pensando a famÍlia: o olhar de adolescentes em … · curso de aperfeiÇoamento em teoria e...
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - SER CONSELHEIRO
Cristiane da Silva Colaço
Valéria Cristina do Nascimento
PENSANDO A FAMÍLIA:
O OLHAR DE ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE DIREITOS VIOLADOS
DO MUNICIPIO DO CABO DE SANTO AGOSTINHO
Recife/PE
2015
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO
PENSANDO A FAMÍLIA:
O OLHAR DE ADSOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE DIREITOS VIOLADOS
DO MUNICIPIO DO CABO DE SANTO AGOSTINHO
Cristiane da Silva Colaço
Valéria Cristina do Nascimento
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
requisito parcial de conclusão de curso de
Aperfeiçoamento em Teoria e Prática dos Conselhos da
Infância - Ser Conselheiro.
Prof.ª Orientadora: Michelle Cristina Rufino Maciel
Recife/PE
2015
“Que a gente possa ser mais irmão, mais amigo, mais filho e mais
pai ou mãe, mais humano, mais simples, mais desejoso de ser e
fazer feliz”. Lya Luft
SUMÁRIO
1. JUSTIFICATIVA.............................................................................................................05
2. REFERÊNCIAL TEÓRICO............................................................................................08
3.OBJETIVOS: GERAL, ESPECÍFICOS METODOLOGIA......................................... 11
4.METODOLOGIA …...................................................................................................... 11
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................................12
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................17
7. BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................18
8. ANEXOS ….................................................................................................................. 20
1. JUSTIFICATIVA
a família se constitui como um direito fundamental a todas as crianças e
adolescentes por se configurar como um fator essencial no crescimento
e formação dos indivíduos em sociedade. (BRASIL, 1990) Conforme o
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA/1990 no art. 19.
Aliada a essa compreensão ressalta-se que o desenvolvimento das crianças e
adolescentes passam por processos biopsicossociais que exigem do ambiente que os cercam
condições sob o ponto de vista material e humano, logo a relação com a família, com os pais
ou substitutos é fundamental para sua constituição enquanto sujeito, desenvolvimento
afetivo e aquisições próprias às faixas etárias (PNCFC/2006).
Essa afirmativa se fortalece ao nos debruçarmos no que está previsto na Constituição
Federal de 1988 em seus artigos 226 e 227 onde afirma que a família é a base da sociedade
e tem especial proteção do Estado. Em adição ao previsto na CF de 1988, para José Filho
(2007) a família pode ser entendida como:
[…] unidade em movimento, sendo constituída por um grupo de pessoas que,
independentemente de seu tipo de organização e de possuir laços
consanguíneos ou não, busca atender: às necessidades afetivo emocionais de
seus integrantes, através do estabelecimento de vínculos afetivos, amor, afeto,
aceitação, sentimento de pertença, solidariedade, apego e outros; às
necessidades de subsistência/alimentação, proteção (habitação, vestuário,
segurança, saúde, recreação, apoio econômico); às necessidades de
participação social, frequentar centros recreativos, escolas, igrejas,
associações, locais de trabalho, movimento, clubes e outro (FILHO, 2007, p.
150).
Aliada a compressão de Filho (2007), também chamamos atenção para os marcos
históricos que se referem à garantia de direitos de crianças e adolescentes que compõem as
famílias supracitadas, a exemplo, os artigos constitucionais citados aliados ao Estatuto da
Criança e do Adolescente, a construção do Sistema de Garantia de Direito de Crianças e
Adolescentes, os quais que vem se apresentando enquanto um amparo legal de crianças e
adolescentes no Brasil, e juntos somam um processo de luta e reconhecimento de crianças
e adolescentes enquanto sujeitos de direitos na sociedade brasileira, a exemplo, a
Constituição Federal de 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente, Plano Nacional de
Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar
e Comunitária (2006, p.20) o qual reconhece e reforça a família “como lugar que garante
proteção e inclusão social das crianças e adolescentes; essencial à humanização e à
socialização; lugar privilegiado para o desenvolvimento integral dos sujeitos”.
Diante desse cenário estudos em pesquisas sobre famílias vêm sinalizando desafios
para as famílias contemporâneas, entre eles o desafio em assumir seu efetivo papel na
formação psicossocial de crianças e adolescentes que se concretiza desde a sua função
protetiva e socializadora, sobretudo no processo de formação de hábitos, costumes, valores,
assim como a formação da identidade do indivíduo.
Compreendendo a importância da família enquanto sua função e mediante o previsto
nos ordenamentos legais, não podemos perder de vista que as famílias estão diretamente
envolvidas as questões relacionadas a manutenção de seus vínculos, os quais também se
materializam diante das relações comunitárias. Esses vínculos se expressam nas relações
cotidianas que para Fernandes (2011 p.127) estão estritamente relacionados aos aspectos
que estabelecem uma inter-relação “com o acesso a produtos e serviços necessários a
garantia dos direitos de crianças e adolescentes, e sobretudo ao desenvolvimento humano e
social do núcleo familiar como um todo.
Diante desse cenário também chamamos atenção para as diferenças conjunturais que
as famílias estão inseridas, principalmente ao considerarmos o contexto socioeconômico,
sobretudo o acesso à renda. Esses elementos são fundamentais para promoção e garantia de
uma vida digna e das relações estabelecidas no núcleo familiar, onde cada família possui
suas especificidades e complexidades sob o ponto de vista do contexto social onde está
inserida.
Esta conjuntura nos convida a estabelecer uma relação com a realidade dos
atendimentos realizados no Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente do município do
Cabo de Santo Agostinho, ou seja, conhecer de perto as demandas que as crianças e
adolescentes em situação de violação de direitos apresentam cotidianamente.
Os atendimentos das demandas cotidianas nos Conselhos Tutelares tem revelado
limitações relacionadas no acesso aos direitos sociais das famílias (a exemplo, saúde,
educação, alimentação, habitação, trabalho) e essa situação tem viabilizado a incidência da
violação de direitos, negligências e exposição a situações de violências, assim como tem
exposto as famílias a situações que tem contribuído para o aumento na fragilidade dos
vínculos familiares.
Diante do exposto essa conjuntura enquanto campo de estudo constitui-se como uma
problemática que instiga saber como os adolescentes em situação de violação atendidos no
Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente no referido município concebe família
enquanto elemento constitutivo para sua vida em comunidade.
A compreensão da dinâmica a respeito de como os adolescentes atendidos
compreende família, suas funções e importância e poderá fomentar outros estudos,
intervenções, políticas públicas e desenvolvimento de novas estratégias de trabalho mais
eficazes direcionados aos adolescentes e às famílias atendidas e o fortalecimento dos
vínculos familiares.
Este trabalho foi elaborado como requisito parcial para conclusão do curso de
aperfeiçoamento em teoria e prática dos Conselhos Tutelares da Criança e do Adolescente
– Ser Conselheiro.
Construímos um artigo científico a partir da análise de um questionário que foi
elaborado e aplicado a adolescentes que tiveram seus direitos violados e foram atendidos
pela equipe técnica do Conselho Tutelar do Centro do Cabo de Santo Agostinho. Para
compor o corpo do referencial teórico foram feita uma pesquisa bibliográfica sobre a
contextualização histórica da família e as leis que asseguram os direitos e deveres das
crianças e dos adolescentes.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Algumas notas sobre a família contemporânea
Na sociedade contemporânea temos observado a necessidade de refletir e teorizar
sobre questões que envolvem a dinâmica familiar e seu papel para sociabilidade de crianças
e adolescentes. Para iniciarmos a discussão de acordo com Synthia Sarti (2009, p.22) falar
de família em pleno século XXI e mais especificamente no Brasil, nos remete a pensar em
“mudanças de padrões difusos de relacionamentos”. Portanto, as famílias e a sua
organização na dinâmica cotidiana têm passado por mudanças significativas, haja vista as
marcantes interferências externas que vão além de respostas biológicas, e se configuram
diferentes respostas sociais e culturais, sobretudo quando nos reportamos aos papéis
atribuídos a homens e mulheres em contextos históricos específicos.
Para Michelli Perrout (1993) a história da família é longa, não linear, feita de
rupturas sucessivas. Do séc. XIX herdamos o modelo de família nuclear, heterossexual,
monogâmica, patriarcal considerado excessivamente rígido, normativo e que também era
lugar de constantes conflitos, o que considera o nó.
As rupturas sofridas pela família tradicional estariam ligadas ao desenvolvimento do
individualismo moderno no séc. XIX. Mas como propõe a autora uma nova família estaria
se esboçando pois a idéia do lar como uma proteção, abrigo e ninho se mantém dado que
estes são os aspectos positivos que podem ser conservar na contemporaneidade.(PERROUT,
1993) . Nesse sentido, percebe-se que o conceito de família ao longo do tempo vem sofrendo
influências sócio-históricas e isso vem intervindo nas relações sociais e na reprodução
cultural das relações.
Nesse processo a legislação brasileira referenciada na Constituição Federal de 1988
refere que “família é a base da sociedade e reconhecida como a união estável entre homem
e mulher , independente da existência de casamento bem como núcleos formados por um
dos pais e seus descendentes”(Art. 226), logo entende-se que é o lugar que garante o pleno
desenvolvimento dos aspectos biopsicossociais de todos os sujeitos. Aliado a CF 1988 o
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA no seu Art. 25 acrescenta:
Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou
qualquer deles e seus descendentes..[...] Entende-se por família extensa ou
ampliada aquela que se estende além da unidade pais e filhos ou da
unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança
ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.
(BRASIL, 1990)
O conceito de família trazido no ECA e na Constituição Federal de 1988 colocam
ênfase na “existência de vínculos de filiação legal, de origem natural ou adotiva,
independentemente do tipo de arranjo familiar onde esta relação de parentalidade e filiação
estiver inserida. Ou em outras palavras não importa se a família é do tipo “nuclear”,
“monoparental”, “reconstruída ou ambas”.
Já o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito da Criança e
Adolescente à Convivência Familiar e Comunitária ( PNCFC) traz uma definição mais
abrangente a respeito do conceito de “família com base sócio- antropológica. A família pode
ser pensada como um grupo de pessoas que são unidas por laços de consanguinidade, de
aliança e de afinidade. Esses laços são constituídos por representações, práticas e relações
que implicam obrigações mútuas. Por sua vez, estas obrigações são organizadas de acordo
com a faixa etária, as relações de geração e de gênero que definem o status da pessoa dentro
do sistema de relações familiares.” ( PNCFC) (BRASIL, 2006, p 24.)
No referido plano visualiza-se a importância de considerarmos as “redes sociais
de apoio” definidas como grupos de pessoas sem laço de parentesco, mas com uma função
social de auxílio (ex: parentes, vizinhos, amigos, etc). Arranjos familiares diversos devem
ser respeitados e reconhecidos como potencialmente capazes de realizar as funções de
proteção e socialização de suas crianças e adolescentes. .” (PNCFC) (BRASIL, 2006, p.24)
Portanto pensar o conceito de “família” na atualidade é considerar para além do
conceitos tradicionais como o de grupos de pessoas ligadas por laços de consanguinidade e
de afinidade que implicam obrigações mútuas, mas levar em conta a dimensão da
existência de vínculos de afetividade, cuidado e proteção entre os sujeitos que a compõem
para que desde o nascimento a pessoa esteja acolhida no meio que lhe dê condições de pleno
desenvolvimento.
A noção de família que aqui tratamos refere-se aquela que deixa de ser constituída
apenas e unicamente por casamento formal. Hoje, numa concepção de configuração mais
ampla envolvendo as unidades familiares formadas ou não pelo casamento civil ou religioso,
seja união estável, sejam grupos formados por qualquer um dos pais ou antecedentes e seus
filhos, netos ou sobrinhos, seja por mãe solteira, pela união de casais homoafetivos,
acabando com qualquer que seja a descriminação relacionada à estrutura das famílias e se
estabelece a igualdade entre filhos legítimos, naturais ou adotivos. (LOSACCO, 2009, p.64).
Mesmo que essa definição nos provoque a pensar sobre os diferenciados grupos que
formam a dinâmica familiar, cabe-nos salientar que boa parte desses grupos familiares ou o
que muitos/as estudiosas chamam de arranjos familiares, são chefiados por mulheres.
Essas famílias pobres expostas a essas situações de violência e negação de direitos,
de acordo com Batista apud Silvia Losacco (2009, p.65) acabam sendo levadas a mudanças
significativas na organização de sua dinâmica familiar, haja vista os “novos desafios que
são postos para o exercício de suas funções de proteção, pertencimento, de construção de
afetos, de educação, de socialização” de crianças e adolescentes.
Numa sociedade de profundas desigualdades como o Brasil é preciso se pensar
estratégias que viabilizem garantir que os direitos de crianças e dos adolescentes não sejam
violados. Diante disso o poder público articulado aos atores sociais têm investido na criação
de mecanismos que garantam os direitos de crianças e adolescentes a exemplo, o Sistema
de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes.
Como pontua nesses termos, Nascimento salienta que para que o Sistema torne-se
efetivo se faz necessário atuar em, pelo menos, três frentes fundamentais: a da promoção
dos direitos instituídos; a da defesa em resposta a sua violação e a do controle na
implementação das ações .E acrescenta a importância dos eixos:
“O eixo da promoção são os serviços públicos que asseguram o
cumprimento dos direitos básicos das crianças e dos adolescentes.
O eixo do controle é a fiscalização da sociedade no cumprimento
dos deveres constitucionais relacionados aos direitos das crianças e
dos adolescentes. O eixo da defesa compreende os espaço e
instrumentos de responsabilização do Estado pela ausência do
atendimento, atendimento irregular ou violação dos direitos. E é
neste que o Conselho Tutelar exerce suas atribuições atendendo e
encaminhando as crianças e adolescentes aos serviços
disponibilizados pela rede do município que compõe o eixo da
promoção”. (2011, p.43)
Segundo Pinto, R.M.A “ o grande desafio para essa complexa engrenagem está em
compreender que não se trata de um modelo estático ou uma simples classificação dos
diversos atores sociais, a partir de sua função ou atribuição, mas do entendimento do seu
caráter sistêmico, ou seja, dos limites e das possibilidades de interação entre os
atores( dentro de cada eixo e entre eles.) ( 2001 pg. 26)
Cada ator social precisa desenvolver as suas funções específicas mas é preciso o
desenvolvimento do trabalho de forma articulada com os outros componentes da rede de
atendimento dado que precisamos trabalhar dentro da visão sistêmica.
3. OBJETIVIVOS:
3.1 GERAL
Identificar a percepção dos/as adolescentes sobre o papel da família no seu cotidiano.
3.1.2 ESPECÍFICOS:
Analisar os sentidos atribuídos à função da família para os/as adolescentes;
Identificar e analisar a implicação das relações estabelecidas pelos membros da
família para a construção da percepção do/a adolescentes no tocante a função da
família.
4. METODOLOGIA
A metodologia utilizada para realização deste trabalho consiste num estudo de caso1
de caráter qualitativo2 no qual foi subsidiada uma pesquisa bibliográfica3 Para viabilizar a
presente estratégia metodológica foram realizadas entrevistas semiestruturadas, apoiadas
em roteiro de entrevista realizada com 10 adolescentes4 (04 do sexo masculino e 06 do sexo
feminino) com idade de 13 a 17 anos em situação de violação de direitos que apresentaram
demandas ao Conselho Tutelar do Cabo de Santo Agostinho no ano de 2014. Após a
realização das entrevistas, essas foram tabuladas, selecionadas e analisadas.
5. RESUTADOS E DISCUSSÃO
A cidade do Cabo de Santo Agostinho é um município brasileiro que faz parte do
Estado de PE estando localizado no litoral sul. Pertence a Mesorregião do Recife, sendo um
1É uma pesquisa que coleta e registram dados de um caso particular ou de vários casos a fim organizar um
relatório ordenado e crítico de uma experiência, ou avaliá-la analiticamente, objetivando tomar decisões a
seu respeito ou propor uma ação transformadora. (CHIZZOTTI, 1998). 2 A pesquisa qualitativa objetiva provocar o esclarecimento de uma situação para uma tomada de consciência
pelos próprios pesquisados dos seus problemas e das condições que os geram, a fim de elaborar os meios e
estratégias de resolvê-los. (CHIZZOTTI, 1998). 3 Realizada mediante a seleção e consulta de livros, revistas, normativas legais e artigos sobre o tema de
estudo. 4 As entrevistas foram autorizadas pelos pais e/ou responsáveis.
dos integrantes da Região Metropolitana do Recife. O município é um importante pólo
turístico do Estado, sendo suas praias nacionalmente conhecidas.( PPLA 2010/ 2013)
Com relação a dados da economia o município do Cabo de Santo Agostinho participa
ativamente desse processo com sua rica infraestrutura caracterizada principalmente pela
rodovia federal BR-101 e pela rodovia estadual PE- 60. O município dispõe também de um
distrito industrial consolidado e constituído de importantes indústrias, possui uma
significativa presença no setor canavieiro do Estado, voltado para a produção do álcool e do
açúcar, e, localizado em seu território está instalado o Complexo Industrial portuário de
SUAPE.
Segundo o CENSO (2012), aplicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística- IBGE, o município do Cabo tem 189.222 habitantes, estando 167.783 da
população situada na zona urbana e 17.242 na zona rural. Sendo o sétimo maior município
do Estado e o quinto maior da região metropolitana do Recife. Tem uma densidade
demográfica de 414,32 habitantes/km².
O índice de Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB) médio entre as Escolas
Públicas do Cabo de Santo Agostinho era de 3,7 (no 5º ano) e de 3,1 (no 8º ano). Sendo a
nota 4,0 (5º ano) e nota 3,1 (8ºano). O valor do índice de Desenvolvimento Humano para a
educação é de 0,609, considerado médio pelo PNUD, o valor é maior que a média estadual
que é de apenas 0,547.
E fato que o indice de desenvolvimento apresentado pelo município tem uma estreita
relação com os casos de violência praticados contra crianças e adolescentes que triplicaram
nos últimos dois anos, e o município está em 3º lugar em casos de abuso sexual e exploração
sexual infantil juvenil. Os Conselhos Tutelares a medida que o contingente populacional
cresce ao longo dos anos vem aumentando consideravelmente seus atendimentos em todas
as violações de direitos, dada falta de apoio de uma rede de serviços que tem se mostrado
fragilizada e ineficiente para atender as demandas.
O Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente é um órgão permanente e autônomo,
não jurisdicional encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da
criança e do adolescente, definidos na Lei 8.069/90 no art. 131 do capítulo I do Estatuto da
Criança e do Adolescente - ECA e trabalha na prevenção e fiscalização da efetivação da
garantia dos direitos, que são inerentes a todas as crianças e adolescentes, independente de
crença, religião, raça ou situação financeira.
De um modo geral, o perfil das famílias, bem como das crianças e adolescentes
atendidos no Conselho Tutelar do Cabo de Santo Agostinho se compõe a maior parte de
classes socioeconômicas desfavorecidas e em situação de risco e/ou vulnerabilidade sociais.
Frente a essa realidade, e compreendendo a importância da família no processo de
socialização e desenvolvimento dos/as adolescentes no município do Cabo de Santo
Agostinho, a presente pesquisa se motivou a identificar o significado da família para a vida
dos/as adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Nesses termos a pesquisa revelou
que a maioria dos/as adolescentes relacionaram a família como conjunto de relações que
assumem o significado de amor, confiança, união, amizade, ajuda, apoio, compreensão.
Como podemos observar, no depoimento a seguir: [...] é compartilhar tudo junto, muitas
coisas a família tem que saber; tem que se unir todos nas horas mais difíceis; tem que
apoiar o outro independente das escolhas. (A.K.A.S, 14 anos) e o depoimento seguinte
quando afirma que: É amor, esperança, confiança; quem gosta de mim e vice- versa. (A.M.S,
17 anos)
Atrelada a essa compreensão observou-se que os/as adolescentes também apontam
com clareza o papel e ou significado conferido a família, momento em que se revelou nos
depoimentos a função educativa, cuidadora, protetora e de referências positivas conforme
os relatos a seguir: As pessoas que estão a meu lado, que são especiais para mim, que
cuidam e me protegem.(C.E.S.S, 14 anos) e ainda, Família é um grupo de pessoas que se
apoiam. Existem diferentes tipos de família: famílias de sangue e famílias sentimental/
aquelas que consideramos família. (B.L.C.S, 13 anos)
Esses depoimentos se aproximam da compreensão de Serapioni (2005) quando o
autor afirma que há um reconhecimento geral de que a família está no centro das funções
de cuidado onde é responsável pelo atendimento das necessidades tanto fisiológicas quanto
psicológicas.
Por outro lado, apesar das respostas dos/as adolescentes sobre o papel/função que a
família deve estabelecer socialmente, a realidade vivenciada pelos/as adolescentes
entrevistados/as não correspondem efetivamente a realidade vivida pelos/as adolescentes.
Para Raquel Aragão (2011) apesar de estar garantido na Constituição Federal de
1988 onde no art. 226 a família é apresentada como célula básica, responsável, juntamente
com o Estado, a sociedade e as comunidades por assegurar o exercício dos seus direitos
fundamentais como: o direito à vida, à saúde, à educação, à alimentação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e
comunitária além de colocá-los à salvo de toda forma de negligência, exploração, violência,
crueldade e opressão. Vale ressaltar que esse papel atribuído à família em muitos momentos
não pode ser cumprido dada que inúmeras situações onde há precariedade econômica,
afetiva e psicológica.
Outro aspecto importante que se fez presente nos depoimentos (dois) refere-se aos
depoimentos que apontaram papel /função bem definidos com o pai, no papel de provedor
e a mãe de cuidadora de toda família, sinalizado no depoimento: Ele (pai) deve trabalhar,
pôr as coisas dentro de casa; a mulher deve ficar dentro de casa cuidando dos filhos. (D.J.L,
16 anos). Sobre essa representação de gênero apontada no depoimento Santos e Buarque
(2006) chamam atenção para a construção social das relações de gênero, onde define e se
estabelece e distingue o que deve ser papel de homens e mulheres na sociedade. Situação
essa que se materializa também na construção das relações de poder nas famílias.
Em meio a esse cenário, a pesquisa revelou que a compreensão de família, a partir
do olhar dos/as adolescentes ainda se fundamenta mediante a representação do que é ser pai
e mãe, o que reforça a ideia da família nuclear e patriarcal, embora possamos contar com
diferentes arranjos familiares conforme salienta Sarti (2009) e Perrot (1993). Em adição a
essa reflexão se faz pertinente salientar que tal instituição conta com inúmeros arranjos,
dinâmicas e não é possível falar apenas em um modelo de família na contemporaneidade.
Como se observa a família não pode ser considerada uma entidade fixa, mas uma
pluralidade de formas, ideia esta bem apropriada sobre o conceito de família utilizado na
contemporaneidade que falam em arranjos diversificados que variam em combinações tanto
na combinação quanto nas relações familiares estabelecidas, indo desde uniões consensuais
de parceiros, de ambos os sexos ou mesmo sexo; quanto famílias monoparentais,
reconstruídas, dentre outras e portanto bem diferentes do modelo clássico de família nuclear
como se observa alguns relatos que contemplam pessoas que, apesar de não haver laços
consanguíneos, possuem vínculos afetivos significativos, tais como: amigos e pessoas
próximas apontadas como família ou a própria família extensa. (OLIVEIRA, NHD, p.68) O
depoimento a seguir traz a ressignificação da família mediante a compreensão do
significado da família extensa quando fala da importância de sua relação com a tia: minha
tia agora é minha mãe; e minha família agora é minha mãe , minha tia e meus
primos( A.M.S, 17 anos).
Esse depoimento em destaque apresenta uma especificidade, pois que diz respeito
ao rompimento do vínculo afetivo com a família, pois se trata de uma adolescente vítima de
violência sexual no espaço doméstico. O depoimento deixa clara a referência de sua família
com a tia que à acolheu, protegeu e cuidou, desde o momento de seu afastamento de seus
pais. Para além da violência sexual, outras situações desafiadoras também foram
apresentadas nas falas dos/as adolescentes dentre eles pode-se destacar: o meu pai está
desempregado e de vez em quando a gente passa apertos( A.M.S, 17 anos) e problemas são
muitos, depois que o meu pai ficou desempregado ficou difícil. Mudou tudo. Só com a moto
táxi não dá para comprar tudo, mas dá para levar. ( K.A.S, 14 anos)
Essa realidade apontada nos depoimentos materializa situações marcantes
vivenciadas na vida dos/as adolescentes entrevistados/as, sobretudo, situações de: conflitos
familiares, morte, vícios, violência sexual, problemas financeiros, violência doméstica,
tráfico de drogas. Situações essas que impactaram a trajetória de vida dos/as adolescentes,
que em determinados casos têm, até mesmo, implicado em transtornos psicológicos.
Essa conjuntura não está desconectada da percepção dos/as adolescentes quando
falam das relações construídas com os membros da família. Pois foi constatado que embora
a maioria dos/as adolescentes tenham num primeiro momento afirmado ter um bom
relacionamento com a família, os depoimentos também deixam claras as tensões
estabelecidas no cotidiano, sobretudo a existência de situações conflitivas, contraditórias e
de violação de direitos como verificado no relato do adolescente: É bom. De vez em quando
tem uma briguinha, discussões, mas sempre tem. (I.K.S, 15 anos); e um outro que afirma: É
bem. Um consegue compreender o outro, às vezes não; às vezes sim. Às vezes consegue se
ajudar. Às vezes as coisas não estão bem; mas conseguem ser unidos. (A. K.A.S, 14 anos)
Por outro lado, os/as teóricos/as que vem realizando estudos sobre família tem
salientado que a família também é um cenário de conflitos, de tensões, mas o que chamamos
atenção nessa pesquisa refere-se o cenário de violação e/ou negação de direitos dos/as
adolescentes. Sobre essa questão, Edneide Maria da Silva, “na família encontra-se, não raras
às vezes uma contramão, na qual ele se torna um espaço em que falta proteção, e há, para
com seus membros, principalmente crianças e adolescentes negligências” (2011, p. 107).
No município pesquisado as políticas públicas voltadas a promoção e garantia dos
direitos da criança e do adolescente existem mas não funcionam a contento dada falta de
investimentos na infraestrutura, pouca articulação da rede de serviços, bem como falta de
compromisso dos atores sociais envolvidos nas políticas públicas. Tudo isto dificulta o
suporte de apoio às famílias diante da condição de vulnerabilidade e risco social que estão
inseridas.
Na pesquisa realizada percebemos que os adolescentes mesmo estando inseridos em
um contexto socioeconômico desfavorável ainda possuem sonhos, projetos e planos para o
futuro e verbalizam o sonho da aquisição de uma casa própria que poderia significar a
projeção de um ideal de família. Onde foi constatado que das 10 entrevistas 08 respostas
sobre os projetos de família mencionaram a aquisição, reforma ou construção da casa
própria. Entre os depoimentos destacaram-se: Penso construir a casa, não tenho condições
de construir no momento, mas um dia Deus vai dar condições de construir, pois para
construir desempregado não dá, mas um dia terei condições (A.K.A.S, 14 anos); e Sim,
construção de casa, qualificação profissional e ingressar em uma boa faculdade (B.L.C.S,
13 anos).
O resultado da presente pesquisa sinaliza a importância do investimento em
programas e políticas governamentais articulados com os potenciais das comunidades,
sobretudo as iniciativas que viabilizem a acensão social de crianças e adolescentes e de
reconhecimento desses enquanto sujeito de direitos, sobremodo articulados com as
demandas das famílias que compõem os territórios.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo se propôs a apresentar a pesquisa realizada com os adolescentes em
situação de vulnerabilidade e risco social atendidos pela equipe técnica do Conselho Tutelar
do Cabo de Santo Agostinho com a objetivo de compreender a função / papel da família na
visão dos adolescentes entrevistados/as.
Partindo da análise dos resultados da pesquisa realizada verifica-se que a maioria
dos adolescentes relaciona o papel e ou significado atribuído à família a amor, confiança,
união, amizade, ajuda, apoio, compreensão. Atrelada a essa compreensão observou-se que
os/as adolescentes também apontam com clareza a função educativa, cuidadora, protetora e
de referência da família.
Por outro lado, apesar das respostas dos/as adolescentes sobre o papel/função que a
família deve estabelecer socialmente, a realidade vivenciada pelos/as adolescentes
entrevistados/as não correspondem efetivamente a realidade vivida pelos mesmos, pois esse
papel atribuído à família em muitos momentos não podem ser cumprido dado que em
inúmeras situações onde há limitações no tocante as características socieconômica das
famílias, sobretudo nas limites relacionados a construção das relações afetivas.
Outro aspecto importante que se fez presente nos depoimentos refere-se ao papel
/função bem definidos com o pai, no papel de provedor e a mãe de cuidadora de toda família,
resultado que se traduz na construção social das relações de gênero, onde define e se
estabelece e distingue o que deve ser papel de homens e mulheres na sociedade. Situação
essa que se materializa também na construção das relações de poder nas famílias.
A pesquisa revelou que a compreensão de família, a partir do olhar dos/as
adolescentes ainda se fundamenta mediante a representação do que é ser pai e mãe, o que
reforça a ideia da família nuclear e patriarcal, embora possamos contar com diferentes
arranjos familiares.
Várias realidades apontadas nos depoimentos materializaram situações marcantes
vivenciadas na vida dos/as adolescentes entrevistados/as, sobretudo, situações de: conflitos
familiares, morte, vícios, violência sexual, problemas financeiros, violência doméstica,
tráfico de drogas. Situações essas que impactaram a trajetória de vida dos/as adolescentes,
que em determinados casos tem implicado em prejuízos emocionais para a sua vida como
um todo.
Essa conjuntura não está desconectada da percepção dos/as adolescentes quando
falam das relações construídas com os membros da família. Pois foi constatado que embora
a maioria dos/as adolescentes tenham num primeiro momento afirmado ter um bom
relacionamento com a família, os depoimentos também deixam claras as tensões
estabelecidas no cotidiano, sobretudo a existência de situações conflitivas, contraditórias e
de violação de direitos como verificado no relato do adolescente.
Para finalizar na pesquisa realizada percebemos que os adolescentes mesmo estando
inseridos em um contexto socioeconômico limitado projetam sonhos, projetos e planos para
o futuro. Esses por sua vez bem relacionados a ascensão econômica e de uma família
construída mediante as relações de afeto, proteção e aconchego.
6. BIBLIOGRAFIA
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ANEXO
Roteiro de entrevista: QUESTIONÁRIO
Data:_____/_____/_____
Dados de Identificação:
Nome:_________________________________________________________________________
Idade:_____________ Escolaridade:_________________________________________________
Endereço:______________________________________________________________________
PERGUNTAS:
1. Para você o que é família?
2. Qual a função/papel da família?
3. Você poderia descrever o que a família significa para você?
4. Como é formada a sua família?
5. Como é o seu relacionamento com a sua família?
6. Como é o relacionamento dos seus familiares entre si?
7. Quais as dificuldades e/ou problemas enfrentados por você e pela sua família?
8. Fale sobre algum fato marcante na sua família? Por que esse é um fato marcante?
9. Existem projetos de família? Fale sobre eles.
10. Para você ter uma família é importante? Por quê?