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Ludgero Paninho TRATAR DELINQUENTES NA PRISÃO A Prisão tem um objectivo: o tratamento dos reclusos com vista à sua reinserção social. Pode pensar-se que esta ideia de tratamento, cada vez mais sobrevalorizada, poderá provocar detrimento dos outros fins das penas, maxime, intimidativos. Mas sem razão. Se houver uma técnica bem aplicada, não se tornará necessário lançar mão de outros meios tipicamente repressivos, cujo eventual efeito útil se poderá alcançar com o tratamento adequado e inteligentemente executado. Até porque seguindo-se, como parece dever ser seguida, a orientação fixada ao nível do Conselho da Europa, em tese tendencial, no sentido de que as cadeias venham a transformar-se em «centros hospitalares», ressaltará de tal formulação, a ideia de tratamento curativo que, em si mesma, leva implicita, necessariamente, a aplicação de meios que hão-de fazer sofrer. Como, realmente, nos hospitais ... Há doentes carecidos de operações que podem ser dolorosas mas que são as únicas que curam ... Ora, pois, se são os reclusos os beneficiários de toda uma complexa e onerosa actividade penitenciária, deve pedir-se-lhes ou exigir-se- lhes que dêem o seu contributo não só passivo - pela submissão voluntária aos regulamentos - mas, colaborantemente activo. Iniciou-se em certos países europeus, designadamente na França e na Bélgica, a chamada “dinâmica de grupo”. Antes de darmos a definição de “dinâmica de grupo” e, partindo do pressuposto evidente que o grupo é o conjunto de indivíduos, perguntaremos quem é o 1

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Ludgero Paninho

TRATAR DELINQUENTES NA PRISÃO

A Prisão tem um objectivo: o tratamento dos reclusos com vista à sua reinserção social. Pode pensar-se que esta ideia de tratamento, cada vez mais sobrevalorizada, poderá provocar detrimento dos outros fins das penas, maxime, intimidativos. Mas sem razão. Se houver uma técnica bem aplicada, não se tornará necessário lançar mão de outros meios tipicamente repressivos, cujo eventual efeito útil se poderá alcançar com o tratamento adequado e inteligentemente executado. Até porque seguindo-se, como parece dever ser seguida, a orientação fixada ao nível do Conselho da Europa, em tese tendencial, no sentido de que as cadeias venham a transformar-se em «centros hospitalares», ressaltará de tal formulação, a ideia de tratamento curativo que, em si mesma, leva implicita, necessariamente, a aplicação de meios que hão-de fazer sofrer. Como, realmente, nos hospitais ... Há doentes carecidos de operações que podem ser dolorosas mas que são as únicas que curam ...Ora, pois, se são os reclusos os beneficiários de toda uma complexa e onerosa actividade penitenciária, deve pedir-se-lhes ou exigir-se-lhes que dêem o seu contributo não só passivo - pela submissão voluntária aos regulamentos - mas, colaborantemente activo.Iniciou-se em certos países europeus, designadamente na França e na Bélgica, a chamada “dinâmica de grupo”.Antes de darmos a definição de “dinâmica de grupo” e, partindo do pressuposto evidente que o grupo é o conjunto de indivíduos, perguntaremos quem é o indivíduo? Quem é ele, sobretudo, quando inserido no grupo.O indivíduo, para este efeito que queremos analisar, é, na tese de de Kurt Lewin (este seguindo na esteira de Freud e Marx) aquele elemento cujo comportamento social resulta de um compromisso entre ele e os que o cercam ou como o define Ortega. y Gasset ele e a sua circunstância. É esta circunstância que, em sentido lato, nós podemos estender às pessoas e coisas com as quais entramos em contacto dentro de um complexo sistema de relações, poderes recíprocos, tensões.Quando este individuo isolado se junta com outros indivíduos isolados e decidem constituir um grupo, este, depois de constituído não é mais, enquanto grupo, uma justaposição de indivíduos mas uma unidade nova com linhas-de-força a percorrer todos os componentes do grupo com vista à modificação e melhoramento das suas personalidades no campo psicológico e social. A “dinâmica de grupo” será, assim, na definição de Henri Gaillac, a ciência cujo objecto são essas transformações e suas leis.A «dinâmica de grupo» tem incidência principal nos «grupos terapêuticos» e nos «grupos pedagógicos». Não são a mesma coisa, embora se confundam nos seus métodos. Mas a diferença pode resultar mais clara

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quando se faça a seguinte comparação: «tratar o doente prescrevendo dieta, tratar o doente receitando remédios».Aplicando estas ideias, assim tão, sumariamente, enunciadas, ao nosso tema, diremos que, formado o grupo penitenciário cujo número não deverá exceder os 15 elementos, a técnica a usar deverá levá-los a voluntariamente - sem interferências de nenhuma espécie e sem, qualquer grau de ascendência do terapeuta ou educador responsável - expressar os seus pensamentos, sentimentos, experiências com vista a um conhecimento e relacionamento mútuos que os possam levar a constatação de que o seu caso é igual a muitos outros casos e a força (dinâmica) de grupo poderá vir a exercer influência beneficamente decisiva, em cada um deles.O Prof. Colin, da Universidade de Lion, ao mesmo tempo que exalta os méritos desta actuação, aponta os seus perigos: «pode favorecer a puerilidade, o paternalismo, etc.».E outros autores como Selosse, Cecaldi, Vernet vêem, com algum cepticismo, os resultados da aplicação do método que ou são efémeros, ou são negativos. Trata-se, no fundo, do chamado modelo de socialização conforme se lê em recente «Documento de Trabalho das Nações Unidas».Pelos seus riscos, toda a lucidez, senso e prudência serão de exigir a quem, entre nós, se quiser abalançar à sua aplicação, que já é feita.E qual a eficácia deste tratamento?A pergunta é, infelizmente, oportuna. E dizemos infelizmente porque está agora muito em voga, como já afirmámos, o slogan: «ninguém recupera ninguém». É um dito, uma asserção, como tantas outras, a não corresponderem à realidade. Como quase todos os «slogans» é demagógico. E, como em todas as demagogias, visa-se um escopo que se persegue em vias subterrâneas, não aparece à superfície, subjaz a toda uma teorização por vezes sedutora, na aparência, mas levando consigo, no seu âmago, o veneno corrosivo que é, de facto, o seu verdadeiro objectivo. É um meio deletério na desincentivação que produz ao trabalho e ao empenhamento daqueles que, levados por seus ideais e querendo, na medida do possível, concretizá-los, se vêem desta forma, neutralizados nos seus esforços.Poderiamos adiantarmo-nos a esses dizendo: ninguém se cura se não quiser e uma vez que queira todo o método se torna repentinamente mais eficaz. Além de que está hoje indiscutivelmente provado que os resultados deste tipo de tratamentos depende muito mais do terapeuta que da terapia que este adoptou.Mas voltemos aos resultados visiveis de um delinquente tratado, ou seja, um que não torna a delinquir, que é como quem diz, se não estivermos a falar dos delinquentes ocasionais, e dos que prevaricaram outra vez mas com o engemho aguçado e que os fez escapar às malhas largas da lei. Estou

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a falar de taxas de reincidência, sempre parasitadas por estes e mais factores.Antes da «Revolução de 25 de Abril» cifrava-se em cerca de 30% a percentagem de libertados das Cadeias Portuguesas que não reincidiam.Nos Estados Unidos era apenas de 20% a percentagem, na estatística de Sheldor e Glueck.Ao entrarem na Cadeia , se não levavam profissão adquiriam-na lá e saíam aptos a ganhar, o pão de cada dia, honestamente. Se já tinham profissão, aperfeiçoavam-se nela, pois os responsáveis tinham o cuidado de lhe arranjar trabalho compatível. À saída, iam construir o seu lar ou recolhiam-se a ele se já o tinham.E não deixava de ser consolador, reconfortante e estimulante quando, alguns destes, voltavam depois muitos anos depois, reconhecidos, agradecer aos seus Superiores os esforços que tinham feito.O que se vem dizendo não quer significar que não se prossigam estudos com vista à descoberta de outros meios e formas de tratamento atendendo aos chamados fenómenos de «aceleração da história» com incidência no desenvolvimento da sociedade e às suas alterações sócio-político-económico-culturais. Porém, deve, outrossim, realçar-se que « aux yeux du public la prison constitue le dernier bastion de la discipline sociale» e «le recours à les traitements extra-penitentiaires a suscité de 1'inquiétude parmi le public et de la confusion parnli les profissionnels qui ne disposent plus du systeme de référence qui a été longtemps de leur Por isso mesmo, todas as formas de substituição da pena de prisão ou o regime desta estruturado nos moldes da civilização permissivista ocidental, terá de deixar alerta os responsáveis honestos e conscientes para não aceitarem de bom grado, sem reflexão e lúcida análise, a inovação que se queira fazer; e que estejam bem atentos às origens e finalidades últimas da moderna política penal e penitenciária tornando-se superiores no desprezo que lhes hão-de causar o desejo de mudança só por mudar e mais, do apodo de «anacrónicos e obsoletos» não permitindo que o medo os iniba indo na onda também ...A experiência polaca aquando da reforma do seu Código Penal de 1969 não deu, a este propósito, bons resultados. Escreve, com efeito, Stanislas Walczak, professor da Universidade de Varsóvia: «La réforme n'a malheureusement pas apporté de résultats nettement positifs en ce qui conceme Ia substituition des peines privatives de liberté par des mesures qui ne nécessitent pas 1'isolement des condamnés».Poderá perguntar-se: mas para alcançar aquele desiderato quais as técnicas que se usaram? Verdadeiramente nenhumas especiais. Não há técnicas aqui, muito embora esta afirmação deva ser entendida «curn grano salis» ... Aqui, o que interessa, não é tanto o que se faz mas o que se é ...

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Os Serviços Prisionais têm um objecto bem preciso. E um objectivo também. O objecto é o homem. O homem na vastidão do seu incognos-cível, na multiplicidade facetada da sua personalidade. É o homem; e o homem, é um mundo: de pensamentos, de sentimentos, de ideias, de contradições, de íntimas confrontações e frustrações, um misto de passado, presente e futuro - o homem, afinal, «esse desconhecido», para usarmos a expressão de Alexis Carrel. Não são realidades materiais por mais complexas que sejam que há que conhecer, que desvendar para explicar. Não são.«L'homme est quelque chose de plus qu'un ensemble d'organes en fonction dans un monde. C'est aussi une âme qui pense, qui souffre et décide dans ce monde où il agit. C'est pourquoi nons ne devons pas nous fatiguer de reproduire avec une insistance persistante le dicton de Hammel: Connais 1'homme. Le besoin urgent d'adapter la peine ou la mesure de sécurité à la personnalité de l'accusé surgit comme une conséquence inévitable de l'affirmation exposé».«Ê preciso que se evitem julgar processos e não homens; que se punam categorias legais e não humanas»É outro tipo de realidades.Os Serviços Prisionais têm, assim, um objecto bem determinado E dissemos que tinham também um objectivo. Ora o objectivo é a transformação do objecto. É aquele objecto (homem) configurado como o descrevemos e, mais ainda, é um homem que, para além daquelas características, apresenta outras que o distinguem dos outros homens. É um homem que violou as normas sociais, jurídico-morais, que não soube reconhecer os direitos dos outros e respeitá-los, nem os seus próprios deveres e cumpri-los, foi um perturbador da ordem pública estabelecida e que a sociedade, pela perturbação que causou no seu seio, teve de expulsar de si. Segregou-o, não como coisa inútil e perdida mas como alguém que precisa de ser tratado. É um homem que, assim, aparece, verdadeiramente, «mutilado» sem aquele elemento essencial à sua personalidade, a liberdade.Pois será este homem bem determinado e caracterizado que os Serviços hão-de transformar para voltar a ser homem reintegrado, homem livre.E transformarão, fazendo dos analfabetos, gente instruída, dos ociosos, gente laboriosa, dos agressores, gente pacífica, dos ladrões, gente honesta, dos assassinos, gente arrependida.E transformarão não com palavras mas com actos. Não aconselhando mas fazendo. E sendo...Pois, o que mais, facilmente, convence e mais, eficazmente, arrasta é o exemplo! Como diz Albert Schwitzer: «o exemplo não é o melhor meio de influenciar os outros; é o único».

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O que mais, hoje, se precisa no mundo, não é de sistemas doutrinários e filosóficos; e de técnicas. 0 que mais hoje se precisa no mundo é de testemunhos!«Não é o sacerdócio, mas o sacerdote; não é a engenharia, mas o engenheiro; não é a arte disto ou daquilo, mas a pessoa que a exerce que leva os adolescentes a escolherem essas vocações.Aplicando, assim, esta sentença ao nosso caso, pouco ou nada se conseguirá se, diante do preso, não aparecer alguém melhor do que ele, que o deslumbre - passe o exagero - não tanto com a magnificência de filosofias ou de doutrinas mas com a vivência delas, igual a ele e diferente dele.As prisões podem carecer de tudo. Tudo de que careçam pouco será se quem estiver ao seu serviço, for homem ou mulher honesto, competente e digno. De conduta irrepreensível. De dignidade impoluta.A eficácia do tratamento prisional reside aqui. E ela será tanto maior quanto mais elevada for a idoneidade dos que o executam.É assim: pelo concurso simultâneo de todos -elementos directivos, funcionários, guardas e reclusos -,que se constituem, verdadeiramente, as comunidades prisionais, formando-se um todo homogéneo na finalidade a atingir, embora não se queira destruir, à força, a natural heterogeneidade que deve manter-se. Que a homogeneidade referida não vise provocar a simbiose de pessoas e, sobretudo, de funções, pois isto só geraria a desordem e a indisciplina. «Chacun a sa place» -como dizem os franceses.Só quando cada um souber ocupar o seu lugar, desempenhar, com inteligência e com gosto, as funções específicas que lhe sejam cometidas, sem se negar a interdependência que se cria na prossecução do fim último a atingir e exigindo-se o mútuo respeito, a comunidade prisional o será, de facto, com todas as benesses que daí promanam com o mínimo de sacrifício que há-de existir, -aliás, na sadia austeridade da disciplina interna necessária ao são convívio das pessoas.

TRATAMENTO DE INIMPUTÁVEIS PERIGOSOS

O tratamento de inimputáveis perigosos, terá de ser abordado de forma pragmática, quer à luz do Direito quer à luz da SaúdeÉ o que irei tentar fazer, partindo do “quadrado” que nos comprime, a Lei, para o “Circulo” de contingências em que o problema nos leva, evitando, se conseguir, a “quadratura do circulo”.Diz o Código Penal actual no seu artº 20:

“Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica

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1.É inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica, for incapaz, no momento da prática do facto, de avaliar a ilicitude deste ou de se determinar de acordo com essa avaliação.

2. Pode ser declarado inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica grave, não acidental e cujos efeitos não domina, sem que por isso possa ser censurado, tiver, ao momento da prática do facto, a capacidade para avaliar a ilicitude deste ou para se determinar de acordo com esse avaliação sensivelmente diminuída.

3.A comprovada incapacidade do agente para ser influenciado pelas penas pode constituir índice da situação prevista no número anterior.

4.A imputabilidade não é excluída quando a anomalia psíquica tiver sido provocada pelo agente com intenção de praticar o facto”

A inimputabilidade, do posto de vista legal, condiciona-se à existência de dois pressupostos- um biológico e um psicológico.O elemento biológico consiste na existência de qualquer anomalia psíquica.Cabe aqui toda a vasta gama de doenças ou simples estados psíquicos, transitórios ou não, que causem o efeito psicológicos exigido. Toda a anomalia psíquica, de qualquer tipo, mesmo acidental, pode determinar a inimputabilidade desde que produza o efeito psicológico requerido.A embriaguez, no CP de 1996 tinha previsão especial, está agora compreendida no âmbito deste artigo, desde que produza o efeito psicológico de incapacitar para a avaliação da ilicitude ou de impossibilitar o agente de se determinar de acordo com essa avaliação. Este requisito ou efeito psicológico levanta na doutrina menos dificuldades que o primeiro; na prática, porém, põe o julgador perante melindrosas questões de prova.Para o caso de anomalia psíquica sobrevinda depois da prática do crime, veja-se o art. 105º.O Prof. Figueiredo Dias, in Pressupostos da Punição, Jornadas de Direito Criminal, ed do CEJ, 75-76 diz ”O art. 20º-1 do novo Código começa por oferecer uma definição, que diríamos clássica, da inimputabilidade:”(...)Há em todo o caso a anotar logo aqui dois pontos, do mais alto relevo para as tarefas da aplicação. O primeiro é que o Código se recusou a fazer uma enumeração – sequer exemplificativa - do tipo de anomalias psíquicas que podem determinar a inimputabilidade. Se bem deva reconhecer-se que assim se torna mais difícil obter uma apreciável certeza na aplicação, esta decisão legislativa pode reivindicar em seu favor boas razões. Desde logo a de que no próprio campo médico científico reina ainda hoje a maior incerteza, tanto ao nível terminológico como a nível da determinação dos efeitos sobre o intelecto e a vontade do sujeito que a cada tipo de anomalia devem, em abstracto, atribuir-se. Depois, a circunstância de o conhecimento científico estar a evoluir neste domínio com grande rapidez, pelo que qualquer elenco correria o risco de ser ultrapassado ou se tornar

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mesmo obsoleto a breve prazo, mais prejudicando deste modo do que favorecendo as tarefas da aplicação do direito. Em terceiro lugar, porventura, a circunstância de assim se ter querido dar a entender que – seja embora o elenco biopsicológico imprescindível, como na verdade é, à verificação em concreto de uma inimputabilidade – decisivo será sempre o efeito normativo que ao substrato biopsicológico há-de estar ligado. por fim – mas não por último – o facto de assim se tornar mais claro que o conceito de anomalia psíquica ultrapassar, sob muitos pontos de vista, o conceito médico de doença mental: não apenas pois as doenças mentais em sentido estrito, mas também as perturbações de consciência, as diversas formas de oligofrenia e, em suma, de anormalidade psíquica grave (psicopatias, neuroses, pulsões) podem preencher o substrato biopsicológico necessário.No que toca ao efeito psicológico exigido, sabe-se como são duras as controvérsias que se travam, nomeadamente no que toca a saber se o que exige aí é uma resposta - que hoje mais e mais se considera impossível, tanto da parte do juiz como do perito – à questão do poder de agir de outra maneira na situação.Quem não queira seguir esta via tem no novo Código um elemento que sugere uma outra via... Essa outra via traduz-se em ligar o efeito normativo à incapacidade do agente para ser influenciado pelas penas, que o nº 3 do art. 20º considera índice de uma situação de inimputabilidade. Outros ainda considerarão...e é o meu caso – que o efeito normativo se traduz praticamente na destruição da conexão objectiva do sentido do comportamento do agente, de tal modo que um tal comportamento pode ser casualmente explicado, mas não pode ser espiritualmente compreendido e imputado à personalidade do agente. Mas como quer que seja quanto a este ponto, não tenho dúvidas de que o art. 20º do novo Código penal está redigido em termos simultaneamente precisos e flexíveis, que permitem uma aplicação segura sem obstarem ao aprofundamento e à evolução criadoras da doutrina da imputabilidade jurídico-penal.”O preceito do nº 2 chama para o domínio da inimputabilidade aqueles casos de imputabilidade diminuída, em que o agente não pode ser censurado pela sua anomalia psíquica, por não dominar os seus efeitos. Justamente porque nada pode fazer contra a tendência que o arrasta para o crime, o recurso à culpa na formação da personalidade seria, em tal o caso, ficção. Rejeitando a possibilidade, por exclusão do dualismo, de a tais delinquentes ser aplicada uma pena seguida de medida de segurança, através da via monista duas soluções seriam possíveis: tratamento dos casos da imputabilidade diminuída previstos mediante a aplicação de penas, necessariamente atenuadas, ou através de medidas de segurança. Foi esta última a solução preferida.O tratamento especificamente previsto para estes delinquentes nos arts. 91º e 92º elimina algumas críticas e receios tradicionalmente oponíveis às

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decisões que verificam a inimputabilidade, mormente quando esta é determinada por causa não aparente. Não resultará, em princípio, tratamento mais favorável do que aquele que seria aplicado no caso da imputabilidade diminuída, mormente considerando-se que a pena teria necessariamente forte atenuação.O art. 68º do CP de 1886, na formulação do Dec.-Lei nº 39688, de 5 de Julho de 1954, estabelecida já para os delinquentes inimputáveis perigosos em virtude de anomalia psíquica um regime de internamento com possibilidade de prorrogação. Escreveu o Prof. Figueiredo Dias, loc cit., 77:”(...)Não diz a lei se a imputabilidade deve por necessidade conduzir a um pena atenuada. Não o dizendo parece, porém, não querer obstar à doutrina – também entre nós defendida por Eduardo Correia e a que eu próprio me tenho ligado – de que pode haver casos em que a diminuição da imputabilidade conduza à não atenuação ou até mesmo à agravação da pena. Isso sucederá, do meu ponto de vista, quando as qualidades pessoais do agente que fundamentam o facto se revelem, apesar da diminuição da imputabilidade, particularmente desvaliosas e censuráveis, v.g. em casos como os da brutalidade e da crueldade que acompanham muitos factos dos psicopatas insensíveis, os da inconstância dos lábeis ou dos da pertinácia dos fanáticos”.O nº 4 consagra a doutrina da imputabilidade livre, causa geralmente tida como indiscutível. Diz o Prof. Figueiredo Dias, in Jornadas de Direito Criminal, pág. 75 e segs.:” tem de concluir-se que o art. 20º- 4 não quer contribuir para resolução da problemática, hoje muito actual, da relevância de perturbações de consciência nomeadamente de estados de afecto graves, para o problema da imputabilidade, quando culposamente ( mas em todo o caso não preordenadamente) provocadas pelo agente. Dada a (relativa) novidade da problemática e a sua dificuldade, bem se compreende que o novo Código se tenha guardado de a cortar abruptamente, preferindo decerto que a este propósito se vão paulatinamente consolidando orientações doutrinais e jurisprudenciais retiradas daquilo que se considere a essência da culpa e da sua exclusão em função da inimputabilidade.”No entanto, analisando a jurisprudência dos acordãos dos tribunais superiores, podemos ainda entender melhor a postura dos juristas sobre tão maleável matéria:

“A epilepsia pode ser causa de inimputabilidade em relação a crimes cometidos durante alguma das manifestações de aceso, podendo ser causa de semi-imputabilidade fora destas. Não pode todavia ser dada uma resposta segura e válida para todos casos, tornando-se necessário que o estado da pessoa seja apreciado caso a caso” (ac. STJ de 4 de Julho de de 194; BMJ, 339, 223)

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“O débil mental com personalidade esquizóide e diminuição das faculdades mentais que seja considerado como semi-imputável ou com imputabilidade diminuída é criminalmente responsável pelos seus actos, embora a insuficiência psíquica de que padece justifique a aplicação de uma medida punitiva um tanto inferior à que deve ser imposta a uma pessoa normal “(ac. RE de 20 de dezembro de 1984; CJ, IX, tmo 5, 338)

“Justifica-se a atenuação especial da pena quando o arguido, embora imputável, é portador de imputabilidade consideravelmente atenuada, visto ter idade mental a rondar os seis anos e um coeficiente de inteligência ao nível da debilidade mental” (ac. STJ de 21 de Fevereiro de 1985; BMJ, 344, 490)

“A embriaguez acidental faz diminuir a culpa do agente” (ac. STJ de 14 de Abril de 1993, proc. 43831/3.ª)

“Não se verifica a imputabilidade diminuída por virtude de hábitos alcoólicos” (ac. STJ de 9 de Fevereiro de 1994, proc. 45537/3.ª)

“A toxicodependência não é uma doença, mas um vício; a ingestão de drogas não só constitui um comportamento juridicamente proibido e punido como é ainda apto a criar estados de perigosidade que conduzem não raramente à prática de crimes”(ac.STJ de 22 de Março de 1905, proc. 47669/3.ª)

“As perturbações psicopáticas não são forçosamente causas de inimputabilidade ou de imputabilidade diminuída. II – Há caos em que a diminuição da imputabilidade conduz não à atenuação mas até à agravação da pena, como por exemplo quando as qualidades pessoais do agente que fundamentam o facto se revelam particularmente desvaliosas e censuráveis, o que sucede nos casos de pertinácia dos fanáticos”(ac. STJ de 7 de Junho de 1995, proc. 46858/3.ª)

“A lei não diz que a imputabilidade diminuída deva determinar, necessariamente, uma atenuação da pena e pode haver situações em que essa diminuição conduza à não atenuação ou até mesmo à agravação da pena, como nos casos em que, apesar da diminuição da imputabilidade, as qualidades pessoais do agente, que fundamentem o facto, se revelem particularmente desvaliosas e censuráveis, v.g. por actos de brutalidade ou crueldade que acompanham muitos factos praticados por psicopatas insensíveis, ou por fanáticos”(ac. STJ de 18 de Abril de 1996; CJ, Acs. do STJ, IV, tomo 2, 173)

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Quanto às “Mediadas de Segurança” , que nestes casos substituem as penas, diz o actual Código Penal no seu artº 91:

“Internamentos de inimputáveis

1. Quem tiver praticado um facto ilícito típico e for considerado inimputável, nos termos do artigo 20º, é mandado internar pelo tribunal em estabelecimento de cura, tratamento ou segurança, sempre que, por virtude da anomalia psíquica e da gravidade do facto praticado, houver fundado receio de que venha a cometer outros factos da mesma espécie.

2. Quando o facto praticado pelo inimputável corresponder a crime contra as pessoas ou a crime de perigo comum puníveis com pena de prisão superior a 5 anos, o internamento tem a duração mínima de 3 anos, salvo se a libertação se revelar compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social.”

Nota-se aqui duas evoluções relativamente ao passado:- Instituição do regime de liberdade para prova (art. 94º) e da suspensão da execução do internamento (art. 98º), em alguma medida como solução paralela à estabelecida para as penas (liberdade condicional e suspensão da execução da pena):- Enriquecimento do universo das medidas de segurança não detentivas e previsão do regime relativo à relação entre penas e medidas de segurança privativas de liberdade (art. 100º).- Lê-se no relatório da Proposta de Lei nº 22/ I ”(...) A declaração de inimputabilidade exclui a culpa do agente e, portanto, a possibilidade de se lhe aplicar uma pena. Mas pode suceder que o agente de um crime, declarado inimputável, revele um grau de perigosidade tal que a sociedade tenha de defender-se, prevenindo o risco da prática futura de factos criminosos. Ainda aqui, porém, a ideia da utilidade e da necessidade não pode justificar sempre a defesa da sociedade, nem autorizar a utilização de quaisquer espécies de medidas como, por exemplo, a destruição ou segregação, pura e simples, do delinquente. E isto porque, por um lado, toda a legitimidade da defesa, para além da sua necessidade, afere-se pela sua proporcionalidade; daí que se não possa compreender uma segregação ilimitada de um inimputável, só porque revela o perigo de, no futuro, vir a praticar crimes de pequena gravidade. Por outro lado, o pensamento social projectar-se-á aqui num outro aspecto importante: é que o inimputável continua a ser um homem em particular estado de inimputáveis, sendo perigosos, são também incuráveis, caso em que então terá de intervir a pura ideia de segurança. necessidade, a quem importa dar auxílio e protecção. E a melhor defesa da sociedade realiza-se justamente com o tratamento e a

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cura, até onde for possível, desses delinquentes. Só que sucede ainda que certos inimputáveis, sendo perigosos, são também incuráveis, caso em que então terá de intervir a pura ideia de segurança. Simplesmente, importa saber se a segregação, que a segurança nestes casos exige, poderá ser perpétua ou deverá antes cessar, para além de certos limites, ainda que a sociedade tenha de sofrer o risco de novos crimes. E a resposta há-de estar condicionada por uma ponderação de interesse entre a importância dos valores que o inimputável em liberdade pode violar e a gravidade da sua definitiva segregação da vida social. Tem-se, aliás, em geral, a ideia de que as medidas de segurança têm de supor necessariamente a privação da liberdade. É, porém, evidente que se for possível uma cura ou garantir a necessária segurança da sociedade através de medidas de segurança não detentivas, tudo aconselhará a que assim mesmo se faça. Daí, também, a possibilidade da suspensão do internamento (art.....) ou da sua cessação provisória (art....) ou ainda a obrigatoriedade da sua revisão periódica (art....)”A aplicação das medidas de segurança tem como fundamento a perigosidade social do agente e obedece aos princípios da legalidade, da tipicidade e da proporcionalidade .Este artigo define o tratamento a dar aos inimputáveis perigosos.No art. 20º definiram-se os delinquentes que devem ser considerados inimputáveis. Neste art. 91º, nº 1, parte final, definem-se os delinquentes inimputáveis que devem ser considerados perigosos, em moldes que coincidem com os da doutrina mais autorizada e que vêm da Escola Positiva. O delinquente inimputável é criminalmente perigoso sempre que, por virtude da anomalia psíquica de que sofre e do facto típico que praticou, houver fundado receio de que venha a cometer outros factos da mesma espécie. J. Faria Costa, in Aspectos Fundamentais da Problemática da Responsabilidade Objectiva no Direito Penal Português, pág. 14, nota 10, diz:” A aplicação de medidas de segurança pressupõe, mesmo para sistemas que não sejam monistas éticos, como seu fundamento, não o princípio da culpa mas fundamentalmente a ideia de perigosidade social. No entanto, esta noção é hoje fortemente limitada por dois critérios. Por um lado, a tendência é a de também neste domínio, se consagrar o princípio da proporcionalidade (...). Enquanto que, de outra banda, se entende que em qualquer circunstância nunca o poder sancionador do Estado pode ofender a esfera mais irredutível do homem, é dizer, a sua dignidade como pessoa comunitariamente assumida. Ficando assim claro que se antinomias podem surgir entre valores supra-individuais impostos pelo Estado e os valores do homem concreto, ainda que delinquente, elas sempre deverão desaparecer quando esteja em perigo a dignidade humana. E isto pela razão bem simples de que neste particular a antinomia é logicamente impossível já

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que, neste contexto de valoração axiológico, a dignidade humana (...) se sobrepõe a um qualquer outro valor. Julgamos que só assim o direito criminal pode cumprir um dos seus escopos mais importantes dentro da actual doutrina: o da própria humanização...”Além de mais, é de salientar que se dá aqui uma noção ampla de anomalia psíquica, cobrindo todos os casos de perturbação da consciência, abrangendo-se portanto os consumidores de estupefacientes, desde que subsumíveis à previsão de art. 20º e que haja a necessária perigosidade. Quanto à gravidade do facto, em que se baseia o receio do cometimento de outros factos típicos da mesma espécie, aqui se repete o que foi anotado quando à proporcionalidade e que estas medidas de segurança não são para casos insignificantes. A gravidade não deve ser apurada face a uma determinada moldura abstracta da pena, mas sim em termos do relevo da lesão social verificada. Deve ser o juiz a ter a palavra preponderante na apreciação da gravidade, pois aqui o que se encontra em causa é mais a lesão social derivada de determinado facto típico.A este respeito, e apesar das alterações introduzidas na revisão a efeito pelo Dec.Lei apontado no nº 1, o Código continua pouco inovador, mas deve salientar-se que subsistem medidas de segurança constantes de leis extravagantes em vigor, particularmente no que concerne a infracções económicas e contra a saúde e, de um modo geral, no Direito Penal secundário.Vejamos o Parecer da PGR nº 98/ 89, de 25 de Janeiro de 1990; BMJ; 396, 58 e DR, II série, de 6 de Agosto de 1990:“- 1 – O CP e o CPP respeitam os princípios e as regras do Dec.-lei n.º 265/79 de 1 de Agosto, no tocante à execução da medida de internamento de inimputáveis, a que se referem os arts. 91º e segs. daquele primeiro diploma. II – Não obstante a revogação do n.º 2 do art. 42.º do Dec.-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro, pelo CPP, os inimputáveis internados nos termos do art. 91.º do CP poderão cumprir a medida de segurança em regime aberto, vide art. 218.º do Dec.-Lei n.º 265/79, desde que se verifiquem os pressupostos definidos no art. 14.º, n.º 2, daquele diploma legal. III – Na execução da referida medida de segurança, e nos termos do art. 221.º do Dec.-lei n.º 265/79, poderão ser concedidas aos inimputáveis, pela DGSP ou pelo director do respectivo estabelecimento, as licenças de saída a que se refere o n.º 3 do art. 49.º deste diploma legal, desde que sejam observados os requisitos estabelecidos nas respectivas disposições legais”

Mais uma vez vamo-nos valer da Jurisprudência sobre este tema;

“A circunstância de o inimputável agir, devido à anomalia, com exclusão de culpa, não impede que o crime seja qualificado, nomeadamente que o

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homicídio seja qualificado, com o fim de lhe ser aplicada medida de segurança de internamento previsto no art. 91.º do CP. II – A medida de segurança de internamento prevista no art. 91.º do CP, ao contrário do que sucede com pena de prisão, não pode ser relativamente indeterminada, só se justificando enquanto durar a perigosidade” (ac. STJ de 19 de Outubro de 1994, proc. 47175/3ª)

“A simples perigosidade do inimputável não constitui só por si fundamento para o internamento; exige-se ainda que essa perigosidade se revele através de factos típicos penalmente relevantes e se mostre que eles se podem repetir. II – O art. 91.º, n.º 2, do CP não impõe a não fixação da duração do internamento se ao crime cometido corresponder pena de prisão não superior a 3 anos” (ac. STJ de 28 de Junho de 1995, proc.47801/3.ª)

Diz o artigo 92 do Código Penal:

“Cessação e prorrogação do internamento

“ 1. Sem prejuízo do disposto no nº 2 do artigo anterior, o internamento finda quando o tribunal verificar que cessou o estado de perigosidade criminal que lhe deu origem.

2. O internamento não pode exceder o limite máximo da pena correspondente ao tipo do crime cometido pelo inimputável.

3. Se o facto praticado pelo inimputável corresponder a crime punível com pena superior a 8 anos e o perigo de novos factos da mesma espécie for de tal modo grave que desaconselhe a libertação, o internamento pode ser prorrogado por períodos sucessivos de 2 anos até se verificar a situação prevista no n.º 1. “

Se o fundamento do internamento de inimputável perigoso é a sua perigosidade criminal, a cessação do estado de perigosidade deverá pôr-lhe termo. Quanto a medidas de segurança não se pode, em regra, estabelecer limites máximos, pois elas devem durar enquanto não cessar o estado de perigosidade. As únicas excepções a esta regra encontram-se no nº 2 deste artigo e no nº 2 do artigo anterior.A revisão do Código levada a efeito pelo Dec.-Lei a que se aludiu no nº 1 procurou dar satisfação às exigências jurídicos-constitucionais da legalidade e da proporcionalidade, designadamente através de uma mais segura definição dos pressupostos das medidas de segurança, e pelo estabelecimento de limites de duração inultrapassáveis, com excepção aqui do caso extremo do nº 3 em que prevaleceu ainda o aforismo salus populi suprema lex.

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Única excepção o disposto no nº 3. Aqui houve um facto típico de extrema gravidade praticado pelo delinquente e, não obstante o empenho dos serviços especializados no tratamento, o perigo de o delinquente praticar novos factos da mesma espécie subsiste, sendo desaconselhável a libertação, cujo risco a comunidade não pode suportar. Nos nº 2 e 3 dá-se tratamento diferente a duas graduações da gravidade dos factos, que é acentuadamente mais intensa no caso do nº 3.Por via deste nº 3, que nos casos extremos que especifica consente sucessivas prorrogações do internamento até que cesse o estado de perigosidade criminal que lhe deu origem, pode suceder que um intervalo o venha a ficar perpetuamente, em face do que já se puseram reservas à constituicionalidade do preceito, tendo em vista o nº 1 do art. 30º da Constituição da República, impeditivo da existência de penas ou medidas de segurança com carácter perpétuo. Pode até equivaler a uma medida de segurança perpétua, mas ressalva-se, como a lei ordinária ressalva, as exigências constitucionais da pré existência do estado de perigosidade, a sujeição de prorrogação ao princípio da necessidade e ainda a reserva de decisão judicial para a prorrogação.

Passemos ao artº 93:

“Revisão da situação do internado

1. Se for invocado a existência de causa justificativa da cessação do internamento, o tribunal aprecia a questão a todo o tempo.

2. A apreciação é obrigatória, independentemente de requerimento, decorridos 2 anos sobre o início do internamento ou sobre a decisão que o tiver mantido.

3. Fica ressalvado, em qualquer caso, o prazo mínimo de internamento fixado no nº 2 do artigo 91º.”

Analisemos o nº 94:

!” Liberdade para prova

1. Se da revisão referida no artigo anterior resultar que há razões para esperar que a finalidade da medida possa ser alcançada em meio aberto, o tribunal coloca o internado em liberdade para prova.

2. O período de liberdade para prova é fixado entre um mínimo de dois anos e um máximo de cinco, não podendo ultrapassar, todavia, o tempo que faltar para o limite máximo de duração do internamento.

3. Se não houver motivos que conduzam à revogação da liberdade para a prova, findo o tempo de duração desta a medida de internamento é

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declarada extinta. Se, findo o período de liberdade para a prova, se encontrar pendente processo ou incidente que possa conduzir à revogação, a medida é declarada extinta quando o processo ou o incidente findarem e não houver lugar à revogação.”

Vem agora clarificado que, a liberdade para prova ( no Projecto de 1991 ainda se usava a designação de liberdade experimental) só pode ser decretada quando não tiver ainda cessado o estado de perigosidade ( de outro modo decretar-se-á a libertação definitiva ) e que o respectivo período não pode ultrapassar o tempo que faltar para o limite máximo da duração do internamento ( neste limite a libertação será definitiva, salvo se se verificar o caso extremo do art. 92º, nº 3).Duvidosa é a questão de saber se esta fase de liberdade para prova ainda se contém dentro da execução da medida de segurança de internamento. Trata-se de uma fase de transição entre a privação de liberdade e a plena liberdade, com assistência social adequada ( daí a designação de liberdade para prova ), contudo dentro da execução da medida de segurança. A liberdade para prova pode mesmo vir a ser revogada, voltando então a medida de segurança a ser executada intra muros.

Artigo 95º:

“Revogação da liberdade para prova

1. A liberdade para prova é revogada quando:a) O comportamento do agente revelar que o internamento é

indispensável; oub) O agente for condenado em pena privativa da liberdade e não se

verificarem os pressupostos da suspensão da execução, nos termos do nº 1 do artigo 50º.

2. A revogação determina o reinternamento, sendo correspondentemente aplicável o disposto no artigo 92º”

Os fundamentos da revogação da liberdade para prova previstos nas alíneas do nº 1 são alternativos. A revogação determina o reinternamento do delinquente inimputável perigoso até à cessação do estudo de perigosidade ou até ser atingida a duração máxima legal do tempo de internamento, conforme se estabelece no art. 92º.

Artigo 96º:

“Reexame da medida de internamento

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1. Não pode iniciar-se a execução de medida de segurança de internamento, decorridos 2 anos ou mais sobre a decisão que a tiver decretado, sem que seja apreciada a subsistência dos pressupostos que fundamentaram a sua aplicação.

2. O tribunal pode confirmar, suspender ou revogar a medida decretada.”

Artigo 97º:

Inimputáveis estrangeiros

Sem prejuízo do disposto em tratado ou convenção internacional, a medida de internamento de inimputável estrangeiro pode ser substituída por expulsão do território nacional, em termos regulados por legislação especial.

Verifiquemos de seguida o que sobre a mesma matéria diz o Código do Processo Penal:

Artigo 159.º:

“Perícia médico-legal e psiquiátrica

1. A perícia médico-legal é deferida aos institutos de medicina legal, aos gabinetes médico-legal, a médicos contratados para o exercício de funções periciais nas comarcas ou, quando isso não for possível ou conveniente, a quaisquer médicos especialistas ou de reconhecida competência para a actividade médico-legal, nos termos da lei.

2. O disposto no número anterior é correspondentemente aplicável à perícia a questões psiquiátricas, na qual podem participar também especialistas em psicologia e criminologia.

3. A perícia psiquiátrica pode ser efectuada a requerimento do representante legal do arguido, do cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens ou dos descendentes, ou, na falta deles, dos ascendentes, adoptantes, adoptados ou da pessoa que viva com o arguido em condições análogas às dos cônjuges.”

Artigo 160.º:

“Perícia sobre a personalidade

1. Para efeito de avaliação da personalidade e da perigosidade do arguido pode haver lugar a perícia sobre as suas características psíquicas

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independentes de causas patológicas, bem como sobre o seu grau de socialização. A perícia pode relevar, nomeadamente para a decisão sobre a revogação da prisão preventiva, a culpa do agente e a determinação da sanção.

2. A perícia deve ser deferida a serviços especializados ou, quando isso não for possível ou conveniente, a serviços de reinserção social ou a especialistas em criminologia, em psicologia, em sociologia ou em psiquiatria.

3. Os peritos podem requerer informações sobre os antecedentes criminais do arguido, se delas tiverem necessidade.”

Artigo 351º:

“Perícia sobre o estudo psíquico do arguido

1. Quando na audiência se suscitar fundadamente a questão da inimputabilidade do arguido, o presidente, oficiosamente ou a requerimento, ordena a comparência de um perito para se pronunciar sobre o estado psíquico daquele.

2. O tribunal pode também ordenar a comparência do perito quando na audiência se suscitar fundadamente a questão da imputabilidade diminuída do arguido.

3. Em casos justificados, pode o tribunal requisitar a perícia a estabelecimento especializado.

4. Se o perito não tiver ainda examinado o arguido ou a perícia for requisitada a estabelecimento especializado, o tribunal, para o efeito, interrompe a audiência ou, se for absolutamente indispensável, adia-a.”

Artigo 483.º:

“Anomalia psíquica posterior

1. Se durante a execução da pena sobrevier ao agente uma anomalia psíquica, com os efeitos previstos, nos artigos 105.º, n.º1, e 106º, n.º 1, do Código Penal, o Tribunal de Execução das Penas ordenar:

a) Perícia psiquiátrica ou sobre a personalidade do condenado, devendo o respectivo relatório ser-lhe apresentado dentro de trinta dias;

b) Relatório dos serviços de reinserção contendo análise do enquadramento familiar e profissional do condenado;

c) Oficiosamente ou a requerimento do Ministério Público, do condenado ou do defensor, as diligências que se afigurem com interesse para a decisão.

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2. A decisão é precedida de audição do Ministério Público, do defensor e do condenado, só podendo a presença deste ser dispensada se o seu estado de saúde tornar a audição inútil ou inviável.”

Caída em desuso durante uns anos, por via dos pseudo direitos, liberdades e garantias dos doentes, voltou novamente a ser corajosamente instalada a Lei da Saúde Mental que retoma o direito e dever do Estado em matéria de compulsivamente internar e tratar o doente caso este não tenha capacidade para decidir pela via do tratamento e desde que isso ponha em perigo ele e os outros. Poderia muito bem ser usada pelos Delegados de Saúde concelhios para retirar das ruas alguns toxicodependentes em fase de desestruturação plena e antes de se criminalizarem mais a eles próprios e antes ainda de porem em risco a sua integridade física mínima, e a dos outros.Vejamos alguns articulados da Lei, passivel também de, com as suas adaptações, permitir uma intervenção intra-muros:

“Artigo 1ºObjectivosA presente lei estabelece os princípios gerais da política de saúde mental e regula o internamento compulsivo dos portadores de anomalia psíquica, designadamente.

(...)CAPÍTULO II Do internamento compulsivoArtigo 7.ºPara efeitos do disposto no presente capítulo, considera-se: Internamento compulsivo: internamento por decisão judicial do portador de anomalia psíquica grave;Artigo 8.º

1 – O internamento compulsivo só pode ser determinado quando for a única forma de garantir a submissão a tratamento do internado e finda logo que cessem os fundamentos que lhe deram causa.

2 – O internamento compulsivo só pode ser determinado se for proporcionado ao grau de perigo e ao bem jurídico em causa.

3 – (...)4 – As restrições aos direitos fundamentais decorrentes do

internamente compulsivo são as estritamente necessárias e adequadas à efectividade do tratamento e à segurança e normalidade do funcionamento do estabelecimento, nos termos do respectivo regulamento interno.

SECÇÃO III Internamento

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Artigo 12.ºPressupostos

1 – O portador de anomalia psíquica grave que crie, por força dela, uma situação de perigo para bens jurídicos de relevante valor, próprios ou alheios, de natureza pessoal ou patrimonial, e recuse submeter-se ao necessário tratamento médico pode ser internado em estabelecimento adequado.

2 – Pode ainda ser internado o portador de anomalia psíquica grave que não possua o discernimento necessário para avaliar o sentido e alcance do consentimento, quando a ausência de tratamento deteriore de forma acentuada o seu estado.

Artigo 13.ºLegitimidade

1 – Tem legitimidade para requerer o internamento compulsivo o representante legal do portador de anomalia psíquica, qualquer pessoa com legitimidade para requerer a sua interdição, as autoridades de saúde pública e o Ministério Público.

2 – Sempre que algum médico verifique no exercício das suas funções uma anomalia psíquica com os efeitos previstos no artigo 12.º pode comunicá-la à autoridade de saúde pública competente para os efeitos do disposto no número anterior.

3 – Se a verificação ocorrer no discurso de um internamento voluntário, tem também legitimidade para requerer o internamento compulsivo o director clínico do estabelecimento.Artigo 20.º Decisão

1 – A decisão sobre o internamento é sempre fundamentada.2 – A decisão de internamento identifica a pessoa a internar e

especifica as razões clínicas, o diagnóstico clínico, quando existir, e a justificação do internamento.

3 – A decisão é notificada ao Ministério Público, ao internando, ao defensor e ao requerente. A leitura da decisão equivale à notificação dos presentes.

Artigo 21.ºCumprimento da decisão de internamento

1 – Na decisão de internamento o juiz determina a apresentação do internado no serviço oficial de saúde mental mais próximo, o qual providencia o internamento imediato.

2 – O juiz emite mandado de condução com identificação da pessoa a internar, o qual é cumprido, sempre que possível, pelo serviço referido no

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número anterior, que, quando necessário, solicita a coadjuvação das forças policiais.

3 – Não sendo possível o cumprimento nos termos do número anterior, o mandado de condução pode ser cumprido pelas forças policiais, que, quando necessário, solicitam o apoio dos serviços de saúde mental ou dos serviços locais de saúde.

4 – Logo que determinado o local definitivo do internamento, que deverá situar-se o mais próximo possível da residência do internado, aquele é comunicado ao defensor do internado e ao familiar mais próximo que com ele conviva, à pessoa que com ele viva em condições do internado.

SECÇÃO IV Internado de urgência

Artigo 22.ºPressupostos

O portador da anomalia psíquica pode ser internado compulsivamente de urgência, nos termos dos artigos seguintes, sempre que, verificando-se os pressupostos do artigo 12.º, n.º 1, exista perigo iminente para os bens jurídicos aí referidos, nomeadamente por deterioração aguda do seu estado.

Artigo 23.º Condução do internando

1 – Verificados os pressupostos do artigo anterior, as autoridades de polícia ou de saúde pública podem determinar, oficiosamente ou a requerimento, através de mandado, que o portador de anomalia psíquica seja conduzido ao estabelecimento referido no artigo seguinte.

2 – O mandado é cumprido pelas forças policiais, com o acompanhamento, sempre que possível, dos serviços do estabelecimento referido no artigo seguinte. O mandado contém a assinatura da autoridade competente, a identificação da pessoa a conduzir e a indicação das razões que o fundamentam.

3 – Quando, pela situação de urgência e de perigo na demora, não seja possível a emissão prévia de mandado, qualquer agente policial procede à condução imediata do internando.

4 – Na situação descrita no número anterior o agente policial lavra auto em que discrimina os factos, bem como as circunstâncias de tempo e de lugar em que a mesma foi efectuada.

SECÇÃO V Casos especiais

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Artigo 28.ºPendência de processo penal

1 – A pendência de processo penal em que seja arguido portador de anomalia psíquica não obsta a que o tribunal competente decida sobre o internamento nos termos deste diploma.

2 – Em caso de internamento, o estabelecimento remete ao tribunal onde pende o processo penal, de dois em dois meses, informação sobre a evolução do estado do portador de anomalia psíquica.

Artigo 29.ºInternamento compulsivo de inimputável

1 – O tribunal que não aplicar a medida de segurança prevista no artigo 91.º do Código Penal pode decidir o internamento compulsivo do inimputável.

2 – Sempre que seja imposto o internamento é remetida certidão da decisão ao tribunal competente para os efeitos do disposto nos artigos 33.º, 34.º e 35.º.

Artigo 33.ºSubstituição do internamento

1 – O internamento é substituído por tratamento compulsivo em regime ambulatório sempre que seja possível manter esse tratamento em liberdade, sem prejuízo do disposto nos artigos 34.º e 35.º.

2 – A substituição depende de expressa aceitação, por parte do internado, das condições fixadas pelo psiquiatra assistente para o tratamento em regime ambulatório.

3 – A substituição é comunicada ao tribunal competente.4 – Sempre que o portador da anomalia psíquica deixe de cumprir as

condições estabelecidas, o psiquiatra assistente comunica o incumprimento ao tribunal competente, retomando-se o internamento.

5 – Sempre que necessário, o estabelecimento solicita ao tribunal competente a emissão de mandados de condução a cumprir pelas forças policiais.

Artigo 34.ºCessação do internamento

1 – O internamento finda quando cessarem os pressupostos que lhe deram origem.

2 – A cessação ocorre por alta dada pelo director clínico do estabelecimento, fundamento em relatório de avaliação clínico-psiquiátrica do serviço de saúde onde decorreu o internamento, ou por decisão judicial.

3 – A alta é imediatamente comunicada ao tribunal competente.

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Artigo 35.ºRevisão da situação do internado

1 – Se for invocada a existência de causa justificativa da cessão do internamento, o tribunal competente aprecie a questão a todo o tempo.

2 – A revisão é obrigatória, independentemente de requerimento, decorridos dois meses sobre o início do internamento ou sobre a decisão que o tiver mantido.

3 – Tem legitimidade para requerer a revisão o internado, os eu defensor e as pessoas referidas no artigo 13.º, n.º 1.

4 – Para o efeito do disposto no n.º 2 o estabelecimento envia, até 10 dias antes da data calculada para a revisão, um relatório de avaliação clínica-psiquiátrica elaborado por dois psiquiatras, com a eventual colaboração de outros profissionais de saúde mental.

5 – A revisão obrigatória tem lugar com audição do Ministério Público, do defensor e do internamento, excepto se o estado de saúde deste tornar a audição inútil ou inviável.”

Como se compreenderá haverá aqui bom campo de trabalho para se intercruzar com medidas do plano individual de readaptação abordado noutra secção.

Debrucemo-nos também, um pouco, sobre as causas de exclusão e de diminuição da imputabilidade criminal:As faculdades mentais desenvolvem-se contínua e gradualmente até que o homem atinja a maturidade psíquica, o pleno poder de reflexão e do auto-determinação. Aparecem em embrião; depois, de harmonia com a lei natural de evolução, com a desenvolvimento físico e sob a influência da instrução e da educação, do meio familiar e social, alcançam o índice máximo, decorridos alguns anos sobre o nascimento. Há um período inicial, na vida do homem, durante o qual faltam os pressupostos psíquicos da imputabilidade: a necessária inteligência ou consciência e a liberdade.A primeira fonte ou causa da inimputabilidade residirá, pois no insuficiente desenvolvimento das faculdades mentais: a menoridade, que não nos interessa para o presente estudo.Pode o homem nascer com perturbações ou insuficiências das faculdades intelectuais, ser “um anormal”. Durante o desenvolvimento das faculdades psíquicas ou depois de atingida a maturidade mental, acontece, por vezes, que sobrevém qualquer perturbação, que, permanente ou periodicamente, priva o indivíduo do pleno exercício do seu poder de reflexão ou de auto-determinação.

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Teremos, assim, uma outra causa de inimputabilidade: a derivada da falta de integridade mental por anomalia ou doença. As leis penais dos diversos países referem-na como causa de inimputabilidade.Mas o homem é ainda susceptível de perturbações mentais de carácter transitório ou momentâneo, sendo esse estado de alteração causado, por culpa ou intenção, ou devido apenas a caso fortuito. Isso sucede nas hipóteses de embriaguez, sono, sonambulismo, hipnotismo, etc.Aparece-nos, desta forma, uma terceira causa de exclusão da imputabilidade: a privação acidental das faculdades mentais.Se é concebivel, na vida do homem, um período em que falta a necessária inteligência e a liberdade, também é de admitir uma fase posterior em que as faculdades mentais ainda não atingiram a maturidade, embora exista já a capacidade de entender e de querer. O insuficiente desenvolvimento da psique, nesta fase, funcionará como primeira causa de diminuição da imputabilidade ou semi-imputabilidade.É o que se alcança do direito positivo, que reduz a pena ou estabelece uma circunstância atenuante da responsabilidade.As faculdades mentais, quando o homem chega à terceira idade, também entram em declínio, como sucede a todo o ser animado à face da terra, apesar da opinião daqueles que asseguram que a senectude tem o benefício da experiência da vida, do domínio dos impulsos internos e externos, da ausência das emoções fortes e das paixões. Ora, desde que a inteligência e a liberdade sofrem redução na sua acuidade, é lógico e justo que a decadência psíquica, o envelhecimento, constitua uma fonte de semi-imputabilidade. E constitui uma causa de diminuição, por meio do estabelecimento de uma circunstância atenuante.As anomalias das perturbações mentais, quer acidentais, quer não, não actuam do mesmo modo sobre o comportamento, com a mesma intensidade. Umas levam à privação completa do uso da razão e da liberdade; outras acarretam tão somente uma redução ou diminuição da energia psíquica. Compreende-se, por conseguinte, que, em tais circunstâncias, quando haja apenas uma redução da capacidade de querer e entender, o indivíduo beneficie de uma diminuição da imputabilidade. A perturbação mental incompleta, quer duradoira, quer acidental, é , portanto, uma causa de semi-imputabilidade.O direito positivo prevê-a como tal, quer reduzindo a pena, quer estabelecendo uma atenuante da responsabilidade.

SER INIMPUTÁVEL E PERIGOSO

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A imputabilidade dos delinquentes poderá sempre determinar-se a partir de características subjectivas, que são as psicológicas e físicas; e as objectivas, que são as socio-economicas e culturais.A inimputabilidade é constituída pela capacidade de motivação a nível individual e pela incapacidade para se motivar pelos critérios normativos. Quando esta capacidade não chegou a desenvolver-se, por falta de maturidade ou por defeitos psíquicos de qualquer natureza, não podemos atribuir culpabilidade ao agente.Em termos muito genéricos, este tema da inimputabilidade foi colocado pelas escolas clássica e positivista, relativamente ao valor-liberdade.A escola positivista chegou ao ponto de afirmar que a liberdade, ou auto-determinação eram irrelevantes. A repercussão desta posição foi enorme ao nível do entendimento jurídico da relação mental e inimputabilidade, pis a concepção jurídica foi francamente influenciada pela convicção de que se a pessoa que sofre de alguma diminuição na capacidade mental é doente ( Costa, 1990).Este desvio é perigoso, pois pode criar situações em que o sujeito inimputável não é legalmente tratado como tal por não se enquadrar nos esquemas tradicionais de loucos furiosos, noção que um grande numero de pessoas ainda tem tendência para manter.As questões da inimputabilidade e da sus avaliação, põem-se pela tendência ingénua de considerar que a psicologia ou psiquiatria têm uma base cientifica tão infalível quanto a lógica matemática.Por isso mesmo, o tribunal não poderá esperar do psiquiatra ou psicólogo uma resposta qualitativamente infalível, quanto a questões tão falíveis como imputabilidade, inimputabilidade e perigosidade.Obviamente, que seria mais tranquilizador para o tribunal aceitar do psicólogo ou psiquiatra uma verdade cientifica e por isso mesmo indiscutível. O juiz deverá ser sensível ao facto de que o critério, de peritos como o psicólogo e o psiquiatra, respeitam determinados pressupostos e valorações que não são inteiramente objectivos, de tal modo que a classificação de imputável ou de indisputável requer uma avaliação critica que não pode alhear-se desta perspectiva cientifica discutível.O perito definirá o limite entre o normal e o patológico, o juiz estabelecerá os limites enter o imputável e o inimputável, e esta analise tem um conteúdo incompatível com uma objectividade, perigosamente pretendida.A inimputabilidade não é um simples somatório de anormalidades fisico-biologicas, é mais lacto do que isto podendo considerar-se inclusivamente toda a estrutura afectiva do sujeito.Esta incerteza, na objectividade cientifica inquestionável, levanta grandes dificuldades ao juiz, uma vez que é a este que compete decidir sobre a inimputabilidade. Só aparentemente é um problema de decisão do psicólogo uma vez que é o juiz que tem de fazer a avaliação, a quem o

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psicólogo e o psiquiatra apontam elemento de juízo quando emitem os seus pareceres técnicos sobre o problema.A este factor de subjectividade, pode também juntar-se as circunstancias em que se produzem o acto punível ou o delito – isto porque é possível que uma pessoa possua capacidade de motivação para um tipo de delito e que em relação a este imputável, mas que em relação a outro tipo de delito não possua capacidade de motivação sendo assim inimputável.A imputabilidade e inimputabilidade decorrem da definição dos critérios de normalidade. As situações extremas não causam dificuldades de diagnóstico”(Costa, 1990).Em rigor podemos considerar que é inimputável, o sujeito que ao momento do crime/ acto não tinha capacidade para reconhecer a ilegalidade ou ilicitude da acção cometida – isto não esquecendo o importante principio de que “o desconhecimento da lei não aproveita a ninguém”. Para além desta excepção, todos casos serão de inimputabilidade.Existe inimputabilidade, sempre e quando o agente tenha falta de capacidade para entender a ilicitude do acto que cometeu, quando o facto foi determinado por uma motivação psicopatologica.Ser imputável é ter capacidade de culpa.O diagnostico diferencial entre imputabilidade e inimputabilidade terá de ser feito simultaneamente por um método psicológico e normativo. Nem toda a alteração psíquica mórbida implica um incapacidade de culpa, uma vez que em relação á situação concreta em que a situação ou que o acto punível ocorreu, o indivíduo pode ter capacidade de controlo.Nenhum diagnostico determina a exculpação. No diagnostico deverão constar a intensidade dos sintomas psicopatológicos, estabelecer um nexo cronológico enter as situações apontadas e o delito em questão, e também a elaboração de conclusões com valor jurídico atendendo ao delinquente e às circunstancias do delito.A imputabilidade implicará sempre liberdade e capacidade para discernir o mal do bem (a respeito deste aspecto, os inquisidores de Maria Gil dão-se ao trabalho de se deslocarem ao local onde habitava a ré, a fim de fazerem a investigação da sua capacidade de discernimento, sendo para isso ouvidas algumas testemunhas a quem se tem o cuidado de fazer sempre as mesmas perguntas, só depois desta fase são chamados os médicos do cárcere – tudo este procedimento implica grande subjectividade), da que seja inexistente em crianças até aos 16 anos e nos mentalmente insanos ( art. 26º, CP 1886 :”somente podem ser criminosos os indivíduos que têm a necessária inteligência e liberdade”).No Código Penal Português a determinação da inimputabilidade fica condicionada, primeiro pela existência de um factor biológico (anomalia psíquica) e outro psicológico (incapacidade para avaliar a ilicitude do facto ou de se determinar de acordo com essa avaliação).

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QUEM SÃO E QUANTOS SÃO E QUE FAZER

Sobre inimputabilidade por condenação judicial temos os dados do Relatório de Actividades da Direcção Geral dos Serviços Prisionais, 1996/ 97:

- Diminuição dos inimputáveis de 303 para 273 num ano;- 1,7 % da população prisional;- 266 casos em Estabelecimentos Psiquiátricos e 7 em

Estabelecimentos Prisionais comuns;Não corresponde, de todo, à realidade, uma vez que os juizes se recusam a considerar inimputáveis cada vez mais casos.Um estudo de Saraiva, Costa e Pereira(1995) mostra que entre 234 perícias médico-legais 12 % dos sujeitos receberam diagnóstico de psicopatia e nem um foi declarado inimputável pelo tribunal.O que acontece é a mistura cada vez mais acentuada destes indivíduos na comunidade prisional, com menos hipóteses de intervenção diferenciado e com acrescido efeito letal.De alguma forma, pode-se afirmar que um quinto dos recém chegados a uma penitenciária apresenta perturbações psicológicas de que o acto delinquente é um testemunho; um quarto tem antecedentes psiquiátricos na infância ou na idade adulta; um terço foi hospitalizado na idade adulta num serviço de psiquiatria. Se a prisão «tornar doente», é ao modificar a sintomatologia de uma patologia pré-existente; noutros, origina um sofrimento, o que não é doença. Excepções feitas às condições de detenção particularmente deploráveis, prejudiciais à saúde mental, que existem ainda aqui e ali.É preciso, portanto, instalar meios terapêuticos para pacientes cujo estado não aliena totalmente a responsabilidade dos seus actos e que é compatível com a aplicação de um sanção social.Na maior parte, são jovens adultos, como toda a população penal, cuja patologia entra no âmbito de estados-limite: psicopatia, toxicomania, perversão, depressão-limite, psicose fria, borderline são a expressão mais corrente. os delitos vão do simples roubo ao homicídio, passando pela violação e o assalto à mão armada.O termo pós-adolescência convém mesmo para caracterizar a imaturação psicológica dos nossos pacientes. A crise da adolescência não foi, como efeito, resolvida por causa da fixação em posições regressivas e por causa da quase ausência de períodos de latência. A fragilidade do narcisismo e da identificação sexual manteve-se, portanto, encoberta por condutas de afirmação estridente e de «hipervirilidade» caricatural. A fraqueza dos objectos internos é evidente, tornando instáveis todas as relações,

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Ludgero Paninho

complicadas pelo facto de os laços de dependência de objectos externos serem violentamente rejeitados. As dificuldades de construção de um ideal do Eu não permitirão a dessexualização das relações e o aceso a uma sociabilização. A impossível identificação com um pai ao mesmo tempo violento e fraco não permite ao indivíduo defender-se contra a pregnância do imago materno arcaico.Clinicamente, esta organização traduz-se na prisão pela dificuldade de estabelecer um contacto afectivo, felizmente compensado por uma vivência depressiva tornada mais perceptível pelo encarceramento, de modo que uma relação de ajuda se estabelece em geral facilmente; os factos são pesados, violentes, originando passagens ao acto sob a forma de auto-mutilação para escapar a uma angústia aterradora; a pobreza das representações caminha a par com a intensidade dos aspectos económicos dos funcionamento mental, muitas vezes reforçado por defesas que procedem mais da clivagem do que do recalcamento. A estridência dos comportamentos não basta para encobrir uma passividade reflexo de uma homossexualidade primária.Estando o quadro terapêutico grosseiramente delimitado, definida a população tratada como uma pós-adolescência que se exprime pela sintomatologia dos estados-limite, veremos melhor, referindo-nos à clínica e à prática, como é que a instituição, constituída por uma equipa de tratamento, se situa numa zona tradicional que responde às características enunciadas por Winnicott: e como é que esta, situada por definição entre a realidade interna e a realidade externa, responde ao projecto terapêutico formulado em relação à população tratada.Se a passagem ao acto, o recurso à droga, o esvaziamento da vida afectiva graças à clivagem são a regra, tendo como consequência a pobreza da vida psíquica, é mesmo porque os nossos pacientes têm medo da violência dos seus fantasmas que podem aproximar a alucinação quando aparecem. O medo habitual de qualquer angustiado de se tornar louco tem aqui uma singular ressonância, porque não é tão irreal como isso. Do mesmo modo as reticências em falar dos pesadelos com receio de que as imagens impressionantes e terríficas tomem a consistência da realidade. Também a procura da descarga da tensão ligada a estas representações é natural para evitar que eles venham à consciência: donde as características da patologia; donde os comportamentos na prisão quando não são protesto contar a máquina judiciária e penal: auto-mutilações, crises clásticas, greve de fome, transformações somáticas, exigência de medicamentos em alta doses. O desenvolvimento dos conteúdos psíquicos num espaço transicional é facilitado pela estrutura dos pacientes, com certeza, e pelo contexto do meio circundante: a prisão que realiza um espaço fechado separado das confrontações com as realidades da vida exterior, e tende, por isso, a desenvolver um funcionamento segundo o principio do prazer-desprazer. É

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preciso ainda que esses conteúdos sejam recebidos por uma equipa de tratamento que a eles seja sensível, senão os processos de defesa habituais neste tipo de paciente e perpetuamente reconstruídos apesar da sua fragilidade impedirão a sua emergência.Isto supõe que as pessoas do tratamento estejam prevenidas com um certo número de dados de uma abordagem psicodinâmica e saibam o que querem dizer discurso latente e discurso manifesto. O que não sucede sem riscos: a integração insuficiente de conceitos psicanalíticos, que acentua a mobilização de movimentos internos por vezes regressivos, pode criar perturbações afectivas prejudiciais ao projecto terapêutico e perturbador para a pessoa que trata. Todavia, com precauções, é o preço a pagar para passar do nível comportamental ao nível psicológico, do económico ao sensível. Não sem que por vezes a equipa mergulhe, ela própria, no espaço transicional, acreditando em fantasmas de destruição.O que é característico, parece-nos, do funcionamento no espaço transicional, é a transitoriedade dos fenómenos que percebemos, testemunho da ilusão partilhada num momento e depois desfeita pelo retorno às realidades da vida quotidiana: num dia à tarde deixa-se o serviço dizendo que se vai passar qualquer coisa, que se vai seguramente produzir uma tentativa de suicídio durante a noite, tão tenso está o ambiente e carregado de angústia: depois encontra-se toda a gente relaxada e sorridente na manhã seguinte, como se nada se tivesse passado na véspera.

PERIGOSIDADE FORMAL E REAL EM MEIO PRISIONAL

Inderpendentemente da declaração ou não de inimputabilidade, a prisão recebe no seu seio dezenas, talvez centenas de indivíduos mentalmente doentes(psico-afectivamente com ou sem organicidade), cónicos ou em crises agudas que são perigosos para si e para os que o rodeiam, principalmente outros reclusos. Em meio prisional apresenta-se-nos a tarefa triplice de um rótulo que vem dado do exterior (administrativamente) e por métodos mais ou menos subjectivos e não especializados, no quadro de uma realidade social que está agora transfigurada para um microcosmos de regras próprias e numa fase que se propõe de intervenção, logo, de reavaliação constante e de importância predictiva especial já que a pessoa em causa deverá sair, na maior parte das vezes, antes do fim do cumprimento da pena de prisão, sendo um dos pressupostos o de não constituir um perigo para a sociedade livre.De Pinel, em 1809, à DSM-IV de 1994, passando por Lombroso, pelos 16 Critérios de Psicopatia de Cleckley em 1964, pelo Indice de Perigosidade de Mora Izquierdo, pela ICD-10 (OMS) em 1992 e pela Fórmula de Cohen, da Ayalon Prision em Israel, muito frágil ficam ainda os parametros para

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quem tem de decidir o cumprimento em regime celular ou em regime aberto, a prisão integral ou a libertação antecipada de um outro ser humano.Certo é que no actual momento, Portugal tem mais necessidade de começar a pensar mais técnica, informada e padronizadamente, do que se preocupar com a consciência de assim decidir. Estamos no momento de tomar consciência sim, do modelo que não temos.Chegámos à noção lombrosiana da dissociação “criminoso ocasional – criminoso nato” e , também do mesmo autor à noção de “criminoso por paixão”, o agora muito propagado e alargado funil do “crime passional”. Passámos, e regressamos agora às bases biológicas dos comportamentos criminais, acrescentámo-lhes o psiquico e o social e é neste ultimo campo que parecem agora convergir todas as culpas para todos os males, falando-se, com razão, da crise da família, da religião, e do Estado.Não é aí, contudo, que se pode apoiar sómente o Perito para ajudar quem decide sobre o risco que um determinado individuo apresenta para o meio em que se vai inserir, se e quando for liberto.Em meio prisional há espaço para avaliar a pessoa reclusa, escolher o melhor regime para o cumprimento da sua pena e qual o provavel melhor momento para a flexibilização da mesma. Como já se referiu, no micro-cosmos prisional quase tudo muda, sendo habitual ouvir-se aí a frase: “bom recluso e mau cidadão”.Por outro lado, agora que começamos a criar os meios para uma verdadeira avaliação bio-psico-social de cada caso, temos também de ter em conta o que Lombroso já diferenciava, e que por maioria de razão se aplica em meio prisional: a perigosidade para si próprio, a perigosidade para a sociedade (proponho aqui a interpretação: para uma outra pessoa concreta ou previsivel num determinado espaço psico-social) e a perigosidade para a espécie (proponho aqui o perigo difuso como a produção de drogas duras ou a libertação deliberada de resíduos industriais perigosos, só para dar dois exemplos de um tempo mais recente). Perigoso pode ser também o Estado quando tem em mãos elementos perigosos e se vê enredado a ele próprio nas redes que teceu para defender os abusos e prepotências de quem prende e guarda mas que podem ser usados em sentido inverso, de forma perversa para usar as armas do sistema para o bloquear ou desarticular. Interessa aqui referir as associações de indole mais ou menos de direitos humanos mas que são criadas e sustentadas por um ou dois criminosos perversos, em cumprimento de pena, para desestabilizar e fragilizar um sistema prisional já de si carente mas que precisa de ser melhorado, apoiado e não posto “a ferro e fogo” como se pode ler em alguma documentação que circula dentro dos muros, esses que se querem contentores de actos mas também de posturas e palavras. Essa é a maior de todas as perigosidades dentro de um sistema prisional.

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Por ultimo, interessa ter em atenção um grupo de individuos supostamente imputáveis e que não passarão no mais elementar dos exames para essa categoria, evidenciando uma completa incapacidade de interiorizar a pena de prisão, a desadequação desta à sua real inimputabilidade e ao perigo que a prisão representa para a vida deles e de quem com eles convive de perto, sem a protecção da medicação de compensação gritantemente necessaria.Dificil é tirar do grupo anterior o dependente de heroina, e falo dela por ser o real problema em meio prisional, aliàs, à semelhança do mundo livre.Mais dificil é pensar, propor, experimentar e afinar um sistema de classificação vivo,e em avaliação e progressão constantes, para acompanhar a reclusão de cada individuo e enquadrar os momentos diferenciados em que cada um poderá iniciar o seu caminho de regresso à comunidade livre, de forma gradual, informada e consequente, com a consciência primeira de que ao interesse e segurança do grupo deverão estar subjugados e contingentes os interesses e direitos de um só sujeito.À confirmação da perigosidade de um individuo nunca poderá deixar de nos preocupar a nossa capacidade de prever essa perigosidade passada ao acto, se possível antes de ficarmos com um individuo comprovadamente perigoso numa mão e uma ou mais vitimas numa outra.

MEDIR A PERIGOSIDADE

Índice de Perigosidade Social de Mora Izquierdo

Nome_________________________________________________/___/__

CRITÉRIO 2 Pontos 1 Ponto 0 Pontos

Personalidade Anti-social Outro transtorno Sem transtorno

Grau de saúde ou

enfermidade mental

Enfermidade mental,

crónica, grave, incurável

Enfermidade leve Sem enfermidade

Caracter do delito Grave com dolo Leve,

pré-intencional

Culposo

História delitiva Dois ou mais delitos

anteriores

Um delito anterior Sem antecedentes

Comportamento

durante a reclusão

Mau Regular Bom ou excelente

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Ambiente ao sair O mesmo ambiente,

sem possibilidades de tratamento e vigilância,

família ausente ou

família delinquente

Ambiente pouco modificado, algumas possibilidades de tratamento e vigilância, família cooperante

Ambiente diferente, boas possibilidades de vigilância e tratamento ambulatório, família cooperante e responsável

Prospecção de futura conduta

Probabilidades de voltar a delinquir

Comportamento regular Bom comportamento

Somatório

Total

de 0 a 5 – baixa de 6 a 9 – moderada de 10 a 14 - alta

Mora izquierdo, do Instituto de Medicina Legal de Bogotá criou um instrumento que de forma mais ou menos objectiva nos permite atingir ou calcular um índice de perigosidade para os indivíduos que queremos estudar. O índice vai de 0 a 14 pontos e a perigosidade é tanto maior quanto mais alto for o número de pontos atingidos.

Depois de pontuado o sujeito pela tabela do verso, obtemos um total que nos dá um índice de perigosidade social que se for de :

de 0 a 5 - baixa de 6 a 9 – moderada de 10 a 14 - alta

Outros colegas preferem usar uma escala diferente como a abaixo exposta:

CRITÉRIOS PARA AFERIÇÃO DE PERIGOSIDADE SOCIALFACTORES SUBCLASSES PONTUAÇÃO

1. EXPERIÊNCIA PENAL ANTERIOR

PrimárioNão primárioReincidente

012

2. GRAVIDADE E FREQUÊNCIA DOS CRIMES ANTERIORES

SemCrimes ocasionais pouco gravesCrimes frequentes pouco graves

012

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Crimes graves 33. CRIME DA CONDENAÇÃO

Pouco graveGrave

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4. CIRCUNSTÂNCIAS PRÁTICA CRIME

MomentâneasPreparadas/organizadas

12

PERIGOSIDADE INSTITUCIONAL5. COMPORTAMENTO INSTITUCIONAL

Adequadoofensivo

manifesto violentopromotor desordensofensivo

Não adequado dissimulado violentopromotor desordensofensivo

misto violentopromotor desordens

0123123123

TOTAL PONTUAÇÃOCLASSIFICAÇÃO A – B- C

QUADRO PONTUAÇÃOPontos 1; 2; 3; 4; com pontuação global de 6 a 9 A – Perigosidade SocialPonto 5 com pontuação 2 ou 3 B – Perigosidade InstitucionalPreenche as duas pontuações anteriores C – Perigosidade Social e Institucional

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