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1 PENSANDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: APONTAMENTOS PARA MUDANÇA DE PARADIGMA RUMO À CONSTRUÇÃO DO NOVO PROJETO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO Rosivânia Santos de Jesus [email protected] GT2: Estado, Território e Políticas de Desenvolvimento. RESUMO A lógica político-econômica mundial dominante coloca em risco os 7 bilhões de habitantes do planeta terra, um sistema econômico que busca recursos ilimitados em um planeta finito e que fomenta como qualidade de vida e felicidade, padrões de consumo e estilos de vida que estão esgotando nossas reservas naturais e contrariando nosso planeta. Há um desequilíbrio na base de desenvolvimento humano, via economia, que estabelece uma lógica racional dissociada da noção de sustentabilidade. Sendo assim, torna-se urgente que homens e mulheres possam aprender a entender a complexidade da condição humana e de suas relações com a natureza numa direção que impulsione para uma mudança de paradigmas. O conceito de desenvolvimento sustentável tornou-se importante para guiar as atividades humanas, referendado por diversos fóruns mundiais. Esse modelo não corresponde a uma ruptura, mas ao adotá-lo propõe medidas para o aprofundamento do processo democrático, assegurando a defesa do meio ambiente e melhores condições de vida para o povo, levando em conta a correlação de forças na luta política. Frente ao exposto, o presente trabalho visa apresentar uma revisão bibliográfica sobre o desenvolvimento sustentável, trazendo o alcance e o sentido na atualidade. PALAVRAS-CHAVES: Desenvolvimento Sustentável, natureza, sociedade. INTRODUÇÃO Os impactos socioeconômicos decorrentes do processo de exploração dos povos foram capazes de interferir de modo radical na vida das pessoas, desconsiderando a diversidade étnica, cultural ou geográfica em busca do acúmulo da riqueza pelo subjugo dos povos. Uma economia que produz um consumo desigual dos recursos naturais em que os 16% mais ricos do mundo são responsáveis por cerca de 78% do consumo mundial, de acordo com o Relatório Estado do Mundo publicado pelo Instituto Akatu (2010). Por simples análise matemática, verifica-se que se o resto do mundo quiser seguir este padrão de consumo serão necessários quatro planetas terras para atender 100% desta necessidade. Uma economia que

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PENSANDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: APONTAMENTOS PARA

MUDANÇA DE PARADIGMA RUMO À CONSTRUÇÃO DO NOVO PROJETO

NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO

Rosivânia Santos de Jesus

[email protected]

GT2: Estado, Território e Políticas de Desenvolvimento.

RESUMO A lógica político-econômica mundial dominante coloca em risco os 7 bilhões de habitantes do planeta

terra, um sistema econômico que busca recursos ilimitados em um planeta finito e que fomenta como

qualidade de vida e felicidade, padrões de consumo e estilos de vida que estão esgotando nossas

reservas naturais e contrariando nosso planeta. Há um desequilíbrio na base de desenvolvimento

humano, via economia, que estabelece uma lógica racional dissociada da noção de sustentabilidade.

Sendo assim, torna-se urgente que homens e mulheres possam aprender a entender a complexidade da

condição humana e de suas relações com a natureza numa direção que impulsione para uma mudança

de paradigmas. O conceito de desenvolvimento sustentável tornou-se importante para guiar as

atividades humanas, referendado por diversos fóruns mundiais. Esse modelo não corresponde a uma

ruptura, mas ao adotá-lo propõe medidas para o aprofundamento do processo democrático,

assegurando a defesa do meio ambiente e melhores condições de vida para o povo, levando em conta a

correlação de forças na luta política. Frente ao exposto, o presente trabalho visa apresentar uma

revisão bibliográfica sobre o desenvolvimento sustentável, trazendo o alcance e o sentido na

atualidade.

PALAVRAS-CHAVES: Desenvolvimento Sustentável, natureza, sociedade.

INTRODUÇÃO

Os impactos socioeconômicos decorrentes do processo de exploração dos povos foram

capazes de interferir de modo radical na vida das pessoas, desconsiderando a diversidade

étnica, cultural ou geográfica em busca do acúmulo da riqueza pelo subjugo dos povos. Uma

economia que produz um consumo desigual dos recursos naturais em que os 16% mais ricos

do mundo são responsáveis por cerca de 78% do consumo mundial, de acordo com o

Relatório Estado do Mundo publicado pelo Instituto Akatu (2010). Por simples análise

matemática, verifica-se que se o resto do mundo quiser seguir este padrão de consumo serão

necessários quatro planetas terras para atender 100% desta necessidade. Uma economia que

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concentra metade da riqueza nas mãos de 1% da população em ativos e especulações rentistas

aprofundando cada vez mais as desigualdades sociais.

De acordo com Camargo (2003), diante do panorama atual torna-se claro que

realmente vivemos um momento de crise diferente de todas as crises parciais que vivemos no

passado, pois não apresenta apenas questões passageiras, mas sim questões cruciais e

decisivas para o futuro da humanidade. Afirma ainda, que a crise ecológica é uma crise

complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos da vida humana. A crise

ambiental reflete a crise de uma sociedade, não sendo apenas uma crise de gerenciamento de

recursos da natureza. Portanto, há uma crise de paradigmas, que segue uma ampla

investigação em busca da resposta. Neste sentido, o modelo de desenvolvimento sustentável

seria uma resposta à crise.

O presente trabalho visa apresentar uma revisão bibliográfica sobre o desenvolvimento

sustentável, trazendo o alcance e o sentido na atualidade. Em que pese o fato de o

desenvolvimento sustentável ser um tema bastante banalizado ele é também uma fonte sempre

renovada de reflexões e de críticas.

1. CONSUMO E MEIO AMBIENTE

A sociedade moderna a partir da Revolução Industrial progrediu cientificamente

mudando a forma de enxergar a natureza. A natureza e o homem foram estudados

separadamente, em busca do lucro máximo a qualquer custo, o que evidencia as concepções e

práticas predatórias responsáveis pela degradação ambiental: poluição ambiental, destruição

de parte das florestas, dos recursos hídricos e da fauna.O modelo de desenvolvimento

capitalista se apropriou da natureza e da força do trabalho humano. Nesse sistema, baseado na

economia de mercado, a regra é deixar as empresas internalizar os lucros e externalizar os

custos ambientais (SACHS, 2008).

Após discussões sobre a questão ambiental, muitos autores afirmam que para a

resolução da crise ecológica é preciso diminuir o consumo. Isso até seria possível se os

sujeitos em questão não fossem os seres humanos. Durante toda a história, os seres humanos

sempre procuraram retirar os recursos naturais do ambiente para o próprio benefício. Primeiro

para sua própria sobrevivência, depois para obtenção de riquezas e ascensão ao poder. Deste

modo, é ilusão pensar que os seres humanos mudarão suas atitudes consumistas, abrindo mão

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do conforto e da comodidade conquistada ao longo do tempo para, simplesmente, salvar o

planeta.

Compreende-se que o responsável pela grande crise ambiental está no processo de

produção oriundo do capitalismo, segundo Portilho (2005), a exploração excessiva dos

recursos naturais e iniquidade, inter e intrageracional na distribuição dos benefícios oriundos

dessa exploração, conduziram à reflexão sobre a insustentabilidade ambiental e social dos

atuais padrões de consumo e seus pressupostos étnico-normativos.

De acordo com Portilho (2005), a partir da década de 90, houve um novo discurso

dentro do pensamento ambientalista internacional. O problema ambiental começou a ser

redefinido, relacionando-se aos altos padrões de consumo e estilo de vida. O nível e o estilo

de consumo se tornaram a principal fonte de identidade cultural e de participação na vida

coletiva. As propostas de consumo sustentável restritas à esfera individual são limitadas,

limitantes e desagregadoras. As ações de caráter coletivo, via movimentos sociais, ao

contrário, podem ampliar as possibilidades de ambientalização e politização das relações de

consumo, contribuindo para a construção da sustentabilidade e para a participação na esfera

pública.

No relatório “Nosso futuro Comum” (BERTRAND, 2005),ao propor o termo

“desenvolvimento sustentável” na agenda internacional, reforça a asserção de que crescimento

econômico compatibilizado com a proteção ambiental e melhor distribuição de riquezas.Desta

forma, o relatório estimula importante virada no discurso político dominante fazendo surgir,

embora de forma inicial, um reconhecimento formal da desigual contribuição dos diferentes

estilos de vida na degradação ambiental. (PORTILHO, 2005). A discussão sobre consumo e

meio ambiente, portanto, abriga o pensar os conflitos e opções políticas da humanidade no

contexto do mundo material. A crítica ao consumismo passou a ser vista como uma

contribuição para a construção de uma sociedade sustentável.

A partir da percepção da questão ambiental como um problema relativo aos estilos de

vida e consumo, a análise do consumo passa a ser visto como uma atividade social e cultural

que se insere nos novos discursos e propostas advindas do pensamento ambientalista

internacional.Portilho (2005), afirma que a sociedade de consumo engloba aspectos culturais,

mas não deixa de lado outras dimensões como seu significado político, sua conexão com os

sistemas econômicos de produção e reprodução e sua importância em termos de construção e

manutenção da divisão social.

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A mudança em questão não envolve simplesmente uma nova profusão de práticas,

significados e locais de consumo, mas também e principalmente a reestruturação das relações

entre esfera público e privada, ação individual e ação coletiva.Neste sentido, a sociedade de

consumo “não está relacionada somente à satisfação de necessidades, mas sobretudo às

formas através das quais nós vemos o mundo e nossa posição dentro dele, medindo o

progresso da nossa trajetória de vida. ” (PORTILHO, 2005).

Portilho (2005) enfatiza o consumo como um fenômeno que pode ao mesmo tempo

empoderar e explorar os consumidores.

“O campo de consumo, e da sociedade de consumo, é multifacetado,

contraditório e ambíguo. Trata-se de um fenômeno, ao mesmo tempo,

econômico e cultural. O sistema econômico, ao atuar em função das

necessidades do mercado, produz consequências negativas para organização

da sociedade” (PORTILHO, 2005).

Dessa forma, o elemento dialético do consumo torna-se capaz para tomada da

participação popular nas esferas de poder. Enfrentando as desigualdades econômico-social,

decorrente do sistema de produção e reprodução, propondo um novo modelo no campo do

desenvolvimento sustentável.

2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Verifica-se, como bem observado por Portilho (2005), que o enfoque dado às causas

da crise ambiental evoluiu historicamente nestas últimas décadas: do crescimento

populacional (neomathusianos) para o sistema econômico produtivo, e finalmente,

principalmente depois da Eco-92, para o problema do consumo ilimitado.

Após publicação do relatório de Brundtland (1987), a busca pela harmonia entre

desenvolvimento e ambiente passou a ser denominada através do termo “desenvolvimento

sustentável” que, com a Conferência do Meio Ambiente, conhecida como Eco-92, foi

difundida e utilizada mundialmente.

“A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável – de

garantir que ele atenda às necessidades do presente sem comprometer a

capacidade de as gerações futuras atenderem também as suas.” (CMMAD,

1988. p.9)

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É evidente que o discurso dominante procura consolidar um consenso em torno da

noção de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável como uma forma de preservação

da ordem estabelecida. Entende-se, por isso, que as próprias contradições constitutivas do

conceito, permitem também, que ele seja utilizado “na contramão” do discurso dominante.

De acordo com Leff (2008), o princípio da sustentabilidade surge no contexto da

globalização como marca limite e o sinal que reorienta o processo civilizatório da

humanidade. O discurso da sustentabilidade busca reconciliar os contrários da dialética do

desenvolvimento: o meio ambiente e o crescimento econômico.

O desenvolvimento sustentável tornou-se um conceito importante para guiar as

atividades humanas, mas não é fácil encontrar o equilíbrio exato entre a proteção da

diversidade biológica e o uso dos recursos naturais. O surgimento da consciência ambiental e

da ideia de sustentabilidade estariam relacionadas ao fato dos recursos serem findáveis e a

noção de risco. Atualmente, vemos o termo risco ligado ao termo desenvolvimento

sustentável, mostrando que o planeta está próximo de sua destruição se não mudarmos nossos

modos de utilização dos recursos naturais.

Para Leff (2008) a questão ambiental não pode ser enfrentada de modo dissociada das

dimensões política e cultural. Isto é, a solução para o problema ambiental passa pela

superação da condição de exclusão de populações que, tal como a natureza, é usurpada e

explorada.Portanto o desenvolvimento sustentável sugere qualidade em vez de quantidade.

Nesse sentido, que assegure o crescimento da economia, distribuição de renda mais igualitária

e equitativa, que se alie à setores que combatem a privatização da natureza, que adote medidas

que aprofundam o processo democrático, assegurando a defesa do meio ambiente e melhores

condições de vida.

Ainda de acordo com Leff (2008), a transição clara para o desenvolvimento

sustentável não se fará por força da necessidade de sobrevivência da sociedade. Tais

mudanças não serão alcançadas sem uma complexa estratégia política, orientada pelos

princípios de uma gestão democrática do desenvolvimento sustentável, mobilizadas pelas

reformas de Estado e pelo fortalecimento das organizações da sociedade civil. Isso implica

uma nova ética e numa nova cultura política que legitimariam os direitos culturais e

ambientais dos povos, constituindo novos atores e gerando movimentos sociais pela

reapropiação da natureza.

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3. CONSTITUIÇÃO DO CONCEITO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Até a década de 70, foram formando-se correntes ambientalistas, dentre as quais

destacam-se:

● Conservacionista: que pregava o uso racional dos recursos ambientais.

● Preservacionistas: que buscavam a total ausência de interferência antrópica na

natureza

● Ecologia profunda: com enfoque biocêntrico;

● Ecologia Social: com bases anarquistas e utópicas;

● Ecosocialismo: agregando à teoria marxista as forças produtivas da natureza, ou seja, a

infraestrutura não seria formada somente pelas forças de produção do trabalho e as

relações sociais de produção, mas também pelas forças produtivas da natureza

(DIEGUES,1996).

A doutrina do ecodesenvolvimento foi proposta por Mauricie Strong (1973), e em

seguida ampliada pelo economista Ignacy Sanchs (2008), onde o enfoque era: as dimensões

sociais, culturais, espaciais, econômicas e ecológicas do termo. Nasceu na década de 70

durante divergências geradas na primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente, em Estocolmo.

Ecodesenvolvimento é um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião insiste

na busca de soluções específicas para seus problemas particulares, levando em conta não só os

dados ecológicos, mas também os culturais, bem como as necessidades imediatas e de longo

prazo (SANCHS, 2008, p. 64).

Para Sanchs (2008), a saída para os problemas ambientais causados pelas sociedades

industriais, estaria no ecodesenvolvimento, uma vez que mediante o reaproveitamento dos

dejetos para fins produtivos diminuiria os impactos negativos causados pelos homens.

Constituiria um estilo de desenvolvimento que leva em conta o respeito ao homem,

observando suas especificidades e a gestão competente dos recursos naturais.

Como derivação do conceito surgiu a ideia do desenvolvimento sustentável, servindo

como base principal para a formulação da Agenda 21 em que 170 países se comprometeram

por meio de 2.500 objetivos práticos para preparar o mundo para os desafios do século XXI.

O conceito de desenvolvimento sustentável, apesar de possuir interligações com os

conceitos de ecodesenvolvimento apresenta seis princípios que norteiam as agendas na

atualidade:

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● Integração entre conservação da natureza e desenvolvimento

● O entendimento e a satisfação das necessidades fundamentais humanas

● Equidade e justiça social

● A busca pela autodeterminação social

● O respeito à diversidade cultural

● Integridade ecológica

4. PROJETO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O efetivo desenvolvimento sustentável é incompatível com desenvolvimento a

qualquer preço, assim como com certo tipo de defesa do ambiente que paralisa o

desenvolvimento. O esforço de combinar o desenvolvimento com o meio ambiente passou a

estar presente nas resoluções dos encontros que tratam do tema. Todavia existem várias

concepções de desenvolvimento sustentável (ALDO ARANTES, 2010).

Aqui compreendemos que a solução efetiva dos problemas ambientais só será possível

com a adoção de um modo de produção que não seja voltado para o lucro, mas sim para o

bem-estar da sociedade. Levando em conta a correlação de forças ao apresentar suas

propostas para a luta política, assim sendo, deve-se aprofundar nas conquistas da luta em

defesa do meio ambiente, com participação do Estado e da sociedade civil. Passa pela

combinação equilibrada entre desenvolvimento, meio ambiente e melhores condições de vida

do povo.

Do ponto de vista da luta imediata, a luta em defesa do meio ambiente, nos dias atuais

se identifica com a sustentabilidade democrática, com a participação do Estado e da sociedade

civil, na luta em defesa do meio ambiente. Visando o processo de acumulação de forças,

combatendo a lógica capitalista de exploração máxima da força de trabalho e da natureza e

denunciando sistematicamente a visão que postula soluções para os problemas ambientais

pela via do mercado (ALDO ARANTES, 2010).

Depois da Revolução Francesa, com a crise do absolutismo, o rei deixa de ter poder

passando para o poder do povo, o poder da cidadania. Cada cidadão quer se ver representado

no projeto do Estado, ou seja, seu próprio projeto, e dessa forma, legitimar a existência do

Estado. De acordo comDarc Costa (2010) “um Projeto Nacional deve ter a componente social

maximizada. O projeto de Estado precisa ser articulado com a vontade nacional. Um Projeto

Nacional. Que essa vontade coletiva sintetize num projeto nacional, que transforme o

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potencial de país em poder. Está centrado na ideia de um planejamento de longo prazo,

alicerçado do triângulo o que fazer, como fazer e quais meios. ” (BARROSO; DARC COSTA

2010).

O aprofundamento do processo de democratização do País é o objetivo a ser alcançado

pelo desenvolvimento sustentável, entendendo a democratização como avanço nas conquistas

econômicas, sociais, ambientais e culturais. Ele implica uma articulação harmônica entre estes

diferentes aspectos, dando ênfase à solução dos problemas econômicos e sociais e adotando as

medidas necessárias para mitigar os impactos sobre o meio ambiente. (ALDO ARANTES,

2010).

A solução para o problema, conforme Aldo Arantes (2010), que está na elaboração e

execução de um Projeto Nacional de Desenvolvimento Sustentável que assegure o

crescimento da economia, a geração de emprego, a distribuição de renda, a afirmação da

cultura nacional, a defesa do meio ambiente, o aprofundamento da democracia e a integração

latino-americana. Como também, que garanta um conjunto de medidasque garantam a defesa

do meio ambiente, com prioridade para a luta contra a pobreza e a miséria.

5. A CAMINHADA

Um projeto requer planejamento, objetivos, ou seja, novos padrões de comportamento,

sentimentos e atitudes. Traçar metas é algo que deve estar na agenda internacional,

governamental e política dos atores da sociedade, não sendo as metas praticadas pelo sistema

financeiro que expressa a ganância, metas associadas ao lucro a todo custo. Mas, que sejam

metas norteadoras da atualidade a serem adotadas para assegurar um desenvolvimento

sustentável.

Entre tais medidas, e deve apresentar-se como eixo, está a defesa do princípio

“responsabilidades comuns, mas diferenciadas” entre os países responsáveis pela emissão de

gases do efeito estufa, não aceitando metas de imposição dos países altamente desenvolvidos

aos países em desenvolvimento.

A partir desse entendimento Aldo Arantes (2010) aponta medidas que norteiam a

atualidade:

● Manutenção da matriz energética baseada na energia hidroelétrica, no etanol,

na ampliação do uso de energias alternativas, em particular a solar e a eólica. A

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construção de usinas hidrelétricas acompanhada de rigorosas medidas de

redução do impacto ambiental.

● A realização do zoneamento ecológico-econômico do País, cuja aplicação deva

ser obrigatória, estabelecendo áreas de plantio de produtos alimentícios, de

preservação ambiental e de plantio de cana.

● Em relação à água é necessário desenvolver uma política de redução drástica

do uso de agrotóxicos, assim como, implementar uma política nacional de

reflorestamento das margens dos rios e nascentes, com árvores nativas.

● Adotar política de saneamento nas cidades ribeirinhas, impedido que os

efluentes sejam jogados nos rios.

● Defender medidas de redução da poluição do ar com estímulo à adoção de

energia limpa pela indústria automobilística.

● Obrigatoriedade do uso de energia não poluente em transporte público.

● Adotar medidas que reduzam a impermeabilização do solo urbano.

● Política habitacional que assegure moradia aos trabalhadores, impedindo que

construa em áreas de risco.

● Implementar uma política de ampliação do saneamento básico, tratamento

adequado para os resíduos sólidos, a construção de aterro sanitário e a coleta

seletiva.

● Em relação ao trânsito urbano, estabelecer restrições ao transporte individual e

estimular o transporte coletivo de qualidade. Diversificar o transporte de cargas

e passageiros com ênfase para o transporte ferroviário e hidroviário.

● Adotar um novo modelo de desenvolvimento agrícola com novas técnicas de

plantio, a não utilização de agrotóxicos, novos métodos de irrigação que

resultem em economia de água e não poluição da água dos rios.

● Defesa e fortalecimento do papel do Estado no exercício dos mecanismos de

“combate e controle”, ou seja, na aplicação da legislação ambiental.

● Fomentar a ativa participação dos movimentos sociais, das entidades de

trabalhadores e dos partidos políticos nos órgãos de gestão ambiental.

● Estimular políticas públicas de educação ambiental, com ênfase em suas

características sociais, nas escolas e outras entidades públicas, despertando e

fortalecendo a consciência de combater as agressões ambientais e lutar por um

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modelo de desenvolvimento com distribuição de renda e ambientalmente

sustentável

6. BANDEIRA DA INJUSTIÇA AMBIENTAL

A injustiça ambiental pode ser definida como um mecanismo pelo qual sociedades

desiguais (dividida em classes) destinam a maior parte dos danos ambientais do

desenvolvimento a grupos sociais de trabalhadores, populações de baixa renda, grupos raciais

discriminados, mulheres, juventude, populações marginalizadas e mais vulneráveis

(ACSELRAD, 2004).

A injustiça social está na desigual exposição aos danos ambientais e ao ônus desigual

dos custos do desenvolvimento. O custo das externalidades da produção da riqueza impacta

de forma diferente os atores sociais. Populações que foram deslocadas, a fim de atender

demandas de mercado, para áreas vulneráveis desprovidas de esgotamento sanitário,

abastecimento de água, saúde e educação de qualidade, no caso particular do Brasil, com

gigantesca riqueza, os impactos são pagos com a saúde dos trabalhadores, com extermínio de

jovens negros e da subalternação de uma parte da sociedade.

A questão da injustiça ambiental, tendo como uma das principais causas da injustiça

social, abre, não só um interessante campo de estudo, como um espaço comum na agenda dos

movimentos que lutam por uma transformação social voltada para um desenvolvimento

sustentável.

7. CONSIDERAÇÕES

A mudança do paradigma do desenvolvimento sustentável precisa estar associada ao

paradigma da transformação social. A permanência do paradigma da transformação social,

quanto à necessidade de somar forças contra a acumulação capitalista, especialmente, em um

país rico, mas campeão em desigualdades sociais como é o Brasil configura-se como o norte

para o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento.

Torna-se pertinente, no nosso entendimento, estabelecer este “grande campo de

unidade” já que, do ponto de vista prático, seria muito difícil somar forças dos que querem a

transformação da sociedade com os que desejam apenas “enverdecer o capitalismo”.

(SILVIA, 2009).

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Os movimentos – sindicais, de juventude, de mulheres, ecológicos, dos estudantes,

enfim, dos conjuntos dos movimentos da sociedade - não podem cessar esforços para

construir uma unidade, buscando a garantia de uma política de desenvolvimento sustentável.A

resolução da crise ambiental se dará através da efetivação do desenvolvimento sustentável,

com a gestão adequada do ambiente e com o desenvolvimento das grandes potências no

combate à pobreza e no desenvolvimento de tecnologias mais renováveis.

Logo, é necessário passar de uma sociedade de alto consumo para baixo consumo de

energia, sensibilizar de que nossas reservas estão no limite tolerável da sustentabilidade, pois

estamos consumindo mais do que o planeta pode nos dar por toda vida. O sistema econômico

baseado no lucro, no uso das fontes de energia não-renováveis, na competição e na destruição

da natureza e das comunidades precisa ser repensado em torno de outros fundamentos, no

valor energético real, no aproveitamento racional dos recursos e energias renováveis, na

colaboração, na recuperação da natureza e das comunidades, ou seja, precisamos trilhar o

caminho para a sustentabilidade planetária.

A partir das contradições apresentadas no modelo de desenvolvimento sustentável a

mudança de paradigma requer mudança de postura, atua na contramão do discurso dominante,

constrói com participação popular um campo de unidade em torno da bandeira da injustiça

social levando em conta a correlação de forças na luta política, atuando na construção de um

Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento que coloque a transformação social como o

alcance do Desenvolvimento Sustentável para o bem estar da sociedade.

8. REFERÊNCIAS

ARANTES, Aldo (organizador). Meio Ambiente e Desenvolvimento: em busca de um

compromisso – São Paulo: Anita Garibaldi: Fundação Maurício Grabois, 2010.

ACSELRAD, Henri; HERCULANO, Selene; PÁDUA, José Augusto.Justiça Ambiental e

Cidadania – Rio de Janeiro, RelumeDumará, 2004.

BARROSO, Aloísio Sergio e SOUZA, Renildo. Desenvolvimento: idéias para um projeto

nacional – São Paulo: Anita Garibaldi: Fundação Maurício Grabois, 2010.

CAMARGO, Ana Luiza de Brasil. Desenvolvimento Sustentável - dimensões e desafios.

São Paulo: Papirus, 2003.

CMMAD. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E

DESENVOVIMENTO. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Bertrand, 2005.

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Consumo Sustentável disponível em:

<www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_.../consumo_sustentavel.pdf> acesso em 20/03/2016.

DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Hucitec, 1996.

LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 6 ed.

Petrópolis: Vozes, 2008.

MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Tradução de José Jesus Ranieri -

Campinas, 2004.

Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento e Meio Ambiente:

<http://inma.org.br/site/desenvolvimento-e-meio-ambiente/128-novo-projeto.html> acesso

em 20/03/2016.

PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade Ambiental, Consumo e cidadania. São Paulo,

Cortez editora, 2005.

Relatório Estado do Mundo Disponível em

<http://www.wwiuma.org.br/estado_2010.pdf>acesso em 15/02/2016> Foi publicado no

Brasil, em 2010, através de uma parceria entre o Instituto Akatu.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. 3ª edição. Rio de Janeiro:

Ed. Garamond, 2008.

SILVIA, Maria Beatriz Oliveira da. Desenvolvimento sustentável no Brasil de Lula: uma

abordagem jurídico-ambiental – Santa Cruz do Sul:EDUNISC; São Paulo: Anita Garibaldi,

2009.