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Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado de Pernambuco

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EDITORIAL

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Alexandre Belém

Uma publicação da

Companhia Editora de Pernambuco - CEPE Circulação mensal integrante do Diário O� cial do Estado de Pernambuco

GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCOEduardo Henrique Accioly Campos

Vice-GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCOJoão Lyra Neto

SECRETÁRIO DA CASA CIVILLuiz Ricardo Leite de Castro Leitão

PRESIDÊNCIALeda Alves

DIRETORIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRABráulio Mendonça Meneses

DIRETORIA DE PRODUÇÃO E EDIÇÃORicardo Melo

CONSELHO EDITORIALMário Hélio: PresidenteCristhiane Cordeiro José Luiz Mota MenezesLuís Augusto ReisLuzilá Gonçalves

DEPARTAMENTO DE SUPLEMENTOSRaimundo Carrero

SUPERINTENDÊNCIA DE CRIAÇÃOLuiz Arrais

SUPERVISÃO DE REDAÇÃOSchneider CarpegianniREDAÇÃOMariza PontesGilson Oliveira (revisão)

ARTEFlávio Pessoa (edição)DIAGRAMAÇÃOMilitão Marques

SUPERVISÃO DE DIAGRAMAÇÃO E ILUSTRAÇÃOJoselma FirminoDEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO GRÁFICAJúlio Gonçalves

Distribuído exclusivamente pela Companhia Editora de Pernambuco - CEPE Rua Coelho Leite, 530, Santo Amaro. CEP 50100-140 Fone: (81) 3183.2700 FAX: (81) 3183.2741

CONTATOS COM A REDAÇÃO3183.2786/[email protected]

ATENDIMENTO AO ASSINANTE08000 81 [email protected]

SUPERVISÃO DE IMPRESSÃOEliseu Souza

SETOR DE PRÉ-IMPRESSÃORoberto Bandeira

Apesar da diversidade, que virou uma das nossas marcas, é possível identificar algumas obsessões temáticas no Per-nambuco. Uma delas é traçar as parti-cularidades da Região Metropolitana do Recife. Já falamos sobre o choque de identidades à deriva pelo Shopping Boa Vista, o cosmopolitismo de Boa Viagem e fizemos um passeio que foi de Barra de Jangada ao Janga...

Todos esses artigos foram escritos pela doutora em Sociologia Carolina Leão, que, com um texto inserido na melhor tradição freyriana de saber com sabor, tem nos ajudado a entender o Recife.

A capa deste número parte de uma questão levantada por Carolina: Como vão morar os ricos do Recife daqui pra frente? A autora toma como estudo de caso um condomínio de luxo, em Boa Viagem, para

apontar as mudanças sensíveis de como a cidade será consumida a partir de agora.

“Uma nova geração de cidadãos-con-sumidores, aos poucos, toma o Recife. São eles que ditarão o modo de consumo e apreensão da cidade, tantas vezes com-parada a um feudo”, explica Carolina.

Na série “Making of”, em que os au-tores descrevem o processo de compo-sição das suas obras, Bernardo Carvalho relembra a espinhosa aventura que ele precisou viver para escrever seu próxi-mo romance. A obra, que será lançada em 2009 (ainda sem data definida), fará parte da coleção “Amores expressos”, da Companhia das Letras. A idéia da coleção é levar autores brasileiros para viverem uma temporada em cidades no exterior. Na volta, uma história de amor precisa ser entregue. Bernardo foi para São Pe-

tersburgo, que o inspirou a ver pela ótica distorcida do pânico.

Ângela Prysthon publica no Pernam-buco, pela primeira vez, um trecho da sua dissertação de mestrado “Absolute begginers”, em que problematiza a lite-ratura brasileira pós-ditadura. Seria ótimo que ela decidisse publicar esse texto na íntegra! Perplexo com uma manchete do Aqui PE sobre um lobisomem atacando em Jaboatão, Raimundo Carrero escreveu sobre o fascínio que os monstros exercem nos subúrbios. E disso ele entende: foi ele quem inventou essa história, enquanto trabalhava com jornalista no Diário de Pernambuco nos anos 70.

O especialista em videoclipe Thiago Soares fez um reflexivo artigo sobre os dez anos do clipe “Baby one more time”, de Britney Spears, que nos lembra que é

no pátio do colégio que nossos jogos de poder começam a ser estabelecidos. O sociólogo Jorge Ventura volta a colabo-rar com a gente, num curioso ensaio que desvenda como assimilamos a culinária japonesa. O Saber + focaliza a obra de Carlos Newton Jr. e publica pela primeira vez um (ótimo) texto de ficção do jorna-lista Bruno Albertim.

A partir deste mês, quem passa a cuidar do visual do Pernambuco é o de-signer Flávio Pessoa, que vai dar conti-nuidade à tradição de ruptura (olha o tamanho do oxímoro!) da designer Jaine Cintra. Já dá pra sentir o estilo do novo colaborador. Confira.

Feliz 2009 e até janeiro,

Schneider Carpeggiani

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O romance que acabei de escrever, ainda sem título defi-nido, é resultado de uma encomenda. Há pouco mais

de um ano, passei um mês em São Petersburgo, na Rússia, com o objetivo de colher material para um livro de ficção. A idéia não era minha. Não falo russo, nunca tinha ido à Rús-sia e, fora a literatura, a música e o cinema (e alguma coisa das artes plásticas), nunca me interessei especialmente pela Rússia. O livro faz parte de um projeto chamado “Amores Expressos”, concebido por um jovem produtor de cinema, Rodrigo Teixeira. Ao longo de 2007, dezessete escritores brasileiros foram enviados para dezessete cidades do mun-do, para escrever histórias de amor que tivessem as cidades como pano de fundo. Não escolhi São Petersburgo. Quan-do me convidaram, já tinham decidido meu destino.

A proposta me interessou por vários motivos. Tenho uma queda pelos deslocamentos e pelo risco (embora não seja um sujeito especialmente corajoso, pelo contrário) e por viver situações artificialmente concebidas, como prova-ção e como provocação. Desde a consagração do multicul-turalismo nas artes, tornou-se um lugar-comum reduzir a literatura à expressão da experiência dos autores. Assim, se sou negro, só serei reconhecido como escritor quando ex-primir a experiência prévia e convencionalmente associada aos negros. O mesmo acontecendo em relação às mulhe-res, aos gays, aos escritores de países do Terceiro Mundo etc. O pretexto libertário de afirmação da visibilidade social das identidades oprimidas, das minorias etc., acabou por instituir uma visão que reduz as artes em geral à expressão da experiência identitária dos autores.

Desde o início, meus livros exprimiram não só um des-conforto em relação à(s) identidade(s) reconhecidas e defi-nidas a priori, mas um elogio da invenção como exercício de liberdade. A grandeza da literatura, para mim, é justa-mente a possibilidade de não corresponder às demandas existentes (por mais bem-intencionadas que elas sejam), mas de criar demandas, antes inconcebíveis, onde elas não existem e onde nem sempre são bem-vindas.

Nesse sentido, as viagens têm me servido como uma estratégia para romper com o vício de uma literatura que se quer expressão direta da experiência do autor. As viagens

fazem o autor sair de sua língua e do lugar do reconheci-mento. Além disso, no meu caso, representam uma experi-ência planejada, artificial, à qual me submeto já com a idéia de escrever um romance. E o romance não pode ser expres-são de uma experiência naturalmente vivida pelo autor se este já vive essa experiência como projeto de ficção.

É claro que isso não torna a experiência menos real. O real é inevitável. O inesperado e os riscos continuam a me surpreender. E, de certo modo, essa “experiência programada” me deixa ainda mais vulnerável, uma vez que as coisas estão fora do lugar, a começar pela ausência do conforto e do reconhecimento de uma identidade. O que me interessa, portanto, é a contaminação da experiência (e, consequentemente, da idéia de identidade resultante dessa experiência) pela ficção associada à afirmação da transcendência e da invenção.

Em todos os meus livros, a vulnerabilidade e a perda da identidade são etapas incontornáveis para se chegar a uma verdade e a uma literatura mais verdadeira. Em São Petersburgo, a situação artificial de viver durante um mês numa cidade onde eu não conhecia ninguém e cuja língua não compreendia foi determinante para a criação de um estado vulnerável graças ao qual o romance terminou sen-do concebido como um pesadelo do qual é preciso acordar. Eu queria evitar a qualquer preço o clichê romântico de es-crever uma história de amor em São Petersburgo. E, como se, ao me inserir artificialmente numa realidade que não me comportava nem me reconhecia, essa realidade passasse a conspirar a favor do meu projeto, fui assaltado logo no terceiro dia na cidade. O assalto é narrado em detalhes no blog do “Amores Expressos”, mas o importante é entender que, a partir dessa experiência inaugural, passei a viver a cidade pela ótica distorcida do pânico, como alucinação, quarentena, purgatório, antecâmara do inferno.

E era exatamente o que eu buscava: a história de amor reescrita como história de horror. São Petersburgo se tornou uma armadilha da qual os protagonistas do romance tentam escapar, mas à qual estão inevitavelmente presos. Só assim consegui pensar uma história em que o amor não fosse apenas um chavão, mas uma necessidade trágica de sobrevivência. yy

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Todo dia tem a hora da sessão corujaTrecho da dissertação de mestrado “Absolute begginers”, em teoria literária, discute nossa transição do pós-ditatorial ao pós-moderno

partir dos anos 80, no Brasil, a cultura se alinhou de modo agressivo ao mercado. O novo mercado cultural que se fomentou no Brasil desta época tinha que ser ágil para captar o Zeitgeist. O protecionismo governamental diminuiu ou adquiriu novas formas, porque outros espaços foram sendo cria-dos. O Brasil foi começando a tomar parte na “aldeia global” de modo mais ostensivo, mesmo como simples espectador ou comprador de cultura estran-geira, na maior parte das vezes.

Isto porque a velocidade com que começaram a chegar os últimos lança-mentos internacionais cinematográficos, discográficos e literários passou a ser muito maior e o número de pessoas com acesso a eles, também. É indubitável que o caráter industrial da cultura foi mais legitimado a partir desse período de abertura política e econômica, por mais que a inflação e o perigo de reces-são rondassem as expectativas tão otimistas (do ponto de vista do mercado cultural, vale enfatizar) dos anos 80.

Os jornais, o movimento editorial, a disseminação dessa cultura nas univer-sidades fixaram retratos dessa pós-modernização dos anos 80, principalmente através dos novos nexos com o mercado e suas regras. Porém, essa eferves-cência de capitalismo tardio (que no Brasil pode assumir os dois sentidos, o de atrasado e o de pós-industrial de fim-de-século) atingiu outros níveis; comportamentais, teóricos e artísticos.

Por todo esse deslocamento de idéias a partir do cultural business, pode-mos afirmar que a pós-modernidade brasileira não tem propensões para bus-car a voz coletiva dos terceiro-mundistas, nem engrossa as fileiras (enquanto movimento) do multiculturalismo. O primeiro pós-moderno brasileiro (que vai até o início dos anos 90), ao contrário, está procurando sua identidade a partir da identidade do Primeiro Mundo.

O que pode ter acontecido foi a adesão explícita a um projeto mundial de cultura pop. A cultura pop podia ser muito clara, pelo menos desde o pós-guerra, em outros lugares do mundo, mas no Brasil só se manifestou sem ro-deios nos anos 80. Com o surgimento da cultura pop (que não é igual à cultura popular e não é a cultura de massas simplesmente dita; a cultura pop poderia ser definida como uma cultura de massas mais ativa e consciente de si mesma) afirmou-se a universalização do rock, da contracultura, do cinema de grandes públicos como os principais valores da cultura ocidental contemporânea.

O Brasil “aspirante a pós-moderno” quer fazer parte desse universo pop, desse império do efêmero, dessa constelação brilhante da cultura fin-de-siècle. Um desejo veemente – não de todo um povo, mas de uma classe urbana in-telectualizada e com certo poder aquisitivo – de pertencer a algum lugar, bem demarcado e bem longe da cultura do campesinato e das favelas de morro.

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nos anos 80. Mais suscetíveis, também, à conformação da cultura como moda. E, por isso, modismos transformavam a cultura brasileira. A lógica do slogan, da publicidade, da efemeridade dos produtos e estilos vinha para inaugurar o arremedo de pós-modernidade no país.

A palavra impressa nesse contexto de cultura pop é absolutamente rele-vante. Através dela foram repassados os outros itens do bazar cultural dos 80. A cultura pop depende da metalinguagem para se reproduzir. É pelo dis-curso sobre a cultura pop e seus produtos, constante autodefinição desses tempos, que o mercado conseguiu vender seus rótulos e os conteúdos sob estes rótulos. A tríade jornalismo (nesse sentido, jornalismo cultural e crítica), editoração e discurso acadêmico (que incidia sobre essas questões) é uma indústria cultural especial que legisla acima de todas as outras, ou melhor, que tem a pretensão de dominar as outras através da palavra e da consciência que tem dela mesma e dos processos que regem a fabricação desses objetos de consumo.

Sobre o culto ou o cult, o espaço cult da pós-modernidade brasileira, é ne-cessário esclarecer sua estreita ligação com os outros componentes da cultura pop brasileira, o público e a indústria cultural impressa. De fato, os cult-mo-vies, as figuras cult, os personagens e o comportamento cult são “inventa-dos”, popularizados pelo “sistema das modas” lançadas pelo jornalismo cul-tural e quem mais se identifica, ou procura os modelos de comportamento, pelos estilos de vida oferecidos pelo cult é aquele público de que falávamos anteriormente.

O cult representa a institucionalização do desvio, da diferença. É esse um dos slogans fundamentais da década: a exemplaridade do marginal, do di-ferente, do original, acessível a “todos” (quem pode comprar todas aquelas publicações, quem se interessa por todos os rótulos lançados nos 80). Ligado às indústrias cinematográfica, discográfica, editorial, entre outras, o cult foi direcionado primordialmente aos jovens.

Enfim, podemos afirmar que o Brasil dos anos 80 só pode ser compreendi-do a partir dos universos já mencionados (a editoração, o jornalismo cultural, a discussão teórica sobre o pós-moderno suscitada pelas Ciências Humanas nas universidades, o apelo do culto ao cult). E se já nos anos 90 a discussão sobre o pós-moderno não provocava muito interesse, se o burburinho pós dos 80 se dissolveu em meio aos politicamente corretos, aos multiculturalistas, aos neonazistas, à luta contra os neonazistas, à morte do comunismo, ao fim da história, aos pré-históricos grunge, aos eternos revivals do mesmo, não é demais realçar a importância desse período para a formação, consolidação, legitimação e disseminação da cultura pop no país. yy

Talvez seja até uma atitude parecida à da classe média com relação ao seu fascínio pelo “envernizamento”. A atração do pós-moderno para um país do Terceiro Mundo pode ter seus paralelos com os confortos que o kitsch oferece aos seus usuários, e ser também uma continuação do processo colonizador, camuflado, ou melhor, relativamente invertido, já que agora o colonizador é “procurado” por um colonizado ansioso por identidade.

Contudo, afirmar categoricamente tudo isso da classe média pensante brasileira, a que tem a pós-modernidade como ponto de pauta, seria um des-merecimento com ela e com o potencial da ironia pós-moderna, seria concor-dar com os que igualam pós-moderno, conservadorismo e inércia criadora. Na circunstância brasileira, não é arriscado dizer que essa nova situação cultural, esse redimensionamento da cultura de massas – ou melhor, da cultura pop da classe média e universitária, principalmente, nunca é demais relembrar –, em certa medida, põe abaixo um establishment de preguiça oficial, de patrulha-mentos inúteis, de um tipo de engajamento ultrapassado, de um panfletaris-mo antiestético.

A consolidação de um tipo de cultura pop no Brasil é bastante significativa para a criação de um cenário pós-moderno propício. Aliás, esse cenário pós-moderno e a cultura pop quase se confundem. Por isso, é imprescindível que fique bastante claro que não estamos nos referindo nem à cultura popular propriamente dita, nem à liberal identificação da cultura de massas com a cul-tura popular. Em uma primeira aproximação, o que chamamos de cultura pop abrange a cultura massificada (com possibilidades de reciclagem), o acesso (relativo) à cultura de elite e uma sensação de “domínio” da cultura de elite e da cultura de massas, paralelamente.

Não se pode identificar, totalmente, também, a cultura pop com a cultura média (ou midcult). Esse conceito de midcult é relevante para se compreen-der historicamente como a indústria cultural (em especial a norte-americana) acreditou (ou fez acreditar) que era possível uma “democratização” da cul-tura. Porém, a cultura média não se configura como produção homogênea, como produto típico da classe média para a classe média.

Ao contrário, a cultura pop, nesse caso, a brasileira, tem um público es-pecífico, tem um foco de produção, embora tenha várias ideologias. Esse pú-blico é justamente a classe média universitária e urbana (a “elite intelectual” da pequena burguesia), o foco de produção é a indústria cultural impressa e uma das ideologias mais “vendidas” dessa vitrine é a delimitação das figuras de culto inserida num sistema de modas culturais.

Os mais jovens dessa intelectualizada pequena burguesia foram os mais suscetíveis à proliferação dos discursos sobre a contemporaneidade surgidos

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e especialização das instituições, a cidade moderna guarda uma das funções básicas de qualquer cidade: a defesa.

Os castelos formaram uma das primeiras caracterizações da cidade vertical possível, cuja marca hoje são os edifícios e arranha-céus contemporâneos. Depois deles, vieram os palácios e palacetes, mais contidos em engenharia e sensibilidade. O ritmo da cidade exigiu mais con-tenção e a vida burguesa, com sua família nuclear, bem menos numerosa, nos presenteou com os sobrados, logo substituídos pelas casas (das mansões às ha-bitações populares). Embora marcada pela extrema individu-alidade, a vida contemporânea se pautou pela promiscuidade e dinamismo de gente aglomera-da em seus bairros, praças, ruas e avenidas. No Brasil, uma das características mais marcantes desse tipo de moradia urbanísti-ca, a casa, é a proximidade com que foram construídas: conjuga-das, coladas, siamesas, como nas ruas mouriscas do Recife. O con-traponto a essa permissividade vem com o investimento na mo-radia vertical, sobre a qual seria ingênuo pensar como produto, apenas, da racionalidade urbana

e sua economia espacial. O edifí-cio é a Babel que deu certo. Um novo castelo: vitorioso na nova cultura do medo. Prático, segu-ro. Pragmático, como manda a cartilha do moderno.

No Recife, os ares de moderni-dade foram implementados com a urbanização dos anos quarenta e cinquenta, na qual se sobres-sai a construção de edifícios na beira-mar de Boa Viagem. A mo-dernidade dos edifícios, porém, não ultrapassou a idéia. São eles operacionais, sim, mas lhes fal-tam os índices estéticos de uma arquitetura do estilo. A vanguar-da, porém, não é apenas forma. É ideologia. À uma nova sensibili-dade ideológica, o Recife começa agora a corresponder colocan-do-se à frente das grandes cida-des brasileiras, onde é clara, por exemplo, a distinção entre obras modernistas e pós-modernis-tas em arquitetura e urbanismo – caso do bairro carioca Barra da Tijuca, composto de apartamen-tos de luxo e alto luxo repletos de decoração kitsch e multi-infor-mação visual. O novo conceito de bem morar, criado pelas princi-pais construtoras imobiliárias da região, nocauteia a idéia que se tinha, até então, acerca das inú-meras possibilidades de moradia

Artigo analisa as mudanças urbanísticas do Recife e questiona como vão morar os ricosCarolina Leão

são por povos hostis, como torres e pontes elevadiças, os castelos surgiram na Europa como parte de uma cultura do medo. Sua história remonta, no entanto, às fortificações estratégicas das ci-dades seminais, de Tróia a Jericó. Um olhar atento à história das civilizações comprova a contínua existência de construções dessa natureza. O processo histórico muda, é claro, as técnicas e fun-cionalidade de tais monumentos, que passam a ter novos significa-dos conforme o uso feito pela so-ciedade. De proteção a residência aristocrática, o castelo se tornou um dos símbolos de opressão do Ancien Régime. Isolados e opu-lentos, com suas festas e glutões, eles abrigavam sanguessugas que se valiam das vassalagens corri-queiras para ascender socialmen-te; enquanto a alta hierarquia se esbaldava com seus faisões assa-dos e suas alcovas de diversidade erótica. À mítica figura da donze-la no alto da torre associa-se uma interpretação mais real e crítica, a da estagnação social, cuja apre-ensão pelo discurso moderno nos tem impelido, há mais de três séculos, ao desprezo pela insti-tuição Castelo. Mas, olhem só, que a vida moderna nos tapeia. Marcada pela alta funcionalidade

imagem de uma princesa em perigo, no alto de um castelo solitário, tem moldado nosso re-pertório sentimental sobre a mas-sacrada Idade Média, desde que a indústria literária popularizou os contos de fada, cuja origem remonta ao ideário do medievo. A verdadeira função dessas mo-numentais e hoje fetichizadas construções arquitetônicas, ex-plica bem mais, porém, do que o imaginário simbólico contido nas lutas de amor travadas entre ca-valeiros oportunos, reis sanguiná-rios e dragões fantasiosos, ainda que o imaginário novelesco nos seja mais atrativo. E explicam, até, para desgosto dos modernetes de plantão, o cotidiano funcional das cidades contemporâneas. O castelo foi, acima de tudo, uma fortaleza erguida para a defesa militar. Antes dos Estados-Nação da era moderna aplicarem, em suas sucessivas guerras, o ataque como defesa da unidade territo-rial e preservação da identidade cultural local, as cidades feudais apostaram no isolamento do ini-migo como tática de conservação social. O monstro era real.

Erguidos em áreas de difícil acesso e compostos de engenho-cas pensadas especialmente para eliminar as possibilidades de inva-

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funcional. Dentro da perspectiva de uma nova cidade, que priori-za a economia de tempo e ma-ximização do gozo, encontra-se o Evolution Shopping Park, em-preendimento cujo lançamen-to anuncia uma outra dinâmica através da qual a cidade do Recife deverá se movimentar nos próxi-mos anos. Esqueçam as mansões de Casa Forte, com seus resquí-cios da cultura de engenho, e as coberturas da Avenida Beira-Mar, amplas e vistosas. Esqueçam tam-bém as quadras de tênis e mesas de totó, que vinham como bônus dos recursos poliesportivos, nos edifícios de alto luxo. Esqueçam os salões de festas equipados e as piscinas semi-olímpicas. As TVs a cabo; o parquinho do play. Todos os itens de luxo de um grande complexo imobiliário se tornaram obsoletos diante dessa empreita-da. São cinco torres residenciais ladeadas por uma mega área de lazer, inspirada nas dependências externas dos resorts nordestinos. Clima de praia em pleno caos urbano. Hiper-real para quem pode desembolsar mais de meio milhão de reais, em prestações mensais que chegam a mais de dez salários mínimos. Os eleitos vão entrar para a história do ur-banismo em Pernambuco mar-

cando, enfim, uma nova configu-ração metropolitana. Mudam-se os castelos e seus reis.

O Evolution segue o conceito de easy life: funcionalidade de hotel em plena moradia urbana. O condomínio conta com empre-sas terceirizadas que fornecerão serviços diversos, do utilitarista ao supérfluo, aos seus moradores. Lavanderias, pet shop, encana-dor, eletricista, personal trainer, car wash e massagem, estão en-tre eles. Ficar em casa nunca foi tão fácil. A casa, que na moder-nidade fôra lugar de passagem, volta a ser refúgio social, como, olha aí, nos tempos do castelo. Com o crescimento da violência urbana, a cultura do flâneur nun-ca esteve longe da memória. Ser visto pela sociedade, como era de praxe, desde os tempos do cine-matógrafo ao shopping center, não é só um risco; é um luxo. As novas invasões bárbaras, o tempo que não controlamos ou a reali-dade social que desconhecemos, nos obrigam ao contentamento da tradição e sua aparente se-gurança. A comilança que bem cabe à oportunidade é destaque na construção de espaços gour-mets dos apartamentos individu-ais. Estes, aliás, seguem padrões da vida dos novos ricos: sala para

dois ambientes, duas suítes. Nes-se sentido, não há muita ousadia. Os apartamentos continuam com os cômodos tradicionais de qual-quer construção residencial. O diferencial aqui fica por conta de um investimento maior na nova área de lazer da classe média per-nambucana: a cozinha. O mais importante na apreensão do Evo-lution, como índice de um novo fenômeno urbanístico, é a sua proposta hedonística residencial. Sem sair de casa, o condômino conta com um parque aquático digno do ramo hoteleiro e mais de cinqüenta itens de lazer e tec-nologia, como uma mini-pista au-tomobilística. Se não conseguiu, ainda, relaxar com tanta como-didade, é só dar uma passadinha no espaço fitness, com academia super equipada e sala de pilates.

O lançamento de um em-preendimento comercial como o Evolution nos faz pensar em questões fundamentais da histó-ria e do espaço urbano recifenses. Uma primeira dúvida, de natureza até ontológica, é o lugar do céu na cidade. As torres mudam a paisagem de nossa cidade baixa; interferem no olhar sobre ela em todos os ângulos e perspectivas que podemos pensar: do afetivo ao turístico. Por outro lado, se-

ria interessante questionarmos a fase de expansão da cidade na exploração do traçado urbano. Recife é uma cidade de praças e pátios – eles são os nossos bule-vares parisienses. A idéia de uma estrutura auto-suficiente como tal, nos revela a dificuldade que teremos em pensar a cidade na coletividade, na diferença e na inclusão. A própria idéia de uma popularização desse tipo de cons-trução imobiliária indica o contra-ponto a uma característica básica das cidades, que é o cruzamento de estilos, tendências e classes nos espaços sociais a céu aberto, como os parques e a praia. Que tipo de mobilidade social veremos nos ambientes destinados ao la-zer popular, por exemplo?

Uma nova geração de cida-dãos-consumidores, aos poucos, toma o Recife. São eles que dita-rão o modo de consumo e apreen-são da cidade, tantas e tantas ve-zes comparada a um feudo. Aqui, onde o feudalismo ibérico foi adaptado à cultura da Casa-gran-de; onde um simulacro de castelo se tornou um dos pontos turísticos mais visitados da capital, um outro encastelamento sugere que a his-tória, às vezes, dá volta, revisitan-do, até espontaneamente mas não inocentemente, o passado. yy

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Jorge Ventura de Morais

A ver

dadeira maionese Ensaio desvenda os inacreditáveis usos (e abusos) que retratam

como o brasileiro assimilou a culinária japonesa

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Neste ano de 2008, quando se completam cem anos da imigração japonesa para o Brasil, restaurantes japoneses tornaram-se parte da

paisagem gastronômica das nossas principais cidades. E como a cultura de freqüentar restaurantes pelo simples prazer de provar comidas bem preparadas e apresentadas esteticamente de forma agradável se encon-tra firmemente enraizada no modo de vida das sociedades afluentes, as nossas classes médias e alta, intelectuais, profissionais liberais e em-presários são clientes assíduos desses restaurantes japoneses. De certa forma, a novidade e o exótico de anos atrás se transformou em hábito. É comum encontrarmos sushis servidos não somente em restaurantes japoneses, mas também em churrascarias de toda a sorte.

Neste curto artigo analiso a assimilação, por um lado, da culinária japonesa por brasileiros, e a incorporação de hábitos e gostos brasilei-ros à culinária japonesa aqui praticada. Em outras palavras: as interpre-tações entre duas culturas.

Para melhor entendermos esta complexa relação, vou relatar uma “saída” típica para jantar em um restaurante japonês. O que vamos encontrar? Como nosso jantar se desenvolverá? Quem nós encontrare-mos lá? Como seremos atendidos? Através da resposta a essas e outras perguntas procuro analisar a interpenetração das culturas brasileira e japonesa através da culinária japonesa no Brasil.

Quando chegamos a um restaurante japonês no Recife, somos sau-dados com uma exclamação em japonês, somos levados a uma mesa – a última, pois o restaurante está cheio nas noites de sexta – por um rapaz ou moça em trajes formais ocidentais. Sentamo-nos! Um garçom, que usa um traje diferente do(a) daquele(a) que nos conduziu à mesa, vem em nossa direção. Ele usa uma fita que lhe rodeia a cabeça passando pela extensão da testa e uma espécie de bata. Ele parece se vestir (ou pelo menos tentaram vesti-lo) à moda japonesa. Outros atrás do bal-cão, vestidos da mesma forma e usando o mesmo adorno na cabeça, manipulam bolinhos de arroz que são encimados com um pedaço de peixe cru e outros produtos que têm origem no mar. O garçom traz um pequeno recipiente, um pratinho, na verdade, e um invólucro contendo dois “pauzinhos” ligados entre si que devemos quebrar para serem usa-dos. Fazemos um pedido. Enquanto esperamos, observamos em volta. Vemos outros clientes que chegaram antes. A julgar pelas aparências, são profissionais liberais, são profissionais das novas indústrias da in-formação, são jornalistas, professores universitários, artistas etc. Uns

senhores de paletó, falando alto e tomando uísque, devem ser advoga-dos relaxando depois de terem cuidado dos interesses dos seus clientes enredados nas malhas da justiça ou lutando por um direito que lhes foi negado por alguma concessionária de telefonia celular.

Todos têm em frente um prato relativamente bonito que dividem entre si. Não, não é um prato para cada um, mas um prato único de onde todos se servem. A maioria usa os ditos “pauzinhos” para pegar o bolinho de arroz e peixe que estava sendo preparado quando chegamos ao restaurante. Nosso vizinho pega, com o auxílio dos “pauzinhos”, um dos bolinhos de arroz com peixe – este particularmente é coberto por um peixe de carne rosa-alaranjada. Deve ser salmão! Ele então mergu-lha o tal bolinho no molho shoyu, vira-o de todos os lados, deixa-o em-bebido do referido molho, coloca uma porção generosa de raiz-forte e de gengibre, e o leva à boca. O bolinho logo recebe a companhia de um gole de coca com gelo e limão. Enquanto isso, ele agita os “pauzinhos”, certamente lamentando a péssima campanha do seu time de futebol no campeonato com o seu amigo. Há outros bolinhos semelhantes no prato que pediram: uns vêm recobertos de maionese, outros de cre-am-cheese. Ah! Há ainda aqueles bolinhos que parecem enrolados ao contrário. Os moços de detrás do balcão colocaram frutas no meio de alguns deles, tais como manga, morango e abacate.

Uma olhada ao redor e apreciamos a decoração. Há quadros nas paredes de alguma paisagem famosa do Japão, reproduções de gra-vuras japonesas, há algumas bonecas japonesas, o teto de madeira é rebaixado e imita o efeito de uma rede de bambu, há um aquário, com peixes coloridos.

Paramos de examinar criticamente nossos vizinhos e a decoração e passamos a prestar atenção na nossa caipirinha que o garçom aca-bou de trazer. Epa! Chamamos o garçom e reclamamos: “Moço, esta caipirinha tá com um gosto estranho!...”. E ele: “Mas eu pensei que vocês tinham pedido uma sakerinha”.

Embora fictício, o breve relato acima não é irreal. Na verdade, foi construído a partir de observações pessoais e de relatos diversos espa-lhados em revistas especializadas em culinária e/ou gastronomia.

Para sumarizar, se até anos atrás os primeiros restaurantes japone-ses no Recife sofriam de uma tripla “doença” – peixe cru, pouca comi-da e cara –, no julgamento dos freqüentadores de restaurantes, hoje em dia eles vivem cheios, principalmente em certos dias da semana e

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dadeira maionese Ensaio desvenda os inacreditáveis usos (e abusos) que retratam

como o brasileiro assimilou a culinária japonesa

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Se meu relato fictício é correto, parece que fazemos tudo errado quando se trata de consumirmos comida e de nos portarmos à mesa em restaurantes japoneses. Porém, não somente nós brasileiros (como o revela Takahashi), mas as pessoas no mundo todo fora do Japão (como diretamente o diz Toyoo).

Penso, no entanto, que é preciso atentar, mais uma vez, para o fato de que a culinária japonesa no Brasil (e pelo mundo afora) passou por adaptações tal como outras culinárias em outras partes do mun-do, inclusive no Japão. Se nos distanciarmos dessas discussões sobre modos corretos de se portar à mesa e de ingerir certos alimentos, ve-remos, ao fim e ao cabo, que a relação de cada povo com sua própria tradição culinária e com as tradições culinárias de outros significa uma mudança constante em várias direções.

Hoje, cem anos após a chegada dos primeiros imigrantes japone-ses, sua culinária – em termos de preparação, ingredientes, estética etc – está, apesar de diferenças notáveis entre o Brasil e o Japão, in-corporada ao nosso cotidiano. A culinária japonesa, principalmente o sushi, ultrapassou os limites dos restaurantes típicos e se espraiou para churrascarias – onde se comete outra “heresia”, que é a de que os clientes consomem o sushi como se prato frio ou salada fosse – e lojas das grandes cadeias de supermercados que o oferecem em cai-xetas de plástico sempre bem resfriado.

Incorporamos e aprendemos a apreciar, em certa medida, princi-palmente nas nossas grandes cidades, pratos da culinária japonesa. Ao mesmo tempo, como em todo e qualquer lugar do mundo, a culi-nária japonesa aqui praticada, seja pelos imigrantes e seus descenden-tes, seja pelos brasileiros que aprenderam o ofício, sofreu adaptações decorrentes de uma série de fatores sejam de ordem natural (a “im-posição” da natureza), sejam de ordem cultural (o nosso paladar e a criatividade dos chefs).

A revista “Gula” de maio de 2008 revela dois bons exemplos desta afirmação: o Sushi de Codorna do restaurante Sushi Leblon, no Rio de Janeiro, e o Escondidinho Japonês do Gueisha Hi-Tech, também do Rio de Janeiro.

Ao fim, é possível concluir que a interpenetração dessas duas tra-dições culinárias tem sido rica: o nosso paladar se tornou mais rico, ao passo que a culinária japonesa praticada no Brasil tem seguido um percurso rico e autônomo em relação à sua pátria-mãe. yy

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são freqüentados por gente que pertence àquilo a que costumamos chamar, sem muito rigor sociológico, de classe média. Tornaram-se uma opção corriqueira para os de classe média e alta que costumam freqüentar restaurantes. Perderam a aura de exóticos!

Ao lado disto, meu pequeno relato introduz uma série de práticas da maioria de nós brasileiros que freqüentamos restaurantes japone-ses. Todas as cozinhas do mundo passaram e passam por mudanças ao longo do tempo. As pessoas adaptam os novos pratos aos seus pa-ladares. Comida de imigrante é adaptada pelos nativos. E quando um povo “importa” uma culinária estrangeira, esta também é adaptada ao paladar nativo.

Compare-se o meu relato com as palavras de Jo Takahashi, diretor do Departamento de Arte e Cultura da Fundação Japão, São Paulo. Ele aponta para o fato de que no Japão não se come (ou não se comia até recentemente) sushi de salmão. O que parece ter sido uma “invenção” dos chefs californianos se espalhou pelo mundo.

O mesmo acontece com o uso de frutas absolutamente tropicais. Restaurantes japoneses, tanto os tradicionais quanto aqueles mais he-terodoxos que oferecem rodízio de sushi, incluindo-se aí as churrasca-rias e supermercados que vendem esta iguaria, costumam ter em seus cardápios tipos de sushis combinados com frutas de origem tropical.

Jo Takahashi, em entrevista à revista “Gula”, fala dos bons modos à mesa e a correta ingestão de certos alimentos no que respeita aos costumes japoneses. Deixemo-lo falar: “Para começar, deve-se evitar a piscina de shoyu. Usar o molho com moderação, sem deixar que to-que nos cantinhos do pratinho. Falar mexendo os hashis ou raspá-los para limpar são sinais de péssima educação. Os hashis não podem ser usados para sushi, e sim para outras especialidades. O sushi deve ser comido com as mãos, para que seja possível molhar delicadamente o peixe no shoyu (não o arroz!) e levá-lo à boca fazendo com que o peixe toque a língua (não o arroz!). Ou seja, faz-se o movimento de virar, com as mãos, o que seria mais difícil realizar com o hashi”.

Neste mesmo sentido, mas não se referindo necessariamente ao Brasil, leiamos as palavras do ensaísta japonês Tamamura Toyoo: “No estrangeiro, as pessoas chegam a cortar o nigirizushi (sushi) com seus ‘pauzinhos’ antes de levá-lo à boca [...] Você também encontra nigi-rizushi em que o arroz é tão ‘apertado’ que você imagina que está comendo oshizushi (sushi prensado)”.

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Thiago Soares

Há dez anos, Britney Spears começou a encenar os jogos de poder de uma geração no clipe “Baby one more time”

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Tenho a impressão de que, freqüentemente, nos pegamos presos ao pátio do colégio. Aos jogos de

poder e sedução, às tentativas de enquadramento nas identidades cambiantes, às maneiras de se construir como um “alguém”. Cada vez mais me convenço de que viver é enfrentar jogos de poder. E que, a primeira grande prova de tudo isso, vem na escola. Principal-mente no pátio, na hora do recreio, quando, livres das amarras das aulas, do olhar vigilante do professor, desfrutamos de um senso de autonomia sobre nossos atos. Estas inquietações me levam ao clipe “Baby one more time”, de Britney Spears, objeto tão detratado e esquecível, que comemora dez anos neste mês de dezembro. Paradoxal aqui é se comemorar o “aniver-sário” de um videoclipe, um produto que parece se constituir como um mínimo rastro de memória: ima-gens com prazo de validade e data de esquecimento. Crônica de uma morte anunciada.

“Baby one more time” encena, talvez, aquilo que se constitui como mais elementar nos jogos de po-der: a fuga da norma com o intuito de embate na busca pela legitimação. O clipe tem início com o fi-nal do expediente da aula. Fim dos engavetamentos das identidades. Vemos Britney Spears indo ao pátio: a imagem da boa menina, comportada, na sala de aula, dá lugar a uma garota que encurta a saia, “le-vanta” a blusa e provoca. Dois espaços: sala de aula e pátio. Dois princípios: vigilância e liberdade. Está em “Baby one more time”, um eco da imagética do colé-gio como este ambiente de poder deslizante. Princi-palmente, quando nos detemos à figura feminina.

Ao que me parece, o clipe levanta uma questão: seria a sedução e o corpo os principais artefatos de poder da mulher nos espaços públicos? Possivel-mente, vemos reverberações de conquistas e derivas em outras obras. Como a garota que manipula seu amado em “O amante”, de Marguerite Duras, ou o prazer da conquista do outro, na imagem da “Loli-

ta”, de Nabokov. Em cada uma dessas narrativas, o visual “lolita” funciona mais como posicionamento “bélico” de legitimação que como reforço de uma identidade feminina. A Britney Spears lolita de “Baby one more time” renega a fragilidade do feminino e se constrói sobre os excessos da busca pelo posto de “rainha do baile”, “líder de torcida” ou “menina mais disputada da escola”.

É neste sentido que o videoclipe faz ecoar a idéia tão presente no que Zygmunt Bauman chama de re-lações líquidas na contemporaneidade: o poder faz estancar o líquido, logo, quem manda, direciona para onde as águas vão jorrar. Ao se posicionar como “a” menina do pátio da escola, vemos uma Britney Spe-ars tentando construir as bases de um lugar de legiti-mação no mercado da música. Princípios pouco líqui-dos como certeza, atitude, controle fazem parte da gramática de uma pedagogia do “seja um vencedor”. Tanta atitude, tanta máscara, tanta simulação pare-cem sintomáticas das relações de poder que se pre-sentificam na cultura contemporânea. Neste sentido, me questiono: para onde vai o que não é simulação? Se somos convocados a vivermos constantemente na esfera pública, no domínio do visível e daquilo que se mostra, penso ser fundamental chamar atenção para o privado, para o domínio do invisível e daquilo que só nós conhecemos.

Talvez eu esteja falando de uma busca pelo es-sencial nesta profusão de máscaras que aparecem e se esvaem. Mesmo diante de toda luta feminista por uma instância de poder, pelo conflito sexista que até hoje se encena, pela culpa que se lança, por exemplo, sobre Sarah Palin pela derrota do candidato John Mc-Cain à presidência dos Estados Unidos, é preciso que haja uma preocupação com o que não está nestes “jogos”. Fico pensando como deve doer encenar o tempo inteiro: mesmo ferida, a pele precisa da ma-quiagem para esconder as marcas do real. Tudo é

simulação. Nós consumimos o simulacro do outro e nos inventamos como “interessantes”, “engajados”, “bem-sucedidos”. Me questiono também qual a me-dida da simulação nos jogos de poder. Ao vermos a Britney Spears garotinha, frágil no início de sua car-reira, mesmo encenando ser alguém “com atitude”, visualizo o que se sucedeu com a cantora: dinheiro, sucesso, crise, casamentos mal sucedidos, filhos, cli-pes, shows, fãs. Vida e simulação de vida transforma-dos em matriz narrativa midiática. Pensei outro dia: quem consome Britney Spears, consome a vida dela, esta enorme narrativa sem fim, que começou há dez anos como este clipe “Baby one more time” e deve acompanhá-la durante ainda muito tempo.

Pensando sobre toda essa construção de imagens de atitude, da Britney Spears fazendo cara de desdém para os meninos – mesmo que ela quisesse, de algu-ma forma, conhecê-los –, de toda a encenação, caras e bocas que, de alguma forma, o clipe de “Baby one more time” encena, lembrei do dia em que, depois do almoço, que se seguiria a aula da tarde, depois de tan-tos olhos, tantas distâncias, tantos soslaios, eu sentei junto de você no banco do pátio. E aquilo, sentar ao seu lado, no banco do pátio, diante de tudo e de todos, me pareceu ser a maior ousadia que eu poderia come-ter: me mostrar. E me imaginei falar frases difíceis, con-tar casos extraordinários, falar de coisas inacreditáveis. Tudo muito grande, tudo sem medida. E como quem não se importa com o que se constrói, não quer sa-ber da arquitetura, mas dos interiores das obras, você me olhou, acendeu o cigarro, sorriu e soltou: “Vamos tomar um café no meu quarto?”. De alguma forma, reconheci outra forma de ousadia, agora sua: se mos-trar. E, sem jeito, com tamanha exposição, declinei: “Eu não tomo café”. Talvez para mostrar que, mais do que máscaras, simulações, partidas, o que se precisa é de encontros, você soltou: “Eu também não”.

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Uniformes de guerra

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em títuloS

O foco vazio de J.R. Duran no livro “Cadernos etíopes” Georgia Q

uintas

T odos indicavam um vazio imenso, mas não havia como fugir disso. Todo e qualquer olhar é irrefutável, disso não tenho dúvidas. Não será por isso que, quando quere-

mos ou precisamos fugir da verdade, não olhamos para o outro? O certo é que todos fixavam o olhar em mim e eram muitos, de crianças, homens e mulheres, uns mais jo-vens, outros bem mais velhos. Nada mais doloroso que buscar a essência de uma pessoa e depararmos com a letargia avassaladora de quem pode trazê-la até nós. Continuei tentando, sem sucesso algum, encontrar o equilíbrio, dedicar mais atenção, dar tempo ao tempo e retomar o diálogo visual. Ilusão a minha.

Inacreditavelmente, o estranho que não conseguia circular naquele mundo distante de territórios empoeirados, áridos, cuja luz solar causa certa cegueira momentânea, era eu. Visivelmente, perambulando por espaços etíopes, de uma África vibrante. As pessoas pareciam questionar a minha presença. E eu atônita caí na armadilha de levar a sério certa idéia que se apresentava para mim rarefeita, perdida, sem esteio... Por fim, senti uma solidão inefável. Pois, as fotografias que poderiam me transportar magicamente ao encontro de outros povos, etnias ou, simplesmente, pessoas plasmaram o inverso. Des-locou-se para minha contemplação um mundo exótico, diverso, profícuo de significados culturais que, ironicamente, conotava-se falso, frágil e pueril.

“Cadernos etíopes”, livro recém-lançado do fotógrafo J.R. Duran, sintetiza tudo isso. Sua idéia de registro documental e social, fortemente guiada pela pretensão da perspec-tiva antropológica, esvai-se a cada página. Apesar de saber que o olhar apreendido pela fotografia é subjetivo e envolto em aura intangível – porém poética e sensível – ques-tiono o porquê deliberado de causar impacto através do exotismo corporal se o próprio realismo fotográfico se ocupa disso. A beleza plástica é atemporal e imutável. Assim, de-parar-se com a estetização do olhar vazio é como cair em um precipício de ausências.

Não há sentido, razão de ser, fazer retratos de outrem e expurgar o quão denso e profundo é esse processo simbólico. Talvez tal engano ocorra devido a dois campos fotográficos que para alguns preconizam o valor dos objetos fotografáveis: o do re-alismo documental social em contraponto às fotografias publicitárias, de moda e de nus. Nesta dialética, o olhar de J.R. Duran (renomado fotógrafo de nus e moda) parece querer legitimar sua escolha e transição em relação à temática de retratos de grupos étnicos da Etiópia. No entanto, ao lançar mão de recursos que remetem diretamente ao fazer etnográfico como os diários de campo e de viagem – cujos relatos são teo-ricamente anotações feitas na atmosfera efêmera, porém contundente da realidade vivenciada –, Duran deixa claro sua percepção volátil e a ausência de esforço em prati-car a alteridade. Sem ela, a aproximação e o confronto de identidades (entre fotógrafo e fotografado) não fluem intuitivamente, promovendo o que poderíamos chamar de diálogos imagético-metafóricos.

Indicado no próprio texto do livro como um trabalho simples, despojado e construí-do, paradoxalmente, o que vemos é uma seqüência monótona de retratos que perfilam a curiosidade pelo exotismo, pela plasticidade formal que possa deter o belo. E nesse caso, não se vislumbra a pureza da sinceridade que advém do ato de fotografar o ou-tro. Não importa de onde venha o pedido ou desejo pela fotografia final. Deveríamos repensar alguns estatutos, pois a beleza sensível da imagem fotográfica não se restringe à perfeição ou sensualidade de quem se apresenta no registro, mas sim como se “pro-cessa” o encontro desta captura: a maneira, a aproximação, a emoção canalizada neste tempo (que, este sim, é essencial ao ato fotográfico) e espaço.

Os relatos do próprio Duran nos dão pistas do seu olhar estrangeiro. Ele mesmo nos revela o que já desconfiávamos: um fotógrafo pouco a vontade, sem saber muito bem porque vai ao encontro daquela aventura fotográfica. Dentre seus questionamentos, escreve: “O que estou fazendo aqui? (...) Para que desaparecer em algum canto do mundo? Não podia ser em St. Barts, Montecarlo ou Dublin? Por que a Etiópia? De vez em quando é bom se perder com a certeza de que é possível voltar para casa. Se perder para sentir saudades. (...) Para encarar desafios numa terra desconhecida. Se perder na procura da foto perfeita”.

Em “Cadernos etíopes”, a vulnerabilidade de J.R. Duran é contundente. Nitidamente inclinado a mostrar um tipo de trabalho maduro, sério, pretensamente antropológico, tenta ser reconhecido pelo gênero documental da fotografia que, em sua concepção idealizada, estaria inevitavelmente em plagas distantes, inóspitas e com pessoas bem, mas bem diferentes das do seu métier. Suas imagens estão simbolicamente enclausura-das, não respiram atreladas ao seu estilo estetizante. Assim, deslocado no propósito, um forte etnocentrismo paira no ar... As imagens em preto e branco são indefectivelmente impregnadas do glamour-fetiche, da sensualidade potencializada dos corpos (principal-mente femininos) que permeiam sua trajetória profissional.

Sob a intencionalidade de registrar identidades, particularidades étnicas, fica a expe-riência titubeante sobre um fotógrafo que, como disse Augusto Massi, no posfácio do livro, “persegue, tanto do ponto de vista pessoal como da cristalização de uma lingua-gem”, o momento significativo da síntese. Para nós, fica a vontade de inserir-se na matu-ridade da fotografia documental e social, além do reflexo da bricolage estereotipada do próprio estilo duraniano. Além de poses cartesianas, ficam as barreiras translúcidas da estetização do olhar vazio em cada rosto retratado. Uma pena. Atingir a essência dessas pessoas, esta sim, deveria ser a verdadeira aventura fotoetnográfica sem volta. Assim como o fez Pierre Verger em sua extensa e sublime jornada imagética. yy 11

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Raimundo Carrero

Nelson Rodrigues foi o escritor brasileiro que mais compreendeu o espírito suburbano. Ali os amores parecem mais exagerados, mais exigentes, mais trágicos. Mata-se, com facilidade, por qualquer paixão. Basta gritar “me traz uma alma”. Não que a paixão seja exclusiva, mas ali ganha uma dimensão que vai do vulgar ao possessivo. Nenhum dos man-damentos da Igreja parecem ser cumpridos. Ama-se a mulher do próximo pelo combogó da parede e trai-se a própria mulher por um coração flechado na carteira de cédulas. Até porque no subúrbio, de qualquer grande cidade brasileira, vive-se o excesso de tudo. Há uma predominância da exaltação, do choro, da lágrima, do riso. Quem não quer sofrer nem chorar nem se lamentar, faça-me o favor de não passar pelo subúrbio. Principalmente pela madrugada. É na madrugada que o gato mia lamentoso, o cachorro late com agonia, o porco fuça antes de amanhecer, a monga sai da jaula para correr na rua. E, é claro, o galo canta. Mas o galo só canta depois que o lobisomem vai embora. Quem dá licença para tudo é a fera. Um momento: eu falei em lobisomem? É de arrepiar. Agora mesmo, em Cajueiro, dançou e bailou no meio do redemunho, embora só no campo escuro. Bastava anoitecer e o bicho urrava. Fechavam-se portas e janelas, a chave no cadeado, e mulher guardada no cofre. Mesmo assim, e ainda assim, havia menina que cantava feito Roberto Carlos em “Lady Laura”: me leva pra casa, lobi-somem. Afinal, no subúrbio ama-se o sobrenatural. Mesmo quando causa horror, dor e pranto. O amor, quanto mais desafiado, melhor. A Polícia chegou a preparar uma arma-dilha, para as naturais avarias e não foi preciso ir tão longe. Na noite calada, encontrou-se o lobisomem, que não passava de um desocupa-do, nas ruelas do bairro, ladeira acima, ladeira abaixo, preparando o deforete. Ou seja, arquitetando alguma diabrura. Deram-lhe um sopapo que ele saiu de bucho quente. Era um rapaz, vestido num saco de estopa, querendo espantar as pessoas e pular os muros dos lares desprotegidos. Marido trabalhando, mulher no sufoco. Apesar de ter sido um susto, a provocar risos e pilhérias, provocou uma reflexão sobre a crença dos subúrbios e de cidades interioranas, sempre envolvidas pelo imaginário. Lobisomem em pleno século XXI, o século da imagem, quando entidades miraculosas são desconstruídas pela mídia em programas de televisão e filmes? Quando as revistas em quadrinhos desmistificam e ironizam esses seres folclóricos? A mente medrosa e sufocada do homem não mudou? As pessoas sofrem com a monga trancada na grade do circo? Fecham os olhos no instan-te em que a moça começa a se transformar na fera desagradável e ululante? Arrepiam-se quando ela ameaça arrebentar os cadeados?

Não faz muito tempo, a Perna Cabeluda tornou preocupantes as noites vadias do Recife, porque ela enfrentava todo tipo de gente, inclusive a polícia. Mas hoje já se sabe que foi criada por jornalistas, no tempo em que a censura e auto-censura tornavam quase inviável a profissão. Numa noite em que não se podia falar em Dom Hélder, em movimento estudantil ou em greve de operários, se é que havia greve, foi construída a fantasia. No impedimento das notícias reais, apelava-se para o sobrenatural. E aquilo de que não passava de uma brincadeira, transformava-se em verdade. E o próprio jornal, tempos depois, noticiava, como verdadeira, a presença da Perna Cabeluda nas ruas. Qua-se todos os dias, apareciam pessoas esmurradas, espancadas, queimadas, dizendo-se vítimas da perna. E era possível? Sim, era os ursos que acabavam de apanhar dos maridos traídos. A perna passou a salvar muita gente do vexame público. Este, na verdade, é assunto que tem chamado a atenção de estudiosos de vários níveis, sobretudo o escritor Gilberto Freyre, que do alto de suas preocupações com o comportamento sociológico e antropológico do homem brasileiro, publicou o livro “As-sombrações do Recife velho”. Ali ele reflete sobre as assombrações como reflexo do com-portamento cultural e social dos pernambucanos. Ou como resultado da forte influência da religião do assombrado homem nordestino. yy

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O criador da Perna Cabeluda comenta o fascínio dos monstros pelo subúrbio

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