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1 Plano de Implementação O desperdício de uns pode ser a matéria-prima de outros.

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Plano de Implementação

O desperdício de uns pode ser a matéria-prima de outros.

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Índice

A. Sumário Executivo pág. 3

B. Objetivos pág. 5 i. Objetivos específicos do projecto pág. 6 ii. O desafio abordado pág. 7 iii. A solução a implementar pág. 8

C. Diagnóstico da Situação de Partida pág. 10 i. Fontes de recursos secundários (oferta) pág. 10 ii. Práticas atuais de reutilização e upcycling (procura) pág. 14 iii. Contexto alargado pág. 15

D. Importância para a Economia Circular pág. 17 i. Qual o contributo do projeto para uma economia circular? pág. 17 ii. Áreas e estratégias chave pág. 17 iii. Qual o contributo para uma solução inovadora pág. 19

E. Descrição do Projecto pág. 21 i. Resultados expectáveis pág. 21 ii. Descrever o posicionamento da inovação de projecto pág. 21 iii. Oo conceito e a abordagem/atividades a serem implementadas pág. 22 iv. Identificação da ambição e impactos esperados pág. 26 v. Impactos esperados para os utilizadores/mercado pág. 31

F. Listagem das Medidas de Projeção e Multiplicação pág. 33 i. Estratégia de comunicação pág. 33 ii. Grupos de interesse adicionais pág. 34 iii. Descrição da estratégia de comercialização pág. 35 iv. Aferição da necessidade de gestão de conhecimento pág. 36 v. Identificação de barreiras regulatórias pág. 36

G. Colaboração pág. 38 Cronograma do projeto por mês pág. 39

H. Investimento pág. 40

ANEXO I: Conteúdo Workshop Design Circular pág. 42

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I. Sumário Executivo Todos os dias, toneladas de materiais valiosos, componentes e produtos são incinerados ou depostos em aterro. Isto representa um enorme desperdício de recursos e causa poluição. Uma parte desse “lixo” é reciclado, mas de um ponto de vista de economia circular, estratégias de reutilização são mais sustentáveis porque permitem manter a integridade do produto (incluindo recursos incorporados) e gastam menos energia. O upcycling é uma estratégia de reutilização particular que gira em torno da transformação criativa, acrescentando mais valor aos produtos através de conceitos inovadores de design. Não estando este processo na esfera de competências da gestão de resíduos convencional, o Bazar Circular propõe-se criar e estimular um mercado de reutilização e upcycling de recursos secundários. Para alcançar este objetivo, serão implementadas três estratégias principais, baseadas nos resultados da nossa pesquisa de mercado, análise de stakeholders e benchmarking: 1. Ligar a Oferta e a Procura de Recursos Secundários Atualmente, é difícil para os fornecedores e utilizadores de recursos secundários terem conhecimento da existência uns dos outros. A maioria das empresas não estão sequer conscientes nem despertas para o potencial da reutilização e do upcycling. Para além disso, falta-lhes disponibilidade, meios e conhecimento de causa. É por isto que o Bazar Circular se propõe agir como intermediário entre fornecedores e utilizadores (upcyclers) de recursos secundários (maioritariamente B2B mas também B2C). Isto requer uma abordagem proactiva e local. 2. Desenvolver e Estimular Projetos de Upcycling O Bazar Circular propõe-se identificar oportunidades de realização de projetos concretos de upcycling e concretizá-los com a ajuda de designers das equipas Depois e Superuse Studios. A implementação dos primeiros projetos demonstrativos está prevista para o espaço do Hub Criativo do Beato. Em simultâneo, iremos encorajar e apoiar outras entidades a desenvolver “projetos circulares” (produtos, arquitetura ou intervenções urbanas) baseados na reutilização de recursos secundários. 3. Capacitação e Sensibilização O Bazar Circular irá propagar o conceito de reutilização e upcycling junto das indústrias criativas através das “Visitas do Bazar”. Para as empresas de manufatura organizará workshops de Design Circular com uma abordagem de carácter industrial, estimulando as empresas a repensar os seus processos de produção, propostas de valor e cadeia de abastecimento, mas também a identificar oportunidades para valorização dos seus fluxos residuais. Um projeto piloto decorrerá durante o ano de 2018, operando em pequena escala para validar diferentes hipóteses, principalmente no que diz respeito à utilidade e eficácia de uma plataforma online. Durante os primeiros 10 meses, prevemos desviar 3 a 5 toneladas de resíduos da incineração, aterro ou downcycling, gerando benefícios ambientais, económicos e socioculturais. Contudo, a maioria dos impactos positivos é difícil de contabilizar. Nesta fase, focar-nos-emos em analisar e desenvolver, demonstrar e inovar, através de um processo criativo altamente dinâmico. A longo prazo, o Bazar Circular anseia crescer no sentido de se tornar num centro público para recursos secundários, com armazém, atelier de reparação e concept store. Com base no projeto piloto implementado em Lisboa, esperamos que outras cidades repliquem a iniciativa, criando-se uma rede de “Bazares Circulares” a nível nacional.

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Executive Summary (EN) Each day, tonnes of valuable materials, components and items are incinerated or landfilled. This is a major waste of resources and leads to pollution. A part of the waste is recycled, but from a circular economy point of view, reuse strategies are more sustainable because they maintain product integrity (incl. embedded resources) and are less energy intensive. Upcycling is a particular reuse strategy that revolves around creative transformation, adding more value through innovative design. Because this is beyond the capacities of conventional waste management, why Bazar Circular aims to create and stimulate a market for reuse and upcycling of secondary resources. To achieve this, three main strategies will be implemented based on the main findings of our market research, stakeholder analysis and benchmark study: 1. Connecting Supply and Demand for Secondary Resources Currently, it is difficult for suppliers and users of secondary resources to find each other. Most companies are not aware of the reuse or upcycling potential. Furthermore, they lack time, means and know-how. That is why Bazar Circular acts as an intermediary between suppliers and users (upcyclers) of secondary resources (mostly B2B but also B2C). This requires a proactive and local approach. 2. Develop and Stimulate Upcycling Projects Bazar Circular identifies opportunities for concrete upcycling projects and helps realise them with the help of designers from Depois and Superuse Studios. The first demonstration projects are foreseen at Hub Criativo do Beato. In addition, we will encourage and support others to develop circular projects (products, architecture or urban interventions) based on secondary resources. 3. Capacity-Building and Awareness-Raising Bazar Circular will actively spread the concept of reuse and upcycling among creative industries through personal ‘Visitas do Bazar Circular’. For manufacturing companies we will organise Circular Design workshops with a more industrial approach, stimulating companies to rethink their

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production processes, value propositions and supply chains, but also identify opportunities for valorisation of their residual streams. A pilot project will run in 2018 to start operating on a small-scale and validate various hypotheses, particularly regarding the use and effectiveness of an online marketplace. During the first 10 months, we expect to prevent at least 3-5 tonnes of waste from being incinerated, landfilled or downcycled. This will have several environmental, economic and socio-cultural benefits. However, most positive impacts are difficult to measure. In this phase, the focus is on analysis and development, demonstration and innovation, through a highly dynamic and creative process. On the long term, Bazar Circular aims to grow into a public centre for secondary resources, with a warehouse, repair atelier and concept store. Based on the pilot in Lisboa, other cities can replicate the concept so that in the future a national network of Bazar Circular centres will spread across the country.

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B. Objetivos Recuperar – Transformar – Valorizar

O Bazar Circular tem como missão evitar o desperdício de materiais e componentes valiosos, resgatando-os do fluxo de resíduos comum e consequentemente do aterro, incineração ou reciclagem convencional de baixo valor. Na ótica do Bazar Circular estes materiais não são lixo mas recursos secundários com alto potencial para reutilização e upcycling, ou seja, a transformação criativa em produtos de maior qualidade e valor para a sociedade, economia e ambiente. Ao colocarmos estes recursos novamente em circulação (prolongando o seu uso na economia e preservando o seu valor e utilidade), evitamos mais extração de matérias virgens e os correspondentes consumos de energia e emissões de gases com efeito de estufa. Ao mesmo tempo, geramos valor económico, estimulamos a criatividade e criamos emprego ao nível local.

i. Objetivos Específicos do Projeto

1. Fazer a ligação entre oferta e procura de recursos secundários: mapear e inventariar fontes de recursos secundários; informar e formar as entidades de ambos lados sobre o potencial de intercâmbio; oferecer serviços de baixo custo aos proprietários; fornecer recursos secundários a profissionais e empresas;

2. Dinamizar a prática da reutilização e upcycling:

a. Implementar projetos de transformação criativa de recursos secundários, em colaboração com designers e arquitetos;

b. Promover uso de recursos secundários em vez de matérias-primas virgens.

3. Transmitir conhecimento sobre design circular e sensibilizar para os benefícios da adoção de estratégias de circularidade.

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É importante entender a diferença subtil entre reutilização e upcycling. Em ambos os casos não há processamento dos materiais, uma vez que os objetos e componentes descartados são reutilizados na sua forma primária. Contudo, no caso do upcycling, existe uma dimensão de transformação criativa, o que significa que ao invés de reutilizar com o mesmo propósito, os objetos e componentes são redesenhados com um fim diferente. O objetivo deste processo é criar um novo produto com maior valor e qualidade (ambiental, social e económica). O conceito foi introduzido por William McDonough e Michael Braungart na obra “Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things” (2002). O objetivo é sempre prevenir o desperdício de materiais potencialmente úteis e desta forma, prevenir a extração de recursos naturais para a produção de novos bens. A transformação é o que distingue o upcycling da reutilização, reparação e restauro, os quais pretendem simplesmente manter o objeto na sua condição original. A reutilização criativa existe desde sempre, apesar de muitas vezes ser praticada por necessidade e não em prol do meio ambiente. ii. O Desafio Abordado A extração de recursos naturais no nosso planeta prossegue a um elevado ritmo com o objetivo de obter os materiais virgens necessários para produção e consumo em todo o mundo. Evidentemente, esta economia linear tem um enorme impacto ambiental, em termos de uso de material virgem, consumo de água e de energia e emissões nocivas para o ar, água e solo. Quer se trate de exploração madeireira, de exploração mineira para produção de aço ou cultivo de algodão para têxteis, todas estas atividades corroem o capital natural do qual dependem as nossas sociedades e economias. Uma quantidade considerável de resíduos é produzida nas áreas urbanas, incluindo Lisboa. A produção está associada às habitações mas também a outras actividades tais como serviços, indústria e comércio. Destacam-se os sectores da construção civil e do turismo, que têm tido um crescimento significativo nos últimos anos contribuindo de uma forma decisiva para as quantidades de resíduos gerados em Lisboa, que atingiram em 2014 as 293.000 ton. Apesar do esforços realizados e do aumento da taxa de reciclagem desde os anos 90, verifica-se que esta tem vindo a “desacelerar nos últimos anos, o que reflecte um sistema numa fase de maturação e muito exigente em termos de esforços futuros” (informação CML). Estamos, portanto, perante uma realidade em que há uma estagnação da reciclagem em valores da ordem dos 22 % o que significa que 78% dos resíduos urbanos produzidos são e continuarão a ser encaminhados para incineração (Plano Municipal de Gestão de Resíduos do Município de Lisboa 2015-2020). Por outro lado, uma parte dos resíduos industriais vai para aterro, dependendo da sua tipologia. Para além da perda de recursos com valor, o impacto ambiental da incineração (gases com efeito de estufa e potenciais emissões de dioxinas e furanos) e da deposição em aterro (emissões de metano e produção de lixiviados), e o impacto económico da destruição de materiais e componentes são significativos. Em Lisboa e nos concelhos da Amadora, Vila Franca de Xira, Loures e Odivelas, geridos pela Valorsul, todos os resíduos indiferenciados (78% dos resíduos produzidos) têm como destino exclusivo a incineração. Neste caso apenas existe uma triagem dos resíduos metálicos (ferrosos e não ferrosos) cujo destino é a valorização, e portanto assistimos a uma transformação completa dos materiais em energia e a produção de um resíduo final (escória). Em média a incineradora de Lisboa recebe diariamente 2000 toneladas de resíduos indiferenciados e produz 400 kg de escória (fonte: Valorsul). Quando analisamos a composição destes resíduos constatamos que existem

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vários materiais com potencial de utilização como matérias primas secundárias, por exemplo têxteis, madeira e metais (entre outros). Os restantes 22% dos resíduos são recolhidos seletivamente e enviados para valorização. No que diz respeito à reciclagem, a prática corrente é o downcycling – ou seja, a transformação dos resíduos em materiais de menor qualidade e valor. Associados a estas operações existem diversos impactes ambientais e económicos, nomeadamente o custo com energia e com água despendidos nas operações de lavagem, transformação e reciclagem. Por outro lado as unidades de reciclagem dos diferentes materiais encontram-se muitas vezes longe dos locais de produção sendo necessário efetuar o transportes dos resíduos. Mensalmente uma parte significativa dos resíduos de embalagem são exportados para unidades de reciclagem em Espanha com o custo energético e ambiental do transporte. Também a madeira é enviada para unidades que se encontram longe de Lisboa. A questão consiste em saber que fração das atuais correntes de desperdício apresentam um verdadeiro potencial para a reutilização e upcycling a nível local e de forma económica. Obviamente que nem todos os materiais são adequados e devido aos seus enormes volumes, a maioria do desperdício só pode ser processado ou reciclado através do tratamento industrial convencional. Contudo, entre estas quantidades existem materiais de alta qualidade ou componentes que poderiam ser utilizados se fossem adequadamente identificados e separados. iii. A Solução a Implementar

Nade se perde, tudo se transforma Estabelecer a ligação entre a oferta e a procura de recursos secundários: o Bazar Circular faz a ligação entre oferta e procura de recursos secundários e facilita a colaboração a nível local como intermediário com um papel proativo (sobretudo B2B mas também B2C). Isto significa que na prática o Bazar Circular procura recursos secundários (vários materiais, mas sobretudo madeira, têxteis e metais), intercepta-os na fonte e identifica oportunidades de upcycling. Para estimular a reutilização e upcycling é necessário um contacto directo a nível local com as empresas e a criação de sinergias entre os vários stakeholders. Estimular e implementar projetos de upcycling: o Bazar Circular identifica, seleciona e apoia a transformação de recursos secundários, agindo como “curador”. Iremos trabalhar em parceria com designers qualificados do Depois e dos Superuse Studios para desenvolver projetos inovadores de upcycling (a maioria relacionados com arquitetura e intervenções urbanas). É expectável que, durante a fase de implementação, estes projetos de upcycling decorram no Hub Criativo do Beato (HCB)1, no qual iremos realizar uma avaliação de recuperação dos recursos do espaço. Formar e sensibilizar: o Bazar Circular dissemina conhecimento sobre a reutilização e o upcycling junto das indústrias criativas de Lisboa, e conhecimento sobre circular design junto das PMEs industriais localizadas na região. O objetivo é transmitir competências úteis a designers, makers, arquitetos e empresas, a fim de prevenir resíduos e aumentar utilização de recursos secundários. Para além disso, ao promover no mercado os bens oriundos do upcycling, o Bazar Circular pretende mudar a imagem da reutilização, tirando-a do seu nicho e tornando-a uma prática

1O HCB consiste num conjunto de 20 edifícios de reconhecido valor industrial e arquitetónico, que estão a ser reconvertidos para receber um conjunto de entidades nacionais e internacionais nas áreas da tecnologia, inovação e indústrias criativas.

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corrente. Não apenas facilitando a existência de iniciativas nessa fileira, mas também introduzindo o conceito em negócios mais tradicionais e demonstrando que ele pode ser apetecível, lucrativo e eficaz. Visão a longo prazo As atividades previstas para os 10 meses deste plano de implementação focam-se no desenvolvimento de alicerces para a construção de uma instituição perene. A prazo, pretende-se que o Bazar Circular se torne uma referência na inovação em matéria de recursos secundários, parceiro de confiança para profissionais e empresas enquanto facilitador de simbioses. Prevê-se que no prazo de 5 anos, o Bazar Circular disponha de infraestruturas que permitam assegurar a logística de quantidades importantes de desperdícios e disponibilizar um serviço completo aos utilizadores; ter um mercado de recursos secundários a operar fisicamente e online; e ver implementados Bazares Circulares noutras cidades portuguesas, fruto das nossas ações de capacitação local.

Estudo de caso La Réserve des Arts

La Réserve des Arts é uma associação de “eco-produção cultural” que recolhe resíduos e excedentes de materiais nas empresas para os valorizar e vender a profissionais do setor criativo. Tem três objetivos: reduzir duravelmente os resíduos; apoiar o setor cultural criativo e promover a reutilização de materiais. A Réserve desenvolve 5 tipos de atividades: recolha materiais, valoriza-os para revelar o potencial criativo, vende-os através de uma rede de lojas parceiras, faz sensibilização (divulgação de conhecimento) e organiza eventos (ex. workshops). Tipo de resíduos: têxtil, pele, madeira, vidro, plástico, móveis, mercearia, ferragens, papel, metal e “insólitos”. No segundo ano do seu funcionamento, abriu uma loja permanente em Paris (130 m2) e um armazém na periferia (1000 m2). Os aderentes podem alugar o espaço e as ferramentas para criar e armazenar as suas criações. Estabeleceu várias parcerias com escolas de artes e instituições culturais (doadores), além de empresas.

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C. Diagnóstico da Situação de Partida Nos últimos meses temos vindo a analisar o mercado e a entrevistar diversos stakeholders para compreendermos melhor a sua atual situação (tanto do lado da oferta como da procura), para identificar oportunidades, mas também obstáculos que inibem uma maior reutilização e upcycling (lista completa de entidades em anexo ao Relatório de Viabilidade). O presente diagnóstico tem como fundamento esse trabalho. Análise do Problema

O projeto Bazar Circular surge para responder à constatação fundamental de que recursos materiais valiosos estão a ser desperdiçados às toneladas, diariamente. Este desperdício tem graves consequências ambientais, económicas e sociais (poluição, perda de materiais e valor, pressão sobre o capital natural etc.). As causas do problema residem no facto de não existirem condições (de mercado, institucionais e de conhecimento) para aproveitar de forma eficiente os recursos atualmente desperdiçados. As disfuncionalidades podem ser descritas em quatro eixos:

- Deficiente ligação entre a oferta e a procura de materiais secundários: faltam canais informacionais e logísticos para que os desperdícios encontrem utilizadores e os utilizadores encontrem desperdícios;

- Procura limitada de recursos secundários (iniciativas de upcycling são poucas e de pequena dimensão), indexada a uma procura limitada de produtos e serviços oriundos da reutilização (reduzida disponibilidade, preços elevados, marketing insatisfatório);

- Falta de conhecimento sobre reutilização e ecodesign, cultura ambiental e patrimonial incipiente;

- Desadequação institucional: barreiras legais, ausência de uma fiscalidade facilitadora da reutilização.

i. Fontes de Recursos Secundários (oferta) Partindo de uma realidade bastante ampla - resíduos urbanos e não urbanos com potencial para upcycling produzidos na Área Metropolitana de Lisboa - fomos afunilando a análise no sentido de

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perceber quais são os materiais com potencial de reutilização e upcycling e quais os setores em que são produzidos. A selecção de materiais teve em conta as necessidades identificadas, ou seja, a procura atual de recursos secundários para reutilização, mas também outras fontes que consideramos com potencial interesse para poderem vir a ser utilizadas. Assim, centramos o estudo nos resíduos de madeira, metais e têxteis produzidos nos seguintes sectores:

● Indústrias (madeira, gráficas) ● Eventos e festivais ● Setor da construção civil ● Museus e teatros ● Ecocentros ● Juntas de freguesia

Madeira Selecionamos a madeira como um dos principais materiais pois é um recurso secundário natural fácil de processar e de ser reutilizado. Considerando especialmente a atual situação das florestas em Portugal, é de extrema importância valorizar este precioso recurso e evitar que a madeira de melhor qualidade seja enviada, direta ou indiretamente (através da produção de pellets), para queima. Ao estender o ciclo de vida dos materiais de madeira é possível evitar mais desflorestação e criar mais valor para a sociedade. Numa visita exploratória ao Centro de Recolha do Vale do Forno, observámos um contentor parcialmente cheio de madeira. Em conversa com o coordenador do centro ficámos a saber que a capacidade do contentor é de 12 toneladas e que em média sai um contentor por semana do Centro, encaminhando a madeira para a fileira normal de reciclagem - trituração para fabrico de agregados (um exemplo de downcycling). Uma breve análise visual do conteúdo permitiu identificar que cerca de 5% da madeira ali presente era maciça e com potencial interessante para reutilização e upcycling. Ou seja: só neste centro de recolha poderiam ser desviadas 2,5 toneladas mensais de madeira de boa qualidade, para fabricação de mobiliário e equipamentos. Seriam 30 toneladas anuais de matéria-prima secundária salva do downcycling e reutilizada ao seu mais alto potencial, substituindo matérias virgens. Em Lisboa existem mais 4 Centros de Recolha de Resíduos e portanto poderíamos estar a falar de uma quantidade de aproximadamente 120 ton/ano. A variedade de formas e de tipos de madeira que existem abre o leque de possíveis utilizadores e por essa razão é uma matéria prima secundária de grande relevância neste projecto. No âmbito da análise de situação realizada, a grande maioria dos upcyclers identificados utilizam a madeira como matéria prima e portanto é fundamental conhecer as fontes de madeira existentes em Lisboa2: 2Adicionalmente as fontes mencionadas, a manutenção de espaços verdes geridos pela CML ou pelas Juntas de Freguesia poderá ser incluída também, já que estes espaços produzem resíduos resultantes de cortes de árvores ou

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● Indústrias de madeira: existem na área metropolitana de Lisboa cerca de 428 empresas inseridas no sector da madeira, e da cortiça, excepto mobiliário. A título de exemplo, uma empresa local contactada e cuja actividade é a construção de casas de madeira (pinheiro, sobreiro, cerejeira, etc) produz mensalmente 3 ton de resíduos que são encaminhados para valorização energética. A empresa não tem custos com o encaminhamento final da madeira mas também não recebe qualquer valor por parte da empresa gestora dos resíduos.

● Habitações/Ecocentros: Os resíduos de madeira produzidos nas habitações (sobretudo mobiliário) são normalmente recolhidos por parte dos serviços de Higiene Urbana da CML ou através das Juntas de Freguesia. De acordo com uma visita efectuada a um Centro de Recolha de Resíduos e extrapolando o valor estimado visualmente para os 5 centros existentes em Lisboa, podemos considerar que poderiam ser transferidos para reutilização e potencialmente utilizados para upcycling 10 ton/mês de madeira maciça.

● Construção Civil: As obras de remodelação e construção de habitações geram uma quantidade significativa de resíduos de madeira, muitas vezes peças antigas e madeiras de elevado valor. Estamos a falar de portas, janelas, portadas, pavimentos, estrutura das coberturas, tectos falsos mas também sobras de madeira e paletes partidas que não são reutilizadas. A grande maioria tem como destino o downcycling. Sendo que em Lisboa se assistiu no ano de 2016 a um crescimento significativo das obras de remodelação estaremos a falar de uma quantidade significativa, apesar de não se encontrar quantificada.

● Grande Distribuição: As paletes de madeira são uma forma de embalagem muito usada na grande distribuição. Uma parte importante é reutilizada num circuito interno entre os produtores e a grande distribuição. Contudo quando as paletes se partem ou, por qualquer outra razão já não são necessárias, gera-se um resíduos cujo destino é queima directa ou indirecta (produção de pellets).

Metais Outro material que merece particular atenção é o metal ferroso e os não ferrosos provenientes do sector da construção civil mas também de origem urbana (móveis, cadeiras, mesas, bicicletas, etc). Estes resíduos são valorizados em siderurgias ou em fundições dando origem a lingotes ferrosos e não ferrosos. Devido aos elevados valores da sua venda, que podem rondar os 120 €/ton, se forem metais ferrosos, mas podem chegar a valores da ordem dos 600 €/ton se estivermos a falar de alumínio, são submetidos a uma correta triagem e encaminhados quase na totalidade para valorização. No processo de fusão dos metais, é consumida energia e são emitidas quantidades significativas de CO2. Em Lisboa, os resíduos metálicos podem ser produzidos em:

● Habitações: nas habitações são produzidos diferentes peças metálicas que são enviadas para um dos centros de recepção de resíduos de Lisboa. De acordo com o Plano Municipal de Gestão de Resíduos do Município de Lisboa (2015-2020) a quantidade aproximada de metais produzida em Lisboa em 2014 foi de 3400 ton. Estes materiais são triados e enviados para valorização.

simplesmente da manutenção destas zonas. Esta madeira é atualmente valorizada em processos de compostagem ou transformada em toros e vendida ao público. Em 2016, 1167 árvores foram abatidas na cidade de Lisboa e 703 em 2017.

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● Construção Civil: as obras de reconstrução de edifícios originam metais ferrosos e não ferrosos resultantes da estrutura ou de outras partes. Também se verifica em pequenas obras de remodelação (exemplo da substituição de uma marquise) o surgimento de metais nomeadamente o alumínio. Estes resíduos são normalmente recolhidos por parte dos empreiteiros e enviados para valorização. As obras de construção são a principal fonte de metais em Lisboa e havendo um importante incremento deste setor, nomeadamente associado à remodelação de edifícios antigos, poderão surgir peças com um valor e interesse para serem usados em upcycling.

● Indústria: Falamos de uma variedade grande de peças, tais como máquinas obsoletas ou peças de máquinas ou de equipamentos. Normalmente as máquinas obsoletas assim como os metais resultantes da produção (cortes, aparas, limalhas) são enviados para valorização, não havendo conhecimento e sensibilidade da parte das indústrias para a possível mais valia da utilização das peças e não apenas do material.

Têxteis As lonas, tapetes e outros têxteis (exceto a roupa) produzidos em Lisboa estão associados a diferentes actividades: eventos e respectiva publicidade, campanhas eleitorais, habitações, mas também as indústrias gráficas. Em Lisboa as lonas publicitárias, assim como as faixas associadas às campanhas eleitorais ou outros eventos, são recolhidas separadamente e geridas como resíduos indiferenciados cujo destino é a incineração. Tendo como exemplo um contacto efectuado com uma empresa gráfica (Kontraproduções) constata-se que as lonas são essencialmente feitas a partir de PVC e de vinil (representam 98% do material) mas também podem ser feitas a partir de fibras têxteis. Em média, são recolhidas mensalmente 4 toneladas destes materiais naquela empresa, e na Área Metropolitana de Lisboa existem 940 empresas de impressão e reprodução gráficas. Atualmente, os resíduos de lonas, mas também tapetes produzidos no sector não urbano (indústria, serviços e comércio) têm como destino a deposição em aterro. Em Lisboa, em 2016, realizaram-se 12.076 reuniões, congressos e convenções, os quais também contribuem com diferentes materiais tais como tapetes e lonas, que poderiam ser reutilizados. Tal como acontece nos materiais referidos anteriormente, também nos têxteis temos uma origem urbana ou equiparada, onde se incluem as habitações, mas também uma origem industrial e/ou de serviços, onde se incluem eventos, festivais, indústrias gráficas e transformadoras de lonas. Outros Materiais O estudo centrou-se nos materiais e sectores referidos anteriormente. Contudo existe uma variedade enorme de outros resíduos com potencial para poderem ser utilizados como fonte de recursos secundários. A necessidade de identificar novas origens de materiais é um aspecto de grande relevância no Bazar Circular. Por princípio, aceitamos qualquer tipo de material ou objeto que cumpra os seguintes critérios:

● Existe uma (potencial) procura para reutilização ou upcycling; ● A transformação em escala pequena é economicamente viável; ● Oferta suficiente de uma qualidade decente (depende do uso); ● Fácil de preparar para ser reutilizado ou transformado através de upcycling (não é

necessário um tratamento de resíduos).

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O trabalho de identificação das matérias-primas secundárias pode partir da necessidade do designer ou empresa, uma vez que sabe que material precisa e é esse que procura; ou pode ser desenvolvido um produto a partir de um novo material que surge (exemplo de um projeto do Superuse Studios em que são utilizadas varetas de guarda-chuvas para produzir luminárias).

ii. Práticas Atuais de Reutilização e Upcycling (procura) Sendo a procura de materiais secundários uma variável essencial para o Bazar Circular, parece-nos indispensável compreender melhor o contexto e particularidades da atividade de reutilização criativa. A partir de oito entrevistas exploratórias (cf. anexo II ao relatório de viabilidade), conduzidas junto de iniciativas nessa área (6 artesãos + 2 gabinetes de arquitectura), foi possível esboçar um panorama a) do mercado de matérias-primas secundárias para upcycling, e b) do mercado dos produtos e serviços oriundos da reutilização criativa. a) O mercado de matérias-primas secundárias para upcycling A madeira constitui o material mais utilizado pelas iniciativas contactadas. É recolhida sobretudo de maneira informal (encontrada na rua, recolhida em casas devolutas, cedida por empreiteiros em obras de renovação ou demolição, doada por amigos e conhecidos). Mas tanto para madeiras como para os outros materiais também há recurso a plataformas online (OLX), armazéns de usados (Emmaús, sucateiros) e feiras (Feira da Ladra). O processo de identificação dos materiais é sempre descrito como moroso, pois não há informação acessível sobre o que existe; mas a disponibilidade de recursos emerge como sendo alta, uma vez que os entrevistados dizem conseguir encontrar o material de que precisam para a sua atividades. Outro dado importante prende-se com a preparação dos materiais. Ao contrário dos virgens, que vêm prontos para o uso, os materiais secundários requerem investimento extra: seja retirar pregos, endireitar pranchas ou descoser roupas. Nas atuais condições de mercado, a aquisição de materiais secundários requer muitos gastos de prospeção e recursos humanos. b) O mercado dos produtos e serviços oriundos da reutilização criativa Os produtos e serviços oriundos da reutilização, nesta amostra, são produtos de valor elevado, e consumidos por clientes de classe média-alta. Revela-se haver interesse e apreço pelas peças produzidas, atribuídos à qualidade e criatividade das mesmas, e em segundo lugar ao facto de serem utilizados materiais secundários (com benefícios ambientais). A procura parece estar a aumentar, mas estas estruturas pequenas e “artesanais” não conseguem escalar o negócio. A principal barreira é o marketing e a comunicação, que os entrevistados dizem não conseguir assegurar por falta de meios. As vendas são feitas em mercados/feiras, espaços em lojas, online (marketplaces como o Etsy ou loja online própria), centrando-se muito no passa-palavra. No caso dos gabinetes de arquitetura revela-se existir clientela suficiente e com o poder de compra adequado a este tipo de projetos.

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Como conclusões principais desta pesquisa, destacamos o seguinte:

- Há falta de informação de qualidade sobre a disponibilidade de matérias-primas secundárias na região de Lisboa;

- Este fator limita fortemente a possibilidade e rentabilidade da utilização dessas matérias-primas;

- O mercado para produtos e serviços oriundos da reutilização está a crescer e tem condições para se desenvolver.

- A falta de investimento em marketing e comunicação nesta área constitui uma barreira ao crescimento desses negócios.

iii. Contexto Alargado O caso do MOR - Mercado Organizado de Resíduos É fundamental notar que o Estado português fez em 2010 uma tentativa de dinamizar o mercado de recursos secundários através do lançamento do MOR (Mercado Organizado de Resíduos), que funcionaria através do estabelecimento de plataformas online para transação de resíduos. Apesar do MOR estar oficialmente ativo desde então, apenas uma plataforma foi implementada, e essa plataforma não funcionou uma vez que na prática a única entidade que ali disponibiliza resíduos (para leilão) é a entidade detentora da plataforma, a Sociedade Ponto Verde. Falhou pois o objetivo inicial de promover as simbioses industriais e valorizar os desperdícios setoriais (havendo grandes expectativas nomeadamente em relação aos resíduos de construção e demolição). As causas possíveis para o fracasso desta iniciativa são variadas (inexistência de garantias financeiras para transações avultadas na plataforma, necessidade de contacto pessoal para estabelecimento de relação de confiança e visualização de amostras, inutilidade da função de ligação entre oferta e procura após o contacto directo entre vendedor e comprador, entre outras),

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mas importa no contexto deste diagnóstico notar a falta de recursos que de alguma forma facilitam a valorização dos desperdícios, através do estabelecimento de ligações entre a oferta e a procura. Mercados conexos: segunda-mão & vintage É importante descrever o contexto alargado em que se insere a reutilização criativa. O mercado de produtos em segunda-mão e de objetos vintage exibe grande vitalidade atualmente. Como exemplo, a cadeia Humana de vestuário usado, fundada em 1998, abriu já 7 lojas em Lisboa e tem planos para mais - o que está em sintonia com as tendências europeias identificadas pelo Institut Technik und Bildung (Bremen, Alemanha)3: aumento da doação de artigos usados por razões ambientais e sociais; aumento do “retro-thinking”, ou seja da recuperação de objetos do passado (com eventual atualização). A mesma fonte identifica a tendência das gerações mais novas para adquirirem menos e melhores peças de mobiliário, nomeadamente com valor patrimonial ou artístico. A simples observação empírica permite constatar a multiplicação em Lisboa das lojas e mercados de mobiliário e decoração dita “vintage”. No que diz respeito à decoração de interiores, importa ressalvar que as tendências de mercado na Europa estão a evoluir no sentido da identidade (produtos únicos e de boa fabricação), personalização e adaptabilidade (designs que podem ser adaptados à medida do consumidor e que incorporam uma “história”), e responsabilidade ambiental e social (cada vez mais um argumento de venda junto do consumidor). Estas tendências (compiladas num estudo de mercado do Ministério dos Negócios Estrangeiros holandês4 em 2016) indicam a potencial receptividade do mercado ao aumento da disponibilidade de produtos oriundos da reutilização criativa. Conhecimento O conceito de upcycling ou reutilização criativa ainda é largamente desconhecido no nosso país. Ficou patente ao longo das entrevistas exploratórias que o design circular em geral (e a estratégia de upcycling em particular) não fazem parte da oferta de base das escolas de design e arquitetura em Portugal. Apesar das boas iniciativas detectadas (como o Sustenta - Laboratório de Projeto Sustentável da Faculdade de Arquitetura da UL5), certo é que a esmagadora maioria dos designers e arquitetos formados na região de Lisboa não são confrontados com os benefícios do design circular, seus princípios e técnicas, não estando por isso devidamente habilitados a incorporar esses modos de conceção no seu trabalho. Para além da formação técnica de profissionais do design, constata-se a necessidade de promover, transversalmente, uma cultura ambiental mais profunda, capaz de suscitar alterações de comportamento. Se os designers não incorporam, em geral, abordagens de design circular no seu trabalho, também os clientes finais não exigem produtos e serviços com essas características. Os arquitetos consultados neste trabalho exploratório fazem um diagnóstico ainda bastante negativo da sensibilização do público para questões de sustentabilidade dos materiais (origem geográfica, qualidade e durabilidade, incorporação de matéria reciclada, conservação, restauro e reutilização), o que aponta para um caminho importante a percorrer em termos de trabalho cultural e educacional.

3Heike Arold, Claudia Koring (2008), An Investigation and Analysis of the Second-Hand Sector in Europe, Institut Technik und Bildung, Universität Bremen 4https://www.cbi.eu/market-information/home-decoration-textiles/trends/ 5http://sustentafa.wixsite.com/sustenta-pt

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D. Importância para a Economia Circular

i. Qual o contributo do projeto para a transição para uma economia circular? O design da economia circular é regenerativo, minimizando a extração e o consumo de recursos naturais, apostando na prevenção do desperdício e promovendo a reutilização de bens através de diferentes estratégias (reparação, remanufatura, renovação, etc.). Ainda temos muito caminho a percorrer para lá chegarmos. Estamos hoje na fase da economia da reciclagem. A reciclagem é a solução atual mais económica para lidar com grandes quantidades de resíduos, mas não é a solução ideal. Do ponto de vista da economia circular, é essencial manter a integridade dos materiais, componentes e produtos por tanto tempo quanto possível. Em vez de os triturar (o que normalmente acontece durante o processo de reciclagem), é importante conservá-los no estado original e usá-los para fins de alto valor acrescentado. Através da reutilização e do upcycling, a energia incorporada, o trabalho e o valor são preservados mais eficazmente durante mais tempo. De momento, o upcycling não é um conceito popular entre os estudiosos de economia circular e as indústrias, pois está conotado com processos artesanais e de pequena escala. Trata-se de uma negligência, uma vez que existem muitas oportunidades para upcycling profissional e de alto valor, e que esses processos podem ter um impacto significativo se forem replicados. Por outro lado, o conceito é capaz de apelar aos designers, arquitetos e fazedores, e tem potencial para envolver as comunidades locais mais eficazmente, aliando inovação social e economia circular.

ii. Áreas e estratégias chave Otimizar o Uso de Recursos Como identificado no diagnóstico acima, a prática da reutilização de materiais está subdesenvolvida porque - aspeto fulcral - os detentores de recursos secundários e seus (potenciais) utilizadores não se encontram. O Bazar Circular, enquanto intermediário proativo, vai reforçar a ligação entre os agentes da cadeia de valor. A base de dados que vamos construir será ferramenta essencial para os recursos poderem ser detectados e permanecerem no ciclo económico ao mais alto nível de utilidade. Elaborar informação de boa qualidade sobre os materiais (especificações, localização, condições, imagem) é essencial para agilizar as transações. Esta base de dados irá, numa fase posterior e se os testes a efetuar validarem as nossas hipóteses, alimentar uma plataforma online que virá complementar o nosso trabalho de intermediação e expandir significativamente o número de atores envolvidos. Valorização de subprodutos e de resíduos através do upcycling O Bazar Circular é mais do que um mero intermediário. Pretende desenvolver e implementar novos (e inovadores) projetos de upcycling, trabalhando com os designers e arquitetos visionários do Depois e do Superuse Studios (entre outros). Estes projetos (para os quais não nos faltam ideias, cf. secção E) criam valor a três níveis: salvam recursos, satisfazem necessidades, e demonstram, de forma inspiradora, o potencial das matérias-primas secundárias. Conceber para o Futuro

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No âmbito do projeto Bazar Circular está previsto a realização de workshops interativos para designers e gestores de produto de empresas. Estes têm como objetivo dotar os participantes de conhecimentos práticos de design para a economia circular. O foco será a redução do uso de recursos naturais, sistemas de fecho de ciclos e a respetiva prevenção de resíduos, tendo em consideração o contexto específico. A reutilização e o upcycling podem nem sempre ser estratégias aplicáveis para esses tipos de empresas, deste modo, outras abordagens, como simbiose industrial, refabricação, remodelação e logística inversa podem ser mais relevantes. O curso consiste na realização de 3 workshops de 4 horas e será dado a um grupo entre 10 - 15 designers e empresas. Será proposto aos participantes a aplicação prática dos princípios6 e teorias de design para a economia circular.

Colaborar, trocar e partilhar O Bazar Circular tem como estratégia conectar e colaborar através da criação de uma rede de stakeholders (entidades privadas e públicas: PMEs, designers e arquitetos, artesãos, escolas, fablabs, etc). Esta rede funcionará como um ecossistema, que se desenvolverá em função das relações de interdependência que se forem criando. O Bazar Circular assume a função de catalisar este ecossistema. Inaugurámos já esse processo, com a realização, a 24 de Outubro passado, de um evento de apresentação do projeto Bazar Circular no Centro de Inovação da Mouraria, no qual participaram 15 upcyclers/designers/arquitetos e que contou com um debate sobre reutilização de materiais. Faz parte da nossa visão de longo prazo a realização de um simpósio anual de “respigadores” para reunir todas as iniciativas de upcycling, discutir oportunidades e barreiras, e formular soluções em conjunto.

6 Estratégias de Ecodesign (Circular Design): 1. Desenvolvimento de novos conceitos de produto e valor; 2. Seleção e aplicação de materiais com menor impacte; 3. Redução da quantidade de materiais utilizados; 4. Redução dos impactes relacionados com a produção; 5. Redução do impacte ambiental na utilização do produto; 6. Aumentar a durabilidade e vida útil dos produtos; 7. Otimizar o fim de vida e valorização do produto.

Design Circular O design para a economia circular, ou design circular, tal como o design em geral tem a responsabilidade de dar resposta a problemas de produtos ou serviços, integrando vários critérios e valências na resolução de problemas de forma inovadora e ajustada às necessidades dos utilizadores. No âmbito da economia circular, o designer tem como função traduzir as estratégias e conceitos de circularidade no desenvolvimento de produtos, serviços e sistemas que promovam a transição de um modelo linear para um modelo circular focado no fecho de ciclos, na eficiência e sustentabilidade do sistema.

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iii. Qual o Contributo para o Desenvolvimento de uma Solução Inovadora tendo em conta os desafios nacionais e europeus em matéria de economia circular? O projeto Bazar Circular está alinhado com as políticas europeias, nacionais e locais para a economia circular e a gestão de resíduos, como o Pacote para a Economia Circular da Comissão Europeia, o Plano de Ação para a Economia Circular e o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU) em Portugal e o projeto europeu FORCE em Lisboa. Nível europeu A Comissão Europeia adotou em Dezembro de 2015 o Pacote para a Economia Circular. Este documento inclui quatro propostas normativas relativas aos resíduos e um Plano de Ação complementar. O Bazar Circular inscreve-se claramente neste quadro, contribuindo em particular (A) para a primeira das quatro propostas normativas (a Diretiva Quadro de Resíduos - DQR) e (B) para duas medidas do Plano de Ação. (A) A Diretiva Quadro de Resíduos define claramente que as prioridades na gestão de resíduos devem ser, em primeiro lugar, a prevenção, seguida pela reutilização, a reciclagem e apenas em quarto lugar, a valorização energética. Uma série de objetivos quantitativos foram definidos, salientando-se os de “atingir uma taxa de preparação para a reutilização e a reciclagem de 65% dos resíduos municipais até 2030” e “atingir uma taxa de valorização de resíduos dos setores da construção e demolição (RCD) de 70% até 2020”. (B) O Plano de Ação para a economia circular “Fechar o Círculo” detalha as ações prioritárias a serem implementadas pelos estados membros. O Bazar Circular está diretamente alinhado com as seguintes: - Promover a durabilidade, a reciclabilidade e a reparabilidade dos produtos - Aumentar a valorização de matérias valiosas e adaptar a gestão dos resíduos no setor da

construção e demolição, dado o seu elevado impacto em termos de produção de resíduos. O Bazar Circular responderá de maneira concreta e inovadora a estes desafios pela promoção do design circular e da reutilização criativa, nomeadamente ao eleger os materiais de construção recuperáveis em obras de renovação/demolição como fonte altamente relevante de recursos secundários e ao aliar arquitetura e upcycling nas suas estratégias. Nível Nacional O Plano de Ação para a Economia Circular 2017-2020 do Ministério do Ambiente (PAEC) identifica sete ações transversais ambiciosas para serem implementadas em Portugal. A abordagem multifacetada do Bazar Circular faz eco a várias destas ações mas sobretudo à Ação #5: Nova vida aos resíduos, cujos objetivos são: aumentar a introdução de matérias primas secundárias na economia; diminuir a produção de resíduos; reduzir a procura de matérias primas; reduzir custos de contexto às empresas. O Bazar Circular tem a ambição de constituir uma solução concreta para atingir a integralidade destes objetivos. A economia portuguesa, nota o Plano, revela uma baixa eficiência material: o valor gerado por tonelada de recursos utilizada é baixo, comparado com outros países europeus. O Bazar Circular põe em marcha estratégias para gerar produtos de alto valor acrescentado a partir de recursos que iriam de outra forma sair do ciclo económico, respondendo assim a um desafio concreto da transição nacional.

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O Plano Nacional de Gestão de Resíduos 2014-2020 resume desta forma, no seu diagnóstico, a direção em que tem de evoluir a abordagem da gestão de resíduos: “A legislação introduzida ao longo do tempo traduziu-se em melhorias relativamente à situação existente, mas importa reforçar a urgência da “qualificação” do sector por outros instrumentos que não sejam de “comando e controlo”, nomeadamente, ao nível da informação e formação, e do estímulo à economia de mercado, promovendo a apetência pelo resíduo enquanto fonte de matérias-primas.” O Bazar Circular contribui para a supressão desta lacuna, cuja resolução é descrita como urgente. O Plano estratégico para os resíduos urbanos (PERSU 2014-2020), que determina as metas nacionais em matéria de prevenção de resíduos, avançando medidas e ações, partilha os objetivos gerais definidos pela Diretiva Quadro de Resíduos europeia e estabelece que Portugal deverá aumentar de 24 % para 50 % a taxa de preparação de resíduos para reutilização e reciclagem até 2020. Nível local Lisboa está envolvida no projeto europeu FORCE, cuja ambição é minimizar o desperdício de materiais e apoiar a transição para modelos circulares. O projeto envolve mais três cidades (Copenhaga, Hamburgo e Génova), e todas se comprometem a desenvolver e aplicar soluções eco-inovadoras centradas em 4 tipos de materiais: resíduos de plástico, metais estratégicos de equipamento elétrico e eletrónico, desperdício alimentar e resíduos orgânicos, e madeira descartada. No caso da madeira, a CML (Dep. Higiene Urbana) vai implementar medidas para melhorar a separação em alguns centros de recolha, a fim de promover a sua reutilização. A estratégia inclui parcerias com oficinas locais e a criação de um centro de madeira usada. O Bazar Circular está envolvido neste projeto enquanto facilitador de soluções de upcycling. Um protocolo de colaboração entre o Bazar Circular e a CML está atualmente em preparação.

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E. Descrição do Projeto

O resíduo é um recurso no lugar errado à hora errada i. Resultados Expectáveis Estes serão os resultados das atividades do projeto Bazar Circular durante os primeiros 10 meses (adiante abordados em pormenor):

● Base de dados de materiais secundários (incluindo características, disponibilidade, localização, etc), indexando cerca de 100 fornecedores (empresas/organizações contactadas).

● 5 parcerias estruturais com instituições externas (para disponibilização e/ou uso regular de matérias-primas secundárias)

● >18 ações de intermediação ● Diagnóstico de recursos recuperáveis no Hub Criativo Beato e em Marvila ● 3 projetos piloto de upcycling - da fonte ao produto final com acompanhamento de

parceiros especialistas em economia circular, ecodesign, etc. ● 3 cursos de Design Circular ● 1 workshop do Superuse Studios ● 5 Visitas do Bazar ● 1 evento público, incluindo pop-up store (ponto de venda temporário) e workshops

temáticos ● Versão beta da plataforma online ● Website /blog ● Relatório Final da fase de implementação do projeto7

ii. Descrever o Posicionamento da Inovação de Projeto O core business das empresas de gestão de resíduos é lidar com enormes volumes através de processos altamente mecanizados e automatizados. Estes processos têm-se tornado gradualmente mais eficientes, mas não permitem acomodar oportunidades de reutilização e de upcycling, e o modelo de negócio continua a funcionar numa lógica linear. A redução do volume de resíduos só é possível através da inovação social e de soluções não convencionais (para além do business-as-usual). Uma economia circular, mais descentralizada, criativa e colaborativa, requer novas formas de atuar, novas formas de produção, utilização e gestão de resíduos. Acreditamos que a gestão do desperdício deve ser implementada em diferentes níveis através de diferentes abordagens. Não somente em larga escala e industrial, mas também num nível descentralizado mediante abordagens inovadoras. Esta forma de atuar cria soluções mais flexíveis, criativas e personalizadas; características às quais as grandes empresa têm mais dificuldade em aderir. Atualmente, não existem organizações focadas na ligação entre a oferta e a procura de materiais secundários e facilitar o upcycling a nível local. Para além disso, não existem organizações que

7Histórico das ações realizadas, monitorização dos resultados, linhas de desenvolvimento futuro. Destina-se em primeiro lugar a todas as entidades envolvidas no projeto mas também a entidades públicas e privadas noutros pontos do país, às quais o Bazar Circular possa interessar numa óptica de aprendizagem e/ou de replicação de algumas experiências e modelos.

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intervenham ao longo de toda a cadeia de produção, desde a fonte, passando pelo design, até à comercialização. O Bazar Circular tem um caráter muito abrangente, que combina a reflexão teórica e a ação prática: facilitar e promover a reutilização de materiais, implementar projetos de design, e oferecer um lugar de encontro intersetorial para entidades públicas, empresas, criadores e o público. Esta abordagem é altamente inovadora e permite ao Bazar Circular preencher uma importante lacuna. O Bazar Circular é pioneiro neste relativamente novo mercado. Como parte do estudo de viabilidade, elaborámos um estudo de benchmarking relativo a 12 iniciativas internacionais similares que também estimulam a reutilização e o upcycling. Esta análise confirmou que o conceito é eficiente e pode ser economicamente viável se for gerido de forma correcta. Uma das principais lições retiradas consiste na enorme importância de se estimular tanto a oferta como a procura, assim como de abordar proativamente as empresas. O desafio consiste não tanto em encontrar os materiais, mas em encontrar soluções criativas e com uma boa relação custo-eficácia. iii. Descrever e Explicar o Conceito e a Abordagem/Atividades a Serem Implementadas Após a elaboração de um estudo de viabilidade, concluiu-se que é melhor o projeto crescer de forma gradual em vez de se investir imediatamente num armazém aberto ao público, atelier (co-oficina), meio de transporte e concept store. Não só tudo isto requer um enorme investimento, mas também não seria viável gerir todas estas atividades no primeiro ano, durante o qual ainda se está a configurar o projeto. Em alternativa, é mais importante investir no papel intermediário, nos projetos de upcycling e cursos/workshops primeiro, antes de diversificar e ampliar o projeto. Desta forma, o primeiro ano (2018) será utilizado para operacionalizar o projeto piloto, testando-o e validando diversas hipóteses, antes de se fazerem grandes investimentos. Os ativos físicos anteriormente referidos são, no entanto, importantes para fortalecer os nossos serviços e são valiosos para os nossos clientes. Portanto, numa fase posterior do projeto, consideraremos a aquisição de uma viatura para transporte de materiais e um espaço físico para acomodar um armazém maior, infra-estruturas para reparação e uma concept store onde os produtos poderão ser colocados à venda. Tudo isto irá permitir expandir e gerar mais impacto.

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No lado da oferta, o processo será identificar empresas relevantes que poderão produzir materiais secundários e abordá-las pessoalmente, colocando as questões certas para verificar as especificações e tentar estabelecer cooperação com as mesmas. Os fornecedores de materiais secundários podem ter uma produção regular ou pontual de curto-prazo, requerendo soluções diferentes. Para se conseguir avaliar a relevância do upcycling, iremos desenvolver uma metodologia e indicadores (ambientais) para assegurar uma recuperação sustentável dos recursos. Por princípio, iremos tentar encontrar uso imediato para os materiais e objetos para que os possamos transportar diretamente para o destino, sem precisar de os armazenar. No entanto, por vezes, esta situação não será possível e por isso seria útil ter um armazém para guardar estes itens de valor temporariamente. Recorreremos para isso, numa primeira fase, a serviços de armazenamento. Ações de intermediação (ligação oferta-procura) O Bazar Circular irá promover/facilitar pelo menos 18 acordos nos quais a oferta e procura de recursos secundários serão conectadas quer para reutilização e upcycling quer para simbiose industrial. Os nossos principais grupos-alvo são organizações que querem descartar (e valorizar) os seus desperdícios ou subprodutos (fornecedores) e profissionais/empresas que utilizam recursos secundários para fins com valor elevado (design de produto, arquitetura, projetos urbanos, etc.). O público-alvo de utilizadores: designers, arquitetos, artesãos e artistas, mas também empresas, incubadoras e escolas de arte que precisam de materiais. Plataforma online Uma plataforma online com informação detalhada sobre recursos secundários (localização, especificações e preço) poderia facilitar bastante a ligação entre a oferta e a procura. Inicialmente, a plataforma constituia um aspeto central do Bazar Circular, mas entretanto essa posição mudou. A análise que fizemos das plataformas de compra e venda de recursos secundários existentes, e do funcionamento de multi-sided marketplaces em geral, revelou que:

- Uma plataforma por si só pouco ou nada faz pela dinamização de um mercado. É preciso massa crítica de um dos lados para atrair o outro;

- Dado o atual estado incipiente do mercado de recursos secundários em Portugal, impõe-se prioritariamente um trabalho de informação, formação e promoção, para o qual uma plataforma não é um instrumento muito relevante neste momento;

- Várias plataformas de recursos secundários (Bolsa de Resíduos do Brasil; Bolsa de resíduos do estado de Minas Gerais) não conseguiram vingar (o MOR é exemplo disso) por razões de financiamento ou de fracasso no alcance dos objetivos, e as existentes apresentam alguma falta de dinamismo e disfuncionalidades (falta de qualidade dos anúncios).

Assim, considerámos que o lançamento de uma plataforma não deveria continuar a ser objetivo central dos primeiros 10 meses do Bazar Circular. No entanto, durante o projeto piloto iremos recolher informações, testar hipóteses e desenvolver uma versão beta (com recurso a design thinking), para uso interno. Para começar, iremos centrar-nos no setor da construção e colaborar com a APRUPP (Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Proteção do Património) no desenvolvimento de uma plataforma que responda às suas necessidades.

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Projetos de Upcycling / Reutilização Criativa O upcycling é atualmente um nicho com poucos intervenientes envolvidos. É por essa razão que o Bazar Circular também atua como catalisador, identificando oportunidades e desenvolvendo projetos em colaboração com outras entidades. Estes projetos demonstram o potencial do upcycling e inspiram outros designers. Desenvolveremos (pelo menos) 3 projetos durante a fase de implementação em 2018 (com foco na madeira, têxteis e metais, e outros materiais se possível).

Projeto de Demonstração Hub Criativo do Beato (Marvila)

A CEP está atualmente em contato com a Startup Lisboa e a CML para desenvolver os primeiros projetos de upcycling na renovação do espaço do Hub Criativo do Beato através da análise dos materiais, componentes e produto que estão disponíveis no local e nas zonas circundantes de Marvila e que podem ser utilizadas no projeto de renovação. Uma vez identificados e estudados os materiais disponíveis no HCB e na envolvente (Marvila), será realizada uma pesquisa para reunir o conhecimento académico e prático de ponta respeitante às potencialidades desses materiais. Ao mesmo tempo, a CEP irá abordar potenciais clientes para cofinanciar as intervenções de design/arquitetura. Com base na análise e nas necessidades do clientes, iremos selecionar opções inovadoras, mas viáveis, de upcycling e coordenaremos o design, a manufatura e a logística. O processo de design será apoiado pelos Superuse Studios. Exemplo: Usar equipamento industrial desativado para construir uma instalação lúdica Se várias das máquinas das antigas manufaturas da Manutenção Militar vão ser musealizadas, outras há que não serão conservadas. Com a visão e a intervenção certas, esses materiais podem dar origem a um parque infantil ou estrutura interativa que venha equipar o espaço público do HCB e o torne mais apetecível, amigo das famílias e do bairro, e detentor de uma intervenção arquitetónica única, simbólica e útil - salvando quantidades importantes de materiais. O nosso parceiro Superuse Studios já realizou intervenções desta natureza, como o exemplo da foto, em que a fonte do material é um aerogerador desativado.

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Exemplo: Transformação de Lonas em Malas No decurso dos estudos para o presente plano tivemos oportunidade de realizar uma ação de intermediação entre a Volvo Ocean Race (evento que decorreu em Algés de 31 de Outubro a 5 de Novembro) e a consultora Blindesign. Foram recuperados cerca de 150 quilos de lonas e têxteis. No quadro abaixo descrevemos visualmente o processo. De notar que os materiais ainda não foram transformados, sendo que uma das opções é a criação de malas com recurso ao trabalho de pessoas com deficiência, à semelhança de projetos anteriores como o “Revolta das Embalagens”.

Exemplo: Cortiça Descartada para Criar Luminárias Num país produtor de cortiça como Portugal existe um enorme desperdício de cortiça, quer das rolhas, quer dos revestimento. A sua maioria é deitada fora depois de serem utilizados, mas quando são recolhidos separadamente (em grandes quantidades nas empresas) são adequados para inúmeras aplicações. Desde aplicações de baixo valor como material de isolamento na construção até objetos de design como candeeiros. A cortiça necessita de um processo adicional antes destas transformações serem possíveis; o desafio consiste em utilizar colas e aditivos ecológicos. O Bazar Circular, em parceria com a Amorim e a Green Cork, irá analisar todas as possibilidades para tal.

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Outra atividade fundamental será a realização de 3 cursos de design circular (em colaboração com o LNEG), cujo conteúdo é descrito na secção Dii. iv. Identificação da Ambição e Impactos Esperados A ambição do Bazar Circular é dinamizar intensamente a prática da reutilização criativa. Queremos lançar um projeto perene que desempenhe um papel central, altamente necessário, no estabelecimento de novas práticas de utilização dos desperdícios. Aqui detalhamos os impactos que ambicionamos causar, listando os indicadores que utilizaremos para monitorizar os nossos progressos. Impacto Ambiental Principais indicadores a serem controlados

● Quantidades, volumes e tipos de recursos secundários recuperados (e quantidades de recursos primários poupados)

○ Emissões, resíduos e respetivos impactes associados às operações de transporte e upcycling

● Distância percorrida pelos recursos secundários em comparação com a solução atual ○ Localização das fontes de matérias primas secundárias ○ Localização da unidade de upcycling

Dependendo das quantidades e tipologias de materiais poderemos calcular os seguintes indicadores adicionais):

● Redução das emissões poluentes associadas à não deposição em aterro e/ou incineração (ex. CO2) e respetivos impactes

● Redução das emissões e energia em comparação com a reciclagem convencional ● Redução da pegada de água devida à não produção de matérias primas virgens ● Redução das emissões de CO2 devido à não produção de matérias primas virgens

O Bazar Circular terá impacto na redução do volume de resíduos destinados à incineração, aterro ou reciclagem convencional, e consequentemente na redução de impactos ambientais associados a estas operações. A fabricação de produtos a partir de recursos secundários reduzirá a pegada ecológica dos mesmos. Terá igualmente impacto na redução das matérias primas utilizadas e respectivos impactos ambientais que ocorrem nos países produtores. O impacto exato depende do tipo e quantidade de recursos secundários que o Bazar Circular vier a recolher e a disponibilizar, estando indexado aos clientes, materiais e oportunidades de upcycling que encontrarmos em 2018. No entanto, assumimos como ambição a recuperação de 3 a 5 toneladas de materiais na fase de implementação. Há ainda um aspecto de grande relevância e que tem a ver com o impacto associado ao transporte dos materiais. Portugal importa grande parte das suas matérias primas, muitas delas de fora da Europa e, neste processo, os impactos ambientais associados ao transporte, principalmente ao nível das emissões de CO2, são relevantes.

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Assim de forma a reduzir o impacto ambiental mas também económico do transporte é fundamental que a oferta e a procura estejam próximas e considerámos que o raio de acção deverá ser inferior a 10 km. Madeira Benefícios ambientais da reutilização e upcycling de madeira em vez da queima ou da produção de pellets:

- Redução de pressão nas florestas: a reutilização de resíduos de madeira assegura uma diminuição da procura de madeira virgem. Esta é muitas vezes importada (impactos na cadeia de valor) de florestas que carecem de certificação florestal, e podem ser potencialmente insustentáveis.

- Redução do consumo de energia: Estima-se que a aquisição de madeira de fontes florestais convencionais consomem cerca de 10 vezes mais energia do que a necessária para preparar a madeira para reutilização.

- Redução das emissões de CO2 associadas ao transporte mas também como consequência da redução do consumo de energia referida anteriormente.

Demonstrou-se, através de análise do ciclo da vida, que a reutilização tem maiores benefícios em termos de gases de efeito de estufa (através da sequestração) do que a reciclagem de madeiras para a produção de aparas para painéis de aglomerado (Muthu, 2015)8. Têxteis Os impactos ambientais decorrentes da produção de têxteis ao longo de toda a cadeia produtiva envolvem: a contaminação do solo, consumo de água e de energia, emissões atmosféricas de poluentes e produção de resíduos sólidos, quer sejam no processo de plantação, associada por exemplo ao algodão, quer seja nos processos de transformação associados ao tingimento. Em Portugal os têxteis são maioritariamente enviados para aterro ou incinerados com os impactos ambientais associados: emissões de CO2 e de metano. O processo de upcycling permite reduzir todos estes impactos referidos: 1 t de peças de vestuário de poliéster utiliza apenas 1,8% da energia necessária para as produzir com matéria-prima virgem. No caso de peças em algodão, essa percentagem é de 2,6%. (Woolridge, Ward, Phillips, Collins, & Gandy, 2006)9. No que concerne à água as reduções conseguidas são elevadas, mesmo considerando a utilização de água nas operações de lavagem das matérias primas secundárias, uma vez que estamos a falar de tapetes e lonas, que podem estar sujos. Metais A extração de minério e a posterior transformação nos países produtores geram importante impactos ambientais, nomeadamente poluição da água, poluição do ar, poluição sonora, produção de resíduos e destruição de áreas florestais e respectiva fauna, originando ainda problemas de conflitos do uso dos solos. A atividade de extração gera profundas alterações, modificando toda estrutura física e social do local onde está situada a mina e a região adjacente.

8Muthu, S.S. (ed), 2015. Environmental Implications of Recycling and Recycled Products. Springer. p. 8 9Woolridge, A. C., Ward, G. D., Phillips, P. S., Collins, M., & Gandy, S. (2006). Life cycle assessment for reuse/recycling of donated waste textiles compared to use of virgin material: An UK energy saving perspective. Resources, Conservation and Recycling, 46(1), 94–103.

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A solução existente em Portugal consiste em valorizar a sucata ferrosos e não ferrosa em fundições e siderurgias. Contudo é importante realçar que apesar de ser uma solução que permite recuperar o metal, tem impactos ambientais importantes: grandes consumos de energia e lugar cimeiro nas atividades emissoras de gases com efeito de estufa. O processo de upcycling, ao recuperar metais ferrosos e não ferrosos, reduz, por um lado, o impacto com a extração e transformação, e por outro o impacto com a fundição dos metais. As reduções conseguidas tanto no consumo de energia como na emissões são muito elevadas, acima dos 90%. Quanto menos transformado for o material maiores são as reduções conseguidas. Impacto Económico Indicadores

● Rentabilidade das vendas de recursos secundários, peças ou projetos de upcycling ● Redução de custos (EUR) conseguidos com a recuperação das matérias primas

secundárias em comparação com a atual solução de tratamento dos resíduos ● Aumento do valor de uma matéria prima secundária (ex. metais) ● Número de pessoas contratadas e horas trabalhadas

No que diz respeito ao impacto económico, mais uma vez, depende dos materiais, quantidades e particularmente do seu uso final. O objetivo do Bazar Circular é desenvolver projetos/intervenções de upcycling com funções práticas e positivas para a sociedade, amigos do ambiente e com interesse comercial. Somente quando o produto final tem um valor acrescentado significativo (alta qualidade ou aplicação inovadora) é que é possível existir uma margem de lucro para o fazedor. Os aspetos seguintes têm de ser considerados:

● Diferença de custo em relação ao tratamento convencional dos resíduos ● Diferença de custo em relação a materiais virgens ● Custos de transporte e mão-de-obra ● Valor gerado com a venda do produto final

O custo de deposição de resíduos industriais banais (RIB) em aterro é de aproximadamente 85 €/t, juntando o custo com o transporte e o custo com a taxa de gestão de resíduos (7,7 €/t em 2017 e 8,8 €/t em 2018). A tarifa cobrada pela Valorsul em 2017 é de 15,78 €/m3; se os resíduos forem enviados para o aterro de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU´s) a taxa de gestão de resíduos é a mesma que foi referida anteriormente, se forem enviados para valorização energética é de apenas 1,924 €/ton. A tarifa da madeira, que é enviada para queima ou para produção de pellets, não tem associado nenhum valor unitário mas, por vezes, tem o custo de transporte consoante o destino final. A sucata ferrosa e não ferrosa tem associada uma valorização que depende do metal: por volta dos 120 €/t para ferro e de 600 €/t para alumínio (valores muito voláteis, dependentes da quantidade e do metal). Um aspeto importante a realçar prende-se com a disponibilidade que alguns upcyclers têm em pagar mais pela aquisição de matérias primas secundárias para desenvolver os seus projetos e produtos. Esta situação é mais visível quando falamos de metais que têm uma valorização por vezes elevada. Existem várias empresas e intermediários que, numa fase muito precoce do processo, identificam e recolhem muitas peças metálicas para valorização impedindo que sejam encaminhadas para upcycling. Esta situação é muito comum no setor da construção civil.

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Criação de Emprego Atividades de reutilização, reparação e upcycling requerem um trabalho mais intensivo do que a incineração ou o recurso a aterro, e é por isso que gerem mais emprego do que a gestão convencional do desperdício. Isto poderia ser entendido como uma desvantagem devido aos altos custos inerentes OU como uma vantagem, porque é necessário criar postos de trabalho e empregos ao nível local, na nossa economia. Para garantir viabilidade financeira, as atividades de reutilização, reparação e upcycling deveriam usufruir de benefícios fiscais por se tratarem de ações sustentáveis que necessitam ser promovidas numa economia circular. No futuro, a maior parte do trabalho básico de reparação (como por exemplo: remover pregos das madeiras, descoser têxteis, etc.) e da manutenção comum do armazém (público) podem vir a ser funções atribuídas a pessoas com perfis sociais fragilizados (população pouco qualificada ou em reinserção). Existem diversos exemplos por todo o mundo de tal modelo de empreendedorismo social (ver caixa abaixo sobre ‘National Community Wood Recycling Project’, no Reino Unido). O potencial de geração de emprego do setor da reutilização está bem documentado por organizações como o RREUSE10 (The Reuse and Recycling EU Social Enterprises network) Assim, este setor tem a característica de fornecer empregos e formação para todos os níveis de competências possíveis, seja na área manual ou intelectual. O European Environment Bureau11 (EEB) considera que até 300.000 empregos poderiam ser criados na Europa no setor da reutilização, se os governos afixarem metas ambiciosas, como por exemplo a obrigação de reutilizar 1% dos resíduos sólidos urbanos (RSU). As estatísticas do RREUSE confirmam esta tendência, mostrando que os centros de reutilização criam em média entre 70 e 80 empregos por 1000 toneladas de materiais recolhidos e reutilizados. A fase de implementação do Bazar Circular vai gerar (diretamente) cerca de 3000 horas de trabalho altamente qualificado (equivalente a 8 postos de trabalho full-time). Os projetos de reutilização criativa de que o Bazar Circular será curador poderão gerar um número de horas trabalhadas semelhante ou superior. Mas mesmo sendo a reutilização uma fileira sorvedora de mão de obra (como o gráfico documenta), a conversão de toneladas de resíduos em empregos perenes depende da existência de um mercado para os produtos oriundos da reutilização capaz de absorver essas quantidades nos seus processos produtivos. Essa maturidade do mercado não se atinge em 10 meses, mas o Bazar Circular constrói os alicerces para tal.

10Fonte: http://www.rreuse.org/wp-content/uploads/Final-briefing-on-reuse-jobs-website-2.pdf 11Fonte: http://eeb.org/work-areas/resource-efficiency/waste-recycling/

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Impactos Sociais Indicadores (nota: para monitorização de progresso apenas, não medem impacto)

● Número de pessoas expostas ao projeto (visitantes do site, seguidores no facebook e outras redes sociais)

● Número de participantes nos cursos e eventos (Visitas do Bazar) As atividades do Bazar Circular nestes primeiros 10 meses (e ao longo de toda a sua existência) terão uma série de impactos intangíveis, de natureza social e cultural, que aqui tentamos descrever. Formação, inspiração, conhecimento e cultura ambiental

- Prevemos que os cursos de design circular formem e inspirem diretamente 45 participantes. De destacar que estes cursos serão promovidos sobretudo junto de PMEs, no sentido de levar o conceito e as técnicas de reutilização criativa para além do pequeno nicho de artesãos e fazedores, até ao tecido empresarial da região.

- As “Visitas do Bazar” envolverão diretamente uma centena de pessoas e indiretamente uma larga fatia da comunidade de designers da região de Lisboa.

- As atividades de comunicação abaixo descritas (G) permitirão aumentar o grau de conhecimento, inspiração e sensibilização de alguns milhares de cidadãos, no sentido de reconverter o conceito de “lixo” e estabelecer os resíduos como um recurso valioso que não pode ser desperdiçado, disso dependendo a preservação dos recursos naturais do nosso planeta.

Fortalecimento de redes e ecossistemas As atividades do Bazar Circular, ao oferecerem recursos, visibilidade, reconhecimento, oportunidades e experiências colaborativas aos upcyclers, estão a criar comunidade e sinergias.

Case Study Reutilização de Madeira e Upcycling no Reino Unido: Combinação de Objetivos Ambientais e Sociais

O projeto nacional de reciclagem de madeira comunitário (NCWRP - National Community Wood Recycling Project) foi fundado em 2003 com o propósito de estabelecer um rede nacional de empresas sociais de reciclagem de madeira. Esta organização tem dois objetivos principais: salvar a madeira da incineração e do aterro e criar empregos sobretudo para pessoas locais que podem ser marginalizadas pelo mercado de trabalho. Em 2016, 660 desempregados locais trabalharam voluntariamente na organização. Em troca do seu tempo, beneficiaram de 17.000 dias de formação profissional, experiência profissional e apoio para encontrar um emprego dentro da rede já criada. Para além do desenvolvimento da sua confiança e autoestima, eles adquiriram uma variedade de competências úteis e transferíveis, o que permitiu a muitos deles encontrar um emprego permanente dentro da rede ou numa profissão similar. Desde 2011, a NCWRP é completamente autosuficiente em termos financeiros. Em 2017, no âmbito do concurso UK Social Enterprise Awards, a organização foi uma das escolhidas na categoria de Empresa Social/Ambiental.

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O funcionamento em rede é um elemento de vitalidade setorial. Esperamos um crescimento do número de praticantes da reutilização criativa, sua profissionalização e aumento da escala das suas atividades. Revelação e desenvolvimento de talentos e salvaguarda do património O Bazar Circular faz apelo à criatividade, sendo esta uma estratégia fundamental na missão geral de poupar recursos. Tendo estes recursos muitas vezes uma história, as soluções criativas do Bazar Circular permitem conservá-las e valorizá-las. Espaços de vida com história e arte albergam sociedades mais ricas, em todos os sentidos. v. Impactos Esperados Para os Utilizadores/Mercado e para as Empresas/Entidades Envolvidas Propostas de valor do Bazar Circular para os fornecedores:

● Tornar os resíduos em fontes de rendimento (poupança comparado com a gestão de resíduos convencional);

● Poupança de tempo (não é necessário procurar compradores); ● Oportunidades para se criarem parcerias simbióticas; ● Evitar preocupações com a burocracia; ● Soluções de logística; ● Demarcação, através do reforço da política de sustentabilidade e sua comunicação ● Avaliação de atividades e fluxos de materiais, identificar e implementar soluções para

evitar desperdício (serviços adicionais); ● Sensibilização de colaboradores (serviços adicionais).

As propostas de valor que o Bazar Circular oferece aos utilizadores (upcycling) são:

● Materiais de alta qualidade e a preços acessíveis que são fornecidos localmente e de forma sustentável;

● Informação sobre as especificações dos materiais (correspondendo às suas necessidades);

● Economia de tempo (não é necessário procurar fornecedores); ● Evitar preocupações com a burocracia ● Oportunidades para se criarem parcerias simbióticas; ● Análise do upcycling: avaliar o impacto ambiental; ● Soluções de logística; ● Marketing & promoção12; ● Conhecimento, inspiração e ferramentas (através do curso de Design Circular). ● Rede de respigadores profissionais (trocar experiências, fomentar colaboração) ● Aconselhamento & apoio técnico (serviços adicionais); ● (Economia de custo comprando com materiais virgens).

12As iniciativas de upcycling são, muitas vezes, pequenos negócios geridos por pessoas que não têm tempo para investir em marketing e promoção. O trabalho do Bazar Circular contribui para a promoção dos produtos deles e para ajudá-los a ligarem-se com lojas online. O Bazar Circular quer ser um agente de melhoria da imagem atualmente associada à prática da upcycling, projetando uma marca contemporânea e apetecível.

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Benefícios para as Empresas/Entidades Envolvidas O Bazar Circular traz benefícios evidentes a todos os parceiros do consórcio:

- A CEP, enquanto organização vocacionada para a prevenção do desperdício e implementação de processos de economia circular, veria ampliados os seus impactos, a sua credibilidade institucional (potenciando o crescimento dos seus demais projetos e serviços) e a sua experiência;

- Para o Depois os projetos de upcycling representam uma oportunidade valiosa de desenvolvimento de competências em ecodesign e transformação de materiais;

- A Ecospol, ambicionando oferecer soluções não-convencionais de gestão de resíduos e a diferenciar-se de outras entidades similares, aprofunda competências para tal;

- Para o LNEG, este projeto é mais uma oportunidade de aplicar na prática a investigação, metodologias e ferramentas que tem desenvolvido para apoiar as empresas, designers e outros na transição para uma economia circular

- Os Superuse Studios, pioneiros na arquitetura da reutilização, têm ativamente promovido o conceito no estrangeiro: Viena, Paris, Shenzhen (China) e Christchurch (Nova Zelândia) implementaram ou preparam-se para implementar a plataforma online desenvolvida pelo estúdio. Esta expansão, que passa agora por Lisboa, faz parte da sua estratégia de promoção da economia circular.

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F. Listagem das Medidas de Projeção e Multiplicação i. Estratégia de Comunicação Os 10 meses de implementação do Bazar Circular serão acompanhados por uma estratégia de comunicação intensa, uma vez que a obtenção de resultados relevantes está indexada ao envolvimento de diferentes grupos que é preciso cativar, e que uma das vertentes de resultado se prende com o valor demonstrativo, inspirador e de ampliação de conhecimento patente no projeto. Assim, foi elaborado um plano de comunicação com várias dimensões, englobando as diferentes audiências, canais, timing e objetivos. 1) Instrumentos de Comunicação Website

● Informação geral sobre os benefícios de reutilização, exemplos de upcycling e princípios de design circular.

● Blog atualizado sobre evolução do projeto ● Informação sobre a entidade promotora, parceiros e governança; ● Nota: a presença online será complementada com uma página Facebook (promovendo-se

aqui uma maior interatividade com o público). Brochura digital Disponível para descarregamento no site, para envio por email ou para impressão sempre que relevante, para uso em eventos. Destinada a público especializado: empresas e entidades produtoras de desperdícios, empresas e entidades transformadoras, stakeholders em geral. Duas versões a desenvolver:

● Versão 1 a produzir no final da fase preparatória (mês 2), para apresentação dos objetivos e aspetos básicos do funcionamento do projeto;

● Versão 2 a produzir após final da fase de implementação, com os aspetos básicos do funcionamento do projeto (revistos), principais resultados e objetivos de longo prazo.

2) Disseminação Alargada O Bazar Circular quer comunicar com os cidadãos e consumidores, não apenas com o público restrito das indústrias criativas. Por isso organizaremos pequenas discussões públicas, como a que já realizámos a 27 de Outubro deste ano na Biblioteca de São Lázaro. De realçar que este evento foi coberto pela TSF (presença de um membro da CEP no estúdio das Manhãs da TSF a 27 de Outubro 2017) e pelo site “O Corvo”13. Continuaremos a comunicar com os media ao longo dos 10 meses de implementação, com o apoio dos instrumentos de comunicação mencionados. Evento Final

13http://ocorvo.pt/um-bazar-circular-para-lisboa-como-criar-uma-plataforma-para-reutilizar-o-nosso-lixo/

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O evento de encerramento da fase de implementação deverá servir de trampolim para a continuidade do projeto, sendo ponto de convergência de todos os resultados a nível de projetos de reutilização, protótipos de produtos integrando matérias-primas secundárias, redes de pessoas e entidades, conhecimento reunido e produzido, comunidades envolvidas. Este evento, que operacionalizará, entre outras coisas, uma pop-up store de produtos oriundos da reutilização criativa, merecerá um plano de comunicação específico que pode passar pela realização de instrumentos de comunicação próprios (como uma mini-exposição sobre o projeto, cujos suportes físicos serão, naturalmente, feitos de matérias-primas secundárias). Crowdfunding O Bazar Circular poderá lançar uma campanha de crowdfunding (através da plataforma Boa Boa) para financiar um projeto de upcycling. Estamos aqui dependentes do surgimento de um projeto que se adeque à dinâmica do crowdfunding. Mesmo na eventualidade de não se alcançar o financiamento desejado, este tipo de campanha funciona muito bem em termos de comunicação e envolvimento do público. ii. Grupos de Interesse Adicionais para Ampliar os Benefícios Associados ao Projeto

Câmara Municipal de Lisboa /Juntas de Freguesia: as autarquias poderão fazer crescer os benefícios do Bazar Circular, permitindo-lhe ampliar a escala e atividades (por exemplo cedendo espaço para instalação de armazém de matérias-primas secundárias, co-financiando atividades e utilizando os serviços do BC no âmbito da política de compras públicas ecológicas). A CEP está em contacto com a CML (três reuniões com o Dep. de Higiene Urbana foram já realizadas), e as duas entidades estão a formalizar um protocolo de parceria. APRUPP: o setor da construção e demolição é uma importante fonte de recursos secundários. Com a sua intervenção em questões de reabilitação urbana e com o projeto do Repositório de Materiais (catálogo de materiais de construção usados), a APRUPP, com a qual a CEP está em contacto, pode vir a ser um parceiro importante na ampliação e disseminação da prática da reutilização de RCD no âmbito de operações de reabilitação. Blindesign: projeto que alia design e impacto social, a Blindesign pode contribuir para aprofundar os impactos sociais do Bazar Circular, para além de trazer a sua experiência demonstrada na transformação de certos desperdícios (p.ex. tetra-bricks). Zero Waste Lab: em fase de desenvolvimento, vai atuar na área dos plásticos (prevenção e soluções). ADAO (Associação para o Desenvolvimento das Artes e Ofícios): a equipa por detrás deste projeto, que reabilitou um antigo quartel dos bombeiros no Barreiro, já demonstrou interesse no Bazar Circular. A ADAO pode tornar-se pólo de transformação de materiais (dispõe de oficina), espaço de showcase e até armazém. Instituições de Solidariedade Social (ex: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa): possibilidade de colaboração na área da reinserção pelo trabalho, terapia ocupacional, envelhecimento ativo (atividades de preparação dos materiais secundários); promoção da reutilização no âmbito da

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reabilitação do património imobiliário da Santa Casa; cedência de espaço(s) de armazenagem, gerando maior capacidade de desviar materiais secundários da incineração ou aterro. Cluster Habitat Sustentável (entre outras associações setoriais): agregando diferentes atores na área dos materiais de construção, pode ser um vetor de difusão de conhecimento e de identificação de fontes e potenciais utilizadores de desperdícios à escala (semi)industrial. Entidades/empresas gestoras de resíduos (ex: Suma): uma potencial colaboração com estas entidades será objeto de estudo, no sentido da aplicação de certas práticas e processos a nível industrial, fazendo uso das suas grandes capacidades logísticas e de processamento de volumes.

iii. Descrição da Estratégia de Comercialização Entendemos que a estratégia de comercialização para os serviços do Bazar Circular (intermediação + conceção e realização integral de projetos de reutilização + formação) passa em grande medida pelas ações/instrumentos de comunicação acima listados, acrescentando-se ainda as seguintes estratégias: Parcerias Parcerias estruturais com grandes organizações são importantes para assegurar a oferta (e procura) dos recursos. Por exemplo, a Faculdade de Belas Artes de Lisboa, IADE, ETIC, FIL, CENFIM, museus, entre outros. Exemplo de um acordo a longo prazo com uma entidade não comercial: o Bazar Circular poderia, por exemplo, criar uma parceria com um museu como o MAAT (Museu de Arquitectura, Arte e Tecnologia). Isto significa que há por parte desta entidade a intenção de reutilizar alguns dos materiais por ela mesma desperdiçados. Colaborar com o Bazar Circular seria uma forma de conseguir atingir esse objetivo. Basicamente, a nossa equipa realiza uma análise do material inerente ao funcionamento do museu, de modo a identificar recursos com um potencial interessante (por exemplo, telas gráficas de exposições passadas). De acordo com o resultado obtido, o Bazar Circular entrará então em contacto com iniciativas de upcycling que poderiam dar uso a tais materiais com vista a criar produtos inovadores. O Bazar Circular propõe-se facilitar este processo durante 10 meses. Em troca, o MAAT doará 500 EUR (ou mais) ao projeto. Ativação de Redes O BC fará uso das redes relevantes existentes. Para identificar e contatar designers e “makers” interessados em comprar recursos secundários, será utilizada a Rede de Artes e Ofícios, website que lista uma série de oficinas e artesãos em Lisboa, com o propósito de dar visibilidade a estes profissionais. Está em preparação a Rede de Construtores de Lisboa, que pretende fazer um trabalho semelhante de mapeamento para empreiteiros, com o objetivo último de contribuir para uma melhoria geral da qualidade das intervenções de construção e reabilitação na cidade. Estas e outras redes serão devidamente ativadas enquanto canais de marketing. Visitas do Bazar As Visitas do Bazar são um instrumento de promoção da procura dos serviços do Bazar Circular. Consistem em apresentações do projeto, realizadas em locais estratégicos (oficinas criativas

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como o FabLab ou Fábrica Moderna; mercados; eventos), por forma a chegar a um máximo de utilizadores potenciais. Serão organizadas 5 visitas durante a fase de implementação. Showcase Durante o evento final, iremos organizar uma loja pop-up para mostrar os projetos e produtos das iniciativas de upcycling pertencentes à rede. Em 2019 seria desejável abrir uma concept store mais permanente (em parceria com a CML no Hub Criativo do Beato), na qual se poderá apresentar amostras de recursos secundários a compradores interessados.

iv. Aferição da Necessidade de Gestão de Conhecimento A base de dados reunirá informação sobre fontes de matérias-primas secundárias na região de Lisboa, com características detalhadas sobre os materiais e sua localização; e listará profissionais e empresas com (potencial) capacidade para absorver matérias-primas secundárias. Será uma ferramenta essencial na atividade de intermediação e alimentará a (eventual) futura plataforma online. Pretende-se também recolher e organizar a informação sobre matérias-primas secundárias e potenciais usos, junto de instituições académicas e projetos piloto internacionais. Investiremos no desenvolvimento de conhecimento, metodologia e ferramentas (ex: Upcycling Relevance Indicator e Environmental Impact Calculator dos nossos parceiros Superuse Studios). Durante o projeto piloto, serão objeto de análise:

- a comparação económica e financeira meticulosa entre reutilização de materiais e as alternativas tradicionais para as empresas;

- a investigação de possíveis incentivos fiscais para as empresas no âmbito da economia circular;

- a identificação de aplicações comerciais para cada tipo de material antes da sua inclusão no nosso enquadramento.

v. Identificação de Barreiras Regulatórias Apesar das orientações europeias e nacionais irem no sentido de recuperar e reutilizar todos os materiais com valor sempre que seja possível, a lei nacional ainda não está adaptada a essas mudanças. As soluções existentes na legislação e que incorporam algumas preocupações com a inclusão dos conceitos de economia circular, estão muito dirigidas ao sector industrial quer seja através do conceito de subproduto mas também do fim do estatuto de resíduos. Contudo existe pouca clareza quando se fala na reutilização de matérias primas secundárias e reaproveitamento de produtos. A legislação nacional (Decreto-Lei nº 73/2011), limita o conceito de reutilização a “uma operação mediante a qual produtos ou componentes que não sejam resíduos são utilizados novamente para o mesmo fim para que foram concebidos” quando na verdade os produtos podem ser usados para outro fim, como é o caso dos vários exemplos que foram apresentados e que são a essência do Bazar Circular. Esta limitação do que pode ser a reutilização acaba por ser uma barreira ao aproveitamento de materiais, e que foi constatada nas visitas exploratórias realizadas a diversos upcyclers.

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Assim consideramos que seria importante alargar o conceito da reutilização, aproximando-se da definição que anteriormente existia (decreto-lei 178/2006, de 5 de Setembro), que definia reutilização como sendo a “reintrodução, sem alterações significativas, de substâncias, objectos ou produtos nos circuitos de produção ou de consumo de forma a evitar a produção de resíduos”. Seria importante clarificar que a reutilização não está abrangida pela legislação de resíduos exatamente porque falamos sempre de produtos. Nesta situação também o transporte seria facilitado, uma vez que estaríamos a falar de produtos e não de resíduos, podendo ser transportados pelos próprios utilizadores. Os materiais indesejados só se tornam desperdícios quando o proprietário não pretende utilizá-los e planeia descartá-los (veja a definição na Directiva-Quadro de resíduos). O que é crucial aqui é a intenção do proprietário. Enquanto o proprietário quiser manter os materiais em uso, eles não são considerados resíduos. Com base nessa noção, o Bazar Circular chegará a um acordo com o proprietário uma vez que foi encontrada um propósito adequado para aquele material e por isso foi identificado como um recurso secundário. Ao seguir um protocolo rigoroso (evitando riscos ambientais e de saúde) e através de contrato com ambas as partes, em que são detalhadas todas as especificações relevantes, o Bazar Circular pode garantir uma reutilização segura e sustentável, permanecendo fora do regime legal de gestão de resíduos

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G. Colaboração

● A entidade promotora, Circular Economy Portugal é responsável pela gestão geral do projeto, coordenação dos Recursos Humanos, desenvolvimento económico e administração financeira, promoção da marca & marketing, prospecção e intermediação, interação com os stakeholders e comunicação exterior, desenvolvimento da base de dados, Resource Scan Marvila e orientação aos projetos de upcycling.

● Como parceiro criativo, a Depois, será responsável pelo design e desenvolvimento dos projetos de upcycling, prospecção e intermediação e organização de atividades como as Visitas do Bazar Circular e eventos públicos. Irão também apoiar no Resource Scan de Marvila e a desenvolver a base de dados.

● Como especialistas em desperdício, a Ecospol vai apoiar na recolha e prospecção do lado da oferta, nos regulamentos relativos ao desperdício e na monitorização e recolha de dados.

● Como entidade do sistema científico e tecnológico com competências na área, o LNEG será responsável pelo conteúdo dos cursos de Design Circular e pela avaliação semi-quantitativa dos impactos ambientais no ciclo de vida.

● Como especialistas em upcycling, os Superuse Studios tem como papel a consultoria sobre design, projetos de upcycling e a plataforma, quando requerido.

A CEP é responsável pela gestão geral do projeto e coordenação em estreita colaboração com a Depois. Estas duas entidades realizarão encontros, pelo menos quinzenalmente para discutirem questões gerais do projeto. Os outros parceiros serão consultados regularmente acerca de decisões de estratégia importantes (pelo menos uma vez por mês). A colaboração entre as diferentes partes será formalizada num protocolo (memorando de entendimento) antes do início da primeiro fase.

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Cronograma do projeto por mês

Metas e Resultados Intermédias Responsável 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

FASE 1: Prepara-ção FASE 2: Arran-

que FASE 3: Opera-ção FASE 3: Opera-

ção FASE 5: Evento Final

Base de dados de materiais secundários CEP & Ecospol Criar parcerias estruturais com instituições externas CEP & Depois

Estratégia de comunicação e marketing CEP brochura, presen-tação etc. lançamento website

Desenvolver Projetos de Upcycling CEP & Depois diagnóstico HCB encontrar clientes manufactura manufactura manufactura

Visitas do Bazar Circular Depois Ações de intermediação (ligação oferta-pro-cura) CEP, Dep. & Ecos. Circular Design Workshops LNEG Superuse Workshop Superuse

Desenvolver plataforma online (versão beta) CEP

Evento publico (com pop-up store) CEP & Depois Avaliação e relatório final Consortio inteiro

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H. Investimento O Relatório de Viabilidade contém todas as análises financeiras efetuadas, a partir das quais importa aqui realçar o seguinte: O orçamento é bastante modesto durante a fase piloto do projeto (87.736 euros), pois estimamos ter poucas despesas materiais e não estamos a considerar investir num espaço físico. As contratações de serviços de terceiros, compra de materiais e transporte serão transações realizadas diretamente entre os fornecedores e os clientes. Essa fase de desenvolvimento requer esforços que ainda não podem ser rentabilizados. Apesar de já contarmos com modelos de remuneração para os serviços que iremos oferecer, os fluxos de receita são limitados durante os primeiros dez meses, tendo em conta que estamos a penetrar num mercado novo. As receitas ainda não garantem a viabilidade interna do projeto nessa fase, sendo necessárias outras fontes de financiamento. De acordo com a análise, as receitas previstas cobrirão 30% dos custos. O resultado operacional bruto é negativo em 48.843,86 euros. A necessidade de financiamento corresponde ao valor do fluxo de caixa do projeto, negativo em 69.354,75 euros. Para financiar o fluxo de caixa negativo, contamos com uma estratégia de co-financiamento. Trabalhamos com dois cenários: o primeiro é menos diversificado (Ajudas e Subsídios cobrem grande parte do co-financiamento). O segundo cenário, mais diversificado, mostra alternativas que podem ser adotadas caso o acesso a Ajudas e Subsídios seja mais limitado. Cenário 1 Dependemos em grande medida das ajudas públicas para catapultar o projeto e para ser possível investir o tempo e o esforço necessários para trabalhar, testar e validar diversas hipóteses. Neste cenário, para além das Ajudas e Subsídios (74% do co-financiamento), contamos com capital próprio para garantir 20% do resultado negativo.

Cenário 2 Este cenário prevê um acesso mais limitado a ajudas públicas e um esforço de diversificação das fontes de financiamento (Superuse, CML, entidades privadas e uma campanha de crowdfunding.) Prevemos apoio da CML e de entidades privadas nos projetos de upcycling em que: 1) sejam beneficiadas diretamente pela missão do projeto; 2) estejam interessadas em posicionar-se como

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ambientalmente responsáveis (estratégia de responsabilidade social). Como por exemplo: entidades gestoras de resíduos como a Valorsul e a Sociedade Ponto Verde; empresas de reciclagem; grandes empresas industriais; grandes empresas com forte investimento em responsabilidade social (EDP, SONAE, Portugal Telecom).

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ANEXO I

Conteúdo Workshop Design Circular 1. Introdução O que é uma economia circular e os principais princípios:

- Ciclos biológicos e ciclos tecnológicos - Abordagem holística (eficiência dos recursos versus eco-eficácia) - O papel do design para a economia circular

2. Perspetiva de Ciclo de Vida Introdução ao pensamento de ciclo de vida:

- Matérias-primas e componentes - Produção e montagem - Fase de uso - Distribuição e logística - Fim de vida

Avaliação qualitativa e quantitativa do ciclo de vida

- Introdução à avaliação do ciclo de vida - Ferramentas qualitativas e quantitativas

Exercício prático: aplicação de checklists para avaliação semi-quantitativa do ciclo de vida de um produto 3. Estratégias de design para a economia circular

- Design para fecho de ciclos - Design para a conservação de recursos - Design para diversos ciclos - Prolongar a vida útil dos produtos - Design de sistemas - Novos modelos de negócio

Exercício prático: identificar oportunidades e objetivos para estratégias circulares no processo de design e produção 4. Acompanhamento

- Exercício: cada empresa deve formular um plano de ação com medidas SMART para identificar estratégias de prevenção de resíduos e recuperação de recursos secundários

- LNEG & CEP: feedback sobre a implementação de estratégias e medidas concretas