perfil dos recursos humanos em hospedagem em duas cidades de sp

14
Rev. FAE, Curitiba, v.8, n.2, p.91-103, jul./dez. 2005 |91 Revista da FAE Perfil dos recursos humanos em hospedagem em duas cidades do interior de São Paulo Profiles of human resources in hotel administration for two cities in the interior of São Paulo state Cristina Prado Rodrigues* Osvaldo Elias Farah** Antonio Carlos Giuliani*** Eduardo Eugênio Speers**** Resumo O setor de Turismo e Hotelaria registra índices de crescimento constante em todo o mundo, não sendo o Brasil uma exceção. A qualificação profissional para o setor é uma preocupação de empresários e planejadores, porque é fator diferencial de concorrência. O presente artigo aborda a temática do perfil dos profissionais, adequado à nova realidade econômica do mundo e, mais especificamente, ao setor de Turismo e Hotelaria. Apresenta, também, os resultados de uma pesquisa realizada com o principal objetivo de identificar o perfil dos profissionais de hotelaria, especialmente da área de hospedagem, em duas cidades do interior de São Paulo: Barretos e São José do Rio Preto. A coleta de informações foi realizada mediante pesquisa de campo, com aplicação de questionários respondidos por profissionais dos níveis gerenciais e operacionais, dos hotéis localizados nessas cidades. Palavras-chave: turismo; hotelaria; estratégia; hospedagem; recursos humanos. Abstract The Tourism and Hospitality sector is experiencing stable growth rates in the whole world, and Brazil is no exception to this rule. The professional qualification for this sector is of concern for entrepreneurs and planners; being it a distinguishing factor in competition. The present article discusses the profile of those professionals better prepared for the new global economy, and more specifically for the Tourism and Hospitality industry. It also presents the results of a survey carried out with the main objective of identifying the profile of the professionals working for hotels in the area of Guest Services, in two cities of the interior of São Paulo: Barretos and São José do Rio Preto. The gathering of information was carried out through field research, with the completion of questionnaires by professionals at management and staff levels, of the hotels located in the above two cities. Key words: tourism; lodging; strategy; hospitality; human resources. * Bacharel em Turismo pela Universidade Anhembi Morumbi, especialista em Administração Hoteleira e discente do Mestrado Profissional em Administração da Faculdade de Gestão e Negócios da Universidade Metodista de Piracicaba - FGN/ Unimep. Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Turismo do Centro Universitário do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - Senac-SP. [email protected]; [email protected] ** Doutor em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA/USP. Professor do Mestrado Profissional em Administração da FGN/Unimep. *** Doutor em Educação pela Unimep. Coordenador do Mestrado Profissional em Administração da FGN/Unimep. Autor dos livros Marketing em um Ambiente Globalizado e Gestão de Marketing no Varejo (volumes I e II). **** Doutor em Administração pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas - EAESP/FGV. Professor do Mestrado Profissional em Administração da FGN/Unimep.

Upload: marcellus-giovanni

Post on 02-Sep-2015

215 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

PERFIL DA MÃO DE OBRA DA HOSPITALIDADE

TRANSCRIPT

  • Rev. FAE, Curitiba, v.8, n.2, p.91-103, jul./dez. 2005 |91

    Revista da FAE

    Perfil dos recursos humanos em hospedagemem duas cidades do interior de So Paulo

    Profiles of human resources in hotel administrationfor two cities in the interior of So Paulo state

    Cristina Prado Rodrigues*Osvaldo Elias Farah**Antonio Carlos Giuliani***Eduardo Eugnio Speers****Resumo

    O setor de Turismo e Hotelaria registra ndices de crescimento constante emtodo o mundo, no sendo o Brasil uma exceo. A qualificao profissionalpara o setor uma preocupao de empresrios e planejadores, porque fator diferencial de concorrncia. O presente artigo aborda a temtica doperfil dos profissionais, adequado nova realidade econmica do mundoe, mais especificamente, ao setor de Turismo e Hotelaria. Apresenta, tambm,os resultados de uma pesquisa realizada com o principal objetivo de identificaro perfil dos profissionais de hotelaria, especialmente da rea de hospedagem,em duas cidades do interior de So Paulo: Barretos e So Jos do Rio Preto.A coleta de informaes foi realizada mediante pesquisa de campo, comaplicao de questionrios respondidos por profissionais dos nveis gerenciaise operacionais, dos hotis localizados nessas cidades.

    Palavras-chave: turismo; hotelaria; estratgia; hospedagem; recursos humanos.

    Abstract

    The Tourism and Hospitality sector is experiencing stable growth rates inthe whole world, and Brazil is no exception to this rule. The professionalqualification for this sector is of concern for entrepreneurs and planners;being it a distinguishing factor in competition. The present article discussesthe profile of those professionals better prepared for the new globaleconomy, and more specifically for the Tourism and Hospitality industry. Italso presents the results of a survey carried out with the main objective ofidentifying the profile of the professionals working for hotels in the area ofGuest Services, in two cities of the interior of So Paulo: Barretos and SoJos do Rio Preto. The gathering of information was carried out throughfield research, with the completion of questionnaires by professionals atmanagement and staff levels, of the hotels located in the above two cities.

    Key words: tourism; lodging; strategy; hospitality; human resources.

    * Bacharel em Turismo pelaUniversidade AnhembiMorumbi, especialista emAdministrao Hoteleira ediscente do MestradoProfissional em Administraoda Faculdade de Gesto eNegcios da UniversidadeMetodista de Piracicaba - FGN/Unimep. Coordenadora doCurso Superior de Tecnologiaem Turismo do CentroUniversitrio do ServioNacional de AprendizagemComercial - [email protected];[email protected]

    ** Doutor em Administrao pelaFaculdade de Economia,Administrao e Contabilidadeda Universidade de So Paulo -FEA/USP. Professor do MestradoProfissional em Administraoda FGN/Unimep.

    *** Doutor em Educao pelaUnimep. Coordenador doMestrado Profissional emAdministrao da FGN/Unimep.Autor dos livros Marketing emum Ambiente Globalizado eGesto de Marketing no Varejo(volumes I e II).

    **** Doutor em Administrao pelaEscola de Administrao deEmpresas de So Paulo daFundao Getlio Vargas -EAESP/FGV. Professor doMestrado Profissional emAdministrao da FGN/Unimep.

  • 92 |

    Introduo

    O mundo vive a chamada Terceira Onda da

    Economia, a ps-industrializao e a ps-modernidade.

    Uma economia em que: se valoriza, extremamente, o

    capital intelectual; a produo de bens substituda

    pela produo de servios; o desenvolvimento da

    tecnologia permeia todos os setores da sociedade; a

    informao e o conhecimento passam a ser moedas

    de troca e sinnimos de poder.

    A sociedade ps-industrial uma nova sociedade,

    cujas principais caractersticas so a globalizao, o

    tempo livre, a intelectualizao, a criatividade, a

    esttica, a subjetividade, o teletrabalho, a qualidade,

    a emotividade e feminilidade, a desestruturao do

    tempo e do espao, a busca por uma melhor qualidade

    de vida, o carisma e o nomadismo (De MASI, 2000).

    Por serem essencialmente do mbito da prestao

    de servios, o Turismo e a Hotelaria afloraram, na

    sociedade ps-industrial, como um dos grandes setores

    da economia mundial que vem apresentando ndices

    positivos e constantes de crescimento.

    Vrias mudanas podem ser observadas, nesse

    setor, com o advento dessa nova fase, destacando-se

    a crescente competio entre destinos tursticos,1 o

    impacto de novas tecnologias, maiores expectativas dos

    consumidores e a qualidade e eficincia dos recursos

    humanos. a Nova Era do Turismo - NET, surgida a

    partir da dcada de 1980, em substituio chamada

    Era Fordiana (FAYOS-SOL, 1996).

    Saliente-se que os atuais consumidores esto mais

    exigentes, mais bem informados, em condies de

    comparar nveis de qualidade e preo, entre os

    diferentes destinos tursticos e produtos tursticos

    oferecidos pelo mercado. O preo deixou de ser um

    diferencial competitivo, passando a qualidade a ser o

    fator determinante da escolha do destino/produto.

    No Brasil, por muitos anos o setor hoteleiro foi

    dominado por empresas familiares, que em geral no

    se preocupavam com a profissionalizao de seu

    quadro de pessoal. O bom atendimento sempre foi

    entendido como tratamento familiar.

    Na dcada de 1970, cadeias internacionais

    comearam a se instalar no Brasil, trazendo um novo

    conceito de qualidade em servios hoteleiros, com altos

    padres, tanto de instalaes fsicas, quanto de

    formao dos seus recursos humanos. Na dcada de

    1990, aumentou o interesse das cadeias internacionais

    de hotis em se instalarem no Brasil, no somente nas

    capitais dos estados, mas tambm em cidades de mdio

    porte do interior do pas. Isso provocou uma verdadeira

    revoluo no setor, acarretando o encerramento das

    atividades de muitas empresas pequenas e familiares

    ou a mudana de postura destas empresas para

    permanecerem no mercado.

    O diferencial competitivo entre as empresas

    hoteleiras est na qualidade dos seus recursos humanos,

    nas pessoas que atendem os hspedes, cuja estada deve

    ser transformada em uma experincia nica.

    Essas pessoas, o capital humano das empresas

    hoteleiras, devem apresentar um perfil adequado para

    desempenhar tais funes, preferencialmente um perfil

    que atenda s novas exigncias desse mundo ps-

    industrial e que mantenha as empresas em um patamar

    de competitividade e de alcance dos objetivos de

    rentabilidade.

    1 Fundamentao terica

    Para a fundamentao terica, feita uma

    contextualizao da sociedade ps-industrial, suas

    implicaes no mercado de trabalho e no perfil dos

    profissionais e, mais especificamente, dos de Turismo

    e Hotelaria.

  • Rev. FAE, Curitiba, v.8, n.2, p.93-103, jul./dez. 2005 |93

    Revista da FAE

    1.1 Contexto global: a sociedadeps-industrial

    A nica certeza que se tem atualmente de que

    tudo no mundo est em permanente mudana. Vive-

    se a chamada sociedade ps-industrial, cuja palavra-

    conceito mais utilizada globalizao. Globalizao

    da economia, dos costumes, da moda, dos hbitos,

    das comunicaes. Entretanto, esse apenas um dos

    fatores que identificam essa nova era.

    A sociedade ps-industrial est baseada em

    informao e conhecimento; este ltimo constituindo-

    se em moeda mais valorizada e mais seletiva, uma vez

    que poucos tm acesso a ele. Em contrapartida, a

    informao disseminada por vrios meios de

    comunicao e mdias eletrnica e digital.

    Segundo Hitt, Ireland e Hiskisson (2002, p.18), A

    habilidade de acessar e utilizar eficazmente a

    informao tornou-se importante fonte de vantagem

    competitiva em praticamente todos os setores. Para

    Orsi (2004), o conhecimento se tornou a nica forma

    sustentvel para uma capacidade competitiva

    duradoura, o que tem levado as empresas a se

    preocuparem com a gesto desse ativo.

    Em uma sociedade que muda sempre de idia, o

    mercado voltil, portanto, competitivo e varivel em

    qualidade (BRACKENBURY, 1996). Desse modo, tambm

    para Prahalad (2000, p.39),

    [...] colaborao e competio, mudanas rpidas evolatilidade, presso por inovao e eficincia, demandapor capacidade global e local sero a regra.

    A sociedade ps-industrial marcadamente baseada

    em uma economia de servios. No final do sculo XX e

    incio do XXI, a maior parte do PIB mundial provinha do

    setor de servios, estando a economia internacional

    assentada no setor tercirio, com destaque para as

    atividades de comrcio, finanas, transportes, sade,

    educao, publicidade e propaganda, administrao

    pblica e privada, comunicao, artes e cultura, lazer e

    turismo, etc. (TRIGO, 1998).

    Por ser um setor essencialmente de prestao de

    servios, o turismo aflorou, na sociedade ps-industrial,

    como um dos grandes setores da economia mundial

    que vem apresentando ndices positivos e constantes

    de crescimento. A atividade turstica ocupa posies

    de destaque por sua contribuio ao bem-estar

    econmico dos pases.

    O turismo , hoje, uma das melhores oportuni-

    dades de gerao de renda e emprego para pases

    com vrios nveis de desenvolvimento. De acordo com

    a edio de junho de 2005, do WTO World Tourism

    Barometer, os resultados do turismo mundial indicam

    uma continuidade da tendncia positiva global para

    2004, com as chegadas internacionais de turistas

    crescendo em uma mdia de 8%, para os primeiros

    quatro meses (WTO, 2005). Apesar do excelente ritmo

    de crescimento em 2004, era esperada uma diminuio

    gradual, mas, para o momento, as taxas so muito

    similares quelas vistas na segunda metade de 2004,

    um ano em que as chegadas internacionais de turistas

    cresceram mais de 10%, a um registro absoluto de 763

    milhes. Mesmo havendo acontecimentos como o

    reaparecimento da Sndrome Respiratria Aguda Grave

    (Severe Acute Respiratory Syndrome - SARS) e a invaso

    do Iraque em 2003, a taxa de crescimento da primeira

    metade de 2004 foi excepcional, em particular no caso

    da sia, do Pacfico e do Oriente Mdio.

    O entretenimento e o turismo, em geral, tm uma

    participao bastante prioritria na construo do PIB

    de vrios pases e no oferecimento de servios para

    mercados cada vez maiores, alm de gerarem postos

    de trabalho cada vez mais exigentes em termos de

    habilidades profissionais (TRIGO, 1998).

    O turismo aflorou, na sociedadeps-industrial, como um dosgrandes setores da economia

    mundial, com ndices positivose constantes de crescimento

  • 94 |

    Para Go (2001), quatro grandes fatores dasociedade ps-industrial tm implicaes no setor deturismo: a globalizao, a digitalizao, a inovao e aprofissionalizao. Os servios ligados ao turismo sotradicionalmente classificados como de conveninciae no de conhecimento.

    Na dcada de 1980, mudanas profundasocorreram no setor de turismo, com o ingresso denovos consumidores, novas tecnologias, novas formasde produo, novos estilos de gesto e novas condiesde entorno, dando origem j mencionada NET.

    A NET caracteriza-se pela supersegmentao dademanda, pela necessidade de flexibilizao na oferta ena distribuio, pela busca de rentabilidade naseconomias de sistema e na oferta de valores integrados.As empresas passam a ter a necessidade de adaptaremplenamente seus produtos s novas necessidades demercado, mediante a melhoria dos sistemas deinformao turstica, do know-how tecnolgico e dofortalecimento do know-how humano; pelo reposiciona-mento da empresa ou organizao, para obter vantagensestratgicas superadoras de uma competncia, com baseapenas nos preos; pelo enfoque da atividade daorganizao ao redor das suas habilidades diferenciais.

    As tendncias na NET indicam que os consumidoresesto comprando mais, querendo mais por menos, epagando mais por algumas viagens cujos destinos so locaisconhecidos por sua conservao do meio ambiente, suavida selvagem, suas culturas locais e seus monumentosantigos esses locais normalmente limitam o nmero devisitantes, o que provoca o aumento do preo.

    Por isso, as viagens so distribudas de maneirasdiferentes e no, obrigatoriamente, por agentes deviagens. A regulamentao e a proteo ao meioambiente restringem o acesso a um nmero limitado deturistas em algumas reas. H maior preocupao com asegurana pessoal (para evitar assaltos e terrorismo) ecom a sade pblica (epidemias afastam o turista).

    A elevao do padro de vida aumenta as

    expectativas de viagem, pois o turista ps-moderno

    busca conforto e bem-estar. A tecnologia desenvolve

    aeronaves maiores e com capacidade para menor

    nmero de passageiros, restringindo seu acesso alugares pequenos. O ingresso de novas tecnologias dainformao, por meio de computadores, permite maisrapidez e melhoria nas tcnicas operacionais e degesto das empresas tursticas. Outra tendncia oroteiro de frias em que tudo est includo (all inclusive):meios de hospedagem somados, no valor das dirias,aos servios de alimentao, lazer e demais serviosoferecidos (FAYOS-SOL, 1996).

    Todavia, o preo ainda um diferencialimportante na escolha do destino turstico, visto queos clientes querem servios de qualidade a um preocompatvel com suas finanas. Os operadores tm deoferecer os pacotes de viagem que os clientes querema preos que eles possam pagar (BRACKENBURY, 1996).

    As mudanas tambm acontecem com relao aopadro de demanda. No sculo XXI, dobrar o nmerode pessoas que viajaro; haver uma nova casta deviajantes; os novos viajantes sero internacionalmentediversificados, viro de novas culturas, com diferenteslnguas e hbitos sociais; haver mais pessoas jovens, maismulheres e mais aposentados; os consumidores tero maisdiscernimento e demandaro mais produtos e preoscompetitivos e servios ao cliente; consumidores estaroplugados na informao das supervias, na viso derealidade virtual, nas telas interativas, e estaroacostumados a pagamentos com carto inteligente ea viagens sem passagens.

    Essas tendncias e caractersticas da nova era doturismo tambm influenciam na mudana do perfil doprofissional de turismo, que precisa adequar-se s novasexigncias desse mercado em constante transformao(LIPMAN, 1996).

    1.2 A sociedade ps-industrial, omercado de trabalho e o perfildos recursos humanos

    O mercado de trabalho da sociedade ps-industrialtrouxe profundas transformaes no que tange ao perfildo profissional, s relaes de trabalho e s formas de

  • Rev. FAE, Curitiba, v.8, n.2, p.95-103, jul./dez. 2005 |95

    Revista da FAE

    desenvolver as vrias atividades do setor de servios. O

    mercado de trabalho formado hoje por um centro,

    composto por funcionrios em tempo integral, com

    alguma estabilidade e segurana, tendo sua volta dois

    grupos bem distintos: empregados em tempo integral,

    com habilidades facilmente disponveis no mercado de

    trabalho (e, portanto, mais sujeitos a perder esse

    status), e empregados, em tempo parcial, casuais, com

    contratos temporrios e subcontratos, com flexibilidade

    numrica ainda maior (TRIGO, 1998, p.88).

    Conforme Oliveira (1998), h uma reduo drstica

    na quantidade e qualidade de empregos no mundo,

    explicada por trs fenmenos ligados entre si: a infor-

    matizao dos ambientes de trabalho; a transformao

    da prpria manipulao dos dados em negcio

    principal e o aparecimento da transmisso generalizada

    e instantnea de informaes. Para Oliveira (1998, p.26),

    [...] as principais mudanas que esto ocorrendo nomercado de trabalho so: desaparecimento das atividadestradicionais; atividades profissionais transferem-se dosetor industrial para o de servios; atividades profissionaisantes realizadas por homens agora so tambmexecutadas por mulheres; atividades profissionaistransferem-se de lugar, mesmo de um pas para outro; ostrabalhadores deslocam-se para outros estados e outrospases; mudanas de atividade profissional tornam-sefreqentes; pessoas desempregadas levam mais tempopara conseguir trabalho; os empregos disponveis tornam-se mais precrios, pois a tendncia de desaparecimentoda relao formal de trabalho e degenerao x fertilizaoda carreira profissional.

    Atualmente, as novas tecnologias tambm

    requerem um aumento da escolaridade e de nveis de

    profissionalizao dos trabalhadores. As empresas

    valorizam o trabalho em equipe e no cuidam mais da

    carreira dos seus colaboradores. O trabalho mental

    passa a ter muito mais valor do que o trabalho braal.

    E toda atividade passvel de ser informatizada (total

    ou parcialmente), sendo as pessoas substitudas por

    mquinas. Quanto mais alto o grau de padronizao

    da atividade, ou seja, quanto menos atividade mental

    ela exigir, mais essa atividade pode ser executada por

    mquinas (OLIVEIRA, 2000).

    A sociedade ps-industrial trouxe mudanas

    profundas tambm no que diz respeito aos recursos

    humanos e suas habilidades e competncias para atuar

    em um mundo em constante transformao e cuja base

    econmica o setor de servios. O conhecimento, a

    aprendizagem, a informao e a inteligncia bem

    desenvolvidas so as novas matrias-primas do mercado

    internacional (TRIGO, 1998).

    De acordo com uma pesquisa realizada por Go

    (2001), em 1991, durante os Novos Horizontes em

    Turismo e Educao Hospitaleira, Conferncia de

    Treinamento e Pesquisa, na Universidade de Calgary

    (Canad), com 72 participantes desse congresso, a respeito

    dos pontos-chave que teriam influncia nas mudanas

    da fora de trabalho dos pases industrializados at 2005,

    os trs principais itens foram: uma economia nacional

    forte e competitiva depende do desenvolvimento

    apropriado do trabalhador e de talentos adquiridos, por

    meio de educao e treinamento (93,5%); as habilidades

    para lidar com cenrios complexos vo requerer a

    reestruturao de muitos postos de trabalho para se

    inclurem informtica e novas exigncias educacionais

    (93,4%); nas prximas duas dcadas, um nmero crescente

    de mulheres estar em funes executivas, na cpula das

    grandes organizaes (93,45%).

    As mudanas no mercado de trabalho foram to

    inesperadas, rpidas e intensas, que grande parte da

    populao economicamente ativa no est tendo

    condies de insero no mercado de trabalho, por

    fatores como: a baixa escolaridade e a falta de

    qualificao profissional. Os trabalhadores de hoje

    podem ser classificados em dois grandes grupos:

    aqueles que geram informaes (trabalhadores do

    conhecimento) e aqueles que meramente processam

    essas informaes (trabalhadores da informao).

    Educadores e pesquisadores j no trabalham com a

    finalidade de preparar pessoas aptas a elaborar

    conceitos e noes de verdades, mas sim a adquirir

    competncia ou eficincia (TRIGO, 1998). Hoje, mais do

    que nunca, o mercado de trabalho est procura de

    competncias e habilidades para a produo de

    resultados que gerem lucros s empresas.

  • 96 |

    Segundo Oliveira (2000), as competncias podem

    ser classificadas em trs nveis: nvel 1 - saber o que fazer;

    nvel 2 - saber como fazer; nvel 3 - saber por que fazer.

    De acordo com o autor, h trs tipos de competncias

    profissionais: competncias para lidar com pessoas;

    competncias para lidar com a informao; competncias

    para lidar com a tecnologia. O Departamento do Trabalho

    dos Estados Unidos elaborou uma lista de competncias

    para o mercado de trabalho, traando o perfil das

    habilidades necessrias ao trabalho do futuro,

    independentemente da profisso escolhida. Esse perfil

    dividido por Oliveira (2000) em: competncias para a

    comunicao (leitura, escrita, escrita

    ativa, expresso oral); competncia

    matemtica (clculo, raciocnio

    matemtico); competncias para

    soluo de problemas e tomada de

    decises (pensamento criativo,

    tomada de deciso, visualizao, saber

    aprender, viso sistmica); e

    competncias no trato de situaes

    (responsabilidade, auto-estima,

    sociabilidade, autogesto, integridade/honestidade).

    Ainda conforme Oliveira (2000), tambm incluem-se as

    competncias exigidas pelo mercado de trabalho

    brasileiro, como bilingismo, competncia digital,

    competncia emocional, capacidade de atuar em equipe

    e capacidade empreendedora.

    2 O perfil profissional em turismo

    e hotelaria

    O turismo cria trabalhos de qualidade, utilizando

    desde a sofisticada tecnologia e gerenciamento, at

    pequenos negcios ou servios em reas rurais (LIPMAN,

    1996). Seu atual foco proporcionar servios

    adaptados s expectativas de cada consumidor e

    faz-lo competitivamente, diante de adversrios

    numerosos e potentes.

    A fim de enfrentar essa concorrncia, o setor de turismo

    precisa criar um sistema de informaes para definir a

    estratgia e a ttica empresariais; saber quem so os

    clientes, que perfil de vivncia turstica desejam e quais

    so seus nveis de expectativa; reunir informao para

    conhecer a compe-tncia do setor; obter informao

    sobre o know-how tecnolgico e humano utilizado nas

    organizaes tursticas (OMT, 1996).

    Para Lipman (1996), os desafios do setor esto nas

    srias dificuldades do trabalho com qualidade,

    particularmente no setor de hotis e resorts; na

    transferncia de trabalhadores, por intermdio das

    fronteiras, aspecto que vem crescendo

    em importncia; em um maior

    reconhecimento da indstria turstica e

    da qualidade dos trabalhos nela

    desenvolvidos para o alcance de um

    melhor recrutamento de profissionais;

    no reconhecimento, por governo e

    indstria, de que as facilidades e padres

    de treinamento existentes so inade-

    quados; na concordncia de que os

    currculos escolares tm de oferecer mais cursos de turismo

    e viagens, focados nas necessidades dos postos de trabalho;

    no desenvolvimento dos recursos humanos, com uma alta

    prioridade nas decises das corporaes, governos e nos

    investimentos; na recomendao para a criao de uma

    nova rede institucional regional e nacional do setor

    pblico/privado, mediante os Conselhos de Educao e

    Treinamento, para se adequar s necessidades de

    mudanas.

    A formao do capital humano ocupa uma posio-

    chave nas estratgias de empresas tursticas com viso.

    justamente nos recursos humanos que, no futuro,

    podero ser encontradas as fontes da criao de valor,

    da competitividade e da superatividade das empresas

    tursticas (OMT, 1996).

    Gee (1996) afirma que todo destino turstico ser

    desafiado a prover melhor qualidade de servio, pois,

    atualmente, os consumidores j tm uma larga escolha

    de produtos e opes de preos. O aumento da procura

    O mercado de trabalhoest procura decompetncias ehabilidades paraa produo de

    resultados que geremlucros s empresas

  • Rev. FAE, Curitiba, v.8, n.2, p.97-103, jul./dez. 2005 |97

    Revista da FAE

    por maior qualidade do servio de alto contato e

    respostas s necessidades individuais. Os negcios que

    puderem fornecer, consistentemente, excelentes

    servios, apesar do preo, sero capazes de satisfazer

    as demandas do mercado no sculo XXI.

    A qualidade do atendimento prestado ao cliente parecetambm estar relacionada qualidade dos recursoshumanos que a organizao apresenta, ou seja, pessoasbem selecionadas, treinadas e satisfeitas com o seutrabalho na empresa (OLIVEIRA e GUEIROS, 2004, p.2).

    O setor de turismo dominado por pequenas

    empresas dirigidas por profissionais empreendedores e

    auto-suficientes, que no tm treinamento formal em

    turismo e que, muitas vezes, no reconhecem a

    necessidade de formao profissional para elevar os

    padres da indstria (ESTLAKE et al., 1994 apud TRIGO,

    1998). Ainda segundo Trigo (1998), a elevao da

    qualidade dos servios tursticos, dos padres de

    segurana, lucratividade e eficincia dependem, em boa

    parte, de formao sria e continuada.

    Destarte, para atingir padres elevados de

    qualidade e produtividade em recursos humanos, fator-

    chave para a sustentabilidade do setor de turismo e

    hotelaria na sociedade ps-industrial, fazem-se

    necessrias aes no campo da educao, abrangendo

    as suas vrias formas, seja em formao, treinamento,

    aperfeioamento, qualificao ou requalificao

    profissional. A preocupao com a profissionalizao do

    setor de turismo grande, pois o elemento-chave que

    direcionar a indstria do turismo no sculo XXI ser o

    da qualidade do pessoal que trabalha no setor. Altos

    padres de educao turstica e de treinamento so

    cruciais para desenvolver pessoal profissional para padres

    mais altos da qualidade de servios.

    Por isso, h um crescente desejo, entre os

    praticantes do turismo, pelo reconhecimento

    profissional. Atualmente, vrios setores do turismo

    alcanaram a maioria dos critrios que qualificam uma

    profisso, com exceo de dois: a necessidade de uma

    preparao acadmica, como uma precondio para

    a prtica, e status profissional.

    Vrias competncias e habilidades so descritas e

    definidas como fundamentais aos profissionais do setor,

    muitas das quais encontradas no perfil do profissional

    da sociedade ps-industrial, o que refora a afirmao

    de que esse perfil est mais voltado a comportamentos

    e temperamentos do que propriamente a tarefas.

    No preciso dizer que a indstria global necessita deum outro tipo de profissional. Esse profissional deve serflexvel, capaz de adaptar-se s mudanas e,simultaneamente, competir e colaborar dentro das redes,e possuir habilidades de tecnologia de informao emtodos os nveis da organizao (GO, 2001 apudTHEOBALD, 2001, p.469).

    A oferta tem de ser adaptada s especificidades

    da demanda, pois os clientes hoje sabem latim; o

    capital humano deve ser suficiente e bem preparado

    em todos os nveis, a formao permanente deve

    acompanhar as mudanas do mercado e do segmento,

    e a experincia prtica tambm conta (FRADERA, 1996).

    O profissional de turismo e hotelaria tem a mente

    aberta, pensa estrategicamente, sente-se confortvel

    com a incerteza, gosta de mudanas e capaz de

    descongelar e refrescar suas crenas, conhecimentos e

    atitudes (HAWKINS, 1996).

    Segundo Moreno (1996), as contnuas mudanas

    nos gostos dos clientes, unidas comodidade e

    barateamento do transporte internacional, vo criar

    uma perigosa competncia, no s das empresas

    tursticas do mediterrneo, como tambm de outros

    destinos emergentes. Nesse contexto, os empresrios

    A preocupao com aprofissionalizao do

    setor de turismo grande,pois o elemento-chave quedirecionar a indstria doturismo no sculo XXI sero da qualidade do pessoal

    que trabalha no setor

  • 98 |

    vo requerer diretores e gerentes de empresas tursticas

    criativos e inovadores, que possam atingir os objetivos

    empresariais sem recorrer perigosa via de baixar preos

    e a qualidade da oferta. Esse o primeiro e o mais

    importante atributo que se vai exigir de um diretor de

    empresa no futuro. A formao desse profissional dever

    estar orientada a fomentar as habilidades e atitudes

    necessrias para a consecuo dos objetivos empresariais.

    O profissional deve ter habilidades especficas,

    cultura geral slida, saber uma lngua estrangeira, ter

    flexibilidade, competncia gerencial e administrativa,

    trato pessoal e social, saber se conduzir em entrevistas,

    ter o mesmo nvel intelectual que seus pares em outras

    profisses e um grande conhecimento do mundo dos

    negcios, deve ter carter e personalidade e estudos

    gerais em economia e negcios (COOPER, 1993 apud

    TRIGO, 1998).

    A experincia do Grupo Accor Recursos Humanos e

    Organizao, do Grupo Accor, uma das maiores empresas

    hoteleiras do mundo, relatada pelo seu vice-presidente,

    Volker Bring (1996), que diz que o grupo tem necessidade

    de pessoas qualificadas e motivadas para o trabalho,

    entendendo a formao de seus funcionrios como um

    investimento e no como um custo.

    3 Metodologia

    Com o objetivo de identificar o perfil dos profis-

    sionais da rea de hospedagem dos estabelecimentos

    hoteleiros,2 foi realizada uma pesquisa de campo nas

    cidades de So Jos do Rio Preto e Barretos, localizadas

    no Estado de So Paulo, cujos resultados e anlises so

    apresentados neste trabalho.

    O questionrio da pesquisa foi elaborado em duas

    partes, sendo a primeira para identificao objetiva

    do perfil do respondente, com relao a: cidade (do

    estabelecimento onde trabalha); cargo ocupado; sexo;

    idade; escolaridade; horas trabalhadas por semana;

    remunerao mensal; carteira de trabalho assinada ou

    no; tempo de trabalho em hotelaria; cursos realizados

    de aperfeioamento profissional; expresso em outro

    idioma.3 A segunda parte do questionrio identificou

    as competncias/habilidades dos respondentes, por

    afirmaes, as quais so assinaladas com o grau de

    discordncia/concordncia apresentados em seis nveis

    e identificando as competncias/habilidades que o

    mercado de trabalho considera necessrias para o

    profissional do setor de hotelaria e turismo. O

    questionrio seguiu o modelo proposto por Oliveira

    (2000), com adequaes para incluso de outras

    competncias contempladas na literatura.

    As perguntas foram divididas em cinco grupos, a

    saber:

    1) competncias para a comunicao (leitura,

    escrita, organizao mental, expresso oral);

    2) competncias matemticas (clculo, interpre-

    tao de dados, raciocnio matemtico);

    3) competncias para a soluo de problemas

    (pensamento criativo, tomada de deciso, saber

    aprender, aplicao prtica dos conhecimentos,

    viso sistmica);

    4) competncias no trato de situaes (respon-

    sabilidade, auto-estima, autoconhecimento,

    sociabilidade, empatia, autogesto, auto-

    motivao, integridade/honestidade, tica;

    5) outras competncias (bilingismo, informtica,

    uso de equipamentos, competncia emocional,

    competncia social, atuao em equipe,

    colaborao, liderana, criatividade, viso de

    mundo, influncia sobre os outros, iniciativa,

    adaptabilidade).

    Foram distribudos 269 questionrios entre os

    meses de maro e abril, os quais foram coletados entre

    os meses de abril e junho de 2002. O ndice de retorno

    foi de 18,6% do total (50 questionrios vlidos

    respondidos), para 22 hotis nas duas cidades (10 em

    Barretos e 12 em So Jos do Rio Preto), identificados

    por meio de uma relao obtida junto aos Sindicatos

    de Hotis, Bares, Restaurantes e Similares das duas

  • Rev. FAE, Curitiba, v.8, n.2, p.99-103, jul./dez. 2005 |99

    Revista da FAE

    cidades. Os estabelecimentos hoteleiros no possuem

    qualquer tipo de classificao hoteleira, sendo empresas

    de administrao familiar, de pequeno e mdio portes,

    exceo feita apenas a um dos estabelecimentos de So

    Jos do Rio Preto, pertencente a uma cadeia hoteleira

    internacional. Os questionrios foram respondidos pelos

    funcionrios dos setores de Gerncia Geral, Recepo,

    Governana e Administrativo, que ocupavam cargos

    operacionais, de superviso, chefia e gerncia.

    A pesquisa obteve a percepo de um lado apenas,

    o do trabalhador, do profissional que est no dia-a-dia

    em contato com os clientes, com os problemas, com as

    dificuldades, com as suas lideranas e que, mesmo assim,

    tem conscincia de si e disponibilidade de se auto-analisar

    para responder a uma pesquisa dessa natureza. Essa

    auto-anlise nem sempre fcil, pois se refere, muitas

    vezes, a assuntos que podem coloc-los em situaes

    de inferioridade. Esse um fator para ser levado em

    considerao, j que as pessoas tm receio de encarar

    suas fraquezas e dificuldades.

    4 Resultados da pesquisa

    Nas duas cidades, os maiores ndices de respondentes

    esto nos cargos de camareira e recepcionista, seguidos

    por de mensageiros. Em relao ao sexo desses

    respondentes, a maioria do sexo feminino (58%). Em

    Barretos, h uma distribuio eqitativa nas faixas etrias,

    de 24 a 30 anos, de 31 a 35 anos e de 41 a 50 anos, com

    o ndice de 22,7%, mostrando um perfil mais adulto dos

    profissionais, condizente com a mdia nacional de 37

    anos. No total, a maior parte dos respondentes (52%)

    concentra-se na faixa etria de 18 a 30 anos, abaixo da

    mdia nacional que de 37 anos. Quanto escolaridade,

    25,5% dos respondentes tm ensino mdio completo,

    ou seja, 11 anos de estudos, seguidos por 17,6%, com

    curso superior completo (com mdia de 15 anos de

    estudos). O ndice nacional de escolaridade para hotis e

    pousadas de 6,8 anos de estudos.

    A cidade de So Jos do Rio Preto tem melhor

    remunerao para o setor, pois 60,7% ganham de 3 a

    5 salrios mnimos, enquanto, em Barretos, 54,5%

    ganham de 1,5 a 2 salrios mnimos, abaixo da mdia

    nacional de 2,6 salrios.4 No total, a grande maioria

    (82%) tem remunerao no superior a 5 salrios

    mnimos, e 40% recebem entre 1,5 e 2 salrios. Com

    relao ao tempo de trabalho, 44% dos respondentes

    trabalham h mais de trs anos em hotelaria e 64%

    dos pesquisados no dominam outro idioma.

    A maioria dos respondentes (92%) concorda

    bastante e concorda totalmente em possuir a habilidade/

    competncia para a leitura, e a comunicao escrita

    bem e totalmente dominada pela maior parte dos

    respondentes (80%). A habilidade/competncia em

    expresso oral dominada perfeitamente por 53,6%

    dos respondentes de So Jos do Rio Preto e por apenas

    36,4% dos de Barretos. Em relao competncia para

    clculo, 31,8% dos respondentes de Barretos dizem ter

    pouco ou algum conhecimento dessa habilidade/

    competncia. Em interpretao de dados, apenas 24%

    do total a dominam totalmente, e o uso do pensamento

    criativo para a soluo de problemas bem dominado

    por 52% do total de respondentes.

    Com relao competncia para tomada de

    deciso, 90% declaram dominar bem ou perfeitamente

    essa habilidade/competncia, evidenciando que sabem

    tomar decises perante os problemas. Um ndice

    surpreendente o da competncia para saber

    aprender, em que 92% concordam totalmente com a

    afirmativa de que gostam de aprender coisas novas,

    demonstrando abertura a novos conhecimentos e a

    programas de treinamento. No item da competncia

    para viso sistmica, apesar de 82% dos respondentes

    declararem que concordam bastante ou totalmente

    que entendem as relaes existentes entre as diversas

    reas da empresa onde trabalham, tem-se um total de

    10% com dificuldades em entender essas relaes.

    A maioria (94% do total) concorda bastante e

    totalmente de que terminam suas tarefas de forma

  • 100 |

    aceitvel, demonstrando um alto grau de responsabi-

    lidade com os trabalhos que lhes so delegados. Outra

    questo que obteve ndices elevados de concordncia

    foi a da competncia para auto-estima. So Jos do Rio

    Preto apresenta um ndice maior que o de Barretos (89,3%

    contra 81,8%), evidenciando que os respondentes esto

    com a auto-estima elevada. Tambm elevado foi o valor

    para o autoconhecimento, com 84% do total declarando

    que dominam perfeitamente essa habilidade/competncia

    de conhecer suas aptides e habilidades.

    Com relao sociabilidade dos respondentes, 86%

    tm grande facilidade de relacionamento com outras

    pessoas em diferentes situaes. No item automotivao,

    90,9% dos respondentes da cidade de Barretos declaram

    que concordam totalmente gostarem do seu trabalho

    e se sentirem motivados por ele. Em So Jos do

    Rio Preto, o ndice de 60,7% foi resultado de 10,7%

    dos respondentes dizerem concordar um pouco com

    tal afirmao.

    Quanto competncia para integridade/

    honestidade, apesar de 56% do total indicarem que

    dominam perfeitamente essa habilidade/competncia,

    observa-se que h respostas em todos os quesitos, com

    destaque para 7,1% dos respondentes de So Jos do

    Rio Preto que declaram no possuir tal habilidade/

    competncia. Isso pode indicar certa dificuldade dos

    profissionais em identificar situaes que os levem a

    atos de desonestidade e de falta de integridade. O

    ndice de 16% do total dos que declaram no ter ou

    ter alguma noo dessa habilidade/competncia pode

    significar a ausncia dos valores de integridade/

    honestidade para esses respondentes.

    Na questo relacionada tica profissional,

    constata-se que apenas 34% do total dominam

    perfeitamente essa habilidade/competncia. Merecem

    destaque os ndices de 7,1% dos que, em So Jos do

    Rio Preto, no a possuem, e de 9,1% dos que tm

    alguma coisa dessa habilidade/competncia em

    Barretos. Pelos resultados, pode-se inferir que em

    Barretos os respondentes se declaram mais ticos que

    os de So Jos do Rio Preto (86,3% contra 82,2%).

    Em relao ao bilingismo (domnio de uma

    segunda lngua), 52% do total dos respondentes

    discordam completamente de que sabem se expressar

    em outra lngua estrangeira. Esse ndice maior em

    Barretos, com 72,7%. Com relao ao uso da tecnologia

    (computador/Internet), verifica-se que, do total, 22%

    no possuem tal habilidade/competncia e apenas 32%

    a dominam perfeitamente. A competncia emocional

    dominada perfeitamente por 34% do total dos

    respondentes, e a social dominada bem ou

    perfeitamente por 100% dos respondentes de So Jos

    do Rio Preto. A capacidade de atuar em equipe teve

    concordncia total de 64% dos respondentes, que

    dominam perfeitamente essa habilidade/competncia.

    Registra-se um ndice de 71,4% em So Jos do Rio

    Preto contra 54,5% de Barretos, em que 13,6% declaram

    dominar razoavelmente essa habilidade/competncia.

    A capacidade de colaborar com outras pessoas

    obteve o ndice de 76% de concordncia total dos

    respondentes, e 38% concordam que dominam

    perfeitamente a capacidade de liderar outras pessoas.

    A grande maioria (82%) declara concordar totalmente

    ou bastante de que so criativos em seu trabalho. O

    gosto pela leitura, por saber o que acontece no mundo,

    dominado perfeitamente por 57,1% dos respondentes

    de So Jos do Rio Preto e por apenas 36,4% dos de

    Barretos. Entretanto, 84% do total declaram dominar

    bem ou perfeitamente essa habilidade/competncia.

    A iniciativa uma habilidade perfeitamente

    dominada por 56% do total de respondentes. Em

    Barretos, 50% dos respondentes indicam que concordam

    um pouco que se sentem confortveis com mudanas,

    mesmo ndice de So Jos do Rio Preto para os que

    dominam bem essa habilidade/competncia. No total,

    apenas 24% dominam perfeitamente essa habilidade/

    competncia, e 32% dominam razoavelmente, indicando

    uma certa resistncia a mudanas.

  • Rev. FAE, Curitiba, v.8, n.2, p.101-103, jul./dez. 2005 |101

    Revista da FAE

    Concluso

    Os resultados desta pesquisa mostraram que, emtermos gerais, o perfil dos profissionais da rea dehospedagem das cidades de So Jos do Rio Preto eBarretos est muito prximo do perfil identificado pelosestudiosos do assunto. Pode-se concluir que essesprofissionais apresentam certas dificuldades emalgumas competncias, a saber:

    - Integridade/honestidade - as duas cidades

    apresentaram ndices nos quesitos 0, 1 e 2

    e isso preocupante,5 pois demonstra que

    os profissionais no esto sabendo

    reconhecer situaes que demandem

    posturas de integridade e de honestidade.

    Esses valores so muito difusos hoje, na

    sociedade, gerando confuso de

    interpretao, como, por exemplo: o que

    ser honesto? Ou ainda, o que j se tornou

    quase um adgio, ele rouba, mas faz!

    Podem ter acontecido, tambm, problemas

    de interpretao da afirmativa, que no

    apareceram no pr-teste.

    - tica - as duas cidades tambm regis-traram

    ndices nos quesitos 2 e 0, confirmando os

    resultados com relao integridade/

    honestidade, pois as duas questes esto

    interligadas. O compor-tamento que

    quebra os valores sociais e pessoais gera

    conseqncias ligadas tica profissional.

    Os respondentes tm certas dificuldades de

    compreender essas conseqncias.

    - Bilingismo - So Jos do Rio Preto

    apresenta ndices mais altos de pessoas que

    dominam essa competncia, e isso talvez

    se deva a diversos fatores, tais como: So

    Jos do Rio Preto uma cidade voltada para

    o turismo de negcios, com a realizao

    de eventos no decorrer do ano todo, e

    possui empreendimentos hoteleiros

    internacionais, que exigem dos funcionrios

    o domnio de outra lngua estrangeira.

    Apesar de Barretos realizar a Festa do Peo,

    de carter internacional, essa competncia

    necessria apenas na realizao do

    evento, que dura apenas dez dias.

    - Informtica - apesar de ser extremamente

    importante e muito utilizada nos meios de

    hospedagem, verifica-se que os ndices de

    pessoas que no possuem essa competncia

    da tecnologia ainda so altos. Em Barretos,

    representa 27,3% dos respondentes; em

    So Jos do Rio Preto, 22%.

    - Adaptabilidade - o receio a mudanas, a

    sair de uma situao de conforto, reflete-

    se nos resultados dessa questo, em que

    50% dos profissionais de Barretos declaram

    que concordam um pouco a respeito de

    dominar essa habilidade/competncia. Esse

    ndice, em So Jos do Rio Preto, de 32%.

    Considerando o ineditismo desta pesquisa, tanto

    em relao de contedo (habilidades/competncias para

    a rea de hospedagem), quanto em relao aos locais

    em que foi aplicada, podem-se avaliar os resultados como

    bastante satisfatrios, devido s dificuldades inerentes a

    um trabalho dessa natureza. Esta pesquisa servir como

    base para muitas outras, com destaque para o campo

    da Administrao de Empresas, mediante pesquisa sobre

    a percepo dos administradores dos estabelecimentos

    pesquisados, em relao aos seus funcionrios, para se

    verificar o nvel de concordncia ou no de ambos os

    nveis. No campo da Educao, pode-se pesquisar a

    melhor forma de desenvolver essas competncias nos

    profissionais. As questes esto sendo debatidas e um

    dos principais pontos como avaliar o desenvolvimento

    das competncias. Este trabalho contribuir, de alguma

    forma, para entender melhor as pessoas que trabalham

    neste complicado, porm, fascinante mundo da hotelaria.

    Recebido em: 15.04.2005 Aprovado em: 27.09.2005

  • 102 |

    Referncias

    BRACKENBURY, Martin. Perspectiva comercial e histrica nas necessidades do capital humano em turismo. In:ORGANIZAO MUNDIAL DO TURISMO - OMT. El capital humano e la industria turstica del siglo XXI. Human capitalin the tourism industry of the 21st century. Materiais apresentados por ocasio da Conferncia realizada no Recinto FerialJuan Carlos I, 21 a 23 de janeiro de 1996.

    BRING, Volker. Os recursos humanos como fator-chave do xito da empresa turstica: o grupo Accor. In: ORGANIZAOMUNDIAL DO TURISMO - OMT. El capital humano e la industria turstica del siglo XXI. Human capital in the tourismindustry of the 21st century. Materiais apresentados por ocasio da Conferncia realizada no Recinto Ferial Juan Carlos I, 21a 23 de janeiro de 1996.

    DE MASI, Domenico. O cio criativo (entrevista a Maria Serena Palieri). Traduo de Lea Manz. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.

    FAYOS-SOL, Eduardo. Educacin y formacin en la nueva era del turismo: la visin de la OMT. In: ORGANIZAOMUNDIAL DO TURISMO - OMT. El capital humano e la industria turstica del siglo XXI. Human capital in the tourismindustry of the 21st century. Materiais apresentados por ocasio da Conferncia realizada no Recinto Ferial Juan Carlos I, 21a 23 de janeiro de 1996.

    FRADERA, Jorge Vila. La supersegmentacin de la demanda. In: ORGANIZAO MUNDIAL DO TURISMO - OMT. El capitalhumano e la industria turstica del siglo XXI. Human capital in the tourism industry of the 21st century. Materiaisapresentados por ocasio da Conferncia realizada no Recinto Ferial Juan Carlos I, 21 a 23 de janeiro de 1996.

    GEE, Chuck Y. Em busca do profissionalismo no sculo XXI: a necessidade de padres na educao turstica num mercadoem mudanas. In: ORGANIZAO MUNDIAL DO TURISMO - OMT. El capital humano e la industria turstica del sigloXXI. Human capital in the tourism industry of the 21st century. Materiais apresentados por ocasio da Confernciarealizada no Recinto Ferial Juan Carlos I, 21 a 23 de Janeiro de 1996.

    GO, Frank M. A globalizao e os problemas educacionais do turismo emergente. In: THEOBALD, William F. (Org.). Turismoglobal. So Paulo: SENAC, 2001.

    HAWKINS, Donald. Paradigm shifts and major trends influencing tourism education in the new age of tourism. In:ORGANIZAO MUNDIAL DO TURISMO - OMT. El capital humano e la industria turstica del siglo XXI. Human capitalin the tourism industry of the 21st century. Materiais apresentados por ocasio da Conferncia realizada no Recinto FerialJuan Carlos I, 21 a 23 de janeiro de 1996.

    HITT, Michael A.; IRELAND, R. Duane; HISKISSON, Robert E. Administrao estratgica. So Paulo: Pioneira ThomsonLearning, 2002.

    LIPMAN, Geoffrey. The human capital in the tourism industry. In: ORGANIZAO MUNDIAL DO TURISMO - OMT. El capitalhumano e la industria turstica del siglo XXI. Human capital in the tourism industry of the 21st century. Materiaisapresentados por ocasio da Conferncia realizada no Recinto Ferial Juan Carlos I, 21 a 23 de janeiro de 1996.

    MORENO, Felipe. As necessidades de formao do capital humano na indstria turstica: a experincia de Baleares e seusobjetivos no futuro. In: ORGANIZAO MUNDIAL DO TURISMO - OMT. El capital humano e la industria turstica delsiglo XXI. Human capital in the tourism industry of the 21st century. Materiais apresentados por ocasio da Confernciarealizada no Recinto Ferial Juan Carlos I, 21 a 23 de janeiro de 1996.

    OLIVEIRA, Marcos A. E agora, Jos? Guia para quem quer buscar emprego, mudar de trabalho, montar um negcio ourepensar sua carreira. So Paulo: SENAC, 1998.

    OLIVEIRA, Marcos A. O novo mercado de trabalho guia para iniciantes e sobreviventes. Rio de Janeiro: SENAC, 2000.

    OLIVEIRA, Lcia M. Barbosa; GUEIROS, Manuela Gomes. Clientes internos satisfeitos com as prticas de RH conduzem satisfao dos clientes externos? Um estudo no setor hoteleiro. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO, 28., 2004, Curitiba. Anais... Curitiba: ENANPAD, 2004. 1 CD-ROM.

  • Rev. FAE, Curitiba, v.8, n.2, p.103-103, jul./dez. 2005 |103

    Revista da FAE

    OMT Organizao Mundial do Turismo. El capital humano e la industria turstica del siglo XXI. Human capital in thetourism industry of the 21st century. Materiais apresentados por ocasio da Conferncia realizada no Recinto Ferial JuanCarlos I, 21 a 23 de janeiro de 1996.

    ORSI, Ademar. Gesto do conhecimento os modos de converso do conhecimento nas incorporaes de bases externas. In:ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO, 28., 2004, Curitiba. Anais... Curitiba:ENANPAD, 2004. 1 CD-ROM.

    PRAHALAD, C. K. Preparando-se para a liderana. In: HESSELBEIN, Frances; GOLDSMITH, Marshal; SOMERVILLE, Iain.Liderana para o sculo XXI. So Paulo: Futura, 2000.

    THEOBALD, William F. (Org.). Turismo global. Traduo de Anna Maria Capovilla, Maria Cristina Guimares Cupertino, JooRicardo Barros Penteado. So Paulo: SENAC, 2001.

    TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. A sociedade ps-industrial e o profissional em turismo. Campinas: Papirus, 1998.

    WTO World Tourism Organization. Disponvel em: . Acesso em: 8 set. 2005.

    Notas

    1Competio entre destinos tursticos: destino turstico o local/cidade/regio que recebe os turistas, e os destinostursticos competem entre si na atrao de novos turistas/visitantes.

    2No foram includos nesta pesquisa estabelecimentos do tipo motel ou penso.3Os dados obtidos puderam ser comparados com os da seguinte pesquisa realizada pelo IH Instituto de Hospitalidade,

    instituio mantida por diversas empresas, localizada em Salvador: INSTITUTO DE HOSPITALIDADE. Perfil dos profissionaisno mercado de trabalho do setor de turismo no Brasil. Salvador: IH; BID; SEBRAE, 2000. (Sumrio Executivo).

    4Dados do IH na Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, mostrampara o setor remunerao mdia de R$ 515,00. Quando a pesquisa foi feita, o salrio mnimo era de R$ 200,00.

    5De acordo com a escala Likert de 6 pontos, sendo 0 = Discordo completamente (no tenho esta habilidade/competncia)e 5 = Concordo totalmente (domino perfeitamente esta habilidade/competncia).