pesquisa controle biológico de moscas-minadoras · 2017. 3. 9. · 14 revistag.bio agosto 2014....

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PESQUISA Controle Biológico de Moscas-Minadoras Tiago Cardoso da Costa Lima Marcone César Mendonça das Chagas Pesquisadores da Embrapa Amapá / Macapá - AP o s adultos das moscas possuem tama- nho diminuto (1 a 3 mm) e coloração predominante amarela e preta. As pos- turas são realizadas no interior das fo- lhas, onde ocorre a eclosão das larvas, fase esta mais conhecida deste grupo de insetos. A pre- sença das larvas no interior das folhas pode ser observada, indiretamente, a partir da formação das minas por ocasião da alimentação do meso- filo foliar. O hábito minador das larvas confere o nome vulgar - moscas minadoras - a esse gru- po de insetos. Ao cessar a alimentação, as larvas abandonam as folhas para pupação, que em ge- ral ocorre no solo, mas também podem ficar pre- sas nas folhas. O ciclo de ovo a adulto dura em média 17 dias a 25°(, sendo aproximadamente 50% desse período direcionado ao estágio de pupa. Ataques severos da mosca-minadora podem causar necrose e queda das folhas, com consequente exposição de frutos. Em culturas cujas folhas são comercializadas, reduzem o valor do produto ou mesmo inviabilizam a comercialização devido ao dano estético. O dano principal causado pelas moscas-mi- nadoras é decorrente da alimentação das larvas, a qual interfere diretamente na redução da área fotossintética das folhas. Ataques severos podem causar necrose e queda das folhas, com conse- quente exposição de frutos, exemplo de melão e tomate. As têmeas de Liriomyza spp. também fazem puncturas nas folhas para alimentação, o que pode facilitar a entrada de fitopatógenos. Em culturas cujas folhas são comercializadas, a exemplo de hortaliças e plantas ornamentais, as puncturas também reduzem o valor do produto ou mesmo inviabilizam a comercialização devido ao dano estético. Alguns aspectos biológicos desse inseto pro- porcionam dificuldades em seu controle, como: a alta mobilidade e tamanho reduzido dos adultos; a proteção garantida pela epiderme foliar aos Agosto 2014 REVISTAG.BIO 13

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  • PESQUISA

    Controle Biológico deMoscas-Minadoras

    Tiago Cardoso da Costa Lima

    Marcone César Mendonça das Chagas

    Pesquisadores da Embrapa Amapá / Macapá - AP

    os adultos das moscas possuem tama-nho diminuto (1 a 3 mm) e coloraçãopredominante amarela e preta. As pos-turas são realizadas no interior das fo-lhas, onde ocorre a eclosão das larvas, fase estamais conhecida deste grupo de insetos. A pre-sença das larvas no interior das folhas pode serobservada, indiretamente, a partir da formaçãodas minas por ocasião da alimentação do meso-filo foliar. O hábito minador das larvas confere onome vulgar - moscas minadoras - a esse gru-po de insetos. Ao cessar a alimentação, as larvasabandonam as folhas para pupação, que em ge-ral ocorre no solo, mas também podem ficar pre-sas nas folhas. O ciclo de ovo a adulto dura emmédia 17 dias a 25°(, sendo aproximadamente50% desse período direcionado ao estágio depupa.

    Ataques severos damosca-minadora

    podem causar necrosee queda das folhas,

    com consequenteexposição de frutos. Em

    culturas cujas folhassão comercializadas,

    reduzem o valor doproduto ou mesmo

    inviabilizam acomercialização devido

    ao dano estético.

    O dano principal causado pelas moscas-mi-nadoras é decorrente da alimentação das larvas,a qual interfere diretamente na redução da áreafotossintética das folhas. Ataques severos podemcausar necrose e queda das folhas, com conse-quente exposição de frutos, exemplo de melãoe tomate. As têmeas de Liriomyza spp. tambémfazem puncturas nas folhas para alimentação, oque pode facilitar a entrada de fitopatógenos.Em culturas cujas folhas são comercializadas, aexemplo de hortaliças e plantas ornamentais, aspuncturas também reduzem o valor do produtoou mesmo inviabilizam a comercialização devidoao dano estético.

    Alguns aspectos biológicos desse inseto pro-porcionam dificuldades em seu controle, como: aalta mobilidade e tamanho reduzido dos adultos;a proteção garantida pela epiderme foliar aos

    Agosto 2014 REVISTAG.BIO 13

  • PESQUISA

    Folhas de melãoinfestadas comLiriomyza sp. emMossoró/RN

    estágios de ovo e larva e as pupas que se desen-volvem no solo. O controle químico predomina eé direcionado ao estágio larval, cujos ingredien-tes normalmente recomendados são abamecti-na e ciromazina, os quais têm efeito translaminar.No entanto, o curto ciclo de vida do inseto, as-sociado ao elevado número de aplicações de in-seticidas e o reduzido número de produtos commodo de ação distintos, resulta na rápida sele-ção de populações resistentes a agrotóxicos. Emalgumas localidades dos EUA, inseticidas utiliza-dos contra mosca-minadora mantiveram sua efi-ciência por apenas dois anos.

    Os insetos de hábito minador são conhecidospor apresentarem grande quantidade de para-sitoides como inimigos naturais. Apenas o gê-nero Liriomyza possui registro de mais de 150espécies de parasitoides, com destaque às famí-lias Eulophidae e Braconidae. Os parasitoides demosca-minadora podem ser cenobiontes larva-pupa, que não paralisam a larva após o parasitis-

    v

    mo (ex. Opius spp.); e idiobiontes, que paralisama larva (ex. Dig/yphus spp.). No caso dos idiobion-tes, após a sua larva finalizar a alimentação, a pu-pação ocorre no interior da mina construída pelalarva da mosca-minadora.

    As fêmeas de muitos parasitoides de Liriomyzaspp. se alimentam das larvas das moscas. Emalgumas espécies, o número total de larvaspredadas pode superar às parasitadas. Essecom-portamento é considerado positivo no controleda praga em campo, no entanto, pode onerar oscustos de uma produção comercial deste agentede controle biológico, uma vez que o parasitoideirá predar larvas que poderiam ser parasitadas.

    Parao monitoramento das moscas-minadoras,faz-se necessária a observação das minas forma-das nas folhas. Com auxílio de uma lupa manuale expondo a folha contra a luz, é possível a vi-sualização das pupas de parasitoides idiobiontesainda em campo. Essa informação simples é es-sencial para o sucesso do monitoramento pois,

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  • mesmo com uma grande quantidade de minasnas plantas, a maior parte das larvas pode estarparasitada e assim dispensar qualquer medidade controle. O monitoramento de moscas-mina-doras também é realizado utilizando-se armadi-lhas adesivas amarelas. Em algumas culturas comalto nível populacional de Liriomyza sp., painéisplásticos amarelos com óleo vegetal ou mineralsão posicionados nas bordaduras do plantio, uti-lizados como método de controle.

    Em geral, é notório que ambientes com bai-xo uso de inseticidas não apresentam problemascom moscas-minadoras. O controle biológico na-tural é suficiente para manter as populações dapraga abaixo do nível de dano econômico. Entre-tanto, em culturas com alta pressão de produtosquímicos, a elevada gama de parasitoides é dire-tamente afetada e, consequentemente, ocorremexplosões populacionais de moscas-minadoras.

    O controle biológico aplicado de Liriomyzaspp.já é comum em mais de 20 países, principal-mente na Europa e América do Norte, em cultu-ras de cultivo protegido. Dois parasitoides sãocomercializados desde o início da década de1980: o eulofídeo Dig/yphus isaea e o braconídeoDacnusa sibirico. O primeiro é adaptado a climasmais quentes e o segundo a temperaturas maisamenas.

    No Brasil ainda não há agentes de controlebiológico da mosca-minadora disponíveis pa-ra comercialização. No entanto, nos últimos oitoanos as pesquisas avançaram, iniciadas com tra-balhos desenvolvidos na Universidade FederalRural do Semi-árido e, posteriormente, na Esco-la Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" emparceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuá-ria do Rio Grande do Norte. O alvo inicial tem si-do a cultura do melão nos estados do Rio Grandedo Norte e Ceará, cuja espécie L. sativae é consi-derada a principal praga dessa olerícola. Diferen-tes parasitoides foram identificados associados àmosca-minadora na região, alguns já foram es-tudados quanto ao seu potencial como agentesde controle biológico. Nesse sentido, um sistemade multiplicação desses inimigos naturais foi de-senvolvido e está sendo aprimorado. Pesquisasde campo seguem em andamento para verificara eficiência desses parasitoides e o seu custo-be-nefício.

    Com o crescimento das empresas de contro-le biológico no Brasil, espera-se que em um fu-turo próximo, seja disponibilizada ao produtor aopção do uso de inimigos naturais com vistas aocontrole biológico da mosca-minadora .•

    Diferentes estágios de desenvolvimento damosca-minadora, Liriomyza sativae, e suasrespectivas durações a 25°(V

    ciclo ovo-adulto17 dias a 25°(

    9dias 3 dias

    ""/5 dias

    Parasitoide dafamília Braconidae,Opius scabtivemris,comumenteassociado aLiriomyza sativae emcultivo de melão noRio Grande do Norte

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    Pupa deparasitoideidiobionte(Neochrysocharissp.) de Liriomyzasativae em folha defeijão caupi

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