pequeno manifesto em favor da greve 2015

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“POR QUE, EU, PROFESSOR DO ESTADO, ESTOU EM GREVE” E OUTRAS OBSERVAÇÕES SOBRE UM PROJETO AUTONOMO DE EDUCAÇÃO. Desde 2013, com o renascimento das grandes manifestações de rua, o Brasil vive uma ebulição Social e Política. Diversos grupos, a partir de então, estão se organizando para defender seus interesses. Só para citar algumas das reivindicações que mais obtiveram destaque, está a luta contra as altas tarifas do transporte público; contra a corrupção governamental; em favor de uma reforma do sistema político; Contra os investimentos bilionários na copa do mundo; contra a crise hídrica; em favor de mais verbas para e EDUCAÇÃO. Neste contexto, não há como ignorar, portanto, as movimentações sociais e políticas e seu impacto sobre nossa vida. Não bastasse insatisfação popular nas ruas, há também indícios de uma crise econômica que se reflete diretamente na vida dos trabalhadores assalariados. O ano começou com o anuncio de demissão de 800 funcionários na VOLKSWAGEM, 1500 funcionários da MERCEDES BENS (só para citar os casos mais emblemáticos da crise). Mas, o que garantiu a manutenção do emprego destes milhares de pais e mães de família foi uma organização direta dos trabalhadores em

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Carta endereçada as escolas estaduais do Estado de São Paulo em favor da atual greve dos professores. Escrita por professor da unidade.

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Page 1: Pequeno Manifesto Em Favor Da Greve 2015

“POR QUE, EU, PROFESSOR DO ESTADO, ESTOU EM GREVE” E OUTRAS OBSERVAÇÕES SOBRE UM PROJETO

AUTONOMO DE EDUCAÇÃO.

Desde 2013, com o renascimento das grandes manifestações de rua, o Brasil vive uma ebulição Social e Política. Diversos grupos, a partir de então, estão se organizando para defender seus interesses. Só para citar algumas das reivindicações que mais obtiveram destaque, está a luta contra as altas tarifas do transporte público; contra a corrupção governamental; em favor de uma reforma do sistema político; Contra os investimentos bilionários na copa do mundo; contra a crise hídrica; em favor de mais verbas para e EDUCAÇÃO.

Neste contexto, não há como ignorar, portanto, as movimentações sociais e políticas e seu impacto sobre nossa vida. Não bastasse insatisfação popular nas ruas, há também indícios de uma crise econômica que se reflete diretamente na vida dos trabalhadores assalariados. O ano começou com o anuncio de demissão de 800 funcionários na VOLKSWAGEM, 1500 funcionários da MERCEDES BENS (só para citar os casos mais emblemáticos da crise). Mas, o que garantiu a manutenção do emprego destes milhares de pais e mães de família foi uma organização direta dos trabalhadores em defesa de seus postos de trabalho, algo que realmente ocorreu, pois ambas as empresas, hoje, negociam a manutenção de seus funcionários.

Mas, não paramos por aí, há também que se observar o congelamento dos valores salariais recebidos por todos os trabalhadores, e a absurda diferença entre o valor das contas que pagamos e o valor que recebemos por jornada de trabalho.

E a educação? Sim, a educação. Comecemos pelo conhecido de todos (Professores, Pais e Alunos): Verba insuficiente para tudo: remuneração, materiais, reformas, projetos, excursões, etc. Ou seja, coisas básicas e necessárias para um desenvolvimento educacional e humano adequados.

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Neste ano, milhares de salas de aulas, no Estado inteiro, foram fechadas, e, isto significa diretamente salas de aulas lotadas. Sobrecarga no trabalho do professor; cada professor, para conseguir manter salários razoáveis, tem de trabalhar em duas ou três escolas, tendo de arcar com a responsabilidade de preparar, ensinar e avaliar centenas de alunos. Isto acaba por desgastar fatalmente sua saúde física e mental. Além do que, esta carga excessiva torna o trabalho do professor mecânico e alienado. A escola é como uma fábrica que, do jeito que está, produz em primeiro lugar: uma massa de alunos sem perspectiva de trabalho formal ou com baixíssimos salários; Em segundo lugar, produz alunos e professores alienados: incapazes de criticar e agir contra uma ordem estabelecida, e o pior colabora por reforçar a diferença entre ricos e pobres. Continua ser um fato que as cadeiras das maiores carreiras universitárias do país, continuam sendo ocupadas pela mesma classe social ha mais de 400 anos.

Por fim, cabe lembrar os milhares de professores contratados que não conseguiram trabalho este ano. O Estado simplesmente retirou a possibilidade de estes professores exercerem sua profissão.

Existem, obviamente, fatores sociais que estão muito além do controle da escola, como a violência, desestrutura familiar, drogas, etc. Estes fatores atingem toda a sociedade, dos ricos aos pobres. Mas, quem paga a conta de uma educação ruim atravessada por estes problemas, são sempre os alunos, professores e país que dependem da escola pública.

A escola, portanto, que não se posiciona contra o sistema tal como o é hoje, colabora para a manutenção das desigualdades, manutenção de um ensino obsoleto e alienador. A escola não pode estar à parte das insatisfações sociais e políticas que explodem no País. Por isto, começam a se concretizar as primeiras grandes manifestações em favor da educação. Em 2014 a greve dos professores da rede municipal de São Paulo garantiu negociações em que houve reajuste salarial. No Estado do Paraná, com quase 100% de paralização, demonstrou o poder de organização da categoria e,

Page 3: Pequeno Manifesto Em Favor Da Greve 2015

principalmente demonstrou ao governo que, quem decide pela educação são as pessoas que estão diretamente envolvidas no processo. Santa Catarina e Pará, também já decretaram paralisação das atividades em favor de uma educação melhor.

Soma-se, portanto, a isso a greve dos professores do Estado de São Paulo. Há duas semanas, os professores, em assembleia decidiram entrar em greve. Para demonstrar sua insatisfação os professores decidiram paralisar as atividades. Ou seja, os professores decidiram parar as máquinas. As mesmas máquinas que produzem, a mais de vinte anos, os cidadãos que elegem no primeiro turno, representantes de um partido que tem uma administração pública falida, corrupta, violenta e consequentemente antidemocrática.

A greve é direito de todos os trabalhadores e é garantida por lei. Não é um ato de irresponsabilidade para com a educação. Muito pelo contrário, é momento de organização da classe de professores e comunidade escolar em geral, para lutar por melhorias fundamentais no ensino, como: salário justo, qualidade no ensino, aumento de verbas e direito de trabalho. Entretanto, a greve é, principalmente, um momento das Unidades Escolares se reunirem de modo autônomo para discutir: QUAL MODELO DE EDUCAÇÃO NÓS QUEREMOS?

Temos a possibilidade de decidir se queremos continuar a fábrica que produz sujeitos alienados, individualistas, egoístas, despreparados, sem perspectiva e incapazes de competir com a classe dominante.

Ou uma educação libertadora, em que o conhecimento é base para desenvolvimento humano e social.

Convido toda a comunidade escolar a participar das paralisações vindouras. Mas, principalmente para fazer deste momento, uma oportunidade para pensar:

- QUAL MODELO DE ESCOLA NÓS QUEREMOS?

Page 4: Pequeno Manifesto Em Favor Da Greve 2015

-QUAL IDEAL EDUCAÇÃO NÓS ALMEJAMOS?

[NÓS] Não Quer dizer... Diretoria de ensino, Secretaria de educação, ou Governador do Estado.

[NÓS] quer dizer [NÓS].

Chega de frases prontas. Que nós tenhamos autonomia para fazer e decidir