periódika - unicentro · el norte del sur formação partilhada a sala de aula em qualquer lugar...
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3Periódika
Carta aos leitores
2014 foi um ano difícil para a Unicentro e para as universidades
estaduais do Paraná. Mas, ainda assim, a qualidade das nossas atividades
de ensino, das nossas ações de extensão e dos nossos projetos de pesquisa
manteve-se. Mérito, claro, não podemos deixar de destacar, de nossos do-
centes, discentes e funcionários que, apesar das dificuldades, não deixaram
de trabalhar, sonhar, realizar. Prova disso é que a nossa universidade figura,
no ranking do IGC contínuo do MEC, resultado da avaliação realizada
pelo Inep, como a 33º melhor universidade do país, tendo melhorado 17
posições entre os anos de 2011 (50º colocação) e 2014.
Por isso, nesse início de 2015, retornamos com a segunda edição da
Periódika, a nossa revista de divulgação científica que reafirma seu compro-
misso de publicizar a nossa produção internamente, local, regional, nacio-
nal e internacionalmente. Esse exemplar, que agora chega às suas mãos, é
um reconhecimento da Reitoria à vocês pesquisadores, extensionistas, pro-
fessores e alunos que não esmorecem diante dos obstáculos encontrados
pelo caminho e, sabemos, foram muitos nos últimos meses.
A revista, mais uma vez, cumpre seu papel e apresenta reportagens
e relatos de experiência sobre os projetos desenvolvidos pela nossa comu-
nidade universitária. Na seção Ensino, tratamos da participação da Uni-
centro no PLI (Programa de Licenciaturas Internacionais), da Capes, e da
democratização do ensino superior promovida pela Educação a Distância.
Em Extensão apresentamos o trabalho de controladoria do Hospital São
Vicente de Paulo realizado por professores e alunos da universidade e a
transformação de vidas propiciada pela Clínica de Órteses e Próteses. A
aproximação entre a Unicentro e a Universidade de Jujuy, na Argentina,
na área de Comunicação e as políticas públicas para os pacientes de HIV
são os destaques em Pesquisa. Além disso, trazemos uma entrevista com o
deputado Alex Canziani, defensor da causa da Educação e das universidades
estaduais no Congresso Nacional.
No mais, desejamos a todos uma excelente leitura e um ano de 2015
com mais realizações em todas áreas de atuação da nossa Unicentro!
Sem abrir mão da qualidade
Aldo Nelson BonaReitor
Osmar Ambrósio de SouzaVice-Reitor
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Campus Cedeteg: Para além das salas de aula
Um trabalho contábil em prol da comunidade de guarapuava e região
A prevenção do hiv/aids como compromisso profissional e social
plano diretor norteia ações para o desenvolvimento do campus de irati
Reabilitação para além da deficiência
Unicentro é reconhecida pelo MEC como uma das melhores universidades brasileiras
el norte del sur formação partilhada
a sala de aula em qualquer lugar
campus santa cruz: sede de sabedoria
entrevista: alex canziani
8 a prevenção do hiv/aids como compromisso profis-sional e socialLaboratório de Psicologia Social e Processos Institucionais da Unicentro integra rede de cooperação contra a doença na região de Irati
16 Unicentro é reconhecida pelo MEC como uma das melhores universidades brasileirasÀs vésperas de completar 25 anos, universidade é alçada a condição de excelência em ensino e pesquisa
13 reabilitação para além da deficiênciaClínica de Órtese e Prótese da Unicentro, em onze anos, já prestou mais de 80 mil atendimentos
22 a sala de aula em qualquer lugarEducação a Distância forma milhares por ano e qualidade de seu ensino-aprendizado derruba preconceitos
Uma publicação da
Universidade Estadual do Centro-OesteUnicentro – Paraná – BrasilAno 2 – Número 2 – Abril/2015
Aldo Nelson Bona ReitorExpe
dien
te Produzida pela
Tiragem: 1.000 exemplares
Jornalistas Responsáveis:Ariane Pereira – MTB 3862/PRDanny Jessé Nascimento – MTB 8236/PR
Edição:Ariane PereiraOsmar Ambrósio de Souza
Vice-Reitor
Reportagem:Ariane PereiraGiovani CiqueleroMaíra MachadoMarina Lukavy
Capa:Eduardo Amaro
Design e diagramação:Lucas Gomes Thimóteo
Impressão:Gráfica Unicentro
Fale [email protected] 3621-1060
Coordenadoria deComunicação Social
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CedetegCampus
Para além das salas de aulaPor Maíra Machado e Ariane Pereira
Os ponteiros do relógio ainda não chegaram à marca das sete e meia da manhã e o movimento já começou. Em ritmo acelerado, como em todos os dias, passam pelos portões do campus Cedeteg centenas de pessoas. Professores, funcionários, aca-dêmicos. Mas não só eles... Nesse fluxo intenso de pessoas estão, também, membros da comunidade. Pessoas de diferentes idades, de várias partes do município, em busca de objetivos diversos. Elas são protagonistas das atividades de extensão, um dos pilares da educação universitária, desenvolvidas no campus. Entre os projetos de extensão desenvolvi-dos por docentes e discentes do Cedeteg estão as atividades físicas voltadas para os cadeirantes, o atendimento nutricional e a equoterapia.
O trote que trata A fisioterapia longe dos consultórios e
sem aparelhos. Assim é a equoterapia. Um método ao ar livre, onde o cavalo é o meio de tratamento para pacientes com déficit neuropsicomotor. O pro-jeto “Trote que trata” teve início em 2014 e, hoje, atende dez pacientes. A terapia inicia com a apro-ximação entre o paciente e o animal. Só depois de estabelecida uma afinidade com o cavalo é que co-meça a montaria, que conta com a ajuda de um guia e de dois fisioterapeutas. As sessões consistem na realização de voltas dentro do picadeiro, em cima do cavalo. Além disso, bolas e espelhos são usados de maneira lúdica e, acompanhando a evolução dos pacientes, o grau de dificuldade do trajeto é amplia-do pouco a pouco.
A professora Angela Dubiela, coordenado-ra do projeto, conta que a Unicentro é a primeira universidade entre as estaduais do Paraná a ofere-cer o tratamento equoterápico à comunidade. Para ela, depois de duas sessões já é possível observar re-sultados, como um aumento no equilíbrio e uma melhora na postura, além do desenvolvimento da cognição. “Os benefícios são vários. O contato com o cavalo é uma situação nova e por ser uma tera-pia não convencional traz bem estar e qualidade de vida para o paciente”, destaca.
Um dos pacientes atendidos pelo projeto é o Gabriel. Ele tem oito anos e é portador da Sín-drome de Down. Quando chegou, mesmo fazendo acompanhamento fonoaudiológico, o menino não falava. A mãe dele, Eliana Fonseca, lembra que des-de as primeiras sessões já observou resultados e que a evolução foi gradativa. “Hoje ele já consegue se comunicar. A evolução do Gabriel está sendo muito significativa”, comemora.
Alimentação de qualidade Já o Samuel, de cinco anos, e o pai dele,
Aparecido Andrade, encontraram nos projetos de extensão desenvolvidos no campus Cedeteg um ou-
tro apoio, uma outra terapia. O menino estava aci-ma do peso recomendado para a idade e encontrou na Clínica de Nutrição orientação sobre o que é im-portante comer para ter uma alimentação saudável.
O Samuel é um dos quarenta pacientes atendidos, por dia, pelos professores e alunos do curso de Nutrição na Clínica da universidade. Pes-soas, de todas as idades, em busca de uma dieta de redução de peso, de uma rotina alimentar saudável e de cardápios apropriados para quem tem diabetes e/ou hipertensão. “Qualquer pessoa pode procurar a nossa Clínica, não é necessário encaminhamento médico. É só pré-agendar”, explica a ex-coordenado-ra, professora Adriana Maziero Kühl.
Todos os atendimentos são feitos pelos acadêmicos, sob a supervisão direta dos professores. Na consulta inicial é feita a triagem social e alimen-tar do paciente, além da anamnese (entrevista) e da tomada das medidas antropométricas. “Depois de uma semana, o paciente volta para pegar o cardá-pio, que é individualizado. Então, é feito o acompa-nhamento, com consultas de orientação que variam entre 15 e 30 dias, dependendo da necessidade do paciente”, completa Adriana.
Inclusão sem barreirasOs pacientes da Clínica de Nutrição também
têm a oportunidade de praticar exercícios. Numa parceria com o Departamento de Educação Física, duas vezes por semana, eles fazem atividades que ajudam a tornar a perda de peso mais rápida. Além deles, um outro grupo também ocupa a quadra de esportes do campus Cedeteg, sob a supervisão de professores e alunos dos cursos de Educação Física e de Fisioterapia: os membros da Associação dos Defi-cientes Físicos de Guarapuava (ADFG).
Desde 2010, são desenvolvidas atividades lúdicas com dois objetivos. O primeiro é promover a qualidade de vida dos deficientes. Já o segundo é integrá-los à universidade. Porém, no período, uma outra ação passou a fazer parte do projeto: o treina-mento do time de basquete sobre rodas da ADFG. Integrante da equipe há oito anos, o muletante Antô-nio Carlos Pires vê diferenças no time antes e depois da parceria com a Unicentro. “A partir do momen-to que começou a integrar o projeto, a participação aumentou e obtivemos mais resultados positivos. O trabalho técnico e de alongamento feito pelos acadê-micos é muito importante pra gente”, avalia.
E os benefícios vão além do físico. As me-lhoras são, também, da ordem psicológica. “A auto-estima aumenta. Os integrantes passam a se sociali-zar mais e melhor. Com isso, estamos evitando que muitos deles de isolem por conta do problema físico ou desenvolvam um quadro depressivo”, destaca a treinadora da equipe e bolsista do projeto, Bruna Estevão.
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Um trabalho contábil em prol da comunidade de Guarapuava e região
Por Edenilson Adão da Rosa, Marcos Roberto Kühl e Cesar Maurício Kulak, coordenadores do projeto
Relato de Experiência
Um país de extremos. Assim poderia ser defini-do o Brasil. Afinal, enquanto em algumas áreas é des-taque, conseguindo competir de igual para igual com os melhores do mundo, em outras ainda não evolui de forma equilibrada. Os sistemas bancário e eleitoral brasileiros são exemplos de ações bem sucedidas. O primeiro é considerado o mais avançado do planeta e o segundo é modelo para muitas nações. Já os seto-res de infraestrutura, moradia, educação e saúde ainda têm muito a evoluir...
A saúde no Brasil, de longa data, tem sido marcada pela omissão aliada à incompetência dos go-vernantes, originando um serviço público ruim. Com frequência, os meios de comunicação mostram pessoas sofrendo em filas à espera de atendimento. A saída, assim, para muitos, aqueles com melhores condições financeiras, é a associação a um plano de saúde. Já os hospitais, por sua vez, padecem com os repasses ínfimos enviados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), que não cobrem os reais custos incorridos na maioria dos procedimentos médico-hospitalares. Valores bai-xos também praticados por planos de saúde, que têm sido chamados, por alguns gestores ligados à área de administração hospitalar, de “SUS verde”.
O reflexo dessa situação é que muitos hospi-tais estão fechando suas portas por não suportarem os altos custos inerentes à atividade. Em Guarapua-va, Paraná, uma das cidades sede da Unicentro, por exemplo, até o ano 2000 eram cinco os hospitais em funcionamento, que atendiam não só a população do município mas também os moradores da região. De lá para cá, três deles deixaram de funcionar. O número de hospitais diminuiu em mais de cinquenta por cento, as vagas hospi-talares acompanharam o declínio, mas a demanda cres-
ceu no período, seguindo a evolução da população regional.
Procurando alternativas para reverter este qua-dro, os hospitais de Guarapuava e do Brasil como um todo pretendem solicitar um reajuste na tabela do SUS. Porém, eles esbarram em duas questões: o levantamen-to dos custos e a comprovação dos valores através de relatórios gerenciais que embasem a demanda. Nú-meros que não podem estar dissociados dos valores encontrados na contabilidade da instituição. Outro ponto importante a destacar é que sem um sistema de informações, torna-se difícil o controle de custos e, também, o gerenciamento dos resultados da entidade.
É nesse cenário que surge, então, a ação exten-sionista intitulada A aplicação dos procedimentos de Controladoria numa Entidade Hospitalar Filantrópica na região de Guarapuava. Projeto que nasceu do anseio mútuo do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo e da Unicentro para cooperação na área administrati-va, com a aplicação de ferramentas de Controladoria. O objetivo é utilizar o conhecimento desenvolvido no curso de Ciências Contábeis para assessorar a entidade, visando identificar formas de aplicação dos procedi-mentos de Controladoria para suprir a carência de in-
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formações contábeis e para o seu gerenciamento opera-cional e estratégico. O projeto, desse modo, ainda, gera oportunidades aos acadêmicos do curso de Ciências Contábeis, que podem aplicar na prática os conteúdos trabalhados em sala de aula, ao permitir estágios para desenvolvimento dos trabalhos de conclusão de curso.
As atividades inerentes ao projeto, que têm du-ração inicial prevista de dois anos, tiveram início em setembro de 2013, com a definição de seus pontos nor-teadores: levantamento patrimonial da entidade visando identificar os equipamentos existentes; elaboração de normas e regras para movimentação patrimonial, pos-sibilitando o mapeamento da origem e do destino dos equipamentos hospitalares; implantação de um departa-mento de auditoria interna; estabelecimento de controle dos fluxos de caixa; e, por fim, desenvolvimento e acom-panhamento do orçamento empresarial da entidade.
Todas essas ações estão ligadas à Controladoria, área de Contabilidade que tem como missão assegurar a eficácia das empresas através da otimização dos seus resultados. A Controladoria, desse modo, é o órgão que possui a incumbência de zelar pela eficácia do processo de gestão da empresa, cuidando para que os usuários disponham de todas as informações necessárias para que possam atingir plenamente os seus objetivos. Sua finalidade, então, é garantir o levantamento e o acesso às informações adequadas durante o processo decisório, colaborando com os gestores na busca da eficácia em-presarial.
Decorrido um ano de andamento do projeto, al-guns resultados já podem ser percebidos. O levantamen-to patrimonial foi realizado logo nos primeiros meses e inventariou cerca de 4 mil itens de instalação e equi-pamentos hospitalares, com valor contábil estimado de R$ 3 milhões. Esses bens foram identificados com pla-quetas padrão da entidade e cada chefia do setor, onde ele se encontrava no momento do inventário, assinou termos de responsabilidade por seu uso. Um trabalho conjunto entre as equipes da Unicentro e do Hospital São Vicente estabeleceu uma política de movimentação
e baixa de bens/materiais, permitindo, assim, o controle, através dos Termos de Movimentação de Material, de cada equipamento que sai ou entra no Hospital. Esse levantamento permitiu, ainda, a atualização dos valores contábeis da entidade - incluindo equipamentos, prédio e terrenos -, sendo observados os Princípios Contábeis que, posteriormente, foram validados por uma equipe de Auditoria Externa contratada pelo Hospital. Os tra-balhos também já têm como resultado a implantação de um Departamento de Auditoria Interna, visando as-segurar que os controles internos e que os registros da entidade passassem a estar de acordo com as normas e os princípios vigentes.
Embora algumas atividades já tenham seu devido encaminhamento, ainda existem aspectos que precisam ser trabalhados ao longo do ano de 2015: consolidação da política de movimentação dos equipamentos; conclu-são da implantação da Auditoria Interna; implantação do orçamento econômico e financeiro; e estabelecimen-to de um controle de fluxo de caixa operacional. Os primeiros dois itens são aspectos que visam consolidar e concluir atividades já iniciadas. Já os dois últimos têm extrema relevância para gestão de qualquer instituição, pública ou privada, com ou sem fins lucrativos, e que demandarão empenho e dedicação redobrados das equi-pes para que sejam implementados e gerem os benefícios esperados.
No que se refere à oportunidade de estágios para a execução de projetos de conclusão de curso ficou acor-dado entre a Unicentro e o Hospital São Vicente a com-posição de três equipes de formandos que trabalharão, em 2015, com temáticas de grande importância para a entidade: rentabilidade do convênio SAS em relação ao seu custo hospitalar; custos da área de nutrição e caldei-ra; e implantação de uma auditoria interna. Esses temas contribuirão para a melhoria de informações gerenciais do hospital, possibilitando, assim, mais contribuições efetivas da Unicentro em prol da melhoria do proces-so de gestão do Hospital e, indiretamente, beneficiando toda a sociedade envolvida.
Foto: Shutterstock
A prevencao do HIV/Aids como compromisso
profissional e socialAtuante na região de Irati, Laboratório de
Psicologia Social e Processos Institucionais da Unicentro integra rede de cooperação contra a doença
Por Ariane Pereira
Na década de 1980 a Aids
devastou a África e aterrorizou o
mundo. As milhares de mortes provo-
cadas pelo vírus então recém-descoberto
não deixaram imune nenhuma socieda-
de. A doença transformou as relações
humanas e teve forte impacto social.
Ao longo dos anos seguintes, os cha-
mados grupos de risco – sobretudo os
homossexuais, os profissionais do sexo
e os consumidores de drogas – se dissol-
veram e a doença passou a assombrar
a população como um todo. Ninguém
estava imune. Depois, o de-
senvolvimento de medica-
mentos, que não apenas
aumentavam a sobrevida
dos infectados como per-
mitiam que eles vivessem
bem, e o bem-sucedido pro-
grama brasileiro de atendi-
mento e distribuição de remédios
aos doentes praticamente tiraram a Aids
e suas implicações da mídia.
Em silêncio, porém, o HIV segue
fazendo vítimas e a doença, ainda hoje,
está longe de ser vencida. A prevenção,
assim, continua sendo a estratégia mais
recomendada e passa, sobretudo, pela
mudança de comportamentos. E a in-
formação, nesse sentido, é fundamental.
Por isso, é com ela que trabalha o Labo-
ratório de Psicologia Social e Processos
Institucionais, que funciona no campus
de Irati da Unicentro. Sob coordenação
do professor Gustavo Zambenedetti,
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Foto: Shutterstock
ção e da prevenção da doença tiveram
início e são avaliadas e reconfiguradas a
cada ano. Desde então, de dois a quatro
alunos do curso de Psicologia da Uni-
centro fazem estágio profissionalizante
nessa área desenvolvendo atividades ao
longo de um ano. Além disso, como
conta o professor Gustavo, logo no
primeiro ano de atividades do Labora-
tório de Psicologia Social e Processos
Institucionais, foi feito um trabalho
de prevenção em locais de prostituição
do município de Irati. “Os estagiários
faziam, inicialmente, um mapeamen-
to desses pontos, depois entravam em
contato com as equipes de Saúde da
Família para obter informações e, na
sequência, tentavam ter acesso aos luga-
res e às pessoas. Porém, esse não é um
trabalho muito fácil, visto que alguns
locais de prostituição são informais e,
pelo caráter de ‘contravenção’ que en-
volve a prostituição, muitas vezes ocor-
re a negação dessa prática. Em algumas
intervenções foi possível conversar com
mulheres que tem a prostituição como
trabalho. Essas ações buscaram explorar
o uso do preservativo - se ocorre ou não,
os motivos, se há acesso, se os clientes
aceitam e como ocorre a negociação
para o uso -, fazíamos distribuição de
camisinhas e, também, procurávamos
dar uma abordagem mais abrangente
em relação à vida dessas mulheres, na
perspectiva da integralidade”.
A intervenção demonstrou que
algumas dessas mulheres que trabalha-
vam com a prostituição não procura-
vam unidades de saúde porque não sa-
biam como ter acesso ao atendimento,
tanto para a realização de exames pre-
ventivos regulares quanto para a retira-
da de anticoncepcional. “Nesse sentido,
nós também articulamos o encaminha-
mento delas ao sistema de saúde”, sa-
lienta Gustavo. Foi proposto, ainda, o
atendimento psicológico de PVHA (pes-
soas que vivem com HIV e Aids), mas
são desenvolvidas ações que articulam a
pesquisa e a formação profissional, pro-
movendo a prevenção da Aids e o acom-
panhamento de pacientes infectados.
“Antes de vir para Irati, eu já tra-
balhava, em Porto Alegre, com o campo
de atenção ou prevenção em DST/
Aids. Na época, também desen-
volvia minha tese na área. En-
tão, em 2012, um ano depois
de ingressar como profes-
sor do Departamento de
Psicologia da Unicentro,
assumi a orientação do
estágio na área da saúde
e percebi que a Psicolo-
gia não tinha inserções
nessa área e busquei
aproximações com o
programa municipal
de DST/Aids e com
o Setor de Epide-
miologia da Re-
gional de Saúde”,
relata o professor
Gustavo.
D e s s a
forma, desde
2012, ativida-
des ligadas
ao campo
da aten-
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a adesão, segundo o pesquisador, foi
pequena. “Um dos motivos é que o es-
tigma é muito grande e algumas pesso-
as procuram comparecer no serviço o
mínimo possível, apenas para retirar a
medicação e para a consulta médica”.
As ações também evidenciaram que,
de modo geral, as pessoas conhecem
pouco o trabalho da psicologia e que
a atenção em saúde ainda é muito cen-
trada na figura do profissional médi-
co. “O trabalho interdisciplinar ainda
é uma construção!”, acredita.
No ano seguinte, em 2013, as
ações desenvolvidas pelos estagiários
voltaram-se para a prevenção no con-
texto escolar e estiveram vinculadas ao
programa federal Saúde na Escola, de-
senvolvido pelos municípios. Durante
um semestre, foram realizadas oficinas
sobre preconceito, diversidade sexual
e prevenção para alunos do sexto ao
nono ano do ensino fundamental.
Traçar o perfil das pessoas com HIV/Aids acompanha-
das pelo Programa Municipal de DST/Aids de Irati era
o objetivo principal da pesquisa de Iniciação Científi-
ca (IC) da então acadêmica de Psicologia Emalline de
Paula Santos e de seu orientador, o professor Gusta-
vo Zambenedetti, nos anos de 2012 e 2013. Afinal, os
dados obtidos em pesquisas de caracterização como
essa auxiliam no planejamento de estratégias de
prevenção adequadas à realidade local.
A pesquisa analisou os prontuários de 92 pessoas
atendidas entre os anos de 1994 e 2012. Desse total,
47 fichas de atendimento estavam ativas no serviço,
ou seja, eram de usuários em acompanhamento. As
45 fichas restantes referiam-se a pessoas que fo-
ram a óbito (18) ou que desistiram ou transferiram
o tratamento para outro município (27). A proporção
de homens e mulheres infectados é praticamente a
mesma: 47 e 45, respectivamente. O principal meio
Enquanto os outros estados da re-
gião Sul lideram o ranking de incidên-
cia da Aids no Brasil - o Rio Grande
do Sul é o primeiro colocado e Santa
Catarina ocupa a segunda posição -,
o Paraná está em 16. lugar, com uma
taxa de incidência abaixo da média
nacional, segundo o Boletim Epide-
miológico 2013, do Ministério da Saú-
de. Além disso, entre 2002 e 2012
houve uma redução desse número
no Estado, passando de 38 casos a
cada 100 mil habitantes para 26 ca-
sos em 100 mil.
“Esses números podem indicar a
existência de ações de prevenção
efetivas. Em contrapartida, mesmo
os dados colocando o Paraná em
uma situação um pouco mais confor-
tável no cenário nacional, eles não
podem levar a um afrouxamento nas
práticas preventivas. Pelo contrário.
Indica que o trabalho realizado deve
continuar. Muitos autores têm afirma-
do que é difícil pensar em uma situa-
ção confortável, pois existem muitas
variáveis envolvidas e o trabalho
preventivo e de atenção às pessoas
que vivem com HIV/Aids deve ser
permanente”, reitera Gustavo.
Paraná: HIV/Aids em números
Perfil das pessoas com HIV/Aids em Irati
de infecção é o sexual, por relações heterossexuais.
Há casos registrados em pessoas de 20 a 70 anos,
predominando a faixa dos 31 aos 50 anos, sendo que
34 dos 47 casos em acompanhamento situavam-se
nessa faixa.
“Chamo a atenção para a predominância do modo de
transmissão heterossexual, que contrasta com o ima-
ginário social de que a Aids estaria mais localizada no
público homossexual. Esse imaginário está atrelado
ao histórico de constituição da doença em nosso país,
permeado pelo preconceito e pela estigmatização de
alguns grupos sociais. Esse processo, muitas vezes,
dificulta que pessoas em relações heterossexuais, es-
táveis ou eventuais, se sintam em risco para o HIV e
adotem comportamentos preventivos. Por isso a ne-
cessidade de trabalhos de prevenção, que buscam
sensibilizar as pessoas com relação ao HIV-Aids e ou-
tras DST”, avalia o pesquisador.
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vativo, pouco costuma ser discutido
sobre os motivos que levam as pessoas
a aderirem ou não ao seu uso. Nesse
sentido, buscamos abordar esses aspec-
tos nas oficinas: as relações de prazer/
desprazer, os modos de negociação do
uso, os fatores que intervém no uso”.
Dentro do projeto, além da
atuação com os alunos do ensino
fundamental, também foi iniciado
um trabalho, intensificado em 2014,
com os jovens e adultos do Ceebeja
(Centro Estadual de Educação Básica
para Jovens e Adultos) de Irati e as es-
tagiárias, ainda, promoveram ações de
aconselhamento em trabalhos desen-
volvidos pelo Programa Municipal de
DST/Aids.
As ações desenvolvidas pelo La-
boratório de Psicologia Social e Pro-
cessos Institucionais articulam pesqui-
sa, ensino e extensão, enriquecendo,
assim, a formação acadêmica e profis-
sional dos alunos do curso de Psico-
logia. Ao mesmo tempo, aproximam
a instituição da comunidade. “As par-
cerias estabelecidas mostram que par-
ticipamos de uma rede de cooperação
que trabalha na atenção e na preven-
ção do HIV/Aids. Nosso trabalho tem
propiciado um reconhecimento de
que a Unicentro está implicada com
problemas de relevância social, atuan-
do no contexto das políticas públicas
de saúde. Afinal, trabalhar com a aten-
ção e prevenção em HIV/Aids implica
um compromisso social com o campo
da saúde e das políticas públicas, o
que tem sido preconizado pelos mi-
nistérios da Saúde e da Educação. As
aproximações entre pesquisa, ensino e
extensão promovidas pelo Laboratório
buscam, justamente, abarcar as deman-
das do SUS (Sistema Único de Saúde)
e da população com o conteúdo que
os acadêmicos aprendem na universi-
dade, diminuindo, assim, as distâncias
entre a academia e a comunidade”,
avalia Gustavo.
“Não eram palestras, nós buscávamos
a interação com os participantes atra-
vés da exibição de filmes que aborda-
vam temas considerados tabus, como
a homossexualidade. O trabalho tam-
bém contou com técnicas grupais de
sensibilização para a prevenção, com
a divulgação de informações, com a
distribuição de preservativos e com
a orientação de quais locais realizam
exames para o diagnóstico do HIV, da
sífilis e de hepatites virais”.
“Observamos que, em muitos
contextos, o preconceito ainda persis-
te e está relacionado com a violência e
com a negação dos direitos humanos.
Essa discussão está muito presente nas
oficinas sobre diversidade sexual, onde
percebemos tanto atitudes de aceitação
quanto de rechaço às identidades e
orientações sexuais não heterossexuais.
No campo da prevenção, observamos
que ainda há muita desinformação.
Apesar de grande parte da população
saber da importância do uso do preser-
Foto: Shutterstock
IratiCampus Plano Diretor norteia ações para
desenvolvimento do campus Irati
Ser um instrumento para o desen-
volvimento, estabelecendo um planeja-
mento baseado em ações discutidas junto
à comunidade. Assim pode ser resumido o
Plano Diretor do campus de Irati, que vem
sendo traçado dentro de uma perspectiva
que abrange os próximos dez anos. As di-
retrizes do Plano incluem desde projetos
que já estão em andamento - como a am-
pliação, reforma e construção de espaços
físicos -, até a discussão de proposições
para novas edificações, ampliação do qua-
dro de pessoal, preservação ambiental e
atuação da universidade junto a sociedade.
“É um planejamento do campus que extra-
pola as gestões. É um momento em que a
universidade pensa nos seus projetos, no
seu desenvolvimento e nas diretrizes da-
quilo que quer seguir”, avalia o diretor do
campus de Irati, Edélcio José Stroparo.
A execução do Plano Diretor está a
cargo de uma comissão formada por mem-
bros de diferentes áreas. Numa primeira
etapa, o trabalho limitou-se a sistematizar
todos os projetos já existentes e os em an-
damento. Em seguida, este mapeamento
foi encaminhado para os departamentos,
onde se encontram atualmente, para que
cada um elaborasse um planejamento pró-
prio para os próximos dez anos. “A partir
do que for levantado junto aos departa-
mentos e às coordenações de pós-gradua-
ção serão pensados e discutidos os elemen-
tos que irão compor o Plano Diretor”,
explica Edélcio.
Num momento seguinte, serão re-
alizadas audiências públicas, envolvendo
professores, alunos, agentes universitários
e, também, a comunidade externa, já que
as ações acadêmicas extrapolam as divisas
da universidade, como são exemplos a
interação promovida pelos projetos de ex-
tensão e pelas clínicas, que prestam atendi-
mento especializado à população de toda
a região.
Três mil pessoas circulam, diaria-
mente, pelo campus de Irati. E esse nú-
mero deve crescer nos próximos anos,
isso porque novos cursos de graduação já
foram aprovados pelo Conselho Universi-
tário e devem entrar em funcionamento
- Artes Cênicas, Engenharia Civil e Enge-
nharia de Produção -, além de outros na
pós-graduação. “Precisamos considerar
como irá se comportar o crescimento físi-
co do campus e de que forma isso interfe-
rirá na comunidade. Temos que imaginar
como será esse processo pensando em vias
de acesso, acessibilidade, preservação am-
biental”, acrescenta Stroparo.
O Plano Diretor aponta rumos para
um desenvolvimento economicamente vi-
ável, socialmente justo e ecologicamente
equilibrado. “A construção desse Plano é o
compartilhamento das ideias, levando em
consideração todo o espaço que tem que
ser otimizado”, observa a vice-diretora do
campus, Maria Rita Kaminski Ledesma.
O Plano Diretor já tem implemen-
tada uma série de ações que visam pro-
mover melhorias na segurança, na acessi-
bilidade e nos espaços físicos. Obras para
construção de novos ambientes estão pro-
gramadas e projetos de urbanização já es-
tão em execução. Outras propostas dizem
respeito a reforma do telhado do prédio
principal e a cobertura do espaço de con-
vivência, situado ao lado do Auditório De-
nise Stoklos. Uma ação permanente traba-
lha com a construção de muros de arrimo,
calçadas, pontos de ônibus, jardinagem,
além da manutenção diária.
• Biblioteca• Centro de Documentação e
Memória (ampliação)• Ginásio de Esportes• Pavilhão Desportivo• Pista de Atletismo• Unidade Administrativa/
Pedagógica
* Tramitando junto aos governos Federal e/ou Estadual
Plano Diretor: novos espaços físicos*
Por Marina Lukavy eAriane Pereira
12 Periódika
Pegar a BR 277 todos
os dias para ir e voltar do
trabalho, da escola ou da uni-
versidade. Essa é a rotina de
muitos guarapuavanos que mo-
ram nos distritos e encaram a
rodovia num trajeto curto, mas
perigoso. Com Allysson Rocha
era assim. Era. Açougueiro, ele
morava no Guará e trabalhava
em Guarapuava. Um dia, no iní-
cio de 2014, numa de suas idas e
vindas pela estrada, sua moto foi
atingida por um caminhão. O mo-
torista da carreta, numa tentativa de
ultrapassagem, alcançou a traseira da
motocicleta de Alysson e o jogou na
pista contrária, onde vinha um outro
caminhão.
Depois do acidente, Allysson
passou uma semana no hospital, teve
uma perna amputada e a vida, total-
mente, transformada. Nos primeiros
meses, o jovem de 22 anos não con-
seguia nem sentar. Precisou reaprender.
Para isso contou com o apoio da Clínica
de Órtese e Prótese da Unicentro, onde re-
cebeu atendimento médico, fisioterápico e psi-
cológico. “Hoje, eu consigo sentar, movimentar meu tronco, me
locomovo com a muleta”, contou enquanto realizava mais uma série
de exercícios de fisioterapia poucas semanas antes de fazer a moldagem
da sua primeira prótese, uma perna mecânica. “Não vejo a hora de voltar a
caminhar, de ter minha vida de volta”. Para isso, mesmo depois de receber a
prótese, Allysson precisará continuar na reabilitação por um tempo, para se
adaptar ao aparelho. “Aí, ninguém mais vai ficar olhando, não vou mais sentir
vergonha”.
Histórias como a de Allysson são recorrentes na Clínica de Ór-
tese e Prótese da Unicentro, que em 2014 completou onze anos, tendo realizado
Reabilitação para além da deficiência
Clínica de Órtese e Prótese da Unicentro, em onze anos, já prestou mais de 80 mil atendimentosPor Ariane Pereira
Fotografias: Marcio Nei dos Santos
13Periódika
14 Periódika
mais de 80 mil atendimentos no período. Pessoas que, muitas
vezes, já haviam perdido a esperança e a recuperam quando
encontram a possibilidade de reconquistar qualidade de vida.
A coordenadora da Clínica e professora do Departamento de
Enfermagem da Universidade, Maria Regiane Trincaus, lem-
bra de um dos primeiros atendimentos do projeto de Órtese e
Prótese. Um caso bastante semelhante ao de Allysson e que,
como tantos outros, gerou vínculo entre os pacientes e os
profissionais da clínica.
“Tem um menino, hoje um rapaz de 20 anos, que
chegou à Clínica com nove. Ele tinha acabado de perder uma
perna. Foi atropelado e precisou ser amputado na altura do
joelho. Passou um período de reabilitação com a gente, depois
outro de adaptação à prótese. E está conosco até hoje porque,
todos os anos, ele precisa voltar para trocar o aparelho. É um
rapaz extremamente ativo. Mas o que mais demonstra como
o trabalho realizado aqui é importante e como é estabelecida
uma ligação entre nós e os pacientes é que um dia, num perío-
do diferente do da troca de prótese, ele apareceu aqui. A visita
foi só para nos apresentar a namorada. Foi muito marcante”.
A Clínica, que atende pelo SUS, além de fornecer,
gratuitamente, as órteses - que são aparelhos que, normal-
mente, alinham ou corrigem um membro, como
um colete -, as próteses - que substituem um mem-
bro faltante, como uma perna mecânica -, ou um
meio auxiliar de locomoção - e, nesse caso, entram
as palmilhas, muletas e cadeiras de rodas -, tam-
bém trabalha na reabilitação e na adaptação dos
pacientes. “Até 2013, nosso atendimento estava
vinculado a essa situação - precisar de uma órtese
ou de uma prótese. Mas desde o início de 2014, a
gente tem recebido muitos pacientes que precisam só
de reabilitação, como alguém que ficou com sequelas de um
AVC, o derrame, e que precisa só do atendimento profissio-
nal”. Para isso, hoje, o projeto Órtese e Prótese conta com
oito profissionais da saúde - médico, enfermeiros, fonoau-
diólogos, fisioterapeutas, psicólogos, terapeutas ocupa-
cionais e assistentes sociais - e 50 alunos extensionistas
dos cursos de graduação em enfermagem, fisioterapia e
serviço social. Afinal, como lembra Maria Regiane, “a
reabilitação física é multiprofissional. Além disso,
os casos são muito distintos entre si”.
Outra pessoa ativa surpreendi-
da por um incidente e que, assim, teve
a vida transformada foi o senhor Pedro
Afonso Alexius, de 62 anos. Pedreiro,
ele não foi vítima de um acidente no
trabalho. Foi uma causalidade do-
méstica que o deixou numa cadeira de rodas. Ele escorregou
na cozinha de casa e quebrou o fêmur. “Eu achei que não fos-
se nada”, lembra. “Só depois de quinze dias, como a dor pio-
rava, é que eu procurei um médico. Ele me mandou fazer um
raio-x, mas o exame não mostrava nada”. E, assim, mais seis
meses se passaram até que ele fizesse uma tomografia. Nesse
período, aos poucos, foi perdendo o movimento da perna
enquanto a dor aumentava. O exame revelou uma fratura no
fêmur, que demandava uma cirurgia. “Mas ele não pode ser
operado porque, primeiro, a quebradura já era antiga, depois
porque ele tem um problema no pulmão”, conta a esposa
dele, a dona Zenilda Paulo.
A ausência de tratamento para a fratura fez com que
o seo Pedro perdesse o movimento do quadril. Sem poder
andar, sem conseguir deitar, ele passou muito tempo só sen-
tado e isso prejudicou a circulação da sua perna. Essa situação
aliada a baixa capacidade pulmonar do pedreiro, tabagista há
anos, levou a uma insuficiência venosa na perna e a formação
de muitas e profundas feridas. E foi por causa delas, já que
na Clínica de Órtese e Prótese também funciona um labora-
15Periódika
disso quando começaram a sair as portarias. Enfim, a portaria
previa o credenciamento de cinco serviços de média complexi-
dade no Paraná e o nosso foi o sexto aprovado”.
Desde então, os recursos para o funcionamento da
Clínica são repassados pela Secretaria Estadual de Saúde do
Paraná. Hoje, os recursos mensais transferidos são de R$
40.586,00 para o fornecimento de órteses e próteses para os
pacientes dos vinte municípios que compõem a 5º Regional
de Saúde. “Nossa situação atual é muito favorável. Não há
mais fila de espera. Os pacientes atendidos num mês, já no
seguinte são chamados para fazer o molde ou já recebem os
aparelhos. Só a cadeira de rodas demora um pouco mais, de
quatro a cinco meses, porque a fábrica nos pede esse prazo
para a entrega”.
O pronto atendimento surpreendeu Simone Antu-
nes Ferreira, mãe da Camila Ferreira da Silva, de 13 anos. “A
gente morava em Rondônia e lá era demorado, a gente não
recebia a atenção que tem aqui, não”. Camila nasceu prematu-
ra. Aos oito meses de gestação, ela entrou em sofrimento fetal,
evacuou dentro do útero da mãe e, quando tentou respirar, as
fezes foram para o pulmão causando paralisia cerebral. No
final de 2013, a família mudou-se para Pitanga e a menina
começou a frequentar a Apae do município. Foi lá que a en-
caminharam para a Clínica de Órtese e Prótese.
“Eu vim para pedir um aparelho para os pés dela,
para eles pararem de entortar. Mas a acolhida foi muito maior.
Avaliaram a Camila. Ofereceram muito mais do que eu pe-
dia. Mostraram que a
cadeira de rodas dela
estava pequena, que
ela precisava de uma
maior e mais adaptada
às dificuldades dela.
E pediram uma nova.
Me explicaram que ela
tinha pouco movimen-
to no braço esquerdo e
que uma órtese pode-
ria ajudar”. Além dos
aparelhos, a sorridente
Camila passou a contar
com atendimento mé-
dico, psicológico e de
uma assistente social.
Para mãe e filha, uma existência transformada. “O atendi-
mento é diferenciado. Eles conversam. Eles explicam e a gente
entende. Eu encontrei respostas. Eu não sinto mais rejeição”.
tório de feridas, que o seu Pedro foi encaminhado ao projeto.
“Aqui estamos no céu. Mas até chegar aqui foi muito difícil”,
avalia dona Zenilda. “Se ele não tivesse vindo, ele teria que
ser amputado, eu acho. A perna estava muito feia, estava tudo
apodrecendo”.
O tratamento teve início em abril de 2014. Mesma
época em que a auxiliar de enfermagem Janete Dalmar dos
Santos Hupfer começou a trabalhar na Clínica. “Durante seis
meses eu acompanhei o caso do seu Pedro. Hoje, quem vê
a perna dele não consegue imaginar como eram as feridas
quando ele chegou aqui. Agora está tudo fechado, quase ci-
catrizado”. No projeto, além dos curativos semanais para as
feridas, o ex-pedreiro recebeu atendimento nutricional - “já
que ele está bem acima do peso e isso dificulta a recuperação
do movimentos”, como
explica Maria Regiane -,
fisioterápico - para, pou-
co a pouco, recuperar o
movimento do quadril
e da perna esquerda e,
também, para o pulmão
-, e psicológico, além de
uma cadeira de rodas.
O fornecimento
das órteses e das próteses,
além do atendimento e
do serviço de reabilita-
ção, é possível porque
a Clínica é credenciada
junto à Secretaria Esta-
dual de Saúde e ao Mi-
nistério da Saúde. “Nós
começamos a funcionar em julho de 2003, mas o processo
é anterior a essa data”, narra Maria Regiane. “Em 2001, saiu
uma Portaria do Ministério da Saúde organizando a rede de
atendimento às pessoas com deficiência. Na época, quem fa-
zia esse serviço era a Secretaria Municipal de Saúde. Mas era
apenas fornecido o material, não havia reabilitação. Mas isso
nem sempre dá certo. Muitas pessoas jamais vão conseguir
utilizar uma prótese se não for feita a reabilitação. Então, o
professor Fábio Aragão, do Departamento de Enfermagem da
Unicentro, que na época era secretário municipal de Saúde,
fez a proposta de estruturação da clínica para o Departamen-
to. A gente, então, encaminhou o projeto para a 5º Regional
de Saúde, para que os secretários dos vinte municípios apro-
vassem e, depois, enviassem à Secretaria Estadual de Saúde
que encaminhava para o Ministério. Mas o projeto, mesmo
aprovado, ficou engavetado na Regional e a gente só soube
Allysson Rocha faz exercícios de fisioterapia
Pedro Allexius em atendimento no Laboratório de Feridas
A Unicentro figura, desde o final de de-
zembro de 2014, oficialmente, no rol das uni-
versidades de excelência do Brasil. Isso porque
o último Índice Geral de Cursos (IGC), do
Ministério da Educação (MEC), reconhece o
trabalho desenvolvido pela universidade nos
âmbitos do ensino de graduação e da pesqui-
sa desenvolvida pelos cursos de pós-graduação.
Nos últimos três anos, interstício entre as duas
avaliações mais recentes, a Universidade Es-
tadual do Centro-Oeste avançou 17 posições,
passando da 50º colocação, no ranking divul-
gado em 2011, para a posição de número 33,
segundo a avaliação de 2014, num cenário que
engloba 228 universidades avaliadas.
Na avaliação do reitor da Unicentro,
professor Aldo Nelson Bona, o resultado é ex-
tremamente animador. “Para uma instituição
que ainda não completou 25 anos como uni-
versidade, e que ainda está em processo de con-
solidação do seu crescimento, figurar já como a
33º melhor universidade do país é, sem dúvida
nenhuma, motivo de grande orgulho. Resulta-
dos como esse, certamente, estimulam toda a
comunidade acadêmica a manter a mesma de-
dicação e o desejo de fazer sempre melhor”.
O IGC, atualmente, é o principal indi-
cador de qualidade das instituições de ensino
superior do país e sua avaliação se dá através
da atribuição de conceitos, numa escala que vai
“Estamos à frente de grandes universidades, não só do Estado mas também do Brasil. Isso demonstra a quali-dade do trabalho desenvolvido por nossos professores, servidores e acadêmicos nas atividades de ensino, nas
ações de extensão e no desenvolvimento de projetos de pesquisa e de inovação tecnológica, evidenciando, mais uma vez, que estamos no rumo certo”
Aldo Nelson Bona, reitor da Unicentro
16 Periódika
Unicentro é reconhecida pelo MEC como uma das melhores
universidades brasileirasPor Ariane Pereira
de 1 a 5, a cada uma das universidades, faculdades
ou dos centros de ensino avaliados. Para definir as
faixas, o IGC leva em conta a situação dos cursos
de graduação – por meio da média dos últimos três
resultados disponíveis do Conceito Preliminar de
Cursos (CPC) das licenciaturas e bacharelados, que
é ponderada pelo número de matrículas em cada
um dos cursos computados –, as notas obtidas pe-
los cursos de graduação oferecidos pela universida-
des no Enade (Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes), e, também, a nota Capes, que mede o
desempenho na pós-graduação strictu sensu (mes-
trado e doutorado).
Para ser considerada de excelência, a insti-
tuição de ensino precisa atingir as faixas 4 e 5. A
Unicentro classificou-se no nível 4 ao obter a nota
3,5130. Desempenho que fez com que a universi-
dade fosse, ainda, a que mais posições avançou.
“Esse crescimento precisa ser creditado a uma sé-
rie de fatores. O primeiro deles é a qualificação
do pessoal docente e agente universitário. Afinal,
o principal fator de desenvolvimento de uma ins-
tituição é - e sempre será - o seu quadro de pesso-
al”, explica Aldo. “Os outros são: a pós-graduação
strictu sensu, decorrência da qualificação docente,
que representa o estágio de maturidade institucio-
nal; os investimentos em infraestrutura; e, é preci-
so destacar, o desempenho dos alunos nos proces-
sos de avaliação”.
Além disso, a partir de 2012, após a divul-
gação do IGC 2011, a Unicentro, através da sua
Diretoria de Avaliação Institucional, ligada à Pró-
-Reitoria de Planejamento, deu início a um traba-
lho que visava, num primeiro momento, compre-
ender os meandros de funcionamento do processo
de avaliação do MEC e como os indicadores são
compostos. A partir desse entendimento, passou-se
a um trabalho de orientação dos departamentos
“Estamos à frente de grandes universidades, não só do Estado mas também do Brasil. Isso demonstra a quali-dade do trabalho desenvolvido por nossos professores, servidores e acadêmicos nas atividades de ensino, nas
ações de extensão e no desenvolvimento de projetos de pesquisa e de inovação tecnológica, evidenciando, mais uma vez, que estamos no rumo certo”
Aldo Nelson Bona, reitor da Unicentro
17Periódika
pedagógicos sobre a importância da qualidade da
informação prestada e, também, sobre a relevância
de fazer aparecer nos relatórios os avanços institu-
cionais. “Percebemos que só melhoraríamos nos-
sos índices quando todos os envolvidos no proces-
so - alunos e docentes - tivessem informações sobre
o exame e sobre a consequência da nota obtida
pela universidade na rotina de cada curso, profes-
sor e discente. Assim, traçamos um plano de ação
com a finalidade de alcançarmos o conceito 4 na
avaliação seguinte e conseguimos”, conta Angelo
Marafon.
Alcançado o conceito 4, agora, a Uni-
centro tem pela frente mais desafios. Não apenas
manter-se na mesma faixa, como ir além, obtendo
a nota 5. “Não será fácil. Afinal, todas as outras
instituições também estarão procurando conseguir
notas e posições mais altas no ranking. Porém, se
mantermos a seriedade, a dedicação, os investimen-
tos e a qualificação, levaremos nossa universidade
a melhorar sempre mais. Afinal, por mais acertada
que seja nossa ação, sempre temos que acreditar
que é preciso e possível fazer melhor”, finaliza
Aldo.
- 33ª melhor instituição de ensino superior brasileira- avanço de 17 posições em relação ao ranking anterior- 7ª melhor entre as afiliadas à Abruem (Associação Brasileira de Reitores das Universida-des Estaduais e Municipais)
- 5ª melhor universidade paranaense- 3ª melhor universidade estadual do Paraná
A Unicentro no Índice Geral de Cursos (IGC)
EL NORTE DEL SURRelato de Experiência
Por Marcio Fernandes, coordenador do projeto bi-nacional financiado pela Fundação Araucária
É no escopo do amplo processo de interna-
cionalização pelo qual tem passado a Universidade
Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) que o projeto
‘Cooperação bi-nacional Brasil-Argentina: fomento à
interação entre Ciências Sociais Aplicadas e Inova-
ção Tecnológica’ começou a ganhar corpo dois anos
atrás para, em seguida, obter a chancela da Fundação
Araucária. Um grupo de investigadores da Unicen-
tro, de Comunicação e de Letras, propôs um desa-
fio a seus pares da Universidad Nacional de Jujuy
(UNJu, Argentina), uma instituição que guarda várias
semelhanças com nossa Universidade – é jovem, está
em uma área um tanto periférica (do ponto de vis-
18 Periódika
19Periódika
ta geográfico) e tem uma
enorme disposição para
intercâmbios de docentes,
de funcionários e de estu-
dantes.
Hoje, no instante
em que o projeto comple-
ta 18 meses de existência,
17 pesquisadores do bi-
nômio Unicentro-UNJu
estão diretamente envol-
vidos, além de diversos
alunos e servidores. O
ponto de partida, tão
logo recebeu-se a notícia
do aceite por parte da Fundação Araucária, foi um coló-
quio na cidade de Foz do Iguaçu, quando cada professor
pode apresentar suas linhas de pesquisa, em busca de en-
contrar parceiros para novos estudos. Desde então, vários
artigos assinados por um brasileiro e por um argentino
foram publicados em revistas científicas e em congressos
internacionais. Algo similar se deu em livros. Em Comu-
nicação & Política (Syntagma Editores, 2014), dois capí-
tulos têm ligação direta
com o projeto em ques-
tão. Em Mapas comu-
nicacionales y territo-
rios de la experiencia
(RedCom, 2013) isso
também ocorre.
Mas há mais: em
meados desse ano, na
cidade de San Salvador
de Jujuy (a 1,8 mil km
de Guarapuava), um
segundo colóquio ser-
virá para a apresenta-
ção destes resultados e
para o lançamento de
outros desafios para os dois anos seguintes. É provável
que investigadores da Universidad Nacional de Salta, da
Universidade Católica de Santiago del Estero (ambas na
Argentina) e de instituições bolivianas se somem a este
time nos tempos vindouros.
Cabe registrar que, para além dos dois colóquios,
outros eventos aconteceram ou estão sendo costurados
com o apoio deste grupo Unicentro-UNJu. É o caso de
um seminário previsto para o primeiro semestre de 2015
em Buenos Aires, com a
presença fundamental da-
quela que é a maior enti-
dade comunicacional da
América Latina, a Inter-
com (Sociedade Brasileira
de Estudos Interdiscipli-
nares da Comunicação).
Em terras portenhas, ca-
berá fundamentalmente
aos nove investigadores de
Jujuy envolvidos em Co-
operação bi-nacional Bra-
sil-Argentina efetuar a di-
vulgação deste seminário.
No mesmo período, na cidade argentina de Posadas, um
grupo de instituições latinas igualmente se reunirá, tendo
como o horizonte formas inovadoras de intercâmbio no
espaço sulino da América.
E aqui é pertinente uma certa teorização sobre
a iniciativa Unicentro-UNJu. “Dentre os problemas que
hoje se inscrevem nessa agenda de desafios, destacam-se
as diversas temáticas relativas aos fenômenos comunica-
cionais, tais como ino-
vação tecnológica, no-
vos modelos de gestão
e, também, processos de
produção, disseminação,
circulação e consumo de
bens culturais (informa-
tivos, publicitários, artís-
ticos, etc.). Esses são pro-
blemas constituintes do
núcleo duro da reflexão
sobre o desenvolvimento
social e humano latino-
-americano” é parte do
que está escrito no pro-
jeto remetido em 2012 à
Fundação Araucária, dentro da justificativa apresentada
em busca do aporte financeiro e apoio institucional.
O grupo Unicentro-UNJu não perdeu e não perde-
rá de vista esta visão e estas problemáticas. Modestamente,
busca e buscará contribuir para soluções, especialmente a
partir das premissas da Ciência da Comunicação. Encon-
trar caminhos para tanto é, como costuma dizer o jorna-
lista, professor e escritor jujeño Reynaldo Castro, desco-
brir el Norte del Sur.
Foto
s: M
arci
o Fe
rnan
des
20 Periódika
Adiar a entrada na fa-
culdade para fazer intercâmbio e,
assim, passar alguns meses em outro
país aprendendo mais sobre a língua, sua
cultura, seus hábitos e costumes. Até pouco
tempo essa era a principal opção para os jovens que
queriam ter a experiência de morar fora do Brasil. Era. De
uns anos para cá, outras alternativas surgiram e foram apri-
moradas no sentido de beneficiar os acadêmicos de cursos
de bacharelado ou licenciatura. Agora, assim como alunos
de mestrado ou doutorado, eles podem cursar parte da gra-
duação em uma universidade fora do Brasil.
Esse sanduíche, como é conhecido o período pas-
sado em uma instituição de ensino superior estrangeira, é
possibilitado, na Unicentro, pela adesão da universidade
à programas como o Brafragri (Programa Brasil-França-A-
gricultura), voltado para as Ciências Agrárias; o Unibral
(Programa Brasil-Alemanha), no âmbito da Engenharia
Florestal; o Ciências Sem Fronteiras, maior programa de
intercâmbio discente brasileiro; o Santander Universidades
de Bolsas Ibero-Americanas para Estudantes de Graduação;
o Elap (Emerging Leaders in the Americas), do governo
canadense; e o PLI (Programa de Licenciaturas Internacio-
nais), voltado exclusivamente para os futuros professores.
O Programa de Licenciaturas Internacionais é edi-
tado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação (MEC).
Ele tem como meta elevar a qualidade do ensino de gra-
duação, tendo como prioridade a melhoria dos cursos de
licenciatura e a formação inicial de professores, com ênfase
nas áreas de Química, Matemática, Biologia, Letras, Artes e
Educação Física.
Os objetivos do PLI são ampliar a formação de do-
centes para o ensino básico no contexto nacional; ampliar
e dinamizar as ações voltadas à formação de professores,
priorizando a formação inicial desenvolvida nos cursos de
licenciatura; e apoiar a formulação e a implementação de
novas diretrizes curriculares para a formação de professo-
res, com ênfase nos ensinos fundamental e médio.
Pelo programa, os acadêmicos de uma universida-
de brasileira, depois de passarem por processo de seleção
Formação
partilhada
Participação no Programa de Licenciaturas Internacionais permite aos acadêmicos a obtenção de dupla diplomação
Por Ariane Pereira
Universidade d
e Coim
bra (P
or
tuga
l)
Fotos: Divulgação
21Periódika
interno, tem a possibilidade de cursar até 24 meses da gra-
duação em uma universidade de Portugal ou da França, pa-
íses parceiros da Capes para o PLI. Para isso, os estudantes
selecionados recebem uma bolsa de estudos mensal, mais
um auxílio instalação nos doze primeiros meses, seguro
saúde e auxílio deslocamento para pagar as viagens de ida
à universidade anfitriã e retorno ao Brasil. A universidade
francesa de Pierre et Marie Curie e as portuguesas do Porto
e de Coimbra são os destinos mais procurados pelos estu-
dantes brasileiros.
A primeira participação da Unicentro no PLI deu-
-se em 2011. Naquele ano, sete estudantes do curso de Bio-
logia foram selecionados para passar 24 meses na Universi-
dade de Coimbra, em Portugal. No ano seguinte, em 2012,
a participação da Unicentro no PLI foi ampliada. Onze
acadêmicos foram selecionados - todos ligados à licenciatu-
ra em Ciências - e enviados para a Universidade do Porto,
também em Portugal.
Entre
os integrantes do
primeiro grupo esta-
va o Gabriel Baldissera. De
volta ao Brasil e já formado, ele,
agora, estuda para a seleção do mestrado
em bioinformática e afirma que o sanduíche
“valeu muito a pena”. “Meu contato com a bioin-
formática foi em Coimbra. Além dela, frequentei outras
disciplinas que não estão presentes nas grades brasileiras,
como práticas em biologia molecular e embriologia mole-
cular. Não dá para mensurar o quanto esse período lá foi
importante para minha formação”.
Os alunos que, como Gabriel, têm a oportunidade
de estudar parte da graduação no exterior encontram mui-
tas novidades, sejam elas acadêmicas, culturais ou sociais.
No que diz respeito aos processos que envolvem o ensino
e o aprendizado, Gabriel destaca o número de alunos por
turma (“nunca menor do que 180”), a ausência de conta-
to mais próximo entre professores e estudantes (“até por
conta do número de acadêmicos por turma”) e o próprio
sistema de ensino. “Em Coimbra, todas as disciplinas são
teóricas e práticas. A presença nas aulas expositivas não é
obrigatória, já a assiduidade nas atividades em laboratório
é essencial”.
Depois dos dois anos na universidade parceira, os
alunos voltam ao Brasil e concluem seus estudos de gra-
duação na instituição de origem. Ao se formarem recebem
dois diplomas, um conferido pela universidade brasileira
e outro emitido pela universidade parceira estrangeira. O
Gabriel, por exemplo, é graduado tanto pela Unicentro
quanto pela Universidade de Coimbra. “Acredito que mi-
nha formação seja completa. E ela foi possibilitada tanto
pelas diferenças quanto pelas aproximações entre as duas
grades curriculares e entre os sistema de ensino brasileiro e
português”.
Os editais referentes ao PLI são abertos pela Capes
e podem concorrer as instituições de ensino supe-
rior brasileiras. Para isso, é preciso apresen-
tar uma proposta. Todas as submissões
são avaliadas e são classificadas as
melhores, com base no mérito.
Às universidades contem-
pladas cabe a seleção dos
estudantes, como expli-
ca o Diretor de Ação
Pedagógica da Uni-
centro, Jó Klano-
vicz. “Os alunos
são escolhidos
pela universi-
dade, mas com
base em crité-
rios definidos e
exigidos pela Ca-
pes. O principal
fator considerado
é o alto desempe-
nho acadêmico du-
rante as disciplinas já
cursadas, comprovado
pelo histórico es-
colar”.
Formação
partilhada
Universidade Pierre et Marie Curie (França)
22 Periódika
A sala de aula em qualquer lugar
Educação a distância forma milhares por ano e qualidade de seu ensino-aprendizado derruba preconceitos
Por AriAne PereirA
Neuraldo Reis é da cidade de Pinhão.
Sua casa fica afastada do centro, no interior
do município. Durante o dia ele trabalha na
secretaria de uma escola. Já a noite, estuda.
Depois de concluir a graduação em História,
agora, está finalizando a especialização em
Mídias na Educação. Ambas oferecidas pela
Unicentro, ambas cursadas na modalidade a
distância. “Foi o que me motivou a voltar a
estudar. Devido a praticidade, não precisar
vir todo dia pra aula, ter a opção de estudar
em casa, os horários flexíveis... Com isso, eu
consegui concluir um curso e ainda me moti-
vei a continuar estudando”, explica. Fotos: Shutterstock
23Periódika
“Uma grande oportunidade - tanto para pro-fessores, quanto para alunos, para as pessoas que necessitam. E nós conseguimos, hoje, chegar
a lugares que nós também não conseguíamos atingir, públicos que nós não conseguíamos
atingir. Então, hoje, eu vejo uma grande oportu-nidade”
Eliane Horbus, coordenadora especialização a distância em Gestão Pública em Saúde
EaD é ... “Essencial. Hoje é necessária. Não somente uma educação a distância, mas uma educação aberta, com formação para que todas pessoas tenham acesso à informação,
independente da maneira - tanto impressa, quanto online -, qualquer tipo de informação para que ela possa construir seu conhecimento. Isso é necessário. E acredito, também, na
evolução do ser humano. E ela propicia isso”Jamile Santinello, coordenadora adjunta Nead/Unicentro
“É toda superação que o aluno tem e toda a dedicação que o professor também tem”
Márcio Winchuar, tutor de referência licenciatura a distância em Arte-Educação
“É um programa de sucesso. A educa-ção a distância da universidade, sem
dúvida, ela é um programa de sucesso e ela é uma referência para outras
instituições”Maria Aparecida Crissi Knüppel, coordenadora Nead/Unicentro
“Eu vejo uma modalidade que se preocupa com o pedagógico, e quando eu falo em se preocupar com o pedagógico estou
falando em se preocupar com o ensino, com a aprendizagem, com os sujeitos - e
não digo só alunos, eu estou falando de professores, também, e de todos os
envolvidos no processo”Manuela Weissbock Eckstein,
coordenadora Setor Pedagógico Nead/Unicentro
2003São realizados os primeiros estudos relacionados à implantação da EaD na universidade
2004
Unicentro concorre e é contemplada pelo edital Pró-Licenciaturas do MEC (Ministério da Educação) para a ofertas de cursos de licenciatura na modalidade a distância
2005Implantação e início do funcionamento do curso de licenciatura em Ciências Biológicas, a partir do Pró-Licenciaturas
2005
Aprovada a 1ª legislação relacionada ao ensino a distância da Unicentro. Ela estabelecia a criação do Nead (Núcleo de Educação a Distância) e regulamentava a oferta de cursos a distância
A Educação a Distânciada Unicentro em datas
24 Periódika
Ele é apenas um dos quase cinco mil alunos matri-
culados nas cinco graduações e nas quinze especializações
ofertadas na modalidade a distância pela Unicentro. Um
grupo formado por jovens recém saídos do Ensino Médio
e por quem (a maioria) já não é tão jovem assim... Pessoas
que nem imaginavam voltar a estudar ou que, morando
longe dos centros maiores e das instituições de ensino su-
perior, se viam impossibilitadas de sonhar com um diplo-
ma. “Uma instituição de ensino superior pública tem por
obrigação a democratização da educação, levar um ensino
de qualidade a população que necessita dele. E a educação
a distância está contribuindo com isso. E nos nossos conta-
tos presenciais com os nossos alunos - seja nos dias de pro-
va, seja nos reconhecimentos de curso, seja nas formaturas
-, eles falam, de uma maneira muito peculiar, da satisfação
que eles têm de ser um aluno da Unicentro, da oportunida-
de que estão tendo”.
Quem fala assim, de maneira entusiasta, é a coor-
denadora do Núcleo de Educação a Distância da Unicen-
tro (Nead), a professora Maria Aparecida Crissi Knüppel.
“Quem não acredita na modalidade é porque não viven-
ciou a modalidade, não teve essa experiência. A medida que
você vivencia, você vê que ela tem tanta qualidade quanto
o presencial e nós conseguimos mensurar essa qualidade
cotidianamente”, defende.
Qualidade de ensino que pode ser medida, por
exemplo, pelos materiais didáticos produzidos pelos pro-
fessores dos cursos a distância voltados, em especial, para
os alunos da modalidade. Além da plataforma de ensino,
o Moodle, o conteúdo chega aos acadêmicos no formato
de livros, ebooks, videoconferências, áudio e videoaulas.
E, constantemente, o Nead/Unicentro investe na inclusão
de mais recursos, sejam eles para tornar os materiais mais
acessíveis - como com a inclusão de legendas e de tradução
para a língua brasileira de sinais -, sejam de ordem mais tec-
nológica para tornar o processo mais atraente - como com
a utilização de avatares e de recursos para tablets e celulares.
“Só cresceu. Desde que nós começamos até hoje, a
modalidade só cresceu. O número de cursos que o Nead/
Unicentro oferece aumentou. E o melhor: nossas ofertas
são muito bem aceitas. Tanto é que a Unicentro é convi-
dada a atuar em polos fora do estado do Paraná. Minha
avaliação da modalidade e da qualidade do ensino que nós
oferecemos através dela é muito positiva”. A análise é da
professora Eliane Horbus. Atualmente, ela é coordenadora
do curso de especialização em Gestão Pública em Saúde,
mas seu trabalho na EaD teve início há quase cinco anos
quando, em 2010, ministrou sua primeira disciplina a dis-
2007
Inserção do Nead/Unicentro ao sistema UAB (Universidade Aberta do Brasil), ligado à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)
2008Oferta do primeiro curso a distância resultante do convênio com a UAB (licenciatura em História)
2011
Nead/Unicentro adere ao Pnap/UAB (Programa Nacional de Administração Pública) ofertando cursos de graduação e especializações na área
2014
Início dos programas especiais de oferta de cursos a distância para empresas e municípios. Exemplos: "Curso de Aperfeiçoamento e Especialização para Funcionários e Colaboradores da Cresol" e "Programa de Formação Continuada para Funcionários da Educação do Município de Pinhão"
25Periódika
tância, no bacharelado em Administração Pública. “Eu
sempre fui muito otimista com a modalidade, sempre vi
nela uma grande possibilidade. Mas, no início, a dificul-
dade foi muito grande. Foi preciso aprender, com a dis-
ciplina em andamento, a ser professor a distância, a tra-
balhar com os recursos possíveis. Gravar uma videoaula,
por exemplo, era muito complicado. Mas com o tempo,
nosso trabalho enquanto professores foi melhorando e a
estrutura também, em todos os aspectos - de material, de
pessoal, de suporte”.
Hoje, o Nead/Unicentro conta com uma equipe
multidisciplinar que auxilia os professores no planeja-
mento da disciplina, no desenvolvimento dos materiais
e na execução do curso. Uma iniciativa ímpar do Núcleo
nesse sentido foi a instituição de um Setor Pedagógico.
“Todas as disciplinas de todos os cursos ofertados pelo
Núcleo vão ao ar com o professor-conteudista passando
pelo Setor Pedagógico. Isso inclui todo o apoio que o do-
cente precisa para elaborar seu plano de ensino, organizar
o conteúdo na plataforma Moodle e também os materiais
e dispositivos extras que ele vai disponibilizar”, explica a
coordenadora do Setor Pedagógico, Manuela Weissbock
Eckstein.
E nesse processo, os professores - assim como os
alunos durante o curso - contam com o apoio de tutores.
Os que auxiliam os docentes são os nomeados como de
referência. “A nossa função é relacionada bastante à co-
municação. Nós, tutores de referência, nos comunicamos
com o coordenador de curso e com o professor. Preci-
samos estar munidos de informações e envolvidos com
todas as questões pedagógicas e técnicas referentes tanto
ao curso quanto à disciplina”, como explica o tutor de
referência da licenciatura em Arte-Educação, Márcio Win-
chuar. “E não para por aí. Depois que a disciplina está no
ar, essa comunicação é ampliada e passamos a ter contato
também com o aluno. Esse relacionamento a distância,
mediado pelas tecnologias, nos ajuda a avaliar o nosso
trabalho, a perceber o que está funcionando bem e o que
precisa ser mudado”.
“Eu vejo que nosso trabalho é significativo, levando
em conta os contatos que nós temos. Minha percepção da
EaD, hoje, é de uma modalidade de superação e de dedica-
ção. Tanto por parte do aluno, em busca do conhecimen-
to, quando por parte do professor, procurando dia a dia
aprender com todo esse processo”. Assim, com uma sala
de aula aberta e em qualquer lugar, com o conhecimento
a um clique, a educação a distância vai democratizando o
ensino, formando pessoas, promovendo a cidadania.
Santa CruzCampus
sede da sabedoria
Seja para auxiliar acadêmicos em pesquisas, servir
como espaço de lazer para alimentar o hábito de leitura ou,
simplesmente, um local para pensar e debater ideias, a biblio-
teca do campus Santa Cruz da Unicentro é definitivamente
um espaço onde o conhecimento está disponível para quem
procura.
Batizada como “Sedes Sapientiae”, literalmente a
“sede da sabedoria” em latim, a biblioteca conta com um
acervo superior a 28 mil títulos, divididos em mais de 80
temas e categorias e disponível para os mais de 11.300 mem-
bros da comunidade acadêmica, entre estudantes de gradua-
ção e pós-graduação, professores e funcionários da universi-
dade.
Segundo o livro “Fafig: 15 anos de história“, edição
histórica lançada em comemoração ao aniversário de funda-
ção da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guarapu-
ava, a biblioteca foi fundada em 1968. Devido a uma home-
nagem póstuma à professora Blandina Catharina Turco, que
por anos fez parte do corpo docente da Fafig, a biblioteca
passou a levar o seu nome a partir de 1978.
Recentemente, o espaço passou por mudanças para
melhor atender aos frequentadores. “A nossa ideia é tornar
mais agradável a vinda para a biblioteca”, conta o diretor da
biblioteca do campus Santa Cruz, Carlos Roberto Alves. “A
gente fez uma alteração, praticamente a custo zero, que foi de
melhorar o espaço para os frequentadores e, assim, ter um es-
paço de convivência. Colocando a parte da hemeroteca mais
à frente. A ideia é fazer com que os estudantes e professores
conheçam as assinaturas que nós temos disponíveis e que uti-
lizem. Além de ter um espaço mais amplo, facilitou o acesso
de quem chega ao balcão para realizar os empréstimos”.
Com o novo espaço de convivência, todos os livros
ou revistas novos ficam no expositor por um período. Essa
é uma das novidades, a outra é a mudança no sistema de
catalogação do acervo pela internet. Em vigor desde o início
deste ano, a página também conta com a divulgação das no-
vas obras, dos regulamentos da biblioteca e com informações
sobre o acervo.
Ainda no primeiro semestre de 2015, outra inicia-
tiva dos administradores da biblioteca é fazer uma avaliação
com os frequentadores para saber o que estão achando do
espaço, com relação à empréstimos, às obras disponíveis e,
ainda, fazer uma pesquisa de satisfação
para estabelecer um perfil do usuário.
“Queremos que o frequentador tenha um conta-
to maior com o espaço e, também, que a gente tenha uma
aproximação maior com esses leitores, atraindo
as pessoas, fazendo que elas sintam que a
biblioteca está aí para serví-las da
melhor forma”, finaliza
Alves.
Por Giovani Ciquelero
26 Periódika
27Periódika
alex canzianiUm trabalho político em prol da educação
Segundo deputado federal mais votado pelos parana-
enses, Alex Canziani (PTB) é reconduzido à Câmara
dos Deputados como defensor da educação em to-
dos os níveis. Membro da Comissão da Educação,
da qual foi vice-presidente em 2013, e um dos ide-
alizadores da Frente Parlamentar Mista em Defesa
das Universidade Estaduais e Municipais, Canziani
tem mostrado-se parceiro de todas as horas das uni-
versidades estaduais do Paraná. Atuou, por exemplo,
na redução da contrapartida das IES públicas para
1% nos projetos aprovados em âmbito federal e, em
conjunto com a Abruem (Associação Brasileira dos
Reitores das Universidades Estaduais e Municipais),
busca o financiamento das instituições federais e mu-
nicipais pelo governo federal.
DeputaDo, o senhor e o também DeputaDo feDeral
Cléber Verde, do Maranhão, foraM os prinCipais
artiCuladores para a forMação, ainda eM 2013, da
frente parlaMentar Mista eM defesa das uniVersi-
dades estaduais e MuniCipais. o que MotiVou esse
trabalho e, sobretudo, a defesa dessas instituições
de ensino superior?
Primeiramente, na própria Câmara existem várias
frentes parlamentares, que defendem várias causas. E
uma das áreas, na nossa visão particular, que precisa
de uma atenção especial, de um olhar diferenciado
pelo governo e pelo congresso é - exatamente pela
importância que tem, pela capilaridade que tem, pela
quantidade de alunos que tem espalhados pelo Brasil
afora - a educação superior estadual e municipal. En-
tão, foi pensando nessa necessidade, com essa visão,
que o deputado Cléber Verde, com o meu apoio, arti-
culou essa Frente Parlamentar em Defesa das Univer-
sidades Estaduais e Municipais.
nesse período, pouCo superior há uM ano, desde a
forMação da frente, quais foraM as prinCipais Con-
quistas dessa CoMissão eM faVor das uniVersidades
estaduais e MuniCipais?
Nós já tivemos alguns avanços importantes. Primeiro
com relação à contrapartida de recursos exigida das
universidades estaduais e também municipais quando
têm emendas no orçamento da União. Essa contra-
partida era muito grande. E, através de um trabalho
que foi feito pela Frente Parlamentar conseguiu-
-se diminuir essa contrapartida para poder atender
melhor as demandas das universidades e fazer com
que essas instituições investissem menos os escassos
recursos próprios em contrapartida. Então, essa foi
uma questão importante. Outra questão que nós es-
tamos trabalhando é para que o Governo Federal, já
que a própria Constituição determina que cabe a essa
esfera a oferta do ensino superior público e gratuito,
passe a investir, também, nas universidades estaduais
e municipais. Acreditamos, então, que como muitos
estados - e o Paraná é um dos estados que mais apoia
o ensino superior no país, que mais investe no en-
sino superior - oferecem ensino superior público e
gratuito, nada mais justo que o próprio custeio das
universidades estaduais, uma parte pelo menos dele,
possa ser man-
tido pelo go-
verno federal.
E esse é um tra-
balho que nós
estamos reali-
zando junto ao
Ministério da
Educação. Nós
não chegamos
ainda naquilo
que esperamos,
mas nossa ex-
pectativa é
que, nesse pró-
ximo mandato
da presidente
Dilma, nós possamos efetivamente avançar nesse sen-
tido e poder ter recursos do Governo Federal para o
custeio das nossas universidades.
o senhor atuou, CoMo ressaltou, para que a lei das
diretrizes orçaMentárias (ldo) estipulasse a Con-
trapartida das uniVersidades estaduais e MuniCipais
eM 1% nos projetos por elas subMetidos e aproVados
Outra questão que nós estamos trabalhando
é para que o Governo Federal, já que a própria
Constituição determina que cabe a essa esfera
a oferta do ensino superior público e gratuito,
passe a investir, também, nas universidades
estaduais e municipais.
Foto
graf
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ivul
gaçã
o
uma universidade federal, ele pode aproveitar a estru-
tura que já existe das universidades estaduais. Enfim,
isso ainda não está resolvido dentro do Ministério da
Educação. Nós vamos continuar lutando nesse senti-
do, para que isso efetivamente aconteça. Outra ques-
tão importante que eu vejo também é uma PEC que
nós apresentamos - PEC é uma Proposta de Emen-
da Constitucional. Por que o que acontece hoje? A
Constituição diz que o ensino superior ele é gratui-
to. Na verdade as universidades não cobram para a
graduação, mas cursos de pós-graduação em nível de
especialização, que são necessários para determina-
das regiões dos estados, para determinadas necessi-
dades de cada uma das universidades, as instituições
precisar estar cobrando. Até porque, na maioria das
vezes, esses recursos voltam para a própria melhoria
da universidade, sobretudo através de melhorias das
estrutura física das escolas, por exemplo com a ins-
talação de aparelhos de ar-condicionado para poder
melhor atender esses alunos e acaba ajudando tam-
bém os da graduação, que nada pagam. Só que houve
uma decisão do Supremo Tribunal Federal dizendo
que pela Constituição não é possível a cobrança. E
é por isso que eu apresentei uma PEC, eu acho que
esse é um ponto importante que a própria Abruem
deve levar a frente, que é com relação a essa PEC.
Nós temos que fazer um esforço para que essa PEC
possa caminhar dentro da Câmara dos Deputados,
pra que a gente possa aprovar essa PEC porque ela
vai dizer, claramente, primeiro que a educação supe-
rior de graduação, mestrado e doutorado ela é gra-
tuita nas universidades públicas, mas ela permite, en-
tão, que sejam cobrados os cursos de especialização,
como acontece hoje nas universidades. Então, essa
é uma questão importante. Nós precisamos aprovar
o mais rápido possível, senão daqui a pouco essas
atividades de pós-graduação serão inviabilizadas pela
não cobrança.
28 Periódika
eM âMbito federal. CoMo se
deu esse trabalho?
Era uma necessidade, uma
questão que impactava di-
retamente as universidades,
já que as instituições de en-
sino já têm dificuldades, já
têm poucos recursos, ainda
mais tendo que dar con-
trapartidas grandes. Eu me
lembro que um reitor falou
pra mim: “deputado, quando chega uma emenda pra
nós, nós temos uma alegria e uma tristeza. Alegria
por receber um recurso federal que, sem dúvida, vai
ser importante para desenvolver alguma ação aqui na
universidade. Por outro lado, há tristeza em relação
à contrapartida, ou melhor, em não saber de onde
nós vamos tirar a contrapartida”. Eu conto isso para
reforçar a importância da LDO. Antes dela a contra-
partida das universidades chegava até a 25% do valor
total do recurso, e sem ela não era possível receber a
verba. Então, a diminuição para 1% teve um impac-
to bem importante e significativo. Mais do que isso,
ela sinalizou que é possível sim apresentar pleitos,
levar demandas pra que a gente possa melhorar a
estrutura das nossas universidades.
uMa reiVindiCação da abrueM, que é a assoCiação
brasileira dos reitores das uniVersidades estaduais
e MuniCipais, anterior a forMação da frente par-
laMentar, que foi Muito CoMeMorada pela entida-
de, diz respeito ao repasse de reCursos do goVerno
federal para essas instituições de ensino superior.
a defesa do reitor da uniCentro e taMbéM atual
ViCe-presidente da abrueM, professor aldo nelson
bona, é que esse Valor seja CalCulado CoM base no
núMero de alunos de Cada instituição. a frente
atuou nesse sentido? quais são os resultados alCan-
çados até aqui?
Já estivemos por várias vezes no Ministério da Edu-
cação. Há, por parte do Ministério, uma dificuldade,
eles a princípio não querem fazer isso, mas nós esta-
mos empenhados no sentido de mostrar a importân-
cia que as universidades estaduais têm. Mais do que
isso, que elas podem ser parceiras do próprio gover-
no federal no sentido de levar a educação superior
cada vez mais para o interior do Brasil. O Governo
Federal ao invés de viabilizar um novo campus de
Temos que aproveitar
esse momento para
que possamos levar
as ideias, sermos mais
pró-ativos. Não esperar
a coisa acontecer e
reclamar depois que não
fomos contemplados.
esse teMa da legalidade ou não da Cobrança pelas
uniVersidades públiCas para os Cursos de espeCializa-
ção é uM dos Mais disCutidos eM relação ao ensino
superior atualMente. essa peC teM uMa preVisão de
Votação e qual é sua expeCtatiVa eM relação a quan-
do essa Votação oCorrer?
Essa PEC 395 foi apresentada no ano de 2014, quan-
do nós vimos um projeto que está tramitando na
Câmara e que diz que as universidades não podem
cobrar nada em pós-graduação, até em função da de-
cisão do Supremo que já houve. Aí, eu vi que have-
ria, realmente, necessidade de nós apresentarmos essa
PEC, que já está tramitando, que está na Comissão
de Constituição, Justiça e Cidadania e tem como re-
lator o deputado Lourival Mendes (PCB-Maranhão).
E nós esperamos que ela possa ser aprovada pela Co-
missão, para que nós possamos votá-la efetivamente
no ano de 2015.
a abrueM defende que esse repasse poderia se dar
atraVés da utilização dos reCursos oriundos do pa-
gaMento da díVida dos respeCtiVos estados à união.
a frente teM atuado taMbéM nesse sentido, de Viabi-
lizar esse repasse?
Essa é uma alternativa. Afinal, nós temos que buscar
condições, até porque o governo diz que tem dificul-
dades para repassar mais recursos. Através dessa pro-
posição, ou seja, você diminuindo os encargos que
os estados já têm, é possível auxiliar as universidades.
29Periódika
Eu acredito que é interessante, não cheguei, ainda, a
levar essa proposta para o Ministério da Educação,
mas eu acho que é bem relevante essa ideia e que de-
vemos trabalhar nessa possibilidade também.
outra reiVindiCação da abrueM junto à esfera fede-
ral diz respeito ao Custeio da assistênCia estudantil.
há aVanços nesse ponto?
Esse é um ponto importante que as universidades
têm levantado, a necessidade de nós apoiarmos os
alunos para que permaneçam na universidade. Afi-
nal, o ensino é gratuito, mas são jovens que, muitas
vezes, se não dermos esse apoio para ele, ele acaba
evadindo, ele acaba não continuando o curso na uni-
versidade. E esse apoio estudantil, que já existe nas
universidades federais, eu acredito que seja de funda-
mental importância que nós consigamos implantar
também as universidades estaduais e municipais.
ainda eM relação ao finanCiaMento das ies estadu-
ais e MuniCipais pelo goVerno federal, esse proCesso
poderia se dar atraVés de prograMas de estíMulos
à forMação de MédiCos e à forMação de professo-
res, desde a graduação até a espeCialização, den-
tre outras Modalidades. CoMo o senhor aValia o
andaMento dessas questões, já que as uniVersidades
estaduais, por exeMplo, foraM deixadas de fora do
Mais MédiCos?
Infelizmente, apesar da importância que tem as uni-
versidades estaduais e municipais, elas, muitas vezes,
não têm a atenção desejada por parte das próprias
políticas públicas. Por isso, eu vejo que o papel da
Abruem é muito importante, e também da Frente
Parlamentar e dos deputados que acreditam e tra-
balham em prol das universidades estaduais e mu-
nicipais. Temos que aproveitar esse momento para
que possamos levar as ideias, sermos mais pró-ativos.
Não esperar a coisa acontecer e reclamar depois que
não fomos contemplados. A gente pode trabalhar
isso dentro do go-
verno, o que não é
fácil, é uma máqui-
na pesada, é uma
máquina cuja vi-
são, muitas vezes, é
só para as universi-
dades federais. Mas
que a gente traba-
E é essa luta que nós vamos
continuar empreendo lá em
Brasília, mostrando a impor-
tância, mostrando a qualidade
que as universidades estaduais e
municipais têm, e como podem ser
parceiras da nossa sociedade.
30 Periódika
lhe nesse sentido, o de que as universidades estaduais
podem ser grandes parceiras e querem ser parceiras do
governo federal para que a gente possa viabilizar cada
vez mais uma educação inclusiva, uma educação de
qualidade. A própria formação de professores, como
você citou, os cursos de medicina... Quantos cursos
de medicina nós temos nas nossas universidades esta-
duais? Então, eu quero lutar cada vez mais para que
haja uma aproximação entre o Ministério da Educa-
ção com as próprias universidades, e a Abruem e a
Frente Parlamentar vão ter papéis que vão ser decisi-
vos para que isso efetivamente aconteça.
uM estudo realizado pela abrueM aponta que 43%
das MatríCulas eM instituições de ensino superior pú-
bliCas no brasil estão nas uniVersidades estaduais e
MuniCipais. CoMo esse protagonisMo pode ser usado
eM faVor dessas instituições?
É através desse dado, o da quantidade de alunos aten-
didos pelas universidades públicas não federais, que
nós vamos mostrar a importância das instituições
estaduais e municipais. Não bastam só os deputa-
dos, não bastam só as emendas para poder atender
as necessidades das universidades. É de fundamental
importância que a gente tenha o apoio, que a gente
tenha uma demonstração clara daquilo que as uni-
versidades podem fazer a partir de uma parceria mais
efetiva por parte do governo. E é essa luta que nós
vamos continuar empreendendo lá em Brasília, mos-
trando a importância, mostrando a qualidade que as
universidades estaduais e municipais têm e como po-
dem ser parceiras da nossa sociedade.
quando se fala eM ensino superior, boa parte da opi-
nião públiCa brasileira leMbra quase seMpre apenas
do sisteMa federal. no entanto, o sisteMa estadual/
MuniCipal é bastante Capilarizado, benefiCiando so-
bretudo o interior dos estados. de que Modo os de-
putados federais e senadores podeM Contribuir para
Consolidar, junto à soCiedade, a iMageM de que há
uMa forte rede estadual/MuniCipal taMbéM?
É de grande importância a capilaridade que têm as
universidades estaduais e o governo tem que se aten-
tar para isso. Para que o custo de se criar um novo
campus, de se criar uma nova universidade? Vamos
aproveitar a estrutura que está aí, com qualidade, e
vamos fazer com que essa infraestrutura que já existe,
com que essa quantidade de instituições de ensino
superior estaduais e municipais possam ser cada vez
mais parceiras da sociedade brasileira e também do
Ministério da Educação. É um trabalho que não é
fácil. Mas eu acredito que, nesse próximo mandato,
nós vamos ter um apoio maior por parte do governo
para atender nossas universidades.
na eleição de outubro passado, sua Votação foi bas-
tante expressiVa. eM que Medida sua atuação junto
à eduCação Contribuiu para esse suCesso nas urnas?
Eu sou muito grato. Fomos o segundo deputado mais
votado do Paraná, com quase 190 mil votos. Sou, re-
pito, muito grato a todos que nos apoiaram - prefei-
tos, vices, vereadores, lideranças políticas -, mas eu
não posso desconsiderar, deixar de reconhecer e de
agradecer o grande apoio que tivemos por parte da
educação em todos os níveis, de professores e de fun-
cionários. E quero continuar trabalhando em prol da
educação, em prol das nossas universidades, porque
eu acredito nisso e é esse o meu propósito: o de traba-
lhar em prol da educação.