josé agostinho

22
JOSÉ AGOSTINHO Cartas Inéditas 1961-1971 AMIGOS DOS AÇORES 1992

Upload: teofilo-braga

Post on 10-Mar-2016

232 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Cartas trocadas entre o Tenente Coronel José Agostinho e o sr. Gualter Cordeiro

TRANSCRIPT

Page 1: José Agostinho

JOSÉ AGOSTINHO

Cartas Inéditas 1961-1971

AMIGOS DOS AÇORES 1992

Page 2: José Agostinho

m

\

\

T. Coronel José Agostinho Fotografia gentilmente cedida pelo Museu de

Angra do Heroísmo.

Page 3: José Agostinho

0 insigne cientista preocupou-se com a formação dos cidadãos, tendo, com as suas palestras transmitidas pelo Rádio Clube de Angra e depois publicadas em A União, feito um enorme esforço para despertar o interesse pela Natureza e sua Conservação.

A sua vocação de pedagogo manifestou-se não só nas referidas palestras mas também nos esclarecimentos e explicações que fornecia a quem o solicitava, de que as cartas e desenhos que agora publicamos são um exemplo.

Antes de falecer em 1978, o Tenente Coronel José Agostinho foi distinguido com o Grande Oficialato da Ordem de Sanflago de Espada, com a Medalha de Ouro da Cidade de Angra do Heroismo e era possuidor das Ordens de Cristo e Aviz.

Ao Sr. Gualter Cordeiro, que durante muitos anos trocou correspondência com o Mestre, e a seus filhos Sra. D.Maria Luisa e Sr. Paulo Agostinho, que prontamente autorizaram a sua divulgação, o nosso sincero agradecimento.

4

Page 4: José Agostinho

24 de Fevereiro de 1961

CARTA I

Amigo e Sr. Gualter Cordeiro,

Deu-me tanto prazer a sua carta de ontem que não me demoro a responder-lhe agradecendo a sua atenção. E muito grato estou também ao meu bom Amigo, Sr. Armando Monteiro, seu tio, para quem peço os meus cordeais cumprimentos.

É realmente consolador para mim saber que nessa ilha há alguém que se interessa pelas coisas naturais, cuja contemplação e estudo constituem um apreciável lenitivo para quem vive nestas plagas isoladas.

Farei todo o possível para que a minha experiência e os meios de informação de que disponho lhe sejam úteis. E, tratando especialmente do assunto aves, peço- lhe ,antes de mais nada , que me informe se tem uma lista das espécies que vivem nessa ilha, ou aí passam parte do ano, com indicação dos nomes científicos, senão enviar-lhe-ei uma dessas listas. De facto para nos entendermos é essencial identificar as aves pelo nome científico, para evitar confusões e também porque com essa linguagem os ornitologistas de todo o mundo sabem de que aves estamos falando. Peço-lhe pois que em vez de me falar de gaivotas, me diga Laurusfuscus (ou o que for), de garajaus, Sterna hirundo, de cagarros Puffinus kuhli,etc...,etc.

Recomendo-lhe muito que se muna do guia inglês de que falei ao Raposo:” A Field Guide to the Birds of Britain and Europe”, por Roger Peterson, Guy Mountfort e P.A.D.Hollom. Com as facilidades que há aí de comunicar com Londres, qualquer amigo poderá lá adquiri-lo e custa apenas 25 sh..Digo apenas porque estes livros de especialidades são caríssimos. Este tem a descrição em inglês e desenho a cores de todas as espécies europeias, bem assim mapas com a área em que cada espécie vive, nomes das mesmas em inglês, francês , alemão e sueco, etc, etc. Se não tiver quem o traga e quiser mandá-lo vir, direi o modo simples e barato de o obter directamente de Londres.

Não me interessam as aves preparadas, a não ser para examinar alguma que seja desconhecida. Neste caso bastar-me -ia uma fotografia e as dimensões.

5

Page 5: José Agostinho

0 que me interessa muito é saber de todas as capturas de aves de passagem ou aves extraviadas que aí apareçam. Data e lugar e uma descrição e medidas usuais. Sabe quais são? Se não sabe indicarei.

O pior perigo para as aves marinhas, no caso de derrame de óleos, etc, como aconteceu agora aí, é que os óleos e o resto se infiltram na plumagem e nas asas das aves, inibindo-as de levantar vôo.

Sobre peixes, não falemos por agora.Tem a lista de Mr.CoIlins? Se não tem, envio-lhe. E a lista dos peixes da Madeira, editada pela J.G.do Funchal?

Obrigada pelas informações sobre o aparecimento da Sula bassana. Vale a pena apanhar e embalsamar uma dessas lindas aves. As novas são todas escuras, com a plumagem salpicada de amarelo.

Peço-lhe desde já o favor de ver se consegue saber: 1) quando voltam a aparecer os Puffinus kuhli (cagarros).que devem ter desaparecido pelos fins de Novembro e regressam por este tempo. 2) quando aparecem aí os garajaus (Sterna hirundo), que não vêm senão lá para começos de Abril. 3) Por essa época desaparecem as gaivinas (Laurus ridibundus). Veja se consegue diferenciar bem estas da gaivota tridáctila (Rissa tridactyla), que também se chega às vezes para a costa, embora seja ave pelágica.

E mais nada por hoje. Responda quando puder.

Mais uma vez obrigado e receba os melhores cumprimentos do seu atento am2 grato.

José Agostinho

6

Page 6: José Agostinho

Angra do Heroísmo, 5 de Setembro de 1961

CARTA II

Exmo Senhor Gualter P. Cordeiro,

A visita que me fez ontem Miss Gladys Zabilka veio lembrar-me que tinha aqui ainda por responder a sua carta de 9 de Julho, que me trouxe o José Bráulio. Desculpe a demora, mas tenho procurado aproveitar o Verão para me refazer de forças e as três ou quatro horas de trabalho diário não chegam para tudo. Miss Zabilka aproveitou bem as suas informações e do meu bom Amigo Armando Monteiro e produziu um livrinho bem feito e que vai ser útil à vossa ilha. Parabéns.

Li com entusiasmo o que escreve sobre a sua vocação de naturalista e farei o que puder e souber para o ajudar.

Pelo que diz respeito a peixes, julgo que o livro de Adão Nunes será uma boa aquisição. Vou mandar-lhe a lista dos peixes dos Açores, de Mr. Collins, da qual temos ainda alguns exemplares. Devo dizer que em matéria de peixes sou um curioso apenas. O assunto é difícil e não me chega o tempo.

No que toca a aves, já estou mais documentado. Julgo que deve adquirir o livro “ A Field Guide to the Birds of Britain and Europe”. Escreva à firma : Collins, 14 St. James’s Place, London e de lá lhe dirão quanto e como deve enviar. Devem ser 25 sh. remetidos por cheque.

Não há lista de aves do arquipélago, impressa. Mando-lhe aqui uma das aves mais comuns, que lhe peço o favor de copiar e devolver-me. Fatiga-me escrever à máquina e por isso o não faço. Desculpe. Não há pressa.

Sobre as três espécies Stema hirundo, Laurus ridibundus e Rissa tridactyla, envio juntamente um apontamento.

Não tenho o livro do engs agrónomo Eduardo de Sousa Almeida. Seria favor dizer- me como poderei adquiri-lo, pois me interessa tudo o que se refira a aves.

7

Page 7: José Agostinho

Envio também à parte o trabalho de Berkeley Cotter sobre os fósseis dessa ilha.

O artigo que publiquei sobre a tectónica da ilha está esgotadíssimo, mas foi aí publicado também. Em último caso peça ao seu Tio que lho deixe copiar da Açoreana.É muito breve.

Mais nada por hoje. Cordeais cumprimentos do admirador e amigo,

José Agostinho

8

Page 8: José Agostinho

28 de Fevereiro de 1962

Exmo Sr. Gualter Pereira Cordeiro,

CARTA III

A sua carta de 21 de Dezembro veio encontrar-me já meio combalido e logo nos começos de Janeiro fui para a cama com gripe. Coisa sem gravidade, mas que me reteve de cama umas três semanas, depois outras tantas em casa, sem nada fazer, devido ao enfraquecimento em que fiquei. Por isso só há pouco é que, felizmente já de todo curado, pude retomar as minhas ocupações e agradecer a sua carta e os seus votos para este ano, os quais, embora tardiamente, retribuo muito cordialmente.

Agradeço muito a informação sobre os garajaus, cuja ida para aí se antecipa um pouco à do seu aparecimento para estes lados, que se nota aí por 10 de Abril. Sempre ficam alguns, depois da debandada em Outubro. Este ano ficaram aqui perto umas duas dezenas que se foram logo que o tempo piorou, nos fins de Novembro e lhes faltou o peixe miudo, de que se alimentam. Na realidade não é a temperatura que os atemoriza. O que os faz partir é a falta da petinga ou roama (peixe miudo) de que se alimentam. Achei interessante a observação do balieiro, quanto aos garajaus que ficam e são mortos pelos que regressam. Aqui, algum que fica, talvez por não se sentir com forças para a viagem, morre antes do fim do ano...

Muito obrigado pela oferta do livro “ Três dias na Albergaria das Gaivotas" que li com todo o vagar e com prazer, quando estive de cama. Não poderia ter melhor leitura nessas circunstâncias. É um livro interessante e que despertará em muitos o interesse pelas aves. Não é um trabalho científico, como o próprio autor diz nas Notas, no fim, mas a fantasia dele não diminui o gosto com que se lê o livrinho. Muito e muito obrigado.

Desvanece-me o seu incitamento para tfoltar a Santa Maria. Que prazer seria voltar a ver a ilha e os bons amigos que aí tenho, o seu bom tio Armando Monteiro à testa deles..Talvez? Não digo nada, mas a verdade é que, eu que muito viajei e sempre com prazer, sinto-me agora tão preso a casa, que nem me atrevo a ir ver os meus descendentes que vivem no continente..

9

Page 9: José Agostinho

Faço votos para que os seus afazeres profissionais lhe vão deixando sempre uns vagares para as suas observações das aves e, não perca ocasião de me escrever, de vez em quando, pois me dá muito prazer e interesse, receber notícias suas.

Daqui poucas novidades. Desde que estou melhor e saio a passeio fóra da cidade, já vi os ganços patolas (Sula bassana), de que me dão também notícia do Corvo. As Arenaría interpres continuam aqui todo o ano. Junto do cais vejo , além das vulgares gaivotas, as gaivinas (Laurus ridibundus), algumas agora já com a cabeça toda preta, uma Rissa tridactyla e durante uns dias uma gaivota da Islândia (Laurus glaucoides). Desta espécie é raro o Inverno em que não aparece por aqui uma ou duas.

Os cagarros, que se afastaram daqui para o sul em meados de Novembro, já foram avistados, de regresso, em começos de Fevereiro. Daí também se apartam em Novembro? Como Santa Maria está mais ao sul, talvez alguns por aí fiquem.

Há dias trouxeram-me um papagaio do mar (Fratercula arctica), que já há tempos não via por aqui. E de S.Jorge mandaram-me anteontem um abibe ( Vanellus vanellus). Também frequentes, de passagem.

E basta de o maçar .Cumprimentos para o Sr. seu tio Armando Monteiro, e para o meu amigo do seu at8 e obrigado.

José Agostinho"C o n s u lta r a n e x o I

10

Page 10: José Agostinho

15 de Maio de 1964

Prezado Amigo e Sr. Gualter Cordeiro,

Recebi ontem com muito prazer a sua carta, à qual não posso responder por completo, porque estou ainda recuperando forças após um ataque de gripe que me prendeu à cama durante duas semanas. Para mais minha mulher teve há dias um ataque de hemiplegia, que muito nos assustou. Está melhorando, mas o nosso estado de espírito é que não póde ser senão depressivo.

O animal, cujo desenho me enviou, não é um peixe. Dentro dos meus recursos de consulta, afigura-se-me ser um invertebrado da ordem dos Chaetognatha, que antecede a dos Tunicados. O desenho está elucidativo, as informações são bastantes e vou consultar o Senhor Armando Figueira, do Museu do Funchal, especialista que talvez possa dizer alguma coisa de positivo. Informarei. No entanto guardem o frasco com o exemplar, que poderá vir a ter valor num Museu, se estiver bem conservado.

Por hoje não lhe posso dizer mais nada. Estou à espera do Prof. Dansereau, sub­director do Jardim Botânico de Nova York e o Eng2 agr. Pinto da Silva, que vêm fazer estudos da flora açoriana, com as respectivas esposas, ambas formadas. Devem chegar aí o primeiro na segunda-feira e o segundo na terça, mas só têm avião para cá no sábado. Não sei se o seu tio e meu bom Amigo, Armando Monteiro conhece algum deles, pois pelo menos o Prof. Dansereau, que é canadiano francês, língua de que se serve, já aí esteve. Não lhe falei destes visitantes, para não o incomodar, mas se ele tiver ocasião de os encontrar decerto estimarão o seu convívio e conhecimento de Santa Maria. Os meus cumprimentos para ele. E os mesmos para o meu prezado Amigo.

José Agostinho

CARTA IV

11

Page 11: José Agostinho

CARTA V

23 de Dezembro de 1964

Exmo Senhor Gualter P.Cordeiro,

Meu Prezado Amigo,

Tinha acabado de perguntar pelo meu caro Amigo ao José Bráulio, quando cheguei a casa e encontrei a sua carta de 16. Na realidae o seu longo silêncio fazia-me suspeitar que o seu entusiasmo pelos assuntos que nos trouxeram à fala, tivesse esfriado, mas felizmente vejo que não e ainda bem.

Calculo bem o prazer que lhe deu a viagem aos Estados Unidos, país que também tive a felicidade de visitar há treze anos nas circunstâncias mais favoráveis, pois fui como convidado do Gen. Vandenberg, Comandante ao tempo da Força Aérea dos Estados Unidos. A melhor impresão que trouxe foi da gente, ou melhor do trato da gente, país realmente democrático, onde cada qual lida com os outros, patrões ou empregados, de homem para homem, sem barretadas até ao chão, embora com respeito. E o que nós devemos aos Estados Unidos como sustentáculo da civilização em que fomos criados?

Gostei de saber que encontrou o Prof. Rogers, pessoa a quem conheço há muitos anos e decerto o descendente de açorianos que na América tem alcançado pelo seu justo valor lugar mais proeminente e maior prestígio.

Com relação às aves, cujas fotografias me enviou, gostei de saber que tinham aí apanhado um Plegadis falcinellus, visitante raro no nosso Continente, onde lhe chamam “ maçarico preto “. Há anos pousou um bando deles na pista das Lajes. Não me lembro de que se tenham visto mais por aqui, nem tenho tempo de ir verificar agora.

Quanto à outra ave, pela plumagemO e pelas medidas que tomei por comparação com o maçarico preto, julgo ser Calidris marítima. Para confirmação agradecia que me enviasse nota da cor das pernas e do bico. A esta última chamam no continente apenas “maçarico”. Por aqui aparece com certa frequência. Agradecia também que me indicasse data, local e circunstâncias das capturas e se estavam sós ou acompanhadas.

13

Page 12: José Agostinho

Belíssima a estampa do tigre. No Amer. Museum of Natural History tenho duas pessoas amigas: o Dr. R. Murphy do Dept. de Aves e Mr. Nagle dos insectos. Ambos teriam prazer em ter notícias minhas.

E por aqui tenho de ficar por hoje. Boas Festas e um Ano Novo muito feliz, com um abraço do amigo grato,

(*)Esta plumagem varia bastante com a época do ano.

José Agostinho

Page 13: José Agostinho

14 de Janeiro de 1971

Caro amigo,Senhor Gualter Cordeiro,

Muito me sensibilizaram as palavras de homenagem à minha humilde pessoa que o meu caro Amigo escreveu no Suplemento “Santa Maria” do “Correio dos Açores”. Do coração lhe agradeço.

A tarefa que há mais de cincoenta anos tenho tido de estudar aspectos científicos destas ilhas e de espalhar por esse mundo alguns deles, correspondendo aliás a consultas que me dirigem, é um privilégio que devo a Deus e, depois de Ele, ao meu mestre Afonso Chaves, que esse sim, foi o maior açoriano do seu tempo, cuja memória perdurará.

Nunca me pesou tal tarefa, que hei-de continuar dentro dos meus fracos recursos, enquanto tiver forças para tanto. Mas, atente bem o meu Amigo, que poderia eu fazer se não contasse com a cooperação atenta e interessada de tantos amigos que essa mesma tarefa me foi alcançando por todas as ilhas?

A esses devo muito do êxito de meu labor e o Senhor Gualter Cordeiro é um daqueles que sempre mais atentos e interessados se tem mostrado por esse labor. Agradeço-lhe muito as suas palavras, mas não menos lhe agradeço essa valiosa cooperação. Muito e muito obrigado e aceite os mais cordiais cumprimentos do amigo dedicado e grato,

José Agostinho

'C o n s u lta r a n e x o II

CARTA VI

15

Page 14: José Agostinho

Vila do Porto ,9 de Maio de 1964

Exmo SenhorTenente -Coronel José Agostinho Angra do Heroísmo

É sempre com grande prazer que escrevo a V.Ex8, no entanto, devo confessar que receio sempre fazê-lo perder, algum tempo, para ler as cartas de um leigo como eu, e assim, roubar-lhe o seu precioso tempo. Espero que me desculpe, uma vez mais, porém desta vez, proporcionou-se-me a ocasião de constatar com um homem do m ar, que encontrou um peixe bastante estranho para todos nós Marienses, mas que o douto saber de V.Ex8 talvez consiga desvendar esse mistério.

Vi o peixe, já morto, mergulhado em álcool e sem as formas de peixe, pelo que se não fosse, o interesse do próprio captor em desenhar as suas formas e cores, dificilmente, poderia eu agora transmitir a V.Ex8 o precioso achado, pois assim tomo a liberdade de o considerar, visto a sua absoluta raridade, em Santa Maria. Em separado, envio a V.Exa um desenho com várias anotações feitas pelo captor.

O referido peixe, foi encontrado acerca de um mês no porto de Vila do Porto, e ao princípio o captor, teve a impressão de ser uma alforreca, ou água viva, mas o que o chamou a atenção foram as cores vivas das membranas nadatórias por serem de um cor de rosa vivo.

Apanhado o peixe com as próprias mãos, o captor colocou-o dentro de um frasco de vidro alimentando-o durante vários dias com pedacitos de peixe. Conseguiu viver durante alguns dias mas depois morreu. Viu que a tromba ia normalmente erguida, parecendo-lhe que fosse para se alimentar de particulas existentes à superfície.Baixava a tromba para apanhar os pedacitos de peixe que lhe atirava. A tromba quando se lhe tocava retraía-se para dentro do corpo. Todo o corpo era transparente, pelo que se via perfeitamente o tubo digestivo e estômago. Quando se alimentava ficava cheio e quando não ingeria quaisquer alimentos ficava mais vazio,mas mantendo sempre a cor de vermelho vivo. O ânus, saía entre uma concha bivalve, de um azul brilhante que abria e fechava quando o peixe defecava.

ANEXO I

17

Page 15: José Agostinho

Da concha pendia uma espécie de rendilhado muito alvo.

Por debaixo dos olhos azuis, saiam dois apêndices mais rijos e que me pareceram cartilagíneos. A ponta da cauda terminava também num apêndice em forma de agulha (rabo espécie do rato do mar). O desenho apresenta o achado no seu tamanho natural. Para mim, como já disse, é muitíssimo estranho, mas para V.Ex3 pode já ser conhecido. O meu propósito é apenas dar-lhe o conhecimento deste achado e o meu particular interesse em saber do que se trata, pois apenas sou um entusiasta das coisas da Natureza.

No que respeita a aves mandei tirar fotografias a duas que por cá apareceram e que desconheço. Portanto quando me entregarem as mesmas enviá-las-ei a V.Exa, a fim de ter a bondade de me informar de que aves se trata.

Foi caçada uma ave numa ribeira desta vila e que pelo livro que V.Ex8 me recomendou, que muito me tem sido prestável, a consegui classificar como sendo uma (Plegadis falcinellus) cujo nome em português desconheço. Pelo que me foi dado saber, apareceu apenas um exemplar cá na ilha. Também mandei tirar fotogarfia colorida, que depois enviarei.

Desde já agradeço que V.Ex9 disponha dos meus fracos préstimos pois terei muito gosto em lhe ser prestável. Pode, sinceramente contar comigo para o que desejar.

Vou-me já alongando demais, e como tal, fugindo à minha vontade de não o querer maçar com esta minha missiva, mas talvez um facto atenue este meu alongamento: o não ter escrito a V:Ex- há mais de ano. Portanto espero que me perdoe.

Termino enviando a V.Ex® os meus respeitosos cumprimentos e aguardarei as suas opiniões ansiosamente,

De V.Ex«Muito reconhecidamente

Gualter Pereira Cordeiro

18

Page 16: José Agostinho

%

MODESTO PREITO DE GRATIDÃO

Depois do que já foi dito em todos os periódicos açorianos sobre a figura insigne do Tenente-Coronel José Agostinho, sinto que não terão cabimento as minhas humildes palavras. Mas, ao mesmo tempo, compreendo que embora desprovidas de floreados literários, serão a transmissão sincera do meu pensar e como tal, desejo torná-las publicamente conhecidas.

Acompanhei desde a primeira hora as palavras de homenagem que ergueram ao lugar cimeiro a que tem jus essa figura eminente de Açoriano e Cientista.

Li todos esses depoimentos escritos por diversos escritores açorianos que foram trazidos a lume nos jornais do arquipélago mas, para além de tudo isso, li ainda e talvez com maior fervor, o pensamento de todos aquelas pessoas do povo de quem o Mestre se acerca com a modéstia que só é peculiar aos grandes homens, esclarecendo dúvidas e ensinando com simplicidade qualquer assunto que da vastidão e profundidade dos seus conhecimentos, é centelha para a escuridão nos espíritos curiosos e que buscam a orientação necessária para as suas vocações de principiantes.

Neste grupo estou eu com muita honra incluído, e a quem o Tenente-Coronel José Agostinho, através de simpáticas e doutas missivas, me foi transmitindo os seus esclarecimentos e que me têm incentivado o gosto pela ornitologia.

Para um homem como o Tenente-Coronel José Agostinho, sempre assoberbado com os seus estudos, tenho encontrado sempre uma prontidão no recebimento das suas explicações, embora compreenda que lhe roubo alguns minutos do seu escasso e precioso tempo. Mas, o Mestre, tem sempre tempo para os mais pequenos e por isso o grande mérito de seu espírito docente.

Portanto, pressinto que estas minhas humildes palavras são também de todos aqueles que pertencendo à amalgama do povo, têm recebido maravilhosas lições que o futuro não conseguirá desvanecer da nossa memória nem diminuir a profunda gratidão dos nossos corações, verdadeiramente agradecidos.

Gualter Cordeiro

(In “Santa Maria",Ano V,ne54-suplemento do ne 14819 do “Correio dos Açores”,8 de Janeiro de 1971)

ANEXO II

19

Page 17: José Agostinho

ANEXO III

Page 18: José Agostinho

• / ' * ^ w y ;

r

r ' ' M ( i d

^ r * - ^ 7

Ai 0X3NV

Page 19: José Agostinho

ANEXO V

(~4LtKt—

f r*JL~ -í»---“'7 1 ^ - / - r

i . » >'''—^ T t̂-Lr-, y t " v,°

w K - -•* * * - ‘ ' c H v ' - *

tvw * ►> Hv-v̂ j

SíA-n ^ 1 f*^

0 >

i / .

/ C3 /* . .-* - 1/ (-̂ - A . }.

tuw i,X-&-+y

&*" h l / h & w k—\ /^ - ^ v $Av.y

(yw jL-^1./*- --Í r '

M-» ''t/frvo A£*uJf»* l<svL̂ « JU.**

p K T-V» A W -̂'-' / A Vc, /m /’, 7 ̂ v-4 ■ ' i

lt£_ * i^l-tL~ / fr*« «.*- , i-w> n „ « , x , , » , ^ « < f * "£~— í ’ j o //<v)

£ v u ^ - , ) " ^ * - t « X ats, Ç L*~, â - t / P lJ " } ^ J \ j_ J fc < ~ r I |A A A > - - t í - i - ^

M-C. f £ j*iU í.ífc ( f , o ✓£>'-. ^«-'A-I4 íl, 'W^11;

t f t*> -'/* - c

22

Page 20: José Agostinho

í . 4x_ ■>-) í-tS»> âo-J- <o„ /,'c^SU , *-3

£ vAc. ^iUu x«_y~ /̂ -'̂ .̂ JÚLy-t /

* ■ ^ ^-- f 1̂1 ^ UmI-Ís A,. ----—

/ m ^ m . iL, m ■ *-* ^ X - t /nau t —1 >̂> , « í \✓

<v <* JlA^yJu-«A>-X «A. o^ ^ >v— y *— / ' — '< -

X* f*~A.4-S2 ,4. \ £i. í—0 Í.I Q *V_

v/Jl Mv . ^ j Lí̂

íZo,5i>, ■£»_ * * "" "ye<uy~ , ^T—*-'

-ív9-«̂ Lt* V_(W tz z j* y ~/ -

T ^ X 'c ^ ~ 2* ^ C > y ^ ;

------ 23

Page 21: José Agostinho

INDICE

Introdução

Carta I

Carta II

Carta III

Carta IV

Carta V

Carta VI

Anexo I

Anexo II

Anexo III

Anexo IV

Anexo V

3

5

7

9

11

13

15

17

19

20

21

22

Page 22: José Agostinho

CATE -PONTA DELGADA