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Percepção Ambiental Antonio Castelnou

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Percepção Ambiental

Antonio Castelnou

Introdução Denomina-se MEIO AMBIENTE qualquer condição ou influência situada fora de um organismo, grupo ou outro sistema que se

analise, consistindo basicamente em um sistema ecológico formado por componentes físicas,

químicas, biológicas e sociais.

Deste modo, é constituído tanto por aspectos concretos como abstratos, objetivos e

subjetivos, sendo portanto formado por uma série de relações entre seus elementos e seus

ocupantes, de cujo relacionamento tem-se uma ORDEM, que se organiza em diferentes graus.

Como sistema, todo meio ambiente deve ser compreendido como um conjunto de 05 (cinco) diferentes níveis:

O indivíduo O nível físico O nível pessoal O nível suprapessoal O nível social

O NÍVEL FÍSICO é constituído pelos fatores naturais, geográficos e climáticos, além dos elementos artificiais, construídos pelo homem.

O NÍVEL PESSOAL inclui os indivíduos que são centros de referência para o modo de pensar e agir do indivíduo, tais como família, amigos, autoridades, grupos por afinidade, etc.

O NÍVEL SUPRAPESSOAL são as características

originadas pelas condições pessoais dos

ocupantes por razões de idade, sexo, crença,

classe social, estilo de vida e outras.

Já o NÍVEL SOCIAL é formado pelo conjunto de regras e normas da

sociedade, além das instituições que regem o

comportamento do indivíduo.

Percepção Ambiental

De acordo com ZEVI (2000), o ESPAÇO ARQUITETÔNICO experiencia-se como uma extensão tridimensional do mundo que nos rodeia, formado por intervalos, relações e distâncias entre pessoas; entre pessoas e

coisas; e entre coisas.

Ele está no coração do MEIO AMBIENTE CONSTRUÍDO – MAC, no qual a organização espacial é aspecto mais importante do que

propriamente as formas, materiais ou técnicas.

Giorgio De Chirico (1888-1978)

O MAC consiste na organização do espaço, do tempo e dos significados

(formas, materiais, cores) do território, a qual depende de

valores e normas dos diferentes grupos sociais.

Como há diversas formas de perceber, compreender e

classificar o mundo existente, são produzidas também

variações do MEIO AMBIENTE PERCEBIDO – MAP.

PERCEPÇÃO AMBIENTAL consiste no conjunto de atitudes, motivações e

valores que influem nos distintos grupos sociais no

momento de definir o MAP, o qual não somente afeta o seu conhecimento

como também seu comportamento dentro

deste.

Já que a percepção é uma propriedade mental, o

MEIO AMBIENTE PERCEBIDO – MAP é a idéia geral que se tem sobre o meio ambiente construído, ou seja, a

superfície total a partir da qual as decisões vão se definindo e que inclui elementos naturais e

artificiais; reais e irreais; geográficos, políticos, econômicos e sociais.

Assim, um único processo de PERCEPÇÃO AMBIENTAL de determinado MAC pode conduzir a produtos diferentes, ou melhor, a MAP’s distintos,

o que leva a comportamentos, expectativas e significados distintos (RAPOPORT, 1980).

Níveis de Percepção

Existem 03 (três) níveis de PERCEPÇÃO AMBIENTAL,

os quais podem ser comprendidos como as

fases consecutivas de um mesmo processo:

Captação sensorial do meio Cognição ambiental

Avaliação ambiental

Captação sensorial do meio

É a percepção física através dos sentidos, que é mais ou menos

idêntica entre as pessoas e é necessária para a sobrevivência do gênero humano, embora

existam evidências de uma variabilidade

cultural que influencia em termos de nível de

discriminação entre estímulos (processo

mais objetivo e pouco variável).

A captação sensorial do meio ambiente dá-se através dos seguintes sentidos:

Visão Audição Cinestesia Tato Olfato/Paladar

Os espaços arquitetônicos são presenciados e percebidos através dos sentidos humanos, que

estabelecem condicionantes:

Visuais:

Sentido dominante dos seres humanos, que proporciona

mais informação que os outros sentidos, apoiando-se

na percepção de distância, luz, contraste, cor, etc.

Auditivos: Sentido transitório

muito mais fluído e passivo que a visão, relacionando-se com o som. O espaço acústico não se situa, sendo esférico e sem limites.

Tácteis: Sentido através do qual

se percebe a textura, cuja experiência se faz

através das mãos e pés. A percepção táctil

entre duro/macio, liso/rugoso, etc.,

compõe todo ambiente.

Cinestésicos: Sentido que

sintetiza sensações de deslocamento e de mudança de posição, relacionada com as variações de escala, forma, direção, sentido, etc.

Olfativos:

Sentido imediato, emotivo e primitivo, podendo ser mais ambíguo que exato. Tem papel essencial na recordação de locais, enriquecendo o sentido de lugar.

Palativos: Sentido do gosto, que

permite sentir, juntamente com o

olfato, os quatro sabores (doce, salgado,

ácido e amargo).

Cognição ambiental

Está relacionada à compreensão e ao

conhecimento, tratando da descrição de como as pessoas

estruturam, apreendem e conhecem seu meio, através de formas como esquemas, noções, etc., às quais são variáveis com a cultura.

Por exemplo, reconhece-se um local como bar pela noção

de bar ser um significado cultural previamente

existente (processo mais abstrato e variável).

Mauritis C. Escher (1898-1972)

Avaliação ambiental

Está ligada às preferências, baseando-

se na definição de valores em relação ao

ambiente, às qualidades do meio, à seleção de

meios ótimos e à imaginação “idealizada”

do meio ambiente (processo muito

subjetivo e variável).

Cada grupo social tem sua imagem do que é um meio ambiente de

qualidade. Por exemplo: preferências diversas de

cor e de forma; privacidade e

segurança; proximidade de determinadas áreas; ausência de indústrias ou outros riscos, etc.

Ilusões de Ótica

Victor Vasarely (1908-97)

Produção Espacial Segundo RAPOPORT

(1980), as ATIVIDADES humanas e os sistemas espaço-temporais são os fatores básicos para a organização de espaços arquitetônicos.

Toda atividade envolve 04 (quatro)

aspectos relacionados entre si, que são:

Aspectos da atividade em si: comer, comprar, caminhar, etc.

Aspectos do modo específico de realizá-la: comer em uma lanchonete, comprar em uma loja, sentar no chão, etc.

Aspectos secundários: conversar enquanto compra, observar enquanto passeia, etc.;

Aspectos simbólicos de cada atividade: cozinhar como ritual, comprar como cerimônia, etc.

É possível criar um diagrama que explica o processo de produção do espaço arquitetônico a

partir da organização espacial das atividades humanas, a saber:

visão do mundo, crenças e valores compartilhados

CULTURA

criação de esquemas (modelos mentais)

M A P

estilos de vida, regras de conduta, deslocamentos

e esquemas

ATIVIDADES

organização do espaço que é o cenário para a vida

M A C

De modo geral, pode-se dizer que as pessoas

analisam os estímulos ambientais graças a esquemas cognitivos

também variáveis, influenciados pela experiência prévia,

pelos níveis de adaptabilidade

conseguidos e pela cultura em que estão

inseridas.

As pessoas reagem diante do meio, em primeiro lugar, de maneira global e afetiva; e depois, analisam-no mais

detalhada e friamente.

Qualquer ESPAÇO ARQUITETÔNICO

proporciona, antes de mais nada, um fundo

afetivo a partir do qual se selecionam

imagens que se associarão com ele.

De forma ideal, as cidades deveriam ser projetadas para se ajustar às preferências do que

se constituiria um MEIO AMBIENTE DE QUALIDADE - MAQ.