pinto, ricardo alexandre. 1999
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RICARDO ALEXANDRE PINTO
NA IDADE MÉDIA AS HERESIAS E PRINCIPAIS CONCÍLIOS.
SÉCULOS IV AO XV.
Trabalho de Conclusão de Curso, do Seminário
Diocesano de São Carlos, como parte dos
requisitos para aprovação final.
São Carlos,dezembro de 1999.
_____________________________________
Orientador: Prof.
Proª Diana Cury
Seminário Diocesano de São Carlos
_____________________________________
Arguidor:Prof.
Pe. José Roberto Agostinho
Seminário Diocesano de São Carlos
FICHA CATALOGRÁFICA
PINTO, Ricardo Alexandre.
Na Idade Média as heresias e principais Concílios. Ricardo Alexandre Pinto.
São Carlos: Seminário Diocesano de São Carlos, 1999. p. 33.
Trabalho de Conclusão de Curso. Seminário Diocesano de São Carlos, 1999.
Palavras-chave: Idade Média, História da Igreja, História dos Concílios
ds
SEMINÁRIO DIOCESANO DE SÃO CARLOS
CURSO DE FILOSOFIA
Ricardo Alexandre Pinto
NA IDADE MÉDIA AS HERESIAS E PRINCIPAIS CONCÍLIOS.
SÉCULOS IV AO XV.
SÃO CARLOS
1999
RICARDO ALEXANDRE PINTO
NA IDADE MÉDIA AS HERESIAS E PRINCIPAIS CONCÍLIOS.
SÉCULOS IV AO XV.
SÃO CARLOS
1999
Trabalho de Conclusão de Curso,Seminario
Diocesano de São Carlos, como parte dos
requisitos para aprovação final.
Orientador: Profª Diana Cury
AGRADECIMENTO
À Deus que é autor e gerador da vida, meu especial agradecimento, pela
oportunidade que me concede de estar aqui hoje, refletindo e vivendo segundo seu
propósito de Amor e Misericórdia.
Agradeço ao meu querido pároco Pe. José Roberto Agostinho, pela disposição em
orientar-me e incentivo dado.
À minha querida Diana Cury, professora muito estimada, meu agradecimento pela
atenção e dedicação. De maneira especial por toda amizade que nos une e por toda
generosidade a mim ofertada nas horas de apuros, que me é um grande motivo de
crescimento e incentivo vocacional.
A toda turma do primeiro ano: Luciano, Julio, Valdir, Evandro e Marcos pelo
carinho e amizade que nos faz tornar uma família. “Valeu querida turma!”.
Faço questão de agradecer ao meu vigário, Pe. Adriano Van Luyn, pelas horas
gastas em conversas e brincadeiras que, com certeza me foram de muita valia.
A todas as pessoas que passaram por minha vida, ou ainda estão por vir e de
maneira especial por todos aqueles que estão vivendo este momento memorável. Vocês são
o incentivo e o espelho da graça de Deus em minha vida.
E, como disse Santo Agostinho: “Onde estava eu?”. Nossa vida um constante viver.
Viver aprendendo e aprendendo a viver. Precisamos apenas nos encontrar.
Dedico este trabalho, em primeiro lugar a meu pai Sr. Antonio
Borges Pinto ( in memorian), à minha família a quem muito estimo e
prezo: minha mãe Aparecida Rosa, minha irmã Fabiana e meu irmão
Reginaldo, pela compreensão e apoio vocacional que me revelaram a cada
estadia minha em casa. Os carinhos de vocês são muito importantes.
Ao meu querido amigo Marcos, por todos os momentos vividos e
que ainda estão por vir, pelas alegrias e tristezas partilhadas.
À todas as pessoas que procuram ser felizes na vida que possuem.
Ao que esforçam em mostrar-se “pessoas”. De que valeria a vida, sem ter
presente o proximo?
Ao meu querido amigo e irmão pe. Valcir, que no convívio diário
me ensina a ser perseverante e humilde no serviço a Deus em sua Igreja.
E, por todas as pessoas que sentem a necessidade de conhecer a
verdade e o Sumo Bem, tenham a certeza que fazem parte desta
monografia.
SUMÁRIO
Resumo...............................................................................................................07
Justificativa.........................................................................................................08
Objetivo..............................................................................................................09
INTRODUÇÃO...................................................................................................10
1VISÃO GERAL.................................................................................................12
1.1 A queda do Império e o Mundo Bárbaro..................................................12
1.2 Os francos, a Gália merovíngia: as instituições........................................14
1.3 A renovação Imperial e os destinos do Império........................................15
2 OS POBRES NA IDADE MÉDIA......................................................................17
2.1 Os doutores da pobreza...................................................................................17
2.2 O dever da esmola: da matricula dos pobres à hospitalidade monástica..........19
O Bispo, “pai dos pobres”.....................................................................................19
A caridade, um laço entre o céu e a terra...............................................................20
A acolhida monástica............................................................................................21
2.3 As investidas da miséria..................................................................................22
2.4 Resgate das obras de misericórdia e teologia dos pobres.................................23
2.5 Tradição e novidades em S. Domingo e S. Francisco......................................28
2.6 As ordens mendicantes....................................................................................31
3 A EDUCAÇÃO MEDIEVAL......................................................................................33
3.1 Os cristianismo e o novo ideal educacional.....................................................33
3.2 As escolas cristão primitivas............................................................................34
3.3 O monaquismo e a escolástica.........................................................................34
3.4 A filosofia........................................................................................................36
3.5 As universidades..............................................................................................38
3.6 A vida universitária..........................................................................................39
4 DESENVOLVIMENTO RELIGIOSO.................................................................40
4.1 O novo cristianismo........................................................................................40
4.2 A Igreja e o Sacro Império...............................................................................43
4.3 As cruzadas.....................................................................................................46
4.4 A inquisição....................................................................................................50
5 O SURGIMENTO DAS HERESIAS....................................................................55
5.1 A Igreja e a unidade da fé................................................................................55
5.2 Os guardiões da fé...........................................................................................56
6 AS PRINCIPAIS HERESIAS...........................................................................58
6.1 O que é heresias?.........................................................................................58
6.2 Arianismo.....................................................................................................59
6.3 Donatismo.....................................................................................................60
6.4 Nestorianismo................................................................................................61
6.5 Montanismo...................................................................................................62
6.6 Monofisimo...................................................................................................63
6.7 Cátaros..........................................................................................................65
7 O COMBATE ÀS HERESIAS: PRINCIPAIS HERESIAS.................................66
7.1 Concílio de Nicéia.........................................................................................66
7.2 Concílio de Constantinopla............................................................................67
7.3 Credo Niceno-constantinopolitano.................................................................68
7.4 Concílio de Éfeso..........................................................................................69
7.5 Concílio de Calcedônia..................................................................................70
CONCLUSÃO......................................................................................................71
BIBLIOGRAFIA...................................................................................................73
RESUMO
Através deste trabalho monográfico, tentarei expor fatores que muito influenciaram
o período histórico denominado Idade Média.
Vários acontecimentos ocorreram para que essa época fosse conhecida nos dias de
hoje. A renovação imperial se deu através do Imperador Pepino, o Breve através da doação
à Igreja de toda Itália central, sendo estabelecido, assim, o patrimônio de São Pedro.
Quando se fala em Idade Média, lembra-se imediatamente a pobreza em que viviam as
pessoas.
Nesse meio, aparecem homens de boa vontade para tentarem amenizar tal realidade.
Desde a figura episcopal como “pai dos pobres” culminando com o resgate das obras de
misericórdia, que devem ser encaradas como desfio da época, até a tradição e novidades em
São Domingos e São Francisco.
O aparecimento do monaquismo foi um grande acontecimento, é graças aos monges
que podemos ler e estudar os grandes clássicos, “temos cultura”. Vários movimentos se
destacam em defesa a fé e zelo elas almas, tais como: a Inquisição e as cruzadas.
Surgem vários movimentos contrários ao da doutrina eclesiástica, denominado
heresias. Convocam-se alguns concílios com o propósito de auxiliar a disciplina eclesiástica
em comunhão com o povo de Deus.
JUSTIFICATIVA.
É importante estudar sobre este assunto, para além das curiosidades que muitas
pessoas têm poderem chegar a fatos seguros e reais que fizeram com que aparecessem
várias correntes de pensamentos contrários aos da doutrina santa, ensinada pela Igreja
chamados heresias. Também tem valor muito positivo o estudo sobre a Idade Média
visando mostrar que esta época não se resumo apenas à fogueira e torturas. As heresias
abalaram a Igreja, e até hoje ainda estão presentes de maneiras subjetivas no nosso
cotidiano.
OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo principal, conhecer profundamente o assunto, para
que sabendo possamos discutir com outrem, quando for solicitado. É necessário saber as
causas para instruir bem corretamente sobre a doutrina da Igreja. Após a leitura e
apresentação deste trabalho monográfico, é importante começar a perceber onde estão
fundamentadas as diferentes culturas em seus respectivos credos, e saber entender o porquê
e onde estão “enraizadas”. É um olhar passado, com os pés no presente e tentando saber
qual é o pensamento do homem para com o transcendente, haja vista que de-per-si o
homem é um ser religioso por natureza.
INTRODUÇÃO
Nesta obra, procurarei esclarecer alguns acontecimentos que chagam aos
nossos ouvidos erroneamente.
A Idade Média não foi apenas uma época marcada pelas trevas, ao contrario, foi
uma época privilegiada culturalmente e espiritualmente.
Quando falo culturalmente, refiro-me a todo incentivo dado pela Igreja às obras
consideradas clássicas. Temos um exemplo maior da cultura medieval as músicas, e
também os mosteiros medievais que a verdade eram grandes “celeiros” culturais, devido ao
trabalho dos monges copistas e tradutores. O que seria das obras filosóficas de Sócrates,
Heráclito, Parmênides, Anaxímenes,..., sem essas pessoas que gostaram suas vidas em prol
do saber?
Espiritualmente falando, devem-se a Idade Média as grandes solenidades que ainda
hoje podemos celebrar. O grande tesouro do oficio divino, já utilizado pelos antigos povos
judeus em suas salmodias, garantidos até nós, tiveram que ser guardados e amparados pela
Igreja pra que não se perdesse.
É claro que alguns erros foram cometidos, mas a vida não se resume apenas à erros
passados, frutos de ideologias vigentes em cada época.
Espero que este trabalho seja um “pequeno luzeiro” para clarear as trevas da
ignorância instaladas no senso comum, sendo liberta para ver a história como ela é: em
movimento cíclico. É preciso fazer uma filosofia da história.
Mergulhemos em todo período histórico chamado Idade Média e que possamos a
partir de hoje enxergar cada período sempre como foi e sempre será: fruto da historicidade
de um povo.
1 INTRODUÇÃO (VISÃO GERAL).
1.1 A QUEDA DO IMPÉRIO E O MUNDO BÁRBARO.
Por volta do ano 400, Roma era ainda vista como uma grandeza, onde possuía
unidade religiosa cristã. Mas mesmo assim, os sinais de desmoronamento imperial já eram
visíveis. Para garantir resistência à desordens e revoltas o Império tornou-se uma
monarquia, absolutista e burocrática.
Vários fatores contribuíram para essa decaída, entre eles o imposto cobrado
severamente, a corrupção do exército, o aparecimento de objetos importantes do Oriente
trocados, substituídos pelos mais simples das indústrias domestica. Surge pouco pouco a
pouco o sistema econômico baseado na agricultura, Roma torna-se um Estado agrário. Com
a ruralização da economia e das finanças públicas, a cobrança de impostos ainda mais
pesados e ásperos levaram os pequenos proprietários pedirem ajuda, proteção aos
poderosos capazes de protegê-los.
Aos que não estavam subordinados ao Império Romano, receberam a denominação
de bárbaros. A infiltração bárbara sobre o Império Romano se deu pacificamente e
lentamente com a ocupação das áreas abandonadas ao norte da Itália. É importante ressaltar
que haviam seis grandes grupos bárbaros:
- os germanos: indo europeus, anglo saxões, vândalos, godos, sicâmbios, sálios, e
rêmulos.
- os celtas: indo europeus que habitavam a Escócia e a Irlanda.
- os elavos: estabelecidos na região ocupada atualmente pela Rússia Ocidental.
- os árabes: semitas, ocupavam a Península Arábica.
-os berberes: habitavam no Norte da África.
-os citas: Bálcãs, divididos em hunos, búlgaros e magiares.
As invasões bárbaras foram mais do simples expedições milares que tinham como
objetivo a destruição ou saque. Se tratava de povos que, acuados por inimigos,
abandonavam suas terras em busca de outras regiões férteis.
Vários anos se passaram, cheios de marcas: invasões, lutas, saques, conquistas. Faz-
se importante notar, que os bárbaros tinham seus costumes e organizações. Como costume,
era visível o jogo e a embriagues quando não estavam em guerra. Jogavam até a própria
liberdade.
A organizção familiar era muito rígida, o casamento era monogâmico e não
aceitavam o divórcio. A influencia dos germanos na história medieval foi ampla, muitas
características perduraram séculos, entre elas: a relação contratual entre governantes e
súditos, com obrigações recíproas de fidelidade e obediência, etc.
Várias foram as conseqüências das invasões bárbaras: na política, na invasão
provocou a decadência do Império Romano sendo substituído por vários reinos bárbaros; na
economia, houve a paralisação do comercio e da industria, as moedas desapareceram e
voltou-se o cultivo da terra, agricultura dominava. Na cultura, houve uma profunda
regressão, pois, o desnível cultural entre romanos e Germanos eram enormes, em tradições
e ideias.
1.2 OS FRANCOS, A GRALHAS MEROVÍNGIA: AS INSTITUIÇÕES.
Foram os únicos bárbaros que criaram obras duráveis, aproveitando uma região rica,
explorando os benefícios da civilização romana.
A principio os francos foram, uma confederação de tribos, que após a morte de
Átila, chefiados por Meroveu e depois de sua morte Clóvis seu neto é tido como verdadeiro
fundador da monarquia franca que tiveram como base a tradição romana e o cristianismo.
Clóvis mais tarde torna-se cristão, como havia prometido a sua esposa Clotilde após
sai vitorioso da batalha de Tolbiac (496), sendo batizado por São Renígio, bispo de Reims
que lhe disse na cerimônia: “curva a cabeça sicâmbio adora o que queimaste e queima o
que adoraste”. Junto com Clóvis três mil guerreiros também foram batizados, tornando-se
assim cristãos.
Após esse acontecimento, memorável a Igreja viu-se obrigada e protegida pelo
braço forte do monarca Franco.
Na dinastia merovíngia, temos como monarca um importe Dagoberto I, e com esse
encerra-se a época dos chamados reis cabeludos. Temos vários monarcas até chegar Carlos
Martel, grande defensor da religião cristã contra os mulçumanos.
O filho de Carlos Martel, Pepino o Breve também fora aclamado rei dos francos,
iniciando a dinastia carolíngia, em virtude do nome de um de seus filhos, Carlos Magno.
As instituições merovíngias quase não tinha autoridade sobre os guerreiros francos,
uma vez que estes eram indisciplinados e insolentes. Tinha uma aristocracia que exigia e
recebia os benefícios dos reis (doações de terras que limitavam e diminuíam o já
enfraquecido poder real). Os francos aceitavam o duelo e o ordálio (juízo de Deus), além de
praticarem o latrocínio, a pilhagem e o assassinato.
1.3 A RENOVAÇÃO IMPERIAL E OS DESTINOS DO IMPÉRIO.
A Renovação é marcada principalmente através da doação solene de Pepino o Breve
ao Papa de toda a Itália central. Foi assim estabelecido o patrimônio de São Pedro, ficando
o Papa não somente com o poder espiritual como também com o poder temporal do novo
Estado Pontifício; a doação de Pepino o Breve foi confirmada perpetuamente por Carlos
Magno.
Este Imperador (Carlos Magno) governou durante 43 anos transformando o reino
num grande Império, e, como a maioria de suas guerras fora sempre bem sucedidas, juntou
domínio dos francos grande parte da Europa Central e da Itália.
Consta-se que certa vez o Papa Leão III teria sido expulso de Roma pela uma
revolta e teria se refugiado sobre o Imperador Carlos Magno. Este, por sua vez, acolhendo o
Papa não tardou em recolocá-lo sobre trono de Pedro restituindo a autoridade pontifical. O
Papa agradecido, coroa Carlos Magno como “O grande e pacífico imperador dos romanos”.
Carlos Magno recebeu a coroa, mas não fica contente sabendo que esta subordinado a
autoridade papal. Seu interesse maior era se casar com a Imperatriz de Constantinopla
tornando-se assim, o Monarca Ocidental e Oriental.
A língua usada para ensinar e redigir textos era o latim. Carlos Magno era tão
prestigiado e respeitado que até o califa mulçumano Harum-Al-Raschid enviou-lhe uma
comitiva que viajou de Bagdá até Reno para saudá-lo e entregar ricos presentes doados pelo
califa: um relógio movido a água, um elefante e as chaves do Santo Sepulcro.
O Império de Carolíngio começa entrar em decadência após a morte de Carlos
Magno, com seu filho Luís Piedoso. Várias foram as causas da decadência, dentre elas
destacamos: vasta extensão territorial sem comunicação com o Imperador, aumento de
raças e de costumes nas populações integrantes do Império, sendo concluída a briga com o
tratado de Verdum (843). Este tratado separava a Gália e Germânia; franceses e alemães
estavam agora divididos pela língua falada pelos costumes adotados e também pelas
fronteiras políticas criadas.
Depois desse acontecimento, cem anos após a morte de Carlos Magno, nada mais
existia de sua política governamental. A unidade imperial agora, havia cedido lugar a
diversos reinos com várias dinastias locais.
2 OS POBRES NA IDADE MÉDIA.
A pobreza sempre existiu e, parece que na época medieval foi mais acirrada e
agressiva. Sempre houve ambigüidade entre caridade e também com as palavras do próprio
Cristo sobre a pobreza.
A pobreza foi decaindo gradualmente até chegar ao ponto de chegar a ser encarada
como miséria. Falta de higiene e cuidados básicos que o ser humano deve ter. No que diz a
respeito da pobreza tem registrado vários propósitos em relação a ela. Quais eram?
Resignação, tendo como meta a vida eterna? O salva a tua alma, enquanto o corpo
padece?
2.1 OS DOUTORES DA POBREZA.
Temos fontes muitos importantes no que se refere à problemática da pobreza: os
padres da Igreja. Estes alimentados tanto com a cultura profana quanto cristãs, converteram
as nações pagãs que a humanidade trazia quanto à pobreza, filtrando-as e adaptando-as ao
principio da caridade bíblica revelada profundamente em Jesus Cristo.
O termo pobreza traz distinção entre dois aspectos: pobreza e indigência. A
condição da pobreza é até de tal modo benéfica, uma vez que é umas das condições para
chegar-se perto de Deus. Como encontramos no Novo Testamento, na Segunda Epístola da
Carta de São Paulo aos Coríntios 8, 9; “sendo rico se fez pobre por vós, afim de que fosseis
ricos pelas suas pobrezas”.
Foi decisivo para a Idade Média que, desde a antiguidade e os primeiros tempos
medievais, a concepção cristã da caridade, abrangendo a da pobreza, tinha sido proclamado
e praticado por bispos e monges, tanto do Oriente e do Ocidente. Essa concepção
transforma a humildade espiritual num impulso para Deus visando o alívio da humilhação
material e social dos pobres. Os padres começaram então a dar mais atenção e predileção na
educação e pastoreio daqueles que eram menos favorecidos, o valor da esmola como
virtude foi elevado e cobrado de todos aqueles que tinham aquisições para tal. Com esse
dinheiro eram organizados escolas e orfanatos; São Basílio (+ 389) organizou um asilo em
Cesaréia e uma “sopa popular”.
Santo Ambrósio (+397) dizia incansavelmente “o desprezo ao pobre é um
assassinato (...) não foi somente um pobre que Naboth matou; mas cada dia desprezou um
dia, a cada dia matou um deles”.
Os monges que viviam em extrema austeridade davam um grande valor a pobreza,
tanto que ao morrerem para a ordem, deixavam todos seus bens para servir aos pobres. São
Jerônimo (+420) lançou um precioso convite “seguir, nu, o Cristo nu” (nudus nudum
Christum sequi).
A partir do momento que a subsistência própria e a dos familiares estão garantidas,
o possuidor tem o dever de dar o superfulo aos pobres. Foi através das homilias, das vidas
dos antos, dos exemplos e das instituições dos pobres apontadas como modelos para os
ricos e abertas ao uso dos desgraçados que a consciência da existência da miséria foi
formando-se sendo cada vez mais pensada e cuidada. “Os cristãos tinham tudo em comum,
dividiam seus bens com alegria...”
2.2 O DEVER DA ESMOLA; DA MATRICULA DOS POBRES À HOSPITALIDADE
MONÁSTICA.
A esmola não era um dever excepcional, inventado simplesmente. A Igreja faz da
caridade uma condição para a salvação, visto que os bens são “patrimônios dos pobres”. A
prática cristã da caridade assegura aos desvalidos um meio de condição melhor de vida,
digna como deve ser. Vemos também a grande preocupação da Igreja quanto a
hospitalidade, pois, quem acolhe um irmão pequeno e pobre, acolhe o próprio cristo.
Veremos a seguir, vários tópicos que mostram a verdadeira caridade e fraternidade que a
Igreja tem a exemplo de Jesus Cristo, o “pobre” de Nazaré, nascido em sua estribaria.
a) O Bispo, “pai da pobreza”.
Os dois primeiros séculos da era cristã medieval tem grande influencia através dos
bispos beneditinos. Um decreto redigido por Simplício entre 468 – 483 pedem que os
bispos dediquem um pouco de seus rendimentos às necessidades dos pobres, aqui temos o
direito dos pobres garantidos e reconhecidos pela Igreja.
Cabia aos bispos exercer pessoalmente a misericórdia em relação aos desgraçados e
estimular o clero e o povo a pratica da caridade. Por volta do ano 500 alguns Concílios
deixaram bem claro a preocupação da Igreja pelos pobres. Disse: “o bispo é o pai dos
pobres e, sua casa torna-se sinônimo de casa dos pobres. À sua porta, às vezes de suas
próprias mãos, os pobres recebem víveres e alguns bispos como São Dizer em Verdum
endividavam-se para poder prestar socorro aos pobres”.
Entre outras coisas, o bispo deveria fazer uma distinção entre os bens da Igreja e de
seus bens pessoais para que de ambas as partes pudessem sair os donativos. O bispo deveria
também acrescentar em suas homilias o ensinamento da caridade para com os pobres. O
conteúdo do ensinamento emana diretamente do Evangelho: encontra-se Cristo nos pobres;
a posse dos bens terrenos não é mais que uma gerência: o que é demasiado pertence ao
pobre, à esmola apazigua o pecado, mas Deus não deixa corromper por ela; todos cristãos
devem exercê-la.
Toda a assistência aos pobres era dada através de uma matricula que faziam na
escola monástica. Essa situação servia-se como ponto de contato dedicando sempre uma
parte da colheita monástica aos pobres. A Igreja, bem como todos os seus bispos davam
assistência à viúvas, aos asilos e hospitais. Os antigos hospitais de Lyon devem sua origem
ao bispo, bem como as hospedarias monásticas desempenhavam um papel muito importante
e crescente no século IX.
b) A caridade, um laço entre o céu e a terra.
Que saibam que os pobres são irmãos e que tem em comum com eles o mesmo Pai
aquém dizem: Pai nosso que estais no céu... e uma mesma Mãe, a Igreja, que recebe a todos
na mesma fonte santa, o Batismo.
O objetivo da esmola é preservar a estabilidade da ordem social, na qual consiste a
paz. Diversos pontos de vista se coincidem: as exigências da misericórdia e a economia do
donativo convergiam para reinserir na pobreza comum a total indigência de um tempo
muito difícil, em que o forte deveria sustentar o fraco.
Podemos ver, então, que a necessidade da caridade quando praticada com atitude
sincera de doação, alcança um bem extremo de quem a pratica.
c) A acolhida Monástica.
“Do ponto de vista ascético e espiritual, a pobreza está presente na vida do solitário
de todas as religiões, no hinduísmo, no islamismo, entre os ascetas judeus do A.T., em seus
sucessores cristãos do deserto e de cenóbios celtas”. ( cf. Mollat, pg. 44)
O monge transformado voluntariamente em “pobre de Cristo”, é levado em direção
aos pobres involuntários aos quais dão aquilo que podem. A pobreza monástica não é um
ato fiscal e sim uma ascese1, não é virtude em si, mas um modo de enriquecimento pessoal.
Assim, a predisposição do monge a compreender o verdadeiro pobre encontrava na regra e
no hábito, modalidades e ações. A ” Regra do Mestre”, de cerca de 500 – 525, de que
deriva a de São Bento (480 – 547) e a “Regula Mixta”, organizaram essas funções com os
pobres.
A importância atribuída por São Bento ao albergue, de que o pobre é um
beneficiário privilegiado, pois as horas a que convém prestar-lhe correspondem à classe
daquele que ele representa Cristo. A recepção dos hóspedes, dos pobres em particular,
comporta um cerimonial litúrgico complexo. É preciso reconfortar os pobres com
entusiasmo, até com alegria e generosidade, e dentre os pobres, um lugar de honra é
reservado às crianças, com menos de doze anos, aos velhos, classificados em duas
categorias significativas, a velhice física e a senilidade cerebral, sem esquecer os débeis
mentais.
A cortesia beneditina dirige-se a todos os que a solicitam. A liturgia da acolhida
começa na porta. É ali que se fazem as distribuições dos pobres, é por ali que são admitidos
ao albergue e mesmo a determinados lugares do convento. A porta foi, até o século IX, o
serviço que centralizava a acolhida e a benemerência. O responsável pela porta era
designado pelo abade: administrador do celeiro inicialmente e em seguida o porteiro. Era
dever do porteiro, fazer uma classificação daqueles que poderiam hospedagem.
Depois da recepção feita à porta, cabia a cada monge, levar os pés do pobre,
secando-os e beijando-os. Devia-se acolher um pobre como a Cristo.
2.3 AS INVESTIDAS DA MISÉRIA.
O ano de 1095 não foi apenas o ano do Concílio de Clermont. A convocação para a
cruzada inseria-se em pleno período de miséria. Podemos dizer até que este século tenha
sido o apogeu das desgraças: inundações, secas, pestes, contaminações e muitas mortes,
marcaram este período. Nem mesmo os mosteiros considerados “grandes celeiros” da
caridade conseguiram escapar.
À pobreza, personalizada da população rural atinente a sua paróquia e socorrida
pelos mosteiros, veio cada vez mais ou menos somando-se a pobreza anônima da população
1 Exercício pratico que leva à efetiva realização da virtude.
urbana, mais ou menos desarraigada de sua terra natal. Cada geração conheceu alguma
calamidade grave, ao menos uma vez. Mães abandonavam criancinhas às portas dos
mosteiros por não terem o que lhes dar para comer. Foi uma época difícil, chegando a
parecer que Deus tinha esquecido-se de seu povo.
2.4 RESGATE DAS OBRAS DE MISERICÓRDIA E TEOLOGIA DOS POBRES
Os mosteiros beneditinos não conservaram no século XII aquela espécie de
propriedade característica da beneficência que, até então, parecia ser-lhes inerente. Não foi
devido a uma perda de confiança da parte dos doadores, que contribuíam aos monges a
tarefa de repartir cerca de um terço de seus rendimentos á caridade.
A desproporção entre os recursos e a demanda, não era a única causa de declínio.
Seria necessário transformações sociais já observadas.
O despertar da caridade evangélica, mais duradoura que a explosão eremita,
renovou as obras da misericórdia em todos os âmbitos onde eram praticadas. Seria
importante conhecer melhor a maneira como a doutrina das Beatitudes era transmitida e
apresentada aos simples fiéis.
O ideal de uma fidelidade maior à mensagem evangélica aos modos de vida da
Igreja primitiva incitou alguns clérigos seculares a promover o apostolado que associasse
uma atividade caritativa concreta ao rigor da vida comum de aspiração monástica.
O valor próprio das obras de misericórdia deveria firmar-se pôr conta própria, sem
relação ao ideal contemplativo dos monges enclausurados. A concepção e a prática pessoal
ou comunitária da pobreza espiritual e material servem de base para uma tipologia que
divide eremitas, monges e cônegos em dois ordines, o antiqus e o novus.
Nos capítulos de cônegos, a adoração de uma regra acompanhava-se frequentemente
de uma regulamentação da beneficência, análoga a dos mosteiros.
A ação caritativa dos cônegos teve por vezes um caráter original de especialização:
um esforço de adaptação de sua parte às necessidades de seu tempo e local.
A iniciativa laical instituiu associações, inicialmente conhecidas como confrarias,
depois congregações mais ou menos próximas das ordens monásticas e canonicais. Se
desenvolveram a partir de meados do século XII nas regiões meridionais onde os cursos
d’água são particularmente “caprichos e tumultos”. (cf. Mollat, pg. 92).
Assim, a segunda metade do século XII foi no que diz respeito às obras de
misericórdia, uma época de mudança e novas iniciativas. Somente no final deste século é
que nascem as congregações específicas, cujo dever era coletar donativos entre os cristãos
não vacilando em viajar as terras dos infiéis a fim de negociar os resgates, dispostos de
acordo com um voto acrescentado aos costumeiros, a trocar a sua própria pessoa pela
liberdade dos cativos, cujo resgate não conseguisse reunir.
No entanto, a esmola, pura e simples, sob o aspecto individual do donativo manual
ou coletivo da distribuição, continuou sendo a forma de ajuda mais defendida.
As obras de misericórdia eram catalogadas, mas sua realização agora se expande
para um grande número de fundações hospitalares e outras, para as quais a sociedade inteira
contribuiu. As confrarias de misericórdia aparecem no século XII, no papel de sociedade de
socorro mútuo, tanto material como espiritual, funcionando muitas vezes em circuito
fechado, quando a ajuda recíproca se limita aos membros das associações ou quando ela
reserva apenas uma pequena esmola anual aos pobres da cidade.
A cristandade em geral contava os hospitais nas metrópoles episcopais, tanto nas
cidades imperiais como na Inglaterra, na Espanha e em Portugal.
Renovar e desenvolver as obras de misericórdia já não bastava. A miséria
multiplicara os pobres, no momento em que o afrouxamento dos laços de dependência lhes
inspirava coragem e em que as cidades lhes ofereciam a possibilidade de uma nova
condição social. A reflexão dos homens do século XII, baseada em fatos vividos par-a-par
com a doutrina, procurou soluções concretas. Um dos procedimentos foi construir sobre as
distinções uma espécie de aceitação passiva sobre a pobreza vivida e da esmola oferecida.
Estimulada pelas circunstâncias, favorecida pelo meio urbano, a reflexão sobre a
pobreza não foi, porém, nem uma criação, nem o apanágio dos arautos da nova sociedade,
dentro da economia natural do mundo e da economia espiritual da salvação. É necessário,
efetivamente, distinguir entre estado e condições.
A condição é que “eles adquirem uma subsistência quotidiana com o trabalho de
suas mãos, sem que lhe reste coisa alguma quando acabam de comer” (cf. Mollat, pg. 104).
A pobreza, como doença, pode atingir qualquer outro membro da sociedade sem lhe fazer
perder seu enquadramento natural na ordem a que pertence. Não é a pobreza, mas a
marginalidade que os coloca à margem da sociedade. Somente uma reintegração pode
salvá-los, mas é compreensível, num contexto tal que os esforços desenvolvidos em seu
favor tenham sido vistos por muitos, como loucuras tão escandalosas quando as recusas e
as revoltas.
A pobreza recupera um lugar nas categorias mentais, melhor, encontra uma espécie
de justificação. Ela pode ser útil: útil ao pobre, útil ao rico, como um meio de santificação.
Em certos pontos, a partilha da “pobreza”, no sentido mais amplo, associa suas vítimas a
uma espécie de odor espiritual, inconcebível em qualquer outra situação que não na
economia da salvação da comunhão dos santos. A pobreza adquire assim uma dimensão
social até então reservada aos ricos. Ai está, aparentemente, a chave das reflexões e das
atitudes do século XII em relação à pobreza e os pobres.
Quanto à proporção da esmola, a opinião comum determina que seja o supérfluo,
difícil de avaliar em razão de sua relatividade, mas, a esmola deve atingir certo grau de
privação. Os pensadores, não se limitaram a reafirmar os direitos dos pobres ao supérfluo
dos ricos, ao quarto ou ao terço dos dízimos e aos bens da Igreja, como também lembraram
os príncipes e bispos seu dever de dar sempre proteção.
Cabia ao bispo, portanto, agir espontaneamente em defesa dos pobres, de acordo
com um esquema tradicional que São Bernardo (1090 – 1153), em sua época, teve o prazer
de ver aplicado na Irlanda por São Malaquias; a época teve das instituições de paz
conheceram movimentos de auto defesa.
A promoção do pobre, passado um século, o XII, que aparentemente tudo pensou e
tudo disse, é conceitual e mística. Mesmo sublimado como imagem de Cristo, o pobre em
si, permanece um esquecido: ele é apresentado como um instrumento de salvação do rico
benfeitor. Sua fisionomia desaparece por traz da imagem de Cristo-juiz e salvador, e seu
semblante atormentado é iluminado pelo reflexo do rosto de Cristo sofredor. O pobre é
sobreposto pelo rico e pelo próprio Deus, que se deseja ver nele. Na realidade, abandonados
a si próprios, os pobres, muitos numerosos no inicio do século XIII, conservam a posição
dos humildes na dupla acepção do termo: a humildade com sua carga salvadora espiritual, a
humilhação com o peso da depreciação social.
2.5 TRADIÇÃO E NOVIDADE EM SÃO DOMINGOS E SÃO FRANCISCO
Onde está a novidade do olhar de São Domingos e São Francisco sobre os pobres?
É coisa que só eles poderiam dizer. Mas, como de costume, suas vozes permanecem
caladas: enquanto, talvez, por terem sidos compreendidos e reconhecidos. Continuam
sendo humildes e humilhados, pelo menos diante do orgulho e da avareza dos poderosos e
ricos, são proclamados não apenas imagens de Cristo sofredor, mas, enquanto tais, e tais
como são, reintegráveis na sociedade. Para Francisco e Domingos, o pobre é um ser vivo, a
pobreza é um fato concreto. “Eles não aderem a uma noção, mas desejam partilhar em
gênero de vida; e essa pobreza real, foram buscá-la no lugar onde ela encontra um novo
território: na cidade”. ( cf Mollat, pg 115)
Pela causa dos pobres, Domingos e Francisco atuaram mais eficazmente que
qualquer de seus predecessores. Não se trata de opor as Ordens Mendicantes e seus
fundadores aos que os precederam, mas de identificar sua originalidade na história da
pobreza vivida.
A iniciativa de Domingos, cônego de Osma, veio renovar as intenções do
movimento canonical do século XII, cuja fecundidade nas obras de misericórdia já
meditamos.
Francisco não foi o primeiro leigo a levar aos desamparados o reconforto de sua
amizade e a boa palavra das Beatitudes. A paternidade da doutrina da esmola e a adjunção
do postulado da justiça ao da caridade, bem como a formulação dos direitos do pobre, não
lhes pertencem.
A originalidade do procedimento desses dois grandes homens vem, provavelmente,
da atenção que eles deram àquilo que nosso século denomina “os sinais dos tempos”. Não
fugiram das cidades, onde o progresso da economia de troca desenvolvia a atração pelo
dinheiro. O mal que eles combateram chamava-se avareza, orgulho e violência, não mundo,
obra de Deus misericordioso e pobre, cuja beleza e equilíbrio destacamos em uma pequena
narração:
“Respondeu São Francisco: E é exatamente isso que eu reputo como grande tesouro,
quando não há coisa alguma providenciada pelo orgulho humano. Aquilo que temos nos foi
fornecido pela providencia Divina, como se vê claramente no pão esmolado, nesta mesa de
pedra tão bela e nesta fonte tão clara. O que quero é que o tesouro da santa pobreza, tão
nobre, o qual tem Deus por servidor, nos faça amar com todo coração.” (Carreto, pg. 222)
No fundo das atitudes franciscanas e dominicanas havia uma mesma antropologia e
uma mesma teologia do universo. O sentido de um Deus salvador e o homem pecador e
redimido explicam a compreensão íntima da pobreza vivida em ambos.
O século XII que chegava ao fim aplicara ao pobre a fórmula de vicarius Christi; a
transferência para todos os aflitos a fórmula pauperes Christi, até então reservada aos
monges.
Francisco era jovem e Domingos também o era e por ocasião das calamidades
ocorridas no final do século XII, estudando em Palencia, Domingos teve ocasião de
socorrer as vítimas da fome. Na Itália, Francisco, que inicialmente sonhou com as cruzadas,
não pode ignorar o triste destino da pobreza gente abandonada em Zara; eram pessoas
poucas mais jovens que ele, as “ crianças” que a dureza dos armadores genoveses
abandonaram na Sardenha em 1212, em lugar de levá-las para o Oriente.
As cidades, especialmente, a qual o filho do mercador de Assis conhece bem,
segregavam o duplo flagelo da especulação usuária e da prostituição. A primeira inspirava a
Francisco tal horror ao dinheiro que, depois de uma juventude bem provida, suas esmolas
provavelmente teriam arruinado seu pai, tanto quanto suas prodigialidades anteriores. A
segunda incitou Domingos a reunir moças pobres de Tolouse em um asilo, para dar-lhes
assistências.
Esse dom total, exprimido de outra maneira pela cena, que provocou escândalo, em
que Francisco, em pleno centro de Assis despojou-se totalmente de suas roupas, afirmando
junto um desprendimento espiritual, uma vontade de vida realmente pobre. Francisco e
Domingos não praticaram a pobreza no sentido cenobítico ou monacal, para ter um contato
maior, para melhor conhecer os indigentes e serem melhor conhecidos por eles. Para
Francisco, as dores provocadas pela dureza no coração da sociedade foi apenas o começo
de tudo o que estava por vir. (afecções dos olhos, os estigmas, etc.)
2.6 AS ORDENS MENDICANTES
O empobrecimento das pessoas que aderem a esse novo jeito de viver a pobreza vai
até a perda do nome, o irmão Mendicante, Menor ou Pregador toma emprestado o nome de
seu patrão celeste e apenas a indicação de sua cidade de origem permitia identificá-los,
pois, se perde na multidão anônima dos pobres. A rapidez da difusão das Ordens
Mendicantes prova que seus objetivos responderiam às inquietações da época em que
surgiram. Alguns bispos foram os primeiros a recorrer aos mendicantes, declarando que a
“presença dos pregadores proveitosa tanto para os leigos quanto para os “clérigos” (cf.
Mollat, pg. 119), a Ordem dos Menores era verdadeiramente a religião dos pobres do
Crucificado.
Quando os mendicantes se estabeleceram no coração das cidades, a mudança
resultou do encontro de duas tomadas de consciência. Os mendicantes, de um lado, viam no
meio urbano, onde a pobreza fermentava sobre o império do dinheiro, o território eleito
para seu apostolado; e, de outro lado, os habitantes percebiam mais ou menos confusamente
nos mendicantes uma resposta à suas inquietações morais. Quanto mais importante,
povoada, rica era a cidade, mais se encontravam pobres em suas ruas e ali, mais religiosos
mendicantes havia. Os mendicantes se integraram ao tecido social urbano; nele, foram
procurar os modelos da pobreza mais aguda para oferecer aos mais deserdados o reconforto
de uma reintegração.
A economia urbana ofereceu um terreno à ação dos mendicantes, mas não as
moldaram, e os mendicantes não corromperam suas instituições nas estruturas que as
cidades ofereciam, assim como tampouco nas estruturas eclesiásticas.
Os mendicantes agiram como restauradores, entre os partidos e entre as cidades, de
uma paz que os pobres desejavam intensamente, pois arcavam com os custos das
perturbações civis.
A ação dos mendicantes indo ao encontro dos pobres e levando os leigos consigo,
constitui um elemento importante de sua função pastoral; geralmente a capela dos
mendicantes oferecia cerimônias menos rotineiras que a paróquia. Eram criticados por
tomarem o lugar dos pobres de verdade e por desviarem as esmolas, uma vez que os
conventos dos mendicantes frequentemente desempenhavam o papel de intermediário entre
os fiéis e os pobres. Não faziam a contabilidade de suas esmolas e davam ensinamentos
relativos à caridade para com os pobres, em confissões, nos sermões e nos escritos
edificantes.
3 A EDUCAÇÃO MEDIEVAL
A educação dos povos europeus na Idade Média teve como ponto de partida a
doutrina da Igreja, assim, a instrução nessa doutrina e a prática do culto substituíram o
elemento intelectual. Durante este período, predominou a concepção de educação que se
opunha ao conceito liberal e individualista dos gregos, e ao conceito de educação prática e
social dos romanos.
3.1 O CRISTIANISMO E O NOVO IDEAL EDUCACIONAL
Enquanto os filósofos gregos davam mais importância ao aspecto intelectual do
homem, o cristianismo, ao contrário, deu importância extrema ao aspecto moral.
O cristianismo não se baseia no ideal de felicidade imediata, baseia-se,
especialmente, na idéia da caridade cristã e o amor, que é a expressão mais completa do
homem.
O novo ideal educacional é concentrado na moral cristã. É um renascer para um
mundo novo do espírito.
Toda visão sobre como educar, está centrada em normas inéditas de vida e
comportamento. Uma nova visão de mundo é instaurada por Cristo no Sermão da
Montanha: “Bem aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino do céu”,
contrastando ofensivamente com as culturas precedentes, fundadas num ideal heróico,
aristocrático e terreno da existência.
3.2 AS ESCOLAS CRISTÃS PRIMITIVAS.
A Igreja cristã primitiva, volta sua atenção para a educação moral de seus membros.
Dava-se através de um período inicial de preparação, para os neo-convertidos, durante o
qual recebiam instruções necessárias para poder abraçar o caminho do cristianismo. Antes,
porém, da admissão total, existia um processo didático e catequético denominado
catecumenato.
Com o passar do tempo, tais escolas passaram a ser organizadas por bispos,
passando assim a denominar-se “escolas das catedrais”, devido a sua localização junto às
catedrais.
3.3 O MONAQUISMO E A ESCOLÁSTICA.
O estudo nos mosteiros ocupava um lugar de destaque. São Bento, fundador da
Ordem Beneditina, determinara que cada religioso, deveria dedicar cinco horas de leitura
ou estudo, diariamente, entre outros deveres.
Desse regime de trabalho oferecido aos monges, surgiram diversos benefícios à
educação. Os principais foram:
Cópia e conservação dos livros;
Estudo da literatura;
Formação de ambiente favorável ao estudo e à reflexão.
Os mosteiros eram praticamente os únicos centros de pesquisas, além de serem as
únicas casas a editar obras para a multiplicação de grandes obras clássicas (graças a eles
temos ainda hoje muitas obras, como Platão, Aristóteles, enfim alguns filósofos de suma
importância para a reflexão existencial).
Dedicaram grande parte do tempo, significativamente, à cópia de manuscritos, deve-
se a eles também, a condensação do saber nas Setes Artes Liberais, incluindo o: trivium –
gramática, retórica e dialética; quadrivium – aritmética, geometria, música e astronomia.
Esses, unidos constituíam o chamado septivium.
O termo “escolástica” significou inicialmente o conjunto do saber, tal como era
transmitido nas escolas do tipo clerical; o escolástico era o mestre das Setes Artes Liberais.
Amplamente, falamos que escolástico é um movimento intelectual provindo da
Idade Média preocupado em demonstrar e ensinar as concordâncias da razão com a fé pelo
método da análise lógica. Seu objetivo era apoiar a fé na razão, procurando argumentos
para acabar com as dúvidas e controvérsias. A forma científica valorizada era a lógica
dedutiva (união de crenças cristãs com a lógica aristotélica). Compreende três períodos:
Formação – desde o século IX até fins do século XII;
Apogeu – 1220 até 1347, época de fundação dos grandes sistemas
escolásticos;
Decadência – até fins do século XV, caracterizado pela reprodução das
doutrinas precedentes. Têm vários representantes e, dentre alguns destacamos:
Santo Anselmo (1033 – 1109) – foi o primeiro a fazer a distinção entre saber
e crença;
Santo Alberto Magno (1200 – 1280) – primeiro a reproduzir a filosofia de
Aristóteles sistematicamente;
Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274) – foi o mais influente de todos. Sua obra
Summa Theológica é o ápice da escolástica.
3.4 A FILOSOFIA
A realização filosófica mais notável da segunda fase da Idade Média, foi o
sistema conhecido como escolástica. Os grandes pensadores da Idade Média não limitaram
seus interesses aos problemas da religião, pelo contrário, sentiam o anseio em responder às
grandes questões da vida, quer pertencessem à religião, à política, à economia ou à
metafísica.
Os filósofos escolásticos, não acreditavam que a mais alta verdade pudesse advir
da percepção sensorial. Admitiam que pelos sentidos os homens poderiam adquirir um
conhecimento das aparências das coisas, mas afirmavam que a natureza real ou essencial do
universo é descoberta principalmente pela razão, sendo que nem mesmo a razão era
considerada instrumento suficiente para a aquisição de todo o conhecimento, pois as
deduções da lógica precisavam ser amparadas pela autoridade das Escrituras, dos Padres da
Igreja e especialmente de Platão e Aristóteles.
O filósofo escolástico era um humanista no sentido de se interessar principalmente
pelo homem. Ser era um todo, compacto e ordenado, criado para o beneficio da raça
humana. Supunha-se que o universo fosse estático e que, portanto, bastava explicar o
significado e a finalidade das coisas, sem investigar-lhes a origem e evolução. Alguns
filósofos escolásticos afirmavam que os “universais”, ou conceitos abstratos, não são meras
palavras, mas tem uma existência própria, real e independente, mas, essa posição não era
aceita por todos os filósofos escolásticos.
Os grandes dias da escolástica vieram no século XIII, sobretudo em Carlos
Magno e seu famoso discípulo Santo Tomás. Ambos tiveram a vantagem de poder estudar a
obra completa de Aristóteles. Os objetivos fundamentais de São Tomás eram:
1. Demonstrar a racionalidade do universo;
2. Estabelecer a primazia da razão.
O universo era ordenado e governado por uma finalidade inteligente. Sua filosofia
implica numa serena confiança na capacidade do homem para conhecer e compreender o
seu mundo. Embora baseava-se na autoridade de Aristóteles, considerava a razão como a
chave principal da verdade.
Como discípulo de Aristóteles, São Tomás ensinava que o mais alto bem para o
homem é a compreensão da sua verdadeira natureza, o que, consiste no conhecimento de
Deus, que boa parte pode ser atingida nesta vida pela razão, mas que somente se realizará
com perfeição na vida futura.
No fim do século XIII a escolástica havia começado a entrar em declínio. Esse
acontecimento se deu em partes, através dos ensinamentos de João Duns Escoto, o ultimo
dos escolásticos. Inclinava-se a salientar na religião o aspecto emocional e prático ao invés
do intelectual. Concebia a piedade antes como um ato da vontade do que como um ato
oriundo do intelecto.
Faltava-lhe somente um pouco para negar que fosse qualquer crença religiosa capaz
de demonstração racional; tudo deveria ser aceito pela fé ou, caso contrário, totalmente
rejeitado. Na realidade, os medievais não concebiam a lei como imposição de um soberano,
mas como produto do costume ou da ordem divina da natureza.
3.5 AS UNIVERSIDADES.
A família e a Igreja encarregavam-se de transmitir a cultura de uma geração para
outra. Nas escolas que eram anexas às catedrais ou escolas monásticas, geralmente eram
dirigidas por um cônego ao qual se dava o nome de scholarius ou schlasticus.
A autorização para ensinar era concedida pelos bispos e diretores das escolas
eclesiásticas. Mas, mesmo assim, o ensino era muitas vezes dificultado pela própria Igreja.
Surge, então, alguns professores e alunos que organizaram-se em corporações (em latim
universitas). Muitos papas apoiaram as universidades nascentes e as prestigiaram.
Normalmente as universidades compunham-se de quatro divisões ou faculdades:
“Artes, Direito, Medicina e Teologia. Os diretores dessas faculdades, chamados decanos,
eram eleitos pelos próprios professores. Esse decano da Faculdade de Artes tomava o título
de reitor, representando assim, oficialmente a universidade.
3.6 A VIDA UNIVERSITÁRIA
Os cursos eram dados em latim e do estudante medieval exigia-se o estudo das Setes
Artes Liberais, e, depois, conforme as inclinações pessoais distribuíam-se então os
estudantes pelos cursos de Direito, Medicina e Teologia.
A maioria dos estudantes eram de classe pobre, sendo obrigados então, a viver em
colégios, na maioria internos ou viviam em hospícios. Com o tempo estes colégios
passaram a construir centros de estudos autônomos, tanto que alguns deles ainda existem,
como é o caso de Oxford e Cambridge.
O método de ensino se consistia em leituras de textos feitas pelos professores,
anexados com alguns comentários. As aulas eram anotadas em tabuinhas enceradas e
depois analisadas e distribuídas. Os cursos tinham muitas vezes fases animadas quando se
tratavam em público, entre mestre e alunos adiantados ou visitantes ilustres. Essas
discussões eram intituladas como Scholastica disputatio. A questão era apresentada e
deveria ser defendida por meio de citações doutrinárias e raciocínio em forma de objeções.
Depois se dava respostas afirmativas apoiadas na Bíblia e nos Doutores da Igreja, com
argumentos adequados às objeções.
4 DESENVOLVIMENTO RELIGIOSO.
Depois do séc. IX, ocupavam o lugar os sentimentos otimistas e um interesse
crescente pelas coisas terrenas. As causas de tais mudanças, estavam mais relacionadas
diretamente com o progresso da educação monástica, com o aparecimento do governo mais
estável e com o aumento de segurança econômica. A religião tomou um aspecto menos
abstrato e se transformou numa instituição mais profundamente preocupada com os
assuntos desta vida.
4.1 - O NOVO CRISTIANISMO.
As mudanças mais importantes estão relacionadas com a matéria doutrinária e as
atitudes religiosas. A religião da primeira fase da Idade Média era pessimista, fatalista e, ao
menos teoricamente, se opunha a tudo quanto fosse terreno, como se fosse um
compromisso com o diabo. Considerava-se o homem em si mesmo como fraco e incapaz de
quaisquer boas ações a menos que fosse,favorecido pela graça de Deus.
O próprio Deus era onipotente, escolhendo de acordo com seus desígnios, aqueles
seres humanos que entrariam no paraíso e deixando todo o resto seguir o caminho da
perdição. Com as mudanças, ao invés de por em relevo a onipotência de Deus, os filósofos
e teólogos passaram a acentuar a justiça e a misericórdia divina.
Uma exposição mais ampla da doutrina estava contida na Summa Theológica de
Santo Tomás de Aquino e nas decisões dos Concílios da Igreja, especialmente o quarto
Concílio de Latrão, em 1215. Passou a firmar-se que os sacerdotes, em virtude da sua
ordenação por um bispo e pela sua confirmação posterior pelo Papa, herdavam uma porção
da autoridade conferida por Cristo ao apóstolo Pedro.
Fixou-se o número de sacramentos aceitos. Eram sete: Batismo, Confirmação,
Penitência, Eucaristia, Matrimônio, Ordem, e Extrema unção. Definiu-se que sacramento é
um meio pelo qual a graça divina é comunicada aos homens.
Os sacramentos são meios indispensáveis para alcançar a graça de Deus e nenhum
indivíduo pode salvar-se sem eles, pois, são automáticos em seus efeitos.
O quarto Concílio de Latrão confirma a doutrina da transubstanciação que toma
parte integrante da teoria dos sacramentos. Essa doutrina significa que o sacerdote, num
dado momento da celebração eucarística, coopera realmente com Deus na realização de um
milagre pelo qual o pão e o vinho do sacramento se transformam ou se transubstanciam no
Corpo e Sangue de Cristo.
Através de todo um período da Idade Média, também, a invocação dos santos foi
uma prática bastante desenvolvida, de maneira particular entre pessoas do povo. Uma
pessoa podia pedir favores aos santos, uma vez que estes suplicariam a Deus.
Também ocorreram desenvolvimentos na organização eclesiástica e na adoção de
novas formas de disciplina religiosa. Em 1509 foi criado o Colégio dos Cardeais como
corpo eleitoral do Papa. Nesse Colégio, há 70 lugares e são necessários dois terços dos
votos para eleger o Papa, que é invariavelmente um cardeal. A investidura o direito
exclusivo de eleição no Colégio dos Cardeais fez parte de um grande movimento de
reforma, que visava libertar a Igreja do controle político.
Nos últimos séculos da época feudal a Igreja realizou tentativas sistemáticas para
estender sua autoridade moral sobre todos os seus membros leigos. Os principais métodos
adotados foram a excomunhão e a exigência da confissão de um indivíduo da Igreja e
privá-l o de todos os direitos de um cristão. O corpo de um excomungado não podia ser
sepultado em campo santo e sua alma era entregue temporariamente ao inferno.
Muito antes da grande reforma do século XVI, o catolicismo medieval sofreu uma
série de reformas que visavam restaurar as instituições da Igreja a fim de fazê-Ias retomar
ao anterior estado de pureza, ou tomá-las mais úteis à sociedade. O primeiro desses
movimentos reformadores foi o movimento cluniacense, cujo nome vem do mosteiro de
Cluny, fundado em 910. O objetivo era simplesmente reformar o monasticismo. Além
disso, os reformadores exigiam o celibato para todo clero.
Em 1084, fundou-se a ordem cartuxa, com regras rigorosas do que as até então
adotadas no Ocidente. Os monges cartuxos tinham de viver em celas, jejuar três dias por
semana a pão e água, usar.
Já no séc. XIII houve o aparecimento dos frades, consistindo um movimento de
reforma ainda mais significativo. Embora os frades sejam, freqüentemente, considerados
apenas como uma espécie de monges era na realidade bastante diferente. Ao invés de se
enclausurarem em mosteiros, devotavam todo o seu tempo ao trabalho beneficente, à
pregação e ao ensino.
4.2 A IGREJA E O SACRO IMPÉRIO
A Igreja teve um papel importante na vida da sociedade medieval, não somente na
condução das almas para a salvação, mas também no domínio material, quando se
identificou com a própria sociedade feudal.
- A Igreja monopolizava a cultura e fornecia funcionários administrativos aos
Estados medievais;
- A· organização eclesiástica somente ficou definida por volta do seco IIr, com a
estruturação do clero secular e o surgimento do clero regular.
O clero secular, clero do mundo (século) foi o primeiro século da Igreja Católica e
compunha-se basicamente de padres e bispos. A supremacia do bispo de Roma sobre toda a
cristandade evoluiu lentamente, sendo oficializada em 455 pelo Imperador Valentiano III.
O primeiro grande Papa na Idade Média foi Gregório I (590), o Magno, que
estabeleceu os direitos e obrigações do clero, estimulou a fé através do canto gregoriano e,
acima de tudo, procurou converter os povos germânicos para o cristianismo.
Por volta do século VIII, todo o Ocidente e parte da Germânia estavam convertidos
ao cristianismo.
Em 756, a Igreja adquiriu seu próprio Estado na Itália, quando Pepino o Breve, doou
ao papado o Patrimônio de São Pedro, formado por terras tomadas dos lombardos.
O Estado da Igreja evoluiu rapidamente com a constituição da Cúria Romana, a
confmnação dos bispos pelo papa, a criação do Colégio dos Cardeais e a sustentação
econômica através de rendas, contribuições e taxas arrecadadas pela Igreja.
O clero regular nasceu do movimento monástico, por volta do século III, e tomou
forma definida quando São Basílio organizou a regra para os cenobitas.
Entre o monasticismo se destacou São Bento, nascido em Núrsia dando extremo
valor à oração e ao trabalho ( ora et labora ).
A relação entre Igreja e Estado começou no Império Romano, depois da
oficialização do cristianismo, o Estado passou a proteger a Igreja. Foi com o Sacro Império
Romano Germânico que a dominação da Igreja pelo Estado se tomou mais acentuada, com
a finalidade de terem o domínio sobre os grandes príncipes alemães.
Resultava dessa intervenção uma série de problemas para a Igreja, dentre os quais o
relaxamento dos costumes do clero e o comércio.
O controle dos bispos pelo Império Germânico era importante, pois os senhores
religiosos eram a base do poder militar do imperador, com o qual dominava os duques
alemães. A Querela das Investiduras constitui na luta entre a Igreja e o Império, em tomo da
indicação dos bispos alemães.
Depois de eleito pelo Colégio dos Cardeais, o Papa Gregório VII (1084) proibiu o
casamento dos padres e as nomeações dos bispos e abades pelo imperador( investidura
leiga ). Essas medidas puseram em choque o Papado e o Império. O imperador, por sua vez,
reagiu mas foi excomungado e obrigado a pedir perdão ao papa, em Canossa. Perdoado,
Henrique IV voltou à Alemanha, dominou a revolta dos duques e invadiu a Itália, fazendo
com que o papa fugisse e outra nomeação fora realizada pelo imperador.
Começa aqui o período de divisão na Igreja ( cisma ), que terminou com a
Concordata de Worms, entre Henrique IV e o Papa Calixto 11. Ficou determinado aqui, que
a escolha de abades e bispos seria feita pelo Império e a Igreja. Consta que essa Concordata
traz um compromisso segundo o qual os futuros bispos seriam investidos nos símbolos de
sua autoridade política pelo rei, tendo de jurar lealdade a ele como vassalos, mas ficaria
reservado ao arcebispo o direito de investi-Ios nos símbolos de suas funções espirituais.
Muitos cristãos piedosos, depois das lutas entre o papado e as autoridades seculares,
passaram a acreditar, então, que os papas estavam levando longe demais suas ambições,
agora não só políticas, e esquecendo as suas funções espirituais. Em conseqüência disso o
papado desprestigiou-se, abrindo o caminho para o repúdio à sua autoridade até mesmo em
assuntos religiosos. Da mesma maneira, a intromissão do papa na política interna de vários
países levou a um fortalecimento do nacionalismo, especialmente na Inglaterra e na França.
Por fim, a luta estimulou a atividade intelectual, como cada partido procurasse justificar seu
interesse pelas obras antigas, incentivou-se o estudo do direito romano e foram feitas
muitas contribuições valiosas para a teoria política.
4.3 AS CRUZADAS
Jerusalém tinha um significado muito especial para as pessoas da Idade Média. Essa
cidade Oriental serviu na antigüidade de centro político e religioso dos hebreus. Para os
cristãos da Europa, era considerada a cidade mais importante da Terra, o centro do mundo,
um espaço santificado. Porquê?
Porque foi nela que Cristo sofreu o martírio, lá ele foi crucificado. Segundo a
tradição, lá ele deveria retomar para o Juízo Final.
Ao longo de toda Idade Média, os cristãos de diversas regiões do Ocidente dirigiam-
se a Jerusalém para fazer penitência, rezar, apreciar os lugares por onde Cristo havia
passado.
A Terra Santa constitui sempre um grande centro de peregrinação, principalmente o
Santo Sepulcro. Mas, no ano 1078, os turcos seldjúcidas tomaram Jerusalém e não
deixaram mais que os cristãos entrassem lá. Então, o Papa Urbano II achou por bem libertar
o Santo Sepulcro do poder dos turcos.
O Imperador de Constantinopla estava interessado também numa cruzada contra os
muçulmanos. De fato, uma cruzada afastaria a pressão árabe sobre Constantinopla,
ameaçada sobretudo depois que os turcos tomaram califados de Bagdá e Egito. Após o
coroamento de Togul Beg como califa em 1055, os turcos tinham iniciado nova ofensiva
contra os cristãos, vencendo as forças bizantinas na Batalha de Manzikert, em 1071. Com
isso, colocavam em risco a capital do Império Romano do Oriente. Havia outros estímulos
para a realização das cruzadas. O significado da conquista da Terra Santa ia além de
interesses políticos e econômicos. De modo geral, as pessoas daquela época sabiam que
essa Jerusalém terrestre serviria de cenário para o retomo de Jesus Cristo, e que o reino de
justiça reservado aos fiéis ocorreria em uma Jerusalém celeste. A conquista de Jerusalém,
portanto, assumiu forte significado apocalíptico. Não é à toa, pois, que não apenas Papas,
reis e nobres se interessassem pela organização de expedições militares, mas que todos
tomassem parte dessa " guerra santa ".
As Cruzadas foram oito, eis suas datas e principais acontecimentos:
- Primeira ( 1095-1099 )- convocada pelo Papa Urbano II, no Concílio de Clermont,
atingiu plenamente seu objetivo com a tomada de Jerusalém, a situação dos cristãos
no Reino de Jerusalém, no principado de Antioquia e nos condados de Edessa e de
Trípoli não era estável.
- Segunda (1147-1149)- provocada pela queda de Edessa, essa cruzada foi em vão.
- Terceira (1189-1192)- provocada pela queda de Jerusalém sendo responsável o
Sultão Saladino. Participaram desta: Ricardo Coração de Leão, Filipe Augusto e
Frederico Barbarruiva. Ricardo fez um acordo com Saladino no qual os cristãos
poderiam peregrinar livremente por Jerusalém.
- Quarta (1202-1204)- convocada pelo Papa Inocência li, tendo como objetivo o
ataque ao Egito; os venezianos ficaram responsáveis pelo transporte, mas seguindo
seus interesses comerciais, o doge veneziano Dandolo levou os cruzados para
Constantinopla, saqueando e matando pessoas, foram excomungados mais tarde
pelo
- Quinta (1217-1221)- chamada Cruzada das Crianças. Consistiu em um exército
formado por jovens e crianças que deveria reconquistar Jerusalém. Acreditava-se
que os cristãos jovens, inocentes e sem pecados, conseguiriam vencer os
muçulmanos e recuperar Jerusalém. Embarcados em Marselha, os jovens aportaram
em Alexandria onde acabaram vendidos como escravos.
- Sexta (1228-1229)- o imperador alemão Frederico II conseguiu o título de Rei de
Jerusalém, por meios diplomáticos, recebendo a coroa real do Santo Sepulcro
regressa à Europa.
- Sétima (1248-1250)- convocada pelo Papa Gregório IX, mas que, antes da partida,
os turcos haviam reconquistado definitivamente Jerusalém, em 1244.
- Oitava (1270)- Luís IX a chefiou também, mas não teve bom êxito, pois morreu ao
chegar a Túnis, na África.
As razões desse insucesso se devem em primeiro lugar ao caráter superficial da
ocupação. A presença cristã no Oriente Médio limitou-se aos quadros administrativos, não
criando raízes entre as populações locais. Outra razão foi a anarquia feudal, que enfraquecia
as colônias militares estabelecidas em território inimigo. A luta fratricida foi uma constante
entre as ordens religiosas e os cruzados latinos, principalmente entre os genoveses e
venezianos.
O fracasso foi uma conseqüência da rivalidade nacional entre as potências
ocidentais e da incapacidade do papado em organizar uma força que soubesse superar essas
dissenções.
As cruzadas vieram solucionar diversos problemas da população da Europa.
“Os franceses sofriam então a fome; as piores colheitas se sucediam uma atrás da
outra, fazendo os preços dos cereais subirem a um nível nunca visto. Os comerciantes
desonestos se aproveitavam da miséria alheia. Havia pouco pão e o preço era alto. Os
pobres supriam a fome comendo raízes e ervas selvagens. De repente, impulsionados pelo
grito das Cruzadas, pegavam tudo ao mesmo tempo quebrando as fechaduras e
arrebentando as cadeias que fechavam os depósitos de cereais. Os mantimentos que
estavam a alto preço, já que ninguém podia comprá-Ios, eram vendidos por quase nada na
hora em que todos desejavam partir... A fome desapareceu e foi substituída pela
abundância. Como cada um se preparava para tomar o caminho de Deus, convertiam tudo o
que possuíam em dinheiro para servir na viagem; o preço dos produtos era fixado não pelo
vendedor e sim pelo comprador. Fato singular e maravilhoso, pois, seguindo a fé, todo
mundo vendia o que lhe era mais caro e todos vendiam a preço baixo. Aqueles que tinham
muito conservavam os objetos necessários à viagem e vendiam o resto por nada. As
mulheres, as crianças, os velhos partiam com a esperança de sofrer o martírio na prisão dos
sarracenos e assim ganhar o céu. Nada mais tocante que ver esses pobres cruzados ferrar
seus bois como cavalos, atrelá-Ios a uma carroça com duas rodas, sobre a qual colocavam
suas pobres bagagens e seus pequenos filhos. Em todos os castelos, em todas as cidades que
eles encontravam no caminho, estendiam as mãos e perguntavam se aquela não era a
Jerusalém, para qual se dirigiam." (Nogent, Guibert de. Gesta Dei per Francos. )
4.4 A INQUISIÇÃO.
Do latim inquisitio: busca, indagação. É a designação de um tribtmal eclesiástico,
vigente na Idade Média que julgava os possíveis " hereges " e as pessoas suspeitas de
heterodoxia em relação à Doutrina Santa.
Deve' ser considerada como o resultado da unificação de duas instituições, uma
eclesiástica e outra civil.
A Igreja tem a missão de propagar, fortalecer e proteger a revelação divina contida
em sua essência. Para satisfazer ao dever, ao "oficio" de proteger a fé, foi criado o tribunal
eclesiástico do "Santo Oficio ".
A Inquisição constitui-se pois pela reunião do tribunal do Santo Oficio com o
tribunal civil. Tinha dois " braços ": o primeiro era o braço eclesiástico, que inquiria,
corrigia e finalmente julgava os delitos de heresia. Sua finalidade principal não era vingar e
castigar, mas corrigir e emendar. O segundo braço era o civil, a quem eram entregues os
réus convictos e contumazes, para serem castigados segundo as leis civis.
O próprio Antigo Testamento, traçou um código muito simples para se tratar com os
" hereges ". Eles deviam ser inquiridos cuidadosamente e se três testemunhas idôneas
depusessem terem eles " ido servir outros deuses ", iria cumprir o preceito de levá-l o para
fora da cidade e " apedrejá-Ios até morrerem ". (Dt. 17,25 )
Durante a idade Média, no Ocidente, quando o cristianismo mm raramente era
desafiado por seus próprios filhos, a tolerância ganhou terreno e Leão IX determinou que a
excomunhão devia ser o único castigo para a heresia.
No século XII, como as heresias estavam se espalhando, alguns eclesiásticos
achavam que a excomunhão dos " hereges " pela Igreja devia ser seguida de desterro e
prisão pelo Estado.
O restabelecimento das leis romanas em Bolonha, no século XII, fez que criassem
condições, métodos e estímulos para a inquisição religiosa. Copiou-se palavra por palavra,
a lei canônica da heresia do texto " De haereticis ", do código de Justiniano. Os cristãos, e
até mesmo muitos hereges criam, que a Igreja havia sido criada pelo Filho de Deus, e,
qualquer ataque contra a fé católica somente podia ser considerado como ataque oriundo de
satanás, como o fim de desfazer o trabalho de Cristo, e qualquer homem ou governo que
tolerasse a heresia estaria, portanto, servindo Lúcifer.
Em 1114, o bispo de Soissons pôs no cárcere alguns hereges. Na sua ausência, a
população" achando que o clero tinha sido muito condescendente ", arrombou as portas da
prisão, arrancou dali os hereges e os queimou na fogueira. Em 1114, em Liege, a população
insistiu em queimar alguns hereges. Quando Pedro de Bruys declarou que " os sacerdotes
mentem quando dizem que o Corpo de Cristo está presente na Eucaristia ", e queimou
cruzes na Sexta- feira Santa, o povo o matou no próprio local.
Geralmente, antes do século XIII, a inquisição dos hereges " ficava a cargo dos
bispos. Não eram propriamente inquisidores, esperavam que boatos ou o clamor público
apontassem os hereges. Apenas eram intimados a irem à sua presença e negar o que diziam,
abraçando a Cruz de Cristo.
Para que a caça aos "hereges" surtisse efeito, era necessário o apoio do Estado, dos
soberanos temporais, a Igreja e o Estado, então, concordaram em que a heresia impenitente
seria condenada traição e deveria ser punida com a morte. Estabeleceu-se oficialmente a
Inquisição sob o controle dos papas. Temos uma Bula Pontificia do Papa Nicolau III (1280)
para ilustrar melhor o objetivo e o alcance da Inquisição.
“Por este meio excomungamos e anatemizamos todos os hereges - cataristas,
patarinos, os " pobres de Lyon " ... e todos os demais, sejam quais forem as denominações.
Quando condenados pela Igreja, deverão eles ser entregues ao juiz secular a fim de serem
punidos... Se qualquer um deles, depois de preso, arrepender-se e desejar penitenciar-se,
poderá o mesmo ser condenado a prisão perpétua ... Todos os que acolherem, defenderem
ou ajudarem pessoas heréticas serão excomungados. Será proscrito aquele que permanecer
sob excomunhão um ano e um dia... Serão excomungados aqueles que, suspeitos de heresia,
não puderem provar sua inocência. Não terão direito de apelar da sentença. Todo aquele
que fizer um sepultamento cristão de herege, ficará excomungado até que dê as devidas
satisfações porque o fez. Não será absolvido enquanto não tiver desenterrado, com as suas
próprias, mãos os corpos dos heréticos e espalhado suas cinzas ... Proibimos a todos os
leigos que discutam sobre questões relacionadas coma fé cristã~ será excomungado o que
assim proceder. Todo aquele que conheça hereges ou saibam do lugar onde eles se reúnem
secretamente ou conheça os que não concordam em todos os respeitos coma fé ortodoxa,
deve disso dar conhecimento ao seu confessor ou a algum outro, o qual informará o bispo
ou inquisidor. Será excomungado todo aquele que não o fizer. Os hereges e todos aqueles
que os acolherem, protegerem ou auxiliarem, e os seus filhos até a Segunda geração não
serão admitidos na função eclesiástica... Privaremos para sempre a todos esses de tais
benefícios. " ( Durant, Will. História da Civilização)
Quanto à sua forma jurídica, o Santo Ofício era um tribunal revestido com as
mesmas características de qualquer tribunal da Idade Média e início dos tempos modernos.
Seu proceder era secreto, exigiam-se testemunhas, dava-se ao réu conhecimento das
acusações, advogado ou conselheiro e autorização de defesa. Eis o procedimento:
a) começava por um manifesto ou pregação que convidava os culpados de heresia a
comparecer espontaneamente, e dos mais exigia a denúncia dos criminosos;
b) determinava-se um “Tempo de Graça" de 15 a 30 dias, e quem se apresentava
durante este prazo, prometendo emendar-se, só recebia penitência leve;
c) procedia o interrogatório dos acusados;
d) ouviam-se os acusadores e as testemunhas;
e) quando a obstinação do réu era constante, seguia a conduta de vergonha, sendo
constituída de prisão preventiva. Quando esta não dava resultado, seguia-se a
tortura;
f) sentença de auto-de-fé. Para garantir sentença justa, os inquisidores não
decretavam penas graves. Era formado um júri com pessoas idôneas e responsáveis.
Precedia-se um ato público e solene, em que se promulgavam as sentenças, os
convictos arrependi dos pronunciaram sua renúncia solene, e os penitentes eram
entregues ao braço secular. Estas solenidades eram célebres autos-defé, celebrados
com a finalidade de restaurar a pureza da fé, deturpada pelas heresias, reconciliar os
errantes, intimidar hereges ocultos e fortalecer cristãos vacilantes.
A história da tortura e fogueira revela que já na Idade Média começou o renas
cimento das idéias pagãs. O poder secular valeu se de sua força e as impôs à Igreja. Temos
também, nessa época, os mosteiros, que povoados de monges disciplinados, pareciam
também um refúgio para criminosos sentenciados. Eram confiados aos mosteiros, para que
a mansidão, caridade e tomada de consciência abrandassem a conduta dos extraviados.
5 O SURGIMENTO DAS HERESIAS.
Uma das maiOres preocupações da Igreja é o que diz respeito a unidade, pois a
unidade da fé eqüivale à unidade de todo corpo.
5.1 - A IGREJA E A UNIDADE DA FÉ.
Desde as ongens do cristianismo, os textos sagrados despertaram muita
polêmica. Cristo, tinha sido homem ou Deus? Eis a principal questão.
Na medida em que o cristianismo foi sendo organizado em tomo da Igreja.
Católica Apostólica Romana, escritores e teólogos estabeleceram o modo considerado
correto de como conceber a religião.
Várias questões polêmicas foram sendo analisadas e estudadas, sendo resumidas
sob a forma de dogmas.
Temos em 325, o Concílio realizado em Nicéia, onde os representantes da Igreja
deram valor dogmático o conceito sobre a Santíssima Trindade sendo o Pai, o Filho e o
Espírito Santo um só ao mesmo tempo. O dogma da Imaculada Conceição, também fora
estabelecido nessa mesma época conciliar.
Neste tempo, nesse ou em outros Concílios dos séculos IV e V, várias idéias e
propostas religiosas foram declaradas falsas, sendo apontadas como" heresia" pelo
Colégio Apostólico.
Sobre heresias, veremos no próximo capítulo, reservado especialmente para
tratarmos sobre. O que nos importa a princípio é sabermos que a unidade da fé sempre
foi algo de suma importância sob o ponto de vista dos nossos " pastores ".
5.2 OS GUARDIÕES DA FÉ
Após contestar a fé e sua unidade, as pessoas eram consideradas inimigas em
potencial de toda cristandade.
Recebiam, os contestadores, o nome de hereges e eram descritos por teólogos,
juristas e escritores como sendo uma " doença " que poderia ser contagiosa aos fiéis.
Deveriam ser combatidos verbalmente e, se preciso, arrancados do convívio social.
Na concepção eclesiástica, os hereges eram concebidos e enviados de satanás.
Uma das formas usadas para combatê-Ios era a persuasão a respeito do que diziam ou
faziam, desejando que voltassem a caminhar na Luz.
Geralmente, eram enviados para combater os chefes heréticos: bispos, abades ou
monges. O objetivo principal dessa missão era o de fazer os heréticos reconhecerem seu
erro e arrependerem-se.
Mas, a Igreja não atuava sozinha. Tinha a seu lado o apoio e auxílio dos chefes
seculares (reis, imperadores).
Os chamados hereges, tidos como traidores de Deus e dos govemantes eram
perseguidos pelo poder temporal tanto como pelos detentores do poder espiritual. Uma
forma de punição adotada pela Igreja era a excomunhão, pela qual se excluía o herege
da condição cristã, e sendo assim, também excluído socialmente. Outra pena aplicada
pela Igreja, denominada interdito, era aplicado sobre uma comunidade considerada
herética e consistia em um abandono dos padres e monges ficando isoladas das outras
comunidades cristãs. Eram vistas como sendo sem a proteção de Deus.
Além das penas morais, como essas que vimos acima, as penas poderiam ser
também fisicas ( influenciadas pelo Estado ). Consistia em peregrinações longas aos
lugares santos, pelos hereges confessos e arrependidos como sinal de pagar os pecados e
delitos. Outros vestiam trajes que os identificavam como pessoas duvidosas da fé.
Mas, aos casos persistentes, as penas poderiam ser desde o confisco de bens, a
prisão até a condenação de morte na fogueira.
Data de 1229 a criação dos primeiros tribunais do Santo Oficio ou Inquisição,
que tinham como objetivo básico investigar, descobrir e estabelecer as penas para os
infratores.
Podemos ver que realmente a fé é um tesouro de valor inexprimível que
precisava ser guardado cuidadosamente.
6 AS PRINCIPAIS HERESIAS.
6.1 O QUE É HERESIA?
A palavra heresia provém do grego hairetikis e do latim haeresis, significando
doutrina contrária à fé. Em grego hairetikis significa o que escolhe( Novinsky, 4a edição
).
Para o cristianismo, é a ruptura da fé, ou então escolha de outra fé, sendo
doutrina contrária à que é aceita pela comunidade dos cristãos. Não se deve forçar
ninguém a aceitar a fé, nem obrigar judeus, pagãos ou muçulmanos abraçar a fé cristã. É
a própria pessoa que, livremente em seu Batismo assume o compromisso de conservar a
fé que recebera, sendo membro da Igreja de Cristo até a morte.
Pois bem, heresia é todo aquele pensamento contrário a doutrina santa. É
considerado herege todo aquele que uma vez abraçando a fé católica conscientemente,
sabendo de suas responsabilidades simplesmente deixa de lado a fé , aceitando
pensamentos contrários àqueles confiados por Deus à sua Igreja.
6.2ARIANISMO
O presbítero Ário de Alexandria afirmava que o Filho é criatura do Pai, a
primeira e a mais importante de todas, destinada a ser instrumento para a criação
de outros seres. O bispo Alexandre de Alexandria reuniu um Sínodo9 local, com
cerca de cem bispos, que condenaram Ário e seus seguidores em 318.
Ário, porém, conseguiu novos defensores para sua causa. Diante dos fatos o
Imperador Constantino, que em 34-24 vencera Licínio, tomando-se o único senhor do
Império, resolveu intervir: tinha um assessor teológico, que foi enviado para Alexandria
para aproximar Ário do bispo Alexandre, porém, missão fracassada. Constantino,
convoca então o Concílio Ecumênico para Nicéia na Ásia Menor em 325, ao qual
compareceram cerca de 300 bispos e um representante do Papa Silvestre, visto que já
estava em idade avançada.
Os padres conciliares redigiram o Símbolo de Fé de Nicéia, que afirmava ser o
Filho " Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não feito
consubstancial ( homoousios ) ao Pai; por Ele foram feitas todas as coisas. " A palavra
homoousios toma-se, de então por diante, a senha da reta doutrina. Significava que o
Filho é da mesma natureza ( divindade ) que o Pai; não saiu do nada como as criaturas,
mas desde toda eternidade foi gerado sem dividir a natureza divina.
As controvérsias não terminaram, o termo homoousios pareCIa a alguns suspeito
de sabelianismo ou de modalismo. Os antinicenos, julgaram-se vencedores, depondo
bispos e reunindo Concílios regionais, porém se dividiram. Tendo negado a identidade
de substância entre o Pai e o Filho ou o homoousios, afirmaram uns que o Filho era
semelhante ( homoiousios ) ao Pai, enquanto outros o tinham como dissemelhante (
anhomoios ). A ortodoxia católica foi prevalecendo, de maneira especial por obra de
três doutores da Capadócia ( Ásia Menor ): São Basílio de Cesaréia ( + 379 ), São
Gregório de Nazianzo ( + 390 ) e São Gregório de Nissa ( + 394 ). Estes elaboraram a
fórmula grega: mía ousía kal treis hypostáseis, uma essência e três pessoas. Há uma só
Divindade, que se afirma três vezes ou três Pessoas. O Concílio Ecumênico de
Constantinopla I (381) havia de consolidar a proclamação da reta fé contra o arianismo.
6.3 DONATISMO
Movimento cismático nascido na África do Norte, após a perseguição de
Diocleciano ( 285 - 305 ). Deve seu nome a um de seus primeiros representantes,
Donato, bispo de Cartago. Várias vezes condenado pelos Sínodos regionais, favorecido
ou não pela autoridade imperial, o donatismo se firmou sobretudo na Numídia até o
século V. Santo Agostinho combateu-o vigorosamente. Desapareceu aos poucos com a
conquista dos vândalos.
6.4 NESTORIANISMO
Afirmada a existência da natureza humana completa em Jesus, os teólogos
puderam estudar mais detidamente o modo como humanidade e Divindade se
relacionaram em Cristo. Devemos, antes de falar mais profundamente sobre o
nestorianismo, destacar duas principais escolas teológicas da antigüidade: a alexandrina
e a antioquena.
A escola alexandrina era herdeira de forte tendência mística;procurava exaltar o
divino e o transcendental nos artigos da fé. Interpretava a Sagrada Escritura em sentido
alegórico, tentando desvendar os mistérios divinos contidos nas Sagradas Letras. Era
inclinada em realçar o divino, apenas.
Já a escola antioquena, era mais ligada à filosofia e à razão: voltava-se mais para
o humano, sem negar o divino. Interpretava a Sagrada Escritura em sentido literal e
tendia a salientar em Jesus os predicados humanos mais do que os atributos divinos. Era
mais racional.
Falemos agora do nestorianismo em si.
Nestório, elevado à cátedra episcopal de Constantinopla em 428, afirmava que o
Lógos habitava na humanidade de Jesus como um homem se acha num templo ou numa
veste~ haveria duas pessoas em Jesus - uma divina e outra humana - unidas entre si por
um vínculo afetivo ou moral. Por conseguinte, Maria não seria a Mãe de Deus (
Theotókos ), como diziam os antigos, mas apenas Mãe de Cristo ( Christókos )~ ela
teria gerado o homem Jesus, ao qual se uniu a segunda pessoa da SS. Trindade com a
sua Divindade. Nestório propunha suas idéias em pregações ao povo, nas quais
substituía o título" Mãe de Deus" por" Mãe de Cristo ".
As duas correntes se dirigiram ao Papa Celestino I ( 422 432 ), que rejeitou a
doutrina de Nestório num Sínodo de 430. Deu ordem a São Cirilo para que intimasse
Nestório a retirar suas teorias no prazo de dez dias, sob pena de exílio. Em 431, o
Imperador Teodósio II, instado por Nestório, convocou para Éfeso o terceiro Concílio
Ecumênico a fim de solucionar a questão discutida. Logo na primeira sessão, foram
apresentados os argumentos da literatura antiga favoráveis ao título Theotókos, que
acabou sendo solenemente proclamado; daí se seguia que em Jesus havia uma só pessoa
(a Divina); Maria se tomara Mãe de Deus pelo fato de que Deus quisera assumir a
natureza humana no seu seio. Quatro dias após esta sessão, em 26/06/431, chegou a
Éfeso o Patriarca João de Antioquia, com 43 bispos favoráveis a Nestório, que não
quiseram unir-se ao Concílio presidido por São Cirilo, representante do Papa que
finalmente exilou Nestório e seus seguidores.
6.5 MONTANISMO
Originou-se por volta do ano 156, através do sacerdote Montano, que declarou
ter recebido uma revelação, a ele se juntaram duas profetizas: Priscila e Maximila.
Diziam-se porta-vozes do Espírito, afirmando a proximidade do fim do mundo e o
estabelecimento na Frigia da Nova Jerusalém. Tinha como meio de pregação a prática
severa do ascetismo, protestando com isso contra a mundanização da Igreja. Montano e
seus adeptos se espalharam e juntamente com eles a profecia do iminente fim do
mundo, incitando à preparação imediata para a volta de Cristo. Encontram forte
oposição, especialmente pelo Sínodo dos bispos sendo privados, assim, as comunidades
montanistas da comunhão eclesiástica. Era um sistema doutrinal com tendências
arcaicas.
6.6 - MONOFISISMO.
Em Jesus há só uma natureza e uma só pessoa: a divina. Seu grande propagador
foi Eutiques, arquimandrita de Constantinopla. Reconhecia que Jesus constava
originariamente da natureza divina e humana, mas afirmava que a natureza divina
absorveu a humana, divinizando-se; após a Encarnação, só se poderia falar de uma
natureza em Jesus: a divina. Esta heresia tomou-se muito popular e poderosa na
antigüidade. Eutiques foi considerado herege no Sínodo de Constantinopla em 448, sob
o Patriarca Flaviano. Solicitado pelo Patriarca Dióscoro de Alexandria, Teodósio II
Imperador convocou em 449 novo Concílio Ecumênico para Éfeso. Dióscoro, tendo
aberto o Concílio, negou a presidência aos legados papais; não permitiu que fosse lida a
Carta de São Leão Magno, que propunha a reta doutrina: as duas naturezas de Cristo
não se misturam nem confundem, mas cada qual exerce a sua atividade própria em
comunhão com a outra; assim Cristo teve realmente fome, sede e cansaço, como
homem, e pode ressuscitar mortos como Deus. Vários bispos de diversas regiões
repudiaram como ilegítimo ou, segundo a expressão do Papa São Leão Magno, como"
latrocínio de Éfeso "; pediram então, novo Concílio.
O novo Concílio, desta vez legítimo, reuniu-se em Calcedônia, no ano de 451. A
assembléia rejeitou o “latrocínio de Éfeso”; depôs Dióscoro e aclamou solenemente a
Epístola Dogmática do Papa São Leão Magno a Flaviano. Nesta Epístola estava escrito:
“Ensinamos e professamos um único e idêntico Cristo... em duas naturezas, não
confusas e não transformadas, não divididas, não separadas, pois a união das naturezas
não suprimiu as diferenças; antes, cada uma das naturezas conservou as suas
propriedades e se uniu com a outra numa única pessoa e numa única hipóstase ". ( Mater
Eclesiae, pg. 39 )
Em Cristo não há duas naturezas e duas pessoas, pois isto destruiria a realidade
da Encarnação e da obra redentora de Cristo. Cristo agiu como verdadeiro homem,
sujeito à dor e à morte para transfigurar estas nossas realidades. Havia uma só pessoa
divina, que, além de dispor da natureza divina desde toda a eternidade, assumiu a
natureza humana no seio de Maria Virgem e viveu na terra agindo ora como Deus, ora
como homem, mas sempre e somente com o seu eu divino. O encerramento do Concílio
de Calcedônia não significou a extinção do monofisismo.
No Egito, os monofisistas tomaram o nome de coptas, nome que guarda as três
consoantes da palavra grega Aigyptos; são os antigos egípcios. Os ortodoxos se
chamam melquitas, pois guardam a doutrina ortodoxa patrocinada pelo Imperador em
Calcedônia.
6.7 CÁTAROS E ALBINGENSES
Alguns católicos fervorosos eXIgIam uma renovação espiritual imediata e total.
Caiu no fanatismo, pois a espiritualidade extremista e radical caiu no fanatismo.
Apareceram aí os cátaros e albingenses.
Cátaros uma palavra de ongem grega ( kátaroi ), e quer dizer " puros ". Inspirada
na doutrina dos maniqueus, tal seita espalhou-se pela França. Era um espiritualismo
desencarnado e negativista. Negava o valor dos sacramentos, a posse de bens terrenos e
até a santidade do matrimônio e a dignidade da mulher, pois ela representava o mal.
Eles se afastaram da comunhão com a Igreja e do contato com as 'coisas do mundo.
Isolaram-se no seu puritanismo.
Os albingenses receberam este nome porque o centro da difusão da seita foi a
cidade de Albi, na França. Sua doutrina era a mesma dos cátaros. Viviam uma
espiritualidade moralista e negativista. Viam pecado em tudo. Dentro da seita existiam
os “perfeitos”. Formavam uma elite espiritual, como se fossem os Apóstolos. Só os
“perfeitos” podiam impor as mãos sobre os outros para dar-lhes o " batismo do
espírito”. Para receber tal “batismo ", a pessoa precisava passar por longo estágio e ser
provada. Esse "batismo" era o único sacramento da seita. O Papa Lúcio lU advertiu os
hereges, mas não adiantou nada. Então, com o apoio do poderoso Imperador Frederico
Barbarroxa, decidiu excomungar os cátaros e albingenses, no ano de 1184.
7 O COMBATE ÀS HERESIAS: PRINCIPAIS CONCÍLIOS.2
7.1 - CONCÍLIO DE NICÉIA (325 ).
Realizado para defender a fé contra a heresia de Ário. Reuniram-se 300 bispos e
como representante pessoal do Papa Silvestre I, Ósio, bispo de Córdova. Constantino
ocupou lugar de honra na assembléia, embora não desse seu parecer em questões
referentes à fé. O arianismo foi condenado pela grande maioria dos bispos presentes,
sendo que o grande defensor da divindade de Cristo tenha sido Santo Atanásio, que na
ocasião era diácono. Depois recebeu a ordenação episcopal e, em 328, ocupou o cargo
de bispo de Alexandria. Por causa de sua posição radical, foi exilado cinco vezes.
O Concílio acrescentou ao Símbolo Apostólico algumas frases referentes à
divindade de Cristo. Daí surgiu o “Símbolo Niceno”. 3
Mesmo sendo condenado como heresia, o ananlsmo continuou ganhando novos
seguidores. A crise de fé atingiu o ponto máximo durante o governo de Constâncio (
337 - 361 ), filho de Constantino. O que Constantino havia feito a favor da Igreja,
Constâncio fez a favor do arianismo. O Papa Libério ( 325 - 366 ) sofreu muito. Viu a
maioria dos bispos passar para o arianismo. Os bispos arianos chegaram a eleger Ario
para o importantíssimo cargo de Patriarca de Constantinopla. Ario, porém, morreu
durante os preparativos da posse, Constâncio pereceu durante um combate. Ficando sem
apoio, os arianos começaram a perder a força, mas, mesmo assim a heresia teve adeptos
por mais um ou dois séculos.
7.2 CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA ( 381 ).
Quando a Igreja Primitiva começou a espalhar-se pelo mundo, os cristãos
fizeram um resumo das principais verdades da fé. Chamou-se" Símbolo dos Apóstolos
", pois vinha do tempo dos Apóstolos. Esse “Símbolo “ era como a " marca " da fé, ou
sinal de reconhecimento e de comunhão entre os cristãos. Assim, recitando essa fórmula
2 Reunião de prelados eclesiástico convocado pelo Papa, tendo como objetivo a consideração referente a
fé, costumes e disciplina eclesiástica. O aparecimento das heresias, no século II, fez sentir aos bispos a
necessidade da convocação de assembléias, com o propósito de assumirem uma atitude contra os desvios
dos princípios doutrinários da Santa Mãe Igreja, em relação a fé recebida e conservada apostolicamente. 3“Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não
criado, consubstancial ao Pai, Por ele todas as coisas foram feitas, e por nós,
homens, e por nossa salvação desceu dos céus.”
do símbolo, os cristãos estariam perseverando na mesma doutrina e professando a
mesma fé, em qualquer parte da terra. O Concílio de Constantinopla aconteceu quando
um herege chamado Macedônio começou a pregar que o Espírito Santo não era Deus,
mas " criatura" de Deus. Então o Papa São Dâmaso (366 - 384) fez o Concílio de
Constantinopla para definir a divindade do Espírito Santo. Dâmaso era um Papa muito
inteligente. Além disso, tinha a seu lado homens importantes como Gregório de
Nazianzeno, Gregório de Nissa, Santo Ambrósio, São Jerônimo e Hilário de Poitiers.
Nesse tempo a Igreja gozava de grande prestígio. É dessa época a frase: " Onde está
Pedro, aí está a Igreja ".
Esse Concílio reafirmou as definições do Concílio de Nicéia sobre a divindade
do Espírito Santo. Este no o Símbolo ficou chamado de “Niceno-constantinopolitano”.
7.3 O SÍMBOLO NICENO-CONSTANTINOPOLITANO.
Veremos agora, o Símbolo formulado e confirmado pelos dois Concílios do qual
falamos até agora:
" Creio em um só Deus. Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, de
todas as coisas visiveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho
Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da
Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai
Por ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu
dos céus e se encarnou pelo Espirito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem.
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está
sentado à direita do Pai E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os
mortos; e o seu reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e
procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; Ele que
falou pela boca dos profetas. Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica.
Professo um só batismo para a remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos
mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém. "
7.4 CONCÍLIO DE ÉFESO ( 431 ).
Nestório foi o Patriarca de Constantinopla de 422 a 432, sua doutrina herética
era que a Virgem Maria Não era Mãe de Deus. Nestório achava que em Jesus havia
duas pessoas: a pessoa divina e a pessoa humana. Então, algumas coisas foram feitas
por Jesus-homem e outras por Jesus-Deus. Por exemplo: quando bebia água, era só
Jesus-homem que estava bebendo. Com essa teoria, Nestório acabou negando que Maria
fosse Mãe de Deus. Para ele, seria apenas Mãe do "homem" chamado Jesus.
O Papa Celestino I, em Sínodo realizado em 430, condenou a heresia e convidou
Nestório a fazer comunhão com a Igreja, só que este não quis. A questão foi resolvida
em Concílio. Mais uma vez foi condenado o nestorianismo e a Igreja definiu: Maria é
Mãe de Deus. Após a oficialização deste dogma, o Papa Celestino fez também a
introdução da Segunda parte da ave-maria, isto é: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por
nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”.
7.5 CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA (451)
Realizou-se de maneira especial para combater outra heresia que estava
aparecendo. Era ensinada por Êutiques, monge de Constantinopla, que pregava que em
Jesus, a natureza divina absorvia a natureza humana. Era como se Cristo tivesse apenas
a natureza divina. Era negado o valor e a autenticidade dos atos humanos de Jesus. O
problema foi exposto ao Papa, e esse expôs em sua famosa carta dogmática, afirmando
que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Êutiques rejeitou a carta do Papa e
fez um Sínodo em Éfeso no ano de 449, com o apoio do Imperador Teodósio II e com a
presidência de Dióscoro. Os representantes do Papa foram impedidos de falar, e a carta
Dogmática não pode ser lida.
Com o auxílio e apoio de 600 bispos o Papa realizou o Concílio em Calcedônia,
este definindo que, em Cristo há uma só pessoa, na qual existem duas naturezas “sem
confusão nem mudança, sem di visão nem separação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Acredito que todo este trabalho seja apenas uma pequena amostra de toda
expectativa que trago em mim quando se fala de Igreja. A Igreja como pode perceber
neste trabalho mono gráfico, é uma instituição que realmente visa o bem estar dos fiéis
no que diz respeito ao zelo apostólico sobre as almas. Toda uma caminhada histórica fez
com que se modelasse mais ao contato com o povo.
Em muitas páginas veremos que a Igreja foi sempre seguida pelo Estado, suas
decisões nunca foram tomadas solitariamente.
O importante é olhar o passado, com os pés no presente visando um futuro
otimista, cheio de conquistas e vitórias. Foi importante falar sobre heresias porque
muitas vezes caímos nos “achismos” que um período histórico nos apresenta. Olhamos
o passado para poder analisar o presente e ver onde estão infiltradas algumas correntes
heréticas em nossa época. É na realidade temos muito do passado habitando em nosso
presente.
Um exemplo conhecido de todos, é a seita dos Testemunhas de Jeová, que têm
como doutrina o arianismo: "Feito homem, nascido de mulher, inferior a anjos. Maria é
a mãe do Filho de Deus em sua condição terrena. " ( Trad. do Novo Mundo das
Sagradas Escrituras. ) Para eles Jesus não é Divino, é simplesmente um homem que
nasceu com uma missão profética e se elevou ao céu.
Um cuidado ainda maior temos que ter, ao olhar para dentro da nossa própria
Igreja que embora subjetiva traz em alguns movimentos o rosto de correntes heréticas.
Alguns acreditam mais em um Deus Divino, que mora no céu, longe das criaturas,
apenas adoram-no, louvam-no. Outros, ainda, vêem em Deus um homem libertador que
veio ao mundo em condição humana para nos libertar e lutar contra injustiças,
esquecendo-se que além de homem Jesus é Deus.
A Essência Trinitária completa-se no diálogo e perfeição que cada qual têm
formando um só Deus, o Deus Trino que é rico em amor e misericórdia.
Jesus Christus heri, hodie et simper!!!
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