plano de acao para pcs

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GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE COMITÊ GESTOR NACIONAL DE PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEL Portaria nº 44, de 13 de fevereiro de 2008 PLANO DE AÇÃO PARA PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEIS PPCS Versão para Consulta Pública Setembro, 2010 Ministério do Meio Ambiente Ministério da Ciência e Tecnologia Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Ministério de Minas e Energia Ministério das Cidades Ministério da Fazenda Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável CEBDS Confederação Nacional da Indústria CNI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa SEBRAE Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica ABIPTI Central Sindical envolvida em atividades de gestão ambiental, produção mais limpa e desenvolvimento sustentável Fundação Getúlio Vargas FGV Instituto Ethos Confederação Nacional do Comércio CNC Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor IDEC Compromisso Empresarial para Reciclagem CEMPRE

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Plano de ação para produção e consumo sustentáveis

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  • GOVERNO FEDERAL

    MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE COMIT GESTOR NACIONAL DE PRODUO E CONSUMO

    SUSTENTVEL Portaria n 44, de 13 de fevereiro de 2008

    PLANO DE AO PARA PRODUO E CONSUMO SUSTENTVEIS

    PPCS

    Verso para Consulta Pblica Setembro, 2010

    Ministrio do Meio Ambiente Ministrio da Cincia e Tecnologia Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior Ministrio de Minas e Energia Ministrio das Cidades Ministrio da Fazenda Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social BNDES Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel CEBDS Confederao Nacional da Indstria CNI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI Servio de Apoio a Micro e Pequena Empresa SEBRAE Associao Brasileira das Instituies de Pesquisa Tecnolgica ABIPTI Central Sindical envolvida em atividades de gesto ambiental, produo mais limpa e desenvolvimento sustentvel Fundao Getlio Vargas FGV Instituto Ethos Confederao Nacional do Comrcio CNC Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor IDEC Compromisso Empresarial para Reciclagem CEMPRE

  • 2

    PLANO DE AO PARA PRODUO E CONSUMO SUSTENTVEIS

    APRESENTAO ...............................................................................................................4

    SUMRIO EXECUTIVO.......................................................................................................8

    INTRODUO.....................................................................................................................9

    1. HISTRICO E CONTEXTUALIZAO ........................................................................15

    1.1 Conexes entre Agenda 21, P+L e PCS.........................................................16

    1.2 O conceito de P+L............................................................................................17

    1.3 O conceito de PCS...........................................................................................18

    1.4. O Processo de Marrakech..............................................................................19

    1.5 A Poltica de Produo e Consumo do MERCOSUL ....................................21

    1.6 Avanos do Brasil em Produo e Consumo Sustentveis ........................22

    2. O PROCESSO DE ELABORAO DO PLANO DE AO PARA PRODUO

    E CONSUMO SUSTENTVEIS PPCS................................................................ 27

    2.1 A criao do Comit Gestor .......................................................................... 27

    2.2 A primeira verso do Plano............................................................................ 29

    2.3 Conexes com o PNMC.................................................................................. 29

    2.4 Conexes com a PDP...................................................................................... 31

    2.5 Conexes com a PNRS .................................................................................. 32

    2.6 Etapas cumpridas e previstas no processo de elaborao do PPCS........ 36

    3. OBJETIVOS, DIRETRIZES E PRIORIDADES DO PPCS............................................ 37

    3.1 Objetivos do PPCS ........................................................................................ 38

    3.2 Diretrizes para a proposio de aes no mbito do PPCS....................... 38

    3.3 As prioridades do PPCS ............................................................................... 41

    4. DETALHAMENTO DAS PRIORIDADES SELECIONADAS PELO GOVERNO BRASILEIRO (PLANO DE AO PARA TRS ANOS) ................................................. 43

    4.1 Educao para o consumo sustentvel........................................................ 43

    4.2 Compras pblicas sustentveis ................................................................... 49

    4.3 Agenda Ambiental na Administrao Pblica/A3P ..................................... 52

    4.4 Aumento da reciclagem de resduos slidos .............................................. 56

    4.5 Promoo de iniciativas de PCS em construo sustentvel.................... 64

    4.6 Varejo e consumo sustentveis.................................................................... 68

    5. ESTRATGIAS E MECANISMOS DE IMPLEMENTAO DO PPCS ....................... 73

    5.1 Mecanismos Institucionais ........................................................................... 74

  • 3

    5.1.1 Comit Gestor de Produo e Consumo Sustentvel ............................. 74

    5.1.2 Consulta Pblica ......................................................................................... 74

    5.1.3 Dilogos Setoriais ...................................................................................... 74

    5.1.4 Frum Anual do PPCS ................................................................................ 74

    5.1.5 Rede PyCS: Rede de Produo e Consumo Sustentveis ...................... 74

    5.1.6 Cooperao Tcnica dentro e fora do Pas................................................ 75

    5.1.6.1 Cooperao PNUMA-BRASIL .................................................................. 75

    5.1.6.2 Programa ECONORMAS MERCOSUL ................................................ 76

    5.2 Tipologia de Aes Contempladas no PPCS .............................................. 77

    5.2.1 Aes Governamentais ............................................................................... 77

    5.2.2 Aes de Parceria ........................................................................................ 77

    5.2.3 Iniciativas Voluntrias.................................................................................. 78

    5.2.4 Acordos e Pactos Setoriais ........................................................................ 78

    5.2.5 Foras-Tarefa ............................................................................................... 78

    6. MECANISMOS DE MONITORAMENTO ...................................................................... 81

    6.1 Plano de Monitoramento ........................................................................................... 82

    7. RELAO DE ACRNIMOS........................................................................................ 83

    8. NOTAS DE REFERNCIA ........................................................................................... 85

    9. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................ 86

    ANEXO I - Metodologia da Consulta Pblica................................................................. 87

    ANEXO II Orientaes para obteno, preenchimento e envio do formulrio da Consulta Pblica.............................................................................................................. 89

    ANEXO III Formulrio de contribuies ..................................................................... 91

  • 4

    APRESENTAO

    Sem uma produo mais limpa e um consumo mais responsvel, impossvel

    progredir rumo a uma economia de baixo carbono, rumo a uma economia mais

    sustentvel. Sem um esforo considervel para alterar os atuais padres de produo e

    consumo no realista almejar uma sociedade mais justa e mais responsvel do ponto

    de vista do uso dos recursos naturais, no horizonte de tempo apontado pelas urgncias

    que os relatrios sobre aquecimento global estabelecem.

    O Brasil vem tomando iniciativas robustas em ambos os plos do mesmo

    problema, editando nos ltimos anos dezenas de instrumentos legais como a Lei Nacional

    de Recursos Hdricos, em 1998, o Sistema Nacional de Unidades de Conservao, de

    2002, a estruturao do prprio SISNAMA, a Poltica Nacional de Educao Ambiental, de

    1999, e outras, que buscam oferecer parmetros e amparo legal para novos e mais

    ousados passos.

    Recentemente, a Poltica Nacional sobre Mudana do Clima, de 2009, e a Poltica

    Nacional de Resduos Slidos, em 2010, colocaram outros dois importantes pilares no

    conjunto de polticas brasileiras que visam orientar cada vez mais a nossa economia e a

    nossa sociedade para o desenvolvimento sustentvel. De um lado, aumentou-se o

    arcabouo legal que multiplicam os mecanismos de comando e controle, que levam

    conformidade ambiental cada vez mais exigente, de outro, proliferam os chamados

    mecanismos voluntrios, como os relatrios de sustentabilidade sob a gide do Global

    Report Initiative, GRI, e do Greenhouse Protocol. Diminuir a emisso dos gases do efeito

    estufa e tratar adequadamente os resduos gerados em todo o ciclo de manufatura de

    bens e servios , sem dvida, dar concretude a uma forte aspirao por mais

    sustentabilidade.

    Por isso, nada mais natural e promissor do que o presente Plano de Produo e

    Consumo Sustentveis, que ora apresentamos sociedade brasileira para sua

    apreciao. Elaborar o Plano foi mais do que cumprir um importante acordo ou obrigao

    que o Brasil assumiu junto s Naes Unidas em 2002 ao aderir ao Processo de

    Marrakech. Foi tambm um ato revolucionrio em muitos aspectos, pois desde sempre os

    atores que discutem a produo mais limpa no so os mesmos atores que buscam

  • 5

    aumentar a conscincia do consumidor em relao ao impacto ambiental e social e suas

    escolhas.

    O Plano pode parecer modesto a muitos, mas realista e absolutamente

    exeqvel, oferecendo a todos ns, segmento governamental e no governamental,

    incluindo o setor produtivo, a oportunidade de aprendermos juntos e a cumprirmos metas

    que sero benficas a toda a sociedade. Ele apresenta um leque de seis prioridades,

    entre muitas que caberiam no escopo de um conjunto de aes direcionadas s

    mudanas de padro tanto na produo quanto no consumo. So elas:

    aumento da reciclagem;

    educao para o consumo sustentvel;

    agenda ambiental na administrao pblica;

    compras pblicas sustentveis;

    construes sustentveis;

    varejo e consumo sustentveis.

    Ao selecionar tais prioridades, buscamos privilegiar aes convergentes com os

    objetivos centrais do Plano, responsabilidades e recursos definidos. Tambm

    consideramos o momento atual e a capacidade de implementao dos diversos atores

    envolvidos. Para as temticas igualmente importantes, mas ainda no maduras o

    suficiente para serem inseridas como prioridade, nossa inteno inclu-las mais frente,

    apontando desde j outros mecanismos.

    Participao. Em essncia, este no um plano governamental, ou do Ministrio

    do Meio Ambiente, uma vez que no se estrutura somente em aes governamentais.

    um plano que abriga e agrega tambm aes importantes do setor produtivo e da

    sociedade civil, valorizando esforos que tm por base o bem pblico, o princpio da

    parceria e da responsabilidade compartilhada.

    Nos anima e fortalece o Plano atual a recente aprovao e sano pelo Presidente

    da Repblica da Poltica Nacional dos Resduos Slidos. Ela embasa, sob muitos

    aspectos, as definies conceituais e os instrumentos legais, assim como o delineamento

    de incentivos para que o Plano ganhe adeso e consistncia.

    Fora da rea estritamente ambiental, tambm se observa um dinamismo que pode

    favorecer tremendamente os objetivos do Plano. O Brasil tem metas de crescimento entre

  • 6

    cinco e sete por cento ao ano, mas quer qualidade nesse crescimento. Todos os

    documentos oficiais das principais polticas brasileiras reconhecem a necessidade de

    compatibilizar o desenvolvimento econmico com a conservao dos recursos naturais. E

    de sermos competitivos na disputa dos mercados internacionais. A diferenciao

    ambiental, como selos e certificaes so sem dvida fatores que podem aumentar a

    competitividade de bens e servios produzidos ou prestados por nosso Pas.

    Milhes de pessoas que no estavam includas no mercado, nos anos recentes

    passaram a consumir, como mostram os estudos realizados pelo IBGE e instituies

    congneres. Alm disso, avoluma-se a discusso em torno das cidades sustentveis,

    obrigando-nos a olhar para a realidade urbana de modo diferente daquele dos anos 60 e

    70, quando a problemtica era a exploso populacional e o aparecimento das favelas.

    O Plano de Produo e Consumo Sustentveis, em muitas dimenses, contribui

    para o debate das cidades sustentveis, ao tornar o tema da reciclagem e da disposio

    final de lixo um tema central, mas com solues de curto e mdio prazos. Tambm

    contribui com o incentivo ao retrofit e s construes com critrios ambientais.

    Alm de ter a meta de aumentar a reciclagem o que no ser possvel sem um

    considervel esforo para obter a cooperao do consumidor, portanto da populao a

    unio da PNRS com o PPCS pode estruturar uma vigorosa indstria da reciclagem no

    Brasil, gerando milhares de empregos alm de fortalecer os programas de incluso dos

    catadores.

    Resultados. O Plano de Produo e Consumo Sustentveis acima de tudo uma

    agenda positiva. Uma agenda de aes em curso ou a serem desenvolvidas no curto

    prazo, com direo e endereo conhecidos. Com resultados que sero monitorados e

    avaliados. um Plano com horizonte de trs anos, nesta primeira fase de implementao.

    Falamos do aqui e do agora. Ele tem o mrito de articular vrias iniciativas que buscam os

    mesmos objetivos e no disputa protagonismo com nenhum outro Plano, seja ele setorial

    ou no. Buscou incorporar ademais vrias das recomendaes dos setores organizados

    da sociedade que se manifestaram no mbito das trs Conferncias Nacionais de Meio

    Ambiente, realizadas pelo atual Governo, e tambm pela Conferncia Nacional de Meio

    Ambiente e Sade, realizada em 2010.

    Como todos sabem, os recursos para inverso direta por parte de um nico

    Ministrio so sempre limitados. Por isso os arranjos institucionais que se busca viabilizar

    atravs do Plano tentam mobilizar recursos de mais de uma fonte, permitindo

  • 7

    contribuies tambm do setor privado. um Plano moderno em termos conceituais,

    adequado em termos de seus propsitos e bastante ambicioso em termos dos efeitos

    benficos que pretende gerar.

    Como ministra de estado e responsvel, em ltima instncia, por mais esse esforo

    do MMA e de seus parceiros, s tenho a solicitar de todos os atores que desejem se

    somar a ns nesta empreitada, que o faam usando seus melhores recursos de

    inteligncia e generosidade.

    O perodo de consulta se estender por 45 dias, a contar da data do edital de

    publicao do Plano. Foram providenciados meios e metodologia para aproveitar ao

    mximo a contribuio de organizaes e atores relevantes nesse processo. Teremos ao

    final, espera-se, um Plano mais condizente com as aspiraes de todos.

    um Plano que ajuda a caminharmos juntos em terreno mais slido. Para

    fazermos o Brasil e o nosso povo avanar em direo a um futuro mais promissor. A

    sustentabilidade a direo para a qual apontamos nossa flecha. O Plano o nosso arco.

    Vamos, portanto, arregimentar foras para tension-lo o mais que pudermos em direo

    ao futuro. Que assim seja!

    IZABELLA TEIXEIRA

    Ministra do Ministrio do Meio Ambiente

  • 8

    SUMRIO EXECUTIVO

    A ser elaborado aps a consulta pblica

  • 9

    INTRODUO

    Existe uma tenso crescente no seio das sociedades contemporneas: de um lado,

    desejamos consumir todo tipo de produto, de bem ou servio que o mercado oferta e, de

    outro, desejamos usufruir cada vez mais de um ambiente saudvel e seguro, sem

    poluio e sem degradao ecolgica. Em outras palavras, queremos nosso conforto e

    bem-estar, mas no queremos os efeitos negativos que eles podem gerar, tais como os

    congestionamentos urbanos, lixo e doenas.

    O problema da produo e do consumo realizados em bases no sustentveis

    simples de ser entendido: no podemos extrair mais recursos naturais do que a natureza

    capaz de repor, quando se trata de recursos renovveis e no podemos extrair

    indefinidamente recursos finitos, no renovveis. Tambm no podemos descartar mais

    resduos do que a natureza capaz de assimilar. Alm disso, apesar dos avanos

    tecnolgicos, a extrao crescente de recursos no renovveis (minrios, petrleo, por

    exemplo) para atender 6,8 bilhes de pessoas, a crnica de um desastre anunciado. As

    montanhas de lixo que geramos nas chamadas sociedades dos descartveis constituem

    tambm um cenrio desolador que criamos e recriamos todos os dias.

    Toda atividade econmica gera algum tipo de impacto ambiental. Mas tanto a

    produo quanto o consumo so indispensveis para satisfazer as necessidades

    humanas. Tornaram-se problema muito recentemente na histria humana quando as

    revolues cientficas e tecnolgicas que se seguiram Revoluo Industrial aumentaram

    a capacidade dos seres humanos no s de extrair maiores quantidades de matrias

    primas e em reas do globo antes impensadas, como nos tornaram capazes de produzir

    milhares de compostos qumicos, sintticos, perigosos sade humana e resistentes aos

    processos naturais de degradao.

    O problema da produo suja ou poluidora vem sendo tratado em polticas

    pblicas desde os anos 60 e a Conferncia de Estocolmo, em 1972, realizou um

    admirvel feito ao alertar os pases sobre os efeitos nefastos da crescente poluio

    industrial e urbana e sobre a necessidade de desenvolver legislao, marcos regulatrios

    e agncias de controle ambiental.

    Consumismo. A questo do consumo, contudo, ficou negligenciada e s comeou

    a ser tratada quando a literatura sociolgica que enfoca os diversos estilos de vida

    mostrou uma tendncia cultural que rapidamente se tornou global: o consumismo.

    Enquanto o consumo definido como a satisfao das necessidades bsicas (comer,

  • 10

    vestir, morar, ter acesso sade, lazer e educao), o consumismo uma distoro

    desse padro. O ltimo relatrio do WorldWatch Institute, que desde os anos 80 publica

    dados sobre a crise ecolgica global, define consumismo como a orientao cultural que

    leva as pessoas a encontrar significado, satisfao e reconhecimento atravs daquilo que

    consomem (Estado do Mundo 2010, WorldWatch Institute). Em outras palavras, alm

    do consumo demandado por uma populao cada vez maior, estamos nos defrontando

    com um padro de consumo que est sendo globalizado e que se caracteriza por ser

    excessivo, pressionando ainda mais os recursos naturais da Terra e os servios

    ambientais hoje prestados pelos diversos ecossistemas.

    O primeiro grande alerta sobre a necessidade de se pensar o consumo em bases

    sustentveis est expresso no Documento da Agenda 21 Global espcie de roteiro para

    se alcanar a sustentabilidade debatido e divulgado durante e aps a Rio-92. No

    Documento, tanto a produo quanto o consumo mereceram captulos especficos com

    detalhamento e recomendaes para torn-los menos impactantes em termos sociais e

    ambientais.

    Mas, enquanto medidas foram tomadas para tornar a produo mais limpa e

    durante toda a dcada surgiram inmeras organizaes para promover as tecnologias

    limpas e a ecoeficincia (menor consumo de energia, de gua e de matrias primas no

    processo de produo), pouco se fez em relao ao consumo, alm de se estruturar

    servios de defesa do consumidor o que ampliou direitos mas pouco estimulou os

    deveres.

    Isso aconteceu especialmente nos chamados pases em desenvolvimento,

    incluindo o Brasil, sobretudo por se acreditar que em pases como o nosso a demanda por

    consumo de bens e servios era reprimida, e que, enfim, consumamos pouco se

    comparados a pases europeus e os Estados Unidos.

    A ideia do consumo desigual (entre os pases do Norte e do Sul) deixou de

    mobilizar os pases pobres ou as economias emergentes, como bem mostraram os dois

    relatrios da ONU (1998, 2004)i que focaram o problema do consumo. Em ambos os

    relatrios fica evidente que o estilo de vida urbano, dominante na maior parte do globo e

    tambm na Amrica Latina, repetia o padro ou a expectativa do padro de consumo

    praticado nos pases do Norte e que, mesmo em pases pobres ou emergentes, cada vez

    mais as pessoas eram levadas a consumir de maneira no sustentvel.

    Prosperidade. Recentes estudos mostram que mais do que pertinncia a uma

  • 11

    determinada classe social, os padres de renda levam as pessoas a consumir de maneira

    muito parecida, sejam elas brasileiras, chinesas ou indianas. Antes da crise econmica

    mundial de 2009, o mundo conheceu uma dcada de prosperidade econmica, e a

    expanso do crdito, associada a polticas de incluso dos pobres (um dos fortes

    objetivos do Milnioii nas suas polticas de combate pobreza) fez com que milhes de

    pessoas pudessem consumir bens e servios de toda espcie.

    O j citado Relatrio Estado do Mundo afirma que, em 2008, foram comprados 68

    milhes de veculos, 85 milhes de geladeiras, 297 milhes de computadores e 1,2

    bilhes de celulares. Segundo o mesmo relatrio, o consumo teve crescimento

    exponencial nos ltimos 50 anos, aumentando em seis vezes seu volume. E isso no se

    deu somente porque a populao mundial cresceu; os estudos mostram que os gastos

    individuais triplicaram no perodo.

    Portanto, medida que o consumo aumenta, extramos mais combustveis, mais

    minerais, derrubamos mais rvores, sobre-exploramos mais nossos rios e oceanos e

    estressamos mais os nossos solos com cultivos intensivos, alm de artificializar mais e

    maiores reas para produzir alimentos e edificar nossas cidades.

    Em 2002, na Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel, em

    Johanesburgo, quando se fez um balano da dcada, ficou patente que a questo do

    consumo no tinha evoludo na maioria dos pases. Embora se possa identificar uma srie

    de grupos militantes e organizaes que promovem o consumo frugal ou combatem o

    consumismo, a maior parte dos governos no implementou polticas pblicas robustas

    que pudessem enfrentar a problemtica. O Programa das Naes Unidas para o Meio

    Ambiente (PNUMA) juntamente com o Departamento de Assuntos Econmicos e Sociais

    das Naes Unidas (UNDESA) foram indicados como agncias lderes para promover o

    Processo de Marrakech, a fim de mudar essa situao. Marrakech, cidade do Marrocos,

    sediou a reunio que lanou o processo em 2003.

    O Processo de Marrakech visa dar aplicabilidade e expresso concreta ao conceito

    de Produo e Consumo Sustentveis (PCS). Ele solicita e estimula que cada pas

    membro das Naes Unidas e participante do programa, desenvolva seu plano de ao, o

    qual ser compartilhado com os demais pases, em nvel regional e mundial, gerando

    subsdios para a construo do Global Framework for Action on SCP iii.

    Diversas aes em mbito nacional e internacional e algumas de fato exitosas

    tm sido realizadas para promover padres de produo e consumo mais sustentveis.

  • 12

    Entretanto preciso fazer mais e ainda mais rpido, uma vez que todos os relatrios

    mundiais apontam para cenrios catastrficos com as evidncias das mudanas

    climticas e do stress ambiental acentuado da maioria dos ecossistemas terrestres.

    O Brasil assumiu junto s Naes Unidas (2002) um importante acordo ao aderir ao

    Processo de Marrakech. Em 2008, a Portaria n 44, de 13 de fevereiro instituiu o Comit

    Gestor Nacional de Produo e Consumo Sustentveis, articulando vrios ministrios e

    parceiros do setor privado e da sociedade civil, com a finalidade de realizar amplo debate

    e identificar aes que pudessem levar o Brasil, de forma planejada e monitorada, a

    buscar padres mais sustentveis de consumo e produo nos prximos anos.

    Objetivos Gerais

    Os objetivos gerais do Plano aqui apresentado, e submetido sociedade brasileira,

    sob a forma de consulta pblica, so: em primeiro lugar, fomentar no Pas um vigoroso e

    contnuo processo de ampliao de aes alinhadas ao conceito de PCS tal como se

    acha estabelecido pelo Processo de Marrakech; em segundo, integrar a iniciativa de

    disseminao de PCS ao esforo de enfrentamento das mudanas climticas, e tambm

    a outras frentes prioritrias para a sociedade brasileira, como o combate pobreza, a

    distribuio eqitativa dos benefcios do desenvolvimento, e a conservao da

    biodiversidade e dos demais recursos naturais.

    O Plano deve tambm contribuir para o conjunto de programas que dar origem ao

    documento global a ser submetido Comisso de Desenvolvimento Sustentvel (CDS) da

    Organizao das Naes Unidas (ONU) em 2011, dando assim dimenso poltica

    internacional s realizaes do Brasil. Como objetivo complementar, mas no menos

    importante, deseja-se fomentar processos de colaborao com outros pases em nvel

    regional e mundial, viabilizando o aporte de recursos de cooperao tcnica e financeira

    internacionais para implementao dos programas brasileiros ou bilaterais, facilitando o

    intercmbio de experincias e conhecimentos importantes para a construo coletiva de

    padres mais sustentveis de produo e consumo.

    O Plano de Ao para Produo e Consumo Sustentveis (PPCS) vem para

    complementar o Plano Nacional sobre Mudana do Clima (PNMC), lanado em dezembro

    de 2008, como resposta do governo brasileiro ao Quarto Relatrio do Painel

    Intergovernamental sobre Mudana do Clima (IPCC), de 2007, que alertou a comunidade

    internacional sobre o papel das atividades econmicas no aquecimento global.

  • 13

    Enquanto o PNMC volta-se principalmente para as aes governamentais e do

    setor produtivo, com foco na reduo das emisses de gases de efeito estufa, o PPCS

    enfatiza o papel do consumidor na demanda por produtos e servios mais sustentveis,

    bem como na responsabilidade individual e coletiva dos cidados brasileiros.

    Revises. O Plano apresenta-se como um instrumento que agrega novas

    possibilidades de ao e sistematiza aes j em curso. Como todo processo aberto e

    dinmico, mesmo aps encerrado o perodo de consulta, seguindo-se a sua publicao,

    estar sujeito a revises peridicas, abrindo espao para incorporar novos fundamentos,

    pressupostos e modificaes advindas da prpria experincia da implementao,

    ampliando ou retificando prioridades e metas.

    A presente verso do Plano de Ao para Produo e Consumo Sustentveis

    (PPCS) foi revisada pela equipe tcnica do MMA aps diversas reunies e debates no

    mbito do Comit Gestor de Produo e Consumo Sustentveis. Nesta reviso, na

    medida do possvel, levaram-se em conta as deliberaes pertinentes, registradas em

    quatro Conferncias Nacionais de Meio Ambiente, especialmente a terceira (2008) que

    versou sobre Mudanas Climticas, e na Conferncia Especial de Sade e Meio Ambiente

    (2009) que, pela primeira vez, reuniu trs ministrios na sua organizao MCidades,

    MMA e Ministrio da Sade, onde vrios dos temas tratados guardam estreita relao

    com os do Plano. As contribuies advindas da consulta pblica, ora em curso, sero

    incorporadas proposta de texto final do Plano, que, por sua vez, antes de ser publicado,

    dever ser validado pelo Comit Gestor.

    Espera-se que o PPCS, uma vez em vigor, torne-se instrumento de mudana e

    incentivo para o desenvolvimento de comportamentos mobilizadores, tanto por parte do

    governo quanto do setor produtivo e da sociedade civil, representando de fato um passo

    rumo ao compromisso de toda a sociedade brasileira com o desenvolvimento sustentvel.

    importante, pois, ressaltar que o atingimento dos objetivos e a garantia de

    sustentabilidade do Plano que nacional e no somente do governo brasileiro ou do

    MMA dependem fortemente do engajamento de todos os setores da sociedade, num

    esforo individual e coletivo.

    Finalmente, mudar padres de produo e consumo significa mudar hbitos,

    comportamentos, valores, enfim, mudar cultura. uma tarefa que requer engajamento,

    mas tambm cincia e esforo perseverante. Por isso o Plano buscou um patamar realista

    de interveno. Entre a utopia da sociedade sustentvel (que ainda no existe) e a

  • 14

    sociedade insustentvel (que devemos superar), buscou-se um conjunto de prioridades e

    de focos que pudessem pedagogicamente introduzir e (ou) fortalecer prticas que se

    orientam para o novo paradigma.

    O que se quer uma sociedade mais justa e ecologicamente responsvel. Este o

    objetivo maior. Economia verde, negcios sustentveis, produtos, bens e servios que

    causem o menor impacto ambiental possvel e minimizem riscos sade humana so

    parte da receita para l se chegar. Quem decide somos ns, cidados, consumidores que

    somos de bens tangveis e intangveis. Aqui e agora, somos ns, seres humanos,

    produtores de bens simblicos, capazes de projetar um mundo melhor antes de

    materializ-lo na realidade, que podemos de fato fazer da sustentabilidade um valor

    encarnado em nossos hbitos cotidianos, em nosso consumo dirio. O Plano um

    convite e uma convocao para passar da reflexo ao.

  • 15

    1. HISTRICO E CONTEXTUALIZAO

    A preocupao com questes relativas poluio e a outros problemas ambientais

    causados pelas atividades de produo e consumo surge na sociedade brasileira na

    segunda metade do sculo XX. J nos anos 60 podem ser encontrados exemplos de

    legislao e de organizaes tcnicas ou da sociedade civil preocupadas com tais

    questes. Mas a partir dos anos 80 e 90 que o ambiente industrial brasileiro passou a

    incorporar de forma mais ampla procedimentos de reciclagem, preveno de poluio e

    outras preocupaes com passivos ambientais, ainda essencialmente dentro do modelo

    de comando e controle, apoiados na regulamentao e na fiscalizao pelo Estado.

    A despeito de tais medidas, o crescimento significativo do consumo e a presso da

    demanda para o incremento da produo continuaram a provocar o aumento de todas as

    formas de resduos, assim como a explorao cada vez mais intensa dos recursos

    naturais.

    Controlar os malefcios resultantes dessa situao que implicava inclusive em

    grandes desperdcios foi se tornando um desafio cada vez mais complexo. Resduos

    slidos, efluentes lquidos ou emisses gasosas significam matrias-primas secundrias

    ou potenciais desperdiados nas etapas de produo ou descarte e que, alm de

    prejuzos econmicos, acarretam conseqncias desastrosas, muitas vezes irreparveis

    ao meio ambiente, com reflexos tambm na sade e no bem-estar da populao.

    Como conseqncia dos estmulos advindos das Conferncias de Estocolmo

    (1972) e do Rio de Janeiro (1992), foi desenvolvido um novo comportamento produtivo,

    que procura aproveitar ao mximo as matrias-primas utilizadas no processo, evitando a

    gerao dos resduos durante e aps a produo, que se designou Produo Mais Limpa

    (P+L). Por meio das metodologias e tecnologias de P+L tem sido possvel observar a

    maneira pela qual cada processo de produo pode se tornar mais limpo e mais eficiente,

    seja na economia de gua, na reduo da energia utilizada, na quantidade de matria

    prima, ou ainda na gerao intermediria ou final de resduos. Hoje os desafios esto

    tanto antes quanto aps o processo de produo, no ecodesign no prprio desenho dos

    produtos, na substituio de materiais e nas embalagens. Com uma legislao cada vez

    mais restritiva gerao de externalidades, vem aumentando a preocupao com o ps-

    consumo dos produtos, quando no tm mais vida til ou se tornaram obsoletos. Todos

    estes novos conceitos levam hoje o setor produtivo mais progressista ou mais competitivo

    a falar de anlise de ciclo completo dos produtos, ampliando significativamente os nveis

  • 16

    de interveno que buscam maior sustentabilidade na produo de bens e servios.

    No uma transio fcil nem to rpida quanto se poderia desejar. A Poltica

    Nacional de Resduos Slidos, recm-aprovada pelo Senado e sancionada pelo

    Presidente da Repblica, por exemplo, levou vinte anos tramitando no legislativo federal.

    Mas hoje ela uma realidade e inaugura um novo patamar tanto para a produo quanto

    para uma nova economia da reciclagem no Pas.

    1.1 Conexes entre a Agenda 21, P+L e PCS

    A Agenda 21 Global, em 1992, j trazia em seu Captulo 30 - Fortalecimento do

    Papel do Comrcio e da Indstria a concepo de P+L como base para ao de governos

    e empresas, inclusive transnacionais. O fortalecimento da P+L era indicado como meio

    para aumentar a eficincia da utilizao de recursos, a diminuio na produo de dejetos

    e a reutilizao e reciclagem de resduos.

    Ao mesmo tempo, o Captulo 4, Mudana dos padres de consumo, indicava a

    necessidade de Desenvolvimento de polticas e estratgias nacionais de estmulo a

    mudanas nos padres insustentveis de consumo e apontava este tema como

    transversal s questes de energia, transportes, resduos, instrumentos econmicos e

    transferncia de tecnologia, mostrando a estreita conexo entre as duas problemticas.

    Sendo um dos pases que adotou por consenso o documento global da Agenda 21

    e da Declarao do Rio, o Brasil publica em 2002 a Agenda 21 Brasileira, lanando uma

    srie de diretrizes e linhas programticas que foram parcialmente implementadas por

    meio de diversos programas nos anos seguintes. Mediante processo participativo que

    envolveu milhares de pessoas em todo o Pas em quase trs anos de consulta, a Agenda

    21 Brasileira traz como seu Objetivo n 1 a Produo e consumo sustentveis contra a

    cultura do desperdcio, enfatizando a necessidade de poupar e conservar, e de criar

    novos hbitos de consumo. Alm do engajamento das instituies e dos cidados,

    sublinha o papel da mdia na mobilizao e conscientizao da populao.

    A Agenda 21 Brasileira tambm aponta, no Objetivo n 2 - Ecoeficincia e

    responsabilidade social das empresas, a necessidade de criao de centros de P+L e da

    promoo de parcerias para a inovao e a transferncia de tecnologia; alm de

    mencionar mecanismos que s recentemente ganharam corpo no Brasil, como a

    certificao e a rotulagem.

    Tanto o PNMC (dezembro de 2008) quanto o PPCS agora lanado reforam

  • 17

    diretrizes e recomendaes da Agenda 21 Brasileira, especialmente no que diz respeito

    necessidade de se desenvolver tecnologias mais limpas e poupadoras de recursos

    naturais, conservao de energia e atribuio de valores econmicos aos recursos

    naturais. Conceitualmente, a premissa da responsabilidade compartilhada estabelece

    um lao de solidariedade tica e jurdica que envolve e engaja todos os setores da

    sociedade, quer na preveno, na mitigao ou na recuperao de ativos ambientais j

    degradados ou em estgios diferenciados de degradao. A noo de ativos ambientais

    demanda a valorao econmica dos bens ambientais e toda uma discusso do princpio

    poluidor-pagador ou do usurio-pagador, encontrando ressonncia na Lei Nacional dos

    Recursos Hdricos (1998) que at hoje considerada o marco legal mais avanado na

    gesto de um recurso natural estratgico, no caso, a gua.

    1.2 O conceito de P+L

    Em consonncia com os acordos multilaterais estabelecidos na Rio 92, o conceito

    de Produo Mais Limpa foi definido conjuntamente pela Organizao pelo

    Desenvolvimento Industrial das Naes Unidas (UNIDO) e pelo Programa de Meio

    Ambiente das Naes Unidas (PNUMA), no incio da dcada de 1990, como a aplicao

    contnua de uma estratgia ambiental preventiva integrada aos processos, produtos e

    servios com o intuito de aumentar a ecoeficincia e reduzir os riscos sade e ao meio

    ambiente.

    Ao longo da ltima dcada, o conceito de P+L foi ampliado devido s presses de

    organizaes no governamentais, dos consumidores, e tambm devido prpria

    dinmica do mercado que tornou o desempenho ambiental das empresas um fator de

    competitividade.

    Tambm contriburam para isso as crescentes preocupaes com o aquecimento

    global e outras evidncias de que o atual paradigma na produo e no consumo est

    ultrapassando os limites da capacidade de suporte do nosso planeta. Alm das variveis

    j clssicas (reduo no consumo de matrias primas, gua e energia, alm do

    tratamento dos resduos), o conceito de P+L passou a incorporar a idia de que uma

    produo mais limpa um padro que emite menos gases do efeito estufa. Uma nova

    literatura prope que a produo mais limpa a produo de baixo carbono.

  • 18

    1.3 O conceito de PCS

    A evoluo do conceito de produo mais limpa, em termos ecolgicos, levou

    rapidamente evidncia de um mercado consumidor mais receptivo mudana.

    Pesquisas de opinio internacionais, realizadas desde os anos 70 (Green Consummers)

    com consumidores, e tambm pesquisas nacionais recentes, como a pesquisa do Instituto

    Akatu (Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente?), mostram que

    cerca de 70% dos consumidores apresentam posicionamento que valoriza positivamente

    produtos, bens e servios que agregam algum benefcio social ou ambiental. Assim,

    juntamente com a ideia de reduo do consumo, surgiu a caracterizao do consumo

    responsvel. O consumo responsvel remete idia de que o consumidor detenha

    informao sobre o ciclo longo do produto: que vai desde a produo, passando pelo

    consumo e tambm pelo que ocorre no ps-consumo. Essa formulao, no to bvia a

    princpio, mostrou a necessidade de juntar as duas pontas do ciclo, pensando

    sistemicamente tanto a produo quanto o consumo como uma s linha de vida de cada

    produto ou servio.

    Nos termos do Processo de Marrakech, produo sustentvel pode ser entendida

    como sendo a incorporao, ao longo de todo o ciclo de vida de bens e servios, das

    melhores alternativas possveis para minimizar impactos ambientais e sociais. Acredita-se

    que esta abordagem reduz, prevenindo mais do que mitigando, impactos ambientais e

    minimiza riscos sade humana, gerando efeitos econmicos e sociais positivos.

    Vista numa perspectiva planetria, a produo sustentvel deve incorporar a noo

    de limites na oferta de recursos naturais e na capacidade do meio ambiente para absorver

    os impactos da ao humana. Uma produo sustentvel ser necessariamente menos

    intensiva em emisses de gases do efeito estufa e em energia e demais recursos. Uma

    produo sustentvel pensa o ciclo completo dos produtos do bero ao bero (cradle to

    cradle). A produo sustentvel procura alongar a vida til dos produtos e reaproveitar ao

    mximo possvel os insumos da reciclagem em novas cadeias produtivas.

    J o Consumo Sustentvel aquele que demanda tais produtos e servios,

    considerando como estes podem atender as necessidades humanas (alimento, abrigo,

    vesturio, lazer, mobilidade), reduzindo ao mximo os impactos ambientais em todo o

    ciclo de vida e mantendo-se dentro da capacidade de carga dos ecossistemas.

    O conceito de PCS, porm, mais que a soma das duas partes acima descritas:

    trata-se da aplicao de uma abordagem integrada entre produo e consumo, com vistas

  • 19

    sustentabilidade, entendendo-se que h uma relao de influncia e dependncia

    recproca entre essas duas dimenses da ao humana; a produo afeta o consumo

    (por exemplo, por meio de design de produtos e dos apelos do marketing), mas tambm o

    consumo afeta a produo, na medida em que as escolhas dos consumidores influenciam

    as decises dos produtores por exemplo, os casos de boicote a determinados produtos

    que poluem o meio ambiente ou causam danos sade levaram empresas a processos

    corretivos bem sucedidos.

    1.4. O Processo de Marrakech

    O Plano de Johanesburgo (aprovado na Cpula Mundial sobre Desenvolvimento

    Sustentvel/Rio+10, em 2002) props a elaborao de um conjunto de programas, com

    durao de dez anos (10 Years Framework Program), que apiem e fortaleam iniciativas

    regionais e nacionais para promoo de mudanas nos padres de consumo e produo.

    Sob a coordenao do Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente

    (PNUMA) e do Departamento de Assuntos Econmicos e Sociais das Naes Unidas

    (UNDESA), o Processo conta tambm com a essencial participao de governos

    nacionais, agncias de desenvolvimento, setor privado, sociedade civil e outros atores.

    Figura 1 Mecanismos do Processo de Marrakech em PCS

    Fonte: Adaptada MMA, 2010. Frequently Asked Questions The Marrakech Process. United Nations Environment Program (2009): 11.

    No ano em que o Brasil iniciou sua participao no Processo de Marrakech, 2007,

    o Ministrio do Meio Ambiente, juntamente com o PNUMA, a Companhia Ambiental do

    Estado de So Paulo (CETESB), a Federao das Indstrias do Estado de So Paulo

    (FIESP) e a Confederao Nacional da Indstria (CNI) realizaram em So Paulo, a Mesa

  • 20

    Redonda Nacional sobre Consumo e Produo Sustentveis.

    O evento permitiu a troca de informaes dos diferentes nveis de governo,

    iniciativa privada e terceiro setor, sobre consumo e produo sustentveis, alm de ter

    propiciado oportunidade para discutir perspectivas, desafios e temas prioritrios

    relacionados ao assunto. Igualmente favoreceu o intercmbio de informaes entre o

    Brasil e outras regies, com destaque para a Unio Europia.

    A adeso ao Processo de Marrakech estimula o desenvolvimento de programa de

    atividades que leve elaborao de um Plano de Ao. Para ajudar neste trabalho, o

    PNUMA e seus parceiros criaram sete Foras-Tarefaiv (Task Forces), cada qual

    encarregada de um tema no contexto do 10-Year Framework of Programmes on SCP

    10YFP (Joanesburgo 2002) os resultados deste primeiro marco de programa sero

    submetidos Comisso de Desenvolvimento Sustentvel (CDS) da ONU em 2011.

    As Task Forces contam com a participao de especialistas de pases

    desenvolvidos e em desenvolvimento. Estes grupos so iniciativas voluntrias,

    coordenadas pelos governos que, em cooperao com outros pases, se propem a

    realizar um conjunto de atividades em nvel nacional ou regional, relatando avanos em

    relao aos objetivos traados. O intuito das Foras-Tarefa criadas foi o de reunir

    experincias mais avanadas em PCS nos pases para poder dissemin-las, incluindo

    manuais metodolgicos.

    Figura 2. Sete Foras-Tarefas Marrakech Fonte: Adaptada MMA, 2010. Frequently Asked Questions The Marrakech Process. United Nations Environment Program (2009): 20.

  • 21

    Reunies peridicas do Processo de Marrakech tm sido realizadas em nvel global

    (International Expert Meetings), nvel regional (Regional Expert Meetings), como tambm

    em nvel nacional (mesas-redondas, seminrios), alm dos encontros peridicos

    promovidos pelas Foras-Tarefa.

    Nesta etapa inicial do Processo de Marrakech foram previstas quatro fases:

    Figura 3. Fases do Processo de Marrakech

    Fonte: Adaptada MMA, 2010. Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (UNEP),The Marrakech Process. Disponvel em http://www.unep.fr/scp/marrakech.

    Apesar de haver certo grau de superposio entre essas fases, pode-se dizer que

    as atividades no Brasil hoje esto, predominantemente, na fase 3, mas tambm com

    aes em andamento nas demais, especialmente nas fases 2 e 4.

    1.5 A Poltica de Produo e Consumo do MERCOSUL

    No mbito do MERCOSUL, destaca-se a Poltica de Promoo e Cooperao em

    Produo e Consumo Sustentvel do MERCOSUL, aprovada pelo Conselho do Mercado

    Comum em junho de 2007 (Deciso 26/07), cujas bases foram assentadas pelo Projeto

  • 22

    Competitividade e Meio Ambiente: Fomento Gesto Ambiental e a Produo Mais

    Limpa" CyMA.

    O projeto CyMA o primeiro de Cooperao Tcnica entre o MERCOSUL e a

    Alemanha iniciou-se em 2002 e desenvolveu-se dentro de uma parceria entre o

    Subgrupo de Trabalho do MERCOSUL n 6 Meio Ambiente (SGT-6) e a Agncia de

    Cooperao Tcnica Alem (GTZ). Insere-se na poltica de integrao regional, tendo

    proporcionado avanos importantes no tema de P+L e contribudo para o

    desenvolvimento sustentvel do setor produtivo no MERCOSUL.

    O principal objetivo do Projeto CyMA foi o desenvolvimento da cooperao entre o

    setor pblico e privado, visando o delineamento e a implementao de uma estratgia

    preventiva de aumento da competitividade e melhoria do desempenho ambiental,

    preferencialmente nas pequenas e mdias empresas.

    Um dos objetivos principais da Poltica de Promoo e Cooperao em Produo e

    Consumo Sustentvel do MERCOSUL servir como base comum para os Estados

    Membros na elaborao de seus planos nacionais em PCS.

    1.6 Avanos do Brasil em Produo e Consumo Sustentveis

    Foram identificadas, nos ltimos anos no Brasil, inmeras iniciativas em produo e

    consumo sustentveis no mbito das trs esferas do governo, no setor produtivo e no

    segmento da sociedade civil. Alguns exemplos so ilustrativos desse esforo:

    Boas Prticas Agropecurias O governo vem desenvolvendo programas para

    incentivar as boas prticas no setor agropecurio, tais como: o Programa Nacional de

    Abate Humanitrio (STEPS), a coleta e destinao adequada de embalagem de

    agrotxicos, o apoio ao sistema de rastreabilidade de carne bovina, e o fomento de

    tecnologias sustentveis como o plantio direto e a produo integrada lavoura-pecuria-

    floresta.

    Campanhas de Consumo Consciente crescente o nmero de campanhas

    realizadas pelas organizaes no governamentais e pelo governo com o objetivo de

    informar e conscientizar o cidado. Exemplos: Saco um Saco (MMA) visando reduo

    do uso de sacolas plsticas; Nota Verde (MMA) informando o consumidor sobre o

    desempenho ambiental de veculos automotores; Hora do Planeta (WWF) chamando

  • 23

    ateno para a necessidade de reduzir o consumo de energia; Mais Menos (Instituto

    Akatu) mostrando a disfuno do consumo predatrio.

    Compras Pblicas Sustentveis A Instruo Normativa n 01, de 19 de janeiro

    de 2010, lanada pelo Ministrio do Planejamento Oramento e Gesto (MPOG), dispe

    sobre critrios de sustentabilidade ambiental na aquisio de bens, contratao de

    servios ou obras pela Administrao Pblica Federal, dotando de base jurdica segura

    uma prtica que vem sendo abraada por vrios rgos da administrao pblica federal,

    estadual e municipal h quase uma dcada;

    Portal de Contrataes Pblicas Sustentveis conduzido pelo MPOG, o Portal

    visa reunir informaes sobre boas prticas sustentveis, estudos, trocas de experincia e

    publicaes sobre as contrataes pblicas sustentveis do governo

    (http://cpsustentaveis.planejamento.gov.br/).

    Novo Protocolo Verde ou Protocolo de Intenes pela Responsabilidade

    Socioambiental O novo Protocolo contm diretrizes, estratgias e mecanismos

    operacionais para incorporar a varivel ambiental na gesto das instituies financeiras

    pblicas. Bancos pblicos so signatrios do documento (Banco do Brasil, Caixa

    Econmica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social, Banco da

    Amaznia, Banco do Nordeste), onde se comprometem a implementar e seguir as

    inovadoras diretrizes de sustentabilidade. Nesta segunda verso, alguns bancos privados

    aderiram a esta iniciativa: Bradesco, Cacique, Citibank, HSBC, Ita, Unibanco, Safra,

    Santander Brasil Real.

    Estmulo s Cooperativas de Catadores O Decreto n 5.940/2006 institui a

    separao dos resduos reciclveis descartados pelos rgos e entidades da

    administrao pblica federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinao s

    associaes e cooperativas dos catadores de materiais reciclveis. O decreto demonstra

    uma postura pblica de responsabilidade socioambiental frente a questo da reciclagem e

    da incluso produtiva e social dos catadores.

    Fixao de Preo Mnimo de Produtos do Extrativismo O Plano Nacional de

    Promoo das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade (PNPSB) foi lanado em

    Manaus em 2009. Sob a coordenao dos Ministrios do Desenvolvimento Agrrio (MDA),

    Meio Ambiente (MMA), Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS) e Companhia

    Nacional de Abastecimento (CONAB), o Plano Nacional fruto de um esforo coletivo,

    envolvendo tambm outros Ministrios e setores nesse processo. O plano visa o apoio e

  • 24

    fomento dos produtores locais e regionais, com o objetivo de fortalecer as Cadeias de

    Produtos da Sociobiodiversidade e dos extrativistas, alm da construo de mercados

    sustentveis. As primeiras cadeias a serem abordadas, tendo em vista o seu uso e

    relevncia ambiental e socioeconmica so: Castanha-do-Brasil e Babau.

    Varejo Sustentvel Em 2008, o frum Conexes Sustentveis: So Paulo-

    Amaznia demonstrou a ligao entre o desmatamento da floresta e os hbitos de

    consumo na maior cidade do Pas. A partir da, trs pactos setoriais da carne, da soja e

    da madeira foram firmados entre varejistas, ONGs e produtores, para tornar

    sustentveis estas cadeias de produo e ofertar apenas produtos com certificao de

    origem aos consumidores. A campanha Saco um Saco do Ministrio do Meio Ambiente

    estimulou varejistas, governos municipais e estaduais e a sociedade civil a rever o uso de

    sacolas plsticas. Desde o lanamento da campanha, em junho de 2009, as iniciativas

    das grandes redes varejistas e a mobilizao popular j evitaram mais de 800 milhes de

    sacolas plsticas no Brasil.

    ISE BOVESPA O ndice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) mede o retorno

    total de uma carteira terica composta por aes de empresas comprometidas com a

    responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial. Atualmente a carteira do ISE

    composta por 43 aes de 34 companhias. Elas representam 15 setores e somam R$ 730

    bilhes em valor de mercado, o equivalente a 32,21% do valor de mercado total das

    companhias com aes negociadas na BM&F/BOVESPA (em 24/11/2009). Trs setores

    esto estreando no ndice: construo civil, seguros e mquinas e equipamentos.

    Selo PROCEL O Selo PROCEL de economia de energia um certificado

    desenvolvido e concedido pelo Programa Nacional de Conservao de Energia Eltrica

    Procel, coordenado pelo Ministrio de Minas e Energia MME, com sua Secretaria-

    Executiva mantida pelas Centrais Eltricas Brasileiras S.A Eletrobrs. Seu principal

    objetivo mostrar ao consumidor, no ato da compra, que produtos apresentam os

    melhores ndices de eficincia energtica, dando oportunidade de escolha baseada na

    economia de sua conta de energia eltrica. Alm disso, tambm estimula a produo e

    comercializao de produtos que apresentem esta maior eficincia, acelerando nosso

    desenvolvimento tecnolgico e a preservao dos recursos naturais.

    Procel Edifica O Plano de Ao para Eficincia Energtica do governo visa

    construir as bases necessrias para racionalizar o consumo de energia nas edificaes no

    Brasil promovendo o uso racional da energia eltrica com o objetivo de incentivar a

    conservao e o uso eficiente dos recursos naturais (gua, luz, ventilao etc.).

  • 25

    Construo Sustentvel Destaque para o Programa Minha Casa Minha Vida,

    que apia a instalao de equipamentos de aquecimento solar de gua nas casas do

    programa de habitao para populaes de baixa renda.

    Agenda Ambiental na Administrao Pblica A3P Programa que visa a

    implementao da gesto socioambiental sustentvel das atividades administrativas e

    operacionais do governo. Dentre seus princpios esto a insero dos critrios ambientais

    nas licitaes; gesto adequada dos resduos gerados; programas de conscientizao no

    uso de materiais e recursos dentro dos rgos governamentais, alm da melhoria da

    qualidade de vida no ambiente de trabalho.

    Sistema Integrado de Bolsa de Resduos SIRB As Bolsas de Resduos so

    servios de informaes concebidas para identificar mercados para aos resduos

    provenientes das atividades produtivas. As Bolsas so importantes instrumentos de

    gerenciamento de resduos que, possibilitam agregar valor aos mesmos ao viabilizar seu

    uso como matria-prima ou insumo, para a fabricao de novos produtos. Sua principal

    funo servir como guia para promoo de oportunidades de negcios, a fim de evitar o

    desperdcio e permitir melhor qualidade, menor custo e menor impacto ambiental. O

    Sistema Integrado patrocinado pela Confederao Nacional da Indstria CNI e tem a

    participao de Bolsas de Resduos de vrias Federaes de Indstrias do Pas

    (http://www.sibr.com.br/).

    Resduos Slidos A Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS), instituda

    pela Lei n 12.305/2010, fruto da articulao dos setores pblico, produtivo e da

    sociedade civil, e estabelece a responsabilidade compartilhada entre todos estes atores

    para a reduo da gerao e correta destinao dos resduos slidos. A PNRS tambm

    um novo marco para a produo, pois prev a logstica reversa e tem como um de seus

    objetivos o estmulo adoo de padres sustentveis de produo de bens e servios.

    Inovao Tecnolgica Destaque para o Portal Inovao do MCT, que rene

    atores de inovao e da plataforma Lattes. A plataforma funciona como uma cooperao

    tecnolgica, onde so disponibilizadas as demandas das empresas e cadastrados os

    currculos e competncias dos especialistas do mercado.

    Nota Verde O governo lanou, em setembro de 2009, o sistema que permite aos

    motoristas saber quanto seus carros poluem. A Nota Verde vai de 0 a 10, recebendo 10 o

    modelo mais ecolgico, e calculada a partir de dados sobre as quantidades de

    monxido de carbono, hidrocarbonetos e xidos de nitrognio jogados no ar. Os

  • 26

    elementos esto entre os principais poluentes atmosfricos e a lista atualizada medida

    que novos modelos entram no mercado.

    Turismo Sustentvel A campanha Passaporte Verde, iniciativa dos Ministrios

    do Meio Ambiente e do Turismo, visa estimular o turista a adotar um comportamento de

    consumo responsvel, e assim dar a sua contribuio para a conservao da natureza e a

    valorizao da cultura dos destinos visitados, tornando a viagem mais prazerosa e

    recompensadora tanto para o turista quanto para a comunidade visitada. A campanha faz

    parte da Fora-Tarefa de Turismo Sustentvel do Processo de Marrakech, coordenada

    pela Frana.

    Programa de Substituio de Geladeiras O programa, liderado pelo Ministrio

    de Minas e Energia - MME, em parceria com o MMA, MDIC, MDS, Ministrio da Fazenda,

    e Agncia Nacional de Energia Eltrica - ANEEL, juntamente com o setor industrial e

    varejistas, visa a substituio de refrigeradores ultrapassados por equipamentos novos,

    tendo em vista o uso eficiente da energia eltrica. Outro ponto importante o descarte

    correto dos aparelhos antigos, garantindo a reciclagem do CFC (gs utilizado para a

    refrigerao de grande impacto na camada de oznio). O programa tem como meta

    substituir 10 milhes de refrigeradores em 10 anos, gerando economia de 14 TWh e

    consequente reduo de mais de 4 milhes de tCO2. O MME est negociando 100

    milhes de reais para o primeiro ano do programa. importante salientar que, alm de

    garantir os benefcios energticos e ambientais, o programa possui cunho social: prev

    subsdios para consumidores de baixa renda e incentiva a reciclagem especializada.

    Programa de Qualidade Ambiental COLIBRI/ABNT O programa, que tem

    como logomarca um colibri, desenvolve mecanismos de reconhecimento mtuo entre

    programas nacionais de rotulagem ambiental de produtos e servios. O Colibri poder ser

    utilizado como ponto de partida para discusso de um futuro Programa Brasileiro de

    Rotulagem Ambiental, que facilitar o acesso de nossos produtos a mercados mais

    exigentes e tambm contribuir para maior conscientizao da necessidade de

    elaborao de polticas pblicas voltadas para o desenvolvimento sustentvel.

  • 27

    2. O PROCESSO DE ELABORAO DO PLANO DE AO PARA PRODUO E

    CONSUMO SUSTENTVEIS PPCS

    2.1 A criao do Comit Gestor

    Em 2003, foi institudo no Brasil o Comit Gestor de Produo Mais Limpa, no

    mbito do MMA (Portaria n 454, de 28/11/2003), e estabelecidos nove Fruns Estaduais

    de Produo Mais Limpa (Amazonas, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro,

    Rio Grande do Sul, Santa Catarina, So Paulo e Pernambuco).

    Na reunio do dia 31/10/07, o Comit Gestor de Produo Mais Limpa decidiu

    ampliar seu escopo de atuao, passando a denominar-se, pela Portaria MMA 44/08,

    Comit Gestor Nacional de Produo e Consumo Sustentveis (CGPCS).

    O Comit o responsvel pela elaborao e implementao do Plano de Ao

    para a Produo e Consumo Sustentveis PPCS. A primeira verso do Plano, de maio

    de 2008, incluiu a definio de seus antecedentes e escopo, a indicao das estruturas

    com que contaria e a definio de um conjunto de prioridades designando os

    responsveis por implement-las.

    Tais estruturas que continuam em vigor so as seguintes:

    Comit Gestor Nacional de Produo e Consumo Sustentveis - CGPCS (Port. MMA

    44/08);

    Ministrio do Meio Ambiente, especialmente a Secretaria de Articulao Institucional e

    Cidadania Ambiental SAIC (por meio da Diretoria de Cidadania e Responsabilidade

    Socioambiental DCRS) e a Secretaria de Mudanas Climticas e Qualidade Ambiental-

    SMCQ (por meio da Diretoria de Qualidade Ambiental na Indstria DQAM);

    Fruns Estaduais de Produo Mais Limpa;

    Rede de Fruns Estaduais de Produo Mais Limpa;

    Integrantes do CGPCS, especialmente os diretamente engajados nos grupos de

    trabalho responsveis pela implementao das prioridades estabelecidas para o PPCS.

    De acordo com a portaria MMA 44/08, so eles:

    Ministrio do Meio Ambiente (MMA);

    Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT);

    Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC);

  • 28

    Ministrio de Minas e Energia (MME);

    Ministrio das Cidades;

    Ministrio da Fazenda (MF);

    Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social BNDES;

    Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel

    CEBDS;

    Confederao Nacional da Indstria CNI;

    Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI;

    Servio de Apoio a Micro e Pequena Empresa SEBRAE;

    Associao Brasileira das Instituies de Pesquisa Tecnolgica ABIPTI;

    Central Sindical envolvida em atividades de gesto ambiental, produo

    mais limpa e desenvolvimento sustentvel;

    Fundao Getlio Vargas FGV;

    Instituto Ethos;

    Confederao Nacional do Comrcio CNC;

    Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor IDEC;

    Compromisso Empresarial para Reciclagem CEMPRE.

    importante lembrar que outros participantes podero ser convidados para

    colaborao nos trabalhos, a critrio da coordenao do CGPCS. Podero tambm ser

    futuramente incorporados formalmente, em eventual reviso da portaria em vigor.

    papel do Comit Gestor acompanhar, direcionar e promover as atividades de

    desenvolvimento e implementao do PPCS e de suas prioridades, criando as condies

    no Brasil para uma efetiva mudana paradigmtica no processo de produo e consumo.

    Estas prioridades devero ser refletidas nos trabalhos dos Fruns Estaduais.

    A secretaria-executiva do CGPCS compete ao Ministrio o Meio Ambiente. Porm,

    a implementao de suas propostas depende dos recursos disponibilizados por cada uma

    das instituies participantes ou colaboradoras.

  • 29

    2.2 A primeira verso do Plano

    A primeira verso do Plano de Ao de Produo e Consumo Sustentveis (PPCS),

    disponibilizada no site do PNUMA em maio de 2008, consolidou os trabalhos

    desenvolvidos ao longo de um ano, iniciados no mbito do ento Comit Gestor de

    Produo Mais Limpa. Envolveu um amplo e diversificado grupo de organizaes da

    sociedade brasileira tanto governamentais quanto no governamentais sob a

    coordenao do Ministrio do Meio Ambiente (MMA).

    Na mesma poca, porm, e com vistas a contribuir para Cpula do Clima em

    Copenhague, o MMA iniciou a elaborao do Plano Nacional sobre Mudana do Clima

    (PNMC), lanado em dezembro de 2008. Dada a conexo entre os temas e os dois

    planos, foi tomada a deciso, aps consulta ao Comit Gestor, de rever o PPCS, de modo

    a compatibiliz-lo com o PNMC, identificando sinergias e pontos de confluncia de modo

    a permitir que as aes previstas em ambos os planos pudessem conjugar resultados no

    atingimento de objetivos iguais ou semelhantes.

    2.3 Conexes com o Plano Nacional sobre Mudana do Clima PNMC

    Entre julho e agosto de 2009, aps o cotejamento dos dois Planos por um consultor

    externo, realizou-se um seminrio com os membros do Comit Gestor j Comit Gestor

    Nacional de Produo e Consumo Sustentveis para discusso e complementao da

    proposta do plano revisado. O critrio adotado para a reviso foi destacar os pontos de

    confluncia explcita entre os dois planos que mereciam ser mencionados no PPCS. A

    prpria natureza interdependente e sistmica das questes da sustentabilidade faz com

    que de uma forma ou de outra quaisquer propostas relacionadas mitigao das

    mudanas do clima tenham relaes com questes de PCS e vice-versa.

    J na introduo do PNMC (pgina 14 do documento publicado) dito que:

    Para alcanar os objetivos do Plano, sero criados novos mecanismos econmicos,

    tcnicos, polticos e institucionais que:

    Promovam o desenvolvimento cientfico e tecnolgico do setor produtivo, que inclua as

    consideraes ambientais a favor da coletividade;

    Aumentem a conscincia coletiva sobre os problemas ambientais da atualidade e

    propiciem o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, fraterna e solidria;

    Valorizem a floresta em p e faam com que a conservao florestal seja uma atividade

  • 30

    atraente, que gere riqueza e bem-estar queles que dela vivem;

    Incentivem e estimulem medidas regionais que sejam adequadas s condies

    diferenciadas, onde cada regio e mesmo cada estado da nao possa identificar suas

    melhores oportunidades de reduo de emisses e remoo de carbono, e suas

    necessidades de adaptao mudana do clima.

    facilmente verificvel que todas as dez prioridades definidas na verso original

    do PPCS podem ser enquadradas em uma ou mais das disposies acima.

    Mais adiante, na pgina 27, o PNMC apresenta seus sete objetivos especficos:

    Fomentar aumentos de eficincia no desempenho dos setores da economia na busca

    constante do alcance das melhores prticas;

    Buscar manter elevada a participao da energia renovvel na matriz eltrica,

    preservando a posio de destaque que o Brasil sempre ocupou no cenrio internacional;

    Fomentar o aumento sustentvel da participao de biocombustveis na matriz de

    transportes nacional e, ainda, atuar com vistas estruturao de um mercado

    internacional de biocombustveis sustentveis;

    Buscar a reduo sustentada das taxas de desmatamento, em sua mdia quadrienal,

    em todos os biomas brasileiros, at que se atinja o desmatamento ilegal zero;

    Eliminar a perda lquida da rea de cobertura florestal no Brasil, at 2015;

    Fortalecer aes intersetoriais voltadas para reduo das vulnerabilidades das

    populaes;

    Procurar identificar os impactos ambientais decorrentes da mudana do clima e fomentar

    o desenvolvimento de pesquisas cientficas para que se possa traar uma estratgia que

    minimize os custos scio-econmicos de adaptao do Pas.

    Tais objetivos so diretamente vinculveis com objetivos e aes de PCS, na

    medida em que como se detalha mais adiante no prprio PNMC as propostas

    concretas para sua consecuo recomendam ao integrada, tanto pelo lado da produo

    quanto do consumo.

    A reviso levou o PPCS a fortalecer as interfaces com o Plano Nacional sobre

    Mudana do Clima e prev o desenvolvimento de iniciativas conjuntas. A comparao

    entre os dois Planos levou o Comit Gestor a sugerir, ainda, novas aes relacionadas

    eficincia energtica, ao combate ao desperdcio, e criao e expanso de mercados

  • 31

    para produtos florestais sustentveis.

    2.4 Conexes com a Poltica de Desenvolvimento Produtivo PDP

    A Poltica de Desenvolvimento Produtivo PDP foi lanada em 12 de maio de 2008

    e representa um compromisso conjunto de diversos rgos de Governo e representantes

    do setor produtivo na construo e implementao de um conjunto de aes voltadas ao

    desenvolvimento produtivo nacional. Sua principal caracterstica repousa na coordenao

    com outros programas de Governo e na participao efetiva do setor produtivo do Pas.

    poca de seu lanamento, a economia nacional encontrava-se em franca

    expanso. Nesse sentido, o objetivo central da PDP era dar sustentabilidade ao ciclo de

    expanso existente. A crise econmica mundial, no ltimo trimestre de 2008, interrompeu

    aquele ciclo de expanso, obrigando a uma mudana no objetivo central da Poltica.

    Considerando que o Brasil teve um bom desempenho no gerenciamento da crise, o novo

    objetivo passou a focalizar um melhor posicionamento estratgico da economia brasileira

    no contexto ps-crise.

    O objetivo central da PDP se expressa em quatro macro-metas e desafios a serem

    enfrentados para obteno de um novo patamar de competitividade da indstria nacional:

    ampliao do investimento fixo; elevao do gasto privado em P&D (pesquisa e

    desenvolvimento); ampliao da participao das exportaes brasileiras; e dinamizao

    das micro e pequenas empresas.

    A implementao da PDP estrutura-se em trs nveis:

    1) Aes Sistmicas: relativas a condies de competitividade, com incidncia

    direta sobre o desempenho da estrutura produtiva, especialmente nos planos

    fiscal-tributrio, do financiamento ao investimento e inovao, e da segurana

    jurdica;

    2) Destaques Estratgicos: temas de poltica pblica que no tm dimenso

    sistmica, mas so importantes para a construo de bases slidas para o

    desenvolvimento produtivo do Pas no longo prazo, tais como fortalecimento de

    micro e pequenas empresas, exportaes, regionalizao, produo limpa,

    integrao com a Amrica Latina, Caribe e frica;

  • 32

    3) Programas Estruturantes para Sistemas Produtivos: organizados por setores

    produtivos e orientados por objetivos estratgicos, tendo por referncia a

    diversidade da estrutura produtiva do Pas.

    A articulao mais direta com o tema da produo e do consumo sustentveis se

    d por meio do Comit Executivo - Produo Sustentvel (CEPS), um dos Destaques

    Estratgicos da PDP e, tambm, por meio de inmeras aes desenvolvidas nos demais

    Comits Executivos. Alm disso, destaca-se que a problemtica da sustentabilidade da

    produo foi considerada tema transversal prioritrio a partir da reunio plenria do PDP

    de junho passado, permitindo que muitas aes previstas em seus programas atendam

    aos conceitos de ecoeficincia.

    A estratgia de ao do CEPS para o perodo 2011-14 prev uma agenda

    especfica focada em investimentos na indstria de bens e servios ambientais. Desse

    modo, as aes e programas resultantes do esforo do Comit Executivo - Produo

    Sustentvel podem ser automaticamente integradas ao PPCS. Como o CEPS tambm

    coordenado pelo MMA, pode funcionar como formulador e articulador de programas e

    aes com rebatimento direto tanto na poltica industrial, quanto no PPCS. Por exemplo,

    no mbito da PDP-II, 2011-2014, j esto previstas aes transversais de produo limpa

    a serem induzidas nos comits setoriais selecionados, entre as quais destacamos o da

    siderurgia, minerao, plsticos, construo civil, bioenergia e madeira & mveis.

    Outra proposta dessa mesma agenda definir os investimentos governamentais

    em mercados ambientais prioritrios, tais como os de resduos slidos, saneamento

    bsico, eficincia energtica, e reduo de emisses de GEE. Estudos de referncia

    prvios, com a finalidade de estabelecer o estado da arte da produo limpa, de boas

    prticas tecnolgicas e gerenciais sero contratados e devero sem dvida servir como

    insumos para novas aes do PPCS.

    Espera-se, nesta fase de consulta, que muitos insumos que esto servindo

    elaborao de programas, projetos e aes da PDP possam ser includos neste Plano,

    enriquecendo o leque de aes relacionadas ao objetivo de tornar a produo brasileira

    mais limpa e mais competitiva.

    2.5 Conexes com a Poltica Nacional de Resduos Slidos - PNRS

    A Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS) Lei n 12.305, de 03 de agosto

  • 33

    de 2010 estabelece novos princpios, objetivos e instrumentos para a gesto de

    resduos slidos no Brasil. Pelo princpio da responsabilidade compartilhada, talvez o

    principal marco conceitual da nova Lei, geradores de resduos, tanto pblicos como

    privados incluindo os consumidores , tm responsabilidade definida e devem cooperar

    para que os objetivos da PNRS sejam alcanados.

    Embora o foco da Lei seja a gesto de resduos referindo-se sobretudo

    disposio e destinao adequadas ela tanto diz respeito aos resduos gerados no

    processo industrial (de fabricao dos produtos), como na fase de comercializao,

    consumo e ps-consumo, alcanando sua competncia, portanto, em todas as etapas do

    ciclo, que vai da produo ao ps-consumo (quando os produtos no tm mais vida til).

    Por isso, pode-se dizer que a PNRS perfeitamente consonante com o princpio

    dos 3Rs reduzir, reutilizar, reciclar, que tem pautado os programas de incentivo

    reciclagem aqui no Brasil e no mundo. tambm perfeitamente consonante com o Plano

    de Ao em PCS, pois a noo de que necessrio rever todo o processo de produo e

    todo o ciclo de vida dos produtos, incluindo reaproveitamento de materiais descartados na

    fase do ps-consumo e destinao adequada dos rejeitos (o que no tem aproveitamento)

    matricial no Plano. Em outras palavras, no s a PNRS est totalmente alinhada com o

    Plano de Ao para Produo e Consumo Sustentveis, como este na verdade um dos

    instrumentos de sua aplicao prtica.

    A Lei considera como geradores de resduos slidos todas as pessoas fsicas ou

    jurdicas, de direito pblico ou privado, que geram resduos slidos por meio de suas

    atividades, nelas includo o consumo (Art. 3, IX). Desta maneira, deixa clara a

    responsabilidade de todos industriais, empresrios, poder pblico e consumidores

    tanto na busca pela diminuio dos resduos gerados na fonte (produo), quanto na fase

    intermediria (distribuio, comercializao), e, ainda, nas atividades dirias de consumo.

    A identidade da PNRS com as aes previstas no PPCS total e inseparvel, como

    destacamos no quadro comparativo a seguir:

    Objetivos da PNRS

    (art. 7) Prioridades do PPCS afins

    II - no gerao, reduo, reutilizao,

    reciclagem e tratamento dos resduos

    slidos, bem como na disposio final

    Varejo e consumo sustentvel;

    Agenda Ambiental na Administrao

    Pblica/A3P;

  • 34

    ambientalmente adequada dos rejeitos; Fomento Produo e Consumo

    Sustentveis;

    Inovao e difuso de tecnologias em

    PCS;

    Aumento da reciclagem de resduos

    slidos;

    Educao para o consumo sustentvel;

    Compras pblicas sustentveis

    III - estmulo adoo de padres

    sustentveis de produo e consumo

    de bens e servios;

    Educao para o consumo sustentvel;

    Agenda Ambiental na Administrao

    Pblica/A3P.

    IV - adoo, desenvolvimento e

    aprimoramento de tecnologias limpas

    como forma de minimizar impactos

    ambientais;

    Inovao e difuso de tecnologias em

    PCS;

    Fomento Produo e Consumo

    Sustentveis.

    VI - incentivo indstria da reciclagem,

    tendo em vista fomentar o uso de

    matrias-primas e insumos derivados

    de materiais reciclveis e reciclados;

    Aumento da reciclagem de resduos

    slidos;

    Compras pblicas sustentveis;

    Inovao e difuso de tecnologias em

    PCS;

    Fomento Produo e Consumo

    Sustentveis.

    XI - prioridade, nas aquisies e

    contrataes governamentais para:

    a) produtos reciclados e

    reciclveis;

    Compras pblicas sustentveis;

    Agenda Ambiental na Administrao

    Pblica/A3P;

    Fomento Produo e Consumo

    Sustentveis

  • 35

    b) bens, servios e obras que

    considerem critrios compatveis

    com padres de consumo social

    e ambientalmente sustentveis;

    XIII - estmulo implementao da

    avaliao do ciclo de vida do produto;

    Rotulagem e anlise do ciclo de vida;

    Inovao e difuso de tecnologias em

    PCS;

    Fomento Produo e Consumo

    Sustentveis.

    XIV - incentivo ao desenvolvimento de

    sistemas de gesto ambiental e

    empresarial voltados para a melhoria

    dos processos produtivos e ao

    reaproveitamento dos resduos slidos,

    includos a recuperao e o

    aproveitamento energtico;

    Diminuio do impacto social e

    ambiental na gerao e uso de energia;

    Aumento da reciclagem de resduos

    slidos;

    Fomento Produo e Consumo

    Sustentveis

    XV - estmulo rotulagem ambiental e

    ao consumo sustentvel.

    Rotulagem e anlise do ciclo de vida

    Educao para o consumo sustentvel

    Agenda Ambiental na Administrao

    Pblica/A3P

    O PPCS delineia prioridades que estimularo a produo e consumo sustentveis

    no Pas, o que reduzir a gerao de resduos e promover o melhor aproveitamento de

    matrias-primas e materiais reciclveis. A PNRS, por sua vez, ao redefinir o olhar dos

    diversos setores sobre os resduos slidos, determinando responsabilidades

    compartilhadas e instrumentos com impactos diretos sobre o processo produtivo e

    tambm sobre os consumidores, favorecendo o cenrio para que as aes do PPCS

    sejam concretizadas.

  • 36

    2.6 Etapas cumpridas e etapas previstas no processo de elaborao do PPCS

    A elaborao deste documento resultou das etapas a seguir descritas:

    1. Primeira verso do Plano de Ao (maio de 2008), aps debates e consultas

    realizadas sob a orientao do Comit Gestor, sob a coordenao executiva do MMA;

    2. Reviso do Plano de Ao (julho de 2009) pela equipe do MMA e consultor externo,

    identificando e explicitando as conexes entre o PPCS e outros planos, programas e

    polticas nacionais, em particular o PNMC;

    3. Reviso do Plano de Ao, com incluso de novas prioridades, pelo Comit Gestor

    (agosto de 2009);

    4. Reviso tcnica de cada uma das prioridades do Plano de Ao por parte da equipe

    do MMA e parceiros (setembro a dezembro de 2009);

    5. Desenvolvimento de um Projeto de Cooperao Internacional para apoiar estudos,

    consultorias e elaborao de manuais metodolgicos necessrios ao processo de

    implementao do Plano (janeiro a julho de 2010);

    6. Submisso do Plano de Ao consulta pblica (14 de setembro a 05 de novembro

    de 2010);

    7. Consolidao das contribuies recebidas no perodo de consulta pblica

    (novembro de 2010);

    8. Aprovao do Plano pelo Comit Gestor e publicao (dezembro de 2010).

  • 37

    O quadro abaixo resume a cronologia do Processo de elaborao do PPCS.

    3. OBJETIVOS, DIRETRIZES E PRIORIDADES DO PPCS

    3.1. Objetivos do PPCS

    O estabelecimento de um processo de PCS no Pas tem como objetivo primordial

    melhorar a qualidade de vida da populao, conservar os recursos naturais e garantir a

    qualidade ambiental. O resultado que se espera desse processo , no mdio e longo

    prazos, fomentar dinmicas e aes que mudem o atual paradigma de produo e

    consumo, contribuindo significativamente para o desenvolvimento sustentvel da

    economia e da sociedade brasileiras.

    Os objetivos gerais do Plano de Ao (PPCS) so:

    1. fomentar no Brasil um vigoroso e contnuo processo de ampliao de

    aes alinhadas ao conceito de PCS, tal como estabelecido pelo Processo

    de Marrakech, compartilhando com os nossos parceiros nacionais e

    internacionais o esforo por promover tambm a sustentabilidade no plano

    global;

  • 38

    2. integrar a iniciativa de disseminao de PCS ao esforo de enfrentamento

    das mudanas climticas, e tambm a outras frentes prioritrias para a

    sociedade brasileira, como o combate pobreza, a distribuio eqitativa

    dos benefcios do desenvolvimento, a conservao da biodiversidade e dos

    demais recursos naturais.

    O objetivo especfico deste Plano de Ao fornecer as diretrizes bsicas e eleger

    as prioridades para que um conjunto de aes cabveis, articuladas entre si, possa

    efetivar mudanas expressivas e mensurveis, tanto nos padres de consumo como de

    produo, que possam ser reconhecidos como mais sustentveis.

    3.2 Diretrizes para a proposio de aes no mbito do PPCS

    Aes no mbito do PPCS devem idealmente incorporar a (e beneficiar-se da)

    influncia recproca que existe entre produo e consumo. Em outras palavras, entre o

    processo de oferta de bens e servios e o processo de satisfao das necessidades da

    populao, levando em conta os limites fsicos e biolgicos que a natureza impe e os

    valores ticos que informam a cultura da sustentabilidade.

    Devem ser consideradas tanto aes que foquem o sistema produtivo em si como

    o sistema institucional-regulatrio que o sustenta: infra-estrutura, tecnologia, instrumentos

    econmicos e regulatrios. O sistema produtivo e institucional-regulatrio composto

    essencialmente pelas empresas e governos e j conta com uma srie de conceitos e

    instrumentos para ao prtica como ecoeficincia, produo mais limpa, normas

    tcnicas (como a srie ISO) e legislao focada (como a Poltica Nacional de Meio

    Ambiente e as resolues do CONAMA, por exemplo).

    Devem ser igualmente consideradas aes que tenham impacto no sistema cultural

    e educacional visando mudana de comportamentos. O sistema cultural composto

    essencialmente pelos prprios indivduos/consumidores e pelas instituies que os

    influenciam como as escolas e universidades, a mdia, o marketing e a indstria cultural -

    com seus fortes apelos no sentido de gerar necessidades, reais ou no, alimentando

    expectativas de consumo, criando elos entre ser e ter, levando as pessoas a identificarem

    o consumo com maior bem estar ou felicidade.

  • 39

    Os conceitos e os instrumentos para aes prticas que visam promover o

    desenvolvimento sustentvel junto ao pblico mais amplo so, comparativamente, mais

    recentes, menos difundidos, alm de frgeis em termos conceituais, exigindo dos

    gestores e formuladores de polticas pblicas uma constante busca de aprimoramento

    terico e conceitual, a fim de ser mais efetivo e dotado de poder de convencimento.

    Por exemplo, as propostas de mudanas de estilo de vida, sistema de valores e

    consumo sustentvel, integrantes de campanhas, materiais educacionais e ferramentas

    outras destinadas a informar e melhor qualificar os diversos atores para a ao, devem

    ser enriquecidas de argumentos filosficos, sociolgicos, biolgicos e econmicos,

    sempre que possvel, de forma a fortalecer as atuais abordagens sobre a necessidade de

    praticar o consumo sustentvel.

    Observa-se que h uma tendncia crescente em traduzir-se consumo sustentvel

    (objetivo a ser alcanado) por consumo consciente (maneira de se alcanar o objetivo). A

    ideia chave dessa postura pedaggica a de que os indivduos podem mudar o mundo

    por meio de escolhas mais inteligentes consumo seletivo, criterioso que tende a

    incorporar valores ticos elevados e noes correntes de cidadania. Esta abordagem que

    empodera os indivduos benfica em muitos aspectos, mas o consumo consciente

    tambm se aplica a organizaes e empresas atravs de grupos organizados, engajados

    em causas ambientais, e tambm sociais, como a luta pelo trabalho decente, pela

    erradicao do trabalho infantil ou escravo, pela equidade de gnero, alm da

    observncia dos direitos humanos e dos demais seres vivos.

    Uma das estratgias essenciais propostas pelo Processo de Marrakech a

    integrao dos planos de PCS com outros programas e planos do Pas como, por

    exemplo, aqueles voltados s mudanas climticas, reduo da pobreza, questo

    energtica e ao uso da gua e do solo. Tambm a busca crescente por hbitos e

    alimentos mais saudveis traz extraordinrias oportunidades de se agregar novas

    disciplinas e novas reas de atuao ao PPCS.

    A centralidade das discusses relativas s mudanas climticas, tanto no Brasil

    quanto no mundo, tornaram o tema do aquecimento global determinante e catalisador de

    uma srie de polticas atualmente em curso. Alm disso, a alta exposio do assunto na

    mdia engajou milhares de cidados, empresas e agentes pblicos que desejam agir. Por

    isso, quanto mais uma proposta de PPCS se revele eficaz no combate s mudanas do

    clima, maior sua chance de obter apoio e resultado.

  • 40

    Resumindo, so diretrizes para o PPCS:

    Identificao, valorizao e explicitao das conexes entre as principais polticas,

    programas e planos nacionais afins, como: Agenda21 (Global e Brasileira), Poltica

    Nacional de Educao Ambiental (PNEA), Poltica Nacional de Meio Ambiente

    (PNMA), Poltica Nacional de Mudanas Climticas (PNMC), Poltica Nacional de

    Resduos Slidos (PNRS), e Poltica Nacional de Desenvolvimento Produtivo

    (PDP);

    Identificao de aes existentes em todo o Brasil, que, por suas caractersticas,

    possam vir a compor e enriquecer o PPCS, aproveitando para evidenciar os

    principais fatores que as tornam exitosas;

    Identificao de sinergias e confluncias entre as prioridades e metodologias

    propostas no mbito nacional e aquelas existentes no Processo de Marrakech, de

    modo a contribuir com o processo internacional e com a sustentabilidade no plano

    global;

    Envolvimento amplo da sociedade brasileira no processo, tanto por meio das

    organizaes j engajadas no Comit Gestor e seus grupos de trabalho, quanto

    por meio de outras organizaes e redes que possam ser identificadas e motivadas

    a participar;

    Ateno s singularidades do Processo de Marrakech e do seu conceito de

    produo e consumo sustentveis, de modo a disseminar seus significados e

    implicaes entre todos os participantes e, principalmente, refleti-los nos critrios

    de escolha e priorizao das aes/objetivos do PPCS;

    Observar a variedade e a diversidade de pblicos, culturas regionais e de grupos

    sociais, dentro do prprio Pas, bem como de interesses quanto ao engajamento na

    temtica do PCS, de modo a ser mais eficaz e o mais abrangente possvel (em

    termos de cobertura) nos seus programas, projetos e aes;

    Levar em conta os acordos internacionais assinados pelo Brasil, especialmente as

    Convenes da Biodiversidade e do Clima, bem como as demais que afetem direta

    ou indiretamente as prioridades eleitas pelo Plano de Ao.

  • 41

    3.3 As prioridades do PPCS

    Considerando as prioridades estabelecidas na primeira verso do Plano (maio de

    2008) e as includas aps a reviso de 2009, o Comit Gestor identificou um conjunto de

    17 prioridades como a espinha dorsal do PPCS. So elas:

    1) Varejo e consumo sustentveis Discutir a percepo do setor varejista a

    respeito da insero de prticas de sustentabilidade nas suas operaes e o seu

    papel na promoo do consumo sustentvel por meio de aes condizentes com

    as premissas e objetivos do PPCS;

    2) Agenda Ambiental na Administrao Pblica/A3P Consolidar a A3P como

    marco referencial de responsabilidade socioambiental no governo;

    3) Educao para o consumo sustentvel Conceber e por em prtica

    instrumentos como pesquisas, estudos de caso, guias e manuais, campanhas e

    outros, para sensibilizar e mobilizar o indivduo/consumidor, visando a mudanas

    de comportamento por parte da populao em geral;

    4) Aumento da reciclagem de resduos slidos Incentivar a reciclagem no Pas,

    tanto por parte do consumidor como por parte do setor produtivo, promovendo

    aes compatveis com os princpios da responsabilidade compartilhada dos

    geradores de resduos e da logstica reversa, tal como se acha estabelecido na

    Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS); neste quesito cabe tambm

    incentivar a indstria da reciclagem com incluso social (insero dos catadores);

    5) Compras pblicas sustentveis Impulsionar a adoo das compras pblicas

    sustentveis no mbito da administrao pblica, nas trs esferas de governo,

    incentivando setores industriais e empresas a ampliarem seu portflio de produtos

    e servios sustentveis, induzindo com essa dinmica a ampliao de atividades

    reconhecidas como economia verde (green economy) ou de baixo carbono;

    6) Promoo de iniciativas de PCS em construo sustentvel Induzir o setor

    da construo civil e o de infra-estrutura como estrada, portos e outros a adotar

    prticas que melhorem a perfomance socioambiental desde o projeto at a

    construo efetiva, passando por criteriosa seleo de matriais e alternativas

    menos impactantes ao ambiente e sade humana;

    7) Integrao de polticas em PCS Integrar o PPCS s demais polticas de

    produo e consumo na rea de desenvolvimento econmico, e atuar em

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    cooperao internacional com o Plano de PCS do MERCOSUL e com o Processo

    de Marrakech;

    8) Fortalecimento de uma articulao nacional em PCS Organizar iniciativas,

    para otimizar recursos e esforos, no sentido de promover e implementar aes

    articuladas de PCS em mbito nacional;

    9) Inovao e difuso de tecnologias em PCS Promover a gesto do

    conhecimento em produo e consumo sustentveis, com aes que visem

    desenvolver design inovador de servios e solues que considerem as variveis

    da ecoeficincia e outros cenrios, como a nanotecnologia ou desmaterializao

    da economia como diferencial competitivo e estratgico para as empresas

    brasileiras;

    10) Desenvolvimento de indicadores em PCS Gerar informaes que subsidiem o

    desenvolvimento de polticas pblicas focadas em produo e consumo

    sustentveis, mobilizando instituies produtoras de informao como o IBG