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FELIPE BUENDIA D. PAIVA PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS AUTOMATIZADOS DE OPERAÇÕES EM MERCADOS FINANCEIROS Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção de Diploma de Engenheiro de Produção. São Paulo 2008

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FELIPE BUENDIA D. PAIVA

PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS

AUTOMATIZADOS DE OPERAÇÕES EM MERCADOS

FINANCEIROS

Trabalho de Formatura apresentado à

Escola Politécnica da Universidade de

São Paulo para obtenção de Diploma

de Engenheiro de Produção.

São Paulo

2008

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FELIPE BUENDIA D. PAIVA

PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS

AUTOMATIZADOS DE OPERAÇÕES EM MERCADOS

FINANCEIROS

Trabalho de Formatura apresentado à

Escola Politécnica da Universidade de

São Paulo para obtenção de Diploma

de Engenheiro de Produção.

Orientador: Mauro de Mesquita Spinola

São Paulo

2008

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“Quem alcança seu ideal, vai além dele.”

- Friedrich Nietzsche

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer ao Professor Mauro Spinola, Pedro Pinto e Luiz

Guilherme Mendonça pelo suporte e orientação necessários para a realização

deste trabalho.

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RESUMO

O mercado de capitais se tornou uma importante fonte de recursos para o crescimento e

expansão das empresas na economia global. Esse crescimento exigiu avanços tecnológicos

para comportar o crescente número de operações e participantes no mercado acionário. Foi

desenvolvido um sistema para execução de ordens nos mercados de ações em que não existe

participação humana desde o cliente final, que deseja comprar ou vender ações, até a

execução final dessa ordem no mercado. Além disso, essas operações freqüentemente são

controladas por algoritmos. No entanto, esse tipo de sistema é pouco relevante no Brasil,

enquanto que na Bolsa de Nova Iorque já corresponde a aproximadamente 75% do volume

diário. O objetivo desse trabalho é definir uma metodologia para a aplicação desse sistema no

Brasil e abordar quais são seus principais benefícios e resultados. Para atingir esse objetivo,

foi realizado um estudo sobre a implementação adotada em outros países e a coleta de dados

de alguns clientes que usufruíram o sistema. A utilização desse novo sistema representa o

início de uma nova tecnologia que será aplicada no mercado financeiro brasileiro.

Palavras-Chave: Automatização, Mercado Financeiro, Sistemas de Operações, Acesso Direto

ao Mercado.

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ABSTRACT

Capital Markets has become an important resource to support companies’ growth and

expansions in global economy. New technologies were requested to attend the increasing

number of trades and participants in stock markets. A system was developed to execute orders

in stock markets with no human intervention on the entire process; from the client demand to

the final execution in the market. In some cases, these orders are also controlled by

algorithms. However, the penetration of this system in Brazil is still very low, while it

corresponds to around 75% of New York Stock Exchange’s daily volume. The main goal of

this paper is to define a methodology to apply this system in Brazil and also to explain the

main benefits and results from its implementation. To reach this objective, a research on this

type of implementation in other countries was realized and the financial benefits from the

implementation in some clients trading system were analyzed. This system represents the

beginning of a new technology that will be largely implemented in Brazil.

Key-Words: Automation, Financial Markets, Trading Platform, Direct Market Access.

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SUMÁRIO

1 Introdução ........................................................................................................................ 15

1.1 Problema .................................................................................................................. 17

1.2 Contexto................................................................................................................... 19

1.2.1 Mercado Mundial de Capitais.......................................................................... 19

1.2.2 Mercado Brasileiro de Ações........................................................................... 22

1.2.2.1 O papel da CVM .......................................................................................... 25

1.3 Objetivo ................................................................................................................... 26

2 Fundamentos Teóricos ..................................................................................................... 27

2.1 Ações ....................................................................................................................... 27

2.2 Latência .................................................................................................................... 28

2.3 Impacto do sistema em outros países emergentes ................................................... 28

2.4 Impacto do sistema em mercados desenvolvidos .................................................... 30

2.5 Transparência........................................................................................................... 31

2.6 Spreads..................................................................................................................... 32

2.7 Liquidez ................................................................................................................... 34

2.8 Métodos de Implementação de Sistema .................................................................. 36

2.9 Adequação às normas da Bovespa........................................................................... 37

2.10 Apuração de Resultados Financeiros ....................................................................... 38

3 Metodologia ..................................................................................................................... 41

4 Proposta do Projeto e Aplicação ...................................................................................... 44

4.1 Avaliação da Atual Estrutura de SI ......................................................................... 44

4.1.1 Conexão Varejo ............................................................................................... 44

4.1.2 Conexão Gestor ............................................................................................... 45

4.1.3 Conexão Institucional ...................................................................................... 45

4.2 Alinhamento das Necessidades do Cliente .............................................................. 46

4.3 Estudar as Principais Dificuldades .......................................................................... 49

4.4 Foco de Atuação e Objetivo dos Recursos .............................................................. 49

4.5 Plano Mestre Funcional ........................................................................................... 50

4.6 Financeiro e Plano de Implementação ..................................................................... 52

4.7 Acompanhamento e Avaliações .............................................................................. 53

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5 Resultados e Análise ........................................................................................................56

5.1 Custos Transacionais ................................................................................................56

5.1.1 Custo de Corretagem........................................................................................56

5.1.2 Custo de Execução ...........................................................................................57

5.2 Impacto da Plataforma no Mercado .........................................................................58

5.3 Resultados no Cliente A...........................................................................................63

5.4 Resultados no Cliente B ...........................................................................................65

6 Conclusões .......................................................................................................................68

6.1 Sugestão para trabalhos futuros ...............................................................................70

7 Referências Bibliográficas ...............................................................................................72

8 Anexos .............................................................................................................................75

8.1 Algoritmo Cobrir ......................................................................................................75

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Participação por tipo de investidor na BOVESPA ................................................. 16

Figura 2 – Fluxo de Ordem no Sistema Atual ......................................................................... 17

Figura 3 - Penetração do Sistema na NYSE (%) ..................................................................... 18

Figura 4 – Fluxo de Ordem no Sistema Eletrônico ................................................................. 19

Figura 5 – Participação Mundial no Mercado de Capitais ...................................................... 22

Figura 6 – Volume Mensal de Operações na Bovespa ............................................................ 24

Figura 7 – Risco País ............................................................................................................... 25

Figura 8 – Volume das operações utilizando o AES na Índia ................................................. 29

Figura 9 – Penetração do AES vs volume total de operações na India ................................... 30

Figura 10 – Penetração do DMA em todo o mercado americano ............................................ 31

Figura 11 – Valores médios de spread nas bolsas ao redor do mundo .................................... 33

Figura 12 – Distribuição dos spreads (bps) comparado ao volume negociado (‘000) ............ 33

Figura 13 – Índice de Liquidez nos Mercados Mundiais ........................................................ 36

Figura 14 – Apuração do Resultado de uma Empresa............................................................. 40

Figura 15 – Modelo Econômico Descritivo da Empresa ......................................................... 40

Figura 16 – Metodologia aplicada ........................................................................................... 42

Figura 17 – Questionário distribuído entre os clientes ............................................................ 47

Figura 18 – Tela padrão do software do AES.......................................................................... 50

Figura 19 – Tela padrão do Bloomberg ................................................................................... 51

Figura 20 – Estrutura da nova plataforma de execução de ordens .......................................... 54

Figura 21 – Exemplo da tela do MEGABOLSA para uma ação ............................................. 57

Figura 22 – Impacto no Modelo Econômico Descritivo do Cliente B .................................... 65

Figura 23 – Impacto no Modelo Econômico Descritivo do Cliente B .................................... 67

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Capitalização Bursátil sobre o PIB pelo Mundo (%) ............................................20

Tabela 2 – Valor Transacionado sobre o PIB pelo Mundo (%) ..............................................21

Tabela 3 – Respostas do questionário aplicado ......................................................................48

Tabela 4 – Representatividade das ações no volume da BOVESPA .......................................60

Tabela 5– Estimativa do Spread médio das ações na BOVESPA ...........................................61

Tabela 6 –Spread médio das ações na BOVESPA com Vale e Petrobrás ...............................62

Tabela 7 – Economia de Custos Fixos e Variáveis no Cliente A.............................................64

Tabela 8 – Economia de Custos Fixos e Variáveis no Cliente B.............................................66

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADR American Depositary Receipt

AES Advanced Execution System

BCB Banco Centra do Brasil

BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo

BPS Basis Points

CBLC Comissão Brasileira de Liquidação e Custódia

CVM Comissão de Valores Mobiliários

DMA Direct Market Access

MBC Margem Bruta de Contribuição

MSBC Margem Semibruta de Contribuição

NYSE New York Stock Exchange

OPI Oferta Pública Inicial

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15

1 Introdução

Este presente trabalho discute a dinâmica do mercado de ações brasileiro e as interações entre

seus principais agentes. Portanto, antes de iniciar qualquer discussão, é necessário uma breve

descrição desses agentes e ambientes.

Na realização de compras e vendas de ações, encontram-se três grandes entidades, abaixo

descritas: Clientes, Corretoras e Mercado.

a. Clientes

O cliente é qualquer pessoa física ou jurídica com determinado patrimônio que deseja

realizar compra e venda de ações no mercado. Pode ser representado por grandes fundos

de investimentos nacionais ou estrangeiros, clubes de investimentos, empresas nacionais

ou estrangeiras, tesourarias de bancos ou pessoas físicas.

Os fundos de investimentos são patrimônios que pertencem a diversas pessoas (físicas ou

jurídicas) denominadas cotistas. Esses recursos são geridos por um grupo profissional que

define em quais ativos o patrimônio ficará investido e cobra uma taxa pelo serviço

executado. Os clubes de investimentos funcionam da mesma maneira que os fundos de

investimento, mas possuem porte menor e não são cobradas taxas de gestão. A tesouraria

do banco é representada pelo dinheiro próprio que os bancos (nacionais ou estrangeiros)

possuem - normalmente apresentam alto patrimônio e com uma pequena equipe de

gestores altamente especializados. Já as pessoas físicas são indivíduos que desejam atuar

no mercado de ações e entram em contato com uma corretora para executar as operações.

b. Corretoras

Corretoras de Valores são instituições que executam operações de compra e venda de

ações e/ou derivativos na Bolsa de Valores de São Paulo. Elas operam sob autorização do

Banco Central do Brasil e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As corretoras

recebem as ordens de seus clientes e as executam no mercado.

Existem dois tipos de corretoras: Full Broker e Discount Broker. No primeiro caso, as

corretoras além de executarem as ordens de seus clientes no mercado - em sua maioria

grandes fundos de investimentos, investidores estrangeiros e bancos - oferecem serviço de

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16

pesquisa sobre as empresas negociadas na Bolsa, além de promoverem encontros e

conferências dos investidores com as companhias de capital aberto.

Já no segundo caso, as corretoras apenas executam as ordens de compra e venda, e cobram

comissões de operações inferiores as das casas com área de pesquisa. Os clientes dessas

corretoras são normalmente fundos de pequeno porte e pessoas físicas que operam via

home broker. A maioria das corretoras existentes no mercado são corretoras de desconto,

devido à baixa barreira de entrada e a fácil implementação e estruturação quando

comparada ao primeiro tipo.

c. Mercado

O Mercado é o ambiente onde são realizadas compras e vendas de ações. Atualmente esse

ambiente é totalmente virtual, representado por um sistema oferecido pela Bolsa de

Valores de São Paulo (BOVESPA) denominado MEGABOLSA. No entanto, esse

ambiente, até o final da década de 90 era um espaço físico, similar a uma praça, onde

eram realizados os pregões de compra e venda de ações. As corretoras contratavam os

operadores de pregão, que recebiam as ordens por telefone e executavam as ordens nas

rodas de pregão.

Figura 1 – Participação por tipo de investidor na BOVESPA

Pessoa Física; 29%

Inv Individuais; 27%

Clubes de Inv; 3%Institucional; 24%

Inves. Estrangeiro; 39%

Emp. Priv/Publ.; 2%Instit. Financeiras; 5%

Fonte: Bovespa (2008)

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17

Na Figura 2, encontra-se de forma genérica a intermediação entre o cliente e o mercado. As

informações trocadas entre ambas as partes normalmente é realizada por telefone ou e-mail,

sendo determinadas as quantidades, papéis, limites de preços e outros parâmetros para a

execução das ordens. Com posse dessas informações os operadores das corretoras realizam a

compra e a venda das ações no sistema da BOVESPA ao qual todas as corretoras possuem

acesso. À medida que as ordens são realizadas no mercado, as corretoras informam aos seus

clientes o andamento das ordens. Fica assim claro o papel da corretora como uma

intermediadora do mercado e dos clientes.

Figura 2 – Fluxo de Ordem no Sistema Atual

CorretoraMercado

(Bovespa)Cliente

Fonte: Autor

1.1 Problema

O primeiro sistema de operações eletrônicas na bolsa brasileira foi implementado em 1990,

conhecido como MEGABOLSA. No entanto, apenas em 2005 os pregões com participação

humana foram extintos. Essas operações eletrônicas para o mercado de ações são atualmente

realizadas pelo MEGABOLSA, desenvolvida pela Bolsa de Paris (Paris Bourse). As

vantagens de um sistema eletrônico de execução de ordens comparado aos pregões humanos

são a velocidade de resposta e capacidade de processamento. No entanto, o sistema não é

totalmente automatizado, havendo intervenções humanas entre o cliente final e a execução das

operações no mercado.

No sistema de automatização que é discutido nesse trabalho, não existe participação humana

entre o cliente final e a execução das ordens de compra e venda no mercado, e em alguns

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18

casos até o controle do andamento das ordens pelo cliente é automatizado. A participação

desse sistema no volume atual da Bovespa é praticamente inexistente, pois o número de

empresas que ofertam esse tipo de serviço no mundo é muito pequeno e o mercado brasileiro

começou a ganhar escala e relevância apenas nos últimos anos. Em alguns outros mercados os

números são altamente expressivos, como no caso do mercado americano em que 75% do

volume atual é realizado por esse tipo de sistema. Na Figura 3 encontra-se a penetração desse

sistema nos últimos oito anos na Bolsa de Nova Iorque. A execução deste trabalho busca

definir de forma clara quais são os passos e restrições para a aplicação desse sistema no

Brasil, e dessa forma auxiliar no aumento da penetração do sistema no mercado.

Figura 3 - Penetração do Sistema na NYSE (%)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

AlgoDMA

Fonte: AES Credit Suisse Estimates (2008)

Uma atualização do fluxograma apresentado na introdução seria representada na Figura 4, em

que o cliente acessa diretamente o mercado e a corretora apenas fornece a plataforma

eletrônica desse serviço.

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19

Figura 4 – Fluxo de Ordem no Sistema Eletrônico

CorretoraMercado

(Bovespa)Cliente

Fonte: Autor

1.2 Contexto

Neste sub- item é definido qual o ambiente o trabalho foi executado e como são suas

dinâmicas de atuação e seus principais agentes. Inicialmente é feita a descrição do mercado

mundial de capitais e então são definidas as particularidades e vantagens do mercado

brasileiro de ações.

1.2.1 Mercado Mundial de Capitais

Com os avanços tecnológicos na área da computação e comunicação, o mercado mundial de

ações apresentou notável expansão nas últimas duas décadas. Apesar da crise de crédito

americana ocorrida em 2007, nos cinco a dez anos anteriores ocorrera um grande aumento na

liquidez mundial, e os investidores encontraram cada vez mais meios de diversificar seu risco,

dada a facilidade de acesso a operações em diversos pontos do mundo. Adicionado a isso,

foram verificados um aumento de alavancagem nas operações, número recorde nas atividades

de Fusão e Aquisições, e recorde histórico de reservas internacionais, o que injetou uma

grande quantidade de dinheiro no sistema. Nas Tabelas 1 e 2, podemos verificar os países com

maior representatividade no mercado financeiro mundial e o Brasil já apresenta uma posição

de destaque.

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20

Tabela 1 – Capitalização Bursátil sobre o PIB pelo Mundo (%)

Países

Malásia

África do SulLuxemburgo

SingapuraReino Unido

SuiçaChile

Estados UnidosHolanda

FilipinasAustrália

Suécia

TailândiaJapão

CanadáNova Zelândia

FinlândiaIsrael

BélgicaÍndia

Países

Malásia

África do SulLuxemburgo

SingapuraReino Unido

SuiçaChile

Estados UnidosHolanda

FilipinasAustrália

Suécia

TailândiaJapão

CanadáNova Zelândia

FinlândiaIsrael

BélgicaÍndia

Média

279,8

195,7188,1

175,2132,2

128,7119,3

95,989,7

87,784,9

80,4

76,872,6

67,854,9

41,541,2

39,837,9

Rank

1

23

45

67

89

1011

12

1314

1516

1718

1920

Rank

1

23

45

67

89

1011

12

1314

1516

1718

1920

Países

Espanha

FrançaDinamarca

IndonésiaZimbábue

NoruegaMéxico

BrasilAlemanha

ColômbiaPortugal

Itália

PaquistãoSri Lanka

GréciaTurquia

ÁustriaEgito

ArgentinaNigéria

Venezuela

Países

Espanha

FrançaDinamarca

IndonésiaZimbábue

NoruegaMéxico

BrasilAlemanha

ColômbiaPortugal

Itália

PaquistãoSri Lanka

GréciaTurquia

ÁustriaEgito

ArgentinaNigéria

Venezuela

Média

36,4

35,535,3

33,232,5

32,131,7

27,925,1

20,719,5

19,4

18,417,8

16,615,1

14,814,3

13,89,6

8,7

Rank

21

2223

2425

2627

2829

3031

32

3334

3536

3738

3940

41

Rank

21

2223

2425

2627

2829

3031

32

3334

3536

3738

3940

41

Fonte: World Development Indicators - Banco Mundial (2006)

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21

Tabela 2 – Valor Transacionado sobre o PIB pelo Mundo (%)

Países Média Rank

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

Países Média Rank

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

31

32

33

34

35

36

37

38

39

40

41

Malásia 145,7

Singapura 77,2

Estados Unidos 74,0

Holanda 66,3

Reino Unido 47,2

Suécia 45,9

Austrália 38,0

Tailândia 38,0

Canadá 35,4

Alemanha 26,3

Japão 25,0

Finlândia 24,1

Turquia 22,4

Espanha 22,2

França 21,6

Israel 17,6

Dinamarca 17,1

África do Sul 15,7

Noruega 15,5

Finlândia 15,5

Brasil 15,3

México 14,9

Chile 13,9

Nova Zelândia 13,8

Áustria 9,5

Itália 9,3

Indonésia 9,3

Bélgica 6,9

Paquistão 6,9

Índia 6,8

Peru 6,3

Grécia 5,8

Portugal 5,5

Sri Lanka 2,9

Zimbábue 2,5

Argentina 2,4

Colômbia 2,1

Egito 2,1

Luxemburgo 2,1

Venezuela 1,4

Nigéria 0,1

Fonte: World Development Indicators - Banco Mundial (2006)

Nos últimos cinco anos, os Estados Unidos diminuíram sua contribuição para o crescimento

global acarretando um fluxo de ativos para os países emergentes, que apresentavam boas

taxas de crescimento e bom retorno sobre capital investido. Na Figura 5 pode-se verificar a

diminuição da contribuição de Estados Unidos e Europa desde 2003.

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22

Figura 5 – Participação Mundial no Mercado de Capitais

70

60

90

80

30

20

50

40

10

0

100

2003 2004 2005 2006 2007 Jan-08 Ago-08

América do Norte (Canadá)

US

Europa

Asia

Emergentes

70

60

90

80

30

20

50

40

10

0

100

2003 2004 2005 2006 2007 Jan-08 Ago-08

América do Norte (Canadá)

US

Europa

Asia

Emergentes

Fonte: Global Markets Handbook (2008)

1.2.2 Mercado Brasileiro de Ações

Em sua produção intitulada Desafios e Oportunidades para o Mercado de Capitais, a

BOVESPA (2000), evidencia diversos pontos relevantes sobre o atual estágio do mercado de

capitais brasileiro, sendo alguns deles relevantes para este estudo.

É citado que “O Brasil vem passando por profundas transformações que, pela primeira vez,

impõem a necessidade e, portanto, criam uma oportunidade para o florescimento de um

mercado de capitais no país. Avança uma nova forma de organizar a produção, elevam-se a

produtividade e a competição e, com isto, mudam as condições da oferta e demanda de

produtos financeiros.”

O artigo cita também que, do lado das empresas o novo paradigma produtivo impõe a

necessidade de elevação de suas bases de capital. A abertura as expõe a um mundo muito

mais competitivo, no qual as necessidades de investimento são muito maiores e recorrentes.

Dependentes de um mercado que até a pouco desprezavam, algumas empresas começam a

alterar sua mentalidade e postura. Já começam a surgir bons exemplos de empresas que com

sucesso, modificaram o tratamento dispensado ao mercado (governança) e tiveram retorno.

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Do lado da demanda por papéis, vários processos indicam que não haverá obstáculos ao

desenvolvimento do mercado, muito pelo contrário:

1) a inflação baixa permite mais transparência nos demonstrativos e facilita projeções;

2) a redução da demanda de recursos pelo governo sinaliza, pela primeira vez em

muitos anos, o fim do crowding out permitindo uma queda das taxas de juros e,

portanto, viabilizando a competitividade de aplicações no mercado de capitais;

3) a queda nas taxas de juros e a possibilidade da retomada do crescimento sustentado

permitem a troca de parte das posições em renda fixa para variável, antecipando a

inevitável alta no preço dos ativos reais que acompanha o processo de crescimento;

4) institucionalização da previdência complementar que, sem dúvida, significará uma

grande ampliação do mercado de ativos financeiros; e

5) o processo de globalização e a abertura externa mudam radicalmente a dinâmica do

mercado na medida em que grandes investidores demonstram crescente interesse em

investir no Brasil.

De fato, esses movimentos foram verificados nos entre 2000 e 2008. Localmente,

significaram taxas de juros sob controle, atividade econômica forte e mercado de capitais num

estágio cada vez mais promissor no país.

Os crescimentos de PIB atingiram patamares mais sustentáveis, a duração das dívidas está

maior e o câmbio sob controle permitiu esse otimismo, junto com um aumento de compra da

população brasileira. Com esse aumento do poder de compra veio também um declínio na

taxa de desemprego.

O mercado acionário brasileiro foi um grande beneficiário dessa estabilidade econômica, e a

partir do início de 2004, afastados os riscos políticos que assolavam os mercados mundiais,

ele passou por uma fase de grande injeção de capital e aumento de participantes, sejam eles

nacionais ou internacionais. Em cerca de sete anos o volume de operações na Bolsa de

Valores de São Paulo cresceu cerca de sete vezes. Na Figura 6 verifica-se que o volume

médio mensal é aproximadamente R$ 140 bilhões comparados com R$ 20 bilhões em 2000.

Com esse grande crescimento verificado, sistemas mais modernos e rápidos foram solicitados

para o bom andamento do mercado atual. Então, a busca por novas tecnologias e sistemas

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24

mais eficientes passa a ser essencial para participantes e determina a sobrevivência dos

mesmos nesse ambiente.

Figura 6 – Volume Mensal de Operações na Bovespa

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Jan/00 Jan/01 Jan/02 Jan/03 Jan/04 Jan/05 Jan/06 Jan/07 Jan/08

(R$

bi)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Jan/00 Jan/01 Jan/02 Jan/03 Jan/04 Jan/05 Jan/06 Jan/07 Jan/08

(R$

bi)

Fonte: Bovespa (2008)

Vale ressaltar que o mercado de ações no Brasil ainda tem muito espaço para crescer, dada a

representatividade de sua economia no cenário mundial como um importante mercado

emergente e o tamanho da sua população. Diversas medidas foram tomadas para manter a

economia estável, como a política de metas de inflação e superávit primário. Apesar da

recente crise mundial, verificamos que essa disciplina permitiu que o Brasil ocupasse uma

posição favorável e o risco país não retornasse a valores exagerados, ilustrado na Figura 7,

como no caso de 1999 e 2002, quando o índice atingiu valores superiores a 1000 pontos.

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25

Figura 7 – Risco País

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

Jul-99 Set-00 Nov-01 Jan-03 Mar-04 Mai-05 Jul-06 Set-07 Nov-08

Fonte: Bloomberg (2008)

Todos estes movimentos conformam um processo mais amplo. O tradicional preconceito em

relação ao mercado de capitais no Brasil vem sendo substituído por uma visão mais moderna

que valoriza sua importância como fonte de financiamento da economia e, conseqüentemente,

vê no seu desenvolvimento condição necessária para a retomada do crescimento sustentado.

Mais ainda, o fortalecimento do mercado de capitais é a forma mais eficiente de se evitar a

desnacionalização da economia na medida em que permite o crescimento e a conseqüente

valorização de nossas empresas.

1.2.2.1 O papel da CVM

É fundamental a importância de um órgão regulador para o desenvolvimento de um mercado

de capitais. A Comissão de Valores Mobiliários é uma autarquia administrativa ligada ao

Ministério da Fazenda e sua principal função concentra-se na fiscalização do mercado de

valores mobiliários. Ela assegura o funcionamento eficiente e regular do mercado e ela

também estimula a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários. Nenhuma

emissão pública pode ser distribuída sem prévio registro na CVM.

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1.3 Objetivo

Com a execução do trabalho de formatura busca-se estudar a viabilidade, planejamento e

implementação do sistema que integre e automatize todas as a operações de compra e venda

na BOVESPA, não existindo intervenção humana desde o cliente final até a execução das

ordens no mercado. O sistema base utilizado será o AES® (Advanced Execution Services). O

sistema pode ser controlado pelo cliente, sistema conhecido como DMA (Direct Market

Access) ou por algoritmos que representam a automatização total das operações.

Foram realizados estudos de adequação desse sistema às normas existentes determinadas pela

CVM e pela BOVESPA, bem como quais são os sistemas de software e hardware necessários

para a implementação, os passos necessários para essa implementação e os resultados e

vantagens obtidas com a utilização do sistema.

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2 Fundamentos Teóricos

Nesse capítulo são abordados os principais tópicos teóricos utilizados para o desenvolvimento

do trabalho. Uma caracterização das principais variáveis envolvidas no novo sistema, bem

como um paralelo com a implementação em outros países, torna a compreensão do tema mais

clara e objetiva.

2.1 Ações

As ações são títulos nominativos que representam uma fração do capital de uma empresa.

Sempre que uma empresa deseja obter capital para realizar investimentos, expansões, etc, ela

pode recorrer a duas formas: capital próprio ou capital de terceiros.

Segundo Gitman (2004, p. 264) “o termo capital denota os fundos de longo prazo de uma

empresa.” Este autor lista as diferenças entre capital próprio e de terceiros: “O capital de

terceiros inclui todos os empréstimos de longo prazo contraídos pela empresa” e o capital

próprio “é representado pelos fundos de longo prazo proporcionados pelos proprietários da

empresa, ou seja, seus acionistas”.

Gitman discute também as principais diferenças entre capital próprio e de terceiros sendo que

se verifica no caso de captação de recursos utilizando capital próprio, ou seja, utilizando

ações, os provedores dos recursos têm influência nas decisões da administração, enquanto no

capital de terceiros eles não têm influência nenhuma. Além disso, no caso de captação por

capital de terceiros, os credores possuem preferência nos resultados e ativos no caso de

falência ou dificuldades financeiras da empresa.

Nos últimos três anos no Brasil, essa fonte de captação de recursos foi altamente utilizada,

sendo que somente no ano passado foram verificados 47 OPI (Ofertas Públicas Iniciais), nas

quais as empresas ofertaram ações no mercado da BOVESPA para financiar seus

crescimentos e expansões.

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2.2 Latência

A latência é uma variável muito importante para medição de velocidade do sistema. A

latência pode ser entendida como um atraso, ou período de tempo entre o evento da decisão de

compra e venda por parte do cliente e a aparição dessa oferta no sistema do mercado.

Atualmente os valores aceitáveis para latência na BOVESPA são valores inferiores a 0,5s.

2.3 Impacto do sistema em outros países emergentes

Uma importante base comparativa para a implementação desse sistema foi o estudo realizado

por Hebbar (2008), que analisa a introdução desse mesmo sistema na Índia em Abril de 2008,

o primeiro país emergente a utilizá- lo. Naquele país existem aproximadamente 1350

instituições financeiras, locais e estrangeiras, que operam no mercado de ações. No estudo ele

estima que cerca de 40 a 50 corretoras usarão esse sistema em 2010, correspondendo a

aproximadamente 11% do mercado total.

Um estudo apontou que os clientes identificam como essenciais para a aceitação do Acesso

Direto ao Mercado, a mitigação de front running (corretor beneficia determinado cliente com

base na informação de outros clientes), a insatisfação com a alta latência na execução de

ordens e erros na execução.

Comparando o estudo realizado na Índia e o mercado brasileiro é necessário destacar uma

diferença fundamental, o número total de corretoras cadastradas. No Brasil existem

aproximadamente 150 casas, enquanto que na Índia esse número é aproximadamente 10.000.

Portanto, sob esse aspecto a implementação do sistema torna-se mais rápida e competitiva.

Como relação à engenharia de implementação na Índia, o estudo nos indica passos

importantes na implementação e seus respectivos prazos. Ele resume a implementação em 4

estágios:

1) Greenfield installation: corresponde à instalação dos softwares de interface com o

cliente que compreende na plataforma de operações. O prazo médio dessa atividade é

de cerca de 2 a 3 meses, mas como na Índia já operam com plataformas similares a

essas, o tempo de preparo das máquinas e sistemas leva apenas uma a duas semanas.

2) Testing: dado que o passo anterior está completo, são realizados testes para verificar se

a plataforma opera regularmente. Prazo de aproximadamente uma semana.

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3) Certificação: as corretoras necessitam que seus softwares e plataformas sejam

aprovados por um auditor de segurança e confirme a validade para a Bolsa local. Esse

passo toma aproximadamente de duas semanas.

4) Auditoria: as corretoras necessitam manter uma ficha de Conheça seu cliente, também

requisitada no Brasil, na qual a corretora confirma a segurança de procedência dos

recursos do cliente, sua habilidade de tomar risco como gestor profissional e questões

éticas. Esse passo requer entre uma e três semanas.

Portanto o processo inteiro leva cerca de um mês e meio para ser concretizado. Alguns passos

e idéias apresentados nesse estudo também foram adotados na implementação no Brasil e foi

detalhadamente descrito no item de Aplicação deste relatório.

O estudo também realiza algumas estimativas de penetração desse tipo de sistema na India e

de acordo com algumas previsões como ilustrado nas Figura 8 e 9. O estudo estima que em 2

anos esse tipo de acesso corresponderá a aproximadamente 10% do volume total operado,

totalizando um montante de 30 bilhões de dólares.

Figura 8 – Volume das operações utilizando o AES na Índia

35

30

25

20

15

10

5

02008E 2009E 2010E

Vo

lum

e d

e O

per

ação

(B

ilhõ

es)

Fonte: AES Credit Suisse Estimates

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30

Figura 1 – Penetração do AES vs volume total de operações na India

0

20

40

60

80

100

2008E 2009E 2010E0

20

40

60

80

100

2008E 2009E 2010E

DMA TotalDMA Total

Fonte: AES Credit Suisse Estimates (2008)

2.4 Impacto do sistema em mercados desenvolvidos

Também no estudo de Hebbar (2008), são ressaltados diversos pontos bené ficos na

implementação do DMA, são eles:

• Custos mais baixos: os valores cobrados de comissão pela execução de ordem são

aproximadamente 20% do valor cobrado nos Estados Unidos e metade do valor

cobrado na Europa.

• Maior controle: a maior agilidade nos parâmetros definidos pelo cliente, evita atrasos

na atualização para o corretor e torna a execução mais ágil.

• Execução mais rápida e com melhor qualidade: evita erros de comunicação entre a

corretora e cliente, além de uma menor latência na interação do cliente e mercado.

• Aumento da utilização de estratégias e algoritmos que controla as ordens no sistema.

Na figura 10 tem-se o gráfico do crescimento do volume de do uso do acesso direto ao

mercado em todo o mercado de ações nos Estados Unidos apresentado no estudo.

Diferentemente do Brasil, nos EUA existem diversas bolsas em diversos pontos do país, nas

quais podem-se operar diversos papéis, e muitas vezes eles negociam em mais de uma bolsa.

A taxa composta de crescimento anual é aproximadamente 28%. Outro ponto ressaltado no

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artigo é a questão do anonimato na execução de ordens, outro ponto que foi discutido no item

de transparência. Como os clientes executam diretamente no mercado e utilizam diversas

plataformas de diversas corretoras, os spreads tendem a diminuir e assim o mercado torna-se

mais líquido.

Figura 10 – Penetração do DMA em todo o mercado americano

3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

02002 2003 2004 2005 2003 2006 2007 2008 2009 2010

DMA

EU Equity

Porcentagem

0%

60%

80%

100%

40%

20%

Bilh

ões

3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

02002 2003 2004 2005 2003 2006 2007 2008 2009 2010

DMA

EU Equity

Porcentagem

0%

60%

80%

100%

40%

20%

Bilh

ões

Fonte: AES Credit Suisse Estimates (2008)

2.5 Transparência

A transparência é recorrentemente citada como benefício de uma plataforma eletrônica de

operações. Entende-se como transparência a fiel representação das intenções de compra e

venda dos clientes nos sistemas de operação do mercado. No atual estágio dos sistemas de

negociação do mercado brasileiro, as corretoras recebem as informações de seus clientes, mas

possuem a liberdade de colocar ou não a oferta de compra ou de venda no sistema do

MEGABOLSA. Tal atitude abre margem para que o corretor avise outro cliente da existência

dessa operação e de alguma forma beneficiar o outro cliente ou a si próprio. Com a aplicação

dessa nova plataforma de execução esse problema seria mitigado e as informações contidas no

sistema seriam mais fiéis a realidade.

Rime (2003) cita diversos pontos positivos e afirma que esses sistemas definitivamente

induzem uma maior transparência no mercado. Primeiro, os operadores podem ver os sinais

de preços e spreads de todos as operações, e não somente aqueles que o operador deseja

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exibir na tela. Segundo, porque é mais fácil seguir o andamento dos preços de vários papéis,

então o preço é mais próximo do real.

Outros benefícios da transparência foram citados por Bessembinder, Maxwell e

Venkataraman (2005). O trabalho conclui que o desenho da arquitetura e forma de atuação do

mercado, denominado market design, e as decisões para torná- lo mais transparente para o

público, têm efeitos de primeira instâncias nos custos que os clientes pagam para executar as

operações. Também é ressaltado que os benefícios obtidos são validos desde pequenos

operadores, como no caso de home broker, até investidores profissionais que transacionam

centenas de milhares de dólares.

É importante ressaltar que existe uma diferença entre o preço que o cliente realmente deseja

vender ou comprar as ações e o preço que ele passa para o corretor. Quanto maior a confiança

do cliente em seu corretor, mais próximo serão esses valores. A desconfiança existe porque a

corretora consegue ver o fluxo de vários clientes e de posse dessas informações pode

favorecer um outro cliente ou mesmo tirar proveito próprio. Com o desenvolver do trabalho é

evidenciado que com a introdução de um sistema através do qual o cliente acesse diretamente

o mercado, ele se torna mais transparente e justo.

2.6 Spreads

Spread é definido como a diferença entre a oferta de compra e a oferta de venda em algum

mercado. O termo é referenciado diversas vezes, pois representa importante variável na

diminuição nos custos de transação bem como na liquidez do mercado. Um estudo importante

sobre correlação entre a eficiência do mercado e spread foi realizado por Chordia (2003), no

qual conclui-se que quanto menor forem os spreads, mais líquido será o mercado e, portanto

mais eficiente. Os Estados Unidos é o país com maior adesão ao DMA e aos controles de

ordens via algoritmo e apresentam os menores spreads do mundo. Nas figuras 11 e 12 são

comparados os valores de spread no mercado mundial e uma análise de diferença entre os

spreads entre os países desenvolvidos (com maior penetração do sistema) e os países

emergentes.

Recorrentemente os valores de spread são citados de BPS (Basis Points). Cem pontos base

são equivalentes a 1%.

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Figura 11 – Valores médios de spread nas bolsas ao redor do mundo

Média da Asia: 33 bps

Nova Zelândia ‘NZX50’

Indonésia ‘LQ45’

Tailândia ‘SET50’

Malaysia ‘KLCI’

China ‘B’

Singapura ‘MSCI’

Austrália ‘ASX’

Coréia ‘KOSPI2’

Taiwan ‘MSCI’

HK ‘HSCEI’

Japão ‘NKY225’

HK ‘HSI’

Índia ‘BSE’

China ‘A’

Índia ‘NSE’

Média da UE: 24 bps

Média dos EUA: 5 bps8

7

89

84

67

63

35

28

27

25

19

18

18

13

11

Fonte: AES Credit Suisse Estimates (2008)

Figura 12 – Distribuição dos spreads (bps) comparado ao volume negociado

(‘000)

10

100

1.000

10.000

1.000.000

100.000

10.000.000

Nog

ócio

sem

US

$

1 10 100 1000

DesenvolvidosEmergentes

Fonte: Global Markets Handbook (2008)

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34

No item de Resultados desse relatório são discutidas as alterações quantitativas que ocorrem

nos spreads com a adoção do sistema e uma representação clara de como podemos verificar

esse valor no mercado.

2.7 Liquidez

Hicks (1989, p 243) faz uma definição do que corresponde um ativo líquido ao discutir a

composição dos fundos de reserva. “...será essencial que os fundos se mantenham em uma

forma que sejam facilmente vendáveis, a qualquer momento, e isto não significa somente que

devem conservar-se em valores facilmente negociáveis, mas também que devem conservar-se

em uma forma tal que o valor da carteira não tenda a variar muito com o tempo. O valor deve

ser muito semelhante, qualquer que seja a data da venda. Um ativo particular que tenha esta

propriedade, é seguramente o que se entende na prática por um ativo líquido.”

Outro estudo importante desenvolvido sobre liquidez foi realizado por um grupo BIS (1999,

p. 5-15). Segundo o grupo a definição para um mercado líquido seria “...é um mercado onde

os participantes podem rapidamente realizar um grande volume de negócios com um pequeno

impacto sobre os preços.” Esse relatório também apresenta três conceitos: Firmeza,

Profundidade e Resiliência. Securato (2003, p 4-5) discute esses três conceitos:

§ Tightness (Firmeza): Refere-se a quanto os preços de transação, isto é os preços de

compra e venda, divergem do preço médio de mercado e reflete os custos de

negociação incorridos independentemente do nível de preços do mercado.

Freqüentemente a tightness (firmeza) é medida através do bid-ask spread

§ Depth (Profundidade): Denota o volume de negócios possíveis de serem realizados

sem afetar os preços correntes prevalecentes no mercado. A profundidade está

relacionada ao volume das ordens de compra e venda ou impacto de mercado, que é a

flutuação dos bid-ask spreads decorrentes da execução das ordens.

§ Resiliency (Resiliência): a resiliência esta relacionada com a velocidade com a qual a

flutuação de preço decorrente das negociações é dissipada.

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Securato (2003) também discute que o conceito de liquidez, em virtude de sua natureza

multifacetada, é um conceito bem vago e ressalta que não existe um consenso sobre a melhor

forma de avaliar a liquidez de um mercado e, portanto de mensurar o risco de liquidez a que

está exposto quem atua neste mercado. No entanto ele cita que a melhor forma de medi- lo é

taravés do bid-ask spread, pois ele revela a diferença entre as cotações de compra e venda e

reflete os custos de transação.

Uma maneira de detalhá- lo foi descrita por Jorion (2000, p. 344):

[ ]Pm

PcPvS

−=

Onde:

S é o bid-ask spread, Pv o preço de oferta de venda Pc o preço de oferta de compra

Pm o preço médio, ou seja Pm = 2)( PcPv +

Ele cita também que esse spread mede a firmeza do mercado, o que corresponde a uma

dimensão de liquidez. Quanto menor o for o valor, mais firme será o mercado. Esses

conceitos foram amplamente utilizados no item Resultado desse relatório para se calcularem

as possíveis economias nos custos transacionais.

É importante ressaltar que o primeiro conceito de bid-ask spread foi escrito por Demsetz

(1968, p. 37) “... sob condições competitivas, o ask-bid spread ou markup medirá o custo de

fazer transações rapidamente.”

Foi realizado um estudo do impacto desse novo sistema no bid-ask spread das ações da

BOVESPA e muito desses pontos serão retomados no item de Resultados deste relatório. Na

Figura 13 uma comparação da liquidez reforça a correlação entre spreads menores e mercados

mais líquidos.

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Figura 13 – Índice de Liquidez nos Mercados Mundiais

Desenvolvidos Emergentes87654

3210

9

Paq

uist

ãoE

span

haT

urqu

iaN

orue

gaC

oréi

aT

aiw

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anha

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rasi

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ésia

Sin

gapu

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ndia

Hon

gK

ong

Aus

trál

iaE

gito

Jord

ânia

Hun

gria

Áus

tria

Irla

nda

Can

adá

Índi

frica

do

Sul

Gré

cia

Mar

roco

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Pol

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Filip

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Méx

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Chi

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Zel

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aC

olôm

bia

Arg

entin

aP

eru

Fonte: Global Markets Handbook (2008)

2.8 Métodos de Implementação de Sistema

O presente trabalho também discute como será o modelo de implementação desse sistema no

Brasil, quais são os passos necessários para uma boa conclusão desse novo método adotado,

desde as necessidades do cliente até os requisitos de software e hardware que serão utilizados.

Encontraram-se aspectos importantes na definição do modelo de implementação do sistema

nos seis passos definidos por Koontz (2000). Na visão do autor é necessário inicialmente

definir os Objetivos e visões do negócio. Definido esse ponto é necessário determinar a

arquitetura da informação, que delineiam as informações necessárias para completar o passo

anterior. Então se defini a arquitetura dos dados, “que é exatamente quais dados você tem e

quais dados você quer o cliente tenha”. De posse dessas informações você define qual será a

arquitetura do aplicativo, os aplicativos que irão interagir com os dados. Com a conclusão dos

passos anteriores, você deverá realizar a arquitetura técnica, que corresponde a uma

examinação formal dos hardwares e softwares necessários para suportar a análise feita. Por

fim, você deverá realizar a arquitetura organizacional, que envolve as restrições legais,

administrativas e quaisquer outras contratações e treinamentos necessários.

Muito dos pontos citados foram realizados no projeto e esse estudo foi utilizado como base

para definir a metodologia aplicada neste trabalho. Contatos com a BOVESPA para estudar-se

a viabilidade do contato direto do cliente com o mercado, quais softwares seriam utilizados e

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quais mudanças seriam necessários e diversos outros pontos que serão descritos na

Metodologia e Aplicação a seguir.

2.9 Adequação às normas da Bovespa

É importante, retomarmos o manual de procedimentos operacionais da Bolsa de Valores de

São Paulo disposto no site da BOVESPA. No capítulo VII, das conexões automatizadas, é

importante ressaltar os seguintes pontos:

7.2 Das Autorizações

7.2.1 O Acesso ao sistema de roteamento de ordens, por intermédio das conexões

automatizadas, é exclusivo:

a) Ao próprio Cliente Final – é o cliente Investidor Individual, Institucional ou

Instituição Financeira, que coloca suas ordens para sua própria carteira diretamente de

seu computador, nos sistemas de roteamento oferecidos pelas Corretoras.

Fica claro nessa passagem, que a Bovespa, já permite que os investidores acessem

diretamente o mercado acionário, desde que respeite os parâmetros de negociação e de

volume. No entanto, vale ressaltar que quaisquer eventuais movimentos ou

interferências incorretas no mercado, os controladores da Bovespa primeiramente

entrarão em contato com a corretora que provém o acesso ao cliente, e essa fica

responsável pelo contato com o cliente. Além disso, são necessários o cadastramento e

autorizações dos participantes do mercado, como é descrito nos trechos abaixo

extraídos do Manual da Bovespa.

7.5 Do cadastramento e autorizações

7.5.1 O pedido de autorização para disponibilização de acesso às portas deverá ser

formalizado em documento encaminhado à área de Cadastro da BOVESPA, contendo,

no mínimo, o tipo de conexão a ser liberado (varejo, gestores ou institucional) e as

portas desejadas para roteamento.

7.5.2 Requisitos Básicos: para utilização da Conexão Varejo, Gestores e Institucional,

as Corretoras devem obter autorização prévia e específica da BOVESPA, bem como

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assinar o Termo de Responsabilidade específico, sujeitando-se ao atendimento das

seguintes condições:

a) Técnicas – devem ser cumpridos os requisitos técnicos necessários ao

adequado e seguro funcionamento do sistema de roteamento (protocolo de

comunicação, sistema de proteção, etc). Tais requisitos devem ser obtidos junto à

Superintendência Executiva de Sistemas da BOVESPA.

b) Regulamentares – devem ser atendidas as regras estabelecidas pela CVM e

pela BOVESPA (ex.: prestar informações sobre o tipo de solução tecnológica adotada;

registro dos repassadores e gestores de ordens, etc.)

c) Patrimonial – a Corretora deverá deter pelo menos quatro Títulos Patrimoniais

para utilizar plenamente as Conexões Automatizadas.

As portas são as entradas utilizadas para a transmissão de informação para a

BOVESPA. As conexões transmitem a informação e dependendo da sua fonte são

transmitidas para determinadas portas, de acordo com a demanda e fluxo de

informação de cada tipo de cliente. Caso a corretora deseje implementar esse novo

sistema, deve solicitar a BOVESPA o acesso as portas corretas, como será

determinado no item Aplicação deste relatório.

2.10 Apuração de Resultados Financeiros

Para a realização da análise do impacto financeiro nos clientes que implementarão o sistema,

deve-se recorrer ao estudo econômico aplicado às empresas sob a perspectiva de Brunstein

(2005). Inicialmente o autor define a Margem Bruta de Contribuição (MBC) como a diferença

entre a Receita Líquida no período considerado menos o montante dos Custos Variáveis

necessários para a obtenção desta receita. A MBC pode ser entendida como uma medida de

rentabilidade das atividades ou um ganho econômico pelas atividades desenvolvidas.

MBC = RL(t) – CV(t)

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Onde:

RL(t) Receita Liquida no período

CV(t) Custo Variável no período

Outro indicador importante a ser analisado segundo o autor é a Margem Semibruta de

Contribuição (MSBC). Ela é resultante da diferença entre a MBC e as despesas fixas próprias

da atividade. A MSBC é uma importante medida de rentabilidade de produtos e atividades

operacionais e indica se uma atividade ou produto possui muitas despesas fixas relacionadas

da sua produção ou atividade.

MSBC = MBC – CFP(t)

Onde:

MBC Margem Bruta de Contribuição

CFP (t) Custos Fixos Próprios no período

Na figura 14 encontra-se uma representação da apuração do resultado da empresa. Ela é

análoga a apuração de resultados efetuada na Contabilidade. Do lado direito, os valores das

Margens já depuradas das despesas e custos próprios da atividade. Do lado esquerdo estão os

custos fixos gerais, e a diferença entre esses dois valores representa o Resultado Operacional

da empresa no período. Na figura também está reforçado o aspecto da MBC ser considerada

uma medida de rentabilidade das atividades e os custos fixos e despesas gerais serem oriundos

da estrutura de curto prazo da empresa em questão.

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Figura 14 – Apuração do Resultado de uma Empresa

Estrutura decurto prazoda empresa

Custos fixosgerais do período

Despesas Fixasgerais do período

Estrutura decurto prazoda empresa

Estrutura decurto prazoda empresa

Custos fixosgerais do período

Despesas Fixasgerais do período

Custos fixosgerais do período

Custos fixosgerais do período

Despesas Fixasgerais do períodoDespesas Fixas

gerais do período

RESULTADODO PERÍODORESULTADODO PERÍODO

MargemBruta de

Contribuição

MargemBruta de

Contribuição

Rentabilidadedas atividadesRentabilidadedas atividades

Fonte: Israel Brunstein (2005)

Uma outra representação de como se se obtém o resultado da empresa no período está descrito

na Figura 15. Ela demonstra passo a passo, quais são os custos e despesas retirados em cada

etapa para avaliar se a companhia obteve lucro, prejuízo ou se o resultado foi nulo no período

em questão.

Figura 15 – Modelo Econômico Descritivo da Empresa

Receita Líquida

CV MBC

MBC

CustosFixos

DiretosMSBC

MSBCMSBC

CustosFixosGerais

Resultado

Fonte: Israel Brunstein (2005)

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3 Metodologia

Nesse item, está descrita passo-a-passo a metodologia aplicada na implementação do sistema

nos clientes que receberam o sistema de acesso direto à Bolsa de Valores, e servirá como base

para a implementação em casos futuros. É importante ressaltar que foi estudada a metodologia

de aplicação do DMA (Direct Market Access), pois a utilização de algoritmo é apenas a

adição de uma estrutura adicional, que pouco influencia no modo de implementação e nas

suas restrições. Pode-se dividir esse processo em três grandes etapas: Planejamento e Análise,

Implementação e Monitoramento.

1. Planejamento e Análise

Na primeira etapa é necessário avaliar quais são as necessidades dos clientes e como o

sistema pode auxiliá-lo e otimizar sua estrutura de operações. Nessa etapa deve-se

também conferir se o cliente já possui uma estrutura de SI adequada para receber e utilizar

a nova plataforma eletrônica. Uma diferenciação importante a ser feita nessa etapa é

analisar se o cliente utilizará apenas o acesso direto ao mercado ou se também utilizará

algoritmos de controle das ordens, pois isso acarretará mudanças de custos e de sistemas

utilizados.

2. Implementação

Logo após a etapa de Planejamento e Análise deve-se fazer a implementação da

plataforma no sistema operacional do cliente. Deve-se checar se são necessárias

atualizações de sistema ou formas de comunicação para o bom funcionamento da

plataforma, além de firmar os contratos de pagamento e em seguida testar se a plataforma

está funcionando corretamente.

3. Monitoramento

Finalmente, deverá ser feito mensalmente um acompanhamento do funcionamento do

sistema e se as necessidades do cliente estão sendo atendidas ou se é necessário fazer

atualizações ou mudanças.

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Com base nas três grandes etapas necessárias para a boa execução do trabalho, foram

definidos sete passos para atingir-se o objetivo como descrito no quadro esquemático abaixo.

Figura 16 – Metodologia aplicada

Avaliação atualestrutura de SI

Alinhamentonecessidadesdos clientes

Estudarprincipais

Dificuldadesde implement .

Foco deatuação

e objetivodos recursos

Financeiro ePlano de

Implementação

Plano MestreFuncionais

Acompanhamentoe avaliações

Fonte: Autor

Na primeira grande etapa, Planejamento e Análise, estão compreendidos os três primeiros

passos: Avaliação Atual da Estrutura de SI, Alinhamento das Necessidades do Cliente e

Estudar as Principais Dificuldades de Implementação.

§ Avaliação da Atual Estrutura de SI: verifica-se qual é a condição atual do sistema

de informação frente as mudanças que se deve efetuar para a implementação do

novo sistema.

§ Alinhamento das Necessidades do Cliente: identificada e detalhada a estrutura

existente e necessária, busca-se entender o que o cliente espera do sistema e quais

são os benefícios que podem acarretar.

§ Estudar as Principais Dificuldades de Implementação: busca-se identificar quais

são as principais deficiências tecnológicas, estruturais e mercadológicas para a

implementação do novo sistema.

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Já na segunda etapa, Implementação encontra-se os três passos seguintes: Foco de Atuação e

Objetivo dos Recursos, Plano Mestre Funcional e Financeiro e Plano de Implementação.

§ Foco de Atuação e Objetivo dos Recursos: lista-se qual será o mercado de atuação

desse novo produto e quais necessidades dos clientes serão atendidas com esse

sistema.

§ Plano Mestre Funcional: determina-se como será o design do sistema e quais serão

as interações e funcionalidades que ele oferece para o cliente. Importante passo

para identificar possíveis limitações que o produto oferece.

§ Financeiro e Plano de Implementação: definem-se quais serão as formas de

pagamento e investimentos necessários, além de definir quais serão os prazos e

etapas de implementação do novo sistema.

Finalmente, na última etapa tem-se o passo de acompanhamento e avaliações. O último passo

corresponde a avaliação se o sistema está corretamente implementado, além de verificar quais

são os parâmetros e freqüência necessários para o acompanhamento do novo sistema. No

próximo item é detalhado como foram executados cada um desses passos e quais foram os

resultados e informações obtidas dessa implementação.

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4 Proposta do Projeto e Aplicação

Definida a metodologia de implementação do sistema na qual o autor teve participação na

avaliação de estrutura de TI, alinhamento das necessidades do cliente, alguns algoritmos do

plano mestre funcional, acompanhamento e avaliações, discutir-se-á os resultados e

experiências obtidas com a execução do trabalho, com destaque para as atividades

desenvolvidas pelo autor. Mas é importante destacar, que o autor acompanhou todo o

processo em todas as etapas em seu estágio.

O processo iniciou-se em julho de 2007, quando representantes do AES vieram para o Brasil

para apresentar o sistema à equipe da corretora e estudar um plano de aplicação desse sistema.

Após essa data, foram realizadas diversas teleconferências para discutir-se o tema. Foram

utilizados os passos definidos na metodologia na aplicação do novo sistema, como detalhado

a seguir.

4.1 Avaliação da Atual Estrutura de SI

Inicialmente, teve-se que avaliar se o sistema da BOVESPA suportaria a implementação do

sistema, já que a disseminação de uma plataforma de acesso direto, aumentaria

consideravelmente a quantidade de usuários que acessariam o sistema da Bolsa de Valores.

Ao realizar-se esse estudo, verificou-se que existem diversas portas de acesso ao sistema do

MEGABOLSA como citado nos Fundamentos Teóricos. Basicamente, o sistema de

negociação está estruturado em três grandes grupos, que por suas vez apresentam portas

distintas, de acordo com a necessidade e volume de informação de cada tipo de cliente ao qual

elas estão destinadas.

4.1.1 Conexão Varejo

Essa conexão é destinada a clientes individuais, em sua maioria pessoas físicas. Essa conexão

possui duas portas.

§ Porta 300 (“Home Broker”): ela é exclusivamente acessada pelos clientes

finais, com usa de senhas próprias fornecidas pelas Corretoras. Não existe

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limitação na quantidade de clientes de cada Corretora que se utilize dessa

porta.

§ Porta 310: acessada exclusivamente por Repassadores de Ordens (Corretoras

de Valores) operando para clientes individuais.

4.1.2 Conexão Gestor

Essa conexão é destinada à recepção de ordens encaminhas por Gestores de Ordens, em sua

maioria fundo mútuos de investimentos, fundos de previdência privada, e apresenta uma

porta.

§ Porta 400: É acessada exclusivamente por gestores de ordens, operando via as

Corretoras de Valores. Essa porta possui um número limitado de 48 acessos.

Nessa porta não são permitidas as participações de investidores estrangeiros ou

as carteiras próprias de bancos.

4.1.3 Conexão Institucional

Essa conexão é destinada aos clientes institucionais e mesa de tesouraria dos bancos.

Normalmente, é porta utilizada pelos investidores estrangeiros no Brasil. Essa conexão

apresenta duas portas.

§ Porta 500: É acessada exclusivamente por clientes institucionais com o uso de

senhas fornecidas pelas Corretoras de valores. Não existe limitação na

quantidade de clientes que utilizem essa porta.

§ Porta 510: É acessada exclusivamente por Repassadores de Ordens, operando

para os clientes institucionais ou para as instituições financeiras. Não existe

limitação na quantidade de clientes que utilize essa porta.

Verificou-se que a atual estrutura de recebimento de informações da BOVESPA já está

preparada para o recebimento desse tipo de plataforma e definiu-se que as principais portas a

serem utilizadas são as portas 300, 400, 500. Nesse passo, foi realizado um contato com a

administração da BOVESPA para verificar se essas portas deveriam ser realmente utilizadas e

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se a estavam funcionando corretamente. Um ponto importante a ser destacado e monitorado é

se com um aumento no fluxo de clientes operando por esse sistema será necessário uma

revisão de capacidade total dessas portas ou redistribuição no número de portas e servidores

utilizados para cada setor. Atualmente o sistema possui capacidade para atender cerca de 300

a 400 mil ordens por dia. No entanto, fica claro que o sistema de negociações brasileiro já

possui infra-estrutura para atender esse tipo de serviço.

Após confirmar-se a habilidade do sistema MEGABOLSA receber esse tipo de acesso direto,

analisou-se a estrutura de SI dos clientes que utilizariam essa plataforma. Existem

basicamente duas maneiras de acesso que o cliente pode utilizar:

• Software + Internet: O software de interface com o usuário já foi desenvolvido

pela correspondente norte-americana da Corretora e possui aproximadamente 35MB, e

é similar a um programa desenvolvido em MS Access. Com a instalação desse sistema

e uma conexão de Internet, as informações são transmitidas para a corretora e então

repassadas para a porta correta na BOVESPA.

• BLOOMBERG: este é um sistema global de comunicação utilizado pelo

mercado financeiro, bem similar a uma Internet, com portais de noticias, cotações e

comunicação. Como esse sistema já possui ampla abrangência no mundo, já foi

desenvolvido um canal, que após cadastro junto à corretora, o cliente utiliza uma

plataforma e opera diretamente no mercado. Portanto, esse sistema substitui a Internet

e o software do método anterior, mas o fluxo de informação funciona da mesma

maneira.

Portanto, avaliando-se a atual estrutura de SI dos clientes e do sistema de negociação

brasileiro de ações, verifica-se que o sistema pode ser implementado sem qualquer alteração

estrutural dos sistemas já utilizados pelos clientes, corretoras e mercado.

4.2 Alinhamento das Necessidades do Cliente

Nesse passo foi realizada uma pesquisa de campo com diversos clientes da corretora na qual

foi realizado o estágio e o trabalho de formatura. Decidiu-se realizar uma pesquisa com cerca

de 30 clientes, com patrimônios entre 100 e 5,000 milhões de reais, ou seja, grandes fundos de

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investimentos brasileiros e internacionais. O modelo de pesquisa foi um breve questionário

com 4 questões e uma pequena explicação do sistema, como descrito na Figura 17.

Figura 17 – Questionário distribuído entre os clientes

1. Já conhecia o sistema de execução de ordens eletrônicas?

2. Do total de volume operado diariamente, qual porcentagem utilizaria esse novo sistema?

3. Qual é o principal fator na escolha de uma plataforma de execução de ordens?

a. Velocidade_

b. Confiança_

c. Preço_

4. Quanto pagaria de corretagem se utilizasse o sistema de acesso direto (em % do valor pago hoje)?

Fonte: Autor

Verifica-se também que o perfil de cliente da corretora não é representativo de todo o

mercado, já que ela atende apenas a clientes com grandes patrimônios. Porém, a corretora

possui o maior volume de negociação da Bolsa de Valores e o perfil dos clientes representa

aproximadamente 70% do volume da bolsa, portanto o estudo desses clientes é bem

representativo para o mercado de ações brasileiro. Obtiveram-se os seguintes resultados,

detalhados na Tabela 3.

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Tabela 2 – Respostas do questionário aplicado

Cliente/Questão A B C D

1 SIM 70% C 50%

2 SIM 100% V 25%

3 NÃO 50% V 50%

4 SIM 10% V 50%

5 SIM 25% P 50%

6 SIM 10% P 50%

7 SIM 50% C 33%

8 SIM 50% P 33%

9 SIM 100% V 50%10 NÃO 25% C 25%

11 NÃO 100% V 50%

12 SIM 30% V 100%

13 SIM 50% P 50%

14 SIM 30% C 25%

15 SIM 100% V 25%

16 SIM 100% V 25%

17 SIM 75% V 50%

18 NÃO 100% C 50%

19 SIM 100% P 50%

20 NÃO 75% V 33%

21 SIM 100% V 33%

22 NÃO 50% V 25%23 SIM 50% C 50%

24 SIM 75% P 50%

25 SIM 100% V 50%

26 SIM 100% V 50%

27 NÃO 100% V 25%

28 SIM 100% C 50%

29 SIM 100% V 33%

30 SIM 100% P 50%

Fonte: Autor

Analisando-se a moda das quatro perguntas, pode-se concluir que o sistema já é amplamente

conhecido pelos participantes de mercado. Na segunda pergunta foi verificado que a moda é

100% com uma média de 71% e desvio padrão de 32%. Conclui-se assim que a taxa de

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utilização pelos clientes que optarem pelo sistema será alta. Na terceira pergunta foi

verificado que o item mais relevante para a decisão da plataforma é a velocidade e como

citado anteriormente, a latência entra como fator essencial na sobrevivência e competitividade

da plataforma de execução de ordens.

Quanto ao preço, pode-se verificar que a média encontrada é de 43% e desvio padrão de 15%,

tornando-se razoável a utilização de taxas de desconto de 50% para os valores pagos

atualmente, o que se aproxima dos valores de desconto apresentados na Europa.

Essas etapas tiveram término no final de dezembro de 2007 e então se deu procedência para o

estudo da capacidade de softwares e hardwares da corretora para oferecer o sistema para os

clientes. Um engenheiro de sistemas da equipe veio para o Brasil e analisou os sistemas

utilizados. Os dados de latência obtidos estavam de acordo com os mínimos exigidos, de

0,42s. Isso significa que o cliente, ao digitar a ordem no sistema de interface, a ordem

demorava apenas 0,42s para aparecer em todo o sistema da Bovespa.

4.3 Estudar as Principais Dificuldades

Como citado anteriormente, a aplicação desse sistema não apresenta grandes dificuldades

técnicas para ser implementado. Verifica-se assim que a principal barreira de implementação

desse sistema é a confiança do cliente na eficiência e segurança da plataforma. Para

contornar-se essa dificuldade, foi desenvolvido material de marketing do sistema. São duas

apresentações no formato de MS Power Point (.ppt) e um arquivo em formato PDF.

Nesses arquivos são apresentados estudos de penetração do sistema em diversos outros países

no mundo, em países com estrutura similar a brasileira, bem como alguns dados operacionais

de desempenho e tempo de resposta. Muitos desses pontos já foram discutidos nesse trabalho

e ficaria redundante citá- los aqui novamente.

4.4 Foco de Atuação e Objetivo dos Recursos

O foco dessa plataforma está nos clientes ins titucionais, em sua maioria grandes fundos de

investimentos nacionais e estrangeiros. Esse segmento de mercado é o foco da corretora na

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qual foi realizado o estudo e acredita-se que esses clientes possuem movimentação diária

elevada e profissionais capacitados que justifiquem a implementação do AES.

Um grande fundo de investimentos sempre busca agilidade de atuação e informação, portanto

é essencial que a plataforma apresente tempo de resposta rápido e não ocorram falhas no

envio de informação para o mercado. Além disso, esses fundos visam minimizar seus custos e

a utilização dessa plataforma reduz diversos custos transacionais, como será desenvolvido

mais a diante neste trabalho.

4.5 Plano Mestre Funcional

Como citado na avaliação de estrutura de SI, o cliente pode utilizar duas formas de acesso à

plataforma: Software desenvolvido pela corretora ou o sistema BLOOMBERG. O software

foi desenvolvido pela correspondente americana da corretora e o sistema fornecido pela

BLOOMBERG já existe desde meados de 2000. Nas Figuras 18 e 19, uma ilustração de cada

tipo de sistema.

Figura 18 – Tela padrão do software do AES

Fonte: AES Credit Suisse (2008)

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Figura 19 – Tela padrão do Bloomberg

Fonte: Bloomberg (2008)

Ambos sistemas são de interface amigável com o usuário, bem similar a programas

desenvolvidos em MS Access, onde o cliente deve entrar com os seguintes parâmetros:

§ Ação: determina a ação de qual empresa que ele deseja operar

§ Compra ou venda

§ Quantidade: tamanho do lote

Verifica-se que a plataforma AES com a utilização de algoritmo no controle das ordens, ou

seja, completa automatização das operações, é possível em ambos os casos. Caso ele não

utilize um algoritmo, é necessário que uma pessoa acompanhe os preços de mercado das

ações ao longo do dia e então envie as ordens de compra ou venda sempre que desejar operar.

No caso do algoritmo, o sistema faz uma leitura do mercado. As informações do

MEGABOLSA são interpretadas e o algoritmo decide se enviará a oferta de compra ou venda.

Diversas táticas podem ser utilizadas, serão descritas abaixo algumas delas:

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§ Ordem limitada: é determinado um preço máximo de compra ou um preço mínimo de

venda de uma determinada ação. Qualquer valor fora desses limites o sistema pára de

enviar a ordem.

§ 1/3 do Volume: dada uma ação que o cliente deseja comprar ou vender, o sistema

analisa o volume médio de negociação e envia sua ordem com a quantidade de 1/3 do

total de ações que está sendo negociado. Acredita-se que 1/3 é valor que a adição de

uma ordem não influencia no preço da ação.

Não caberá nesse estudo discutir como foram escritos os algoritmos, pois foge do escopo do

trabalho e algumas táticas são de propriedade privada dos projetistas. Alguns exemplos de

linguagem desses algoritmos encontram-se em anexo.

Ambos os sistemas são de rápido e fácil implementação, sendo necessário apenas contato via

telefone e em cerca de 30 minutos o sistema já está operacional. Os arquivos para instalação

podem ser enviados via Internet e o usuário seguirá os passos de instalação com o auxilio do

fornecedor. Apenas o formando e outro responsável pelo sistema possuem o arquivo original

e são responsáveis pelo auxílio na instalação.

4.6 Financeiro e Plano de Implementação

O plano de implementação da plataforma é rápido, pois não exige alteração da estrutura e da

arquitetura de SI já existente no mercado e nos clientes. O plano de implementação fica

fortemente atrelado a abertura de conta do cliente junto à corretora e decisão dos custos de

corretagem que serão pagos quando utiliza-se a plataforma.

Não é cobrada taxa de instalação e utilização do sistema, sendo necessário apenas definir qual

será a taxa de corretagem cobrada pela execução das ordens utilizando a plataforma. Os

valores cobrados em média são de 0,3% do volume operado. Na maioria das vezes, é

oferecido um desconto para o cliente que utiliza a plataforma do AES, que varia de caso para

caso e será descrita em detalhes no item de resultados e análise. A disseminação dessa

plataforma incorre em corte de custos para a corretora o que lhe permite margem para

oferecer descontos nessa prática de operação. Esse corte de custos advém de menores gastos

com telefonia e menor número de operadores necessários para o acompanhamento do sistema.

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Um estudo dos custos e implicações financeiras está detalhado no item Resultados. São

descritos quais são os benefícios financeiros da implementação desse sistema para os clientes

e para o mercado como um todo.

4.7 Acompanhamento e Avaliações

Após completa instalação do sistema no cliente não é necessário acompanhamento diário do

andamento do sistema, sendo necessário apenas a monitoração do bom funcionamento da rede

de informações da corretora. Tal tarefa já é desenvolvida pela área de TI do banco em que foi

realizado o trabalho.

As avaliações são realizadas por testes de latência executados pela equipe de TI, que

verificam se o tempo de resposta é inferior ao limite determinado de 0,5s. Casos

extraordinários deverão ser relatados pelo cliente e então se definir a medida paliativa

necessária para correção do atraso. Problemas de incompatibilidade do sistema nunca foram

relatados, mas caso ocorra, existem dois funcionários especializados na plataforma. Opiniões

de aprimoramento dado pelos clientes também são levadas em conta, e assim pode-se

aperfeiçoar o sistema e corrigir possíveis falhas nos algoritmos.

Realizadas todas as etapas acima, monta-se uma ficha catalográfica de cada cliente para

futuras consultas e acompanhamentos.

Na execução do trabalho, dois fundos de investimentos manifestaram interesse e aceitaram ser

os pioneiros a receber e testar o sistema. Um cliente utilizou o sistema do BLOOMBERG

para execução das ordens, enquanto o segundo utilizou o software desenvolvido pela equipe

AES. Esse cliente também optou pelo serviço de realizar o acompanhamento e execução da

ordem via algoritmo, enquanto o primeiro só buscava acesso direto ao mercado.

Na figura 20, pode-se verificar como seriam os novos fluxos comparados com os clientes que

utilizam o sistema antigo. No canto direito, o cliente faz o contato com a corretora via

telefone e essa informação é transmitida para os sistemas do mercado. Na nova tecnologia,

essas informações percorrem diretamente a cadeia e é lançada na rede da BOVESPA.

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Figura 20 – Estrutura da nova plataforma de execução de ordens

Plataforma Eletrônica de OperaçõesPara o cliente

Internet

Informações do DMA

Cliente

Servidores da Corretora

API’s de Conexão

Sistemas de Processamento da Bovespa e CBLC

Bancos e CBLC

Terminais no Cliente

Terrestrial

Fluxo Antigo

Corretor

Terminais na Corretora

Web

Mercado

Plataforma Eletrônica de OperaçõesPara o cliente

Internet

Informações do DMA

Cliente

Servidores da Corretora

API’s de Conexão

Sistemas de Processamento da Bovespa e CBLC

Bancos e CBLC

Terminais no Cliente

Terrestrial

Fluxo Antigo

Corretor

Terminais na Corretora

Web

Mercado

Fonte: Autor

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A medida que as ordens de compra e venda são efetuadas, essas informações são processadas

pelos sistemas da BOVESPA e transmitidas para a CBLC (Companhia Brasileira de

Liquidação e Custódia) e pela área de Custódia dos Bancos nos quais os clientes possuem as

ações. Esses dois ambientes são responsáveis pelo processamento e organização das

informações para posterior liquidação das operações efetuadas. No caso da BOVESPA, as

operações são liquidadas 3 dias após a realização da mesma.

Após a implementação das plataformas, foram realizadas 2 semanas de testes para verificar se

não havia falhas no envio de ordens ao mercado e se a latência realmente estava de acordo

com os padrões. Nessa passagem é relevante destacar que o sistema BLOOMBERG utilizado

pelo primeiro cliente apresentou defasagem no envio de ordens e, portanto foi necessário

interação com os administradores da BLOOMBERG para verificar o motivo do atraso.

Levou-se cerca de dois dias para identificar o problema. É necessário que os clientes possuam

a última versão atualizada do programa.

O processo inteiro levou cerca de 3 meses e meio para estar em plena operação. Os clientes

puderam utilizar a nova plataforma a partir de Agosto de 2008 e serviram como exemplo e

modelo para a análise dos resultados e benefícios do sistema.

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5 Resultados e Análise

Antes de discutir os resultados obtidos na implementação em ambos os clientes, é importante

detalhar quais são os custos envolvidos nas transações no mercado acionário. Após essa parte,

foi avaliado o benefício para todo o mercado e então os resultados encontrados em ambos os

clientes. Por motivos éticos não é definida a identidade dos clientes, apenas são apresentadas

suas características relevantes para análise.

5.1 Custos Transacionais

Sempre que um cliente deseja realizar uma operação de compra e venda no mercado, ele

incorre em dois custos básicos: custo de corretagem e custos de execução. A plataforma AES

contribui para redução de ambos os custos e também traz alguns bene fícios adicionais, como

liquidez e transparência de mercado.

5.1.1 Custo de Corretagem

Quando o cliente quando opera no mercado, ele paga uma taxa de corretagem com relação ao

valor transacionado no dia. No caso de pessoas físicas que normalmente utilizam o sistema

home broker é pago um valor fixo mais uma porcentagem do volume operado. Já pessoas

jurídicas, que é o foco do trabalho, pagam apenas uma porcentagem do valor operado. Esses

valores variam de 0,05% a 0,3% do valor financeiro operado.

Na plataforma em que o cliente acessa diretamente o mercado, os valores de corretagem

pagos são inferiores aos valores convencionais. No Brasil, como o sistema é muito recente,

não existe um valor exato de desconto utilizado, mas foram levados em contas dois aspectos

para definir-se a taxa de desconto: custos para a corretora e pesquisa de mercado realizada.

Verifica-se que na pesquisa realizada as taxas deveriam ser cerca de 50% inferiores aos 0,3%

atualmente cobrados, resultando numa taxa de 0,15%.

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5.1.2 Custo de Execução

O principal fator de custo de execução é descrito como custo de spread entre bid e ask.

Sempre que um cliente monta uma posição, por exemplo, comprou 100.000 ações de

Petrobrás ao preço de mercado esperando que as ações se valorizem. Quando ele for realizar o

ganho, ou seja, as ações realmente subiram e ele quer transformar novamente em dinheiro, ele

terá que vender essas mesmas ações ao preço de mercado. No entanto, existe uma diferença

entre os preços de oferta de compra e de oferta de venda, e essa diferença é denominada

spread entre o bid e ask. Abaixo um exemplo da tela do Mega Bolsa com as ofertas de

compra e venda do papel.

Figura 21 – Exemplo da tela do MEGABOLSA para uma ação

Diferença entre valores

PINE4 20.5 1.88%Simb PreUlt OscPreTeo

Cor Qtd Ofc Qtd CorOfv45 15000 20.2 200 7720.495 5000 20.1 8200 4520.445 2100 20 500 7220.43

131 100 20 5000 4520.3945 5000 19.9 2000 11020.49

131 300 18.03 5000 1420.5131 300 18.03 6000 1020.5131 300 18.03 200 2720.54131 300 18.03 2100 4520.6

76 100 18.06 100 7720.7100 7220.73100 14720.8

PINE4 20.5 1.88%Simb PreUlt OscPreTeo

Cor Qtd Ofc Qtd CorOfv45 15000 20.2 200 7720.495 5000 20.1 8200 4520.445 2100 20 500 7220.43

131 100 20 5000 4520.3945 5000 19.9 2000 11020.49

131 300 18.03 5000 1420.5131 300 18.03 6000 1020.5131 300 18.03 200 2720.54131 300 18.03 2100 4520.6

76 100 18.06 100 7720.7100 7220.73100 14720.8

Fonte: Autor

Verifica-se que o preço de venda da ação é sempre superior ao preço de compra, portanto

quando o cliente decidiu comprar as ações teve que pagar a oferta de venda que é mais cara e

no momento que foi vender teve que vender na oferta de compra, que é mais barata. Essa

diferença é considerada um custo, pois sempre que o cliente necessitar de liquidez imediata,

terá que arcar com essa diferença. Portanto, quanto menos for o spread dos papéis que

negociam na bolsa, mais baratas serão as transações.

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Alguns outros fatores influenciam nos custos de execução, como a velocidade de execução da

ordem e a interferência de outros participantes, mas como descrito adiante, o único fator que

apresenta melhoras significativas com a introdução da plataforma é o custo de spread entre o

bid e ask.

5.2 Impacto da Plataforma no Mercado

Como citado nos fundamentos teóricos, a utilização de um sistema de acesso direto ao

mercado e a presença de algoritmos que controlam as ordens resultam na diminuição do

spread médio dos papéis em negociação. Estimar os custos de operação explícitos,

representados pelas comissões paga aos corretores e algumas taxas de liquidação pagas à

CBLC e BOVESPA são fáceis de serem calculadas e comparadas. Mas os custos implícitos,

representados pelos custos de spreads e custos de oportunidade de não realizar uma operação

são mais complicados, devido a dois fatores principais:

§ Falta de Informação e poluição nas informações: os estudos conseguem identificar

o tamanho das operações que são realizadas, mas não se sabe corretamente da

ordem do cliente. Um cliente pode ter realizado a venda de 10,000 ações, no

entanto sua intenção era de fazer 100,000 e não encontrou liquidez necessária para

esse tamanho.

§ No atual formato de execução de ordens, o corretor pode se beneficiar do fato de

saber todas as ordens de seus clientes e executá-las na velocidade e tamanho que

ele desejar, e algumas vezes cruzando ordens dentro da corretora mesmo, sem

passar pelo mercado. Essa atuação faz com que o mercado não seja uma

representação fiel das vontades do cliente.

Como citado no custo de execução, podemos dividi- los em duas partes: custos de spread entre

bid e ask e os custos de devido a atuação de outros participantes de mercado. A plataforma

não pode alterar significativamente a segunda parcela desses custos, no entanto verificamos a

diminuição desses spreads em diversos mercados mundiais. A seguir a representação da

função do custo de execução.

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CspreadCexecução +Ω=

Onde:

CEXECUÇÃO é o custo de execução

O é o custo associado a participação de outros participantes no mercado

CSPREAD é o custo associado a diferença entre o bid e ask.

Para determinar o custo devido a atuação de outros participantes de mercado, denominar-se-á

ômega a diferença entre o preço possível desejado e o preço executado no mercado. Essa

diferença representa um erro resultante da deturpação que a ordem causa no mercado. O

ômega depende de três fatores:

CdecCvolCten ++=Ω

Onde:

CTEN é o custo associado a movimentação do preço com relação ao volume operado pelos outros participantes de mercado

CVOL é o custo associado a movimentação do preço com relação ao volume operado pela sua ordem

CDEC é o custo associado ao tempo de realização da ordem no mercado.

Estudo realizado pela equipe do AES nos Estados Unidos nos últimos dois anos verificou que

o valor de ômega é de aproximadamente 0,037% e esse valor depende basicamente apenas da

agressividade do operador, ou seja, quão rápido ele quer executar a ordem comparada com o

volume que está sendo negociado. Portanto, o novo sistema pouco influenciaria nessa parcela.

No entanto, o custo de execução depende também do custo de spread e esse apresentou uma

melhora significativa nos mercados com presença de plataformas eletrônicas.

Para determinar-se essa melhoria, foi necessário definir qual é o spread médio atual nos

papéis da BOVESPA. Não existe uma definição na literatura ou registros históricos de quais

seriam as médias históricas do valor desses spreads na BOVESPA e, assim compará- lo aos

valores internacionais.

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A metodologia aplicada para obter-se uma estimativa de spread médio foi escolher 15

companhias entre as 50 ações mais negociadas. A principal característica buscada na seleção

dessas empresas foi médio porte de negociabilidade diária, pois elas são as empresas que

sofreriam maior impacto com a implementação do sistema.

Se fossem utilizadas empresas como a Petrobrás ou Vale do Rio Doce, as duas maiores

empresas em volume de operações na BOVESPA na estimativa do valor médio de spread,

esse indicador ficaria poluído porque ambas empresas possuem spreads entre 1 e 2 bps, bem

abaixo da média americana de 5 bps, e alta participação no volume diário da Bolsa. Somado a

esse fator, empresas como essa dificilmente apresentarão uma melhoria nos spreads, pois em

valores absolutos eles são equivalente a R$ 1 centavo, menor medida de dinheiro existente.

Com base nesses fatos, decidiu-se retirar essas empresas da amostra coletada. Na tabela 4

encontra-se a participação no volume de negociações diária da Bolsa no dia 10 de novembro.

As empresas com baixo índice de negociabilidade também não foram consideradas, pois

possuem spreads elevadíssimos e são muito pouco representativas para o volume da bolsa.

Tabela 4 – Representatividade das ações no volume da BOVESPA

Company Ticker %IN Acumulado RankingPetrobras PETR4 13,880% 13,880% 1

Vale R Doce VALE5 10,179% 24,059% 2Bradesco BBDC4 3,203% 27,262% 3Itaubanco ITAU4 2,969% 30,231% 4

Sid Nacional CSNA3 2,897% 33,127% 5Vale R Doce VALE3 2,831% 35,958% 6

Petrobras PETR3 2,664% 38,622% 7Usiminas USIM5 2,644% 41,266% 8

BMF Bovespa BMEF3+BVMF3 2,623% 43,889% 9Gerdau GGBR4 2,560% 46,449% 10Brasil BBAS3 2,118% 48,567% 11

Unibanco UBBR11 2,108% 50,675% 12Itausa ITSA4 1,925% 52,600% 13Cemig CMIG4 1,394% 53,995% 14

ALL Amer Lat ALLL11 1,323% 55,317% 15Cesp CESP6 1,176% 56,494% 16

BMF Bovespa BVMF3 1,145% 57,639% 17Cyrela Realty CYRE3 1,138% 58,777% 18

Bradespar BRAP4 1,094% 59,871% 19Lojas Americ LAME4 1,042% 60,913% 20

Fonte: Economática (10/11/2008)

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As quinze empresas escolhidas como espaço amostral foram: ALL Logística, Ambev, Banco

do Brasil, Bradesco, Banco Nossa Caixa, CPFL Energia, Cyrela, Duratex, Eletropaulo,

Gafisa, Lojas Renner, Sadia, Telemar, Ultrapar e Votorantim. Todas apresentam as

características descritas na metodologia.

Com auxílio do sistema da BLOOMBERG, levantou-se o valor dos spreads de cada papel a

cada 10 minutos, num intervalo de dois meses e meio, desde 1 de Agosto de 2008 até 15 de

Outubro de 2008. Computou-se também o volume médio de negociações no período para

calcular a média ponderada desses spreads. Os resultados obtidos encontram-se na tabela 5.

Tabela 5– Estimativa do Spread médio das ações na BOVESPA

Empresa SímboloSpread Médio

Volume diário médio (R$)

Spread Ponderado (1)*(2)/Volume Total

ALL Logistica ALLL11 0,3395% 64.364.184,89 0,0340%Ambev AMBV4 0,3646% 50.670.338,70 0,0287%Banco do Brasil BBAS3 0,1966% 72.660.394,15 0,0222%Bradesco BBDC4 0,1666% 161.789.352,25 0,0419%Banco Nossa Caixa BNCA3 0,7632% 10.933.200,41 0,0130%CPFL Energia CPFE3 0,4528% 19.662.326,05 0,0138%Cyrela CYRE3 0,3913% 51.279.626,34 0,0312%Duratex DURA4 0,6092% 13.464.696,84 0,0128%Eletropaulo ELPL6 0,4465% 35.172.163,39 0,0244%Gafisa GFSA3 0,4474% 29.545.138,38 0,0205%Lojas Renner LREN3 0,4604% 37.566.919,01 0,0269%Sadia SDIA4 0,2371% 37.639.030,94 0,0139%Telemar TMAR5 0,9787% 15.400.380,25 0,0234%Ultrapar UGPA4 0,4193% 19.991.130,27 0,0130%Votorantim Celulose VCPA4 0,5239% 23.080.189,82 0,0188%

0,453% 643.219.071,68 0,3386%

Fonte: Bloomberg (2008)

Verifica-se que o spread médio das ações na BOVESPA é cerca de 33bps , similar aos 35bps

da Bolsa da China e acima da média de 24bps na Europa e 5bps nos Estados Unidos.

Pode-se verificar na Tabela 6 que caso tivesse sido incluída a Petrobrás e a Vale encontrar-se-

ia um valor de aproximadamente 16bps, bem inferior aos 33bps encontrado com a

metodologia aplicada.

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Tabela 6 –Spread médio das ações na BOVESPA com Vale e Petrobrás

Empresa SímboloSpread Médio

Volume diário médio (R$)

Spread Ponderado (1)*(2)/Volume Total

ALL Logistica ALLL11 0,3395% 64.364.184,89 0,0105%Ambev AMBV4 0,3646% 50.670.338,70 0,0089%Banco do Brasil BBAS3 0,1966% 72.660.394,15 0,0068%Bradesco BBDC4 0,1666% 161.789.352,25 0,0129%Banco Nossa Caixa BNCA3 0,7632% 10.933.200,41 0,0040%CPFL Energia CPFE3 0,4528% 19.662.326,05 0,0043%Cyrela CYRE3 0,3913% 51.279.626,34 0,0096%Duratex DURA4 0,6092% 13.464.696,84 0,0039%Eletropaulo ELPL6 0,4465% 35.172.163,39 0,0075%Gafisa GFSA3 0,4474% 29.545.138,38 0,0063%Lojas Renner LREN3 0,4604% 37.566.919,01 0,0083%Sadia SDIA4 0,2371% 37.639.030,94 0,0043%Telemar TMAR5 0,9787% 15.400.380,25 0,0072%Ultrapar UGPA4 0,4193% 19.991.130,27 0,0040%Votorantim Celulose VCPA4 0,5239% 23.080.189,82 0,0058%Petrobras PETR4 0,0949% 617.160.930,70 0,0281%Vale VALE5 0,0817% 826.485.523,29 0,0324%

0,4102% 2.086.865.525,68 0,1648%

Fonte: Bloomberg (2008)

Assumindo-se o volume atual diário da Bovespa de R$ 3,5 bilhões, temos que para cada 1bps

reduzido com a implementação do sistema, encontramos uma economia anual aproximada de:

000.200.880001,0*000.000.500.3*252

=Ε=Ε

Portanto, o mercado pode economizar cerca de R$ 88,2 milhões a cada 1 bps reduzido no

spread médio de acordo com essas estimativas. Esse ganho pode ser entendido como uma

melhora de desempenho do fundo de investimentos o que resultará no maior fluxo de dinheiro

para o mercado de capitais brasileiro.

Avramovic (2008) apresenta alguns dados sobre a implementação do sistema do AES em

outros países indicam reduções de spread entre 25% em 1 ano no caso do Japão até 75% em 2

anos como no caso de Hong Kong. Ainda não existe um modelo matemático para dimensionar

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o quanto é possível reduzir esses spreads devido às particularidades de cada mercado e a

dependência de diversas outras variáveis na definição. No entanto, como já citado

anteriormente nesse relatório, a penetração desses sistemas e o controle via algoritmo

contribuem para a redução desses valores.

Nos próximos dois sub- itens será realizada uma análise pontual do impacto econômico nos

clientes que implementaram o sistema.

5.3 Resultados no Cliente A

Esse cliente possui aproximadamente 600 milhões de reais de patrimônio e opera cerca de 30

milhões de reais diariamente, utilizando diversas corretoras. Ele possui 3 fundos de

investimentos com estratégias diferentes:

1) Small Caps Fund: aplica em empresas com baixo valor de mercado, consideradas de

maior risco e taxas maiores de investimentos. A taxa de giro dos papéis do portfolio é

considerada bem baixa.

2) Long and Short Fund: realiza estratégias de compra e venda de ações de curto prazo,

aproveitando ineficiências do mercado e papéis com alta volatilidade nos preços. O

volume operado nesse fundo é grande, correspondendo a aproximadamente 30% do

volume total operado.

3) Fundo de Investimentos em Ações: cerca de 80% do patrimônio do fundo está

investido em ações e possue uma boa taxa de movimentação de operações.

Corresponde a aproximadamente 70% do volume do operações diário.

A aplicação do sistema no cliente levou cerca de 2 meses desde a negociação inicial e o

cliente pagou 70% do valor de corretagem anteriormente. Com base nesses dados e nas

premissas descritas a seguir, encontra-se o seguinte valor mensal de economia:

A) O cliente operava cerca de 50% do seu volume diário de R$ 30 milhões com a

corretora, portanto R$ 15 milhões em média.

B) O valor de corretagem pago anteriormente era de 12bps, ou 0,12% do volume

operado.

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C) O cliente A possui três operadores que ficavam em contato com as corretoras para

o repasse e controle das ordens, e com o novo sistema permanecerão apenas 2 na

empresa.

O principal custo variável num fundo de investimento é o valor pago de corretagem, todos os

demais custos podem ser considerados fixos ou despesas como gastos gerais do escritório,

pagamento dos gestores e administradores e outras despesas.

Tabela 73 – Economia de Custos Fixos e Variáveis no Cliente A

Antes Depois

Corretagem R$ 396.000,00 R$ 277.200,00

Operadores R$ 19.500,00 R$ 13.000,00

R$ 415.500,00 R$ 290.200,00

Antes Depois

Corretagem R$ 396.000,00 R$ 277.200,00

Operadores R$ 19.500,00 R$ 13.000,00

R$ 415.500,00 R$ 290.200,00

Fonte: Autor

Verifica-se na Tabela 7 uma economia total mensal de R$ 125.300. Supondo-se que a receita

será a mesma, independente do uso ou não do sistema e com base na avaliação financeira

proposta nos Fundamentos Teóricos, tem-se:

MBC’ = MBC(corretora)*0,5+MBC(demais corretoras)*0,5

MBC’ = [RL – CV*0,7]*0,5 + [RL – CV]*0,5

MBC’ = RL – 0,85*CV

Ou seja, ocorreu uma melhora de 0,15*CV na MBC no Cliente A, equivalente a R$ 118.800.

Já no caso da Margem de Semibruta de Contribuição verica-se que:

MSBC = MBC – CFP(t)

MSBC’ = MBC’ – CF*0,66

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Figura 22 – Impacto no Modelo Econômico Descritivo do Cliente B

Receita Líquida

CV MBC

MBC

CustosFixos

DiretosMSBC

MSBC

CustosFixosGerais

Resultado

Fonte: Autor

Verifica-se melhora de R$ 125.300 na Margem Semibruta de Contribuição. Na Figura 22, em

azul claro encontram-se os indicadores que ocorreram mudança com a novo sistema adotado.

A rentabilidade do cliente foi incrementada, bem como uma melhora na estrutura de curto

prazo da empresa.

5.4 Resultados no Cliente B

Esse cliente é bem menor que o anterior - possui apenas cerca de 100 milhões de reais de

patrimônio - e opera cerca de 1 milhão de reais diariamente, utilizando duas ou três corretoras.

Ele possue um único fundo multimercado, que opera no mercado de Bovespa e BMF.

As negociações para a aplicação do sistema nesse cliente foram mais demoradas e durou cerca

de 4 meses, pois o cliente estava realizando diversas outros projetos concomitantemente com

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a implementação do sistema. Esse cliente pagará 90% do valor de corretagem anteriormente,

pois possuía menos relações com a corretora e por um menor período de tempo. Com base

nesses dados e nas premissas abaixo, encontra-se o seguinte valor mensal de economia:

A) O cliente operava cerca de 80% do seu volume diário de R$1mi com a corretora,

portanto R$ 0,8mi em média.

B) O valor de corretagem pago anteriormente era de 15bps, ou 0,15% do volume

operado.

C) O cliente A possui um operador, que foi mantido mesmo depois da implementação

do sistema.

Com base nos dados acima, encontra-se o seguinte valor de economia de corretagem para o

cliente B:

Tabela 84 – Economia de Custos Fixos e Variáveis no Cliente B

Antes Depois

Corretagem

Operadores

R$ 26.400,00 R$ 23.760,00

R$ 6.500,00 R$ 6.500,00

R$ 32.900,00 R$ 30.260,00

Fonte:Autor

Verifica-se na Tabela 8 uma economia total mensal de R$ 2.650, mas apenas os custos de

corretagem sofreram mudança. Supondo-se que a receita será a mesma independente do uso

ou não do sistema, como no caso do cliente A e com base na avaliação financeira proposta

nos Fundamentos Teóricos, tem-se:

MBC’ = MBC(corretora)*0,8+MBC(demais corretoras)*0,2

MBC’ = [RL – CV*0,9]*0,5 + [RL – CV]*0,5

MBC’ = RL – 0,95CV

Ou seja, ocorreu uma melhora de 0,05*CV da MBC no Cliente B, equivalente a R$ 2.650. Já

no caso da Margem de Semibruta de Contribuição verica-se que:

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MSBC = MBC – CFP(t)

MSBC’ = MBC’ – CF

MSBC’ = MSBC

Verifica-se que não ocorreu melhora nos custos fixos e a melhora na Margem Semibruta de

Contribuição é apenas proporcional a melhora na MBC. Na Figura 23, em azul claro

encontram-se os indicadores que ocorreram mudança com a novo sistema adotado.

Diferentemente do cliente A, apenas a rentabilidade foi incrementada, enquanto que a

estrutura de curto prazo manteve-se a mesma.

Figura 23 – Impacto no Modelo Econômico Descritivo do Cliente B

Receita Líquida

CV MBC

MBC

CustosFixos

DiretosMSBC

MSBCMSBC

CustosFixosGerais

Resultado

Fonte:Autor

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6 Conclusões

A aplicação do sistema nos dois clientes citados trouxe benefícios para ambos, verificando

impactos positivos de custos para dois clientes nos quais o sistema foi implementado e

somado a isso os benefícios intangíveis também reconhecidos pelo mercado como segurança

e transparência nas negociações.

Vale ressaltar que o cliente A foi capaz de alterar sua estrutura de curto prazo, reduzindo

custos fixos e redução nos custos variáveis de corretagem. Não foi realizada uma análise

específica nos custos de execução para cada cliente, pois o impacto desse novo sistema é

muito baixo para apenas duas aplicações, mas certamente com a disseminação desse tipo de

sistema, a redução nos custos de execução será relevantes para o cliente, bem como para todo

o mercado. O cliente B também solicitou a utilização de quatro algoritmos para o controle das

ordens, tornando assim sua estrutura completamente automatizada. A aplicação em ambos os

casos ocorreu recentemente, e não foi relatado nenhum problema de compatibilidade ou atraso

do sistema.

Puderam-se medir também quais são as possíveis economias para o mercado com a

diminuição dos spreads entre o bid e ask. A economia anual, considerando-se o volume atual

da BOVESPA, pode chegar ao valor de R$ 2,2 bilhões caso os spreads reduzam cerca de

70%, atingindo valores entre 8-10 bps. Somado aos benefícios financeiros, identificam-se

diversos outros benefícios intangíveis como transparência e liquidez, citado em pesquisas com

clientes no Brasil e na Índia.

O autor pode identificar diversos pontos ministrados no curso de Engenharia de Produção na

execução deste relatório e nas atividades desenvolvidas no estágio. Inicialmente diversos

pontos ligados a Gestão de Serviços e Planejamento e Gestão da Qualidade puderam auxiliar

na abordagem dos clientes e quais seriam as melhores maneiras de levantar as suas

necessidades. Diversos tópicos discutidos nas matérias de Sistemas de Informação garantiram

que se buscasse a melhor maneira de avaliar os sistemas de software e hardware para a correta

adequação do sistema. Temas relacionadas a Engenharia Econômica e a Economia de

Empresas auxiliaram na definição do impacto econômico que esse novo sistema causaria no

mercado e nos clientes. Além disso, a correta escolha da amostra e tratamento dos dados se

fundamentaram nos conceitos transmitidos em Controle da Qualidade e Estatística.

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Com a realização do presente trabalho pode-se definir também uma metodologia de

implementação de sistemas automatizados de operações no mercado da BOVESPA. A

realização do trabalho permitiu ao formando que delineassem claramente quais são os passos

para a implementação do sistema, os que trarão benefícios e facilidades nas atividades futuras

e auxiliará na possível avaliação de falhas ou atrasos no processo em questão.

Alguns fatores também dificultaram o estudo e tratamento dos dados obtidos no estudo

detalhado neste trabalho. A crise de crédito que teve início em 2007 e mantém seus reflexos

em 2008 atrasaram o processo de implementação do novo sistema, pois muitos clientes

incertos do futuro da economia preferiram atrasar seus investimentos e preocupações com o

aperfeiçoamento da sua estrutura de SI. Apesar disso, o trabalho desenvolvido foi pioneiro no

país e levantou importantes informações para a aceitação do sistema. Uma delas foi a análise

desenvolvida pelo autor dos spreads médios na bolsa brasileira. O valor encontrado serve

também como justificativa de divulgação e aplicação do acesso direto ao mercado pelos

clientes. Foi possível também com a pesquisa de mercado aplicada pelo autor encontrar um

valor aceitável de comissão paga pela utilização desse sistema. A metodologia permitiu que

fossem definidas e segmentadas as tarefas para implementação do sistema. O

desenvolvimento do Plano Mestre Funcional foi totalmente produzido pela equipe norte-

americana, portanto restou ao autor e a equipe brasileira entender como este funcionava e se

eram necessárias atualizações ou modificações. Todo o trabalho desenvolvido foi bastante

interessante profissionalmente, pois além do contato realizado com diversas áreas e clientes

do mercado financeiro, demonstrou-se uma oportunidade de participar num trabalho pioneiro

que será cada vez mais utilizado pelo mercado brasileiro.

Procurou-se também entender a estrutura de conexões existente na BOVESPA e quais seriam

as mudanças necessárias para a implementação. Apesar da estrutura já estar preparada, essa

análise permitiu um estudo profundo de cerca de 2 meses dos sistemas da BOVESPA e quais

foram os modos de implementação em outros países. A Índia apresentou-se como país mais

similar ao estudo desenvolvido no Brasil e sua implementação iniciou apenas um ano antes.

Algumas variáveis deverão ser acompanhadas para reforçar os benefícios que o sistema pode

apresentar na Bolsa. A variação dos spreads e o aumento de volume podem ser indicadores de

possíveis tendências no Brasil e assim estimar mais precisamente quais são as economias que

a implementação do sistema trarão para o mercado. Ela servirá como base também para

aprendizado e verificação de como será a maturidade do processo no mercado brasileiro.

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Outro ponto importante verificado no contato com os clientes foi o interesse pelos algoritmos

que controlam as ordens. Alguns fundos já estão desenvolvendo programas próprios e é

notável que existe uma preocupação crescente na automatização das operações. O principal

argumento dessa procura, além das economias monetárias, é a mitigação do erro na execução

de ordens no mercado. Os algoritmos são considerados altamente eficiente e seguros no

acompanhamento e realização das ordens de compra e venda. Existem alguns fundos de

investimento nos Estados Unidos especializados na criação de algoritmos e utilização dessas

lógicas como fonte de desempenho e ganhos financeiros.

A preocupação com transparência também é verificada nos participantes de mercado. Esse

conceito é buscado de diversas formas, informações simétricas transmitidas pelas empresas

sobre sua saúde financeira, execução de ordens de maneira clara, rápida e correta. Essas

preocupações fazem parte das metas e objetivos da BOVESPA e CVM no desenvolvimento

do mercado de capitais. É unânime que o aumento da transparência tornará o mercado mais

justo e assim mais líquido.

O estudo levou cerca de um ano e meio para ser concluído e certamente representa o início de

uma nova tecnologia que será aplicada no mercado financeiro brasileiro. Como pudemos

verificar o sistema também está sendo implementado na Índia e possui alta permeabilidade

nos Estados Unidos mostrando que a tendência não se restringe apenas ao mercado brasileiro,

mas é um movimento global de automatização. A pesquisa, os dados levantados e as

conclusões obtidas certamente são produtos de um trabalho pioneiro e o acesso direto ao

mercado demonstra em seus resultados nos diversos pontos do mundo como uma tendência na

execução de ordens no mercado mundial.

6.1 Sugestão para trabalhos futuros

Um importante estudo pode ser realizado para verificar como e qua nto foram alterados os

spreads com a introdução dessas novas plataformas e controles por algoritmos no mercado

brasileiro. Num prazo de 2 a 3 anos, certamente esse tipo de acesso ao mercado de ações terá

uma penetração maior no volume de operações realizadas e, portanto, poderá ser realizada

uma comparação com valores de 2007 ou início de 2008 com valores futuros de spreads

médios na BOVESPA. A discussão pode ser enriquecida com estimativas de valor econômico

do mercado de operação de ações.

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A análise também poderá ser complementada com um estudo mercadológico sobre as

mudanças no número de operadores com o avanço da automatização. Os valores atuais ainda

são pouco representativos e quaisquer medições no ano de 2008, trariam dados poluídos

devido a grande crise financeira de crédito que atingiu diversas economias.

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8 Anexos

8.1 Algoritmo Cobrir

Neste algoritmo, o sistema sempre cobre a oferta de compra existente no sistema, colocando

um valor ligeiramente superior. Segue a diagramação abaixo com as funções detalhadas.

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Pap.

Cong,

Pegar preço

e qtd

Fechar

negocio

ultapassa

Atualizar

Limite

Remove oft.

estrategia

É toma

enfia?

Tem oferta

outra ponta

fazer

Tenta fazer

toma/enfia

Gerar

oferta e

cobrir

Enviar

Oferta

I

IV

V

NAO

NÃO

NÃO

SIM

SIM

SIM

RETORNA OK

RETORNA Papel

Congelado

SIM

NAO

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BOOL Atua liza Limite

Limite atual =

ultimo preço

Limite atual =

limite conf

Ultimo

preço é

melhor que

o limite

é

atualiza

preço

é

limitada

SIM

SIM

SIM

NÃO

NÃO

NÃO

FALSE

TRUE

FALSE

I

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78

BOOL Esta nopreco

DOUBLE Obter preço

Melhora o preço

pelo incremento

Passou o

limite

SIM

NÃO

LIMITE ATUAL

PREÇO MELHORADO

III

Limite atual é

melhor ou

igual a oferta

Corretora

ignorada

II

FALSE

TRUE

SIM

SIM

NÃO

NÃO

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TOMA/ENFIA (Abstração)

COBRIR (Abstração)

Pega 1 oferta que

pode cobrir

Oferta = pr. inicial Oferta = pr. limite

Pega preço

p/ cobrir

Já tem

oferta na

mesma pt

Tem

para

cobrir

ENVIA OFERTA

V

NÃO

NÃO SIM

III II

Limite

permite

tomar a

Tem

oferta p/

enviar

Fim

livro

Oferta = 1 livre

Oferta enviar:

incrementa qtde,

preço da oferta

Limita a qtde pela

qtde config. para as

ofertas

Oferta =

próx. do livro

IV

NÃO

NÃO

SIM

SIM

ENVIA OFERTA