pesquisa escolar na internet modificado
TRANSCRIPT
Pesquisa escolar na Internet: Ctrl+C & Ctrl+V versus Cópia Manuscrita
O problema da pesquisa escolar na Internet
Já dispomos de milhares de publicações, livros, artigos e papers tratando do uso da
Internet como ferramenta de pesquisa e é um consenso entre educadores que utilizam as
TICs que a Internet é, sem dúvida, a maior fonte de pesquisa disponível de forma
acessível aos alunos. Portanto, não pretendo focar aqui na utilidade da Internet como
fonte de pesquisa, o que estou dando como fato concreto, e sim nas mudanças do
percurso de aprendizagem dos alunos ao utilizarem a Internet como meio de obtenção
de informações e na necessidade de compreender essas mudanças para ensinar melhor e
permitir que o aluno aprenda mais.
Toda pesquisa é, em sua essência, uma coleta de informações a partir das quais se
podem produzir resultados variados, que vão desde o uso imediato da informação
coletada até a produção de novas informações e novos conhecimentos a partir da
análise, desconstrução e reconstrução dos conhecimentos obtidos com a pesquisa.
A pesquisa escolar, quando voltada aos alunos do Ensino Básico e, em especial, aos
alunos do Ensino Fundamental, visa objetivos bastante amplos, dos quais, para efeitos
ilustrativos, relaciono apenas dez objetivos gerais e mais cinco relativos ao uso das
TICs:
1. Desenvolver atitudes autônomas de busca de informações;
2. Desenvolver a habilidade de usar diferentes meios de pesquisa (livros, revistas,
entrevistas, experimentações, Internet, CDROMs e muitas outras fontes);
3. Desenvolver a habilidade de leitura e interpretação de textos;
4. Expandir o universo textual do aluno, colocando-o diante de diferentes formas de
linguagem (textos com diversas formas de linguagem, figuras, gráficos, ilustrações,
imagens, filmes, etc.);
5. Desenvolver a capacidade de análise e síntese das informações (respeitado o nível de
desenvolvimento cognitivo da série e faixa etária do aluno);
6. Desenvolver habilidades artísticas relativas à apresentação gráfica dos trabalhos de
pesquisa produzidos, fazendo-se uso de imagens e ilustrações diversas, bem como de
programas e instrumentos de produção artística;
7. Desenvolver a habilidade de escrita, reescrita e produção textual;
8. Desenvolver habilidades de comunicação ao apresentar os resultados da pesquisa;
9. Desenvolver habilidades de trabalho colaborativo (pesquisando-se em grupos e
contando com apoio de adultos);
10. Trabalhar questões de ética e cidadania relativas à propriedade intelectual;
11. Desenvolver habilidades no uso das TICs (computadores, Internet, gravadores,
filmadoras e outras tecnologias de pesquisa, armazenamento de informações,
tratamento de textos e imagens, etc.);
12. Desenvolver habilidades de pesquisa usando-se bancos de dados não classificados
(uso da Internet);
13. Desenvolver habilidades de comunicação digital (produzir textos, apresentações,
filmes e outros materiais em mídias digitais, trocar informações e colaborar por meios
digitais);
14. Desenvolver habilidades de publicação digital (publicar em blogs, comunidades,
galerias de imagens, etc.);
15. Desenvolver habilidades de integração de diferentes mídias (uso de multimídia: texto,
som e imagem).
Vendo-se diante do problema de receber trabalhos de pesquisa que são meras cópias,
muitos professores tentam impedir que o aluno faça uso do computador e da Internet e,
nessa tentativa, solicitam que os alunos lhes entreguem os trabalhos “escritos à mão”,
como se “escrever à mão” fosse alguma espécie de garantia de que o aluno fez o
trabalho ao invés de apenas copiá-lo. Argumentam também que, tendo que copiar à
mão, o aluno é obrigado a ler o texto que está copiando. Esquecem-se, esses
professores, de que “copiar à mão” é tão somente uma forma rudimentar de cópia e que
todos nós podemos copiar textos escritos em línguas que não compreendemos sem
cometer nenhum erro gramatical e sem compreender absolutamente nada do que
estamos copiando.
ANTONIO, José Carlos. Pesquisa escolar na Internet: Ctrl+C & Ctrl+V versus Cópia
Manuscrita, Professor Digital, SBO, 31 jan. 2010. Disponível em:
<https://professordigital.wordpress.com/2010/01/31/pesquisa-escolar-na-internet-ctrlc-
ctrlv-versus-copia-manuscrita/>. Acesso em: 20/04/2015
Questionamento
1) Como o “copiar e colar” da internet interferem no aprendizado das crianças e
adolescentes nas escolas? Quais são os prejuízos? Há benefícios?
As origens do problema
Monges copistas (Gravura do século XIII). Sugestão de filme sobre o tema: “O nome da Rosa”.
Com o advento das tecnologias digitais, e principalmente da Internet, as queixas sobre
pesquisas escolares copiadas na íntegra parecem ter aumentado muito e a facilidade com
que se pode copiar textos integral ou parcialmente dá-nos a idéia de que a Internet criou
uma cultura de copiar e colar que até então não existia. Mas isso não é verdade. A
reprodução de textos na íntegra ou de excertos reorganizados em um novo texto é uma
prática que remonta o advento da escrita.
Os alunos sempre copiaram textos nas pesquisas escolares e os trabalhos que eram antes
entregues com cópias à mão não possuíam um conteúdo melhor do que os que são hoje
copiados eletronicamente. Na verdade os trabalhos copiados eletronicamente são bem
mais ricos em informações e conteúdos do que os de “antigamente” porque a mídia
digital permite agregar mais textos e imagens com um custo de elaboração muito menor.
A única diferença entre os trabalhos copiados antes da era da Internet e os trabalhos
copiados agora está no pressuposto altamente questionável de que ao fazer uma cópia “à
mão” o aluno aprende aquilo que copia. Esse pressuposto é questionável porque a
prática da cópia manuscrita não implica em aprendizagem do conteúdo que se copia e a
leitura empregada em uma atividade de cópia não tem o caráter de busca de
compreensão do texto copiado.
Pesquisas escolares apresentadas como simples cópias de textos, sejam eles obtidos na
Internet ou em algum livro da biblioteca escolar, originam-se de uma série de fatores
que estão diretamente ligados à atuação do professor. Dentre eles cito alguns:
1. Falta de planejamento pedagógico do professor. Como em qualquer atividade
pedagógica, é preciso ter claros os objetivos, recursos, métodos, formas de avaliação e
redirecionamentos futuros. Pesquisas precisam ser “planejadas como projetos” e não
apenas “solicitadas como atividades”;
2. Falta de clareza na proposta de pesquisa e falta de orientação adequada aos
alunos sobre os procedimentos envolvidos em uma pesquisa escolar de forma geral.
Os alunos precisam ter claros os procedimentos que terão de empregar para executar a
pesquisa. Isso equivale a produzir e distribuir inicialmente aos alunos um rubrica de
avaliação do trabalho de pesquisa solicitado a eles;
3. Forma pobre com que a pesquisa é proposta, geralmente como uma “coleta
genérica de dados”. Trabalhos de pesquisa são bem mais interessantes quando
propostos como “caça ao tesouro”, “webquest”, “desafios” e “problemas abertos” que
demandem a pesquisa proposta como ferramenta de resolução e não como produção
final;
4. Falta de disposição do professor para analisar as produções de maneira crítica e
construtiva, resumindo-se apenas ao trabalho de “coletar e classificar a pesquisa”. Se,
por um lado o aluno usa do artifício de copiar e colar, por outro, muitos professores
apenas “pesam o trabalho” e o avaliam pelo número de páginas ou pela apresentação
visual, sem realmente analisarem a pesquisa em si, o roteiro de produção do aluno e,
principalmente, a efetividade da aprendizagem decorrente da pesquisa;
5. Abandono intelectual do aluno durante o processo de pesquisa. Para muitos
professores o aluno deve ser capaz de fazer, de uma única vez e sem apoio do
professor, uma pesquisa que retorne exatamente o que o professor deseja e da forma
como ele gostaria que a pesquisa fosse feita. Uma pesquisa escolar é um processo que
precisa ser assistido, apoiado e redirecionado enquanto ocorre e não apenas avaliado
depois de finalizado.
Portanto, a origem do problema da metodologia de copiar e colar empregada pelos
alunos não está em uma “falha de caráter dos alunos”, na sua “preguiça de ler e
resumir” ou na “facilidade com que se pode copiar e colar textos inteiros ou excertos e
imagens da Internet”, mas sim na incapacidade do professor de propor, apoiar,
acompanhar e participar com o aluno de pesquisas onde a cópia pura e simples não
atenda aos requisitos previamente definidos na tarefa.
Se o professor quiser ensinar ao seu aluno sobre energia solar e seu uso e, para tanto,
pedir ao aluno que simplesmente “faça uma pesquisa sobre energia solar”, ele retornará
com uma grande pilha de papéis que podem não ter nenhuma relação com a informação
que se gostaria que ele tivesse acessado e compreendido, mas que certamente terão
alguma vaga relação com o tema “energia solar e seus usos”. Mas se o professor propor
ao aluno que construa um “fogão solar” ele certamente fará pesquisas sobre energia,
energia solar, fogões, usos da energia, etc., e, possivelmente, terá que conversar com
outras pessoas, solicitar mais ajuda, coletar dados, resumir, ler e compreender, obter
recursos, criar um protótipo e ser capaz de apresentá-lo, explicando seu uso e a relação
entre a energia solar e o aparato tecnológico propriamente dito. Para isso tudo ele
consultará a Internet e talvez copie e cole muitas coisas, mas ao final ele não retornará
simplesmente com uma pilha de papéis cujo conteúdo ele mesmo desconhece.
Observe que no exemplo acima a pesquisa é tratada como um “processo” e não como
um fim em si mesmo.
Roteiro para uma Pesquisa
Tema : “Lugares Pitorescos de New York”
1 – Compreender o que significa “lugar pitoresco” e saber identificar um deles quando o
encontrar. Para isso meu filho usou um dicionário e a Internet e descobriu que se tratava
dos “pontos turísticos” de New York. O dicionário lhe deu o significado da palavra e a
busca na Internet lhe mostrou alguns exemplos desses lugares. Usar dicionários
(impressos ou digitais) e mecanismos de busca na Internet para obter o significado das
palavras e exemplos de sua ocorrência é parte natural do “método de aprendizagem da
geração atual”;
2 – Criar um documento de edição de texto (ou apresentação de slides) em branco, onde
serão copiados os textos, excertos, imagens e outros dados obtidos na Internet. O uso de
editores de texto (como o Word ou o editor do BROffice) para armazenar, organizar e
editar as informações obtidas, para que depois se possa formatar o trabalho final
digitalmente, é um recurso imprescindível hoje em dia e substitui com inúmeras
vantagens o procedimento de fotocopiar, ou copiar à mão, todo o material;
3 – Pesquisar em diversas fontes as informações desejadas. Meu filho pesquisou em
vários sites e páginas da Internet, buscou imagens e até mesmo vídeos. Além disso ele
também pesquisou em enciclopédias e revistas impressas. As informações digitais
consideradas “úteis” foram recortadas, copiadas e coladas no documento de edição de
texto. As informações encontradas em impressos serviram de apoio para busca de
informações digitais correspondestes. O uso de informações digitalizadas, em
detrimento daquelas impressas em papel, deve-se a maior facilidade de manipular
informações digitais nos dias de hoje.
4 – Selecionar e organizar as informações encontradas. Muitas informações encontradas
são redundantes, algumas fontes são mais completas, algumas imagens são mais
atraentes, etc. Toda a informação encontrada foi pré-selecionada e organizada por
critérios de classificação que demandam comparações e análises. O uso de um
documento eletrônico de texto permite inserir, organizar, excluir e modificar textos,
figuras e layouts com uma facilidade que somente essa mídia permite.
5 – Editar, formatar e criar uma versão publicável do documento de resumo da pesquisa.
Como a professora do ano passado solicitou que o trabalho fosse apresentado em uma
“cartolina”, a formatação do documento de resumo da pesquisa procurou criar páginas
que pudessem ser impressas e então coladas na cartolina. Documentos eletrônicos não
deveriam ser impressos, salvo raras exceções, e deveriam ser apresentados com
projetores multimídia, lousas digitais ou mesmo na Internet para acesso a partir da
rede.
ANTONIO, José Carlos. Pesquisa escolar na Internet: Ctrl+C & Ctrl+V versus Cópia
Manuscrita, Professor Digital, SBO, 31 jan. 2010. Disponível em:
<https://professordigital.wordpress.com/2010/01/31/pesquisa-escolar-na-internet-ctrlc-
ctrlv-versus-copia-manuscrita/>. Acesso em: 20/04/2015
Questionamento
1) Como o “copiar e colar” da internet interferem no aprendizado das crianças e
adolescentes nas escolas? Quais são os prejuízos? Há benefícios? A culpa
realmente é do professor?
Mudando paradigmas
Muitos professores sentem-se em “crise existencial” diante das TICs. É preciso se inserir na nova realidade para não se sentir um “excluído do mundo”.
Um número muito grande de professores desconhece os novos paradigmas de
aprendizagem baseados no uso das novas tecnologias digitais e ignoram o fato de que a
aprendizagem dos seus alunos não se dá apenas dentro do ambiente de sala de aula. A
professora do meu filho nesse ano é uma moça ainda bem nova e só tem cinco anos de
experiência no magistério, o que a colocaria dentro de um universo de professores que
já vem fazendo uso das novas tecnologias em sua própria aprendizagem. Porém, fazer
uso das novas tecnologias não é garantia, por si só, da compreensão correta do seu
potencial pedagógico. Mesmo professores que já são eles mesmos da era digital se vêm
ainda presos a práticas antiquadas e a paradigmas e mitos que vem sendo reproduzidos
geração após geração de novos professores.
O papel da gestão escolar nesse momento de mudança de paradigmas é fundamental,
pois é a ela e, em especial, à coordenação pedagógica, que cabe a responsabilidade pelo
aperfeiçoamento do corpo docente, a disponibilização de recursos e, principalmente, a
orientação pedagógica adequada para o uso proficiente não apenas das novas
tecnologias, mas também das novas metodologias de ensino e aprendizagem.
Investir pesadamente nessa mudança de paradigmas é papel de todos nós. Educadores,
formadores de opinião, gestores de políticas públicas e todos os cidadãos precisam se
empenhar em exigir das escolas práticas pedagógicas e metodologias mais afinadas com
os tempos atuais. Não podemos permitir que a escola continue sendo uma instituição à
parte da sociedade, como se fosse uma espécie de dinossauro não extinto vivendo em
um mundo perdido e distante da realidade. As TICs não são apenas uma opção a mais
na Educação, elas são parte de uma realidade onde todos nós, inclusive a escola,
estamos inseridos. Não se pode ignorá-las e, sobretudo, não se pode dar continuidade a
práticas pedagógicas que dificultem a apropriação do uso dessas TICs pelos alunos. Por
isso é preciso investir pesadamente na capacitação dos professores que ainda não
compreendem esses novos paradigmas. A própria escola precisa refletir e aprender se
quiser produzir alunos reflexivos e capazes de aprender a aprenderem de forma
autônoma.
ANTONIO, José Carlos. Pesquisa escolar na Internet: Ctrl+C & Ctrl+V versus Cópia
Manuscrita, Professor Digital, SBO, 31 jan. 2010. Disponível em:
<https://professordigital.wordpress.com/2010/01/31/pesquisa-escolar-na-internet-ctrlc-
ctrlv-versus-copia-manuscrita/>. Acesso em: 20/04/2015
Questionamento
1) Como o “copiar e colar” da internet interferem no aprendizado das crianças e
adolescentes nas escolas? Quais são os prejuízos? Há benefícios? A culpa
realmente é do professor? Qual o papel da Gestão Escolar e do professor?