pequeníssimo estudo do chão

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São Paulo, 2014. desastresliricos.blogspot.com

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Page 1: pequeníssimo estudo do chão

pequeníssimo estudo do chão 

por Carina Carvalho 

Page 2: pequeníssimo estudo do chão

microscópio 

fosse da estrada ou poeira de sonho 

grudava, ela, na pele do braço 

nos pelos também eles bronzeados 

a fazer a constelação de traçado novo. 

de abraço aberto com diminutivo no trato 

e o olhar amarelo desse sol  

que estoura cabeças desavisadas 

um menino aponta o caminho pelo cercado 

pelas barraquinhas 

o cais, o boteco, a orla

e a pedrinha 

(a miudinha). 

– você tá falando com sotaque.

Page 3: pequeníssimo estudo do chão

marguerita 

e se a força do que trago dentro tem a cor vermelha 

uma coisa assim viva 

daquele tom que não se aplica às paredes em que me 

encostam? 

se o que ofereço se abre assim, na cor bruta vermelha 

à disposição de outras carnes? 

*isto foi enquanto jantávamos

talvez te pareça pecado miúdo... 

um pecado recheado de manjericão e tomates 

é claro que faço questão dos tomates. 

Page 4: pequeníssimo estudo do chão

um verso que não se queira piegas 

vistas de cima 

as luzes da cidade parecem uma outra coisa. 

em quantos poemas já se falou delas? 

ou 

quantos deles podem te fazer sentir 

um lume pequenino e ininterrupto 

existindo no espaço‐tempo das terras desconhecidas, 

admirado se visto por certo ângulo? 

*aqui se fala da noite. da consistência de nuvens que

resistem à hora e vestem máscaras na lua. ou dos 

minutos exatos em que cabe uma música cantada bem 

baixinho enquanto o outro dorme. 

Page 5: pequeníssimo estudo do chão

acontece à tarde, 

e como nas tardes é quente sempre 

penso que as coisas antes de derretidas 

fiquem mais evidentes. 

solados duros, fivelas, grossas tiras 

os poços profundos de que você me tira 

em todas as danças e todos os passos 

que causam dores, bolhas, cascos 

e o ar um pouco preso perto da barriga. 

o caso é que a poeira de encanto acompanha

em todos, todos os cantos por que vou andar 

(e eu ando) 

até que sob as solas se faça pele dura, 

calango. 

Page 6: pequeníssimo estudo do chão

verde mar de cair pra trás 

bandeirolas coloridas acima 

ar morno de um lado a outro 

isto posto, 

vejo que esse chão será minha matéria bruta 

sinto no tronco uma frase sobre caminhos 

e o vento bota meu cabelo na rua. 

Page 7: pequeníssimo estudo do chão

* fotografia da capa e poemas de Carina Carvalho, por obra do que

uma visita muito breve a Recife pode causar à poesia – 

junho/julho de 2014, São Paulo. 

* [email protected] – desastresliricos.blogspot.com