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Pesquisa Participativa Experimentação de produção de mudas de hortaliças biodinâmicas Associação Biodinâmica – SEBRAE – SAI - Botucatu Sítio Mainumbi Produtores: Marcelo V. da Costa e Edmilson V. da Costa Pesquisadora: Maria Jose Alves Bertalot O Trabalho de pesquisa realizado foi baseado no princípio da observação que é um dos pilares da Agricultura Biodinâmica. Utilizamos como estratégia o método de pesquisa participativa para definir o tema do trabalho, ouvindo o produtor de forma livre e realizando o planejamento conjunto para a construção do conhecimento, com questões reais da realidade do produtor. Para isso visitamos os produtores que fazem parte do grupo de agricultura biodinâmica da região de Botucatu, com o intuito de realizar entrevistas. O método das entrevistas foi utilizado, pois este se adequava mais ao perfil deste grupo mais individualizado. Pretendeu-se trabalhar individualmente, para através do trabalho prático envolver gradativamente os outros produtores do grupo. Com a elaboração dos resultados das entrevistas um dos temas principais para a realização do trabalho de pesquisa foi: “A produção de mudas de hortaliças”. A produção de mudas de hortaliças é atualmente um dos pontos mais sensíveis na horticultura orgânica, biodinâmica porque os produtores muitas vezes não sabem fazer, não tem confiança no substrato a ser utilizado, não sabem como conduzir a muda, acham que ocupa muito tempo, entre outras razões e terminam comprando mudas de origem convencional. Dois produtores do grupo se dispuseram a desenvolver o trabalho de pesquisa em produção de mudas, principalmente porque já haviam iniciado um trabalho de utilização de misturas em bandeja. Juntamente com estes dois horticultores foram escolhidas misturas que eles já utilizavam e como objetivo pretendeu-se comparar com um substrato comercial para produção de mudas, avaliando o desempenho, o stand final de mudas, a consistência do torrão, a sobrevivência de mudas após o transplante. Pretendia-se também acompanhar o comportamento das plantas originadas de mudas produzidas em bandejas quando comparadas com mudas produzidas no canteiro, retiradas com a raiz nua e também transplantadas no canteiro definitivo; avaliando o desenvolvimento das mudas já estabelecidas no canteiro até a colheita. Foram muitos os desafios que percebemos no início do trabalho, a linguagem científica, o método científico, a observação dos resultados e o aprendizado. Procurou-se um caminho que tivesse a incorporação do conhecimento do produtor, mas sem deixar de contemplar no processo de crescimento, a adição de informações que poderíamos dizer acadêmicas. Tentou-se juntamente com o produtor definir termos de observação que fossem mais apropriados tanto a realidade do produtor quanto uma observação mais fenomenológica. Neste sentido, utilizamos o termo permanência ao invés de sobrevivência, cor para definir ausência de deficiência, tamanho para vitalidade. Da mesma forma o desenho estatístico-experimental foi simplificado, utilizando-se um teste comparativo entre as várias misturas. Não foram realizadas análises químicas das misturas, assim como análises nutricionais das plantas consideradas no experimento.

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Page 1: Pesquisa Participativa Experimentação de produção de …espécie de planta de folha – alface; 1 espécie de planta de flor ou fruto – pimentão – Cultivar Casca Dura Ikeda

Pesquisa Participativa Experimentação de produção de mudas de hortaliças biodinâmicas Associação Biodinâmica – SEBRAE – SAI - Botucatu

Sítio Mainumbi

Produtores: Marcelo V. da Costa e Edmilson V. da Costa Pesquisadora: Maria Jose Alves Bertalot

O Trabalho de pesquisa realizado foi baseado no princípio da observação que é um dos pilares da Agricultura Biodinâmica.

Utilizamos como estratégia o método de pesquisa participativa para definir o tema do trabalho, ouvindo o produtor de forma livre e realizando o planejamento conjunto para a construção do conhecimento, com questões reais da realidade do produtor.

Para isso visitamos os produtores que fazem parte do grupo de agricultura biodinâmica da região de Botucatu, com o intuito de realizar entrevistas. O método das entrevistas foi utilizado, pois este se adequava mais ao perfil deste grupo mais individualizado. Pretendeu-se trabalhar individualmente, para através do trabalho prático envolver gradativamente os outros produtores do grupo.

Com a elaboração dos resultados das entrevistas um dos temas principais para a realização do trabalho de pesquisa foi: “A produção de mudas de hortaliças”.

A produção de mudas de hortaliças é atualmente um dos pontos mais sensíveis na horticultura orgânica, biodinâmica porque os produtores muitas vezes não sabem fazer, não tem confiança no substrato a ser utilizado, não sabem como conduzir a muda, acham que ocupa muito tempo, entre outras razões e terminam comprando mudas de origem convencional.

Dois produtores do grupo se dispuseram a desenvolver o trabalho de pesquisa em produção de mudas, principalmente porque já haviam iniciado um trabalho de utilização de misturas em bandeja.

Juntamente com estes dois horticultores foram escolhidas misturas que eles já utilizavam e como objetivo pretendeu-se comparar com um substrato comercial para produção de mudas, avaliando o desempenho, o stand final de mudas, a consistência do torrão, a sobrevivência de mudas após o transplante. Pretendia-se também acompanhar o comportamento das plantas originadas de mudas produzidas em bandejas quando comparadas com mudas produzidas no canteiro, retiradas com a raiz nua e também transplantadas no canteiro definitivo; avaliando o desenvolvimento das mudas já estabelecidas no canteiro até a colheita.

Foram muitos os desafios que percebemos no início do trabalho, a linguagem científica, o método científico, a observação dos resultados e o aprendizado. Procurou-se um caminho que tivesse a incorporação do conhecimento do produtor, mas sem deixar de contemplar no processo de crescimento, a adição de informações que poderíamos dizer acadêmicas. Tentou-se juntamente com o produtor definir termos de observação que fossem mais apropriados tanto a realidade do produtor quanto uma observação mais fenomenológica.

Neste sentido, utilizamos o termo permanência ao invés de sobrevivência, cor para definir ausência de deficiência, tamanho para vitalidade.

Da mesma forma o desenho estatístico-experimental foi simplificado, utilizando-se um teste comparativo entre as várias misturas. Não foram realizadas análises químicas das misturas, assim como análises nutricionais das plantas consideradas no experimento.

Page 2: Pesquisa Participativa Experimentação de produção de …espécie de planta de folha – alface; 1 espécie de planta de flor ou fruto – pimentão – Cultivar Casca Dura Ikeda

Os trabalhos foram desenvolvidos em 2006, em três experimentos diferentes. Primeiro experimento – março de 2006

No primeiro experimento foram utilizados quatro diferentes substratos e três diferentes espécies de plantas;1 espécie de planta de raiz – beterraba - wonder 2000; 1 espécie de planta de folha – alface; 1 espécie de planta de flor ou fruto – pimentão – Cultivar Casca Dura Ikeda.

Para cada espécie de plantas foram utilizadas 3 bandejas para experimentar os diferentes substratos em cada espécie de plantas e suas repetições. Os substratos considerados como tratamentos foram: - Substrato comercial certificado; C - Substrato elaborado a partir de composto; Comp - Substrato elaborado a partir de terra/composto enriquecido; T/C enriquecido - Substrato elaborado a partir de composto+ 3 litros de vermiculita+ 300 g de termofosfato + 1 kg de farelo de mamona+ 50 g de sulfato de potássio; Comp enriquecido - Substrato a base de terra/composto (1:1). T/C Composto enriquecido: quantidades para 100 litros de composto biodinâmico.

As visitas foram semanais e foram avaliadas porcentagem de germinação, cor da muda e sobrevivência. Sempre as avaliações foram feitas conjuntamente com o produtor.

Em relação ao pimentão e aos tratamentos não foi observada diferença na cor das mudas. Mas em relação à germinação e sobrevivência o melhor tratamento para o pimentão foi o terra/composto biodinâmico enriquecido.

Em relação à beterraba foi observado que nos tratamentos Terra/Composto e Terra/Composto enriquecido as folhas das plantas de beterraba além de apresentarem cor verde amarelado (sintoma de deficiência de nitrogênio), também apresentavam nervuras de uma cor vermelha (provavelmente sintoma de deficiência de fósforo). Mas em relação ao tamanho das mudas o tratamento Terra/Composto enriquecido foi o que apresentou mudas maiores. O desenvolvimento das mudas de alface foi melhor no tratamento composto biodinâmico enriquecido tanto em relação a apresentar maior tamanho quanto em relação a apresentar cor verde mais intensa. Segundo experimento maio de 2006

Os substratos utilizados foram os mesmos, sendo os ensaios realizados com couve-flor Bola de Neve – Topseed Blue Line, Alface Elisa – Agroflora, Beterraba Early Wonder – Tall Top – Topseed.

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Neste segundo ensaio os melhores tratamentos foram: Couve flor – melhor tratamento – composto enriquecido. Alface – melhor tratamento – T/C e composto enriquecido Beterraba - melhor tratamento - T/C e composto enriquecido

No dia 20 de junho de 2006 foi organizado um dia de campo para divulgar os resultados da primeira e da segunda experimentação.

Juliana Pupatto, responsável pelo projeto no Sebrae fez o convite aos produtores e na ocasião estiveram presentes o Sr Toninho, Sr João, Sr Didi Baldini, Sr Mitzuo e funcionário, Ronaldo da Demétria, Guto de Avaré, Juliana do Sebrae, Eduardo Mendoza, Raquel Soraggi, Edmilson, Wilson e Maria.

Os resultados da primeira experimentação com pimentão, beterraba e alface foram apresentados através de cartazes. Após esta exposição, o produtor Edmilson relatou sobre o trabalho com couve flor, beterraba e alface, ainda nas bandejas.

Neste dia foi entregue a cada um dos participantes um resumo do que foi feito, a receita das misturas e os resultados que foram discutidos com os produtores presentes. Houve sessão de perguntas e trocas de experiências no ambiente da estufa.

Nesta ocasião foi sugerido pelos presentes que a experimentação continuasse e que outros produtores do grupo fossem envolvidos.

Foto 1. Exposição de Maria Bertalot sobre os resultados do Primeiro Experimento no dia de campo sobre produção de mudas biodinâmicas em junho de 2006.

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Foto 2. Exposição do produtor Edmilson sobre o segundo experimento no dia de campo sobre produção de mudas biodinâmicas em junho de 2006.

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Altura de alface

Substrato comercialTerra/compostoTerra composto enriquecidoComposto enriquecido

Altura de beterraba

Substrato comercial

Terra/composto

Terra compostoenriquecido

Altura de pimentão

Substrato comercial

Terra/composto

Terra compostoenriquecido

Foto 3. Produtores participantes do dia de campo sobre produção de mudas Biodinâmicas em junho de 2006.

Durante o dia de campo além das mudas nas bandejas foram apresentados os diagramas com os

resultados sob a forma de esquemas, visualmente mais didáticos.

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Permanência de Pimentão

Substrato comercial

Terra/composto

Terra composto enriquecido

Permanência de beterraba

Substrato comercial

Terra/composto

Terra composto enriquecido

Permanência de alface

Substrato comercialTerra/compostoTerra composto enriquecidoComposto enriquecido

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Terceiro experimento agosto de 2006

De acordo com a sugestão feita no dia de campo do dia 20 de junho, foi organizado um novo ensaio. As bandejas foram montadas novamente com os produtores Marcelo e Edmilson, mas também com o produtor Didi Baldini que se mostrou interessado em participar.

As plantas utilizadas foram: Alface Elisa – Agroflora, sementes de tomate do produtor e beterraba Early Wonder – Tall Top – Topseed. Os tratamentos (misturas e substratos) foram os mesmos utilizados no primeiro e segundo experimentos. Os melhores tratamentos foram: Alface – melhor tratamento – T/C enriquecido Tomate - melhor tratamento – Comp enriquecido Beterraba - melhor tratamento - Comp enriquecido

Em relação à alface tivemos maior índice de sobrevivência no tratamento terra/composto, pois em observação conjunta produtor/pesquisador foi avaliado que somente o composto enriquecido como substrato levou a maior umidade e comprometimento do crescimento das mudas.

Em relação ao tomate e à beterraba o melhor tratamento foi o composto enriquecido, tanto na porcentagem de germinação, sobrevivência quanto na cor da muda.

Estes resultados das bandejas dos produtores Marcelo V. da Costa, Edmilson V. da Costa e Didi Baldini foram apresentados no dia 07 de dezembro de 2006 a todos os participantes do dia de campo do “I CURSO SOBRE PRODUÇÃO DE SEMENTES CRIOULAS DE HORTALIÇAS ORGÂNICAS/BIODINAMICAS”.

Este evento foi realizado conjuntamente entre Associação Biodinâmica, SENAR-

SP e teve o apoio do Depto. Produção Vegetal- Área de Horticultura – FCA – UNESP – Botucatu. Botucatu, 11 de março de 2008. Maria Bertalot Associação Biodinâmica