renascer 35
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Boletim Informativo Nº35. Edição de Julho, Agosto e Setembro de 2011.TRANSCRIPT
PRIMEIRO JANTAR SOLIDÁRIO MUITO PARTICIPADO
No dia 06 de Julho a Santa Casa da
Misericórdia de Sines organizou,
pela primeira vez, um Jantar Soli-
dário destinado a representantes
de empresas sedeadas em Sines,
ou com ligação à região, a particu-
lares e a Instituições locais. O Jan-
tar decorreu no Salão Social da
Misericórdia e teve como objectivo
divulgar a Instituição e abrir as
suas portas à comunidade, e em
especial apresentar o projecto de
construção de um novo Lar de Ido-
sos. Por outro lado, o Jantar tam-
bém teve como objectivo convidar
os presentes a envolverem-se na
missão da instituição e colabora-
rem na sua sustentabilidade.
Além de participarem no jantar, os
convidados visitaram as Instala-
ções da Misericórdia e assistiram a
apresentações sobre projectos
(Continua na página 3)
DESTAQUES
À Conversa com… À Conversa com…
Agostinho CaiadasAgostinho Caiadas Página 8Página 8
Julho
Agosto
Setembro
2011
RENASCER b o l e t i m i n f o r m a t i v o
Distribuição Gratuita | Publicação Trimestral | Nº35
Santa Casa da Misericórdia de Sines www.scmsines.org
Lar de Rapazes “A Âncora”Lar de Rapazes “A Âncora”
Página 4Página 4
Entrevista com Angela MartinsEntrevista com Angela Martins Coordenadora da SaúdeCoordenadora da Saúde Página 6Página 6
Propriedade e Edição SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SINES
Periodicidade Trimestral
Número 35
Edição Julho | Agosto | Setembro 2011
Director Luís Maria Venturinha de Vilhena
Coordenação Carla Fidalgo
Redacção Rita Camacho
Revisão de Texto José Mouro
Fotografia Ricardo Batista, Rita Camacho
Grafismo | Montagem | Paginação Ricardo Batista, Rita Camacho
Impressão Santa Casa da Misericórdia de Sines
Tiragem 100 exemplares
Depósito legal 325965/11
Distribuição Gratuita
Como é do conhecimento geral, o mundo actual passa neste momento por grandes trans-
formações, na procura de um novo rumo que tarda em ser encontrado. Uma profunda crise
económica e financeira agudiza os problemas sociais, reflectindo-se no dia-a-dia das famí-
lias e das organizações.
Neste momento tão delicado, a sobrevivência de cada um e do colectivo, passa por uma
mudança de paradigma que permita a sustentabilidade das instituições, através da reformu-
lação das suas estruturas, rentabilização dos recursos, capacidade de transformar e poupar
e projectos inovadores que acrescentem mais-valia e desenvolvimento.
Tanto no presente como no passado, a história tem-nos ensinado que é nos momentos mais
críticos que sobressai, como motor impulsionador, a aliança técnica/profissional e o volun-
tariado, cabendo, muitas vezes, a este último um papel de grande relevo, pela sua entrega,
prontidão e capacidade de resposta.
Neste contexto, acredito que perante as dificuldades económicas e financeiras por que estamos a passar, e muito em particu-
lar no que se perspectiva ainda vir, uma das formas que temos de ajudar a sustentar o futuro, sem comprometer demasiado
a qualidade dos serviços prestados, passa por todos darmos um pouco mais do nosso tempo em prol da maior eficácia e ren-
tabilização, paralelamente com a redução de custos e desperdícios.
Para isso, é deveras pertinente que todos nós deixemos de pensar que estamos a perder direitos adquiridos, muitos deles
inadequados ao equilíbrio das contrapartidas recebidas, e pensar sim que, nestes conturbados tempos, a nossa principal mis-
são passa por deixarmos de ser comodistas com custos incomportáveis e passarmos a ser uma força dinâmica de sustentabili-
dade da nossa Instituição e país e, logicamente, também do nosso posto de trabalho.
Gostaria que a interpretação desta mensagem fosse tida como um convite a uma comunidade mais participativa e solidária,
em prol da estabilidade e confiança no presente e no futuro de todos nós e descendentes.
Tal como fizemos com o voluntariado externo, e pelas razões expostas, vimos fazer um apelo ao voluntariado interno de
todos os funcionários da Santa Casa para que, dento das suas possibilidades, contribuam com algum do seu tempo e saberes
na concretização destas realizações, que nos permitam garantir bons padrões de qualidade para os nossos utentes, estabili-
dade no emprego e sustentabilidade da própria Santa Casa.
O Provedor
ED
ITO
RIA
L
Luís Maria Venturinha de Vilhena
Provedor da Misericórdia de Sines
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SINES Avenida 25 de Abril, n.º 2 – Apartado 333 7520-107 SINES
Site: www.scmsines.org E-mail: [email protected]
Secretaria Tel. 269630460 | Fax. 269630469
E-mail: [email protected]
Horário de Atendimento: 09h00-13h00 | 14h00-16h00
Acção Social (Lares, Centro de Dia, Apoio Domiciliário) Tel. 269630460 | Fax. 269630469
E-mail: [email protected]
Horário de Atendimento: 9h00-13h00 | 14h00-17h00
Infantário “Capuchinho Vermelho” Tel. 269630466 | Telm. 967825287
E-mail: [email protected]
Horário de Funcionamento: 07h45-19h45
Informações Úteis Ficha Técnica
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RENASCER
bo l e t im i n f o rma t i v o
RENASCER b o l e t i m i n f o r m a t i v o
PRIMEIRO JANTAR SOLIDÁRIO MUITO PARTICIPADO
concretizados, em curso e futuros.
Ao longo da noite, o Grupo Coral
da Santa Casa da Misericórdia de
Sines e alguns colaboradores da
Instituição brindaram os convida-
dos com actuações musicais. Foi
ainda lançado o Livro de Mérito,
com testemunhos da benemérita
Maria David Faria Godinho, que
completou recentemente 100
anos, e da ex-Provedora Maria
Amélia Bravo da Costa.
Mais de 150 pessoas comparece-
ram a esta iniciativa e no final Luís
Venturinha, actual provedor da
Misericórdia, fez um balanço posi-
tivo deste primeiro Jantar Solidário
mostrando-se grato pela adesão de
todos os convidados. «Tendo em
conta não só a perspectiva da
Misericórdia, mas também o retor-
no das pessoas que estiveram pre-
sentes no Jantar Solidário, sinto-
me orgulhoso por termos organiza-
do esta iniciativa e acho que o
balanço é muito positivo. Muitas
pessoas deram-nos os parabéns e
demonstraram disponibilidade em
voltar a participar em iniciativas
deste género organizadas pela
Misericórdia, e isso é muito bom.»
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Actuação do Grupo Coral da Misericórdia
Visita dos convidados ao Lar de Rapazes “A Âncora”
PUB
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RENASCER
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LAR DE RAPAZES “A ÂNCORA”
Habitualmente as Misericórdias
são Instituições vocacionadas para
o apoio a idosos. No entanto, fruto
da necessidade de dar respostas a
novos problemas que a sociedade
apresenta, muitas disponibilizam-
se também para apoiar outro tipo
de utentes. É o caso da Santa Casa
da Misericórdia de Sines que des-
de 2001 acolhe crianças e jovens
em risco, todos do sexo masculino.
O Lar de Rapazes “A Âncora” tem
capacidade para acolher 18 meno-
res e é gerido por uma equipa
composta por 3 técnicos e por 9
auxiliares de educação.
O objectivo principal deste Lar, que
já acolheu ao todo 52 rapazes, é
acompanhá-los diariamente e pro-
mover o seu pleno desenvolvimen-
to, bem-estar e protecção. Além
das actividades diárias, comuns a
qualquer lar, e da componente
escolar, os rapazes do Lar “A Ânco-
ra” desenvolvem diferentes activi-
dades desportivas, culturais e lúdi-
cas. Entre elas o surf, o andebol, o
hóquei, assim como diferentes
programas culturais do Centro Cul-
tural Emmerico Nunes e do Centro
de Artes de Sines. Realizam-se na
Instituição também algumas
acções de formação em parceria
com o Centro de Saúde e o Projec-
to “Á Priori”.
Actualmente o Lar “A Âncora” tem
as suas vagas todas preenchidas. O
rapaz mais novo que está acolhido
na Instituição tem 6 anos e o mais
velho tem 17. As necessidades, os
sonhos, as alegrias e as tristezas
são as mesmas que as de outros
meninos da idade deles.
O “Renascer” recolheu o testemu-
nho de um dos rapazes que actual-
mente está no Lar, e que demons-
tra ser um jovem bastante deter-
minado.
“Tenho 16 anos e estou no Lar “A
Âncora” desde 2006. Esta é para
mim uma segunda casa, onde faço
o meu dia-a-dia normal. Frequento
a escola, pratico andebol e rugby,
sou guarda-redes da equipa de fut-
sal da minha escola e participo em
diversas actividades desenvolvidas
aqui na Instituição.
Esta é uma casa diferente, com
muita gente, onde todos temos os
nossos problemas, mas conversa-
mos sobre eles. O mais difícil são
as duas primeiras semanas, que é
a fase em que nos estamos a Equipa de técnicos e auxiliares do Lar
conhecer e a adaptar uns aos
outros. A partir daí torna-se tudo
mais fácil.
Sou o terceiro mais velho da casa e
tenho uma boa relação com toda a
gente. Sou como um irmão mais
velho para os outros rapazes e para
as funcionárias sou um apoio. Eu
ajudo-as e elas ajudam-me a mim.
É como se esta fosse a minha famí-
lia. As funcionárias fazem o papel
de mães, preocupam-se connosco,
ajudam-nos… Não podem dar-nos o
carinho que as mães dão, mas ten-
tam.
Não me considero diferente dos
meus colegas por estar aqui. Os
meus amigos até dizem que prefe-
rem que eu esteja no Lar “A Ânco-
ra” do que na minha própria casa.
Desde que cá estou mudei o meu
estado de espírito e a minha cons-
ciência. Foi bom para mim ter vindo
para o Lar. Se isso não tivesse acon-
tecido, provavelmente, ainda nem
tinha feito o 5º ano, seria um rapaz
mais agressivo e teria diversos pro-
blemas com as autoridades.
Actualmente estou a terminar o 9º
ano, tenho melhores notas, sou
mais aplicado e convivo melhor
com as pessoas. Tenho um acompa-
nhamento diferente do que tinha
na minha casa. Posso dizer que
aqui sou feliz e o meu maior sonho
é ser comandante nas Forças Arma-
das Portuguesas!»
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Julho e Agosto foram meses de
férias escolares, nos quais os
rapazes do Lar “A Âncora” desfru-
taram ao máximo dos dias de
Verão. Além das idas à praia e da
participação em diferentes activi-
dades desportivas, os rapazes
acolhidos na Instituição visitaram
o Parque Aquático “Aqua Show”
em Quarteira e o “Slide and
Splash” em Lagoa. No dia 19 de
Agosto visitaram o Estádio do
Sport Lisboa e Benfica, visita esta
que foi gentilmente oferecida
pela Casa do Benfica de Sines. Os
rapazes, quase todos Benfiquis-
tas, ficaram a conhecer o interior
e o exterior do Estádio e pude-
ram assistir ao voo da águia Vitó-
ria.
Nos meses de Julho e Agosto,
alguns destes jovens, autorizados
pelo Tribunal, também passaram
férias junto dos seus familiares.
“A ÂNCORA” AGRADECE
Proporcionar bem-estar a estas crianças e jovens é um trabalho exi-
gente, que fica facilitado com o apoio de todos. O Lar “A Âncora”
agradece reconhecidamente a Dulce Barbosa, ao projecto “Turma do
Bem” (Dr. Mário Villa Nova e Dr.ª Elizabete Murakami), Tina Cabelei-
reiros, Andebol Clube de Sines, Kalux Surf Clinic, Hóquei Clube Vasco
da Gama, Ginásio Clube de Sines, Clube Náutico de Sines, Centro Cul-
tural Emmerico Nunes, aos voluntários do Lar e a todos os anónimos
que de uma forma pontual ajudam a cuidar destes meninos.
“A ÂNCORA” EM FÉRIAS
Angela Martins é coorde-nadora do serviço de saú-de na Santa Casa da Misericórdia de Sines
desde Maio de 2010 e simultaneamente desem-penha a função de direc-tora técnica do Lar Prats, o lar principal da Institui-ção. Em entrevista ao “Renascer” falou-nos em pormenor desta área fun-damental para o bem-estar de todos os utentes.
Renascer – A saúde é um serviço de extrema importância em qualquer Misericórdia. Na qualida-de de coordenadora des-ta área, como é que caracteriza o serviço de saúde da Santa Casa da Misericórdia de Sines?
Angela Martins – Actual-mente, grande parte dos nossos utentes sofre de diferentes patologias, nal-guns casos demências, e a maioria deles são dependentes. Estes facto-
res condicionam a estru-tura e a organização do serviço de saúde existen-te e fazem com que seja
imprescindível a existên-cia de uma equipa espe-cializada, apta a prestar todo o tipo de cuidados de saúde desde um sim-ples penso até ao apoio psicológico. No fundo, prestamos todos os cui-dados necessários ao bem-estar dos utentes. A nossa equipa de saúde é composta por 15 elemen-tos, entre eles, eu, um médico, dois enfermeiros,
um fisioterapeuta e uma profissional de reabilita-ção e motricidade huma-na, sendo que os restan-tes elementos desempe-nham funções de auxilia-res de acção médica.
R – Quais são as funções dos auxiliares de acção médica na Misericórdia de Sines?
AM – Aqui na Misericór-dia, e ao contrário do que acontecia anteriormente, os auxiliares de acção médica têm funções mui-to bem definidas, que passam pela preparação dos medicamentos depois de terem sido devidamente divididos por dias, por refeição, ou por horas, e pela adminis-tração desses mesmos medicamentos aos uten-tes. Faz igualmente parte das suas funções acom-panhar os utentes em situações de consultas médicas, exames, análi-ses, entre outros, prepa-
rar e organizar os proces-sos de saúde, ir à farmá-cia quando é necessário, esterilizar materiais e apoiar o médico, os enfermeiros e o fisiotera-peuta sempre que se jus-tifique. Além disso, as auxiliares de acção médi-ca têm também um papel determinante quando acompanham os utentes às consultas médicas, uma vez que são elas que transmitem todas as informações ao serviço.
R – A Santa Casa da Misericórdia de Sines está vocacionada para apoiar diferentes grupos de utentes. Os cuidados de saúde prestados por este serviço estão mais direccionados para algum destes grupos de utentes?
AM – Neste momento, prestamos mais cuidados aos utentes idosos que estão em lar, pois os outros utentes necessi-tam menos de cuidados de saúde. Mas, por exem-plo, o médico presta um serviço que se estende a todas as valências e aos diferentes utentes. Pode-mos considerar que somos um serviço que chega a todas as valên-cias, mas de uma forma distinta.
R – Tendo em conta que o serviço de saúde da
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RENASCER
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ENTREVISTA COM ANGELA MARTINS, COORDENADORA DA SAÚDE
A equipa da saúde conta com dois enfermeiros
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Misericórdia trabalha sobretudo com idosos, diga-nos quais são os principais problemas de saúde que atingem as pessoas pertencentes a esta faixa etária?
AM – Sobre este assunto gostava de frisar que não existe a “doença do ido-so”, ou seja, ser idoso não é sinónimo de ser ou estar doente, nem há doenças que surjam só porque se é idoso. As doenças surgem por múl-tiplos factores e relativa-mente aos utentes desta Misericórdia posso dizer que as patologias que mais os afectam são a hipertensão, facto que pode estar relacionado com o elevado consumo de carne de porco na região, o colesterol e alguns casos de diabetes. Nos últimos anos tam-bém se tem verificado um aumento de vários tipos de demência, com especial incidência para a Doença de Alzheimer. Trabalho nesta Instituição há 10 anos e, comparan-do a realidade que encontrei com aquela que existe hoje, há um número muito maior de utentes com demência. Talvez este facto esteja relacionado com o stress que afecta a população no seu dia-a-dia.
R – Ao nível da saúde existem parcerias entre a Misericórdia de Sines e
outras entidades?
AM – Parcerias propria-mente ditas não existem, há sim um relacionamen-to muito próximo com o Hospital do Litoral Alen-tejano e com o Centro de Saúde de Sines em que, por exemplo, eles deslo-cam os seus técnicos à Misericórdia, de forma a prestarem consultas de coagulação, evitando assim que os nossos utentes acamados ou com dificuldades de
mobilidade se deslo-quem. Além disso temos também um excelente relacionamento com a Farmácia Atlântico, que trabalha em conjunto connosco sempre que é necessário. No futuro há a intenção de estabele-cermos algum tipo de parceria com uma Escola de Enfermagem para recebermos estagiários de enfermagem que pos-sam desenvolver compe-tências e simultaneamen-
te colaborar com o nosso serviço.
R – Em que consiste o projecto colocado em prática recentemente que permite o reaprovei-tamento de medicamen-tos?
AM – Este projecto con-siste na recolha de medi-camentos doados e arma-zenamento em local pró-prio, para, posteriormen-te, serem distribuídos pelos utentes da Institui-
ção. Esta foi uma medida muito aplaudida por todos e tratou-se de uma mais-valia para a Miseri-córdia e para as pessoas em geral, que assim podem doar os medica-mentos em vez de os dei-tarem no lixo. Os nossos utentes são quem mais beneficia com este rea-proveitamento da medi-cação e assim também diminuem os custos do serviço de saúde. Se nós
pensarmos a nível de cus-tos, a área da saúde é uma das áreas mais dis-pendiosas. Tudo o que puder ser feito para ate-nuar ou eliminar esses custos é muito bom, num cenário de crise socioeco-nómica como este.
R – Em termos futuros o que é que se perspectiva para o serviço de saúde?
AM – Comparando com outras Misericórdias, somos das poucas com uma área da saúde bem delineada, com objecti-vos, com uma coordena-dora e com pequenos projectos internos. Este é um serviço que tem vindo a evoluir e que está a crescer e, no futuro, o ideal seria ter um enfer-meiro na Instituição 24 sobre 24 horas, ter um médico presente mais horas por dia e desenvol-ver um trabalho de motri-cidade humana e reabili-tação mais intensivo. Em relação à fisioterapia, o ideal seria tornar este um serviço a tempo inteiro e, dentro do possível, aber-to à comunidade. Além disso, vamos certamente continuar a apostar na eficiência e eficácia do serviço de saúde e na for-mação continua dos nos-sos profissionais, criando também mecanismos de avaliação de desempenho que contribuam para uma valorização do servi-ço.
Espaço recentemente criado, onde são armazenados os
medicamentos.
Em 1941, ano em que um violento
ciclone atingiu o distrito de Setúbal,
Agostinho Ramos Caiadas nasceu
nos Foros do Monte Novo, em São
Domingos da Serra, no dia 4 de
Agosto. O ciclone provocou grande
destruição em Fevereiro desse ano
e, apesar de não ser nascido nessa
altura, Agostinho Caiadas, tem des-
ta tempestade uma recordação
curiosa, que lhe foi transmitida pela
mãe. «Em pequeno, a minha mãe
dizia que eu não podia ser bom,
porque antes de nascer já o ciclone
me tinha empurrado por uma bar-
reira abaixo. Isto aconteceu quando
a minha mãe estava grávida e, ao ir
à fonte buscar água, foi apanhada
pelos ventos fortes do ciclone e só
parou num grande buraco, depois
de rebolar uns bons metros. Feliz-
mente nada de grave lhe aconte-
ceu, nem a mim.»
Dos tempos de infância, Agostinho
Caiadas recorda-se de não fazer
muitas traquinices e de ajudar os
pais sempre que podia. Foi o tercei-
ro filho do casal, e ao todo teve cin-
co irmãos com os quais partilhou
muitas brincadeiras. «Os meus pais
trabalhavam no campo, para uma
família de lavradores. Lembro-me
que todos nós ajudávamos em
tudo, na ceifa, a cavar milho ou nos
trabalhos do arroz. Eu comecei a
trabalhar com uma enxada tinha aí
uns nove anos e antes disso, por
volta dos meus cinco anos, já anda-
va a guardar gado. Ainda assim res-
tava-me algum tempo para brinca-
deiras. Fazia carretas e bois em cor-
tiça e uma vez até fiz um tractor.
Utilizei a corda de um relógio e uma
estrutura em madeira. Aquilo fun-
cionava que era uma maravilha,
tinha um boneco e tudo. Foi o
encanto do pessoal lá em casa.»
Do tempo em que viveu em casa
dos pais, Agostinho recorda-se de
residir numa habitação simples,
mas espaçosa, feita de vários mate-
riais, entre eles, palhas, tábuas e
bunho e de, face às dificuldades,
todos ajudarem no sustento da
família. Aos 14 anos Agostinho saiu
da sua terra natal e foi trabalhar
para perto de Alcácer do Sal, na
monda do arroz. «Nesse tempo
tinha um trabalho muito duro. Tra-
balhava dentro de água, e cheguei
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RENASCER
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À CONVERSA À CONVERSA COM…COM…
Agostinho CaiadasAgostinho Caiadas
a andar enterrado em lama até
debaixo dos braços, arrancando
escalracho. Era água e lama gela-
das e nós não sentíamos o fundo do
terreno. Se não fossemos agarrados
ao escalracho, afundávamo-nos.
Uma vez até ouvi uma história em
que diziam que uma carreta de bois
tinha desaparecido no fundo do ter-
reno, e por isso nós tínhamos receio
de nos acontecer o mesmo.» Mais
tarde, movido por uma vontade de
conhecer outros locais e viver
novas experiências, Agostinho Caia-
das mudou-se para Setúbal e pas-
sou a trabalhar na construção civil.
Esse foi o seu ofício principal duran-
te muitos anos.
Entretanto, decorria o ano de 1962,
foi tempo de ingressar na tropa,
primeiro em Beja, depois em Leiria
e por fim em Tomar. Agostinho
Caiadas prestou serviço militar
durante dois anos e dois meses e
diz que a tropa lhe deixou algumas
recordações, ainda que as conside-
re umas fracas recordações. «Na
tropa fiz várias coisas, trabalhei
com uma carroça a fazer recados,
toquei corneta na banda do quar-
tel, enfim, foram tempos diferen-
tes.» Durante o tempo que passou
na tropa, as visitas a São Domingos
da Serra eram escassas e o percur-
so era uma autêntica aventura, fei-
to graças às boleias que o levavam
primeiro até Vila Franca de Xira e
depois até Santiago do Cacém. O
resto do caminho era quase sempre
feito a pé. «Nunca me hei-de esque-
cer de uma das vezes que vim a
casa, em que saí do quartel com 5
tostões no bolso e cheguei a São
Domingos com os mesmos 5 tos-
tões e mais 20 escudos. Nessa oca-
sião apanhei boleia com uma
estrangeira que viajava sozinha.
Tive muito medo, porque ela condu-
zia de forma muito acelerada. O
carro até chiava nas curvas. Pensei
para comigo ‘esta velhaca mata-se
e mata-me a mim também’. Mas,
quando chegámos a Alcácer do Sal
é que foi o susto maior. Era de noi-
te, ela pegou numa arma, saiu do
carro e disse-me para ir com ela
beber água. Aquilo era um sítio
escuro e eu imaginei o pior, mas afi-
nal bebemos água numa fonte que
lá existia, voltámos para o carro,
ela guardou a arma e pensei ‘desta
já me safei’. No final da viagem é
que veio a parte melhor. Quando
chegámos a Santiago do Cacém
fomos os dois a um restaurante, ela
deu-me 20 escudos e ainda me
levou até a São Domingos da Serra.
Nunca mais vi essa senhora, mas
lembro-me dela como se fosse
alguém da minha família.»
Depois de sair da tropa, Agostinho
voltou à terra onde viveu a maior
parte da sua vida, Setúbal, não sem
antes passar dois meses na sua ter-
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Agostinho Caiadas e Maria Balbina
Agostinho Caiadas aos 40 anos
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RENASCER
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andar dias inteiros a pé, mas ape-
sar disso tive sempre um espírito
aventureiro e divertido. Uma vez,
tinha eu 16 anos, sai de casa de
bicicleta para ir à Comporta, mas a
sorte que tive foi cozinhar uma
sopa de batata, ser interrogado
pela guarda e passar a noite ao pé
da cadeia do Pinheiro da Cruz»,
recorda divertido.
Aos 70 anos Agostinho Caiadas
espera que os próximos anos pos-
sam ser passados com saúde para
continuar a ser um idoso autóno-
mo e activo. Assim poderá conti-
nuar a dar os seus passeios pela
cidade, a participar nas actividades
da Misericórdia e a fazer muitas
mais cadeirinhas em madeira,
habilidade pela qual todos o
conhecem.
DIVULGAÇÃO
ra natal. Voltou também a trabalhar
na construção civil até que, há sete
anos atrás, depois de passar a viver
sozinho e de um período em que
esteve doente e se reformou por
invalidez, Agostinho Caiadas veio
para o Lar Anexo I da Santa Casa da
Misericórdia de Sines. Ao contrário
do que acontece hoje, Sines era
para ele uma terra desconhecida.
«Esta terra, comparada com Setúbal
é muito mais pequena, e eu para ser
sincero, gostava mais de estar na
minha casa em Setúbal, mas agora
é aqui que devo estar e sem dúvida
que o que me deixa mais satisfeito é
a companhia que tenho e é poder
ajudar quem me trata bem.»
Recordar toda uma vida é para
Agostinho Caiadas lembrar algumas
mágoas, no entanto, questionado
sobre as melhores recordações que
tem, refere prontamente que foram
os tempos passados com a sua com-
panheira de muitos anos. «Tenho
saudades dessa época. Divertíamo-
nos muito, passeávamos, almoçáva-
mos fora, participávamos em excur-
sões. Era uma alegria!» Agostinho
recorda-se também dos tempos em
que ocorreu a Revolução de 25 de
Abril, quando pensou que viria aí
uma época melhor. Para ele, hoje os
tempos são outros. «A vida está
mais facilitada em muitos sentidos.
Antigamente a vida era dura. Por
exemplo, eu não pude ir à escola, só
aprendi a escrever o meu nome
quando estive na tropa, cheguei a
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RENASCER bo l e t im i n f o rma t i v o
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RENASCER
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No mês de Agosto, um
grupo de utentes da
Misericórdia participou
na iniciativa “Banho 29”
organizada pela Câmara
Municipal de Sines, na
Praia Grande do Porto
Covo. O “Banho 29” con-
siste na recriação de uma
tradição bastante antiga
na qual vários campone-
ses e serranos desciam à
praia para tomar banho.
Este era por vezes o único
banho de mar em todo o
ano, e existia a crença
que valia por 9 e curava
todos os males, tanto a
pessoas como a animais.
Os utentes tiveram assim
oportunidade de desfru-
tar de uma manhã de
praia e de recordar tem-
pos de antigamente. No
mesmo dia, à noite, um
outro grupo de utentes
visitou a Feira de Agosto
em Grândola e assistiu ao
concerto de Toni Carreira,
um dos cantores portu-
gueses de maior sucesso.
No dia 13 de Setembro,
foi a vez de se realizar
uma visita à Assembleia
da República e ao Palácio
de Belém, em Lisboa. Os
utentes da Misericórdia
puderam sentar-se nas
cadeiras habitualmente
ocupadas pelos deputa-
dos portugueses e fica-
ram a conhecer em por-
menor o edifício onde
funciona a Assembleia da
República. Nesse dia, os
utentes visitaram tam-
bém o Parque de Mon-
santo, onde almoçaram,
e durante a tarde passea-
ram nos Jardins de
Belém.
IDOSOS VÃO A BANHOS, ASSISTEM A CONCERTO E VISITAM ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Os idosos da Misericórdia na Praia Grande de Porto Covo
Visita à Assembleia da República
Concerto de Toni Carreia entusiasmou os nossos utentes
RENASCER bo l e t im i n f o rma t i v o
1 DE OUTUBRO, DIA MUNDIAL DO IDOSO
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«(…) Os anos passam sem nada poupar.
A frescura e o tempo não se podem reter,
mas há sempre lugar para receber.
Há sempre algo para encontrar
em contínua renovação.
Só é velho a valer,
quem mesmo o quiser ser.»
Manuela Mourisca Martins
Pela primeira vez a Santa
Casa da Misericórdia de
Sines participou na Feira
na Avenida, um certame
de exposição e venda de
artesanato, organizado
anualmente pela Câmara
Municipal de Sines e que
tem lugar junto à Praia
Vasco da Gama.
Este ano, a Feira na Ave-
nida decorreu entre os
dias 12 e 15 de Agosto e
a Santa Casa da Miseri-
córdia de Sines ocupou
um dos stands com tra-
balhos feitos pelos uten-
tes da Instituição. Ren-
das, bordados, trabalhos
em ponto de Arraiolos,
peças em madeira, pintu-
ras e trabalhos em malha,
foram apenas alguns dos
trabalhos expostos e que
fizeram sucesso junto dos
visitantes do certame. Nos quatro dias de dura-
ção da Feira, durante a
tarde, os utentes marca-
ram presença na Feira
trabalhando ao vivo no
espaço da Misericórdia.
O PROSAS – Universidade
Sénior de Sines - associou
-se à Misericórdia nesta
iniciativa colocando à
venda trabalhos feitos
pelos alunos desta enti-
dade.
O balanço da participa-
ção da Santa Casa na Fei-
ra na Avenida foi bastan-
te positivo. Várias pes-
soas visitaram o stand e
adquiriram peças. Os
utentes da Instituição
ficaram bastante motiva-
dos para a elaboração de
novas trabalhos, tendo
em vista uma participa-
ção futura neste género
de iniciativas.
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RENASCER
bo l e t im i n f o rma t i v o
MISERICÓRDIA PRESENTE NA “FEIRA DA AVENIDA”
Utentes marcaram presença na feira
Os trabalhos expostos foram elaborados pelos utentes da
Instituição
Espaço Informativo da Santa Casa da Misericórdia de
Sines na Rádio Sines
QUINTAS-FEIRAS ÀS 10:40 | SEXTAS-FEIRAS ÀS 16:35
SANTA CASA ORGANIZA CAMINHADA
RENASCER bo l e t im i n f o rma t i v o
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BREVES
A época dos Santos Populares foi
festejada na Misericórdia de Sines
com a realização de três bailes. No
dia 9 de Junho realizou-se um bai-
le aberto à comunidade, animado
pela acordeonista e vocalista Tel-
ma Santos. No dia 13 de Junho, dia
de Santo António, teve lugar um
outro baile só para os utentes da
Santa Casa. Nuno Silva animou
este baile que contou também
com a participação de utentes da
Santa Casa da Misericórdia de
Odemira e da Santa Casa da Mise-
ricórdia de Grândola. Nesse dia, os
utentes participaram também
num lanche convívio ao ar livre, no
qual puderam desfrutar de petis-
cos típicos desta época do ano,
tais como caracóis, sardinhas e lin-
guiça assada.
No dia 8 de Julho, a partir das
17h00, realizou-se no Salão Social
da Misericórdia outro baile aberto
à comunidade, com o acordeonista
Ricardo Alcaide. As entradas gra-
tuitas e os diversos comes e bebes
contribuíram para uma boa ade-
são aos bailes e a animação foi
uma constante.
BAILES POPULARES
Em colaboração com a Câmara Municipal de Sines, a Miseri-
córdia organizou no passado dia 04 de Setembro uma Cami-
nhada aberta a toda a população. Mais uma vez o objectivo
foi promover uma maior interacção entre a Instituição e a
comunidade em geral.
A participação na actividade foi gratuita e a adesão foi positi-
va, com perto de 50 participantes, entre os quais se destacam
funcionários e utentes da Santa Casa. A Caminhada decorreu
ao longo de 6 km, num percurso pela zona envolvente da Costa do Norte à Praia Vasco da Gama.
No dia 22 de Setembro um grupo de reformados suecos visitou a
Misericórdia de Sines. No âmbito de umas mini-férias passadas
em Sines, estes cidadãos oriundos do Norte da Europa visitaram
vários locais do concelho, entre eles a Santa Casa, de forma a
conhecerem a cultura e o modo de vida dos portugueses, em
especial dos idosos. Além de apresentar a Instituição, a Misericór-
dia presenteou o grupo com uma actuação do Grupo Coral.
MISERICÓRDIA RECEBE GRUPO DE SUECOS
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RENASCER
bo l e t im i n f o rma t i v o
AGRADECIMENTOS
O “Renascer” agradece a todos os patrocinadores e amigos que contribuíram para que este meio de comuni-
cação da nossa Instituição se tornasse uma realidade.
Uma vez que é nosso objectivo melhorar gradualmente a forma e os conteúdos deste boletim informativo,
assim como aumentar a sua tiragem e, consequentemente, divulgá-lo junto de um público cada vez mais
vasto, revela-se de grande importância o apoio destes e de outros patrocinadores.
Obrigada por nos ajudarem a sermos melhores!
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