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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.183/2005-7 1 ACÓRDÃO Nº 1910/2009 TCU Plenário 1. Processo nº TC 006.183/2005-7. 2. Grupo I Classe I Assunto: Pedido de Reexame. 3. Interessados/Responsáveis: 3.1. Interessada: Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras. 3.2. Responsáveis: Carlos Eduardo Sardenberg Bellot (490.791.077-00); Douglas Azevedo de Figueiredo (872.754.307-20); Geraldo Graciliano Monteiro (013.395.834-53); José Carlos Cavalcanti (329.997.987-68); José Eduardo de Barros Dutra (347.586.406-10); Paulo Sérgio da Costa Gracio (308.872.917-91); Plínio Cesar de Mello (797.662.188-20); Samuel Bastos de Miranda (112.763.473- 91); Valter Barreto Lima (569.687.877-68). 4. Entidade: Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras. 5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues. 5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Aroldo Cedraz. 6. Representante do Ministério Público: não atuou. 7. Unidades: Secex-RJ e Serur. 8. Advogado constituído nos autos: Carolina Bastos Lima, OAB/RJ 135.073; Alexandre Luís Bragança Penteado, OAB/RJ 88.979. 9. Acórdão: VISTOS, relatados e discutidos estes autos de pedido de reexame interposto contra o item 9.2 do Acórdão 454/2009 Plenário, ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Plenária, diante das razões expostas pelo Relator, e com fundamento no art. 48 da Lei 8.443/92 c/c o art. 286 do Regimento Interno, em: 9.1. conhecer do pedido de reexame e negar-lhe provimento; 9.2. dar ciência desta deliberação ao recorrente. 10. Ata n° 34/2009 Plenário. 11. Data da Sessão: 26/8/2009 Ordinária. 12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1910-34/09-P. 13. Especificação do quorum: 13.1. Ministros presentes: Ubiratan Aguiar (Presidente), Walton Alencar Rodrigues (Relator), Benjamin Zymler, Augusto Nardes, Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro e José Jorge. 13.2. Auditor convocado: Marcos Bemquerer Costa. 13.3. Auditores presentes: André Luís de Carvalho e Weder de Oliveira. UBIRATAN AGUIAR WALTON ALENCAR RODRIGUES Presidente Relator Fui presente: LUCAS ROCHA FURTADO Procurador-Geral

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Decisão TCU

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  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

    1

    ACRDO N 1910/2009 TCU Plenrio

    1. Processo n TC 006.183/2005-7.

    2. Grupo I Classe I Assunto: Pedido de Reexame. 3. Interessados/Responsveis:

    3.1. Interessada: Petrleo Brasileiro S.A. - Petrobras.

    3.2. Responsveis: Carlos Eduardo Sardenberg Bellot (490.791.077-00); Douglas Azevedo de

    Figueiredo (872.754.307-20); Geraldo Graciliano Monteiro (013.395.834-53); Jos Carlos Cavalcanti

    (329.997.987-68); Jos Eduardo de Barros Dutra (347.586.406-10); Paulo Srgio da Costa Gracio

    (308.872.917-91); Plnio Cesar de Mello (797.662.188-20); Samuel Bastos de Miranda (112.763.473-

    91); Valter Barreto Lima (569.687.877-68).

    4. Entidade: Petrleo Brasileiro S.A. - Petrobras.

    5. Relator: Ministro Walton Alencar Rodrigues.

    5.1. Relator da deliberao recorrida: Ministro Aroldo Cedraz.

    6. Representante do Ministrio Pblico: no atuou.

    7. Unidades: Secex-RJ e Serur.

    8. Advogado constitudo nos autos: Carolina Bastos Lima, OAB/RJ 135.073; Alexandre Lus Bragana

    Penteado, OAB/RJ 88.979.

    9. Acrdo:

    VISTOS, relatados e discutidos estes autos de pedido de reexame interposto contra o item 9.2 do

    Acrdo 454/2009 Plenrio, ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da Unio, reunidos em sesso da Plenria,

    diante das razes expostas pelo Relator, e com fundamento no art. 48 da Lei 8.443/92 c/c o art. 286 do

    Regimento Interno, em:

    9.1. conhecer do pedido de reexame e negar-lhe provimento;

    9.2. dar cincia desta deliberao ao recorrente.

    10. Ata n 34/2009 Plenrio. 11. Data da Sesso: 26/8/2009 Ordinria. 12. Cdigo eletrnico para localizao na pgina do TCU na Internet: AC-1910-34/09-P.

    13. Especificao do quorum:

    13.1. Ministros presentes: Ubiratan Aguiar (Presidente), Walton Alencar Rodrigues (Relator),

    Benjamin Zymler, Augusto Nardes, Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro e Jos Jorge.

    13.2. Auditor convocado: Marcos Bemquerer Costa.

    13.3. Auditores presentes: Andr Lus de Carvalho e Weder de Oliveira.

    UBIRATAN AGUIAR WALTON ALENCAR RODRIGUES

    Presidente Relator

    Fui presente:

    LUCAS ROCHA FURTADO

    Procurador-Geral

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

    1

    GRUPO I CLASSE I Plenrio TC 006.183/2005-7

    Natureza: Pedido de Reexame

    Entidade: Petrleo Brasileiro S.A. - Petrobras

    Interessada: Petrleo Brasileiro S.A. - Petrobras

    Advogados: Carolina Bastos Lima, OAB/RJ 135.073; Alexandre

    Lus Bragana Penteado, OAB/RJ 88.979

    SUMRIO: PETROBRS. PEDIDO DE REEXAME.

    ACRDO 454/2009 PLENRIO. NO HAVENDO AUTORIZAO LEGISLATIVA NEM DECISO JUDICIAL

    DEFINITIVA QUE AFASTE, EM SUPOSTO BENEFCIO DA

    RECORRENTE, A APLICAO DO ESTATUTO JURDICO

    DAS LICITAES, OS COMANDOS INSERTOS NO ART. 37,

    INCISO XXI, DA CONSTITUIO E NO PARGRAFO

    NICO DO ART. 1 DA LEI 8666/1993 CONTINUAM A

    SUJEITAR A PETROBRAS AOS PRINCPIOS GERAIS

    ESTABELECIDOS NESSA LEI. A DETERMINAO

    RECORRIDA EST DE ACORDO COM A LEI E COM A

    JURISPRUDNCIA DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO.

    CONHECIMENTO DO RECURSO E NO PROVIMENTO.

    RELATRIO

    Adoto, como relatrio, a instruo da Secretaria de Recursos (fls. 13/29, anexo 3), nos

    seguintes termos, in verbis:

    Em face do Acrdo n 454/2009, do Plenrio deste Tribunal e, particularmente quanto ao seu subitem 9.2 que, em sntese, determinou Petrleo Brasileiro S/A Petrobrs a observar o disposto na Lei de Licitaes quanto vigncia do prazo do contrato firmado com dispensa de

    licitao por emergncia, insurge-se a mencionada Empresa contra essa deliberao por meio do

    presente Pedido de Reexame fundamentando-se, para tanto, no disposto no art. 286, do Regimento

    Interno desta Corte de Contas (Cabe pedido de reexame de deciso de mrito proferida em processo concernente a ato sujeito a registro e a fiscalizao de atos e contratos. Pargrafo nico Ao pedido de reexame aplicam-se as disposies do caput e dos pargrafos do art. 285.).

    2. Aviado o Recurso por meio de Advogados devidamente constitudos requer a Empresa

    o seu provimento para o fim de reformar o indicado subitem 9.2 do Acrdo recorrido uma vez que a determinao em exame no se aplica PETROBRS.

    I DA ADMISSIBILIDADE RECURSAL

    3. O exame preliminar de admissibilidade do presente Recurso foi efetuado pelo Setor de

    Admissibilidade de Recursos desta Secretaria Especializada (fls. 10/11), tendo havido naquela

    oportunidade manifestao favorvel ao seu processamento, a qual fora acolhida pelo Sr. Ministro-

    Relator que, alm de lhe emprestar os efeitos suspensivos determinou sua instruo, conforme

    Despacho de fls. 13.

    4. A admissibilidade provisria do recurso antes manifestada pode ser plenamente

    corroborada na presente fase processual em razo de se revelarem satisfeitos os requisitos prprios da

    interposio recursal.

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

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    II DA DECISO RECORRIDA

    5. O Acrdo ora recorrido foi prolatado aps a oitiva dos Responsveis em razo de

    serem constatadas irregularidades em procedimento de licitao instaurado pela Empresa cujas

    audincias foram determinadas pelo Acrdo n 1.265/2005-TCU-Plenrio proferido nos autos de

    Relatrio de Levantamento de Auditoria realizada junto ora Recorrente e cujo objetivo era verificar a execuo fsica, financeira e oramentria das obras vinculadas ao Programa de Trabalho PT n 25.753.0286.4237.0001 (Manuteno de Sistemas de Segurana, de Produo Ambiental e de Sade

    nas Atividades de Explorao e Produo de Petrleo e Gs Natural Nacional).

    6. Acolhidas as justificativas dos Responsveis e afastadas suas responsabilidades quanto

    ao procedimento licitatrio inquinado houve por bem este Tribunal em dirigir determinao Empresa

    Recorrente por meio da Deciso ora recorrida e que consiste no seguinte dispositivo:

    ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da Unio, reunidos em Sesso Plenria, antes as razes expostas pelo Relator, em:

    9.1. com fundamento no art. 250, 1, acolher as razes de justificativa apresentadas

    pelos Srs. Carlos Eduardo Sardenberg Bellot, Plnio Cesar de Mello, Samuel Bastos de Miranda,

    Douglas Azevedo de Figueiredo, Jos Carlos Cavalcante, Valter Barreto Lima e Rosimeire Alves

    Fernandes Pichulate;

    9.2. determinar Petrobrs S.A que, em futuras contrataes realizadas com dispensa de

    licitao por emergncia, o prazo de vigncia do contrato seja fixado dentro dos limites estabelecidos

    no inciso IV do art. 24 da Lei 8.666/1993, bem como que sejam obedecidos os princpios estabelecidos

    no inciso XXI do art. 37 da Constituio Federal e ao princpio da proporcionalidade. A fixao de

    prazo superior descaracteriza a urgncia e pode ser considerada como fuga obrigao de licitar;

    9.3. encaminhar cpia dessa deliberao, bem como do Relatrio e do Voto que a

    fundamental, Comisso Mista de Planos, Oramentos Pblicos e Fiscalizao do Congresso

    Nacional;

    9.4. aps a realizao das comunicaes devidas, apensar os presentes autos s contas da

    Petrobrs referente ao exerccio de 2001 (TC-008.773/2002-8), consoante disposto no art. 250, 2

    do Regimento Interno do TCU.

    7. Consistindo nesses termos o Acrdo recorrido contra o mesmo interposto o presente

    Pedido de Reexame, particularmente contra o disposto no subitem 9.2, acima transcrito, o qual,

    segundo a Recorrente, no se aplica PETROBRS, aduzindo, para tanto, as Razes Recursais adiante expostas.

    III DAS RAZES RECURSAIS

    8. Interpe a Petrleo Brasileiro S/A PETROBRS o presente Pedido de Reexame visando a reforma do disposto no subitem 9.2, do Acrdo n 454/2009-Plenrio-TCU, que lhe

    determinou o cumprimento da Lei de Licitaes e bem assim da Constituio Federal quando das suas

    contrataes realizadas com dispensa de licitao em razo de emergncia.

    9. Fazendo referncia ao art. 173, 1. III, da Constituio Federal, ao art. 67 da Lei n

    9.748/98 e ao Decreto n 2.745/98 alega a Recorrente que a mesma usa o Procedimento Licitatrio

    Simplificado institudo por esse Regulamento em razo de constitucionalmente estar estabelecido que

    as empresas pblicas e sociedades de economia mista que explorem atividade econmica para

    concorrerem com outras empresas no mercado estaro sujeitas a regulamento prprio dos entes de carter privado.

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    10. Invocando essas disposies constitucional, legal e regulamentar afirma a Recorrente

    estar desarrazoada e ilgica a aplicao da Lei n 8.666/93 no contexto das sociedades de economia

    mista exploradoras de atividades econmicas, apesar da previso do art. 1, do referido diploma legal,

    a qual dever ser interpretada de forma restritiva, em estrita conformidade com o previsto no art. 173, 1, da Constituio Federal.

    11. Citando doutrina e precedentes de julgados judiciais reafirma a Recorrente que no se

    deve aplicar as regras especficas da administrao pblica s sociedades de economia mista que

    exploram atividade econmica s quais, por um lado, adota o regime das empresas privadas e, quanto

    ao mais, aplicam-se apenas os princpios da administrao pblica, o que se justificaria pela caracterstica hbrida dessas sociedades que tm interesses opostos pblico/privado que no devem jamais se contrapor, mas, antes, equilibrar-se, de forma amlgama.

    12. Justificando essa dualidade pblico/privado na atuao dessas sociedades de economia mista invoca-se a insero no ordenamento jurdico positivado de regras e instrumentos normativos diferenciados que se adqem realidade especfica, peculiar a tais empresas, em cujo contexto editou-se a Lei n 9.478/97 (Dispe sobre a poltica energtica nacional, as atividades relativas ao monoplio do petrleo, institui o Conselho Nacional de Poltica Energtica e a Agncia

    Nacional do Petrleo e d outras providncias). a qual, segundo o seu art. 67 dispe que os contratos celebrados pela PETROBRS, para aquisio de bens e servios, sero precedidos de

    procedimento licitatrio simplificado, a ser definido em decreto do Presidente da Repblica.. E essa regulamentao perfeccionou-se por meio do Decreto n 2.745, de 24 de agosto de 1998 o qual,

    segundo a Recorrente, atendeu de um lado, aos princpios administrativos obrigatrios e, de outro s necessidades empresariais prprias da PETROBRS.

    13. Alegando a quebra do monoplio ento previsto no art. 177, da Constituio Federal

    (Constituem monoplio da Unio....) institudo pela Emenda Constitucional n 09/1995 o que obrigou a Recorrente a competir no mercado com outras empresas o que tornou, por isso, essencial a desburocratizao dos atos de contratao e aquisio de bens e servios para a Companhia, em

    sintonia com sua atividade eminentemente empresarial.

    14. Colacionando excerto do deferimento de liminar pelo Exmo. Sr. Ministro Gilmar

    Mendes, do Supremo Tribunal Federal, no Mandado de Segurana n 25.888 impetrado contra Deciso

    proferida por esta Corte de Contas no processo TC 008.210/2004-7 o que ilustraria que aquela Excelsa Corte Constitucional tem se manifestado favoravelmente pretenso da Recorrente, razo pela

    qual este prprio Tribunal de Contas estaria entendendo, enquanto perdurarem essa Decises

    preliminares do E. STF, que seria adequado apreciar os atos praticados pela PETROBRS, em suas licitaes e contratos, com base no Decreto n 2.745/98.

    15. Dizendo que o Decreto 2.745/1998 no reproduziu o disposto no inciso IV, do art. 24,

    da Lei n 8.666/1993 quanto ao estabelecimento do prazo de 180 (cento e oitenta) dias para a

    contratao de emergncia razo pela qual no mbito da Petrobrs, no est adstrita ao prazo mximo de 180 dias.

    16. Reconhecendo que essa ausncia no mencionado Decreto do prazo para contratao de

    emergncia no deve significar que esse prazo possa ser estendido indefinidamente mas, sim,

    enquanto necessrio para assegurar um novo procedimento licitatrio, sem comprometer o princpio da economicidade.

    17. Fundando-se, portanto, nas Razes Recursais acima compiladas formula, ao fim, a

    Recorrente pedido para o provimento do Recurso e reforma do subitem 9.2, do Acrdo n 454/2009

    uma vez que a determinao em exame no se aplica PETROBRS, pelo regime de direito privado a que se encontra submetida, por fora constitucional.

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    IV DA ANLISE DO RECURSO

    18. Este processo teve por origem a auditoria realizada no mbito da Recorrente com o

    objetivo de verificar a execuo fsica, financeira e oramentria das obras vinculadas ao Programa de

    Trabalho PT n 25.753.0286.4237.0001 (Manuteno de Sistemas de Segurana, de Produo Ambiental e de Sade nas Atividades de Explorao e Produo de Petrleo e Gs Natural Nacional).

    19. Este Levantamento transcorreu no perodo de 22/04 a 03/06/2005 tendo sido

    constatadas irregularidades no Contrato 1602192016 em que era contratada a Empresa ACES AC Engenharia mediante dispensa de licitao e, ainda, no Termo Aditivo ao Contrato n 160.2.018.03-4.

    As irregularidades consistiam no seguinte: a) contratao da Empresa ACES - AC Engenharia com

    dispensa de licitao, quando apenas duas empresas tinham sido convidadas a participar do certame,

    cujo valor contratado era em torno de R$ 19.000.000,00, contrariando os princpios da publicidade e

    da isonomia inerentes aos procedimentos licitatrios; b) tratar como emergencial situao que

    perdurara por mais de um ano a contar do pedido inicial e a efetiva contratao; e c)subscrio de

    termo aditivo ao Contrato 160.2.018.03-4, elevando o valor original contratado em R$ 2.056.194,64

    (de R$ 6.975.310,86 para R$ 9.031.505,54), implicando em acrscimo equivalente a 29,5% superior ao

    limite fixado nos 1 e 2, do art. 65, da Lei de Licitaes.

    20. Apreciadas essas irregularidades deliberou este Tribunal, pelo Acrdo n 1.256/2005-

    TCU-Plenrio, em colher as oitivas dos Responsveis a respeito dos fatos imputados. Apresentadas as

    respectivas razes de justificativas e, ainda, aps o cumprimento de novas diligncias, houve por bem,

    este Tribunal, pelo Acrdo ora recorrido afastar as irregularidades acolhendo, assim, as justificativas

    apresentadas. Decidiu, porm, conforme o subitem 9.2 da Deciso que fosse determinada

    PETROBRS que, em futuras contrataes realizadas com dispensa de licitao por emergncia, o prazo de vigncia do contrato seja fixado dentro dos limites estabelecidos no inciso IV do art. 24 da

    Lei 8.666/1993, bem como que sejam obedecidos os princpios estabelecidos no inciso XXI do art. 37

    da Constituio Federal e ao princpio da proporcionalidade. A fixao do prazo superior

    descaracteriza a urgncia e pode ser considerada como fuga obrigao de licitar;

    21. Contra essa determinao interpe a PETROBRS o presente Pedido de Reexame

    pugnando sua reforma alegando que a determinao em exame no se aplica PETROBRS, pelo regime de direito privado a que se encontra submetida, por fora constitucional.

    22. A respaldar sua pretenso invoca a Recorrente o disposto no inciso III, do 1, do art.

    173, da Constituio Federal, os quais consistem nos seguintes termos:

    Art. 173 - Ressalvados os casos previstos nesta Constituio, a explorao direta de atividade econmica pelo Estado s ser permitida quando necessria aos imperativos da segurana

    nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

    1 - A lei estabelecer o estatuto jurdico da empresa pblica, da sociedade de economia

    mista e de suas subsidirias que explorem atividade econmica de produo ou comercializao de

    bens ou de prestao de servios, dispondo sobre:

    ...

    III licitao e contratao de obras, servios, compras e alienaes, observados os princpios da administrao pblica;

    ....

    23. A lei mencionada no pargrafo primeiro - e quanto matria prevista no seu inciso III -

    , do artigo constitucional ora transcrita tida pela Recorrente como sendo a Lei n 9.748/98 a qual

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    Dispe sobre a poltica energtica nacional, as atividades relativas ao monoplio do petrleo, institui o Conselho Nacional de Poltica Energtica e a Agncia Nacional do Petrleo e d outras

    providncias). Particularmente quanto ao tema ora debatido licitaes e contratos no mbito da PETROBRS -, estabeleceu o referido diploma legal em seu artigo 67 a seguinte disciplina:

    Art. 67 - Os contratos celebrados pela PETROBRS, para aquisio de bens e servios, sero precedidos de procedimento licitatrio simplificado, a ser definido em decreto do Presidente da

    Repblica.

    24. Por sua vez o Decreto Presidencial mencionado no transcrito dispositivo legal o

    Decreto n 2.745/98, o qualAprova o Regulamento do Procedimento Licitatrio Simplificado da Petrleo Brasileiro S.A. PETROBRS previsto no art . 67 da Lei n 9.478, de 6 de agosto de 1997.

    25. Aps a Recorrente invocar esses dispositivos normativos alega a justificativa para suas

    edies diante da peculiaridade das sociedades de economia mista que consiste nos interesses opostos pblico/privado para cujo desempenho na competio de mercado essencial a desburocratizao dos atos de contratao e aquisio de bens e servios para a Companhia, em sintonia com sua

    atividade eminentemente empresarial.

    26. Juntamente com os dispositivos normativos invocados colaciona a Recorrente excertos

    doutrinrios e jurisprudenciais, por vezes, apesar da indicao dos Autores porm sem a identificao

    da fonte ou, ainda, de precedentes de julgados sem a necessria pertinncia com o tema debatido os dispositivos normativos aplicveis aos procedimentos de licitaes por ela instaurados.

    27. certo, todavia, que colaciona a Recorrente o precedente j conhecido do E. STF em

    sede de liminar em Mandado de Segurana (Processo MS n 25.888), deferida pelo Exmo. Sr. Ministro

    Gilmar Mendes contra ato deste Tribunal de Contas constitudo do Acrdo n 39/2006, proferido no

    TC 8.210/2004-7.

    28. Com essas duas menes processuais, tanto no mbito do E. STF quanto deste prprio

    TCU, j se pode reconhecer que a matria debatida de alada constitucional quanto a saber a

    constitucionalidade das normas aplicveis aos procedimentos licitatrios instaurados pela

    PETROBRS, cujo o entendimento do TCU da aplicao das normas gerais estabelecidas pela Lei

    de Licitaes (Lei n 8.666/93) enquanto a PETROBRS invoca o Regulamento do Decreto 2.745/98

    previsto pelo art. 67, da Lei n 9478/97, ante o disposto no inciso III, do 1, do art. 173, da

    Constituio Federal.

    29. A este respeito esta Corte de Contas em deliberao indita proferida na Deciso

    663/2002-Plenrio, TC 13.195/2001-5 fixou entendimento quanto necessidade de aplicao da Lei 8.666/93 pela PETROBRS quanto aos processos de aquisies e contrataes mediante licitao

    pblica, ao adotar o seguinte pronunciamento:

    O Tribunal Pleno, diante das razes expostas pelo Relator, com fulcro no art. 71, IV, da Constituio c/c art. 43, II,d a Lei n 8.443/92, DECIDE:

    8.1. determinar PETROBRS que se abstenha de aplicar s suas licitaes e contratos o

    Decreto 2.745/98 e o artigo 67 da Lei 9.478/97, em razo de sua inconstitucionalidade, e observe os

    ditames da Lei 8.666/93 e o seu anterior regulamento prprio, at a edio da lei de que trata o 1

    do art. 173 da Constituio Federal, na redao dada pela Emenda Constitucional n 19/98;

    8.2. aceitar como legtimos os procedimentos praticados, no mbito da Petrobrs, com

    arrimo nas referidas normas, ante a presuno de legalidade ento operante;

    8.3. dar cincia Petrobrs do entendimento consignado no item 8.1 retro, alertando-a de

    que os atos doravante praticados com base nos referidos dispositivos sero considerados como

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

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    irregulares por esta Corte e implicaro na responsabilizao pessoal dos agentes que lhes derem

    causa, devendo a entidade valer-se, na realizao de suas licitaes e celebrao de seus contratos,

    das prescries contidas na Lei n 8.666/93;

    30. Estabelecido esse entendimento, inmeras outras Decises se seguiram, todas no

    sentido de a PETROBRS observar o cumprimento da Lei de Licitaes (Lei n 8.666/93) nos

    processos de aquisies e contrataes, conforme, v.g. o Acrdo n 1498/2004 Plenrio, proferido nos autos do TC - 8.210/2004-7, o qual, dentre outras deliberaes, assentou no seu subitem 9.2.2 a

    seguinte determinao: obedea ao estabelecido nos arts. 22 e 23 da Lei n 8.666/93 no que se refere s modalidades de licitao e seus respectivos limites, tendo em vista o valor estimado da

    contratao;.

    31. Contra o decidido pelo mencionado Acrdo 1498/2004-Plenrio-TCU interps a

    PETROBRS o recurso de Pedido de Reexame o qual fora negado provimento, tendo este Tribunal,

    na oportunidade, reafirmado a inconstitucionalidade dos diplomas legais e regulamentares adotados

    pela Empresa em detrimento da Lei n 8.666/93, invocando, para tanto, dentre outros fundamentos, o

    disposto no enunciado da Smula 347, do E. STF, segundo o qual O Tribunal de Contas, no exerccio de suas atribuies, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Pblico. o que foi decido pelo Acrdo n 1.767/2005-Plenrio nos autos de Pedido de Reexame.

    32. Igualmente inconformada com o pronunciamento exarado nesse Acrdo 1.767/2005-

    Plenrio ops a PETROBRS recurso de Embargos de Declarao ao qual fora negado provimento,

    segundo o Acrdo n 39/2006 Plenrio, cuja ementa constituiu-se no seguinte:

    EMBARGOS DE DECLARAO. PROCESSUAL. DECLARAO DE INCONSTITUCIONALIDADE. COMPETNCIA DO TCU. OMISSO NO CONFIGURADA.

    REJEIO.

    1 Embora o TCU no possua competncia para declarar, em abstrato, a inconstitucionalidade de atos normativos, pode declar-la quando da apreciao, em concreto, de

    atos normativos e demais atos do poder pblico.

    2 No se verificando a omisso apontada, rejeitam-se os embargos declaratrios.

    33. Chega-se, nesse ponto, deciso liminar proferida em Mandado de Segurana

    (Processo MS n 25.888) pelo Exmo. Sr. Ministro Gilmar Mendes e colacionada pela ora Recorrente

    em que o ato impetrado exatamente o referenciado Acrdo n 39/2006-Plenrio. A referida judicial,

    repita-se, consiste em provimento liminar em sede de Mandado de Segurana e cuja ntegra a

    seguinte:

    DECISO: Trata-se de mandado de segurana, com pedido de medida liminar, impetrado

    pela Petrleo Brasileiro S.A. PETROBRS, contra ato do Tribunal de Contas da Unio, consubstanciado em deciso que determinou impetrante e seus gestores que se abstenham de aplicar

    o Regulamento de Procedimento Licitatrio Simplificado, aprovado pelo Decreto n 2.745, de

    24/08/1998, do Exmo. Sr. Presidente da Repblica. Consta da petio inicial que o Tribunal de

    Contas da Unio, ao apreciar o processo TC n 008.210/2004-7 (Relatrio de Auditoria), determinou

    que a impetrante (Acrdo n 1.498/2004): a) justifique, de modo circunstanciado, a aplicao das

    sanes previstas no art. 87 da Lei n 8.666/93, garantindo prvia defesa da contratada e mantendo

    no respectivo processo administrativo os documentos que evidenciem tais procedimentos; b) obedea

    ao estabelecido nos arts. 22 e 23 da Lei n 8.666/93 no que se refere s modalidades de licitao e

    seus respectivos limites, tendo em vista o valor estimado de contratao (fl. 48) . Contra essa deciso,

    a impetrante interps recurso de reexame (fls. 98-105), alegando que seus procedimentos de

    contratao no estariam regulados pela Lei n 8.666/93, mas sim pelo Regulamento de Procedimento

    Licitatrio Simplificado aprovado pelo Decreto n 2.745/98, do Exmo. Sr. Presidente da Repblica, o

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

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    qual possui lastro legal no art. 67 da Lei n 9.478/97. Sustentou, ainda, que o Parecer AC-15, da

    Advocacia-Geral da Unio, aprovado pelo Exmo. Sr. Presidente da Repblica, vinculante para a

    administrao pblica federal, conclui que a Petrobrs e suas subsidirias devem se submeter s

    regras do citado Decreto n 2.745/98. Ao analisar o pedido de reexame, o TCU negou-lhe provimento

    (fls. 29-42), com base nos seguintes fundamentos (Acrdo n 1.767/2005): a) o Parecer da AGU

    vincula to-somente os rgos do Poder Executivo, no se estendendo ao TCU; b) na Deciso n

    633/2002 (fls. 121-177), o TCU j havia declarado a inconstitucionalidade do art. 67 da Lei n

    9.478/97 e do Decreto n 2.745/98, determinando que a Petrobrs observasse os ditames da Lei n

    8.666/93; c) segundo a Smula 347 do STF, o Tribunal de Contas, no exerccio de suas atribuies, pode apreciar a constitucionalidade das Leis e dos Atos do Poder Pblico. A Petrobrs interps embargos de declarao, os quais no foram acolhidos pelo TCU (Acrdo n 39/2006) (fls. 23-27).

    Contra essa deciso do TCU (Acrdo n 39/2006), a Petrobrs impetra o presente mandado de

    segurana, alegando que: a) o Tribunal de Contas de Unio no possui competncia para declarar a

    inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. A Smula 347 do STF foi editada em 1963, tendo como

    base o art. 77 da Constituio de 1946, h muito revogado. A regra do Regimento Interno do TCU,

    que prev essa competncia, no pode se sobrepor Constituio; b) a Petrobrs, empresa integrante

    da Administrao Indireta, est submetida ao princpio da legalidade e, portanto, deve cumprir o art.

    67 da Lei n 9.478/97 e o Decreto n 2.745/98, que permanecem vigentes, e determinam que os

    contratos celebrados pela impetrante, para aquisio de bens e servios, sero precedidos de

    procedimento licitatrio simplificado, afastando a aplicao da Lei n 8.666/93. c) por fora do 1o

    do art. 40 da LC n 73/93, a Petrobrs est obrigada a cumprir o Parecer AC-15, da Advocacia-Geral

    da Unio, que conclui que a inaplicao (do Decreto n 2.745/98) por alegada inconstitucionalidade do regime simplificado todo o Grupo Petrobrs, esbarra no respeito ao princpio da presuno de constitucionalidade das leis e da legalidade dos atos da administrao at

    que sobrevenha deciso judicial em contrrio, sendo insuficiente a opinio do TCU, a quem cabe to

    s julgar a regularidade das contas. d) aps a Emenda Constitucional n 9/95, que alterou o 1o do art. 177 da Constituio, a impetrante passou a atuar na explorao do petrleo em regime de livre

    concorrncia com outras empresas. Com isso, o art. 67 da Lei n 9.478/97 determinou a submisso da

    impetrante a um procedimento licitatrio simplificado, afastando a aplicao da Lei n 8.666/93, que

    estabelece um regime de licitao e contratao inadequado para a atuao da empresa num

    ambiente de livre competio. Quanto urgncia da pretenso cautelar, a impetrante sustenta que o no cumprimento da prefalada deciso acarretar na aplicao das mais diversas penalidades, tais

    como multas, inabilitao para o exerccio de cargo ou funo, e arresto de bens, como estampado,

    v.g, nos arts. 45, 1o, inc. III, 58, incs. II, IV, VII e 1o, 60 e 61, todos da Lei n 8.443/92 (fl. 10). Assim, a impetrante requer, em sede de medida liminar, a suspenso da deciso proferida pelo

    Tribunal de Contas da Unio (Acrdo n 39/2006) no processo TC n 008.210/2004-7 (Relatrio de

    Auditoria). o relatrio. Passo a decidir. Existe plausibilidade jurdica no pedido. A EC n 9/95,

    apesar de ter mantido o monoplio estatal da atividade econmica relacionada ao petrleo e ao gs

    natural e outros hidrocarbonetos fluidos, acabou com o monoplio do exerccio dessa atividade. Em

    outros termos, a EC n 9/95, ao alterar o texto constitucional de 1988, continuou a abrigar o

    monoplio da atividade do petrleo, porm, flexibilizou a sua execuo, permitindo que empresas

    privadas participem dessa atividade econmica, mediante a celebrao, com a Unio, de contratos

    administrativos de concesso de explorao de bem pblico. Segundo o disposto no art. 177, 1o, da

    Constituio, na redao da EC n 9/95: 1 A Unio poder contratar com empresas estatais ou privadas a realizao das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo, observadas as condies

    estabelecidas em lei. Dessa forma, embora submetidas ao regime de monoplio da Unio, as atividades de pesquisa, lavra, refinao, importao, exportao, transporte martimo e transporte

    por meio de conduto (incisos I a IV do art. 177), podem ser exercidas por empresas estatais ou

    privadas num mbito de livre concorrncia. A hiptese prevista no art. 177, 1o, da CRFB/88, que

    relativizou o monoplio do petrleo, remete lei a disciplina dessa forma especial de contratao. A

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

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    Lei n 9.478/97, portanto, disciplina a matria. Em seu artigo 67, deixa explcito que os contratos celebrados pela Petrobrs, para aquisio de bens e servios, sero precedidos de procedimento

    licitatrio simplificado, a ser definido em decreto do Presidente da Repblica. A matria est regulamentada pelo Decreto n 2.745, de 1998, o qual aprova o regulamento licitatrio simplificado

    da Petrobrs. A submisso legal da Petrobrs a um regime diferenciado de licitao parece estar

    justificado pelo fato de que, com a relativizao do monoplio do petrleo trazida pela EC n 9/95, a

    empresa passou a exercer a atividade econmica de explorao do petrleo em regime de livre

    competio com as empresas privadas concessionrias da atividade, as quais, frise-se, no esto

    submetidas s regras rgidas de licitao e contratao da Lei n 8.666/93. Lembre-se, nesse sentido,

    que a livre concorrncia pressupe a igualdade de condies entre os concorrentes. Assim, a

    declarao de inconstitucionalidade, pelo Tribunal de Contas da Unio, do art. 67 da Lei n 9.478/97,

    e do Decreto n 2.745/98, obrigando a Petrobrs, conseqentemente, a cumprir as exigncias da Lei

    n 8.666/93, parece estar em confronto com normas constitucionais, mormente as que traduzem o

    princpio da legalidade, as que delimitam as competncias do TCU (art. 71), assim como aquelas que

    conformam o regime de explorao da atividade econmica do petrleo (art. 177). No me

    impressiona o teor da Smula n 347 desta Corte, segundo o qual o Tribunal de Contas, o exerccio de suas atribuies, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Pblico. A referida regra sumular foi aprovada na Sesso Plenria de 13.12.1963, num contexto constitucional

    totalmente diferente do atual. At o advento da Emenda Constitucional n 16, de 1965, que introduziu

    em nosso sistema o controle abstrato de normas, admitia-se como legtima a recusa, por parte de

    rgos no-jurisdicionais, aplicao da lei considerada inconstitucional. No entanto, preciso levar

    em conta que o texto constitucional de 1988 introduziu uma mudana radical no nosso sistema de

    controle de constitucionalidade. Em escritos doutrinrios, tenho enfatizado que a ampla legitimao

    conferida ao controle abstrato, com a inevitvel possibilidade de se submeter qualquer questo

    constitucional ao Supremo Tribunal Federal, operou uma mudana substancial no modelo de controle

    de constitucionalidade at ento vigente no Brasil. Parece quase intuitivo que, ao ampliar, de forma

    significativa, o crculo de entes e rgos legitimados a provocar o Supremo Tribunal Federal, no

    processo de controle abstrato de normas, acabou o constituinte por restringir, de maneira radical, a

    amplitude do controle difuso de constitucionalidade. A amplitude do direito de propositura faz com

    que at mesmo pleitos tipicamente individuais sejam submetidos ao Supremo Tribunal Federal

    mediante ao direta de inconstitucionalidade. Assim, o processo de controle abstrato de normas

    cumpre entre ns uma dupla funo: atua tanto como instrumento de defesa da ordem objetiva, quanto

    como instrumento de defesa de posies subjetivas. Assim, a prpria evoluo do sistema de controle

    de constitucionalidade no Brasil, verificada desde ento, est a demonstrar a necessidade de se

    reavaliar a subsistncia da Smula 347 em face da ordem constitucional instaurada com a

    Constituio de 1988. A urgncia da pretenso cautelar tambm parece clara, diante das

    conseqncias de ordem econmica e poltica que sero suportadas pela impetrante caso tenha que

    cumprir imediatamente a deciso atacada. Tais fatores esto a indicar a necessidade da suspenso

    cautelar da deciso proferida pelo TCU, at o julgamento final deste mandado de segurana. Ante o

    exposto, defiro o pedido de medida liminar, para suspender os efeitos da deciso proferida pelo

    Tribunal de Contas da Unio (Acrdo n 39/2006) no processo TC n 008.210/2004-7 (Relatrio de

    Auditoria). Comunique-se, com urgncia. Requisitem-se informaes ao Tribunal de Contas da Unio

    e Advocacia-Geral da Unio. Aps, d-se vista dos autos Procuradoria-Geral da Repblica.

    Publique-se. Braslia, 22 de maro de 2006. Ministro GILMAR MENDES Relator.

    34. Com essa Deciso liminar da Suprema Corte alm de afastar por parte desta Corte de

    Contas a aplicao do Enunciado 347 da Smula do prprio STF entendeu-se tambm que A submisso legal da Petrobrs a um regime diferenciado de licitao parece estar justificado pelo fato

    de que, com a relativizao do monoplio do petrleo trazida pela EC n 9/95, a empresa passou a

    exercer a atividade econmica de explorao do petrleo em regime de livre competio com as

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

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    empresas privadas concessionrias da atividade, as quais, frise-se, no esto submetidas s regras

    rgidas de licitao e contratao da Lei n 7.666/93.

    35. Fazendo-se, enfim, remisso ao inciso II, do 1, do art. 173, da Constituio Federal,

    da Lei n 9478/97 e do Decreto n 2.745/98, foi deferida a liminar acima transcrita para suspender a

    Deciso deste Tribunal, conforme ali especificado. A referida Deciso liminar segundo nossas

    consultas at a presente data no foi definitivamente apreciada por aquela Excelsa Corte.

    36. Alm dessa Deciso pudemos identificar tambm no E. STF outra Deciso liminar,

    agora proferida em sede de Medida Cautelar (Proc. n AC- 1.193-1/RJ) sendo Relator tambm o

    Exmo. Sr. Ministro Gilmar Mendes e deferida unanimidade pela sua 2. Turma, onde igualmente se

    discutia acerca da viabilidade da suspenso das licitaes instauradas pela PETROBRS com base no

    Decreto n 2.745/98 e pela Lei n 9.478/97, constituindo-se a ementa do Acrdo nos seguintes termos:

    AO CAUTELAR. 2. EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO EXTRAORDINRIO ADMITIDO NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA. 3. PLAUSIBILIDADE JURDICA DO

    PEDIDO. LICITAES REALIZADAS PELA PETROBRS COM BASE NO REGULAMENTO DO

    PROCEDIMENTO LICITATRIO SIMPLIFICADO (DECRETO N 2.745/98 E LEI N 9.478/97. 4.

    PERIGO DE DANO IRREPARVEL.

    A suspenso das licitaes pode inviabilizar a prpria atividade da Petrobrs e

    comprometer o processo de explorao e distribuio de petrleo em todo o pas, com reflexos

    imediatos para a indstria. Comrcio e, enfim, para toda a populao. 5. Medida cautelar deferida

    para conceder efeito suspensivo ao recurso extraordinrio.

    37. Quanto a essa Ao Cautelar podemos dizer, segundo nossas pesquisas na pgina

    eletrnica do STF, que a mesma fora posteriormente julgada prejudicada, perdendo efeito, portanto, a

    medida liminar antes deferida.

    38. Destacamos, agora, um terceiro precedente do Excelso Supremo Tribunal Federal, com

    julgamento ainda no concludo e que trata exatamente da matria ora em debate, qual seja, o regime

    normativo adotado pela PETROBRS nas contrataes e aquisies com o emprego de procedimento

    licitatrio.

    39. Trata-se do Recurso Extraordinrio n 441.280/RS , Relator o Exmo. Sr. Ministro

    Menezes Direito, em que so Recorrentes Frota de Petroleiros do Sul Ltda. PETROSUL E OUTROS e Recorrida Petrleo Brasileiro S/A PETROBRS. Segundo o publicado no Informativo n 546, daquele Excelso Sodalcio a votao est empatada em dois votos e, na ltima assentada, o julgamento foi afetado ao Plenrio do Supremo em razo da clusula constitucional de reserva de

    Plenrio Constituio Federal, art. 97.

    40. A afetao daquele julgamento ao Plenrio do Supremo Tribunal Federal, tal como

    debatido no mbito desta prpria Corte de Contas, reafirma que a discusso do procedimento de

    licitaes a ser instaurado pela PETROBRS carece hoje de um enquadramento e de um figurino de

    carter essencialmente constitucional a partir dos diplomas infraconstitucionais editados e aplicados.

    41. Segundo, portanto, aquela publicao, a Certido do ltimo julgamento consigna que

    dois Votos so pela aplicao, pela PETROBRS, da Lei n 8.666/93 enquanto os dois outros seriam

    pela aplicao das normas especficas do Decreto n 2.745/98 tendo por base a faculdade legal do art.

    67, da Lei n 9.478/97. A referida Certido que ora se transcreve d bem a medida do debate ento

    travado e que ser dirimido pelo Plenrio do E. STF:

    Em continuidade de julgamento, a Turma, em nova questo de ordem suscitada pelo Min. Marco Aurlio, decidiu afetar ao Plenrio o julgamento de recurso extraordinrio interposto com

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

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    fundamento no art. 102, III, a e b, da CF, em que se questiona a aplicao, ou no, PETROBRS, do

    disposto no art. 1, pargrafo nico, da Lei 8.666/93 (Art. 1 Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitaes e contratos administrativos pertinentes a obras, servios, inclusive de publicidade, compras,

    alienaes e locaes no mbito dos Poderes da Unio, alm dos rgos de administrao direta, os

    fundos especiais, as autarquias, as fundaes pblicas, as empresas pblicas, as sociedades de

    economia mista e demais entidades controladas direta o indiretamente pela Unio, Estados, Distrito

    Federal e Municpios) v. Informativo 522. No caso, em voto-vista, o Ministro Marco Aurlio, tendo em conta disposio constitucional expressa atinente reserva de Plenrio (CF, art. 97), ponderara,

    novamente, sobre a convenincia de remeter ao Pleno AL matria debatida. Entendeu-se ser possvel

    a reabertura de tal discusso, conforme reiterados pronunciamentos desta Corte, haja vista que no

    ocorrera a concluso do julgamento. O Min. Menezes de Direito, relator, e os demais Ministros no se

    opuseram ao deslocamento do feito. (RE 441280/RS, rel. Min. Menezes Direito, 12-5;2009. (RE-

    441280).

    42. Na assentada anterior desse mesmo julgamento, segundo publicado pelo Informativo do STF n 522, o debate da matria e bem assim as Votaes expendidas ficaram delineados nos seguintes termos:

    A Min. Crmen Lcia abriu divergncia e proveu o recurso extraordinrio por considerar que os princpios constantes do art. 3 da Lei 8.666/93 e as regras, genricas, que

    estruturam o instituto da licitao, aplicam-se indistintamente a todos os entes integrantes da

    Administrao Pblica, seja direta ou indireta. No vislumbrou, em conseqncia, obstculo pra que

    a recorrida adotasse o processo licitatrio. No ponto, realou que o processo seria um meio, enquanto

    o procedimento, um modo e que este diferenciar-se-ia para empresas prestadoras de servio pblico e

    para empresas que intervm na atividade econmica. No conheceu do extraordinrio, todavia, no

    que se refere indenizao, porquanto implicaria o revolvimento de matria probatria. Em adio, o

    Min. Carlos Britto enfatizou que a Lei 9.478/97 que dispe sobre as atividades relativas ao monoplio do petrleo entre outras providncias remeteu ao Decreto 2.745/98 o tem relativo aos contratos celebrados pela PETROBRS (art. 67), sem observar a imposio de reserva legal para

    tratamento do tema. Em decorrncia disso, registrou que enquanto prevalecer essa anomia, incidiria,

    in totum, a Lei 8.8666/93, Verificado o empate na votao, pediu vista dos autos o Min. Marco

    Aurlio. RE 441.280/RS, rel. Min. Menezes Direto, 30.09.2008 (RE-441280).

    43. Com os trs precedentes ora colacionados, originrios do E. STF independentemente de suas nuanas processuais -, v-se que os dispositivos normativos e regulamentares que disciplinam

    o procedimento licitatrio a ser adotado pela PETROBRS tal como tem apontado por esta Corte de Contas quanto necessidade de aplicao da Lei n 8.666/93 no est pacificado, nem mesmo naquela Corte Constitucional, o que ainda ter deslinde no seu Plenrio.

    44. A procela legal e regulamentar est entre a aplicao da Lei 8.666/93 ou o Decreto

    2.745/98, editado com fundamento no art. 67, da Lei 9.478/97 aos procedimentos licitatrios

    instaurados pelas empresas pblicas e as sociedades de economia mista com interveno na atividade

    econmica.

    45. A origem desse debate est, por evidente, nos prprios dispositivos constitucionais que

    disciplinam o emprego do procedimento licitatrio nas contrataes pelas sociedades de economia

    mista em atividade com interveno econmica e sua correspondente regulamentao.

    46. Enquanto a respeito a regra geral constitucional aquela do inciso XXI, do art. 37,

    segundo a qual:

    ressalvados os casos especificados na legislao, as obras, servios, compras e alienaes sero contratados mediante processo de licitao pblica que assegure igualdade de

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

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    condies a todos os concorrentes, com clusulas que estabeleam obrigaes de pagamento,

    mantidas as condies efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitir as exigncias

    de qualificao tcnica e econmica indispensveis garantia do cumprimento das obrigaes.

    47. Esse cnone constitucional como regra geral das licitaes pblicas de observao

    obrigatria pela administrao pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados,

    do Distrito Federal e dos Municpios, segundo o disposto no caput, do art. 37, da Constituio Federal.

    48. Tambm em sede constitucional e sobre a exigncia do procedimento licitatrio para as

    empresas pblicas, as sociedades de economia mista e suas subsidirias que explorem a atividade

    econmica de produo ou comercializao de bens ou de prestao de servios, prev o 1, no

    inciso III, do art. 173, da Constituio Federal, podero ser adotadas regras prprias a serem

    estabelecidas em estatuto jurdico especfico, segundo esses preceptivos, verbis:

    Art. 173...

    1 - A lei estabelecer o estatuto jurdico da empresa pblica, da sociedade de economia

    mista e de suas subsidirias que explorem atividade econmica de produo ou comercializao de

    bens ou de prestao de servios, dispondo sobre:

    ...

    III licitao e contratao de obras, servios, compras e alienaes, observados os princpios da administrao pblica;

    49. H, assim, com mesma estatura constitucional e quanto aos procedimentos licitatrios

    para as empresas pblicas e as sociedades de economia mista que explorem atividade econmica

    normas que podem ser especificamente editadas ao lado e paralelamente s normas gerais, igualmente

    aplicveis a essas entidades da administrao pblica indireta, estatudas no transcrito inciso XXI, do

    art. 37, da Constituio Federal.

    50. Esse discrimine constitucional to patente que a prpria Constituio Federal, quanto

    competncia para a iniciativa legislativa faz expressamente essa distino, nos termos do inciso

    XXVII, do seu art. 22, segundo o qual compete a Unio, privativamente, legislar sobre:

    normas gerais de licitao e contratao, em todas as modalidades, para as administraes pblicas diretas, autrquicas e fundacionais da Unio, Estados, Distrito Federal e

    Municpios, obedecido o disposto n o art. 37, XXI, e para as empresas pblicas e sociedades de

    economia mista, nos termos do art. 173, 1, III;

    51. O disposto no inciso XXI, do art. 37, foi legalmente regulamentado pela Lei n

    8.666/93, a qual Regulamenta o art. 37, XXI, da Constituio Federal, institui normas para licitaes e contratos da Administrao Pblica e d outras providncias. O pargrafo nico e bem assim o prprio artigo primeiro da Lei reiteram expressamente que o referido diploma legal estabelece normas

    gerais, inclusive para as empresas pblicas e sociedades de economia mista quanto a licitaes e

    contratos administrativos, segundo a seguinte redao:

    Art. 1 - Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitaes e contratos administrativos pertinentes a obras, servios, inclusive de publicidade, compras, alienaes e locaes no mbito dos

    Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios.

    Pargrafo nico. Subordinam-se ao regime desta Lei, alm dos rgos da administrao

    direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundaes pblicas, as empresas pblicas, as sociedades

    de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela Unio, Estados,

    Distrito Federal e Municpios.

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

    12

    52. E, conforme expressamente ali estabelecido, tratam-se de normas gerais a serem

    aplicadas em amplo espectro da Administrao Pblica, direta e indireta e nas trs esferas de governo,

    o que implica dizer que regras prprias a determinadas atividades, entidades e ramos da Administrao

    Pblica no possam ser especificamente editadas, adotadas ou virem ao mundo jurdico, mediante

    unicamente a observncia clusula constitucional de validade jurdica de reserva legal.

    53. Afinal, j nesse mesmo sentido, de co-existncia com essas regras gerais com outras

    normas especficas o prprio cnone constitucional do inciso XXI, do art. 37, da Constituio que, ao

    encetar sua redao assim dispe: ressalvados os casos especificados na legislao....

    54. E em perfeita sintonia com essas ressalvas de casos expressamente especificados em

    Lei que podem ser institudos por regramentos diferenciados que at mesmo a Lei n 8.666/93, em

    seus artigos 122 (concesses de linhas areas), 123 (reparties sediadas no exterior) e 124 (licitaes

    para permisso ou concesso de servios pblicos), reconhece, assegura e prev situaes que suas

    regras gerais tero carter subsidirio s normas que especificamente vierem a ser editadas.

    55. Porm, diante tanto dos casos ressalvados pela prpria Lei de Licitaes acima

    mencionados quanto o que antes denominamos de discrimine constitucional prevendo modalidades

    de procedimentos diversificados para a realizao de licitaes inarredvel e inolvidvel que

    tambm nesses casos no h dispensa de observncia e cumprimento seja dos princpios da

    administrao pblica expressamente imposto na parte final do inciso III, do pargrafo primeiro, do

    art. 173 quanto, ainda, no prprio texto do inciso XXI, do art. 37, da Constituio Federal, segundo os

    quais os princpios da administrao pblica devero ser observados assim como os postulados

    da licitao para contratao de obras, servios, compras e alienaes (inciso III, 1, do art. 173)

    dentre os quais licitao pblica, igualdade de condies dos participantes, pagamento,

    vinculao s propostas e qualificao tcnica e econmica quando indispensvel garantia do

    cumprimento das obrigaes e mediante o estrito cumprimento da legalidade, impessoalidade,

    moralidade, publicidade e eficincia (Art. 37, caput e inciso XXI).

    56. Em nenhuma hiptese e sem qualquer outra condio as normas constitucionais

    referenciadas na parte final do inciso XXVII, do art. 22 e bem assim do inciso III, do 1, do art. 173,

    ambos da Constituio Federal fizeram ou fazem qualquer flexibilizao, concesso ou exceo

    quando da contratao de obras, servios, aquisies e alienaes ao necessrio cumprimento pelas

    empresas pblicas e sociedades de economia mista que explorem atividade econmica da imperativa

    necessidade de licitao pblica e bem assim dos princpios a ela inerentes aplicveis administrao

    pblica.

    57. Qualquer lei ou normativo que vier a regulamentar os referidos cnones

    constitucionais, por mais especial, especfico ou casustico que seja, por mais que estabelea

    procedimento prprio, tpico, por mais que afaste a aplicao das regras gerais estabelecidas na Lei de

    Licitaes, por mais que simplifique, ressalve ou restrinja os preceptivos prprios, nem por tudo isso

    quando da contratao para aquisio, alienao e contratao de obras e servios por parte das

    sociedades de economia mista que explorem atividade econmica os princpios da administrao

    pblica da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, publicidade e eficincia podero ser

    mitigados, afastados, suprimidos e, ainda, mediante especfico procedimento de licitao qual,

    igualmente, no poder se afastar dos seus princpios mais elementares que so: licitao pblica,

    igualdade de condies dos concorrentes, obrigaes de pagamento, vinculao s propostas e ao

    instrumento de convocao e exigncias de qualificao tcnica e econmica.

    58. No se pode, portanto, em qualquer hiptese, quando da contratao por parte de

    sociedades de economia mista que explorem atividade econmica eludir o cumprimento dos princpios

    da administrao pblica e da prpria licitao.

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

    13

    59. No se pode, com fundamento no pargrafo primeiro, do art. 177, da Constituio

    Federal, especialmente ante o disposto no seu inciso II que prev que as empresas publicas e as

    sociedades de economia mista, nos termos do estatuto jurdico estabelecido em lei ao se sujeitarem ao regime jurdico prprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigaes civis,

    comerciais, trabalhistas e tributrios cometer tamanho elastrio na aplicao do disposto neste inciso para derrogar o disposto no inciso III, dos mesmos pargrafo e artigo. A disposio distinta das duas

    matrias em dois incisos especficos deixa patente que as regras do inciso II no se estendem matria

    prevista no inciso III, do pargrafo primeiro, do art. 173, da Constituio Federal.

    60. nesse sentido que se invoca os prprios esclios da doutrina colacionada pela mesma

    ora Recorrente, na exata medida da efetiva aplicao dos preceptivos constitucionais e legais

    debatidos. Reproduz-se, portanto, as palavras finais da transcrio efetuada pela Recorrente das

    palavras do administrativista Maral Justen, segundo das quais:

    ... as pessoas que desempenham atividade econmica tem de ser submetidas a regime distinto. ISSO NO SIGNIFICA LIBER-LAS DAS REGRAS SOBRE LICITAO E PUBLICIDADE,

    MAS ADOTAM DISCIPLINA MAIS SIMPLES, MAIS DINMICA E COMPATVEL COM A

    NATUREZA DA SUA ATUAO.

    61. Assim que at mesmo o Decreto n 2.745/98 que regulamentou o disposto no art. 67,

    da Lei n 9.478/97, estabelecendo o procedimento simplificado para as licitaes da PETROBRS, reconhecidas eventualmente suas constitucionalidades no podem extrapolar a adoo de

    procedimento simplificado para suprimir a aplicao dos princpios da administrao pblica e da

    prpria licitao pblica quando da contratao de obras, servios, aquisies e alienaes.

    62. O processo licitatrio com todos os seus princpios, constitucionalmente assim

    estabelecido, seria inderrogvel enquanto o procedimento para a licitao poderia ser absolutamente

    apropriado, especfico e at simplificado, afinal, no dizer da Exma. Sra. Ministra Crmen Lcia, no seu

    Voto acima mencionado, segundo a qual o processo seria um meio, enquanto o procedimento, um modo e que este diferenciar-se-ia para empresas prestadoras de servio pblico e para empresas que

    intervm na atividade econmica.

    63. A grandeza das atividades e a grandiosidade da Recorrente, sua importncia econmica

    e estratgica para o pas no lhe d, em absoluto, direitos e faculdades alm daquelas constitucional e

    legalmente estabelecidas, porque antes de tudo, salus publica prima legis, segundo o adgio romano

    (a coisa pblica em primeiro lugar).

    64. No procede, por isso, sua alegao recursal que se encontra submetida a regime de

    direito privado quando constitucionalmente alm de estar sujeita fiscalizao do Estado e deste

    Tribunal de Contas da Unio suas contrataes devem observncia tanto ao processo licitatrio quanto

    aos princpios da administrao pblica, igualmente por fora de mandamento constitucional.

    65. Assim que, por expressa disposio do inciso III, do pargrafo primeiro, do art. 173,

    da Constituio Federal inafastvel a observncia dos princpios da licitao pblica e da prpria

    administrao pblica por parte da Recorrente em face do seu patrimnio pblico por mais particular

    que residualmente este seja, no est menos sujeita fiscalizao pelo Estado e pela sociedade, nos termos do inciso I, daqueles dispositivos constitucionais, da a legitimidade da atuao desta Corte de

    Contas na plena fiscalizao e controle dos atos praticados pela ora Recorrente.

    66. Fiscalizao e controle conforme se v dos prprios autos, do Acrdo ora recorrido e

    em inmeros precedentes a referenciados, bem como dos acima mencionados, entre tantos outros, por

    inmeras vezes em reiteradas irregularidades, em freqentes impropriedades, em diversificadas

    ilegalidades, onde, todavia, em todos esses casos baixa ou quase inexistente tem sido a taxa de

    responsabilizao.

  • TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO TC 006.183/2005-7

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    67. Esta a situao no presente feito em que invocando a Recorrente a no aplicao do

    disposto na Lei n 8.666/93 por estar sujeita a regime de direito privado, em verdade, ao pretender contratar sem a adoo de procedimento licitatrio sob a alegao de estado de emergncia o qual estendido por anos e ainda assim tido como situao emergencial tambm pretende que a contratao possa perpetuar sine die.

    68. Em outras searas do Direito tal pleito implicaria em verdadeira litigncia de m-f por

    pretenso manifestamente contrria lei pois a determinao impugnada no presente Pedido de

    Reexame est fundada nas regras gerais do inciso IV nos casos de emergncia ou de calamidade pblica, quando caracterizada urgncia de atendimento de situao que possa ocasionar prejuzo ou

    comprometer a segurana de pessoas obras, servios, equipamentos e outros bens, pblicos ou

    particulares, e somente para os bens necessrios ao atendimento da situao emergencial ou

    calamitosa e para as parcelas de obras e servios que possam ser concludas no prazo mximo de 180

    (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contados da ocorrncia da emergncia ou

    calamidade, vedada a prorrogao das respectivos contratos;), do art. 24, da Lei de licitaes.

    69. Ora, apenas para argumentar, por mais vlida e eficaz que sejam os diplomas legais e

    regulamentares invocados pela Recorrente, no os prevendo o caso tpico do prazo para a contratao

    por emergncia e esta, por si s, sendo medida extrema e excepcional, de duvidosa caracterizao no

    presente caso, ainda assim pretende a Recorrente a anomia, o vazio legal, o manifesto descumprimento

    das regras e princpios estabelecidos no inciso III, do pargrafo primeiro, do art. 173 e bem assim do

    inciso XXI, do art. 37, da Constituio Federal.

    70. A pretensa regra especial do Decreto n 2.745/98, regulamentando a no menos

    indigitada regra especial do art. 67, da Lei 9.748/98, em no estabelecendo procedimentos prprios e

    especficos quanto ao prazo para a contratao emergencial, no se pode, por isso, invocar o vazio

    normativo especial porquanto, para tanto, h regra prpria e especfica estabelecida nas normas gerais

    da Lei de Licitaes constitucionalmente previstas no inciso XXI, do art. 37, da Constituio Federal

    e, assim, inteiramente aplicvel, subsidiariamente ou ordinariamente, no sendo legtimo ignor-las e

    descumpri-las.

    71. Sendo flagrante a ilegalidade da contratao emergencial sem prazo estipulado (sine

    die) quando no ilegal a prpria contratao -, a determinao para que seja observada, no caso, a regra geral do inciso IV, do art. 24, da Lei de Licitaes no s est conforme a Constituio Federal

    quanto competncia deste Tribunal arts. 70 e 71-, como, especialmente, decorre do imperativo do inciso XXI, do art. 37 e inciso III, do pargrafo primeiro, do art. 173, tambm da Carta Poltica, o que,

    contudo, no foi suficiente para alterar a baixa taxa de responsabilizao dos gestores, porquanto mais

    uma vez no se aplicou a competente sano.

    V DA PROPOSTA

    72. Concluda nos presentes termos a anlise do Pedido de Reexame interposto por

    Petrleo Brasileiro S/A PETROBRS contra o Acrdo n 454/2009-Plenrio, submetemos apreciao deste Tribunal de Contas a seguinte proposta:

    1 Seja conhecido o presente Recurso negando-se-lhe, todavia, provimento, mantendo-se na ntegra o Acrdo recorrido.

    2 - Seja dado conhecimento da Deciso que vier a ser proferida PETROBRS.

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    VOTO

    Conheo do pedido de reexame, por atender aos requisitos legais e regimentais aplicveis

    espcie (artigos 48 da Lei 8443/1992 e 286 do Regimento Interno).

    A Petrobras insurge-se contra o item 9.2 do Acrdo 454/2009 Plenrio, pela qual o Tribunal determinou quela empresa que em futuras contrataes realizadas com dispensa de licitao por emergncia, o prazo de vigncia do contrato seja fixado dentro dos limites estabelecidos

    no inciso IV do art. 24 da Lei 8.666/1993, bem como que sejam obedecidos os princpios estabelecidos

    no inciso XXI do art. 37 da Constituio Federal e ao princpio da proporcionalidade.

    Afirma que os artigos 173, 1, inciso III, da Constituio Federal, e 67 da Lei n

    9.748/1998 autorizam a Petrobras usar procedimento licitatrio simplificado, institudo pelo Decreto n

    2.745/1998, porque, constitucionalmente, estaria estabelecido que as empresas pblicas e sociedades

    de economia mista exploradoras de atividade econmica, para concorrer com outras empresas no

    mercado, estariam sujeitas a regulamento prprio dos entes de carter privado.

    Seria, segundo a empresa, desarrazoada e ilgica a aplicao da Lei n 8.666/93 no

    contexto das sociedades de economia mista exploradoras de atividades econmicas, apesar da previso

    do art. 1, do referido diploma legal, que deveria ser interpretada de forma restritiva, em estrita conformidade com o previsto no art. 173, 1, da Constituio Federal.

    A Secretaria de Recursos, no relatrio precedente, traz o histrico de decises em que

    invariavelmente o Tribunal tem afastado a aplicao do Decreto 2.745/1998, por consider-lo

    inconstitucional, e afirmado a obrigatoriedade da sujeio da Petrobrs Lei 8.666/1993. Nesse

    sentido, a Deciso 663/2002 Plenrio e os acrdos 1498/2004, 1767/2005 e 39/2006, do Plenrio.

    Contra o entendimento do TCU, a Unidade Tcnica informa haver trs aes no Supremo

    Tribunal Federal. Uma foi considerada prejudicada, perdendo efeito a liminar concedida. Outra ao

    cautelar est em votao, ainda no deferida a suspenso requerida. Na terceira foi deferido o pedido

    de medida liminar, para suspender os efeitos do Acrdo 39/2006 Plenrio, at o julgamento final do mandado de segurana que, ainda, no ocorreu.

    Sob essas circunstncias, no havendo autorizao legislativa, nem deciso judicial

    definitiva, que afaste, para a recorrente, a aplicao do estatuto jurdico das licitaes, o comando

    inserto no pargrafo nico do art. 1 da Lei 8666/1993 continua a sujeitar a Petrobras aos princpios

    gerais estabelecidos nessa lei. A determinao recorrida est plenamente de acordo com a lei e com a

    jurisprudncia predominante do Tribunal de Contas da Unio.

    Por essas razes, nego provimento ao recurso.

    Ante o exposto, acolho a proposio da Unidade Tcnica e Voto que o Tribunal aprove o

    acrdo que submeto ao Plenrio.

    TCU, Sala das Sesses Ministro Luciano Brando Alves de Souza, em 26 de agosto de

    2009.

    WALTON ALENCAR RODRIGUES

    Relator