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Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico em Portugal Situação de referência
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Citação recomendada:
ÁLVARES, F., BARROSO, I., ESPÍRITO‐SANTO, C., FERRÃO DA COSTA, G., FONSECA, C., GODINHO, R., NAKAMURA, M.,
PETRUCCI‐FONSECA, F., PIMENTA, V., RIBEIRO, S., RIO‐MAIOR, H., SANTOS, N. & TORRES, R.* 2015. Situação de
referência para o Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico em Portugal. ICNF/CIBIO‐
INBIO/CE3C/UA. Lisboa. 67 pp
* Autores listados por ordem alfabética
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ÍNDICE
1. ÁREA DE PRESENÇA 4 1.1 Evolução 1900‐1996 4 1.2 O Censo Nacional de Lobo 2002/2003 6 1.3 Comparação entre censos (Evolução 1996‐2003) 9 1.4 Fatores ambientais e humanos relacionados com a presença de lobo 10 1.5 Potenciais áreas de expansão do lobo em Portugal a médio prazo 11 1.6 O lobo e as infraestruturas humanas 12 a. Estradas 12 b. Parques Eólicos 12 2. EFETIVO POPULACIONAL 14 2.1 Efetivo Populacional em 2002 e 2003 14 2.2 Efetivo Populacional entre 2004 E 2013 14 a. Tendência populacional nas áreas de prospeção contínua 16 b. Número de Indivíduos por alcateia para cada Núcleo Populacional 19 3. ECOLOGIA ESPACIAL 21 3.1 Dimensão das áreas vitais 21
a. Captura e marcação de lobos em Portugal 21 b. Seguimento de lobos marcados por telemetria rádio e GPS 22
4. PARÂMETROS GENÉTICOS 24
4.1 Estruturação, conetividade e diversidade genética 24
4.2 Evidências de hibridação cão‐lobo 26
5. ECOLOGIA TRÓFICA 28
5.1 Dieta do lobo 28
a. Variação regional da dieta 28 b. Variação local da dieta 29 c. Variação temporal da dieta 30 5.2 Disponibilidade de presas silvestres 31
a. Javali (Sus scrofa) 31 b. Corço (Capreolus capreolus) 32 c. Veado (Cervus elaphus) 33 d. Cabra‐montês (Capra pyrenaica victoriae) 34 5.3 Disponibilidade de presas domésticas 35
a. Distribuição e abundância do efetivo das principais presas domésticas 35 b. Evolução do efetivo pecuário na área de ocorrência do lobo 36
6. PREDAÇÃO SOBRE EFETIVOS PECUÁRIOS 38
6.1 Evolução 38
6.2 Caracterização geral dos prejuízos em 2013 41
7. MORTALIDADE E AMEAÇAS 45
7.1 Causas de morte 45
7.2 Doenças 46
7.3 Cães vadios e assilvestrados 47
8. ATITUDES PÚBLICAS 53
9. O LOBO NA CULTURA POPULAR 55
10. LEGISLAÇÃO NACIONAL 57
Literatura citada 59
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1. ÁREA DE PRESENÇA
1.1 Evolução 1900‐1996
Durante séculos o lobo (Canis lupus signatus) disfrutou, em toda a Península Ibérica, de condições favoráveis
à sua sobrevivência. A densidade humana era baixa e existiam grandes quantidades de ungulados selvagens
e domésticos. Esta abundância de alimento, aliada a uma orografia e coberto vegetal que lhe
proporcionavam bom refúgio, levaram a que, durante esses séculos, a perseguição humana movida contra o
lobo não tenha causado grande impacto nos seus efetivos populacionais (PETRUCCI‐FONSECA, 1990).
Existe uma grande quantidade de informação escrita sobre a presença regular de lobo em todo o território
nacional ao longo do século XIX, e em números consideráveis quando comparados com a realidade atual
deste predador no nosso país. No final do século XIX e início do século XX começam a notar‐se alguns sinais
de mudança, verificando‐se o desaparecimento do lobo de algumas regiões, bem como uma diminuição nos
seus efetivos populacionais (PETRUCCI‐FONSECA, 1990).
No entanto, no início do século XX, ainda era possível encontrar registos da presença de lobo, desde as serras
algarvias às regiões montanhosas do Minho e Trás‐os‐Montes, passando por todas as zonas interiores do
Alentejo e Beiras. Apenas em zonas litorais, áreas com maior densidade populacional (Lisboa, Porto, Coimbra,
Aveiro, Península de Setúbal) é que a espécie aparentemente já estaria ausente ou com presença muito
esporádica (PETRUCCI‐FONSECA, 1990) (Figura 1.1). A espécie foi progressivamente desaparecendo de sul para
norte e do litoral para o interior, sem que tal tenha ocorrido de uma forma linear e contínua, tendo existido
momentos de inflexão (leia‐se aumento) populacional em diversas áreas, que posteriormente acabaram por
sucumbir às pressões e ameaças existentes. Segundo PETRUCCI‐FONSECA (1990), as principais causas da
regressão do lobo durante o século XX estiveram associadas sobretudo ao aumento da rede viária em
conjunção com o crescimento da população humana e a diminuição dos efetivos pecuários de ovinos e
caprinos (bem como de presas naturais) as quais, isoladas ou em conjunto, potenciaram o aumento da
perseguição humana, a diminuição da disponibilidade alimentar e a fragmentação das populações lupinas,
entre outros fatores.
Estima‐se que a área de distribuição do lobo em Portugal entre 1900 e 1930 fosse de 44.100 km2, tendo
diminuído para 29.600 km2 entre 1930 e 1960 e para 24.200 km2 na década de 80 do século passado (Figura
1.2). Entre 1980 e 1996 (ano da finalização do primeiro censo de lobo em Portugal) verificou‐se ainda uma
diminuição da área de presença da espécie para cerca de 19.400 km2. Ainda segundo PETRUCCI‐FONSECA
(1990), calcula‐se que no início de 1990 o lobo ocuparia em Portugal apenas 20% da sua área de distribuição
original, que abrangeria a quase totalidade do território português.
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Figura 1.1. Evolução da distribuição de lobo em Portugal durante o século XX segundo PETRUCCI‐FONSECA (1990) até ao primeiro censo de lobo entre 1994 e 1996 (ICN, 1997).
Figura 1.2. Evolução da área de presença de lobo em Portugal durante o século XX segundo Petrucci‐Fonseca (1990) até ao primeiro censo de lobo entre 1994 e 1996 (ICN, 1997).
1930 1960 1980 1996
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1.2 O Censo Nacional de Lobo 2002/2003
O primeiro censo de âmbito nacional, realizado entre 1994 e 1996, resultou da compilação de diversos
estudos parciais/regionais desenvolvidos por diferentes equipas a trabalhar simultaneamente no terreno
(PETRUCCI‐FONSECA et al., 1997; MOREIRA et al., 1997; VINGADA et al., 1997) ao abrigo de um Programa LIFE (B4‐
3200/95/275) (ICN, 1997). Porém, o facto de existirem diferenças nos métodos aplicados pelas diferentes
equipas dificultou a comparação e interpretação final dos resultados obtidos (PIMENTA et al., 2005). Como tal,
e dada a necessidade de informação atualizada e credível que desse suporte à gestão da espécie a nível
nacional, entendeu‐se posteriormente ser necessário o desenvolvimento de um estudo global e homogéneo
que permitisse um melhor conhecimento sobre a real situação do lobo no nosso país. Assim, entre 2002 e
2003 foi desenvolvida uma parceria entre o ICN e o Grupo Lobo para a realização de um Censo Nacional de
Lobo cujos objetivos incluíam: 1) a atualização do mapa de distribuição do lobo em Portugal; 2) a estimação
do número e distribuição das alcateias existentes; 3) a averiguação da ocorrência de reprodução nas alcateias
detetadas; 4) a análise da tendência da população lupina face aos trabalhos anteriores. A área prospetada
(cerca de 29.000 km2 divididos em quadrículas UTM de 10x10 km) foi dividida por 6 equipas de trabalho, as
quais obedeciam a critérios muito específicos, tanto para o tipo de prospeção no terreno como para a
posterior análise dos dados (ver anexo B – PIMENTA et al., 2005). No que concerne à área de presença e
distribuição da espécie foram definidas 2 categorias, segundo os critérios elencados na Tabela 1.1.
Tabela 1.1 ‐ Critérios utilizados para a definição de “Presença confirmada” e “Presença Provável” em cada quadrícula UTM 10x10 km prospetada durante o Censo Nacional de Lobo 2002/2003.
Presença confirmada (PC)
Combinações mínimas (1/2/3/4+5)
Presença Provável (PP)
Combinações mínimas (1/2+4/3/4/5)
1. Observação direta (incluindo animais mortos);
2. Uivos:
3. Dejetos (n≥3) atribuídos ao lobo (com presas selvagens
e/ou equinos/bovinos nas zonas serranas onde estes
animais são criados em regime de semiliberdade) em locais
diferentes (n≥2 e distantes pelo menos 2 km na mesma
quadrícula) ou concentrados numa extensão máxima de
2 km;
4. Dejetos (n≥3) atribuídos ao lobo (com presas
domésticas) em locais diferentes (n≥2 e distantes pelo
menos 2 km na mesma quadrícula) ou concentrados numa
extensão máxima de 2 km;
5. Prejuízos atribuídos ao lobo (≥1 ocorrência/ano em 2
anos consecutivos ou em 3 não consecutivos) registados
nos últimos 5 anos, incluindo os anos do censo (1999, 2000,
2001, 2002, 2003).
1. Dejetos (n<3) atribuídos lobo (com presas selvagens e/ou
equinos/bovinos nas zonas serranas onde estes animais são
criados em regime de semiliberdade);
2. Dejetos (n<3) atribuídos ao lobo (com presas domésticas);
3. Dejetos (n≥3) atribuídos ao lobo (com presas domésticas) em
locais diferentes (n≥2 e distantes pelo menos 2 km na mesma
quadrícula) ou concentrados numa extensão máxima de 2km;
4. Prejuízos atribuídos ao lobo (≥1 ocorrência) registada nos
últimos 5 anos, incluindo os anos do censo (1999, 2000, 2001,
2002, 2003);
5. Presença confirmada (de acordo com os respetivos critérios)
num dos três últimos anos, para além dos anos do censo (1999,
2000, 2001).
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Os resultados finais deste censo evidenciaram uma área de presença global da espécie de 20.400 km2, dos
quais 10.100 km2 foram considerados como área de presença confirmada e 10.300 km2 como área de
presença provável (Tabela 1.2).
Tabela 1.2 – Área de presença de lobo em Portugal segundo o Censo Nacional de Lobo 2002/2003.
Foram definidas duas grandes subpopulações lupinas separadas pelo rio Douro: uma a norte deste rio, com
uma área de presença global de cerca de 13.600 km2 e em contacto com a população espanhola; e outra a
sul do Douro, com uma área de distribuição mais restrita (6.800 km2) e aparentemente isolada quer em
relação à subpopulação a norte do Douro quer em relação à população espanhola (Figuras 1.3 e 1.4).
Segundo a distribuição espacial das áreas de presença confirmada e dos grupos familiares identificados (ver
Efetivo Populacional adiante) foi possível definir 4 grandes núcleos populacionais de lobo em Portugal:
Peneda‐Gerês, Alvão‐Padrela, Bragança e Sul do Douro (Figura 1.5). As linhas de fragmentação entre estes
núcleos parecem estar associadas a vales de importantes rios como o Tâmega, o Tua‐Rabaçal e o rio Douro,
que coincidem com zonas onde a presença humana se faz sentir com maior intensidade. Na região a sul do
Douro podem ainda considerar‐se 2 subnúcleos: um mais central e estável denominado de Arada‐Trancoso
e um outro mais instável, na região fronteiriça, denominado de Sabugal (assinalado com uma mancha laranja
na Figura 1.5).
Norte Douro Sul Douro Nacional
Presença Confirmada 8.100 Km2 2.000 Km2 10.100 Km2
Presença Provável 5.500 Km2 4.800 Km2 10.300 Km2
Presença Total 13.600 Km2 6.800 Km2 20.400 Km2
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Figuras 1.3, 1.4 e 1.5 Distribuição espacial da presença de lobo em Portugal, sua distinção entre áreas de presença confirmada e de presença provável e núcleos populacionais considerados, segundo o Censo Nacional de Lobo 2002/2003 (PIMENTA et al., 2005)
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1.3 Comparação entre censos (evolução 1996‐2003)
Apesar das metodologias não serem totalmente comparáveis entre os dois censos nacionais de lobo
realizados no nosso país, existem pontos de convergência que podem ser analisados conjuntamente, uma
vez que a malha de amostragem foi, em ambos, baseada em quadrículas UTM 10x10 km. Não considerando
a distinção entre áreas de presença confirmada e de presença provável (que não existiu no censo de 1996),
é possível verificar as áreas de estabilidade, regressão ou aumento entre censos (Figuras 1.6 e 1.7).
Os resultados demonstram que a presença de lobo se manteve estável entre censos na maior parte da sua
área de distribuição (81,2%), e que os fenómenos de regressão (3,5%) ou expansão (15,2%) se deram nos
limites da área de presença estável e não no interior dos núcleos populacionais identificados anteriormente.
Não foi identificado o aparecimento de novos núcleos populacionais nem o desaparecimento de núcleos
anteriormente existentes, podendo ter ocorrido o aparecimento ou desaparecimento de alcateias
localmente, em zonas de presença estável, o que será abordado em capítulos posteriores.
Figuras 1.6. e 1.7 ‐ Comparação das áreas de presença de lobo entre os censos de 1994‐1996 e 2002‐2003.
1.4 Fatores ambientais e humanos relacionados com a presença de lobo
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O lobo, sendo o carnívoro com a mais ampla distribuição geográfica a nível mundial (MECH & BOITANI, 2003)
é uma espécie bastante generalista, no que concerne tanto ao tipo de habitat em que pode viver como à sua
dieta. Esta espécie pode ser encontrada desde a tundra ártica até às zonas semidesérticas da Península
Arábica, passando pelas florestas temperadas do norte da Europa e pelos bosques mediterrânicos do sul
deste continente. A sua dieta é igualmente variada, podendo abranger ungulados de grande porte como os
alces ou os veados, passando pelos corços e javalis, e chegar a incluir lagomorfos (coelhos e lebres) e
pequenos roedores. A escassez de presas silvestres em várias regiões da sua área de distribuição (sendo
Portugal um desses casos) leva a que os lobos predem maioritariamente animais domésticos (caprinos,
ovinos, bovinos, equídeos ), o que constitui o principal motivo de conflito com o ser humano.
Apesar de, a nível internacional, existirem várias publicações científicas nas quais se relaciona a presença de
lobo com diferentes tipos de variáveis ambientais, em Portugal verifica‐se alguma escassez de estudos deste
cariz. Nos últimos anos houve um estudo que incidiu particularmente no distrito de Vila Real (EGGERMANN et
al., 2011) e um outro, ao abrigo do projeto LIFE Med‐Wolf (LIFE11 NAT/IT/069 – www.medwolf.eu), que
apesar de se ter focado na região fronteiriça da Beira Alta, produziu um modelo ecológico para toda a região
a norte do rio Tejo e algumas áreas a sul deste rio (FERRÃO DA COSTA & PETRUCCI‐FONSECA, 2013).
No estudo de EGGERMANN et al. (2011) foram relacionadas diversas variáveis ambientais com pontos de
presença confirmada de lobo, entre 2005 e 2007, tendo‐se concluído que no distrito de Vila Real a existência
de gado é o fator mais importante para a presença da espécie. Ainda de acordo com este estudo, o lobo pode
sobreviver em zonas com habitat menos favorável e aceitar um determinado grau de presença humana,
desde que este não cause um nível de mortalidade insustentável para a viabilidade da espécie ou que exista
uma excessiva fragmentação da área devido à presença de infraestruturas humanas.
No estudo conduzido por FERRÃO DA COSTA & PETRUCCI‐FONSECA (2013), numa área que abrange todo o
território nacional a norte do rio Tejo e ainda uma faixa com 100 km de largura a sul deste rio, e com base
nos pontos de presença de lobo confirmada entre 2008 e 2013, verificou‐se que a altitude é o fator mais
relevante para a presença de lobo em Portugal. Como é expectável, a altitude está correlacionada com outros
fatores como uma menor densidade populacional urbana e/ou uma menor densidade de estradas, aliada a
uma maior presença de animais pastoreados em regime extensivo e acessíveis a este predador. O facto de o
lobo estar muito dependente de presas domésticas em Portugal fica também salientado no modelo obtido,
uma vez que a presença da espécie não é mais provável em zonas com densidade urbana nula, mas sim em
áreas com existência esparsa de localidades em território rural, que proporcionem espaços de refúgio para
o lobo, e, ao mesmo tempo, proximidade à sua fonte de alimento principal, o gado. Também os locais de
reprodução do lobo se caracterizam por uma menor densidade humana, proximidade a linhas de água (< 50
m) e presença de um mosaico de manchas florestais, arbustivas e áreas abertas, de acordo com os resultados
obtidos num estudo realizado na região do nordeste de Portugal (ALMEIDA, 2008). Estes locais constituem
áreas de grande importância para a conservação da espécie, atendendo à fidelidade das crias aos mesmos
durante os primeiros 5 meses de vida (Maio‐Setembro).
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1.5 Potenciais áreas de expansão do lobo em Portugal a médio prazo
Seguindo os modelos criados no trabalho atrás referido (FERRÃO DA COSTA et al., 2013) foi possível criar um
mapa de adequabilidade para a espécie em Portugal e com isso evidenciar áreas onde atualmente a espécie
não está presente, mas poderá vir a estar num futuro próximo, pela adequabilidade da área e conectividade
com zonas de presença atual (Figura 1.8).
Além dos atuais 20.400 km2 dados como zona de presença de lobo em Portugal, os modelos criados preveem
a possibilidade de recolonização de mais cerca de 8.500 km2, maioritariamente a sul do rio Douro junto ao
Maciço Central (serras da Estrela e Gardunha), mas também áreas junto às serras do Caramulo (distrito de
Aveiro) ou de S. Mamede (distrito de Portalegre). Para que tal aconteça, terão de ser asseguradas algumas
condições, como a suficiência de disponibilidade alimentar (preferencialmente silvestre), a inexistência de
perseguição humana e que as alcateias mais próximas consigam apresentar densidades que potenciem o
aparecimento de novas alcateias (fator que pode beneficiar da expansão da população lupina espanhola).
Figura 1.8. Potenciais áreas de expansão do lobo em Portugal a
médio prazo segundo FERRÃO DA COSTA et al. (2013).
1.6 O lobo e as infraestruturas humanas
a. Estradas
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Tal como referido anteriormente, nomeadamente nos fatores que podem condicionar a presença do lobo
numa determinada região, as infraestruturas humanas (o seu número, densidade, localização, extensão)
desempenham um papel importante na adequabilidade de determinada área para a espécie. No caso das
rodovias, estas foram apontadas como uma das causas da regressão do lobo no século XX (PETRUCCI‐FONSECA,
1990) e atualmente constituem uma fonte de impactes potenciais sobre a espécie, nomeadamente:
atropelamento, destruição e fragmentação de habitat, efeito de barreira e aumento da perturbação humana.
Torna‐se então imperativo adotar medidas mitigadoras para estes efeitos aquando da construção de novas
rodovias, nomeadamente autoestradas, assegurando a permeabilidade transversal das vias (passagens
inferiores ou superiores), bem como uma correta vedação das mesmas ou alterando o desenho inicial do
troço a construir.
Estudos pioneiros nos Estados Unidos da América, onde os lobos ocupam maioritariamente zonas de muito
baixa densidade humana, revelaram valores de densidade de estradas em redor dos 0,5 km/km2 como o
limite máximo para que os lobos estivessem presentes em determinada zona (THIEL, 1985; MECH et al., 1988;
FULLER et al., 1992; MLADENOFF et al., 1995, 1998, 1999). Porém, no continente europeu, onde a presença de
lobo é mais heterogénea em relação à proximidade humana, foram encontrados valores de densidade de
estradas em zonas ocupadas por lobo que podem variar dos 0,4 km/km2 na Finlândia (KAARTINEN et al., 2005)
aos 1,12 km/km2 no sul da Polónia (JEDRZEJEWSKI et al., 2005). Na vizinha Galiza, DENNEHY et al. (2013)
encontraram uma densidade de estradas alcatroadas média de 1,92 km/km2 para 25 territórios de lobo,
chegando alguns territórios a conter uma densidade de 2,95 km/km2.
Na área de presença de lobo em Portugal, a densidade de estradas varia entre os 0 km/km2 até aos
1,8 km/km2 (ambos os valores a norte do rio Douro), sendo que a média tanto a norte como a sul do rio
Douro ronda os 0,47 km/km2 (Tabela 1.3).
Tabela 1.3 – Densidades de estradas alcatroadas na área de presença de lobo em Portugal.
Média Mínimo Máximo
Norte Douro 0,47 Km/Km2 0 Km/Km2 1,8 Km/Km2
Sul Douro 0,47 Km/Km2 0,06 Km/Km2 0,9 Km/Km2
b. Parques Eólicos
Nos últimos 15 a 20 anos, a aposta de Portugal nas energias renováveis, nomeadamente na energia eólica
(Figura 1.9), levou à construção de parques eólicos em quase todas as áreas montanhosas do território
nacional (Figura 1.10) (e2p, 2012). Sendo o isolamento e a dificuldade de acesso humano fatores que
permitiram ao lobo subsistir nas zonas serranas do norte e centro do país, tem particular relevância a
proliferação de parques eólicos nas regiões montanhosas na área de distribuição do lobo. Estes
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empreendimentos, ao facilitarem o acesso humano aos últimos refúgios da espécie, através da abertura de
acessos, podem contribuir negativamente para a viabilidade do lobo nessas zonas a médio prazo. Impactes
como o efeito de repulsa (ou seja, o evitar de uma zona anteriormente utilizada) ou o abandono de locais de
reprodução já têm sido descritos em algumas monitorizações efetuadas no nosso país (FERRÃO DA COSTA &
ÁLVARES, 2008; RIO‐MAIOR et al., 2009).
Atualmente existem cerca de 1.200 aerogeradores (6 aerogeradores/100 km2) instalados em área de
ocorrência regular de lobo, segundo o Censo Nacional de Lobo‐ibérico 2002/2003 (Figura 1.10), abrangendo
estes aerogeradores o território de 46% (n=29) das alcateias identificadas. Tal como para as rodovias, para
compatibilizar a presença destas infraestruturas com a presença da espécie são necessárias medidas
mitigadoras, que podem ir desde alterações no desenho do parque eólico à própria não construção do
empreendimento.
Figura 1.9. Potência eólica acumulada em Portugalaté 2011.
Figura 1.10. Distribuição dos aerogeradores instalados em Portugal.
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2. EFETIVO POPULACIONAL
2.1 Efetivo Populacional em 2002 e 2003
No último censo nacional de lobo, realizado entre 2002 e 2003, foram identificadas 63 alcateias (51
confirmadas e 12 prováveis) e estimado um efetivo populacional entre 220 e 430 indivíduos (PIMENTA et al.
2005). Esta estimativa foi realizada com base numa prospeção sistematizada, durante duas épocas
reprodutoras, da área onde então se entendia ser possível a ocorrência de lobo em Portugal (Figura 2.1).
2.2 Efetivo Populacional entre 2004 e 2013
A ausência de um censo populacional atualizado não permite fazer inferências sobre o atual efetivo
populacional de lobo a nível nacional. De forma a colmatar esta lacuna, foi realizada uma compilação da
informação disponível sobre a situação populacional do lobo após o último censo nacional realizado em
2002/2003. Esta informação foi disponibilizada pelas entidades envolvidas no presente plano de ação, que
incluem equipas que têm vindo a realizar monitorizações desta espécie a nível local ou regional, de forma
contínua ou pontual, entre 2004 e 2013 (todas as referências bibliográficas utilizadas para a compilação da
informação disponível são indicadas no Anexo I). A confirmação da presença de alcateias, do seu efetivo
mínimo e da reprodução das mesmas, foi definida de acordo com os critérios referidos na Tabela 2.1, os quais
se baseiam nos utilizados no censo de 2002/2003.
Figura 2.1 ‐ Alcateias confirmadas e prováveis detetadas no censo nacional de 2002/2003 (adaptado de PIMENTA et al. 2005)
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Tabela 2.1 ‐ Critérios utilizados para a definição de “Alcateia Confirmada” (Efetivo Mínimo), “Reprodução Provável” e “Reprodução Confirmada”, de acordo com os critérios utilizados no censo de 2002/2003.
Alcateia Confirmada
(Efetivo Mínimo) Reprodução Provável
Reprodução
Confirmada
Observação direta (≥2) Registo fotográfico (≥2) Escuta de coro de uivos Identificação genética individual (≥2)
Captura e marcação para seguimento por telemetria (≥2)
Concentração elevada de dejetos (critério utilizado apenas para determinação de alcateia confirmada)
Concentração elevada de dejetos Observação de rastos na neve de um elevado nº de lobos (≥ 4 indivíduos)
Observação simultânea de um elevado nº de lobos (≥ 4 indivíduos)
Deteção de adultos a transportarem alimento para local de reprodução
Deteção de fêmeas com evidências de estarem a amamentar
Observação direta de crias
Registo fotográfico de crias
Escuta de coros de uivos com crias
Recolha de cadáveres de crias do ano (< 6meses)
Com base nestes critérios, entre 2004 e 2013 foram detetadas 47 alcateias (41 confirmadas e 6 prováveis),
das quais 6 (4 confirmadas e 2 prováveis) se localizam em áreas que tinham sido identificadas apenas como
zonas de presença de lobo, sem ocorrência de grupos, durante o censo de 2002/2003 (Figura 2.2). A
prospecção no período entre 2004 e 2013 não permitiu detectar evidências da presença em 5 alcateias que
tinham sido identificadas no censo de 2002/2003 (3 a Norte do Douro e 2 a Sul do Douro). De referir que não
houve monitorização posterior ao censo de 2002/2003 na área ocupada por 17 (27%) das alcateias
identificadas nesse trabalho, 16 das quais a Norte do rio Douro e 1 a Sul do mesmo (Figura 2.2). Na
subpopulação a Norte do Rio Douro, foram detetadas 40 alcateias (34 confirmadas e 6 prováveis), 5 das quais
(3 alcateias confirmadas e 2 prováveis) não tinham sido identificadas no censo de 2002/2003. Na
subpopulação a Sul do Rio Douro foram detetadas 7 alcateias confirmadas, uma das quais não tinha sido
identificada no censo de 2002/2003 (Figura 2.2).
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a. Tendência populacional nas áreas de prospeção contínua
A Figura 2.3 representa o número de anos de prospeção por alcateia, entre 2004 e 2013, sendo de destacar
que não tendo todas as alcateias sido, ao longo deste período, objeto de uma monitorização sistematizada
como a que é realizada num censo nacional, a informação compilada apresenta lacunas. Como referido, não
existe informação disponível relativamente a 27% (N=17) das alcateias identificadas no censo 2002/2003, as
quais se localizam maioritariamente no núcleo populacional de Bragança (Figura 2.3), tendo 30% (N=19) das
alcateias identificadas no censo sido prospetadas apenas durante 1 ou 2 anos entre 2004 e 2013 (Figura 2.3).
Contudo, foi possível identificar três áreas nas quais as alcateias têm sido alvo de uma prospeção mais
contínua entre 2004 e 2013, designadamente: Alto Minho, Alvão‐Padrela e Arada‐Trancoso, as quais incluem
6, 10 e 6 alcateias, respetivamente. Todas estas alcateias foram prospetadas durante um mínimo de 4 anos.
Na análise que se segue foi ainda incluída a área de Sabugal, que integra 3 alcateias e para a qual se
considerou um mínimo de 2 anos de prospeção, por se tratar de uma região marginal de ocorrência de lobo
e com presença de alcateias muito instáveis (Figura 2.3).
Figura 2.2 ‐ Alcateias confirmadas e prováveis detetadas de 2004 a 2013
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Figura 2.3 ‐ Número de anos de prospeção por alcateia de 2004 a 2013.
Os resultados de monitorização obtidos nestas quatro áreas de prospeção contínua permitem avaliar, a um
nível regional, o grau de estabilidade das alcateias e a tendência populacional do lobo. Como indicadores da
estabilidade das alcateias, foram estimadas as taxas de sucesso de deteção de: i) alcateia (Nº de anos em que
a alcateia foi confirmada/Nº de anos de prospeção por alcateia), e ii) reprodução (Nº de anos com reprodução
confirmada na alcateia/Nº de anos de prospeção por alcateia). Em cada área de prospeção contínua, destaca‐
se uma acentuada variação no grau de estabilidade das alcateias (Figura 2.4). No que respeita à deteção de
alcateias, apenas um reduzido número de alcateias em cada uma das áreas em análise, tem valores elevados,
sugerindo a sua maior estabilidade. Nas áreas de Alvão‐Padrela e de Sabugal cerca de metade das alcateias
não foram confirmadas durante o período em análise (Figura 2.4A).
No que respeita à reprodução o Alto Minho parece ser a área com maior estabilidade com duas das suas
alcateias a apresentarem taxas superiores a 75% (Figura 2.4B). Pelo contrário, as áreas de Alvão‐Padrela,
Arada‐Trancoso e Sabugal, parecem ser constituídas por alcateias com menor estabilidade reprodutora.
Nestas alcateias, as taxas de deteção de reprodução são inferiores a 50% e, em mais de metade das mesmas,
não foi detetada reprodução (Figura 2.4B). Na área de Sabugal não foi detetada reprodução em qualquer das
alcateias identificadas (Figura 2.4B).
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Figura 2.4 ‐ Sucesso de deteção de: A) alcateia (nº de anos em que a alcateia foi confirmada/nº de anos de
prospeção) e B) reprodução (nº de anos com reprodução confirmada na alcateia/nº de anos de prospeção por alcateia, entre 2004 e 2013.
A evolução do número de alcateias detetadas (confirmadas e prováveis) nas áreas alvo de prospeção
contínua entre 2004 e 2013 permite analisar a tendência populacional do lobo, a nível regional. De uma
forma geral, verifica‐se em todas as áreas uma ligeira variação no número de alcateias detetadas ao longo
dos anos, situação resultante da dinâmica populacional associada a esta espécie (Figura 2.5). Não obstante,
considerando‐se os anos em que foi prospetada, em cada área, a totalidade do habitat favorável ao lobo
(100% Área Favorável Prospetada), verifica‐se que o número de alcateias parece ter‐se mantido estável nas
áreas do Alto Minho e de Arada‐Trancoso e ter diminuído na área de Alvão‐Padrela, comparativamente com
o número de alcateias detetadas no censo de 2002/2003. A situação na área do Alto Minho aparenta
estabilidade, com 4 a 6 alcateias detetadas em quase todos os anos, e com uma elevada taxa de reprodução
(Figura 2.5A e Figura2.4B). Na área de Arada‐Trancoso a população aparenta igualmente alguma estabilidade
relativamente ao número de alcateias detetadas (5‐6 alcateias detetadas na maioria dos ano) apesar destas
apresentarem um sucesso de reprodução muito reduzido (Figura 2.5B e Figura 2.4B). A área de Alvão‐Padrela
apresenta um acentuado decréscimo no número de alcateias, com a deteção de 10 alcateias em 2002/2003
e uma média de apenas 3 alcateias entre 2010 e 2013 (Figura 2.5C). Este decréscimo, associado ao reduzido
sucesso de reprodução já referido sugere que as alcateias desta área serão as mais vulneráveis e as mais
instáveis no que respeita às áreas analisadas. Na área de Sabugal foram detetadas 2 alcateias prováveis no
censo nacional de 2002/2003, seguindo‐se um período no qual apesar de ter sido registada a presença
regular de lobo, apenas em 2012 e 2013 foi possível confirmar a presença de uma alcateia e com uma
localização diferente das alcateias identificadas no referido censo (Figura 2.5D).
A B
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Figura 2.5 ‐ Número de alcateias detetadas (prováveis e confirmadas) e percentagem de área favorável prospetada nas quatro áreas de estudo com prospeção superior a 4 anos (Alto Minho, Arada‐Trancoso e Alvão‐Padrela) ou 2 anos (Sabugal), entre 2002/2003 e 2013.
b. Número de Indivíduos por alcateia para cada Núcleo Populacional
Com base na informação disponível, obtiveram‐se números médios de indivíduos (adultos e crias) por
alcateia de 4,0 adultos e 3,3 crias a norte do Rio Douro e 4,2 adultos e 2,3 crias a sul do Rio Douro (Figura 2.6).
Na área do Alto Minho, verificaram‐se, em determinados anos, efetivos máximos de 16 indivíduos por
alcateia (8 adultos e 8 crias) (NAKAMURA et al. 2012).
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Figura 2.6 ‐ Número médio de indivíduos por alcateia a norte e a sul do Rio Douro, entre 2004 e 2013.O cálculo destes
valores teve por base a confirmação anual do tamanho de grupo num total de 45 alcateias, 36 das quais com reprodução confirmada, na região a norte do rio Douro e de 20 alcateias, 8 das quais com reprodução confirmada, na região a sul do rio Douro.
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3. ECOLOGIA ESPACIAL
3.1 Dimensão das áreas vitais
a. Captura e marcação de lobos em Portugal
O estudo da ecologia espacial do lobo em Portugal, recorrendo ao seguimento de animais por telemetria,
iniciou‐se em 1982 na serra da Nogueira (núcleo populacional de Bragança) com a captura e marcação de um
total de 10 lobos (3 fêmeas e 7 machos) seguidos por radiotelemetria entre 1982 e 1985 (PEREIRA et al. 1985).
No núcleo populacional de Bragança, foram posteriormente capturados no Parque Natural de Montesinho 4
lobos (3 fêmeas e 1 macho), entre 1990 e 1991, dos quais um era uma cria pelo que apenas 3 foram seguidos
por radiotelemetria (MOREIRA 1992). Ainda na região nordeste do núcleo populacional de Bragança foram
capturados mais 6 lobos (2 fêmeas e 4 machos), entre 1996 e 1997, dos quais 2 eram crias e 4 foram seguidos
por radiotelemetria (MOREIRA et al. 1997; PIMENTA 1998) (Tabela 3.1).
No núcleo populacional do Sul do Douro foram seguidos 3 lobos (1 fêmea e 2 machos) na região de Arada‐
Trancoso com recurso a radiotelemetria entre 1997 e 1999 (BASTOS 2001; GRILO et al. 2002). Posteriormente,
em 2010, foi seguido por telemetria GPS um lobo macho no mesmo núcleo populacional (ROQUE et al. 2011).
No núcleo populacional da Peneda‐Gerês foram seguidos 3 lobos machos por radiotelemetria, na zona de
Montalegre entre 1999 e 2003 (ÁLVARES 2011). Posteriormente, em 2012, na mesma zona, foi seguido por
telemetria GPS um lobo macho que foi alvo de tratamento clínico e reabilitação após a sua captura num laço
ilegal (RIO‐MAIOR et al. 2012) (Tabela 3.1). Ainda no mesmo núcleo populacional mas na região do Alto Minho
foram capturados 17 lobos (14 fêmeas e 3 machos) entre 2007 e 2013, dos quais 15 foram seguidos por
telemetria GPS, sendo os restantes 2 crias (RIO‐MAIOR et al. 2011; RIO‐MAIOR et al. 2014) (Tabela 3.1). Tabela 3.1 ‐ Lobos capturados e seguidos por telemetria entre 1982 e 2014 em Portugal
Núcleo Populacional
Nº lobos capturados
Nº lobos marcados
com colar de
telemetria
Método de
telemetria
Peneda‐Gerês
Alto Minho 17 (14♀, 3♂) 15 (12♀, 3♂) GPS
Montalegre 4 (4♂) 4 (4♂) Rádio e GPS
Bragança
Montesinho 10 (5♀, 5♂) 7 (3♀, 4♂) Rádio
Nogueira 10 (3♀, 7♂) 10 (3♀, 7♂) Rádio
Sul Douro
Arada/Trancoso 4 (1♀, 3♂) 4 (1♀, 3♂) Rádio e GPS
TOTAL 45 (23♀, 22♂) 40 (19♀, 21♂) 23 rádio; 17 GPS
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b. Seguimento de lobos marcados por telemetria rádio e GPS
Até 2014 foram marcados e seguidos por telemetria um total de 40 lobos (19 fêmeas e 21 machos)
distribuídos por cinco áreas de estudo pertencentes aos núcleos populacionais de Bragança, Peneda‐Gerês e
Arada‐Trancoso. Em Portugal, o seguimento de lobos foi efetuado com recurso à telemetria rádio durante a
década de 1980 e 1990 e, mais recentemente, recorrendo à telemetria GPS, a qual permite localizar os
animais de forma mais eficiente e rigorosa. A telemetria permite obter localizações dos lobos marcados ao
longo do tempo que, por sua vez, fornecem informação sobre as suas áreas vitais (área dentro da qual o
animal se movimenta enquanto desempenha as suas atividades normais de rotina) e movimentos de
dispersão. A dimensão das áreas vitais dos lobos marcados foi estimada através do método do Mínimo
Polígono Convexo (MPC), incluindo 100% das localizações de cada animal marcado – MPC100, que foi o
método utilizado de forma generalizada nos estudos realizados no país.
Foi possível obter as áreas vitais (MPC100) de 30 lobos seguidos por telemetria (Figura 3.1). Apesar de terem
sido marcados 40 lobos com colares de telemetria (Tabela 3.1), na análise das áreas vitais médias apenas
foram considerados dados de seguimento de 30 lobos (Tabela 3.2) por essa informação se encontrar
disponível e por se referirem a períodos de seguimento superiores a 2 meses. De referir que as áreas vitais
relativas aos lobos seguidos na serra da Nogueira durante a década de 80 foram obtidas por aproximação
com base na informação espacial disponível. As suas reduzidas dimensões médias (MPC100=47 km2),
relativamente aos valores obtidos em estudos análogos realizados noutras regiões, deverão estar
subestimadas devido ao reduzido número de localizações. Assim, não considerando estes valores, a
dimensão média das áreas vitais de lobos residentes (lobos integrados em alcateias) foram menores no Alto
Minho (MPC100=135 km2) e mais extensas em Montalegre (MPC100=270 km2). No que respeita às áreas
ocupadas por lobos durante os seus períodos de dispersão, obtiveram‐se as áreas médias de maiores
dimensões para os lobos do Alto Minho (MPC100=1082 km2) em oposição aos lobos do núcleo populacional
do sul do Douro, com as áreas médias mais reduzidas para lobos dispersantes (MPC100=414 km2) (Tabela
3.2). As distâncias médias de dispersão obtidas para dois lobos seguidos na zona de Montalegre foram de
20 km.
Com base na informação de lobos residentes foi possível estimar as médias das áreas vitais para os diferentes
núcleos populacionais. Obtiveram‐se áreas de 203 km2 para a Peneda‐Gerês, 116 km2 para Bragança e 185
km2 para o núcleo populacional do Sul do Douro, o que corresponde a uma dimensão média de 168 km2 de
área vital para o total da população de lobo em Portugal (Tabela 3.2).
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Tabela 3.2 ‐ Áreas vitais (MPC100) médias dos lobos seguidos por telemetria entre 1982 e 2014, por núcleo populacional. A área vital média estimada para os lobos residentes inclui estimativas do seguimento parcial (seguimento durante um período inferior ao período total de seguimento) de lobos que foram residentes em mais do que uma alcateia. A área vital média estimada para lobos dispersantes inclui estimativas de seguimento parcial de lobos que tiveram períodos de dispersão ainda que tenham sido temporariamente residentes em alcateias.
Núcleo Populacional
Área Vital
(MPC100)
Lobos residentes
Área Vital
(MPC100)
Lobos dispersantes
Peneda‐Gerês
Alto Minho 135 km2 (n=10) 1082 km2 (n=3)
Montalegre 270 km2 (n=5) 724 km2 (n=4)
MÉDIA 203 km2
Bragança
Montesinho 184 km2 (n=6) ‐
Nogueira 47 km2 (n=4) ‐
MÉDIA 116 km2
Sul Douro
Arada/Trancoso 185 km2 (n=3) 414 km2 (n=4)
MÉDIA 185 km2
Figura 3.1 ‐ Representação geográfica das áreas vitais (MPC100) dos lobos seguidos por telemetria em Portugal entre 1982 e 2014. A tracejado representam‐se as áreas vitais de lobos dispersantes.
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4. PARÂMETROS GENÉTICOS
4.1 Estruturação, conetividade e diversidade genética
O lobo‐ibérico apresenta uma menor diversidade genética e uma maior consanguinidade relativamente às
populações de lobo do leste Europeu, certamente indicativas do seu longo isolamento geográfico, associado
a reduções populacionais significativas (PILOT et al. 2014). À escala da população portuguesa constata‐se um
fenómeno regional semelhante, tendo‐se verificado que a subpopulação a sul do rio Douro, geograficamente
isolada e com reduções muito significativas do efetivo populacional nas últimas décadas, comporta uma
diversidade genética ligeiramente menor do que a subpopulação a norte do rio Douro, havendo evidências
de isolamento genético entre estas duas subpopulações (Figura 4.1A e Tabela 4.1; GODINHO et al. 2007). No
entanto, estima‐se que a partição genética em quatro grupos seja o cenário mais provável para a população
de lobo em Portugal, com três grupos a norte do rio Douro que não apresentam uma associação geográfica
perfeita com os núcleos populacionais definidos no último censo por Pimenta et al. (2005; Figura 4.1B e
Tabela 4.1). Estes três grupos, localizados no Alto Minho, Noroeste e Nordeste, são geneticamente
diferenciados e apresentam um moderado grau de conectividade entre si, ao contrário do que se observa
entre norte e sul do Douro, onde a evidência de conectividade é muito reduzida (um indivíduo encontrado
em 2004 a sul do Douro revelou uma possível ancestralidade na subpopulação a norte do rio Douro). Os lobos
do Alto Minho, localizados entre os rios Minho e Lima, aparentam um maior grau de isolamento dos restantes
núcleos populacionais a norte do rio Douro e possuem menor diversidade genética (Tabela 4.1; GODINHO et
al. 2007). A mesma análise genética permitiu também compreender que o lobo encontrado em 2004 fora da
área de presença regular a sul do rio Douro (em Idanha‐a‐Nova) não pertencia geneticamente a essa
subpopulação, sendo, com grande probabilidade, um indivíduo dispersante com origem na população
espanhola ou do Nordeste de Trás‐os‐Montes.
Tabela 4.1 ‐ Parâmetros de diversidade genética (riqueza alélica e heterozigotia) nos quatro grupos genéticos de lobo em Portugal e para a totalidade da população portuguesa, calculados com base em 39 microssatélites (N = nº de indivíduos analisados)
Núcleos Populacionais (N) Riqueza alélica Heterozigotia
Alto Minho (7)
Noroeste (7)
Nordeste (25)
Sul do Douro (9)
2,5
2,5
3,3
2,8
0,53
0,59
0,58
0,46
Portugal
2,8
0,54
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A monitorização molecular (com base em marcadores genéticos para identificar indivíduos) realizada nas seis
alcateias presentes no núcleo populacional do sul do rio Douro (Arada‐Trancoso) entre 2007 e 2011
evidenciou a existência de conectividade entre quatro delas: alcateias de Montemuro, Leomil, Lapa e
Trancoso (Figura 4.2). Não foi detetado qualquer movimento de dispersão em lobos das alcateias da Arada e
de Cinfães, não havendo portanto evidência de conectividade entre estas alcateias, nem entre si nem com
as restantes deste núcleo populacional (ROQUE et al. 2011). Após 2011 não existe informação disponível que
Figura 4.1 ‐ Distribuição geográfica da estruturação genética do lobo em Portugal, estimada por estatística Bayesiana com base em informação de 39 marcadores autossómicos. A e B representam a subdivisão em dois (K=2) e quatro (K=4) grupos, respetivamente. Cada círculo representa um indivíduo. As cores das secções correspondem à probabilidade de filiação do genoma do indivíduo a cada um dos grupos.
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permita monitorizar esta situação de isolamento, assim como nunca foi avaliada a possível conectividade
entre os núcleos Arada‐Trancoso e Sabugal.
4.2 Evidências de hibridação cão‐lobo
No ano de 2011 foi efetuada uma avaliação genética de possíveis casos de hibridação entre lobo e cão com
base em 47 amostras disponíveis no Sistema de Monitorização de Lobos Mortos (SMLM) e distribuídas pela
área de ocorrência nacional da espécie (Figura 4.3). Foi confirmada a existência de um único caso de
hibridação junto à povoação de Cabana Maior (zona marginal de ocorrência de lobo situada na vertente sul
Figura 4.2 ‐ Deteção de movimentos de indivíduos entre as alcateias a sul do Douro utilizando amostragem genética não‐invasiva no período de 2007 a 2011. Os resultados apresentados baseiam‐se na localização geográfica de 32 indivíduos identificados molecularmente múltiplas vezes.
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da serra do Soajo, no concelho de Arcos de Valdevez), resultante da análise genética do cadáver de um
indivíduo jovem nascido em 2008 (GODINHO et al. 2011). Em 2011 foi recolhido, no âmbito do SMLM, um
segundo indivíduo híbrido na mesma área, com idade estimada de 2‐3 anos. A monitorização exaustiva desta
área e de áreas adjacentes através de amostragem não‐invasiva permitiu detetar um terceiro indivíduo
híbrido (PACHECO 2012). Uma avaliação de filiação biológica revelou que os três indivíduos híbridos
encontrados eram irmãos e resultavam de um único evento de hibridação que envolveu o cruzamento entre
um lobo fêmea e um cão macho (GODINHO et al. 2011; R. GODINHO, dados inéditos). Os dois primeiros foram
eliminados por atropelamento e o terceiro permanecia na região em setembro de 2011. Adicionalmente, em
2014 foi detetado, pela primeira vez, um híbrido na subpopulação a sul do rio Douro, correspondente a uma
cria na serra da Arada (R. TORRES, dados inéditos).
Figura 4.3 ‐ Localização geográfica do único evento de hibridação cão‐lobo detetado em Portugal, a partir da análise de 42 microssatélites em 47 amostras. O triângulo assinala o caso de hibridação, na vertente sul da Serra do Soajo, junto ao vale do rio Lima.
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5. ECOLOGIA TRÓFICA
A ecologia trófica do lobo constitui um dos parâmetros biológicos desta espécie com maiores implicações no
conflito associado ao Homem, uma vez que a predação de animais domésticos gera uma elevada
animosidade por parte das populações humanas locais. O lobo é, em termos tróficos, um carnívoro
generalista apesar da sua alimentação se basear maioritariamente em ungulados de médio e grande porte.
Ao longo de toda a sua área de ocorrência mundial, a representatividade de espécies pecuárias na dieta do
lobo parece depender essencialmente da disponibilidade de presas silvestres alternativas (e.g. ungulados
silvestres) e da vulnerabilidade de presas domésticas tendo em conta o seu efetivo, forma de pastoreio e
nível de proteção face a ataques de lobo.
5.1 Dieta do lobo
A partir da compilação dos trabalhos em dieta de lobo realizados em Portugal (33 estudos), apresentam‐se
em seguida os resultados de alguns casos mais ilustrativos e que envolveram um tamanho de amostra
superior a 70 dejetos analisados. Os dados de dieta são baseados na análise de restos macroscópicos contidos
em dejetos e expressos em Frequência de Ocorrência (F.O.) de cada item alimentar. Foram considerados 10
itens alimentares de acordo com a espécie‐presa, correspondendo a categoria “OUTROS” a um grupo que
inclui Lagomorfos, Micromamíferos e Aves. O conhecimento sobre a dieta do lobo em Portugal provém
maioritariamente de estudos realizados desde os finais da década de 1970 até finais da década de 1990,
tornando‐se evidente a necessidade de estudos mais recentes que possam analisar a ecologia trófica do lobo
face à atual disponibilidade de presas domésticas e silvestres. A única exceção, é o recente estudo de dieta
realizado a sul do rio Douro, nomeadamente nas alcateias da Arada, Montemuro e Cinfães onde se
observaram padrões concordantes com estudos anteriores nessa região (TORRES et al.,2015a)
a. Variação regional da dieta: Tendo em conta a dieta do lobo nos seus principais núcleos
populacionais, é evidente uma acentuada variação regional na frequência de consumo dos distintos
itens alimentares (Figura 5.1). De um modo geral, a base da alimentação do lobo são as espécies
domésticas, nomeadamente cabras, ovelhas, vacas e equídeos (inclui cavalos, asininos e muares), as
quais no total atingem uma elevada expressão (F.O. > 70%) na maioria das áreas em estudo. A única
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exceção é a região do Parque Natural de Montesinho (NE do distrito de Bragança), onde as espécies
pecuárias representam menos de 50% da dieta do lobo e os ungulados silvestres, como o javali, o
corço e o veado, constituem importantes recursos tróficos (F.O. > 30%). O consumo das várias
espécies pecuárias, nomeadamente equinos e bovinos, parece ter por base distintas estratégias
tróficas, envolvendo por exemplo, a predação na área da Peneda‐Gerês e a necrofagia em algumas
áreas a sul do rio Douro (QUARESMA, 2002; ÁLVARES, 2011). É de realçar a predação preferencial de
equinos, nomeadamente no núcleo da Peneda‐Gerês, onde são essencialmente pastoreados em
regime livre e se regista um consumo bastante superior face à sua disponibilidade (ÁLVARES, 2011). É
ainda de salientar o consumo regular de carnívoros, representados por raposas, gatos e, na sua
maioria, por cães domésticos (os quais podem atingir mais de 10% da dieta), evidenciando a
importância do lobo no controlo das populações de carnívoros de médio porte, e em particular, de
cães vadios e assilvestrados.
Figura 5.1 ‐ Variação regional da dieta do lobo: frequência de ocorrência de itens alimentares em quatro áreas
localizadas nos principais núcleos populacionais de lobo
b. Variação local da dieta: A variação espacial na dieta do lobo é também evidente a uma escala local,
onde alcateias adjacentes ou próximas fazem um uso diferencial dos recursos tróficos tendo em
conta a sua disponibilidade (Figura 5.2). Esta variação é particularmente evidente no consumo de
várias espécies pecuárias, como os bovinos e caprinos, resultado de variações ao nível local na
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dimensão dos seus efetivos e nas práticas de pastoreio. Este padrão de variação revela‐se de extrema
importância para a gestão do lobo, por evidenciar a necessidade de um conhecimento da realidade
local para uma correta aplicação de medidas de prevenção de ataques. Além disso, é também de
salientar a existência de alcateias adjacentes com diferenças muito acentuadas no que respeita à
dependência de recursos tróficos de origem antropogénica, evidenciando a importância da
diversidade e abundância de presas selvagens na redução do consumo de animais domésticos.
Figura 5.2 ‐ Variação local da dieta do lobo: Frequência de ocorrência de itens alimentares em alcateias próximas ou adjacentes
c. Variação temporal da dieta: O conhecimento da dieta do lobo em determinadas áreas ao longo de
um certo período de tempo permite avaliar a evolução temporal no consumo dos itens alimentares,
nomeadamente dos ungulados domésticos e silvestres (Figura 5.3). Em algumas regiões estudadas
desde 1980, verifica‐se um aumento no consumo de ungulados silvestres por parte do lobo,
inclusivamente em áreas onde os elevados efetivos pecuários continuam a constituir a base da sua
dieta, como é o caso da alcateia do Gerês. É de realçar a crescente representatividade dos ungulados
silvestres na dieta da alcateia das Rachas, situada a NE no núcleo populacional de Bragança, passando
de 30% na década de 1980 para 70% na década de 1990. Pelo contrário, na região do Parque Natural
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do Alvão o consumo de presas silvestres parece ter‐se mantido reduzido e constante (cerca de 14%
da dieta) ao longo de uma década.
Figura 5.3 ‐ Variação temporal da dieta do lobo: Frequência de ocorrência dos principais itens alimentares em três alcateias e ao longo de um período de tempo
5.2 Disponibilidade de presas silvestres
a. Javali (Sus scrofa): O javali era bastante abundante em Portugal até final do século XIX. Contudo, este
ungulado sofreu uma drástica redução no número de efetivos e na área de distribuição durante o
início do século XX, tendo as suas populações ficado restritas às zonas de fronteira com Espanha e a
algumas zonas de caça. Em 1967, devido à sua reduzida abundância, a caça ao javali foi proibida,
exceto nalgumas zonas cercadas. Foi a partir dos pequenos núcleos populacionais nas zonas de
fronteira, particularmente a sul do rio Tejo, que posteriormente ocorreu a expansão do javali para as
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regiões interiores do centro e norte do país (FONSECA, 2004). Atualmente, o javali é o ungulado com
maior distribuição e número de efetivos em Portugal, ocorrendo em todo o país, com exceção das
grandes zonas urbanas (Figura 5.4). Devido à sua recuperação, o javali tornou‐se uma espécie
relevante da fauna portuguesa, não só por provocar avultados estragos nas culturas agrícolas, mas
também como presa selvagem do lobo‐ibérico e espécie cinegética.
Figura 5.4 ‐ Distribuição do javali (Sus scrofa) em Portugal (© J. Carvalho) (1970; 2000 ‐ adaptado de FONSECA &
CORREIA 2008; atual – adaptado de VINGADA et al. 2010).
b. Corço (Capreolus capreolus): O corço é uma espécie nativa de Portugal, tendo as suas populações
naturais persistido em pequenos núcleos a norte do rio Douro, nos últimos séculos. Nos finais do
século XX, houve uma expansão generalizada desta espécie, tanto em área de distribuição como em
abundância, fruto da sua dispersão natural e de processos de reintrodução, promovendo‐se o
estabelecimento de novos núcleos populacionais a norte e a sul do rio Douro (Figura 5.5). A
distribuição atual reflete, assim, não só a sua expansão natural mas também os vários programas de
reintrodução, que tiveram como objetivo i) aumentar a disponibilidade de presas selvagens para o
lobo‐ibérico (em áreas de distribuição deste predador) ou ii) fins cinegéticos (VINGADA et al. 2010;
TORRES et al., 2015b). Estudos recentes mostram que as densidades de corço no Parque Natural de
Montesinho, em Trás os Montes, são de 3,51 animais por 100ha (95% IC 2,26‐5,54)(VALENTE et al.,
2014). Esta zona será aquela cujas densidades de corço, a nível nacional, serão mais elevadas (TORRES
et al., 2015b).
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico em Portugal Situação de referência
33/67
Figura 5.5 ‐ Distribuição do corço (Capreolus capreolus) em Portugal (© J. Carvalho) (1970; 2000 ‐ adaptado de SALAZAR 2009; atual – adaptado de VINGADA et al. 2010).
c. Veado (Cervus elaphus): O veado é o maior cervídeo da fauna portuguesa. Apesar de esta espécie
ter sido comum no nosso país durante os tempos medievais, no fim do século XIX encontrava‐se
perto da extinção. Contudo, a partir dos anos 1970, a distribuição e abundância desta espécie
começou a aumentar no nosso país. Esta realidade deveu‐se sobretudo a uma série de programas de
reintrodução no centro e sul do país mas também à dispersão natural das populações espanholas
(VINGADA et al. 2010). Na atualidade, as populações mais importantes encontram‐se nas regiões
transfronteiriças (Tejo Internacional, Montesinho, Contenda‐Barrancos) e na serra da Lousã (esta
resultado de um bem sucedido programa de reintrodução nos anos 1990) (Figura 5.6). Relativamente
a densidades, estudos recentes mostram que as densidades destes ungulados no Parque Natural de
Montesinho, Trás os Montes, são de 3,38 animais por 100ha (95% IC 2,18‐5,24)( TORRES et al., 2015c).
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico em Portugal Situação de referência
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Figura 5.6 ‐ Distribuição do veado (Cervus elaphus) em Portugal (© J. Carvalho) (1970; 2000 ‐ adaptado de SALAZAR 2009; atual – adaptado de VINGADA et al. 2010).
d. Cabra‐montês (Capra pyrenaica victoriae): De acordo com os registos fósseis, esta espécie
(subespécie Capra pyrenaica lusitanica) estava originalmente distribuída nas principais cadeias
montanhosas do nosso país. Contudo, em 1893 esta espécie foi classificada como extinta. Em
1997, foram reintroduzidos num cercado no Parque Natural Baixa Limia‐Serra do Xurés (Galiza,
Espanha), exemplares da subespécie Capra pyrenaica victoriae, provenientes da serra da
Gredos (Espanha). Alguns espécimes, por dispersão natural, entraram em território nacional
na zona do Parque Nacional Peneda‐Gerês. Os primeiros avistamentos desta espécie no nosso
país datam de 1999 (VINGADA et al. 2010). Presentemente, a sua distribuição está restrita a este
Parque Nacional. Contudo, desde o primeiro censo (em 2003, foram contabilizados 75
indivíduos, em dois núcleos populacionais, numa área de 977 ha – MOÇO et al. 2006) e a
população tem aumentado a sua área de distribuição e efetivo (em 2012, foram contabilizados
cerca de 573 indivíduos, em três núcleos populacionais, numa área de 13.479 ha) (FERNANDES
2013) (Figura 5.7).
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico em Portugal Situação de referência
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Figura 5.7 ‐ Distribuição da cabra‐montês (Capra pyrenaica victoriae) em Portugal (© J. Carvalho) (2003 ‐ adaptado de Moço et al. 2006; atual – adaptado de Fernandes 2013).
5.3 Disponibilidade de presas domésticas
a. Distribuição e abundância do efetivo das principais presas domésticas: A análise da distribuição e
abundância das principais presas domésticas do lobo ‐ ovinos, caprinos, bovinos e equinos ‐ teve por
base os dados do recenseamento geral agrícola de 2009 (INE, 2011) (Figura 5.8). Na atual área de
ocorrência do lobo verificam‐se evidentes variações regionais no efetivo pecuário de cada espécie.
Para os ovinos, as maiores concentrações de animais por km2 encontram‐se sobretudo nos concelhos
de Trás‐os‐Montes e da Beira Interior, sendo também de destacar alguns concelhos da região do Alto
Minho. Relativamente aos caprinos, as maiores concentrações ocorrem na Serra do Alvão e na Serra
Amarela, a norte do rio Douro, e na Serra de Montemuro e no Maciço da Gralheira, a sul do mesmo.
Os bovinos (não incluindo as vacas leiteiras associadas a um regime de maior estabulação e menor
acessibilidade para o lobo) apresentam as maiores concentrações na região noroeste de Portugal e
nos concelhos de Arouca, Cinfães, Almeida, Sabugal e Idanha‐a‐Nova, na região a sul do rio Douro.
As maiores concentrações de equídeos encontram‐se na zona oeste da região de Trás‐os‐Montes e
no Alto Minho. No caso de Trás‐os‐Montes, estes valores estão associados maioritariamente a
asininos e muares, sendo que na região do Minho prevalecem os equinos.
b. Evolução do efetivo pecuário na área de ocorrência do lobo: Com base nos recenseamentos
agrícolas realizados em 1989, 1999 e 2009, nos concelhos que se sobrepõem com a área de
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico em Portugal Situação de referência
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ocorrência de lobo, verificou‐se, de uma forma geral, uma redução do número total de animais das
4 principais presas domésticas de lobo ao longo das últimas 3 décadas (Figura 5.9). Em termos
percentuais, essa redução foi sobretudo expressiva para os equídeos (menos 60%), caprinos
(menos 48%) e bovinos (menos 32%), tendo sido pouco importante para os ovinos (menos 6%)
(Figura 5.10). A par desta redução do efetivo, ocorreu uma redução ainda mais significativa do
número de explorações das 4 espécies pecuárias, e um aumento do número médio de animais por
exploração. Esse padrão foi especialmente marcado para os bovinos, tendo o número médio de
animais por exploração desta espécie mais do que duplicado na área de ocorrência de lobo, à
semelhança da tendência verificada para todo o território nacional.
Figura 5.8 – Distribuição e abundância (Número de animais por km2) das principais presas domésticas do lobo na área de abrangência do Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico. Fonte: INE, 2011. Recenseamento Agrícola de 2009.
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
37/67
Figura 5.9 – Evolução dos efetivos das principais presas domésticas do lobo nos concelhos que se sobrepõem com a área de ocorrência da espécie, expressos em número total de animais e número médio de animais por exploração. Fonte: www.ine.pt. Dados dos Recenseamentos Agrícolas de 1989, 1999 e 2009.
Figura 5.10 – Variação percentual entre 1989 e 2009 do número total de animais, do número total de explorações e do número médio de animais por exploração, para as principais presas domésticas do lobo nos concelhos que se sobrepõem com a área de ocorrência desta espécie. Fonte: www.ine.pt. Dados dos Recenseamentos Agrícolas de 1989, 1999 e 2009.
Evolução do efetivo pecuário por espécie na área de ocorrência de lobo
0
100000
200000
300000
400000
500000
600000
700000
800000
1989 1999 2009
Nº
tota
l de
an
ima
is
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Nº
de
an
ima
is p
or
ex
plo
raç
ão
Ovinos Caprinos Bovinos Equídeos
Ovinos Caprinos Bovinos Equídeos
Nº total de animais:
Nº de animais/exploração:
Variação percentual do nº total de animais, do nº de explorações e do nº de animais por exploração para cada tipo de gado entre 1989 e 2009
-80% -60% -40% -20% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%
Bovinos
Ovinos
Caprinos
Equideos
nº de animais por exploração nº de explorações nº total de animais
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
38/67
6. PREDAÇÃO SOBRE EFETIVOS PECUÁRIOS
6.1 Evolução
Com vista a travar a regressão da população de lobo que se verificou em Portugal ao longo do século XX, o
Estado Português assumiu, no início da década de 90, a responsabilidade de indemnizar os proprietários de
efetivos pecuários pelos danos causados pelo lobo, desde que cumpridos certos requisitos mínimos de
proteção dos mesmos (Lei de Proteção do Lobo‐ibérico ‐ Lei nº 90/88, de 13 de agosto e Decreto‐Lei
n.º 139/90, de 27 de abril).
No início da década de 90, o montante de indemnizações por ataques de lobo era cerca de 100.000 € anuais,
correspondentes a cerca de 500 ataques, tendo estes números vindo progressivamente a aumentar até 2001,
devido em grande parte a um maior conhecimento dos proprietários sobre este direito. A partir de então o
montante anual de indemnizações ronda os 700.000 €, correspondentes a cerca de 2.500 ataques atribuídos
ao lobo (Figura 6.1).
Figura 6.1 ‐ Evolução do número anual de ataques atribuídos ao lobo indemnizados pelo
ICNF e respetivo montante de indemnizações, entre 1988 e 2013.
Na Figura 6.2 apresenta‐se a evolução, de 1996 a 2013, do número anual de ataques atribuídos ao lobo nos
4 núcleos populacionais identificados no último Censo Nacional de Lobo (2002/2003), verificando‐se uma
tendência de subida para os núcleos populacionais do Peneda‐Gerês e, em menor grau, do Alvão‐Padrela,
em oposição à tendência de decréscimo, observada desde 2006, para o núcleo populacional de Bragança.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14
N
0
100000
200000
300000
400000
500000
600000
700000
800000
900000
€Número de ataques atribuídos ao lobo
Montante das indemnizações correspondentes
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
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Figura 6.2 ‐ Evolução do número anual de ataques atribuídos ao lobo nos 4 núcleos populacionais (Peneda‐Gerês, Alvão‐Padrela, Bragança e Sul do Douro) entre 1996 e 2013.
Como se pode verificar pela Figura 6.3, a distribuição dos prejuízos atribuídos ao lobo não é homogénea na
área de presença da espécie, devido ao facto destas ocorrências dependerem de vários aspetos, entre os
quais estarão as características da paisagem, a presença e abundância de presas selvagens, bem como das
espécies pecuárias presentes e do tipo de maneio das mesmas e ainda da densidade e comportamento
predatório dos lobos presentes.
Também ao longo do tempo se constatam variações no número e área de ocorrência dos prejuízos.
Comparando a distribuição do número de ataques por freguesia em 2013 com a de 2003, verifica‐se que
ocorreu uma contração da área de ocorrência de ataques, sobretudo no distrito de Bragança, associada ao
decréscimo do número de ataques já referido, e uma expansão da área de ocorrência de prejuízos na zona
da Beira Interior (Figura 6.3).
Evolução do nº de ataques atribuídos ao lobo nos 4 núcleos populacionais
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Peneda/Gerês Alvão Bragança Sul Douro
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
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Figura 6.3 – Distribuição por freguesia do número de ataques atribuídos ao lobo indemnizados pelo ICNF em 2003 e em 2013.
Nº de ataques 200301 - 1011 - 2324 - 4546 - 8182 - 184
0 25 50 75 100 Km
N
0 25 50 75 100 Km
N
Nº de ataques 2013
1 - 1011 - 2324 - 4546 - 8182 - 219
0
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
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6.2 Caracterização geral dos prejuízos em 2013
Analisando a relação percentual entre o número de alcateias identificadas no Censo Nacional de Lobo em
2002/2003 e o número de ataques registados em 2013 na área associada a cada núcleo populacional, verifica‐
se que mais de 50% dos ataques ocorreram no núcleo da Peneda‐Gerês, que então albergava cerca de 25%
das alcateias a nível nacional, enquanto que na área correspondente ao núcleo de Bragança, com cerca de 40%
das alcateias identificadas, ocorreram menos de 5% dos ataques registados nesse ano. Embora os dados
apresentados se reportem apenas ao ano de 2013, a aplicação deste tipo de análise a outros anos permitiu
concluir que o padrão encontrado se mantém desde há vários anos.
Figura 6.4 ‐ Relação percentual entre número de alcateias (a cheio) identificadas no Censo Nacional de Lobo 2002/2003 e número de ataques registados (a tracejado) por núcleo populacional em 2013.
O relevo montanhoso, conjugado com a abundância de gado bovino e equino e o predomínio do regime de
pastoreio livre destes animais, são provavelmente as razões que justificam que a área do núcleo do Gerês seja
a de maior incidência de prejuízos. Por outro lado, o facto de na área do núcleo de Bragança os rebanhos –
maioritariamente de gado ovino ‐ serem geralmente conduzidos por pastores e cães de gado e apresentarem
dimensões relativamente reduzidas, contribui provavelmente para que este núcleo seja o menos afetado por
prejuízos de lobo.
De um total de 863 explorações afetadas com prejuízos atribuídos ao lobo em 2013, 75% sofreram entre 1 e 3
ataques ao longo do ano, sendo que apenas 7% (n=62) foram atacadas de forma crónica, isto é, sofreram mais
de 10 ataques durante esse ano, correspondendo a estas explorações 37% do total de ataques e 41% do total
de indemnizações (Figura 6.5). Atuar sobre estas explorações, nomeadamente no fomento das medidas de
proteção do gado, é, assim, fundamental para reduzir os prejuízos causados pelo lobo, bem como o conflito
existente com os produtores pecuários.
0
10
20
30
40
50
60
Gerês Alvão Bragança Sul Douro
%
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Figura 6.5 – Percentagem das explorações pecuárias que sofreram ataques de lobo em 2013 em função do número de ataques registados ao longo do ano, na área de cada núcleo populacional identificado no Censo Nacional de Lobo 2002/2003.
No que respeita ao número de animais afetados em cada ataque em 2013, verifica‐se que a maioria dos
ataques atribuídos ao lobo afeta um pequeno número de animais, com 88% dos ataques a afetar entre 1 e 3
animais (Figura 6.6). O núcleo do Gerês é o que apresenta uma maior percentagem de ataques com apenas 1
animal morto devido ao facto de se tratar da área onde os bovinos e os equinos são mais afetados e destes
animais estarem menos sujeitos a ataques com mortes múltiplas. Os ataques que afetaram 10 ou mais animais,
embora raros (1,6%) foram responsáveis por cerca de 11% dos animais afetados no total e, como tal, de uma
percentagem significativa do valor total das indemnizações a nível nacional, sendo também os que geram mais
conflito. Assim, investigar as causas destas situações de forma a reduzir a sua ocorrência, deve também
constituir uma prioridade na gestão desta problemática.
Figura 6.6 – Percentagem dos ataques de lobo registados em 2013 em função do número de animais
afetados (mortos e feridos), na área de cada núcleo populacional identificado no Censo Nacional de Lobo 2002/2003.
Ataques por exploração em 2013
0
10
20
30
40
50
60
70
1 2 3 4 5 6 7 8 9 > 10
Nº de ataques de lobo
% d
e ex
plor
açõe
s pe
cuár
ias
Gerês Alvão Bragança Sul Douro
Animais afectados por ataque
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1 2 3 4 5 6 7 8 9 > 10
Nº de animais afectados
% d
e at
aque
s de
lobo
Gerês Alvão Bragança Sul Douro
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
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Figura 6.7 – Percentagem do número de animais das diferentes espécies pecuárias existentes na área de lobo (em cima) e predados pelo lobo (no meio), e percentagem do valor de indemnização atribuído por ataques de lobo às diferentes espécies pecuárias (em baixo).
A proporção do número de animais de cada tipo de gado predados por lobo espelha de algum modo a
proporção dos efetivos pecuários existentes em cada região, sendo que o Gerês apresenta a maior
percentagem de afetação de bovinos e equinos e Bragança a maior afetação relativa de ovinos, que
representam neste núcleo a quase totalidade dos animais afetados. Os núcleos do Alvão e do Sul do Douro
% do nº de animais dos diferentes tipos de gado em cada núcleo de lobo e em toda a sua área de ocorrência (2009)
4,4 4,9 2,9 2,1 3,3
19,0 24,210,7 16,4 16,5
43,5
52,9 77,1 66,7 62,3
33,118,0
9,4 14,8 17,9
Gerês Alvão Bragança Sul Douro Nacional
Bovinos
Ovinos
Caprinos
Equideos
% do nº de animais de cada tipo de gado afectados por ataques de lobo na área de cada núcleo populacional e em toda a área de ocorrência (2013)
19,47,0 6,5 11,1
26,338,7 32,5 30,6
19,5
47,7
96,1
54,441,4
34,8
6,6 6,616,9
3,9
Gerês Alvão Bragança Sul Douro Nacional
Bovino
Ovino
Caprino
Equídeos
% do valor de compensação por tipo de gado na área de cada núcleo populacional e em toda a área de ocorrência de lobo (2013)
19,4 13,5 12,7 16,2
8,6 23,6
3,2
18,8 13,85,5
24,2 96,8 44,0
20,1
66,6
38,724,4
49,9
Gerês Alvão Bragança Sul Douro Nacional
Bovino
Ovino
Caprino
Equídeos
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apresentam uma situação semelhante entre si, com os pequenos ruminantes a constituírem a grande maioria
dos animais afetados.
A nível nacional verificou‐se que, em 2013, a espécie mais predada foi de facto a mais abundante ‐ os ovinos,
com 41% dos animais afetados. Não obstante, esta espécie foi menos predada que o esperado, tendo em conta
que representa 67% do efetivo pecuário existente. Nos caprinos verificou‐se a situação inversa, pois apesar de
representarem apenas 16,5% do efetivo pecuário existente, corresponderam a 30,6% dos animais afetados.
De salientar que, apesar de gerarem um grande conflito social, os ataques de lobo são responsáveis pela perda
de apenas 0,6% dos efetivos pecuários existentes na área de presença de lobo, sendo esse valor de 0,4% para
os ovinos, de 1,2% para os caprinos, de 0,6% para os bovinos e de 2,1% para os equídeos (equinos e asininos).
No entanto, devido à acentuada variação geográfica da intensidade de predação, esta pode resultar num
elevado impacto económico ao nível local ou da exploração pecuária.
No que respeita aos valores das indemnizações atribuídas por ataques de lobo, as indemnizações relativas a
bovinos corresponderam a praticamente 50% do valor total pago em 2013, apesar destes representarem
apenas cerca de 17% dos animais afetados, situação que decorre do elevado valor económico dos animais
desta espécie.
No núcleo do Gerês, apesar de se observar uma repartição mais ou menos equitativa do número de ataques
registados às 4 espécies pecuárias (bovinos, equinos, caprinos e ovinos), as indemnizações associadas aos
bovinos representaram a maior parte (67%) do valor das indemnizações neste núcleo populacional. No núcleo
do Alvão a situação é ainda mais marcada, pois apesar dos ataques a bovinos representarem apenas 7% do
total de ataques registado na área, esta espécie foi responsável por 39% do valor das indemnizações associadas
a este núcleo.
De referir que a Sul do Douro registaram‐se em 2013, à semelhança de 2012, alguns prejuízos em avestruzes,
não incluídos nos gráficos anteriores, situação que, a par da recente reocupação da zona raiana beirã pelo lobo
e do aumento do número de prejuízos registados em algumas explorações da Serra da Arada, é responsável
pela subida no número de prejuízos registados na área correspondente a este núcleo populacional a partir de
2012.
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
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7. MORTALIDADE E AMEAÇAS
7.1 Causas de morte
Face à importância da informação obtida a partir de lobos mortos para a conservação desta espécie, foi
implementado pelo ICNF, em 1999, o Sistema de Monitorização de Lobos Mortos de forma a assegurar um maior
conhecimento das causas de morte e a potenciar o desenvolvimento de estudos com relevância para a
conservação da espécie, através da cedência de amostras biológicas a diversas entidades científicas. Para além
da coordenação global, o ICNF tem a seu cargo a recolha dos cadáveres, tendo como entidade parceira o
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, responsável pela realização das necrópsias.
Entre 1999 e 2014 foram recolhidos 100 lobos mortos, correspondendo a uma média de 6 a 7 lobos mortos
recolhidos por ano, quase todos encontrados na área de presença regular da espécie, com exceção de um
indivíduo, encontrado num local bastante afastado desta.
Figura 7.1 – Localização de lobos mortos recolhidos no
âmbito do SMLM, de 1999 a 2012.
Dado que 12 dos cadáveres recolhidos ainda aguardam a realização de necrópsia, apresentam‐se de seguida
os dados relativos a 88 exemplares recolhidos.
O atropelamento foi a causa de morte mais detetada (35%), constituindo o tiro (20%), o laço (12%), doenças
infeciosas (6%), o veneno (3%) e a agressão por outros canídeos (3%) as outras causas de morte determinadas.
Em 10% dos animais analisados, a morte ocorreu devido a traumatismo de origem desconhecida e para outros
10% dos cadáveres recolhidos não foi possível identificar a causa de morte.
De referir que, a interpretação e utilização dos dados obtidos a partir de animais encontrados mortos é
limitada, na medida em que as causas naturais, bem como algumas antropogénicas, por originarem cadáveres
difíceis de encontrar, serão certamente subestimadas relativamente a outras, como seja por exemplo o
atropelamento, cujos cadáveres são facilmente encontrados (ÁLVARES et al., 2010). Não obstante, em termos
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
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de conservação, entende‐se que os dados assim obtidos são extremamente relevantes por constituírem
indicadores dos níveis de mortalidade causada, diretamente e indiretamente, pelo Homem, e dos problemas
de conservação relacionados com o lobo.
Figura 7.2 – Causas de morte identificadas no âmbito do SMLM (N=88).
O seguimento por telemetria GPS de lobos no Alto Minho, entre 2006 e 2013, permitiu estimar que a incidência
real das causas de morte que mais afetam estas alcateias, resulta da perseguição ilegal por causas de origem
humana. Num total de 15 lobos seguidos por telemetria, 6 (40%) foram mortos durante o seu período de
seguimento, por tiro (N=3; 50%), laço (N=2; 33%) e veneno (N=1; 17%) (RIO MAIOR, et al., 2014).
7.2 Doenças
Das doenças infeciosas ou parasitárias com potencial impacto na dinâmica populacional e no estatuto de
conservação do lobo, conhece‐se a ocorrência na população desta espécie em Portugal do vírus da esgana, do
parvovírus canino e da sarna sarcóptica.
A infeção por vírus da esgana foi detetada como causa de morte de 3 lobos do SMLM, 1 no núcleo populacional
de Bragança (1998) e 2 no núcleo do Sul do Douro (2008 e 2010). MÜLLER et al. (2011a) analisaram 2 destes
casos (um em cada núcleo) e encontraram evidência de que o vírus terá tido origem na população de cães
domésticos. Em dois estudos distintos, foram detetados anticorpos para o vírus da esgana em 11,1% (SANTOS
et al., 2009) e em 25,9% dos lobos analisados (PNPG, 2010). O eventual impacto desta infeção na dinâmica
populacional do lobo em Portugal deve ser avaliado, sobretudo no núcleo populacional do Sul do Douro
(MÜLLER et al., 2011b).
O parvovírus canino foi detetado em 2 lobos do SMLM (de 5 animais analisados), não sendo considerado como
causa de morte em nenhum deles (as causas de morte atribuídas a estes animais foram atropelamento e
esgana). No entanto não pode ser excluído que a infeção por este vírus tenha contribuído para a morte destes
2 animais, provenientes dos núcleos populacionais do Gerês e do Sul do Douro. Foram detetados anticorpos
para parvovírus em 18 de 49 lobos pertencentes aos núcleos a norte do Douro, ao contrário do observado em
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
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7 lobos pertencentes ao núcleo do Sul do Douro, nos quais não foram encontrados quaisquer anticorpos para
parvovírus (SANTOS et al., 2009; PNPG, 2010). Os animais com anticorpos são aqueles que sobreviveram à
infeção, pelo que a ausência de seropositivos no núcleo do Sul do Douro merece ser avaliada (MÜLLER et al.,
2011b).
A sarna sarcóptica foi detetada em 4 lobos do núcleo populacional do Gerês e 1 do núcleo de Bragança. No
núcleo do Gerês esta parasitose parece ser endémica, com uma proporção de animais seropositivos de 38%
(PNPG, 2010; SANTOS et al., 2012). A sarna sarcóptica não foi confirmada como causa de morte de qualquer
dos lobos analisados no âmbito do SMLM.
Para além destes agentes patogénicos, foi detetada a ocorrência dos seguintes agentes ou de anticorpos
específicos: adenovírus canino, Babesia canis/gibsonii, Neospora caninum, Erlichia/Anaplasma spp.,
Leishmania spp, Rickettsia spp, Borrelia spp, Eimeria spp, Sarcocystis canis, Cryptosporidium spp,
Ancylostoma/Uncinaria spp, Strongyloides spp, Toxocara canis, Toxascaris leonina, Trichuris spp, Eucoleus
aerophilus, Trichinella britovi, Taenia hydatigena, T. serialis, T. pisiformis, T. polyacantha e Echinococcus
intermedius (MAGALHÃES, 2003; SANTOS et al., 2004; FERREIRA, 2010; PNPG, 2010; SILVA, 2010; GUERRA et al., 2013;
ROSA et al., 2013).
7.3 Cães vadios e assilvestrados
A existência de cães vadios e assilvestrados é apontada como um dos principais fatores de ameaça à
sobrevivência do lobo. Um aspeto que assume particular importância são as relações que se podem
estabelecer entre os lobos e estes cães. Estes podem competir com os lobos pelo espaço e pelo alimento,
podendo mesmo atacá‐los quando aqueles estão em menor número ou até acasalar com eles, originando
híbridos férteis, como referido no Capítulo 4. Em populações saudáveis de lobo, o estabelecimento deste tipo
de relações não parece constituir um perigo para o lobo. Com efeito, é relativamente frequente o consumo de
cães pelo lobo. Porém, quando a população de lobo se encontra bastante fragmentada e reduzida, como
acontece na maioria dos países da Europa Mediterrânica, a existência de cães assilvestrados e/ou vadios pode
retardar ou mesmo impedir a expansão da população lupina. Em casos extremos poderá pôr em perigo a
sobrevivência do lobo devido à poluição genética, ou seja, a integração e mistura de genes de origem canina
na população lupina. Existem casos documentados (em vários países que não Portugal) de cães que se juntam
a grupos de lobos ou do acasalamento entre cães e lobos, sendo comuns as observações de indivíduos
resultantes destes cruzamentos.
A predação que os cães exercem sobre os animais domésticos constitui também um fator negativo para a
conservação do lobo, nomeadamente em Portugal. O ceticismo generalizado relativamente à possibilidade de
os cães poderem atacar o gado e os custos inerentes à utilização de técnicas que permitem determinar com
fiabilidade o predador responsável por um ataque, fazem com que os prejuízos sejam geralmente atribuídos
ao lobo. Este facto contribui para aumentar o conflito entre as comunidades rurais e o lobo, dificultando a
criação das condições necessárias à conservação deste predador.
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Pela importância desta problemática na conservação do lobo, o Grupo Lobo realizou, em 1995, um estudo que
visou conhecer a situação dos cães vadios em Portugal (RIBEIRO, 1996). Este trabalho foi realizado através de
inquéritos a diversos grupos de interesse: Associações de Caçadores, Associações de Agricultores, Associações
de Criadores de Gado e a todas as Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais, Agrupamentos de Defesa Sanitária
(atuais Organizações de Produtores Pecuários) e Direções Regionais de Agricultura do país. Os resultados
obtidos foram integrados em mapas com a representação das divisões concelhias, e referem‐se ao período de
tempo compreendido entre os anos de 1990 e 1995, inclusive.
Os resultados obtidos mostraram que o fenómeno dos cães vadios é generalizado, verificando‐se a sua
ocorrência em cerca de 95% do total de concelhos. A presença deste tipo de cães é considerada Ocasional em
43,6% das respostas, Comum em 39,6% e Muito Abundante em 16,8%.
Relativamente à sua origem, a principal causa é o abandono pelos donos (63,6%), sendo que em cerca de
metade dos casos estes correspondem a caçadores que abandonam os seus cães durante ou após a época
venatória. Os cães com dono, mas sem controlo, também constituem uma fração importante, 21%, desta
população canina.
O número de cães vadios observados em conjunto variou entre 1 e 30 animais. Contudo, as observações mais
frequentes são de 2 a 3 indivíduos. As matilhas são constituídas, na maioria dos casos, por animais sem raça
(56%) ou por cães do tipo “coelheiro” (30%), integrando animais do tipo “pastor alemão” apenas em 6% dos
casos. Em 85% dos casos, os grupos são formados por cães de tamanhos diferentes.
Os ataques de cães vadios às espécies cinegéticas consideradas no inquérito (coelho e perdiz) ocorrem em
todo o país (82% dos concelhos), sendo considerados frequentes na maioria dos concelhos (72%).
No que se refere aos ataques a animais domésticos, ocorrem por todo o território (67% dos concelhos), mas
com maior incidência nos concelhos do centro e sul do país. As espécies domésticas mais atacadas são os
pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) ‐ 44% dos ataques registados ‐ e as aves de capoeira ‐ 37%. Os
ataques a espécies de maior porte (bovinos, equinos, asininos) são menos frequentes. A utilização generalizada
das lixeiras como fonte de alimento pelos cães vadios, referida em 91% dos concelhos onde a sua presença foi
confirmada, parece indicar que estas desempenham um papel importante na sobrevivência dos cães
abandonados.
Em relação aos ataques de cães vadios a seres humanos, a sua maioria (78%) são de pouca gravidade, sendo
que num caso resultou na morte da pessoa atacada. As classes etárias mais vulneráveis são as crianças (0 ‐ 10
anos) e os adultos de meia idade (50 ‐ 60 anos).
Um estudo mais recente, realizado no âmbito do Projeto LIFE‐COEX (LIFE04 NAT/IT/000144), referente ao ano
de 2004 (baseado em 330 entrevistas pessoais realizadas em 49 concelhos dos Distritos do Porto, Vila Real,
Aveiro, Viseu, Guarda e Castelo Branco), vem confirmar os resultados obtidos em termos de ocorrência
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(estando estes cães presentes em todos os concelhos amostrados e sendo observados com frequência por
74% dos inquiridos). O número de cães observados variou entre 1 e 10 animais juntos, sendo no entanto mais
frequentes as observações até 4 indivíduos, sendo as matilhas constituídas geralmente constituidas por cães
de médio ou grande porte (33%) ou cães de diferentes tamanhos (23%), geralmente sem raça definida (52%)
ou raças usadas no exercício da caça (43%). Os grupos podem ser constituídos por cães com ou sem dono,
sendo que para os cães sem dono, a origem mais frequentemente referida é o abandono, de cães de
companhia (50% dos casos) ou de caça (45% dos casos). Em 59% dos concelhos existiam registos de ataques
destes cães a animais domésticos, principalmente a aves de capoeira (43%) e ovinos (41%), mas também a
caprinos, gatos e outros cães (CORTEZ et al., 2005).
Apenas a aplicação efetiva da legislação em vigor referente à posse e circulação de cães (obrigatoriedade do
registo e licenciamento, bem como identificação dos cães através de uma chapa metálica na coleira e
identificação eletrónica), a implementação de medidas preventivas (educação e informação do público e
gestão correta das lixeiras), bem como o controlo dos cães vadios ou errantes (captura e abate), permitirão
limitar eficazmente a população destes cães. É fundamental alertar a comunidade em geral, mas também as
entidades responsáveis para a gravidade da situação atual e para as implicações da existência de cães vadios,
tanto em termos ecológicos como económicos e de saúde pública.
Com a obrigatoriedade de identificação eletrónica dos cães usados em ato venatório, a partir de 1 de julho de
2004 e de todos os cães nascidos após 1 de julho de 2008 (Decreto‐Lei n.º 313/2003 de 17 de dezembro), a
atualização do processo de captura e abate destes cães e a criminalização do abandono dos animais de
companhia, é expectável que o número destes cães diminua, mas tal deverá ser confirmado com novos estudos
pois desconhece‐se atualmente a real dimensão deste problema em Portugal.
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Figura 7.3.1. Frequência de ocorrência de cães vadios nos diferentes concelhos do país.
Figura 7.3.2. Frequência de ataques de cães vadios a espécies cinegéticas (coelho e perdiz) nos diferentes concelhos do país.
Figura 7.3.3. Frequência de ataques de cães vadios a animais domésticos nos diferentes concelhos do país.
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8. ATITUDES PÚBLICAS
O estudo e conhecimento da dimensão humana na gestão da vida selvagem é uma ferramenta crucial nas
tomadas de decisão sobre a implementação de planos de gestão. Uma gestão bem‐sucedida deve ter em
consideração a capacidade de ouvir e incorporar os interesses dos diferentes grupos envolvidos no processo
de tomada de decisão, de forma a chegar a um consenso para a aceitação pública da decisão final.
A maioria dos casos de gestão de grandes carnívoros tende a ser mais político‐social do que biológica. Quando
falamos deste grupo de animais, a componente humana é particularmente importante, uma vez que
suscitam emoções contraditórias e atitudes discordantes, envolvendo vários setores da sociedade.
As perspetivas e interesses existentes no seio das comunidades sobre o que é realmente importante proteger
são muito diversos. Por exemplo, a indignação dos criadores de gado com os prejuízos económicos
resultantes da predação do lobo no gado, a insatisfação dos caçadores devido à pretensa competição pelos
ungulados selvagens, ou a preocupação dos ambientalistas com a perda de biodiversidade, são exemplos de
questões‐chave que distinguem alguns dos diferentes grupos de interesse.
Um dos métodos para conhecer melhor a componente humana na gestão da vida selvagem é a avaliação das
atitudes, positivas ou negativas, dos vários grupos de interesse em relação a uma determinada espécie e às
opções para a sua gestão. Assim, será possível determinar o grau de aceitação do público perante este tipo
de práticas e compreender os diferentes lados da questão.
Um projeto que envolva a componente humana deve focar‐se em várias questões que abordem o nível de
conhecimento do público (o que sabe e o quão correto é esse conhecimento); as expectativas do público (o
que espera e porquê); e as atitudes públicas (o que pensam as pessoas sobre uma espécie e como irão reagir
a diferentes opções de gestão). Todo este conhecimento, integrado com os estudos biológicos, habilita os
gestores a melhor gerir o conflito homem‐animal.
Por vezes, é a “capacidade de carga social”, mais do que fatores biológicos ou ecológicos, que impossibilita a
ocorrência de uma espécie numa determinada região. Neste tipo de situações, mais do que melhorar as
condições de habitat, é necessário trabalhar com as populações locais no sentido de encontrar soluções para
a coexistência de homens e predadores. Se as pessoas são parte do problema, também terão que ser parte
da solução.
Em Portugal, a investigação sobre a dimensão humana neste âmbito surgiu em meados de 1990 com estudos
pontuais, focados na gestão do lobo, em especial devido aos conflitos históricos existentes com os criadores
de gado, os caçadores e a população local. Em geral, as atitudes da maioria dos grupos são neutras, e o nível
de conhecimento é baixo (Figura 8.1).
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Figura 8.1. Nível médio de conhecimento sobre a temática do lobo de diferentes grupos‐alvo numa escala que varia entre 0 (muito baixo) e 12 (muito alto). Adaptado de ESPÍRITO‐SANTO et al., 2013.
Os estudos levados a cabo pelo Grupo Lobo têm mostrado que a opinião sobre o lobo difere entre o público
em geral e os grupos‐alvo, como os caçadores e os criadores de gado (ESPÍRITO‐SANTO, 2007, 2014; ESPÍRITO‐
SANTO et al., 2013). Estes grupos‐alvo manifestam geralmente menor recetividade à presença da espécie do
que os restantes grupos mas, de um modo geral, não se registam atitudes muito polarizadas (Figuras 8.2, 8.3
e 8.4).
Figuras 8.2, 8.3 e 8.4. Índice de atitude média em relação ao lobo para três grupos‐alvo no distrito de Vila Real (público geral, criadores de gado e caçadores), sendo 0 muito negativa e 5 muito positiva. Adaptado de ESPÍRITO‐SANTO, 2014.
Contudo, aceitam que a espécie exista noutros locais do país, que não se extinga, e que possa estar presente
para as gerações futuras (Figuras 8.5, 8.6, 8.7 e 8.8).
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Figuras 8.5, 8.6, 8.7 e 8.8. Frequência de respostas do total da população amostrada em relação a afirmações de âmbito geral sobre a presença de lobo em Portugal e na sua região. Adaptado de Espírito‐Santo, 2014.
Há ainda a referir a existência de zonas “críticas” onde se entende que a expansão do lobo poderá estar
fortemente comprometida. Os fatores sociodemográficos que podem estar por detrás da atitude negativa
das populações dessas zonas e, consequentemente, de comportamentos/ações prejudiciais à presença da
espécie (p. ex. furtivismo), são difíceis de identificar.
Apesar das pessoas referirem que a principal razão pela qual não querem que o número de lobos aumente é
a predação destes sobre o gado e os prejuízos causados, verifica‐se que o facto de já terem sofrido prejuízos
causados pelo lobo não é um motivo diretamente associado a uma atitude mais negativa. Curiosamente, a
circunstância de a pessoa conhecer alguém que já teve prejuízos parece ser uma característica comum a
quem mostra mais desagrado com a presença do lobo. Estes dados poderão estar relacionados com o facto
de as pessoas serem bastante influenciadas por notícias, verídicas ou não, e por vezes alarmantes e
sensacionalistas, sobre ataques de lobos com perda de um grande número de animais. Torna‐se assim
importante estar atento ao tipo de mensagem que os media passam nas regiões onde os conflitos com a
espécie são maiores.
Por outro lado, os trabalhos realizados mostram que o medo tem uma relação estreita com a atitude para
com o lobo. Pessoas que temem o lobo tendem a ter uma atitude mais negativa. Na maior parte das vezes,
não se trata de um medo relacionado com a perda de cabeças de gado por predação do lobo, mas sim um
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medo pela segurança pessoal, ou seja, as pessoas acreditam que o lobo pode efetivamente atacar os seres
humanos. Na delineação de medidas de sensibilização e informação da população, o conteúdo da mensagem
a incluir nas ações deve sempre conter informações factuais que esclareçam o público‐alvo acerca da não
perigosidade do lobo para os seres humanos e do real impacto da predação do lobo sobre os animais
domésticos, o qual é normalmente sobrevalorizado e sobrestimado.
Os grupos abordados nestes estudos mostram‐se dispostos a contribuir para a gestão do lobo, referindo
como questões relevantes e a serem tidas em consideração, a presença de cães assilvestrados, a caça furtiva
de lobo, a perda de habitat, as lacunas nos programas de educação ambiental e a pouca divulgação de
informação científica sobre a espécie.
O impacto económico que os ataques de lobo têm nas explorações agrícolas é o principal motivo de conflito
com a espécie (MILHEIRAS & HODGE, 2011). Com base em sessões participativas com criadores de gado da região
de Almeida, foram indicadas como razões do conflito resultante da predação sobre os animais domésticos o
prejuízo económico e, além disso, as dificuldades e injustiças que se entende existirem no processo de
indemnização (burocracia, atrasos no pagamento, valores inferiores aos reais, forma de cálculo dos valores,
falta de acesso aos resultados da perícia, nomeadamente da análise forense, e dificuldade em apresentar
contraprova) e a falta de esclarecimento sobre os mecanismos do mesmo. Para diminuir o impacto da
predação é frequentemente proposta a não‐recolha das carcaças para possibilitar o seu aproveitamento
integral pelo lobo. É ainda sentida a falta de um diálogo mais estreito, nomeadamente com as autoridades
responsáveis pela conservação da natureza, e da procura de soluções que deem resposta às preocupações
dos criadores de gado, bem como de um maior esclarecimento sobre os benefícios que o lobo fornece às
comunidades rurais (VASCONCELOS, in prep).
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9. O LOBO NA CULTURA POPULAR
A perceção dos humanos face ao lobo é fortemente determinada pelas características socioeconómicas
originais dos vários povos que com ele convivem. Neste contexto, as sociedades mediterrânicas baseadas na
agricultura e pastoreio sedentário, onde se inclui o território português, possuíam uma atitude geralmente
positiva face ao lobo. Tal reflete‐se no folclore e mitologia das várias civilizações pré‐históricas que habitaram
esta região, como é exemplo o carácter divino e totémico do lobo na cultura Celta e na Grécia e Roma antigas.
Com efeito, para os povos de influência céltica que habitavam a Península Ibérica antes das invasões
romanas, o lobo era considerado um animal sagrado, representando uma divindade de caracter funerário e
um animal simbólico protetor dos guerreiros, frequentemente representado em vasos, urnas e pratos
cerimoniais (ÁLVARES, 2013). Porém, o cristianismo veio trazer uma mudança radical no pensamento do
mundo ocidental face à natureza, e ao lobo em particular, o qual se torna uma alegoria do mal e das
imperfeições humanas. Como resultado, a partir do início da Idade Média, instaura‐se uma perceção do lobo
ligada ao simbolismo de animal diabólico, sendo considerado uma besta maligna e feroz, devoradora de
homens, mulheres e crianças. Ao longo dos últimos séculos, a literatura e o folclore tornaram‐se campanhas
extraordinárias desta imagem negativa do lobo, como são exemplo as atuais histórias infantis como o
“Capuchinho Vermelho”, que produziram um efeito profundo na perceção atual do lobo pela cultura
ocidental (BOITANI, 1995).
O lobo em Portugal persiste desde há milénios numa paisagem dominada por humanos influenciados pelos
contextos civilizacionais atrás referidos. Desta forma, o lobo mais do que qualquer outra espécie da fauna
selvagem exerce uma forte influência nas perceções e práticas das comunidades rurais, resultando num rico
património etnográfico com pouco paralelismo ao nível europeu. Essa convivência com o lobo surge
fortemente estigmatizada do ponto de vista material e simbólico, dando origem a um vasto legado cultural
(VENTURA, 2008; ÁLVARES et al., 2011; RODRIGUES, 2013). Com o objetivo de minimizar o risco de predação deste
carnívoro sobre o efetivo pecuário, as populações locais desenvolveram e utilizaram diversos engenhos
armadilhados destinados à captura e morte de lobos, sendo de destacar as armadilhas permanentes
edificadas em pedra seca, genericamente conhecidas por “fojos do lobo”. A área de edificação de fojos em
Portugal coincide maioritariamente com os principais sistemas montanhosos do Noroeste do país, onde
atingem um grau de especialização técnica e operativa na caça ao lobo sem paralelo a nível mundial (ÁLVARES
et al., 2000, 2011).
Junto das comunidades rurais, a perceção face ao lobo ultrapassa a das suas características biológicas e
comportamentais como predador do gado, construindo‐se em seu redor uma imagem complexa que ainda
sobrevive no imaginário popular e na tradição oral. São diversos os elementos culturais que ilustram a
dimensão mítica e simbólica do lobo no Norte de Portugal, os quais são expressos em crenças, lendas,
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responsos, adágios e práticas. No que respeita a práticas tradicionais relacionadas como o lobo, é de destacar
a utilização de partes do corpo do lobo na medicina tradicional, para a cura de doenças em humanos ou
animais domésticos. É o caso da “gola do lobo”, cujo ritual de utilização aparenta ter origem na assimilação
de crenças pagãs com a religiosidade cristã e constitui uma prática ainda em uso numa região circunscrita do
Norte de Portugal (ÁLVARES et al., 2011). Além destas manifestações culturais de origem ancestral, existem
também os “mitos modernos” associados ao lobo. É o caso da ideia generalizada nas populações rurais de
que os lobos atuais são diferentes dos existentes no passado, do ponto de vista morfológico e
comportamental, e que resultam de libertações massivas e deliberadas por parte do Estado, de
investigadores ou de grupos ecologistas (ÁLVARES, 1999). Esta crença parece resultar de uma generalizada
falta de conhecimento das comunidades locais relativamente à morfologia e dinâmica populacional deste
carnívoro, e muitas vezes constitui um importante constrangimento à investigação de campo e à aplicação
de medidas de conservação destinadas ao lobo.
Com base no atrás descrito, verifica‐se que junto das comunidades rurais, o lobo não possui uma imagem
real e biológica, mas sim uma projeção mítica e cultural. De forma geral, a imagem do lobo para as
comunidades agro‐pastoris apresenta um carácter duplo: por um lado, totémico e associado a uma figura
benigna, reminiscência das culturas pagãs; e por outro, diabólico, encarnação dos poderes infernais e
herança da mentalidade cristã, fortemente potenciada na época medieval. Neste contexto, os esforços de
conservação desta espécie implicam necessariamente um estreito envolvimento das comunidades rurais que
com ele convivem. Por um lado, deverá ser assegurada uma retificação de mitos associados ao lobo através
da sensibilização das comunidades locais, nomeadamente no que se refere a aspetos relativos à biologia,
investigação e conservação da espécie. Porém, a herança cultural associada ao lobo, ainda bem patente em
testemunhos materiais e na memória coletiva das comunidades locais, apresenta‐se também como uma
oportunidade única e sem paralelo para o desenvolvimento de ações que promovam o valor recreativo e
cultural deste carnívoro. Estas ações deverão valorizar o lobo como um elemento crucial, não só na
biodiversidade regional mas também na identidade da cultura e tradição populares. Uma vez que a
distribuição do lobo coincide com zonas de montanha economicamente desfavorecidas, a valorização
económica e turística da imagem do lobo e do rico património cultural a ele associado pode constituir‐se
como uma potencial fonte de rendimento económico no meio rural, podendo levar, no futuro, a um aumento
da tolerância e aceitação deste carnívoro.
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10. LEGISLAÇÃO NACIONAL
Em Portugal o lobo apresenta, desde 1990, o estatuto de Em Perigo (EN), de acordo com o Livro Vermelho
dos Vertebrados de Portugal (QUEIROZ et al. 2005 in CABRAL et al. 2005).
A nível nacional, é a única espécie da fauna que tem uma legislação específica (Lei nº 90/88, de 13 de agosto
‐ Lei de Proteção do Lobo ibérico ‐ e o Decreto‐Lei nº 139/90, de 27 de abril, que a regulamenta), pela qual é
estritamente protegida.
Relativamente ao seu estatuto legal de proteção, é considerada uma espécie prioritária de interesse
comunitário pela Diretiva Habitats, transposta para o direito interno pelo Decreto‐Lei n.º 140/99, de 24 de
abril, com a redação dada pelo Decreto‐Lei n.º 49/2005, de 24 de fevereiro e alterada pelo Decreto‐Lei
n.º 156‐A/2013, que exige a designação de Sítios a integrar a Rede Natura 2000 com vista à conservação
desta espécie, bem como a sua proteção rigorosa em toda a área de distribuição.
O lobo foi uma das espécies que esteve na origem da designação de 13 Sítios de Importância Comunitária a
integrar a Rede Natura 2000. Deste processo resultou uma sobreposição em cerca de 30% da sua área de
distribuição com Áreas Classificadas (Áreas Protegidas + Sítios de Importância Comunitária) (Figura 10.1).
Figura 10.1 ‐ Sobreposição da área de distribuição do lobo e alcateias detetadas (Pimenta et al., 2005) com Áreas Classificadas (Áreas Protegidas + Sítios da lista Nacional).
No que respeita às alcateias verifica‐se que, para cerca de 50% das alcateias detetadas em todo o país, a
respetiva área vital sobrepõe‐se total ou parcialmente com Áreas Classificadas, o que demonstra que grande
parte da população reprodutora de lobos em Portugal ocupa áreas com estatuto de proteção (Tabela 10.1).
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Tabela 10.1 ‐ Proporção (%) da área de distribuição do lobo abrangida por Áreas Classificadas (AC) e Proporção (%) de alcateias com área vital total ou parcialmente abrangida por estas Áreas, a norte e a sul do rio Douro e a nível global.
% da área de distribuição do
lobo abrangida por AC
% de alcateias com área vital total ou
parcialmente abrangida por AC
Norte do Douro 30 Confirmadas 64
59 Prováveis 33
Sul do Douro 29 Confirmadas 50
44 Prováveis 33
Global 30 Confirmadas 63
52 Prováveis 33
A percentagem total de alcateias cujas áreas vitais se sobrepõem total ou parcialmente com Áreas
Classificadas ultrapassa os 50% a norte do Douro, sendo um pouco inferior a esse valor a sul do Douro.
No cumprimento dos objetivos da Diretiva Habitats, Portugal tem o compromisso de assegurar um estado de
conservação favorável do lobo‐ibérico, o que implica que:
A espécie deverá constituir, a longo prazo, um elemento vital dos habitats a que pertence, de acordo com a dinâmica das suas populações;
A área de distribuição natural não deverá diminuir nem correr o risco de diminuir num futuro previsível;
Deverá existir e ser assegurado habitat suficientemente amplo para que as suas populações se mantenham a longo prazo.
O estado de conservação das espécies listadas nos anexos desta Diretiva é periodicamente (de 6 em 6 anos)
objeto de avaliação. Com base na informação existente, Portugal procedeu em 2013 à avaliação do estado
de conservação do lobo em Portugal para o período de 2007 a 2012, tendo‐se obtido um resultado de
“desfavorável” para a maior parte da área de distribuição da espécie.
Este resultado, conjugado com o preceituado pelo Comité Permanente da Conservação da Vida Selvagem e
Habitats Naturais da Europa (Convenção de Berna), designadamente nas suas recomendações n.º 17 (1989),
n.º 43 (1995), n.º 59 (1997) e n.º 74 (1999), no âmbito da Conservação de Grandes Carnívoros na Europa, e
pelo Plano de Ação para a Conservação do Lobo na Europa, preparado pela Large Carnivore Iniciative for
Europe (LCIE) (BOITANI, 2000) relevam a importância de ser elaborado e implementado, em Portugal, um
Plano de Ação para a Conservação do Lobo.
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LITERATURA CITADA
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BARBOSA, M. (2012) – Seguimento das Alcateias das Minas e das Rachas durante o ano de 2012: trabalho de campo no Parque Natural de
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Bio3/Grupo Lobo, fevereiro de 2011. 40 pp.
BIO3/GRUPO LOBO (2012). Relatório de Monitorização do Lobo‐ibérico. Parque Eólico da Meroicinha II e Parque Eólico do Alto do Marco. Relatório
2 (Fase II – Construção), janeiro de 2012.
BIO3/GRUPO LOBO (2012)b. Monitorização do Lobo‐ibérico no Parque Eólico da Serra de Bornes. Relatório do 2º ano da Fase de exploração (2011).
Bio3/Grupo Lobo, abril2012. 39 pp.
BIO3/GRUPO LOBO (2012) – Monitoirização do Lobo‐ibérico. Parque Eólico de Mirandela. Relatório Ano 0. 46 pp.
BIO3/GRUPO LOBO (2013) – Relatório de Monitorização do Lobo‐ibérico. Parque Eólico da Meroicinha II e Parque Eólico do Alto do Marco. Relatório
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BIO3/GRUPO LOBO (2013). Monitorização do Lobo‐ibérico no Parque Eólico da Serra de Bornes. Relatório do 3º ano da Fase de exploração (2012).
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GRUPO LOBO (2013)a. Plano de Monitorização do Lobo‐ibérico. Parque Eólico de Vila Cova. Relatório Ano 1 (2012). ENEOP2, fevereiro 2013, 45 pp.
GRUPO LOBO (2013)a. Plano de Monitorização do Lobo‐ibérico. Parque Eólico de Gevanças II. Relatório Ano 2 (2013). ENEOP2, maio de 2014, 39 pp.
GRUPO LOBO (2014)a. Plano de Monitorização do Lobo‐ibérico. Parque Eólico de Gevanças II. Relatório Ano 2 (2013). ENEOP2, maio de 2014, 39 pp.
GRUPO LOBO (2014)b. Plano de Monitorização do Lobo‐ibérico. Parque Eólico de Vila Cova. Relatório Ano 2 (2013). ENEOP2, maio de 2014, 39 pp.
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PETRUCCI‐FONSECA, F.; GUERRA, A.M.; FERRÃO DA COSTA, G. & EGGERMANN, J. (2006) a). Plano de Monitorização da População Lupina no âmbito da
construção da A24 (IP3) e A7 (IC5) no Sítio Natura 2000 Alvão/Marão – Situação de referência (2005). Grupo Lobo e Centro de Biologia
Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Lisboa, 54 pp.
PETRUCCI‐FONSECA, F.; GUERRA, A.M.; FERRÃO DA COSTA, G. & EGGERMANN, J. (2006) b). Plano de Monitorização da População Lupina no âmbito da
construção da A24 (IP3) e A7 (IC5) no Sítio Natura 2000 Alvão/Marão – – Relatório de progresso semestral do Ano II (2006).). Grupo Lobo e
Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Lisboa, agosto de 2006, 32 pp.
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
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PETRUCCI‐FONSECA, F.; GUERRA, A.M.; FERRÃO DA COSTA, G. & EGGERMANN, J. (2007). Plano de Monitorização da População Lupina no âmbito da
construção da A24 (IP3) e A7 (IC5) no Sítio Natura 2000 Alvão/Marão – Relatório Final do Ano II (2006). Grupo Lobo e Centro de Biologia
Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Lisboa, 51 pp.
PETRUCCI‐FONSECA, F.; GUERRA, A.M. & FERRÃO DA COSTA, G. (2008). Plano de Monitorização da População Lupina no âmbito da construção da A24
(IP3) e A7 (IC5) no Sítio Natura 2000 Alvão/Marão – Relatório Final do Ano III (2007). Grupo Lobo e Centro de Biologia Ambiental da Faculdade
de Ciências da Universidade de Lisboa. Lisboa, 48 pp.
PETRUCCI‐FONSECA, F.; GUERRA, A.M. & FERRÃO DA COSTA, G. (2009). Plano de Monitorização da População Lupina no âmbito da construção da A24
(IP3) e A7 (IC5) no Sítio Natura 2000 Alvão/Marão – Relatório Final do Ano IV (2008). Grupo Lobo e Centro de Biologia Ambiental da Faculdade
de Ciências da Universidade de Lisboa. Lisboa, 48 pp.
PETRUCCI‐FONSECA F., S. ROQUE, D. CADETE, I. AMBRÓSIO, G.F. COSTA & A. MARQUES. (2009b). Fatores que influenciam a população de lobo no Centro de
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PETRUCCI‐FONSECA, F.; GUERRA, A. & FERRÃO DA COSTA, G. (2010). Plano de Monitorização da População Lupina, no âmbito da construção da A24 e A7
no Sítio Natura2000 Alvão/Marão. Relatório Final de Projeto. Ano V (2009) & Análise Global. Grupo Lobo / Centro de Biologia Ambiental,
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 88 Páginas.
MACHADO, A. L., SILVA, B., BARREIRO, S., ALVES, P. & F. ÁLVARES (2005). Plano de Monitorização de Fauna (Lobo, Aves e Morcegos) na Área do Parque
Eólico de Arga. Relatório Final da FASE I. CIBIO‐UP/Prossistemas – Consultores de Engenharia, S. A.
MACHADO, A. L., RIBEIRO, S. B., PAUPÉRIO, J. & F. ÁLVARES (2006). Plano de Monitorização de Fauna (Avifauna, Lobo‐ibérico e Morcegos) na Área do
Parque Eólico de Arga. Relatório Final do Ano I da FASE II. CIBIO‐UP/Prossistemas – Consultores de Engenharia, S. A.
MACHADO, A. L., RIBEIRO, S. B., MONTERROSO, P. & F. ÁLVARES (2007). Plano de Monitorização de Fauna (Lobo, Aves e Morcegos) na Área do Parque
Eólico de Arga. Relatório Final do Ano II da FASE II. CIBIO‐UP/Prossistemas – Consultores de Engenharia, S. A.
MACHADO, A. L., RIBEIRO, S. B., CARDIA, P., MOREIRA, P., MONTERROSO, P. & F. ÁLVARES (2008). Plano de Monitorização de Fauna (Lobo, Aves e Morcegos)
na Área do Parque Eólico de Arga. Relatório Final do Ano III da FASE II. CIBIO‐UP/Prossistemas – Consultores de Engenharia, S. A.
MOREIRA, L. (2008). Relatório do ensaio de um método de monitorização para a população de lobo que possa ser integrado na rede de
monitorização de biodiversidade do DGAC‐Norte
NAKAMURA, M. & ÁLVARES, F. (2010). Situação populacional da alcateia da Cruz Vermelha. Relatório Técnico. CIBIO‐UP/VERANDA. 5 pp.
NAKAMURA, M.; RIO MAIOR, H.; GODINHO, R. & ÁLVARES, F. (2012). Investigação Aplicada à Conservação do Lobo no Noroeste de Portugal. Componente
I ‐ Monitorização Populacional e Avaliação de Impactes. Relatório Técnico – Ano V. CIBIO‐UP/ 92pp. +Anexos.
NAKAMURA, M.; RIO MAIOR, H.; GODINHO, R. & ÁLVARES, F. (2013). Investigação Aplicada à Conservação do Lobo no Noroeste de Portugal. Componente
I ‐ Monitorização Populacional. Relatório Técnico – Ano II. CIBIO‐UP/ 56pp. +Anexos.
NAKAMURA, M.; RIO MAIOR, H.; GODINHO, R. & ÁLVARES, F. (2014). Investigação Aplicada à Conservação do Lobo no Noroeste de Portugal. Componente
I ‐ Monitorização Populacional. Relatório Técnico – Ano III. CIBIO‐UP/ 57pp. +Anexos.Ribeiro, S.B., Paupério, J. & Álvares, F. (2007). Plano de
Monitorização do Lobo‐ibérico na área do Parque Eólico de lagoa de D. João Feirão e Parque Eólico de Ribabelide. Relatório da Situação de
Referência (2006/2007). CIBIO/Profico Ambiente. 36 pp + Anexos.
RIO‐MAIOR, H. & ÁLVARES, F. (2007). Programa de Monitorização do lobo na área de implantação do Parque Eólico do Alto Minho I. Ano 1. Relatório
técnico anual. Veranda/CIBIO. dezembro de 2007. 75 pp. + Anexos.
RIO MAIOR, H.; R. GODINHO & ÁLVARES, F. (2008 a). Projeto de Investigação e Conservação do lobo no Noroeste de Portugal – Ano 1. Relatório técnico
Anual. Veranda/CIBIO. março de 2008. 95 pp. + Anexos
RIO MAIOR, H.; NAKAMURA, M. & ÁLVARES, F. (2008 b). Programa de Monitorização do lobo na área de implantação do Parque Eólico do Alto Minho I
‐ Ano 2. Relatório técnico anual. Veranda/CIBIO. dezembro de 2008. 79 pp.
RIO MAIOR, H.; R. GODINHO & ÁLVARES, F. (2009 a). Projeto de Investigação e Conservação do lobo no Noroeste de Portugal – Ano 2. Relatório técnico
Anual. Veranda/CIBIO. março de 2009. 141 pp. + Anexos
RIO MAIOR, H.; NAKAMURA, M. & ÁLVARES, F. (2009 b). Programa de Monitorização do lobo na área de implantação do Parque Eólico do Alto Minho I
‐ Ano 3. Relatório técnico anual. Veranda/CIBIO. dezembro de 2009. 112 pp.
RIO MAIOR, H.; R. GODINHO & ÁLVARES, F. (2010 a). Projeto de Investigação e Conservação do lobo no Noroeste de Portugal – Ano 3. Relatório técnico
Anual. Veranda/CIBIO. março de 2010. 74 pp. + Anexos.
Plano de Ação para a Conservação do Lobo‐ibérico
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RIO MAIOR, H.; NAKAMURA, M. & ÁLVARES, F. (2010 b). Programa de Monitorização do lobo na área de implantação do Parque Eólico do Alto Minho I.
Relatório técnico final. Veranda/CIBIO, dezembro de 2010. 107 pp. + Anexos.
RIO MAIOR, H.; R. GODINHO & ÁLVARES, F. (2011). Projeto de Investigação e Conservação do lobo no Noroeste de Portugal. Relatório técnico final.
Veranda/CIBIO. março de 2011. 100 pp. + Anexos
ROQUE S., R. GODINHO, D. CADETE, S. PINTO, F. PETRUCCI‐FONSECA & F. ÁLVARES (2008). Plano de Monitorização do Lobo Ibérico nas áreas dos Projetos
Eólicos das Serras de Montemuro, Freita, Arada e Leomil – Ano I. Relatório Anual. CIBIO‐UP/Grupo Lobo, 116 pp+Anexos
ROQUE S., R. GODINHO, D. CADETE, S. PINTO, F. PETRUCCI‐FONSECA & F. ÁLVARES (2009). Plano de Monitorização do Lobo Ibérico nas áreas dos Projetos
Eólicos das Serras de Montemuro, Freita, Arada e Leomil – Ano II. Relatório Anual. CIBIO‐UP/Grupo Lobo, 195 pp+Anexos.
ROQUE S., R. GODINHO, D. CADETE, S. PINTO, F. PETRUCCI‐FONSECA & F. ÁLVARES (2010) a. Plano de Monitorização do Lobo Ibérico nas áreas dos Projetos
Eólicos das Serras de Montemuro, Freita, Arada e Leomil – Ano III. Relatório Anual. CIBIO‐UP/Grupo Lobo, 141 pp+Anexos.
ROQUE S., R. GODINHO, D. CADETE, S. PINTO, A.S. PEDRO, J. BERNARDO, F. PETRUCCI‐FONSECA & F. ÁLVARES (2011). Plano de Monitorização do Lobo Ibérico
nas áreas dos Projetos Eólicos das Serras de Montemuro, Freita, Arada e Leomil – Ano IV e Análise Integrativa dos Resultados (2006–2011).
Relatório Final. CIBIO‐UP/Grupo Lobo, 193 pp.+Anexos.
ROQUE, S., J. BERNARDO, R. GODINHO, F. PETRUCCI‐FONSECA & F. ÁLVARES (2013). Plano de Monitorização do Lobo a Sul do Rio Douro – Zona Este: Relatório
Final Ano I. CIBIO‐UP/Grupo Lobo, 85 pp + Anexos.
ROQUE, S., F. MOREIRA, R. GODINHO, F. PETRUCCI‐FONSECA & F. ÁLVARES (2014). Plano de Monitorização do Lobo a Sul do Rio Douro – Zona Este: Relatório
Final Ano II. CIBIO‐UP/Grupo Lobo, 85 pp + Anexos
RODRIGUES, P.; CADETE, D.; PINTO, S. & ROQUE, S. (2009). Parque Eólico do Sabugal. Estudo de Monitorização das Comunidades de Aves, Lobo,
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RODRIGUES, P.; CADETE, D.; PINTO, S. & MALVEIRO, S. (2010). Parque Eólico e Linha Elétrica do Sabugal. Estudo de Monitorização das Comunidades de
Aves, Lobo, Morcegos, Flora e Vegetação. Relatório Final (Fase de Exploração – 1º Ano). Biota/Tecneira (Grupo Procme), 130 pp.
RODRIGUES, P.; AUGUSTO M.; MALVEIRO, S.; DIAS, C.; ROSA A.P.; CADETE, D. & PINTO, S. (2012). Parque Eólico e Linha Elétrica do Sabugal. Estudo de
Monitorização das Comunidades de Aves, Lobo, Morcegos, Flora e Vegetação. Relatório Final (Fase de Exploração – 3º Ano). Biota/Lestenergia,
160 pp.
ROQUE S., D. CADETE, S. PINTO, F. PETRUCCI‐FONSECA & F. ÁLVARES (2010) b. Plano de Monitorização do Lobo‐ibérico na área do Parque Eólico da Lagoa
de D. João Feirão. Relatório Técnico Anual (2009/2010). CIBIO/Profico Ambiente. 40 pp + Anexos.
ROQUE S., D. CADETE, S. PINTO, F. PETRUCCI‐FONSECA & F. ÁLVARES (2010) c. Plano de Monitorização do Lobo‐ibérico na área do Parque Eólico de
Ribabelide. Relatório da Fase de Exploração (2009/2010). CIBIO/Profico Ambiente. 41 pp + Anexos.
SARAIVA, T. ; PETRUCCI‐FONSECA, F.; FERRÃO DA COSTA, G.; BARRETO, D.& MARQUES, L. (2011). Monitorização do Parque Eólico da Serra do Alvão e Linha
de Transporte de Energia. Relatório Anual de Monitorização do Lobo‐ibérico. Ecosativa, Lda. São Teotónio, janeiro de 2011. 32 pp.
SIERRA, P & F. ÁLVARES (2005). Monitorização do lobo (Canis lupus) na área de influência do Parque Nacional da Peneda‐Gerês. Relatório Anual de
Projeto. Grupo Lobo/PNPG. Lisboa. 32 pp.
SOUSA, M. J.; SALGUEIRO. N. C.; COSTA, H.; SAYANDA, D.; BERNARDINO, J.; PEREIRA, D. & QUARESMA, A. (2007). Parque Eólico do Sabugal. Estudo de
Monitorização do Lobo. Relatório Final (Ano 0 – 2007). Procels/Tecneira, 21 pp.
SOUSA, M. J.; SALGUEIRO. N. C. & FERRÃO DA COSTA, G. (2008). Parques Eólicos da Serra de Bornes. Monitorização do Lobo. Relatório Final. outubro de
2008. Procesl 32 pp.
TORRES R.T., ROCHA, R.G., CRUZ, T., CARVALHO, J., SANTOS, J., OLIVEIRA, B. & FONSECA, C. (2012) Monitorização do lobo a sul do rio Douro ‐ zona Oeste
(Ano I). Relatório final. Departamento de Biologia & CESAM. Universidade de Aveiro, Aveiro.
TORRES R.T., FERREIRA, E., ROCHA, R.G., MACEDO, A., OLIVEIRA, T., CARVALHO, J., & FONSECA, C. (2013) Monitorização do lobo a sul do rio Douro ‐ zona
Oeste (Ano II). Relatório final. Departamento de Biologia & CESAM. Universidade de Aveiro, Aveiro.