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PG 5SHELLCresce a polêmica em torno da contaminação de 800trabalhadores no estado de São Paulo por produtosquímicos perigosos.

PG 12AHOLDO grupo holandês que controla as redes desupermercados Bompreço e G. Barbosa decide seretirar da América Latina, provocando incertezas.

PG 17INTERCÂMBIODirigentes sindicais de sete países vão se encontrar naHolanda para debater estratégias de ação frente àviolação de direitos pelas transnacionais.

PG 18MINERAÇÃO PREDATÓRIAReportagem especial mostra que meio século decontaminação ambiental no estado do Amapá afetou asaúde de milhares de pessoas.

PG 22CAFÉ E POBREZAA campanha em defesa dos cafeicultores familiares eassalariados rurais vai à Câmara dos Deputados, comapoio do Observatório Social.

PG 24ENTREVISTA - JAQUES WAGNERMinistro do Trabalho fala sobre combate ao trabalhoinfantil e ao trabalho escravo, medidas contra adiscriminação de gênero e de raça, programas contra odesemprego e mudanças na legislação trabalhista.

PG 28ABN AMRO BANKDirigentes do Sindicato dos Bancários de São Pauloreconhecem o interesse do Banco em ampliar odiálogo, mas cobram avanços concretos.

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EEM REVISTA

Esta é a edição número 3 da Observatório Social Em Revista. Nossoobjetivo é expor as condições sócio-trabalhistas das empresas, para colocar àdisposição dos sindicatos e da sociedade informações consistentes e indis-pensáveis às negociações coletivas. Queremos que o conceito de Responsa-bilidade Social Corporativa seja uma realidade concreta. Para o ObservatórioSocial, isso significa garantir a aplicação dos direitos fundamentais no traba-lho e proteção ao meio ambiente. Respeitar os direitos mínimos não compro-mete a competitividade das empresas e das economias. Ao contrário, é umanecessidade para o desenvolvimento econômico sustentado e de longo prazo.

A novidade deste número é o aprofundamento da abordagem na cadeia deprodução. No caso da Shell, apresentamos problemas trabalhistas e ambien-tais ainda não resolvidos. Falamos sobre os problemas sócio-ambientais deempresas nacionais e multinacionais na exploração mineral na Amazônia, emparticular no estado do Amapá. No caso da produção do café – o Brasil é omaior produtor mundial –, fomos verificar as condições de vida dos assalaria-dos rurais e agricultores familiares.

Estas ações começaram a ter eco no novo governo através do compromis-so de seus ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário com osque nunca tiveram apoio. A empresa norte-americana Sara Lee - terceira maiorcomercializadora de café no mundo – em conseqüência do estudo, está sedispondo a negociar com as entidades envolvidas.

Apesar das adversidades, a agenda sindical internacional se fortalece e se“transnacionaliza”. Sindicalistas e pesquisadores de sete países vão se reunirna Holanda em junho. O objetivo do encontro é conhecer as estratégias em-presarias da Royal Ahold, Unilever, Philips e Akzo Nobel e constituir redessindicais mundiais para fazer avançar os direitos fundamentais e a proteçãoem qualquer país.

O Observatório Social faz parte desse movimento, monitorando de maneiraqualificada e permanente o comportamento social das empresas. Com estaedição, somos desafiados a superar a tradição de muitas publicações quepararam nos primeiros números. Se depender de nós, vamos editar a Observa-tório Social Em Revista nº 4, nº 5 e muitos outros números, porque temoscerteza que estamos contribuindo com a globalização dos direitos e com ajustiça social.

Conselho Editorial

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PG 30EMPRESAS NORUEGUESASPesquisa identificou problemas ambientais etrabalhistas em corporações que atuam no Brasil.

PG 31AKZO NOBELConheça a primeira das quatro corporações holandesaspesquisadas pelo Observatório Social no projetoMonitor de Empresas.

PG 32ENTREVISTA - JOSÉ OLÍVIO MIRANDA OLIVEIRAO secretário geral adjunto da CIOSL (ConfederaçãoInternacional das Organizações Sindicais Livres) avaliaconquistas e retrocessos nos direitos trabalhistas.

PG 36ARTIGO - A GUERRA DO PETRÓLEOO presidente do Observatório Social, Kjeld Jakobsen,aborda os interesses geopolíticos e econômicosexistentes por trás da invasão do Iraque.

PG 38ALMANAQUE

PG 42CULTURA - BEBA KOLA-MARTEA história da fábrica de refrigerantes em Santa Catarinaque na década de 40 concorria com a Coca-Cola vaivirar filme.

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5Shell

CRESCE APOLÊMICA SOBRE ACONTAMINAÇÃO DETRABALHADORES

Muitos ex-funcionários daempresa no estado de

São Paulo afirmam quesofrem de doenças

graves causadas pelamanipulação de

substâncias perigosas.Acusada de negligência, aempresa admite apenas acontaminação ambiental.

O caso está na Justiça.Um grupo de

trabalhadores já foibeneficiado por açãocautelar, que obriga o

pagamento dasdespesas médicas.

Moradores das áreasafetadas também sofrem

com o problema.

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U

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O segundo caso é o deVila Carioca, no bairropaulistano do Ipiranga. Osprincipais prejudicados são osmoradores que vivem noentorno de um terminal dedistribuição de combustíveis.Segundo apurou a Companhiade Tecnologia e SaneamentoAmbiental do Estado de SãoPaulo (Cetesb), a empresaenterrou no local, semnenhuma proteção, resíduos dalimpeza dos tanques degasolina, óleo diesel epesticidas. O resultado é que osubsolo e as águassubterrâneas e superficiaisestão contaminados.

A Cetesb informa que nolocal existem metais pesadoscomo benzeno e tolueno, eorganoclorados como aldrin,dieldrin e isodrin – utilizadoscomo venenos agrícolas —,cuja produção e uso estãoproibidos em quase todo o

Uma grande contaminaçãocausada por elementos químicos

danosos à saúde, que afetou apopulação de dois bairros e

também funcionários damultinacional Shell, tornou-se

uma das maiores polêmicasambientais registradas no Brasil

nos últimos anos. O primeiro casoaconteceu em Paulínia, cidade

localizada 118 quilômetros anordeste da cidade de São Paulo.

Muitos ex-funcionários daempresa relatam que sofrem dedoenças graves, por terem sido

expostos a uma série de venenosletais durante o exercício de suas

atividades profissionais. Essacontaminação, segundo

lideranças sindicais,representantes de ex-

trabalhadores, médicos epesquisadores, ocorreu devido aodescaso da empresa em relação àsegurança dos trabalhadores, da

população e do meio ambiente.

mundo, devido ao alto grau detoxidade e riscos ao meioambiente e à saúde. “A Shell foipropositadamente negligente,pois tinha conhecimento dasconseqüências decorrentes damanipulação incorreta dessassubstâncias”, denunciaOsvaldo Bezerra, presidente doDepartamento Intersindical deEstudos e Pesquisas de Saúdee dos Ambientes de Trabalho(Diesat) e diretor de Saúde eMeio Ambiente daConfederação Nacional dosQuímicos.

As denúncias, quecomeçaram há dez anos,provocaram uma discussãojurídica que ainda se arrastanos tribunais, principalmente noque diz respeito àcontaminação dostrabalhadores. No caso de VilaCarioca, depois de uma sériede provas terem sidoapresentadas, a empresaadmitiu a contaminação porpesticidas tóxicos, reconheceusua responsabilidade e secomprometeu a descontaminaruma área de 180 mil metrosquadrados até o final de 2003.Em Paulínia, a empresatambém

VILA CARIOCA E

VÍTIMAS DA

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PAULÍNIA

NEGLIGÊNCIA

admite a necessidade derecuperar o meio ambiente,mas nega que os trabalhadorestenham sido gravementecontaminados.

“Dos 210 avaliados,nenhum teve até agoradiagnóstico confirmado dedoenças relacionadas aotrabalho provocadas poratividade funcional da antigafábrica da Shell Química emPaulínia”, diz um documento daempresa distribuído pelaassessoria de imprensa.Apesar dessa versão, em umaaudiência pública realizada naCâmara dos Deputados emjunho de 2002, e tambémdiante de uma série deevidências apresentadas pelosadvogados do Sindicato dosQuímicos Unificados, a Shellconfirmou que algunsfuncionários poderiam estardoentes, mas não admitiu queseria devido à negligência daempresa.

“A Shell disse que osproblemas não são graves eque tem um ambulatório àdisposição”, relata ocoordenador da comissão deex-trabalhadores da empresa,Antônio de Marco Rasteiro. Aempresa realmente montou umambulatório para atender ostrabalhadores. No entanto,segundo estudo doObservatório Social

coordenado por Leila NadimZidan, alguns ex-funcionáriosentrevistados disseram que osmédicos desse ambulatórioevitam fazer qualquercorrelação entre os problemasde saúde e as atividades daempresa. “Além disso, os ex-trabalhadores declararam quenão recebiam informações deseu prontuário médico nemrelatórios sobre a sua saúde”.

Doenças gravesA fábrica da Shell foi

instalada no local em 1977. Em1995, a unidade foi vendidapara a Cyanamid Química doBrasil. Ao tomar posse dafábrica, uma das primeirasmedidas da Cyanamid foifornecer água mineral aostrabalhadores, na tentativa dereduzir os riscos deintoxicação. A empresa estavacerta: em 2000, amostrascoletadas pela Cetesb,analisadas pelo Instituto AdolfoLutz, comprovaram acontaminação da água dospoços com níveis até 11 vezesacima do permitido pelalegislação brasileira. Em 2000,a fábrica foi vendida para acorporação alemã Basf, que nolocal produz veneno para usona agricultura. Dos 844trabalhadores da antiga unidadeda Shell, cerca de 200permanecem trabalhando namesma fábrica.

“Tenhodificuldade decoordenação,pressão alta,perda dememória eperdaauditiva”.Antônio de Marco Rasteiro,ex-trabalhador da Shell.

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Como a Shell nãoadmitia a contaminação dostrabalhadores, apenas apoluição ambiental, e emvirtude de vários deles teremapresentado doenças gravese muito parecidas entre si, em2001 foi criada uma comissãode ex-trabalhadores,coordenada peloex-funcionário Antônio deMarco Rasteiro. “A versão daempresa não condiz com arealidade, pois os exames queela apresenta para sustentaresse argumento estãoincompletos”, afirma.

Essa posição fez comque a Comissão, apoiada pelaregional de Campinas doSindicato dos QuímicosUnificados, entrasse naJustiça para obrigar a Shell arealizar exames detalhados.O Sindicato entrou com aação em agosto de 2002 enão houve acordo na primeiraaudiência. A Justiça ainda nãoapresentou uma decisão finalsobre o caso. O queacontece, na opinião domédico Roberto Carlos Ruiz,contratado pelo Sindicato, éque os exames realizadospela empresa sãoincompletos: “Ostrabalhadores estãoadoecendo. Entendemos quea consultoria médica pagapela Shell não é isenta equeremos a nomeação deuma junta médica pública quenão esteja ligada nem ao

Sindicato e nem à empresa.Queremos que a Justiçanomeie essa comissão”.

Um dos examessolicitados pelos trabalhadores– e que a empresa não querfazer – é a análise do tecidogorduroso, onde se acumulamos organoclorados a base dedrins (aldrin, eldrin, isodrin edieldrin), que são altamentetóxicos. “A situação égravíssima”, diz Ruiz. “Ostrabalhadores apresentamproblemas de fígado, detireóide, dificuldade decoordenação”. Uma pesquisacientífica realizada por Ruizem 11 ex-trabalhadoresidentificou que 78% delesestão contaminados comalterações de saúde que, noseu entender, são compatíveiscom exposição de produtosquímicos de origemocupacional.

O médico, contudo,reconhece as limitações doestudo: “O universo total é de800 trabalhadores. Fiz o queera possível dentro daslimitações econômicas. Aempresa precisa, agora,examinar o restante dopessoal”. Apenas um dosexames necessários, segundoele, custa cerca de R$ 6 mil.“Há uns 20 exames para fazerdesse nível. E a empresa devese responsabilizar por elesporque os trabalhadores foramcontaminados durante aatividade profissional”.

“A Shell foinegligente,pois tinha

conhecimento dasconseqüênciasdecorrentes da

manipulaçãoincorreta dessas

substâncias”.Osvaldo Bezerra,

diretor de Saúde e MeioAmbiente da Confederação

Nacional dos Químicos.

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Crime ambientalAntônio de Marco Rasteiro,

coordenador da comissão de ex-trabalhadores, é um dos conta-minados: “Tenho dificuldade decoordenação, pressão alta, per-da de memória, perda auditiva”.Rasteiro faz parte de um grupode ex-trabalhadores que entra-ram com ações individuais naJustiça e foram beneficiados poruma ação cautelar que obriga aShell a pagar a ele, mensalmen-te, R$ 600 para custear despe-sas médicas. “É preciso que sejafeita uma avaliação real do esta-do de saúde dos trabalhadores.É só isso o que queremos, quese façam os exames necessári-os para ver quem realmente estádoente”, diz ele.

Arlei Medeiros, diretor desaúde do sindicato dosquímicos, afirma que a Shellnunca demonstrou intenção dedialogar sobre o assunto.Segundo ele, a Shell afronta asociedade ao optar pelocaminho de desqualificar aposição dos trabalhadores. Arleidiz que a empresa cometeu umcrime ambiental por não usaros padrões adequados deprevenção.

Osvaldo Bezerra, doDiesat e da Confederação dosQuímicos, diz que o problema,em grande medida, édecorrente do modelo dedesenvolvimento implantado noBrasil na época em que a Shellinstalou suas unidades: “Nãohavia uma legislação rígida e a

Em Audiência Pública da Comissão deSeguridade e Família da Câmara dosDeputados Federais, foi esclarecido que aempresa contratou clínica especializada emsaúde do trabalhador e toxicologia ocupacional,dirigida pelo Prof. René Mendes. Já foramrealizadas mais de 2 mil consultas para essaspessoas, tendo em vista que, quandonecessário, a clínica permanece acompanhandoos ex-trabalhadores avaliados, do ponto de vistamédico, visando a aprofundar o diagnóstico eorientar as devidas condutas.

Importante ressaltar que essa quantidade de ex-trabalhadores que já foi atendida equivale aaproximadamente o mesmo número de pessoasque lá trabalhava na época do fechamento dafábrica. Corresponde também a mais de 25%do total dos que trabalharam naquela unidadedurante os últimos 17 anos.

As avaliações de saúde permanecem abertaspara os ex-trabalhadores que atuaram naquelafábrica. A clínica especializada do Prof. RenéMendes foi contratada pela Shell para que acondução das avaliações fosse isenta, imparciale qualificada. A clínica, que conta também coma colaboração da médica toxicologista Dra.Fernanda Livani - atua com a retaguarda de 30especialistas em várias áreas da medicina,tanto em Campinas quanto em São Paulo, e doconceituado laboratório Fleury para as análisesclínicas.

Procurada para dar sua versão sobre o caso, aassessoria de comunicação da Shell enviou umanota ao Observatório Social. Os principaisargumentos da empresa são os seguintes:

Palavrada Shell

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empresa foi negligente, pois emsuas unidades em outros paísesela detinha a tecnologia necessáriapara evitar esse desastre”.

Se as graves acusaçõescontra a empresa foremcomprovadas, reparar o dano GLOSSÁRIO

Benzeno e tolueno:solventes amplamenteusados na indústriaquímica e petroquímica.No caso da exposiçãocrônica podem causarleucemia (câncer nosangue).

Organoclorados:compostos orgânicosusados como veneno eque contêm cloro. Por seacumularem noambiente, são de usorestrito ou proibido emmais de 120 países.

Drins: proibidos emquase todo o mundo,pertencem ao grupo depoluentes POPs(Poluentes OrgânicosPersistentes). Sãoreguladosinternacionalmente pelaConvenção de Basel,que regulamenta o lixotóxico.

Tireóide: glândulasituada na região dopescoço e que apresentaimportante papel naformação, renovação edesenvolvimento dascélulas.

Bauru (SP): A Indústria de Acumuladores Ájax é acusada de contaminar osolo e o ar de sua unidade de reciclagem de baterias usadas, que funcionahá 30 anos na região. Pelo menos 88 crianças que moram num raio de umquilômetro da unidade foram contaminadas. A fábrica foi interditada e a em-presa recorreu à Justiça solicitando autorização para reiniciar as operações.

Aterro Mantovani (SP): Entre 1974 e 1987, o Aterro Mantovani, instalado nointerior de São Paulo, recebeu resíduos de 61 indústrias, entre elasJohnson&Johnson, Mercedes Benz, Basf, Texaco e Du Pont. Em 1987 ele foifechado pela Cetesb devido a uma série de irregularidades. Resíduos peri-gosos vazaram para o lençol freático.

Belo Jardim (PE): Uma das maiores fabricantes de baterias para veículos dopaís, a Moura, foi acusada, no início dos anos 90, de contaminar trabalhado-res, solo e água com chumbo. Na época, o Sindicato dos Metalúrgicos dePernambuco denunciou que 62,7% dos operários examinados apresenta-vam contaminação. No final da década, o sindicato informava que a situaçãojá havia melhorado consideravelmente, mas que o problema ainda não tinhasido eliminado.

Belford Roxo (RJ): Numa área de 2 milhões de metros quadrados, a Bayerproduz poliuretanos, vernizes e produtos veterinários. A unidade tambémabriga um incinerador de resíduos perigosos. Em janeiro de 2001, a unida-de foi acusada pelo Greenpeace de contaminar o rio Sarapuí com PCBs(bifenilas policloradas) comercialmente conhecidos como ascarel e metaispesados – como chumbo e mercúrio –, originados na incineração de subs-tâncias poluentes. A empresa alega que não existe contaminação.

Guarujá (SP): Um terreno da Dow Química apresenta contaminação por te-tracloreto de carbono, insumo que a empresa não utilizava desde os anos80. Segundo a empresa, a questão está sendo discutida com a Cetesb. Emjaneiro de 2000, o Ministério Público Federal abriu inquérito para apurar asdenúncias do Greenpeace.

Cubatão (SP): Em 1999, relatório do Greenpeace divulgou que a Rhodiahavia contaminado os rios Cubatão e Perequê, bem como as árvores doentorno. A empresa foi obrigada a restaurar o lençol freático. Em 2001, oMinistério Público instaurou inquérito para apurar contaminação provocadapela Carbocloro Oxypar Indústrias Químicas. Ao longo dos anos, a empresaacumulou três mil toneladas de resíduos mercuriais. A empresa alega quenão é a responsável pelo problema, que estaria na represa Billings, localiza-da nas proximidades.

Jundiaí (SP): A multinacional Solvay, de origem belga, foi acusada peloGreenpeace, em 1999, de poluir a região ao estocar a céu aberto um milhãode toneladas de cal contaminado com dioxinas. A contaminação foi confir-mada pelo Ministério da Agricultura. A empresa se comprometeu a contornaro problema.Fonte: www.greenpeace.org.br

Diversas empresas que atuam no Brasil são acusadas de conta-minar o meio ambiente e a população com elementos químicos. OGreenpeace, em relatório intitulado Crimes Ambientais Corporativos,fez uma relação dos casos mais graves. Conheça alguns:

Crimes ambientaiscorporativos no Brasil

será não apenas uma questão dejustiça para com as vítimas,como também um compromissode responsabilidade socialque precisa ser assumidocom esta e com as próximasgerações.

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Durante duas décadas (70 e 80) a Shell Química, lo-calizada em Paulínia (SP), contaminou não só a área emque estava instalada e seus trabalhadores, mas tambéma região vizinha, com substâncias altamente tóxicas utili-zadas na fabricação de venenos agrícolas, entre elas osorganoclorados aldrin, dieldrin e endrin. Já em 1970, aAgência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos ha-via solicitado a suspensão e o cancelamento de todasessas substâncias. O pedido foi recusado em virtude derecurso interposto pela Shell.

Essas substâncias são mais tóxicas que o DDT, poisnão se degradam, contaminando suprimentos alimenta-res e se acumulando nos corpos humanos e animais. Nadécada de 90, a Conferência de Estocolmo condenou 12desses produtos a serem eliminados do planeta, por suatoxicidade e persistência no meio ambiente. Dessas 12substâncias, quatro eram manuseadas pelos trabalhado-res da Shell na fábrica de Paulínia.

Exames de laboratório realizados pela Prefeitura dePaulínia constataram a intoxicação dos trabalhadores. Umdeles, ex-líder de produção da empresa, apresentava pro-blemas hepáticos, perda de parte da audição e olfato efissuras na tiróide.

Antes de contaminar o meio ambiente, esses pro-dutos contaminaram o ambiente de trabalho e os traba-lhadores. O descaso com a segurança e saúde do traba-lhador levou a contaminação para fora da fábrica, atin-gindo propriedades agrícolas, animais e pessoas das vi-zinhanças.

O caso da Shell Química, em Paulínia, é um exem-plo claro de que não se pode mais abordar a questão domeio ambiente sem que se aborde também o meio ambi-ente de trabalho. A preservação ambiental passa neces-sariamente por processos sustentáveis de trabalho.

Norteados por essa visão do processo, na últimareunião do Conselho curador da Fundacentro, propuse-mos - e tivemos acolhida nossa proposta – a inserção daquestão do meio ambiente nos estatutos da entidade,como mais uma de nossas atribuições. Nossa intenção écolocar todo o know-how adquirido pela Fundacentro nosambientes de trabalho, durante quase quatro décadas depesquisa, como mais uma ferramenta a serviço do desen-volvimento sustentável do País.

O caso Shellna mira do

governo Lula

Nilton Freitas épresidente daFundacentro -

Fundação JorgeDuprat Figueiredo

de Segurança eMedicina doTrabalho -

entidade vinculadaao Ministério do

Trabalho eEmprego.

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Analistas concordam queesta operação trará reflexos im-portantes no desenho do ramonacional de supermercados,mas o impacto só poderá sermedido a partir da configuraçãoda venda. As lojas poderão servendidas em bloco ou em par-tes, para concorrentes nacionaisou grandes grupos internacio-nais. A Ahold já anunciou sua in-tenção de vender a HiperCardseparadamente, mas a forma devenda das redes de supermer-cados por enquanto ainda é puraespeculação.

Se ocorresse a venda embloco para uma rede internacio-nal, como Wal-Mart ou Carrefour,isso poderia implicar em umaexcessiva concentração no se-tor varejista regional, pois a Aholdatualmente detém 30% do mer-cado nordestino, com presençanos nove estados da região. Estapossibilidade alertou os parla-mentares brasileiros e a banca-da daquela região no Senado, in-tegrada por 23 parlamentares,solicitou providências do Conse-lho Administrativo de Defesa Eco-

AHOLD SAI DAAMÉRICA

LATINAParlamentares,

sindicalistas,trabalhadores e clientes

acompanham cominteresse o desenrolar do

processo de venda dasredes de supermercados

Bompreço e G. Barbosa,além da emissora de

cartões HiperCard,empresas do grupo

holandês Royal Ahold. Amultinacional anunciouem abril sua intenção de

se retirar do mercadolatino-americano. Issosignifica na América

Latina 505 lojas trocandode mãos – entre

magazines, hiper, super eminimercados – 156

delas no Brasil. No país,a atuação da rede estáconcentrada na região

Nordeste.

nômica (Cade - órgão do Minis-tério da Justiça do governo bra-sileiro), para evitar a venda paraum único grupo.

Da mesma forma, sindica-tos que representam os empre-gados do grupo se preocupamcom a possibilidade de mono-pólio e também de desempregona região. Para os sindicalistas,a compra da rede por um grupoque já esteja estruturado na re-gião pode significar desempregoem massa. A Ahold empregahoje mais de 22 mil pessoas.

Onde tudo começou

Presente em 27 países daEuropa, Ásia, Estados Unidos eAmérica Latina, a Royal Aholdtem 9 mil lojas e faturou cercade 73 bilhões de dólares no anopassado. O grupo holandês éconsiderado a terceira maiorrede varejista do mundo e noBrasil chegou ao quarto lugarentre as maiores redes de super-mercados, depois do Pão deAçúcar, Carrefour e Sonae.

No início deste ano, a cor-

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E AGORA?

poração divulgou um cresci-mento de 9,2% nas suas vendasem 2002, em relação ao ano an-terior, passando de 66,6 bilhõesde euros para 72,7 bilhões. En-tretanto, depois de anúncios tãopromissores, em fevereiro a em-presa admitia publicamente in-correções nos balanços de 2001e 2002 da filial norte-americana.As receitas da subsidiária U.S.FoodService foram artificialmen-te infladas em pelo menos 500milhões de dólares.

A conseqüência imediatado anúncio das irregularidadesnos Estados Unidos foi a quedanas ações da companhia, quedespencaram na bolsa de Ams-terdã, perdendo 63% do seu va-lor em um único dia. No início deabril, a desvalorização das açõestinha atingido os 80%. Foi no diadois de abril que a Ahold anun-ciou sua intenção de se retirar domercado latino-americano.

Bye Bye Brasil

Os planos da corporaçãoholandesa para deixar de inves-tir em mercados com baixo de-sempenho já existiam antes docomunicado de fevereiro. Entre-tanto, após analisar as conseqü-ências do escândalo contábil nos

Estados Unidos, ela resolveuanunciar metas mais específicaspara reduzir a dívida, superior a12 bilhões de euros.

No Brasil, a Ahold adquiriua rede G. Barbosa com suas 37lojas em 2001, quando teve aoperação questionada peloCade. Em julho de 2002, o órgãoantitruste suspendeu os efeitosdo processo entre as duas re-des. Na ocasião foi fechadoacordo onde Bompreço e G. Bar-bosa se comprometeram a nãomodificar a estrutura logística ede distribuição de produtos, nãodemitir, não fechar estabeleci-mentos e não alterar suas mar-cas até que a fusão fosse julga-da. O processo ainda está tra-mitando.

A Bompreço é citada pelaimprensa como uma das partessaudáveis do grupo. Em 2002,faturou 3,4 bilhões de reais, comcrescimento de 6% em relaçãoao ano anterior. Já a HiperCardteve um faturamento estimadoem 3 bilhões no mesmo ano etem maior probabilidade de sernegociada separadamente.

O resultado da retirada dogrupo holandês do Brasil só po-derá ser medido quando for es-tabelecido o seu ou os seuscompradores. O ranking das

maiores empresas de supermer-cado no Brasil, segundo aABRAS (Associação Brasileirade Supermercados) é compos-ta pelo Pão de Açúcar, Carrefoure Sonae (controladora da redeBig), figurando a Bompreço emquarto lugar. Estas posições po-dem ser alteradas, ou ainda re-ceberem uma nova participação,como a rede inglesa Tesco.

O ABN Amro Bank foi es-colhido para intermediar a ope-ração e deverá receber as pro-postas de compra somente nofinal de julho ou em agosto. Atélá, analistas, parlamentares, sin-dicalistas e trabalhadores conti-nuarão debatendo sobre as pos-síveis conseqüências de umaoperação comercial de tamanhovulto sobre a comunidade local.Esta é uma das característicasda globalização, a atuação dasempresas multinacionais ocorreem escala global, mas as deci-são estratégicas permanecemcentralizadas na matriz: um pro-blema financeiro nos EstadosUnidos levou a matriz na Holan-da a decidir pela venda. Trans-nacionalizar as ações dos sindi-catos – através dos SindicatosGlobais (Global Unions) –, pas-sa a ser uma necessidade im-periosa.

ahold

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O Brasil é o terceiro país do mundo emnúmero de desempregados, com 7,7 milhões depessoas sem trabalho em 1999. De acordo comos dados do IBGE, o país só fica atrás da Índia(quase 40 milhões de desocupados) e da Rússia(9,1 milhões). Estes dados apontam para aimportância do impacto que grandes manobrasfinanceiras, como a retirada do grupo holandêsAhold do país, podem causar.

Nas 119 lojas da rede Bompreço e 37 daG. Barbosa, o grupo emprega hoje mais de 22mil pessoas. Sua atuação ocorre nos noveestados nordestinos, sendo que 40 lojas seencontram em Salvador, onde o comércio é umadas atividades que mais emprega.

Na região metropolitana da capital daBahia, em março de 2003 o IBGE estimou em244 mil o número de pessoas que procuravamtrabalho. Na visão dos sindicalistas, este númeropode aumentar caso a rede de supermercadosseja vendida para outras empresas que jápossuam estrutura para administrar o setor.

Várias dúvidas se colocam a partir doanúncio de venda do grupo. Para o presidente daContracs (Confederação Nacional dosTrabalhadores do Comércio e Serviços, filiada àCUT), Germano Rodrigues de Quevedo, épreciso esclarecer questões como em quemoldes se dará a venda e como será tratadopassivo trabalhista. “Não sabemos se será umavenda de patrimônio ou uma transferência; sehouver o desmanche da empresa, isso poderárebaixar as condições de trabalho”, afirma.

Ministério do Trabalho

Germano Quevedo avaliou que asnegociações com o grupo holandês são difíceis:“Nós esperávamos que ao menos eles

Das Diretrizes da OCDEpara as EmpresasMultinacionais*:

IV. Emprego e relaçõesempresariais

(...)06. Fornecer aos representantes dostrabalho e, quando apropriado, àsautoridades públicas competentes,com a devida antecedência, todas asinformações que digam respeito àprevisível introdução de alterações naatividade da empresa, suscetíveis deafetar, de modo significativo, o modode vida dos trabalhadores, emespecial, no caso de fechamento deunidades que impliquem demissõescoletivas; cooperar com essesrepresentantes e com as autoridades,no sentido de mitigar tanto quantopossível os efeitos adversos dasmedidas em causa; dependendo dascircunstâncias específicas de cadacaso e na medida do possível,fornecer tais informações antesmesmo de ser tomada a decisão final;poderão ser ainda empregados outrosmeios, para proporcionar umacooperação construtiva com vistas aatenuar, substancialmente, os efeitosde tais decisões.

* As Diretrizes da OCDE para asEmpresas Multinacionais sãorecomendações dirigidas pelosgovernos às empresasmultinacionais, que estabelecemprincípios e padrões de cumprimentovoluntário, com vistas a uma condutaempresarial responsável.

QUEREM

PROCESSO DE VENDA

TRABALH

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PARTICIPARadotassem a postura de cumprir com as normasinternacionais, envolvendo os trabalhadores noprocesso”. A alternativa encontrada pelossindicatos e Contracs foi de enviar umdocumento ao Ministério do Trabalho solicitandorespeito e negociação com os sindicatos noprocesso brasileiro de venda.

Outro caminho também é a açãointernacional, principalmente em conjunto com acentral sindical holadesa FNV.

Dirigentes do setor farão parte da comitivade sindicalistas que estará na Holanda para umintercâmbio sindical promovido pela FNV, com oapoio do Observatório Social (veja matéria napágina 17). Na oportunidade, será feita visita àmatriz da Ahold, onde, de acordo com opresidente da Contracs, será solicitadaintervenção no processo brasileiro de venda.

Também no Brasil, os sindicatos decomerciários que atuam na região Nordesteforam convidados pelo Observatório Social paraparticipar de um encontro, nos dias 13 e 14 dejunho, em João Pessoa (Paraíba). Nesteencontro será analisado, com o maior númerode dirigentes possível, o relatório da pesquisarealizada na Ahold e a partir disso ossindicalistas irão debater e planejar a estratégiade atuação frente à venda da rede.

Em todas as frentes

A influência do grupo Ahold nas relaçõestrabalhistas no comércio varejista do Nordeste égrande, seja nas negociações diretas com ossindicatos, seja por seu peso nas organizaçõesempresariais. Mais um motivo para que ossindicatos busquem instaurar um processo deinformação, consulta e de negociação com aempresa sobre o processo de venda e seusimpactos. Além da negociação conjunta, os

dirigentes sindicais também deverão se aliar aoutros setores preocupados, como osparlamentares.

O senador sergipano Almeida Lima está àfrente da bancada nordestina, que jáencaminhou ofício ao Cade buscando impedir avenda em bloco do grupo, tentando evitar ummonopólio. No documento dirigido ao conselho, osenador afirma que depois de assumir ocomando do Bompreço, em junho de 2000, e doG. Barbosa, em 2001, a Ahold “adotou umaprática comercial predatória e cartelizada,maléfica à economia regional”.

O que todos procuram parece ser o menorestrago possível na retirada da multinacional,que permaneceu por três anos no país, ondeinvestiu, empregou, lucrou e tomou parte efetivana sociedade. O debate sobre aresponsabilidade social das empresas que seinstalam no país já começou a fazer parte dapreocupação dos trabalhadores e da sociedadebrasileira. A operação de retirada da Aholddespertou o debate sobre a responsabilidadedas que se retiram.

ADORES

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O Bompreço, assim como a suacontroladora, a Royal Ahold, vem reali-zando um esforço consistente e produ-tivo de maior aproximação com os sin-dicatos de trabalhadores que congre-gam seus associados, buscando amelhoria do diálogo e da colaboraçãomútua.

Na base deste esforço está asempre presente intenção do aperfei-çoamento da relação capital/trabalho,para que seja cada vez mais respeito-sa e colaborativa de ambas as partes,em benefício dos trabalhadores e, si-multaneamente, da própria organizaçãoprodutiva.

Neste sentido, têm sido realiza-das reuniões entre representantes doBompreço e dos sindicatos de traba-lhadores dos nove estados onde a em-presa atua, inclusive definindo-se umapauta de discussões centrada princi-palmente em avanços na área social.O diálogo nem sempre é fácil e nemsempre se consegue superar divergên-cias, mas existe um esforço conscien-te dos atores deste processo para queele seja contínuo e crescente.

Como parte dessas negocia-ções, foram estabelecidos canais rápi-dos, formais e informais, diretos, dossindicatos com a alta direção da Em-presa, para que possíveis problemaspossam ser informados, debatidos ecorrigidos com rapidez.

Também é parte disto a parceriade Bompreço com o Observatório So-cial para a realização da pesquisa so-bre comportamento social e trabalhis-ta. A atual direção do Bompreço vê napesquisa uma oportunidade de identifi-car possíveis pontos de melhoria na suarelação com seus associados, poden-do servir de base para programas dedesenvolvimento dos recursos huma-nos.

Dada a decisão da Royal Aholdde retirar-se dos países da América doSul, inclusive o Brasil, mediante atransferência do controle acionário dassuas empresas, o Bompreço, assim

O Observatório Socialrealizou, em duas

oportunidades, estudos narede de supermercadosBompreço. O primeiro

relatório foi divulgado emjunho de 2001 e está

disponível no sitewww.observatoriosocial.org.br.

Em 2002 foi realizadanova pesquisa, cujorelatório está sendo

analisado pelos sindicatose empresa e deverá ser

disponibilizado paraacesso público

proximamente.Como os estudos

apresentam odesempenho da Ahold noBrasil, em áreas como o

respeito aos direitostrabalhistas, de meio

ambiente e deresponsabilidade social, o

coordenador destapesquisa acredita que este

pode ser um bominstrumento na transição.

“Tendo um quadro daação da Ahold, podemos

buscar junto ao novocontrolador da rede nomínimo a manutenção

deste padrão, semprejuízo social”, diz Clóvis

Scherer.A reportagem do

Em Revista ENVIOU àdiretoria da Bompreço

perguntas sobre suaintenção em incluir

sindicatos e trabalhadoresno processo de venda;

sobre como a Ahold vê apreocupação de

parlamentares com aexcessiva concentração

no setor varejista; e comoela vê sua

responsabilidade socialperante as populações dos

países dos quais está seretirando. Recebemos a

seguinte resposta:

como a Ahold, teve como uma das suaspreocupações prover a correta informa-ção aos seus associados e aos sindi-catos que os representam.

Agindo com transparência, aAhold anunciou sua intenção de ven-der as empresas antes de realizar qual-quer gestão para isto. No Brasil, o Bom-preço promoveu reuniões de informaçãoa todos os associados, reuniu-se comos sindicatos e também realizou am-pla divulgação para a comunidade emgeral. Também criou um boletim eletrô-nico interno, para permanente atualiza-ção dos associados, inclusive com se-ções de perguntas e respostas absolu-tamente abertas e transparentes.

Outra preocupação social estána declaração da Ahold de que trataráda possível venda de forma absoluta-mente responsável em relação aos as-sociados, inclusive considerando osseus interesses durante o processo denegociação. Isto não surpreende, por-que nos sete anos em que a Ahold temtido o controle parcial ou total da Em-presa, sua postura sempre foi ética erespeitosa.

Desta forma, os sindicatos sãoparte do processo e sua atitude positi-va poderá ser muito importante para queo resultado seja otimizado. Isto não sig-nifica obviamente a participação dossindicatos nas negociações propria-mente ditas, pois tratam-se de conver-sas reservadas entre acionistas quedesejam vender ativos e investidoresque desejam comprá-los.

Também não poderia a Ahold res-ponder por ações dos futuros controla-dores em relação aos associados, aossindicatos ou à comunidade em geral.A Ahold pode e se compromete a colo-car estas questões na mesa de nego-ciações, já que as considera relevan-tes, e espera que os futuros controla-dores possam dar continuidade a esteesforço ora realizado pela Empresa.

Raymundo de Almeida, diretor deRelações Institucionais do Bompreço

Ahold afirma tertransparência e

preocupação social

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GUnilever, Philips, Ahold (Bompreço) e Akzo

Nobel são empresas holandesas que possuemunidades produtivas na África do Sul, Brasil, Co-réia do Sul, Polônia, México e República Tcheca.Em todos estes países foram realizados estu-dos sobre a atuação das quatro multinacionais.O passo seguinte é promover um encontro en-tre os dirigentes sindicais, que estarão na Ho-landa entre 22 e 26 de junho.

Lá eles avaliarão os resultados das pes-quisas realizadas e visitarão as empresas. Sul-africanos, brasileiros, coreanos, poloneses, me-xicanos, tchecos e holandeses de cada uma dascorporações também se deverão reunir para ela-borar ações conjuntas e buscar mecanismos deintercâmbio e solidariedade sindical.

Divulgação públicaAs visitas às fábricas acontecerão no dia

24, quando os estudos serão oficialmente entre-gues às empresas. Dois dias depois será reali-zado seminário para divulgação pública dos mes-mos, com a participação da imprensa holande-sa, ONGs, sindicatos, representantes das cor-porações e governo. O diálogo com as multina-cionais e a sociedade, apresentando o resulta-do dos estudos, tem como meta buscar o com-promisso das empresas de melhorar as condi-ções de trabalho nos países onde atuam.

Sete dirigentes sindicais brasileiros e um re-presentante do Observatório Social farão parte dointercâmbio. No dia 14 de maio a delegação se reu-niu em São Paulo para preparar a viagem.

SINDICALISTASEM INTERCÂMBIONA HOLANDA

Globalizar a luta para ver globalizados osdireitos. Este é o caminho inovadorpromovido pela FNV, central sindicalholandesa, que através do projetoMonitor de Empresas inaugurauma nova estratégia de negociaçãocom multinacionais.

As pesquisas no Brasil foram realizadaspelo Observatório. O estudo na Akzo Nobel estáconcluído e já foi entregue para representantesda empresa no Brasil.

Os interessados podem encontrá-lo no sitewww.observatoriosocial.org.br. Já os estudos Uni-lever, Philips e Ahold serão disponibilizados após aentrega oficial às empresas, assim como os rela-tórios das pesquisas realizadas nos outros países.

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Grandes companhiasmineradorasestão sendo

responsabilizadas porsérios danos sociais e

ambientais no estado doAmapá. A poluição teveorigem há meio século.Um depósito de rejeitos

contaminado porarsênio, bário e

manganês coloca emrisco a saúde de

milhares de pessoas. Oproblema é agravado

pela presença de cercade 800 garimpeiros em

uma área com altaconcentração de ouro, oque aumenta a tensão e

pode gerar conflitos.Uma Comissão

Parlamentar de Inquéritoda Assembléia

Legislativa investigou ocaso e apontou os

culpados, mas até omomento pouco foifeito. No centro da

polêmica está amineradora Icomi, quechegou ao estado nadécada de 1950. O

Observatório Social,com apoio da central

sindical norueguesa LO,realizou um estudo e

uma reportagemespecial sobre o

assunto.

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A Amazônia brasileiraabriga um terço das espéciesvivas do planeta. Seu subsolo éigualmente rico: o estoque deminério foi estimado por espe-cialistas em 7,2 trilhões de dó-lares. Existem grandes jazidasde ouro, cobre, cassiterita, titâ-nio, estanho, chumbo, tântalo,zinco, columbita, urânio, nióbio.As grandes mineradoras ope-ram principalmente nos estadosdo Pará e do Amapá.

O Amapá fica em umadas áreas mais preservadas domundo. Só 1% de sua área de140.000 km² foi desmatada.Mais de dois terços do estadosão ocupados por floresta pra-ticamente intacta. As grandesmadeireiras foram impedidasde entrar na região e há uma ri-gorosa fiscalização para evitara extração ilegal. As cooperati-vas extrativistas estão entre asmais organizadas do país econseguem gerar emprego erenda sem destruir o meio am-biente.

Por outro lado, a extraçãomineral tem um perfil bem dife-rente: exploração depredatória,poluição, contaminação daságuas superficiais e subterrâne-as, doença, mortandade de pei-xes, falta de responsabilidadesocial por parte das grandesempresas mineradoras.

Agrava o problema a exis-

Mineraçãopredatória na

Amazôniabrasileira

tência de 800 garimpeiros na áreada Mineração Amapari, localiza-da a 200 quilômetros de Maca-pá, a capital do estado.

Segundo técnicos do go-verno, os garimpeiros estão mui-to próximos de encontrar um veiotão abundante de ouro que a si-tuação poderá brevemente ficarfora de controle, com uma inva-são similar ao que aconteceu nadécada de 1980 em Serra Pela-da, no Pará. Na época, milharesde garimpeiros ocuparam umaárea da empresa Vale do RioDoce e extraíram, em dez anos,41 toneladas de ouro, deixandopara trás problemas ambientaise sociais ainda não resolvidos.

Tragédia ambientalNa Vila do Elesbão, na

área portuária do município deSantana, uma usina de benefici-amento de manganês deixoupara o povo do Amapá uma dasmaiores tragédias ambientais daAmazônia: pilhas e mais pilhasde rejeitos contaminados porsubstâncias perigosas poluem olençol freático e as águas super-ficiais. Exames realizados pelaUniversidade Federal do Pará em1998 constataram que, de 100pessoas que doaram amostrasde cabelo para análise, 98 apre-sentaram taxas de arsênio até 20vezes acima do máximo aceitá-vel. Também na vila do Elesbão,

até agora não foi dada explica-ção convincente para o fato deo número de crianças que nas-cem com anencefalia (sem océrebro) estar entre os maisaltos do mundo.

No centro da polêmicaestá a empresa de mineraçãoIcomi, a primeira a chegar aoAmapá, na década de 1950, eque hoje está se retirando doestado pela porta dos fundos. AIcomi, uma empresa do grupoCaemi, deixa para trás um ce-nário de terra arrasada: não re-solveu o problema dos rejeitos naárea portuária, não admite a con-taminação ambiental e humana,não cumpriu as cláusulas con-tratuais assinadas com a Uniãopara a exploração do manganês,não pagou as multas impostaspelo órgão ambiental.

Em 50 anos de operação,a empresa faturou entre 7 e 10bilhões de dólares e ajudou o gru-po Caemi a ser tornar a segun-da maior mineradora do Brasil,atrás apenas da Vale do RioDoce. Agora, a Icomi se retira doAmapá às pressas, ao consta-tar que sua mina de manganêsnão é mais lucrativa. Uma Co-missão Parlamentar de Inquéri-to, instaurada pela AssembléiaLegislativa em 1999, apurou quea empresa descumpriu uma dasprincipais obrigações do contra-to: 20% do lucro líquido deveria

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A reportagem investigativa Mineração predatória na Ama-zônia brasileira, de autoria do jornalista Marques Casara,foi entregue em maio pelo presidente do Observatório So-cial, Kjeld Jakobsen, ao presidente do Ibama (Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente), Marcus Barros. Lançada ofici-almente no início de junho durante o 8º Congres-so Nacional da CUT, a publicação bilíngüe (por-tuguês e inglês) é complemento de dois estudostécnicos realizados para o Observatório pelo pes-quisador Maurílio de Abreu Monteiro e equipe:A Icomi no Amapá e A Elkem no Amapá. As publi-cações serão utilizadas pela CUT, Confederaçãodos Mineiros, ONGs ambientalistas e outras en-tidades para levar ao conhecimento público a gra-ve situação social e ambiental no estado amazôni-co. A íntegra dos textos está disponível emwww.observatoriosocial.org.br.

ter sido aplicado em benefício da socie-dade local. Segundo a CPI, esse dinhei-ro nunca foi investido em benefício dopovo do Amapá.

Problemas ambientaise trabalhistas

Outras duas minas são alvo de po-lêmica: a Mineração Vila Nova, recente-mente vendida pelo grupo norueguêsElkem a uma empresa brasileira, e a Mi-neração Água Boa, que abandonou a re-gião sem nunca ter pagado as multas ad-vindas de danos causados ao meio am-

biente. A Elkem teve uma passagem me-teórica pelo Amapá. Em 1997, comproudo grupo Caemi a Mineração Vila Nova,que detinha os direitos de exploração docromo. Nas mãos da corporação norue-guesa, o pico da exploração se deu em1999, quando foram retiradas 200 mil to-neladas de concentrado de cromo. Nosegundo semestre de 2001 a produçãofoi paralisada e a empresa decidiu sedesfazer do negócio.

Apesar de sua rápida passagempela Amazônia, a Elkem deixou um im-

bróglio que vai demorar vários anos paraser resolvido: durante o tempo em queesteve à frente da exploração do cromono Amapá, ela terceirizou praticamentetodas as atividades de mineração. Ouseja, foram outras as empresas que, efe-tivamente, retiraram o minério do subso-lo. Essa atitude prejudicou os trabalha-dores que atuaram na exploração do cro-mo sob a gestão da Elkem. As subsidiá-rias contratadas, Tercam Engenharia eDSI Consult, não reconheceram a legiti-midade do Sindicato dos Trabalhadoresnas Indústrias Extrativistas dos Estados

do Pará e Amapá (STIEPA) na defesa dosinteresses dos trabalhadores.

Para as empresas, o sindicato quedeveria representar os trabalhadores – e,por conseguinte realizar a negociaçãocoletiva e receber a devida contribuiçãosindical – era o da construção civil e nãoo dos extrativistas. Elas alegaram ter suaatividade ligada à engenharia e não aosetor extrativista. A Justiça não entendeudessa forma e deu ganho de causa, emprimeira instância, aos extrativistas. Asempreiteiras recorreram e a questão deve

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ainda se arrastar por mais dois ou trêsanos, tempo estimado para o julgamentodo recurso. A corporação norueguesa ale-ga que juridicamente não está envolvidacom essa polêmica: “Não agimos de ma-neira censurável ou ilegal em relação aquestões trabalhistas na Mineração VilaNova”, afirma o diretor da Elkem Partici-pações, Asbjorn Resell Sovik. “Isto é con-firmado pelo fato de que as autoridadesbrasileiras não identificaram nenhuma ir-regularidade em relação ao uso de em-preiteiros na MVN por parte da Elkem”.

Contudo, a atitude da empresa nãoé respaldada pelas práticas da respon-sabilidade social empresarial. Como con-tratante da Tercam e da DSI, a Elkem,mesmo indiretamente, é responsável peloque aconteceu. Ao não pagarem a contri-buição sindical à entidade, as empreitei-ras isolaram os trabalhadores amapaen-ses do apoio do sindicato. Esta postura écontrária aos princípios da Convenção 87da OIT (Organização Internacional do Tra-balho), relativa à liberdade sindical e à pro-teção do direito social.

Além das questões trabalhistas, acorporação teve que pagar pesadas mul-tas em virtude de problemas ambientaisdecorrentes da exploração do cromo e foiobrigada a recuperar a cobertura vegetalda área onde explorou o mineral. Fiscaisdo governo do Amapá dizem que a em-presa conseguiu reverter os problemasambientais de maneira satisfatória.

Poluição e doençaO envolvimento de grandes mine-

radoras com danos à natureza é uma prá-tica corriqueira no Amapá e em toda aregião amazônica. Distante seis quilôme-tros da Vila Nova, a Mineração Água Boateve uma atitude ainda mais irresponsá-vel: simplesmente abandonou a área de-pois de ter sido flagrada poluindo o meioambiente. Não pagou a multa de R$ 30milhões imposta pelo governo do estadoe, de quebra, deixou para trás um dosmais perigosos produtos químicos exis-tentes no mundo: o cianeto de sódio, queem contato com a água libera um gás quemata uma pessoa em poucos segundos.

A empresa abandonou 120 quilos decianeto no canto de um antigo refeitório.Outros 300 tambores cheios da substân-

cia foram encontrados recentemente pe-los fiscais de Secretaria do Meio Ambien-te. Estavam armazenados em um localinadequado, próximo à sede da minera-dora. “Na época, o material foi retiradopela Vale do Rio Doce, que mandou es-pecialistas em materiais perigosos. Ago-ra, dependemos do Exército para retiraro material, pois o cianeto é extremamen-te letal”, informa o chefe da divisão de li-cenciamento da SEMA, Fábio da SilvaBarreiras.

A mineração em larga escala noAmapá começou na década de 1940,quando a pequena empresa Icomi ven-ceu grandes mineradoras em uma con-corrência para a exploração do manga-nês, na época um minério estratégico porser amplamente usado, principalmente nopós-guerra, na fabricação de armas eequipamentos bélicos. O contrato de con-cessão foi assinado em 1947, com o iní-cio das primeiras pesquisas de lavra.Três anos depois, 49% da Icomi já eramda gigante norte-americana BethlehemSteel Company, hoje uma empresa con-cordatária e que vendeu sua parte nosanos 80. Atualmente, a empresa é con-trolada pela Caemi, uma holding de capi-tal aberto com participação em váriasempresas do setor de mineração e infra-estrutura.

Ao longo de meio século, a Icomiretirou cerca de 60 milhões de toneladasde manganês da região denominada Ser-ra do Navio. Essa exploração resultou naprodução de enormes pilhas de rejeitotóxico, hoje depositado a céu aberto e querepresenta um dos maiores problemasambientais da Amazônia brasileira. Naavaliação de especialistas, a Icomi pro-vocou no Amapá uma tragédia ambientalcuja abrangência ainda não se conhecetotalmente.

A extração mineral no estado doAmapá seguiu durante várias décadas nacontramão do respeito ao meio ambientee à comunidade. Grandes empresas reti-raram e exportaram para todo o mundomilhares de toneladas de riquezas. Parao Amapá e a Amazônia, contudo, sobra-ram a poluição, o desrespeito aos con-tratos e uma atitude oportunista e interes-sada apenas no lucro fácil da riqueza quebrota do solo.

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GOVERNO APÓIAPOLÍTICAS

ESPECÍFICAS

Balanço do seminário- O Secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura,

Linneu Carlos da Costa Lima, anunciou que a Contag fará parte doConselho Nacional do Café e do conselho do Funcafé.

- O representante da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do Ministério doDesenvolvimento Agrário (MDA), Arnoldo Campos, anunciou que a Secretariaestá buscando formas para que os agricultores familiares do café tambémpossam renegociar suas dívidas por causa da queda no preço no ano passado.

- O representante da SAF e o secretário de Produção e Comercializaçãoassumiram o compromisso de uma atuação conjunta, para que aspolíticas nacionais do café definidas pelo Ministério da Agriculturatambém beneficiem os agricultores familiares.

- Parlamentares da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados secomprometeram a dar seguimento ao tema do café e a buscar, juntamente comCUT e Contag, formas de mudar o quadro de condições precárias dosassalariados rurais no setor.

- A SAF-MDA está aberta para discutir políticas específicas para osagricultores familiares do café, no que se refere a produção,

comercialização e diversificação.

- O diretor executivo da Abic (Associação Brasileira das Indústrias do Café),Nathan Herszkowicz, propôs uma articulação entre Abic, Contag, CUT e Oxfamno sentido de encaminhar proposta para que a compra de 1 milhão de sacas decafé para a cesta básica seja feita diretamente da agricultura familiar.

A campanha por melhores condições de traba-lho e vida nos cafezais avançou no dia 7 de maio coma realização, em Brasília, do Seminário Nacional so-bre o Café. Promovido na Câmara dos Deputados pelaCUT, Contag (Confederação Nacional dos Trabalhado-res na Agricultura) e Oxfam com apoio do Inesc (Insti-tuto de Estudos Socioeconômicos), o evento reuniu150 pessoas, entre agricultores familiares, assalaria-dos rurais, parlamentares, representantes do governofederal, empresas, ONGs e entidades de classe. Ogoverno se comprometeu com a causa e se mostroudisposto a discutir políticas específicas para a cafei-cultura familiar.

Na oportunidade foi lançada a publicação Cafée Pobreza – Sara Lee: teoria e prática na responsabi-lidade social. Trata-se de um estudo realizado pelo Ob-

servatório Social sobre a multinacional de origem nor-te-americana Sara Lee e sua atuação no Brasil. A pu-blicação, viabilizada numa parceria entre CUT, Con-tag, Oxfam e Coalizão Holandesa do Café, se divideem três partes: perfil da empresa, análise econômicae reportagem sobre as contradições entre os compro-missos sociais da Sara Lee e a realidade em sua ca-deia produtiva no sul de Minas Gerais. O texto estádisponível em http://www.observatoriosocial.org.br/al-manaque/almanaque.htm

Ao final do evento foi entregue a declaração Cafécom Justiça Social ao presidente da Câmara dos De-putados, João Paulo Cunha. Essa mesma declaraçãofoi entregue em Londres no dia 19 de maio à Organiza-ção Internacional do Café e ao Banco Mundial.

CAFEICULTORES FAMILIARES

Presidente daCâmara dosDeputados, JoãoPaulo, recebe odocumento Cafécom justiça social

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Cafécom

justiçasocial

Cafécom

justiçasocial

Cafécom

justiçasocial

Em síntese, as entidades propõem que o governo bra-sileiro, na condição de maior produtor e exportador de cafédo mundo: promova iniciativas no sentido de levar a OIC (Organiza-

ção Internacional do Café) a tomar medidas internacio-nais que fortaleçam os produtores;

adote um Programa Nacional e Estadual de Revitalizaçãoda Cafeicultura na Agricultura Familiar, viabilizando oacesso à assistência técnica, a tecnologias adaptadas, adiversificação, a créditos de investimento e ao custeioe instalação de infra-estrutura necessária à produção ecomercialização, incluindo produção agroecológica ecertificados, além de uma política de preço mínimo;

fortaleça o Funcafé, garantindo a participação dos agri-cultores familiares em sua gestão, investindo parte deseus recursos no Programa Nacional da Agricultura Fa-miliar (Pronaf), focando na melhoria da produção;

implante uma política específica de incentivo à organiza-ção dos agricultores familiares com o objetivo de garan-tir acesso ao crédito, industrialização e mercado, inclu-indo os nichos de comércio justo e solidário;

viabilize instrumento de participação das organizaçõesdos agricultores familiares nos fóruns nacionais e inter-nacionais de discussão e deliberação de políticas para osetor;

elabore, aplique e fiscalize através do Ministério do Tra-balho políticas e leis que garantam o respeito aos direi-tos e condições dignas dos assalariados do café;

garanta a renegociação das dívidas dos produtores decafé da agricultura familiar.

As entidades propõem às grandes empresas proces-sadoras ou que comercializam o café que:

se comprometam a negociar com as entidades represen-tativas dos agricultores familiares a compra direta e ouo apoio e investimentos em programas de capacitaçãoou outros que possam garantir a permanência dos agri-cultores familiares na produção de café, bem como pro-gramas de melhoria da qualidade;

assumam compromissos de respeitar os direitos dos assa-lariados rurais na produção e na indústria, conforme pre-coniza a legislação trabalhista brasileira ou as convençõesinternacionais da Organização Internacional do Trabalho(OIT), negociando com as organizações destes trabalhado-res mecanismos implementação e monitoramento;

divulguem, promovam e apliquem os seus princípios deresponsabilidade social, principalmente diante dos seusfornecedores.

Por fim, o documento sugere aos governos federal,estaduais e municipais, às empresas e às organizações dosagricultores que promovam conjuntamente campanhas depromoção da qualidade e do consumo do café e de um novomodelo produtivo socialmente justo.

O documento Café comjustiça social, subscrito pela

CUT , Contag, Federações dosTrabalhadores na Agricultura,

Sindicatos de TrabalhadoresRurais, Inesc, Observatório

Social e Oxfam, foi entregue nodia 7 de maio ao presidente da

Câmara dos Deputados, JoãoPaulo Cunha. A íntegra está

disponível emwww.observatoriosocial.org.br/

download/cafe_justica.pdf .

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Observatório Social - De que formas o governo federalpretende incentivar as multinacionais que atuam no Bra-sil a adotar ou ampliar políticas de responsabilidade soci-al corporativa? E como pretende atuar em relação às queignoram o tema? Ministro Jaques Wagner - Desde o início do ano, o go-verno brasileiro vem adotando as medidas para a imple-mentação das Diretrizes para Empresas Multinacionaisda Organização para a Cooperação e DesenvolvimentoEconômico – OCDE, especialmente as voltadas à ado-ção dos princípios da governança corporativa. Nesse sen-tido, está constituindo o Ponto de Contato Nacional, soba coordenação do Ministério da Fazenda, do qual partici-pa ativamente o Ministério do Trabalho e Emprego. Ascitadas diretrizes se assemelham a um código multilate-ral de conduta, com ênfase nos aspectos sociais, têmcaráter voluntário para as empresas e visam comprome-ter suas operações com as políticas governamentais, for-talecer o seu relacionamento com a sociedade onde ope-ram, melhorar o clima para o investimento externo e au-mentar a contribuição dessas empresas para o desen-volvimento sustentável.

OS - Como o governo planeja fortalecer as convençõesda OIT no país? Há projetos específicos para reforçar ocumprimento das convenções 100 e 111, que tratam deigualdade salarial entre homens e mulheres e de não-discriminação?Ministro - O governo brasileiro dá fundamental importân-cia ao cumprimento dos instrumentos normativos da OIT.Somos um dos Estados Membros daquela Organizaçãoque mais Convenções ratificou e mantém compromissopermanente de aplicá-las. Consideramos o diálogo soci-al mecanismo que permite, com a participação dos ato-res sociais, alcançar os objetivos traçados pelas normasinternacionais. O Ministério do Trabalho e Emprego jápossui programa especifico de implementação das Con-venções 100 e 111 da OIT – o Programa Brasil, Gênero eRaça, que tem como objetivo principal conscientizar esensibilizar a sociedade sobre a existência das práticasdiscriminatórias e seu combate. A meta é intensificar asações levadas a cabo pelo Programa Brasil, Gênero eRaça, por meio dos 74 Núcleos de Promoção da Igualda-de de Oportunidades e de Combate à Discriminação. Pre-tendemos aumentar para uma centena esses núcleos econdenar com veemente a existência de “listas negras”com práticas discriminatórias. As que mais sofrem sãoas mulheres, principalmente, as grávidas. Não vamos tercomplacência com as restrições às mulheres negras,nem com o assédio sexual, e muito menos com os por-tadores do HIV, de deficiência ou que enfrentaram reabi-

litação. Estes tipos de discriminação, assim como ou-tros, resultam em demissão arbitrária e ilegal ou à cria-ção de ambiente hostil no local de trabalho, como formade forçar pedidos de demissão. O foco da atuação dosnúcleos, além do recebimento e à apuração de denúnci-as de práticas discriminatórias, é o da promoção da igual-dade de oportunidades e de tratamento nas relações detrabalho, em parceria de entidades da sociedade civil ede outras esferas governamentais, na implementação deações afirmativas.

OS - O Brasil vai ratificar a Convenção 87, que trata deliberdade sindical? Ministro - A Convenção 87 que trata da Liberdade Sindi-cal já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Jus-tiça do Senado. A posição do ministério do Trabalho éfavorável à sua ratificação mas essa decisão envolve ne-gociação com as entidades máximas de representaçãodos trabalhadores e dos patrões. Há 54 anos, desde 1949,o pedido de ratificação desta Convenção tramita no Con-gresso Nacional, o que mostra a polêmica que domina otema. Mas a intenção é retomar o debate sobre a suaratificação. Entretanto, para que tal aconteça é neces-sário reformar a Constituição, pois o artigo 8º inciso 2 daCarta Magna garante a unicidade sindical do ponto devista territorial. A discussão sobre a ratificação tambémdeverá ser um dos principais temas de debate do FórumNacional do Trabalho, do qual participarão representan-tes do governo, Centrais Sindicais e entidades patronais.Sem um amplo processo de negociação dificilmente essaquestão será aprovada no Congresso. Após a etapa denegociação no Fórum será iniciada a fase de entendi-mento entre os parlamentares.

OS - Que projetos de cooperação o governo pretende de-senvolver com o recém-criado Grupo de Apoio da OIT?Ministro - O governo brasileiro deseja contar com a OITcomo parceira para financiamento de vários programasde geração de emprego e renda, além de ajuda para arealização do Fórum Nacional do Trabalho. Entre os pro-gramas estão os de combate à informalidade e a favor daassinatura da Carteira de Trabalho, o Primeiro Empregopara a Juventude, a Promoção do Diálogo Social e oCombate ao Trabalho Escravo e Degradante, além daErradicação do Trabalho Infanfil.

OS - Que medidas serão tomadas em curto, médio e lon-go prazo para combater o trabalho escravo no país?Ministro – O Plano Nacional para Erradicação do Traba-lho Escravo foi lançado em 11 de março desse ano, re

EEm entrevista exclusiva ao Observatório Social EmRevista, o ministro do Trabalho e Emprego, Jaques

Wagner, expressa a posição do governo federal sobre temasque estão na ordem do dia dos debates brasileiros.

Combate ao trabalho infantil e ao trabalho escravo,medidas contra a discriminação de gênero e de raça,

programas contra o desemprego e mudanças na legislaçãotrabalhista estão entre os assuntos abordados.

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MINISTRO DO TRABALHO:

“REFORMA VAIASSEGURAR DIREITOS”

Os Grupos Especiais de Combate ao Trabalho Infantilexistem em todas as Delegacias Regionais do Trabalho,que coordenam essa ação, feita em articulação com oMinistério da Assistência e Promoção Social. O MTEparticipou da Campanha Especial de Combate à Explo-ração Sexual de Crianças e de Adolescente durante oCarnaval desse ano, na Bahia, Pernambuco e Rio deJaneiro.

OS - O Sr. defende que, no atual cenário de restriçãofiscal, o governo dê ênfase em políticas ativas de gera-ção de emprego e renda. O que o Ministério pretenderealizar nesse sentido? Que recursos estão disponíveis?Ministro – Estamos reestruturando os Programas deGeração de Emprego e Renda, financiados com recur-sos do FAT. Estamos lutando para descontingenciar osrecursos. Junto aos principais agentes financeiros (BN-DES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, e Ban-co do Nordeste) teremos uma política de direcionamentodos recursos, apoiando fortemente os setores intensivosno uso de mão-de-obra. Vamos promover o adensamen-to das cadeias produtivas, apoiar a agroindústria, no âmbitoda agricultura familiar, incentivar a incorporação dos se-tores sociais excluídos do sistema financeiro tradicional,reforçar o papel do crédito produtivo popular como meca-nismo de inclusão social e contribuir para o crescimentodas exportações. O Proger, urbano e rural, o Pronaf, oPró- Trabalho e FAT Habitação realizaram, de janeiro amarço desse ano, 121 operações, que resultaram eminvestimentos no valor de R$ 606 milhões.

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mulando totalmente a estratégia de ação do governo pas-sado e tornando mais rigorosa a atuação dos fiscais.Além das operações realizadas pelas Delegacias Regio-nais do Trabalho, o Grupo Especial de Fiscalização Mó-vel do MTE executou, até 7 de maio, 22 operações em53 propriedades rurais situadas nos estados do PA, MT,MA, TO, BA e SP, beneficiando 4.212 trabalhadores queforam libertados da condição análoga à escravidão. Fo-ram pagas a estes trabalhadores R$ 1,94 milhão em ver-bas trabalhistas. O governo anterior levou sete anos parachegar a esse resultado. É uma luta intensa que precisado envolvimento de todos, governo, judiciário, legislativoe a sociedade. Acredito que iremos conseguir erradicaressa chaga da sociedade antes do final do governo.

OS - E para eliminar o trabalho infantil?Ministro- Da mesma forma, intensificamos a luta pelaerradicação do Trabalho Infantil no país. Já na primeirareunião realizada pela Comissão Nacional para Erradica-ção do Trabalho Infantil, no dia 23 de maio, foi definidoum novo plano nacional que tem como meta intensificaro combate ao trabalho infantil. O número de crianças eadolescentes que trabalham e não freqüentam a escolaainda é preocupante, mas o MTE está intensificando suasações. No primeiro trimestre desse ano, a fiscalizaçãodo Ministério alcançou 33.249 trabalhadores com idadeinferior a 18 anos, no setor formal da economia e 1.316no setor informal. Do total, 1.627 estavam abaixo do limi-te legal para o trabalho, de 16 anos, sendo um terço nosetor informal.

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OS - Esta nova ênfase implica mudanças significativasem políticas passivas como o seguro-desemprego?Ministro – Vamos executar políticas ativas de criação deemprego e dar novo formato às que aí estão. Nenhumamudança vai mexer em direitos adquiridos dos trabalha-dores, como o seguro-desemprego. Mas ele pode seraperfeiçoado para ser um instrumento intermediário deum conjunto de políticas de emprego e renda. O Conse-lho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador -Codefat está estudando mudanças para criar o SistemaPúblico de Emprego e reformatando os principais progra-mas do FAT. A idéia central é de concedermos ao traba-lhador chances dele ser recolocado no mercado de tra-balho mais rapidamente, depois de ter passado por pro-gramas de requalificação profissional.

OS - Que mudanças o Ministério defende para o FAT e porquais motivos?Ministro – Desde que assumimos o Ministério do Traba-lho, uma das prioridades foi promover uma nova gestãonos programas e recursos do FAT, contando com apoiode empresários, trabalhadores e demais órgãos do go-verno. A intenção é realizar uma reformulação geral detodos os programas hoje existentes no FAT. A decisãode reformatar os programas foi submetida e aprovada emreunião do Codefat em (19/02/03) com todos os repre-sentantes das centrais sindicais. Estamos ainda redire-cionando a aplicação do dinheiro do fundo através deresolução, que fixou critérios para a distribuição dos re-cursos. O principal é repassar recursos de acordo commetas que comprovem a geração de emprego e renda.Insistimos ainda na criação do Sistema Público de Em-prego, integrando todos os programas. E para isso rea-lizaremos novos convênios com os estados e as cen-trais sindicais. Em janeiro encontramos a existência devários sistemas paralelos e fragmentados de programasdo FAT, que vinha desempenhando fraco papel de repas-sador de recursos sem um acompanhamento mais rígi-do de suas ações. Agora teremos maior eficiência naaplicação dos recursos nos programas. Sabemos que ageração de empregos vai decorrer, principalmente, daretomada do crescimento econômico de forma sustentá-vel, mas é preciso também solidificar e integrar as diver-sas políticas públicas de emprego. Para isso, vamosampliar a representação dos atores sociais no FAT, hojecada segmento tem 4 representações e ao mesmo tem-po tornar obrigatória em todos os municípios e estadosos Conselhos de Emprego na gestão participativa do novoSistema. Os maiores beneficiários do novo sistema se-rão os jovens (1º emprego), pessoas acima de 40 anos,mulheres, afrodescendentes e portadores de deficiência.

OS - As estatísticas de desemprego entre os jovens sãoo dobro da média nacional. O Sr. acredita que a renúnciafiscal será um atrativo suficiente para que haja amplaadesão das empresas ao programa Primeiro Emprego?Ministro - O projeto programa do Primeiro Emprego daJuventude, uma das bandeiras da campanha eleitoral dopresidente Luiz Inácio Lula da Silva, pretende a um sómomento criar oportunidades de trabalho para os jovens,como também reduzir a participação destes na crimina-lidade. Hoje a taxa de desemprego entre os jovens équase do dobro da taxa de desemprego em geral. Atual-mente, os jovens representam cerca de 47% do total

dos desempregados do país. São 3,4 milhões de jovensdesocupados, a maioria oriundos de famílias pobres. Poreste motivo o alvo do programa será o jovem de 16 a 24anos de baixa renda e escolaridade que enfrentam maisdificuldade de inserção no mercado de trabalho. Por isso,está em estudos dar maior incentivo às empresas queempregarem jovens afrodescendentes, mulheres e por-tadores de deficiência. O governo repassará R$ 200,00diretamente às empresas que aderirem ao programa coma criação de posto de trabalho que caracterize primeiroemprego. De seis meses a um ano, a empresa que ade-rir ao programa será responsável pelo pagamento de umsalário mínimo. Os incentivos ainda estão sendo defini-dos pelo governo. Mas para recebê-los, a empresa preci-sará assinar termo de adesão ao programa. Não poderáter demitido nos três meses anteriores e terá que se com-prometer a não reduzir postos de trabalho para compen-sar a vaga criada. Terá que respeitar os direitos trabalhis-tas, exigir a frequência escolar do jovem, e habilitar-se naRede de Atendimento do Sine/ Ministério do Trabalho.

OS - O Sr. defende uma reforma trabalhista consensual,fruto do acordo entre os poderes e todos os envolvidosno mundo do trabalho. Que pontos dessa reforma sãonegociáveis pelo Executivo e que pontos são inegociá-veis?Ministro – A Reforma Trabalhista que apresentaremosao Congresso Nacional não irá representar o baratea-mento da mão-de-obra. Se for para fazer leilão de escra-vos, não contem comigo. O Governo não pretende des-respeitar direitos trabalhistas nem fazer reforma para ba-ratear os custos da mão-de-obra. A idéia é aprimorar alegislação resguardando as conquistas constitucionais.Somos contra a flexibilização da CLT, e por isso, retira-mos do Congresso Nacional o projeto do governo passa-do que foi aprovado sem discussão mais ampla entretodos os envolvidos no mundo do trabalho. Porém, acha-mos que a CLT precisa ser simplificada para facilitar osentendimentos das relações capital e trabalho. Tambémquero deixar claro que jamais a multiplicação das parce-las de pagamento do 13º salário. O trabalhador que jáganha tão pouco não pode ter redução da sua massasalarial. Estamos ultimando os preparativos para debateras reformas sindical e trabalhista no Fórum Nacional doTrabalho, que contará com a participação de represen-tantes dos trabalhadores, empresariado e do governo. Adata da instalação será fixada pelo governo.

OS - Qual é a sua opinião sobre o trabalho desenvolvidopelo Observatório Social?Ministro - As atividades desenvolvidas pelo ObservatórioSocial estimularam a pesquisa como uma valiosa e fun-damental ferramenta para o acompanhamento e consul-ta das tendências do mercado de trabalho e das ativida-des sindicais. Assim os trabalhos de acompanhamentodesses setores envolvidos no mundo do trabalho terãomais qualidade e um melhor parâmetro de compreen-são. Era a publicação que faltava para uma análise maisprofunda do comportamento de empresas nacionais eestrangeiras, além das ações em defesa dos direitos dotrabalhador e da articulação internacional entre os sindi-catos. Constatamos o sucesso da iniciativa desde a suaprimeira publicação, no 2º Fórum Social Mundial, apon-tando uma nova visão para a conquista de melhorias tra-balhistas e sociais. Estão todos de parabéns.

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Um grande mérito doestudo realizado pelo Obser-vatório Social no ABN AmroBank é ter contribuído paraampliar a solidariedade interna-cional, avalia o presidente doSindicato dos Bancários deSão Paulo, João Vaccari Neto.O Sindicato representa maisde 100 mil bancários brasilei-ros, entre eles 60 mil associa-dos. Ele lembra que a solidari-edade é um valor presentedesde a fundação da própriaCUT (Central Única dos Traba-lhadores). No Brasil esse tematem avançado bastante a par-tir da filiação da CUT, em 1992,à CIOSL (Confederação Inter-

ABN AMRO BANK

DIÁLOGO PRECISAAVANÇAR

O Observatório Social entregou em abril à Confederação Nacional dosBancários (CNB), ao Sindicato dos Bancários de São Paulo e Região e àdiretoria do ABN Amro Bank o resultado do estudo sobre a atuação, noBrasil, desta transnacional de origem holandesa. Em junho será feita adivulgação oficial ao público, em evento a ser agendado na capital paulista.Na opinião dos dirigentes sindicais, a pesquisa contribuiu para fortalecer oslaços internacionais entre os trabalhadores e para uma melhoria na relaçãocom o Banco. Entretanto, os bancários enfatizam que o diálogo com aempresa precisa levar a avanços concretos ainda este ano.

nacional das OrganizaçõesSindicais Livres), que congre-ga trabalhadores do mundo in-teiro.

“Temos uma relação an-tiga com as entidades sindicaisda Holanda”, diz Vaccari. “Há

pelo menos meia década aFNV [maior central sindical ho-landesa] contribui com projetosde pesquisa, debates commultinacionais e outros proje-tos. Como as atividades doABN Amro Bank no Brasil sãorecentes, ainda não temos co-nhecimento pleno sobre o fun-cionamento da empresa. Masqueremos e devemos partici-par de uma política de conquis-ta de direitos dos trabalhado-res e de denúncias sobre osdesmandos que o ABN temcometido”.

Vaccari afirma que o es-tudo realizado pelo OS serviráde exemplo positivo nas nego-

ciações com outros bancos,ao ampliar o debate sobre sa-lários, demissões, saúde esegurança, planos de metas,condições de trabalho e ado-ção de novas tecnologias. Apesquisa contou com a cola-

boração da empresa, que afir-ma ter colocado a responsabi-lidade social e a sustentabili-dade como prioridades estra-tégicas (veja reportagem decapa no Observatório SocialEm Revista nº 2, disponível emwww.observatoriosocial.org.br).

Sétimo colocado noranking brasileiro de bancospor ativos (R$ 31,8 bilhões nofinal de 2001), o ABN AmroBank emprega mais de 22 miltrabalhadores em 1.664 agên-cias e postos de atendimentoem todos os estados do país.“Temos tido mais respeito aosdirigentes sindicais nos locaisde trabalho, mas é precisoavançar nas conquistas”, diz opresidente do Sindicato. “Res-ponsabilidade social só vaiexistir quando diminuir a ga-nância do banco. Senão, serãoapenas leves preocupaçõessociais”.

ACORDOINTERNACIONAL

A aproximação entrebancários brasileiros e holan-deses permite vislumbrar, emum futuro próximo, a constru-ção de um acordo internacio-nal entre os trabalhadores e a

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abn a

mro

bank

direção do ABN Amro Bank, dizMarcelo Gonçalves, dirigentedo Sindicato dos Bancários deSão Paulo e funcionário doBanco desde 1991. Ele lembraque os bancários são uma daspoucas categorias de trabalha-dores brasileiros que conquis-taram um acordo nacional. Opróximo passo é expandir essaconquista para além das fron-teiras, já que a empresa tematuação transnacional.

Para isso, é importantereduzir as distâncias idiomáti-cas – aprendizado do inglês –e culturais. “Precisamos co-nhecer melhor a história daHolanda e do movimento sin-dical holandês, para que sepossa evoluir na articulaçãointernacional e manter um bomrelacionamento”, ressalta.Uma publicação lançada em ja-neiro pelo Observatório SocialEuropa e pelo Observatório So-cial Brasil visa contribuir paraatender essa necessidade: Sin-dicalismo no Brasil, na Holandae na Alemanha apresenta a his-tória dos sindicatos, do modelosindical e da participação dos tra-balhadores alemães, brasileirose holandeses.

Marcelo Gonçalves re-

corda que relacionamento dostrabalhadores com o ABNAmro era muito difícil, mas quea diretoria do banco começoua sinalizar uma mudança depostura a partir de 2002: “O di-álogo avançou quando o Ban-co começou a ser pesquisadopelo Observatório com baseem parâmetros internacionaisaos quais a empresa aderiu equando o Sindicato começou

a utilizar como estratégia oconceito de responsabilidadesocial”.

Um dos problemas quepersistem é a dificuldade deacesso dos dirigentes sindi-cais aos principais locais detrabalho, onde há grandes con-centrações de bancários. Essedireito está previsto na Con-venção n° 87 da OIT (Organi-zação Internacional do Traba-lho), relativa à Liberdade Sindi-

cal e à Proteção do Direito Sin-dical. O Sindicato foi informadopela diretoria do ABN Amro quehá um estudo em andamentopara permitir esse acesso.

Outra dificuldade é a fal-ta de acesso dos representan-tes dos trabalhadores a dadossobre os assuntos em pautanas negociações. “O Bancoprecisa perder o medo de tra-zer informações ao movimen-

to sindical”, diz. “Por exemplo,em relação aos problemas desaúde, todos só têm a ganhar,pois a médio e longo prazo otrabalho conjunto de prevençãoreduz os custos”. Gonçalvesavalia que o ABN Amro temdemonstrado seriedade e inte-resse genuíno em aprofundaras negociações. Mas ressaltaque não basta dialogar: “Pre-cisamos obter avanços con-cretos ao longo deste ano”.

·SOBRECARGA DE TRABALHOA jornada é de 6 horas, mas há diversos funcionários fazendo 8 horas ou mais.

·PLANOS DE CARGOS E SALÁRIOS E DE PARTICIPAÇÃO NOS RESULTADOSOs trabalhadores reivindicam mais participação no processo decisório.

·ACESSO DOS DIRIGENTES SINDICAIS AOS LOCAIS DE TRABALHOEsse direito previsto pela OIT não é plenamente exercido na empresa.

·ACESSO A INFORMAÇÕES SOBRE TEMAS RELATIVOS AOS TRABALHADORESA postura de responsabilidade social requer respeito ao Sindicato comolegítimo representante dos interesses dos bancários.

·SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHOAs lesões por esforços repetitivos e os distúrbios psicológicos são problemas sérios naempresa.

ALGUNS TEMAS A AVANÇAR

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Grupo Hydro Agri, Kvaerner, Elkem ASA, Norske Skog, Telenor e Nera. Sãoempresas de energia, agricultura, papel e celulose, minerais, petroquímica e teleco-municações. Em comum entre elas, o capital norueguês e sua presença no Brasil.Durante o ano de 2001, o Observatório Social elaborou estudo sócio-econômico dasempresas norueguesas no país, que pode ser encontrado no sitewww.observatoriosocial.org.br.

A pesquisa foi solicitada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores daNoruega (LO Noruega) e desenvolvida em parceria com o Desep/CUT (Departamento

de Estudos Sócio-Econômicos ePolíticos). Questionários aplicadosjunto aos sindicatos e empresas,sites e fontes secundárias permiti-ram traçar um perfil das corporaçõese de sua atuação no Brasil.

O estudo abordou superfici-almente a questão ambiental, masos pesquisadores alertam que estesetor econômico é grande poluidore responsável por graves problemas

de saúde profissional. “Assim recomenda-se dar destaque a esse tema na continui-dade”, aconselham. As relações trabalhistas mereceram mais destaque, e a tercei-rização da mão-de-obra aparece como um dos principais problemas, concentradaprincipalmente no setor mineral e de papel e celulose. Além da precarização dascondições de trabalho, a terceirização também é utilizada como forma de prescindirdo sindicato e da figura da convenção ou acordo coletivo.

GRUPO PAPEL E CELULOSE

O grupo Norske Skog está en-tre os maiores produtores globais depapel. São 27 unidades em 16 paí-ses. No Brasil, atua através das sub-sidiárias: Norske Skog do Brasil, Nor-ske Skog Klabin Comércio e Indús-tria, Fletcher Challenge Produtos Flo-restais, Pisa Papel de Imprensa e PisaFlorestal. A Lorentzen atua em diver-sos setores de atividade econômica,como transporte e logística, química,petroquímica, papel, celulose e infor-mática. Tem ações das empresas:Companhia de Navegação Norsul,Carboindustrial, Carboderivados, VeraCruz Agroflorestal, DSND Consub,Vertex Participações e LorentzenEmpreendimentos. A Aracruz foi umdos principais objetos de análise doestudo. Trata-se da maior empresa decelulose de mercado do Brasil e foidela que apontaram os maiores pro-blemas sócio-trabalhistas.

GRUPO QUÍMICO E MINERAÇÃO

A multinacional Elkem ASA é a maior produtora mundial de microsílica. Seusprincipais produtos são metal de silicone, alumínio, carbono e microsílica. Está presenteem 12 países. No Brasil, possui duas empresas na área carboquímica: a Carboindustriale a Carboderivados. Os terceirizados somam 55,5% do total de empregados na Elkem e

estes trabalhadores recebem 3,5 vezes menos que os contratados.

GRUPO DE EQUIPAMENTOSE SERVIÇOS DE

COMUNICAÇÃO MÓVELFundada em 1855,

como prestadora de serviçosde telegrafia, a Telenor

vincula-se ao processo dedesenvolvimento das

telecomunicações naNoruega. No Brasil, atua

principalmente na área decomunicação via satélite.

O grupo Nera ASA élíder no desenvolvimento e

fabricação de produtosdestinados à comunicação via

satélite e comunicação deterra via rádio. Atua no Brasildesde 1995 como fornecedor

de equipamentos paraoperadoras de

telecomunicações eempresas corporativas.

GRUPO DE EXTRAÇÃOE REFINO DE ALUMÍNIO,

ADUBOS, FERTILIZANTES

O grupo Norsk Hydroenvolve a empresa HydroAlumínio Acro e a Hydro doBrasil (Mineração Rio doNorte, Alunorte e AdubosTrevo). É a terceira maiorprodutora mundial dealumínio. No Brasil, suasunidades operam nas áreasde agricultura e metais leves.A Kvaerner é um grupo deengenharia e construção.Opera no Brasil desde 1978,no Paraná, com a divisão depapel e celulose. Conta comparcerias e alianças globaiscom o grupo Lorentzen(Aracruz Celulose) e com aNorske Skog.

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akzo

nobel

AKZO NOBEL

No início de 2003 o Ob-servatório Social divulgou a pes-quisa realizada em algumasunidades do grupo Akzo Nobel.Este foi o primeiro de quatro es-tudos que estão sendo realiza-dos em empresas holandesasque atuam no Brasil, como par-te do projeto Monitor de Empre-sas, desenvolvido pela centralsindical FNV (Federatie Neder-landse Vakbeweging) com a par-ceria do Observatório.

A pesquisa sobre a Akzoestá disponível no sitewww.observatoriosocial.org.br eaponta alguns problemas,como a diferença de tratamen-to dado aos funcionários dasdiversas unidades. De acordocom trabalhadores e sindicalis-tas entrevistados, unidadescomo a Proquímio são uma es-

Tratamentodiferente nas

unidades

Perfil da Akzo Nobel

pécie de “segunda linha” tantonas condições de trabalho e re-lacionamento como quanto aosbenefícios.

Na Akzo, mulheres apre-sentam média salarial mais bai-xa que a dos homens em fun-ções semelhantes, assim comoocupam menos cargos de che-fias. Os negros estão pratica-mente fora das chefias e osportadores de necessidadesespeciais são parcela muitopequena de mão-de-obra.

Os sindicatos tambémencontram dificuldades, princi-palmente no fluxo de informa-ções, seu conteúdo e morosi-dade. Alguns trabalhadores afir-maram que existe um banco dehoras sem que tenha havidoparticipação do Sindicato nasua definição.

- Está presente em 80 países;

- Sua sede está em Arnhem – Holanda;- Em 2001 empregava 67.800 trabalhadores;

- Atua em três setores: farmacêutico, químico e de revestimentos;- O conglomerado ocupa o 12º lugar no mundo entre as indústrias químicas;

- Iniciou suas atividades no Brasil em 1940, através da empresa Organon;- São cinco unidades farmacêuticas no país, nos estados de São Paulo e Ceará;

- No setor químico são quatro unidades, todas em São Paulo;- No Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul seencontram as cinco fábricas de revestimentos (tintas).

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Observatório Social - Deque forma vêm evoluindo asarticulações internacionaisda CUT em defesa dostrabalhadores após decisãoda Central de se filiar àCIOSL em 1992?

José Olívio - Com o fimdo mundo bipolar a década de 90trouxe mudanças nos centros dedecisão política, enfraquecendoo poder dos estados nacionais.Ao se filiar à CIOSL em 1992, aCUT reconhecia a importância docenário internacional para a açãosindical e vem agindo em conse-qüência. Ajudamos a construir osespaços institucionais do Merco-sul, como o Fórum ConsultivoEconômico e Social, a ComissãoSócio-Laboral do Mercosul e aCoordenadora de Centrais Sindi-cais do Cone Sul. Reconhece-

Na década de 1990houve, de maneira geral,

um retrocesso naaplicação dos direitostrabalhistas no Brasil.

Por outro lado, aspressões sociais levaram

a diversas conquistas,como a adoção de

códigos de conduta porcompanhias

multinacionais. Aavaliação é de José

Olívio Miranda Oliveira,membro do Conselho

Diretor do ObservatórioSocial. Desde junho de

2002 esse engenheirocivil de 55 anos ocupa ocargo de secretário geral

adjunto da CIOSL(Confederação

Internacional dasOrganizações Sindicais

Livres), entidade quecongrega 231 centrais

sindicais de 150 países.José Olívio aborda, entre

outros temas, asmudanças na legislação

trabalhista, aresponsabilidade social

corporativa e aarticulação internacional

dos trabalhadores pelocumprimento dos

direitos. A íntegra destaentrevista está disponível

em http://www.observatoriosocial.org.br/

almanaque/entrevista-olivio.htm

“BRASIL É“BRASIL É

“O Brasil é réuassíduo da Comissão

de Aplicação deNormas daConferência

Internacional doTrabalho, instânciamáxima da OIT”.

mos a importância da OIT epassamos a integrar o Conse-lho de Administração, a partir de1993. Ao mesmo tempo segui-mos com a nossa articulaçãocom a sociedade civil, partici-pando da Aliança Social Conti-nental e das mobilizações emtorno do tema da globalização.Ajudamos a construir o FórumSocial Mundial, participando desua organização e ampliando apresença sindical, com duasedições (2002 e 2003) do Fó-rum Sindical Mundial. Sempreenvolvendo e contando com oapoio da CIOSL e da ORIT, queé nossa regional para AméricaLatina. Hoje temos convicçãodo acerto dessa opção, quevisa participar e influir nos es-paços institucionais a partir damobilização dos trabalhadores.

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A

RÉUASSÍDUO NAOIT”OS - Como o Sr. avalia aaplicação das convençõesda OIT (OrganizaçãoInternacional do Trabalho)pelas empresastransnacionais que atuamno Brasil?

JO - O Brasil tem uma le-gislação trabalhista bastante de-talhada, que incorpora muitasconvenções da OIT, mas nãoexiste uma tradição de uso dasnormas internacionais pelos ad-vogados trabalhistas ou pelosjuízes nos Tribunais do Trabalho.De um modo geral, na décadade 90 constatamos um retroces-so em termos de direitos traba-lhistas. A competição e o mer-cado foram assumidos comovalores supremos pelos gover-nos da América Latina, na estei-ra do Consenso de Washington.Claro que nas empresas maio-res, como as multinacionais e asgrandes empresas estatais,com sindicatos mais organiza-dos e base mais conscientiza-da, houve maior resistência. Masa pior face dessa questão é o au-mento da informalidade, que estápresente na cadeia produtiva demuitas multinacionais. Aindaestá em curso uma ofensiva doempresariado pela flexibilizaçãode direitos, que utiliza inclusiveo aumento da informalidadecomo argumento.

OS - Que convenções daOIT são mais descumpridase quais têm aplicação maisdisseminada?

JO - Todo ano a Confe-rência Internacional do Traba-lho, instância máxima da OIT,constitui uma comissão tripar-tite para avaliar a aplicação dasNormas Internacionais do Tra-balho. A cobrança é para ospaíses que ratificam as conven-ções e o Brasil é um dos paí-ses com mais convenções ra-tificadas. É um fato aparente-mente positivo, que pode sernegativo se a ratificação não foracompanhada pelo cumpri-mento dos dispositivos dasconvenções. Nosso país é umréu assíduo na Comissão deAplicação de Normas da Con-ferência. Freqüenta também oComitê de Liberdade Sindical,que analisa as reclamações re-ferentes às convenções nº 87(Direito de Sindicalização) e nº98 (Negociação Coletiva). Amaior freqüência de reclama-ções dizem respeito a negoci-ação coletiva (C98), discrimina-ção no emprego (C111) e tra-balho forçado (C29). Mesmosem ratificar a de liberdade sin-dical (C87), também aparece odesrespeito à liberdade de or-ganização sindical, em funçãoda unicidade sindical e da inter-

ferência do judiciário trabalhis-ta nas relações de trabalho.Esta convenção trata de umprincípio fundamental da OIT,inscrito em sua Constituição,que deve ser respeitado, inde-pendente da ratificação. Paratratar de um aspecto positivo,podemos lembrar a Convenção103, de proteção à maternida-de, que exige o pagamento mí-nimo de 75% da remuneraçãoda trabalhadora durante o perí-odo de licença. Este princípioserviu para impedir que nossaPrevidência Social adotasseum teto para a licença materni-dade.

OS - Na sua avaliação, quaissão os pontos prioritários amodificar na CLT e quepontos não devem sermexidos? O Sr. acha que odebate sobre o tema tem sedado de forma equilibrada?

JO – Há quem diga que a

RÉUASSÍDUO NAOIT”

“Ainda está emcurso uma ofensivado empresariado

pela flexibilizaçãode direitos, que

utiliza o aumentoda informalidadecomo argumento”.

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Consolidação das Leis do Tra-balho, vigente desde 1943, évelha e ultrapassada, com oobjetivo de justificar a flexibiliza-ção dos direitos para baixo. Poroutro lado, há quem pretendaconsiderar a CLT como con-quista dos trabalhadores, quedeve ser preservada a qualquercusto. Não é bem assim. Omundo muda e, com ele, as re-lações sociais e de trabalho.Para que os direitos fundamen-tais sejam assegurados na con-juntura atual, alguns pontos pre-cisam ser modificados, enquan-to outros devem ser preserva-dos, já que a CLT é o resultadode um processo de acúmulo.Ficaria longo estabelecer aquiuma lista de pontos. Precisa-mos incorporar as convençõesda OIT ratificadas pelo Brasil eos princípios fundamentais daOIT. Para isso devemos preser-var muita coisa, mas é precisomodificar o artigo 8º da Consti-tuição e desmontar o título V daCLT, eliminando os artigos quetratam da interferência do gover-no na organização sindical, to-talmente revogada pela consti-tuição de 1988. Para mim, o de-bate ainda não está acontecen-do de uma forma equilibrada.Quem defende a flexibilizaçãopara baixo recebe todo apoiodos meios de comunicação edos governos, enquanto a defe-sa dos interesses dos trabalha-dores e dos direitos sociais étratada como corporativismo oucomo defesa de privilégios.

OS - O Observatório Socialtem constatado contradiçõesentre os códigos de condutadivulgados por várias corpo-rações e a situação vivida porseus empregados e fornece-dores. Como governos, sindi-catos e consumidores podempressionar as empresas demaneira mais efetiva a pôrem prática os princípios de

responsabilidade social?JO - Devemos elogiar

aqueles empresários que sepreocupam com a ética nos ne-gócios e definem alguns com-promissos básicos com a so-ciedade e com a preservaçãodo meio ambiente, mas nãopodemos limitar a responsabi-lidade social a essa preocupa-ção ou a uma atitude unilateral.Algumas empresas têm no có-digo de conduta apenas uminstrumento mercadológico depropaganda da marca. Na me-dida em que os interesses dostrabalhadores estão envolvidos,temos que explicitar nossasprioridades e estabelecer de for-ma negociada um acordo mar-co sobre o assunto. Essa é aproposta das Federações Sin-dicais Internacionais, que já ob-teve sucesso com muitas cor-porações transnacionais. Tam-bém apostamos em instrumen-tos mais abrangentes, como aDeclaração de Princípios daOIT sobre Empresas Multinaci-onais e Política Social, as Di-retrizes da OCDE, recentre-mente traduzidas pelo Obser-vatório Social, a Declaração daOIT sobre Princípios e DireitosFundamentais no Trabalho, e aDeclaração Socio Laboral do

Mercosul. Mas para conseguir-mos resultados práticos temosque investir em formação sin-dical sobre esses temas, co-brar sistematicamente a aplica-ção desses instrumentos eapostar no diálogo social comofórmula eficaz para solução deconflitos.

OS - O Sr. pode dar exemplosde pressões sociais bemsucedidas nesse sentido, noBrasil e em outros países?

JO - A própria existênciae disseminação de códigos deconduta, mesmo adotados deforma unilateral e buscandomelhorar a imagem da empre-sa, já refletem uma pressãosocial anterior. Muitas compa-nhias multinacionais adota-ram códigos de conduta apóssofrerem campanhas interna-cionais de boicote a seus pro-dutos ou serviços. A propos-ta da ONU de estabelecer umPacto Global é fruto de pres-sões do movimento social esindical, em nivel global, exi-gindo atenção para os aspec-tos ambientais e sociais dodesenvolvimento econômico.Aqui no Brasil, logramos bonsresultados após o processoconstituinte de 1988, precedi-do de ampla mobilização epressão popular, incorporan-do as representações dos tra-balhadores nas discussõesdo FGTS, FAT e Previdência,além da constituição de câ-maras setoriais e do Conse-lho Nacional do Trabalho, du-rante a gestão de I tamarFranco. Os oito anos de go-verno FHC significaram umretrocesso, mas a constitui-ção do Conselho Nacional doDesenvolvimento Econômicoe Social, bem como do FórumNacional do Trabalho, indicamque a participação popular eo diálogo social constituemprioridades do novo governo.

[ ]“Muitas

multinacionaisadotaram códigosde conduta após

sofreremcampanhas

internacionais deboicote a seus

produtos eserviços”.

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A GUERRA DOPETRÓLEO

Primeiro o Afeganistão e agora o Iraque. Os bombardeiossobre estes dois países e sua ocupação militar são os resultados

concretos da aplicação da Doutrina Bush, que permite às forçasarmadas dos EUA atacarem preventivamente qualquer país suspeito

de ligação com o terrorismo ou de possuir capacidade de molestar aintegridade ou interesses norte-americanos. A primeira ação contoucom o apoio da ONU e a segunda não. De acordo com os termos da

Doutrina, ela se realizou e o mundo se perguntou que razõesjustificariam solapar desta maneira a autoridade do Conselho de

Segurança. A resposta se deve a interesses geopolíticos eeconômicos. A ocupação do Iraque deu uma confortável posição

geopolítica aos EUA no Oriente Médio e o controle da exploraçãodo petróleo do segundo maior produtor mundial.

Não nos esqueçamos queBush assumiu a presidência dosEUA num momento em que omundo se aproximava de umprocesso recessivo, que se apro-fundou após o 11 de setembro eque foi enfrentado com a injeçãode enormes recursos públicosno setor privado. Mesmo assima economia americana conti-nuou mal, conforme demonstraa queda nos índices de produçãoindustrial e o aumento da taxa dedesemprego. É bom lembrartambém que sua eleição foi pro-fundamente questionada e quesua campanha esteve entre asmais caras da história, bancadaprincipalmente pela indústria ar-mamentista e de energia, nãopor acaso as mais beneficiadaspelas atuais políticas de Estadodos EUA.

As altas autoridades norte-americanas recusam-se a falarsobre o custo da guerra contra oIraque. Porém há estimativas, in-cluindo as despesas para a re-construção do país, que situamos valores entre US$ 150 e 750

bilhões (1). Não é sem razãoque, uma vez superada na práti-ca a divergência entre os Esta-dos Unidos e França, Rússia eAlemanha sobre a legalidade ounão da guerra, agora se inicia apolêmica sobre quem coordena-rá a reconstrução do Iraque, comameaças inclusive de levar o de-bate à OMC, uma vez que se tra-taria de uma disputa comercialsobre “compras governamen-tais”. No entanto, parece queassim como os EUA não se im-portaram com a opinião da UniãoEuropéia sobre o ataque, tam-pouco vão considerar seriamen-te suas atuais reivindicações departicipar da “reconstrução”.

O primeiro contrato, paraapagar o incêndio em algunspoços de petróleo, já teria sidoconcedido à empresa Hallibur-ton, que era presidida por Ri-chard Chenney, antes que se tor-nasse vice-presidente dos EUAnas últimas eleições presidenci-ais. Também se mencionam ou-tras que seriam beneficiadas,como a Bechtel Group, que tem

como um dos seus diretores oex-Secretário de Estado de“Bush – Pai”, George Shultz, aFlúor, que tem um diretor que foidiretor adjunto da CIA no gover-no Reagan, a Parsons e a LuisBerger. Estas cinco empresassão doadoras tradicionais doPartido Republicano. (2)

Há outros empresários in-tegrantes de comissões que atu-am junto ao Pentágono e outrosórgãos do governo norte-ameri-cano, como o “Grupo de Políticade Defesa” e o “Centro pela Inte-gridade Pública”. Eles são dire-tores de empresas que ganha-ram contratos para as forças ar-madas de mais de US$ 76 bi-lhões em 2001 e 2002. (3) O pró-prio general de reserva Jay Gar-ner, nomeado governador do Ira-que, foi presidente de uma em-presa do setor da defesa, SYColeman, que teve contratospara instalar sistemas de mís-seis em Israel.

Porém a grande questão ésobre o futuro dos contratos deexploração de petróleo. Após o

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(1)Sadowsky, Yahua. Las causas de la guerra.Le monde diplomatique, Paris, abril – 2003

(2)Morgan, Oliver. Bush’s Repubican guard.The Onserver, Londres, 16 de março de 2003

(3)Herbert, Bob. Em cena, o complexomilitar-industrial. São Paulo, O Estado de SãoPaulo, 11 de abril de 2003.

(4)Almodóvar, Antonio Rodriguez. Los demásson cuentos. El Pais, 20 de março de 2003.

término da Guerra do Golfo em1991, a produção iraquiana foireduzida de 3,5 milhões de bar-ris diários de óleo cru para algu-mas centenas de milhares, ge-rando recursos administradospela ONU e que somente podi-am ser utilizados para comprarcomida. A gestão da produçãopetroleira no Iraque era feita pelaCompanhia Nacional de PetróleoIraquiano (INOC), que subcon-tratava a extração para empre-sas estrangeiras, porém semnenhuma participação de empre-sas norte-americanas ou britâni-cas. Seguramente agora as gi-gantes Exxon-Mobil e Chevron-Texaco dos EUA e a British Pe-troleum irão dividir o espólio, in-clusive com a possibilidade deprivatização da própria INOC.Entretanto, retomar o nível his-tórico de produção iraquiana po-derá levar até três anos. Custa-rá ao redor de US$ 8 milhõespara recuperar a indústria petro-leira e outros US$ 20 bilhões parareconstruir o sistema de trans-missão de energia elétrica, ne-

cessário para extrair e bombearo petróleo.

Dificilmente os recursosaplicados para a reconstruçãodo Iraque irão além da recupera-ção da infra-estrutura petrolíferae do aparato de estado neces-sário para governar o país. Habi-tação, saneamento básico,

transporte público e outros ser-viços dependerão da solidari-

edade e da própria capaci-dade do povo iraquiano de

recuperá-los.Os EUA tornar-

se-ão autônomos emrelação ao petróleo

e, ao controlar ovolume da produ-

ção iraquiana,controlarão in-

clusive o pre-ço no mer-cado mun-

dial, o que lhes dará ainda maisinfluência sobre os países expor-tadores e principalmente sobrea União Européia, cujos paísessão muito dependentes do petró-leo do Oriente Médio.

De certa maneira já fize-ram isto ao longo dos últimosdoze anos. Quando a guerra dogolfo se iniciou, um barril de pe-tróleo valia US$ 15,00, elevando-se em seguida a US$ 42,00 edepois caindo para um valor aoredor de US$ 24,00. Neste inter-valo de alta, gerou-se um exce-dente de US$ 60 bilhões, repar-tidos entre Arábia Saudita eKuwait pela sua contribuição àguerra e as “Sete Irmãs” do pe-tróleo, sendo que as norte-ame-ricanas faturaram US$ 21 bi-lhões. (4) Agora foi diferente. Ovalor do barril subiu antes do iní-cio da guerra para US$ 40,00, ca-indo depois, o que significa quenós consumidores já pagamoso preço da guerra antecipada-mente e que esta guerra foi umbom negócio somente para al-guns poucos.

Kjeld Jakobsené presidente do

Observatório Social

art

igos

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ALMANA QUE

ALM

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Campanha do caféna Holanda

A campanha em defesa da me-lhoria das condições de trabalho e vidanos cafezais conta com um aliado im-portante na Europa: a Coalizão Holan-desa do Café. Dez organizações decomércio justo, de desenvolvimento,eclesiásticas e sindicais integram essaaliança. Em abril elas iniciaram umacampanha focada no maior torrefadorholandês de café, a Sara Lee/DoweEgberts, que detém mais de 60% domercado naquele país. Ao alimentar odebate e fazer pressão pública, a Coa-lizão espera discutir responsabilidadesocial com a empresa e assegurar res-peito aos direitos trabalhistas estabe-lecidos nas convenções internacionais.

Le nouveleconnomiste cita oObservatório Social

Em sua edição de março de 2003,a revista francesa Le nouvel econnomistetraz uma reportagem de cinco páginassobre responsabilidade social na França eno Brasil. O Observatório Social é citadocomo “uma das raras organizações noBrasil a dispor de informações que vãoalém de declarações de interesses”. Otexto afirma que os trabalhos doObservatório se comparam aos dasmelhores agências que pesquisam temassociais e ambientais na Europa. “Comuma diferença importante: a organização,financiada por sindicatos internacionais,não vende suas informações aosinvestidores financeiros. Ela beneficiaseus membros, representantes dosassalariados, com o objetivo de subsidiaras negociações com as direções dasempresas”.

A reportagem cita entre ostrabalhos do Observatório que provocaramefeitos inesperados o estudo sobre aNokia na Zona Franca de Manaus, quelevou a uma aproximação dos sindicatosfinlandeses com seus homólogosbrasileiros e ao projeto de um comitêsindical global para o grupo. Refere-se aoestudo de problemáticas setoriais, como oda cadeia produtiva do alumínio e o dascondições de trabalho dos cafeicultores.Também cita o estudo sobre a Nestlé, queapontou a defasagem entre oscompromissos públicos da empresa e arealidade concreta; e ainda o estudo queaponta os persistentes problemas desegurança na Basf.

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ALNA QU A

LMAN

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A Secretaria de RelaçõesInternacionais da CUT / Projeto CUT/FNV, aFES/ILDES (Fundação Friedrich Ebert), aRede Global e o Observatório Socialrealizaram, nos dias 26 e 27 de maio, oseminário As Diretrizes para empresasmultinacionais da OCDE - ‘Como utilizar oGuia de Usuário da TUAC’. O evento contoucom a participação da TUAC, que é o ComitêConsultivo Sindical para a OCDE.

O objetivo é criar familiaridade dosdirigentes sindicais com as Diretrizes e seuvalor, além de debater a melhor forma deimplementá-las e utilizá-las no Brasil parapromoção dos direitos no trabalho.

A OCDE (Organização paraCooperação e Desenvolvimento Econômico)estabeleceu este conjunto de indicações paraserem dirigidas pelos governos às empresasmultinacionais. Elas estabelecem princípios epadrões a serem adotados voluntariamentepelas corporações que buscarem sersocialmente responsáveis. Reconhecidasinternacionalmente, as Diretrizes tambémsão um instrumento de negociação domovimento sindical.

Diretrizesinternacionais:modo de usar

“Uma usina de idéias”, é oresumo de Cândido Grzybowski(IBASE), membro do Comitê Or-ganizador, para definir o que foi o3º Fórum Social Mundial. Realiza-do entre 23 e 27 de janeiro, emPorto Alegre, o evento somoumais de 1.200 atividades, 20.763delegados credenciados, repre-sentando 5.717 organizações de130 países. O Observatório Soci-al participou através de quatro ofi-cinas e três seminários; um es-tande em parceria com a Oxfame outro instalado no Portal daCUT; e exposição fotográfica, quepermaneceu aberta para visitaçãodurante o período. O fórum de2004 está marcado para aconte-cer na Índia. A idéia é reunir ospovos do mundo em diferenteslugares.

Observatórioparticipa com

sucesso doFórum Social

Mundial

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MA

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Identificar, através dos in-dicadores, se existe discrimina-ção no trabalho e apontar se hápolíticas de promoção da igual-dade de tratamento e oportuni-dades para homens e mulheres,brancos e negros, é um dos ob-jetivos dos estudos realizadosnas multinacionais. Por isso, aConvenção 111 da OIT é o pon-to central do Termo de Referên-cia para a observação do temaRaça no Observatório Social.

O termo foi desenvolvidopela equipe do CEERT (Centrode Estudos das Relações deTrabalho e Desigualdades) eapresentado para a equipe téc-nica do Observatório duranteoficina realizada em São Paulono dia 20 de maio. Ali, pesqui-sadores e técnicos receberaminformações sobre conceitos dediscriminação, sobre o históricoda relação entre raça e trabalhono Brasil e debateram as cen-tralidades e critérios mais indi-cados para observação das em-presas em relação às discrimi-nações de gênero e raça.

O evento foi organizadopor Maria Aparecida Bento, ÉdioSantos e Mariana Lisboa, do

Discriminação de Raça

Termo de Referênciaapresentado em oficina

CEERT, com a colaboração deMércia Silva e supervisão de Cle-mente Ganz Lúcio, do Observa-tório Social. Carolyn Kazdin ePaulo Fontes representaram oCentro de Solidariedade da AFL-CIO (entidade norte-americanaque coopera com o Observató-rio Social) e Mônica Custódio re-presentou a Comissão NacionalAnti-Racismo da CUT.

O Termo de Referênciaserá revisado, a partir do debaterealizado na oficina, e fará partedo conjunto de termos que es-tão sendo desenvolvidos peloObservatório Social. Liberdadesindical, negociação coletiva, tra-balho forçado, trabalho infantil,discriminação de gênero e raça,segurança e saúde do trabalhoe meio ambiente são os temasestudados.

Os termos de referênciaestão sendo desenvolvidos porconsultores e pesquisadorespara consolidar a metodologiados estudos realizados. Em 21e 22 de outubro do ano passadoforam debatidas as propostas dereferência para Segurança eSaúde do Trabalho e TrabalhoInfantil.

Endereço etelefone novos

A sede nacional do Obser-vatório Social mudou. Seunovo endereço é: AvenidaMauro Ramos, 1624, sala202, Centro, Florianópolis,SC – CEP 88020-302. E onúmero do telefone e fax é(48) 3028-4400.

Site sobresaúde e segurança

O DIESAT - DepartamentoIntersindical de Estudos ePesquisas de Saúde e dos

Ambientes de Trabalho - lançouseu novo site no dia 29 de abril:

http://www.diesat.org.br. Aentidade, sem fins lucrativos, foi

criada para assessorar ostrabalhadores e o movimento

sindical nas questões relativas àsaúde coletiva, saúde dotrabalhador, condições e

ambientes de trabalho, legislaçãoem saúde e segurança do

trabalhador e meio ambiente. ODIESAT vem acompanhando deperto todas as ocorrências que,

de alguma maneira, podem afetara saúde da classe trabalhadora,desde o uso indiscriminado de

produtos químicos, falta deequipamentos de segurança, atéo surgimento de novas doenças,decorrentes da reestruturação

das relações de trabalho.

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[ ]

Assim que a Coca-Cola co-meçou a chegar por aqui, achavamque tinha sabor de remédio. Poucagente gostava. Era muito diferenteda gasosa de limão e laranja. Es-sas que todo mundo já conhecia.Coca-Cola quente nem pensar. Nãodá pra dizer ao certo quem disseisso. Muita gente já falou. Eu, quenasci gostando, perguntei pra minhamãe, certifiquei com o meu pai e con-firmei com uma tia. É isso mesmo, foiduro naquela época engolir a tal bebi-da. Mas hoje um litro na mesa é pou-co. Traga logo um litrão, por favor.

Mas não é exatamente sobrea Coca que desejo falar. Pediramque eu contasse uma história queum dia talvez vire filme. Vou lhe con-tar sobre a Kola-Marte.

Não conhece aKola-Marte?Também não

conhecia.

Na década de 40, numa cida-de bem pequena de Santa Catarinachamada Pássaro Grande pelos po-vos indígenas e Biguaçu pelos de-mais, dois irmãos pensavam sobreo que fazer para sustentar suas fa-mílias. Acabaram decidindo peloramo das bebidas e construíram semdemora a Fábrica de Bebidas IrmãosMendes. Os dois homens começa-ram então a produção de diversos

BebaKola-Marte

tipos de refrigerantes, na época cha-mados de gasosa. Faziam tambémum aperitivo fino, um tipo de cacha-ça envelhecida no carvalho. Mas abebida preferida na região da Gran-de Florianópolis era a Kola-Marte fa-bricada com essência de cola impor-tada da Suíça.

Numa pesquisa de opiniãopública realizada em 1952 e publi-cada no Jornal Diário da Tarde de Flo-rianópolis, seu Vidal Mendes, o ir-mão mais velho, aparece em primei-ro lugar como o empresário que ven-ceu pelo próprio esforço. E a Kola-Marte é a grande vencedora na cate-goria refrigerante de maior aceitação.

Tudo parecia bem, até o diaem que seu Vidal recebeu uma car-ta vinda diretamente dos EstadosUnidos da América. A carta era dagigante Coca-Cola. Seu conteúdoexigia que a Kola-Marte deixassede ser produzida imediatamente,caso contrário a multinacional en-traria com um processo. O que acarta alegava? Dizia que o nomecola, seja lá com que grafia fosse,não poderia ser utilizado por nenhu-ma outra empresa no mundo. Justonaquele instante a Kola-Marte movi-mentava toda a comunidade com umconcurso de tampinhas. E os carna-valescos aguardavam ansiosos o ca-minhão de bebidas, que trazia nopará-choque a frase: Beba Kola-Mar-te, se transformar em carro alegóri-co nos desfiles da capital.

Depois da carta o concursoficou pela metade, o carnaval da Ilhaperdeu o caminhão e os irmãos de-cidiram não mais fabricar o produto.Pensaram que poderiam continuar asustentar suas famílias com as ga-

Cristiane Mateusé jornalista e roteirista

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sosas coloridas, a cachaça e a gro-selha que começava a ter boa acei-tação. Era uma perda, claro que era.Mas fazer o quê?

Muito mais tarde uma das fi-lhas do casal, que hoje é juíza apo-sentada, ficou sabendo pela boca doSeu Damiani, que era o responsávelpela distribuição da Coca-Cola naregião, da existência do Mister Kern,um "inglês vindo da Inglaterra". OMister Kern era o representante ofi-cial da Coca-Cola no estado. Era umsenhor já de idade avançada quecostumava entrar em tudo que é barpara ver de perto como as pessoaspediam, bebiam e o que achavam dorefrigerante. Foi numa dessas visi-tas que espantosamente deparou-secom uma garrafa desconhecida derótulo nas cores amarela e vermelhaonde se lia: Kola-Marte. Imediata-mente ligou para o seu Damiani elhe falou muito furioso: "Por quevocê não me disse nada? Por quenão me mandou uma garrafa?Todo produto que é similar nãodeve permanecer no mercado".

Podia até fazer um parênteseenorme e contar todas as aventurasdo comerciante, porque a bebida não

era o único produto que sabia ven-der. Muitas pessoas ainda lembramdo dia em que a praça foi tomada debicicletas. Um representante trouxea novidade e fez negócio com seuVidal, que fez negócio fiado com todaa gente da cidade que naquela tardequisesse andar de bicicleta.

Mas dessa história, por en-quanto, não conto mais nada. Sóqueria dizer para não imaginar ne-nhuma grande investigação, porquenão sou detetive. O crime, se alguémsabe qual foi, já prescreveu. Depoisde tudo, seu Vidal morreu de velhona casa da filha. Longe da cidadeonde gostava de viver, não quis maisver estampado no sorriso de tantosamigos: você fracassou. Porquecom o passar dos anos o negóciocom as bebidas e todos os outrosforam desaparecendo. O poço deonde tirava a água ainda resiste, masa fábrica já virou outra coisa.

Se o filme for ruim, perdoa.Mas pelo menos você vai saber: umdia, por aqui, muita gente sentou numbanco de praça embaixo de uma fi-gueira pra namorar e nem ligou parao anúncio que dizia: Beba Kola-Mar-te. E daí?

A história da Kola-Marte obteve o 1º lugar do Prêmio FundaçãoCatarinense de Cultura/Cinemateca Catarinense para Pesquisa e

Desenvolvimento de Roteiro Cinematográfico. O roteiro que vem sendodesenvolvido por Cristiane Mateus dará origem a um filme de curta-metragem dirigido por Claudia Aguiyrre, com produção da YpslonProduções D'artecultura . A idéia original é de João Luiz Mateus.

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