas e técnicas agro-florestais devem em princípio conduzir a redução dos impactos negativos do sistema de derruba e queimada da floresta, bem como reduzir o rítmo de abertura de novas áreas para machambas sob o pretexto de que as áreas antigas ficaram pobres. Com a contenção do alastramento de abertura de novas áreas, pode-se minimizar eventuais conflitos de invasão do Parque Nacional da Gorongosa em busca de áreas férteis. Em relação as áreas em pousio, a medida visa restaurar a fertilidade dos solos cansados a fim de os utilizar de novo, em vez de abrir novas machambas desbravando a floresta. Este objectivo será atingido através da produção de arbustos de rápido crescimento dentro da machamba do camponês em que no primeiro ano estabelecem-se os arbustos e no segundo faz-se a poda regular nos meses de Fevereiro, Outubro e Dezembro. A derruba dos arbustos para fins energéticos, é feita de Julho até Setembro. Este procedimento do ano dois, é contínuo para o ano três e subseqüentes. Outra medida é a consorciação de culturas para fins produtivos e de conservação. Em áreas activas (machambas em funcionamento), o objectivo é garantir a continuidade da fertilidade a curto e médio prazos e eliminar a pressão sobre a floresta de miombo. Assim, a técnica a aplicar consiste na utilização de espécies fixadoras de nitrogênio e ao mesmo tempo produtoras de lenha, por exemplo Acácia albida, Albizia lebbeck ou adianthifolia e outros vários arbustos com elevado poder de nitrificação dos solos. Das espécies que podem ser usadas e que por sinal podem ser facilmente multiplicadas são: a) arbustos

Culturas puras Gliricidia siepium Sesbania macrantha Sesbania sesban Calliandra calothyrsus Tephrosia vogelii

Compasso de 2,5 X 2,5 metros

Culturas mistas Gliricidia siepium + Sesbania sesban Sesbania sesban + Sesbania macrantha Gliricidia siepium + Sesbania macrantha Gliricidia siepium + Tephrosia vogelii

Compasso de 2,5 X 2,5 metros

b) árvores:

Acácia albida Albizia lebbeck Albizia adianthifolia

Compasso de 10 X10 metros

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2.2.6 Biodiversidade Os principais objectivos na biodiversidade são nomeadamente econômicos, sociais e ecológicos. Como objectivo económico, importa garantir a produção diversificada de espécies florestais com valor económico, aumentar o potencial de produção madeireira, apícola, faunística, plantas medicinais, entre outros. Como objectivo social, importa garantir que a implementação do plano de maneio seja pelas próprias comunidades por forma que as actividades lucrativas possam as beneficiar de modo a reduzir os níveis de pobreza absoluta na região. Como objectivo ecológico, importa reduzir ou mesmo eliminar a deflorestação da floresta através de práticas de exploração e cultivo inadequados, limitar e controlar o uso impróprio do fogo, restabelecer o equilíbrio ecológico

através da composição florística, faunística e outros intervenientes no ecossistema e assegurar a regeneração natural. 2.2.6 Fogo

As queimadas descontroladas são a maior causa da destruição dos recursos florestais e faunísticos no país e Canda não foge a regra. Os fogos causam danos no ecossistema ao eliminar os microorganismos, insectos, roedores, répteis, aves, animais, árvores e bens matérias e humanos. O período de maior incidência dos fogos na região de Canda é entre Agosto e Outubro de cada ano embora as queimadas possam ocorrer por vezes antes ou depois deste período.

Fig. 10: Biodiversidade florestal.

2.1.1.11. Medidas de Gestão A comunidade de Canda consciente do perigo e dos danos que o fogo pode causar tanto à floresta como a vida social dos membros da comunidade, adoptou medidas para despromover a utilização do fogo de forma descontrolada. Tais medidas incluem: cada membro da comunidade que queira queimar a sua machamba, deve antes pedir ao respectivo Pfumo. Esta medida visa essencialmente garantir que em casos do fogo transpor os limites pré-definidos, seja fácil identificar o actor do crime; a partir da secção (área) de queimadas descontroladas, serão efectuadas campanhas de sensibilização às comunidades sobre o perigo do uso inadequado do fogo;

Fig. 11: queimadas descontroladas

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serão abertos à volta das machambas aceiros visando por um lado prevenir a invasão da machamba por fogos de proveniência desconhecida e por outro para garantir que o fogo feito dentro desta machamba não transponha os limites; o capim resultante da limpeza dos campos será incorporado/enterrado no processo de preparação da terra. Esta medida visa essencialmente diminuir o material combustível e ao mesmo tempo adubar o solo com material vegetativo. Os galhos que não podem ser usados nestes termos servirão para lenha ou carvão ou então serão queimados num lugar; limpeza à volta das casas com vista a assegurar o referido no parágrafo anterior; para evitar fazer fogo à caça de ratazanas e outros animais, encoraja-se um programa de fomento pecuário (gado bovino, caprino, roedores e aves). 2.1.1.12. Medidas punitivas Todo e qualquer que for apanhado a pôr fogo ou se descobrir que praticou uma queimada descontrolada, dependendo dos danos que o fogo tiver causado, o culpado será obrigado a pagar. Por exemplo se o fogo devorar uma machamba ou uma casa o Comitê avalia os danos e obriga o infractor a pagar e depois será encaminhado para a autoridade administrativa para ser penalizado consoante a lei. Queimar machamba, o infractor é obrigado a dar de comer o lesado e seus dependentes, e deverá abrir uma machamba como forma de restituir a danificada. No caso de queima de casa, deve construir uma nova casa e pagar os bens materiais perdidos. No caos de matar animais quer domésticos quer bravios, o mecanismo será o mesmo. Primeiro avaliação do custo do animal para obrigar o infractor a proceder o pagamento. No caso dos animais bravios, será utilizada a tabela de preços de animais publicada pelo Estado.

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3 CAPÍTULO III: ARRANJO ADMINISTRATIVO 3.1 Recursos Humanos A comunidade de Canda com cerca de 18.000 habitantes distribuídos em 4 povoações, possui uma estrutura etária constituída por jovens de ambos sexos, mulheres, homens e velhos, capaz de assegurar a implementação das actividades da região. Por outro lado, a Administração e a Direcção Distrital da Agricultura e Desenvolvimento Rural locais, são verdadeiros pilares de apoio à comunidade de Canda. A equipa técnica da ORAM-Sofala, da FAO e dos Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia de Sofala, são outros recursos humanos disponíveis para o apoio na implementação do plano de maneio bem como para a avaliação e monitoria do decurso das actividades. O sucesso deste plano de maneio depende bastante da implementação das actividades dentro do contexto em que ele foi elaborado e também pelo sistema de acompanhamento, monitoria e avaliação das actividades ao longo do período da sua implementação. 3.2 Propriedade do Plano de Maneio O plano de maneio comunitário dos recursos naturais na região de Canda, é propriedade da comunidade de Canda. A sua implementação será feita por todas as pessoas que usam os recursos naturais de Canda. O conselho de gestão dos recursos naturais, a autoridade tradicional e o poder administrativo local são os órgãos responsáveis pelo zelo do cumprimento das regras estabelecidas neste plano. A ORAM-Sofala, a FAO, a DDADR, a DPADR e Administração local têm o dever de dar assistência técnica e ajudar a comunidade na implementação física deste plano de maneio de acordo com a disponibilidade de recursos. 3.3 Avaliação e Monitoria do Plano de Maneio O sucesso na implementação deste plano de maneio, depende em grande medida no seguimento dos princípios básicos nele definidos e também num sistema contínuo de acompanhamento, monitoria e avaliação do nível de sua implementação ao longo do período de sua validade. O presente plano foi elaborado com sensibilidade suficiente para ser adaptável a mudanças de natureza tecnológica e política, que inevitavelmente poderão ter lugar ao longo da sua fase de implementação. Conhecimentos e aperfeiçoamentos em matéria de gestão comunitária de recursos naturais, como resultado de observações ao longo do período de implementação poderão constituir subsídios a serem gradualmente introduzidos no plano de maneio desde que para o efeito se observe o referido no §2 do ponto 3.4. 3.4 Validade do Plano de Maneio Este plano de maneio e as regras de gestão nele contidos, são válidos por um período de 5 anos, ou seja até 2007. No entanto, ao longo da sua implementação poderão ser feitas alterações, sempre que se julgue necessário, desde momento que estas sejam discutidas pela comunidade e apresentadas aos Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia/DPADR, à ORAM e à FAO por escrito para aprovação. Anualmente deverá ser feita uma avaliação do nível de implementação do plano de maneio.

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4 PROJECTOS DE INVESTIMENTO COMUNITÁRIO O objectivo global da implementação do princípio de gestão dos recursos pela comunidade é assegurar que as populações que vivem com o recursos possam tirar vantagens econômicas na extração dos mesmos. É também objectivo, adoptar medidas adequadas que permitam a sua conservação, desenvolvimento e exploração de forma sustentável. A grande estratégia para o alcance desses objectivos, não reside apenas no facto de impedir a comunidade à determinadas práticas ou a promover campanhas de sensibilização, mas na identificação de actividades economicamente rentáveis que constituam alternativa à sobrevivência das populações. Em seguida se apresentam 4 projectos, simples, que podem numa primeira fase serem implementados na comunidade de Canda. 4.1 Produção de lenha e Carvão Vegetal A região de Canda possui recursos para o estabelecimento de um sistema de produção sustentável de lenha e carvão vegetal, pelas comunidades. Assume-se de que com base nos dados do inventário florestal realizado, a região pode por ano oferecer, sem prejuízo do recurso, mais de 2000 sacos de carvão vegetal. Nestes termos, a comunidade deverá ser detentora das licenças de exploração dos recursos em referência. Os produtos serão depois vendidos em feiras próprias ao nível do distrito da Gorongosa. Os compradores, no acto de aquisição dos produtos, ser-lhes-á emitida uma guia de trânsito pelo fiscal comunitário ou dos Serviços de Florestas e Fauna Bravia ou mesmo pelo comitê de gestão dos recursos naturais de Canda, que o habilitará a transporta-los para o destino ou para a revenda, se for o caso. A assunção é de que devem ser criados 10 grupos de carvoeiros de 10 pessoas cada, para a produção de lenha e carvão, distribuídos pelas 4 povoações de que Canda é composto.

Nº de trabalhadores: 10 grupos * 10 pessoas/grupo = 100 Tabela 18: Orçamento para a exploração de lenha e carvão vegetal.

Custo total Insumos Preço unitário (Mt) Quantidade (Mt) (USD) Motosserra Machado Catana Pá Ancinho Carrinha de mão Sacos Outros

26.325.000,00250.000,00

44.000,00127.500,00

73.500,0057.500,005.000,00

10.000.000,00

2 40 40 40 40 20

3.000

52.650.000,00 10.000.000,00

1.760.000,00 5.100.000,00 2.940.000,00 1.150.000,00

15.000.000,00 10.000.000,00

2.318,00440,3077,50

224,53129,4450,63

660,39440,30

Total 98.600.000,00 4.341,09

Taxa de câmbio em 14/11/01: 1 USD = 22.714 Mt

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O projecto de exploração de lenha e carvão vegetal, consiste na formação de 10 grupos comunitários compostos por 10 pessoas cada. Em relação as motosserras, caberá a organização interna para a sua utilização num sistema rotativo. Os outros instrumentos como machado, catana, pá e ancinho, a cada grupo caberá 4 enquanto para os carinhos de mão serão 2 por grupo. A motosserra será fundamentalmente usada para o abate correto das árvores, de modo que a rebrotação das toiças seja favorecida. Servirá também para traçar os toros para a elaboração dos fornos para a produção de carvão. O investimento totaliza cerca de 4.341,09 (quatro mil, trezentos quarenta e um vírgula zero nove) dólares americanos. Outros custos, num total de quatrocentos e quarenta dólares americanos (440,30), inclui os combustíveis e despesas não previsíveis. Este custo se repete para os restantes projectos. 4.2 Fomento Pecuário (gado bovino e caprino) Como referido em parágrafos anteriores, o fomento pecuário visa essencialmente suprir as necessidades protéicas (leite e carne), amanho (lavra) dos solos e o transporte de bens.

Tabela 19: Orçamento para o fomento pecuário.

Custo total Insumos Preço unitário (Mt) Quantidade (Mt) (USD)

Boi Cabrito Vacinas Charrua Carroça Rodas Outros

3.000.000,00200.000,00

5.000.000,003.200.000,002.000.000,001.500.000,00

10.000.000,00

500 1.000

10 10 20

1.500.000.000,00 200.000.000,00

5.000.000,00 32.000.000,00 20.000.000,00 30.000.000,00 10.000.000,00

66.038,608.805,15

220,131.408,82

880,511.320,77

440,30

Total 1.797.000.000,00 79.114,28

Taxa de câmbio em 14/11/01: 1 USD = 22.714 Mt

Neste projecto o gado bovino será adquirido em Manica ou Tete a um preço unitário de três milhões de meticais. Numa primeira fase seriam adquiridas 500 cabeças para serem distribuídas através de um sistema de credito rotativo (abordagem utilizada por muitas ONGs em programas de repovoamento pecuário). Para o caso do gado caprino que também cumprirá a mesma regra, será adquirido numa primeira fase cerca de 1000 cabeças para cobrir cerca de 5% da comunidade de Canda. O que receber cabrito, não recebe simultaneamente boi.

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A utilização das charruas e carroças, numa primeira fase será coordenado pelo comitê de gestão, depois de uma consulta à comunidade, que determinará os valores a serem pagos pela utilização deste equipamento. O projecto totaliza cerca de 79.114,28 (setenta e nove mil, cento e catorze vírgula vinte e oito) dólares americanos. 4.3 Treinamento de fiscais comunitários

Tabela 20: Orçamento para o treinamento de fiscais comunitários.

Custo total Insumos Preço unit. (Mt) Quantidade (Mt) (USD)

Custo de formação Bicicleta Fardamento Botas Capas de chuva Produção de patente Outros

227.140,001.000.000,001.330.000,00

287.500,00780.000,00

5.000,0010.000.000,00

16*15 16 35 35 35 35

54.513.600,00 16.000.000,00 46.500.000,00 10.062.500,00 27.300.000,00

175.000,00

2.400,00704,41

2.049,40443,00

1.201,907,70

440,30

Total 164.601.770,90 7.246,71

Taxa de câmbio em 14/11/01: 1 USD = 22.714 Mt

O treinamento dos 16 fiscais comunitários será feito no Chitengo – Parque Nacional da Gorongosa. Assume-se que o custo de cada pessoa é de 10 dólares por dia e o curso tem duração de 15 dias. Os custo para a formação dos 16 fiscais comunitários, totaliza 7.246,71 (sete mil, duzentos quarenta e seis vírgula setenta e um) dólares americanos. Em seguida se apresenta a tabela resumo de todos os projectos.

Tabela 21: Resumo do orçamento dos 3 projectos de investimento

Custo total Projecto

Meticais USD

Produção de lenha e Carvão Vegetal Fomento Pecuário (gado bovino e caprino) Treinamento de fiscais comunitários

98.600.000,00 1.797.000.000,00

164.601.770,90

4.341,0979.114,287.246,71

Valor Global 2.060.201.771,00 90.702,08

Portanto os três projectos de investimento apresentados totalizam cerca de 91 mil dólares americanos.

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5 Bibliografia Lei 10/99 de 7 de Julho. Lei de Florestas e Fauna Bravia. DNFFB – MADER. Maputo, 1999. Mussanhane, J. J. (2001). Inventário Florestal de Canda. Bases para a Elaboração do Plano de Maneio Comunitário. Maputo, Setembro de 2001. M. PATRICK, (2001). Comentários ao Plano de Maneio Comunitário dos Recursos Naturais da Região de Canda. ORAM – Sofala (2001). Relatório de Avaliação das actividades no âmbito do programa de elaboração do plano de Maneio Comunitário de Canda. Beira, Agosto de 2001. Projecto FAO GCP/MOZ/056/NET (2000). Plano de Maneio Comunitário Dos Recursos Florestais e Faunísticos de Goba. Vloume 4 – versão simplificada. Maputo, Abril de 2000. P. Ivontchik. (1989). Agricultura da África Tropical. Editora Mir Moscovo. 389p. Relatório Sobre a delimitação do Território da Comunidade de Canda no Distrito de Gorongosa – Sofala. Um programa da comissão inter-ministerial de terras e ONG´s locais. Gorongosa, Abril de 1999. SAKET, M., MONJANE, M., ANJOS, A. (1999). Proposal of a Model of Integrated Forest Management Plan For Timber Concession of Maciambose, Cheringoma, North of Sofala. Beira, August 1999.

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ANEXO 1: MAPAS DA ÁREA INVENTARIADA & MAPAS SOBRE A DELIMITAÇÃO DA REGIÃO DE CANDA

Distrito de Gorongosa

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6 ANEXO 2: LICENCIAMENTO FLORESTAL NO DISTRITO DE GORONGOSA & VOLUME POR QUALIDADE DO FUSTE E POR CLASSE DE MADEIRA

Tabela 1: Licenciados na exploração de madeira em 1998 no distrito da Gorongosa. Op Nº li Nome Espécie Volume Nº licença Zona de explora. Ano

1 1 Helena Pedro Jemuce Panga-panga 50 T020/98 Tsiquir 1998 2 Helena Pedro Jemuce Umbila 50 T 019-A/98 Tsiquir 1998 3 Rosário Bráz Anselmo Júnior Umbila 100 T 101/98 Vunduzi 1998 4 Rosário Bráz Anselmo Júnior Umbaua 125 T 099/98 Cudzo 1998 5 Rosário Bráz Anselmo Júnior Missanda 175 T 100/98 Cudzo 1998

2 6 Rosário Bráz Anselmo Júnior Messassa 100 T 041/98 Cudzo 1998 7 Rosário Bráz Anselmo Júnior Panga-panga 50 T 040-A/98 Cudzo 1998 8 Rosário Bráz Anselmo Júnior Panga-panga 100 T 040/98 Cudzo 1998 9 Rosário Bráz Anselmo Júnior Umbila 200 T 039/98 Cudzo 1998 10 José Domingos Seiva Umbaua 25 T 047-A/98 Nhamadze 1998 11 José Domingos Seiva Panga-panga 100 T 123/98 Nhamadze 1998 12 José Domingos Seiva Umbaua 50 T 047/98 Nhamadze 1998 13 José Domingos Seiva Chanfuta 50 T 046/98 Nhamadze 1998 14 José Domingos Seiva Messassa 50 T 048/98 Nhamadze 1998 15 José Domingos Seiva Mefula 100 T 049/98 Nhamadze 1998 16 José Domingos Seiva Umbila 50 T 045/98 Nhamadze 1998

3 17 José Domingos Seiva Injala 50 T 184/98 Nhamadze 1998 18 José Domingos Seiva Chanfuta 50 T 046-A/98 Nhamadze 1998 19 José Domingos Seiva Mefula 100 T 049-A/98 Nhamadze 1998 20 José Domingos Seiva Mucarate 50 T 185/98 Nhamadze 1998 21 José Domingos Seiva Mefula 50 T 184/98 Nhamadze 1998 22 José Domingos Seiva Umbila 50 T 045-A/98 Nhamadze 1998 23 José Domingos Seiva Umbila 100 T 123/98 Nhamadze 1998 24 José Domingos Seiva Mefula 100 T 048/98 Nhamadze 1998 25 Murocutua Pita Cutama Chanfuta 250 T 068/98 Vanduzi 1998 26 Murocutua Pita Cutama Umbila 100 T 069/98 Mucodza 1998

4 27 Murocutua Pita Cutama Umbila 150 T 069-A/98 Vanduzi 1998 28 Murocutua Pita Cutama Umbaua 50 T 068/98 Mucodza 1998 29 Murocutua Pita Cutama Panga-panga 100 T 070/98 Mucodza 1998 30 Felizarda Magalhães Umbila 60 T 079/98 Cudzo 1998 31 Felizarda Magalhães Chanfuta 50 T 256/98 Cudzo 1998

5 32 Felizarda Magalhães Messassa 30 T 158/98 Cudzo 1998 33 Felizarda Magalhães Umbila 80 T 079-A/98 Cudzo 1998 34 Felizarda Magalhães Umbila 150 T 079-B/98 Cudzo 1998 35 Chivavice Muchangage Umbila 150 T 156-A/98 Vunduzi 1998

6 36 Chivavice Muchangage Umbila 150 T 156/98 Vunduzi 1998 37 Chivavice Muchangage Chanfuta 75 T 157/98 Vunduzi 1998

7 38 Atalia Vasco Tovele Tomás Umbila 750 T 004/98 Vunduzi 1998 39 Jacinto Isaías Umbila 50 T 148/98 Vanduzi 1998

8 40 Jacinto Isaías Panga-panga 100 T 149/98 Vanduzi 1998 41 Jacinto Isaías Chanfuta 50 T 150/98 Vanduzi 1998 42 Jacinto Isaías Umbaua 50 T151/98 Vanduzi 1998 Total global 4,320

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Tabela 2: Volume total por espécie e por operador em 1998

Espécies Nº Operador Chanfuta Panga-p. Umbaua Umbila Messassa Missanda Injale Mefula Mucarate

1 Atalia Vasco Tovele Tomás 0 0 0 750 0 0 0 0 02 Chivavice Muchangage 75 0 0 300 0 0 0 0 03 Felizarda Magalhães 50 0 0 290 30 0 0 0 04 Helena Pedro Jemuce 0 50 0 50 0 0 0 0 05 Jacinto Isaías 50 100 50 50 0 0 0 0 06 José Domingos Seiva 100 100 75 200 50 50 350 507 Murocutua Pita Cutama 250 100 50 250 0 0 0 0 08 Rosário Bráz Anselmo Júnior 0 150 125 300 100 175 0 0 0

Volume total por espécie 525 500 300 2,190 180 175 50 350 50Volume global 4,320 Percentagem por espécie (%) 12.15 11.57 6.944 50.69 4.167 4.051 1.157 8.102 1.1574 Tabela 3: Licenciados na exploração de madeira em 2000 no distrito da Gorongosa Op Nº li Nome Espécie Volume Nº licença Zona de

exploração Ano

1 Exotic woods, Lda Panga-panga 67 064/2000 Nhamadze 20001 2 Exotic woods, Lda Panga-panga 100 065/2000 Nhamadze 2000 3 Exotic woods, Lda Chanfuta 61 066/2000 Nhamadze 2000 4 Felizarda Magalhães Chanfuta 150 T-164A/2000 Nhamadze 20002 5 Felizarda Magalhães Chanfuta 50 T-161/2000 Nhamadze 2000 6 Felizarda Magalhães Chanfuta 50 T-52/2000 Cudzo 2000 7 Felizarda Magalhães Umbila 50 T-147/2000 Cudzo 2000 8 José Domingos Seiva Chanfuta 35 T-0189/2000 Nhamadze 20003 9 José Domingos Seiva Umbaua 25 T-83-A/2000 Nhamadze 2000 10 José Domingos Seiva Umbaua 72 T-83/2000 Nhamadze 20004 11 Rosário Bráz Anselmo Júnior Monzo 100 T-177/2000 Messalo 2000 Volume total 760

Tabela 4: Volume total por espécie e por operador no ano 2000

Espécies Nº Operador Chanfuta Monzo Panga-panga Umbaua Umbila

1 Exotic woods, Lda 61 0 167 0 02 Felizarda Magalhães 250 0 0 0 503 José Domingos Seiva 35 0 0 97 04 Rosário Braz Anselmo Júnior 0 100 0 0 0

Volume total por espécie 346 100 167 97 50Volume global 760 Percentagem por espécie (%) 45.5 13.2 22.0 12.8 6.6

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Tabela 5: Licenciados na exploração de madeira em 2001 no distrito da Gorongosa Op Nº li Nome Espécie Volume Nº licença Zona de

exploração Ano

1 Felizarda Magalhães Monzo 150 T-066 Nhamadze 2001 1 2 Felizarda Magalhães Chanfuta 200 T-167 Nhamadze 2001 3 Felizarda Magalhães Panga-panga 50 T-164 Nhamadze 2001 4 Felizarda Magalhães Umbila 50 T-165 Nhamadze 2001 5 José Domingos Seiva Panga-panga 50 Não emitida Muera-Canda 2001 6 José Domingos Seiva Chanfuta 100 Não emitida Muera-Canda 2001 2 7 José Domingos Seiva Umbila 100 Não emitida Muera-Canda 2001 8 José Domingos Seiva Umbaua 50 Não emitida Muera-Canda 2001 9 José Domingos Seiva Mefula 200 Não emitida Muera-Canda 2001 Volume total 950

Tabela 6: Volume total por espécie e por operador no ano 2001

Espécies Nº Operador Chanfuta Monzo Panga-panga Umbaua Umbila

1 Felizarda Magalhães 200 150 50 0 502 José Domingos Seiva 0 0 0 0 0

Volume total por espécie 200 150 50 0 50Volume global 450 Percentagem por espécie (%) 44.4 33.3 11.1 0.0 11.1

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Tabela 5: Volume por qualidade do fuste e por classe de madeira.

Classe diamêtrica (cm) Nome científico Classe Qual do

fuste <30 30 - 40 40 - 50 >50 1 96,9 0,0 554,4 2.576,1Afzelia quanzensis 2 95,4 404.6 815,0 699,81 371,5 0,0 0,0 2.951,6Albizia versicolor 2 285,3 282,00 200,0 1.582,41 0,0 0,0 2.301,0 1.822,4Cordyla africana 2 113,3 405,3 756,0 3.084,61 4.783,6 6.437,3 7.579,6 4.580,3Millettia stuhlmannii 2 7.618,3 10.078,8 7.679,2 6.157,41 2.580,6 6.054,7 4.691,8 771,4Pterocarpus angolensis

2 2.101,5 3.545,9 1.273,0 0,0Total 18.046,0 27.208,6 25.950,0 40.627,6

1 346,0 2.020,1 3.627,6 0,0Julbernardia globiflora 2 2.559,3 1.940,3 331,2 0,01 0,0 0,0 0,0 0,0Pteleopsis myrtifolia 2 89,4 172,9 0,0 0,01 0,0 0,0 0,0 9.402,6Schinziophyton

rautanenii 2 20,4 345,9 0,0 11.874,0

1 407,9 2.131,9 1.299,7 6.491,5Sclerocarya birrea

2 731,7 1.363,0 99,2 7.157,4Total 4.154,7 7.974,1 6.250,7 34.925,6

1 1.304,9 2.124,5 2.130,6 1.403,2Acácia nigrescens 2 1.942,1 2.746,4 2.242,0 7.409,01 3.339,2 3.592,0 7.348,8 5.151,5Brachystegia boehmii 2 5.920,7 7.657,7 4.738,9 4.440,21 4.513,1 6.012,0 2.540,7 1.248,4Brachystegia spiciformis 2 3.931,9 7.415,5 8.988,7 1.975,41 41,9 494,9 417,9 1.359,5Combretum imberbe 2 204,6 265,0 765,1 0,01 59,2 66,7 243,4 408,8Kigelia africana 2 72,2 259,6 1.436,5 664,81 0,0 0,0 4.264,9 9.901,3Parinari curatellifolia 2 629,5 1.361,9 612,3 1.142,41 107,7 0,0 0,0 0,0Piliostigma thonningii 2 228,1 0,0 0,0 0,01 83,7 0,0 0,0 0,0Terminalia sericea 2 700,4 0,0 0,0 565,31 623,0 0,0 5.818,2 1.994,6Sterculia appendiculata

2 278,4 0,0 0,0 0,0Total 23.980,6 31.996,2 41.548,0 37.664,4

1 42,1 0,0 0,0 0,0Dalbergia melanoxylon 2 303,9 165,1 0,0 0,01 531,9 926,6 3.096,0 4.998,0Xeroderris sthulmannii

Preciosa

2 1.842,9 4.191,0 3.103,4 3.906,7Total 2.720,8 5.282,7 6.199,4 8.904,7

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7 ANEXO 3: LISTA NOMINAL DE FISCAIS COMUNITÁRIOS DE CANDA

Nº Nome Cargo

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

Zero Jorge Safur

Simão Vardinho

Augusto Nota

Nobre Augusto Domingos Francisco

Quenad Valisse

Isac Jaime

Jaime Catique

Rosário Araújo

Lavanó Wilson

Horácio Milione

Alfeléx Mangação

João Filipe

Sérgio Airone

Cassilo Belo

Eusébio Dolige

Chefe do grupo

Vice-chefe do grupo

Secretário

Membro

Membro

Membro

Membro

Membro

Membro

Membro

Membro

Membro

Membro

Membro

Membro

Membro

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8 ANEXO 4: TABELA DAS TAXAS E SEUS VALORES (FAUNA BRAVIA)

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