pereirinha 2008a_9

Upload: oana-cucu

Post on 19-Jul-2015

126 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 271 Captulo 9 Pobreza, privao e excluso social A existncia de pobreza na Unio Europeia constitui importante preocupao poltica dos vrios Estados Membros e da Poltica Social Europeia. Tem nveis de magnitude diferentesentreessesEstadosMembros,masapresentaperfisdecausalidadeede tipologia pelos grupos sociais mais afectados que permitem, com alguma propriedade, referir a pobreza na Europa como um problema social em todos os Estados Membros enaUnioEuropeia.Massodiversos,entreessesEM,osinstrumentosutlizados para lhe fazer face. O surgimento de novas formas de coordenao de polticas sociais (omtodoabertodecoordenao)constituiumaformadeconciliarainteno polticadereduzirapobrezanaEuropacomadiversidadedeformasdeactuao prprias de cada um dos pases membros. Mas no so apenas os nveis e os perfis de pobrezaquesosimilareseigualmentepreocupantesemtodaaEuropa.So-no tambm as formas mais recentes em que se manifestam esses defices de bem-estar e, bem assim, os mecanismos causadores e os seus efeitos sociais. Falamos no fenmeno daexclusosocial,entendidoquercomosituao(dimensoesttica)quercomo processo(dimensodinmica).Pobrezaeexclusosocialso,assim,duas perspectivas de anlise de defices de bem-estar que, sendo conceptualmente distintas das desigualdades, atrs analisadas, merecem ateno particular, o que faremos neste captulo.Oestudodestesfenmenossituar-se-atrsnveisdeanlise:aonvel conceptual (clarificando conceitos, distinguindo-os e articulando-os entre si), ao nvel damediodosfenmenose,finalmente,aonveldasuautilizaonaanliseda Poltica Social. 9.1. Pobreza e desigualdade: uma clarificao conceptual Comecemosporumaanlisedosconceitos,comeandoporveroquedistingueo conceito de pobreza (que vamos tratar neste captulo) do conceito de desigualdade do rendimento (que vimos no captulo anterior). Emambososcasospodemosestarautilizaramesmavarivel(rendimento)para efeitos de anlise social. usual considerar-se que pobre quem tem um rendimento Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 272baixo, ou muito baixo, de facto inferior ao que se considera como mnimo, em termos dedignidadesocial.Massoabordagensdiferentes,desigualdadeepobeza,mesmo usandoomesmoconceitoderendimento.Quandoanalisamosadesigualdadedo rendimentoestamosateremconsideraotodaadistribuiodorendimento,e fazemosapreciaesnormativassobreessadistribuio,comovimosnocaptulo anterior. Mas no se tem em considerao o nvel do rendimento, que poder, ou no, serbaixoparaalguns(oumuitos,oumesmotodos)osmembrosdapopulao. Quandoanalisamosapobreza,pelocontrrio,estamosaanalisaronveldos rendimentoseainvestigarquaisosmembrosdapopulaoquetmrendimento inferioraumcertolimiar,semtomarmosemconsideraoosrendimentosdenvel superioraesselimiar.Isto,notemosemconsideraotodaadistribuiodo rendimento.Pode,portanto,haverumapercentagemmuitoelevadadepopulao pobrenumasociedadequetenhaumadistribuiodorendimentocompequena desigualdade, assim como pode haver uma grande desigualdade do rendimento numa sociedade onde haja uma percentagem pequena de populao pobre. Queradesigualdadedorendimentoquerapobrezasoapreciaesnormativas,no soconstataesmecnicasdecorrentesdemerasaplicaesdefrmulasdeclculo. Trata-se,defacto,deapreciaessobredeficesdebem-estar,conceitoquedepende dosjuizosdevalordoavaliadorsocial.Temosassimjuizosdevalorsobreobem-estar com o qual se est a comparar a realidade e calcular o defice e, por outro lado, juizosdevalorsobreoprprioclculodessedefice.Mastalprocedimento conceptualmentediferenteconsoanteestejamosaanalisaradesigualdadedo rendimentoouapobreza.Aanlisedadesigualdadeenvolveacomparaoentreo bem-estar social que a distribuio actual do rendimento origina e o bem-estar social mximo alcanvel com o mesmo rendimento total: h desigualdade do rendimento se o mesmo rendimento total, distribudo de forma distinta, originar um bem-estar social maiselevado.Foiassimqueoconceitodedesigualdadedorendimentofoi apresentadonocaptuloanterior.Aanlisedapobreza,porseuturno,envolvea comparao,paracadaelementodapopulao,entreoseubem-estareobem-estar individualminimamenteaceitvelnasociedade(segundoanormaexistentenessa sociedade). Assim, enquanto na anlise da desigualdade a norma social o bem-estar social mximo da distribuio de um dado rendimento total (conceito no mensurvel em termos monetrios), na anlise da pobreza essa norma de bem-estar diz respeito a Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 273cada indivduo com a qual se compara cada indivduo na sociedade (que, em resultado dessacomparao,podeserconsideradopobre),etemexpressomonetria:a chamada linha de pobreza monetria. Colocam-se, naturalmente, vrias questes relativas medio da pobreza, que iremos tratar neste captulo. Uma delas, de facto crucial e que aproxima os dois conceitos, de desigualdadedorendimentoepobreza,temavercomahiptesefrequentemente aceitedequeapobreza pode sermedida usando avarivel rendimento, isto , que a pobrezaumasituaodedeficederendimento.Istosignificaadmitirque,sendoa pobreza um defice de bem-estar, o rendimento uma boa proxy para esse bem-estar, ouumavariveldeterminantefundamental.Estahiptesequestionvel,eimporta analisar o seu significado. Vejamos, para o efeito, a Figura 9.1. rendimento despesa deconsumoconsumo de bense servioscondies devidabem--estarconsumocolectivodimensesno materiaisFigura 9.1Pobreza: abordagens directa e indirectaAnalisardirectamenteapobreza,isto,fazerusodoprprioconceitosemusar nenhumconceitoquelhesejaaproximado,exigequesejadefinidaumanormade bem-estarequeobem-estardecadamembrodasociedadesejamedido.Usarum limiarmonetrioparamedirapobrezatraduz-senumaabordagemindirectaaessa medio. Estamos a admitir que o rendimento a varivel determinante fundamental do bem-estar. Devemos notar que o bem-estar de cada indivduo depende em grande medida do consumo de bens e servios, que vo determinar as suas condies de vida Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 274material.Equeoconsumodebenseserviosexigequesejafeitadespesanasua aquisio. E para que tal acontea cada pessoa necessita de dispor de rendimento. Mas estarelaoentrerendimentoebem-estarmediadaporoutrasvariveisparaalm dasqueforamenunciadas,podendodiferirbastanteentrediferentessociedadese, mesmonamesmasociedade,entreosdiferentesindivduos.Deveter-seemateno quepartedoconsumodasfamliasnooriginadespesadeconsumodasprprias famlias,massimconsumocolectivo,ouseja,despesapblicanofornecimento gratuito, ou a preos reduzidos, de bens e servios aos seus destinatrios. Um Estado-providncia tem funes de proviso de bens e servios populao (servio nacional desade,sistemapblicodeeducao)quetornapossveloconsumoindividualde benseserviossemquetalexijadespesaindividualdeconsumo(naverdade,ser umadespesacolectivaemconsumo,ouconsumocolectivo).Poroutrolado,em algumas sociedades o fornecimento de bens e servios a algumas famlias feito por formasinformaisouorganizdasdasociedadecivil,quedesignamosporeconomia socialou,tambmdesignado,oTerceiroSector(isto,paraalmdoMercadoedo Estado,osoutrosdois)dapolticasocial:oslaresecentrosdediaparoquiais,as crechesdasassociaesderesidentesdobairro,asajudasproporcionadaspor familiaresevizinhosemcuidadospessoaisapessoasidosasoudoentes,etc.So, neste caso, bens e servios garantidos populao por via diferente da do mercado e quenoexigemodispendio,porcadaconsumiror/utente,nasuaaquisio. Analisando a cadeia de causalidade entre rendimento e bem-estar, deve tambm ter-se ematenoquehaspectosdascondiesdevidaquenosodeterminadospor consumodebenseservios.Hdimensesnomateriaisdascondiesdevidaem que no apenas o rendimento mas outras variveis, tm efeito nas condies de vida e, portanto, no bem-estar. Vamos ento ver alguns conceitos de pobreza remetendo, para mais adiante, aspectos de mtodo que se colocam a propsito da pobreza monetria. Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 2759.2. Conceitos de pobreza Umaprimeiradistinoquesepodefazer,entreasdiversasconcepesdepobreza com que podemos analisar a realidade, entre pobreza objectiva e pobreza subjectiva. Quandonosreferimosapobrezasubjectivanoestamosaquererreferir-nosa eventualsubjectivididadequepossahavernaformacomoseavaliaapobrezana sociedade.Cadacientistasocialeresponsvelporpolticassociaisfazavaliaesda porezacomjuizosdevalor,inevitavelmente.Edeveexplicitar,daformamaisclara possvel,quaissoessesjuizosdevalor.Nohlugarasubjectividadenessa avaliao,poisessescritriosserosempreconhecidos.Subjectividade,namedio dapobreza,significaoutracoisa.Significaqueaaferiodapobrezaemquecada indivduopossaestarfeitaapartirdapercepoquecadaindividuofazdoseu prprio bem-estar. Esta avaliao , em geral, feita por inquirio populao sobre o seu nvel de bem-estar. H vrias formas clssicas para proceder a esta determinao (VANPRAAG,B.&FERRER-i-CARBONELL,A.2004:291-317):umadelas consisteemincluir,noquestionriodirigidoamostradapopulaoinquirida,uma perguntasobreonveldesatisfao,numaescalaordinal,queobtmdorendimento queaufere.Apartirdotratamentoestatsticodasrespostaspossvelestimaruma funodebem-estare,apartirda,determinarumalinhamonetriadepobreza.A determinao estatstica de um limiar de pobreza constitui uma resposta necessidade dedelimitaodosubgrupopobredapopulaoinquirida.umprocedimento comumnasanlisessubjectivasdapobreza.Umasegundaalternativaconsisteem introduzir, no questionrio, uma questo de avaliao do rendimento, isto , em que pedidoacadapessoainquiridaqueindiquequalovalordorendimentoque consideraserumnvelmuitobaixo,baixo,insuficiente,etc.,ataonveldo muitobom.Porestemtodoconsegue-seestimarumafunodebem-estar, possibilitando tambm estimar uma linha monetria de pobreza, tambm chamada de linhadepobrezadeLeiden.Umaterceiraalternativaconsisteemincluirno questionrio uma questo sobre o rendimento mnimo, isto , uma pergunta em que se pede a cada pessoa inquirida que indique qual o valor mnimo do rendimento que, nasuaopinio,eatendendossuascircunstncias,lhepermitiriasatisfazeras necessidadesfundamentais.Comparandoesserendimentoidealcomorendimento real(oqueoinquiridoaufere),possvelobterumlimiarmonetriodepobreza: Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 276sendoadiferenaentreorendimentoidealeorendimentorealdecrescentecomo nvel de rendimento, esta linha de pobreza seria o valor do rendimento que igualasse a zero essa diferena. questionvel que, seja qual for o mtodo, a abordagem subjectiva da pobreza possa constituirumametodologiaadequadaparaamediodapobrezanumasociedade. Ainda que seja atraente, e til, conhecer a auto-percepo da situao de bem-estar da populao,estemtodonoassentaemnenhumcritrionormativodebem-estar, crucialnaavaliaodestefenmenosocial.Daqueageneralidadedosestudosda pobrezaassente a caracterizao deste fenmeno essencialmente em outrosmtodos, que designamos por objectivos; tambm se designa por pobreza objectiva aquela que medidasegundoestesmtodos.Estesmtodoscaracterizam-seporassentaremem critrios de avaliao prprios do cientista social que est a avaliar o fenmeno. O que pode ser feito de uma forma directa, ou indirecta. A medio directa da pobreza consiste na utilizao de proxies, to prximas quanto possvel,doconceitodebem-estar(que,naverdade,nopodesermedido,amenos que o seja em termos de bem-estar subjectivo, com base nos mtodos acima referidos, porm conceito distinto daquele, normativo, que relevante para a poltica social). A utilizao de indicadores de condies de vida (muitos deles indicadores de natureza fsica)constituiumaformademediodirectadapobreza.necessariamenteuma abordagem multidimensional da pobreza, tendo em considerao as vrias dimenses, que materiais (alimentao, educao, habitao, cultura e recreio, etc), quer sociais e imateriais (integrao na comunidade, actividades recreativas e culturais, participao na vida social e poltica, etc) em que o bem-estar perspectivado. , por outro lado, umaformadeintegrar,naanlisedapobreza,aperspectivadosdireitosnaforma comoserelacionamcomobem-estar.Maisadiantetrataremosesteassunto,a propsito do conceito de privao, conceito que melhor se adequa a esta abordagem directa e multidimensional da pobreza. Umaformaalternativaconsistenamedioindirectadapobreza.Assentana utilizaodeumavarivelmonetria(rendimento,despesa)paraexprimirumlimiar abaixo do qual algum pobre. J se percebe, pelo que foi exposto atrs, a razo desta designao.Sabemosquaissoassuaslimitaes,peloqueentofoiexposto.Uma Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 277varivelmonetriaapresentaumasntese,emvalor,comexpressounidimensional, de uma grande variedade de variveis de bem-estar. Permite por isso, mais facilmente, delimitarumsubconjuntodapopulaoquequeremosclassificarcomopobre: sabemoscomotalmaisdificilquandolidamoscomumconjuntodevariveisde bem-estar. Apresenta ainda a enorme vantagem de, mais facilmente, estimar custos de polticas,jqueodeficedebem-estartemexpressoemdeficemonetrio.Alis, comovimosatrsapropsitodapobrezasubjectiva,tambmemrelaopobreza multidimensional(privao)semostranecessriaasuatraduomonetriapara efeitosdeestabelecimentodeumafronteiradedelimitaodapopulaopobre.Isto significa que, apesar das limitaes que enfrenta, o uso da pobreza monetria constitui uma pea de anlise fundamental da pobreza. Adeterminaodalinhadepobrezamonetriaconstituioutrareadecontroversia. Umadosaspectosqueoriginadiscussoepolmicaoqueseparaosautoresque defendemqueapobrezaumconceitoabsolutodosqueentendemserumconceito relativo. Os defensores da concepo absoluta de pobreza entendem que esta pode ser avaliadaemtermosdeumconjuntodenecessidadesqueconstituamumanorma fixada em termos absolutos, isto , com validade geral, independentemente do lugar e dotempo.Nestaconformidade,seriapossveldeterminarumvalorabsolutoda linha de pobreza. Esta concepo radica nos primeiros estudos realizados sobre a pobreza, porRowntreenoReinoUnido,noinciodosec.XX,queidentificavaapobreza primriacomoaquelasituaoemqueasfamliasseencontrariamseno dispusessemdosrecursossuficientsparaasuasubsistnciafsica.Encontraplena justificaoquandoaplicadarealidadedospasesmenosdesenvolvivosonde,em muitas circunstncias, a pobreza possa existir em formas extremas e ser sinnimo de fome.Maspodetambmjustificar-seanecessidadedeclculodeumalinhade pobrezaquefaaumaquantificaodocustodeumcabazmnimo(claramente normativo,comimplicaespolticas)deconsumodebenseserviosnumadada sociedade.Esteclculo,naturalmentesusceptveldediscussopoltica,podeserde grandeimportnciaparaefeitosdepreparaodemedidasdepolticasocialquese traduzamnafixaodevaloresmnimosdeprestaessociais(pensesmnimas, penses sociais, rendimento mnimo de insero, subsdio de desemprego, etc). Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 278Actualmentehrazovelconsensoemtornodaopiniodequeapobrezaum conceito relativo. Isto significa que no se pode falar em situao de pobreza apenas quando se est abaixo do limiar de subsistncia. Pode considerar-se que se est numa situaodepobrezaseosrecursosdequesedispenopermitemparticipar(um conceitonormativo)nasociedadeetercondiesdevida(outroconceito normativo)quesejamasusuaisnasociedadeondesevive.Estespadresdevida variamnoespaoenotempo,eascondiesdeparticipaosonaturalemnte especficas de cada sociedade. Estamos, portanto, perante um conceito de pobreza que relativoacadasociedade,paracadasociedadeconcretaquefazsentidoa existnciadeumanorma.Istosignificaria,ento,queestaconcepodepobreza relativasedevetraduzirnoclculodeumalinhadepobrezaprpriaparacada sociedade. Esta relao entre pobreza absoluta e pobreza relativa foi abordada por Amartya Sen e foi j atrs referida a propsito das necessidades sociais (no captulo 3). Retomando o quenessaalturafoidito,compreende-sequeSensejadeopiniodequeapobreza sejaumconceitoabsolutonoespaodascapacidades(capabilities),massejaum conceito relativo no espao dos bens (commodities). Estariam assim compatibilizadas asduasabordagens,absolutaerelativa,remetendoparaaabordagemabsolutaa necessidadededefinirnormasnosdomniosdascapabilities,conceitoque necessitariadeseroperacionalizadoequepodeserdesenvolvidonosentidodasua relacionao com os direitos, terreno da actuao da Poltica Social. 9.3. Medio indirecta da pobreza: a linha de pobreza Vejamoscomoseprocedeaumaanlisedapobrezaemtermosmonetrios. Admitamosquevamosconsiderarorendimentocomoavarivelapartirdaqualse vaifazeressaanlise.ConsideremosumapopulaodedimensonesejaXa varivel que representa o rendimento observado dos elementos dessa populao. Seja o vector que representa a repartio do rendimento: (9.1)( )1 i nx x ,..., x ,..., x =e consideremos, a partir dele, o vector ordenado: Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 279(9.2) ( )1 i nx x ,..., x ,..., x =em que 1 2 i nx x ... x ... x . Aanlisedapobrezaemtermosindirectos(pobrezamonetria),combaseno rendimento,consistenaidentificaoeanlisedasubpopulaocujorendimento inferior a um certo limiar (linha de pobreza, z) que constitui a fronteira de delimitao entre a populao pobre (rendimento abaixo da linha de pobreza) e a populao no-pobre (com rendimento acima da linha de pobreza). a partir daqui que toda a anlise vai ser realizada. Para tal essencial ter-se efectuado o clculo de uma estimativa da linha de pobreza. Comojsedisse,no existe nenhum mtodode clculo que seja neutral, aceite sem discusso,isentodejuizosdevalor.umconceitonormativoemesmoosmtodos que possam ser mais sofisticados tecnicamente, so mtodos que respeitam, de forma expltica ou implcita, uma certa orientao normativa. As referncias que seguem no pretendemserexaustivas,masantesilustrativasdadiversidadedemtodosque encontramos na literatura e nas metodologias usadas em estudos empricos.Osmtodosmaisconhecidos,equeradicamnumacertapreocupaodeclculode umlimiarabsolutodepobreza,partemdasnecessidadesalimentarescujosnveis mnimospodemserestabelecidosnormativamentenumabasecientficaslida (cinciasdanutrio).UmdosmtodosmaisconhecidosoquefoiusadoporM.OrshanskynorelatriodoCouncilofEconomicAdvisors(EUA)em1964para proporumalinhadepobrezaoficialnosEUA.Aindahojeestemtodousadoem estudosempricossobre a pobreza. Os estudos realizados nos anos 80sobre pobreza em Portugal utilizaram este mtodo para estimar linhas de pobreza (SILVA, M. et al., 1985). O mtodo de Orshansky parte do clculo do custo de um cabaz de consumo alimentar, combaseemcritriosquecontemplam,porumladoasrecomendaesnutricionais queasautoridadesnacionaisestabelecemedifundem(emPortugal,oInstituto RicardoJorge)e,poroutrolado,oconhecimentoquesetemdaspreferncias alimentaresdecadasociedade.Considerandoovalordospreosquevigoramnessa sociedade num certo perodo de anlise, pode obter-se, para um adulto-padro, o valor Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 280da despesa alimentar mnima por adulto-equivalente, DAmin, conceito que padroniza oconsumoporindivduoequevaipermitirobter,combaseemhiptesesrealistas, valoresparaoagregadofamiliar(ou,comosedesignacorrectamente,oagregado domsticoprivado,ouADP).Umavezestimadoestevalor,queserefereapenasa umapartedasdespesasdasfamlias,hquedeterminarovalordadespesatotal mnimaporadulto-equivalente.Noexistem,aexemplodascinciasdanutrio, basescientficasparapropordespesasmnimasnosoutrositemsdeconsumo (vesturio, habitao, transportes, cultura e recreio, educao, sade, etc). Uma forma deofazer,propostaporOrshanski,consistiuemutilizarumindicadorquetraduzaa relao entre a despesa em alimentao e a despesa total na sociedade (ou em algum grupo de referncia na sociedade) e que possa ser escolhido como norma social. Esta relaoentreovalordadespesaemalimentaoeovalordadespesatotal conhecidaporcoeficientedeEngel.Ospadresqueestecoeficienterevela,numa analisecomparativaentregrupossociaisou,numasociedade,aolongodotempo, permitem encar-lo como um indicador de sntese de pades de consumo que reflecte oefeitodecondiesdevida(condiesdevidamaiselevadotraduzem-seem valores do coeficiente de Engel mais baixo). UmavezescolhidoocoeficientedeEngelpadro,autilizarcomonormasocial (matrianaturalmentecontroversa),podemosentochegaraoclculodeumalinha monetria de pobreza, expressa em despesa total por adulto-equivalente, como: (9.3) minminCoef Engel padroDAlimentarDTotal=Repare-se que a lgica da construo desta linha de pobreza, que se baseia em valores mnimosdedespesa,levaaquenosejaorendimento,masadespesa,avarivela utilizarparaexprimiralinhadepobreza.Poroutrolado,apassagemdalinhade pobreza por adulto-equivalente a linha de pobreza por agregado familiar (ADP) exige quesetenhainformaosobreonmerodeadultos-equivalenteexistentesemcada ADP.Istofaz-secombaseeminformaosobreadimensodosADPsedasua composio,aplicandotabelasdeequivalnciaquejseencontrampadronizadasna literatura especializada, a que mais adiante se far referncia mais aprofundada. Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 281Outro mtodo, conhecido por mtodo do rcio alimentar, utiliza a informao sobre aregularidadedocomportamentodocoeficientedeEngelnasuarelaocomo rendimento(oudespesa)para,tendoemconsideraoarelaodecrescente(quese admite estvel) entre o coeficiente de Engel e o rendimento (ou despesa) das famlias, determinar o rendimento ao qual corresponda o coeficiente de Engel ideal (a norma). Se for X a despesa familiar por adulto-equivalente, o valor da despesa em alimentao crescentecomx,DA(x).Masaregularidadedocomportamentodocoeficientede Engelpermiteconstatarqueoracio DA(x)(x)x = (coeficientedeEngel) decrescente com x. O mtodo consiste ento, com base na relao entre DA e x , isto , a relao DA(x) conhecida empiricamente a partir dos dados obtidos por inquirio dos ADPs, em determinar o valor de x que corresponda ao valor ideal do coeficiente deEngel,,consideradocomonorma.Temosassimumaestimativadalinhade pobreza, expressa em valor da despesa por adulto-equivalente, mas que no se baseia no clculo de um valor mnimo de despesa em alimentao. Admite-se como aceitvel socialmentearelaoentreocoeficientedeEngeleovalordadespesaobservado empiricamente na sociedade. Esta relao, ao reflectir de forma sinttica o efeito, em padresdeconsumo,dediferentesnveisdevida,permiteaescolhadaquelepadro (coeficientedeEngel)aquecorrespondeomnimosocialmenteaceitvel.,com basenestashipteses(quenosomerashiptesesdeclculo,mascritrios normativos) que assenta este mtodo de clculo do limiar de pobreza. Tambm a ttulo exemplificativo, vejamos como podemos obter o valor de uma linha de pobreza monetria correspondente perspectiva depobreza subjectiva. Repare-se que,nestaabordagem,cadapessoaobjectodeinquirioquestionada,directaou indirectamente, sobre o seu bem-estar. A questo que se coloca, a que a metodologia que segue procura responder, a de determinar o valor do rendimento que estabelece a fronteira entre a populao pobre e a no-pobre. Segundoumdosmtodos(oqueacimaapresentmoscomoaquelequeincluiuma questosobreorendimentomnimo),acadaelementoinquiridodapopulao perguntado quais so as suas caractersticas socio-econmicas (vector), qual o seu rendimento actual (x), e qual o rendimento que, nas suas condies (caractersticas socioeconmicas,nasactuaiscircunstncias)consideracomoomnimoadequado Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 282parapoderproveraoseusustento(xmin).Tem-seassim,paracadaelementoda populao, o vector: (9.4)(x,, xmin) Dadasascaractersticassocioconmicaseascircunstnciasemquevivecada elemento da populao (vector), tem-se ento uma relao entre as variveis xmin e x: (9.5)xmin = f(x,) que est representada na Figura 9.2. possvel fazer-se um ajustamento da funo aos dados e considerar-se, como proposta de linha de pobreza, o valor x*min tal que: (9.6)x*min = f(x*min,) xxminx*x*minFigura 9.245Linha de pobreza subjectiva: um mtodo de clculo Adoptarmosumalinhadepobrezaassimestimadasignificaqueaceitariamos considerar como pobres aquelas pessoas que acham que o rendimento adequado para teremumavidadignasuperioraoqueauferem;no-pobressoosqueconsideram terumrendimentosuperioraessemnimo.Anorma,aexistir,assentanumcerto Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 283princpiodemocrticodeaceitaodaperceposubjectivadorendimento consideradomnimo,paracadapessoa,facessuascircunstncias.Noseporiaem dvidaacapacidadedecadaindivduofazerumbomjulgamentodasuasituao,e aceitariamosessejulgamentocomonormasocial.Naturalmentequeestashipteses so demasiados fortes para poderem ser aceites como suporte de formulao poltica, masconstituiumelementoimportantedeanlisesocialcomoformadeconhecera percepo, pela sociedade, de mnimos sociais. Finalmente,umarefernciametodologiadeclculodalinhadepobrezausada genericamentenaEuropa.Trata-sedalinhadepobrezausadanasestatsticasdo EUROSTATenaqualsebaseiamosestudossobreapobrezanaUnioEuropeia. uma linha de pobreza monetria, calculada separadamente para cada Estado Membro reflectindo,assim,algumascaractersticasdessesEstados.calculadacomouma dadapercentagem(emgeral60%)dorendimentodisponvelfamiliarmedianopor adulto- equivalente. Significa que no existe uma linha de pobreza nica para a Unio Europeia. Existe uma linha de pobreza calculada, segundo a mesma metodologia, para cadaumdosEstadosMembros.combasenestaslinhasdepobrezaquesero adiante apresentados elementos estatsticos sobre pobreza na Europa. 9.4. Medio agregada da pobreza No basta identificar a populao pobre para se conhecer a realidade da pobreza numa sociedade.precisodarexpressoquantitativasuadimenso.Pormedio agregada entende-se a associao, ao fenmeno da pobreza, tal como foi identificada com base em algum critrio de delimitao da populao pobre (linha de pobreza, no casodeseressaaabordagemseguida),deumoumaisvaloresnumricosquedem expressosuamagnitude.Tambmaquisecolocamaspectosnormativos.A aparenteneutralidadevalorativadasexpressesalgbricasdasfrmulasdemedio de facto escondem, (e h que explicitar), juizos de valor sobre o modo como se agrega ainformaosobreapobrezaindividualemgrandezasqueexpressamasua magnitude em toda a sociedade. SejaumapopulaodedimensonesejaXavarivelquerepresentaorendimento observadodoselementosdessapopulao.Admitamosque,combaseemalgum Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 284mtodoadequado,foicalculadaalinhadepobrezaz.Sejaovectorordenadoque representa a repartio do rendimento dessa populao: (9.7) ( )1 i nx x ,..., x ,..., x =em que, portanto, se tem: 1 2 i nx x ... x ... x . Sendo conhecida a linha de pobreza z, possvel obter uma partio da populao em dois conjuntos (disjuntos, mutuamente exclusivos): a populao pobre e a populao no-pobre. A populao pobre pode definir-se do seguinte modo: (9.8){ }iL(x; z) i :x z = |\ . emque representaoparmetrodeaversopobreza,permitindodiferentes sensibilidades medio agregada da pobreza. Trata-se de uma classe de medidas, e no de uma medida, de pobreza. A flexibilidade que apresenta, com a possibilidade de assumir diferentes expresses consoante o valor do parmetro , torna esta classe de medidasparticularmenteatraente.Vejamostrscasosparticulares,habitualmente usados nas anlises da pobreza: a) para0 = , 0F H(x; z) =Trata-se da medida de incidncia. b) para1 = , 1F H(x; z).I(x; z) =Trata-se de uma medida compsita, combinando de forma multiplicativa a incidncia e a intensidade. c) para2 = , 2i2i L(x;z)z x 1Fn z | |= |\ . Trata-se de uma medida que sensvel disperso do rendimento da populao pobre, e que se designa por medida da severidade da pobreza. Considerando a classe de medidas de Foster, verifica-se que, semelhana da medida deSen,tambmamedidadeFostersatisfazosquatroaxiomasdamedioda pobreza. Apresenta-senoQuadro9.1informaosobreapobrezaemPortugal,cuja caracterizaofeitautilizandoamedidadeFoster,frequentementeutilizadanos estudosdemediodapobreza.Nestequadroapresentadaalinhadepobreza monetria, como habitualmente considerada pelo EUROSTAT: 60% do rendimento mediano por adulto-equivalente das famlias. Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 288Amedioagregadaevidenciaumaumentodapobrezaaolongodotempoem Portugal no perodoconsiderado.Mas, seatendermos severidadedapobreza, entre 1995 e 2000 regista-se uma ligeira reduo. Quadro 9.1 Evoluo da pobreza monetria em Portugal 198919952000 Linha de pobreza (Euros); 60% do rendimento mediano 339337774356 F00,17640,18290,1910 F10,04330,04650,0470 F20,01630,01760,0170 Fonte: Rodrigues, 2002 Importarecordarosresultadosobtidosnocaptuloanteriorquandofoiintroduzidoo ndicedeAtkinsoneseconsiderardiferentesvaloresparaaaversodesigualdade. Quandoaaversodesigualdadeelevada,adesigualdadedorendimentoem Portugaldiminuiunoperodo1995-2000.Repare-se,atendendoaosignificadode severidade da pobreza, que esta concluso concordante com a que agora se obtm 9.5Pobreza, privao e excluso social O conceito de pobrezasurge associado, frequentemente rivalizando, com outros dois conceitos:odeprivaoeodaexclusosocial.Soconceitosdistintos,noso sinnimos,esofrequentementeutilizadosconjuntamentenodiscursomediticoe poltico,querendosignificarqueessautilizaoconjuntapoderenriquecero contedo das anlises. Vejamos como se distinguem conceptualmente. Todosestesconceitossereferemaummesmoproblemaessencial.Encaradoem sentido amplo, qualquer destes conceitos se refere a desvantagens sociais e pretendem referir-seasituaesdedeficedebem-estarrelativamenteaalgumanormasocial. Reflectem, porm, aspectos ou dimenses diferentes do problema, tendo surgido quer em resposta a novas conceptualizaes analticas necessrias ao estudo da situao e evoluosocial(i.e.,emergnciadenovosparadigmas),quertraduzindoformas Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 289distintas de encarar a necessidade de interveno na sociedade (i.e., novas orientaes da poltica social). neste duplo sentido da diferena entre os conceitos que importa que lhe dediquemos alguma ateno. Vejamos quais a principais diferenas entre os conceitos. Como vimos, pobreza um conceito que diz respeito a um defice de recursos relativamente a uma norma (linha de pobreza)definidoemtermosderendimentooudespesa,isto,deumavarivel monetria. Traduz uma perspectiva unidimensional, de medio indirecta, em termos monetrios,deumdeficedebem-estar.Osconceitosdeprivaoedeexcluso social,pelocontrrio,situamasdesvantagemsocialrelativamenteaumanorma definidaemtermosmultidimensionais,isto,devriositemsdeprivao,numa perspectiva de medio directa. Anecessidadedeusoconjuntodosvriosconceitos(pobreza,privao/excluso social)podeseentendidaluzdanecessidadededefinirmnimosemtermosde recursos,bemcomonanecessidadedequantificarcustosdemedidasdepoltica, mesmoquenotenhamanaturezadetransfernciasmonetrias.Noentanto,oque ocorreu foi, de facto, uma mudana na orientao de anlise dos problemas sociais na Europanadcadade90,tendooiginadoumamudanadoenfoqueanaltico, deslocando-se das anlises das desvantagens em termos de pobreza para uma anlise centrada na privaao e na excluso social. Oconceitodeexclusosurgenessapoca na Europa comdois significados, ou duas abordagensconceptuaiseanalticasdarealidadesocial,distintas.Porumlado,uma abordagemcomorigemnaliteraturasociolgicafrancfona,significandoo surgimentodesituaesdedesafiliaosocial(desafilliation),ouseja,dequebra de laos sociais, ou de desqualificao social, isto , encarada tambm com processos existentes na sociedade e que geram esses efeitos. A excluso social assim encarada quercomosituao (em que algumse encontra, desvantagemsocial de facto),quer comoprocesso(existnciademecanismosgeeradores,nasociedadeenaeconomia, noprpriofuncionamentodasinstituiesdoEstado-providncia)quecolocam cidados nessa situao de desvantagem. Parte significativa dos processos de excluso social so os que actuam no mercado de trabalho. Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 290Umaoutraorientao,queradicanaliteraturaanglo-saxnicadepolticasocial, recuperaanoodecidadania,procurandoassimilaroconceitodeexclusonoo denorealizao(portanto,umasituao)dedireitosdecidadania(civil,poltica, social),emresultadodediferentesfactores,sejamelesderecursoseconmicos,da formadefuncionamentodosistemaeconmico,nofuncionamentodasrelaes sociais, em falhas no funcionamento das instituies. A orientao de paradigma social ocorrida na Europa na dcada de 90 traduziu-se na assunopolticadaexclusosocialcomocritriodeleituracrticadapoltica econmica e da poltica social. Essa orientao, que marca uma localizao da anlise dasdesvantagenssociaisnodomnioconceptualnovodaexclusosocialsignificou vrias coisas. Em primeiro lugar, trduziu-se numa maior relevncia dada s dimenses no monetrias das desvantagens sociais (comparativamente com as desvantagens de naturezamonetria,caractersticadasanlisescentradasnapobreza)eseucarcter multidimensional(emdetrimentonasanlisesunidimensionaiseindirectadobem-estar caracterstica da pobreza monetria). Consistiu tambm numa maior importncia atribudaaosaspectosrelacionais(enomeramenteredistributivos,quando analisado em funo dos recursos econmicos, como o caso da pobreza monetria) dasdesvantagens.Significatambmumamaiorvalorizaodosaspectosdinmicos (de processo) relativamente aos aspectos estticos (de resultado). De facto, fala-se de situaes,mastambmdeprocessos,deexclusosocialparanosreferirmosao funcionamentodaeconomia,dasociedadeedassuasinstituiesondeselocalizam factores causais dessas situaes de excluso. Alm disso, a relevncia da abordagem anglo-saxnica centrada nos direitos significou um significativo realar do papel dos direitosdecidadaniacomoprincpiosorientadoresdaanlisedapolticasocial. Finalmente,hquedestacarapresenadediversosnveisdembitoterritorialna caracterizaoeexplicaodasdesvantagenssociais,equesotambmnveisde intervenodapolticasocial:supranacional,nacional,regional,local,da comunidade, da famlia, o indivduo. A relevncia para a Poltica Social da alterao dos conceitos de pobreza e excluso, no seu uso conjunto, corresponde tambm a uma alteraodaorientaodapolticasocial,emqueaumaactuao curativa(centrada nosresultados,emtermosdesituao,numaperspectivaesttica)veiosucedero previlegiardeumaactuaopreventiva(sobreascausas,emtermosdeprocesso, numaperspectivadinmica),emqueaumaactuaodenaturezamonetria(por Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 291transferncias,numadimensomonetria,numaactuaodenatureza unidimensional)vieramasucederpolticasactivas(centradanosdireitos,com dimensesnomonetrias,numaactuaodenaturezamultidimensional),equea actuaesredistributivas(componentedistributivadasdesvantagenssociais)se sucederamactuaessobredimensesrelacionais(componentesrelacionaisdas desvantagens). Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 292 Leituras complementares Habundanteliteraturasobrepobreza,algumabastanteespecializadanaabordagem dediferentesperspectivasdestetema.Nosepretendeumgrandeaprofundamento dasmatriasquerconcepualquerdemedio,antesseaconselhandoquese complementealeituradestetextocomoutrosqueintegremotemadapobrezanas anlises de Poltica Social. Assim aconselha-e a leitura de captulos sobre pobreza nos dois livros j indicados: Connoly, S., A. Munro (1999) Economics of the Public Sector, Prentice Hall. Cap 15 (Poverty), pp. 270-289 Rosner,PeterG.(2003)TheEconomicsofSocialPolicy.EdwardElgar.Cap8 (Poverty), pp. 277-339 Sugere-setambmaleituradoseguintetextoquepretendedarcontadaimportncia da integrao de Portugal da Unio Europeia em termos de mudana de paradigma de abordagemdaPolticaSocialeopapelqueteveaanlisedaspolticascentradasno conceito de excluso social. Pereirinha, J., Nunes, F. (2006) Poltica Social em Portugal e a Europa, 20 anos depois.InRomo,A.(org.)AEconomiaPortuguesa20AnosApsaAdeso. Almedina, pp. 283-326 O que se espera da leitura deste captulo 1.Queosleitorescompreendamoconceitodepobreza,nasvriasacepesque modernamenteencontramosnaliteraturaenosestudossobrearealidadesocialda Europa, identificando as hipteses em que assentam cada uma dessas concepes; 2.Queosleitoresseaprecebamdanaturezanormativadamediodapobrezaem todas as suas componentes, quer no clculo da linha d epobreza quer na obteno de medidas agregadas da pobreza; Pereirinha, J. (2008) Poltica Social: fundamentos da actuao das polticas pblicas. Capitulo 9 Pobreza, privao e excluso social 2933.Queconheamaformademediodapobrezaemtermosmonetriosemtermos agregados,designadamenteasmedidasdeSen(eassuascomponentes)edeFoster, percebendo a axiomtica da medio que estas medidas satisfazem; 4.Queosleitoresentendamadiferenaentreosconceitosdepobrezaedeexcluso social e a relevncia do seu uso conjunto na anlise de Poltica Social. Palavras-chave Ao longo do captulo foram utilizados vrios conceitos que formam um glossrio que vaisendoenriquecidoaolongodolivro.Sugere-seerecomenda-sequeosleitores redijam pequenos textosdedefinio de alguns dosconceitos abaixo descritos e que constituem as palavras-chave que ajudam a identificar o contedo deste captulo. anonimidade axioma da monotonia axioma da simetria axioma do foco axioma fraco das transferncias axiomatica da medio da pobreza dimensesrelacionaisdas desvantagens sociais direitos de cidadania eficcia e eficincia das transferncias excluso social incidncia da pobreza intensidade da pobreza medida da pobreza medida de Foster medida de Sen pobreza polticas curativas vs. preventivas polticas passivas vs. polticas activas privao severidade da pobreza Questes para reviso e reflexo 1.Comparandoduassociedades,podeacontecerquesejanumadelasquemaior desigualdade do rendimento e na outra uma maior taxa de pobreza? 2. Pode acontecer que, medindo a pobreza em termos agregados, possa ocorrer, entre dois anos, um aumento da intensidade e uma diminuio da incidncia? 3.Querelaespensaqueexisteentreosconceitosdepobrezamonetriaede excluso social que justifiquem a sua utilizao conjunta em anlise da Poltia Social?